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Curso de Licenciatura em Letras

FUNDAMENTOS DA LINGUÍSTICA 2
Formalismo e Funcionalismo

Prof. Claudionor Araújo


A VISÃO CONJUNTA DOS DOIS MODELOS
Segundo Johana Nichols (1984), a Gramática formalista é definida por sua característica de estudar os fatos e os elementos
gramaticais mediante um modelo linguístico formal.
+ Origem da tradição formalista em Leonard Bloomfield (1935)
+ Principal expoente em Noam Chomsky (1957, 1965)

Segundo Nichols (1984), as teorias funcionalistas também estudam a estrutura gramatical, mas o fazem considerando a
situação comunicativa como determinadora das estruturas em análise.)
+ origem da tradição funcionalista na Escola Linguística de Praga (Thèses, 1929)
- incursões tipológicas e interacionistas (sociocognitivistas)

Andrew Carnie e Heidi Harley (2003), a partir de William Croft (1995) e Frederick Newmeyer (1998)
+ Seis dimensões distintivas entre Formalismo e Funcionalismo
- quanto à dependência da estrutura gramatical na análise linguística: mais / menos dependente
- quanto ao papel da arbitrariedade da gramática: mais / menos arbitrariedade
- quanto à autonomia da sintaxe: maior / menor autonomia
- quanto à dicotomia sincronia/diacronia: mais sincrônico / mais diacrônico
- quanto à distinção entre competência e atuação: mais independência / mais equalização
- quanto à consideração dos dados: análise de gramaticalidade, tipologia e aquisição / análise de corpus de dados históricos e
sociológicos
VISÃO CONTRASTADA DOS DOIS MODELOS
● Os dois polos dos estudos (e estudiosos) linguísticos (René Dirven e Vilem Fried, 1987)
+ funcionalista
- Escola Linguística de Praga (Mathesius, Trubestskoy, Jakobson, Danes, Firbas, Vachek, Sgall etc.)
- Escola de Genebra (Saussure, Bally, Tesnière, Hilbig e Martinet)
- Escola de Londres (Firth e Halliday)
- Grupo da Holanda (Reichling e Dik

# maior representação funcionalista na ELP e nos modelos de gramática funcional de Halliday e Dik
# menor sistematicidade na EL e em Reichling
# implicitamente em Saussure

+ formalista
- Estruturalismo americano (Bloomfield, Trager, Bloch, Harris, Fries e Chomsky)

# Em Dik, há traços gerativistas (semântica gerativa, como em Lakoff)


# Em Chomsky, há elementos da perspectiva funcional da frase (noção de tópico/comentário = tema/rema)
VISÃO CONTRASTADA DOS DOIS MODELOS
● Propostas de contrastes
+ Mackenzie, 2016 (a partir de Newmeyer, 1998)
- no Funcionalismo, explanações fora da língua (domínios cognitivo, social, espaço-temporal e sociocultural)

+ Ludger Hoffman, 1989


- uma gramática formalista trata a estrutura sistemática das formas da língua
Segundo Mike Dillinger (1991), formalistas entendem a língua como objeto descontextualizado, com foco nas
características internas (seus constituintes e as relações entre eles), a língua como um sistema (de sons, de signos,
de frases), como sua gramática.
- uma gramática funcionalista analisa a relação sistemática entre as formas e as funções numa dada língua
Ainda segundo Dillinger (1991), funcionalistas preocupam-se com as relações (ou funções) da língua como um todo
e as diversas modalidades de interação social, dando importância ao contexto, particularmente o social, na
compreensão das línguas.
VISÃO CONTRASTADA DOS DOIS MODELOS

+ Robert de Beaugrande (1993)


- no formalismo (estruturalismo), estuda-se a língua em si mesma e por si mesma, a
langue, seus aspectos internos, deixando ao funcionalismo o estudo da Parole, ou da
interação entre os subdomínios;
- no funcionalismo, foi-se além e busca-se estudar de maneira integrativa todas as
unidades e padrões da língua, compreendidos em termos de funções.

FORMALISMO FUNCIONALISMO
fonemas
morfemas entonação - prosódia
palavras - lexemas gramática
sintagmas - sintagmemas discurso
VISÃO CONTRASTADA DOS DOIS MODELOS

+ Simon Dik (1978, 1989, 1997)

# contraponto entre paradigmas a partir de tópicos ou questões

- o que é uma língua natural?


- qual é a principal função de uma língua natural?
- qual é o correlato psicológico de uma língua?
- qual é a relação entre o sistema de uma língua e seu uso?
- como as crianças adquirem uma língua natural?
- como podem ser explicados os universais linguísticos?
- qual a relação entre a pragmática, a semântica e a sintaxe?
VISÃO CONTRASTADA DOS DOIS MODELOS
TÓPICOS PARADIGMA FORMAL PARADIGMA FUNCIONAL
Como definir a língua Conjunto de orações Instrumento de interação social

Principal função da língua Expressão dos pensamentos Comunicação

Correlato psicológico Competência: capacidade de produzir, interpretar e Competência comunicativa: habilidade de interagir
julgar orações socialmente com a língua
O sistema e seu uso O estudo da competência tem prioridade sobre o da O estudo do sistema deve fazer-se dentro do quadro
atuação de uso
Língua e contexto/situação As orações da língua devem descrever-se A descrição das expressões deve fornecer dados
independentemente do contexto/situação para a descrição de seu funcionamento num dado
contexto
Aquisição da linguagem Faz-se no uso de propriedades inatas, com base num Faz-se com a ajuda de um input extenso e
input restrito e não estruturado de dados estruturado de dados apresentado no contexto
natural
Universais linguísticos São propriedades inatas do organismo humano Explicam-se em função de restrições: comunicativas;
biológicas ou psicológicas; contextuais
Relação entre a sintaxe, a A sintaxe é autônoma em relação à semântica; as duas A pragmática é o quadro dentro do qual a semântica
semântica e a pragmática são autônomas em relação à pragmática; as prioridades e a sintaxe devem ser estudadas; as prioridades vão
vão da sintaxe à pragmática, por via da semântica da pragmática à sintaxe, por via da semântica
VISÃO CONTRASTADA DOS DOIS MODELOS

+ Michael Halliday – contraponto entre gramáticas


- gramáticas formais:
de orientação primariamente sintagmática, assentadas na lógica e na filosofia
- gramáticas funcionais
de orientação paradigmática, assentadas na retórica e na etnografia
GRAMÁTICAS FORMAIS GRAMÁTICAS FORMAIS
Orientação primariamente sintagmática Orientação primariamente paradigmática

Interpretação da língua como um conjunto de Interpretação da língua como uma rede de


estruturas entre as quais podem ser relações (as estruturas como realização das
estabelecidas relações regulares relações)
Ênfase nos traços universais da língua (sintaxe Ênfase nas variações entre as línguas diferentes
como base: organização em torno da frase) (semântica como base: organização em torno do
texto ou discurso)
UMA VISÃO GERAL DAS CRÍTICAS A ESSES MODELOS
+ Geoffrey Leech (1983)
- critica a adoção exclusiva de qualquer das duas propostas, pois estariam ligadas;
- a linguagem como fenômeno mental e social;
- os universais linguísticos como herança genética e derivação da universalidade dos usos;
- a aquisição da linguagem a partir do inatismo e do desenvolvimento de necessidade e de habilidades
- o estudo da língua como sistema autônomo e em relação com sua função social.

+ Milton do Nascimento (1990)


- critica Votre e Naro (1989) por sugerir a preferência da perspectiva funcionalista sobre a formalista;
- são objetos de estudo, pressupostos, objetivos e metodologia diferentes.

+ Mike Dillinger (1991)


- critica Votre e Naro, que consideram as propostas alternativas, como se tratassem os mesmos fenômenos;
- critica Nascimento, que elimina a alternância por considerar objetos distintos, não a maneira de estudar;
- trata-se do mesmo objeto ou fenômeno, estudado de maneira distinta, sendo complementares.

+ Evanildo Bechara (1991)


- contrasta a “gramática estrutural e funcional” (analítica) com a “gramática transformacional” (sintética);
- a gramática transformacional ignora as funções idiomáticas;
- a gramática estrutural e funcional não admite o estudo da língua sem o estudo das funções;
- o estudo da língua deve partir do significado estrutural para a designação.
UMA QUESTÃO PARTICULAR NO CONTRAPONTO
ENTRE FORMALISMO E FUNCIONALISMO
● A aquisição da linguagem
+ Bates e MacWhinney (1987)
- arbitrariedade do formalismo gramatical
# conhecimento apriorístico como condicionante
- as restrições funcionais acima da forma
# a resolução do problema da comunicação como condicionante
- a convergência das restrições em “competição” determina a forma da gramática
- as formas não têm motivação direta em nenhuma função particular
p.e.: sujeito/agente/tópico.
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Obrigado!

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