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FUNDAMENTOS

HISTÓRICOS DA TERAPIA
COMPORTAMENTAL

Prof. Lizandra C. Brandani


VERMES, J. S.; ZAMIGNANI, D. R.; MEYER, S. B. Terapia analítico-
comportamental. Psicoterapias. v.2. São Paulo: duetto, 2010.
Origem
• Início do século XX
• 1913 – WATSON – “A psicologia vista por um
behaviorista”
• PAVLOV – Estudos sobre os reflexos condicionados

• Psicologia estímulo-resposta (psicologia S-R


• Imagem perpetuada nos dias de hoje
WOLPE – década de 50
• Influenciado por Watson
• “inibição recíproca”
• ... Se a associação de dois estímulos poderia fazer
com que um deles, inicialmente neutro, passasse a
provocar uma resposta, quando essa apresentação
simultânea gerava reações incompatíveis, o efeito de
um deles seria inibido... (p.13)

S1 R1 (ansiedade)

S2 R2 (relaxamento)
WOLPE – década de 50
S1 R1 (ansiedade)

S2 R2 (relaxamento)

Neutralização da resposta ansiosa

• Dessensibilização Sistemática: enfrentamento


gradual por imaginação ou ao vivo de situações
temidas ao mesmo tempo que o indivíduo faz
exercícios de relaxamento que inibem as reações
reflexas de medo ou ansiedade.
Estes estudos foram iniciados por duas
razões:

• Apontavam para o papel da aprendizagem na


aquisição de respostas emocionais
• produzindo neuroses experimentalmente
induzidas, eventualmente em humanos, poder-
se-ia obter procedimentos para melhorar estas
reações
Limitações
• Não é possível encontrar os estímulos que
antecediam toda e qualquer resposta
• Muitos estímulos apresentados não eliciavam
respostas

• Surgimento de explicações alternativas...


• Processos internos mediacionais (S – O – R)
• Mediação interna do indivíduo com o mundo
• Psicologias Cognitivas
Outro modelo explicativo: Skinner
• Conceito de Operante
• Ênfase no papel das consequências
• Só nas décadas de 60 e 70 que os conceitos
relacionados ao comportamento operante começam a
ser aplicados em seres humanos

MODIFICAÇÃO DO COMPORTAMENTO
Transpor para a clínica os achados de laboratório
desenvolvidos por Skinner
Pesquisas sobre aplicabilidade dos
princípios de aprendizagem ao
comportamento humano
• Aumento o repertório comportamental de crianças
com distúrbios de desenvolvimento e diminuição de
comportamentos disruptivos por meio de arranjos de
consequências.
• Foco: resposta única/isolada
• Instalação ou modificação de comportamentos
SOCIAIS, VERBAIS, AUTOCUIDADO, etc...
• Diminuição de comportamentos problemáticos:
BIRRAS, AGRESSÃO, ESTERIOTIPIA, etc...
História da Prática
• Terapeutas não eram pesquisadores
• Pesquisadores não eram terapeutas
• Alteração de uma resposta através de técnicas ou
procedimentos para alterá-la
• Contato restrito da criança com o terapeuta
• Pouca (ou nenhuma) intervenção direta com a criança
• Alteração do comportamento dos pais (ação verbal e
aberta)
História da Prática: o evento privado

• Fora do processo de análise da


queixa
• Observação consensual
• Permitir replicação
“estabelecia-se uma meta a ser obtida ao
final do trabalho (geralmente extinguir os
comportamentos queixa e aumentar a
probabilidade de ocorrência dos
comportamentos incompatíveis). Os
encobertos das crianças assim como os
eventos de contexto, como conjunto, ou
mesmo aqueles mais relacionados às
relações que os pais estabeleciam com a
criança, geralmente não eram enfatizados
no processo de análise da queixa (...)
(...) Ao se propor a intervenção propriamente
dita, selecionavam-se os procedimentos
comportamentais já indicados na literatura
como sendo adequados para o enfrentamento
daquele tipo de queixa ou, então,
estruturavam-se estratégias baseadas em
princípios de aprendizagem. A ação, via de
regra, empreendida por mediadores (pais,
professores, atendentes), sob orientação do
terapeuta, era avaliada passo a passo com
dados bastante objetivos, que indicassem que
os efeitos observados estavam relacionados
com os procedimentos introduzidos” (CONTE;
REGRA, 2006, p.83)
Modificação de Comportamento

• Fundamentação na pesquisa básica


• Número significativo de exemplos bem
sucedidos
• Abordagem promissora
• Ênfase na definição de problemas em
termos de comportamento
• Que possa ser mensurado de alguma
forma
• Uso de mudanças na mensuração
comportamental do problema, como
melhor indicador sobre a extensão em
que o problema está sendo aliviado.
Três aspectos marcaram esta proposta
de atuação

1) parecia viável a transposição do modelo de


laboratório para a situação clínica,
2) pretendia-se atender à comunidade
científica com o rigor da produção de
conhecimento e
3) pretendia-se atender aos clientes
promovendo melhoras significativas
Razões para o fracasso:
críticas externas

“mudanças foram acusadas de ofensivas à liberdade


pessoal (a diretividade do modificador desrespeitava
o sujeito); de superficiais (não lidavam com as
causas últimas e profundas do problema) e, portanto,
de irrelevantes (já que outro sintoma fatalmente
apareceria). Na melhor das hipóteses, só atenderia à
solução de problemas clínicos simples (hábitos de
estudo, comer, hora de dormir)” (GUEDES, 1993)
Razões para o fracasso:
críticas internas

“Não era tão fácil assim atender à comunidade


científica e mais difícil ainda era arranjar ambientes
identificando as contingências responsáveis pelo
comportamento.”

“Má compreensão da própria proposta teórica que


sustentava esta prática. Ou seja, identificar as
contingências reais responsáveis pelo comportamento
não era criar contingências artificiais para modificar o
comportamento”
“Lei do reforço”

• “Quando a ferramenta que temos na mão é um


martelo, tudo a nossa frente vira um prego”
• “Se o martelo já foi utilizado alguma vez para fixar
um prego, e prestou-se para isso, é quase fatal que
se tente utilizar de novo”

• Ainda mais quando não se tiver nada melhor do que


o martelo para se utilizar como ferramenta...
Terapia comportamental:
uma proposta nova?

• Modificadores de comportamento: clínicos ou


pesquisadores?
• TERAPEUTAS COMPORTAMENTAIS
• A “magia” da análise funcional
• Deixam para trás:
• a solução de problemas concretos,
• a rapidez da terapia,
• os registros,
• a confiabilidade na relação procedimentos/resultados
Terapia Comportamental

• GABINETE
• Interações verbais
• Face a face
• Ênfase:
• Vínculo
• Sonhos
• Sentimentos
• Auto-conhecimento
Modelo Médico
• Estudo de padrões de comportamento
• Estabelecer padrões de normalidade
• Busca de critérios estatísticos
• Curva “normal”
Modelo Médico
• Identificar uma doença
• Uma terapêutica aplicável
• Em geral, farmacológica
Modelo quase médico
• Modelo da psicologia clínica
• O indivíduo tem uma psique doente, um
traço de caráter enfraquecido, uma
personalidade desviante, uma doença
mental, uma estrutura cognitiva falha.
• Critérios que também se baseiam na
maioria
Modelo Comportamental
• Busca de variáveis de controle
• Sujeito único
• Busca da função
• Seleção pelas consequências
• Não discute respostas com a distinção
normal x patológico
“A crença na seleção (por consequências) leva ao
impedimento de um julgamento sobre os
comportamentos (...) leva a, no mínimo, dentro das
contingências que o mantém. E se for possível
proceder a uma análise funcional da situação na
qual o comportamento dito ‘patológico’ se insere,
chegar-se-á a conclusão de que aquele seria o
único comportamento que poderia acontecer,
dadas aquelas contingências” (BANACO, 1999)
E o Behaviorismo Radical?

“Como entender que tal prática terapêutica tenha sido


gerada por uma proposta teórica que afirma que: 1)
as causas iniciadoras dos comportamentos
(expressos ou encobertos) estão na relação com o
ambiente, 2) não só os comportamentos mas
também os sentimentos são produtos de
contingências e 3) portanto, mudanças de
comportamento e sentimento só são possíveis com
rearranjos entre ambiente e comportamento (Skinner,
1945, 1953)”
“Como entender que profissionais que
discutiam exaustivamente as diferenças entre
modelo médico e modelo psicológico e que,
portanto, teriam clientes e não pacientes, e
que acreditavam que comportamento ou
sentimento perturbado (assim considerados
não importa por quais critérios) eram
produzidos por contingências perturbadoras
(fossem elas de seleção natural, de
condicionamento, de cultura) (Skinner, 1981,
1984) tenham optado pela terapia face a
face?”
Década de 80:
• Estudo de emoção, motivação, comportamento verbal,
“relações simbólicas” processos
comportamentais complexos

• Desenvolvimento de uma prática terapêutica:


“O foco da intervenção tornou-se não apenas a
instalação ou eliminação de um ou outro
comportamento-problema, mas a construção de um
repertório amplo visando uma interação saudável com
o mundo” (p.16)
Terapia Comportamental

• Essência: análise do comportamento verbal


• Pensamentos e discurso que as pessoas constroem
sobre si mesmas
Proposta equivocada?
• relação terapêutica, sonhos, fantasias
• MODELO TERAPEUTICO DE PROPOSTAS
MENTALISTAS
• “a resolução de um problema presume o tornar-
se consciente dele”
Equívocos
• A terapia comportamental só foi possível
porque apresentava alternativas para
problemas que as abordagens mentalistas
não forneciam solução
Equívocos
• Estariam os terapeutas comportamentais
deixando de lado os problemas a que se
propuseram resolver?
• “Fica difícil imaginar que interpretações (ou
traduções) comportamentais de fenômenos
artificiais ao contexto do cliente possam
instrumentar (a ele ou aos terapeutas) para
rearranjar as contingências relevantes”
“Contingências artificiais na sessão têm pouca
chance de competir com as contingências em
geral mais antigas, mais significativas e mais
frequentes da vida do sujeito. O máximo que se
pode esperar é contar com a sorte ou mesmo
criar contingências na sessão para a formulação
de conselhos ou regras que então serão
seguidas; desmanchar alguns estímulos
aversivos eliciadores de ansiedade e reforçar o
cliente produzindo um fugaz sentimento de auto-
estima.”
Busca de novos modelos
“continuarão numa busca angustiada de
identidade, ajeitando-se com novos rótulos
que não marquem irremediavelmente a sua
origem comportamental e, ao mesmo
tempo, não os igualem aos mentalistas”
PANORAMA ATUAL
TERAPIA ANALÍTICO-COMPORTAMENTAL
Modelo Causal:
origem do comportamento

• Somos produto de uma combinação


complexa
• Entrelaçamento entre os três níveis de
seleção do comportamento:
• Variáveis Filogenéticas
• Variáveis Ontogenéticas
• Variáveis Culturais
Aspectos Filogenéticos

• Características inatas, comuns à toda


espécie
• Seleção natural – contribuição para a
sobrevivência
• Ponto de partida para a relação dos
homens com o mundo
“ ... Os pais reagirão de forma muito específica a cada
tipo de choro. A sucção do seio materno, quando feita
de determinada maneira, produzirá mais leite. O sorriso
da criança deflagrará ou não no adulto um carinho
muito peculiar; debater-se no berço poderá garantir o
colo da mãe, já permanecer inerte nos braços dela, o
levará a ser colocado de volta no berço. Todos esses
exemplos nos indicam que, mesmo sem perceber,
desde muito cedo, NOSSO COMPORTAMENTO
OPERA SOBRE O MUNDO, OU SEJA, O QUE
FAZEMOS TEM ALGUM EFEITO SOBRE O
AMBIENTE (físico ou social)” (p. 17)

Seleção ONTOGENÉTICA
Manutenção do comportamento
operante

• O REFORÇAMENTO
• Certos comportamentos são
preservados no repertório devido às
consequências
Nível Cultural
• Leis, regras, valores morais, tabus
• O poder do grupo do qual fazemos parte
• O papel do contexto histórico do qual vivemos

• Vantagem de interesse especial para a


terapia:
“graças a [nossa] interação verbal com a
cultura, aprendemos a descrever e nomear
nossas experiências e emoções” (p.18)
Repertório Comportamental
“impressão digital”

• Todas as formas de interagirmos com o mundo e


produto do entrelaçamento de variáveis complexas
desde o nosso nascimento até os dias atuais.

SUBJETIVIDADE
• Compreender cada indivíduo de forma única
ANÁLISE FUNCIONAL
“Para esclarecer essa premissa, podemos recorrer à
imagem de dois gêmeos idênticos recém-nascidos. Embora
eles carreguem as mesmas cargas genéticas,
necessariamente eles vivem experiências únicas desde os
momentos no ventre da mãe. Um dos fetos pode estar em
posição mais confortável ou posicionado de forma a ter
mais acesso a nutrientes, por exemplo. Logo após o
nascimento, um dos bebês terá acesso primeiro ao seio
materno, enquanto o outro deverá esperar. Um bebê será
carregado para limpeza por uma técnica de enfermagem de
determinada maneira, enquanto outro poderá ser carregado
por outro profissional ou por um familiar, de outra forma. No
decorrer da vida, infinitas e sutis interações da criança com
o mundo irão desenvolver comportamentos que carregam
características peculiares. Dessa forma, faz sentido assumir
propor que cada indivíduo seja estudado de forma única.”
Busca das Funções

“mesmo um comportamento aparentemente bizarro ou


que pareça não ter sentido, certamente continua
existindo porque traz algum benefício ao indivíduo”
Diagnósticos Psiquiátricos

• Terapia: um caminho para cada cliente


• Ajudam na comunicação com outros profissionais
• São Sds:
“informações preciosas que servirão de ponto de
partida para a observação e futura intervenção do
terapeuta”
Teoria MONISTA

“O terapeuta analítico-comportamental estuda o papel


que o ambiente desempenha sobre as o
comportamento do cliente ao invés de supor a
existência de eventos mentais com possíveis funções
causais.”
Princípios de Aprendizagem
“Por exemplo, se alguém fala que a pessoa estava se
autopunindo, sabemos que de acordo com os princípios de
aprendizagem isso não é possível. Como um
comportamento pode estar forte se ele está sendo punido?
Se tivermos um cliente que se automutila verificamos que
consequências podem estar mantendo essas respostas.
Então, nos perguntamos: será que a pessoa está obtendo
atenção e privilégios? A liberação de endorfinas pode estar
produzindo prazer e ajudando a manter a resposta? A
resposta pode estar adiando ou retirando estimulação
aversiva pior? Este raciocínio funcional terá implicações
diretas para a continuidade do atendimento.”
A prática do terapeuta analítico-
comportamental

• Terapeutas comportamentais se preocupam com


sentimentos?
• A terapia é tão profunda quanto outras?
• Será que essa abordagem serve para todos os
casos?
• A terapia comportamental consegue ajudar seu cliente
em questões existenciais?
Acolhimento Inicial

• Vínculo especial entre cliente/terapeuta


• “audiência não punitiva”
• Constituição da relação terapêutica
• Lembrando que “o que é reforçador para uns, não é
reforçador para outros”
Coleta de Informações
(conhecendo o cliente)
• Entrevista e Observação
• Queixa: tristeza profunda

• “Desde quando você se sente dessa maneira?”


• “Você percebe se em algumas situações essa tristeza se torna
mais intensa?”
• “Em algum outro momento da sua vida, você sentiu algo
semelhante a isso?”
Lembrar que relatos verbais nem
sempre (ou quase nunca) são precisos

• Falta de consciência
• Subestimar ou superestimar a ocorrência de certos
comportamentos
• Interpretações prontas que já vem com o cliente
(geralmente mentalistas)
Dados sobre comportamento
encoberto

• Sentimentos, sonhos, fantasias


Observações diretas
• Ir além do relato verbal
• Atentar para respostas sutis do cliente
• expressões faciais, postura, gestos, movimentos
corporais, rubor da pele, olhos brilhando ou
lacrimejando
• Indicativos de estados emocionais
• Quais contingências evocaram estas respostas?
Avaliação Comportamental

• Identificação da queixa
• Detecção do repertório
• Habilidades
• Déficits comportamentais
• Aspectos ambientais facilitadores e problemáticos
• suporte social, saúde, recursos financeiros, disponibilidade e
diversidade do ambiente para prover reforçadores, questões
legais envolvidas etc.
Análise de relações funcionais
• Informações sobre eventos que antecedem e
sucedem o comportamento de interesse
• História de vida do cliente, que pode explicar como
alguns eventos adquiriram determinado significado
para ele.
• Relações verbais envolvidas em sua interação com a
cultura e com seu grupo familiar também devem ser
investigadas, de modo que tenhamos conhecimento
sobre os valores e normas aos quais o cliente
responde em seu cotidiano.
• Falta de um controle discriminativo apropriado
Problemas Comportamentais
• excessos comportamentais (comportamentos que
ocorrem com frequência ou intensidade excessivas, como
por exemplo: comprar em excesso);

• déficits comportamentais (falta de repertórios


importantes, tais como habilidades sociais, expressão de
intimidade etc.)

• comportamentos intervenientes (comportamentos que


impedem a emissão de outras respostas mais efetivas
para a produção de reforçadores, (por exemplo: dores
crônicas que impedem a emissão de determinados
comportamentos importantes nas relações sociais).
Consequências

• um comportamento ocorre porque as consequências


que o manteriam não estão disponíveis
• existência de consequências concorrentes (conflito)
Intervenção

• Autoconhecimento
• Autonomia
• Alteração do ambiente (propiciar a emissão de
comportamentos alternativos)
• Cuidado com intervenções prescritivas (dar respostas
prontas)
• Aumentar o repertório de auto-observação (melhorar o
controle de estímulos)
Intervenção

• Excessos Comportamentais: mais do que meramente


remover uma resposta indesejada, o tratamento
analítico-comportamental deve ter em vista aumentar
a frequência de comportamentos desejáveis.
• Déficits: instrução, modelagem e modelação

• Etc.

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