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Resumos LSMSP – Capítulo 3

O Conhecimento das Palavras

Introdução:

 Os falantes de qualquer língua natural dominam um conjunto de princípios de


regras gramaticais, adquiridas durante o processo de aquisição de linguagem e
que permanecem estáveis ao longo da vida.
 “Base de dados” lexical – nº de palavras de um falante adulto (dezenas de
milhar), encontra-se em permanente atualização.
o Muitas palavras vão sendo esquecidas (domínios técnicos e científicos e
gírias caídas em desuso);
o As transformações culturais e as inovações tecnológicas ajudam a
enriquecer o conhecimento de novas palavras;

Nota: O léxico mental de cada falante vai-se enriquecendo e transformando ao longo da vida.

 A assimetria compreensão/produção regista-se igualmente ao nível do léxico:


o Léxico Passivo – Nº de palavras que um falante é capaz de
compreender;
o Léxico Ativo – Nº de palavras que o falante usa;

Nota: O léxico passivo é mais vasto que o léxico ativo.

O que sabemos quando conhecemos uma palavra:

 Palavras – veículos que transportam de uma mente a outra uma determinada


realidade conceptual;
 Conhecer uma palavra é conhecer indissociável de uma forma fónica;
 Significado e Forma Fónica – aspetos essenciais do conhecimento das palavras
(indissocialvelmente ligados e relação arbitrária);
o Contudo, não são as propriedades da entidade para a qual o significado
remete que justificam a forma fónica da palavra;
o Nas onomatopeias encontra-se uma relação motivada entre forma
fónica e significado;
 Ao conhecermos uma palavra também é necessário conhecer a categoria
sintática (nome, adjetivo, verbo, etc.) – conhecimento que determinada as
posições que a palavra pode ocupar numa combinação de palavras e
paradigmas flexionais em que pode entrar.
 É necessário também saber as condições que a palavra impõe ao contexto
sintático.
o Este tipo de condições que o conceito de regência capta, denomina-se
por propriedades de subcategorização ou de seleção categorial;
 Papéis semânticos que a palavra distribui pelas expressões que com ela se
combinam para formar unidades linguísticas mais extensas.
o Verbos como assassinar e matar, apresentam um papel semântico de
causador e um papel semântico de tema (ou paciente). No caso de
assassinar, este verbo também pode apresentar um papel semântico de
agente.
 Um item lexical seleciona semanticamente as expressões a que atribui papéis
semânticos e que as expressões que recebem tais papéis semânticos
constituem argumentos desse item.
o Exemplo: papel semântico de experienciador;
o A propriedades ou traços semânticos que um item exige que possuam
os seus argumentos constituem as restrições de seleção desse item;
 Conhecimento de uma palavra – entrada lexical. A entrada lexical constitui uma
hipótese sobre o que está guardado à cerca dessa palavra no nosso léxico
mental. Nesta estão representados os seguintes aspetos lexicais:
o A forma fónica;
o Significado;
o Categoria sintática;
o Propriedades de seleção categorial ou subcategorial;
o Propriedades de seleção semântica;
o Restrições de seleção;

Palavra e constituinte de palavra:

 Uma das razões pelas quais os falantes têm um léxico passivo tão extenso e
aprendem rapidamente e sem esforço palavras novas deve-se ao facto de
muitas palavras terem elementos comuns.
 Reconhecemos:
o –al (adjetivos);
o –izar (verbos);
o –idade (nomes);
o –mente (advérbios);
 Morfemas – unidades mínimas com significado, ou seja, unidades linguísticas
constituintes por um significado indissoluvelmente ligado a uma forma fónica;
o resultado da combinação de morfemas não são combinações de palavras mas
sim palavras;
o Tipos de morfemas: radicais e afixos.
 Radicais – morfemas que numa palavra simples determinam o
significado da palavra. Em palavras simples os radicais podem
formar sozinhos as palavras ou surgir combinados com
morfemas gramaticais – formas livres e independentes.
 Afixos – surgem associados aos radicais, podem ser sufixos
(depois do radical) ou prefixos (antes do radical) - formas presas
ou dependentes.
o Transmitem informação de natureza lexical, têm um
significado extragramatical. Este tipo de afixos,
denominados por derivacionais, são usados quando
formamos novas palavras. Na língua portuguesa usamos
sufixos que transmitem significados estritamente
gramaticais – sufixos flexionais.
 Ao analisarmos uma palavra devemos ter em conta:
o Estrutura Interna – forma como estão organizados os morfemas que a
constituem
 Representa-se por: Parentetização e Diagrama em árvore;
o Estrutura de Constituintes
 Base de dados lexical é composta por:
o Elementos mínimos com significado, os morfemas, que incluem radicais
e afixos;
o Palavras simples, constituídas apenas por um radical e em muitos casos
por afixos flexionais;
o Palavras complexas de vários tipos, de entre as quais destacaremos aqui
as que são formadas por um radical, um ou mais afixos derivacionais e
frequentemente sufixos flexionais;
 Síntese: desde muito cedo que nos encontramos equipados por construir
palavras a partir de morfemas que já conhecemos e para reconhecer formas de
palavras e novas palavras, porque conseguimos identificar os morfemas que as
constituem. Esta capacidade revela-se em produtos de criatividade lexical das
crianças, que formam constantemente palavras conformes com as regras da
língua.

Flexão:

 O português dispõe de morfemas presos que codificam conceitos gramaticais


como os de número, género, pessoa e tempo.
 Cada palavra assume formas diferentes que transmitem outros tantos valores
gramaticais.
 Assume-se que cada item é representado na forma dita não marcada que
corresponde, no caso dos determinantes, quantificadores, nomes e adjetivos, à
forma masculina singular e, no caso dos verbos, à forma infinitiva não
flexionada.
 Categorias nominais (determinantes, quantificadores, nomes, pronomes e
adjetivos) flexionam em número e em género.
o É apresentada também a flexão em grau aumentativo e diminutivo e
flexão de grau superlativo absoluto nos adjetivos. Sendo que os
restantes graus dos adjetivos expressos por processos sintáticos pela
combinação de várias palavras.
o Quanto aos verbos, estes flexionam em tempo, aspeto e modo, valores
gramaticais transmitidos por um único morfema, e em pessoa e número
valores igualmente expressos por um único morfema.
 A distinção terminológica tempo simples vs. tempo composto
distingue os tempos verbais formados através de processos
flexionais e os que são formados por processos sintáticos,
através de perífrases que incluem um ou mais verbos auxiliares e
um verbo principal ou copulativo. Também a distinção de voz
(ativa ou passiva) muitos valores aspetuais, modais e mesmo
temporais são assegurados em Português por processos
sintáticos e não flexionais.
 Por oposição às categorias nominais e aos verbos, preposições, conjunções,
interjeições e advérbios não flexionam, dizendo-se por isso que se trata de
classes de palavras invariáveis.
 Flexão verbal – organiza-se em 3 paradigmas (as conjunções), indicados pela
vogal que precede o morfema do infinitivo, denominada vogal temática. Assim:
o –ar (1ª conjunção);
o –er (2º conjunção);
o –ir (3ª conjunção);
 À combinação de um radical verbal com a respetiva vogal temática chama-se
tema verbal.
 Todos os tempos simples se formam a partir de 3 temas:
o Tema do Presente – a partir do presente do indicativo formam-se o
imperfeito do indicativo, o presente do conjuntivo e o imperativo;
o Tema do Pretérito – do pretérito perfeito do indicativo formam-se o
mais que perfeito do indicativo, o imperfeito do conjuntivo e o futuro
do conjuntivo.
o Tema do Infinitivo – do infinitivo não flexionado forma-se o futuro do
indicativo, o condicional, o infinitivo flexionado, o gerúndio e o
particípio passado.
 Realização morfológica das informações de pessoa e número em cada tempo
verbal, a desinência que identifica a pessoa e número.
 O conhecimento dos paradigmas flexionais regulares atingem-se muito cedo,
durante a fase do processo de aquisição da linguagem, a chamada fase das
sobregeneralizações, as crianças integram todos os itens flexionáveis nos
paradigmas regulares mais produtivos, visto que estes são os primeiros que
elas dominam.
 Regularizações analógicas caracterizam as produções de falantes que
aprendem Português como língua segunda ou estrangeira.
 Norma culta – conjunto de regras e padrões linguísticos usados por falantes
com alto nível de escolaridade. Considerada a variedade linguística de maior
prestígio.

Processos de Formação de Palavras:

 Léxico para cada língua;


 “Base de dados” em atualização permanente:
o Arcaísmos – itens que desaparecem;
o Alterações de significado;
o Neologismos - criação de outros;
 Empréstimos – empréstimos de outras línguas;
o Quanto mais antigos são os empréstimos, tanto mais eles
estão moldados à estrutura fonológica e ao sistema
ortográfico da língua que os importa.
 Transformação de palavra – extensão – processo, em que o item que tinha
essencialmente um significado mais restrito, alarga o seu significado.
 Processos de alargamento do léxico:
o Abreviação – processo que consiste em eliminar uma sequência mais ou
menos longa do final da palavra;
 Siglas – domínio de combinações de palavras que designam uma
entidade;
 Acronímia – formação de novas palavras a partir dos elementos
iniciais de expressões que designam instituições ou processos
científicos-tecnológicos;
o Processo de Mistura – criam-se novas palavras pela combinação
aleatória de partes de duas ou mais palavras, como acontece com os
itens.
o Composição – processos de criação de novas palavras. Os compostos
são combinações de palavras, em geral de categorial nominal ou
adjetival, embora possam ter como elementos constituintes verbos,
preposições e advérbios.
o Conversão – através deste processo, obtém-se uma nova palavra de
categoria diferente de outra já existente, sem qualquer alteração no
forma fónica, é muito frequente a conversão de formas infinitivas de
verbos.
o Derivação – permite formar verbos a partir de adjetivos, nomes e
verbos (casos de verbalização), nomes a partir de igualmente de
adjetivos, nomes ou verbos (casos de nominalização) e adjetivos a partir
de adjetivos, nomes ou verbos (casos de adjetivização).
 Quadros de exemplos – páginas 86/87
o Derivação Regressiva – é um processo de nominalização sobre radicais
que envolve supressão de sufixos.
o Parassíntese (ou circunfixação) – consiste na formação de palavras por
recurso simultâneo a prefixação e sufixação.

Mais sobre o significado:

 Podemos concluir que o significado de uma palavra é um função do significado


dos morfemas que a constituem e pode ser encarado como um conjunto de
propriedades semânticas elementares, também chamadas traços semânticos;
o Exemplo: página 91
 O significado de uma palavra inclui a propriedade – tornando-se redundantes;
 Subordinação conceptual entre duas palavras em que as palavras mais elevadas
na hierarquia se comporta como nomes da classe ou espécie a que pertence a
subclasse ou sub-espécie das palavras colocadas num ponto inferior da
hierarquia, tendo estas últimas necessariamente um significado mais
especificado e por isso mais restrito do que as primeiras.
 Por outras palavras, animal mantém com pessoa uma relação de hiperonímia e
pessoa mantém com animal uma relação de hiponímia;
 Postulados de Significado – através destes podemos representar a parte do
conhecimento lexical;
 Quando duas ou mais palavras têm traços semânticos (quase) idênticos,
encontram-se numa relação de sinonímia, dificilmente encontramos casos de
sinomínia perfeita.
 Oposição ou Antonímia – pode assumir três formas diferentes: antonímia
complementar, graduável e relacional;
o Antonímia complementar – os termos da relação são complementares.
O significado de um oposto complementar pode, por isso, ser descrito
como a negação do significado do outro.
o Antonímia Graduável – propriedade semântica relativamente à qual os
termos se opõem é uma grandeza escalar, havendo outros termos, para
além dos opostos considerados, que a partilham e se distinguem dos
termos da relação.
o Antonímia relacional - os opostos mantêm entre si uma relação
simétrica, um deles é a imagem especular do outro.
 Exemplos – página 93
 Homónimos – existem entre palavras de significados diferentes, mas não
opostos, relações de identidade fónica e/ou gráfica. Acontece quando dois ou
mais itens têm significados diferentes e formas fónicas e gráficas idênticas.
 Homófonos – Quando dois ou mais itens têm significados diferentes, formas
gráficas diferentes e formas fónicas idênticas.
 Homógrafos – Quando dois ou mais itens têm significados e formas fónicas
diferentes mas formas gráficas idênticas.
 Polissemia – facto de uma palavra ter mais que um significado. A homonímia e
a homofonia (quando processamos linguagem oral) ou a homografia (quando
lemos) podem originar ambiguidade, ou seja, podem levar os falantes a atribuir
mais do que uma interpretação a uma combinação de palavras.
o Exemplos – página 94
 Quando uma combinação de palavras é ambígua por uma das quatro razões
acima expostas, diz-se que tal ambiguidade é de natureza lexical, uma vez que
a origem da ambiguidade reside na presença de um item lexical polissémico ou
homónimo/homófono/homógrafo de outros.

Relações associativas, campos semânticos e famílias de palavras:

 Sendo as palavras combinações indissociáveis de significados e formas fónicas,


é possível estabelecer relações entre elas com base apenas no significado, na
combinação significado-forma fónica e apenas na forma fónica – relações
associativas.
 Campos semânticos – as palavras que pertencem ao mesmo campo semântico
partilham os mesmos traços do hiperónimo que dá nome ao campo e são, para
além disso, especificadas quanto a traços semânticos relativamente aos quais o
hiperónimo não apresenta especificação, tendo, por isso um significado, mais
restrito do que o hiperónimo.
 As palavras que apresentam constituintes morfológicos idênticos (mais
precisamente radicais ou afixos derivacionais idênticos) pertencem à mesma
família de palavras.
o Étimos (a sua origem à a mesma palavra em geral latina) – Cultismos
(constituem empréstimos latinos) – divergentes.
o Palavras com o mesmo étimo latino que entraram na língua em épocas
diferentes e por vias diferentes (popular vs. erudita) denominam-se
palavras eruditas.
 Ambição (por adição);
 Distração (por subtração);
 Derisão (por divisão);
 Mortificação (multiplicação);

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