Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
MORFEMA
P E D R A (lexema)
1.1. O morfema lexical é o “elemento irredutível e comum a todas as palavras de uma mesma família”
(SAUSSURE, 1972, p. 255); “[...] constitui o núcleo semântico da palavra” (MONTEIRO, 2002, p. 15).
Ele corresponde ao lexema (Lex.) de A. Martinet e, às vezes, pode apresentar pequenas variações
(alomorfes).
PEDR -a
-eiro
- ada
P E T R - ficar
Em- P E D E R – ido
RADICAL/LEXEMA – “é a parte da palavra que está presente em todas as formas de uma mesma
palavra.” (ROCHA, 2008, p. 101); “O radical inclui a raiz e os elementos afixais que entram na formação
das palavras.” (MONTEIRO, 2002, p. 46)
Parafusar – parafus- Sal - sal
Transformar – transform- Salgado - salgad-
Flor – flor Salgadinhos - salgadinh-
Gato – gat- Dessalgar - desalg-
Barrigudo – barrigud-
1
TEMA - “O tema é um constituinte secundário, pois resulta da união de um radical com uma vogal
temática (VT).” (GONÇALVES, 2019, p. 44) O tema é o radical acrescido da vogal temática.
vida – vida jogar – joga
alegre - alegre mulher – palavra atemática
alegres - alegre sol – palavra atemático
BASE – “é a sequência fônica recorrente, a partir da qual se forma uma nova palavra, ou através da
qual se constata que uma palavra é morfologicamente complexa.” (ROCHA, 2008, p. 98)
livro – não há base, pois se trata de um vocábulo simples.
leiteiro – leite
mexicanização – mexicanizar
esclarecer -claro
orelhudo - orelha
1.2 - Os morfemas gramaticais – “dizem respeito a significados que especializam as noções veiculadas
pelos lexicais [...]” (GUIMARÃES, 2019, p. 41).
Os morfemas gramaticais podem ser divididos em três grupos, de acordo com sua função:
1- Morfemas derivacionais (MD): formam palavras novas: sufixos (Suf.) e prefixos (Pref.);
Quadro 1:
Vocábulo MD LEX MD VT MF
entronizados em- tron- -iz-, -ad -o- -s
recolocadas re- coloc- ad- - -a, -s
papelucho - papel -uch- -o -
livreco - livr- -ec -o -
infelizes in- feliz - -e- -s
a) Prefixos:
Prefixos – elementos mórficos que antecedem o radical para para formar um novo vocábulo:
Solver - dissolver
Feliz - infeliz
(a) in> em: enlatar, embainhar (c) cum > com: compor
(b) dis > dês: descontar (d) super > sobre: sobreloja
2- Latinos: são os que conservam a forma latina e normalmente se agregam a lexema latino ou
vernáculo:
2
3- Gregos: são os que conservam a forma grega e normalmente se agregam a lexemas gregos:
Quando se junta o prefixo a um lexema, ele pode sofrer alterações na forma, constituindo alomorfe (Alo.)
do prefixo original. É o caso, por exemplo, de –in, que tem os alomorfes –ir e –i:
in+real = irreal
in+legal=ilegal
b) Sufixos:
Sufixos são elementos mórficos que se pospõem ao lexema para acreacrescentar uma nova significação
ao vocábulo primitivo.
árvore/arvoredo (agrupamento de árvores)
Os sufixos têm, portanto, a propriedade de distribuir os novos vocábulos em quatro classes que vão ter
comportamento gramatical específico dentro da frase.
4. Aumentativos: não têm forma específica; dependem do contexto em que são distribuídos:
barcaça, muralha, mesona, caldeirão.
5. Imitativos: também não possuem formas especificas e dependem do contexto em que são
distribuídos. A ação expressa por esses verbos indica uma atividade principal de alguém:
patinhar, engatinhar, macaquear (macaco)
3
1. 2. 1. Morfemas Classificatórios: vogal temática verbal e vogal temática nominal
A vogal temática é um segmento fônico que se acrescenta ao lexema para agrupar vocábulos (Nomes e
Verbos) em classes. Uma vez acrescida, constitui uma base, à qual se anexam as desinências.
Para se considerar a vogal final de um Nome como vogal temática nominal, ela deve ser átona e, no caso
da vogal temática –a, não representar a marca do gênero feminino:
artista, telefonema, libido, frente
Porém, ao se conjugarem os verbos, podem ocorrer algumas modificações na vogal temática verbal. Na
primeira conjugação, por exemplo, constatam-se as variantes –e e –o, no pretérito perfeito do modo
indicativo, na 1ª e 3ª pessoas do singular respectivamente:
(a) and + a + i > and + e + i = andei
(b) and + a + u > and + o + u = andou
Na segunda conjugação, há a modificação da vogal temática verbal –e para –i, que ocorre:
O alomorfe –i, no pretérito perfeito do indicativo e no particípio, faz com que a segunda e a terceira
conjugações se assemelhem, desaparecendo a marca distintiva de ambas. A isso se chama neutralização
de elementos mórficos.
Aqui ocorre a neutralização da oposição entre o – e da segunda conjugação e o –i da terceira, por causa
da posição átona em que se encontram.
Quando se soma o radical à vogal temática, obtém-se o Tema (T), que serve de base para o acréscimo
de desinências, independentemente se pertença a nome ou verbo:
T (Rd + VT)
Em Português, há certos fonemas que aparecem no interior do vocábulo sem qualquer valor mórfico e
cuja única função é evitar a dissonância quando da junção dos morfemas lexicais e derivacionais. São
as chamadas consoantes e vogais de ligação: -p-, -l-, -t, - z, -d; -i-, -o-.
gasogênio chaleira escumadeira neimarzete
Só se encontram morfemas flexionais entre os nomes e verbos. Nos verbos ocorrem as desinências
número-pessoal e modo-temporal; nos nomes, as desinências de gênero e número.
No presente do Indicativo, nunca ocorre a desinência modo temporal; no pretérito perfeito do indicativo
ocorre DMT apenas na 3ª. p.pl. Os quadros que seguem são demonstrativos de estrutura do verbo.
Quadro 2:
PRIMEIRA CONJUGAÇÃO-C1
IdPr IdPt2 IdPt1
Lex VT DMT DNP Lex VT DMT DNP Lex VT DMT DNP
am- (a) Ø- o am- a- va- Ø am- e- Ø I
am- a- Ø- s am- a- va- s am- a- Ø ste
am- a- Ø- Ø am- a- va- Ø am- o- Ø u
am- a- Ø- mos am- a- va- mos am- a- Ø mos
am- a- Ø- is am- a- ve- is am- a- Ø stes
am- a- Ø- m am- a- va- m am- a- ra- m
IdPt3 IdFt1 IdFt2
am- a- ra- Ø am- a- re- i am- a- ria Ø
am- a- ra- s am- a- rá- s am- a- ria- s
am- a- ra- Ø am- a- rá- Ø am- a- ria Ø
am- á- ra- mos am- a- re- mos am- a- ría- mos
am- á- re- is am- a- re- is am- a- ríe- is
am- a- ra- m am- a- rã- o am- a- ria- m
5
IpAf IpNeg
- - - - - - - -
am- a Ø Ø am- (a) e- s
am- (a) e Ø am- (a) e Ø
am- (a) e- mos am- (a) e- mos
am- a- Ø i am- (a) e- is
am- (a) e m am- (a) e- m
Formas Nominais
If Gr Pa
am- a- r Ø am- a- ndo- Ø am- a- do Ø
SEGUNDA CONJUGAÇÃO-C2
IdPr IdPt2 IdPt1
Lex VT DMT DNP Lex VT DMT DNP Lex VT DMT DNP
tem- (o) Ø- o tem- i- a- Ø tem- Ø- Ø I
tem- e- Ø- s tem- i- a- s tem- e- Ø ste
tem- e- Ø- Ø tem- i- a- Ø tem- e- Ø u
tem- e- Ø- mos tem- í- a- mos tem- e- Ø mos
tem- e- Ø- is tem- í- e- is tem- e- Ø stes
tem- e- Ø- m tem- i- a- m tem- e- ra- m
IpAf IpNeg
- - - - - - - -
tem- e Ø Ø tem- (e) a- s
tem- (e) a Ø tem- (e) e Ø
tem- (e) a- mos tem- (e) a- mos
tem- e- Ø i tem- (e) a- is
tem- (e) a m tem- (e) a- m
Formas Nominais
If Gr Pa
tem- e- r Ø tem- e- ndo- Ø tem- i- do Ø
6
TERCEIRACONJUGAÇÃO-C3
IdPr IdPt2 IdPt1
Lex VT DMT DNP Lex VT DMT DNP Lex VT DMT DNP
part- (i) Ø- o part- i- a- Ø part- i- Ø I
part- e- Ø- s part- i- a- s part- i- Ø STE
part- e- Ø- Ø part- i- a- Ø part- i- Ø U
part- i- Ø- mos part- í- a- mos part- i- Ø MOS
part- i- Ø- is part- í- e- is part- i- Ø STES
part- e- Ø- m part- i- a- m part- i- ra- M
IdPt3 IdFt1 IdFt2
part- i- ra Ø part- i- re- i part- i- ria Ø
part- i- ra- s part- i- rá- s part- i- ria- s
part- i- ra Ø part- i- rá- Ø part- i- ria Ø
part- í- ra- mos part- i- re- mos part- i- ría- mos
part- í- re- is part- i- re- is part- i- ríe- is
part- i- ra- m part- i- rã- o part- i- ria- m
IpAf IpNeg
- - - - - - - -
part- e Ø Ø part- (i) a- s
part- (i) a Ø part- (i) e Ø
part- (i) a- mos part- (i) a- mos
part- i- Ø i part- (i) a- is
part- (i) a m part- (i) a- m
Formas Nominais
If Gr Pa
part- i- r ø part- i- ndo- ø part- i- do ø
A flexão de gênero é uma só, com pouquíssimos alomorfes: acresce-se o morfema flexional –a para o
feminino. O masculino é a forma não marcada, expressa pelo morfema Ø. Ao juntarmos –a à forma
masculina, suprime-se a vogal temática, quando ela existe no singular; no caso dos nomes atemáticos há
apenas acréscimo da desinência de gênero.
lob(o) + -a = loba; autor + a = autora.
O morfema flexional de plural é –s, que se opõe ao morfema Ø (zero) que marca o singular.Para formar
o plural, normalmente acrescenta-se –s ao tema no singular:
casa + -s = casas; pente + -s = pentes; muro + -s = muros.
7
2. CLASSIFICAÇÃO FORMAL DOS MORFEMAS
Os morfemas do ponto de vista do significante podem ser: aditivos, subtrativos,alternativos, zero, latente
e cumulativo.
2.2. Morfema subtrativo: corre a supressão de fonema do radical para expressar mudança de
sentido.
anão > anã irmão> irmã
2.4. Morfema zero (Ø) : resulta da ausência da marca marca para expressar uma categoria
gramatical.
mesa (a ausência do morfema -s expressa o singular)
professor (a ausência do morfema -a expressa o masculino)
estudava (a ausência do morfema -s significa que o verbo está conjugado na primeira ou na
terceira pessoa do singular)
2.5.Morfema latente: ocorre quando o morfema se revela não na palavra, mas no contexto.
lápis > os lápis o óculos > os óculos
2.6. Morfema cumulativo: ocorre quando o morfema expressa duas ou mais noções.
Viajamos (-mos significa primeira pessoa e plural)
Alomorfia
São as diferentes formas com que um morfema pode realizar-se. Assim, em “chuva” e “pluvial”, há o
mesmo lexema com duas formas diferentes: chuv- e pluv-.
Os casos de alomorfia são numerosos em Português para todos os tipos de morfemas, donde se infere
que as significações não estão atreladas a formas fixas, mas podem estar expressas e contidas em formas
parcial ou totalmente diferentes:
alma - animar
cabeça – capital
cão – canil
chumbo – plumbeo
ferir – firo
livre - libertar; liberdade
mês – mensal
muda – mutável
negro - nigérrimo
É necessário não confundir alomorfia com acomodação ortográfica. A alomorfia é forma com fonemas
diferentes.Portanto, não são alomórficos os radicais abaixo, pois as alterações gráficas g/j e c/qu não
modificam o fonema:
fug –ir; fuj –o (/fu’zir/-/’fuzo/)
fic –o; fiqu –e (/’fiko/ - /’fike/)
8
REFERÊNCIAS
CÂMARA JÚNIOR, Joaquim Mattoso. Estrutura da língua portuguesa. Petrópolis: Vozes, 1995.
CUNHA, Celso. Gramática da Língua Portuguesa. Editora da FAE: Rio de Janeiro, 1992.
CUNHA, Celso; CINTRA, Luís F. Lindley. Nova Gramática do Português Contemporâneo. 2. ed. Rio
de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.
BASÍLIO, Margarida. Teoria Lexical. São Paulo: Ática, 1991.
CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima gramática da língua portuguesa. 46. ed. São Paulo: Editora
Nacional, 2005.
GONÇALVES, Carlos Alexandre. Morfologia. Parábola, 2019.
GONÇALVES, Carlos Alexandre. Iniciação aos estudos morfológicos: flexão e derivação em portugês.
São Paulo: Contexto, 2011.
KEHDI, Valter. Morfemas do português. São Paulo: Ática, 2007.
MONTEIRO, José Lemos. Morfologia Portuguesa. 4ª. Ed. Campinas: Pontes, 2002.
ROCHA, Luiz Carlos. Estruturas morfológicas do português. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes,
2008.