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Resumos LSMSP – Capítulo 4

O conhecimento Sintático

Introdução:

 O conhecimento sintático intuitivo permite a cada falante realizar operações


muito complexas (quase) automaticamente quando ouve e fala, dota-o da
possibilidade de se pronunciar sobre a boa formação de frases da língua.
 Expressões fixas (fórmulas de saudação e de delicadeza, pedidos
estandardizados de desculpa, de informação ou de realização de uma ação).
Combinações livres (não fazem parte de um reportório fixo que vamos usando
repetitivamente). Dito isto, podemos afirmar que na generalidade as ouvidas e
produzidas pelos falantes no dia-a-dia são as combinações livres.
 Combinações livres dividem-se em:
o Frases simples – constituídas por uma única oração;
o Frases complexas – constituídas por mais que uma oração;
o Frases elípticas – com elementos omissos recuperáveis a partir do
contexto discursivo ou situacional;

Intuições sobre a estrutura das combinações de palavras

 A cada palavra ou combinação de palavras que funciona como uma unidade


sintática chama-se constituinte. Os constituintes que se combinam para formar
uma unidade sintática maior denominam-se constituintes imediatos.
 Quando determinamos a estrutura de um combinação de palavras, analisando
o modo como cada palavra, analisando o modo como cada palavra se combina
em unidades sucessivamente maiores e mais complexas estruturalmente,
estamos a fazer análises em constituintes – por outras palavras, estamos a
determinar a estrutura de constituintes da frase.
 Esta análise pode ser elaborada através da:
o Caixa de Hockett
o Diagrama em Árvore

Esta análise pode ser feita de forma descendente (partindo das unidades maiores para as
mais pequenas) ou de forma ascendente (partindo das unidades mais pequenas para as
maiores).

o Parentetização – tipo de representação em parênteses retos que


definem os limites esquerdo e direito de cada unidade sintática.
Essa rapariga loura comprou um chapéu com uma pena.

 Funções Sintáticas presentes na frase: Sujeito (essa rapariga loura) e Predicado


(comprou um chapéu com uma pena)
 Os constituintes imediatos de uma frase e da expressão com a função de
predicado dessa frase são os constituintes principais da frase.
 Testes de constituência (permitem identificar os constituintes principais de
cada frase):
o Substituição (de um expressão por uma palavra só);
o Deslocação (utilizando diversos tipos de processos – clivagem,
deslocação à direita, passiva, pseudo-clivagem…);
o Retoma Anafórica (em estruturas de coordenação e em pares
pergunta-resposta);
 As unidades sintáticas determinadas intuitivamente são efetivamente
constituintes principais da frase.
 O resultado da aplicação do teste são frases gramaticais, caso contrário as
sequências resultantes são agramaticais.
 Generalização Empírica: só constituintes suficientemente altos na estrutura da
frase (como é o caso dos constituintes principais) podem ser substituídos por
uma palavra só, podem ser deslocados ou podem constituir o antecedente de
uma expressão anafórica.
o Exemplos da aplicação do teste de constituência: Páginas 125, 126,
127 e 128.
 Em síntese, as intuições dos falantes sobre o modo como se organizam as
palavras numa frase, bem como os resultados gramaticais vs. agramaticais das
manipulações efetuadas pelos testes de constituência constituem evidência
empírica para a estrutura de constituintes. Outro argumento para a
organização dos constituintes das combinações de palavras é a ambiguidade
estrutural (ou sintática). Ou seja, existem frases a que os falantes atribuem
genuinamente mais do que uma interpretação apesar de nelas não ocorrerem
palavras polissémicas.

Tipos de constituintes: categorias sintáticas

 Combinações de palavras são categorias sintáticas ou classes de palavras


(adjetivo, verbo, advérbio, preposição, conjunção), restringindo por vezes o
significado de alguns deles (nome), e introduziram, quando necessário, novos
termos (complementador e quantificador, por exemplo).
 Os casos de homonímia mostram que só o contexto sintático permite ao
falante saber que atribuir a uma dada palavra.
 A tradição gramatical define tais conceitos em termos nocionais (apelando
para o tipo de referentes que tais conceitos designam).
o Substantivos – nomes das pessoas, coisas, animais, e das ações,
qualidades ou estados.
o Adjetivos qualificativos – palavras que usamos para indicar os
estados e qualidades existentes nas pessoas, coisas e animais.
o Verbo – palavra que anuncia uma ação ou exprime a qualidade,
estado ou existência de uma pessoa, animal ou coisa, considerados
no tempo.
 Relações Sintagmáticas permite pensar as combinações de palavras (tais como
as de morfemas e de segmentos fónicos) como sequências de elementos co-
presentes, que mantêm entre si determinados nexos, por seu lado, o conceito
igualmente saussuriano de relações paradigmáticas (associativas) permite
pensar cada ponto da sequência como uma posição que pode ser ocupada por
uma classe de elementos equivalentes ao que nele ocorre efetivamente.
 Na análise das combinações de segmentos fónicos, morfemas ou palavras, se
utilizam duas operações fundamentais – segmentação (divisão da sequência
nas unidades relevantes – palavras) e comutação ou substituição.
 A distribuição de uma palavra é a soma dos contextos sintáticos em que ela
pode ocorrer, definindo-se contexto sintático como os vizinhos que uma
palavra pode ter à sua esquerda e à sua direita (ou seja, as palavras e as
unidades sintáticas que a podem preceder a seguir).
 A generalização constitui o critério para incluir as palavras num dada categoria
sintática – se duas palavras têm a mesma distribuição (se são
distribucionalmente equivalentes), pertencem à mesma categoria sintática.
 Uma das consequências, empiricamente comprovável, da definição
distribucional das categorias sintáticas: duas palavras da mesma categoria não
podem co-ocorrer no mesmo ponto de uma combinação de palavras. Outra
consequência da definição distribucional das categorias sintáticas acontece se
duas palavras podem co-ocorrer contiguamente numa combinação de palavras
não pertencem à mesma categoria sintática.
 A determinação de subclasses reconhecíveis numa categoria obedece,
também ela, a critérios distribucionais. Assim, se considerarmos a categoria
nome, verificamos que muitas palavras desta categoria têm a distribuição –
pertencem à subclasse dos nomes comuns – enquanto outras têm uma
distribuição mais restrita do que estas: em particular, ocorrem
frequentemente sem determinante, só podem ser precedidas de artigo
definido, e à sua direita não podem ocorrer adjetivos, expressões
preposicionais, orações relativas restritivas ou orações substantivas que com
eles se combinem diretamente para formar uma unidade sintática.
 Distinções sintaticamente relevantes como nomes comuns vs. próprios, artigos
definidos vs. indefinidos ou verbos transitivos vs. intransitivos são
estabelecidos através do conceito de subclasse, sendo as subclasses
identificadas através de critérios distribucionais.
 Podemos agora compreender a razão pelo qual se utilizam testes de
substituição para identificação de constituintes: se, no mesmo ponto de uma
cadeia sintagmática, uma determinada expressão pode ser substituída por
uma palavra só, isso significa que são distribucionalmente equivalentes, ou
seja, que pertencem à mesma categoria sintática. Por outro lado, se, no
mesmo ponto de uma cadeia sintagmática, uma palavra pode ser substituída
por outra palavra, então isso significa que são distribucionalmente
equivalentes, que pertencem à mesma categoria e subclasse sintática.
 Assim, os linguistas inventaram etiquetas que tornam claro o diferente grau de
complexidade das unidades sintáticas pertencentes à mesma categoria: ao
núcleo do constituinte dá-se o nome da categoria sintática a que pertence (ou
esse nome com o super-escrito zero); à unidade sintática formada pela
combinação do núcleo com um complemento dá-se o nome do grupo nominal,
verbal, adjetival consoante a categoria a que pertença o núcleo; ao
constituinte dá-se o nome resultante da combinação de uma palavra com um
grupo nominal, verbal, adjetival dá-se o nome de sintagma nominal, adjetival,
verba.

Relações gramaticais e processos de concordância

 Os constituintes de uma combinação de palavras mantêm entre si


determinadas relações gramaticais, ou seja, desempenham certas funções
sintáticas na frase a que pertencem.
 Assim, numa oração (ou frase simples), o SV (a expressão que tem como
constituinte central o verbo e que denota uma propriedade ou relação,
dinâmica ou não dinâmica) tem a função sintática de predicado e o SN ou a F
constituinte imediato da frase (a expressão nominal/frásica a que é atribuído
tal predicado), tem uma relação gramatical de sujeito.
 Um teste eficaz para reconhecer os sujeitos de natureza nominal é substituí-los
pela forma nominativa (não preposicionada) do pronome pessoal, colocar esta
em posição pré-verbal e combiná-la com as restantes palavras que formam a
oração: se o resultado for uma frase gramatical, isso significa que a expressão
substituída desempenha a função do sujeito.
o Exemplos da aplicação do teste: páginas 140 e 141
 Sujeito Nulo – sujeitos sem realização lexical em frases finitas, é usual
ocorrerem frases em que o sujeito, selecionado semanticamente pelo verbo
está omisso.
 Sujeito Subentendido – É a contrapartida nula do eu e de nós.
 Sujeito Indeterminado – Sem referência definida
 Nos casos em que uma oração contém um verbo impessoal em que ocorre um
mero sujeito gramatical que não é selecionado semanticamente pelo verbo
(sujeito expletivo), o português recorre igualmente à estratégia nula.
 As expressões que se combinam com o verbo para formar o SV são
complementos do verbo, ou seja, são elementos por ele selecionados.
 Quando um complemento selecionado pelo verbo é de natureza nominal ou
frásica, a sua relação gramatical denomina-se objeto direto (complemento
direto). Se o objeto direto for de natureza nominal, a sua substituição pela
forma acusativa do pronome pessoa (o, a, os, as) origina frases gramaticais.
Quando o objeto direto é uma frase, o teste consiste em verificar se tal frase é
substituível pelo pronome demonstrativo “o” (invariável).
 Os complementos introduzidos pela preposição “a” que podem ser substituídos
pela forma dativa do pronome pessoal têm a relação gramatical de objeto
indireto (ou complemento indireto).
 Os complementos dos verbos com essas propriedades desempenham funções
sintáticas oblíquas (por oposição às funções sintáticas centrais de sujeito,
objeto direto e indireto). Um modo eficaz de determinar se SPs e SAdvs são
complemento do verbo consiste em utilizar um teste de retoma anafórica em
pares pergunta-resposta. Os verbos da subclasse intransitivos e subclasse
ditransitivos (transitivos diretos e transitivos indiretos).
 A subclasse dos verbos copulativos (ou predicativos ou de significação
indefinida) que selecionam como complemento um SN, um SA, um SP ou um
SAdv com função sintática de predicativo de sujeito e a subclasse dos verbos
auxiliares, que selecionam como complemento um SV.
 Também os nomes e os adjetivos podem selecionar complementos. Neste caso,
os complementos são tipicamente SPs em que o complemento da preposição
pode ser uma expressão nominal ou a frase.
 As preposições exigem sempre um complemento, que é tipicamente um SN ou
uma frase.
 Os constituintes que estão presentes numa oração sem serem selecionadas
pelos verbos, nomes, adjetivos e preposições que nela ocorrem desempenham
a função sintática de modificador (termos sinónimos de modificador são
adjunto e circunstante).
 Os modificadores contribuem para a construção da referência das expressões
que modificam, quer restringindo-a, como acontece com os modificadores de
grupos nominais, quer quantificando ou localizando espacial ou temporalmente
o predicado ou a totalidade da oração: modificadores restritivos.
 Modificadores que aparecem nas frases para fornecerem informação adicional
sobre as expressões que modificam, sem contribuírem para a construção da
referência das mesmas. Surgem como parênteses na frase, algo que se
acrescenta à expressão modificada: modificadores apositivos.
 Os modificadores de nomes próprios e de pronomes pessoais são sempre
apositivos, orações relativas que descreve, situações ou propriedades dos
antecedentes consideradas pelo locutor como características dos mesmos têm
igualmente o estatuto de modificadores apositivos, aparecem entre vírgulas.
 Combinações das mesmas palavras são interpretadas diferentemente quando
as relações gramaticais são diferentes. Por outro lado, combinações das
mesmas palavras com uma ordem diferente mas idênticas relações gramaticais
recebem essencialmente a mesma interpretação.
 As relações gramaticais são tão decisivas em processos de concordância, que se
refletem na presença de afixos flexionais que transportam informação
gramatical idêntica (pessoa, número, de género) em diferentes palavras que
ocorrem na mesma frase.
 A expressão com a relação gramatical de sujeito desencadeia concordância do
verbo em pessoa e número e do sujeito, em género e número, quando este é
um adjetivo ou um nome sem determinante. O sujeito determina também a
concordância do particípio passado passivo, em género e número. Também os
determinantes, quantificadores e modificadores adjetivais concordam em
género e número com núcleo de SN a que pertencem.

Ordem de palavras

 Frases declarativas (asserções afirmativas ou declarativas) obedecem a uma


das três seguintes ordens básicas: SVO (ordem verbo-medial: o sujeito precede
o verbo e este precede os seus complementos), VSO (ordem verbo-inicial) e
SOV (ordem verbo-final).
 A ordem básica (ordem não marcada) é a ordem estruturalmente mais simples
e discursivamente mais neutra, aquela em que não se dá nenhum destaque
especial a qualquer dos elementos da frase.
 Concluímos que as diferentes ordens de palavras em frases declarativas simples
(em que só existe um oração) refletem o estatuto discursivo das expressões
que nelas ocorrem. Assim, a posição inicial da frase é reservada para o tópico e
final para a informação com maior grau de novidade, ou seja, ordem de
palavras básica em Português é aquela em que o sujeito da frase é o tópico e o
objeto é o foco informacional (ou, num contexto pergunta-resposta, em que
toda frase constitui informação nova).
 Também construções sintáticas específicas tanto em frases declarativas como
em interrogativas ou exclamativas, podem exigir a alteração da ordem básica
SVO.
 O padrão básico oracional pode ser alterado por razões de natureza discursiva
ou devido à presença de construções sintáticas específicas (como é o caso das
construções contendo a palavras-Q).
 A posição dos adjetivos que modificam o nome depende da subclasse a que
pertencem: os adjetivos negativos e conjecturais são pré-nominais, os
restantes são pós-nominais; De entre os adjetivos cuja a posição básica é pós-
nominal, os classificadores não aceitam ocorrer antes do nome, os de
qualidade objetiva ganham valor expressivo ou interpretação subjetiva quando
colocados em posição pré-nominal e os avaliativos podem, de um forma geral
anteceder o nome; Independentemente da classe a que pertencem , os
adjetivos ocorrem obrigatoriamente em posição pós-nominal quando são
acompanhados de complementos.
o Exemplos: Páginas 153, 154, 155 e 156.

Frases simples e frases complexas

 Todas as frases simples exprimem uma predicação atribuem uma propriedade


a uma entidade ou mais entidades ou estabelecem uma relação entre
entidades.
 Numa frase simples, o elemento central da predicação é um verbo que se
combina com os seus argumentos de acordo com os padrões sintáticos da
língua. Através das desinências flexionais do verbo, cada uma das preposições
expressa é localizada temporalmente.
 Como vimos anteriormente o verbo combina-se com os seus argumentos
internos para formar um expressão verbal com a função sintática de predicado,
a qual se combina com uma expressão nominal ou frásica com a função de
sujeito . As predicações expressas por frases simples organizam-se assim,
sintaticamente, como domínios com o tempo gramatical em que um SV, o
predicado, é atribuído a um SN, o sujeito.
 Em função das atitudes proposicionais que exprimem, as frases podem ser
declarativas, interrogativas, imperativas ou exclamativas.
 Processos de construção de frases:
o Coordenação:
 Binária ou Múltipla – consoante o número de membros
coordenados;
 Sindética (os conectores são conjunções coordenativas simples
ou correlativas) ou Assindéticas – consoante o tipo de
conectores utilizados.
 As frases coordenadas são estruturalmente assimétricas, a
ordem linear entre os membros coordenados não pode ser
alterada.
o Subordinação – consiste em encaixar uma frase noutra.
 Oração subordinada é um constituinte, essencial ou acessório d
frase superior.
 Substantiva - frase ocupa posições típicas de expressões
nominais.
 Adjetiva – a frase ocupa posições típicas de expressões adjetivas.
 Adverbial - a frase ocupa posições típicas de expressões
adverbais.
 As subordinadas completivas (são selecionadas por um nome,
verbo ou adjetivo – desempenham função de sujeito, objeto
direto ou obliquo) e relativas livres são instâncias de
subordinação substantiva
o Exemplos: 159 a 172

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