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MEDICINA LEGAL
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Conteúdo:
1. Conceito, importância e divisões. Corpo de Delito, perícia e peritos;

2. Documentos médico-legais. Conceitos de identidade, de identificação e de reconhecimento;

3. Principais métodos de identificação;

4. Lesões e mortes por ação contundente, por armas brancas e por projéteis de arma de fogo comuns e de alta energia;
5. Conceito e diagnóstico da morte. Fenômenos cadavéricos. Cronotanatognose, comoriência e promoriência. Exumação.
Causa jurídica da morte. Morte súbita e morte suspeita;

6. Exame de locais de crime. Aspectos médico-legais das toxicomanias e da embriaguez. Lesões e morte por ação térmica,
por ação elétrica, por baropatias e por ação química;

7. Aspectos médico-legais dos crimes contra a liberdade sexual, da sedução, da corrupção de menores, do ultraje público ao
pudor e do casamento;

8. Asfixias por constrição cervical, por sufocação, por restrição aos movimentos do tórax e por modificações do meio
ambiente;

9. Aspectos médico-legais do aborto, infanticídio e abandono de recém-nascido;

10. Modificadores e avaliação pericial da imputabilidade penal e da capacidade civil. Doença mental, desenvolvimento
mental incompleto ou retardado, perturbação mental;

11. Aspectos médico-legais do testemunho, da confissão e da acareação;

12. Aspectos médico-legais das lesões corporais e dos maus-tratos a menores e idosos.

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minação da morte, prova de virgindade ou conjunção car- 7. Documentos médico-legais mais importantes
1 PERÍCIA MÉDICO-LEGAL: PERÍCIAS nal, diagnóstico de lesões corporais e dos instrumentos Atestado, notificação, auto, laudo e parecer. 3 TRAUMATOLOGIA FORENSE. 3.1 ENERGIA
MÉDICO-LEGAIS, PERÍCIA, PERITOS. ou meios que as causaram, apreciação do estado mental DE ORDEM FÍSICA. 3.2 ENERGIA DE ORDEM
2 DOCUMENTOS LEGAIS: CONTEÚDO E do criminoso ou da vítima etc. 7.1. O que constitui o atestado médico e quais as MECÂNICA. 3.3 LESÕES CORPORAIS: LEVE,
IMPORTÂNCIA. No foro civil visa documentar situações para favorecer suas partes? GRAVE E GRAVÍSSIMA E SEGUIDA DE MORTE.
a aplicação do Código Civil, como por exemplo, declarar a O atestado médico é a afirmação simples, exata e es-
insanidade de pessoas para fins de interdição de direitos, crita de um fato e suas consequências. Tem por finalidade
prova da impotência cuendi, visando a anulação de casa- informar a capacidade ou incapacidade do indivíduo para
mento, investigação de paternidade etc. a realização de determinado ato. Deve ter cabeçalho ou A Traumatologia Forense é um ramo da Medicina le-
1. Conceito Nos foros trabalhistas, o perito estuda os acidentes preâmbulo, a qualificação do examinado, o nome de quem gal que estuda as lesões corporais resultantes de trauma-
Perícia é o meio de prova feita pela atuação de técnicos de trabalho, as lesões que ocorreram no trabalho, avalia o solicitou, descrição do caso e, se absolutamente necessá- tismos de ordem física ou psicológica.
ou doutos promovida pela autoridade policial ou judiciária, grau de incapacidade resultante do acidente, estabelece rio, diagnóstico através do CID (Código Internacional de
com a finalidade de esclarecer à Justiça sobre o fato de o nexo de causa e efeito, analisa a insalubridade/periculo- Doenças). Objeto
natureza duradoura ou permanente. sidade de determinado local etc. A Traumatologia Forense tem por objeto o estudo dos
7.2. Notificação efeitos na pessoa das agressões físicas e morais, como
2. Finalidades da perícia técnica 6. Quem é o Perito? A notificação é a comunicação compulsória às auto- também a determinação de seus agentes causadores. Este
Levar conhecimento técnico ao juiz, produzindo pro- Perito é o auxiliar da Justiça, pessoa hábil que tenha ridades competentes de um fato médico por necessidade reconhecimento é feito através do exame pericial na ví-
va para auxiliá-lo em seu livre convencimento e levar ao conhecimento em determinada área técnica ou científica social ou sanitária sobre acidentes de trabalho ou doenças tima, bem como no local do crime, denominado exame
processo a documentação técnica do fato, o qual é feito que, sendo nomeado por autoridade competente, deverá infecto-contagiosas (Código Penal, art. 269). Ex.: sarampo, de corpo de delito, o corpo do delito ao contrario do que
através de documentos legais. esclarecer um fato de natureza duradoura ou permanen- tuberculose etc. muitos pensam não é apenas a vitima, mas todo o local e
te. O perito médico é a pessoa formada em medicina, por instrumentos utilizados para a pratica do delito, pelo qual
3. Classificação das perícias exemplo, que tem registro no CRM, que está a serviço da 7.3. Auto se atribui a extensão dos danos provocados.
• Judicial – é determinada pela justiça de ofício ou Justiça e isento do sigilo profissional, já que tem o dever Auto é um relatório da perícia médica, ditado direta-
a pedido das partes envolvidas; de informar o juiz sobre o fato do ponto técnico. mente ao escrivão. Exame pericial
• Extrajudicial – é feita a pedido das partes, parti- O exame deve ser requerido por autoridade legalmen-
cularmente; 7.4. Laudo te competente (p. ex., um delegado de polícia), dirigido
6.1. Quem pode ser perito?
• Necessária (ou obrigatória) – imposta por lei ou Laudo é o documento feito por escrito pelo perito. São a um médico legista competente (ou órgão do qual o
Qualquer pessoa capaz para atos da vida civil com co-
pela natureza do fato, quando a materialidade do fato se suas partes: preâmbulo – que contém nome do perito, seus mesmo seja funcionário). Este requerimento deve conter
nhecimento técnico-formal, idônea e hábil. O perito pode
prova pela perícia. Se não for feita, o processo é passível títulos, nome da autoridade que o nomeou, motivo da perí- alguns elementos imprescindíveis para a realização do lau-
ser substituído se durante o processo for verificado que
de nulidade; cia, nome e qualificação do indivíduo a ser examinado; his- do, tais como a completa identificação da pessoa, a hora,
ele não tem conhecimento técnico-científico para o caso
• Facultativa – quando se faz prova por outros tórico – que é a anamnese do caso, colheita de informações local e finalidade do exame.
ou deixar de prestar compromisso.
meios, sem necessidade da perícia; do fato, local, envolvidos etc; descrição– que é a parte mais O laudo pericial tem como norma geral uma narrativa
• Oficial – determinada pelo juiz; importante, deve ser minuciosa ao relatar as lesões e si- contínua, que é feita à medida que o exame é realizado.
6.2. Quem não pode ser perito?
• Requerida – solicitada pelas partes envolvidas no nais do indivíduo, e se envolver cadáver tem que constar os Nele deve constar, de forma abreviada e sucinta, apenas
Não pode ser perito: o incapaz, pois não é apto para
litígio; sinais da morte, identidade, exame interno e externo; dis- constando-se o que for essencial, a narrativa dos fatos
o exercício de seus direitos civis, além de não possuir co-
• Contemporânea ao processo – feita no decorrer cussão – que é o diagnóstico onde o perito externará sua proferida pela vítima.
nhecimento técnico específico; pessoas impedidas (Códi- opinião, relatório dos critérios utilizados; conclusão – que
do processo; O perito deve assinalar as lesões ou sua ausência (hi-
go de Processo Civil, art. 144 - testemunha, cônjuge ou é o resumo do ponto de vista do perito, baseando-se nos
• Cautelar – realizada na fase preparatória da pótese em que o perito esquivar-se de proceder a exame,
qualquer outro parente, em linha reta ou colateral até o elementos objetivos e comprovadores de forma segura;
ação, quando realizada antes do processo (ad perpetuam expondo seus motivos), os locais e tipos de lesão.
3º grau); e nos casos de suspeição (CPC, art. 145 - o amigo por fim respostas aos quesitos – eventualmente oferecidos
rei memorian);
íntimo ou inimigo capital de uma das partes). pelas partes ou juízo.
• Direta – tendo presente o objeto da perícia; Exame complementar
• Indireta – feita pelos indícios ou sequelas dei- 6.3. Quais são os deveres do perito? Por diferir o Direito penal a natureza delituosa da le-
xadas. 7.5. Parecer
Aceitar o encargo de executar a perícia, exercer a fun- são corporal consoante sua gravidade, é mister um exame
Parecer é um documento solicitado (sempre que o
ção, respeitar os prazos, comparecer às audiências desde suplementar, decorridos trinta dias do fato. Neste exame
4. O que é Perícia médica? Quem pode requisitá-la relatório médico suscitar dúvidas) por qualquer pessoa a
que intimado com antecedência de 5 dias (sob pena de um especialista (perito oficial ou qualquer médico fora da o perito assinala a presença ou não das sequelas da(s) le-
e em qual fase do processo isto pode ser feito? são(ões), bem como o grau de incapacitação gerada por
condução coercitiva), fornecer informações verídicas (de- perícia, isto é, assistente técnico), procurando documentar
A perícia médica ocorre quando a perícia versa sobre ela(s) na vítima.
ver de lealdade) etc. o processo com resultados de exames e considerações mé-
questão médica, tendo a necessidade de um perito médi-
co. São requisitadas pelas autoridades competentes ( juiz), dicas referentes a determinada situação de interesse jurí-
6.4. E os direitos do perito, quais são? dico. Ou seja, consultam, escrita ou verbalmente, um ou Registros
salvo se a mesma se faz necessária na fase de inquérito, O exame traumatológico deve ser indicado através de
Escusar-se do encargo, pedir prorrogação de prazos, vários especialistas sobre o valor científico do laudo em
quando será solicitada pela autoridade policial. Pode ser meio físico apropriado - desde o preenchimento de plani-
receber informações, ouvir testemunhas, verificar docu- questão. O parecer é a resposta, a conclusão. São suas par-
requisitada em qualquer fase do processo, isto é, na ins- lhas impressas, até a filmagem do examinado.
mentos de qualquer lugar, ser indenizado das despesas tes: preâmbulo, exposição dos fatos, discussão do assunto,
trução, no julgamento ou até mesmo na execução.
relativas ao serviço prestado, honorários (CPC, art. 465 e conclusão e respostas às perguntas.
Código de Processo Penal, art.159, §1º) etc. Fonte: https://www.direitonet.com.br/resumos/exi- Quesitos oficiais
5. Onde a perícia médico-legal é utilizada? De ordinário, a perícia vem determinada através de re-
bir/82/Pericia-Novo-CPC-Lei-no-13105-15
É utilizada nos foros civis, criminais e trabalhistas. messa de quesitos previamente determinados, aos quais
Nos foros criminais, atua quando se trata de identifi- a autoridade solicitante deve apontar sobre quais pontos
cação de pessoas, identificação da espécie animal, deter- deseja esclarecimento. Estas perguntas referem-se:

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• Se houve ofensa à integridade física ou à saúde; c) pérfuro-contundente: instrumento que atua so- Energias de ordem mecânica.
• Qual o instrumento utilizado; bre o alvo contundindo e perfurando partilhando as duas São aquelas energias capazes de modificar o estado de repouso ou movimento de um corpo, produzindo lesões
• Se a lesão foi produzida por meio insidioso ou características. Melhores exemplos são os projéteis de arma em parte ou no todo.
cruel (v.g.: veneno, tortura, etc.) de fogo,(PAF), chumbo das espingardas e também pontas de As lesões produzidas por ação mecânica, podem ter repercussões internas ou externamente.
• Se provocou incapacidade por período superior a grades de ferro, guarda chuva. Podem ter como resultado o impacto de um objeto em movimento contra o corpo humano (meio ativo) ou o
30 dias; instrumento encontrar-se imóvel e, o corpo humano em movimento (meio passivo) ou os dois se acharem em mo-
• Se resultou em dano permanente ou perda ou inu- Diferença entre as características dos orifícios de entra- vimento, indo um contra o outro (ação mista).
tilização de membro, sentido ou função orgânica; da e saída de PAF: Atuam ainda por: pressão, percussão, tração, torção, compressão, explosão, deslizamento.
• Se inabilitou a vítima ao trabalho, ou doença incu- Conforme as características que imprimem às lesões, os meios ou as ações, os agentes mecânicos classificam-se
rável ou, ainda, deformidade; ORIFÍCIO DE ENTRADA ORIFÍCIO DE SAÍDA em:
• Se provocou aceleração de parto ou aborto. a) regular a) dilacerado - perfurantes;
b) invaginado b) evertido - cortantes;
TRAUMATOLOGIA FORENSE c) proporcional ao projétil c)desproporcional ao projétil - contundentes;
(maior)
- pérfuro- cortantes;
Conforme asseveram William Douglas, Abouch V. d) com orlas e zonas d) sem orlas e zonas
- corto-contundentes;
Krymchantowki & Flávio Granato Duque, na obra Medicina
- pérfuro- contundentes;
Legal à luz do Direito Penal e Processual Penal, 2ª edição. Devem ser analisadas a localização e a forma das lesões,
- lacerantes;
Rio de Janeiro: Impetus, 2001: “A Traumatologia Forense para elucidação de cada caso e, ainda as lesões podem ser “in-
estuda os traumas, lesões, instrumentos e ações vulne- tra vitam” com a vítima viva quando cobrem-se de camada se-
rantes, visando elucidar a dinâmica dos fatos. Trauma é ro-albuminosa, sangue, crosta etc e ou “post mortem” quando Lesões perfurantes.
o resultado da ação vulnerante que possui energia ca- não apresentam mais os sinais vitais. Resultando nas escoria- Lesões causadas por instrumentos punctórios, finos, alongados e pontiagudos, de diâmetro reduzido.
paz de produzir a lesão, como ensina Roberto Blanco. ções, por exemplo o fenômeno do pergaminhamento como Agem sobre um ponto, penetrando os tecidos, afastando as fibras entre elas sem secioná-las, lesando em pro-
Lesão nada mais será que o dano tecidual temporário couro ou pergaminho. fundidade o corpo da vítima.
ou permanente, resultante do trauma.” Lesão corporal. Resultam em feridas puntiformes ou punctórias. Apresentando-se em forma de ponto com abertura estreita de
Definição: qualquer simples alteração causada à integri- raro sangramento externo.
“Nas contusões ativas, o instrumento vulnerante vem dade corporal de maneira culposa ou dolosa, na estrutura ana-
de encontro à superfície corpórea . Ex.: soco. Nas contu- tômica ou mesmo histológica de uma pessoa. Lesões cortantes.
sões passivas, a superfície corpórea (a vítima) vai de en- Um beliscão ou um tapa é o bastante para caracterizar Agem por um gume mais ou menos afiado, sobre uma linha, por deslizamento sobre os tecidos.
contro ao instrumento vulnerante. Ex.: a pessoa cai e bate uma ofensa à integridade corporal de outrem. Lâminas, navalhas, facas, bordas cortantes de vidros, cerâmicas...
a cabeça no solo. Assim, a atuação pode ser ativa/direta, Perícia na lesão corporal.
passiva/indireta ou mista (a combinação de ambas)”. Constatar ou não a existência da lesão, caracterizar a lesão, Feridas contundentes.
determinar o nexo-causal entre o agente relatado e a lesão, o Sua ação é quase sempre a partir de uma superfície e suas lesões mais comuns se verificam externamente, re-
Os agentes mecânicos através da alteração da inércia tempo e época da produção. percutindo internamente.
se dividem em simples: Classificação jurídica das lesões corporais. São subdivididas em:
a) contundente: todo objeto rombudo capaz de agir Lesão corporal leve: lesões resultantes da ofensa a inte- - Rubefação;
batendo traumaticamente no organismo da vítima (pau, gridade corporal ou à saúde de outrem, excetuando-se as le- - escoriação;
pedra, martelo, barra de ferro e nossa jurisprudência inclui sões graves e gravíssimas. - equimose;
os próprios membros do corpo humano como as mãos, Lesão corporal grave: quando resultam em incapacidade - hematoma;
pés, cotovelo e outros); para as ocupações habituais por mais de trinta dias, perigo de - ferida contusa;
b) cortante: todo objeto dotado de lâmina apresen- vida, debilidade de membro, sentido ou função, deformidade - fraturas;
tando fio, lume ou corte: (navalha, faca, gilete, canivete, permanente, aceleração de parto. - luxações;
louça, papel, vidro, folha de flandres, plástico e outros); Lesão corporal gravíssima: incapacidade permanente
- entorses;
c) perfurante: todo aquele que possui uma haste ci- para o trabalho, perda ou inutilização de membro, sentido ou
- roturas viscerais;
líndrico-cônica dotada de ponta que afasta as fibras dos função, deformidade permanente, aborto.
- encravamento e empalamento.
tecidos do corpo do ofendido (pequeno calibre-raramen- Lesão corporal seguida de morte: resulta quando, o
te mortais: alfinete, agulha, prego, espinhos palmeira, etc; agente alheio ao dolo, lesa a vítima produzindo-lhe a morte. O
médio- podem ser mortais: espeto de churrasco, furador agente não assumiu quis o desfecho. A ação é dolosa, mas o Rubefação.
de gelo ou de carne, etc; grande: florete, estacas e outros). resultado é culposo. Congestão repentina e momentânea de uma região do corpo, apresentando-se uma mancha avermelhada, efê-
mera e fugaz, que desaparece em alguns minutos.
Os mistos resultam da combinação das primeira, po- Traumatologia forense.
dendo ser: Estuda as lesões e estados patológicos, imediatos ou tar- Equimose.
dios, produzidos sobre o corpo humano. Traduzem-se pela infiltração hemorrágica nas malhas do tecido lesado.
a) corto-contundente: objeto pesado com superfí- O meio ambiente pode impor ao ser humano, as mais di-
cie de corte impulsionado pelo membros do agressor. Ex.: versificadas formas de energias causadoras de danos pessoais: Entretanto, este valor é relativo, devido a dimensão da equimose, localização e fatores individuais da pessoa.
machado, facão, foice, enxada, dentes (segundo Flamínio - Energias de ordem mecânica; Espectro equimótico de Legrand du Saulle:
Fávero) etc; - Energias de ordem física;
b) perfuro-cortante: instrumento formado de uma - Energias de ordem química;
lâmina com um ou mais gumes cortantes e ponta na extre- - Energias de ordem bioquímica;
midade que perfura associando as duas ações. Exs.:peixei- - Energias de ordem biodinâmica;
ra, facão, punhal, canivete etc; - Energias de ordem mista.

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COR: EVOLUÇÃO: DEVIDO: Feridas pérfuro-contusas. “A morte cerebral pode produzir-se antes que cessem
Lesões produzidas por instrumentos perfurocontun- os batimentos cardíacos (traumatismo cerebral). Considera-
Saída da hemoglobina da dentes. se que o cérebro está morto após doze horas de inconsciên-
Violácea Do início ao 3° dia
hemácea. cia com ausência de respiração espontânea, midríase bilate-
Fração da hemoglobina com Ferimentos de entrada: ral eletroencefalograma isoelétrico, ou quando o angiogra-
Azulada Do 4° dia ao 6° dia - Tipo de munição empregada; ma revela a parada da circulação intracraniana (durante trinta
o ferro-hemossiderina.
- Ângulo de incidência; minutos).
Fração da hemoglobina sem - Distância do disparo. Pode ocorrer que o coração pare, mas o sistema nervo-
Esverdeada Do 7° ao 12° dia
o ferro-hematoidina. so central está intacto ou com possibilidade de recuperar-se.
Transformação da Feridas de saída: Convém, então, iniciar a ressuscitação; se os batimentos car-
Amarelada Do 13° dia ao 21° dia hematoidina e hemossiderina Geralmente irregular; díacos não reaparecem pode dar-se por morto o paciente,
em hematina. Geralmente maior que o de entrada, pois o projetil de- mas se reaparecem, sem que se restabeleçam a consciência
Reabsorção fagocitária dos forma-se na passagem pelos tecidos orgânicos. ou a respiração, deve seguir-se aplicando as normas usuais
Desaparecimento Depois do 22° dia de assistência intensiva até que possa ser demonstrada a
pigmentos.
Outras lesões. morte cerebral.”
Eletricidade: Do que se trata, deve-se dar o indivíduo por morto
Hematoma.
Natural: fulminação (morte) fulguração. quando se constata, induvidosamente, a ocorrência verda-
Forma-se pelo extravasamento de um vaso sanguíneo calibroso, sem que ocorra a difusão do sangue pela malha dos
Artificial: eletroplessão. deira da morte encefálica geral e não apenas da morte da
tecidos.
Marca elétrica de Jellinek. cortiça cerebral.
Em geral produz relevo na pele, tem delimitações mais ou menos nítida e de absorção demorada.
Morte pulmonar, cardíaca, cerebral.
É o chamado “inchaço”.
Fonte: http://aulademedicinalegal.blogspot.com. Modalidades de Morte
br/2012/06/traumatologia.html
Bossa sanguínea. Existem várias modalidades de morte:
Apresenta-se sempre sobre um plano ósseo.
Saliência bem pronunciada na superfície cutânea. Morte Anatômica – É o cessamento total e permanente
Comum nos traumatismos do couro cabeludo. 4 TANATOLOGIA FORENSE: CAUSAS
JURÍDICA DA MORTE, DIAGNÓSTICO DE de todas as grandes funções do organismo entre si e com o
meio ambiente.
Escoriação. REALIDADE DA MORTE.
Resultado da ação tangencial dos meios contundentes. Morte Histológica – Não sendo a morte um momento,
Caracteriza-se pela solução de continuidade superficial da pele (arrancamento e desnudamento da derme). compreende-se ser a morte histológica um processo decor-
Fluem serosidade e sangue. TANATOLOGIA: Estuda a morte e as consequências rente da anterior, em que os tecidos e as células dos órgãos
Não ocorre cicatrização, a regeneração é por epitelização. jurídicas a ela inerentes. Assim como não se pode definir e sistemas morrem paulatinamente.
a vida, é teoricamente impossível conceituar a morte. Por
Ferida contusa. isso, deveria bastar-nos procurar compreender e aceitar Morte Aparente – O adjetivo “aparente” nos parece aqui
Lesão aberta, cuja ação contundente foi capaz de vencer a resistência e elasticidade dos planos moles. essa única e insofismável verdade. Antes do advento da adequadamente aplicado, pois o indivíduo assemelha-se in-
Apresentam bordos irregulares, escoriadas e equimosadas. era da transplantação dos órgãos e tecidos aceitava-se a crivelmente ao morto, mas está vivo, por débil persistência da
morte como cessar total permanente, num dado instante, circulação. O estado de morte aparente poderá durar horas,
Luxação. das funções vitais. Supera hoje esse conceito o conheci- notadamente nos casos de morte súbita por asfixia-submer-
Deslocamento de dois ossos com perda da relação articular entre os mesmos. mento de que a morte não é o cessamento puro e simples, são e nos recém-natos com índice de Apgar baixo. É possível
O dano dos tecidos moles pode ser muito grave, afetando vasos sanguíneos, nervos e cápsula articular. num átimo, das funções vitais, mas, sim, toda uma gama de a recuperação de indivíduo em estado de morte aparente
processos que se desencadeiam inexoravelmente durante pelo emprego de socorro medico imediato e adequado.
Entorse. certo período de tempo, afetando paulatinamente os dife-
Lesão articular provocada por movimentos exagerados dos ossos que compõem uma articulação. rentes órgãos da economia. Morte Relativa - O indivíduo jaz como morto, vitimado
Incidindo apenas sobre os ligamentos. Baseado nisso criaram-se modernamente dois concei- por parada cardíaca diagnosticada pela ausência de pulso em
Podem ser de grau leve a grave (ruptura completa do ligamento). tos distintos de morte: a cerebral, teoricamente indicada artéria calibrosa, como a carótida comum, a femoral, asso-
pela cessação da atividade elétrica do cérebro, tanto na ciada à perda de consciência, cianose, ou palidez marmórea.
Fratura. cortiça quanto nas estruturas mais profundas, pela persis- Entende-se por parada cardíaca o cessamento súbito e ines-
Caracteriza-se pela solução de continuidade dos ossos. tência de um traçado isoelétrico, plano ou nulo, e a cir- perado da atividade mecânica do coração sob forma de fibri-
Fechada: a pele sobre a fratura está intacta culatória, por nada cardíaca irreversível à massagem do lação ventricular, taquicardia ventricular sem pulso periférico
Aberta: ocorre solução de continuidade da pele sobre a lesão. coração e às demais técnicas usualmente utilizadas nessa palpável, dissociação eletromecânica em ritmo orgânico, útil
eventualidade. Qualquer que seja a teoria adotada vê-se e suficiente, em indivíduos que não portam moléstia incurá-
Rotura de vísceras internas. logo quão difícil é estabelecer um critério de morte. Fique- vel, debilitante, irreversível e crônica, pois que nesses enfer-
Lesões profundas determinadas por ruptura de órgãos internos. mos, pois, apenas com as razões indiscutíveis da morte: a mos a parada cardíaca nada mais é do que a consequência
Nem sempre se observa externamente o caráter de gravidade dos resultados internos. cessação dos fenômenos vitais, por parada das funções natural do envolver maligno da doença de base. Ocorre es-
Podem ocorrer por compressão ou aceleração/desaceleração. cerebral, respiratória e circulatória, e o surgimento dos fe- tatisticamente em 1/5.000 casos de anestesias cirúrgicas. O
nômenos abióticos, lentos e progressivos, que lesam irre- ofendido, submetido em tempo hábil à massagem cardíaca,
Encravamento/empalamento. versivelmente os órgãos e tecidos. Assim, deve-se pruden- poderá retornar à vida, como sucedeu em quatro pacientes
Encravamento: penetração de objeto afiado e consistente em qualquer parte do corpo. Ação direta ou indireta. temente deixar escoar certo lapso na ampulheta do tempo por nós socorridos, acometidos por parada dos batimentos
Empalamento: forma de encravamento na região perineal. para afirmar com rigorismo clínico a realidade da morte, do coração durante gastrectomia total por neoplasia ma-
conforme preceitua a Sociedade Alemã de Cirurgia: ligna de estômago.

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Morte Intermédia - É admitida apenas por alguns au- Embalsamento: Consiste na introdução nas artérias suprida, muitas vezes, pela análise de fotos, de laudo de Causas principais do homicídio:
tores. A morte intermédia é explicada, pelos que a admi- carótida comum ou femoral e nas cavidades tóraco-ab- necropsia, de termos de reconhecimento, da oitiva dos pe- - fase aguda da embriaguez;
tem, como a que precede a absoluta e sucede à relativa, dominal e craniana, nesta última através da lâmina crivada ritos e testemunhas, de exames de DNA de parentes dire- - as questões passionais,
como verdadeiro estágio inicial da morte definitiva. Diver- do etmoide, de líquidos desinfetantes, conservadores, do- tos, etc. Se há outros mecanismos de prova, a exumação - a doença mental e as anormalidades psíquicas;
sos autores têm relatado em seus livros centenas de casos tados de intenso poder germicida, objetivando impedir a será desnecessária. - o jogo;
de indivíduos que, inúmeras circunstâncias (atos cirúrgi- putrefação do cadáver. A pertinência diz conta à prova ser direcionada a um - a vingança;
cos, afogamentos frustrados etc.), perceberam-se como ponto importante, essencial do processo. Se a questão da - a política;
que saídos de seus corpos, flutuando no espaço, presos COMORIÊNCIA E PROMORIÊNCIA. exumação trouxer apenas certezas paralelas, secundárias - a religião;
por um “fio prateado” à cicatriz umbilical, sentindo-se ou inúteis ou, ainda, revelar-se procrastinatória, não deverá - a miséria e a marginalidade.
como se mortos estivessem. Socorridos adequadamente, Comoriência: Significa a morte simultânea de duas ou ser deferida.
em tempo hábil, retornaram à consciência física, contan- mais pessoas em um mesmo acontecimento, sem hipótese Todavia, são muitos os casos em que se deve permitir a Ação pericial: No homicídio doloso o perito esclare-
do avidamente as experiências vividas. de averiguação sobre qual delas morreu primeiro. exumação. O mais comum é sobre a investigação de pater- cerá à justiça:
Trata-se de uma presunção legal fundamentada pelo nidade post mortem, essencialmente quando os parentes - o nexo causal entre a agressão alegada e o evento
Morte Real - É o ato de cessar a personalidade e fi- Código Civil Brasileiro de 2002, que dispõe no Artigo 8°: “Se mais próximos (descendentes, ascendentes, irmãos e até morte;
dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se tios e sobrinhos) se negam a fornecer material genético - qual o meio empregado;
sicamente a humana conexão orgânica, por inibição da
podendo averiguar se algum dos comorientes precedeu aos para o exame de DNA. Sendo o estado de filiação um di- - o estado mental do homicida;
força de coesão intermolecular, e o de formar-se paulati-
outros, presumir-se-ão simultaneamente mortos”. reito indisponível e imprescritível (Súmula nº 149, STF), a - sua periculosidade;
namente a decomposição do cadáver até o limite natural
O significado de comoriência tem especial importância exumação dos restos mortais do suposto pai biológico é - se se trata de embriaguez fortuita ou preordenada;
dos componentes minerais do corpo (água, anidrido car-
no Direito das Sucessões, nas situações em que os indiví- perfeitamente cabível. A obtenção de amostras de DNA da - se foi cometido mediante emprego de veneno, fogo,
bônico, sais etc.), que, destarte, passam a integrar outras explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel;
duos que faleceram (denominados “comorientes”) são liga- medula dos ossos mais longos (fêmur, tíbia, ulna, etc.) é
formas de organizações celulares complexas em eterna algo que se busca em um primeiro momento no cadáver, - se foi cometido sob violenta emoção;
renovação, como se por átomos químicos do corpus, ou dos por vínculos sucessórios, ou seja, são reciprocamente
herdeiros. mas também é possível a realização do exame a partir de - a idade do agente;
de seus despojos, estivéssemos unidos aos átomos de restos cadavéricos tais como: ossada, cartilagem, unha ou
todo universo. Quando é crucial para efeitos de herança que haja
comprovação de qual indivíduo faleceu primeiro, porém cabelo. Ação pericial: No homicídio doloso o perito esclare-
não há como apurar esse fato, então a Lei brasileira admite Na seara criminal, temos assistido os tribunais deferi- cerá à Justiça:
Tanatognose rem medidas exumatórias quando surgem novas versões - a atitude da vítima;
que a morte foi simultânea. São casos em que é impreterí-
vel o esclarecimento sobre os plenos direitos do herdeiro do crime, como por exemplo, suspeita posterior de en- - a execução de certos atos pela vítima, após o feri-
É a parte da tanatologia Forense que estuda o diag- venenamento, intoxicação, espancamento ou outra causa mento mortal;
na partilha do patrimônio.
nóstico da realidade da morte. Esse diagnóstico será tanto mortis não averiguada ou percebida no primeiro exame - a mudança de posição, dolosa ou acidental, da vítima;
Premoriência: É a morte de uma pessoa, ocorrida an-
mais difícil quanto mais próximo o momento da morte. de necropsia. Já foi objeto de exumação intenso espasmo - as lesões encontradas na vítima provocadas pelo
teriormente à de outra pessoa determinada, que lhe so-
Antes do surgimento dos fenômenos transformativos do cadavérico em velório, a suspeita posterior de erro médi- agente, no propósito de subjugá-Ia;
brevive. É a precedência na morte, como, por exemplo:
cadáver, não existe sinal patognomônico de morte. Então, co, suspeita de troca de cadáveres no enterro quando de - a sede, forma e o número dos ferimentos no cadáver;
quando um casal sem descendentes e ascendentes falece
o perito observará dois tipos de fenômenos cadavéricos: acidente com muitas vítimas, a dúvida da identidade do de - sendo o agente silvícola, o seu grau de adaptabilida-
no mesmo evento. Se se demonstrar que o marido pré-
os abióticos, avitais ou vitais negativos, imediatos e con- cujus, de corpos enterrados como indigentes - mas sus- de ao meio;
morreu à esposa esta recolhe a herança daquele, para a
secutivos, e os transformativos, destrutivos ou conserva- peitos de serem alguém desaparecido - a suspeita de falsa - o exame do local do crime.
transmitir em seguida aos próprios herdeiros e vice-versa.
dores. perícia médica, a ausência ou perda da perícia original, etc.
2) Suicídio: (sui. a si próprio; caedere. cortar, matar). É a
EXUMAÇÃO. CAUSA JURÍDICA DA MORTE. deserção voluntária da própria vida; é a morte, por vontade
CRONOTANATOGNOSE
e sem constrangimento, de si próprio.
Exumar significa abrir a sepultura, local de consumpção - Objetivo primordial da tanatologia: diagnosticar a A conceituação dessa modalidade jurídica de morte
É a parte da Tanatologia que estuda a data aproxi- aeróbia, caixão de metal ou madeira onde se encontra inu-
mada da morte. Com efeito, os fenômenos cadavéricos, causa jurídica da morte (homicídio, suicídio ou acidente). exige dois elementos: um, subjetivo, o desejo de morrer;
mado o cadáver para a realização de perícia médico-legal. - Deter-se ao exame do corpo, do local de crime rea- outro, objetivo, o resultado morte. Exclui-se do conceito de
não obedecendo ao rigorismo em sua marcha evolutiva, Tanto no Código de Processo Civil (art. 130) como no lizado pelo perito criminal e estudo acurado do indiciado, suicídio os que morreram no cumprimento do dever.
que difere conforme os diferentes corpos e com a causa Código de Processo Penal (art. 411, § 2º) deve ser aplicada quando houver. Embora o suicídio não seja ato ilícito, o art. 122 do CP
mortis e influência de fatores extrínsecos, como as condi- a regra de que se trata de procedimento probatório que - Atentar para: mecanismo de morte, presença de le- pune o induzimento, a instigação ou o auxílio físico, mate-
ções do terreno e da temperatura e umidade ambiental, fica submetido à discricionariedade do juízo. Nesse caso, sões de defesa e sinais de luta, sede dos ferimentos, dire- rial ou moral, mesmo por motivos altruísticos, para que o
possibilitam estabelecer o diagnóstico da data da morte em particular, com muito mais razão, pois o requerimento ção da ferida, distância do projétil, número de ferimentos, potencialmente suicida realize seu intento.
tão exatamente quanto possível, porém não com certe- de exumação de cadáver é medida de caráter essencial- Os suicidas podem ser considerados impulsivos - nos
exame de manchas de sangue em vestes, arma usada, perfil
za absoluta. O seu estudo importa no que diz respeito à mente excepcional, porquanto ocasiona enorme desgaste psicológico da vítima, mudança da vítima de lugar. quais influi uma explosão do momento – ou premedita-
responsabilidade criminal e aos processos civis ligados à emocional aos familiares. De forma que nem mesmo se a dos - em que agem a sugestão, o temperamento e a vai-
sobrevivência e de interesse sucessório. acusação e a defesa, em conjunto, requererem a exumação 1) Homicídio: É a morte voluntária (dolosa) ou invo- dade.
estará obrigado a deferi-la, o Juízo. O deferimento de di- luntária (culposa) de alguém realizada por outrem. À lei
Inumação: Consiste no sepultamento do cadáver. ligências é ato que se inclui na discricionariedade regrada não importa seja a vítima monstro, inviável, demente, inca- 3) Morte acidental:
do juiz. Via de regra, essa discricionariedade deverá se ater paz, agonizante; exige-se, naturalmente, que esteja viva ao É a causa jurídica da morte representada por aciden-
Exumação: Consiste no desenterramento do cadáver, a dois pré-requisitos básicos para deferir a exumação: a ne- sofrer por parte do agente a agressão homicida, pois o ob- tes aeroviários, ferroviários, marítimos e, em sua maioria,
não importa o local onde se encontre sepultado. cessidade e a pertinência da medida. jectum juridicus que a lei tutela é a vida, bem inestimável pelo tráfego, pela velocidade dos veículos, pelo despreparo
A necessidade diz conta à convicção do Juízo de que inerente ao homem, quaisquer que sejam suas condições psicológico dos motoristas ou pelo estado de embriaguez,
Cremação: Consiste na incineração do cadáver, redu- não existem outros meios probatórios para se confirmar biopsíquicas, transitórias (vida intrauterina), momentâneas pela imprevidência e imprudência dos pedestres, pelo ob-
zindo-o a cinzas. um fato ou, havendo outros meios, haja séria divergência (sono, ebriez) ou permanentes (idade, sexo, raça, inteligên- soletismo de algumas estradas, pela deficiência no policia-
que justifique a nova perícia. É que a exumação pode ser cia etc), independente de suas condições jurídicas. mento rodoviário, pelas ruas estreitas e mal iluminadas.

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MEDICINA LEGAL MEDICINA LEGAL

Obs.: Diagnóstico diferencial da causa jurídica da mor- doenças tromboembólicas, acidentes anestésicos e/ou ci- As implicações relativas ao sexo estão presentes tan- Estupro é crime previsto no Artigo 213, do Código Pe-
te consoante o meio empregado: rúrgicos, crise epiléptica apnéica, febre tifoide, meningites, to no Direito Penal quanto no Direito Civil, com reflexos nal, significando a posse sexual da mulher, mediante vio-
- lesões por instrumentos cortantes: comuns no sui- tétano, difteria, ação da eletricidade cósmica ou industrial. também no Direito Processual. Tais incidências, de regra, lência ou grave ameaça. Para tanto, não se perquire se a
cídio e no homicídio e só excepcionalmente no acidente; Influenciam, ainda, a idade, o sexo, a profissão, a fadiga, o necessitam da produção de prova material a ser elaborada mulher é virgem ou não, se é honesta, solteira, prostituta ou
- lesões por instrumentos contundentes: comuns no esforço, a embriaguez, o coito, a emoção. no âmbito da Medicina Legal. casada, o que interessa para a ordem repressiva é a prática
homicídio, suicídio e acidentes; No Direito Civil a Sexologia pode auxiliar na investiga- do ato libidinoso mediante essa sujeição.
- lesões por instrumentos corto-contundentes: comuns Morte Agônica é aquela em que a extinção desarmô- ção de paternidade, nas questões de impotência, nas impli- A mulher casada pode ser vítima de estupro pelo pró-
nos casos de homicídio e, excepcionalmente, nos aciden- nica das funções vitais processa-se paulatinamente, com cações do casamento etc. prio marido, desde que com esta tenha relações sexuais me-
tes; estertores, num tempo relativamente longo; nela os livores No âmbito do Direito Penal, as incidências parecem diante violência ou grave ameaça.
- lesões por instrumentos perfurantes: comuns em ho- hipostáticos formam-se mais lentamente. mais comuns nos crimes sexuais, no estudo da Himenolo- A Lei Penal fala em violência real ou presumida, signi-
micídios e raras em suicídios e acidentes; gia, da virgindade, da conjunção carnal etc. ficando esta, as hipóteses descritas no Art. 224, da mesma
- lesões por instrumentos perfuro cortantes: comuns Necropsia: Uma autópsia, necropsia ou exame cadavéri- Conceito de Mulher Virgem – Aos olhos da Medicina ordem jurídica, quando se tratar de pessoas menores de 14
em homicídio e raros em suicídios e acidentes; co é um procedimento médico que consiste em examinar um Legal, mulher virgem é aquela que não teve ainda experiên- anos de idade, deficientes mentais ou até mesmo mulheres
- lesões por instrumentos perfuro contundentes: co- cadáver para determinar a causa e modo de morte e avaliar cia sexual. que, em virtude de condições específicas ou circunstâncias,
muns em homicídio e suicídio e raras em casos de morte qualquer doença ou ferimento que possa estar presente. É A expressão “Mulher Virgem”, contida no Art. 217, do tiveram suas vontades viciadas, seja por agressão corporal
acidental; geralmente realizada por um médico especializado, chama- Código Penal é um elemento normativo que significa inex- ou por qualquer meio que reduza ou anule a capacidade
- esmagamentos: comuns nos acidentes; do de legista num local apropriado denominado morgue, periência quanto ao ato da conjunção carnal. da oura parte, como por exemplo: manter relações com
- precipitação: comum no suicídio e no homicídio; só ou necrotério. Necropsias não eram permitidas no Brasil nos Conjunção Carnal – para a medicina Legal, significa a pessoas totalmente embriagadas (embriagues aguda); com
raramente é acidental; seus primeiros séculos de colonização portuguesa. Contudo, penetração do pênis na vagina, completa ou incompleta, pessoas drogadas e envolvida pelo domínio da droga; com
- enforcamento: comum em casos de suicídio e raro no em casos excepcionais, algumas foram feitas por imposição com ou sem ejaculação. A conjunção carnal é um ato libi- pessoas anestesiadas (inconscientes); com pessoas hipnoti-
homicídio; é rarissimamente acidental; da justiça e com o devido consentimento do Santo Ofício. dinoso que se traduz no contato pênis/vagina intromissio zadas, etc, de forma tal que, naquela condição, não tinham
- estrangulamento: comum em casos de homicídio, é Nos territórios sob dominação holandesa e, portanto livre do pênis, ato este que precisa ser devidamente comprovado o domínio da vontade para discernir sobre a prática do ato.
excepcional no suicídio e nos acidentes; jugo do Tribunal da Inquisição, Willem Piso, no século XVII, para a caracterização, por exemplo, do estupro consumado. O exame de Corpo de Delito é uma providência essencial
- sufocação: comum nos acidentes e no suicídio é raro realizou livremente as primeiras necropsias no Brasil. Atos Libidinosos: é o ato praticado com o propósito de nas hipóteses de estupro, tanto para comprovar a violência
em homicídios; satisfazer o apetite sexual. e colher elementos de materialidade do crime, como para
Necroscopia: Exame ou dissecção de cadáveres. Libido: é o estimulo, o apetite sexual, ou seja, o impulso efeito de aborto legal, nas causas permissivas do Art. 128, II,
- afogamento: comum nos acidentes e suicídio é raro
à satisfação sexual. do Código Penal, que autoriza o aborto quando a gravidez é
em homicídios;
“Causa Mortis”: Expressão latina que significa literal- decorrente de estupro, o chamado aborto sentimental.
- envenenamento: comum em casos de suicídio é me-
mente “causa da morte”. Comprovação da Conjunção Carnal – para efeito de No Estupro, são quesitos essenciais a serem respondi-
nos frequente no homicídio e acidente.
comprovação da conjunção carnal, estuda-se, dentre outros dos pelo Perito Legista:
elementos, a ruptura da membrana himenal, a presença
MORTE SÚBITA E MORTE SUSPEITA
dos componentes do esperma, além de outros vestígios 1) Se a paciente é virgem; 2) Se há vestígio de desvirgi-
5 SEXOLOGIA FORENSE.
deste ato libidinoso. namento recente (nesse caso considera-se recente o des-
Morte natural é aquela que sobrevém motivada amiú-
A estrutura anatômica da região perineal feminina é virginamento com menos de 15 dias, após o que, fica difícil
de por causas patológicas ou por grave malformação, in- formada por um complexo de membranas de espessuras determinar a data do ato); 3) Se há outros vestígios de con-
compatível com a vida extrauterina prolongada. A Sexologia Forense tem por objeto de estudo as inci- diferentes, além de partes que possuem funções específi- junção carnal recente; 4) Se há vestígio de violência e, se
dências médico-legais relativos ao sexo. cas e que constituem o órgão sexual feminino. Conforme o possível, qual o meio empregado (podendo o perito regis-
Entende-se por Morte Violenta aquela que resulta de No âmbito da sexologia e toda a sua complexidade, professor Roberto Blanco, a estrutura vagínica é constituída trar os vestígios inerentes ao próprio ato libidinoso e outros
uma ação exógena e lesiva (suicídio, homicídio, acidente), o tema subdivide-se em três vertentes de estudo: 1) Hi- ds seguintes partes: vestígios que possam constituir a forma violenta do ato); 5)
mesmo tardiamente, sobre o corpo humano. meneologia, que tem por objeto de estudo o casamento Monte de Vênus; Se da violência resultou alguma seqüela para a vítima (este
e demais aspectos decorrente da união de pessoas de Grandes lábios; quesito deve ser respondido de forma específica, registran-
Morte Suspeita é aquela que ocorre em pessoas de sexo diferentes, assim como questões de compatibilidades, Comisura anterior; do a conseqüência resultante); 6) Se a vítima é alienada ou
aparente boa saúde, de forma inesperada, sem causa evi- doenças hereditárias, saúde da prole etc.; 2) Obstetrícia, Prepúcio; débil mental (este quesito terá por finalidade tipificar a hipó-
dente, ou com sinais de violência indefinidos ou definidos cujo estudo se desenvolve no âmbito dos fenômenos da Clitóris; tese da qualificação delitiva prevista no Art. 224 – violência
– in exemplis, simulação de suicídio objetivando ocultar fecundação, da anticoncepção, da gestação, do aborto, do Pequenos lábios; presumida); 7) Se presente alguma outra causa modificado-
homicídio-, passível de gerar desconfiança sobre sua etio- parto, do infanticídio, do puerpério e do estado puerperal, Vestíbulo; ra da capacidade da vítima de oferecer resistência ao ato
logia. além de aspectos ligados à investigação de paternidade; Mastro urinário; (debilidades, doenças ou qualquer outra impossibilidade).
Balthazard define Morte Súbita como “a morte que se 3) Erotologia, a parte da ciência Médico-legal que estuda Óstio; No exame de corpo de delito em caso de estupro, o pe-
produz apenas instantaneamente, pelo menos, muito ra- os estados intersexuais, as perversões, os crimes sexuais,a 10) Fossa navicular; rito poderá comprovar o ato pela presença dos componen-
pidamente no decorrer de boa saúde aparente”. Para nós, prostituição e demais comportamentos de anormalidades 11) Fúrcula vaginal; tes do esperma:
morte súbita é aquela que ocorre de forma imprevista, em ligados ao sexo. 12) Períneo;
segundos ou, no máximo, alguns minutos, precedida ou Assim dentro das suas vertentes de estudos específi- 13) Anus; espermatozóide;
não de fugacíssima agonia, e motivada por afecções car- cos, a Sexologia também engloba as questões decorrentes 14) Himem; líquido seminal (oriundo da veicula seminal);
diovasculares, lesões encefálicas e meningéias, tumores de crimes sexuais como: estupro, sedução, atentado vio- 15) Gládula de Bartholin. líquido prostático (oriundo da próstata), e
cerebrais, acidente vascular encefálico, infarto do miocár- lento ao pudor, posse sexual, conceito de virgindade, hi- fosfatase ácida (presente no líquido prostático e no lí-
dio, fibrilação ventricular, edema agudo dos pulmões, in- menologia e seus desdobramentos, aspectos do casamen- A conjunção carnal tem maior relevância quando estu- quido seminal ou semem), além de verificar a violência pela
suficiência cardíaca congestiva, ruptura de vísceras ocas e/ to e da separação, da fecundação, gestação, parto, aborto, damos os crimes sexuais, especificamente o estupro. A con- presença de estigmas ungueais (unhadas), escoriações,
ou maciças, ruptura de aneurisma, asfixias mecânicas, ede- infanticídio, eugenia, investigação de paternidade, anoma- junção carnal não é um ato ilícito, a menos que ocorra com equimoses, lesões de defesa, etc.
ma de glote, choque hemorrágico, anafilático, obstétrico, lias sexuais, conjunção carnal etc. violência, quando então caracterizará o crime de estupro.

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MEDICINA LEGAL MEDICINA LEGAL

De forma mediata, a comprovação da conjunção carnal Existem vários tipos de hímens, cada um com caracte- Nas hipóteses de ausência do hímem (anomalias rela- 1. Conjunção Carnal, Atentado Violento ao Pudor e
poderá ser feita pela presença da gravidez, pelo apareci- rísticas e tamanho diferentes, merecendo minucioso estu- tivamente raras); outros Atos Libidinosos:
mento de doenças venéreas etc. do de cada espécie, para melhor conhecimento e diagnós- Nas hipóteses pênis muito pequenos; A conjunção carnal já foi dito anteriormente, que se
tico das situações a serem verificadas. Em alguns casos em que o hímem possui o óstio hime- caracteriza por uma cópula pênis/vagina.
Himenologia – é a parte da Medicina Legal que estuda A Medicina Legal possui estatísticas comprovando que nal com diâmetros bastante grandes; O Atentado ao pudor também é uma modalidade de
os hímens, suas espécies e classificação anatômica. Im- em 80% das incidências investigadas, a penetração do pê- Hímem complacente; ato libidinoso, caracterizado por um ato diferente da con-
portante é não confundir Himenologia com Himeneologia, nis provoca o rompimento da membrana himenal. Nas situações em que o excesso de lubrificação duran- junção carnal, como por exemplo o coito anal. Esta prática,
esta é a parte da Medicina Legal que estuda as questões Himem complacente: é uma espécie de hímem cuja es- te o ato sexual permita a penetração sem rompimento do quando perpetrada com violência ou grave ameaça, carac-
referentes ao casamento. trutura muscular pode resistir à conjunção carnal. Significa hímem, dentre outras hipóteses. teriza o crime previsto no Art. 214, do Código Penal. Pode
O estudo do himem é de relevante importância para se dizer que mesmo havendo a conjunção carnal, o hímem Os especialistas recomendam que se observe com mui- ser vítima deste crime tanto o homem quanto a mulher,
verificar com mais segurança quando da incidência de vio- complacente não se rompe, pois sua elasticidade permite to cuidado todas essas hipóteses, para impedir uma inci- enquanto que o estupro é um delito que tem por sujeito
lências sexuais, pois o formato anatômico de alguns tipos expandir sua orla sem romper a membrana, impossibili- dência de simulação ou dissimulação de um crime sexual. passivo somente a mulher.
de hímens pode gerar confusões para o perito, que poderá tando, apenas pelo estudo da ruptura, a constatação da Outros elementos de Investigação: Outros vestígios É comum ouvirmos pessoas leigas comentarem que
confundir suas características naturais com vestígios de vio- conjunção carnal. É um tipo de himem que, resistindo à deixados por um ato de conjunção carnal podem ser verifi- uma pessoa do sexo masculino foi vítima de estupro. Na
lência. cópula sem se romper, pode esconder, aparentemente, a cados pelo perito, dentre eles: hipótese, o que pode ter ocorrido é um crime de atentado
A Medicina Legal classifica os hímens em: Acomissura- ocorrência de conjunção carnal. a presença de espermatozóide na parte mais profunda violento ao pudor, ou seja, um ato libidinoso diverso da
dos e Comisssurados. Os primeiros, são denominados: se- O himem com ruptura leva cerca de até 21 dias da vagina (saco vaginal), o que pode ser examinado pelo conjunção carnal, que pode ser praticado contra qualquer
milunal, helicoidal, septado, imperfurado (sem óstio) e cri- para a cicatrização completa, entretanto, os peritos legistas perito, com uso de uma espátula ou outro objeto similar, pessoa. É a modalidade do coito anal.
briforme; os Comissurados são: bilabiado, trilabiado, multi- não possuem segurança para afirma a conjunção recente, colhendo-se substâncias para exames laboratoriais. A pre- A medicina legal presta um serviço de maior importân-
labiado (poliforme). Também pode ser encontrada ausência se esta for anterior a sete dias. Assim recomendamos es- sença de espermatozóide na vagina é presunção de conjun- cia nos crimes sexuais. Nestes acasos, a materialidade de-
de himem, o que se denomina de Agenesia himenal. pecialista que o exame de conjunção carnal seja realiza- ção carnal, vez que é um tipo de substância que independe litiva principal é o Laudo Médico-Legal. O próprio Código
Himem e suas espécies: Hélio Gomes define hímem do o mais rápido possível, ou no prazo máximo de 7 dias, do tipo de hímem; de Processo Penal estabelece a sua importância e exige a
como sendo uma formação anatômica situada na parte an- pra que sejam verificados os vestígios com maior precisão, Outro fator importante de afirmação é a presença de sua realização nas incidências penais, o que podemos ver
terior da vagina. Na verdade, trata-se de uma membrana si- inclusive para responder sobre os dois primeiros quesito doenças venéreas, especialmente aquelas cujo contágio se também em várias passagens do Código Civil.
tuada no intróito vaginal, apresentando duas faces: anterior comuns: sobre a virgindade da paciente e sobre a recenti- dá geralmente pelo contato sexual (sífilis, cancro, condilo-
(posicionada do lado de fora) e posterior (do lado de den- cidade do ato sexual mas e ouras). 2. Conceito Médico-Legal de Mulher Virgem:
tro). Possui duas bordas com funções anatômicas diferen- Tempo da ruptura: quanto ao tempo da conjunção car- A fosfatase ácida: presente cm mais de 5 unidades na Para a doutrina, mulher virgem é aquela em relação à
tes: uma ligando o himem ao corpo e a segunda, formando nal, o diagnóstico do perito poderá constatar as seguintes vagina; qual não se prova experiência sexual anterior. É a mulher
o óstio, circulando o orifício do próprio himem. situações: 1) Recentíssima tendo ocorrido no período de que ainda desconhece as experiências da conjunção carnal.
“Na maioria das vezes a borda tem certas ondulações, poucas horas, quando o legista anda poderá encontrar ves- Nota: O Líquido da Ejaculação é formado por: Esper- No nosso Código Penal vigente, encontramos algumas
de tal modo que o diâmetro do óstio, em repouso, sem matozóide, Líquido Seminal (oriundo da vesícula seminal),
tígios de sangramento nas bordas do hímem; 2) Recente: disposições em que trazem agravamento da pena, quando
ser tracionado, é um; uma vez tracionado, ele se apresen- Líquido Prostático (oriundo da próstata, mais a Fosfatase
quando existem lesões em processo de cicatrização, indi- não constitui elemento da conduta, a condição de mulher
Ácida (presente no líquido seminal e no líquido prostático.
ta maior. O diâmetro do orifício, devido a sua ondulação, cando lapso temporal em torno de 10 a 15 dias; .3) Não virgem. Assim temos o crime de sedução, Art. 217, que trás
Nos homem, há cerca de 300 a 3000 unidades. Na mulher,
apresenta-se de uma maneira; se forem esticadas todas as recente ou antiga: quando não aparecem os sinais que en- a virgindade como uma elementar do crime: “seduzir mu-
até 5 unidades.), formando o ESPERMA.
ondulações, esse diâmetro se apresentará de maneira dife- contramos nas duas hipóteses anteriores, demonstrando lher virgem, menor de 18 anos e maior de 14...”; o Art. 215.
rente”(H. Gomes). assim que o fato já ocorreu há mais de 15 dias, não sendo P. único, prevê majoração da pena nos crimes de posse
Nota: A gravidez é um sinal de certeza de uma relação
O diâmetro, pela ruptura, torna-se suficientemente lar- possível determinar o seu tempo. sexual mediante fraude “...se o crime é praticado contra
sexual. É claro que a gravidez também pode, em situações
go, permitindo o acesso do pênis no interior da vagina. Face Himem roto - é o himem deflorado, seja por conjun- mulher virgem, menor de 18 anos e maior de 14...” Essas
especiais, decorrer de ato libidinoso diverso da conjunção
às características da irrigação sanguínea do hímen, ele se ção carnal ou por outro ato libidinoso ou de violência. O hi- questões entretanto, começaram recentemente a desapa-
carnal, entretanto, não havendo outro histórico do fato, ser-
rompe e permanece roto, cicatrizando-se a borda da rup- mem roto não se confunde com himem com entalhe, este virá tal elemento para a afirmação da conjunção carnal. recer do Código Repressivo
tura, mas não se refazendo. Até o 15.º dia da conjunção, as decorrente de causas naturais. Gonodatrofina Corionica: É um hormônio que é produ- É importante destacar que esse conceito não é mui-
bordas sangram; após esse tempo, as bordas se cicatrizam. zido com o início da gravidez, permitindo por meio deste, to próprio para tratarmos das questões previstas nos Arts.
O tecido vai se atrofiando até que, após algum tempo, os Características do himem roto: A ruptura himenal é constatar-se o estado gravídico. 217 e 215, p. único, pois em tais dispositivos, a exigência
fragmentos são reduzidos a meros nódulos na parede va- uma lesão provocada. Diante de uma história de violência O himem roto apresenta as seguintes características: do legislador é que ocorra a conjunção carnal. Como sa-
ginal, que recebem o nome de carúnculas mirtiformes. As sexual, a constatação da ruptura himenal gera presunção bemos, a conjunção carnal é uma modalidade de ato libi-
rupturas estendem-se da borda ostial até a borda vaginal. de conjunção carnal. É importante verificar que a lesão suas formas são assimétricas; dinoso (mesmo alguns doutrinadores não querendo que
Em alguns livros podemos encontrar a terminologia “rup- em comento pode ser provocada por intermédio de ou- a ruptura é completa; o seja. É ato libidinoso principal, conssumativo, final, etc.,
tura incompleta”, que significa que o hímen rompeu, mas a tras manipulações, e somente a sua presença, enfraquece é adquirida e cicatriza com o tempo. mas ato libidinoso). Quando a lei fala em: “ato libidinoso
ruptura não foi até a borda vaginal. a presunção. Entretanto, é considerado doutrinariamente Características do Entalhe: O entalhe é uma espécie de diverso do da conjunção carnal (Arts. 214, 216), não quer
Em algumas mulheres pode haver uma configuração como um elemento significativamente importante, que as- anomalia anatômica do himem. Ele apresenta um formato excluir a conjunção canal do rol dos atos libidinosos, mas
do hímen que se apresenta com o óstio bastante irregular, sociado a outras evidências, reforçam a hipótese de con- parecido com fragmentos da membrana himenal e, à pri- apenas está considerando os outros atos libidinosos, para
cujas ondulações se aproximam bastante da borda vaginal. junção carnal. meira vista, pode confundir o perito menos avisado, a pen- determinadas hipóteses de crimes. Assim considerando, a
Quando essas ondulações são mais acentuadas, recebem o Exceções à ruptura do hímem: algumas situações exis- sar que se trata de uma lesão decorrente de conjunção car- inexperiência a que se refere o conceito de mulher virgem,
nome de “entalhes”. tem que podem admitir uma conjunção carnal sem o nal. Entretanto, melhor observados, vão indicar que se trata para as hipóteses dos dois artigos, não é a inexperiência
Na medida em que os entalhes se estendem até mui- rompimento do hímem. É o que ocorre em cerca de 20%, de um sinal congênito. Suas características principais são: sexual, mas a inexperiência do ato de conjunção carnal.
to próximo da borda vaginal, quando nos deparamos com das relações sexuais com mulheres virgens, segundo es- O ordenamento jurídico brasileiro se apegou a este
rupturas himenais já totalmente cicatrizadas, poderá surgir tatísticas dos Institutos e Medicina Legal. Os especialistas tem forma congênita, ou seja, é de nascença; entendimento baseando-se na cultura e nos costumes, fa-
a necessidade de se fazer um diagnóstico diferencial entre apontam várias causas para esses resultados, como por suas alterações são de forma incompleta; tores que sempre são levados em conta na elaboração das
o que é ruptura e o que é entalhe. Exemplo: são simétricas e não cicatrizam com o tempo. regras jurídicas.

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MEDICINA LEGAL MEDICINA LEGAL

3. Anomalias Sexuais: 4. Impotências: O crime de estupro outrora definido no nosso Diploma Código Penal. Ela apenas foi incorporada ao artigo prece-
São comportamentos não convencionais ou pelo me- A impotência, conforme define o professor Hélio Legal estabelecia no conteúdo do seu art. 213: “Constran- dente (213), ou seja, “mudou de endereço”. Nas palavras
nos não comuns, buscados por algumas pesas, em virtudes Gomes, “é a incapacidade para a cópula ou para a procria- ger mulher à conjunção carnal, mediante violência ou grave de Luiz Flavio Gomes: A isso se dá o nome de continui-
de problemas mentais, psíquicos, emocionais ou sociais, ção”. ameaça.” dade normativo-típica. O que era proibido antes continua
para a satisfação dos seus desejos sexuais. A problemática da impotência é classificada em Assim, estava implícito, que somente a mulher podia proibido na nova Lei.”
No aspecto jurídico, principalmente no tocante à anu- diversas variantes e com peculiaridades concernente à de- ser a vítima, o agente passivo, enquanto que, o homem, É bem sabido que a Lei só retroage para beneficiar
lação do casamento, a prática sexual anômala impede a ficiência, se no homem ou na mulher, as causas ensejado- somente o homem podia ser o autor, o agente ativo do cri- o réu, e em assim sendo, o novo sentido do crime de es-
sexualidade normal, tornando-se forma exclusiva da mani- ras e as respectivas consequências. me de estupro, vez que, por conjunção carnal entende-se tupro que já está em vigor é somente atribuído aos in-
festação sexual. A impotência é um fenômeno que pode afetar o ho- ser a penetração do pênis na vagina, ou seja, somente con- fratores atuais, enquanto que os outros processados ou
mem ou a mulher, e qualquer idade, no curso da vida se- figurava-se o crime de estupro quando o homem usando condenados anteriormente pelo antigo crime de estupro
Anomalias sexuais mais comuns: xual ativa, podendo ter origem em distúrbios psíquicos, da violência ou grave ameaça fazia penetrar o seu pênis na ou pelo extinto crime de atentado violento ao pudor, por
Pedofilia: é preferência sexual por crianças. fisiopáticos ou orgânicos. vagina da vítima, admitindo-se também a tentativa quando não serem beneficiados com a novidade continuam no
Sadismo: satisfação sexual pelo sofrimento causado ao No nosso estudo, vamos nos limitar à citação de algu- o ato não fosse concretizado por força de um motivo qual- mesmo patamar jurídico.
parceiro ou à parceira. mas modalidades e seus efeitos. quer, assim como, a co-autoria que podia tanto ser homem A elementar do tipo da ultrapassada denominação
Fetichismo: é um desvio sexual através do qual a pes- Impotência coeund, erigend, generandi,ou instrumen- ou mulher. relacionada ao crime de estupro, que revelava seu sujeito
soa sente prazer por meio de objetos pessoais de outra tal - é a incapacidade para o ato sexual, por falta de ereção Outro ato sexual violento contra a vontade da vítima passivo somente a mulher, fora substituída pela expres-
pessoa (roupas, calçados etc.). do membro masculino; diverso da cópula vaginal entre as partes poderia confi- são alguém. Tal supressão e substituição destas palavras
Auto-erotismo: é o erotismo estimulado sem parceiro, Impotência generandi - , é a incapacidade para fecun- gurar o crime de atentado violento ao pudor que então modificaram todo o sentido desse crime. A partir de então
substituído por objetos como fotografia, esculturas etc. dar, ou seja, é verdadeira esterilidade masculina; dispunha o art. 214 do Diploma repressivo: “Constranger o sexo do ofendido é indiferente para a caracterização
Anafrodisia: é a diminuição do instinto sexual do ho- Impotência concipiendi - é a incapacidade para con- alguém, mediante violenta ou grave ameaça a praticar ou do delito. Não exclui o crime a circunstância de ser a víti-
mem. ceber, ou seja, é a impossibilidade de gerar, esterilidade permitir que com ele se pratique ato libidinoso diverso da ma menor, inconsciente, débil mental, enfermo, deficien-
Frigidez: é a diminuição do apetite sexual da mulher, feminina. conjunção carnal.” te físico, homossexual ou prostituta... Todos protegidos
ou também a falta de capacidade para o orgasmo. Frigidez – falta de apetite sexual por parte da mulher, Assim, no extinto crime de atentado violento ao pudor, em sua liberdade sexual. Neste sentido algumas vítimas
Narcisismo: é o prazer pela auto admiração, ou seja, o causa proveniente de patologias. tanto o homem quanto a mulher podia ser vítima ou autor dessas classes sociais figuram como qualificadora para o
prazer em admirar o seu próprio corpo. Vaginismo – dificuldade para a relação sexual da mu-
daquele delito. O homem podia praticar o atentado violen- autor do delito.
Mixoscopia: é a fantasia sexual de sentir prazer em vi- lher, por excesso de contração da vulva, impossibilitando o
to ao pudor contra a mulher ou contra o próprio homem, A nova Lei trouxe à baila as figuras qualificadoras do
sualizar a relação de seu parceiro com terceiro. coito ou dificultando a sua realização.
enquanto que a mulher podia praticar tal crime contra o crime de estupro nos próprios §§ 1º e 2º do art. 213 e no
Dispareunia – é a relação sexual dolorosa para a mu-
Gerontofilia: é a atração sexual de pessoas jovens por homem ou contra a própria mulher. recém criado art. 217-A. Sendo esse último relacionado
lher, fazendo cm esta se negue para o ato sexual.
pessoas com idade avançada. De um simples cotejo da redação dos dois dispositivos ao estupro de vulnerável.
Coitofobia – é o medo do ato sexual,por parte da mu-
Masoquismo: é a satisfação do prazer sexual por meio citados, ou seja, dos antigos artigos 213 e 214 do Códi- Enquanto que no estupro de natureza simples (caput
lher, podendo ser desenvolvido por traumas causados por
de humilhação, agressão do próprio parceiro. go Penal, observa-se perfeitamente com a alteração da Lei do art. 213) o seu agente ativo pode ser condenado a uma
violência sexual ou distúrbio neurológico.
Sodomia: Prática de coito anal entre parceiros do mes- 12.015, de 7 de agosto de 2009, que houve a supressão do pena que varia de 6 a 10 anos de reclusão, com a forma
mo sexo ou de sexo diferentes. termo “mulher”, e de resto agruparam-se as duas redações qualificada decorrente da conduta criminosa em que re-
Estupro
Tribadismo: é a satisfação sexual entre mais de um par- transformando-as em uma só, qual seja: sulta lesão corporal de natureza grave para a vítima, ou
“Ciência penal não é só a interpretação hierática da
ceiro. sendo essa menor de 18 (dezoito) ou maior de 14 (ca-
lei, mas, antes de tudo e acima de tudo, a revelação de seu
Necrofilia ou Vampirismo: práticas sexuais com pes- espírito e a compreensão de seu escopo, para ajustá-lo a Estupro torze) anos (§ 1º do art. 213) a pena é acrescida e o autor
soas mortas. fatos humanos, a almas humanas, a episódios do espetácu- Art.213. Constranger alguém, mediante violência ou pode sofrer uma reclusão de 8 a 12 anos. Se da conduta
Lubricidade senil: é a manifestação sexual exacerbada e lo dramático da vida.” (Nelson Hungria) grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou per- resulta a morte da vítima (§ 2º do art. 213) a pena passa
incompatível com a idade. A recente Lei Ordinária Federal nº 12.015, de 7 de agos- mitir que com ele se pratique outro ato libidinoso. a ser de 12 a 30 anos de reclusão, ou seja, atinge ao má-
Riparofilia: é sentir a atração sexual por pessoas sujas to de 2009, traz no seu bojo profunda e inédita alteração Assim, as antigas definições dos crimes de estupro e ximo da condenação estabelecida no nosso ordenamento
ou mal tratadas. no artigo 213 do nosso Código Penal, ao mesmo tempo atentado violento ao pudor, com a nova Lei transforma- jurídico-penal.
Urolagnia: é o prazer sexual pela excitação de ver al- em que acrescenta o artigo 217-A nesse Diploma, ambos ram-se com a citada junção das suas redações na recente Ao novo artigo incorporado ao Código Penal, enten-
guém no ato de urinar ou apenas de ouvir o ruído da urina. relacionados ao crime de estupro. definição do crime deestupro, gerando assim uma nova de-se:
Coprolalia: é a satisfação sexual por meio de falar ou de A referida Lei altera o Título VI da Parte Especial do interpretação jurídica. Quanto à questão da tentativa e co
escutar palavrões e obscenidades. Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940, ou seja, -autoria continua a admitir-se no novo dispositivo penal. Estupro de vulnerável
Edipismo: é propensão ao incesto, o impulso do ato o Código Penal Brasileiro. O Título que passou a vigorar Em decorrência de tal modificação não restou alterna- Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato
sexual por parentes próximos. com a denominação DOS CRIMES CONTRA A DIGNIDADE tiva para a continuidade do art. 214 senão a sua revogação, libidinoso com menor de 14 (quatorze) anos: Pena – reclu-
Bestialismo ou Zoofilia: é a satisfação sexual por atos SEXUAL, além de transformar todo o sentido e significado embora tal revogação não tenha deixado ao desamparo são, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.
com animais domésticos do seu art. 213, como conseqüência ainda revogou os ar- jurídico-penal a figura da futura vítima daquele extinto § 1º Incorre na mesma pena quem pratica as ações
Homossexualismo: pode ser homossexualismo mascu- tigos 214 e 224 do dito Diploma repressivo que tratavam delito que passou a partir de então a ser vítima do crime descritas no caput com alguém que, por enfermidade ou
lino, uranismo ou pederastia, também homossexualismo do atentado violento ao pudor e da presunção da violência de estupro. deficiência mental, não tem o necessário discernimento
feminino (lesbianismo), do ponto de vista fisiológico, são prevista então na antiga denominação DOS CRIMES CON- Complementando este item é de acolher-se a explica- para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa,
anomalias. TRA OS COSTUMES. ção do colega Delegado de Polícia do Estado de Sergipe não pode oferecer resistência.
A tradição secular vivenciada desde 1940 em que so- THIAGO LUSTOSA LUNA, quando de um dos seus artigos O novo artigo é bem mais objetivo e claro do que
Nota: A Organização Mundial de Saúde, entretanto, mente podia o homem ser a pessoa ativa e a mulher a pes- pertinente recentemente publicado: “É importante frisar o seu antecessor. Subentende-se que a redação e o en-
considera o homossexualismo como doença e não como soa passiva no crime de estupro ganhou nova roupagem e que não houve abolitio criminis da conduta prevista no tendimento do crime de estupro de vulnerável tenha sido
anomalia. hoje também o homem pode ser o sujeito passivo e até a artigo 214, a ensejar a aplicação dos efeitos benéficos e retirado, adaptado e melhorado do antigo artigo referente
mulher pode também ser o sujeito ativo em tal delito. retroativos constantes no artigo 2º, parágrafo único, do a presunção de violência, também revogado pela nova Lei.

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MEDICINA LEGAL MEDICINA LEGAL

O estupro presumido era previsto anteriormente no art. Em analise da nova denominação do termo estupro, Conclui-se, portanto, que com o advento da nova Lei com a discussão central do trabalho acerca do concurso
224 do Código Penal que possuía a denominação de pre- observa-se a igualdade entre o antecessor e atual artigo decorrerá muitas indagações ao seu interprete a ser resol- existente entre os crimes de estupro e atentado violento
sunção de violência, englobando também naquele dispo- referente ao ato denominado conjunção carnal, contudo, vidas nos Tribunais, ao passo que, em virtude da real pos- ao pudor. Ressalta-se o entendimento majoritário sobre
sitivo os crimes contra os costumes. Tal presunção de es- quanto à introdução na redação do ato libidinoso, significa sibilidade de ambos os sexos participarem como agente o assunto, tanto sob a ótica jurisprudencial, quanto sob à
tupro era aplicada para o caso da vítima ser menor de 14 nas palavras de FERNANDO CAPEZ: “Ato libidinoso é aque- ativo ou passivo nos crimes de estupro, não será aberra- ótica doutrinária, que surgiram diante da nova lei supra-
anos, e também para o caso da vítima ser alienada ou débil le destinado a satisfazer a lascívia, o apetite sexual. Cuida- ção jurídica alguma, embora soe mal aos nossos ouvidos mencionada.
mental, desde que o agente ativo conhecesse dessa con- se de conceito bastante abrangente, na medida em que e atropele a língua portuguesa, constatarmos no cotidiano
dição, ou ainda para o caso em que a vítima não pudesse compreende qualquer atitude com conteúdo sexual que popular ou na mídia policial: “Jose estuprou João, que tinha Desenvolvimento
oferecer resistência ao ato criminoso, ou seja, tal artigo tenha por finalidade a satisfação da libido. Não se incluem estuprado Maria, autora do estupro contra Joana, a estu- O crime de estupro, com o advento da Lei nº 12.015, de
era tão somente e todo ele subjetivo com interpretações nesse conceito as palavras, os escritos com conteúdo eró- pradora de José.”1 7 de agosto de 2009, é definido pela prática, mediante vio-
tico, pois a lei se refere ao ato, ou seja, a uma realização lência ou grave ameaça de constranger alguém a ter con-
dúbias das supostas presunções. Diante das suas constan-
física completa (...). Por exemplo: agente que realiza mas- Estupro e atentado violento ao pudor - Concurso ma-
tes suposições dos casos reais ocorridos no seu trâmite, o junção carnal, a praticar ou com o sujeito permitir que se
turbação na vítima, introduz o dedo em seu órgão sexual,
referido dispositivo legal tornou-se por demais criticado terial ou crime continuado? pratique ato libidinoso diverso, que são tidos como ações
introduz instrumento postiço em seu órgão genital, realiza
pela doutrina penal. Para alguns juristas o seu teor princi- O Direito Penal de forma ampla tem como finalidade de natureza sexual, que não a conjunção carnal, que tem a
coito oral etc.”
pal, ou seja, a presunção da violência, não condizia com o Não há como confundir tais atos libidinosos com “apal- preservar a sociedade, a fim de tutelar os seus bens jurídi- pretensão de satisfazer a libido do agente.
nosso Estado Democrático de Direito e por isso seria in- padelas, amassos e beijos lascivos”, que segundo CEZAR cos tidos como essenciais, que são a vida, a liberdade e a Anterior à Lei nº 12.015/09, o estupro era regulado pelo
constitucional, embora houvesse Jurisprudências diversas. BITTENCOURT, quando isso ocorre, deve ser enquadrado propriedade, com o intuito de garantir a paz, a segurança artigo 213 do Código Penal e se resumia tão somente pela
A sua supressão, a sua revogação, fora de fato, bem vinda como contravenção penal (art. 61 LCP). e a ordem social em torno do indivíduo e da comunidade. conduta ativa do homem como única figura que poderia
pela grande maioria dos juristas brasileiros. Em decorrência das alterações e supressões ocorridas Isso é feito através da classificação das infrações lesivas à executar tal crime, ou seja, o sujeito ativo necessariamente
O entendimento do estupro de vulnerável nasceu de no Título VI Parte Especial do Código Penal, conseqüente- coletividade, ao sistema político ou ao próprio indivíduo, deveria ser uma pessoa do sexo masculino que constrangia
forma mais real, mais presente, mais viva, e busca punir mente o legislador teve que promover as devidas modifica- impondo sanções punitivas de acordo com cada conduta já uma mulher à prática da conjunção carnal mediante violên-
toda relação sexual ou ato considerado libidinoso, de ções na Lei 8.072, de 25 de julho de 1990, mais conhecida prevista e tipificada pelo Ordenamento Jurídico Brasileiro. cia ou grave ameaça.
qualquer natureza, ocorridos com ou sem consentimento por Lei dos Crimes Hediondos. Assim sendo, o trabalho apresentado tem por obje- O termo violência ou grave ameaça empregado no
do menor de 14 anos de idade e das outras pessoas cita- Harmonizando as mudanças do texto com a devida in- to a análise da aplicação de concurso material ou crime texto legal significa a força física, material, a vis corpora-
tegração sistemática das normas, adaptou-se e incluiu-se continuado no caso em que envolva estupro e o extinto lis, com a finalidade de vencer a resistência da vítima. Essa
das portadoras de circunstancias especiais e diferenciadas
na redação dessa Lei o estupro de natureza simples e o es- atentado violento ao pudor, à luz da Lei 12.015/2009. A violência pode ser produzida pela própria energia corporal
das consideradas pessoas normais. Para a concretização tupro de vulnerávelque ficaram então apostos no seu art.
da infração basta o agente ativo praticar a cópula vaginica monografia tem como ênfase verificar qual o instituto ju- do agente, que, no entanto, poderá preferir utilizar outros
1º incisos V e VI respectivamente. rídico cabível no computo da pena, e se houve alguma meios, como fogo, água, energia elétrica (choque), gases
(no caso da vítima ser a mulher e o autor ser o homem), Essa adaptação põe termo em definitivo à celeuma mudança com a entrada em vigor da Lei nº 12.015 em 07 etc.
ou qualquer outro ato libidinoso diverso da conjunção doutrinária que fora criada relativa a questão do então es- de agosto de 2009, que unificou os comportamentos e os Grave ameaça constitui forma típica da “violência mo-
carnal (nesse caso tanto o homem quanto a mulher pode tupro simples ser considerado ou não um crime hediondo,
tipos penais. Por isso verifica-se se é diligente o art. 69 do ral”; é a vis compulsiva, que exerce uma força intimidativa,
ser autor ou vítima), não importando o meio usado para não obstante o próprio STF – Supremo Tribunal Federal,
Código Penal, quanto à possibilidade de ainda aplicá-lo na inibitória, anulando ou minorando a vontade e o querer da
a perpetração do ato, se por violência, ameaça, fraude ou coerente com os princípios legais e coadunando com os
seus próprios julgados e a equivalência de Lei, tenha reco- atual sistemática existente na pluralidade entre condutas ofendida, procurando, assim, inviabilizar eventual resistên-
consentimento da pessoa passiva. De qualquer forma ha-
nhecido e reafirmado o caráter hediondo do crime de es- no crime de estupro, quando há um misto entre conjunção cia da vítima. Na verdade, a ameaça também pode pertur-
vendo esses atos sexuais direcionados e realizados com
tupro. carnal e atos libidinosos, anteriormente regulado pelo arti- bar, escravizar ou violentar a vontade da pessoa como a
tais pessoas relacionadas, estará caracterizado o crime
Agora não resta qualquer dúvida. A extrema represen- go 214 do Código penal, que classificava tal conduta como violência material. A violência moral pode materializar-se
de estupro de vulnerável.
tatividade das lesões causadas às vítimas do estupro, tra- sendo o crime de atentado violento ao pudor. em gestos, palavras, atos, escritos ou qualquer outro meio
A vulnerabilidade vem sendo, sem sombras de dúvi-
zendo sempre como consequência a inaceitável irreversibi- Pois bem, no primeiro capítulo, valer-se-á de uma aná- simbólico.
das, objeto de preocupação dos Poderes Públicos, com lise sobre o conceito dos crimes de estupro e atentado
lidade do dano causado ao emocional do sujeito passivo, Mediante tais condutas acima descritas, só a mulher
cuidados especiais redobrados pelo Direito Penal, como é então reconhecida. O ato violento, depravado, sórdido, violento ao pudor, a diferença entre as duas condutas, a poderia ser vítima de tal crime contra a liberdade sexual,
é o caso aposto. repugnante, horrendo, pavoroso e, enfim hediondo, fora definição da mudança que houve após a entrada em vigor posto que a cópula anal e outros atos libidinosos pratica-
O § 2º do art. 217-A fora vetado, enquanto que o devidamente qualificado entre os crimes dessa espécie, da Lei nº 12.015/09, bem como sobre a identificação do dos contra homens, com violência ou grave ameaça, confi-
§ 3º fala que se da conduta criminosa resultar lesão cor- reparando assim, acima de tudo, que para certas vítimas, sujeito ativo e passivo e os modos de execução existentes guravam crimes de atentado violento ao pudor.
poral de natureza grave para a vítima, então o agente ati- quando da conduta dolosa sofrida, fixa-lhes permanente- em ambos os delitos. A atual sistemática o artigo 213 do Código Penal fala
vo do delito estará sujeito a pena de reclusão de 10 a 20 mente um trauma psicológico. em “constranger alguém”, portanto não limita o sujeito ati-
anos. Já no § 4º está implícito que se do ato criminoso Assim, de acordo com a Lei dos Crimes Hediondos, nos No segundo capítulo, são definidos e abordados de vo que poderá ser de ambos os sexos desde que cometa
levar a vítima à morte, então o seu agressor estará sujeito a quais estão inclusos os novos delitos de estupro, o seu su- forma detalhada o concurso material e o crime continuado. uma transgressão, mediante violência ou grave ameaça a
uma pena que varia de 12 a 30 anos de reclusão. jeito ativo, então processado ou condenado, no dizer de Em seguida, passa-se à análise da diferença existente entre liberdade sexual da vítima ou sujeito passivo que também
A referida Lei ainda traz no seu art. 234-A o aumen- JULIO FABRINI MIRABETE: “... não pode ser beneficiado a Lei anterior (Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de poderá ser homem ou mulher.
to da pena para certas adversidades advindas dos crimes com anistia, graça ou indulto (art.2°, I), não tem direito a 1940 – Código Penal) e a Lei nova (Lei nº 12.015, de 7 de Entende-se por liberdade sexual a autonomia, exercida
contra a dignidade sexual especificados no seu Título VI, fiança e liberdade provisória (art.2º, II), deverá cumprir a agosto de 2009) e qual é sua atual alocação no ordena- com livre-arbítrio de escolha e de vontade, na forma de
dentre os quais estão contidos os crimes de estupro de pena integralmente em regime fechado (art. 2º, § 1º), sua mento pátrio. dispor de seu próprio corpo. Em outras palavras, seria a ca-
natureza simples e o estupro de vulnerável. No item III a prisão temporária pode se estender por trinta dias, prorro-
Isso possibilita, ainda no capítulo 2, a compreensão pacidade de agir perante seus próprios desejos, escolhen-
pena do autor é aumentada de metade se do crime resultar gável por igual período em caso de extrema e comprovada
da nova interpretação dada à questão que envolve os cri- do seus parceiros e, mormente, a capacidade de opor-se,
a gravidez da vítima. Já no item IV que fecha o ciclo do re- necessidade (art. 2º, § 3º) e, em caso de sentença condena-
mes de estupro e atentado violento ao pudor, para definir ou não, a realização de qualquer ato de natureza sexual. “A
ferido artigo, dispõe o aumento da pena de um sexto até a tória, o Juiz decidirá fundamentalmente se poderá apelar
as consequências da modificação existente do tipo penal, preocupação aqui é assegurar ou garantir que a atividade
metade, caso o autor do crime, sabedor de doença sexual- em liberdade, podendo, pois, negar o benefício ainda que
1 Fonte: www.infoescola.com - Por Archime- sexual das pessoas seja exercida em condições de plena
mente transmissível assim a transmite para a sua vítima. o condenado seja primário e de bons antecedentes.”
des Jose Melo Marques liberdade”.

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[...] lesão múltipla a bens jurídicos de crucial relevância, pessoas têm de escolher livremente seus parceiros sexuais de arma ou por outro tipo de violência, ou ainda, quan- Ocorre o concurso material quando o agente, median-
tais como a liberdade, a integridade física, a honra, a saúde para a prática da conjunção carnal ou outro ato libidinoso. do a vítima do ato sexual forçado era do sexo masculi- te mais de uma conduta (ação ou omissão), pratica dois
individual e, em ultimo grau, a vida. O estuprador subjuga a Emiliano Borja Jiménez explana com exatidão o conceito no respondia pelo crime antes tipificado pelo já revogado ou mais crimes, idênticos ou não. No concurso material há
vitima, a ponto de lhe tolher a liberdade de querer algo, fe- de liberdade sexual: dispositivo do artigo 213 do Código Penal. Porém, agora pluralidade de condutas e pluralidade de crimes. Quando
rindo-a ou ameaçando-a, além de lhe invadir a intimidade, Auto determinação no marco das relações sexuais de o atentado violento ao pudor e a conjunção carnal ficam os crimes praticados forem idênticos ocorre o concurso
por meio da relação sexual forçada, maculando sua autoes- uma pessoa, como uma faceta a mais da capacidade de restritos e fundidos no artigo 214, mas causam certa po- material homogêneo (dois homicídios) e quando os crimes
tima e podendo gerar danos à sua saúde física e mental. atuar. Liberdade sexual significa que o titular da mesma lêmica já que os dois comportamentos tutelam o mesmo praticados forem diferentes caracterizar-se-á o concurso
Portanto, constata-se que diante da fusão do agora re- determina seu comportamento sexual conforme motivos bem jurídico. Entretanto, trata-se de condutas completa- material heterogêneo (estupro e homicídio).
vogado crime de atentado violento ao pudor (art.214) ao que lhe são próprios no sentido de que é ele quem decide mente diversas. Em outro giro, ocorre o concurso formal, ou ideal,
novo crime de estupro (art.213), os sujeitos ativo e o pas- sobre sua sexualidade, sobre como, quando ou com quem Questiona-se, então, se os crimes de estupro e aten- quando o agente, mediante uma só ação ou omissão, pra-
sivo do referido crime, agora podem ser tanto o homem, mantém relações sexuais. tado violento ao pudor são considerados como concurso tica dois ou mais crimes (art. 70, caput). Difere do concurso
como a mulher, logo, a conceituação do crime de estupro Pois bem, apesar de as duas condutas tutelarem o material ou crime continuado; se com a entrada em vigor material pela unidade de conduta: no concurso material o
como conjunção carnal (introdução do membro genital mesmo bem jurídico, qual seja: a liberdade sexual, os dois da Lei nº 12.015, em 07 de agosto de 2009, houve a unifi- sujeito comete dois ou mais crimes por meio de duas ou
masculino na vagina da mulher) mediante violência ou gra- institutos não se confundem, tendo em vista que, o estupro cação dos comportamentos, ou se eles são considerados mais condutas; no concurso formal, com uma só conduta
ve ameaça, cai por terra, pois, o crime para a ocorrência (antigo artigo 213, CP) se consumaria mediante a cópula de diversas condutas delitivas, ou ainda se o artigo 69 do realiza dois ou mais delitos.
não depende exclusivamente da introdução do membro vaginal, ou seja, pela penetração do pênis na vagina, logo Código Penal, após a entrada em vigor da Lei nº 12.015, Nesse contexto, cabe expor a interação que há referen-
genital masculino na vagina da mulher, ocorrendo estupro, e de acordo com essa lógica o estupro obviamente só po- deixaria de ser diligente, e se é possível aplicá-lo ao atual te ao concurso de crimes e sua aplicação diante dos crimes
por exemplo, em caso de penetração anal ou praticando deria ser praticado pelo homem e a vítima só poderia ser crime de estupro e atentado violento ao pudor. de estupro e atentado violento ao pudor, já que, na siste-
outro ato libidinoso. a mulher. Embora, à primeira vista, pareça ter ocorrido a chama- mática anterior, era comum que a doutrina e a jurisprudên-
O extinto atentado violento ao pudor configura-se O atentado violento ao pudor (antigo artigo 214, CP) da abolitio criminis quanto ao crime de atentado violento cia discordassem acerca da possibilidade de se reconhecer
como crime sexual praticado por ato libidinoso diverso da se referia ao ato de constranger alguém mediante atos ao pudor, expressamente revogado pela Lei nº 12.015, de a continuidade delitiva entre tais condutas.
conjunção carnal. O estupro tem como finalidade a cópula libidinosos, ou seja, sexo oral, coito anal, apalpar partes 7 de agosto de 2009, na verdade, não podemos cogitar Diante desse aspecto, cabe demonstrar, com o intui-
vaginal, já o antigo atentado violento ao pudor tinha como íntimas do corpo, sendo assim é considerável realçar que desse instituto pelo fato de que todos os elementos que to de exemplificar, o seguinte precedente da quinta turma
escopo a prática de atos de libidinagem, a satisfação da esses atos são diversos da conjunção carnal. Destarte, dife- integravam a figura típica do revogado artigo 214 do Códi- do Superior Tribunal de Justiça anterior, à Lei nº 12.015/09,
lascívia de outrem, independente da cópula. rente do que acontece com o estupro, o delito de atentado que considerou o concurso entre os crimes de estupro e
go Penal passaram a fazer parte da nova redação do artigo
violento ao pudor pode ser praticado ou sofrido por pes- atentado ao pudor como concurso material, tendo em vista
Ou seja, para ser considerado atentado violento ao 213 do mesmo diploma repressivo.
soas de ambos os sexos. que os referidos delitos não eram da mesma espécie, pos-
pudor deve haver uma pretensão por parte do agente de Assim, não houve descriminalização do comportamen-
As leis dos crimes contra a liberdade sexual tutelam a suindo elementos nitidamente distintos:
satisfazer os seus desejos sexuais, mediante a coação da to até então tipificado especificamente como atentado vio-
liberdade de cada indivíduo de dispor ou não de seu corpo Não se consubstanciando os atos libidinosos em
vítima a prática do ato depravado, que necessariamente lento ao pudor. Na verdade, somente houve uma modifi-
para práticas sexuais de maneira que a lei não interfere nas praeludia coiti, ocorre crime de atentado violento ao pudor
deve ser diferente da conjunção carnal, sendo imprescin- cação do nomen júris da aludida infração penal, passando,
relações sexuais tidas como normais, mas reprime comple- em concurso material com o estupro, não podendo, dessa
dível que ocorra o constrangimento ou a grave ameaça, ou como dissemos, a chamar-se estupro o constrangimento
tamente as condutas tidas como anormais consideradas forma, ser aplicada a regra insculpida no art. 71 do Código
seja, a vítima deve ser impedida de se defender. levado a efeito pelo agente a fim de ter conjunção carnal,
graves que afetam a moral média da sociedade, nas pala- Penal, por serem crimes de espécies diversas. Precedentes
Oportuno ressaltar que, ao contrário do que acontece ou, também, a praticar ou permitir que com ele se pratique
vras de Julio Fabbrini Mirabete: do Supremo Tribunal Federal e desta Corte.
no estupro, o atentado violento ao pudor pode ser pratica- A Lei nº 12.015 de 07 de agosto de 2009, tem por obje- outro ato libidinoso. Comprovada a reincidência, a sanção deverá ser sem-
do por pessoa de ambos os sexos, já que o sujeito ativo ou tivo proteger no crime de estupro não a simples integrida- Aplica-se, na hipótese, o chamado princípio da con- pre agravada. Deixar de aplicar o acréscimo referente a
passivo pode ser homem ou mulher, em relações heteros- de física, mas a liberdade sexual tanto do homem quanto tinuidade normativo-típica, havendo, tão somente, uma essa circunstância agravante, aduzindo, entre outras coisas,
sexuais ou homossexuais. da mulher, ou seja, o direito de cada indivíduo de dispor de migração dos elementos anteriormente constantes da re- que tal instituto não se coaduna com a ordem constitu-
Incumbe salientar a distinção entre ato de libidinagem, seu corpo com relação aos atos de natureza sexual, como vogada figura prevista no art. 214 do Código Penal, para o cional vigente, ofende o art. 61, inciso I, do Código Penal,
ato libidinoso e conjunção carnal, por se tratarem de ter- aspecto essencial da dignidade da pessoa humana. art. 213 do mesmo diploma repressivo. que endereça um comando ao aplicador da lei e não uma
mos técnicos que necessitam de uma melhor abordagem. Com a nova lei, o crime de estupro passou a ser um O concurso de crimes ocorre quando o mesmo sujeito faculdade. [...]
A conjunção carnal, elementar do crime de estupro, de crime comum, ou seja, pode ser praticado por qualquer o pratica, por meio de uma ou mais ações delitivas comis- Quanto à questão referente à continuidade delitiva en-
posse sexual mediante fraude, é a cópula vaginal, ou: “in- pessoa (homem contra mulher; homem contra homem; sivas ou omissivas, dolosas ou culposas, consumadas ou tre os crimes de estupro e atentado violento ao pudor, não
trodução do genital masculino no genital feminino”. mulher contra homem; mulher contra mulher) e de forma tentadas, simples ou qualificadas e ainda entre crimes e há solução diversa da tradicionalmente adotada. Predomi-
Os atos libidinosos diversos da conjunção carnal, ele- livre, pois pode ser cometido através de conjunção carnal contravenções, ou seja, tem como ponto principal a plura- na, no caso, a antiga ensinança de Nelson Hungria para
mentar do crime do antigo atentado violento ao pudor, são (introdução do pênis na vagina) ou por meio de qualquer lidade de fatos e condutas tidas como criminosas. quem, não sendo o ato de libidinagem desvio da conjun-
os atos que têm por finalidade a satisfação da lascívia de outro ato libidinoso capaz de satisfazer a lascívia (a libido). Em meio aos sistemas propostos para a aplicação de ção carnal classificável como praeludia coiti, haverá, entre
outrem sem que haja a necessidade da conjunção carnal. A inovação feita pela Lei nº 12.015 que entrou em vigor pena no concurso de crimes existem as seguintes espécies: este e o estupro, o concurso material e nunca o crime con-
Atos que tenham por finalidade o prazer sexual. em 07 de agosto de 2009 resulta da fusão, com alteração de o concurso material (art. 69 CP), o concurso formal (art. 70 tinuado. É que esses delitos são do mesmo gênero, mas
As figuras da conjunção carnal e ato libidinoso diverso dois tipos previstos na redação original do Código Penal, o CP) e o crime continuado (art. 71 CP). não da mesma espécie. Aliás, entre a conjunção carnal, de
são espécies do gênero atos de libidinagem que são os de estupro, definido no artigo 213, que incriminava o cons- O concurso material ocorre quando há pluralidade de um lado, e o sexo anal ou, ainda, o sexo oral, não se pode
atos que têm como fim a satisfação da lascívia, mas que trangimento da mulher à conjunção carnal, e o de atentado condutas e pluralidade de crimes. Conforme a rubrica do vislumbrar homogeneidade quanto ao modo de execução.
englobam as duas espécies. Destaca-se que os atos de li- violento ao pudor, antes descrito no artigo 214, que punia art. 69 do Código Penal: E esse entendimento é pacífico no Colendo Supremo Tribu-
bidinagem não têm como única finalidade a satisfação se- o constrangimento de alguém, homem ou mulher, à prática Quando o agente, mediante mais de uma ação ou nal Federal Precedentes.
xual, mas se manifesta na sensualidade, na depravação, no de ato libidinoso diverso da conjunção carnal. omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, 3. No caso, o recorrido praticou, além da conjunção
exagero. Anteriormente, o indivíduo que praticava o atentado aplicam-se cumulativamente as penas privativas de liber- carnal, outro ato de libidinagem que não se ajusta aos clas-
Em ambas as figuras, os bens jurídicos tutelados são violento ao pudor, ou seja, envolvia ato sexual diverso da dade em que haja incorrido. No caso de aplicação cumu- sificados de praeludia coiti, sendo de se reconhecer, então,
a liberdade e a dignidade sexual do indivíduo, ou seja, o cópula, por exemplo, acariciar as partes íntimas da pessoa, lativa de penas de reclusão e de detenção, executa-se pri- o concurso material entre o estupro e o atentado violento
direito de dispor do próprio corpo e a faculdade que as após havê-la subjugado de alguma forma – pelo emprego meiro aquela. ao pudor, praticados contra a mesma vítima.

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Destarte, com o caso referido em questão fica clara a simples e qualificada do delito; entre formas qualificadas tes modificações são: a alteração do tipo penal estupro, real disposto no artigo 69 do Codigo Penal; isto é, o autor
aplicação do concurso material ao caso concreto e diferen- diversas; entre a modalidade consumada e a tentada; na inovando com a possibilidade de o homem figurar como do fato ficava sujeito a uma pena mínima de 12 anos, resul-
ciação que havia anteriormente à unificação do atentado autoria simples e na coautoria; entre crimes culposos, ou sujeito passivo, e abrangendo, na mesma figura, a conduta tado da soma dos pisos das sanções dos artigos 213 e 214,
violento ao pudor e do crime de estupro em um só tipo entre crimes culposos e dolosos. antes definida como crime de atendado violento ao pudor; na redação anterior. Nesse ponto a alteração é benéfica
penal. “Crimes da mesma espécie não são os descritos na a revogação da presunção de violência e, em contraparti- e deverá retroagir, atingindo todos os fatos anteriores à
Deste modo, o concurso de crimes surgiu com o intuito mesma disposição de lei, mas os que têm unidade de regra da, o surgimento de tipos penais autônomos para vítimas vigência da Lei, até mesmo aqueles já alcançados por de-
de amenizar o rigor do sistema de cumulação de penas. preceptiva, isto é, os que atacam ou expõem a perigo de agora tidas como vulneráveis; a mudança condicionada, e cisão transitada em julgado (CF, art. 5.º, XL e CP, art. 2.º).
Nesse contexto surgiu a figura do crime continuado, sendo dano o mesmo interesse jurídico” (RT, 494:363). o segredo de justiça para todos os crimes contra a digni- Para Vicente Greco Filho, todavia, há concurso de infra-
considerado como uma atenuante do concurso material, 2º) Pluralidade de condutas – O crime continuado exi- dade sexual. ções. Argumenta o autor que:
portanto, uma ficção. ge “mais de uma ação ou omissão”. Interessante modificação envolve a definição legal do [...] (o) tipo do art. 213 é daqueles em que a alternati-
O Crime continuado é uma ficção jurídica concebida 3º) Interligação das condutas por circunstâncias de crime de estupro, que se mantém no art. 213 do Estatuto vidade ou cumulatividade são igualmente possíveis e que
em razão de política criminal, que considera que os crimes tempo, lugar e modo de execução e outras semelhantes Penal, conserva a mesma rubrica, mas sofre importantes precisam ser analisadas à luz dos princípios da especialida-
subsequentes devem ser tidos como continuação do pri- – O conjunto dessas circunstâncias exteriores comuns, que alterações. A infração passa a abranger, em uma mesma de, subsidiariedade e da consunção, incluindo-se neste o
meiro, estabelecendo, em outros termos, um tratamento são aparentes, perceptíveis, objetivas, é que configura a figura, não só a conduta de constranger alguém e princi- da progressão. Vemos, nas diversas violações do tipo, um
unitário a uma pluralidade de atos delitivos, determinando continuidade criminosa. Isoladamente, nenhuma circuns- palmente de não mais somente a mulher à conjunção car- delito único se uma conduta absorve a outra ou se é fase
uma forma especial de puni-los. tância é decisiva. nal, mediante violência ou grave ameaça, como também de execução da seguinte, igualmente violada. Se não for
O autor Válter Kenji Ishida descreve que ocorre o crime É importante conceituar e definir de maneira clara o aquela conduta antes inscrita no tipo descrito no revogado possível ver nas ações ou atos sucessivos ou simultâneos
continuado quando o agente, mediante mais de uma ação concurso material e o crime continuado, afinal é de grande art. 214, que se refere ao atentado violento ao pudor. Tor- nexo causal, teremos, então delitos autônomos.
ou omissão, pratica dois ou mais crimes da mesma espécie relevância para a melhor aplicação ao caso concreto, pois nou-se solucionável, e típica, aquela academia e hipotética Já na concepção de Damásio de Jesus, admite-se a
e pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e influenciará na pena a ser cumprida pelo sujeito ativo. situação em que um homem, mediante violência ou grave continuação quando se trata do mesmo sujeito passivo.
outras semelhanças, devem os subsequentes ser havidos É conexo citar o comentário de Fernando Capez: ameaça, fosse constrangido à conjunção carnal. Inexistia Tratando-se vítimas diversas e distintas e lesando o estu-
como continuação do primeiro. Exemplo de crime conti- já o crime continuado do art. 71 do CP é aquele no qual tipo penal adequado a tal conduta, pois inaplicável o anti- pro interesses jurídicos pessoais, é da opinião de que não
nuado é a prática de vários furtos em um condomínio de o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica go art. 214, já que não se tratava de ato diverso da conjun- se poderá aceitar a figura do crime continuado. Com a re-
luxo. Outro exemplo da continuação delitiva é o caso ocor- dois ou mais crimes da mesma espécie, os quais, pelas se- ção carnal e, sim, da própria conjunção carnal; e era igual- forma penal de 1984, contudo, não há mais essa questão,
rido da 23ª Vara Criminal da Capital de São Paulo: o réu é melhantes condições de tempo, lugar, modo de execução e mente aplicável a anterior figura do estupro, que exigia que uma vez que o artigo 71, parágrafo único, do Código Penal
processado porque subtraiu em uma academia um veículo outras, podem ser tidos uns como continuação dos outros. o constrangimento fosse contra a mulher. expressamente admite a continuação na hipótese em que
Tempra, depois de ter se passado por cliente em potencial Lembra Bettiol que suas origens políticas se encontram in- os delitos componentes do nexo de continuidade atingem
para a recepcionista, minutos após, tentar subtrair outro dubitavelmente em favor rei, o que levou os juristas me- Discussão bens pessoais. Como exemplo da primeira hipótese, supo-
veículo com o mesmo modus operandi em outra academia. dievais a considerar como furto único uma pluralidade de A fusão dos artigos 213 e 214 têm provocado polêmi- nhamos que determinado indivíduo, ameaçando uma se-
Tempo: hora dos crimes próxima: às 20h30 min, 20h40min; furtos, para assim evitar as conseqüências draconianas que ca doutrinária a respeito da existência de crime único ou nhora casada de lhe causar mal grave, a constranja à con-
lugar: academia; maneira: mesmo modo de agir: simula ser de outra forma adviriam, uma vez que se aplicava a pena concurso de crimes quando o sujeito, no mesmo contexto junção carnal. Depois disso, ainda sob ameaça, a obrigue a
cliente e subtrai primeiro a chave e depois o veículo. de morte contra quem cometesse três furtos, ainda que de fático, constranger a vítima a realizar com ele a conjunção numerosos outros encontros, possuindo-a diversas vezes.
Ainda de acordo com o referido autor do parágrafo an- pequeno valor. carnal e outro ato libidinoso, dela desvinculado (como o Nesse caso, estaremos diante do estupro continuado.
terior existem duas teorias a respeito do crime continuado: Cabe destacar a distinção entre os dois tipos penais coito anal). Ainda nesse lamiré, cita-se Rogério Greco:
Teoria da ficção jurídica: embora na prática existam vá- que a ilustre autora Patrícia Béze de maneira objetiva e Antes do advento da Lei n.º 12.015, de 2009, não ha- Anteriormente à edição da Lei n.º 12.015, de 7 de agos-
rios crimes, por ficção, considera-se como se existisse ape- pontual faz: quanto aos requisitos, assemelha-se o crime via dúvida alguma de que o crime de estupro podia ser to de 2009, que revogou o delito de atentado violento ao
nas um. Trata-se de um tratamento especial a uma espécie continuado ao concurso material, porque as condutas que praticado em concurso com o revogado atentado violen- pudor, tipificado no art. 214 do Código Penal, quando o
de concurso material. São partidários dessa teoria, Heleno compõe o crime continuado são ações ou omissões que, to ao pudor, desde que os atos libidinosos praticados não agente, que tinha por finalidade levar a efeito a conjunção
Fragoso, Manoel Pedro Pimentel e Manzini (Guilherme de vistas isoladamente e objetivamente, são crimes perfeitos, fossem daqueles que precediam ao coito normal. Assim, o carnal com a vítima, viesse, também, a praticar outros atos
Souza Nucci, Manual de direito penal, p. 415); como no concurso material. A diferença existente encon- coito anal, praticado com a mesma vítima, antes ou depois libidinosos, a exemplo do sexo anal e felação, deveria res-
Teoria da realidade: o crime continuado existe porque tra-se no fato de que, nesse tipo de concurso, os elementos da cópula normal, constituía-se em crime autônomo, em ponder por ambas as infrações penais, aplicando-se a regra
a ação pode se compor de vários atos. O CP adotou a pri- que compõem apresentam uma relação de continuidade concurso com o estupro, não podendo ser absolvido por do concurso de crimes.
meira teoria (art. 71, caput). que não existe no concurso material. este. A lei vigente, contudo, não ampara semelhante inter- Hoje, após a referida modificação, nessa hipótese, a
Diversificam-se os elementos que integram o crime Por conseguinte, a consequência do concurso material pretação, visto que a conjunção carnal forçada e os demais lei veio beneficiar o agente, razão pela qual se, durante a
continuado e duas teorias a respeito do tema: a teoria ob- é a aplicação cumulativa das penas privativas de liberdade atos libidinosos realizados sem o consentimento, em razão prática violenta do ato sexual, o agente, além da penetra-
jetivo-subjetiva, em que exige, além de elementos obje- em que haja incorrido e do crime continuado a aplicação do emprego de violência ou grave ameaça, passaram a in- ção vaginal, vier a também fazer sexo anal com a vítima, os
tivos, elemento de ordem subjetiva: unidade de dolo, ou da pena de um só dos crimes, se as práticas forem idênti- tegrar a mesma figura típica (art. 213). fatos deverão ser entendidos como crime único, haja vista
seja, intenção de chegar a tal fim pretendido; e a teoria pu- cas, a pena será aumentada de um sexto a dois terços, apli- Para André Estefam: que os comportamentos se encontram previstos na mes-
ramente objetiva, em que se dispensa o elemento de cará- cação mais grave das penas. Se diversas, será aumentada a mais marcante dentre as consequências resultantes ma figura típica, devendo ser entendida a infração penal
ter subjetivo e exige tão-somente as condutas continuadas. de um sexto a dois terço, já nos crimes dolosos, contra víti- da fusão dos arts. 213 e 214 reside em que o ato de cons- como de ação múltipla (tipo misto alternativo), aplicando-
De acordo com as teorias puramente objetivas, ado- mas diferentes, cometidos com violência ou grave ameaça tranger mulher, mediante violência ou grave ameaça, no se somente a pena cominada no art. 213 do Código Penal,
tadas pelo Código Penal Brasileiro, Paulo José da Costa à pessoa, haverá aplicação da pena de um só dos crimes, se mesmo contexto fático, a se submeter à conjunção carnal e por uma única vez, afastando, dessa forma, o concurso de
Junior diz que o crime continuado é integrado pelos se- idênticas será aumentada até o triplo. a outro ato libidinoso (a esta não vinculado, como o coito crimes.
guintes elementos: No tocante a diferença entre a Lei anterior (Decreto anal ou oral), deixou de gerar concurso (material) de cri- Em sentido contrário, posicionando-se favoravelmen-
1º) Crimes da mesma espécie – Deverão ser entendi- -Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal) mes, tornando-se crime único. te ao reconhecimento do tipo misto cumulativo, e, conse-
dos não só aqueles previstos no mesmo dispositivo, como e a Lei nova (Lei nº 12.015, de 7 de agosto de 2009) cabe É relevante anotar que predominava o entendimento quentemente, à possibilidade de se reconhecer o concurso
o conjunto de preceitos concernentes à lesão do mesmo evidenciar que as modificações resolvem, de uma vez por no sentido de que, por se tratarem de delitos de espécies de crimes caso o agente venha a ter conjunção carnal com
bem jurídico. Haverá crimes da mesma espécie na forma todas, temas que geravam controvérsia. As mais relevan- distintas, haveria obrigatoriamente concurso material ou a vítima, bem como a praticar outro ato libidinoso, Abrão

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Amisy Neto assevera que: “a alteração legislativa buscou Capez explica que quando os atos praticados são feitos em relação a quaisquer outras circunstâncias do fato (ex. crição típica. Desse modo, constranger alguém à conjun-
reforçar a proteção do bem jurídico e não enfraquece-lo; como um meio necessário para o fim desejado, ou seja, art. 168: “posse ou detenção”; art. 160:” contra a vítima ou ção carnal não será o mesmo que constranger à pratica de
caso o legislador pretendesse criar um tipo de ação única os atos libidinosos diverso da conjunção carnal ocorreram contra terceiros” etc.). Apresenta o tipo misto alternativo, outro ato libidinoso de penetração, sexo oral ou anal, por
ou misto alternativo não distinguiria ‘conjunção carnal’ de como preparação para o estupro, o menos grave é absorvi- realmente, um conteúdo variável, porque descreve não exemplo. Destarte, entende-se que não se revela admis-
‘outros atos libidinoso’, pois é notório que a primeira se do, isso com base no princípio da absorção. uma, mas várias hipóteses de realização do mesmo fato sível reconhecer a fungibilidade, que é característica dos
insere no conceito do segundo, mais abrangente. Portanto, Outra hipótese considerada é quando o agente pratica delituoso. O característico destes tipos é que as várias mo- tipos mistos alternativos, entre as diferentes formas de pe-
bastaria que tivesse redigido o tipo penal da seguinte ma- o ato libidinoso independente da conjunção carnal. Age dalidades são fungíveis, e a realização de mais de uma não netração. Isso poderá ocorrer com o reconhecimento da
neira: ‘ Art. 213. Constranger alguém, mediante violência com intuito de satisfazer a sua lascívia novamente. Nor- altera a unidade do delito. Isto não ocorre com os chama- fungibilidade entre os demais atos libidinosos que não de
ou grave ameaça, a praticar ou permitir que com ele se pra- malmente acontece quando o sujeito teve com a vítima a dos tipos cumulativos. Esta designação é evidentemente penetração, a depender das peculiaridades do caso con-
tique ato libidinoso’. Visível, portanto, que o legislador, ao conjunção carnal e depois a submete ao coito anal ou oral, imprópria: não há tipos cumulativos. Há disposições legais creto.
continuar distinguindo a conjunção carnal dos ‘outros atos por exemplo. Desse modo, verifica-se a independência en- que contêm, independentemente, mais de uma figura típi- Em suma, para o Ministro Felix Fischer a realização de
libidinoso’, não pretendeu impor única sanção em caso de tre ambos os crimes. ca de delito, ou seja, nas quais há tipos acumulados. Nestes diversos atos de penetração distintos da conjunção carnal
condutas distindas” [...] No escólio de Heleno fragoso, o estupro concorre com casos, haverá sempre concurso, em caso de realização de implica o reconhecimento de diversas condutas delitivas,
Assim, concluindo, embora o art. 213 do Código Penal o atentado violento ao pudor caso haja a prática do ato mais de um tipo. São exemplos de leis mistas cumulativas não havendo que se falar na existência de crime único, haja
preveja um tipo misto alternativo, tal fato não impede de libidinoso fora da praeludia coiti, ou seja autônomo, ha- os arts. 135, 180, 208, 242, 244, 21-8, 326. vista que cada ato - seja conjunção carnal ou outra forma
se visualizar, no caso concreto, a hipótese de crime conti- vendo concurso material entre os delitos. (grifos aditados). de penetração - esgota, de per se, a forma mais reprovável
nuado. Na interpretação de Damásio de Jesus: Destaca-se, por oportuno, a diferenciação feita por Ja- da incriminação.
Uma corrente seguida por Damásio de Jesus e Rogé- o crime de estupro pode ser praticado em concurso mes Tubenchlak acerca dos tipos cumulativos e acumulados: Diante de tal exposição do entendimento do nobre jul-
rio Grecco, por exemplo, entende que crimes de estupro com o atentado violento ao pudor, desde que os atos libi- No tipo misto alternativo, o agente responderá por um gador Ministro Felix Fischer, cabe transcrever a ementa do
e atentado violento ao pudor poderão ser considerados dinosos praticados não sejam daqueles que precedem ao só crime tanto se perfizer uma conduta dentre as enuncia- voto-vencedor proferido pelo mesmo no Habeas Corpus
crimes continuados. Já outra corrente representada por coito normal. Assim, o coito anal, praticado com a mesma das alternativamente quanto na hipótese de vulnerar mais nº 87.960 – SP, de relatoria do também Ministro da quinta
Vicente Greco Filho aduz que não há de se falar em crime vítima, antes ou depois da cópula normal, se constitui em de um núcleo. Exemplos: os tipos dos arts. 122 CP (“indu- turma do Superior Tribunal de Justiça Arnaldo Esteves Lima,
único em relação aos crimes de estupro e atentado violen- crime autônomo, em concurso com o estupro, não poden- zir”, “instigar” ou “auxiliar”), 150 CP (“entrar” ou “permane- que trata de habeas corpus impetrado em favor de Edmil-
to ao pudor, tendo em vista que são diversas as condutas do ser absorvido por este. cer”), 160 CP (“exigir” ou “receber”), 161 CP (“suprimir” ou son Ribeiro Nogueira, condenado à pena total de 20 anos
delitivas. Por isso, deverão ser classificados como sendo de Cabe ressaltar, o entendimento no voto do Ministro da “deslocar”), 163 e 165 CP (“destruir”, “inutilizar” ou “dete- de reclusão e pagamento de 12 dias-multa pela prática dos
concurso material. Portanto, não é porque os tipos agora quinta turma do Superior Tribunal de Justiça Felix Fischer, riorar”) e ainda o tipo do art. 12 da Lei n.º 6.368/76 (“impor- crimes dos arts. 157, caput, 213, caput, e 214, todos na for-
estão fundidos formalmente em um único artigo que a si- que, em julgado de Habeas Corpus, em junho de 2010, tar”, “exportar”, “remeter”, “preparar”, “produzir”, “fabricar”,
ma do art. 69 do CP:
tuação mudou, já que o estupro, mediante conjunção car- fez a seguinte reflexão: “A primeira investigação que deve “adquirir”, “vender”, “trazer consigo” etc.). Com relação ao
PENAL. HABEAS CORPUS. ESTUPRO E ATENTADO VIO-
nal absorve o ato libidinoso em progressão àquela e não o tipo do delito de receptação dolosa (art. 180, caput CP),
ser procedida, refere-se à natureza do novel tipo legal. LENTO AO PUDOR. LEI Nº 12.015/2009. ARTS. 213 E 217-A
ato libidinoso autônomo e independente dela. trata-se também de tipo misto alternativo; o agente que
Abrem-se dois caminhos: seria ele um tipo misto alterna- DO CP. TIPO MISTO ACUMULADO. CONJUNÇÃO CARNAL.
Os autores que defendem a corrente de crime cumu- receber ou adquirir, em proveito próprio ou alheio, obje-
tivo, ou seria um tipo misto cumulativo (ou acumulado)”. DEMAIS ATOS DE PENETRAÇÃO. DISTINÇÃO. CRIMES AU-
lado também se fundamentam, ainda, na gravidade da to que sabe ser produto de crime e depois ocultá-lo, terá
O Ministro acredita ser oportuno definir preliminar- TÔNOMOS. SITUAÇÃO DIVERSA DOS ATOS DENOMINA-
conduta, bem como na proporcionalidade da pena e na cometido, apenas, um delito de receptação (cf., em contrá-
mente os tipos mistos em questão para melhor análise, DOS DE PRAELUDIA COITI. CRIME CONTINUADO. RECO-
dignidade da pessoa humana, num olhar voltado única e rio, Heleno Cláudio Fragoso, ob. cit., págs. 173/174, onde o
faz-se oportuno transcrever, quanto ao tema, a lição de NHECIMENTO. IMPOSSIBILIDADE.
exclusivamente para a vítima. Levam em consideração, ain- autor sustenta, outrossim, entendimento diverso sobre os
Heleno Cláudio Fragoso: I - A reforma introduzida pela Lei nº 12.015/2009 unifi-
da, que os agentes do referido tipo penal “têm a tendên- tipos mistos). No tipo misto cumulativo , onde igualmente
Os tipos mistos alternativos são muito numerosos. cou, em um só tipo penal, as figuras delitivas antes previs-
cia a reincidir” e, diante disto, devem ter uma sanção mais existe mais de um núcleo, torna-se obrigatória a multipli-
pesada. Correspondem a casos em que o legislador incrimina da tas nos tipos autônomos de estupro e atentado violento ao
cidade de condutas por parte do agente para que o delito
Os doutrinadores, como Luis Regis Prado, Guilherme mesma forma, alternativamente, hipóteses diversas do se tenha por consumado. Exemplos: art. 242 CP (“ocultar pudor. Contudo, o novel tipo de injusto é misto acumulado
de Souza Nucci e Nelson Hungria, são adeptos da teoria mesmo fato, todas atingindo o mesmo bem ou interesse, suprimindo ou alterando”) e art. 243 CP (“deixar ocultan- e não misto alternativo.
da absorção, ou seja, se o ato libidinoso diverso da con- a todas atribuindo o mesmo desvalor. A alternativa pode do-lhe ou atribuindo-lhe”). Assim, na hipótese referida de II - Desse modo, a realização de diversos atos de pe-
junção carnal for praticado como prelúdio do coito existe dar-se em relação à conduta (ex. art. 211: “destruir, sub- supressão ou alteração de direito inerente ao estado civil netração distintos da conjunção carnal implica o reconhe-
a absorção de um crime pelo outro. No entanto, caso seja trair ou ocultar”); em relação ao modo de execução (ex. art. de recém-nascidos, o crime permanecerá em fase de ten- cimento de diversas condutas delitivas, não havendo que
praticado de forma autônoma, independente da conjunção 121, § 2°, nº IV: “à traição, de emboscada, ou mediante dis- tativa, se o agente, depois de ocultar o neonato, não lograr se falar na existência de crime único, haja vista que cada
carnal ocorre, assim, o concurso material. simulação ou outro recurso que dificulte ou tome impos- a alteração ou supressão de direito inerente ao estado civil. ato - seja conjunção carnal ou outra forma de penetração -
Não obstante, atualmente, cabe ressalvar que para al- sível a defesa da vítima”); em relação ao objeto material Em alguns dispositivos legais, constata-se um agrupa- esgota, de per se, a forma mais reprovável da incriminação.
guns autores não há que se falar em espécies diferentes (ex. art. 234: “escrito, desenho, pintura, estampa ou qual- mento de tipos que, à primeira vista, se supõe tratar-se de III - Sem embargo, remanesce o entendimento de que
para o caso em questão, visto que apesar da interpreta- quer objeto obsceno”); em relação aos meios de execução um tipo misto cumulativo, quando, na verdade, não pas- os atos classificados como praeludia coiti são absorvidos
ção dada (tipo misto alternativo ou cumulativo), as figuras (ex. art. 136: “quer privando-a de alimentação, ou cuida- sam de “tipos acumulados” (Heleno Cláudio Fragoso, ob. pelas condutas mais graves alcançadas no tipo.
apresentadas no dispositivo giram em torno de um único dos indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessi- cit., pág. 174). Exemplos: arts. 135, 171, § 2.º, 175, 177, § 1.º, IV - Em razão da impossibilidade de homogeneidade
verbo, “constranger”, caracterizando-as como crimes de vo ou inadequado, quer abusando de meios de correção 187, 208 e 248 CP; art. 4.° da Lei n.º 4.898/65, que revogou na forma de execução entre a prática de conjunção carnal
uma mesma espécie, ainda que autônomos. ou disciplina”); em relação ao resultado material da ação parcialmente o art. 350 CP. Aqui, obviamente, haverá so- e atos diversos de penetração, não há como reconhecer a
Fernando Capez defende que o agente pode vir a pra- (ex. 129, § 2°, nº III: “perda ou inutilização”); em relação à matório de penas se mais de uma conduta for praticada” continuidade delitiva entre referidas figuras.
ticar ato libidinoso antes de praticar o estupro. Em seu en- circunstância de tempo (ex. art. 123: “durante o parto ou (in “Teoria do Crime – O estudo do crime através de duas Ordem denegada.
tendimento pode ocorrer duas hipóteses, a primeira é que logo após”); em relação a circunstâncias de lugar (ex. art. divisões” Editora Forense, Rio de Janeiro, 1978, p. 34/35). Confira-se a Ementa do voto vencido do Ministro re-
o sujeito pode praticar o ato libidinoso através de “carícias 233: “lugar público, ou aberto ou exposto ao público”); em A hipótese em exame caracteriza um tipo misto cumu- lator Arnaldo Esteves Limado, no intuito de uma breve
preliminares” em que estejam no contexto do estupro, ou relação à condição do agente (ex. art. 177, § 1º, nº I: “o lativo, na classificação cunhada por James Tubenchlak, tipo comparação, tendo em vista que o caso em questão é
seja, seria um ato preparatório para a conjunção carnal, diretor, o gerente ou o fiscal”); em relação à condição do acumulado, no que se refere aos atos de penetração. Ou completamente apropriado para esclarecer e demostrar os
sendo, então, o ato libidinoso absorvido por esse delito. sujeito passivo (ex. art. 175: “adquirente ou consumidor”); seja, dois tipos legais estão contidos em uma única des- fundamentos e divergências a respeito da polêmica ainda

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presente mesmo após a entrada em vigor da Lei 12.015/09 Portanto, os argumentos utilizados para considerar a Não obstante, não creio ser essa a solução a ser dada Assim, é importante fazer com que o Direito Penal seja
em torno da classificação em concurso material ou crime pluralidade de condutas referente aos crimes contra a li- à controvérsia. Conforme a nova redação do tipo (art. 213 utilizado para punir corretamente os indivíduos que privam
continuado referente à pluralidade de condutas diante de berdade sexual como sendo crime continuado estão em ou 217-A), o agente poderá praticar a conjunção carnal ou o direito do outro à liberdade de seu corpo e de praticar
crimes onde há presença da conjunção carnal e atentado torno da reforma trazida que vinculou num só tipo penal outros atos libidinosos. Assim, se praticar, por mais de uma ato sexual com quem lhe convir, tendo em vista que é al-
violento ao pudor: as condutas antes tipificadas nos artigos 213 e 214 do CP, vez, cópula vaginal, a depender do preenchimento dos re- tamente reprovável a violência contra quem quer que seja
PENAL. HABEAS CORPUS ROUBO, ESTUPRO E ATEN- absolvendo o crime de atentado violento ao pudor pelo quisitos do art. 71 ou art. 71, parágrafo único, do Código para satisfação da lascívia sem que haja o dissenso da outra
TADO VIOLENTO AO PUDOR EM CONCURSO MATERIAL. de estupro, oque segundo alguns autores e julgadores es- Penal, poderá, eventualmente, configurar-se a continuida- parte. Com isso é importante aplicar o concurso correto.
PRETENSÃO DE RECONHECIMENTO DA CONTINUIDADE tabelece uma nova sistemática que tende à reconhecer a de delitiva. Ou então, se constranger a vítima a mais de Analisar o caso concreto em questão para, assim, se chegar
DELITIVA EM RELAÇÃO AOS CRIMES DOS ARTS. 213 E 214 prática do crime único. uma penetração (sexo anal, por exemplo por duas vezes) a uma conclusão palpável.
DO CP. LEI 12.015/09. CRIME ÚNICO. CONDUTAS PRATI- Compete destacar que esse é, também, o entendimen- de igual modo, nos mesmos termos, poderá ser beneficia- Por isso, a corrente que defende pela classificação da
CADAS NO MESMO CONTEXTO FÁTICO. ORDEM CONCE- to do relator Cezar Peluso, do Supremo Tribunal Federal, do com a pena do crime continuado. pluralidade de condutas no crime de estupro quando há a
DIDA. que, em julgado de Habeas Corpus, em março de 2010, fez Contudo, se praticada, v.g., uma penetração vaginal e conjunção carnal e outro ato libidinoso diverso como sen-
1. A reforma trazida pela Lei 12.015/09 condensou a seguinte reflexão: outra anal, neste caso, jamais será possível a caracterização do concurso material é a que mais fortalece a proteção de
num só tipo penal as condutas anteriormente tipificadas Entendo, contudo, que o debate adquiriu nova rele- da continuidade, assim como já sucedia com o regramento um bem jurídico tão importante que é a liberdade sexual,
nos arts. 213 e 214 do CP, constituindo, hoje, um só crime vância com o advento da lei nº 12.015/2009, que, entre ou- anterior. É que a execução de uma forma nunca será similar pois o delito em questão trata-se de crime hediondo, que
o constrangimento, mediante violência ou grave ameaça, tras alterações no Título VI do Código Penal, lhe unificou as a da outro. normalmente deixa uma marca permanente em suas víti-
a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com redações dos antigos arts. 213 e 214 em um tipo penal úni- São condutas distintas por natureza. mas, fazendo jus a devida cautela e repressão do estado.
ele se pratique outro ato libidinoso. co [...]. Conquanto mantenha o nomen juris, a redação do A teor do art. 71 do Código Penal, a continuidade Há o intuito de se verificar qual o concurso cabível está
2. Na sistemática anterior, a doutrina e a jurisprudên- novo tipo penal “descreve e estabelece uma única ação ou delitiva somente estaria configurada se iguais fossem as no cômputo da pena. O concurso material é tido como mais
cia divergiam acerca da possibilidade de se reconhecer a conduta do sujeito ativo, ainda que mediante uma plurali- “condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras grave, em que se somam as penas de cada delito praticado
continuidade delitiva entre os crimes de estupro e atenta- dade de movimentos. Há somente a conduta do agente de semelhantes “, o que, a toda evidência, não será possível para então chegar à pena final que deverá ser cumprida
do violento ao pudor. constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça” no caso de conjunção carnal e outro ato de penetração, pelo agente. No crime continuado aplica-se a pena de um
3. A Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na (PELUZO, Vinícius de Toledo Piza. O crime de estupro e a Lei pois entre eles não se identificará a maneira de execução e só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas,
esteira do tradicional entendimento do Supremo Tribunal nº 12.015/09: um debate desenfocado. Boletim IBCCRIM, outras semelhantes. aumentada, em qualquer caso, de um a dois terços.
Federal, negava a aplicação da ficção jurídica em favor de ano 17, n.203. São Paulo: IBCCRIM, out/2009, PP. 02-03, gri- Assim, em razão da impossibilidade de homogeneida- De qualquer maneira, cabe aos nobres julgadores en-
fos no original.) de na forma de execução entre a prática de conjunção car- contrarem uma maneira mais apropriada de julgarem a
agentes condenados pelos crimes dos arts. 213 e 214 do
[...] Como se vê, a alteração legislativa repercute decisi- nal e atos diversos de penetração, não há como reconhecer questão ou que o legislador adeque melhor a Lei que prevê
CP, tendo em vista que os referidos delitos não eram da
vamente no debate. Ora, se o impedimento para reconhe- a continuidade delitiva entre referidas figuras. o crime de estupro e outras condutas nele inseridas para
mesma espécie, possuindo elementos subjetivos e obje-
cer a continuidade delitiva entre o estupro e o atentado Ressalve-se, desde já, as hipóteses de praeludia coiti, que minimize ou suprima tal conflito, pois é fato que ainda
tivos nitidamente distintos. Nesse sentido: HC 63.601/SP;
violento ao pudor residia tão somente no fato de não se- em que atos antes configuradores de atentado violento ao
HC 128.989/SP; REsp 1.080.909/RS. há uma polêmica em torno do tema e isso de certa forma
rem crimes da mesma espécie, entendidos, pela ilustrada pudor, hoje tipificados como estupro, podem ser absorvi-
4. A reforma procedida permitiu reconhecer-se a con- trás a certa insegurança jurídica diante do tema.
maioria, como fatos descritos pelo mesmo tipo penal, tal dos pela conduta final pretendida pelo agente. O que, aliás,
tinuidade delitiva em favor de agente condenado, na vi- Nesse entendimento cabe transcrever o voto do De-
óbice foi removido pela edição da nova lei. é há muito entendimento pacífico desta Corte.
gência da lei anterior, aos crimes de estupro e atentado sembargador Roberval Casemiro Belinati da segunda
Pode-se extrair, daí, que o novo tipo penal vai além Como bem pondera Vicente Greco Filho:
violento ao pudor, desde que atendidos os requisitos do turma criminal do Tribunal de Justiça do Distrito Federal
da mera junção dos tipos anteriores, na medida em que “Vemos, nas diversas violações do tipo, um delito único
art. 71 do CP, em observância ao princípio da retroativida- e dos Territórios referente nos autos da ação penal nº
integra todas as espécies de atos libidinosos praticados se uma conduta absorve a outra ou se é fase de execução
de da lei mais benéfica. 2004011061644-6:
num mesmo contexto fático, sob mesmas circunstâncias e da seguinte, igualmente violada. Se não for possível ver nas
5. O caso concreto não se cinge ao reconhecimento da A questão objeto da divergência no presente julga-
contra a mesma vítima. Isso significa que a nova lei torna ações ou atos sucessivos ou simultâneos nexo causal, tere-
continuidade delitiva, uma vez que a incidência do art. 71 possível o reconhecimento da continuidade delitiva entre mos, então, delitos autônomos.” (in artigo intitulado “Uma mento refere-se à pena-base do novo crime de estupro. [...]
do CP ocorre nas hipóteses em que os diversos crimes pra- os antigos delitos de estupro e atentado violento ao pudor, interpretação de duvidosa dignidade (sobre a nova lei dos Com efeito, como ressaltado, o crime de estupro, pela
ticados o são em circunstâncias distintas, mas que pelas quando praticados nas mesmas circunstâncias, sem prejuí- crimes contra a dignidade sexual)” Revista do TRF da 1ª nova redação do artigo 213 do Código Penal, passa a se
“condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras zo do entendimento da Corte de reduzir conceitualmente Região, Novembro de 2009). configurar como crime de ação múltipla, de modo que
semelhantes, devem os subseqüentes ser havidos como a figura à identidade de espécies dos crimes. [grifou-se] Arremata o autor, com precisão, exemplificando: existem várias formas de violar o tipo penal.
continuação do primeiro”. Na hipótese vertente, as condu- Assim sendo, diante das referências de diversos auto- “Se, durante o cativeiro, houve mais de uma vez a con- Verifica-se que, agora, ainda que o agente pratique vá-
tas foram praticadas no mesmo contexto fático. res, é evidente a divergência de entendimento no que tan- junção carnal pode estar caracterizado o crime continuado rios atos libidinosos, haverá cometido apenas um crime de
6. “Se o ato libidinoso diverso da conjunção carnal ge o concurso de crimes entre estupro e atentado violento entre essas condutas, se, além da conjunção carnal, houve estupro. Não se pode olvidar, por outro lado, que a con-
não configura elemento constitutivo, conduta inicial ou ao pudor. Existem posições favoráveis no sentido de que outro ato libidinoso, como os citados, coito anal, penetra- duta do réu que pratica diversos atos libidinosos contra
meio para a realização do crime de estupro, deve o agente seja concurso material, sendo majoritária atualmente, e en- ção de objetos etc., cada um desses caracteriza crime di- a mesma vítima é mais grave que a daquele que pratica
responder por este e pelo crime de atentado violento ao tendimentos favoráveis ao crime continuado. ferente cuja pena será cumulativamente aplicada ao bloco apenas um.
pudor. Nesse caso, por se tratar de crimes de espécies di- Porém, como visto no voto do Ministro Felix Fischer, formado pelas conjunções carnais. A situação em face do Em verdade, atendendo-se aos princípios da individua-
ferentes, aplica-se a regra do concurso material (art. 69 do ainda há a possibilidade de reconhecer como sendo con- atual art. 213 é a mesma do que na vigência dos antigos lização da pena e da igualdade material, deve-se distinguir
CP), ainda que cometidos contra a mesma vítima. Prece- curso material os atos de estupro e atentado violento ao 213 e 214, ou seja, a cumulação de crimes e penas se afere as duas hipóteses, aplicando aos réus penas distintas. De
dentes deste Tribunal e do STF” (EREsp 453.884/DF). pudor pelo fato de agora estarem reunidos em um único da mesma maneira, se entre eles há, ou não, relação de fato, aplicar a mesma pena mínima a réus com condutas
7. O Juízo sentenciante, ao entender pela absorção do tipo e serem tidos como atos de mesma espécie: causalidade ou consequencialidade. Não é porque os tipos diversas significa violar o conteúdo jurídico do princípio da
crime de atentado violento ao pudor pelo de estupro, jul- Reunidas as condutas em um único tipo, argumenta- agora estão fundidos formalmente em um único artigo que igualdade. Não é justo ao réu que praticou apenas uma
gou no sentido da atual sistemática, restando reconhecida se que agora por serem referidos atos da mesma espécie a situação mudou. O que o estupro mediante conjunção conduta sexual receber a mesma reprimenda que aquele
a prática de crime único. (além, é claro, de serem do mesmo gênero) não haveria carnal absorve é o ato libidinoso em progressão àquela e que praticou mais de um ato libidinoso com a mesma víti-
8. Ordem concedida para restabelecer a sentença con- óbice ao reconhecimento da aludida ficção jurídica. Neste não o ato libidinoso autônomo e independente dela. como ma no mesmo contexto.
denatória nos termos em que proferida. sentido o voto do eminente Relator. no exemplo referido” (op. cit.) (grifos aditados) [...]

23 24
MEDICINA LEGAL MEDICINA LEGAL

Em verdade, a sentença condenou o réu pela prática DOSIMETRIA Há quem interprete o novo dispositivo como de tipo
dos crimes de estupro e de atentado violento ao pudor Assim, em relação ao crime único de estupro, na pri- misto alternativo. Dessa maneira, a execução de qualquer
6 IMPUTABILIDADE PENAL.
em concurso material. Não houve recurso do Ministério meira fase, estabeleço a pena-base em 08 (nove) anos de dos atos por ele descrito, bem como a forma como forem
Público. É cediço que, em sede recursal, não é possível reclusão (a sentença havia fixado em 07 anos). praticados, em um mesmo contexto fático, formariam cri-
agravar a situação do único recorrente. Na segunda fase, mantenho a mesma pena, em face me único, alterando, totalmente a dinâmica anteriormente
No caso dos autos, está se aplicando retroativamente da ausência de atenuantes e agravantes. conhecida. A imputabilidade é a possibilidade de atribuir a um
a lei penal mais benigna – Lei n.º 12.015/2009 -, benefi- Na terceira fase, não há causas de aumento ou de di- Já a segunda visão sustenta que o tipo se caracterizaria indivíduo a responsabilidade por uma infração. Segundo
ciando o réu com a exclusão da pena referente ao crime minuição da pena, de modo que fica estabelecida a pena como misto cumulativo e, como tal, manteria as condutas prescreve o artigo 26, do Código Penal, podemos, também,
de atentado violento ao pudor. Não se pode esquecer, em 08 (oito) anos de reclusão, em regime inicial fechado. descritas independentes entre si, apesar de contidas dentro definir a imputabilidade como a capacidade do agente en-
contudo, que a conduta praticada pelo réu – sexo oral Diante do exposto, conheço do recurso e, de ofício, do mesmo artigo. Assim, sendo executadas em um mesmo tender o caráter ilícito do fato por ele perpetrado ou, de
– continua sendo tipificada como crime no nosso ordena- diante da superveniência da Lei n.º 12.015/2009, excluo o contexto, dariam ensejo a um concurso material. determinar-se de acordo com esse entendimento.
mento jurídico, no artigo 213 do Código Penal. crime de atentado violento ao pudor e a respectiva pena, A polêmica em torno do tema é o que enseja a produ- È portanto a possibilidade de se estabelecer o nexo en-
Dessa forma, não é possível manter apenas a pena mantendo somente a pena do crime único de estupro, ção deste trabalho, pois há uma nítida divergência tanto tre a ação e seu agente, imputando a alguém a realização
aplicada originariamente ao estupro, desconsiderando a acrescida de um ano de reclusão, diante da prática de mais para a doutrina quanto para a jurisprudência, que é exa- de um determinado ato.
existência de outro ato criminoso. Tal proceder significa- de um ato libidinoso, ficando reduzida a pena de 14 (qua- tamente o ponto do desenvolvimento, esclarecer os dois Quando existe algum agravo à saúde mental, os indi-
ria, no caso concreto, a descriminalização da conduta de torze) para 08 (oito) anos de reclusão, em regime inicial pontos de vista e tentar encontrar a interpretação mais víduos podem ser considerados inimputáveis – se não ti-
constranger pessoa, mediante violência ou grave ameaça, fechado. adequada para ser aplicada. verem discernimento sobre os seus atos ou não possuírem
à prática de ato libidinoso diverso da conjunção carnal, Portanto, oque faz sentido é que independentemente Cabe salientar, ainda, que este trabalho tem por finali- autocontrole, são isentos de pena.
o que, certamente, não foi a intenção do legislador, so- de considerar a conduta de estupro e atentado violento dade analisar a divergência em torno do tema, porém deixa Os semi-imputáveis são aqueles que, sem ter o discer-
bretudo diante da nova redação do artigo 213 do Código ao pudor como sendo concurso material ou crime conti- clara a tendência por considerar os referidos delitos contra nimento ou autocontrole abolidos, têm-nos reduzidos ou
Penal. nuado, uma coisa é certa, não devem os magistrados es- a liberdade sexual sendo caracterizados como tipo misto prejudicados por doença ou transtorno mental.
Deve-se, portanto, acrescer à pena-base imposta ao quecerem ou deixarem de considerar os atos libidinosos cumulativo, onde existem dois tipos legais contidos em
crime de estupro a valoração negativa das circunstâncias diversos de conjunção carnal quando existirem em um uma única descrição típica. Dispõe o Código Penal:
judiciais do artigo 59 do Código Penal em razão da prática O trabalho é elaborado se identifica mais com a cor-
mesmo caso concreto, tendo em vista que de fato seria
rente que defende pela classificação as referidas condutas (...)
de mais atos libidinosos. uma injustiça para com a vítima, enfraqueceria a proteção
como sendo concurso material, haja vista que a consuma-
Ressalte-se que não se trata de reformatio in pejus, já que deve existir contra um bem tão relevante e impor-
ção de diferentes atos de penetração diversos da conjun- TÍTULO III
que a situação do recorrente está sendo melhorada, com tante para que é a liberdade sexual e desrespeitaria por
ção carnal alude o reconhecimento de diversas condutas DA IMPUTABILIDADE PENAL
a aplicação retroativa da Lei n.º 12.015/2009. De fato, a completo o preceito fundamental de princípios da indivi-
delitivas, não possibilitando a existência de crime único,
pena total – imposta aos crimes de estupro e atentado dualização da pena e da igualdade material, uma vez que
tendo em vista que cada ato, seja conjunção carnal ou ou- Inimputáveis
violento ao pudor, em concurso material – está sendo re- aplicar a mesma pena mínima a réus com condutas di-
tra maneira de penetração, exaure, a forma mais reprovável
duzida. versas significa violar o conteúdo jurídico do princípio da
da acusação. Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença
Vale salientar, ademais, que, se se entendesse que a igualdade. Não é justo ao réu que praticou apenas uma Em contrapartida, considera-se que independente- mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retar-
pena individual do crime de estupro, em casos como o conduta sexual receber a mesma reprimenda que aquele mente de classificar a condutada do antigo atentado vio- dado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente
dos autos, não poderia ser majorada para acrescentar a que praticou mais de um ato libidinoso com a mesma víti- lento ao pudor junto com o estupro como sendo concurso incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de deter-
circunstância desfavorável da prática de mais de um ato ma no mesmo contexto. material ou crime continuado, não podem ser esquecidos minar-se de acordo com esse entendimento.
libidinoso, chegar-se-ia à conclusão de que os réus, nesta Enfim, diante do que foi acompanhado no decorrer do os atos libidinosos diversos de conjunção carnal e devem Redução de pena
condição processual, teriam uma situação mais benéfica trabalho fica evidente que o seu foi de analisar de acordo ser considerados para que haja uma punição adequada ao Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um
até mesmo do que aqueles que cometeram crimes na égi- com o previsto atualmente no art. 213 do Código Penal, a indivíduo que praticar tais atos, de maneira que ele seja a dois terços, se o agente, em virtude de perturbação de
de da própria lei mais benigna. Isto importaria criar uma pluralidade de condutas no crime de estupro e investigar reprimido por todos os atos que cometeu. saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto
terceira lei, não idealizada pelo legislador. o concurso existente entre o estupro e o extinto atentado Tendo em vista todo o exposto, portanto, finda-se a ou retardado não era inteiramente capaz de entender o
Com efeito, a pena anterior à Lei n.º 12.015/2009 é violento ao pudor. Como visto no transcorrer da apresen- abordagem levantada afirmando a possibilidade de carac- caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com
a mais grave, pois há concurso material entre os crimes tação, o tema trouxe inúmeras polêmicas que foram devi- terização do instituto do concurso material na pluralidade esse entendimento.
de estupro e atentado violento ao pudor. Na lei nova, a damente analisadas e discutidas de acordo com a jurispru- de condutas descritas pelo crime de estupro mesmo com a
conduta é apenada apenas pelo crime único de estupro, dência e doutrina de acordo com o que ocorria anterior- entrada em vigor da nova Lei 12.015/09.2 Menores de dezoito anos
mas permitindo-se o acréscimo à pena-base, em razão mente e as consequências ao advento da Lei 12.015/09.
da prática de mais de um ato libidinoso. Destarte, não se Primeiramente, a sistemática anterior que possibilita- Art. 27 - Os menores de 18 (dezoito) anos são penal-
pode impor, a pretexto de aplicar retroativamente a Lei va o reconhecimento de ambas as condutas como sen- mente inimputáveis, ficando sujeitos às normas estabele-
n.º 12.015/2009, uma pena total mais branda que aquela do concurso material baseava-se no fato de o estupro e cidas na legislação especial.
aplicada aos crimes cometidos em sua vigência.[...] o antigo atentado violento ao pudor não eram da mesma
No caso dos autos, a pena-base para o crime de es- espécie, possuindo elementos subjetivos e objetivos niti- Emoção e paixão
tupro foi aplicada em 07 (sete) anos, na sentença. Assim, damente distintos.
pelos motivos acima elencados, dita pena deverá ficar em Com entrada em vigor da nova Lei nº 12.015 em 07 de Art. 28 - Não excluem a imputabilidade penal:
08 (oito) anos. agosto de 2009, surgiram novas discursões, pois houve a I - a emoção ou a paixão;
Dessa forma, de rigor prover parcialmente o recurso, fusão num só tipo penal das condutas anteriores tipificadas
de ofício, para reconhecer a existência de crime único de nos arts. 213 e 214 do CP, constituindo, hoje, um só crime Embriaguez
estupro, aumentando a pena-base para 08 (oito) anos de o constrangimento, mediante violência ou grave ameaça, a
reclusão. ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele 2 Fonte: www.conteudojuridico.com.br – Por Álvaro II - a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool
pratique outro ato libidinoso. Henrique Milhomem da Silva Santos ou substância de efeitos análogos.

25 26
MEDICINA LEGAL

§ 1º - É isento de pena o agente que, por embriaguez 03) A estrutura organizacional da medicina legal no
completa, proveniente de caso fortuito ou força maior, era, Brasil teve início em 1856, com a criação da Assessoria
ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de Médico-Legal na Secretaria de Polícia da Corte Imperial,
entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de no segundo período imperial brasileiro. Por ato do então
acordo com esse entendimento. Príncipe Regente, o ainda futuro Imperador dom Pedro II,
§ 2º - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, mediante o Decreto n.º 1.740/1856, foi criado o embrião
se o agente, por embriaguez, proveniente de caso fortui- do que hoje são os institutos de medicina legal. Iniciou-
to ou força maior, não possuía, ao tempo da ação ou da se, dessa forma, um arcabouço organizacional que evoluiu
omissão, a plena capacidade de entender o caráter ilícito espantosamente.
do fato ou de determinar-se de acordo com esse enten-
dimento. Com relação ao tema do texto acima e aos documen-
tos médicolegais, julgue os itens subsequentes.
EXERCÍCIOS Não será considerado suspeito o perito oficial que, an-
tes da designação para a perícia, tiver apenas aconselhado
01) A estrutura organizacional da medicina legal no qualquer das partes.
Brasil teve início em 1856, com a criação da Assessoria C. Certo
Médico-Legal na Secretaria de Polícia da Corte Imperial, E. Errado
no segundo período imperial brasileiro. Por ato do então
Príncipe Regente, o ainda futuro Imperador dom Pedro II, Resposta: Errado
mediante o Decreto n.º 1.740/1856, foi criado o embrião
do que hoje são os institutos de medicina legal. Iniciou- 04) A estrutura organizacional da medicina legal no
se, dessa forma, um arcabouço organizacional que evoluiu Brasil teve início em 1856, com a criação da Assessoria
espantosamente. Médico-Legal na Secretaria de Polícia da Corte Imperial,
Com relação ao tema do texto acima e aos documen- no segundo período imperial brasileiro. Por ato do então
Príncipe Regente, o ainda futuro Imperador dom Pedro II,
tos médicolegais, julgue os itens subsequentes.
mediante o Decreto n.º 1.740/1856, foi criado o embrião
Alguns autores dividem a medicina legal em geral e
do que hoje são os institutos de medicina legal. Iniciou-
especial. Para estes, a medicina legal geral trataria das
se, dessa forma, um arcabouço organizacional que evoluiu
questões voltadas às lesões corporais (traumatologia fo-
espantosamente.
rense), identificação (antropologia forense), sexualidade
Com relação ao tema do texto acima e aos documen-
criminosa (sexologia forense), da morte e do morto (ta-
tos médicolegais, julgue os itens subsequentes.
natologia forense), de aspectos psicossociais criminosos
Atualmente, a perícia médico-legal deve ser realizada
(psicopatologia forense), entre outras subdivisões, e a me-
nos institutos de medicina legal (IMLs). É vedado ao médi-
dicina legal especial estudaria a deontologia e a diciologia co realizar exames médico-periciais de corpo de delito em
médica. seres humanos no interior dos prédios ou dependências de
C. Certo delegacias, unidades militares e presídios.
E. Errado C. Certo
E. Errado
Resposta: Errado
Resposta: Certo
02) A estrutura organizacional da medicina legal no
Brasil teve início em 1856, com a criação da Assessoria 05) A estrutura organizacional da medicina legal no
Médico-Legal na Secretaria de Polícia da Corte Imperial, Brasil teve início em 1856, com a criação da Assessoria
no segundo período imperial brasileiro. Por ato do então Médico-Legal na Secretaria de Polícia da Corte Imperial,
Príncipe Regente, o ainda futuro Imperador dom Pedro II, no segundo período imperial brasileiro. Por ato do então
mediante o Decreto n.º 1.740/1856, foi criado o embrião Príncipe Regente, o ainda futuro Imperador dom Pedro II,
do que hoje são os institutos de medicina legal. Iniciou- mediante o Decreto n.º 1.740/1856, foi criado o embrião
se, dessa forma, um arcabouço organizacional que evoluiu do que hoje são os institutos de medicina legal. Iniciou-
espantosamente. se, dessa forma, um arcabouço organizacional que evoluiu
Com relação ao tema do texto acima e aos documen- espantosamente.
tos médicolegais, julgue os itens subsequentes. Com relação ao tema do texto acima e aos documen-
A designação do perito pelo juízo no âmbito criminal tos médicolegais, julgue os itens subsequentes.
pode ser vetada pelas partes conforme o Código de Pro- A diferença entre laudo e auto deve-se ao fato de que
cesso Penal. o primeiro é redigido e o segundo é ditado ao escrivão.
C. Certo C. Certo
E. Errado E. Errado

Resposta: Errado Resposta: Certo

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Revisão de História
Resumo sobre Segundo Reinado
 A coroação de D. Pedro II ocorreu por meio do Golpe da Maioridade, em 1840.

 Os dois partidos que controlavam a política brasileira eram o Partido Liberal e o Partido Conservador.

 O sistema político brasileiro ficou conhecido como “parlamentarismo às avessas”.

 Na economia, o café estabeleceu-se como nosso principal produto, e, entre 1840 e 1860, aconteceu um período de
prosperidade conhecido como Era Mauá.

 A abolição da escravatura foi resultado de uma intensa mobilização popular e política aliada com a resistência realizada
pelos escravos. Concretizou-se com a assinatura da Lei Áurea, em 13 de maio de 1888.

 A Guerra do Paraguai foi um divisor de águas na história do Segundo Reinado. Nesse conflito, o Brasil envolveu-se em uma
luta contra o Paraguai entre 1864-1870.

 Os militares foram o grupo de maior envolvimento com a Proclamação da República no Brasil. A proclamação de fato foi
realizada por José do Patrocínio em 15 de novembro de 1889."
Resumo do Segundo Reinado
O Segundo Reinado é o momento em que o Brasil se consolida como nação.

O regime político do país era a monarquia parlamentarista, onde o Imperador escolhia o Presidente do Conselho (equivalente ao
cargo de primeiro-ministro) através de uma lista com três nomes.

No plano econômico, o café adquire importância fundamental, sendo o produto mais exportado pelo Brasil. Chegam as primeiras
ferrovias e barcos a vapor com o objetivo de melhorar a circulação do chamado "ouro negro".

Em meio à prosperidade cafeeira, o Brasil se encontra num dilema, pois quem trabalhava nas plantações de café eram pessoas
escravizadas. Desde o governo de Dom João VI, o país havia se comprometido a abolir a escravidão. No entanto, a elite cafeeira se
opunha, pois isso acarretaria perdas econômicas. A solução é terminar com o trabalho servil de forma gradual.

Será no Segundo Reinado que o Brasil se vê às voltas com o maior conflito armado da América do Sul: a Guerra do Paraguai.

Por fim, sem apoio das elites rurais e do exército, a monarquia é derrubada através de um golpe militar. A Família Imperial é
obrigada a deixar o país e se instala a república.

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