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EXTENSÃO DA BEIRA

Faculdade de Letras e Humanidades


Curso de Licenciatura em Ensino de Português
Disciplina: Morfossintaxe e Lexicologia do Português/2º ano

1. Introdução à Morfologia

De um modo geral, devemos compreender que o capítulo da morfologia diz respeito à


estrutura interna das palavras, e o modo como esta estrutura reflecte as relações entre
palavras, associadas de um modo particular.

Na análise morfológica, têm sido cruciais as noções de palavras e morfemas,


respondendo cada uma, um vasto projecto incompleto de pesquisa.

Morfologia – Área da linguística que se estuda aspectos que se situam no domínio do


léxico, as palavras, radicais e afixos.

Morfologia – Componente gramatical que se ocupa no estudo da estrutura interna,


formação e classificação da palavra.

Morfema – "menor elemento com significação independente ou seja menor unidade


portadora de significado." Hockett (1958)

Aronoff (1976) contraria a visão ou conceito de Hockett (1958) uma vez que nem todas
unidades que integram uma palavra são portadoras de significado. Ex: - al, re - , i -, -
mente, - idade.

Morfema - " qualquer elemento que participa na construção ou produção de uma


palavra". Halle (1989).

Villalva (2008) por um lado, partilha da definição de Halle (1989) sobre o termo
morfema, por outro, não partilha porque o nome se mantém, ou seja ainda continua – se
chamar de morfema.

Neste sentido, de acordo com Villalva (2008) prefere chamar de constituinte


morfológico a cada uma das unidades integrantes da estrutura morfológica.

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Morfema – elemento minimo que contém o essencial da palavra.

1.1 Palavras, radicais e afixos (prefixos, sufixos e infixos)

1.1.1 Critérios da Definição da Palavra

Uma das questões prévias e essenciais que se colocam à morfologia é a da definição


do próprio conceito de palavra. A questão é bastante complexa e tem dado origem a
variados debates e propostas de linguistas com opções teóricas diversas, sem que haja,
até agora uma resposta consensual. Na impossibilidade de basear uma definição na
intuição dos falantes, a análise linguística deve enunciar critérios formais para a
definição de palavra motivados pelas suas diferentes componentes: fonológica,
morfológica, sintáctica e semântica.
O contínuo sonoro pode ser segmentado de várias formas, de acordo com os
conhecimentos que os falantes possuem do sistema linguístico em que se integra. Um
tipo de unidades resultantes da segmentação do contínuo sonoro é definido como
domínio para atribuição do acento principal de palavra. Os processos fonológicos que
afectam os segmentos que se encontram no inicio desse domínio são , por vezes,
distintos dos que afectam os segmentos que se encontram no final desse domínio, o
que justifica este tipo de segmentação. Consideremos, agora a seguinte frase:

Exemplo: A Maria preparou um belo discurso de despedida.

Nas sequências [ɐmɐríɐ], [prəpɐró], [ữbέlu], [dəʃkúrsu], [dədəʃpədídaɐ] único acento


principal de palavras, mas essas sequências não coincidem com as sequências que a
representação sintáctica identifica como palavras. Damos, então, a estas sequências o
nome de palavras prosódicas ou de palavras fonológicas.
Em sintaxe, as palavras são unidades que ocupam posições determinadas pelas
estruturas sintácticas, designadas posições Xº . X é uma variável que cobre a
totalidade das categorias sintácticas (adjectivo, nome, preposição, verbo, etc) e º um
indicador de que essa é uma posição de núcleo de uma categoria sintagmática. As
categorias sintagmáticas identificam unidades sintácticas constituídas por sequências
de palavras, uma das quais constituem o seu núcleo, enquanto que as restantes são
especificadores ou complementos desse núcleo. Categorias sintagmáticas como
sintagma adjectival (SADJ), sintagma nominal (SN), sintagma preposicional (SPREP)

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e sintagma verbal (SV) têm como núcleo, respectivamente, um adjectivo, um nome,
uma preposição e um verbo. Uma categoria sintagmática é uma projecção de categoria
sintáctica do seu núcleo.

As palavras são átomos sintácticos, ou seja, são entidades sintacticamente opacas,


no sentido em que a sintaxe não tem qualquer informação acerca da sua estrutura
interna.

Retomando a frase (1) constatamos que a, Maria, preparou, um, belo, discurso, de,
despedida são unidades que ocupam posições Xº, isto é, qualquer uma destas
unidades, do ponto de vista de análise sintáctica, é uma palavra.

Em semântica, a definição de palavra é ainda mais complexa. Consideremos, aqui,


que a palavra se relaciona com o valor referencial inerente a uma sequência, por
oposição a outras sequências que não têm qualquer valor referencial, mas são
operadores de vária ordem. Na frase Maria, preparou, belo, discurso e despedida
são, deste, deste ponto de vista, palavras e a, um e de são operadores.
A definição de palavras em morfologia recorre ao critério sintáctico de identificação
de uma sequência que ocupa uma posição Xº, e em critérios morfológicos de análise
da sua estrutura interna.

1.2 Propriedades das palavras

a) Têm autonomia sintáctica (podem ocorrer em estruturas sintácticas como morfemas


livres).

b) Possuem estrutura interna ou morfológica (embora existam palavras sem


estrutura interna ou constituição morfológica ).

c) Podem ser núcleos de sintagmas (categorias lexicais e relacionais estas que servem
para relacionar os elementos dentro da frase)

2.3 Propriedades dos radicais

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a) À excepção dos casos em que coincidem com palavras, os radicais tal como
os afixos são morfemas presos não podem ir à sintaxe de forma independente,
isto é; precisam de associar – se a outros morfemas para terem significado e
consequentemente dar um sentido à frase.

Ex: Escola, norma, pena, avaliar, renascer, pensar.


Nas palavras acima, os elementos a negrito, são os radicais, são assim denominados
porque se responsabilizam pelo significado básico das palavras, enquanto que os
constituintes (-a, -ar, -er, re-) se responsabilizam pela modificação desse significado
básico, e pela especificação das propriedades gramaticais de cada uma das palavras.
Sendo assim, os elementos ou morfemas presentes nas palavras acima que não estão a
negrito ou seja, em itálico, são os afixos (prefixo e sufixo).
Os constituintes morfológicos que ocorrem à esquerda do radical, denominam prefixos,
enquanto que os que ocorrem à direita do radical designam – se sufixos.
Além dos morfemas acima, ainda existem certos morfemas que ocorrem no interior do
radical, estes são denominados infixos.
Nas línguas indo – europeias, de que o Português faz parte, os infixos são raros ou
mesmo inexistentes, não devendo ser confundidos com sufixos que estão em posição
final (como bil em amabilidade).

b) Sob ponto de vista semântico correspondem as partes que veiculam o sentido


básico da palavra.
Exemplo: norm -; mort - ; felic -; nasc -; pens -; etc.

c) Não podem ser atribuidas categorias sintácticas, excepto em casos que coincidem
com palavra(s).

Exemplo: norm -; mort - ; felic -; nasc -; pens -; etc.

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2.4 Propriedades dos Afixos

Propriedades Prefixação Sufixação


1.Alteração da posição do acento - Enquanto a prefixação - A sufixação altera a
principal da palavra resultante altera a posição do posição do acento
da palavra base acento principal da principal da palavra
palavra resultante da resultante da palavra
palavra base. base.
Ex: ver → rever Ex: jornal → jornalista
2. Alteração da categoria - Enquanto a prefixação - A sufixação altera e
sintáctica/gramatical da palavra não altera a categoria não altera a categoria
resultante da palavra base sintáctica da palavra sintáctica da palavra
resultante da palavra resultante da palavra
base. base.
Ex: ver verbo → rever Ex: feliz adjectivo →
verbo felizmente advérbio
feliz adjectivo → infeliz Não altera
adjectivo Ex: jornal Nome →
jornalista Nome
Alteração da interpretação - Quer a prefixação quer a sufixação alteram a
semântica ou sentido da interpretação semântica ou sentido da
palavra resultante da palavra palavra resultante da palavra base
base
Altera Altera
Ex: ver → rever Ex: gato → gatos
legal → ilegal

Alteração das propriedades de - Tanto a prefixação como a sufixação alteram e


selecção categorial (C - selecção) não alteram as propriedades de selecção
da palavra resultante da palavra categorial (C - selecção) da palavra resultante
base da palavra base

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Prefixação - altera Sufixação - altera
Ex:confiar v: [- SP(em)] Ex: nomear V: [- SN]
desconfiar v: [- SP(de)] Nomeação N: [SP
(de)]
pensar v : [- SP (em)]
repensar v: [- SN]

Prefixação - não altera Sufixação - não altera


Ex: fazer v: [- SN] Ex: chover v: [-]
refazer v:[- SN] Chuviscar v: [-]

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