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Fundamentos de

Investigação e
Criminalística

Medicina Legal

Prof. Me. Diego Demiciano


• Unidade de Ensino: 4

• Competência da Unidade: Conhecer e aplicar conceitos e


características sobre medicina legal.

• Resumo: Análise e estudo comparativo de lesões e efeitos


decorrentes do uso de substâncias tóxicas.

• Palavras-chave: Medicina Legal. Conceito. Características. Lesões.

• Título da Teleaula: Medicina Legal.

• Teleaula nº: 4
Contextualização
Medicina Legal

Direito Penal

Investigação Criminal

Estudo das lesões

Exames periciais
Conceitos

Medicina Legal
O que é medicina legal?
Medicina Legal é o conjunto de
conhecimentos médicos e paramédicos
destinados a servir ao Direito, cooperando
na elaboração, auxiliando a interpretação e
colaborando na execução dos dispositivos legais
atinentes ao seu campo de ação de medicina
aplicada.
Função da Medicina Legal

A função da medicina legal é fornecer


elementos para formação da convicção do
magistrado, pois esclarece tecnicamente ao
juiz de direito as circunstâncias ou causas
que contribuíram para o fato investigado.
Objetivo
O objetivo de auxiliar, sobretudo, as
investigações quanto à prática de crimes e,
assim, instruir o processo penal com
provas suficientes quanto à materialidade
e, eventualmente, à autoria de um delito.
TRAUMATOLOGIA

• A traumatologia estuda o trauma,


a lesão resultante do trauma e o
agente que transmite esta
energia, que é chamado de
agente vulnerante, ou seja,
aquele que fere.
Espécies de energia
• FÍSICAS
mecânicas (instrumentos cortantes,
perfurantes)
não mecânicas (térmica, elétrica)

• QUÍMICAS: cáusticos e venenos

• FÍSICO- QUÍMICAS: asfixias


Energias de ordem de mecânica
É chamada mecânica porque para
ocorrer a lesão precisa de um
movimento, por exemplo, uma pedra
atirada contra alguém, na medida em
que a energia gerada pelo movimento,
transmitida ao organismo, provocará
uma lesão.
Ação perfurante
Trata-se de uma lesão provocada por um
objeto pontiagudo, alongado e fino.

As lesões decorrentes dessas feridas são normalmente


mais graves dentro do corpo do que sobre a pele.
Quando um instrumento perfurante penetra na pele,
ele afasta as fibras, por isso não há perda de sangue e
o que vemos na superfície da pele é apenas um ponto.
Ação cortante
Os instrumentos cortantes tem uma lâmina
com extremidades afiadas, agem através de
um ou mais gumes, como uma navalha, um
bisturi. Quanto mais afiado for este gume,
menos força será necessária, bastando o
deslizamento para que ocorra a lesão. Nesta
lesão, a extensão será maior que a
profundidade.
Ação contundente
Os instrumentos contundentes agem por
pressão, compressão, percussão,
arrastamento e tração.
Exemplo de instrumentos contundentes:
martelo, soco.
As lesões contundentes podem ser
hematomas, fraturas, escoriações, entre
outras.
Ação perfurocortante
São lesões provocadas por objetos de ponta
e gume, ocorre por pressão e deslizamento.
A ação é desenvolvida de forma que o
objeto penetra o corpo humano perfurando
com a ponta, mas também provoca um
corte devido ao gume.
Exemplo: faca, bisturi.
Ação perfurocontundentes
A ação é gerada por uma pressão e
penetração.
O exemplo mais estudado são as lesões
produzidas por projéteis de arma de fogo,
pois o projétil penetra e também causa um
amassamento na pele.
Ação cortocontundente
São ferimentos provocados por instrumentos
com gumes, mas que dependem de uma
força contundente baseada no peso do This Photo by Unknown Author is licensed under CC BY

próprio objeto para produzir a lesão.


Ocorrem por pressão e esmagamento.
Servem como exemplo o machado, a foice,
a guilhotina, unhas e dentes.
Conceitos

Energias de ordem
físicas e químicas
Energias físicas não mecânicas
POR AÇÃO TÉRMICA

 FRIO: o frio pode atuar diretamente sobre o corpo,


causando as geladuras. Quando o ambiente for frio,
haverá a vasoconstrição e, conforme essa demora na
chegada do sangue nas extremidades há lesões
causadas pela falta de oxigênio nos tecidos, que são as
geladuras.
As geladuras comportam-se em 3 graus: 1) eritema
(vermelhidão); 2) flictenas (bolhas); 3) necrose.
Energias físicas não mecânicas
POR AÇÃO TÉRMICA

 CALOR: Se a ação do calor age no organismo de


forma difusa, temos uma alteração que recebe o
nome de termose, não havendo contato direto
entre a fonte térmica e o organismo (exemplo:
insolação). Por outro lado, se existe contato
direto entre a fonte térmica e o organismo, temos
a queimadura.
Eletricidade
A eletricidade artificial poderá provocar uma síndrome
denominada eletroplessão, cujos efeitos dependem da
intensidade da tensão. A descarga elétrica de alta
intensidade provocará lesões mistas, queimaduras e
até morte.
No lugar onde a pessoa encosta no fio condutor pode
aparecer uma marcam que é chamada marca elétrica de
Jellinek e quando ela aparece, significa que a pessoa
sofreu uma descarga de corrente elétrica.
Eletricidade
A eletricidade natural poderá provocar
uma síndrome denominada fulminação
(morte) ou fulguração cujos efeitos
dependem da intensidade da tensão.
Asfixia
Asfixia significa falta de pulso, embora todos
nós entendamos que ela é gerada pela falta de
ar.
Asfixias puras: são as causadas pela inalação
de gases em ambientes de confinamento.
Asfixiais completas: são as causadas pela
compressão dos elementos nervosos do
pescoço ou tórax.
Resolução da SP

Lesões
Descrição da Situação Problema
O Código Penal brasileiro define o crime de lesão corporal como
sendo o resultado de uma ação ou omissão humana capaz de causar
dano à integridade corporal ou à saúde de um indivíduo qualquer
que seja esse dano, de ordem fisiológica, anatômica ou mental.
Suponha que João desferiu contra Marcos, seu desafeto, um projétil
de arma fogo, atingindo-lhe na região toráxica. Devido à lesão,
Marcos veio a óbito.
Marcos foi encaminhado ao Instituto Médico Legal onde foi elaborado
laudo pericial pelo médico legisla. No laudo pericial, qual o tipo de
lesão deverá constar como causada pelo caso em apreço?
Problematização da Situação Problema
Ao produzir o laudo, o médico legista avaliará qual o tipo
de lesão causou o óbito e também qual o instrumento
que produziu aquela modalidade de lesão.

As lesões possuem características próprias que permitem


concluir as circunstancias da morte.
Resolução da Situação Problema
No caso apresentado, Marcos sofreu uma lesão
por projétil de arma de fogo, assim, o
instrumento é considerado
perfurocontundente e a lesão
perfurocontusa, na medida em que ao atingir a
pele, há ação de pressão e penetração.
Conceitos

TOXICOLOGIA
FORENSE
O que é toxicomania?
A toxicomania é o comportamento de um
indivíduo que procura intoxicar-se de
forma periódica ou crônica, utilizando
drogas nocivas, naturais ou sintéticas.
Essas substâncias são capazes de produzir
dependência, tolerância ou abstinência
com a interrupção do consumo.
Tolerância

Necessidade por parte do usuário de


aumentar a dose a cada vez que
consome a substância para manter a
mesma sensação anterior.
Dependência

É a necessidade física e anormal


causada pela suspensão abrupta ou
dosagem insuficiente das drogas.
Abstinência

Trata-se de uma crise que provoca efeitos


físicos e psicológicos, como: ansiedade,
inquietação, vômito, anorexia e distúrbios no
sono.
Energia de ordem química
VENENOS
A vítima absorve uma quantia de elemento
tóxico suficiente para produzir uma reação
química dentro do seu próprio organismo
que será prejudicial à saúde da pessoa. A
gravidade dependerá da quantidade, da
velocidade do consumo e da resistência do
corpo.
Energia de ordem química
Ação interna: produzida por
venenos, que ingeridas, inaladas ou
em contato com a pele, penetram no
organismo causando dano. A morte
sobrevém por edema pulmonar e
parada respiratória.
Energia de ordem química
Ação externa: causadas por ácidos e
bases. É aquilo que queima, como por
exemplo o ácido sulfúrico, ácido nítrico,
soda cáustica. O ácido sulfúrico, também
chamado de vitríolo é conhecido pelo
crime de vitriolagem, quando alguém
joga o ácido em outra pessoa com a
intenção de deformar.
Classificação das drogas
 Depressoras (álcool)

 Estimulantes (cocaína, crack, cafeína,


ecstasy)

 Perturbadoras (maconha, LSD)


Tipos de embriaguez
 Embriaguez patológica
 Embriaguez decorrente de caso fortuito ou
força maior
 Embriaguez culposa
 Embriaguez voluntária
 Embriaguez preordenada
Embriaguez e crimes de trânsito
O Código de Trânsito Brasileiro, em seu artigo
306, prevê crime para aquele que conduzir veículo
automotor após a ingestão de bebida alcoólica,
veja:

Art. 306. Conduzir veículo automotor com capacidade psicomotora


dependência:
Penas - detenção, de seis meses a três anos, multa e suspensão de se
obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.
Critérios para constatação da alteração da
capacidade psicomotora
O artigo 306, em seu parágrafo primeiro, aponta que as condutas
previstas no caput serão constatadas por:

I - concentração igual ou superior a 6 decigramas de álcool por


litro de sangue ou igual ou superior a 0,3 miligrama de álcool por
litro de ar alveolar; ou

II - sinais que indiquem, na forma disciplinada pelo Contran,


alteração da capacidade psicomotora.
Conceitos

Exames de corpo de
delito
Exame de corpo de delito
O exame de corpo de delito é aquele que
examina de forma técnica e científica
eventuais vestígios produzidos com a
execução de um crime, permitindo-se que
se extraia uma conclusão confiável
(embora não seja infalível) sobre a existência
do delito. Em suma, o exame de corpo de
delito é uma espécie de perícia.
Exame direto

No exame de corpo de delito direto os


profissionais, como legistas, terão
contato direto com o vestígio do
crime, objeto a ser analisado pela
perícia.
Exame indireto
No exame indireto o perito cuida de
informações obtidas por outros meios,
como dados, elementos fornecidos por
terceiros para chegar a uma conclusão.
Exemplo: depoimento testemunhal.
Autópsia

A autópsia, preferencialmente denominada


necropsia, é o exame através do qual
um perito examina o cadáver. De acordo
com a Doutrina, a necropsia tem o objetivo
de identificar a causa da morte da vítima e
outras circunstâncias relevantes que
influenciam o exame do crime.
Sinais para declaração de morte
Aspecto do corpo; cessação da circulação;
ausência de respiração.

Morte cerebral; aspecto dos olhos;


concentração de sangue; rigidez do cadáver
e putrefação.
Lesões corporais
O crime de lesão corporal é aquele que atinge a
integridade corporal da vítima, deixando, por
consequência, vestígios (ou marcas) da sua prática.

Havendo constatação de debilidade permanente de


membro, sentido ou função de algum órgão ou parte do
corpo, será necessário realizar um exame
complementar.
Vestígios e indispensabilidade do exame de
corpo de delito

Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será


indispensável o exame de corpo de delito, direto ou
indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.
Espécies de exames em crimes de trânsito
Além do conhecido bafômetro, onde se verifica a
concentração de álcool por litro de ar alveolar,
outros provas também podem ser aceitas a fim
de comprovar a embriaguez, como no caso de
outros sinais que indiquem a alteração da
capacidade psicomotora, por exemplo, fala
desconexa, andar vacilante, etc.
Princípio do nemo tenetur se detegere
O referido Princípio coíbe a
possibilidade de fornecer, direta ou
indiretamente, qualquer tipo de prova
que possa ensejar autoincriminação.

É o famoso “não produzir provas


contra si mesmo”.
Conceitos

CADEIA DE
CUSTÓDIA
Cadeia de custódia
Incluída pelo artigo 158-A do Código de
Processo Penal, pelo pacote anticrime,
considera-se cadeia de custódia o conjunto de
todos os procedimentos utilizados para
manter e documentar a história
cronológica do vestígio coletado em locais
ou em vítimas de crimes, para rastrear
sua posse e manuseio a partir de seu
reconhecimento até o descarte.
Preservação do local do crime
Conforme o próprio 158-A artigo esclarece,
o início da cadeia de custódia dá-se com a
preservação do local de crime ou com
procedimentos policiais ou periciais
nos quais seja detectada a existência de
vestígio.
Vestígio
Artigo 158-A, § 3º: Vestígio é
todo objeto ou material bruto,
visível ou latente, constatado
ou recolhido, que se relaciona à
infração penal.
Etapas da cadeia de custódia
Art. 158-B. A cadeia de custódia compreende o rastreamento do
vestígio nas seguintes etapas:
I - reconhecimento: ato de distinguir um elemento como de potencial
interesse para a produção da prova pericial;
II - isolamento: ato de evitar que se altere o estado das coisas, devendo
isolar e preservar o ambiente imediato, mediato e relacionado aos vestígios e
local de crime;
III - fixação: descrição detalhada do vestígio conforme se encontra no local
de crime ou no corpo de delito, e a sua posição na área de exames, podendo
ser ilustrada por fotografias, filmagens ou croqui, sendo indispensável a sua
descrição no laudo pericial produzido pelo perito responsável pelo
atendimento;
Etapas da cadeia de custódia
Art. 158-B. A cadeia de custódia compreende o rastreamento do vestígio nas
seguintes etapas:
IV - coleta: ato de recolher o vestígio que será submetido à análise pericial,
respeitando suas características e natureza;
V - acondicionamento: procedimento por meio do qual cada vestígio coletado
é embalado de forma individualizada, de acordo com suas características
físicas, químicas e biológicas, para posterior análise, com anotação da data,
hora e nome de quem realizou a coleta e o acondicionamento;
VI - transporte: ato de transferir o vestígio de um local para o outro, utilizando
as condições adequadas (embalagens, veículos, temperatura, entre outras),
de modo a garantir a manutenção de suas características originais, bem como
o controle de sua posse;
Etapas da cadeia de custódia
Art. 158-B. A cadeia de custódia compreende o rastreamento do vestígio nas
seguintes etapas:
VIII - processamento: exame pericial em si, manipulação do vestígio de
acordo com a metodologia adequada às suas características biológicas,
físicas e químicas, a fim de se obter o resultado desejado, que deverá ser
formalizado em laudo produzido por perito;
IX - armazenamento: procedimento referente à guarda, em condições
adequadas, do material a ser processado, guardado para realização de
contraperícia, descartado ou transportado, com vinculação ao número do
laudo correspondente;
X - descarte: procedimento referente à liberação do vestígio, respeitando a
legislação vigente e, quando pertinente, mediante autorização judicial.
Resolução da SP

Cadeia de custódia
Descrição da Situação Problema
A Delegacia de Homicídios foi comunicada da
ocorrência de um óbito em uma área rural. O Delegado
de Polícia e o perito se deslocaram imediatamente ao
local do crime a fim de preservar o local e os vestígios.
Ao chegarem, os policiais isolaram o local, no entanto,
um civil que ali se encontrava, aproveitou que o perito
e o Delegado ouviam testemunhas e ingressou na área
isolada, alterando a posição de alguns objetos. O civil
praticou algum crime?
Problematização da Situação Problema
O Código de Processo Penal dispõe sobre os
procedimentos utilizados para manter e documentar
a história cronológica do vestígio coletado em locais
ou em vítimas de crimes, sendo que o início da
cadeia de custódia dá-se com a preservação do local
de crime ou com procedimentos policiais ou periciais
nos quais seja detectada a existência de vestígio.
O local do crime deve ser prontamente preservado, a
fim de que não se altere a veracidade dos fatos.
Resolução da Situação Problema
No caso em análise, o civil praticou o crime previsto
no artigo 158-C, parágrafo segundo, que dispõe:

§ 2º É proibida a entrada em locais isolados bem


como a remoção de quaisquer vestígios de locais de
crime antes da liberação por parte do perito
responsável, sendo tipificada como fraude
processual a sua realização.
Conceitos

Recapitulando...
Recapitulando
Exame de
Direito
corpo de
Penal
delito

Traumatolo Cadeia de
gia custódia

Toxicologia

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