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Teoria da

argumentação
jurídica
Teoria da argumentação jurídica
Unidade de Ensino: 2
Competência da Unidade: Conhecer os principais aspectos
que envolvem a argumentação.
Resumo: Nesta unidade, buscam-se conhecer os aspectos
mais gerais da argumentação, trabalhando com os principais
conceitos da Retórica e as distinções entre as figuras de
argumentação. Ainda serão exploradas noções introdutórias da
Lógica para que possamos verificar como pode ser usada na
argumentação, especialmente no raciocínio jurídico.
Palavras-chave: .
Título da Teleaula: Teoria da argumentação jurídica.
Teleaula nº: 2
Contextualização

Comunicação e modus operandi

Retórica

Figuras de argumentação: escolha, presença e


comunhão

Noções introdutórias de lógica: conceitos e elementos,


distinção entre lógica formal e material
Comunicação e
discurso jurídico
Comunicação e
Modus operandi
Comunicação e Modus operandi

Modus operandi
• É uma expressão em
latim que significa
Comunicação "modo de operação".
•É uma importante Utilizada para designar
uma maneira de agir,
ferramenta no meio
operar ou executar
jurídico. uma atividade
É uma atividade seguindo geralmente
intrínseca ao homem, os mesmos
que lhe permite interagir procedimentos.
com o outro e com a
sociedade.
O modus operandi da comunicação jurídica

Emissor Receptor Mensagem

Canal Ruído
Ruído

Fonte: mmamarketing.com.br
Acesso em: 11 jul. 2022.
Retórica
Retórica
 É a arte de falar bem. Ela foi e é utilizada nos âmbitos
políticos, jurídicos, religiosos e filosóficos desde a
antiguidade até os dias atuais.

“Desde que uma comunicação tenda a influenciar


uma ou várias pessoas, a orientar os seus
pensamentos, a excitar ou apaziguar as emoções, a
dirigir uma ação, ela é do domínio da retórica”.
(PERELMAN, 1993, p.172)
Triângulo retórico de Aristóteles
ORADOR
ÉTHOS

AUDITÓRIO DISCURSO
PÁTHOS LÓGOS
Disponível em: t.ly/RxUg.
Acesso em: 11 jul. 2022.
Quem é o protagonista da retórica?

O auditório é um elemento essencial na atividade


retórica, sem este o discurso retórico não se constitui.
Cabe ao auditório o protagonismo dessa interação
orador-auditório, pois o orador tem que se adaptar,
continuamente, ao auditório, que determinará a
qualidade da argumentação e o comportamento do
orador.
Reflita:

Fonte: Shutterstock.com
Acesso em: 11 jul. 2022.

É possível identificar a arte da retórica em nossa


sociedade atual?
Figuras e
argumentação
Figuras de escolha
Figuras de argumentação

[...] são tratadas como sendo o ornamento do


texto argumentativo, aquilo a que Aristóteles chama
de elocutio, mas, olhando sob outra perspectiva,
podem ser tratadas como ferramentas cruciais para
a persuasão, devido à sua capacidade de provocar
emoções no auditório.
Figuras de escolhas
 São os elementos que irão “embelezar” o texto argumentativo, ou seja,
são vistas como ornamento.

Figuras de perífrase
escolha
ironia

metáfora
Perífrase
 Ocorre pela substituição de uma ou mais palavras por outra expressão. Essa
substituição é feita mediante uma característica ou atributo marcante sobre
determinado termo (ser, objeto ou lugar).

Exemplo:

Cidade maravilhosa
Cheia de encantos mil
Cidade maravilhosa
Coração do meu Brasil [...]
(André Filho)
Ironia
 Ocorre quando, pelo contexto, pela entonação, pela contradição de
termos, sugere-se o contrário do que as palavras ou orações parecem
exprimir. A intenção é depreciativa ou sarcástica.

Disponível em: t.ly/lLqa.


Acesso em: 11 jul. 2022.
Metáfora
 Representa uma comparação de palavras com significados diferentes e cujo
termo comparativo fica subentendido na frase.

Exemplo:

A expressão “Tempo
é dinheiro”

Disponível em: t.ly/Axqu.


Acesso em: 11 jul. 2022.
Figuras de presença
Figuras de presença
 A finalidade é “intensificar o sentimento de presença do objeto do
discurso”, ou seja, tornar consciente ou sempre presente no ouvinte o
assunto, tópico ou ideia sobre os quais se argumenta.

amplificação
Figuras de
presença

anadiplose

interrogação retórica
Amplificação
 O orador faz um desenvolvimento pormenorizado de uma ideia,
enumerando detalhes ou particularidades.

Exemplo:

“Teus olhos são formados para a imprudência, o rosto


para a audácia, a língua para os perjúrios, as mãos para
as rapinas, o ventre para a glutonaria... os pés para a
fuga: logo, tu és toda malignidade”.
Anadiplose
 Trata-se da utilização das mesmas palavras ou grupos de palavras do fim de
uma frase e no começo da frase seguinte.

Exemplo:
“Ofendi-vos, Meu Deus, bem é verdade,
É verdade, meu Deus, que hei delinqüido,
Delinqüido vos tenho, e ofendido,
Ofendido vos tem minha maldade.

Maldade, que encaminha à vaidade,


Vaidade, que todo me há vencido;
Vencido quero ver-me, e arrependido,
Arrependido a tanta enormidade.”
(Gregório de Matos)
Interrogação retórica
 Tem como finalidade despertar uma reflexão no interlocutor sobre o assunto
discutido.

Exemplo:

[...] Por que estamos gastando US$ 80 bilhões num


sistema carcerário que sabemos ser ineficaz, quando
poderíamos utilizar esse dinheiro em educação, em
tratamentos psiquiátricos, em tratamentos para viciados e
em investimentos nas comunidades, para o
desenvolvimento delas?
Analise a seguinte situação:

• Pense na seguinte situação: a mãe sai por uns instantes do quarto e, quando
volta, surpreende seu filho rabiscando o espelho com um dos batons dela.
• No flagrante, a primeira coisa que ela diz é: “Bonito, hein?”.
• Você pode perceber que ela, quer dizer exatamente o contrário, que a atitude
do filho é uma atitude “feia” ou “ruim”.
• Sendo assim, no caso, a mãe produz um enunciado irônico.
Figuras de comunhão
e
Noções introdutórias
de lógica
Figuras de comunhão
Figuras de comunhão
 São utilizadas pelo orador para criar ou confirmar a comunhão com o
auditório, ou seja, se o auditório lhe é simpático, está disposto a ouvi-lo e se
está aderindo à sua argumentação.

comunhão
Figuras de
alusão

apóstrofe
Alusão
 É uma menção a uma ideia ou a um ser conhecido do
auditório, que é feita pelo orador para buscar a interação
com este auditório ou realizar uma crítica.
 Essas referências culturais podem ser diretas ou
indiretas, não importa. O importante é que elas
constituam um conhecimento compartilhado entre
orador e auditório.
Exemplo
“Os golpistas podem ter chefe e vice-chefe assumidos.
Não sei direito qual é o chefe e qual é o vice-chefe. Um
deles é a mão, não tão invisível assim que conduz com
desvio de poder e abusos inimagináveis o processo de
impeachment. O outro esfrega as mãos e ensaia a farsa
do vazamento de um pretenso discurso de posse. Cai a
máscara dos conspiradores. O Brasil e a democracia não
merecem tamanha farsa.”

(SEM citar nomes, Dilma acusa Temer e Cunha de traição e


conspiração. Jornal Nacional, 12 abr. 2016).
Apóstrofe
 O orador interrompe seu discurso ou raciocínio para se
dirigir a um interlocutor, seja ele real ou fictício e esteja
ele presente ou não.
 O objetivo é reforçar a argumentação, chamando a
atenção do auditório.

Exemplo:
“ Tende piedade, Senhor, de todas as mulheres/
Que ninguém mais merece tanto amor e amizade”.
Noções
introdutórias de
lógica
O que é lógica?
É um dos campos de estudo mais antigos, trabalhado
inicialmente por Aristóteles.

É fundamental para argumentação.

Origina-se do termo grego logos = “razão” ou


“raciocínio”.

Forma de estruturar o conteúdo de nossos


pensamentos.

Não é ciência, é uma ferramenta.


O que é um raciocínio lógico?

“O pensamento é raciocínio
quando relaciona duas ideias
tomando uma como premissa e
a outra como conclusão. Se
uma ideia serve de ponto de
partida para outra, se a
sustenta, a fundamenta, então
esse vínculo tem uma
característica própria.
Fonte: freepik
(COELHO, 2004, p. 5).
Exemplo
TRABALHO CIENTÍFICO

PREMISSA CONCLUSÃO

 Qualquer trabalho científico ou filosófico deve saber


previamente de onde parte (premissa) e aonde
deseja/irá chegar (conclusão).
Três princípios fundamentais do raciocínio lógico

Não
Identidade Contradição Terceiro
se uma ideia é excluído
nenhuma ideia
verdadeira, uma ideia ou é
pode ser
então ela é verdadeira ou
verdadeira e
verdadeira. é falsa.
falsa ao
mesmo tempo.
Lógica é...

a ferramenta que utilizamos para estudar os


princípios e métodos por meio dos quais se
constroem as inferências, com o objetivo de
determinar em que condições certas coisas se
seguem, ou seja, são consequências, ou não, de
outras.
Reflita:

Qual é a importância da lógica no nosso dia a dia?


Lógica e metodologia
jurídica
Lógica conceitos e
elementos
Lógica

É justamente para verificar o caráter lógico do


raciocínio que usamos os estudos de lógica.

Há dois conceitos importantes para análise:


proposição e argumento.
Conceitos e elementos
1. Proposição: conteúdo de uma sentença.
Para a lógica, interessa estudar as sentenças
declarativas, a partir das quais se extrai a
proposição simples, constituída apenas de sujeito
Disponível em: t.ly/Axqu.
(S), verbo de ligação e predicado (P). Acesso em: 11 jul. 2022.

Exemplo:
Todo homem é mortal
Conceitos e elementos
2. Argumento:

“Argumentos são conjuntos de proposições que se


relacionam por inferência, sendo, portanto, a expressão Disponível em: t.ly/Axqu.

linguística de nossos raciocínios. São eles que constituem Acesso em: 11 jul. 2022.

os atos retóricos ou comunicativos argumentativos, daí a


importância de estudá-los sob a ótica da lógica.”

 Pode ser válido ou inválido.


Exemplo 1
(1) Todo homem (A) é mortal (B).
Sócrates (C) é homem (A).
Logo, Sócrates (C) é mortal (B).

O argumento é válido, pois a mortalidade de Sócrates é


concluída a partir das premissas de que ele é um homem
e de que todos os homens são mortais.
Exemplo 2

(2) Todo homem (A) é mortal (B).


Sócrates (C) é mortal (B).
Logo, Sócrates (C) é homem (A). ?

O argumento é inválido, pois não é possível concluir


que Sócrates é homem apenas pelas premissas colocadas,
tendo em vista que outras espécies também são mortais.
Lógica formal e
material
Lógica formal
 Está interessada em explicar o raciocínio,
estudo das condições de coerência do
pensamento e do discurso.
 Estuda argumentos procurando estabelecer a
relação entre a forma de um argumento e a Disponível em: t.ly/Axqu.
Acesso em: 11 jul. 2022.

sua validade.
 O objeto de estudo é o raciocínio dedutivo,
que é aquele que parte de uma ideia geral
para uma ideia particular.
Lógica formal

“a lógica formal trata da relação entre as


premissas e conclusão, deixando de se importar
com a verdade das premissas. Para ela, interessa
dar as regras do pensamento correto”.
(MUNDIM, 2002, p. 136).
Lógica material
 A lógica material tem como objetivo produzir um
conhecimento científico sobre um dado objeto ou
fenômeno.
 Fundamenta-se no método indutivo, no qual
justamente se parte de fatos particulares da
Disponível em: t.ly/Axqu.
Acesso em: 11 jul. 2022.

experiência para se chegar a generalizações.


Lógica material

Somente no campo da lógica material que se pode


falar da verdade. Assim, o argumento é válido
somente quando as premissas são verdadeiras e
se relacionam adequadamente à conclusão.
Situação-problema
Situação-problema

Você atua em uma ONG que presta assessoria jurídica a


pessoas de baixa renda. Hoje pela manhã, um grupo de
moradores de um bairro da cidade procurou sua equipe
para relatar um caso desagradável: durante uma
reportagem, um empresário referiu-se a eles com a frase
“são pobres, mas são limpinhos”. Eles, então, querem
apoio para evidenciar que esse discurso é, de algum
modo, preconceituoso. Assim, você pretende ajudá-los.

Para solucionar esse problema, como será sua abordagem?


Problematizando a Situação-Problema
• A argumentação faz parte do uso da língua.
• O emprego de certas palavras direciona a construção dos sentidos do
discurso.
• A validade de certos enunciados pode ser analisada sob uma perspectiva
lógica.
• Discursos com conteúdos depreciativos são recorrentes, e
uma análise cuidadosa pode expor atos discriminatórios.
Resolvendo a Situação-Problema
O emprego da conjunção
Estratégias gerais para a resolução:
“mas” é altamente
complexo, pois estabelece
• análise lógica do enunciado; relações de contraste
Todo rico é limpo. capazes de gerar efeitos
Pobre não é rico. indesejáveis.
Logo, pobre não é limpo.
• elaboração de parecer com base na análise;
• acionamento jurídico das partes...
Recapitulando
Recapitulando

Comunicação e modus operandi

Retórica

Figuras de argumentação: escolha, presença e


comunhão

Noções introdutórias de lógica: conceitos e elementos,


distinção entre lógica formal e material
Referências
BERTAGNOLI, Danuza Lopes; CARVALHO, Fernanda Lara de.
Teoria e argumentação jurídica. Londrina: Editora e
Distribuidora Educacional S.A., 2016.

MUNDIM, Roberto P. A lógica formal – princípios elementares.


2002. Disponível em:
http://periodicos.pucminas.br/index.php/economiaegestao/article/vi
ew/113/104. Acesso em: 11 jul. 2022.

PERELMAN, Chaim. O império retórico: retórica e argumentação.


Lisboa: edições Asa, 1993.

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