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Concordância e regência

Profª. Valéria Campos Muniz

false

Descrição

Concordância verbal e nominal. Regência verbal e nominal. Colocação


pronominal.

Propósito

Compreender as categorias combinatórias, tanto sintáticas quanto


semânticas, realizadas por determinadas unidades no interior do
contexto frasal para ampliar a competência linguística e textual.

Preparação

Tenha em mãos um dicionário de Linguística para consultar os termos


específicos da área. Na internet, você pode acessar o Dicionário de
termos linguísticos, hospedado no Portal da língua portuguesa.

Objetivos
Módulo 1

Concordância verbal e nominal


Identificar as possibilidades de concordância verbal e nominal.

Módulo 2

Regência
Identificar as possibilidades de regência verbo-nominal e de
colocação pronominal.
Introdução
Entre as incorreções gramaticais mais comuns, chamam a atenção
os problemas de concordância verbal e nominal, além do uso
inadequado de preposições na sua relação com formas nominais e
verbais. Por isso, é importante lembrar antigas lições sobre sintaxe
da língua portuguesa estudadas na educação básica e retomá-las,
considerando a língua padrão e a gramática normativa, mas sem
deixar de fazer algumas observações sobre a língua em situações
de comunicação nas quais há um distanciamento do padrão ou da
norma culta.

Assim, no módulo 1, identificaremos as possibilidades de


concordância do verbo com o sujeito e do núcleo do sintagma
nominal com os determinantes, de modo a evidenciar de que
maneira as relações formais se realizam na cadeia sintagmática.

No módulo 2, reconheceremos as diferentes relações estabelecidas


entre verbos e nomes com seus complementos como sequências
produtoras de significado. Ou seja, vamos identificar as
combinações entre preposições e verbos e entre preposições e
nomes que necessitam ser armazenadas conforme a intenção
comunicativa. Também verificaremos o posicionamento dos
pronomes oblíquos no interior do sintagma verbal, identificando as
palavras que atraem ou deslocam o pronome para antes ou depois
do verbo respectivamente.
1 - Concordância verbal e nominal
Ao final deste módulo, você será capaz de identificar as possibilidades de concordância verbal
e nominal.

Primeiras palavras
Neste módulo, compreenderemos a concordância verbal e nominal sob
a ótica da gramática normativa, sem desconsiderar a perspectiva da
língua em uso. Em relação à concordância entre o substantivo e o
adjetivo, lembre-se de que o adjetivo varia em gênero e número em
conformidade com o substantivo ao qual ele se refere. Mesmo
distanciados, a relação intrínseca entre os dois impõe ajustes
morfossintáticos, evidenciando a característica combinatória que se
estabelece entre essas categorias.

No que diz respeito à relação entre o sujeito e o verbo, também ocorre


variação de número – singular e plural. Entretanto, a combinação verbal
distingue-se da nominal por exigir um ajuste do número do verbo em
relação à pessoa do sujeito (primeira, segunda ou terceira pessoa do
singular ou do plural), conforme veremos ao longo deste módulo.

A língua e suas relações


Ser usuário de uma língua significa se tornar capaz de identificar suas
unidades constitutivas (forma e função) e sua consequente combinação
na cadeia sintagmática frasal.

Reflexão
Reconhecer essa articulação é entender que a construção de uma frase
exige combinação hierarquizada de seus termos, de modo que seus
elementos formem um texto.

Embora existam regras estabelecidas que impõem certas restrições, a


escrita não configura um produto homogêneo. Há liberdades
construcionais que conformam múltiplos significados fundamentados
nas experiências de mundo, em que a palavra se submete a desejos e
arranjos do escritor numa progressão linear.

Pensar o conceito de linearidade é perceber a ordem que os elementos


da língua sucessivamente vão ocupando no interior do sintagma. Estes
elementos são:

fonemas
sílabas
palavras

Essa característica da língua norteia a ortografia e a inversão de


elementos, por exemplo:

Impede a troca entre Impede a inversão de


fonemas. determinados
elementos no interior de
Brasil - /B/ /r/ /a/ /s/ /i/
um sintagma.Entre
/l/, e não
artigo e substantivo,
arrow_forward que ocupam lugares
Rbasil - /r//b//a//s//i//l/.
fixos no interior do
Ou a troca entre a
sintagma nominal (“O
posição das sílabas. Brasil”, e não “Brasil o”).
Brasil - silbra.

E o que seria um sintagma?

Para Saussure (1969, p. 142), sintagmas são “composições de duas ou


mais unidades consecutivas” que, em virtude da relação estabelecida
entre ambos, adquirem funções sintáticas no interior da construção
frasal.

Exemplo
Muitas meninas bonitas vieram para a minha festa.

Observe que as palavras “muitas” e “bonitas” estão no feminino e no


plural. Por quê? Porque a palavra “meninas” está no feminino e no plural;
logo, as palavras que se referem a ela também devem estar no feminino
e no plural, concordando em gênero e número. A mesma coisa acontece
com as palavras “a” e “minha”, que estão no feminino e no singular por
concordarem com a palavra “festa”, à qual ambas se referem.

A mesma frase poderia ser construída com outras palavras, as quais,


por sua vez, poderiam ocupar a mesma posição e função:

Vários estudantes revoltados vieram para o comício.

Essas unidades são permutáveis em decorrência do eixo paradigmático


da língua, que se constitui numa espécie de acervo a oferecer um banco
de unidades capazes de ocupar a mesma posição no interior de um
sintagma. A construção dos enunciados está, portanto, organizada em
torno desses dois eixos, que possibilitam a escolha das unidades no
eixo sintagmático e a combinação delas no interior do eixo
sintagmático.

Eixo paradigmático
Conceito elaborado por Saussure (1969) que corresponde às relações de
associação mental entre a unidade linguística em determinada posição na
frase e todas as outras que estão ausentes, ainda que pertençam à mesma
classe daquela manifesta e que poderia ser substituída naquele
determinado contexto.

Eixo sintagmático
Para Saussure (1969), as relações entre os sintagmas estão baseadas na
linearidade da língua, ou seja, a noção é que a língua é constituída de
elementos que se sucedem um após o outro na cadeia da fala. Essa relação
entre os elementos é chamada de sintagma. Assim, um termo terá valor
quando for contrastado com o anterior, o posterior ou ambos, porque um
sintagma não pode aparecer ao mesmo tempo que o outro.
Isso faz com que as construções frasais constituam um sistema aberto,
ou seja, não há um número determinado de frases em uma língua. Não é
possível listar todas as possibilidades de construções frasais, à
semelhança do que ocorre com a organização das palavras no interior
de um dicionário.

É possível perceber, desse modo, que as categorias gramaticais ocupam


determinadas posições e desempenham funções sintáticas no interior
do contexto frasal que lhes permitem uma mobilidade maior ou menor
no interior dos sintagmas, como é o caso do adjunto adverbial, que pode
vir deslocado de sua posição costumeira no fim da frase para o início ou
o meio dela.

Observe as frases:

No fim do dia, todos estavam exaustos.

Todos estavam, no fim do dia, exaustos.

Todos estavam exaustos no fim do dia.

A mobilidade das palavras no interior da língua permite novas formas de


dizer fatos já ditos na língua portuguesa. Essa possibilidade de recriar
combinações, desde que submetidas às regras que regem o sistema da
língua, conduz ao entendimento do manancial criativo e diferenciado
presente na construção dos significados.
O controle relativo à organização interna dos elementos na construção
frasal integra o que conhecemos como a gramática de uma língua. Esse
controle exercido pela gramática é relativo à forma, à função e ao
sentido das palavras no interior do discurso.

Esse conjunto de prescrições estabelece relações morfossintáticas


entre as palavras no interior do discurso que impõem, entre outras
articulações, a relação harmônica entre:

Palavras Relação harmônica

Verbo e sujeito concordância verbal

Nome e artigo, numeral,


concordância nominal
adjetivo, pronome

Vamos ao estudo dessas concordâncias!

Concordância verbal
O que significa concordar o verbo com o sujeito?

Trata-se de uma relação de solidariedade que se constrói entre esses


termos na qual o verbo precisa estar ajustado ao sujeito em número e
pessoa.

Confira alguns exemplos:

Eu saí de casa cedo.


Nós saímos de casa cedo.

Fernanda e Claudio saíram mais cedo de casa hoje.

A combinação entre o sujeito e o verbo transparece mecanismos de


coesão no decorrer do texto, possibilitando inclusive retomadas por
elipse.

Elipse
Omissão de algum termo.

Exemplo

Ele saiu de casa cedo, mas até agora não voltou.

Como podemos perceber, não foi necessário repetir o pronome “ele”, ou


seja, foi feita a elipse em virtude da proximidade entre o segundo verbo
e o sujeito. Nem sempre, entretanto, esse recurso revela-se possível,
principalmente quando o verbo se encontra distanciado do sujeito, sob
pena de provocar ambiguidade ou mesmo erro.

Tendo isso em vista, analisemos algumas situações listadas pela


gramática em relação à concordância verbal:

Os casos mais gerais


O verbo concorda em número e pessoa com o sujeito, seja ele simples
ou composto. Observe as frases a seguir:

Muitas pessoas foram vacinadas contra a


covid-19.
Eu fui vacinada contra a covid-19.
Maria e João perderam-se na floresta.
Em relação ao sujeito composto, se ele vier depois do verbo, poderá o
verbo apresentar duas situações. São elas:
Concordar com o núcleo mais próximo.

Perdeu-se, na floresta, o João e a Maria.

Ficar no plural como estipula a regra geral.

Perderam-se na floresta o João e a Maria.

Note que, embora haja essa possibilidade, a opção por uma ou outra
forma não é gratuita. Existe, portanto, um procedimento enfático relativo
não só à concordância, como também ao próprio deslocamento do
sujeito para depois do verbo.

Nossas opções na língua demonstram intenções subjacentes.

Quando houver, no núcleo do sujeito, a presença de um pronome


pessoal do caso reto, indicativo de primeira pessoa (eu), o verbo irá para
a primeira pessoa do plural, porque consideramos os dois núcleos, na
sua totalidade, como “nós”. Veja o exemplo a seguir:

Casos específicos que demandam atenção

Com expressões partitivas, que indicam quantidade (“a maior parte de”,
“grande parte de”, “a maioria de”, “boa parte de”), o verbo deve ficar no
singular, concordando com o núcleo do sujeito:

A maior parte dos deputados não votou na proposta.


Grande parte dos deputados não votou na proposta.
A maioria votou na proposta.

Quantidade
Expressões partitivas que indicam quantidade são:

“a maior parte de”;


“grande parte de”;
“a maioria de”,
“boa parte de”.

Saiba mais

Existe também a concordância atrativa, que ocorre quando essas


expressões são seguidas de palavras no plural, o que permitirá ao verbo
ficar no plural se o objetivo for ressaltar os elementos contidos na
expressão partitiva:

Grande parte dos deputados não votaram na proposta.

Lembre-se de que a concordância valorizada pela norma culta é a do


verbo no singular.

Com a expressão “mais de um”, embora o sentido seja de plural, o verbo


deverá ficar no singular, concordando com o numeral “um”:

Mais de um candidato não conseguiu fazer a


prova.
Mais de um aluno ficou reprovado.
Sujeitos unidos pelas conjunções “ou” e “nem”:

O verbo irá para o plural Quando houver ideia de


se atribuirmos a ação exclusão, o verbo ficará
aos dois núcleos: no singular:

Nem Carla, nem João ou Pedro irá


Paulo ganharam a comigo no
eleição do baile.Nesse
sindicato. Perceba exemplo, apenas
que, no exemplo, um deles poderá ir
outro candidato close comigo.
ganhou.
O diretor ou sua
secretária podem
assinar o
documento.No
exemplo, os dois
podem assinar.
As expressões “nem um nem outro” e “um ou outro” levam o verbo para
o singular:

Nem um nem outro acertou a questão.

Temos, neste exemplo, a ideia de exclusão. É possível, porém, a


concordância ocorrer com o verbo no plural com um sentido aditivo,
como no exemplo a seguir:

Nem um nem outro passaram na prova.

Sujeitos ligados pela preposição “com” apresentarão concordância com


o verbo tanto no plural quanto no singular. Isso depende do objetivo do
escritor. Veja os exemplos para cada caso:

Se a ideia for de soma, Se o sentido for de


teremos o verbo no exclusão, o verbo ficará
plural: no singular:

A menina com sua close O gerente, com os


mãe vão arrumar a funcionários, vai
casa. arrumar a loja.

Comentário

Perceba que, no exemplo “O gerente, com os funcionários, vai arrumar a


loja.”, a expressão iniciada por com tem valor de adjunto adverbial,
podendo ser deslocada para o fim da frase:

O gerente vai arrumar a loja com os funcionários.

Quando o sujeito for um nome próprio no plural acompanhado de artigo,


o verbo irá para o plural. Mas, se não houver artigo, o verbo fica no
singular. Veja a seguir os respectivos exemplos:

Os Estados Unidos conseguiram conter a


pandemia.
Minas Gerais tem muitas mineradoras.
Ou seja, o que determina a concordância é a presença ou não do artigo
em nomes próprios no plural.

Em expressões que indicam porcentagem, o verbo concorda com o


numeral:

1,8% da população foi vacinada contra a gripe H1N1 até agora.


No entanto, se a expressão que denota porcentagem vier acompanhada
de termo preposicionado, o verbo poderá concordar com o número ou o
substantivo após a preposição:

20% da câmara não votou.


1,5% dos deputados não votaram.

Quando o sujeito for expresso por um coletivo, o verbo ficará no


singular. Veja os exemplos:

A sociedade está com medo da covid-19.


A multidão se revoltou contra a atuação da
polícia.
Recomendação
É comum, quando o verbo está distante do sujeito coletivo, o verbo vir
no plural, concordando com a ideia embutida no coletivo. Quando o
coletivo vem especificado por palavra no plural, também é comum o
verbo vir no plural:

Uma multidão de vândalos invadiram as ruas da cidade.

Uso incorreto

Mas atenção: nenhuma dessas duas concordâncias é endossada pela


gramática normativa. Por isso, em situações formais, evite utilizá-las.

Concordância com o pronome rel ativo: o verbo concorda com o


antecedente do pronome relativo.

A menina jogou uma pedra que caiu no lago.

O que é que caiu? Uma pedra, que é retomada pelo pronome relativo
“que”.

Quando o pronome relativo for o pronome quem, o verbo pode


concordar tanto com o pronome quanto com o antecedente. Veja os
respectivos exemplos:

Sou eu quem fiz o bolo.


Sou eu quem fez o bolo.
Com pronomes interrogativos ou indefinidos no plural seguidos do
pronome reto “nós”, o verbo pode concordar com:

O pronome interrogativo
Quantos de nós vão corrigir a prova?

O pronome indefinido
Alguns de nós irão ao comício.

O pronome reto
Quantos de nós iremos à assembleia?
Alguns de nós iremos à assembleia.

Quando um sujeito composto é resumido por um pronome indefinido, o


verbo concorda com o pronome. Por exemplo:

Pronome indefinido
Exemplos de pronomes indefinidos:

Tudo;
Nada;
Ninguém.

O amor, a tolerância e a empatia, nada o


demoveu de sua decisão.
O irmão, a mãe, o pai, ninguém conseguiu
dissuadi-lo.
A concordância com verbos que apresentam a partícula “se” pode
ocorrer de duas formas:

Indeterminação do Voz passiva


sujeito
Quando a partícula
Quando a partícula indicar voz passiva, o
indicar indeterminação verbo concordará com o
do sujeito, o verbo ficará close sujeito:
no singular:
Vendem-se casas.
Precisa-se de
funcionários.

Como saber se a partícula “se” indica a indeterminação do sujeito ou a


voz passiva?
Observe se, depois do verbo, há ou não a presença de preposição. Se
houver preposição, será um sujeito indeterminado; se não houver, a
frase se encontrará na voz passiva.

Verbos impessoais são aqueles que não têm sujeito. Nesse caso, os
verbos ficam na terceira pessoa do singular. Veja a seguir:

O verbo “chover” indica fenômeno da natureza.

Chove muito hoje.

O verbo “fazer” indica tempo decorrido.

Faz três dias que não o vejo.

O verbo “haver” indica tempo.

Há três semanas que ele não aparece.

Verbos usados na indicação de horas vão concordar com o sujeito:

Bateram duas horas no relógio. (O sujeito são as “horas”).


O relógio bateu duas horas. (O sujeito é o “relógio”).
Com o sujeito oracional, o verbo irá para o singular.

Por que isso ocorre? Porque consideramos que a oração tem valor de
substantivo, como nos seguintes exemplos:

Parece que ele está doente.


É bom que ele saia de casa.

Nas duas orações, o sujeito é a oração, enquanto o verbo fica na terceira


pessoa do singular. Já no próximo exemplo, a situação é diferente, pois
o verbo “esperar” tem um sujeito (nós) implícito na terminação verbal:

Esperamos que ele venha.

Sobre concordância com o verbo “ser”, de maneira geral, o verbo “ser”


concorda em número com o sujeito. Veja a seguir:

Ele é vereador.
Eu sou péssima em cálculo.

Mas há casos especiais, como nos exemplos:

Exemplo 1
O verbo “ser” concorda com o predicativo quando este está no
plural e o sujeito é composto por um pronome:

Nem tudo são flores.


Aquilo são conversas jogadas fora.

Mas, quando o sujeito for representado por pessoa, o verbo “ser”


concorda com ele:

Maria sempre foi minhas emoções.

Exemplo 2

O verbo “ser”, nas orações sem sujeito, concorda com o


predicativo quando este é composto por distância, hora e data:

Do Rio de Janeiro até São Paulo são 431km.


Agora são 14h.
Hoje são 13 de maio.

Exemplo 3

Mesmo com o sujeito no plural em frases que indicam preço,


medida ou quantidade, o verbo das expressões “é muito” e “é
pouco” permanece no singular:

É muito pouco 200 reais, para este serviço.


2 metros é pouco para fazer esse vestido.

Concordância nominal
De maneira geral, a regra da concordância, segundo Bechara (1999, p.
543), diz respeito à relação de gênero e número que se estabelece entre
artigo, numeral, pronome adjetivo, adjetivos e particípio (vocábulos
determinantes) com o substantivo ou o pronome (vocábulos
determinados) a que se referem. Casos específicos, que não se
enquadram nessa regra, serão vistos mais adiante.

Concordância com apenas um substantivo


Quando houver apenas um substantivo, os determinantes concordarão
em gênero e número com ele:

O gesto carinhoso da mãe foi um alívio para o filho.

Perceba que o adjetivo “carinhoso” está concordando em gênero e


número com o substantivo “gesto”, assim como o artigo.

Eles estão quites com o serviço militar.

Note que o adjetivo “quites” está funcionando como predicativo do


sujeito, concordando também em gênero e número com o pronome
“eles”.

Concordância entre adjetivo e substantivo

Temos inicialmente três situações a considerar:

Situação 1
Quando o adjetivo vem depois de um ou mais substantivos de mesmo
gênero, o adjetivo irá para o plural, concordando com o gênero dos
substantivos:

O carnaval e o folclore brasileiros são conhecidos mundialmente.

O adjetivo poderá concordar com o mais próximo:

O carnaval e o folclore brasileiro são conhecidos mundialmente.


A nuvem e o morro baixo baixo compunham o cenário.

Situação 2
Se o adjetivo vier depois de um ou mais substantivos e estiver na
função de predicativo, ele irá para o plural, mantendo o gênero
masculino se os substantivos forem de gêneros diferentes:

O rancor e a ofensa são péssimos.

Situação 3
Quando o adjetivo está anteposto a dois ou mais substantivos, ele
concorda com o mais próximo:

São péssimas as ruas e os bares daquela cidadezinha do interior.


Ela encontrou rasgada a roupa e os cobertores.
Contudo, se o adjetivo se referir a nomes próprios, ele deverá ficar no
plural, concordando com o sujeito composto:

As engraçadas Andreia e Clélia faziam todos rirem.

Atenção!

Na situação 1:
Se o adjetivo vier depois de um ou mais substantivos de gêneros
diferentes e você optar pelo plural, o adjetivo deverá ir para o masculino
plural:

A mãe e o pai amorosos acalmavam o filho.

Casos especiais
O adjetivo em função de predicativo, em expressões como “é bom”, “é
necessário” e “é proibido”, vai concordar com o sujeito quando este
estiver determinado:

É necessária a adoção de medidas enérgicas.


É proibida a entrada de menores no recinto.
É boa a palestra.

Nesses exemplos, os sujeitos estão determinados pelo artigo “a”.

Quando não houver a presença de determinantes no sujeito, o adjetivo


ficará invariável:

É necessário empatia entre as pessoas.


É proibido entrada de menores no recinto.
É bom tapioca de coco.

Repare que os adjetivos “necessário”, “proibido” e “bom” não


concordaram com empatia, entrada e tapioca, respectivamente.

Expressões como “um e outro” e “nem um nem outro” apresentam uma


particularidade interessante! Enquanto o substantivo fica no singular, o
adjetivo vai para o plural. Veja a seguir:

Um e outro plano infalíveis do Cebolinha dá/dão certo.

Não encontramos nem um nem outro disponíveis.

As palavras “mesmo”, “próprio”, “só”, “anexo”, “incluso” e “obrigado”


concordam em gênero e número com a palavra a que se referem:
Eu mesma fiz o bolo.
Eles próprios se organizaram para viajar.
Nós ficamos sós. (= sozinhas)
Os documentos vão anexos conforme acordado.
Estão inclusas as lembrancinhas.
Ela disse muito obrigada.
Ele disse muito obrigado.

Saiba mais
As palavras “mesmo” e “só” podem funcionar como advérbios e, nesse
caso, ficam invariáveis:

“Elas compraram mesmo o apartamento” (ou seja, elas


compraram de fato).
“As crianças só queriam chamar a atenção” (Elas queriam apenas
chamar a atenção).

A expressão “a sós”, que significa sozinho, é invariável:

“Eles estão a sós.”

Já a expressão “em anexo” é invariável:

“Vão em anexo os documentos”.

A palavra “tal” concorda em número com o substantivo:

Tal fato não me surpreende.


Tais resoluções são antidemocráticas.

Em uma correlação como a da expressão “tal qual”, segundo Bechara


(1999, p. 550), a palavra “tal” concorda com o primeiro elemento e
“qual”, com o segundo elemento:

As palavras “tal” e “qual”, quando formam uma expressão com o sentido


equivalente a “como”, ficam invariáveis:

Os americanos agem tal qual os ingleses.


Algumas palavras ora funcionam como adjetivo, concordando com o
substantivo; ora funcionam como advérbio, ficando invariáveis. Isso
acontece com palavras, como “sério”, “alto”, “caro”, “barato”, pouco”,
“todo” e “alerta”.

Nos exemplos a seguir, na primeira coluna, temos exemplos de adjetivos


e na segunda, de advérbios:

Adjetivos Advérbios

“Eles são sérios”. “Ela falou sério”.

“As ações estão com


“Eles falam alto”.
cotação alta”.

“As roupas estão caras”. “Os doces custam caro”.

“O dólar e o euro estão


“O presente custou barato”.
baratos”.

“As passagens custaram


“Ela comprou pouca coisa”.
pouco”.

“Suas pernas estavam todo


“Ela ficou toda sem graça”.
enlameadas”.

“Os soldados alertas “Os soldados estavam alerta


perceberam o inimigo”. ao menor sinal do inimigo”.

Exemplos.
Quadro: Ealaborado por Valéria Campos Muniz.

Vamos prosseguir na compreensão de outros casos especiais de


concordância.

“Meio”, quando está na função de adjetivo, concorda com o substantivo


e tem valor de “metade”. Por exemplo:

Comi meio mamão e meia melancia.


Na frase acima, a referência é à metade do mamão e à metade da
melancia.
No entanto, na função de advérbio, “meio” fica invariável e tem valor de
“um pouco”, conforme exemplo:

Ela está meio chateada.

Como você deve ter notado, o sentido da frase é de que ela está um
pouco chateada.

As palavras “muito” e “bastante” podem funcionar como advérbio de


intensidade, ficando invariáveis. Leia a seguir:

A gasolina está muito cara.

“Muito” está se referindo ao adjetivo “cara”.

Ela estudou bastante.

”Bastante” está se referindo ao verbo “estudar”.

Porém, se as palavras “muito” e “bastante” estiverem na função de


pronome indefinido, significando “vários”, elas vão concordar com o
substantivo em gênero e número:

Ela tem muitas coisas para fazer.


Ela fez bastantes coisas.
A palavra “possível” como adjetivo concorda em número com o
substantivo a que se refere:

As condições climáticas são as mais variadas possíveis.

Mas há alguns casos especiais. Vejamos o que acontece:

Caso 1
Quando a palavra “possível” forma a expressão “o possível”, ela fica
invariável:

Elas fizeram o possível para verem a mãe.

Caso 2
Em expressões superlativas – “o mais possível”, “o menos possível”, “o
melhor possível”, “o pior possível” –, a palavra “possível” também fica
invariável:

As relações entre o Senado e a Câmara têm sido o mais possível


cordiais.

A palavra “menos” é invariável:

Eles fizeram menos coisas.


Há menos pessoas na aula hoje.

Atenção!
Embora algumas pessoas digam “Hoje tenho menas coisa para fazer”, a
palavra “menas” não existe!

Uso incorreto

Quando o substantivo estiver antes de dois adjetivos, haverá duas


possibilidades de construção:

A literatura brasileira e a portuguesa devem constar no currículo.


As literaturas brasileira e portuguesa devem constar no currículo.

A palavra “obrigado” é um adjetivo e deve concordar em gênero e


número com a palavra a que se refere:

O rapaz disse obrigado, e a moça disse obrigada.

Veremos a seguir os adjetivos compostos:

O acordo anglo-americano foi bom para ambas as partes.


As pessoas anglo-americanas têm livre entrada nos dois países.
As reformas político-sociais são urgentes!
A escola deve ser rígida com crianças mal-educadas.
As blusas verde-escuras devem ser separadas.

Há, contudo, exceções em alguns casos. São elas:

Exceção 1

As cores azul-marinho e azul-celeste ficam invariáveis:

As blusas azul-marinho e os vestidos azul-celeste devem


ficar no lado esquerdo da loja.

Exceção 2

Quando um dos termos é invariável:

Os recém-nascidos necessitam de muitos cuidados.


Crianças bem-dotadas merecem ser estimuladas.
Os pais fizeram um esforço sobre-humano para manter o
filho vivo.

Exceção 3

Quando as cores são compostas por um substantivo, elas ficam


invariáveis:

Estes vestidos são vermelho-sangue.


Os copos amarelo-canário foram todos vendidos.
A blusa rosa-claro é linda.

Exceção 4

Locuções adjetivas indicativas de cor são invariáveis:

As blusas cor de abóbora acabaram.

A seguir veremos sobre concordância com numeral:

Alguns números variam em gênero e número:

um/uma.
dois/duas.
numerais a partir de duzentos (duzentas, trezentas, até
novecentas).

“Milhar” e “milhão” são masculinos, não admitem flexão de gênero:

Dois milhões de pessoas.


Os milhares de pessoas.

Está gramaticalmente incorreto dizer “duas milhões de pessoas”, assim


como “as milhares de pessoas”.

A concordância de “milhão”, “bilhão” e “trilhão” se faz com o número:

1,5 milhão de pessoas.


2 bilhões de pessoas.
3 trilhões de pessoas.

Só a partir de 2 é que ocorre o plural.

Palavras finais
Como você pôde perceber até aqui, há várias regras, detalhes e
exceções envolvendo a concordância verbo-nominal. Mais do que
memorizar essas regras gramaticais, é importante internalizá-las por
meio da leitura atenta de uma diversidade de textos, da prática da
escrita (sempre com consulta à gramática quando houver alguma
dúvida) e da resolução de exercícios.

video_library
Concordância verbo-nominal
Veja a seguir uma demostração com a aplicação das regras gramaticais
sobre concordância verbo-nominal.
Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

(Adaptado de: FCC - DNOCS - agente administrativo - 2010)

Leia o texto e responda:

O brasileiro tem elevado grau de consciência sobre


sustentabilidade, superior ao de moradores de países ricos como
Alemanha e Suécia. Ao mesmo tempo, tem grande dificuldade em
trazer o conceito para o seu dia a dia e para suas decisões de
consumo. Escassez de água e poluição ambiental, por exemplo,
figuram em terceiro lugar entre as maiores preocupações de 61% da
população e ficam atrás de educação (68%) e violência (72%).
Mudanças climáticas e aquecimento global, por sua vez, são motivo
de preocupação para 49% dos brasileiros. Quando a sociedade é
questionada sobre suas ações efetivas para proteger o meio
ambiente, os números são mais modestos: 27% dos brasileiros
reciclam seus resíduos e fazem uso de produtos recicláveis; 20%
afirmam conservar árvores; 13% dizem proteger a natureza e
apenas 5% controlam o desperdício de água. Esses dados constam
de uma pesquisa atual, em que foram ouvidas mais de 24 mil
pessoas em dez países diferentes. O estudo também aponta o
brasileiro como um dos mais atentos no mundo às práticas de
sustentabilidade das empresas: 86% afirmam estar dispostos a
recompensar companhias com boas práticas, e 80% dizem punir as
que agem de forma irresponsável nas questões socioambientais.
Há também ceticismo em relação à falsa propaganda sobre as
atitudes "verdes" das empresas. Para 64% dos brasileiros, elas só
investem em sustentabilidade para melhorar sua imagem pública.
Outro obstáculo é que os produtos "verdes" ainda são vistos como
nichos de mercado e ficam restritos a consumidores de maior
poder aquisitivo. O porta-voz do estudo no país acredita que o
elevado grau de consciência sobre sustentabilidade pode ser
explicado pela presença do tema na mídia e pela percepção de que
os recursos naturais são um diferencial no Brasil, considerado um
país rico nesse aspecto.
Adaptado de: Andrea Vialli. O Estado de S. Paulo. Vida &
sustentabilidade, H6, Especial. Publicado em: 30 out. 2009.

A concordância verbal está inteiramente correta na frase:

Chegou ao fim as campanhas voltadas para a


A reciclagem de materiais nas cidades escolhidas no
projeto-piloto.

A conscientização dos moradores daquela área


B contaminada pelos resíduos tóxicos acabaram
surtindo bons resultados.

Muitos consumidores se mostram engajados na


C luta pela sustentabilidade e traduzem seu
compromisso em tudo aquilo que compram.

Atitudes firmes e claras voltadas para a


sustentabilidade na exploração dos recursos da
D
natureza deve trazer lucros promissores para as
empresas.

Deveria ser divulgado claramente os princípios que


E norteiam as atividades empresariais como diretriz
para orientar os consumidores.

Parabéns! A alternativa C está correta.

As formas verbais “mostram”, “traduzem” e “compram” concordam


corretamente com “muitos consumidores”. Nas demais alternativas,
o correto seria:

Chegaram ao fim as campanhas voltadas para a reciclagem


de materiais nas cidades escolhidas no projeto-piloto.
A conscientização dos moradores daquela área contaminada
pelos resíduos tóxicos acabou surtindo bons resultados.
Atitudes firmes e claras voltadas para a sustentabilidade na
exploração dos recursos da natureza devem trazer lucros
promissores para as empresas.
Deveriam ser divulgados claramente os princípios que
norteiam as atividades empresariais como diretriz para
orientar os consumidores.

Questão 2

Quanto à concordância nominal, as lacunas do texto a seguir serão


corretamente preenchidas por, respectivamente:

Os rapazes, eles ........................, montaram o site para a empresa de


Parques e Jardins, que solicitou não só a construção do site, como
também uma mostra de placas com mensagens de “É ............. a
entrada!”, que eles pretendem espalhar em alguns espaços dos
jardins da cidade. Depois de terminado o trabalho, eles enviaram o
projeto com os documentos .................... ao e-mail. O diretor da
empresa elogiou a atitude e o trabalho ................... Depois, levou o
projeto para a reunião dos sócios da empresa, que apontaram um e
outro ....................... na construção do site.

Próprios, proibido, anexos, perfeitos, aspecto


A
inaceitáveis.

Mesmo, proibido, anexo, perfeito, aspectos


B
inaceitáveis.

Próprio, proibida, anexos, perfeito, aspecto


C
inaceitável.

Próprios, proibida, anexos, perfeitos, aspectos


D
inaceitáveis.

Mesmos, proibido, em anexo, perfeito, aspectos


E
inaceitáveis.

Parabéns! A alternativa D está correta.

O termo “próprios” deve ser usado no plural para concordar com o


pronome “eles”, que retoma o sujeito “os rapazes”. “Proibida” deve
ser a palavra usada para concordar com “a entrada”, já que
“entrada” é precedida pelo artigo definido “a”, o qual, por sua vez,
acaba determinando o substantivo e exigindo a concordância de
“proibida”. Já “anexos” deve ser usado para concordar com
“documentos”, que está no plural. Perfeitos concorda tanto com
“atitude” quanto com “trabalho”; por isso, o adjetivo vai para o plural.
Por fim, “aspectos inaceitáveis” concorda com a expressão “um e
outro”, que deixa o substantivo no singular (aspecto), mas leva o
adjetivo ao plural (aceitáveis).

2 - Regência
Ao final deste módulo, você será capaz de identificar as possibilidades de regência verbo-
nominal e de colocação pronominal.

As preposições
Na língua portuguesa, as palavras, no interior da oração, instituem
correlações de interdependência morfossintática.

No caso da regência, se a relação de complementaridade for


estabelecida entre um verbo e o termo regido, teremos um caso de
regência verbal, mas, se ela for entre um nome e o termo regido, de
regência nominal. Ou seja, trata-se de associações transitivas entre
termo regente e termo regido, residindo a peculiaridade dessas
combinações na presença ou ausência de preposição.
E o que seriam as preposições? Trata-se de palavras que não são
independentes, isto é, não são utilizadas sozinhas como unidade de
comunicação.

Por sua característica transpositora, a preposição permite que


determinadas unidades linguísticas assumam diferentes funções no
interior da frase. Nesse sentido, quando juntamos, por exemplo, uma
preposição a um substantivo, eles formam uma locução, que pode
desempenhar diferentes funções.

Clique nos exemplos a seguir:

Termo regido
É o termo subordinado, dependente.

Termo regente
É o termo que rege o termo dependente.

Exemplo 1 expand_more

O diretor chegou de Paris.

Neste caso, “de Paris” é uma locução que funciona como


adjunto adverbial de lugar.

Exemplo 2 expand_more

A apostila de português está ótima.

Neste último exemplo, a locução “de português” assume a


função de adjunto adnominal ao atribuir uma qualificação à
“apostila”.

Ou seja, a preposição “está sempre apta a originar construções


ou locuções de caráter adjetivo ou adverbial”, pontua Azeredo
(2008, p. 196).

Como um instrumento gramatical, as preposições, diferentemente do


léxico, são, na maioria das vezes, exigidas pelo contexto sintático, não
sendo escolhidas pelo escritor. Pode a preposição ser exigida pela
palavra que a precede, como em “medo de” e “gosto de”, mas também
pode ser selecionada por quem escreve em virtude do sentido que
deseja atribuir à frase, como em: “Viajou sem destino, viajou com a
família, viajou para o Nordeste” (AZEREDO, 2008, p. 197).

Agora falaremos um pouco sobre a regência verbal e a relação entre os


verbos e as preposições!

Regência verbal
Você já percebeu a relação da regência verbal com a transitividade
verbal? Lembra-se de que a transitividade está relacionada à exigência
ou não de um complemento para integrar o sentido do verbo? É aí que a
regência entra. Vejamos:

Objeto indireto Objeto direto

Quando o complemento Quando não há a


estiver relacionado ao necessidade de uma
verbo por intermédio de preposição para
uma preposição, interligar o
teremos um caso de complemento ao verbo,
regência verbal (A temos um objeto direto
escola precisa de uma (A escola tem um ótimo
impressora), sendo o close pátio). A regência
complemento nomeado verbal, ou seja, a
como objeto indireto relação entre o termo
(“de uma impressora”). regente (o verbo) e o
termo regido (o
complemento), ocorre
aqui sem o intermédio
da preposição.

Mas o que ocorre quando o verbo não necessita de um complemento,


tendo um “sentido completo”?

Nesse caso, dizemos que ele é um verbo intransitivo. Cabe ressaltar que,
segundo Cunha e Cintra (2008, p. 531), esses verbos figuram em menor
número na língua.

Quadro: Elaborado por Valéria Campos Muniz.

A regência, portanto, diz respeito à forma como o verbo se relaciona


com os termos que lhe completam o sentido. Embora não seja o foco
deste módulo, é importante observar que alguns adjuntos adverbiais,
ainda que sejam termos acessórios, também podem se referir a verbos,
completando o sentido desses verbos por intermédio de preposição.
Veja nos exemplos a seguir:

Exemplo 1
A imigrante era proveniente da Venezuela.

Exemplo 2
Os alunos iriam para o Museu de Arte Moderna depois da aula.

Diante da impossibilidade de se analisar todos os verbos da língua


portuguesa, detalharemos a seguir a regência de alguns verbos de
utilização frequente que oferecem dúvidas quanto ao uso ou não de
preposição.

Assistir
Este verbo tem mais de um significado. Quando utilizado no sentido de
ver, ele vem acompanhado da preposição a:

As irmãs assistiram ao filme de terror.

Atenção!

Na linguagem coloquial, tal verbo é amplamente utilizado como


transitivo direto, contrariando o proposto na gramática normativa:

Eles assistem o jogo.

Uso incorreto

Este é o filme que eu assisti.

Uso incorreto

Veja que, antes do pronome relativo, na linguagem mais informal,


também não é comum inserir a preposição “a”. Ou seja, pela gramática
normativa, o correto seria:

Eles assistem ao jogo.


Este é o filme a que eu assisti.

Quando é sinônimo de residir, morar, a preposição utilizada é “em”:

Ela assiste em Nova York.

Quando tem o sentido de “ajudar, socorrer, acompanhar, prestar


assistência” (CUNHA; CINTRA, 2008, p. 535), ele pode ser utilizado tanto
com preposição (verbo transitivo indireto) quanto sem preposição
(verbo transitivo direto):

A madre assistia aos doentes que viviam na rua.


A madre assistia os doentes que viviam na rua.

O verbo “assistir” ainda pode ser usado como sinônimo de “caber”:

Isto não lhe assiste.

Neste exemplo, o sentido corresponde a “Isto não lhe diz respeito!”.

Obedecer

Será sempre transitivo indireto, ou seja, vai exigir preposição


independentemente de o complemento se referir a um ser animado
(pessoa) ou inanimado (alguma coisa):
Ele obedece ao regulamento.

Ela obedeceu ao diretor.

Preferir
O verbo “preferir” aceita dois complementos: um sem preposição e outro
com.

Eu prefiro frio.
Elas preferem quente.
O menino preferia bola a carrinho.
Maria preferia matemática a português.
Ele preferia ir à escola a ficar em casa.

Saiba mais
Na linguagem coloquial, é comum intensificar o verbo:

Ele preferia mais futebol a vôlei.

Uso incorreto

Ele preferia mil vezes sair a ficar em casa.

Uso incorreto

É também muito comum encontrar a expressão “do que” no lugar da


preposição “a”:

Ele preferia mil vezes praia do que cachoeira.

Essas construções, entretanto, não são aceitas pela gramática


normativa.

Lembrar
Quando é pronominal (junção da partícula “se”), este verbo se torna
transitivo indireto e é utilizado com o sentido de recordar. Quem se
lembra, se lembra de algo:

A diretora lembrou-se de enviar o ofício.


O marido lembrou-se do aniversário da esposa.

Quando o verbo “lembrar” não é pronominal, ele é transitivo direto, não


necessitando de preposição. Nesse caso, ele pode ter dois sentidos:
Quando alguém é Quando algo vem à
parecido com outra nossa memória:
pessoa:
A brisa suave
Pedro lembra lembra a
muito um Fortaleza (Ceará)
close
namorado que tive da minha infância.
na adolescência. O cheiro de chuva
O Ricardo lembra lembra os bons
o João. tempos da minha
infância.

Saiba mais
O verbo “lembrar” ainda pode ser bitransitivo, isto é, quando ele
necessita de dois complementos:

Suzana lembrou o aniversário da sogra ao marido.


A secretária lembrou o patrão da reunião.

Repare que tanto faz se lembramos algo a alguém ou se lembramos


alguém de algo. O objeto direto pode ser tanto a pessoa quanto a coisa.
A mesma situação acontece com o objeto indireto.

Esquecer

Este verbo tem comportamento similar ao verbo “lembrar”.

Quando pronominal, ele Quando não é


é transitivo indireto: pronominal, o verbo
esquecer é transitivo
A diretora se
direto, ou seja, “quem
esqueceu dos
esquece, esquece algo”:
papéis em cima
da mesa. A professora
deputado se esqueceu o dia da
esqueceu de close reunião de
anexar os departamento.
documentos. O garotinho
esqueceu o
Nesses exemplos,
aniversário do
podemos ver que,
colega da escola.
“quem se esquece, se
esquece de algo”.

Quando o complemento do verbo “esquecer” é uma oração, a mesma


regra se aplica:

A merendeira esqueceu que não tinha leite para o café das


crianças.
A cozinheira se esqueceu de que os alunos lanchariam mais cedo.

Saiba mais

A construção do verbo “esquecer” com a preposição “de” sem ser


pronominal é, apesar de condenada pela gramática, bastante utilizada
na linguagem coloquial:

Ela esqueceu de pôr o sal na comida.

Uso incorreto

Como a gramática normativa não abona essa construção, lembre-se de


utilizar a norma culta quando for escrever:

Ela se esqueceu de pôr o sal na comida.

O verbo “esquecer” ainda pode ser intransitivo, ou seja, quando não


necessita de complemento. Nesses casos, ele é utilizado com o sentido
de esquecer algo desagradável. Claro que o complemento está, de certa
forma, implícito:

Quando ela bebe, é para ficar alegre, não para esquecer.

Chegar

O verbo apresenta as seguintes variações de sentido:

de chegar

Quando utilizado no sentido de chegar a algum lugar, a


preposição correta é “a”, e não “em”.

A família chegou ao seu destino.

Note que é incorreto escrever:

A família chegou em seu destino.


de proveniência

Quando utilizado no sentido de proveniência, de “voltar de”, a


preposição certa é “de”.

Ele chegou da Europa.


O presidente acabou de chegar de Portugal.

de movimentar

Quando utilizado no sentido de movimentar alguma coisa de


lugar, o verbo não necessita de preposição, sendo transitivo
direto:

Chega sua cadeira para lá.


Chega o quadro mais para a direita.

de alcançar

O verbo “chegar” pode ter ainda o valor de alcançar, também


sendo utilizado com a preposição “a”:

As ações chegaram a valer dois dólares.


A inflação chegou a patamares similares a 2010.

Em outra variação o verbo “chegar” também pode ser utilizado de forma


intransitiva, isto é, quando não necessita de complemento:

A encomenda chegou.
O presidente chegou.

Informar
Quem informa, informa alguém de algo:

A inspetora informou a diretora da briga no pátio da escola.

Quem informa pode também informar alguma coisa a alguém.

O motorista informou o roubo à direção da companhia.

Observe que tanto a pessoa quanto a coisa informada podem ocupar o


lugar de objeto direto (sem preposição) ou indireto (com preposição).

Atenção!
Tome cuidado para não usar os dois complementos sem preposição
(“Ela informou-o os resultados parciais da eleição”) ou com preposição
(“Ela informou-lhes sobre os resultados das eleições”). Quando o verbo
“informar” é utilizado com dois complementos, um tem de ser direto
(sem preposição) e o outro, indireto (com preposição). Nesses casos, as
frases corretas seriam:

Uso incorreto

Ela o informou dos resultados parciais da eleição.

Ela lhes informou os resultados das eleições.

Quando houver apenas um complemento, utilize o complemento sem


preposição:

A professora informou o falecimento do aluno.


A televisão informou a morte do ator.

Implicar

Com o sentido de “trazer consequências”, “dar a entender” e “requerer”,


este verbo não necessita de preposição:

A fofoca implicou reação acalorada entre os participantes do


programa televisivo.
O trabalho não implica sua participação. (Não requer.)

Na linguagem coloquial, entretanto, ele é muito utilizado com a


preposição “em”, mas esse uso não é aceito pela gramática normativa:

“O avanço do sinal implicou em multa”.

Uso incorreto

Quando tem o sentido de “ter implicância”, ele é utilizado com a


preposição “com”:

O menino implicava com o irmão mais velho.


O diretor implicava com um determinado funcionário.

Quando utilizado com o sentido de “colocar alguém em situação ruim”, o


verbo “implicar” é bitransitivo, sendo a pessoa, objeto direto
(complemento sem preposição), e a coisa implicada, objeto indireto,
utilizados com a preposição “em”:

As atitudes do funcionário implicaram o diretor em uma situação


muito delicada.
Ir

Este verbo é transitivo indireto quando significa deslocamento. Seu


complemento tem de vir acompanhado, nesse caso, da preposição “a”.

O advogado foi ao fórum.

Repare que é muito comum, na linguagem coloquial, o verbo “ir” vir


acompanhado da preposição “em”, mas esse uso não é aceito pela
gramática normativa: “O advogado foi no fórum”.

Uso incorreto

Utilizado com a preposição “contra”, o verbo “ir” tem o sentido de


oposição:

As minhas ideias foram contra as do diretor.

Saiba mais

Duas expressões com o verbo “ir” necessitam da nossa atenção:

“Ir ao encontro de” significa que duas coisas vão “na mesma direção”,
que há uma concordância entre elas: “Sua opinião ia ao encontro da
minha” (ou seja, pensávamos parecido).

“Ir de encontro a” dá a ideia de discordância, de oposição: “Suas ideias


iam de encontro às minhas” (pensávamos diferente).

Há alguns usos corretos presentes na linguagem informal. Clique a


seguir e veja os exemplos:

Exemplo 1 expand_more

O verbo ir + preposição “com” tem o sentido de “simpatizar” com


alguém: “Eu não fui com a cara da recepcionista”.

Exemplo 2 expand_more

Verbo ir + preposição “para” com indicação de tempo decorrido:


“Vai para 5 anos que não a vejo”.

Visar
No sentido de almejar, de ter em vista, ele é utilizado como transitivo
indireto com a preposição “a”:

A estudante visava ao mestrado na universidade pública.

Atenção!
Atualmente, várias gramáticas e dicionários já registram o verbo “visar”
como transitivo direto:

A estudante visava o mestrado na universidade pública.

No sentido de autenticar, ele é usado como transitivo direto com o


complemento sem preposição:

Ela visou a certidão.

Chamar
No sentido de “pedir que alguém venha”, este verbo é transitivo direto,
ou seja, seu complemento não tem preposição:

A moça chamou o garçom.

O verbo “chamar” pode ser bitransitivo, tendo a pessoa como objeto


direto e a denominação da pessoa como objeto indireto com a
preposição “de”:

Ela chamou o coleguinha de burro.

Ele também será bitransitivo quando convidamos alguém para alguma


coisa:

Ela foi chamada para a reunião.

O verbo apresenta as seguintes variações:

sentido de qualificar

Quando utilizado no sentido de qualificar, tal verbo é utilizado


com a preposição “de”:

Ele foi chamado de incompetente.

sentido de invocar ou pedir

No sentido de “invocar, pedir”, ele é utilizado com a preposição


“por”:
Ele chamou por Deus.
Ela chamou por sua mãe.

Agradar

Com o sentido de “fazer carinho”, o verbo “agradar” não é utilizado com


preposição, sendo, assim, transitivo direto:

Ela agradou a mãe.

Quando utilizado no sentido de “satisfazer”, ele é transitivo indireto e


utilizado com a preposição “a”:

A palestra agradou ao auditório.

Aspirar
No sentido de “inspirar”, é transitivo direto, ou seja, o complemento não
vem acompanhado de preposição. Veja as frases a seguir:

Ele aspirava o ar fresco da região serrana.

O aspirador de pó é bom, aspirou todo o pó da casa.

“Aspirar”, no sentido de “desejar” ou “almejar”, necessita de


complemento com preposição, conforme você pode ler abaixo:

O governador aspira à reeleição.

A atleta aspirava ao pódio.

Atender
Aceita tanto complemento com preposição, como sem preposição,
estando as duas formas corretas:

A secretaria da universidade atendeu os apelos do estudante.


A secretaria atendeu aos apelos do estudante.
Há uma preferência para o complemento de pessoa ser regido sem
preposição:

A enfermeira atendeu o paciente.

Quando o complemento é a “coisa atendida”, a preferência é pelo


complemento com preposição:

O rapaz atendeu ao pedido da namorada.

Constituir
Pode ter vários sentidos, mas todos eles são construídos com
complementos sem preposição:

Esses tópicos constituem a disciplina de Língua Portuguesa.


(fazem parte)
Suas ações constituem um exemplo. (são um exemplo).

Relembrando

Tal verbo, quando utilizado no sentido de “compor”, não vem


acompanhado de preposição:

A água constitui a maior parte do planeta Terra.

Uma exceção a essa regra ocorre quando o verbo é utilizado no sentido


de “tornar-se”. Nesse caso, o predicativo vem precedido da preposição
“em”:

Sua campanha se constituiu num verdadeiro espetáculo.

Custar
Em seu sentido usual, relativo a preço, ele é intransitivo:

A mensalidade custava caro.

Pode ainda esse verbo ter o sentido de que algo é difícil. Nesse caso, é
bom ressaltar, a gramática normativa condena o uso como verbo
pessoal: “Eu custei a entender a matéria”.

Uso incorreto

Embora as construções “eu custei a” e “eu custei para” sejam bastante


utilizadas na linguagem coloquial, o certo, nessas situações, seria dizer:

Uso incorreto
Custou-me entender a matéria.

Custa-me crer em sua atitude.

Nesses dois exemplos, a oração que vem depois tem a função de sujeito
do verbo “custar”.

Pagar

Quando pagamos, pagamos algo a alguém, ou seja, pagamos à pessoa


(física ou jurídica), que vem como objeto indireto, e a coisa paga, como
objeto direto. Leia os exemplos:

A mulher pagou a dívida ao banco.

O rapaz pagou o que devia ao seu amigo.

Prevenir
Veja o quadro a seguir:

Quando usado no Podemos ainda prevenir


sentido de “avisar”, este alguém de algo:
verbo é transitivo direto:
Eu o preveni dos riscos
O rapaz preveniu a da aplicação financeira.
senhora. (o objeto direto = “o”;
close
objeto indireto = “dos
Neste caso, o
riscos”).
complemento não vem
acompanhado de
preposição.

Querer
Quando utilizado no:

sentido de desejar

Tal verbo é transitivo direto:

Eu quero um país melhor para meus filhos.


Ela quer ser professora.

sentido de ter afeição

Nesse caso ele é transitivo indireto, ou seja, o complemento exige


preposição:

A moça lhe quer bem.


O rapaz quer muito bem à namorada.

Saiba mais

Para realizar adequadamente a regência verbal, muitas vezes é preciso


entender os pronomes oblíquos na função de objeto direto e de objeto
indireto.

Os pronomes oblíquos “o, a, os, as” (= ele, ela, eles, elas) assumem
sempre a função de objeto direto, ou seja, representam complementos
do verbo sem preposição.

Exemplo: “Eu o encontrei no parque” (o pronome oblíquo “o” está


representando uma pessoa: ele).

Já os pronomes oblíquos “lhe, lhes” (a ele, a eles, a ela, a elas)


assumem sempre a função de objeto indireto.

Exemplo: “Eu dei-lhe um presente” > “Eu dei um presente a ela” (quem
dá, dá alguma coisa a alguém).

Há casos que, em vez de o pronome oblíquo “lhe” funcionar como


complemento do verbo, ele assume a função de pronome possessivo
(adjunto adnominal).

Exemplo: “O rapaz beijou-lhe a face” (beijou a sua face).

Regência nominal
Ela diz respeito à relação que se estabelece entre os nomes e seus
complementos – mais precisamente, entre os substantivos, adjetivos,
advérbios e os complementos. Essa relação é intermediada por uma
preposição.

Conseguimos memorizar algumas regências nominais que utilizamos


frequentemente, como é o caso de, por exemplo, “medo de”, “dificuldade
em”, “livre de”, “respeito por” e “admiração por”. Mas muitos nomes
aceitam mais de uma preposição, sendo necessário analisar o contexto
em questão para ver qual delas se encaixa melhor.

Tendo isso em vista, apresentamos 31 casos, organizados a seguir em


ordem alfabética:

library_books Acessível

“Este celular é acessível a todos”.

library_books Alheio

“Ele estava alheio a tudo” (indiferente).

“Alheio de todo mau olhado” (livre).

library_books Amor

“Eu tenho muito amor por você”.

“Tenho amor a você”.

“O amor dos filhos faz bem a mãe”.


library_books Ansioso

“Estou ansiosa por vê-la”.

“Estou ansioso para começar a estudar”.

library_books Capacidade

“Ele tinha capacidade para tal cargo”.

“Ele tinha excelente capacidade de raciocínio”.

library_books Capaz

“Ele é capaz de assumir a culpa”.

library_books Consciente

“Ele nunca foi consciente dos seus direitos e


deveres”.

library_books Contrário

“O rapaz era contrário à vacina”.

library_books Descontente

“Ele estava descontente com a própria vida”.


library_books Dificuldade

“O menino tinha dificuldade com as contas de


multiplicar”.

“Ele sentia dificuldade de se expressar”.

“O menino apresenta dificuldade para aprender


matemática”.

“Ele tem dificuldade em aprender cálculo”.

library_books Essencial

“Este livro é essencial para a prova”.

library_books Grato

“Sou grata a você”.

“Somos gratos por toda a ajuda recebida”.

library_books Inveja

“Ela tinha inveja da sua amiga”.

“Seu carro novo causou inveja a muitas pessoas”.


library_books Interessado

“O rapaz estava interessado pela moça”.

“A menina estava interessada em estudar


sociologia”.

library_books Junto

“Ele estava junto ao banco”.

“Ela saiu junto com o filho”.

“A mãe estava junto do filho”.

library_books Necessário

“Era necessário o aviso de cancelamento da aula”.

“É necessário para viajar o passaporte”.

library_books Necessidade

“Ele não sentia necessidade de pegar sol”.

library_books Obediência

“El d i b diê i i”
“Ele devia obediência a seu pai”.

library_books Parecido

“A filha era parecida com o pai”.

library_books Preferência

“Ele tinha preferência por vinho branco”.

library_books Preferível

“A moto era preferível ao carro”.

library_books Próximo

“Ele estava próximo do banco”.

“Ele era próximo ao pai”.

library_books Querido

“O filho querido de Jacó”.

“El id t d d t ”
“Ela era querida por todos da turma”.

“Ele era o queridinho de todos”.

library_books Relação

“O ocorrido não tinha relação com o rapaz”.

“Ela não tinha relação de respeito com ele”.

“A relação por mensagem não é benéfica”.

library_books Necessidade

“Ele não sentia necessidade de pegar sol”.

library_books Satisfeito

“Ele estava satisfeito consigo mesmo” (satisfeito


com).

“Ele estava satisfeito em agradá-la”.

“Ela ficou satisfeita por ter esclarecido o engano”.

library_books Semelhante

“Suas atitudes eram semelhantes às de seu pai”.


library_books Simpatia

“A moça sentia simpatia pela jornalista”.

“Minha simpatia para com os meninos de rua é


enorme”.

library_books Suspeito

“Ele era suspeito de ter cometido um crime”.

“Sou suspeita para falar”.

library_books Tentativa

“Foi uma tentativa de homicídio”.

“Era uma tentativa para vencer o medo”.

library_books Único

“Ele foi o único a vencer a olimpíada da


matemática”.

“Ele foi o único entre milhares”.

Só poderemos relacionar dois nomes ou dois verbos quando as


regências forem iguais. Por exemplo:

“Ele era residente e domiciliado em Goiás” (quem é residente, é


residente em; quem é domiciliado, é domiciliado em).

Porém, no caso de “Maria tem medo e aversão por morcego”, a frase


está errada, pois as regências nominais são diferentes. Quem tem
medo, tem medo de; já quem tem aversão, tem aversão por.
Uso incorreto

Do mesmo modo, em “Ele confiava e o queria por perto”, a frase está


errada, pois o verbo “confiar” é transitivo indireto e pede a preposição
“em”. Já o verbo “querer”, no sentido de desejar, é transitivo direto.

Uso incorreto

Assim, para ajeitar a frase, é necessário separar os complementos: “Ele


confiava nele e o queria por perto”.

Dica

Veja sempre se os verbos que você está correlacionando apresentam a


mesma regência!

Colocação pronominal

Contextualização
Embora a língua portuguesa ofereça certa mobilidade para a construção
da frase, o que nos permite mexer com a posição dos termos em seu
interior, há determinadas colocações a que devemos obedecer, por
exemplo, o artigo, que sempre tem de preceder o substantivo: o certo é
“o país”, e não “país o”.

Além disso, nossa experiência de mundo também regula a ordem dos


termos na frase. Por exemplo, quando olhamos uma gaiola e vemos, em
seu interior, um passarinho, jamais construímos uma frase deste tipo:
“Estou vendo uma gaiola em volta de um passarinho”.

Para Bechara (1999, p. 581), quando o assunto é a sintaxe de colocação,


há uma obediência de ordem variada. Essa obediência pode ser:

Estritamente gramatical (como é o caso da posição do artigo em


relação ao substantivo).
De ordem rítmica (ou seja, o que soa melhor).
De ordem psicológica (vai depender de cada sujeito).
De ordem estilística (em conformidade com o estilo do autor).

Em relação à ordem dos pronomes pessoais átonos na frase,


determinadas regras gramaticais precisam ser seguidas. Entretanto,
alguns poucos autores, como Bechara (1999, p. 587), defendem que a
colocação dos pronomes está mais na ordem de uma “questão pessoal
de escolha”.
Posição do pronome em relação ao verbo
O primeiro fato a ser observado é a posição do pronome em relação ao
verbo. Acompanhe a seguir:

Pronomes pessoais átomos


São eles:

Me, te, se, o(s), a(s), lhe(s), nos, vos.

Próclise

Quando o pronome vem antes do verbo.

Ênclise

Quando o pronome vem depois do verbo.

Mesóclise

Quando o pronome vem no meio do verbo.


O importante é saber posicionar o pronome em relação ao verbo. Cabe
destacar que a mesóclise está em desuso, ou seja, é muito pouco
utilizada.

Próclise
Há determinadas palavras que exercem atração sobre o pronome,
trazendo-o para perto de si. Veremos tais palavras a seguir:

1. Palavras de sentido negativo: “Nada me surpreende mais”; “Não me


venha com reclamações”; “Ninguém nunca o repreendeu assim”.

2. Pronomes indefinidos: “Tudo nos aborrecia”; “Muitos o seguiam”.

3. Pronomes demonstrativos: “Isso a incomodava”.

4. Pronome relativo: “A pessoa que lhe contou essa mentira foi a Maria”.

5. Pronome interrogativo: “Quem lhe disse essas inverdades?”; “Como


se saiu na prova?”; “Quem o acusou?”.

6. Advérbio: “Hoje se encontrarão no Fórum”; “Depois se olharam com


ternura”.

7. Na expressão: “Em se tratando desse assunto, não me meto”.

8. Oração exclamativa que exprime desejo: “Que Deus me salve!”;


“Quem me dera passar no vestibular!”.

Atenção!

Quando o advérbio ou a locução adverbial que estiver iniciando a frase


for separada por vírgula, faça a ênclise:

Frequentemente, queixamo-nos da vida.


De maneira geral, falamo-nos pouco.

Ênclise
Não se inicia frase com pronome oblíquo. Por isso, o adequado é:
Dá-me seu número.
Encontre-me na esquina.

Na linguagem oral, principalmente na forma coloquial, é comum iniciar


uma frase com pronome oblíquo (“Me arrependi de ter falado”), mas
esse uso é contestado pela gramática normativa.

Uso incorreto

Por isso, ao redigir, faça a ênclise ou estruture a frase com pronome


oblíquo tônico (regido por preposição), conforme as frases a seguir:

“Dá-me seu número”


(“Dá seu número para mim”).

“Encontre-me na esquina”
(“Encontre comigo na esquina”).

Com verbo no imperativo afirmativo, o pronome também vem depois do


verbo. Vejamos:

Mande-o para casa cedo.

Traga-me o livro amanhã sem falta!

Saiba mais

No português brasileiro, de maneira geral, há uma preferência pela


próclise, o que faz com que, em algumas frases nas quais não haja
nenhuma das condições exigidas para a ênclise, a próclise seja mais
frequente. Veja os exemplos:

“A mãe se desculpou com o filho” em vez de “A mãe desculpou-se


com o filho”.
“Ela foi à reunião e me passou os informes” em vez de “Ela foi à
reunião e passou-me os informes”.

Mesóclise
Cada vez menos frequente na língua escrita, a mesóclise ainda é
encontrada em:

Obras literárias mais antigas.


Textos jurídicos.
Alguns textos formais.

Mas em que situações a utilizamos? Clique a seguir e leia cada caso:

Com verbos no futuro do presente expand_more

Dá-lo-emos o brinquedo.
Ele emprestá-lo-á o computador.

Com verbos no futuro do pretérito expand_more

Falar-te-ia umas verdades, se pudesse!


Comprá-lo-ia para você se tivesse dinheiro.

Atenção!

Só ocorrerá a mesóclise se não houver nenhuma das situações


descritas para a próclise.

Colocação pronominal

Colocação pronominal com locuções verbais


As locuções verbais são formadas pelo verbo auxiliar mais o verbo
principal, que pode estar no infinitivo, no gerúndio e no particípio:

Exemplo

“Vamos cantar” (“vamos”, verbo auxiliar, mais “cantar”, verbo no


infinitivo)

“Estamos cantando” (“estamos”, verbo auxiliar, mais “cantando”, verbo


no gerúndio)

“Havíamos cantado” (“havíamos”, verbo auxiliar, mais “cantado”, verbo


no particípio)

Como fica a posição do pronome oblíquo átono em uma locução verbal?


Observemos as situações apresentadas a seguir:
Situação 1

Verbo auxiliar + verbo principal no infinitivo ou no gerúndio

Quando houver qualquer uma das situações listadas


anteriormente para a ocorrência da próclise, o pronome deverá
ficar antes do verbo auxiliar ou depois do verbo principal:

“Nunca o conseguiremos comprar” ou “nunca conseguiremos


comprá-lo”.

Situação 2

Quando não houver nada que justifique a próclise, o pronome


ficará depois do verbo auxiliar ou depois do verbo principal.

“Preciso-lhe entregar os documentos” ou “preciso entregar-lhe


os documentos”.

É muito comum o pronome oblíquo átono, quando posicionado


entre o verbo auxiliar e o verbo principal, vir solto entre eles, mas,
segundo o padrão culto da língua, é necessário haver sua união
por hífen com o verbo auxiliar:

“Mandou-me sair da sala”.

Situação 3

Verbo auxiliar + verbo principal no particípio.

Se houver alguma situação para a próclise, o pronome ficará


antes do auxiliar (e nunca depois do verbo principal):

“Nunca o havia visto” (“visto” é particípio irregular).

Situação 4

Verbo auxiliar + verbo principal no particípio.

Se não houver nada que justifique a próclise, o pronome deverá


vir depois do auxiliar:

“A menina tinha-lhe ajudado”.


É importante estar atento, pois o pronome jamais ficará depois do verbo
no particípio. E por que não? Por uma questão de eufonia.

Saiba mais

Nos verbos terminados em “r”, “s”, “z” + “o, a, os, as”, cortam-se essas
letras e se acrescenta um “l” ao pronome: “lo”, “la”, “los, “las”.

Nos verbos terminados em “m”, “ão”, “õe” + “o, a, os, as”, não se corta
letra nenhuma, apenas acrescenta-se um “n” ao pronome = “no”, “na”,
“nos”, “nas”.

E como fica a acentuação?


Os verbos seguirão as mesmas regras de acentuação para os
vocábulos.

Regra Exemplo

A oxítona terminada em “a, e,


Cantá-lo, fazê-lo, pô-lo.
o” é acentuada.

A oxítona terminada em “i”,


Retribuí-lo, atribuí-lo, instituí-
quando o “i” é a segunda
lo.
vogal do hiato, é acentuada.

Quando houver mesóclise,


além do acento do verbo,
Comeríamos + “o” em
será necessário colocar o
mesóclise = Comê-lo-íamos.
acento relativo às palavras
oxítonas

Tabela: Elaborada por Maria Lima.

Comentário

Achou estranho dois acentos?

O acento de “íamos” é o acento do verbo sem o pronome (comeríamos).


Quando juntamos o pronome, o que acontece com o verbo? Ele ficou
com a última sílaba tônica, isto é, passou a atuar como uma oxítona – e
as palavras oxítonas terminadas em “a”, “e”, “o” são acentuadas.

Desse modo, teremos dois acentos nesse verbo: “comê-lo-íamos”.


video_library
Regência verbo-nominal e colocação
pronominal
Você vai acompanhar no vídeo os professores Dallier e Fábio Simas
comentarem sobre as regras de regência verbo-nominal e colocação
pronominal, com exemplificações das principais dificuldades.
Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

Em qual alternativa é possível reconhecer a regência verbal e


nominal realizada adequadamente?

Obedecer ao código de trânsito é preferível à


A
direção perigosa e irresponsável.

Prefiro estudar do que perder tempo assistindo tudo


B
que passa na televisão.

C Assisti o filme descontente de tudo.

Ele estava consciente aos seus deveres e se


D
lembrava a cumprir eles.
E Ela esqueceu de enviar o relatório e preferiu mentir
do que falar a verdade.

Parabéns! A alternativa A está correta.

“Obedecer ao código de trânsito” está correto, porque o verbo


“obedecer” pede preposição “a”. Também está correto “preferível à
direção perigosa”, pois “preferível” é regido pela preposição “a”. As
demais alternativas deveriam ser escritas da seguinte forma para
que fossem consideradas corretas:

Sempre prefiro estudar a perder tempo assistindo a tudo que


passa na televisão.
Assisti ao filme descontente com tudo.
Ele estava consciente de seus deveres e se lembrava de os
cumprir.
Ela se esqueceu de enviar o relatório e preferiu mentir a falar a
verdade.

Questão 2

Assinale a alternativa em que a colocação do pronome átono


respeita a norma culta da língua:

A Nunca seria solicitado-lhe presença no tribunal.

B Disseram-lhe tudo, mas ele não se contentou.

C A vaidade nem sempre leva-nos a boas atitudes.

O amor que experimenta-se na adolescência é um


D
despertar.

E Nos perguntamos até onde ele iria.

Parabéns! A alternativa B está correta.

“Disseram-lhe” está correto, porque não se inicia frase com o


pronome átono. Também está correto “não se contentou”, pois os
advérbios de negação atraem os pronomes átonos. As demais
alternativas deveriam ser reescritas da seguinte forma para ficarem
corretas:

Nunca lhe seria solicitado presença no tribunal.


A vaidade nem sempre nos leva a boas atitudes.
O amor que se experimenta na adolescência é um despertar.
Perguntamo-nos até onde ele iria.

Considerações finais
Revisitamos neste conteúdo os conceitos relativos à concordância, à
regência e à colocação pronominal. Por isso, registramos e analisamos
o comportamento morfossintático dos determinantes em relação aos
termos determinados, como também as implicaturas decorrentes da
relação entre verbo, sujeito e complementos, percebendo o movimento
das palavras que compõem o texto como semelhante ao da trama de
um tecido. Ou seja, tudo está intrinsicamente relacionado.

Observamos ainda que as preposições, palavras instrumentais, têm a


função de transpositor, permitindo que algumas palavras mudem de
função no interior da frase, como é o caso dos substantivos, que,
associados a uma preposição, passam a ter função de adjetivo.
Verificamos também o significado de diferentes preposições que podem
mudar o sentido da frase quando se agregam a um nome ou a um verbo.

Finalmente, tenha em mente que textos escritos exigem a obediência à


norma culta da língua. Determinados hábitos e modismos aceitos no
discurso oral informal não são tolerados no registro escrito. Esteja
sempre atento às normas gramaticais e nunca deixe de fazer a revisão
depois de terminar de escrever.

Redigir um texto, afinal, constitui um ato lento de construção no qual


devemos lapidar as inconsistências, reescrevendo trechos incoerentes e
ajustando as frases ao proposto pela gramática normativa. Nunca
acredite na possibilidade da escrita sem reescrita.

headset
Podcast
Aqui você vai ouvir os comentário e exemplos das principais
dificuldades gramaticais envolvendo a concordância verbal,
concordância nominal, regência verbal e nominal e colocação
pronominal.

Explore +
Assista ao vídeo “Produção de texto e comunicação II: concordância
verbal e nominal”, no canal da Univesp no YouTube.

Aprofunde os conteúdos sobre concordância verbal e nominal, regência


verbal e nominal, assim como de colocação pronominal, em gramáticas
de língua portuguesa. Recomendamos a consulta às gramáticas de:

Evanildo Bechara.

Celso Cunha e Lindley Cintra.

Rocha Lima e José Carlos de Azeredo.

Você também pode explorar as diversas gramáticas on-line disponíveis


para consulta na internet. Prefira sempre as que estejam hospedadas
em sites institucionais. Um exemplo é a “Minigramática” disponível no
site do Núcleo Interinstitucional de Linguística Computacional (NILC) da
USP de São Carlos.

Referências
AZEREDO, J. C. Gramática Houaiss da língua portuguesa. 2. ed. São
Paulo: Publifolha, 2008.

BECHARA, E. Moderna gramática portuguesa. 37. ed. Rio de janeiro:


Lucerna, 1999.
CUNHA, C. F.; CINTRA, L. F. L. Nova gramática do português
contemporâneo. 5. ed. Rio de Janeiro: Lexicon, 2008.

SAUSSURE, F. Curso de linguística geral. São Paulo: Cultrix; USP, 1969.

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