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Interpretação de Tribunal: Breve Histórico


Apresentar um breve histórico da interpretação de tribunal

AUTOR(A): PROF. PATRICIA GIMENEZ CAMARGO

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Conforme podemos observar na figura acima, a presença de um intérprete se faz necessária sempre que alguém não souber se comunicar na língua da pessoa que possui autoridade
oficial (juiz, delegado, etc.). Mas, podemos perguntar, quando surgiu a Interpretação de Tribunal? Embora haja relatos sobre a presença de intérpretes em tribunais anteriores à
colonização das Américas e também na África do Sul antes do século XVII, costuma-se considerar como marco da Interpretação de Tribunal os seguintes eventos: o Julgamento de
Nuremberg, entre novembro de 1945 e outubro de 1946, na Alemanha, para julgamento dos nazistas e entre junho de 1946 e novembro 1948 em Tóquio, no Japão, para julgamento
de nazistas e japoneses que cometeram crimes durante a Segunda Guerra Mundial (Novais Néto, 2009).

No início, o trabalho de interpretação de tribunal era realizado de maneira precária, pois os intérpretes não tinham naquela ocasião treinamento específico para tal tarefa. Para
exemplificar citemos o Julgamento de Nuremberg que, na ocasião, contou com os “intérpretes” que foram recrutados por sua competência linguística, mas não tinham experiências
de como exercer a interpretação nesse espaço social. Para saber mais sobre como foi o Julgamento de Nuremberg, clique aqui e ouça o relato de experiência de um dos intérpretes
que exerceu trabalho de interpretação neste evento.

Entretanto, podemos dizer que, com o passar dos anos, a Interpretação de Tribunal passou a ser exercida de maneira mais profissional. Nos Estados Unidos, por exemplo, a demanda
por intérpretes aumentou por volta dos anos 60 devido aos movimentos sociais e direitos civis. Com isso, indivíduos que pertenciam a outras nacionalidades e necessitavam de ajuda
para se comunicar em inglês puderam ser assistidos por intérpretes nos tribunais. Tal contexto fez com que a profissão de intérprete fosse regulamentada e promulgada em 1978 no
Direito Público n. 95-539 da Lei Federal dos Intérprtetes de Tribunais dos Estados Unidos. Por estar ligada ao direito à justiça e à relevância social, a interpretação de tribunal passou
a ocupar uma posição de maior prestígio comparada com as outras formas de interpretação (Novais Néto, 2009).

Nos Estados Unidos, em 1978 o Federal Court Interpreters Act regulamentou que os intérpretes deviam passar por um exame de certificação para realizar a interpretação de tribunal.
Aos poucos, diversas cidades estadunidenses seguiram essa recomendação, e, assim, os exames começaram a ser aplicados na Califórnia em 1979, seguido de Nova Iorque em 1980,
Novo México em 1985, e Nova Jersey em 1987.

Assim como nos Estados Unidos, com o passar do tempo, também em diversos países, vários mecanismos foram criados para que os serviços de interpretação de tribunal prestados
atingissem uma boa qualidade. Dentre esses mecanismos, podemos citar as seguintes medidas: a obrigatoriedade do exame de proficiência para atuar como intérprete de tribunal em
1978 na Austrália e em 1980 no Canadá.

Concomitantemente, surgiram associações profissionais de intérpretes que visavam garantir o reconhecimento do profissional. Esse fato aconteceu com maior intensidade nos
Estados Unidos devido ao grande contigente de estrangeiros que lá viviam e, por conseguinte, a grande demanda de serviços de interpretação. Dentre as associações criadas,
podemos citar: “California Court Interpreters Association” criada em Los Angeles em 1971; Court Interpreters and Translators Association (CITA), fundada em Nova Iorque em
1978 que, posteriormente, mudou seu nome para National Association of Judiciary Interpreters and Translators em 1988. Além dessas, em muitos outros estados estadunidenses, há
associações formadas por intérpretes de tribunal, como por exemplo, The Arizona Interpreters Association (AIA) e The Court Interpreters Association of Oregon (CIAO).

Ainda com o intuito de assegurar a qualidade nos serviços de interpretação de tribunal nos Estados Unidos, houve em 1995 a criação de treinamentos para intérpretes e avaliações
dos profissionais promovidas pelo National Center for State Courts. Estes treinamentos tinham como objetivo certificar os intérpretes para exercer os serviços de interpretação de

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tribunal. Também foram criados cursos de especiliazação em âmbto universitário, tais como a Universidade do Arizona que oferece o curso Court Interpretation e as Universidades
de Charleston e da California que oferecem os cursos em Interpretação Legal (Legal Interpreting).

A interpretação jurídica

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Vamos recorrer aos estudos da linguística forense que é definida como o campo teórico que tem como objeto de estudo a interação verbal ou escrita entre os integrantes da esfera
jurídica e também entre os leigos. A linguística forense lida com textos de leis, textos de decisões judiciais e administrativas, entre outros. Consequentemente, pode-se afirmar que
reuniões com advogados e representantes de empresas discutindo contratos e questões legais configurariam uma situação de interpretação jurídica.

Já para Novais Neto (2009), o termo Interpretação de Tribunal deve ser empregado para se referir a qualquer tipo de interpretação que envolva julgamentos ou outras situações que
requerem a presença de um intérprete para lidar com textos orais da área legal.

Diferentemente de Novais Néto (idem), Gonzales et alli (1991:25) usa o termo interpretação legal para se referir àquela que ocorre em um ambiente legal, tal como o tribunal ou um
escritório de advogado, onde assuntos sobre leis são abordados. De acordo com esse autor, costuma-se dividir a Interpretação legal em duas categorias:

a. Interpretação quase judicial: refere-se às situações como entrevistas ou oitivas entre advogado e seus clientes (acusados e testemunhas) que ocorrem em locais não judiciais.
Fazem também parte desta categoria situações em que há jurisdição sobre questões que envolvem estrangeiros que necessitam da presença do intérprete para mediar a
interação verbal entre eles e a autoridade em locais como os órgãos municipais, federais e estaduais.
b. Interpretação judicial ou interpretação de tribunal refere-se àquela que ocorre apenas no tribunal. Podemos dizer que fazem parte desta modalidade os depoimentos,
indiciamentos, apelações e demais procedimentos judiciais realizados no tribunal sob juramento.

Conforme podemos observar com a leitura acima, embora os serviços de interpretação voltados aos assuntos da lei sejam nomeados de formas distintas (interpretação legal, jurídica,
de tribunal) a partir da visão de cada autor, por questões didáticas, iremos empregar em nosso material do curso o termo interpretação de tribunal apenas quando esta ocorrer no
tribunal e empregaremos o termo interpretação jurídica quando esta ocorrer em outros espaços sociais, como por exemplo, nos escritórios de advogados, repartições públicas, serviço
de Imigração, Juizado de Menores,etc.

ATIVIDADE FINAL

Sobre a discussão teórica voltada para o campo da Interpretação Jurídica, é correto afirmar que:

A. Há um consenso sobre o termo a ser usado para a área de cada campo.

B. Não há um consenso sobre a aplicação de termos na área acadêmica.

C. Para Novais Néto, o termo Interpretação Legal deve ser usada para se referir tanto às interpretações realizadas em tribunal quanto `aquelas realizadas em outros espaços
sociais (escritórios de advocacia, etc.)

D. A linguística forense tem como objeto de estudo a interação apenas verbal entre os integrantes da esfera jurídica e também entre os leigos.

REFERÊNCIA

GONZALEZ, ROSEANN et alli (1991). Fundamentals of Court Interpretation: theory, policy and practice. North Carolina Academic Press.

NOVAIS NÉTO (2009). O Intérprete de Tribunal no Brasil: peritus peritorum? (Tese de Doutorado PUC/SP).

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