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pelo que
tem
enquanto
estuda pelo
o que quer.

MEDICINA LEGAL
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Conteúdo:
1. Conceito, importância e divisões. Corpo de Delito, perícia e peritos;

2. Documentos médico-legais. Conceitos de identidade, de identificação e de reconhecimento;

3. Principais métodos de identificação;

4. Lesões e mortes por ação contundente, por armas brancas e por projéteis de arma de fogo comuns e de alta energia;
5. Conceito e diagnóstico da morte. Fenômenos cadavéricos. Cronotanatognose, comoriência e promoriência. Exumação.
Causa jurídica da morte. Morte súbita e morte suspeita;

6. Exame de locais de crime. Aspectos médico-legais das toxicomanias e da embriaguez. Lesões e morte por ação térmica,
por ação elétrica, por baropatias e por ação química;

7. Aspectos médico-legais dos crimes contra a liberdade sexual, da sedução, da corrupção de menores, do ultraje público ao
pudor e do casamento;

8. Asfixias por constrição cervical, por sufocação, por restrição aos movimentos do tórax e por modificações do meio
ambiente;

9. Aspectos médico-legais do aborto, infanticídio e abandono de recém-nascido;

10. Modificadores e avaliação pericial da imputabilidade penal e da capacidade civil. Doença mental, desenvolvimento
mental incompleto ou retardado, perturbação mental;

11. Aspectos médico-legais do testemunho, da confissão e da acareação;

12. Aspectos médico-legais das lesões corporais e dos maus-tratos a menores e idosos.

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minação da morte, prova de virgindade ou conjunção car-


1 PERÍCIA MÉDICO-LEGAL: PERÍCIAS nal, diagnóstico de lesões corporais e dos instrumentos
MÉDICO-LEGAIS, PERÍCIA, PERITOS. ou meios que as causaram, apreciação do estado mental
2 DOCUMENTOS LEGAIS: CONTEÚDO E do criminoso ou da vítima etc.
IMPORTÂNCIA. No foro civil visa documentar situações para favorecer
a aplicação do Código Civil, como por exemplo, declarar a
insanidade de pessoas para fins de interdição de direitos,
prova da impotência cuendi, visando a anulação de casa-
mento, investigação de paternidade etc.
1. Conceito Nos foros trabalhistas, o perito estuda os acidentes
Perícia é o meio de prova feita pela atuação de técnicos de trabalho, as lesões que ocorreram no trabalho, avalia o
ou doutos promovida pela autoridade policial ou judiciária, grau de incapacidade resultante do acidente, estabelece
com a finalidade de esclarecer à Justiça sobre o fato de o nexo de causa e efeito, analisa a insalubridade/periculo-
natureza duradoura ou permanente. sidade de determinado local etc.

2. Finalidades da perícia técnica 6. Quem é o Perito?


Levar conhecimento técnico ao juiz, produzindo pro- Perito é o auxiliar da Justiça, pessoa hábil que tenha
va para auxiliá-lo em seu livre convencimento e levar ao conhecimento em determinada área técnica ou científica
processo a documentação técnica do fato, o qual é feito que, sendo nomeado por autoridade competente, deverá
através de documentos legais. esclarecer um fato de natureza duradoura ou permanen-
te. O perito médico é a pessoa formada em medicina, por
3. Classificação das perícias exemplo, que tem registro no CRM, que está a serviço da
• Judicial – é determinada pela justiça de ofício ou Justiça e isento do sigilo profissional, já que tem o dever
a pedido das partes envolvidas; de informar o juiz sobre o fato do ponto técnico.
• Extrajudicial – é feita a pedido das partes, parti-
cularmente;
6.1. Quem pode ser perito?
• Necessária (ou obrigatória) – imposta por lei ou
Qualquer pessoa capaz para atos da vida civil com co-
pela natureza do fato, quando a materialidade do fato se
nhecimento técnico-formal, idônea e hábil. O perito pode
prova pela perícia. Se não for feita, o processo é passível
ser substituído se durante o processo for verificado que
de nulidade;
ele não tem conhecimento técnico-científico para o caso
• Facultativa – quando se faz prova por outros ou deixar de prestar compromisso.
meios, sem necessidade da perícia;
• Oficial – determinada pelo juiz; 6.2. Quem não pode ser perito?
• Requerida – solicitada pelas partes envolvidas no
Não pode ser perito: o incapaz, pois não é apto para
litígio;
o exercício de seus direitos civis, além de não possuir co-
• Contemporânea ao processo – feita no decorrer
nhecimento técnico específico; pessoas impedidas (Códi-
do processo;
go de Processo Civil, art. 144 - testemunha, cônjuge ou
• Cautelar – realizada na fase preparatória da
qualquer outro parente, em linha reta ou colateral até o
ação, quando realizada antes do processo (ad perpetuam
3º grau); e nos casos de suspeição (CPC, art. 145 - o amigo
rei memorian);
íntimo ou inimigo capital de uma das partes).
• Direta – tendo presente o objeto da perícia;
• Indireta – feita pelos indícios ou sequelas dei- 6.3. Quais são os deveres do perito?
xadas.
Aceitar o encargo de executar a perícia, exercer a fun-
ção, respeitar os prazos, comparecer às audiências desde
4. O que é Perícia médica? Quem pode requisitá-la
que intimado com antecedência de 5 dias (sob pena de
e em qual fase do processo isto pode ser feito?
condução coercitiva), fornecer informações verídicas (de-
A perícia médica ocorre quando a perícia versa sobre
ver de lealdade) etc.
questão médica, tendo a necessidade de um perito médi-
co. São requisitadas pelas autoridades competentes ( juiz),
6.4. E os direitos do perito, quais são?
salvo se a mesma se faz necessária na fase de inquérito,
Escusar-se do encargo, pedir prorrogação de prazos,
quando será solicitada pela autoridade policial. Pode ser
receber informações, ouvir testemunhas, verificar docu-
requisitada em qualquer fase do processo, isto é, na ins-
mentos de qualquer lugar, ser indenizado das despesas
trução, no julgamento ou até mesmo na execução.
relativas ao serviço prestado, honorários (CPC, art. 465 e
Código de Processo Penal, art.159, §1º) etc.
5. Onde a perícia médico-legal é utilizada?
É utilizada nos foros civis, criminais e trabalhistas.
Nos foros criminais, atua quando se trata de identifi-
cação de pessoas, identificação da espécie animal, deter-

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7. Documentos médico-legais mais importantes


Atestado, notificação, auto, laudo e parecer. 3 TRAUMATOLOGIA FORENSE. 3.1 ENERGIA
DE ORDEM FÍSICA. 3.2 ENERGIA DE ORDEM
7.1. O que constitui o atestado médico e quais as MECÂNICA. 3.3 LESÕES CORPORAIS: LEVE,
suas partes? GRAVE E GRAVÍSSIMA E SEGUIDA DE MORTE.
O atestado médico é a afirmação simples, exata e es-
crita de um fato e suas consequências. Tem por finalidade
informar a capacidade ou incapacidade do indivíduo para
a realização de determinado ato. Deve ter cabeçalho ou A Traumatologia Forense é um ramo da Medicina le-
preâmbulo, a qualificação do examinado, o nome de quem gal que estuda as lesões corporais resultantes de trauma-
solicitou, descrição do caso e, se absolutamente necessá- tismos de ordem física ou psicológica.
rio, diagnóstico através do CID (Código Internacional de
Doenças). Objeto
A Traumatologia Forense tem por objeto o estudo dos
7.2. Notificação efeitos na pessoa das agressões físicas e morais, como
A notificação é a comunicação compulsória às auto- também a determinação de seus agentes causadores. Este
ridades competentes de um fato médico por necessidade reconhecimento é feito através do exame pericial na ví-
social ou sanitária sobre acidentes de trabalho ou doenças tima, bem como no local do crime, denominado exame
infecto-contagiosas (Código Penal, art. 269). Ex.: sarampo, de corpo de delito, o corpo do delito ao contrario do que
tuberculose etc. muitos pensam não é apenas a vitima, mas todo o local e
instrumentos utilizados para a pratica do delito, pelo qual
7.3. Auto se atribui a extensão dos danos provocados.
Auto é um relatório da perícia médica, ditado direta-
mente ao escrivão. Exame pericial
O exame deve ser requerido por autoridade legalmen-
7.4. Laudo te competente (p. ex., um delegado de polícia), dirigido
Laudo é o documento feito por escrito pelo perito. São a um médico legista competente (ou órgão do qual o
suas partes: preâmbulo – que contém nome do perito, seus mesmo seja funcionário). Este requerimento deve conter
títulos, nome da autoridade que o nomeou, motivo da perí- alguns elementos imprescindíveis para a realização do lau-
cia, nome e qualificação do indivíduo a ser examinado; his- do, tais como a completa identificação da pessoa, a hora,
tórico – que é a anamnese do caso, colheita de informações local e finalidade do exame.
do fato, local, envolvidos etc; descrição– que é a parte mais O laudo pericial tem como norma geral uma narrativa
importante, deve ser minuciosa ao relatar as lesões e si- contínua, que é feita à medida que o exame é realizado.
nais do indivíduo, e se envolver cadáver tem que constar os Nele deve constar, de forma abreviada e sucinta, apenas
sinais da morte, identidade, exame interno e externo; dis- constando-se o que for essencial, a narrativa dos fatos
cussão – que é o diagnóstico onde o perito externará sua proferida pela vítima.
opinião, relatório dos critérios utilizados; conclusão – que
O perito deve assinalar as lesões ou sua ausência (hi-
é o resumo do ponto de vista do perito, baseando-se nos
pótese em que o perito esquivar-se de proceder a exame,
elementos objetivos e comprovadores de forma segura;
expondo seus motivos), os locais e tipos de lesão.
por fim respostas aos quesitos – eventualmente oferecidos
pelas partes ou juízo.
Exame complementar
Por diferir o Direito penal a natureza delituosa da le-
7.5. Parecer
são corporal consoante sua gravidade, é mister um exame
Parecer é um documento solicitado (sempre que o
suplementar, decorridos trinta dias do fato. Neste exame
relatório médico suscitar dúvidas) por qualquer pessoa a
um especialista (perito oficial ou qualquer médico fora da o perito assinala a presença ou não das sequelas da(s) le-
perícia, isto é, assistente técnico), procurando documentar são(ões), bem como o grau de incapacitação gerada por
o processo com resultados de exames e considerações mé- ela(s) na vítima.
dicas referentes a determinada situação de interesse jurí-
dico. Ou seja, consultam, escrita ou verbalmente, um ou Registros
vários especialistas sobre o valor científico do laudo em O exame traumatológico deve ser indicado através de
questão. O parecer é a resposta, a conclusão. São suas par- meio físico apropriado - desde o preenchimento de plani-
tes: preâmbulo, exposição dos fatos, discussão do assunto, lhas impressas, até a filmagem do examinado.
conclusão e respostas às perguntas.
Fonte: https://www.direitonet.com.br/resumos/exi- Quesitos oficiais
bir/82/Pericia-Novo-CPC-Lei-no-13105-15 De ordinário, a perícia vem determinada através de re-
messa de quesitos previamente determinados, aos quais
a autoridade solicitante deve apontar sobre quais pontos
deseja esclarecimento. Estas perguntas referem-se:

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• Se houve ofensa à integridade física ou à saúde; c) pérfuro-contundente: instrumento que atua so-
• Qual o instrumento utilizado; bre o alvo contundindo e perfurando partilhando as duas
• Se a lesão foi produzida por meio insidioso ou características. Melhores exemplos são os projéteis de arma
cruel (v.g.: veneno, tortura, etc.) de fogo,(PAF), chumbo das espingardas e também pontas de
• Se provocou incapacidade por período superior a grades de ferro, guarda chuva.
30 dias;
• Se resultou em dano permanente ou perda ou inu- Diferença entre as características dos orifícios de entra-
tilização de membro, sentido ou função orgânica; da e saída de PAF:
• Se inabilitou a vítima ao trabalho, ou doença incu-
rável ou, ainda, deformidade; ORIFÍCIO DE ENTRADA ORIFÍCIO DE SAÍDA
• Se provocou aceleração de parto ou aborto. a) regular a) dilacerado
b) invaginado b) evertido
TRAUMATOLOGIA FORENSE c) proporcional ao projétil c)desproporcional ao projétil
(maior)
Conforme asseveram William Douglas, Abouch V. d) com orlas e zonas d) sem orlas e zonas
Krymchantowki & Flávio Granato Duque, na obra Medicina
Legal à luz do Direito Penal e Processual Penal, 2ª edição. Devem ser analisadas a localização e a forma das lesões,
Rio de Janeiro: Impetus, 2001: “A Traumatologia Forense para elucidação de cada caso e, ainda as lesões podem ser “in-
estuda os traumas, lesões, instrumentos e ações vulne- tra vitam” com a vítima viva quando cobrem-se de camada se-
rantes, visando elucidar a dinâmica dos fatos. Trauma é ro-albuminosa, sangue, crosta etc e ou “post mortem” quando
o resultado da ação vulnerante que possui energia ca- não apresentam mais os sinais vitais. Resultando nas escoria-
paz de produzir a lesão, como ensina Roberto Blanco. ções, por exemplo o fenômeno do pergaminhamento como
Lesão nada mais será que o dano tecidual temporário couro ou pergaminho.
ou permanente, resultante do trauma.” Lesão corporal.
Definição: qualquer simples alteração causada à integri-
“Nas contusões ativas, o instrumento vulnerante vem dade corporal de maneira culposa ou dolosa, na estrutura ana-
de encontro à superfície corpórea . Ex.: soco. Nas contu- tômica ou mesmo histológica de uma pessoa.
sões passivas, a superfície corpórea (a vítima) vai de en- Um beliscão ou um tapa é o bastante para caracterizar
contro ao instrumento vulnerante. Ex.: a pessoa cai e bate uma ofensa à integridade corporal de outrem.
a cabeça no solo. Assim, a atuação pode ser ativa/direta, Perícia na lesão corporal.
passiva/indireta ou mista (a combinação de ambas)”. Constatar ou não a existência da lesão, caracterizar a lesão,
determinar o nexo-causal entre o agente relatado e a lesão, o
Os agentes mecânicos através da alteração da inércia tempo e época da produção.
se dividem em simples: Classificação jurídica das lesões corporais.
a) contundente: todo objeto rombudo capaz de agir Lesão corporal leve: lesões resultantes da ofensa a inte-
batendo traumaticamente no organismo da vítima (pau, gridade corporal ou à saúde de outrem, excetuando-se as le-
pedra, martelo, barra de ferro e nossa jurisprudência inclui sões graves e gravíssimas.
os próprios membros do corpo humano como as mãos, Lesão corporal grave: quando resultam em incapacidade
pés, cotovelo e outros); para as ocupações habituais por mais de trinta dias, perigo de
b) cortante: todo objeto dotado de lâmina apresen- vida, debilidade de membro, sentido ou função, deformidade
tando fio, lume ou corte: (navalha, faca, gilete, canivete, permanente, aceleração de parto.
louça, papel, vidro, folha de flandres, plástico e outros); Lesão corporal gravíssima: incapacidade permanente
c) perfurante: todo aquele que possui uma haste ci- para o trabalho, perda ou inutilização de membro, sentido ou
líndrico-cônica dotada de ponta que afasta as fibras dos função, deformidade permanente, aborto.
tecidos do corpo do ofendido (pequeno calibre-raramen- Lesão corporal seguida de morte: resulta quando, o
te mortais: alfinete, agulha, prego, espinhos palmeira, etc; agente alheio ao dolo, lesa a vítima produzindo-lhe a morte. O
médio- podem ser mortais: espeto de churrasco, furador agente não assumiu quis o desfecho. A ação é dolosa, mas o
de gelo ou de carne, etc; grande: florete, estacas e outros). resultado é culposo.

Os mistos resultam da combinação das primeira, po- Traumatologia forense.


dendo ser: Estuda as lesões e estados patológicos, imediatos ou tar-
dios, produzidos sobre o corpo humano.
a) corto-contundente: objeto pesado com superfí- O meio ambiente pode impor ao ser humano, as mais di-
cie de corte impulsionado pelo membros do agressor. Ex.: versificadas formas de energias causadoras de danos pessoais:
machado, facão, foice, enxada, dentes (segundo Flamínio - Energias de ordem mecânica;
Fávero) etc; - Energias de ordem física;
b) perfuro-cortante: instrumento formado de uma - Energias de ordem química;
lâmina com um ou mais gumes cortantes e ponta na extre- - Energias de ordem bioquímica;
midade que perfura associando as duas ações. Exs.:peixei- - Energias de ordem biodinâmica;
ra, facão, punhal, canivete etc; - Energias de ordem mista.

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Energias de ordem mecânica.


São aquelas energias capazes de modificar o estado de repouso ou movimento de um corpo, produzindo lesões
em parte ou no todo.
As lesões produzidas por ação mecânica, podem ter repercussões internas ou externamente.
Podem ter como resultado o impacto de um objeto em movimento contra o corpo humano (meio ativo) ou o
instrumento encontrar-se imóvel e, o corpo humano em movimento (meio passivo) ou os dois se acharem em mo-
vimento, indo um contra o outro (ação mista).
Atuam ainda por: pressão, percussão, tração, torção, compressão, explosão, deslizamento.
Conforme as características que imprimem às lesões, os meios ou as ações, os agentes mecânicos classificam-se
em:
- perfurantes;
- cortantes;
- contundentes;
- pérfuro- cortantes;
- corto-contundentes;
- pérfuro- contundentes;
- lacerantes;

Lesões perfurantes.
Lesões causadas por instrumentos punctórios, finos, alongados e pontiagudos, de diâmetro reduzido.
Agem sobre um ponto, penetrando os tecidos, afastando as fibras entre elas sem secioná-las, lesando em pro-
fundidade o corpo da vítima.
Resultam em feridas puntiformes ou punctórias. Apresentando-se em forma de ponto com abertura estreita de
raro sangramento externo.

Lesões cortantes.
Agem por um gume mais ou menos afiado, sobre uma linha, por deslizamento sobre os tecidos.
Lâminas, navalhas, facas, bordas cortantes de vidros, cerâmicas...

Feridas contundentes.
Sua ação é quase sempre a partir de uma superfície e suas lesões mais comuns se verificam externamente, re-
percutindo internamente.
São subdivididas em:
- Rubefação;
- escoriação;
- equimose;
- hematoma;
- ferida contusa;
- fraturas;
- luxações;
- entorses;
- roturas viscerais;
- encravamento e empalamento.

Rubefação.
Congestão repentina e momentânea de uma região do corpo, apresentando-se uma mancha avermelhada, efê-
mera e fugaz, que desaparece em alguns minutos.

Equimose.
Traduzem-se pela infiltração hemorrágica nas malhas do tecido lesado.

Entretanto, este valor é relativo, devido a dimensão da equimose, localização e fatores individuais da pessoa.
Espectro equimótico de Legrand du Saulle:

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COR: EVOLUÇÃO: DEVIDO:


Saída da hemoglobina da
Violácea Do início ao 3° dia
hemácea.
Fração da hemoglobina com
Azulada Do 4° dia ao 6° dia
o ferro-hemossiderina.
Fração da hemoglobina sem
Esverdeada Do 7° ao 12° dia
o ferro-hematoidina.
Transformação da
Amarelada Do 13° dia ao 21° dia hematoidina e hemossiderina
em hematina.
Reabsorção fagocitária dos
Desaparecimento Depois do 22° dia
pigmentos.

Hematoma.
Forma-se pelo extravasamento de um vaso sanguíneo calibroso, sem que ocorra a difusão do sangue pela malha dos
tecidos.
Em geral produz relevo na pele, tem delimitações mais ou menos nítida e de absorção demorada.
É o chamado “inchaço”.

Bossa sanguínea.
Apresenta-se sempre sobre um plano ósseo.
Saliência bem pronunciada na superfície cutânea.
Comum nos traumatismos do couro cabeludo.

Escoriação.
Resultado da ação tangencial dos meios contundentes.
Caracteriza-se pela solução de continuidade superficial da pele (arrancamento e desnudamento da derme).
Fluem serosidade e sangue.
Não ocorre cicatrização, a regeneração é por epitelização.

Ferida contusa.
Lesão aberta, cuja ação contundente foi capaz de vencer a resistência e elasticidade dos planos moles.
Apresentam bordos irregulares, escoriadas e equimosadas.

Luxação.
Deslocamento de dois ossos com perda da relação articular entre os mesmos.
O dano dos tecidos moles pode ser muito grave, afetando vasos sanguíneos, nervos e cápsula articular.

Entorse.
Lesão articular provocada por movimentos exagerados dos ossos que compõem uma articulação.
Incidindo apenas sobre os ligamentos.
Podem ser de grau leve a grave (ruptura completa do ligamento).

Fratura.
Caracteriza-se pela solução de continuidade dos ossos.
Fechada: a pele sobre a fratura está intacta
Aberta: ocorre solução de continuidade da pele sobre a lesão.

Rotura de vísceras internas.


Lesões profundas determinadas por ruptura de órgãos internos.
Nem sempre se observa externamente o caráter de gravidade dos resultados internos.
Podem ocorrer por compressão ou aceleração/desaceleração.

Encravamento/empalamento.
Encravamento: penetração de objeto afiado e consistente em qualquer parte do corpo. Ação direta ou indireta.
Empalamento: forma de encravamento na região perineal.

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Feridas pérfuro-contusas. “A morte cerebral pode produzir-se antes que cessem


Lesões produzidas por instrumentos perfurocontun- os batimentos cardíacos (traumatismo cerebral). Considera-
dentes. se que o cérebro está morto após doze horas de inconsciên-
cia com ausência de respiração espontânea, midríase bilate-
Ferimentos de entrada: ral eletroencefalograma isoelétrico, ou quando o angiogra-
- Tipo de munição empregada; ma revela a parada da circulação intracraniana (durante trinta
- Ângulo de incidência; minutos).
- Distância do disparo. Pode ocorrer que o coração pare, mas o sistema nervo-
so central está intacto ou com possibilidade de recuperar-se.
Feridas de saída: Convém, então, iniciar a ressuscitação; se os batimentos car-
Geralmente irregular; díacos não reaparecem pode dar-se por morto o paciente,
Geralmente maior que o de entrada, pois o projetil de- mas se reaparecem, sem que se restabeleçam a consciência
forma-se na passagem pelos tecidos orgânicos. ou a respiração, deve seguir-se aplicando as normas usuais
de assistência intensiva até que possa ser demonstrada a
Outras lesões. morte cerebral.”
Eletricidade: Do que se trata, deve-se dar o indivíduo por morto
Natural: fulminação (morte) fulguração. quando se constata, induvidosamente, a ocorrência verda-
Artificial: eletroplessão. deira da morte encefálica geral e não apenas da morte da
Marca elétrica de Jellinek. cortiça cerebral.
Morte pulmonar, cardíaca, cerebral.
Fonte: http://aulademedicinalegal.blogspot.com. Modalidades de Morte
br/2012/06/traumatologia.html
Existem várias modalidades de morte:

4 TANATOLOGIA FORENSE: CAUSAS Morte Anatômica – É o cessamento total e permanente


JURÍDICA DA MORTE, DIAGNÓSTICO DE de todas as grandes funções do organismo entre si e com o
meio ambiente.
REALIDADE DA MORTE.
Morte Histológica – Não sendo a morte um momento,
compreende-se ser a morte histológica um processo decor-
TANATOLOGIA: Estuda a morte e as consequências rente da anterior, em que os tecidos e as células dos órgãos
jurídicas a ela inerentes. Assim como não se pode definir e sistemas morrem paulatinamente.
a vida, é teoricamente impossível conceituar a morte. Por
isso, deveria bastar-nos procurar compreender e aceitar Morte Aparente – O adjetivo “aparente” nos parece aqui
essa única e insofismável verdade. Antes do advento da adequadamente aplicado, pois o indivíduo assemelha-se in-
era da transplantação dos órgãos e tecidos aceitava-se a crivelmente ao morto, mas está vivo, por débil persistência da
morte como cessar total permanente, num dado instante, circulação. O estado de morte aparente poderá durar horas,
das funções vitais. Supera hoje esse conceito o conheci- notadamente nos casos de morte súbita por asfixia-submer-
mento de que a morte não é o cessamento puro e simples, são e nos recém-natos com índice de Apgar baixo. É possível
num átimo, das funções vitais, mas, sim, toda uma gama de a recuperação de indivíduo em estado de morte aparente
processos que se desencadeiam inexoravelmente durante pelo emprego de socorro medico imediato e adequado.
certo período de tempo, afetando paulatinamente os dife-
rentes órgãos da economia. Morte Relativa - O indivíduo jaz como morto, vitimado
Baseado nisso criaram-se modernamente dois concei- por parada cardíaca diagnosticada pela ausência de pulso em
tos distintos de morte: a cerebral, teoricamente indicada artéria calibrosa, como a carótida comum, a femoral, asso-
pela cessação da atividade elétrica do cérebro, tanto na ciada à perda de consciência, cianose, ou palidez marmórea.
cortiça quanto nas estruturas mais profundas, pela persis- Entende-se por parada cardíaca o cessamento súbito e ines-
tência de um traçado isoelétrico, plano ou nulo, e a cir- perado da atividade mecânica do coração sob forma de fibri-
culatória, por nada cardíaca irreversível à massagem do lação ventricular, taquicardia ventricular sem pulso periférico
coração e às demais técnicas usualmente utilizadas nessa palpável, dissociação eletromecânica em ritmo orgânico, útil
eventualidade. Qualquer que seja a teoria adotada vê-se e suficiente, em indivíduos que não portam moléstia incurá-
logo quão difícil é estabelecer um critério de morte. Fique- vel, debilitante, irreversível e crônica, pois que nesses enfer-
mos, pois, apenas com as razões indiscutíveis da morte: a mos a parada cardíaca nada mais é do que a consequência
cessação dos fenômenos vitais, por parada das funções natural do envolver maligno da doença de base. Ocorre es-
cerebral, respiratória e circulatória, e o surgimento dos fe- tatisticamente em 1/5.000 casos de anestesias cirúrgicas. O
nômenos abióticos, lentos e progressivos, que lesam irre- ofendido, submetido em tempo hábil à massagem cardíaca,
versivelmente os órgãos e tecidos. Assim, deve-se pruden- poderá retornar à vida, como sucedeu em quatro pacientes
temente deixar escoar certo lapso na ampulheta do tempo por nós socorridos, acometidos por parada dos batimentos
para afirmar com rigorismo clínico a realidade da morte, do coração durante gastrectomia total por neoplasia ma-
conforme preceitua a Sociedade Alemã de Cirurgia: ligna de estômago.

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Morte Intermédia - É admitida apenas por alguns au- Embalsamento: Consiste na introdução nas artérias
tores. A morte intermédia é explicada, pelos que a admi- carótida comum ou femoral e nas cavidades tóraco-ab-
tem, como a que precede a absoluta e sucede à relativa, dominal e craniana, nesta última através da lâmina crivada
como verdadeiro estágio inicial da morte definitiva. Diver- do etmoide, de líquidos desinfetantes, conservadores, do-
sos autores têm relatado em seus livros centenas de casos tados de intenso poder germicida, objetivando impedir a
de indivíduos que, inúmeras circunstâncias (atos cirúrgi- putrefação do cadáver.
cos, afogamentos frustrados etc.), perceberam-se como
que saídos de seus corpos, flutuando no espaço, presos COMORIÊNCIA E PROMORIÊNCIA.
por um “fio prateado” à cicatriz umbilical, sentindo-se
como se mortos estivessem. Socorridos adequadamente, Comoriência: Significa a morte simultânea de duas ou
em tempo hábil, retornaram à consciência física, contan- mais pessoas em um mesmo acontecimento, sem hipótese
do avidamente as experiências vividas. de averiguação sobre qual delas morreu primeiro.
Trata-se de uma presunção legal fundamentada pelo
Morte Real - É o ato de cessar a personalidade e fi- Código Civil Brasileiro de 2002, que dispõe no Artigo 8°: “Se
sicamente a humana conexão orgânica, por inibição da dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se
força de coesão intermolecular, e o de formar-se paulati- podendo averiguar se algum dos comorientes precedeu aos
namente a decomposição do cadáver até o limite natural outros, presumir-se-ão simultaneamente mortos”.
dos componentes minerais do corpo (água, anidrido car- O significado de comoriência tem especial importância
bônico, sais etc.), que, destarte, passam a integrar outras no Direito das Sucessões, nas situações em que os indiví-
formas de organizações celulares complexas em eterna duos que faleceram (denominados “comorientes”) são liga-
renovação, como se por átomos químicos do corpus, ou dos por vínculos sucessórios, ou seja, são reciprocamente
de seus despojos, estivéssemos unidos aos átomos de herdeiros.
todo universo. Quando é crucial para efeitos de herança que haja
comprovação de qual indivíduo faleceu primeiro, porém
Tanatognose não há como apurar esse fato, então a Lei brasileira admite
que a morte foi simultânea. São casos em que é impreterí-
vel o esclarecimento sobre os plenos direitos do herdeiro
É a parte da tanatologia Forense que estuda o diag-
na partilha do patrimônio.
nóstico da realidade da morte. Esse diagnóstico será tanto
Premoriência: É a morte de uma pessoa, ocorrida an-
mais difícil quanto mais próximo o momento da morte.
teriormente à de outra pessoa determinada, que lhe so-
Antes do surgimento dos fenômenos transformativos do
brevive. É a precedência na morte, como, por exemplo:
cadáver, não existe sinal patognomônico de morte. Então,
quando um casal sem descendentes e ascendentes falece
o perito observará dois tipos de fenômenos cadavéricos:
no mesmo evento. Se se demonstrar que o marido pré-
os abióticos, avitais ou vitais negativos, imediatos e con-
morreu à esposa esta recolhe a herança daquele, para a
secutivos, e os transformativos, destrutivos ou conserva- transmitir em seguida aos próprios herdeiros e vice-versa.
dores.
EXUMAÇÃO.
CRONOTANATOGNOSE
Exumar significa abrir a sepultura, local de consumpção
É a parte da Tanatologia que estuda a data aproxi- aeróbia, caixão de metal ou madeira onde se encontra inu-
mada da morte. Com efeito, os fenômenos cadavéricos, mado o cadáver para a realização de perícia médico-legal.
não obedecendo ao rigorismo em sua marcha evolutiva, Tanto no Código de Processo Civil (art. 130) como no
que difere conforme os diferentes corpos e com a causa Código de Processo Penal (art. 411, § 2º) deve ser aplicada
mortis e influência de fatores extrínsecos, como as condi- a regra de que se trata de procedimento probatório que
ções do terreno e da temperatura e umidade ambiental, fica submetido à discricionariedade do juízo. Nesse caso,
possibilitam estabelecer o diagnóstico da data da morte em particular, com muito mais razão, pois o requerimento
tão exatamente quanto possível, porém não com certe- de exumação de cadáver é medida de caráter essencial-
za absoluta. O seu estudo importa no que diz respeito à mente excepcional, porquanto ocasiona enorme desgaste
responsabilidade criminal e aos processos civis ligados à emocional aos familiares. De forma que nem mesmo se a
sobrevivência e de interesse sucessório. acusação e a defesa, em conjunto, requererem a exumação
estará obrigado a deferi-la, o Juízo. O deferimento de di-
Inumação: Consiste no sepultamento do cadáver. ligências é ato que se inclui na discricionariedade regrada
do juiz. Via de regra, essa discricionariedade deverá se ater
Exumação: Consiste no desenterramento do cadáver, a dois pré-requisitos básicos para deferir a exumação: a ne-
não importa o local onde se encontre sepultado. cessidade e a pertinência da medida.
A necessidade diz conta à convicção do Juízo de que
Cremação: Consiste na incineração do cadáver, redu- não existem outros meios probatórios para se confirmar
zindo-o a cinzas. um fato ou, havendo outros meios, haja séria divergência
que justifique a nova perícia. É que a exumação pode ser

7
MEDICINA LEGAL

suprida, muitas vezes, pela análise de fotos, de laudo de Causas principais do homicídio:
necropsia, de termos de reconhecimento, da oitiva dos pe- - fase aguda da embriaguez;
ritos e testemunhas, de exames de DNA de parentes dire- - as questões passionais,
tos, etc. Se há outros mecanismos de prova, a exumação - a doença mental e as anormalidades psíquicas;
será desnecessária. - o jogo;
A pertinência diz conta à prova ser direcionada a um - a vingança;
ponto importante, essencial do processo. Se a questão da - a política;
exumação trouxer apenas certezas paralelas, secundárias - a religião;
ou inúteis ou, ainda, revelar-se procrastinatória, não deverá - a miséria e a marginalidade.
ser deferida.
Todavia, são muitos os casos em que se deve permitir a Ação pericial: No homicídio doloso o perito esclare-
exumação. O mais comum é sobre a investigação de pater- cerá à justiça:
nidade post mortem, essencialmente quando os parentes - o nexo causal entre a agressão alegada e o evento
mais próximos (descendentes, ascendentes, irmãos e até morte;
tios e sobrinhos) se negam a fornecer material genético - qual o meio empregado;
para o exame de DNA. Sendo o estado de filiação um di- - o estado mental do homicida;
reito indisponível e imprescritível (Súmula nº 149, STF), a - sua periculosidade;
exumação dos restos mortais do suposto pai biológico é - se se trata de embriaguez fortuita ou preordenada;
perfeitamente cabível. A obtenção de amostras de DNA da - se foi cometido mediante emprego de veneno, fogo,
medula dos ossos mais longos (fêmur, tíbia, ulna, etc.) é explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel;
algo que se busca em um primeiro momento no cadáver, - se foi cometido sob violenta emoção;
mas também é possível a realização do exame a partir de - a idade do agente;
restos cadavéricos tais como: ossada, cartilagem, unha ou
cabelo. Ação pericial: No homicídio doloso o perito esclare-
Na seara criminal, temos assistido os tribunais deferi- cerá à Justiça:
rem medidas exumatórias quando surgem novas versões - a atitude da vítima;
do crime, como por exemplo, suspeita posterior de en- - a execução de certos atos pela vítima, após o feri-
venenamento, intoxicação, espancamento ou outra causa mento mortal;
mortis não averiguada ou percebida no primeiro exame - a mudança de posição, dolosa ou acidental, da vítima;
de necropsia. Já foi objeto de exumação intenso espasmo - as lesões encontradas na vítima provocadas pelo
cadavérico em velório, a suspeita posterior de erro médi- agente, no propósito de subjugá-Ia;
co, suspeita de troca de cadáveres no enterro quando de - a sede, forma e o número dos ferimentos no cadáver;
acidente com muitas vítimas, a dúvida da identidade do de - sendo o agente silvícola, o seu grau de adaptabilida-
cujus, de corpos enterrados como indigentes - mas sus- de ao meio;
peitos de serem alguém desaparecido - a suspeita de falsa - o exame do local do crime.
perícia médica, a ausência ou perda da perícia original, etc.
2) Suicídio: (sui. a si próprio; caedere. cortar, matar). É a
CAUSA JURÍDICA DA MORTE. deserção voluntária da própria vida; é a morte, por vontade
e sem constrangimento, de si próprio.
- Objetivo primordial da tanatologia: diagnosticar a A conceituação dessa modalidade jurídica de morte
causa jurídica da morte (homicídio, suicídio ou acidente). exige dois elementos: um, subjetivo, o desejo de morrer;
- Deter-se ao exame do corpo, do local de crime rea- outro, objetivo, o resultado morte. Exclui-se do conceito de
lizado pelo perito criminal e estudo acurado do indiciado, suicídio os que morreram no cumprimento do dever.
quando houver. Embora o suicídio não seja ato ilícito, o art. 122 do CP
- Atentar para: mecanismo de morte, presença de le- pune o induzimento, a instigação ou o auxílio físico, mate-
sões de defesa e sinais de luta, sede dos ferimentos, dire- rial ou moral, mesmo por motivos altruísticos, para que o
ção da ferida, distância do projétil, número de ferimentos, potencialmente suicida realize seu intento.
exame de manchas de sangue em vestes, arma usada, perfil Os suicidas podem ser considerados impulsivos - nos
psicológico da vítima, mudança da vítima de lugar. quais influi uma explosão do momento – ou premedita-
dos - em que agem a sugestão, o temperamento e a vai-
1) Homicídio: É a morte voluntária (dolosa) ou invo- dade.
luntária (culposa) de alguém realizada por outrem. À lei
não importa seja a vítima monstro, inviável, demente, inca- 3) Morte acidental:
paz, agonizante; exige-se, naturalmente, que esteja viva ao É a causa jurídica da morte representada por aciden-
sofrer por parte do agente a agressão homicida, pois o ob- tes aeroviários, ferroviários, marítimos e, em sua maioria,
jectum juridicus que a lei tutela é a vida, bem inestimável pelo tráfego, pela velocidade dos veículos, pelo despreparo
inerente ao homem, quaisquer que sejam suas condições psicológico dos motoristas ou pelo estado de embriaguez,
biopsíquicas, transitórias (vida intrauterina), momentâneas pela imprevidência e imprudência dos pedestres, pelo ob-
(sono, ebriez) ou permanentes (idade, sexo, raça, inteligên- soletismo de algumas estradas, pela deficiência no policia-
cia etc), independente de suas condições jurídicas. mento rodoviário, pelas ruas estreitas e mal iluminadas.

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MEDICINA LEGAL

Obs.: Diagnóstico diferencial da causa jurídica da mor- doenças tromboembólicas, acidentes anestésicos e/ou ci-
te consoante o meio empregado: rúrgicos, crise epiléptica apnéica, febre tifoide, meningites,
- lesões por instrumentos cortantes: comuns no sui- tétano, difteria, ação da eletricidade cósmica ou industrial.
cídio e no homicídio e só excepcionalmente no acidente; Influenciam, ainda, a idade, o sexo, a profissão, a fadiga, o
- lesões por instrumentos contundentes: comuns no esforço, a embriaguez, o coito, a emoção.
homicídio, suicídio e acidentes;
- lesões por instrumentos corto-contundentes: comuns Morte Agônica é aquela em que a extinção desarmô-
nos casos de homicídio e, excepcionalmente, nos aciden- nica das funções vitais processa-se paulatinamente, com
tes; estertores, num tempo relativamente longo; nela os livores
- lesões por instrumentos perfurantes: comuns em ho- hipostáticos formam-se mais lentamente.
micídios e raras em suicídios e acidentes;
- lesões por instrumentos perfuro cortantes: comuns Necropsia: Uma autópsia, necropsia ou exame cadavéri-
em homicídio e raros em suicídios e acidentes; co é um procedimento médico que consiste em examinar um
- lesões por instrumentos perfuro contundentes: co- cadáver para determinar a causa e modo de morte e avaliar
muns em homicídio e suicídio e raras em casos de morte qualquer doença ou ferimento que possa estar presente. É
acidental; geralmente realizada por um médico especializado, chama-
- esmagamentos: comuns nos acidentes; do de legista num local apropriado denominado morgue,
- precipitação: comum no suicídio e no homicídio; só ou necrotério. Necropsias não eram permitidas no Brasil nos
raramente é acidental; seus primeiros séculos de colonização portuguesa. Contudo,
- enforcamento: comum em casos de suicídio e raro no em casos excepcionais, algumas foram feitas por imposição
homicídio; é rarissimamente acidental; da justiça e com o devido consentimento do Santo Ofício.
- estrangulamento: comum em casos de homicídio, é Nos territórios sob dominação holandesa e, portanto livre do
excepcional no suicídio e nos acidentes; jugo do Tribunal da Inquisição, Willem Piso, no século XVII,
- sufocação: comum nos acidentes e no suicídio é raro realizou livremente as primeiras necropsias no Brasil.
em homicídios;
Necroscopia: Exame ou dissecção de cadáveres.
- afogamento: comum nos acidentes e suicídio é raro
em homicídios;
“Causa Mortis”: Expressão latina que significa literal-
- envenenamento: comum em casos de suicídio é me-
mente “causa da morte”.
nos frequente no homicídio e acidente.

MORTE SÚBITA E MORTE SUSPEITA


5 SEXOLOGIA FORENSE.
Morte natural é aquela que sobrevém motivada amiú-
de por causas patológicas ou por grave malformação, in-
compatível com a vida extrauterina prolongada. A Sexologia Forense tem por objeto de estudo as inci-
dências médico-legais relativos ao sexo.
Entende-se por Morte Violenta aquela que resulta de No âmbito da sexologia e toda a sua complexidade,
uma ação exógena e lesiva (suicídio, homicídio, acidente), o tema subdivide-se em três vertentes de estudo: 1) Hi-
mesmo tardiamente, sobre o corpo humano. meneologia, que tem por objeto de estudo o casamento
e demais aspectos decorrente da união de pessoas de
Morte Suspeita é aquela que ocorre em pessoas de sexo diferentes, assim como questões de compatibilidades,
aparente boa saúde, de forma inesperada, sem causa evi- doenças hereditárias, saúde da prole etc.; 2) Obstetrícia,
dente, ou com sinais de violência indefinidos ou definidos cujo estudo se desenvolve no âmbito dos fenômenos da
– in exemplis, simulação de suicídio objetivando ocultar fecundação, da anticoncepção, da gestação, do aborto, do
homicídio-, passível de gerar desconfiança sobre sua etio- parto, do infanticídio, do puerpério e do estado puerperal,
logia. além de aspectos ligados à investigação de paternidade;
Balthazard define Morte Súbita como “a morte que se 3) Erotologia, a parte da ciência Médico-legal que estuda
produz apenas instantaneamente, pelo menos, muito ra- os estados intersexuais, as perversões, os crimes sexuais,a
pidamente no decorrer de boa saúde aparente”. Para nós, prostituição e demais comportamentos de anormalidades
morte súbita é aquela que ocorre de forma imprevista, em ligados ao sexo.
segundos ou, no máximo, alguns minutos, precedida ou Assim dentro das suas vertentes de estudos específi-
não de fugacíssima agonia, e motivada por afecções car- cos, a Sexologia também engloba as questões decorrentes
diovasculares, lesões encefálicas e meningéias, tumores de crimes sexuais como: estupro, sedução, atentado vio-
cerebrais, acidente vascular encefálico, infarto do miocár- lento ao pudor, posse sexual, conceito de virgindade, hi-
dio, fibrilação ventricular, edema agudo dos pulmões, in- menologia e seus desdobramentos, aspectos do casamen-
suficiência cardíaca congestiva, ruptura de vísceras ocas e/ to e da separação, da fecundação, gestação, parto, aborto,
ou maciças, ruptura de aneurisma, asfixias mecânicas, ede- infanticídio, eugenia, investigação de paternidade, anoma-
ma de glote, choque hemorrágico, anafilático, obstétrico, lias sexuais, conjunção carnal etc.

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MEDICINA LEGAL

As implicações relativas ao sexo estão presentes tan- Estupro é crime previsto no Artigo 213, do Código Pe-
to no Direito Penal quanto no Direito Civil, com reflexos nal, significando a posse sexual da mulher, mediante vio-
também no Direito Processual. Tais incidências, de regra, lência ou grave ameaça. Para tanto, não se perquire se a
necessitam da produção de prova material a ser elaborada mulher é virgem ou não, se é honesta, solteira, prostituta ou
no âmbito da Medicina Legal. casada, o que interessa para a ordem repressiva é a prática
No Direito Civil a Sexologia pode auxiliar na investiga- do ato libidinoso mediante essa sujeição.
ção de paternidade, nas questões de impotência, nas impli- A mulher casada pode ser vítima de estupro pelo pró-
cações do casamento etc. prio marido, desde que com esta tenha relações sexuais me-
No âmbito do Direito Penal, as incidências parecem diante violência ou grave ameaça.
mais comuns nos crimes sexuais, no estudo da Himenolo- A Lei Penal fala em violência real ou presumida, signi-
gia, da virgindade, da conjunção carnal etc. ficando esta, as hipóteses descritas no Art. 224, da mesma
Conceito de Mulher Virgem – Aos olhos da Medicina ordem jurídica, quando se tratar de pessoas menores de 14
Legal, mulher virgem é aquela que não teve ainda experiên- anos de idade, deficientes mentais ou até mesmo mulheres
cia sexual. que, em virtude de condições específicas ou circunstâncias,
A expressão “Mulher Virgem”, contida no Art. 217, do tiveram suas vontades viciadas, seja por agressão corporal
Código Penal é um elemento normativo que significa inex- ou por qualquer meio que reduza ou anule a capacidade
periência quanto ao ato da conjunção carnal. da oura parte, como por exemplo: manter relações com
Conjunção Carnal – para a medicina Legal, significa a pessoas totalmente embriagadas (embriagues aguda); com
penetração do pênis na vagina, completa ou incompleta, pessoas drogadas e envolvida pelo domínio da droga; com
com ou sem ejaculação. A conjunção carnal é um ato libi- pessoas anestesiadas (inconscientes); com pessoas hipnoti-
dinoso que se traduz no contato pênis/vagina intromissio zadas, etc, de forma tal que, naquela condição, não tinham
pênis, ato este que precisa ser devidamente comprovado o domínio da vontade para discernir sobre a prática do ato.
para a caracterização, por exemplo, do estupro consumado. O exame de Corpo de Delito é uma providência essencial
Atos Libidinosos: é o ato praticado com o propósito de nas hipóteses de estupro, tanto para comprovar a violência
satisfazer o apetite sexual. e colher elementos de materialidade do crime, como para
Libido: é o estimulo, o apetite sexual, ou seja, o impulso efeito de aborto legal, nas causas permissivas do Art. 128, II,
à satisfação sexual. do Código Penal, que autoriza o aborto quando a gravidez é
decorrente de estupro, o chamado aborto sentimental.
Comprovação da Conjunção Carnal – para efeito de No Estupro, são quesitos essenciais a serem respondi-
comprovação da conjunção carnal, estuda-se, dentre outros dos pelo Perito Legista:
elementos, a ruptura da membrana himenal, a presença
dos componentes do esperma, além de outros vestígios 1) Se a paciente é virgem; 2) Se há vestígio de desvirgi-
deste ato libidinoso. namento recente (nesse caso considera-se recente o des-
A estrutura anatômica da região perineal feminina é virginamento com menos de 15 dias, após o que, fica difícil
formada por um complexo de membranas de espessuras determinar a data do ato); 3) Se há outros vestígios de con-
diferentes, além de partes que possuem funções específi- junção carnal recente; 4) Se há vestígio de violência e, se
cas e que constituem o órgão sexual feminino. Conforme o possível, qual o meio empregado (podendo o perito regis-
professor Roberto Blanco, a estrutura vagínica é constituída trar os vestígios inerentes ao próprio ato libidinoso e outros
ds seguintes partes: vestígios que possam constituir a forma violenta do ato); 5)
Monte de Vênus; Se da violência resultou alguma seqüela para a vítima (este
Grandes lábios; quesito deve ser respondido de forma específica, registran-
Comisura anterior; do a conseqüência resultante); 6) Se a vítima é alienada ou
Prepúcio; débil mental (este quesito terá por finalidade tipificar a hipó-
Clitóris; tese da qualificação delitiva prevista no Art. 224 – violência
Pequenos lábios; presumida); 7) Se presente alguma outra causa modificado-
Vestíbulo; ra da capacidade da vítima de oferecer resistência ao ato
Mastro urinário; (debilidades, doenças ou qualquer outra impossibilidade).
Óstio; No exame de corpo de delito em caso de estupro, o pe-
10) Fossa navicular; rito poderá comprovar o ato pela presença dos componen-
11) Fúrcula vaginal; tes do esperma:
12) Períneo;
13) Anus; espermatozóide;
14) Himem; líquido seminal (oriundo da veicula seminal);
15) Gládula de Bartholin. líquido prostático (oriundo da próstata), e
fosfatase ácida (presente no líquido prostático e no lí-
A conjunção carnal tem maior relevância quando estu- quido seminal ou semem), além de verificar a violência pela
damos os crimes sexuais, especificamente o estupro. A con- presença de estigmas ungueais (unhadas), escoriações,
junção carnal não é um ato ilícito, a menos que ocorra com equimoses, lesões de defesa, etc.
violência, quando então caracterizará o crime de estupro.

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MEDICINA LEGAL

De forma mediata, a comprovação da conjunção carnal Existem vários tipos de hímens, cada um com caracte-
poderá ser feita pela presença da gravidez, pelo apareci- rísticas e tamanho diferentes, merecendo minucioso estu-
mento de doenças venéreas etc. do de cada espécie, para melhor conhecimento e diagnós-
tico das situações a serem verificadas.
Himenologia – é a parte da Medicina Legal que estuda A Medicina Legal possui estatísticas comprovando que
os hímens, suas espécies e classificação anatômica. Im- em 80% das incidências investigadas, a penetração do pê-
portante é não confundir Himenologia com Himeneologia, nis provoca o rompimento da membrana himenal.
esta é a parte da Medicina Legal que estuda as questões Himem complacente: é uma espécie de hímem cuja es-
referentes ao casamento. trutura muscular pode resistir à conjunção carnal. Significa
O estudo do himem é de relevante importância para se dizer que mesmo havendo a conjunção carnal, o hímem
verificar com mais segurança quando da incidência de vio- complacente não se rompe, pois sua elasticidade permite
lências sexuais, pois o formato anatômico de alguns tipos expandir sua orla sem romper a membrana, impossibili-
de hímens pode gerar confusões para o perito, que poderá tando, apenas pelo estudo da ruptura, a constatação da
confundir suas características naturais com vestígios de vio- conjunção carnal. É um tipo de himem que, resistindo à
lência. cópula sem se romper, pode esconder, aparentemente, a
A Medicina Legal classifica os hímens em: Acomissura- ocorrência de conjunção carnal.
dos e Comisssurados. Os primeiros, são denominados: se- O himem com ruptura leva cerca de até 21 dias
milunal, helicoidal, septado, imperfurado (sem óstio) e cri- para a cicatrização completa, entretanto, os peritos legistas
briforme; os Comissurados são: bilabiado, trilabiado, multi- não possuem segurança para afirma a conjunção recente,
labiado (poliforme). Também pode ser encontrada ausência se esta for anterior a sete dias. Assim recomendamos es-
de himem, o que se denomina de Agenesia himenal. pecialista que o exame de conjunção carnal seja realiza-
Himem e suas espécies: Hélio Gomes define hímem do o mais rápido possível, ou no prazo máximo de 7 dias,
como sendo uma formação anatômica situada na parte an- pra que sejam verificados os vestígios com maior precisão,
terior da vagina. Na verdade, trata-se de uma membrana si- inclusive para responder sobre os dois primeiros quesito
tuada no intróito vaginal, apresentando duas faces: anterior comuns: sobre a virgindade da paciente e sobre a recenti-
(posicionada do lado de fora) e posterior (do lado de den- cidade do ato sexual
tro). Possui duas bordas com funções anatômicas diferen- Tempo da ruptura: quanto ao tempo da conjunção car-
tes: uma ligando o himem ao corpo e a segunda, formando nal, o diagnóstico do perito poderá constatar as seguintes
o óstio, circulando o orifício do próprio himem. situações: 1) Recentíssima tendo ocorrido no período de
“Na maioria das vezes a borda tem certas ondulações, poucas horas, quando o legista anda poderá encontrar ves-
de tal modo que o diâmetro do óstio, em repouso, sem tígios de sangramento nas bordas do hímem; 2) Recente:
ser tracionado, é um; uma vez tracionado, ele se apresen- quando existem lesões em processo de cicatrização, indi-
ta maior. O diâmetro do orifício, devido a sua ondulação, cando lapso temporal em torno de 10 a 15 dias; .3) Não
apresenta-se de uma maneira; se forem esticadas todas as recente ou antiga: quando não aparecem os sinais que en-
ondulações, esse diâmetro se apresentará de maneira dife- contramos nas duas hipóteses anteriores, demonstrando
rente”(H. Gomes). assim que o fato já ocorreu há mais de 15 dias, não sendo
O diâmetro, pela ruptura, torna-se suficientemente lar- possível determinar o seu tempo.
go, permitindo o acesso do pênis no interior da vagina. Face Himem roto - é o himem deflorado, seja por conjun-
às características da irrigação sanguínea do hímen, ele se ção carnal ou por outro ato libidinoso ou de violência. O hi-
rompe e permanece roto, cicatrizando-se a borda da rup- mem roto não se confunde com himem com entalhe, este
tura, mas não se refazendo. Até o 15.º dia da conjunção, as decorrente de causas naturais.
bordas sangram; após esse tempo, as bordas se cicatrizam.
O tecido vai se atrofiando até que, após algum tempo, os Características do himem roto: A ruptura himenal é
fragmentos são reduzidos a meros nódulos na parede va- uma lesão provocada. Diante de uma história de violência
ginal, que recebem o nome de carúnculas mirtiformes. As sexual, a constatação da ruptura himenal gera presunção
rupturas estendem-se da borda ostial até a borda vaginal. de conjunção carnal. É importante verificar que a lesão
Em alguns livros podemos encontrar a terminologia “rup- em comento pode ser provocada por intermédio de ou-
tura incompleta”, que significa que o hímen rompeu, mas a tras manipulações, e somente a sua presença, enfraquece
ruptura não foi até a borda vaginal. a presunção. Entretanto, é considerado doutrinariamente
Em algumas mulheres pode haver uma configuração como um elemento significativamente importante, que as-
do hímen que se apresenta com o óstio bastante irregular, sociado a outras evidências, reforçam a hipótese de con-
cujas ondulações se aproximam bastante da borda vaginal. junção carnal.
Quando essas ondulações são mais acentuadas, recebem o Exceções à ruptura do hímem: algumas situações exis-
nome de “entalhes”. tem que podem admitir uma conjunção carnal sem o
Na medida em que os entalhes se estendem até mui- rompimento do hímem. É o que ocorre em cerca de 20%,
to próximo da borda vaginal, quando nos deparamos com das relações sexuais com mulheres virgens, segundo es-
rupturas himenais já totalmente cicatrizadas, poderá surgir tatísticas dos Institutos e Medicina Legal. Os especialistas
a necessidade de se fazer um diagnóstico diferencial entre apontam várias causas para esses resultados, como por
o que é ruptura e o que é entalhe. Exemplo:

11
MEDICINA LEGAL

Nas hipóteses de ausência do hímem (anomalias rela- 1. Conjunção Carnal, Atentado Violento ao Pudor e
tivamente raras); outros Atos Libidinosos:
Nas hipóteses pênis muito pequenos; A conjunção carnal já foi dito anteriormente, que se
Em alguns casos em que o hímem possui o óstio hime- caracteriza por uma cópula pênis/vagina.
nal com diâmetros bastante grandes; O Atentado ao pudor também é uma modalidade de
Hímem complacente; ato libidinoso, caracterizado por um ato diferente da con-
Nas situações em que o excesso de lubrificação duran- junção carnal, como por exemplo o coito anal. Esta prática,
te o ato sexual permita a penetração sem rompimento do quando perpetrada com violência ou grave ameaça, carac-
hímem, dentre outras hipóteses. teriza o crime previsto no Art. 214, do Código Penal. Pode
Os especialistas recomendam que se observe com mui- ser vítima deste crime tanto o homem quanto a mulher,
to cuidado todas essas hipóteses, para impedir uma inci- enquanto que o estupro é um delito que tem por sujeito
dência de simulação ou dissimulação de um crime sexual. passivo somente a mulher.
Outros elementos de Investigação: Outros vestígios É comum ouvirmos pessoas leigas comentarem que
deixados por um ato de conjunção carnal podem ser verifi- uma pessoa do sexo masculino foi vítima de estupro. Na
cados pelo perito, dentre eles: hipótese, o que pode ter ocorrido é um crime de atentado
a presença de espermatozóide na parte mais profunda violento ao pudor, ou seja, um ato libidinoso diverso da
da vagina (saco vaginal), o que pode ser examinado pelo conjunção carnal, que pode ser praticado contra qualquer
perito, com uso de uma espátula ou outro objeto similar, pessoa. É a modalidade do coito anal.
colhendo-se substâncias para exames laboratoriais. A pre- A medicina legal presta um serviço de maior importân-
sença de espermatozóide na vagina é presunção de conjun- cia nos crimes sexuais. Nestes acasos, a materialidade de-
ção carnal, vez que é um tipo de substância que independe litiva principal é o Laudo Médico-Legal. O próprio Código
do tipo de hímem; de Processo Penal estabelece a sua importância e exige a
Outro fator importante de afirmação é a presença de sua realização nas incidências penais, o que podemos ver
doenças venéreas, especialmente aquelas cujo contágio se também em várias passagens do Código Civil.
dá geralmente pelo contato sexual (sífilis, cancro, condilo-
mas e ouras). 2. Conceito Médico-Legal de Mulher Virgem:
A fosfatase ácida: presente cm mais de 5 unidades na Para a doutrina, mulher virgem é aquela em relação à
vagina; qual não se prova experiência sexual anterior. É a mulher
que ainda desconhece as experiências da conjunção carnal.
Nota: O Líquido da Ejaculação é formado por: Esper- No nosso Código Penal vigente, encontramos algumas
matozóide, Líquido Seminal (oriundo da vesícula seminal),
disposições em que trazem agravamento da pena, quando
Líquido Prostático (oriundo da próstata, mais a Fosfatase
não constitui elemento da conduta, a condição de mulher
Ácida (presente no líquido seminal e no líquido prostático.
virgem. Assim temos o crime de sedução, Art. 217, que trás
Nos homem, há cerca de 300 a 3000 unidades. Na mulher,
a virgindade como uma elementar do crime: “seduzir mu-
até 5 unidades.), formando o ESPERMA.
lher virgem, menor de 18 anos e maior de 14...”; o Art. 215.
P. único, prevê majoração da pena nos crimes de posse
Nota: A gravidez é um sinal de certeza de uma relação
sexual mediante fraude “...se o crime é praticado contra
sexual. É claro que a gravidez também pode, em situações
especiais, decorrer de ato libidinoso diverso da conjunção mulher virgem, menor de 18 anos e maior de 14...” Essas
carnal, entretanto, não havendo outro histórico do fato, ser- questões entretanto, começaram recentemente a desapa-
virá tal elemento para a afirmação da conjunção carnal. recer do Código Repressivo
Gonodatrofina Corionica: É um hormônio que é produ- É importante destacar que esse conceito não é mui-
zido com o início da gravidez, permitindo por meio deste, to próprio para tratarmos das questões previstas nos Arts.
constatar-se o estado gravídico. 217 e 215, p. único, pois em tais dispositivos, a exigência
O himem roto apresenta as seguintes características: do legislador é que ocorra a conjunção carnal. Como sa-
bemos, a conjunção carnal é uma modalidade de ato libi-
suas formas são assimétricas; dinoso (mesmo alguns doutrinadores não querendo que
a ruptura é completa; o seja. É ato libidinoso principal, conssumativo, final, etc.,
é adquirida e cicatriza com o tempo. mas ato libidinoso). Quando a lei fala em: “ato libidinoso
Características do Entalhe: O entalhe é uma espécie de diverso do da conjunção carnal (Arts. 214, 216), não quer
anomalia anatômica do himem. Ele apresenta um formato excluir a conjunção canal do rol dos atos libidinosos, mas
parecido com fragmentos da membrana himenal e, à pri- apenas está considerando os outros atos libidinosos, para
meira vista, pode confundir o perito menos avisado, a pen- determinadas hipóteses de crimes. Assim considerando, a
sar que se trata de uma lesão decorrente de conjunção car- inexperiência a que se refere o conceito de mulher virgem,
nal. Entretanto, melhor observados, vão indicar que se trata para as hipóteses dos dois artigos, não é a inexperiência
de um sinal congênito. Suas características principais são: sexual, mas a inexperiência do ato de conjunção carnal.
O ordenamento jurídico brasileiro se apegou a este
tem forma congênita, ou seja, é de nascença; entendimento baseando-se na cultura e nos costumes, fa-
suas alterações são de forma incompleta; tores que sempre são levados em conta na elaboração das
são simétricas e não cicatrizam com o tempo. regras jurídicas.

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MEDICINA LEGAL

3. Anomalias Sexuais: 4. Impotências:


São comportamentos não convencionais ou pelo me- A impotência, conforme define o professor Hélio
nos não comuns, buscados por algumas pesas, em virtudes Gomes, “é a incapacidade para a cópula ou para a procria-
de problemas mentais, psíquicos, emocionais ou sociais, ção”.
para a satisfação dos seus desejos sexuais. A problemática da impotência é classificada em
No aspecto jurídico, principalmente no tocante à anu- diversas variantes e com peculiaridades concernente à de-
lação do casamento, a prática sexual anômala impede a ficiência, se no homem ou na mulher, as causas ensejado-
sexualidade normal, tornando-se forma exclusiva da mani- ras e as respectivas consequências.
festação sexual. A impotência é um fenômeno que pode afetar o ho-
mem ou a mulher, e qualquer idade, no curso da vida se-
Anomalias sexuais mais comuns: xual ativa, podendo ter origem em distúrbios psíquicos,
Pedofilia: é preferência sexual por crianças. fisiopáticos ou orgânicos.
Sadismo: satisfação sexual pelo sofrimento causado ao No nosso estudo, vamos nos limitar à citação de algu-
parceiro ou à parceira. mas modalidades e seus efeitos.
Fetichismo: é um desvio sexual através do qual a pes- Impotência coeund, erigend, generandi,ou instrumen-
soa sente prazer por meio de objetos pessoais de outra tal - é a incapacidade para o ato sexual, por falta de ereção
pessoa (roupas, calçados etc.). do membro masculino;
Auto-erotismo: é o erotismo estimulado sem parceiro, Impotência generandi - , é a incapacidade para fecun-
substituído por objetos como fotografia, esculturas etc. dar, ou seja, é verdadeira esterilidade masculina;
Anafrodisia: é a diminuição do instinto sexual do ho- Impotência concipiendi - é a incapacidade para con-
mem. ceber, ou seja, é a impossibilidade de gerar, esterilidade
Frigidez: é a diminuição do apetite sexual da mulher, feminina.
ou também a falta de capacidade para o orgasmo. Frigidez – falta de apetite sexual por parte da mulher,
Narcisismo: é o prazer pela auto admiração, ou seja, o causa proveniente de patologias.
prazer em admirar o seu próprio corpo. Vaginismo – dificuldade para a relação sexual da mu-
Mixoscopia: é a fantasia sexual de sentir prazer em vi- lher, por excesso de contração da vulva, impossibilitando o
sualizar a relação de seu parceiro com terceiro. coito ou dificultando a sua realização.
Dispareunia – é a relação sexual dolorosa para a mu-
Gerontofilia: é a atração sexual de pessoas jovens por
lher, fazendo cm esta se negue para o ato sexual.
pessoas com idade avançada.
Coitofobia – é o medo do ato sexual,por parte da mu-
Masoquismo: é a satisfação do prazer sexual por meio
lher, podendo ser desenvolvido por traumas causados por
de humilhação, agressão do próprio parceiro.
violência sexual ou distúrbio neurológico.
Sodomia: Prática de coito anal entre parceiros do mes-
mo sexo ou de sexo diferentes.
Estupro
Tribadismo: é a satisfação sexual entre mais de um par-
“Ciência penal não é só a interpretação hierática da
ceiro.
lei, mas, antes de tudo e acima de tudo, a revelação de seu
Necrofilia ou Vampirismo: práticas sexuais com pes- espírito e a compreensão de seu escopo, para ajustá-lo a
soas mortas. fatos humanos, a almas humanas, a episódios do espetácu-
Lubricidade senil: é a manifestação sexual exacerbada e lo dramático da vida.” (Nelson Hungria)
incompatível com a idade. A recente Lei Ordinária Federal nº 12.015, de 7 de agos-
Riparofilia: é sentir a atração sexual por pessoas sujas to de 2009, traz no seu bojo profunda e inédita alteração
ou mal tratadas. no artigo 213 do nosso Código Penal, ao mesmo tempo
Urolagnia: é o prazer sexual pela excitação de ver al- em que acrescenta o artigo 217-A nesse Diploma, ambos
guém no ato de urinar ou apenas de ouvir o ruído da urina. relacionados ao crime de estupro.
Coprolalia: é a satisfação sexual por meio de falar ou de A referida Lei altera o Título VI da Parte Especial do
escutar palavrões e obscenidades. Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940, ou seja,
Edipismo: é propensão ao incesto, o impulso do ato o Código Penal Brasileiro. O Título que passou a vigorar
sexual por parentes próximos. com a denominação DOS CRIMES CONTRA A DIGNIDADE
Bestialismo ou Zoofilia: é a satisfação sexual por atos SEXUAL, além de transformar todo o sentido e significado
com animais domésticos do seu art. 213, como conseqüência ainda revogou os ar-
Homossexualismo: pode ser homossexualismo mascu- tigos 214 e 224 do dito Diploma repressivo que tratavam
lino, uranismo ou pederastia, também homossexualismo do atentado violento ao pudor e da presunção da violência
feminino (lesbianismo), do ponto de vista fisiológico, são prevista então na antiga denominação DOS CRIMES CON-
anomalias. TRA OS COSTUMES.
A tradição secular vivenciada desde 1940 em que so-
Nota: A Organização Mundial de Saúde, entretanto, mente podia o homem ser a pessoa ativa e a mulher a pes-
considera o homossexualismo como doença e não como soa passiva no crime de estupro ganhou nova roupagem e
anomalia. hoje também o homem pode ser o sujeito passivo e até a
mulher pode também ser o sujeito ativo em tal delito.

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MEDICINA LEGAL

O crime de estupro outrora definido no nosso Diploma Código Penal. Ela apenas foi incorporada ao artigo prece-
Legal estabelecia no conteúdo do seu art. 213: “Constran- dente (213), ou seja, “mudou de endereço”. Nas palavras
ger mulher à conjunção carnal, mediante violência ou grave de Luiz Flavio Gomes: A isso se dá o nome de continui-
ameaça.” dade normativo-típica. O que era proibido antes continua
Assim, estava implícito, que somente a mulher podia proibido na nova Lei.”
ser a vítima, o agente passivo, enquanto que, o homem, É bem sabido que a Lei só retroage para beneficiar
somente o homem podia ser o autor, o agente ativo do cri- o réu, e em assim sendo, o novo sentido do crime de es-
me de estupro, vez que, por conjunção carnal entende-se tupro que já está em vigor é somente atribuído aos in-
ser a penetração do pênis na vagina, ou seja, somente con- fratores atuais, enquanto que os outros processados ou
figurava-se o crime de estupro quando o homem usando condenados anteriormente pelo antigo crime de estupro
da violência ou grave ameaça fazia penetrar o seu pênis na ou pelo extinto crime de atentado violento ao pudor, por
vagina da vítima, admitindo-se também a tentativa quando não serem beneficiados com a novidade continuam no
o ato não fosse concretizado por força de um motivo qual- mesmo patamar jurídico.
quer, assim como, a co-autoria que podia tanto ser homem A elementar do tipo da ultrapassada denominação
ou mulher. relacionada ao crime de estupro, que revelava seu sujeito
Outro ato sexual violento contra a vontade da vítima passivo somente a mulher, fora substituída pela expres-
diverso da cópula vaginal entre as partes poderia confi- são alguém. Tal supressão e substituição destas palavras
gurar o crime de atentado violento ao pudor que então modificaram todo o sentido desse crime. A partir de então
dispunha o art. 214 do Diploma repressivo: “Constranger o sexo do ofendido é indiferente para a caracterização
alguém, mediante violenta ou grave ameaça a praticar ou do delito. Não exclui o crime a circunstância de ser a víti-
permitir que com ele se pratique ato libidinoso diverso da ma menor, inconsciente, débil mental, enfermo, deficien-
conjunção carnal.” te físico, homossexual ou prostituta... Todos protegidos
Assim, no extinto crime de atentado violento ao pudor, em sua liberdade sexual. Neste sentido algumas vítimas
tanto o homem quanto a mulher podia ser vítima ou autor dessas classes sociais figuram como qualificadora para o
daquele delito. O homem podia praticar o atentado violen- autor do delito.
to ao pudor contra a mulher ou contra o próprio homem, A nova Lei trouxe à baila as figuras qualificadoras do
enquanto que a mulher podia praticar tal crime contra o crime de estupro nos próprios §§ 1º e 2º do art. 213 e no
homem ou contra a própria mulher. recém criado art. 217-A. Sendo esse último relacionado
De um simples cotejo da redação dos dois dispositivos ao estupro de vulnerável.
citados, ou seja, dos antigos artigos 213 e 214 do Códi- Enquanto que no estupro de natureza simples (caput
go Penal, observa-se perfeitamente com a alteração da Lei do art. 213) o seu agente ativo pode ser condenado a uma
12.015, de 7 de agosto de 2009, que houve a supressão do pena que varia de 6 a 10 anos de reclusão, com a forma
termo “mulher”, e de resto agruparam-se as duas redações qualificada decorrente da conduta criminosa em que re-
transformando-as em uma só, qual seja: sulta lesão corporal de natureza grave para a vítima, ou
sendo essa menor de 18 (dezoito) ou maior de 14 (ca-
Estupro torze) anos (§ 1º do art. 213) a pena é acrescida e o autor
Art.213. Constranger alguém, mediante violência ou pode sofrer uma reclusão de 8 a 12 anos. Se da conduta
grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou per- resulta a morte da vítima (§ 2º do art. 213) a pena passa
mitir que com ele se pratique outro ato libidinoso. a ser de 12 a 30 anos de reclusão, ou seja, atinge ao má-
Assim, as antigas definições dos crimes de estupro e ximo da condenação estabelecida no nosso ordenamento
atentado violento ao pudor, com a nova Lei transforma- jurídico-penal.
ram-se com a citada junção das suas redações na recente Ao novo artigo incorporado ao Código Penal, enten-
definição do crime deestupro, gerando assim uma nova de-se:
interpretação jurídica. Quanto à questão da tentativa e co
-autoria continua a admitir-se no novo dispositivo penal. Estupro de vulnerável
Em decorrência de tal modificação não restou alterna- Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato
tiva para a continuidade do art. 214 senão a sua revogação, libidinoso com menor de 14 (quatorze) anos: Pena – reclu-
embora tal revogação não tenha deixado ao desamparo são, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.
jurídico-penal a figura da futura vítima daquele extinto § 1º Incorre na mesma pena quem pratica as ações
delito que passou a partir de então a ser vítima do crime descritas no caput com alguém que, por enfermidade ou
de estupro. deficiência mental, não tem o necessário discernimento
Complementando este item é de acolher-se a explica- para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa,
ção do colega Delegado de Polícia do Estado de Sergipe não pode oferecer resistência.
THIAGO LUSTOSA LUNA, quando de um dos seus artigos O novo artigo é bem mais objetivo e claro do que
pertinente recentemente publicado: “É importante frisar o seu antecessor. Subentende-se que a redação e o en-
que não houve abolitio criminis da conduta prevista no tendimento do crime de estupro de vulnerável tenha sido
artigo 214, a ensejar a aplicação dos efeitos benéficos e retirado, adaptado e melhorado do antigo artigo referente
retroativos constantes no artigo 2º, parágrafo único, do a presunção de violência, também revogado pela nova Lei.

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MEDICINA LEGAL

O estupro presumido era previsto anteriormente no art. Em analise da nova denominação do termo estupro,
224 do Código Penal que possuía a denominação de pre- observa-se a igualdade entre o antecessor e atual artigo
sunção de violência, englobando também naquele dispo- referente ao ato denominado conjunção carnal, contudo,
sitivo os crimes contra os costumes. Tal presunção de es- quanto à introdução na redação do ato libidinoso, significa
tupro era aplicada para o caso da vítima ser menor de 14 nas palavras de FERNANDO CAPEZ: “Ato libidinoso é aque-
anos, e também para o caso da vítima ser alienada ou débil le destinado a satisfazer a lascívia, o apetite sexual. Cuida-
mental, desde que o agente ativo conhecesse dessa con- se de conceito bastante abrangente, na medida em que
dição, ou ainda para o caso em que a vítima não pudesse compreende qualquer atitude com conteúdo sexual que
oferecer resistência ao ato criminoso, ou seja, tal artigo tenha por finalidade a satisfação da libido. Não se incluem
era tão somente e todo ele subjetivo com interpretações nesse conceito as palavras, os escritos com conteúdo eró-
tico, pois a lei se refere ao ato, ou seja, a uma realização
dúbias das supostas presunções. Diante das suas constan-
física completa (...). Por exemplo: agente que realiza mas-
tes suposições dos casos reais ocorridos no seu trâmite, o
turbação na vítima, introduz o dedo em seu órgão sexual,
referido dispositivo legal tornou-se por demais criticado introduz instrumento postiço em seu órgão genital, realiza
pela doutrina penal. Para alguns juristas o seu teor princi- coito oral etc.”
pal, ou seja, a presunção da violência, não condizia com o Não há como confundir tais atos libidinosos com “apal-
nosso Estado Democrático de Direito e por isso seria in- padelas, amassos e beijos lascivos”, que segundo CEZAR
constitucional, embora houvesse Jurisprudências diversas. BITTENCOURT, quando isso ocorre, deve ser enquadrado
A sua supressão, a sua revogação, fora de fato, bem vinda como contravenção penal (art. 61 LCP).
pela grande maioria dos juristas brasileiros. Em decorrência das alterações e supressões ocorridas
O entendimento do estupro de vulnerável nasceu de no Título VI Parte Especial do Código Penal, conseqüente-
forma mais real, mais presente, mais viva, e busca punir mente o legislador teve que promover as devidas modifica-
toda relação sexual ou ato considerado libidinoso, de ções na Lei 8.072, de 25 de julho de 1990, mais conhecida
qualquer natureza, ocorridos com ou sem consentimento por Lei dos Crimes Hediondos.
do menor de 14 anos de idade e das outras pessoas cita- Harmonizando as mudanças do texto com a devida in-
tegração sistemática das normas, adaptou-se e incluiu-se
das portadoras de circunstancias especiais e diferenciadas
na redação dessa Lei o estupro de natureza simples e o es-
das consideradas pessoas normais. Para a concretização tupro de vulnerávelque ficaram então apostos no seu art.
da infração basta o agente ativo praticar a cópula vaginica 1º incisos V e VI respectivamente.
(no caso da vítima ser a mulher e o autor ser o homem), Essa adaptação põe termo em definitivo à celeuma
ou qualquer outro ato libidinoso diverso da conjunção doutrinária que fora criada relativa a questão do então es-
carnal (nesse caso tanto o homem quanto a mulher pode tupro simples ser considerado ou não um crime hediondo,
ser autor ou vítima), não importando o meio usado para não obstante o próprio STF – Supremo Tribunal Federal,
a perpetração do ato, se por violência, ameaça, fraude ou coerente com os princípios legais e coadunando com os
consentimento da pessoa passiva. De qualquer forma ha- seus próprios julgados e a equivalência de Lei, tenha reco-
vendo esses atos sexuais direcionados e realizados com nhecido e reafirmado o caráter hediondo do crime de es-
tais pessoas relacionadas, estará caracterizado o crime tupro.
de estupro de vulnerável. Agora não resta qualquer dúvida. A extrema represen-
A vulnerabilidade vem sendo, sem sombras de dúvi- tatividade das lesões causadas às vítimas do estupro, tra-
zendo sempre como consequência a inaceitável irreversibi-
das, objeto de preocupação dos Poderes Públicos, com
lidade do dano causado ao emocional do sujeito passivo,
cuidados especiais redobrados pelo Direito Penal, como é então reconhecida. O ato violento, depravado, sórdido,
é o caso aposto. repugnante, horrendo, pavoroso e, enfim hediondo, fora
O § 2º do art. 217-A fora vetado, enquanto que o devidamente qualificado entre os crimes dessa espécie,
§ 3º fala que se da conduta criminosa resultar lesão cor- reparando assim, acima de tudo, que para certas vítimas,
poral de natureza grave para a vítima, então o agente ati- quando da conduta dolosa sofrida, fixa-lhes permanente-
vo do delito estará sujeito a pena de reclusão de 10 a 20 mente um trauma psicológico.
anos. Já no § 4º está implícito que se do ato criminoso Assim, de acordo com a Lei dos Crimes Hediondos, nos
levar a vítima à morte, então o seu agressor estará sujeito a quais estão inclusos os novos delitos de estupro, o seu su-
uma pena que varia de 12 a 30 anos de reclusão. jeito ativo, então processado ou condenado, no dizer de
A referida Lei ainda traz no seu art. 234-A o aumen- JULIO FABRINI MIRABETE: “... não pode ser beneficiado
to da pena para certas adversidades advindas dos crimes com anistia, graça ou indulto (art.2°, I), não tem direito a
contra a dignidade sexual especificados no seu Título VI, fiança e liberdade provisória (art.2º, II), deverá cumprir a
dentre os quais estão contidos os crimes de estupro de pena integralmente em regime fechado (art. 2º, § 1º), sua
natureza simples e o estupro de vulnerável. No item III a prisão temporária pode se estender por trinta dias, prorro-
pena do autor é aumentada de metade se do crime resultar gável por igual período em caso de extrema e comprovada
a gravidez da vítima. Já no item IV que fecha o ciclo do re- necessidade (art. 2º, § 3º) e, em caso de sentença condena-
ferido artigo, dispõe o aumento da pena de um sexto até a tória, o Juiz decidirá fundamentalmente se poderá apelar
metade, caso o autor do crime, sabedor de doença sexual- em liberdade, podendo, pois, negar o benefício ainda que
mente transmissível assim a transmite para a sua vítima. o condenado seja primário e de bons antecedentes.”

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MEDICINA LEGAL

Conclui-se, portanto, que com o advento da nova Lei com a discussão central do trabalho acerca do concurso
decorrerá muitas indagações ao seu interprete a ser resol- existente entre os crimes de estupro e atentado violento
vidas nos Tribunais, ao passo que, em virtude da real pos- ao pudor. Ressalta-se o entendimento majoritário sobre
sibilidade de ambos os sexos participarem como agente o assunto, tanto sob a ótica jurisprudencial, quanto sob à
ativo ou passivo nos crimes de estupro, não será aberra- ótica doutrinária, que surgiram diante da nova lei supra-
ção jurídica alguma, embora soe mal aos nossos ouvidos mencionada.
e atropele a língua portuguesa, constatarmos no cotidiano
popular ou na mídia policial: “Jose estuprou João, que tinha Desenvolvimento
estuprado Maria, autora do estupro contra Joana, a estu- O crime de estupro, com o advento da Lei nº 12.015, de
pradora de José.”1 7 de agosto de 2009, é definido pela prática, mediante vio-
lência ou grave ameaça de constranger alguém a ter con-
Estupro e atentado violento ao pudor - Concurso ma- junção carnal, a praticar ou com o sujeito permitir que se
terial ou crime continuado? pratique ato libidinoso diverso, que são tidos como ações
O Direito Penal de forma ampla tem como finalidade de natureza sexual, que não a conjunção carnal, que tem a
preservar a sociedade, a fim de tutelar os seus bens jurídi- pretensão de satisfazer a libido do agente.
cos tidos como essenciais, que são a vida, a liberdade e a Anterior à Lei nº 12.015/09, o estupro era regulado pelo
propriedade, com o intuito de garantir a paz, a segurança artigo 213 do Código Penal e se resumia tão somente pela
e a ordem social em torno do indivíduo e da comunidade. conduta ativa do homem como única figura que poderia
Isso é feito através da classificação das infrações lesivas à executar tal crime, ou seja, o sujeito ativo necessariamente
coletividade, ao sistema político ou ao próprio indivíduo, deveria ser uma pessoa do sexo masculino que constrangia
impondo sanções punitivas de acordo com cada conduta já uma mulher à prática da conjunção carnal mediante violên-
prevista e tipificada pelo Ordenamento Jurídico Brasileiro. cia ou grave ameaça.
Assim sendo, o trabalho apresentado tem por obje- O termo violência ou grave ameaça empregado no
to a análise da aplicação de concurso material ou crime texto legal significa a força física, material, a vis corpora-
continuado no caso em que envolva estupro e o extinto lis, com a finalidade de vencer a resistência da vítima. Essa
atentado violento ao pudor, à luz da Lei 12.015/2009. A violência pode ser produzida pela própria energia corporal
monografia tem como ênfase verificar qual o instituto ju- do agente, que, no entanto, poderá preferir utilizar outros
rídico cabível no computo da pena, e se houve alguma meios, como fogo, água, energia elétrica (choque), gases
mudança com a entrada em vigor da Lei nº 12.015 em 07 etc.
de agosto de 2009, que unificou os comportamentos e os Grave ameaça constitui forma típica da “violência mo-
tipos penais. Por isso verifica-se se é diligente o art. 69 do ral”; é a vis compulsiva, que exerce uma força intimidativa,
Código Penal, quanto à possibilidade de ainda aplicá-lo na inibitória, anulando ou minorando a vontade e o querer da
atual sistemática existente na pluralidade entre condutas ofendida, procurando, assim, inviabilizar eventual resistên-
no crime de estupro, quando há um misto entre conjunção cia da vítima. Na verdade, a ameaça também pode pertur-
carnal e atos libidinosos, anteriormente regulado pelo arti- bar, escravizar ou violentar a vontade da pessoa como a
go 214 do Código penal, que classificava tal conduta como violência material. A violência moral pode materializar-se
sendo o crime de atentado violento ao pudor. em gestos, palavras, atos, escritos ou qualquer outro meio
Pois bem, no primeiro capítulo, valer-se-á de uma aná- simbólico.
lise sobre o conceito dos crimes de estupro e atentado Mediante tais condutas acima descritas, só a mulher
violento ao pudor, a diferença entre as duas condutas, a poderia ser vítima de tal crime contra a liberdade sexual,
definição da mudança que houve após a entrada em vigor posto que a cópula anal e outros atos libidinosos pratica-
da Lei nº 12.015/09, bem como sobre a identificação do dos contra homens, com violência ou grave ameaça, confi-
sujeito ativo e passivo e os modos de execução existentes guravam crimes de atentado violento ao pudor.
em ambos os delitos. A atual sistemática o artigo 213 do Código Penal fala
em “constranger alguém”, portanto não limita o sujeito ati-
No segundo capítulo, são definidos e abordados de vo que poderá ser de ambos os sexos desde que cometa
forma detalhada o concurso material e o crime continuado. uma transgressão, mediante violência ou grave ameaça a
Em seguida, passa-se à análise da diferença existente entre liberdade sexual da vítima ou sujeito passivo que também
a Lei anterior (Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de poderá ser homem ou mulher.
1940 – Código Penal) e a Lei nova (Lei nº 12.015, de 7 de Entende-se por liberdade sexual a autonomia, exercida
agosto de 2009) e qual é sua atual alocação no ordena- com livre-arbítrio de escolha e de vontade, na forma de
mento pátrio. dispor de seu próprio corpo. Em outras palavras, seria a ca-
Isso possibilita, ainda no capítulo 2, a compreensão pacidade de agir perante seus próprios desejos, escolhen-
da nova interpretação dada à questão que envolve os cri- do seus parceiros e, mormente, a capacidade de opor-se,
mes de estupro e atentado violento ao pudor, para definir ou não, a realização de qualquer ato de natureza sexual. “A
as consequências da modificação existente do tipo penal, preocupação aqui é assegurar ou garantir que a atividade
1 Fonte: www.infoescola.com - Por Archime- sexual das pessoas seja exercida em condições de plena
des Jose Melo Marques liberdade”.

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MEDICINA LEGAL

[...] lesão múltipla a bens jurídicos de crucial relevância, pessoas têm de escolher livremente seus parceiros sexuais
tais como a liberdade, a integridade física, a honra, a saúde para a prática da conjunção carnal ou outro ato libidinoso.
individual e, em ultimo grau, a vida. O estuprador subjuga a Emiliano Borja Jiménez explana com exatidão o conceito
vitima, a ponto de lhe tolher a liberdade de querer algo, fe- de liberdade sexual:
rindo-a ou ameaçando-a, além de lhe invadir a intimidade, Auto determinação no marco das relações sexuais de
por meio da relação sexual forçada, maculando sua autoes- uma pessoa, como uma faceta a mais da capacidade de
tima e podendo gerar danos à sua saúde física e mental. atuar. Liberdade sexual significa que o titular da mesma
Portanto, constata-se que diante da fusão do agora re- determina seu comportamento sexual conforme motivos
vogado crime de atentado violento ao pudor (art.214) ao que lhe são próprios no sentido de que é ele quem decide
novo crime de estupro (art.213), os sujeitos ativo e o pas- sobre sua sexualidade, sobre como, quando ou com quem
sivo do referido crime, agora podem ser tanto o homem, mantém relações sexuais.
como a mulher, logo, a conceituação do crime de estupro Pois bem, apesar de as duas condutas tutelarem o
como conjunção carnal (introdução do membro genital mesmo bem jurídico, qual seja: a liberdade sexual, os dois
masculino na vagina da mulher) mediante violência ou gra- institutos não se confundem, tendo em vista que, o estupro
ve ameaça, cai por terra, pois, o crime para a ocorrência (antigo artigo 213, CP) se consumaria mediante a cópula
não depende exclusivamente da introdução do membro vaginal, ou seja, pela penetração do pênis na vagina, logo
genital masculino na vagina da mulher, ocorrendo estupro, e de acordo com essa lógica o estupro obviamente só po-
por exemplo, em caso de penetração anal ou praticando deria ser praticado pelo homem e a vítima só poderia ser
outro ato libidinoso. a mulher.
O extinto atentado violento ao pudor configura-se O atentado violento ao pudor (antigo artigo 214, CP)
como crime sexual praticado por ato libidinoso diverso da se referia ao ato de constranger alguém mediante atos
conjunção carnal. O estupro tem como finalidade a cópula libidinosos, ou seja, sexo oral, coito anal, apalpar partes
vaginal, já o antigo atentado violento ao pudor tinha como íntimas do corpo, sendo assim é considerável realçar que
escopo a prática de atos de libidinagem, a satisfação da esses atos são diversos da conjunção carnal. Destarte, dife-
lascívia de outrem, independente da cópula. rente do que acontece com o estupro, o delito de atentado
violento ao pudor pode ser praticado ou sofrido por pes-
Ou seja, para ser considerado atentado violento ao
soas de ambos os sexos.
pudor deve haver uma pretensão por parte do agente de
As leis dos crimes contra a liberdade sexual tutelam a
satisfazer os seus desejos sexuais, mediante a coação da
liberdade de cada indivíduo de dispor ou não de seu corpo
vítima a prática do ato depravado, que necessariamente
para práticas sexuais de maneira que a lei não interfere nas
deve ser diferente da conjunção carnal, sendo imprescin-
relações sexuais tidas como normais, mas reprime comple-
dível que ocorra o constrangimento ou a grave ameaça, ou
tamente as condutas tidas como anormais consideradas
seja, a vítima deve ser impedida de se defender.
graves que afetam a moral média da sociedade, nas pala-
Oportuno ressaltar que, ao contrário do que acontece
vras de Julio Fabbrini Mirabete:
no estupro, o atentado violento ao pudor pode ser pratica- A Lei nº 12.015 de 07 de agosto de 2009, tem por obje-
do por pessoa de ambos os sexos, já que o sujeito ativo ou tivo proteger no crime de estupro não a simples integrida-
passivo pode ser homem ou mulher, em relações heteros- de física, mas a liberdade sexual tanto do homem quanto
sexuais ou homossexuais. da mulher, ou seja, o direito de cada indivíduo de dispor de
Incumbe salientar a distinção entre ato de libidinagem, seu corpo com relação aos atos de natureza sexual, como
ato libidinoso e conjunção carnal, por se tratarem de ter- aspecto essencial da dignidade da pessoa humana.
mos técnicos que necessitam de uma melhor abordagem. Com a nova lei, o crime de estupro passou a ser um
A conjunção carnal, elementar do crime de estupro, de crime comum, ou seja, pode ser praticado por qualquer
posse sexual mediante fraude, é a cópula vaginal, ou: “in- pessoa (homem contra mulher; homem contra homem;
trodução do genital masculino no genital feminino”. mulher contra homem; mulher contra mulher) e de forma
Os atos libidinosos diversos da conjunção carnal, ele- livre, pois pode ser cometido através de conjunção carnal
mentar do crime do antigo atentado violento ao pudor, são (introdução do pênis na vagina) ou por meio de qualquer
os atos que têm por finalidade a satisfação da lascívia de outro ato libidinoso capaz de satisfazer a lascívia (a libido).
outrem sem que haja a necessidade da conjunção carnal. A inovação feita pela Lei nº 12.015 que entrou em vigor
Atos que tenham por finalidade o prazer sexual. em 07 de agosto de 2009 resulta da fusão, com alteração de
As figuras da conjunção carnal e ato libidinoso diverso dois tipos previstos na redação original do Código Penal, o
são espécies do gênero atos de libidinagem que são os de estupro, definido no artigo 213, que incriminava o cons-
atos que têm como fim a satisfação da lascívia, mas que trangimento da mulher à conjunção carnal, e o de atentado
englobam as duas espécies. Destaca-se que os atos de li- violento ao pudor, antes descrito no artigo 214, que punia
bidinagem não têm como única finalidade a satisfação se- o constrangimento de alguém, homem ou mulher, à prática
xual, mas se manifesta na sensualidade, na depravação, no de ato libidinoso diverso da conjunção carnal.
exagero. Anteriormente, o indivíduo que praticava o atentado
Em ambas as figuras, os bens jurídicos tutelados são violento ao pudor, ou seja, envolvia ato sexual diverso da
a liberdade e a dignidade sexual do indivíduo, ou seja, o cópula, por exemplo, acariciar as partes íntimas da pessoa,
direito de dispor do próprio corpo e a faculdade que as após havê-la subjugado de alguma forma – pelo emprego

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MEDICINA LEGAL

de arma ou por outro tipo de violência, ou ainda, quan- Ocorre o concurso material quando o agente, median-
do a vítima do ato sexual forçado era do sexo masculi- te mais de uma conduta (ação ou omissão), pratica dois
no respondia pelo crime antes tipificado pelo já revogado ou mais crimes, idênticos ou não. No concurso material há
dispositivo do artigo 213 do Código Penal. Porém, agora pluralidade de condutas e pluralidade de crimes. Quando
o atentado violento ao pudor e a conjunção carnal ficam os crimes praticados forem idênticos ocorre o concurso
restritos e fundidos no artigo 214, mas causam certa po- material homogêneo (dois homicídios) e quando os crimes
lêmica já que os dois comportamentos tutelam o mesmo praticados forem diferentes caracterizar-se-á o concurso
bem jurídico. Entretanto, trata-se de condutas completa- material heterogêneo (estupro e homicídio).
mente diversas. Em outro giro, ocorre o concurso formal, ou ideal,
Questiona-se, então, se os crimes de estupro e aten- quando o agente, mediante uma só ação ou omissão, pra-
tado violento ao pudor são considerados como concurso tica dois ou mais crimes (art. 70, caput). Difere do concurso
material ou crime continuado; se com a entrada em vigor material pela unidade de conduta: no concurso material o
da Lei nº 12.015, em 07 de agosto de 2009, houve a unifi- sujeito comete dois ou mais crimes por meio de duas ou
cação dos comportamentos, ou se eles são considerados mais condutas; no concurso formal, com uma só conduta
de diversas condutas delitivas, ou ainda se o artigo 69 do realiza dois ou mais delitos.
Código Penal, após a entrada em vigor da Lei nº 12.015, Nesse contexto, cabe expor a interação que há referen-
deixaria de ser diligente, e se é possível aplicá-lo ao atual te ao concurso de crimes e sua aplicação diante dos crimes
crime de estupro e atentado violento ao pudor. de estupro e atentado violento ao pudor, já que, na siste-
Embora, à primeira vista, pareça ter ocorrido a chama- mática anterior, era comum que a doutrina e a jurisprudên-
da abolitio criminis quanto ao crime de atentado violento cia discordassem acerca da possibilidade de se reconhecer
ao pudor, expressamente revogado pela Lei nº 12.015, de a continuidade delitiva entre tais condutas.
7 de agosto de 2009, na verdade, não podemos cogitar Diante desse aspecto, cabe demonstrar, com o intui-
desse instituto pelo fato de que todos os elementos que to de exemplificar, o seguinte precedente da quinta turma
integravam a figura típica do revogado artigo 214 do Códi- do Superior Tribunal de Justiça anterior, à Lei nº 12.015/09,
que considerou o concurso entre os crimes de estupro e
go Penal passaram a fazer parte da nova redação do artigo
atentado ao pudor como concurso material, tendo em vista
213 do mesmo diploma repressivo.
que os referidos delitos não eram da mesma espécie, pos-
Assim, não houve descriminalização do comportamen-
suindo elementos nitidamente distintos:
to até então tipificado especificamente como atentado vio-
Não se consubstanciando os atos libidinosos em
lento ao pudor. Na verdade, somente houve uma modifi-
praeludia coiti, ocorre crime de atentado violento ao pudor
cação do nomen júris da aludida infração penal, passando,
em concurso material com o estupro, não podendo, dessa
como dissemos, a chamar-se estupro o constrangimento
forma, ser aplicada a regra insculpida no art. 71 do Código
levado a efeito pelo agente a fim de ter conjunção carnal,
Penal, por serem crimes de espécies diversas. Precedentes
ou, também, a praticar ou permitir que com ele se pratique do Supremo Tribunal Federal e desta Corte.
outro ato libidinoso. Comprovada a reincidência, a sanção deverá ser sem-
Aplica-se, na hipótese, o chamado princípio da con- pre agravada. Deixar de aplicar o acréscimo referente a
tinuidade normativo-típica, havendo, tão somente, uma essa circunstância agravante, aduzindo, entre outras coisas,
migração dos elementos anteriormente constantes da re- que tal instituto não se coaduna com a ordem constitu-
vogada figura prevista no art. 214 do Código Penal, para o cional vigente, ofende o art. 61, inciso I, do Código Penal,
art. 213 do mesmo diploma repressivo. que endereça um comando ao aplicador da lei e não uma
O concurso de crimes ocorre quando o mesmo sujeito faculdade. [...]
o pratica, por meio de uma ou mais ações delitivas comis- Quanto à questão referente à continuidade delitiva en-
sivas ou omissivas, dolosas ou culposas, consumadas ou tre os crimes de estupro e atentado violento ao pudor, não
tentadas, simples ou qualificadas e ainda entre crimes e há solução diversa da tradicionalmente adotada. Predomi-
contravenções, ou seja, tem como ponto principal a plura- na, no caso, a antiga ensinança de Nelson Hungria para
lidade de fatos e condutas tidas como criminosas. quem, não sendo o ato de libidinagem desvio da conjun-
Em meio aos sistemas propostos para a aplicação de ção carnal classificável como praeludia coiti, haverá, entre
pena no concurso de crimes existem as seguintes espécies: este e o estupro, o concurso material e nunca o crime con-
o concurso material (art. 69 CP), o concurso formal (art. 70 tinuado. É que esses delitos são do mesmo gênero, mas
CP) e o crime continuado (art. 71 CP). não da mesma espécie. Aliás, entre a conjunção carnal, de
O concurso material ocorre quando há pluralidade de um lado, e o sexo anal ou, ainda, o sexo oral, não se pode
condutas e pluralidade de crimes. Conforme a rubrica do vislumbrar homogeneidade quanto ao modo de execução.
art. 69 do Código Penal: E esse entendimento é pacífico no Colendo Supremo Tribu-
Quando o agente, mediante mais de uma ação ou nal Federal Precedentes.
omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, 3. No caso, o recorrido praticou, além da conjunção
aplicam-se cumulativamente as penas privativas de liber- carnal, outro ato de libidinagem que não se ajusta aos clas-
dade em que haja incorrido. No caso de aplicação cumu- sificados de praeludia coiti, sendo de se reconhecer, então,
lativa de penas de reclusão e de detenção, executa-se pri- o concurso material entre o estupro e o atentado violento
meiro aquela. ao pudor, praticados contra a mesma vítima.

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Destarte, com o caso referido em questão fica clara a simples e qualificada do delito; entre formas qualificadas
aplicação do concurso material ao caso concreto e diferen- diversas; entre a modalidade consumada e a tentada; na
ciação que havia anteriormente à unificação do atentado autoria simples e na coautoria; entre crimes culposos, ou
violento ao pudor e do crime de estupro em um só tipo entre crimes culposos e dolosos.
penal. “Crimes da mesma espécie não são os descritos na
Deste modo, o concurso de crimes surgiu com o intuito mesma disposição de lei, mas os que têm unidade de regra
de amenizar o rigor do sistema de cumulação de penas. preceptiva, isto é, os que atacam ou expõem a perigo de
Nesse contexto surgiu a figura do crime continuado, sendo dano o mesmo interesse jurídico” (RT, 494:363).
considerado como uma atenuante do concurso material, 2º) Pluralidade de condutas – O crime continuado exi-
portanto, uma ficção. ge “mais de uma ação ou omissão”.
O Crime continuado é uma ficção jurídica concebida 3º) Interligação das condutas por circunstâncias de
em razão de política criminal, que considera que os crimes tempo, lugar e modo de execução e outras semelhantes
subsequentes devem ser tidos como continuação do pri- – O conjunto dessas circunstâncias exteriores comuns, que
meiro, estabelecendo, em outros termos, um tratamento são aparentes, perceptíveis, objetivas, é que configura a
unitário a uma pluralidade de atos delitivos, determinando continuidade criminosa. Isoladamente, nenhuma circuns-
uma forma especial de puni-los. tância é decisiva.
O autor Válter Kenji Ishida descreve que ocorre o crime É importante conceituar e definir de maneira clara o
continuado quando o agente, mediante mais de uma ação concurso material e o crime continuado, afinal é de grande
ou omissão, pratica dois ou mais crimes da mesma espécie relevância para a melhor aplicação ao caso concreto, pois
e pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e influenciará na pena a ser cumprida pelo sujeito ativo.
outras semelhanças, devem os subsequentes ser havidos É conexo citar o comentário de Fernando Capez:
como continuação do primeiro. Exemplo de crime conti- já o crime continuado do art. 71 do CP é aquele no qual
nuado é a prática de vários furtos em um condomínio de o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica
luxo. Outro exemplo da continuação delitiva é o caso ocor- dois ou mais crimes da mesma espécie, os quais, pelas se-
rido da 23ª Vara Criminal da Capital de São Paulo: o réu é melhantes condições de tempo, lugar, modo de execução e
processado porque subtraiu em uma academia um veículo outras, podem ser tidos uns como continuação dos outros.
Tempra, depois de ter se passado por cliente em potencial Lembra Bettiol que suas origens políticas se encontram in-
para a recepcionista, minutos após, tentar subtrair outro dubitavelmente em favor rei, o que levou os juristas me-
veículo com o mesmo modus operandi em outra academia. dievais a considerar como furto único uma pluralidade de
Tempo: hora dos crimes próxima: às 20h30 min, 20h40min; furtos, para assim evitar as conseqüências draconianas que
lugar: academia; maneira: mesmo modo de agir: simula ser de outra forma adviriam, uma vez que se aplicava a pena
cliente e subtrai primeiro a chave e depois o veículo. de morte contra quem cometesse três furtos, ainda que de
Ainda de acordo com o referido autor do parágrafo an- pequeno valor.
terior existem duas teorias a respeito do crime continuado: Cabe destacar a distinção entre os dois tipos penais
Teoria da ficção jurídica: embora na prática existam vá- que a ilustre autora Patrícia Béze de maneira objetiva e
rios crimes, por ficção, considera-se como se existisse ape- pontual faz: quanto aos requisitos, assemelha-se o crime
nas um. Trata-se de um tratamento especial a uma espécie continuado ao concurso material, porque as condutas que
de concurso material. São partidários dessa teoria, Heleno compõe o crime continuado são ações ou omissões que,
Fragoso, Manoel Pedro Pimentel e Manzini (Guilherme de vistas isoladamente e objetivamente, são crimes perfeitos,
Souza Nucci, Manual de direito penal, p. 415); como no concurso material. A diferença existente encon-
Teoria da realidade: o crime continuado existe porque tra-se no fato de que, nesse tipo de concurso, os elementos
a ação pode se compor de vários atos. O CP adotou a pri- que compõem apresentam uma relação de continuidade
meira teoria (art. 71, caput). que não existe no concurso material.
Diversificam-se os elementos que integram o crime Por conseguinte, a consequência do concurso material
continuado e duas teorias a respeito do tema: a teoria ob- é a aplicação cumulativa das penas privativas de liberdade
jetivo-subjetiva, em que exige, além de elementos obje- em que haja incorrido e do crime continuado a aplicação
tivos, elemento de ordem subjetiva: unidade de dolo, ou da pena de um só dos crimes, se as práticas forem idênti-
seja, intenção de chegar a tal fim pretendido; e a teoria pu- cas, a pena será aumentada de um sexto a dois terços, apli-
ramente objetiva, em que se dispensa o elemento de cará- cação mais grave das penas. Se diversas, será aumentada
ter subjetivo e exige tão-somente as condutas continuadas. de um sexto a dois terço, já nos crimes dolosos, contra víti-
De acordo com as teorias puramente objetivas, ado- mas diferentes, cometidos com violência ou grave ameaça
tadas pelo Código Penal Brasileiro, Paulo José da Costa à pessoa, haverá aplicação da pena de um só dos crimes, se
Junior diz que o crime continuado é integrado pelos se- idênticas será aumentada até o triplo.
guintes elementos: No tocante a diferença entre a Lei anterior (Decreto
1º) Crimes da mesma espécie – Deverão ser entendi- -Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal)
dos não só aqueles previstos no mesmo dispositivo, como e a Lei nova (Lei nº 12.015, de 7 de agosto de 2009) cabe
o conjunto de preceitos concernentes à lesão do mesmo evidenciar que as modificações resolvem, de uma vez por
bem jurídico. Haverá crimes da mesma espécie na forma todas, temas que geravam controvérsia. As mais relevan-

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tes modificações são: a alteração do tipo penal estupro, real disposto no artigo 69 do Codigo Penal; isto é, o autor
inovando com a possibilidade de o homem figurar como do fato ficava sujeito a uma pena mínima de 12 anos, resul-
sujeito passivo, e abrangendo, na mesma figura, a conduta tado da soma dos pisos das sanções dos artigos 213 e 214,
antes definida como crime de atendado violento ao pudor; na redação anterior. Nesse ponto a alteração é benéfica
a revogação da presunção de violência e, em contraparti- e deverá retroagir, atingindo todos os fatos anteriores à
da, o surgimento de tipos penais autônomos para vítimas vigência da Lei, até mesmo aqueles já alcançados por de-
agora tidas como vulneráveis; a mudança condicionada, e cisão transitada em julgado (CF, art. 5.º, XL e CP, art. 2.º).
o segredo de justiça para todos os crimes contra a digni- Para Vicente Greco Filho, todavia, há concurso de infra-
dade sexual. ções. Argumenta o autor que:
Interessante modificação envolve a definição legal do [...] (o) tipo do art. 213 é daqueles em que a alternati-
crime de estupro, que se mantém no art. 213 do Estatuto vidade ou cumulatividade são igualmente possíveis e que
Penal, conserva a mesma rubrica, mas sofre importantes precisam ser analisadas à luz dos princípios da especialida-
alterações. A infração passa a abranger, em uma mesma de, subsidiariedade e da consunção, incluindo-se neste o
figura, não só a conduta de constranger alguém e princi- da progressão. Vemos, nas diversas violações do tipo, um
palmente de não mais somente a mulher à conjunção car- delito único se uma conduta absorve a outra ou se é fase
nal, mediante violência ou grave ameaça, como também de execução da seguinte, igualmente violada. Se não for
aquela conduta antes inscrita no tipo descrito no revogado possível ver nas ações ou atos sucessivos ou simultâneos
art. 214, que se refere ao atentado violento ao pudor. Tor- nexo causal, teremos, então delitos autônomos.
nou-se solucionável, e típica, aquela academia e hipotética Já na concepção de Damásio de Jesus, admite-se a
situação em que um homem, mediante violência ou grave continuação quando se trata do mesmo sujeito passivo.
ameaça, fosse constrangido à conjunção carnal. Inexistia Tratando-se vítimas diversas e distintas e lesando o estu-
tipo penal adequado a tal conduta, pois inaplicável o anti- pro interesses jurídicos pessoais, é da opinião de que não
go art. 214, já que não se tratava de ato diverso da conjun- se poderá aceitar a figura do crime continuado. Com a re-
ção carnal e, sim, da própria conjunção carnal; e era igual- forma penal de 1984, contudo, não há mais essa questão,
mente aplicável a anterior figura do estupro, que exigia que uma vez que o artigo 71, parágrafo único, do Código Penal
o constrangimento fosse contra a mulher. expressamente admite a continuação na hipótese em que
os delitos componentes do nexo de continuidade atingem
Discussão bens pessoais. Como exemplo da primeira hipótese, supo-
A fusão dos artigos 213 e 214 têm provocado polêmi- nhamos que determinado indivíduo, ameaçando uma se-
ca doutrinária a respeito da existência de crime único ou nhora casada de lhe causar mal grave, a constranja à con-
concurso de crimes quando o sujeito, no mesmo contexto junção carnal. Depois disso, ainda sob ameaça, a obrigue a
fático, constranger a vítima a realizar com ele a conjunção numerosos outros encontros, possuindo-a diversas vezes.
carnal e outro ato libidinoso, dela desvinculado (como o Nesse caso, estaremos diante do estupro continuado.
coito anal). Ainda nesse lamiré, cita-se Rogério Greco:
Antes do advento da Lei n.º 12.015, de 2009, não ha- Anteriormente à edição da Lei n.º 12.015, de 7 de agos-
via dúvida alguma de que o crime de estupro podia ser to de 2009, que revogou o delito de atentado violento ao
praticado em concurso com o revogado atentado violen- pudor, tipificado no art. 214 do Código Penal, quando o
to ao pudor, desde que os atos libidinosos praticados não agente, que tinha por finalidade levar a efeito a conjunção
fossem daqueles que precediam ao coito normal. Assim, o carnal com a vítima, viesse, também, a praticar outros atos
coito anal, praticado com a mesma vítima, antes ou depois libidinosos, a exemplo do sexo anal e felação, deveria res-
da cópula normal, constituía-se em crime autônomo, em ponder por ambas as infrações penais, aplicando-se a regra
concurso com o estupro, não podendo ser absolvido por do concurso de crimes.
este. A lei vigente, contudo, não ampara semelhante inter- Hoje, após a referida modificação, nessa hipótese, a
pretação, visto que a conjunção carnal forçada e os demais lei veio beneficiar o agente, razão pela qual se, durante a
atos libidinosos realizados sem o consentimento, em razão prática violenta do ato sexual, o agente, além da penetra-
do emprego de violência ou grave ameaça, passaram a in- ção vaginal, vier a também fazer sexo anal com a vítima, os
tegrar a mesma figura típica (art. 213). fatos deverão ser entendidos como crime único, haja vista
Para André Estefam: que os comportamentos se encontram previstos na mes-
a mais marcante dentre as consequências resultantes ma figura típica, devendo ser entendida a infração penal
da fusão dos arts. 213 e 214 reside em que o ato de cons- como de ação múltipla (tipo misto alternativo), aplicando-
tranger mulher, mediante violência ou grave ameaça, no se somente a pena cominada no art. 213 do Código Penal,
mesmo contexto fático, a se submeter à conjunção carnal e por uma única vez, afastando, dessa forma, o concurso de
a outro ato libidinoso (a esta não vinculado, como o coito crimes.
anal ou oral), deixou de gerar concurso (material) de cri- Em sentido contrário, posicionando-se favoravelmen-
mes, tornando-se crime único. te ao reconhecimento do tipo misto cumulativo, e, conse-
É relevante anotar que predominava o entendimento quentemente, à possibilidade de se reconhecer o concurso
no sentido de que, por se tratarem de delitos de espécies de crimes caso o agente venha a ter conjunção carnal com
distintas, haveria obrigatoriamente concurso material ou a vítima, bem como a praticar outro ato libidinoso, Abrão

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Amisy Neto assevera que: “a alteração legislativa buscou Capez explica que quando os atos praticados são feitos
reforçar a proteção do bem jurídico e não enfraquece-lo; como um meio necessário para o fim desejado, ou seja,
caso o legislador pretendesse criar um tipo de ação única os atos libidinosos diverso da conjunção carnal ocorreram
ou misto alternativo não distinguiria ‘conjunção carnal’ de como preparação para o estupro, o menos grave é absorvi-
‘outros atos libidinoso’, pois é notório que a primeira se do, isso com base no princípio da absorção.
insere no conceito do segundo, mais abrangente. Portanto, Outra hipótese considerada é quando o agente pratica
bastaria que tivesse redigido o tipo penal da seguinte ma- o ato libidinoso independente da conjunção carnal. Age
neira: ‘ Art. 213. Constranger alguém, mediante violência com intuito de satisfazer a sua lascívia novamente. Nor-
ou grave ameaça, a praticar ou permitir que com ele se pra- malmente acontece quando o sujeito teve com a vítima a
tique ato libidinoso’. Visível, portanto, que o legislador, ao conjunção carnal e depois a submete ao coito anal ou oral,
continuar distinguindo a conjunção carnal dos ‘outros atos por exemplo. Desse modo, verifica-se a independência en-
libidinoso’, não pretendeu impor única sanção em caso de tre ambos os crimes.
condutas distindas” [...] No escólio de Heleno fragoso, o estupro concorre com
Assim, concluindo, embora o art. 213 do Código Penal o atentado violento ao pudor caso haja a prática do ato
preveja um tipo misto alternativo, tal fato não impede de libidinoso fora da praeludia coiti, ou seja autônomo, ha-
se visualizar, no caso concreto, a hipótese de crime conti- vendo concurso material entre os delitos.
nuado. Na interpretação de Damásio de Jesus:
Uma corrente seguida por Damásio de Jesus e Rogé- o crime de estupro pode ser praticado em concurso
rio Grecco, por exemplo, entende que crimes de estupro com o atentado violento ao pudor, desde que os atos libi-
e atentado violento ao pudor poderão ser considerados dinosos praticados não sejam daqueles que precedem ao
crimes continuados. Já outra corrente representada por coito normal. Assim, o coito anal, praticado com a mesma
Vicente Greco Filho aduz que não há de se falar em crime vítima, antes ou depois da cópula normal, se constitui em
único em relação aos crimes de estupro e atentado violen- crime autônomo, em concurso com o estupro, não poden-
to ao pudor, tendo em vista que são diversas as condutas do ser absorvido por este.
delitivas. Por isso, deverão ser classificados como sendo de Cabe ressaltar, o entendimento no voto do Ministro da
concurso material. Portanto, não é porque os tipos agora quinta turma do Superior Tribunal de Justiça Felix Fischer,
estão fundidos formalmente em um único artigo que a si- que, em julgado de Habeas Corpus, em junho de 2010,
tuação mudou, já que o estupro, mediante conjunção car- fez a seguinte reflexão: “A primeira investigação que deve
nal absorve o ato libidinoso em progressão àquela e não o
ser procedida, refere-se à natureza do novel tipo legal.
ato libidinoso autônomo e independente dela.
Abrem-se dois caminhos: seria ele um tipo misto alterna-
Os autores que defendem a corrente de crime cumu-
tivo, ou seria um tipo misto cumulativo (ou acumulado)”.
lado também se fundamentam, ainda, na gravidade da
O Ministro acredita ser oportuno definir preliminar-
conduta, bem como na proporcionalidade da pena e na
mente os tipos mistos em questão para melhor análise,
dignidade da pessoa humana, num olhar voltado única e
faz-se oportuno transcrever, quanto ao tema, a lição de
exclusivamente para a vítima. Levam em consideração, ain-
Heleno Cláudio Fragoso:
da, que os agentes do referido tipo penal “têm a tendên-
Os tipos mistos alternativos são muito numerosos.
cia a reincidir” e, diante disto, devem ter uma sanção mais
pesada. Correspondem a casos em que o legislador incrimina da
Os doutrinadores, como Luis Regis Prado, Guilherme mesma forma, alternativamente, hipóteses diversas do
de Souza Nucci e Nelson Hungria, são adeptos da teoria mesmo fato, todas atingindo o mesmo bem ou interesse,
da absorção, ou seja, se o ato libidinoso diverso da con- a todas atribuindo o mesmo desvalor. A alternativa pode
junção carnal for praticado como prelúdio do coito existe dar-se em relação à conduta (ex. art. 211: “destruir, sub-
a absorção de um crime pelo outro. No entanto, caso seja trair ou ocultar”); em relação ao modo de execução (ex. art.
praticado de forma autônoma, independente da conjunção 121, § 2°, nº IV: “à traição, de emboscada, ou mediante dis-
carnal ocorre, assim, o concurso material. simulação ou outro recurso que dificulte ou tome impos-
Não obstante, atualmente, cabe ressalvar que para al- sível a defesa da vítima”); em relação ao objeto material
guns autores não há que se falar em espécies diferentes (ex. art. 234: “escrito, desenho, pintura, estampa ou qual-
para o caso em questão, visto que apesar da interpreta- quer objeto obsceno”); em relação aos meios de execução
ção dada (tipo misto alternativo ou cumulativo), as figuras (ex. art. 136: “quer privando-a de alimentação, ou cuida-
apresentadas no dispositivo giram em torno de um único dos indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessi-
verbo, “constranger”, caracterizando-as como crimes de vo ou inadequado, quer abusando de meios de correção
uma mesma espécie, ainda que autônomos. ou disciplina”); em relação ao resultado material da ação
Fernando Capez defende que o agente pode vir a pra- (ex. 129, § 2°, nº III: “perda ou inutilização”); em relação à
ticar ato libidinoso antes de praticar o estupro. Em seu en- circunstância de tempo (ex. art. 123: “durante o parto ou
tendimento pode ocorrer duas hipóteses, a primeira é que logo após”); em relação a circunstâncias de lugar (ex. art.
o sujeito pode praticar o ato libidinoso através de “carícias 233: “lugar público, ou aberto ou exposto ao público”); em
preliminares” em que estejam no contexto do estupro, ou relação à condição do agente (ex. art. 177, § 1º, nº I: “o
seja, seria um ato preparatório para a conjunção carnal, diretor, o gerente ou o fiscal”); em relação à condição do
sendo, então, o ato libidinoso absorvido por esse delito. sujeito passivo (ex. art. 175: “adquirente ou consumidor”);

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em relação a quaisquer outras circunstâncias do fato (ex. crição típica. Desse modo, constranger alguém à conjun-
art. 168: “posse ou detenção”; art. 160:” contra a vítima ou ção carnal não será o mesmo que constranger à pratica de
contra terceiros” etc.). Apresenta o tipo misto alternativo, outro ato libidinoso de penetração, sexo oral ou anal, por
realmente, um conteúdo variável, porque descreve não exemplo. Destarte, entende-se que não se revela admis-
uma, mas várias hipóteses de realização do mesmo fato sível reconhecer a fungibilidade, que é característica dos
delituoso. O característico destes tipos é que as várias mo- tipos mistos alternativos, entre as diferentes formas de pe-
dalidades são fungíveis, e a realização de mais de uma não netração. Isso poderá ocorrer com o reconhecimento da
altera a unidade do delito. Isto não ocorre com os chama- fungibilidade entre os demais atos libidinosos que não de
dos tipos cumulativos. Esta designação é evidentemente penetração, a depender das peculiaridades do caso con-
imprópria: não há tipos cumulativos. Há disposições legais creto.
que contêm, independentemente, mais de uma figura típi- Em suma, para o Ministro Felix Fischer a realização de
ca de delito, ou seja, nas quais há tipos acumulados. Nestes diversos atos de penetração distintos da conjunção carnal
casos, haverá sempre concurso, em caso de realização de implica o reconhecimento de diversas condutas delitivas,
mais de um tipo. São exemplos de leis mistas cumulativas não havendo que se falar na existência de crime único, haja
os arts. 135, 180, 208, 242, 244, 21-8, 326. vista que cada ato - seja conjunção carnal ou outra forma
(grifos aditados). de penetração - esgota, de per se, a forma mais reprovável
Destaca-se, por oportuno, a diferenciação feita por Ja- da incriminação.
mes Tubenchlak acerca dos tipos cumulativos e acumulados: Diante de tal exposição do entendimento do nobre jul-
No tipo misto alternativo, o agente responderá por um gador Ministro Felix Fischer, cabe transcrever a ementa do
só crime tanto se perfizer uma conduta dentre as enuncia- voto-vencedor proferido pelo mesmo no Habeas Corpus
das alternativamente quanto na hipótese de vulnerar mais nº 87.960 – SP, de relatoria do também Ministro da quinta
de um núcleo. Exemplos: os tipos dos arts. 122 CP (“indu- turma do Superior Tribunal de Justiça Arnaldo Esteves Lima,
zir”, “instigar” ou “auxiliar”), 150 CP (“entrar” ou “permane- que trata de habeas corpus impetrado em favor de Edmil-
cer”), 160 CP (“exigir” ou “receber”), 161 CP (“suprimir” ou son Ribeiro Nogueira, condenado à pena total de 20 anos
“deslocar”), 163 e 165 CP (“destruir”, “inutilizar” ou “dete- de reclusão e pagamento de 12 dias-multa pela prática dos
riorar”) e ainda o tipo do art. 12 da Lei n.º 6.368/76 (“impor- crimes dos arts. 157, caput, 213, caput, e 214, todos na for-
tar”, “exportar”, “remeter”, “preparar”, “produzir”, “fabricar”,
ma do art. 69 do CP:
“adquirir”, “vender”, “trazer consigo” etc.). Com relação ao
PENAL. HABEAS CORPUS. ESTUPRO E ATENTADO VIO-
tipo do delito de receptação dolosa (art. 180, caput CP),
LENTO AO PUDOR. LEI Nº 12.015/2009. ARTS. 213 E 217-A
trata-se também de tipo misto alternativo; o agente que
DO CP. TIPO MISTO ACUMULADO. CONJUNÇÃO CARNAL.
receber ou adquirir, em proveito próprio ou alheio, obje-
DEMAIS ATOS DE PENETRAÇÃO. DISTINÇÃO. CRIMES AU-
to que sabe ser produto de crime e depois ocultá-lo, terá
TÔNOMOS. SITUAÇÃO DIVERSA DOS ATOS DENOMINA-
cometido, apenas, um delito de receptação (cf., em contrá-
DOS DE PRAELUDIA COITI. CRIME CONTINUADO. RECO-
rio, Heleno Cláudio Fragoso, ob. cit., págs. 173/174, onde o
NHECIMENTO. IMPOSSIBILIDADE.
autor sustenta, outrossim, entendimento diverso sobre os
tipos mistos). No tipo misto cumulativo , onde igualmente I - A reforma introduzida pela Lei nº 12.015/2009 unifi-
existe mais de um núcleo, torna-se obrigatória a multipli- cou, em um só tipo penal, as figuras delitivas antes previs-
cidade de condutas por parte do agente para que o delito tas nos tipos autônomos de estupro e atentado violento ao
se tenha por consumado. Exemplos: art. 242 CP (“ocultar pudor. Contudo, o novel tipo de injusto é misto acumulado
suprimindo ou alterando”) e art. 243 CP (“deixar ocultan- e não misto alternativo.
do-lhe ou atribuindo-lhe”). Assim, na hipótese referida de II - Desse modo, a realização de diversos atos de pe-
supressão ou alteração de direito inerente ao estado civil netração distintos da conjunção carnal implica o reconhe-
de recém-nascidos, o crime permanecerá em fase de ten- cimento de diversas condutas delitivas, não havendo que
tativa, se o agente, depois de ocultar o neonato, não lograr se falar na existência de crime único, haja vista que cada
a alteração ou supressão de direito inerente ao estado civil. ato - seja conjunção carnal ou outra forma de penetração -
Em alguns dispositivos legais, constata-se um agrupa- esgota, de per se, a forma mais reprovável da incriminação.
mento de tipos que, à primeira vista, se supõe tratar-se de III - Sem embargo, remanesce o entendimento de que
um tipo misto cumulativo, quando, na verdade, não pas- os atos classificados como praeludia coiti são absorvidos
sam de “tipos acumulados” (Heleno Cláudio Fragoso, ob. pelas condutas mais graves alcançadas no tipo.
cit., pág. 174). Exemplos: arts. 135, 171, § 2.º, 175, 177, § 1.º, IV - Em razão da impossibilidade de homogeneidade
187, 208 e 248 CP; art. 4.° da Lei n.º 4.898/65, que revogou na forma de execução entre a prática de conjunção carnal
parcialmente o art. 350 CP. Aqui, obviamente, haverá so- e atos diversos de penetração, não há como reconhecer a
matório de penas se mais de uma conduta for praticada” continuidade delitiva entre referidas figuras.
(in “Teoria do Crime – O estudo do crime através de duas Ordem denegada.
divisões” Editora Forense, Rio de Janeiro, 1978, p. 34/35). Confira-se a Ementa do voto vencido do Ministro re-
A hipótese em exame caracteriza um tipo misto cumu- lator Arnaldo Esteves Limado, no intuito de uma breve
lativo, na classificação cunhada por James Tubenchlak, tipo comparação, tendo em vista que o caso em questão é
acumulado, no que se refere aos atos de penetração. Ou completamente apropriado para esclarecer e demostrar os
seja, dois tipos legais estão contidos em uma única des- fundamentos e divergências a respeito da polêmica ainda

22
MEDICINA LEGAL

presente mesmo após a entrada em vigor da Lei 12.015/09 Portanto, os argumentos utilizados para considerar a
em torno da classificação em concurso material ou crime pluralidade de condutas referente aos crimes contra a li-
continuado referente à pluralidade de condutas diante de berdade sexual como sendo crime continuado estão em
crimes onde há presença da conjunção carnal e atentado torno da reforma trazida que vinculou num só tipo penal
violento ao pudor: as condutas antes tipificadas nos artigos 213 e 214 do CP,
PENAL. HABEAS CORPUS ROUBO, ESTUPRO E ATEN- absolvendo o crime de atentado violento ao pudor pelo
TADO VIOLENTO AO PUDOR EM CONCURSO MATERIAL. de estupro, oque segundo alguns autores e julgadores es-
PRETENSÃO DE RECONHECIMENTO DA CONTINUIDADE tabelece uma nova sistemática que tende à reconhecer a
DELITIVA EM RELAÇÃO AOS CRIMES DOS ARTS. 213 E 214 prática do crime único.
DO CP. LEI 12.015/09. CRIME ÚNICO. CONDUTAS PRATI- Compete destacar que esse é, também, o entendimen-
CADAS NO MESMO CONTEXTO FÁTICO. ORDEM CONCE- to do relator Cezar Peluso, do Supremo Tribunal Federal,
DIDA. que, em julgado de Habeas Corpus, em março de 2010, fez
1. A reforma trazida pela Lei 12.015/09 condensou a seguinte reflexão:
num só tipo penal as condutas anteriormente tipificadas Entendo, contudo, que o debate adquiriu nova rele-
nos arts. 213 e 214 do CP, constituindo, hoje, um só crime vância com o advento da lei nº 12.015/2009, que, entre ou-
o constrangimento, mediante violência ou grave ameaça, tras alterações no Título VI do Código Penal, lhe unificou as
a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com redações dos antigos arts. 213 e 214 em um tipo penal úni-
ele se pratique outro ato libidinoso. co [...]. Conquanto mantenha o nomen juris, a redação do
2. Na sistemática anterior, a doutrina e a jurisprudên- novo tipo penal “descreve e estabelece uma única ação ou
cia divergiam acerca da possibilidade de se reconhecer a conduta do sujeito ativo, ainda que mediante uma plurali-
continuidade delitiva entre os crimes de estupro e atenta- dade de movimentos. Há somente a conduta do agente de
do violento ao pudor. constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça”
3. A Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na (PELUZO, Vinícius de Toledo Piza. O crime de estupro e a Lei
esteira do tradicional entendimento do Supremo Tribunal nº 12.015/09: um debate desenfocado. Boletim IBCCRIM,
Federal, negava a aplicação da ficção jurídica em favor de ano 17, n.203. São Paulo: IBCCRIM, out/2009, PP. 02-03, gri-
fos no original.)
agentes condenados pelos crimes dos arts. 213 e 214 do
[...] Como se vê, a alteração legislativa repercute decisi-
CP, tendo em vista que os referidos delitos não eram da
vamente no debate. Ora, se o impedimento para reconhe-
mesma espécie, possuindo elementos subjetivos e obje-
cer a continuidade delitiva entre o estupro e o atentado
tivos nitidamente distintos. Nesse sentido: HC 63.601/SP;
violento ao pudor residia tão somente no fato de não se-
HC 128.989/SP; REsp 1.080.909/RS.
rem crimes da mesma espécie, entendidos, pela ilustrada
4. A reforma procedida permitiu reconhecer-se a con-
maioria, como fatos descritos pelo mesmo tipo penal, tal
tinuidade delitiva em favor de agente condenado, na vi-
óbice foi removido pela edição da nova lei.
gência da lei anterior, aos crimes de estupro e atentado
Pode-se extrair, daí, que o novo tipo penal vai além
violento ao pudor, desde que atendidos os requisitos do da mera junção dos tipos anteriores, na medida em que
art. 71 do CP, em observância ao princípio da retroativida- integra todas as espécies de atos libidinosos praticados
de da lei mais benéfica. num mesmo contexto fático, sob mesmas circunstâncias e
5. O caso concreto não se cinge ao reconhecimento da contra a mesma vítima. Isso significa que a nova lei torna
continuidade delitiva, uma vez que a incidência do art. 71 possível o reconhecimento da continuidade delitiva entre
do CP ocorre nas hipóteses em que os diversos crimes pra- os antigos delitos de estupro e atentado violento ao pudor,
ticados o são em circunstâncias distintas, mas que pelas quando praticados nas mesmas circunstâncias, sem prejuí-
“condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras zo do entendimento da Corte de reduzir conceitualmente
semelhantes, devem os subseqüentes ser havidos como a figura à identidade de espécies dos crimes. [grifou-se]
continuação do primeiro”. Na hipótese vertente, as condu- Assim sendo, diante das referências de diversos auto-
tas foram praticadas no mesmo contexto fático. res, é evidente a divergência de entendimento no que tan-
6. “Se o ato libidinoso diverso da conjunção carnal ge o concurso de crimes entre estupro e atentado violento
não configura elemento constitutivo, conduta inicial ou ao pudor. Existem posições favoráveis no sentido de que
meio para a realização do crime de estupro, deve o agente seja concurso material, sendo majoritária atualmente, e en-
responder por este e pelo crime de atentado violento ao tendimentos favoráveis ao crime continuado.
pudor. Nesse caso, por se tratar de crimes de espécies di- Porém, como visto no voto do Ministro Felix Fischer,
ferentes, aplica-se a regra do concurso material (art. 69 do ainda há a possibilidade de reconhecer como sendo con-
CP), ainda que cometidos contra a mesma vítima. Prece- curso material os atos de estupro e atentado violento ao
dentes deste Tribunal e do STF” (EREsp 453.884/DF). pudor pelo fato de agora estarem reunidos em um único
7. O Juízo sentenciante, ao entender pela absorção do tipo e serem tidos como atos de mesma espécie:
crime de atentado violento ao pudor pelo de estupro, jul- Reunidas as condutas em um único tipo, argumenta-
gou no sentido da atual sistemática, restando reconhecida se que agora por serem referidos atos da mesma espécie
a prática de crime único. (além, é claro, de serem do mesmo gênero) não haveria
8. Ordem concedida para restabelecer a sentença con- óbice ao reconhecimento da aludida ficção jurídica. Neste
denatória nos termos em que proferida. sentido o voto do eminente Relator.

23
MEDICINA LEGAL

Não obstante, não creio ser essa a solução a ser dada Assim, é importante fazer com que o Direito Penal seja
à controvérsia. Conforme a nova redação do tipo (art. 213 utilizado para punir corretamente os indivíduos que privam
ou 217-A), o agente poderá praticar a conjunção carnal ou o direito do outro à liberdade de seu corpo e de praticar
outros atos libidinosos. Assim, se praticar, por mais de uma ato sexual com quem lhe convir, tendo em vista que é al-
vez, cópula vaginal, a depender do preenchimento dos re- tamente reprovável a violência contra quem quer que seja
quisitos do art. 71 ou art. 71, parágrafo único, do Código para satisfação da lascívia sem que haja o dissenso da outra
Penal, poderá, eventualmente, configurar-se a continuida- parte. Com isso é importante aplicar o concurso correto.
de delitiva. Ou então, se constranger a vítima a mais de Analisar o caso concreto em questão para, assim, se chegar
uma penetração (sexo anal, por exemplo por duas vezes) a uma conclusão palpável.
de igual modo, nos mesmos termos, poderá ser beneficia- Por isso, a corrente que defende pela classificação da
do com a pena do crime continuado. pluralidade de condutas no crime de estupro quando há a
Contudo, se praticada, v.g., uma penetração vaginal e conjunção carnal e outro ato libidinoso diverso como sen-
outra anal, neste caso, jamais será possível a caracterização do concurso material é a que mais fortalece a proteção de
da continuidade, assim como já sucedia com o regramento um bem jurídico tão importante que é a liberdade sexual,
anterior. É que a execução de uma forma nunca será similar pois o delito em questão trata-se de crime hediondo, que
a da outro. normalmente deixa uma marca permanente em suas víti-
São condutas distintas por natureza. mas, fazendo jus a devida cautela e repressão do estado.
A teor do art. 71 do Código Penal, a continuidade Há o intuito de se verificar qual o concurso cabível está
delitiva somente estaria configurada se iguais fossem as no cômputo da pena. O concurso material é tido como mais
“condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras grave, em que se somam as penas de cada delito praticado
semelhantes “, o que, a toda evidência, não será possível para então chegar à pena final que deverá ser cumprida
no caso de conjunção carnal e outro ato de penetração, pelo agente. No crime continuado aplica-se a pena de um
pois entre eles não se identificará a maneira de execução e só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas,
outras semelhantes. aumentada, em qualquer caso, de um a dois terços.
Assim, em razão da impossibilidade de homogeneida- De qualquer maneira, cabe aos nobres julgadores en-
de na forma de execução entre a prática de conjunção car- contrarem uma maneira mais apropriada de julgarem a
nal e atos diversos de penetração, não há como reconhecer questão ou que o legislador adeque melhor a Lei que prevê
a continuidade delitiva entre referidas figuras. o crime de estupro e outras condutas nele inseridas para
Ressalve-se, desde já, as hipóteses de praeludia coiti, que minimize ou suprima tal conflito, pois é fato que ainda
em que atos antes configuradores de atentado violento ao
há uma polêmica em torno do tema e isso de certa forma
pudor, hoje tipificados como estupro, podem ser absorvi-
trás a certa insegurança jurídica diante do tema.
dos pela conduta final pretendida pelo agente. O que, aliás,
Nesse entendimento cabe transcrever o voto do De-
é há muito entendimento pacífico desta Corte.
sembargador Roberval Casemiro Belinati da segunda
Como bem pondera Vicente Greco Filho:
turma criminal do Tribunal de Justiça do Distrito Federal
“Vemos, nas diversas violações do tipo, um delito único
e dos Territórios referente nos autos da ação penal nº
se uma conduta absorve a outra ou se é fase de execução
2004011061644-6:
da seguinte, igualmente violada. Se não for possível ver nas
A questão objeto da divergência no presente julga-
ações ou atos sucessivos ou simultâneos nexo causal, tere-
mos, então, delitos autônomos.” (in artigo intitulado “Uma mento refere-se à pena-base do novo crime de estupro. [...]
interpretação de duvidosa dignidade (sobre a nova lei dos Com efeito, como ressaltado, o crime de estupro, pela
crimes contra a dignidade sexual)” Revista do TRF da 1ª nova redação do artigo 213 do Código Penal, passa a se
Região, Novembro de 2009). configurar como crime de ação múltipla, de modo que
Arremata o autor, com precisão, exemplificando: existem várias formas de violar o tipo penal.
“Se, durante o cativeiro, houve mais de uma vez a con- Verifica-se que, agora, ainda que o agente pratique vá-
junção carnal pode estar caracterizado o crime continuado rios atos libidinosos, haverá cometido apenas um crime de
entre essas condutas, se, além da conjunção carnal, houve estupro. Não se pode olvidar, por outro lado, que a con-
outro ato libidinoso, como os citados, coito anal, penetra- duta do réu que pratica diversos atos libidinosos contra
ção de objetos etc., cada um desses caracteriza crime di- a mesma vítima é mais grave que a daquele que pratica
ferente cuja pena será cumulativamente aplicada ao bloco apenas um.
formado pelas conjunções carnais. A situação em face do Em verdade, atendendo-se aos princípios da individua-
atual art. 213 é a mesma do que na vigência dos antigos lização da pena e da igualdade material, deve-se distinguir
213 e 214, ou seja, a cumulação de crimes e penas se afere as duas hipóteses, aplicando aos réus penas distintas. De
da mesma maneira, se entre eles há, ou não, relação de fato, aplicar a mesma pena mínima a réus com condutas
causalidade ou consequencialidade. Não é porque os tipos diversas significa violar o conteúdo jurídico do princípio da
agora estão fundidos formalmente em um único artigo que igualdade. Não é justo ao réu que praticou apenas uma
a situação mudou. O que o estupro mediante conjunção conduta sexual receber a mesma reprimenda que aquele
carnal absorve é o ato libidinoso em progressão àquela e que praticou mais de um ato libidinoso com a mesma víti-
não o ato libidinoso autônomo e independente dela. como ma no mesmo contexto.
no exemplo referido” (op. cit.) (grifos aditados) [...]

24
MEDICINA LEGAL

Em verdade, a sentença condenou o réu pela prática DOSIMETRIA


dos crimes de estupro e de atentado violento ao pudor Assim, em relação ao crime único de estupro, na pri-
em concurso material. Não houve recurso do Ministério meira fase, estabeleço a pena-base em 08 (nove) anos de
Público. É cediço que, em sede recursal, não é possível reclusão (a sentença havia fixado em 07 anos).
agravar a situação do único recorrente. Na segunda fase, mantenho a mesma pena, em face
No caso dos autos, está se aplicando retroativamente da ausência de atenuantes e agravantes.
a lei penal mais benigna – Lei n.º 12.015/2009 -, benefi- Na terceira fase, não há causas de aumento ou de di-
ciando o réu com a exclusão da pena referente ao crime minuição da pena, de modo que fica estabelecida a pena
de atentado violento ao pudor. Não se pode esquecer, em 08 (oito) anos de reclusão, em regime inicial fechado.
contudo, que a conduta praticada pelo réu – sexo oral Diante do exposto, conheço do recurso e, de ofício,
– continua sendo tipificada como crime no nosso ordena- diante da superveniência da Lei n.º 12.015/2009, excluo o
mento jurídico, no artigo 213 do Código Penal. crime de atentado violento ao pudor e a respectiva pena,
Dessa forma, não é possível manter apenas a pena mantendo somente a pena do crime único de estupro,
aplicada originariamente ao estupro, desconsiderando a acrescida de um ano de reclusão, diante da prática de mais
existência de outro ato criminoso. Tal proceder significa- de um ato libidinoso, ficando reduzida a pena de 14 (qua-
ria, no caso concreto, a descriminalização da conduta de torze) para 08 (oito) anos de reclusão, em regime inicial
constranger pessoa, mediante violência ou grave ameaça, fechado.
à prática de ato libidinoso diverso da conjunção carnal, Portanto, oque faz sentido é que independentemente
o que, certamente, não foi a intenção do legislador, so- de considerar a conduta de estupro e atentado violento
bretudo diante da nova redação do artigo 213 do Código ao pudor como sendo concurso material ou crime conti-
Penal. nuado, uma coisa é certa, não devem os magistrados es-
Deve-se, portanto, acrescer à pena-base imposta ao quecerem ou deixarem de considerar os atos libidinosos
crime de estupro a valoração negativa das circunstâncias diversos de conjunção carnal quando existirem em um
judiciais do artigo 59 do Código Penal em razão da prática mesmo caso concreto, tendo em vista que de fato seria
de mais atos libidinosos. uma injustiça para com a vítima, enfraqueceria a proteção
Ressalte-se que não se trata de reformatio in pejus, já que deve existir contra um bem tão relevante e impor-
que a situação do recorrente está sendo melhorada, com tante para que é a liberdade sexual e desrespeitaria por
a aplicação retroativa da Lei n.º 12.015/2009. De fato, a completo o preceito fundamental de princípios da indivi-
pena total – imposta aos crimes de estupro e atentado dualização da pena e da igualdade material, uma vez que
violento ao pudor, em concurso material – está sendo re- aplicar a mesma pena mínima a réus com condutas di-
duzida. versas significa violar o conteúdo jurídico do princípio da
Vale salientar, ademais, que, se se entendesse que a igualdade. Não é justo ao réu que praticou apenas uma
pena individual do crime de estupro, em casos como o conduta sexual receber a mesma reprimenda que aquele
dos autos, não poderia ser majorada para acrescentar a que praticou mais de um ato libidinoso com a mesma víti-
circunstância desfavorável da prática de mais de um ato ma no mesmo contexto.
libidinoso, chegar-se-ia à conclusão de que os réus, nesta Enfim, diante do que foi acompanhado no decorrer do
condição processual, teriam uma situação mais benéfica trabalho fica evidente que o seu foi de analisar de acordo
até mesmo do que aqueles que cometeram crimes na égi- com o previsto atualmente no art. 213 do Código Penal, a
de da própria lei mais benigna. Isto importaria criar uma pluralidade de condutas no crime de estupro e investigar
terceira lei, não idealizada pelo legislador. o concurso existente entre o estupro e o extinto atentado
Com efeito, a pena anterior à Lei n.º 12.015/2009 é violento ao pudor. Como visto no transcorrer da apresen-
a mais grave, pois há concurso material entre os crimes tação, o tema trouxe inúmeras polêmicas que foram devi-
de estupro e atentado violento ao pudor. Na lei nova, a damente analisadas e discutidas de acordo com a jurispru-
conduta é apenada apenas pelo crime único de estupro, dência e doutrina de acordo com o que ocorria anterior-
mas permitindo-se o acréscimo à pena-base, em razão mente e as consequências ao advento da Lei 12.015/09.
da prática de mais de um ato libidinoso. Destarte, não se Primeiramente, a sistemática anterior que possibilita-
pode impor, a pretexto de aplicar retroativamente a Lei va o reconhecimento de ambas as condutas como sen-
n.º 12.015/2009, uma pena total mais branda que aquela do concurso material baseava-se no fato de o estupro e
aplicada aos crimes cometidos em sua vigência.[...] o antigo atentado violento ao pudor não eram da mesma
No caso dos autos, a pena-base para o crime de es- espécie, possuindo elementos subjetivos e objetivos niti-
tupro foi aplicada em 07 (sete) anos, na sentença. Assim, damente distintos.
pelos motivos acima elencados, dita pena deverá ficar em Com entrada em vigor da nova Lei nº 12.015 em 07 de
08 (oito) anos. agosto de 2009, surgiram novas discursões, pois houve a
Dessa forma, de rigor prover parcialmente o recurso, fusão num só tipo penal das condutas anteriores tipificadas
de ofício, para reconhecer a existência de crime único de nos arts. 213 e 214 do CP, constituindo, hoje, um só crime
estupro, aumentando a pena-base para 08 (oito) anos de o constrangimento, mediante violência ou grave ameaça, a
reclusão. ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele
pratique outro ato libidinoso.

25
MEDICINA LEGAL

Há quem interprete o novo dispositivo como de tipo


misto alternativo. Dessa maneira, a execução de qualquer
6 IMPUTABILIDADE PENAL.
dos atos por ele descrito, bem como a forma como forem
praticados, em um mesmo contexto fático, formariam cri-
me único, alterando, totalmente a dinâmica anteriormente
conhecida. A imputabilidade é a possibilidade de atribuir a um
Já a segunda visão sustenta que o tipo se caracterizaria indivíduo a responsabilidade por uma infração. Segundo
como misto cumulativo e, como tal, manteria as condutas prescreve o artigo 26, do Código Penal, podemos, também,
descritas independentes entre si, apesar de contidas dentro definir a imputabilidade como a capacidade do agente en-
do mesmo artigo. Assim, sendo executadas em um mesmo tender o caráter ilícito do fato por ele perpetrado ou, de
contexto, dariam ensejo a um concurso material. determinar-se de acordo com esse entendimento.
A polêmica em torno do tema é o que enseja a produ- È portanto a possibilidade de se estabelecer o nexo en-
ção deste trabalho, pois há uma nítida divergência tanto tre a ação e seu agente, imputando a alguém a realização
para a doutrina quanto para a jurisprudência, que é exa- de um determinado ato.
tamente o ponto do desenvolvimento, esclarecer os dois Quando existe algum agravo à saúde mental, os indi-
pontos de vista e tentar encontrar a interpretação mais víduos podem ser considerados inimputáveis – se não ti-
adequada para ser aplicada. verem discernimento sobre os seus atos ou não possuírem
Cabe salientar, ainda, que este trabalho tem por finali- autocontrole, são isentos de pena.
dade analisar a divergência em torno do tema, porém deixa Os semi-imputáveis são aqueles que, sem ter o discer-
clara a tendência por considerar os referidos delitos contra nimento ou autocontrole abolidos, têm-nos reduzidos ou
a liberdade sexual sendo caracterizados como tipo misto prejudicados por doença ou transtorno mental.
cumulativo, onde existem dois tipos legais contidos em
uma única descrição típica. Dispõe o Código Penal:
O trabalho é elaborado se identifica mais com a cor-
rente que defende pela classificação as referidas condutas (...)
como sendo concurso material, haja vista que a consuma-
ção de diferentes atos de penetração diversos da conjun- TÍTULO III
ção carnal alude o reconhecimento de diversas condutas DA IMPUTABILIDADE PENAL
delitivas, não possibilitando a existência de crime único,
tendo em vista que cada ato, seja conjunção carnal ou ou- Inimputáveis
tra maneira de penetração, exaure, a forma mais reprovável
da acusação. Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença
Em contrapartida, considera-se que independente- mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retar-
mente de classificar a condutada do antigo atentado vio- dado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente
lento ao pudor junto com o estupro como sendo concurso incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de deter-
material ou crime continuado, não podem ser esquecidos minar-se de acordo com esse entendimento.
os atos libidinosos diversos de conjunção carnal e devem Redução de pena
ser considerados para que haja uma punição adequada ao Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um
indivíduo que praticar tais atos, de maneira que ele seja a dois terços, se o agente, em virtude de perturbação de
reprimido por todos os atos que cometeu. saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto
Tendo em vista todo o exposto, portanto, finda-se a ou retardado não era inteiramente capaz de entender o
abordagem levantada afirmando a possibilidade de carac- caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com
terização do instituto do concurso material na pluralidade esse entendimento.
de condutas descritas pelo crime de estupro mesmo com a
entrada em vigor da nova Lei 12.015/09.2 Menores de dezoito anos

Art. 27 - Os menores de 18 (dezoito) anos são penal-


mente inimputáveis, ficando sujeitos às normas estabele-
cidas na legislação especial.

Emoção e paixão

Art. 28 - Não excluem a imputabilidade penal:


I - a emoção ou a paixão;

Embriaguez

2 Fonte: www.conteudojuridico.com.br – Por Álvaro II - a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool


Henrique Milhomem da Silva Santos ou substância de efeitos análogos.

26
MEDICINA LEGAL

§ 1º - É isento de pena o agente que, por embriaguez 03) A estrutura organizacional da medicina legal no
completa, proveniente de caso fortuito ou força maior, era, Brasil teve início em 1856, com a criação da Assessoria
ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de Médico-Legal na Secretaria de Polícia da Corte Imperial,
entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de no segundo período imperial brasileiro. Por ato do então
acordo com esse entendimento. Príncipe Regente, o ainda futuro Imperador dom Pedro II,
§ 2º - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, mediante o Decreto n.º 1.740/1856, foi criado o embrião
se o agente, por embriaguez, proveniente de caso fortui- do que hoje são os institutos de medicina legal. Iniciou-
to ou força maior, não possuía, ao tempo da ação ou da se, dessa forma, um arcabouço organizacional que evoluiu
omissão, a plena capacidade de entender o caráter ilícito espantosamente.
do fato ou de determinar-se de acordo com esse enten-
dimento. Com relação ao tema do texto acima e aos documen-
tos médicolegais, julgue os itens subsequentes.
EXERCÍCIOS Não será considerado suspeito o perito oficial que, an-
tes da designação para a perícia, tiver apenas aconselhado
01) A estrutura organizacional da medicina legal no qualquer das partes.
Brasil teve início em 1856, com a criação da Assessoria C. Certo
Médico-Legal na Secretaria de Polícia da Corte Imperial, E. Errado
no segundo período imperial brasileiro. Por ato do então
Príncipe Regente, o ainda futuro Imperador dom Pedro II, Resposta: Errado
mediante o Decreto n.º 1.740/1856, foi criado o embrião
do que hoje são os institutos de medicina legal. Iniciou- 04) A estrutura organizacional da medicina legal no
se, dessa forma, um arcabouço organizacional que evoluiu Brasil teve início em 1856, com a criação da Assessoria
espantosamente. Médico-Legal na Secretaria de Polícia da Corte Imperial,
Com relação ao tema do texto acima e aos documen- no segundo período imperial brasileiro. Por ato do então
Príncipe Regente, o ainda futuro Imperador dom Pedro II,
tos médicolegais, julgue os itens subsequentes.
mediante o Decreto n.º 1.740/1856, foi criado o embrião
Alguns autores dividem a medicina legal em geral e
do que hoje são os institutos de medicina legal. Iniciou-
especial. Para estes, a medicina legal geral trataria das
se, dessa forma, um arcabouço organizacional que evoluiu
questões voltadas às lesões corporais (traumatologia fo-
espantosamente.
rense), identificação (antropologia forense), sexualidade
Com relação ao tema do texto acima e aos documen-
criminosa (sexologia forense), da morte e do morto (ta-
tos médicolegais, julgue os itens subsequentes.
natologia forense), de aspectos psicossociais criminosos
Atualmente, a perícia médico-legal deve ser realizada
(psicopatologia forense), entre outras subdivisões, e a me-
nos institutos de medicina legal (IMLs). É vedado ao médi-
dicina legal especial estudaria a deontologia e a diciologia co realizar exames médico-periciais de corpo de delito em
médica. seres humanos no interior dos prédios ou dependências de
C. Certo delegacias, unidades militares e presídios.
E. Errado C. Certo
E. Errado
Resposta: Errado
Resposta: Certo
02) A estrutura organizacional da medicina legal no
Brasil teve início em 1856, com a criação da Assessoria 05) A estrutura organizacional da medicina legal no
Médico-Legal na Secretaria de Polícia da Corte Imperial, Brasil teve início em 1856, com a criação da Assessoria
no segundo período imperial brasileiro. Por ato do então Médico-Legal na Secretaria de Polícia da Corte Imperial,
Príncipe Regente, o ainda futuro Imperador dom Pedro II, no segundo período imperial brasileiro. Por ato do então
mediante o Decreto n.º 1.740/1856, foi criado o embrião Príncipe Regente, o ainda futuro Imperador dom Pedro II,
do que hoje são os institutos de medicina legal. Iniciou- mediante o Decreto n.º 1.740/1856, foi criado o embrião
se, dessa forma, um arcabouço organizacional que evoluiu do que hoje são os institutos de medicina legal. Iniciou-
espantosamente. se, dessa forma, um arcabouço organizacional que evoluiu
Com relação ao tema do texto acima e aos documen- espantosamente.
tos médicolegais, julgue os itens subsequentes. Com relação ao tema do texto acima e aos documen-
A designação do perito pelo juízo no âmbito criminal tos médicolegais, julgue os itens subsequentes.
pode ser vetada pelas partes conforme o Código de Pro- A diferença entre laudo e auto deve-se ao fato de que
cesso Penal. o primeiro é redigido e o segundo é ditado ao escrivão.
C. Certo C. Certo
E. Errado E. Errado

Resposta: Errado Resposta: Certo

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