Você está na página 1de 98

SPTC-GO

Auxiliar de Autópsia de 3ª Classe

Noções De Medicina Legal


Noções De Medicina Legal

Conceito, importância e divisões da Medicina Legal. .....................................................................1


Documentos médico-legais: conteúdo e importância. Conceitos de identidade, de identificação
e de reconhecimento. Principais métodos de identificação. ..........................................................4
Perícia médicolegal: perícias médico-legais, perícia, peritos. ......................................................14
Traumatologia forense. Energias de ordem física. Energias de ordem mecânica. . Energias
de ordem físico-química. ...............................................................................................................18
Tanatologia forense: causa jurídica da morte, diagnóstico de realidade da morte. Morte natural
e morte violenta. Fenômenos cadavéricos. Cronotanatognose, comoriência e premoriência.
Destinos do cadáver. .....................................................................................................................42
Técnicas de Necropsia: técnicas realizadas nas necropsias. Aspectos legais e éticos da
necropsia. instrumentos utilizados em necropsia. Técnicas de conservação de cadáver,
técnicas de preparo de corpos em antropologia forense...............................................................57
Exercícios.......................................................................................................................................93
Gabarito..........................................................................................................................................97

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


Conceito, importância e divisões da Medicina Legal

É o estudo e a aplicação dos conhecimentos científicos da Medicina para o esclarecimento de inúmeros


fatos de interesse jurídico; é a ciência de aplicação dos conhecimentos médico-biológicos aos interesses do
Direito constituído, do Direito constituendo e à fiscalização do exercício médico-profissional.
A ampla abrangência do seu campo de ação e íntimo relacionamento entre o pensamento biológico e o
pensamento jurídico explicam por que até o momento não se definiu, comprecisão, a Medicina Legal. Assim os
autores têm, ao longo dos anos, intentado inúmeras definições dentre as quais se destacam:
“É a arte de fazer relatórios em juízo”. (Ambrósio Paré)
“É a aplicação de conhecimentos médicos aos problemas judiciais”. (Nério Rojas)
“É a ciência do médico aplicada aos fins da ciência do Direito”. (Buchner)”É a arte de pôr os conceitos médi-
cos ao serviço da administração da justiça”. (Lacassagne)
“É o estudo do homem são ou doente, vivo ou morto, somente naquilo que possa formar assunto de ques-
tões forense”. (De Crecchio)
“É a disciplina que utiliza a totalidade das ciências médicas para dar respostas às questões jurídicas”. (Bon-
net)
“É a aplicação dos conhecimentos médico - biológicos na elaboração e execução das leis que deles care-
cem”. (F. Favero)
“É a medicina a serviço das ciências jurídicas e sociais”. (Genival V. de França)
“É o conjunto de conhecimentos médicos e para médicos destinados a servir ao direito, cooperando na ela-
boração, auxiliando na interpretação e colaborando na execução dos dispositivos legais, no seu campo de ação
de medicina aplicada”. (Hélio Gomes)
Trata-se de uma especialidade que, utilizando-se os conhecimentos técnico-científicos das ciências que
subsidiam a medicina, tais como: a Biologia, Química, Física... Presta esclarecimentos à atuação da Justiça.
“É o conjunto de conhecimentos médicos destinados a servir o Direito, cooperando na elaboração, auxilian-
do na interpretação e elaborando na execução dos dispositivos legais” Hélio Gomes.
Fundamentos.
- No direito brasileiro: CP, artigo 1°: “Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia
cominação legal”.
Crime: Infração penal a que a lei comina com pena de reclusão ou detenção.
O Código de Processo Penal em seu artigo 386 caput: “O juiz absolverá o réu (...) se, parágrafo II: “não haver
prova da existência do fato” (...).
Prova: é o conjunto de meios regulares e admissíveis empregados para demonstrar a verdade ou falsidade
de um fato conhecido ou controvertido;
Prova penal: no processo penal, apura o fato delituoso e, sua autoria, para exata aplicação da Lei (“senctiu
iuris”);
O ônus da prova caberá a quem fizer a alegação do fato;
Prova objetiva: (prova pericial) é aquela que advém do exame técnico-científico dos elementos materiais
remanescentes da infração penal;
Prova testemunhal: ou subjetiva. Trata-se da prova descrita/narrada por outrem;
Prova ilícita: inadmissível no processo.
Vestígio: é tudo aquilo que pode ser encontrado no local do crime ou no cadáver;
Indício: é todo vestígio relacionado diretamente com o evento;

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


1
Corpo de delito: é o conjunto de vestígios materiais deixados pelo crime;
Exame de corpo de delito: é o exame pericial, com a finalidade de se materializar o crime. Encontra-se re-
gulado pelo CPP.
A Medicina Legal atua:
- Sobre o vivo: com a finalidade de determinar a idade, diagnosticar doença ou deficiência mental, loucura,
doença venérea, lesão corporal, personalidades psicopáticas, conjunção carnal, doenças profissionais, aciden-
tes de trabalho...
- Sobre o morto: diagnostica a realidade da morte, determina a causa jurídica da morte, data da morte, di-
ferencia lesões intravitam e post-mortem, examina toxicologicamente os fluídos e vísceras corporais, extração
de projetis, exumação...
- Exames sobre coisas: (objetos) roupas, panos, instrumentos, manchados de substâncias (leite, sangue,
urina, líquido amniótico, massa cerebral, saliva, pus blenorrágico, colostro...)
- Exame clínico médico-legal: abrange o que é praticado no vivo e visa esclarecer os objetivos das perícias
sobre pessoas;
- Exame necroscópico: exames realizados diretamente no cadáver;
- Exame de exumação: refere-se à hipótese de haver a necessidade de examinar o cadáver já enterrado;
- Exames de laboratório: pesquisas técnicas diversas (toxicológica, microscópica, bioquímica, citológica...).
Divisão da Medicina Legal
Relações: Serve mais a área Jurídica, do que à própria medicina uma vez que foi criada em prol das neces-
sidades do Direito. Desta maneira, com as Ciências Jurídicas e Sociais relaciona-se, completando-se ambas
sem nenhum embate.
Colabora com o Direito Penal, quando são realizados exames periciais avaliando lesões corporais; analisan-
do a realidade ou não da ocorrência do infanticídio; examinando o cadáver interna e externamente em casos de
homicídio; avaliando indícios e vestígios em casos de estupro; apresenta interesse na constatação da pericu-
losidade do sentenciado e da imputabilidade plena, parcial ou nula do indiciado etc. Com o Direito Civil no que
tange a problemas de paternidade, comoriência, impedimentos matrimoniais, gravidez, impotência .lato sensu.,
concepção de defeito físico irremediável etc.
Com o Direito do Trabalho quando cuida das doenças profissionais, acidentes do trabalho, insalubridade e
higiene. Quando trata de questões sobre a dissolubilidade do matrimônio, a proteção da infância e à materni-
dade se presta ao Direito Constitucional.
Com o Direito Processual Civil quando trata a concepção da interdição e da avaliação da capacidade civil e,
Penal quando cuida da insanidade mental se estuda a psicologia da testemunha, da confissão e da acareação
do acusado e da vítima.
O Direito Penitenciário também não permanece fora do campo de ação da Medicina Legal na medida em
que trata da psicologia do detento, concessão de livramento condicional bem como da psicossexualidade nos
presídios. É uma ciência social vez que trata ainda dos diagnósticos e tratamentos de embriaguez, toxicofilias.
Relaciona-se ainda com o Direito dos Desportos, Internacional Público, Internacional Privado, Direito Canônico
e Direito Comercial.
Não raro uma perícia médico-legal, para a elucidação dos fatos ocorridos, necessita ainda dos préstimos da
Química, Física, Biologia, Toxicologia, Balística, Dactiloscopia, Economia, Sociologia, Entomologia e Antropo-
logia (FRANÇA, 2004, p. 02).
Divisão Didática: A Medicina Legal possui uma parte geral, onde se estuda a Jurisprudência Médica, ou a
Deontologia Médica que ensina aos profissionais da área médica seus direitos e deveres. Tem também uma
parte especial dividida nos seguintes capítulos:
- Antropologia Forense ou Médico-legal: É o estudo da identidade e identificação médico-legal e judiciária.
- Traumatologia Forense ou Médico-legal: Capítulo extenso e denso que estuda as lesões corporais e os
agentes lesivos.

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


2
- Tanatologia Forense ou Médico-legal: Estuda a morte e o morto. Conceito, momento, realidade e causa da
morte. Tipos de morte. Sinais de morte. Destino legal do cadáver, direito sobre o cadáver etc.
- Asfixiologia Forense ou Médico-legal: Trata das asfixias de origem violenta. As asfixias mecânicas como
enforcamento, estrangulamento, esganadura, afogamento, soterramento, sufocação direta e indireta e as asfi-
xias por gases irrespiráveis.
- Toxicologia Forense ou Médico-legal: Analisa os cáusticos e os venenos.
- Sexologia Forense ou Médico-legal: É um capítulo social e cultural. É informativo e analisa a sexualidade
sob o ponto de vista normal, patológico e criminoso.
- Psicologia Forense ou Médico-legal: Estuda as causas que podem deformar um psiquismo normal, bem
como, a capacidade de entendimento da testemunha, da confissão, do delinqüente e da vítima.
- Psiquiatria Forense ou Médico-legal: Neste capítulo a análise é mais profunda, pois trata dos transtornos
mentais e da conduta, da capacidade civil e da responsabilidade penal. Criminalística: Estuda a dinâmica do
crime, analisando seus indícios e vestígios materiais.
- Criminologia: Preocupa-se com o criminoso, com a vítima e com o ambiente. Estuda a criminogênese.
- Infortunística: Estuda os acidentes e doenças do trabalho, doenças profissionais, higiene e insalubridade
laborativas. Devendo sempre lembrar-se da necessidade do exame pericial do local do trabalho para que se
estabeleça um nexo de causalidade entre acidente ou doença e o trabalho.
- Genética Forense ou Médico-legal: Especifica as questões ligadas à herança e ao vínculo genético da
paternidade e maternidade.
- Vitimologia: Analisa a vítima como elemento participativo na ocorrência do delito.
- Policiologia Científica: Considera os métodos científicos-médico-legais usados pela polícia na investigação
e elucidação dos crimes.
Importância da Medicina Legal
O Direito é uma ciência humana, desta forma mister se faz que os profissionais da área tenham um bom
conhecimento do que é o ser humano em sua totalidade. Para tanto não é preciso possuir conhecimentos como
um profissional de biomédica, no entanto, o mínimo para essa compreensão é necessário, sendo a Medicina
Legal um suporte para essa finalidade. A evolução tecnológica e das áreas do conhecimento humano, fizeram
com que o exercício do direito moderno dependa cada vez mais da contribuição desta ciência e, os operadores
da área jurídica não têm como desprezar os conhecimentos técnicos de peritos preparados para dar o respaldo
científico aos trabalhos forenses, pois somente assim é viável chegar-se o mais próximo possível da verdade
dos fatos. No entanto, ela não vem recebendo a merecida atenção por parte dos profissionais do campo para
o qual é destinada. Muitas vezes é preciso distinguir o certo do que está duvidoso, explicar de maneira clara
todos os indícios relacionados ao ocorrido, não sendo omitidas particularidades, para que haja uma conclusão
correta. Nem sempre tem valor para a medicina convencional algo, que para a Medicina Legal apresenta extra-
ordinária importância.
O juiz, não pode prescindir desta ciência auxiliar do direito, para ter condições de avaliar e sopesar a ver-
dade, analisando os documentos resultantes das perícias, adquirindo uma consciência técnica dos fatos que
envolvem o problema jurídico. Para a maioria dos autores, a mais importante missão do exame pericial é orien-
tar e iluminar a consciência do magistrado. Erros periciais podem ocorrer, mas conhecendo a Medicina Legal o
aplicador da lei terá novos elementos de convicção ao apreciar a prova, podendo analisar melhor as informa-
ções técnicas, prolatando sentenças, livres de relatórios viciados. Para França (2004, p.04-05), a necessidade
de dar cumprimento às exigências penais, corroboram com a necessidade de conhecimento da Medicina Legal,
o juiz não deve apenas examinar o criminoso. Deve também verificar as condições que o motivaram e os
mecanismos da execução. Assim, deve ser analisada a gravidade do crime, os motivos, circunstâncias e a in-
tensidade do dolo ou culpa. A qualidade e quantidade do dano.
Deve ele ter um conhecimento humanístico e jurídico, uma sensibilidade na apreciação quantitativa e quali-
tativa da prova (Idem, ibidem.).

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


3
O advogado, no exercício da profissão, também precisa, e muito, destes conhecimentos médico-legais,
sendo um crítico da prova, não aceitando como absolutos certos resultados, somente pelo simples fato de
constituírem avanços recentes da ciência ou da tecnologia. Deve saber pedir aos peritos e por outro lado pre-
cisa saber interpretar, e requisitar, em relação aos casos em estudo. O pedido formulado deve estar dentro das
possibilidades da ciência e técnica médico-legal.
O promotor de justiça tendo o ônus da prova, justificando-a e explicando-a, necessita mais do que ninguém
dos conhecimentos médico-legais, para uma correta interpretação de todos os laudos envolvidos nos casos a
serem julgados.
Trata-se de uma contribuição de alta valia e é a soma de todas as especialidades médicas, cada uma co-
laborando à sua maneira para que a ordem seja restaurada. Por tudo o que vimos a Medicina Legal em seu
estudo e aplicação, coopera na execução de leis já existentes, interpretando os textos legais com significado
médico, bem como ajuda elaborar novas normas relacionadas com a medicina. É uma ciência ímpar em seus
aspectos usuais, pois une o conhecimento biológico, cuidadoso e artesanal a técnicas laboratoriais avançadas,
com a finalidade de dar à Justiça elementos de convicção, para a solução das variadas questões dos ramos
do conhecimento humano. A perícia hoje não é igual à de ontem, nem será igual à de amanhã. O papel de ár-
bitro e perito, levando à decisões e sanando as dúvidas na sociedade e na justiça é que dão à Medicina Legal
extensão e dela se espera pronunciamentos claros, comprovados e inegáveis.Qualquer um que opere na área
do direito, precisa reunir condições para ler, interpretar e saber rejeitar um documento falho, incompleto ou que
não traduza, com clareza e confiança a realidade do espetáculo. Tudo tem que estar fiel. Num único processo,
não raro, há mais de um laudo, em mais de uma área e todas as dificuldades periciais surgem no dia-a-dia, caso
a caso exigindo do advogado das partes, promotor público, delegado de polícia e da justiça atenção para que
não fiquem perguntas sem respostas. Considerando seu extenso campo de ação, é claro que seria pretensão
tentar esgotar o estudo acerca dessa matéria apaixonante que nos assusta inicialmente, mas que depois nos
abre uma longa cortina do tempo, demonstrando que está inexoravelmente ligada com a própria história da
humanidade.1

Documentos médico-legais: conteúdo e importância. Conceitos de identidade, de


identificação e de reconhecimento. Principais métodos de identificação

São as notificações compulsórias, relatórios, pareceres e os atestados.


NOTIFICAÇÕES COMPULSÓRIAS
Definição: São comunicações obrigatórias feitas pelo médico às autoridades competentes, por razões so-
ciais ou sanitárias.
É indispensável para o planejamento da saúde; definição de prioridades de intervenção; avaliação
do impacto das intervenções.
Relatório feito por determinados órgãos por motivo social ou de saúde pública.
- Ex.: HIV. Essa notificação permite planejamento em saúde.
- Ex.: surtos de febre amarela. Permite montar um esquema para intervir.
Essa notificação também permite avaliar se a ação realizada ajudou no efeito ou não. Geralmente são tra-
tadas no centro de saúde.
Será que está quebrando sigilo fazendo essa notificação? Todos que tem contato com essa notificação tem
direito de sigilo, mas a população tem que saber o que está acontecendo para se prevenir. O sigilo é sobre os
dados das pessoas. Não configuram quebra de sigilo profissional, assim como os relatórios periciais, porque
prevalece o interesse público ou o dever legal.
E se deixar de notificar? Todos os médicos, enfermeiros, diretores, etc, são obrigados a notificar.
O que não pode ser passado para a população são informações pessoais da pessoa contaminada.
Quem pode notificar é o médico. A enfermeira tem o dever se o médico não notificar.
Falta de notificação – artigo 269 CP – onde ela é obrigatória é crime. Só vale para o médico, os outros não.
1 Fonte: www.mackenzie.br – Por Irene Batista Muakad

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


4
Situações que envolvem notificação:
1.Doenças, agravos e eventos em saúde pública constantes da portaria n 104 de 25.01.2011 do ministério
da saúde.
2.Crime de ação penal pública incondicionada cujo conhecimento se deu em função do exercício da medi-
cina.
3.Comunicação de lesão ou morte causada por atuação de não médico.
4.Esterilizações cirúrgicas.
5.Diagnóstico de morte encefálica, independentemente se for autorização da família para a doação de ór-
gãos.
Crime de ação penal pública incondicionada cujo conhecimento se deu em função do exercício da medici-
na: Ex.: aborto, estou em um pronto socorre chega uma mulher morrendo com infecção generalizada, pensa
na possibilidade da infecção decorrer de aborto, uma forma utilizada para o aborto tem uma planta que passa
pelo colo do útero e mansa a mulher para casa aquilo vai absorvido água e vai dilatando o colo do útero, só vai
quando não consegue mais reagir. Se percebe que foi um aborto provocado se colocar isso no prontuário está
incriminando o paciente, tem obrigação legal.
Ex.: uma moça com câncer de colo de útero pequeno a chance de curo é altíssima, na época tinha uma
vacina contra o câncer, a mulher foi tomar as vacinas retorna duas semanas depois com infecção generalizada
e morre, mas não pelo câncer.
Se pega um caso de aborto provocado e fala que foi em uma aborteira, fala que tem algumas lesões.
Esterilizações cirúrgicas. – método definitivo, ligadura de trompa e etc.
É de notificação compulsória o diagnóstico de morte encefálica. O médico diz que ela está morta e
pode captar os órgãos, desencadeia a possibilidade da captação de órgãos desde que a família concor-
de.
Diagnóstico de morte encefálica, independentemente se for autorização da família para a doação de órgãos.
Informado a central de notificação, capitação e distribuição de órgãos.
A central de notificação capitação e distribuição de órgãos que deve ser informado.
Art. 269, CP Deixar o médico de denunciar à autoridade pública doença cuja notificação é compulsória:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
Envenenamento de água potável ou de substância alimentícia ou medicinal
Nesse caso só incide sobre o médico. O que está destacado na portaria 104 do ministério da saúde.
RELATÓRIO MÉDICO-LEGAL
Definição: Narração detalhada da perícia, com emissão de juízo valorativo. Quando redigido pelo perito é
chamado de laudo, e quando ditado ao escrivão, de auto.
Sete partes:
1.Preambulo: Introdução, na qual consta a qualificação da autoridade solicitante, dos peritos, do diretor que
solicitou, examinado, além de local, data, hora e tipo de perícia. Aqui o Art. 159, parágrafo 3º, CPP dá os que-
sitos das partes
Art. 159. O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por perito oficial, portador de diploma
de curso superior.
§ 3o Serão facultadas ao Ministério Público, ao assistente de acusação, ao ofendido, ao querelante
e ao acusado a formulação de quesitos e indicação de assistente técnico.
2.Quesitos: perguntas sobre fatos relevantes que originaram o processo penal, oficiais e padronizadas em
impressos utilizados pelas instituições médico-legais de cada Estado. Nas perícias psiquiátricas e exumações
não existe padronização.

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


5
3.Histórico ou comemorativo: breve relato dos fatos ocorridos por informação da vítima ou indiciado, ou dos
dados da guia de remoção do cadáver.
4.Descrição: Principal parte do laudo, perito descreve, minuciosamente, aquilo que encontrou no exame.
(lesões – descrever de uma maneira que qualquer um que ler visualize essas lesões, até porque, ele é o único
que vê – visam et repertum – parte principal do relatório)
5.Discussão: lesões são analisadas cientificamente e comparadas com os dados do histórico, dando origem
à formulação de hipót4eses a respeito da mecânica do crime. (tudo que ele quiser falar)
6.Conclusão: tomada de postura quanto a ocorrência ou não do fato (tem que ser objetivo – ex.: houve con-
junção carnal.)
7.Resposta aos quesitos: finalidade estabelecer a existência de um fato típico sem deixar dúvidas. Deve res-
ponder de forma sucinta e objetiva. (ex.: quesito prejudicado – falta de elementos significantes e conclusivos).
PARECER MÉDICO-LEGAL
Definição: Documento utilizado para dirimir divergências na interpretação dos achados de uma perícia, sen-
do solicitado a uma pessoa de renome. É dado sobre o relatório médico-legal e, por isso, constam apenas
quatro partes:
1.Preâmbulo: qualificação do solicitant4e e do parecerista.
2.Exposição dos motivos: breve relato dos quesitos formulados e histórico.
3.Discussão: parecerista demonstra sua competência na matéria.
4.Conclusão: síntese clara dos pontos relevantes para discussão.
Prazo: fixado em audiência.
Assistente técnico faz parecer, peritos oficiais fazem laudos.
Não comporta descrição das lesões.
ATESTADO MÉDICO
Definição: É a afinação pura e simples, por escrito, deforma singela, resumida e objetiva de um fato médico
e suas consequências, ou de um estado de sanidade.
Emissão: Pode ser emitido no próprio receituário ou em papel timbrado
Objetivo: após exame do paciente, informar um estado de sanidade ou de doença, anterior ou atual, para fins
de licença, dispensa ou justificativa de faltas, ente outros, diferentemente do laudo pericial que exige detalham
entorno dos achados.
É parte integrante do ato médico, sendo seu fornecimento direito inalienável do paciente.
O atestado pode ser:
- Oficioso: que é aquele fornecedor gratuitamente, quando vai ao médico e constata alguma patologia e
atesta dizendo o tempo necessário de afastamento. A falsidade está no que ele fala que a pessoa tem, omite
ou emite o atestado sem examinar. Solicitado para atender a interesses particulares.
- Administrativo: atestado de vacinação são administrativos, se viajar para algum lugar onde ocorre febre
amarelo exigem atestado de vacinação, atestados em concurso. Exigidos por autoridade administrativas para
funcionários públicos, nos casos de concessão de licença, de aposentadoria, para atestar vacinação antivarió-
lica e para atestar sanidade física e menta, nas admissões em escolas e repartições públicas.
- Judiciário: aquele que é solicitado pelo juiz para abono de falta de jurado. Requisitado pelo juiz, mais co-
mum ente, para justificar falta de jurado.
Compromisso: Não exige compromisso legal, mas não significa que o médico não esteja obrigado a relatar
a verdade (artigo 302 do CP).
Falsidade: O atestado é falso quando afirmar uma inverdade, negar ou omitir uma verdade, ou se for emitido
sem exame do paciente. A falsidade do atestado médico é ideológica, afetando seu conteúdo. O fim a que se
propõe não tem imortal ia para sua antijuridicidade.

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


6
Se tiver como consequência um tempo de repouso ou de afastamento do trabalho, deve o profissional espe-
cificar o tempo concedido de dispensa à atividade, necessário para a recuperação do paciente.
Presunção de verdade: O atestado médico goza de presunção de veracidade, devendo ser acatado por
quem de direito, salvo se houver divergência de entendimento por médico da instituição ou perito.
Valor Probatório: Os relatórios e os atestados, como documentos médico-legais, têm o mesmo valor proban-
te, diferenciando-se por versarem sobre assuntos diferentes.
Sigilo: O médico sofre restrições decorrentes do dever de sigilo, a presença do diagnostico no corpo do
atestado, seja de forma escrita ou pela sua sigla na CID-10, pressupõe consentimento expresso do paciente,
justa causa ou dever legal. Essas restrições estendem-se à revelação de informações confidenciais quando do
exame médico de trabalhadores, inclusive por exigência dos próprios dirigentes de empresas ou de instituições,
salvo se o silêncio puser em risco a saúde dos empregados ou da comunidade (art. 76 do CEM).
Dessa forma, constatada a aptidão, o diagnóstico de gravidez de uma candidata só poderá constar do ates-
tado se houver consentimento da mesma. Por outro lado, se o cargo pleiteado trouxer riscos à gestação, a
colocação de tal diagnóstico será por justa causa, independendo da anuência da candidata.
ATESTADO DE ÓBITO
Definição: São os dados de ordem médica constantes do bloco IV da Declaração de Óbito (DO), que é o
documento-base do Sistema de Informações sobre Mortalidade do Ministério da Saúde (SIM/MS).
É composta de três vias sendo fornecida pelo Ministério da Saúde e distribuída pelas Secretarias
Estaduais e Municipais de saúde.
Função: Tem as funções de:
- Marcar o fim da pessoa natural (função legal)
- Conhecer a situação de saúde da população por meio dos dados de óbitos
- Gerar ações, com base nesses dados, visando à melhoria das condições de saúde
- Fornecer dados para as estatísticas de mortalidade.
É indispensável para assentamento do óbito no cartório de registros civil (art. 77, Lei 6.015/1973), que retém
uma das vias.

Morte natural Morte violenta Morte suspeita


É a que ocorre por doença É a decorrente de energias É a morte inesperada, sem
ou envelhecimento. externas: crime, suicídio ou sinais de violência, mas que
acidente, inclusive acidente de ocorreu em condições estra-
trabalho. nhas.
Perda fetal precoce Perda fetal intermediária Perda fetal tardia
Menos de 20 semanas de Mais de 28 semanas de gesta-
20 a 28 semanas de gestação
gestação ção
Feto com peso inferior a Feto com peso entre 500 a 1.000 Feto com peso superior a 1.000
500 gramas gramas gramas;
Feto com estatura abaixo Feto com estatura entre 25 e 35 Feto com estatura acima de 35
de 25 centímetros. centímetros centímetros
A família recebe a Certidão de Óbito necessária ao sepultamento ou cremação.
Quem pode atestar o óbito e assinar o DO? De acordo com o artigo 77, Lei 6015:
Nenhum sepultamento será feito sem certidão, do oficial de registro do lugar do falecimento, extraída após
a lavratura do assento de óbito, em vista do atestado de médico, se houver no lugar, ou em caso contrário, de
duas pessoas qualificadas que tiverem presenciado ou verificado a morte.

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


7
Mortes naturais: o médico assistente está obrigado a assinar o atestado de óbito, mas se na localidade ine-
xistirem médicos, o atestado pode ser assinado por qualquer pessoa qualificada (enfermeira, dentista, biólogo,
médico veterinário, parteira).
Causa mal definida ou indeterminada: Se não sei do que a pessoa morreu coloca causa mal definida. Pode
ser que na autópsia também não se encontre a causa da morte e é colocada como causa indeterminada.
Muitas vezes tem material dessa pessoa que é guardo, sangue, tecido, porque pode ser que a causa da
morte não consiga detectar e aí depois de um tempo consegue dar diagnóstico daquele caso.
Dependendo das condições em que ocorre, considera-se:
Médico obrigado a atestar o óbito:
ØMorte natural
Médico impedido de atestar o óbito (= autópsia).
Morte por causa natural com assistência médica: médico que prestava assistência médica.
ØMorte natural (SVO - serviço de verificação de óbito)
- sem assistência já chega no hospital morto, sem diagnóstico ficou internado, mas não chegou no diagnós-
tico (menos de 24 horas de internação)
--Como não há suspeita de violência a família pode se negar, o médico não tem diagnóstico ele coloca como
mal definida, a família se nega a permitir a autópsia e o diretor clínico vai atrás do juiz para suprir essa autori-
zação.
---Essa autópsia é importante, pois as vezes envolve interesse público.
---Que não tenha dado assistência;
---Sem diagnóstico da causa mortis, mesmo após internação por curto período, isto é, menos de 24 horas.
- Sem diagnóstico (menos de 24 horas de internação)
ØMorte violenta ou suspeita (IML): morte violenta aquela que decorre de crime, suicido, acidente, acidente
de trabalho também, aquele vizinho que caiu em casa e quebrou, tem uma pneumonia e morre o médico estou
impedido de atestar o óbito porque a queda é um acidente.Nestes casos, há necessidade de autópsia, sendo o
atestado fornecido pelo médico que a realizar.
Nas mortes violentas ou suspeitas, a autópsia é obrigatória, sendo realizada no Instituto Médico Legal (IML).
Havendo nexo causal entre a morte e a violência, mesmo que a morte ocorra tardiamente em relação ao
momento do fato, o corpo deve ser encaminhado ao IML para autópsia.
Nos casos de morte natural de causa mal definida, a autópsia será feita pelo Serviço de Verificação de Óbito
(SVO), pertencente ao Serviço de Anatomia Patológica do hospital. Entretanto, como a família pode opor-se, já
que esta autópsia não é compulsória, resta, nesses casos, recorrer ao suprimento judicial.
- Acidentes
- Crimes
- Suspeita: inesperada, em condições estranhas mas sem sinal de violência
--Cara vem se hospedar no hotel, quando entram no quarto está caído no banheiro, tem arranhão justificado
pela queda, é uma morte inesperada em condições estranhas, mas sem sinal de violência. Pessoa que chega
com dor no peito, e faz um eletrocardiograma e morre, se enquadra como morte suspeita de repente encontra
uma ossada, um cadáver é morte suspeita, encontra morto dentro de casa em avançado estado de putrefação,
morte suspeita tem que saber o que aconteceu.
- Quem atesta o óbito é o médico que faz a autópsia.
- Localidades sem SVO.
-- D.O. emitida por médicos do serviço público de saúde mais próximo do local onde ocorreu o evento e, na
sua ausência, por qualquer médico da localidade.

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


8
- Localidade sem IML
-- D.O. emitida por qualquer médico da localidade, ou outro profissional investido pela autoridade judicial ou
policial. (NOMEADO).
- Localidade sem médico
-- Emissão de 3 vias da D.O. deverá ser solicitada ao Cartório do Registro Civil de Referência, pelo respon-
sável pelo falecido, acompanhado de duas testemunhas, em conformidade com os fluxo acordados com as
corregedorias de Justiça local.
- D.O. com duas causas da morte
-- Pode ocorrer, se leva tiro em 2 locais fatais, por exemplo.
-- As vezes se encontra duas lesões mortais. Se pega uma perfuração no tórax e no abdômen, o que matou
foi a última, porque já sangrou demais na primeira. Ou coloca as duas ou coloca que a última lesão foi aquela.
-- O atestado de óbito pode conter duas causas da morte quando, diante de duas lesões possivelmente mor-
tais, não se consegue determinar qual delas desencadeou a morte, seja por terem a mesma intensidade, seja
por ser impossível saber qual delas ocorreu primeiro.
- Identidade do cadáver desconhecida
-- Faz a ficha datiloscópica.
-- Foto, digital (registro civil para comparar)
- Óbito de recém-nascido.
-- Nasceu vivo: registra-se o nascimento e morte. Art. 53, §2º, Lei 6015
-- Nasce morte: registro no livro “C Auxiliar”, com elementos que couberem. Art. 53, §1º, Lei 6015.
---Médico desobrigado, quando abaixo de 20 semanas ou peso corporal inferior a 500g, e/ou estatura igual
ou superior a 25 centímetros.
-- Não é obrigado a registrar se estiver em tamanha composição que não é possível reconhecer.
-- Quando se tratar de óbito de recém-nascido, se nascido vivo, o médico está obrigado a fornecer o atestado
de óbito. Registra-se o nascimento e o óbito sempre, independentemente do tempo de gestação e das carac-
terísticas do feto.
-- O art. 53, caput, e §1º da Lei nº 6.015/1973, determina que o registro do óbito deve ser feito mesmo que a
criança nasça morta, sendo esse o procedimento ideal, inclusive porque as estatísticas oficiais são feitas com
base na via da Declaração de Óbito que é encaminhada para a Secretaria Municipal de Saúde.
-- Entretanto, se o tempo de gestação for pequeno e se o fato morto ficou dias retido no útero materno, ao
nascer já estará em processo destrutivo e muitas vezes não individualizado.
-- Neste caso, temos três regras.
--- A regra antiga, preconizada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), considerava inicialmente o tem-
po gestacional, mas foi complementada com o peso e estatura do feto porque muitas vezes essas característi-
cas fetais não condiziam com o tempo alegado pela gestante.
A obrigatoriedade de atestar o óbito e leva-lo a registro recairia apenas sobre as perdas fetais tardias.
- As perdas intermediárias e precoces seriam consideradas aborto, ficando o médico desobrigado a fornecer
o atestado de óbito.
- Havendo obrigatoriedade, o corpo é considerado cadáver e tem de ser enterrado ou cremado. Nos demais
casos, como não podem ser tratados como lixo comum, devem ser incinerados.
- A regra com base na Classificação Internacional das Doenças (CID-10), que substituiu a anterior, conside-
rado período perinatal:
-- A partir de 22 semanas de gestação;
--Fato com 500 gramas ou mais de peso;

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


9
-- Feto com estatura acima de 16,5 centímetros (medida craniocaudal de feto até 20 a 22 semanas de ges-
tação, tirada da cabeça até o cóccix em virtude de os membros interiores estarem em flexão).
-Abaixo disso, seria aborto, não necessitando atestado de óbito.
- Em outras palavras, se o feto nascer com peso, estatura e tempo de gestação que permitiriam sua sobre-
vivência se nascido vivo, é considerado natimorto e o médico está obrigado a atestar o óbito.
- A mudança de parâmetros se deveu à evolução tecnológica, que tornou possível a sobrevivência de fetos
prematuros cada vez menores, dependendo dos recursos disponíveis na localidade.
- Nesses casos, o médico não está impedido de dar o atestado de óbito, mas desobrigado, podendo e de-
vendo fornecê-lo sempre que possível.
- Aditam-se, atualmente, os parâmetros constantes da Resolução da Diretoria Colegiada – RDC Nº 306, de
07 de dezembro de 2004 (ANVISA)
- Uma coisa é a criação que nasce viva e morre.
- Nasceu viva e morreu a seguir, manifestou vida de alguma maneira, respirou, registra-se sempre nascimen-
to e morte, quando nasce com vida adquiriu direitos, e depois transmitiu. Não importa o tamanho nem o tempo
gestação nalgum.
- Se nasceu morta, uma criança que já está bem formada, mesmo que leve dias para o organismo expulsar
e mesmo que esteja em decomposição, o grande problema é quando é uma gravidez de pouco tempo, uma
gravidez de 4 meses por exemplo, faz o ultrassom e está morto, pode aguardar um prazo para o organismo
eliminar se for expulso dali uns 3 ou 4 dias o organismo expeli, na hora que nasce não consegue identificar que
era uma criança, não tem como dar atestado de óbito.
- Tem alguns critérios onde o médico era obrigado a dar o óbito, e outros critérios onde ele era desobrigado
(não quer dizer impedido) de dar o atestado de óbito.
- Em princípio se o fato nasceu de uma gestação de 20 semanas ou mais, peso de 500g ou mais, estatura de
25cm ou mais, se ele tivesse nascido vivo já teria condições de sobreviver dentro da tecnologia. Se ele nascer
morto o médico é obrigado a atestar o óbito mesmo que nasça morto, abaixo disso o médico está desobrigado.
- Artigo 53 da lei 6.015 diz que o médico é obrigado a atestar o óbito e levar em registro em cartório mesmo
que a criança nasça morta.
- Quando o médico está desobrigado é encorado como produto de aborto e o médico pode incinerar.
- Se a família não pede, pode incinerar os fetos.2
IDENTIDADE PESSOAL E A IDENTIFICAÇÃO
Faz-se necessário diferenciar Identidade, Identificação e Reconhecimento. A identidade, de forma objetiva,
é aquela que permite afirmar que determinada pessoa é ela mesma por meio de elementos positivos e mais ou
menos perenes que a distingue das demais. A identificação é o processo pelo qual se determina a identidade de
uma pessoa, enquanto o reconhecimento significa apenas o ato de certificar-se, é a afirmação laica, de parente
ou conhecido, sobre alguém que se diz conhecer ou de sua convivência. A identificação pode ser baseada na
comparação entre características conhecidas de um indivíduo (dados ante mortem) com características desco-
bertas de um corpo desconhecido (dados post mortem).
Dispõem o artigo 5.º, inciso LVIII da CRBF/1988 que:
“o civilmente identificado não será submetido a identificação criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei.”
Na Constituição Federal o art. 5º, inciso LVIII é regulamentado pela lei n.º 12.037, de 1.º de outubro de 2009
que dispõe sobre a identificação criminal do civilmente identificado diante de tais normas é certo que existem
regras para que haja a identificação de determinadas pessoas em sede policial, ou seja, o civilmente identifi-
cado aquele que possui um mero registro civil capaz de identifica-lo de forma inquestionável perante ao seu
registro de nascimento assentado junto ao sistema de identificação estatal não poderá ser identificado de forma
criminal, pois existe uma garantia constitucional fundamental que veda o abuso estatal em face da preservação
da dignidade humana em tela.

2 Fonte: www.estudandodireito123.blogspot.com

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


10
Anteriormente ao advento da CRFB/88 o STF através da súmula 568 entendia que não havia constrangi-
mento ilegal caso houve uma identificação civil previamente identificando aquele indivíduo submetido ao proce-
dimento identificador, porém em 05.10.1988 com a promulgação da Constituição Federal em vigência em nosso
ordenamento jurídico como documento máximo o asseguramento dos direitos foi assegurado como referência
máxima e a inviolabilidade ao direito foi consagrado de forma expressa. Diante disto a súmula 568 do STF esta
superada com o seguinte texto:
“A IDENTIFICAÇÃO CRIMINAL NÃO CONSTITUI CONSTRANGIMENTO ILEGAL, AINDA QUE O INDICIA-
DO JÁ TENHA SIDO IDENTIFICADO CIVILMENTE.”
Obviamente, que se o agente prontamente se identificar com um dos documentos abaixo:
I – carteira de identidade;
II – carteira de trabalho;
III – carteira profissional;
IV – passaporte;
V – carteira de identificação funcional;
VI – outro documento público que permita a identificação do indiciado.
Estará amplamente protegido pelo artigo 2º da lei 12.037/2009 o que impedirá por força legal que o agente
público de segurança não poderá submetê-lo ao processo de identificação criminal, logicamente, a regra dis-
posta no artigo 2.º da referida lei não comporta o caráter absoluto para que não ocorra o processo de identifica-
ção criminal, pois tais documentos elencados no rol taxativo da “lei de Identificação” podem apresentar dúvidas
onde pelo princípio da obrigatoriedade o agente público possui o dever de sanar de forma legal para confirmar
a validade plena ou a invalidade daquele documento duvidoso.
Na referida lei em seu artigo 3.º fica evidente que o caráter do artigo 2.º não é absoluto, muito menos quando
conjugado com o artigo 5.º, inciso LVIII da CF, pois o agente público poderá identificar o agente “identificado
civilmente” quando:
I – o documento apresentar rasura ou tiver indício de falsificação;
II – o documento apresentado for insuficiente para identificar cabalmente o indiciado;
III – o indiciado portar documentos de identidade distintos, com informações conflitantes entre si;
IV – a identificação criminal for essencial às investigações policiais, segundo despacho da autoridade judici-
ária competente, que decidirá de ofício ou mediante representação da autoridade policial, do Ministério Público
ou da defesa;
V – constar de registros policiais o uso de outros nomes ou diferentes qualificações;
VI – o estado de conservação ou a distância temporal ou da localidade da expedição do documento apresen-
tado impossibilite a completa identificação dos caracteres essenciais.
Além de que as cópias dos documentos apresentados pelo indivíduo submetido ao processo de identificação
criminal deverão ser juntadas nos autos do processo investigatório ou criminal, afim de justificar os meios e os
fins utilizados no procedimento de identificação bem como as justificativas que embasaram os agentes na des-
confiança do documento inicialmente apresentado a autoridade. Logicamente, tais documentos na iminência de
dúvida quanto à sua validade ou formas de identificação de veracidade deverão ser confrontados em bases de
dados e apreendidos para exames periciais e até mesmo para o futuro enquadramento do indivíduo em crimes
de falsificação e/ou uso de documento público.
Não restam dúvidas que se o documento apresentar dúvida de veracidade e validade quanto a identificação
do agente constitui a necessidade do exame de corpo de delito pois configura materialidade – é um fato não
transeunte que necessita da prova técnica para efetiva confirmação da falsificação, salvo se for grosseira cuja
a verificação é imediata.
A identidade de determinado indivíduo nada mais é do que o conjunto de propriedades particulares que o
individualizam perante a sociedade, é uma qualidade de ser sempre o mesmo, podendo a identidade de um in-
divíduo ser: (i) subjetiva: referente a consciência individual ou (ii) objetiva: conjunto de características físicas. O

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


11
processo de identificação de um homem segundo a Medicina Legal esta elencada dentro do tem: Antropologia
Forense, que é o estudo da identidade e identificação podendo ser dividida a identificação em (i) médica-legal
ou (ii) judiciária.
Esta é dada pelo conjunto fisiológico e biológico de determinado homem, aquela é configurada por dados,
antropometria e datiloscopia.
A identificação não se confunde com identidade, pois todos possuem uma identidade personalíssima com
uma identificação comum, ou seja, enquanto a identidade é característica própria a identificação é a forma de
determinação que pode ser um conjunto de técnicas, métodos e sistemas para determinar a identidade de al-
guém que precisa ser identificado. Toda identificação se faz por meios que provam quem é aquela pessoa que
esta a ser identificada, podendo ser o ser humano vivo ou morto.
A IDENTIFICAÇÃO COMO TÉCNICA:
O ato de identificar é determinar quem é quem, porém não é um meio engessado e único é uma ciência
multidisciplinar e dinâmica, pois pode ser:
IDENTIFICAÇÃO MÉDICA-LEGAL ou IDENTIFICAÇÃO POLICIAL/JUDICIAL
A primeira é realizada através de conhecimento técnicos com a aplicação da medicina, a segunda é realiza-
da através de confronto de dados e estatísticas. Quando realizada através da medicina busca-se raça, sexo,
idade e estigmas, quando realizada de forma policial ou judicial não há a rigorosidade do conhecimento médico,
pode ser realizada pela impressão digital do indivíduo buscando um retrocesso pregresso daquele indivíduo
frente à sua situação com o Estado.
Quando se fala em identificação médica busca-se três características no avaliando: físicas, funcionais e psí-
quicas. Nas físicas: preocupa-se com o caráter biológico e fisiológico, as funcionais: pelas características como
voz, escritas, caminhar e outras e por fim as psíquicas: busca traços interiores inerentes aquele indivíduo em
específico.
Nas identificações policiais e/ou judiciais utiliza-se a fotografia, antropometria, datiloscopia e descritivos
dados informativos e qualitativos, hoje ainda se utilizam dois métodos o de Bertillon que consiste na medida
do homem que se complementa pela fotografia e a outra de Vucetich que consiste no estudo dos desenhos
individuais das impressões digitais.
Os meios de identificação no nosso ordenamento jurídico tiveram grandes alterações e considerações legis-
lativas, iniciando-se pelas leis 5.553/68 alterada pela lei 9.453/97, 12.037/2009 e 9.455/97.
A IDENTIFICAÇÃO E O CONSTRANGIMENTO:
Apesar de ser um método invasivo quando necessário é não saudável para ninguém em caso de dúvida ser
conduzido muitas vezes embaixo de vara a uma delegacia de polícia para melhor identificação, o simples meio
é constrangedor por sí só, porém algo necessário para que o próprio agente público não cometa o equívoco de
liberar alguém que se mascara por trás de um documento inválido ou duvidoso.
Logicamente na lei 12.037/2009 não encontramos em seu texto legal qualquer sanção administrativa, cível
ou penal ao agente que submete o indivíduo a identificação desnecessária, mas nada impede de que se pro-
cesse por outras vias um eventual abuso de autoridade ou outra sanção a cargo da instituição que o agente
pertencer, porém deve-se ter em mente o princípio da supremacia do interesse público sobrevém ao interesse
particular e o próprio caput do artigo 4.º da lei 12.037/2009 permite que o agente proceda aos meios necessá-
rios para prover a identificação, desde que não seja constrangedor ao averiguado.
O ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO E A IDENTIFICAÇÃO CRIMINAL:
Apesar da existência da uma identidade civil, a autoridade tem o dever de checar a validade daquela infor-
mação, pois esta agindo sobre o manto do princípio da legalidade – tal atitude dá segurança não só à socieda-
de, mas também à autoridade no cumprimento de suas atribuições.
O ato de identificar é lícito, mas a forma como se identifica as vezes ocorre com desvio de finalidade e abuso
de poder do próprio agente identificador, sendo vedado mencionar a identificação criminal em eventuais certi-
dões e/ou atestados de antecedentes ou em informações não judiciais, sob a ótica da violação do princípio da
presunção de inocência antes do trânsito em julgado de sentenças condenatórias.

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


12
O que a CRFB/1988 veda é a identificação criminal quando há a identificação civil, porém, nada restringe
quanto a identificação civil, o que se exemplifica pela verificação do indivíduo através de sua identificação para
cumprir requisitos obrigatório em detrimento de determinadas regras, não há o que se falar em constrangimento
ilegal e/ou inconstitucionalidade do artigo 5.º, LVIII – pois a medida não visa saber quem é o indivíduo tão so-
mente visa o impedimento de fraude quanto à pessoa.
Ainda temos muito que evoluir em tema relacionados a identificação criminal, pois há quem defenda a viola-
ção à integridade física, à dignidade da pessoa humana entre outros direitos fundamentais, mas às vezes é um
meio necessário para que não se incorra em dúvidas ou em excessos pois a identificação criminal por sí só é
uma intervenção corporal no indivíduo, portanto o Estado deve garantir que esta coação direta não se mostre
abusiva e traga a certeza da finalidade que se busca.
A simples identificação criminal justificável não viola a incolumidade física do averiguado, pois não ocorre um
meio agressivo a dignidade ou exposição midiática daquela identificação, assim sendo meio legal e prudente do
Estado de direito quando realizada de forma justificável e legal.3
Métodos de Identificação
A realização dos processos de Identificação Humana é imprescindível na Ciência Forense, por razões legais
e humanitárias, sendo com bastante frequência iniciada antes mesmo de se determinar a causa da morte. Mui-
tos indivíduos são vítimas de homicídios ou encontram-se desaparecidos e a investigação desses casos depen-
de primeiramente da correta identificação. Assim, o processo de identificação passou a ser considerado parte
essencial da autópsia forense. Métodos rotineiros incluem reconhecimento visual de vestimentas, de objetos
pessoais e de impressões digitais, análises de DNA, bem como investigação médica, esquelética, sorológica,
de cabelos e dentes, peculiaridades morfológicas da dentição entre outros.
A identificação forense do vivo ou falecido pode ser um trabalho árduo, mas é abrangente, envolvendo os
esforços coordenados de uma equipe multidisciplinar, empregando diversas técnicas e métodos acessórios. Os
meios de identificação primários e mais confiáveis são a análise de impressões digitais, a análise odontológica
comparativa e estudo do perfil de DNA. Os meios secundários de identificação incluem a descrição pessoal,
os dados médicos, assim como as evidências e roupas encontradas no corpo. Estes servem para reforçar a
identificação estabelecida por outros meios, e geralmente por si só não são suficientes para certificá-la.
Quanto à escolha do método de identificação humana, deve sempre prevalecer o bom senso investigativo. O
importante a considerar nesse momento é o estado do cadáver (putrefeito? carbonizado? esqueletizado? mu-
mificado?) e o custo, a praticidade e a viabilidade do método possível. Os principais métodos de identificação
humana possuem vantagens e limitações, dependendo do caso, eles podem se complementar ou reforçar um
ao outro. No entanto, todos os métodos de identificação, isolados ou combinados entre si, têm o objetivo de,
através dos dados obtidos e devidamente tabulados, viabilizar o processo de identificação. O objetivo é tão só
a busca da verdade real.

Odontologia Legal
Um dentista forense carrega uma responsabilidade considerável, uma vez que, com frequência, sua opinião
científica faz-se necessária quando todos os outros caminhos de identificação se esgotaram. Em muitos casos,
os dentes são os únicos restos humanos preservados, representando o único meio de identificação, e nesse
caso, o processo final pode depender da correspondência odontológica específica dos dados dentários ante
mortem e post mortem.
As estruturas e traços únicos dos dentes humanos e maxilares prontamente se prestam para a identificação
de vítimas vivas ou falecidas. Os dados odontológicos podem ser recuperados e registrados no momento do
exame post mortem e comparados aos dados ante mortem fornecidos por dentistas generalistas e / ou espe-
cialistas que trataram a vítima durante a vida. Os dentes estão bem protegidos na cavidade oral e são capazes
de suportar muitas influências externas, próximas ou algum tempo após a morte, mantendo as características
dentárias acessíveis, tais como aquelas oriundas de procedimentos odontológicos, como coroas restaurativas
e estéticas, tratamentos de canal radicular e próteses dentárias, todas feitas sob medida para cada indivíduo,
além de traços anatômicos e morfológicos quando não houve o tratamento, mas que também servem para
comparação com a finalidade de identificação.
3Fonte: www.thiagochiminazzo.jusbrasil.com.br

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


13
Além de oferecer meios de comparação para o processo investigativo, a cavidade oral é uma fonte rica e
não-invasiva de DNA, podendo ser usada para identificação de indivíduos através da comparação genética.

Necropapiloscopia
O termo papiloscopia é relativo à “papila” e, erroneamente, se refere às estruturas responsáveis pela for-
mação dos desenhos característicos nas superfícies palmares e plantares. Essas estruturas, corretamente
denominadas de cristas de fricção, estão presentes na superfície da pele e são formadas por dobras de tecido
epitelial. A datiloscopia aplicada para a identificação post mortem é denominada no Brasil de necropapiloscopia.
Em 1903, o sistema Vucetich, baseado na Ciência Papiloscópica, ou seja, a partir da coleta, classificação e
confronto de impressões digitais, é adotado no Brasil, constituindo-se no método mais barato, seguro e prático
de identificação humana reconhecido pela legislação brasileira.
Os bancos de dados periciais civis e criminais dispensam a apresentação de padrões de comparação por
terceiros, já que o registro padrão encontra-se arquivado e disponível. Assim, a partir de algoritmos formados
pela disposição dos pontos característicos de cada impressão e da identificação das regiões do delta e do nú-
cleo, tornou-se possível a pesquisa de forma automatizada por padrões papiloscópicos.
Esse método de identificação pode ser aplicado buscando a identificação de corpos cadavéricos nas mais
variadas fases dos fenômenos transformativos, sejam destrutivos, como autólise, putrefação e maceração ou
conservadores, como saponificação, mumificação, corificação e petrificação. Cada vez mais a necropapilosco-
pia tem ganhado importância, pois traz resultados positivos e conclusivos de forma mais célere, sendo, portan-
to, um eficiente método primário de identificação, inclusive nos acidentes de massa.

Análise de DNA
A revolução causada em 1953 por Watson e Crick, que descobriram a estrutura de dupla hélice do DNA,
levou a mudanças importantes em quase todos os campos da ciência. Esta descoberta foi a base para o de-
senvolvimento de técnicas que permitem caracterizar a individualidade de cada pessoa com base na sequência
de DNA.
A análise do DNA é única na sua habilidade de fornecer informações de identidade a partir de qualquer tipo
de tecido, como tecido ósseo, bulbo capilar, amostra de biópsia, saliva, sangue e outros, podendo variar em
quantidade e qualidade do DNA extraído de cada tecido.
Este método requer uma amostra ou fonte, podendo utilizar-se perfis de familiares ou amostras extraídas da
própria vítima ou de seus objetos de uso pessoal; trata-se do único método de identificação primário indepen-
dente da comparação direta (impressões digitais e arquivos dentais).
As técnicas de análise de DNA também podem ser usadas em combinação com outros métodos utilizados
na identificação de vítimas, sendo essa associação crucial em acidentes em que a fragmentação corpórea é
severa.4

Perícia médico-legal: perícias médico-legais,perícia, peritos

Perito
É o auxiliar da justiça, cuja função é fornecer ao juiz dados instrutórios, de ordem técnica, realizando a veri-
ficação e a formação do exame do corpo de delito.
São profissionais com conhecimentos técnico-científicos em áreas do saber humano, os quais fornecem
informações técnicas sobre determinado assunto em um caso concreto e procedem a exames em pessoas ou
coisas.
Os peritos atuam na fase de inquérito policial ou processo judicial, sendo considerados auxiliares da Justiça.

4 Fonte: www.perspectivas.med.br

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


14
A Lei 12.030/2009 considera peritos de natureza criminal os médico-legistas, peritos odontologistas e peritos
criminais, sendo importante frisar que, embora sejam requisitados pelo Delegado de Polícia ou pelo Juiz para
procederem a determinados exames, as autoridades requisitantes não possuem ingerência sobre a elaboração
do laudo, sendo garantida a autonomia técnica, científica e funcional dos peritos.
Os peritos podem ser oficiais ou não oficiais, conforme exposto abaixo:
a) Perito Oficial – É o profissional concursado e de carreira que exerce função pública. É um servidor público.
b) Perito Não Oficial / nomeado (ad hoc) – É o profissional portador de diploma superior, designado pelo
Delegado de Polícia ou Juiz para realização de perícia, os quais prestam compromisso para desempenhar o
encargo.
ATENÇÃO:
Para a realização da perícia por perito não oficial, será exigido legalmente a participação de 2 (dois) peritos
idôneos, portadores de diploma de curso superior preferencialmente na área específica, os quais prestarão o
compromisso com a verdade. (art. 159, §1º, do Código de Processo Penal)
Art. 159. O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por perito oficial, portador de diploma
de curso superior.
§1º Na falta de perito oficial, o exame será realizado por 2 (duas) pessoas idôneas, portadoras de diploma
de curso superior preferencialmente na área específica, dentre as que tiverem habilitação técnica relacionada
com a natureza do exame.
Os peritos estão suscetíveis a responsabilização civil e administrativa, quando por dolo ou culpa, cometerem
um ato ilícito que ocasione danos a terceiros, nos termos do artigo 158, do Código de Processo Penal e art. 186,
do Código Civil, respectivamente. Vejamos:
CPC – Art. 158. O perito que, por dolo ou culpa, prestar informações inverídicas responderá pelos prejuízos
que causar à parte e ficará inabilitado para atuar em outras perícias no prazo de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, inde-
pendentemente das demais sanções previstas em lei, devendo o juiz comunicar o fato ao respectivo órgão de
classe para adoção das medidas que entender cabíveis.
CC – Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e cau-
sar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.
Os peritos também estarão suscetíveis a responsabilização penal em virtude dos seus atos praticados, nos
termos da legislação penal em vigor. Vejamos os principais crimes relacionados à atuação dos peritos, tipificado
no Código Penal:
Violação do segredo profissional
CP – Art. 154 – Revelar alguém, sem justa causa, segredo, de que tem ciência em razão de função, minis-
tério, ofício ou profissão, e cuja revelação possa produzir dano a outrem:
Pena – detenção, de três meses a um ano, ou multa.
Violação de sigilo funcional
CP – Art. 325 – Revelar fato de que tem ciência em razão do cargo e que deva permanecer em segredo, ou
facilitar-lhe a revelação:
Pena – detenção, de seis meses a dois anos, ou multa, se o fato não constitui crime mais grave.
§1º Nas mesmas penas deste artigo incorre quem:
I – permite ou facilita, mediante atribuição, fornecimento e empréstimo de senha ou qualquer outra forma, o
acesso de pessoas não autorizadas a sistemas de informações ou banco de dados da Administração Pública;
II – se utiliza, indevidamente, do acesso restrito.
§2º Se da ação ou omissão resulta dano à Administração Pública ou a outrem:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.
Falso testemunho ou falsa perícia

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


15
CP – Art. 342. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como testemunha, perito, contador, tradu-
tor ou intérprete em processo judicial, ou administrativo, inquérito policial, ou em juízo arbitral:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
ATENÇÃO:
São aplicáveis aos peritos as regras de suspeição, incompatibilidade e impedimento, conforme artigos 1125
e 2806 do Código de Processo Penal.
Perícia
É um procedimento médico, realizado através de requisição do Delegado de Polícia ou do Juiz, objetivando
esclarecer fatos de interesse da justiça, através da análise médica de vestígios.
Genival França define a perícia médico-legal com sendo “um conjunto de procedimentos médicos e técnicos
que tem como finalidade o esclarecimento de um fato de interesse da justiça.” (FRANÇA, Genival Veloso de.
Medicina legal. 10ª ed. Rio de Janeiro: GEN, 2015. p. 46.)
É importante, para fins didáticos, distinguir a perícia geral da perícia médica. A primeira é realizada por perito
criminal e recai sobre objetos ou instrumentos relacionados ao local de crime. Já a segunda é realizada pelo
perito médico-legal e recai sobre os vestígios que possuem interesse médico-legal como perícia de identifica-
ção antropológica, perícia traumatológica, tanatoscópica, etc.
São objetos da perícia:
a) Pessoas vivas: visa diagnosticar as lesões corporais e suas espécies, determinar idade, sexo, etc.
b) Mortos: visa diagnosticar a causa morte, o tempo da morte, identificar o cadáver, etc.
c) Esqueletos: visa à identificação da espécie, do sexo e do tempo da morte.
As perícias, por possuírem base científica, constituem um forte elemento de convicção judicial no processo
criminal, porém o juiz não estará vinculado aos laudos periciais, podendo rejeitá-los, conforme inteligência do
artigo 182 do Código de Processo Penal.
Art. 182. O juiz não ficará adstrito ao laudo, podendo aceitá-lo ou rejeitá-lo, no todo ou em parte.
ATENÇÃO:
A perícia pode recair sobre fatos a serem analisados tecnicamente pelo perito (perícia percipiendi), bem
como sobre outras perícias já realizadas, ou documentos (perícia deducendi).
ATENÇÃO:
A perícia também pode recair sobre análise de fatos anteriores (retrospectiva, como ex.: perfil psiquiátrico),
bem como sobre fatos futuros (prospectiva, como ex.: cessação da periculosidade).
ATENÇÃO:
A perícia também pode consistir em exames realizados na vítima, no indiciado, testemunhas ou em jurados.
Realização das perícias
Para a realização da perícia, de acordo com o artigo 161, do CPP, pode ser designado qualquer dia e horário,
de acordo com a necessidade e disponibilidade dos peritos. Ressalte-se, contudo, que o perito não pode recu-
sar a nomeação e tampouco deixar de comparecer para a realização do exame, de acordo com o que dispõe
os artigos 277 e 278 do CPP, salvo motivo justificável.
Exame necroscópico (autópsia)
É o exame realizado por peritos das partes internas de um cadáver, tendo como finalidade principal constatar
a morte e sua causa, servindo, contudo, para a verificação de outros aspectos, como por exemplo, a trajetória
do projétil e o número de ferimentos realizados, bem como os orifícios de entrada e saída dos instrumentos
utilizados.
Excepcionalmente, a autópsia pode ser dispensada, nos termos do parágrafo único do artigo 162 do CPP.

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


16
O artigo 162 do CPP determina que a autópsia deverá esperar pelo menos 6 horas para que possa ser re-
alizada, tempo este necessário para o surgimento dos sinais tanatológicos, a não ser que o perito, com base
nas evidências da morte, julgue que possa ser realizado antes daquele prazo, o que deverá constar no auto.
Outras perícias
Outras perícias vêm discriminadas nos artigos 163 a 175 do CPP. São elas:
- Exumação;
- Exame de corpo de delito em caso de lesões corporais;
- Exame de local;
- Exame laboratorial;
- Perícia furto qualificado e crimes afins;
- Laudo de avaliação;
- Exame de local de incêndio;
- Exame grafotécnico;
Exame dos instrumentos utilizados nos crimes.
Resumidamente, devemos nos lembrar que, não existe um exame de corpo de delito padrão. Como o obje-
tivo é detectar lesões causadas por qualquer ato ilegal ou criminoso, ele pode ser aplicado em diversas situa-
ções, como após uma batida de carro, em casos de agressão ou quando um detento é transferido de presídio.
O exame também é uma prova fundamental para esclarecer casos de tentativa de suicídio, homicídio e estupro.
“A vítima é analisada minuciosamente e todas as lesões encontradas são descritas com fidelidade”.
O único profissional habilitado a realizar esse exame é o médico legista. O procedimento precisa ser soli-
citado por uma autoridade, como um delegado ou promotor. O médico legista procura responder a perguntas
básicas, que investigam a extensão e a gravidade dos danos físicos e psicológicos causados à vitima. Ele deve
tentar descobrir também como as lesões foram provocadas e se houve requintes de crueldade, como o uso
de fogo, asfixia ou envenenamento. São levadas em conta ainda as consequências dos ferimentos, desde a
incapacidade temporária para trabalhar até uma deformidade permanente. As lesões são classificadas como
leves, graves ou gravíssimas.
O laudo final é encaminhado ao promotor público e ao juiz, que usarão as informações no processo. O exa-
me de corpo de delito também pode ser feito em pessoas mortas. Nesse caso, é feita a necropsia, que ajuda o
legista a encontrar as lesões que levaram ao óbito. “Todos os casos de morte não natural, como as causadas
por acidentes, homicídio e suicídio, devem passar pelo exame necroscópico”.5
Quadro resumo:

Perícias e peritos médico-legais


Perícias É um procedimento médico, realizado através de requisi-
ção do Delegado de Polícia ou do Juiz, objetivando esclarecer
fatos de interesse da justiça, através da análise médica de
vestígios.
A perícia pode recair sobre fatos anteriores, fatos futuros,
documentos e até mesmo perícias já realizadas.
Exame de É um exame feito sobre os vestígios materiais da infração
corpo de delito penal. Por sua vez, o corpo de delito é o conjunto de vestígios
materiais sensíveis ou perceptíveis deixados pelo fato crimi-
noso. O exame pode ser direto, quando persistirem os ves-
tígios da infração, ou indireto, quando os vestígios materiais
deixaram de existir.

5 Fonte: www.super.abril.com.br/ Junior Campos Ozono/www.editorajuspodivm.com.br

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


17
Peritos São profissionais com conhecimento técnico-científico em
áreas do saber humano, fornecendo informações técnicas so-
bre determinado assunto em um caso concreto, procedendo
a exames em pessoas ou coisas. Os peritos atuam na fase
de inquérito policial ou processo judicial, sendo considerados
auxiliares da Justiça.
Podem ser oficiais (servidores públicos) ou não oficiais
(nomeados pela autoridade).

Traumatologia forense. Energia de ordem física.Energia de ordem mecânica. Energia


de ordem físico-química

Lesões e mortes por ação contundente


Instrumento contundente é todo objeto rombo, capaz de agir traumaticamente sobre o organismo.
A ação causadora da lesão contusa pode ser por pressão, por deslizamento ou ambas. A regra é a causação
por instrumento duro e rombo, como é o caso de paus, pedras, barras de ferro etc.
Vale consignar que, excepcionalmente, a água e o ar podem causar lesões contundentes. Não é incomum
pessoas terem lesões, muitas delas graves, derivadas de mergulhos, cujo choque com a água vem a causar
danos. A água funciona como um verdadeiro “muro” em que a pessoa se choca, a depender de velocidade,
altura, incidência etc. O deslocamento abrupto de ar, causado por explosões, também pode causar lesões con-
tundentes.
Os instrumentos contundentes têm como seus maiores exemplos, como já dissemos, paus, pedras, marte-
los, bastões, bengalas, barras de ferro etc.
Também são contundentes as ações provocadas por chutes, socos, cabeçadas ou outras formas de ataque
e defesa usadas pelo homem.
Sabemos que outros podem ser os geradores dessas lesões, como, por exemplo, os atropelamentos. Por
fim, note-se que também pode funcionar como instrumento contundente uma superfície resistente contra a qual
o corpo se choque (uma parede, o chão), nas lesões passivas.
Não deve ser esquecida, em momento algum, a classificação quanto à atuação ativa ou passiva dos ins-
trumentos. Reprisando, nas contusões ativas o instrumento vulnerante vem de encontro à superfície corpórea
(ex.: um martelo que atinja o rosto da vítima); nas contusões passivas, a superfície corpórea (a vítima) vai de
encontro ao instrumento vulnerante (ex.: a pessoa se lança contra um muro, a vítima cai e sua cabeça vai de
encontro ao solo, ou, ainda, o indivíduo que despenca de um precipício). Também são chamadas de diretas
(ativas) ou indiretas (passivas). Há a combinação de ambas, as lesões mistas.
Em geral, as lesões são classificadas também em leves (superficiais) ou profundas.
Como já foi mencionado, a localização das lesões tem grande valor médico-legal, porque ajuda na elucida-
ção da verdade. Lesões na face interna das coxas, nas nádegas: dão notícia, geralmente, de agressões sexu-
ais, como estupro consumado ou tentado.
Lesões semilunares no pescoço noticiam tentativa de esganadura. Lesões no antebraço e nas mãos (princi-
palmente nas palmas) podem ser as conhecidas lesões de defesa. Lesões de defesa, diga-se logo, são aque-
las resultantes do esforço da vítima em se defender. Por exemplo, ao tentar evitar uma agressão a facadas, a
vítima certamente terá lesões em suas mãos e braços. Roberto Blanco anota ainda as lesões de hesitação que,
de acordo com ele, são aquelas produzidas pela hesitação, incerteza da vítima em produzir uma lesão fatal; são
as lesões características de suicídio.
A depender de inúmeros fatores, principalmente a forma e força da agressão, existirão diversas modalidades
de lesões com repercussões e consequências diferentes, que devem ser estudadas de acordo com suas par-
ticularidades: rubefações, escoriações, equimoses, bossas e hematomas, feridas contusas, fraturas, luxações,
subluxações, roturas viscerais e esmagamentos.

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


18
1. RUBEFAÇÃO – Congestão de pouca intensidade. Ex.: uma bofetada de mão aberta.
Por desaparecer em pouco tempo (minutos ou horas), é preciso rapidez na efetivação do exame pericial para
configurá-la em função do seu caráter fugaz.
Há, em grau menor, o eritema leigamente chamado de vermelhidão ou eritema traumático, que é a forma
mais insignificante ou branda de lesão.
Tanto é assim que os tribunais, em geral, sequer consideram o eritema como ofensa à integridade física ou
à saúde. Por vezes, nesse caso, punem a agressão como contravenção (vias de fato).
Em um grau um pouco maior que o eritema traumático, encontraremos a rubefação, que desaparece com
cerca de seis a 24 horas, dependendo da área ou local atingido, da sua irrigação sanguínea e da intensidade
da ação contundente.
2. ESCORIAÇÃO – O instrumento contundente age tangencialmente à superfície corpórea, produzindo o
arrancamento da epiderme, deixando a derme descoberta. Em suma, é toda perda epidérmica traumática. A
epiderme é a primeira camada do tecido humano, ao passo que a derme é a segunda.
Entre a epiderme e a derme, encontramos a crista da papila, onde ficam os vasos sanguíneos, linfáticos e
os terminais nervosos.
Nas escoriações, que são feridas contusas superficiais, não ocorre cicatrização, mas sim regeneração. A
pele se regenera, de baixo para cima. No início deste processo, é possível determinar-se a data da lesão.
A crosta se forma com a substância que escorre da escoriação. Ela nos fornece dois importantes elementos
de informação: sua cor e o seu deslocamento. Com o tempo, a crosta vai escurecendo e se descolando, das
bordas para o centro.
Quando a lesão atinge só a epiderme, temos a ruptura de vasos linfáticos, ficando a crosta amarelada. Na
lesão que atinge a derme, a crosta já é pardo-avermelhada, pois a lesão atinge os vasos sanguíneos que pas-
sam na derme.
Havendo pressão acentuada no local, a lesão ficará apergaminhada, tanto no vivo quanto no morto. Não
havendo infecção (que gera tom amarelado e purulento), a regeneração leva de 20 a 30 dias.
Pouco antes da morte ou após esta, não há tempo para a formação da crosta. Forma-se apenas uma placa
apergaminhada. Nos casos de comprometimento da derme, há resolução com formação de cicatriz.
Segundo Roberto Blanco, é importante a observação da forma, da localização e da evolução das escoria-
ções, pois podem determinar como foram produzidas, o motivo do seu aparecimento e a data em que foram
produzidas.
3. EQUIMOSE – O agente vulnerandi age com maior intensidade do que na rubefação, mas ainda se pre-
serva a integridade e a elasticidade da pele. Os vasos superficiais rompem-se, causando extravasamento de
sangue internamente, o qual fica entremeado nas tramas teciduais. O fenômeno dá coloração à pele, em virtu-
de da transparência desta. A pele não se arrebenta, mas sim os vasos abaixo dela.
Em resumo, equimoses são derrames sanguíneos nos quais o sangue extravasado se infiltra e coagula nas
malhas dos tecidos do corpo.
As equimoses podem ser superficiais ou profundas. Há também as equimoses causadas pela emoção (equi-
moses emotivas).
A equimose à distância ocorre quando a lesão está em um lugar e a equimose, em outro. Isto acontece pela
ação da gravidade sobre o sangue.
Saiba-se também que as equimoses profundas podem levar de quatro a cinco dias para aparecer sob a pele.
Espectro equimótico é a mudança da coloração da equimose, com o passar do tempo. O estudo da variação
da cor da equimose no processo de recuperação é útil para determinar a data aproximada da lesão. Foi obser-
vado primeiramente por Legrand du Saulle, que emprestou seu nome ao fenômeno.

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


19
Este fenômeno só ocorre nos vivos. Toma por base lesões de tamanho médio. A mudança é causada pela
decomposição do sangue. O pigmento da hemácia (glóbulo vermelho) tem ferro, que é o elemento cuja decom-
posição dá a variação cromática, ao longo do tempo e da recuperação tecidual. O fenômeno ocorre até haver
a reabsorção completa do sangue extravasado pelo organismo.
As equimoses nas regiões conjuntival e da bolsa escrotal, por serem estas regiões densamente vasculariza-
das, não passam pelo espectro equimótico. Normalmente, estas regiões ficam vermelhas até a cura. O ex-dire-
tor do IML, Iran Barbieri, apresenta a seguinte sequência: cor avermelhada (um a dois dias), cor azulada (três
a cinco dias), cor violácea (seis a oito dias), cor esverdeada (nove a 12 dias), cor amarelada (13 a 20 dias) e,
após este prazo, volta a pele à coloração normal.
Hélio Gomes dá a seguinte sequência na coloração: vermelho-escuro, violeta, negro, azul, verde, amarelo.
Flamínio Fávero apresenta uma quase igual: vermelho-escuro, roxo, violáceo, azul, verde e amarelo. Devergie
e Tourdes, embora com datações diferentes, consignam a seguinte ordem: vermelho, violáceo, azulado, esver-
deado, amarelado. Os prazos, lembre-se, variam em consequência, principalmente, da extensão da equimose.
É importante o conhecimento sobre como diferençar uma equimose intra vitam de uma equimose post mor-
tem. Naquela, o sangue se coagula entre as malhas dos tecidos, existe infiltração leucocitária na região, verifi-
ca-se o índice de Verderau, há reação inflamatória etc.; já na equimose post mortem, o sangue não se coagula,
não existe infiltração leucocitária, não há alteração do índice de Verderau, não há reação inflamatória etc.
Roberto Blanco anota os tipos especiais de equimoses.
a) Petéquias – equimoses puntiformes, como cabeças de alfinete, frequentes nas mortes rápidas, septice-
mias, asfixias, coqueluche. Decorrem do aumento da permeabilidade dos vasos capilares por hipoxia (diminui-
ção do oxigênio) e/ou aumento da pressão nestes vasos (hipertensão capilar).
b) Manchas equimóticas lenticulares de Tardieu – têm o tamanho de uma lentilha, sendo patognomônicas de
asfixias mecânicas do tipo sufocação direta (patognomônicas vem de patognomonia, que é o estudo dos sinais
e/ou sintomas considerados característicos das doenças).
c) Manchas subpleurais de Paltauf – ocorre nos casos de afogamento e insuficiência respiratória aguda. São
extensas e de contornos irregulares.
d) Cianose cérvico-facial ou máscara equimótica de Morestin – ocorre nos casos de compressão do tórax
(sufocação indireta). A pressão do tórax mantém os vasos cervicais e faciais cheios de sangue, causando o
fenômeno.
e) Equimoses perianais ou vulvo-vaginais – ocorrem como decorrência de parasitoses locais e das alte-
rações dermatológicas provenientes da coceira ou prurido, que obrigam o seu portador a coçar e arranhar a
região, sobretudo em infecções, comuns no Brasil, pelo verme oxiúros.
Não confundir com aquelas causadas por atos libidinosos.
f ) Mobilidade equimótica – noticiam-se aqui as equimoses que se deslocam do ponto de contusão para re-
giões mais afastadas e as equimoses profundas, que só se fazem visíveis com quatro a cinco dias.
g) Equimose retrofaringeana de Brouardel – indica constrição do pescoço (compressão da faringe contra a
coluna vertebral).
h) Equimose nos tecidos moles subjacentes à pele do pescoço – indica agressão, por estrangulamento, en-
forcamento, esganadura ou mera contusão local.
i) Equimoses de etiologia não mecânica – devem-se diferenciar as equimoses decorrentes de trauma me-
cânico ou psíquico e as chamadas equimoses espontâneas. As equimoses não traumáticas são chamadas
de púrpura e decorrem de entidades mórbidas que evoluem deixando manchas arroxeadas (equimoses) pelo
corpo.
j) Equimose à distância – equimoses que surgem em pontos completamente diferentes do local onde ocor-
reu a lesão. Podem decorrer dos efeitos sistêmicos que o trauma exerce no organismo ou do escoamento de
sangue, em razão da força da gravidade.

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


20
Roberto Blanco classifica, ainda, como tipos especiais de equimose, os hematomas e as bossas sanguíne-
as (o material que se acumula na cavidade neoformada é o sangue) e serosa (o material que se acumula na
cavidade é a linfa extravasada).
4. HEMATOMA – Aqui, a pele resiste pela sua elasticidade, mas os vasos (artérias e veias) mais calibrosos,
que estão em camadas abaixo da mesma, podem se romper, resultando em extravasamento de sangue para o
tecido subcutâneo. Como o sangue não consegue se espalhar por todos os tecidos moles, permanece agrupa-
do (colecionado), formando o hematoma. Em suma, os hematomas são coleções sanguíneas produzidas pelo
sangue derramado.
A bossa ocorre quando o hematoma faz protrusão na pele. Isto ocorre na hipótese de a lesão estar sobre
região óssea (ex.: canela, testa) e abaixo de pele com pouco tecido mole na circunvizinhança. O sangue, sem
poder “empurrar” a pele e os tecidos subjacentes para os lados e para baixo, pressiona a própria pele para
cima. São os famosos “galos”.
Flamínio Fávero difere a bossa do hematoma de forma diferente. Para ele, as bossas são coleções peque-
nas e, os hematomas, as coleções maiores.
No entanto, discordamos porque a presença de uma bossa depende fundamentalmente do local onde houve
extravasamento sanguíneo, e não da quantidade do mesmo.
Diferença entre equimose e hematoma. Na equimose, o sangue se infiltra nas malhas do tecido subcutâneo;
no hematoma, o sangue se coleciona (aglomera) em determinado ponto, formando verdadeiras bolsas. No en-
tanto, ambos podem ocorrer simultaneamente e aparecer aos olhos do examinador em períodos de dias que
se seguem.
Hélio Gomes ensina que “algumas das indicações citadas a propósito do valor médico-legal das escoriações
podem aplicar-se aos hematomas.”
5. FERIDA CONTUSA – Aqui, o agente agressor promove a perda da integralidade da pele ou vence a sua
elasticidade. A integridade tecidual da pele passa a não ser suficiente para mantê-la e a pele é rompida. As
feridas contusas são lesões abertas. Esta arrebentação atinge a derme (camada abaixo da epiderme ou pele)
e possui várias graduações, desde as lesões mais leves até as lesões lácerocontundentes.
A graduação varia de acordo com a profundidade atingida pela lesão e, portanto, da dimensão da ação con-
tundente aplicada. As lesões lácerocontundentes são as mais graves, uma vez que podem atingir e comprome-
ter os músculos, os tendões e até as articulações. Além disso, podem gerar prejuízos funcionais ou estéticos,
já que a derme é atingida e a resolução tecidual se dá por cicatrização, com consequências penais (art. 129, e
§§, do CP).
Características das feridas contusas. As feridas contusas apresentam bordos de ângulos irregulares, com
feridas escoriadas ou equimosadas. Os tecidos apresentam traves de tecido íntegro e de tecido ferido. O fundo
da lesão é “sujo”, isto é, desigual, irregular, com traves de tecido são e traves de tecido lesionado.
A pele próxima ao ferimento se descola. São feridas de cicatrização difícil.
A ferida contusa é o contrário da ferida incisa, que é aquela feita por instrumento cortante, que fica com a
cicatrização “certa” (ex.: feita por faca, lâmina de barbear). O corte feito com bisturi é denominado por alguns
lesão cirúrgica
A diferença entre lesões/feridas contusas e incisas é constantemente objeto de questionamento em concur-
sos.
6. FRATURAS – Correspondem a uma solução de continuidade dos ossos. Podem ser diretas ou indiretas,
fechadas ou abertas, cominutivas (ou fragmentadas) etc. É direta quando o trauma atinge o local fraturado, e
indireta em caso contrário. A fratura fechada não se comunica com o exterior do corpo e a aberta é aquela em
que a ferida permite ver o foco da fratura (ex.: numa ferida contusa ou cortocontusa). Fratura exposta é aquela
em que os fragmentos ósseos extrapolam os limites do corpo da vítima. Fratura cominutiva é aquela em que
fragmentos ósseos ficam isolados do osso fraturado.
As fraturas podem ser classificadas, ainda, como traumáticas ou verdadeiras. Existem fraturas causadas
pelo próprio peso do corpo da vítima, por patologias ou esforço imoderado. Aqui, temos as fraturas espontâne-
as ou patológicas, que devemos exemplificar com uma situação bastante comum e litigante com os idosos. A

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


21
fratura patológica do colo do fêmur é geralmente decorrente de osteoporose (porosidade óssea por desminera-
lização ou perda de cálcio pelo osso, comum no envelhecimento, principalmente entre idosos que não ingerem
cálcio suficiente e que não se exercitam regularmente) e acarreta a queda aparentemente espontânea do idoso.
Tanto este como sua família frequentemente interpretam a fratura como consequência da queda, e não como
deve ser encarada, sendo a queda a consequência de uma fratura. Aqui, o simples fato de o idoso se virar para
olhar para trás ou se levantar mais rapidamente pode ocasionar a fratura e a queda consequente. De acordo
com Roberto Blanco, as fraturas podem ocorrer pela compressão, flexão ou torção.
7. LUXAÇÃO – É a perda definitiva (mas não irreversível) de contato entre as superfícies articulares, e se-
gue-se, via de regra, de rotura de ligamentos. Esta perda pode ser transitória, com o retorno da articulação e
suas superfícies ao seu sítio anatômico normal, mas deve ser lembrado que, apesar disto, as lesões ligamen-
tares que permitiram a ocorrência da luxação permanecem e devem ser lembradas e citadas na caracterização
da gravidade da lesão para efeito de pena.
Como exemplos, citamos a luxação de quadril, ombro, joelho e mandíbula. Nesses casos, será comum a
ocorrência repetida da luxação até que a mesma seja corrigida cirurgicamente. As subluxações também podem
ocorrer e não representam perda definitiva das superfícies articulares, mas sim parciais e, consequentemente,
com menores sequelas funcionais e médico-legais.
8. ROTURA VISCERAL – O traumatismo, aqui, atinge as vísceras; ocorre ruptura dos órgãos internos. As
vísceras maciças e mais frágeis irão se romper. Ex.: o baço, o fígado.
A ruptura visceral pode ser gerada pela ação de onda de expansão gasosa e onda de vácuo (sucção), cau-
sadas, sequencialmente, por explosão (BLAST), ou seja, situações que provoquem grande pressão no organis-
mo. É importante notar que pode haver roturas parciais, que aparentemente não provocam alterações na vítima
até terem decorrido várias horas, quando os sintomas decorrentes do extravasamento interno de sangue e/ou
do conteúdo visceral começam a provocar sintomas e sinais no organismo. Logo, nem sempre uma rotura vis-
ceral, de um baço, por exemplo, após um golpe ou trauma direto causado por outro agente, pode se manifestar
durante as primeiras 12 horas do mecanismo causador da agressão.
9. ESMAGAMENTO – Se atinge a maior parte da superfície corporal, pode representar uma das lesões mais
graves, causadas por ação contundente. Consiste na compressão completa e destrutiva do corpo, resultando
da forte pressão apenas uma massa amorfa. Deve-se ressaltar a importância médico-legal e trabalhista das le-
sões por esmagamento parcial ou setorizado. Por vezes, o esmagamento do dedo polegar destrói a capacidade
que o homem tem de fazer a apreensão de objetos, o que, para alguns, pode significar toda sua capacidade de
trabalho ou lazer.
Deve–se conhecer a definição de síndrome de esmagamento ou de CRUSH.
É o conjunto de sinais e sintomas que caracterizam as consequências deletérias, causadas pela compres-
são do corpo por longo período, liberando produtos tóxicos (mioglobina, ureia etc.), os quais atacarão princi-
palmente os rins e, geralmente, são fatais. É importante então que, diante de situações de esmagamento de
extremidades, como braços e pernas, aplique-se imediatamente um garrote ou torniquete, para impedir que
a mioglobina tenha acesso à corrente sanguínea e ocorram suas consequências. A mioglobina é o pigmento
muscular liberado quando a fibra é esmagada e entope os túbulos renais, impedindo a filtração do sangue e
levando à morte por insuficiência renal aguda.
10. Lesões produzidas por artefatos explosivos – “Chama-se de explosão um mecanismo produzido pela
transformação química de determinadas substâncias que, de forma violenta e brusca, produz uma quantidade
excessiva de gases com capacidade de causar malefícios à vida ou à saúde de um ou de vários indivíduos. (...)
As lesões produzidas por esses artefatos podem ser por ação mecânica e por ação da onda explosiva. As pri-
meiras são provenientes do material que compõe o artefato e dos escombros que atingem as vítimas. As outras
são decorrentes das ondas de pressão e sucção, que compõem a chamada síndrome explosiva ou blast injury.
A blast injury é um conjunto de manifestações violentas e produzida pela expansão gasosa de uma explosão
potente, acompanhada de uma onda de pressão ou de choque que se desloca brusca e rapidamente numa
velocidade muito grande, a pouca distância da vítima e, mais grave, em locais fechados.
Segundo William, essa força, para produzir lesões no homem, deve ser no mínimo de 3 libras por polegada
quadrada.

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


22
As lesões provocadas pela expansão gasosa atingem diversos órgãos e se caracterizam de acordo com a
sua forma, disposição e consistência. A lesão mais comum é a rotura do tímpano”.
11. Encravamento – “É uma modalidade de ferimento produzida pela penetração de um objeto afiado e con-
sistente, em qualquer parte do corpo”. Quase sempre é acidental.
12. Empalamento – Forma especial de encravamento. “Caracteriza-se pela penetração de um objeto de
grande eixo longitudinal, na maioria das vezes consistente e delgado, no ânus ou na região perianal. As lesões
são sempre múltiplas e variadas, sua profundidade varia de acordo com o impacto e as dimensões do objeto
contusivo.”
13. A tropelamento ferroviário – Ocorre a redução do corpo a diversos e irregulares fragmentos conhecidos
como espostejamento.
“Nos casos de suicídio, em geral se observa a secção transversal do corpo ao nível do pescoço ou do ab-
dome. Nos acidentes, é mais comum a secção das pernas. Em ambas as situações, o que chama a atenção é
a presença acentuada das reações vitais das lesões como manchas equimóticas, infiltrados hemorrágicos dos
tecidos e placas de sangue coagulado.
Nos atropelamentos post mortem para dissimular homicídio, nota-se um grande número de lesões sem
reação vital e apenas se veem tais reações nas lesões produzidas dolosamente. Por fim, nas situações de dis-
simulação de morte natural, por vezes para adquirir vantagens de seguro, observam-se vestes manchadas de
sangue e todas as lesões sem qualquer manifestação de reação vital”.
14. Lesões por precipitação – “Pele intacta ou pouco afetada, roturas internas e graves das víceras maciças
e fraturas ósseas de características variáveis”.6
Lesões por armas brancas
A “arma branca” mais comummente utilizada é a tradicional faca de cozinha (Daéid, Cassidy, & McHugh,
2008) (Hainsworth, Delaney, & Rutty, 2008) (DiMaio & DiMaio, 2001). A maioria das mortes, que são atribuí-
das a facadas, é causada por objectos cuja função principal não é a de uma arma ofensiva (Daéid, Cassidy, &
McHugh, 2008).
Daí que para caracterizar as lesões corporais infligidas por arma branca, baseamo-nos na definição actual:
“todo o objecto ou instrumento portátil dotado de uma lâmina ou outra superfície cortante, perfurante, ou cor-
to-contundente…”. Portanto, não podemos assumir que quando se fala de arma branca, se destina apenas a
descrever lesões provocadas por facas.
As armas brancas, assim como outros objectos lançados manualmente, são considerados portadores de
baixa energia. Causam lesões pela sua superfície cortante, pela sua ponta ou por ambas (Calabuig, 2005). No
entanto, algumas armas brancas além de causar lesões ao longo do seu trajecto, podem originar, ocasional-
mente, lesões secundárias em redor (Carvalho, 2005).
De acordo com lei e com o mecanismo de acção, as armas brancas podem causar quatro tipos distintos de
lesões, que se denominam respectivamente, feridas incisas, feridas perfurantes, feridas perfuro-incisas e por
último feridas corto-contundentes.
Estas armas têm, normalmente, lâminas planas, semelhantes às facas de cozinha, canivetes ou navalhas
com comprimento entre os dez e os treze centímetros (DiMaio & DiMaio, 2001).
Uma faca é composta por duas secções fundamentais: a lâmina (ver a figura 3A) e o punho (ver a figura 3B).
São diversas as partes que as constituem (ver a figura 3).

6 Fonte: www.impetus.com.br

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


23
Figura 3- Partes constituintes de uma faca A - Lâmina B – Punho Fonte: http://www.armabranca.
com/2009/10/16/a-anatomia-da-faca/
LESÕES INCISAS
As lesões incisas, normalmente, não são fatais (DiMaio & DiMaio, 2001). A maior parte das vítimas, dão
entrada habitualmente em serviços de urgência e são tratadas com alguns pontos de sutura, não acarretando
grandes cuidados de saúde. Resultam cicatrizes finas e de aspecto linear (DiMaio & DiMaio, 2001).
Na terminologia utilizada pelos vários autores, este tipo de lesão por mecanismo de ação cortante, pode ter
diferentes denominações, lesões cortantes ou lesões incisas (DiMaio & DiMaio, 2001).
A utilização do termo lesão incisa, deriva do resultado da incisão verificada numa intervenção cirúrgica
(França, 2008) (Jorge & Dantas, 2003). O termo lesão cortante está relacionado com a ação do instrumento
utilizado (Martins, 2005). Assim, a lesão resultante de qualquer instrumento de ação cortante, é denominada
incisa (Martins, 2005)(Saukko & Knight, 2004).
A faca é um exemplo clássico de instrumento cortante, que provoca lesões incisas. Co-existem outro tipo de
instrumentos que possuem também uma aresta cortante (como um pedaço de vidro, papel ou metal), que são
capazes de provocar o mesmo tipo de ferimento (DiMaio & DiMaio, 2001).
As feridas incisas são, em geral, mais compridas do que profundas (França, 2008) (Saukko & Knight, 2004)
(DiMaio & DiMaio, 2001) (Aguiar, 1958). Este facto encontra explicação na ação deslizante do instrumento, na
extensão usual do gume, no movimento “em arco” exercido pelo braço do agressor e nas curvaturas das muitas
regiões ou segmentos do corpo. No entanto, a extensão da ferida é quase sempre menor da que realmente foi
produzida, pela elasticidade da pele e pela retração dos tecidos moles lesados. Nas regiões onde esses tecidos
estão mais ou menos fixos, como por exemplo, nas palmas das mãos e nas plantas dos pés, essas dimensões
são teoricamente iguais (França, 2008) (Aguiar, 1958).
A forma linear das feridas incisas deve-se à ação cortante por deslizamento empregue pelo instrumento.
Quando o instrumento atua perpendicularmente à pele, no sentido das fibras musculares, a ferida conserva-se
linear, retilínea e com bordos aproximados. Se o instrumento percorre os tecidos moles num sentido transversal
às fibras musculares, a ferida assume uma forma ovalar ou elíptica com considerável afastamento dos bordos.
Possuem as paredes lisas e regulares (França, 2008) (Wolfbert, 2003) (Aguiar, 1958).
A regularidade dos bordos das feridas, bem como a regularidade do fundo da lesão são devidas ao gume
mais o menos afiado do instrumento utilizado. Os bordos das feridas são, geralmente retilíneos, pela ação de
deslizamento. As feridas podem apresentar-se curvas ou em “zig-zag” (ver a figura 4A), ou com aspecto inter-

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


24
rompido pelo enrugamento momentâneo ou permanente da região atingida (ver a figura 4B). No entanto, a re-
gularidades dos bordos das feridas é mantida (França, 2008) (Wolfbert, 2003) (DiMaio & DiMaio, 2001)(Aguiar,
1958).
A ausência de vestígios traumáticos em torno da ferida é outra característica díspar. É raro observar-se es-
coriações, feridas contusas ou equimoses nos bordos ou à volta da ferida devido à ação rápida e deslizante do
instrumento e ainda, pelo fio de gume afiado, que não permite uma forma de pressão muito intensa sobre os
tecidos lesados. Também não se observam pontes de tecido íntegro a unir as vertentes da ferida (França, 2008)
(Wolfbert, 2003) (DiMaio & DiMaio, 2001)(Aguiar, 1958).

Figura 4 - Bordos das feridas incisas sobre pregas cutâneas A - Ferida em “zig-zag” B - Ferida interrompida
Fonte: Aguiar, A. (1958). Medicina Legal: Traumatologia Forense. Lisboa: Empresa Universidade Editora.
Nas feridas incisas, normalmente, a hemorragia é abundante. Quanto mais reduzida for a espessura do ins-
trumento e mais afiado o gume, maior a profundidade da lesão e a maior riqueza vascular da região atingida,
mais abundante será a hemorragia. A hemorragia deve-se à maior retração dos tecidos superficiais e à fácil
secção dos vasos, que, não sofrendo hemostasia traumática, deixam os seus orifícios naturalmente permeá-
veis. A distância entre os bordos da ferida relaciona-se com a elasticidade e a tonicidade dos tecidos (França,
2008) (Wolfbert, 2003).
A distância é maior onde os tecidos cutâneos são mais tensos pela ação muscular, como no pescoço, e, ao
contrário, como na palma das mãos e na planta dos pés, onde estas tensões não são tão evidentes (França,
2008).
Como a elasticidade e a retração dos tecidos moles são diferentes nos diversos planos corporais, mais acen-
tuados à superfície do que na fáscia subjacente, as vertentes da ferida são cortadas obliquamente (França,
2008) (Wolfbert, 2003) (Aguiar, 1958).
Apresentam perfil de corte de aspecto angular, de abertura para fora, ou seja, bem afastadas da superfície
e o seu término em ângulo agudo, em forma de V quando o instrumento atua de forma perpendicular (ver a
figura 5). Quando o instrumento atua em sentido oblíquo, ou em forma de bisel, não apresenta término em face
angular (França, 2008).

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


25
Figura 5 - Vertente angular das feridas incisas Fonte: Payne-James, J., Crane, J., & Hinchliffe, J. A. (2005).
Injury assesment, documentation, and interpretation. In M. M. Stark, Clinical Forensic Medicine, Second Edition
A Physician’s Guide (pp. 127-158). Totowa: Humana Press.
Por norma, o instrumento cortante deixa no final da lesão, e apenas na epiderme, uma pequena escoriação,
chamada cauda de escoriação. Ao determinar-se cauda de escoriação, subentende-se que é a parte final da
acção que provocou a lesão (França, 2008) (Saukko & Knight, 2004).
Por outro lado, outros autores, consideram que cauda de escoriação é consequente do contato inicial do
instrumento com a epiderme e pode ocorrer na entrada, na saída ou na entrada e na saída do instrumento
(Wolfbert, 2003)(Aguiar, 1958).
Contudo, poderemos estar perante um pleonasmo, visto que caudal é o término, sinónimo de terminal, fim ou
saída, e não início da ação ou entrada. Este elemento tem grande importância na determinação da direção do
ferimento, no tipo de crime e na posição do agressor, elementos fundamentais no diagnóstico diferencial entre
homicídio, suicídio e acidente (França, 2008) (Aguiar, 1958).
A profundidade da ferida é mais superficial no início e no fim (Wolfbert, 2003) (DiMaio & DiMaio, 2001)
(Aguiar, 1958). O centro da ferida é mais profunda, dado ao deslizamento do instrumento e direção semicurva
reflexa do braço do agressor ou pela curvatura da região corporal atingida (ver a figura 6). No entanto, esta
profundidade raramente é acentuada. O prognóstico desses ferimentos é de pouca gravidade, a não ser que
sejam profundos e venham a atingir grandes vasos, nervos, e até mesmo órgãos (França, 2008).

Figura 6 - Vista lateral e superior de uma lesão incisa Fonte: http://www.pericias-forenses.com.br/medicina-


forense.htm
Existem algumas exceções relativas as extremidades e profundidade das feridas cortantes, entre elas
(Aguiar, 1958):
- Se um instrumento atuar em qualquer direção sobre uma região corporal curva (joelhos, região glútea), a
lesão resultante terá as duas extremidades ou cauda de escoriação, ou seja, dois traços escoriados na super-
fície da epiderme.
- Se um instrumento atuar perpendicularmente e transversalmente sobre uma região corporal de forma cilín-
drica ou semi-cilíndrica (braço, perna, dedo, dorso pé, dorso da mão, dorso do nariz), a lesão resultante terá as
duas extremidades com características de cauda de escoriação.
- Se o instrumento abordar uma região corporal encurvada na direção oblíqua ou transversa à curvatura
percorrendo tecidos moles até encontrar algo que o detenha (ossos, dentes), a lesão resultante terá as extre-
midades invertidas, ou seja, a extremidade inicial com aspecto de cauda e a extremidade final talhada a pique.
- Caso do instrumento atue com violência sobre regiões corporais convexas, percorrendo a pele sobre teci-
do ósseo, em direção a um dos seus bordos, até encontrar uma camada de tecidos moles (omoplata). A lesão
resultante terá a extremidade inicial com características de cauda e a extremidade final talhada a pique e pro-
funda, dado a repentina falta de apoio ósseo.
- Se o instrumento atuar com obstinação nos tecidos moles poucos consistentes até atingir uma abertura
natural (boca, narina), a lesão resultante terá a extremidade inicial com aspecto da cauda, e a extremidade final
espessa e profunda.

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


26
Embora os “cortes” nos tecidos, sejam a forma mais comum deste tipo de lesões, existe um conjunto suis
generis de ferimentos, que está associado a formas mais violentas, com nomenclatura e propriedades especí-
ficas:
- Esquartejamento, caracteriza-se pela divisão do corpo em partes (França, 2008) (Wolfbert, 2003); Esposte-
jamento, despedeçamento, seccionamento ou esquartejamento, os dois primeiros preferíveis a este último que,
à letra significa divisão em quatro (Pinto da Costa, 2004).
- Decapitação, quando há separação da cabeça do tronco. Embora, possa também ser oriunda de outros
tipos de instrumentos, para além dos cortantes (França, 2008) (Wolfbert, 2003);
- Esgorjamento é representado pela presença de uma longa ferida transversal na face anterior do pesco-
ço, com significativa profundidade, lesando não só os tecidos subcutâneos como também estruturas internas
(França, 2008) (Wolfbert, 2003); Quando a lesão se encontra na face posterior do pescoço denomina-se, de-
golamento (Wolfbert, 2003).
- Haraquiri são feridas profundas da parede abdominal, as lesões resultantes deste ritual são as grandes
hemorragias, eviscerações e eventrações (França, 2008)
O diagnóstico das feridas produzidas por ação cortante é relativamente fácil. No entanto, a dificuldade en-
contrada prende-se com a distinção dos mais diversos instrumentos, porventura, utilizados (França, 2008)
(Lynch, 2006) (DiMaio & DiMaio, 2001) (Aguiar, 1958). Distintos instrumentos podem provocar lesões com
características semelhantes.
Por exemplo, um corte na pele com sete vírgula seis centímetros de comprimento pode ter sido provocado
por uma lâmina de quinze vírgula seis centímetros, uma lâmina de cinco vírgula um centímetros, uma lâmina de
barbear, uma navalha, ou até mesmo por um pedaço de vidro (DiMaio & DiMaio, 2001).
É também difícil de assegurar a quantidade de força aplicada no instrumento para produzir a lesão, visto que
depende diretamente da configuração e forma afiada do instrumento, bem como da resistência, quando existe,
da roupa da vítima (Lynch, 2006).
Contudo, existe alguma relação entre a lesão e o tipo de instrumento utilizado, estado e número de gumes e
a maneira de sua aplicação (Aguiar, 1958).
No caso de existir uma série de feridas incisas que se cruzem, é importante conhecer a ordem de entrada
do instrumento na pele, a fim de relacionar com a possível direção do instrumento. Como a segunda lesão foi
produzida sobre a primeira, os bordos, já afastados, cooptando-se as margens de uma das feridas, sendo ela a
primeira a ser produzida, a outra não segue um trajeto em linha reta, chamado Sinal de Chavigny (ver a figura
7) (França, 2008) (Aguiar, 1958).

Figura 7 – Ordem das feridas. Sinal de Chavigny Fonte: http://www.malthus.com.br


Juridicamente a avaliação das feridas incisas, pode ser um dado de exclusão ou inclusão, num possível
crime, daí a sua descrição pormenorizada ser essencial à investigação forense.
LESÕES PERFURANTES

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


27
A força implicada na agressão, capaz de perfurar a pele, depende da configuração e a agudeza da ponta do
instrumento. Quanto mais pontiaguda for a ponta, menos força é necessária aplicar, logo, mais fácil de penetrar
na pele (DiMaio & DiMaio, 2001). Uma vez entrada a ponta, mais facilmente todo instrumento penetrará na pele
e tecidos adjacentes com pouca força aplicada, a não ser que encontre uma estrutura sólida, como um osso ou
dente (DiMaio & DiMaio, 2001).
Pregos, florete, estiletes e furador de gelos são exemplos de instrumentos mais comuns neste tipo de lesões.
(Calabuig, 2005)
A dimensão e tipo de instrumento são essenciais para a compreensão das lesões, bem como para a inves-
tigação criminal (Saukko & Knight, 2004). As características das lesões perfurantes devem ser precisas no que
respeita à abertura e ao trajecto. A abertura da lesão não depende apenas da dimensão e forma do instrumento,
mas também depende da região anatómica e propriedades da pele atingida (França, 2008) (Saukko & Knight,
2004) (DiMaio & DiMaio, 2001).
O orifício de entrada da lesão pode ter várias configurações, de acordo com o tipo de instrumento utilizado e
a região anatómica atingida (Aguiar, 1958).
A superfície de secção tem uma configuração variável consoante a forma do instrumento, e por outro lado,
conforme a disposição das linhas de Langer.
A configuração do ferimento permite presumir a da secção transversal do instrumento perfurante. Devido à
elasticidade da pele, os bordos da lesão tendem a ser mais curvilíneos que os bordos da secção do instrumento
(ver a figura 8) (Calabuig, 2005).

Figura 8 – Configurações de lesões por instrumentos perfurantes Adaptado: Calabuig, G. (2005). Medicina
Legal e Toxicologia. Barcelona, 6ª Edição: Masson.
Se o instrumento perfurante é cilíndrico – cónico ou cónico, de ponta aguçada, o orifício produzido é puncti-
forme, circular ou linear; se tem ponta romba, o orifício originado apresenta forma irregular (Aguiar, 1958).
O orifício de saída, quando existe, é muito parecido ao da entrada, no entanto, tem os bordos invertidos
(França, 2008).
Quando o instrumento perfurante penetra a pele, a forma das lesões assume um aspecto diferente, obede-
cendo às Leis de Filhos e Langer (França, 2008) (Calabuig, 2005) (Wolfbert, 2003):
- Primeira Lei de Filhos: As soluções de continuidade dessas feridas, quando é retirado o instrumento, asse-
melham-se às produzidas por instrumentos de dois gumes ou tomam a aparência de “casa botão” ou botoeira;
- Segunda Lei de Filhos: Quando essas feridas se mostram numa região onde as linhas de força tenham um
só sentido, o seu maior eixo tem sempre a mesma direção;
- Lei de Langer: Quando um instrumento perfurante lesa um ponto ou uma zona de convergência de diferen-
tes sistemas de fibras elásticas com direção divergente, a extremidade da lesão assume o aspecto da ponta de
seta, de triângulo ou mesmo de quadrilátero.
As feridas produzidas por instrumentos perfurantes, de acordo com a região atingida, tomam as seguintes
direções (França, 2008):
- Pescoço: Linha média: no sentido dos músculos hióides; Face lateral: no sentido do músculo esternoclei-
domastoídeo; Face posterior: no sentido do músculo trapézio.

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


28
-Tórax: Face antero-lateral: no sentido dos feixes do músculo peitoral maior ou no sentido do músculo serrátil
maior; Face posterior: no sentido do músculo romboíde.
- Abdómen: Linha média: no sentido dos músculos retos abdominais; Face antero-lateral: no sentido dos
feixes do músculo oblíquo maior; Face posterior: no sentido dos feixes do músculo transverso.
- Membro superior: Face anterior: Braço - no sentido dos feixes do músculo bicep braquial. Antebraço - no
sentido dos feixes do pronador redondo e do flexor radial do carpo; Face posterior: Braço - no sentido dos feixes
do deltoíde; no sentido do tríceps braquial. Antebraço - no sentido dos feixes do músculo extensor dos dedos.
- Membro inferior: Face anterior: Coxa - no sentido dos feixes do músculo costureiro; no sentido dos feixes
do músculo reto da perna. Perna - no sentido dos feixes do músculo tibial anterior; Face posterior: Coxa - no
sentido dos feixes dos músculos isqui-tibiais. Perna - no sentido dos feixes do músculo gémeo.
- Região glútea: No sentido dos feixes do músculo grande glúteo.
O trajeto dependerá, no que diz respeito à sua profundidade, do tamanho do instrumento ou da pressão
exercida pelo agressor.
No entanto, não se pode estabelecer o comprimento do meio perfurante pela profundidade da penetração,
uma vez quem de nem sempre é penetrado em toda a sua extensão e pode variar, essa profundidade, com a
posição da vítima. Por outro lado, a profundidade da penetração pode ser maior que o próprio comprimento do
instrumento, quando atinge uma região onde haja depressibilidade dos tecidos superficiais, como no abdómen.
Lacassagne apelidou estas lesões de “feridas em harmónio” (França, 2008).
A importância desses instrumentos perfurantes na Medicina Legal centra-se no facto de serem esses instru-
mentos inoculares de infecção, pois as feridas produzidas, embora aparentemente pequenas, são profundas.
A gravidade destas lesões depende do carácter vital dos órgãos e estruturas atingidas ou da eventualidade
de infecções supervenientes.
A sua causa jurídica é, na maioria das vezes, homicida e, mais raramente, de origem acidental ou suicida
(França, 2008).
LESÕES PERFURO-INCISAS
Estas lesões resultam sempre de um objeto suficientemente afiado e estreito, capaz de rasgar os tecidos
cutâneos (Lynch, 2006).
A arma mais comumente utilizada na produção deste tipo de lesão é também a faca, em virtude da sua forma
cortante e ponta aguçada (Lynch, 2006) (Saukko & Knight, 2004) (DiMaio & DiMaio, 2001).
Este tipo de lesão perfuro-incisa é descrito como o mais associado a homicídios (França, 2008) (Saukko &
Knight, 2004) (DiMaio & DiMaio, 2001). Considerando que a maioria apenas causa lesões superficiais, atingin-
do a pele e tecido adiposo, tornam-se muitas vezes fatais quanto penetram estruturas vitais (Saukko & Knight,
2004) (Jorge & Dantas, 2003) (Aguiar, 1958).
As lesões perfuro-incisas são capazes de refletir mais informação sobre o instrumento casuístico ou arma
que a causou, pois objetos redondos, deixam marcas arredondadas, objetos quadrados produzem uma lesão
quadrada, etc., algo que não se verifica numa lesão incisa (Lynch, 2006).
A aparência de uma lesão originada por instrumentos perfuro-cortantes depende da forma (ver a figura 9)
e força aplicada, e da parte do instrumento que é penetrada e/ou que entra em contato com a pele (DiMaio &
DiMaio, 2001).

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


29
Figura 9 - Formas de lesões associadas aos diferentes instrumentos A – Elíptica B – “Cauda de peixe” C
– Oval com contusão Fonte: Payne-James, J., Crane, J., & Hinchliffe, J. A. (2005). Injury assesment, documen-
tation, and interpretation. In M. M. Stark, Clinical Forensic Medicine, Second Edition A Physician’s Guide (pp.
127-158). Totowa: Humana Press.
A descrição das características da lesão depende da relação existente entre o tipo de arma utilizado, e par-
ticularidades da mesma, como o gume, o tipo de ponta e as suas dimensões, paralelamente, a profundidade,
a direção, a inclinação, os movimentos dentro dos tecidos, a extração da arma bem como as propriedades da
pele nos diferentes locais anatómicos (Saukko & Knight, 2004)(DiMaio & DiMaio, 2001).
Se o instrumento possui ponta e arestas, as lesões produzidas diferenciam-se conforme a forma arredon-
dada ou afiada das mesmas. Os instrumentos com arestas afiadas originam feridas em fenda ou rasgo com
bordos ou irradiações de acordo como o número de gumes. São tanto mais nítidos, quanto mais afiadas forem
estas arestas. Se os instrumentos possuem arestas rombas, resultam feridas irregulares, acrescidas de peque-
nas lacerações em redor, compatíveis com as arestas (Aguiar, 1958).
O tipo de fio de gume determina a aparência dos bordos das feridas: linear e recta, esfolada e macerada ou
irregular e contundida. Se o fio de gume é rombo, os bordos da ferida são incertos (DiMaio & DiMaio, 2001).
Também é possível encontrar junto dos bordos da ferida, contusões ou equimoses modeladas impressas
pelo impacto do cabo da arma na pele (Lynch, 2006) (Hammer, Moynihan, & Pagliaro, 2006) (Wolfbert, 2003).
Se uma lesão é provocada pela superfície plana de uma lâmina obliquamente, a ferida terá uma margem
biselada de um lado e arredondada do outro, indicando a direção a partir do qual o instrumento entrou (DiMaio
& DiMaio, 2001).
O orifício de entrada e o aspecto da lesão na pele é determinado não só pela forma da lâmina, mas também
pelas propriedades da pele e local anatómico (DiMaio & DiMaio, 2001) (Aguiar, 1958).
Se a pele é penetrada enquanto esticada ou estirada, resulta uma lesão comprida e fina, enquanto que,
quando os tecidos estão relaxados a ferida apresenta menores dimensões.
As linhas de Langer influenciam o aspecto da lesão, pois estas são aproximadamente iguais de indivíduo
para indivíduo, o que torna mais fácil estabelecer padrões de lesões.
Se uma lesão é provocada perpendicularmente a estas fibras, o aspecto é uma fenda mais ou menos larga,
pois as fibras elásticas da pele esticam os bordos da ferida, separando-os (ver a figura 10A).
Se a lâmina penetrar paralelamente às linhas de Langer, a lesão resultante é uma fenda fina e estreita, com
pouco espaço entre os bordos (ver a figura 10B). A elasticidade dos tecidos não produz grande deformação no
orifício de entrada e, com frequência é possível presumir a configuração do instrumento.

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


30
Figura 10 - Características do orifício de entrada em lesões produzidas pelo mesmo instrumento Adaptado:
DiMaio, V. J., & DiMaio, D. (2001). Forensic Pathology. Nova York - 2 Edição: CRC Press
As lesões assumem forma de botoeira ou “casa botão”, quando infligidas por instrumentos de um gume, com
uma fenda regular, e quase linear, com um ângulo agudo (gume) e outro arredondado (costas) (França, 2008)
(Aguiar, 1958) (Wolfbert, 2003). É característico de lesões provocadas por facas, canivetes, navalhas, pedaços
de vidro, etc. (ver a figura 11) (Aguiar, 1958).

Figura 11 - Configuração da lesão produzida por lâmina com um gume Fonte: http://www.pericias-forenses.
com.br/medicinaforense.htm
As lesões causadas por instrumentos de dois gumes apresentam uma fenda de bordos iguais e ângulos
agudos (ver a figura 12) (França, 2008) (Wolfbert, 2003) (Aguiar, 1958). Os instrumentos correlacionados são
os punhais e as facas de dois gumes (Aguiar, 1958).

Figura 12 - Configuração da lesão produzida por lâmina com dois gumes Fonte: http://www.pericias-foren-
ses.com.br/medicinaforense.htm
Os instrumentos de três gumes originam feridas com forma triangular ou estrelada (ver a figura 13) (França,
2008) (Wolfbert, 2003).

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


31
Figura 13 - Configuração da lesão produzida por lâmina com três gumes Fonte: http://www.pericias-forenses.
com.br/medicinaforense.htm
Por vezes, há deformação do orifício de entrada, face à movimentação da mão que manipula o instrumento
ou movimento da própria vítima, quer alargando a lesão quando há inclinação na saída (ver a figura 14A), quer
mudando a forma, quando há rotação depois de introduzida no corpo (ver a figura 14B) (França, 2008) (Wol-
fbert, 2003) (DiMaio & DiMaio, 2001).

Figura 14 - Modificações da lesão pelo movimento da mão A - alargamento por inclinação B - rotação da mão
Fonte: http://www.pericias-forenses.com.br/medicinaforense.htm
Deste modo, devido ao movimento nestas lesões, o comprimento da ferida pode ser igual, superior ou infe-
rior à largura da lâmina do instrumento (DiMaio & DiMaio, 2001).
Esta movimentação do instrumento ou da vítima, produz lesões em forma de L ou Y, chamadas também de
ferimentos em “cauda de andorinha” (ver a figura 15). O aspecto destas lesões deve-se ao facto do agressor
cravar a lâmina numa direção e, ao retirá-la (possivelmente para desferir outro golpe), o fazer noutra direção ou
por, entretanto, a vítima se ter movido.

Figura 15 - Lesão característica em “cauda de andorinha” Adaptado: DiMaio, V. J., & DiMaio, D. (2001). Fo-
rensic Pathology. Nova York - 2 Edição: CRC Press

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


32
Uma primeira lesão é causada pela penetração da lâmina, e uma segunda pelo movimento da vítima ou de
retirada do instrumento. Uma variação desta lesão é observada na extremidade da lesão, quando o instrumento
é apenas ligeiramente rodado, ou o movimento da vítima é discreto, ganhando a forma de um V invertido ou
bifurcado (ver a figura 16).

Figura 16 - Lesão em forma de V invertido ou bifurcado Adaptado: DiMaio, V. J., & DiMaio, D. (2001). Foren-
sic Pathology. Nova York - 2 Edição: CRC Press
Outra possível configuração de uma lesão, causada por um instrumento perfuro-cortante, que pode asse-
melhar-se à forma de uma lágrima (ver a figura 17). Este formato deve-se à introdução total da lâmina até ao
ricasso, pequeno espaço entre o fim do fio de gume e a guarda da faca, zona esta não cortante, daí o formato
dos bordos não ser angulado (DiMaio & DiMaio, 2001).

Figura 17 - Lesão em formato de lágrima A –Zona mais superficial (Ricasso) B – Zona mais profunda da
lesão originada pelo gume Adaptado: DiMaio, V. J., & DiMaio, D. (2001). Forensic Pathology. Nova York - 2
Edição: CRC Press
Se uma faca é introduzida numa região corporal com muita violência, a sua guarda pode ficar “tatuada” na
pele, uma vez que não é penetrada (DiMaio & DiMaio, 2001).
Se o instrumento é cravado num movimento descendente a marca da guarda é visível na região superior
(ver a figura 18A) e viceversa (ver a figura 18B). A marca da guarda é simétrica se o instrumento é introduzido
em linha reta na pele. (ver a figura 18C). Assim sendo, por vezes os bordos são redondos ou contundidos, pela
entrada da lâmina até a guarda, eliminando angulações deixadas pelo fio de gume.

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


33
Figura 18 – Tipo de “tatuagens” da guarda da faca A- Sentido descendente B- Sentido ascendente C- Sentido
recto D- Sentido esquerda direita e obliquo Adaptado: DiMaio, V. J., & DiMaio, D. (2001). Forensic Pathology.
Nova York - 2 Edição: CRC Press
Se a direção for oblíqua, a tatuagem é mais evidente na margem da lesão compatível com o sentido da pe-
netração, (ver a figura 18D), inclinação de baixo para cima e da esquerda para a direita.
Se o instrumento possui ponta com um ou dois gumes, o orifício de entrada vai variar nas suas dimensões
de acordo com: estado do gume, grau de inclinação do instrumento, mudança de posição do instrumento ao
ser extraído do corpo, movimentos do instrumento dentro corpo e características dos tecidos na área corporal
infligida (Aguiar, 1958). Assim:
- Se o instrumento possui gumes afiados e atuar perpendicularmente à região corporal, as dimensões do
orifício de entrada correspondem, sensivelmente, à largura do instrumento.
- Se por outro lado, o instrumento possui gumes rombos e atuar perpendicularmente, as dimensões do orifí-
cio de entrada são menores do que a sua penetração, relacionado com a elasticidade dos tecidos.
- Se o instrumento atuar em direção oblíqua à epiderme, as dimensões da ferida serão superiores às do ins-
trumento em causa, e tanto maiores quanto mais tangenciais for a penetração e a amplitude dos movimentos no
momento da saída. Após o crivar do instrumento nos tecidos, a ferida adquirirá maiores dimensões, se o mesmo
for manipulado no interior dos tecidos, ou em movimentos de luta, defesa ou fuga da vítima.
A determinação da largura da lâmina do instrumento perfuro-cortante, a partir da dimensão da lesão em
fenda só é possível quando se tem noção do tipo de instrumento utilizado. No caso de instrumentos perfuro-
-cortantes com uma lâmina de feitio triangular, as dimensões do ferimento dependem da profundidade do canal
de penetração (ver a figura 19B). Noutros casos, a largura da lâmina é mais ou menos uniforme pelo que as
dimensões do ferimento refletem, com aproximação, as da lâmina qualquer que seja o seu grau de penetração
(ver a figura 19A) (Calabuig, 2005).

Figura 19 - Diferentes tipos de lâmina A- Lâmina de forma uniforme em todo o comprimento e largura B-
Lâmina de forma triangular Adaptado: DiMaio, V. J., & DiMaio, D. (2001). Forensic Pathology. Nova York - 2
Edição: CRC Press
Com a lâmina A (figura 19A), independentemente da profundidade a largura da lesão é no mínimo do tama-
nho da lâmina. As dimensões da lesão dependem da profundidade com que a lâmina B (figura 19B) penetra
nos tecidos.

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


34
Na maioria dos casos, através da observação da lesão, o sumo de informação possível de deduzir é a lar-
gura máxima da lâmina, uma estimativa do comprimento da lâmina e se possui apenas um único gume. Ao
proceder à medição das dimensões da lesão convém aproximar o mais possível os bordos da ferida, no caso
de uma lesão perpendicular ou oblíqua as linhas de Langer, para se tentar corrigir as deformações introduzidas
pela tensão elástica dos tecidos (DiMaio & DiMaio, 2001).
Nunca se pode vincular um determinado instrumento a uma lesão, a menos que o instrumento tenha ficado
retido no corpo ou pequenos fragmentos soltos pertencentes ao instrumento. Por outro lado, se o instrumento
é identificado, por comparação é possível associar o instrumento à lesão causada (DiMaio & DiMaio, 2001).
Na maioria dos casos quando se questiona se determinada arma foi a que produziu um ferimento específico,
pode-se apenas referir que pode ter sido. Aferir com certeza que a lâmina do crime era de serrilha ou dentada
é raro (Saukko & Knight, 2004) (DiMaio & DiMaio, 2001).
Todos os instrumentos presumíveis de terem causado um crime, devem ser analisados quanto à presença
de sangue ou tecidos. Qualquer vestígio de sangue ou tecido, presente no instrumento, pode ser extraído o
ADN, para possível identificação da vítima e/ou do agressor (DiMaio & DiMaio, 2001).
É possível que o instrumento não tenha vestígios de sangue a nível microscópico mesmo após a sua utili-
zação (DiMaio & DiMaio, 2001). Na perfuração de órgãos sólidos, a hemorragia ocorre apenas quando o ins-
trumento é retirado, porque a sua pressão in situ, previne-a (Saukko & Knight, 2004) (DiMaio & DiMaio, 2001).
Durante a retirada do instrumento as fibras elásticas e musculares dos órgãos sólidos atingidos, ou o tecido
elástico da pele podem contrair-se de encontro à lâmina e limpar os vestígios de sangue presentes na mesma.
A roupa pode também eliminar vestígios de sangue do instrumento no momento da retirada. Se a lâmina não
tem sangue, é necessário verificar se existe no cabo, ou local onde o agressor segurou a arma. Analisar o ins-
trumento na totalidade é vital, pois pode conter algum vestígio biológico passível de ser recolhido ADN, para
análise (DiMaio & DiMaio, 2001).
São raras as situações em que a arma fica retida no corpo, para a remover o dedo polegar e o dedo indicador
devem agarrar os lados do cabo imediatamente adjacentes à pele. Isto permite evitar que o profissional de saú-
de toque ou manipule local que esteve em contato com a mão do agressor, onde poderão estar as impressões
digitais do mesmo (DiMaio & DiMaio, 2001).
Quanto à profundidade atingida pode ser igual, superior ou inferior ao comprimento da lâmina do instrumento
(DiMaio & DiMaio, 2001).
Se a lâmina do instrumento não for introduzida na sua totalidade, a profundidade da lesão será, assim, me-
nor que o seu comprimento. Quando atinge uma região corporal em que a superfície é depressível (como a
parede de abdomen) a lâmina produz uma lesão mais profunda do que o seu próprio comprimento (ver a figura
20) (DiMaio & DiMaio, 2001).

Figura 20 - Superfície do corpo depressível (parede de abdómen). A lâmina produz uma lesão mais profunda
do que o seu próprio comprimento. Fonte: http://www.pericias-forenses.com.br/medicinaforense.htm

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


35
Portanto, a maior ou menor penetração do instrumento, assim como a sua maior ou menor gravidade, de-
pendem não só das características dos instrumentos e da força imprimida, mas também da região corporal
afetada (França, 2008) (Jorge & Dantas, 2003) (DiMaio & DiMaio, 2001) (Aguiar, 1958).
A distância mínima entre a pele e os diferentes órgãos internos foi determinada por Connor et al. (Connor
et al. citado por DiMaio & DiMaio, 2001) (ver a tabela 1). No entanto, estas distâncias estimadas podem ser
menores dependendo da força da compressão na pele e no tecido subcutâneo pelo impulso do instrumento
(DiMaio & DiMaio, 2001).

A determinação da força necessária para perfurar os tecidos é muito subjetiva e difícil de ser quantificada
(Hainsworth, Delaney, & Rutty, 2008) (DiMaio & DiMaio, 2001). A única forma de mensurar a força é baseada
no conhecimento de senso comum como: “força ligeira”, “força moderada”, “força considerável” e em alguns
casos “força extrema” (Hainsworth, Delaney, & Rutty, 2008) (Payne-James, Crane, & Hinchliffe, 2005) (Saukko
& Knight, 2004).
Esta última classificação fica reservada para situações em que o instrumento colide com um osso e fica
empalado, quando penetra o crânio ou quando o instrumento deixa contusões ou equimoses modeladas im-
pressas pelo impacto da sua extremidade na pele (Saukko & Knight, 2004).
Alguns Investigadores desenvolveram um projeto na medição da força máxima necessária para a pene-
tração do instrumento na pele, no momento do impacto. Resultaram as seguintes conclusões generalistas
(Saukko & Knight, 2004):
- À parte o osso e cartilagens calcificadas, a pele é o tecido mais resistente à penetração, seguida pelos
músculos.
- O fator mais importante na penetração é a argúcia da ponta do instrumento. O fio de gume, depois do ins-
trumento penetrado é de, relativamente, de menor importância.
- A velocidade de aproximação do instrumento à pele é, particularmente, importante na forma da penetração.
Se o instrumento é firmemente empurrado contra a pele, requer mais força para a penetrar do que se pelo con-
trário, o instrumento tiver sido projetado.
- É mais fácil de penetrar a pele quando está esticada ou tensa do que quando está enrugada ou mole. Na
parede torácica, onde a pele tende a ser intermitentemente suportada pelas costelas, torna-se relativamente
fácil de ser perfurada, uma vez que os tecidos estão esticados sobre os espaços intercostais, como a membra-
na de um “tambor”.
- Apesar da pele ser mais espessa nas palmas das mãos e plantas dos pés do que no resto do corpo, a
variação da resistência aos instrumentos perfuro-cortantes assume pouca importância quando comparado com
outros fatores. Da mesma forma, a pele do idoso, ou de uma mulher, não é sensivelmente menos resistente do
que a dos homens ou jovens.
- Quando um instrumento é empurrado contra a pele, ondulações e resistências da pele ocorrem até que a
penetração aconteça. Quando é excedido o limiar da resistência das fibras elástica da pele, o instrumento pe-
netra os tecidos subcutâneos sem qualquer força adicional, exceto se interceptado por um osso ou cartilagem.
Deste modo, para que ocorra a completa penetração do instrumento até ao punho ou para que a extremidade

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


36
do instrumento alcance regiões mais profundas, não é necessário suplementar a força exercida. É incorreto
afirmar que para causar uma lesão profunda é necessário aplicar uma força extrema. Algumas experiências
mostram que após a ocorrência da penetração é difícil, ou mesmo impossível, impedir que haja uma penetração
ainda mais profunda, devido a ruptura repentina dos tecidos.
- Quando o instrumento penetra rapidamente nos tecidos, por exemplo, quando a vítima cai ou corre em
direção à lâmina, não é necessário segurar firmemente na mesma, com intuito de evitar que esta não penetre
ou seja mesmo empurrada. A sua inércia, se a ponta é afiada, é mais do que suficiente para a manter segura
enquanto o próprio corpo se espeta sozinho.
- Cartilagem não calcificada, como na região da grade costal, é facilmente penetrável, principalmente em
jovens ou adultos de meia-idade. Contudo é necessária mais força do que se de um espaço intercostal se tra-
ta-se. As costelas e os ossos são mais resistentes, mas um violento golpe de uma rígida e afiada lâmina pode
facilmente penetrar uma costela, esterno ou mesmo o crânio. Tecidos tensos como o miocárdio, fígado e rim
são facilmente trespassados por todos os instrumentos, a sua resistência é muito menor do que a da pele e da
cartilagem.
Contudo, não é possível quantificar a força exata utilizada pelo agressor para causar uma lesão fatal
(Hainsworth, Delaney, & Rutty, 2008) (DiMaio & DiMaio, 2001). Porém, após a comparação e correlação da
relação de cada uma das seguintes quatro variáveis, é possível indicar em termos comparativos a força neces-
sária para infligir um golpe fatal (DiMaio & DiMaio, 2001):
- Características do instrumento utilizado. Ponta e fio de corte afiado ou rombo, lâmina espessa ou fina, o
número de gumes, o tipo e espessura da lâmina. Um instrumento cortante com ponta afiada, de duplo gume,
com lâmina fina requer pouca força ou pouco esforço para penetrar os tecidos ou órgãos do que um instrumento
de lâmina não afiada, romba e de um gume.
- Resistência dos diferentes tecidos e órgãos. As estruturas resistentes como a pele, as cartilagens e os
ossos, necessitam de maior força para serem penetrados do que os tecidos moles, como o tecido adiposo. Atra-
vés dos órgãos ou tecidos lesados, ajudam a quantificar a força que foi necessária para os lesar. Num estudo
realizado por O´Callaghan et al. foi quantificada a força necessária para penetrar uma lâmina de dez centíme-
tros de profundidade, em diferentes tecidos e peças anatómicas em cadáveres (O´Callaghan et al. citado por
DiMaio & DiMaio, 2001).
Determinou-se que a força média necessária para penetrar na pele, no músculo e no tecido subcutâneo
era de cinco quilogramas (quarenta e nove newton) com um desvio padrão entre os três virgula cinquenta e
oito quilogramas aos cinco vírgula sessenta e oito quilogramas. Para o tecido adiposo e músculo, três vírgula
cinquenta e três quilogramas (trinta e cinco newton). Para o músculo isolado três vírgula cinquenta e oito qui-
logramas (trinta e sete vírgula cinco newton) e para o tecido adiposo isolado apenas zero vírgula vinte e dois
quilogramas (dois newton).
- A profundidade e o comprimento da lesão. Para que uma lâmina com cinco centímetros de comprimento
cause uma lesão com dez centímetros de profundidade, é necessária a utilização de muita força.
- A quantidade de roupa e a sua própria composição. O cinto de pele, casacos de pele grossos e duros entre
outros requerem mais força para serem penetrados, do que na ausência de roupa, ou roupas finas e macias.
Pode ser estimada a quantidade de força aplicada pela indumentária.
Alguns Investigadores desenvolveram um projeto na medição da força máxima necessária para a pene-
tração do instrumento na pele, no momento do impacto. Resultaram as seguintes conclusões generalistas
(Saukko & Knight, 2004):
- À parte o osso e cartilagens calcificadas, a pele é o tecido mais resistente à penetração, seguida pelos
músculos.
- O fator mais importante na penetração é a argúcia da ponta do instrumento. O fio de gume, depois do ins-
trumento penetrado é de, relativamente, de menor importância.
- A velocidade de aproximação do instrumento à pele é, particularmente, importante na forma da penetração.
Se o instrumento é firmemente empurrado contra a pele, requer mais força para a penetrar do que se pelo con-
trário, o instrumento tiver sido projetado.

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


37
- É mais fácil de penetrar a pele quando está esticada ou tensa do que quando está enrugada ou mole. Na
parede torácica, onde a pele tende a ser intermitentemente suportada pelas costelas, torna-se relativamente
fácil de ser perfurada, uma vez que os tecidos estão esticados sobre os espaços intercostais, como a membra-
na de um “tambor”.
- Apesar da pele ser mais espessa nas palmas das mãos e plantas dos pés do que no resto do corpo, a
variação da resistência aos instrumentos perfuro-cortantes assume pouca importância quando comparado com
outros fatores. Da mesma forma, a pele do idoso, ou de uma mulher, não é sensivelmente menos resistente do
que a dos homens ou jovens.
- Quando um instrumento é empurrado contra a pele, ondulações e resistências da pele ocorrem até que a
penetração aconteça. Quando é excedido o limiar da resistência das fibras elástica da pele, o instrumento pe-
netra os tecidos subcutâneos sem qualquer força adicional, exceto se interceptado por um osso ou cartilagem.
Deste modo, para que ocorra a completa penetração do instrumento até ao punho ou para que a extremidade
do instrumento alcance regiões mais profundas, não é necessário suplementar a força exercida. É incorreto
afirmar que para causar uma lesão profunda é necessário aplicar uma força extrema. Algumas experiências
mostram que após a ocorrência da penetração é difícil, ou mesmo impossível, impedir que haja uma penetração
ainda mais profunda, devido a ruptura repentina dos tecidos.
- Quando o instrumento penetra rapidamente nos tecidos, por exemplo, quando a vítima cai ou corre em
direção à lâmina, não é necessário segurar firmemente na mesma, com intuito de evitar que esta não penetre
ou seja mesmo empurrada. A sua inércia, se a ponta é afiada, é mais do que suficiente para a manter segura
enquanto o próprio corpo se espeta sozinho.
- Cartilagem não calcificada, como na região da grade costal, é facilmente penetrável, principalmente em
jovens ou adultos de meia-idade. Contudo é necessária mais força do que se de um espaço intercostal se tra-
ta-se. As costelas e os ossos são mais resistentes, mas um violento golpe de uma rígida e afiada lâmina pode
facilmente penetrar uma costela, esterno ou mesmo o crânio. Tecidos tensos como o miocárdio, fígado e rim
são facilmente trespassados por todos os instrumentos, a sua resistência é muito menor do que a da pele e da
cartilagem.
Contudo, não é possível quantificar a força exata utilizada pelo agressor para causar uma lesão fatal
(Hainsworth, Delaney, & Rutty, 2008) (DiMaio & DiMaio, 2001). Porém, após a comparação e correlação da
relação de cada uma das seguintes quatro variáveis, é possível indicar em termos comparativos a força neces-
sária para infligir um golpe fatal (DiMaio & DiMaio, 2001):
- Características do instrumento utilizado. Ponta e fio de corte afiado ou rombo, lâmina espessa ou fina, o
número de gumes, o tipo e espessura da lâmina. Um instrumento cortante com ponta afiada, de duplo gume,
com lâmina fina requer pouca força ou pouco esforço para penetrar os tecidos ou órgãos do que um instrumento
de lâmina não afiada, romba e de um gume.
- Resistência dos diferentes tecidos e órgãos. As estruturas resistentes como a pele, as cartilagens e os
ossos, necessitam de maior força para serem penetrados do que os tecidos moles, como o tecido adiposo. Atra-
vés dos órgãos ou tecidos lesados, ajudam a quantificar a força que foi necessária para os lesar. Num estudo
realizado por O´Callaghan et al. foi quantificada a força necessária para penetrar uma lâmina de dez centíme-
tros de profundidade, em diferentes tecidos e peças anatómicas em cadáveres (O´Callaghan et al. citado por
DiMaio & DiMaio, 2001).
Determinou-se que a força média necessária para penetrar na pele, no músculo e no tecido subcutâneo
era de cinco quilogramas (quarenta e nove newton) com um desvio padrão entre os três virgula cinquenta e
oito quilogramas aos cinco vírgula sessenta e oito quilogramas. Para o tecido adiposo e músculo, três vírgula
cinquenta e três quilogramas (trinta e cinco newton). Para o músculo isolado três vírgula cinquenta e oito qui-
logramas (trinta e sete vírgula cinco newton) e para o tecido adiposo isolado apenas zero vírgula vinte e dois
quilogramas (dois newton).
- A profundidade e o comprimento da lesão. Para que uma lâmina com cinco centímetros de comprimento
cause uma lesão com dez centímetros de profundidade, é necessária a utilização de muita força.
- A quantidade de roupa e a sua própria composição. O cinto de pele, casacos de pele grossos e duros entre
outros requerem mais força para serem penetrados, do que na ausência de roupa, ou roupas finas e macias.
Pode ser estimada a quantidade de força aplicada pela indumentária.

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


38
CARACTERIZAÇÃO DAS LESÕES CORPORAIS POR OUTROS OBJETOS
Quando o instrumento utilizado para causar lesão não é a arma branca típica, uma faca, a ferida pode ter
uma aparência particular devido à natureza incomum da arma. São diversos os instrumentos utilizados como
arma, desde picadores de gelo, garfos, chaves de fenda, tesouras, dardos, flechas, entre outros (DiMaio &
DiMaio, 2001).
As características gerais das lesões originadas por facas aplicam-se igualmente a outros objetos cortantes.
Ambos atuam por corte e perfuração.
Lâminas de barbear e pedaços de vidro partido têm bordos extremamente afiados de modo que, quando
aplicados tangencialmente à pele ou num pequeno ângulo, o resultado pode ser uma lesão exuberante (Saukko
& Knight, 2004) (DiMaio & DiMaio, 2001).
Embora estas armas casuais sejam normalmente utilizadas para cortar, longos pedaços de vidro podem ser,
por vezes inadvertidamente, agentes de perfuração. O longo pedaço pode partir e permanecer numa ferida
profunda, que pode ser ignorada se a entrada é pequena (Saukko & Knight, 2004).
As feridas infligidas por garrafas partidas tendem a ter como características um aglomerado de lesões de
diferentes tamanhos, formas e profundidades. Apresentam gumes afiados, mas ásperos e provocam diferen-
ças na profundidade de penetração na pele. A maioria das feridas fatais, provocadas por garrafas partidas tem
intenção homicida, ocasionalmente suicídio, e, raramente acidental (DiMaio & DiMaio, 2001).
Feridas provocadas com picador de gelo são pouco encontradas atualmente, visto já não ser um objeto
comum. Os picadores de gelo produzem uma lesão pequena e redonda, ou em fenda que pode ser facilmente
confundida com estilhaços ou balas de calibre vinte e dois. Uma única ferida provocada pelo picador pode ser
perdida num exame superficial do corpo, especialmente se houver pouca ou ausência de hemorragia externa
(DiMaio & DiMaio, 2001).
Se a vítima é ferida com um garfo de churrasco, grupos de duas ou três lesões, dependendo do número de
dentes do mesmo, surgem na pele. Cada uma destas lesões está igualmente espaçada de acordo com o espa-
ço existente entre os dentes do garfo (DiMaio & DiMaio, 2001).
A perfuração da pele com um garfo de cozinha geralmente não é possível. O que se constata é um padrão
de três ou quatro, dependendo do número de dentes, abrasões ou feridas penetrantes superficialmente na pele
(DiMaio & DiMaio, 2001).
Lesões provocadas por chaves de fendas podem mostrar configurações muito particulares, por exemplo se
a arma é uma chave estrela. Em tais casos, a ponta em forma de X causa uma ferida circular com quatro cortes
espaçados e uma margem de abrasão. A chave de fendas tradicional, de apenas um raio, produz uma fenda,
como uma arma branca, com extremidades quadradas e com margens escoriadas. Assim, não se pode ter cer-
teza absoluta se esta ferida foi produzida por uma chave de fenda ou se por uma faca com uma lâmina estreita
e romba, introduzida até a guarda (DiMaio & DiMaio, 2001).
As feridas causadas por espadas e lanças são praticamente desconhecidas. Existem algumas descrições
apenas de lesão por espada e ocasionalmente, a referência de mortes causadas por flechas ou virotões. A
aparência da ferida depende da ponta da flecha. Flechas de tiro ao alvo, têm a ponta com terminação cónica.
Eles produzem feridas em que a entrada na pele tem aparência semelhante a ferimentos de bala. As flechas de
caça têm entre dois a cinco gumes cortantes (quatro ou cinco são os mais comuns). As feridas produzidas são
cruzadas ou em forma de X com os quatro gumes. Os bordos da ferida são incisos, sem qualquer escoriação
(DiMaio & DiMaio, 2001).
Lesões por tesouras são triviais, são um objeto comum e de fácil acesso (Saukko & Knight, 2004). As carac-
terísticas das lesões realizadas com tesouras, diferem consoante a forma da tesoura e dependem se a tesoura
estava aberta ou fechada no momento da invasão na pele (DiMaio & DiMaio, 2001).
Se está fechada, a ponta da tesoura rasga a pele em vez de a cortar, produzindo uma lesão linear ou ovalar,
mas com margens escoriadas. Se estiver aberta e apenas uma lâmina espetar os tecidos da vítima, então as
lesões são praticamente idênticas às de uma ferida provocada por uma faca (Calabuig, 2005).

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


39
Mais característico é a lesão produzida quando as duas lâminas da tesoura estão fechadas e penetram a
pele. Uma tesoura com lâminas longas e estreitas, e que as mesmas se fecham quase completamente uma na
outra, o aspecto da ferida é compatível com uma faca espessa (Saukko & Knight, 2004). Assumem uma forma
oval com margens escoriadas (Calabuig, 2005) (ver a figura 9C).
No entanto algumas tesouras, têm as lâminas de aço rebitadas a um suporte contínuo com os punhos. Isso
pode produzir uma marca que pode alterar o padrão normal, provocando bordos irregulares (Saukko & Knight,
2004).
Quando a tesoura tem os ramos abertos é comum observar-se duas pequenas feridas de forma linear e que
se colocam em forma de V completo ou incompleto, podendo inclusive mostrar nas extremidades proximais,
que correspondem ao lado cortante da tesoura, uma pequena cauda de escoriação (Calabuig, 2005).
Algumas tesouras têm uma dupla ponta afiada, mas a maioria das tesouras domésticas, de alfaiate ou te-
soura de costura são bastante rombas, quando fechadas, logo, é necessário uma força considerável para a
fazer atravessar a pele. São prova contra o argumento de defesa acidental e a favor da utilização como arma
(Saukko & Knight, 2004).
Às vezes, há pequenas separações laterais, no centro da ferida projetando a dobradiça ou parafuso no cen-
tro da tesoura (Saukko & Knight, 2004). Isto é, se o parafuso que une as duas lâminas é proeminente, pode
produzir uma laceração angular na parte média de uma das margens da pele. Se as duas lâminas estão sepa-
radas, duas lesões serão produzidas, uma por cada lâmina (DiMaio & DiMaio, 2001).
Existem também outras referências de lesões fatais, infligidas por canetas, lápis e tacos de bilhar partidos,
com configurações pouco padronizadas (DiMaio & DiMaio, 2001). Todos estes instrumentos acima descritos,
com exceção das flechas e dos virotões, não são consideradas legalmente armas brancas. Não estão expres-
sos na letra da lei como tal.7
Lesões por projéteis de fogo
O ferimento por arma de fogo, também conhecido como trauma balístico, é uma forma de trauma físico
ocasionado por projéteis disparados por armas de fogo. Os traumas balísticos mais comuns derivam de armas
usadas em conflitos armados, esportes civis, atividades recreativas e atividades criminosas. Os ferimentos por
armas de fogo podem, pois, ser intencionais ou não intencionais.
Qual é o mecanismo fisiológico dos ferimentos por armas de fogo?
Quando a bala atravessa os tecidos, inicialmente esmagando-os e depois dilacerando-os, o espaço deixado
forma uma cavidade. Balas de alta velocidade criam uma onda de pressão que força os tecidos para longe,
criando uma cavidade temporária ou cavidade secundária, que muitas vezes é maior que a própria bala.
O grau de rompimento dos tecidos causado por um projétil está relacionado à cavitação que o projétil cria ao
passar pelos tecidos. Uma bala com energia suficiente terá um efeito de cavitação maior que a lesão penetran-
te. A cavidade temporária é dada pelo alongamento radial do dano ao tecido em redor da ferida da bala, que
momentaneamente deixa um espaço vazio causado por altas pressões em torno do projétil.
A velocidade da bala é o determinante mais importante da lesão tecidual, embora a massa do projétil tam-
bém contribua para a energia total que danifica os tecidos. A velocidade inicial de uma bala é amplamente
dependente do tipo da arma de fogo. As balas geralmente viajam em uma linha relativamente reta ou fazem
uma volta se um osso for atingido. Mais comumente, as balas não se fragmentam, mas os danos secundários
causados por fragmentos de osso quebrado são uma complicação comum.
Quais são as principais características dos ferimentos por armas de fogo?
Os danos ocasionados por projéteis disparados por armas de fogo dependem da potência da arma, das
características da bala, da sua velocidade, do ponto de entrada no corpo e das estruturas atingidas por ele. As
feridas de bala podem ser devastadoras, porque a trajetória e a fragmentação das balas podem ser imprevisí-
veis após a entrada. Além disso, ferimentos por arma de fogo envolvem um grande grau de destruição do tecido
nas proximidades, devido aos efeitos físicos do projétil.

7 Fonte: www.repositorio-aberto.up.pt

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


40
O efeito prejudicial imediato de uma bala é tipicamente uma hemorragia grave e com ela o risco potencial de
choque hipovolêmico. Isso é tanto mais verdadeiro quando o projétil rompe algum vaso sanguíneo de grande
calibre. Efeitos devastadores e às vezes letais podem ocorrer quando uma bala atinge um órgão vital, como
o coração, os pulmões ou o fígado, ou danifica um componente do sistema nervoso central, como a medula
espinhal ou o cérebro.
Causas comuns de morte após ferimento por arma de fogo incluem hemorragia, hipóxia causada por pneu-
motórax, lesão catastrófica no coração e vasos sanguíneos maiores e danos no cérebro ou em outras partes do
sistema nervoso central. Ferimentos por arma de fogo, quando não são fatais, frequentemente deixam seque-
las severas e duradouras e, por vezes, incapacitantes.
Como o médico trata os ferimentos por armas de fogo?
O manejo pode variar conforme o caso, desde observação e tratamento de feridas locais até intervenção
cirúrgica urgente. As atenções iniciais para uma ferida por arma de fogo são as mesmas que para qualquer
outro caso de traumatismo agudo.
Para assegurar que as funções vitais estejam intactas, deve-se avaliar e proteger as vias aéreas e a coluna
cervical, manter ventilação e oxigenação adequadas, avaliar e controlar o sangramento para manter a perfusão
orgânica, realizar exame neurológico básico, expor todo o corpo e procurar por outras lesões, pontos de entra-
da e pontos de saída e manter a temperatura corporal.
O conhecimento do tipo de arma, número de disparos, direção e distância do tiro, perda de sangue e avalia-
ção dos sinais vitais podem ser úteis para direcionar o gerenciamento.
Os efeitos dos ferimentos por arma de fogo dependem da região atingida. Um ferimento de bala no pescoço
pode ser particularmente perigoso devido ao grande número de estruturas anatômicas vitais existentes (laringe,
traqueia, faringe, esôfago, vasos sanguíneos importantes, tireoide, medula espinhal, nervos cranianos, nervos
periféricos, cadeia simpática e plexo braquial).
Tiros no tórax podem causar sangramento grave, comprometimento respiratório, hemotórax, contusão pul-
monar, lesão traqueobrônquica, lesão cardíaca, lesão7 esofágica e lesão do sistema nervoso. Isso porque a
anatomia do tórax inclui a parede torácica, costelas, coluna vertebral, medula espinhal, feixes nervosos inter-
costais, pulmões, brônquios, coração, aorta, grandes vasos, esôfago, ducto torácico e diafragma.
As atenções iniciais são particularmente importantes, devido ao alto risco de lesões diretas nos pulmões,
no coração e nos grandes vasos. O primeiro exame deve ser uma radiografia de tórax. Adicionalmente podem
ser feitas ultrassonografia, tomografia computadorizada de tórax, ecocardiograma, angiografia, esofagoscopia,
esofagografia e broncoscopia. Pessoas assintomáticas com radiografia normal de tórax podem ser observadas
com repetição de exames clínicos e de imagem a cada 6 horas, para garantir que não haja desenvolvimento
de pneumotórax ou hemotórax.
No abdômen estão o estômago, o intestino delgado, o cólon, o fígado, o baço, o pâncreas, os rins, a coluna
vertebral, o diafragma, a aorta descendente e outros vasos e nervos abdominais. Os tiros no abdômen podem,
pois, causar sangramento grave, liberação do conteúdo intestinal, peritonite, ruptura de órgãos, comprometi-
mento respiratório e déficits neurológicos. A avaliação inicial mais importante de uma ferida a bala no abdômen
é se há sangramento descontrolado, inflamação do peritônio ou derrame de conteúdo intestinal. A ultrassono-
grafia ajuda a identificar sangramento intra-abdominal e radiografias podem ajudar a determinar a trajetória e a
fragmentação da bala. No entanto, o modo preferido de geração de imagens é a tomografia computadorizada.
Os quatro principais componentes das extremidades são ossos, vasos, nervos e tecidos moles. As feridas
de bala podem, assim, causar sangramentos graves, fraturas, déficits nervosos e danos aos tecidos moles.
Dependendo da extensão da lesão, o tratamento pode variar desde o cuidado superficial da ferida até a ampu-
tação do membro.
Pessoas com sinais graves de lesão vascular também requerem intervenção cirúrgica imediata, no entanto,
nem todas as pessoas feridas por tiros no peito exigem cirurgia. Para pessoas sem sinais graves de lesão vas-
cular, deve-se comparar a pressão arterial no membro lesionado à do membro não lesionado, a fim de avaliar
melhor a possível lesão vascular. Se os sinais clínicos forem sugestivos de lesão vascular, a pessoa pode ser
submetida à cirurgia. Além do manejo vascular, as pessoas devem ser avaliadas quanto a lesões nos ossos,
tecidos moles e nervos.

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


41
As lesões por projéteis de alta energia têm se tornado mais frequentes ultimamente, em função do aumen-
to da violência urbana associado ao contrabando de armas de guerra para traficantes e mafiosos. Isto leva à
necessidade de cirurgiões e médicos-legistas conhecerem os mecanismos e as lesões causadas por estes
agentes lesivos. As lesões de entrada, os trajetos e as saídas são estudados com base na experiência pessoal
do autor e em revisão de literatura. A variação da forma das entradas de acordo com a velocidade e a forma dos
projéteis é interpretada sob a luz dos princípios físicos da balística terminal. As cavidades permanente e tempo-
rária são estudadas quanto ao seu mecanismo de formação, sua forma, volume e posição ao longo do trajeto.
Projéteis de alta velocidade têm energia suficiente para atravessar o crânio e sair (lesão dita perfurante). O
calor e a aceleração radial produzidos pela bala são maiores. O aumento instantâneo da pressão intracraniana
pode ser da ordem de 40 atmosferas, o que chega a provocar fraturas no teto das órbitas e contusões distantes,
como nas amígdalas cerebelares.8

Tanatologia forense: causas jurídicas da morte, diagnóstico de realidade da morte.


Morte natural e morte violenta.Fenômenos cadavéricos. Cronotanatognose, comoriência
e premoriência.Destinos do cadáver

A TANATOLOGIA vem do grego tanathos (morte) tem como raiz o Indo-europeu dhwen, “dissipar-se, extin-
guir-se” + logia (estudo), MORTE: do latim “mors, mortis”, de “mori” (morrer) e CADÁVER: do latim “caro data
vermis” (carne dada aos vermes). Temos então Tanatologia a área da medicina legal que se ocupa da morte e
os fenômenos a ela relacionados.
A conceituação da morte é de extremamente dificultosa, assim como, em algumas oportunidades, o diag-
nóstico da realidade de morte.
Há 460 a .C., Hipócrates definia o quadro de morte: “Testa enrugada e árida, olhos cavos, nariz saliente cer-
cado de coloração escura, têmporas endurecidas, epiderme seca e lívida, pêlos das narinas e cílios encobertos
por uma espécie de poeira, córneas de um branco fosco, pálpebras semi-cerradas e fisionomia nitidamente
irreconhecível”. Durante muitos anos definiu-se morte como a cessação da circulação (morte circulatória) e da
respiração (morte respiratória).
Até recentemente aceitava-se conceituar a morte como o cessar total e permanente das funções vitais. Atu-
almente, este conceito foi ampliado a partir do conhecimento de que a morte não é um puro e simples cessar
das funções vitais, mas sim uma gama de processos que se desencadeiam durante um período de tempo,
comprometendo diferentes órgãos.
Atualmente prevalecem dois conceitos de morte: a morte cerebral, indicada pela cessação da atividade elé-
trica do cérebro e a morte circulatória, indicada por parada cardíaca irreversível às manobras de ressuscitação
e outras técnicas.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) define morte como: Cessação dos sinais vitais a qualquer tempo
após o nascimento sem possibilidade de ressuscitamento. Como a morte se apresenta como um processo (di-
nâmico) e não como um evento (estático), quando se coloca a questão: “Quando ocorreu a morte?” a resposta
é dada quando se consegue definir o momento em que o processo de morte atingiu o seu ponto irreversível
Modalidades do Evento Morte:
- morte anatômica - É o cessamento total e permanente de todas as grandes funções do organismo entre si
e com o meio ambiente.
- morte histolôgica - Não sendo a morte um momento, compreende-se ser a morte histológica um processo
decorrente da anterior, em que os tecidos e as células dos órgãos e sistemas morrem paulatinamente.
- morte aparente – estados patológicos do organismo simulam a morte, podendo durar horas, sendo possível
a recuperação pelo emprego imediato e adequado de socorro médico. O adjetivo “aparente” nos parece aqui
adequadamente aplicado, pois o indivíduo assemelha-se incrivelmente ao morto, mas está vivo, por débil per-
sistência da circulação. O estado de morte aparente poderá durar horas. É possível a recuperação de indivíduo
em estado de morte aparente pelo emprego de socorro médico imediato e adequado.

8 Fonte: www.abc.med.br/www.anatpat.unicamp.br

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


42
- morte relativa – estado em que ocorre parada efetiva e duradora das funções circulatórias, respiratórias e
nervosas, associada à cianose e palidez marmórea, porém acontecendo a reanimação com manobras terapêu-
ticas.
- morte intermédia - É admitida apenas por alguns autores. é a que precede a absoluta e sucede a relativa,
como verdadeiro estágio inicial da morte definitiva. Experiências fora do corpo são relatadas neste tipo de mor-
te.
- morte absoluta ou morte real – estado que se caracteriza pelo desaparecimento definitivo de toda atividade
biológica do organismo, podendo-se dizer que parece uma decomposição. Fim da vida inicio da decomposição.
Tanotognose
É a parte da Tanatologia Forense que estuda o diagnóstico da realidade da morte. Esse diagnóstico será
tanto mais difícil quanto mais próximo o momento da morte. Antes do surgimento dos fenômenos transformati-
vos do cadáver. Então, o perito observará dois tipos de fenômenos cadavéricos: os abióticos, avitais ou vitais
negativos, imediatos e consecutivos, e os transformativos, destrutivos ou conservadores.
Fenômenos abióticos ou imediatos ou avitais ou vitais negativos
Logo após a parada cardíaca e o colapso e morte dos órgãos e estruturas, como o pulmão e o encéfalo, sur-
gem os sinais abióticos imediatos ou precoces. Tais sinais são considerados de probabilidade, ou seja, indicam
a possibilidade de morte e são denominados por alguns autores como período de morte aparente, por outros
são chamados de morte intermediária.
1. perda da consciência;
2. abolição do tônus muscular com imobilidade;
3. perda da sensibilidade;
4. relaxamento dos esfíncteres;
5. cessação da respiração;
6. cessação dos batimentos cardíacos;
7. ausência de pulso;
8. fácies hipocrática;
9. pálpebras parcialmente cerradas.
Fenômenos consecutivos
Algum tempo depois aparecem os sinais abióticos mediatos, tardios ou consecutivos, indicativos de certeza
da morte. Tais sinais constituem uma tríade – livor, rigor e algor –, ou seja, alterações de coloração, rigidez e de
temperatura, indicativos de certeza da morte (morte real).
1. resfriamento paulatino do corpo;
2. rigidez cadavérica;
3. espasmo cadavérico;
4. manchas de hipóstase e livores cadavéricos;
5. dessecamento: decréscimo de peso, pergarninhamento da pele e das mucosas dos lábios; modificações
dos globos oculares; mancha da esclerótica; turvação da córnea transparente; perda da tensão do globo ocular;
formação da tela viscosa.
De modo geral, admite-se em nosso meio o abaixamento da temperatura em 0,5°C nas três primeiras horas,
depois 1°C por hora, e que o equilíbrio térmico com o meio ambiente se faz em torno de 20 horas nas crianças,
e de 24 à 26 horas nos adultos.
Os livores, alterações de coloração, variam da palidez a manchas vinhosas. São observados nas regiões de
declive, devido ao acúmulo (deposição) sangüíneo por atração gravitacional. Aparecem ½ hora após a parada
cardíaca, podendo mudar de posição quando ocorrer mudança na posição do corpo. Após 12 horas não mudam
mais de posição, fenômeno denominado de fixação.

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


43
A rigidez, contratura muscular, tem início na cabeça, uma hora após a parada cardíaca, progredindo para o
pescoço, tronco e extremidades, ou seja, de cima para baixo (da cabeça para os pés). O relaxamento se faz no
mesmo sentido. Tal observação é denominada Lei de Nysten. O tempo de evolução é variável.
Fenômenos Transformativos
Microscopicamente, horas após a parada cardíaca, ocorre um processo de auto-destruição celular denomi-
nado autólise, caracterizada por auto-digestão determinada por enzimas presentes nos lisossomos, uma das
organelas citoplasmáticas.
Macroscopicamente, o primeiro sinal de putrefação é o aparecimento da mancha verde abdominal na região
inguinal direita (porção direita, inferior do abdome). Tal mancha é originada pela produção bacteriana de hidreto
de enxofre que, por sua vez, determina a formação de sulfohemoglobina, ou seja, na morte o enxofre “ocupa”
o lugar do oxigênio ou do dióxido de carbono na hemoglobina.
A mancha aparece de 16 a 24 horas após a parada cardíaca, progride para as outras regiões abdominais e
depois para o corpo todo, caracterizando a fase cromática da putrefação. Nos afogados a mancha verde pode
aparecer no tórax.
Os fenômenos transformativos compreendem os destrutivos (autólise, putrefação e maceração) e os conser-
vadores (mumificação e saponificação). Resultam de alterações somáticas tardias tão intensas que a vida se
torna absolutamente impossível. São, portanto, sinais de certeza da realidade de morte.
Fenômenos destrutivos
- Autólise
Após a morte cessam com a circulação as trocas nutritivas intracelulares, determinando lise dos tecidos
seguida de acidificação, por aumento da concentração iônica de hidrogênio e conseqüente diminuição do pH. A
vida só é possível em meio neutro; assim, por diminuta que seja a acidez, será a vida impossível, iniciando-se
os fenômenos intra e extracelulares de decomposição.
- Putrefação
É uma forma de transformação cadavérica destrutiva, que se inicia, logo após a autólise, pela ação de micró-
bios aeróbios, anaeróbios e facultativos em geral, sobre o ceco, porção inicial do grosso intestino muito próximo
a parede abdominal; o sinal mais precoce da putrefação é a mancha verde abdominal, a qual, posteriormente,
se difunde por todo o tronco, cabeça e membros, a tonalidade verde-enegrecida conferindo ao morto aspecto
bastante escuro. Os fetos e os recém-nascidos constituem exceção;neles a putrefação invade o cadáver por
todas as cavidades naturais do corpo, especialmente pelas vias respiratórias.
Na dependência de fatores intrínsecos e de fatores, a marcha da putrefação, se faz em quatro períodos:
1.º) Período de coloração - Tonalidade verde-enegrecida dos tegumentos, originada pela combinação do
hidrogênio sulfurado nascente com a hemoglobina, formando a sulfometemoglobina, surge, em nosso meio,
entre 18 e 24 horas após a morte, durando, em média, 7 dias.
2.°) Período gasoso - Os gases internos da putrefação migram para a periferia provocando o aparecimento
na superfície corporal de flictenas contendo líquido leucocitário hemoglobínico. Confere ao cadáver a postura
de boxeador e aspecto gigantesco, especialmente na face, no tronco, no pênis e bolsas escrotais. A compres-
são do útero grávido produz o parto de putrefação. As órbitas esvaziam-se, a língua exterioriza-se, o pericrânio
fica nu. O ânus se entreabre evertendo a mucosa retal.
A força viva dos gases de putrefação inflando intensamente o cadáver pode fender a parede abdominal com
estalo. O odor característico da putrefação se deve ao aparecimento do gás sulfidrico. Esse período dura em
média duas semanas.
3.°) Período coliquativo - A coliquação é a dissolução pútrida das partes moles do cadáver pela ação conjun-
ta das bactérias e da fauna necrófaga. O odor é fétido e o corpo perde gradativamente a sua forma. Pode durar
um ou vários meses, terminando pela esqueletização.

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


44
4.º) Período de esqueletização - A ação do meio ambiente e da fauna cadavérica destrói os resíduos tissula-
res, inclusive os ligamentos articulares, expondo os ossos e deixando-os completamente livres de seus próprios
ligamentos, os cabelos e os dentes resistem muito tempo à destruição. Os ossos também resistem anos a fio,
porém terminam por perder progressivamente a sua estrutura habitual, tornando-se mais leves e frágeis.
- Maceração
Ocorre quando os restos mortais ficam imersos em meio líquido, sendo caracterizada por putrefação atípica,
enrugamento tecidual e exsangüinação (saída do sangue pela pele desnuda).
São conhecidas duas formas:
·Séptica: mais comum, ocorre geralmente nos corpos que permanecem, após a morte, em lagos, rios e ma-
res.
·Asséptica: observada na morte e permanência do feto intra-útero.
É um fenômeno de transformação destrutiva em que a pele do cadáver, que se encontra em meio contami-
nado, se torna enrugada e amolecida e facilmente destacável em grandes retalhos, com diminuição de consis-
tência inicial, achatamento do ventre e liberação dos ossos de suas partes de sustentação, dando a impressão
de estarem soltos; ocorre quando o cadáver ficou imerso em líquido, como os afogados, feto retido no útero
materno.
Compreende três graus: no primeiro grau, a maceração está representada pelo surgimento lento, nos três
primeiros dias, de flictenas contendo serosidade sanguinolenta. No segundo grau, a ruptura das flictenas confe-
re ao líquido amniótico cor vermelho-pardacenta, e a separação da pele de quase toda a superfície corporal, a
partir do oitavo dia, dá ao feto aspecto sanguinolento. No terceiro grau, destaca-se o couro cabeludo, à maneira
de escalpo, do submerso ou do feto retido intrauterinamente, e, em torno do 15.° dia post mortem, os ossos da
abóbada craniana cavalgam uns sobre os outros, os ligamentos intervertebrais relaxam e a coluna vertebral
torna-se mais flexível e, no feto morto, a coluna adquire acentuada cifose, pela pressão uterina.
Fenômenos conservadores
- Mumificação
É a dessecação, natural ou artificial, do cadáver. Há de ser rápida e acentuada a desidratação.
A mumificação natural ocorre no cadáver insepulto, em regiões de clima quente e seco e de arejamento
intensivo suficiente para impedir ação microbiana, provocadora dos fenômenos putrefatívos. Assim podem ser
encontradas múmias naturais, sem caixão. A mumificação por processo artificial foi praticada historicamente
pelos egípcios e pelos incas, por embalsamamento, após intensa dessecação corporal.
As múmias têm aspecto característico: peso corporal reduzido em até 70%, pele de tonalidade cinzenta-es-
cura, coriácea, ressoando à percussão, rosto com vagos traços fisionômicos e unhas e dentes conservados.
- Saponificação
É um processo transformativo de conservação em que o cadáver adquire consistência untuosa, mole, como
o sabão ou cera (adipocera), às vezes quebradiça, e tonalidade amarelo-escura, exalando odor de queijo ran-
çoso; as condições exigidas para o surgimento da saponificação cadavérica são: solo argiloso e úmido, que
permite a embebição e dificulta, sobremaneira, a aeração, e um estágio regularmente avançado de putrefação.
A saponificação atinge comumente segmentos limitados do cadáver; pode, entretanto, raramente, compro-
metê-lo em sua totalidade. Tal processo, embora factível de individualidade, habitualmente se manifesta em
cadáveres inumados coletivamente em valas comuns de grandes dimensões.
- Outros tipos
São conhecidos outros fenômenos conservativos como:
- Refrigeração: em ambientes muito frios.
- Corificação: desidratação tegumentar com aspecto de couro submetido a tratamento industrial.
- Fossilização: fenômeno conservativo de longa duração.

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


45
- Petrificação: substituição progressiva das estruturas biológicas por minerais, dando um aspecto de pedra
com manutenção da morfologia dos restos mortais.
Tipos de Morte
Quanto ao modo, as mortes são classificadas em naturais, violentas ou suspeitas. Alguns autores incluem
outros tipos, como a morte reflexa (“congestão”), determinada por mecanismo inibitório, como nos casos de
afogados brancos, estudados em Asfixiologia. As mortes violentas são divididas em acidentais, homicidas e
suicidas.
Quanto ao tempo, as mortes são classificadas em:
- Súbita: aquela que não é precedida de nenhum quadro, que é inesperada.
- Agônica: aquela precedida de período de sobrevida. Neste item cabe lembrar das situações de sobrevivên-
cia, em que o indivíduo realiza atos conscientes e elaborados no período de sobrevida; por exemplo, após ter
sido atingido mortalmente com um tiro no coração, o indivíduo tem tempo para reagir e ferir ou matar o desafeto;
ou então o suicida que, após ter dado um tiro na cabeça, escreve bilhete de despedida (situações não usuais,
mas possíveis).
O diagnóstico diferencial entre as formas “súbita” e “agônica” é possível com provas especiais, denomina-
das docimásticas, que estudam as células, tecidos e substâncias presentes no organismo, como glicogênio e
adrenalina.
Nas mortes naturais, regra geral, o médico deverá fornecer “Declaração de Óbito”, documento que contém
o Atestado de Óbito e que originará a Certidão de Óbito.
Nas mortes naturais, sem diagnóstico da causa básica (doença ou evento que deu início à cadeia de eventos
que culminou com a morte), há necessidade de autópsia pelos Serviços de Verificação de Óbitos e, nas mortes
violentas, as autópsias devem ser realizadas pelos Institutos Médico-Legais.
- Morte natural
É aquela que sobrevém por causas patológicas ou doenças, como malformação na vida uterina.
- Morte suspeita
É aquela que ocorre em pessoas de aparente boa saúde, de forma inesperada, sem causa evidente e com
sinais de violência definidos ou indefinidos, deixando dúvida quanto à natureza jurídica, daí a necessidade da
perícia e investigação.
- Morte súbita
É aquela que acontece de forma inesperada e imprevista, em segundos ou minutos.
- Morte agônica
É aquela em que a extinção desarmônica das funções vitais ocorre em tempo longo e neste caso, os livores
hipostáticos formam-se mais lentamente.
- Morte reflexa
É aquela em que se faz presente a tensão emocional, ou seja, uma irritação nervosa (excitação) de origem
externa, exercida em certas regiões, provoca, por via reflexa, a parada definitiva das funções circulatórias e
respiratórias.
Cronotanatognose
É a parte da Tanatologia que estuda a data aproximada da morte. Com efeito, os fenômenos cadavéricos,
não obedecendo ao rigorismo em sua marcha evolutiva, que difere conforme os diferentes corpos e com a
causa mortis e influência de fatores extrínsecos, como as condições do terreno e da temperatura e umidade
ambiental, possibilitam estabelecer o diagnóstico da data da morte tão exatamente quanto possível, porém não
com certeza absoluta. O seu estudo importa no que diz respeito à responsabilidade criminal e aos processos
civis ligados à sobrevivência e de interesse sucessório. A cronotanatognose baseia-se num conjunto de fenô-
menos, a saber:
Resfriamento do cadáver

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


46
Em nosso meio é de 0,5°e nas três primeiras horas; a seguir, o decréscimo de temperatura é de 1°e por hora,
até o restabelecimento do equilíbrio térmico com o meio ambiente.
Rigidez cadavérica
Pode manifestar-se tardia ou precocemente. Segundo Nysten-Sommer, ocorre obedecendo à seguinte or-
dem: na face, nuca e mandíbula, 1 a 2 horas; nos músculos tóraco-abdominais, 2 a 4 horas; nos membros
superiores, 4 a 6 horas; nos membros inferiores, 6 a 8 horas post mortem. A rigidez cadavérica desaparece
progressivamente seguindo a mesma ordem de seu aparecimento, cedendo lugar à flacidez muscular, após 36
a 48 horas de permanência do óbito.
Livores
Podem surgir 30 minutos após a morte, mas surgem habitualmente entre 2 a 3 horas, fixando-se definitiva-
mente no período de 8 a 12 horas após a morte.
Mancha verde abdominal
Influenciada pela temperatura do meio ambiente, surge entre 18 a 24 horas, estendendo-se progressivainen-
te por todo o corpo do 3.° ao 5.° dia após a morte
Gases de putrefação
O gás sulfidrico, surge entre 9 a 12 horas após o óbito. Da mesma forma que a mancha verde abdominal,
significa putrefação.
Decréscimo de peso
Tem valor relativo por sofrer importantes variações determinadas pelo próprio corpo ou pelo meio ambiente.
Aceita-se, no entanto, nos recém-natos e nas crianças uma perda em geral de 8g/kg de peso nas primeiras 24
horas após o falecimento.
Crioscopia do sangue
O ponto crioscópico ou ponto de congelação do sangue é de -0,55°C a -0,57°C. A crioscopia tem valor para
afirmar a causa jurídica da morte na asfixia-submersão e indicar a natureza do meio líquido em que ela ocorreu.
Cristais do sangue putrefato
São os chamados cristais de Westenhöffer-Rocha-Valverde, lâminas cristalóides muito frágeis, entrecruza-
das e agrupadas, incolores, que adquirem coloração azul pelo ferrocianeto de potássio, e castanha, pelo iodo,
passíveis de ser encontradas a partir do 3.° dia no sangue putrefato.
Fauna cadavérica
O seu estudo em relação ao cadáver exposto ao ar livre tem relativo valor conclusivo na determinação da
tanatocronognose, embora os obreiros ou legionários da morte surjam, com certa seqüência e regularidade,
nas diferentes fases putrefativas adiantadas do cadáver, as turmas precedentes preparando terreno para as
legiões sucessoras, representadas por um grupo de oito.
São elas:
1ª Legião: aparece entre o 8.º e o 15.º dia;
2ª Legião: surge com o odor cadavérico, cerca de 15 à 20 dias;
3ª Legião: aparece 3 a 6 meses após a morte;
4ª Legião: encontrada 10 meses após o óbito;
5ª Legião: é encontrada nos cadáveres dos que morreram há mais de 10 meses;
6ª Legião: desseca todos os humores que ainda restam no cadáver, 10 à 12 meses;
7ª Legião: aparece entre 1 e 2 anos e destrói os ligamentos e tendões deixando os ossos livres.
8ª Legião: consome, cerca de 3 anos após a morte, todos os resquícios orgânicos porventura deixados pelas
precedentes.9

9 Fonte: www.profsilvanmedicinalegal.blogspot.com.br

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


47
Premoriência
Há situações que podem ser identificadas como a perda do direito sucessório, um delas é a chamada premo-
riência, ou seja, a morte do herdeiro antos do falecimento do autor da herança, exemplo, morrendo o filho antes
do pai, não há que se falar em direito sucessório, pois o pré-morto esta excluído da sucessão.
Segundo Maria Berenice, na sucessão legítima, somente os descendentes do herdeiro pré-morto é que her-
dam, mas por direito de representação do pré-morto.
Na sucessão testamentária, o falecimento do beneficiado antes do testador não gera direito de representa-
ção, o legado caduca. Havendo outros herdeiros instituídos com relação ao mesmo bem, a morte de um trans-
fere o seu quinhão aos demais, ocorrendo o direito de acrescer. Se não houver a nomeação de substitutos, o
quinhão retorna a legítima.
Por fim, a premoriência é o evento determinante da época da morte de uma pessoa, que é anterior a o autor
da herança.
Comoriência
Quando acontece o falecimento, no mesmo evento de dois ou mais parentes ou de pessoas vinculadas por
liame sucessório, a falta de precisão sobre o momento da morte de cada um pode trazer sérias complicações
e dificultar a transmissão da herança aos herdeiros.
A comoriência é a presunção de morte simultânea entre duas ou mais pessoas.
De acordo com Maria Berenice, não havendo a possibilidade de saber quem é o herdeiro de quem, a lei
presume que a morte ocorreu simultaneamente, desaparecendo o vínculo sucessório entre ambos, assim, um
não herda do outro e os bens de cada um passam aos seus respectivos herdeiros.
Conforme Maria Berenice cita Carvalho dos Santos, sustentado que, ocorrendo o falecimentos mesmo de
lugares diversos, se existir mútuo direito sucessório entre os mortos, não havendo meios de se verificar quem
faleceu primeiro, é possível por analogia reconhecer a comoriência.10
Morte Súbita
É a morte inesperada que acontece em pessoa considerada saudável ou tida como tal, e pela forma como
ocorre levanta suspeita de poder tratar-se de uma morte violenta.
Na maioria dos casos, no fim da autópsia chega-se à conclusão que estas mortes súbitas são mortes de
causa natural, por processos patológicos mais ou menos insidiosos que nunca levaram a vítima ao médico ou a
referenciar queixas objetivas ou subjetivas a familiares e amigos. Estes, colhidos pelo inesperado da situação,
e perante a perda de um ente querido, colocam por vezes a hipótese de se tratar de uma morte violenta e daí
que muitas destas mortes acabem por ser submetidas a autópsia médico-legal.
Infelizmente, muitos médicos, alguns por desconhecimento do conceito médico-legal de morte súbita, outros
por um medo atávico inexplicável de atribuir a causa de morte mais provável face aos elementos clínicos e cir-
cunstânciais disponíveis, acabam por escrever no certificado de óbito “morte súbita de causa indeterminada”.
Todos os dias, os serviços médico-legais são confrontados com a “morte súbita de causa indeterminada” na
sequência de mortes de indivíduos com antecedentes patológicos relevantes, de doenças crónicas com agu-
dizações potencialmente letais, de doenças neoplásicas em fases terminais, de doenças infecto-contagiosas
em fase terminal, no decurso de internamentos hospitalares de dias ou semanas por doença de causa natural.
Este tipo de prática, leva a que os serviços médico-legais acabem por ser confrontados por uma percenta-
gem de “morte súbita de causa indeterminada” que ronda os 40% do total das autópsias realizadas, o que como
é óbvio não deveria acontecer.
É evidente que a maior parte desta percentagem não corresponde efetivamente à verdadeira situação mé-
dico-legal de morte súbita, talvez nem 5% deste total corresponda a casos com verdadeiro interesse médico-
-legal.
Questões médico-legais a responder pela autópsia em casos de morte súbita
- causa da morte

10 Por Ricardo K. Foitzik

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


48
- morte natural ou violenta
- se morte violenta
-- suicídio
-- homicídio
-- acidente
Principais causas de morte súbita por aparelhos e sistemas no adulto
Morte súbita com origem no sistema cardio-vascular
É a causa de morte súbita mais frequente no mundo ocidental. Em cerca de 25% dos casos, a morte súbita
é a primeira manifestação de doença cardio-vascular.
Normalmente durante a autópsia dispensa-se uma atenção especial ao coração e ao estudo das artérias
coronárias. Muitas destas mortes revelam doença coronária de pelo menos dois vasos.
Nem sempre o diagnóstico macroscópico de enfarte agudo de miocárdio é fácil (menos de 25% para alguns
autores) e até o exame histológico pode não dar grandes informações.
Dado que o tempo decorrido entre o início dos sintomas e a morte por vezes é muito curto, não permite um
conjunto de alterações a nível celular que possibilite um diagnóstico histológico.
Algumas das alterações do ritmo cardíaco podem ser potencialmente mortais muito rapidamente se não
forem prontamente revertidas (Ex. fibrilação ventricular). Nestes casos os achados de autópsia são muito es-
cassos, inespecíficos e há uma dificuldade no diagnóstico.
Principais causas de morte no adulto
- doença coronária/enfarte
- cardiomiopatias
- miocardites
- aneurisma dissecante da aorta
- arritmias
Principais causas de morte súbita com origem no sistema nervoso central :
- acidentes vasculares
- meningites
- estado de mal epiléptico
Principais causas de morte morte súbita com origem no sistema respiratório:
- tromboembolia pulmonar
- estado de mal asmático
- hemoptise
- aspiração de corpo estranho
- pneumotórax espontâneo
Principais causas de morte morte súbita com origem no sistema digestivo:
- hematemeses (ruptura de varizes esofágicas, úlceras)
- pancreatite aguda necro-hemorrágica
- peritonite
- enfarte intestinal
Principais causas de morte morte súbita com origem no sistema endócrino
- diabetes - bioquímica do humor vítreo ( glicose > 200 mg/dl )

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


49
- insuficiência suprarrenal aguda (Sindrome de Waterhouse-Friederichesen)11
Morte Suspeita
As mortes de causa suspeita compreendem parte da morte violenta, até que se prove em contrário, trazendo
para a sua compreensão a dúvida quanto ao nexo causal. Para que exista a suspeição deve haver uma per-
gunta: suspeita de quê? Ou seja, para que haja a suspeição, há que existir o interesse ativo de quem suspeita,
vinculado a uma justificativa. É o caso do familiar ou de terceiros que conhecem desvios do contexto social
e comportamental do falecido, ou mesmo suspeitam de peculiaridades durante um tratamento médico e até
de ação de terceiros. Em qualquer destes casos, o cidadão que protagoniza a suspeição tem a obrigação de
comunicar a uma autoridade policial ou ao Ministério Público, que solicitarão, pelos procedimentos habituais, a
perícia médico-legal.
A morte de causa suspeita é bem diferente da morte por causa desconhecida, mesmo que súbita. Esta
é um tipo de morte natural que não compõe o rol de possibilidades com natureza jurídica para classificação
como morte suspeita. A “causa mortis” para ser conhecida, merecerá avaliação necroscópica clínica e aná-
tomo-patológica para a sua verificação e conclusão, porém nunca uma perícia médico-legal. A perícia oficial
é desnecessária e somente será solicitada pela autoridade policial, nestes casos, por intuição ocasional, por
desconhecimento de causa em sua função ou por falta de mecanismo administrativo institucional municipal de
Serviço de Verificação de Óbitos.
É importante que todo médico entenda que quando enganado em sua boa fé, tendo ele exarado a Declara-
ção de Óbito e, após, surgir a descoberta de alguma causa violenta, ele, médico, não terá culpa por ter sido en-
ganado. Até dentro de hospitais isto pode acontecer, conforme casos recentemente estampados em noticiário.
O médico, quando responsável pelo paciente que falece, não deverá gratuitamente alegar suspeição distân-
cia, ou criar suspeita sem fundamentação.
Exemplos contumazes podem ser citados:
- Médico assiste há muitos meses paciente com doença crônica ou incurável, como neoplasias, vindo o do-
ente a óbito longe das vistas do médico, geralmente no domicílio. O médico assistente, conhecedor de todo o
histórico do paciente, não poderá se furtar a fornecer o atestado de óbito, pois se “suspeita” de alguma coisa
tem a obrigação de pessoalmente avisar a autoridade policial do quê suspeita.
- No mesmo caso, situam-se pacientes de consultório e ambulatório hospitalar ou posto de saúde. Ninguém
melhor do que o médico assistente para formular as hipóteses de “causa mortis”. Não é porque o paciente não
se encontra hospitalizado que o médico poderá classificar a morte como de causa suspeita.
Suspeita de quê ?
- O paciente chega a um Pronto-Socorro em tempo de serem verificadas as queixas e de se fazer um diag-
nóstico clínico ou através de exames complementares, um infarto agudo do miocárdio, por exemplo. O médico
assistente é o único profissional que poderá atestar a veracidade dos fatos e é quem deverá fornecer o atestado
de óbito, mesmo que o paciente tenha poucos minutos ou horas de hospital. Um infarto do miocárdio recente
tem grande probabilidade de não ser macroscopicamente observado e ter um fácil diagnóstico clínico (gráfico
mais laboratorial).12
Diagnose Diferencial Das Lesões “Ante” E “Post Mortem”
O legisperito esclarecerá à Justiça se as lesões encontradas foram causadas: a) bem antes da morte; b)
imediatamente antes da morte c) logo após a morte; d) certo tempo após a morte.
- Lesões Intra- Vitam- são lesões que ocorrem no corpo humano durante a vida, com características espe-
cíficas como: infiltração da malha tecidual, coagulação, presença abundante de leucócitos,etc. Reação Vital.
- Lesões Post- Mortem- são lesões que ocorrem após a morte, não possuem Reação Vital.
As lesões adquiridas quando a pessoa estava viva (in vitam) devem ser diferenciadas daquelas que adquiri-
das depois da morte (post mortem), principalmente para estimar a causa da morte.

11 Fonte: www.medicina.med.up.pt
12 Fonte: www.portalmedico.org.br

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


50
A reação vital será o elemento diferencial entre as lesões intra vitam e post mortem e consiste em um con-
junto de sinais macroscópicos, microscópicos e químicos tissulares (histoquímicos, enzimáticos e bioquímicos)
e que ocorrem somente quando as lesões forma provocadas com a vítima estando viva e não após a sua morte
(Vanrell, 2007)
Utilizando-se como referência Vanrell (2007), resumi-se a seguir os sinais característicos de lesões ante
mortem:
Sinais macroscópicos
1) Hemorragia - A hemorragia interna proveniente de lesão produzida no vivo aloja-se no interior do corpo
sob forma de grandes coleções hemáticas. No morto, a coleção hemática interna é sempre de reduzidíssima
dimensão, ou não existe, e o sangue não coagula..
2) Retração dos tecidos - Os ferimentos incisos e os cortocontundentes mostram as margens afastadas,
devido à retração dos tecidos, o que não ocorre nos feitos no cadáver, pois neste os músculos perdem a con-
tratilidade.
3) Escoriações - A presença de crosta recobrindo as escoriações significa lesão intra vitam. Dessarte, per-
gaminhamento da pele escoriada é sinal seguro de lesão pos mortem.
4) Equimoses - Sobrevêm de repente no vivo após o traumatismo, e se apagam lenta e paulatinamente. No
cadáver não ocorrem essas contínuas variações de tonalidades cromáticas.
5) Reações inflamatórias - Manifestadas pelos quatro sintomas cardinais: dor, tumor, rubor e calor. Desse
modo, é a inflamação importante elemento afirmativo de que a lesão foi produzida bem antes da morte.
6) Embolias - São acidentes cujas principais manifestações dependem do órgão em que ocorrem. Chama-se
embolia à obliteração súbita de um vaso, especialmente uma artéria, por coágulo ou por um corpo estranho
líquido, sólido ou gasoso, chamado êmbolo.
7) Consolidação das fraturas - O tempo de consolidação de uma fratura varia conforme o osso. Amiúde de-
manda 1 ou 2 meses.
8) O eritema, simples e fugaz afluxo de sangue na pele, e as flictenas contendo líquido límpido ou citrino,
leucócitos, cloreto de sódio e albuminas (sinal de Chambert), e o retículo vasculocutâneo afirmam queimaduras
intra vitam. No cadáver não se forma nenhum desses sinais vitais. E as bolhas porventura existentes assestam-
-se em áreas edemaciadas contendo gás e, às vezes, líquido desprovido de albuminas e de glóbulos brancos.
9) O cogumelo de espuma traduz fenômeno vital, pois só se forma nos afogados que reagiram à proximidade
da morte cedo foram retirados do meio líquido.
10) A diluição do sangue e a presença de líquido nos pulmões e no estômago, nos asfixiados por submersão,
de substâncias sólidas no interior da traquéia e dos brônquios, no soterramento, de fuligem nas vias respirató-
rias e monóxido de carbono no sangue dos que respiraram no foco de incêndio, de aeração pulmonar e conte-
údo lácteo no tubo digestivo de recém-nascido são sinais certos de reação vital.13
Provas microscópicas
Prova de Verderau: determinação de leucócitos/hemácias no foco da lesão e em qualquer uma outra parte
do corpo afastada dele.
Prova histológica: verificação microscópica da presença de um infiltrado ou exsudato leucocitário em volta
de lesão.
Avaliação histopatológica:
4-8 horas: infiltração de leucócitos neutrófilos polimorfonucleares.
12 horas: presença de monócitos
48 horas: máximo de exsudação (em traumatismos assépticos)
30 dia: crescimento epitelial, proliferação de fibroblastos e neoformação vascular (capilares de neoforma-
ção).

13 Fonte: www.profsilvanmedicinalegal.blogspot.com.br

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


51
40 a 50 dia: aparecimento de fibras colágenas
70 dia: tecido fibroso cicatricial (nas lesões de pequena extensão).
Prova histoquímicas enzimáticas: aumento de algumas enzimas como a fosfatase alcalina, fosfatase ácida,
aminopeptidade, esterase e ATP-ase podem auxiliar na estimativa da idade em horas da lesão, variando de 1
a 8 horas.
Provas bioquímicas: análise quantitativa da presença de histamina ou serotonina presentes em traumas
teciduais, no entanto, só são reconhecíveis se realizadas até uma hora antes da morte e estão presentes no
corpo até 5 dias após a morte.14
Cronotanatognose
É a parte da Tanatologia que estuda a data aproximada da morte. Com efeito, os fenômenos cadavéricos,
não obedecendo ao rigorismo em sua marcha evolutiva, que difere conforme os diferentes corpos e com a
causa mortis e influência de fatores extrínsecos, como as condições do terreno e da temperatura e umidade
ambiental, possibilitam estabelecer o diagnóstico da data da morte tão exatamente quanto possível, porém não
com certeza absoluta. O seu estudo importa no que diz respeito à responsabilidade criminal e aos processos
civis ligados à sobrevivência e de interesse sucessório. A cronotanatognose baseia-se num conjunto de fenô-
menos, a saber:
Resfriamento do cadáver
Em nosso meio é de 0,5°e nas três primeiras horas; a seguir, o decréscimo de temperatura é de 1°e por hora,
até o restabelecimento do equilíbrio térmico com o meio ambiente.
Rigidez cadavérica
Pode manifestar-se tardia ou precocemente. Segundo Nysten-Sommer, ocorre obedecendo à seguinte or-
dem: na face, nuca e mandíbula, 1 a 2 horas; nos músculos tóraco-abdominais, 2 a 4 horas; nos membros
superiores, 4 a 6 horas; nos membros inferiores, 6 a 8 horas post mortem. A rigidez cadavérica desaparece
progressivamente seguindo a mesma ordem de seu aparecimento, cedendo lugar à flacidez muscular, após 36
a 48 horas de permanência do óbito.
Livores
Podem surgir 30 minutos após a morte, mas surgem habitualmente entre 2 a 3 horas, fixando-se definitiva-
mente no período de 8 a 12 horas após a morte.
Mancha verde abdominal
Influenciada pela temperatura do meio ambiente, surge entre 18 a 24 horas, estendendo-se progressivainen-
te por todo o corpo do 3.° ao 5.° dia após a morte
Gases de putrefação
O gás sulfidrico, surge entre 9 a 12 horas após o óbito. Da mesma forma que a mancha verde abdominal,
significa putrefação.
Decréscimo de peso
Tem valor relativo por sofrer importantes variações determinadas pelo próprio corpo ou pelo meio ambiente.
Aceita-se, no entanto, nos recém-natos e nas crianças uma perda em geral de 8g/kg de peso nas primeiras 24
horas após o falecimento.
Crioscopia do sangue
O ponto crioscópico ou ponto de congelação do sangue é de -0,55°C a -0,57°C. A crioscopia tem valor para
afirmar a causa jurídica da morte na asfixia-submersão e indicar a natureza do meio líquido em que ela ocorreu.
Cristais do sangue putrefato
São os chamados cristais de Westenhöffer-Rocha-Valverde, lâminas cristalóides muito frágeis, entrecruza-
das e agrupadas, incolores, que adquirem coloração azul pelo ferrocianeto de potássio, e castanha, pelo iodo,
passíveis de ser encontradas a partir do 3.° dia no sangue putrefato.

14 Fonte: www.portaleducacao.com.br

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


52
Fauna cadavérica
O seu estudo em relação ao cadáver exposto ao ar livre tem relativo valor conclusivo na determinação da
tanatocronognose, embora os obreiros ou legionários da morte surjam, com certa seqüência e regularidade,
nas diferentes fases putrefativas adiantadas do cadáver, as turmas precedentes preparando terreno para as
legiões sucessoras, representadas por um grupo de oito.
São elas:
1ª Legião: aparece entre o 8.º e o 15.º dia;
2ª Legião: surge com o odor cadavérico, cerca de 15 à 20 dias;
3ª Legião: aparece 3 a 6 meses após a morte;
4ª Legião: encontrada 10 meses após o óbito;
5ª Legião: é encontrada nos cadáveres dos que morreram há mais de 10 meses;
6ª Legião: desseca todos os humores que ainda restam no cadáver, 10 à 12 meses;
7ª Legião: aparece entre 1 e 2 anos e destrói os ligamentos e tendões deixando os ossos livres.
8ª Legião: consome, cerca de 3 anos após a morte, todos os resquícios orgânicos porventura deixados pelas
precedentes.15
Premoriência
Há situações que podem ser identificadas como a perda do direito sucessório, um delas é a chamada premo-
riência, ou seja, a morte do herdeiro antos do falecimento do autor da herança, exemplo, morrendo o filho antes
do pai, não há que se falar em direito sucessório, pois o pré-morto esta excluído da sucessão.
Segundo Maria Berenice, na sucessão legítima, somente os descendentes do herdeiro pré-morto é que her-
dam, mas por direito de representação do pré-morto.
Na sucessão testamentária, o falecimento do beneficiado antes do testador não gera direito de representa-
ção, o legado caduca. Havendo outros herdeiros instituídos com relação ao mesmo bem, a morte de um trans-
fere o seu quinhão aos demais, ocorrendo o direito de acrescer. Se não houver a nomeação de substitutos, o
quinhão retorna a legítima.
Por fim, a premoriência é o evento determinante da época da morte de uma pessoa, que é anterior a o autor
da herança.
Comoriência
Quando acontece o falecimento, no mesmo evento de dois ou mais parentes ou de pessoas vinculadas por
liame sucessório, a falta de precisão sobre o momento da morte de cada um pode trazer sérias complicações
e dificultar a transmissão da herança aos herdeiros.
A comoriência é a presunção de morte simultânea entre duas ou mais pessoas.
De acordo com Maria Berenice, não havendo a possibilidade de saber quem é o herdeiro de quem, a lei
presume que a morte ocorreu simultaneamente, desaparecendo o vínculo sucessório entre ambos, assim, um
não herda do outro e os bens de cada um passam aos seus respectivos herdeiros.
Conforme Maria Berenice cita Carvalho dos Santos, sustentado que, ocorrendo o falecimentos mesmo de
lugares diversos, se existir mútuo direito sucessório entre os mortos, não havendo meios de se verificar quem
faleceu primeiro, é possível por analogia reconhecer a comoriência.16
Morte Súbita
É a morte inesperada que acontece em pessoa considerada saudável ou tida como tal, e pela forma como
ocorre levanta suspeita de poder tratar-se de uma morte violenta.

15 Fonte: www.profsilvanmedicinalegal.blogspot.com.br
16 Por Ricardo K. Foitzik

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


53
Na maioria dos casos, no fim da autópsia chega-se à conclusão que estas mortes súbitas são mortes de
causa natural, por processos patológicos mais ou menos insidiosos que nunca levaram a vítima ao médico ou a
referenciar queixas objetivas ou subjetivas a familiares e amigos. Estes, colhidos pelo inesperado da situação,
e perante a perda de um ente querido, colocam por vezes a hipótese de se tratar de uma morte violenta e daí
que muitas destas mortes acabem por ser submetidas a autópsia médico-legal.
Infelizmente, muitos médicos, alguns por desconhecimento do conceito médico-legal de morte súbita, outros
por um medo atávico inexplicável de atribuir a causa de morte mais provável face aos elementos clínicos e cir-
cunstânciais disponíveis, acabam por escrever no certificado de óbito “morte súbita de causa indeterminada”.
Todos os dias, os serviços médico-legais são confrontados com a “morte súbita de causa indeterminada” na
sequência de mortes de indivíduos com antecedentes patológicos relevantes, de doenças crónicas com agu-
dizações potencialmente letais, de doenças neoplásicas em fases terminais, de doenças infecto-contagiosas
em fase terminal, no decurso de internamentos hospitalares de dias ou semanas por doença de causa natural.
Este tipo de prática, leva a que os serviços médico-legais acabem por ser confrontados por uma percenta-
gem de “morte súbita de causa indeterminada” que ronda os 40% do total das autópsias realizadas, o que como
é óbvio não deveria acontecer.
É evidente que a maior parte desta percentagem não corresponde efetivamente à verdadeira situação mé-
dico-legal de morte súbita, talvez nem 5% deste total corresponda a casos com verdadeiro interesse médico-
-legal.
Questões médico-legais a responder pela autópsia em casos de morte súbita
- causa da morte
- morte natural ou violenta
- se morte violenta
-- suicídio
-- homicídio
-- acidente
Principais causas de morte súbita por aparelhos e sistemas no adulto
Morte súbita com origem no sistema cardio-vascular
É a causa de morte súbita mais frequente no mundo ocidental. Em cerca de 25% dos casos, a morte súbita
é a primeira manifestação de doença cardio-vascular.
Normalmente durante a autópsia dispensa-se uma atenção especial ao coração e ao estudo das artérias
coronárias. Muitas destas mortes revelam doença coronária de pelo menos dois vasos.
Nem sempre o diagnóstico macroscópico de enfarte agudo de miocárdio é fácil (menos de 25% para alguns
autores) e até o exame histológico pode não dar grandes informações.
Dado que o tempo decorrido entre o início dos sintomas e a morte por vezes é muito curto, não permite um
conjunto de alterações a nível celular que possibilite um diagnóstico histológico.
Algumas das alterações do ritmo cardíaco podem ser potencialmente mortais muito rapidamente se não
forem prontamente revertidas (Ex. fibrilação ventricular). Nestes casos os achados de autópsia são muito es-
cassos, inespecíficos e há uma dificuldade no diagnóstico.
Principais causas de morte no adulto
- doença coronária/enfarte
- cardiomiopatias
- miocardites
- aneurisma dissecante da aorta
- arritmias
Principais causas de morte súbita com origem no sistema nervoso central :

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


54
- acidentes vasculares
- meningites
- estado de mal epiléptico
Principais causas de morte morte súbita com origem no sistema respiratório:
- tromboembolia pulmonar
- estado de mal asmático
- hemoptise
- aspiração de corpo estranho
- pneumotórax espontâneo
Principais causas de morte morte súbita com origem no sistema digestivo:
- hematemeses (ruptura de varizes esofágicas, úlceras)
- pancreatite aguda necro-hemorrágica
- peritonite
- enfarte intestinal
Principais causas de morte morte súbita com origem no sistema endócrino
- diabetes - bioquímica do humor vítreo ( glicose > 200 mg/dl )
- insuficiência suprarrenal aguda (Sindrome de Waterhouse-Friederichesen)17
Morte Suspeita
As mortes de causa suspeita compreendem parte da morte violenta, até que se prove em contrário, trazendo
para a sua compreensão a dúvida quanto ao nexo causal. Para que exista a suspeição deve haver uma per-
gunta: suspeita de quê? Ou seja, para que haja a suspeição, há que existir o interesse ativo de quem suspeita,
vinculado a uma justificativa.
É o caso do familiar ou de terceiros que conhecem desvios do contexto social e comportamental do falecido,
ou mesmo suspeitam de peculiaridades durante um tratamento médico e até de ação de terceiros. Em qualquer
destes casos, o cidadão que protagoniza a suspeição tem a obrigação de comunicar a uma autoridade policial
ou ao Ministério Público, que solicitarão, pelos procedimentos habituais, a perícia médico-legal.
A morte de causa suspeita é bem diferente da morte por causa desconhecida, mesmo que súbita. Esta
é um tipo de morte natural que não compõe o rol de possibilidades com natureza jurídica para classificação
como morte suspeita. A “causa mortis” para ser conhecida, merecerá avaliação necroscópica clínica e aná-
tomo-patológica para a sua verificação e conclusão, porém nunca uma perícia médico-legal. A perícia oficial
é desnecessária e somente será solicitada pela autoridade policial, nestes casos, por intuição ocasional, por
desconhecimento de causa em sua função ou por falta de mecanismo administrativo institucional municipal de
Serviço de Verificação de Óbitos.
É importante que todo médico entenda que quando enganado em sua boa fé, tendo ele exarado a Declara-
ção de Óbito e, após, surgir a descoberta de alguma causa violenta, ele, médico, não terá culpa por ter sido en-
ganado. Até dentro de hospitais isto pode acontecer, conforme casos recentemente estampados em noticiário.
O médico, quando responsável pelo paciente que falece, não deverá gratuitamente alegar suspeição distân-
cia, ou criar suspeita sem fundamentação.
Exemplos contumazes podem ser citados:
- Médico assiste há muitos meses paciente com doença crônica ou incurável, como neoplasias, vindo o do-
ente a óbito longe das vistas do médico, geralmente no domicílio. O médico assistente, conhecedor de todo o
histórico do paciente, não poderá se furtar a fornecer o atestado de óbito, pois se “suspeita” de alguma coisa
tem a obrigação de pessoalmente avisar a autoridade policial do quê suspeita.

17 Fonte: www.medicina.med.up.pt

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


55
- No mesmo caso, situam-se pacientes de consultório e ambulatório hospitalar ou posto de saúde. Ninguém
melhor do que o médico assistente para formular as hipóteses de “causa mortis”. Não é porque o paciente não
se encontra hospitalizado que o médico poderá classificar a morte como de causa suspeita.
Suspeita de quê ?
- O paciente chega a um Pronto-Socorro em tempo de serem verificadas as queixas e de se fazer um diag-
nóstico clínico ou através de exames complementares, um infarto agudo do miocárdio, por exemplo. O médico
assistente é o único profissional que poderá atestar a veracidade dos fatos e é quem deverá fornecer o atestado
de óbito, mesmo que o paciente tenha poucos minutos ou horas de hospital. Um infarto do miocárdio recente
tem grande probabilidade de não ser macroscopicamente observado e ter um fácil diagnóstico clínico (gráfico
mais laboratorial).18
Diagnose Diferencial Das Lesões “Ante” E “Post Mortem”
O legisperito esclarecerá à Justiça se as lesões encontradas foram causadas: a) bem antes da morte; b)
imediatamente antes da morte c) logo após a morte; d) certo tempo após a morte.
- Lesões Intra- Vitam- são lesões que ocorrem no corpo humano durante a vida, com características espe-
cíficas como: infiltração da malha tecidual, coagulação, presença abundante de leucócitos,etc. Reação Vital.
- Lesões Post- Mortem- são lesões que ocorrem após a morte, não possuem Reação Vital.
As lesões adquiridas quando a pessoa estava viva (in vitam) devem ser diferenciadas daquelas que adquiri-
das depois da morte (post mortem), principalmente para estimar a causa da morte.
A reação vital será o elemento diferencial entre as lesões intra vitam e post mortem e consiste em um con-
junto de sinais macroscópicos, microscópicos e químicos tissulares (histoquímicos, enzimáticos e bioquímicos)
e que ocorrem somente quando as lesões forma provocadas com a vítima estando viva e não após a sua morte
(Vanrell, 2007)
Utilizando-se como referência Vanrell (2007), resumi-se a seguir os sinais característicos de lesões ante
mortem:
Sinais macroscópicos
1) Hemorragia - A hemorragia interna proveniente de lesão produzida no vivo aloja-se no interior do corpo
sob forma de grandes coleções hemáticas. No morto, a coleção hemática interna é sempre de reduzidíssima
dimensão, ou não existe, e o sangue não coagula..
2) Retração dos tecidos - Os ferimentos incisos e os cortocontundentes mostram as margens afastadas,
devido à retração dos tecidos, o que não ocorre nos feitos no cadáver, pois neste os músculos perdem a con-
tratilidade.
3) Escoriações - A presença de crosta recobrindo as escoriações significa lesão intra vitam. Dessarte, per-
gaminhamento da pele escoriada é sinal seguro de lesão pos mortem.
4) Equimoses - Sobrevêm de repente no vivo após o traumatismo, e se apagam lenta e paulatinamente. No
cadáver não ocorrem essas contínuas variações de tonalidades cromáticas.
5) Reações inflamatórias - Manifestadas pelos quatro sintomas cardinais: dor, tumor, rubor e calor. Desse
modo, é a inflamação importante elemento afirmativo de que a lesão foi produzida bem antes da morte.
6) Embolias - São acidentes cujas principais manifestações dependem do órgão em que ocorrem. Chama-se
embolia à obliteração súbita de um vaso, especialmente uma artéria, por coágulo ou por um corpo estranho
líquido, sólido ou gasoso, chamado êmbolo.
7) Consolidação das fraturas - O tempo de consolidação de uma fratura varia conforme o osso. Amiúde de-
manda 1 ou 2 meses.
8) O eritema, simples e fugaz afluxo de sangue na pele, e as flictenas contendo líquido límpido ou citrino,
leucócitos, cloreto de sódio e albuminas (sinal de Chambert), e o retículo vasculocutâneo afirmam queimaduras
intra vitam. No cadáver não se forma nenhum desses sinais vitais. E as bolhas porventura existentes assestam-
-se em áreas edemaciadas contendo gás e, às vezes, líquido desprovido de albuminas e de glóbulos brancos.

18 Fonte: www.portalmedico.org.br

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


56
9) O cogumelo de espuma traduz fenômeno vital, pois só se forma nos afogados que reagiram à proximidade
da morte cedo foram retirados do meio líquido.
10) A diluição do sangue e a presença de líquido nos pulmões e no estômago, nos asfixiados por submersão,
de substâncias sólidas no interior da traquéia e dos brônquios, no soterramento, de fuligem nas vias respirató-
rias e monóxido de carbono no sangue dos que respiraram no foco de incêndio, de aeração pulmonar e conte-
údo lácteo no tubo digestivo de recém-nascido são sinais certos de reação vital.19
Provas microscópicas
Prova de Verderau: determinação de leucócitos/hemácias no foco da lesão e em qualquer uma outra parte
do corpo afastada dele.
Prova histológica: verificação microscópica da presença de um infiltrado ou exsudato leucocitário em volta
de lesão.
Avaliação histopatológica:
4-8 horas: infiltração de leucócitos neutrófilos polimorfonucleares.
12 horas: presença de monócitos
48 horas: máximo de exsudação (em traumatismos assépticos)
30 dia: crescimento epitelial, proliferação de fibroblastos e neoformação vascular (capilares de neoforma-
ção).
40 a 50 dia: aparecimento de fibras colágenas
70 dia: tecido fibroso cicatricial (nas lesões de pequena extensão).
Prova histoquímicas enzimáticas: aumento de algumas enzimas como a fosfatase alcalina, fosfatase ácida,
aminopeptidade, esterase e ATP-ase podem auxiliar na estimativa da idade em horas da lesão, variando de 1
a 8 horas.
Provas bioquímicas: análise quantitativa da presença de histamina ou serotonina presentes em traumas
teciduais, no entanto, só são reconhecíveis se realizadas até uma hora antes da morte e estão presentes no
corpo até 5 dias após a morte.20

Técnicas de Necropsia: técnicas realizadas nas necropsias. Aspectos legais e éticos


da necropsia. instrumentos utilizados em necropsia. Técnicas de conservação de cadá-
ver, técnicas de preparo de corpos em antropologia forense
A palavra necropsia se origina do grego nekrós, que significa morte, e ópsis que significa vista, portanto, é
um exame realizado após a morte de um indivíduo.21.
Portanto, trata-se de uma série de observações e procedimentos organizados e hierarquizados, realizados
no cadáver com o objetivo de determinar o que provocou a sua morte. É através dela que se constata altera-
ções (congênitas ou adquiridas), naturais ou traumáticas (violentas ou não), as quais atuando com anteriorida-
de ou recentemente, levaram à morte do indivíduo.
Tipos Principais
a) Necropsia Clínica (anatomopatológica): é realizada por médico patologista e visa esclarecer a fisiopato-
logia e a patogenia da doença e tem como principal finalidade estudar as alterações morfológicas dos órgãos
e tecidos com o objetivo de adquirir informações sobre a causa de origem da patologia, complicações, abran-
gência e consequências). A necropsia fetal é o exame necroscópico realizado em fetos que foram a óbito antes
do nascimento. É considerado um subtipo da necropsia clínica, sendo para a sua realização considerado a
viabilidade, critérios biológico e temporal.

19 Fonte: www.profsilvanmedicinalegal.blogspot.com.br
20 Fonte: www.portaleducacao.com.br
21 ESPINOSA, Benjamin. G. Generalidades sobre las autopsias, REA: EJ Autopsy.

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


57
b) Necropsia Forense (médico-legal ou judicial): é realizada por um médico legista e tem como objetivo
esclarecer os mecanismos, tempo, efeitos e causas que levaram o indivíduo a morte, se tornando um dos
principais componentes na investigação criminal. As circunstâncias que precederam e circundaram a morte,
inspeção e coleta de provas no local onde o corpo foi encontrado são incluídas neste processo22.
Atualmente a necropsia é disciplinada pelo art. 162 do CPP.

Art. 162. A autópsia será feita pelo menos seis horas depois do óbito,
salvo se os peritos, pela evidência dos sinais de morte, julgarem que pos-
sa ser feita antes daquele prazo, o que declararão no auto.
Parágrafo único. Nos casos de morte violenta, bastará o simples exa-
me externo do cadáver, quando não houver infração penal que apurar,
ou quando as lesões externas permitirem precisar a causa da morte e
não houver necessidade de exame interno para a verificação de alguma
circunstância relevante.
Em regra, haverá exame interno do cadáver, que, no entanto, não será necessário quando não houver in-
fração penal a apurar ou quando o exame externo permitir a conclusão sobre a causa da morte. Exige-se, para
sua realização, o período de segurança de seis horas a contar do momento do óbito, já que, transcorrido esse
lapso, há o aparecimento de sinais tanatológicos mais evidentes.
Importante destacar que o Código também determina que os cadáveres sejam fotografados na posição em
que forem encontrados, bem assim que se faça registro fotográfico das lesões que porventura neles existirem
e, ainda, que os peritos instruam o laudo com fotografias, esquemas ou desenhos representativos das lesões.
Ainda, observa-se que a necropsia médico-legal visa atender aos quesitos formulados no laudo de exame ca-
davéricos tais como: se houve morte; qual foi a causa da morte; qual o instrumento ou meio que produziu a mor-
te; se foi produzida com o emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura, ou outro meio insidioso ou cruel.
No exame necroscópico externo o perito deve fazer descrições de identificações e dos achados no cadáver
para visar o esclarecimento da causa da morte. Segundo Voelfert23 há necessidade de descrever:
- Elementos de identificação tais como sexo, cor, peso, altura, idade, sinais particulares, estado nutricional;
- Sinais post-mortem como rigidez cadavérica, putrefação e livores;
- Na cabeça, examinar cabelo, nariz, orelha, olhos (diâmetro, tela viscosa, manchas);
- No pescoço, examinar movimentos anormais (possíveis fraturas) e manchas;
- No tórax procurar por tatuagens, forma e lesões;
- No abdômen, leões, tatuagens, cicatrizes e forma abdominal;
- No ânus procurar por sinais de violência (fissuras, lacerações, espermatozoides), doenças;
- Na genital feminina: descrever a anatomia (pequenos e grandes lábios, hímen), sangue vaginal, corrimen-
to, espermatozoides; no homem, bolsa escrotal, escoriações e doenças;
- Nos membros inferiores, superiores e região dorsal, procurar por tatuagens, lesões e deformidades.
Na necropsia interna, a incisão para a abertura da cavidade torácica e abdominal mais utilizada é a bia-
crômio-esterno-pubiana em forma de Y. Tem início nos ombros, na altura do acrômio de cada escápula e se
estende pela linha média do manúbrio de esterno até a sínfise púbica. Realiza-se a medição do panículo adi-
poso no tórax e no abdômen na altura do mamilo e da cicatriz umbilical. Com a cavidade torácica exposta, em
seguimento, examina-se:
- Na cavidade craniana, examinar os retalhos, abrir a calota e verificar as meninges, fraturas e encéfalo.
Examinar os ventrículos e procurar por hemorragias e edemas;

22 FINKBEINER, W. E. URSELL, P. C. & DAVIS, R. L. Autopsia em patologia Atlas e Texto. São Paulo:
Roca.
23 VOLFERT, A.J.T. Introdução á Medicina Legal. Canoas: Ed. Ulbra.

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


58
- A cavidade raquidiana é sempre aberta após a abertura da cavidade craniana e procura-se por fraturas,
lesão medular, infiltrações sanguíneas;
- Os órgãos do pescoço devem ser retirados junto com a língua. Pesquisar se há infiltrações de sangue,
fraturas (hioide e cartilagens);
- Na cavidade tóraco-abdominal, é feito uma incisão mento pubiana, retirando o plastrão condro-esternal. É
feito descrição de cada órgão e cavidade em particular, e líquidos com volume aproximado. Quanto aos órgãos,
é feito um exame preliminar da cor, forma e a consistência. Na área cardíaca, é examinada detalhadamente os
vasos da base do coração, desfazem-se aderências existentes entre os pulmões e a parede.
- Sangue e urina são retirados para exames posteriores no caso de suspeita de envenenamento, drogas e
álcool. O estomago e seu conteúdo, fragmentos do fígado, rim, coração e encéfalo, são colhidos no caso de
suspeita de envenenamento. Para Leite24, “em certas ocasiões é necessário colher materiais como sangue,
urina, conteúdo estomacal, esperma, líquido vaginal, resíduos sub-ungueais e pelos, para a realização de exa-
mes como alcoolemia, toxicologia, gravidez, DNA”.
Na inspeção interna, segundo as incisões, a remoção dos órgãos, os planos e linhas de secção dos órgãos e
ao modo de examiná-los. A técnica forense empregada vai depender de fatores em que se encontra o cadáver.
Normalmente em corpos embalsamados, utiliza-se a técnica de Letulle. Para exames de abertura da cavidade
craniana e raqui-medular se faz uso da técnica de Virchow. Outras técnicas utilizadas são as de Rokitansky e
Ghon25.
Indicações
Existem três indicações clássicas previstas em lei para a realização da necropsia no Instituto Médico Legal
- IML: morte violenta (por acidente de trânsito ou de trabalho, homicídio, suicídio etc.); morte suspeita ou morte
natural de pessoa não identificada.
a) Morte Natural: é aquela que sobrevém motivada amiúde por causas patológicas ou por grave malforma-
ção, incompatível com a vida extrauterina prolongada.
b) Morte Violenta: é aquela que resulta de uma ação exógena e lesiva (suicídio, homicídio, acidente), mesmo
tardiamente, sobre o corpo humano.
b.1. Homicídio: é a morte voluntária (dolosa) ou involuntária (culposa) de alguém realizada por outrem. À lei
não importa seja a vítima monstro, inviável, demente, incapaz, agonizante; exige-se, naturalmente, que esteja
viva ao sofrer por parte do agente a agressão homicida, pois o objeto jurídico que a lei tutela é a vida, bem ines-
timável inerente ao homem, quaisquer que sejam suas condições biopsíquicas, transitórias (vida intrauterina),
momentâneas (sono, ebriez) ou permanentes (idade, sexo, raça, inteligência), independentemente de suas
condições jurídicas.
Causas principais do homicídio:
- Fase aguda da embriaguez;
- As questões passionais,
- A doença mental e as anormalidades psíquicas;
- O jogo;
- A vingança;
- A política;
- A religião;
- A miséria e a marginalidade.
Ação pericial: no homicídio doloso o perito esclarecerá à justiça:
24 LEITE, Dinaldo de Lima. Autópsia Clínica e Autópsia Forense Semelhanças e Divergências. Especialis-
ta em Biociências Forenses. Instituto de Estudos Farmacêuticos, IFAR - Universidade Católica do Goiás, UCG,
Brasil, 2011.
25 ALCÂNTARA, H. R. Perícia médica judicial. Atualizadores Genival Veloso de França (coordenador)... [et
al.]. 2º Ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. P 251-312.

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


59
- O nexo causal entre a agressão alegada e o evento morte;
- Qual o meio empregado;
- O estado mental do homicida;
- Sua periculosidade;
- Se trata-se de embriaguez fortuita ou preordenada;
- Se foi cometido mediante emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou
cruel;
- Se foi cometido sob violenta emoção;
- A idade do agente;
- A atitude da vítima;
- A execução de certos atos pela vítima, após o ferimento mortal;
- A mudança de posição, dolosa ou acidental, da vítima;
- As lesões encontradas na vítima provocadas pelo agente, no propósito de subjugá-la;
- A sede, forma e o número dos ferimentos no cadáver;
- Sendo o agente silvícola, o seu grau de adaptabilidade ao meio;
- O exame do local do crime.
b.2. Suicídio: (sui. a si próprio; caedere. cortar, matar). É a deserção voluntária da própria vida; é a morte,
por vontade e sem constrangimento, de si próprio.
A conceituação dessa modalidade jurídica de morte exige dois elementos: um, subjetivo, o desejo de morrer;
outro, objetivo, o resultado morte. Exclui-se do conceito de suicídio os que morreram no cumprimento do dever.
Embora o suicídio não seja ato ilícito, o art. 122 do CP pune o induzimento, a instigação ou o auxílio físico,
material ou moral, mesmo por motivos altruísticos, para que o potencialmente suicida realize seu intento.
Os suicidas podem ser considerados impulsivos nos quais influi uma explosão do momento – ou premedita-
dos - em que agem a sugestão, o temperamento e a vaidade.
b.3. Morte acidental: é a causa jurídica da morte representada por acidentes aeroviários, ferroviários, maríti-
mos e, em sua maioria, pelo tráfego, pela velocidade dos veículos, pelo despreparo psicológico dos motoristas
ou pelo estado de embriaguez, pela imprevidência e imprudência dos pedestres, pelo obsoletismo de algumas
estradas, pela deficiência no policiamento rodoviário, pelas ruas estreitas e mal iluminadas.
c) Morte Suspeita: é aquela que ocorre em pessoas de aparente boa saúde, de forma inesperada, sem cau-
sa evidente, ou com sinais de violência indefinidos ou definidos, por exemplo, simulação de suicídio objetivando
ocultar homicídio, passível de gerar desconfiança sobre sua etiologia.
Instrumental
O técnico de necropsia arruma o instrumento a ser utilizado e o coloca em uma mesa ao lado da mesa de
necropsia, de maneira que possa ser alcançado facilmente, sem que sejam necessários grandes deslocamen-
tos. O instrumental mínimo para a realização de uma necropsia inclui:
- Afastadores de Farabeuf;
- Agulha e linha de sutura, martelo;
- Aventais;
- Balança para pesar vísceras;
- Cabo e lâminas de bisturi;
- Câmara frigorífica para acondicionamento de cadáver;
- Envelopes para acondicionamento de projéteis de arma de fogo;

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


60
- Equipamento de informática para digitação e impressão dos laudos;
- Fita métrica;
- Foco;
- Formol a 10% para fixação de vísceras para exame histopatológico;
- Freezer para acondicionamento de vísceras e conteúdos biológicos para exame toxicológico;
- Gorros;
- Livro de registro de material coletado;
- Local seguro para guarda de projéteis;
- Luvas cirúrgicas;
- Mapas do corpo humano indicando a topografia das regiões anatômicas;
- Máquina fotográfica;
- Máscaras;
- Mesa de necropsia;
- Negatoscópio, balança para pesar o cadáver;
- Pia para lavagem das mãos;
- Pinças dente de rato e hemostáticas curvas e retas;
- Propés;
- Recipiente transparente graduado para medir volume de liquido retirado do corpo;
- Recipientes para coleta de urina;
- Ruginas, costótomo;
- Sabonete;
- Sala de necropsia com iluminação natural;
- Sangue e vísceras;
- Serra de crânio ou serrote;
- Swabs26 esterilizados;
- Talhadeira;
- Tesouras curvas e retas;
- Toalhas de papel para secagem das mãos.
Técnicas de Necropsia
Na atualidade são utilizados diferentes métodos de necropsias que são variações das técnicas de Virchow,
Ghon, Letulle e Rokitansky.
Na técnica de Rokitansky, há retirada dos órgãos isoladamente logo após terem sido dissecados, abertos e
examinados no local e favorecem as condições, geralmente necessárias, nos casos em que a autopsia autori-
zada é parcial ou restritiva e o limite de tempo é escasso para a realização do procedimento.
No método de Virchow, os órgãos são retirados e examinados posteriormente em laboratório. Este método é
recomendado para mostrar as alterações de cada órgão, porém a relação topográfica entre eles é prejudicada.
A técnica de Ghon onde a retirada dos órgãos se realiza com monoblocos de órgãos com função anatômica
e funcional relacionados.
Na técnica de Letulle, os órgãos das cavidades cervical, torácica e abdominal são retirados em monobloco.
Os métodos de Ghon e Letulle preservam as relações entre os órgãos e sistema linfático.
26 SWAB: dispositivo contendo uma haste cilíndrica que na sua extremidade apresenta algodão enrolado.

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


61
Utilização dessas Técnicas
a) Ectoscopia27: a necropsia inicia-se pela inspeção externa ou ectoscopia do corpo. Esta parte do exame
tem por objetivo descrever, além das possíveis lesões externas, os fenômenos cadavéricos (rigor mortis ou fla-
cidez muscular e livores, entre outros), estado de nutrição, estatura, ainda que aproximada, compleição física,
cor da pele e dos pelos, e o aspecto das mucosas de globos oculares, boca e genitália externa.
Visa também detectar eventuais alterações gerais, como palidez e icterícia, por exemplo: para a realização
da ectoscopia o cadáver deve estar nu. Realiza-se o exame das superfícies dorsal e ventral do corpo, iniciando-
-se do geral para o específico e das regiões proximais para as distais dos membros. A descrição dos achados
no laudo seguirá esta mesma ordem.
Vestes: nos orifícios de saída produzidos por projetil de arma de fogo, deve-se observar, na face interna, das
vestes em contato com o corpo, a presença de fragmentos de pele que podem ter sido levados pela bala desde
o orifício de entrada. É o sinal de LATES E TOVO.
b) Acesso às Cavidades Corporais: o exame interno, próxima etapa da necropsia, é dividido em exame
interno da cabeça (cavidade craniana) e do tronco (cavidades torácica e abdominal) e inicia-se pela incisão.
Após a incisão, são retirados os planos ósseos das respectivas cavidades. O exame interno deve começar pela
cabeça.
Cabeça: para o acesso à cavidade craniana é realizada a incisão bimastoidea, de um processo mastoideo
(posterior ao pavilhão auditivo) ao contralateral, em orientação coronal, passando pelas regiões temporais e
parietais. Após essa incisão os planos subcutâneos do couro cabeludo são rebatidos, expondo-se a abóbada
craniana e os músculos temporais. Os músculos temporais são rebatidos com uma faca ou uma rugina.
A abóbada craniana é serrada com serra de arco, passando pelo osso frontal, cerca de três centímetros
acima das sobrancelhas, em orientação transversal em relação ao longo eixo do corpo. Na altura do osso
temporal, realiza-se uma angulação de cerca de 120 graus na linha de serragem, de maneira a se formar uma
calota craniana em forma de cunha. O osso não é serrado em toda a sua espessura para se evitarem danos
às meninges e ao encéfalo. Serram-se a tábua óssea externa e partes da tábua interna para, posteriormente,
completar-se a abertura com o uso de cinzel e martelo.
Tronco: para a realização do procedimento completo, a incisão a se utilizar para o exame interno do tronco
é a biacrômio-fúrculo-pubiana, também chamada “em Y”. Esta incisão inicia-se nos ombros, a partir do acrômio
de cada escápula, convergindo-se, ambos os cortes, para a fúrcula esternal, após passarem pelo bordo inferior
das regiões mamárias. Da fúrcula esternal o corte desce para a sínfise pubiana em linha reta, medialmente,
fazendo-se um pequeno contorno na cicatriz umbilical. Após essa incisão, os planos cutâneo, subcutâneo e
muscular são rebatidos para a exposição do gradil costal e da cavidade peritoneal.
Outras técnicas de incisão podem ser utilizadas na dependência do que se deseja examinar e das carac-
terísticas próprias do corpo em estudo. Em recém-nascidos a incisão preferencial é a mentopubiana, que se
estende, na linha média, do mento à sínfise púbica, podendo ser feito um pequeno contorno na cicatriz umbilical
ou, então, pouco acima desta, o corte divergir, “em V”, até o púbis. Em casos excepcionais, quando se realizam
necropsias parciais, a incisão irá depender do(s) órgão(s) a ser(em) estudado(s). Cabe ao patologista a decisão
da técnica de incisão mais apropriada a ser usada.
O gradil costal é retirado, juntamente com o esterno, através da secção do corpo das costelas, por meio de
um costótomo, o mais próximo possível dos bordos laterais do corpo. As extremidades cortadas das cortelas
devem ser protegidas com gaze. A clavícula é desarticulada do manúbrio esternal com o uso de um bisturi e,
então, se retira o plastrão costoesternal, separando-o dos ligamentos com o pericárdio ou outras estruturas.
Não serão realizadas, a menos que haja autorização específica dos familiares, incisões na face e nas ex-
tremidades dos membros, que possam implicar em mutilação do corpo, salvo a retirada da extremidade distal
do fêmur esquerdo (autópsias de fetos ou de recém-natos, para a pesquisa de sífilis) e das musculaturas das
panturrilhas, em adultos, para a pesquisa de trombos venosos profundos.
c) Evisceração: consta da retirada das vísceras de suas respectivas cavidades para dissecção e exame
posteriores. Após a evisceração, o exame das cavidades propriamente ditas poderá ser levado a termo. Assim,
após a retirada do encéfalo, procede-se ao exame da base do crânio e, após a retirada das vísceras tóraco-
27 http://www.patologia.medicina.ufrj.br/graduacao/images/_dep-patologia/arquivos_texto/Metodos_Estu-
do/UFRJ-HUCFF-POP-Necropsia-logo.pdf

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


62
abdominais, são examinadas as porções posteriores dos arcos costais, a coluna vertebral e o retroperitônio.
Usualmente são pesados e, ou medidos os órgãos (encéfalo, tireoide, glândulas salivares submandibulares,
timo, coração, pulmões, fígado, baço, pâncreas, adrenais, rins, e a próstata).
Cavidade Craniana: a retirada do encéfalo é feita após rebater-se a dura-máter. Seccionam-se os pares de
nervos cranianos e, posteriormente, a medula espinhal cervical alta. Para o exame da base da cavidade crania-
na, é rebatida a dura-máter que o recobre. Deve-se, neste momento, e com cuidado, retirar a hipófise por meio
de fratura ou corte do dorso da sela túrcica do esfenoide.
Cavidades Torácica e Abdominal: a retirada das vísceras das cavidades torácica e abdominal pode ser rea-
lizada por técnicas diversas que podem ser usadas em combinação, na dependência de cada caso em exame.
A escolha da técnica de evisceração a ser utilizada é atribuição do médico patologista.
Técnicas de Evisceração
- Técnica de Ghon, en bloc, ou em blocos: é a mais utilizada em necropsias de adultos, constando da retirada
das vísceras em três blocos principais.
O primeiro bloco, também chamado bloco cardiopulmonar, é constituído da língua e órgãos do pescoço (fa-
ringe, esôfago, laringe, traqueia, glândulas tireoides e paratireoides e as glândulas salivares submandibulares,
entre outros), além do coração, com os vasos da base e ramos, e dos pulmões com os brônquios principais e
as demais estruturas do mediastino.
O segundo bloco, também chamado bloco digestivo, constitui-se principalmente pelo estômago, usualmente
acompanhado do terço distal do esôfago, e pelo duodeno, pâncreas e a porção inicial do jejuno, além do fíga-
do com a vesícula biliar e as vias biliares extra-hepáticas e o baço. Este bloco é retirado após a remoção dos
intestinos delgado (com o mesentério) e grosso (ceco, cólons ascendente, transverso, descendente e sigmoide
e parte do reto), junto com o omento maior.
Compõem o terceiro bloco, ou bloco genitourinário, as suprarrenais com os rins e os ureteres, a bexiga, o
reto, a próstata e ambos os testículos com os epidídimos e os funículos espermáticos, ou o útero com os ane-
xos bilaterais e o terço superior da vagina. Tal conjunto é retirado juntamente com a veia cava inferior e tributá-
rias e com a aorta e ramos, além dos linfonodos e demais estruturas retroperitoneais.
- Técnica de Letulle ou en masse: nesta técnica, todas as vísceras, das cavidades torácica e abdominal, são
retiradas como um único bloco. Pode ser usada, preferencialmente, em necropsias perinatais, ou quando se
deseja detectar lesões em estruturas que atravessam o diafragma.
- Técnica de Virchow ou órgão a órgão: aqui, os órgãos são retirados através da secção dos pedículos ou
hilos de cada um, separadamente. Está indicada quando se deseja diminuir o tempo de exposição dos profis-
sionais aos materiais biológicos infecciosos, quando não for necessário o estudo das relações anatômicas entre
os diferentes órgãos, e quando for possível direcionar o estudo dos órgãos e prescindir do exame de alguns
deles, com o intuito de se realizar apenas uma “verificação de óbito”.
- Técnica de Rokitansky ou in situ: nesta, as vísceras não são retiradas de seus lugares, sendo examinadas
in situ. Tem a vantagem de também minimizar o tempo de exposição aos materiais biológicos infecciosos, além
de abreviar, sobremodo, o tempo de realização do exame necroscópico. Pode ser utilizada associada com as
outras técnicas de evisceração descritas.
Dependendo da indicação clínica, poderão ser retirados outros órgãos, como, por exemplo, os globos ocu-
lares, os seios paranasais, e as estruturas do ouvido médio e interno. Na necessidade de se analisar a medula
óssea, idealmente se coleta um fragmento do esterno e fragmentos dos arcos costais ou segmentos de corpos
vertebrais (torácicos ou lombares). Na retirada da medula espinhal, esta será feita pela remoção dos corpos
vetebrais, seccionando-se, com serra ou cinzel, os arcos vertebrais bilaterais, após a retirada completa das
vísceras torácicas e abdominais.
d) Dissecação: é a técnica pela qual o patologista irá, através de cortes nas peças, realizar o exame sis-
temático de cada órgão e estrutura, possibilitando o achado das alterações anatomopatológicas porventura
existentes. Em geral, as vísceras sólidas são seccionadas em seus maiores eixos e examinadas as superfícies
externas e aos cortes. As vísceras ocas são abertas longitudinalmente e têm suas superfícies externa e interna

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


63
examinadas, juntamente com as características de suas paredes. Os cortes permitem uma visualização deta-
lhada das estruturas em análise. Os órgãos que seguem técnicas diferentes ou particulares de dissecção são
a seguir descritos:
- Encéfalo: há duas técnicas básicas de exame anatomopatológico do encéfalo. Na primeira, a ser utilizada
rotineiramente, o tronco cerebral, juntamente com o cerebelo, é separado do cérebro. O cérebro é então seccio-
nado em cortes coronais de cerca de 1,0cm cada. O cerebelo e o tronco cerebral são cortados em cortes mais
finos, oblíquos ou transversais. Na outra, a ser utilizada quando se deseja uma correlação com exames de ima-
gem (tomografia computadorizada ou ressonância nuclear magnética), o encéfalo é cortado como um todo, em
planos transversais, discretamente descendentes no sentido anteroposterior. Os cortes do encéfalo, em virtude
da consistência diminuída do tecido, são realizados após a fixação em solução de formol, preferencialmente a
20%, por 15 dias. O encéfalo deve ser pesado tanto a fresco, quanto após a fixação.
- Traqueia: é aberta pela sua porção membranosa (posterior), até os brônquios fontes, usualmente ainda
unidos aos pulmões;
- Coração: há duas técnicas básicas de dissecção do coração. Na primeira, a ser utilizada quando se de-
seja investigar um infarto do miocárdio, o órgão é examinado em cortes transversais de cerca de 1,0cm cada.
Na outra, a ser seguida quando se deseja examinar detalhadamente as estruturas valvares, o endocárdio, o
miocárdio, e as artérias coronárias e ramos; as câmaras de enchimento e de esvaziamento ventriculares e os
átrios são abertos no sentido do fluxo sanguíneo normal. Inicia-se o corte das veias cavas superior e inferior,
abrindo-se o átrio direito.
Observa-se a disposição in situ das estruturas da valva tricúspide e, após, secciona-se, lateralmente, a pare-
de da câmara de enchimento do ventrículo direito e, a seguir, com corte anterior e adjacente ao septo interven-
tricular, abre-se a câmara de esvaziamento do ventrículo direito. Este último corte normalmente é estendido ao
tronco da artéria pulmonar, sendo, a seguir, abertas as artérias pulmonares direita e esquerda. O exame do lado
esquerdo inicia-se com a secção das quatro veias pulmonares, de modo a se expor a cavidade atrial esquerda.
Igualmente examinam-se as cúspides da valva mitral e, fazendo-se cortes homólogos, aos realizados no
ventrículo direito, abrem-se as câmaras de enchimento e de esvaziamento do ventrículo esquerdo, de modo a
se expor também a luz do ramo ascendente da aorta. A abertura das cavidades cardíacas é realizada com uma
faca de lâmina fina, curta e pontiaguda ou com uma tesoura de lâmina longa e ponta romba, sendo a abertura
das artérias com a tesoura. Os vasos, depois de abertos, são examinados quanto à sua parede e a sua super-
fície endotelial. O exame das artérias coronárias e ramos é idealmente realizado antes da abertura do coração.
Após a observação da origem dos óstios das artérias coronárias direita e esquerda, as coronárias e os seus
ramos são abertos, longitudinalmente, com uma tesoura pequena com lâminas finas e uma das pontas romba.
Pode-se também fazer cortes transversais e sequenciais, em todo o trajeto das artérias coronárias e de seus
ramos, na busca de obstruções das suas luzes. Usualmente o coração é pesado, após ter sido aberto e limpo
dos coágulos, e são medidos a espessura das paredes das câmaras de enchimento ventriculares, direita e
esquerda, a cerca de 1 cm após as valvas tricúspide e mitral, e os perímetros das valvas tricúspide, pulmonar,
mitral e aórtica.
- Estômago: é aberto pela grande curvatura, cujo corte se estende para o duodeno, expondo-se a papila de
Vater. Neste momento deve-se espremer um pouco a vesícula biliar in situ para se verificar se estão pérvias as
vias biliares extra-hepáticas.
- Fígado: é cortado no plano coronal, após o exame e a retirada da vesícula biliar.
- Intestino delgado: é aberto pelo bordo antimesentérico;
- Intestino grosso: sua abertura deve ser, a partir do cólon sigmoide, por corte acompanhando (lateralmente)
uma das tênias (faixa muscular longitudinal), usualmente a tênia livre.
- Rins: são desencapsulados e cortados do córtex para a medula passando pelo hilo. No caso de uma das
eviscerações em bloco e em que se queira examinar os ureteres, o melhor procedimento é retirar o máximo da
gordura perirrenal e, após o corte do rim, acessar a cavidade pielo-calicial, a qual é aberta com uma tesoura,
cujo corte é direcionado para o ureter, o qual é aberto até a bexiga;
- Bexiga: pode ser aberta, com uma tesoura, através do colo vesical ou das inserções dos ureteres.

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


64
- Útero: pode ser aberto com uma tesoura, através do colo uterino, em direção às trompas (abertura em “Y”)
ou ser cortado em fatias paralelas de cerca de 5mm cada, no plano sagital, sendo o primeiro corte, mediano,
buscando-se passar pela cavidade endometrial e pelo canal endocervical. Para facilitar o exame da luz dessas
estruturas, pode-se amputar o colo uterino antes dos cortes.
Ações Preliminares
- Conferir a identificação do cadáver e providenciar sua identificação civil papiloscópica, sempre que possí-
vel;
- Consultar a ocorrência policial e a solicitação de necropsia feita em hospitais;
- Conferir as informações da guia e do cadáver.
Ações Durante o Exame Pericial
- Iniciar o exame pela análise das vestes, buscas de detalhes que possam influenciar na condução da ne-
cropsia, como zonas de esfumaçamento, queimadura e tatuagem;
- Nos casos de vítimas de projétil de arma de fogo e que o corpo esteja em decomposição, recomenda-se
radiografá-lo antes do exame;
- Examinar todo o cadáver com a finalidade de se constatar as lesões e as alterações externas macroscopi-
camente visíveis. Recomenda-se agrupá-las conforme sua classificação, descrevendo-as em sua localização,
tamanho, número e forma, no sentido craniocaudal, medial para lateral e de anterior para posterior;
- Descrever todas as lesões observadas, mesmo que não se relacionem ao evento em apuração;
- Acessar as cavidades craniana, torácica e abdominal, para análise de possíveis lesões e alterações ma-
croscópicas. A cavidade raquidiana deve ser acessada quando houver suspeita de trauma raquimedular. A
região cervical deve ser dissecada nos casos de enforcamento, estrangulamento, esganadura e trauma raqui-
medular cervical;
- A coleta de sangue e urina é recomendada, nos casos de homicídio e morte suspeita;
- A coleta de material para exame histopatológico deve ser realizada quando a morte for suspeita e nos casos
de suspeita de erro médico;
- Os projéteis recolhidos devem ser individualizados ou separados em letais e não letais, para serem envia-
dos para o exame balístico;
- Procurar identificar os orifícios de entrada e de saída de projétil de arma de fogo, descrever as característi-
cas da ferida de entrada do projétil para inferir sobre a distância do disparo, antes do exame interno;
- Descrever o número e posição do gume, nas feridas provocadas por instrumentos pérfuro-cortantes.
- Deve-se ilustrar com fotografias e/ou gráficos as lesões externas e internas encontradas;
- Nos crimes com suspeita de práticas sexuais, deve-se coletar material biológico das áreas suspeitas para
exame laboratorial (pesquisa de espermatozoides, dosagem do PSA, exame de DNA), além de amostra refe-
rência da vítima (sangue ou swab oral) para exame de DNA;
- Em necropsia de vítimas do sexo feminino em idade fértil, examinar o útero para verificar a presença de
gravidez;
- Nas necropsias de vítimas de acidentes de trânsito, deve-se coletar sangue para dosagem de alcoolemia.
Recomendações: (reportam as considerações orientativas que o documento determina)
- Conforme o Artigo 95 do Código de Ética Médica, “é vedado ao médico realizar exames médico-legais de
corpo de delito em seres humanos no interior de prédios ou dependências de delegacia de polícia, unidades
militares, casas de detenção e presídios”;
- Na necropsia, a dissecação do pescoço e dos vasos sanguíneos deve ser realizada pelo médico-legista;
- É importante estabelecer contato com os peritos que realizaram o exame do local de crime de homicídio
para subsidiar a condução da necropsia;

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


65
- A redação do laudo, como qualquer peça técnica, deve ser feita na terceira pessoa, respeitando-se a im-
pessoalidade, e a linguagem utilizada deve ser acessível ao seu destinatário.
Elaboração do Laudo
Geralmente o laudo descrito na realização do exame consta os seguintes itens:
1. Preâmbulo
- Devem constar a hora, o dia, o mês, o ano e a cidade em que a perícia é realizada, o nome da autoridade
requisitante do exame, o Médico Legista incumbido da perícia, o nome do Diretor do IML que designou o perito,
o nome do exame solicitado e a qualificação do periciando.
2. Quesitos
- Houve morte?
- Qual a causa da morte?
- Qual o instrumento ou meio que a produziu?
- Foi produzida com o emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel?
(resposta especificada).
3. Histórico
Os dados importantes do histórico estarão na guia de requisição de necropsia, na ocorrência policial e na
solicitação hospitalar de necropsia. Este item serve como norteador para a perícia, visto que orientará o esta-
belecimento de nexos causal e temporal entre os achados durante o exame e o delito em investigação.
4. Descrição
Aconselha-se subdividir este item em:
- Apresentação do corpo: descrever as vestes do cadáver, invólucros e como se apresenta o cadáver para
o exame.
- Identificação do corpo: descrever características do cadáver quanto a sexo, idade, estatura, peso, biótipo,
ancestralidade geográfica, cor dos olhos, cabelos, tatuagens, sinais particulares e defeitos físicos. Se o corpo
estiver acompanhado de documentos de identificação, anotar seu número e órgão que o expediu.
- Sinais de morte: informar quais fenômenos cadavéricos o corpo apresenta.
- Estimativa da data provável do óbito: pelos fenômenos cadavéricos apresentados, estimar data e hora
aproximada do óbito.
- Exame externo: descrever pormenorizadamente as alterações observadas tais como: palidez cutânea,
pletora facial, cianose labial e de leitos ungueais, turgência de jugulares, edema de membros inferiores, drena-
gem de líquidos ou espuma pelos orifícios oral e nasais, e todas as lesões encontradas, suas características,
topografia, número e suas repercussões no organismo.
Nos casos de ferimentos por arma de fogo, caracterizar bem as feridas de entrada dos projéteis em todos
os seus detalhes de tal forma que se possa estabelecer a distância dos disparos. Nas feridas pérfuro-incisas,
descrever formato e dimensão para estabelecer o número e a posição dos gumes. Deve-se utilizar a terminolo-
gia anatômica. As lesões que não guardam relação ao fato delituoso, quando existirem, serão descritas à parte.
- Exame interno: descrever as cavidades acessadas, seus achados e características.
A incisão biacrômio mento pubiana é a que melhor permite acesso às cavidades cervical torácica e abdomi-
nal. No exame das lesões provocadas por projétil de arma de fogo ou instrumento pérfuro-cortante, identificar
quais vísceras foram lesionadas para definição do seu trajeto e da sua gravidade (letalidade). Quantificar o
volume dos derrames encontrados dentro das cavidades.
Nos casos de vítimas de projéteis de arma de fogo e de arma branca, sugere-se realizar a descrição dos
exames externo e interno num mesmo subitem. Assim, logo após a descrição da ferida externa, já indica/indicar
por onde o instrumento que a produziu penetrou no corpo, que vísceras ele lesou e por onde saiu, ou em que
local interrompeu sua progressão.

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


66
Essa maneira facilita a descrição e a interpretação dos trajetos encontrados.
5. Discussão
Estabelecer o nexo causal entre os achados do exame e o delito em apuração. As lesões que não guardam
relação com o evento em apuração devem ser elencadas, excluindo-se seu nexo causal com o evento. Informar
se foram feitas radiografias e descrever laudo sumário sobre elas:
Informar, de acordo com as características da ferida de entrada, a distância do disparo da arma de fogo, bem
como o trajeto descrito pelo projétil no corpo examinado.
Informar o destino dado ao projétil retirado do corpo da vítima. Separar e informar quais projéteis, individual-
mente, poderiam causar a morte.
Definir número e posição dos gumes do instrumento pérfuro-cortante e determinar seu sentido de ação.
Informar se foram realizadas fotografias e/ou gráficos e se foram coletadas amostras de material biológico
para exames de laboratório. Referir quais exames solicitou.
Se houver relato de atendimento médico da vítima antes do óbito, transcrever, neste tópico, os aspectos
relevantes dos procedimentos realizados.
6. Conclusão
Estabelecer a cronologia dos eventos que, partindo de uma causa básica, produziram alterações no organis-
mo da vítima, culminando com o seu óbito. É um resumo objetivo, porém real e lógico, dos eventos que deter-
minaram a sua morte. Iniciar pela causa imediata, indo até a causa básica, que é anotada por último.
7. Respostas aos quesitos
O perito responde aos quesitos com os seguintes termos:
- SIM (quando tem convicção de que ocorreu o que o quesito pergunta).
- NÃO (quando tem convicção de que não ocorreu o que o quesito pergunta).
- SEM ELEMENTOS (quando não tem convicção para responder nem sim, nem não ao que o quesito per-
gunta).
- PREJUDICADO (quando a pergunta que o quesito faz não se aplica àquela situação, ou quando a resposta
anterior prejudica a resposta do quesito seguinte).
- AGUARDAR (quando depende de exame laboratorial para determinar a causa da morte. Exceto o 2º quesi-
to que deverá ser respondido informando a causa imediata da morte, e o 3º quesito que deverá ser respondido
informando o instrumento ou meio que produziu a morte, quando isso for possível).
Fluxograma

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


67
Vias de acesso, abertura de cavidades, dissecção de estruturas e órgãos do cadáver em fetos, recém-nas-
cidos, crianças e adultos
Entende-se por nascido vivo o produto da concepção que depois de expulso ou extraído completamente do
corpo da mãe, respira ou dá qualquer outro sinal de vida, quer tenha ou não sido cortado o cordão umbilical e
esteja ou não desprendido a placenta. Assim, a criança que nasce com “qualquer” sinal de vida, com qualquer
idade gestacional, deve ser considerada nascida viva, tendo, então, direito ao Registro de Nascimento. Se vier
a morrer, em qualquer momento posterior terá direito a uma Declaração de Óbito.
Entende-se por feto todos os produtos da concepção extraídos ou expelidos sem vida do corpo da mãe. A
melhor doutrina e as mais autorizadas jurisprudências, nacionais e estrangeiras, recomendam que o feto que
atinge a maturação, após a eliminação, já pode ser considerado cadáver.
A OMS define “Óbito fetal” ou “Morte fetal” como a morte do produto da concepção antes da expulsão do
corpo da mãe, independente da duração da gestação. O tempo é usado apenas para classificar as perdas fetais
em:
a) precoces, quando o feto tem menos de 20 semanas de vida intrauterina;
b) intermediárias, quando tem entre 20 e 27 semanas; e
c) tardia, quando os fetos têm mais de 28 semanas. O aborto corresponde às mortes fetais precoces.

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


68
1. Idade Gestacional
O fundamento básico para que o produto da concepção seja considerado cadáver é a idade gestacional
(28 semanas). Por representar dado de obtenção, às vezes difícil, estabeleceu-se um paralelo entre ele e um
critério ponderal. O feto com 28 semanas corresponde a um peso de 1000 g ou comprimento de 35 cm, nestas
condições devem ser considerado cadáveres, recebendo Declaração de Óbito e Registro Civil.
A Declaração de Óbito deve ser preenchida, ressaltando que se trata de óbito fetal. No campo “Nome” é
colocado apenas natimorto, para o qual, segundo a lei, não há nome a ser registrado.
Questiona-se a razão que existe para que o ordenamento jurídico tutele o feto morto com mais de 28 sema-
nas e deixe de tutelar o feto com menos de 28 semanas ou com menos de 1000 g. O que deve nortear a atitude
de se considerar ou não um feto como cadáver é a semelhança humana. Desta forma, recomenda-se fornecer
Declaração de Óbito para fetos mortos com idade gestacional entre 20-27 semanas (peso entre 500 e 1000 g;
comprimento mínimo de 25 cm), uma vez que a semelhança humana é completa. Não se trata de imposição le-
gal, uma vez que a lei é omissa a respeito, mas de uma recomendação. Sob o ponto de vista de saúde pública,
pode fornecer informações importantes sobre a saúde materna.
O feto morto, com idade gestacional inferior a 20 semanas, (peso inferior a 500 g e com menos de 25 cm
de comprimento) é considerado, juridicamente, parte da mãe, não havendo obrigatoriedade em se realizar o
Registro Civil e fornecer a Declaração de Óbito. Epidemiologicamente, no entanto, estas informações poderiam
fornecer subsídio para estudo dos abortamentos. Se houver interesse da família em realizar o sepultamento, o
médico pode fornecer Declaração de Óbito, caso contrário, pode ser incinerado no hospital.
Todos os fetos que dão entrada no IML devem ser submetidos a exame cadavérico e receber a Declaração
de Óbito, independentemente da idade gestacional.
2. Exame da Placenta
A placenta deve ser sempre examinada e as possíveis anomalias ou lesões traumáticas descritas. Nos ca-
sos em que a placenta não acompanha o corpo, isto deve ser citado no laudo. A placenta de um bebê a termo se
apresenta como uma formação carnuda, redonda ou oval, com a largura máxima de 15-20 cm. A parte materna
é formada por cotilédones e a parte fetal deve ser lisa e brilhante, coberta pela membrana amniótica, tem cor
azulada e dá para ver os vasos do cordão umbilical. O peso é de 500-600 gramas, representando 1/6 do peso
do feto. A forma é discoidal, espessada no centro (2-3 cm) e afinando na direção periférica.
Os natimortos constituem uma indicação absoluta para o exame patológico da placenta. A histopatologia pla-
centária pode esclarecer a causa da morte e ajudar o planejamento de novas gestações. As lesões placentárias
podem ser classificadas em lesões do cordão umbilical, lesões vasculares fetais, insuficiência uteroplacentária
materna e inflamação placentária. Deve-se lembrar que doenças maternas como diabetes, hipertensão, gravi-
dez prolongada e doença materna autoimune levam a diminuição do fluxo uteroplacentário.
Quanto aos vasos do cordão umbilical, a presença de artéria umbilical única varia de 2,7-12% das necrop-
sias em natimortos. Isoladamente, esta alteração não pode explicar a causa da morte. Entretanto, sua associa-
ção com malformações anatômicas (cardíacas) e anomalias de cariótipo é importante.
Na face fetal da placenta, áreas esbranquiçadas podem sugerir lesões oclusivas trombóticas dentro da cir-
culação fetal, fato este que pode ser comprovado pela histologia. Placentas pequenas comprometem o desen-
volvimento do feto. Corioamnionite também leva a prejuízo do fluxo sanguíneo fetoplacentário e pode resultar
em morte fetal.
Nas necropsias em lactentes é importante, sempre, descrever a cavidade oral, a laringe, a traqueia, os brôn-
quios principais e o conteúdo gástrico, pela alta frequência de morte súbita por aspiração de conteúdo gástrico.
A cavidade craniana deve ser aberta, para descrever o aspecto do liquor, das meninges e do encéfalo.
Importantes Conceitos
Aborto: é a expulsão do feto ou embrião do ventre materno, independentemente da idade gestacional, ha-
vendo evidência ou não de vida, antes do seu término normal, com a morte do produto de concepção.
Embrião: produto da concepção até a oitava semana de vida.
Feto: produto da concepção após a oitava semana de vida.

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


69
Recém-nascido: criança que acaba de nascer, particularmente antes de receber os primeiros cuidados de
higiene e proteção.
Neonato: com idade entre 0 - 30 dias.
Lactente: com idade entre 30 dias e um ano.
Criança: com idade entre 1 e 12 anos.
Adolescente: com idade entre 12 - 18 anos
Infanticídio: quando a mãe mata o filho, durante ou logo após o parto, sob influência do estado puerperal.
Necropsia em fetos: ao ser encaminhado ao IML raramente se tem informações sobre a parturiente. Geral-
mente chegam em estado de putrefação, com dificuldade na identificação (prematuridade extrema e dilacera-
ção acentuada). Não é possível estabelecer a raça em necropsias de fetos. O paquímetro é mais indicado para
medir as estruturas fetais. O feto retido pode ficar no útero até quatro semanas. A estimativa da idade fetal pode
ser feita utilizando-se a Tabela de Streeter, que utiliza duas medidas para estimar a idade fetal: o comprimento
craniocaudal e o comprimento médio da sola plantar.
Medidas antropométricas: durante o exame cadavérico devem ser verificadas as seguintes medidas: peso
(kg), peso placentário, comprimento total, comprimento craniocaudal, diâmetro interparietal, perímetro cefálico,
torácico e abdominal e comprimento médio da planta do pé. As crianças maiores também têm que ser clas-
sificadas de acordo com as tabelas de crescimento, incluindo-se o score z. As tabelas estão disponíveis no
sistema e na pasta de tabelas.
Para os prematuros, a contagem tem de ser feita da seguinte forma: retirar da idade, as semanas que falta-
ram para o término da gestação, até dois anos de idade. Ex. Criança prematura de 35 semanas, morreu com 3
meses de idade. A idade (12 semanas) – 5 semanas (tempo de prematuridade) = 7 semanas (dois meses e uma
semana. Portanto, ele vai ser colocado na curva de crescimento para crianças com dois meses e uma semana.
Exame externo: a putrefação é muito rápida e a rigidez muscular muito tênue ou inexistente. Deve-se verifi-
car a existência de malformações, como ânus imperfurado, anomalias de genitais, faciais etc. A documentação
fotográfica é importante, assim como a coleta de sangue para confronto genético posterior, se necessário. Na
necropsia fetal, a causa da morte é na maioria das vezes a prematuridade.
Necropsia em recém-nascido: duas questões são essenciais:
1º) houve vida extrauterina e
2º) a sobrevivência era viável. O feto que morre durante um episódio de cabeça derradeira, ou de extração
não pode ser considerado nascido vivo. Considera-se clinicamente vivo o feto no qual se observa a presença
de batimentos cardíacos, pulsação no cordão umbilical ou movimento voluntário da musculatura.
Para responder se houve vida extrauterina, pode-se verificar a presença de ar nos pulmões, no estômago e
intestinos, no ouvido médio e também a presença de alimento no estômago. A Docimásia Hidrostática de Ga-
leno é o método mais antigo. A putrefação inviabiliza esta prova. O exame microscópico revelará a existência
de ar e outras alterações.
A manobra de GALENO consta de quatro etapas:
1ª) o bloco que contém as vísceras torácicas e os órgãos do pescoço e da boca é imerso em um recipiente
de água;
2ª) verificam‐se os pulmões isoladamente, que devem ser separados ainda dentro da água;
3ª) os pulmões que não flutuam devem ser cortados em pedaços pequenos;
4ª) os fragmentos que vierem a flutuar na fase precedente devem ser espremidos contra a parede do reci-
piente. Se não ocorrem flutuações, mesmo quando o pulmão é segmentado em pedaços, não houve respiração.
No caso de flutuação de alguns segmentos, a análise deve ser criteriosa, pensando-se nos erros mais comuns.
Causas de Erros
- Falsos Negativos: pode ter havido respiração, mas nas horas seguintes o ar é reabsorvido dos alvéolos,
como acontece na membrana hialina e o pulmão volta a ter o aspecto colapsado. Outra possibilidade é a ocor-
rência de pneumonia de evolução rápida a partir de uma infecção adquirida dentro do útero, o que faz com

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


70
que o edema e afluxo de células inflamatórias ocupem o espaço do ar. O nascimento em meio líquido também
deve ser considerado. Pode ter havido também respiração parcial: somente com alguns lóbulos distendidos e a
maioria com aspecto fetal. Explica‐se pela diferença de resistência nos diversos lobos pulmonares.
- Falsos Positivos: é o erro de consequências mais graves, pois pode levar um inocente para a cadeia. Não
houve respiração, mas o teste indica que sim. Duas situações devem ser afastadas: a putrefação e a respiração
artificial. O melhor modo de demonstrar o enfisema intersticial é pelo exame histopatológico. Para a putrefação,
acredita-se que nos natimortos não ocorra o mesmo processo que nos recém-nascidos que respiraram, pois
não há entrada de bactérias neles. Sua putrefação causa um amolecimento e desintegração do parênquima
pulmonar, mais por autólise que por putrefação.
Para responder a segunda pergunta: se era viável o feto? Dois parâmetros necessitam ser investigados: ida-
de gestacional do feto e presença ou não de patologias incompatíveis com a vida. No Brasil, são considerados
viáveis os que pesam acima de 2500 g (este parâmetro está sendo revisto).
3 Causas de Morte Perinatal
Naturais: as principais causas são: anóxia intrauterina, prematuridade, tocotraumatismos, anomalias congê-
nitas, doença hemolítica do RN, Síndrome da Angústia Respiratória e pneumonia. Mais de 50% ocorrem por
anóxia intrauterina, que pode resultar de: contrações uterinas múltiplas (hipercinesia), hipotensão arterial da
mãe, doença placentária prévia, circular e procidência do cordão. Nos EUA, cerca de 75% dos casos de morte
perinatal são devidos à prematuridade (alterações respiratórias ou cerebrais).
A principal é a doença da membrana hialina (incapacidade das células alveolares produzirem surfactante –
responsável por manter os alvéolos abertos). Prematuros têm maior tendência a desenvolverem hemorragias
cerebrais não traumáticas. Os tocotraumatismos ocorrem em 2-7% dos partos e ocorrem apesar do bom aten-
dimento obstétrico.
A ligadura do cordão umbilical deve ser feita imediatamente; quando malfeita pode levar a sangramento
pelas artérias umbilicais, ramos das hipogástricas. O volume de sangue de um RN é pequeno e as perdas
discretas podem levar ao óbito.
Provas de vida durante o parto: o que cabe aos peritos buscar é a comprovação de que havia circulação
sanguínea durante os períodos expulsivo e de dilatação do parto. As lesões mais importantes neste sentido são
o caput sucedaneum28, o cefalohematoma29 e as lesões do crânio30, meninges e cérebro.
4. Determinação do Tempo de Sobrevida Fetal
a. Presença de sangue materno sobre a superfície corporal, pele avermelhada coberta de verniz caseoso,
tumor de parto ou bossa, cordão umbilical branco azulado, pulmões com áreas atelectasiadas e outras insufla-
das: minutos ou poucas horas após o parto;
b. Tumor do parto em fase de absorção, verniz caseoso ressecado, mecônio: muitas horas até o fim do pri-
meiro dia;
c. Cai o cordão umbilical: por volta do 6º dia.
5. Determinação do Tempo de Morte Fetal Intraútero
1. O sinal mais fidedigno é o da maceração fetal, dividida por Laugley em quatro graus:
a. Grau zero: a pele tem aspecto bolhoso – menos de 8 horas;
b. Grau um: a epiderme começa a se descolar – entre 8-­‐24 horas;

28 tumefação observada no setor occipital e em parte adjacente dos setores parietais ocorre nos partos
de apresentação cefálica e decorre de compressão sofrida por parte do crânio no canal de parto. Desse modo,
o sangue arterial chega ao couro cabeludo, mas o retorno venoso é prejudicado, resultando em edema e, por
vezes, hemorragia difusa e discreta na área atingida.
29 distingue‐se por ser bem delimitado, de localização precisa sobre o osso em que está localizado,
pois se trata de sangue extravasado entre o periósteo e a tábua óssea.
30 podem deformar seus diâmetros. As hemorragias são encontradas em quase 60% dos recém-­‐nascidos
de baixo peso (<1000g).

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


71
c. Grau dois: extensas áreas de descolamento epidérmico e nas cavidades serosas aparecem efusões aver-
melhadas – mais de 24 horas;
d. Grau três: o fígado toma a coloração amarelo-­‐amarronzado e as efusões das cavidades serosas tornam‐
se turvas – mais de 48 horas.
Técnicas de Colheita, Acondicionamento e Armazenamento de Tecidos e Fluídos do Cadáver31
a) Coleta de Material Biológico para Exames Anatomopatológico, Toxicológico e de Alcoolemia
- As peças anatômicas coletadas para exame anatomopatológico devem ter pequeno tamanho, representar
a lesão e ser acondicionadas em frasco contendo formol a 10%. O volume de formol deve ser 10 vezes o da
peça para uma boa fixação.
- O material biológico coletado para exame toxicológico não poderá ser colocado em formol a 10%.
- Conservar o material coletado congelado.
- Para dosagem de alcoolemia, deve-se coletar sangue (volume de 4ml) de preferência das cavidades cardí-
acas, ou do interior dos vasos sanguíneos, excepcionalmente de cavidades corpóreas evitando-se, sempre que
possível, coletar da cavidade abdominal. Conservar o sangue coletado a uma temperatura em torno de 4°C.
b) Coleta de Material Biológico para Exame de DNA em Cadáveres
- Este procedimento tem por objetivo a identificação de cadáver ou a utilização do material coletado como
amostra referência.
- Para os procedimentos de coleta, utilizar sempre luvas descartáveis e máscara, bem como instrumental
(pinça, cabo de bisturi, lâmina de bisturi e tesoura) descontaminado ou descartável para evitar possibilidade de
contaminação cruzada entre as amostras.
- O material biológico a ser coletado dependerá das condições do corpo.
b.1. Cadáver de Morte Recente
Deve se coletar sangue de cavidades internas, grandes vasos ou vísceras do corpo, preferencialmente,
câmaras cardíacas.
A coleta poderá ser realizada por meio de:
- Swab esterilizado.
- Frasco plástico apropriado com capacidade mínima de 1,0Ml.
- Papel próprio para captura e conservação de DNA.
O método de coleta deve ser realizado de acordo com a rotina estabelecida pelo laboratório de DNA para
onde as amostras serão enviadas.
No caso de coleta de sangue com swab, utilizar pelo menos 2 (dois) swabs. Após a coleta, deve-se deixar os
swabs secar à temperatura ambiente e embalá-los em envelopes de papel ou recipientes secos apropriados,
lacrados, identificados em etiquetas impermeáveis contendo as devidas informações pertinentes ao caso, bem
como data, tipo de amostra e responsável pela coleta.
O armazenamento das amostras deverá ser realizado da seguinte forma:
- Swab: manter sob refrigeração a 4°C em média.
- Frasco plástico com sangue: manter sob refrigeração a 4°C em média.
- Sangue coletado em papel próprio para captura e conservação de DNA: secar e armazenar em envelope
de papel à temperatura ambiente.

31 BRASIL. Secretaria Nacional de Segurança Pública. Procedimento Operacional padrão: perícia crimi-
nal, Ministério da Justiça, 2013.

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


72
Na impossibilidade de coleta de sangue, por exemplo, nos casos de corpo fragmentado, recomenda-se a
coleta de tecidos moles (músculo esquelético de tecidos profundos, por exemplo, quadríceps femoral, e/ou
cartilagem de articulação íntegra, por exemplo, de ombro ou de joelho).
A quantidade de tecido mole a ser coletada é de aproximadamente 2 g (músculo: 2; cartilagem 2c).
b.2. Cadáver em Estado de Decomposição
Deverão ser coletadas amostras de, pelo menos, 2 (duas) fontes distintas.
- Cartilagem: coletar cartilagem de articulação íntegra, por exemplo, de ombro ou de joelho, na quantidade
de aproximadamente 2 g ou 2c, se a decomposição não tiver comprometido este tecido. Para o procedimento,
utilizar material (pinça, cabo de bisturi, lâmina de bisturi e tesoura) esterilizado ou descartável.
- Dentes: coletar dentes que, preferencialmente, não apresentem sinais de tratamento odontológico nem
lesões ou cáries. Deve-se coletar, se possível, molares ou pré-molares, utilizando instrumental odontológico
apropriado e esterilizado. Dentes caninos ou incisivos devem ser evitados, pois são úteis nos trabalhos de an-
tropologia forense e odontologia legal na comparação fotográfica com a pessoa desaparecida. Recomenda-se
a coleta de, pelo menos, 2 (dois) dentes.
- Osso longo: coletar amostra, preferencialmente, de fêmur. A amostra é coletada, por meio de um corte de
aproximadamente 4-8 cm, denominado “janela”, realizado no meio do eixo longo do osso. O corte em “janela” é
importante, pois não separa o osso longo por completo, o que prejudicaria a análise antropológica do cadáver
como, por exemplo, a estimativa de altura. Para o corte “janela”, recomenda-se, preferencialmente, a utilização
de uma serra osciladora médica, com lâmina esterilizada. Se não houver este tipo de serra disponível, podem-
-se utilizar outras serras, tendo o cuidado de se usar sempre lâminas esterilizadas.
Se não for possível coletar amostras de fêmur, utilizar outros ossos longos: tíbia, úmero, rádio e ulna. Na
impossibilidade de se coletar amostras de ossos longos, a coleta das amostras poderá ser feita a partir de
qualquer osso disponível, por exemplo, costela, falanges, ossos do metatarso, hálux, etc, na quantidade de
aproximadamente 20 g, se possível.
Em caso de restos humanos em decomposição e fragmentados, poderá ser coletado qualquer osso dis-
ponível, na quantidade de aproximadamente 20 g, se possível, e, preferencialmente, ossos que apresentem
camada cortical densa.
b.3. Corpo carbonizado
Deverão ser coletadas amostras de, pelo menos, 2 (duas) fontes distintas.
- Poderão ser coletadas quaisquer das amostras acima mencionadas: sangue, músculo esquelético, cartila-
gem, dentes e ossos, a depender das condições do corpo e do grau de carbonização.
- Swab da mucosa interna da bexiga urinária: 4 (quatro) unidades.
Acondicionamento e armazenamento de amostras
- As amostras de tecido mole (músculo e cartilagem), dente e osso devem ser acondicionadas em frascos
plásticos apropriados, lacrados e identificados em etiquetas impermeáveis contendo as devidas informações
pertinentes ao caso, bem como data, tipo de amostra e responsável pela coleta.
- As amostras devem ser armazenadas em congelamento a -20°C. Se não for possível armazenamento con-
tínuo a temperaturas negativas, armazenar a 4°C.
- Nos procedimentos de coleta e acondicionamento, não devem ser utilizados formol ou quaisquer outras
substâncias que possam prejudicar a análise do material genético presente na amostra.
- Alguns dos materiais utilizados para a coleta de material biológico não são descartáveis, como tesouras
e pinças metálicas. Estes materiais devem ser devidamente descontaminados antes de serem utilizados nos
procedimentos de coleta.
- Para tanto, sugere-se a limpeza com o uso de água e detergente seguida de autoclavagem ou desconta-
minação com solução de hipoclorito de sódio a 1%.

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


73
c) Coleta de Material Biológico de possível Agressor Presente no Cadáver
- Nos casos de suspeita de crime sexual, deve-se coletar material biológico das cavidades oral, vaginal e
anal do cadáver. Em cadáver do sexo masculino, coletar também material da região peniana (sulco bálano-pre-
pucial).
- Durante a coleta de material da cavidade vaginal, priorizar a coleta de secreções e não da parede mucosa.
Na coleta de material da cavidade anal, umedecer levemente o swab com água destilada e, em seguida, pro-
ceder à coleta.
- As coletas deverão ser realizadas utilizando-se, pelo menos, 4 (quatro) swabs esterilizados para cada re-
gião examinada. Os swabs deverão ser numerados pela ordem de coleta, sendo que o 1° e 2° swab deverão
ser enviados para o exame de DNA e o 3° e 4° deverão ser enviados para teste de triagem para detecção da
presença de sêmen (PSA, Seminogelina, etc) e pesquisa de espermatozoides.
- Em casos de suspeita de deposição de secreções ou fluidos (saliva, sêmen, sangue) em outras regiões do
corpo como, por exemplo, regiões perioral, tórax, abdome, coxa ou regiões com mordida(s), umedecer leve-
mente o swab com água destilada e em seguida proceder à coleta. A coleta deverá ser realizada, utilizando-se,
pelo menos, 2 (dois) swabs esterilizados para cada região.
- Nos casos de suspeita de ter havido luta corporal entre agressor e vítima, deverá ser coletado material su-
bungueal dos dedos do cadáver a fim de se buscar detectar material biológico do possível agressor. Esta coleta
deverá ser realizada com swab esterilizado, conforme exemplificado anteriormente, e, se possível, recorte da
extremidade das unhas dos dedos das mãos, utilizando-se tesoura descontaminada ou bisturi, com o cuidado
de não ferir a pele dos dedos e de não perder material abaixo das unhas. Deve-se utilizar 1 (um) swab para
cada mão, com a respectiva identificação de mão direita e esquerda.
- Em todas as situações acima citadas, após a coleta, deve-se deixar os swabs secar à temperatura ambien-
te e embalá-los em envelopes de papel ou recipientes secos apropriados, lacrados, identificados em etiquetas
impermeáveis contendo as devidas informações pertinentes ao caso, bem como data, tipo de amostra e res-
ponsável pela coleta. O armazenamento deverá ser sob refrigeração, a temperatura de 4°C em média.
- Observar a presença de pelos com características diversas aos da vítima. Em caso positivo, coletá-los, com
utilização de pinça descontaminada, e embalá-los e armazená-los, conforme recomendação acima.
- Para os procedimentos de coleta, utilizar sempre luvas descartáveis e máscara para evitar possibilidade
de contaminação.
- Em todas as situações acima citadas, deverá ser realizada coleta de material biológico do cadáver, como
amostra de referência, conforme os critérios de coleta de material biológico para exame de DNA em cadáveres.
- Alguns dos materiais utilizados para a coleta de material biológico não são descartáveis, como tesouras
e pinças metálicas. Estes materiais devem ser devidamente descontaminados antes de serem utilizados nos
procedimentos de coleta. Para tanto, sugere-se a limpeza com o uso de água e detergente seguida de autocla-
vagem ou descontaminação com solução de hipoclorito de sódio a 1%.
Material
Nunca se deve utilizar um número excessivo de instrumentos nas necropsias. Usar, apenas, os estritamente
necessários.
Tratando-se de necropsia de animais de laboratório convencionais (pequenos roedores e coelho), o material
geralmente indispensável é o seguinte:
- Cabo de bisturi;
- Lâmina de bisturi;
- Tesoura reta e ponta fina;
- Pinça de dissecção dente-de-rato;
- Pinça de dissecção lisa;
- Gaze em compressas.

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


74
O tamanho dos instrumentos varia de acordo com o tamanho da espécie. Quando fazemos uma necropsia
em espécies de médio e grande porte, a esses instrumentos, devem ser juntadas as seguintes peças:
- Faca de açougue, em número de duas;
- Fuzil, a ser utilizado no afiamento das facas;
- Martelo com cabo em gancho;
- Serra elétrica ou articulada;
- Tábua retangular ou quadrada, com 80 cm aproximadamente, para se colocar as vísceras e facilitar o exa-
me das mesmas.
Uma bandeja deve ser utilizada para se colocar os instrumentos empregados na necropsia, tomando-se
cuidado para não deixá-los dentro ou sobre o animal e, assim, provocar acidentes.
É fundamental que o operador, como também o seu auxiliar, estejam devidamente paramentados, usando
jaleco, máscara, gorro e luvas cirúrgicas descartáveis. O emprego de luvas grossas de borracha é mais reco-
mendado quando são necropsias dos animais de médio e grande porte para evitar que se rasguem com facili-
dade. Além disso, elas devem, sempre que possível, ser revestidas de luvas de linho ou algodão, cuja finalidade
é tornar os órgãos e o instrumental menos escorregadio e proteger, as de borracha, contra eventuais cortes.
O local da realização da necropsia deve ser, preferencialmente, em uma sala própria para esse fim, devi-
damente iluminada e ventilada. Quando se trata da necropsia de primatas não-humanos do Velho Mundo, ou
de qualquer outra espécie que potencialmente possua risco de contaminação para o operador ou para o meio
ambiente, a mesma deve ser realizada em uma capela de fluxo laminar.
Metodologia
É fundamental que um médico veterinário seja responsável pelas necropsias, embora um técnico bem trei-
nado possa também realizá-las sob a supervisão do primeiro. Da mesma forma, é essencial ter conhecimento
do histórico do animal antes de iniciar uma necropsia. Evidente que informações sobre o animal, como espécie,
linhagem, sexo, idade, peso, cor da pelagem, número e setor de origem ou experimento em que foi utilizado,
são importantes e devem ser registradas em formulário próprio.
Esse histórico consiste basicamente dos dados relativos ao seu comportamento, sintomatologia, caracte-
rísticas ambientais do local onde era mantido e do experimento em que foi utilizado. Muitas vezes, em virtude
da comparação do histórico do animal com os achados de necropsia se consegue estabelecer um diagnóstico.
Deve-se sempre ter em mente que exames complementares podem ser necessários, uma vez que a avalia-
ção macroscópica, muitas vezes, é incapaz de detectar todas as lesões. Para isso, recomenda-se que estejam
à disposição, durante uma necropsia, os materiais utilizados para exames histopatológico, bacteriológico, pa-
rasitológico e bioquímico.
Iniciamos a prática da necropsia com o exame externo do cadáver. Nesse exame, são observadas as altera-
ções cadavéricas, o estado de nutrição do animal e as alterações encontradas na pele e nos orifícios naturais.
A observação das alterações cadavéricas nos permite estimar o tempo entre a morte e a necropsia; o estado
de nutrição do cadáver dá indicações muito úteis ao diagnóstico anatomopatológico; um bom estado nutricional
sugere uma morte por doença infecciosa aguda, intoxicação aguda ou traumatismo; os estados caquéticos
indicam doenças infecciosas crônicas, certas verminoses, senilidade, doenças orgânicas de evolução lenta
(câncer etc.).
A pele e os pelos devem ser examinados em toda a superfície cutânea. Pele pálida indica anemias, ao pas-
so que amarelada indica icterícias. Hemorragias e ulcerações devem ser investigadas. Pelos luzidios indicam
doenças agudas enquanto os opacos indicam doenças crônicas. Presença de alopécia localizada é comum em
processos cicatriciais; quando difusa, sugere sarna, e circular, tinhas.
A boca é o primeiro orifício natural a ser examinado. São inspecionados as gengivas, os lábios, a mucosa
das bochechas, o céu da boca e a língua. Segue-se com a cavidade nasal, os olhos, o conduto auditivo, o ori-
fício anal, o aparelho genital masculino e feminino e as mamas.
Todas as alterações encontradas, tais como icterícia, aftas, tumorações, corrimentos, secreções, dentre ou-
tras, devem ser registradas e devidamente investigadas.

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


75
O próximo passo é a abertura propriamente dita do cadáver. Dependendo do porte do animal, pode-se fixá-
-lo à mesa de necropsia adequada à espécie. Em decúbito dorsal e distendido, expõe-se toda a região ventral
do animal. Promove-se a incisão longitudinal da pele sobre a linha mediana, desde a região mandibular até a
sínfise pubiana. A pele é rebatida após divulsão e sua textura, quantidade de tecido adiposo subcutâneo e a cor
dos tecidos são relevantes dados a serem registrados.
A partir desse momento, deve-se optar pela abertura inicial da cavidade abdominal ou da cavidade torácica
e nunca das duas simultaneamente. Isso porque, na eventualidade da existência de líquido, seja em uma, seja
em outra cavidade, o mesmo pode transvazar de uma cavidade para outra, confundindo o operador sob a real
origem do líquido.
Ao se optar pela cavidade abdominal, a musculatura abdominal é incisada, também sobre a linha média,
ou linha alba, desde a altura da cartilagem xifoide até a sínfise pubiana. A seguir, a mesma é seccionada ao
longo da linha da última vértebra, tomando-se cuidado para não lesar os órgãos abdominais. Desse modo, a
musculatura abdominal pode ser rebatida lateralmente e podem ser observados a cor e a posição dos órgãos
abdominais, distensão intestinal, quantidade e características do fluido peritoneal.
Por sua vez, a exposição dos órgãos torácicos é possível, com a abertura da cavidade, sendo promovida por
secções laterais do gradil costal, sobre as articulações costocondrais e, após secção do diafragma, pode-se re-
bater ou retirar o plastrão. Junto do plastrão esternal, observa-se o timo, localizado próximo à base do coração.

Animais de Laboratório
Descreveremos agora como remover as vísceras, porém não faremos descrições dos métodos de exame
dos aparelhos e sistemas.
Deve-se iniciar a remoção das vísceras, seccionando-se o pavimento da cavidade bucal junto da face interna
da asa da mandíbula. Após desarticulação dos ossos hioides, a língua é exposta para que, com o auxílio de
uma pinça, seja removida no conjunto língua-esôfago-traqueia-pulmão-coração. O diafragma é seccionado, cir-
cundando-se toda sua periferia. A dissecção para retirada dos órgãos é completada pela secção dos ligamentos
mediastínicos e dorsais do abdômen até as proximidades da pelve, e a remoção do conjunto de órgãos é obtida
após secção do reto. Os órgãos do sistema urogenital são então seccionados separadamente.
A inspeção do sistema nervoso central não é uma conduta comum durante a necropsia de animais de labo-
ratório. Porém, se há história clínica que sugira qualquer anormalidade nessa área, ela deve ser inspecionada.
As pequenas espécies de roedores permitem que, após o rebatimento da pele da cabeça, o crânio seja seccio-
nado com o auxílio de tesoura. Dessa forma, e após incisão de sua parte posterior e de ligamentos da base da
cavidade cranial, o cérebro pode ser facilmente removido. Para colheita da medula espinhal, o animal deve ser
mantido em decúbito ventral e em seguida faz-se a dissecção da pele e musculatura dorsais, desde a região
occipital até o osso sacro; daí, seccionam-se as raízes espinhais e as duas extremidades do arco neural, o que
permite sua retirada por tração.
Da mesma forma, o sistema musculoesquelético, assim como outros órgãos, só é examinado detalhada-
mente se apresentar alguma anomalia.
Colheita de Material
Várias técnicas são empregadas para colheita de material em uma necropsia, dependendo do objetivo da
investigação. As mais comuns são:
Colheita de Material para Exame Anatomopatológico
O fragmento do espécime a ser coletado deve ter de 0,5 cm a 1,0 cm de espessura e contemplar o seio de
lesão, os limites das mesmas com o tecido normal e as áreas aparentemente normais, circunvizinhas à lesão.
A solução fixadora é, geralmente, a formalina constituída de solução de formol a 10% ou 20%. Porém, como
o ácido fórmico é uma impureza nociva à fixação dos tecidos, sugere-se a neutralização do mesmo, através do
uso de carbonato de cálcio ou da formalina tamponada (pH 7), cuja fórmula é a seguinte:
- Formaldeído: 100 ml
- Água Destilada: 900 ml

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


76
- Fosfato Sódio Monobásico: 4,0 g
- Fosfato Sódio Dibásico: 12,3 g
O frasco receptor deverá ser de boca larga, para evitar eventuais compressões dos tecidos, e de tamanho
suficiente para acondicionar a peça e a quantidade de solução fixadora que é de, aproximadamente, 15 vezes
superior ao volume da peça.
Alguns tecidos podem flutuar no fixador (pulmões normais e medula óssea normal, por exemplo); nesses
casos, coloca-se um chumaço de algodão ou gaze sobre os mesmos, de modo que haja sua imersão na solu-
ção fixadora.
A identificação do material deve estar rotulada no frasco e o seu transporte deve ser com cuidado para evitar
o extravio ou a quebra do mesmo.
Colheita de Material para Exame Parasitológico
No exame de ectoparasitos: as sarnas são as mais comuns nos animais de laboratório –, procede-se da
seguinte forma: com uma cureta ou um escalpelo, raspam-se até sangrarem (sem chegar à hemorragia franca)
os bordos de diversos pontos cutâneos afetados; se possível, os recentemente inflamados. Os raspados são
recolhidos em tubo de hemólise ou em outro recipiente que possa ser fechado hermeticamente. Em seguida, re-
meter o espécime ao laboratório, sendo dispensado qualquer conservador. Pode-se, ainda, obter um fragmento
representativo da lesão e enviá-lo, em solução fixadora de formol, para análise.
No exame de endoparasitos, o material pode ser coletado diretamente dos intestinos do animal durante a
necropsia, colocados em frascos ou placas de Petri com solução de salina e encaminhados imediatamente
para o laboratório. Os cuidados com a identificação e o transporte do material também devem ser observados.
Colheita de Material para Exame Bacteriológico
Este procedimento deve ser feito antes de qualquer interferência sobre o órgão e sob condições de total
assepsia, para a qual utiliza-se álcool 70º, ou outra solução antisséptica, e todos os instrumentos necessários
deverão estar estéreis. Sangue, tecidos e também secreções são utilizados para identificação de bactérias. O
material deve ser remetido rapidamente ao laboratório, acondicionado de maneira a conservá-lo fresco, ou seja,
refrigerado.
Normas de Biossegurança em Necropsia
O IML é responsável pela produção da prova material do crime, cabendo a ele as funções de determinar, por
meio do exame médico-legal, as causas e as circunstâncias da morte de origem violenta ou suspeita, avaliar
a ocorrência e a intensidade das lesões corporais de indivíduos vitimados pelo crime ou acidente, examinar
a integridade física de presos sob a custódia da polícia, identificar corpos mediante exames papiloscópico e
odontolegal e identificar pessoas vivas por meio de confronto de imagem facial.
Pela própria natureza das funções, e dada à grande circulação de pessoas no órgão, é fácil perceber que
tanto profissionais e usuários do IML estão expostos a tipos de riscos que lhe são próprios e que sugerem a
adoção de um programa de prevenção e redução de riscos voltado aos conceitos de Biossegurança.
A Biossegurança é uma área de conhecimento relativamente nova, regulada em vários países por legislação
e diretrizes específicas. No Brasil, a legislação foi criada em 1995, e, ao menos por enquanto, remete apenas à
tecnologia de engenharia genética e aos requisitos para o manejo de organismos geneticamente modificados.
No meio acadêmico, científico e tecnológico, no entanto, a Biossegurança foi definida como um conjunto
de medidas para a segurança, minimização e controle de riscos nas atividades de trabalho biotecnológico que
era aplicado, especialmente, nas áreas das ciências da saúde e biológicas. O conceito evoluiu e se expandiu
para outras áreas e contempla o controle dos métodos de segurança para evitar riscos de acidentes químicos,
físicos, microbiológicos e ecológicos para o trabalhador (profissional técnico e de apoio), cliente, paciente e
cidadão, buscando a preservação do meio-ambiente e melhor qualidade de vida.

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


77
Classificação dos Riscos32
O estabelecimento de medidas de Biossegurança, se baseou na observação direta dos riscos a que estão
expostos os profissionais e usuários do IML, de acordo com as atribuições e atividades desempenhadas em
cada uma de suas áreas de atividade.
Os riscos foram classificados de acordo com sua natureza, segundo o método comumente adotado no exa-
me de atividades laborais:
a) Riscos Físicos: consideram-se agentes de risco físico as diversas formas de energia a que possam estar
expostos os trabalhadores, tais como: ruído, vibrações, pressões anormais, temperaturas extremas, radiações
ionizantes, radiações não ionizantes, ultrassom, materiais cortantes e pontiagudos, etc.
b) Riscos Químicos: consideram-se agentes de risco químico as substâncias, compostas ou produtos que
possam penetrar no organismo pela via respiratória, nas formas de poeiras, fumos, névoas, neblinas, gases ou
vapores, ou que, pela natureza da atividade de exposição, possam ter contato ou ser absorvido pelo organismo
através da pele ou por ingestão.
c) Riscos Biológicos: consideram-se agentes de risco biológico as bactérias, fungos, parasitos, vírus, entre
outros.
Classificação de risco biológico: Os agentes de risco biológico podem ser distribuídos em quatro classes de
1 a 4 por ordem crescente de risco, classificados segundo os seguintes critérios:
- Patogenicidade para o homem;
- Virulência;
- Modos de transmissão;
- Disponibilidade de medidas profiláticas eficazes;
- Disponibilidade de tratamento eficaz;
- Endemicidade.
d) Riscos Ergonômicos: considera-se risco ergonômico qualquer fator que possa interferir nas caracterís-
ticas psicofisiológicas do trabalhador causando desconforto ou afetando sua saúde. São exemplos de risco
ergonômico: o levantamento e transporte manual de peso, o ritmo excessivo de trabalho, a monotonia, a repe-
titividade, a responsabilidade excessiva, a postura inadequada de trabalho, o trabalho em turnos, etc.
e) Riscos de Acidentes: considera-se risco de acidente qualquer fator que coloque o trabalhador em situ-
ação de perigo e possa afetar sua integridade, bem-estar físico e moral. São exemplos de risco de acidente:
as máquinas e equipamentos sem proteção, probabilidade de incêndio e explosão, arranjo físico inadequado,
armazenamento inadequado, etc.

Grupo II Grupo III Grupo IV Grupo V


Grupo I
Riscos Quími- Riscos Bioló- Riscos Ergo- Riscos de Aci-
Riscos Físicos
cos gicos nômicos dentes
Trabalho Físico Arranjo Físico Defi-
Ruído Poeira Vírus
Pesado ciente
Fumos metáli- Posturas incor- Máquinas sem pro-
Vibração Bactérias
cos retas teção
Radiações ioni-
Esforço Físico Armazenamento
zantes e não ioni- Névoas Protozoários
Intenso Inadequado
zantes
Jornadas de
Pressões Anor- Equipamentos Ina-
Vapores Fungos Trabalho Prolonga-
mais dequados
das

32 http://docplayer.com.br/3689095-Manual-de-biosseguranca-do-iml-aristoclides-teixeira.html

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


78
Trabalho Notur- Ferramentas De-
Frio Gases Rickétisias
no feituosas
Levantamento e
Iluminação Defi-
Calor Neblinas Parasitas Transporte Manual
ciente
de Peso
Monotonia e re-
Eletricidade
petitividade
Substâncias, Imposição de
compostos ou pro- ritmos excessivos
Príons Probabilidade de
dutos químicos em Outras situa- incêndio e/ou explo-
geral ções causadoras são
de stress físico e/
ou psíquico

Medidas Gerais De Segurança


Todos os profissionais do IML devem:
- Manter calendário de imunização atualizado.
- Qualquer acidente deve ser levado imediatamente ao conhecimento do Supervisor responsável para to-
mada de medidas necessárias.
- Utilizar de maneira apropriada o mobiliário ou equipamento conforme fim estabelecido, evitando possíveis
acidentes de trabalho ou desgaste do mesmo.
- Manusear com cuidado portas e gavetas.
- Manusear equipamentos e objetos cortantes ou perfurantes (estilete, tesouras, grampeadores, etc.) com
atenção e perícia.
- Sempre que utilizar tais objetos, acondicione-os de maneira segura de modo que não ofereçam riscos a si
e a terceiros.
- Ter cuidado e atenção ao introduzir mãos em gavetas, pois pode haver objetos pontiagudos e cortantes
(estiletes, tesouras, etc.).
- No manuseio de vidros ou sacos contendo produtos químicos ou amostras biológicas (urina, sangue, ór-
gãos, entre outros) trate-os como contaminados.
- Comunicar ao supervisor sempre que houver vidrarias quebradas.
- Manter fechadas as portas das salas de necropsias e demais laboratórios durante o trabalho.
- Manter materiais biológicos potencialmente infectados fechados e identificados.
- Evitar produzir aerossol desnecessário por agitação violenta e ao abrir vasilhames com pressão interna
maior que a externa.
- Proteger ferimentos e mucosas contra o perigo de contaminação.
- Nunca colocar objetos de qualquer espécie sobre os equipamentos, a fim de evitar danos e contaminações.
- Evitar perfurações em si e nos colegas com agulhas ou outros objetos pontiagudos ou perfurocortantes,
principalmente aqueles sujos com sangue.
- Manter unhas aparadas e limpas. Se fizer uso de esmalte, que seja de cor clara de maneira que não camu-
fle contaminação por fluidos biológicos.
- O uso de adornos (anéis, brincos, correntes) deve ser evitado ao máximo, pois além de acumular sujeira
ou albergar micro-organismos, podem ser causa de acidentes.
- Realizar refeições, lanches etc. em ambiente apropriado (Copa)
- Somente permitir a entrada, nas áreas de serviço dos laboratórios ou necrotério, de pessoas devidamente
avisadas sobre os eventuais perigos.

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


79
- Não permitir que crianças tenham acesso às áreas técnicas e aos laboratórios.
Medidas de Segurança nas Salas de Necropsia
- Seguir orientações do POP.
- Participar de Programas de Educação Postural, ações voltadas para a área de valorização profissional e
qualidade de vida, capacitações, melhoria dos processos de trabalho, divisão de tarefas.
- Usar equipamentos de proteção individual - EPI recomendados para cada atividade.
- Usar vestimentas de proteção (jalecos, macacões, touca e máscara); calçados ou pró-pés será de uso
obrigatório para entrar nas salas de necropsia.
- Não utilizar jalecos, pró-pés e luvas contaminadas fora da sala de necropsia.
- Não utilizar os calçados das salas de necropsia fora deste ambiente.
- Orientar-se sobre a utilização e adequação das máscaras.
- Higienizar as mãos.
- Manter unhas aparadas e limpas. Se fizer uso de esmalte, que seja de cor clara de maneira que não camu-
fle contaminação por fluidos biológicos.
- Manter os cabelos presos.
- Evitar o uso de adornos (anéis, brincos, correntes), pois além de acumular sujeira ou albergar microorga-
nismos, podem ser causa de acidentes.
- Não fumar em recintos coletivos fechados.
- Realizar refeições, lanches etc. em ambiente apropriado (Copa).
- Manusear com cuidado portas e gavetas de mobiliário.
- Manusear equipamentos e objetos cortantes ou perfurantes (estilete, tesouras, grampeadores, etc.) com
atenção e perícia.
- Sempre que utilizar tais objetos, acondicione-os de maneira segura de modo que não ofereçam riscos a si
e a terceiros.
- Desligar sempre os aparelhos elétricos após o término do seu uso e/ou expediente.
- Utilizar de maneira apropriada o mobiliário ou equipamento conforme fim estabelecido, evitando possíveis
acidentes de trabalho ou desgaste do mesmo.
- Ter cuidado e atenção ao introduzir mãos em gavetas, pois pode haver objetos pontiagudos e cortantes
(estiletes, tesouras, etc.).
- Procurar orientações sobre a distribuição e o funcionamento dos extintores de incêndios.
- Manter as botas limpas. Lavá-las ao término de cada procedimento.
- Manter o lavador de botas, constantemente abastecido com água, sabão e sanitizantes.
- No manuseio de vidros ou sacos contendo produtos químicos ou amostras biológicas (urina, sangue, ór-
gãos, entre outros) trate-os como contaminados.
- Usar as luvas adequadas ao trabalho em todas as atividades que possam resultar em contato acidental
direto com sangue e materiais infecciosos.
- Após o uso, as luvas devem ser removidas cuidadosamente e descartadas como resíduo potencialmente
infectante (autoclavá-las antes da disposição no abrigo externo).
- Ao abrir as portas, usar punhos e cotovelos evitando tocá-las com mãos e luvas contaminadas.
- Ao utilizar bebedouros, computadores e ao atender telefone, retire as luvas descartando-as em lixo próprio
para resíduos biológicos.
- Comunicar ao supervisor sempre que houver vidrarias quebradas.

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


80
- Manter fechadas as portas das salas de necropsias e demais laboratórios durante o trabalho.
- Manter materiais biológicos potencialmente infectados fechados e identificados.
- Evitar produzir aerossol desnecessário por agitação violenta e ao abrir vasilhames com pressão interna
maior que a externa.
- Proteger ferimentos e mucosas contra o perigo de contaminação.
- Nunca colocar objetos de qualquer espécie sobre os equipamentos, a fim de evitar danos e contaminações.
- Evitar perfurações em si e nos colegas com agulhas ou outros objetos pontiagudos ou perfurocortantes,
principalmente aqueles sujos com sangue.
- Somente permitir a entrada, nas áreas de serviço dos laboratórios ou necrotério as pessoas devidamente
avisadas sobre os eventuais perigos e devidamente orientadas sobre a utilização dos EPIs.
- Não permitir que crianças tenham acesso às áreas técnicas e aos laboratórios.
- Qualquer acidente, com exposição efetiva aos possíveis materiais infecciosos, deve ser levado imediata-
mente ao conhecimento do Supervisor responsável para tomada de medidas necessárias.
- Não usar sandálias ou chinelos.
- Ao sair do necrotério e demais salas de exames médico-legais, retirar as luvas e jaleco.
Medidas de Segurança na Remoção de Corpos
- Seguir orientações do POP.
- Participar de programas de Educação Postural, ações voltadas para a área de valorização profissional e
qualidade de vida, capacitações, melhoria dos processos de trabalho, divisão de tarefas.
- Na remoção de corpos em putrefação, usar purificador de ar com peça semifacial com filtros. Para as de-
mais remoções, utilizar respirador semifacial filtrante (PFF2). Em ambos os casos, utilizar luvas cirúrgicas ou
de procedimento, além de óculos de proteção.
- Utilizar calçados fechados e preferencialmente impermeáveis sendo que as botas de PVC são as mais
indicadas, sobretudo para remoções em locais de alta umidade no solo ou sob o risco de picada de animais
peçonhentos.
- Manter os calçados limpos.
- Trajar-se com vestimenta limpa e apropriada para a atividade que ofereça conforto e segurança. Não de-
verão ser usadas camisas que apresentem botões aparentes. Estes botões podem eventualmente prender-se
a outros objetos podendo ser causa de acidentes.
- Não pendurar chaves, óculos ou outros objetos nas roupas.
- Deverá ser utilizada vestimenta de apoio contendo faixas reflexivas que facilitem a visualização do traba-
lhador durante o período noturno. A medida visa à prevenção de acidentes durante o atendimento de ocorrên-
cias no período noturno.
- Lavar as mãos após o término de cada remoção.
- Proteger ferimentos e mucosas contra o perigo de contaminação.
- Não descartar luvas, jalecos ou qualquer item de proteção individual nas vias públicas ou em local que não
possua o coletor específico para resíduo biológico ou de lixo hospitalar.
Medidas de Segurança no Procedimento de Necropsia
- Seguir orientações do POP.
- Participar de programas de Educação Postural, ações voltadas para a área de valorização profissional e
qualidade de vida, capacitações, melhoria dos processos de trabalho, divisão de tarefas.
- Usar máscara de proteção do tipo purificador de ar não motorizado com peça facial com filtros substituíveis
durante as necropsias em geral.

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


81
- Usar gorro descartável, óculos de proteção, calçados impermeáveis (preferencialmente botas de PVC) e
luvas cirúrgicas descartáveis de látex em todos os tipos de necropsias.
- Ter cuidado ao manusear estômago, vestimentas e secreções de suicidas ou vítimas de envenenamento.
- Nas necropsias de cadáveres em decomposição deverá ser usado macacão descartável impermeável
com mangas longas e capuz evitando a exposição da pele e couro cabeludo. Usar calça comprida descartável,
jaleco descartável impermeável com mangas longas e afixadas ao dedo (para evitar exposição da pele) nas
necropsias comuns ou nos demais casos.
- Lavar as mãos após o término de cada exame ou procedimento.
- É vedado o uso de adornos (anéis, brincos, correntes) que possam acumular sujeira ou albergar possíveis
microorganismos patogênicos, além de propiciarem a ocorrência de acidentes.
- Não guardar ou consumir alimentos ou bebidas nas áreas de trabalho.
- Proteger ferimentos e mucosas contra o perigo de contaminação.
- Manter unhas aparadas e limpas.
- Não fumar.
- Máxima atenção durante a realização dos procedimentos.
- Jamais utilizar os dedos como anteparo durante a realização de procedimentos que envolvam materiais
perfurocortantes.
- As agulhas não devem ser reencapadas, entortadas, quebradas ou retiradas da seringa com as mãos.
- Todo material perfurocortante (agulhas, scalp, lâminas de bisturi, vidrarias, entre outros), mesmo que esté-
ril, deve ser desprezado em recipientes resistentes à perfuração e com tampa.
- Os recipientes específicos para descarte de material não devem ser preenchidos acima do limite de 2/3 de
sua capacidade total e devem ser colocados sempre próximos do local onde é realizado o procedimento.
- Não deixar instrumentos perfurocortantes em locais que ofereçam riscos aos demais e a si mesmo.
- Manter calendário de imunização atualizado.
- É proibida a presença de pessoas estranhas às atividades do necrotério.
- Guardar objetos pessoais no vestiário. Jamais levar objetos pessoais estranhos ao serviço para a sala de
necropsia.
- Usar instrumentação cirúrgica adequada a cada procedimento.
- Os equipamentos de proteção individual tais como: máscaras de gás, aventais plásticos, óculos de pro-
teção, entre outros deverão ser guardados nos armários próprios do vestiário após um rigoroso processo de
higienização e desinfecção. Em hipótese alguma estes itens poderão ser levados para os armários dos aloja-
mentos.
- Manusear vidros, sacos contendo produtos químicos e amostras biológicas (urina, sangue, órgãos) como
contaminados;
- Após cada procedimento de necropsia, os instrumentais cirúrgicos deverão ser lavados com germicida. Ao
encerramento dos trabalhos, o instrumental utilizado deverá ser secado e esterilizados na estufa ou autoclave;
antes de serem acondicionados em local próprio.
- Descontaminar previamente qualquer equipamento que esteja sendo encaminhado para manutenção, evi-
tando causar riscos a terceiros. Se possível identifique o equipamento informando sobre os cuidados necessá-
rios à manipulação do mesmo.
- O Auxiliar de Autópsia não deverá permanecer dentro da sala de raio X. Caso a permanência seja neces-
sária, o mesmo deverá fazer uso do avental de chumbo e protetor de tireoide.

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


82
Medidas de Segurança na Coleta de Impressões Papilares em Cadáveres em Decomposição
- Seguir orientações do POP.
- Participar de programas de Educação Postural, ações voltadas para a área de valorização profissional e
qualidade de vida, capacitações, melhoria dos processos de trabalho, divisão de tarefas.
- Usar máscara de proteção do tipo purificador de ar não motorizado com peça facial com filtros substituíveis
durante a coleta de impressões digitais de cadáveres em decomposição.
- Usar macacão descartável impermeável com mangas longas.
- Usar gorro descartável, óculos de proteção, calçados impermeáveis (preferencialmente botas de PVC),
luvas cirúrgicas descartáveis de látex.
- Proceder à higienização das mãos.
- É vedado o uso de adornos (anéis, brincos) que podem acumular sujeira ou albergar possíveis microrga-
nismos patogênicos, além de propiciarem a ocorrência de acidentes.
- Proteger ferimentos e mucosas contra o perigo de contaminação.
- Manter unhas aparadas e limpas.
- Vedada a guarda ou consumo de alimentos ou bebidas nas áreas de trabalho.
- Não deixar instrumentos perfurocortantes em locais que ofereçam riscos aos demais e a si mesmo.
- Todo material perfurocortante (agulhas, scalp, lâminas de bisturi, vidrarias, entre outros), mesmo que esté-
ril, deve ser desprezado em recipientes resistentes à perfuração e com tampa.
Medidas de Segurança na Coleta de Impressões Papilares em Cadáver de Morte Recente
- Seguir orientações do POP.
- Participar de programas de Educação Postural, ações voltadas para a área de valorização profissional e
qualidade de vida, capacitações, melhoria dos processos de trabalho, divisão de tarefas.
- Usar respirador semifacial filtrante (PFF2) sem válvula de exalação durante a coleta de impressões papila-
res dos demais cadáveres.
- Usar jaleco descartável impermeável com mangas longas.
- Usar calça descartável, gorro descartável, calçados impermeáveis (preferencialmente botas de PVC) e
luvas cirúrgicas descartáveis de látex.
- O uso de óculos de proteção é facultativo, dada a manipulação restrita a que o papiloscopista está subme-
tido.
- Proceder à higienização das mãos.
- É vedado o uso de adornos (anéis, brincos) que podem acumular sujeira ou albergar possíveis microorga-
nismos patogênicos, além de propiciarem a ocorrência de acidentes.
- Proteger ferimentos e mucosas contra o perigo de contaminação.
- Manter unhas aparadas e limpas.
- Vedada a guarda ou consumo de alimentos ou bebidas nas áreas de trabalho.
Medidas de Segurança na Sala de Câmaras Frias
A Sala de Câmaras Frias destina-se ao acondicionamento dos cadáveres em câmaras individuais visando
sua conservação.
- Seguir orientações do POP.
- Participar de programas de Educação Postural, ações voltadas para a área de valorização profissional e
qualidade de vida, capacitações, melhoria dos processos de trabalho, divisão de tarefas.
- Observar o cumprimento das normas dispostas nas NR 11 - Transporte, Movimentação, Armazenagem e
Manuseio de Materiais e NR 17 – Ergonomia, no que couber.

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


83
- Recomendamos que seja realizado um estudo de ergonomia que busque minimizar a atividade de trans-
porte manual de corpos e, sobretudo a prática de posturas incorretas pelo trabalhador.
- Sempre que possível, o transporte deve ser realizado com máquinas/equipamentos tais como empilhadei-
ras, carros (macas) de transporte pneumáticas e/ou elétricos de maneira que o esforço físico do trabalhador
seja minimizado ao máximo.
- Utilizar urna forrada com zinco ou semelhante para evitar vazamentos de líquido cadavérico.
- Utilizar técnica correta para o levantamento de cargas (cadáveres). O joelho deve ficar adiantado em
ângulo de 90 graus. Braços esticados entre as pernas. Dorso plano. Queixo não dirigido para baixo. Pernas
distanciadas entre si lateralmente. Carga próxima ao eixo vertical do corpo. Tronco em mínima flexão. A figura
ao lado mostra a técnica correta para o levantamento de cargas.
- Procurar não curvar a coluna vertebral. Transportar o peso na posição ereta.
- Durante o transporte, evite rir, espirrar ou tossir.
- Evitar movimentos de torção em torno do corpo.
- Posicionar os braços junto ao corpo mantendo a carga na posição mais próxima do eixo vertical.
- Levantar e transportar a carga com os braços esticados e virados para baixo.
- Procurar distribuir simetricamente a carga.
Medidas de Segurança para a Sala de Depósito de EPI
Sala destinada à guarda dos Equipamentos de Proteção Individual – EPI, composta por armários individuais
onde serão acondicionadas as botas de PVC, aventais plásticos, respiradores faciais, entre outros e uma outra
área destinada aos EPI de uso descartável.
- Seguir orientações do POP.
- Participar de programas de Educação Postural, ações voltadas para a área de valorização profissional e
qualidade de vida, capacitações, melhoria dos processos de trabalho, divisão de tarefas.
- Os EPIs descartáveis estarão disponibilizados em prateleiras distribuídos de maneira organizada, por cri-
tério de tipo e tamanho.
- As prateleiras contendo os EPI descartáveis não poderão ser manipuladas com luvas contaminadas.
Medidas de Segurança para a Sala de Vestiários
Salas destinadas a paramentação dos funcionários antes da entrada na sala de necropsia e demais áreas
técnicas de risco biológico.
- Seguir orientações do POP.
- Participar de Programas de Educação Postural, ações voltadas para a área de valorização profissional e
qualidade de vida, capacitações, melhoria dos processos de trabalho, divisão de tarefas;
- Para terem acesso à sala de necropsia os servidores deverão paramentar-se no vestiário com os equipa-
mentos de proteção individual necessários à atividade que irão desempenhar.
- Os armários individuais serão usados para o depósito temporário de pertences.
- Os adornos (pulseira, brincos, alianças, etc.), peças de vestuário bem como objetos pessoais deverão ser
retirados e guardados neste local.
- Após a entrada na sala de necropsia ou demais dependências de risco biológico, o funcionário só poderá
retornar ao vestiário após a lavagem de mãos e botas e depois de descartar os EPIs contaminados (luvas, ja-
lecos, pró-pé, gorro).
- Roupas descartáveis usadas deverão ser desprezadas nos coletores específicos para este fim.
- Os EPI’s não descartáveis, como botas, respiradores faciais, óculos de proteção, entre outros, deverão ser
previamente higienizados antes de serem guardados nos armários.
- Todos serão responsáveis pela manutenção da organização do vestiário.

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


84
- Antes de retornar às demais dependências do IML, o funcionário deverá passar novamente pelo vestiário
para retirada dos pertences e armazenamento dos EPIs não descartáveis utilizados e já previamente higieni-
zados.
- Utensílios de limpeza usados nos vestiários e banheiros não deverão ser utilizados nos necrotérios, labo-
ratórios ou áreas administrativas. Estes deverão ser exclusivos dos vestiários e banheiros e precisarão estar
identificados com etiquetas ou cores.
- Os cestos de resíduo devem possuir tampas acionadas a pedal abastecidos com sacos plásticos adequa-
dos ao PGRSS do IML.
Medidas de Segurança para a Sala de Expurgo
Sala destinada ao recebimento, conferência, lavagem e esterilização dos materiais cirúrgicos utilizados nas
salas de necropsia.
- Seguir orientações do POP.
- Participar de Programas de Educação Postural, ações voltadas para a área de valorização profissional e
qualidade de vida, capacitações, melhoria dos processos de trabalho, divisão de tarefas.
- Usar EPI adequado para se protegerem de contaminações provenientes do instrumental que deverá ser
lavado no local.
- Todo o material descartável dos laboratórios e salas de necropsia deverá ser encaminhado ao expurgo
após o uso.
- Manter o local, para o expurgo, limpo e organizado.
Medidas de Segurança para a Sala de Digitação de Laudos
Sala destinada a digitação e encaminhamento de laudos.
- Seguir orientações do POP.
- Participar de Programas de Educação Postural, ações voltadas para a área de valorização profissional e
qualidade de vida, capacitações, melhoria dos processos de trabalho, divisão de tarefas.
- Manipular os computadores com as mãos limpas para não disseminar a contaminação no equipamento.
- Os panos de limpeza de mesas e computadores deverão ser de uso exclusivo deste setor.
Medidas de Segurança para a Sala de Higienização (lavagem) e Acondicionamento (Guarda) de Ban-
dejas e Caixões Mortuários
Sala destinada ao recebimento, lavagem e descontaminação de bandejas e caixões mortuários.
- Seguir orientações do POP.
- Participar de Programas de Educação Postural, ações voltadas para a área de valorização profissional e
qualidade de vida, capacitações, melhoria dos processos de trabalho, divisão de tarefas.
- Usar botas impermeáveis, calça, jaleco, avental, máscaras, óculos de proteção, touca e respirador facial
contra respingos.
- Seguir orientações destinadas ao pessoal da limpeza.
- As bandejas deverão ser lavadas como descrito a seguir:
Fase 1: Técnica de Lavagem
Utilizar um balde contendo solução de água e sabão líquido ou detergente cuja diluição deverá estar con-
forme indicação do fabricante no rótulo do produto. Esfregue a bandeja ou caixão com vassoura e/ou escova
embebida na solução preparada acima, retirando os resíduos das superfícies. Toda a matéria orgânica deverá
ser removida durante a lavagem para que a fase seguinte de descontaminação tenha êxito.
OBS: Se necessário, antes do procedimento, deixe a bandeja ou caixão de molho com água e sabão ou
detergente para que os resíduos absorvam água facilitando assim o seu desprendimento durante a lavagem.

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


85
Fase 2: Técnica de Descontaminação
- Prepare uma solução de hipoclorito de sódio a 1% de cloro ativo da seguinte forma: utilizando água sanitá-
ria (2,5 % de cloro ativo): para preparar 10 (dez) litros de solução a 1% de cloro, dilua 4 litros de água sanitária
em 6 litros de água;
- Utilizando hipoclorito comercial (10% de cloro ativo): para preparar 10 (dez) litros de solução a 1% de cloro,
dilua 1 litro de hipoclorito a 10% em 9 litros de água;
- Aplique a solução sobre a superfície da bandeja ou caixão com o auxílio de uma vassoura e deixe agir por
no mínimo 10 minutos ou até secar. A aplicação poderá ser também por aspersão. Não necessita enxágue.
Sala de Guarda de Pertences de Cadáveres Necropsiados
Sala destinada à guarda de pertences, de cadáveres, recolhidos durante as remoções ou procedimento de
necropsias.
- Seguir orientações do POP.
- Utilizar máscaras do tipo PFF2, botas impermeáveis ou pró-pés, jaleco, gorro, luvas descartáveis.
- Participar de Programas de Educação Postural, ações voltadas para a área de valorização profissional e
qualidade de vida, capacitações, melhoria dos processos de trabalho, divisão de tarefas.
- Acondicionar todo material recolhido do corpo em sacos para evidências etiquetados e/ou identificados com
dados que possibilitem a posterior localização e o resgate dos pertences pela família.
- Guardar os volumes de maneira organizada e higiênica.
Equipamento de Proteção Individual – EPI: são empregados para proteger o pessoal da área de saúde do
contato com agentes infecciosos, tóxicos ou corrosivos, calor excessivo, fogo e outros perigos. A roupa e o
equipamento servem também para evitar a contaminação do material em experimento ou em produção. São
exemplos:
Luvas: são usadas como barreira de proteção prevenindo contra contaminação das mãos ao manipular ma-
terial contaminado, reduzindo a probabilidade de que microrganismos presentes nas mãos sejam transmitidos
durante procedimentos. O uso de luvas não substitui a necessidade da lavagem das mãos porque elas podem
ter pequenos orifícios inaparentes ou danificar-se durante o uso, podendo contaminar as mãos quando remo-
vidas.
- Usar luvas de látex sempre que houver chance de contato com sangue, fluídos do corpo, dejetos, trabalho
com microrganismos e animais de laboratório.
- Usar luvas de PVC para manuseio de citostáticos (mais resistentes, porém menos sensibilidade).
- Lavar instrumentos, roupas, superfícies de trabalho sempre usando luvas.
- Não usar luvas fora da área de trabalho, não abrir portas, não atender telefone.
- Luvas (de borracha) usadas para limpeza devem permanecer 12 horas em solução e Hipoclorito de Sódio
a 0,1% (1g/l de cloro livre = 1000 ppm). Verificar a integridade das luvas após a desinfecção.
- Nunca reutilizar as luvas, descartá-las de forma segura.
Jaleco: os vários tipos de jalecos são usados para fornecer uma barreira de proteção e reduzir a oportunida-
de de transmissão de microrganismos. Previnem a contaminação das roupas do pessoal, protegendo a pele da
exposição a sangue e fluidos corpóreos, salpicos e derramamentos de material infectado.
- São de uso constante nos laboratórios e constituem uma proteção para o profissional.
- Devem sempre ser de mangas longas, confeccionados em algodão ou fibra sintética (não inflamável).
- Os descartáveis devem ser resistentes e impermeáveis.
- Uso de jaleco é permitido somente nas áreas de trabalho. Nunca em refeitórios, escritórios, bibliotecas,
ônibus.
- Jalecos nunca devem ser colocados no armário onde são guardados objetos pessoais.
- Devem ser descontaminados antes de serem lavados.

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


86
Outros Equipamentos
- Óculos de Proteção e Protetor Facial (protege contra salpicos, borrifos, gotas, impacto).
- Máscara (tecido, fibra sintética descartável, com filtro HEPA, filtros para gases, ó, etc.).
- Avental impermeável.
- Uniforme de algodão, composto de calça e blusa.
- Luvas de borracha, amianto, couro, algodão e descartáveis.
- Dispositivos de pipetagem (borracha peras, pipetadores automáticos, etc.).
Equipamentos de Proteção Coletiva - EPC: são equipamentos que possibilitam a proteção do pessoal do
laboratório, do meio ambiente e da pesquisa desenvolvida. São exemplos:
Cabines de Segurança: as cabines de segurança biológica constituem o principal meio de contensão e são
usadas como barreiras primárias para evitar a fuga de aerossóis para o ambiente. Há três tipos de cabines de
segurança biológica:
Classe I
Classe II – A, B1, B2, B3.
Classe III
Fluxo laminar de ar: massa de ar dentro de uma área confinada movendo-se com velocidade uniforme ao
longo de linhas paralelas.
Capela química nb: cabine construída de forma aerodinâmica cujo fluxo de ar ambiental não causa turbulên-
cias e correntes, assim reduzindo o perigo de inalação e contaminação do operador ambiente
Chuveiro de emergência: chuveiro de aproximadamente 30 cm de diâmetro, acionado por alavancas de
mão, cotovelos ou joelhos, deve estar localizado em local de fácil acesso.
Lava olhos: dispositivo formado por dois pequenos chuveiros de média pressão, acoplados a bacia metálica,
cujo ângulo permite direcionamento correto do jato de água. Pode fazer parte do chuveiro de emergência ou
ser do tipo frasco de lavagem ocular.
Manta ou cobertor: confeccionado em lã ou algodão grosso, não podendo ter fibras sintéticas. Utilizado para
abafar ou envolver vítima de incêndio.
Vaso de areia: também chamado de balde de areia, é utilizado sobre derramamento de álcalis para neutra-
lizá-lo.
Extintor de incêndio a base de água: utiliza o CO2 como propulsor. É usado em papel, tecido e madeira. Não
usar em eletricidade, líquidos inflamáveis, metais em ignição.
Extintor de incêndio de CO2 em pó: utiliza o CO2 em pó como base. A força de seu jato é capaz de dissemi-
nar os materiais incendiados. É usado em líquidos e gases inflamáveis, fogo de origem elétrica. Não usar em
metais alcalinos e papel.
Extintor de incêndio de pó seco: usado em líquidos e gases inflamáveis, metais do grupo dos álcalis, fogo
de origem elétrica.
Extintor de incêndio de espuma: usado para líquidos inflamáveis. Não usar para fogo causado por eletrici-
dade.
Extintor de incêndio de BCF: utiliza o bromoclorodifluorometano. É usado em líquidos inflamáveis, incêndio
de origem elétrica. O ambiente precisa ser cuidadosamente ventilado após seu uso.
Mangueira de incêndio: modelo padrão, comprimento e localização são fornecidos pelo Corpo de Bombeiros.
Procedimentos para Descarte dos Resíduos Gerados em Laboratório
Resíduos Infectantes: estes resíduos podem ser divididos em quatro grupos a saber:
Material Proveniente de Áreas de Isolamento: incluem-se aqui, sangue e secreções de pacientes que apre-
sentam doenças transmissíveis.

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


87
Material Biológico: composto por culturas ou estoques de microrganismos provenientes de laboratórios clíni-
cos ou de pesquisa, meios de cultura, placas de Petri, instrumentos usados para manipular, misturar ou inocular
microrganismos, vacinas vencidas ou inutilizadas, filtros e gases aspiradas de áreas contaminadas.
Sangue Humano e Hemoderivados: composto por bolsas de sangue com prazo de utilização vencida, inutili-
zada ou com sorologia positiva, amostras de sangue para análise, soro, plasma, e outros subprodutos.
Procedimentos Recomendados para o Descarte
- As disposições inadequadas dos resíduos gerados em laboratório poderão constituir ocos de doenças in-
fectocontagiosas se, não forem observados os procedimentos para seu tratamento.
- Lixo contaminado deve ser embalado em sacos plásticos para o lixo tipo 1, de capacidade máxima de 100
litros, indicados pela NBR 9190 da ABNT.
- Os sacos devem ser totalmente fechados, de forma a não permitir o derramamento de seu conteúdo, mes-
mo se virados para baixo. Uma vez fechados, precisam ser mantidos íntegros até o processamento ou desti-
nação final do resíduo. Caso ocorram rompimentos frequentes dos sacos, deverão ser verificados, a qualidade
do produto ou os métodos de transporte utilizados. Não se admite abertura ou rompimento de saco contendo
resíduo infectante sem tratamento prévio.
- Havendo derramamento do conteúdo, cobrir o material derramado com uma solução desinfetante (por
exemplo, hipoclorito de sódio a 10.000 ppm), recolhendo-se em seguida. Proceder, depois, a lavagem do local.
Usar os equipamentos de proteção necessários.
- Todos os utensílios que entrarem em contato direto com o material deverão passar por desinfecção poste-
rior.
- Os sacos plásticos deverão ser identificados com o nome do laboratório de origem, sala, técnica respon-
sável e data do descarte.
- Autoclavar a 121 C (125F), pressão de 1 atmosfera (101kPa, 151 lb/in acima da pressão atmosférica) du-
rante pelo menos 20 minutos.
- As lixeiras para resíduos desse tipo devem ser providas de tampas.
- Estas lixeiras devem ser lavadas, pelo menos uma vez por semana, ou sempre que houver vazamento do
saco.
Resíduos Perfurocortantes: os resíduos perfurocortantes constituem a principal fonte potencial de riscos,
tanto de acidentes físicos como de doenças infecciosas. São compostos por: agulhas, ampolas, pipetas, lâmi-
nas de bisturi, lâminas de barbear e qualquer vidraria quebrada ou que se quebre facilmente.
Procedimentos Recomendados para o Descarte
- Os resíduos perfurocortantes devem ser descartados em recipientes de paredes rígidas, com tampa e re-
sistentes à autoclavação. Estes recipientes devem estar localizados tão próximo quanto possíveis da área de
uso dos materiais.
- Os recipientes devem ser identificados com etiquetas autocolantes, contendo informações sobre o labora-
tório de origem, técnico responsável pelo descarte e data do descarte.
- Embalar os recipientes, após tratamento para descontaminação, em sacos adequados para descarte iden-
tificados como material perfurocortantes e descartar como lixo comum, caso não sejam incinerados.
- A agulha não deve ser retirada da seringa após o uso.
- No caso de seringa de vidro, levá-la juntamente com a agulha para efetuar o processo de descontaminação.
- Não quebrar, entortar ou recapear as agulhas.
Resíduos radioativos: compostos por materiais radioativos ou contaminados com radionuclídeos com baixa
atividade provenientes de laboratórios de pesquisa em química e biologia, laboratórios de análises clínicas
e serviços de Medicina Nuclear. São normalmente, sólidos ou líquidos (seringas, papel absorvente, frascos,
líquidos derramados, urina, fezes, etc.). Resíduos radioativos, com atividade superior às recomendadas pela
Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), deverão ser acondicionados em depósitos de decaimento (até
que suas atividades se encontrem dentro do limite permitido para sua eliminação).

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


88
Procedimentos Específicos para o Descarte
- Não misturar rejeitos radioativos líquidos com sólidos.
- Preveja o uso de recipientes especiais, etiquetados e apropriados à natureza do produto radioativo em
questão.
- Coletar materiais como agulhas, ponteiras de pipetas e outros objetos afiados, contaminados por radiação,
em recipientes específicos, com sinalização de radioatividade.
- Os containers devem ser identificados com: Isótopo presente, tipo de produto químico e concentração,
volume do conteúdo, laboratório de origem, técnico responsável pelo descarte e a data do descarte.
- Os rejeitos não devem ser armazenados no laboratório, mas sim em um local previamente adaptado para
isto, aguardando o recolhimento.
- Considerar como de dez meias vidas o tempo necessário para obter um decréscimo quase total para a
atividade dos materiais (fontes não seladas) empregadas na área biomédica.
- Pessoal responsável pela coleta de resíduos radioativos: devem utilizar vestimentas protetoras e luvas
descartáveis. Estas serão eliminadas após o uso, também, como resíduo radioativo.
- Em caso de derramamento de líquidos radioativos, poderão ser usados papéis absorventes ou areia, de-
pendendo da quantidade derramada. Isto impedirá seu espalhamento. Estes deverão ser eliminados juntos
com outros resíduos radioativos.
Observações Importantes: os procedimentos estabelecidos para a eliminação de rejeitos radioativos foram
padronizados pela Norma CNEN-NE-6.05 (CNEN, 1985). O pessoal envolvido na manipulação desses rejeitos
deve receber treinamento específico para realização dessa atividade, além de uma regular vigilância médico
sanitária.
Resíduos Químicos: os resíduos químicos apresentam riscos potenciais de acidentes inerentes às suas
propriedades específicas. Devem ser consideradas todas as etapas de seu descarte com a finalidade, de mi-
nimizar, não só acidentes decorrentes dos efeitos agressivos imediatos (corrosivos e toxicológicos), como os
riscos cujos efeitos venham a se manifestar a mais longo prazo, tais como os teratogênicos, carcinogênicos e
mutagênicos. São compostos por resíduos orgânicos ou inorgânicos tóxicos, corrosivos, inflamáveis, explosi-
vos, teratogênicos, etc.
Para a realização dos procedimentos adequados de descarte, é importante a observância do grau de toxici-
dade e do procedimento de não mistura de resíduos de diferentes naturezas e composições. Com isto, é evita-
do o risco de combinação química e combustão, além de danos ao ambiente de trabalho e ao meio ambiente.
Para tanto, é necessário que a coleta desses tipos de resíduos seja periódica.
Os resíduos químicos devem ser tratados antes de descartados. Os que não puderem ser recuperados,
devem ser armazenados em recipientes próprios para posterior descarte.
No armazenamento de resíduos químicos devem ser considerados a compatibilidade dos produtos envolvi-
dos, a natureza do mesmo e o volume.
Procedimentos Gerais de Descarte
- Cada uma das categorias de resíduos orgânicos ou inorgânicos relacionados deve ser separada, acondi-
cionada, de acordo com procedimentos e formas específicas e adequadas a cada categoria. Na fonte produtora
do rejeito e em sua embalagem deverão existir os símbolos internacionais estabelecidos pela Organização
Internacional de Normalização (ISO) e pelo Comitê de Especialistas em Transporte de Produtos Perigosos,
ambos da Organização das Nações Unidas, adequados a cada caso.
- Além do símbolo identificador da substância, na embalagem contendo esses resíduos deve ser afixada
uma etiqueta autoadesiva, preenchida em grafite contendo as seguintes informações: laboratório de origem,
conteúdo qualitativo, classificação quanto à natureza e advertências.
- Os rejeitos orgânicos ou inorgânicos sem possibilidade de descarte imediato devem ser armazenados em
condições adequadas específicas.

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


89
- Os resíduos orgânicos ou inorgânicos deverão ser desativados com o intuito de transformar pequenas
quantidades de produtos químicos reativos em produtos derivados inócuos, permitindo sua eliminação sem
riscos. Este trabalho deve ser executado com cuidado, por pessoas especializadas.
- Os resíduos que serão armazenados para posterior recolhimento e descarte/incineração, devem ser reco-
lhidos separadamente em recipientes coletores impermeáveis a líquidos, resistentes, com tampas rosqueadas
para evitar derramamentos e fechados para evitar evaporação de gases.
- Resíduos inorgânicos tóxicos e suas soluções aquosas – Sais inorgânicos de metais tóxicos e suas solu-
ções aquosas devem ser previamente diluídos a níveis de concentração que permitam o descarte direto na pia
em água corrente.
Concentrações Máximas Permitidas ao Descarte Direto na Pia Para Cada Metal:
- Cádmio: no máximo 1 mg/L;
- Chumbo: no máximo 10 mg/L;
- Zinco: no máximo 5 mg/L;
- Cobre: no máximo 5 mg/L;
- Cromo: no máximo 10 mg/L;
- Prata: no máximo 1 mg/L.
- Resíduos inorgânicos ácidos e suas soluções aquosas: diluir com água, neutralizar com bases diluídas e,
descartar na pia em água corrente.
- Resíduos inorgânicos básicos e suas soluções aquosas: diluir com água, neutralizar com ácidos diluídos e
descartar na pia em água corrente.
- Resíduos inorgânicos neutros e suas soluções aquosas: diluir com água e descartar na pia em água cor-
rente.
- Resíduos inorgânicos insolúveis em água
- Com risco de contaminação ao meio ambiente: armazenar em frascos etiquetados e de conteúdo similar,
para posterior recolhimento.
- Sem risco de contaminação ao meio ambiente: coletar em saco plástico e descartar como lixo comum.
- Resíduos orgânicos e suas soluções aquosas tóxicas: coletar em frascos etiquetados e de conteúdo similar
para posterior recolhimento.
- Resíduos orgânicos ácidos e suas soluções aquosas: diluir com água, neutralizar com ácidos diluídos e
descartar na pia em água corrente.
- Resíduos orgânicos básicos e suas soluções aquosas: diluir com água, neutralizar com ácidos diluídos e
descartar na pia em água corrente.
- Resíduos orgânicos neutros e suas soluções aquosas: diluir com água e descartar na pia em água corrente.
- Resíduos orgânicos sólidos insolúveis em água
- Com risco de contaminação ao meio ambiente: armazenar em frascos etiquetados e de conteúdo similar
para posterior recolhimento.
- Sem risco de contaminação ao meio ambiente: coletar em sacos plásticos e descartar em lixo comum.
- Resíduos de solventes orgânicos
- Solventes halogenados puros ou em mistura: armazenar em frascos etiquetados e de conteúdo similar para
posterior recolhimento.
- Solventes isentos de halogenados, puros ou em mistura: coletar em frascos etiquetados e de conteúdo
similar, para posterior incineração.
- Solventes isentos de toxicidade, puros ou em solução aquosa, utilizados em grande volume: coletar em
frascos etiquetados e de conteúdo similar para posterior recuperação.

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


90
- Solventes que formam peróxidos e suas misturas: coletar em frascos, adicionar substâncias que impeçam
a formação de peróxidos, etiquetar, para posterior incineração.
Resíduos Comuns: composto por todos os resíduos que não se enquadram em nenhuma das categorias an-
teriores e que, por sua semelhança com os resíduos domésticos comuns, podem ser considerados como tais.
Rotinas de Esterilização
Vidraria a ser autoclavada de rotina: A vidraria deve ser autoclavada a 120º C por 20 minutos e postas para
secar em estufa. A vidraria com tampa de poliestireno não deve ser submetida a temperatura acima de 50ºC
no forno. Os demais materiais a serem esterilizados devem ser solicitados, diretamente, ao pessoal da esterili-
zação, pelos próprios usuários.
1. Tubos de Ensaio, Frascos e Pipetas
- Contaminados ou sujos com material proteico: Após o uso imergi-los em solução de hipoclorito de sódio a
1% em vasilhames apropriados (pipetas Pasteur e demais separadamente) por, no mínimo, 12 horas.
- Vidraria suja com material aderente (Nujol, Percoll, Adjuvantes oleosos, etc.): Lavar em água de torneira e
colocá-los em solução de Extran a 2% próximos a pia das salas dos laboratórios por um período mínimo de 04
horas (Pipetas Pasteur e demais separadamente).
Observação: A vidraria maior que não couber dentro dos vasilhames deve ser tratada colocando-se a solu-
ção desinfetante ou detergente dentro da mesma.
- Vidrarias utilizadas com água ou soluções tampões sem proteínas: os frascos deverão ser lavados pelo
próprio usuário, em água corrente e, em seguida, três vezes em água destilada, colocados para secar dei-
xando-os emborcados sobre papel toalha no laboratório, próximo a pia. Após secarem, deverão ser tampados
com papel alumínio e guardados nos armários. Tubos e pipetas deverão ser processados como se estivessem
contaminados.
- Pipetas sujas com gel: colocar em vasilhames separados e ferver antes de juntar as demais pipetas.
2. Lâminas e Lamínulas
Colocar nos vasilhames apropriados e rotulados para as mesmas com solução de hipoclorito a 1%. Após o
trabalho, colocar as lâminas e lamínulas em vasilhames separados. Lavar as lamínulas no laboratório e colocar
em vasilhames contendo álcool, na mesa de apoio do fluxo.
3 - Câmara e Lamínula de Neubauer e Homogeneizadores de Vidro
Após uso, colocar em vasilhame imergindo em hipoclorito a 1%. Após 1 hora, lavar em água corrente, secar
e guardar.
Material Plástico
1) Frasco, tubos de ensaio, seringas, ponteiras e tampas
- Contaminados: Imergir em hipoclorito de sódio a 1% no mesmo vasilhame utilizado para as vidrarias, com
exceção das ponteiras, que deverão ser colocadas em recipientes menores, separados. Observação: Encher
as ponteiras com a solução de hipoclorito ao desprezá-las.
- Não contaminados, porém sujos com material aderente (adjuvante oleoso, Nujol, Percoll, etc): Lavar em
água corrente e imergir em Extran a 2% por tempo mínimo de 04 horas em vasilhame apropriado.
2) Pipetas Descartáveis
- Contaminadas: Colocar no vasilhame para pipeta de vidro.
- Sujas com material aderente: Lavar em água corrente e colocar no vasilhame para pipeta de vidro.
- Tampas pretas de poliestireno: Imergir em formol a 10% ou glutaraldeído a 2% por um mínimo de 24 horas
ou 02 horas respectivamente.

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


91
Outros Materiais
1) Agulhas Descartáveis
- Contaminadas: Após o uso imergir no vasilhame de paredes duras contendo formol a 10%, para isso desti-
nado, pelo menos 24 horas. Observação: desprezá-las sem usar o protetor a fim de se evitar o risco de aciden-
tes (punção acidental do dedo).
- Sujas com material aderente: Desprezá-las com o respectivo protetor bem preso. Após a descontaminação
deverá ser incinerado
2) Material Cirúrgico
- Contaminado: Imergir em solução de glutaraldeído a 2% por 02 horas para desinfetar. Após lavar em água
corrente e destilada, secar com gaze e guardar. Se desejar esterilizar o material, submeter a glutaraldeído a 2%
durante 10 horas, lavar e secar com água e gaze estéreis dentro do fluxo laminar. Alternativamente.
3) Tampões de Gaze
- Molhados com cultura: colocar no vasilhame com hipoclorito de sódio a 1% para ser desprezado após de-
sinfecção.
- Secos: deixar em vasilhame reservado por, no mínimo, 48 horas e em seguida reutilizá-los.
4) Filtros Millipore Pequenos
- Devem ser desmontados pelo operador, colocados dentro de um frasco com hipoclorito e entregues à es-
terilização (até às 16 horas).
5) Culturas de Parasitos não Utilizados
Colocar um volume duas vezes maior de hipoclorito dentro dos frascos e em seguida desprezar dentro do
vasilhame para vidrarias ou plásticos.
6) Imãs para agitadores magnéticos
Após uso, lavar com água corrente e destilada, secar e guardar.
7) Placas de gel de poliacrilamida
Após o uso, lavar em água corrente, água destilada e álcool, secar e guardar.
Equipamentos, Bancadas e Pias
- Cada usuário deverá limpar e arrumar as bancadas e equipamentos após o uso.
- No final do expediente as bancadas deverão ser limpas com hipoclorito a 0,5% e, a sexta-feira, à tarde,
no caso, na sala de cultura, fazer a mesma limpeza com fenol semissintético (Germipol – 50 mL/L), utilizando
máscara.
- As pias deverão ser limpas no início do expediente, quando forem removidos os materiais a serem lavados.
- Verificar se os refrigeradores e freezeres precisam ser descongelados e limpos, semanalmente, e executar
a limpeza, se necessário.
Algumas Normas da Sala de Esterilização
Lavagem
- Retirar, os vasilhames com materiais a serem lavados, da sala, no início do expediente.
- Lavar o material que estava com hipoclorito de sódio, fenol ou glutaraldeído em água corrente.
- Mergulhar o material em Extran em vasilhames específicos para cada tipo de material, pelo período mínimo
de 04 horas.
- Retirar o Extran do material após escová-los (quando necessário), rinsando-os, repetidas vezes, com água
de torneira seguido por água destilada.
- Fazer a rinsagem das pipetas graduadas dentro do lavador de pipetas.

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


92
- Secar o material em estufa. Colocar papel alumínio para cobrir a vidraria não autoclavável e devolver ao
laboratório.
Esterilização
Pipetas: Colocar chumaço de algodão, empacotar em papel pardo ou porta-pipetas e esterilizar em forno
(170O C – 180O C) por 01 hora.

Exercícios

1. (VUNESP/2018 – TJ/SP) Em relação à prova testemunhal, é correto afirmar:


Parte superior do formulário
(A) a testemunha não é obrigada a comparecer para depor sobre fatos que lhe acarretem grave dano.
(B) ela não comporta a qualificação jurídica de prova nova para efeito de ação rescisória.
(C) reputa-se impedido de depor sob compromisso legal aquele que tiver interesse no litígio.
(D) como regra, ela será indeferida quando o fato só puder ser comprovado por documento ou prova pericial.
2. (VUNESP/2017 – DPE/RO) É correto afirmar sobre o exame de corpo de delito e das perícias em geral:
Parte superior do formulário
(A) o exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por dois peritos oficiais, portadores de
diploma de curso superior.
(B) não há previsão legal no Código de Processo Penal acerca da formulação de quesitos e indicação de
assistente técnico.
(C) quando a infração deixar vestígios, é possível dispensar o exame de corpo de delito.
(D) em caso de lesões corporais, a falta de exame complementar não pode ser suprida pela prova testemu-
nhal.
(E) se desaparecerem os vestígios, é possível que a prova testemunhal supra a ausência de exame de corpo
de delito.
3. (CESPE/2018 - PC-SE) A respeito de identificação médico-legal, de aspectos médico-legais das toxicoma-
nias e lesões por ação elétrica, de modificadores da capacidade civil e de imputabilidade penal, julgue o item
que se segue.
O termo eletroplessão é utilizado para se referir a lesões produzidas por eletricidade industrial, enquanto o
termo fulguração é empregado para se referir a lesões produzidas por eletricidade natural.
( ) Certo
( ) Errado
4. (CESPE/2016 – PC-PE) Sexologia forense é o ramo da medicina legal que trata dos exames referentes
aos crimes contra a liberdade sexual, além de tratar de aspectos relacionados à reprodução. Acerca do exame
médico-legal e dos crimes nessa área, assinale a opção correta.
(A) Para a configuração do infanticídio, são necessários dois aspectos: o estado puerperal e a mãe matar o
próprio filho.
(B) O crime de aborto configura-se com a expulsão prematura do feto, independentemente de sua viabilida-
de e das causas da eliminação.
(C) O crime de abandono de recém-nascidos, que consiste na ausência de cuidados mínimos necessários
à manutenção das condições de sobrevivência ou exposição à vulnerabilidade, só estará caracterizado se for
cometido pela mãe.
(D) Para se determinar um estupro, é necessário que respostas aos quesitos sobre a ocorrência de conjun-
ção carnal ou ato libidinoso sejam afirmativas: essas ocorrências sempre deixam vestígios.

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


93
(E) Para a resposta ao quesito sobre virgindade da paciente, a integridade do hímen pode não ser necessá-
ria, desde que outros elementos indiquem que a periciada nunca manteve relação sexual.
5. (CESPE/2016 - PC-PE) Psiquiatria forense é o ramo da medicina legal que trata de questões relaciona-
das ao funcionamento da mente e sua interface com a área jurídica. O estabelecimento do estado psíquico no
momento do cometimento do delito e a capacidade de entendimento desse ato são dependentes das condições
de sanidade psíquica e desenvolvimento mental, que também influenciam na forma de percepção e no relato do
evento, com importância direta para o operador do direito, na tomada a termo e na análise dos depoimentos. A
respeito de psiquiatria forense e dos múltiplos aspectos ligados a essa área, assinale a opção correta.
(A) A surdo-mudez é motivo de desqualificação do testemunho, da confissão e da acareação, pois, sendo
causa de desenvolvimento mental incompleto, impede a comunicação.
(B) Nos atos cometidos, pode haver variação na capacidade de entendimento, por doente mental ou por
indivíduo sob efeito de substâncias psicotrópicas ou entorpecentes, do caráter ilícito do ato por ele cometido;
cabe ao perito buscar determinar, e assinalar no laudo pericial, o estado mental no momento do delito.
(C) A perturbação mental, por ser de grau leve quando comparada a doença mental, não reflete na capaci-
dade cível nem na imputabilidade penal.
(D) Em indivíduos com intoxicação aguda pelo álcool, observam-se estados de automatismos e estados
crepusculares.
(E) O desenvolvimento mental incompleto ou retardado, tecnicamente denominado oligofrenia, está direta-
mente relacionado à ocorrência de epilepsia.
6. (FUNCAB/PC-RO)Identidade médico-legal é o conjunto de características apresentadas por um indivíduo
que o torna único. Assinale a opção INCORRETA acerca da identificação médico-legal.
(A) O sistema de identificação dactiloscópica de Vucetich é um processo de grande valia e de extraordinário
efeito, porque apresenta os requisitos essenciais para um bom método: unicidade, praticabilidade, imutabilida-
de e classificabilidade; só não apresenta o requisito de perenidade.
(B) Identificação médico-legal pode ser realizada em um indivíduo vivo ou em cadáver, inteiro, espostejado
ou reduzido a ossos.
(C) Na identificação médico-legal, são considerados os seguintes parâmetros: idade, sexo, raça, estatura e
peso, pois, partindo-se do geral, chega-se ao particular, ao indivíduo.
(D) Características ocasionais, tais como a presença de tatuagens, calos de fraturas ósseas e próteses den-
tárias, ósseas ou de outros tipos, não possuem valor para a antropologia forense.
(E) Medidas de dimensões de ossos longos e comparações com tabelas podem dar ideia da estatura de
indivíduos quando vivos.
7. (FUNCAB/2015 - PC-AC) Acerca dos tipos de morte, assinale a assertiva correta.
(A) A morte natural é a que resulta da alteração orgânica ou perturbação funcional provocada por agentes
naturais, de causa externa.
(B) A causa médica da morte se divide em natural ou violenta.
(C) A morte súbita é aquela imprevista, que sobrevêm instantaneamente e sem causa manifesta, atingindo
pessoas com estado de saúde delicado.
(D) A morte violenta é aquela que tem como causa determinante a ação abrupta e intensa, física ou química,
sobre o organismo, de causa interna.
(E) A morte súbita é aquela imprevista, que sobrevêm instantaneamente e sem causa manifesta, atingindo
pessoas em aparente estado de boa saúde.
8. (FUNDATEC/2018 - PC-RS) Em relação às asfixias por constrição cervical, analise as afirmações abaixo,
assinalando V, se verdadeiras, ou F, se falsas.
( ) O enforcamento, de acordo com sua definição médico-legal, quando diagnosticado indica a ocorrência de
suicídio.

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


94
( ) O enforcamento, de acordo com sua definição médico-legal, necessita que o peso do corpo da vítima
acione o laço. Desta forma, os casos descritos como enforcamento, mas nos quais a vítima não estava comple-
tamente suspensa (pés não tocando o solo) devem ser classificados como “montagem” (tentativa de ocultação
de homicídio).
( ) O enforcamento, de acordo com sua definição médico-legal, não necessita do peso do corpo da vítima
para ocorrer.
( ) A esganadura pode ser consequência de suicídio ou de homicídio.
A ordem correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é:
(A) V – V – F – F.
(B) V – F – V – V.
(C) F – V – F – F.
(D) F – F – V – V.
(E) F – F – F – F.
9. (CESPE/2016 - PC-GO) No que diz respeito às provas no processo penal, assinale a opção correta.
(A) Para se apurar o crime de lesão corporal, exige-se prova pericial médica, que não pode ser suprida por
testemunho.
(B) Se, no interrogatório em juízo, o réu confessar a autoria, ficará provada a alegação contida na denúncia,
tornando-se desnecessária a produção de outras provas.
(C) As declarações do réu durante o interrogatório deverão ser avaliadas livremente pelo juiz, sendo valiosas
para formar o livre convencimento do magistrado, quando amparadas em outros elementos de prova.
(D) São objetos de prova testemunhal no processo penal fatos relativos ao estado das pessoas, como, por
exemplo, casamento, menoridade, filiação e cidadania.
(E) O procedimento de acareação entre acusado e testemunha é típico da fase pré-processual da ação penal
e deve ser presidido pelo delegado de polícia.
10. (FUNDEP (Gestão de Concursos)/2019 - MPE-MG) Marque a alternativa incorreta:
(A) Em relação ao crime de infanticídio, a lei brasileira não adotou o critério psicológico, mas sim o critério
fisiopsicológico, levando em conta o desequilíbrio oriundo do processo do parto.
(B) A incidência da qualificadora do feminicídio, prevista no artigo 121, § 2°, VI, do Código Penal, reclama
situação de violência praticada por homem ou por mulher contra a mulher em situação de vulnerabilidade, num
contexto caracterizado por relação de poder e submissão. Pode-se ainda afirmar que, segundo entendimento
do Superior Tribunal de Justiça, a qualificadora em análise é de natureza subjetiva.
(C) O perdão judicial constitui causa extintiva de punibilidade que afasta os efeitos da sentença condenatória
e, diferentemente do perdão do ofendido, não precisa ser aceito para gerar efeitos.
(D) No que concerne ao crime de homicídio, é possível a coexistência das circunstâncias privilegiadoras com
as qualificadoras de natureza objetiva.
11. (Polícia Civil/PA - Escrivão de Polícia Civil - FUNCAB) Acerca da necropsia, também entendida como
necroscopia ou exame necroscópico, é correto afirmar que:
(A) um dos objetivos é destacar a causa da morte.
(B) não pode ser realizada em indivíduos menores de um ano de idade.
(C) é um exame que pode ser realizado no indivíduo vivo ou morto
(D) não pode ser documentada por meio de um relatório médico-legal.
(E) não pode ser realizada nas vítimas de morte violenta.
12. (Polícia Científica/PE - Auxiliar de Perito - CESPE) O tipo de morte em que não se tem evidência de que
tenha sido ocasionada por causas naturais ou por causas violentas denomina-se

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


95
(A) morte suspeita.
(B) morte agônica.
(C) morte clínica.
(D) morte cerebral.
(E) morte súbita.
13. (MPE/SP - Analista de Promotoria - IBFC) Assinale a alternativa INCORRETA. Devem ser encaminhados
ao Instituto Médico Legal:
(A) cadáveres desconhecidos com causa de morte natural
(B) mortes suspeitas.
(C) mortes acidentais.
(D) mortes metatraumáticas.
(E) mortes naturais sem assistência médica.
14. (PC/MA - Médico Legista - FGV) A necropsia pode ser realizada conforme várias técnicas. Quanto à téc-
nica de Ghon, assinale a afirmativa correta.
(A) Ela se inicia pela abertura da cavidade tóracoabdominal.
(B) O primeiro monobloco engloba todo o mediastino.
(C) O esôfago faz parte do primeiro monobloco, segundo esta técnica.
(D) O segmento terminal do duodeno, o jejuno, o íleo e o cólon são os últimos a serem examinados.
(E) Os testículos fazem parte do quarto monobloco.
15. (EBSERH - Profissional de Educação Física - INSTITUTO AOCP) Os eixos anatômicos são conhecidos
como
(A) direito, proximal e frontal.
(B) lateral, dorsal e medial.
(C) longitudinal, sagital e transversal.
(D) proximal, frontal e lateral.
(E) distal, dorsal e frontal.
16. (EBSERH - Técnico em Anatomia e Necropsia - IADES) Durante a necropsia, o procedimento de evisce-
ração deverá ser realizado com o cadáver
(A) na posição anatômica.
(B) na posição ortostática.
(C) em decúbito ventral.
(D) em decúbito dorsal.
(E) em decúbito lateral.
17. (COPEVE - Técnico de Laboratório - Anatomia e Necropsia - UFAL) Com relação ao transporte de cadá-
veres e o instrumental utilizado durante a necropsia, devemos proceder da seguinte forma:
(A) transporte em carro que acomode caixa comum; o instrumental pode ser lavado conforme a necessidade
e experiência do trabalhador.
(B) o transporte fica a cargo de cada setor sem obedecer a uma legislação; do mesmo modo a manutenção
do instrumental usado.
(C) não há um modelo específico de urna para transporte de cadáver; o instrumental é limpo ao final de cada
expediente de trabalho.

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


96
(D) carro funerário e urna forrada com zinco ou semelhante para evitar vazamentos de líquido cadavérico; o
instrumental deve ser lavado a cada procedimento visando à proteção do trabalhador.
(E) carro funerário e urna fechada para evitar vazamentos de líquido; o instrumental deve ser esterilizado a
cada procedimento.
18. (EBSERH - Técnico em Necrópsia - IBFC) A manipulação de material humano é uma fonte de conta-
minação em potencial. No ato da necropsia, antes do contato com o cadáver, é necessário procedimentos de
biossegurança. Assinale a alternativa correta.
(A) O uso de uma sapatilha de algodão é suficiente para proteção individual
(B) Não há necessidade de troca de roupa, visto que a máscara de algodão protege dos patógenos
(C) A troca de roupa, botas de borracha, luvas de látex, avental impermeável e máscara, se faz necessário
(D) A vantagem do uso da máscara com filtro é que não há necessidade de outra proteção
(E) O avental cirúrgico é suficiente para proteção individual

Gabarito

1 D
2 E
3 CERTO
4 A
5 B
6 D
7 E
8 E
9 C
10 B
11 A
12 A
13 E
14 B
15 C
16 D
17 D
18 C

Apostila gerada especialmente para: Wesley Barbosa Palma Rodrigues 022.122.671-00


97

Você também pode gostar