MIV38 - ELEMENTOS DA MEDICINA LEGAL

Vaitssa Jorge da Silva

Aulas 1 e 2 - Introdução à Medicina Legal / Perícias e peritos

INTRODUÇÃO À MEDICINA LEGAL

A medicina legal é o conjunto de

conhecimentos médicos e paramédicos
destinados a servir ao Direito, cooperando na
elaboração, auxiliando na interpretação e
colaborando na execução dos dispositivos
legais, no seu campo de ação de medicina
aplicada (Hélio Gomes).

PERÍCIAS E PERITOS

Perícia médica: aplicação metódica e

imparcial dos conhecimentos médicos para
esclarecer fatos de interesse de autoridade
legitimada.

Perito médico: médico que, conforme juízo de

autoridade legitimada, detém os
conhecimentos técnicos e os atributos morais
necessários para realização de uma perícia.

Obs:. O pré-requisito, no Brasil, para um

médico se tornar legista é fazer residência
médica em medicina legal ou fazer concursos
(que é a forma mais comum).

O perito analisa e interpreta fatos, utilizando

seu conhecimento e sua aptidão, com o
objetivo de esclarecimento da verdade à
justiça.

A função do perito é verificar o fato e relatar

(visum et repertorum), bem como discutir,
fundamentar e deduzir (laudo/auto). Ele não
defende, nem acusa.

Atuação do perito: Planejar cada perícia;

Coletar impressão digital do periciando (para
identificação); Partir do simples para o
complexo; Descrever as lesões do segmento
cefálico para baixo, até a região
pedial-plantar; Limitar-se a verificar, descrever
e interpretar com base científica; Solicitar
exames auxiliares; Não entrar em conjecturas,
hipóteses ou especulações; Estabelecer o
nexo de causalidade;
Obs:. Caso o perito sinta-se pressionado, ele
pode recusar-se a realizar a perícia.
Requisitos para ser perito médico: Conclusão
do curso de medicina; Prestação de concurso
público e aprovação; Curso de formação
patrocinado pelo Estado.
CLASSIFICAÇÃO DAS PERÍCIAS
➔ PESSOAS VIVAS
Crimes de lesão corporal; Verificação de
virgindade (crime de difamação/estupro);
Avaliação mental; Embriaguez alcoólica;
Acidentes de trabalho; Determinação de
identidade, lesões e circunstâncias;
EXAME DE CONJUNÇÃO CARNAL: Em crimes
sexuais, para resguardar os direitos da vítima
e, principalmente, enquadrar o agente
responsável.
EXAME DE ABORTO: Exame médico-legal com
finalidade de definição da responsabilidade.
PERÍCIA DE EMBRIAGUEZ: São requisitadas
para efeito de processamento judicial, nos
casos de contravenções penais, para definição
de responsabilidade.
EXAME DE VALIDEZ: Para verificar se o
indivíduo tem aptidão para trabalhar.
➔ PESSOAS MORTAS
Determinação de identidade, data de morte,
causa da morte, circunstâncias, causa jurídica
da morte.
NECRÓPSIA (AUTÓPSIA): “A perícia das
perícias”.
ESTUDO DE RESTOS BIOLÓGICOS (suspeita de
serem restos humanos)
EXUMAÇÕES (“a mais árdua e repulsiva das
perícias médico-legais”)
QUANTO AO OBJETO DO ESTUDO: Locais
onde foram cometidos fatos delituosos, busca
de vestígios deixados pelo criminoso e pela
vítima, obtenção de provas incontestáveis,
determinação da natureza do delito e sua
autoria (perícia criminal).
Objetos periciados em busca de impressões
digitais, pêlos, manchas de líquidos orgânicos
(saliva, urina, sangue, sêmen…).
Nas vestes deve-se buscar fibras de tecido
sintético ou algodão, no cadáver ou apenso
dele. Buscar vestígios ou algo que possa
ajudar na investigação.
Obs:. Quem determina as perícias é a
autoridade policia.
RELATÓRIO MÉDICO-LEGAL: Narração escrita
e minuciosa de todas as operações de uma
perícia médica determinada por autoridade
policial ou judiciária.
Obs:. Antigamente existia o perito relator e o
revisor, agora tem apenas um.
Laudo: Quando o perito escreve depois de
terminar a perícia.
Auto: Quando ele dita a um escrivão durante
o exame.
ESTRUTURA DO LAUDO PERICIAL
➔ PREÂMBULO
É uma espécie de introdução em que vão
constar a qualificação da autoridade
solicitante e dos peritos, local onde é feito o
exame, data e hora e o tipo de perícia a ser
feita.
➔ QUESITOS
Perguntas com a finalidade de caracterização
de fatos relevantes que deram origem aos
processos. Existem quesitos oficiais
padronizados e as variações conforme o tipo
de perícia, esses quesitos foram elaborados
por autoridades no assunto.
➔ HISTÓRICO
É a contrapartida médico-legal da anamnese
do exame clínico comum. É importante
ressaltar que a pessoa que vem ao exame
médico-legal está envolvida numa ocorrência
policial, como vítima ou como agressora. É
comum que tenha um exagero nas queixas da
vítima (de modo a tornar maior o dano
sofrido), o indiciado pode dissimular lesões
comprometedoras e pode haver simulação de
doença mental (a fim de substituir a pena por
medida de segurança).
➔ DESCRIÇÃO
É a parte mais importante do laudo, onde o
médico vai descrever com riqueza de detalhes
tudo o que foi observado no exame.
Obs:. Em exame ulterior não pode ser feita
com a mesma riqueza de detalhes.
Deve ser feita de forma minuciosa, com forma
e proporções, extensões, coloração,
localização anatômica exata, características de
feridas, etc.
Nessa descrição não deve constar diagnóstico.
➔ DISCUSSÃO
Comparação dos dados do histórico com os
achados do exame objetivo.
Quando não há contradições aparentes, pode
ser desnecessária.
Exemplo de discrepância:. Uma senhora
alegava ter sido agredida pelo companheiro
no dia anterior à realização da perícia. No
entanto, o perito constatou, ao examiná-la,
uma equimose periorbitária de contornos
esverdeados. Sabemos que equimoses mudam
de cor ao longo do tempo e que a cor
esverdeada indica uma evolução de, no
mínimo, uma semana. Com isso, ficou claro
que ela estava mentindo em relação à
agressão.
➔ CONCLUSÃO (ÕES)
Parte em que o perito assume uma postura
quanto à coerência, ou não, de um fato. É
baseado nas informações do histórico, do
exame objetivo e do confronto destes. A
conclusão deve ser concisa, clara, resumida
em poucas palavras. Podendo ser afirmativa,
negativa ou pode haver impossibilidade de
concluir (que não deixa de ser uma conclusão
- Ex:. hímen complacente no exame de
conjunção carnal).
➔ RESPOSTA AOS QUESITOS
Deve ser sucinta, objetiva e não pode ter
interpretação duvidosa.
PARECER MÉDICO-LEGAL: Em situações que
envolvem divergência quanto à interpretação
dos achados de uma perícia. Pode ser
solicitado por qualquer das partes, com
esclarecimentos mais aprofundados
tecnicamente de uma autoridade no assunto.
Conta apenas com preâmbulo, exposição,
discussão e conclusão.
LEGISLAÇÃO
A intervenção dos peritos é regulamentada,
no foro criminal, pelo: CÓDIGO DE PROCESSO
PENAL (Decreto-lei número 3.689 de 03 de
Outubro de 1941), modificado pela lei 11690
de 09 de junho de 2008.
 medicina legal não existem casos simples,
dessa forma é questionável o valor da perícia
realizada apenas por um único perito.

Exame de corpo de delito: Exame de TUDO

que envolver o caso.

CORPO DE DELITO: É o conjunto de vestígios

materiais decorrentes da ação criminosa.

➔ CORPO DE DELITO DIRETO (perícia

percipiendi)
Corpo da pessoa ou coisa, instrumentos,
utensílios, objetos, arma, etc. Outros
vestígios.
➔ CORPO DE DELITO INDIRETO (perícia
deducendi)
Cabível apenas quando é impossível realizar o
corpo de delito direto por terem desaparecido Obs:. Embora exista a legislação que diz que o
com o tempo, por terem sido perdidos exame de corpo de delito pode ser realizado a
(homem - culpa ou dolo), por estarem qualquer dia e hora, o SVO e o IML só realizam
inacessíveis (natureza). Constitui-se na prova necrópsia no período diurno, porque a luz
testemunhal e documental. artificial cria sombras que podem prejudicar a
análise.
NECRÓPSIA DO SVO X IML: No SVO são
realizadas necrópsias de morte por causa
natural (antecedentes patológicos) e no IML
são as mortes por causas suspeitas.

Sobre a modificação de dois para apenas um

perito, Genival Veloso questiona o valor
probante de tal perícia. Diz que no mundo da
 ➔ PRAZO PARA REALIZAR A NECRÓPSIA DEVERES DE CONDUTA DO PERITO
Deveres de informação: Informar sobre a
perícia a ser realizada ao examinando ou a seu
representante. A perícia só pode ser realizada
com o consentimento livre e esclarecido do
periciando.

Deveres de atualização profissional:

Participação em congressos, conhecimento
Obs:. O tempo ideal é entre 6 e 20 horas de
das técnicas de exame e dos meios modernos
morte no SVO. Se tiver o diagnóstico prévio,
de diagnóstico.
pode não abrir o cadáver (mas isso quase não
acontece).
Deveres de abstenção de abusos: Deve agir
Obs2:. Em ambientes mais quentes esse
com cautela, sem precipitação, insensatez e
tempo pode ser reduzido, já que o processo
não se exceder em suas medidas.
de “deterioração” é mais rápido.

Deveres de vigilância, cuidado e atenção: Na

A necrópsia pode, em alguns casos, ser feita
realização do ato pericial, o perito deve estar
apenas com exame externo no cadáver, desde
isento de qualquer tipo de omissão que venha
que o perito consiga dizer a causa da morte
a ser caracterizada por inércia, passividade ou
apenas olhando.
descaso.

Podem chegar no SVO casos em que a causa

OBJETIVO DA PERÍCIA
da morte (violenta ou não) não está muito
Esclarecimento da verdade à justiça
evidente.
Ex:. Caso de um corpo que chega de um
usuário de entorpecentes (relato de
familiares), morreu de overdose aos 34 anos,
a necrópsia não pode ser feita no SVO. Isso
porque não é uma morte natural, para
comprovar a causa da morte - overdose - DO PERITO
precisa ir pro IML, para fazer pesquisa do
elemento químico que causou o
envenenamento (termo utilizado), a partir de
dosagem toxicológica.

DIREITOS DOS PERITOS

Direito de recusar o encargo:

Direito de proteção contra desobediência ou

desacato:
Direito aos honorários periciais:

Direito de desempenho livre da função

pericial: