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AULA 7
Objetivos da aula: Conceituar sintaxe e conhecer seu objeto de estudo; entender a dupla articulação da linguagem;
entender a interdependência entre os eixos paradigmático e sintagmático; conhecer os diferentes tipos de sintagma.
Fontes: Azeredo, José Carlos de. Iniciação à Sintaxe do Português. Rio de Janeiro: Zahar, 2000.
________ . Fundamentos da Gramática do Português. Rio de Janeiro: Zahar, 2010.
________. Gramática Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.
Objeto da sintaxe
As pessoas falam geralmente sua língua nativa, nas situações cotidianas, com a mesma naturalidade com que
respiram, veem, andam; e assim como não estão interessadas em saber como seu corpo funciona naquelas tarefas,
também não costumam se deter no exame dos movimentos que executam para produzir os sons das falas, nem
tampouco na observação do que acontece com as palavras quando elas se combinam nos enunciados. A linguagem,
porém é muito mais do que articular sons e combinar palavras; além de ter uma estrutura extraordinariamente complexa
que envolve sons, palavras e frases, seu uso nas múltiplas situações reflete condicionamentos psicológicos, sociais e
culturais [...]
Comparadas à formas de comunicação animal, por exemplo, as línguas se revelam extraordinariamente ricas em
recursos. Seria possível enumerar as mensagens que um cão, um pássaro, uma abelha são capazes de emitir; mas é
impossível fazer o mesmo com os recursos de expressão verbal do homem. A memória humana pode arquivar uma certa
quantidade de frases diferentes, mesmo sem ter em vista semelhanças estruturais entre elas, assim como se decoram as
letras das músicas. Mas as frases de uma língua, aquelas que uma pessoa está apta a produzir e entender em sua língua,
não são catalogáveis, porque são infinitas tanto em número como, teoricamente, em extensão. (pag 9-10).
A divisão constante no primeiro caso baseou-se na possibilidade de pronunciar aquele vocábulo fazendo “pausas
naturais” nos pontos assinalados por um traço; a divisão adotada no segundo não considera as pausas potenciais, mas o
significado de cada parte: des- (a mesma que se encontra em desleal), -onest- (a mesma que se encontra em
honestíssimo), e -idade (a mesma que se encontra em utilidade ).
Ou seja, as unidades do primeiro caso, conhecidas como sílabas, são desprovidas de significado no contexto
daquele vocábulo; já as unidades do segundo caso, conhecidas como morfemas, são unidades portadoras de
significado. Na língua, portanto, não há umas sem as outras, por mais que cada plano seja estruturalmente organizado
segundo regras específicas de cada um. Na realidade, esses dois planos se associam graças a uma relação necessária
entre o significante – a face sensível – e o significado – a face mental. Esta relação tende a ser encarada como “fato
natural” pelos membros da comunidade, que assim a aceitam numa espécie de “acordo implícito” e permanente. A
verdade, porém, é que essa relação é convencional, já que só por convenção social se pode admitir que um segmento
sonoro ou gráfico, como cadeira, possa “representar”, na língua, um conteúdo como “assento provido de costas para
uso de uma pessoa”. Esta relação, convencional mas necessária, entre um significante e um significado constitui o que
na Ciência da linguagem é conhecido como signo linguístico.
DEFINIÇÃO DE SINTAXE
Parte da gramática que descreve e interpreta a ordenação e a combinação hierárquica dos constituintes nas
frases de uma língua.
Relações sintagmáticas
Todos sabemos que uma língua é, antes de qualquer coisa, uma forma oral de comunicação. Quando falamos,
produzimos sons que se combinam em sequência linear, um após o outro; morfemas que se sucedem na construção de
palavras que se sucedem na construção de frases. Essa linearidade da fala – e ordinariamente da escrita – é o
fundamento do que se chama o eixo sintagmático da linguagem. Por isso, dizemos que as unidades assim dispostas
podem formar sequências ou combinações no que chamamos uma relação sintagmática, como as duas sílabas de mato
(ma + to) ou os fonemas que entram em cada sílaba (/m/a/t/u/), os morfemas que entram na formação do verbo desmatar
(des + mat + a + r) ou as palavras que formam a frase o lenhador desmatou o terreno (o + lenhador + desmatou + o +
terreno). Há, portanto, relações sintagmáticas entre fonemas, entre sílabas, entre morfemas, entre palavras. Estes
exemplos nos revelam também que há em cada plano diferentes níveis estruturais, o das unidades constituintes – de
nível mais baixo – e o das unidades constituídas – de nível mais alto: fonemas são constituintes de sílabas, morfemas
são constituintes de palavras, palavras são constituintes de frases.
Relações paradigmáticas
A identificação das unidades em qualquer desses planos e nos diferentes níveis depende de dois fatores:
a) que elas possam ocorrer em outras construções em que sejam recconhecíveis como 'a mesma unidade' (ex.: o
fonerna /t/ é o mesmo em /matu/, /tudu/, /bater/; o sufixo -eiro é o mesmo em leiteiro, açougueiro, sapateiro), e
b) que elas sejam permutáveis por outras unidades com consequente mudança de significado. Por exemplo:
o /m/ por /p/ em mato / pato; o /a/ por /i/ em mato / mito; o /t/ por /s/ em mato / maço; o /u/ por /a/ em mato / mata; o -
eiro por -eria em leiteiro / leiteria, o leit- por sapat- em leiteiro / sapateiro; ou ainda as especificações singular (ausência
de -s ) /plural (presença de -s) em casa / casas e a oposição entre adjetivos (homem alto / homem baixo), entre verbos (o
avião caiu / o avião pousou), entre preposições (ele trabalhou por mim / ele trabalhou para mim), entre substantivos (o
avião pousou / helicóptero pousou), entre advérbios (voltarei cedo / voltarei amanhã).
Os fatores a) e b) acima explicitados constituem as relações paradigmáticas entre as unidades da língua.
As unidades assim identificadas agrupam-se em classes chamadas paradigmas. O que as caracteriza é o fato
de ocuparem ordinariamente a mesma posição – isto é, terem a mesma distribuição – e estarem em oposição no sistema
da língua: -eiro e -eria têm a mesma distribuição, pertencem a um mesmo paradigma e opõem-se no sistema
morfológico do português.
Esquematicamente, temos:
+ PERÍODO
ORAÇÃO
SINTAGMA
VOCÁBULO
- MORFEMA
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Exemplificando:
Nível do período ........................... os meninos brincavam com uma pazinha
Nível de oração ............................. os meninos brincavam com uma pazinha
Nível dos sintagmas ...................... os meninos / brincavam com uma pazinha
Nível dos vocábulos ...................... os / meninos / brincavam / com / uma / pazinha
Nível dos morfemas ...................... o/s/ menin/o/s/ brinc/a/va/m/ com / um/a/ pa/zinh/a
Em geral, o sintagma é formado por dois ou mais “elementos consecutivos, um dos quais é o
DETERMINADO (principal) e o outro o DETERMINANTE (subordinado)” (KURY, 1986, p. 9). Assim, a concepção
do sintagma é mais ampla do que a do vocábulo e mais restrita do que a da frase, situando-se em posição intermediária
entre essas duas dimensões (ROSÁRIO & OLIVEIRA, 2013, p. 18).
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Nesse contexto, temos:
Núcleo: com frequência, o núcleo do SN pode ser um substantivo ou um pronome substantivo: todos vieram; ninguém
sabe; etc
Determinantes: artigos, pronomes (possessivos, demonstrativos, indefinidos), numerais.
Modificadores: essa posição pode ser ocupada por:
a) adjetivos ou orações adjetivas – sintagma adjetival (SAdj);
b) por sintagma preposicional (SPrep) em função adjetiva.
Embora a tradição gramatical não reconheça, é possível um sintagma adverbial modificar um substantivo:
Greve agora, não!
Diretas já!
Naturalmente que essa não é uma função prototípica do advérbio, ocorrendo em alguns casos específicos
apenas.
Incorporado ao sintagma nominal, o sintagma adjetival básico serve para, do ponto de vista semântico, delimitar
uma parcela da significação do substantivo:
No primeiro caso, o adjetivo velhos cumprirá papel delimitador, isto é, subentende-se que nem todos os sapatos
da rainha são velhos; há novos ou usados no grupo.
No segundo caso, longos não cumpre essa função delimitadora, visto que não se está fazendo distinção entre os
dedos longos e os curtos do pianista.
Observe que essa percepção não se deve a nenhum fator sintático, mas sim a condicionamentos discursivos,
isto é, do contexto de uso e do conhecimento de mundo do usuário da língua.
O SAdj. pode ainda ser codificado por meio de uma oração adjetiva:
Aquelas são as casas que o engenheiro construiu.
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Exercícios