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Atenção: Mecanismos, teorias e avaliação

O que é a atenção?
• Processo através do qual determinada informação é selecionada para posterior processamento e onde
o processamento de outras informações é inibido
• O funcionamento das diferentes funções cognitivas só é possível através de:
˃ Seleção apropriada dos estímulos
˃ Manutenção da concentração
˃ Interação espaço-tempo
• Sem a atenção, o pensamento seria impossível

Vigilidade:
• Atenção sustentada
• Capacidade para manter atividade atencional ao longo do tempo
• Sonolência/sono – vigília completa
• Influenciada por mecanismos endógenos e/ou exógenos

Alerta/Arousal
• Estado mais fisiológico
• Estado de alerta maior em determinadas horas do dia Vs noite
• Atenção mantida

Atenção dividida
• Capacidade para processar/prestar atenção a dois estímulos diferentes em simultâneo
• Altamente sensível a qualquer condição que reduza a capacidade atencional

Atenção seletiva/focada
• = concentração
• Capacidade para focar a atenção num estímulo relevante e capacidade para ignorar estímulos
irrelevantes (detratores são inibidos)
• Estudada experimentalmente
Processamento bottom-up vs. Top-down
Bottom-up → processamento inicia-se em informação sensorial não processada até originar representação
mais conceptual
Top-Down → processamento no qual o conhecimento conceptual influência a interpretação de níveis mais
baixos de processamento

Modelos teóricos
Teoria do filtro (Broadbent, 1958):
• seleção do material a prestar atenção em fases muito iniciais do processamento
• informação sensorial entra no sistema → “bottleneck” → escolha da mensagem a processar com base
em características físicas → restantes mensagens filtradas

Teoria da atenuação (Treisman, 1964):


• um determinado canal é selecionado em fases iniciais do processamento
• o canal a que não se presta atenção é atenuado (recebe menos esforço atencional) do que o selecionado
• mensagens enfraquecidas mas não totalmente filtradas

Paradigma de audição dicótica


• avalia de forma a informação a que não se prestou atenção
foi processada
• repetição em voz alta do que está a ser ouvido do lado
indicado
• canal a que se prestou atenção > não prestou atenção
• Se a informação for saliente ou semanticamente
relacionada com o material a atender

• Recordado e descrito (de forma errada) como tendo sido apresentado no canal a que se atendeu

Treisman (1964):
• Sujeitos instruídos a não prestar atenção (shadow) a um dos canis auditivos
• Mensagem com significado num canal auditivo, passando, posteriormente a sequência aleatória de
palavras
• Passagem da mensagem com significado para o canal auditivo contrário

Críticas às teorias de seleção inicial


• Memória para canal não atendido pode depender da familiaridade ou importância
• Ausência de efeitos de prática
• Memória para canal não atendido afetado pela semelhança com o canal a que se prestou atenção

Efeito do contexto
• Canal atendido → “Eles estavam perto de um banco”
• Canal não atendido → apresentação de um das seguintes palavras: “rio”; “dinheiro”
• Interpretação de “banco” enquanto → banco de areia, ao ouvir a palavra “rio”; dependência bancária,
ao ouvir a palavra “dinheiro”

Modelos teóricos
Teoria da atenuação de Deutsch & Deutsch (1963)
• Toda a informação é processada na totalidade
• A limitação está no sistema de resposta
• Perceção de múltiplas mensagens → filtradas um de cada vez
• Critério semântico – troca de canal auditivo para seguir a mensagem
• Critério “ouvido de origem” – filtragem do ouvido em questão

Teoria dos Diagramas Cognitivos de Shallice (1982)


• 2 mecanismos de controlo do processamento automático da informação:
˃ Planeamento ordenado de contenção (“contention sheduling”)
˃ Sistema atencional supervisor (“supervisory attentional system”)
Efeito de Stroop (1935)
• Forte tendência para as palavras serem automaticamente reconhecidas
• Paradigma:
˃ Dizer o nome da cor em vez de ler as palavras

˃ Nomeação da cor da palavra escrita (verde) mais lenta que a nomeação da cor estímulo neutro
(XXX)
˃ Tempo de leitura de palavras semelhante nas condições congruente (vermelho) e incongruente
(azul)
˃ A leitura automática do nome da cor interfere na nomeação da cor das letras (quando esta é
contraditória à palavra escrita)
- Dificuldades de inibição da leitura da palavra
- Inverso não se verifica
˃ Teorias explicativas:
- Tempo relativo de processamento da informação (+ rápido na leitura do que para outras
qualidades percetivas dos estímulos)
- Automaticamente (leitura) vs. Controlo (nomeação de atributos)

Processamento Automático vs. Controlado


Processos automáticos Processes controlados

• Não intencionais • Intencionais


• Inconscientes • Conscientes
• Sem esforço • Com esforço

Neuroanatomia da atenção
• Não existe um “centro da atenção”
• Rede neuronal distribuída
• Sistema de ativação reticular ascendente (ARAS)
• Implicação no ciclo sono-vigília e de alerta/arousal
• Papéis de ARAS no controlo da atenção
- Tónica (background) → afeta a Vigilidade
- Fásica (breve) → transição de estado de relaxamento alerta para estados de elevada atenção
• Lesão → perturbação dos ritmos circadianos, coma, estado vegetativo, crónico ou confusional
• Sensível a efeito de substâncias estimulantes ou depressoras (ex.: medicamentos para a ansiedade, etc.)

Colículo superior
• Direção da atenção visula para estímulos visuais
• Controlo dos movimentos oculares (sacadas) reflexos/rápidos em resposta a estímulos visuais novos

• Lesão – ex.: paralisia supranuclear progressiva (PSP)


˃ Doença neurodegenerativa
˃ Várias regiões afetadas (gânglios da base;
colículos superior e inferior)
˃ Doente incapaz de dirigir normalmente o olhar
para os objetos
- Não olha o interlocutor
- Não se vira para olhar para algo

Campos visuais frontais (frontal eye fields)


• Envolvidos no controlo voluntário do olhar
• Lesão
˃ Distractibilidade → atenção visual do sujeito é constantemente dirigida para estímulos visuais
irrelevantes
Região pulvinar lateral do tálamo
• Filtra material a prestar atenção da quantidade enorme de informação sensorial que é recebida pelo
cérebro
• Lesão:
˃ Incapacidade para filtrar estímulos (prestar atenção a um input e ignorar outros) e para travar a
entrada de novos estímulos

Cíngulo anterior (sistema límbico)


• Determina a saliência dos estímulos e a emoção/motivação a eles associada
• Seleção deliberada da resposta apropriada a determinados estímulos

Lobo Parietal
• Envolvidos nos aspetos visuais e espaciais da atenção (via
“onde?”) e recursos atencionais mais gerais
• Domain-specific
• Processamento top-down
• Lesão → inatenção hemiespacial seletiva (neglet)
• Envolvido em aspetos atencionais mais complexas
• Controlo executivo da atenção
˃ Possibilidade de inibição de aspetos atencionais mais reflexos
• Domain non-specific
• Controlo ativo (on-line) da informação
• Orbitofrontal – inibição de resposta
• Dorsolateral – iniciação da resposta
Atenção, memória de trabalho e controlo executivo
• Controlo atencional top-down
˃ Lobo frontal (córtex pré-forntal dorso-lateral – DLPFC) + cíngulo anterior

Modelo neuroanatómico do controlo atencional

Perturbação da atenção
Síndrome confusional (Delirium):
• Alteração do estado mental resultante do defeito global da atenção/alerta
• Desenvolve-se durante um curto período de tempo (geralmente horas ou dias) e tende a flutuar durante
o dia
• Sintomas associados: pensamento incoerente, desorientação (temporal e espacial), distractibilidade,
perturbação percetiva (ilusões/alucinações), delírios, redução do julgamento crítico, agitação
psicomotora
˃ Vários défices cognitivos (ex.: memória, cálculo) que tendem a regredir com a introdução de
ajuda em testes (evidência do défice de atenção)
• Ausência de sinais neurológicos
˃ Exceção: tremor, mioclonias ou sinais focais (ex: AVC)
• Causas
˃ Encefalopatia metabólica/tóxica
˃ Stress ambiental (ex. internamento hospitalar)
˃ Lesão cerebral multifocal (ex. meningite, encefalite, TCE, HSA)
˃ Epilepsia
˃ Lesão ocupando espaço (hematoma subdural)
˃ Lesão cerebral focal (ex. girus para-hipocâmpico, etc.)
Inatenção Hemi-Espacial Selectiva (Neglect):
• Perturbação da capacidade de atenção seletiva na exploração do espaço
• Incapacidade para atender, orientar-se e responder a estímulos localizados no hemi-espaço
contralateral ao da lesão cerebral
• Com maior frequência lesão hemisfério direito (parietal inferior e temporal mesial) → neglect do hemi-
espaço esquerdo
• Neglect visual é o mais comum
˃ Pode afetar uma ou todas as modalidades sensoriais,
comportamento e as representações internas de
memórias/pensamentos
• Neglect egocêntrico → não atender a um lado do espaço em
relação à linha média da cabeça/corpo
˃ Lesão do gyrus angular
• Neglect alocêntrico → não atender a um lado do espaço dos objetos
independente de onde estes apareceram no campo visual
˃ Lesão do gyrus temporal superior
• Neglect centrado nos objetos → não atender a um dos lados de um
objeto em relação ao eixo principal da representação canónica do
mesmo

• Anosognosia → desconhecimento ou negação da existência de defieto (ainda que grave) resultante de


uma lesão cerebral
• Pode variar desde indiferença aparente em relação aos objetos do lado esquerdo até à negação da
existência desse lado do corpo
˃ Afirmar que mexe o braço quando este se encontra pendurado ao lado do corpo
˃ Não reconhece como seu (alien limb)
• Neglect representacional
˃ Afeta a representação mental do espaço (enviesamento para a direita)
˃ Descrição das cidade localizadas apenas do lado direito de um mapa, quando este é imaginado

˃ Redução da representação mental do hemiespaço esquerdo (alucinações e sonhos – sono REM)

• Fenómeno de extinção
˃ Um estímulo sensorial, percebido isoladamente, deixa de o ser quando um estímulo idêntico é
apresentado ao mesmo tempo e de maneira simétrica
˃ Pode ser sensitiva (tato), visual ou auditiva (audição dicótica)
• Alexia e agrafia espaciais
• Acalculia espacial → escreve as operações na parte direita da folha, comete erros porque o facto de ter
em conta um ou vários algarismos situados do lado esquerdo

Testes de bissecção de linhas:


• Doentes com neglect marcam à direita do centro
• Doentes com hemianopsia esquerda = sujeitos saudáveis
• Se pedido ao doente para fechar os olhos e apontar para o meio do
corpo → apontam à direita da linha média

Recuperação espontânea:
Hiperatividade e défice de atenção (DSM-IV-TR):
• Não presta atenção suficiente aos pormenores ou comete erros por descuido nas tarefas escolares, no
trabalho ou noutras atividades
• Tem dificuldade em manter a atenção e organizar tarefas/atividades
• Parece não ouvir quando se lhe fala diretamente
• Não segue as instruções e não termina os trabalhos escolares, encargos ou deveres no local do trabalho
(sem ser por comportamentos de oposição ou por incompreensão das instruções)
• Evita envolver-se em tarefas que requeiram um esforço mental mantido (tais como trabalhos escolares
ou índole administrativa)
• Perde objetos necessários a tarefas/atividades (ex: brinquedos, exercícios escolares, lápis, livros ou
ferramentas)
• Distrai-se facilmente com estímulos irrelevantes
• Esquece-se das atividades quotidianas
• Seis (ou mais) dos sintomas devem persistir pelo menos durante seis meses com uma intensidade
inconsistente com o nível de desenvolvimento
• Perturbação dos aspetos executivos (auto-regulação)

Outros quadros neurológicos:


• TCE
• Doenças neurodegenerativas (demências)
˃ Demência com corpos de lewy

Outras perturbações não neurológicas:


• Depressão
• Ansiedade
• Fadiga
• Falta de sono
• Fatores ambientais (ex: barulho)
• Medicamentos (ex: anti-epilépticos, drogas recretivas, anti-histamínicos, etc.)

Avaliação da atenção
Avaliação sustentada
• Testes de Barragem
Atenção sustentada e velocidade de processamento

Pesquisa monitorizada e atenção dividida


• Trail making test

Atenção seletiva
• Teste de Stroop

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