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Teoria da

argumentação
jurídica
Linguagem jurídica e vocabulário
jurídico
Unidade de Ensino: 4
Competência da Unidade: Desenvolver a habilidade de
aplicar a linguagem do texto jurídico em peças,
instrumentos e contratos.
Resumo: Nesta unidade, busca-se conhecer como se deve
dirigir a autoridades, endereçar corretamente seus
requerimentos e formular suas petições, com a introdução
de fundamentos legais e seus pedidos.
Palavras-chave: Endereçamento; pronomes de
tratamento; relatório de fatos; pedidos.
Título da Teleaula: Linguagem jurídica e vocabulário
jurídico.
Teleaula nº: 4
Contextualização
• Características do vocábulo jurídico
• Repertório vocabular erudito
• Estrutura do texto legal
• Organização e estrutura dos acórdãos
Características do
vocábulo jurídico:
características e
níveis
de linguagem
A linguagem jurídica
A linguagem jurídica

Linguístico Jurídico

Estuda os signos e os Porque a linguagem é


enunciados empregados objeto de uma regra de
pelo Direito. Direito e também é
jurídico por todas as
ações jurídicas que se
exercem sobre a língua.
A existência da linguagem jurídica ocorre em virtude da presença de um
vocábulo jurídico e de um discurso que o especifica e o diferencia em
relação aos outros ramos.

Linguagem jurídica

Vocabulário jurídico Discurso jurídico


O vocabulário jurídico

É o conjunto de expressões às quais o Direito atribui um


significado distinto daquele empregado pela linguagem
comum, bem como aqueles termos de pertinência
jurídica exclusiva.
O vocabulário jurídico
Composição do vocabulário jurídico

Termos que possuem o mesmo Termos de polissemia externa, que possuem


significado na linguagem
corrente e na linguagem um significado na linguagem corrente e outro
jurídica. Ex: estrutura. na linguagem jurídica. Ex.: Ação.
O vocabulário jurídico

Composição do vocabulário jurídico

Termos de
polissemia
interna, Termos latinos, Termos que só
possuem mais de como: têm significado no
um significado na caput e data âmbito do Direito.
linguagem vênia. Ex.: acórdão.
jurídica. Ex.:
prescrição.
As características da linguagem jurídica
A linguagem jurídica pode ser caracterizada como:

Linguagem de grupo

Linguagem técnica

Linguagem tradicional
Níveis da linguagem jurídica

Linguagem legislativa

Linguagem judiciária

Linguagem contratual

Linguagem doutrinária

Linguagem cartorária
Linguagem legislativa
É a linguagem da lei seca (sem qualquer comentário),
dos códigos, dos textos normativos, das normas e possui
como finalidade a criação do Direito.
Ex:
Art. 1º Os arts. 1º e 20 da Lei nº 7.716, de 5 de janeiro
de 1989, passam a vigorar com a seguinte redação:
"Art. 1º Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes
resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor,
etnia, religião ou procedência nacional."
"Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou
preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência
nacional.
Pena: reclusão de um a três anos e multa.
Linguagem judiciária

É a linguagem dos processos


judiciais, das lides apresentadas
em juízo, tendo como finalidade a
aplicação do Direito.

Fonte: pt.slideshare.net
Acesso em: 11 jul. 2022.
Linguagem
contratual
É a linguagem presente nos
contratos (negócios jurídicos)
celebrados entre as partes
para contrair obrigações.

Fonte: pt.slideshare.net
Acesso em: 11 jul. 2022.
Linguagem doutrinária
É a linguagem dos doutrinadores, juristas especialistas no
assunto, que visam apresentar conceitos, institutos e
controvérsias jurídicas aos leitores.
Linguagem
cartorária
É a linguagem utilizada nos
cartórios, cuja finalidade
consiste em registrar os atos de
direito.

Fonte: pt.slideshare.net
Acesso em: 11 jul. 2022.
Considere o texto a seguir:
Como ficou explicado anteriormente [...]. todo ser humano
é dotado de personalidade jurídica e, portanto, dotado de
aptidão genérica para adquirir direitos e contrair
obrigações. Aliada à ideia de personalidade, a ordem
jurídica reconhece ao indivíduo a capacidade para a
aquisição dos direitos e para exercê-los por si mesmo,
diretamente, ou por intermédio (pela representação), ou
com a assistência de outrem. Personalidade e capacidade
completam-se: de nada valeria a personalidade sem a
capacidade jurídica que se ajusta assim ao conteúdo da
personalidade, na mesma e certa medida em que a
utilização do direito integra a ideia de ser alguém titular
dele [...]. (PEREIRA, 2011, p. 221)
Qual é o nível de
linguagem presente no
texto?

Fonte: https://pxhere.com/pt/photo/1444001
Acesso em: 11 jul. 2022.
 A linguagem doutrinária é aquela utilizada pelos
doutrinadores, juristas especialistas no assunto, que
visam a apresentar conceitos, institutos e controvérsias
jurídicas aos leitores.
 Assim, verifica-se que o texto trata da linguagem
doutrinária, uma vez que a passagem da obra de Caio
Mário visa definir os conceitos de personalidade e
capacidade do indivíduo.
Repertório vocabular
erudito: expressões
úteis, brocardos,
pronomes de
tratamento,
abreviaturas e siglas
no direito
Elementos que
compõem o
vocabulário
Estrangeirismos
 Com o advento da globalização, é cada vez mais
frequente a interferência e a disseminação da cultura
dos países, inclusive no tocante à linguagem.
 Por essa razão, essa influência linguística tem sido
aceita com maior naturalidade atualmente, sendo
muito comum a utilização de estrangeirismos na língua
falada e também na escrita.
Latinismos

 O latim ainda é muito utilizado na linguagem jurídica.


 Assim, é comum encontrar em doutrinas e decisões
judiciais expressões em latim.
Tratamento de
autoridades
Pronomes de tratamento
 A reverência às autoridades deve ser realizada quando Decreto nº
assim exigir o ofício. 9.758, de 11 de
abril de 2019,
em seu
art. 2º.

“O único pronome de tratamento utilizado na


comunicação com agentes públicos federais é
“senhor”, independentemente do nível hierárquico,
da natureza do cargo ou da função ou da ocasião”.
Pronomes de tratamento
 Quanto às demais autoridades, o pronome de
tratamento varia conforme o caso.

 Vossa Excelência
(ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), Superior
Tribunal de Justiça (STJ); Deputados e Senadores; a
juízes, promotores, desembargadores e defensores
públicos).
Pronomes de tratamento
 Sofre variações em três momentos distintos:

1. No endereçamento:
A Sua Excelência o Senhor _____.

2. No vocativo:
Excelentíssimo Senhor Presidente do Supremo Tribunal
Federal.

3. No corpo do texto:
Vossa Excelência ou V. Exa.
Situação-problema
Conhecendo
Veja os exemplos extraídos da obra de Eduardo Sabbag:

1. “A ‘Descoberta da América’ também está mal explicada,


posto que os ‘vikings’ precederam os espanhóis (na América
do Norte) por volta do ano 1000. Logo, pode-se afirmar,
‘mutatis mutandis’, que a América foi redescoberta pelos
europeus em 1492" (SABBAG, 2014, p. 137).

2. “Não me agrada fazer julgamentos ‘a priori’, todavia o


homem tem um comportamento intragável" (SABBAG, 2014,
p. 143).
Problematizando
Identifique a existência de alguma expressão em latim ou
estrangeira nos itens anteriormente mencionados e,
depois, transcreva-os no vernáculo.
Resolvendo
1. A “descoberta da América” também está mal
explicada, já que os “vikings” precederam os espanhóis
(na América do Norte) por volta do ano 1000. Logo,
pode-se afirmar, com a devida alteração dos pormenores,
que a América foi redescoberta pelos europeus em 1492.

2. Não me agrada fazer julgamentos de antemão, todavia


o homem tem um comportamento intragável.
Estrutura do texto
legal: numeração e
estrutura dos artigos
de lei
Elaboração da lei
 O Poder Legislativo é o responsável pela criação da lei.
 Ao redigir um projeto de lei, o legislador deve levar em
consideração o impacto e as consequências que a
edição da norma trará para a sociedade.
 Analisa-se, pois, o contexto e a finalidade do texto
legal, bem como se há possibilidade de regulação da
matéria.
Consoante o art. 3º da LC n. 95, a lei será
estruturada
Consoante o art. 3º da em
LC n.três partes
95, a lei básicas,
será estruturada em a saber:
três partes
básicas, a saber:

parte parte
parte final
preliminar normativa
Parte preliminar
Epígrafe
• Conforme disposto no art. 4º da LC n. 95, a epígrafe,
grafada em caracteres maiúsculos, propiciará
identificação numérica singular à lei e será formada
pelo título designativo da espécie normativa, pelo
número respectivo e pelo ano de promulgação.
• A epígrafe destina-se a identificar a lei, destacando a
categoria normativa na qual está inserida e
localizando-a no tempo e no espaço.
• Assim, pela epígrafe é possível identificar, inicialmente,
qual é a espécie normativa do diploma legal.
Ementa
O art. 5º da LC n. 95 dispõe que a ementa será grafada por
meio de caracteres que a realcem e explicitará, de modo
conciso e sob a forma de título, o objeto da lei.

A ementa é a síntese/resumo do conteúdo da lei, isto é,


daquilo que será tratado no diploma normativo.

Pretende-se que o destinatário da norma possa, ao ler a


ementa, identificar o assunto que será regulamentado pela
lei.
Geralmente, a ementa inicia-se pelas expressões “estabelece
normas sobre” ou “dispõe sobre” ou, ainda, “traz outras
providências”.
Preâmbulo
• O art. 6º da LC n. 95 prevê que o preâmbulo indicará o órgão ou a
instituição competente para a prática do ato e sua base legal.
• Deverá conter o nome da autoridade, do cargo em que está investida e da
base legal que fundamenta a promulgação do ato.

Exemplo:
O Presidente da República:
Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu
sanciono a seguinte Lei:
Parte normativa
Parte normativa

• A parte normativa compreende o texto das normas de


conteúdo substantivo relacionadas com a matéria
regulada.
• Trata-se da parte do dispositivo legal que estabelece
os direitos, deveres, obrigações etc.
• Há, pois, efetiva criação legislativa, sendo as
disposições legais ali inseridas responsáveis pela
inovação na ordem jurídica.
A LC n. 95 fixa as regras de articulação e divisão do texto normativo, o que
variará conforme a extensão e a complexidade da matéria objeto de
regulamentação.

O artigo é a unidade básica de articulação da lei, sendo a forma pela qual o


conteúdo normativo é disposto, agrupado e ordenado.
Parte final
Parte final
• Compreende as disposições pertinentes às medidas
necessárias à implementação das normas de conteúdo
substantivo, às disposições transitórias, se for o caso,
a cláusula de vigência e a cláusula de revogação,
quando couber.

• Pertencem à parte final da lei o fecho, a assinatura e a


referenda.
Para analisar:
 A qual dos elementos constantes na parte preliminar
se refere o trecho destacado a seguir?

Dispõe sobre os Planos de Benefícios da


Previdência Social e dá outras providências.
Resolvendo:
• Refere-se à ementa, que é a síntese/resumo do
conteúdo da lei.
• Por meio da ementa, demonstra-se o objeto do
diploma
• normativo.
• É o que dispõe o art. 5º da LC n. 95, nos seguintes
termos:

A ementa será grafada por meio de caracteres que


a realcem e explicitará, de modo conciso e sob a
forma de título, o objeto da lei.
Organização e estrutura
dos acórdãos: análise
da estrutura
e organização dos
julgados dos tribunais
superiores, bem como
das
publicações no diário
oficial e de editais
Organização dos
julgados nos tribunais
Ao ingressar com uma ação de competência originária ou
interpor um recurso no Tribunal Superior, o processo será
distribuído por sorteio ou prevenção.

Por meio da distribuição é selecionado o juízo


responsável pela relatoria do feito.

Caso o objeto da demanda nunca tenha sido discutido no


tribunal, a distribuição será por sorteio.

Em sentido contrário, caso alguma questão atinente ao


processo já tenha sido discutida, a distribuição será por
prevenção e o processo será encaminhado para o juízo
que o já havia relatado anteriormente.
O relator deverá analisar
detidamente os elementos
constantes dos autos e
propor a solução jurídica
para o caso em concreto.

Escolhido o relator no ato


da distribuição e proferido o
seu voto, o processo será
encaminhado para análise
do revisor e dos vogais.
Organização e
estrutura dos
acórdãos
O que é acórdão?

Decisão do órgão colegiado de um tribunal (câmara,


turma, secção, órgão especial, plenário etc.), que se
diferencia da sentença, da decisão interlocutória e do
despacho, que emanam de um órgão monocrático, seja
este um juiz de primeiro grau, seja um desembargador
ou ministro de tribunais — estes, normalmente, na
qualidade de relator, de presidente ou vice-presidente,
quanto aos atos de sua competência.
Organização dos acórdãos

A primeira parte restringe-se à apresentação de dados


que identificam o acórdão, seja pela apresentação do
número do processo, da ementa, seja pela apresentação
do resultado do julgamento.

A segunda parte consiste no voto em si, ou seja, na


entrega da prestação jurisdicional. Assim, faz-se
necessária a análise das estruturas distintas constantes
no acórdão.
Cabeçalho
• No cabeçalho deverá constar o número do processo, o
nome do relator e o nome das partes com os seus
respectivos advogados.
• Deverá constar o nome do relator, bem como o nome
das partes – recorrente e recorrido – e de seus
respectivos advogados.
Ementa
• Síntese da decisão colegiada proferida pelo Tribunal.
• Formada por duas partes: a verbetação e o dispositivo.
• A verbetação é a sequência de palavras-chave que
indicam o assunto discutido no texto.
Dispositivo
Deve constar declaração de que a decisão foi unânime ou não,
mencionando, se for o caso, os nomes dos vencidos.

Exemplificando

Vistos, relatados e discutidos esses autos em que são partes as


acima indicadas, acordam os Ministros da SEGUNDA TURMA do
Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das
notas taquigráficas, o seguinte resultado de julgamento: "A
Turma, por unanimidade, negou provimento ao agravo interno,
nos termos do voto do(a) Sr(a). Ministro(a)- Relator(a)." (AgInt
no Agravo em Recurso Especial nº 858.065 – SP, Min. Rel. Mauro
Campbell Marques).
Nome dos ministros que participaram do julgamento

Abaixo do dispositivo devem ser indicados os nomes de


todos os desembargadores (tratando-se de acórdão
proferido no âmbito da segunda instância) ou ministros
(tratando-se de acórdão prolatado no âmbito dos
tribunais superiores) que participaram do referido
julgamento.
Local, data e assinatura do relator
• Ao final da primeira parte do acórdão deve ser
indicado o local em que foi prolatado o acórdão,
acompanhado da designação da data e da assinatura
do relator.

Exemplificando
Brasília (DF), 03 de maio de 2016.
MINISTRO MAURO CAMPBELL MARQUES, Relator.
Para refletir:

E a segunda parte do acórdão?

A segunda parte do acórdão, conhecida como elemento


temático (ou de conteúdo), é aquela em que o julgador
apresentará as razões de fato e de direito que amparam
a decisão judicial.
Recapitulando
Recapitulando
• Características do vocábulo jurídico
• Repertório vocabular erudito
• Estrutura do texto legal
• Organização e estrutura dos acórdãos
Referências
BERTAGNOLI, Danuza Lopes; CARVALHO, Fernanda Lara
de. Teoria e argumentação jurídica. Londrina: Editora
e Distribuidora Educacional S.A., 2016.

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