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Léxico, Sintaxe,

Morfologia e Pragmática
O conhecimento das palavras
Conhecimento Linguístico
Conhecer uma língua inclui vários tipos de conhecimento:
˃ Conhecimento das palavras (ou conhecimento lexical) – léxico, morfologia e semântica
˃ Conhecimento sintático – sintaxe
˃ Conhecimento fonológico – fonologia
˃ Conhecimento semântico – semântica
˃ Conhecimento pragmático – pragmática

Modelo de organização da gramática

O léxico (a parte da gramática que inclui o conhecimento das palavras) inclui:


o Um dicionário que armazena as palavras e as suas propriedades
o Um conjunto de regras de formação de novas palavras
A sintaxe é um sistema computacional, constituído por regras que usam categorias (como nome, verbo, preposição,…) e que
definem as condições de boa formação das combinações de palavras.
A fonologia é constituída por um conjunto de regras e processos que definem as condições sobre a interpretação fonética das
palavras e das combinações de palavras. Saber a fonologia da sua lingua implica:
o Saber o conjunto de sons significativos da sua lingua
o Saber as combinações de sons legítimas e as ilegítimas
o Dominar intuitivamente as regras gerais de atribuição de acento de palavra bem como as estruturas silábicas legítimas
da sua lingua
A semântica é constituída por um conjunto de regras que definem as condições sobre a interpretação das combinações de
palavras.
A pragmática é o uso da lingua como significado contextual, adequação, informatividade e relevância de um enunciado num dado
contexto; prevê a interação da Gramática com outros módulos do sistema cognitivo dos seres humanos.
O que sabemos quando sabemos uma palavra?
˃ Significado
˃ Forma fónica
˃ Categoria sintática
˃ Propriedades de subcategorização
˃ Propriedades de seleção semântica (quantos e que tipo de argumentos)
˃ Restrições de seleção semântica impostas aos argumentos (quais as propriedades semânticas dos argumentos)

Morfologia
Competência morfológica
- Conhecimento intuitivo acerca da constituição das palavras
- Conhecimento das regras que possibilitam a construção morfológica das palavras (flexão e derivação)
Morfologia
- estudo divide-se então em dois domínios:
- primeiro é – o da análise da estrutura interna das palavras existentes
- o segundo é o da descrição dos processos morfológicos de formação de novas palavras.
A morfologia é a área da Linguística que se dedica ao estudo das palavras. O objeto de estudo da morfologia centra-se em dois
domínios:

Palavras simples - palavras em que a relação entre a forma, o significado e as propriedade gramaticais que lhes estão associadas
é uma relação arbitrária e imprevisível. Estas palavras possuem um único radical, que é uma unidade lexical inanalisável, e sufixos
que o especificam morfológica e morfossintaticamente, variando nas suas categorias de flexão:

Palavras complexas - a posição do radical domina uma nova estrutura morfológica, que pode integrar um radical e um afixo (cf.
clar-ificar; des-ligar) ou dois radicais (cf. ec-o-sistem-as), sendo que cada um dos radicais encaixados pode, por sua vez, ser uma
nova estrutura morfológica (cf. clar-ifica-dor; re-des-ligar; micro-ec-o-sistema). Nestes casos a configuração é expandida por
ramificação do radical:

As palavras que possuem um radical complexo são estruturas de afixação e de composição sendo que as primeiras são
predominantes no Português e resultam da concatenação de um afixo (prefixo ou sufixo) a um radical, um tema ou uma palavra;
as segundas são geradas por concatenação de dois ou mais radicais:

Palavras complexas - As palavras complexas são ou foram geradas pela intervenção de processos de formação de palavras, cujo
conhecimento constitui um segundo objeto de estudo da morfologia. Assim, de uma forma esquemática, pode dizer-se que a
morfologia se ocupa, por um lado, da especificação (morfológica e morfossintática) do radical e, por outro, dos processos de
formação de radicais complexos:

O que está no léxico?


o Elementos mínimos com significado
˃ Ou não! Um constituinte morfológico pode não ter significado (vogais temáticas).
o Palavras simples (radical + afixos flexionais)
o Palavras complexas (radical + afixos derivacionais + afixos flexionais)
Ainda tempos presentes os radicais simples, os afixos, os radicais complexos lexicalizados, as formas flexionadas lexicalizadas e as
expressões sintáticas lexicalizadas.

O que há dentro das palavras?


˃ Morfemas/constituintes morfológicos
o Radicais
o Afixos

Constituintes morfológicos e palavras

Todas as palavras são ou contém morfemas/constituintes morfológicos, mas nem todos os morfemas/constituintes morfológicos
são palavras!

O que é um morfema?
˃ Unidade mínima com valor morfológico distintivo
˃ Menor unidade gramatical de uma lingua
˃ Menor unidade portadora de significado
˃ Um elemento que participa na construção de uma palavra
˃ Unidade mínima com significado… ou não!
˃ Qualquer elemento participa na construção de uma palavras (=constituinte morfológico)

Morfema
Morfema gramatical (ou funcional): desempenha funções estritamente gramaticais (ex.: transformação de um adjetivo num
advérbio)
­ afixos flexionais, artigos, as preposições, as conjunções
­ mente em felizmente
Morfema lexical: tem sentido dicionarizável; designa seres, ações, conceitos abstratos, entre outros
­ radicais e afixos derivacionais
­ feliz em felizmente
No português para que uma dada estrutura seja reconhecida como palavra é necessário que ela contenha :
- um radical
- um especificador morfológico, chamado constituinte temático um ou dois especificadores morfossintáticos que realizam a flexão
morfológica.

Morfemas que são palavras


Morfema livre: morfema que, por si só, pode constituir uma palavra. – com, um só
Morfemas presos: morfema que, por si só, não pode constituir uma palavra, sendo portanto, necessariamente, um constituinte
de palavra.

Morfemas que não são palavras


Há morfemas que têm de estar presos a outros.
-a-
-al-
São morfemas mas não são palavras!
Anti-
-mente

Morfemas livres e presos


Os morfemas livres constituem radicais:
˃ um radical simples - mãe
˃ um radical complexo – mãe + zinha
Radicais e afixos
Radicais: morfemas que determinam o significado da palavra
Afixos: juntam-se aos radicais e transmitem informação de natureza lexical (derivacionais) ou informação de natureza
estritamente gramatical (flexionais)

Radicais
Radical simples: forma inanalisável (=não analisável)
Radical complexo: integra dois ou mais constituintes morfológicos, um dos quais é obrigatoriamente um radical simples
o Radicais nominais - São os constituintes que ocupam a posição radical de um nome simples. (Radicais Nominais Simples
– natureza categorial da palavra simples em que ocorre; Radicais Nominais Complexas – o núcleo é um radical complexo)
˃ morfo-semânticas
˃ género (inerente)
˃ classes temáticas
o Radicais adjetivais - está associada informação relativa à classe temática que é definida pela natureza do índice temático
que selecionam (-a, -o, -e, -_) ou não (􀀇); Pela sua variabilidade - que distingue os radicais adjetivais variáveis em
género
o Radicais verbais - está associado um traço que indica a conjugação a que pertencem; também incluem informação relativa
ao tipo de flexão, que pode ser regular ou irregular. Há defetividade provocada por acidentes de natureza diacrónica.
Alguns destes verbos recorrem ao supletivismo.
o Radicais adverbiais - Distribuem-se por classes temáticas idênticas às dos radicais adjetivais e nominais e geram palavras
invariáveis

Radicais Nominais
Propriedades Morfossemânticas
– Distinção entre nomes próprios e comuns, animados e – [± humano]
inanimados, contáveis e massivos.
– [± contável]
– [± animado]
Género
– Todos os radicais possuem informação de género gramatical dado que desencadeia mecanismos de concordância.

– Valores de género

– Os radicais nominais derivados têm uma relação mais motivada com o género, dado que todos os radicais formados por um
mesmo sufixo derivacional possuem idêntico valor
• Todos os radicais nominais derivados pelo sufixo –idade são femininos.
• Todos os derivados em –ismo são masculinos.
• Todos os derivados em –nte são subespecificados.

Classes Temáticas
– Aos radicais nominais está geralmente associada informação sobre a classe temática que pertencem e é definida pela natureza
do índice temático que selecionam ( -a, -o, -e, -Ø) ou pela ausência (􀀇)*, em combinação com o seu valor de género (masculino,
feminino e subespecificado):
• Tem RN [-a, -fem] e.g. tema
• Folh RN [-o,-fem] e.g. olho
• Dent RN [-e, -fem] e.g. dente
A identificação de radicais de tema em –o, em –a não coloca especial dificuldade: trata-se de radicais de nomes que, no singular,
exibem esse radical e o respetivo índice temático e, no plural, exibem o radical, o índice temático respetivo e o sufixo de flexão
adequado.
Os radicais atemáticos englobam radicais com um comportamento marginal.

Responsáveis pela ausência de qualquer um dos índices temáticos que caracterizam as restantes classes temáticas.
Afixos
Prefixos → quando precedem o radical ou outros prefixos
Infixos → quando no meio do radical
Sufixos → se seguem ao radical ou outros sufixos
Afixos especificadores: com informação de natureza morfológica (constituintes temáticos ou flexão) - sufixos
Afixos derivacionais: responsáveis pela formação de novas palavras, determinando as suas propriedades gramaticais e semânticas
– sufixos e prefixos
Afixos modificadores: responsáveis pela formação de novas palavras, determinando as suas propriedades semânticas (não
gramaticais) – prefixos

Morfemas derivacionais e flexionais


Os morfemas flexionais (variação da mesma palavra) não modificam a categoria sintática da palavra; os morfemas derivacionais
sim (podem modificar a categoria; o sufixo derivacional determina a categoria).
Radicais e Sufixos

Verbalização deadjetival
Os radicais verbais, os sufixos de verbalização e as vogais temáticas são especificados quanto à conjugação.

Morfologia derivacional

Determinam os sufixos Determinam os prefixos

Como combinar radicais e afixos?


Restrições de natureza:
o Morfológica: -ção versus –idade
o Fonológica (alomorfia): -vel versus –bil-

Morfologia flexional
o Em português, a morfologia flexional é sufixal.
o As categorias nominais (nomes, adjetivos, artigos…) flexionam em número, género e grau.
o Os verbos flexionam em tempo, aspeto e modo, em pessoa e número.
o A flexão verbal de tempo, aspeto e modo organiza-se em 3 paradigmas – as conjugações – identificáveis pela vogal
temática, que precede o morfema do infinitivo.
Os processos morfológicos flexionais regulares mais produtivos atingem-se muito cedo, dando origem a:
˃ regularizações temporárias de formas – sobregeneralizações – no período de aquisição da linguagem;
˃ reanálises de formas excecionais na gramática de falantes adultos pouco escolarizados.
Como se criam novas palavras?
Processos morfológicos
• derivação • conversão

Processos não morfológicos


• acronímia
• abreviatura de palavras – truncamento
• abreviatura de sequências de palavras – sigla
• amálgama/mistura
• empréstimo
• extensão metafórica
• composição
Semântica
o Conhecimento intuitivo do significado das palavras (semântica lexical)
o Conhecimento das regras que possibilitam a construção de predicações (semântica da frase)
o Conhecimento dos mecanismos necessários à sequencialização de enunciados num plano discursivo/textual (semântica do
discurso)
Propriedades gerais (comuns aos membros de um campo lexical) e propriedades específicas (específicas de um dos membros de
um campo lexical).
Assim:
As propriedades gerais ilustram as denominações taxonómicas dos termos hiperonímicos
As propriedades específicas permitem individualizar os hipónimos.
- pela hierarquia estabelecida, a significação dos hipónimos contém e implica propriedades semânticas dos termos
hiperónimos.

Relação semântica entre palavras pertencentes à mesma área semântica em Dtermos de maior ou menor especificidade do seu
sentido - relação de inclusão.
Arquitetura da faculdade da linguagem

A organização da Faculdade da Linguagem é “modular internamente”, ou seja, o sistema computacional formal é distinto das
componentes conceptual e auditória, embora interajam entre si.

Linguagem e pensamento
• O pensamento molda a linguagem?
• A linguagem molda o pensamento?
hipótese de Whorf-Sapir
– Determinismo linguístico
– Relativismo linguístico (cf. Ted talk de Lera Boroditsky)
• Diferentes línguas aplicam diferentes categorias ao mundo.
• A estrutura e as categorias de uma língua afetam o modo como percebemos e compreendemos a realidade.
• Diferentes línguas contêm diferentes visões do mundo.

Semântica
semântica lexical: estuda/abrange o conhecimento do significado dos itens lexicais e das relações horizontais e verticais que se
estabelecem entre eles.
semântica composicional: estuda/abrange o conhecimento dos princípios e regras que permitem aos falantes interpretar
combinações livres de palavras.

o que é o significado?
Perspetiva naturalista: relação intrínseca entre as palavras e as coisas - onomatopeias: splash, chuac, quá-quá
Perspetiva convencionalista: relação arbitrária entre forma/som e significado

Léxico mental
o Conjunto virtual de entradas lexicais.
o Rede de palavras estruturalmente organizada em torno de relações abstratas.
o Organização das palavras em redes semânticas (dependente do enquadramento cultural ou civilizacional, e individual da
pessoa).

A) Propriedades definitórias, distintivas, e propriedades prototípicas


- Propriedades definitórias: define todos os lexemas
- Propriedades distintivas: permitem distinguir um conjunto de lexemas de outros
- Propriedades prototípicas: propriedade mais saliente de um conjunto de itens mas que não é absolutamente comum a
todos os itens

Semântica Lexical - Denotação


Significado de palavra ou de expressão linguística.

- As palavras não podem ser usadas para designar as mesmas entidades. – denotação intencional
- A intensão de duas palavras ou de expressões distintas não implica que a sua extensão também o seja.

Expressões Referenciais
Expressões que designam ou representam uma entidade particular ou um conjunto particular de entidades do universo de discurso.
O cão do Rui fugiu.
Referente
Todos as crianças brincaram.
Denotação das palavras e contexto discursivo.~

Semântica Lexical - Vagueza


O sentido da maioria das palavras inclui propriedades conceptuais muito gerais da identidade, permitindo alguma variação na
caracterização precisa da mesma. Algumas palavras têm um sentido vago – a propriedade semântica vagueza.
Palavra que denota o instrumento que se insere na fechadura para mover a lingueta, permitindo-a abri-la ou fechá-la.

Semântica Lexical - Homonímia e Polissemia


Na sua maioria, as palavras são ambíguas. Principalmente, as palavras que ocorrem com frequência no uso do falante. Palavras
ambíguas são aquelas que correspondem a sentido diversos.
As palavras monossémicas são em menor número.
Existe ambiguidade lexical quando uma mesma forma fonética e gráfica correspondem sentidos diferentes.

Isto é um caso de homonímia!

Homonímia Homófonas: Palavras homónimas com formas fónicas idênticas mas formas gráficas distintas.
Homonímia Homógrafas: Palavras homónimas com formas gráficas iguais mas com formas fónicas diferentes.

Homonímia Parcial: Palavras homónimas com classes gramaticais diferentes.

Homonímia Absoluta: Palavras homónimas com classes gramaticais idênticas.

Polissemia – Metáfora: Palavras polissémicas resultante de uma associação por semelhança

Polissemia – Metonímia: Palavras polissémicas resultante de um sentido de expansão ou restrição de sentido por continuidade.
• continente e conteúdo

Polissemia Regular: Todas as palavras pertencentes a uma determinada classe semântica exibem o mesmo padrão polissémico.
Ele já terminou de escrever o livro. O livro é interessante.
(caderno, diário, manual, tese)
• Polissemia compatível
O livro que saiu está escrito conforme o novo acordo ortográfico. (suporte + conteúdo)
• Polissemia incompatível
? Adicione a colher de prata de azeite ao refugado. (recipiente + medida de quantidade)
Polissemia Irregular: As palavras da mesma classe semântica não exibem o mesmo padrão polissémico.
Ele foi operado ao coração. Ele tem o coração partido.
(pâncreas, estômago, fígado, rins)

Semântica Lexical - Sinonímia


o Relação semântica de palavras distintas, da mesma classe lexical, com sentidos semelhantes.
• sinonímia absoluta
É raro existirem duas palavras quem tenham exatamente o(s) mesmo(s) sentido(s) e que possam ser substituíveis
sem que ocorra uma alteração do significado expressivo ou adequação do enunciado.
dentista/ estomatologista proparoxítona/ esdrúxula
• sinonímia parcial: Palavras que podem partilhar algum ou alguns dos seus sentidos.
alto/ cume morrer/ falecer
• sinonímia proposicional: Palavras ou expressões linguísticas que possam substituir numa frase sem alterar o
seu valor de verdade.
Muitos japoneses/ nipónicos morreram na guerra do pacífico.
o Em muitos casos, as palavras sinónimas são variantes dialetais da mesma língua.
Semântica Lexical - Antonímia
o Relação semântica de palavras da mesma classe lexical com formas diferentes e sentidos opostos.
• Antonímia Complementar: Uma relação só possui dois pontos de oposição possíveis. Estes dois pontos são
incompatíveis entre si e excluem-se entre si.
vivo/morto par/ímpar
• Antonímia de Grau: Uma relação com pontos intermédios entre dois extremos opostos.
quente/ frio molhado/ seco
• Antonímia Reversível: Uma relação que denota extremos opostos de uma escala espacial e que poderão
envolver movimento, orientação ou localização.
abrir/fechar enrolar/desenrolar subir/descer

Semântica Lexical - Meronímia e Holonímia


o Relação semântica entre palavras que denotam o todo e a sua parte. Merónimo é a palavra que denota parte de um
todo. Holónimo é a palavra que denota o todo.
• Meronímia Quantitativa: Relação que liga uma porção arbitrária a um todo sem partes distintas intrínsecas.
fatia – bolo/ tarte, queijo, pão
• Meronímia Inclusiva: Relação parte-todo que liga uma entidade autónoma com a sua própria identidade,
a uma coleção
lobo – alcateia pessoas – multidão
• Meronímia Material: Relação parte-todo que liga uma substância ingrediente a uma substância mais complexa.
limão – limonada açúcar – doce
• Meronímia Subatividade: Relação parte-todo que liga uma ação a outra ação na qual uma está incluída.
mastigar – comer focar – fotografar
• Meronímia Espacial: Relação parte-todo que liga uma área espacial a uma outra mais abrangente, e em que as fronteiras
entre as duas áreas são algo subjetivas.
palma – mão cume – montanha

Semântica Composicional
o princípios e regras que permitem aos falantes interpretar combinações livres de palavras
Princípio de composicionalidade
O significado de uma expressão linguística é resultante do significado:
(i) dos itens lexicais que a constituem;
(ii) da forma como os itens lexicais são combinados (estrutura sintática, ordem de palavras, relações gramaticais).
Este princípio é violável – por exemplo, em expressões idiomáticas.
O condutor foi desta para melhor. [=morrer]
Eles começaram logo a sacudir a água do capote. [=desculpar-se]

Interpretar uma frase implica:


• interpretação do conteúdo proposicional (predicado + argumentos + modificadores)
• interpretação de localização temporal, aspetual, modal
• interpretação de valor de polaridade (negativa ou positiva)

Proposição
Todas as frases que apresentam/descrevem uma situações situação são proposições.
“Uma proposição é o significado de uma frase declarativa que descreve uma situação envolvendo entidades, referidas através de
expressões na frase, que mantêm entre si diferentes tipos de relações explícitas pelo predicado.” - Mateus et al (2003: 208)

Polaridade

Gramaticalidade vs. aceitabilidade


A anomalia semântica não determina não aceitabilidade ou agramaticalidade.
Sentido e referência
A Semântica analisa o significado das palavras ou expressões linguísticas, e não a sua referência.
Significado o que uma palavra ou expressão linguística significa numa língua particular
➔ sistema linguístico
Referência o que uma palavra ou expressão linguística refere no ‘mundo real’ (extralinguístico)
➔ mundo real
Outras pessoas estudam o mundo real – físicos, biólogos, geógrafos, sociólogos...

Sentido

Referência

Na língua, o significado manifesta-se no estabelecimento de relações sistemáticas entre formas linguísticas e situações do mundo
– significância informacional.
Expressões referenciais: expressões linguísticas que referem e ocupam posições sintáticas de argumentos ou adjuntos
Expressões predicativas: expressões linguísticas que atribuem propriedades ou estabelecem relações; podem ter função sintática
de predicativo (do sujeito ou objeto direto) ou podem ser verbos (que introduzem relações entre argumentos)
A referência pode ser:
• deítica: a referência é estabelecida em função de um ponto de referência contextualmente determinado
• anafórica: a referência é estabelecida em função de outro elemento no texto (sem haver necessariamente correferência)
REFERÊNCIA DEÍTICA
DEIXIS: a referência é estabelecida em função de um ponto de referência contextualmente determinado
• temporal
Eu hoje fui ao cinema.
Eu vou ao cinema amanhã.

• espacial
Este livro tem mais páginas que aquele.

Vou ficar aqui a tarde toda.

• pessoal
Tu nunca estás satisfeito!
Os nossos filhos são mais novos que os vossos.
REFERÊNCIA ANAFÓRICA
anafórica: a referência é estabelecida em função de outro elemento no “texto” (sem haver necessariamente correferência)

expressões nominais
• designam indivíduos singulares ou plurais únicos
• Podem ser definidas e indefinidas e ter interpretação:
– distributiva ou coletiva (cf. ambiguidade)
– genérica ou existencial
– específica ou não específica
Estas interpretações estão (também) dependentes dos predicados com que as expressões nominais se combinam.

expressões definidas
expressões definidas singulares e plurais
• designam indivíduos singulares ou plurais únicos – têm uma função designatória como os nomes próprios
A terapeuta da fala inglesa chegou ontem.
A Cristina chegou ontem.
As expressões definidas que designam pluralidades podem designar indivíduos de um conjunto de um a um (interpretação
distributiva) ou um o conjunto como uma entidade única (interpretação coletiva).
Os terapeutas da falas ingleses acordaram às 7 da manhã.
Os terapeutas da falas ingleses reuniram-se em plenário.

• podem designar “protótipos” e não indivíduos únicos; esta interpretação genérica é acionada por certos predicados e
valores aspeto-temporais
“O Terapeuta da Fala é o profissional responsável pela prevenção, avaliação, intervenção e estudo científico das perturbações da comunicação humana,
englobando não só todas as funções associadas à compreensão e expressão da linguagem oral e escrita mas também outras formas de comunicação
não verbal.”

expressões indefinidas
expressões indefinidas singulares e plurais
• referem indivíduos singulares ou plurais não identificados
Uma terapeuta da fala inglesa chegou ontem.
Encontrei num congresso uns terapeutas da fala que não conhecia.

As expressões indefinidas podem ter interpretação específica (afirmando a existência de um referente) ou uma interpretação não
específica (não pressupondo a existência de um referente).
Um terapeuta da fala está sempre disponível para ajudar.
Quero conhecer uma terapeuta da fala inglesa – a Cristina.
Quero conhecer uma terapeuta da fala inglesa – qualquer uma serve; preciso de saber como ir trabalhar para Inglaterra.

meros plurais ou plurais vazios (‘bare plurals’)


• expressões nominais sem qualquer determinante
São necessários terapeutas da fala nos hospitais.
Terapeutas da fala são profissionais de saúde com formação de nível de 1º ciclo de ensino superior.

• podem ter interpretação genérica ou uma interpretação existencial


O Ministério da Saúde reuniu ontem com terapeutas da fala.
Havia terapeutas da fala no congresso em Inglaterra.

uso referencial: refere um indivíduo determinado (embora introduzido no universo de referência de forma não específica)
uso atributivo: predica uma propriedade sobre o indivíduo referido por uma expressão referencial.

verbos
O conhecimento dos verbos implica conhecimento de:
• categoria sintática
• número de argumentos selecionados (se algum)
• papel temático* do SN sujeito e argumentos
(informação disponível no LÉXICO e projetada na estrutura frásica - SINTAXE)
*Os papéis temáticos mantém-se, independentemente da estrutura frásica – ativa ou passiva ou outra.

predicação

papéis temáticos
Relações dos argumentos de um verbo com o verbo
AGENTE - o que pratica a ação (o “fazedor”)
TEMA - o que é afetado pela ação
LOCATIVO - onde a ação acontece
ALVO - para onde a ação é direcionada
FONTE - onde a ação é originada
INSTRUMENTO - o meio pelo qual a ação acontece
EXPERIENCIADOR - o que percebe algo
CAUSA - uma força natural que causa uma mudança
POSSUIDOR - o que possui algo

frases
O significado de uma frase é uma proposição (que descreve uma determinada situação). Sobre as proposições podemos avaliar
do seu valor de verdade!

pressuposição
Existe entre proposições (ou conjuntos de proposições) relações de pressuposição que implicam que em todos os casos em que
umas são verdadeiras as outras são verdadeiras.

implicação lógica ou semântica


A Maria fechou a porta.
A porta está fechada.
A porta foi fechada pela Maria.
Quem fechou a porta foi a Maria.

hiponímia-hiperonímia
Cocker -> cão -> mamífero
SINTAXE versus SEMÂNTICA
Existe entre proposições (ou conjuntos de proposições) relações de pressuposição que implicam que em todos os casos em que
umas são verdadeiras as outras são falsas.

contradição lógica ou semântica


Ideias verdes incolores dormem furiosamente.
O João jantou mas não ingeriu qualquer alimento.
O teorema de Pitágoras aterroriza a euforia.
SINTAXE versus SEMÂNTICA
frases semanticamente anómalas (mas e se for figurativo?...)

postulados de significado
Implicação lógica e equivalência semântica podem ser usadas para descrever o significado semântico dos itens lexicais (e
composicional).

postulados de significado
Se tivesse continuado solteiro, não teria tido esposa!
SINTAXE versus SEMÂNTICA
AMBIGUIDADE LEXICAL
AMBIGUIDADE SEMÂNTICA

Ambiguidade
ambiguidade lexical
Sentei-me no banco porque estava muito cansada.

ambiguidade estrutural
O meu tio trouxe-me pastéis de Sintra.

ambiguidade referencial ou semântica


Eu gostava de conhecer uma terapeuta da fala polaca.
Três alunos desta turma leram um livro.

AMBIGUIDADE LEXICAL
homonímia ou polissemia
Odeio pãezinhos sem sal.
O meu pai montou um banco na sua juventude. [banqueiro ou marceneiro? ou foi ao IKEA!]
Tem sonhos? [sonhador ou pasteleiro?]
O chão está cheio de folhas. [da árvore ou de papel?]
AMBIGUIDADE SEMÂNTICA
de escopo (interpretação coletiva ou distributiva)
A professora não corrigiu um único teste. [nenhum teste ou só um?]
A Ana e o Pedro são casados. [um com o outro ou com o José e a Sara, respetivamente?]

quantificação nominal
• As expressões nominais quantificadas designam quantidades mais ou menos precisas de indivíduos.
• A quantificação pode ser:
– universal
– existencial
• As frases com mais que uma expressão quantificada podem ser ambíguas – cf. Escopo largo ou estreito dos
quantificadores

(in)dependência referencial
• A interpretação do discurso (ou parte dela) envolve a capacidade de estabelecer nexos entre as expressões nominais que nele
ocorrem, distinguindo:
– expressões que introduzem novos referentes no discurso;
– expressões que designam referentes já introduzidos no discurso.
cadeias referenciais
• Ao estabelecer nexos entre as expressões nominais que nele ocorrem, formam-se cadeias referenciais:
1º elemento: expressão que introduz um novo referente no discurso
elementos seguintes: expressões que o retomam
A formação de cadeias referenciais é condicionada por fatores extralinguísticos (v. Pragmática) e por fatores linguísticos, como o estatuto referencial
das expressões nominais.
• Estatuto referencial das expressões nominais:
• anáforas – têm de ter um antecedente na oração a que pertencem; reflexos ou recíprocos
• pronominais – não podem ter um antecedente na oração a que pertencem;
• expressões referenciais – não podem ter um antecedente na frase complexa em que ocorre.
• A correferência implica compatibilidade de traços gramaticais e c-comando (na estrutura sintática).

novo referente + retoma de referente = cadeias referenciais


• As cadeias referenciais podem ser também dependentes de fatores extragramaticais/extralinguísticos (informação contida no
discurso anterior ou no contexto situacional ou de conhecimentos partilhados pelos intervenientes no discurso sobre o assunto
de que se está a falar e sobre os indivíduos nele referidos - Pragmática)
• ... além dos fatores gramaticais já vistos

tempo e aspeto
• A localização das frases no tempo é dada por:
– tempo verbal;
– expressões preposicionais e adverbiais (adjuntos).
• A localização temporal considera:
– ponto de fala (momento de enunciação);
– ponto do evento (quando a situação descrita ocorre);
– ponto de referência (outro tempo referido na proposição).
– PF: ponto de fala (momento de enunciação)
– PE: ponto do evento (quando a situação descrita ocorre)
– PR: ponto de referência (outro tempo referido na proposição)

• Os verbos podem ser organizados em classes aspetuais:


– predicados de estado – estar contente;
– predicados de processo (ou atividade) - saltar;
– predicados de processo culminado (ou evento prolongado) – construir uma casa;
– predicados de culminação (ou evento momentâneo) - nascer.

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