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Língua Portuguesa e Literatura Brasileira II

Prof. Ivan Rozario Júnior 2023/2

ESTUDOS LNGUÍSTICOS:
CONTEÚDO: ESTRUTURA DAS PALAVRAS / FORMAÇÃO DAS PALAVRAS

Síntese 1: Estrutura das palavras

Nos estudos da linguagem, denomina-se MORFOLOGIA a área que se dedica ao estudo da estrutura,
da formação e da classificação das palavras. Nessa área de estudo, estão agrupadas dez classes de
palavras, a saber: substantivo, artigo, adjetivo, numeral, pronome, verbo, advérbio, conjunção, interjeição
e preposição. O termo Morfologia vem de morfema – a menor unidade linguística dotada de significação
que formam as palavras e são classificados em desinência, raiz,radical, afixo, tema e vogal temática. As
formas nominais e as formas verbais constituem-se pela junção de elementos mórficos, os quais
garantirão às palavras uma significação. Os morfemas ou elementos mórficos podem ser lexicais ou
gramaticais.

O morfema lexical representa a própria significação externa dos vocábulos, isto é, podem ser definidos
como um ser ou fato da realidade, do mundo exterior à língua (designa seres, ações, conceitos abstratos,
etc. O morfema lexical no vocábulo é encontrado em seu núcleo de significação, ,chamado de radical. O
verbo beber possui o morfema lexical (beb-): beber, bebida, bebedeira, bebedor, bêbedo (ou variante
informal bêbado). Todas as derivações desse vocábulo recorrem a um mesmo morfema lexical, portanto,
o radical da palavra beber é a sua parte invariável (beb-). As palavras sol, mar, flor, luz são exemplos de
morfemas lexicais absolutos, a partir dos quais, unindo-se a outro elemento mórfico, podem derivar outras
palavras.

O morfema gramatical, por sua vez, representa um contexto semântico específico interno à enunciação,
ou seja, possuem significação interna à estrutura gramatical. Os morfemas gramaticais são os artigos, os
afixos, as preposições, as conjunções, além de indicar o gênero, o número, os tempos verbais (morfemas
flexionais). Tendo como exemplo o vocábulo casa e suas variações, pode-se identificar os morfemas
gramaticais do seguinte modo: o morfema lexical do vocábulo “casa”, independente de suas variações,
é cas-: cas-a, cas-arão, cas-ebre, cas-inha, simultaneamente. Enquanto o morfema lexical permanece o
mesmo, os morfemas gramaticais variam de acordo com a significação específica que atribuem ao
vocábulo.

Os elementos mórficos constituintes da palavra são:

1. RADICAL - é a unidade da palavra que contém o significado básico, onde se encontra o “DNA” de
sentido, no qual poderão ser acoplados outros elementos para formar novas palavras, em suma, é o
morfema lexical. (Ex.: menin-o; pedr-a; cant-ar; vend-er; part-ir).

2. VOGAL TEMÁTICA - é um morfema gramatical cuja função é preparar o radical ara receber as
desinências. Nos nomes, as vogais temáticas são A – E – O (mal-a; garot-o; pent-e). Nos verbos, as
vogais temáticas são A – E – I que junto da desinência do infinitivo –R vão identificar a conjunção
do verbo: 1ª conjugação: dançAR; 2ª conjugação: vencER; 3ªconjugação: garantIR.

3. TEMA - é a junção do radical com a vogal temática. Existem palavras atemáticas, ou seja, que não
têm tema, como urubu.

4. DESINÊNCIAS - geralmente aparecem no final das palavras e estão ligadas às flexões, sendo
chamadas de morfemas gramaticais flexionais. Existem as desinências nominais e as desinências
verbais.

 As desinências nominais referem-se ao gênero e número das palavras. Em relação ao


gênero, existe a forma não-marcada (∅ ): menin-o (equivalente ao masculino) em que aparece
somente o radical e a vogal temática, e menin-a, em que a desinência -a equivale ao gênero
feminino. Quanto ao número, a desinência -s é por excelência a marca de plural, como: caneta
> canetas - chinelo > chinelos.

 As desinências verbais vão marcar o tempo (passado, presente, futuro), o modo (indicativo,
subjuntivo, imperativo), a pessoa (1ª, 2ª ou 3ª) e o número (singular ou plural), por exemplo:

CANTÁVAMOS: CANT (radical) + Á (vogal temática) + VA (desinência modo-temporal) + MOS


(desinência de número-pessoal). Nessa forma verbal cantar, CANTA é o tema e as flexões de modo
e tempo (pretérito imperfeito do indicativo) e de número e pessoa (1ª pessoa do plural - nós).

5. AFIXOS - os afixos são morfemas gramaticais que têm a função de formar novas palavras (processo
de derivação) e são classificados como prefixos (vêm antes do radical) ou sufixos (vêm depois do
radical), por exemplo:

FELIZ – in + feliz = infeliz


LEAL – des + leal = desleal

FELIZ – feliz + mente = felizmente


LEAL – leal + dade = lealdade

6. VOGAL E CONSOANTE DE LIGAÇÃO - é uma unidade colocada nas palavras para facilitar a
pronúncia, no entanto, não contém em si nenhuma significação. Exemplo:

Café + eira = cafe - t - eira = cafeteira / Café + cultura = cafe - i - cultura = cafeicultura

Síntese 2: Formação das palavras

O Português Brasileiro – ou a língua portuguesa falada no Brasil, em seu processo de formação,


representa as inúmeras influências ocorridas ao longo da história, a partir do processo de colonização.
Ainda que formada, na sua gênese lusitana, por radicais gregos e latinos, houve muitas influências das
línguas africanas e indígenas ao longo de sua formação. Ao estudarmos esse tema, não se pode
desvinculá-lo dos aspectos históricos, sociais, políticos, econômicos e ideológicos. Em uma perspectiva
geral, as palavras na língua portuguesa formam-se a partir de uma palavra primitiva.

Nesse caso, a palavra é considerada primitiva quando não deriva de nenhuma outra, logo, é dela que
serão derivadas outras palavras. Essas novas palavras quando possuem o mesmo tronco semântico, ou
seja, têm a mesma raiz de significação, são chamadas de palavras cognatas, pelo fato de serem da
mesma família, como a palavra FERRO e suas derivações:
Constata-se que todas as derivadas de ferro possuem o mesmo morfema lexical (ferr-), dessa forma, todas
elas pertencem à mesma família semântica: ferr-o; ferr-adura; ferr-eiro; ferr-amenta; ferr-ovia; ferr-oviária;
ferr-ugem.

O processo de formação de palavras realiza-se da seguinte maneira: Palavra primitiva > Palavra
formada por DERIVAÇÃO OU Palavra formada por COMPOSIÇÃO, conforme a imagem abaixo:

PROCESSO DE FORMAÇÃO POR DERIVAÇÃO

Derivação prefixal - emprega-se um prefixo antes do radical.

Ex.: repôr; desembrulhar.

Derivação sufixal - emprega-se um sufixo depois do radical.

Ex.: florecer; alegremente.

Derivação prefixal e sufixal - emprega-se um prefixo antes e um sufixo depois do radical.

Ex.: infelizmente; deslealdade.

Derivação parassíntese ou parassintética - quando a palavra é formada simultaneamente com o


emprego de um prefixo e de um sufixo, sendo a retirada de um dos afixos impossível para manter a
significação da palavra.
Ex.: entardecer; rejuvenescer.

Derivação regressiva - quando a palavra nova é obtida por redução da palavra primitiva, ocorrendo,
sobretudo, na formação de substantivos derivados de verbos.
Ex.: acolher > a acolhida; debater > o debate; chorar > o choro; partir > a partida

Derivação imprópria - a palavra derivada decorre da mudança de categoria gramatical da palavra


primitiva. Não ocorre, pois, alteração na forma, mas tão somente na classe gramatical.
Ex.: O jantar foi muito agradável > jantar (substantivo) deriva de jantar (verbo).
Não entendi o porquê da briga. (o substantivo porquê deriva da conjunção porque).
PROCESSO DE FORMAÇÃO POR COMPOSIÇÃO

As palavras compostas são aquelas formadas com a união de dois ou mais radicais, podendo
acontecer por justaposição ou por aglutinação.

Nas palavras compostas por justaposição, ocorrerá a junção dos radicais sem nenhuma alteração.
Ex.: girassol; guarda-chuva; corre-corre; xeque-mate.

Nas palavras compostas por aglutinação, os elementos que formam o composto aglutinam-se e pelo
menos um deles [elementos mórficos] perde sua integridade sonora:
Ex.: aguardente (água+ardente); planalto (plano+alto); pernalta (perna+alta).

OUTROS PROCESSOS DE FORMAÇÃO DE PALAVRAS

Hibridismo: é a palavra formada com radicais oriundos de línguas diferentes. E.:


monocultura: mono- (grego) + -cultura (latim);
bicicleta: bi- (latim) + -ciclo (grego) + -eta (francês);
automóvel: auto- (grego), -móvel (latim)

Neologismo: quando novas palavras são criadas de uma necessidade do falante em contextos de
comunicação específicos, podendo ser temporárias ou permanentes devido ao uso constante, como em:
informática > informatizar. O neologismo pode ser classificado em três tipos: semântico, sintático ou
lexical.

 Neologismo semântico: quando a palavra já existente ganha um novo significado.

Ex.: Ana disse que deu zebra quando ela tirou o binóculo da bolsa. (zebra: deu errado)
Marcelo faz bico para ajudar nas contas da casa. (bico: trabalho temporário)

 Neologismo sintático: quando existe uma combinação de elementos já existentes na língua como a
derivação ou a composição.

Ex.: João Paulo II ganhou o mundo papalizando com carisma. (atuar no ministério) A
não-informação conduz as pessoas à ignorância. (no lugar de desinformação)

 Neologismo lexical: quando uma nova palavra é criada com um novo conceito.

Ex.: deleter – apagar, eliminar / internetês – a língua da internet

Onomatopeia: quando a palavra imita e/ou representa certos sons emitidos.


Ex.: Tique-tique / Chuá-chuá / Atchim

Referências:
AMARAL, Emília. et ali. Novas Palavras: Português – Ensino Médio. 2. ed. São Paulo: FTD, 2003.
BECHARA, Evanildo. O que muda com o Novo Acordo Ortográfico. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
2008.
BECHARA. Moderna Gramática Portuguesa. Rio de Janeiro: Lucerna, 2001.
CEREJA, Willian Roberto; MAGALHÃES, Thereza Cochar. Português: Linguagens, Vol. Único. São
Paulo: Atual, 2006.
CUNHA, Celso; CINTRA, Luís F. Lindley. Nova gramática do português contemporâneo. 5ª. ed. Rio de
Janeiro: Lexikon, 2008.

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