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Morfossintaxe: conceito
O objetivo desta aula é conceituar os termos da morfologia e da sintaxe e demonstrar como ambos se veiculam de modo a se agruparem no termo
morfossintaxe.

Estudos gramaticais

O estudo da gramática de uma língua costuma ser didaticamente feito envolvendo quatro aspectos, de acordo com as unidades linguísticas em
estudo: fonemas; morfemas e palavras; sintagmas, frases e/ou orações; unidades semânticas de um modo geral. Cada uma dessas unidades
linguísticas diz respeito a uma determinada área de estudo, respectivamente: fonologia, morfologia, sintaxe e a semântica. Por exemplo, ao
estudar uma frase como

pode-se assumir o ponto de vista da pronúncia. Nesse caso, serão estudadas regras de pronúncia como a que nos faz pronunciar o primeiro a de
Ana como uma vogal nasal, por anteceder uma consoante nasal (o n) e por ser tônico. O estudo das regras de pronúncia de uma língua é
denominado fonologia.

Mas a mesma frase pode ser estudada por outros enfoques: por exemplo, descrevendo a composição interna das palavras. Por esse viés, podemos
observar que a palavra insultou é formada por dois elementos (denominados morfemas): /insult-/ e /-ou/. A esse estudo dos morfemas e de suas
associações se dá o nome de morfologia.

Voltando ao exemplo dado, podemos ainda definir outro ponto de vista, que analisa o modo como as palavras se associam para formar frases.
Assim, podemos observar que só um determinado número de palavras pode ocupar o lugar de Pedro e Ana: eu, nós e etc. só podem ocorrer no
lugar de Pedro e me, nos só no lugar de Ana. A esse estudo da estruturação interna da frase se dá o nome de sintaxe.

Por fim, podemos analisar o exemplo dado levando em consideração o significado transmitido. Por exemplo, podemos notar que Pedro designa
um homem e Ana uma mulher; que a pessoa insultada é Ana e não Pedro; que o fato de Pedro insultar Ana ocorreu no passado. O estudo do
significado das palavras se denomina semântica.

A língua, porém, tomada como um código formado por signos (palavras) e leis combinatórias que os regem, realiza-se por meio da interação de
todos esses aspectos. É baseado nessas unidades que o usuário da língua realiza seus atos de fala, produzindo textos orais e escritos. As regras da
fonologia, da morfologia, da sintaxe e da semântica se articulam para definir quais são as sequências que constituem frases corretas da língua e
quais as que não constituem.

Assim, a frase

está construída conforme as regras do português, por essa razão é uma frase gramaticalmente bem formada e aceita pelos falantes. Já na frase que
segue

foi desobedecida uma regra que exige concordância de gênero e número entre um substantivo (aqui material) e o adjetivo que o acompanha
(novas). O resultado é que a frase é rejeitada pelos falantes. Também é possível não aceitarmos uma sequência por razões semânticas, veja:

A frase é mal formada, pois transmite um conteúdo inaceitável, já que só podemos beber o que é líquido.

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Cabe salientar que é a gramática interiorizada, não a gramática enquanto livro, que possibilita ao falante da língua julgar a formação de uma frase
como bem ou mal construída. É por essa razão que ele sabe que não pode construir uma frase como Estas minhas todas blusas são novas, mas na
oralidade usa Minhas blusa são novas. Porém, isso não quer dizer que ele tenha consciência desse processo, trata-se de um mecanismo que ocorre
de forma automática.

Níveis de análise

Denomina-se hierarquia gramatical a combinação de unidades linguísticas em níveis de construção cada vez mais complexos. Assim, considera-
se que os morfemas (menores unidades significativas da língua) se combinam entre si para formar uma unidade linguística superior, a palavra (ou
vocábulo), que, por sua vez, se combina para formar o sintagma. Os sintagmas são os elementos que constituem a próxima unidade superior, a
frase (ou oração). Por fim, como a maior unidade significativa da língua, temos o texto, unidade por meio da qual o falante se comunica.
Observe:

Morfema > Vocabulo > Sintagma > Frase > Texto


- oalun - aluno O aluno O aluno saiu O aluno saiu?
Para os estudiosos do português o vocabulário se distribui em duas partes: o inventário aberto e o inventário fechado;denomina-seabertoporque
o número de palavras é ilimitado e pode ser alterado com o tempo. Pertencem ao inventário aberto: os verbos, substantivos, adjetivos e os
advérbios terminados com o sufixo –mente. Chama-se inventário fechadoo número de palavras que não tende a crescer. Pertencem a esse
inventário: o artigo, o numeral, o pronome, o advérbio pronominal, a preposição, a conjunção e a interjeição.

SAIBA MAIS

Advérbios Pronominais: são expressões adverbiais que indicam uma localização no espaço e também podem ser usados para substituir nomes de
lugares (Fico em Cuiabá. Lá faz um calor infernal.)

Por que morfossintaxe

O falante da língua ao produzir qualquer enunciado irá articular duas atividades linguísticas: a de escolher uma forma e a de relacioná-la com
outra. O ato da escolha é realizado dentre o acervo linguístico que ele possui de unidades linguísticas que pertencem ao inventário aberto e
fechado da língua. A relação realiza-se pela junção de unidades escolhidas, que se sucedem uma após outra linearmente. A mensagem que assim
surge tem seu sentido dependente tanto dos significados das unidades escolhidas quanto da função que desempenham umas em relação às outras.

Observe o trecho que segue:

Pode-se dizer, então, que o falante escolhe dentre um conjunto de possibilidades de formas que ainda estão ausentes no discurso e que relaciona
aquelas que escolheu para que passem a estar presentes nesse “arranjo” linear que está construindo. A escolha dentre o acervo virtual se realiza
numa linha vertical que contém toda as possibilidades: a esse conjunto de unidades em ausência no discurso é que chamamos de eixo
paradigmático. Ao arranjo que vai se estabelecendo, mediante forças muito específicas da língua, com as unidades em presença no discurso
chamamos de eixo sintagmático.

(SAUTCHUK, 2004, P. 08)

Para tornar mais clara explicação acima, veja o esquema que segue:

Eixo sintagmático

Observe que, se escolhêssemos qualquer uma das formas que compõem as frases, poderíamos fazer um outro “corte” vertical e encontrar outras
formas:

Radical Sufixos Desinências


menin -o
feliz -mente

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garot -a

Vogal Desinência Modo- Desinência Número-


Radical
temática Temporal Pessoal
cant á -ya -mos
perd e Ria -s
fal a Ríe -is

Note que, no eixo sintagmático, as orações se formam pela junção das unidades linguísticas escolhidas. Assim, “aquele, um, meu” relacionam-se
com “estudante, menino, amigo”, e o bloco formado vai relacionar-se com “comprou um livro, pegou o dicionário, enviou essa foto” e com “pela
internet, na prateleira, pelo correio”.

Em uma análise linguística, todo recorte feito “na vertical” envolve necessariamente um estudo morfológico da língua. E todo recorte feito “na
horizontal”, envolvendo as relações que se realizam no eixo sintagmático, envolverá um estudo sintático da língua. Por essa razão que se diz que
o campo da sintaxe está para o eixo sintagmático, e o da morfologia para o eixo paradigmático. Agora, já podemos deduzir que a língua funciona
morfossintaticamente.

Para que se possa demonstrar como ocorre o funcionamento morfossintático da língua, é preciso que tenhamos um conhecimento seguro das
classes gramaticais e das possíveis relações que podem ser feitas. As funções sintáticas contraídas no eixo sintagmático são confirmadas pela
base morfológica das palavras que estão envolvidas nessas relações. Contudo, antes de tratarmos da palavra quanto à sua categorização, vamos
nos próximos tópicos a algumas considerações a respeito da estrutura e formação das palavras.

VALE A PENA CONFERIR

1. Conheça mais sobre o conceito de morfossintaxe na obra de Flávia de Barros Carone, intitulado Morfossintaxe.

2. Para conhecer mais sobre o conteúdo tratado consulte a obra de Cláudio Cézar Henriques, intitulada Língua Portuguesa: Morfossintaxe.

ATIVIDADE

Assinale a alternativa incorreta:

A. São consideradas bem formadas todas as construções que não desobedecerem à gramática da língua.

B. É por meio do domínio de sua gramática interiorizada, que qualquer falante de nossa língua é capaz de perceber quando uma frase está
bem ou mal elaborada.

C. As menores unidades significativas da língua são os morfemas, que se combinam entre si para formar as palavras (ou vocábulos).

D. O campo de atuação da sintaxe é o eixo paradigmático e o da morfologia é o sintagmático.

ATIVIDADE FINAL

Assinale a alternativa correta:

A. As frases (ou orações) são representadas, isto é, são constituídas pelas palavras.

B. A menor unidade significativa da língua é o texto, unidade por meio da qual o falante se comunica.

C. O vocabulário, para os estudiosos em português, se distribui em duas partes: o inventário aberto e o inventário fechado. O primeiro,
representado pelos verbos, substantivos, adjetivos e os advérbios terminados com o sufixo –mente. O segundo, pelos artigos, numerais,
pronomes, advérbios pronominais, preposições, conjunções e interjeições.

D. Quando o falante da língua produz qualquer enunciado, está articulando apenas uma atividade linguística: a de escolher uma forma.

REFERÊNCIA

AZEREDO, José Carlos de. Gramática da Língua Portuguesa. São Paulo: Publifolha, 2008.

MACAMBIRA, José Rebouças. A estrutura morfossintática do português. São Paulo: Pioneira, 1974.

SAUTCHUK, Inez. Prática de Morfossintaxe. São Paulo: Manole, 2004.

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