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Simon
videos com
Scott C. Sherman
procedimentos
de emergência
Emergências
ortopédicas
P _ r- I1
6a Ediçao
^
Tradução e revisão técnica desta edição:
Jacques Vissoky
Médico. Perito Médico Judicial. Especialista em Ortopedia e Traumatologia pela
Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre.
Especialista em Medicina do Trabalho pela Associação Médica Brasileira.
Fellow em Ortopedia e Traumatologia pelo Robert Jones and Agnes Hunt Orthopaedic Hospital, Inglaterra.
Pós-graduação em Administração Hospitalar pelo Instituto de Administração Hospitalar e Ciências da Saúde.
&
°DlRETVON
CDU 617.3
Autor Colaborador
Ghazala Q. Sharieff, MD, FACEP, FAAP, FAAEM
Clinical Professor, University of California, San Diego
Division Director
San Diego Rady Children's Hospital Emergency Care Center
Director of Pediatric Emergency Medicine
Palomar-Pomerado Health Systems/California Emergency Physicians
mergiencias
ortopédicas W * „ w ~ I ■
6 a Edição
**
Versão impressa
desta obra: 2013
Original edition copyright © 2011, The McGraw-Hill Companies,Inc., New York, New York 10020.
All rights reserved.
Portuguese language translation copyright © 2013, AMGH Editora Ltda., a division of Grupo A Educação S.A.
All rights reserved.
Editoração: Techbooks
Nota
A medicina é uma ciência em constante evolução. À medida que novas pesquisas e a experiência clínica ampliam o nosso conhe
cimento, são necessárias modificações no tratamento e na farmacoterapia. Os organizadores/coautores desta obra consultaram
as fontes consideradas confiáveis, em um esforço para oferecer informações completas e, geralmente, de acordo com os padrões
aceitos à época da publicação. Entretanto, tendo em vista a possibilidade de falha humana ou de alterações nas ciências médicas,
os leitores devem confirmar estas informações com outras fontes. Por exemplo, e em particular, os leitores são aconselhados a
conferir a bula de qualquer medicamento que pretendam administrar, para se certificar de que a informação contida neste livro
está correta e de que não houve alteração na dose recomendada nem nas contraindicações para o seu uso. Essa recomendação é
particularmente importante em relação a medicamentos novos ou raramente usados.
IMPRESSO NO BRASIL
PRINTED IN BRAZIL
À minha esposa, Marilynn, e aos meus filhos, Adam, Timothy e Jeremy, que deram propósito e
significado à minha vida, e à minha mãe, Fatme, que - embora iletrada - ensinou-me mais do que
qualquer “professor” instruído que já conheci.
— R.R. Simon —
 minha bela esposa, Michelle, p o r seu amor, apoio incondicional e compreensão das demandas
deste projeto. Aos meus pais, Jim e Ruth, por uma vida inteira de amor e apoio. Vocês me ensinaram
o significado do trabalho árduo e da perseverança. Para Mason e Colin, que trouxeram um novo
significado para minha vida.
— S.C. Sherman —
Agradecimentos
Agradeço à Mishelle Taylor, companheira e amiga em Agradeço ao meu professor, Robert Simon, por sua orien
todo o trabalho realizado nos últimos anos, ajudando em tação e confiança ao longo deste projeto. Os esforços ex
cada aspecto da minha vida profissional como uma con traordinários da ilustradora Susan Gilbert mais uma vez
selheira e amiga, auxiliando na criação de tudo que teve falam por si. Sua paciência, compreensão e dedicação a
origem no meu consultório, incluindo este livro. esta edição, como também nas edições anteriores, tem
Também gostaria de agradecer a Adam Simon, que sido inestimável.
pesquisou pacientemente as referências, revisou os erros Também gostaria de agradecer aos muitos residen
gramaticais e ajudou-me a organizar esta edição. tes, colegas e amigos que ajudaram neste livro. Agrade
cimentos especiais a Bob Strugala, Joseph Weber, Scott
Robert R. Simon, MD Welsh, Kanwal Chaudry, Jason Lebwohl, John Lusk,
Michelle Sergel, Babak Saadatmand, Alex DeLaFuente,
Dave Rosenbaum, Jonathan Bankoff, Shayle Miller, Sa-
meer Bakhda, Rob Montana, Kris Norland, Chris Ross,
Trevonne Thompson, John Bailitz, Moses Lee, Anthony
George, Orlando Cruz, Sheena Lee, Ethel Lee e Estella
Bravo. Paul Erickson foi muito importante para identificar
as imagens na nova seção sobre a coluna.
Jeff Schaider tem sido um mentor e apoiador constan
te dos nossos esforços.
Scott C. Sherman, MD
Prefácio
Atualmente, há uma diversidade de livros e publicações tamente para a página em que está descrito tudo o que é
dirigidos ao “médico de emergência”. Este profissional pertinente sobre aquela fratura específica. O corpo do texto
foi rapidamente substituído por um novo médico, que é dividido em quatro partes: Parte I. Princípios e manejo
pratica apenas a medicina de emergência. Nenhum livro ortopédico, Parte II. Coluna vertebral, Parte III. Extremida
de ortopedia atual é dirigido ao emergencista. Conforme des superiores, e Parte IV. Extremidades inferiores.
a medicina de emergência se desenvolve, também deve A Parte I inclui capítulos sobre os princípios gerais,
evoluir uma relação cooperativa entre o cirurgião ortopé incluindo a imobilização na emergência, a seleção do tra
dico e o emergencista, com base no reconhecimento da tamento definitivo e as indicações para o tratamento cirúr
experiência e da capacidade de tomar decisões prudentes gico. Além disso, discorre-se sobre a analgesia, a reuma
e reconhecer as áreas além das limitações de cada um. É tologia, as complicações, as técnicas de imagem especiais
este o espírito que permeia este livro. e a pediatria.
As publicações atualmente disponíveis são divididas A Parte II inclui quatro novos capítulos sobre a colu
em dois grupos: as dirigidas ao cirurgião ortopédico e as na vertebral. A Parte III, sobre as extremidades superio
que, embora supostamente direcionadas a um público res, inclui seis capítulos: mão, punho, antebraço, cotovelo,
mais avançado, estão, na realidade, voltadas ao estudante braço e ombro. A Parte IV, sobre as extremidades inferio
de medicina. Quando se considera que os distúrbios e le res, inclui os capítulos sobre pelve, quadril, coxa, joelho,
sões das extremidades compõem mais de 50% dos casos perna, tornozelo e pé. Cada capítulo é organizado de for
atendidos pelo médico emergencista e que este profissio ma que as fraturas sejam abordadas primeiramente, segui
nal verá mais lesões agudas do que o próprio cirurgião das de uma discussão sobre as lesões de tecidos moles.
ortopédico, é aceitável oferecer apenas informações frag É apresentada uma discussão detalhada sobre cada tipo
mentadas, em vez de apresentar todos os mecanismos da de fratura, incluindo - quando apropriado - a anatomia
lesão, tratamento, lesões associadas e complicações de essencial, o mecanismo de lesão, o exame, as imagens, as
fratura específicas? As atuais classificações das fraturas lesões associadas e o tratamento.
são dirigidas ao cirurgião ortopédico e não são apresenta O Apêndice descreve e ilustra os passos envolvidos
das em um formato que o não especialista possa usar fa na colocação de algum tipo particular de tala ou gessado.
cilmente. Este livro categoriza as fraturas de acordo com Revisões importantes, com muitas ilustrações mais deta
o grau de complexidade, a modalidade de tratamento e o lhadas e passo a passo, foram adicionadas a esta edição.
prognóstico - um sistema muito mais relevante para o mé As referências ao Apêndice são feitas ao longo do texto.
dico de emergência. Além disso, o leitor encontra axiomas - afirmações
Esta 6a edição representa uma importante atualização importantes que servem como diretrizes para prevenir o
do livro, incluindo uma nova parte sobre a coluna verte erro diagnóstico de um problema específico. Os axiomas
bral. Além de novas figuras e radiografias, são apresen devem ser considerados regras pelas quais o médico na
tadas fotografias clínicas e ilustrações coloridas. Esta emergência deve se guiar.
edição também marca a primeira vez em que o vídeo é Existem várias áreas na ortopedia nas quais os pro
utilizado para demonstrar os princípios da emergência gramas de tratamento diferem e há controvérsia legítima
ortopédica. Mais de 60 vídeos demonstrando técnicas de sobre algumas modalidades terapêuticas. Na maioria dos
exames, injeções, artrocentese e técnicas de redução estão casos, os autores apresentam os vários tipos de tratamento
disponíveis no DVD incluído. para uma determinada lesão. O método preferido de trata
A lista de fraturas é apresentada no início e continua mento do autor é apresentado, contudo, para facilitar um
sendo uma característica importante do livro. O emergen plano de ação para o paciente. Nos casos em que há con
cista pode analisar figuras de um osso fraturado, selecio trovérsia significativa, os autores aconselham o encami
nar qual delas o paciente apresenta, e encaminhar-se dire nhamento ou a consulta com o cirurgião ortopédico.
Sumário
índice..............................................................581
PARTE III EXTREMIDADES SUPERIORES
Capítulo 11 M ão................................................... 171
Capítulo 12 Punho............................................... 232
Lista de Fraturas
CAPÍTULO 11 MÃO
Longitudinal
Deslocada ou angulada
Fratura de Wilson
Fratura de avulsão do
ligamento colateral
Espiral
>y
Deslocada/angulada
imi
Não deslocada
Deslocada ou cominutiva
Espiral
uw
* T
Marginalmente Cominutiva
Figura 11.38 Fraturas da falange proximal - extra-articulares, deslocada
Ver página 189.
Figura 11.40 Fraturas da falange proximal intra-articulares.
Ver página 190.
Lista de Fraturas X IX
Figura 11.43 Fraturas dos metacarpais - cabeça (do segundo Transversa simples Transversa deslocada
ao quinto). Ver página 191.
Fraturas do colo
Cominutiva
Fratura de Rolando
CAPÍTULO 12 PUNHO
Fratura do terço
médio (cintura)
Fratura da
superfície Fratura
Figura 12.12 Fraturas do escafoide. Ver página 238. articular distai do gancho
do hamato
Fratura
Fratura cominutiva
transversa do corpo
Figura 12.35 Fratura de Barton; dorsal (A) e volar ( B). Ver pá
gina 254.
Figura 12.27 Fratura do rádio distai com envolvim ento intra- Figura 12.37 Fratura do estiloide do rádio (fratura de Flutchin-
-articular. Ver página 249. son). Ver página 255.
Lista de Fraturas XXÜi
CAPÍTULO 13 ANTEBRAÇO
Terço proximal Diáfise média
Luxação associada da
cabeça do rádio
A
Não deslocada
CAPÍTULO 14 COTOVELO
Não deslocada Deslocada
A. Não deslocada
A. Fraturas marginais
C. Luxação posterior
Deslocada Depressão
> 2 mm > 2 mm
B. Fraturas do colo
C. Fraturas cominutivas
B
A B
Não deslocada
A B
CAPÍTULO 15 BRAÇO
Figura 15.1 Fraturas da diáfise do úmero - não deslocadas. Figura 15.2 Fraturas da diáfise do úmero - deslocadas ou an
Ver página 311. guladas. Ver página 311.
Lista de Fraturas XXVM
CAPÍTULO 16 OMBRO
Fraturas de
uma parte
Fraturas de
duas partes
Fraturas de
três partes
Fraturas de
quatro partes
Espinha da
escápula
Fratura de impressão (< 40%) Fratura de impressão (> 40%) Fratura cominutiva da superfície
articular (divisão da cabeça)
CAPÍTULO 17 PELVE
Ramo do púbis
Corpo do ísquio
Figura 17.16 Fraturas dos ramos superior e inferior do púbis Figura 17.19 Fratura vertical do sacro (não deslocada). Ver
(não deslocadas). Ver página 377. página 379.
CL I C L II C L III
Fraturas do acetábulo
Espinha
Espinha
anteroinferior
posteroinferior
isquiática
CAPÍTULO 18 QUADRIL
Estável Instável
Fratura do
trocanter
maior
Fratura do
trocanter
menor
Figura 18.6 Fraturas da cabeça do fêmur. Ver página 401.
Figura 18.13 Fraturas trocantéricas. Ver página 406.
A Não deslocadas
CAPÍTULO 19 COXA
CAPÍTULO 20 JOELHO
Tipo I Tipo II Tipo III
Avulsão incompleta Avulsão incompleta Avulsão completa
sem deslocamento com deslocamento
//!
}£*f{
Figura 20.6 Fraturas do fêmur distai. Ver página 439. Tipo I Tipo II Tipo III
Avulsão incompleta Avulsão completa, Avulsão completa,
extra-articular intra-articular
Figura 20.19 Fraturas da fibula proxim al. Ver página 448. Figura 20.21 Fraturas da patela. Ver página 449.
CAPÍTULO 21 PERNA
0-50% de > 50% deslocados Deslocamento
deslocamento com contato ósseo completo
Figura 21.1 Fraturas das diáfises da tíbia e da fibula. Ver pá- figura 2 1 .5 Fraturas da diáfise da fibula. Ver página 486.
gina 483.
XXXvi Lista de Fraturas
CAPÍTULO 22 TORNOZELO
Pé pronado
Força de
abdução
A C
Superior
Anterior (diástase)
A B C
CAPÍTULO 23 PÉ
Processo medial do calcâneo Tuberosidade do calcâneo Figura 23.13 Fraturas do tálus - maiores. Ver página 526.
D E
Cunéiforme
Fratura do
sesamoide
Figura 23.17 Fraturas do cuboide e do cunéiforme. Ver página
529.
Flomolateral Divergente
Figura 1.1 A classificação das fraturas. As fraturas segmentares e em asa de borboleta são tipos específicos de fraturas cominutivas,
ta com base no movimento do fragmento d ista i em • A distração é o termo usado quando o deslocamento
relação ao fragmento p ro xim a l. Na prática clínica, estiver no eixo longitudinal do osso (i.e., os fragmen
contudo, é mais comum usar o termo “deslocamento” tos ósseos estão “separados”) (Fig. 1.3C).
para descrever a translação. Por exemplo, a fratura na • A deform idade rotacional pode ocorrer em qualquer
F igura 1.3A é descrita como estando 50% deslocada fratura, embora seja comum após as fraturas espirais.
em direção lateral. Pode ser clinicamente detectada quando as radiogra
• A aposição em baioneta está presente quando os frag fias revelam uma fratura não deslocada, mas a extre
mentos não estão apenas 100% deslocados, mas tam midade parece anormal (p. ex., um dedo que aponta
bém sobrepostos (Fig. 1.3B). Isso é frequentemente na direção errada). Radiograficamente, uma defor
visto nas fraturas da diáfise femoral e do úmero. midade rotacional sutil pode ser observada ao notar
Emergências Ortopédicas 5
Estabilidade
• Fratura está vel : Uma fratura que não tenha tendência
A. Bom alinhamento
20 ° para deslocar após a redução. As fraturas transversas
B. Angulação são frequentemente fraturas estáveis.
• F ratura in stá v e l : Uma fratura que tende a deslocar
Figura 1.2 A descrição das fraturas é de acordo com a relação
após a redução. As fraturas cominutivas, oblíquas e
do segmento distai com o proxim al. A. Não existe angulação e
isso é chamado de bom alinhamento das extremidades fratura
espirais são mais comumente instáveis.
das. B. Existe angulação lateral do segmento distai de 20°.
Mecanismo de lesão
• As forças diretas causam uma fratura que será trans
versa, oblíqua ou cominutiva. Um exemplo de uma
força direta que causa fratura é aquela causada por
um golpe direto na ulna. Uma fratura cominutiva
após uma lesão por esmagamento e uma fratura por
um projétil de alta velocidade também são causadas
por impacto direto.
• As forças indiretas também podem induzir uma fra
tura, transmitindo energia ao osso. Uma fratura por
avulsão é pela tração ligamentar (Fig. 1.4A). Uma
força, como um estresse em valgo no joelho, pode
resultar em uma fratura por compressão ou depressão
do côndilo tibial (Figs. 1.4B e 1.4C). Uma força rota-
cional (i.e., de torção) aplicada no eixo longo de um
osso resulta em fratura espiral (Fig. 1.5). Uma fratura
de estresse, às vezes chamada de fratura de fadiga, re
sulta de estresse indireto repetido aplicado a um osso.
Algumas fraturas de estresse são causadas por trauma
direto repetido.
baioneta C. Distraída
Lesão articular
Figura 1.3 Deslocamento ou aposição. A. Essa fratura parcial
mente aposta também pode ser descrita como estando lateral • L uxação: Ruptura total da superfície articular com
mente deslocada em 50% . B. A aposição em baioneta é quando perda de contato normal entre as duas extremidades
as duas extremidades não estão mais apostas e se sobrepõem,
ósseas (Fig. 1.6A).
com encurtamento do comprimento normal do osso. C. A dis
tração ocorre quando as extremidades da fratura na estão mais • Subluxação: Ruptura de uma articulação, permane
apostas devido à separação longitudinal em vez de estarem se cendo contato parcial entre os dois ossos que com
paradas em uma forma lado a lado. põem a articulação (Fig. 1.6B).
6 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
A. A vulsão
C. D iástase
Figura 1.4 O mecanismo de lesão em geral pode ser deduzido
pelo aspecto da fratura. A. Fratura de avulsão devido ao ligamen Figura 1.6 Lesões articulares. A. A luxação é a separação com
to deltoide tracionando o maléolo medial, a partir de um estresse pleta dos dois ossos que compõem a articulação. B. A subluxa-
em eversão. B. Fratura de compressão causada pelo côndilo fe- ção indica o deslocamento parcial das extremidades ósseas. C.
moral contactando o côndilo tibial, após um estresse em valgo A diástase é a separação em uma articulação sindesmótica.
na perna. Esse é um tipo de fratura de impactação, mas o termo
compressão não apenas diz que é uma fratura de impactação,
mas também o mecanismo pelo qual ela ocorreu. C. Depressão
do côndilo devido a uma quantidade maior de força.
A quantidade de contato entre as extremidades ósseas (apo mais difusos se houver lesão significativa de tecidos moles
sição e distração) e as lesões nos tecidos moles associadas associada. A perda da função normal pode ser notada, mas
afetam de forma adversa a velocidade de consolidação, pois em pacientes com fraturas incompletas (p. ex., uma fratura
a armação para o reparo ósseo fica comprometida. de estresse) a deficiência funcional pode ser mínima. Quan
A localização da fratura pode impactar a probabilidade do as extremidades fraturadas estão em aposição ruim, a mo
de não união. O osso cortical encontrado nas diáfises ósseas bilidade anormal e a crepitação podem ser produzidas. Esses
tubulares cura em uma velocidade mais lenta que o osso es achados não devem ser buscados, contudo, já que aumentam
ponjoso nas epífises e metáfises devido às diferenças no su a chance de dano adicional dos tecidos moles. Aqueles pa
primento vascular e na celularidade. Os ossos que têm inci cientes com deformidade grosseira ou crepitação devem ser
dência mais alta de não união incluem a diáfise tibial distai, imediatamente imobilizados antes de serem movimentados
o escafoide e a diáfise proximal do quinto metatarsal. ou que quaisquer radiografias sejam executadas.
Outras causas de não união incluem a interposição de A sensibilidade dolorosa em um ponto deve ser no
tecidos moles, a distração óssea por tração ou fixação inter tada sempre que for produzida. Uma fratura de estresse
na, a infecção, a idade, as fraturas em ossos patológicos e pode ser diagnosticada ou suspeitada com base na sensi
os medicamentos. A idade do paciente é um fator, já que as bilidade dolorosa óssea, embora uma fratura possa não ser
crianças apresentam uma afinidade mais alta para a rápida vista nas radiografias por 10 a 14 dias. De forma similar,
remodelação óssea. A consolidação de fraturas intra-articu- ao avaliar um paciente com lesão na articulação, conside
lares é inibida pela exposição ao fluido sinovial. O fluido rar uma fratura osteocondral como a causa da dor.
sinovial contém fibrinolisinas que retardam o estágio inicial Nenhum exame de um paciente com suspeita de fra
da consolidação da fratura, devido à lise do coágulo. Certos tura é completo sem um exame neurovascular. A lesão em
medicamentos, como os corticosteroides, o hormônio da ti nervos e vasos deve ser documentada e abordada conforme
reoide em excesso e a nicotina da fumaça do cigarro inibem apropriado antes de quaisquer tentativas de redução. Além
a velocidade de consolidação. Estudos em animais aponta disso, devem ser pesquisados os sinais de síndrome com
ram que a hipoxia crônica inibe a consolidação óssea. partimentai, como a dor fora de proporção, compartimen
A pseudoartrose resulta de uma não união não tratada tos tensos ou a dor com amplitude passiva de movimento.
e grosseiramente móvel. Na pseudoartrose, uma articula Um exame atento da pele é necessário para excluir uma
ção falsa, com uma cápsula revestida com sinovial, apare fratura exposta. A lesão da pele pode parecer inócua, mas,
ce, envolvendo as extremidades da fratura. quando presente próximo ao local de uma fratura e a base da
ferida não puder ser identificada, a lesão deve ser conside
rada uma fratura exposta até prova em contrário (Fig. 1.8).
Características clínicas
A evidência de bolhas sobre um local de fratura não é
A dor e a sensibilidade são as queixas de apresentação mais incomum quando o edema for intenso. As bolhas da fratu
comuns de um paciente com fratura. Estes sintomas estão ra podem aparecer em até 6 horas depois de uma fratura.
habitualmente bem localizados na fratura, mas podem ser Elas podem ser claras ou hemorrágicas, e o tipo preenchido
A B
Figura 1.9 Bolhas da fratura. A. Bolha de fratura serosa em um paciente após uma fratura bim aleolar do tornozelo. B. Bolhas de
fratura hemorrágicas em um paciente com fratura da tíbia distai.
com sangue indica desinserção entre as camadas dérmicas teroposterior e lateral) é o mínimo a ser obtido. Isto serve
e epidérmicas e um prognóstico pior associado (Fig. 1.9). para melhorar a taxa de diagnóstico de fratura e dar ao
As bolhas da fratura são mais comuns em áreas com proe profissional uma compreensão completa do deslocamento
minências ósseas, como o cotovelo, o pé ou a tíbia distai. de uma fratura (Figs. 1.10 e 1.11). As vistas adicionais
A redução e a estabilização precoce das fraturas diminuem devem ser solicitadas em algumas situações. As vistas
a incidência de formação de bolhas, embora elas possam oblíquas, por exemplo, são particularmente úteis nas ex
se formar mesmo quando os cuidados tiverem sido ideais. tremidades distais (p. ex., mão, punho, pé).
O controle do edema com compressão, elevação e criote- As fraturas aparecem como uma ruptura da cortical
rapia também é útil. O tratamento das bolhas de fratura é lisa do osso, com uma linha radioluzente delineando os
controverso, embora a maioria dos especialistas deixe-as
intactas, cobertas com iodo povidona, pomada de antibió
ticos ou curativo com sulfadiazina de prata. A sua presença
frequentemente retarda o reparo operatório, pois elas do
bram a taxa de infecção e de deiscência da ferida.
O sangramento é outro potencial problema após as
fraturas, especialmente em ossos longos, como os fêmures
ou a pelve. Uma quantidade significativa de perda sanguí
nea pode ocorrer depois de uma fratura fechada e a quanti
dade de sangramento em geral não é apreciada (Tab. 1.1).
Um paciente com fratura pélvica significativa pode apre
sentar choque por perda sanguínea. Isso é especialmente
verdadeiro em idosos, que são menos capazes de fazer va-
soconstrição para o suporte da sua pressão sanguínea.
Radiografias
As radiografias simples são habitualmente suficientes
para o diagnóstico de fratura. Duas vistas ortogonais (an-
Figura 1.14 O desenho original da tala de tração deThom as com anel completo.
Por esta razão, o médico da emergência deve guiar-se pela no contexto pré-hospitalar. Depois de uma fratura do fêmur,
diretriz de que se houver trauma significativo e sensibili o osso sobreposto resulta em uma perda de tensão de teci
dade dolorosa óssea focal suspeita para uma fratura, deve dos moles na coxa e um potencial espaço aumentado para
ser tratado como tal. hemorragia. Até 1 litro de sangue pode distender os tecidos
Existem algumas regiões onde as fraturas ocultas são moles da coxa. Uma tala de tração da extremidade inferior
bastante comuns e com frequência passam despercebidas. O mantém a tensão nos tecidos moles, diminui a quantidade de
escafoide é um exemplo notório pelas fraturas ocultas (10 a hemorragia, e subsequentemente melhora o desfecho.
20%) que não são radiograficamente visíveis por várias se Talvez a tala de tração de extremidade inferior mais
manas depois da lesão. As fraturas ocultas do quadril ocor antiga conhecida seja a tala de Thom as (Fig. 1.14). Esta
rem em aproximadamente 5% dos pacientes idosos com tala tem sido usada desde o final do século XIX e ficou fa
trauma, dor no quadril e radiografias iniciais negativas. mosa durante a Primeira Guerra Mundial, quando a mor
Quando uma fratura oculta for suspeitada, o profissional talidade foi reduzida em 50% depois de sua introdução no
deve considerar outros exames diagnósticos, como a resso campo de batalha. Uma modificação desta tala é a tala
nância magnética nuclear (RMN) ou a tomografia computa de tração de Hare, na qual um meio-anel compõe a por
dorizada (TC). Estas técnicas de imagens têm sensibilidade ção mais proximal (Fig. 1.15). Estas talas fornecem tração
muito mais alta para a detecção de fraturas. Foi demonstrado dos fragmentos da fratura, mas causam grande desconfor
que a RMN tem sensibilidade próxima de 100% para diag to durante o transporte. A tala não deve ser removida antes
nosticar fraturas ocultas do escafoide ou do quadril. Quando da avaliação radiográfica.
um exame de imagens adicional não for obtido no atendi A tala de tração de Sager (Minto Research and De-
mento de emergência, imobilizar o paciente com a simples velopment, Inc.) é mais recomendada para imobilização
suspeita de tal fratura, mesmo que não radiograficamente de emergência de todas as fraturas do fêmur proximal e
visível, e organizar um acompanhamento ortopédico. da diáfise femoral, tanto no grupo pediátrico como no
grupo adulto (Fig. 1.16). A tala de Sager tem uma has
Tratamento te única que é colocada no aspecto interno da perna, mas
pode ser aplicada no lado externo da perna se uma fratu
Imobilização pré-hospitalar ra pélvica estiver presente. A tala não tem um meio-anel
Uma fratura instável deve ser estabilizada com alguma posteriormente, o que tem duas vantagens importantes:
forma de imobilização ou tração externa antes de movi alivia qualquer pressão no nervo ciático e reduz a flexão
mentar o paciente. A imobilização própria no contexto do quadril (que ocorre em até 30° na tala de Hare), elimi
pré-hospitalar reduz a dor e previne a lesão adicional de nando a angulação no local da fratura.
tecidos moles pelos fragmentos da fratura. Um exame Outras talas de extremidades comercialmente dis
neurovascular deve ser feito tanto antes da imobilização poníveis incluem a tala S AM®, a tala de Fox, as talas em
como imediatamente após. grelha e as talas infláveis. A tala SAM® (SAM Medicai
Uma tala de tração da extremidade inferior para fratura Products, Inc.), feita de alumínio maleável recoberto de
do fêmur é uma das talas mais importantes a ser colocada espuma, é leve, fácil de usar, e se conforma bem à ex-
12 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
Figura 1.15 A. A tração de Hare é aplicada conforme demonstrado, por tração e elevação do membro inferior, com o joelho man
tido em extensão. B. A tala é então inserida sob o membro, e o pé fixado no aparato de tração.
Figura 1.16 A tala de tração de Sager. O medidor distai diz a quantidade de peso que está sendo aplicado às correias do tornozelo
para distração. A tala pode ser aplicada no lado externo da perna nos pacientes com lesões na virilha ou fraturas pélvicas que tam
bém apresentam uma fratura femoral.
tremidade. A tala de Fox (Compliance Medicai, Inc.) da inflação excessiva (isquemia do membro) ou a infla
consiste em papelão e espuma de borracha, no entanto, ção deficiente (imobilização ineficaz). Estas talas não
carece de maleabilidade. Também são usadas as talas devem ser aplicadas sobre a roupa, já que podem causar
infláveis feitas de uma dupla camada de polivinil e gre lesão de pele.
lha de fio moldável, mas não elas não têm a nossa prefe Se a atenção médica ainda não tiver chegado, uma
rência. As talas infláveis têm as desvantagens potenciais tala pode ser adaptada com materiais encontrados na
Emergências Ortopédicas 13
Talas
As talas diferem dos gessados porque não são circunfe-
renciais e permitem o inchaço da extremidade sem um au
mento significativo na pressão do tecido. As compressas
de gelo podem ser aplicadas ao local da lesão, já que a tala
permitirá a penetração do frio para maximizar o seu efei
to. Por estas razões, as talas são mais usadas como meio
A B
inicial de imobilização no setor de emergência. Uma vez
Figura 1.17 A. Um travesseiro pode ser uma tala temporária que o edema tenha diminuído, o gessado é feito, pois as
excelente para o manejo pré-hospitalar de uma fratura do tor talas permitem mais movimento e fornecem menos estabi
nozelo, do pé ou da tíbia distai. B. Uma fratura na perna pode lidade que uma fratura reduzida precisa para ser mantida
ser estabilizada embrulhando toalhas com firmeza em torno do em posição fixa.
membro e então aplicando dois pedaços de madeira nas late
Talas (e gessados) são reforçados por um ou dois dife
rais e fixando-os à extremidade.
rentes materiais: gesso ou fibra de vidro. Os rolos de ges
so ou as placas usadas nos gessados são endurecidos por
maioria das casas. Um exemplo é a tala com travesseiro dextro se ou goma e impregnados com sulfato de cálcio
(Fig. 1.17A). Esta tala é aplicada enrolando firmemente semi-hidratado. Quando a água é adicionada ao sulfato de
um travesseiro comum ao redor de uma fratura da extre cálcio, ocorre uma reação que libera calor, que é percebi
midade inferior, fixando-o com alfinetes de segurança. da pelo paciente e pelo médico que aplica o gessado.
Altemativamente, uma tala pode ser feita com toalhas en
roladas em tomo do membro e apoiada em um dos lados C aS04 + H20 -* H20 C aS04 • H20 + Calor
por pedaços de madeira (Fig. 1.17B). O mesmo tipo de Substâncias aceleradoras são adicionadas às banda
tala pode ser usado na extremidade superior com a adição gens para permiti-las endurecer em velocidades diferen
de uma tipoia para apoiar o antebraço. tes. O sal de cozinha comum pode ser usado para retardar
Os pacientes que se apresentam com fraturas expos o endurecimento do gesso, se isso for desejado, simples
tas devem ser imobilizados de maneira similar; contudo, mente adicionando sal à água. A aceleração do endure
o local da lesão de pele deve ser coberto com um curativo cimento ocorre pelo aumento da temperatura da água.
estéril. Deve haver o cuidado de não recolocar qualquer Quanto mais fria for a temperatura da água, mais tempo o
fragmento ósseo exposto de volta na ferida, para evitar gesso leva para endurecer.
contaminação adicional. Para as talas gessadas, uma malha tubular é colocada
na extremidade distai e proximal da extremidade onde a
Imobilização no setor de emergência tala for aplicada (Fig. 1.18). A seguir, uma camada mole
Uma fratura é imobilizada no setor de emergência para de acolchoamento (p. ex., algodão laminado) é circunfe-
permitir a consolidação, o alívio da dor e para estabili rencialmente colocada em tomo da extremidade, com cui
zar as fraturas instáveis. A presença de uma fratura, en dado especial no acolchoamento extra em áreas onde as
tretanto, não deve ser automaticamente igualada com a protuberâncias ósseas sejam mais proeminentes (i.e., nos
necessidade de imobilização (p. ex., uma fratura da cla maléolos, no calcanhar). O gesso é medido e cortado (ou
vícula). As regras fundamentais das talas e dos gessados rasgado) no comprimento apropriado. Para a resistência
são idênticas. De forma ideal, pelo menos uma articulação máxima, 8 a 10 camadas devem ser usadas. As camadas
acima e abaixo da fratura deve ser imobilizada. Em geral, de gesso são então submersas em água moma, alisadas
a extremidade deve ser colocada na posição de função an para reforço da resistência, e aplicadas à extremidade.
tes de ser imobilizada, embora haja exceções a esta regra, Uma tira de acolchoamento gessado pode ser aplicada
dependendo da lesão (Tab. 1.2). sobre a superfície exterior do gesso, de forma que a ata-
14 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
A B
D E
Figura 1.19 Aplicação de um gessado. A. A malha tubular é usada para cobriras extremidades proximais e distais da área a ser imobili
zada. B. Um material de acolchoamento macio é usado sob o rolo de gesso. C. O gesso é aplicado com o rolo mantido contra o membro
pela mão esquerda. A mão direita é usada para alisar o gesso e para puxar e dobrar os cantos superiores, que são produzidos pela mudan
ça na circunferência do membro. D. O rolo de gesso, uma vez aplicado, é alisado com a eminência tenar e as palmas de ambas as mãos
são usadas para selar os interstícios e dar suporte adicional. E. O passo final é dobrar de volta a malha e aplicar o último rolo de gesso.
A. Correto B. Incorreto
Figura 1.22 Uma luva gessada com o punho em 15 a 20° de Verificando os gessados
extensão e os dedos livres na articulação metacarpofalângica. Qualquer paciente com um gessado circunferencial deve
receber instruções escritas descrevendo os sintomas da
síndrome compartimentai com um gessado apertado. Au
Uma janela pode ser aberta em um gessado quando
mento da dor, edema, frieza ou alteração na cor da pele
uma fratura é acompanhada de uma laceração ou qualquer
das porções distais da extremidade são os sinais de que
lesão de pele que precise de cuidados durante o tratamen
um gessado está muito apertado e o paciente deve ser
to da fratura. As janelas são feitas cobrindo-se a ferida com
instruído para retomar imediatamente. Como regra, re
um pedaço volumoso de gaze estéril sendo, então, aplicado comendamos que qualquer gessado circunferencial seja
o gessado sobre o curativo da maneira normal. Depois de verificado no dia seguinte, buscando sinais de comprome
completar o gessado, uma janela é cortada acima da “pro timento do aparelho circulatório. O paciente deve receber
tuberância” criada pelo curativo de gaze (Fig. 1.23). O de instmções para elevar o membro para evitar problemas.
feito deve sempre ser coberto com um curativo volumoso e Se o paciente reclamar de desconforto em qualquer
firmemente seguro com uma atadura para evitar a hemiação momento após a apbcação do gessado, é melhor removê-lo
de tecidos moles e subsequente edema e ulceração de pele. para verificar se há síndrome compartimentai, escaras de
Os gessados não são usados com tanta frequência no pressão ou lesão do nervo periférico. Como alternativa, o
setor de emergência como as talas. A colocação de um gessado pode ser cortado dividido em ambos os lados (i.e.,
gessado circunferencial no contexto agudo pode ser pro bivalvado) para diminuir a pressão. Se as queixas do pa
blemática se o edema adicional produzir uma síndrome ciente persistirem, o gessado deve ser removido.
compartimentai. Se um gesso for colocado no setor de A Figura 1.24 demonstra a técnica apropriada para re
emergência e o edema adicional for antecipado, o gessa- mover ou dividir um gessado. A serra oscilante usada para
dividir o gessado é geralmente segura, mas pode cortar a pele
se não for usada com o devido cuidado. Deve-se lembrar de
Figura 1.24 A remoção de gesso usando A . serra oscilante e B. afastador e tesoura de segurança.
sentes ou enchimento capilar retardado, sendo que a lesão requerem redução imediata somente quando a extre
vascular pode ocorrer depois de qualquer fratura desloca midade estiver sem pulso e perfusão ausente.
da ou luxação. Uma extremidade não perfundida tem um
A preparação de um paciente para a redução da fratu
período limitado de tempo antes que ocorra morte nervosa
ra depende do tipo de lesão e do contexto clínico. Expli
e muscular. Por esta razão, a redução deve ocorrer assim
que o procedimento para o paciente e obtenha o consen
que possível. Quanto mais cedo a perfusão for recuperada,
timento. Ao executar a redução, o paciente deve estar em
melhor é a chance de evitar necrose tecidual.
decúbito dorsal sempre que possível. A extremidade en
A redução no setor de emergência é contraindicada
volvida deve estar completamente exposta e qualquer pe
em vários casos:
daço de roupa ou acessórios, tanto proximal como distai à
1. A extremidade está perfundida e o paciente necessi lesão, ser removido. Se a fluoroscopia for usada, deve ser
tará de tratamento operatório imediato. Uma fratura movida para a posição. Com frequência, o material para
exposta em uma extremidade perfundida, por exem tala é montado antes de iniciar o procedimento, de forma
plo, deve ser reduzida na sala de cirurgia, onde pode que pode ser imediatamente aplicado à extremidade após
ocorrer uma lavagem cirúrgica adequada. a redução. Isso é especialmente útil no contexto de uma
2. Antecipa-se que a remodelação ou a fratura conso fratura instável.
lidará de forma adequada sem redução. A remode Os princípios básicos para reduzir as fraturas são si
lação, especialmente em crianças, pode corrigir de milares, e podem ser divididos em quatro passos:
formidades de modo gradual com a consolidação e 1. Distração
toma desnecessária a redução dolorosa ou o risco de
2. Desencaixe
sedação. No esqueleto do adulto, as fraturas da diáfise
umeral e as fraturas do colo do quinto metacarpal são 3. Reaposição
exemplos de ossos em que algum grau de angulação 4. Liberação
residual não causará impacto na função, tornando a A distração envolve a criação de uma força longitu
redução desnecessária. dinal para tracionar e separar os fragmentos ósseos. Esse
3. A sedação para o procedimento é inadequada ou mui passo é feito gradualmente e pode exigir tempo para ser
to arriscada. Se a analgesia adequada não puder ser efetivo, superando o espasmo muscular. A distração tam
fornecida devido à condição médica do paciente ou bém é importante quando as extremidades fraturadas do
pela incapacidade em monitorar de forma apropriada osso estiverem sobrepostas. A distração pode ser aplicada
o paciente, a redução no setor de emergência não deve manualmente, com a ajuda de um assistente, ou usando
ser executada. pesos.
4. A lesão vascular pode piorar com a redução fechada. O desencaixe das extremidades ósseas da fratura per
Quando haver suspeita de lesão vascular em um pa mite a desimpactação adicional do osso, mais além da dis
ciente com luxação da articulação estemoclavicular tração. É possível alcançar o desencaixe por rotação do
posterior, por exemplo, a redução é mais adequada fragmento distai ou “recriando a deformidade da fratura”.
mente executada na sala de cimrgia com um cirur Alivia a tensão nos tecidos moles para permitir que os
gião cardiotorácico disponível, pois a clavícula distai fragmentos da fratura se reposicionem.
pode estar tamponando um vaso subclávio lacerado. A reaposição é alcançada revertendo as forças que
Em uma forma similar, as fraturas supracondilianas causaram a lesão, proporcionando o alinhamento aos
18 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
Tratamento definitivo
A seleção do tratamento definitivo de uma fratura é uma
decisão combinada entre o médico da emergência e o
do encaminhamento. Algumas fraturas podem ser trata
das de maneira segura apenas com imobilização, apesar
de alguma angulação (p. ex., diáfise umeral, fratura do
colo do quinto metacarpal). Outras requerem redução fe
chada quando deslocadas ou anguladas (p. ex., fratura de
Colles). E outras, ainda, exigem consultoria para interven
Figura 1.25 Redução de fraturas. A. Um a ponte periosteal ção operatória (p. ex., fratura exposta, fratura do fêmur).
intacta está habitualm ente presente em um dos lados e atua O manejo individual das fraturas é discutido mais
como suporte para estabilizar internamente a fratura depois da adiante no texto. O médico da emergência deve estar cien
redução. B. Após, uma tração é aplicada e a fratura é alinhada
te das indicações para intervenção operatória ao tratar as
usando a ponte periosteal intacta. C. As extremidades são, en
fraturas. Algumas indicações gerais para o manejo cirúr
tão, apostas novamente e a fratura é reduzida.
gico incluem as seguintes:
• Fraturas intra-articulares deslocadas.
fragmentos ósseos. Uma fratura deslocada habitualmente
• Lesão arterial associada.
deixa o periósteo intacto em um dos lados. Sem essa ponte
• Quando a experiência mostra que o tratamento cirúr
periosteal intacta, a redução seria difícil de manter (Fig.
gico fornece melhor resultado.
1.25). Uma ponte periosteal intacta ajuda na redução e na
• Quando os métodos fechados falharem em alcançar
manutenção da redução. Embora esse passo pareça con-
ou em manter o alinhamento aceitável.
ceitualmente simples, pode não ser tão fácil na prática
clínica. Uma armadilha importante a evitar é ignorar uma • Quando a fratura for decorrente de uma lesão metas-
deformidade rotacional que poderia criar problemas fun tática.
cionais se o osso consolidar dessa forma. • Quando a mobilização precoce for desejável.
A liberação refere-se à remoção da força inicial de
distração, com o intento de que o alinhamento será manti
do. É neste momento que as forças como a contração mus
cular e a gravidade retornam e os fragmentos da fratura
têm um risco de ficarem mal-alinhados novamente. Uma
tala ou gessado corretamente aplicados podem evitar a per
da do alinhamento da fratura. O paciente deve ser subme
tido a uma nova radiografia simples ou fluoroscopia, na
maioria dos casos, para documentar o sucesso da redução.
Após a redução, a condição neurovascular da extre
midade deve ser reavaliada para assegurar que: os pulsos
estejam presentes; a extremidade tenha perfusão e a fun
ção nervosa não tenha sido comprometida.
O profissional atento também deve estar ciente das Figura 1.26 A tração cutânea pode ser temporariamente utili
limitações da técnica da redução fechada. Se um tecido zada para distrair uma fratura deslocada do fêmur até que possa
mole estiver interposto, por exemplo, a fratura pode ser ser realizado o tratamento definitivo no dia seguinte.
Emergências Ortopédicas 19
Figura 1.27 Tração esquelética. A. Representação esquemática de um fio de tração através do fêmur distai. B. Radiografia de um
paciente com um fio de tração na tíbia proximal e fratura do fêmur distai. C. Fotografia clín ica da perna do paciente. D. O aparato
inteiro com bolsas d'água usadas como pesos.
alinhar as fraturas do úmero. Os locais comuns para a co portante que o médico da emergência tenha alguma fa
locação do fio na extremidade inferior incluem o fêmur miliaridade com esses dispositivos e reconheça as suas
distai, a tíbia proximal, a tíbia inferior e o calcâneo (Vídeo comphcações potenciais. As comphcações mais comuns
1.2). As complicações incluem infecções no trajeto do fio incluem a falha do implante (i.e., a quebra), a perda da
e a superdistração da fratura. fixação e as infecções.
A p la c a e os p a ra fu so s colocam as extremidades da
Dispositivos ortopédicos fratura em ahnhamento aceitável para permitir a consoli
Uma variedade de dispositivos é usada cirurgicamente dação. Se a fratura não consolidar de forma espontânea, a
para estabilizar uma fratura instável (Fig. 1.28). É im placa eventualmente quebra ou os parafusos se afrouxam.
Figura 1.28 Dispositivos ortopédicos para estabilização de fraturas. A . Placa e parafusos. B . Parafusos. C. Haste intramedular rígi
da. D. Hastes intramedulares flexíveis {continua).
Emergências Ortopédicas 21
G H
Figura 1.28 ( Continuação) E . Fios percutâneos F. Fios com banda de tensão. C . Fixador externo. H . Prótese total de quadril
A consolidação ocorre sem a formação de calo que é vista a haste seja colocada, os parafusos de bloqueio são adi
com o gessado. Os parafusos podem também ser usados, cionados para fornecer estabilidade rotacional. As hastes
independentemente de uma placa. Os exemplos incluem intramedulares flexíveis são mais comuns na população
a estabilização de um escorregamento da epífise capital pediátrica, podendo ser inseridas através da porção me-
femoral, ou de uma fratura deslocada do escafoide. A tafisária do osso e evitando uma lesão na placa de cresci
complicação mais comum deste tipo de fixação interna é mento. As hastes são mecanicamente mais fortes que uma
a infecção da ferida. placa ou os parafusos, mas podem quebrar se a fratura não
As hastes intram edulares são rígidas ou flexíveis. consolidar. A infecção é menos comum do que com placa
As hastes intramedulares rígidas são usadas para tratar e parafusos. As hastes intramedulares flexíveis e as rígi
as fraturas em ossos longos. A formação do calo no local das não bloqueadas podem migrar para fora do osso e nos
de fratura é mais acentuada, pois a fratura não é mantida tecidos moles.
em alinhamento tão rígido como ocorre com uma placa e Os fio s p ercu tâ n eo s são usados para as fraturas dos
parafusos. A consolidação de fratura é habitualmente ex ossos pequenos da mão e do pé. Como diz o nome, o fio
celente, porque o periósteo e o hematoma da fratura não é diretamente inserido através da pele e pode então ser
são perturbados quando a haste é colocada. Uma vez que cortado, de forma que somente uma porção pequena do
22 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
fio fique exposta. Esses fios de aço inoxidável também texto rural, por exemplo, sugere um prognóstico pior, com
são chamados de fios de Kirschner ou fios K, depois que taxas mais altas de contaminação, do que uma queda de
Martin Kirschner os introduziu em 1909. As complica baixa energia na calçada urbana. O profissional deve exe
ções desses dispositivos incluem infecções no trajeto do cutar um exame neurovascular e reduzir a fratura imedia
fio, migração ou quebra. tamente apenas quando for associada à perfusão ausente
Os fio s com banda de tensão são utilizados para reali- na extremidade distai.
nhar as fraturas que sofrem forças de distração devido aos O exame do tecido dentro e em torno da ferida
músculos. Os exemplos incluem as fraturas do olécrano, deve ser executado, notando quaisquer contaminantes.
do tubérculo maior do úmero proximal e da patela. Nes Não deve haver nenhuma tentativa de explorar digital
sa técnica, os fragmentos de fratura são alinhados por fios mente a ferida no setor de emergência, já que pouca infor
percutâneos que também agem como uma âncora para uma mação será fornecida, resultando em aumento do risco de
laçada de fio flexível que segura os fragmentos juntos. As infecção. Se houver dúvida sobre uma ferida pequena que
complicações desses dispositivos incluem a quebra, a bur- está acima de uma fratura, é possível verificar com segu
site do olécrano e a perfuração da pele pelo fio. rança a ferida com um instrumento estéril não penetrante
A fixa çã o externa tem uma armação que é suportada por para ver se o osso é tocado.
fios colocados através dos fragmentos proximais e distais da As radiografias ajudam no diagnóstico se ar for visto
fratura. Estes dispositivos são usados preferencialmente no dentro dos tecidos moles em pacientes que sofreram uma
contexto de fraturas expostas, já que permitem a monitora lesão recente. Se ainda não estiver claro que a fratura é ex
ção dos tecidos moles e a redução da infecção. Eles também posta, o manejo prudente é tratar considerando-a exposta
são usados para estabihzar temporariamente as fraturas da e debridar a ferida na sala de cirurgia.
pelve e, algumas vezes, para o tratamento das fraturas distais Gustilo e Anderson classificaram as fraturas expostas
do rádio. As infecções no trajeto do fio e o afrouxamento do pela gravidade do dano de tecidos moles e o grau associa
dispositivo são as compbcações mais comuns. do de contaminação da ferida. Esse sistema de classifica
As próteses articulares estão disponíveis para quase ção é amplamente usado e permite ao médico da emergên
cada articulação do corpo. Elas são consideradas como cia comunicar-se de maneira eficaz com um especialista
uma artroplastia total (completa) se ambos os lados da ar em ortopedia.
ticulação forem substituídos, e uma hemiartroplastia (par
• O G rau I descreve uma ferida aberta devido a uma
cial) se somente um lado da articulação for substituído.
lesão de baixa energia. A ferida tem < 1 cm de com
No quadril, a artroplastia total é mais usada para artrite,
primento e não mostra qualquer evidência de conta
enquanto apenas a hemiartroplastia pode ser necessária
minação. As fraturas nas feridas de grau I são ha
para uma fratura deslocada do colo do fêmur. O tipo mais
bitualmente simples, transversas ou oblíquas curtas,
comum de prótese total de quadril usa uma prótese femo-
com cominução mínima. Essas feridas costumam ser
ral de metal que se articula com uma copa acetabular de
causadas por um fragmento de fratura que perfura a
plástico. A copa de plástico é fixada ao acetábulo por um
pele pelo lado de dentro.
apoio de metal. A denominação “restrita” é usada quando
• As feridas de G rau II envolvem uma quantidade mo
as duas porções da articulação protética são bloqueadas
derada de lesão nos tecidos moles. Alguma cominu
juntas, em vez de serem estabilizadas pelos ligamentos e
ção da fratura e um grau moderado de contaminação
tendões intrínsecos do paciente. Os dispositivos restritos
podem estar presentes. As fraturas expostas de grau
têm mais probabibdade de afrouxar. Outra complicação é
II são caracterizadas por uma ferida que tem > 1 cm.
a luxação, que pode ocorrer com as articulações protéti-
Nenhum tecido mole foi desnudado do osso.
cas restritas e não restritas. A redução de um dispositivo
• O G rau IIIA é uma ferida grande (habitualmente >10
restrito deslocado é raramente bem-sucedida no setor de
cm). O grau de contaminação é alto e a quantidade de
emergência, e a tentativa pode causar danos ao dispositi
lesão de tecidos moles é grave; contudo, existe cober
vo. A outra complicação catastrófica de uma articulação
tura adequada de tecidos moles no osso. A cominução
protética é a infecção. A avaliação é aconselhada em todos
da fratura associada costuma estar presente.
os casos de suspeita de infecção na articulação protética.
• O G rau IIIB é uma ferida grande (> 10 cm), com
desnudamento periosteal e exposição óssea. Nessa
Fraturas expostas subclasse, o grau de lesão de tecidos moles é tal que
Uma fratura exposta ocorre quando uma ruptura na pele e uma cirurgia de reconstrução é muitas vezes neces
nos tecidos moles comunica-se diretamente com uma fra sária para cobrir a ferida. A contaminação maciça e
tura e seu hematoma. Embora o diagnóstico seja direto na uma fratura gravemente cominutiva são notadas nessa
maioria dos casos, pode ser difícil quando houver alguma subclasse.
distância entre os fragmentos da fratura e a ferida aberta. • O G r a u IIIC é similar à lesão IIIB, mas está associado
A história deve ser obtida em relação ao mecanismo e ao achado adicional de lesão arterial significativa, que
à localização da lesão. Uma lesão de alta energia no con exige reparo para salvação da extremidade/
Emergências Ortopédicas 23
O tratamento no contexto pré-hospitalar consiste em são ainda as mais comumente vistas; entretanto, as feridas
cobrir a ferida com um curativo estéril e imobilizar a ex por armas de velocidade mais alta (p. ex., M-16, AK-47)
tremidade. No setor de emergência, corpos estranhos ou estão se tornando mais comuns. Os dados demonstram
fragmentos óbvios devem ser removidos de forma estéril, que as armas de alta velocidade respondem por 16% dos
manualmente ou com uma pinça. A profilaxia do tétano homicídios na cidade de Nova York.
é administrada quando indicado. Da ferida pode ser co As espingardas são armas de baixa velocidade dife
letado um esfregaço para cultura, a pedido do cirurgião rentes das pistolas, pois impulsionam centenas de pelo
ortopedista; entretanto, existe evidência de que as culturas tas de chumbo (Fig. 1.29). Por ter uma alta eficácia de
pré-debridamento teriam pouco valor.9 transferência de energia à queima-roupa, a espingarda
Os antibióticos de amplo espectro contra organismos causa dano de tecidos moles e lesão óssea significativos.
gram-positivos e gram-negativos são recomendados para As explosões de espingarda à queima-roupa podem ser
o uso em fraturas expostas. Os antibióticos devem ser ini determinadas pela medida do diâmetro do espalhamento
ciados tão logo quanto p o ssível depois da lesão. Foi de do chumbo no paciente. Uma ferida com um diâmetro de
monstrado que um retardo de mais de 3 horas aumenta < 7 cm sugere uma lesão de espingarda à queima-roupa.
a taxa de infecção. 0,11 O organismo produtor de infecção Ao avaliar um paciente com ferimento por arma de
mais comum é o Staphylococcus aureus. A ferida da fratu fogo nas extremidades, o profissional deve primeiro abor
ra exposta mais suscetível à infecção secundária é aquela dar os ABCs dos cuidados de trauma com avaliação primá
decorrente de um disparo de arma de fogo à queima-roupa. ria completa. Em relação à extremidade atingida, a priori
Todos os pacientes com fraturas expostas devem ser dade inicial é a condição neurovascular dessa extremidade.
submetidos a um debridamento na sala de cirurgia. Se o Em pacientes com sinais de lesão vascular, a angiografia
<g
e/
paciente for levado à sala de cirurgia para irrigação e de ou a exploração intraoperatórias são necessárias. '
bridamento formal dentro de 1 a 2 horas da lesão, o curati A maioria das feridas por arma de fogo de baixa ve
vo estéril e a tala devem ser reaplicados depois de os frag locidade e sem evidência de lesão vascular pode ser trata
mentos óbvios serem removidos. Se houver retardo em da seguramente com cuidados locais na ferida, profilaxia
levar o paciente para a sala de cirurgia além de 2 horas, do tétano e manejo ambulatorial. O uso de antibióticos é
a ferida deve ser irrigada com 1 a 2 litros de soro fisio controverso, mas a maioria dos autores recomenda a pro
lógico antes de o curativo estéril ser reaplicado. Observe filaxia de rotina com três dias de antibióticos orais (ci-
que manter úmida uma ferida aberta aumenta a umidade profloxacino, cefalexina ou dicloxacilina). As fratu
da superfície, um fator importante na cicatrização. Além ras associadas são tratadas de acordo com os protocolos
disso, os curativos oclusivos facilitam a cicatrização local aceitos para fraturas similares em pacientes com outros
por elevar a temperatura da ferida. tipos de trauma. As lesões são tratadas como se fossem
fraturas “fechadas”. A irrigação é seguida pela aplicação
de um curativo estéril. A ferida é deixada aberta e a fra
Feridas por arma de fogo
tura é imobilizada apropriadamente. Os pacientes que se
As feridas por arma de fogo são comuns na nossa socieda apresentam > 8 horas depois da lesão podem se beneficiar
de, com até 500.000 casos ocorrendo a cada ano somente do debridamento cirúrgico, pois o cuidado local da ferida
nos Estados Unidos. Muitos pacientes com essas lesões se é menos eficaz.
apresentam no setor de emergência com fraturas associa As lesões de alta velocidade, as lesões à queima-roupa
das. As feridas por arma de fogo são divididas em dois ti e as feridas grosseiramente contaminadas requerem irriga
pos - de baixa velocidade e de alta velocidade. As feridas ção e debridamento cirúrgico. Essas feridas são tratadas
infligidas por armas de baixa velocidade (p. ex., pistolas) como fraturas expostas. Os antibióticos intravenosos estão
A B
Figura 1.30 Lesão por pistola de pregos. A. Este trabalhador da construção acidentalmente descarregou a sua pistola através da sua bota
de segurança e em seu pé. B. As radiografias revelaram que o prego estava dentro do calcâneo. Observar a rebarba presente no prego.
Pelve 1,6%
Fêmur 7,2%
Figura 1.32 Lesão lítica do úmero com fratura patológica.
(Contribuição de J. Wanggaard, NP.)
Tíbia 49%
Fibula 6,6% para uma fratura completa, que pode ser complicada por
não união ou necrose avascular. A fratura de estresse de
Tarsais 25%
alto risco mais comum é do colo do fêmur. Esses pacien
Metatarsais 8,8% tes devem ser tratados como se tivessem uma fratura agu
da e não devem apoiar o peso." A intervenção cirúrgica
Sésamo ides 0,9%
é frequentemente necessária. Outras fraturas de estresse
de alto risco incluem a cortical anterior da tíbia, o tálus, o
Figura 1.31 A distribuição e a frequência das fraturas de estresse. maléolo medial, o navicular tarsal e o quinto metatarsal.
Se a fratura de estresse não for de alto risco, o trata
mento conservador envolve diminuição na atividade até o
fratura. Em geral, a dor começa quatro semanas depois do ponto em que a dor não esteja mais presente. Raramente é
aumento na atividade física. A dor progride em intensida necessário eliminar as atividades da vida diária, mas se a
de durante a atividade, até que o exercício seja desconti dor persistir, o paciente é mantido sem carga. Alguns au
nuado. O momento do diagnóstico é variável, e pode ser tores recomendam o treinamento cruzado imediato, como
2Q22
de várias semanas a vários meses em alguns casos. ' ciclismo, patinação ou hidroginástica. É necessário ces
O exame físico varia conforme a localização da fra sar a atividade precipitante por um mínimo de quatro se
tura de estresse. Uma fratura de estresse do fêmur proxi- manas. Depois desse período, o paciente pode retomar aos
mal revela achados clínicos mínimos. A dor está habitual poucos as atividades anteriores. Os medicamentos anti-in-
mente presente na região anterior da virilha. O movimento flamatórios não esteroides (AINEs) são evitados devido
do quadril, em especial os extremos da rotação interna e aos seus efeitos negativos sobre a consolidação óssea.
externa, exacerba a dor. Além disso, a dor é produzida
quando é solicitado ao paciente para apoiar-se e pular na
2,2, Fraturas patológicas
extremidade afetada (teste do pulo).
As radiografias simples iniciais revelam fratura em As fraturas patológicas ocorrem em ossos que estejam anor-
26
somente 10% dos casos.21 A cintilografia óssea é mais malmente enfraquecidos por uma condição preexistente.
sensível para detectar novas fraturas de estresse. Deve ser A osteoporose é a causa mais comum de fratura patológica,
notado, contudo, que a cintilografia óssea positiva é um seguida pelas lesões metastáticas (Fig. 1.32). A Tabela 1.3
achado não específico, e pode ocorrer em outras condi lista outras causas de fraturas patológicas. Os locais mais
ções. Outras opções para confirmar o diagnóstico quando comuns para metástases ósseas são a coluna vertebral, as
as radiografias simples iniciais forem negativas incluem a costelas, a pelve, o fêmur e o úmero. As fraturas patológicas
sua repetição, RMN ou TC. metastáticas raramente ocorrem distalmente ao joelho e ao
O tratamento das fraturas de estresse é conservador, cotovelo. Os encondromas são tumores benignos que comu-
a menos que a localização seja considerada de alto risco mente ocorrem nos metacarpais e nas falanges.
26 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
► TABELA 1.3 Causas de fraturas patológicas anormal da articulação. A cicatrização subsequente ocorre
Condições sistêmicas nas entorses de segundo grau, desde que a articulação seja
Osteoporose inicialmente imobüizada e protegida de estresses mecâni
Doença de Paget cos adicionais por aproximadamente seis semanas.
Osteogênese imperfeita As entorses de terceiro grau são caracterizadas pela
Osteopetrose ruptura completa do hgamento e pelo movimento anormal
Osteom alacia da articulação. O edema significativo ocorre logo depois
Hiperparatireoidismo da lesão, e a incapacidade funcional é prontamente apa
D eficiência de vitam ina D (Raquitismo) rente. Os testes de estresse perpendicular ao plano normal
Lesões locais
de movimento articular distinguem as lesões de segundo
Lesões metastáticas
das de terceiro grau. Em pacientes com entorses de ter
Mama, próstata, pulmão, rim, tireoide
Osteomielite
ceiro grau, a instabihdade grosseira sem dor é frequente
Doenças benignas primárias mente demonstrada. Em contraste, é causada dor intensa
Encondroma quando um ligamento parcialmente danificado é estirado,
Cistos ósseos unicamerais e o grau de abertura da articulação é limitado.
Condroblastoma Nas entorses de terceiro grau, a aposição direta das
Condromixofibroma duas extremidades divididas de um hgamento resultará
Tumores de células gigantes em desfecho melhor, com tecido cicatricial mínimo, do
Fibroma não ossificante que se as extremidades do hgamento não forem suturadas.
Doenças malignas primárias
A aposição das extremidades do hgamento apressa a co-
M ielom a múltiplo
lagenização e restaura o tecido ligamentar normal. Os li
Sarcoma de Ewing
Condrossarcoma
gamentos divididos e não imobilizados curam com uma
Fibrossarcoma lacuna. Os ligamentos suturados, testados sob tensão em
Histiocitoma fibroso maligno comparação àqueles não suturados, mostram-se mais for
tes. Os ligamentos não suturados falham na cicatriz. Por
estas razões, os autores preconizam o reparo da maioria
Qualquer fratura que ocorra por um trauma trivial das rupturas de terceiro grau (completas) dos principais
deve ser considerada patológica. Os pacientes podem per ligamentos de suporte ao redor de articulações de carga
ceber dor óssea generalizada ou até edema indolor sobre dentro da primeira semana após a lesão.
o local da fratura patológica. As lesões benignas são ha
bitualmente assintomáticas antes da fratura. A dor óssea Bursite e tendinite
prévia à fratura sugere que a lesão seja, mais provavel
As bolsas são sacos achatados, revestidos com membra
mente, maligna.
na sinovial e preenchidos com uma camada fina de fluido
O limiar para obter radiografias simples deve ser mais
sinovial. Eles funcionam limitando a fricção criada pelos
baixo em pacientes com quaisquer das condições hstadas na
movimentos dos tendões e dos músculos sobre as proemi
Tabela 1.3. Na radiografia, deve-se procurar por osteopenia
nências ósseas. Existem aproximadamente 160 bolsas ao
generabzada, reação periosteal, afilamento das corticais, e
longo do corpo. As forças excessivas de fricção, o trau
alterações no padrão trabecular em tomo do local da fratu
ma ou as doenças sistêmicas, como artrite reumatoide
ra. Quanto mais grave for a lesão periosteal, mais provável
ou gota, podem causar inflamação dentro de uma bolsa
haver associação com malignidade. Por fim, a fratura deve
e resultar em bursite. A forma mais comum de bursite é
ser imobilizada e, dependendo da suspeita de malignidade,
a subacromial (subdeltóidea). Outras formas comumente
o paciente deve ser hospitahzado para investigação diagnós
encontradas incluem a trocantérica, a do olécrano, a cal-
tica adicional.
caneana, a anserina e a pré-patelar. O tratamento consiste
em evitar a atividade agravante, o repouso da extremidade
PRINCÍPIOS DE TECIDOS MOLES envolvida, AENEs e injeção local de esteroides.
A tendinite é um processo inflamatório circunscrito ao
Lesão ligamentar
tendão e envolve a inserção do tendão no osso. A tendinite
As lesões hgamentares são divididas em entorses de pri pode resultar de uso excessivo crônico ou de um episódio
meiro, segundo e terceiro graus. Uma entorse de prim eiro único de atividade vigorosa. A tendinite crônica resulta em
grau é uma mptura de somente algumas fibras e é caracte atrofia das fibras do tendão. Do ponto de vista clínico, a
rizada por edema mínimo, nenhuma incapacidade funcio tendinite se apresenta com dor durante a amplitude de mo
nal e movimento articular normal. vimento ativa e sensibilidade dolorosa puntiforme próxima
Uma entorse de segundo grau é a ruptura parcial do à sua inserção óssea. A contração forçada do músculo com
ligamento. As entorses de segundo grau se apresentam pressão sobre a inserção do tendão exacerba a dor. A ten
com edema, sensibilidade dolorosa e incapacidade fun dinite calcificada está associada com inflamação crônica e
cional; contudo, em geral não existe nenhum movimento deposição de cálcio dentro do tendão, podendo ser detecta-
Emergências Ortopédicas 27
da em radiografias simples. As formas comuns de tendinite dos tendões extensores das mãos ocorre em pacientes com
incluem a patelar, do quadríceps, do manguito rotador, do artrite reumatoide. Os medicamentos como esteroides e
calcâneo, a epicondilite lateral (cotovelo de tenista), e a te- fluoroquinolonas também têm sido associados com inci
nossinovite de Quervain. Tal como a bursite, o tratamento dência mais alta de ruptura de tendão.
consiste em repouso, medicamentos anti-inflamatórios não As avulsões tendíneas nas inserções ósseas envolvem
esteroides e injeção local de esteroides. um fragmento de fratura ou tendão que pode ser reinseri-
A injeção local de esteroides para bursite e tendinite do por meio de cirurgia. As rupturas parciais dos tendões
requer que o médico esteja familiarizado com a anatomia habitualmente cicatrizam bem se uma lesão adicional for
da extremidade afetada. Se usados da forma correta, os cor- prevenida. As rupturas completas de tendão são reparadas
ticosteroides diminuem a inflamação e a dor, promovendo cirurgicamente, pois as lacunas entre as junções musculo-
a cura. As contraindicações para a injeção local de esteroi tendíneas diminuem a força do tendão depois da cicatriza-
des incluem celulite sobrejacente, suspeita de artrite sépti ção. A ruptura na junção musculotendíneas é mais difícil
ca, coagulopatia ou mais do que três injeções em um ano. de reparar por cirurgia do que a ruptura no local da inser
As preparações de corticosteroides disponíveis para ção óssea devido à impossibilidade de prever o desfecho
injeção estão listadas na Tabela 1.4. A triancinolona he- da sutura do tendão ao músculo.
xacetonida a triancinolona acetonida são os preferidos, Os tendões flexores da mão são os tendões mais co
já que são preparações potentes com longa duração de mumente lacerados. Essas lacerações criam um desafio
ação. Os efeitos locais desses agentes podem durar me ímpar, porque os tendões passam por bainhas revestidas
ses. A quantidade de esteroide a ser injetada depende da de sinóvia e por polias fibrosas. As aderências nessas es-
indicação. Para os grandes espaços, como o subacromial,
olécrano e bolsas trocantéricas, uma dose de 20 a 30 mg
de acetato de metilprednisolona ou o seu equivalente é
apropriado. As bainhas tendíneas, como na tenossinovite
de Quervain, requerem uma dose menor, de 5 a 15 mg de
acetato de metilprednisolona ou o seu equivalente.
A adição de um anestésico local à preparação de es
teroide fornece dois propósitos úteis. O paciente recebe
alívio imediato da dor e ao médico é garantido que a lo
calização da injeção esteja anatomicamente correta. A li-
docaína, a bupivacaína, ou a mepivacaína são os agentes
anestésicos mais usados.
Ruptura do tendão
Os tendões podem ser lesionados ou por avulsão ou por
laceração. As lacerações ocorrem mais comumente do
que a avulsão do tendão. A avulsão do tendão ocorre no
local da inserção óssea ou na junção entre o músculo e o
tendão. Os quatro tendões mais comumente avulsionados
incluem o do calcâneo, o do quadríceps, o bíceps e os ten
dões do manguito rotador (Fig. 1.33). O tendão fibular e Figura 1.33 Ruptura do tendão do bíceps. Observar o amon-
o patelar também se rompem com frequência. A ruptura toamento do músculo bíceps no braço.
28 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
truturas, mesmo quando o tendão estiver cirurgicamente tomo muito precoce à atividade pode resultar em nova lesão
32
reparado, limitam a sua função e restringem o movimento. e em incapacidade significativamente prolongada;
Se as suturas estiverem muito tensas, elas podem restrin
gir a microcirculação do tendão e prejudicar a cicatriza- Herniação muscular
ção. A técnica de Bunnell de sutura cruzada, comumente O músculo hemia através de um defeito na fáscia sobreja
usada, é bastante invasiva. A mobilização controlada de cente. Um “tumor” mole pode ser palpado no defeito, não
pois do reparo do tendão reduz as aderências e promove a sendo aderido à pele sobrejacente. O paciente pode recla
cicatrização, mas o carregamento excessivo pode resultar mar de edema ou protuberância do músculo quando con
em nova lesão. traído, e uma fraqueza pode ser notada. Um estalo audível
associado com dor intensa durante uma contração forte
Lesão nervosa pode ser observado. A massa é reduzida por compressão
quando o músculo estiver em repouso. Os músculos mais
Podem ocorrer três tipos de lesões nervosas. Uma contusão
comumente envolvidos nesta condição são o bíceps, o reto
simples de um nervo é chamada neuropraxia e é tratada
femoral e o gastrocnêmio. O tratamento é dependente dos
por observação isolada; o retomo à função normal é notado
sintomas. Se houver sintomas significativos, o paciente
após algumas semanas ou meses. Uma axonotm ese é uma
deve ser encaminhado para reparo da lesão.
mptura mais significativa, seguida de degeneração. O tem
po de cura é prolongado. A divisão completa de um nervo Distensão muscular
é chamada de neurotm ese, que requer o reparo cirúrgico.
A distensão muscular ocorre secundariamente ao uso (dis
tensão crônica) ou ao estresse excessivos (distensão agu
Distúrbios musculares da). Embora a distensão possa ocorrer em qualquer ponto
Os músculos são lesionados por trauma direto e indire dentro do músculo, a localização mais comum é na junção
to. Um golpe forte pode causar contusão localizada, he musculotendínea distai. Os músculos que cruzam duas arti
matoma ou laceração da fáscia sobrejacente, resultando culações e consistem em fibras de contração rápida (p. ex.,
em hemiação. Os mecanismos indiretos de lesão mus gastrocnêmio, quadriceps e isquiotibiais) são mais suscetí
cular ocorrem por hiperdistensão e resultam em ruptura veis às distensões. As distensões são divididas em primei
das fibras musculares, com hemorragia e perda parcial ro (leve), segundo (moderado) e terceiro (grave) graus, com
da função - estiramento muscular. As complicações da base na quantidade de dor, no espasmo e na incapacidade.
lesão muscular grave são vistas precocemente (p. ex., ra-
bdomiólise) e tardiamente (p. ex., miosite ossificante trau Distensão de primeiro grau. O paciente reclama de dor
mática). A lesão muscular também pode resultar de uma localizada leve, cãibras ou rigidez com movimento ou
resposta inflamatória sistêmica na forma de miosite. tensão muscular. A dor frequentemente não está presente
até depois de a atividade ter cessado. O espasmo leve e a
Contusão muscular sensibilidade dolorosa localizada podem estar presentes.
A capacidade de ferir de um objeto que atinge um múscu A função de rotina do músculo fica preservada, com leve
lo é diretamente proporcional à sua massa e ao quadrado limitação. Por exemplo, na extremidade inferior, o pacien
de sua velocidade. O trauma não penetrante direto em um te consegue deambular.
músculo resulta em ruptura parcial das fibras musculares e O paciente é aconselhado a colocar compressas de
em ruptura capilar. A equimose é vista externamente. Uma gelo sobre o músculo ferido e descansar por alguns dias.
resposta inflamatória e a formação de edema são notadas. A mobilização pode ser seguramente começada conforme
As contusões são classificadas como leves, modera a tolerância. O uso de um agente anti-inflamatório não es-
das e graves. Uma contusão leve retém a amplitude de mo teroide está indicado no contexto agudo.
vimento normal e, quando ocorre na extremidade inferior,
não afeta a marcha. A sensibilidade dolorosa localizada Distensão de segundo grau. Uma contração ou estiramen
está presente, mas não existe nenhum edema aparente. As to muscular mais forte resulta em ruptura maior das fibras
contusões moderadas são caracterizadas pela redução na musculares. O edema e a equimose estão frequentemente
amplitude de movimento pelo edema óbvio e pelos dis presentes, em adição à sensibilidade dolorosa e ao espasmo
túrbios da marcha. As contusões musculares graves resul muscular (Fig. 1.34). A dor é de aparecimento imediato em
tam em redução significativa na amplitude de movimento. relação à atividade. Quando a lesão for na extremidade infe
Sensibilidade dolorosa intensa, edema e claudicação ób rior, ela limita de forma significativa a deambulação.
via estão presentes. Se o sangramento for intenso, forma- Em pacientes com distensões de segundo grau, o mús
-se um hematoma muscular. culo lesionado deve ser imobilizado, o membro elevado e
O tratamento envolve a restrição da amplitude de movi compressas de gelo aplicadas nas primeiras 24 a 48 horas.
mento para minimizar o risco de hemorragia. Gelo, elevação Depois disso, o músculo deve ser “colocado em repouso ”,
e compressão também são empregados na fase aguda. A res usando muletas para deambulação (extremidade inferior)
tauração do movimento ocorre de forma gradual, já que o re ou uma tipoia (extremidade superior) até que o edema e a
Emergências Ortopédicas 29
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Capítulo 2
Anestesia e Analgesia
O alívio da dor e do sofrimento é um dos atos médicos de um AINE depois de uma lesão muscular induzida por
mais relevantes. O alívio da dor após lesões ortopédicas exercício pode também ser benéfico para a recuperação
deve ser universal e prontamente fornecido, com raras em curto prazo da função muscular. Em geral, o uso de
exceções. Além disso, ao longo deste livro existem des AINEs na lesão de tecidos moles é recomendado pelo seu
crições de fraturas e reduções de luxações, como também potencial para estimular a síntese de colágeno e as fases
reparos de tecidos moles, que irão necessitar de aneste iniciais de reparo da pele e ligamentar.
sia significativa para serem executados com sucesso e Dos analgésicos opioides, a codeína é o agente mais
da forma adequada. Como tal, este capítulo serve como fraco e em um estudo mostrou ser melhor do que um pla
referência para o uso seguro e efetivo dos medicamentos cebo. Outros medicamentos narcóticos orais incluem hi-
para dor, da sedação durante o procedimento, da anestesia dromorfona, hidrocodona e oxicodona. As complicações
local e da anestesia regional usadas na ortopedia de emer incluem constipação, náuseas e vômitos. Os pacientes
gência. Por fim, é revisado o uso clínico do calor e do frio devem ser instruídos a não dirigir durante o uso desses
em pacientes com lesões ortopédicas. medicamentos, embora até 7% dos pacientes admitam que
dirigem durante o seu uso, apesar das advertências.
MANEJO DA DOR
SEDAÇÃO E ANALGESIA DURANTE O
O maior estudo de pacientes com fraturas fechadas das
PROCEDIMENTO
extremidades ou da clavícula revelou que um terço des
ses pacientes não recebeu medicamentos para dor en A sedação e a analgesia durante o procedimento (SAP)
quanto estava no setor de emergência. A analgesia de é algo frequentemente usado pelo médico ortopedista de
ficiente após lesões ortopédicas está bem documentada emergência. Não é isento de complicações significativas,
na literatura. Os grupos em risco para “oligoanestesia” contudo, em especial quando for feita às pressas, ou sem
incluem os pacientes pediátricos e os grupos étnicos mi entender a farmacologia dos medicamentos envolvidos.
noritários. As crianças com idade inferior a 2 anos pare A meta da SAP é induzir um estado de tolerância aos
cem estar em risco mais alto do que as crianças em idade procedimentos de emergência, preservando os reflexos
escolar. das vias aéreas. Isso é em geral realizado pela adminis
Apesar da subutilização frequente de analgésicos tração de um agente sedativo ou dissociativo, bem como
pelos médicos, existem evidências de que os hábitos de um agente analgésico. Entretanto, certos princípios fun
prática possam mudar. Um estudo documentou que os damentais devem ser seguidos, antes de o primeiro agente
médicos prescreveram medicamentos para dor após le ser usado. Os requisitos incluem pessoal treinado, avalia
sões ortopédicas, sendo que quando um programa edu ção completa do paciente e o seu consentimento, equipa
cacional agressivo era instituído a taxa de adesão era de mento adequado, monitoração do paciente e a documenta
95%.8 ção. Somente depois desses requisitos serem satisfeitos
Uma vez que a decisão de administrar um agente é que o médico pode começar a considerar a administra
analgésico tenha sido tomada, a próxima pergunta é qual ção do fármaco.
analgésico fornecer. Os medicamentos anti-inflamatórios A SAP somente deve ser executada por um profissio
não esteroides (AINEs) devem ser evitados em pacientes nal que tenha a compreensão dos medicamentos usados, a
com fraturas em consolidação, já que tais agentes de habilidade de monitorar a resposta do paciente, e as habi
monstraram diminuir a formação óssea, a consolidação e lidades necessárias para abordar quaisquer complicações
a remodelação. de vias aéreas ou cardiovasculares que possam ocorrer.
A evidência para o uso de agentes não esteroides em Em geral, isso requer um segundo profissional, diferente
pacientes com lesões de tecidos moles não está tão cla do médico que executa o procedimento.
ra. O uso de AINEs em trauma muscular não penetrante A avaliação do paciente deve começar com a história
(especialmente no quadríceps) diminui a incidência de médica pregressa, incluindo a história anestésica, medica
ossificação heterotópica. A maioria de estudos controla mentos e alergias. Deve ser evitada a SAP em indivíduos
dos randomizados tem mostrado benefícios com o uso de com condição física classe III da Sociedade Americana
um AINE depois de várias entorses e distensões, embora de Anestesiologia (doença sistêmica grave com limitação
o efeito positivo não seja universalmente notado. O uso funcional definida) ou superior. Períodos de jejum espe-
Emergências Ortopédicas 33
cíficos antes da sedação para procedimentos não são cor 0,1 mg/kg habitualmente produz sedação dentro de 2 a
roborados pela literatura médica disponível, e a diretriz 3 minutos. Esse agente é o benzodiazepínico ideal para
tradicional de 2 horas depois de líquidos claros e 6 horas a sedação de procedimentos, devido a suas propriedades
depois de sólidos e outros líquidos nem sempre é prática anamnésicas, bem como sua curta duração de ação (30-60
no setor de emergência, já que frequentemente o procedi minutos). A complicação mais importante do uso de mi-
mento em questão não pode ser retardado. A ingestão dazolam é a depressão respiratória. Esse efeito parece ser
recente de alimentos não é contraindicação para adminis reforçado em pacientes que estejam recebendo opioides
trar sedação no procedimento, mas deve ser considerada concomitantemente ou que tenham doença pulmonar sub
ao direcionar a profundidade da sedação. jacente. Outras reações adversas incluem hipotensão, vô
O equipamento necessário inclui oxigênio, sucção, mitos, alucinações e soluços.
equipamento para suporte de vida avançado e, quando
opioides ou benzodiazepínicos forem usados, naloxona e/ Fentanila
ou flumazenil devem estar disponíveis. O acesso intrave Este agente é o opioide preferido para a sedação em pro
noso deve ser estabelecido e o paciente monitorado com cedimentos, devido à rápida ação e curta duração de ação.
oximetria de pulso contínuo e capnometria, se disponível. O pico da analgesia é obtido em 2 a 3 minutos, e a dura
O oxigênio suplementar via uma cânula nasal também é ção da ação é de somente 20 a 30 minutos. A fentanila é
recomendado. Uma lista de conferência desenvolvida no contraindicada em crianças com menos de 6 meses. Em
setor de emergência ajuda a garantir a adesão e melhora a adição à depressão e hipotensão respiratória, a fentanila
documentação. também está associada com rigidez da parede torácica. A
As combinações de medicamentos mais amplamente síndrome do tórax rígido parece ocorrer em doses altas ou
usadas são a fentanila e o midazolam ou a quetamina e o quando o medicamento é administrado muito rapidamente
midazolam. O etomidato tem se tornado um agente po e, por conseguinte, recomenda-se o uso de doses incre
pular recentemente, devido ao baixo risco de comprometi mentais de 50 /zg IV na maioria dos adultos (0,5-1 /zg/kg
mento respiratório ou hemodinâmico, ação rápida e curta em crianças), dadas de forma lenta até uma dose total de
duração. ' Não importando quais agentes forem usados, 2 a 3 /zg/kg.
o fundamento para a administração segura inclui a titu
lação lenta do fármaco até que o efeito desejado seja al Quetamina
cançado. A administração rápida pode gerar uma taxa Esse agente tem propriedades dissociativas e é um dos
mais alta de complicações, incluindo hipotensão e depres agentes anestésicos mais usados para a sedação em pro
são respiratória. A revisão dos agentes mais comumente cedimentos. Os pacientes que recebem essa fármaco têm
usados, como também os agentes de reversão, é fornecida as percepções sensoriais obnubiladas e nenhuma memó
na Tabela 2.1. ria dos eventos. A quetamina é vantajosa para a sedação
de procedimentos, pois não está associada à perda dos re
Agentes comumente usados flexos protetores das vias aéreas. A dose recomendada é
de 0,5 a 1 mg/kg por via intravenosa. O aparecimento da
Midazolam ação é de 1 minuto, com duração de 45 minutos. As con-
Este agente deve ser dosado em incrementos de 0,05 mg/ traindicações incluem idade abaixo de 3 meses, pressão
kg (até incrementos de 1-2 mg em adultos) a cada 3 a 5 intracraniana aumentada, pressão intraocular aumentada,
minutos para conseguir o efeito desejado. Uma dose de doença cardiovascular ou infecções respiratórias ativas.
34 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
mg durante 15 segundos (0,02 mg/kg em uma criança), locais mais comumente usados, estão listadas na Tabela
que pode ser repetida em intervalos de 1 minuto até que 2.2. É importante lembrar que, ao calcular a dose máxima,
o efeito desejado seja alcançado. Em uma forma similar à a lidocaína a 1% contém 10 mg/mL e a lidocaína a 2%
naloxona, pode ocorrer res sedação se os efeitos do benzo- contém 20 mg/mL. Por conseguinte, em um indivíduo de
diazepínico ultrapassarem os 20 a 40 minutos da duração 100 kg, a dose máxima de lidocaína a 1% sem adrenalina
de ação do flumazenil. é de 450 mg ou 45 mL.
*A adrenalina adiciona potencial toxicidade cardíaca da mepivacaína e, por conseguinte, é recomendada uma dose máxima mais baixa,
t A procaína é um éster, e os outros agentes listados na tabela são amidas.
36 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
sendo bloqueado, mas em geral 2 a 5 mL são suficientes. dido, o agente anestésico deve ser injetado até o aspecto
Dependendo do agente usado e da precisão da injeção, a palmar da mão, para anestesiar os ramos palmares do ner
anestesia ficará completa dentro de 10 a 15 minutos. Uma vo. O edema deve ser notado na palma, entre as cabeças
discussão completa da anestesia regional está além do ob metacarpais, depois da infiltração. O lado oposto do meta
jetivo deste texto; contudo, os bloqueios mais usados em carpal deve ser injetado para anestesiar todo o dígito. Esse
extremidades estão descritos subsequentemente. método, embora favorecido por alguns, tem desvantagens.
Em um estudo, o bloqueio metacarpal foi comparado com
Bloqueio digital o bloqueio digital (em meio anel) e o bloqueio digital foi
melhor que o bloqueio metacarpal nos escores de dor, na
Bloqueio em anel e bloqueio em meio anel taxa de falhas e no tempo para completar o procedimento.
Esse é um bloqueio comumente usado para prover aneste
sia a um dedo da mão ou do pé. Os dígitos possuem dois Bloqueio transtecal
nervos dorsais e dois palmares que correm ao longo das Uma vantagem desse bloqueio é que requer uma única
falanges nas posições de 2,4, 8 e 10 horas. O bloqueio cir- injeção, em um local que evita proximidade ao feixe neu
cunferencial é feito com sucesso bloqueando esses nervos rovascular do dígito. O anestésico é injetado diretamente
em um padrão circunferencial, em tomo da base do dígito. na bainha do tendão flexor. Na descrição inicial, o anesté
O bloqueio em meio anel é um método alternativo, com sico era injetado na prega palmar distai da mão. Esta téc
sucesso similar, no qual o anestésico é injetado em um nica demonstrou ser similar ao bloqueio digital (em meio
dos lados da base do dígito (Fig. 2.1 e Vídeo 2.1). Para o anel) nos escores de dor e no tempo para anestesia. Foi
bloqueio do hálux, um anel circunferencial de anestésico descrita uma abordagem modificada mais simples, mas
é recomendado, devido ao maior distanciamento entre os igualmente eficaz, que usa o centro da prega digital proxi
nervos. mal, na superfície volar do dígito, para o local de inserção
da agulha (Fig. 2.2)." Uma agulha nQ25 é inserida até o
Bloqueio metacarpal osso e então retrocedida lentamente, enquanto é aplicada
Altemativamente, o dígito pode ser anestesiado pelo blo pressão ao êmbolo da seringa (Vídeo 2.3). A resistência
queio dos nervos digitais comuns, antes de eles se dividi ao fluxo anestésico diminui quando a ponta da agulha está
rem para inervar os dígitos. A agulha é inserida no aspecto dentro da bainha de tendão. Nesse momento, aproximada
dorsal da mão, no espaço intermetacarpal entre os dígitos. mente 2 mL de agente anestésico são injetados, enquanto
A agulha é direcionada às cabeças metacarpais e à palma uma pressão proximal é aplicada à superfície volar para
da mão (Vídeo 2.2). Para que o bloqueio seja bem-suce ajudar na difusão distai.
Figura 2.1 Bloqueio digital em meio anel do terceiro dígito. A. Local da injeção radial. B. Local da injeção ulnar.
Emergências Ortopédicas 37
Nervo mediano
O nervo mediano é bloqueado com 5 mL de anestésico
local, injetados no aspecto volar do punho, entre as pre
gas proximal e distai do punho. A agulha é inserida entre
o tendão do flexor radial do carpo e o tendão do palmar
longo. O tendão do palmar longo está ausente em 10%
dos indivíduos mas, se presente, é o tendão no punho mais
proeminente, pois fica superficial ao retináculo flexor. O
nervo mediano é um nervo grande, e as parestesias são ob
tidas quando a ponta da agulha toca o nervo. Neste ponto,
a agulha deve ser retirada aproximadamente em 1 mm e,
quando as parestesias resolverem, o anestésico pode ser
injetado. O anestésico deve fluir com facilidade, confor
Figura 2.2 Bloqueio digital transtecal modificado.
me o agente banha o conteúdo do túnel do carpo e o nervo
mediano (Fig. 2.4 e Vídeo 2.5).
Bloqueio do punho
Nervo ulnar
O bloqueio do punho fornece anestesia para toda a mão e A anestesia do nervo ulnar é difícil de executar com su
é útil em muitos procedimentos de tecidos moles e para cesso. O nervo é bloqueado com 3 mL de agente anesté
reduções dos ossos da mão. A técnica adequada requer a sico local injetado no aspecto volar do punho. A injeção
deposição de anestésico local para bloquear os nervos ra é feita lateralmente ao tendão do flexor ulnar do carpo e
dial, mediano e ulnar no punho. medial à artéria ulnar. Esse bloqueio é feito 2 cm proximal
à prega de punho para bloquear o ramo dorsal antes de sua
Nervo radial partida. Uma profundidade de 0,5 cm é suficiente para o
O nervo radial é bloqueado no punho usando duas inje bloqueio do nervo ulnar (Fig. 2.5 e Vídeo 2.6).
ções. A injeção inicial é feita na prega proximal do pu
nho, logo lateral à artéria radial. São injetados 2 mL de Extremidade inferior
anestésico em profundidade de aproximadamente 0,5 cm.
Uma segunda injeção é necessária, pois os ramos dorsais Bloqueio do nervo femoral
do nervo radial surgem mais proximalmente. Uma pápula Este bloqueio é útil para aliviar a dor devido a fraturas
cutânea superficial é criada no dorso da mão, estendendo- do colo do fêmur, fraturas intertrocantéricas do fêmur e
A B
Figura 2.3 Bloqueio do nervo radial no punho. A. Injeção inicial para bloquear o ramo principal do nervo. B. Uma segunda inje
ção superficial ao longo da face dorsal do punho é usada para bloquear os ramos que surgem mais proximalmente.
38 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
Figura 2.4 Bloqueio do nervo mediano no punho. rior do maléolo medial e 3 a 5 mL de solução anestésica
são injetados.
Nervo safeno
Este nervo é bloqueado na borda anterior do maléolo me
diai, logo posterior à veia safena magna. A agulha é inse
rida em aproximadamente 1 a 2 cm sobre o aspecto supe-
Figura 2.5 Bloqueio do nervo ulnar no punho. Figura 2.7 Bloqueio do nervo tibial posterior.
Emergências Ortopédicas 39
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Capítulo 3
Reumatologia
PRINCÍPIOS GERAIS matórias, como a artrite séptica e a gota, causam edema,
eritema e calor. A sensibilidade dolorosa à palpação é no
Ao abordar um paciente com dor articular, o médico da tada. A amplitude de movimentos e a presença de derra
emergência deve, primeiramente, lembrar que a fonte da me são documentadas. As articulações afetadas devem ser
dor pode ser articular ou periarticular (i.e., bursite, tendi
comparadas às do lado não afetado. Embora haja algumas
nite). Quando tiver sido determinado que a origem da dor
exceções, os pacientes com artrite inflamatória verificada
for mesmo a articulação, artrite é a terminologia apropria
ao exame físico devem ser submetidos a uma artrocentese
da se um processo inflamatório for a causa. A dor articular
para afastar a possibilidade de artrite séptica.
não inflamatória é chamada de artralgia.
O exame dermatológico pode ser útil ao fazer um
diagnóstico. Algumas associações comuns incluem lesões
História anulares no lúpus eritematoso sistêmico (LES), febre reu
A avaliação começa com uma história completa. O médi mática e doença de Lyme; p la ca s eritem atosas fa c ia is no
co deve, primeiramente, determinar quando a dor come LES; urticária na infecção por hepatite B, doença do soro,
çou. Um aparecimento agudo (de horas a uma semana) vasculite urticariforme primária e mononucleose; úlceras
sugere trauma, infecção ou artrite induzida por cristais. orais na doença de Crohn, na síndrome de Behçet, na sín-
Uma história de ataques similares pode apoiar um diag drome de Reiter e no LES; lesõespapuloescam osas na sín
nóstico de artrite induzida por cristais. A dor articular crô drome de Reiter, artrite psoriática e LES; e p la ca s desca-
nica sugere um problema crônico, mas o profissional deve m ativas na artrite psoriática. As lesões do eritem a nodoso
ser cuidadoso em observar quaisquer novas características são nódulos subcutâneos eritematosos, com 1 a 5 cm de
que seriam incomuns ao paciente e que podem significar diâmetro, que tipicamente se desenvolvem em locais pré-
alguma condição concomitante (como uma articulação -tibiais e se resolvem de forma espontânea depois de várias
séptica em paciente com artrite reumatoide). semanas (ver Fig. 3.13). Quando essas lesões são vistas
A distribuição de articulações afetadas e o padrão são em associação com artrite, devem ser considerados os pro
determinados. A monoartrite envolve uma articulação, a cessos imunes primários, como a sarcoidose, a doença in
oligoartrite envolve duas a três articulações, e a poliartrite testinal inflamatória, a doença de Behçet, causas induzidas
ocorre em mais de três articulações. O envolvimento si por drogas, gravidez e infecções sistêmicas, como a sepse.
métrico que é aditivo e inicialmente envolve as pequenas
articulações é encontrado na artrite reumatoide. A artrite Artrite monoarticular versus poliarticular
migratória é consistente com febre reumática e artrite go-
Um caminho útil para classificar a artrite é com base no
nocócica.
número de articulações envolvidas - como m onoarticular
A seguir, o paciente deve ser questionado sobre sinto
ou poliarticular. Existe uma sobreposição dentro dessas
mas sistêmicos. A febre e a perda de peso são sinais impor
classificações que o profissional deve estar ciente. Por
tantes, pois significam enfermidade sistêmica. A rigidez é,
exemplo, a artrite infecciosa é geralmente considerada mo
de hábito, indicação de sinovite e a piora da rigidez depois
noarticular, mas, em 10 a 20% dos casos, mais de uma arti
do sono, que gradualmente melhora (i.e., descongelamen
culação é afetada. A artrite gonocócica pode apresentar-
to), sugere artrite reumatoide. Se o paciente queixar-se de
-se com envolvimento monoarticular ou poliarticular. Além
fraqueza, o profissional deve diferenciar a fraqueza gene
disso, um paciente com artrite de somente uma articulação
ralizada de um déficit focal. As parestesias podem indicar
pode apresentar o primeiro sintoma do que eventualmente
neuropatia compressiva ou radiculopatia. A dor muscular
irá manifestar-se como uma condição poliarticular.
significativa sugere a possibilidade de miosite.
Monoartrite aguda
Exame
As três causas mais comuns de monoartrite aguda em
O profissional deve determinar se a fonte da dor é a ar adultos são por cristais, trauma e infecção. Embora exis
ticulação em si ou as estruturas periarticulares. Algumas tam mais de 100 causas diferentes de artrite, nenhuma é
características distintivas estão listadas na Tabela 3.1. mais importante para o médico da emergência do que o
Uma vez que tenha sido determinado que a articula diagnóstico de artrite séptica. Se a artrite séptica passar
ção seja a fonte provável de dor, verificar se a dor articular sem diagnóstico ou sem tratamento, pode resultar em mor
é inflamatória ou não inflamatória. As condições infla talidade e, no mínimo, a destruição rápida do tecido arti-
Emergências Ortopédicas 43
► TABELA 3.1 Características da lesão a estruturas em pacientes que foram tratados. As grandes articulações,
intra-articulares v e rs u s periarticulares como o joelho, costumam ser afetadas e essas articulações
Intra-articular Periarticular são, inicialmente, mais inchadas do que dolorosas.
A D M restrita em todas as A D M restrita em algumas
O vírus da im unodeficiência hum ana (HIV) pode ser
direções direções visto em pacientes que se apresentam com monoartrite.
Dor com A D M ativa e passiva Dor com A D M ativa Uma síndrome que consiste em artrite oligoarticular ou
Derrame articular Nenhum derrame articular
monoarticular, envolvendo as articulações da extremidade
Dor mais intensa nos limites Dor mais intensa com o
inferior, pode anteceder o aparecimento da infecção por
do movimento movimento contra resistência HIV. Estes pacientes podem ter um fluido sinovial não
Dor com distração da Nenhuma dor quando a reativo ou apenas minimamente reativo. Deste modo, em
articulação articulação é distraída pacientes com uma artrite inexplicável e em alto risco para
infecção por HIV, deve-se considerar esse diagnóstico.
ADM , amplitude de movimento.
A artrite induzida p o r crista is é uma causa comum
de monoartrite. A artrite reumática também é comumente
cular é inevitável. Algumas infecções, se não tratadas, po vista com uma fratura ou depois de uma ruptura meniscal
dem destruir a cartilagem em tão pouco tempo quanto dois ou ligamentar. A osteoartrite pode apresentar-se em uma
dias. A Tabela 3.2 lista os diagnósticos diferenciais para única articulação. A osteonecrose espontânea é mais vista
os pacientes que se apresentam com monoartrite aguda. em pacientes idosos, envolvendo o joelho, e pode levar à
As infecções nas articulações grandes, como os joe dor súbita com ou sem qualquer fusão. As lesões pene
lhos e os quadris, ocorrem em infecções bacterianas não trantes por espinhos, fragmentos de madeira ou outro ma
gonocócicas. Aproximadamente 80 a 90% das infecções terial estranho podem causar uma sinovite reativa aguda.
bacterianas não gonocócicas são monoarticulares. A dis A hem artrose é mais comum após o trauma; contudo,
seminação hematogênica é sem dúvida a via mais comum pode ser causada por anormalidades adquiridas ou congê
para essa infecção. A artrite gonocócica é a causa mais co nitas da coagulação, como a hemofilia.
mum de artrite infecciosa em pessoas jovens e saudáveis, A artrite aguda em pacientes com articulações p ro
com a frequência sendo muito mais comum em mulheres féticas é um problema significativo, já que pode indicar
do que em homens. A artrite tuberculosa é incomum; en infecção. A fonte mais comum de infecções em articulação
tretanto, em pacientes com tuberculose pulmonar, ela deve protética é a disseminação hematogênica a partir de lesões
ser considerada. As lesões ósseas periarticulares podem infectadas na pele. Os pacientes com próteses de quadril
acompanhar o envolvimento ósseo. A artrite fú n g ic a é ha que se apresentam com monoartrite podem ter afrouxa
bitualmente insidiosa no aparecimento, e pode ser vista em mento, que é a causa mais comum de falha em longo prazo
um hospedeiro imunocomprometido. A artrite virai é co das artroplastias.
mum, pode ser monoarticular e está, muitas vezes, associa Muitas d o en ça s sistêm ica s podem se apresentar no
da ao vírus do herpes simples. Na doença de Lym e, vê-se início com uma monoartrite. Isto é claramente uma apre
artralgias intermitentes; contudo, uma monoartrite crônica sentação incomum nas doenças sistêmicas; entretanto,
ou até uma oligoartrite com erosões podem estar presentes. deve ser considerada quando as outras condições listadas
A artrite de Lyme ocorre meses depois da infecção inicial anteriormente e discutidas mais tarde neste capítulo tive
rem sido afastadas. As doenças sistêmicas que podem se
apresentar com uma monoartrite incluem o LES, a artrite
► TABELA 3.2 Diagnóstico diferencial da monoartrite reumatoide, a artrite da doença intestinal inflamatória, a
aguda doença de Behçet e a síndrome de Reiter.
Classificação Diagnóstico diferencial
Infecções Bactérias A p resen ta çã o clínica. A apresentação clínica é extrema
Vírus mente útil ao decidir como abordar um paciente com mo
Doença de Lyme noartrite. Uma história de episódios prévios sugere causas
M icobactérias, fungos induzidas por cristais ou outras causas não infecciosas. Se
Induzida por cristais Gota o paciente disser que tem febre, o médico deve primeiro
Pseudogota pensar em artrite séptica. A diarreia, a uretrite ou a uveíte
Trauma Fratura intra-articular sugerem algum tipo reativo de artrite. Os pacientes com
Ruptura de menisco história de trauma devem ter suspeita de uma fratura, que
Hemartrose pode não ter sido vista na radiografia inicial, particular
Necrose avascular
mente na extremidade inferior, onde as fraturas osteocon-
Osteoartrite
drais e as fraturas do platô tibial podem estar ocultas.
Tumor Metástase
Ao exame, deve-se d istin g u ir entre a artrite e as
Osteoma osteoide
condições periarticulares (bursite, tendinite e celulite),
Sinovite vilonodular
conforme já mencionado. Em pacientes com celulite, o
44 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
envolvimento em geral já não está isolado apenas na ar fingimento com Gram e exame na busca de cristais. Se
ticulação. Se estiver, contudo, a palpação da área onde se somente algumas gotas de fluido sinovial forem obtidas,
faz uma artrocentese revela que é o lugar mais doloroso então devem ser enviadas para cultura, fingimento com
no paciente com artrite, mas não no paciente com celulite. Gram e determinação de cristais. As contagens diferen
Mesmo com o exame mais detalhado, contudo, a celulite ciais dos leucócitos podem ajudar a fazer um diagnósti
na área do punho, do joelho e às vezes do tornozelo pode co de infecção, já que um achado de 90% de neutrófilos
imitar a artrite. A limitação dolorosa do movimento costu polimorfonucleares (PMNs) sugere infecção ou doença
ma indicar o envolvimento articular. induzida por cristais, mesmo que a contagem total de leu
cócitos seja baixa. Um diagnóstico definitivo a partir da
A r tr o c e n te s e . A artrocentese deve ser executada em análise do aspirado articular é obtido em apenas 44% dos
pacientes com monoartrite em quem a infecção seja uma casos.8A diferenciação entre artrite inflamatória e não in
possibilidade. A técnica estéril e o anestésico local devem flamatória é, entretanto, possível.
ser utilizados em todos os casos. O paciente deve dar o Deve-se lembrar que a presença de cristais não exclui
consentimento para o procedimento. Os princípios gerais uma infecção. A lesão articular crônica em pacientes com
da artrocentese incluem o uso da superfície extensora, a artropatia induzida por cristais toma esses pacientes mais
distração e aproximadamente 20 a 30° de flexão (Vídeo suscetíveis à artrite séptica. A probabilidade de doença
3.1). Em adição, recomenda-se efetuar a artrocentese com cristalina e artrite séptica concomitante parece ser baixa,
a agulha destacada da seringa para aumentar a probabilida conforme demonstrado em um resumo apresentado no en
de de sucesso. Pelo fato de o fluido sinovial frequentemen contro anual de 2004 da Society o fA c a d e m ic E m ergency
te ser espesso e, no caso de artrite inflamatória, cheio de M ed icin e. Dos 265 aspirados que continham cristais,
fragmentos celulares, uma agulha grande deve ser usada. somente 4 (1,5% [IC de 95%, 0-3%]) subsequentemen
Em articulações maiores, como o ombro e o joelho, uma te se desenvolveram como culturas positivas. Entretanto,
agulha tamanho 18 ou 20 é apropriada (Tab. 3.3). A téc quando houver dúvida sobre o diagnóstico, os antibióticos
nica deficiente ou uma quantidade grande de movimento devem ser administrados até que os resultados da cultura
da agulha durante o procedimento podem danificar a car retomem.
tilagem articular. Os Vídeos 3.2 a 3.10 ilustram a técnica
recomendada para fazer a artrocentese nas articulações que P o lia rtrite
mais comumente requerem o procedimento. A taxa de in
Na poliartrite, quatro ou m ais articulações estão envolvi
fecção secundária à artrocentese é de 1:10.000 aspirações.8
das. Os três padrões de poliartrite incluem:
A n á lise d o flu id o sinovial. A Tabela 3.4 apresenta al 1. A d itiv a . Os exemplos incluem artrite reumatoide,
guns dos achados comuns da análise do fluido sinovial em LES e artrite psoriática, todas com envolvimento ar
pacientes com monoartrite. O fluido é enviado ao labo ticular progressivo, incluindo outras articulações com
ratório para contagem diferencial dos leucócitos, cultura, o passar do tempo.
► TABELA 3.3 Tamanho de agulha e técnica recom endada para a artrocentese articular
Agulha Tamanho articular (medida) Anatomia importante para a inserção da agulha
2. M igratória. Com a artrite gonocócica ou a febre reu (VSG) alta tem valor mínimo, pois está elevada em qua
mática aguda, as articulações sintomáticas melhoram se todas as condições que causem poliartrite. Entretanto,
e então articulações diferentes tornam-se envolvidas. uma VSG normal é sugestiva de infecção virai.
Um padrão migratório também pode ser visto na artri A artrite gonocócica é uma infecção poliarticular que
te virai, na artrite de Lyme e no LES. se apresenta como artrite migratória com calafrios, febre e
3. Interm itente. Na gota, na pseudogota e na febre me tenossinovite que envolve as bainhas dos tendões extenso-
diterrânea familiar, é visto um retrato de artrite com res do punho ou do tornozelo. A lesão cutânea caracterís
sinais e sintomas que aparecem, duram alguns dias, e tica muitas vezes ajuda a fazer o diagnóstico. Os derrames
então desaparecem. sinoviais purulentos na artrite gonocócica são incomuns,
e o organismo é mais frequentemente recuperado a partir
Um diagnóstico diferencial e as características diag de culturas geniturinárias. As hemoculturas podem ser po
nósticas em pacientes com poliartrite estão listados na sitivas em pacientes que se apresentam com febre e lesões
Tabela 3.5. A poliartrite associada à febre deve instar de pele.
o profissional a pensar primeiramente em infecção. Em Na artrite vira i , a artrite migratória, é comum; con
pacientes com poliartrite, o exame do fluido sinovial é ex tudo, alguns pacientes se apresentam com poliartrite si
traordinariamente útil, em especial quando estiver sendo métrica. O diagnóstico de hepatite B pode ser feito com
considerada a infecção bacteriana como uma possibilida base nos níveis elevados das enzimas hepáticas, embora
de. As contagens leucocitárias de mais de 50.000/mm3 su não haja icterícia ou sensibilidade dolorosa no fígado. Em
gerem infecção bacteriana, mas podem ser vistas na artrite mulheres mais jovens, a rubéola e o parvo vírus B19 po
reumatoide, na artrite induzida por cristais e na artrite rea dem apresentar-se com artrite migratória. Nestes casos, os
tiva. Infelizmente, a velocidade de sedimentação globular pacientes habitualmente têm artrite simétrica aditiva, en-
Fatores de risco cas sugerem sepse, e não artrite local. Este é um ponto
fundamental que deve ser lembrado ao considerar esse
Embora seja verdade que a artrite séptica possa ocorrer em
diagnóstico em crianças. As crianças mais velhas também
qualquer articulação e em qualquer indivíduo, existem algu
mostram-se febris e indispostas, mas os sinais locais são
mas situações clínicas nas quais ela é mais provável. Os fa
mais acentuados.
tores de risco identificados incluem idade acima de 80 anos,
A artrite gonocócica possui algumas características
diabetes melito, artrite reumatoide, prótese articular, cirur-
únicas e é, por conseguinte, mencionada separadamente.
gia articular e uma infecção na pele. De todos os casos
É parte de uma tríade clínica da infecção gonocócica dis
de artrite séptica, 59% ocorrem em pacientes com distúrbio
seminada (IGD), que também inclui dermatite e tenossi-
articular prévio. Isso é significativo porque potenciais
novite. A IGD ocorre em 0,5 a 3% dos casos de infecção
erros diagnósticos podem ocorrer se o profissional atribuir
da mucosa. A artrite da IGD é poliarticular em 40 a 70%
falsamente a nova dor articular a uma “exacerbação reuma
dos casos, sendo habitualmente migratória É mais co
toide” quando ela for secundária à infecção bacteriana. Os
mum em mulheres jovens e sexualmente ativas. As articu
fatores locais que predispõem ao desenvolvimento de artri
lações mais envolvidas são os joelhos e os punhos. As le
te séptica incluem trauma direto, cirurgia articular recente,
sões características da pele estão presentes em dois terços
osteoartrite, injeções repetidas de esteroide intra-articular e
dos casos e incluem múltiplas máculas indolores, pápulas
articulações protéticas. Em um estudo, havia material articu e pústulas com uma base eritematosa. Normalmente, a
lar sintético em 29% das articulações infectadas. As condi erupção cutânea ocorre nos braços, nas palmas, nas so
ções sistêmicas associadas com a artrite bacteriana incluem las dos pés, nas pernas ou no tronco. A tenossinovite dos
doença hepática, alcoolismo, insuficiência renal, malignida tendões do punho e do tornozelo pode estar associada, e
des, síndrome de imunodeficiência adquirida (Aids) e imu- também está presente em dois terços dos pacientes.
nossupressão. O uso de drogas intravenosas predispõe à ar
trite séptica, frequentemente, em uma localização incomum
Análise laboratorial
(articulação estemoclavicular). Os fatores prognósticos
adversos incluem a idade mais avançada, a doença articular A suspeita clínica de artrite infecciosa deve ser confirmada
preexistente e a presença de material articular sintético. por uma artrocentese da articulação em questão. A artrocen-
tese é realizada pelo médico da emergência, a menos que
Apresentação clínica haja material protético dentro da articulação (ver Vídeos 3.1
a 3.10). A artrocentese do quadril é difícil, e mais adequa
Embora a artrite séptica habitualmente se apresente como damente executada com ultrassonografia ou fluoroscopia.
monoartrite, 10 a 20% dos pacientes têm poliartrite no Nestes casos, a consultoria ortopédica é apropriada.
aparecimento, envolvendo várias articulações grandes. O fluido sinovial deve ser enviado para fingimento com
Quando a condição se apresentar dessa forma, ela surge Gram, cultura, contagem de leucócitos e diferencial e para
como um tipo aditivo de artrite. As extremidades inferio exame de cristais. As culturas sanguíneas devem ser obtidas,
res são afetadas com mais frequência, como as articula sendo positivas em 50% dos casos de artrite séptica não go
ções do quadril e do joelho. O joelho está envolvido em nocócica. A contagem de leucócitos periféricos está eleva
50% dos casos. O quadril é mais comumente infectado em da em apenas metade dos pacientes e, por conseguinte, não
crianças. Dez por cento das infecções envolvem a articula é confiável para excluir o diagnóstico. Como demonstrado
ção SI, sendo difíceis de detectar ao exame físico. na Tabela 3.4, a contagem de leucócitos no fluido sinovial é
Uma articulação séptica é, por definição, de nature habitualmente superior a 50.000 células/mm3, com a predo
za inflamatória e, por conseguinte, eritematosa, quente e minância de células polimorfonucleares. Um estudo recente
dolorosa. A distensão da cápsula articular e o aumento da notou, entretanto, que esse “ponto de corte” não é suficien-
20
pressão intra-articular contribuem para a dor. Os pacientes temente sensível para ser usado e excluir o diagnóstico.
estão relutantes em mover-se e pôr carga na articulação. A Em pacientes com artrite séptica comprovada com cultura,
amplitude de movimento está gravemente limitada devido foi comprovado que mais de um terço tinha contagens de
à dor e ao derrame articular. O derrame articular está pre leucócitos sinoviais abaixo de 50.000 células/mm3 e 10%
sente em 90% desses pacientes, mas é menos aparente nas tinham contagens acima de 10.000 células/mm3.
articulações como o ombro. Raras vezes, esses achados Conforme afirmado anteriormente, o achado de cris
são menos evidentes no caso de o paciente se apresentar tais não exclui o diagnóstico de artrite séptica, já que estas
cedo no curso clínico. A ausência de febre e leucocitose duas entidades podem coexistir. O diagnóstico também
periférica, embora muitas vezes presente na artrite sépti pode ser confundido pelo fato de que ambas as condições
ca, não deve ser usada para excluir o diagnóstico. Na ver podem apresentar-se com febre, artrite inflamatória e al
dade, apenas metade dos pacientes com artrite bacteriana tas contagens leucocitárias sinoviais. Em muitos casos, o
terá febre ou leucocitose. fingimento com Gram e um bom julgamento clínico de
Em bebês, os sintomas costumam ser sistêmicos em vem guiar o médico da emergência até que o resultado da
vez de locais. As crianças pequenas desenvolvem febres cultura esteja disponível, dois dias mais tarde. É recomen
altas e aparentam estar doentes. As características clíni dável que o paciente com história de gota, com ataques
48 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
similares no passado, cristais no fluido sinovial e tingi- for afetado. A artroscopia é preferida no joelho e no om
mento com gram-negativo seja tratado apenas para gota, bro por facilitar a irrigação. O material protético deve ser
com acompanhamento atento dos resultados da cultura. removido por meio de cirurgia. Em casos raros, as infec
Entretanto, quando houver dúvida sobre o diagnóstico, o ções iniciais em articulações protéticas podem ser tratadas
paciente deve ser tratado como se tivesse artrite séptica e a com debridamento e um curso longo de antibióticos.
consultoria ortopédica é solicitada. A artrite gonocócica é tratada com antibióticos intra
As bactérias são identificadas com o fingimento do venosos por 24 a 48 horas após a melhora ter começado.
fluido sinovial por Gram em 50% dos casos e na cultura O agente de escolha é uma cefalosporina de terceira gera
em mais de 90% dos casos. A administração prévia de ção, tipicamente a ceftriaxona 1 g via intravenosa a cada
antibióticos aumenta significativamente os falso-negativos 24 horas. A terapia oral é iniciada com ciprofloxacino 500
para fingimentos com Gram e culturas. Reciprocamente, mg, duas vezes ao dia. Os derrames sinoviais podem exi
o uso de frascos de hemocultura e um volume maior de gir aspiração repetida, mas raramente a drenagem aberta
fluido sinovial pode aumentar a chance de cultura positiva é necessária.
verdadeira, embora isso não tenha sido demonstrado em
todas as situações.“ A diluição do fluido sinovial em um
ARTROPATIA INDUZIDA POR CRISTAIS
frasco de hemocultura inibe os componentes bactericidas
do fluido sinovial e aumenta o rendimento. A gota e a pseudogota são síndromes inflamatórias causa
Os achados laboratoriais compatíveis com a artrite das pela deposição de cristais nas articulações e nos teci
gonocócica incluem menor rendimento das culturas do dos moles. As características dessas duas síndromes estão
fluido sinovial (50%). Um rendimento muito mais eleva comparadas na Tabela 3.6.
do é obtido a partir da cultura de mucosa (80%). As he-
moculturas são positivas em apenas 20 a 30% dos casos. Gota
O achado radiográfico é de edema simétrico de tecidos
moles em tomo da articulação envolvida; a erosão margi A gota é causada pela precipitação de cristais de ácido
nal ou as erosões do osso ocorrem mais tarde. A marca re úrico nas articulações e nos tecidos moles. O ácido úrico
gistrada da artrite séptica é a perda da linha cortical branca se precipita da solução em aproximadamente 7 mg/dL, de
sobre um longo segmento contíguo. Infelizmente, as radio forma que uma pequena elevação na concentração sérica
grafias têm valor diagnóstico limitado nos estágios iniciais de uratos, na faixa normal de 4 a 5 mg/dL, pode levar à
dessa doença. O exame com radiofármacos e a ressonância artrite gotosa. Os níveis de ácido úrico são, em geral, mais
magnética nuclear (RMN) podem identificar osteomieli- altos em homens do que em mulheres pré-menopáusicas,
te justa-articular e derrames em localizações profundas, e tomam-se elevados com a idade em ambos os sexos. Em
como a articulação do quadril e a SI. A artrocentese reali consequência disso, o paciente típico portador de gota é
zada com rapidez é essencial, pois o retardo no tratamento o homem de meia-idade. A gota é incomum em homens
é o melhor preditor de um desfecho desfavorável. abaixo dos 30 anos e em mulheres na fase pré-menopausa.
Embora até 5% dos adultos tenham algum grau de hi-
Tratamento peruricemia, somente um quinto destes (1% do total) de
senvolve gota. Entre pacientes com níveis séricos de ácido
A terapia consiste em antibióticos sistêmicos, imobiliza úrico de 9 mg/dL, 5% desenvolverão gota aguda ao ano.“
ção, drenagem fechada ou aberta da articulação séptica, e A hiperuricemia pode ser causada pela superprodução de
a reabilitação mais tardia. O tratamento com antibióticos ácido úrico ou pela redução da excreção na urina. Embo
é iniciado assim que possível e, de preferência, depois da ra uma discussão sobre os distúrbios do metabolismo de
artrocentese e da obtenção de um conjunto de hemocultu- uratos esteja além do objetivo deste texto, o médico da
ras. O tratamento antibiótico empírico para artrite séptica emergência deve estar familiarizado com algumas causas
não gonocócica consiste no uso de uma penicilina resis da redução da excreção de uratos, já que podem precipitar
tente à penicilinase (p. ex., nafcilina) e cefalosporina de um ataque de artrite gotosa: diuréticos de alça (furosemi-
terceira geração (p. ex., ceftriaxona). A vancomicina e da, tiazídicos), salicilatos, antimicrobianos, como pirazi-
um aminoglicosídeo ou fluoroquinolona são apropriados namida e etambutol, e etanol. O frio ambiente ou a circu
em pacientes com alergia à penicilina ou quando existir lação ruim podem levar à precipitação, pois a solubilidade
suspeita de S. aureus meticilina-resistente. O fingimento do ácido úrico é dependente da temperatura.
com Gram ajuda a direcionar o tratamento.
A consultoria ortopédica e a hospitalização são ne Apresentação clínica
cessárias para todos os pacientes. Atualmente, o suporte
A apresentação da gota é dividida em quatro estágios:
principal do tratamento é a drenagem fechada, pelo menos
uma vez ao dia. Se o fluido não puder ser obtido a partir • E stágio 1 (hiperuricem ia as sintom ática). Os sintomas
da articulação ou se houver resposta ruim à terapia com habitualmente não estão presentes, embora uma pe
antibióticos, a drenagem aberta ou por artroscopia é ne quena porcentagem de pacientes desenvolva cálculos
cessária. A drenagem aberta é necessária quando o quadril urinários.
Emergências Ortopédicas 49
Gota Pseudogota
Articulações afetadas Primeira MTF, pé, tornozelo, joelho Joelho
Episódio inicial 90% monoarticular 90% monoarticular
Distribuição Assim étrica, articulações adicionais com Habitualmente monoarticular, incomum em mais de
episódios subsequentes três articulações
Início Hiperagudo, dentro de algumas horas Agudo, dentro de 6-24 h
Tofos Presentes na gota crônica Pode desenvolver depósitos como tofos
Provocantes Distúrbios do metabolismo de uratos Trauma articular
Diuréticos Enfermidade sistêmica
Etanol Distúrbios endócrinos
Frio
Cristais Urato monossódico Pirofosfato de cálcio desidrogenado
Em forma de agulha Em forma de bastão ou romboidal
Negativamente birrefringente Positivamente birrefringente
Contagem celular Inflamatória, > 50.0 0 0 , principalmente PMNs Inflamatória, pode ser < 50.0 0 0 , principalmente PMNs
Viscosidade Redução acentuada Dim inuída, mas de forma variável
Tratamento AINEs Aspiração e injeção articular
Analgésicos AINEs
C olchicina M obilização precoce
• E stágio 2 (artrite gotosa aguda). Este estágio é anun • E stágio 3 (g o ta intercrítica). Entre os ataques de ar
ciado pelo aparecimento rápido de dor intensa e ede trite gotosa, o paciente está assintomático, mas pode
ma das articulações afetadas. As primeiras metatar- ainda ter cristais de urato presentes tanto nas articu
sofalângicas (MTF) são afetadas em mais da metade lações previamente afetadas como nas não afetadas.
dos ataques iniciais e eventualmente em até 90% dos • Estágio 4 (gota crônica). Aproximadamente metade dos
pacientes com gota. Outros locais bastante afetados pacientes que tiveram ataques de gota por um período
são as outras articulações dos pés, os tornozelos e de 10 anos ou mais desenvolvem tofos, que são nódulos
os joelhos. Quando a mão é afetada, o edema pode na pele e nos tecidos moles que contêm precipitados de
ser bastante significativo (Fig. 3.1). Quase 90% dos cristais de ácido úrico (Fig. 3.2). Os tofos e a reação in
ataques iniciais são monoarticulares. As articulações flamatória associada aos cristais de urato podem danifi
afetadas estão notadamente eritematosas, mais do que car a cartilagem, o osso subcondral, os tendões e a pele,
nos outros tipos de artrite não infecciosa. Os tendões levando a deformidades estéticas e funcionais.
e as bolsas podem ser afetados. Embora os ataques le
ves se resolvam dentro de alguns dias, os mais graves Diagnóstico
requerem várias semanas para a completa resolução. Os níveis séricos de ácido úrico estão quase sempre eleva
Os pacientes às vezes estão sistemicamente doentes, e dos entre os ataques nos pacientes com gota. Entretanto,
até parecerem sépticos. durante um ataque agudo, o ácido úrico se precipita nos
Figura 3.1 Ataque agudo de gota na mão esquerda. Figura 3.2 Tofos gotosos da mão.
50 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
Pseudogota
A deposição de cristais de pirofosfato de cálcio di-hidra-
tado (PFCD) nas articulações ocorre primariamente em
pacientes idosos. Pode apresentar-se como artrite mono
Figura 3 .5 A lterações degenerativas gotosas da mão e do articular aguda ou como artrite crônica (em geral compli
punho. cando a osteoartrite subjacente). Os cristais de PFCD são
52 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
encontrados na artrocentese em mais de 40% dos pacien- O diagnóstico é feito por aspiração articular, que revela:
tes com osteoartrite. "
• C ristais romboid.es ou em fo r m a de haste de P F C D ,
Os exames radiográficos podem estar normais, mos
que têm fraca birrefringência positiva e que aparecem
trar alterações de osteoartrite ou revelar calcificação na
azuis quando orientados em paralelo ao eixo de vibra
cartilagem, nos tecidos sinoviais e nos tendões. A calci
ção lenta marcada sobre o compensador do microscó
ficação da cartilagem articular, a condrocalcinose, ocorre
pio polarizado. Como ocorre com a gota, a presença
com mais frequência nas mãos e nos joelhos (Fig. 3.7).
de cristais não elimina uma infecção, e todas as amos
A artrite aguda por PFCD é a causa mais comum de
tras de fluido sinovial devem ser encaminhadas para
artrite monoarticular aguda em idosos. Embora qualquer
cultura e tingimento com Gram.
articulação possa estar envolvida, o joelho é mais comu-
mente afetado, seguido pelo punho, pelo ombro, pelo tor • F luido sinovial m anchado de sangue ou turvo.
nozelo e pelo cotovelo. A dor e a inflamação são intensas • Viscosidade dim inuída.
e a pessoa as apresenta rapidamente durante 6 a 24 horas. • C ontagem leucocitária eleva d a , > 50.000/mm , pri
Como com a gota, o eritema sobrejacente é comum, e o mariamente neutrófilos. Entretanto, as contagens ce
paciente pode estar febril. Pacientes com deficiência cog lulares variam mais do que na gota e pode ser muito
nitiva subclínica podem estar confusos, e a sepse deve ser mais baixas.
afastada em tais casos.
Mais de 90% dos casos afetam uma única articulação, Tratamento
e o envolvimento de mais de algumas articulações é raro. O tratamento da pseudogota aguda é similar ao tratamento
Deve-se considerar outra etiologia para a artrite do pacien da gota aguda. Os AENEs são efetivos, mas podem ter to
te. Trauma articular, a enfermidade grave concomitante, xicidade gástrica e renal. A dosagem é a mesma recomen
cirurgia, iniciação de terapia de reposição de tireoide ou dada para gota. Outros analgésicos, como o paracetamol e
outras doenças sistêmicas, como a doença de Wilson, he- os opioides, podem ser necessários.
mocromatose e hiperparatireoidismo podem precipitar os A drenagem articular completa por aspiração é terapêu
episódios. A maioria dos episódios, entretanto, é idiopática. tica e também diagnóstica, podendo resolver o ataque de
Emergências Ortopédicas 53
OSTEOARTRITE
A osteoartrite é a forma mais comum de artrite em pacien
tes mais idosos, causando dor que pode reduzir de forma
significativa a função e a qualidade de vida. A osteoartrite
é uma condição tão comum na meia-idade e em pacientes
idosos, que é quase seguro dizer que é onipresente.
Características patológicas
As características patológicas da osteoartrite incluem
a soma de uma desregulação da renovação tecidual nas
articulações de carga. Ocorrem áreas focais de dano na
cartilagem articular e existe uma atividade aumentada de
osso subcondral. Os osteófitos se formam na margem arti
Figura 3.7 Condrocalcinose do punho {setas). cular. A cápsula articular toma-se espessa e uma sinovite
circunscrita está presente.
exacerbações da dor relacionadas ao uso, a rigidez com a indicar osteoartrite do quadril, mas outras condições coe
inatividade (“congelamento”) que melhora depois de 30 xistentes devem ser consideradas, como a dor referida da
minutos, a perda de movimentos, a sensação de instabili coluna vertebral ou da bursite trocantérica. Nos estágios
dade e os impedimentos funcionais. Por fim, resulta em iniciais, os pacientes podem relatar dor nos extremos do
deformidade articular conforme a doença progride. A gra movimento, com a rotação interna sendo quase sempre o
vidade das alterações radiográficas está associada a uma movimento mais precocemente afetado. Os pacientes com
probabilidade de aumento da dor, embora o dano articular doença avançada podem apresentar dor referida no joelho.
grave possa ser assintomático.
Ao exame, o paciente tem pontos dolorosos em tor Diagnóstico
no da margem articular e existe edema firme da margem
articular. O paciente tem crepitação durante a mobilidade O diagnóstico é principalmente cbnico, mas é apoiado pe
e sinais leves de inflamação. Os movimentos são doloro los achados nas radiografias (Figs. 3.8 e 3.9). As radiogra
sos e restritos, com tensão na articulação. A articulação do fias são normais no início da doença, mas o estreitamento
quadril tem mais probabilidade de manifestação dolorosa, do espaço articular se desenvolve conforme o progresso
e a mão possui menor probabilidade. da doença. Noventa por cento dos indivíduos acima dos
40 anos têm as alterações radiográficas características da
Osteoartrite da mão osteoartrite; entretanto, somente 30% têm sintomas. Ou
tras características radiográficas incluem a esclerose sub-
A primeira articulação carpometacarpal e as articulações
condral, os osteófitos marginais e os cistos subcondrais.
interfalângicas distais e proximais são as articulações mais
Na osteoartrite, os cistos subcondrais estão cercados por
afetadas. Os pacientes têm dor e edema ósseo na base do
uma borda densa de osso que os diferencia das erosões
polegar com nodos de Heberden (pequenos crescimen
marginais que ocorrem na artrite reumatoide. As caracte
tos ósseos encontrados nas articulações interfalângicas
rísticas laboratoriais na artrite são inespecíficas e em geral
distais). A perda de função nas mãos pode ser bastante
não são úteis para auxüiar no diagnóstico.
acentuada no princípio, já que as articulações passam por
fases de inflamação, talvez durante meses. A perspectiva
a longo prazo para a função, contudo, é geralmente boa, Tratamento
apesar das deformidades ósseas residuais. O objetivo do tratamento na osteoartrite é aliviar dor e per
mitir que o paciente seja tão ativo e independente quanto
Osteoartrite do joelho
possível. Os medicamentos usados no manejo da osteoartri
Os sintomas tendem a surgir de forma gradual e a deterio te são os analgésicos simples para aliviar a dor e os AINEs
rar com o tempo. Anormalidades mecânicas, obesidade e para reduzir os sintomas. Os corticosteroides intra-articula-
força muscular deficiente do quadriceps contribuem para a res fornecem alívio local dos sintomas e são usados apenas
progressão e a incapacidade associada. O joelho pode ser na fase avançada da doença por reumatologistas.
afetado em qualquer ou em todos os seus três compartimen A terapia com exercícios, a hidroterapia e os dispo
tos (tibiofemorais mediai e lateral e patelofemoral), mas o sitivos de auxíbo à caminhada são adjuntos usados neste
compartimento mediai é mais frequentemente afetado que o processo patológico. A ghcosamina e a condroitina via
lateral. Dor na bnha articular, sensibilidade dolorosa e per oral podem ter algum grau de eficácia. ‘ Por fim, muitos
da de cartilagem articular levam ao estreitamento do espaço pacientes necessitam de cirurgia de substituição articular,
articular e à deformidade gradual em varo. A osteoartrite da principalmente os casos de osteoartrite avançada do qua
articulação patelofemoral contribui para a crepitação e dor dril e do joelho. As indicações para cirurgia incluem a pre
retropatelar ao subir e descer degraus e incbnações. Em cer sença de significativa dor noturna ou dor em repouso, mas
ca de 15 a 20% dos pacientes com osteoartrite de joelho, devem ser individualizadas.
existem derrames que podem ser de longa data e resultar no
desenvolvimento de cistos sinoviais, em particular na fossa
ARTRITE REUMATOIDE
popbtea (cisto de Baker). A extensão medial, ao longo da
bolsa anserina, também é comum. O cisto de Baker algumas A artrite reumatoide (AR) é uma doença autoimune que afe
vezes pode romper e imitar uma trombose venosa profunda, ta em tomo de 1% da população do mundo. É caracterizada
com dor, edema e inflamação na panturrilha e na perna. por poliartrite sim étrica e progressiva. Diferentemente da
osteoartrite, a AR com frequência apresenta m anifestações
Osteoartrite do quadril sistêmicas. Embora a causa da AR seja obscura, e seu curso
A osteoartrite do quadril ocorre com mais frequência na em cada paciente possa ser impossível de prever, é progres
população idosa e tende a ser mais comum em homens. siva e leva extrema dor, sofrimento e incapacidade.
A dor tem como característica apresentar-se na virilha. O A AR tem uma grande variação no surgimento, na
envolvimento pode ser uni ou bilateral. Os sintomas de gravidade e na progressão. A AR pode, na realidade, re
dor ou sensibilidade dolorosa em torno da região pélvica presentar várias doenças com manifestações similares. É
(i.e., nas nádegas ou no aspecto lateral da coxa) podem duas vezes mais comum em mulheres do que em homens.
Emergências Ortopédicas 55
Seu aparecimento habitual é na quarta e quinta décadas da início agudo de artrite durante algumas semanas, ou até al
vida. A prevalência da AR aumenta com a idade. (Nota: A guns dias. A variabilidade dos sintomas e a progressão na
artrite reumatoide juvenil [ARJ] é uma síndrome distinta, AR tomam o diagnóstico inicial difícil: o aparecimento pode
discutida separadamente.) ser durante semanas ou meses, a duração da enfermidade
Pensa-se que exista predisposição genética para a AR, pode ser por semanas ou décadas, e a gravidade variar desde
com o desenvolvimento da doença sendo ativado por um uma artrite leve até deformidades incapacitantes. Os acha
fator ambiental incitante, como uma infecção virai. A AR dos clínicos objetivos podem não estar correlacionados com
é caracterizada por um ataque autoimune ao tecido sino- os sintomas do paciente ou com o grau de incapacidade.
vial, levando à acentuada proliferação de sinóvia (até 100 A AR é uma doença autoimune e 70 a 80% dos pa
vezes). Os tecidos adjacentes são afetados por esta neo- cientes têm o fator reumatoide, um complexo imune, em
plasia sinovial, incluindo a cartilagem, o osso, os ligamen circulação sérica. O fator reumatoide não é específico
tos, os tendões e as bolsas. Essa inflamação, combinada para AR e pode ser encontrado em outras doenças. Um
com o estresse físico, destrói a estrutura e a função da novo teste para anticorpos para um peptídeo citrubnado
articulação. Além disso, as manifestações extrassinoviais anticíclico (anti-ccp) divide a mesma sensibilidade que
podem afetar quase qualquer órgão. o fator reumatoide, mas tem melhor especificidade. Em
A compreensão básica da fisiopatologia da AR permite pacientes com positividade do fator reumatoide e do teste
ao médico da emergência suspeitar da doença no paciente anti-ccp, a sensibihdade diagnóstica do laboratório é adi
sem diagnóstico, e adaptar o tratamento e detectar as com cionalmente melhorada.
plicações sistêmicas em todos os pacientes com AR. O diagnóstico da AR ainda tem como base primária
O médico da emergência encontrará dois grupos prin os critérios clínicos. O sistema de classificação requer
cipais de pacientes com AR: (1) aqueles que ainda não fo a observação do paciente durante um período de tempo
ram diagnosticados como portadores de AR e se apresen (pelo menos 6 semanas), de forma que o diagnóstico ini
tam com artrite poliarticular e (2) aqueles que já tiveram o cial de AR é improvável de ser feito no contexto de cui
diagnóstico prévio e se apresentam com uma exacerbação dados agudos. A meta no contexto dos cuidados agudos é,
aguda, manifestações sistêmicas da doença ou um proble por conseguinte, suspeitar da doença reumatológica, ali
ma médico sem conexão. viar quaisquer sintomas agudos e encaminhar o paciente
para o profissional apropriado para o definitivo diagnósti
Artrite reumatoide de aparecimento recente co e manejo a longo prazo. O médico da emergência deve:
O aparecimento da AR com frequência segue-se a uma • D esca rta r um a infecção a rticu la r com envolvimento
enfermidade com pródromos tipo gripe. O aparecimento é mono ou oligoarticular (ver discussão mais adiante).
habitualmente - mas nem sempre - articular, simétrico e • Tentar d iferen cia r a A R de o u tra s p o lia rtro p a tia s ,
gradual. Entretanto, até 20% dos pacientes podem ter um como a osteoartrite e a artrite gonocócica.
Emergências Ortopédicas 57
• S o lic ita r exam es la b o ra to ria is b á sic o s , incluindo Corticosteroides. Estes medicamentos podem ser ad
VSG, hemograma completo (HC), e nível de creati- ministrados de modo sistêmico ou via injeção local. Os
nina. O fator reumatoide e os testes de AAN também corticosteroides sistêmicos (p. ex., metilprednisolona,
podem ser solicitados. 100-1.000 mg/dia por três dias) podem melhorar os sinto
• A fa sta r um a doen ça extra -a rticu la r grave (ver dis mas de uma exacerbação aguda de AR. Entretanto, os cor
cussão mais adiante). ticosteroides sistêmicos não evitam a destruição articular
• Tratar os sintom as de dor e inflamação (ver discussão e, deste modo, não têm nenhum benefício duradouro em
mais adiante). pacientes com AR. Eles também têm efeitos colaterais gra
ves em muitos sistemas orgânicos. O uso crônico de cor
Qualquer paciente com suspeita de AR deve ter um ticosteroides sistêmicos (p. ex., prednisona, 5-7,5 mg/dia)
provedor de cuidados primários, já que muitos destes deve ser limitado à doença grave e constante; e deve ser
pacientes desenvolvem comorbidades sistêmicas, como discutido com um especialista antes de iniciar o tratamento.
doença pulmonar ou renal. O encaminhamento ao espe Injeção local de corticosteroide diminui os sintomas
cialista pode ser deixado ao provedor de cuidados primá da sinovite inflamatória aguda. A infecção articular deve
rios se o paciente não estiver gravemente enfermo. Os ser descartada antes da administração, em particular se a
estudos sugerem que os pacientes com AR têm menos exacerbação é mono ou oligoarticular.
morbidade quando um reumatologista é envolvido em
seus cuidados. Medicamentos antirreumáticos modificadores da doença
(MARMDs). Diferentemente dos corticosteroides, os
Tratamento MARMDs podem alterar o curso destrutivo da AR. Por
Agentes, com variados efeitos terapêuticos e colaterais, essa razão, e apesar do potencial de toxicidade, esses agen
são utilizados e devem ser combinados para obter os me tes são recomendados precocemente no curso da AR. Os
lhores resultados (Tab. 3.7). Um regime de tratamento MARMDs são caros e requerem várias semanas de uso
deve ser feito sob medida para cada paciente. A terapia para o benefício máximo. Eles são habitualmente combina
com agentes diferentes de AINEs, e talvez um curso breve dos com AINEs e, às vezes, com corticosteroides. Um terço
de esteroides, somente deve ser feita depois da consultoria dos pacientes toma mais de um MARMD (Tab. 3.8).
com o médico que acompanha o paciente. Os MARMDs têm o potencial de efeitos colaterais
graves, e seu uso requer o acompanhamento atento e a
Medicamenteos anti-inflamatórios não esteroides. Os cuidadosa titulação da dose. Dos agentes mais recentes, a
AENEs são o suporte principal de tratamento para a dor leflunomida é administrada por via oral, enquanto etaner-
e inflamação da AR e devem ser usados, caso não este cept, adalimumabe, anakinra e infliximabe são dados por
jam contraindicados. Eles podem afetar de forma adversa infusão intravenosa ou via injeção subcutânea.
a função renal e exacerbar ou causar doença péptica. Há O início do tratamento com MARMD sem consultoria
numerosos agentes disponíveis, com dosagens e custos está além do objetivo dos cuidados agudos. O médico da
variáveis. Infelizmente, a resposta terapêutica do pacien emergência deve ter alguma familiaridade com os principais
te para cada fármaco não é previsível, e nem são exatos agentes usados e seus efeitos colaterais, pois os pacientes
os efeitos colaterais que o paciente irá apresentar. Se um podem se apresentar com complicações iatrogênicas.
paciente com AR diagnosticada apresentar-se com dor,
o médico deve indagar se ele já conhece qual é o agente Outras modalidades terapêuticas. Outras modalidades
mais efetivo. terapêuticas para o tratamento de AR incluem:
58 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
► TABELA 3.8 M edicamentos usados no tratamento da A dor, a inflamação e a atrofia por desuso dos músculos
artrite reumatoide levam à deficiência funcional progressiva e à perda da am
Agente Efeitos colaterais principais plitude de movimentos. Os sinais radiológicos de edema
Hidroxicloroquina Lesões retinianas
de tecidos moles, estreitamento simétrico do espaço arti
cular e osteopenia dos ossos adjacentes estão presentes.
Sulfassalazina Distúrbios G l, erupção cutânea
A “m ão reu m á tica ” é característica: as articulações
MTX Erupção cutânea, distúrbios G l,
toxicidade pulmonar, hepatite,
interfalângica proximal (IFP), metacarpofalângica (MCF)
imunossupressão, teratogênese e do punho estão inflamadas, enquanto a articulação inter
Azatioprina Distúrbios G l, dor abdominal, falângica distal (IFD) é poupada.
leucopenia, imunossupressão, O tratamento inicial é com AINEs e modificação
hepatite das atividades. Repouso, imobilização e uso preferencial
Leflunomida Mielossupressão, fibrose das articulações maiores em vez das menores (p. ex., o
hepática, teratogênese transporte de uma bolsa sobre o ombro em lugar de car-
Ciclosporina Insuficiência renal, anemia, regá-la com as mãos) pode retardar a destruição articular.
hipertensão Os MARMDs são adicionados, com consultoria, para a
Inibidores do TNF doença progressiva.
Inflixim abe Infecções
Etanercept Infecções Exacerbação da artrite reumatoide aguda
Adalim um abe Infecções O paciente apresenta aumento agudo da inflamação sino-
Inibidor da interleucina 1 vial, com sintomas sistêmicos e constitucionais variados.
Anakinra Pneumonia, neutropenia O envolvimento articular é simétrico, com seis ou mais
G l, gastrintestinais; MTX, metotrexato;
articulações dolorosas, sensíveis e edemaciadas. A rigidez
TNF, fator de necrose tumoral. matutina piora, durando mais de uma hora. A VSG > 30
mm/h e níveis elevados de proteína C-reativa costumam
38
estar presentes.
• Imobilização articular ou repouso no leito, ou ambos; A meta imediata do tratamento é o alívio da dor e da
esses podem ser úteis em pacientes com exacerbação inflamação aguda, seguidos pelo encaminhamento urgen
aguda, mas o repouso articular deve ser ponderado te do paciente ao seu clínico primário ou ao reumatolo-
contra os efeitos do descondicionamento. gista. A infecção articular deve sempre ser considerada,
• Fisioterapia. em particular com exacerbações mono ou oligoarticulares
• Cirurgia reconstrutora; é às vezes necessária para cor (ver discussão mais adiante).
rigir deformidades, em especial na mão. O repouso pode ser suficiente para alguns pacientes.
Os AINEs são prescritos, a menos que contraindicados. O
Artrite reumatoide preexistente paciente deve ser encaminhado de imediato para um espe
cialista para tratamento com MARMDs.
As metas no contexto de cuidados agudos incluem tratar a Um bolus de esteroide sistêmico (p. ex., metilpredni-
dor e a inflamação do paciente, limitar a destruição tecidual solona, 100-1.000 mg/dia durante três dias), administrado
e melhorar o funcionamento diário. E sses pacientes estão depois da consulta, ajuda no controle da exacerbação grave e
frequentem ente usando fárm acos imunossupressores, o que generalizada. Alguns pacientes podem necessitar de até um
os predispõe a infecções e podem obscurecer os sinais de mês de terapia diária com esteroide sistêmico em dose bai
infecção grave. Tanto a AR como os medicamentos usados xa. A injeção de esteroide local nas articulações mais agu
para o tratamento podem causar complicações sistêmicas. das, depois de uma infecção ter sido descartada, diminui a
inflamação local. O reumatologista ou clínico de cuidados
Doença articular primários do paciente é quem geralmente executa a injeção.
É comum serem observadas a deterioração articular simé Finalmente, o médico da emergência deve estar alerta
trica e progressiva, com exacerbações e remissões durante para os sinais de doença sistêmica nova, seja reumática ou
o curso da doença (Tab. 3.9, Figs. 3.10 e 3.11). A função iatrogênica.
toma-se pior depois da imobilidade ou do sono e melho
ra com as atividades durante o dia. Os pacientes relatam Articulação reumática séptica
rigidez matutina, durando mais de 30 minutos, com uma Os pacientes com AR têm um risco aumentado de infec
duração mediana de 1,5 horas. ção articular, pelo resultado da inflamação e da imunossu-
Os achados clínicos incluem dor nas articulações afe pressão. Além disso, os medicamentos anti-inflamatórios
tadas, tanto em repouso como com movimento, junto com e imunossupressores podem suprimir os sinais clínicos de
edema articular, calor e sensibilidade dolorosa. O eritema infecção e retardar o diagnóstico.
pode estar presente com o aparecimento agudo ou exa Não existe teste ou achado definitivo diferente de um
cerbação; se presente, o médico deve considerar infecção. fingimento positivo com Gram ou cultura do fluido sino-
Emergências Ortopédicas 59
Achados diagnósticos
Região (inflamação sinovial) Frequência Considerações de tratamento
Extremidades superiores
Tendões da mão Flexores: A D M dim inuída, ruptura de Comum Im obilização por 2-3 semanas
tendão, efeito de gatilho, síndrome Medicamentos, im obilização,
do túnel do carpo fisioterapia, cirurgia
Extensores: Massa dorsal na mão, reconstrutora
ruptura de tendão
IFP Edema fusiforme, deformidade em Habitual, precoce Cirurgia reconstrutora às vezes
botoeira, deformidade em pescoço necessária
de cisne, articulação frouxa
IFD Edema Raro, nunca inicial ou
achado isolado
M CF Edema, desvio ulnar, subluxação Habitual, precoce
vo lar (fixa)
Polegar Deformidade de botoeira, luxação Comum, exceto polegar em
da C M C ("polegar em bico de pato"), bico de pato
articulação IF frouxa
Punho Subluxação cárpica, luxação Quase universal, STC
radiocárpica, cistos sinoviais, precoce pode ser a queixa
síndrome do túnel do carpo, fratura inicial
devido à osteoporose
Cotovelo Nódulos subcutâneos, cistos Comum, tardio Mesmo que anterior; a
sinoviais, síndrome do túnel do compressão nervosa no cotovelo
carpo, fratura devido à osteoporose pode requerer descompressão
Ombro Sinovite, bursite, inflamação do Variável, tardio Injeção articular
manguito rotador, dor na articulação
AC, ruptura do bíceps
Extremidades inferiores
Pé Sinovite, erosão óssea, deformidade Comuns (90% ), Im obilizar por 6-8 semanas
em valgo, "dedo em garra" úlceras especialmente na primeira e Cuidados locais com a ferida
ou fístulas cutâneas na M TF quinta MTFs
Tornozelo Tendinite, pode levar à ruptura do Comum, mas não como Medicamentos, repouso
tendão do calcâneo. Pode com prim ir uma articulação exclusiva
o nervo tibial posterior envolvida
Joelho Derrame; destruição de ligamento Articulação individual mais Medicamentos, repouso no
que pode causar instabilidade; comum na doença inicial leito, injeção
deformidade em valgo; formação de Ficar alerta para instabilidade
cisto poplíteo (de Baker) e ruptura ligamentar
(hemorragia em forma de crescente Cisto rompido: Afastar TVP,
abaixo de maléolo com ruptura do ocasionalmente requer
cisto) descompressão
Quadril Sinovite, bursite Menos comum Medicamentos, repouso no
leito, injeção
Coluna vertebral
Cervical Subluxação de C1-C2: Espaço do O envolvimento da coluna Precaução durante manobras de
arco do odontoide-C1 mais de 3 mm é comum em pacientes vias aéreas
(pode causar compressão medular e com doença grave, embora Im obilização e fusão vertebral,
insuficiência vertebrobasilar); discite; a subluxação real seja de se necessário
compressão de raiz nervosa aproximadamente 5% , e
compressão medular ou de
vaso é rara
Torácica Sinovite, estenose vertebral, doença Raro - considerar outros
osteoporótica diagnósticos
ATM Dor com mastigação, abertura Comum
limitada, subluxação posterior
AC, acromioclavicular; CMC, carpometacárpica; STC, síndrome do túnel do carpo; IFD, interfalângica distal; TVP, trombose venosa profunda; IF, interfalângica;
MCF, metacarpofalângica; MTF, metatarsofalângica;IFP, interfalângica proximal; ADM, amplitude de movimento; ATM, articulação temporomandibular.
60 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
vial para diagnosticar uma articulação séptica no contex um curso desnecessário de antibióticos e retardar o início
to de inflamação reumática. Entretanto, diversos achados da terapia anti-inflamatória apropriada.
podem guiar o diagnóstico e as decisões de tratamento do
profissional. Cisto poplíteo (de Baker)
A infecção articular é, habitualmente, m onoarticular. Os cistos poplíteos são comuns devido a proliferação sino
O diagnóstico é muito mais difícil se a infecção for poliar- vial que caracteriza a AR. Um cisto pode romper-se de forma
ticular. A infecção é indicada por dor maior que a exacer espontânea ou como resultado da atividade física, causando
bação habitual do paciente, pela febre e pela toxicidade dor na panturrilha e edema agudo. A tarefa mais difícil do
sistêmica. A infecção poliarticular é, em geral, assim étri médico da emergência é afastar uma trombose venosa pro
ca, em função da disseminação hematogênica. funda aguda (TVP). A heparinização após um diagnóstico
O diagnóstico necessita de aspiração articular para equivocado de TVP pode levar à hemorragia continuada na
cultura, tingimento com Gram e contagem celular. O mé panturrilha, com síndrome compartimentai subsequente.
dico deve garantir que uma amostra de fluido sinovial seja A ultrassonografia é o teste menos invasivo e ampla
obtida para cultura antes de começar a terapia com anti mente disponível. A venografia ou uma artrografia contras
bióticos. tada em geral não são necessárias. Deve-se notar que uma
O tratamento empírico com antibióticos deve ser ini hemorragia em forma de crescente abaixo de um dos ma-
ciado se a suspeita clínica for grande, ou se o aspirado léolos é característica de um cisto rompido e não de TVP.
demonstrar tingimento gram-positivo; se a contagem de Repouso, elevação e analgesia são, habitualmente, o
leucócitos > 50.000 mm3 (incomum na AR, mas possí que é necessário. A injeção de corticosteroide intra-articu-
vel); ou os PMNs > 90%. O sangue e outras amostras, lar (depois da consulta) ajuda a aliviar os sintomas antes e
como a urina, devem ser encaminhados para cultura a fim depois da ruptura. A síndrome compartimentai real é rara,
de aumentar a abrangência de qualquer organismo infec- mas deve ser imediatamente tratada para evitar a incapaci
tante e a procura por um local de infecção inicial. dade permanente. O edema residual da panturrilha perma
O tratamento de rotina é um antibiótico antiestafilo- nece várias semanas, mas pode persistir por até três anos.
cócico parenteral, como a cefazolina, administrado junto
com um aminoglicosídeo, como a gentamicina, a menos Subluxação atlantoaxial
que o contrário seja indicado pelo tingimento com Gram Embora a artrite vertebral seja comum na AR, a subluxa
ou pela cultura. A drenagem seriada é feita, e os exercícios ção real de C1-C2 é rara, com incidência global de cerca
de amplitude de movimento precoces são iniciados para de 5% na AR. A incidência aumenta com a gravidade cres
preservar a função. cente da doença global do paciente. O comprometimento
Se o diagnóstico estiver obscuro, e a suspeita clínica real da medula ou vascular é raro, mas ocorre e pode ser
não for alta, o paciente deve ser encaminhado com urgên iatrogênico, resultando de manipulação, como a intubação.
cia a um especialista. O tratamento empírico sem a inves Os sintomas e sinais da compressão medular incluem
tigação diagnóstica apropriada pode submeter o paciente a dor intensa no pescoço, irradiando-se para o occipital;
Emergências Ortopédicas 61
Figura 3.11 Artrite reumatoide da mão. (Fotografia: contribuição de J. Fitzpatrick, MD , Coo/c County Fiospital.)
D o en ça cardíaca. A pericardite é o distúrbio cardíaco crônica, as úlceras na perna e os infartos no leito ungueal
mais comum. Na maioria dos casos, a inflamação as sin são comuns. A neuropatia sensitiva distai também pode
tomática crônica somente é detectada na autópsia, mas a ser observada. A vasculite sistêmica aguda é rara e ocorre
inflamação pode ser aguda e constritiva. Algumas vezes em pacientes com doença existente de longa data.
ocorrem a miocardite e a endocardite reumáticas. Com a
endocardite, o médico deve eliminar a endocardite bacte- ARTRITE REUMATOIDE JUVENIL
riana; esses pacientes são predispostos à bacteremia como
resultado das feridas abertas e da imunossupressão. A artrite reumatoide juvenil (ARJ) (doença de Still) de-
senvolve-se em qualquer idade, tendo como caracterís
D o en ça h e p á tic a . A hepatite é com frequência sub- tica a inflamação sinovial crônica sem causa conhecida.
clínica, mas pode ser evidente. As anormalidades do fí Nenhum teste laboratorial é diagnóstico dessa condição,
gado ocorrem como resultado dos efeitos colaterais dos embora o fator reumatoide e umAAN positivos sejam co-
medicamentos. mumente vistos. Em tomo de 20% das crianças com essa
condição têm início sistêmico. As manifestações clínicas
Baço. A doença de Felty é definida como a AR que incluem picos febris, empção cutânea rosa-salmão, linfa-
ocorre em associação com baço aumentado e leucopenia. denopatia generalizada e baço grande. Os pacientes com
Ela ocorre em pacientes com AR de longa evolução, in frequência apresentam fadiga, perda de peso e anemia.
cluindo nódulos reumatoides e acentuada deformidade Em 50% dos pacientes, a temperatura eleva-se acima de
articular. Os pacientes estão sujeitos à neutropenia e a 40 °C e existe envolvimento poliarticular. A erupção cutâ
infecções bacterianas graves, como também à tromboci- nea rosa evanescente branqueia com a compressão e pode
topenia. Qualquer paciente com suspeita de ter a doença ser pruriginosa e, deste modo, ser confundida com uma
de Felty requer consulta de emergência, hospitalização e reação de sensibilidade a medicamentos. A poliartrite vis
tratamento agressivo de quaisquer suspeitas de infecções ta inicialmente é uma artrite migratória que algumas vezes
bacterianas. O tratamento da AR pode melhorar as ma se toma uma artrite persistente (Fig. 3.12).
nifestações da doença de Felty, mas a plasmaférese ou a Um aparecimento poliarticular de ARJ sem mani
esplenectomia podem ser necessárias. festações sistêmicas ocorre em 40% dos pacientes, e esta
variedade não é chamada de doença de Still. Mal-estar e
D o en ça vascular. A inflamação de pequenos vasos faz perda de peso, assim como febre baixa, estão muitas ve
parte da fisiopatologia da AR. A vasculite clinicamente zes presente. Essa forma pode começar em qualquer idade
diagnosticável pode ser crônica ou aguda. Com a vasculite durante a infância.
Em outros 40% das crianças, o aparecimento dessa dos em momentos diversos durante o curso da doença. O
condição tem como característica uma artrite assimé aparecimento precoce está associado à doença mais grave
trica que afeta predominantemente as articulações das do que o aparecimento tardio.
extremidades inferiores. Alguns pacientes apresentam As artralgias e a artrite em geral estão presentes no
inflamação da íris e do corpo ciliar do olho chamada de aparecimento do LES em 75 e 50% dos pacientes, res
irid o ciclite. pectivamente. No decorrer da doença, mais de 90% dos
Tal como na AR do adulto, o tratamento da ARJ teve pacientes sofrem envolvimento musculoesquelético. A si
muitos avanços. O metotrexato, as injeções de corti- novite simétrica que afeta as mãos, os punhos e os joelhos
costeroide intra-articular e o modificador biológico eta- é típica e pode ser difícil de se diferenciar chnicamente da
nercept estão sendo usados para tratar ARJ. A Tabela 3.8 AR. A destruição óssea não está habitualmente presente
delineia os efeitos colaterais desses agentes. Os salicilatos no LES, diferenciando-se, assim, da AR. A combinação
são iniciados em doses que começam em aproximada de inflamação sinovial e uso de crônico de corticosteroi-
mente 80 a 90 mg/kg/dia. Outros AINEs também têm sido des resulta em dano de tendões e bgamentos e em artrite.
usados com sucesso. Os pacientes devem ser encaminha Outras estruturas musculoesqueléticas são também afeta
dos a um reumatologista ainda na fase precoce do curso das. As deformidades musculoesqueléticas típicas estão
da doença. resumidas nas Tabelas 3.10 e 3.11.
Embora o envolvimento musculoesquelético no LES
seja geralmente simétrico, nem sempre é assim. Entretan
LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO
to, se apenas uma articulação estiver envolvida, ou se esti
Embora o lúpus eritematoso sistêmico (LES) não seja ver muito mais agudamente inflamada que as outras, uma
considerado um distúrbio articular, a artrite inflamatória infecção intra-articular deve ser afastada.
ocorre na maioria dos pacientes. O LES é, como a AR, O LES pode afetar qualquer órgão no corpo. Embora
um distúrbio autoimune que tem expressão variável em a discussão completa esteja além do objetivo deste capí
cada paciente. O LES também pode ser desencadeado por tulo, o profissional deve estar alerta para os sinais de en
medicamentos, como a procainamida. fermidade sistêmica em qualquer paciente que apresentar
artrite inflamatória (Tab. 3.12).
Várias anormahdades laboratoriais podem ocorrer
Apresentação clínica
nos pacientes com LES, incluindo autoanticorpos, mas
O LES segue um curso de remissões e recaídas, afeta múl a maioria dos testes não está disponível na emergência,
tiplos sistemas orgânicos, com sistemas diferentes atingi e nenhum anticorpo único é completamente sensível ou
M úsculos Miosite, mialgias, atrofia (pode incluir A miosite ocorre em aproximadamente 5-10% dos pacientes
diafragma) com LES
Tendões Tenossinovite, ruptura Com frequência vista precocemente na doença; a ruptura pode
ser devido ao LES ou pelo uso de esteroides
Pele Nódulos reumatoides, outras Ocorre em aproximadamente 10% dos pacientes com LES
manifestações (ver discussão no texto)
64 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
Incidência na
Sistema ou órgão afetado Patologia apresentação* Prevalência cumulativat
Constitucional Febre, mal-estar 73% 73-90%
Pele, pelos, mucosa Erupções: fotossensibilidade malar, discoide 57% 6 6-8 1 %
Alopecia (difusa) — 50-70%
Úlceras em mucosas 7-18% 7-54%
Serosa Pleurisia 23% 37-64%
Pericardite 20% 20-64%
Rim Glomerulonefrite 33-44% 33-77%
Azotemia 3% 8%
Sistema nervoso SN C (alteração cognitiva, A V C , psicose, 24% 25-66%
convulsões, etc.), neuropatia periférica
Cardiovascular Trombose venosa 2% 5-26%
Vasculite (incluindo infartos digitais) 10% 21-37%
M iocardite 1% 4-8%
AVC, acidente vascular cerebral; SNC, sistema nervoso central; LES, lúpus eritematoso sistêmico.
*A incidência na apresentação refere-se à porcentagem de pacientes que manifestam a patologia no momento do diagnóstico inicial.
+A prevalência cumulativa refere-se à porcentagem de pacientes com LES que manifestam a patologia em algum momento durante o curso de sua doença.
A maioria dos pacientes com HIV que exibem quei to Ixo d es: A doença de Lyme é endêmica nos estados do
xas reumáticas estão gravemente enfermos como conse Atlântico Norte, no Meio Oeste setentrional e no Noroeste
quência de outras características clínicas do HIV. Esses do Pacífico. A artrite de Lyme é diferenciada das outras for
pacientes podem não tolerar muitos dos medicamentos mas de artrite devido ao envolvimento articular característi
convencionais usados para artrite. Em geral, a maioria dos co e a correlação quase universal com uma resposta imune.
pacientes exibe um distúrbio reumático leve a grave que
é autolimitado e apresenta boa resposta à combinação de Apresentação clínica
analgésicos e AINEs.
A progressão clínica da doença de Lyme é descrita em três
estágios. A disseminação da B. burgdorferi, o agente cau
Rubéola
sador, é acompanhada de febre e artralgia migratória, com
Há relatos de que as artralgias e a artrite ocorrem em até pouco ou nenhum edema articular, mas uma artrite franca
50% das mulheres infectadas em comparação com até 6% aparece semanas ou meses mais tarde. A artrite costuma
dos homens com essa doença. Essa é uma apresentação ser episódica, afetando primariamente as articulações
incomum em crianças com rubéola. A vacina da rubéola grandes, mas também algumas articulações pequenas.
pode causar sintomas em 15% ou mais dos que a recebem.
Os sintomas articulares em geral começam dentro de uma Estágio 1 (Infecção inicial)
semana da erupção cutânea na infecção natural ou dentro O primeiro sinal de infecção ocorre dentro de 3 a 30 dias
de 10 a 28 dias depois da imunização. Os dedos, os pu após a picada do carrapato. É caracterizado pelo eritema
nhos, os cotovelos, os quadris e os joelhos, assim como crônico migratório. Essa erupção cutânea ocorre em 60 a
as articulações dos dedos dos pés, são mais afetadas, ha 80% dos pacientes e costuma desaparecer dentro de três a
bitualmente de forma assimétrica. O aparecimento súbito quatro semanas, não importando o tratamento, embora as
dos sintomas é característico. A artralgia e a rigidez articu lesões possam recair. Outros sinais e sintomas incluem
lar, como também a artrite, podem estar acompanhadas por fadiga, mal-estar, febre, artralgias, cefaleia, dor de gargan
tenossinovite e até pela síndrome do túnel do carpo. Em ta e linfadenopatia.
geral, tanto a artrite natural como a induzida por vacina
se resolvem sem sequelas em até 30 dias; contudo, alguns Estágio 2 (Infecção disseminada)
pacientes relatam artralgias e episódios recorrentes de ar
Este estágio da infecção começa semanas ou meses mais
trite por até dois anos e, às vezes, até mais. Não há achados
tarde, é associado com anormalidades cardíacas, neuroló
laboratoriais anormais na análise do fluido sinovial.
gicas, de pele e musculoesqueléticas. Os sintomas predo
minantes no estágio 2 são a fadiga debilitante e o mal-es
Parvovírus tar. Os sintomas flutuantes de meningite acompanhada de
O parvovírus B19 é mais comumente associado com o paralisia facial e radiculopatia periférica são o padrão ha
eritema infeccioso (quinta doença) em crianças ou na ane bitual. Neste estágio, a dor musculoesquelética é comum
mia aplásica. A artropatia ocorre em até 5% das crianças e migratória em articulações, bolsas, tendões, músculos e
infectadas com parvovírus B19; contudo, abaixo de 50% ossos. A dor ocorre sem edema articular e dura horas ou
dos pacientes têm edema articular evidente. dias em uma localização específica. As lesões secundárias
Em adultos, pode ocorrer uma poliartrite tipo reumatoi- de pele, assemelhando-se ao eritema crônico migratório,
de persistente. A artropatia é mais comum em adultos do que ocorrem em aproximadamente 50% dos pacientes.
crianças, ocorrendo em 60% dos pacientes. É caracterizada Durante o estágio 2, cerca de 70% dos pacientes de
por poliartropatia simétrica com dor, edema e rigidez ma senvolvem ataques breves de artrite assimétrica mono ou
tutina nas articulações afetadas. As articulações dos dedos, oligoarticular, primariamente nas grandes articulações.4Í
os punhos e os joelhos são as áreas mais afetadas. Embora a A articulação do joelho é afetada em 80% desses pacien
duração mediana dos sintomas articulares seja de 10 dias, a tes. Os episódios ocorrem dentro de 2 semanas a 2 anos
dor e a rigidez podem persistir por mais tempo e até recorrer. (média, 6 meses) depois do início da doença, e seguem-se
Um paciente com artrite por parvovírus agudo exibe episódios intermitentes de artralgia ou de dor musculo
níveis significativos de anticorpos IgM e IgG para parvoví esquelética migratória. Foram relatados casos envolvendo
rus B 19. Foi relatado que o tratamento com preparações de as estruturas periarticulares, incluindo a êntese periférica
imunoglobulina é bem-sucedido em pacientes com apla- (i.e., a inserção dos tendões nos ossos).
sia de células vermelhas induzida pelo parvovírus B19. Os
AENEs têm sido usados para tratar mialgias e artralgias. Estágio 3 (Infecção tardia)
Este estágio ocorre em aproximadamente 60% dos pa
DOENÇA DE LYME cientes não tratados. Dos pacientes que alcançam este es
tágio, somente 10% sofrerão com artrite.48 Em pacientes
A doença de Lyme é causada pela espiroqueta Borrelia que têm artrite, a duração dos ataques aumenta com os
burgdorferi (B. burgdorferi) e é transmitida pelo carrapa meses, mas os episódios individuais podem estar sepa-
66 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
► TABELA 3.13 Antibióticos para a doença de Lyme em doença inativa tratados com êxito. O método de W estern
adultos blot deve ser usado para confirmar a presença de anticor
Doença inicial (Estágio 1) pos contra B. burgdorferi.
Tetraciclina 250 mg V O 4x/dia x 10 dias*
D o xiciclina 100 mg V O 2x/dia x 10 dias* Tratamento
A m oxicilina 500 mg V O 4x/dia x 10 dias*
A Tabela 3.13 delineia as várias terapias antibióticas dis
Doença tardia (Estágio 3)
poníveis. O tratamento rápido da doença em seus estágios
Penicilina G 20 milhões U IV 4x/dia x 14
dias*
iniciais é bem-sucedido para aliviar o processo de artrite
49
em 90% dos pacientes. Infelizmente, embora esses agen
Ceftriaxona 2 g/dia x 14 dias*
50 mg/kg/dia V O (não > 2 g/dia) tes curem a infecção subjacente, a artrite de Lyme não res
x 10 dias* ponde aos antibióticos.
*Até 30 dias se os sintomas persistirem ou recorrerem.
ESPONDILOARTROPATIA SORONEGATIVA
As espondiloartropatias soronegativas (ESNs) são um
rados por remissões de meses ou até de anos. As lesões
grupo de distúrbios relacionados que levam à inflamação
sinoviais podem mostrar hipertrofia vilosa e infiltrado
e fusão da articulação SI e, em alguns casos, das articula
mononuclear. A artrite crônica leva à perda de cartilagem,
ções periféricas. O termo soronegativo refere-se à falta
esclerose subcondral, ossificação de tecidos moles periar-
ticulares, erosão óssea, osteopenia, formação de osteófitos do fator reumatoide IgM no soro do paciente. A maioria
e até incapacidade articular permanente. Neste estágio, as dos pacientes com ESN possui o antígeno HLA-B27, e os
espiroquetas são encontradas no fluido articular, no teci homens são em geral afetados com mais frequência e de
do sinovial e nos vasos sanguíneos, imitando a endarterite modo mais grave do que as mulheres.
obliterante. Esse grupo de distúrbios é, como a AR, caracterizado
pela rigidez matutina, devido à natureza inflamatória da
doença. Diferentemente da AR, esses distúrbios carecem
Diagnóstico
do fator reumatoide sérico e dos nódulos reumatoides e
O diagnóstico pode ser difícil nos estágios iniciais e dis tendem a afetar de forma predominante o esqueleto axial
seminados antes da soroconversão, a menos que seja iden em vez das articulações pequenas das extremidades dis
tificada a lesão característica do eritema migratório. A tais. Essas doenças estão comparadas na Tabela 3.14.
maioria dos pacientes (80%) sofre envolvimento articular Embora cada enfermidade tenha suas próprias ca
de algum tipo, em geral depois da lesão cutânea do erite racterísticas, existe significativa sobreposição entre elas.
ma migratório. O diagnóstico tem como base no quadro Como na AR, os pacientes se apresentam no setor de
clínico, incluindo a exposição a uma área com doença en emergência com uma exacerbação da doença previa
dêmica e uma rápida resposta à terapia com antibióticos. mente diagnosticada ou com doença nova ou não diag
Os anticorpos IgG estão quase sempre presentes quando nosticada. Com a exceção da síndrome de Reiter, os
a sinovite é uma característica proeminente da infecção pacientes com ESN de hábitos têm uma apresentação
de Lyme tardia e frequentemente persistem nos casos da subaguda. Desde que o médico da emergência suspeite
do diagnóstico de ESN e encaminhe o paciente para o O exame físico inicialmente pode ser normal. Com
acompanhamento oportuno, um diagnóstico definido de a progressão da doença, a lordose lombar normal é per
uma ESN específica não precisa ser feito no setor de dida, e uma cifose acentuada da coluna pode se desen
emergência. volver. Na doença avançada, o paciente apresenta defor
midade em flexão grave da coluna lombar, com flexão
Espondilite anquilosante compensatória (e algumas vezes primária) dos quadris e
dos joelhos.
A espondilite anquilosante é caracterizada pela inflama Os estudos laboratoriais são inespecíficos. A VSG
ção das articulações SI e intervertebrais. A inflamação nos está elevada em até 75% dos pacientes com espondilite
locais de inserção ligamentar (entesopatia) leva à calcifi anquilosante, mas isso não se correlaciona com a ativi
cação e à perda do movimento das articulações. dade da doença. O marcador HLA-B27 costuma estar
presente, mas não é prontamente testado no contexto de
Apresentação clínica cuidados agudos.
A presença de espondilite anquilosante é sugerida pelo O envolvimento sistêmico é menos comum e menos
aparecimento gradual de desconforto nas costas (incômo grave do que na AR. A irite aguda requer o encaminha
do e difícil de localizar), aparecimento antes dos 40 anos, mento oftalmológico para possível tratamento com cor-
persistência do desconforto por três meses ou mais e rigi ticosteroide. Os pacientes com doença grave podem de
dez matutina que melhora com o exercício. Se não hou senvolver doença pulmonar restritiva devido a sua postura
ver evidência de síndrome de Reiter, psoríase ou doença inclinada, e, algumas vezes, são vistas fibrose pulmonar
intestinal inflamatória (ver discussão mais adiante), a e cavitação com colonização por A sp erg illu s. Menos de
espondilite anquilosante é o provável diagnóstico. As ra 10% dos pacientes com espondüite anquilosante grave de
diografias das articulações SI devem mostrar pelo menos senvolvem doença cardíaca (i.e., incompetência aórtica e
alguma evidência de sacroileíte. Os filmes vertebrais mos defeitos de condução).
tram sindesmófitos progressivos e cifose. O diagnóstico de espondilite anquilosante tem como
Os sintomas da doença inflamatória nas costas são base primária a história, com características típicas de
particularmente característicos da espondilite anqui doença inflamatória das costas e outras manifestações,
losante. Alguns pacientes continuam a ter somente dor conforme já descrito. Os critérios padronizados para o
lombar relacionada à sacroileíte, enquanto outros sen diagnóstico de espondilite anquilosante incluem a pre
tem dor lombar progressiva mais difusa e limitação do sença de sacroileíte. As alterações radiográficas variam
movimento, como resultado do envolvimento da coluna desde a vaga perda da definição da borda da articulação
lombar, dorsal e cervical. Alguns casos progridem para SI com alguma esclerose até uma esclerose mais defini
o desenvolvimento da clássica e rígida coluna em “bam da, margens indistintas, erosões e subsequente fusão. As
bu”. Os pacientes podem, entretanto, apresentar envolvi técnicas adicionais, como cintilografia óssea com radio-
mento em um grau menor da coluna dorsal e da inserção fármacos, TC e RMN são úteis para elucidar um quadro
muscular costoesternal e costovertebral, causando dor incerto.
maldefinida na coluna dorsal e dor torácica tipo pleurí-
tica. O envolvimento articular periférico com frequência Tratamento
acompanha a doença das costas, com os quadris e os om O tratamento mais efetivo para a espondilite anquilosan
bros sendo mais afetados. Outras articulações atingidas te é a fisioterapia, que tenta prevenir a cifose vertebral
incluem o punho, a MCF e a MTF. O envolvimento tí progressiva e incapacitante que caracteriza a doença. Os
pico é em padrão assimétrico, mas, em alguns pacien medicamentos analgésicos e anti-inflamatórios são usa
tes, a poliartrite é simétrica, tornando-a clinicamente in dos para permitir que o paciente participe ativamente na
distinguível da AR. Os pacientes podem apresentar um fisioterapia. Os AINEs, incluindo indometacina e napro-
episódio único de artrite periférica ou ter exacerbações xeno, são efetivos para diminuir a rigidez matutina e au
recorrentes. mentar a atividade física. Os AINEs sem fisioterapia são
Outras manifestações de espondilite anquilosante in de pouco benefício, e qualquer paciente visto no setor de
cluem fadiga, perda de peso e irite em até 25% dos pa emergência que estiver usando AINEs isoladamente deve
cientes. A irite aguda é mais comum em indivíduos HLA- ser informado desse fato e encaminhado ao profissional
-B27 positivos do que em HLA-B27 negativos. A fibrose apropriado. Desde o advento da terapia com fator de ne
pulmonar, em especial do lobo superior, está associada crose antitumoral, o tratamento dessa condição melhorou
com tosse, dispneia e produção de escarro. A insuficiência substancialmente.
aórtica causada pela fibrose que envolve o anel e a val Os pacientes com espondilite anquilosante também
va aórtica tem sido reconhecida por muitos anos. As es- devem ser alertados sobre as potenciais compbcações sis
pondiloartropatias HLA-B27 positivas estão associadas a têmicas, em especial a uveíte, de forma que possam reco
bradiarritmias graves, e os portadores podem apresentar nhecer e buscar tratamento antes que a doença resulte em
bloqueio cardíaco completo sintomático. incapacidade permanente.
68 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
A prevalência da doença de Crohn tem aumentado um papel para as anormalidades dos neurotransmissores
durante as últimas três décadas para aproximadamente 75 serotonina, noradrenalina e substância R A fibromialgia
por 100.000 pessoas. A tríade clássica de diarreia, dor ab é 10 vezes mais comum em mulheres do que em homens,
dominal e perda de peso caracteriza a doença de Crohn. com a idade típica de aparecimento entre 35 e 60 anos.
A artrite periférica, principalmente articular e assimétrica, As características clínicas incluem “dor em tudo”, tensão
aparece em relação igual entre os gêneros, como já indica muscular paravertebral e fadiga. Os distúrbios do sono es
do. A idade de pico da doença fica entre 25 e 45 anos. As tão presentes em 75% dos pacientes. Outras características
articulações grandes e pequenas são envolvidas, com pre incluem rigidez matutina, parestesias não dermatômicas,
dominância daquelas do membro inferior (mais comumen- edema subjetivo, ansiedade e cefaleias. Uma incapacidade
te os joelhos e os tornozelos, mas também as articulações funcional significativa está frequentemente presente.
MCF e MTF). A artrite é migratória e transitória e costuma
desaparecer dentro de seis semanas, mas pode tomar-se Diagnóstico
crônica e destrutiva. O envolvimento colônico aumenta a
suscetibilidade da artrite periférica na doença de Crohn. Os O diagnóstico é com base na apresentação clínica e os re
sultados dos testes laboratoriais comuns são normais. Os
ataques de artrite podem ser temporariamente relacionados
critérios para a classificação de fibromialgia incluem a
às exacerbações da doença intestinal, embora isso seja me
dor difusa por um período de pelo menos três meses, em
nos acentuado do que na colite ulcerativa.
combinação com sensibilidade dolorosa em 11 ou mais de
Na colite u lcera tiva , a prevalência é 50 a 100 por
18 locais de pontos dolorosos específicos.
100.000 pessoas. As manifestações abdominais da colite
ulcerativa incluem diarreia e perda sanguínea. O padrão
de artrite periférica é idêntico àquela vista na doença Tratamento
de Crohn, mas a sua prevalência é muito mais baixa (5 O tratamento da fibromialgia é desafiador, com menos da
a 10%). O aparecimento da doença precede os sintomas metade dos pacientes relatando alívio dos sintomas e ape
articulares, mas um aparecimento coincidente de sinto nas 3% apresentando remissão completa. O tratamento
mas articulares e abdominais não é incomum. No curso farmacológico inclui antidepressivos tricíclicos, inibidores
da doença, a relação temporal entre os ataques de artrite seletivos da recaptação da serotonina e tramadol.61,6" Os
e as exacerbações da doença intestinal é mais acentuada AINEs e os esteroides não têm demonstrado serem efeti
do que na doença de Crohn. Os sintomas articulares são vos. As opções de tratamento não farmacológico incluem
f
mais comuns no envolvimento total do que no parcial do exercícios, biofeedback, hipnoterapia e acupuntura.
colo. A remoção cirúrgica do colo inflamado tem efeito
terapêutico sobre os sintomas articulares.
ARTRITE SARCOIDE
O tratamento da espondiloartropatia enteropática deve
ser feito após a consultoria com reumatologista ou gastro- A sarcoidose é uma condição inflamatória sistêmica crô
enterologista. Os glicocorticoides sistêmicos e a sulfassa- nica que é caracterizada pela presença de granulomas não
lazina podem ser indicados, mas o início do tratamento da caseosos. Embora as manifestações pulmonares sejam
DII está além do objetivo da prática de cuidados agudos. mais comuns, a artrite aguda pode ser a apresentação ini
cial e também imitar outras formas de artrite. Os sintomas
Artropatia psoriática reumatológicos estão presentes em 4 a 38% dos pacientes
com sarcoidose.
Menos de 10% dos pacientes com psoríase desenvolvem A artrite secundária à sarcoidose é uma oligoartrite,
uma artrite associada. Cerca de 5% desses pacientes terão mas pode ser poliarticular, e poucas vezes é monoarti
envolvimento exclusivamente vertebral, 40% terão artrite cular. As articulações do tornozelo e do joelho são mais
periférica e axial e outros 20% dos pacientes restantes terão frequentemente envolvidas na sarcoidose aguda. A artrite
sacroileíte. Alguns indivíduos têm poliartrite simétrica que simétrica do tornozelo no aparecimento é muito sensível e
lembra a AR; se fator reumatoide sérico estiver presente, específica para o diagnóstico de artrite sarcoide aguda. A
considera-se que o paciente tenha AR e psoríase. artrite sarcoide aguda está associada com eritema nodoso
O tratamento inicial da artrite psoriática utiliza em 71% dos casos (Fig. 3.13). O paciente em geral tem
AINEs. Depois que um diagnóstico firme é feito, um es um edema atraumático, doloroso, quente e eritematoso que
pecialista pode iniciar metotrexato e antimaláricos. com frequência é claramente periarticular em vez de si-
novial. A artrite crônica é incomum, já que essa condição
FIBROMIALGIA em geral desaparece depois de algumas semanas ou meses.
Figura 3.14 Artropatia hem ofílica. Observar as alterações degenerativas extensas. ( Fotografia: contribuição de J. Fitzpatrick , MD ,
Cook County Hospital.)
o sangramento, embora ele possa ser bastante insignificante, A formação de osteófitos, redução do espaço articular e
em especial em pacientes com hemartrose recorrente. osteopenia periarticular são vistos nas radiografias dos
Três estágios de artropatia hemofílica são reconheci casos avançados (Fig. 3.14).
dos. O primeiro é uma fase de sangramento agudo na articu
lação, que ocorre na infância, depois que a criança começou Tratamento
a caminhar. As articulações ficam quentes e são mantidas A terapia para a hemartrose aguda nos hemofílicos envol
em 30° de flexão. Isso permite o volume máximo de fluido. ve a reposição do fator de coagulação deficiente, a aspi
O segundo estágio é uma sinovite crônica que ocorre em ração da hemartrose em casos específicos, a analgesia e
resposta às repetidas hemorragias dentro da articulação. O a imobilização. Na hemorragia grave, doses repetidas do
terceiro estágio, final, é uma artropatia destrutiva. fator de coagulação podem ser necessárias. Os pacientes
Na artrite hemofílica, as articulações maiores são afe devem ser encaminhados para acompanhamento e fisiote
tadas mais comumente do que as pequenas articulações. rapia para minimizar a incapacidade a longo prazo.
As alterações radiográficas incluem cistos ósseos subcon- A reposição do fator de coagulação pode ser realizada
drais, como também grandes osteófitos, que aparecem com vários produtos sanguíneos e concentrados. Os con
mais tardiamente na doença e são similares àqueles vistos centrados de fatores incluem tanto o fator recombinante
na osteoartrite grave. Os achados radiológicos que são es como o derivado de plasma purificado, que têm elimi
pecíficos à artropatia hemofílica incluem o alargamento nado ou significativamente reduzido a taxa de transmis
da incisura intercondiliana do fêmur, o aquadradamento são virai.>8,6' A hemofilia A pode ser tratada com plasma
da patela distai e o aumento do rádio proximal. fresco congelado (PFC), crioprecipitado ou concentrados
Antes da disponibilidade da terapia específica para de fator VIII. O grande volume de PFC necessário para
substituir o fator de coagulação deficiente, as hemartro- restaurar de maneira adequada a atividade de coagulação,
ses recorrentes da hemofilia levavam de modo inexorável contudo, em geral impede o seu uso.
à artropatia degenerativa crônica. A presença repetida de Para calcular a quantidade de concentrado necessário,
sangue no espaço articular causa pigmentação, hipertrofia o hemofílico clássico que se apresenta com uma emergên
e, em última instância, à fibrose da sinóvia. A cartilagem cia de sangramento é primeiro pressuposto que tenha uma
se deteriora e a amplitude de movimento fica reduzida. O atividade de 0% do fator VIII nativo. É recomendado que
resultado final é clinicamente similar ao da osteoartrite a atividade seja agudamente elevada para 30 a 50% do
grave, com dor crônica, edema e perda da mobilidade. normal no tratamento da hemartrose. Uma unidade de fa
72 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
tor VIII por kg de peso corporal eleva o nível plasmático um especialista, que imediatamente poderá começar um
em 2%. Para calcular o número de unidades de fator VIII programa de fisioterapia para limitar a atrofia muscular e
a administrar, usar a seguinte fórmula: restaurar a mobilidade articular tão cedo quanto possível.
O gelo e os analgésicos são adjuntos importantes no trata
Fator VIII necessário = 0,5 x (peso em kg) x mento da hemartrose, mas há que ter cuidado para evitar
(% de mudança necessária na atividade do fator) salicilatos e agentes não esteroides que possam agravar a
Por conseguinte, para elevar os níveis aos desejados diátese hemorrágica, inibindo a função das plaquetas.
30 a 50% do normal para tratar a hemartrose aguda, 15 a Uma pequena porcentagem de hemofílicos falha em
25 unidades por kg de fator VIII são administradas como responder à reposição do fator em função dos níveis altos
dose inicial. Se o crioprecipitado for usado, cada bolsa de anticorpos circulantes do fator VIII. Várias modalida
contém um volume de cerca de 10 mL, com 5 a 10 uni des de tratamento estão disponíveis para evitar o proble
dades de atividade do fator VIII por mL, ou aproximada ma, e o médico da emergência deve buscar consultoria se
mente 80 unidades de atividade por bolsa. Se o PFC for o paciente tiver uma história de níveis altos de anticorpos.
usado, cada mililitro contém uma unidade de atividade de A aspiração articular não deve ser tentada em pacientes
fator VIII, então 15 a 25 mL/kg devem ser dados. com anticorpos.
Para resumir, um paciente de 70 kg com hemofilia
clássica e hemartrose aguda deve receber 25 unidades por Coagulopatia
kg para elevar o nível do fator VIII para 50% do normal.
A hemartrose está associada a anticoagulantes orais e ocor
Isso requer 1.750 unidades de fator VIII, 180 mL de crio
re de modo espontâneo em taxas de cerca de 1,5%.70 Tal
precipitado (18 bolsas), ou 1.750 mL de PFC (8 unidades).
taxa parece ser mais elevada em pacientes com tempos de
Os pacientes com deficiência de fator IX (hemofilia
protrombina mais altos e naqueles com doença articular
B) são tratados com produtos purificados de fator IX em
subjacente. O manejo de um paciente que toma varfarina
uma forma análoga à mesma meta de elevar o nível do
e que tem uma hemartrose consiste em repouso, imobiliza
fator IX para 30 a 50% do normal. A principal diferen
ção e administração de analgésicos. Se possível, o anticoa
ça é que uma unidade de fator IX por kg elevará o nível
gulante deve ser descontinuado e a vitamina K adminis
plasmático em 1%. Para calcular a quantidade de fator IX
trada para reduzir o sangramento. A artrocentese deve ser
necessário, usar a seguinte fórmula:
executada para remover o sangue e evitar o dano articular
Fator IX necessário = 1,0 x (peso em kg) x crônico. As aspirações articulares não são contraindicadas
(% de mudança necessária na atividade do fator) em pacientes usando varfarina e estão associadas a baixo
risco de hemorragia.
A duração do tratamento da hemartrose hemofílica
depende da intensidade do sangramento e da persistência
Outras
ou resolução dos sintomas. O sangramento menor que é
acompanhado de pouco ou nenhum edema pode ser trata As neoplasias articulares são raras, mas devem levantar
do com uma infusão única de fatores de coagulação. Pelo suspeitas em hemartroses agudas sem trauma ou diátese
fato de a meia-vida do fator VIII exógeno ser de 12 horas, hemorrágica. O tratamento sintomático e o encaminha
qualquer sangramento significativo requer doses repetidas mento para biópsia estão indicados. A sinovite vilonodular
até que os sintomas cessem. Uma consulta com o médico pigmentada é um distúrbio raro, de etiologia desconhecida,
do paciente deve ser procurada nesses casos. O fator IX que pode estar presente na monoartrite hemorrágica aguda.
tem meia-vida de aproximadamente 16 horas.
As hemartroses grandes e tensas vistas nas primei ARTRITE TRAUMÁTICA
ras horas depois do aparecimento dos sintomas devem
ser aspiradas para prevenir a dor persistente e o desen A artrite traumática pode surgir como uma sequela inicial
volvimento de disfunção articular crônica. Isso é verda da lesão articular, ou muito mais tarde, como reação ao de
deiro se o paciente teve alguns ou nenhum episódio de sarranjo mecânico da articulação, como uma lesão menis-
sangramento prévio na articulação afetada. As hemar cal no joelho. Pode ou não haver uma história discreta de
troses com mais de 24 horas estão em geral coaguladas lesão na articulação, já que em algumas ocasiões a agres
e não podem ser aspiradas. A aspiração deve ser execu são original é trivial o suficiente para passar despercebida
tada durante a infusão de fator VIII para evitar sangra pelo paciente. Os derrames articulares depois do trauma
mento excessivo ou feita logo após, para evitar a coa podem ser pequenos ou grandes. Os fluidos variam desde
gulação inicial da hemartrose. Depois da aspiração, os normal até francamente hemorrágicos. O desenvolvimen
níveis plasmáticos de 25 a 50% de fator VIII devem ser to rápido de hemartrose depois de um trauma sugere lesão
mantidos por vários dias. ligamentar relevante ou fratura intra-articular. A presen
Se uma articulação é aspirada ou não, a imobilização ça de glóbulos de gordura no aspirado da articulação é
deve ser instituída e mantida até que todos os sintomas diagnóstica de uma fratura cortical. Um derrame articular
tenham cessado. O paciente deve ser encaminhado para sintomático deve ser completamente aspirado para evitar
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Capítulo 4
Complicações
SÍNDROME COMPARTIMENTAI A dor, agravada pelo alongamento passivo, é o sinal
mais confiável da síndrome compartimentai. A sensibi
Quase 200 mil pessoas são afetadas com uma síndrome lidade diminuída é o segundo achado mais sensível ao
compartimentai a cada ano nos Estados Unidos.1Embora
exame para síndrome compartimentai. O exame sensitivo
existam muitas causas, a via clínica no desenvolvimento
dos nervos que cruzam através dos compartimentos afeta
dessa síndrome é a mesma.
dos revela a diminuição da discriminação de dois pontos
Os grupos musculares do corpo são cercados por bai
ou do tato. Ambos os testes são mais sensíveis do que o
nhas fasciais que envelopam os músculos dentro de um
exame com agulha. A palpação do compartimento revela
espaço ou um compartimento definido. Quando uma lesão
sensibilidade dolorosa e “tensão” sobre os segmentos is-
ocorre nos músculos dentro de um compartimento, existe
quêmicos. Os pulsos distais e o enchimento capilar podem
um edema. A pressão dentro do compartimento começa a
estar normais em um paciente com isquemia muscular
aumentar, pois as bainhas fasciais tensas permitem pouco
significativa e, por conseguinte, tais achados não devem
espaço para expansão. Eventualmente, o fluxo sanguíneo
ser usados para descartar a existência de uma síndrome
é comprometido, sendo seguido de lesão muscular irre
compartimentai.
versível. Deve haver suspeita de síndrome compartimentai
Em suma, a d o r desproporcional é o sin to m a m ais
precocemente para prevenir deformidades em contraturas
precoce, enquanto a d o r com alongam ento p a ssivo dos
(i.e., as contraturas isquêmicas de Volkmann) que resul
m úsculos envolvidos é o sin a l m ais sensível da síndrom e
tam da necrose dos músculos e nervos.
com partim entai. As parestesias ou hiperestesias em ner
As localizações mais comuns da síndrome comparti
mentai são o antebraço e a perna. Outros locais que têm vos que percorrem o compartimento também são sinais
sido implicados incluem as mãos, os ombros, as costas, as importantes de síndrome compartimentai em desenvol
nádegas, as coxas, o abdome e os pés. Uma discussão es vimento. A consulta com um ortopedista deve ser obtida
pecífica para cada um desses compartimentos musculares assim que síndrome compartimentai for considerada.
está incluída em outras partes do texto.
Em três a cada quatro casos, a síndrome comparti Medida da pressão compartimentai
mentai se desenvolve depois de uma fratura. As fraturas
A decisão de executar uma fasciotomia é tomada com
comumente associadas incluem a tíbia, a diáfise umeral,
base em uma combinação de achados clínicos, conforme
os ossos do antebraço e as fraturas supracondilianas em
antes mencionado, e da medida das pressões comparti
crianças. Outras causas da síndrome compartimentai
mentais elevadas. Se houver suspeita de síndrome com
aguda incluem lesão por esmagamento, gessados ou cura
partimentai, o reexame frequente no hospital e a medida
tivos constritivos, convulsões, infiltração intravenosa, pi
das pressões compartimentais devem ser executados. As
cadas de cobras, infecção, imobilização prolongada, quei- >% j ✓
pressões compartimentais são mais comumente efetuadas
maduras, oclusão ou lesão arterial aguda e exercícios/
usando o dispositivo Stryker STIC (Fig. 4.1 e Vídeos 4.1
Um torniquete venoso pode produzir síndrome compar
e 4.2).8’9
timentai em 90 minutos se for acidentalmente deixado
Se tal dispositivo não estiver disponível, uma técnica
inflado. Os pacientes com alguma coagulopatia (i.e., em
alternativa, como a de infusão, pode ser feita com mate
uso de anticoagulante ou com hemofilia) têm risco au
riais encontrados na maioria dos setores de emergência.9
mentado de desenvolver uma síndrome compartimentai
O equipamento necessário inclui (1) um manómetro de
depois de trauma mínimo.
pressão sanguínea, (2) uma seringa de 20 mL, (3) uma
torneira de cateter, (4) agulha nQ18, (5) soro fisiológico
Características clínicas normal e (6) dois tubos de extensão intravenosos.
O diagnóstico de síndrome compartimentai é primaria O aparato é instalado de forma que a seringa e os dois
mente clínico. Os pacientes exibem dor desproporcional à tubos de extensão sejam inseridos nas portas da torneira
lesão subjacente, aos sintomas sensitivos e à fraqueza mus de três vias (Fig. 4.2). O êmbolo da seringa é aberto até
cular. A dor é o sinal mais precoce e mais consistente. É a marca de 15 mL. Um tubo de extensão é conectado ao
persistente e não alivia com a imobilização. É fundamental dispositivo de pressão sanguínea, enquanto o outro é co
que o médico da emergência reconheça essa condição por nectado à agulha n° 18. O soro é passado pela agulha para
suas características iniciais e, antes que outros sinais e sin preencher metade da tubulação, e a torneira é fechada para
tomas se desenvolvam, previna a lesão permanente. que o soro não seja perdido. A agulha é então inserida de
Emergências Ortopédicas 77
para osteomielite. A velocidade de sedimentação globular dorizada (TC) e a ressonância magnética nuclear (RMN).
(VSG) é elevada em 90% dos pacientes com osteomielite, A cintilografia óssea é 90% sensível dentro de 48 a 72
mas esse teste carece de especificidade. *Uma VSG normal horas do aparecimento da infecção. Uma cintilografia
em um paciente com suspeita clínica baixa pode ajudar o óssea normal toma muito improvável o diagnóstico. A TC
profissional a descartar o diagnóstico. A proteína C-reati- é mais sensível do que a radiografia simples. Também é
va é outro marcador inflamatório não específico, que tem útil para detectar osso necrótico (sequestros) em pacientes
a vantagem de aumentar dentro das primeiras 24 horas do com osteomielite crônica, e isso pode ajudar o cirurgião
curso de doença, retomando aos níveis normais dentro de ortopedista a planejar o tratamento. De todos os exames
uma semana de tratamento efetivo. Por fim, uma aspiração de imagens, a RMN é o melhor teste para diagnosticar os
do osso com agulha é necessária para revelar o organismo teomielite. A RMN também é favorecida em qualquer
infectante em quase 90% dos casos. Uma biópsia aberta paciente com suspeita de ter envolvimento vertebral.
pode ser necessária para obter material suficiente.
As radiografias simples são o estudo inicial de esco Tratamento
lha em pacientes com osteomielite, embora sejam de pou
co valor no processo patológico. Uma radiografia negati Os antibióticos, usados isoladamente, têm o potencial de
va, por conseguinte, não afasta esse diagnóstico. Menos curar apenas pacientes com osteomielite hematogênica.
que um terço dos pacientes com osteomielite sintomática Os antibióticos intravenosos empíricos devem ser admi
por 7 a 10 dias terá achados radiográficos. A rarefação, nistrados pelo médico de emergência em pacientes com
indicando desmineralização difusa, requer a perda de 30 a (1) osteomielite hematogênica, (2) aspecto toxêmico, (3)
50% do mineral ósseo antes de ser vista em uma radiogra suspeita de osteomielite vertebral, ou (4) doença parcial
fia. A desmineralização e a elevação periosteal, seguidas mente tratada ou recorrente a pedido de um ortopedista. O
de esclerose, são raras mesmo depois de 10 a 21 dias de regime habitual inclui a combinação de penicilina penici-
infecção mas, aos 28 dias, 90% dos pacientes demons linase-resistente e cefalosporina de terceira geração. Os
tram anormalidades nas radiografias simples (Fig. 4.3). pacientes com doença falciforme e osteomielite devem re
O achado mais comum na infecção inicial é o edema de ceber cefalosporina de terceira geração ou quinolona para
tecidos moles, seguido da elevação periosteal. A elevação cobrir Salm onella.
periosteal é menos comumente vista em adultos, pois o Em adultos com disseminação contígua ou insufi
periósteo é mais fibroso e aderente. Os achados tardios da ciência vascular (i.e., pé diabético), a cura não pode ser
osteomielite nas radiografias simples incluem áreas líticas alcançada sem o debridamento do osso infectado. No caso
cercadas de osso esclerótico. de um paciente com prótese ou outro material estranho,
Os métodos alternativos para diagnosticar a osteomie a remoção costuma ser necessária. Após o debridamento
lite incluem a cintilografia óssea, a tomografia computa- operatório, os antibióticos são continuados por quatro a
seis semanas. As terapias adjuntas para tratar a osteomie
lite crônica incluem contas impregnadas com antibiótico
e oxigênio hiperbárico. As contas antibióticas cirurgica
mente implantadas apresentam a vantagem de oferecer
uma concentração local alta de antibióticos sem elevar
os níveis sistêmicos. As contas com antibióticos em geral
tomam desnecessários os antibióticos sistêmicos. 30
Celulite
Essa infecção afeta a pele e os tecidos subcutâneos sendo
mais frequentemente causada por S. aureus e estreptoco-
cos do gmpo A. Outros organismos podem estar presen
tes e uma infecção polimicrobiana é comum em pacientes
diabéticos. A P seudom onas deve ser suspeitada depois de
feridas com objetos perfurantes nos pés.
As características clínicas são consistentes e incluem
dor, sensibilidade dolorosa, calor, induração e eritema. A
linfangite e a linfadenopatia estão frequentemente asso
ciadas. O profissional deve considerar a possibilidade de
uma cavidade com abscesso e palpar a presença de uma
área flutuante. O ultrassom ou a aspiração com agulha po
Figura 4.3 Osteomielite no pé. dem ser necessários se houver suspeita de um abscesso.
80 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
Infecções necrosantes
Os pacientes com infecções necrosantes de tecidos mo
les apresentam um curso clínico curto, que deteriora
com rapidez para choque séptico e morte, se não trata
dos de imediato. O manejo inicial de todas as infecções
necrosantes de tecidos moles é o mesmo. Os princípios
Figura 4.5 TC com gás nos tecidos moles na coxa de um pa
importantes do tratamento incluem alta suspeita clínica,
ciente com infecção necrosante de tecidos moles.
antibióticos, debridamento cirúrgico precoce e, se dispo
nível, oxigênio hiperbárico. A cobertura antibiótica de
amplo espectro é logo instituída, até que os agentes cau Fasciite necrosante
sadores possam ser identificados. A radiografia simples Essa é uma infecção de tecidos moles rara - porém muitas
pode revelar a presença de gás (Fig. 4.4). A TC melhor vezes fatal - que envolve as camadas fasciais superficiais
delineia a extensão da infecção, mas não deve retardar o das extremidades, do abdome ou do períneo. Os fatores
tratamento (Fig. 4.5). de risco incluem o hospedeiro imunocomprometido (p.
Dois exemplos de infecções necrosantes de tecidos ex., diabetes), doença vascular periférica, uso de drogas
moles, a fasciite necrosante e a mionecrose clostridial, são intravenosas, idade mais avançada e trauma ou cirurgia
subsequentemente consideradas. Essas entidades diferem
recentes. Dois tipos são considerados, dependendo dos
na profundidade do processo infeccioso e nos patógenos
agentes infecciosos envolvidos.
que causam a doença.
A fasciite necrosante do tipo I é responsável pela
maioria dos casos de fasciite necrosante. Os agentes
causadores são polimicrobianos. Anaeróbios, aeróbios
gram-negativos e bactérias facultativas agem de forma si-
nérgica para produzir a extensa destruição tecidual. Em
estágios iniciais, pode ser confundida com uma celulite
simples e o profissional deve ter um alto grau de suspeita
para chegar ao diagnóstico. O aspecto da pele varia desde
um eritema leve inicial até vesículas purpúreas vermelhas
com corrimento aquoso de cheiro fétido. A dor está quase
universalmente presente e com frequência é despropor
cional, além disso, apresenta sinais visíveis de infecção
da pele. O gás pode ou não estar presente nos tecidos
subcutâneos. Uma forma bastante reconhecida dessa en
tidade ocorre no períneo, sendo denominada de gangrena
de Fournier.
A fasciite necrosante do tipo II é causada por um
agente único, os estreptococos hemolíticos do grupo A.
Essa infecção representa 10% dos casos de fasciite ne
crosante. Os subtipos particularmente virulentos deram a
esse patógeno a distinção do apelido de “bactérias come
doras de carne” pela imprensa leiga. É mais provável que
o tipo II da fasciite necrosante ocorra em pacientes mais
jovens, mais saudáveis e sem enfermidades predisponen-
tes. Em mais de um terço dos pacientes, nenhum portal de
Figura 4.4 Radiografia simples do ombro esquerdo em um pa entrada é identificado. Os achados característicos dessa
ciente com infecção necrosante de tecidos moles. (Fotografia: infecção incluem necrose rapidamente progressiva, a rara
contribuição de Chris Ross, M D.) presença de gás e alta incidência de síndrome de choque
Emergências Ortopédicas 81
tóxico estreptocócico. Os agentes antibióticos de escolha O diagnóstico de SDRC tem como base primária a
incluem a penicilina e a clindamicina combinadas, mas a história e o exame físico. Uma história de trauma recen
cobertura de amplo espectro é instituída até que os resul te ou remoto é seguida por dor que é anormalmente pro
tados da cultura estejam disponíveis. longada ou fora de proporção para o evento incitante. A
síndrome é mais comum na extremidade superior, mas as
Mionecrose dostridial (gangrena gasosa) extremidades inferiores também podem ser afetadas. Ao
Infecção necrosante, distinta da muscular, causada pelo exame físico, o profissional pode encontrar edema, fra
C lostridium p erfrin g en s ou septicum . Os fatores predis- queza muscular, rigidez articular ou atrofia. A alodinia,
ponentes mais comuns incluem trauma e cirurgia. Como o ou dor devido a um estímulo tátil inócuo, pode estar pre
nome implica, a formação de gás e a crepitação são carac sente. As alterações cutâneas incluem reticulação, desco
terísticas proeminentes. Tal condição pode apresentar-se loração e alterações sudomotoras (secura ou transpiração
de maneira similar às outras formas de infecções necro- anormal). As alterações distróficas incluem crescimento
santes de tecidos moles, mas as características distintivas anormal de pelos e unhas, pele brilhante ou hiperceratose.
incluem descoloração bronzeada-marrom da pele, forma Diferenças de temperatura acima de 1°C na pele das extre
ção de bolhas e copiosa drenagem de secreção de odor midades são encontradas em 42% dos pacientes.
fétido. O curso da mionecrose dostridial é rápido, com A síndrome é dividida em três estágios clínicos: agu
35 36
um período de incubação de menos de 24 horas. do, distrófico e atrófico. No estágio agudo, o paciente se
O tratamento é a rápida descompressão e o debrida- queixa de dor ou dolorimento constante na extremidade.
mento cirúrgico. Os agentes antibióticos de escolha, tal Uma característica fundamental para o diagnóstico inicial
como na fasciite necrosante tipo II, incluem penicilina dessa síndrome é que a dor aumenta com estímulos ex
e clindamicina. As câmaras de oxigênio hiperbárico têm ternos ou movimento e é fora de proporção à gravidade
maior benefício nas infecções clostridiais do que nas ou da lesão precedente. Durante os meses seguintes, a pele
tras formas de infecções necrosantes de tecidos moles. toma-se fria e brilhante, com amplitude de movimento li
mitada. O estágio distrófico é caracterizado pela presença
SÍNDROME DA DOR REGIONAL COMPLEXA de dor crônica com descritores neuropáticos (queimação,
(DISTROFIA SIMPATICORREFLEXA) alodinia, disestesia, hiperalgesia ao frio) em uma extremi
dade. O estágio atrófico é caracterizado por contraturas
Mais recentemente conhecida como distrofia simpati- da atrofia de pele e movimento muscular e articular gra
correflexa, o termo sín d m m e da d o r regional com plexa vemente limitado. A progressão desses estágios é variável
(SD R C ) foi criado para melhor descrever essa síndrome,
na prática clínica real.
que nem sempre está associada à distrofia da extremida
Quando os pacientes são tratados dentro dos seis me
de ou ao envolvimento do sistema nervoso simpático.
ses depois do aparecimento dos sintomas, mais de 70%
Outras condições que têm sido usadas como sinônimo in
têm redução significativa na dor após o tratamento. O
cluem distrofia reflexa pós-traumática, atrofia de Sudeck,
papel do médico da emergência, por conseguinte, é de
distrofia reflexa, síndrome mão-ombro e causalgia.
considerar essa condição e encaminhar o paciente. A ex
A SDRC é uma condição dolorosa de uma extremida
tremidade ferida deve ser imobilizada e o alívio temporá
de que se segue ao trauma, à infecção ou à cirurgia. É mais
rio da dor deve ser fornecido. Os medicamentos anti-in-
comum em adultos jovens e ocorre com mais frequência
em mulheres do que homens em uma proporção de 3:1. A flamatórios não esteroides são comumente recomendados
síndrome é rara em pacientes negros. Em alguns casos, o e reduzem a dor em 40% dos pacientes. O uso de corti-
evento traumático é de gravidade mínima, como após uma costeroides é controverso, mas esses agentes mostram-se
venopunção ou uma injeção intramuscular. A SDRC tam efetivos se administrados dentro dos primeiros seis meses
bém pode ser vista em pacientes com neoplasias, infarto dos sintomas. A dose de prednisona é de 60 a 80 mg/dia,
do miocárdio ou doenças do sistema nervoso central. Um seguida por uma rápida diminuição.
evento precipitante não é identificado em 10% dos casos. Em pacientes com uma forma leve de SDRC, a recu
A fisiopatologia da SDRC não está completamente peração pode ser espontânea. A fisioterapia é considerada
entendida. É normal que, após uma lesão na extremidade, um tratamento de primeira linha, sendo, provavelmente,
o sistema nervoso simpático seja ativado. A vasoconstri- mais importante do que as terapias farmacológicas. Ou
ção no membro leva a uma redução no fluxo sanguíneo. tras terapias incluem bloqueio intravenoso do sistema
Se o tônus simpático persistir de forma inadequada, re nervoso simpático, agentes bloqueadores a-adrenérgicos,
sulta em edema, colapso capilar e isquemia. Esses sinto /1-bloqueadores, bloqueadores dos canais de cálcio, anti-
mas geram dor adicional, que reexcita os nervos simpáti depressivos e anticonvulsivantes. Também tem sido em
cos e cria um circuito positivo de retroalimentação. Esse pregada a anestesia epidural contínua, as bombas intrate-
reflexo patológico do sistema nervoso simpático acarreta cais com opioides e a simpatectomia cirúrgica. Nenhum
anormalidades no fluxo sanguíneo, dor e, por fim, em tratamento de emergência é necessário; contudo, é impor
atrofia. tante que o médico da emergência reconheça a condição
82 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
precocemente, de forma que o acompanhamento apropria ► TABELA 4.1 Características diagnósticas de síndrome
do possa ser feito. da em bolia gordurosa (SEG)a
Critérios maiores
SÍNDROME DA EMBOLIA GORDUROSA Insuficiência respiratória
Estado mental alterado
A embolia gordurosa ocorre em quase todos os pacientes Erupção cutânea petequial
que apresentam uma fratura pélvica ou de osso longo. Critérios menores
Embora a maioria dos pacientes permaneça as sintomáti Febre
Taquicardia
ca, a síndrome de embolia gordurosa (SEG) desenvolve-
Alterações retinianas
-se em 0,5 a 3% dos pacientes. As taxas de mortalidade da
Icterícia
SEG são de até 20% em casos graves. A SEG é caracteri Insuficiência renal
zada por uma tríade clássica de sofrimento pulmonar, alte Anem ia
rações no estado mental e uma erupção cutânea petequial Trombocitopenia
que se desenvolve entre 6 e 72 horas depois da lesão. A in Velocidade de sedimentação globular elevada
cidência aumenta em adultos jovens com lesões múltiplas a Para fazer o diagnóstico de SEG, um critério maior e três critérios
e raramente ocorre em crianças ou pacientes com fraturas menores, ou dois critérios maiores e dois menores, devem estar presentes.
nas extremidades superiores. Em pacientes com fraturas
bilaterais de fêmur, foi relatada alta incidência de SEG,
de até 33%.49 O envolvimento pulmonar é a característica mais pre
Existem muitas teorias relativas à etiologia da SEG. coce e está presente em 75% dos pacientes. Manifesta-se
Após uma fratura, a gordura intramedular é liberada na como taquipneia e dispneia, que podem ser confundidas
circulação venosa. Esses glóbulos de gordura subsequen com embolia pulmonar. A hipóxia está presente, e o P 0 2
temente embolizam em órgãos terminais como os pul é frequentemente abaixo de 50 mmHg. Estertores úmi
mões, o cérebro e a pele. A obstrução mecânica dos leitos dos podem ser observados sobre os campos pulmonares
capilares dos órgãos terminais tem sido proposta como examinados. A radiografia do tórax é normal em casos
uma fonte potencial de lesão na SEG. Entretanto, um re leves a moderados, mas, depois de um retardo inicial, o
tardo de 24 a 48 horas entre a lesão e o aparecimento de edema pulmonar bilateral difuso se desenvolve em casos
sintomas não pode ser explicado somente pela obstrução graves. Os achados da TC de alta resolução em casos
mecânica. Esse fato ocasionou uma segunda teoria, na leves de SEG demonstram opacidades de vidro fosco. A
qual os êmbolos de gordura desencadeiam uma cascata ventilação mecânica será necessária em 10% dos pacien
inflamatória que danifica o tecido dos órgãos terminais. tes. A função pulmonar retoma completamente dentro de
Nessa teoria, os êmbolos de gordura são metabolizados uma semana.
para ácidos graxos livres que, quando presentes em altas Os sintomas neurológicos variam desde inquietação
concentrações, induzem a uma reação inflamatória que até confusão ou convulsões. O coma prolongado devido
danifica os órgãos terminais. É ainda obscuro por que essa à embolia gordurosa cerebral foi relatado mas, na maioria
síndrome se desenvolve em alguns pacientes e não em ou dos casos, os sintomas se resolvem de forma espontânea.
tros, embora a probabilidade pareça aumentar em pacien A recuperação das funções corticais mais altas pode ser
tes com fraturas mais significativas. retardada. A TC do cérebro será negativa, mas a RMN
pode ajudar a diagnosticar a embolia gordurosa cerebral
Manifestações clínicas ao revelar anormalidades de sinal de alta intensidade em
áreas demarcatórias.
Todos os casos têm um período latente que varia desde As petéquias são observadas em 50% dos pacientes
6 horas até vários dias após da lesão. Aproximadamente com SEG. Acredita-se que a gravidade específica baixa
25% dos pacientes desenvolvem os sintomas nas primei dos glóbulos de gordura predisponha à embolização em
ras 12 horas e 75% terão os sintomas em 36 horas. áreas cutâneas não dependentes. Por conseguinte, as peté
As características clínicas do distúrbio são divididas quias são inicialmente observadas sobre as pregas axilares
em categorias maiores e menores (Tab. 4.1). As caracte anteriores e na superfície anterior do pescoço e do tórax.
rísticas maiores incluem insuficiência respiratória, envol Elas também são encontradas na mucosa bucal e conjun
vimento cerebral e erupção cutânea petequial. As carac tiva. A distribuição e a intensidade da erupção cutânea va
terísticas menores incluem febre, taquicardia, alterações riam, e a resolução é notada dentro de uma semana.
retinianas, icterícia e insuficiência renal. Outras caracte
rísticas laboratoriais incluem anemia, trombocitopenia,
Tratamento
ou VSG elevada. Pelo menos uma das três características
maiores somada a três critérios menores, ou dois critérios O pilar do tratamento é a prevenção e a detecção precoce.
maiores e dois secundários devem estar presentes para fa Acredita-se que a ressuscitação inicial, a estabilização e
zer o diagnóstico de SEG. o tratamento cirúrgico tenham diminuído a incidência de
Emergências Ortopédicas 83
SEG em anos recentes. A imobilização sem movimento 12. Botte MJ, Keenan MA, Gelberman RH. Volkmann’s ische
excessivo permitido demonstrou reduzir a incidência de mic contracture of the upper extremity. Hand Clin 1998;
SEG. Além disso, a redução aberta com fixação inter 14(3):483-97, x.
na dentro de 24 a 48 horas da lesão previne a embolia. 13. Zuker RM. Volkmann’s ischemic contracture. Clin Blast
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Capítulo 5
Técnicas de Imagens Especiais
As radiografias simples constituem um adjunto sufi Aplicações
ciente para a história e o exame físico na avaliação da
As aplicações da cintilografia óssea com radiofármacos
maioria das queixas agudas das extremidades. Deve ser
na avaliação de queixas agudas das extremidades podem
enfatizado que tal afirmação é verdade com a pressupo
ser divididas nas categorias traumática e não traumática,
sição de que a qualidade das incidências seja adequada.
conforme visto na Tabela 5.1.
Um mínimo de duas incidências perpendiculares é ne
Alguns dos problemas sutis que podem ser identifi
cessário para visualizar e descrever de forma adequada
cados com esse processo incluem as fraturas ocultas, a
as fraturas. As incidências oblíquas são incluídas para os
artrite de facetas e até condições inflamatórias difíceis de
punhos, as mãos, os tornozelos e os pés. Além disso, as
diagnosticar que podem não estar claramente evidentes
radiografias das articulações acima e abaixo de uma fra
ou ser confundidas com outras entidades. A tendinite e a
tura devem ser consideradas para excluir a presença de
tenossinovite são condições inflamatórias do tendão que
subluxação ou luxação.
podem ser diagnosticadas por cintilografia óssea quando
Várias outras técnicas de imagens estão disponíveis,
for difícil separá-las de outros problemas. A tendinite do
oferecendo informações adicionais. Essas técnicas, que
calcâneo e a tendinite patelar têm sido diagnosticadas pela
incluem a cintilografia óssea com radiofármacos, ultras-
cintilografia óssea em casos difíceis. As lesões epifisá-
sonografia, tomografia computadorizada (TC), ressonân rias, bem como a síndrome facetária, também podem ser
cia magnética nuclear (RMN) e fluoroscopia, são vabosas diagnosticadas por essa técnica. Com base na excelente
na avaliação de alguns distúrbios musculoesqueléticos sensibilidade da cintilografia óssea, Holder desenvolveu
agudos. Esses exames e as situações clínicas em que eles um algoritmo diagnóstico a ser aplicado em casos difíceis
são úteis são abordados neste capítulo. quando houver suspeita de lesão, mas as radiografias sim
ples são normais (Fig. 5.1).
CINTILOGRAFIA ÓSSEA COM
Dor óssea traumática
RADIOFÁRMACOS
O exame com radiofármaco geralmente revela o distúrbio
Em imagens esqueléticas com radiofármacos, os isóto metabólico em um local de fratura aguda dentro de até 24
pos direcionados ao osso são administrados ao paciente horas da lesão. A cintilografia óssea pode, por conseguin
via intravenosa, permitindo a sua locabzação dentro do te, ser usada para diagnosticar as fraturas da escápula, do
esqueleto. A energia de fótons emitida é então registrada esterno, do sacro e de porções da pelve que sejam clinica-
em três fases, usando uma câmara gama: na hora da admi mente suspeitas, mas anatomicamente difíceis de demons
nistração do radiofármaco; nos primeiros minutos depois trar com as radiografias simples/
da injeção e 3 a 6 horas mais tarde. Numerosos isótopos
foram usados para esse propósito no passado. Atualmente,
► TABELA 5.1 Aplicações da cintilografia óssea com
a cintilografia óssea clínica emprega principalmente o tec-
radiofármacos na avaliação das queixas agudas das
nécio-99 acoplado a fosfatos orgânicos. Esses compostos
extremidades
combinam uma baixa dosagem de radiação absorvida com
imagens de alta resolução do esqueleto, que são registra I. Traumáticas
dos de 2 a 3 horas após a injeção do isótopo. A. Fraturas
1. Localizações anatomicamente difíceis
A cintilografia óssea é uma ferramenta extremamen
2. Fraturas ocultas (não deslocadas ou fraturas de
te sensível, mas bastante inespecífica para detectar uma
estresse)
ampla variedade de anormalidades esqueléticas e de teci B. Osteonecrose traumática sem fratura
dos moles. A base fisiopatológica da técnica é complexa II. Não traumáticas
e depende das diferenças localizadas no fluxo sanguíneo, A. Osteomielite
na permeabihdade capilar e na atividade metabóhca que B. Tumor (primário ou metastático)
acompanha qualquer lesão, infecção, processo de repa C. Fraturas ocultas
ração ou crescimento de tecido ósseo. Esses processos D. Dor no quadril
criam um aumento na captação de isótopos, resultando 1. Adultos : Necrose asséptica, artrite, osteoporose
transitória, fratura oculta do colo do fêmur
em “pontos quentes” no exame. A comparação dos lados
2. Crianças: Sinovite transitória, artrite, doença de
afetado e não afetado é usada para detectar as diferenças
Legg-Calvé-Perthes
na captação.
86 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
captação causado pela vascularização anormal. Os filmes usada para detectar abscessos simples, piomiosite, bursi-
simples podem revelar osteoporose no osso periarticular. te e tenossinovite sépticas, derrames articulares e fluido
subperiostal associado com osteomielite.9
ULTRASSONOGRAFIA
TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA
A ultras sonografia está ganhando destaque dentro da es
pecialidade da medicina de emergência, e esse papel não Os avanços numerosos na TC têm expandido o seu uso
tem excluído o seu uso em condições ortopédicas. As nas lesões de ossos e tecidos moles. Com o advento da TC
aplicações incluem a identificação de corpos estranhos e espiral com múltiplos detectores, tanto a velocidade como
a detecção de abscessos. Além disso, a pesquisa recente a resolução melhoraram, e as reconstruções computado
tem sugerido que essa modalidade é útil para diagnosticar rizadas tridimensionais tornam o diagnóstico mais fácil.
as fraturas de extremidades em contextos militares, onde As duas principais áreas onde a TC é útil na ortopedia de
outras alternativas de imagens não estejam disponíveis. emergência incluem a avaliação do trauma e a avaliação
A ultras sonografia pode ser empregado para identi das infecções de tecidos moles e tumores.
ficar corpos estranhos dentro de tecidos moles. Usando
uma sonda de alta frequência de 7,5 a 10 MHz, a ultrasso- Trauma
nografia é a melhor técnica para detectar corpos estranhos
radioluzentes (plástico e madeira) apresentando maior A TC espiral tem duas principais aplicações na avaliação
eficácia que a radiografia convencional e a fluoroscopia. de uma extremidade traumatizada: (1) detectar uma fratu
Em um modelo experimental, a ultrassonografia identi ra que seja clinicamente suspeitada, mas não visualizada
ficou corpos estranhos de madeira e plástico com sensi nas radiografias simples e (2) determinar a extensão de
bilidade de 83% e especificidade de 59%. Os médicos uma fratura previamente identificada. A Tabela 5.2 deli
de emergência treinados nessa técnica exibem taxas de neia as áreas específicas onde a TC espiral é útil no con
detecção similares aos tecnólogos de ultrassonografia e texto de trauma.1 Além disso, a TC é útil para a de
radiologistas. tecção de corpos estranhos de madeira dentro dos tecidos
20
O papel da ultrassonografia nas infecções musculoes- moles das extremidades (Fig. 5.2)."
queléticas de tecidos moles também está se expandindo. A A TC tem se mostrado útil na avaliação das fraturas
localização das coleções de tecidos moles pela ultrassono pélvicas. O formato axial permite melhor visualização
grafia ajuda a estreitar o diagnóstico diferencial com base do deslocamento anterior e posterior, se comparado às
no achado de fluido na derme, na articulação, na bolsa ou radiografias simples. O acetábulo é bem visualizado com
no músculo. Por essa razão, a ultrassonografia pode ser essa técnica, e os dados fornecidos pela TC podem in-
► TABELA 5.2 Áreas específicas nas quais a tomografia com putadorizada (TC) espiral é útil no contexto do trauma
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fluoroscopia é para a remoção de corpos estranhos, redu 7. Hill R, Conron R, Greissinger P, et al. Ultrasound for the
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é facilmente aprendida pelos profissionais, e as taxas de graphy. Am J Emerg Med 2000; 18(4):401-403.
retenção são altas. Para materiais estranhos radiopacos, 9. Cardinal E, Bureau NJ, Aubin B, et al. Role of ultrasound
a remoção é ajudada porque o profissional pode visuali in musculoskeletal infections. Radiol Clin North Am
zar tanto o instrumento como o corpo estranho. Embora 2001 ;39(2): 191 -201.
o fluoroscópio esteja ligado, a extremidade é facilmente 10. Albrechtsen J, Hede J, Jurik AG. Pelvic fractures. Asses
manipulada para dar o quadro tridimensional, permitindo sment by conventional radiography and CT. Acta Radiol
que o objeto seja localizado e removido. 1994;35(5):420-425.
O uso da fluoroscopia também é vantajoso na redução 11. Wechsler RJ, Schweitzer ME, Karasick D, et al. Helical
de fraturas. Ao invés de enviar o paciente de volta ao setor CT of calcaneal fractures: Technique and imaging features.
de radiologia, a confirmação da redução adequada pode Skeletal Radiol 1998;27(1): 1-6.
ser imediatamente obtida com um fluoroscópio portátil. 12. Chan PS, Klimkiewicz JJ, Luchetti WT, et al. Impact of CT
A redução de fraturas com um fluoroscópio portátil no se scan on treatment plan and fracture classification of tibial
tor de emergência é mais bem-sucedida, diminuindo em plateau fractures. J Orthop Trauma 1997; 11(7):484-489.
30% a necessidade das idas à radiologia para os controles 13. Pretorius ES, Fishman EK. Spiral CT and three-dimensio
pós-redução. Essa técnica também reduz a necessidade nal CT of musculoskeletal pathology. Emergency room ap
de sedação para o procedimento, garantindo que a redu plications. Radiol ClinNorthAm 1999;37(5):953-974, vi.
ção seja feita corretamente já na primeira vez. 14. Pretorius ES, Fishman EK. Volume-rendered threedimen
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é desprezível, mas o paciente recebe uma dose maior a phies 1999; 19(5): 1143-1160.
partir de uma radiografia convencional do que de uma “to 15. Liow RY, Birdsall PD, Mucci B, et al. Spiral computed to
mada” de um fluoroscópio, com uma relação de 2:1. As mography with two-and three-dimensional reconstruction
estimativas de irradiação do corpo inteiro sugerem que o in the management of tibial plateau fractures. Orthopedics
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Capítulo 6
Pediatria
PRINCÍPIOS GERAIS ambas as articulações na extremidade dos ossos longos,
são fundamentais para a avaliação do paciente. As inci
As crianças se apresentam com lesões diferentes em rela dências de comparação são inestimáveis, particularmen
ção às que são comumente vistas em adultos. As fraturas te ao buscar uma fratura sutil. As placas de crescimento
são mais prevalentes que as entorses, luxações e disten nas incidências de comparação, obtidas exatamente na
sões, pois as inserções ligamentares são mais fortes que mesma posição, devem ser atentamente avaliadas. Os
as inserções ósseas em crianças. Este capítulo discute sinais anterior e posterior do coxim de gordura ajudam
as lesões musculoesqueléticas peculiares na população a identificar fraturas sutis (Fig. 6.1). Os centros epifi-
pediátrica. Os seguintes termos são usados na ortopedia sários com frequência podem ser um desafio no exame
pediátrica: dos filmes simples e, por conseguinte, é imperativo que o
• F ise : A placa de crescimento cartilaginosa que apare médico saiba quando esses centros começam a aparecer
ce lucente em radiografias. (Fig. 6.2).
• E p ífise : O centro de ossificação secundária nas extre
midades dos ossos longos que é separado pela fise do Classificação de Salter-Harris
resto do osso. A classificação de Salter-Harris refere-se às fraturas fisá-
• A pófise: Um centro de ossificação secundária na in rias (Figs. 6.3 e 6.4). Essa é uma classificação radioló-
serção dos tendões nos ossos. gica e não anatômica, que não está relacionada ao meca
• D iáfise: A porção do eixo de um osso cortical longo. nismo ou à gravidade da lesão.
A S a lte r I é uma fratura através da fise, e respon
• M etáfise: A porção alargada nas extremidades de um
de por 6% de todas as fraturas fisárias. Essas fraturas
osso, adjacente à fise.
podem estar deslocadas ou não deslocadas; contudo,
não existe nenhuma extensão próxima e ou distalmen-
Avaliação da criança te. Uma fratura Salter I não deslocada pode não estar
É importante palpar cuidadosamente a extremidade ilesa óbvia agudamente aos raios X; por conseguinte, a sus
antes, para obter a confiança da criança. Também é im peita clínica é fundamental para chegar ao diagnóstico.
portante determinar se a história fornecida pelos pais ou Os pacientes tipicamente se apresentam com sensibili
guardiães é consistente com as lesões observadas ou se dade dolorosa circunferencial ao longo da área fisária.
existe alguma sugestão de maus-tratos. Estas fraturas ocorrem na tíbia e na fíbula distai e podem
Pode ser difícil encontrar fratura em uma extremidade apresentar-se com o mesmo mecanismo de um torno
ferida de criança que está chorando. Ao exame físico, a zelo torcido, sem qualquer sensibilidade dolorosa liga-
palpação das áreas que não estão fraturadas geralmente mentar. Além disso, essas fraturas ocorrem nas mãos e
machucam menos do que nas áreas feridas. A palpação nos dedos de crianças.
deve ser gentil, mas com suficiente pressão para fazer a A S alter II é uma fratura através da fise, que se conti
comparação entre a região normal e a anormal em uma nua para a metáfise. Essas fraturas respondem por 75% de
criança que esteja sendo avaliada. todas as fraturas fisárias. As fraturas não deslocadas não
A avaliação neurológica da extremidade é frequente causam distúrbios no crescimento.
mente difícil. Uma resposta de defesa generalizada pode A fratura S a lter III se estende através da fise e con
ser avaliada usando uma agulha. O enrugamento da pele tinua até na epífise. Tais fraturas respondem por cerca de
sugere que o nervo esteja intacto. Ao avaliar a condição 8% de todas as fraturas e, em geral, ocorrem em crianças
vascular da extremidade, a palpação dos pulsos pode ser maiores, com a fise parcialmente fechada. As fraturas Sal
difícil em decorrência da gordura subcutânea e, por con ter III devem ser encaminhadas de imediato para ter uma
seguinte, é importante avaliar e documentar o tempo de redução cuidadosa e precisa.
enchimento capilar. As fraturas S a lter IV passam através da fise e esten
dem-se tanto para a epífise como para a metáfise. Estas
fraturas respondem por 10% das fraturas fisárias. As fra
Exame radiológico
turas Salter IV necessitam de redução precisa para preve
Ao obter radiografias simples em crianças, pelo menos nir a consolidação óssea entre a epífise e a metáfise, pois
duas incidências perpendiculares entre si devem ser obti envolvem a fratura através da fise e estendem-se tanto
das. Além disso, vistas da extremidade inteira e incluindo proximal como distalmente. Essa fratura e a consolidação
92 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
15 anos
(18 anos) 3-6 anos
(15 anos)
6-27 meses
(20 anos) 1-8 meses
(15 anos)
10-13 anos
(19 anos)
Figura 6.2 As regiões epifisárias das principais articulações do corpo. A idade na qual os centros de ossificação aparecem nas
radiografias é mostrada em meses ou anos. A idade na qual a união ocorre é mostrada em parênteses.
Emergências Ortopédicas 93
Metáfise
Fise
Epífise
subsequente podem causar uma parada parcial ou comple Fraturas únicas em crianças
ta do crescimento.
Os ossos nas crianças são mais porosos do que os dos
As fraturas S a lter V são as lesões por esmagamento
adultos e, desse modo, as fraturas podem não aparecer tão
da fise, sendo o tipo mais grave de fratura. Felizmente,
prontamente. Os ossos infantis sofrem maior deformação
as fraturas Salter V respondem por somente 1% das fra
turas fisárias. As fraturas Salter V podem não estar clara plástica e ocorrem microfraturas que não são vistas em
mente visíveis no momento da lesão e são muitas vezes adultos. Essas microfraturas podem não ser visualizadas
diagnosticadas retrospectivamente, quando a parada do em radiografias de rotina. O paciente pode apresentar-se
crescimento é notada. As incidências de comparação do com sensibilidade dolorosa, e o mecanismo sugerir trau
membro contralateral são úteis para fazer o diagnóstico ma significativo ao osso ou à articulação, mas a radiogra
na fase aguda. fia parecerá normal.
Uma preocupação fundamental com as fraturas que As fra tu ra s em endentação (“torus”) envolvem uma
envolvem a fise é o potencial para a parada ou retardo falha do osso com um mecanismo compressivo. Tais fra
do crescimento. As fraturas Salter I e II têm o risco mais turas ocorrem sobre a região metafisária (Fig. 6.5). As fra
baixo de distúrbios no crescimento, enquanto as fraturas turas em endentação são muito comuns, estáveis e curam
Salter IV e V têm a probabilidade mais significativa de de imediato quando imobilizadas. As complicações são
perturbá-lo. As fraturas em crianças podem resultar em muito raras.
subsequente distúrbio do crescimento que não é confinado As fra tu ra s em galho verde são incompletas, resul
somente àquelas fraturas que envolvem as placas de cres tado da tensão de um osso submetido a um estresse de
cimento. Em geral, quanto maior o mecanismo e a força deformação (Figs. 6.6 e 6.7). Essas fraturas são anguladas
gerados, maior é a probabilidade de distúrbio no cresci e podem requerer a conversão para uma fratura completa,
mento, não importando o tipo de fratura. a fim de corrigir a deformidade.
94 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
A B
Figura 6.4 A. Fratura Salter II do rádio distai. B. Fratura Salter III do côndilo medial do fêmur. C. Fratura Salter IV do rádio distai
O arqueam ento ocorre quando o osso sofre deforma sociadas em função do deslocamento do osso durante o
ção plástica depois de uma lesão, e não recua à sua posição mecanismo de fratura. Assim, uma fratura pélvica mini
original. A fíbula e a ulna são os ossos mais comumente mamente deslocada pode estar associada a uma lesão mais
envolvidos. Se houver uma fratura do osso adjacente, o significativa da bexiga, do plexo sacral ou da uretra do
encurvamento pode inibir a redução do osso fraturado. que aquela vista em uma fratura deslocada de modo simi
Uma fratura minimamente deslocada pode resultar lar em um adulto.
em graves lesões de tecidos moles e lesões viscerais as
Emergências Ortopédicas 95
Pseudossubluxação
A extrema frouxidão dos ligamentos cervicais pode au
mentar a sobreposição das vértebras adjacentes em 46%
das crianças abaixo dos 8 anos. Este achado, conhecido
como pseudossubluxação, é mais encontrada no nível de
C2 a C3 (Fig. 6.8). Para distinguir a pseudossubluxação
da subluxação verdadeira, Swischuk definiu a linha cervi
cal posterior (Fig. 6.9). Essa linha é traçada conectando
os aspectos anteriores dos processos espinhosos de C l e
C3. Se o aspecto anterior do processo espinhoso de C2
faltar nessa linha por 2 mm ou mais, suspeita-se de uma
Figura 6.6 Esquema do mecanismo que causa uma fratura em subluxação verdadeira ou de fratura do enforcado dos ar
galho verde. cos neurais de C2.
96 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
Figura 6.13 A. Radiografia normal anteroposterior (AP). B. Radiografia lateral do cotovelo de uma criança com 10 anos. Conforme
o esperado, os centros de ossificação estão visíveis, exceto o epicôndilo externo (lateral).
tipo em galho verde. O diagnóstico radiográfico nesses do fragmento distai - deslocamento posterior com lesões
casos pode ser extremamente difícil. tipo extensão e deslocamento anterior com lesões tipo
Existem três tipos de fraturas supracondilianas em flexão. As fraturas supracondilianas do tipo III envolvem
extensão. As fraturas do tipo I são sem deslocamento ou fraturas de ambas as corticais e estão completamente
minimamente deslocadas. As do tipo II têm angulação deslocadas.
A tjr
Figura 6.16 Fratura supracondiliana oculta não deslocada. A. O aspecto do cotovelo revela edema sem deformidade. B. Radiogra
fia lateral com os coxins de gordura e uma linha umeral anterior normal.
A B
Figura 6.19 Fraturas epifisárias supracondilianas detectadas pela observação de uma linha umeral anterior anorm al. A. Tipo em
extensão B. Tipo em flexão.
Emergências Ortopédicas 101
Rádio
Ulna
das mãos (com o polegar ou dedo indicador sobre a cabe -sucedida, um “clique” será sentido pelo examinador no
ça do rádio) enquanto a outra mão é usada para hiperpro- cotovelo da criança (Fig. 6.27 e Vídeo 6.1).
nar o antebraço da criança, segurando e virando a mão da
criança até a posição hiperpronada. Com a redução bem- Com a técnica de supi-
Técnica d e su p in a çã o e flexão.
nação e flexão, o examinador segura o cotovelo da criança
com uma das mãos (com o polegar ou indicador sobre a
cabeça do rádio), supinando a mão do paciente. O exami
nador então flexiona completamente o cotovelo da crian-
Antebraço
Fraturas da diáfise do rádio e da ulna
As fraturas mais comuns na infância são aquelas que en
volvem o rádio e a ulna (Fig. 6.29 e Vídeo 6.3). Na maio
ria das crianças com fraturas de antebraço, ambos os ossos
estão fraturados. Quando somente um osso do antebraço
estiver fraturado, o médico da emergência deve buscar evi
dência de luxação das articulações radioulnares proximal
ou distai. As fraturas de Monteggia, que envolvem a ulna
proximal associada com uma luxação da cabeça do rádio,
passam às vezes despercebidas. A cabeça do rádio deve
estar sempre bem-alinhada com o capítulo. As fraturas de
Galeazzi envolvem fratura do rádio distai associada com
luxação radioulnar distai. Para mais informações sobre es
sas fraturas, ver o Capítulo 13.
Figura 6.28 Técnica de supinação e flexão para reduzir a su-
bluxação da cabeça do rádio.
Punho
Fraturas distais do rádio e da ulna
ça, trazendo a mão supinada em direção ao ombro. Com a
redução bem-sucedida, um “clique” será sentido próximo A fise do rádio distai é a placa de crescimento mais comu-
ao cotovelo (Fig. 6.28 e Vídeo 6.2). mente fraturada. As lesões Salter II são as mais comuns,
Não importando qual técnica de redução for usada, a respondendo por 58% dessas fraturas. É às vezes difícil
criança começará a usar o braço normalmente dentro de alcançar a redução completa dessas lesões. A quantidade
10 a 15 minutos. A tentativa de redução sem sucesso deve aceitável de deslocamento não é conhecida, embora até
ser seguida por uma segunda tentativa, usando a mesma 30% de deslocamento fisário pareçam curar de imediato,
técnica ou outra. A segunda tentativa em geral ocorre com enquanto deslocamentos de 50% se remodelaram comple
sucesso. Se a redução fracassar depois de duas ou três ten tamente sem qualquer déficit funcional dentro de um ano
tativas, as radiografias da extremidade superior devem ser da lesão.20
obtidas para ajudar a excluir uma fratura ou outra patolo As lesões fisárias da ulna são menos comuns e ocor
gia como a causa dos sintomas da criança. rem em somente 5% das fraturas distais do antebraço.
A criança com pronação dolorosa reduzida com sucesso O espesso complexo da fibrocartilagem triangular protege
não precisa de acompanhamento específico com o cuidador a fise ulnar distai, mas concentra a força sobre a inserção
Figura 6.29 Fratura de ambos os ossos do antebraço. A. Fotografia clín ica. B. Radiografia.
Emergências Ortopédicas 107
Quadril
Luxação do desenvolvimento (congênita) do quadril
A luxação do desenvolvimento de quadril, anteriormente
conhecida como luxação congênita do quadril, é o deslo
camento da posição normal intra-articular da cabeça do
fêmur dentro do acetábulo. Isso leva à interrupção no de
senvolvimento normal da articulação, ocorrendo antes ou
logo depois do nascimento. Ao nascimento, a fossa ace-
tabular é rasa, com a porção superior do acetábulo mal-
-desenvolvida, oferecendo pouca resistência ao movimen
to superior da cabeça pela tração dos músculos ou pela
carga. Isso leva a uma condição chamada de subluxação
Figura 6.31 Fratura da epífise do rádio com deslocamento. congênita da cabeça do fê m u r, na qual a cabeça é desloca-
108 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
Figura 6.33 Luxação do desenvolvimento no quadril direito. A. AP. B. Lateral em posição de rã.
Emergências Ortopédicas 109
locamento ou obscurecimento dos coxins de gordura elevada. Em tomo de 70% dos pacientes com VSG acima
periarticulares em pacientes com artrite séptica aguda, e de 30 mm/h têm artrite de origem infecciosa ou inflama
a análise com regressão multivariada revelou que febre, tória. Aqueles com VSG abaixo ou igual a 40 mm/h têm
VSG acima de 20 mm/h, PcR maior que 1 mg/dL, leuco- infecções bacterianas como a causa de sua recusa para
citose acima de 11.000/mL e espaço articular do quadril caminhar.
maior que 2 mm eram preditores independentes de artri- O fêmur e a tíbia são, sem dúvida, os ossos afetados
te séptica aguda. Entretanto, havendo dúvidas sobre a com mais frequência. Os filmes simples são geralmente
etiologia da dor, as culturas sanguíneas, os antibióticos, a normais e levam de 7 a 10 dias para mostrar as altera
aspiração da articulação do quadril e a cultura do fluido ções radiográficas, tanto na osteomielite como na artrite
sinovial são obrigatórias. séptica. O tecido mole, contudo, pode mostrar altera
ções mais precoces. Quanto mais jovem for a criança,
Artrite séptica e osteomielite mais provável de se ver o alargamento do espaço articu
A artrite séptica e a osteomielite não são incomuns em lar. A subluxação anormal do quadril, com alargamento
crianças. A origem patológica é a disseminação hematogê- do espaço articular, é o achado radiológico mais comum.
nica, a invasão local por infecção contígua ou a inoculação Um baixo limiar deve ser usado para a cintilografia esque
direta do osso, cirurgicamente ou depois de um trauma. lética, pois as radiografias simples habitualmente não são
A artrite séptica apresenta-se com febre, que pode ser úteis no curso inicial dessa doença. A aspiração do quadril
baixa, e com o que é chamado de pseudoparalisia , que é guiada por cintilografia evacua o pus, diminui o dano às
a recusa da criança em usar aquele membro. O movimen superfícies periarticulares, diferencia a sepse articular de
to passivo suave, contudo, é habitualmente permitido. Os outros derrames e ajuda na terapia direta com antibióticos.
sintomas de apresentação em recém-nascidos podem ser Os exames de TC não são úteis para estabelecer o diag-
tão vagos como irritabilidade aumentada, febre ou alimen nóstico de sepse musculoesquelética aguda. "
tação deficiente. Os organismos mais comuns envolvidos Ao tratar crianças com osteomielite e artrite séptica,
em neonatos incluem os estafilococos, H aem oph ilu s in a penicilina resistente à /1-lactamase, como a oxacilina, a
flu e n za e e bacilos gram-negativos. Em bebês e crianças, nafcilina, ou uma combinação de ampicilina e sulbactam,
o S. aureus é o organismo mais comum, já que a doença ou uma cefalosporina de primeira geração, como a cefazo-
com o H. influenza tem diminuído devido à vacinação uni lina, devem ser usadas. Em pacientes alérgicos à penicili
versal. A N eisseria gonorrhoeae deve ser suspeitada em na, a clindamicina 24 mg/kg em doses divididas ao longo
adolescentes com vida sexual ativa. de 24 horas ou a vancomicina estão indicadas.
As crianças com osteomielite têm sensibilidade do
lorosa à palpação, em especial sobre a metáfise, que é co- Joelho e perna
mumente afetada. Quando o quadril e o ombro estiverem
envolvidos na osteomielite, o pus pode deslocar-se sob o Doença de Osgood-Schlatter
periósteo da metáfise até a articulação adjacente e, assim, A doença de Osgood-Schlatter representa um distúrbio
o paciente ter achados de osteomielite e artrite séptica. no desenvolvimento da tuberosidade tibial, causado pela
O diagnóstico de osteomielite é feito pela presença de aplicação repetida e rápida de forças tensionais nos mús
dois dos seguintes critérios diagnósticos: culos do quadríceps em sua inserção tendínea na tubero
• Purulência do osso sidade. A causa mais amplamente aceita de doença de
Osgood-Schlatter é o trauma repetitivo crônico na porção
• Uma cultura positiva do osso ou sanguínea
anterior da placa de crescimento tibial proximal em ama
• Eritema localizado, edema, ou ambos
durecimento.
• Um exame de imagens positivo, seja ele radiografia,
Essa doença é vista em meninas entre 8 e 13 anos e
cintilografia ou RMN
em meninos entre 10 e 15 anos. O distúrbio tem sido
As culturas retiradas do osso apresentam resultados associado com a inflexibilidade do músculo quadríceps.
em 80% dos casos. As hemoculturas devem ser feitas em A condição é, de hábito, unilateral, mas pode ser bilateral
todos os pacientes com suspeita de osteomielite, já que em 35 a 56% dos meninos e em tomo de 18% das me-
são positivas em até 50% dos pacientes. O S. aureus é o ninas/ Além disso, os meninos são afetados com mais
patógeno encontrado na maioria dos casos da osteomieli frequência do que as meninas.
te hematogênica, com os estreptococos /1-hemolíticos do Ao exame, existe dor, edema e sensibilidade dolorosa
grupo A em um distante segundo lugar. O H. influenzae localizada sobre a tuberosidade da tíbia. O derrame articu
tipo B ocorre com mais frequência em neonatos e pacien lar não deve estar presente. O uso do quadríceps contra a
tes não imunizados. Os pacientes com doença falciforme resistência agrava a dor, em especial durante a subida de
também têm um risco para a osteomielite relacionada à escadas, ao agachar-se ou ao ajoelhar-se. Tais sintomas são
Salm onella. secundários à separação incompleta da ligação cartilagino
O diagnóstico de artrite séptica é sugerido quando sa entre o tendão patelar e a tíbia. A separação interrompe
uma criança se apresenta com febre, leucocitose e VSG o suprimento sanguíneo, resultando em necrose assépti
112 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
Apofisite da patela
A apofisite do polo inferior da patela é chamada de ligamentos. No joelho, um adulto apresenta ruptura liga-
doença de Sinding-Larsen-Johansson. Essa condição é mentar, enquanto uma criança terá uma fratura de Salter
também conhecida como c o n d w p a tia do p o lo inferior p a I ou II da tíbia proximal ou do fêmur distai. Após uma
tela r e é nove vezes mais prevalente em meninos entre as lesão rotacional ou estresse em varo no joelho de uma
idades de 10 e 14 anos do que em meninas. Os pacientes criança, a avulsão da espinha tibial ocorre mais frequen
se apresentam com dor no polo patelar inferior, exacer temente do que uma ruptura do ligamento cruzado ante
bada pela corrida ou ao ajoelhar-se. Ao exame, a dor é rior. Justamente por isso, é mais comum o adulto ter uma
notada com a extensão contra resistência junto com sen ruptura do tendão patelar ou do tendão do quadriceps a
sibilidade dolorosa locahzada no polo inferior da patela. partir de uma lesão de bloqueio do aparelho extensor do
Com sintomas protraídos, existe um alongamento do polo quadriceps, enquanto uma criança tem mais probabilida
envolvido, que pode desenvolver uma fratura de estresse de de sofrer avulsão da tuberosidade da tíbia. As fraturas
e, eventualmente, uma fratura de avulsão caso não seja sutis e ocultas são comuns em crianças. Por essa razão,
diagnosticada. As radiografias apresentam-se normais, uma criança com derrame após uma lesão no joelho e ra
embora o borramento dos polos possa ser visto em casos diografias simples negativas deve ser imobilizada e enca
crônicos. O tratamento é similar à doença de Osgood- minhada ao especialista.
-Schlatter. Os agentes não esteroides e o repouso são reco Ao lidar com lesão ou luxação patelar, lembre-se
mendados. Essa condição é autolimitada e na maioria dos sempre de examinar a superfície inferior da patela, já que
casos se resolve completamente dentro de 3 a 12 meses. as fraturas osteocondrais de avulsão são mais comuns em
Em casos raros, o uso de muletas por duas a três semanas crianças do que em adultos.
é necessário.
Fratura do bebê
Síndrome do estresse patelofemoral Uma fratura do bebê é uma fratura espiral ou oblíqua não
A síndrome do estresse patelofemoral é a queixa mais co deslocada do terço inferior da diáfise tibial. Essa fratura
mum em atletas jovens. A apresentação comum é de dores ocorre em pacientes entre as idades de 9 meses e 3 anos.
nos joelhos, com aumento da dor durante saltos ou ao su Essa lesão resulta da torção da perna (Fig. 6.38). Uma fra
bir degraus. Os achados físicos incluem dor à compressão tura da fibula não está presente. Muitas vezes, os pais não
da região patelar; derrame articular e edema são raros. recordam qualquer trauma e a única queixa é a dificuldade
As radiografias simples são normais. O tratamento inclui de caminhar ou a resistência para carga. O exame físico
repouso relativo e fisioterapia. em geral falha em revelar edema, mas pode mostrar au
mento de temperatura e dor à palpação do terço inferior
Lesões ligamentares da tíbia.
As lesões ligamentares que envolvem o joelho são inco- Os filmes AP e lateral podem revelar uma fratura ób
muns em crianças, pois o osso é mais fraco do que os via; contudo, as tomadas oblíquas podem ajudar a confir-
Emergências Ortopédicas 113
Figura 6.39 Fratura deTNIaux. O ligamento talofibular anterior puxa a epífise da tíbia ainda não fusionada e resulta em fratura tipo
Salter III. A . Representação esquemática. B. Radiografia.
mar a fratura. As radiografias iniciais podem parecer nor placas de crescimento começam a fechar, a epífise tibial
mais; entretanto, 2 a 3 semanas mais tarde pode ser vista a distai medial fecha antes da lateral. Isso cria um fulcro por
formação de osso subperiostal. onde uma fratura Salter do tipo III pode ocorrer, logo late
O tratamento da fratura do bebê confirmada por ra ral ao ponto de fusão. A consulta ortopédica imediata está
diografia consiste em uma bota gessada por aproximada indicada, devido ao envolvimento da placa de crescimen
mente 3 semanas. O tratamento de uma fratura de bebê to e da necessidade potencial de fixação aberta. A lesão
presumida, quando nenhuma fratura é visualizada na ra intra-articular é comum. Os exames de TC são úteis para
diografia inicial, é algo controverso. Alguns preconizam avaliar os padrões complexos de fratura. As incidências de
a imobilização para conforto e repetição das radiografias comparação ajudam em casos difíceis.
em 10 dias, enquanto outros recomendam a imobilização As fraturas do domo talar são muito mais comuns em
de todas as crianças com história de lesão aguda, inca crianças do que em adultos. Uma fratura osteocondral do
pacidade para caminhar ou mancar, nenhum sinal consti domo talar deve estar sob suspeita ao avaliar uma criança
tucional e radiografias negativas para evitar o retardo no que se apresenta com “entorse de tornozelo” que não cura
44
tratamento. ou derrames recorrentes após uma torção do tornozelo.
Coalizão tarsal
Tornozelo e pé
Deve haver suspeita de coalizão tarsal em qualquer crian
Fraturas do tornozelo ça com história de entorses múltiplas do tornozelo e que
As crianças não apresentam “entorses” e, por conseguinte, demonstre rigidez subtalar ao exame físico. A coalizão
esse diagnóstico deve ser usado com cautela ou evitado. tarsal é a união anormal de dois ou mais ossos no retro-
As fraturas Salter do tipo I e II podem ser administradas pé e no mediopé. Essa condição pode ser congênita ou
de modo conservador, com redução fechada seguida de adquirida em decorrência de infecção, trauma ou distúr
imobilização por três a quatro semanas. As fraturas Salter bios articulares. Os pacientes se apresentam entre os 8 e 16
dos tipos III, IV e V provavelmente exijam a intervenção anos. Uma história familiar de coalizão tarsal pode existir.
cirúrgica em algum momento durante o seu manejo. A dor De todas as síndromes de coalizão, a talocalcaneana e a
sobre a fise fibular distai com radiografia normal em uma calcaneonavicular são os tipos mais frequentes. O trata
criança deve ser tratada como uma fratura Salter do tipo I. mento inicial é conservador, consistindo de repouso e bota
O padrão de fratura varia com a idade. Um exemplo gessada por duas a quatro semanas, ou pelo uso de uma
dessa variação etária é a fratura de tíbia distai chamada órtese moldada e fisioterapia. Esses pacientes devem ser
de “fratura de Tillaux”, que é única em adolescentes (Fig. encaminhados para o cuidado e o acompanhamento apro
6.39). Conforme a maturidade esquelética é alcançada e as priados.
114 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
Pé plano
O p é p la n o ocorre com muita frequência. A incidência de
“pés chatos” é de aproximadamente 7 a 22%. A maioria
dos pacientes é as sintomática. Essa condição em geral não
causa quaisquer problemas nas crianças. O tratamento dos
pés planos sintomáticos com um navicular acessório con
siste no uso de uma órtese e um programa de exercícios
para fortalecer os músculos tibiais posteriores e os ten
dões fibulares do pé. A cirurgia está indicada em alguns
casos.
Doença de Freiberg
A doença de Freiberg envolve o colapso da superfície ar
ticular e do osso subcondral do segundo metatarsal, presu
mivelmente devido a uma agressão vascular. Embora seja
mais vista no segundo metatarsal, pode ocorrer no terceiro
metatarsal. Os sintomas incluem dor e sensibilidade dolo
rosa sobre a cabeça metatarsal, com edema nessa área ao
exame clínico. As radiografias confirmam o diagnóstico,
e o tratamento consiste em redução de carga na área e um Figura 6.40 As fraturas metafisárias são causadas por tração
ou por forças de cisalham ento e são altamente suspeitas de
coxim ou uma órtese metatarsal. A excisão cirúrgica de
maus-tratos.
corpos livres em decorrência da fragmentação da cabeça é
necessária algumas vezes.
MAUS-TRATOS
Osteocondrite dissecante do tálus
A maioria dessas lesões ocorre no terço médio da borda Sempre que houver um retardo na busca do tratamento
lateral do tálus. As lesões são classificadas em quatro es para uma lesão ortopédica, deve-se suspeitar da possibi
tágios diferentes: lidade de maus-tratos. Se a história for inconsistente com
o exame, isso também deve ser um sinal que aumenta a
• E stágio 1 : Uma pequena área de compressão do osso suspeita de abuso.
subcondral.
• E stágio 2: Um fragmento osteocondral parcialmente Evidência radiográfica de maus-tratos
destacado.
• E stágio 3: Um fragmento osteocondral completamen As fraturas nas costelas ou na área estemal sugerem maus-
te destacado, permanecendo na cratera. -tratos. Quaisquer fraturas vistas em uma criança abaixo
• E stágio 4\ Um fragmento osteocondral deslocado. dos 3 anos devem ser suspeitas e, em particular, aquelas
vistas em criança que tenha deficiência ou que seja pre
As lesões em estágio 1 e 2 são tratadas sem cirurgia, matura. As fraturas metafisárias também são suspeitas, já
usando um gessado, imobilizador ou correia. As lesões que essas fraturas são raramente acidentais e são devido
mediais do estágio 3 inicialmente devem ser tratadas sem à tração da extremidade ou uma força de cisalhamento
cirurgia, mas, se os sintomas persistem, a excisão cirúr através da extremidade do osso (Fig. 6.40). As fraturas
gica e a curetagem são recomendadas. As lesões laterais do úmero, principalmente as fraturas espirais em crianças
em estágio 3 e todas as lesões de estágio 4 são tratadas abaixo dos 3 anos, são fortemente sugestivas de abuso, já
cirurgicamente com a remoção da lesão. que as fraturas espirais ocorrem em resposta a uma força
de torção. As fraturas escapulares são difíceis ocorrer e
Doença de Sever também devem levantar suspeitas. As fraturas do fêmur,
A doença de Sever, ou apofisite do calcâneo, é uma en com destaque para as fraturas do fêmur distai, são lesões
tidade comum que ocorre em pacientes entre os 9 e 11 bastante suspeitas na criança que não caminha. Em um
anos de idade. A criança refere dor no calcanhar, particu estudo, foi relatado que 19 entre 24 crianças abaixo dos 2
larmente ao correr e pode mostrar um andar nas pontas anos com fraturas da diáfise do fêmur tinham sido agre
dos pés ou claudicação. As radiografias com frequência didas.! Entretanto, as fraturas espirais do fêmur podem
não são úteis; contudo, o paciente sente dor à palpação ocorrer acidentalmente em pacientes que não deambulam
da apófise do calcâneo. O tratamento depende da intensi se o mecanismo for apropriado.
dade dos sintomas, sendo tratamento primário o repouso As características mais críticas para buscar ao exami
do calcanhar. Em pacientes muito sintomáticos, uma bota nar a radiografia de uma criança potencialmente agredida
gessada por 10 a 14 dias é o tratamento de escolha. são as seguintes:
Emergências Ortopédicas 115
• Fraturas bilaterais
• Fraturas múltiplas
• Fraturas metafis árias
• Fraturas das costelas
• Fraturas escapulares
• Fraturas da extremidade externa da clavícula
• Fraturas em fases diferentes
• Fraturas do crânio
Os médicos que tratam crianças no setor de emergên
cia devem ter conhecimento básico dos estágios de con Figura 6.41 Fibroxantoma (fibroma não ossificante).
solidação das fraturas que podem ser radiograficamente
detectados. A Tabela 6.1 fornece um esquema temporal
geral das várias fases da consolidação de fraturas. Deve- preferido para a lesão de FNO. Os DCFs são defeitos cor
-se considerar os dados nessa tabela somente como esti ticais metafisários assintomáticos, pequenos (< 3 cm) e
mativa, pois os bebês muito jovens podem exibir uma taxa excentricamente localizados. A maioria dos DCFs desa
acelerada de reparo. parece de forma espontânea. Entretanto, alguns evoluem e
Os maus-tratos devem estar na vanguarda da mente se tomam fibroxantomas.
do médico da emergência ao examinar qualquer criança, Reciprocamente, os fibroxantomas (> 3 cm) são le
de modo especial aquelas abaixo dos 3 anos com fraturas. sões intramedulares maiores e excêntricas. Elas têm um pa
Em um estudo que relatou 173 casos de crianças agredi drão franzido superficial típico na cortical adjacente (Fig.
das com trauma craniano e levadas ao setor de emergên 6.41). Ambas as lesões ocorrem no esqueleto em desenvol
cia, 31,2% dos pacientes foram diagnosticados de forma vimento. Em torno de 90% dos casos de ambas as lesões
equivocada na apresentação inicial, 27,8% foram agredi envolvem os ossos longos tubulares, sendo os locais mais
das novamente, e duas foram mortas antes que um diag comuns o fêmur (em destaque o fêmur distai), a tíbia pro-
nóstico preciso fosse realizado. ximal e distai e o joelho. Os DCFs ocorrem em pacientes
mais jovens (4-8 anos) e são achados, em geral, incidentais
TUMORES ÓSSEOS E DE TECIDOS MOLES EM em radiografias obtidas por outras indicações. O pico da
CRIANÇAS incidência dos fibroxantomas é dos 10 aos 15 anos.
Os fibroxantomas também têm como característica se
O local mais comum para os tumores malignos da infância rem assintomáticos. Em lesões maiores, contudo, pode ocor
é ao redor do joelho. Deve-se suspeitar sempre que houver rer uma dor leve e secundária a microfraturas radiografica
dor unilateral no joelho sem qualquer trauma associado. mente não detectadas que podem levar a fraturas patológicas
As fraturas patológicas também são suspeitas, particular dolorosas e radiograficamente evidentes. Com lesões maio
mente quando ocorrerem no osso enfraquecido, podendo res, são recomendadas a observação radiográfica cuidadosa
ser um cisto ósseo. Vários tumores benignos ocorrem em e a redução das atividades vigorosas do paciente. A cure-
crianças como achados incidentais; esses incluem os os- tagem e os procedimentos de enxerto ósseo são feitos para
teocondromas e os defeitos corticais fibrosos. prevenir uma fratura patológica se a lesão ficar maior do que
33 mm de diâmetro ou envolver mais de 50% do diâmetro
Fibroxantomas transverso de um osso crítico de carga. Nenhum tratamento
ou intervenção específica são necessários para os DCFs.
Os termos fibroxantoma, fibroma não ossificante (FNO),
defeito cortical fibroso (DCF) e, o menos frequente, his-
Sarcoma de Ewing
tiocitoma fibroso benigno têm sido usados como sinôni
mos na literatura radiológica. Entretanto, o FNO e DCF O sarcoma de Ewing, também conhecido como tumor
são considerados duas lesões distintas em relação ao neuroectodérmico primitivo periférico do osso, é um tipo
tamanho e à história natural. O fibroxantoma é o termo de câncer encontrado em crianças e adultos jovens. O pico
116 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
Figura 6.42 Sarcoma de Ewing. Um garoto com 16 anos apresentou-se com duas semanas de dor no joelho depois de jogar fute
bol. A. AP. B. Radiografias laterais revelam uma reação periosteal maligna com um padrão em "raio solar". Uma fratura patológica
do fêmur distai também é visível.
de incidência fica entre as idades de 10 e 20 anos. É me câncer se espalha para outras partes do corpo, ou para
nos comum em crianças abaixo dos 5 anos ou em adultos outros ossos que não sejam diretamente conectados
acima dos 30 anos. Os sarcomas podem desenvolver-se ao osso onde o tumor iniciou.
em quaisquer ossos do esqueleto, mas podem também se
Em radiografias simples, um sarcoma de Ewing de
desenvolver em tecidos moles próximos aos ossos.
alto grau está associado a uma reação periosteal significa
O sintoma mais comum é a dor no osso na área do
tiva (Fig. 6.42). Um aspecto de raio solar é usado para des
tumor. Algum edema pode ser eventualmente visto na área
crever as múltiplas áreas lineares interrompidas de reação
e tomar-se doloroso ao toque. As crianças também podem
periosteal que correm perpendiculares ao osso. Quando as
apresentar febre.
linhas de reação periosteal correm em paralelo ao osso, é
Os sarcomas de Ewing recebem pontuação de 1 a 3. O
grau 1 indica câncer de baixo grau e os graus 2 a 3 indicam
câncer de alto grau. Os tumores de alto grau crescem mais
depressa e têm mais probabilidade de disseminação. Os sar
comas de Ewing tendem a ser neoplasias de alto grau.
Os sarcomas de Ewing são classificados nos seguin
tes estágios:
• E stágio IA : O câncer é um tipo de baixo grau, somen
te encontrado dentro do revestimento duro do osso.
• E stágio 1B: Um tipo de câncer de baixo grau, que se
estende para fora do osso, dentro do espaço de tecidos
moles.
• E stágio 2A: O câncer é um tipo de alto grau, somente
encontrado dentro do revestimento duro do osso. Figura 6.43 Osteom a osteoide. O bservar a esclerose reati
va. (Reim pressa, com perm issão, de Yamamoto LG . Osteoid
• E stágio 2B: Um tipo de câncer de alto grau que se
osteoma. In: Yamamoto LG , Inaba AS, D iM auro R, eds. Radio
estende para fora do osso, dentro do espaço de tecidos logy Cases in Pediatric Emergency M edicine. Vol. 4, Case 15.
moles. H o nolulu, H I: U niversity of H aw aii John A . Burns School of
• E stágio 3: O câncer pode ser um tipo de baixo grau M edicine, Department of Pediatrics, 1994. http://w w w .haw aii.
ou alto grau e é encontrado dentro ou fora do osso. O edu/m edicine/pediatrics/pem xray/v4c15.htm l.)
Emergências Ortopédicas 117
referido um aspecto em “camada de cebola”. O triângulo 8. Kokoska ER, Keller MS, Rallo MC, et al. Characteristics
de Codman refere-se a uma espícula curta de osso que é of pediatric cervical spine injuries. J Pediatr Surg 2001;
vista na borda da lesão onde o periósteo é elevado da cor 36(1): 100-105.
tical. A TC delineia a extensão do envolvimento cortical e 9. Bracken MB, Shepard MJ, Holford TR, et al. Adminis
fornece alguma informação sobre a quantidade do compo tration of méthylprednisolone for 24 or 48 hours or tirila-
nente de tecidos moles. A RMN revela uma grande massa zad mesylate for 48 hours in the treatment of acute spinal
de tecidos moles, altamente vascularizada, com extensa cord injury. Results of the Third National Acute Spinal
disseminação intramedular. Cord Injury Randomized Controlled Trial. National Acu
O sarcoma de Ewing pode ocorrer em qualquer osso te Spinal Cord Injury Study. JAMA 1997;277(20): 1597-
no corpo; contudo, os locais mais comuns incluem a pel 1604.
ve, as coxas, as pernas, os braços e as costelas. O trata 10. Brown R, Hussain M, McHugh K, et al. Discitis in young
mento consiste em quimioterapia, radioterapia e possível children. J Bone Joint Surg Br 2001 ;83( 1): 106- 111.
cirurgia de preservação de membro ou amputação. 11. Cekanauskas E, Degliute R, Kalesinskas RJ. Treatment
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Os osteomas osteoides são lesões benignas formadoras de 12. Perron A. Harwood-Nuss’ Clinical Practice o f Emergency
osso, em geral encontradas em crianças acima dos 5 anos. Medicine, 4th ed. Philadelphia: Lippincott Williams & Wi
A queixa mais comum é a claudicação e a dor localizada. lkins, 2005.
As radiografias revelam uma pequena lesão lucente, me 13. Ozkoc G, Gone U, Kayaalp A, et al. Displaced supracon
nor de 1 cm, cercada por esclerose reativa (Fig. 6.43). dylar humeral fractures in children: Open reduction vs.
Os osteomas osteoides respondem por 12% dos tu closed reduction and pinning. Arch Orthop Trauma Surg
mores benignos e por 3% de todos os tumores. Os lo 2004; 124(8):547-551.
cais esqueléticos mais comuns são a metáfise ou a diáfise 14. Yu SW, Su JY, Kao FC, et al. The use of the 3-mm K-Wire
de ossos longos, que são afetadas em 73% dos pacientes. to supplement reduction of humeral supracondylar fractu
A coluna vertebral é afetada em 10 a 14% dos pacien res in children. J Trauma 2004;57(5): 1038-1042.
tes. A apresentação clássica inclui dor óssea esquelética 15. Schutzman SA, Teach S. Upper-extremity impairment in
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Na maioria dos pacientes com tumores vertebrais, a dor 1994;67(804): 1176-1185.
aumenta com a atividade e também ocorre à noite. O lo 17. Macias CG, Bothner J, Wiebe R. A comparison of supi-
cal de envolvimento é doloroso ao toque ou à pressão. Os nation/flexion to hyperpronation in the reduction of radial
sintomas constitucionais costumam estar ausentes. O tu head subluxations. Pediatrics 1998; 102(l):el0.
mor pode ser removido por via percutânea com radiofre 18. McDonald J, Whitelaw C, Goldsmith LJ. Radial head su
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Parte II
Coluna Vertebral
Capítulo 7
Abordagem da Dor
Cervical e Lombar
INTRODUÇÃO
A dor cervical e a lombar são queixas comuns de apre
sentação em pacientes do setor de emergência. Aproxi
madamente 70 a 90% dos indivíduos apresentam um epi
sódio de dor lombar em algum momento de sua vida.1-
Em uma pesquisa recente, 26% dos indivíduos relataram
dor lombar e 14% relataram dor no pescoço nos três meses
anteriores. As despesas relacionadas à coluna vertebral
têm aumentado em anos recentes, custando 86 bilhões de
dólares nos Estados Unidos em 2005.1,6
A literatura relata que em tomo de 85% dos pacientes
têm dor secundária a uma lesão muscular ou ligamentar e
somente uma minoria deles relata dor causada por raízes
nervosas (p. ex., disco hemiado), articulações das face
tas (p. ex., artrite) ou do osso (p. ex., osteomielite). É a
opinião do autor que tal desequilíbrio é muito exagerado,
pois a maioria do espasmo e da distensão muscular é se
cundária a outra lesão ou distúrbio, que é a causa primá
ria da dor. Este capítulo fornece ao leitor as ferramentas
para melhor averiguar a diferença entre essas entidades.
O Capítulo 8 aborda com mais detalhes cada um desses
diagnósticos, enquanto os Capítulos 9 e 10 estão focados
nas lesões traumáticas da coluna cervical e toracolombar,
respectivamente.
Se a causa exata da dor do paciente pode ou não
ser determinada, a habilidade em diferenciar causas po
tencialmente fatais de causas benignas é de importância
suprema para o médico da emergência. Ao examinar um
paciente com dor lombar, os profissionais devem fazer a si
duas perguntas importantes:
1. Existe alguma doença sistêmica subjacente grave e
responsável pela dor?
2. Há algum comprometimento neurológico presente
que indique lesão de medula espinal e que necessite
de imagens adicionais e consultoria cirúrgica?
Vista lateral
Facetas costais
superiores e inferiores Disco intervertebral
Pedículo
Processo
articular superior
Processo
transverso
Ligamento
supraespinal
Ligamento
interespinal
Vista posterior
Ligamento
longitudinal Ligamento
anterior longitudinal
posterior Ligamento
amarelo
Forame Processo
vertebral articular superior
Corpo
Vista superior
planas e processos espinhosos (Fig. 7.2). Os processos cervical e lombar, os discos são mais espessos do que
transversos se estendem lateralmente, perto da junção dos na coluna torácica e, por conseguinte, promovem a fle
pedículos e das lâminas. O arco posterior tem quatro face xibilidade nessas regiões. Com a idade, pequenas ruptu
tas que se articulam com as vértebras superior e inferior, ras ocorrem no anel fibroso, começando centralmente e
formando articulações sinoviais. Dependendo da sua lo irradiando para a periferia. Com um aumento súbito na
calização, os processos transversos se articulam com as pressão, o anel fibroso pode romper completamente e o
costelas. núcleo pulposo ser hemiado. A herniação é menos comum
Os ligamentos da coluna incluem os ligamentos em indivíduos acima dos 50 anos, pois o núcleo pulposo
longitudinais anterior e posterior, que interconectam os toma-se desidratado e fibrótico.
corpos vertebrais e correm ao longo da coluna. Posterior O canal e a medula espinal são maiores na região cer
mente, os ligamentos amarelo, interespinal e supraespinal vical. Na coluna torácica, o canal espinal é muito estreito
fornecem estabilidade. e, por conseguinte, um deslocamento pequeno pode gerar
Embora as vértebras forneçam suporte e proteção à lesão neurológica significativa (i.e., transecção da medu
medula espinal, os ligamentos e discos intervertebrais res la). As raízes nervosas emergem dos forames vertebrais
pondem pela flexibilidade da coluna. Na coluna cervical lateralmente. As raízes nervosas cervicais emergem acima
e lombar, a flexibilidade é maior, enquanto na coluna to das vértebras correspondentes, enquanto o oposto ocorre
rácica as estruturas ligamentares promovem estabilidade. nas raízes nervosas toracolombares. Isso ocorre porque
As seções da coluna vertebral com a maior mobilidade existem oito raízes nervosas cervicais e somente sete vér
também correspondem ao local com maior incidência de tebras cervicais (Fig. 7.3). No adulto, a medula espinal
lesões. A localização mais comum para lesão da medula termina no interespaço L I-2 , onde as raízes nervosas res
espinal é na coluna cervical, entre C5 e C6. tantes compõem a cauda equina. O cauda equina preenche
Os discos intervertebrais são compostos do núcleo frouxamente o restante da medula espinal e tolera melhor
pulposo central, cercado pelo anel fibroso. Na coluna a compressão do que a medula espinal em si.
Emergências Ortopédicas 123
A localização da dor deve ser observada. A dor na ► TABELA 7.2 Causas não m usculoesqueléticas de dor
área paravertebral sugere lesão muscular, mas pode ser se lombar
cundaria a outro distúrbio subjacente nas costas. A dor na Neoplasia
linha média é vista em fraturas, malignidade ou infecção. • Câncer de pulmão
A precaução é necessária aqui, contudo, pois as causas • Metástase no fígado
graves podem se apresentar com espasmo muscular pa • Câncer pancreático
• Câncer renal
ravertebral. A dor na região lombar é mais comum, mas a
• Câncer de próstata
dor torácica é potencialmente mais preocupante. Ela pode
• Câncer testicular
sugerir condições como dissecção da aorta, malignidade
• Neoplasia ovariana
ou infecção vertebral.“ • Fibroides uterinos
Os fatores de exacerbação e alívio também fornecem Infecção
pistas quanto à etiologia. A dor que persiste em repouso ou • Pneumonia
que fica pior à noite pode prenunciar malignidade subja • Derrame pleural
cente ou infecção vertebral, pois a dor musculoesquelética • Prostatite crônica
habitualmente melhora com o repouso. A etiologia pode • Pielonefrite
ser sugerida por qual posição exacerba a dor. O aumento • Doença inflamatória pélvica
da dor em decúbito ventral é visto na hemiação discai la Causas vasculares
• Aneurisma da aorta abdominal
teral. A dor que aumenta com a extensão sugere síndrome
• Dissecção da aorta
da faceta, estenose central ou hemiação lateral. A dor que
• Infarto renal
aumenta com o ato de sentar é sugestiva de ruptura anu • Isquemia cardíaca
lar no disco ou de hemiação paramediana. Levantar-se de Causas mistas
uma posição sentada faz a dor piorar em pacientes com • Cálculos renais
dor discogênica. A deambulação toma pior a dor da este • Radiculopatia diabética
nose vertebral, enquanto inclinação para a frente melhora • Osteoporose
a dor. Se a tosse ou qualquer outra manobra de Valsalva • Osteom alacia
acentuar a dor, isso sugere disco hemiado. • Gota e pseudogota
• Prolapso de útero
• Endométriose
A xio m a:Dor noturna, em repouso ou sem conexão à po • Pãncreatite
sição do paciente são "sinais de alerta" que sugerem tumor, • Colecistite
infecção ou dor referida de outra fonte. • Doença péptica ulcerosa
• Herpes-zóster
A irradiação da dor para um braço ou uma perna suge
re radiculopatia. A causa mais comum é um disco hemia
do que comprime a raiz nervosa, mas a estenose vertebral, sugerem infecção. Aproximadamente 40% dos pacientes
as malignidades e as infecções também podem causar ra com infecção vertebral têm um local identificável de in
diculopatia compressiva. Em pacientes com radiculopatia fecção em outra topografia, como uma infecção do trato
lombar, sentar, tossir ou os esforços tomam os sintomas urinário ou celulite. Dois terços dos pacientes com me-
piores, enquanto deitar-se melhora a dor. Quando a raiz tástases epidurais vertebrais têm uma história de câncer.
nervosa de L5 ou SI estiver envolvida, a dor se irradia
para a perna e passa para o joelho (ciática). Embora a radi
culopatia esteja presente em apenas 1% dos pacientes com ► TABELA 7.3 Causas não m usculoesqueléticas de dor
cervical *•
dor lombar, sua ausência toma improvável uma hemiação
discai clinicamente importante. Cardíaca
Um paciente com queixa de fraqueza deve representar • Infarto do miocárdio
• Angina de peito
uma preocupação especial. Diferenciar a perda verdadei
Gastrintestinal
ra de força muscular da incapacidade de executar a função
• Hérnia de hiato
muscular devido à dor é difícil, mas importante. Essa dis • Espasmo esofágico
tinção deve começar com a história, não só perguntando ao • C ólica biliar, colecistite e coledocolitíase
paciente, mas também observando os movimentos. O pa • Pãncreatite
ciente entra no setor de emergência caminhando? É capaz Tórax
de ir ao banheiro sozinho? • Lesões no mediastino
Durante a revisão dos sintomas e da história médica • Lesões pulmonares apicais (tumor de Pancoast)
pregressa, o clínico deve inquirir sobre os sintomas que Causas mistas
podem criar suspeita ao profissional de que haja uma con • Herpes-zóster
dição subjacente significativa como causa. Perda de peso, • Síndrome da articulação temporomandibular
• Costocondrite
febres e condição imunocomprometida (HIV, esteroides)
Emergências Ortopédicas 125
EXAME FÍSICO
Sensitivo Braço lateral Antebraço lateral e polegar Dedo médio Antebraço ulnar ou dedo mínimo
Motor Abdução do ombro e Flexão do cotovelo e extensão Extensão do cotovelo Flexão dos dedos
flexão do cotovelo do punho e flexão do punho
Reflexos Bíceps Braquiorradial Tríceps Nenhum
126 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
Sensibilidade
Em pé
Se o paciente puder ficar em pé, o exame começa nes
sa posição, com a inspeção. Observar a lordose normal
da coluna lombar. A retificação da coluna lombar sugere
espondilite anquilosante ou espasmo muscular paraverte-
bral. A seguir, verificar o alinhamento das costas do pa
ciente. Mais da metade dos pacientes terá anormalidades
de alinhamento, que podem contribuir para a tensão nas
costas. As primeiras vértebras torácicas devem estar cen
tradas sobre o sacro e as espinhas ilíacas posterossuperio-
res (EIPS) devem ter a mesma altura.
A articulação sacroilíaca (SI) é avaliada colocando um
polegar na EIPS e o outro na espinha do sacro. Depois de
pedir ao paciente para levantar a perna ipsilateral do chão,
determine se a EIPS se move para baixo (normal) ou para
cima (patologia da articulação SI). Além de avaliar a articu
lação SI, a elevação de uma perna com a extensão do dorso
exacerba a dor lombar em pacientes com doença de articu Figura 7.9 O s ligamentos supraespinal e interespinal são pal
lação facetária ou espondilolistese. Se o paciente preferir pados entre os processos espinhosos.
ficar em pé hgeiramente inchnado para um lado, com o
quadril e o joelho flexionados, isso sugere irritação do ner
vo ciático, mais comumente a partir de um disco hemiado.
A amplitude normal dos movimentos das costas en
volve 40 a 60° de flexão. Se a coluna lombar mantiver a
sua lordose e a flexão ocorrer nos quadris quando o pa
ciente se curva para diante, deve ser suspeitada uma pato
logia da coluna lombar, de hábito nos interespaços de L4-5
ou L5-S1. A dor com flexão é consistente com ciática, her-
niação discai ou distensão lombar. A extensão normal da
coluna lombar é 20 a 35°. A extensão força as articulações
das facetas e estreita os forames por onde saem as raízes
nervosas. A extensão dolorosa, por conseguinte, é carac
terística de patologia da articulação facetária e da artrite.
A palpação da coluna é idealmente executada em fle
xão. Os processos espinhosos da coluna toracolombar são
facilmente palpados, exceto em pacientes extremamente
obesos. Qualquer desvio lateral desses processos sugere
deformidade rotacional, como escoliose ou fratura. A dis
tância entre os processos espinhosos deve ser equivalen
te entre um segmento até o seguinte. Os ligamentos su-
praespinal e interespinal são palpados nos recessos entre
os processos espinhosos (Fig. 7.9). Algumas referências
úteis para lembrar incluem as cristas ilíacas ao nível do
interespaço de L4 e L5 e o processo espinhoso de S2, no
nível da EIPS (Fig. 7.10).
A pressão sobre os processos espinhosos é transmi Figura 7 .10 O interespaço L4-5 é palpado entre as cristas
tida anteriormente para os arcos e em direção aos corpos ilíacas, enquanto S2 é palpado ao nível das espinhas ilíacas
vertebrais. Por isso, a percussão dos processos espinhosos posterossuperiores.
Emergências Ortopédicas 129
L3 L4 L5 S1
Sensitivo Coxa anterior e medial Pé medial Espaço interdigital do 1Qe 2Qdedos Pé lateral
Motor Flexão do quadril Extensão do joelho Dorsiflexão do hálux e do tornozelo Flexão plantar do tornozelo
com um martelo de reflexos ajuda a diferenciar a dor na com a manobra de Valsalva também é sensível para a irri
coluna vertebral versus a dor nas estruturas retroperitone- tação do nervo isquiático.
ais mais profundas. Geralmente, a dor com a percussão O teste FABER (flexão, abdução e rotação externa
sugere patologia vertebral, como fratura ou infecção. A [externai rotation] do quadril) para patologia das articula
sensibilidade dolorosa para percussão na coluna é 86% ções do quadril e SI também é feito no paciente em decú
sensível para infecção bacteriana, mas é específica em so bito dorsal. O pé no lado afetado é colocado sobre o joe
mente 60%.7,10 lho oposto. A dor na virilha sugere patologia do quadril,
As articulações das facetas estão localizadas a cerca não da coluna. A pressão gentil, mas firme para baixo no
de 3 cm lateralmente aos processos espinhosos na região joelho flexionado e na crista ilíaca anterossuperior oposta
toracolombar. Como na coluna cervical, as articulações produz dor na articulação SI em pacientes com patologia
das facetas estão laterais e entre os processos espinhosos. nesse local.
A palpação direta das articulações das facetas não é possí A maior parte da avaliação neurológica pode ser
vel na coluna toracolombar, pois elas estão profundamen executada enquanto o paciente está deitado em decúbito
te situadas aos músculos paravertebrais. dorsal. O exame neurológico deve incluir a avaliação da
Por fim, enquanto o paciente ainda está em pé, deve- força motora, da sensibilidade e a testagem dos reflexos.
-se fazê-lo apoiar-se nos calcanhares para testar a função A localização da lesão medular pode ser determinada pelo
motora da raiz de L5 e apoiar-se na ponta dos dedos do pé conhecimento de como testar a função naquele nível. Na
para testar a raiz de Sl. coluna lombar, são testadas as raízes nervosas de L3, L4,
L5 e S l (Tab. 7.5 e Figs. 7.11 a 7.13). A capacidade de
Decúbito dorsal apertar as nádegas (i.e., do glúteo máximo) é um achado
Uma vez que o paciente esteja deitado em decúbito dor motor confiável adicional sobre a raiz nervosa de S 1.
sal, fazer o teste de levantamento da perna estendida e o Um teste neurológico que é muitas vezes desconside
teste cruzado de levantamento da perna estendida. Com o rado, mas com frequência é diagnóstico, é o da sensibili
joelho estendido, a perna é gradualmente levantada. A dor dade vibratória. Um diapasão é colocado sobre uma proe
antes de 30° de elevação não é consistente com irritação minência óssea suprida pela raiz nervosa (p. ex., maléolo
de raiz nervosa, pois somente a dura está sendo estirada medial para L4, patela para L3). A vibração produz des
até este ponto. A elevação de 30 até 60° estira a raiz ner conforto que irradia para cima, nas costas, na distribuição
vosa e reproduz a dor devido a um disco herniado (sinal sensitiva da raiz nervosa irritada. A sensação vibratória é
de Lasègue). Para que o teste seja considerado positivo, a camada mais superficial do nervo e, desse modo, é mais
a dor deve irradiar-se além do joelho. O aumento da dor sensível quando houver a compressão inicial.
Reflexo
patelar
IMAGENS
Ao tentar determinar a localização da lesão neuroló
gica, vários princípios gerais são úteis. A fraqueza unila Os exames extensos de imagens não são habitualmente
teral sugere radiculopatia, enquanto a fraqueza ou espasti- recomendados e são reservados aos pacientes com sinais
cidade bilateral é característica de lesão dentro da medula de alerta na história ou no exame físico, pois a maioria
espinal (i.e., mielopatia). A síndrome da cauda equina dos pacientes com dor lombar se recupera sem problemas.
deve ser suspeitada em pacientes com achados de neu As radiografias simples estão indicadas após um trau
rônio motor inferior, fraqueza bilateral nas pernas, perda ma ou como rastreamento para fraturas patológicas. Na
do tônus retal, anestesia em sela e retenção urinária. Os coluna, a rotina inclui as incidências anteroposterior, la
déficits sensitivos dentro de um único dermátomo supor teral e oblíqua. A incidência do odontoide (boca aberta)
tam uma fonte radicular de dor, enquanto o envolvimento é essencial na coluna cervical e permite uma melhor vi
de múltiplos dermátomos tem maior probabilidade de ser sualização de C l e C2. As indicações comuns para obter
causado por patologia dentro da medula (Fig. 7.14). as radiografias simples da coluna estão listadas na Tabela
7.6. Uma discussão mais extensa das indicações para ima
Decúbito ventral gens após um trauma está incluída nos Capítulos 9 e 10.
Testar a raiz nervosa de SI observando a função do mús No contexto não traumático, a TC pode demonstrar
culo glúteo máximo. Pedir ao paciente para apertar as ná doença do disco intervertebral ou um tumor, se este for
degas juntas. Se um lado estiver mais fraco, provavelmen suficientemente grande. Não é sensível o bastante para
te existe um déficit da raiz nervosa de Sl. diagnosticar malignidade vertebral. A RMN é o teste
TRATAMENTO
O tratamento da dor cervical e lombar é dependente da
causa. Qualquer paciente com trauma significativo, cons
ciência alterada ou déficits neurológicos deve ter as pre
cauções vertebrais instituídas, com um colar cervical e
prancha lombar no setor de emergência, se isso já não
tiver sido feito no contexto pré-hospitalar. Para informa
ção relativa aos tratamentos específicos das condições de
emergência que causam dor lombar, na ausência de trau
ma, ver o Capítulo 8. As diretrizes adicionais de tratamen
to para pacientes com trauma cervical e toracolombar são
apresentadas nos Capítulos 9 e 10.
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physical examination tell us about low back pain? JAMA
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mielite vertebral. Emerg Med 2002;22(3):279-283.
Capítulo O
Distúrbios Específicos da
Coluna Vertebral
INTRODUÇÃO progride de forma gradual, já que o ligamento longitudinal
posterior atua contendo o núcleo. Muitas vezes, conforme o
O Capítulo 7 fez uma abordagem geral e um exame de ligamento enfraquece, o núcleo migra para dentro do forame
talhado do paciente com dor cervical ou lombar. Neste intervertebral, mais comumente em direção posterolateral
capítulo, é apresentada uma discussão mais extensa das (i.e., uma hemiação paramediana). Nessa localização, o dis
condições específicas da coluna vertebral. Para uma revi co entra em contato com a raiz nervosa, causando dor e radi-
são sobre espondiloartropatia soronegativa (p. ex., espon- culopatia. Uma grande hemiação central pode comprimir a
dilite anquilosante), ler o Capítulo 3. As fraturas da coluna medula espinal ou a cauda equina.
vertebral são abordadas nos Capítulos 9 e 10. Aproximadamente 4 a 6% da população irá sofrer de
uma hemiação discai clinicamente significativa. A gran
SÍNDROME DA CAUDA EQUINA de maioria ocorre na coluna lombar, causando dores na
lombar e na perna. Em pacientes com dor ciática, 90%
A síndrom e da cauda equina refere-se à compressão dos casos são devido a um disco hemiado, enquanto a es-
nervosa dentro do canal vertebral, que ocorre abaixo do tenose lombar e, menos frequentemente, um tumor, são
interespaço L l-2 , depois do término da medula espinal. outras causas possíveis. Em torno de 98% das hemiações
O quadro clínico é de uma lesão de neurônio motor infe discais lombares clinicamente relevantes ocorrem no ní
rior, com fraqueza ou paralisia, perda do tônus retal, per vel intervertebral L4-5 ou L5-S1. Na coluna cervical, os
da sensitiva em padrão dermatômico, reflexos tendíneos discos C6-7 e C5-6 respondem por 70 e 20% dos casos,
profundos atenuados e disfunção da bexiga. A descrição respectivamente. A radiculopatia cervical é mais provável
sensitiva clássica é de anestesia em “sela”, com perda da de estar relacionada a alterações degenerativas do que a
sensibilidade nas nádegas e na área do períneo. Deve ser hemiação discai em uma proporção de 3:1.
notado que, dentro dos primeiros dias, uma síndrome me
dular completa pode se apresentar de modo similar, até que
Características clínicas
se desenvolvam os sintomas de neurônio motor superior.
A causa mais comum de síndrome da cauda equina é Mais comumente, o paciente tem entre 30 e 50 anos, pois
uma grande hemiação discai na linha média, nos interes- em indivíduos mais velhos o núcleo é desidratado e fi-
paços L4-5 ou L5-S1. Outras causas incluem metástases brótico e tem menos probabilidade de hemiar. Os homens
vertebrais, hematoma vertebral, abscesso epidural, fratura são afetados com frequência três vezes maior do que as
vertebral ou mielite transversa. Embora o tônus do es- mulheres.
fincter anal esteja diminuído em até 80% dos pacientes, A dor se origina na localização geral da hemiação (i.e.,
um elevado residual pós-esvaziamento é o achado mais lombar), mas com frequência predomina a dor da radiculo
consistente para realizar o diagnóstico. Um residual pós- patia (i.e., a dor ciática). A dor ciática tem sensibilidade de
-esvaziamento de mais de 100 a 200 mL de urina tem 90% 95% para a hemiação discai lombar. A sua ausência toma
de sensibilidade e 95% de especificidade para o diagnósti improvável uma hemiação discai clinicamente relevante,
co em pacientes com suspeita de síndrome da cauda equi cuja presença é estimada em um 1:1000 pacientes.4
na. O diagnóstico é confirmado por ressonância magnéti O paciente pode relatar uma história de episódios re
ca nuclear (RMN) de emergência. O tratamento consiste correntes de dor lombar que espontaneamente se resolve
em esteroides IV em doses altas (as recomendações variam ram. Com a mptura aguda, existe uma dor lombar intensa
desde 4 até 100 mg de dexametasona) e consulta cirúrgica. que ocorre instantaneamente ou várias horas depois de
A intervenção cirúrgica é recomendada na urgência para uma lesão (p. ex., levantamento de um peso). Qualquer
aumentar a probabilidade de recuperação neurológica. movimento exacerba a dor e piora com o ato de sentar,
mais do que em pé. Sair da posição sentada acentua a dor
de forma exagerada. Os primeiros 30 minutos depois do
HERNIAÇÃO DISCAL
despertar são caracterizados pela pior dor, que mais tarde
Com o envelhecimento, a degeneração se desenvolve no anel melhora. O ato de dirigir por tempo prolongado exacerba
fibroso, o que pode levar à hemiação do núcleo pulposo após a dor, que também aumenta muito depois de tossir ou es
um aumento agudo na pressão dentro do disco. A hemiação pirrar (i.e., manobras de Valsalva).
Emergências Ortopédicas 133
Nesse contexto, as queixas neurológicas são mais pacientes acima dos 65 anos. A idade média no momen-
comuns do que a dor. A divisão fibular do nervo é mais to da cirurgia é de 55 anos. Aproximadamente 85% dos
suscetível ao trauma do nervo isquiático em função da sua pacientes apresentam irradiação da dor em nádegas, coxas
localização periférica. A neuropatia isquiática é mais pro e pernas. Pode ocorrer dormência, formigamento ou cãi
vável quando as mudanças na posição ou a manobra de bra das pernas. A disfunção intestinal ou vesical é rara. Os
Valsai va não causarem a exacerbação dos sintomas. sintomas podem ser uni ou bilaterais.
O paciente com estenose vertebral fica confortável ao
sentar-se, mas os sintomas ocorrem depois de caminhadas
ESTENOSE VERTEBRAL
ou estando em pé. Essa é uma forma de ajudar a distinguir
A estenose vertebral refere-se a um estreitamento do ca a claudicação neurogênica de sua contrapartida vascular.
nal vertebral. Ocorre na área do canal central ou nos fora- Outro caminho para distinguir entre elas é que na claudi
mes neurais, colocando pressão sobre as raízes nervosas, cação vascular a dor na perna se desenvolve em uma dis
causando dor e radiculopatia. A degeneração associada à tância determinada, enquanto com a claudicação neurogê
idade dos discos lombares e das articulações das facetas é nica a distância é variável. A dor lombar em ortostatismo,
a etiologia mais provável. As características patológicas mas não em pé, teve sensibilidade de 46% e especifici-
incluem a perda da altura discai, a protrusão discai, a hi dade de 93% para estenose vertebral lombar. Aproxima
pertrofia do ligamento amarelo, a formação de osteófitos damente 60% dos pacientes com estenose vertebral terão
nas facetas e o espessamento da cápsula articular (Fig. evidência histórica de claudicação neurogênica. Tal como
8.4). O estreitamento de um procedimento cirúrgico an a hemiação discai, a dor pode aumentar com a tosse, ao
terior (p. ex., fusão vertebral ou laminectomia) também espirrar, ou com outras formas de manobra de Valsalva.
poder ser uma causa. A estenose também pode surgir da Ao exame físico, a dor aumenta com a extensão da
espondilolistese, doença de Paget, acromegalia e excesso coluna, já que esta posição reduz ainda mais a área trans
de corticosteroides. A estenose vertebral congênita afeta versa do canal vertebral. Como resultado, o paciente com
os indivíduos dos 20 aos 40 anos, tendo como causa pedí- estenose vertebral deambula com uma postura levemen
culos encurtados durante o desenvolvimento. te inclinada. Isso contrasta com a hemiação discai, onde
a flexão costuma ser mais dolorosa. O fechamento dos
olhos pode produzir oscilação (manobra de Romberg) se
Características clínicas
as fibras proprioceptivas da coluna posterior estiverem en
Por serem as alterações degenerativas a causa primária, volvidas. Por essa razão, os pacientes com estenose verte
a estenose vertebral ocorre em indivíduos mais velhos, bral caminham com uma marcha de base ampla. A dor na
sendo a indicação mais frequente de cirurgia vertebral em coxa após 30 a 60 segundos de extensão lombar também
Vista lateral
Vista superior
Ligamento amarelo
(espessado
Hipertrofia
Hipertrofia da
articulação
facetária
Estreitamento
Forame foraminal
intervertebral Osteófitos
Anel
fibroso
Núcleo
pulposo
Afilamento do disco com
protrusão posterolateral
pode ocorrer. Aproximadamente 60% dos pacientes de se vertebral é tratada, inicialmente, com paracetamol, e
senvolvem déficits neurológicos, que podem ser bilaterais então com anti-inflamatórios não esteroides. Os analgé
ou polirradiculares. A raiz nervosa mais comumente en sicos narcóticos leves não constituem rotina, mas podem
volvida é L5 (75%), seguida de L4 (15%). Os achados ser usados. A calcitonina tem sido útil em muitos pacien
motores são brandos na maioria dos casos, e a fraqueza tes com claudicação neurogênica e dor. A fisioterapia e
que inibe a atividade é incomum. os suportes lombares (p. ex., coletes) ajudam os pacientes
a manter uma postura flexionada e também são usados.
Imagens A tração fornece descarga segmentar e alívio quando hou
ver compressão foraminal. O uso de injeções epidurais de
As radiografias simples são úteis se mostrarem evidência corticosteroides está se tomando cada vez mais comum,
de doença degenerativa da coluna ou espondilolistese, mas mas os dados sobre a sua efetividade são limitados.
habitualmente não são indicadas. A TC ou a RMN reve O manejo cirúrgico deve ser considerado quando as
lam as características patológicas da estenose vertebral em medidas conservadoras falharem. A laminectomia ou a fa-
mais de 70% dos pacientes afetados. As modalidades cetectomia parcial são usadas para descomprimir o canal
avançadas de imagens são obtidas apenas quando a cirur vertebral central e os forames neurais. As técnicas cirúrgi
gia estiver sendo considerada. Curiosamente, os achados cas minimamente invasivas têm sido desenvolvidas e estão
na TC e na RMN consistentes com estenose vertebral estão se provando úteis.4 Os estudos que comparam o manejo
presentes em 20% dos pacientes acima dos 60 anos, sem cirúrgico ao conservador sugerem melhoria nos sintomas
quaisquer sintomas. Além disso, as medidas reais do grau do grupo operatório que perdura por vários anos.‘ A re-
de estenose vertebral na RMN são pouco correlacionadas operação é necessária em menos de um quarto dos pacien
com a síndrome clínica de estenose vertebral. Em outras tes durante o curso dos 10 anos seguintes à cirurgia.45 47
palavras, os pacientes podem ser sintomáticos apesar de
compressão mínima e, em contrapartida, outros com um ESPONDILOLISTESE
grau alto de compressão podem estar as sintomáticos.
Outros exames diagnósticos que não são rotineira O processo interarticular é a porção do arco vertebral
mente solicitados incluem tomomielografia, eletromio- posterior entre os processos articulares inferiores e supe
grafia (EMG) e estudos de condução nervosa (ECN). riores. A mptura do processo interarticular é denominada
A tomomielografia melhora a visualização da compressão de espondilólise. Costuma ser bilateral e 90% dos casos
de raiz nervosa em relação à TC isolada, mas é invasi- afetam a vértebra L5.
va e somente é feita quando a RMN for contraindicada. Quando a espondilólise está presente, a vértebra pode
A EMG e os ECN ajudam o profissional a distinguir ou mover-se, mais comumente com a vértebra superior des-
tras formas de neuropatia periférica da estenose vertebral locando-se para a frente. A translação anterior da vértebra
e aumentam a especificidade geral para a estenose verte é denominada de espondilolistese, do grego “deslizamen
bral lombar. O achado mais comum são as radiculo- to vertebral em uma inclinação” (Fig. 8.5). A espondi
patias bilaterais em múltiplos níveis. lólise é o precipitante mais comum da espondilolistese,
respondendo por 80% dos casos. Outras causas de espon
dilolistese estão listadas na Tabela 8.1.
Tratamento
Uma fratura de estresse é a causa mais comum de es
O tratamento não cirúrgico pode fornecer um longo alívio pondilólise, com maior ocorrência em pacientes jovens que
da dor e melhorar a qualidade de vida. A dor da esteno praticam esportes que requerem extensão (p. ex., ginástica)
Espondilolistese
ou rotação (p. ex., tênis). A extensão lombar faz com que pode irradiar para a nádega ou para a coxa posterior. O apa
o processo articular inferior da vértebra superior entre em recimento pode ser agudo, mas o gradual é mais comum.
contato com o processo interarticular da vértebra inferior. A dor acentua com a hiperextensão e rotação, melhorando
Acredita-se que o impacto repetitivo cause a fratura. com o repouso. Ao exame, a sensibilidade dolorosa na re
Existe predisposição genética para a espondilólise. gião lombar é típica, e um degrau associado pode ser palpá
Ocorre em 15 a 70% dos parentes de primeiro grau de vel se a espondilolistese for significativa (Fig. 8.7). A deam
pacientes com espondilólise. Aproximadamente 3 a 6% bulação é caracterizada pelo comprimento curto da passada
dos brancos têm espondilólise, uma taxa que é 2 a 3 ve e genuflexão em casos graves. Quando houver a espondi
zes mais alta que em afro-americanos. Existe uma taxa lolistese de alto grau, podem ocorrer déficits neurológicos
mais alta de espondilólise em homens, mas o deslizamen devido a pressão sobre uma raiz nervosa ou na cauda equina.
to é mais comum em mulheres. A progressão para espon-
dilolistese ocorre em 15% dos indivíduos, habitualmente Imagens
vista por volta dos 16 anos. Até 6% dos indivíduos com 14
anos nos Estados Unidos têm espondilolistese. Os filmes simples constituem um bom rastreamento.
A gravidade da espondilolistese é pontuada com base As radiografias lombares oblíquas demonstram o apareci
na porcentagem de translação da vértebra superior em re mento do “cachorrinho” (Fig. 8.8). O pescoço do cachor
lação à caudal (Fig. 8.6). O grau I está presente se houver ro corresponde ao processo interarticular e um pescoço
menos de 25% de translação, o grau II ocorre se houver 26 quebrado ou uma coleira representam a espondilólise.
a 50%, o grau III com 51 a 75%, e o grau IV se for de 76 a Os filmes simples têm 84% de sensibilidade. Uma fra
100%. A espondilolistese grau V, também denominada de tura de estresse pode não ser visível nas radiografias oblí
espondiloptose, está presente quando há um deslizamento quas e imagens adicionais podem ser necessárias em uma
maior que 100%. Quando tiver ocorrido menos de 50% de base ambulatorial. A radiografia lateral é mais adequada
translação, a espondilolistese é considerada de baixo grau para diagnosticar a espondilolistese (Fig. 8.9).
e estável. Os deslizamentos maiores que 50% são consi A TC também pode deixar passar uma fratura de es
derados instáveis. tresse do processo, mas a sensibilidade é mais alta do que
Características clínicas
Embora muitos pacientes com espondilolistese permaneçam
assintomáticos, a queixa mais comum é a dor lombar, que
4 3 2 1
Figura 8 .6 O grau de espondilolistese é calculado pela por Figura 8.7 Um degrau pode ser percebido em um paciente
centagem deslocada da vértebra superior sobre a inferior. com espondilolistese.
138 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
Processo articular
superior (“orelha”)
Processo interarticular
(“pescoço”)
Processo
transverso (“nariz”)
Pedículo
Processo articular ^olho ^
inferior (“pata dianteira”)
Tratamento
A espondilólise e a espondilolistese de baixo grau são
tratadas de modo conservador, com fisioterapia e medica
mentos para dor. Os exercícios lombares aumentam a es
tabilidade vertebral e reduzem a dor e a incapacidade.
As injeções de esteroides na raiz nervosa ou no processo
interarticular podem ser tanto diagnósticos como tera
pêuticos. Um imobilizador ortótico rígido ou elástico
para reduzir a lordose lombar está indicado para crianças,
junto com a recomendação de não praticar esportes. Mais
de 90% das crianças com espondilólise tratadas de modo
conservador têm resolução dos seus sintomas.60 Os adul
tos com espondilolistese degenerativa também evoluem
bem com o tratamento conservador, a menos que apresen
tem déficits neurológicos.61,6 As indicações para cirurgia
em pacientes com espondilolistese de baixo grau incluem
Figura 8.9 Uma espondilolistese de 50% de L4 sobre L5. dor lombar significativa ou dor radicular refratária ao
Emergências Ortopédicas 139
Figura 8.12 Osteomielite vertebral. A. Radiografia simples inicial equivocadamente diagnosticada como fratura de compressão de
L3. B. A TC dois meses depois revelou destruição óssea de L3 e L4, consistente com infecção.
presentes nos filmes simples, as mais comuns incluem a o exame de imagens padrão-ouro para diagnosticar a osteo
destruição óssea, a irregularidade nas placas terminais e o mielite vertebral. É mais sensível que a TC, mostra a doença
estreitamento do espaço discai. Um estudo demonstrou mais precocemente e avalia melhor a medula espinal.
sensibilidade de 82% e especificidade de 57% para as radio
grafias simples. Ocasionalmente, a osteomielite vertebral Tratamento
pode aparecer como uma fratura de compressão vertebral O tratamento da osteomielite vertebral consiste em anti
nas radiografias simples e o diagnóstico passa desperce bióticos intravenosos por seis semanas, seguidos de um
bido 7 (Fig. 8.12). A TC define a destruição óssea e pode curso oral de antibióticos por mais um ou dois meses. As
também ser usada para guiar a aspiração com agulha das escolhas de antibióticos empíricos são similares àquelas
bactérias causadoras (Fig. 8.13). Tal como o AEV, a RMN é para AEV. A consultoria cirúrgica deve ser obtida, já que
uma biópsia óssea pode ser necessária para identificar o
patógeno causador.
Características clínicas
A dor lombar intensa e localizada, de intensidade gradual
crescente, é o sintoma mais precoce e mais comum das
metástases vertebrais. A dor é mais intensa ao deitar e
aumenta com qualquer incremento na pressão intra-abdo-
minal. A dor referida ou radicular pode também ocorrer,
e depende da localização primária da metástase vertebral
(p. ex., a compressão cervical é referida na região escapu-
lar média). A dor que ocorre à noite, acordando o paciente
do sono é comum, e a dor que não melhora em qualquer
posição é indicativa de tumor. Em média, a dor ocorre sete
semanas antes do aparecimento dos déficits neurológicos.
As lesões as sintomáticas ocorrem se forem limitadas à
medula óssea sem sensibilidade.
O exame físico deve consistir de um exame completo Figura 8.14 TC em um paciente com câncer de pulmão com
e neurológico das costas. Os pacientes sem diagnóstico metástases nos corpos vertebrais d e T 5 , T8, T 1 1 e T 1 2 (setas).
de malignidade, mas que tenham sintomas suspeitos para
metástase vertebral também devem ser submetidos a um
exame na busca de um tumor primário (p. ex„ mama, pul vertebrais identificadas.82'86,87 Toda a coluna deve ser exami
mão e próstata). Ao examinar as costas, a percussão dos nada, porque metade dos pacientes terá doença em múltiplos
processos espinhosos aumenta a dor associada a um tumor níveis. Em 45% dos casos, isso resulta em alteração no cam
metastático. A condição neurológica na hora da apresen po planejado de irradiação.88A sensibilidade e a especifici-
tação é o fator prognóstico mais importante. Os pacientes dade da RMN são de 83 e 92%, respectivamente.
que estejam deambulando quando é feito o diagnóstico
assim permanecem na maioria dos casos. Entretanto, se Tratamento
uma paraparesia estiver presente, apenas 30 a 40% dos
pacientes recuperam a capacidade de caminhar após o tra- Quando uma compressão epidural metastática for suspei
tamento. Com a paraplegia, este número cai para 10%.
82 tada, o tratamento com esteroides deve começar no setor
Entretanto, devido aos frequentes atrasos no diagnóstico, de emergência. A espera pelos resultados de uma RMN
dois terços dos pacientes que tenham compressão medular retarda desnecessariamente o tratamento que diminuir o
já não estão caminhando devido à fraqueza. edema vasogênico e reduzir a compressão da medula. A
dose inicial mais recomendada é de 10 mg de dexame-
tasona por via intravenosa. Um regime de dose alta de
Imagens
dexametasona, 100 mg por via intravenosa inicialmente,
As radiografias simples não são sensíveis para detectar seguidas por 24 mg via oral quatro vezes ao dia por três
metástases vertebrais, pois aproximadamente 50% do dias também tem sido estudado. Nem todos os especia
osso trabecular deve ser destruído antes de uma lesão líti- listas favorecem o regime de dose alta devido aos efeitos
ca ficar visível. As radiografias simples são 60% sensíveis colaterais dos esteroides e, infelizmente, a literatura dis-
7 9 9Q—92
e 99,5% específicas para detectar metástases vertebrais. ponível não elucida sobre a dose ideal. ’
Não há dados confiáveis sobre a utilidade da TC (Fig. A radioterapia está indicada em quase todos os casos
8.14). É provavelmente pouco melhor do que as radiogra para reduzir o tamanho do tumor e diminuir a compressão da
fias simples, mas, em quase todos os casos, a TC deve ser medula. Quando a compressão medular estiver presente, a
preterida em favor da RMN.9,83'85 radioterapia deve ser iniciada assim que possível e a consul
A RMN é o exame de imagens de escolha e deve ser fei ta com um radioterapeuta a partir do setor de emergência é
ta na emergência quando houver de suspeita de malignidade fundamental.
vertebral e déficits neurológicos (Fig. 8.15).86 Os pacientes A cirurgia é usada em alguns casos para remover cir-
com malignidade conhecida e o aparecimento de nova dor cunferencialmente o tumor, descomprimir a medula es
lombar também devem ser submetidos a uma RMN urgente. pinal e estabilizar a coluna. As indicações mais comuns
Nesse cenário, mais de 50% dos pacientes terão metástases incluem os pacientes com sobrevida esperada além de três
Emergências Ortopédicas 143
meses e com dor intratável, instabilidade vertebral ou tu Os osteoblastomas se apresentam com dor incômoda que
mores pouco radiossensíveis (p. ex., carcinoma de células irradia para a coxa posterior. Em ambos os tumores pode
renais). Os pacientes com progressão dos sintomas haver sensibilidade dolorosa localizada sobre o osso en
neurológicos, apesar dos esteroides e da radiação, também volvido. Nas radiografias, os osteomas osteoides aparecem
devem ser considerados para intervenção cirúrgica. como uma área lítica cercada por osso esclerótico. Os os
teoblastomas aparecem no corpo vertebral posterior como
TUMORES ÓSSEOS PRIMÁRIOS uma lesão expansiva bem-delineada, com neoformação ós
sea periosteal. O tratamento de ambos os tumores é com
Embora o tumor ósseo metastático seja muito mais comum excisão. Outros tumores benignos da coluna incluem os
que os tumores primários, vários tumores ósseos primários osteocondromas, tumores de células gigantes, cistos ósseos
ocorrem na coluna. Os tumores benignos mais comuns são aneurismáticos, hemangiomas e granulomas eosinofílicos.
o osteoma osteoide e os osteoblastomas. Estes tumores afe Os tumores primários malignos incluem o mieloma
tam mais os homens jovens. Os osteomas osteoides se apre múltiplo, condrossarcoma e cordoma. O mieloma múltiplo
sentam com dor noturna que é profunda e sem irradiação. deve ser considerado em pacientes acima de 40 anos com
144 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
dor lombar. Os sintomas são leves, mas o paciente pode estar 24 horas depois do aparecimento dos sintomas. O realce
propenso a fraturas. Em adição à dor óssea, existe fadiga ge periférico é visto com o contraste de gadolínio e ajuda a
neralizada, náuseas e vômitos. As radiografias demonstram diferenciar o hematoma das outras lesões de massa dentro
osteólise difusa do corpo vertebral, sem esclerose reativa, do espaço epidural.
que poupa os elementos posteriores. A TC é mais sensível A TC pode demonstrar o hematoma, mas não é tão
do que os filmes simples. Qualquer paciente com suspeita sensível quanto a RMN e não revela a extensão da le
de mieloma múltiplo precisa de encaminhamento urgente. são. 05Entretanto, a TC pode ser usada se houver demora
O condrossarcoma é o segundo tumor maligno primá para obter a RMN por algum motivo.
rio mais comum do osso, representando 25% dos casos.
O paciente com condrossarcoma ou cordoma também Tratamento
tem, em geral, entre 40 e 60 anos e apresenta-se com leve
desconforto no osso afetado. Ao exame, o paciente com A intervenção cirúrgica precoce, com laminectomia des-
condrossarcoma pode ter edema indolor. As radiografias compressiva, é o tratamento de escolha. Uma melhor recu
de um condrossarcoma revelam calcificação expansível peração neurológica é vista quando for menor o tempo entre
107
inflada ou lobular no osso medular, com camada cortical o aparecimento dos sintomas e a cirurgia. A recuperação
espessada. A TC é mais sensível e também mostra exten completa é provável se o tempo até a cirurgia for menor que
são de tecido mole. Os filmes simples de um cordoma de 6 a 8 horas. Os pacientes com coagulopatia devem ser
monstram osteólise com uma massa de tecidos moles cal tratados com produtos sanguíneos conforme a necessidade
cificados que envolve o corpo vertebral, mas não o disco. (p. ex., plasma fresco congelado, vitamina K, fator de coa
gulação). O manejo conservador é às vezes empregado em
pacientes com sintomas neurológicos mínimos ou ausentes.
HEMATOMA EPIDURAL VERTEBRAL
Um hematoma epidural vertebral (HEV) é uma condição Ml ELITE TRANSVERSA
rara que ocorre devido à ruptura do plexo venoso epidural
posterior. Conforme o sangue se acumula, ocorre compres A mielite transversa é um distúrbio inflamatório agudo da
são da medula espinal de forma similar a um tumor, um abs medula espinal. A causa costuma ser difícil de determinar,
cesso ou uma hemiação discai central. De todas as lesões mas uma infecção recente (p. ex., vírus ou micoplasma)
expansivas espinais, o hematoma epidural responde por ou vacinação têm sido implicadas. A maioria dos pacien
menos de 1%. O HEV é espontâneo em 50% dos casos. tes se apresenta com dor focal no pescoço ou na lombar,
Esses pacientes têm fatores de risco para hemorragia com seguida de déficits neurológicos. Disfunções motoras,
anticoagulantes e coagulopatias (p. ex., hemofilia).98 O sensitivas e autonômicas ocorrem em padrões diferentes,
trauma secundário, como espirro ou manipulação vertebral, dependendo da porção afetada da medula. Por essa razão,
também pode precipitar o HEV em indivíduos de risco. a mielite transversa pode imitar a compressão medular (p.
Outras causas de HEV espontâneo incluem malformação ex., hematoma, metástase, hemiação), isquemia medular
vascular e gravidez. Os casos restantes ocorrem depois por dissecção aórtica, síndrome de Guillain-Barré e dis
de instrumentação ou cirurgia. A cirurgia vertebral é mais túrbios neuromusculares. A RMN é a ferramenta diagnós
comumente associada, mas o HEV também já foi relatado tica de escolha e o padrão típico de mielite transversa in
depois de anestesia espinal e até acupuntura. clui os sinais de alta intensidade nas imagens ponderadas
em T2 que correm ao longo da porção afetada da medula
espinal. A punção lombar demonstra linfocitose e proteí
Características clínicas
nas elevadas. O tratamento é principalmente de suporte.
Os pacientes com HEV têm, geralmente, acima de 50 Os esteroides e a terapia com troca de plasma podem ser
anos, mas a condição pode ocorrer em qualquer idade.9" considerados, embora sua utilidade não esteja determina
O quadro clínico clássico é o de aparecimento súbito de dor da. O médico da emergência deve considerar a mielite
intensa lombar ou no pescoço, frequentemente com sin transversa como um diagnóstico de exclusão, já que ou
tomas radiculares. Dentro de minutos a horas (raramente tras causas mais tratáveis de dor lombar e déficits neuro
dias), os sintomas neurológicos se desenvolvem, anuncian lógicos devem ser primeiro descartadas.1
do a compressão da medula espinal. Um curso curto entre
o aparecimento da dor e os sintomas neurológicos é mais DISTENSÃO MUSCULAR
comum quando o hematoma estiver nas regiões cervical ou
torácica, porque o espaço epidural ah é mais estreito. A distensão muscular nas costas, habitualmente na porção
lombossacral, é menos comum do que é diagnosticada.
Mesmo os espasmos musculares palpados ao exame são
Imagens
muitas vezes secundários à síndrome de facetas posterio
A RMN é o exame diagnóstico de imagens de escolha. res ou a uma ruptura anular de disco. Entretanto, o diag
O hematoma aparece como um sinal hiperintenso nas nóstico de uma lesão muscular ou ligamento é possível em
imagens ponderadas em T2 se feitas dentro das primeiras pacientes depois de um estresse súbito ou de um estira
Emergências Ortopédicas 145
mento nas costas. A dor é intensa e pode continuar assim articulação facetária. A articulação facetária é uma arti
nos primeiros dias e uma dor incômoda pode permanecer culação sinovial verdadeira entre os processos articulares
por várias semanas. Ao exame, a dor é reproduzida pela superiores e inferiores de vértebras adjacentes. A arti
palpação ao longo dos músculos paravertebrais. É comum culação é circundada por uma cápsula ligamentar. Com
a presença de espasmo. As radiografias não são indicadas. movimentos súbitos, em especial a hiperextensão, ou ao
O tratamento consiste em evitar o levantamento de cargas transportar objetos pesados, a cápsula pode ser lesionada
pesadas e o uso de agentes anti-inflamatórios não esteroi- e a articulação tomar-se subluxada. Na ausência de trau
des com relaxantes musculares. ma, a degeneração artrítica também pode causar sintomas
A distensão muscular do pescoço não é incomum de similares.
pois do que pode parecer como uma lesão trivial. Excluir O paciente queixa-se de dor, que fica pior com a ex
uma fratura ou lesão ligamentar instável em primeiro lu tensão e a inclinação para o lado ipsilateral. Ficar em pé é
gar, conforme discutido no Capítulo 9. Os suportes princi pior do que sentar-se. A dor é confinada ao dorso, contu
pais para tratamento de uma distensão muscular cervical do, e não se irradia para nádegas ou pernas, como ocorre
incluem os medicamentos anti-inflamatórios não esteroi- com um disco hemiado.
des e relaxantes musculares. Dormir com um rolo sob o O exame neurológico é normal. Existe espasmo mus
pescoço pode aliviar a tensão e trazer mais conforto ao cular intenso, mas se a articulação facetária puder ser
paciente. Os exercícios de resistência também ajudam no palpada (dois dedos lateralmente e entre os processos
relaxamento muscular. Para executar esses exercícios, o espinhosos) haverá sensibilidade dolorosa local. Con
paciente é instruído para girar suavemente a cabeça para o forme assinalado no Capítulo 7, as articulações são mais
lado não afetado (indolor), fornecendo alguma resistência facilmente palpadas quando o paciente estiver em decú
com a mão sobre a face. Isso causa a contração dos mús bito ventral, com um campo ou travesseiro pequeno sob
culos não afetados e o relaxamento reflexo dos músculos o umbigo. A hiperextensão aumenta a dor. Os exames de
estirados, diminuindo, assim, a dor. É recomendável fazer imagens geralmente não são necessários. O tratamento
esses exercícios com 20 repetições, 2 a 3 vezes ao dia. consiste em evitar o levantamento de cargas pesadas e o
uso de agentes anti-inflamatórios não esteroides com re
SÍNDROME FACETARIA POSTERIOR laxantes musculares. A injeção da articulação com anes
tésico local pode ser tanto diagnóstico como terapêutico,
A síndrome facetária posterior é o termo usado para des sendo associada ao alívio rápido dos sintomas (Fig. 8.16).
crever a lesão na cápsula ou a degeneração artrítica da O paciente deve evitar a hiperextensão (i.e., decúbito ven-
Processo
espinhoso
Processo
articular
superior
Figura 8.16 Injeção de um paciente com síndrome facetária posterior. Uma vez que a articulação facetária seja localizada (duas
polpas digitais entre os processos espinhosos), colocar uma marcação nessa referência. Em pacientes magros é possível palpar a
protuberância óssea das articulações das facetas, mas isto em geral não ocorre devido aos músculos eretores da espinha. A seguir
pegar uma agulha espinal tamanho 22 sem uma seringa e inserir na m arcação, apontando 20° em direção cranial e ligeiramente
medial, como mostrado no diagrama. Em pacientes médios será necessário inserir a agulha vários centímetros (da mesma forma que
é feita uma punção lombar) até que a agulha toque no osso. Assim a agulha estará na articulação ou nas imediações dela. Injetar 2
a 3 mL de bupivacaína misturada com 80 mg de triancinolona. Esse procedimento é muitas vezes feito sob fluoroscopia, mas isso
não é necessário, exceto em pacientes muito obesos.
146 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
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Capítulo 9
Trauma da Coluna Cervical
INTRODUÇÃO do corpo vertebral. A coluna posterior inclui o pedículo, a
lâmina, as articulações das facetas e o ligamento amarelo.
O rápido diagnóstico das lesões da coluna cervical é im
perativo para prover o tratamento inicial e prevenir lesão
secundária da medula espinal. A região cervical é a locali Imagens
zação mais comum de lesões da coluna, respondendo por Nem todos os pacientes com uma fonte traumática de
mais de 60% dos casos.1Infelizmente, existe demora no dor no pescoço precisam de exames de imagens. Dois
diagnóstico em um quarto dos casos. Aproximadamente grupos tentaram reduzir com segurança a frequência de
3% das ações por erro médico nos Estados Unidos são utilização de imagens da coluna cervical no contexto de
relacionadas a fraturas da coluna e esses processos res trauma com base na ausência de critérios de alto risco. ’
pondem por quase 10% dos valores pagos. O grupo NEXUS (N a tio n a l E m erg en cy X -R a d io g ra p h y
A coluna cervical superior, que consiste do occipital, U tilization Study) identificou cinco critérios que tinham
de C l (atlas) e de C2 (áxis) é ímpar em relação ao resto 99,6% de sensibilidade para excluir lesões clinicamente
da coluna cervical. A coluna é projetada para permitir a significativas da coluna cervical (Tab. 9.1). A regra ca
rotação da cabeça. A vértebra C l é uma estrutura em anel nadense da coluna cervical detectou 100% de 151 lesões
que se articula com o occipital. A vértebra C2 é composta clinicamente significativas da coluna cervical em 8.924
de um corpo com uma projeção óssea (odontoide) que vai pacientes (Fig. 9.2).
pela porção anterior do anel de C l. O odontoide é esta As radiografias simples são usadas como teste de ras-
bilizado pelos importantes ligamentos transversos e ala treamento para a lesão na coluna cervical. A série típica
res (Fig. 9.1). O ligamento transverso está localizado ao para trauma inclui uma incidência anteroposterior (AP),
longo da superfície posterior do odontoide, inserindo-se uma com a boca aberta (odontoide) e outra lateral. A in
em cada lado de C l. A lesão desse ligamento pode ser cidência lateral detecta aproximadamente 70% das lesões
catastrófica para o paciente sob a forma de instabilidade e deve incluir a junção de C7-T1, pois um número alto
atlantoaxial e de lesão alta da medula cervical. de lesões ocorre em C7.3’6 Ao combinar as três incidên
A coluna cervical inferior pode ser dividida em duas cias, a sensibilidade dos filmes simples é de somente 90%
colunas, na qual a ruptura de uma coluna inteira é neces para detectar pelo menos uma lesão. As radiografias de
sária para alterar a estabilidade. A coluna anterior con flexão-extensão são controversas e não são feitas de forma
siste dos ligamentos longitudinais anterior e posterior e rotineira, em especial quando a tomografia computadori
zada (TC) e a ressonância magnética nuclear (RMN) estão
disponíveis.
Tubérculo anterior A interpretação das radiografias simples é abordada
do atlas
neste capítulo ao discutir cada lesão; contudo, o profissio
nal deve ter uma abordagem sistemática para evitar lesões
importantes passem despercebidas. Antes de começar, é
importante avaliar a adequação dos filmes, especifica
mente se a incidência com a boca aberta permite a visuali
zação do odontoide e das massas laterais e se a incidência
lateral demonstra todas as vértebras cervicais e o topo de
T l. A seguir, considerar o alinhamento das vértebras na
Figura 9.1 O s ligamentos transversos e alares e sua importân Nota: Se todos os cinco itens forem encontrados, os exames de imagens
não são solicitados.
cia na estabilização das vértebras de C1 e C 2.
Emergências Ortopédicas 151
Linha do corpo
vertebral posterior
Tratamento
geral ocorrem várias horas depois da lesão da medula. A O choque neurogênico deve ser considerado em pacien
patogenia está relacionada com perda do tônus simpático tes com hipotensão e lesão traumática da medula espinal,
e menor resistência vascular periférica. A bradicardia está uma vez que outras causas de choque tenham sido excluí
presente porque a ruptura da atividade simpática no cora das. Não existe consenso sobre o tratamento ideal para o
ção resulta em atividade vagai sem oposição. O choque choque neurogênico. A infusão de fluido cristaloide pode
neurogênico deve ser distinguido do termo “choque espi ser a única coisa necessária em casos leves. Os vasopres-
nal”, que se refere a uma perda inicial, mas com recupera sores são indicados se os sintomas persistirem.
ção gradual de alguma função neurológica depois de uma Em pacientes com lesão traumática não penetrante da
lesão da medula espinal. medula espinal, esteroides em alta dose devem ser consi
O conhecimento da localização dos tratos nervosos derados precocemente. O regime de tratamento é um
dentro da medula espinal ajuda o profissional a entender bolus de metilprednisolona de 30 mg/kg, seguido de uma
as síndromes que ocorrem depois da lesão (Fig. 9.5). O pa infusão de 5,4 mg/kg/h por 24 horas em pacientes que te
ciente com síndrome medular completa apresenta precoce nham sido tratados dentro de 3 horas da lesão. Em pacien
mente paralisia flácida e perda da sensibilidade abaixo da tes da janela de 3 a 8 horas, uma infusão de 48 horas tem
lesão. Os reflexos estão ausentes e não há nenhuma respos sido recomendada. Os esteroides não são indicados além
ta ao teste de Babinski. O priapismo pode aparecer e, ge- de 8 horas ou depois de uma lesão penetrante em qualquer
ralmente, dura um dia. Dentro de 1 a 3 dias, desenvolvem- momento.
-se reflexos hiperativos, Babinski positivo e espasticidade. Até dentro da janela de 8 horas, os esteroides têm inci
A lesão medular incompleta é mais difícil de diag dência significativa de complicações, como sepse e pneu
nosticar. Existem algumas variantes clássicas, mas há va monia. Além disso, a evidência da eficácia dos esteroides
riação significativa na apresentação. A síndrome medular em produzir um ganho pequeno no escore motor e sensi-
Coluna dorsal
(posição, vibração, contato)
tivo total foi somente vista em uma análise retrospectiva. estende da cortical posterior de C2 (intervalo basioaxial)
Esse fato aumenta a probabilidade de que uma diferença deve ser abaixo de 12 mm. Uma segunda medida entre o
estatística será encontrada quando ela não existe e, geral básion e a superfície superior do odontoide (intervalo ba-
mente, impede que os resultados sejam usados para mudar siodental) também deve ter menos de 12 mm. Se houver
a prática clínica. Por conseguinte, sem evidência sólida suspeita de lesão, o encaminhamento imediato é indicado e
para a eficácia de um regime com esteroides em alta dose, qualquer tipo de tração axial deve ser evitada, já que pode
alguns entendem que os esteroides devem ser usados com aumentar o deslocamento dessa lesão altamente instável.
precaução ou não devem ser usados. ’ Várias sociedades
médicas têm afirmado que esse não é um tratamento pa Luxação atlantoaxial
dronizado, mas uma opção terapêutica. Os protocolos in
terdepartamentais e a consultoria cirúrgica precoce ajudam A luxação atlantoaxial mais comum é a anterior, com rup
o médico da emergência a tomar rapidamente tais decisões. tura do ligamento transverso ou fratura do odontoide. As
lesões posteriores e rotatórias são menos comuns. A rup
tura pura do ligamento transverso é mais comum em in
Classificação
divíduos mais velhos, mas também ocorre em pacientes
A coluna cervical é dividida em dois segmentos para os jovens após um trauma, geralmente após uma colisão de
propósitos deste capítulo. As lesões da coluna cervical alta veículo automotor. *
são aquelas que envolvem o occipital, C i e C2. O resto do A apresentação clínica é variável, sendo comum o
capítulo é focado nas lesões da terceira até a sétima vér óbito a partir de uma compressão medular de nível alto,
tebras cervicais. Essa discussão classifica as lesões com entre o odontoide e o arco posterior do atlas. As radiogra
base no mecanismo pela qual são produzidas. A estabili fa s revelam uma relação anormal entre o atlas e o áxis. Na
dade clínica de cada lesão é discutida. A perda da estabili luxação anterior, existe um aumento da distância (> 3 mm)
dade refere-se à incapacidade da coluna em manter as suas entre o aspecto posterior do arco anterior do atlas e o pro
relações sob cargas fisiológicas normais. Com a instabili cesso odontoide. Uma distância entre 3 e 5 mm sugere
dade, vem o risco inerente de lesão secundária da medula ruptura do ligamento transverso, enquanto uma distância
espinal, caso a imobilização vertebral não seja adicionada. maior que 5 mm é consistente com a ruptura dos ligamen
tos transverso e alar (Fig. 9.8). As incidências com a boca
LESÕES CERVICAIS ALTAS
Normal
Dissociação atlanto-occipital J**| Menos de 3 mm
Essa lesão envolve a ruptura de todas as conexões ligamen-
tares entre o occipital e o atlas (Fig. 9.7). O crânio pode
ficar anterior, posterior ou ser distraído da coluna cervical.
Tal lesão é quase sempre fatal devido à quantidade signifi
cativa de força necessária para a sua ocorrência. As radio
grafias demonstram o deslocamento dos côndilos occipitais
a partir das facetas articulares superiores do atlas. A distân
cia entre a ponta do clivo (i.e., básion) e uma linha que se
Figura 9.9 Fratura de Jefferson. A . Esquema de uma fratura de Jefferson de C1 com ligamento transverso intacto. B . Alargamento
anormal na incidência com a boca aberta (seta). C . T C . D. Na incidência com a boca aberta, é visto o deslocamento das massas
laterais de C2 em uma fratura instável de Jefferson.
aberta ou, de preferência, a TC, demonstram fraturas do (Fig. 9.9D). Essa constitui uma lesão instável, em que o
odontoide. É necessária a consulta imediata com um cirur processo odontoide pode comprimir a medula espinal.
gião de coluna para estabilização e redução. As fraturas em explosão de Jefferson estão associadas
a fraturas adicionais da coluna cervical em incidência de
Fratura em explosão de Jefferson 50%. O tratamento definitivo consiste na tração com halo
(Fig. 9.10).
A fratura em explosão de Jefferson ocorre por carrega
mento axial, quando a coluna não estiver nem flexionada
Fraturas do arco de C1
e nem estendida. Isso resulta em fraturas dos arcos an
teriores e posteriores de C l à esquerda e à direita (Fig. Além do carregamento axial (i.e., fratura em explosão de
9.9A). Nas radiografias simples, o edema de tecido mole Jefferson), outros mecanismos causam fraturas do arco de
pré-vertebral é evidente na incidência lateral, mas as fra C l. A hiperextensão pode causar a avulsão do tubérculo
turas em si são difíceis de visualizar. A incidência com a anterior do atlas (Fig. 9.11). Essa lesão será vista na radio
boca aberta demonstra o deslocamento das massas laterais grafia lateral ou TC e, frequentemente, existe edema asso
do atlas (Fig. 9.9B). A TC é necessária para verificar com ciado de tecidos moles. O paciente deve ser imobilizado.
pletamente o padrão da fratura (Fig. 9.9C). Se a avulsão consistir de todo o arco anterior, então essa
As fraturas do anel do atlas podem ser estáveis ou lesão pode ser instável.
instáveis, com base na integridade de seu suporte liga- A hiperextensão com compressão pode direcionar
mentar, especificamente os ligamentos transversos e ala uma força através do arco posterior do atlas, causando fra
res. O deslocamento das massas laterais do atlas em uma tura na junção do arco posterior e da massa lateral. A ra
distância de 7 mm ou mais, percebido na vista com a boca diografia lateral demonstra melhor essa lesão. Ela é vista
aberta, é evidência de um ligamento transverso rompido como uma fratura vertical, com pouco ou nenhum deslo-
Emergências Ortopédicas 155
Flexão
Fratura em lágrima por flexão
Essa é uma lesão extremamente instável, produzida por
hiperflexão intensa e forças compressivas que ocorrem
com o mergulho na parte rasa de uma piscina. O resultado
é uma ruptura ligamentar completa, com ruptura de arti
culação facetária e fratura cominutiva do corpo vertebral
que empurra os fragmentos para dentro do canal verte
bral (Fig. 9.15). Existe um grande fragmento triangular
deslocado da porção anterior do corpo vertebral e no for
mato de uma lágrima, que dá o nome à fratura. O déficit
neurológico é comum, seja sob a forma de lesão medular
completa ou de síndrome medular anterior. Radiografica-
mente, a fratura de canto anteroinferior do corpo vertebral
é evidente na incidência lateral. A coluna cervical superior
está flexionada, e a vértebra envolvida está deslocada e
rodada anteriormente.
Figura 9.13 Fratura tipo II do odontoide em T C . Quando essa lesão ocorre na área de C4 em um mer
gulhador, o paciente pode apresentar-se com apneia, pre
sumida como afogamento, quando na verdade é a lesão da
(Fig. 9.14). Essa fratura era vista nos enforcamentos mas coluna cervical que produz uma paralisia muscular respi
é agora mais comum após colisões de veículos automo ratória. A entubação será necessária nessa circunstância, e
tores e acidentes de mergulho. Embora essa lesão seja o paciente necessita de imobibzação contínua. A consulta
altamente instável, o paciente pode se apresentar sem de emergência com um cirurgião de coluna é necessária
disfunção neurológica significativa, devido ao grande para o cuidado definitivo.
diâmetro do canal vertebral nesse nível.
Fratura do escavador
LESÕES DE C3 A C 7 Essa lesão é uma fratura do processo espinhoso que ocor
re quando a cabeça e as vértebras cervicais superiores são
As forças que levam às lesões na coluna cervical inferior forçadas em flexão contra a ação do bgamento supraespi-
podem ser usadas para classificação e ajudam na com nal e os músculos eretores. O resultado é uma fratura de
preensão das lesões ligamentares e ósseas que estão pre avulsão de um ou mais dos processos espinhosos de C7,
sentes. A flexão, a flexão com rotação, a extensão com C6 e T l, nessa ordem de frequência (Fig. 9.16). É assim
rotação, a extensão e a compressão vertical produzem pa denominada em decorrência de sua frequência em minei
drões distintos de lesões que são discutidos a seguir. ros austrabanos nos anos 1930. É mais comum hoje de-
pois de um trauma direto no processo espinhoso ou depois que permite que as facetas superiores passem sobre as
de colisões com desaceleração do veículo automotor. O facetas inferiores, localizados nos forames interverte-
paciente queixa-se de sensibilidade dolorosa puntiforme brais. A maioria dessas lesões ocorre entre C5 e C7.
sobre a área envolvida. É uma lesão estável e requer o uso Os pacientes se apresentam com dor no pescoço e inca
de analgésicos e encaminhamento precoce. pacidade para mover a cabeça a partir de uma posição
na linha média. Ao exame, com frequência existe uma
Luxação bilateral das facetas proeminência do processo espinhoso das vértebras infe
É uma lesão muito instável, uma hiperflexão grave re riores. Pode haver compressão medular ou de raiz ner
sulta em ruptura do complexo ligamentar posterior, o vosa, levando a déficits neurológicos. As radiografias
são caracterizadas por deslocamento anterior do corpo anterior ou as fraturas múltiplas adjacentes em cunha
vertebral superior de pelo menos 50% da sua largura podem tornar essa lesão instável. Por essa razão, tais
(Fig. 9.17). O termo fa c e ta s e m p o le ira d a s refere-se a fraturas devem ser consideradas instáveis até prova em
uma luxação bilateral incompleta, onde o aspecto infe contrário.
rior das facetas superiores repousa sobre o aspecto su
perior das facetas inferiores. A redução de emergência Entorse em hiperflexão
pode resultar em recuperação significativa dos déficits Essa lesão também é chamada de subluxação anterior.
neurológicos. A hiperflexão causa a mptura das estruturas ligamenta-
res posteriores, sem fraturas associadas (Fig. 9.19). Em
Fratura por compressão em cunha radiografias, pode haver o alargamento dos processos
Essa fratura é causada pela flexão forçada, com algumas espinhosos no nível da m ptura ligamentar. A angula-
forças compressivas axiais leves, causando impacto so ção de duas vértebras por mais de 1 I o é anormal, sugere
bre o corpo vertebral (Fig. 9.18). A porção anterior da instabilidade, sendo consistente com essa lesão (Fig.
placa terminal superior do corpo vertebral sofre fratura. 9.20).
As estruturas posteriores permanecem intactas na maio
ria dos casos, mas o seu envolvimento tom a a fratura
instável. A perda de mais da metade da altura vertebral
Extensão e rotação
Flexão e rotação
Fratura do pilar
Luxação unilateral da faceta A fratura do pilar da articulação facetária é causada por
Essa lesão ocorre por uma combinação de flexão e rota hiperextensão e rotação (Fig. 9.22). A hiperextensão junta
ção. A articulação oposta ao lado da rotação desloca quan os ossos das facetas e conforme a cabeça roda ocorre uma
do a faceta superior se move anterior e superiormente por força em direção a um único pilar, causando a sua fratura.
sobre a faceta inferior. Na ausência de fraturas concomi A projeção radiográfica em AP demonstra uma anormali
tantes, a estabilidade é mantida porque a articulação con- dade da coluna lateral. A linha de fratura costuma ser ver
tralateral permanece intacta. No aspecto clínico, a dor no tical. Na incidência lateral, a lesão é difícil de identificar.
pescoço se localiza no lado afetado e a cabeça é rodada no Um sinal de “duplo contorno” ocorre quando a fratura é
sentido contrário da lesão. A compressão de raiz nervosa deslocada posteriormente e causa duas sombras radiográ-
é frequente, mas a medula espinal é raramente envolvida. ficas/ Uma ruptura no ligamento longitudinal anterior
Figura 9.26 Fratura da lâmina. A. Representação esquemática. B. TC demonstrando fraturas bilaterais das lâminas.
Classificação
As fraturas da coluna TL são mais comuns na junção entre
a coluna torácica rígida e a coluna lombar flexível. Em tor
no de 50% de todas as fraturas da região TL ocorrem entre
T il e L3. Felizmente, as lesões medulares completas são
menos comuns, pois o canal vertebral é mais largo nessa
localização do que na coluna cervical.
Ao considerar a estabilidade das fraturas vertebrais
TL, a classificação de três colunas é conceitualmente a
mais fácil de entender. Nesse sistema, desenvolvido por Figura 10.1 A classificação de três colunas da coluna toraco
Denis, a coluna vertebral é dividida em três seções: ante- lombar.
164 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
LESÕES INSTÁVEIS
Fraturas de Chance
A fratura de Chance, descrita pela primeira vez por G.Q.
Chance em 1948, ocorre depois da flexão da coluna ver
tebral sobre um eixo que é anterior ao ligamento longitu
dinal anterior. Envolve uma divisão horizontal da vértebra
através de todas as três colunas e é, por conseguinte, uma
lesão instável (Fig. 10.6). A lesão começa nos elementos
posteriores do processo espinhoso ou da lâmina e esten-
de-se anteriormente aos pedículos e ao corpo vertebral.
O deslocamento é incomum, porque existem poucas for
ças translacionais ou rotacionais.
Essa lesão era muito comum com o uso do cinto de se
Figura 10.5 Vista transversal de uma fratura em explosão. Existe gurança subabdominal, quando as forças súbitas de desace
retropulsão de fragmentos ósseos para dentro do canal vertebral. leração causavam hiperflexão e distração intensas da colu
na vertebral. Atualmente, a maioria das fraturas de Chance
ocorre depois de quedas ou lesões por esmagamento. A sen
pressão em cunha porque a cortical do corpo vertebral
sibilidade dolorosa está presente sobre as vértebras envolvi
posterior é fraturada. As fraturas do corpo vertebral poste
das, mais comumente T I2, L l, ou L2. As fraturas de Chan
rior fornecem um risco adicional à medula espinal tendo
ce estão associadas a significativas lesões intra-abdominais,
em vista que com frequência existe retropulsão de frag
com a incidência aproximando-se de 50%.
mentos ósseos para dentro do canal vertebral (Fig. 10.5).
Na incidência anteroposterior, podem ser observadas
As fraturas em explosão são mais comuns a partir de
a ruptura dos pedículos, a perda da altura vertebral ou a
uma queda, mas as colisões de veículos automotores tam
fratura do processo transverso. A vista lateral demonstra
bém respondem por um número alto dessas lesões. Já fo-
as fraturas através do processo espinhoso, das lâminas ou
ram relatadas depois de uma convulsão atraum ática/“
dos pedículos. Os achados mais sutis incluem o aumento
A maioria das fraturas em explosão ocorre na região de
T12 ou L3. Em 10% dos casos, existe mais de uma fra- na distância dos processos espinhosos adjacentes ou o au
tura em explosão. Elas respondem por aproximadamente mento na altura do corpo vertebral posterior.
15% das fraturas vertebrais. O exame da coluna vertebral Uma TC deve ser solicitada para determinar a extensão
revela sensibilidade dolorosa no nível da fratura, mas a dis da lesão, o envolvimento do canal vertebral e para diagnos
tância interespinal fica inalterada. Os déficits neurológicos ticar alguma lesão intra-abdominal. Pelo fato de a ruptura
estão presentes em cerca de metade dos pacientes, e a perda ser orientada em um plano horizontal, a lesão pode passar
completa da função motora ocorre em um terço deles. despercebida na TC caso as imagens axiais não sejam com
Em radiografias simples, existe perda de altura tanto plementadas por imagens sagitais reformatadas.
da cortical anterior quanto posterior do corpo vertebral.
Esses achados são mais aparentes na incidência radiográ-
fica lateral. A coluna permanece bem-alinhada. As fratu
ras do elemento posterior estão presentes em dois terços
dos casos.
A perda de altura da cortical posterior do corpo verte
bral é frequentemente difícil de visualizar nos filmes sim
ples, fazendo com que essa lesão seja equivocadamente
diagnosticada como fratura em cunha. Em um estudo, os
filmes simples diagnosticaram de maneira errônea as fra
turas em explosão em 25% das vezes.
A TC detalha bem o grau de retropulsão e a presença
de fraturas na coluna posterior. A TC também causa im
pacto no plano de tratamento. Os pacientes com redução
de 50% no diâmetro mediosagital do canal vertebral têm
maior risco para disfunção neurológica progressiva.
O paciente deve ser tratado com imobilização ver
tebral rígida, devendo ser obtida uma consulta com um Figura 10.6 Fratura de Chance.
166 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
sempre existe lesão neurológica associada. Mais comu- 3. Holmes JF, Miller PQ, Panacek EA, et al. Epidemiology of
mente, a força de cisalhamento é dirigida de um sentido thoracolumbar spine injury in blunt trauma. Acad Emerg
posterior para anterior, sendo o resultado de um trauma Med 2001 ;8(9):866-872.
direto no dorso. 4. Hsu JM, Joseph T, Ellis AM. Thoracolumbar fracture in
As radiografias simples demonstram essa lesão. Po blunt trauma patients: Guidelines for diagnosis and imag
dem ser vistas muitas variações. Quando as lesões transla- ing. Injury 2003;34(6):426-433.
cionais ocorrerem na região torácica, a radiografia lateral 5. Frankel HL, Rozycki GS, Ochsner MG, et al. Indications
demonstra o deslocamento anterior do corpo vertebral for obtaining surveillance thoracic and lumbar spine radio
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te intactos, mas o processo espinhoso da vértebra supe 6. Meldon SW, Moettus LN. Thoracolumbar spine fractures:
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fraturados. Na região lombar, a direção do deslocamento and major injury. Trauma 1995;39(6):1110-1114.
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pode ser avulsionado e, frequentemente, existe fratura na trauma. Ann Emerg Med 1995;26(2): 126-129.
articulação facetaria ou no pedículo. A TC é útil para dar 9. Chang CH, Holmes JF, Mower WR, et al. Distracting in
informações mais detalhadas sobre a extensão da lesão juries in patients with vertebral injuries. Emerg Med 2005;
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Essas lesões são instáveis. A coluna deve ser manti 10. Ballock RT, Mackersie R, Abitbol JJ, et al. Can burst frac
da imobilizada e uma consulta com um especialista or tures be predicted from plain radiographs J Bone Joint
topédico ou neurocirúrgico em coluna vertebral deve ser SurgBr 1992;74(1): 147-150.
obtida. Devido à ocorrência quase universal de lesão da 11. Roos JE, Hilfiker P, Platz A, et al. MDCT in emergency
medula espinal, deve ser tomada uma decisão precoce radiology: Is a standardized chest or abdominal protocol
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deve ser obtida (Fig. 10.9). Em um estudo, 3 entre 28 17. McAfee PC, Yuan HA, Fredrickson BE, et al. The value
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168 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
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PARTE 111
Extremidades Superiores
Capítulo 11
Mão
INTRODUÇÃO
As lesões da mão respondem por até 15% de todos os ca
sos de trauma vistos no setor de emergência. A sua com
plexa anatomia, capacidade de executar movimentos finos
e a importância na vida cotidiana toma potencialmente
devastador o não diagnóstico dessas lesões.
Terminologia
A mão tem uma superfície dorsal e uma vo la r e os mes
mos termos são usados ao discutir os dígitos. Além disso,
cada dígito tem uma borda radial e uma ulnar. A massa
muscular na base do polegar é chamada de eminência te-
n a r e a massa muscular ao longo da borda ulnar da mão é
a eminência hipotenar.
Os movimentos do punho incluem desvios radial e
ulnar; extensão e flexão. Os movimentos do polegar in
cluem flexão e extensão; abdução, adução e oposição
(Fig. 11.1). Os dígitos são chamados de polegar, indica
dor, médio, anular e mínimo, respectivamente. O polegar
é o primeiro dígito e o dedo mínimo é o quinto dígito.
História
Quando um paciente se apresenta no setor de emergência
com queixa da mão, o médico deve, em primeiro lugar,
averiguar se existe qualquer história de trauma. A abor
dagem e o diagnóstico diferencial de mãos traumatizadas
são bastante diferentes dos diagnósticos de mãos não trau
matizadas. Os pontos importantes na história, ao avaliar as
lesões traumáticas da mão, incluem:
1. O tempo decorrido desde a lesão.
2. O ambiente onde a lesão ocorreu (contaminação).
3. O mecanismo de lesão (esmagamento, laceração, etc.).
Na mão não traumatizada, as perguntas mais impor
tantes na história são:
1. Quando os sintomas começaram?
2. Qual deficiência funcional tem sido sentida?
3. Quais atividades pioram os sintomas?
Exame
O desenho e a versatilidade da mão humana têm impres
sionado anatomistas e autores por séculos. Anatomica
mente, a mão é um grupo de ossos deslizantes e altamen
te móveis, conectados por tendões e ligamentos a um Figura 11.1 Termos usados para descrever o movimento da
“centro fixo” . mão e dos dedos.
172 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
Tendão do flexor //
/ I I
f V.
profundo dos dedos J \
Flexor superficial
dos dedos
Flexor ulnar do carpo. O flexor ulnar do carpo é pal metacarpal do polegar e o extensor curto do polegar na
pado sob tensão quando o punho é flexionado contra base da falange proximal do polegar. Esses tendões po
resistência e o polegar e dedo mínimo estão em oposi dem ser testados pedindo ao paciente para abrir vigoro
ção. Insere-se no pisiforme e é facilmente palpado neste samente a mão. O abdutor longo do polegar é palpado
ponto. logo distai ao estiloide do rádio. O extensor curto do po
legar é palpado sob tensão sobre o dorso do metacarpal
Palmar longo. O palmar longo é palpado flexionando do polegar.
o punho contra resistência e opondo os dedos polegar e
mínimo. O tendão fica na linha média, com inserção na Extensor longo e curto radial do carpo. Esses tendões
fáscia palmar. Este tendão é congenitamente ausente em inserem-se na base dorsal do metacarpal do indicador e do
um quinto da população. médio, respectivamente. Eles são avahados pedindo-se ao
paciente para fechar a mão e estender o punho com força
Tendões extensores (Fig. 11.5A). Esses tendões são de importância extrema
Os tendões extensores passam sob o retináculo exten- para a função e força da mão, pois são os extensores pri
sor no punho e são divididos em seis compartimentos mários do punho.
fibro-ósseos sobre o aspecto dorsal do punho (Fig. 11.4).
Os compartimentos dorsais e o retináculo atuam para es Extensor longo do polegar. O extensor longo do polegar
tabilizar os tendões extensores e impedem o seu arquea- passa ao redor do tubérculo de Lister, no aspecto dorsal
mento. O seis compartimentos fibro-ósseos, contendo os do rádio, e insere-se na falange distai do polegar. Forma
nove tendões extensores, são apresentados a seguir. a borda ulnar da tabaqueira anatômica e pode ser facil
mente visto ao estender o polegar (Fig. 11.5B). Somen
Abdutor longo do polegar e extensor curto do polegar. te esse tendão pode estender o polegar e hiperestendê-lo
O abdutor longo do polegar insere-se na base dorsal do contra resistência na articulação IF. É testado pedindo-se
174 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
Extensor longo
Figura 11.5 Exame do tendão extensor. A. Tendões do extensor longo e curto radial do carpo. B. Extensor longo do polegar, com
a mão sobre a mesa, o polegar se estende no plano desta. C. Extensor comum dos dedos, as articulações M CF devem mantida em
extensão e as articulações IF flexionadas. Comparar a força da extensão na articulação M CF com a mão oposta. D. Extensor do dedo
indicador e extensor do dedo mínimo. Segurar os dedos adjacentes flexionados para elim inar a função dos outros tendões extenso-
res comuns. E. Extensor ulnar do carpo.
ao paciente para hiperestender a falange distai do polegar ao paciente para primeiro fechar o punho, e então estender
contra resistência. o os dedos indicador e mínimo, enquanto os dedos médio
e anular permanecem flexionados (Fig. 11.5D).
E x te n so r co m u m d o s d e d o s e e x te n so r p ró p rio d o in
dicador. Esses tendões são testados pedindo-se ao pa Esse tendão insere-se na base
E x ten so r ulnar d o ca rp o .
ciente para flexionar as articulações IF em uma garra e dorsal do quinto metacarpal e é avaliado pedindo-se ao
estender ativamente a articulação MCF (Fig. 11.5C). Isso paciente para fazer um desvio ulnar da mão, enquanto o
permite que o examinador visualize o extensor comum examinador palpa o tendão tenso sobre o lado ulnar do
dos dedos. Solicitando-se ao paciente para, primeiro, fe punho, logo distai à cabeça da ulna (Fig. 11.5E).
char o punho e depois estender o dedo indicador, enquan
to os outros dedos permanecem flexionados, é testado o M ú s c u lo s in trín s e c o s
extensor próprio do indicador. Existem três músculos interósseos volares e quatro inte-
rósseos dorsais (Fig. 11.6A e 11.6B). Eles se originam ao
O extensor do dedo mínimo
E x ten so r d o d e d o m ínim o. longo do comprimento dos ossos metacarpais e se inse
está no compartimento seguinte e pode ser testado ao mes rem na falange proximal e na expansão extensora (Fig.
mo tempo em que o extensor próprio do indicador. Pedir 11.6C). Os interósseos dorsais abduzem os dedos e são
Emergências Ortopédicas 175
Vista dorsal
Expansão
Expansão extensora
extensora
Ligamento
Interósseos colateral
dorsais
Interósseos dorsais
Vista lateral
Vista dorsal
testados com a abertura dos dedos contra resistência (Fig. Os quatro músculos lumbricais permitem a flexão nas
11.7A). Os interósseos volares aduzem os dedos e são articulações MCF, mantendo a extensão nas articulações
testados colocando-se um pedaço de papel entre os dedos IF. Eles têm origem nos tendões do flexor profundo dos
estendidos e solicitando ao paciente para resistir à retirada dedos e inserem-se na banda lateral e expansão central
do papel que está entre os dedos (Fig. 11.7B). dos tendões extensores. Os músculos interósseos também
Figura 11.7 A. Pãra testar os interósseos dorsais, abrir os dedos com força, contra resistência. B. Colocar um pedaço de papel entre
os dedos e pedir ao paciente para resistir à retirada do papel testa os interósseos volares.
176 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
A
Artéria radial Artéria ulnar
Figura 11.10 O teste de Allen é feito para averiguar a perviedade das artérias radiais e ulnares. A. Solicitar ao paciente para fechar
várias vezes a mão, enquanto o exam inador comprime as artérias radial e ulnar. O paciente, então, abre a mão e o exam inador libe
ra a pressão sobre uma das artérias. B. No paciente com um vaso patente, uma vazão eritematosa deve ser notada na mão quando
a pressão é liberada. C. O mesmo é feito com o vaso no lado oposto.
A seguir, a artéria radial é liberada; se o sangue fluir ça remota. As fraturas com pequenos fragmentos ou com
para todos os dígitos, a artéria radial é patente e existe flu avulsão podem não ser suspeitadas com base no exame
xo colateral bom no sistema da artéria radial (Fig. 11.10). clínico e ainda assim, se não detectadas, resultar em in
O mesmo é feito para testar a artéria ulnar. Se ambos os capacidade significativa. No mínimo três incidências
vasos estiverem lesionados, então pelo menos um, habi devem ser obtidas quando houver suspeita de fratura da
tualmente o ulnar, deve ser reparado. mão (anteroposterior [AP], lateral e oblíqua) (Fig. 11.11).
As lesões nas estruturas vasculares não afetam a perfu- As lesões metacarpais podem requerer incidências es
são da mão devido suas extensas anastomoses. Se a inspeção peciais para a visualização radiográfica adequada. Por
inicial revelar palidez ou frio em um dedo ou na mão, pronta exemplo, as fraturas do quarto e quinto metacarpais em
intervenção é necessária. O enchimento capilar e a oximetria geral não são detectadas até que uma incidência lateral
de pulso indicar o fluxo sanguíneo nos dígitos lesionados. com 10° de supinação seja obtida. As lesões do segundo e
terceiro metacarpais são frequentemente detectadas com
uma incidência lateral com 10° de pronação. As lesões
Imagens
dos dedos requerem uma incidência lateral verdadeira,
Todas as lesões significativas da mão, incluindo aquelas sem superposição dos outros dígitos. Não se deve aceitar e
com qualquer grau de edema, devem ser avaliadas com subsequentemente basear um diagnóstico em radiografias
radiografias, mesmo que a probabilidade de fratura pare inadequadas da mão.
178 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
A B C
FRATURAS DA MÃO
O manejo no setor de emergência das fraturas da mão do o paciente fecha a mão, todos os dedos normalmente
não é complexo, mas requer a compreensão da anatomia apontam para a mesma direção (Fig. 11.12A). As de
óssea e de tecidos moles para instituir uma terapia com formidades rotacionais das fraturas das falanges médias
base no julgamento médico adequado. Com frequência, ou proximais ou dos metacarpais interrompem a uni
essas fraturas são impropriamente tratadas como lesões dade, resultando em má posição ou sobreposição (Fig.
menores, sem perceber que podem resultar em incapa 11.12B). Outro método para diagnosticar as deformi
cidade permanente. Por exemplo, um pequeno grau de dades rotacionais, que é mais útil na mão agudamen
mau alinhamento rotacional com uma fratura de meta te ferida, é comparar o plano das unhas em cada mão.
carpal ou falange proximal, se não corrigido, resulta em Na mão normal, o plano da placa ungueal será similar
mão parcialmente incapacitada. Somente com a com ao dedo correspondente na outra mão. Com a rotação,
preensão abrangente da anatomia essencial da mão é existirá discrepância entre esses planos (Fig. 11.13). É
possível diagnosticar de forma correta as lesões e iniciar imperativo que o médico da emergência compreenda a
a terapia apropriada. importância da angulação e da rotação no manejo das
fraturas da mão.
Tratamento
A mobilidade é uma consideração essencial no mane A xiom a: O mau alinhamento rotacional nunca é aceitável
jo das fraturas. Os ossos com grau alto de mobilidade nas fraturas dos metacarpais ou das falanges. A angulação é
podem resistir a um grau maior de angulação, com re aceitável em ossos mais móveis, mas é inaceitável nos ossos
tenção da função normal. Aqueles ossos com menos estacionários (i.e., o segundo e o terceiro metacarpais).
mobilidade (segundo e terceiro metacarpais) requerem
redução muito mais precisa para assegurar o retorno à A forma mais adequada de anestesiar as lesões das
função completa. mãos é com bloqueios nervosos, habitualmente no punho.
Outro conceito importante nas fraturas da mão é a Os bloqueios metacarpais são empregados no manejo das
rotação. Para que a mão funcione suavemente, todas as fraturas das falanges. Ver o Capítulo 2 para a descrição
suas partes devem trabalhar como uma unidade. Quan adicional dos bloqueios nervosos regionais da mão.
Emergências Ortopédicas 179
Dois princípios gerais precisam ser enfatizados ao (tala) ou os fios de Kirschner percutâneos são empregados
tratar as fraturas da mão. nas fraturas instáveis da mão. Os pacientes com fraturas
expostas devem receber antibióticos. As fraturas limpas
1. Nunca imobilizar um dedo em extensão completa. Os
nas falanges distais, sem ruptura significativa de tecido ou
dedos devem ser imobilizados na posição de função,
lesão por esmagamento, podem ser fechadas no setor de
com 50 a 90° de flexão da articulação MCF, e 15 a 20°
emergência. Todas as outras fraturas expostas da mão re
de flexão da articulação IF para prevenir rigidez e con
querem consultoria e antibióticos.
traturas. Se uma redução estável somente for possível
com a completa extensão, a fixação interna é neces
sária antes da imobilização em flexão. Em flexão, os
ligamentos colaterais estão tensos e ajudam a manter a
redução (Fig. 11.14). O polegar é imobilizado nem em
leve abdução, flexionado e nem estendido (Fig. 11.15).
2. Evitar gessados ou imobilizadores além da prega pal
mar distai. Se uma imobilização com gesso distai for
necessária, como nas fraturas das falanges proximal e
média, uma tala interna (radial ou ulnar) imobilizan
do o dedo envolvido junto com o normal adjacente
(Fig. 11.16 e Apêndice A.3) deve ser usada.
Aproximadamente 85% de todas as fraturas da mão
são tratadas de modo conservador, com imobilização,
conforme descrito ao longo do capítulo. A contratração
Flexão
Tendão
Figura 11.16 A. A tala interna. Uma vez aplicada, a articulação Figura 11.17 O tendão flexor profundo se insere no aspecto
M CF deve ficar em 50 a 90° de flexão. B. Uma alternativa para a volar da falange distai, enquanto a expansão terminal do ten
tala interna é a tala dorsal, com extensão até as articulações IFP. dão extensor se insere na superfície dorsal.
Emergências Ortopédicas 181
Longitudinal
Cominutiva
Transversa com
A
Figura 11.18 Fraturas extra-articulares das falanges.
Figura 11.20 Fraturas da falange distai. A. Fratura em topete.
B. Fratura da diáfise. C. Fratura intra-articular.
O exame revela sensibilidade dolorosa e edema sobre a
falange distai, incluindo a polpa. Os hematomas de su-
bungueais são frequentemente notados, indicando uma Apêndice A.2) são recomendadas para acomodar qual
laceração no leito ungueal (Fig. 11.19). As incidências quer edema. Estas fraturas requerem três a quatro sema
AP e lateral são adequadas para demonstrar a fratura e nas de imobilização. As fraturas cominutivas podem per
qualquer deslocamento (Fig. 11.20). Os hematomas su- manecer dolorosas por vários meses, ainda.
bungueais com lacerações do leito da unha são lesões as As fra tu ra s tra n sversa s d eslo ca d a s precisam ser re
sociadas vistas com frequência. A avulsão incompleta da duzidas com tração dorsal no fragmento distai, seguida
placa ungueal é em geral associada às fraturas transversas de imobilização com uma tala volar e então repetição
da falange distai. das radiografias para documentação do posicionamen
to. Pode ser difícil, já que os tecidos moles podem estar
T ra ta m en to interpostos entre os fragmentos. Se a fratura for irredu
tível e não for tratada, pode resultar em não união dos
As fra tu ra s não deslocadas são tratadas com imobiliza
fragmentos ósseos; por conseguinte, o encaminhamento
ção protetora, elevação e analgésicos. Tanto a imobiliza
ortopédico está indicado para a colocação de um fio de
ção volar simples quanto a férula metálica (Fig. 11.21 e
Kirschner.4'
O hematoma subungueal associado, não importando
o tamanho, não requer que a unha seja removida, desde
Hematoma Laceração do que a placa ungueal permaneça intacta. ’ A trepanação,
subungueal leito ungueal
usando eletrocautério ou uma agulha nQ18, é recomenda
da para o conforto do paciente (Fig. 11.22).
f II
_3
Leito ungueal
r V
Figura 11.23 A. Fratura da falange distai com ruptura da unha. B. A unha é removida com uma tesoura. C. A leito ungueal é repa
rado com fio absorvível. D. A prega eponiquial (i.e., a matriz do teto dorsal) é identificada e a unha é colocada de volta na prega.
E. Uma gaze não aderente deve ser colocada sobre o leito ungueal.
Emergências Ortopédicas 183
T ra ta m e n to
O manejo é dependente de três variáveis: confiabilidade
do paciente, tamanho do fragmento avulsionado e grau de
deslocamento.
A articulação IFD é estendida, com flexão permitida Figura 11.26 A. Deform idade em flexão de um "dedo em
na articulação IFP. O dedo deve ser mantido nessa posi martelo". B. A radiografia revela uma grande avulsão óssea com
ção por seis a oito semanas. A flexão da IFD em qualquer subluxação da articulação.
184 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
Deslocada ou angulada
Não deslocada
verde
Deslocada/angulada
I
Figura 11.39 Fraturas extra-articulares das falanges proximais
do quarto e quinto dedos.
Fraturas do colo
A B
Figura 11.46 Fratura do colo do quinto metacarpal com angulação volar (fratura do boxeador).
As incidências AP, lateral e oblíqua são adequadas Fraturas do colo metacarpal: quarto e quinto dedos
para definir a fratura e determinar a quantidade de angu N ão deslocada/ não angulada. O manejo inclui gelo, ele
lação e deslocamento (Fig. 11.46). Uma incidência lateral vação e imobilização com uma tala volar até a prega palmar
pronada de 10° é útil para avaliar as fraturas metacarpais e uma tala dorsal que se estende até a IFP, mas não a inclui.
dos dedos indicador e médio. Já uma incidência lateral su- Isso deve ser feito com o punho estendido de 15 a 30° e as
pinada de 10° é útil para avaliar as fraturas metacarpais articulações MCF flexionadas em 90°. Geralmente é reco
dos dedos anular e mínimo. mendado começar a movimentação IFP e IFD sem demora.
As lesões associadas não são comumente vistas com O movimento protegido da MCF pode começar em três a
essas fraturas. Em alguns casos, a fratura está acompanha quatro semanas. Alguma evidência apoia a mobilização ime
da de lesões nos nervos digitais. As complicações a longo diata das fraturas únicas do colo metacarpal do segundo ao
prazo das fraturas do colo metacarpal incluem a lesão do quinto com gessado funcional (permitindo a amplitude de
ligamento colateral devido ao mau alinhamento da fratura, movimento livre do punho e dos dedos). Essa abordagem
lesões do tendão extensor e rotacional, proeminência ós pode ser considerada depois de uma consulta ortopédica.
sea dorsal que compromete a função extensora, formação
de pseudogarra ou dor com a empunhadura devido a uma A ngulada. Esta é uma área de alguma controvérsia. Em
cabeça com angulação volar. geral, a fratura de colo metacarpal do quinto com angu
lação superior a 40° e as fraturas do colo metacarpal do
Tratamento
quarto com angulação superior a 30° devem ser reduzidas.
As deformidades rotacionais devem ser diagnosticadas Algumas evidências sugerem que a angulação de até 70°
e precocemente tratadas. As fraturas associadas com la resulta em consolidação adequada, embora o número de
cerações adjacentes devem ser consideradas expostas, pacientes tratados seja pequeno. Essas fraturas podem ser
recomenda-se a consulta ortopédica de emergência, com reduzidas na maioria dos casos com os seguintes passos:
exploração cirúrgica, irrigação e reparo.1
As fraturas do colo metacarpal são divididas em dois 1. Um bloqueio de punho é usado para alcançar a anes
grupos de tratamento: aquelas que envolvem o quarto e tesia adequada.
o quinto e aquelas que envolvem o segundo e o terceiro 2. São colocadas fitas nos dedos envolvidos, por 10 a 15
metacarpais. minutos, para desimpactar a fratura.
194 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
t
Figura 11.47 O método de redução 90/90 de uma fratura do
metacarpal. A falange proximal é usada para empurrar a fratura
metacarpal para uma boa posição.
músculos interósseos. Um golpe indireto, resultando em com o movimento e, na maioria dos casos, o paciente é
uma força rotacional aplicada ao dedo, frequentemente incapaz de fechar a mão. As fraturas da diáfise metacarpal
causa uma fratura espiral da diáfise. A angulação é inco- estão muitas vezes associadas a mau alinhamento rotacio
mum nas fraturas espirais, já que o ligamento metacar nal. As deformidades rotacionais podem ser clinicamente
pal transverso profundo tem tendência a encurtar e rodar detectadas com base no teste da convergência usando o
essas fraturas. plano da placa ungueal ou observando o diâmetro radio-
Ao exame, a sensibilidade dolorosa e o edema estão gráfico dos fragmentos da fratura. As deformidades rota
presentes sobre o aspecto dorsal da mão. A dor aumenta cionais devem ser excluídas precocemente no manejo des-
A B
A B
(Fig. 11.55)21 O sesamoide ulnar está assentado sobre o A fratura do osso sesamoide ocorre após uma hiperex-
côndilo ulnar do primeiro metacarpal distai. O sesamoide tensão da MCF. Ao exame, existe sensibilidade dolorosa e
radial se assenta sobre o estreito côndilo radial da primei edema na superfície volar da articulação MCF. Os ligamen
ra cabeça metacarpal. Os sesamoides do polegar estão em tos colaterais devem ser testados para avaliar a sua integrida
butidos na placa fibrosa da articulação MCE Os ligamen de. As lesões da placa volar, evidenciadas pela instabilidade
tos colaterais acessórios têm inserção nas margens laterais em hiperextensão ou por uma articulação de MCF hiperex-
dos sesamoides da MCF. O tendão do adutor do polegar tendida e bloqueada devem ser avaliadas e documentadas.
se insere no sesamoide ulnar e o flexor curto do polegar se As incidências de rotina da mão podem demonstrar a
insere no sesamoide radial. fratura. A incidência lateral é mais sensível do que a incidên
cia AP, que raramente toma visível uma fratura do sesamoi
de. Se houver dúvidas, as incidências oblíquas radial e ulnar
do polegar, junto com as vistas de comparação, podem ser
úteis. Um osso sesamoide bipartido é um achado raro (0,6%)
e deve ser distinguido de uma fratura por suas bordas lisas.
A deformidade em hiperextensão da articulação MCF
do polegar pode complicar as lesões instáveis da placa vo
lar. Se uma artrite pós-traumática crônica se desenvolver, o
tratamento consiste na excisão cirúrgica do osso sesamoide.
Tratamento
As fraturas fechadas dos sesamoides, sem instabilidade em
hiperextensão, podem ser tratadas com uma tala de polegar
(Apêndice A.7) com a articulação MCF do polegar em 30°
de flexão por duas a três semanas. A consulta para reparo
cirúrgico é recomendada quando uma fratura do sesamoide
causar bloqueio da articulação MCF em hiperextensão ou
Figura 11.55 Fratura do sesamoide do polegar. estiver associada com instabilidade clínica articular MCF.
200 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
A B
Figura 11.56 A. Torniquete pneumático usado para cessar hemorragia em um paciente com amputação de mão. B. Torniquete
digital usando uma luva de látex e pinça hemostática.
Emergências Ortopédicas 201
Corpos estranhos
Contaminação e fechamento da ferida
Vidro, metal e madeira são os materiais estranhos mais
O cuidado inicial da ferida inclui a avaliação cuidadosa
comuns vistos em feridas da mão (Fig. 11.57). Embora
da extensão da lesão, seguida pela irrigação por pressão.
alguns corpos estranhos sejam inertes e causem pou
O exame das funções de nervos e tendões deve ser execu
ca reação, outros ocasionam problemas significativos.
tado, somando-se à inspeção direta para o envolvimento
Ao exame, podem estar presentes uma pequena lacera
de tendão ou articular. A pele circundante é limpa com
ção ou uma ferida com objeto pontiagudo e hemorragia
solução antibacteriana, como o iodo povidona (povidi-
local. O corpo estranho está, habitualmente, localizado
ne). O debridamento judicioso e a remoção do material dentro da área de sensibilidade dolorosa máxima. Todas
estranho e de qualquer tecido inviável devem ocorrer, as feridas, em especial a das mãos, devem ser considera
quando indicado. A percepção, pelo paciente, da sensa das como tendo corpos estranhos presentes até prova em
ção de corpo estranho em um dedo ou a mão sugere que contrário.
ele ainda está presente, mesmo se não for visualizado nas A investigação começa com uma radiografia simples.
radiografias.22 A fluoroscopia pode ter algum benefício para a localiza
O fechamento ou não da ferida é então decidido com ção do corpo estranho e a sua remoção. Ultrassonografia,
base nos fatores do paciente (p. ex., idade, diabetes), no tomografia computadorizada (TC) e ressonância magnéti
tempo decorrido da lesão, no mecanismo da lesão e no ca nuclear (RMN) são técnicas mais avançadas para iden
grau de contaminação. Uma ferida limpa pode ser con tificação. O leitor é encaminhado ao Capítulo 5 para uma
vertida em uma contaminada por cuidados ruins dentro abordagem completa.
do setor de emergência e uma ferida contaminada pode O vidro é radiopaco na maioria dos casos, mas isso
ser convertida em limpa por debridamento cuidadoso e depende da presença de chumbo nos fragmentos. Pedaços
irrigação. A natureza do agente lesivo também deve ser pequenos de vidro podem não requerer remoção, enquan
considerada; as feridas com faca ou vidro são, geralmente, to os maiores tendem a migrar e ficar sintomáticos, con
limpas, enquanto as secundárias a mordidas de animais forme a reação fibrosa os envolve. As partículas metálicas
não o são. As lesões por esmagamento têm tecido macera podem permanecer inertes e, se as sintomáticas, não exi
do e apresentam risco mais alto de infecção. gem remoção. Os fragmentos metálicos sintomáticos po
As feridas limpas têm pouca contaminação e podem dem ser deixados até que uma cápsula se forme ao redor
ser fechadas depois da irrigação com soro fisiológico. deles, o que facilita a remoção.
As feridas contaminadas são limpas abundantemente, de- A madeira e o plástico são radioluzentes. A ultras-
bridadas, sendo preferido retardar o fechamento se houver sonografia e a TC podem demonstrar essas substâncias.
qualquer dúvida sobre contaminação continuada. O inter O plástico é, talvez, a substância mais difícil de detectar,
valo entre a lesão e o tempo de tratamento é averiguado, frequentemente requerendo RMN. A madeira pode ser
pois um retardo na busca de cuidados é um fator de risco inerte, mas é muitas vezes revestida com tinturas tóxi
para a infecção na ferida. cas ou com óleos ou resinas que induzem uma resposta
Os antibióticos profiláticos não são recomendados em inflamatória.
feridas simples de tecidos moles das mãos. A taxa de in Se o médico da emergência for incapaz de remover o
fecção não é diferente com ou sem o seu uso. corpo estranho, a mão ferida deve ser imobilizada e o pa-
202 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
A B C
Figura 11.58 A. Laceração do leito unguéal. B. O fio absorvível 5-0 é usado para aproxim ar as bordas da ferida. C. Se a placa
ungueal estiver indisponível, uma camada única de gaze não aderente é usada para manter o eponíquio separado do leito ungueal.
ciente encaminhado. Com frequência, a espera de vários lógico (Fig. 11.58A). O leito ungueal é então sutura
dias para explorar a área pode se provar benéfica, já que do usando um número mínimo de suturas interrompi
os fragmentos pequenos podem encapsular e migrar aos das absorvíveis 5-0 (Fig. 11.58B).
poucos para a superfície.
4. Uma gaze não aderente (p. ex., Xeroform™) ou a
unha recentemente removida do paciente é colocada
Hematoma subungueal e lesões do leito ungueal de volta na prega ungueal para separar a matriz do
A ponta do dedo é definida como a área distai às inser teto dorsal do leito ungueal (Fig. 11.58C). O mate
ções dos tendões flexores e extensores na falange distai. rial é suturado com dois pontos simples em cada lado
As lesões da ponta do dedo são classificadas aqui como para assegurar que não se desaloje. Separar o leito
hematoma subungueal, lesões do leito ungueal e amputa do teto previne o desenvolvimento de aderências (si-
ções da ponta do dedo. néquias) que podem resultar no crescimento de uma
A fim de avaliar a ponta do dedo após a lesão, a gaze unha deformada.
aplicada pelo paciente ou na triagem deve primeiro ser re 5. Todo o dedo deve ser coberto com gaze e imobiliza
movida. Quando a ponta de um dedo ou o leito ungueal do para proteção. O curativo externo pode ser muda
estiver aderido à gaze, essa pode ser removida facilmente do conforme necessário, mas o material que separa o
imergindo a ponta do dedo em uma solução de lidocaína a
1% por 20 minutos.28
Um hematoma subungueal associado, não importan
do o tamanho, não requer que a unha seja removida, desde
ó7
que a placa ungueal permaneça intacta. A trepanação,
usando eletrocautério ou uma agulha ne 18, é recomenda
da para o conforto do paciente (ver Fig. 11.22).
Se a placa ungueal estiver lacerada ou avulsionada, a
unha é removida e quaisquer lacerações no leito ungueal
são reparadas (Fig. 11.58). Se uma fratura da falange dis
tai estiver associada com ruptura ou laceração da placa
ungueal, ela é considerada uma fratura exposta, mas pode
ser tratada no setor de emergência.
A técnica para reparar as lacerações do leito ungueal
inclui:
1. Anestesia regional usando bloqueio digital. A mão é
então preparada e recebe campos estéreis.
2. Usando um par de tesouras finas, a unha é dissecada
do leito ungueal.
3. Com a unha removida, a laceração do leito ungueal é
explorada e abundantemente irrigada com soro fisio- Figura 11.59 Lesão da ponta do dedo.
Emergências Ortopédicas 203
Figura 11.62 A. Am putação do polegar entre as articulações M C F e IF. B. Am putação da mão. Am bas as amputações foram
reimplantadas.
compartimentos tenar e hipotenar são estirados quando o ma extensão do dedo devido à função dos outros ten
examinador abduz o polegar em direção (tenar) e estende dões extensores comuns dos dedos.
e aduz o dedo mínimo (hipotenar).
3. Os dedos indicador e mínimo têm, cada um, dois ten
As medidas da pressão compartimentai fornecem in
dões extensores. A extensão dos dedos pode ser pre
formações mais objetiva e são usadas junto com os acha
servada quando houver laceração em somente um dos
dos clínicos. As medidas podem ser tomadas usando um
tendões.
dispositivo da Stryker ou a técnica de infusão. A agulha
é inserida na superfície dorsal da mão, entre os metacar- 4. Os músculos intrínsecos da mão podem estender as
pais, para medir as pressões compartimentais interósseas. articulações IFP e IFD, apesar de uma laceração do
Para os três compartimentos restantes, uma abordagem tendão extensor.
palmar é a preferida. As medidas da pressão comparti Nas lacerações da superfície flexora da mão, a flexão
mentai dentro da mão são difíceis e mais adequadamente do dedo pode ficar preservada, apesar da ruptura comple
executadas depois de consulta com um cirurgião de mão. ta do flexor superficial dos dedos quando o flexor profun
Se não tratada, a síndrome compartimentai dentro da do dos dedos estiver intacto. Neste cenário, a força ficará
mão resulta em necrose muscular e fibrose. A função da limitada.
mão ficará gravemente limitada, com significativas de
formidades de contratura tanto na articulação IFP quanto Exame visual
na MCE Para mais detalhes em relação ao diagnóstico e
O controle do sangramento e a boa iluminação são necessá
tratamento das síndromes compartimentais, consultar o
rios para obter um exame adequado. Quando as feridas da
Capítulo 4.
pele são pequenas, o tendão pode ser difícil de localizar e
a pele deve ser estirada com uma pinça para a visualização
Lacerações dos tendões apropriada. Em lacerações maiores, a lesão do tendão pode
As lesões abertas dos tendões em geral resultam de um passar despercebida em face das outras lesões mais óbvias.
objeto cortante que lacera a pele e o tendão subjacente. A Por fim, a cooperação do paciente é essencial e com fre
avaliação de um tendão nesse contexto deve incluir o exa quência não existe, principalmente no paciente intoxicado.
me da função tendínea, como também um exame visual Em feridas abertas, uma lesão incompleta do tendão é
do tendão dentro da ferida. Existem muitas armadilhas no comum e pode ser difícil de avaliar. É importante determi
diagnóstico de lesões abertas de tendões. O médico preci nar a posição da mão quando a lesão ocorreu. Se o aspecto
sa estar ciente das razões pelas quais a avaliação na emer volar estiver lacerado enquanto os dedos forem seguros
gência pode levar a um diagnóstico errôneo. em flexão, a lesão parcial dos tendões flexores será distai
à ferida da pele se a mão for examinada em extensão. En
Exame funcional tretanto, se estiver na posição estendida no momento da
lesão, as lesões tendíneas ficam nas bordas da ferida com
A avaliação funcional dos tendões flexores e extensores é
a extensão da mão. P or conseguinte, quando um tendão
apresentada no início deste capítulo. As sugestões adicio
é visualizado na base de um a laceração, sua superfície
nais para o diagnóstico correto das lesões tendíneas em
deve ser inspecionada enquanto os dedos são subm etidos
face de uma laceração de pele são fornecidas a seguir.
a um a m obilização em toda a am plitude de m ovim ento.
Ao examinar um tendão, o médico da emergência
deve lembrar para não testar apenas o movimento ativo do
tendão, mas também testar a sua força. Tanto nas lacera A xiom a: Um exame negativo de um paciente com suspeita
ções parciais como nas completas do tendão, o movimen de lesão de tendão deve ser sempre reavaliado para a certe
za diagnóstica, em particular no paciente não cooperativo.
to tendíneo pode estar preservado e a única pista para o
diagnóstico é a perda da força. Em lacerações parciais, um
tendão pode ter 90% de sua largura transeccionada e ainda Tratamento
reter um movimento normal. Por conseguinte, para avaliar Nas lacerações da mão na qual os tendões são secciona
de forma adequada um tendão quanto à lesão, deve-se tes dos, o desfecho esperado é determinado em grande parte
tar o m ovim ento contra resistência. pela quantidade de contaminação e pela complexidade da
Em lacerações na superfície dorsal da mão existem ferida. As aderências são acentuadas tocando os tendões
várias armadilhas: ou até pelo extravasamento sanguíneo em tomo deles.
Por conseguinte, deve-se tentar evitar ao máximo a mani
1. As lacerações sobre as articulações IFP e MCF po
pulação desnecessária do tendão ferido.
dem atravessar a expansão central do tendão extensor,
Em geral, o reparo definitivo de uma lesão completa
e o diagnóstico não é feito até que o mecanismo de
aberta do tendão pode ser executado primariamente, com
capuz descompense e leve à deformidade.
retardo ou secundariamente. Durante os últimos 30 anos,
2. A ruptura de um tendão do extensor comum dos de a quantidade de tempo que um tendão pode ser reparado
dos proximal à junção tendínea pode preservar algu primariamente tem sido aos poucos estendida. Não exis-
Emergências Ortopédicas 207
te nenhuma evidência conclusiva sugerindo que o reparo trizam bem sem suturas, desde que uma porção do tendão
imediato resulte em melhor desfecho clínico que o reparo sofra aposição.
primário retardado (dentro de até sete dias da lesão). 9,60 Para as lesões parciais do tendão extensor, a posição
O reparo secundário é executado depois que o edema te de imobilização da mão é importante, porém contrária à
nha cedido e a cicatriz amolecido, em geral, após quatro prática de rotina. Com essas lesões, a mão é imobilizada
semanas da lesão. Os reparos tendíneos secundários resul com a articulação MCF em completa extensão, para evitar
tam em pior desfecho funcional. tensão adicional no tendão já ferido. O dedo deve perma
Os reparos primários retardados são feitos quando necer nessa posição por três a quatro semanas e, então,
houver outro trauma. O reparo da mão deve ser adiado caso lentamente retomar à flexão completa. As lesões parciais
a ferida não esteja em condição ideal para o reparo por cau do tendão flexor são imobilizadas na posição de função
sa de infecção ou edema. Os reparos secundários são feitos com a articulação MCF em 50° de flexão e as articulações
quando as lesões associadas comprometem o paciente, ou IF em 20° de flexão por três a quatro semanas.
quando as complicações na ferida forem prováveis.
Lacerações dos tendões flexores. As lesões dos tendões
Lacerações parciais dos tendões. As lesões parciais flexores foram categorizadas em cinco zonas para ajudar
abertas dos tendões podem ser imobilizadas sem reparo no plano de tratamento (Fig. 11.64).
cirúrgico. Há controvérsia sobre o melhor tratamento das
• A zona I estende-se da inserção distai do tendão pro
lesões parciais em tendões e, por conseguinte, a consulto
fundo (FPD) até o local da inserção do superficial
ria com um cirurgião de mão é recomendada. Alguns ci
(FSD). As lesões nesse local geralmente resultam em
rurgiões de mão reparam os tendões flexores que tenham
retração proximal do tendão.
uma lesão maior do que 50% da superfície do tendão, em
• As lesões da zona II estão na área chamada de “ter
bora haja pouca evidência para apoiar essa prática. Os be
ra de ninguém”, pois essas lesões são muito difíceis
nefícios vistos incluem evitar compressão futura, ruptura
de reparar e previamente eram tratadas com enxertia
ou engatilhamento. Ainda menos evidência existe em rela
secundária. É lamentável que as lacerações de ten
ção ao melhor tratamento das lesões parciais dos tendões
dão flexor mais vistas na medicina de emergência
extensores e, por conseguinte, muitos adotam os mesmos
sejam também tecnicamente as mais difíceis de repa
princípios usados para os tendões flexores - reparo dos
rar. Os tendões profundos e superficiais estão muito
tendões extensores com mais de 50% da superfície lacera
próximos, e as lesões aqui podem ferir a vincula que
da. Existe alguma evidência de que as lacerações parciais
fornece o suprimento sanguíneo aos tendões. Os re
de tendão, não importando a porcentagem da lesão, cica-
paros nessa área são bastante complexos e devem ser
realizados por um cirurgião especializado.
• As lesões da zona III se estendem da borda distai do
túnel do carpo até a borda proximal da bainha flexora.
Essas lesões têm bom resultado com o reparo primário.
• As lesões da zona IV incluem o túnel do carpo e suas
estruturas relacionadas. As lesões nessa região reque
rem a exploração cuidadosa para lesões associadas.
• As lesões do tendão flexor na zona V são aquelas que
ocorrem proximalmente ao túnel do carpo. Em lesões
na zona V, é essencial que o cirurgião tenha exposição
adequada e conduza uma busca exaustiva por estrutu
ras importantes que possam ter sido danificadas.
Os pacientes com lesões completas do tendão flexor re
querem consulta com um cirurgião de mão para reparo cirúr
gico (Fig. 11.65). As lacerações completas de tendões flexo
res são de hábito reparadas dentro de 12 a 24 horas, embora
esse intervalo de tempo possa ser estendido e seja depen
dente da sua instituição ou do cirurgião disponível/ Após o
reparo, a mão é imobilizada com a extensão bloqueada.
Figura 11.65 A. Esse paciente apresentou lacerações dos tendões flexores na zona I (quinto dedo) e zona II (quarto dedo). B.
Quando a flexão era testada, estava claro que ele havia lacerado o FPD do quinto dedo (incapaz de flexionar na articulação IFD,
mantendo a flexão da IFP), e o FPD e o FSD do quarto dedo (incapaz de flexionar o dedo).
derar que começa na articulação IFD (zona I); as zonas na articulação IFD. Uma tala dorsal é aplicada, man
ímpares estão acima das articulações e as zonas de nume tendo a articulação IFD em extensão por seis sema
ração par estão sobre os ossos (Fig. 11.67). O polegar é nas. Durante este tempo, as articulações IFP e MCF
numerado de forma similar em cinco zonas. podem mover-se livremente.
• As lesões na zona II estão sobre a falange média.
• As lesões da zona I estão sobre a falange distai. O tra
O tratamento aqui é idêntico ao das lesões na zona I.
tamento das lesões abertas da zona I envolve o reparo
da laceração do tendão se houver perda de extensão • A zona III está sobre a articulação IFP. As lesões po
dem ser abertas ou fechadas, com o tendão central
sendo a estrutura mais comumente ferida em ambos
os cenários. Essa lesão com frequência leva a uma de
formidade em botoeira, se não for tratada. As lesões
abertas são tratadas com reparo primário e imobili ção, a ferida deve ser irrigada e debridada, a pele fechada
zação do punho em 30° de extensão, MCF em 15 a frouxamente com suturas simples interrompidas e a mão
30° de flexão, e a IFP em posição neutra. As lesões imobilizada, como previamente descrito. Devem ser ad
na zona III estão associadas a uma taxa alta de lesões ministrados antibióticos profiláticos.
associadas (80%) e geralmente têm desfecho ruim. O médico da emergência pode escolher reparar de
Essas lesões devem ser submetidas ao reparo primá terminadas lacerações dos tendões extensores se tiver a
rio com um cirurgião de mão. habilidade e a experiência para fazê-lo. As lacerações dos
• As lesões na zona IV incluem a área sobre a falange tendões nas zonas IV, V e VI sem envolvimento articular,
proximal. São tratadas com reparo primário ou retar fratura óssea ou mordidas humanas podem ser fechadas
dado, com tala volar por três a seis semanas, confor usando suturas contínuas, em figura de oito, ou com pon
me descrito para as lesões na zona III. São observadas tos modificados de Kessler ou Bunnell. Recomenda-se o
altas taxas de complicações e lesões associadas com uso de fios inabsorvíveis, 4-0 ou 5-0. Após o reparo e a
as lacerações dos tendões na zona IV. imobilização, o paciente é encaminhado ao cirurgião de
• As lesões na zona V estão sobre a articulação MCF. mão para iniciar um programa de reabilitação.
Quando provenientes de uma mordedura humana, a
ferida deve ser explorada, abundantemente irrigada e Lesões tendíneas fechadas
deixada aberta. Se a cápsula articular não for ferida e
Forças enormes são necessárias para que uma lesão fechada
não for secundária a mordedura humana, pode ser re
cause a ruptura de um tendão. As lesões tendíneas fechadas
parada com fios absorvíveis 4-0 ou 5-0. Após o repa
são resultado de impacto não penetrante ou de força oposta
ro, o dedo deve ser imobilizado com o punho em 45°
sustentada por uma unidade musculotendínea contraída. As
de extensão, e a articulação MCF em posição neutra.
forças que atuam contra o tendão durante a sua contração
• As lesões na zona VI envolvem os tendões extenso- podem avulsionar o osso, na inserção do tendão, ou rom
res sobre o dorso da mão. Os tendões extensores são per o tendão sem lesão óssea. As lesões tendíneas fechadas
muito superficiais nessa área, e mesmo os ferimentos passam despercebidas com facilidade se o médico da emer
aparentemente menores podem envolver os tendões. gência não as procurar e, infelizmente, quando não tratadas
Após o reparo, quatro semanas de imobilização são resultam, com frequência, em deformidades crônicas.
necessárias, com o punho em 30° de extensão, a ar
ticulação MCF em posição neutra e as articulações Avulsão do tendão profundo
IFD e IFP livres. Os tendões neste local tendem a não
Avulsão do tendão FPD é chamada de lesão de je rse y ,
se retrair, pois estão conectados às estruturas e aos
que é assim denominada porque com frequência ocorre
tendões adjacentes. Na área dorsal da mão, as lace
quando um atleta agarra a camiseta (jersey) do oponente.
rações que causam a ruptura do tendão extensor com
O mecanismo de lesão é a extensão forçada de uma articu
frequência levam a aderências.
lação IFD flexionada. Embora rara, é a lesão fechada mais
• As lesões na zona VII ocorrem sobre os ossos do carpo
e são incomuns. Essas lacerações muitas vezes envol
vem o retináculo extensor e têm risco de desenvolver
aderências após o reparo. Uma tala volar é aplicada
com o punho em 20° de extensão e a articulação MCF
é colocada em posição neutra. Essas lesões devem ser
submetidas a um reparo primário com um cirurgião
de mao. 64
A ~
comum do tendão flexor. O dedo indicador está envolvi gesso pode ser recomendada. Se não tratada, uma defor
do em 75% dos casos, mas qualquer dedo pode ser afeta midade em flexão da articulação IFD é vista quando a IFP
do. Ao exame, uma deformidade sutil em flexão é nota é estendida, sendo chamada de dedo em m artelo. Algumas
da na articulação IFD e o paciente é incapaz de flexionar vezes, o dedo em martelo crônico pode evoluir para a de-
70
a falange distai quando a articulação IFP for estendida. formidade em pescoço de cisne do dígito.
Se a lesão não for tratada, pode resultar em contratura em
flexão na articulação IFP ou a incapacidade de o paciente Ruptura da expansão central
fechar a mão. Uma radiografia é obtida para avaliar a As rupturas da expansão central do tendão exten so r na
presença de fratura de avulsão. No setor de emergência, o base dorsal da falange média devem ser identificadas, por
paciente deve ser imobilizado usando uma tala dorsal com que a falha em fazê-lo pode resultar em deformidade em
30° de flexão no punho, 70° de flexão na MCF, e 30° de botoeira do dedo (Fig. 11.69). A ruptura da expansão cen
flexão na IF. Essa lesão é mais adequadamente tratada de tral pode ser causada por três mecanismos fechados: con
forma cirúrgica. O encaminhamento para um cirurgião tusão profunda da articulação IFP, flexão aguda forçada na
de mão é necessário dentro de 7 a 10 dias. articulação IFP estendida, ou luxação palmar da articula
ção IFP Desse modo, deve-se suspeitar desse tipo de lesão
Dedo em martelo sempre que houver uma articulação IFP edemaciada e do
Um dedo em m artelo é uma deformidade de flexão na ar lorosa com quaisquer dos mecanismos antes mencionados.
ticulação IFD e existe extensão ativa incompleta da arti Ao exame, a extensão na articulação IFP é testada.
culação (Fig. 11.68). A lesão é habitualmente causada por Uma perda de 15 a 25° de extensão com força diminuída
um golpe súbito na ponta do dedo estendido. A inserção contra a resistência deve levantar a suspeita dessa lesão.
do tendão extensor pode ser avulsionada ou haver uma A sensibilidade dolorosa na articulação IFP é máxima so
fratura de avulsão da falange distai, com o tendão ainda bre a expansão central, no aspecto dorsal da articulação
inserido. Por essa razão, deve ser obtida uma radiografia IFP.
do dedo. Na fase aguda, o paciente terá pouca dor e in A deformidade em botoeira (flexão da articulação IFP
capacidade funcional mínima. A clássica deformidade de e hiperextensão da articulação IFD) pode estar presente na
flexão pode não estar presente até vários dias após a lesão. fase aguda, mas em geral aparece entre 7 a 14 dias após a
O tratamento recomendado é a imobilização da arti lesão. Aos poucos, as bandas laterais se alongam e escor
culação IFD em extensão (ver Fig. 11.27). A hiperexten- regam em direção volar até o eixo da articulação IFP, e
são, como era previamente sugerido, é evitada. Além dis tomando-se flexores dessa articulação.
so, é permitido ao paciente ter a amplitude de movimento A ultrassonografia tem se provado útil para diagnos
normal na articulação IFP A imobilização é usada por seis ticar essas lesões.
semanas. Se a tala for removida em algum momento du O tratamento inclui manter a articulação IFP em ex
rante o período de tratamento e a articulação IFD for fle tensão constante e completa, enquanto as articulações IFD
xionada, outras seis semanas de imobilização são neces e MCF têm liberdade para movimentação. O encaminha
sárias. Em pacientes que usam muito a mão e dependem mento para um cimrgião de mão está indicado, já que o
do movimento das pontas dos dedos, a imobilização com reparo operatório é necessário em alguns casos.
A B
Figura 11.69 A deformidade em botoeira. A. As bandas laterais do tendão extensor deslizam volarmente e causam a flexão da IFP
e a extensão da IFD. B. Fotografia clín ica.
Emergências Ortopédicas 211
extensão do punho. Ver o Capítulo 8 para uma descrição sintomas de lesão vascular incluem um ou mais dedos
adicional sobre a lesão do nervo radial. frios, dor, mosqueado intermitente e rigidez. Um aneuris
ma pode apresentar-se como uma massa.
Lesão do nervo mediano
As lacerações dos ramos motores do nervo mediano exi Lesões ligamentares e luxações
gem reparo por um cirurgião de mão. A lesão do nervo
As lesões ligamentares da mão são muito comuns e fre
mediano em geral ocorre no punho. Ver o Capítulo 8 para
quentemente passam despercebidas. A consequência des
uma discussão sobre a lesão do nervo mediano.
tas lesões é a rigidez articular crônica, a dor e o edema.
Neuroma
Lesão do ligamento colateral
Os neuromas são compostos de axônios desorganiza
Os ligamentos colaterais fornecem suporte contra o des
dos, entremeados com tecido cicatricial. Eles podem ser
locamento lateral das articulações dos dedos. Ao exame,
bastante dolorosos, em particular quando ocorrerem aci
será notada equimose ou sensibilidade dolorosa localiza
ma de pontos de pressão. Os neuromas ocorrem depois
da em um ou em ambos os lados da articulação IF. Uma
de uma lesão no nervo, quando esse permanecer intacto.
parte essencial da avaliação é a verificação da estabilidade
Os neuromas podem surgir anos após uma lesão. Quan
com os testes de estresse lateral (Fig. 11.71 e Vídeo 11.2)
do os ramos sensitivos de um nervo estão envolvidos, os
e movimentos ativos nas articulações IF e MCF da mão.
neuromas tendem a ser muito dolorosos e com frequência
As articulações estáveis que estejam dolorosas ao teste de
aumentam de forma insidiosa.
estresse lateral indicam a ruptura parcial ou entorse dos
Os locais mais comuns dos neuromas são os ramos
ligamentos colaterais que sustentam a articulação.
sensitivos do nervo radial, o terço distai do antebraço e
Ao efetuar o teste de estresse dos ligamentos colate
o punho. Um neuroma nessa área pode ocorrer após um
rais dos dedos, deve-se sempre comparar a mesma articu
trauma trivial, que o paciente pode nem mesmo recordar.
lação na mão oposta. A abertura mínima de alguns milí-
Outros locais de incidência incluem o nervo mediano
principal, os ramos cutâneos palmares no punho e o nervo
ulnar principal com os seus ramos sensitivos dorsais para Ligamentos colaterais
o punho. O tratamento depende de quão sintomático está
o paciente e pode incluir a intervenção cirúrgica.
Lesões vasculares
A lesão vascular é frequentemente causada por trauma
repetitivo. A artéria ulnar é suscetível à lesão no segmen
to entre a margem distai do túnel de Guyon e a aponeu-
rose palmar, onde começa a arcada palmar superficial.
O impacto repetitivo entre os apanhadores, no beisebol, Figura 11.72 O s ligamentos colaterais em cada lado da arti
ciclistas de longa distância e jogadores de handebol pode culação e a placa volar formam um suporte quadrado em torno
causar aneurisma com trombose ou espasmo vascular. Os da articulação.
Emergências Ortopédicas 213
metros com um bom ponto final indica que o ligamento mal adjacente por cinco a sete dias (Apêndice A.2). O
colateral está rompido, mas que a placa volar está intacta. problema nesse momento não é mais a instabilidade, mas
Se for notada uma ampla abertura no teste de estresse, a a rigidez, a redução na amplitude de movimentos e a dor
placa volar deve estar rompida, em função da natureza en na articulação envolvida. O edema pode persistir por vá
volvente que os ligamentos colaterais e a placa volar for rias semanas após entorse nas articulações dos dedos.
mam em tomo da articulação (Fig. 11.72). Desse modo, As rupturas agudas completas requerem a imobiliza
a ampla abertura indica que tanto o ligamento colateral ção por três a cinco semanas, com a articulação flexionada
como a placa volar estão rompidos. A ampla abertura da em 35°, seguida de movimento ativo protegido, com imo
articulação deve ser tratada com uma tala interna e enca bilização tipo espica, por cerca de três semanas adicio
minhada para avaliação de um cirurgião de mão para de nais. Alguns profissionais preferem o reparo cirúrgico
terminar se o reparo cirúrgico é necessário. A estabilidade das lesões instáveis. A consulta com um ortopedista está
funcional é avaliada pelo movimento ativo. Se o paciente indicada.
não puder executar movimentos devido à dor, ou o teste de
estresse estiver limitado por dor, um bloqueio digital faci Lesões da articulação interfalângica distai
lita o exame. As radiografias suplementares com estresse A articulação IFD é estabilizada por fortes ligamentos aces
podem ser úteis em casos difíceis. sórios colaterais lateralmente e pela placa fibrosa volarmen-
Se uma mptura parcial for indicada pelo teste de es te. O suporte dorsal é mínimo e inclui o mecanismo extensor
tresse apropriado, conforme já descrito, o tratamento é o que se mescla com a cápsula dorsal. Os ligamentos colate
repouso com imobilização completa por 10 a 14 dias em rais são bandas espessas e retangulares com origem lateral a
uma tala maleável de dedo (Apêndice A.2). A imobilização partir do côndilo e cruzam distai e volarmente para se inserir
deve ser feita com a articulação IFP imobilizada em 30° na margem articular lateral volar e na placa volar. A placa
de flexão e a MCF imobilizada em 45° de flexão. Quando volar fornece suporte para a articulação distai e tem a forma
a MCF do polegar estiver envolvida, deve ser imobilizada de um quadrado, com 2 a 3 mm de espessura.
em 30° de flexão. Após a imobilização do dedo envolvido, A ruptura dessas estruturas ligamentares é clinica
o movimento ativo é estimulado no restante da mão. mente importante apenas se produzir instabilidade articu
O espessamento capsular e o edema crônico da ar lar, que pode ser avaliada pelo movimento ativo e pelo
ticulação envolvida no final do período de imobilização teste de estresse lateral. Esses testes são mais válidos sob
sugerem que o dano inicial era maior do que a princípio a anestesia digital, depois da redução de uma luxação.
pensado, e que mais proteção é necessária. Ela deve ser Se a redução for mantida em toda a amplitude de mo
fornecida pela imobilização com espica do dedo ao nor vimento, então o suporte ligamentar adequado pode ser
placa volar rompida. Se a articulação mostrar-se estável golpe na extremidade do dedo, causando uma força de
após a redução, então o movimento precoce (imobilização hiperextensão. A placa volar pode ser rompida de sua in
dinâmica) está indicado depois de um período inicial de serção distai, na base da falange média, e um pedaço pe
imobilização. Se instável, a articulação é imobilizada por queno de osso pode sofrer avulsão.
três semanas com a articulação IFP em 15° de flexão, após As lesões da placa volar causam deformidade de hi
este período uma tala de bloqueio de extensão deve ser perextensão na articulação IFP com a extensão do dedo,
usada por três semanas adicionais. enquanto a dor e a limitação ou o bloqueio são notados
As luxações volares são em geral reduzidas com fa com a flexão. Se a deformidade em hiperextensão for in
cilidade, mas estão associadas à deformidade de botoei tensa, o paciente pode ter deformidade de flexão compen
ra, que acontece quando a expansão central é rompida. A satória na articulação IFD, secundária à ação do tendão
placa volar ou o ligamento colateral também podem ser do FPD (deformidade em pescoço de cisne). A sensibili
lesionados. O encaminhamento é indicado, pois a inter dade dolorosa máxima é observada sobre o aspecto volar
venção cirúrgica pode ser necessária. da articulação do dedo. A dor aumenta com a hiperexten
As luxações irredutíveis são incomuns, mas podem são passiva e diminui com a flexão passiva. Além disso,
ocorrer com quaisquer das luxações antes mencionadas. existe perda do ponto final normal na extensão do dedo,
Na maioria dos casos, tecidos moles ou fragmentos ósseos que é fornecida pela placa volar intacta. Para executar o
ficam interpostos no espaço articular e bloqueiam a redu- exame adequado, um bloqueio digital ou metacarpal cos
ção. Isso é suspeitado em qualquer caso em que uma tuma ser indicado.
ou duas tentativas de redução tenham fracassado. Esses As radiografias em pacientes com avulsão da placa
casos podem exigir a redução aberta para extrair e reparar volar podem revelar um pequeno fragmento ósseo avul-
o hgamento, o tendão ou a placa volar interpostos. sionado da base da falange média.
As luxações abertas requerem terapia com antibió As lesões da placa volar são tratadas com imobiliza
ticos e debridamento abrangente (Fig. 11.76). Um estu ção da articulação IFP em 30° de flexão por três a cinco
do com 18 luxações abertas da articulação IFP sugeriu semanas.
que elas seriam mais adequadamente cuidadas na sala de
cirurgia, pois o tratamento no setor de emergência está Fratura-luxação da a rticu la çã o IFP. As fraturas-luxa
associado a um prognóstico pior. O reparo dos ligamen ções ocorrem quando o dedo estendido for atingido de
tos e a reinserção colateral da placa volar são efetuados tal modo que ocorra uma compressão longitudinal junto
conforme a necessidade. com a hiperextensão. O resultado é uma fratura através do
As complicações das lesões e luxações da articula lábio volar da falange média, e deslocamento dorsal da fa
ção IFP incluem a restrição do movimento articular, que lange média e da porção distai do dedo. Isso ocorre comu-
é uma sequela frequente. A complicação mais comum é o mente quando o dedo estendido é atingido por uma bola. '
espessam ento p ersisten te da articulação IFP A instabili Os pacientes com fraturas-luxações são incapazes
dade da placa volar e do ligamento colateral são proble de flexionar a articulação IFP e apresentam edema, dor e
mas adicionais. deformidade. As radiografias mostram subluxação dor
sal da falange média com fratura do lábio volar da falan
Lesão da placa volar da articulação IFP.A placa volar ge média, que pode envolver até um terço da superfície
da articulação IFP pode ser rompida quando ocorre um articular.
216 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
A B
Figura 11.77 Luxação com plexa da articulação M CF do segundo dedo. Essa luxação não pode ser reduzida por métodos fechados.
A . Notar o aspecto sutil desta luxação. B . Radiografia.
As fraturas-luxações podem ser reduzidas conforme o As luxações dorsais simples têm aspecto clínico dra
método de rotina. Se o fragmento for grande ou instável, mático, com a articulação MCF presa em 60 a 90° de hi-
são indicadas a redução aberta e a fixação. Todas essas perextensão e o dedo em desvio ulnar. O dedo indicador é
lesões devem ser encaminhadas. o mais comumente envolvido e a cabeça metacarpal fica
proeminente. Tal luxação é reduzida com técnicas fecha
Lesões da articulação metacarpofalângica das. A redução é alcançada pela hiperextensão adicional
As articulações MCF são junções condilianas que apre da articulação MCF, seguida de pressão dorsal sobre a
sentam, além da flexão e da extensão, até 30° de movi base da falange proximal. A tração longitudinal pode
mento lateral enquanto a articulação é estendida. Devido converter uma luxação simples em complexa. Depois da
ao formato dessa articulação, ela é mais estável em flexão, redução bem-sucedida, imobilizar a articulação MCF em
quando os ligamentos colaterais estão estendidos, do que 60° de flexão.
em extensão. As luxações dorsais complexas parecem clinicamente
As lesões do ligamento colateral e da placa volar da sutis, com a falange proximal quase em paralelo ao meta
articulação MCF ocorrem com os estresses de hiperex- carpal. Outros achados incluem a cabeça metacarpal pal
tensão aplicados à articulação MCF com o dedo esten pável na superfície volar, com formação de covinhas na
dido. O paciente se apresenta com equimose intensa e pele palmar. Elas são muitas vezes impossíveis de reduzir
edema na articulação. A radiografia é negativa, mas uma com as técnicas fechadas devido à interposição da placa
fratura de avulsão pode ser observada. O tratamento da volar e do arranjo de ligamentos e músculos lumbricais
lesão é um curativo compressivo acolchoado com leve que na verdade se apertam em torno da cabeça do meta
reforço de gesso. Os pacientes podem necessitar de imo carpal conforme a tração é aphcada.
bilização prolongada, dependendo do grau da lesão, e A subluxação na articulação MCF ocorre quando a
são encaminhados para os cuidados de acompanhamen falange proximal for bloqueada em hiperextensão e as su
to. As fraturas não deslocadas devido à avulsão do liga perfícies articulares estiverem em contato parcial. A redu
mento colateral podem ser tratadas de forma conservado ção é efetuada pela flexão do dedo depois da tração lon
ra se o fragmento envolver menos de 25% da superfície gitudinal com o uso de fitas com 2,5 kg de peso aplicados
articular. para desimpactar a falange proximal.
A B
Figura 11.78 Luxação carpometacarpal do quarto e do quinto dedos. A . Agudamente, o edema obscurece o diagnóstico dessa
lesão. B . A radiografia lateral demonstra melhor a luxação.
ma considerável no dorso da mão, o que pode fazer com outros dedos e são de dois tipos: dorsais e laterais, com
que o diagnóstico não seja feito. Quando o edema não for frequência idêntica.
muito intenso, os metacarpais proximais são palpados na A luxação dorsal da articulação MCF do polegar
região dorsal. O tratamento inclui redução por tração com ocorre com a hiperextensão extrema ou com forças de ci-
manipulação da cabeça da falange metacarpal proximal salhamento, e quase sempre ocorre a ruptura das estrutu
até a sua posição normal (Vídeo 11.5). A mão é imobi ras volares de suporte. O deslocamento varia desde uma
lizada (Apêndice A. 11) e o paciente é encaminhado ao subluxação da falange até a completa luxação da falange
especialista. As reduções fechadas fracassadas ou instá proximal sobre a cabeça metacarpal. Para que isso ocorra,
veis requerem redução aberta e fixação. As complicações a placa volar e os ligamentos colaterais devem ser comple
incluem síndrome compartimentai da mão, rigidez crôni tamente rompidos. Quando a luxação estiver associada a
ca e lesão nervosa. esse grau de ruptura das estruturas de suporte, a redução é
fácil e prossegue conforme segue: a flexão do metacarpal
Lesões ligamentares e luxações do polegar relaxa os músculos e a extensão da articulação IF retesa o
tendão flexor. A tração longitudinal é então aplicada até
As lesões da articulação interfalângica do polegar são tra que ocorra distração, e a articulação MCF é flexionada.
tadas de modo similar às lesões das articulações IF distais Depois da redução, o dedo é imobilizado por três semanas
dos dedos. A lesão mais comum é a luxação dorsal, sen em flexão. Se houver mais de 40° de instabilidade late
do as laterais menos frequentes. As luxações dorsais são, ral, o reparo cirúrgico pode ser indicado. A quantidade de
muitas vezes, expostas. A redução é simples, depois de instabilidade deve ser sempre avaliada depois da redução.
um bloqueio do nervo mediano. A articulação em geral As luxações laterais da articulação MCF do polegar
permanece estável, pois a placa volar continua inserida na se apresentam somente com dor local e edema, pois elas
falange distai. A articulação é imobilizada por três sema com frequência já se reduziram de modo espontâneo. Para
nas em leve flexão. diagnosticar a lesão, execute exames de estresse dos liga
A articulação MCF do polegar é muito móvel, e as mentos colaterais ulnar e radial do polegar.
luxações nesse local são bastante comuns (Fig. 11.80). Os
ligamentos colaterais são espessos e fornecem um bom Lesões da articulação trapézio-metacarpal
suporte para a articulação. A placa volar contém dois os A luxação da articulação trapézio-metacarpal do pole
sos sesamoides que são inserções para o flexor curto do gar é uma lesão incomum (Fig. 11.81). O mecanismo é
polegar (sesamoide radial) e adutor do polegar (sesamoide habitualmente indireto, quando uma força longitudinal é
ulnar). Levando-se em conta a mobilidade dessa articula dirigida ao longo do eixo do polegar com a articulação
ção, as luxações aqui são muito mais comuns do que nos em flexão. As lesões associadas incluem fraturas carpais
Emergências Ortopédicas 219
Polegar do guarda-caça
A ruptura do ligam ento colateral ulnar é 10 vezes mais
comum do que a lesão do ligamento colateral no lado
radial. Essa lesão pode ser muito incapacitante, já que o
paciente tem uma pinça fraca e não consegue resistir ao
estresse de adução. Essa lesão é chamada de polegar do
guarda-caça com base em uma descrição da frouxidão do
ligamento colateral ulnar nos guarda-caças escoceses de
vido a seu método para quebrar os pescoços das lebres
feridas. Também é comum em esquiadores (polegar do
esquiador) que tenham caído quando o bastão do esqui
abduz o polegar na articulação MCE Se a lesão passar
despercebida, pode resultar em incapacidade significativa.
Para diagnosticar a lesão do ligamento colateral ul
nar, o examinador faz um estresse em direção radial, com
a articulação MCF em flexão (Fig. 11.82). A flexão per /
mite que a placa volar relaxe e torna o teste mais sensí
vel. O grau de abertura é comparado com o lado normal. Figura 11.82 Exame da ruptura do ligamento colateral ulnar
Se houver suspeita de uma ruptura parcial ou completa, o do polegar na articulação MCF.
paciente recebe uma tala incluindo o polegar.
220 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
A B
Figura 11.84 A . O dedo em gatilho ocorre quando um espessamento fibroso do tendão não permite que ele deslize pela polia. B .
Fotografia clín ica de um dedo bloqueado devido ao dedo em gatilho.
Como forma clássica de apresentação, ocorre devido às Dois tipos de dedo em gatilho ocorrem: difuso e no
alterações adaptativas na resposta à crônica inserção e dular. )3,9‘ A distinção é feita com base nos achados do
compressão do polegar ao segurar uma bola de boliche. exame físico. O tipo nodular é mais comum e responde
Também já foram implicadas outras atividades, como bei à injeção de esteroides, com taxa de sucesso de 93%. 3,95
sebol e lesões ocupacionais. Uma forma aguda de polegar Para o tipo difuso, a taxa de sucesso com injeção de es
do jogador de boliche também foi descrita. Os pacientes teroides é menos expressiva, com somente metade dos
se queixam de formigamento e hiperestesia na polpa do pacientes exibindo melhora.94
polegar. Habitualmente, um nódulo doloroso e palpável As radiografias não devem ser obtidas, pois não mu
está presente no lado ulnar do polegar. dam o manejo. O tratamento consiste em massagens,
gelo, medicamentos anti-inflamatórios não esteroides e
Dedo em gatilho imobilização. Se o dedo estiver bloqueado, a intervenção
cirúrgica é necessária. Para graus menores de engatilha-
Também conhecida como tenossinovite estenosante, é uma mento, é recomendada uma injeção de lidocaína (1 mL)
condição idiopática que ocorre mais comumente em mu e triancinolona 40 mg/mL(0,5 mL) na bainha do tendão.
lheres de meia-idade. Uma forma secundária ocorre em O local da injeção fica sobre o aspecto lateral do dedo,
pacientes com distúrbios do tecido conjuntivo. Os achados entre a prega das articulações IFP e IFD. Para evitar o fei
clínicos incluem o bloqueio doloroso da flexão e da ex xe neurovascular, uma abordagem mais dorsal pode ser
tensão, quando um nódulo em um tendão flexor bate na feita. Depois de inserir uma agulha nQ25, é solicitado ao
poha do tendão na articulação MCE Às vezes, o paciente paciente para mover o dedo. Um leve ranger da agulha
se queixa somente da articulação IFP, que é o local de dor será sentido, mas o movimento paradoxal da agulha e
referida da poha flexora proximal. da seringa sugere que a agulha está no tendão e deve ser
Os dedos anular e médio são os mais comumente en retirada. A abordagem palmar também pode ser usada,
volvidos, mas qualquer dedo pode ser afetado, incluindo porém é mais dolorosa e, por conseguinte, não é recomen-
o polegar. O fechamento ativo do punho reproduz o blo dada. ’ A injeção guiada por ultrassom tem se provado
queio ou o estalo, conforme o tendão desliza pela poha muito útil.
(Fig. 11.84 e Vídeo 11.6). Se o edema for proximal à po Após a injeção, a extensão do dedo costuma ser pos
ha, então o dígito pode flexionar, mas não consegue esten sível. A articulação MCF deve ser imobilizada em exten
der facilmente. Entretanto, se o edema for distai à poha, o são, com movimentação hvre das articulações IFP e IFD.
dedo flexiona passivamente, mas não ativamente. Isso permite que o nódulo descanse debaixo da poha do
222 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
Furúnculo ou carbúnculo
Os furúnculos ou carbúnculos da mão são comuns e ocor
rem sobre regiões pilosas (Fig. 11.87A). Essas infecções
são causadas por S. aureus e, quando vistas precocemente,
podem ser tratadas com repouso, imobilização, elevação e
antibióticos sistêmicos. Uma vez que o abscesso esteja bem
localizado, a drenagem ocorre de forma espontânea ou por
uma incisão pequena feita sobre o ponto de flutuação máxi
ma com um bisturi de lâmina 11. A aplicação de compressas
mornas facilita a drenagem. Se essas infecções não forem
adequadamente tratadas, podem levar à celulite da mão.
Figura 11.86 Um curativo usado para elevação da m ão.
A m alha tubular é ap licad a ao longo de toda a extrem idade Celulite
superior e cortada em ambas as extremidades para formar um A celulite pode ocorrer depois de abrasão, punção ou qual
" Y " . A m alha é ajustada sobre a extrem idade superior e as
quer ferida da mão que tenha sido imobilizada de forma
pontas são então amarradas.
inadequada ou negligenciada (Fig. 11.87B). Essa infecção
é comum em usuários de drogas intravenosas. A celulite
iniciais para pacientes que serão provavelmente libera pode se desenvolver rápida ou lentamente, dependendo do
dos. Em infecções mais graves, a vancomicina deve ser agente causador. A mão deve ser imobilizada para con
considerada. A combinação de amoxicilina e clavulanato trolar a congestão, e o membro é elevado. Em casos nos
(Clavulin®) permanece o antibiótico de escolha para as quais a celulite esteja progredindo rapidamente, durante
mordeduras humanas e animais. O profissional deve estar um período de horas, a intervenção operatória deve ser
familiarizado com os padrões de sensibilidade bacteria- considerada por causa da probabilidade de infecção ne-
na de sua comunidade e instituição. As culturas da ferida crosante de tecidos moles. As infecções necrosantes de
devem ser obtidas de qualquer paciente enfermo, sempre tecidos moles requerem descompressão e debridamento
que o fluido estiver disponível. imediatos, também antibióticos intravenosos. Os pacien
A elevação da mão pode ser realizada usando uma tes com celulite que comprometa a função da mão devem
malha tubular (Fig. 11.86). É um curativo de baixo custo ser hospitalizados.
Espaço
mediopalmar
Espaço
tenar
Figura 11.91 A. Abscesso do espaço interdigital (botão do colarinho) (Fotografia: contribuição de Kyle Jeray, utilizada com permis
são). B. Infecção do espaço tenar.
226 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
A B
Figura 11.94 Tenossinovite flexora do segundo dedo. A. Aumento simétrico do dígito. B. Posição de repouso em flexão
Infecção do espaço tenar tes sexualmente ativos sem história de trauma. Por não ha
Essa infecção é diagnosticada notando considerável edema ver nenhuma obstmção ao espalhamento da infecção, toda
e sensibilidade dolorosa tenar e no primeiro espaço inter a bainha do tendão é envolvida.
digital (Fig. 11.91B). O paciente abduz o polegar porque Kanavel descreveu os quatro sinais cardinais da te
o volume dentro do espaço tenar é maior nessa posição. nossinovite aguda dos flexores que estão presentes (Fig.
O examinador também produz dor com a adução ou opo 11.94):108’109
sição passiva. Essas infecções requerem drenagem por in 1. Sensibilidade dolorosa excessiva sobre o curso da
cisões múltiplas e a consulta com um cirurgião de mão. bainha do tendão, limitada à bainha.
2. Aumento simétrico do dedo inteiro.
Infecção do espaço hipotenar
3. Dor excmciante ao estender passivamente o dedo, ao
Tal infecção é extremamente rara. Edema e sensibilidade longo de toda a bainha.
dolorosa são observados na eminência hipotenar. O tra
4. Posição de repouso do dedo em flexão.
tamento envolve uma incisão longitudinal no aspecto ul-
nar da palma e é mais adequadamente executada por um
consultor em cirurgia de mão.
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Capítulo 12
Punho
INTRODUÇÃO e fornecem maior estabilidade. A lesão desses ligamen
tos resulta em instabilidade carpal e será abordada mais
O punho inclui oito ossos do carpo que se articulam com adiante neste capítulo.
o rádio proximalmente e com os metacarpais distalmente. Muitas estruturas neurovasculares importantes pas
Os movimentos incluem a flexão, a extensão, o desvio ra sam através do canal de Guyon, formado pelo pisiforme
dial e o desvio ulnar. Os ossos do carpo são divididos em e pelo gancho do hamato (Fig. 12.2). O ramo profundo do
uma fileira proximal de quatro ossos e uma fileira distai nervo e a artéria ulnar suprem os três músculos hipotena-
de quatro ossos (Fig. 12.1). A fileira proximal, das super res, os interósseos, os dois lumbricais ulnares e o adutor
fícies radial para ulnar, inclui o escafoide (navicular), o do polegar. Uma fratura do hamato ou do capitato pode
semilunar, o piramidal (triangular) e o pisiforme. A fileira resultar em dano no feixe neurovascular e subsequente dé
distai, das superfícies radial para ulnar, inclui o trapézio ficit da função normal. O nervo mediano fica próximo às
(multiangular maior), trapezoide (multiangular menor), superfícies volares do semilunar e do capitato e pode ser
capitato (grande osso) e hamato (unciforme). O pisifor lesionado após uma fratura.
me fica adjacente à superfície volar do piramidal e não se É essencial entender a relação entre os tendões e os
articula com os ossos de antebraço ou com quaisquer dos ossos do carpo. O tendão do flexor ulnar do carpo engol
ossos restantes do carpo. fa o pisiforme em sua inserção. A proximidade do fle
Dos ossos do antebraço, somente o rádio se articula xor radial do carpo ao tubérculo do trapézio também é
com os ossos do carpo. A ulna tem uma união fibrocar- notável. As fraturas do trapézio podem resultar em dano
tilaginosa não óssea com o piramidal e com o rádio, co tendíneo, com subsequente dor durante o movimento
nhecida como o complexo da fibrocartilagem triangular normal.
(CFCT). A ulna se articula com o rádio na articulação
radioulnar distai (ARUD). A membrana interóssea, os li
gamentos radioulnares dorsais e palmares e o CFCT esta Exame
bilizam a articulação. A lesão nos ossos ou nos ligamentos Um exame meticuloso combinado com um conhecimento
da ARUD pode afetar significativamente a mecânica do detalhado da anatomia ajuda no diagnóstico preciso das
punho, levando à subluxação ou luxação e, se não tratada, lesões no punho. A sensibilidade dolorosa localizada de
pode resultar em problemas de longo prazo.
Os ligamentos do punho são considerados extrínsecos
se unirem os ossos do carpo ao rádio, à ulna ou ao meta-
carpo; e intrínsecos quando conectarem os ossos do carpo
entre si. Os ligamentos do punho também são classifica
dos como dorsais, volares ou interósseos. Os ligamentos
volares são mais fortes do que suas contrapartidas dorsais
Ossos metacarpais:
5q 4e go 2o 1B
Extensor
longo do «
polegar
Figura 12.6 A fossa do semilunar. A. Palpação. B. Com a mão em posição neutra, existe uma pequena endentação na pele que
corresponde ao capitato. C. Com a mão em flexão, o sem ilunar se torna facilm ente palpável, logo distai ao tubérculo de Lister.
Terceiro
metacarpal
Capitato
Semilunar
Tubérculo de Lister
Figura 12.7 O tubérculo de Lister e o capitato formam uma Figura 12.8 A superfície dorsal do piramidal é palpada logo
linha reta que atravessa o terceiro metacarpal. distai ao estiloide da ulna.
Emergências Ortopédicas 235
Gancho do
Gancho do
hamato
hamato
Pisiforme
A B
Figura 12.9 A. O pisiforme é facilmente palpado na base da em inência hipotenar, no aspecto volar da mão. B. O gancho do ha
mato pode ser sentido com a palpação profunda, sob a ponta do polegar do examinador.
C
236 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
cados (Fig. 12.11 A). O primeiro arco é demarcado pela trite ou fratura antiga. A largura normal entre o escafoide
superfície articular proximal do escafoide, do semilunar e o semilunar é de 1 a 2 mm na projeção anteroposterior
e do piramidal. O segundo arco é composto das superfí (AP). Espaços superiores a 3 mm são anormais e sugerem
cies articulares distais da fileira proximal. O terceiro arco instabilidade carpal.
consiste na superfície articular proximal do semilunar e A incidência oblíqua é útil para demonstrar melhor as
do hamato. Qualquer ruptura desses arcos sugere uma estruturas radiais. Essa radiografia é obtida com o punho
lesão - fratura, luxação ou ambos. Além disso, o espa em 45° de pronação. Nessa incidência, o escafoide distai,
çamento entre os ossos do carpo é constante, indepen o trapézio, o trapezoide e a primeira e segunda articula
dentemente do posicionamento do punho. A variação no ções carpometacarpais podem ser vistas com mais nitidez
espaçamento é anormal e pode refletir em subluxação, ar do que na incidência PA.
A vista lateral é primeiramente avaliada para adequa similar ao traçar uma linha através do centro do capitato e
ção. A ulna não deve estar projetada mais de 2 mm dorsal do semilunar. O ângulo entre essas linhas deve ser menor
mente em relação ao rádio. Uma vez que a incidência late que 30° (Fig. 12.11C).
ral tenha sido determinada como adequada, o profissional Incidências adicionais podem ser obtidas para mais
deve observar o aspecto dorsal do piramidal. O estiloide bem visualizar as fraturas suspeitas. Uma vista em PA
da ulna aponta para o aspecto dorsal do piramidal na in com desvio ulnar máximo (incidência do escafoide) per
cidência lateral. Fraturas com avulsão dorsal do piramidal mite melhor visualização do escafoide. A incidência do
somente serão identificadas na incidência lateral. túnel do carpo é usada para detectar fraturas do gancho do
O alinhamento carpal também é avaliado na incidên hamato e do pisiforme. Essa radiografia é obtida com o
cia lateral. As anormalidades constituem uma pista para a punho hiperestendido e o raio dirigido ao aspecto volar do
instabilidade carpal por lesão ligamentar. O profissional punho. Um filme oblíquo adicional com a mão supinada
deve primeiro notar que o rádio, o semilunar e o capitato em 45° demonstra melhor o pisiforme e os aspectos pal
compõem uma linha reta. O escafoide está projetado so mares do piramidal e do hamato.
bre o semilunar em sua porção proximal e, ao estender-se De todas as fraturas do punho, 90% serão visualiza
mais distalmente, fica posicionado em direção volar. Uma das com essas incidências. Outras técnicas de imagens,
linha traçada através do centro do semilunar e do centro incluindo a tomografia computadorizada (TC), a cintilo-
do escafoide deve perfazer um ângulo entre 30 e 60°. grafia óssea e a ressonância magnética nuclear (RMN),
Esse é conhecido como o ângulo escafossem ilunar (Fig. podem ser necessárias, mas não são habitualmente usadas
12.11B). O ângulo capitossemilunar é medido de forma na consulta inicial.
FRATURAS DO PUNHO
FRATURAS CARPAIS posição do escafoide. O escafoide é classificado como
um osso do carpo proximal. Do ponto de vista anatômi
Os ossos do carpo são um conjunto complexo de ossos co, entretanto, estende-se bem na área dos ossos distais do
que formam articulações múltiplas. A história e o exa carpo. O desvio radial ou a dorsiflexão da mão é limitada
me clínico cuidadosos são necessários para diagnosticar pelo impacto do rádio sobre o escafoide. Com o estresse,
com precisão essas fraturas, pois as radiografias muitas com frequência ocorrem as fraturas.
vezes revelam significativa sobreposição óssea. O esca
O suprimento sanguíneo do escafoide penetra na cor
foide não é somente o osso do carpo com maior incidên
tical pela superfície dorsal, próxima à área da cintura do
cia de fraturas, mas também é uma das fraturas dos ossos
tubérculo. Por conseguinte, não existe suprimento san
do carpo que passam despercebidas com mais frequên
guíneo direto à porção proximal do osso. Em razão des
cia. O piramidal é o segundo osso do carpo mais comu-
se suprimento sanguíneo tênue, as fraturas de escafoide
mente fraturado, e o semilunar é o terceiro em incidência
apresentam tendência para desenvolver união retardada ou
de lesões. As fraturas carpais estão associadas a várias
a necrose avascular.
complicações.
1. Outras lesões. Os pacientes muitas vezes sofrem uma A xio m a: Quanto mais proximal for a fratura do escafoi
segunda fratura ou uma lesão ligamentar. de,, maior a probabilidade de o osso desenvolver necrose
2. Lesão de nervo. Muitas fraturas carpais estão asso avascular.
ciadas a, no mínimo, uma neuropatia transitória do
mediano. As fraturas do gancho do hamato ou do pisi É imperativo que o profissional perceba que o pacien
forme podem ser complicadas pelo comprometimen te que se apresenta com o “punho torcido” pode ter uma
to do nervo ulnar. fratura oculta do escafoide. Essa lesão é com frequência
3. Problemas na consolidação. As fraturas carpais e, agudamente excluída com base no exame físico. Como
em especial, as fraturas do escafoide podem sofrer se será discutido mais adiante, as radiografias simples não
quelas da não união ou necrose avascular. Em muitos excluem essa fratura.
pacientes, isso ocorre secundário à imobilização ina
dequada.
A xiom a: Os pacientes que se apresentam com punho tor
cido devem ter a exclusão do diagnóstico de uma fratura
Fraturas do escafoide aguda do escafoide.
O escafoide é o osso do carpo mais comumente fratura
do, respondendo por 60 a 70% das lesões carpais. A alta As fraturas do escafoide são divididas em quatro
incidência das fraturas está relacionada ao tamanho e à tipos - do terço médio (cintura), do terço proximal, do
238 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
Fratura do terço
proximal
terço distai e do tubérculo (Fig. 12.12). Essa classifica O teste é executado pelo desvio radial do punho e fazendo
ção lista as fraturas do escafoide em ordem decrescente a palpação sobre o aspecto palmar do escafoide. A com
de frequência. As fraturas da cintura do escafoide repre pressão axial do polegar, alinhado com o primeiro meta-
sentam 70 a 80% de todos os casos. As do terço proxi- carpal, e a supinação contra resistência podem também
mal respondem por 10 a 20% das fraturas do escafoide. produzir a dor de uma fratura do escafoide.8,9Além disso,
A maioria das fraturas do terço distai ocorre em crianças. o desvio ulnar do punho pronado demonstrou produzir dor
Quanto mais proximal for a linha da fratura, maior será a na tabaqueira anatômica em pacientes com fratura do es
incidência de complicações (proximal > cintura > distai > cafoide e, em um estudo pequeno, a ausência desse acha
tubérculo). Também foram relatadas fraturas de estresse do teve valor preditivo negativo de 100%.
do escafoide.
Im a g e n s
M e c a n is m o d e le sã o As radiografias de rotina, incluindo as incidências em PA,
As fraturas do escafoide comumente resultam da hiperex- lateral e oblíqua, podem demonstrar a fratura (Fig. 12.13).
tensão forçada do punho. O tipo específico de fratura é de Se houver suspeita clínica de uma fratura, deve ser obti
pendente da posição do antebraço no momento da lesão. da uma incidência do escafoide com desvio ulnar. Apesar
As fraturas do terço médio ocorrem secundariamente ao desse filme adicional, uma fratura pode não ser radiogra-
desvio radial com hiperextensão, resultando em impacto ficamente demonstrada até 6 semanas após a lesão.1 Até
da cintura do escafoide pelo processo estiloide do rádio. 30% das fraturas do escafoide não são visíveis em qual
quer incidência no contexto agudo. ,12 Um sinal indireto
Exam e de fratura aguda do escafoide é o deslocamento da sua
Ao exame, existe sensibilidade dolorosa máxima sobre o faixa de gordura. Esse achado, contudo, estava presente
assoalho da tabaqueira anatômica. A sensibihdade dolo em apenas 50% das fraturas radiograficamente ocultas do
rosa dentro da tabaqueira anatômica demonstrou ser 90% escafoide em um estudo. Em alguns casos, uma incidên
sensível para detectar as fraturas do escafoide e tem espe- cia de comparação contralateral pode ser útil. Uma RMN
cificidade de 40%. A palpação do tubérculo do escafoi limitada do punho demonstrou ser, em estudos múltiplos,
de para a presença de sensibihdade dolorosa tem sensibi 100% sensível para detectar as fraturas do escafoide, mes
hdade similar (87%), com especificidade melhor (57%). mo no contexto agudo.
Emergências Ortopédicas 239
tarde confirmado.9,12’20 Por conseguinte, entende-se que avaliação do escafoide com RMN é 22 a 24demonstração da
tais pacientes devem ser tratados como se tivessem uma viabilidade dos fragmentos da fratura.
fratura não deslocada do escafoide, e o antebraço é imo
bilizado em uma tala gessada que inclua o polegar, que Fraturas n ã o deslocadas d o escafoide. Uma tala longa,
deve estar em uma posição como se o paciente estivesse que inclua o polegar (Apêndice A.7) deve ser aplicada.
segurando uma taça de vinho. O punho deve ser imobili A tala deve estender-se a partir da articulação IF do pole
zado em leve flexão, com nenhum desvio ulnar ou radial gar até uma área proximal ao cotovelo, com este em 90°
(Apêndice A.7).22 de flexão. O acompanhamento com um cirurgião de mão
Depois de 7 a 10 dias, um novo exame físico e ra- deve ser organizado dentro de cinco a sete dias.
diográfico deve ser executado. Se uma fratura for iden Um gessado longo que inclua o polegar é o tratamento
tificada, um gessado longo que inclua o polegar deve ser definitivo. A maioria das fraturas é avaliada com TC para
aplicado, por quatro a cinco semanas adicionais (total de definir precisamente a localização, o padrão e o desloca
6 semanas). Esse deve ser seguido por uma luva gessada mento, já que estes fatores nem sempre são aparentes nas
que inclua o polegar, até que os sinais clínicos e radiográ- radiografias simples. Se a TC confirmar que a fratura seja
ficos de união sejam vistos com clareza. Se uma fratura verdadeiramente não deslocada, então é aplicado um ges
não for identificada, e o exame permanecer clinicamente sado longo que inclua o polegar. Depois de seis semanas,
suspeito, a tala deve ser reaplicada e o paciente reexami uma luva gessada é aplicada pela duração restante da imo
nado em intervalos de 7 a 10 dias.“ Os métodos alternati bilização, totalizando 8 a 12 semanas. Nesse momento, os
vos para a detecção precoce de uma fratura oculta incluem sinais clínicos e radiográficos da união estão habitualmente
a cintilografia óssea, a TC e a RMN. presentes e o gessado é descontinuado. Devido a sua taxa
A cintilografia óssea realizada até quatro dias após a mais alta de complicações, as fraturas do terço proximal
lesão é sensível para a detecção das fraturas ocultas do são imobilizadas por mais tempo (12 a 16 semanas) do que
escafoide, mas com um número alto de resultados falso- as fraturas do terço médio ou distai (8 a 12 semanas). Vá
-positivos. A TC tem pronta disponibilidade para a rios autores recomendam o manejo cirúrgico primário para
maioria dos médicos da emergência, e apresenta sensibi as fraturas do escafoide proximal, mesmo que pareçam não
lidade melhor que os filmes simples, sendo mais sensível deslocadas, devido a sua taxa alta de não união.
e específica do que a cintilografia óssea. Mesmo assim,
uma TC falso-negativa ainda pode ocorrer. As imagens Fraturas deslocadas do escafoide. As fraturas deslocadas
são obtidas nos planos sagital e coronal (Fig. 12.15). A têm taxa de não união de 50% (comparada a 15% nas fra
RMN é muito sensível para a detecção de fraturas ocultas turas não deslocadas completamente imobilizadas) e, por
do escafoide; contudo, nem sempre está prontamente dis conseguinte, requerem manejo inicial mais agressivo. Com
ponível. Em um estudo em pacientes com suspeita clínica um significativo deslocamento, angulação, ou cominução, a
de fratura do escafoide e filmes simples negativos, a RMN consulta com um cirurgião da mão deve ser obtida. O pa
dentro das primeiras duas semanas da lesão detectou fra ciente deve ser imobilizado com uma tala e encaminhado
turas ocultas do escafoide em 20% dos pacientes, e em para um cirurgião de mão para redução aberta e fixação in
outros 20% foi encontrada uma fratura do rádio distai ou terna. As indicações absolutas para a fixação interna in-
27 29
de outro osso do carpo. Outra vantagem observada na cluem o deslocamento de 1 mm ou 15° de angulação.
Emergências Ortopédicas 241
Figura 12.17 Fratura do piramidal. A fratura com fragmento dorsal somente é visualizada na radiografia lateral (seta),
senvolvimento da doença de Kienböck (osteonecrose, ne doença de Kienböck tenham história prévia de trauma sig
crose avascular, semilunomalacia). nificativo no punho, o trauma repetitivo crônico também
pode causar essa condição.
M e c a n is m o d e le sã o
As fraturas do semilunar geralmente resultam de um Exam e
mecanismo indireto, como a hiperextensão (fratura com A dor e a sensibilidade dolorosa estão presentes na região
avulsão dorsal). As do corpo do semilunar ocorrem pela dorsal, sobre a área do semilunar. Além disso, a compres
compressão axial direta. Embora 75% dos pacientes com são axial do terceiro metacarpal exacerba a dor.
Im a g e n s
As incidências cônicas em projeções múltiplas são às ve
zes necessárias para demonstrar a linha de fratura. A TC é
mais sensível do que as radiografias simples para a detec
ção das fraturas do semilunar. A doença de Kienböck se
apresenta em quatro estágios radiográficos distintos. No
estágio I, as radiografias simples são normais. No estágio
II, é notada a esclerose do semilunar, enquanto no estágio
III fica aparente o seu colapso (Fig. 12.19). Por fim, no
estágio IV, está presente um grave colapso do semilunar,
com alterações degenerativas intra-articulares nas articu
lações circundantes. A RMN feita precocemente pode
detectar a redução do fluxo sanguíneo no semilunar e os
sinais primários da doença de Kienböck.
L e s õ e s a sso cia d a s
Outras fraturas carpais e a instabilidade do carpo frequen
temente acompanham as fraturas do semilunar, sendo im
Figura 12.18 Fratura do semilunar. portante descartá-las.
Emergências Ortopédicas 243
M e c a n is m o d e le sã o
Figura 12.19 Osteonecrose do semilunar (doença de Kienbõck). Dois mecanismos de lesão resultam em fraturas do capi
tato. Um golpe direto ou a força de esmagamento sobre o
T ra ta m e n to
aspecto dorsal do punho podem resultar em fratura. Indi-
retamente, a queda com a mão estendida pode resultar em
Como nas fraturas do escafoide, o tratamento deve ser fratura. Em vista da posição bem protegida do capitato no
iniciado com base na evidência clínica ou radiográfica centro do punho, uma força de grande energia é necessária
de uma fratura. E recomendável que o paciente seja para resultar em fratura.
imobilizado com tala gessada longa que inclua o polegar
(Apêndice A.7), com as articulações MCF flexionadas E xa m e
para aliviar as forças compressivas sobre o semilunar.
A sensibilidade dolorosa e o edema sobre o aspecto dorsal
O manejo definitivo inclui a imobilização gessada por
da mão, na área do capitato, estão presentes. A compres
um total de seis a oito semanas em pacientes com fratu
são axial ou o movimento do terceiro metacarpal exacer
ras não deslocadas. Ela deve ser seguida pela aplicação de
bam a dor.
um gessado abaixo do cotovelo até que a união tenha se
completado. As fraturas deslocadas (> 1 mm) ou instáveis Im a g e n s
requerem o reparo cirúrgico. As opções para o reparo ci
rúrgico incluem os fios de Kirschner, os parafusos canu- As incidências de rotina são adequadas para diagnosticar
lados ou as âncoras de sutura no osso. O encaminhamento a fratura. As fraturas clinicamente suspeitadas com radio
ortopédico depois da imobilização inicial é enfaticamente grafias normais são avaliadas de forma mais adequada
recomendado. O tratamento da doença de Kienbõck não é usando a TC ou a RMN.
padronizado e está além do objetivo deste capítulo.
L esões a sso c ia d a s
C o m p lic a ç õ e s As fraturas do capitato podem ser isoladas (raras) ou asso
Os pacientes com menos de 16 anos em geral têm resolução ciadas a fraturas do escafoide, do rádio distai, luxações ou
sem complicações da sua lesão. As fraturas do semilunar subluxações do semilunar e luxações carpometacarpais.
tratadas inadequadamente têm tendência para desenvolver
T ra ta m e n to
osteonecrose do fragmento proximal. Com o tempo, há
compressão e colapso desse fragmento; contudo, a osteone A extremidade deve ser imobilizada em uma tala baixa
crose pode desenvolver-se apesar do tratamento adequado. incluindo o polegar (Apêndice A.7), com o punho em leve
dorsiflexão e o polegar imobilizado até a articulação IF na
posição de segurar a taça de vinho. O manejo definitivo
Fraturas do capitato
requer a imobilização por oito semanas em fraturas não
O capitato, o maior dos ossos do carpo, articula-se com deslocadas. Se significativamente deslocadas, a redução
o escafoide e o semilunar proximalmente, com o trape- aberta e a fixação interna estão indicadas, com mobiliza
zoide e o hamato ao longo de suas superfícies laterais, e ção precoce após a cirurgia.
244 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
Fratura da
superfície Fratura do
articular distal gancho do
hamato
Fratura Fratura da
cominutiva superfície articular v^=^<CíL_i ^ n
corpo do polo proximal - '
Fratura
vertical
Tratamento Imagens
As fraturas não deslocadas do hamato são tratadas com As incidências radiográficas de rotina são adequadas para
tala ulnar para imobilização do punho (Apêndice A.3), demonstrar fratura (Fig. 12.23). Uma incidência do túnel
seguida de luva gessada pelo período de seis a oito sema do carpo frequentemente revela uma fratura da crista do
nas. As fraturas deslocadas devem ser encaminhadas para trapézio. A TC também é útil no diagnóstico radiográfi-
intervenção cirúrgica depois que a extremidade tiver sido co dessas lesões.
imobilizada. As fraturas deslocadas ou não consolidadas
do gancho do hamato são tratadas com excisão. Lesões associadas
As fraturas do trapézio podem estar associadas com le
Complicações
são da artéria radial, fraturas do primeiro metacarpal, do
As lesões do nervo ulnar podem acompanhar essas fratu rádio distai e luxações do primeiro metacarpal. O flexor
ras e resultam em atrofia interóssea. Além disso, as fra radial do carpo cruza ao longo da base da crista do tra
turas do hamato podem ser seguidas de artrite na quinta pézio sendo, por conseguinte, com frequência ferido após
articulação carpometacarpal. Também foi relatada a perda uma fratura.
de força na empunhadura.
Tratamento
Fraturas do trapézio O manejo de emergência dessas fraturas inclui elevação
As fraturas do trapézio representam 1 a 3% de todas as e gelo. É recomendada a imobilização com tala curta in
fraturas carpais e podem ser classificadas em três tipos cluindo o polegar (Apêndice A.7). As fraturas não deslo
(Fig. 12.22). cadas podem ser administradas com a imobilização ges
sada, enquanto as fraturas deslocadas (> 1 mm) requerem
1. Fraturas verticais
reparo cirúrgico.
2. Fraturas cominutivas
3. Fraturas de avulsão (fratura da crista do trapézio) Complicações
As fraturas do trapézio podem ser complicadas pelo desen
Mecanismo de lesão
volvimento de artrite que envolve a primeira articulação me
As fraturas do trapézio geralmente são o resultado de um tacarpal ou a tendinite ou ruptura do flexor radial do carpo.
dentre três mecanismos. As fraturas verticais e cominuti
vas ocorrem quando o polegar aduzido for vigorosamente
Fraturas do pisiforme
dirigido para dentro da superfície articular do trapézio. O
osso é esmagado entre o processo estiloide do rádio e o O pisiforme é ímpar, uma vez que se articula somente com
primeiro metacarpal. A crista do trapézio é uma projeção um osso, o piramidal. Do ponto de vista anatômico, é im
palmar longitudinal do trapézio que serve de inserção ra portante recordar que o ramo profundo do nervo ulnar e a
dial para o ligamento carpal transverso. Ela é fraturada artéria passam em grande proximidade à superfície radial
depois de um trauma direto, como uma queda com o braço do osso. Além disso, o tendão do flexor ulnar do carpo
estendido, ou quando o ligamento carpal transverso causa insere-se na superfície volar do pisiforme.
uma fratura de avulsão. As fraturas do pisiforme são classificadas em (Fig.
12.24):
Exame
O paciente relata sensibilidade dolorosa e edema sobre a 1. Fraturas de avulsão
área do trapézio. Somando-se a isso, a dor aumenta com o 2. Fraturas transversas do corpo
movimento do polegar ou pela sua compressão axial. 3. Fraturas cominutivas
246 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
Tratamento
O manejo inicial consiste em gelo e elevação. A imobi
lização deve ser feita com uma tala incluindo o polegar
(Apêndice A.7). O manejo definitivo consiste em imobi
lização com gessado ou reparo cirúrgico, dependendo do
grau de estabilidade.
Complicações
Essas fraturas têm alta incidência de não união e necrose
avascular.
Figura 12.26 A. A articulação radiocarpal normal está em um ângulo de 110 na direção volar, como mostrado na incidência lateral.
B. A angulação normal da ulna em relação à articulação radiocarpal é de 15 a 30°. C. O comprimento radial normal é de 12 mm.
do punho. Essa medida, traçada em paralelo à diáfise do Tipo III: fraturas de compressão intra-articular
rádio, é a distância da ponta do estiloide do rádio até a Fraturas complexas articulares e do pilão radial
superfície articular distai da ulna (Fig. 12.26C). O com Tipo IV: fraturas de avulsão
primento radial normal é de 12 mm. A perda do compri Fraturas-luxações radiocarpais
mento radial que não é restaurada depois da redução fe
Tipo V: mecanismo de alta velocidade com lesão extensa
chada pode ser uma indicação para o manejo operatório.
Em um estudo de fraturas intra-articulares deslocadas, a As fraturas do tipo I podem ser reduzidas pelo médico
restauração do comprimento radial por intervenção ci da emergência. As do tipo II ao V podem ser submetidas
rúrgica foi mais fortemente correlacionada com a melhor à redução fechada no setor de emergência; entretanto, de
condição funcional do que a restauração da inclinação vido a alta taxa de comphcações, é recomendado que a
radial ou volar. redução seja executada por um ortopedista.
A maioria das fraturas tipo I do rádio distai pode ser
Classificação administrada de modo conservador após a redução fecha
Muitos sistemas de classificação são descritos para as fra da bem-sucedida (em fraturas deslocadas). Na maioria
turas do rádio distai. Um dos primeiros métodos de elas- dos casos, as fraturas tipos II ao V - em última instância
sificação foi proposto por Frykman. Sob esse sistema, - necessitam do manejo operatório devido a sua natureza
as fraturas do rádio distai são classificadas como intra ou instável. Os critérios absolutos para o tratamento cirúrgi
extra-articulares, se estão envolvidas a articulação radio- co das fraturas do rádio distai incluem 2 mm de desloca
carpal ou a radioulnar, ou se está associada a uma fratura mento articular, 10° de incbnação dorsal, e 3 a 5 mm de
19
de ulna. Embora o sistema de Frykman fosse descritivo, encurtamento radial após a tentativa de redução fechada.
não provia as diretrizes para tratamento. Uma limitação importante de todos os sistemas de
Uma classificação mais recente, da Orthopedic Trau classificação para as fraturas do rádio distai é que a mera
ma Association (OTA), agrupou essas fraturas com base aparência radiográfica de uma fratura não requer um
no grau de envolvimento das superfícies articulares. Nessa método de tratamento específico. Muitos outros fatores,
classificação, as fraturas tipo A são largamente extra-arti como a idade do paciente e a sua condição funcional, a
culares, as do tipo B são parcialmente articulares e as do densidade óssea, a lesão de tecidos moles circundantes e
tipo C envolvem a articulação e a metáfise. Esse sistema a estabilidade da redução fechada são importantes para o
de classificação, embora pareça simples, tem um total de ortopedista ao considerar a necessidade de fixação. A os
27 subtipos e não é prático para o médico da emergência. teopenia aumenta a necessidade de fixação cirúrgica, já
Femandez e Juniper propuseram um sistema de clas que a redução fechada é difícil de manter.
sificação com base no mecanismo, com o benefício adi
cional de oferecer as diretrizes de tratamento. Esse Fraturas associadas da ulna
sistema é o seguinte: As fraturas da ulna distai estão frequentemente associadas
com as fraturas do rádio distai e contribuem para a neces
Tipo I: fraturas extra-articulares de incbnação metafisária sidade de intervenção cirúrgica. Cerca de 60% das fratu
Colles (angulação dorsal) e Smith (angulação volar) ras de extensão do rádio distai estão associadas com as do
Tipo II: fraturas de cisalhamento intra-articular estiloide da ulna, e 60% destas estão associadas a fratu
Barton (dorsal e volar) ras da cabeça ou do colo da ulna. As fraturas do estiloide
Emergências Ortopédicas 249
Mecanismo de lesão
A maioria das fraturas do antebraço distai é a resultante
de uma queda com a mão estendida. A quantidade de co-
minução e a localização da linha de fratura dependem da Figura 12.27 Fratura do rádio distai com envolvimento intra-
força da queda e da fragilidade (idade) do osso. Uma força -articular.
de supinação costuma resultar em fratura ulnar associada.
Exame Imagens
O exame revela dor, edema e sensibilidade dolorosa no As incidências PA e lateral em geral são suficientes para
antebraço distai. A fratura angulada e deslocada asseme- demonstrar os fragmentos da fratura (Fig. 12.29). As fra
lha-se a um garfo (Fig. 12.28). A documentação da condi turas de Colles são caracterizadas pelo deslocamento ou
ção neurológica, com especial ênfase na função do nervo pela angulação dorsal do fragmento distai (Fig. 12.30).
mediano, deve ser enfatizada. A dor no cotovelo pode ser Existe frequentemente a impactação da cortical dorsal.
indicativa de subluxação ou luxação da articulação ra Com forças mais intensas, são vistas a cominução da cor
dioulnar proximal. tical distai do osso e a extensão intra-articular.
Ao avaliar tais fraturas, o médico deve responder às 2. A fratura envolve a articulação radioulnar ou radiocar
seguintes questões: pal? Quanto maior o envolvimento intra-articular, es
pecialmente se houver um degrau, mais provável que
1. Existe uma fratura associada da cabeça ou do colo
a artrite traumática se desenvolva. A TC ou a RMN
da ulna (Fig. 12.31)? Essas fraturas podem criar uma
podem ser úteis para delinear a extensão do envolvi
articulação radioulnar distal instável e necessitar de
mento radiocarpal ou radioulnar, mas esses exames
encaminhamento ortopédico.
geralmente não são feitos no setor de emergência.
A B
Figura 12.30 Radiografias laterais do punho em fraturas de Colles que necessitam de redução fechada. A. Inclinação dorsal (an-
gulação). B. Deslocamento dorsal.
Emergências Ortopédicas 251
Figura 12.31 Fraturas do rádio distai com fraturas associadas da ulna distai. A. Estiloide da ulna. B. Colo da ulna.
3. Quais são as medidas da inclinação volar (inclinação A redução é feita da seguinte maneira (Fig. 12.32 e
lateral), radial (PA) e do comprimento radial (PA)? A Vídeo 12.1):
perda da anatomia normal aumenta as complicações.
1. A nestesia: Deve ser feita com um bloqueio do hema
4. Existe evidência de subluxação radioulnar distai na toma ou sedação para o procedimento (ver Cap. 2 e
radiografia lateral? A ulna não deve estar projetada Vídeo 12.2).
em mais de 2 mm dorsal ao rádio em uma radiografia 2. D istração: Os dedos devem ser colocados em fitas e
lateral verdadeira. As distâncias superiores a 2 mm o cotovelo em 90° de flexão. A fita colocada em tomo
sugerem subluxação radioulnar distai. dos dedos protege a pele e evita que os dedos esca
pem. Aproximadamente 2,5 a 5 kg de peso são sus
Lesões associadas pensos do cotovelo por um período de 5 a 15 minu
As fraturas em extensão do rádio distai estão com fre tos, ou até que os fragmentos sofram desimpactação.
quência associadas a várias lesões significativas, incluin Quatro bolsas de soro em uma tipoia ou malha pesam
do fraturas do estiloide e do colo da ulna, fraturas carpais, quase 4,5 kg e podem ser usadas como opção aos pe
subluxação radioulnar distai, lesões de tendão flexor e sos tradicionais (Fig. 12.33). Altemativamente, a tra
lesão dos nervos mediano e ulnar. Se a função do nervo ção e a contratração podem ser usadas para distrair os
mediano mostrar-se anormal, a etiologia pode ser uma fragmentos (Vídeo 12.3).
síndrome do túnel do carpo aguda ou uma contusão do 3. D esencaixe: Com os polegares no aspecto dorsal do
nervo mediano. fragmento distai e os dedos em torno do punho, a for
ça da lesão é recriada por extensão leve do fragmento
Tratamento distai para desimpactar os fragmentos da fratura.
As fraturas não deslocadas e não anguladas, com inclina 4. R eaposição: Mantendo a tração, uma pressão é apli
ção radial, inclinação volar e comprimento radial próxi cada sobre o fragmento distai em direção volar com
mos do normal precisam somente de imobilização com os polegares, outra pressão é dorsalmente dirigida so
uma tala (Apêndice A .ll). Para as fraturas deslocadas ou bre o segmento proximal com os dedos.
anguladas, com perda do alinhamento anatômico normal, 5. Liberação: Quando o posicionamento apropriado ti
a redução fechada é executada por um ortopedista consul ver sido alcançado, o peso da tração é removido. Se a
tor ou pelo médico da emergência caso este sinta-se apto fluoroscopia estiver disponível, o sucesso da redução
para o procedimento. pode ser imediatamente avahado.
252 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
Figura 12.32 A redução de uma fratura de Colles. A. Distração com um peso de 5 kg e fitas nos dedos por 10 minutos. B. Desencaixe
e reaposição com os polegares sobre o fragmento distai e os dedos ao redor do antebraço. G O braço é enrolado com material para
acolchoamento e a tala é aplicada. D. A posição final do antebraço é neutra, com o punho levemente flexionado e em desvio ulnar.
nejo da dor. Segundo, a angulação dorsal (inclinação) união ou não união; aderências do tendão flexor e dor crô
não é aceitável e a inclinação volar é difícil de manter, nica sobre a articulação radioulnar com supinação.
pois os extensores da mão têm uma tendência a exercer
tração dorsal. Por fim, a inclinação radial é facilmente Fratura do tipo em flexão (de Smith)
alcançada com a redução, mas é difícil de manter du
rante a fase de consolidação. As radiografias para docu Essa fratura tem sido muitas vezes descrita como uma
mentação do posicionamento apropriado devem ser ob fratura de Colles invertida. É incomum, 10 vezes menos
tidas em três dias e duas semanas depois da lesão. Se a frequente do que as fraturas de Colles. A fratura de Smith
redução não puder ser mantida, a fixação interna poderá raramente envolve a ARUD. O sistema de classificação,
ser necessária. desenvolvido por Thomas, tem implicações tanto terapêu
As fraturas de Colles, mesmo quando administradas ticas como prognósticas.
de maneira apropriada, muitas vezes resultam em com
M e c a n is m o d e le sã o
plicações a longo prazo. Por essa razão, o acompanha
mento com um ortopedista é necessário dentro de uma se Vários mecanismos resultam em fraturas de flexão do an
mana, especialmente quando a fratura tiver sido reduzida tebraço distai, incluindo uma queda com o antebraço supi-
no setor de emergência. As fraturas não deslocadas devem nado e com a mão em dorsiflexão, um golpe com o punho
permanecer imobilizadas por quatro a seis semanas, en fechado e ligeiramente flexionado ou um golpe direto no
quanto as deslocadas que tenham sido adequadamente re dorso do punho ou no rádio distai com a mão flexionada e
duzidas requerem 6 a 12 semanas de imobilização. o antebraço em pronação.
As fraturas instáveis podem requerer pinagem per-
cutânea, fixação interna ou fixação externa.4 Outras E xa m e
indicações para a cirurgia incluem fraturas expostas, gra A dor e o edema estarão aparentes sobre o aspecto volar do
vemente cominutivas ou deslocadas (> 2 mm), fraturas in- punho. O aspecto clínico é descrito como uma deformidade
tra-articulares e fraturas com deslocamento dorsal maior em pá de jardim. A presença e a função da artéria radial e
que 3 mm ou 10° de angulação dorsal depois de uma ten do nervo mediano devem ser examinadas e documentadas.
tativa de redução fechada. O retardo além de duas a três
semanas toma a intervenção cirúrgica mais difícil, pois os Im a g e n s
fragmentos não podem ser manipulados. As incidências PA e lateral de rotina são adequadas para
demonstrar essa fratura (Fig. 12.34).
C o m p lic a ç õ e s
As complicações associadas com as fraturas do rádio dis L esões a sso c ia d a s
tai são relatadas com uma frequência entre 20 e 31%. Elas As fraturas ou luxações carpais são raramente associadas
incluem neuropatias, artrite degenerativa, má união, lesão a essas fraturas.
de tendão, síndrome compartimentai e distrofia simpati-
correflexa. A limitação da função do punho depois des
sas fraturas tem sido relatada em até 90%. A redução
adequada precoce da fratura é o meio mais importante de
evitar complicações. As complicações dessas fraturas são
descritas como precoces e tardias.
As complicações precoces incluem disfunção do ner
vo mediano, lesão de tendão, lesão do nervo ulnar, sín
drome compartimentai e deslocamento do fragmento da
fratura. O paciente com compressão do nervo mediano se
queixa de dor e parestesias na distribuição do nervo. Se o
paciente estiver com gesso, o gessado e a malha devem ser
cortados e o braço é elevado por 48 a 72 horas. Se os sin
tomas persistirem, uma síndrome de túnel do carpo deve
ser suspeitada, e o alívio cirúrgico é então indicado.
Precaução: A fu n ç ã o do nervo m ediano nas fra tu ra s d is
tais do antebraço sem pre deve ser docum entada. A d o r
persistente deve ser considerada com o secundária à co m
p ressão do nervo a té p rova em contrário.
As complicações tardias incluem a rigidez dos dedos,
do ombro ou da articulação radiocarpal. Distrofia simpa-
ticorreflexa e defeitos estéticos podem seguir-se às fratu Figura 12.34 Fratura de Smith gravemente deslocada, vista na
ras deslocadas; ruptura do extensor longo do polegar; má radiografia lateral.
254 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
Complicações
As complicações são vistas com pouca frequência e in
cluem lesão de tendão e o desenvolvimento de osteoartrite.
Mecanismo de lesão
Uma dorsiflexão extrema do punho, acompanhada de uma
força de pronação pode resultar em fratura da borda dorsal.
Lesões associadas
A dissociação escafossemilunar pode ocorrer como par
te de uma luxação perissemilunar ou do semilunar, como
uma lesão isolada ou junto com uma fratura do escafoide
ou do rádio distai.
Figura 12.41 Dissociação escafossemilunar. Na incidência posteroanterior (PA), notar a distância aumentada (> 3 mm) entre o
escafoide e o sem ilunar (sinal deTerry Thomas) e o escafoide encurtado com densidade dupla em forma de anel denso no seu polo
distai (sinal do anel cortical). Na incidência lateral, o ângulo escafossemilunar é superior a 60°.
palpável de enchimento pode ser percebida no lado dorsal mediano pode ser comprimido no canal carpal pelo semi
do punho depois de luxação perissemilunar dorsal, e na lunar, e o paciente exibir sinais de lesão do nervo mediano.
superfície volar com luxação volar do semilunar. O nervo
Imagens
As anormalidades radiográficas são vistas tanto em filmes
PA como laterais. Ao olhar a incidência lateral do punho,
traçar uma linha imaginária entre os centros do rádio, do
semilunar e do capitato. Essa linha deve sempre passar
através do semilunar, em sua porção média. A radiografia
lateral é a incidência mais importante para determinar o
alinhamento correto dos ossos do carpo.
Em uma luxação peris semilunar, a incidência PA re
vela sobreposição entre o capitato e o semilunar. Os arcos
carpais estão rotos na articulação escafossemilunar e na
articulação piramidossemilunar. No filme lateral, o capi
tato está deslocado em relação ao semilunar (Fig. 12.44).
Com uma luxação do semilunar, o filme PA revela-o
com um aspecto triangular. O semilunar está deslocado
e inclinado em direção volar na incidência lateral (Fig.
12.45). O termo “luxação mediocarpal” pode ser usado
quando houver luxação do semilunar e do capitato e ne
nhum deles estiver alinhado sobre o centro do rádio distai
(Fig. 12.46). Quando uma fratura carpal estiver presente,
o termo “trans” é aplicado ao nome do osso que sofreu
fratura, seguido pelo local de luxação (Fig. 12.47).
Figura 12.42 Notar que uma linha traçada através do ponto
central do rádio e do capitato na incidência lateral do punho
Lesões associadas
percorre o ponto central do sem ilunar. Se o sem ilunar estiver
deslocado ou subluxado, a linha percorre somente um frag Essas lesões estão associadas com fraturas do escafoide e,
mento do osso ou passará longe dele. menos comumente, com as do capitato.
Emergências Ortopédicas 259
A B
Figura 12.44 Luxação perissemilunar dorsal. A. Na incidência PA, notar a sobreposição das fileiras carpais. B. A incidência lateral
revela a localização dorsal do capitato e dos outros ossos do carpo, com o sem ilunar articulando-se normalmente com o rádio.
260 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
Figura 12.45 Luxação volar do semilunar. A. Na incidência PA, existe sobreposição das fileiras carpais e o sem ilunar toma um
aspecto triangular. B. A incidência lateral mostra o "sinal da taça derramada", quando o sem ilunar aponta em direção volar e está
deslocado de suas articulações.
Luxação radiocarpal
A luxação radiocarpal é uma entidade rara na ausência
de fratura intra-articular do rádio. 3,66 Estima-se que as
luxações radiocarpais representam 0,2% de todas as luxa
ções. A luxação pode ocorrer volar ou dorsalmente, e re
quer quantidade significativa de força. Devido à natureza
violenta dessas lesões, existe um número significativo de
lesões associadas, incluindo fraturas expostas e fechadas,
instabilidade carpal, rupturas de tendões e lesões neuro-
Figura 12.46 Luxação mediocarpal. Observar que tanto o se
vasculares. Acredita-se que o mecanismo seja de hiperex-
milunar como o capitato não dividem ao meio uma linha traça tensão, pronação e inclinação radial. A consulta ortopédi
da pelo centro do rádio. ca imediata é recomendada. Depois da redução fechada,
uma luxação dorsal deve ser imobilizada com alguma
extensão do punho, enquanto uma volar é imobilizada em
zes, por uso excessivo. A sensibilidade dolorosa está loca flexão do punho. As luxações radiocarpais têm sido trata
lizada palpando o espaço entre o pisiforme e o processo das com sucesso com a redução fechada, mas a maioria
estiloide da ulna, na borda ulnar do punho. dos casos requer intervenção cirúrgica.
Emergências Ortopédicas 261
Figura 12.47 Luxação perissemilunar dorsal transescafoide nas radiografias (A) PA e ( B ) lateral, (seta = fratura do escafoide)
Figura 12.48 O túnel do carpo com o nervo mediano sob o ligamento transverso do carpo.
262 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
Os pacientes queixam-se de parestesias e dormência punho, AINEs e injeção local ou corticosteroides orais.
sobre a distribuição do nervo mediano. A dor pode irradiar Os corticosteroides orais demonstraram ser mais efetivos
para o ombro, mas poupa o dedo mínimo. O paciente pode que os AINEs e devem ser dados em uma dose de predni-
ser despertado do sono com dor na mão, devido à retenção sona, 20 mg por dia, por duas semanas.
de fluidos que ocorre durante a noite. Quando isso acontece, A injeção combinada de corticosteroide (metilpred-
o paciente deve ser instruído para elevar a mão. Os sintomas nisolona 40 mg) e agente anestésico local pode ser tanto
se desenvolvem depois do fechamento repetitivo da mão ou diagnóstica como terapêutica. O melhor local para injeção
depois da flexão aguda de punho, como a que ocorre ao diri é proximal ao ligamento transverso do carpo, já que isso
gir um carro ou operar uma ferramenta que deve ser segura diminui o risco de lesionar o nervo mediano. A agulha é
da manualmente por períodos prolongados de tempo. introduzida em um ângulo de 20° em relação à pele, entre
O achado sensitivo objetivo mais precoce na síndro- o tendão do palmar longo e do flexor radial do carpo, e
me do túnel do carpo é a redução da sensibilidade vi 4 cm proximalmente à prega do punho. Depois de inserir
bratória, que é testada com um diapasão de 256 ciclos. a agulha sob o ligamento transverso do carpo, é injetada a
O envolvimento mais grave do nervo mediano resulta em solução de esteroide e anestésico. Para ter certeza de que
discriminação sensitiva anormal de dois pontos. a agulha está corretamente posicionada, devem ser bus
Os achados clássicos no exame físico incluem os cadas parestesias na distribuição do mediano. Nesse mo
sinais de Tinel e de Phalen. O sinal de Tinel envolve a mento, a agulha é retrocedida em 1 a 2 mm, e o conteúdo
percussão do aspecto volar do punho. O teste é positivo da seringa é injetado.
quando o paciente sentir parestesias na distribuição do A maioria dos pacientes responde às medidas con
nervo mediano (Fig. 12.49A). O sinal de P halen é fei servadoras, embora 80% tenham recorrência em 1 ano.
to pedindo-se ao paciente para flexionar os punhos por 1 Se não for notada resposta, a liberação cirúrgica é neces
minuto. Se forem notadas parestesias sobre a distribuição sária.
do nervo, o teste é considerado positivo (Fig. 12.49B).
Um manguito de esfigmomanômetro (teste do to rn iq u e Compressão do nervo ulnar
te) inflado na pressão de 200 irnnHg por 2 minutos tam
bém pode produzir parestesias na mão, sendo outro teste O nervo ulnar pode ser comprimido no túnel ulnar, pró
para a síndrome do túnel do carpo. Contudo, esses sinais ximo ao cotovelo, e no punho, na ponta da mão próxima
ocorrem apenas mais tarde no curso do distúrbio, e têm ao pisiforme. A síndrom e do túnel uln a r é a compressão
habilidade limitada para predizer o eletrodiagnóstico da do nervo ulnar no nível do punho, que ocorre quando o
síndrome do túnel do carpo. Os sinais e sintomas mais nervo penetra no túnel ulnar ou quando o ramo profundo
preditivos da síndrome parecem ser a localização dos sin cruza em tomo do gancho do hamato na palma da mão.
tomas na distribuição do nervo mediano, percepção de dor As lesões no punho ocorrem em associação com trauma
diminuída ao longo do aspecto palmar do dedo indicador repetitivo, artrite ou compressão por um cisto gangliônico
e a abdução enfraquecida do polegar. 7,68,71 ou outro tumor benigno. O mecanismo predominante é a
O tratamento conservador inclui evitar os movimen compressão direta. A lesão ocorre em ciclistas e em outros
tos repetitivos do punho e da mão, a imobilização do que sofrem compressão nessa área.
A B
Figura 12.49 Testes para a síndrome do túnel do carpo. A. O teste de Tinel é executado com a percussão da superfície volar do
punho, sobre o nervo mediano. B. O teste de Phalen é executado pela compressão das superfícies dorsais opostas da mão, com os
punhos flexionados, conforme demonstrado. Isso causa formigamento sobre a distribuição do nervo mediano.
Emergências Ortopédicas 263
punho.
TENOSSINOVITE DE QUERVAIN
A tenossinovite estenosante de Q uervain envolve o ab-
dutor longo do polegar e o extensor curto do polegar no
primeiro compartimento dorsal do punho (Fig. 12.51).
Os pacientes queixam-se de dor sobre o aspecto radial do
punho, com irradiação proximal e distai. Existe sensibili
dade dolorosa localizada sobre o estiloide do rádio, onde a
polia pode se mostrar e ter a sensação de estar espessada.
Um teste patognomônico, que reproduz a dor, é chamado
de teste de F inkelstein (Fig. 12.52 e Vídeo 12.4). Para efe
tuar o teste, o paciente estira passivamente os tendões se
gurando o polegar dentro da palma e o examinador faz um
desvio ulnar do punho. Deve-se diferenciar essa condição
da artrite carpometacarpal do polegar, que causa sensibili
dade dolorosa localizada naquela articulação.
A tenossinovite de Quervain é causada pelo sobreu-
76 77
so ou está associada à artrite reumatoide ou gravidez. ’
Figura 12.53 Injeção na tenossinovite estenosante de Q uer
As mulheres são mais afetadas do que homens, em uma vain. A agulha é inserida entre o tendão e a bainha. Se a agu
proporção de 10:1. O tratamento inclui aplicação de gelo lha for inserida corretamente, um edema em forma de salsicha
no estiloide do rádio, AINEs e restrição do movimento será notado no primeiro compartimento, conforme o fluido é
do polegar e do punho com uma tala de polegar (Apên injetado.
dice A.7). A injeção local da bainha do tendão com um
anestésico local e um esteroide tem um taxa de sucesso de
até 90% 9 (Fig. 12.53 e Vídeo 12.5). Durante a injeção, adequado da agulha. Foi demonstrado que a injeção guia
deve-se observar um edema visível proximal ao retináculo da por ultrassonografia melhora os resultados, confirman
extensor; ele indica que a agulha está no lugar certo. O es do a injeção da bainha do abdutor longo do polegar e do
teroide deve ser injetado após o anestésico (e não mistu extensor curto do polegar. Depois da injeção, colocar
rado na mesma seringa) para garantir o posicionamento no paciente uma tala simples de polegar, estendendo-se da
Emergências Ortopédicas 265
ponta do polegar até dois terços do rádio no antebraço. A 18. Clay NR, Dias JJ, Costigan PS, et al. Need the thumb be
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Capítulo 13
Antebraço
INTRODUÇÃO
O rádio e a ulna ficam em paralelo entre si e estão reves
tidos, em suas extremidades proximais, com uma massa
muscular relativamente grande. Devido à sua proximida
de, a força da lesão rompe ambos os ossos e suas inser
ções ligamentares. Eles podem ser conceitualmente consi
derados como dois cones lado a lado, cada um apontando
em direção oposta (Fig. 13.1).
Figura 13.2 O rádio e a ulna são unidos pelas cápsulas em ambas as extremidades, nas articulações do punho e do cotovelo. A
membrana interóssea junta os dois ossos ao longo das diáfises.
268 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
Músculo
biceps
Músculo
supinador
Classificação
Neste capítulo, são consideradas as fraturas da diáfise do
rádio e da ulna. Elas são definidas como as diáfises dos
ossos longos não cercadas por cápsulas ou ligamentos ar
ticulares. Ver o Capítulo 12 para uma abordagem sobre
as fraturas do rádio distai e o Capítulo 14 para uma abor
dagem sobre as fraturas das estruturas proximais, como a
cabeça do rádio, o olécrano e o processo coronoide. O sis
tema de classificação usado neste capítulo para as fraturas
das diáfises radial e ulnar é com base em considerações
anatômicas e também terapêuticas.
As fraturas podem ocorrer em qualquer lugar ao
longo da diáfise do rádio ou da ulna. Essas fraturas são
divididas em três grupos: (1) fraturas da diáfise do rádio,
(2) fraturas da diáfise da ulna e (3) fraturas combinadas
do rádio e da ulna. As fraturas de Monteggia (fratura
da ulna com luxação da cabeça do rádio) e de Galeazzi
(fratura do rádio com luxação radioulnar distal) estão
Figura 13.4 O arqueamento lateral do rádio deve ser preservado descritas em conjunto com as suas respectivas fraturas
para permitir a ocorrência de pronação e supinação completas. ósseas.
Emergências Ortopédicas 269
FRATURAS DO ANTEBRAÇO
FRATURAS DA DIÁFISE DO RÁDIO Mecanismo de lesão
As fraturas da diáfise do rádio podem ser divididas O mecanismo mais encontrado é um golpe direto na diá
em fraturas proximais, da diáfise média e distais (Fig. fise do rádio, mais comumente na junção das porções mé
13.5). As fraturas isoladas dos dois terços proximais dia e distai do osso. É nesse ponto que o rádio fica menos
da diáfise do rádio são incomuns em adultos, pois tal coberto por músculos e, por conseguinte, exposto a uma
área está bem protegida pela musculatura do antebraço. quantidade maior de trauma direto.
As fraturas do terço distai são importantes pois estão
muitas vezes associadas com lesão da articulação ra Exame
dioulnar, em especial quando estiverem deslocadas ou
anguladas. A sensibilidade dolorosa está presente ao longo do local
de fratura e pode ser produzida com a palpação direta ou a
compressão longitudinal.
Terço distai
A. Não deslocada B. Deslocada C. Fratura de Galeazzi Figura 13.5 Fraturas da diáfise do rádio.
270 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
Figura 13.7 Fratura-luxação de G ale a zzi. A. Fratura do rádio angulada. Notar a luxação da articulação radioulnar distal na inci
dência lateral e o encurtamento do rádio em AP. B. Fratura deslocada do rádio. Observar o alargamento da articulação radioulnar e
o encurtamento do rádio da incidência em AP.
A.10). O cotovelo deve estar em 90° de flexão e o antebra com um cirurgião especializado em mão é necessária. Se
ço em supinação moderada. As radiografias de acompa não tratada dentro de 10 semanas, o paciente pode sofrer
nhamento são fortemente recomendadas. limitação da supinação e pronação, dor crônica e fraqueza.
Exame
O edema e a sensibilidade dolorosa à palpação são evi
dentes sobre o local de fratura. A palpação da ulna produz
dor localizada no local fraturado. A pronação e a supina-
As fraturas-luxações de Monteggia são fraturas des ção são levemente dolorosas.
locadas do terço proximal da diáfise da ulna, combinadas As fraturas-luxações de Monteggia têm como carac
com a luxação da cabeça do rádio. As luxações da cabeça terística o encurtamento do antebraço devido à angulação.
do rádio somente podem ocorrer se houver ruptura com A cabeça do rádio pode ser palpável na fossa antecubital
pleta do ligamento anular. As fraturas-luxações de Monte após as luxações anteriores. A dor e a sensibilidade dolo
ggia são classificadas em quatro tipos, com a sua frequên rosa são produzidas sobre a ulna proximal e exacerbadas
cia listada entre parênteses. com flexão, extensão, pronação e supinação.
As fraturas-luxações de Monteggia podem ser distin
1. Fratura da diáfise da ulna com luxação anterior da ca guidas das demais fraturas da diáfise da ulna ao exame
beça do rádio (60%). pelo grau de dor presente com a pronação e a supinação.
2. Fratura da diáfise da ulna com luxação posterior ou
posterolateral da cabeça do rádio (15%).
Imagens
3. Fraturas metafisárias ulnares com luxação lateral ou
anterolateral da cabeça do rádio (20%). Essa é uma As incidências AP e lateral geralmente demonstram a le
fratura comum na infância, resultante de um golpe di são (Figs. 13.10 e 13.11). Se houver deslocamento sig-
reto na região interna do cotovelo.
4. Fratura da diáfise da ulna e do rádio (terço proximal)
e luxação anterior da cabeça do rádio (5%).
Mecanismo de lesão
Um golpe direto é o mecanismo mais comum, e a fratura
resultante é chamada de “fratura do cassetete” como se o
indivíduo houvesse levantado o braço para proteger a face
do impacto descendente de um cassetete policial. Com o
Figura 13.9 A diáfise média da ulna é o local mais comum Figura 13.10 Fratura-luxação de Monteggia com deslocamento
para fraturas, com frequência ocorrendo devido a um mecanis anterior da cabeça do rádio. Uma linha traçada através da diáfise
mo de lesão do tipo "golpe com bastão". do rádio (linha radiocapitular) não atravessa o centro do capítulo.
Emergências Ortopédicas 273
Luxação associada
da cabeça do rádio
Figura 13.12 Classificação das fraturas de com binação das diáfises do rádio e da ulna.
Fratura-luxação d e M onteggia. Em adultos, a extremi antebraço é rara, pois uma força com energia suficiente para
dade deve ser imobilizada em uma tala posterior longa quebrar ambos os ossos em geral causa o deslocamento.
e o ortopedista deve ser consultado para a avaliação de A classificação das fraturas combinadas do rádio e
emergência (Apêndice A.9). A correção cirúrgica está in da ulna é feita com base no deslocamento e na angulação
dicada. A fixação operatória é feita usando placas e para (Fig. 13.12). As fraturas em endentação, em galho verde
fusos. A luxação ou a subluxação recorrentes da cabeça e incompletas, que não envolvem ambas as corticais do
do rádio devido a uma ruptura não reparada no ligamento osso, também são consideradas. Para uma discussão adi
anular é comum após reduções fechadas. cional dessas fraturas em crianças, ver o Capítulo 6.
Em crianças, o manejo inclui a imobilização com tala
longa posterior (Apêndice A.9) e o encaminhamento de Mecanismo de lesão
emergência. A redução fechada da fratura ulnar é feita sob
anestesia geral, seguida da recolocação da cabeça do rádio Dois mecanismos resultam em fraturas da diáfise do ante
por pressão direta durante a supinação do antebraço. A in braço. Um golpe direto, como durante uma cobsão veicu
terposição do ligamento anular pode impedir a redução lar, é o mecanismo mais encontrado. Em crianças, costu
radial, necessitando de reparo cirúrgico. ma ocorrer após uma queda sobre o braço estendido.
C o m p lic a ç õ e s Exame
As fraturas-luxações de Monteggia requerem encami Dor, edema e perda de função da mão e do antebraço são
nhamento de emergência devido a uma alta incidência de habitualmente encontrados. O exame do cotovelo e do
complicações, incluindo: punho é importante para detectar uma possível lesão nas
1. Paralisia do ramo profundo do nervo radial, que cos estruturas bgamentares proximais ou distais. A deformi-
tuma ser secundária a uma contusão e em geral cura
sem tratamento.
2. Não união em decorrência de redução ou imobiliza
ção inadequadas.
FRATURAS COMBINADAS DO
RÁDIO E DA ULNA
As fraturas do rádio e da ulna, conhecidas como fratura de
ambos os ossos do antebraço (FAOA), são mais comuns
em crianças e correspondem a 45% de todas as fraturas na
infância. As fraturas combinadas do antebraço também
ocorrem em adultos, embora o manejo seja muito diferente. Figura 13.13 Deformidade grosseira do antebraço após uma
Em adultos, a fratura não deslocada de ambos os ossos do fratura do rádio e da ulna.
Emergências Ortopédicas 275
dade do antebraço pode ser bastante óbvia (Fig. 13.13). cias de punho e de cotovelo também devem ser obtidas
Os déficits dos nervos radial, mediano e ulnar raramente e avaliadas em busca de fratura, luxação ou subluxação.
são vistos, mas devem ser excluídos. A subluxação sutil da articulação radioulnar distal somen
te pode ficar evidente na tomografia computadorizada
(TC). Uma linha traçada através da diáfise e da cabeça
Imagens
do rádio deve passar através do centro do capítulo (linha
As incidências AP e lateral são adequadas para definir os radiocapitular). Se isso não ocorrer, deve haver suspeita
fragmentos de fratura (Figs. 13.14 e 13.15). As incidên- de lesão na articulação radioulnar proximal.
Figura 13.17 O paciente tem os dedos tracionados por fitas, com o cotovelo em 90° e o antebraço supinado. Os pesos são adicionados
por um período de 5 a 10 minutos para alongar os ossos e ajudar a corrigir qualquer deformidade angular. Sob sedação, a compressão
das massas musculares volar e dorsal força o rádio e a ulna a separarem-se e põe o ligamento interósseo em tensão máxima. Isso ajuda a
dar suporte aos fragmentos da fratura. O antebraço pode ser levemente rodado para corrigir quaisquer deformidades rotacionais.
mão, pelo braço e pelo ombro. Uma vez que o erro <
diagnóstico pode levar à disfunção e à contratura mus
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Capítulo 14
Cotovelo
INTRODUÇÃO O úmero distai divide-se em dois côndilos (Fig. 14.2).
A fossa coronoide é uma área de osso muito fino que é a
O cotovelo é uma articulação em dobradiça composta de superfície de contato com o processo coronoide do olécra-
três articulações: umeroulnar, radioumeral e radioulnar. no quando o cotovelo está em flexão completa. A superfí
Essa particularidade fornece um alto grau de estabilidade cie articular do côndilo medial é chamada de tróclea, que
inerente ao cotovelo, que tem suporte de várias estruturas funciona como a superfície articular do olécrano da ulna.
ligamentares - os ligamentos colateral radial, colateral ul- A superfície articular lateral do úmero distai é o capítulo,
nar e anular e a cápsula anterior (Fig. 14.1). O bíceps, o articulado com a cabeça do rádio.
tríceps, o braquial, o braquiorradial e o ancôneo fornecem As porções não articulares dos côndilos são chama
a estabilidade muscular dinâmica. das de epicôndilos e servem como pontos de inserção aos
As lesões no cotovelo são causadas por um golpe di músculos do antebraço - os pronadores-flexores se inse
reto, por estresse em valgo no arremesso ou por compres rem no epicôndilo medial, enquanto os supinadores-ex-
são axial. As lesões traumáticas agudas podem resultar tensores se inserem no epicôndilo lateral. Logo proximal
em fraturas no rádio, na ulna ou no úmero distai. Com o a cada epicôndilo estão as cristas supracondilianas, que
estresse repetitivo em valgo, os pacientes podem desen são os pontos de inserção para os músculos do antebraço.
volver condromalacia, corpos livres nos compartimentos Os músculos que circundam o cotovelo causam impacto
posterior ou lateral, lesão do ligamento colateral ulnar, no alinhamento da fratura (Figs. 14.3 e 14.4). Com uma
lesão do grupo muscular pronador-flexor, osteocondrite fratura, a tração contínua desses músculos resulta em des
dissecante ou neurite ulnar. locamento dos fragmentos e, às vezes, a perda da redução
adequada.
Três bolsas em tomo do cotovelo têm significância
Vista medial clínica: uma entre o olécrano e o tríceps, outra entre o
rádio e a inserção do tendão do bíceps e, finalmente, a
Ligamento Membrana
bolsa do olécrano, que fica entre a pele e o processo do
anular interóssea
olécrano. A bursite no cotovelo mais comumente envolve
a bolsa do olécrano (Fig. 14.5).
Ligamento
colateral ulnar
A
Vista lateral
Figura 14.7 O aspecto radiográfico normal das articulações ósseas do cotovelo. A. Incidência A R B. Incidência lateral.
V ista la te ra l
A incidência lateral em flexão de 90° é a mais importan
te, já que permite ao médico notar a linha radiocapitu-
lar e umeral anterior, como também avalia os coxins de
gordura.
Figura 14.10 A linha umeral anterior. A. Uma linha traçada na radiografia lateral ao longo da superfície anterior do úmero atraves
sa o meio do capítulo. B. Com fratura em extensão da região supracondiliana, a linha atravessa o terço anterior do capítulo ou passa
completamente anterior a ele. Isso é especialmente útil em lesões fisárias pediátricas. A seta indica um coxim de gordura posterior.
(Reimpressa de ) Emerg M ed 2009 Dec 17: Sherman SC. Supracondylar fractures. [Epub ainda não publicado] Com permissão de
Elsevier Scientific Publications.)
284 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
mais. Com uma fratura, a cápsula articular fica distendida pacientes com coxins de gordura elevados no cotovelo. Ao
com sangue, e o coxim de gordura anterior será deslocado repetir radiografias simples, foi possível verificar que a
anteriormente para longe da fossa coronoide. O coxim de incidência de uma fratura oculta é de 6 e 17%. Quando
gordura posterior fica sobre a fossa do olécrano. Pelo fato a ressonância magnética nuclear (RMN) era feita nesses
de a fossa do olécrano ser muito mais profunda, o coxim pacientes, as fraturas ocultas eram descobertas em 75%
de gordura posterior nunca é visualizado em radiografias dos casos. As fraturas da cabeça do rádio foram mais
normais com o cotovelo flexionado em 90°. Somente com comuns, respondendo por 87% das fraturas ocultas. As
a distensão da cápsula articular, como ocorre em uma fra fraturas do olécrano e do epicôndilo lateral responderam
tura intra-articular com hematoma capsular, o coxim de por um número igual das fraturas restantes. O reconheci
gordura posterior será visualizado. Em uma criança, pelo mento da fratura não mudou o manejo em nenhum dos 20
fato de o crescimento cartilaginoso e dos vários centros pacientes estudados.
de ossificação tornarem difícil a identificação da fratura,
a detecção de um coxim de gordura posterior pode ser
considerada como uma fratura intra-articular até prova em A xio m a:Em um cotovelo traumatizado, no qual uma fra
contrário. tura não é vista radiograficamente, a presença do sinal do
coxim de gordura posterior sugere fortemente uma fratura
Foram realizados estudos de acompanhamento para
oculta.
determinar a incidência verdadeira de fraturas ocultas em
FRATURAS DO COTOVELO
FRATURAS DO OLÉCRANO Imagens
Todas as fraturas do olécrano devem ser consideradas Uma incidência radiográfica lateral com o cotovelo em
como intra-articulares (Fig. 14.12). É essencial que a re 90° de flexão é melhor para demonstrar as fraturas do
dução anatômica quase perfeita seja alcançada, para asse olécrano e o deslocamento (Fig. 14.13). A ausência de
gurar a amplitude completa de movimentos. deslocamento nas incidências em extensão não é con
siderada uma prova definitiva de fratura não deslocada,
Mecanismo de lesão já que os fragmentos podem se deslocar somente com a
flexão do cotovelo. A separação dos fragmentos ou a in
As fraturas do olécrano costumam ser o resultado de um congruência articular de mais de 2 mm são consideradas
dentre dois mecanismos. Uma queda ou um golpe dire suficientes para classificar a fratura como deslocada.
to no olécrano podem resultar em fratura cominutiva. Em crianças, a epífise do olécrano se ossifica aos 10
A quantidade de tônus do tríceps e a integridade da apo- anos e fusiona por volta dos 16 anos. A interpretação de
neurose do tríceps determinam se a fratura será deslocada. fraturas em crianças pode ser difícil, e as incidências de
De maneira indireta, uma queda sobre a mão estendida, comparação devem ser usadas sempre que houver dúvida.
com o cotovelo flexionado e o tríceps contraído, pode re Além disso, a presença de um coxim de gordura posterior
sultar em uma fratura transversa ou oblíqua. A quantidade ou um coxim de gordura anterior protuberante deve ser
de deslocamento depende do tônus do tríceps, da integri considerada como indicativa de fratura.
dade da sua aponeurose, e também da integridade do pe-
riósteo.
Lesões associadas
Todas as fraturas deslocadas do olécrano têm
A xio m a : As fraturas do olécrano estão frequentemente associadas
uma ruptura da aponeurose do tríceps ou do periósteo. com lesão do nervo ulnar; luxação do cotovelo; luxação an
terior da articulação radioulnar; ou fraturas concomitantes
da cabeça do rádio, da diáfise do rádio e do úmero distai.
Exame
O paciente apresenta edema doloroso sobre o olécrano e
Tratamento
derrame hemorrágico. O paciente será incapaz de estender
ativamente o antebraço contra gravidade ou a resistência N ão deslocada. As fraturas com menos de 2 mm de se
devido à insuficiência do mecanismo do tríceps. Não é paração ou incongruência articular são consideradas como
incomum que as fraturas cominutivas resultem em com não deslocadas. O tratamento começa com a imobilização
prometimento da função do nervo ulnar. É fu n d a m e n ta l em uma tala longa (Apêndice A.9) com o cotovelo flexio
que o exam e inicial inclua a docum entação da fu n ç ã o do nado em apenas 50 a 90° e o antebraço em posição neu
nervo ulnar. tra. Essa posição diminui a tração do músculo tríceps.
Emergências Ortopédicas 285
Um gessado é usado para o manejo definitivo e deve estar posterior com o cotovelo em 90° de flexão (Apêndice
bem moldado posteriormente e apoiado em uma boa tipoia. A.9) e não prosseguir para o gessado. Os exercícios de
Os exercícios de amplitude de movimento dos dedos e do supinação e pronação podem ser iniciados em três a cinco
ombro devem ser iniciados assim que possível, sendo as ra dias, e os exercícios de flexão-extensão em uma ou duas
diografias repetidas em cinco a sete dias para excluir um semanas. A tala protetora é usada até que a consolidação
deslocamento. A união estará completa em seis a oito sema se complete (habitualmente 6 semanas).
nas, mas o gessado pode ser removido pelo ortopedista em
até uma semana em adultos, para evitar a rigidez crônica. Deslocada. O manejo inicial de emergência inclui a
Um programa alternativo usado por alguns ortopedis imobilização em 50 a 90° de flexão, com a administração
tas em fra tu ra s estáveis é a aplicação de uma tala longa de gelo, analgésicos e elevação. Pelo fato de as fraturas do
A B
Figura 14.13 Fraturas do olécrano. A. Não deslocada. B. Deslocada. Q ualquer fratura com mais de 2 mm de separação deve ser
considerada deslocada e necessita de cirurgia.
286 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
olécrano serem intra-articulares, elas necessitam redução mento, pode resultar artrite com restrição do movimento.
anatômica por fixação cirúrgica. As fraturas deslocadas Os programas terapêuticos devem focar na restauração e
do olécrano incluem aquelas com deslocamento de fratu na retenção do movimento completo. O sistema de clas
ra transversa, cominutiva, de avulsão ou epifisária. Essas sificação a seguir tem orientação terapêutica. As fraturas
fraturas são intra-articulares e necessitam redução anatô da cabeça e do colo do rádio são divididas em três gru
mica por fixação cirúrgica. Por conseguinte, está indicado pos: (1) fraturas marginais (intra-articulares), (2) fraturas
o encaminhamento ortopédico de emergência. do colo e (3) fraturas cominutivas. Em geral, as fraturas
não deslocadas são tratadas de forma fechada (pelo menos
Complicações inicialmente), enquanto a maioria dos casos de fraturas
deslocadas requer a redução aberta. Existe alguma con
A complicação mais comum é o desenvolvimento de ar trovérsia no manejo dessas fraturas, em especial na fase
trite e a inibição da mobilidade. Existe uma incidência pe de mobilização pós-lesão. Assim como em capítulos ante
quena (5%) de não união. riores, apresentaremos ambas as posições em que houver
uma controvérsia legítima.
FRATURAS DA CABEÇA E DO COLO DO RÁDIO
Mecanismo de lesão
As fraturas da cabeça e do colo do rádio são relativamente
comuns em adultos, respondendo por um terço de todas O mecanismo mais comum é uma queda com a mão es
as fraturas do cotovelo ’ (Fig. 14.14). O movimento suave tendida (indireto). Com o cotovelo em extensão, a força
da cabeça do rádio é essencial para a pronação e supina- dirige o rádio contra o capítulo, resultando em fratura
ção completa e indolor. Com fragmentação ou desloca- marginal ou do colo do rádio (Fig. 14.15). Conforme a
força aumenta, ocorrem cominução, luxação ou deslo
camento dos fragmentos. O padrão de fratura em adultos
A. Fraturas marginais e crianças é variável, devido às diferenças na resistência
do rádio proximal. Em adultos, são comuns as fraturas
marginais ou cominutivas da cabeça ou do colo do rádio
com envolvimento articular. Em crianças, o deslocamen
to da epífise do rádio é comum, enquanto o envolvimento
articular é raro.
Deslocada Depressão
> 2 mm > 2 mm
B. Fratura do colo
C. Fraturas cominutivas
Não deslocada
Figura 14.14 Fraturas da cabeça e do colo do rádio. A. Fratu- Figura 14.15 Fratura da cabeça do rádio secundária a uma
ras marginais. B. Fraturas do colo. C. Fraturas com inutivas. queda sobre o braço estendido.
Emergências Ortopédicas 287
Marginal (intra-articular)
Não deslocada. As fraturas marginais da cabeça do rá
dio com deslocamento de menos de 2 mm (fraturas margi
nais ou fraturas com depressão mínima) são tratadas com
tipoia ou tala braquial longa (Apêndice A.9). Se utilizada,
a tala deve permanecer não mais do que 3 a 4 dias. Os Cavidade
exercícios precoces para movimentação são recomenda articular
Complicações
As fraturas do processo coronoide poucas vezes estão as
sociadas ao desenvolvimento de osteoartrite.
C. Luxação posterior
Imagens
O exame radiográfico inicial deve incluir incidências em
AP e lateral (Fig. 14.24). No filme em AP, o antebraço
deve estar supinado e o cotovelo colocado na maior exten
são possível. O filme lateral deve ser obtido com o coto
velo em 90° de flexão. As incidências oblíquas adicionais
com o cotovelo em extensão podem ser úteis para diag
nosticar fraturas ocultas.
O segmento distai pode estar deslocado, angulado ou
rodado em relação ao osso proximal, resultando em várias
deformidades. Aproximadamente 25% das fraturas supra
Figura 14.21 O mecanismo indireto de causa de fratura supra condilianas são não deslocadas. O diagnóstico radiográfi
condiliana envolve a queda sobre a mão estendida. co nesses casos pode ser bastante difícil. Alterações sutis,
Emergências Ortopédicas 291
Tipo II e III. Com uma condição neurovascular intacta, a Precaução: Som ente um a tentativa deve ser fe ita p a ra a
redução dessas fraturas deve ser tentada por um cirurgião redução m a n ipulatória devido à p ro xim id a d e das e stru
ortopédico experiente. A redução de emergência pelo es turas neurovasculares e a probabilidade de lesão com as
pecialista na emergência somente está indicada quando a tentativas repetidas.
fratura deslocada estiver associada ao comprometimento
A extremidade é imobilizada em uma tala braquial
vascular, que ameace de imediato a viabilidade da extre
posterior longa (Apêndice A.9). Há controvérsia sobre
midade, em locais onde a consulta ortopédica de emergên
a posição do antebraço. Em crianças, se houver desloca
cia não esteja disponível (Fig. 14.25).
mento medial do fragmento distai, o antebraço deve ser
1. O passo inicial é preparar e administrar a sedação, imobilizado em pronação. Com deslocamento lateral, o
conforme delineado no Capítulo 2. antebraço deve ser imobilizado em supino. Os adultos são
2. Enquanto um assistente imobiliza o braço proximal geralmente imobilizados em posição neutra ou em leve
ao local da fratura, o médico segura o antebraço no pronação. Uma tipoia deve ser fornecida para suporte e
punho, exercendo tração longitudinal até que o com o gelo é aplicado para reduzir o edema. As radiografias
primento esteja próximo do normal (Fig. 14.25A). pós-redução para documentar a posição são essenciais. A
3. O médico agora hiperestende levemente o cotovelo hospitalização para acompanhamento da condição neuro
para destravar os fragmentos de fratura, enquanto vascular é obrigatória. O edema retardado com síndrome
aplica pressão em direção anterior, contra o segmento compartimentai subsequente e comprometimento neuro
umeral distal (Fig. 14.25B). Neste momento, a angu- vascular é comum após essas fraturas.
lação medial e lateral deve ser corrigida. O assisten O tratamento definitivo das fraturas supracondilianas
te simultaneamente exerce uma força suave dirigida deslocadas é a pinagem operatória após a redução fecha
posteriormente contra o segmento umeral proximal. da. A redução aberta é necessária em uma minoria de ca
4. Para completar a redução, o cotovelo é flexionado sos. A causa mais comum de síndrome compartimentai
para manter o alinhamento apropriado, e uma pressão em crianças é a fratura supracondiliana deslocada e, por
posterior é aplicada ao fragmento distal (Fig. 14.25C). isso, é necessária a redução de emergência (< 8 horas) ou
O cotovelo deve ser flexionado até o ponto onde o pul de urgência (dentro de 24 horas) para diminuir o edema e
so diminui e então estendido de 5 a 15° e os pulsos melhorar o retorno venoso. Felizmente, a pronta redução
novamente verificados e documentados. anatômica e a estabilização óssea têm reduzido a incidên-
cia de síndrome compartimentai do antebraço até mesmo 1. As lesões neurovasculares podem se apresentar de for
em casos mais graves. ma aguda ou com sintomas tardios. Em todos os casos
Alguns autores tratam as fraturas tipo II com redução em que houver suspeita de lesão vascular, a conside
fechada e imobilização, com acompanhamento atento. O ração de uma arteriografia urgente deve ser discutida
edema excessivo muitas vezes impede a redução fechada com o cirurgião ortopedista consultor. A síndrome
estável, contudo, e cerca de 25%, em última instância, ne compartimentai pode requerer uma fasciotomia. A pa
cessitam de pinagem devido ao deslocamento que ocorre, ralisia do nervo ulnar é uma complicação posterior.
mesmo com o gessado. 2. As deformidades ulnares em varo e valgo são comu-
Outros autores recomendam fixação em todas as fratu mente observadas em crianças. A má posição do frag
ras supracondilianas que requerem redução sob anestesia. mento umeral distai após a redução é a causa mais
frequente.
As fraturas su
Fratura su p ra c o n d i/ia n a e m fle x ã o . 3. A rigidez e a perda do movimento do cotovelo são
pracondilianas deslocadas em flexão também requerem complicações comuns em adultos pela imobilização
consulta ortopédica para redução. A pinagem da fratura é prolongada. Depois de uma redução estável, os exer
uma modalidade de tratamento bastante usada. Quando cícios de pronação e supinação devem ser iniciados
houver comprometimento neurovascular do membro e a em dois a três dias. Dentro de duas a três semanas, a
consulta ortopédica de emergência não estiver disponível, tala posterior pode ser removida para os exercícios de
um especialista experiente em medicina de emergência flexão-extensão.
pode executar a redução. Com o cotovelo em flexão, uma
tração-contratração longitudinal é aplicada. O médico FRAT U RAS TRAN SCO N DILI AN AS
então exerce uma pressão gentil dirigida posteriormente
sobre o fragmento distai. Quando o fragmento estiver na Essa fratura transversa atravessa ambos os côndilos, mas,
posição, o cotovelo é estendido e mantido em extensão. A diferentemente da fratura supracondiliana, fica dentro da
extremidade é imobilizada com uma tala braquial poste cápsula articular (Fig. 14.26). As fraturas transcondilia-
rior longa (Apêndice A.9). A nossa posição de preferência nas são vistas com mais frequência em pacientes acima
para o cotovelo é em 35° antes da extensão completa para dos 50 anos com osteopenia. O segmento umeral distai
evitar o desenvolvimento posterior de rigidez do cotovelo. pode estar posicionado anterior (flexão) ou posteriormen
Alguns autores recomendam a imobilização do cotovelo te (extensão) ao segmento umeral proximal. Por conse
em extensão completa. O paciente deve ser hospitalizado guinte, mecanismos, radiografias e tratamento são idênti
e tratado com elevação, gelo e analgésicos. A redução ci cos àqueles das fraturas supracondilianas em extensão ou
rúrgica das fraturas supracondilianas em flexão é indicada flexão. Muitas dessas fraturas resultam na deposição de
quando há a falha de uma tentativa de redução manipula- calo dentro das fossas do olécrano e coronoide, com sub
tória ou se há fragmentos instáveis de fratura. sequente redução na amplitude de movimentos. Todas as
fraturas transcondilianas requerem uma consulta urgente
com um cirurgião ortopédico e são mais bem administra
Complicações
das inicialmente em contexto hospitalar.
As fraturas supracondilianas estão associadas a várias Um exemplo de fratura transcondiliana do tipo em
complicações: flexão é a fra tu ra de Posadas. Ela resulta no deslocamen-
Lesões associadas
As lesões neurovasculares raramente estão associadas a
essas fraturas.
Tratamento
N ão deslocada. É uma fratura estável e pode ser inicial
mente tratada com tala braquial longa, com o antebraço
em posição neutra (Apêndice A.9). Tipoia, elevação e
compressas de gelo devem ser usadas precocemente. Os
exercícios de movimentos ativos podem ser iniciados den
tro de duas a três semanas.
A B
D eslo ca d a , rodada o u com inutiva. Essas fraturas rara Figura 14.29 Fraturas condilianas laterais. A. Crista troclear
mente são vistas, são difíceis de tratar e requerem uma lateral não incluída. B. Crista troclear lateral incluída.
consulta ortopédica de emergência. O tratamento cirúr
gico dessas fraturas, que antes era considerado incer
Fraturas condilianas laterais
to, é, agora, o tratamento de escolha. Em pacientes com
contraindicações para cirurgia, podem ser usados outros O côndilo lateral é anatomicamente mais exposto, tendo
meios de tratamento, como a pinagem do olécrano com maior possibilidade de fraturar (Fig. 14.29).
tração. O programa terapêutico selecionado depende do
tipo da fratura, do nível de atividade do paciente e do jul Mecanismo de lesão
gamento e das experiências prévias do cirurgião ortope Dois mecanismos resultam em fraturas condilianas laterais.
dista consultor. O cuidado de emergência envolve imobili Primeiro, com o cotovelo em flexão, uma força direta apli
zação da fratura na posição de apresentação e a aplicação cada em seu aspecto posterior resulta em fratura. Segundo,
de gelo. A fixação cirúrgica e a tração são as duas modali com o cotovelo em extensão, uma força que causa adução
dades terapêuticas mais selecionadas. Em pacientes mais e hiperextensão resulta fratura. Em crianças, a rotação do
velhos, com fraturas gravemente cominutivas, a prótese fragmento de fratura é secundária à tração dos músculos
20
de cotovelo pode ser considerada. extensores. A rotação do fragmento é incomum em adultos.
Complicações Exame
O exame físico revela sensibilidade dolorosa e edema so
As fraturas intercondilianas do úmero distai podem ser as
bre o côndilo envolvido.
sociadas a diversas complicações:
1. A complicação mais comum é a perda da função arti Imagens
cular do cotovelo As incidências em AP e lateral revelam o alargamento da
2. Artrite pós-traumática distância intercondiliana. O segmento fraturado pode ser
3. Complicações neurovasculares (raras) deslocado proximalmente, mas em geral será visto pos
4. Má união e não união (incomuns) terior e inferiormente a sua posição normal. Quando a
crista troclear lateral permanecer com o fragmento, pode
ocorrer a translocação da ulna. Em crianças nas quais a
FRATURAS CONDILIANAS ossificação está incompleta, as incidências de comparação
O côndilo umeral inclui tanto uma porção articular como devem ser obtidas.
uma epicondiliana e não articular. As fraturas condilia-
nas, por conseguinte, incorporam tanto a porção articular Lesões associadas
como a não articular do côndilo no fragmento de fratura. Nenhuma lesão associada costuma ser vista.
As fraturas envolvem tanto o côndilo medial (tróclea e
epicôndilo medial) como o lateral (capítulo e epicôndilo Tratamento
lateral). Devido às altas taxas de complicações, todas as fraturas
O fragmento de uma fratura condiliana pode incluir a condilianas laterais requerem avaliação urgente e acom
crista troclear lateral, ou permanecer inserido ao segmen- panhamento ortopédico.
to umeral proximal. “ Essa distinção é importante, pois as
fraturas em que a crista troclear lateral é incorporada no Crista tro clea r lateral não incluída.Quando não deslo
segmento umeral distai demonstram instabilidade medial cado, o braço deve ser imobilizado em uma tala braquial
e lateral do cotovelo, do rádio e da ulna. posterior longa, com o cotovelo em flexão, o antebraço em
296 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
Dois mecanismos resultam em fraturas condilianas me As fraturas condilianas mediais estão associadas às se
diais. Primeiro, uma força direta aplicada através do guintes complicações:
olécrano, em direção medial, pode fraturar o côndilo me 1. Artrite pós-traumática
dial. Segundo, a abdução com o antebraço em extensão 2. Má união com subsequente deformidade em varo da
pode resultar em fratura do côndilo medial. ulna
3. Parahsia do nervo ulnar
Exame
A sensibilidade dolorosa sobre o côndilo medial com a
flexão dolorosa do punho contra a resistência é frequen
FRATURAS DO CAPÍTULO
temente notada. As fraturas da superfície articular incluem o capítulo e a
tróclea e são muito incomuns como lesões isoladas, mas
Imagens podem ser vistas junto com as luxações posteriores do
Achados similares às fraturas condilianas laterais são no cotovelo (Fig. 14.31). As fraturas trocleares são bastan
tados, a exceção é que o fragmento distai tende a ser puxa te raras e requerem avaliação e tratamento ortopédico de
do anterior e inferiormente pelos músculos flexores. emergência. As fraturas do capítulo constituem somente
Emergências Ortopédicas 297
Complicações
As fraturas do capítulo estão associadas às seguintes com
plicações:
1. Artrite pós-traumática
2. Necrose avascular do fragmento fraturado
3. Amplitude de movimento restringida
FRATURAS DO EPICÔNDILO
Fratura do capítulo Fratura da tróclea As fraturas do epicôndilo são mais comumente vistas em
crianças (Fig. 14.32).
Figura 14.31 Fraturas da superfície articular. A. Fratura do ca
pítulo. B. Fratura da tróclea.
Fratura do epicôndilo medial
0,5 a 1% de todas as lesões do cotovelo e 6% das fraturas As fraturas do epicôndilo medial são muito mais comuns
do úmero distai. do que as laterais (Fig. 14.32A). O centro de ossificação
do epicôndilo medial aparece dos 5 aos 7 anos e fusiona-
Mecanismo de lesão -se ao úmero distai por volta dos 20 anos. O deslocamento
O mecanismo de fratura é o resultado de um golpe apli do epicôndilo medial, como uma lesão isolada, é inco-
cado sobre a mão estendida. A força é transmitida sobre o mum. Mais comumente vista é a fratura de avulsão palpá
rádio até o capítulo. O capítulo não tem nenhuma inserção vel associada à luxação posterolateral do cotovelo.
muscular, e, em consequência, o fragmento pode não ser
deslocado. Em algumas circunstâncias, o deslocamento Mecanismo de lesão
secundário ocorre pelo movimento do cotovelo. Três mecanismos estão associados às fraturas do epicôn
dilo medial:
Exame
1. A fratura de avulsão, mais comum, está associada
Inicialmente, pode haver um intervalo silencioso, com au
com as luxações posteriores na infância ou na adoles
sência de sinais e sintomas. Mais tarde, conforme o san
cência. Essa fratura raras vezes é associada a luxações
gue distende a cápsula articular, a dor e o edema podem se
posteriores acima dos 20 anos.
tomar bastante intensos. O deslocamento anterior do frag
mento da fratura para dentro da fossa radial pode resul 2. O tendão flexor-pronador está inserido no centro de
tar em flexão incompleta dolorosa. Com o deslocamento ossificação do epicôndilo medial. O estresse em val
posterior, a amplitude de movimento é completa; contudo, go repetido no cotovelo pode resultar em fratura, com
existe dor que aumenta com a flexão. deslocamento distai do fragmento. Isso é comumente
visto em jogadores adolescentes de beisebol, e é cha
Imagens mado de “cotovelo da liga infantil”.
A incidência lateral demonstra o fragmento em posição 3. As fraturas isoladas do epicôndilo medial em adultos
anterior e proximal à porção principal do capítulo. são causadas por um golpe direto.
Lesões associadas
As fraturas da cabeça do rádio são comuns. A mptura do li
gamento colateral ulnar é vista em até 70% dos pacientes.
Tratamento
A excisão cirúrgica de um fragmento capitular pequeno
(cartilagem articular e osso subcondral) é o tratamento de
escolha, mas, conforme as técnicas melhoram, a fixação
cirúrgica é mais comumente executada. O manejo de
emergência consiste em imobilização com tala posterior,
gelo, elevação e analgésicos. Se houver um grande frag
mento, ou se um pedaço da tróclea estiver envolvido, a
consulta ortopédica de emergência para redução cirúrgica
A B
é indicada. Tanto as técnicas fechadas como abertas foram
descritas. A redução precisa é imperativa para assegurar Figura 14.32 Fraturas epicondilianas. A. Epicôndilo medial. B.
o movimento normal da articulação radioumeral. Epicôndilo lateral.
298 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
Exame
Se essa fratura estiver associada a uma luxação poste
rior, o cotovelo fica em flexão e existe uma proeminên
cia do olécrano. As fraturas isoladas produzem dor lo
calizada sobre o epicôndilo medial. A dor aumenta com
a flexão do cotovelo e do punho ou com a pronação do
antebraço.
Precaução: A o a v a lia r essa fra tu ra , exa m in a r e d o c u
m en ta r a fu n ç ã o do nervo u ln a r antes de iniciar o trata
mento.
Imagens
As incidências de comparação são essenciais em crianças
e adolescentes. Os fragmentos deslocados podem migrar
e tomar-se intra- articulares.
Precaução: Se o fra g m en to tiver m igrado a té a linha a rti
cular, ele deve ser considerado intra-articular.
A idade em que os epicôndilos ossificam e se fundem
deve ser considerada antes de diagnosticar uma fratura
(Fig. 14.33). O epicôndilo medial aparece entre os 5 a 7
anos e se funde nas idades 18 a 20 anos. O epicôndilo
lateral aparece nas idades de 9 a 13 anos e se funde nas
idades de 14 a 16 anos. Para informação adicional, ler o
Capítulo 6.
Figura 14.33 Uma fratura epicondiliana medial em criança.
Lesões associadas
A lesão associada mais comum é a luxação posterior do Complicações
cotovelo. As fraturas epicondilianas mediais estão associadas à
interposição óssea do nervo ulnar se houver um desloca
Tratamento
mento persistente. Outras comphcações são relacionadas
Os fragmentos com deslocamento abaixo de 4 mm, de à luxação posterior do cotovelo, e o leitor deve ler a seção
terminado pela medida do espaço claro entre o fragmen a seguir para detalhes adicionais.
to da fratura e o úmero, podem ser imobilizados em uma
tala braquial longa (Apêndice A.9). O cotovelo e o punho
Fratura do epicôndilo lateral
devem ficar flexionados, com o antebraço pronado. Se a
fratura estiver associada a uma luxação de cotovelo, esta Essa é uma lesão extremamente rara, que resulta de um
é reduzida em primeiro lugar (ver a seção “Luxações do golpe direto. É muito mais comum fraturar o côndilo do
cotovelo”), e realizada uma avaliação dos fragmentos de que o epicôndilo. A maioria das fraturas não são desloca
fratura. Se o epicôndilo estiver dentro da articulação, a re das e são tratadas de forma similar às fraturas condilianas
dução aberta está indicada. laterais (Fig. 14.32B).
Luxação posterior
A B
Figura 14.37 Aspecto radiográfico de uma luxação de cotovelo posterior simples. A. Pré-redução. B. Pós-redução.
associadas, com incidência que varia de 12 a 60%. Duran te em uma luxação simples de cotovelo é vista em apenas
te a exploração cirúrgica, as lesões osteocondrais são vis 1 a 2% dos casos.
tas na maioria dos casos de luxações agudas do cotovelo. O punho e o ombro devem ser examinados com cui
Em pacientes com a “tríade terrível” (luxação do cotovelo dado, uma vez que ocorrem lesões adicionais nas extremi
com fraturas da cabeça do rádio e processo coronoide), dades superiores em 10 a 15% dos casos/
com frequência ocorre incapacidade significativa.
O epicôndilo medial fraturado pode, às vezes, ficar Tratamento
aprisionado na articulação, necessitando de redução aberta. A redução precoce é recomendada, pois a demora pode
As fraturas do processo coronoide são lesões comumente danificar a cartilagem articular ou resultar em edema ex
associadas, em geral retomando à oposição quase normal cessivo ou comprometimento circulatório. Se o cotovelo
uma vez que seja feita a redução. Os fragmentos grandes permanecer não reduzido por mais de sete dias, a utilida
que estejam deslocados podem requerer a fixação cirúrgica. de da redução fechada é mínima. A redução é mais ade
Todas as luxações de cotovelo que não sejam associa quadamente realizada depois de administrada a sedação,
das a fraturas concomitantes demonstram a ruptura dos conforme descrito no Capítulo 2. O anestésico local intra-
ligamentos medial e lateral. Embora esses ligamentos -articular também é uma opção. Várias técnicas de redu
sejam os estabilizadores primários do cotovelo, o reparo ção têm sido descritas para reduzir luxações posteriores.
cirúrgico raramente é necessário, pois os músculos flexo As técnicas a seguir se aplicam à luxação posterior sem
res e extensores atuam como fortes estabilizadores secun componente medial ou lateral. A técnica de Stimson é o
dários que resistem à reluxação. A instabilidade recorren método preferido, pois causa menos desconforto e lesões
A B
Figura 14.38 Luxações com plexas posteriores do cotovelo. A. Associado com fratura da cabeça do rádio. B. Associado com fratura
do processo coronoide.
Emergências Ortopédicas 301
associadas. Não importa qual técnica seja empregada, pode ser ajudada pela aplicação de pressão sobre o olécra-
recomenda-se que forças lentas, contínuas e suaves sejam no. A hiperextensão é contraindicada durante a redução,
aplicadas para limitar lesões adicionais de tecidos moles. pois pode causar lesão neurovascular (i.e., interposição do
nervo mediano ou lesão de artéria braquial), aumentar o
Técnica d e tração e contratração. O antebraço é supi- risco de desenvolvimento de miosite ossificante por dano
nado e o cotovelo deixado em leve flexão (aproximada muscular ou ferir as superfícies articulares.
mente 30°). A supinação é usada para minimizar o trauma
adicional ao processo coronoide. O médico estabiliza o Técnica da alavancagem . Enquanto em decúbito dorsal,
úmero distai com a mão não dominante e distrai o ante o cotovelo do paciente é flexionado, o antebraço é supina-
braço com a mão dominante. A tração lenta, contínua, do e o ombro é abduzido. O médico coloca o seu cotovelo
suave e longitudinal com flexão gradual reduz o coto sobre o bíceps distal do paciente e usa a sua mão para
velo (Fig. 14.39A). Se um assistente estiver disponível, entrelaçar os dedos do paciente ou agarrar o punho. O co
ele pode segurar o úmero distai enquanto o médico usa tovelo do paciente é gradualmente flexionado enquanto o
ambas as mãos para prover a tração. A redução também cotovelo do médico provê a contratração (Fig. 14.39B e
Figura 14.39 Técnicas para redução de luxação posterior do cotovelo. A. Tração-contratração. B. Alavancagem. C. Stimson. D. Kumar.
302 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
Vídeo 14.1). O resultado é uma alavanca com força longi- A cirurgia é indicada em casos em que a redução fe
tudinal suficiente para reduzir o cotovelo. chada fracassar, quando a reluxação ocorrer com 50 a 60°
de flexão, ou quando fraturas instáveis estiverem presen-
É uma modificação da técnica de
Técnica d e S tim so n . tes na articulação. As fraturas pequenas da coronoide
Stimson usada nas reduções de ombro (Fig. 14.39C). não requerem manejo adicional. As fraturas da cabeça do
O paciente deve ser colocado em decúbito ventral, com o rádio e as grandes fraturas da coronoide (envolvendo pelo
cotovelo deslocado pendendo perpendicularmente à mesa. menos 50% do processo coronoide) habitualmente reque
Um pequeno travesseiro ou campo dobrado deve apoiar o rem reparo cirúrgico após a redução fechada.
úmero logo proximal à articulação do cotovelo. Os pesos
são então suspensos a partir do punho, com o cotovelo Complicações
flexionado em cerca de 30° da posição estendida. Duran 1. Lesões nervosas em até 20%. As mais comuns são
te um período de vários minutos, a luxação de cotovelo as dos nervos ulnar e mediano, mas os nervos radial e
do paciente reduzirá. É preferível começar com aproxi interósseo anterior também podem ser afetados. Elas
madamente 2,5 kg de peso, que pode ser aumentado, se habitualmente se resolvem com o manejo conservador.
necessário. Essa técnica é a preferida por muitos, por ser 2. Rigidez articular pós-traumática. A perda dos 15° finais
2 f,
a menos provável de produzir manipulação forçada, o que de extensão do cotovelo depois da luxação é comum.
pode resultar em miosite ossificante. 3. Ossificação heterotópica. É comum depois da luxação
posterior do cotovelo (> 75% dos pacientes), mas li
Técnica d e Kumar. Este método envolve o desencaixe mita o movimento em menos de 5%.
suave do processo coronoide sem tração e hiperextensão
4. Instabilidade crônica.
excessiva, que podem causar dano de tecidos moles quando
o olécrano impactar no úmero inferior. Para executar a
redução, o médico da emergência fica no lado contralateral Luxações anteriores
do cotovelo lesionado do paciente. Com uma das mãos, o As luxações anteriores são muito menos comuns, ocorren
antebraço do paciente é imobilizado (Fig. 14.39D e Vídeo do a partir de um golpe no cotovelo flexionado, que dirige
14.2). Com a outra mão, o cotovelo é segurado de tal forma o olécrano para diante. As lesões associadas a ossos, vasos
que o polegar fique colocado sobre o olécrano do paciente e nervos em tomo da articulação são muito mais comuns
e os dedos fiquem acima do antebraço. A tração suave é com as luxações anteriores, tomando-a potencialmente
apbcada enquanto o cotovelo do paciente é gradualmente mais problemática.
flexionado para desencaixar o processo coronoide do úme Ao exame, o braço parece encurtado e o antebraço
ro inferior. Ao mesmo tempo, o olécrano é empurrado para está alongado e mantido em supinação. O cotovelo é man
a sua posição com o polegar. Este procedimento dura em tido em extensão completa. A fossa do olécrano é com
tomo de 5 minutos e tem uma taxa de sucesso de 95%. frequência palpável anteriormente.
Todos esses pacientes devem ser imobilizados, e a con
A redução bem-sucedida é frequentemente anunciada dição vascular e neurológica avabada. A consulta com um
por um som de “estahdo”, quando as superfícies articu cirurgião ortopedista deve ser obtida para a redução imedia
lares retomam a sua posição normal. Depois da redução, ta. Muitas dessas luxações são expostas, e o dano vascular
a estabibdade do cotovelo é verificada na amplitude de é bastante comum. A avulsão completa do mecanismo do
seu movimento. Se uma reluxação ocorrer em extensão, tríceps é outra lesão de tecidos moles comumente associada.
a articulação é potencialmente instável. Os ligamentos la
teral e medial também podem ser testados com estresse.
BURSITE DO OLÉCRANO
Se o cotovelo permanecer reduzido, é estável e pode ser
imobibzado em 90° com uma braquial longa posterior31 A bursite do olécrano é a forma mais comum de bursite do
(Apêndice A.9). Se houver edema significativo, uma po cotovelo vista no setor de emergência. É secundária a trau
sição ligeiramente menor que 90° é usada. Em caso de ma, uso excessivo, doença por cristais, doença autoimune e
qualquer dúvida quanto à potencial lesão vascular ou sín- infecção. 39 Um terço dos casos são infecciosos (sépticos),
drome compartimentai, o paciente deve ser hospitahzado e deve ser lembrado que o trauma pode causar tanto a bur
após consulta ortopédica apropriada. site séptica quanto a não séptica. 0,41 A bolsa do olécrano é
Para pacientes com reduções estáveis e que serão li a bolsa mais comumente infectada no corpo, respondendo
berados, o tempo de imobihzação é de aproximadamente por aproximadamente 70% dos casos. O Staphylococ-
5 a 7 dias, e o acompanhamento deve ocorrer dentro desse cus aureus é responsável por 80% dos casos. Outros
período. Naquele momento, os exercícios de ampbtude de fatores de risco para a bursite séptica do olécrano incluem
movimento completa devem começar, com o uso de um alcoolismo, estados imunocomprometidos e doença bursal
imobilizador ou tipoia para conforto e suporte. A imobi preexistente. 4,4: Aproximadamente um terço dos pacientes
lização por tempo superior a 3 semanas está associada à com bursite séptica do olécrano tem história de um episó
26
diminuição da ampbtude de movimentos. dio prévio de bursite do olécrano.
Emergências Ortopédicas 303
Figura 14.40 Bursite do olécrano. A . Não infecciosa. B . O edema e o eritema significativos sugeriam etiologia infecciosa,
prevenção com um agente anti-inflamatório não esteroide epicôndilo lateral. No momento, nenhuma dessas pode ser
e a amplitude de movimento precoce é de suma impor implicada como a causa isolada dessa condição. A
tância. A dor anterior no cotovelo pode também resultar característica subjacente é a presença de rupturas na apo-
da compressão do nervo mediano, como na síndrome do neurose dos tendões extensores. 'Muitos pacientes com
pronador. cotovelo de tenista têm fraturas com microavulsão do epi
A d o r m edial no cotovelo resulta de uma variedade de côndilo lateral somando-se às rupturas microscópicas no
condições, e é bastante comum. Uma fratura do epicôn- próprio tendão.
dilo medial ou uma fratura de estresse podem ocorrer. A O paciente apresenta-se com história de apareci
epicondilite medial é causada por tendinite do grupo mus mento gradual de uma dor incômoda ao longo do aspec
cular flexor ou pronador. Uma condição incomum chama to externo do cotovelo, que se irradia para o antebraço.
da de síndrome do estalido do cotovelo ocorre quando o A dor aumenta com os movimentos de segurar e to rcer .5Í
nervo ulnar tem um ressalto para fora do túnel ulnar. A dor A sensibilidade dolorosa fica localizada sobre o epicôn
medial no cotovelo pode resultar da instabilidade causada dilo lateral. Um teste confiável para cotovelo de tenista é
pela ruptura aguda ou crônica do ligamento colateral ulnar. produzido ao pedir-se para o paciente estender o cotovelo
A neurite ulnar é uma causa comum de dor medial no co e estender ativamente o punho e supinar o antebraço con
tovelo em atletas devido a localização superficial do nervo tra resistência (Fig. 14.41). Em indivíduos com cotove
no túnel ulnar, e sua resposta desfavorável aos estresses em lo de tenista, essa manobra intensifica o desconforto.
valgo. A compressão pode ocorrer proximal ao túnel ulnar O exame neurológico deve estar normal. A RMN é útil
em decorrência de um septo intramuscular tenso. O sin para identificar as áreas de inflamação sugestivas de epi
toma mais precoce é a dor na linha articular medial; falta condilite lateral. A ultrassonografia também pode ser útil
63
de jeito; ou peso na mão, nos dedos ou em ambos. Isso é para fazer o diagnóstico.
associado ou exacerbado pelo arremesso ou por atividades O tratamento desta condição no setor de emergência
com mãos acima da cabeça e manifesta-se com dormência é imobilizar o cotovelo em posição flexionada, com o an
e formigamento nos dedos mínimo e anular. tebraço supinado e o punho estendido. O paciente deve
A d o r p o ste rio r no cotovelo é menos comum do que ser aconselhado a aplicar calor no cotovelo e repousar. Os
a dor medial ou lateral no cotovelo, porém é mais comum agentes anti-inflamatórios, como o ibuprofeno, são bons
que a dor anterior. Os estresses anormais podem causar adjuntos. A imobilização de contraforça ou as “bandas de
dor na inserção do tríceps ou na apófise do olécrano, que cotovelo de tenista” são bastante efetivas para reduzir os
pode apresentar-se de forma similar à doença de Osgood- sintomas e permitir que o indivíduo continue a atividade
-Schlatter. A tendinite do tríceps é uma causa incomum normal (Fig. 14.42). M
de dor posterior no cotovelo e é tratada com repouso. A As injeções de corticosteroide têm demonstrado que
ruptura do tendão do tríceps é muito incomum. Uma fra são seguras e benéficas, e os seus efeitos duram de duas a
tura de estresse do olécrano também é uma causa inco seis semanas. A técnica para injeção requer que o cotove
mum de dor no cotovelo que ocorre em atletas que arre lo seja flexionado em 45°. A área de maior sensibilidade
messam. Bursite do olécrano é, sem dúvida, a condição dolorosa é identificada; a agulha é inserida em 90° até o
mais encontrada nesse grupo. osso, e então puxada de volta 1 a 2 mm antes de injetar.
A d o r lateral no cotovelo é a localização mais comum O tratamento com terapia de choques, ultrassom e
da dor no cotovelo na população geral. A epicondilite la laser tem-se provado de nenhum valor e, de fato, os alon
teral, discutida subsequentemente, é a causa mais comum. gamentos simples e os exercícios de fortalecimento são os
A interposição do nervo radial no cotovelo pode ocorrer adjuntos mais úteis, à medida que o paciente melhora.
de forma isolada ou junto com a epicondilite lateral. A intervenção cirúrgica pode se provar benéfica em casos
refratários.
EPICONDILITE (COTOVELO DE TENISTA)
A epicondilite pode ocorrer na área lateral ou medial do
úmero distai, no local da inserção tendínea dos músculos
do antebraço. Ambas as lesões são o resultado do uso crô
nico excessivo, secundárias às tarefas recreativas e ocupa-
• 56,57
cionais.
A epicondilite lateral é mais frequente na quarta e na
quinta décadas. É habitualmente referida pelo termo não
descritivo de “cotovelo de tenista”, porque 10 a 50% dos
jogadores de tênis desenvolvem essa condição. Mui Figura 14.41 O cotovelo de tenista pode ser diagnosticado se
tas entidades têm sido implicadas, incluindo a artrite da a dor sobre o epicôndilo lateral é exacerbada quando o pacien
articulação radioumeral, a bursite radioumeral, a sinovi- te estende o punho e o cotovelo e faz a supinação do antebraço
te traumática da articulação radioumeral e a periostite do contra resistência.
Emergências Ortopédicas 305
Figura 14.43 Um teste para epicondilite medial. A flexão for Figura 14.44 Teste de estresse dos ligamentos colaterais do
çada do punho causa dor sobre o epicôndilo medial. cotovelo.
306 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
ra. Tal condição pode ser confundida com epicondilite Síndrome do nervo interósseo anterior
lateral, mas, ao exame, a sensibilidade dolorosa máxima A síndrom e do n ervo interósseo a n terio r é incomum e
será produzida sobre o colo radial anterior. Existe uma pode apresentar-se clinicamente com dor vaga no antebra
dor profunda, crônica, que é comum à noite, diversa da ço ou dor ao realizar uma atividade. O nervo interósseo
dor cortante, em pontada, da epicondilite lateral. anterior é um ramo do nervo mediano. Em contraste com
Não há nenhum envolvimento sensitivo verdadeiro, pois a síndrome do pronador, a dor é produzida com a flexão
o ramo sensitivo do nervo radial é mais superficial e não contra resistência do dedo médio. A atrofia muscular sem
passa pelo túnel radial. A fraqueza motora é incomum. déficits sensitivos é encontrada tardiamente. A fraqueza
O paciente com a síndrome do túnel radial com frequên motora começa um dia depois de a dor ser percebida.
cia relata dor com a supinação resistida do antebraço es A síndrom e do túnel do carpo , o local mais comum de
tendido, que toma-se pior com a flexão do punho. compressão do nervo mediano, é abordada no Capítulo 12.
O tratamento consiste em repouso, anti-inflamatórios
e imobilização do punho por três a seis meses. Se não Neuropatia do ulnar
houver nenhuma melhoria, a descompressão cirúrgica
pode ser indicada. A neuropatia do ulnar resulta em prejuízo da adução ou da
abdução dos dedos em função da perda da força motora
Neuropatia do mediano dos músculos interósseos. Os déficits sensitivos incluem a
perda da sensibilidade do dedo mínimo. Os déficits fixos
A lesão do nervo mediano proximal ao cotovelo resulta são raros, mas a lesão característica é de uma “mão em
em perda na sensibilidade da superfície palmar do pole- garra” com hiperextensão na articulação metacarpofalân-
gar e dos dedos indicador e médio. Os déficits motores gica dos dedos anular e mínimo, com flexão nas articula
incluem perda da pronação do antebraço, da flexão do ções interfalângicas proximal e distai (Fig. 14.46).
punho e dos dígitos e da abdução do polegar. Os déficits
crônicos resultam em atrofia muscular tenar. Síndrome do túnel ulnar
Existem várias síndromes do nervo mediano que A síndrom e do túnel uln a r é uma síndrome compressiva
ocorrem no cotovelo e no antebraço, somente algumas se do nervo ulnar próximo do cotovelo, sendo a segunda neu
rão abordadas aqui. ropatia compressiva mais comum na extremidade supe-
87 92
rior. ’ O nervo desce do braço sem ramificação e passa
Síndrome do pronador através do sulco entre o epicôndilo medial e o olécrano.
A síndrom e do p ro n a d o r é uma neuropatia compressiva Esse é um local potencial de compressão ou tração. En
do nervo mediano em quaisquer dos vários locais no co tretanto, o local mais comum de compressão é de 1 a 2
tovelo e no antebraço proximal. Os locais adjacentes ao cm distalmente ao sulco ulnar. Nessa localização, o nervo
músculo pronador redondo incluem (1) debaixo da apo- passa para o túnel ulnar e entre as duas cabeças do flexor
93
neurose bicipital e (2) quando o nervo passa entre as cabe ulnar do carpo.
ças umeral e ulnar. Essa síndrome é vista em atletas O ato de arremessar é frequentemente responsável
cujos esportes requerem pronação forte repetitiva e esfor pela tração do nervo ulnar no cotovelo do atleta. Segurar
ços de preensão.
Vários indicadores clínicos ajudam a confirmar o
diagnóstico de síndrome do pronador. A dor com a prona
ção contra resistência quando o cotovelo é estendido e o
punho é flexionado sugerem o local de compressão dentro
do pronador redondo. Um dos testes mais sensíveis para
a síndrome do pronador é quando a palpação profunda e
direta do antebraço proximal, sobre o pronador redondo,
reproduzir os sintomas.
Essa condição pode ser confundida com a síndrome
do túnel do carpo, já que ambas causam dormência, pares-
tesias e fraqueza muscular na distribuição do nervo me
diano.8^Algumas diferenças observadas incluem a falta de
sintomas noturnos na síndrome do pronador e o sinal de
Tinel negativo.
A investigação inclui radiografias e estudos eletro-
diagnósticos. O manejo inicial é com repouso, anti-infla-
matórios e imobilização ocasional. O tratamento cirúrgico Figura 14.46 "Mão em garra" que ocorre secundária a uma
somente é necessário quando os sintomas forem refratá- paralisia do nervo ulnar. O paciente teve diagnóstico de síndro-
83
rios por 6 meses ou mais. me do túnel ulnar.
308 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
uma ferramenta em posição repetitiva pode levar a essa 14. Wu J, Perron AD, Miller MD, et al. Orthopedic pitfalls in
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Capítulo 15
Braço
FRATURAS DO BRAÇO
FRATURAS DA DIÁFISE DO ÚMERO Anatomia essencial
A extensa musculatura que circunda a diáfise do úmero
A diáfise do úmero se estende da inserção do peitoral
pode resultar em distração e deslocamento dos fragmentos
maior até as cristas supracondilianas. As fraturas da diá
ósseos após a fratura. O deltoide tem sua inserção ao lon
fise, do umero são, a maioria delas, vistas com mais fre
go da diáfise do úmero anterolateral, enquanto o peitoral
quência em pacientes com mais de 50 anos e envolve o
maior a tem no sulco intertubercular medial (Fig. 15.3).
terço médio da diáfise. Existem quatro padrões básicos
O supraespinal se insere no tubérculo maior da cabeça do
vistos em fraturas da diáfise do úmero.
úmero, proporcionando abdução e rotação externa. O bí
1. Transverso ceps e o tríceps se inserem distalmente e tendem a deslo
2. Oblíquo car em direção superior o fragmento distai.
3. Espiral As fraturas proximais à inserção do peitoral maior
4. Cominutivo podem ser acompanhadas por abdução e rotação externa
da cabeça do úmero devido à ação do supraespinal (Fig.
O tipo de fratura depende do mecanismo da lesão, da 15.3A). Uma fratura entre a inserção do peitoral maior e
sua força, da localização da fratura e do tônus muscular o deltoide habitualmente resulta em adução do fragmen
no momento da lesão. Cada um dos padrões de fratura ci to proximal pela tração do peitoral maior (Fig. 15.3B).
tados pode ser também classificado com base na presença As fraturas distais à inserção do deltoide muitas vezes re-
de deslocamento ou angulação (Figs. 15.1 e 15.2).
Músculo Músculo
Figura 15.3 Nas fraturas da diáfise, os músculos do úmero proximal causam o deslocamento dos fragmentos da fratura. Cinco mús
culos são importantes no deslocamento das fraturas nessa região: o deltoide, o supraespinal, o peitoral maior, o bíceps e o tríceps.
A. Em fraturas entre o manguito rotador e o peitoral maior, ocorrem a abdução e a rotação do fragmento proxim al. B. As fraturas que
ocorrem entre a inserção do peitoral maior e a do deltoide estão associadas com deformidade de adução do fragmento proxim al. C.
As fraturas que ocorrem abaixo da inserção do deltoide estão associadas com abdução do fragmento proxim al.
Mecanismo de lesão
Vários mecanismos causam fraturas da diáfise do úmero.
O mecanismo mais comum de lesão é a força direta resul
tante de uma queda ou um golpe direto. Em geral, uma
força direta resulta em fratura transversa.
O mecanismo indireto envolve uma queda sobre o co
tovelo ou o braço estendido. Além disso, uma contração
violenta em uma área de osso patologicamente enfraque
cido pode resultar em fratura. O mecanismo indireto re
sulta em fratura espiral.
Uma lesão relativamente menor pode resultar em fra
tura da diáfise umeral em pacientes portadores de prótese
da cabeça do úmero. Essa fratura ocorre depois de fresa- Figura 15.4 O nervo radial cursa no septo intermuscular late
gem ou impacção excessiva durante o encaixe e a fixação ral, ao longo do aspecto lateral do úmero, e pode ser envolvido
da prótese. em fraturas da diáfise.
Emergências Ortopédicas 313
Figura 15.5 Paciente com fratura de diáfise do úmero. Figura 15.6 Fratura com inutiva da diáfise do úmero no seu
terço distai.
Figura 15.7 Uma tala de cooptação em forma de "U ", às vezes chamada de "pinça de confeiteiro", é aplicada às fraturas da diáfise
do úmero para manter a redução. O braço é suspenso pelo punho a partir do pescoço em um aparato de suporte.
coaptação (ver Fig. 15.7) e encaminhamento urgente. As paralisias do nervo radial depois das fraturas da
Uma tipoia ou sustentação devem ser usados para o apoio diáfise do úmero eram, de modo tradicional, indicação
do antebraço. para exploração cirúrgica, mas esse tratamento tem sido
A terapia definitiva selecionada é conservadora na preterido porque (1) a transecção está presente em somen
maioria dos casos e inclui o uso continuado da tala de te 12% dos casos, (2) a regeneração espontânea do nervo
cooptação ou a imobilização funcional com órtese de é comum e (3) a intervenção cirúrgica tardia não afeta ad
plástico ajustada (Fig. 15.8). Esses métodos fornecem versamente o desfecho.
a tração pela pendência, com o objetivo de corrigir a an- A intervenção cirúrgica em geral requer fixação com
gulação e o deslocamento. A imobilização funcional tem placa. As indicações para o manejo operatório das fratu
a vantagem de permitir o movimento do cotovelo e do ras da diáfise do úmero incluem:
ombro durante a consolidação, o que melhora o desfecho
• Incapacidade de manter o alinhamento de menos de
funcional. Como a posição reclinada pode alterar a efeti
15° de angulação.
vidade da consolidação, o paciente deve ser instruído para
dormir em posição semissentada. Essa também é a razão • Falta de cooperação com as técnicas conservadoras.
pela qual uma tipoia não é recomendada, já que pode neu • Lesão da artéria braquial (consultoria de emergência).
tralizar a capacidade da gravidade de auxiliar corretamen • Lesões adicionais que exijam a posição deitada por
te a redução. Os gessados braquiais, antigamente popula tempo prolongado, não permitindo a tração pela força
res, já têm sido amplamente substituídos. O paciente deve da gravidade.
começar de imediato os exercícios da mão; e os exercícios • Fraturas associadas que requerem mobilização precoce.
de circundução do ombro são iniciados assim que a dor • Tecidos moles interpostos que não permitem o alinha
permitir. mento apropriado.
• Lesão do plexo braquial. Se o plexo braquial sofrer
lesão, os tecidos moles que circundam os músculos
do braço perdem a sua estabilidade. O alinhamento
será difícil de manter, uma vez que a gravidade distrai
as extremidades da fratura.
• Fraturas segmentar, patológica, expostas ou bilaterais
da diáfise do úmero.
Complicações
As fraturas da diáfise do úmero podem desencadear várias
complicações significativas:
1. O desenvolvimento de capsulite adesiva do ombro pode
ser prevenido com exercícios precoces de circundução.
2. É possível o desenvolvimento de miosite ossificante
do cotovelo. Ela pode ser evitada com exercícios ati
vos de rotina.
Figura 15.8 Órtese funcional usada para tratar fraturas da diá 3. O desenvolvimento tardio de paralisias do nervo radial.
fise do úmero. 4. Não união ou união retardada.
Emergências Ortopédicas 315
Ruptura do tendão distai do bíceps O médico deve afastar a possibilidade de fratura sub
jacente e testar o nervo radial em uma contusão no as
A ruptura do tendão distai do bíceps é mais comum no
pecto lateral distal do braço. A contusão do nervo radial,
braço dominante de homens entre 40 e 60 anos e ocorre
onde ele passa junto ao úmero ao longo do sulco espiral,
como resultado de uma carga excêntrica súbita com o co
é uma lesão não frequente. Conforme o nervo desce, vai
tovelo flexionado.“ Essa lesão é menos comum do que a
lateralmente sobre a crista epicondiliana lateral e toma-se
ruptura proximal, respondendo por 3% das lesões do ten
mais sucetível a contusões por um golpe direto. O pacien
dão do bíceps, embora pareça estar se tomando mais co
te queixa-se da sensação de formigamento que desce ao
mum, possivelmente devido ao aumento no nível de ativi
antebraço e também à mão, por sobre a distribuição do
dade dos pacientes em suas quinta e sexta décadas. Em
nervo. O tratamento é sintomático.
geral, existe a história de uma sensação de ruptura acom
Os pacientes com contusões repetidas no braço po
panhada de dor na região da fossa antecubital. De forma
dem desenvolver deposição óssea ectópica. A exostose
similar à ruptura da cabeça longa do bíceps, os pacientes um eral lateral a n terio r , também chamada de exostose do
apresentam deformidade visível do ventre muscular e fra bloqueador, devido a sua associação à posição no futebol
queza à flexão e supinação. As rupturas parciais podem americano, é uma deposição anormal de osso na inserção
não apresentar a mesma retração e deformidade muscu do músculo deltoide sobre o úmero. A lesão é desencadea
lar e são, por conseguinte, mais difíceis de diagnosticar. da por um golpe direto nessa região, produzindo contusão
Se o diagnóstico não estiver claro, a ultrassonografia ou e periostite na inserção do tendão do deltoide. Mais tar
a RMN podem ser úteis. A mptura aguda do tendão distai de, uma exostose potencialmente dolorosa e irritativa se
do bíceps é tratada com reinserção cirúrgica precoce para desenvolve no local da lesão. Quando ocorre desconforto
manter a força. As rupturas parciais acima de 50% da significativo, o paciente deve ser encaminhado para ava
largura do tendão também precisam de cirurgia.2 liar a possibilidade de uma excisão.
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Capítulo 16
Ombro
INTRODUÇÃO
O ombro é composto do úmero proximal, da clavícula e
da escápula. As articulações do ombro incluem a ester- Ligamento
glenoumeral superior
noclavicular, a acromioclavicular e a glenoumeral. Existe
também uma articulação entre a escápula e o tórax. As Ligamento
Figuras 16.1 e 16.2 mostram a anatomia essencial, tanto glenoumeral médio
óssea como ligamentar, que deve ser conhecida para en
Ligamento
tender os distúrbios que envolvem o ombro. Superficial glenoumeral inferior
mente aos ligamentos estão os músculos que dão suporte
ao ombro e fornecem a sua amplitude de movimento glo Tendão do bíceps
bal. O manguito rotador circunda a articulação glenoume
ral, sendo composto dos músculos redondo menor, infra-
espinal e supraespinal (inseridos no tubérculo maior) e do
músculo subescapular (inserido no tubérculo menor) (Fig. Figura 16.2 O s ligamentos em torno do ombro.
16.3). Superficialmente a esses músculos fica o deltoide,
que age como abdutor do ombro.
A clavícula é um osso oblongo, cuja porção média é
tubular e a porção distai é achatada. Está ancorada à es A escápula consiste em corpo, espinha, glenoide,
cápula pelos ligamentos acrom ioclavicular e coracoclavi- acrômio e processo coracoide. O osso está recoberto
cular. Os ligamentos esternoclavicular e costoclavicular com músculos grossos sobre todo o seu corpo e espinha.
ancoram a clavícula medialmente (Fig. 16.4). A clavícula Na superfície posterior, o músculo supraespinal cobre a
é o ponto de inserção para os músculos estemocleidomas- fossa superior à espinha, enquanto o infraespinal cobre a
tóideo e subclávio. Os ligamentos e os músculos agem em fossa abaixo da espinha. A superfície anterior da escápula
conjunto para ancorar a clavícula e, desse modo, manter é separada do gradil costal pelo músculo subescapular.
a largura do ombro e ser ponto de inserção do ombro no Esses músculos oferecem proteção e suporte à escápula,
esqueleto axial. que está conectada ao esqueleto axial somente pela ar
ticulação acromioclavicular. O restante do suporte esca-
pular vem da espessa musculatura de revestimento que
circunda a sua superfície.
Articulação
esternoclavicular
Articulação
acromioclavicular Processo
coracoide
Acromioclavicular Esternoclavicular
Coracoacromial / Coracoclavicular
Tubérculo
maior
Tubérculo
menor
Articulação
glenoumeral
Costoclavicular
Articulação
escapulotorácica
Vista anterior
Tendão do Arco
subescapular coracoacromial
Vista posterior
Tendão do
supraespinal Músculo
supraespinal
Músculo
infraespinal
Músculo
redondo menor
Figura 16.6 A proporção do movimento glenoumeral para o escapulotorácico é de 2 :1 . Em 90° de abdução, 60° ocorrem na arti
culação glenoumeral e 30° na articulação escapulotorácica. Com o mecanismo de encolher os ombros, é possível abduzir o ombro
em 65° devido ao movimento escapulotorácico, embora não haja nenhum movimento na articulação glenoumeral.
é levemente superior ao manúbrio, e realmente é palpada podem ser testados pela avaliação da força. O músculo
a extremidade proximal da clavícula nesse ponto. A claví subescapular é responsável pela rotação interna do ombro.
cula é superficial em toda a sua extensão e pode ser facil Fazer o paciente segurar a mão atrás das costas, no nível
mente palpada. da cintura, e tentar afastá-la para longe do corpo, contra
A articulação a cro m io cla vicu la r é palpada empur resistência. O músculo supraespinal abduz a cabeça do
rando a extremidade distai da clavícula em direção me úmero. Para isolá-lo, o braço é mantido na vertical, no
dial, quando ela protrui acima do acrômio, que é plano. plano da escápula, com o polegar virado para baixo (como
A articulação acromioclavicular é mais facilmente pal se esvaziando um copo). O paciente eleva o braço contra
pada se for pedido ao paciente para mover o ombro di resistência. Tanto o infraespinal como o redondo menor
versas vezes enquanto o examinador palpa a articulação. rodam externamente o braço, embora o infraespinal seja
O tubérculo m a io r do úmero fica lateral ao processo do responsável por 90% dessa força de rotação.
acrômio e pode ser palpado seguindo-se o processo do Há quatro bolsas em tomo do ombro. A mais impor
acrômio até a sua borda lateral e deslizando os dedos para tante delas é a su b a c ro m ia l (sub d e lto id e a), pois separa
baixo. Existe um pequeno degrau entre a borda lateral do os músculos do manguito rotador do músculo deltoide,
acrômio e o tubérculo maior. do acrômio e do arco coracoacromial (Fig. 16.7). A bol-
O sulco bicipital localiza-se anterior e medialmente
ao tubérculo maior, é limitado lateralmente pelo tubérculo
maior e medialmente pelo menor. Essa estrutura é palpada Bolsa subacromial
com facilidade se o braço estiver em rotação externa. A ro
tação externa coloca o sulco em posição mais exposta para
a palpação e permite que o examinador perceba primeiro
o tubérculo maior, então o sulco bicipital e, finalmente, o
tubérculo m enor ao mover-se de uma posição lateral para
mediai. O tendão do bíceps fica dentro desse sulco.
O processo coracoide pode ser palpado colocando o
paciente em posição relaxada, observando a porção mais
profunda da concavidade clavicular que fica junto ao seu
terço lateral e colocando os dedos inferiormente, cerca de
2,5 cm a partir da borda anterior da clavícula. Essa região
é o triângulo deltopeitoral, e ao palpá-lo com pressão será
sentido também o processo coracoide. A escápula pode
ser vista posteriormente e cobre da segunda até a sétima
costelas.
O m anguito rotador, embora não seja facilmente pal
pável, deve ser reconhecido, já que é um local comum de
processos patológicos. Os músculos do manguito rotador
Emergências Ortopédicas 321
sa subcoracóidea está localizada embaixo do processo (Fig. 16.8). A incidência AP é feita tanto em rotação ex-
coracoide. A subescapular está localizada perto da jun tema como interna. Com o úmero em rotação externa, o
ção tendínea do subescapular e do tubérculo menor. As tubérculo maior é visualizado de forma mais adequada,
bolsas escapulares estão localizadas nas bordas mediais enquanto em rotação interna o tubérculo menor é visto
superior e inferior da escápula e separadas da parede na proximidade da articulação glenoumeral. A incidência
torácica. AP verdadeira (de Grashey) é obtida com a placa em pa
ralelo à escápula e requer que o feixe seja angulado em
Imagens 45° de uma posição medial para lateral em direção ao om
bro. Essa incidência é útil para confirmar uma articulação
As radiografias do ombro incluem uma incidência ante apropriada da cabeça umeral com a glenoide. A incidência
roposterior (AP), uma incidência AP “verdadeira” (in escapular em Y ajuda a identificar luxações glenoumerais
cidência de Grashey), uma escapular em Y e uma axilar e fraturas escapulares, como as fraturas do úmero proxi-
Figura 16.8 Radiografias do ombro. A. Projeção anteroposterior (AP). B. Incidência AP normal. C. Projeção AP verdadeira (incidên
cia de Grashey). D. Radiografia AP verdadeira normal. (continua)
322 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
Figura 16.8 ( Continuação ) £. Projeção em "Y " escapular. F. Radiografia escapular em "Y " normal. O "Y " é formado pelo corpo da
escápula, a espinha e o processo coracoide. A cabeça do úmero fica centrada na junção do "Y ". C . Projeção axilar. H . Radiografia
axilar normal.
mal. O “Y” é formado pelo corpo, pela espinha e pelo pro frequência não é tolerada pelo paciente em função da dor.
cesso coracoide da escápula. Em uma radiografia normal, Esses filmes podem ser obtidos com o paciente em decú
a cabeça do úmero é vista na junção do “Y”. A incidência bito dorsal, em pé ou sentado, embora seja recomendável
axilar é obtida com o braço abduzido em 90°, mas com a posição sentada.
Emergências Ortopédicas 323
FRATURAS DO OMBRO
FRATURAS DO ÚMERO PROXIMAL Depois da lesão, se nenhum dos fragmentos umerais
proximais estiver deslocado e sem angulação, a lesão é
As fraturas do úmero proximal respondem por 3% das classificada como fra tu ra de um a parte. Se um fragmento
fraturas da extremidade superior e são mais comuns em tiver mais de 1 cm de deslocamento, ou angulação acima
pacientes idosos. de 45° do úmero proximal intacto restante, a fratura é clas
O úmero proximal é definido como a porção do úme sificada como fra tu ra de duas partes. Se dois fragmentos
ro proximal ao colo cirúrgico (Fig. 16.9). O colo cirúr estiverem individualmente deslocados do úmero proximal
gico é a porção mais estreita do úmero proximal. O colo restante, a fratura é classificada como fra tu ra de três p a r
anatômico marca o final da superfície articular do ombro. tes. Por último, se todos os quatro fragmentos estiverem
Os tubérculos maior e menor são proeminências ósseas individualmente deslocados, será uma fra tu ra de quatro
localizadas distalmente ao colo anatômico. p a rtes. É importante lembrar que o deslocamento deve ser
Existem vários músculos com inserção no úmero pro de mais 1 cm ou sua angulação superior a 45° para ser
ximal e ao seu redor. O supraespinal, o infraespinal e o considerada uma parte “separada” (Fig. 16.11). Observar
redondo menor se inserem no tubérculo maior e tendem que as fraturas de três e quatro partes são, muitas vezes,
a tracionar os fragmentos de fratura para uma direção su associadas a uma luxação. As fraturas da superfície articu
perior, com alguma rotação anterior. O músculo subesca- lar não estão incluídas no sistema de Neer e são abordadas
pular se insere no tubérculo menor. Esse músculo tende a separadamente no final do capítulo.
puxar os fragmentos de fratura em direção medial, com Quase 80% de todas as fraturas umerais proximais
rotação posterior. O músculo peitoral maior se insere no são de uma parte. Os fragmentos umerais são mantidos
lábio lateral do sulco intertubercular, enquanto o deltoide no lugar pelo periósteo, pelo manguito rotador e pela cáp
se insere no tubérculo deltoide. Essas estruturas tendem a sula articular. A estabilização e o manejo iniciais dessas
exercer forças mediais e superiores, respectivamente, na fraturas devem ser iniciados pelo médico da emergência.
diáfise do úmero, após fraturas proximais. Os restantes 20% das fraturas umerais proximais (fraturas
O sistema de classificação das fraturas foi desenvol de duas, três ou quatro partes) exigem redução e podem
vido por Neer. O úmero proximal é dividido em quatro permanecer instáveis após o procedimento.
segmentos (Fig. 16.10): O tratamento das fraturas do úmero proximal va
1. Cabeça do úmero ria de acordo com a idade do paciente e do seu estilo
2. Diáfise do úmero de vida. As fraturas não deslocadas (i.e., de uma parte)
3. Tubérculo maior podem ser tratadas com tipoia e enfaixamento ou apenas
tipoia (Apêndice A.13). Os exercícios passivos precoces
4. Tubérculo menor
são recomendados (Fig. 16.12). Os exercícios ativos são
Esse sistema de classificação tem implicações prog prescritos durante os estágios mais tardios da consolida
nósticas e terapêuticas, dependendo apenas da relação dos ção. As fraturas mais complexas, deslocadas ou angu-
segmentos ósseos envolvidos e o seu deslocamento.
Colo
anatômico
Colo
anatômico
Tubérculo Colo
maior cirúrgico
Colo
cirúrgico
Figura 16.10 As quatro partes do úmero proximal referidas na
classificação de Neer incluem (1) tubérculo maior, (2) tubérculo
menor, (3) cabeça do úmero e (4) diáfise do úmero. As fraturas
são classificadas de acordo com o deslocamento de uma ou
mais das "partes" do restante. O deslocamento é definido como
a separação acim a de 1 cm do úmero ou a angulação da parte
Figura 16.9 Anatomia do úmero proximal. em mais de 45°.
324 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
Fraturas de
uma parte
Imagens
A série de trauma, que inclui incidência AP em rotação
interna e externa, a incidência escapular em Y e a inci
dência axilar, é adequada para demonstrar essas fraturas
Figura 16.13 O ângulo normal entre a cabeça e a diáfise ume-
(Fig. 16.15). A tomografia computadorizada (TC) é útil
ral é de 135°. Um ângulo menor ou igual a 90° ou maior que para detectar fraturas ocultas que não são visíveis nas ra
180° é significativo e pode exigir redução, dependendo da ida diografias simples.
de e da atividade do paciente. As fraturas do úmero proximal associadas com he-
martrose podem deslocar a cabeça do úmero em direção
inferior. Radiograficamente isso é chamado de pseudossu-
te têm deslocamento menor que 1 cm e angulação menor bluxação, apontando a presença de fratura intra-articular
que 45° em relação ao normal (Fig. 16.14). (Fig. 16.16). Um sinal radiográfico adicional que indica
fratura intra-articular é a presença de um n ível de flu id o
Mecanismo de lesão de gordura.
Dois mecanismos resultam em fraturas do colo cirúrgico
Lesões associadas
do úmero proximal. O mecanismo mais comum é indireto,
causado por uma queda sobre o braço estendido. Se o bra As fraturas não deslocadas do colo cirúrgico podem ser
ço estiver abduzido durante a queda, a diáfise será deslo associadas a uma contusão ou ruptura do nervo axilar.
cada lateralmente. Se, entretanto, o braço estiver aduzido, A lesão neurovascular axilar e as lesões do plexo braquial
a diáfise umeral será deslocada medialmente na maioria são mais comuns após fraturas deslocadas ou cominutivas
dos casos. do colo cirúrgico.
O trauma direto, que frequentemente é mínimo no
idoso, pode resultar em fratura do colo cirúrgico. Tratamento
Uma fratura não deslocada (< 1 cm) do colo cirúrgico,
Exame com menos de 45°, é de uma parte. O uso de tipoia é o
O paciente apresenta sensibilidade dolorosa e edema no modo recomendado de terapia. Gelo, elevação e analgé
braço e no ombro. Se, na apresentação, o braço for man sicos, combinados com exercícios da mão, devem ser ini
tido em adução, a incidência de lesão do plexo braquial ciados logo após a lesão. Os exercícios de circundução co-
e da artéria axilar é baixa. Se o paciente se apresentar
com o braço abduzido, a incidência de lesão neurovas
cular é muito mais significativa. Antes do exame radio-
gráfico, verificar a presença dos pulsos distais e da fun
ção sensitiva.
Figura 16.16 Pseudoluxação secundária à hemartrose após uma fratura do úmero proximal. Na incidência AP, a cabeça do úmero pa
rece deslocada, mas a incidência axilar mostra o posicionamento apropriado. Apesar do fato que tanto o tubérculo maior quanto o colo
cirúrgico estão fraturados, a lesão é classificada como fratura de duas partes, pois o fragmento do tubérculo maior não está deslocado.
meçam assim que forem tolerados, seguidos de exercícios manipulados manualmente de volta para a posição, e
passivos de cotovelo e de ombro em duas ou três semanas. a tração é aos poucos liberada.
Os exercícios de movimento do ombro podem ser inicia 4. Um exame neurovascular completo deve ser docu
dos dentro de três a quatro semanas. mentado depois de qualquer tentativa de redução
Em pacientes idosos com demandas físicas mais bai manipulatória. Depois disso, tipoia e enfaixamento
xas, uma angulação significativa (> 45°) pode ser bem devem ser aplicados.
tolerada, desde que exista algum contato ósseo. Entre
tanto, em pacientes jovens, essas lesões exigem redução. O manejo de emergência das fraturas cominutivas do
Uma porção do periósteo permanece intacta e ajuda em colo cirúrgico inclui imobilização, gelo, analgésicos e en
uma redução fechada. O manejo no setor de emergência caminhamento de emergência. Entre as alternativas tera
consiste na imobilização com tipoia, analgésicos e enca pêuticas definitivas estão o gessado pendente, a fixação
minhamento de emergência para redução. interna ou a tração acima da cabeça com fio no olécrano.
O manejo de emergência das fraturas de duas partes
deslocadas do colo cirúrgico inclui a imobilização com ti
poia, gelo, analgésicos e encaminhamento de emergência.
A redução fechada sob anestesia regional ou geral é pre
ferível, seguida de imobilização com tipoia. Se a redução
for instável, a redução com fios percutâneos ou aberta é
executada.
Se o encaminhamento de emergência não estiver dis
ponível em uma situação de comprometimento vascular
com ameaça à viabilidade do membro, a redução com
sedação pode ser realizada usando os seguintes métodos
(Fig. 16.17):
1. Com o paciente em decúbito dorsal ou reclinado em
45°, o médico deve aplicar tração constante ao braço,
na extenção do eixo longo do úmero.
2. Enquanto a tração é mantida, o braço é trazido em
direção ao tórax, anteriormente, e flexionado leve
mente.
3. Enquanto a tração é mantida para distrair os fragmen Figura 16.17 O método para reduzir uma fratura deslocada
tos, a outra mão do médico é colocada ao longo da do úmero proxim al. A distração seguida de reposicionamento
borda medial fraturada do úmero. Os fragmentos são do fragmento distai é essencial em todas as reduções.
Emergências Ortopédicas 327
Complicações
As lesões do colo anatômico são frequentemente compli
cadas pelo desenvolvimento de necrose avascular. É reco
mendável que os médicos, ao tratar as fraturas do colo ana
tômico, façam contato com um ortopedista antes da terapia
Figura 16.18 Fratura do colo anatômico.
e encaminhem todos os pacientes para acompanhamento.
Mecanismo de lesão
O mecanismo habitual é uma queda com o braço estendido.
Exame
O edema e a sensibilidade dolorosa à palpação estão apa
rentes na área do ombro. A dor aumenta com qualquer
movimento do ombro.
Imagens
As incidências radiográficas de rotina são adequadas para
demonstrar a fratura. Em crianças, uma lesão tipo Salter
II é a mais comum.
Lesões associadas
As fraturas do colo anatômico em geral não estão associa
das a quaisquer lesões graves ao redor.
Tratamento
B
O manejo de emergência dessas fraturas inclui imobili
zação com tipoia e enfaixamento (Apêndice A.13), gelo, Figura 16.19 Fraturas do tubérculo maior. A. Não deslocada.
analgésicos e encaminhamento precoce. Tanto as fraturas B. Deslocada (> 5 mm).
328 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
praespinal, o infraespinal e o redondo menor se inserem terior será subestimado, bem como o número de fraturas
no tubérculo maior que, quando fraturado, causam des deslocadas de duas partes. A TC faz o diagnóstico com
locamento superior do fragmento. O tubérculo deslocado precisão dos graus de deslocamento, se houver dúvidas.
para cima faz bloqueio mecânico da abdução do ombro.
As fraturas deslocadas do tubérculo maior estão associa Lesões associadas
das a rupturas do manguito rotador. Aquelas do tubérculo É raro que lesões neurovasculares estejam associadas a es
maior são uma exceção na classificação de Neer, já que sas fraturas. As do tubérculo maior estão comumente as
somente 0,5 cm de deslocamento são necessários para a sociadas a luxações anteriores do ombro e a rupturas do
fixação cirúrgica do fragmento. manguito rotador. Ambas as lesões são mais comuns com
fraturas deslocadas.
Mecanismo de lesão
Dois mecanismos podem resultar em fraturas do tubérculo Tratamento
maior. As de compressão resultam de um golpe direto no O manejo de emergência das fratu
N ã o d eslo ca d a .
úmero superior, como ocorre durante uma queda. Os ido ras não deslocadas do tubérculo maior consiste em gelo,
sos são muito suscetíveis a esse tipo de lesão devido à analgésicos, imobilização com tipoia (Apêndice A. 13),
atrofia e ao enfraquecimento da musculatura circundante. e encaminhamento precoce, devido à alta incidência de
As fraturas não deslocadas resultam de queda com o braço complicações.
estendido (indireta). As deslocadas são secundárias a uma
queda sobre o braço estendido, com a contração do man D eslocada (> 0 ,5 cm ). Se associada com luxação ante
guito rotador resultando em deslocamento. rior de ombro, a redução frequentemente corrige o deslo
camento do tubérculo maior e a fratura pode, então, ser
Exame tratada como não deslocada.
O paciente relata dor e edema sobre o tubérculo maior. Ele Se o deslocamento permanecer, ou uma fratura des
é incapaz de abduzir o braço e sente aumento da dor com locada estiver presente sem luxação do ombro, o manejo
a rotação externa. Além disso, a rotação externa do ombro dependerá da idade e da atividade do paciente. Os pacien
pode estar inibida se o tubérculo posteriormente desloca tes jovens requerem a fixação interna do fragmento, com
do causar impacto contra a glenoide posterior. reparo do manguito rotador rompido. Um bom estoque
ósseo deve estar presente para a fixação com parafusos,
Imagens mas a carência dele é frequente em pacientes idosos.
As radiografias em AP demonstram essas fraturas (Fig. Os indivíduos mais velhos em geral não são candidatos ao
16.20). Embora a incidência AP seja capaz de avaliar o reparo cirúrgico e requerem gelo, imobilização com tipoia
deslocamento superior, com frequência existe falha em (Apêndice A. 13), analgésicos e encaminhamento preco
demonstrar de forma precisa a quantidade de retração ce. A mobilização precoce no paciente idoso é essencial.
posterior e sobreposição do fragmento com a superfície
articular. As radiografias axilares podem ser usadas para Complicações
avaliar a quantidade de retração posterior. Se forem usa As fraturas do tubérculo maior podem estar associadas a
das apenas as radiografias em AP, o deslocamento pos- diversas complicações:
1. As fraturas de compressão são muitas vezes compli
cadas pelo impacto sobre a cabeça longa do bíceps,
resultando em tenossinovite crônica e, eventualmente,
ruptura do tendão.
2. Não união.
3. Miosite ossificante.
Mecanismo de lesão
As fraturas do tubérculo menor são, habitualmente, asso
ciadas a um mecanismo indireto de lesão, como convul
Figura 16.20 Fratura deslocada do tubérculo maior. são ou queda com o braço aduzido. Ambas as situações
Emergências Ortopédicas 329
Exame
A sensibilidade dolorosa à palpação está presente sobre
o tubérculo menor. A dor aumenta com a rotação externa
ativa ou adução contra resistência. Além disso, a rotação
externa passiva exacerba a dor.
Figura 16.22 Fraturas combinadas - fratura de três partes.
Imagens
As incidências de rotina do ombro são adequadas para de Fraturas combinadas do úmero proximal
monstrar essa fratura.
As fraturas combinadas referem-se às fraturas de Neer
classificadas como lesões de três ou de quatro partes
Lesões associadas
(Figs. 16.22 e 16.23). Em geral, elas são o resultado de
As luxações posteriores do ombro estão comumente asso intensas forças de lesão e estão muitas vezes associadas
ciadas a essas lesões. Além disso, as fraturas não desloca a luxações.
das do colo cirúrgico podem ocorrer em associação a elas.
As lesões neurovasculares raras vezes são concominantes Mecanismo de lesão
a fraturas do tubérculo menor.
O mecanismo mais comum é a queda sobre o braço esten
dido. Os segmentos envolvidos e a quantidade de desloca-
Tratamento
O manejo de emergência das fraturas do tubérculo menor
inclui gelo, analgésicos, imobilização com tipoia (Apên
dice A. 13) e consulta ortopédica. As fraturas não desloca
das são tratadas de forma conservadora. As de duas partes
(i.e., deslocadas > 1 cm) em geral requerem o reparo ci
rúrgico, especialmente com fragmentos maiores e quando
o paciente apresentar rotação interna diminuída.
Complicações
Estas fraturas, na maioria dos casos, consolidam-se sem
complicações, devido à compensação pela musculatura
circundante do ombro. Alguns cirurgiões acreditam que a
lesão possa causar um enfraquecimento do suporte capsu
lar anterior, o que predispõe ao desenvolvimento de luxa
ções anteriores recorrentes. Figura 16.23 Fraturas combinadas - fratura de quatro partes.
330 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
Tratamento
O manejo de emergência inclui gelo, analgésicos, imobi
lização com tipoia e encaminhamento de emergência, em
geral com hospitalização. Possivelmente, todas as fraturas
combinadas exigem reparo cirúrgico e, em alguns casos, a
inserção de prótese (fraturas de quatro partes).
Complicações
Conforme observado anteriormente, as lesões neurovas-
culares podem complicar o manejo dessas fraturas. As de
quatro partes são complicadas pela alta incidência de ne
crose avascular da cabeça do úmero, secundária ao supri
mento sanguíneo comprometido.
Fratura de impressão (< 40%) Fratura de impressão (> 40%) Fratura cominutiva da superfície
articular (divisão da cabeça)
Lesões associadas
As fraturas da superfície articular estão muitas vezes asso
ciadas com as luxações anteriores ou posteriores de ombro.
Figura 16.27 Fraturas da clavícula. A. Terço médio. B. Terço late
Tratamento
ral. C. Terço medial (envolvendo a articulação esternoclavicular).
O manejo de emergência inclui gelo, analgésicos, imobi
lização com tipoia e encaminhamento precoce. Quando
menos de 40% da superfície articular estiver envolvida, grupos etários. É possível dividi-las em três grupos, com
o braço é imobilizado em rotação externa. O reparo ci base na anatomia, na terapia e na incidência (Fig. 16.27).
rúrgico ou a inserção de prótese podem ser indicados em Elas assim são distribuídas:
fraturas cominutivas ou em fraturas de impressão envol Terço médio: 80%
vendo mais de 40% da superfície articular. Pelo fato de os Terço lateral: 15%
pacientes idosos necessitarem de mobilidade precoce, o Terço medial: 5%
reparo cirúrgico pode não ser indicado.
A maioria das fraturas do terço médio ocorre na
Complicações junção dos terço médio e outros terços da clavícula, me
As fraturas da superfície articular podem ser complicadas dialmente aos ligamentos coracoclaviculares. Elas são
por: classificadas como não deslocadas ou deslocadas (Fig.
16.27A). Em geral, o fragmento proximal está deslocado
1. Rigidez articular superiormente devido à tração do estemocleidomastóideo.
2. Artrite Ambos os vasos subclávios e o plexo braquial ficam em
3. Necrose avascular (vista mais frequentemente com muito próximos da clavícula. As fraturas deslocadas po
fraturas cominutivas) dem estar associadas a lesões nessas estruturas vitais.
As fraturas do terço lateral ocorrem distalmente aos
FRATURAS DA CLAVÍCULA ligamentos coracoclaviculares. Elas são divididas em três
tipos: (1) não deslocadas, (2) deslocadas e (3) articulares
As fraturas da clavícula são as mais comuns de todas as (Fig. 16.27B).4,5As fraturas deslocadas do terço lateral são
fraturas que ocorrem na infância. No total, as fraturas da associadas à ruptura dos ligamentos coracoclaviculares.
clavícula respondem por 5% de todas vistas em diversos Nesses casos, o segmento clavicular proximal será puxado
332 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
para cima pelo estemocleidomastóideo. As fraturas da su As fraturas da superfície articular, entretanto, podem
perfície articular envolvem a articulação acromioclavicular. ser detectadas por meio de radiografias. A inclinação do
As fraturas do terço medial da clavícula são incomuns feixe de 10 a 15° em direção à cabeça evita sobrepor a
(Fig. 16.27C). Forças intensas são necessárias para fratu- espinha da escápula e permite a detecção mais sutil das
rá-la nessa localização e, por conseguinte, uma busca dili lesões.1 Técnicas especiais, como as incidências em cone,
gente por lesões associadas deve seguir-se a essas fraturas. laterais ou com carga (5 kg) podem ser úteis para a deli-
neação precisa. A TC pode ser necessária quando houver
Mecanismo de lesão suspeita de fratura da superfície articular.
Dois mecanismos costumam ser responsáveis pela fratura
Lesões associadas
da clavícula. Um golpe direto é o primeiro mecanismo.
Uma força em direção posterior pode resultar em fratura As lesões vasculares da subclávia podem ocorrer, especial
única. Se a força for dirigida inferiormente, a resultante é, mente com as fraturas deslocadas de terço médio da claví
com frequência, cominutiva. O dano neurovascular é mais cula. Sempre que uma lesão vascular for suspeitada, os estu
provável com as forças inferiormente dirigidas. dos angiográficos são enfaticamente recomendados. O dano
O mecanismo indireto é representado por uma queda neurológico pode envolver a contusão ou a avulsão de raízes
sobre o lado do ombro. A força é transmitida pelo acrômio nervosas. Um exame neurológico meticuloso da quarta até
para a clavícula. A clavícula geralmente quebra no terço a oitava raízes nervosas cervicais deve acompanhar o diag
médio, já que o seu formato natural em “S” tem a tendên nóstico de qualquer fratura deslocada da clavícula.
cia a concentrar a força indireta nesse ponto. A lesão do ligamento coracoclavicular está associada
As fraturas do terço lateral da clavícula são o resul às fraturas do terço lateral da clavícula.
tado de um golpe de cima para baixo nessa região, po
dendo resultar em fratura não deslocada ou deslocada. É
A xio m a: Todas as fraturas deslocadas do terço lateral da
comum que as fraturas da superfície articular resultem de clavícula que estejam associadas à ruptura do ligamento co
um golpe no aspecto externo do ombro (uma queda) ou racoclavicular devem ser tratadas da mesma forma que uma
por uma força de compressão. luxação da articulação acromioclavicular.
As fraturas do terço mediai podem ser produzidas por
um golpe direto na clavícula mediai, por uma força late A subluxação ou luxação da articulação acromiocla
ral no ombro, o que comprime a clavícula contra o ester vicular pode acompanhar qualquer fratura do terço lateral
no, ou por uma queda com o braço estendido e abduzido, da clavícula.
comprimindo a clavícula contra o esterno. As fraturas do terço mediai da clavícula são, em geral,
secundárias a forças intensas e podem estar associadas a
Exame um dano significativo de órgãos subjacentes. A lesão in
A clavícula é subcutânea ao longo de quase toda a sua ex tratorácica deve ser excluída precocemente no manejo, se
tensão e, por conseguinte, as fraturas são facilmente diag a fratura estiver em deslocamento posterior. As fraturas do
nosticadas com base no exame. Os pacientes demonstram esterno ou a subluxação da articulação esternoclavicular
edema e sensibilidade dolorosa sobre o local da fratura. podem estar associadas a essas fraturas.
Aquelas do terço médio da clavícula resultam em abaixa
mento para dentro do ombro envolvido, devido à perda do Tratamento
suporte. Os pacientes costumam manter o braço aduzido As fraturas da clavícula na infância requerem pouco tra
contra a parede torácica e resistem ao movimento da ex tamento, já que a consolidação rápida com remodelação e
tremidade. Se houver um deslocamento grave, estará asso retomo completo da função é o desfecho habitual. A dis
ciado com ruptura de tecidos moles e possível presença de cussão adicional sobre as fraturas da clavícula em crian
equimose. Todas as fraturas de clavícula requerem exame ças está incluída no Capítulo 6. As fraturas da clavícula no
e documentação da função neurovascular distal à lesão. adulto estão associadas a complicações mais graves e, por
Os pacientes com fraturas do terço lateral da clavícula conseguinte, exigem redução mais precisa e acompanha
carregam o braço em adução. A dor aumenta com a palpa mento atento para assegurar o retomo completo da função.
ção ou com a tentativa de abdução. As fraturas deslocadas
podem ter o deslocamento palpável ao exame. Os pacien Fraturas do terço médio da clavícula
tes com fraturas do terço medial da clavícula têm a dor
N ã o d eslocada. As fraturas não deslocadas mantêm o
exacerbada com a abdução do braço.
periósteo intacto e, por conseguinte, são necessários ape
nas uma tipoia para suporte e gelo no local. Repetir as
Imagens
radiografias após uma semana para assegurar o posicio
A radiografia de rotina da clavícula (apical lordótica e namento adequado. As crianças geralmente requerem três
tubo dirigido cranialmente em 45°) é adequada para defi a cinco semanas de imobilização, enquanto os adultos ne
nir as fraturas. (Fig. 16.28). cessitam de seis semanas ou mais.
Emergências Ortopédicas 333
D eslocada. As tentativas de redução fechada no setor pode decidir usar esse dispositivo para clavícula em vez
de emergência não melhoram a consolidação da fratu de uma tipoia.
ra ou alteram de modo permanente o alinhamento. A O encaminhamento ortopédico é recomendado aos pa
imobilização com tipoia é o tratamento de escolha dos cientes com fraturas completamente deslocadas do terço
autores. O desfecho não é melhor quando uma atadura médio da clavícula. A incidência de não união (15-20%) e
em oito é usada na clavícula. Um estudo mostrou des má união sintomática (20-25%) é alta. ,1: Outros fatores as
conforto maior com o uso desse dispositivo em oito. O sociados ao desfecho mim incluem a cominução e o encurta
tirante em figura de oito permite que os pacientes usem mento. A fixação cirúrgica com placa ou haste intramedular
ambas as mãos e garante o retomo mais rápido às ativida melhora o desfecho funcional em pacientes ativos e jovens
des como digitação (Fig. 16.29). Neste caso, o paciente com fraturas médio-diafisárias completamente deslocadas.
Figura 16.29 A plicação do tirante em figura de oito em fraturas de clavícu la. Os estudos não encontraram nenhuma diferença
importante nos desfechos em comparação com uma tipoia.
334 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
Figura 16.30 Fraturas da escápula. A. Fraturas do corpo ou da espinha e fratura do acrôm io. B. Fratura do colo da glenoide. C.
Fratura da borda da glenoide. D. Fratura cominutiva da superfície articular da glenoide. E. Fratura do processo coracoide.
Figura 16.31 Imagens radiográficas das fraturas da escápula. A. Fratura do corpo. B. Fratura do acrôm io. C. Fratura na base do colo
da glenoide. D. Fratura do processo coracoide.
Exame Tratamento
O paciente se apresenta com o braço mantido em adução e N ã o deslocada. O manejo de emergência inclui imobili
resiste a qualquer movimento do ombro. A pressão medial zação com tipoia, gelo e analgésicos. O exercício passivo
sobre a cabeça do úmero lateral exacerba a dor. deve ser iniciado em 48 horas, evoluindo para o exercício
ativo conforme tolerado.
Imagens
As incidências AP e tangencial são adequadas para definir a A consulta ortopédica de emergência é
D e slo ca d a .
fratura (Fig. 16.31C). As incidências axilares são úteis para aconselhada nesses casos. As fraturas do colo da glenoide
delinear as fraturas deslocadas. Às vezes, a TC é adequada com angulação maior que 40° ou 1 a 2 cm de deslocamen
para definir de maneira precisa a extensão completa da lesão. to requerem fixação cirúrgica. Se a clavícula também esti
Emergências Ortopédicas 337
ver fraturada, a sua fixação interna deve ser executada as poia, gelo e analgésicos. O exercício (tipo pendular) deve
sim que for possível. O procedimento previne a má união ser iniciado assim que os sintomas cederem. As fraturas
da fratura do colo da escápula. deslocadas associadas a luxações são reduzidas de forma
simultânea com a redução articular.
Complicações
As complicações encontradas incluem a redução na mo Articular cominutiva. O manejo de emergência inclui
bilidade do ombro ou o desenvolvimento de artrite pós- imobilização com tipoia, gelo, analgésicos e consulta pre
-traumática. coce. As fraturas afundadas ou aquelas com grandes frag
mentos deslocados exigem redução cirúrgica.
Fraturas da glenoide
Complicações
As fraturas da superfície articular da glenoide são divi As fraturas da glenoide são com frequência complicadas
didas em dois tipos: da borda e cominutivas (ver Figs. pelo desenvolvimento de artrite.
16.30C e 16.30D). As fraturas da borda da glenoide po
dem demonstrar deslocamento anterior ou posterior. Além
Fraturas do processo coracoide
disso, as fraturas da borda glenoide podem atravessar a
borda e a espinha. As cominutivas envolvem toda a super Os músculos com inserção no processo coracoide incluem
fície articular da glenoide. o coracobraquial, a porção curta do bíceps e o peitoral
menor. Os ligamentos que se inserem no processo cora
Mecanismo de lesão coide incluem o coracoacromial, o coracoclavicular e o
Três mecanismos são comumente responsáveis pelas coracoumeral.
fraturas da glenoide. Um golpe direto, quase sempre
secundário a uma queda lateral sobre o ombro, pode re Mecanismo de lesão
sultar em fratura cominutiva. Uma queda sobre o coto Dois mecanismos resultam em fraturas do processo cora
velo flexionado resulta em uma força que é transmitida coide. Um golpe direto no ponto superior do ombro pode
para cima sobre o úmero e para a borda da glenoide. causar uma fratura do processo coracoide. A contração
Esse mecanismo resulta em fratura da borda, cujo des violenta de um dos músculos inseridos possivelmente re
locamento depende da direção da força. Somando-se a sulta em fratura de avulsão.
isso, a contração violenta do tríceps pode resultar em
avulsão da borda glenoide inferior. O mecanismo é co Exame
mumente visto em luxações do ombro. Até 20% das lu O paciente apresenta sensibilidade dolorosa à palpação
xações do ombro estão associadas a fraturas da borda anteriormente sobre o processo coracoide. Há, também,
da glenoide. dor com adução forçada e flexão no cotovelo.
Exame Imagens
A dor e a fraqueza do tríceps estão presentes em fraturas As radiografias de rotina dessa fratura incluem uma inci
da borda inferior. As fraturas articulares cominutivas se dência lateral axilar para delinear qualquer deslocamen
apresentam com edema e dor, que aumenta com a com to (em geral, descendente e medialmente) do fragmento
pressão lateral. (Fig. 16.31D). Às vezes, a TC é útil para definir com pre
cisão a extensão completa da fratura.
Imagens
As incidências de rotina, bem como a incidência axilar, Lesões associadas
são adequadas para definir a fratura. A TC é útil para defi As lesões do plexo braquial, a separação acromioclavicu
nir de forma precisa a extensão completa da fratura. lar ou as fraturas da clavícula estão associadas às fraturas
do coracoide.
Lesões associadas
A luxação do ombro está associada com fraturas da borda Tratamento
da glenoide. As fraturas do processo coracoide têm tratamento sinto
mático. O paciente recebe tipoia, gelo, analgésicos e ins
Tratamento truções para iniciar o movimento precocemente, confor
Borda. Os pacientes requerem encaminhamento ortopé me tolerado. A possibilidade de lesões associadas deve ser
dico. O envolvimento intra-articular de mais de 25% da descartada antes da liberação do setor de emergência.
superfície glenoide ou mais de 5 mm de degrau necessita
de fixação cirúrgica. Se a fratura for administrada de for Complicações
ma conservadora, o tratamento inclui imobilização com ti- Nenhuma complicação é vista após essas lesões.
338 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
Figura 16.32 Separação acrom ioclavicular (AC). A. "Entorse" de primeiro grau com os ligamentos intactos. B. Separação de segun
do grau com ruptura do ligamento AC. C. Entorse de terceiro grau com ruptura dos ligamentos AC e coracoclavicular (CC).
Emergências Ortopédicas 339
Figura 16.33 A queda sobre o ombro é o mecanism o mais Figura 16.35 Técnica para testar a lesão ou a inflamação da
comum para causar uma separação AC. articulação AC.
A B
Figura 16.36 Separação A C na radiografia AP. A. Lesão de segundo grau. B. Lesão de terceiro grau
estudo, os filmes de estresse foram incapazes de distinguir O tratamento de lesões de terceiro grau no contexto
entre as lesões de segundo e terceiro graus mesmo usando agudo é similar às lesões de segundo grau, com a medida
5 a 7,5 kg de peso/8 Em outro estudo, os filmes de estres adicional de encaminhamento precoce. Não existe prova
se ofereceram uma diferença significativa para desmascarar definitiva que um imobilizador AC (Kenny-Howard) faça
uma lesão de terceiro grau em somente 4% dos casos. qualquer diferença em termos de função, a longo prazo,
em comparação com o uso de tipoia e gelo.
Tratamento O tratamento definitivo das luxações de terceiro grau
O tratamento para as lesões de primeiro grau inclui repou da articulação AC é controverso. A intervenção cirúrgica
so, gelo e tipoia, com movimentação precoce. é considerada em operários que executam grandes esfor
As lesões de segundo grau são tratadas de modo con ços e indivíduos mais jovens. A fixação anatômica evita as
servador, de forma similar às lesões de primeiro grau. complicações potenciais como o impacto ou a sintomato
A tipoia deve ser continuada por duas semanas ou até que logia neurovascular. As indicações operatórias definidas
os sintomas cedam, seguida por fisioterapia e reabilita incluem o deslocamento clavicular de mais de 2 cm. Vá
ção. O movimento precoce ajuda a prevenir o desenvolvi rios estudos apoiam o tratamento conservador para lesões
mento de capsulite adesiva. O levantamento de pesos e de terceiro grau. Os atletas podem se beneficiar
os esportes de contato são evitados por um período de três mais do reparo cirúrgico; entretanto, em uma pesqui
meses, enquanto os ligamentos curam, para não converter sa com cirurgiões ortopedistas, quando indagados sobre
uma lesão parcial em uma luxação completa. O retorno como eles tratariam um lançador de beisebol profissional
mais precoce aos esportes de contato é aceitável se a arti com separação de terceiro grau, somente 37% declararam
culação for coberta com um coxim protetor. que reparariam a lesão cirurgicamente.
Complicações
Os sintomas tardios da doença articular degenerativa pós-
-traumática podem ocorrer após lesão na articulação AC.
A dor na articulação AC pós-lesões de primeiro e segundo
graus ocorre em 8 a 42% dos pacientes. A excisão da claví
cula distai pode ser necessária para evitar a doença articular
28
degenerativa tardia e a sua síndrome de dor associada.
LUXAÇÃO DA ARTICULAÇÃO
ESTERNOCLAVICULAR
A articulação esternoclavicular é estabilizada pelo liga
mento esternoclavicular e pelo ligamento costoclavicular
Figura 16.37 Medidas radiográficas para determinar o grau de (ver Fig. 16.2). O ligamento esternoclavicular possui tan
separação AC. Largura da articulação AC (normal < 3 mm); dis to uma porção anterior como posterior. O movimento má
tância C C (normal < 5 mm); e EC, elevação da coracoide (o as ximo dessa articulação ocorre durante a rotação interna,
pecto inferior do acrômio e a clavícula devem estar nivelados). com o braço elevado acima de 110°.
Emergências Ortopédicas 341
A. Entorse leve
B. Entorse moderada
Complicações
As complicações de uma luxação anterior da articulação
esternoclavicular são estéticas, com edema crônico obser
vado em tomo da articulação. As luxações posteriores são
menos frequentes, mas carregadas de complicações mais
graves, incluindo pneumotórax, laceração da veia cava su
perior, oclusão da artéria ou da veia subclávia e ruptura
ou compressão da traqueia. Até 25% de todas as luxações
posteriores da articulação esternoclavicular estão associa
das com lesão traqueal, esofágica ou de grandes vasos, o
Figura 16.41 Redução de uma lesão deslocada da articula que enfatiza a necessidade de redução precoce.
ção esternoclavicular. O braço é abduzido e a tração é aplica
da. Com a tração mantida, um assistente empurra a clavícu la
de volta para a sua posição normal em luxações anteriores ou LUXAÇÃO ANTERIOR DO OMBRO
puxa de volta a clavícula em luxações posteriores.
O ombro, com sua grande amplitude de movimento e gle-
noide rasa, é inerentemente instável. Como consequência, a
difíceis, a clavícula pode ser segurada com uma pinça de luxação articular do ombro é apresentação comum no setor
de emergência, representando em tomo de 50% de todas as
campo (Fig. 16.42). A sedação costuma ser necessária
luxações principais atendidas pelo médico da emergência.
para reduzir uma luxação posterior da articulação estemo-
clavicular. Imediatamente após a redução de uma luxação A localização mais frequente de uma luxação da articulação
glenoumeral é a anterior, respondendo por 95% dos casos.
anterior, colocar um enfaixamento sob pressão (p. ex., um
rolo de gaze) sobre a articulação esternoclavicular para Cerca de 70% de todas as luxações anteriores do ombro
ocorrem em pacientes com menos de 30 anos. As luxações
assegurar que ela não se desloque.
posteriores são vistas nos restantes 5%, com as luxações in
A redução de uma luxação posterior é em geral me
canicamente estável. Se não puder ser executada por mé feriores (luxação ereta) sendo extremamente raras.
Existem três tipos de luxação anterior: subclavicular,
todos fechados, o reparo cirúrgico está indicado. Se a
subcoracoide e subglenoide (Fig. 16.43). Em 90% dos ca
redução da luxação anterior for bem-sucedida e não hou
ver outras lesões presentes, o paciente deve receber um sos, a cabeça do úmero está em uma locabzação subcora
coide. As luxações subclaviculares são raras. As luxações
imobilizador em oito, que deve permanecer por um pe
ríodo de 6 semanas, seguido por movimentos protegidos
Subclavicular
Subcoracoide
Subglenoide
subclavicular e subglenoide têm associada uma ruptura lesão neurológica mais comum associada a luxações ante
do manguito rotador ou uma fratura do tubérculo maior. riores do ombro, ocorrendo em cerca de 12% dos casos.
A cabeça do úmero pode intercambiar de uma posição até A lesão do nervo axilar pode ser avaliada pela testagem
a outra, mas habitualmente permanece em uma das três. da força motora e pela sensibilidade cutânea sobre o as
pecto lateral do braço, comparando-a com o lado intacto.
Mecanismo de lesão Alguns autores relataram que a testagem sensitiva é pou
co confiável e que a fraqueza motora (i.e., abdução) é um
O mecanismo pelo qual a lesão ocorre é, quase sempre, melhor indicador para a lesão nervosa. Entretanto, o
uma abdução acompanhada de rotação externa do braço, teste da força muscular do deltoide é impraticável durante
que rompe a cápsula anterior e os ligamentos glenoume- a avaliação inicial.
rais. As luxações subcoracóideas são, com frequência
secundárias a uma “hiper-rotação” externa. Menos comu-
Imagens
mente, elas podem ser vistas depois de convulsões ou com
um golpe direto no aspecto posterior do úmero proximal, As incidências radiográficas comuns de ombro (AP e
deslocando-o em direção anterior. As luxações subgle- Y escapular) são obtidas antes de a redução ser tentada,
nóideas estão associadas mais com abdução do que com tanto para confirmar o diagnóstico como para excluir fra
rotação externa. Uma pequena porcentagem (4%) das lu turas concomitantes que ocorrem em cerca de 25% dos
xações são atraumáticas, ocorrendo ao levantar um braço casos. 9,61 Os fatores associados a uma fratura incluem
ou ao mover-se durante o sono.” idade acima dos 40 anos, luxação pela primeira vez e um
mecanismo traumático. Quando nenhuma dessas carac
terísticas estiver presente e o profissional estiver seguro
Exame
do diagnóstico, radiografias antes da redução podem ser
O paciente se apresenta com os braços pendentes ao omitidas.
lado. Em um paciente magro, o acrômio está proemi O diagnóstico costuma estar aparente nas radiografias
nente e a ausência da cabeça do úmero é bastante óbvia AP (Fig. 16.45A). A cabeça do úmero estará deslocada da
(Fig. 16.44A). Em outros pacientes, o único achado pode fossa glenoide e fixada em rotação externa. Em rotação ex-
ser a perda do contorno normal arredondado do ombro tema, o tubérculo maior está localizado ao longo do aspecto
(Fig. 16.44B). À palpação, o examinador nota a ausência lateral da cabeça do úmero. Qualquer tentativa de obter uma
da cabeça do úmero em sua localização habitual, enquan incidência AP em rotação interna será fracassada e deve ser
to palpa inferiormente ao acrômio. Um enchimento no considerada uma pista para o diagnóstico. A pseudoluxação
ombro anterior pode ser notado, indicando a presença da ocorre quando uma hemartrose causar alargamento do es
cabeça do úmero. Na maioria dos casos, o paciente resiste paço articular. Esse é um achado mais comum em pacientes
a qualquer movimento do braço e, apenas ocasionalmen com fraturas do úmero proximal (ver Fig. 16.16).
te, permite alguma abdução e rotação externa. A rotação A incidência escapular em Y demonstra a luxação ante
interna e a adução são bastante dolorosas. rior da cabeça do úmero a partir da glenoide (Fig. 16.45B).
Um exame neurovascular completo da extremidade Algumas vezes, ocorre uma incidência escapular em Y fal
superior deve ser executado. A lesão do nervo axilar é a so-negativa; assim, se ainda houver dúvida, uma incidência
Figura 16.44 Luxação anterior de ombro. A. Em um indivíduo magro, a ausência da cabeça do úmero é bem perceptível. B. Em um pa
ciente maior, o aspecto normal e arredondado do ombro esquerdo comparado a um aspecto mais quadrado do ombro direito deslocado.
Emergências Ortopédicas 345
A B
axilar da escápula deve ser obtida. Para obter uma incidên As lesões de tecidos moles também ocorrem. Em jo
cia axilar, deve-se notar que o paciente não precisa abduzir vens, o local comum de ruptura capsular fica entre os liga
o braço em 90°, já que isso será quase impossível no con mentos glenoumerais superior e médio. Além das rupturas
texto de uma luxação anterior. Aproximadamente 15° de capsulares, o lábio pode estar rompido a partir da glenoi
abdução ou apenas o suficiente para conseguir que o tubo de, pelo deslocamento da cabeça do úmero. Essa lesão,
de raios X fique entre o braço e o corpo em geral é suficien conhecida como lesão de Bankart de tecidos moles, ocor
te. Se o paciente estiver caminhando e mostrar dificuldade re em aproximadamente 90% dos pacientes abaixo dos 30
para abduzir completamente o braço devido à dor, uma in anos que sofrem luxação anterior do ombro. 3,64
cidência axilar de Velpeau será muito mais fácil de obter e
fornecerá informação similar (Fig. 16.46). Uma incidência
A P verdadeira (Grashey) na qual o feixe é dirigido em um
ângulo de 45° em direção medial para lateral também é útil
para avaliar a incongruência articular sutil.
Ao avaliar as radiografias em pacientes com suspeita
de luxações anteriores do ombro, deve-se buscar por um
defeito na porção posterolateral da cabeça do úmero. Essa
lesão, conhecida como defeito de H ill-Sachs, está presente
em até 40% dos casos de luxação anterior de ombro (Fig.
16.47A).5 Essa lesão ocorre como resultado da impacta-
ção da base mole da cabeça do úmero contra a glenoide
anterior. Quanto mais a cabeça do úmero estiver fora da
fossa glenoide, maior será o defeito. Esse é mais comum
com as luxações anteriores recorrentes. Se houver suspei
ta de defeito de Hill-Sachs, uma incidência em rotação
interna pode ser obtida depois que o ombro tiver sido re
duzido, delineando o defeito com mais clareza.
Lesões associadas
As fraturas associadas, além do defeito de Hill-Sachs, in
cluem o tubérculo maior e a borda glenoide (i.e., a lesão
de Bankart) (Fig. 16.47B) . As fraturas do tubérculo maior
ocorrem em 15% dos pacientes com luxações anteriores
de ombro (Fig. 16.48). Em aproximadamente 40% dos Figura 1 6 .4 6 A incidência axilar de Velpeau pode ser usada
casos, o paciente tem idade acima dos 45 anos. As fraturas para diagnosticar luxações de ombro em pacientes que sejam
da borda glenoide incidem em 5% dos pacientes. incapazes de abduzir o braço.
346 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
Figura 16.47 A. Fratura de impactação de Hill-Sachs após luxação anterior do ombro (seta). B. Fratura da borda da glenoide (de
Bankart) (seta).
Técnicas de redução
Vários métodos foram descritos para reduzir as luxações
anteriores de ombro. Nenhuma evidência clara corrobora a
superioridade de qualquer técnica, e o método usado é com
frequência baseado na experiência do médico. O método
Figura 16.48 Luxação anterior de ombro com fratura associa ideal é rápido, simples e requer a menor quantidade de for
da do tubérculo maior. ça. Com essa meta em foco, são preferíveis as técnicas de
Emergências Ortopédicas 347
Figura 16.49 M anipulação escapular. A borda inferior da es Para executar a técnica de rotação externa, o paciente
cápula é rodada medialmente, enquanto a borda superior é ro é sentado na vertical ou em 45°. O cotovelo do paciente
dada em direção lateral. é apoiado por uma das mãos e a outra mão é usada para
rodar externamente, de forma lenta e suave, o braço. Aos
rotação externa ou de manipulação escapular como os méto poucos, o braço é rodado extemamente até 90° (Fig. 16.51
dos de primeira escolha; e no contexto apropriado, a redução e Vídeo 16.4). Se o paciente sentir qualquer desconforto
é tentada antes de preparar o paciente para a sedação. durante a rotação externa, o examinador deve parar e es
Uma descrição das várias técnicas para reduzir as lu perar um momento até que os músculos relaxem. Durante
xações anteriores de ombro é fornecida a seguir: o procedimento, é importante que o paciente fique com
pletamente relaxado e que a rotação seja feita gradual e
Técnica de manipulação escapular. O paciente fica em lentamente. A redução é bastante sutil e o “ressalto” do
decúbito ventral na mesa, com o braço afetado pendente da úmero rearticulando-se com a glenoide não é ouvido.
mesa com aproximadamente 2,5 a 5 kg de peso, de forma
similar à técnica de Stimson. O médico então roda a ponta Técnica de Milch. A técnica é usada pelos autores quan
da escápula medialmente e o aspecto superior da escápula do a rotação externa até 90°, usando a técnica de rotação
lateralmente (Fig. 16.49 e Vídeo 16.2). A técnica é rápi externa descrita anteriormente, não tiver reduzido o om
da, tem alta taxa de sucesso (80-100%) e está associada bro de forma espontânea. O braço é abduzido aos poucos
a poucas complicações.j4,76' Altemativamente, o paciente
senta-se ereto, com o ombro não afetado apoiado contra
uma maca que é colocada em 90°. Enquanto uma pessoa
executa a manipulação escapular por trás do paciente, ou
tro indivíduo fornece tração descendente suave no braço
afetado e flexionado (Fig. 16.50 e Vídeo 16.3).
A B
Figura 16.55 A. A técnica de tração e contratração para reduzir as luxações anteriores de ombro. B. Se alguns minutos de tração
e contratração fracassarem, uma tração suave lateral no braço pode ajudar na redução. O uso de tração lateral excessiva deve ser
evitado para não produzir fratura do úmero proxim al.
Outros métodos foram descritos para reduzir as luxa do é reaproximado, o que permite a melhor cicatrização.
ções anteriores de ombro. Eles incluem a técnica da torção, O método mais comum é o imobilizador com malha de
a da cadeira, a do esquimó, a hipocrática e a de Kocher. fio, recoberto com esponja, dobrado de tal forma para que
A manobra de Kocher é bastante perigosa e cheia de com metade da tala se ajuste sobre o tronco anterior e a outra
plicações e não deve ser usada pelo médico de emergência metade se estenda para a frente, onde o braço é inserido.
para reduzir as luxações anteriores do ombro. Na opinião Também há talas disponíveis no comércio para imobilizar
dos autores, a técnica hipocrática nunca deve ser usada, o ombro em rotação externa.
sob qualquer pretexto, para reduzir essas lesões. A duração da imobilização também é controversa,
A redução bem-sucedida é com frequência sinaliza mas costuma ser mais longa em pacientes mais jovens.
da por um ressalto audível, conforme a cabeça do úmero Quanto mais velho o paciente, mais cedo a mobilização
retorna ao local anatômico. O ombro retoma o seu contor deve ser instituída para evitar a rigidez. Em pacientes
no normal e o enchimento é sentido novamente abaixo do abaixo dos 30 anos, três semanas de imobilização são pre
acrômio. A capacidade de colocar a mão da extremidade conizadas. Depois disso, os exercícios ativos e suaves de
afetada sobre o ombro oposto confirma a redução. amplitude de movimento podem ser instituídos; contudo,
Quanto mais tempo o ombro passou luxado, maior a o paciente deve ser advertido contra a abdução e rotação
probabilidade de ser irredutível. Caso a luxação seja irre externa. A rotação externa e a abdução devem ser proi
dutível pelos métodos listados anteriormente, a anestesia bidas por cerca de três semanas adicionais depois que a
geral é considerada e a redução é tentada na sala de cirur imobilização tiver sido descontinuada. Durante o tempo
gia. As luxações irredutíveis constituem 5 a 10% dos ca em que o paciente ficar imobilizado, devem ser instituídos
sos tratados no setor de emergência e em geral são devido exercícios para o punho, a mão e o cotovelo.
à interposição de tecidos moles. Em indivíduos acima dos 30 anos, é preconizada a
imobilização por 7 a 10 dias, com exercícios de circun-
Im o b iliz a ç ã o e re a b ilita ç ã o dução (de Codman), começando 4 a 5 dias após a lesão
Após a redução, o ombro deve ser imobilizado e o pacien (ver Fig. 11.13).O paciente deve evitar a abdução e a ro
te encaminhado para as radiografias pós-redução. O mé tação externa do ombro. O exercício deve ser executado
todo tradicional de imobilização é com adução e rotação dentro da amplitude de movimentos livre de dor, após o
interna com tipoia e enfaixamento ou imobilizador de om período de imobilização. Muito pouco movimento após
bro (Apêndice A. 13). Em um esforço para reduzir a taxa uma luxação pode resultar em retesamento das estruturas
de luxação recorrente a longo prazo, vários autores pro em torno do ombro e tempo prolongado para recuperar a
puseram a imobilização em 10° de rotação externa. 00 amplitude completa de movimento.
Embora um pouco mais desajeitado para o paciente, essa Após o período de recuperação inicial, o fortaleci
posição tem demonstrado reduzir as taxas de reincidên mento do músculo subescapular é recomendado para
cias. 100,10 Em rotação externa, o lábio glenoide destaca evitar a reincidência futura da lesão (Fig. 16.56). Os
350 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
gamento axial do braço quando estiver aduzido e inter o braço é mantido em 30° de abdução e com rotação in
namente rodado constituem dois mecanismos possíveis. terna. Uma covinha subacromial pode estar presente com
Uma força rotacional interna violenta, como a que a luxação posterior, representando a porção posterome
ocorre durante uma queda sobre o braço flexionado e dial do deltoide. 2
em rotação interna é outra possibilidade. Convulsão ou
choque elétrico são precursores comum para a luxação Imagens
posterior do ombro e ocorrem porque os rotadores in A evidência de luxação posterior de ombro na incidência
ternos são duas vezes mais fortes do que os músculos padrão AP do ombro nem sempre está aparente, fazendo
i 119122
rotadores externos. ’ com que ela passe despercebida nessa incidência em até
50% dos casos. Existem diversas características radio-
Exame gráficas que ajudam o médico da emergência a fazer o
O sinal cardeal de uma luxação posterior do ombro é diagnóstico.
que o braço é mantido em adução e rotação interna. A
abdução está gravemente limitada e a rotação externa Sinal da borda. Esta é a perda do padrão elíptico normal
do ombro está bloqueada (Vídeo 16.8). Na palpação da produzido pela sobreposição do aspecto medial da cabeça
cintura escapular, o examinador nota uma proeminên do úmero e a borda glenoide anterior (Fig. 16.58). A su
cia no aspecto posterior do ombro, acompanhada de um perposição dessas duas estruturas ou o alargamento do es
achatamento anterior do contorno normal do ombro. O paço articular (> 6 mm) sugere a luxação posterior.
processo coracoide está mais aparente do que a sua con
trapartida no lado normal. O bloqueio da rotação externa Sinal da lâm pada. A rotação interna da cabeça do úme
e a lim itação da abdução ocorrem em todos os ca so s de ro que ocorre com uma luxação posterior do ombro re
lu xações posterio res. No tipo subglenoide e subespinal, sulta em rotação do tubérculo maior, de forma que não
L esõ es a sso c ia d a s
fique mais em sua posição lateral normal (Fig. 16.59).
Isso é chamado do “sinal da lâmpada” ou da “casquinha Essa luxação em geral está associada a fraturas do úmero
de sorvete”, porque a cabeça do úmero parece arredonda e do aspecto posterior da borda glenoide. Uma fratura
da, como se estivesse assentada em cima de um cone - a isolada do tubérculo menor deve levar à suspeita de luxa
ção posterior até prova em contrário. Uma lesão invertida
diáfise do úmero.
de Hill-Sachs é um defeito de impressão na parte antero
medial da cabeça do úmero, pela compressão da glenoide.
S in a l da trincheira. Quando a cabeça do úmero se des
É vista em até 80% desses pacientes. As rupturas do
loca atrás da glenoide, uma fratura de impactação ocor 1^8
manguito rotador estão presentes em até 20% dos casos.
re na sua superfície articular, sendo chamada de “lesão
As complicações neurovasculares com esta lesão são in-
invertida de Hill-Sachs”. Na radiografia AP, duas linhas
comuns.
paralelas de osso cortical representando a cortical medial
da cabeça do úmero e a base da fratura de impactação na
superfície articular anterior são chamadas de sinal da trin- A xiom a: Uma fratura isolada do tubérculo menor deve le
cheira (Fig. 16.60).1“ var à suspeita de luxação posterior do ombro, até prova em
Se permanecer alguma dúvida sobre a luxação, uma contrário.
incidência escapular em Y ou axilar pode ser obtida (Fig.
16.61). Uma TC será diagnóstica e também revelará o ta T ra ta m e n to
manho da fratura de impactação, ajudando o ortopedista a A consulta com um ortopedista deve ser obtida antes das
119 i 27
escolher o melhor tratamento definitivo (Fig. 16.62). ’ tentativas de redução de uma luxação posterior do ombro.
A redução fechada usando tração axial no ombro flexio-
[D] [E]
Figura 16.60 O sinal da trincheira indica luxação posterior de Figura 16.62 TC demonstrando luxação posterior de ombro.
ombro. Notar a fratura de impactação articular.
Emergências Ortopédicas 353
Mecanismo de lesão
O mecanismo pelo qual a lesão ocorre é a hiperabdução
forçada.130
Exame
É improvável que essa lesão passe despercebida, pois o
paciente segura o braço elevado em 180° e não pode adu
zi-lo, como se estivesse “pedindo a palavra”. Os pacientes
relatam dor significativa. O braço parece estar encurtado
quando comparado ao lado normal. À palpação, a cabeça
Figura 16.63 Luxação ereta. O mecanismo pelo qual essa le
do úmero é sentida ao longo da parede torácica lateral.
são ocorre é a hiperabdução. Essa luxação está sempre acom
panhada de ruptura do manguito rotador e da cápsula inferior.
Imagens
As radiografias comuns do ombro são diagnósticas e re
velam a localização inferior da cabeça do úmero, com a rompimento na cápsula glenoumeral inferior. " O médi
diáfise umeral virada para cima (Fig. 16.64). 1 co aplica tração no eixo longitudinal do úmero, e um as
sistente aplica contratração com um campo dobrado em
Lesões associadas tomo da região supraclavicular (Fig. 16.65). Enquanto a
A luxação ereta está sempre acompanhada de desinser- tração é mantida, o braço é rodado inferiormente em arco,
ção do manguito rotador. Os pacientes habitualmente têm
compressão neurovascular; contudo, eles habitualmente
129
se recuperam após a redução. A artéria axilar e o plexo
braquial são feridos, pois a cabeça do úmero rompe atra
vés da cápsula inferior em vez da cápsula anterior, como
em uma luxação anterior do ombro. A lesão vascular não é
comum, porém é mais comum na luxação ereta do que em
quaisquer dos outros tipos de luxação do ombro. Podem
ocorrer fraturas do acrômio, da borda glenoide inferior e
131
do tubérculo maior do úmero.
Tratamento
A redução precoce é necessária na luxação ereta para
prevenir as sequelas neurovasculares, que são bastante
comuns. A redução não é difícil na maioria dos casos,
a menos que a cabeça do úmero tenha feito um pequeno Figura 16.64 Luxação ereta do ombro.
354 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
A tendinite do supraespinal é a causa mais comum de Figura 16.68 A relação do tendão do supraespinal e a bolsa
dor no ombro e é habitualmente causada por alterações subacromial-subdeltóidea.
degenerativas naquele tendão com o avançar da idade e
pelo impacto, conforme previamente descrito. O impac
to é a causa de aproximadamente três quartos dos casos, tinuar, o paciente pode desenvolver uma bursite crônica,
seguidos pelo superuso crônico (10%) e pelas distensões eventualmente levando à pericapsulite adesiva.
agudas (5%). Essa condição costuma ocorrer entre os 35 e 50 anos
Os tendões dos músculos redondo menor, infraespi- e parece ser mais comum em pessoas sedentárias. Os pa
nal, supraespinal e subescapular se juntam e inserem-se cientes queixam-se de dor profunda no ombro, que envol
nos tubérculos maior e menor para formar o manguito ro- ve a região do deltoide, podendo se irradiar para todo o
tador. A tendinite pode ocorrer em quaisquer um desses membro. Existe habitualm ente uma sensibilidade dolorosa
tendões, mas é muito mais comum onde o tendão do su apontada em um “p o n to c rític o ” entre o acrôm io e o tu
praespinal tem grande proximidade com o arco coracoa bérculo maior. A dor aumenta com a abdução e a rotação
cromial (Fig. 16.68). interna do braço. O aparecimento é gradual, mas pode ser
A patogenia da tendinite do supraespinal é um c o n agudo depois do uso excessivo do ombro, especialmente
tin u u m que, em última instância, causa a bursite suba em uma posição acima da cabeça. Dentro de 2 a 3 dias, a
cromial. Conforme o tendão do supraespinal cruza sob dor se toma cada vez mais intensa naquele ponto do ombro.
o acrômio e o arco coracoacromial, ocorrem pequenas Os achados radiográficos incluem calcificação e alte
rupturas. O processo de reparo está associado a células rações císticas ao longo do tubérculo maior, acompanha
inflamatórias que levam à tendinite. O paciente durante das de esclerose. As alterações não ocorrem, contudo, até
esse estágio queixa-se de dor profunda no ombro, que que o processo tenha se tomado mais crônico. A calcifica
aumenta com a abdução e a rotação interna. As células ção é às vezes vista em pacientes assintomáticos.
inflamatórias causam edema significativo, e o cálcio O tratamento consiste em evitar a atividade incitante,
eventualmente se deposita dentro do tendão. O edema administração de medicamentos anti-inflamatórios não
do tendão causa agravação no impacto sobre a bolsa su esteroides, gelo e exercícios que previnem a atrofia mus
bacromial, que forma o teto do tendão do supraespinal. cular. O paciente deve ser estimulado a iniciar a amplitude
Nesse ponto, o tendão se torna um obstáculo à abdução de movimentos, começando com exercícios pendulares
indolor e o paciente reclama de dor crescente no ombro. (de Codman) (ver Fig. 16.12). Uma parte muito impor
As tentativas de abduzir o braço para além de 70° causam tante da terapia é nunca imobilizar o ombro por um pe
dor intensa. ríodo prolongado, já que isso induz à capsulite adesiva em
Conforme o processo continua, uma reação infla pacientes com mais de 40 anos. O encaminhamento para
matória grave ocorre dentro da bolsa, causando bursite. fisioterapia é apropriado.
Quando a bolsa subacromial incha, a abdução e a adução O tratamento com anestésico local e injeção de este-
parciais são restringidas. O braço é mantido em aproxima roide pode fornecer alívio imediato. É usada uma aborda
damente 30° de abdução. A adução ou abdução adicionais gem lateral, na qual a agulha é inserida diretamente sob
aumentam a dor, e o paciente resiste a qualquer tentativa o acrômio (Vídeo 16.10). Um agulha mais longa dirigida
de elevar o braço além desse ponto. Se o processo con medial e anteriormente sob o acrômio fornece os melho
356 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
TENDINITE BICIPITAL
A cabeça longa do bíceps atravessa entre os tubérculos
maior e menor, dentro do sulco bicipital, e se insere na
borda glenoide. Nessa localização, é envolvida pela cáp
sula da articulação glenoumeral. Essa posição toma o
tendão sujeito a traumas e irritação constantes pelos mo
vimentos do ombro e pelo impacto, conforme descrito
previamente. A inflamação ao redor do tendão aumenta
até que ele se mova relutantemente.
Figura 16.70 O teste da queda do braço é mostrado. A. O pa O paciente relata dor na região do bíceps e no aspecto
ciente ou o exam inador abduz o braço até 90°. B. Com pressão anterior do ombro, que irradia em direção ao antebraço.
mínima sobre o braço abduzido, o paciente não consegue sus A abdução e a rotação externa são os movimentos mais
tentar a abdução e abaixa o braço para o lado. dolorosos e a extensão súbita do cotovelo aumenta nota-
damente a dor. Ao exame, existe sensibilidade dolorosa à
palpação no sulco bicipital. Esse processo irritativo au
no manguito rotador, incluindo: erosão e reação periosteal
menta com a abdução do ombro com o cotovelo fixo em
do tubérculo maior, alterações do aspecto inferior do acrô-
posição estendida.
mio e erosão subcondral no tubérculo maior.
Um teste confiável para diagnosticar a tenossinovi-
A sensibilidade da RMN para o diagnóstico de rupturas
te da cabeça longa do bíceps é o teste de Yergason (Fig.
de espessura completa do manguito rotador é de 100% e a
16.71). Ao fazer o teste, o cotovelo do paciente é manti
especificidade é de 95%. A RMN possibilita diferenciar
do em 90° de flexão. É pedido ao paciente para supinar
as rupturas parciais de tendões intactos do manguito com
o antebraço enquanto o examinador resiste à tentativa.
sensibilidade de 82% e especificidade de 85%. Também
Isso causa dor ao longo do sulco intertubercular, sendo
é altamente preditiva do tamanho da ruptura de espessura
1^8 um teste confiável para distinguir a tenossinovite da cabe
completa do manguito rotador. A artrorressonância mag
ça longa do bíceps de bursite subacromial.
nética é um meio excelente para detectar os graus de rup-
A condição pode evoluir até a aderência completa do
tura. A ultrassonografia em tempo real de alta resolução
tendão e o movimento do ombro será restringido ou o bí
tem demonstrado ser uma boa técnica de exame para as rup
ceps sofrerá ruptura proximal ao sulco.
turas do manguito rotador. 60,16 Alguns estudos mostraram
O tratamento inclui imobilização com tipoia e injeção
acurácia igual entre a ultrassonografia e a RMN.
do canal bicipital com anestésico e solução de esteroide
As medidas conservadoras permanecem sendo o su
porte principal do tratamento inicial para a maioria das
rupturas do manguito rotador. A terapia conservadora re
sulta em um bom desfecho em 50% dos pacientes.165 Os
exercícios de amplitude de movimento passivos devem ser
instituídos, assim que possível, em pacientes idosos. No
período inicial, repouso, gelo e AINEs devem ser acom
panhados por atividade modificada e fisioterapia. Com as
rupturas de espessura parcial, os exercícios de amplitude
de movimento são importantes para reduzir a rigidez.
Em jovens, o reparo cirúrgico precoce está indica
Figura 16.71 O teste de Yergason. Embora o teste tivesse sido
do para as rupturas completas do manguito rotador. originalmente descrito para a luxação do tendão bicipital, ele
O reparo artroscópico leva a resultados satisfatórios em também é usado para diagnosticar a tenossinovite da cabeça
mais de 90% dos casos. Em um grande estudo en longa do bíceps. Ao executá-lo, é solicitado ao paciente para
volvendo mais de 400 pacientes, os reparos artroscópicos supinar o antebraço contra resistência, enquanto o cotovelo é
para rupturas moderadas foram o suporte principal do mantido em flexão.
358 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
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PARTE IV
Extremidades Inferiores
Capítulo 17
Pelve
INTRODUÇÃO vísceras. Existem três ossos que se combinam para for
mar o anel pélvico: dois ossos inominados (compostos do
As fraturas pélvicas representam 3% de todas as fraturas ísquio, do ilíaco e do púbis) e o sacro (Fig. 17.1). O cóc-
esqueléticas e são somente excedidas pelas fraturas do cix é um quarto osso, mas não está incorporado ao anel
crânio em complicações e mortalidade associadas.1Essas
pélvico. Os dois ossos inominados e o sacro estão unidos
lesões variam desde as fraturas estáveis de baixa energia
pela formação de três articulações (a sínfise do púbis e as
até as instáveis de alta energia. A taxa de mortalidade
duas articulações SI). Os ligamentos que formam o anel
para as fraturas pélvicas de alta energia varia de 10 até
pélvico são os mais fortes do corpo.
20%, mas em pacientes hemodinamicamente instáveis
A carga é transm itida através da pelve óssea ao
ou depois de fraturas expostas, ela aumenta para 50%.
longo de dois caminhos (Fig. 17.2). Quando em pé, o
As colisões de veículos automotores respondem por apro
peso é transmitido através da coluna para o sacro, ar
ximadamente dois terços de todas as fraturas pélvicas. Os
ticulações SI, e ao longo da linha arqueada até o domo
pedestres atingidos por automóveis são responsáveis por
superior do acetábulo e abaixo pelo fêmur. Na posição
15% dos casos. Os esmagamentos, as colisões de motoci
sentada, a força é transmitida para a coluna e para o sa
cletas e as quedas respondem cada um por 5% adicionais.
cro e as articulações SI e para o ísquio, pela via do ramo
As fraturas dos ramos púbicos são as fraturas pélvicas
inferior. O osso é muito forte nestas áreas e a radiografia
mais comuns, com o ramo superior mais vezes envolvido
que o ramo inferior. As fraturas dos ramos púbicos respon anteroposterior (AP) da pelve demonstra de forma clara
dem por mais de 70% de todas as fraturas pélvicas. A in o espesso padrão trabecular ao longo dessas linhas de
cidência das fraturas dos ossos pélvicos restantes, em or estresse. Como resultado, as fraturas pélvicas mais co-
dem descendente, é do ilíaco, do ísquio e do acetábulo. As mumente interrompem o anel nas áreas não envolvidas
fraturas sacroilíacas (SI) estão associadas com sangramen- na transmissão de carga. Uma força maior é necessá
to mais significativo. Tanto o mecanismo da lesão como o ria para uma fratura na área de “carga” da pelve. Além
padrão da fratura identificados nos exames de imagens são disso, as fraturas que envolvem os arcos de carga estão
importantes para predizer as lesões associadas. associadas a muito mais dor quando forçadas do que as
fraturas que não envolvem esses arcos. Um bom exem
plo é a fratura do ramo superior. Por ser uma área que
Anatomia essencial
não suporta carga, é menos dolorosa e mecanicamente
Em humanos, o anel pélvico serve para duas funções im estável em comparação às fraturas nas porções de carga
portantes: suporte de peso (estabilidade) e proteção das da pelve. Um paciente com fratura do ramo púbico su-
Articulação sacroilíaca
Crista ilíaca
Espinha ilíaca anterossuperior
Cóccix
Espinha ilíaca anteroinferior
Linha arqueada
Acetábulo
Forame obturatório
Ramo do ísquio
Ramo superior do púbis
A B
Figura 17.2 A. Linhas de estresse na posição ortostática. B. Linhas de estresse na posição sentada. Notar que na posição sentada
as linhas passam através do ísquio.
perior pode entrar caminhando no setor de emergência, A xiom a: Uma fratura deslocada do anel pélvico indica que
enquanto aquele com uma fratura sacral não poderá co existe pelo menos uma segunda fratura ou uma fratura mais
locar peso sem dor significativa. uma luxação articularm ais comumente na articulação sa-
O conceito da pelve como um anel anatômico tam croiiíaca.
bém tem implicações importantes para a detecção de
fraturas. A presença de pelo menos duas fraturas ou A estabilidade pélvica durante a deambulação é uma
uma fratura e uma luxação é necessária para causar função combinada de ligamentos e ossos. Anteriormente,
uma fratura deslocada no anel. Por conseguinte, se for os ligamentos interpúbicos unem os dois ossos púbicos,
diagnosticada uma fratura deslocada do anel pélvico, o formando a sínfise do púbis. As estruturas pélvicas ante
profissional deve buscar uma segunda fratura ou lesão riores (sínfise e ramos) são responsáveis por 40% da es
articular. As fraturas únicas no anel pélvico são inco- tabilidade do anel pélvico. Posteriormente, a articulação
muns, são habitualmente sem deslocamento, e ocorrem SI é suportada por uma série de ligamentos fortes que são
perto ou em uma articulação (articulação SI ou sínfise os estabibzadores principais do anel pélvico (Fig. 17.3). A
púbica). ruptura dos bgamentos SI altera a função normal de carga
do anel pélvico.
Processo
A transverso de L5 B
Ligamento iliolombar
Processo
transverso de L5
Ligamento iliolombar
Ligamento sacroilíaco
Ligamento iliossacral
posterior
Ligamento
sacrospinal
Vista posterior
Ligamento
sacrotuberal
Figura 17.3 O s ligamentos que circundam a articulação sacroilíaca são os mais fortes do corpo.
Emergências Ortopédicas 369
Feixe
Incidência do
estreito superior
Chapa de raios X
A
Feixe
Figura 17.7 Incidências do estreito superior e do inferior da pelve. A. Técnica para obter a incidência do estreito superior. B. Inci
dência do estreito superior da pelve. Os ramos púbicos estão fraturados, mas os elementos posteriores (i.e., as articulações sacroilí-
acas) parecem intactos. C. Técnica para obter a incidência do estreito inferior. D. Incidência do estreito inferior da pelve. A linha de
fratura se estende para dentro do osso púbico.
com radiofármacos. Um período de três dias após o trauma é tata em situação alta, a uretrografia retrógrada é obtida
recomendado antes do exame. 1,16 antes da colocação de um cateter de Foley. Se o exame
No contexto de trauma pélvico de alta energia, exa estiver normal, uma cistografia retrógrada é feita para
mes radiográficos adicionais são, com frequência, neces avaliar a integridade da bexiga. Um filme pós-esvazia-
sários. Em pacientes com instabilidade hemodinâmica, a mento é imperativo para excluir o extravasamento de
angiografia pélvica pode salvar vidas se puder ocluir o contraste. Uma cistografia retrógrada deve ser adiada em
sangramento arterial. Caso haja suspeita de ruptura ure- um paciente que puder ser submetido a uma angiografia
tral em um paciente do sexo masculino, com base nos pélvica, já que aquele interferirá com o diagnóstico an-
achados de sangue no meato uretral, hematúria ou prós giográfico apropriado.
FRATURAS PÉLVICAS
Existem múltiplos sistemas de classificação para as fratu adicionalmente o sistema de Pennal e Sutherland, subdi
ras do anel pélvico. Pennal e Sutherland foram os primei vidindo as primeiras duas categorias (CL e CAP) em três
ros a desenvolver uma classificação mecanicista de lesões subcategorias (I, II e III) com base na extensão da lesão
do anel pélvico. Eles dividiram as lesões do anel pél (Tab. 17.1). Com o sistema, o profissional classifica fra
vico em categorias com base na força causadora - com turas pélvicas observando os padrões de lesão anterior e
pressão lateral (CL), compressão anteroposterior (CAP) posterior. As lesões anteriores dentro de cada categoria
e cisalhamento vertical (CV). Burgess e Young refinaram (CL e CAP) são as mesmas. O grau de lesão posterior
372 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
► TABELA 17.1 Sistema de classificação de Burgess e ► TABELA 17.2 Sistema de classificação de Tile das
Young das lesões do anel pélvico lesões do anel pélvico
Compressão lateral (CL) Tipo A: Lesão estável do anel pélvico
CL I: Fratura dos ramos púbicos (transversa) e compressão A 1 : Fraturas que não envolvem o anel; fraturas de avulsão
sacral ipsilateral A2: Deslocamento mínimo
CL II: Fratura dos ramos púbicos (transversa) e fratura da A3: Fraturas transversas do sacro ou do có ccix
asa do ilfaco Tipo B: Lesão do anel pélvico rotacionalmente instável,
CL III: Fratura dos ramos púbicos (transversa) e lesão em verticalmente estável
livro aberto contralateral (i.e., a pelve é atingida por B1: Instabilidade em rotação externa; lesão em livro aberto
uma roda de automóvel, fazendo com que a hemipelve B2: Instabilidade em rotação interna; lesão por
no lado do impacto lateral rode internamente e a compressão lateral
hemipelve contralateral rode externamente) Tipo C: Lesão do anel pélvico rotacionalmente e
Compressão anteroposterior (CAP) verticalmente instável
CAP I: Diástase sinfisária (1-2 cm) com ligamentos C 1 : Lesão unilateral
posteriores normais C2: Lesão bilateral (um lado rotacionalmente instável e o
CAP II: Diástase sinfisária ou fratura dos ramos púbicos outro vertical e rotacionalmente instável)
(vertical) com ruptura anterior da articulação SI C3: Lesão bilateral (ambos os lados rotacional e vertical
CAP III: Diástase sinfisária ou fratura dos ramos púbicos instáveis)
(vertical) com ruptura completa da articulação SI
Cisalhamento vertical (CV)
Diástase sinfisária ou fratura dos ramos púbicos, com
As fraturas pélvicas que rompem o anel pélvico são,
ruptura completa da articulação SI, da asa ilíaca ou do
sacro (com deslocamento vertical)
além disso, subdivididas em fraturas não deslocadas me
Mecânica combinada (MC) canicamente estáveis e fraturas deslocadas de alta energia
Combinação de outros padrões de lesão (CL/CV ou CL/CAP) com base na classificação de Burgess e Young.
As fraturas mecanicamente estáveis em geral ocorrem
quando está presente apenas uma fratura não deslocada no
define as três subcategorias (I, II e III) em mecanismos anel pélvico e a articulação SI e a sínfise púbica permane
de CL e CAP. Estes autores também adicionaram outra cem intactas. As fraturas estáveis e não deslocadas tendem
categoria - mecanismo combinado (MC) - quando as fra a ocorrer próximas à sínfise púbica ou à articulação SI, já
que a mobilidade relativa da pelve nessas áreas permite a
turas observadas eram o resultado de combinação de for
transecção do anel sem lesão adicional. Conforme antes
ças (i.e., CAP e CL ou, mais frequentemente, CL e CV).1
mencionado, as fraturas pélvicas deslocadas costumam
Esse sistema é benéfico para o médico da emergência
ser mecanicamente instáveis e sugerem a existência de
durante a ressuscitação inicial, já que ajuda predizer os
duas fraturas que atravessam o anel, ou uma fratura e uma
requisitos de ressuscitação de fluidos, a lesão associada
luxação articular.
de órgãos esqueléticos e sólidos, a necessidade de estabi
lização aguda da pelve e, em última instância, a sobrevida
do paciente.1 As lesões por CAP III, CL III e CV estão ► TABELA 17.3 Fraturas pélvicas
associadas a mecanismos de alta energia. As lesões por A . Nenhuma ruptura do anel pélvico
CAP III estão associadas com maior necessidade de trans 1. Avulsão
fusão, mortalidade mais elevada e a taxas mais altas de 2. Ramo do púbis ou ramo do ísquio isolado
lesão neurológica. 3. Corpo do ísquio
Tile introduziu uma modificação do sistema de clas 4. Asa do ilíaco
sificação de Pennal em 1988, destacando a importância 5. Horizontal sacral
6. Coccígea
do complexo SI posterior na manutenção da capacidade
B. Ruptura do anel pélvico
da pelve em resistir forças fisiológicas e, por conseguinte,
1. Fraturas não deslocadas do anel pélvico
manter a estabilidade mecânica (Tab. 17.2). O sistema a. Ramos púbicos superior e inferior
combina o mecanismo de lesão com a potencial instabili b. Osso do púbis
dade presente. Em pacientes com estabilidade hemodinâ- c. Corpo do ilíaco
mica, a classificação de Tile ajuda o cirurgião ortopédico d. Fraturas verticais do sacro
e o médico da emergência a determinar a necessidade de 2. Fraturas deslocadas do anel pélvico
estabilização cirúrgica, como também o prognóstico.19 a. Lesão à cavaleiro
Neste capítulo, as fraturas pélvicas são divididas na b. Classificação de Burgess e Young
quelas que não envolvem o anel pélvico e naquelas que i. Compressão lateral (CL)
ii. Compressão anteroposterior (CAP)
o fazem (Tab. 17.3). As fraturas que não rompem o anel
iii. Cisalhamento vertical (CV)
pélvico são mecanicamente estáveis e têm taxa baixa de
iv. Mecanismo combinado (MC)
lesões associadas.
Emergências Ortopédicas 373
As fraturas instáveis envolvem a transecção do anel forte do sartório. O deslocamento costuma ser leve e
pélvico em dois lugares, com deslocamento. Essas fratu inibido pela inserção do ligamento inguinal e da fáscia
ras representam 15% dos pacientes com fraturas pélvicas. lata nesse osso. A avulsão da espinha ilíaca anteroin
A taxa de mortalidade nas fraturas pélvicas deslocadas é ferior é menos frequente, causada por uma contração
alta, e lesões potencialmente fatais associadas, incluindo forte do reto femoral, como a que ocorre durante um
hemorragia e dano de órgãos viscerais, com frequência chute no futebol. A avulsão da tuberosidade isquiática é
acompanham tais lesões. As fraturas muitas vezes são vista em atletas como saltadores de barreiras, ginastas e
secundárias a grandes forças diretas, como aquelas que saltadores com vara após e uma contração forte em seus
ocorrem em uma colisão automotora de alta velocidade, isquiotibiais.
ou depois de uma queda de altura significativa.
Exam e
Figura 17.8 Fraturas de avulsão. Figura 17.9 Avulsão da espinha ilíaca anterossuperior.
374 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
Ramo do isquio
Ramo do púbis
M e c a n is m o d e le sã o
O paciente relata sensibilidade dolorosa e edema sobre a
asa do ilíaco. Os abdutores do quadril se inserem na asa
Estas fraturas resultam de uma queda significativa sobre
do ilíaco e, por conseguinte, a dor é exacerbada com a
as nádegas na posição sentada.
marcha ou ao forçar os abdutores do quadril.
Exam e
Im a g e n s
Há dor e sensibilidade dolorosa à palpação profunda, que
A incidência AP da pelve é adequada para demonstrar
é exacerbada com tensão nos isquiotibiais.
essa fratura. As incidências oblíquas são indicadas se a
Im a g e n s
fratura não for claramente identificada, ou se houver sus
peita de um deslocamento. Uma TC pode ser obtida em
A incidência em AP da pelve é geralmente adequada para
casos dúbios (Fig. 17.13).
demonstrar esta fratura.
L e sõ e s a sso cia d a s
L e s õ e s a sso cia d a s
Embora essas fraturas não envolvam o anel pélvico, são
Essas fraturas em geral são consequentes a uma queda
a consequência da ação de forças intensas e podem ser
significativa e fraturas associadas da coluna lombar e to
acompanhadas de lesões associadas, incluindo:
rácica podem acompanhar essas lesões.
• Fraturas do acetábulo.
T ra ta m en to • Lesões gastrintestinais. São incomuns, mas podem ter
O tratamento sintomático, com 4 a 6 semanas de repouso apresentação posterior.
no leito, é adequado. Os pacientes idosos requerem exercí • Lesões de órgãos sólidos abdominais e torácicos.
cios com movimentos ativos e passivos, junto com a mobi
lização precoce. Uma almofada pneumática para sentar-se T ra ta m en to
é útil durante os estágios mais tardios da consolidação. É apropriado o tratamento sintomático, incluindo repouso
no leito e descarga até que os abdutores do quadril este
C o m p lic a ç õ e s
jam indolores. As fraturas deslocadas, de modo geral, não
As fraturas do corpo do ísquio podem ser complicadas por requerem redução.
má união ou formação excessiva de calo, resultando no
desenvolvimento de dor crônica exacerbada ao sentar-se C o m p lic a ç õ e s
ou com o estresse de isquiotibiais. As fraturas da asa do ilíaco são isentas de complicações a
longo prazo.
FRATURA DA ASA DO ILÍACO
(DE DUVERNEY) FRATURAS HORIZONTAIS DO SACRO
M e c a n is m o d e le sã o As fraturas do sacro podem ser horizontais ou verticais.
Essas fraturas são o resultado de uma força medialmente di As verticais são secundárias a mecanismo indireto, tran-
rigida. Uma fratura de Duvemey pode ser causada por uma secção do anel pélvico e estão muitas vezes associadas a
força de alta energia e, por conseguinte, pode servir para uma fratura adicional, às vezes oculta, do anel pélvico.
alertar o profissional sobre outras lesões. A asa do ilíaco às As fraturas verticais do sacro serão abordadas em outra
vezes demonstra deslocamento medial (Fig. 17.12). seção. A discussão a seguir é limitada às fra tu ra s horizon-
376 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
A B
tais do sacro. As sacrais isoladas horizontais (transversas) no sacro e o deslocamento pode ser avaliado com um exa
respondem por 2 a 3% das fraturas da pelve (Fig. 17.14). me retal bimanual. Sangue na luva do examinador após
Aquelas acima do nível de S2 são menos comuns que as o exame retal digital sugere fratura exposta. As expostas
abaixo de S2. requerem antibióticos de amplo espectro de emergência
e intervenção cirúrgica. A função neurológica dos nervos
M e c a n is m o d e le sã o sacrais inferiores é avaliada notando o tônus do esfincter
Um golpe direto sobre o sacro posterior, em direção an anal, a sensibilidade permeai e o esfincter da bexiga.
terior, é o mecanismo habitual. Essas fraturas também
ocorrem após uma queda na posição sentada ou com lesão Im a g e n s
maciça de esmagamento da pelve. As fraturas sacrais horizontais são difíceis de detectar
em radiografias pélvicas de rotina. As fraturas horizon
Exam e tais tendem a ocorrer distalmente às articulações SI. Um
O paciente relata sensibilidade dolorosa, edema e equimo mau alinhamento ou bloqueio dos forames sacrais pode
se sobre a proeminência sacral. O exame retal produz dor ser indicativo de fratura sacral deslocada. A incidência do
estreito inferior (AP cefálica) é melhor para demonstrá-
-las/ A TC é muito útil para delinear estas lesões quando
os filmes simples não forem conclusivos.
L e s õ e s a sso cia d a s
Várias séries relatam a incidência de 4 a 14% de fraturas
pélvicas associadas a fraturas sacrais horizontais. As que
ocorrem acima de S2 estão associadas à incidência maior
de disfunção neurológica que aquelas abaixo de S2.
T ra ta m en to
As fraturas sacrais horizontais não deslocadas são tratadas
com repouso no leito por 4 a 5 semanas. Uma almofada
inflável pode ser usada mais tarde para sentar. As fraturas
horizontais deslocadas requerem encaminhamento orto
pédico de emergência, em função do seu potencial para
lesão neurológica. É imperativo que o médico examinador
inicial faça um exame neurológico completo do paciente.
C o m p lic a ç õ e s
As fraturas sacrais horizontais podem ser complicadas
pelo desenvolvimento de dor crônica ou disfunção nervo
sa secundária à formação do calo.
Emergências Ortopédicas 377
Complicações
FRATURA DO CORPO DO ILÍACO
Estas fraturas podem ser complicadas pela persistência de
(NÃO DESLOCADA)
dor secundária à artrite pós-traumática.
As fraturas pélvicas dessa categoria são isoladas e não des
FRATURA DO OSSO DO PÚBIS locadas do corpo do ilíaco, próximas à articulação SI (Fig.
(NÃO DESLOCADA) 17.18). Essas lesões são raras. Em geral, as fraturas pélvi
cas posteriores são associadas a fraturas do anel anterior.
É uma rara lesão isolada (Fig. 17.17).
Mecanismo de lesão
Mecanismo de lesão As fraturas do corpo do ilíaco próximo à articulação SI
Uma força AP direta é o mecanismo habitual, embora for são o resultado de uma força direta que empurra o ilíaco
ças indiretas possam ser adicionadas ao deslocamento. posterior e medialmente.
Exame Exame
O paciente apresenta sensibilidade dolorosa, edema ou até O paciente apresenta sensibilidade dolorosa sobre a pelve
deformidade sobre a área envolvida. A dor é localizada, posterior, sendo exacerbada com a compressão anterior
e é exacerbada com a compressão anterior ou lateral da ou lateral. O levantamento da perna estendida é doloroso
pelve. com esse tipo de fratura.
Imagens Imagens
Uma incidência pélvica de rotina costuma ser adequada A incidência pélvica em AP é adequada para visualizar
para demonstrar a fratura. Os exames de imagens urológi- essas lesões. Uma TC ou cintilografia óssea são frequen
cas são indicados para pacientes com suspeita de ruptura temente úteis para delinear as fraturas quando os filmes
no trato urinário. simples não forem conclusivos.
Figura 17.17 Fratura do osso do púbis (não deslocada). Figura 17.18 Fratura do corpo do ilíaco (não deslocada).
Emergências Ortopédicas 379
Lesões associadas
Estas fraturas são, com bastante frequência, associadas a
fraturas pélvicas anteriores.
Tratamento
Embora sejam fraturas de modo geral estáveis e tratadas
de forma sintomática, a consultoria ortopédica precoce é
recomendada. Prescreve-se o repouso no leito, com imobi-
lizador ou cinturão pélvico. A deambulação, inicialmente
com muletas, deve progredir conforme tolerado, com um
retorno esperado à função normal dentro de 3 a 4 meses.
Complicações
Essas fraturas podem ser complicadas pelo desenvolvi
mento de dor lombar crônica ou por comprometimento Figura 17.20 Fratura do sacro na TC .
neurológico.
Complicações
Estas fraturas podem ser complicadas pelo desenvolvi
mento de dor lombar crônica ou por comprometimento
neurológico.
LESÃO À CAVALEIRO
As fraturas à cavaleiro são o tipo mais comum visto de
fraturas pélvicas deslocadas (Fig. 17.21). Quase um terço
delas tem lesão associada de trato urinário inferior.
Mecanismo de lesão
O mecanismo mais comum é uma queda que resulta na
Figura 17.19 Fratura vertical do sacro (não deslocada). abertura das pernas sobre um objeto duro. A compressão
380 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
Figura 17.21 Lesões por abertura excessiva das pernas (à cavaleiro). A. Fraturas bilaterais dos ramos do púbis. B. Fraturas dos ramos
do púbis e ruptura da sínfise do púbis.
lateral da pelve pode resultar em fratura de aspecto simi têm lesão associada do trato urinário inferior, sendo a mais
lar, mas sem a mesma incidência de lesões genitourinário comum a ruptura uretral. É, por conseguinte, fundamental
(GU) associadas. que os pacientes com essas fraturas sejam submetidos a
exame radiográfico do trato urinário inferior.
E xa m e
O paciente se apresentará com sensibilidade dolorosa an T ra ta m e n to
terior, edema e equimose. É importante examinar e palpar A consulta ortopédica de emergência é recomendada. O
o permeo, o reto e a vagina na busca de lacerações, defor manejo de emergência dessas fraturas inclui imobilização e
midades ósseas e hematomas. estabilização, incluindo terapia com fluidos e a exclusão de
lesões graves associadas. A prioridade do médico deve ser
Im a g e n s dirigida para a identificação e a estabilização das lesões po
A incidência pélvica em AP é adequada para demonstrar a tencialmente fatais associadas. A fixação cirúrgica da pelve
fratura (Fig. 17.22). A TC é útil para determinar a exten anterior é necessária depois das lesões à cavaleiro.
são do dano aos tecidos e órgãos subjacentes, como tam
bém na articulação SI. As imagens radiográficas do trato C o m p lic a ç õ e s
urinário inferior também são recomendadas. 1. Artrite pós-traumática
2. Má união ou não união
L esõ es a sso cia d a s
3. Emboba pulmonar ou gordurosa (precoce)
Conforme já mencionado, essas lesões estão associadas a
alta incidência de lesões vasculares e viscerais. Até 33% BURGESS EYO U N G
As rupturas instáveis do anel pélvico são classificadas com
base no sistema desenvolvido por Burgess e Young, pois o
manejo agudo do paciente é mais adequadamente guiado
por esse sistema de classificação. Como afirmado ante
riormente, este sistema ajuda a predizer as necessidades de
ressuscitação de fluidos, a lesão associada esquelética e de
órgãos sóbdos, a necessidade para estabibzação aguda da
pelve e, em última instância, a sobrevida do paciente.
Essas fraturas são, por conseguinte, divididas pelo meca
nismo de lesão em quatro subtipos: (1) compressão lateral
(CL), (2) compressão anteroposterior (CAP; lesão em livro
aberto), (3) cisalhamento vertical (CV; fratura de Malgaig-
ne) e (4) um mecanismo combinado (MC) (ver Tab. 17.1).
A CL I B CL II C CL III
Figura 17.23 Lesões por compressão lateral. A. Padrão de lesão CL I. Observar a hemipelve direita internamente rodada, com fraturas
transversas dos ramos púbicos e fratura sacral com impactação. B. Padrão de lesão CL II. A impactação lateral da hemipelve direita
resulta em fraturas transversas dos ramos púbicos e fratura do ilíaco próxima à articulação SI direita. (A ruptura da articulação SI pode
também ocorrer com as lesões de CL II.) C. Padrão de lesão CL III. A compressão lateral da hemipelve direita resulta em rotação interna
da hemipelve direita (fraturas transversas dos ramos púbicos e fratura do ilíaco), como também a rotação externa da hemipelve contra-
lateral (fratura do osso do púbis e ruptura anterior da SI esquerda).
4
Forca causadora da lesão
Figura 17.27 Lesões por compressão anteroposterior. A. Padrão de lesão CAP I. Os ligamentos do assoalho pélvico e da articulação
SI permanecem intactos, enquanto os ligamentos da sínfise do púbis estão lesionados. A separação dos ossos púbicos > 2,5 cm nas
imagens sugere lesão mais significativa. B. Padrão de lesão CAP II. Os ligamentos da sínfise do púbis e da articulação SI anterior es
tão rompidos. Essa lesão resulta em uma pelve que "abre como um livro". C. Padrão de lesão CAP III. Nessa lesão, a pelve está tanto
rotacional como verticalmente instável devido à ruptura de todos os ligamentos da sínfise do púbis e da articulação SI.
Radiografia em AP da pelve
NAO
Fratura pélvica instável? Continuar a avaliação do trauma
(CL II, III; CAP II, III; CV)
SIM
NAO
Instabilidade hemodinâmica? ------- ■>- Continuar a avaliação do trauma
(PAS < 90 mm Hg, requer > 2U CH) TC da pelve + consulta ortopédica
para fixação
SIM
NAO
Outra fonte de hemorragia? ■>- Angiografia + campo pélvico
(LPP, UAFT, RxT) circunferencial
Consultoria ortopédica
para fixação
SIM
t
Sala de cirurgia + angiografia
Campo pélvico circunferencial
Consultoria ortopédica para fixação
RxT, Raio X de Tórax; LPP, lavagem peritonial profunda; UAFT, ultrassonografia abdominal focada no trauma; CH , concentrado de hemácias; PAS, pressão
arterial sistólica.
As fraturas instáveis podem ser tratadas com fixação um ortopedista qualificado e fluoroscopia para evitar a má
externa em uma tentativa de reduzir o volume intrapélvi- posição do dispositivo (Fig. 17.32). Esses dispositivos são
co, tamponar o sangramento pela oposição de estruturas efetivos para estabilizar o anel pélvico posterior, compri
ósseas, e prevenir o deslocamento do coágulo imobilizan mindo mecanicamente as articulações sacroilíacas. A la
do os fragmentos ósseos.9,18 Foi demonstrada redução da parotomia não sofre interferência em um paciente com o
mortalidade com o seu uso. Nas fraturas mecanica clampe. As pinças de redução do anel posterior são mais
mente instáveis, a aplicação aguda de um fixador exter comuns em centros europeus.
no deve ser considerada para CAP II, CAP III, CL III e Outro método simples para obter a estabilização pél
CV. O tipo de fixador externo e a sua aplicação devem vica temporária é a aplicação de um cinturão pélvico co-
ser determinados pelo ortopedista, com base no padrão
específico de fratura (Fig. 17.31). Muitos ortopedistas re
comendam a colocação do fixador antes da laparotomia
de emergência, sempre que for possível. Os fixadores
pélvicos podem ser inseridos no ED sob anestesia local
com incisões cutâneas menores. A fixação externa preco
ce das fraturas pélvicas instáveis é uma opção valiosa para
reduzir a perda sanguínea.
As desvantagens da aplicação do fixador externo no
paciente criticamente ferido incluem o tempo necessário
para colocar o dispositivo, em tomo de 40 minutos, que
pode retardar desnecessariamente outras intervenções
fundamentais para salvar a vida. A outra limitação de um
fixador externo é que não fornece um suporte suficiente
para a pelve posterior. Além disso, alguns acreditam que
um fixador externo anteriormente aplicado possa, na ver
dade, acrescentar distração a uma lesão posterior.
Há clampes de redução do anel posterior (clampes
em C, clampes pélvicos, clampes de Ganz) disponíveis,
mas são mais difíceis de aplicar - em geral requerendo Figura 17.31 Fixador externo anterior.
Emergências Ortopédicas 387
O profissional deve considerar uma lesão do trato uri da anatomia circundante. A próstata é fixada ao osso do
nário depois de todas as fraturas pélvicas. Os achados no púbis via ligamentos puboprostáticos. A próstata é simi
exame, como uma próstata de difícil palpação (“localiza larmente fixada ao diafragma urogenital, que se insere na
ção alta”), edema perineal ou escrotal e sangue no meato uretra membranosa. Quando ocorre lesão do anel pélvico,
uretral estão frequentemente ausentes no período inicial o movimento do osso púbico desloca a próstata e cria uma
depois da lesão. Por essa razão, padrões específicos de força de cisalhamento que rompe parcial ou completa
fratura que sejam associados a uma probabilidade alta de mente a uretra.
lesão do trato urinário devem ser buscados. A incidência As pacientes do sexo feminino têm incidência menor
de lesão urológica inferior é mais comum depois da ruptu de lesões desse tipo (4,6%) devido ao menor comprimento
ra do anel pélvico anterior, especialmente o envolvimento da uretra, e ao fato que existe menos suporte estrutural
dos ramos púbicos bilaterais (lesão à cavaleiro). As lesões circundante.4 Entretanto, um exame meticuloso deve ser
urológicas ocorrem em 15% dos pacientes com fraturas do feito sempre que sangue for visto no intróito.
ramo púbico unilateral e aumentam para 40% após fraturas Todos os pacientes com achados no exame físico que
bilaterais dos ramos (lesão à cavaleiro). Outros padrões sugiram lesão uretral devem ser submetidos a uma uretro-
de fratura associados com a lesão do trato urinário incluem grafia retrógrada antes da passagem de um cateter de Foley.
a subluxação de sínfise púbica (CAP I), lesões em livro Esse cateter prematuramente inserido pode converter uma
aberto (CAP II, CAP III), fraturas de CV (Malgaigne), e ruptura parcial em completa. Pelo fato de os achados do
fraturas dos ramos púbicos com lesão associada de SI. A exame físico serem pouco confiáveis, especialmente dentro
lesão uretral é incomum depois de lesão posterior isolada. da primeira hora depois da lesão, os pacientes com ruptu
ras do anel pélvico anterior devem ser submetidos a uma
uretrografia retrógrada, apesar de um exame negativo.
A xio m a: Pressupõe-se que as fraturas pélvicas tenham le
Usando uma seringa de bulbo ou um cateter de Foley
são associada do trato urinário até prova em contrário. As
fraturas do anel pélvico anterior estão associadas a maior
inserido na fossa navicular, 30 a 40 mL de meio de con
incidência de lesão. traste hidrossolúvel são injetados na uretra enquanto uma
radiografia é obtida (Fig. 17.34A). Se um Foley tiver sido
prematuramente colocado, a uretrografia pode ser obtida
A uretra é dividida em porções posterior e anterior no usando um angiocateter inserido ao lado do Foley. Uma
homem. A porção posterior consiste na uretra prostática e ruptura completa é diagnosticada pelo extravasamento
membranosa, enquanto a porção anterior consiste na ure de contraste sem enchimento da bexiga, enquanto uma
tra bulbosa e peniana. A área mais suscetível para lesão ruptura incompleta está presente com o extravasamento e
uretral depois de uma fratura pélvica é a junção bulbo- enchimento parcial da bexiga. O tratamento permanece
membranosa. A compreensão requer algum conhecimento controverso mas, em geral, as rupturas uretrais anteriores
AP
Portátil
Uretrografia-5:45 a.m.
A B
Figura 17.34 As fraturas pélvicas estão com frequência associadas a lesões geniturinárias. A . Uretrografia normal. B. Cistografia normal.
Emergências Ortopédicas 389
Espinha Espinha
anteroinferior posteroinferior
Tuberosidade isquiática
Fraturas do acetábulo
Mecanismo de lesão
As fraturas acetabulares são habitualmente o resultado de
um trauma de alta energia. O mecanismo mais comum de
lesão é o indireto, como ocorre um golpe medialmente di
rigido ao trocanter maior. Quando isso ocorre, a cabeça
do fêmur atua como um martelo, fraturando o acetábulo.
Se a cabeça do fêmur estiver intemamente rodada na hora
da lesão, é produzida uma fratura de coluna posterior. Da
mesma forma, a rotação externa causa fratura da coluna
anterior, a adução resulta em uma fratura do domo supe
rior e a abdução causa lesão no acetábulo inferior. O me
canismo é comumente visto quando um pedestre é atingi
do por um carro.
Outro mecanismo indireto de lesão é por meio da
transmissão axial de uma força a partir de um golpe nos
joelhos, transmitido até a cabeça do fêmur e o acetábulo.
Esse mecanismo é muitas vezes encontrado em motoristas
ou passageiros de carros envolvidos em colisões. O resul
tado é uma fratura acetabular transversa ou, menos comu
Figura 17.37 Fratura-luxação central. mente, fratura da coluna posterior.
392 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
Figura 17.39 Incidência AP do acetábulo pélvico. Essas linhas devem ser examinadas cuidadosamente em pacientes com suspeita
de fratura. Uma fratura sutil pode deslocar somente uma daquelas linhas. A. Representação esquemática. B. Radiografia.
Emergências Ortopédicas 393
Tratamento
O encaminhamento ortopédico de emergência é reco
mendado, principalmente no contexto de luxação do
quadril. O manejo de emergência dessas fraturas inclui
domo de carga não estiver envolvido, o paciente tem per 3. A necrose avascular ocorre até um ano depois da le
missão para apoiar o peso conforme tolerado. são. A incidência depende do tipo de fratura e do
tempo de redução. As fraturas-luxações acetabula
Complicações res centrais, que são reduzidas precocemente, têm
O manejo das fraturas acetabulares pode ser complicado incidência de necrose avascular de 15%. Se redução
pelo desenvolvimento de vários distúrbios. é retardada, há incidência de 48%.4 Outros autores
não relatam nenhum caso de necrose asséptica após
1. A osteoartrite é consequência comum, mesmo depois fraturas-luxações acetabulares centrais.
das menores fraturas. 4. A lesão do nervo isquiático pode complicar o manejo
2. A artrite traumática é notada, em especial depois das dessas lesões, especialmente as fraturas centrais des
fraturas-luxações centrais deslocadas. locadas.
da. Quando a lesão ocorre, o paciente relata dor localizada da coxa deve ser evitada. Em casos nos quais houver sus
na região da articulação SI e a refere até a virilha e no peita de avulsão completa, deve ser indicado o encaminha
aspecto posterior da coxa. O mecanismo de lesão envolve mento para avaliar a necessidade de reparo cirúrgico.
a abdução ampla das coxas ou os extremos de hiperexten-
são ou hiperflexão. A melhor manobra para diagnos COMPRESSÃO DO NERVO ISQUIÁTICO
ticar a condição é fazer com que o paciente fique deitado
de lado, sendo feita uma compressão para baixo sobre a A dor ciática é mais comumente considerada como secun
crista ilíaca. Esta ação comprime a articulação SI e causa dária a um núcleo pulposo hemiado dentro da coluna lom-
dor quando houver entorse da articulação SI. Como alter bossacral. As outras causas incluem síndrome da faceta pos
nativa, a abdução ampla das pernas estendidas e elevadas terior, estenose vertebral central ou compressão direta do
do paciente em decúbito dorsal produzirá a dor sobre os nervo isquiático por tumor, aneurisma ou hematoma. Essa
ligamentos iliossacrais ou lombossacrais feridos. condição também é vista em pacientes submetidos à aneste
A injeção localizada da articulação com bupivacaí- sia e ficam deitados ou acamados por um período prolonga
na, os analgésicos, as compressas quentes e o repouso no do de tempo. Em pacientes com a síndrome do piriform e, o
leito constituem o tratamento necessário. Se os sintomas trauma no músculo piriforme resulta em formação de hema
persistirem, o encaminhamento ao especialista é indicado. toma e fibrose subsequente, causando irritação mecânica do
Para mais informações sobre a doença da articulação sa- nervo isquiático anatomicamente adjacente (Fig. 17.44).
croilíaca, ver o Capítulo 8. A síndrome do piriforme responde por 0,5 a 5% dos
casos de dor ciática. Os pacientes com síndrome do pi
DISTENSÃO DA INSERÇÃO ISQUIOTIBIAL riforme sofrem com os sintomas clássicos da ciática, in
cluindo a dor na nádega e na coxa posterior. Existe into
Essa condição resulta da flexão enérgica do quadril, en lerância ao sentar-se e dor com a flexão, adução e rotação
quanto o joelho é estendido. No adolescente, quando a interna do quadril. A sensibilidade dolorosa à palpação da
epífise não está fechada, pode ocorrer a avulsão da tu- incisura isquiática maior é notada com frequência. A per
berosidade, com ampla separação da epífise. Ao exame, da funcional do piriforme está presente, mas isto não afeta
o paciente relata sensibilidade dolorosa sobre a inserção a força, porque existem três rotadores externos curtos e
do osso, com pequeno edema. Uma história compatível mais fortes do quadril. O diagnóstico de compressão do
com o mecanismo acima mencionado, acompanhada de nervo isquiático no nível do piriforme pode ser confirma
aumento da dor com a flexão passiva do quadril e com do por testes eletrodiagnósticos.
o joelho estendido ou a extensão ativa do quadril contra A terapia conservadora inclui AINEs, fisioterapia, ul
resistência ajudam a fazer o diagnóstico. As radiografias trassom ou injeção de lidocaína. A seção do músculo pi
devem ser obtidas para excluir uma fratura com avulsão. riforme em suas origens tendíneas libera a banda fibrosa,
Com a avulsão incompleta, o tratamento consiste na sendo curativa se as medidas conservadoras falharem. A
imobilização do joelho em posição flexionada, para aliviar liberação do músculo piriforme pode ser executada com
a pressão sobre a inserção isquiática dos tendões. O pacien sucesso por meio de um procedimento artroscópico mini
te usa muletas, sem carga, por três semanas. A flexão ativa mamente invasivo.
Músculo piriforme
Músculo obturador
interno Músculo
coccígeo
Nervo isquiático
Nervo pudendo Espinha isquiática
Nervo retal inferior
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Capítulo 18
Quadril
INTRODUÇÃO Os músculos que circundam a articulação do qua
dril são grandes e poderosos e contribuem de forma
O fêmur proximal consiste em uma cabeça e um colo, significativa para as forças que atuam sobre a cabeça
bem como em um trocanter maior e um menor (Fig. do fêmur. Eles são divididos em três grupos principais
18.1). A articulação do quadril é um encaixe esférico, anteriores, mediais e posteriores. Os músculos anterio
composto pela cabeça do fêmur e pelo acetábulo. Essa res incluem o iliopsoas, o tensor da fáscia lata, o sar-
articulação tem muitas referências ósseas palpáveis. A tório e o quadríceps femoral. Os músculos dentro do
espinha ilíaca anterossuperior e o trocanter maior são pal compartimento medial incluem o pectíneo, o grácil, o
pados lateralmente com facilidade, e a sínfise púbica e o obturador externo e os adutores magno, curto e longo.
tubérculo (localizado 2,5 cm lateralmente à sínfise) são A ação principal dos músculos mediais é a adução da
palpados medialmente. A articulação do quadril é capaz coxa. Os músculos posteriores são o semitendíneo, o
de grande amplitude de movimento. semimembranáceo e o bíceps femoral. Sua função é es
A articulação é envolta em uma cápsula que tem in tender o quadril.
serções na borda do acetábulo e no colo do fêmur. Três É essencial entender claramente o precário supri
ligamentos são formados por espessamentos capsulares: mento vascular no fêmur proximal. A anatomia vascular
o lig a m en to ilio fem o ra l, que é localizado anteriormente consiste em três fontes principais, listadas em ordem de
e é o mais espesso e o mais forte dos três; o lig a m en to importância (Fig. 18.2).
p u b o fe m o ra l, que é localizado inferiormente e o lig a
m en to isq u io fe m o ra l, que é localizado posteriormente 1. Artérias circunflexas femorais e retinaculares
e é o mais largo dos três ligamentos. O ligamento ilio 2. Vascularização medular
femoral é dividido em duas bandas, uma inferior, que 3. Vaso do ligamento redondo
passa obliquamente para baixo, e uma superior. Esse
As artérias circunflexas femorais circundam a base
ligamento aperta quando o quadril é estendido. Um
do colo do fêmur e originam as artérias retinaculares,
suporte adicional é fornecido pelo lá b io a c e ta b u la r, o
qual é uma banda espessa de cartilagem que circunda e
estende-se para fora do acetábulo, proporcionando pro
Vaso do ligamento
fundidade à cavidade. Um ligamento achatado e fino, redondo
o ligamento redondo, prende centralmente a cabeça do Artéria ilíaca
fêmur ao acetábulo. externa
Artérias circunflexas
Colo do Cabeça do
femorais e retinaculares
fêmur fêmur
Trocanter
maior
Ângulo de
inclinação
Diáfise do
fêmur
Trocanter medular Artéria femoral profunda
menor
Figura 18.2 O anel vascu lar em torno da base do colo do
fêm ur dá origem a vasos intracapsulares (vasos retinaculares)
Figura 18.1 O ângulo colodiafisário deve ser avaliado em to que são im portantes para manter a perfusão da cab eça do
das as suspeitas de fraturas. O normal é de 120 a 130°. fêmur.
400 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
A B
Figura 18.3 Radiografias normais do quadril. A. Radiografia A R B. Incidência em rotação externa (i.e., lateral com rolagem).
que ascendem para suprir a cabeça do fêmur. A ruptu perpendicular ao eixo longo do colo do fêmur (Fig. 18.4).
ra dos vasos retinaculares resulta em necrose avascular As incidências de comparação do quadril são, com fre
(NAV) da cabeça em 84% dos casos. Em fraturas ocultas quência, úteis para diagnosticar fraturas ocultas. A linha
e não deslocadas do colo do fêmur, os vasos retinacula de Shenton (Fig. 18.5) é cuidadosamente perscrutada em
res não são rompidos e o diagnóstico precoce previne as todos os pacientes com suspeita de lesão no quadril. Além
complicações. disso, o ângulo no rm a l co lo d ia fisá rio de 130° deve ser
avaliado em todas as suspeitas de fraturas. Ele é obtido
Imagens medindo-se o ângulo da interseção das linhas traçadas a
partir do eixo da diáfise e do colo do fêmur (ver Fig. 18.1).
As radiografias de rotina, incluindo a incidência a ante
roposterior (AP) e em rotação externa (i.e., rolada ou Fraturas ocultas
lateral) são adequadas na maioria dos casos (Fig. 18.3).
As fraturas ocultas em pacientes idosos osteoporóticos
A incidência lateral através da mesa deve ser obtida em
com dor no quadril após um trauma ocorrem comumen-
pacientes com suspeita de fratura, em vez da incidência
te no colo do fêmur, na região intertrocantérica ou na
em rotação externa. Essa radiografia deve ser tirada em
pelve. Não fazer o diagnóstico de fratura oculta do colo
pode resultar em subsequente deslocamento, ruptura
vascular e, eventualmente, NAV. As fraturas ocultas do mais provável de ser positivo e requerer reparo cirúrgico.
quadril estão presentes em 2 a 10% dos pacientes com A RMN também tem a vantagem de detectar alguma ou
trauma, dor no quadril e radiografias iniciais negativas. tra patologia inicialmente não detectada. Em um estudo, a
No único estudo em setor de emergência, a incidência RMN detectou patologia em 83% dos casos, 23% reque
foi de 4,4%. O trauma de baixa energia, como uma rendo reparo cirúrgico. Uma RMN limitada da região do
queda da própria altura, é um mecanismo comum. Em quadril leva apenas em torno de 15 minutos. O parâmetro
bora o exame clínico possa ser útil, as fraturas ocultas para a efetividade de custos da RMN neste contexto é re
do quadril são vistas em pacientes com a habilidade de lacionado à eliminação de hospitalizações mais longas e
apoiar (apesar da dor), levantamento com elevação ir complicações de custo elevado.
restrita da perna estendida e nenhuma dor em rotação Outras técnicas de imagens, como a tomografia com
passiva ou carregamento axial. putadorizada (TC) e a cintilografia óssea, não são tão
Quando os filmes simples forem dúbios em um pa sensíveis ou práticas como a RMN. A TC pode detec
ciente com suspeita de fratura de quadril, a ressonância tar fraturas não percebidas nas radiografias simples, mas
magnética nuclear (RMN) é o exame diagnóstico de esco pode deixar passar fraturas não deslocadas que corram em
lha, com sensibilidade e especificidade de 100%. A RMN paralelo ao plano axial ou às fraturas no osso trabecular
detecta as fraturas até quatro a seis horas após a lesão. osteoporótico. Em um pequeno estudo, a TC deixou
Em pacientes acima dos 70 anos, o resultado da RMN é passar quatro de seis fraturas detectadas pela RMN.
FRATURAS DO QUADRIL
Mecanismo de lesão
O mecanismo de lesão varia, dependendo do tipo de fra
tura. As fraturas com fragmento único são causadas por
forças de cisalhamento que ocorrem durante uma luxação.
As luxações anteriores estão associadas com as fraturas
superiores, enquanto as posteriores estão associadas às in
feriores. As fraturas cominutivas são, em geral, o resultado
de trauma direto e podem estar associadas a lesões graves.
Exame Cominutiva
Imagens
As incidências de rotina do quadril são adequadas para
demonstrar essas fraturas. A TC, a RMN ou a cintilografia
óssea são recomendadas quando os filmes simples forem
inconclusivos. Figura 18.6 Fraturas da cabeça do fêmur.
402 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
Tratamento
F ragm ento único. O manejo de emergência dessas fra
turas inclui imobilização, analgésicos e hospitalização.
Se associada a uma luxação, está indicada a redução se
guida de imobilização. Os pequenos fragmentos ou frag
mentos do domo superior podem exigir remoção cirúrgi
ca ou artroplastia.
Tipo I Tipo II
Cominutiva. O manejo de emergência dessas lesões inclui
imobilização, analgésicos, estabilização das lesões associa B Deslocada
das e hospitalização para artroplastia, uma vez que a maioria
evolui para NAV se for tratada de modo conservador.
FRATURAS DO C O LO DO FÊMUR
Estas fraturas também são chamadas de subcapitais.
Elas são ocorrências em pacientes idosos com osteopo-
rose, com a proporção entre mulheres e homens de 4: l.3’13
As fraturas do colo do fêmur são raramente vistas em pa
cientes jovens, a menos que estejam associadas com um Tipo III Tipo IV
mecanismo de alta energia. Se essa lesão for diagnosti
cada em um paciente jovem depois de um trauma menor, Figura 18.7 Fraturas do colo do fêmur.
deverá haver suspeita de uma fratura patológica.
As fraturas do colo do fêmur são lesões muito graves,
que podem resultar em incapacidade a longo prazo pela pode ser uma das causas. Entretanto, o trauma indireto é
interrupção do suprimento sanguíneo, levando à NAV da o mecanismo mais comum no idoso com ossos osteopo-
cabeça do fêmur. róticos. O estresse do colo do fêmur em combinação com
Muitos sistemas têm sido usados na classificação das uma lesão de torção pode resultar em fratura de estresse,
fraturas do colo com base na anatomia e nos resultados impactada ou parcialmente deslocada. O paciente então
terapêuticos. A classificação de Pauwels é baseada no ân cai, acrescentando deslocamento ou cominução à lesão.
gulo que a bnha de fratura forma com o plano horizontal. As fraturas de estresse costumam iniciar ao longo da bor
Esse sistema não é amplamente adotado, entretanto, por da superior do colo femoral.
que a direção do feixe de raios X ou a posição do membro
podem alterar o ângulo. Exame
Garden dividiu as fraturas do colo do fêmur com base Os pacientes com fratura de estresse ou impactada se
no grau de deslocamento na radiografia AP em quatro tipos. apresentam com queixa de dor menor na virilha ou na
coxa medial ou dor no joelho que é exacerbada com o
Tipo I Fraturas incompletas ou impactadas
movimento ativo ou passivo. Pode não haver nenhu
Tipo II Completa, mas não deslocada
ma história de trauma e o paciente chegar caminhando.
Tipo III Fraturas parcialmente deslocadas ou
Não existe nenhum encurtamento ou rotação externa do
anguladas
membro inferior, tomando o diagnóstico difícil apenas
Tipo IV Fraturas deslocadas sem contato entre os
com base no exame.
fragmentos313
As fraturas deslocadas em geral se apresentam com
Pelo fato de o tratamento e prognóstico serem tão si dor intensa, junto com encurtamento e rotação externa da
milares nos tipos I e II de Garden (não deslocadas) e nos pema (Fig. 18.8A).
tipos III e IV de Garden (deslocadas), essas fraturas foram
agrupadas. ’ O sistema de classificação usado neste tex Imagens
to, por conseguinte, define as fraturas do colo do fêmur Essas fraturas são, na maioria das vezes, evidentes em
como não deslocadas e deslocadas (Fig. 18.7). radiografias iniciais. As não deslocadas e de estresse são
muito difíceis de visualizar radiograficamente durante o
Mecanismo de lesão estágio agudo (Fig. 18.9). Uma distorção do padrão trabe
Dois mecanismos resultam em fraturas do colo do fêmur. cular normal ou um defeito cortical podem ser as únicas
O trauma secundário direto (i.e., uma queda) no idoso pistas para uma lesão subjacente. É útil uma incidência
Emergências Ortopédicas 403
C o m p lic a ç õ e s
A maioria dessas fraturas ocorre por trauma direto, como
a queda sobre o trocanter maior, ou pela transmissão de
As fraturas do colo do fêmur estão associadas a várias forças no curso do eixo longo do fêmur. Com o aumento
complicações significativas. das forças, o trocanter maior ou menores também podem
• NAV da cabeça do fêmur (até 35% dos pacientes três ser fraturados. Os músculos que se inserem nos trocante
anos depois da fratura) res deslocam ainda mais os fragmentos.
• Osteoartrite
E xa m e
• Complicações operatórias (p. ex., osteomielite, pro-
trusão da haste) O paciente apresenta sensibilidade dolorosa, edema e
• Não união (< 5%) equimose sobre o quadril. Existe encurtamento significa
tivo da perna, com rotação externa secundária à tração do
músculo iliopsoas (Fig. 18.11A).
FRATURAS INTERTROCANTÉRICAS
Essas representam quase metade de todas as fraturas Im a g e n s
do fêmur proximal. As fraturas intertrocantéricas são As incidências AP e lateral através da mesa em geral são
extracapsulares e envolvem o osso esponjoso entre os adequadas para demonstrar essas fraturas (Figs. 18.11B e
trocanteres maior e menor. Tal como as fraturas do colo 18.12).
Emergências Ortopédicas 405
A B
Figura 18.11 Fratura intertrocantérica instável do fêmur. A. A perna está rodada externam ente e encurtada. B. Aspecto radio-
gráfico.
Tratamento
O manejo de emergência dessas fraturas inclui imobiliza
ção e analgésicos. Os opioides intravenosos ou o bloqueio
do nervo femoral devem ser administrados (ver Cap. 2). A
tração cutânea com um peso de 2,5 kg não tem demonstrado
qualquer benefício e, por conseguinte, não é recomendada.
O tratamento definitivo é feito com base na condição
clínica do paciente, na qualidade do osso (i.e., osteoartrite
ou osteoporose), e na configuração da fratura. A fixação
cirúrgica está indicada em todos os pacientes que estejam
clinicamente estáveis. Tanto as fraturas estáveis como ins
táveis são tratadas cirurgicamente com fixação interna,
usando um parafuso compressivo de quadril e uma placa
lateral. As fraturas estáveis também podem ser trata
das com os dispositivos intramedulares. A mobilização
precoce pode ser alcançada depois da intervenção ope
ratória. Os pacientes com risco cirúrgico alto têm sido
tratados com sucesso com a fixação externa. 9
Complicações
Figura 18.12 Fratura intertrocantérica. Notar que a linha de
fratura corre em direção oblíqua invertida e para dentro do osso As fraturas intertrocantéricas estão associadas a diversas
subtrocantérico, tornando a fratura instável. complicações significativas. A taxa de mortalidade des-
406 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
Exame
Os pacientes com fraturas do trocanter maior apresen
tam dor e sensibilidade dolorosa exacerbada com a ab
dução ativa da coxa. Aqueles com fraturas do trocanter
menor tipicamente se apresentam com dor e sensibili
Figura 18.13 Fraturas trocantéricas. dade dolorosa que aumentam com a flexão e a rotação
do quadril.
Lesões associadas
FRATURAS TROCANTÉRICAS
Pode haver perda sanguínea significativa no local. As fra
As fraturas trocantéricas são lesões incomuns, geralmente turas do trocanter menor em pacientes idosos são, com
vistas em pacientes jovens (Fig. 18.13). frequência, patológicas e requerem investigação apro
priada.
Mecanismo de lesão
As fraturas do trocanter maior são muitas vezes secun Tratamento
dárias a trauma direto como, por exemplo, uma queda. Não deslocada. Essas fraturas recebem tratamento
A minoria dessas fraturas pode ser o resultado de uma sintomático com deambulação assistida com muletas
Figura 18.14 A. Fratura do trocanter maior sem deslocamento. B. Fratura do trocanter menor (e fratura subtrocantérica).
Emergências Ortopédicas 407
Mecanismo de lesão
No idoso, o mecanismo mais comum é uma queda com a
combinação de forças diretas e rotacionais. Em pacientes
mais jovens, essas fraturas são, com mais frequência o re
sultado de trauma de alta energia.
Figura 18.17 Necrose avascular. A. TC do estágio III da NAV (sinal do crescente). B. Esquema do sinal do crescente. C. Radiografia
simples da NAV em estágio IV.
ARTRITE SÉPTICA dos: (1) temperatura acima de 38,3°C; (2) dor localizada
no quadril que piora com o movimento passivo gentil; (3)
A artrite séptica do quadril ocorre dentro da articulação nati
edema da articulação envolvida; (4) sintomas sistêmicos
va ou após uma artroplastia de quadril. Quando a articulação
de letargia, irritabilidade ou toxicidade sem outro proces
nativa for afetada, 70% dos casos ocorrem em pacientes com
so patológico demonstrável; (5) se uma resposta satisfa
4 anos ou menos. Quanto mais jovem for a criança afetada
tória for observada com a antibioticoterapia. O quadril
pela artrite séptica do quadril, o pior será o prognóstico.
pode ser mantido em posição de flexão, rotação externa e
Em crianças, a infecção geralmente alcança a articu
abdução. Diferentemente da sinovite transitória, em que
lação do quadril a partir de um foco de osteomielite dentro
o paciente geralmente parece bem com uma enfermidade
da cápsula articular. A osteomielite é de origem hema-
togênica e surge na metáfise via vasos nutrientes. De lá febril leve, os pacientes com artrite séptica têm aspecto
ela pode se espalhar e desenvolver-se como um absces toxêmico. Ver Capítulo 6 para uma discussão adicional
so subperiostal. A cartilagem articular é danificada pelas sobre a artrite séptica do quadril em crianças e como ela é
pressões intra-articulares aumentadas resultantes do pus diferenciada da sinovite transitória.
produzido pela infecção. Ela pode resistir a essas forças Os pacientes que se apresentam depois da artroplastia
por aproximadamente quatro a cinco dias antes que ocor total do quadril mostram um de três estágios, dependendo
ram as alterações destrutivas. da quantidade de tempo que tenha decorrido desde o seu
A infecção da articulação nativa é rara em pacientes procedimento. Na infecção de estágio I, a drenagem pu
adultos. Em um estudo em quatro hospitais, somente 10 rulenta está presente no local da ferida alguns dias após o
casos ocorreram durante um período de 10 anos. A maio procedimento. As infecções em estágio II são indolentes e se
ria dos casos ocorre em pacientes imunocomprometidos, apresentam de seis meses a dois anos pós-operatoriamente.
com um quadril já doente, após a instrumentação, ou por Por fim, os pacientes que se apresentam mais tarde que dois
disseminação contígua de infecção. Todavia, a artrite anos depois da prótese, são considerados como portadores
séptica na articulação nativa pode ocorrer na ausência des- de infecções em estágio III, acreditando-se que a causa seja
ses fatores de risco. Em pacientes adultos que foram sub a infecção a partir de uma fonte hematogênica.
metidos à artroplastia total do quadril, entretanto, o risco
de infecção é de aproximadamente 1%. O número cres Laboratório e imagens
cente de idosos submetidos a esse procedimento, desde a Se houver suspeita de artrite séptica, recomenda-se he-
sua introdução no início dos anos 1960, toma provável que mograma completo, velocidade de sedimentação globu
o médico da emergência encontre um desses casos. lar (VSG) e proteína C-reativa (PcR). A VSG e a PcR são
O S ta p h ylo co ccu s aureus (S . aureus ) é o organis sensíveis, mas sem especificidade. A VSG está elevada
mo mais prevalente na artrite séptica do quadril nativo. em quase todos os pacientes com artrite séptica.
O S. aureus meticilina-resistente (SAMR) é comum. Inicialmente, as radiografias simples costumam ser
Os casos adultos envolvendo a prótese de quadril são cau normais. A subluxação anormal do quadril, com alarga
sadas por bactérias gram-positivas em 75% dos casos, sen
mento do espaço articular, é mais comum. A osteomielite
do as bactérias mais comuns a S. epiderm idis (30%) e a S.
do fêmur proximal é notada em alguns casos.
aureus (20%). Dos organismos gram-negativos, o Pseudo-
Uma ultrassonografia que demonstre fluido na arti
m onas aeruginosa é o patógeno mais comum. Anaeróbios,
culação sugere artrite séptica. A ultrassonografia é mais
fungos e micobactérias também podem estar envolvidos.
frequentemente executada no leito pelo médico de emer
Apresentação clínica gência e pode ser usada para guiar a artrocentese. Com
o paciente em decúbito dorsal, o joelho é levemente fle
O paciente, de modo característico, se apresenta no setor
de emergência com febre e dor intensa no quadril afetado. xionado e o quadril mantido em leve rotação interna. A
O aparecimento dos sintomas é agudo, embora em pacien sonda é colocada abaixo do ligamento inguinal e lateral
tes com artrite reumatoide subjacente possa ser insidioso, ao feixe neurovascular. É angulada superomedialmente
muitas vezes sem febre. Nesses casos, o diagnóstico pode em direção ao umbigo. O acetábulo, a cabeça e o colo do
ser difícil e os pacientes podem ser considerados como ten- fêmur são facilmente visualizados, a aproximadamente
do uma exacerbação artrítica em lugar da artrite séptica.
67 3 a 5 cm abaixo da pele. O fluido sinovial não pode ser
Ao exame, o paciente tem sensibilidade dolorosa an prontamente visto no quadril normal mas, se um derrame
teriormente na virilha e sobre a articulação do quadril, estiver presente, aparece uma área hipoecoica, mais proe
acompanhada de movimento grosseiramente restrito em minentemente logo anterior ao colo do fêmur. Uma vista
todas as direções e por espasmo muscular. O paciente comparativa do outro quadril pode ser útil. A artrocentese
claudica ou não consegue caminhar, não tolerando qual de um derrame no quadril pode ser feita sob orientação
quer pressão colocada na extremidade inferior e evitando de ultrassonografia, usando a mesma orientação descrita
todos os movimentos devido à dor intensa. acima. Usando técnica estéril, uma agulha de raquianes-
Em crianças com um quadril nativo, o diagnóstico tesia tamanho 18 é introduzida no eixo longo da sonda do
pode ser feito se quatro dos cinco aspectos forem nota aparelho de ultrassonografia, a partir da posição inferior.
Emergências Ortopédicas 411
Na artrite séptica do quadril, a contagem leucoci- A artrite degenerativa ou a osteoartrite do quadril ocorre
tária sinovial tem média de 57.000/mL; contudo, pode com o avançar da idade. Entre os brancos, nas quais osteoar
estar tão baixa quanto 10.000/mL ou tão alta quanto trite é mais comum, a prevalência é de 3 a 6%. Em popula
250.000/mL. 9,70 As hemoculturas estão positivas em ções asiáticas, negras e do leste indiano, a prevalência é bai-
mais de 50% dos casos.53,54 xa. E acelerada por qualquer incongruência da superfície
A TC também pode demonstrar um derrame. A RMN articular que cause fricção anormal. Uma forma secundária
tem demonstrado pouca utilidade para fazer o diagnósti ocorre depois de condições como NAV, trauma, infecção
co e pode ser difícil de obter no setor de emergência. articular, escorregamento da epífise capital femoral, doença
Entretanto, uma RMN realçada com gadolínio mostra a congênita do quadril e artrite reumatoide. A forma primá
perfusão diminuída da epífise femoral e pode ser útil para ria é mais comum e parece haver predisposição genética.
chegar ao diagnóstico em casos difíceis.72’73 Outros fatores contributivos incluem a obesidade e as ocu
Em adultos com prótese de quadril, um exame dos pações com grandes demandas físicas.
leucócitos autólogos marcados com índio é recomenda
do em pacientes com infecções de estágios I e II. Um Apresentação clínica
resultado positivo será seguido de aspiração e artrografia. O paciente queixa-se de rigidez de aparecimento gradual
As radiografias de um paciente com doença em estágio II no quadril. A princípio, há ataques repetidos de dor leve,
revelam uma linha radioluzente na interface osso-cimen- durando somente um dia ou dois dias. A dor é exacerbada
to, indicativa de afrouxamento da prótese. por períodos prolongados de carga. Existe, com frequên
cia, uma claudicação protetora devido ao espasmo muscu
Tratamento lar, acompanhada de dor e sensação de rigidez, que piora
Talvez o ponto mais importante para o médico da emer de forma progressiva. A dor pode ser anterior, lateral ou
gência e estar ciente de que um retardo no diagnóstico e posterior, dependendo do local da inflamação. O padrão
no tratamento é o fator mais importante que afeta o prog de irradiação é nos aspectos anteriores e mediais da coxa
nóstico. Foi demonstrado que o início do tratamento além e no aspecto interno do joelho. A dor tem como caracte
de três semanas prediz a necessidade de uma prótese de rística piorar com a sustentação de carga prolongada e o
quadril em pacientes adultos. movimento, em especial com abdução, rotação interna e
Na infecção articular nativa, as metas de tratamento extensão. Os pacientes relatam que a dor exacerba no tem
são limpar a articulação para evitar a destruição da carti po frio e cede com calor e salicilatos.
lagem e a formação de aderências articulares, e também Durante uma exacerbação aguda da osteoartrite do
descomprimir a articulação para evitar o prejuízo vascular quadril, existe sensibilidade dolorosa sobre o local da in
da epífise. A cobertura antibiótica deve ser de amplo es flamação capsular, acompanhada de espasmo muscular,
pectro até que o tingimento com Gram e os resultados da envolvendo primariamente os adutores. O teste Fabere
cultura estejam disponíveis. (Flexão, Abdução, Extemamente Rodado [o quadril]) é
A terapia definitiva inclui a artrotomia e a irrigação quase sempre positivo. O teste é feito com o paciente co
precoce. Mais recentemente, vários autores recomenda- locando o calcanhar da extremidade afetada sobre o dorso
ram a drenagem artroscópica da articulação. Embo do pé normal. O paciente então “desliza” o calcanhar so
ra a artrotomia seja considerada o padrão de cuidados, bre a pema até que o joelho seja alcançado. Se for pro
pode ser complicada por NAV ou por instabilidade pós- duzida dor, o resultado é considerado positivo. Esse teste
-operatória do quadril. Desse modo, a cirurgia artros não é específico para as exacerbações agudas da doença
cópica tridimensional, com volumes grandes de fluido degenerativa do quadril, mas será positivo em qualquer
de irrigação, é efetiva e menos invasiva. O tratamento processo inflamatório que envolva o quadril.
bem-sucedido requer uma drenagem cirúrgica precoce e
adequada.
79 Imagens
Os pacientes com quadris protéticos infectados geral Nos estágios iniciais desse distúrbio, as radiografias sim
mente requerem remoção de todos os componentes pro ples são negativas. Mais tarde, contudo, será percebida uma
téticos, debridamento cirúrgico e antibióticos intraveno esclerose subcondral irregular que aos poucos evolui para
sos. Uma abordagem cirúrgica de um estágio, em que estreitamento do espaço articular. Os achados adicionais in
o quadril é reconstruído e contas de polimetilmetacrilato cluem o achatamento da cabeça do fêmur no polo superior,
localmente implantadas com antibióticos tem sido bem- acompanhado de alterações císticas nesta área (Fig. 18.18).
-sucedida para erradicar a infecção.
Tratamento
Iliopectínea
Trocantérica
Isquioglútea
TENDINITE CALCIFICADA
Essa condição é comparável à tendinite calcificada no om
bro. O cálcio amorfo se deposita nos tendões do glúteo
98
médio, lateral ao trocanter maior e superior à cápsula.
É associada à bursite trocantérica profunda, como previa
Figura 18.20 Área para palpar o músculo iliopsoas e a bolsa. mente descrito, sendo com frequência chamada de síndro-
me dolorosa do trocanter maior. Os corredores de longa
distância desenvolvem tendinite secundária à inserção do
99
das várias estruturas de tecidos moles tem feito com que tendão do iliopsoas no trocanter menor.
alguns autores se refiram a essa condição como a síndro-
me dolorosa do trocanter maior.
92
Apresentação clínica
A bursite tw c a n té ric a superficial se apresenta com O paciente apresenta dor intensa no quadril. O quadril é
sensibilidade dolorosa e edema sobre a bolsa inflamada, mantido em posição de flexão, abdução e rotação externa
que é acentuado durante a adução extrem a da coxa. para relaxar o músculo glúteo médio envolvido. O espas
A bursite do iliopsoas se apresenta com dor e sensibi mo muscular limita o movimento em todas as direções.
lidade dolorosa sobre o aspecto lateral do triângulo femo- O examinador produz a sensibilidade dolorosa sobre o lo
ral (área limitada pelo ligamento inguinal, pelo sartório cal da inflamação. Se o paciente for capaz de deambular,
e pelo adutor longo) (Fig. 18.20). A irritação do nervo uma marcha de Trendelenburg será notada, na qual a pel
femoral adjacente faz com que a dor seja referida ao lon ve baixa para o lado não afetado quando o paciente apoia
go da coxa anterior. Essa condição é comum em esportes a perna no lado afetado.
como futebol, balé ou hóquei na grama, que requerem o
uso extenso dos flexores do quadril. O paciente em geral Imagens
mantém o quadril em posição de flexão e abdução com A radiografia revela uma opacidade sobre os tecidos mo
rotação externa. A dor aumenta com a extensão , adução les sobrejacentes à articulação do quadril.
ou rotação interna do quadril. A condição deve ser dife
renciada de hérnia femoral, abscesso do psoas, sinovite ou Tratamento
infecção articular. A aplicação de calor, o repouso e os agentes anti-infla-
A bursite isquioglútea é comum em pacientes com matórios são efetivos. As deposições de cálcio são mais
ocupações que exijam permanecer sentado por tempo pro prontamente absorvidas quando quebradas pelo agulha-
longado em superfícies duras. A sensibilidade dolorosa é mento dos tendões envolvidos, sob anestesia local.
produzida sobre a tuberosidade isquiática. A dor se irradia O tratamento endoscópico dessa condição também está
para a parte de trás da coxa e ao longo do curso dos is- sendo usado.
quiotibiais, imitando um disco hemiado.
Existem várias causas de síndrome do ressalto do frequentemente anterior, mas pode ser posterior e muitas
quadril. Elas são classificadas como externas ou internas, vezes acompanhado de uma fraqueza súbita da perna.
com base em sua etiologia.
Im agens. Os filmes simples do quadril são normais em
R e ssa lto e x te r n o d o q u a d r il casos de ressalto externo da coxa. A ultrassonografia tem
O estalo externo da coxa ocorre quando o tendão do sido usada para estabelecer o diagnóstico, mas os acha
glúteo máximo na banda iliotibial estala sobre o trocan- dos clínicos são quase sempre suficientes. Se houver
102
ter maior (Fig. 18.21). Esta é a causa mais comum suspeita de causas internas, as radiografias simples esta
da síndrome do ressalto do quadril. Os pacientes afe belecem o diagnóstico em um terço dos pacientes. Se o
tados afirmam que têm uma sensação de estalo sobre o diagnóstico permanecer indefinido, a ultrassonografia e a
aspecto lateral do quadril. O estalo do tendão sobre o TC estabelecem a causa em cerca de 90% dos pacientes.
trocanter maior é demonstrado durante a caminhada ou
na flexão do quadril. A rotação passiva interna e externa
do membro abduzido demonstra o estalo. A dor, se
presente, é leve, a menos que se desenvolva uma bursite
da bolsa trocantérica maior. O ressalto externo do qua
dril causado pela banda iliotibial é comum em pessoas
que fazem balé e também é uma complicação da prótese
total do quadril.
M e c a n is m o d e le sã o
As luxações posteriores ocorrem após um golpe no joelho
enquanto quadril e joelho estão flexionados. Em mais de
50% dos pacientes, a lesão ocorre depois de um trauma de
alta energia, como acidentes de automóveis, no qual o joelho
de um motorista não contido pelo cinto de segurança atinge
o painel (Fig. 18.24). Felizmente, com o aumento do
uso dos cintos de segurança, a frequência dessas lesões está
diminuindo. Outros mecanismos de alta energia incluem co-
416 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
Exam e
As luxações posteriores se apresentam com encurtamento
do membro, adução do quadril e rotação interna da extre
midade envolvida (Fig. 18.25). A cabeça do fêmur pode
ser palpável dentro da musculatura da nádega. O paciente
Figura 18.27 Luxação posterior de um quadril com prótese.
deve ser cuidadosamente avaliado para lesão de nervo is-
quiático, que pode manifestar-se com déficits sensitivos
e motores. Os pulsos distais também devem ser avalia
sempre que houver suspeita de lesão no quadril (ver Fig.
dos; entretanto, a lesão vascular é incomum após a luxa
18.3). As radiografias adicionais da extremidade ipsilate-
ção posterior de quadril.
ral podem ser indicadas com base no exame físico.
Embora a luxação em geral seja óbvia, a radiografia
Im a g e n s
também deve ser inspecionada atentamente para fraturas
Uma incidência única AP de rotina da pelve é adequa- associadas. As fraturas associadas da cabeça e colo do fê
da para demonstrar essas lesões (Figs. 18.26 e 18.27). mur e do acetábulo estão com frequência presentes após
A cabeça do fêmur não está mais congruente com o teto essas luxações. Uma tentativa de redução fe c h a d a de lu
do acetábulo. Em um filme AP verdadeiro, a cabeça pare xação p o ste rio r de q u a d ril com fra tu ra sutil do colo do
ce menor que a do lado contralateral devido ao seu deslo fê m u r associada é contraindicada, j á que p o d e d eslo ca r
camento posterior. A linha de Shenton deve ser avaliada a fra tu ra e a u m en ta r a probabilidade de NAV da cabeça
do fêm ur.
Uma TC do quadril com cortes finos de 2 mm deve
ser obtida em várias situações.
1. Antes da redução, se houver suspeita de fratura do
colo do fêmur nas radiografias simples. A redução fe
chada, quando uma fratura desse tipo estiver presente,
aumenta o risco de NAV.
2. Depois de tentativas fracassadas de redução, para
avaliar a presença de corpos livres dentro da articu
lação.
3. Após a redução, para avahar o acetábulo.
L e s õ e s a sso cia d a s
As luxações do quadril podem estar associadas a diversas
Figura 18.26 Luxação posterior do quadril direito. lesões significativas. Em um estudo, 95% dos pacientes
Emergências Ortopédicas 417
tiveram uma lesão associada (cabeça, abdome, tórax) sufi- aumenta a taxa de NAV da cabeça do fêmur e o potencial
128
cientemente grave para requerer hospitalização. para lesão do nervo isquiático. Se o encaminhamento de
emergência não estiver disponível e não houver nenhuma
1. Fraturas do acetábulo. Em adultos, essas fraturas são
evidência de fratura do colo, cabeça ou diáfise nas radio
vistas em 75% dos pacientes.
grafias, a redução fechada deve ser tentada.
2. NAV da cabeça do fêmur. Essa lesão é vista em apro
Muitas manobras de redução fechadas foram descri-
ximadamente 10% das luxações não complicadas. 120 tas 23,i26,i32.i todas as manobras, a tração alinhada
A incidência é de 4,8% se o quadril for reduzido em
com a coxa é exercida com a contratração frequentemente
menos de 6 horas, mas aumenta para 50% se reduzi-
129 fornecida por um assistente. A tração deve ser aplicada
do depois desse tempo. ‘ As luxações do quadril com
de forma constante, já que movimentos bruscos não são
graus III e IV da classificação de Stewart e Milford
bem-sucedidos e podem resultar em fraturas do colo do
têm mais probabilidade de desenvolver NAV em com-
fêmur. Se a redução fe c h a d a fra c a ssa r depois de duas ou
paração aos graus I e II. Todas as luxações de qua
três tentativas, a luxação deve ser considerada com o irre-
dril devem ser consideradas como emergências ver A A A 38
dutível e o m anejo cirúrgico é indicado.
dadeiras e reduzidas imediatamente, para minimizar a
incidência de NAV da cabeça do fêmur.
A redução fechada deve começar colocando o pa
3. Fraturas da cabeça do fêmur. Essas fraturas ocorrem em ciente em uma prancha e administrando a sedação, como
até 16% das luxações posteriores do quadril. As fratu determinado no Capítulo 2. O etomidato demonstrou ser
ras osteocondrais, pela impactação da cabeça do fêmur, efetivo para a redução bem-sucedida quando outros meios
131
podem causar bloqueio da articulação deslocada. de sedação tiverem fracassado.
125
Figura 18.28 A manobra de A llis. (M odificada, com permissão, de Reichman EF, Simon RR. Emergency Medicine Procedures. New
York: M cG raw -H ill, 2004.)
418 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
Figura 18.29 A manobra de Stimson. (Reimpressa, com permissão, de Reichman EF, Simon RR. Emergency Medicine Procedures.
New York: M cG raw -H ill, 2004.)
Técnica de Hendey
Esta técnica foi popularizada por Greg Hendey da UCSF
em Fresno (Fig. 18.31 e Vídeo 18.1). Figura 18.30 A manobra de Whistler.
Emergências Ortopédicas 419
Complicações
As luxações de quadril estão associadas a várias compli
cações significativas, incluindo NAV da cabeça do fêmur,
lesão do nervo isquiático e artrite traumática.
Em um estudo, que acompanhou pacientes com
luxações posteriores traumáticas do quadril em uma
média de 12,5 anos, foi encontrado que mesmo com
luxações simples, 24% dos pacientes tinham resul
tados ruins e até 70% resultados regulares a ruins.
Está claro que mesmo com luxações posteriores sim
ples do quadril tratadas corretamente, a osteoartrite tar
dia pode desenvolver-se em até 20% dos casos. Desse
modo, as luxações posteriores do quadril têm um prog
nóstico muito reservado.
Figura 18.32 Luxações anteriores do quadril. Três tipos são demonstrados: obturatória, púbica e ilíaca.
420 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
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Capítulo 19
Coxa
FRATURAS DO FÊMUR
FRATURAS DA DIÁFISE DO FÊMUR no grau de cominução (Fig. 19.1). As fraturas de grau
I têm cominução mínima ou nenhuma. Os fragmentos
A diáfise do fêmur se estende de uma área a 5 cm distais são pequenos (< 25% da largura da diáfise do fêmur).
ao trocanter menor até um ponto 6 cm proximais ao tu As de grau II possuem um fragmento de fratura de 25 a
bérculo adutor. O fêmur é um osso forte, com suprimento 50%, enquanto as fraturas de grau III estão associadas a
sanguíneo excelente e, por conseguinte, de bom poten um grande fragmento em borboleta (> 50% da largura
cial de consolidação. Essas fraturas são mais comuns em da diáfise). As fraturas de grau IV possuem cominução
crianças e adolescentes. circunferencial sobre um segmento inteiro do osso, com
Anteriormente, as fraturas da diáfise do fêmur tinham perda completa do limite das áreas corticais.
taxa de mortalidade de até 50%, primariamente porque
o tratamento era o repouso prolongado no leito. A tera Mecanismo de lesão
pia atual usa placas ou hastes intramedulares, permitindo
As fraturas da diáfise do fêmur são secundárias a uma for
mobilização precoce. As fraturas da diáfise do fêmur são
ça de alta energia em 75% dos casos.' O mecanismo pode
classificadas em três tipos.
ser um golpe direto ou uma força indireta transmitida pelo
1. Fraturas espirais, transversas ou oblíquas joelho flexionado. As colisões de automóveis são a causa
2. Fraturas cominutivas mais comum, mas os ferimentos por arma de fogo repre
3. Fraturas expostas sentam uma proporção crescente dessas fraturas. A fratu
ra do fêmur em consequência de um mecanismo de baixa
A distinção entre fraturas espiral, transversa ou oblí energia é rara e o profissional deve suspeitar de fratura
qua não altera o tratamento ou o seu prognóstico. patológica neste cenário.
As fraturas cominutivas são, além disso, classifica Em crianças, quedas de altura significativa podem
das por Winquist com base no tamanho do fragmento e ocasionar tal fratura. A possibilidade de agressão deve ser
Grau IV
cominução
segmentar
Figura 19.2 Fratura do fêmur direito. Notar a angulação e a e 19.4). As fraturas de estresse da diáfise femoral podem
rotação mediai da perna. ( Fotografia: contribuição de Trevonne não ser visualizadas em incidências de rotina. As vistas
Thompson , MD.) do quadril e do joelho devem ser incluídas, já que existe
incidência significativa de lesões associadas.
A extensa musculatura que circunda a diáfise do fê
considerada em crianças que apresentam fraturas da diá-
mur é, muitas vezes, a fonte do deslocamento. O fragmen-
fise femoral, especialmente quando a história não parecer
realista ou houver um retardo inapropriado na busca de
cuidados médicos. Em bebês, a incidência de agressões
foi de 65% em um estudo. As crianças entre 1 e 5 anos
com esse tipo de lesão foram vítimas de agressão em 5 a
35% dos casos. Embora as fraturas espirais sejam clas
sicamente associadas aos maus-tratos, as transversas são
vistas em um número igual de crianças agredidas.
Exame
O paciente apresenta dor intensa na extremidade envolvida
e, em geral, tem deformidades visíveis (Fig. 19.2). A extre
midade pode estar encurtada e com crepitação com movi
mento. A coxa estará edemaciada e tensa pela hemorragia
e formação de hematoma. O exame neurológico deve ser
feito para avaliar a função do nervo isquiático. As lesões
arteriais são raras, mas devem ser excluídas no exame ini
cial. As lesões arteriais associadas a uma fratura da diáfise
do fêmur devem ser suspeitadas na presença de:
• Hematoma em expansão
• Pulsos ausentes ou diminuídos
• Sinais neurológicos progressivos na presença de fra
tura fechada
Imagens
As incidências de rotina anteroposterior e lateral são habi-
tualmente adequadas para demonstrar a fratura (Figs. 19.3 Figura 19.4 Fratura da diáfise do fêmur em um bebê.
Emergências Ortopédicas 427
Septo intermuscular
lateral
que qualquer pressão acima de 30 mmHg requer hospitali paciente caminha com marcha antálgica, sendo inca
zação. Para detalhes adicionais sobre a síndrome compar paz de subir degraus ou levantar-se de uma cadeira sem
timentai, ver o Capítulo 4. desconforto considerável. Em indivíduos com contusões
graves, a coxa está dolorosa, edemaciada e endurecida. O
CONTUSÃO DO QUADRÍCEPS movimento do joelho está muito limitado (< 45°) e exis
te claudicação intensa e/ou incapacidade de o paciente
As contusões do quadriceps, também chamadas de “tos deambular. Esses indivíduos com frequência têm derrame
tão”, são bastante comuns. Com frequência não são inca no joelho ipsilateral.
p acitates no momento da lesão e o grau de desconforto
é variável. O vasto lateral e o intermédio são os músculos Imagens
envolvidos com mais frequência nas contusões do quadri A ressonância magnética nuclear (RMN) e a ultrassonogra-
ceps. O reto femoral é menos afetado. fia são indicadores sensíveis para lesão de tecidos moles,
mas raramente são necessárias para chegar ao diagnóstico.
Mecanismo de lesão
As contusões do quadriceps são causadas por um golpe Tratamento
direto e podem ser diferenciadas das rupturas porque, Ao tratar a condição, a meta é limitar o edema e a he
após uma contusão, existe, em geral, função residual. morragia e minimizar a quantidade de formação cica
Em um estudo com jogadores do rúgbi, mais da metade tricial, preservando a contratilidade e a força muscu
das contusões do quadriceps foi gerada a partir de um lar. Não se deve ser complacente no tratamento das
golpe na coxa pelo joelho de outro jogador adversário. contusões do quadriceps. O reconhecimento precoce e
a classificação da gravidade inicial da contusão levam
Exame a restrições apropriadas da atividade e aos cuidados de
O paciente queixa-se de dor incômoda sobre o aspecto acompanhamento.
anterolateral da coxa. A sensibilidade dolorosa é perce O tratamento das contusões leves a moderadas pode
bida na palpação e um edema variável será visto (Fig. ser dividido em três fases. Na fa s e 1, a meta é limitar a he
19.7). Se o edema for extremo e seguir-se rapidamen morragia usando repouso, gelo, elevação e curativos com
te à lesão, o médico deve suspeitar de lesão em vasos pressivos por 24 horas em contusões leves e por 48 horas
importantes. A dor aumenta com a flexão do joelho e é em moderadas. O paciente com contusão moderada a gra
acompanhada por espasmo muscular. Muitas vezes exis ve deve ser inicialmente colocado em repouso no leito.
te hematoma difuso que pode ou não ser palpável logo Para as contusões moderadas, usar curativo compressivo
após o trauma. firme aplicado desde os dedos do pé até a virilha. Para as
Um sistema de classificação clínica e prognostica- contusões graves, uma tala com o joelho em extensão e o
mente útil pontua as contusões do quadriceps em graus encaminhamento precoce são mais apropriados. Durante
leve, m oderado e grave. Em uma contusão leve, o pa as 48 horas iniciais, a imobilização das contusões mode
ciente tem sensibilidade dolorosa localizada sobre o qua radas a graves é importante, sendo a massagem e as ativi
driceps, sem alteração da marcha e movimento do joelho dades vigorosas fortemente desestimuladas. Para evitar o
sem dor até pelo menos 90°. Em uma contusão moderada, desenvolvim ento de m iosite ossificante, o p a c ie n te deve
o paciente apresenta edema e massa muscular dolorosa. usar m uletas e não apoiar o p róprio peso.
O movimento do joelho está restrito a menos de 90° e o N a/ase 2, a meta é restaurar o movimento do mús
culo. Nessa fase, o gelo ou o turbilhão de água fria é con
tinuado, sendo usado o movimento assistido pela gravi
dade. Os exercícios ativos de flexão e de extensão, bem
como a carga conforme tolerância, são liberados somente
quando não causarem dor significativa.
Na fa s e 3, a meta é a reabilitação funcional. Ela é ini
ciada quando houver 120° de movimento indolor no joe
lho. Se houver o retomo da dor ou a perda de movimento
durante a fase de reabilitação, um retomo à fase anterior é
indicado. Durante a fase de reabilitação funcional, a carga
é aumentada e os exercícios ativos de flexão e extensão
são realizados com o uso de pesos.
Complicações
Em um estudo, a miosite ossificante ocorreu em mais de
70% dos pacientes classificados como portadores de con-
29
Figura 19.7 Contusão do quadriceps. tusões m oderadas ou graves.
430 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
Im a g e n s Trata m en to
As radiografias devem sempre ser obtidas nesses pacien Todos os pacientes com distensões isquiotibiais moderadas
tes para determinar se ocorreu uma avulsão na origem ou graves devem usar muletas. Pelo fato de a inflamação
do adutor longo, o mais envolvido nesse tipo de lesão. seguir a distensão muscular, os anti-inflamatórios não este-
3?
A RMN confirma a distensão muscular ou ruptura, mas roides são administrados por três a sete dias após a lesão/
não costuma ser necessária. O gelo é o método clínico mais eficiente para limitar a in-
flamação. O gelo deve ser usado por 20 minutos, duas a
T ra ta m en to quatro vezes ao dia. Se o atleta continuar sentindo dor com
O tratamento para a ruptura incompleta inclui gelo, mule atividade, as aplicações diárias de gelo devem continuar
tas e repouso por pelo menos três a seis semanas. Quando até que os sintomas se resolvam, dentro de uma a duas se-
o paciente tiver recuperado pelo menos 70% da força e da manas após a lesão. Durante a fase aguda de reabilitação
amplitude de movimento indolor, é permitido o retorno para uma distensão moderada, uma muleta única no lado
aos esportes. Se o examinador suspeitar de ruptura com oposto da lesão é aconselhável após uma a duas semanas.
pleta, o encaminhamento é indicado para avaliar a neces Na fase subaguda, os sintomas começam a ceder. Os
sidade de reparo cirúrgico. exercícios de resistência e de amplitude de movimento po
dem ser iniciados. As atividades na piscina ou com bicicle
ta estacionária facilitam o movimento e o esforço sem dor.
Na fase de remodelação, os isquiotibiais têm 100% da
força. A evidência demonstra que os atletas com lesões dos
isquiotibiais mostram menos flexibilidade isquiotibial que
um grupo-controle. Desse modo, o alongamento é funda
mental no regime de tratamento e deve ser iniciado cedo. O
retomo à competição é apropriado a partir de três semanas
até seis meses depois da lesão, mas não antes que a força e
a flexibilidade normais tenham sido restauradas. É impor
tante enfatizar ao paciente que evite o retomo precoce aos
esportes até que a dor tenha cedido. O paciente deve usar a
dor como guia e o retorno gradual às corridas é enfatizado.
As distensões musculares dos isquiotibiais são lesões
complexas e multifatoriais. A reabilitação requer o acom
panhamento do profissional apropriado.
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Capítulo 20
Joelho
INTRODUÇÃO dominante, grande, e o vasto lateral, menor, podem ser
visualizados e palpados. O medial, maior, puxa a patela
O joelho é uma articulação complexa que sofre feri em direção medial durante a extensão, prevenindo a su-
mentos com frequência. O diagnóstico preciso das le bluxação ou a luxação lateral. O sartório, o grácil e o se-
sões no joelho requer conhecimento bastante detalhado mitendíneo são palpáveis medialmente ao longo de sua
da anatomia. inserção comum na tíbia, que é chamada de pé anserino.
O joelho é composto de três articulações: as condilia- Lateralmente, o trato iliotibial e o tendão do bíceps femo-
nas medial e lateral e a patelofemoral. O joelho é capaz de ral podem ser palpados (Fig. 20.1A).
uma grande amplitude de movimento, incluindo flexão, A anatomia óssea do joelho também pode ser palpa
extensão, rotação interna e externa, abdução e adução. da. A patela e o tendão patelar são palpáveis ao longo da
Na extensão completa, nenhum movimento rotatório é superfície anterior do joelho. Medialmente, o platô tibial
permitido, já que as estruturas ligamentares estão tensas. medial e o côndilo femoral medial são notados. O tubér
Este aperto com a extensão é chamado de mecanismo de culo dos adutores se estende em direção posterior a partir
“aparafusamento”. Além dos 20° de flexão, os ligamentos do côndilo femoral medial e pode ser palpado. A linha
de suporte ficam relaxados e a rotação axial é possível. articular pode ser localizada notando a depressão natu
Em 90° de flexão, existe uma frouxidão máxima que per ral logo medial e lateral ao tendão patelar, com o joelho
mite até 40° de rotação. em flexão. Essas endentações ficam sobre as superfícies
A anatomia superficial que inclui os principais mús articulares.
culos que circundam o joelho pode ser facilmente visua O tendão patelar se insere na tuberosidade da tíbia an
lizada e palpada. Com o joelho estendido, o vasto medial terior, que é facilmente palpável. O platô tibial lateral está
Músculo vasto
lateral
Músculo vasto
Músculo vasto mediai
intermédio
Tendão do quadriceps
femoral
Banda iliotibial
Tendões do semitendíneo,
Patela
grácil e
sartório
Bolsa anserina
Tendão patelar
Cabeça da fibula
Tuberosidade da tibia
Semimembranáceo
Tubérculo abdutor
Pate la ----------- (epicôndilo medial do fêmur)
Ligamento colateral
medial
Tendão patelar—
Figura 20.1 (Continuação ) B . Vista medial. C. Vista posterior. O tendão do semimembranáceo envia extensões ao menisco medial
e ao aspecto posterior da cápsula. (Continua)
localizado logo lateralmente ao tubérculo. Em direção palpável, embora uma lesão nessa estrutura produza de
posterior e lateral ao platô fica a cabeça fibular, palpável forma fidedigna uma sensibilidade dolorosa na linha ar
logo abaixo ao côndilo femoral lateral. ticular. Os meniscos do joelho migram em direção ante
O menisco medial é palpável ao longo da linha arti rior com a extensão. O menisco medial é menos móvel,
cular medial, conforme o joelho realiza rotação interna, por sua inserção no ligamento colateral medial. Com a
rodado e suavemente estendido. O menisco lateral não é flexão, existe migração posterior de ambos os meniscos,
Emergências Ortopédicas 435
Músculo bíceps
femoral
Tendão do
poplíteo
Ligamento colateral
lateral
Cabeça da fíbula
medial. O cruzado anterior tem um rico suprimento vas a flexão. Uma extensão final do tendão é a inserção no
cular e, com o tratamento apropriado, em geral fica bem côndilo tibial mediai, flexionando e fazendo rotação in
recuperado após uma lesão. Quando ele se rompe, uma terna no joelho.
hemartrose quase sempre está presente. Na superfície lateral do joelho, existem três estrutu
O cruzado posterior é considerado o estabiliza ras estabilizadoras dinâmicas: o trato iliotibial, o bíceps
dor estático primário do joelho para prevenir a rotação. fe m o ra l e o m úsculo p o p líteo . O trato iliotibial se insere
Se rompido, pode ocorrer uma instabilidade anteroposte no côndilo tibial lateral e move-se anteriormente com a
rior e mediolateral verdadeira. As lesões do cruzado pos extensão e em direção posterior com a flexão. O tendão do
terior são isoladas e estão associadas a lesões graves no bíceps tem inserção na cabeça da fibula, lateral à inserção
joelho. do ligamento colateral lateral. O bíceps oferece estabilida
O tendão do quadriceps, um estabilizador dinâmico, é de lateral, bem como auxilia o joelho em flexão e rotação
a combinação dos tendões do vasto medial, do lateral e do externa. O poplíteo é um músculo posterior, inserindo-se
intermédio, junto com o reto femoral. O tendão cerca a pa- com um tendão em forma de Y, chamado de ligamento ar
tela e continua em direção distai como o tendão patelar, in- queado. Uma porção do ligamento se insere no côndilo fe
serindo-se na tuberosidade da tíbia. O tendão do quadriceps moral lateral e a outra na cabeça da fibula. Outro membro
é considerado o estabilizador dinâmico primário do joelho. se insere na porção posterior do menisco lateral, fornecen
O p é-a n serin o , um estabüizador dinâmico, é uma es do a mobilidade posterior do menisco durante a flexão.
trutura mediai formada pelos tendões conjuntos do grácil,
do sartório e do semitendíneo. Esse tendão estabihza o
Imagens
joelho contra o movimento excessivo rotatório e em valgo.
O sem im em b ra n á ceo , um estabilizador dinâmico, As radiografias comuns do joelho incluem as incidências
tem três extensões que ajudam a estabilizar o joelho. anteroposterior e lateral (Figs. 20.3A e 20.3B). As inci
O ligamento poplíteo oblíquo se estende desde o tendão dências oblíquas são obtidas para melhor avaliar o platô
do semimembranáceo até a cápsula posterior (ligamento e as espinhas tibiais (Fig. 20.3C). Outras incidências in
oblíquo posterior) e aperta a cápsula quando está sob es cluem as axiais da patela e do túnel. A incidência axial
tresse. Esse tendão também se insere no corno posterior (ou tangencial) da patela é obtida com o paciente em de
do menisco mediai, tracionando-o posteriormente durante cúbito dorsal, com os joelhos levemente flexionados e o
Emergências Ortopédicas 437
feixe projetado para baixo em direção aos pés. É útil para A decisão de obter uma radiografia do joelho é ba
apreciar a relação entre a patela e os côndilos femorais. seada em muitos fatores. No setor de emergência, no
A incidência do túnel é obtida com o paciente deitado em contexto de trauma agudo (< 7 dias), a detecção de uma
decúbito ventral e com o joelho flexionado em 40°. O fei fratura é a razão mais comum. Mais de 1 milhão de pes
xe é dirigido para baixo, em direção aos pés, a 40° da po soas se apresentam anualmente nas emergências, nos
sição vertical. A radiografia demonstra melhor a incisura Estados Unidos com trauma agudo de joelho. Embora
intercondiliana. a incidência de fraturas nessa população fique entre 6 e
438 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
Figura 20.4 Regras de Joelho de Ottawa. (M odificada, com permissão, de Stiell IG , W ells G A , Hoag RH, et al. Implementation of
the Ottawa Knee Rule for the use of radiography in acute knee injuries. JAMA 1997;278(23):2075. Copyright 2010 Am erican M edi
cal Association. Todos os direitos reservados.)
12%, sendo que mais de 90% são submetidos a uma ra radiografias de joelho obtidas fica entre 25 e 50%.9,11 As
diografia de joelho.6 8 regras se aplicam a pacientes com mais de 18 anos, mas
Na tentativa de limitar as radiografias desnecessárias foram testadas em crianças acima dos 5 anos, com resulta
e para continuar diagnosticando as fraturas com relevância dos variáveis. As regras para joelho de Ottawa podem
clínica, as regras para joelho de Ottawa foram desenvol ser aplicadas por enfermeiros de triagem e demonstraram
vidas, validadas e testadas (Fig. 20.4).6' Usando cinco redução no tempo de permanência no setor de emergência
critérios, o profissional pode excluir uma fratura clinica e economia de verbas.5,7,16' As regras para joelho de Pit
mente significativa com sensibilidade agrupada de 98,5% tsburgh são similares, mas foram testadas em um número
e especificidade de 48,6%. A redução na quantidade de menor de pacientes.8,19
FRATURAS DO JOELHO
tos depois de uma fratura do fêmur distai. O quadríceps fratura da epífise mais fraca em lugar da metáfise. Ou
se estende ao longo da superfície anterior do fêmur e se tro mecanismo comum envolve a hiperextensão e a torção
insere na tíbia anterossuperior. Depois de uma fratura do joelho.
do fêmur distai, este músculo tende a puxar a tíbia e o
fragmento proximal inserido em uma direção anteros su Exame
perior. Os isquiotibiais se inserem na tíbia posterossu- O paciente com fratura do fêmur distai apresenta dor,
perior. Este grupo muscular tende a deslocar a tíbia e o edema e deformidade da extremidade envolvida. Uma
fragmento distai em direção posterossuperior. O gastroc- crepitação palpável ou fragmentos ósseos dentro do es-
nêmio e o sóleo se inserem no fêmur distai posterior e
causam o deslocamento inferior depois de uma fratura.
O efeito combinado típico desses músculos é o desloca
mento posterossuperior (Fig. 20.7).
É importante recordar a grande proximidade do fêmur
distai com a artéria e a veia poplítea, junto aos nervos ti-
bial e fibular comum.
As fraturas epifisárias femorais distais são lesões in-
comuns, porém graves, que ocorrem em crianças acima
dos 10 anos. Em crianças, 65% do crescimento longitu
dinal da extremidade inferior ocorrem em tomo do joelho;
principalmente na epífise femoral distai. É comum de
pois dessas lesões o encurtamento da pema, apesar da ma
nutenção de uma redução anatômica, isso ocorre em 25%
ryry
Mecanismo de lesão
A maior parte dessas fraturas é secundária ao trauma di
reto ou tem um componente de força direta. Os mecanis
mos típicos incluem as colisões automobilísticas de alta
Figura 20.7 O bservar o deslocam ento típico em fraturas da
energia e as quedas. Em pacientes idosos, a força da lesão
região supracondiliana do fêmur distai. Esse deslocam ento é
pode ser muito menor. As fraturas condiliares são secun causado pela tração dos m úsculos isquiotibiais e quadríceps
dárias a uma combinação de hiperabdução ou adução em uma direção e pela tração do m úsculo gastrocnêm io so
com trauma direto. As fraturas epifisárias são em geral bre o fragmento distai, produzindo angulação e deslocam ento
secundárias a um golpe medial ou lateral, resultando em posterior.
440 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
cias oblíquas e de comparação podem ser necessárias para com imobibzador gessado.
diagnosticar com precisão uma pequena fratura condilia- Em crianças com fraturas epifisárias, a redução ana
na. As incidências de comparação devem ser obtidas em tômica é muito importante. As fraturas fisárias associadas
todas as crianças com menos de 10 anos. (tipo II de Salter) podem ser tratadas com o uso criterio
so de parafusos de fixação interna para manter a redução
A angiografia é indicada quando o exame físico suge 29
anatômica.
re lesão vascular.
Complicações
Lesões associadas
As fraturas femorais distais estão associadas a várias com
As fraturas do fêmur distai podem estar associadas a: plicações significativas.
1. Fratura ou luxação acetabular ou do fêmur proximal 1. Trombose venosa.
ipsilateral
2. A união retardada ou a má união podem ocorrer se a
2. Lesão ligamentar do joelho (20% dos pacientes) redução for incompleta ou não for mantida.
3. Lesão vascular 3. As fraturas intra-articulares podem desenvolver ade
4. Lesão do nervo fibular rências no quadríceps ou deformidades com angula-
5. Dano ao aparato do quadriceps ção em varo ou valgo.
D E
Figura 20.11 Fraturas do platô tibial. A. Tipo I, fratura com divisão condiliana lateral. B. Tipo II, fratura do platô tibial com divisão e
depressão. C. Tipo III, compressão do côndilo lateral. D. Tipo IV, fratura do platô medial. E. Tipo V I, fratura bicondiliana com ruptura
diafisária.
Complicações
Após as fraturas do platô tibial, é possível o desenvolvi
mento de várias complicações significativas tais como:
1. Perda do movimento completo do joelho como conse
quência da imobilização prolongada.
2. Artrite degenerativa, apesar da terapia ideal.
3. Deformidade angular do joelho nas primeiras sema
nas, mesmo com as fraturas inicialmente não deslo
cadas.
4. Instabilidade do joelho ou subluxação persistente se
cundária ao dano ligamentar.
5. Infecção que pode complicar o curso das fraturas ex
postas ou aquelas tratadas cirurgicamente.
6. Lesões neurovasculares e síndromes compartimentais.
FRATURAS DA ESPINHATIBIAL
As fraturas isoladas da espinha tibial são lesões inco-
muns, que ocorrem em jovens entre 8 e 14 anos. Essas
fraturas são análogas a uma lesão do ligamento cruza
do anterior em um paciente esqueleticamente maduro.
A eminência intercondiliana anterior tem 10 vezes mais
probabilidade de ser fraturada do que a eminência inter
condiliana posterior. A classificação das fraturas é feita
com base no sistema desenvolvido por Meyers e McKe-
ever (Fig. 20.14).38
Tipo I Avulsão incompleta sem deslocamento
Tipo II Avulsões incompletas deslocadas da espinha
tibial
Tipo III Avulsão completa da espinha tibial
B Mecanismos de lesão
As fraturas da espinha tibial resultam de trauma indire
Figura 20.13 Fratura do platô tibial lateral vista na (A) T C axial
to, como uma força anterior ou posterior dirigida contra
e (B) reconstrução tridimensional.
a tíbia proximal flexionada. Esse mecanismo resulta em
tensão do ligamento cruzado e avulsão da espinha. A hi-
razões, a fixação operatória é muitas vezes a modalidade perextensão ou violenta abdução, adução ou forças rota-
terapêutica de escolha. cionais podem também resultar em fraturas.
As fraturas não deslocadas e estáveis, sem depressão,
são tratadas de forma conservadora, com mobilização Exame
protegida. Entretanto, devido à alta taxa de complicações O paciente apresenta história sugestiva e joelho ede-
com as fraturas até minimamente deslocadas, é impor maciado e doloroso. Ao exame, haverá derrame. Após
tante fazer o encaminhamento ortopédico. A estabilidade avulsões incom pletas sem deslocamento, a extensão
é difícil de determinar no setor de emergência, a menos de joelho é próxima do normal, a menos que um der-
Emergências Ortopédicas 445
Complicações
A complicação mais frequente após essa fratura é a dor
persistente e a instabibdade do joelho.
FRATURAS DATUBEROSIDADE
DA TÍBIA
Fraturas incomuns mais vistas em pacientes adolescentes
(Fig. 20.16). A tuberosidade da tíbia é o ponto de inserção
Figura 20.15 Fratura da espinha tibial. do mecanismo do quadríceps, e a redução precisa é essen-
446 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
Exame
O paciente apresenta dor, que é exacerbada com a tentati
va de extensão. Os pacientes com fraturas incompletas ou
completas podem reter algum grau de extensão ativa, já
que o retináculo patelar costuma permanecer intacto.
Imagens
As radiografias de rotina são adequadas para demonstrar
a fratura. A incidência lateral demonstra melhor a lesão
(Fig. 20.17). Em pacientes jovens, as incidências de com
paração podem ser necessárias quando houver suspeita de
lesão com avulsão incompleta.
Lesões associadas
A ruptura do retináculo patelar, incluindo a avulsão do li Figura 20.17 Fratura intra-articular da tuberosidade da tíbia
gamento patelar, pode estar associada a essas fraturas. (tipo III).
Emergências Ortopédicas 447
Complicações
FRATURAS SUBCONDILIANAS DA TÍBIA
As fraturas subcondihanas estão com frequência associa
Essa fratura envolve a metáfise tibial proximal e é trans das a lesões do platô tibial e estão, desse modo, sujeitas a
versa ou oblíqua (Fig. 20.18). A linha de fratura pode complicações similares. Para uma revisão dessas compli
estender-se até a articulação do joelho. cações, ver a seção sobre fraturas do platô tibial.
Mecanismo de lesão
FRATURAS EPIFISÁRIAS
O mecanismo de fratura envolve estresse rotacional ou an
gular, acompanhado de compressão vertical. As fraturas epifisárias da tíbia proximal são lesões inco-
muns vistas com menos frequência do que as fraturas do
Exame fêmur distai ou epifisárias da tuberosidade da tíbia.
O paciente apresenta sensibihdade dolorosa e edema so
bre a área envolvida. A hemartrose indica extensão da li Mecanismo de lesão
nha de fratura para dentro da articulação. Essas lesões costumam resultar de uma intensa força em
valgo ou varo no joelho.
Imagens
As incidências de rotina são adequadas para demonstrar Exame
essa fratura. O paciente apresenta dor e deformidade do joelho. Ao exa
me, a angulação é evidente. Os derrames no joelho não são
Lesões associadas habituais com essa fratura.
As fraturas dos côndilos da tíbia estão com frequência as
sociadas a essas lesões. Imagens
A maioria dessas lesões corresponde ao tipo II de Sal-
Tratamento ter e requer incidência de comparação para o diagnóstico
O manejo de emergência dessas fraturas inclui gelo, imo preciso.
bilização com tala longa de membro inferior (Apêndice
A.17), e consultoria ortopédica. As fraturas transversas Lesões associadas
estáveis, extra-articulares, não deslocadas e não anguladas Raramente associadas a lesões ligamentares ou meniscais.
podem ser tratadas de forma conservadora com gessado
longo por 8 a 12 semanas. O manejo cirúrgico inclui o en- Tratamento
O manejo de emergência inclui gelo, imobilização com
tala longa de membro inferior (Apêndice A.17) e consul
toria ortopédica precoce para redução. Após a redução, a
maioria dos pacientes é imobilizada com um gessado lon
go por oito semanas.
Complicações
As anormalidades do crescimento podem seguir-se às fra
turas epifisárias da tíbia proximal.
Tratamento
A xiom a: As fraturas da fíbula proximal devem ser conside
radas indicativas de lesão significativa no joelho , até prova O manejo de emergência inclui gelo, analgésicos, ava
em contrário. liação minuciosa e exclusão de lesões graves associa
das. As fraturas isoladas da fíbula são tratadas sintoma-
„ . . . _ ticamente.
Mecanismo de lesão
Dois mecanismos resultam em fraturas da fíbula proxi Complicações
mal. Um golpe direto sobre a cabeça da fíbula causa uma As lesões associadas às fraturas proximais da fíbula são
fratura cominutiva. O estresse indireto em varo sobre o responsáveis pela maioria das complicações.
joelho pode resultar em fratura com avulsão da cabeça da
fíbula. A distensão em valgo do joelho pode resultar em
fratura do côndilo tibial lateral associada a uma fratura da
fíbula proximal.
Exame
O paciente apresenta dor e sensibilidade dolorosa sobre
o local da fratura. É essencial que o joelho, a perna distai
e o pé sejam atentamente examinados para excluir lesões
neurovasculares ou ligamentares associadas.
Imagens
As incidências AP e lateral do joelho demonstram essa
fratura (Fig. 20.20).
Lesões associadas
Conforme já mencionado, as fraturas da fíbula proximal
podem estar associadas a fratura do côndilo lateral ou le
são ligamentar do tornozelo (ver Cap. 22). Várias lesões
neurovasculares ou ligamentares graves também estão en
volvidas com essas fraturas.
1. O nervo fibular comum pode ser contundido ou la
cerado. A maioria dos ortopedistas acompanha as le
sões, fazendo mais tarde o reparo, caso a função não
retome.
2. O ligamento colateral lateral pode estar rompido ou
estirado.
3. Lesão da artéria tibial anterior com trombose (rara). Figura 20.20 Fratura com avulsão da fíbula proximal.
Emergências Ortopédicas 449
Transversa Osteocondral
Mecanismo de lesão
Dois mecanismos resultam em fraturas da patela. Um gol
pe direto pode resultar em fraturas transversas, cominu
tivas, verticais ou osteocondrais. A tração secundária do
quadríceps pode causar deslocamento dos fragmentos.
As lesões diretas são o mecanismo mais comum e ocor
rem a partir de queda ou colisão de veículo automotor.
O mecanismo é indireto quando uma contração intensa do
quadríceps cria uma força que excede a resistência da pa
tela e resulta em fratura de avulsão. Essa lesão pode ocor
rer após uma quase queda e tem mais probabilidade de
resultar em fratura transversa deslocada.
Exame
O paciente apresenta sensibilidade dolorosa e edema no
joelho. A superfície inferior da patela deve ser palpada
caso exista a suspeita de fratura osteocondral. A extensão
ativa do joelho deve ser examinada. Se a extensão esti
ver ausente, o mecanismo do quadríceps está rompido.
Um defeito palpável ao longo do polo inferior da patela
indica a ruptura do mecanismo extensor distai.
Imagens
As incidências AP, lateral e axial (incidência tangencial do
joelho flexionado) são adequadas para definir essas fraturas
(Figs. 20.22 e 20.23). Uma patela bipartida pode, às vezes,
ser difícil de diferenciar de uma fratura. Uma patela bipar
tida tem superfície lisa e está na posição superolateral. As
incidências de comparação são úteis para distinguir as duas
entidades. As fraturas osteocondrais não costumam ser de
tectadas em radiografias simples, embora um pequeno de
feito na superfície inferior da patela possa ser observado. A Figura 20.22 Fratura cominutiva da patela.
450 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
Figura 20.24 A. Ruptura do tendão do quadríceps. B. Fratura da patela. C. Ruptura do tendão patelar. D. Avulsão da tuberosidade tibial.
452 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
Exame
Ao exame, a posição da patela deve ser avaliada. O seu
deslocamento inferior com equimose e edema proximal
indica ruptura do quadriceps. O deslocamento superior
da patela, com sensibilidade dolorosa do polo inferior e
edema indica a ruptura do tendão patelar (Fig. 20.25).
Em ambos os casos, o paciente pode ter a extensão “ati
va” intacta, mas será muito fraca ao ser comparada com
a extremidade ilesa (Vídeo 20.1). A ruptura do tendão do
quadriceps resulta em uma lacuna suprapatelar logo su
perior à patela, com edema nos tecidos (Fig. 20.26A).
O achado mais significativo ao exame clínico com rup
tura do mecanismo extensor é que o paciente tem perda
da extensão ativa do joelho ou incapacidade de manter
o joelho passivamente estendido contra a gravidade.
Com as rupturas parciais, o paciente pode ter a extensão
ativa, como antes indicado; contudo, estará ela percepti-
velmente enfraquecida. Figura 2o.25 Ao exame, nota-se que a patela está ausente na
região anterior do joelho e pode ser palpada superiormente.
Figura 20.27 Ruptura do tendão patelar. Na incidência AP, o aspecto inferior da patela está mais de 2 cm acim a de uma linha tra
çada entre os côndilos femorais distais. De modo similar, na incidência lateral com 90° de flexão, a patela está acim a de uma linha
traçada ao longo da diáfise do fêmur anterior.
Tratamento
O tratamento inicial das lesões parciais e completas do
tendão de quadriceps e patelar é o mesmo. Gelo e cura
tivo compressivo são aplicados para reduzir o edema. O
joelho é mantido em extensão com um imobilizador de
joelho (Apêndice A.16). Em lesões completas ou graves,
o paciente não deve suportar carga, inicialmente. Figura 2 0 .2 8 Ruptura do tendão patelar. A patela alta é vista
O tratamento definitivo dessas lesões é diferente para na radiografia lateral. Um fragmento de avulsão inferior do cor
a lesão parcial e para a completa. Uma ruptura parcial de po está presente (seta).
454 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
B ursite pré-pate/ar. Essa bolsa está localizada superfi C isto d e Baker. Visto na fossa poplítea atrás do joelho,
cial à patela e na maioria das vezes torna-se inflamada o cisto de Baker é uma saculação benigna da bolsa do se-
456 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
Bolsa
suprapatelar
Bolsa
pré-patelar
Bolsa do
gastrocnêmio
Bolsa
infrapatelar
profunda
Bolsa do
Bolsa semimembranáceo
infrapatelar
superficial Bolsa anserina
mimembranáceo (Fig. 20.34). A incidência dos cistos de A bolsa poplítea fica proxi-
B u rsite la tera l d o jo e lh o .
Baker é mais alta em pacientes com artrite reumatoide ou mal à linha articular, entre o ligamento colateral lateral
osteoartrite. Um cisto de Baker se torna aumentado quan e o tendão poplíteo. O paciente com bursite poplítea se
do a sinovite, a artrite ou qualquer desarranjo interno do apresenta com sensibilidade dolorosa na linha articular e
joelho resultar em fluxo excessivo de fluido sinovial nessa com edema lateral.
bolsa. Naquele ponto, a bolsa se expande posteriormente A cabeça da fíbula é cercada por uma grande bolsa
para dentro da fossa poplítea. bicipital sob o tendão do bíceps femoral, outra sob o
O quadro clínico inclui uma história de edema inter ligamento colateral lateral, e outra sob a cabeça lateral
mitente atrás do joelho. Ao exame, um saco cheio de flui da origem do gastrocnêmio. A inflamação dessas bolsas
do, tenso, e às vezes doloroso, é palpado dentro da fossa cria um quadro clínico que inclui dor e sensibilidade
poplítea. Uma mudança na pressão em um cisto de Baker dolorosa em torno da cabeça da fíbula, do ligamento co
com a extensão e flexão do joelho (sinal de Foucher) su lateral lateral, ou da inserção do bíceps. Pode, às vezes,
gere o diagnóstico. As queixas adicionais incluem a dor ser difícil diferenciar a bursite das lesões do ligamen
crônica ou um falseio do joelho. Um cisto de Baker nunca to colateral lateral, do tendão bicipital ou do menisco
deve ser aspirado ou injetado. lateral.
A ruptura de um cisto de Baker se apresenta com
edema difuso na perna, quando o fluido sinovial disse Tratamento da bursite
ca inferiormente. Esta entidade pode ser clinicamente O tratamento da bursite aguda traumática ou crônica ocu-
indiferenciada de trombose venosa profunda. Os cistos pacional inclui calor local, repouso e agentes anti-infla-
não rompidos devem ser diferenciados dos aneurismas matórios com proteção da irritação recorrente. Os pacien
da artéria poplítea, neoplasias e hérnias sinoviais verda tes com bursite pré-patelar e anserina respondem bem à
deiras. O diagnóstico pode ser confirmado por ultrasso- injeção de uma mistura de triancinolona e bupivacaína,
nografia, TC ou RMN. seguida por curativo compressivo. O tratamento com ul-
Emergências Ortopédicas 457
Ao exame, o paciente relata sensibilidade dolorosa Pelo fato de a força de lesão ser mais comumente a
fo c a l sobre o meio da borda lateral da patela, sem des combinação de estresses, é difícil prever o padrão de le
conforto sobre as demais áreas. A maioria dos pacien são ligamentar a partir do mecanismo de lesão isolado.
tes responde a uma mistura injetável de esteroides com A seguinte discussão deve servir como guia geral para os
lidocaína. Porém, a dor retorna após algumas semanas. tipos de lesões que são com frequência o resultado de um
78
Os casos refratários requerem a neurectomia pré-patelar. mecanismo qualquer. É uma área controversa e as tabe
las seguintes incluem o que nós acreditamos que sejam as
SÍNDROME DO COXIM DE GORDURA teorias predominantes.
O mecanismo mais comum de lesão que resulta em
Esta síndrome também é conhecida como doença de Hoffa, dano ligamentar é o estresse em valgo, com um compo
síndrome do coxim de gordura infrapatelar e lipomatose nente rotatório externo no joelho flexionado. É uma le
sinovial.* O coxim de gordura, localizado sob o tendão são comum no futebol ou no esqui, nos quais o paciente
patelar, toma-se hipertrofiado e inflamado em atletas em se queixa de ter sofrido uma parada brusca ou quando a
razão de trauma repetitivo no joelho. O resultado é a dor ponta de um esqui trancou na neve. O ligamento colateral
em extensão forçada, falseios e desconforto no joelho an medial (LCM) é a primeira estrutura ferida, tomando esse
terior após sentar por períodos prolongados. o ligamento com maior índice de lesões. Com o aumento
Ao exame, a sensibilidade dolorosa puntiforme é rela da força, o ligamento cmzado anterior (LCA) rompe, se
tada sobre a linha articular anteromedial ou anterolateral. guido pelo menisco medial e/ou pelo ligamento cmzado
O joelho parece doloroso, edemaciado e o coxim de gor posterior. A lesão do LCM, do LCA e do menisco medial
dura protmi em um lado ou outro do tendão patelar. A dor é chamada de “tríade terrível”, por causa da associação
é reproduzida quando o joelho levemente flexionado é es comum dessas estruturas após um estresse em valgo no
tendido de forma passiva (teste do rebote). O médico não joelho. A Tabela 20.1 lista a sequência de eventos, con
deve confundir esses sintomas com a tendinopatia patelar forme uma força crescente em valgo é aplicada ao joelho
ou a bursite infrapatelar superficial ou profunda. em flexão e extensão.
O tratamento dessa condição consiste em repouso, Acredita-se que o estresse em varo seja o segundo
gelo e medicamentos anti-inflamatórios não esteroides. mecanismo que mais resulta em lesões ligamentares do
A injeção com anestésico local e esteroides no coxim de joelho. O estresse em varo pode ou não ser acompanha
gordura também oferece alívio e ajuda a confirmar o diag do de uma força rotatória interna. O ligamento colateral
nóstico. As calcanheiras podem reduzir a hiperextensão lateral (LCL) é o primeiro a ser ferido quando esse meca
do joelho e diminuir a dor. É raro que a ressecção cirúrgi nismo ocorre de forma isolada, mas o LCA, e finalmen-
ca seja necessária. te, o ligamento cruzado posterior (LCP) também podem
romper quando uma força combinada em varo e rotação
LESÕES LIGAMENTARES interna é aplicada.
O estresse em hip erexten sã o na maioria das vezes
A estabilidade do joelho depende de seus ligamentos e de resulta na lesão dos ligamentos cruzados. O LCA rompe
seus músculos circundantes. O joelho é mais estável em primeiro, seguido pela cápsula posterior e pelo LCP. Os li
extensão, embora a predominância das atividades diárias gamentos cruzados podem romper no seu ponto central ou
seja executada com algum grau de flexão. Essa articula em sua inserção femoral. Um estresse rotacional adi
ção é, desse modo, predisposta a lesões. Os ligamentos cional pode resultar em dano dos ligamentos colaterais.
que circundam o joelho atuam ao guiar o movimento e
protegem-no contra movimentos não fisiológicos.
► TABELA 20.1 Lesão ligamentar progressiva depois de
Esses ligamentos são inervados por fibras nervosas
um estresse em valgo no joelho, com base na posição
amielínicas. É característico das lesões ligamentares que
do joelho no momento da lesão
a ruptura parcial seja mais dolorosa do que a completa.
Flexão com rotação externa Extensão
Mecanismo de lesão LCM LCM
A seguinte discussão será centrada em seis mecanismos 4 4
comuns que resultam em lesões ligamentares: estresses LCA LCA e porção medial da
(1) em valgo, (2) em varo, (3) em hiperextensão, (4) rota- cápsula posterior
cional, (5) anterior e (6) posterior. É importante determi 4 4
nar se o joelho estava apoiando o peso ou uma força rota- Menisco medial Ligamento capsular medial
cional estava presente na hora da lesão, já que tais fatores profundo
aumentam a probabilidade de lesão meniscal associada. 4 4
Além disso, a posição do joelho (em flexão ou extensão) LCP LCP
no momento da aplicação da força será relevante quanto LCM, ligamento colateral medial; LCA, ligamento cruzado anterior; LCP,
às estruturas envolvidas. ligamento cruzado posterior.
Emergências Ortopédicas 459
Há dois tipos de estresses m ta c io n a is: interno e ex Existe derrame articular? O joelho com lesão aguda
terno. Os estresses rotacionais internos resultam em lesão deve ser examinado metodicamente, notando primeiro
do LCA, seguida de uma lesão do LCL, enquanto os es qualquer edema. Quando vistos precocemente, até 64%
tresses rotacionais externos podem causar lesões no LCA, dos pacientes têm edema localizado na topografia corres
LCL, LCP ou meniscais, dependendo de o joelho estar pondente à ruptura ligamentar aguda. As rupturas liga
flexionado, estendido ou com carga no momento da lesão. mentares completas ou a ruptura da cápsula podem não
Os estresses anteriores e posteriores da tíbia sobre o exibir qualquer edema, já que o fluido extravasa da cáp
fêmur podem resultar em lesões nos ligamentos cruzados. sula rompida.
Um estresse anterior rompe o LCA, seguido pelo LCM. Um derrame visto dentro de 2 horas de uma lesão é
Um estresse posterior resulta em lesão do LCP. sugestivo de tecidos rompidos, enquanto aquele que se
apresenta de 12 a 24 horas pós-lesão constitui um derrame
H istó ria sinovial reativo. Um derrame tenso e doloroso que limita
Além do mecanismo de lesão, como descrito aqui, o mé de modo acentuado a amplitude de movimento pode ser
dico da emergência deve indagar sobre outras característi aliviado pela aspiração no setor de emergência.
cas na história. As questões pertinentes em casos subagu- Uma hemartrose que se desenvolve dentro das pri
dos e crônicos incluem a localização do edema e também meiras 12 horas depois da lesão sugere, mais comumen-
quais as atividades que o induzem. A duração habitual dos te, a ruptura do LCA. Após lesões esportivas, 67% dos
sintomas, bem como a resposta ao repouso, também de pacientes com hemartrose aguda e nenhuma fratura nas
vem ser avaliadas. radiografias demonstraram ter ruptura parcial ou completa
A localização exata da dor depois de uma lesão e os do LCA. Outras lesões incluíram as fraturas osteocon-
fatores que exacerbam os sintomas fornecem pistas im drais (13%) e as rupturas meniscais (16%). Os glóbulos de
portantes sobre a localização específica de uma lesão liga- gordura encontrados no aspirado sanguinolento sugerem
mentar. As rupturas ligamentares parciais produzem mais fratura osteocondral.
dor do que as rupturas completas. Em um estudo, 76%
dos pacientes com ruptura completa de um ligamento no Existe sensibilidade dolorosa localizada? A seguir, o
joelho caminhavam sem ajuda. médico deve palpar suavemente o joelho, na tentativa de
Vários estudos indicam que, durante a lesão, o estalo localizar a sensibilidade dolorosa. Em uma série, 76% dos
audível é um indicador confiável de ruptura do cruzado pacientes tiveram a sua lesão confirmada via cirurgia, com
anterior. Alguns profissionais declaram que os pacien base na sensibilidade dolorosa inicialmente localizada.
tes com essa história têm incidência de 90% de rupturas A sensibilidade dolorosa na linha articular sugere lesão da
do cruzado anterior na cirurgia. Sessenta e cinco por cápsula, dos ligamentos ou dos meniscos. Neste momen
cento dos pacientes com cruzado anterior rompido, con to, o médico deve efetuar um exame suave para documen
tudo, não ouviram estalo ou ruído no momento da lesão. tar a amplitude de movimento.
A ruptura do cruzado anterior é, quase sempre, seguida
pelo aparecimento rápido de um derrame sanguinolento. Existem anormalidades com a testagem em estresseI
De fato, a etiologia mais comum para hemartrose traumá As lesões ligamentares devem ser classificadas com
tica dentro de duas horas da lesão é a ruptura do cruzado base nos ligam entos envolvidos, como tam bém no
anterior. grau de envolvimento (Tab. 20.2). Entorses g ra u I (le
ves) implicam o alongamento das fibras, sem ruptura.
Entorses g ra u I I (moderadas) envolvem ruptura nas fi
A xio m a :Uma história que inclua estalo ou ruído na hora
da lesão sugere a ruptura do ligamento cruzado anterior
bras do ligamento, sem rompimento completo. As en
até prova em contrário, especialmente quando associado torses g ra u III (completas) indicam a ruptura completa
ao desenvolvimento rápido de um derrame no joelho. do ligamento.
O uso e a interpretação dos vários testes para exami-
nar o joelho agudamente ferido são controversos. Após
Exame uma lesão aguda, esses testes são difíceis de executar, tan
Quanto tempo decorreu desde a lesão? O tempo entre to para o examinador como para o paciente. A seguinte
a lesão e o exame é importante para decifrar os achados fí discussão é feita com base em dados publicados e na ex
sicos. Logo depois de uma lesão não há derrame ou espas periência pessoal.
mo e as lesões ligamentares serão facilmente percebidas. A testagem de estresse das lesões ligamentares so
Quando o paciente se apresenta no setor de emergência mente deve ser empregada depois que as radiografias
uma hora mais tarde, essas mesmas lesões serão difíceis tenham afastado a possibilidade de fratura. É impor
76
de detectar por causa do espasmo muscular circundante. tante documentar a sensação da articulação em estres
Se um espasm o estiver presente, a fro u x id ã o liga m en ta r se máximo (firme ou “mole”) junto com a quantidade
p o d e não ser d em o n strá vel O paciente deve ser reexami de abertura articular. Na testagem de estresse, as lesões
nado depois de 24 horas, quando o espasmo tiver aliviado. grau I e II têm a sensação final firme, o que não existe
460 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
► TABELA 20.2 Classificação de lesão ligamentar cado um estresse de abdução suave, com rotação externa
Grau I (ruptura incompleta e pequena) do pé. O leve estresse rotacional externo aperta os liga
• Sensibilidade dolorosa local mentos capsulares mediais. É essencial que o exame de
• Edema mínimo estresse da extremidade lesionada seja comparado com o
• Nenhuma instabilidade no teste de estresse com sensação exame da extremidade ilesa.
final firme
Esse teste é um indicador confiável de lesão do LCM.
• Pouca dor na testagem de estresse
Com base na experiência dos autores e na de outros pro
Grau II (ruptura incompleta e moderada)
• Sensibilidade dolorosa local
fissionais, o cruzado anterior rompido resulta em um grau
• Edema moderado muito maior de instabibdade em valgo. Com a abertura
• Instabilidade 1 + no estresse com sensação final firme em extrema, o LCP pode também estar rompido, e o joelho
comparação ao joelho normal deve ser tratado como uma luxação reduzida, com poten
• Moderadamente incapacitante cial de lesão da artéria poplítea.
Grau III (ruptura completa) O teste de estresse valgo em extensão é feito depois
• Sensibilidade dolorosa local, mas a dor não é proporcio do exame de flexão, usando a mesma técnica, porém
nal ao grau da lesão com o joelho estendido. A interpretação desse teste é si
• O edema pode ser mínimo ou marcado
milar ao do teste de estresse em valgo com 30° de flexão,
• Instabilidade 2 a 3+ ao estresse, com sensação final mole
• Incapacidade grave pode estar presente
exceto se a abertura da articulação em extensão sugerir
um grau maior de lesão hgamentar. É importante lembrar
que a articulação do joelho é mais estável em extensão, e
que, o LCA está tenso. A frouxidão articular em extensão
nas lesões grau III. A mensuração do grau de abertura é, por conseguinte, indicativa de mptura do cmzado an
articular na testagem de estresse é uma classificação ob terior e da cápsula posterior, somando-se a uma mptura
jetiva que requer experiência do examinador e a compa do LCM. Quando houver suspeita de instabilidade pos-
ração com o joelho oposto. As articulações que abrem terolateral, um teste cuidadoso de estresse em valgo em
de 0 a 5 mm sugerem ruptura ligamentar leve (grau I), 0 e 30° de flexão do joelho, com frequência, demonstra
enquanto 5 a 10 mm sugerem ruptura moderada (grau a instabilidade.90
II) e mais do que 10 mm são consistentes com ruptura O teste de estresse em varo é aplicado com o jo e
completa (grau III). lho em 30° de flexão, com o pé e a perna com rotação
O teste de estresse em valgo é executado com o qua interna (Fig. 20.36). A coxa do paciente deve estar mais
dril em leve extensão para relaxar os isquiotibiais (Fig. abduzida do que durante o teste de estresse em valgo,
20.35). Isso pode ser realizado pendendo a coxa e a per pois a força aplicada será em direção à mesa de exames.
na ao lado da mesa, com o joelho em 30° de flexão e o O examinador começa localizando a linha articular late
paciente em decúbito dorsal. O examinador coloca a sua ral. O polegar da mão é colocado sobre a linha articular
coxa contra a lateral da coxa do paciente para estabilizar lateral, com o resto da mão estabilizando o aspecto me
o fêmur. O examinador então coloca os dedos de uma das dial da articulação. A outra mão é colocada sobre o pé
mãos no aspecto medial da linha articular, para sentir a do paciente, e é aplicado um estresse em varo. A abertura
abertura da articulação. A outra mão segura o pé e é aph- articular é indicativa de mptura do LCL. A abertura ampla
sugere possível lesão das estmturas do complexo poste-
rolateral do joelho (ligamento arqueado, músculo poplí-
teo, cabeça lateral do gastrocnêmio e banda iliotibial) e
do LCA. A lesão do complexo posterolateral do joelho é
rara, sendo relatada em menos de 2% de todas as lesões
92
hgamentares agudas do joelho.
O teste de estresse em varo, executado com o joelho
em extensão com rotação interna da pema, também pode
ser realizado. A abertura articular significativa durante o
teste tem mais probabilidade do que o teste com estresse
de varo em flexão sugerir uma lesão do LCL, do com
plexo posterolateral do joelho ou do LCA. Uma abertura
particularmente ampla pode indicar ruptura do cmzado
93
posterior.
O teste da gaveta anterior avalia a integridade do
LCA. Entretanto, após uma lesão aguda, ele é difícil de
executar e carece de sensibilidade. Ao executá-lo, o pa
Figura 20.35 Teste de estresse em valgo do ligamento colate ciente deve estar em decúbito dorsal e relaxado. O quadril
ral medial. deve estar em 45° de flexão, com o joelho em 80 a 90° de
Emergências Ortopédicas 461
Figura 20.39 O teste do pivot shift para a detecção de uma ruptura do ligamento cruzado anterior (LCA). A . O examinador aplica
tração leve, estresse em valgo e rotação interna sobre o joelho estendido. B. O joelho é gradualmente flexionado até que um "esta
lo" é sentido, indicando um teste positivo.
Existe fra q u eza m uscular?Depois de um exame negati grau III de um ligamento único é considerado in stá v e l ,
vo para instabilidade ligamentar, a fo rç a m uscula r da ex requerendo imobilização, descarga e encaminhamento
tremidade envolvida deve ser avaliada e comparada com ortopédico.
a extremidade normal. A perda da resistência muscular Com freq u ên cia é im possível um exam e inicial p re c i
pode ser observada após a ruptura de uma unidade mus- so devido ao edem a e espasm o muscular. Quando existir
culotendínea. instabilidade articular significativa na testagem de es
tresse, o tratamento cirúrgico está indicado. Na presença
Im a g e n s de espasmo significativo e um exame inicial negativo, a
As radiografias simples do joelho são quase sempre ne extremidade lesionada deve ser reexaminada em 24 ho
cessárias para afastar a possibilidade de fratura associa ras para a confirmação dos achados prévios e o paciente
da. Uma fratura de Segond é uma fratura de avulsão sutil deve ser mantido sem carga. Analgésicos intravenosos,
do côndilo tibial lateral, que sugere alta probabilidade de
ruptura do LCA ou de lesão nos meniscos (Fig. 20.40).
E ssas radiografias devem p re c ed e r o exam e fís ic o d eta
lhado. Se forem normais, a manipulação diagnóstica e a
testagem de estresse podem ser efetuadas.
É provável que as radiografias simples sejam a única
modalidade disponível ao médico da emergência. O teste
de estresse em valgo executado durante uma radiografia
simples é útil quando há incerteza sobre o grau de aber
tura. Entretanto, deve ser compreendido que, com o ad
vento da RMN, a delineação das lesões de tecidos moles
sofreu uma revolução. A acurácia no diagnóstico das le
sões ligamentares com base na confirmação pelos achados
artroscópicos pode ser de até 99%.
T ra ta m e n to in ic ia l
O manejo inicial das lesões ligamentares do joelho inclui
gelo, elevação e tala compressiva de Jones, estendendo-
-se desde a metade da coxa até a metade da panturrilha
(Apêndice A. 15). A alternativa é usar um imobilizador
de joelho (Apêndice A.16) ou uma tala posterior (Apên
dice A. 17).
As lesões estáveis do jo e lh o são aquelas de grau I ou
II de um único ligamento, depois que um exame adequa
do possa ser executado. O protocolo de tratamento para Figura 20.40 Fratura de Segond {seta). Essa fratura de avulsão
as lesões estáveis do joelho está demarcado na Tabela sutil do côndilo tibial lateral é altamente associada a uma rup
20.3. O envolvimento de ligamentos múltiplos ou lesão tura do LCA ou lesão meniscal.
Emergências Ortopédicas 463
► TABELA 20.3 Tratamento das lesões ligamentares do ou lesão do complexo ligamentar posterolateral ou do
incompletas do joelho LCP, cirurgia está indicada.
Entorse leve
1. Gelo e elevação Ligamentos cruzados. As rupturas isoladas do LCA
2. M obilização compressiva de Jones (Apêndice A .1 5) são comuns e podem ser tratadas com descarga parcial,
3. Deam bulação com exercícios do quadríceps assim com muletas. A imobilização não é necessária, a menos
que tolerado
que haja outra lesão ligamentar e instabilidade articular.
Ruptura parcial
Os exercícios de fortalecimento são iniciados depois que
1. Gelo e elevação
2. Tala posterior, imobilizador, ou im obilizador com
a amplitude de movimentos tiver retomado. Estas lesões
compressão (Apêndices A .1 5 a A .1 7) são tratadas cirúrgica ou conservadoramente. A decisão de
3. Descarga com muletas por 3 dias reconstruir o ligamento depende da idade do paciente, do
4. Im obilizador de joelho por 2 a 4 semanas, com carga nível de atividade, das preferências do paciente e da pre
gradual conforme tolerado sença de outras lesões. O reparo cirúrgico é executado via
5. Exercícios isométricos do quadríceps artroscopia na maioria dos casos. O LCA é reconstmído
6. Acompanhamento ortopédico precoce; considerar a usando autoenxertos do terço médio do tendão patelar ou
reavaliação em 24 h se o exame estiver limitado
um enxerto do semitendíneo ou do grácil.
Em contraste com as lesões do LCA, as mpturas iso
ladas do LCP são incomuns. Quando elas ocorrerem, são
lidocaína intra-articular e até anestesia geral podem ser em geral tratadas conservadoramente. As lesões isoladas
necessários para obter um exame físico confiável, mesmo agudas do LCP devem ser administradas com imobilização
depois de um a dois dias. O reexame está indicado em um do joelho em extensão até que a dor ceda, permitindo, en
joelho estável, quando quaisquer dos critérios listados na tão, a movimentação precoce. É essencial que a reabilitação
Tabela 20.4 estiverem presentes. deste ligamento enfatize o fortalecimento do quadríceps.
A reconstrução cirúrgica é reservada para as lesões
Tratamento definitivo crônicas sintomáticas do LCP e para as lesões agudas
113
Ligamentos colaterais. É preconizada a terapia conser combinadas (LCA, LCM ou complexo posterolateral).
vadora para as rupturas completas do LCM com instabili Nos pacientes com a lesão do LCP acompanhada de avul-
dade articular leve a moderada. 7,11 O tratamento tem sido são óssea, o tratamento cirúrgico é recomendado. 00
dividido em três fases. Na fase A, a perna recebe uma ór-
tese em aproximadamente 30° de flexão, por meio de des Complicações
carga parcial, com uso de muletas. Os exercícios isomé Uma pequena porcentagem de entorses se tom a mais
tricos do quadríceps e os de fortalecimento do quadril são dolorosa durante a fase de cicatrização. Como a dor fica
iniciados na segunda semana. Na fase B, que dura quatro mais intensa, a flexão pode ficar limitada. Depois de três
semanas adicionais, a órtese é ajustada para permitir mo a quatro semanas, a radiografia simples mostra uma cal
vimentos de 30 a 90° e exercícios isotônicos e isocinéticos cificação na área do ligamento lesionado. Essa condição
são executados. “ Na fase C, que ocorre seis semanas de é chamada de o ssificação p e ria rtic u la r p ó s-tra u m á tic a
pois do diagnóstico, a órtese é removida e os exercícios são ou d o en ça de P ellegrini-Stieda. Patologicamente, o cál
continuados com um programa de corridas leves. Quando cio é depositado no hematoma que circunda o ligamento
existir instabilidade articular significativa na testagem de parcialmente rompido. Essa massa calcificada pode ser
estresse,
✓
o tratamento cirúrgico está indicado. conectada ao osso subjacente por meio de um pedículo.
E im portante afastar a possibilidade rupturas conco Nos estágios iniciais do desenvolvimento, a massagem ou
m itantes do ligam ento cruzado ou lesão m eniscal. Quan a manipulação podem acentuar os sintomas. O tratamento
do coexistirem lesões do LCM e LCA, a maioria dos orto recomendado inclui curativo compressivo e punções múl
pedistas trata primeiro o LCM com manejo conservador, tiplas para reforçar a reabsorção do cálcio.
sendo seguida pela reconstrução retardada do LCA.
As lesões isoladas do LCL também são tratadas de
LESÕES MEN ISCAIS
forma conservadora. Quando houver joelho varo associa-
O menisco mediai é uma estrutura em forma de “C” que
é dividida em um corno anterior e um posterior. Está in
► TABELA 20.4 Critérios para reavaliar um joelho serido no joelho em três localizações - em cada extremi
"estável" 1
5
4
3
2 dade (eminências intercondilianas) e no seu ponto central
1. Mecanismo de lesão de alta energia (ligamento capsular medial profundo). O menisco lateral
2. História de estalo ou ruído no momento da lesão também tem um corno anterior e um posterior. O menis
3. Hemartrose
co lateral tem um formato mais em “O” e está inserido
4. Espasmo muscular significativo
medialmente à eminência intercondiliana (Fig. 20.41).
5. Dor intensa
Os meniscos se movem posteriormente com a flexão e em
464 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
Mecanismo de lesão
As lesões meniscais ocorrem com frequência em pacien
tes com movimentos súbitos rotatórios ou de extensão-fle
xão. Em pacientes mais velhos e com doença degenerativa
dos meniscos, uma simples torção ou um movimento de
agachar pode resultar em ruptura. Com a flexão do joelho,
o fêmur realiza rotação interna sobre a tíbia fixa e deslo
Flexão, rotação externa ca o menisco medial em direção ao centro da articulação.
Com uma extensão forte e rápida, o menisco pode ficar
centralmente aprisionado, resultando em estiramento ou
ruptura do segmento periférico. Com a flexão do joelho,
o menisco lateral também sofre deslocamento central e a
extensão forte súbita pode resultar em ruptura transversa
na junção dos terços anterior e médio.
Exame
A sensibilidade para detectar lesões meniscais por qualquer
exame clínico é baixa. 14,11 O uso combinado da história e
Flexão, rotação interna do exame físico melhora a capacidade do profissional ex
periente em detectar essas lesões. O médico da emergência
Figura 20.41 A. A superfície articular da tíbia é mostrada jun deve ter alto índice de suspeita para essas lesões e encami
to com os meniscos (conforme visto acim a). Ver o formato em nhar os pacientes para o seu médico de cuidados primários
"O " do menisco lateral e o formato em "C " do menisco medial.
ou para um ortopedista, quando houver dúvidas.
B. A posição dos meniscos com o joelho em extensão. C. Ver
Os meniscos não têm fibras nervosas sensitivas, e a
a posição dos meniscos quando o joelho é flexionado e em
rotação externa. O menisco lateral é deslocado posteriormente
dor que resulta dessas lesões é ocasionada pela irritação
e a borda anterior do menisco medial protrui para a frente. D . A dos ligamentos próximos à linha articular. Vários sintomas
posição dos meniscos com o joelho em flexão e rotação interna sugerem a presença de ruptura meniscal, incluindo (1) d o r
da tíbia. Observar que o menisco medial retrai posteriormente. na linh a a rtic u la r, (2) derram e a rtic u la r, (3) b lo qu eio e
(A) fa ls e io do jo e lh o .
direção anterior com a extensão. Devido a sua inserção D or na linha articular. A dor ou sensibilidade dolorosa
medial única, o menisco lateral é mais móvel que o me articular à palpação da linha articular é vista em três quar-
102
nisco medial.1 tos dos pacientes após uma lesão meniscal. O sin a l de
Emergências Ortopédicas 465
Figura 20.42 Rupturas do menisco medial. A. Uma ruptura longitudinal parcial do menisco medial. B. Uma ruptura que se estende
ao longo do comprimento do menisco é chamada de "ruptura em alça de balde". O fragmento interno pode deslocar-se para o in
terior da articulação do joelho. C. Uma ruptura do corno anterior. D. Se o fragmento fica elevado, pode bloquear do joelho. E. Uma
ruptura transversa do menisco medial. Este tipo de ruptura é mais comum no menisco lateral.
B ra g a rd (que indica lesão do menisco medial) refere-se à usado para palpação. Para confirmar uma ruptura meniscal,
sensibilidade dolorosa apontada ao longo da linha articular o sinal de Steinmann pode ser útil (Fig. 20.43). Esse sinal é
medial anterior, que aumenta com a rotação interna e a ex considerado positivo para ruptura meniscal quando a flexão
tensão da tíbia. Com a rotação interna e extensão, o menis do joelho deslocar posteriormente o ponto de sensibilidade
co medial rompido é forçado contra o dedo do examinador dolorosa máxima. Esse teste é útil para distinguir as lesões
Figura 20.43 Sinal de Steinmann. A. Quando a articulação do joelho é estendida, o menisco fica anteriormente. B. A flexão do
joelho desloca o ponto de sensibilidade dolorosa da linha articular anterior para trás, em direção ao ligamento colateral. Isso indica
um problema meniscal em vez de um problema ligamentar, já que este não desloca o ponto de maior sensibilidade dolorosa.
466 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
Figura 20.45 Teste de Apley para as rupturas meniscais mediais. A. A perna é externamente rodada e então estendida, enquanto é
feita a tração. B. O teste é repetido, desta vez com compressão.
A acurácia da RMN foi inicialmente relatada entre 80 e quatro horas depois da lesão e do tratamento inicial, o
e 90% para as lesões meniscais, mas com a melhora na paciente deve ser reexaminado para excluir qualquer le
tecnologia e na experiência de interpretação esta acurácia são ligamentar oculta. Aqueles pacientes com rupturas
melhorou para 90 a 95%.79,114,121 Entretanto, a confiança meniscais sem lesões ligamentares associadas devem ser
cega na RMN para determinar a intervenção cirúrgica re mantidos sem carga, se a dor for intensa. É importante que
sulta em tratamento inadequado. Em um estudo em que a a imobilização não persista por mais de dois a quatro dias
RMN foi usada em pacientes assintomáticos, 13% dos pa e que os exercícios de fortalecimento do quadriceps sejam
cientes abaixo dos 45 anos e 36% dos acima dos 45 anos iniciados assim que for possível. O encaminhamento para
tiveram o diagnóstico de ruptura meniscal. Em pacien um provedor primário é apropriado para as lesões meno
tes idosos, as rupturas meniscais são encontradas em 65% res, enquanto o encaminhamento ortopédico é necessário
122
dos pacientes assintomáticos. sempre que um derrame ou uma instabilidade articular
A artroscopia é considerada o padrão-ouro para rea significativa estiver presente. Em pacientes com sintomas
lizar o diagnóstico, sendo é valiosa porque pode prover o crônicos, o encaminhamento ortopédico deve ser feito
tratamento definitivo. A acurácia da artroscopia é de até sempre que o paciente relatar bloqueios, falseios ou limi
98%, dependendo da habilidade e da experiência do ar- tações articulares.“
• . 1 1 5,1 23
troscopista. O manejo conservador tem mais probabilidade de
sucesso em pacientes que são capazes de apoiar o peso
Lesões associadas e que tenham desenvolvido o edema entre 24 a 48 horas
As lesões meniscais muitas vezes acompanham as lesões após a lesão, com edema mínimo e apresentem amplitude
ligamentares do joelho e, em especial, as lesões do LCM de movimento completa. As lesões meniscais periféricas
e do LCA. Um terço de todas as rupturas meniscais está também evoluem melhor com o manejo conservador por
associado a uma lesão do LCA. As lesões meniscais tam causa da maior vascularização da porção periférica do
bém estão frequentemente associadas a fraturas do platô menisco. A melhoria limitada nos sintomas depois de três
tibial, ocorrendo em até 47% dos pacientes. semanas de terapia conservadora sugere que provavel
mente uma cirurgia será necessária.
Tratamento As indicações para a artroscopia incluem (1) sintomas
Os pacientes que apresentam ruptura meniscal aguda, sem persistentes que afetam as atividades diárias, (2) achados
lesões ligamentares, devem receber um curativo compres físicos positivos de lesão meniscal, (3) falha em responder
sivo volumoso (Apêndice A.15), um imobilizador de joe ao manejo conservador e (4) ausência de outras causas de
lho (Apêndice A.16), ou uma tala (Apêndice A. 17). Vinte dor no joelho. Dependendo do tamanho, da direção e da
468 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
LESÃO OSTEOCONDRAL
Esses pacientes apresentam dor persistente depois de
uma lesão sem anormalidades radiográficas. As fraturas
condrais envolvem somente a cartilagem, enquanto as os-
teocondrais envolvem a cartilagem e o osso subcondral.
O mecanismo mais comum é o impacto direto sobre a área
envolvida.
Exame
Essas lesões devem ser suspeitadas se as queixas do pa
Figura 20.47 Osteocondrite dissecante do joelho {seta). (Foto ciente forem significativas na ausência de achados físicos.
grafia: contribuição de D. Billmyer, PA-C.) A sensibilidade dolorosa agudamente localizada, o blo
queio articular e a hemartrose estão muitas vezes asso
ciados com a lesão, que são frequentemente confundidas
com ruptura de meniscos, embora a artroscopia exclua de
forma definitiva o problema.
Tratamento
A artroscopia está indicada em quase todos os casos.
A artrite degenerativa junto com dor crônica, bloqueios
e derrames se desenvolvem caso essas lesões não sejam
tratadas.
DISFUNÇÃO PATELOFEMORAL
(CONDROMALACIA PATELAR)
A osteoartrite do joelho é abordada no Capítulo 3. Por
ser peculiar, a articulação patelofemoral será abordada à
parte. A artrite patelofemoral é o resultado de erosão e de
generação da cartilagem patelar. Os fatores de risco para
essa condição incluem o aumento da idade, a obesidade, o
uso excessivo crônico, as lesões prévias (fraturas, luxação
patelar, rupturas do LCA), e as condições inflamatórias
sistêmicas. 4 Os termos condrom alacia p a te la r e síndro-
m e do m au alinham ento p a te la r são usados para descrever
a erosão prematura da cartilagem patelar que ocorre em
adultos jovens, em especial nas mulheres, devido ao ali
nhamento patelar ruim.
A patela atua melhorando a função do mecanismo do
quadríceps e diminui as forças aplicadas ao tendão patelar.
Figura 20.48 Osteocondrite dissecante. Observar o desenvol Acredita-se que o ângulo de atuação dessa força altera a
vimento de tecido fibroso (seta). ( Fotografia: contribuição de mecânica patelofemoral e a predisponha à lesão. Quando
John Fitzp atrickMD.) o ângulo é normal, a pressão é uniformemente distribuída
470 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
/ \ .
A \ / \
A \ /
Apresentação clínica
Quando causados pelo mau ahnhamento patelar, os sinto
mas começam no grupo etário adolescente ou no adulto jo
vem. O paciente reclama de dor profunda nos joelhos, sem
uma história de trauma recente.41,14 As atividades esporti
vas vigorosas ou ficar sentando por longo período de tempo
podem exacerbar a dor, horas mais tarde. Algumas vezes,
conforme o distúrbio progride, um esforço leve, como o su
bir escadas, exacerba a dor. A dor costuma estar locahzada
na porção anterior ou medial do joelho. O trauma agudo no
joelho, como uma queda, pode resultar em dor retropatelar
e, em alguns casos, no desenvolvimento de condromalacia
patelar durante um período de várias semanas.
Durante o exame físico, o joelho deve estar em fle Figura 20.51 Demonstração do teste de inibição patelar. A. Com
xão leve, colocando a patela no sulco femoral. A palpa o músculo quadríceps relaxado, empurrara patela inferiormente.
ção e a compressão nessa posição evitam a interposição B. Comprimir a patela para dentro do sulco femoral e pedir ao
sinovial. A compressão firme da patela sobre o sulco fe paciente para retesar o músculo quadríceps. Isso produz dor e
moral medial produz dor, que é virtualmente patognomô- sensibilidade dolorosa conforme a patela cursa proximalmente.
Emergências Ortopédicas 471
Além do ângulo Q, o examinador deve observar o (incomum) com base na direção da tíbia em relação ao
curso da patela durante a flexão e a extensão do joelho. fêmur (Fig. 20.52). Também ocorrem combinações des
Normalmente, com a extensão, a patela se move em di sas luxações. A combinação mais comum é a luxação
reção vertical com um leve desvio medial conforme se posterolateral. !
aproxima da extensão completa. A patela hipermóvel ou A lesão dupla dos ligamentos cruzados sem confir
errante (mau alinhamento patelar) com a extensão do mação radiográfica de luxação também é considerada
joelho predispõe ao desenvolvimento da condromalacia uma luxação de joelho, pois elas estão associadas à mes
patelar. ma taxa alta de lesão neurovascular. Em uma série, mais
A artrite patelofemoral pode ser confundida com da metade das lesões da artéria poplítea ocorreu em pa
várias outras causas de dor anterior no joelho, incluindo cientes com lesões dos ligamentos cruzados espontanea
menisco medial rompido, bursite pré-patelar, bursite do mente reduzidas.
pé anserino, síndrome do coxim de gordura e osteocon-
drite dissecante. Mecanismo de lesão
As luxações do joelho ocorrem por trauma de alta energia
Imagens (colisão de veículo automotor, queda de altura) e de baixa
As radiografias são de pouco valor diagnóstico em um pa energia (queda menor, atividade esportiva). As colisões
ciente com essa condição. As alterações crônicas, incluin de veículo automotor respondem por dois terços dos ca
do esclerose ou desenvolvimento de osteófitos, contudo, sos. 79,14! Os mecanismos de baixa energia respondem por
podem ser observadas em alguns casos. até 20% dos casos. As luxações expostas estão presentes
em 16% dos casos e são causadas por um mecanismo de
Tratamento alta energia.
O tratamento conservador inclui repouso, medicamentos As luxações anteriores têm como característica re
anti-inflamatórios não esteroides e exercícios isométricos sultarem da hiperextensão. A hiperextensão causa uma
de fortalecimento do quadríceps. Os exercícios isomé mptura da cá p su la posterior, seguida de ruptura do c ru
tricos do quadríceps são executados com o paciente dei zado a n terio r e por uma mptura parcial do cruzado p o s
tado e a extremidade inferior mantida em horizontal ao terior. As luxações posteriores muitas vezes resultam de
solo. O paciente é instruído a elevar a perna com o joelho uma força direta aplicada à tíbia anterior, com o joelho
completamente estendido e segurar nessa posição por 5 levemente flexionado. Existe deslocamento posterior da
segundos. Isso é repetido por três blocos de 20 repetições tíbia com a ruptura da cápsula p o ste rio r e dos cruzados.
diárias. A mesma técnica é usada com o joelho mantido Uma força de adução violenta na tíbia contra o fêmur
em 30° de flexão. É fundamental enfatizar para o paciente provoca luxação medial. As luxações posterolaterais ro
que os exercícios com a pema reta e com o joelho mantido tatórias são vistas quando uma força anteromedial atua
em 30° de flexão são fundamentais para a resolução dos sobre a tíbia anterior, resultando em luxação posterior
• . 143
sintomas. com rotação. Uma luxação posteromedial é o resultado
O uso de esteroides não é recomendado, já que po da ação de uma força anterolateral agindo sobre a tíbia
dem aumentar a velocidade de degradação da cartilagem. anterior.
Evitar atividades como agachamento, corrida, ajoelhar-se
e subir escadas é recomendado com muita ênfase durante Exame
a fase de manejo inicial. A imobilização é contraindicada, O diagnóstico preciso de luxação de joelho é essencial,
pois leva à atrofia do quadríceps, o que pode exagerar o sendo feito com base em um alto grau de suspeita. A re
mau alinhamento patelar. dução espontânea antes da apresentação no setor de emer
gência não é incomum, e não significa que o paciente não
LUXAÇÕES DO JOELHO esteja em risco de lesões vasculares associadas. Em uma
revisão de 63 luxações de joelho, observou-se que dois
As luxações do joelho são consideradas emergências or terços estavam em posição reduzida na apresentação.
topédicas, porque uma lesão associada da artéria poplítea
está presente em um terço desses casos. A incidência
Axiom a: Um joelho grosseiramente instável após uma lesão
de luxação de joelho tem sido estimada em menos de
traumática deve ser considerado como luxação reduzida.
0,02%, mas esse número subestima a incidência verda
deira, pois não leva em conta as luxações espontanea
mente reduzidas. Por conseguinte, o diagnóstico so A avaliação inicial de um joelho potencialmente
mente pode ser feito se o médico examinador tiver um deslocado é limitada à inspeção, à palpação e ao exame
alto grau de suspeita. neurovascular distal. Pode ou não haver derrame, pois as
As luxações são classificadas como anterior (40%), rupturas na cápsula articular permitem que o sangue flua
posterior (33%), lateral (18%), medial (4%) ou rotatória para dentro dos tecidos circundantes.
472 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
E Rotatória
Tratamento
O manejo de emergência dessas lesões inclui a redução, a
imobilização, a avaliação das lesões vasculares e o enca
minhamento de emergência. A redução deve ser executada
com adequada analgesia e sedação, conforme delineado
no Capítulo 2.
Uma luxação posterior é reduzida com um assistente
exercendo tração longitudinal, enquanto a tíbia proximal
Figura 20.53 Luxação anterior do joelho. é elevada anteriormente e reduzida (Fig. 20.54). Deve ser
observado que a força de distração deve ser suave, já que
a força excessiva pode exacerbar a lesão arterial. Uma
Lesões associadas
luxação anterior é reduzida de forma similar, exceto que
As luxações do joelho estão associadas a várias lesões o fêmur é elevado anteriormente para a posição reduzida
significativas que são divididas em três categorias: lesões (Vídeo 20.2). Deve ser evitada a pressão sobre o espaço
vasculares, ligamentares e de nervos periféricos. Além das poplíteo. Uma luxação posterolateral pode ser irredutível,
lesões diretas que ocorrem nos vasos e nos nervos que se
seguem a uma luxação de joelho, a síndrome comparti
mentai também pode ocorrer devido ao significativo ede
ma de tecidos moles e à hemorragia. As fraturas concomi
tantes e outras lesões são especialmente comuns quando
a luxação for causada por um mecanismo de alta energia.
Luxação do joelho
porque o côndilo femoral medial aprisiona a cápsula me A opção escolhida depende do contexto hospitalar ou da
dial dentro da articulação. preferência do consultor.
Depois da redução, o joelho deve ser imobilizado em Uma vez que a possibilidade de insuficiência vas
uma tala posterior (Apêndice A.17) em 15° de flexão para cular tiver sido resolvida e o edema agudo diminuído, o
evitar tensão sobre a artéria poplítea. paciente geralmente necessitará de reparo cirúrgico liga-
O tratamento rápido de lesões vasculares é fundamen mentar para alcançar a melhor recuperação funcional pos
tal para um bom desfecho. Em aproximadamente 10% dos sível.131,157'1 Esse procedimento é geralmente executado
casos, os pulsos normais são restaurados depois da redu de 10 a 14 dias após a lesão, mas não deve ser retardado
ção do joelho. Se os sinais de isquemia estiverem presen por mais de três semanas, pois a fibrose excessiva toma o
tes, a exploração cirúrgica de emergência está indicada, procedimento mais complicado.
com ou sem uma angiografia intraoperatória.
Se os pulsos e a perfusão estiverem normais e não Complicações
houver nenhuma outra evidência de lesão vascular (i.e., As luxações de joelho são frequentemente complicadas
hematoma em expansão), o ITB é medido. O ITB é de pelo desenvolvimento de problemas significativos.
terminado pela divisão da pressão sanguínea sistólica
(obtida por Doppler) da perna afetada, pela mesma me 1. A isquemia distai progressiva pode desenvolver-se,
dida em uma extremidade superior não afetada. O ITB resultando em amputação.
tem demonstrado ser um adjunto útil para detectar lesão 2. Doença articular degenerativa com artrite.
vascular oculta quando o restante do exame vascular for 3. Instabilidade articular persistente, secundária a lesões
normal. Um ITB menor que 0,9 é preocupante em pa ligamentares extensas.
cientes com luxação de joelho, e deve demandar uma
consultoria e arteriografia. Em pacientes com um exa LUXAÇÃO TIBIOFIBULAR PROXIMAL
me vascular normal com medida de ITB acima de 0,9,
as opções diagnósticas incluem uma arteriografia ou a A dor ao longo do aspecto lateral do joelho deve ser cui
hospitalização para exames seriais (Fig. 20.55). 47,153-156 dadosamente avaliada, já que a anatomia e a biomecâni-
Emergências Ortopédicas 475
Anterior
Posterior
ca desta região são muito complexas. A luxação tibiofi posteriores são habitualmente secundárias ao trauma di
bular proximal ocorre depois de um trauma, enquanto a reto no joelho flexionado. Um mecanismo secundário en
subluxação pode ser crônica e atraumática. Essa lesão volve um movimento violento de torção, como o visto em
é muitas vezes confundida com rompimento do menis determinados esportes. Além disso, a torção violenta pode
co lateral. As luxações tibiofibulares proximais podem romper os ligamentos e resultar em luxação.
ser anteriores, posteriores ou superiores (Fig. 20.56).
As luxações anteriores são mais comuns. As superiores Exame
são sempre acompanhadas de deslocamento superior do A localização da dor é geralmente ao longo do aspecto la
maléolo lateral. teral do joelho. Ela se irradia proximalmente para a região
A subluxação da articulação tibiofibular proximal ocor da banda iliotibial e medialmente para a articulação pa-
re quando houver hipermobibdade sintomática (Fig. 20.57). telofemoral. Nos casos de subluxação crônica, o pacien
te relata a sensação de “clique” ou “estalo” na frente do
Mecanismo de lesão joelho.163'164
As luxações anteriores em geral resultam de uma queda, Ao exame, há exacerbação localizada de dor com a
na qual a perna está flexionada e aduzida. As luxações inversão ou a eversão do tornozelo. A inspeção do jo e
lho revela a cabeça fibular proeminente em uma sublu
xação ou luxação anterolateral. A dor aumenta com a
palpação acima da cabeça da fíbula. Com uma luxa
ção anterior, a cabeça da fíbula fica mais proeminente
quando o joelho estiver flexionado. Além disso, a dor-
siflexão e a eversão exacerbam a dor. As luxações supe
riores se apresentam com o deslocamento proximal do
maléolo lateral.
Imagens
Se houver suspeita dessa lesão, as incidências de compa
ração são recomendadas. As incidências AP e lateral são
adequadas para definir a lesão. Se as radiografias simples
não forem diagnósticas, uma TC é a modalidade de ima
gens mais precisa para detectá-la. “
Lesões associadas
É importante recordar que o nervo fibular passa inferior
Figura 20.57 Subluxação da articulação tibiofibular proxim al. mente à cabeça e circunda o colo da fíbula. As luxações
476 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
Tratamento
As luxações agudas devem ser reduzidas por manipula
ção direta, com o joelho em flexão. Um clique audível é
ouvido quando a fíbula retorna à sua posição. As luxa
ções posteriores com tecidos moles interpostos requerem
a redução cirúrgica. Depois da redução, o paciente deve
fazer uso de muletas e ficar sem apoiar o peso por duas
semanas, seguidas por carga progressiva durante as pró
ximas seis semanas.
O tratamento da subluxação tibiofibular proximal Lateral Horizontal
crônica envolve a modificação das atividades do paciente
e o uso de um suporte, junto com exercícios de fortaleci
mento da perna. Para os pacientes com dor ou instabilida
de crônica, a correção cirúrgica é considerada.
Complicações
A lesão do nervo fibular ocorre em 5% dessas luxações
e pode se apresentar como uma complicação durante o
período de recuperação. As luxações posteriores têm
tendência a permanecerem instáveis e a desenvolverem
subluxações recorrentes. A doença articular degenerati
va, com artrite, pode se desenvolver depois de quaisquer
dessas luxações.
LUXAÇÃO PATELAR
Anatomicamente, a patela é um osso de formato oval, com Superior Intercondiliana
duas facetas divididas por uma crista vertical. A patela
Figura 20.58 Luxações patelares.
normalmente se articula no sulco entre os côndilos femo-
rais. O vasto medial, o retináculo medial, os ligamentos
patelofemorais medial e lateral e os ligamentos pateloti-
biais previnem a sua luxação. • Torção tibial externa
A localização mais comum das luxações patelares • Inserção lateral do ligamento patelar na tíbia
é a lateral. Outras luxações que já foram descritas in • Contratura do retináculo patelar lateral
cluem a medial, a superior, a horizontal e a intercon- • Relaxamento ou atenuação do retináculo patelar medial
diliana (Fig. 20.58). A luxação patelar com rotação do • Hipoplasia ou displasia da patela
eixo vertical também foi descrita. • Hipoplasia ou aplainamento do sulco troclear
As luxações patelares são vistas em pacientes com • Patela alta
anorm alidades anatômicas patelofem orais crônicas. • Atrofia do músculo vasto medial
As luxações e subluxações tendem a ser recorrentes, com • Pés planos
a taxa de reluxação variando desde 17 a 44%. A su
• Frouxidão articular generalizada
bluxação patelar é uma condição comum que, em geral,
ocorre lateralmente e está associada a uma ruptura do Mecanismo de lesão
retináculo ao longo do vasto medial. Um trauma grave
é necessário para que ocorra luxação se a relação pate- Dois mecanismos resultam em luxações patelares. Uma
lofemoral estiver normal. As luxações patelares ocorrem contração poderosa do quadríceps em combinação com fle
em pacientes com: xão súbita e uma rotação externa da tíbia sobre o fêmur é a
causa mais comum de luxação patelar lateral. O trauma
• Joelho valgo direto na patela com o joelho em flexão pode resultar em
• Joelho recurvado luxação, embora seja incomum. As luxações horizontais
• Excessiva anteversão do colo femoral ou torção fe- são secundárias a um golpe direto no polo superior da pate
moral interna la, seguido de rotação.
Emergências Ortopédicas 477
Imagens
As incidências AP e lateral são adequadas para avaliar a
lesão (Fig. 20.60). As radiografias devem ser obtidas para
excluir uma fratura. A presença de um nível de fluido e
gordura é indicativa de uma fratura óssea ou osteocondral.
Observar que um ângulo patelofemoral anormal não é si
nal radiológico confiável de instabilidade patelar na luxa-
A 167
çao aguda.
Lesões associadas
A lesão associada mais comum é um corpo livre intra-
-articular ou uma fratura osteocondral da faceta medial
da patela ou do côndilo femoral lateral. As lesões osteo-
condrais estão presentes em 40% dos casos. 9Essas lesões
costumam ser difíceis de ver em radiografias simples.
Tratamento
Para reduzir uma luxação lateral da patela deve-se inicial
mente, flexionar o quadril. Então, enquanto é feita a exten Figura 2 0 .6 0 Radiografia AP de uma luxação patelar.
478 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
tam que todas as luxações da primeira vez devem ser cirur 12. Bachmann LM, Haberzeth S, Steurer J, et al. The accuracy
gicamente reparadas desde o início, enquanto outros elegem of the Ottawa Knee Rule to rule out knee fractures: A sys
uma abordagem mais conservadora. As luxações patelares tematic review. Ann Intern Med 2004;140(2):121-124.
recorrentes devem ser tratadas cirurgicamente; entretanto, 13. Bulloch B, Neto G, Plint A, et al. Validation of the Ottawa
os autores não preconizam o tratamento cirúrgico em lesões Knee Rule in children: A multicenter study. Ann Emerg
iniciais. 8' As luxações associadas a uma fratura osteo- Med 2003;42(l):48-55.
condral são mais adequadamente tratadas com cirurgia. 14. Cohen DM, Jasser JW, Kean JR, et al. Clinical criteria for
A subluxação patelar é tratada de modo conservador; using radiography for children with acute knee injuries.
os exercícios isométricos são iniciados para fortalecer Pediatr Emerg Care 1998; 14(3): 185-187.
o quadriceps. Os exercícios de alongamento para os is- 15. Khine H, Dorfman DH, Avner JR. Applicability of Ottawa
quiotibiais também são preconizados. Nos casos em que Knee Rule for knee injury in children. Pediatr Emerg Care
a sensibilidade dolorosa é intensa, sendo observada uma 2001 ; 17(6):401 -404.
frouxidão significativa, é usado um imobilizador patelar 16. Szucs PA, Richman PB, Mandell M. Triage nurse applica
de contenção. A terapia cirúrgica é reservada para os pa tion of the Ottawa Knee Rule. Acad Emerg Med 2001 ;8(2):
cientes que não apresentaram sucesso com o tratamento 112-116.
conservador após 6 a 12 meses. 17. Kec RM, Richman PB, Szucs PA, et al. Can emergency
department triage nurses appropriately utilize the Ottawa
Complicações Knee Rules to order radiographs? An implementation trial.
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Capítulo 21
Perna
INTRODUÇÃO da com poucas consequências. A porção inferior é o con
trário, por causa da sua importância ao formar o encaixe
A tíbia é o único osso de carga na perna. A fibula está fixa do tornozelo.
da à tíbia pela membrana interóssea, que se divide em um Os músculos da perna estão contidos em quatro com
“Y” tanto proximal como distalmente. O braço proximal partimentos fasciais: compartimentos anterior, fibular,
do “Y” é composto do ligamento tibiofibular anterossu- posterior profundo e posterior superficial. O comparti
perior e do ligamento tibiofibular posterossuperior. Uma mento anterior inclui os dorsiflexores do tornozelo e do pé
divisão similar ocorre distalmente, com um ligamento ti e os compartimentos posteriores (superficial e profundo)
biofibular inferior anterior e posterior. A fibula é de pouca contêm os flexores plantares. O compartimento fibular
importância em sua porção superior, que pode ser excisa- aloja os eversores de pé.
FRATURAS DA PERNA
FRATURAS DA DIÁFISE DA TÍBIA Mecanismo de lesão
Mecanismos múltiplos podem resultar em fraturas da diá
As fraturas da diáfise da tíbia são as fraturas mais comuns
fise da tíbia e da fíbula. O trauma direto é uma causa co
dos ossos longos no corpo. Em consequência de sua loca
mum e habitualmente resulta em lesão associada de teci
lização superficial na perna, também é a fratura exposta
dos moles. Essas fraturas são com frequência secundárias
mais comum.
a colisões de automóveis e resultam em fraturas transver
Pelo fato de a tíbia e a fíbula correrem em paralelo
sas ou cominutivas.
entre si e estarem firmemente unidas por ligamentos, uma
fratura deslocada de um osso é muitas vezes associada a
uma fratura concomitante do outro osso.
As fraturas da diáfise da tíbia são classificadas com > 50%
0-50% deslocados com Deslocamento
base nos princípios estabelecidos por Nicoll. Três fatores
de deslocamento contato ósseo completo
determinam o desfecho desse tipo de fratura:
1. Deslocamento inicial
2. Cominução
3. Lesão de tecidos moles
As fraturas são divididas com base no deslocamento
em três grupos: (1) < 50% deslocamento, (2) > 50% des
locamento e (3) deslocamento completo ou gravemente
cominutiva (Fig. 21.1). As fraturas da diáfise tibial com
< 50% de deslocamento têm chance de união de 90%, en
quanto as fraturas com deslocamento completo têm possi
bilidade de união de apenas 70%.
O grau de lesão de tecidos moles associada é um fa
tor frequentemente não reconhecido que afeta o prognós
tico e o tratamento da fratura. As fraturas associadas
a uma contusão significativa da pele ou dos músculos
sobrejacentes estão associadas a taxas mais altas de in
fecção e mais baixas de consolidação. O tempo médio
de consolidação para as fraturas não complicadas e não
deslocadas é de três meses. Para as fraturas deslocadas, Figura 21.1 Fraturas das diáfises da tíbia e da fíbula. As fratu
expostas ou cominutivas, o tempo médio de consolida ras da diáfise da tíbia podem ocorrer de forma isolada, mas são
ção é de quatro a seis meses. tratadas de modo sim ilar às fraturas combinadas.
484 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
Exame
Fraturas da diáfise tibial se apresentam com dor, edema
e deformidade. Embora o dano neurovascular não seja
comum após essas lesões, a verificação dos pulsos e da
função do nervo fibular (dorsiflexão e flexão plantar dos
dedos do pé) é obrigatória. O pulso pedioso dorsal deve
ser palpado e comparado com a extremidade ilesa. Ou
tros achados consistentes com síndrome compartimentai
devem ser buscados e os achados negativos pertinentes
documentados no gráfico (ver “Lesões associadas”).
Imagens
As incidências AP e lateral costumam ser adequadas para Figura 21.2 Fratura das diáfises da tíbia e da fibula, com
definir a posição dos fragmentos da fratura (Fig. 21.2 a 100% de deslocamento lateral.
21.4). Ao descrevê-las, é importante avaliar:
1. Localização: terço proximal, médio ou distai exame clínico minucioso, determina o plano de manejo
2. Tipo: transversa, oblíqua, espiral ou cominutiva subsequente.
3. Deslocamento: porcentagem de contato da superfície Como antes mencionado, o dano neurovascular no
de fratura momento da lesão é incomum, embora as lesões graves
4. Angulação: valgo ou varo do fragmento distai possam apresentar-se com ruptura incompleta ou comple
ta das estruturas neuro vasculares.
Lesões associadas
A síndrome compartimentai é um achado frequente de A xiom a: Qualquer paciente com fratura da tíbia e dor que
pois das fraturas de tíbia. A avaliação clínica e a docu aumenta de 24 a 48 horas depois da imobilização gessada
deve levantar a suspeita de síndrome compartimentai.
mentação devem refletir que o profissional considerou
esse diagnóstico. As fraturas da tíbia são a causa mais
comum da síndrom e com partim entai, respondendo Tratamento
por 36% de todos os casos. A incidência de síndrome O manejo de emergência das fraturas da diáfise da tíbia
compartimentai após as fraturas da diáfise da tíbia é inclui a imobilização com tala longa, com o joelho em 10
de 4,3%. É três vezes mais comum em indivíduos com a 15° de flexão e o tornozelo flexionado em 90°. A tala
mais de 35 anos. deve estender-se desde a metade da coxa até as cabeças
A evidência de uma síndrome compartimentai está metatarsais. A redução de emergência de uma fratura fe
quase sempre presente dentro das primeiras 24 a 48 ho chada é indicada quando houver comprometimento vascu
ras após a lesão. Os compartimentos musculares devem lar que ameace o membro.
ser palpados em busca de sensibilidade dolorosa ou As fraturas expostas podem ser suavemente limpas e
tensão. A dor com estiramento passivo deve ser notada, cobertas com curativo. A profilaxia do tétano (quando in
bem como a sensibilidade entre o primeiro e o segundo dicado) e os antibióticos parenterais devem ser iniciados.
dedos do pé como indicador da função do nervo fibular. O debridamento cirúrgico de emergência com fixação ex
Se houver suspeita de síndrome compartimentai, a con terna ou interna é recomendado.
sulta ortopédica de emergência é recomendada. A de A consulta ortopédica de emergência é aconselhada
terminação das pressões compartimentais, além de um em pacientes com fraturas da diáfise da tíbia devido à alta
Emergências Ortopédicas 485
Complicações
As fraturas de diáfise da tíbia e da fíbula apresentam di
versas complicações significativas.
1. Não união ou união retardada
2. Síndrome compartimentai
3. Dor ou rigidez articular crônica
Apresentação clínica
O paciente relata o aparecimento insidioso de dolorimento
ou dor incômoda na perna, que aumenta com a atividade.
Eventualmente, se não tratada, a dor torna-se contínua,
mesmo em repouso e durante a noite. Pode haver sensibi
lidade dolorosa localizada, com algum edema de tecidos
moles sobre o local da fratura, que fica, na maioria das
vezes, no terço superior da perna.
Imagens
As radiografias inicialmente obtidas são negativas, e a
Figura 21.5 Fraturas da diáfise da fíbula. condição pode não ser diagnosticada. Entretanto, de duas
Emergências Ortopédicas 487
semanas a três meses mais tarde, uma linha fina e trans necessários. Os agentes anti-inflamatórios não esteroides
versa com reatividade periosteal junto a uma ou ambas são evitados, devido aos efeitos inibitórios sobre a consoli
as corticais estará presente. Outros exames diagnósticos dação óssea. A retomada gradual da atividade entre o pri
incluem a cintilografia óssea e a ressonância magnética meiro e o segundo mês após a fratura é necessária para que
nuclear (RMN). A cintilografia óssea é muito sensível e ocorra a consolidação. O desenvolvimento de dor durante
revela uma área focal de captação em todas as três fases. J esse período requer redução no nível da atividade.
A RMN é mais específica do que a cintilografia óssea, As fraturas de estresse na cortical anterior da tíbia
porém, o seu custo é mais elevado.1 são tratadas com gessado ou fixação cirúrgica. Se hou
ver suspeita de fratura de estresse cortical anterior, o pa
Tratamento ciente deve ser imobilizado e receber muletas enquanto
As fraturas de estresse tibial são tratadas mais frequente aguarda os exames e o encaminhamento definitivo para
mente de forma conservadora. O repouso e as órteses são um ortopedista.
O médico da emergência não deve esperar pelo de sia sobre a distribuição do nervo tibial posterior ao longo
senvolvimento da queda do pé ou das parestesias, já que da sola. O paciente também tem tensão e sensibilidade do
são achados tardios. Com o aparecimento de dor intensa lorosa ao longo da parte distai e medial da perna. Todos
sobre o compartimento anterior, existe perda de função, esses sinais podem ficar evidentes dentro de duas horas
de forma que se toma quase impossível contrair os mús até seis dias a partir da lesão.
culos dentro do compartimento. O alongamento passivo
dos músculos causa dor acentuada. A pele sobre o com Tratamento
partimento fica eritematosa e brilhante, quente e dolorosa Se houver suspeita desse diagnóstico, as pressões compar
à palpação, e com uma sensação “de madeira”. timentais devem ser medidas no setor de emergência. A
A síndrome compartimentai anterior pode ser con pressão compartimentai pode ser rápida e facilmente me
fundida com espasmos musculares, dores na canela ou dida usando um monitor comercialmente disponível que é
contusões. Entretanto, se o examinador estiver ciente alimentado por bateria (Stryker STIC monitor). Uma des
de que as condições previamente mencionadas podem crição dessa técnica está disponível no Capítulo 4.
resultar em síndrome compartimentai, ele chegará ao A pressão compartimentai normal é < 10 mmHg.
diagnóstico. As pressões superiores a 20 mmHg devem determinar a
pronta hospitalização e a consultoria cirúrgica. Pressão de
Axioma: No momento em que um paciente se queixar de 30 a 40 mmHg é geralmente considerada indicação para
dor intratável na frente da p ern a co m alguma perda na dor- uma fasciotomia de emergência na sala de cirurgia.
siflexão dos dedos do pé e do próprio pé , a síndrome com A fasciotomia é realizada com uma incisão longitu
partimentai anterior deve ser suspeitada. dinal da pele acima do compartimento. A fáscia subja
cente é dividida ao longo do comprimento do compar
timento, permitindo que o músculo contido se expanda.
Síndrome compartimentai posterior profunda
A fasciotomia executada precocemente (i.e., menos de
O compartimento posterior profundo inclui o flexor longo 12 horas depois do aparecimento dos sintomas) resulta
dos dedos, o tibial posterior e o flexor longo do hálux, no retomo à função normal em 68% dos pacientes, en
como também a artéria e o nervo tibial posterior. O septo quanto somente 8% daqueles com fasciotomias feitas
cruciforme transverso forma a parede posterior do com depois de 12 horas readquire a função completamente
partimento, enquanto a membrana interóssea forma a pa normal. Uma taxa de complicação de 54% é vista com a
rede anterior. fasciotomia retardada, comparada a somente 4,5% com a
O quadro clínico dessa síndrome é complicado pelo fasciotomia precoce. Quando todos os quatro compar
envolvimento de outros compartimentos circundantes. timentos estiverem envolvidos na síndrome, uma fascio
Entretanto, existe aumento da dor à extensão passiva dos tomia com incisão dupla ou uma fibulectomia tem sido
dedos do pé e fraqueza da flexão, como também hipoeste- preconizada.
Emergências Ortopédicas 489
SÍNDROME COMPARTIMENTAI CRÔNICA efeito. Uma vez que o diagnóstico de SCCE seja esta
DO EXERCÍCIO belecido, é recomendada a fasciotomia do compartimento
! •i 17,27,39,40
envolvido.
A síndrome compartimentai crônica do exercício (SCCE)
ocorre após esforços físicos, quando a pressão intramus-
cular aumenta. O edema depois da atividade vigorosa DORES NA CANELA
resulta em um aumento de até 20% no volume muscular. O termo “dor na canela” refere-se à síndrome de dor na
A maioria dos casos ocorre depois do uso crônico exces perna ao correr e deve excluir as fraturas de estresse, as
sivo em um atleta, embora casos agudos também tenham hérnias fasciais ou os distúrbios isquêm icos.1 Essa
sido descritos.“' A SCCE passa despercebida em 14% dos condição também é chamada de síndrome do sóleo e de
casos depois de consultas repetidas e, em alguns estudos, síndrome do estresse tibial medial (SETM). A SETM é,
o erro diagnóstico é muito mais alto. atualmente, a terminologia preferida. A hiperpronação do
pé, o uso excessivo, o aumento súbito na intensidade dos
Apresentação clínica exercícios ou a alteração na superfície de treinamento po
A história clínica de SCCE da perna é na maioria das ve dem precipitar a SETM. O resultado é uma periostite de
zes aquela de um atleta que descreve dor recorrente na tração induzida pelo músculo na borda posteromedial da
.r , ■ 17,42
área do compartimento afetado durante a atividade. A dor tíbia.
é descrita como um dolorimento ou uma rigidez e pode
estar localizada sobre o compartimento envolvido. A Apresentação clínica
dor pode não se desenvolver até 24 a 48 horas depois do A SETM habitualmente ocorre cedo, no período de treina
evento précipitante. Depois de um período de repouso, mento de atletas ao correr em superfícies duras. A dor da
a dor cede, recorrendo outra vez com a execução do mes SETM é um dolorimento contínuo. O local mais comum
mo exercício. Em alguns pacientes, as parestesias podem da dor é a superfície posteromedial dos dois terços distais
ocorrer sobre o nervo envolvido. A condição é bilateral da perna.
em mais de 80% dos pacientes. A maioria dos casos en-
25 30—35
volve os compartimentos anterior ou posterior.“ ’ Exame
Ao exame, o retropé está posicionado em valgo e o an-
Exame
tepé hiperpronado. A sensibilidade dolorosa palpável é
O paciente tem poucos achados definitivos ao exame. produzida sobre a borda posteromedial da tíbia distal. A
Em alguns casos estarão presentes uma sensação de enchi percussão sobre essa área da tíbia causa dor, enquanto as
mento de tecidos moles, edema e espessamento. A perda amplitudes passivas ou ativas do movimento do tornozelo
da sensibilidade no aspecto plantar está associada à SCCE são indolores.
do compartimento posterior profundo, enquanto as pares
tesias no dorso do pé podem estar presentes com o envolvi Diagnóstico
mento do compartimento anterior.
O diagnóstico é mais frequentemente feito pela cintilogra
fia óssea que revela captação difusa e linear. Entretanto,
Diagnóstico
tanto as radiografias simples como a cintilografia óssea
Quando houver suspeita dessa síndrome em bases clíni podem ser normais. A RMN ajuda a diferenciar a SETM
cas, uma cintilografia óssea deve ser obtida para afastar a das fraturas de estresse.
possibilidade de uma fratura de estresse ou periostite (dor
na canela). A RMN pode revelar aumento na intensida Tratamento
de de sinal entre as imagens de repouso e pós-exercício.
Muitas formas de tratamento para as dores na perna têm
O diagnóstico definitivo é estabelecido pelas medidas da
sido preconizadas, mas, geralmente, a dor não cede até
pressão intracompartimental que revelam uma pressão
que o paciente pare de correr. O tratamento básico é com
compartimentai pré-exercício de mais de 15 mmHg ou
repouso, gelo e analgésicos. Os agentes anti-inflamatórios
uma pressão compartimentai pós-exercício superior a 30
não esteroides devem ser evitados se houver suspeita de
mmHg, um minuto depois do exercício, ou acima de 20
fratura de estresse.
mmHg cinco minutos depois do exercício.
produzindo dor intensa, causada pelo aumento da pressão ser alertados de que o retorno precoce à atividade antes
compartimentai anterior; (2) na porção subcutânea da tí da completa cicatrização pode acarretar um risco de le
bia a qual, por causa da localização superficial da tíbia, são adicional no músculo. Os agentes anti-inflamatórios
muitas vezes resulta em uma p erio stite traum ática ; (3) no não esteroides têm algum benefício inicialmente durante
compartimento posterior, que é menos comum e não tão o tratamento, para o controle da dor e melhoria funcional;
dolorosa como nas contusões do compartimento anterior; entretanto, o uso a longo prazo desses agentes, além de
(4) na região lateral, onde o nervo fibular se enrola em dois a três dias, é prejudicial para o processo de reparo.
tomo da fíbula proximal. As contusões lateralmente acima Uma pergunta comum é relacionada à utilidade do
da fíbula proximal podem produzir neurite dolorosa ou até alongamento para prevenir as distensões musculares. Os
a paralisia transitória do nervo fibular com equinismo se estudos clínicos têm demonstrado que o alongamento pa
cundário do pé. rece ser benéfico, mas ir além de 70% da força contrátil
Um hematoma pode se formar no local da contusão do músculo o tornam mais propenso a lesões. Assim, ao
e, se isso ocorrer no compartimento anterior, o paciente fazer o alongamento antes de correr ou outras atividades,
pode apresentar uma emergência cirúrgica, requerendo deve-se usar força mínima. A viscoelasticidade é sabida
fasciotomia para prevenir a isquemia e subsequente ne mente dependente da temperatura e o aquecimento é con
crose muscular. siderado na proteção contra a distensão muscular.
O tratamento dessas lesões é dependente da extensão
do dano e das estmturas envolvidas. Se houver um he Ruptura
matoma recente e palpável, ele pode ser aspirado usando
uma técnica asséptica, sendo a aspiração seguida por um Gastrocnêmio e sóleo
enfaixamento compressivo e aplicação de gelo nas 12 ho A ruptura do gastrocnêmio ou do sóleo pode ocorrer em
ras seguintes. Se a contusão for limitada ao envolvimento qualquer lugar, desde a inserção no fêmur até a sua inser
muscular difuso, o tratamento inicial deve incluir com ção no calcâneo, que é o local mais comum de ruptura (ao
pressas de gelo e repouso da extremidade com elevação longo da junção musculotendínea). Para mais informações
nas primeiras 48 horas. sobre a ruptura do tendão do calcâneo, ver o Capítulo 22.
Em contusões que envolvem o nervo fibular, o pacien O paciente relata dor e edema, com sensibilidade
te apresenta edema local e dor. O paciente relata pareste- dolorosa difusa sobre a panturrilha. Tanto a contração
sias, com irradiação da dor para a área lateral da perna, ativa como o alongamento passivo causam dor ao longo
estendendo-se até o pé. O formigamento e a dormência do músculo. O músculo pode amontoar-se com qualquer
permanecem depois de a dor desaparecer. Os pacientes tentativa de contração. O reparo cirúrgico está indicado
com contusões graves no nervo fibular comum terão os em rupturas completas. Em pacientes com rupturas par
sintomas iniciais seguidos de sensação de pressão sobre ciais, um gessado em equino é usado até que a cicatriza
o nervo e perda funcional. A hipoestesia sensitiva e a fra ção seja alcançada. Para detectar uma ruptura completa,
queza dos dorsiflexores estão presentes. Este período de o médico deve colocar o paciente em decúbito ventral,
perda funcional é seguido por um período no qual a fun com os pés pendentes sobre a extremidade da mesa.
ção do nervo retoma; inicialmente quando a sensibilidade, Aperte a panturrilha e veja se ocorre espontaneamente a
seguida pela função motora. O retomo da função do nervo flexão plantar. Se isto não ocorrer, suspeitar de ruptura
pode ser completo ou parcial. completa.
O tratamento para contusão do nervo é inicialmente
inespecífico, com compressas de gelo seguidas de aplica Plantar
ções de calor em 48 horas. Se for observada uma paresia, É um músculo do tamanho de um lápis, com origem no
os músculos devem ser protegidos apoiando o tornozelo e côndilo lateral do fêmur e que passa por baixo do sóleo
o pé em um imobilizador. O pé é mantido em posição neu para se inserir no tendão do calcâneo. Em pacientes com
tra. Em pacientes nos quais a contusão é seguida por um ruptura do plantar, a dor é notada profundamente na pan
período quiescente e uma paralisia rápida, a exploração turrilha, podendo ser incapacitante. O paciente pode rela
cirúrgica é justificada. Quando a paralisia for imediata, tar ter ouvido um estalo súbito na parte posterior da perna,
uma abordagem mais conservadora é habitualmente con seguido de uma dor profunda e constante. O reparo não é
siderada. O encaminhamento está indicado em todos os necessário nesses casos; apenas o tratamento sintomático
pacientes com envolvimento de nervo. é indicado.
riostite. Mais tarde, aparece uma massa bem-localizada, 16. Boden BP, Osbahr DC. High-risk stress fractures: Evaluation
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Capítulo 22
Tornozelo
INTRODUÇÃO são lesam a articulação do tornozelo em lugar da articu
lação subtalar.
As lesões de tornozelo são comuns e respondem por 30% Para entender os distúrbios que ocorrem ao redor
de todas as lesões esportivas. No setor de emergência, as dessa articulação essencial, o médico da emergência
lesões do tornozelo representam 12% das lesões traumá deve ter bom conhecimento das estruturas fundamentais
ticas. As lesões ligamentares são mais comuns do que as de tecidos moles que a cercam. Essas estruturas são mais
fraturas em uma relação de 5:1. É importante que o mé adequadamente divididas em três “camadas” que circun
dico da emergência tenha uma compreensão minuciosa da dam a articulação. A camada mais profunda é a cá p su la ,
anatomia funcional, dos padrões de fratura e das lesões de que contém os ligamentos do tornozelo; a camada média
tecidos moles. inclui os tendões, que percorrem a articulação até o pé; e
a camada mais superficial é composta das b a n d a s fib r o
Anatomia funcional sas (retináculos), que seguram os tendões durante a sua
O tornozelo é composto das extremidades distais da tí ação no pé.
bia e da fíbula, que formam um encaixe para o tálus.
Camada capsular
O tornozelo era descrito, no passado, como uma articu
lação de dobradiça, mas se assemelha com mais preci A cápsula circunda a articulação do tornozelo. É mais
são a uma articulação tipo selar. O domo ou sela talar frágil anteroposteriormente, mas é reforçada lateral e
é mais largo anterior do que posteriormente (Fig. 22.1). medialmente por ligamentos. O lig a m e n to a n te rio r é
Com a dorsiflexão, o domo talar se ajusta firmemente fino, conecta a tíbia anterior até o colo do tálus, e é en
no encaixe do tornozelo, criando maior estabilidade em volvido em rupturas extensas dos ligamentos laterais.
comparação com a flexão plantar (Fig. 22.2). Tendo isso O lig a m en to p o ste rio r é mais curto do que a sua contra
em mente, é fácil ver por que a maioria das lesões no partida anterior e estende-se desde a tíbia posterior até o
tornozelo ocorre quando o tornozelo e o pé estão e m f l e tálus posterior.
x ã o p la n ta r. Os ligam entos laterais são os mais comumente le
O único movimento “puro” que ocorre na articulação sionados do corpo. Eles são divididos em três componen
do tornozelo é a flexão plantar e dorsal. A inversão e a tes importantes. Estendendo-se desde o maléolo lateral
eversão ocorrem na articulação subtalar, formada pelo até o colo do tálus está o ligam ento talofibular a n terio r
tálus e pelo calcâneo. A articulação subtalar é muito forte, (LTFA), o ligamento mais comumente lesionado no tor-
com firme suporte ligamentar, e o tálus deve sempre ser
considerado como tendo o movimento na mesma direção
que o calcâneo. Em função da resistência da articulação
talocalcânea, a maioria dos estresses de inversão ou ever-
Domo talar
Ligamento tibiofibular
posteroinferior
Membrana interóssea
Ligamento talofibular
anterior Ligamento
calcaneofibular
deltoide
Figura 22.3 O s ligamentos essenciais do aspecto anterior e lateral do tornozelo e da sindesmose tibiofibular.
nozelo. Do maléolo lateral até o tubérculo posterior do mais profunda das quatro estruturas. A porção do deltoide
tálus está o ligam ento ta lofibular p o ste rio r (LTFP) e do que conecta desde o maléolo medial até o calcâneo tem o
maléolo lateral até o calcâneo se estende o ligam ento ca l nome de ligam ento tibiocalcaneano e tem sua inserção no
caneofibular (LCF) (Fig. 22.3). sustentáculo do tálus (Fig. 22.4).
Proximal aos ligamentos laterais, a fibula é conectada Um ligamento importante que não é incluído na
à tíbia por uma série de estruturas fibrosas fortes, forman cápsula do tornozelo, mas é envolvido em lesões do tor
do a sindesm ose tibiofibular. Essa estrutura é composta nozelo e na parte média do pé, é o ligam ento m ola. Tal
pelo ligamento interósseo que conecta a tíbia e a fibula ligamento se estende desde o sustentáculo do tálus até o
ao longo de seu comprimento. Esse ligamento é reforçado navicular e aproxima o intervalo entre os ossos calcâneo
inferiormente por duas bandas fibrosas espessadas: o liga e navicular. Funciona dando suporte adicional à cabeça
m ento tibiofibular anteroinferior e o ligam ento tibiofibu do tálus contra o peso do corpo, é composto de tecido
lar posteroinferior. fibroso denso, cujas porções se assemelham à cartilagem
O ligamento medial é chamado de ligam ento deltoide, articular.
uma estrutura quadrangular que tem a distinção de ser o
único ligamento no tornozelo que contém tecido elástico, Camada tendínea
apresentando a capacidade de estirar, em vez de romper. Uma série de tendões é superficial à cápsula do tornozelo,
O ligamento deltoide é composto de quatro bandas mis mas nenhum deles se insere no próprio tornozelo, embora
turadas entre si, e estendendo-se desde o maléolo medial todos percorram essa articulação e sejam importantes ao
até o navicular, o tálus e o calcâneo. Duas bandas do del considerar suas lesões associadas. Esses tendões são sub
toide se estendem até o tálus, uma chamada de lig a m en divididos em dois grupos, os extensores e os fle x o re s do
to tib io ta la r anterior, inserindo-se no colo do tálus, e a pé. Os extensores passam anteriormente à articulação do
outra chamada de ligam ento tibiotalar posterio r, que é a tornozelo, os flexores passam posteriormente ao maléolo
medial. Um terceiro grupo são os tendões fib u la res, que
passam posteriormente ao maléolo lateral (Fig. 22.5A).
As bainhas sinoviais, algumas com até 8 cm de compri
mento, circundam esses tendões.
Camada retinacular
Há três divisões de bandas fibrosas espessas, superfi
cialmente aos tendões, que mantêm os tendões em seus
lugares. Essas divisões seguem a mesma classificação
que os tendões, e são denominadas de re tin á c u lo s ex-
Figura 22.4 O s ligamentos mediais do tornozelo. ten so r, fle x o r e fib u la r . O extensor é dividido em reti-
Emergências Ortopédicas 495
Retináculo extensor
superior
Retináculo extensor
inferior
Fibulares
Retináculo fibular
superior Retináculo fibular
inferior
Flexores
A B
Figura 22.5 A. Os tendões que percorrem a articulação do tornozelo estão superficiais à camada capsular e são cercados por bai
nhas sinoviais. B. O s tendões são mantidos no lugar por bandas fibrosas.
n á cu lo e x ten so r su p e rio r e e x ten so r in ferio r. O retiná Esses movimentos devem ser entendidos antes de
culo flexor consiste em uma banda fibrosa que cruza qualquer discussão adicional sobre as fraturas que ocor
posteriormente ao maléolo medial. O retináculo fibular rem nessa articulação. Esses termos serão usados ao
tem duas divisões, o fib u la r su p e rio r e o fib u la r in ferio r discutir as lesões do tornozelo ao longo desse capítulo.
(Fig. 22.5B). Nas lesões do tornozelo, as forças de inversão e eversão
são comuns e perpendicularmente direcionadas para fazer
Exame a flexão dorsal ou plantar do tornozelo.
Os movimentos do tornozelo e do pé são descritos em vá
rios termos intercambiáveis (Fig. 22.6). Imagens
C D
E F
é obscurecido pela fíbula. A incidência lateral fornece a fícios adicionais da implementação dessa regra de decisão
melhor visualização dos aspectos posteriores da tíbia, da incluem a redução dos custos e o menor tempo de espera,
fíbula, do calcâneo e do tálus. sem qualquer efeito sobre a satisfação do paciente.
As radiografias do tornozelo respondem por 10 a Desde o início, esse instrumento tem sido validado
15% de todas as radiografias traumáticas. As regras de em múltiplos contextos clínicos ao redor do mundo e
tornozelo de Ottawa foram desenvolvidas para predizer pode ser usado tanto por médicos como por enfermei
fraturas e para reduzir o número de radiografias obtidas ros.1 Uma metanálise de 32 estudos relatou sensi
(Fig. 22.8). ’7Usando o exame físico, os autores detecta bilidade perto de 100%, com redução de 30 a 40% no
ram 100% de todas as fraturas maleolares significativas e número de radiografias. As tentativas de validar essas
reduziram em 36% as radiografias do tornozelo. Os bene regras em crianças têm produzido resultados mistos.
Emergências Ortopédicas 497
De modo específico, o profissional deve ser cauteloso ao nal deve considerar a tomografia computadorizada (TC).
atender crianças em idade pré-escolar. As radiografias simples apresentaram somente 85% de
Quando houver suspeita clínica de uma fratura, mas sensibilidade para detectar fraturas do tornozelo em com
não estiver evidente nas radiografias simples, o profissio paração à TC de multidetecção.
Borda posterior ou ponta Vista lateral Vista medial Borda posterior ou ponta
do maléolo lateral do maléolo medial
Uma série de radiografias do pé somente é necessária se Uma série de radiografias do tornozelo somente é necessária
houver dor no mediopé e quaisquer desses achados: se houver dor no tornozelo e quaisquer destes achados:
1. Sensibilidade dolorosa na base do 5a metatarsal 1. Sensibilidade dolorosa no maléolo lateral (aspecto posterior)
2. Sensibilidade dolorosa do navicular 2. Sensibilidade dolorosa no maléolo mediai (aspecto posterior)
3. Incapacidade de apoiar tanto imediatamente como no setor 3. Incapacidade de apoiar tanto imediatamente como no setor
de emergência de emergência
Figura 22.8 As regras de tornozelo de Ottawa. (M odificada de Stiell IG , Greenberg G H , M cKnight RD, et al. Decision rules for the
use of radiography in acute ankle injuries: Refinement and prospective validation. JAMA 19 9 3 ;2 6 9 :1 127. Copyright 2010 American
M edical Association. Todos os direitos reservados.)
498 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
FRATURAS DO TORNOZELO
O tornozelo sustenta mais peso por unidade de área do Com o pé supinado, as estruturas laterais do tornoze
que qualquer outra articulação no corpo. É essencial que lo sofrem estresse. A força de rotação externa ou adução
o médico perceba que as fraturas do tornozelo e as lesões aplicada no tornozelo resulta, inicialmente, em fratura
ligamentares muitas vezes coexistem, e qualquer plano da fíbula distai. Se uma força de rotação externa for apli
de tratamento deve incluir ambos os tipos de lesões. cada, a fratura da fíbula será oblíqua e distai (Fig. 22.9).
As fraturas do tornozelo são amplamente divididas As forças de adução resultam em fratura transversa distai
em decorrentes de forças rotacionais (i.e., as fraturas ma- da fíbula (Fig. 22.10). Quantidades crescentes de força
leolares) e em secundárias a forças de carregamento axial causam fratura do maléolo posterior e do maléolo medial
(i.e., as fraturas do pilão). (ou ruptura do ligamento deltoide). A fratura do maléolo
posterior é o resultado da avulsão do ligamento tibiofibu-
FRATURAS MALEOLARES lar posteroinferior. A supinação com rotação externa é o
mecanismo mais comum de fratura no tornozelo, respon-
Existem muitos sistemas de classificação para descrever dendo por 85% dos casos.1
as fraturas do tornozelo causadas por forças rotacionais. Em pronação, as estruturas mediais do tornozelo é
Os três mais comuns incluem os sistemas de classifica que ficam sob estresse. As forças de rotação externa ou
ção de Lauge-Hansen, de Weber e do anel fechado de abdução aplicadas ao tornozelo pronado resultam, ini
Neer. cialmente, em fratura do maléolo medial (ou ruptura do
O siste m a d e c la ssific a ç ã o d e L a u g e -H a n se n foi ligamento deltoide) e, em última instância, conforme
desenvolvido em 1949 por Niels Lauge-Hansen. Esse a força aumenta, uma fratura transversa proximal da
sistema leva em consideração a posição do pé e do tor fíbula (Figs. 22.11 e 22.12). A fratura por pronação e
nozelo no momento da lesão. A primeira palavra refe- rotação externa (PRE) da fíbula fica acima do nível da
re-se à posição do pé no momento que a força lesiva é sindesmose fibular tibial e resulta em mptura completa
aplicada - supinação ou pronação; e a segunda palavra ou parcial dos ligamentos sindesmóticos. A fratura da
refere-se à sua direção - rotação externa (eversão), ab fíbula em lesões de PRE pode ser bem proximal, no ní
dução ou adução. Por meio de estudos realizados em ca vel do colo da fíbula.
dáveres, o autor verificou que a sequência de estmturas O sistem a de classificação de W eber classifica as fra
feridas era similar e reproduzível, conforme aumentava turas do tornozelo pelo nível que elas ocorrem na fíbula
a força da lesão. (Fig. 22.13). As fraturas da classe A ficam abaixo do nível
da sindesmose tibiofibular distai. As da classe B ocorrem
Força de rotação
externa (eversão)
no nível da sindesmose, e as da classe C estão acima da requerem somente reparo cirúrgico se as estruturas me
sindesmose. As fraturas da classe A eram consideradas diais estiverem lesionadas. Além disso, o nível da fra
estáveis, não requerendo reparo cirúrgico, enquanto as tura da fíbula nem sempre prediz a necessidade de reparo
da classe B eram tratadas por estabilização fibular, e as sindesmótico. Por essas razões, a classificação de Weber
da classe C necessitavam de estabilização fibular e reparo é pouco usada.
sindesmótico. Esse sistema de classificação era atraente, O sistem a d e c la ssifica çã o do a n el fe c h a d o é fácil
por sua simplicidade e porque se acreditava que guiasse de entender e de aplicar. No sistema de classificação do
a terapia. Infelizmente, a classificação de Weber ignora anel fechado, o tornozelo é considerado como um anel
a lesão medial, que agora é considerada com maior im de ossos e ligamentos que circunda o tálus (Fig. 22.14).
portância. As fraturas da classe B, que são mais comuns, O anel, nesse conceito, é composto pela tíbia, pelo liga-
Exam e
O exame deve começar com a avaliação da condição neu-
rovascular. Os pulsos, o enchimento capilar e a sensibili
dade são testados. É observado se há deformidade grossei
ra do tornozelo. O grau de edema e a presença de bolhas
ou lacerações afetam o manejo do paciente.
O pé e o joelho são examinados na busca de lesões
associadas. Todo comprimento da fíbula é palpado na
procura por evidência de fratura mais proximal da fíbula,
consistente com a lesão de Maisonneuve.
O tornozelo é palpado em busca de sensibilidade do
lorosa. O médico da emergência deve dirigir a atenção ao
maléolo medial após as lesões rotacionais do tornozelo.
A sensibilidade dolorosa, o edema ou a equimose nessa
área sugerem a possibilidade de lesão das estruturas me
diais (fratura do maléolo medial ou ruptura do ligamento
deltoide). Se quaisquer desses achados estiverem presen
tes, o médico da emergência deve olhar com atenção espe
cial a essas estruturas nas radiografias simples. A ausência
de sensibilidade dolorosa medial afasta a ruptura aguda do
36
ligamento deltoide ou fratura do maléolo medial.
A B C
do tornozelo é o fator mais importante a considerar ao em uma fratura bimaleolar), os resultados satisfatórios são
tratar essas lesões. As lesões estáveis são tratadas de for obtidos em apenas 65% dos pacientes tratados por meios
ma conservadora, enquanto as lesões instáveis requerem fechados versus 90% dos tratados com cirurgia. A de
a fixação cirúrgica. terminação da estabilidade requer a revisão das radiogra
Foi determinado que o estabilizador primário do tor fias simples, bem como um exame físico minucioso.
nozelo não é constituído pelos elementos laterais, con
forme proposto por Weber, mas pelas estruturas mediais Estáveis. As lesões estáveis não requerem nenhuma re
(maléolo medial, ligamento deltoide). Uma fratura dução e têm prognóstico excelente. Os exemplos de fratu
da fíbula não resulta em movimento talar anormal, desde ras estáveis do tornozelo incluem as fraturas isoladas da
que as estruturas mediais estejam intactas. Múltiplos fíbula distai (comuns) e algumas fraturas isoladas e distais
estudos confirmaram esse fato, demonstrando desfechos do maléolo medial. Inicialmente, essas lesões são tratadas
bem-sucedidos a longo prazo de fraturas isoladas da fíbu com uma tala posterior (Apêndice A.14), muletas, eleva
la que foram tratadas por métodos fechados.4' Pelo con ção e gelo até que o edema ceda. O manejo definitivo das
trário, quando o maléolo medial estiver envolvido (como fraturas isoladas da fíbula distai inclui bota gessada ou
órtese para marcha por quatro a seis semanas/ A meta
da terapia é a proteção de lesão adicional e os resultados
são similares, até mesmo quando um tênis de cano alto é
usado para imobilização.
Embora a maioria das fraturas do maléolo medial seja
tratada com cirurgia, uma avulsão pequena pode ser tra
tada de forma conservadora se for distai e minimamente
deslocada.
Figura 22.20 A fratura oblíqua da fíbula é visível em ambas as radiografias. A . A distância entre o domo talar e o pilão tibial é
igual a distância entre o maléolo medial e o tálus, indicando fratura estável. B . O desvio talar lateral está presente, representando a
ruptura do ligamento deltoide e a fratura instável {seta). Essa lesão também é chamada de fratura equivalente bimaleolar.
e estabilidade adicionais devem ser usados (Vídeo 22.1 e Embora essas lesões fossem tradicionalmente trata
Apêndice A. 14). Os filmes para confirmar a redução são das de forma cirúrgica, com hospitalização, um período
obtidos. Se a redução não puder ser realizada (interposi de manejo ambulatorial antes da fixação está se tornando
ção de tecidos moles ou fragmentos impactados) ou man comum. As indicações para hospitalização incluem falta de
tida (fratura grande do maléolo posterior), a intervenção cooperação do paciente, falta de suporte social, incapacida
cirúrgica urgente é necessária. A consulta ortopédica deve de de lidar com muletas ou lesões significativas associadas.
ser obtida. Mais informações sobre as fraturas-luxações O momento da cirurgia depende de vários fatores, in
do tornozelo são fornecidas na seção seguinte. cluindo o tipo de fratura, a condição dos tecidos moles e
Figura 22.21 Fratura equivalente trimaleolar. Observar as fraturas da fíbula distai e do maléolo posterior, bem como o desloca
mento talar lateral.
504 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
Anterior (diástase)
Figura 22.22 Radiografia com estresse da gravidade. Figura 22.23 Fraturas-luxações do tornozelo.
as lesões associadas. Mesmo quando o edema intenso de do pé, como ocorre durante uma queda sobre o calcanhar
tecidos moles, as bolhas da fratura ou as escoriações retar com o pé dorsifletido.
darem a cirurgia, nenhum desfecho adverso é observado.
Exam e
Im a g e n s
Sempre que houver suspeita de uma fratura-luxação de
tornozelo, avaliar a integridade vascular antes de obter
radiografias para excluir o comprometimento. Se houver
perfusão adequada do pé, uma radiografia rápida pode ser
obtida antes da redução (Fig. 22.26).
T ra ta m en to
Como dito anteriormente, a redução precoce é a preferên
cia após as lesões fechadas. As fraturas-luxações expostas
somente são reduzidas no setor de emergência se estive
rem associadas a comprometimento vascular. A anestesia
é administrada usando a sedação, de acordo com as dire
trizes delineadas no Capítulo 2.
A flexão de 90° do quadril e do joelho é recomendada
em todos os casos de fraturas-luxações de tornozelo para
relaxar o complexo gastrocnêmio-sóleo e para permitir a
redução mais fácil. Ela é mais adequadamente alcança
da com um assistente que prenda a extremidade inferior
do paciente no joelho e forneça a contratração durante a
tentativa de redução (Fig. 22.27)/ Alguns médicos sus
pendem o pé e a perna para permitir a ajuda da gravidade
na redução. Isso pode ser alcançado com correias ou com
ataduras de gaze enroladas no primeiro e no segundo de
dos do pé. Como alternativa, o pé pode ser suspenso por
B um pedaço de malha colocado na perna, enrolado até a
Figura 22.25 A . Fratura-luxação posterolateral do tornozelo. coxa, e que vai distai aos dedos do pé. Ambos os métodos
Notar o aspecto tenso da pele medialmente. B. Fratura-luxação ajudam a aplicar a tala após a redução.
posterior do tornozelo. O pé está em flexão plantar e parece As fra tu ra s-lu xa çõ es laterais são relativamente sim
encurtado. ples de reduzir e envolvem a tração axial com uma das
Figura 22.26 Fraturas-luxações do tornozelo. A. Luxação lateral do tornozelo com fratura de fibula e ruptura associada do ligamen
to deltoide. B. Luxação posterior. C. Luxação superior. (Fotografia: cortesia de Kris Norland , MD.)
506 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
FRATURAS DO PILÃOTIBIAL
As fraturas intra-articulares da tíbia distai são chamadas de
fraturas do plafond (teto, em francês). Essas fraturas são
causadas por forças rotacionais, porém são mais comuns
quando o tornozelo é submetido a uma carga axial. A fratura
por carga axial daquela região tibial é chamada de fratura
do pilão. As intra-articulares do pilão representam entre 1
a 10% de todas as fraturas da extremidade inferior.
Mecanismo de lesão
A compressão axial de alta energia é o mecanismo comum
na maioria dessas fraturas. Nesse mecanismo, a tíbia
é dirigida para baixo sobre o tálus, resultando em fratu
ra intra-articular cominutiva da tíbia distai. As fraturas de
baixa energia do pilão também ocorrem, e estão associadas
a menos complicações por ter grau menor de cominução e
lesão de tecidos moles. As fraturas de baixa energia do
pilão podem estar relacionadas com as forças rotacionais.
A posição do tornozelo na hora do impacto axial cria
diferentes padrões de fratura (Fig. 22.30). Se o tornoze
lo estiver dorsifletido, o padrão de fratura pode ser co-
minutivo, ou uma fratura marginal anterior intra-articular
ser aparente. De modo alternativo, o tornozelo em flexão
plantar resulta em padrão marginal posterior de fratura.
Exame
O paciente apresenta dor e edema, inicialmente localiza
dos, mas que podem, mais tarde, envolver o tornozelo de
forma difusa. O examinador deve tentar produzir o meca
nismo exato da lesão e verificar com cuidado o tornozelo
na busca de sensibilidade dolorosa ou edema focal. Cerca
de 20% dessas fraturas são expostas. Os pulsos pedio-
so dorsal e tibial posterior devem ser palpados e compara
dos com a extremidade não envolvida. O edema ou a equi
mose que circundam o tendão do calcâneo podem indicar
fratura do maléolo posterior.
Imagens
As incidências de rotina, incluindo as vistas nas AP, lateral e
do encaixe são adequadas (Figs. 22.31 e 22.32). As fraturas
do pilão com frequência requerem uma TC para delinear de
forma completa a extensão da lesão. A TC do tornozelo é
obtida pré-operatoriamente e muda o plano de tratamento
do cirurgião em 64% das vezes. 7,60 Figura 2 2 .3 0 A posição do pé no momento da lesão prediz
qual porção do pilão tibial está fraturada.
Lesões associadas
Depois de uma lesão de compressão axial, podem ser vis O manejo definitivo dessas lesões varia desde o uso de
tas fraturas de compressão do calcâneo e das vértebras. A gessado até a redução aberta com fixação interna (RAFI)
síndrome compartimentai da perna também é vista após e, mais recentemente, fixação externa. ’ O tratamento
essas lesões de alta energia. conservador é pouco empregado e fica restrito a lesões de
baixa energia e sem deslocamento articular. A RAFI pode
Tratamento ser executada quando a fratura não estiver associada com
O manejo de emergência das fraturas do pilão inclui gelo, dano excessivo de tecidos moles (em geral em decorrência
elevação, imobilização em uma tala bem-acolchoada de mecanismo de baixa energia). A RAFI após as lesões
57
(Apêndice A. 14) e encaminhamento de emergência. de alta energia, com extensa lesão de tecidos moles, está
508 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
Figura 22.31 Fratura do pilão tibial devido a uma força de Figura 22.32 Fratura do pilão causada por um m ecanism o
compressão axial. rotacional de b aixa energia. Essas fraturas estão associadas
a menos lesões de tecidos moles e têm melhor desfecho fun
cio n al.
associada a uma alta taxa de complicações, tomando a fi
xação externa o tratamento de escolha.
2. A necrose da pele ou degradação da ferida após a
Complicações redução aberta de fraturas de alta energia do pilão
As fraturas do tornozelo podem desenvolver várias com tibial.
plicações significativas. A incidência de complicações 3. Má união ou não união.
graves após a RAFI do pilão tibial varia desde 10 até 4. A infecção da lesão pode ser vista após fraturas ex
55%. As complicações incluem: postas ou após o reparo cirúrgico, devido à extensa
1. Artrite traumática do encaixe talar (20 a 40%). As fra lesão de tecidos moles.
turas cominutivas do pilão tibial ou aquelas que en 5. Síndrome da dor regional complexa.
volvem pacientes idosos têm predisposição acentuada 6. Ossificação da membrana interóssea.
para desenvolver artrite. 7. Fraturas osteocondrais do domo talar.
► TABELA 22.1 Sequência das estruturas feridas com as ► TABELA 22.2 Classificação das entorses
entorses de inversão e eversão do tornozelo
Grau Sinais e sintomas
Estresse de inversão Estresse de eversão Primeiro grau Perda funcional mínima (paciente
Ligamento talofibular M aléolo mediai sofre avulsão Lesão do ligamento deambula com dor mínima)
anterior (ruptura do ligamento deltoide) sem ruptura Edema mínimo
Levemente doloroso sobre o ligamento
Ligamento calcaneofibular Ligamento tibiofibular envolvido
anteroinferior Nenhum movimento ou dor anormais
4 na testagem de estresse
Ligamento talofibular Ligamento interósseo Segundo grau Perda funcional moderada (paciente
posterior (sindesmótico) Ruptura incompleta tem dor durante a carga e a
de um ligamento deambulação)
Edema moderado, equimose e
sensibilidade dolorosa
Mecanismo de lesão Dor no movimento normal
As entorses são causadas pela inversão ou eversão forçada Instabilidade leve e dor moderada à
intensa na testagem de estresse
do tornozelo enquanto ele está em flexão plantar.
Terceiro grau Perda funcional significativa (paciente
Os estresses de inversão respondem por 85% de todas
Ruptura completa é incapaz de apoiar o peso ou
as entorses do tornozelo e resultam em lesão ligamentar
de um ligamento deambular)
lateral. Conforme a força aumenta, ocorre uma sequên Edema em forma de ovo dentro de
cia previsível de lesão às estruturas (Tab. 22.1). A cápsula duas horas da lesão
articular lateral e o ligamento tibiofibular anteroinferior Pode ser indolor com a ruptura
(LTFA) são as primeiras estruturas a serem lesionadas completa
após o estresse em inversão. A lesão isolada do LTFA está Teste de estresse positivo
presente em 60 a 70% de todas as entorses de tornozelo.
Com forças maiores, ocorre uma ruptura do LCF e, por
fim, o LTFP é lesionado. A lesão de todas as três estrutu Em en to rses de p rim e iro g r a u , existe estiramen
ras é vista em até 9% dos casos. to das fibras do ligamento, sem ruptura. O paciente se
As lesões de eversão do tornozelo têm muito menos apresenta sem perda funcional no tornozelo, e muitos
probabilidade nesse tipo de lesão de tornozelo. Além das desses pacientes não buscam cuidados, tratando-se em
estruturas listadas na Tabela 22.1, a fratura do maléolo casa. Os pacientes com entorses de primeiro grau de
lateral é vista muito mais vezes após lesão de eversão (ver monstram pouco ou nenhum edema, nenhuma dor na mo
Fig. 22.9). Quando as estruturas mediais são lesionadas, vimentação normal do tornozelo e dor leve ao ter a arti
a avulsão do maléolo medial ocorre com mais frequência culação forçada na direção da força agressora, em geral
do que a ruptura do ligamento deltoide, que é forte e elás uma inversão.
tico. Conforme a força aumenta, o ligamento tibiofibular Os pacientes com entorse de segundo grau são mais
anteroinferior e o ligamento interósseo (sindesmótico) difíceis de diagnosticar, pois significa que o ligamento
rompem (ver Tab. 22.1). As entorses de tornozelo mediai está parcialmente rompido. Isso pode incluir qualquer
respondem entre 5 a 10% de todos casos. coisa, desde apenas algumas fibras rompidas até as ruptu
A eversão do tornozelo, a rotação interna da tíbia e a ras que envolvem quase o ligamento inteiro, com somen
dorsiflexão excessiva resultam em lesão do ligamento sin te algumas fibras intactas. O paciente apresenta edema
desmótico tibiofibular. Essa lesão é denominada de “en moderado e sente dor imediata após a lesão do tornozelo.
torse alta do tornozelo”. Em uma série de rupturas liga- Isso contrasta com os pacientes com lesão de primeiro
mentares do tornozelo, foi identificada em 3% dos casos grau, que podem não saber que tiveram entorse até o dia
a ruptura isolada da sindesmose. O desenho do calçado seguinte, ou depois de um período de repouso. A entorse
não tem qualquer impacto sobre a taxa das entorses de de segundo grau é carregada de complicações, incluindo a
tornozelo. possibilidade de frouxidão ligamentar e recorrências devi
do à instabilidade.
Apresentação clínica A entorse de terceiro grau existe quando há ruptura
As entorses de tornozelo são classificadas como lesões completa do ligamento. Um edema “em forma de ovo” so
de primeiro, segundo ou terceiro graus, de acordo com a bre os ligamentos laterais do tornozelo, ocorrendo dentro
apresentação clínica e a instabilidade demonstrada pelo de duas horas da lesão, na maioria dos casos, indica lesão
teste de estresse (Tab. 22.2). As lesões de primeiro grau de terceiro grau. É difícil diferenciar entorse de segundo
são fáceis de diagnosticar, enquanto existe dificuldade em grau grave de lesão de terceiro grau sem a testagem ade-
distinguir entre as lesões de segundo e de terceiro graus. quada de estresse. Pelo fato de os ligamentos estarem
510 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
completamente rompidos, pode haver pouca ou nenhuma tido em posição neutra. Se o tornozelo estiver em flexão
dor, mas em geral existe edema e sensibilidade dolorosa plantar, o teste da gaveta anterior positivo será impossível
no tornozelo. de demonstrar, mesmo que os ligamentos estejam com
pletamente rompidos. O examinador coloca a base da mão
Exame sobre o aspecto anterior da tíbia e aplica uma força poste
O exame cuidadoso fornece mais informações ao médi riormente direcionada. Ao mesmo tempo, a outra mão se
co da emergência sobre as estruturas ligamentares feridas gura o calcanhar e desloca o pé anteriormente. A ruptura
após entorses de tornozelo. Se o edema do maléolo lateral do LTFA é indicada por um leve deslocamento anterior do
aumentar a circunferência do tornozelo em 4 cm, a pro tálus. O aumento na frouxidão indica lesão adicional do
babilidade de ruptura ligamentar dentro do tornozelo é de calcaneofibular e do LTFP. O grau de frouxidão sempre
70%. A sensibilidade dolorosa sobre o LCF sugere a rup deve ser comparado com o lado normal.
tura desse ligamento em 72% dos casos. Do mesmo modo, Dentro das primeiras 48 horas depois da lesão, o teste
a sensibilidade dolorosa sobre o LTFA significa que, em da gaveta anterior demonstrou ter a sensibilidade de 71%,
52% dos casos, o ligamento está rompido. Se todos os três com especificidade de 33%. Cinco dias após a lesão, a
sintomas estiverem presentes, existe uma probabilidade sensibilidade melhorou para 96%, com especificidade de
69
de 91% de dano ligamentar relevante. 84% .m
O teste de estresse ajuda a diferenciar entorses de se O teste de estresse em inversão (teste da inclinação ta
gundo e terceiro grau do tornozelo. Muitas vezes, a dor e lar) pode ser executado para identificar a ruptura do LCF.
o edema secundários à lesão aguda não permitem a testa- Não recomendamos executar esse teste, contudo, pois ele
gem de estresse. Nesses casos, o tornozelo deve ser imobi pode ser bastante doloroso e não é necessário no contex
lizado e o paciente mantido sem carga. O encaminhamen to agudo. O teste de estresse de inversão mede o ângulo
to para outros exames melhora a acurácia diagnóstica. } produzido pelo pilão tibial e pelo domo do tálus em res
A injeção do tornozelo pode permitir a execução de posta à inversão forçada. Para executar o teste, o torno
testes de estresse do tornozelo agudamente ferido. Isso é zelo é mantido em posição neutra e o examinador segura
feito injetando o lado articular oposto da lesão (em geral a tíbia anterior com uma das mãos e o calcanhar com a
o lado medial), infiltrando 5 a 10 mL de lidocaína. En mão oposta. O tornozelo é invertido. Uma diferença de 5
tretanto, a acurácia diagnóstica diminui após a injeção. a 10% ou uma inclinação de 23° indica rupturas do LTFA
O teste de estresse em inversão, por exemplo, tem somen e do LCF. A eversão, na forma antes descrita, detecta a
te 68% de precisão com a anestesia, em comparação a lesão do ligamento deltoide.
92% sem ela.71 O exame para a detecção de entorse do ligamento sin-
O teste da gaveta anterior é o primeiro teste a ser exe desmótico inclui o teste do aperto. Para executar o teste,
cutado, pois busca a ruptura do LTFA. Se o teste for nega a tíbia e a fíbula são “apertadas” na metade da panturrilha.
tivo, então não há necessidade de prosseguir para o teste de A dor no tornozelo e na perna à compressão (na ausência
estresse em inversão, porque para ser positivo requer que de fratura da fíbula) indica lesão nos ligamentos sindes-
tanto o talofibular anterior como o LCF estejam rompidos. móticos. Essa lesão também deve ser suspeitada quando
O teste da gaveta anterior do tornozelo pode ser fei a sensibilidade dolorosa estiver presente na articulação,
to com o paciente sentado ou em decúbito dorsal (Fig. ou se uma dor tibiofibular distai for produzida na rotação
22.33). Os músculos que circundam o tornozelo devem externa forçada do tornozelo.
estar relaxados. O joelho deve estar flexionado para rela
xar o músculo gastrocnêmio, e o tornozelo deve ser man- Imagens
Na maioria dos casos, as radiografias do tornozelo devem
ser obtidas. As regras de tornozelo de Ottawa, como des
crito previamente, ajudam o profissional a evitar radio
grafias desnecessárias do tornozelo. Em alguns pacientes
com entorse de segundo grau, será notado um pequeno
floco ósseo arrancado do maléolo lateral. Isso indica rup
tura incompleta, sendo habitualmente associado a uma
lesão de segundo grau dos ligamentos laterais. O alarga
mento do espaço tibiofibular em mais de 6 mm sugere en
torse do ligamento sindesmótico.
A artrografia pode ser usada para definir a extensão da
ruptura ligamentar. O benefício da técnica é controverso, e
seu uso no setor de emergência é raro. Para executar uma
artrografia, o tornozelo é preparado de forma adequada e
Figura 22.33 Técnica para executar o teste de estresse da ga uma agulha de tamanho 22 é acoplada a uma seringa de 10
veta anterior do tornozelo. mL, sendo inserida no oposto lateral à lesão, aproximada-
Emergências Ortopédicas 511
Lesões associadas
As lesões osteocondrais do domo talar ocorrem em 6 a
22% das entorses de tornozelo e passam facilmente des
percebidas na avaliação inicial. A lesão deve ser suspei
tada quando houver sensibilidade dolorosa ao longo da
linha articular anterior com o tornozelo em flexão plantar.
A ressonância magnética nuclear (RMN) ou a TC do tor
nozelo detectam essas lesões, devendo ser consideradas
em pacientes com entorses que permaneçam sintomáticos
por seis semanas depois da lesão.
Tratamento
O cuidado inicial da maioria das entorses laterais do tor
nozelo tratadas no setor de emergência é similar, mas há
diferenças importantes.
Figura 22.34 A reabilitação funcional após entorse do torno
Entorse d e p rim eiro grau. Para entorse de primeiro grau, zelo consiste em restaurar a amplitude de movimento, exercí
cios de fortalecimento muscular, treinamento proprioceptivo e,
o tratamento mais apropriado inclui compressas de gelo,
finalm ente, retorno gradual às atividades. A. O s exercícios de
elevação e atadura elástica, com mobilização precoce. Os
alongamento do tendão do calcâneo devem com eçar dentro
medicamentos anti-inflamatórios não esteroides fornecem de 48 horas da lesão. Outros exercícios de amplitude de movi
analgesia e possivelmente melhoram os desfechos. mento incluem dobrar o joelho com o calcanhar no chão (cin
O gelo deve ser esmagado, colocado em uma sacola co repetições, cinco vezes ao dia) e exercícios do alfabeto, em
plástica e coberto com um pano protetor fino para evitar que o paciente "desenha" as letras do alfabeto com os dedos do
lesões cutâneas induzidas pelo frio. A aplicação de gelo pé. C. Os exercícios de fortalecimento começam quando o
é recomendada por 20 minutos, 4 a 6 vezes ao dia, nos edema e a dor estiverem controlados. Os exercícios isométricos
primeiros dois dias. A atadura elástica deve se estender (flexão plantar, dorsiflexão, inversão e eversão) contra uma pa
logo proximal aos dedos do pé, até o nível médio da pan rede são seguidos pelos exercícios isotônicos. D. Os exercícios
proprioceptivos com eçam quando a carga de peso total sem
turrilha. A elevação da extremidade ferida, de 15 a 25 cm
dor tiver sido alcançada. Um a "prancha" é usada por 5 a 10
acima do nível do coração, facilita a drenagem venosa e
minutos, duas vezes ao dia, primeiro sentado, e depois em pé.
linfática. O paciente roda a prancha à direita e à esquerda.
A carga é estimulada conforme a tolerância. A reabili
tação funcional inicia imediatamente (Fig. 22.34). O retor
no à atividade completa é feito dentro de uma semana e os exercícios de amplitude de movimento desde o primei
pacientes devem ser encaminhados para o seu médico de ro dia. A reabilitação funcional estimula a cicatrização,
cuidados primários. promovendo a reposição do colágeno. A falta de um pro
grama apropriado de reabilitação pode retardar o retomo
Entorse de segundo grau. Em entorses de segundo grau, o às atividades por meses. Os programas de fisioterapia
tratamento inicial é similar ao dispensado às entorses de pri realizados em domicílio podem ser igualmente efetivos
meiro grau, exceto que o paciente tem descarga por 48 a 72 quando comparados aos pacientes enviados a um fisiote
horas. Depois daquele período, a carga mínima com muletas rapeuta.0,76 A reabilitação do tornozelo inclui o fortaleci
deve progredir para a deambulação com muletas assim que mento dos elevadores e dos dorsiflexores. O cuidado e o
for possível. Um suporte de tornozelo, que fornece muito acompanhamento com um ortopedista ou especialista em
mais estabilidade do que uma atadura elástica, é aplicado medicina esportiva é recomendado.
até que a cicatrização esteja completa. Esses suportes in
cluem os imobilizadores com cadarço, as órteses bimaleola- Esses pacientes são inicial
E ntorse d e te rc eiro grau.
res semirrígidas e as talas de ar (Apêndice A.17). mente tratados com imobilização em uma tala por 72
A imobilização prolongada é um erro comum no tra horas com gelo, elevação e encaminhamento. Ao apli
tamento dessas lesões. Pelo fato de as entorses de segundo car uma tala, é fundamental manter o tornozelo longe do
grau serem lesões estáveis, a reabilitação deve iniciar com equinismo, em posição neutra.
512 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
Complicações
A “entorse simples” pode estar associada a um grau alto de
Figura 22.35 A injeção de anestésico local na topografia do
morbidade. Embora a maioria dos pacientes retome à ati
seio do tarso alivia os sintomas em pacientes com lesão do liga
vidade normal dentro de quatro a oito semanas, entre 20 e
mento talocalcaneano interósseo.
40% dos pacientes depois dos entorses de terceiro grau te
rão dor, limitando a sua atividade por anos depois da lesão.66
82
A complicação mais comum, a instabilidade talar la os ligamentos talocalcaneanos interósseos. ‘ Quando estes
teral, se desenvolve em até 20% dos pacientes depois de ligamentos são feridos, depois de uma lesão de inversão
entorses de tornozelo. Esses pacientes relatam instabili do tornozelo, o resultado pode ser em dor e instabilida
dade crônica e “falseio” durante a corrida. A maioria dos de crônica. Isso é denominado síndrom e do seio do tarso.
casos pode ser tratada com sucesso com um programa de A sensação de instabilidade e dor no retropé, durante a
exercícios de reabilitação e com órteses para melhorar a marcha em piso desigual, é caracteri Stic amente aliviada
estabilidade. Em casos graves ou refratários, pode ser ne quando em repouso. É difícil diferenciar essa condição de
cessária a intervenção cirúrgica com um enxerto tendíneo uma entorse do LTFA.
para estabilizar a articulação.8 Essa síndrome é uma complicação comum de entor-
83
A lesão do nervo fibular é outra complicação comum ses de tornozelo, que não era reconhecida no passado.
após as entorses de tornozelo. Em um estudo, 17% dos Os achados incluem sensibilidade dolorosa no lado exter
pacientes com entorses de segundo grau tinham lesões le no do pé, sobre a abertura do seio do tarso. Esse espaço é
ves do nervo fibular e 86% dos pacientes com entorses de palpado inferior ao LTFA. A dor também ocorre durante
terceiro grau haviam lesionado o nervo fibular ou o tibial a marcha, a supinação e a adução do pé. O diagnóstico é
posterior. Desse modo, a capacidade prejudicada de cami confirmado quando a injeção de um anestésico local no
nhar em cinco a seis semanas depois de uma entorse pode seio do tarso alivia os sintomas (Fig. 22.35).
estar relacionado a uma lesão do nervo fibular. A lesão é Mesmo com as radiografias de estresse, o exame ra-
provavelmente causada por tração leve do nervo ou por diográfico de rotina do tornozelo e da articulação subtalar
hematoma na bainha epineural. não revela qualquer patologia.
A luxação ou a subluxação de tendão fibular, as le O tratamento dessa condição inclui agentes anti-infla-
sões sindesmóticas, a exostose tibiofibular, a síndrome do matórios e o paciente recebe um dispositivo ortótico. A inje
seio do tarso (entorse subtalar), as lesões osteocondrais do ção de anestésico local e esteroide no seio do tarso também
domo talar e a síndrome da dor regional complexa cons pode ser executada, às vezes sendo necessária a sua repeti
tituem complicações infrequentes das entorses ligamenta- ção. Quando o tratamento conservador for incapaz de aliviar
res laterais. Essas entidades estão abordadas nas seções a a dor, o tratamento cirúrgico da síndrome do seio do tarso
seguir, com exceção da síndrome de dor regional comple pode ser realizado. A artrodese subtalar é usada quando os
xa, descrita no Capítulo 4. tratamentos mais conservadores não obtiverem sucesso.
siderar a possibilidade de lesão osteocondral. Existem ma recorrente. O local mais comum de lesão no trauma é
duas localizações onde a cartilagem e o osso do domo ta o aspecto posteromedial do domo talar. A injeção com
lar do tornozelo podem ser feridos - as margens superola anestésico local da articulação alivia a dor.
teral e superomedial. Se o fragmento desalojar, ele atrita
contra a articulação, resultando em artrite crônica irrever Imagens
sível. Outros locais menos comuns para as lesões osteo- As radiografias do tornozelo podem mostrar uma cratera
condrais incluem a borda da fibula e a superfície articular ou uma partícula de osso que parece opaca, cercada por
posterior do navicular. radiotransparência (Fig. 22.36). A melhor incidência para
demonstrar uma lesão lateral é a incidência AP com dorsi
Mecanismo de lesão flexão do tornozelo e com 10° de rotação interna. Para as
Uma lesão osteocondral da margem superolateral ocorre lesões mediais, a incidência AP é obtida em flexão plan
após uma dorsiflexão e inversão. Os ligamentos laterais tar. As lesões pequenas não são detectadas com radiogra
podem ou não estar rompidos. Essa lesão é vista mais co- fias simples. O aumento da sensibilidade é obtida com o
88
mumente em crianças, devido a uma elasticidade maior uso de cintilografia óssea, TC ou RMN.
do tecido ligamentar. As fraturas osteocondrais supero-
mediais ocorrem com a flexão plantar, quando tálus, que Tratamento
é estreito, se acopla ao encaixe com um “golpe direto”. O paciente deve ser encaminhado para consultoria orto
A lesão comumente ocorre quando um saltador cai com pédica, pois a artrite traumática é uma sequela do cuidado
força sobre os dedos do pé, com o pé invertido. atrasado. Quando o tratamento for retardado por mais de
um ano, o desfecho é ruim na maioria dos casos. A ar-
Apresentação clínica troscopia, com debridamento e remoção dos fragmentos
Os pacientes reclamam de tornozelo dolorido, resisten livres, oferece a melhor oportunidade para um bom des
te ao tratamento, com os sintomas persistindo por mais fecho funcional.66
tempo que em uma entorse. Não existe em geral nenhu
ma sensibilidade dolorosa nos maléolos ou sobre os liga EXOSTOSE TALOTI BI AL
mentos durante a palpação. Os sintomas dos pacientes são
agravados pela atividade e cedem completamente com o A exostose é a formação de um crescimento ósseo no lo
repouso, embora possa haver edema leve com dor incô cal de uma lesão irritativa ou em resposta ao trauma di
moda após uma caminhada excessiva. Todo exam e p o d e reto. A exostose ocorre no tornozelo anterior devido ao
ser negativo, exceto quando o exam inador p a lp a r o dom o trauma repetitivo, geralmente em atletas.
ta la r com o tornozelo em fle x ã o plantar. A sensibilidade No tornozelo normal, o aspecto anterior distai da tíbia
dolorosa puntiforme é produzida nessa área. Uma sino- é arredondado e existe um sulco no colo do tálus. Confor
vite pode ocorrer na articulação do tornozelo, com ede me o tornozelo faz a dorsiflexão, a borda anterior da tí-
514 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
Existe menos dor que na forma aguda e o paciente quei- pacientes com artrite reumatoide, ou naqueles com al
xa-se de dor incômoda e de sensibilidade no tendão su- guma atividade incomum.
bluxado, quando escapa fora de sua posição normal.
Tratamento
Tratamento A tenossinovite aguda, quando leve, é tratada com dimi
O paciente receber uma tala posterior (Apêndice A. 14) nuição no nível de atividade. Entretanto, se os sintomas
com compressão sobre o maléolo lateral para estabilizar forem moderados, o pé e o tornozelo são colocados em
os tendões fibulares em sua posição funcional. Eles de repouso, sendo administrados medicamentos anti-infla-
vem permanecer sem carga, com muletas e serem encami matórios e gelo. Em alguns casos, é necessária a imobili
nhados ao ortopedista. zação (Apêndice A.14), seguida de uma bota gessada de
O manejo definitivo é controverso. A maioria dos marcha por quatro semanas. Se os sintomas não responde
médicos recomenda o tratamento cirúrgico em vez do rem a tratamento inicial, raramente o tratamento cirúrgico
tratamento conservador com um gessado por seis sema é necessário.
nas. Em um estudo grande, 74% dos pacientes tratados de
modo conservador tiveram de retomar para uma correção
89
cirúrgica em data posterior.
TENOSSINOVITE
Os tendões mais comuns envolvidos na tenossinovite do
tornozelo são o (1) tibial posterior, (2) o fibular longo, (3)
o tibial anterior e (4) o flexor longo do hálux. O tendão
do calcâneo também é bastante envolvido, mas será abor
dado no Capítulo 23. Existem dois tipos de tenossinovite:
a estenosante e a reumatoide. A tenossinovite estenosante
é comum no retináculo inferior do tendão fibular, sendo o
espessamento da bainha percebido ao exame. A apresen
tação da novite reumatoide é mais comum no lado me
dial, envolvendo os tendões tibial posterior e flexor longo
do hálux.
A
Apresentação clínica
A disfunção pode ser aguda ou crônica. Mais comumen-
te, a tenossinovite aguda está presente em razão de uso
excessivo. A tenossinovite crônica, que é encontrada em
pacientes não esportistas, está associada com a tendino-
se e as alterações estruturais. ' O edema e a sensibilidade
dolorosa localizados estão presentes sobre o tendão en
volvido. Com o uso continuado, podem resultar rupturas
parciais ou completas do tendão.
Os pacientes portadores de tenossinovite do tendão
do tibial posterior relatam dor ao longo do aspecto pos
teromedial do pé e do tornozelo. Um indivíduo que tenha
disfunção do tendão do tibial posterior pode ter uma pos
tura aumentada em valgo do calcâneo e enchimento que
é visto logo distai ao maléolo medial. A falta de inversão
do calcanhar quase sempre indica disfunção ou a fraqueza
do tendão do tibial posterior.94 Frequentemente, os indiví
duos com essa condição são incapazes de ficar na ponta
dos pés em função da dor.
Ao exame, os pacientes com tenossinovite esteno
sante têm uma bainha espessada, palpável ao longo de
seu curso. Esses pacientes têm, em geral, mais de 40
anos e apresentaram algum trauma ocupacional predis-
ponente. O tendão é doloroso à palpação e o movimento Figura 22.39 Luxação isolada do tornozelo esquerdo, sem fra
aumenta a dor. A ruptura espontânea pode ocorrer em tura. A. Fotografia clín ica. B. Radiografia.
516 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
LUXAÇÃO DE TORNOZELO SEM FRATURA 14. Markert RJ, Walley ME, Guttman TG, et al. A pooled
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sem fratura é considerada de alta energia, e com frequên acute ankle and midfoot injuries in the emergency depart
cia essas luxações são expostas. Os fatores predisponen- ment: An independent site assessment. Ann Emerg Med
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Capítulo 2 3
A Tálus
Navicular
Metatarsais
Cunéiformes
Cuboide
Mediopé Calcâneo
Navicular V is ta m ediai
Navicular Tálus
2a cunéiforme
3Qcunéiforme
Retropé Tálus
Calcâneo
A B
FRATURAS DO PÉ
FRATURAS DO CALCÂNEO uma faceta articular anterior, uma média e uma posterior.
O sustentáculo do tálus é uma extensão medial do cal
O calcâneo é o maior dos ossos do tarso, e serve como um câneo que apoia as facetas articulares anterior e média.
trampolim para a locomoção e como suporte elástico para O tubérculo fibular fica na superfície lateral e provê um
o peso do corpo. É o osso do tarso mais frequentemente sulco para os tendões fibulares e um local de inserção para
fraturado, representando 60% de todas as fraturas tarsais e o retináculo fibular inferior.
2% de todas as fraturas em geral. As fraturas podem ocorrer em quaisquer desses lo
A porção anterior do calcâneo é o corpo. As fraturas cais. Excluindo as fraturas de avulsão, 75% das fratu
do corpo podem ser intra ou extra-articulares. A porção ras do calcâneo são intra-articulares (envolvendo a ar
posterior do calcâneo é a tuberosidade. Na base da tube- ticulação subtalar), e 75% dessas são com depressão.
rosidade estão os processos medial e lateral, que são os As fraturas extra-articulares respondem por 25% das
pontos de inserção da fáscia plantar. O tendão do calcâ fraturas do calcâneo e incluem o processo anterior, o
neo insere-se na porção posterior da tuberosidade. A arti sustentáculo do tálus, o processo lateral do calcâneo e
culação principal do calcâneo é com o tálus, formando a o tubérculo fibular, o processo medial do calcâneo e a
articulação subtalar. Existem três superfícies articulares: tuberosidade.
Emergências Ortopédicas 521
Lesões associadas
Mais de 50% das fraturas do calcâneo estão associadas
a lesões adicionais. Dentre as fraturas de calcâneo, 26%
estão associadas a outras lesões nas extremidades inferio
res. As fraturas do calcâneo são bilaterais em 7% dos
casos. As fraturas de compressão na coluna toracolom-
bar estão associadas com 10% das fraturas do calcâneo.
A síndrome compartimentai se desenvolve em 10% dos
pacientes, sendo que metade desses pacientes continua
desenvolvendo deformidades significativas do pé.
Tratamento
Fraturas intra-articulares do corpo do calcâneo. O ma
nejo de emergência inclui gelo, elevação e imobilização
em curativo compressivo volumoso, com tala posterior
Figura 23.8 A técnica para obter uma incidência de Harris.
Essa incidência é útil para definir a extensão do envolvimento (Apêndice A.14). O paciente deve ser mantido com des
intra-articular e o grau de depressão dos fragmentos da fratura. carga de peso e muletas. O gelo e um curativo volumoso
são importantes para prevenir as lesões de tecidos moles,
como as bolhas de fratura e a degradação da pele os quais,
guio de Bohler pode ser normal, apesar da presença de em última instância, retardam a cirurgia. A presença de
uma fratura gravemente cominutiva; por conseguinte, esse fratura intra-articular requer a consulta com o serviço de
ângulo não pode ser usado para excluir uma fratura do ortopedia para o manejo definitivo. Pacientes com edema
calcâneo. A função mais importante do ângulo de Bohler acentuado e possibilidade de desenvolver síndrome com
é a sua significativa capacidade prognóstica. As fraturas partimentai devem ser hospitalizados.
com um ângulo de Bohler diminuído têm desfechos pio O manejo definitivo depende do grau de deslocamen
res, não importando a intervenção. to. As fraturas não deslocadas podem ser tratadas com o
A incidência de Harris é útil para definir a extensão não apoio de peso por seis a oito semanas e hidroterapia,
do envolvimento intra-articular e o grau de depressão dos seguidas de aumento gradual nas atividades. O tratamento
fragmentos da fratura. É obtida com o tornozelo dorsifle- das fraturas deslocadas é controverso e varia desde
tido e o feixe de raios X angulado obliquamente através uma abordagem conservadora até o reparo cirúrgico.5,12
do aspecto plantar do calcanhar (Fig. 23.8). Por essa razão, a consultoria e o encaminhamento precoce
A tomografia computadorizada (TC) tem se tomado são fortemente recomendados no manejo dessas lesões.
rotina para delinear completamente a extensão das fratu Quando indicada, a cirurgia não é uma emergência (a me-
Figura 23.9 Fraturas do corpo do calcâneo A . Imagem de T C coronal demonstrando um calcâneo normal no pé esquerdo do pa
ciente e uma fratura cominutiva do calcâneo direito. B. TC de reconstrução tridimensional.
Emergências Ortopédicas 523
nos que uma fasciotomia seja necessária para a síndrome dos a problemas a longo prazo, incluindo a deformidade
compartimentai) e geralmente ocorre de 7 a 10 dias após em garra dos dedos do pé, rigidez, dor crônica, fraqueza,
a lesão, mas pode ocorrer até várias semanas se o edema alterações sensitivas, atrofia e deformidades do antepé.
for significativo. O diagnóstico pode ser feito na fase aguda utilizando as
Em pacientes com fraturas cominutivas, deslocadas medidas de pressão dentro do compartimento. A fascioto
ou intra-articulares deprimidas, um bom desfecho requer mia é o tratamento recomendado.
o restabelecimento da congruência articular e a elevação As consequências a longo prazo dessas fraturas são
dos fragmentos afundados. A redução aberta com fixação incapacitantes. A artrite pós-traumática com rigidez e dor
interna é recomendada nesses pacientes. 4,15 crônica é a complicação mais frequente. A formação de
esporão com dor ou compressão nervosa crônica pode
Fraturas extra-articulares d o co rp o d o calcâneo.O ma complicar o manejo dessas lesões. As fraturas intra-arti
nejo de emergência inclui gelo, elevação e imobilização culares de calcâneo têm prognóstico muito ruim, com a
com um curativo volumoso, muletas e encaminhamento incidência de problemas em longo prazo aproximando-se
precoce. de 50%, apesar do tratamento ideal.
As fraturas não deslocadas são tratadas com descarga As fraturas extra-articulares do corpo do calcâneo po
de peso, hidroterapia e um mínimo de quatro a seis se dem estar associadas à compressão do nervo sural, além
manas antes de deambulação. As fraturas deslocadas são de outras complicações das fraturas intra-articulares.
tratadas de modo similar às fraturas deslocadas intra-arti
culares do corpo do calcâneo. O gelo e a elevação preco
Fraturas extra-articulares do calcâneo
ces são importantes para prevenir a formação de bolhas
cutâneas. O manejo cirúrgico é preferível. As fraturas extra-articulares do calcâneo são aquelas fratu
ras que não envolvem a superfície articular posterior (Fig.
Complicações 23.10). Essas fraturas representam 25% de todas as fratu
As fraturas do calcâneo estão associadas a uma incidência ras do calcâneo e incluem as fraturas do processo anterior,
de 10% de síndrome compartimentai do pé. Os sintomas do sustentáculo do tálus, do processo lateral do calcâneo
incluem edema tenso e dor intensa, e podem ser associa e do tubérculo fibular, do processo medial do calcâneo e
Figura 23.10 Fraturas extra-articulares do calcâneo. A. Processo anterior. B. Sustentáculo do tálus. C. Processo lateral do calcâneo
e tubérculo da fíbula. D. Processo medial do calcâneo. E. Tuberosidade do calcâneo. F. Corpo do calcâneo.
524 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
Figura 23.12 Fratura do sustentáculo do tálus. A. Incidência AP do pé. B. A imagem da T C mostra uma fratura óbvia.
As fraturas não deslocadas são tratadas com gessado O suprimento sanguíneo é, por conseguinte, algo tênue,
sem carga, com o pé em flexão plantar leve, por seis a oito e a necrose avascular não é incomum depois de fraturas
semanas. A consultoria e o encaminhamento precoce são deslocadas. As fraturas proximais do tálus são bastante
fortemente recomendados. As fraturas deslocadas requerem predispostas ao desenvolvimento de necrose avascular do
o encaminhamento ortopédico para consideração de redu fragmento proximal.
ção aberta. Se o fragmento de fratura estiver colocando ten As fraturas do tálus são divididas em maiores e me
são na pele sobrejacente, a intervenção cirúrgica é executada nores. As maiores envolvem a cabeça, o colo ou a porção
mais cedo para minimizar o risco de lesão em tecidos moles. central do corpo. As fraturas menores são as do corpo que
não atravessam a porção central do osso. As fraturas me
nores incluem o processo lateral, o processo posterior e as
FRATURAS DO TÁLUS osteocondrais do domo talar.
O tálus, ou astrágalo, é o segundo maior e o segundo osso As fraturas mais comuns do tálus são no colo. As oste
do tarso mais frequentemente fraturado. Apesar desse ocondrais são as mais comum do corpo do tálus. As fratu
fato, as fraturas do tálus ainda são incomuns e respondem ras osteocondrais do domo talar estão abordadas em mais
por menos de 1% de todas as fraturas. Adicionado a sua detalhes no Capítulo 22. As fraturas dos processos lateral
frequência incomum, a visualização das fraturas do tálus e posterior do corpo são menos comuns, enquanto as da
é difícil nas radiografias simples. Por conseguinte, sem porção principal do corpo do tálus e da cabeça são raras.
algum conhecimento dessas fraturas, elas podem perma
necer ocultas, com o paciente muitas vezes recebendo um Fraturas maiores do tálus
diagnóstico equivocado de entorse do tornozelo.19,20 As fraturas maiores do tálus são aquelas que envolvem a
O tálus é dividido anatomicamente em três segmen cabeça, o colo ou a porção central do corpo (Fig. 23.13).
tos: a cabeça, o colo e o corpo. É ancorado por ligamen As do colo talar são as mais comuns, representando 50%
tos e não tem nenhum local de inserção muscular. Além de todas as fraturas maiores.
disso, 60% de sua superfície é coberta por cartilagem ar As fraturas de colo do tálus foram classificadas por
ticular. O suprimento vascular para o osso não penetra Hawkins. As fraturas do tipo I são as não deslocadas.
na cartilagem articular, mas entra via ligamento deltoide, As do tipo II resultam em deslocamento com subluxa-
ligamento talocalcaneano, cápsula anterior e seio do tarso. ção ou luxação da articulação subtalar. As do tipo III
526 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
/
I I
I Exame
/ I
O paciente apresenta dor, edema, equimose e sensibili
dade dolorosa. Com as fraturas da cabeça do tálus, a sensi
bilidade dolorosa fica concentrada sobre a cabeça do tálus
e na articulação talonavicular. O movimento do tornozelo
está normal, embora a inversão do pé exacerbe a dor sobre
a articulação talonavicular. Os pacientes com fraturas do
colo e luxação associada apresentam o pé bloqueado em
posição hiperestendida. Quando o corpo estiver envolvi
do, o tornozelo apresenta uma dor intensa, porém difusa,
além de sensibilidade dolorosa e edema.
Imagens
As incidências de rotina com frequência não demonstram
adequadamente essas fraturas.18'2 As radiografias oblí
quas ou a TC podem ser necessárias. As fraturas do colo
do tálus são mais adequadamente visualizadas na incidên
cia lateral de rotina. A incidência oblíqua é útil na presen
ça de subluxação ou luxação sutil.
Tratamento
O manejo de emergência de uma fratura maior do tálus
inclui gelo, elevação, imobilização (Apêndice A. 14), mu
letas e consultoria precoce.
O tratamento definitivo das fraturas da cabeça do
tálus é um gessado com descarga por seis a oito semanas.
Figura 23.13 Fraturas do tá lu s - maiores. A redução aberta com fixação interna é recomendada se o
fragmento causar instabilidade da articulação talonavicu
lar, estiver deslocado e resultando em um degrau articular,
apresentam deslocamento com luxação do tálus da arti ou se for superior a 50% da superfície articular.
culação subtalar e do tornozelo. As do tipo IV são des As fraturas não deslocadas do colo talar são tratadas
locadas da articulação subtalar, com a cabeça do tálus com bota gessada sem carga por seis semanas, seguidas
deslocada. por três semanas de carga parcial. As fraturas deslocadas
ou aquelas associadas a luxações requerem avaliação neu
Mecanismo de lesão rovascular seguida do encaminhamento de emergência
As fraturas da cabeça do tálus são o resultado de impacto para redução cirúrgica anatômica, para evitar a alta inci
direto, como a queda sobre o pé completamente estendi dência de necrose avascular. 7,1 As reduções retardadas es
do. A força é transmitida do antepé até o tálus, que sofre tão associadas ao aumento na incidência de necrose cutâ
impacto contra a borda anterior da tíbia. nea e necrose avascular.
As fraturas do colo do tálus seguem-se à dorsiflexão O tratamento definitivo das fraturas não deslocadas
aguda do tornozelo e são muitas vezes vistas após colisões do corpo do tálus é com bota gessada, sem carga, por seis
de automóveis ou quedas de altura. Essa fratura também a oito semanas. O prognóstico para essas lesões é muito
é chamada de “astrágalo do a via d o r ”, pois ocorria em bom. As fraturas deslocadas ou cominutivas requerem re
pilotos, na Segunda Guerra Mundial, depois que o leme dução anatômica. A consultoria e o encaminhamento pre
de direção do avião causava uma dorsiflexão violenta no coce são fortemente recomendados.
tornozelo durante aterrissagem ou queda dos aviões em
retorno das missões de bombardeio. Com a dorsiflexão, Complicações
o colo do tálus sofre impacto contra a borda anterior da As fraturas da cabeça do tálus podem ser complicadas
tíbia. A continuação da força pode resultar em ruptura li- pelo desenvolvimento de osteoartrite talonavicular ou
gamentar, deslocamento do fragmento ou luxação subta condromalacia. As fraturas do colo talar podem ser com
lar e talar do corpo. As fraturas-luxações requerem força plicadas pelo desenvolvimento das luxações do tendão
mais intensa. fibular, necrose avascular do tálus ou união retardada.
As fraturas não deslocadas do corpo do tálus resultam As fraturas-luxações são predispostas ao desenvolvimento
de uma lesão em hiperextensão aguda. As fraturas comi- de necrose avascular. As fraturas deslocadas ou cominuti
nutivas ou deslocadas são o resultado da compressão axial vas do corpo são muitas vezes complicadas pelo desenvol
com hiperextensão. vimento de necrose avascular.
Emergências Ortopédicas 527
Im a g e n s
As fraturas menores do tálus se apresentam apenas com
achados radiográficos mínimos. As anormabdades podem
ser limitadas a um minúsculo fragmento avulsionado de
osso sobre a área envolvida. A melhor radiografia para ver
uma fratura do processo lateral é a incidência do encaixe,
enquanto a incidência lateral é a melhor oportunidade para
diagnosticar uma fratura do processo posterior. O osso
trígono, um sesamoide suavemente arredondado, pode ser
confundido com uma fratura do processo posterior, mas o
conhecimento de sua locabzação e o seu formato típicos
Fraturas menores do tálus ajudam a evitar esse equívoco. As incidências oblíquas
especiais ou a TC podem ser necessárias para avaliar de
Essas fraturas não são necessariam ente “m enores”, forma adequada essas fraturas.
como o nome indica, frequentemente requerendo aten
ção cuidadosa para chegar ao diagnóstico e iniciar o pla Trata m en to
no terapêutico apropriado. A categoria inclui as fraturas As fraturas do processo lateral são tratadas com gelo,
do corpo do tálus que não envolvem a porção central elevação e imobilização em uma tala de perna (Apêndi
do osso. Elas incluem as fraturas do processo lateral, ce A.14). O tornozelo é mantido em posição neutra, e o
do processo posterior e as osteocondrais do domo talar paciente recebe muletas e encaminhamento ortopédico. O
(Fig. 23.14). As fraturas osteocondrais estão abordadas tratamento definitivo depende do tamanho da fratura e da
no Capítulo 22. quantidade de deslocamento. O tratamento conservador é
reservado para os fragmentos não deslocados (< 2 mm).
M e c a n is m o d e le sã o
Os fragmentos grandes e deslocados necessitam de redu
O processo lateral do tálus é fraturado com carrega ção aberta e fixação interna, enquanto os fragmentos pe
mento axial, dorsiflexão, eversão e rotação externa. quenos e as fraturas cominutivas que estejam deslocadas
Essa combinação de forças pode resultar de quedas ou são submetidos ao debridamento.
colisões de automóveis, mas tem sido observada como As fraturas do processo posterior são tratadas como
lesão comumente associada ao snow boarding (esqui na previamente discutido, exceto que o pé é imobilizado em
neve). ' Por causa dessa associação, as fraturas do pro 15° de flexão plantar. As fraturas não deslocadas podem
cesso lateral são muitas vezes chamadas de “tornozelo do ser tratadas em definitivo com imobilização gessada, en
sn o w b o a rd ista ”. Em um estudo de lesões causadas pelo quanto as fraturas maiores e mais deslocadas podem re
snow boarding , essa fratura respondeu por 2% de todas as querer o tratamento cirúrgico.
lesões, 15% das lesões do tornozelo e 34% das fraturas
do tornozelo. C o m p lic a ç õ e s
Uma fratura do processo posterior é com frequência As fraturas do processo lateral podem ser complicadas
o resultado de flexão plantar extrema, com impacto do por má-união e não união. Pelo fato de o processo lateral
processo posterior contra a tíbia e o calcâneo posterior. se articular com o calcâneo, formando a porção lateral da
A inversão pode produzir uma fratura de avulsão. articulação subtalar, podem ocorrer alterações degenera
tivas nessa articulação. As fraturas do processo posterior
Exam e
geralmente não são compbcadas por quaisquer distúrbios
O paciente com uma fratura do processo lateral do tálus a longo prazo. Se os fragmentos forem grandes, a não
tem dor e edema sobre o maléolo lateral e sensibilidade união com migração pode resultar em bloqueio articular
dolorosa locabzada, logo anterior e inferior à ponta do ma e, eventualmente, em artrite traumática.
léolo lateral. Pelo fato de essa apresentação ser tão similar
a uma entorse lateral do tornozelo, a fratura passa desper
FRATURAS DO MEDIOPÉ
cebida em até 40% dos casos na apresentação inicial.20
As fraturas do processo posterior se apresentam com O mediopé é a porção menos móvel do pé e inclui o navi-
dor posterior e lateral, sensibilidade dolorosa e edema. cular, o cuboide e os três cuneiform es. Tais fraturas são ra
A dor é exacerbada em atividades que requerem a fle ras mas, quando presentes, envolvem fraturas múltiplas ou
xão plantar. A sensibilidade dolorosa está presente com a fraturas-luxações. A detecção dessas fraturas nas radiogra
palpação profunda anterior ao tendão do calcâneo, acima fias simples é limitada. A sensibilidade das radiografias é
do tálus posterior. Algumas vezes, a dorsiflexão do hálux de 25 a 33% quando comparada à TC com multidetecção.
528 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
Avulsão dorsal
M e c a n is m o d e le sã o L e s õ e s a sso cia d a s
As fraturas de avulsão dorsal resultam de flexão aguda As fraturas de avulsão dorsal estão associadas a lesões
com inversão do pé. A cápsula articular talonavicular é es hgamentares do maléolo lateral. As fraturas da tubero
tressada e sofre avulsão no aspecto dorsal e proximal do sidade muitas vezes são acompanhadas por fraturas do
navicular. As fraturas da tuberosidade também são de avul cuboide. Com todas as fraturas do navicular, as lesões em
são, e seguem-se a uma força de eversão aguda no pé. estruturas adjacentes são comuns e devem ser buscadas.
A eversão do pé resulta em tensão aumentada no tendão do
tibial posterior, que causa a avulsão de uma porção da tu Trata m en to
berosidade do navicular. Os mecanismos previamente re Fratura d e avulsão dorsal. As pequenas fraturas em las
latados de lesão incluem a hiperextensão aguda com com ca são tratadas sintomaticamente com gelo, elevação e
pressão, o trauma direto ou a flexão extrema com rotação. curativo compressivo. O paciente pode apoiar o peso com
a ajuda de muletas por duas semanas, ou até que a dor di
Exam e minua. O curativo compressivo deve ser aplicado desde a
O paciente apresenta dor, sensibilidade dolorosa e edema região mediotarsal até acima da articulação do tornozelo,
sobre a área envolvida. Para as fraturas de avulsão dor incluindo o calcanhar. O manejo definitivo dos fragmentos
sal, o aspecto dorsal e medial do mediopé está doloroso. de avulsão grandes, com mais de 25% da superfície arti
As fraturas da tuberosidade se apresentam com dor locab- cular, inclui a redução e a fixação com fios de Kirschner.
Emergências Ortopédicas 529
Fratura da tubero sidade. As fraturas de avulsão, peque do cuneiforme são lesões raras e secundárias à inversão ou
nas e não deslocadas, podem ser tratadas com um curativo eversão aguda do pé.
compressivo e uma tala de perna (Apêndice A.14). Com
a redução no edema, um gessado bem-moldado com o pé Exam e
em inversão deve ser utilizado por seis semanas. Essa po O paciente apresenta dor intensa, sensibilidade dolorosa e
sição reduz a tração do tendão do tibial posterior. O des edema sobre a área envolvida. O movimento no mediopé
locamento acentuado do fragmento avulsionado requer o exacerba a dor. As luxações se apresentam com deformi
encaminhamento ortopédico de emergência para avaliar a dade palpável e dor intensa.
possibilidade de reinserção cirúrgica.
Im a g e n s
Fraturas d o co rp o . O manejo de emergência dessas As incidências AP, lateral e oblíqua podem visualizar es
fraturas inclui gelo, elevação e tala posterior (Apêndice sas fraturas, embora as vistas de comparação ou a TC au
A.14). O manejo definitivo das fraturas não deslocadas do mentem a sensibilidade (Fig. 23.18).
corpo inclui uma bota gessada bem-moldada para marcha
por seis a oito semanas. Depois disso, um suporte do arco L e s õ e s a sso cia d a s
longitudinal deve ser empregado. As fraturas deslocadas As fraturas do cuboide e do cuneiforme estão associados
do corpo do navicular requerem a redução aberta com fixa a significativas lesões de tecidos moles. As fraturas do
ção interna no paciente ativo e que caminha. Os pacientes cuboide estão associadas às do calcâneo. As fraturas do
que não caminham podem ser tratados sintomaticamente, cuboide e do cuneiforme podem ser vistas com as meta-
com um curativo compressivo. As fraturas-luxações do na tarsais ou as fraturas-luxações tarsometatarsais.
vicular requerem redução aberta e fixação interna.
A xio m a: As fraturas distais do cuboide ou do cuneiforme
Fraturas p o r com pressão. Essas fraturas são tratadas si
estão associados a uma luxação tarsometatarsal que pode
milarmente às fraturas de avulsão dorsal.
ter se reduzido espontaneamente. Essa lesão deve ser assu
mida como presente até prova em contrário.
C o m p lic a ç õ e s
As fraturas da tuberosidade do navicular são complicadas
pela não união. As fraturas do corpo podem desenvolver T rata m en to
necrose asséptica ou artrite traumática. As fraturas do cuboide e do cuneiforme são tratadas com
gelo, elevação e tala (Apêndice A.14) com muletas.
Fraturas do cuboïde e do cunéiforme O manejo definitivo das fraturas não deslocadas do
cuboide ou do cuneiforme consiste em um gessado bem-
As fraturas do cuboide e do cunéiforme habitualmente -moldado da perna (sem carga) por seis a oito semanas.
ocorrem em combinação (Fig. 23.17). As lesões isoladas Depois da remoção do gessado, um suporte do arco longi
são incomuns, e o profissional deve considerar a possi tudinal é usado por cinco a seis meses. As fraturas deslo
bilidade de lesão na articulação de Lisfranc em qualquer cadas requerem a fixação cirúrgica. As fraturas cominuti-
paciente. vas do cuboide muitas vezes requerem um fixador externo
como tratamento definitivo.
M e c a n is m o d e le sã o As luxações ou fraturas-luxações do cuboide ou do
As fraturas do cuboide e do cunéiforme resultam de lesões cuneiforme em geral são instáveis após a redução. O enca
diretas de esmagamento do pé. As luxações do cuboide e minhamento precoce é fortemente recomendado.
Cuneiforme
c
Figura 23.18 Fratura do cuneiforme medial. As imagens simples não detectaram a fratura (A). As imagens com TC ( B ) e a recons
trução tridimensional (Ç) foram feitas por causa de dor significativa e edema e demonstraram uma fratura transversa do cuneiforme
medial (seta).
FRATURA-LUXAÇÃO DE USFRANC A n a to m ia
A articulação de Lisfranc é definida pela articulação do
As lesões da articulação de Lisfranc (tarsometatarsal)
mediopé e metatarsais. A base dos primeiros três meta-
envolvem um espectro de lesões, desde a entorse estável tarsais se alinha com os cuneiformes, enquanto o quarto
até a fratura-luxação complexa e instável. As fr a tu m s - e o quinto metatarsais se articulam com o osso cuboide.
-luxações de Lisfranc são raras, respondendo por 0,2% de Os ligamentos são essenciais na estabilidade da ar
todas as fraturas. Elas estão associadas a alta incidên ticulação tarsometatarsal. Um ligamento tarsometatarsal
cia de dor crônica e incapacidade funcional. Esse fato, une cada um dos ossos metatarsais a um osso do me
combinado com os estudos que relatam taxa de 20% de diopé. Além disso, os aspectos proximais do segundo ao
falha diagnóstica, toma essa lesão uma das razões mais quinto metatarsais estão unidos por um forte ligamento,
comuns para os processos de má prática contra os médi- o intermetatarsal transverso. Esses ligamentos têm um
cos da emergencia. componente plantar mais forte que o dorsal. Nenhum
Emergências Ortopédicas 531
Figura 2 3 .1 9 A . Anatom ia ligamentar da articulação de Lisfranc com os ligamentos tarsometatarsal, intermetatarsal, e o forte
ligamento de Lisfranc (três linhas oblíquas). B. Fratura-luxação de Lisfranc com incongruência lateral total de toda a articulação
(homolateral). C. Fratura-luxação de Lisfranc divergente.
ligamento conecta as bases do primeiro e segundo meta- mais fracas. Infelizmente, nenhum sistema de classifica-
34
tarsais (Fig. 23.19A).33 ção é útil para determinar o manejo ou o prognóstico.
O segundo metatarsal está firmemente mantido pelo
ligamento tarsometatarsal, ligamento intermetatarsal e M e c a n is m o s d e le sã o
forte ligamento de Lisfranc que se estende obliquamen As fraturas-luxações de Lisfranc geralmente ocorrem de
te até o cuneiforme mediai. Essa articulação forte do se pois de um trauma de alta energia, como uma queda de
gundo osso metatarsal atua como força de estabilização grande altura ou colisão de veículo automotor. As colisões
primária do complexo tarsometatarsal e toma uma fratu de veículos automotores respondem por 45% dessas le
ra proximal do segundo metatarsal mais provável do que sões. Uma lesão mais sutil depois de um mecanismo de
uma luxação. Por conseguinte, a fratura na base do segun baixa energia também pode ocorrer e responde por até
do metatarsal sugere a alta probabilidade de lesão das es 30% dos casos.34
truturas ligamentares restantes da articulação de Lisfranc. O mecanismo de lesão pode ser direto ou indireto.
As lesões diretas envolvem um trauma não penetrante de
A xio m a: Uma fratura da base do segundo metatarsal su alta energia, geralmente no dorso do pé. O mecanismo di
gere uma fratura-luxação de Lisfranc até prova em contrário. reto está associado a uma significativa lesão de tecidos
moles e ao desenvolvimento de síndrome compartimentai.
O trauma indireto é mais comum e costuma envolver o
C la ssific a ç ã o carregamento axial do pé em flexão plantar.
As fraturas-luxações de Lisfranc existem em diversas va- As luxações homolaterais podem seguir-se a uma
riações/ Elas são classificadas com base na presença de queda com o pé apoiado em flexão plantar. As forças com
mptura ou não das articulações de Lisfranc, denominada pressivas, como aquelas que ocorrem durante uma colisão
de incongruência total ou parcial. Somando-se a isso, a de automóvel ou um estresse rotacional, também podem
direção do deslocamento é observada: medial, lateral, produzir esse tipo de luxação. As luxações divergentes são
dorsal ou plantar. As luxações homolaterais são comuns consequentes de uma força compressiva que divide o sul
e referem-se ao deslocamento lateral de quatro ou cinco co entre o primeiro e o segundo metatarsais.
metatarsais na mesma direção. Se o deslocamento ocorrer
em direções opostas, então a fratura-luxação é chamada Exam e
de divergente (Figs. 23.19B e 23.19C). As luxações di O paciente com entorse leve exibe sensibilidade dolorosa
vergentes costumam ocorrer entre o primeiro e o segun na articulação de Lisfranc, edema mínimo e nenhuma ins
do metatarsais, pois é onde as inserções ligamentares são tabilidade. Aquele com uma fratura-luxação apresenta dor
532 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
extrema no mediopé e edema. O paciente pode ser capaz Incidência oblíqua. Avalie o alinhamento normal do ter
de caminhar, apesar de uma lesão significativa, e esta ca ceiro e quarto metatarsais com o cuboide e o cuneiforme
racterística não pode ser usada para excluir o diagnóstico. lateral:
Pode haver uma proeminência da base do primeiro metatar
• As bordas mediais do quarto metatarsal e do cuboide
sal ou encurtamento aparente do antepé. A equimose pode
são alinhadas.
estar presente no aspecto plantar (Fig. 23.20A).' A dor na
• As bordas laterais do terceiro metatarsal e do cunei
abdução e a pronação passivas do antepé são sugestivas de
forme lateral são alinhadas.
lesão. A dor durante a dorsiflexão passiva dos dedos do pé
sugere síndrome compartimentai concomitante. A condi
Incidência lateral. Essa incidência é usada para avaliar a
ção neurovascular do pé deve ser cuidadosamente exami
luxação dorsal ou plantar dos metatarsais. No pé normal,
nada e documentada, embora a lesão vascular seja rara.
uma linha traçada ao longo da superfície dorsal do pé, no
Im a g e n s
nível da articulação tarsometatarsal, não será interrompi
da. Um metatarsal nunca deve ser mais dorsal que seu res
As radiografias AP, obbqua e lateral são obtidas, e a rela pectivo osso do tarso.
ção entre os ossos tarsais e metatarsais é avaliada (Figs.
23.20B e 23.21). A incidência AP permite a melhor visua
A xiom a: O aspecto medial do cuneiforme médio e do se
lização do primeiro e segundo metatarsais, enquanto a in
gundo metatarsal se alinham. Qualquer ruptura desse alinha
cidência obbqua permite a melhor visualização das bases
mento é indicativa de luxação, o que pode ter sido esponta
do quarto e quinto metatarsais. neamente reduzida.
Figura 23.21 Outro exemplo de fratura-luxação de Lisfranc. A . A imagem AP demonstra o alinhamento normal do primeiro e do
segundo metatarsais com os cuneiformes medial e médio, respectivamente. B. A incidência oblíqua demonstra a perda de alinha
mento do terceiro metatarsal e do cuneiform e lateral, que não estava prontamente aparente na incidência AP. C. A reconstrução
com TC tridimensional com o mesmo mau alinhamento. D. A T C também demonstrou fraturas de avulsão do terceiro e quarto me
tatarsais (seta). E. Estabilização cirúrgica da lesão com fios de Kirschner.
534 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
profissionais têm sugerido que até 10% das lesões de FRATURAS DOS METATARSAIS
Lisfranc podem não ser detectadas sem as incidências
com carga. Os achados radiográficos são os mesmos As fraturas dos metatarsais são classificadas com base na
que nas incidências sem carga. As incidências de estresse anatomia e na terapia:
são, com frequência, difíceis de obter devido ao descon 1. Primeiro metatarsal
forto do paciente. 2. Metatarsais centrais (segundo, terceiro e quarto)
Uma TC deve ser obtida se houver alta suspeita clí 3. Quinto metatarsal (proximal)
nica e o paciente não puder suportar as incidências de
• Fratura de avulsão da tuberosidade
estresse. A TC é mais sensível e tem provado ser uma fer
ramenta diagnóstica valiosa para delinear as lesões ocul • Fratura de Jones
tas. O deslocamento de até 2 mm pode não ser visível • Fratura de estresse da diáfise
em filmes simples, mas é visto na TC. Em um estudo, um
quarto de todos os casos não foi diagnosticado com as ra Fraturas do primeiro metatarsal
diografias simples. Forças significativas atuam nesse osso durante a deambu
lação, tornando essencial que ele permaneça anatomica
L e s õ e s a sso cia d a s
mente intacto em relação aos outros ossos do pé. Dife
As luxações tarsometatarsais estão associadas às seguin rentemente do segundo ao quarto metatarsais, o primeiro
tes lesões: metatarsal não tem bgamentos de interconexão, permitin
1. Fratura da base do segundo metatarsal do que ele se mova de forma independente.
2. Fraturas de avulsão dos tarsais ou metatarsais adja
M e c a n is m o d e le sã o
centes
3. Fraturas do cuboide, do cuneiforme ou do navicular A maioria das fraturas metatarsais é resultado de uma
lesão de esmagamento direto, como quando um objeto
4. Síndrome compartimentai
pesado cai sobre o pé. Um mecanismo indireto de torção
T ra ta m en to também pode causar essas fraturas.
O manejo dessas lesões no setor de emergência inclui Exam e
analgésicos, gelo, elevação, imobilização (Apêndice
A.14). Até a entorse leve da articulação com radiogra Os pacientes com fraturas do primeiro metatarsal apresen
fias normais deve ser mantida sem carga até a avabação tam dor, edema e sensibibdade dolorosa locabzada sobre
a parte dorsal e medial do pé. A compressão axial ao lon
adicional devido ao potencial de incapacidade dessas le
go do primeiro metatarsal exacerba a dor. A intensidade e
sões.3 As fraturas-luxações quase sempre requerem con
sultoria ortopédica e reparo cirúrgico. Se a cirurgia for a quabdade do pulso pedioso dorsal devem ser documen
indicada, é melhor que seja executada dentro das primei tadas em todos os pacientes.
ras 12 a 24 horas após a lesão. Altemativamente, o reparo
Im a g e n s
cirúrgico de 7 a 10 dias mais tarde pode ser necessário
para permitir que o edema diminua. Se houver suspeita As incidências AP, lateral e oblíqua são adequadas para
de síndrome compartimentai, a consultoria ortopédica no demonstrar a fratura.
setor de emergência e a hospitalização estão indicadas.
O ortopedista pode considerar o manejo conservador L e s õ e s a sso cia d a s
de entorses da articulação de Lisfranc (radiografias de es As fraturas do primeiro metatarsal podem estar acompa
tresse normal) com descarga e uma bota gessada por seis nhadas de fraturas das falanges, do segundo ao quarto me
semanas/ Para as fraturas-luxações, a redução fechada tatarsais, ou dos ossos do tarso. Além disso, uma síndro
com uso de gesso habitualmente resulta em redução, mas me compartimentai pode desenvolver-se quando o edema
não é suficiente para produzir uma redução anatômica es de tecidos moles for significativo.
tável. A redução aberta e a fixação interna com fios ou
parafusos são necessárias. Depois da redução cirúrgica, Trata m en to
uma bota gessada é usada por 6 a 12 semanas. Um arco de As fraturas do primeiro metatarsal requerem gelo, ele
suporte customizado é utilizado nos 12 meses seguintes. vação, analgésicos e imobilização (Apêndice A.14).
O manejo apropriado conduz a um bom resultado clínico Um cuidado especial deve ser tomado para assegurar que
em 90% dos casos. as articulações metatarsofalângicas sejam mantidas em po
sição neutra. O paciente deve receber muletas e instruções
C o m p lic a ç õ e s para evitar carga. O manejo definitivo das fraturas estáveis
As luxações tarsometatarsais são frequentemente compli e não deslocadas inclui gessado por quatro a seis semanas.
cadas pelo desenvolvimento de artrite degenerativa e dor A estabihdade não é definida até ser observado que a fratu
crônica. ra não se desloca durante a carga (radiografias de estresse).
Emergências Ortopédicas 535
C o m p lic a ç õ e s
A não união e a má-união podem ocorrer depois dessas
fraturas. A artrite degenerativa é também uma complica
ção das fraturas intra-articulares.
M e c a n is m o d e le sã o
A maioria dessas fraturas é resultado de uma lesão por
esmagamento direto, como quando um objeto pesado cai
sobre o pé. Um mecanismo indireto de torção também
pode causar essas lesões. As fraturas de estresse, comuns Figura 23.22 Fraturas da diáfise do segundo, terceiro e quarto
no segundo e no terceiro metatarsais, são vistas após o metatarsais.
trauma repetitivo no antepé.
plantar (Fig. 23.24). Ambas as estruturas têm inserção na As incidências AP, laterais e oblíquas são adequadas para
tuberosidade. demonstrar essas fraturas (Fig. 23.25). A presença do osso
A fratura de Jones ocorre com mais frequência depois vesaliano (um centro secundário de ossificação) na base
que uma força lateralmente dirigida no antepé atua sobre do quinto metatarsal pode ser confundida com uma fratura
o pé em flexão plantar. Essa lesão é comumente relatada (ver Fig. 23.4). Os centros de ossificação secundária são
no basquete ou no futebol. lisos, arredondados, bilaterais e frequentemente têm mar
As fraturas de estresse podem ser distinguidas por gens escleróticas.
que são sintomáticas vários dias antes da apresentação,
diferentemente das fraturas de Jones e de avulsão, que são L e s õ e s a sso cia d a s
lesões agudas. Essas lesões ocorrem em indivíduos envol As fraturas dos metatarsais são muitas vezes acompanha
vidos em atividades físicas vigorosas. das por fraturas de falanges.
Emergências Ortopédicas 537
A B
Figura 23.25 Fratura da base do quinto metatarsal. A. Fratura de Jones. B. Fratura de avulsão da tuberosidade.
Exame
O paciente se apresenta com deformidade relativamente
óbvia do pé (Fig. 23.31). Existe em geral dor intensa, ede
ma e sensibilidade dolorosa. Com as luxações mediais, o
pé fica deslocado em direção medial, e o tálus é palpável
lateralmente. A pele apresenta-se tensa sobre a superfí
cie lateral do pé e o suprimento vascular com frequência
Figura 23.31 Luxação subtalar (medial). (Utilizada com permis
está comprometido. As luxações expostas também podem
são de Joel Levis MD e do West) Emerg Med 2009 May; 10(2):92.)
ocorrer e devem ser suspeitadas sempre que houver ruptu
ra da pele lateralmente.
que a superfície articular inferior aponta em direção pos
terior e a cabeça talar aponta para medial. Imagens
As incidências de rotina, incluindo AP, lateral e oblíqua
Mecanismo de lesão são adequadas para demonstrar a luxação subtalar (Fig.
As luxações subtalares podem ocorrer depois de trauma 23.32). As fraturas estão associadas em aproximadamente
de baixa energia (p. ex., queda de um meio-fio) e de alta dois terços dos casos. As fraturas maleolares, do colo
energia (p. ex., queda de altura). Uma luxação sub talar e as osteocondrais são as mais comuns. As radiogra
talar medial se segue a uma lesão de inversão e flexão fias pós-redução são necessárias para documentação, bem
plantar. Os ligamentos talocalcaneano e talonavicular como para excluir a presença de fraturas ocultas.
Figura 23.32 Radiografias de luxação subtalar (medial). A. AP e B. lateral. (Utilizadas com permissão de Joel Levis M D e do West
) Emerg M ed 2009 May; 10(2):92.)
Emergências Ortopédicas 541
Lesões associadas
As luxações subtalares estão associadas a fraturas (tarsais,
maleolares, do colo talar e osteocondrais) e lesão liga-
mentar.
Tratamento
O manejo de emergência das lesões fechadas inclui anal
gésicos e pronta redução para evitar a complicação da ne
crose cutânea (Vídeo 23.1). Se não estiver rapidamente
disponível uma consulta, deve ser feita a tentativa de re
dução fechada.
O joelho é mantido em flexão para relaxar o gas-
trocnêmio e permitir a redução mais fácil. Para reduzir
uma luxação medial, a tração é aplicada no pé e no cal
canhar em linha com a deformidade. A contratração é
aplicada à perna. Ela é seguida pela pressão acima da Luxação complexa
cabeça do tálus, com uma força de abdução concomi
tantemente aplicada ao antepé. As luxações laterais são Figura 23.33 Luxações metatarsofalângicas.
reduzidas por tração firme, seguidas de adução sobre o
antepé.
visível. O dedo apresenta-se hiperestendido, sobre o dor
Complicações so do metatarsal. Se a luxação for complexa, o sesamoide
está palpável no aspecto dorsal. Os pacientes com luxa
As luxações subtalares são complicadas pelo desenvolvi
mento de vários distúrbios significativos. ções IF se apresentam com achados similares. Se o edema
for significativo, a deformidade pode não ser tão óbvia
1. Necrose avascular do tálus (Fig. 23.34A).
2. Perda de movimento do tornozelo e artrite traumática
3. Perda cutânea isquêmica secundária à pressão talar Imagens
subjacente As luxações MTF podem ser diagnosticadas na incidên
cia AP, já que geralmente existe sobreposição entre o me
tatarsal distal e a falange proximal. As luxações IF são
LUXAÇÃO DOS DEDOS DO PÉ
mais adequadamente vistas nas incidências AP e oblíquas
As luxações metatarsofalângicas (MTF) são lesões ra (Figs. 23.34B e 23.34C). Com luxação MTF complexa,
ras e costumam ocorrer em direção dorsal. As luxações a placa volar do hálux, junto com o sesamoide, prende a
da MTF do hálux são mais comuns do que nos dedos falange na superfície dorsal do metatarsal.
menores. As luxações MTF são classificadas como
simples ou complexas com base na presença de teci Lesão associada
dos moles ou ossos sesamoides interpostos (Fig. 23.33). As luxações IF estão muitas vezes associadas a fraturas.
A articulação interfalângica (IF) pode ser deslocada em
direção dorsal ou volar. As luxações IF, como as luxa Tratamento
ções MTF, são raras.41 As luxações IF podem ser tratadas com redução fechada,
seguida de imobilização dinâmica. As reduções instáveis
Mecanismo de lesão requerem o encaminhamento precoce para fixação inter
As luxações da articulação MTF são secundárias à com na. As luxações MTF dorsais são reduzidas usando a hi-
pressão com extrema dorsiflexão da falange proximal. perextensão com tração distai (Fig. 23.35 e Vídeo 23.2)
Se a força gerada não resultar em luxação, uma torção é As reduções estáveis exigem um calçado de sola rígida e
diagnosticada, comumente chamada de entorse da MTF imobilização dinâmica. As luxações resistentes à redução
do hálux. Com forças maiores (p. ex., colisões de veícu têm tecidos moles interpostos e necessitam de redução
los automotores), a cápsula plantar sofre avulsão e ocorre aberta. As instáveis ou com crepitação depois da redução,
uma luxação dorsal da falange proximal sobre o metatar- sugerindo um corpo livre intra-articular, também são indi
sal. As luxações mediais ou laterais da MTF resultam de cações para o reparo cirúrgico.
forças que abduzem ou aduzem o dedo do pé.
B C
Figura 23.34 Luxação dorsal da articulação interfalângica do hálux direito. A . Fotografia do paciente {seta ). B. Radiografia AP.
C . Radiografia oblíqua.
A B C
Figura 23.35 Redução da articulação metatarsofalângica. A. A tração é aplicada na linha da deformidade. B. A hiperextensão é
usada para reproduzir a força da lesão. C. Mantendo a tração, a redução é realizada.
Emergências Ortopédicas 543
Compartimentos interósseos
Compartimento Compartimento
lateral medial
Compartimento Compartimento
calcaneano central
Figura 23.37 Corte transversal esquemático dos compartimentos do pé no nível da cabeça metatarsal proxim al.
544 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
c D
Figura 23.38 Remoção de corpo estranho plantar. A. Ferimento com perfuração plantar. B. A radiografia demonstra um corpo
estranho de vidro triangular. C. A fluoroscopia é usada para localizar o vidro. D. O vidro é alcançado e removido.
outros objetos contaminados ou quando uma perfuração por As feridas perfurantes que estejam infectadas e que
prego ocorrer através do calçado. Essas lesões têm especial tenham um corpo estranho (tipo IIIA) requerem antibió
probabilidade de infectar. Para prevenir a inoculação dos te ticos e intervenção cirúrgica. Quando a penetração do
cidos saudáveis, a ferida não deve ser fechada. Deve ser ob material estranho for no osso (tipo IIIB), o corpo estra
servado, contudo, que não é necessário remover um corpo nho deve ser cirurgicamente removido com curetagem do
estranho se for inerte, assintomático, não ameaçar a função defeito ósseo, debridamento de tecidos moles, lavagem
e não estiver dentro de uma articulação. Infelizm ente, não extensa e compressão aberta. Agentes antimicrobianos in
fo i dem onstrado que os antibióticos profiláticos reduzam a travenosos empíricos são administrados, dependendo das
taxa de infecção. culturas intraoperatórias.
546 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
Figura 23.39 Técnica para detectar e remover um corpo estranho dentro de ferida perfurante plantar. A. Palpar em torno da ferida
com um cotonete com ponta de algodão. O ponto de maior sensibilidade dolorosa é a localização do corpo estranho. B. Uma pe
quena incisão elíptica de 2 a 3 mm é feita em direção à localização presumida do corpo estranho. C. O tecido é removido com a
pinça. O corpo estranho pode ser localizado dentro do tecido.
As feridas perfurantes do pé que resultam em osteo- atingidos ou chutados na parte de trás da pema. Um estalo
mielite (tipo IV) são raras. A condição ocorre, contudo, pode ser ouvido.
e o reconhecimento da entidade ajuda na prevenção e no
diagnóstico precoces. Uma vez que a infecção se desen Exame
volva em uma ferida perfurante, deve-se ser agressivo, O paciente queixa-se de dor intensa e aguda na panturri
incluindo a sua exploração cirúrgica, o debridamento, a lha, tomando a deambulação quase impossível. A mptura
70
irrigação e a remoção de qualquer material estranho. parcial pode ser difícil de diagnosticar, sendo com fre
quência erradamente tomada por um músculo distendido.
RUPTURA DO TENDÃO DO CALCÂNEO Ao exame, edema e equimose difusos estão presentes e
pode haver a perda da flexão plantar (Fig. 23.40). Um defeito
A ruptura do tendão do calcâneo é relativamente comum, palpável pode estar presente, a menos que o edema seja in
ocorrendo em 18 a cada 100.000 pessoas. Essa condição tenso. O paciente apresenta alguma capacidade de fazer a
é diagnosticada de modo equivocado em 20 a 30% dos flexão plantar do tornozelo por causa da ação do músculo
casos por causa da dor insignificante ou em decorrência tibial posterior, mas a fraqueza será notada.
um exame incompleto. Vários exames clínicos foram descritos para ajudar no
Essa lesão é mais comum em homens entre as idades diagnóstico. O teste de aperto na p a n tu rrilh a é executa
de 30 e 50 anos que participam recreativamente de esportes do enquanto o paciente fica em decúbito dorsal na mesa
(“atleta de final de semana”). Essa condição também ocorre de exames, com os pés pendurados para fora da borda.
em atletas profissionais. A administração crônica de cor- As panturrilhas são bilateralmente apertadas, observando-
ticosteroide oral e o uso de fluoroquinolona predispõem à -se a ocorrência de flexão plantar. Se uma mptura comple
ruptura. A ruptura do tendão do calcâneo ocorre mais co- ta estiver presente, ocorrerá pouco ou nenhum movimento
mumente na porção mais estreita do tendão, em tomo de 5 a do pé (Fig. 23.41 e Vídeo 23.3). A descrição desse teste é
15 cm acima do seu ponto de inserção no calcâneo. comumente creditada a Thompson; contudo, foi descrito
cinco anos antes por Simmonds.
Mecanismo de lesão Outros testes incluem o teste da fle x ã o do jo e lh o e o
Os mecanismos de lesão incluem um estiramento extra teste do esfigm om anôm etro. Para executar o teste de fle
aplicado a um tendão tenso, uma dorsiflexão forte com xão do joelho é pedido ao paciente em decúbito dorsal
o tornozelo em estado relaxado ou um trauma direto no que flexione o joelho até 90°. O pé é observado duran
tendão tensionado. Somente um terço dos pacientes apre te o movimento e cai em posição neutra ou dorsiflexão
senta sintomas antes da ruptura. Os pacientes relatam o quando a mptura do tendão estiver presente. O teste do
aparecimento súbito de dor e a sensação que eles foram esfigmomanômetro é executado inflando-se o manguito
Emergências Ortopédicas 547
Imagens
As radiografias não são necessárias para chegar ao diag
nóstico. Uma radiografia lateral do tornozelo pode revelar
a perda da configuração regular entre o aspecto superior do
calcâneo e o aspecto posterior da tíbia (triângulo de Kager).
Quando houver ruptura, esse espaço toma-se menor.
Tratamento
A ruptura do tendão do calcâneo deve ser tratada com
gelo, analgésicos e imobilização na “posição de equino
gravitacional”, com o tornozelo em flexão plantar em po
sição confortável. O paciente deve receber muletas e ser
instmído para não apoiar o pé. O encaminhamento ao or
Figura 23.40 Ruptura do tendão do calcâneo do pé direito.
topedista deve ser feito em até dois dias.
Notar o edema no calcanhar e a perda na flexão plantar quan Continua havendo controvérsia sobre o tratamento
78 80
do comparado com o lado ileso. mais apropriado para a mptura do tendão do calcâneo.
O tratamento conservador consiste na imobilização com
tala em 20° de flexão plantar por duas semanas para per
mitir a consolidação do hematoma. Após esse período, a
extremidade inferior é imobilizada em uma bota gessa
da ou removível com o calcanhar elevado por seis a oito
semanas. Depois da imobilização ter sido completada,
a amplitude de movimento gradual é iniciada e uma cal-
canheira de 2 cm é usada nos dois meses seguintes. As
desvantagens do método incluem a menor resistência
muscular, devido ao alongamento do tendão cicatrizado e
elevada taxa de ruptura recorrente (8 a 39%).
O tratamento cirúrgico é muitas vezes preferido em
pacientes mais jovens ou mais atléticos. Os exercícios de
amplitude de movimento podem ser iniciados em três a
sete dias depois da cirurgia, mas uma bota para marcha
deve ser usada por seis semanas. Os desfechos após a ci
rurgia revelam melhor resistência quando comparados ao
manejo conservador. O risco de ruptura recorrente é sig
nificativamente diminuído (5%).SI As desvantagens desse
método de tratamento incluem os custos mais altos e as
complicações pós-cirúrgicas (infecção, necrose cutânea,
lesão nervosa). Em pacientes com diagnóstico retardado
por mais de uma semana, o tratamento cirúrgico costuma
ser preferido. Se tratados conservadoramente, esses pa
cientes exibem um alongamento do tendão com a cicatri-
zação, que inibe a resistência muscular.
TENDINOPATIA DO CALCÂNEO
O tendão do calcâneo constitui a inserção distai dos mús
B culos gastrocnêmio e sóleo no calcâneo. A tendinopatia
Figura 23.41 Teste de Thompson. A. Quando o mecanismo do do calcâneo é uma condição dolorosa devido à inflamação
calcâneo está intacto, o aperto da panturrilha causa a flexão do tendão; também é chamada de tendinite de Aquiles, te-
plantar do pé. B. Em pacientes com tendão do calcâneo rompi nossinovite, peritendinite, paratendinite (doença aguda),
81 82
do não existe flexão plantar. tendinose (doença crônica) e aquilodiniaf
548 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
Mecanismo de lesão
A fase aguda da tendinopatia do calcâneo é secundária a um
esforço excessivo agudo, a trauma não penetrante ou ao uso
excessivo crônico e a fadiga muscular. A tendinopatia
do calcâneo é o terceiro problema mais comum em corre
dores de distância. É a lesão mais frequente em dançarinas
de balé. A incidência anual em corredores de elite é de 7
a 9%.85,86 Outros fatores predisponentes para essa condição
incluem flexibilidade muscular inadequada, aumento da
pronação do pé e discrepância no comprimento das pernas.
Figura 23.42 A palpação nessa área é dolorosa em pacientes
Exame com fasciite plantar. Um esporão calcaneano é mostrado, sen
do comumente associado a essa condição.
Os pacientes apresentam edema e sensibilidade dolorosa
em torno do tendão. Uma crepitação fina é percebida ao
movimento do pé devido à presença de exsudato de fibrina
plantar (tuberosidade medial do calcâneo). A irritação do
dentro do paratendão. Na maioria dos casos, a região dolo
periósteo resulta na ossificação subperiostal secundária e
rosa é bem-localizada, e o paciente mantém o pé em flexão
no desenvolvimento de um esporão ósseo.
plantar para aliviar o desconforto. A dorsiflexão passiva
A condição é mais comumente secundária ao uso
agrava a dor. É frequente a existência de um espessamen-
excessivo. Vários fatores de risco foram identificados, in
to palpável sobre o tendão ou tecidos peritendíneos, como
cluindo as ocupações que envolvem excessivas caminhadas
previamente descrito. A rigidez matutina é comum, a dor
87 ou períodos em pé, calçados mal-acolchoados, obesidade e
aumenta com a atividade e cede com o repouso/
corrida. Os pacientes pronadores excessivos (com pés pla
Imagens nos) ou com dorsiflexão de tornozelo reduzida também têm
89
um risco mais elevado de desenvolver a fasciite plantar.1
O diagnóstico é feito em bases clínicas. A ultrassonogra-
fia e a RMN são confirmatórias, mas não são necessárias. Exame
Tratamento A sensibilidade dolorosa local é notada à palpação da su
perfície anteromedial do calcâneo, onde se insere a fáscia
O manejo conservador inclui redução da atividade e ele
plantar (Fig. 23.42). A dorsiflexão passiva dos dedos do
vação do calcanhar dentro do calçado com um pequeno
pé acentua a dor. A dor e a sensibilidade dolorosa são
bloco de feltro. O corredor deve ser estimulado a execu
sempre anteriores ao calcanhar, com irradiação para a sola
tar exercícios de alongamento do complexo do calcâneo.
do pé sendo um acompanhamento frequente.
Os agentes anti-inflamatórios orais podem ser usados,
enquanto as injeções de esteroides devem ser evitadas, já
Lesões associadas
que podem causar ruptura. O gelo é usado depois da ativi
dade. Se a dor for aguda e outras medidas não ajudarem, A condição é bilateral em até um terço dos casos. Quando
uma bota gessada para marcha pode ser usada por 10 dias. a fasciite plantar for bilateral, está associada a condições
O tratamento cirúrgico para a liberação da tenossinóvia es reumatológicas, como artrite reumatoide, lúpus eritemato-
pessada é recomendado em pacientes que não respondem so sistêmico e gota.
78
a uma tentativa de seis meses de tratamento conservador.
Imagens
O diagnóstico de fasciite plantar é clínico na maioria dos
FASCIITE PLANTAR
casos. As radiografias ou a cintilografia óssea podem ser
Lesão comum na população geral e representa até 15% úteis para afastar outros diagnósticos, como uma fratura
dos problemas do pé.8 O paciente típico tem 40 a 60 anos, de estresse do calcâneo.
mas surge mais cedo em corredores, nos quais incidên As radiografias demonstram um esporão ósseo no cal
cia é de até 10%.9 O paciente apresenta dor na superfície câneo em 50% dos casos. Os esporões de calcanhar ocorrem
inferior do calcanhar, ao ficar em pé ou caminhar. A dor no aspecto plantar do calcâneo, na inserção da aponeurose
alivia com o repouso. Muitas vezes, os pacientes notam a plantar, onde se desenvolve uma proeminência óssea que se
dor depois de um período de repouso no leito, que diminui estende através da superfície plantar do osso. Muitos pacien
depois de alguma atividade, mas que fica intensa nova tes com esporão de calcâneo são assintomáticos e 15 a 25%
mente depois de um tempo maior de apoio. da população geral têm esses esporões.
Figura 23.43 A . Técnica de im obilização da fáscia plantar. B. Calcanheira para tratar a fasciite plantar. G Suporte acolchoado do
arco da fáscia plantar. D. Alongamentos para a fasciite plantar.
dos, suporte para o arco, órteses, talas noturnas, agentes os joelhos retos. O paciente deve ser instruído para ficar
anti-inflamatórios e cirurgia. Com o tratamento adequa a aproximadamente 30 cm de distância da parede com o pé
do, 80% dos pacientes veem a resolução de seus sinto oposto e, gradualmente, inclinar os quadris para a frente
mas dentro de até 12 meses. Acredita-se que o tratamento até sentir que o tendão esteja sendo alongado. A posição
precoce dentro de seis semanas do desenvolvimento dos é mantida por 10 segundos e então repetida por três vezes.
. oo 93
sintomas apresse a recuperação. O alongamento deve ser executado com frequência durante
O tratamento no setor de emergência inclui repouso, o dia (até cinco vezes), inicialmente, e então duas vezes
gelo e drogas anti-inflamatórias não esteroides (AENEs). por dia para prevenir a recidiva.
O paciente deve ser instruído para usar uma calcanhei Outro método que pode ser empregado no setor de
ra (1,5 cm), suporte do arco para reduzir o estiramen emergência é o uso de esparadrapo no aspecto plantar do
to da fáscia plantar ou enfaixamento (Figs. 23.43A a pé. Usando um rolo de fita de 5 cm, vários pedaços são
23.44C).9 Além disso, o paciente deve ser aconselhado posicionados de forma que se estendam ao longo do as
a não caminhar descalço e substituir os calçados gastos. pecto plantar do pé, desde a cabeça do quinto metatarsal
Os exercícios de alongamento do tendão do calcâneo até a cabeça do primeiro metatarsal. As tiras são aplicadas
também devem ser prescritos (Fig. 23.43D). O melhor mé de forma que se sobreponham de 0,7 a 1,5 cm. A fita deve
todo para executar esses estiramentos é inclinar-se contra ser tensionada como uma corda na área do arco.
uma parede com o antepé, mantendo o calcanhar no chão e A injeção de anestésico local e esteroide ao longo do
aspecto medial do calcanhar com frequência fornece alí
vio, mas pode ser associada à atrofia do coxim de gordura,
sendo recomendada apenas em casos resistentes. As in
jeções de esteroides podem ser feitas usando o ultrassom
para guiar o posicionamento da agulha. A liberação da
fáscia plantar, incluindo a primeira camada dos múscu
los intrínsecos, tem se mostrado efetiva em casos refra-
tários. A fasciotomia plantar endoscópica é uma opção
razoável quando a terapia conservadora tiver falhado.
Tratamento
Existem vários componentes importantes no tratamento
do neuroma de Morton. Primeiro, o calçado do pacien
Figura 23.45 Neuroma de Morton. te deve ser examinado para ter a certeza de que as partes
552 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
que acomodam o antepé e os dedos sejam suficientemente mais propensas à não união, e os pacientes devem ter des
grandes. A injeção de esteroides dentro da área afetada, carga do peso por 6 a 10 semanas.
seguida por ultrassom, mobilização do antepé e um pro
tetor metatarsal temporário também reduzem os sintomas. BURSITE DO ANTEPÉ
Se as medidas conservadoras falharem, o paciente é enca
minhado para tratamento cirúrgico, que consiste em divi A maioria das bolsas nessa área são “bolsas adventícias”,
são do ligamento transverso com ou sem a excisão do neu e são anormais. Elas são encontradas nas articulações do
roma. As injeções de álcool sob orientação de ultrassom pé expostas à pressão com frequência exercidas por um
também têm sido usadas, podendo eliminar a necessidade calçado. Os locais mais comuns incluem:
de cirurgia.
• Articulações IF dorsais dos dedos do pé
• Tuberosidade do navicular
FRATURA DE ESTRESSE DO NAVICULAR • Primeira articulação MTF mediai
O navicular mais comumente sucumbe ao estresse no • Quinta articulação MTF lateral
terço central. Por ser relativamente avascular, similar a Na bursite aguda, o paciente se apresenta com sen
sua contraparte no punho, o osso é mais propenso a de sibilidade dolorosa à palpação do local envolvido, junto
senvolver retardo de consolidação ou não união caso não com eritema e edema. O tratamento inclui a eliminação
seja diagnosticado e corretamente tratado. O paciente da causa incitante. Deve-se proteger a área de irritação
queixa-se de dor de aparecimento insidioso. A palpação adicional usando terapia com gelo, AINEs e terapia com
da porção dorsal proximal do navicular produz sensibili injeção de esteroides para aliviar o edema e a dor aguda.
dade dolorosa, sendo chave para fazer o diagnóstico. Tal
como as fraturas de estresse no resto do corpo, a radiogra
SESAMOIDITE
fia simples não é sensível e o profissional precisa contar
com a cintilografia óssea, a TC ou a RMN. O tratamento Os sesamoides do primeiro metatarsal podem se tomar
inclui imobilização por seis semanas, seguidas de um re inflamados após um trauma ou um aumento na deambu
torno gradual às atividades. A fixação com parafuso é ne lação. O exame demonstra sensibilidade dolorosa punti-
cessária para aqueles pacientes que desenvolvem uma não forme sob a cabeça metatarsal, que aumenta com a dorsi-
união ou que não respondam ao tratamento conservador. flexão da articulação MTF. Os calçados de salto baixo e
uma barra metatarsal proximal às cabeças dos metatarsais
FRATURA DE ESTRESSE DOS METATARSAIS são habitualmente satisfatórios para aliviar os sintomas.
Também são úteis a imobilização do hálux, a leve flexão
Nenhuma discussão dos distúrbios dolorosos do antepé plantar e os anti-inflamatórios.
seria completa sem a inclusão das fraturas de estresse
dos metatarsais, as chamadas fr a tu r a s da m archa. O pa
OSTEOCONDROSE DO NAVICULAR
ciente na maioria das vezes relata a história de aumento
na atividade física, sem história clara de trauma prece O navicular é o último osso do tarso a ossificar e está su
dente. jeito à necrose avascular, que habitualmente ocorre entre
Ao exame, existe sensibilidade dolorosa no meio da os 4 e 6 anos, sendo com frequência, bilateral. A etiolo
diáfise do terceiro metatarsal, que é a estrutura mais co gia desse distúrbio é obscura, mas a condição é, em geral,
mumente envolvida. A dor é exacerbada com a deambula autolimitada e tende à recuperação espontânea.
ção e a flexão ou extensão dos dedos do pé e cede com o Ao exame, o paciente mais característico é um me
repouso. As radiografias iniciais são negativas, mas dentro nino entre os 4 e 10 anos que queixa-se de dor sobre a
de duas semanas um calo é visto na diáfise média do me região do navicular, quase sempre acompanhada de clau
tatarsal. dicação. A palpação produz sensibilidade dolorosa sobre
Quando a fratura envolver o primeiro, o terceiro, o o navicular e em geral não existe qualquer história de
quarto e o aspecto distal do segundo metatarsais, o tra trauma.
tamento é sintomático, com repouso relativo. Os pacien As radiografias do pé devem ser obtidas com inci
tes podem ser beneficiados com uma bota para marcha dências de comparação, demonstrando a densidade au
ou muletas se a dor for intensa. Uma vez que a sensi mentada e perda do padrão trabecular do navicular, que
bilidade dolorosa à palpação e a dor com a deambulação é de contorno irregular e muitas vezes tem um aspecto
tenham cedido, o paciente pode retomar gradualmente as esmagado.
atividades. A forma física cardiovascular pode ser manti O tratamento consiste na proteção do osso no estágio
da com atividades na piscina ou ciclismo. agudo, com restrição das atividades e um gessado por seis
As fraturas de estresse na base do segundo metatarsal a oito semanas em casos mais graves. A ossificação com
devem ser tratadas com descarga por um período de seis pleta ocorre em dois a três anos, e nenhuma incapacidade
semanas. As fraturas diafisárias do quinto metatarsal são permanente é esperada.
Emergências Ortopédicas 553
CISTO GA N GLIÔ N ICO maléolo medial e irradia para a sola e para o calcanhar.
A dor aumenta com a atividade e diminui com o repouso.
A herniação sinovial ocorre depois de entorse crônico, Parestesias, disestesias e hipoestesia podem estar presen
acompanhada da fraqueza das cápsulas de uma das muitas tes dentro da mesma distribuição. A apresentação varia,
articulações do pé. Um local frequente é próximo à inser entretanto, e alguns pacientes relatam dor somente na área
ção do tendão fibular, distai ao maléolo lateral, onde o cis metatarsal, enquanto outros sentem dor ao longo do as
to pode ser bastante grande. Outro local é o dorso do pé. pecto lateral do pé. Aproximadamente metade dos pacien
Neste caso, o cisto gangliônico surge ao longo da bainha tes afirma que a dor se irradia superiormente, ao longo
dos tendões extensores longos ou das articulações tarsais. do lado medial da panturrilha. A massagem no pé parece
O tratamento é a remoção cirúrgica; contudo, em alguns oferecer algum alívio temporário.
casos, a aspiração seguida de um curativo compressivo A característica que confirma o diagnóstico é um s i
pode render bons resultados. nal de Tinel p o s itiv o , com dor irradiada na distribuição
do nervo plantar medial ou lateral à percussão do nervo
NEUROPATIAS COMPRESSIVAS dentro do canal. A dor também é reproduzida com a
dorsiflexão e a eversão do pé. O diagnóstico pode ser con
Síndrome do túnel do tarso firmado pelos estudos de condução nervosa.
O túnel do tarso está localizado no aspecto medial do pé, Órteses, alongamento, repouso e AINEs são prescri
posterior ao maléolo medial. É formado pelo retináculo tos. A injeção com esteroides e anestésico local, no ponto
flexor, que compõe o teto do túnel. A síndrome do túnel onde a sensibilidade dolorosa à percussão é máxima, tam
do tarso resulta da compressão do nervo tibial posterior bém é efetiva para aliviar os sintomas. 0 A liberação ci
rúrgica do retináculo flexor é o tratamento de escolha para
dentro do túnel fibro-ósseo (Fig. 23.46). O pé plano é
essa condição, e os pacientes devem ser apropriadamente
uma causa comum dessa condição, pois o aumento da ab 82
encaminhados quando o diagnóstico for suspeitado.
dução do antepé e o desvio em valgo do retropé aumentam
a tensão sobre o nervo. A síndrome do túnel do tarso é
comumente vista em atletas envolvidos em atividades vi Compressão do nervo plantar lateral
gorosas e que colocam muito estresse sobre a articulação e calcaneano
tibiotalar.107 O nervo tibial posterior origina os nervos plantares medial
Os pacientes reclamam de aparecimento insidio e lateral e o nervo calcaneano. Os nervos plantar lateral e
so de dor, descrita como queimação. Ela se origina no calcaneano podem ficar aprisionados entre a fáscia pro
funda do músculo abdutor do hálux e a margem caudal
medial do músculo plantar quadrado. O resultado é a
dor na área de distribuição dos nervos - o calcanhar.
Entre 10 e 15% dos atletas com dor crônica no cal
canhar não resolvida têm compressão desses nervos.
O paciente apresenta dor crônica no calcanhar; é incô
moda, constante ou cortante. Ela pode irradiar-se para o
tornozelo e intensifica com a caminhada ou corrida. Está
presente uma sensibilidade dolorosa puntiforme sobre o
primeiro ramo do nervo plantar lateral, profundamente ao
músculo abdutor do hálux. Taxas de sucesso variáveis têm
sido demonstradas com as órteses. Muitas vezes, esses pa
cientes requerem a neurólise cirúrgica.
ÚLCERAS DO PÉ DIABÉTICO E INFECÇÃO ção é definida como a presença de sinais e sintomas lo
cais (eritema, calor, tumefação e dor), combinados com
As úlceras do pé diabético são condições comuns vistas
sintomas sistêmicos ou secreção purulenta. As infecções
no setor de emergência. Elas se desenvolvem em 15% dos
são, em geral, polimicrobianas, com organismos aeróbios
diabéticos. Em indivíduos diabéticos que necessitam de
gram-positivos, gram-negativos e anaeróbios presentes.
amputação do pé, 85% tiveram inicialmente uma ulce
A osteomielite está presente em até dois terços das úlceras
ração. As úlceras do pé ocorrem nos diabéticos com e
do pé diabético. Em um estudo, a capacidade de tocar o
sem neuropatia. A incidência anual de úlceras do pé é de
osso com um instrumento estéril não penetrante teve valor
2% em diabéticos, mas aumenta para 7,5% naqueles com
preditivo positivo de 89% para osteomielite. ' Uma radio
neuropatia periférica. A neuropatia periférica resulta em
grafia deve ser obtida para procurar a evidência de osteo
perda dos mecanismos protetores, pois o paciente pode
mielite (destruição óssea ou reação periosteal) ou gás nos
não mais sentir a ocorrência de uma lesão. Outros fatores
tecidos moles circundantes (Fig. 23.48B). Quando a infec
predisponentes no desenvolvimento de uma úlcera do pé
diabético incluem calosidades, doença vascular periférica ção estiver presente, uma cultura dos tecidos profundos
e deformidades. O trauma é um precipitante comum, deve ser obtida, sendo melhor que os espécimes de esfre-
que pode ser tão pequeno como um calçado com ajuste gaço superficiais para identificar o organismo causador.
inadequado.
Tratamento
A avaliação de um paciente com ulceração do pé in
clui um exame sensorial minucioso e a palpação dos pul O tratamento das úlceras neuropáticas inclui evitar a
sos periféricos. Se os pulsos do pé estiverem presentes, pressão na úlcera (i.e., descarga com muletas, uma bota
a neuropatia é a causa principal da úlcera. As úlceras gessada ou um calçado especial). O debridamento de te
isquêmicas devem ser reconhecidas pelo exame clínico, cido necrótico, de calo e do material estranho infectado
avaliando a possível necessidade de revascularização. As é fundamental e mais adequadamente executado com um
úlceras neuropáticas são subdivididas em leves, modera bisturi. A embebição da ferida macera o tecido, mas não
das ou graves, dependendo da profundidade da úlcera e da faz o debridamento do tecido necrótico, devendo ser evita
presença ou ausência de envolvimento ósseo. da. O debridamento químico enzimático e as imersões em
A infecção é uma complicação comum (Fig. 23.48A). turbilhão não são úteis. O tratamento cirúrgico está indi
A úlcera fornece uma entrada fácil para as bactérias no cado para a claudicação grave, dor em repouso intratável,
paciente com resistência diminuída à infecção. A infec necrose ou úlceras que não respondem.
Figura 23.48 A . Infecção necrótica de pé diabético. B. Radiografia do mesmo paciente, demonstrando gás nos tecidos.
556 Robert R. Simon e Scott C. Sherman
Figura 23.50 Remoção da unha encravada. A. Depois que uma pinça hemostática for usada para elevar a unha encravada, cortar
a placa ungueal com tesoura. B. A porção lateral da placa ungueal é removida. C. A matriz ungueal está exposta. D. Um cotonete
com ponta de algodão molhada em fenol é usada para destruir a matriz do leito ungueal de forma que esta porção da unha não
cresça mais.
meiro dedo do pé. O paciente se apresenta com queixas de 4. Perron AD, Brady WJ. Evaluation and management of the
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PARTE V
Apêndice
Apêndice
Talas, Gessados e Outras Técnicas
EXTREMIDADES SUPERIORES
A.1 IMOBILIZADORES PARA AS FALANGES DISTAIS
Imobilizadores dorsais para as falanges distais Tala metálica
As talas dorsais e volares são muito úteis para tratar as fra Esta tala é feita de uma fita fina de metal. Fornece pro
turas de avulsão da falange distai, conforme discutido no teção para a fratura da falange distai resultante de lesão
texto. A preferência é a tala dorsal, que fornece mais su externa. Essa tala não fornece qualquer suporte estrutural.
porte, porque existe menos “acolchoamento” no aspecto
dorsal do dedo. A tala fica em maior contato com o osso.
Ao usar essas talas, não hiperestender a articulação inter-
falângica distai, como era recomendado nos textos mais
antigos. A extensão completa é a posição de escolha ao
aplicar a tala.
c -
564 Apêndice
C
572 Apêndice
B /
574 Apêndice
A.13 TIPOIAS
A . Uma tipoia comercial é usada para sustentar o braço, enfaixamento (circundando a cintura do paciente) é usada
em várias lesões, conforme discutido no texto. B. O uso em situações nas quais haja uma fratura instável do úmero
do co la r e da p u lseira é um método alternativo para sus proximal, que tem a tendência a deslocar devido à con
tentar o antebraço em pacientes com fratura do úmero tra tração do músculo peitoral maior. Essa posição relaxa o
tada com tala de coaptação. C. Uma m alha tipo Velpeau e peitoral maior.
Apêndice 577
EXTREMIDADES INFERIORES
A.14 TALA POSTERIOR PARA TORNOZELO
A . A malha tubular é aplicada sobre o pé e o tornozelo, Para um suporte lateral adicional, a tala de coaptação
com o paciente em decúbito ventral. B . A seguir, o algo em forma de U é aplicada sobre o calcanhar. D . Por fim,
dão laminado é aplicado sobre a malha, com acolchoa- uma atadura elástica é aplicada sobre as talas de gesso.
mento extra aplicado sobre os maléolos e o calcanhar. C. O tornozelo é mantido em posição neutra ao tratar entor
As lâminas de gesso pré-mensuradas são então aplicadas. ses de tornozelo ou na maioria das fraturas. E. A flexão
A lâmina plantar cruza desde a base dos dedos do pé, logo plantar de tornozelo (posição em equino) é usada no trata
distai às articulações metatarsofalângicas, até abaixo do mento das lesões do tendão de calcâneo.
joelho, sendo aplicada acima sobre a atadura de algodão.
C D E
578 Apêndice
Angulo diagnóstico, 68
225-226 de Bohler, 521/ tratamento, 68
Abscesso epidural vertebral, 139 escafossemilunar, 237 Artrite reumática, 43
características clínicas, 139 Antebraço, 267 Artrite reumatoide, 46, 55
laboratório e imagens, 139-140 classificação, 268 Artrite reumatoide de aparecimento
tratamento, 140 Anticorpo antinuclear (AAN), teste, 46 recente, 56-58
Acetábulo, pélvico, 392 Apófise, 91 Artrite reumatoide juvenil (ARJ), 55,
Acetato de metilprednisolona, 303 Apofisite da patela, 112-113 62-63
Acetonida de triancinolona, 27 Apofisite do calcâneo. Ver Doença de Artrite reumatoide preexistente, 58-62
Acromioclavicular (AC), luxação Sever articulação reumática séptica, 58, 60
complicações, 340 Aposição, 3 cisto poplíteo, 60
exame, 338, 339/ de baioneta, 4 doença articular, 58, 59í, 6 0 / 61/
imagens, 338-340, 340/ Arqueamento, 93 doença sistêmica, 61-62
mecanismo de lesão, 338, 338 Arterite temporal exacerbação da artrite reumatoide
panorama, 338/ diagnóstico, 70 aguda, 58
tratamento, 340 tratamento, 70 subluxação atlantoaxial, 60-61
Adrenalina, 35 Articulação acromioclavicular, 319-320 Artrite sarcoide
Alinhamento, 3 Articulação atrófica, 73 diagnóstico, 69
carpal, 237 Articulação falângica proximal (IFP), tratamento, 70
Alopurinol, 51 172, 213-214 Artrite séptica, 46, 51, 110-112
Amidato. Ver Etomidato fratura-luxação articular, 215-216 análise laboratorial, 47^48,410-411
Aminoglicosídeo, 48 lesão articular da placa volar, 215-216 apresentação clínica, 47, 410
Amoxicilina-clavulanato, 80 Articulação glenoumeral, 318, 319 fatores de risco, 47
Amputação da mão, 204-206 Articulação hipertrófica, 73 gram-negativa, 46
Analgesia, 502 Articulação interfalângica (IF), 172 panorama, 410
Análise do fluido sinovial, 44-45 1 Articulação interfalângica distal (IFD), tratamento, 48, 411
Anestesia e analgesia, 32 172 Artrite traumática, 72, 512
anestesia local, 35 tala dorsal na, 184/ Artrite tuberculosa, 43
anestesia regional, 35 Articulação metacarpofalângica (MCF), Artrite virai, 43, 46, 64
bloqueio digital, 36-37 172,218-219/241 hepatite, 64
bloqueio do punho, 37 Articulação radioulnar distal (ARUD), parvovirus, 65
extremidade inferior, 37-39 232 rubéola, 65
bloqueio do hematoma, 39 Articulação reumática séptica, 58, 60 vírus da imunodeficiência humana,
calor e frio terapêutico, uso de, 39 Articulação subtalar, 493 64-65
manejo da dor, 32 Articulações protéticas, 22 Artrocentese, 44 1
sedação e analgesia, 32 Artralgia, 42 Artrografia, 510-511
etomidato, 34 Artrite, 42 Artropatia de Charcot. Ver Artropatia
fentanila, 33 Artrite aguda, 43 neuropática
flumazenil, 34-35 Artrite fúngica, 43 Artropatia induzida por cristais, 43
metoexital, 34 Artrite gonocócica, 42, 43, 45—48 artropatia por cristal de hidroxiapatita,
midazolam, 33 Artrite gotosa aguda, 48 53
monitoração pós-procedimento, 35 Artrite hemorrágica, 70 gota, 48-51
naloxona, 34 coagulopatia, 72 pseudogota, 51-53
propofol, 34 hemofilia, 70-72 Artropatia neuropática, 73
quetamina, 33-34 Artrite monoarticular versus poliarticu- Artropatia por cristais de hidroxiapatita,
selar, 132 lar, 42^16 53
582 índice
CAP III, 384 marcados com índio, 86, 111-112 tumores ósseos primários, 143-144
índice 583
ruptura do músculo da coxa, 430,431/ Domo talar, lesão osteocondral, 512 Entorse em hiperflexão, 158-159/
hérnia fascial, 431 apresentação clínica, 513 Entorse por hiperextensão, 160
tratamento, 431 imagens, 513 Entorses do tornozelo, 508
Distração, 4 mecanismo de lesão, 513 apresentação clínica, 509-510
Distrofia reflexa, 81-82 tratamento, 513 complicações, 512
pós-traumática, 81-82 Dor anterior do cotovelo, 303-304 exame, 510
simpaticorreflexa. Ver Síndrome da Dor cervical e lombar, abordagem, 121 imagens, 510-511
dor regional complexa anatomia, 121-123 lesões associadas, 511
Distúrbios do colágeno vascular, 408 causas não musculoesqueléticas, 124? mecanismo de lesão, 509
Distúrbios extrínsecos exame físico, 125 tratamento, 511-512
doença da coluna cervical, 358-359 exame da coluna cervical, 125-127 Enzima de conversão da angiotensina
doença neoplásica, 359-360 exame da coluna toracolombar, (ECA), nível da, 69
neuropatia do plexo braquial, 359-360 128-131 Epicondilite, 304-305/
síndrome do desfiladeiro torácico, história, 123-125 lateral, 304
359-360 imagens, 130-131 medial, 305/
Distúrbios musculares, 28-31 tratamento, 131 Epicôndilos, 280
Doença Dor lateral no cotovelo, 304 Epífise, 91
articular, 58, 59í, 6 0 / 61/ Dor lombar. Ver também Dor cervical e Eponíquia, 223-226/
cardíaca, na artrite reumatoide, 62 lombar, abordagem da Eritema nodoso, 42
da articulação sacroilíaca, 139 abordagem, 121 Escápula alada, 358-359
da coluna cervical, 358-359 causas não musculoesqueléticas da, Escherichia coli, 78
de Crohn, 42, 68 124? Escorregamento da epífise capital femo
de Cushing, 408 sinais e sintomas de alerta, 124? ral (EECF), 109-111
de Felty, 62 Dor medial no cotovelo, 304 Espinha ilíaca
deFreiberg, 113-115, 134 Dor na canela anteroinferior, 373
de Hoffa. Ver Síndrome do coxim de apresentação clínica, 489 anterossuperior, 373
gordura diagnóstico, 489 posterossuperiores (EIPS), 128
de Kienbõck, 86, 242 exame, 489 Espondilite anquilosante
de Lyme, 42, 43, 46, 65 tratamento, 489 apresentação clínica, 67
apresentação clínica Dor óssea tratamento, 67
infecção disseminada, 65 não traumática, 86-87 Espondiloartropatia
infecção precoce, 65 traumática, 85-86 enteropática, 68-69
infecção tardia, 65-66 Dor posterior no cotovelo, 304 soronegativa (ESN), 66
diagnóstico, 66 Drogas anti-inflamatórias não esteroides artrite reativa, 68
tratamento, 66 (AINEs), 25, 32, 50, 57, 81-82 artropatia psoriática, 69
de Osgood-Schlatter, 111-113, 304 Drogas Antirreumáticas Modificadoras espondilite anquilosante, 67
de Pellegrini-Stieda, 463 da Doença (DARMDs), 57 espondiloartropatia enteropática,
de Sinding-Larsen-Johansson, 112— 68-69
113 Espondilolistese, 136
de Still, 62
E características clínicas, 137
do soro, 42 Eminência imagens, 137-138
hepática, na artrite reumatoide, 62 hipotenar, 171 tratamento, 138-139
intestinal inflamatória (DII), 68 tenar, 171 Espondilolistese traumática. Ver Fratura
neoplásica, 359-360 Encontro anual da Society of Academie do enforcado
pulmonar, na artrite reumatoide, 61 Emergency Medicine, 44 Estabilidade carpal, 255
vascular, na artrite reumatoide, 62 Endocardite bacteriana, 46 Estafilococos, 111-112
Doença articular degenerativa Entorse alta do tornozelo, 509 Estenose vertebral, 135
apresentação clínica, 411 Entorse de primeiro grau, 26, 509/ características clínicas, 135-136
imagens, 411,412/ apresentação clínica, 509 imagens, 136
panorama, 411 tratamento, 511 tratamento, 136
tratamento ,411^-12 Entorse de segundo grau, 26, 509/ Estiramento do ligamento sacroilíaco,
Doença de Legg-Calvé-Perthes (DLCP), apresentação clínica, 509 394-395
86, 108-110 tratamento, 511 Estresse em valgo, 458
Doença de Sever, 114-115 Entorse de terceiro grau, 26, 509/ teste, 460, 460/
Doenças sistêmicas, 43 apresentação clínica, 509-510 Estresse em varo, 458
na artrite reumatoide, 61-62 tratamento, 511-512 teste, 460, 461/
Domo talar, 493/ Entorse de tornozelo não cicatrizado, Estresse por hiperextensão, 458-459
fraturas, 113-114 512 Estresses rotacionais, 458^1-59
índice 585
Fratura dividida, 441 Fratura em explosão de Jefferson, 154, fraturas condilianas mediais, 295-
Fratura do bebê, 112-113 155/ 296/
Fratura do cassetete, 272 Fratura em lágrima por extensão, 160, complicações, 295-296
Fratura do corpo, 529 161/ exame, 295-296
Fratura do corpo do ilíaco (não deslocada) Fratura em lágrima por flexão, 156-157/ imagens, 295-296
complicações, 379 Fratura equivalente à bimaleolar, 501 lesões associadas, 295-296
exame, 378 Fratura equivalente à trimaleolar, 503/ mecanismo de lesão, 295-296
imagens, 378 Fratura estável, 5 tratamento, 295-296
lesões associadas, 379 Fratura fechada, 5 Fraturas da borda glenoide, 337
mecanismo de lesão, 378 redução, 16-19 Fraturas da cabeça do fêmur, 417
panorama, 378/ Fratura impactada, 3 -4 / exame, 401
tratamento, 379 Fratura indireta, 5 -6 / imagens, 401
Fratura do enforcado, 155-156 Fratura não complicada, 5 lesões associadas, 401^-02
Fratura do epicôndilo lateral, 297/ 298 Fratura oblíqua, 3 -4 / mecanismo de lesão, 401
Fratura do epicôndilo medial, 2 9 7 / Fratura por pronação e rotação externa, panorama, 401/
298/ 498 tratamento, 402
Fratura do escavador, 156-157 Fratura segmentar, 4 / Fraturas da cabeça e do colo do rádio,
Fratura do estiloide do rádio (Hutchin- Fratura transversa, 3 -4 / 241, 286 103-105,286/-288/
son), 255/ Fratura trimaleolar, 501/ exame, 287
complicações, 255 Fratura-luxação de Essex-Lopresti, 287 imagens, 287, 287/
exame, 255 Fratura-luxação de Galeazzi, 270-271/ lesões associadas, 287
imagens, 255 Fratura-luxação de Lisfranc, 530, 532/ mecanismo de lesão, 286/
lesões associadas, 255 533/ tratamento, 287-288/
mecanismo de lesão, 255 anatomia, 530-531 fraturas cominutivas, 288
tratamento, 255 classificação, 531 fraturas do colo, 288
Fratura do maléolo medial, 501 complicações, 534 fraturas marginais da cabeça do
Fratura do osso do púbis (não deslocada) exame, 531-532 rádio, 288
complicações, 378 imagens, 532-534 Fraturas da clavícula, 96-9 7 /
exame, 378 lesões associadas, 534 complicações, 334
imagens, 378 mecanismo de lesão, 531 exame, 332
lesões associadas, 378 tratamento, 534 imagens, 332-333/
mecanismo de lesão, 378 Fratura-separação pedículo-laminar, lesões associadas, 332
panorama, 378/ 160 mecanismo de lesão, 332
tratamento, 378 Fraturas, em crianças, 93-94, 95-9 6 / panorama, 331/ 333/
Fratura do osso sesamoide, 199/ Fraturas acetabulares, 417 tratamento, 332-334, 333/
Fratura do pilão, 507-508/ complicações, 394 Fraturas da clavícula na infância. Ver
Fratura do pilar, 159-160 exame, 392 Fraturas da clavícula
Fratura do processo lateral do calcâneo, imagens, 392-393/ Fraturas da coluna toracolombossacral
524 lesões associadas, 393 (TLS), 166
Fratura do sesamoide do polegar. Ver mecanismo de lesão, 391-392 Fraturas da diáfise da tíbia, 483/
Fratura do osso sesamoide panorama, 390-391/ complicações, 486
Fratura do sustentáculo do tálus, 524 tipos, 391 exame, 484
Fratura do tipo em extensão (Colles), tratamento, 393-394, 393/ imagens, 484^-85/
249-253, 249/ 250/ 252/ Fraturas bicondilianas, 438, 442 lesões associadas, 484
complicações, 253 Fraturas com divisão e depressão, mecanismo de lesão, 483-484
exame, 249 441^142 tratamento, 484-486
imagens, 249-251 Fraturas cominutivas, 3, 4 / 286, 286/ Fraturas da diáfise da ulna, 271-274,
lesões associadas, 251 287/ 288 272/
mecanismo de lesão, 249 glenoide, 337 complicações, 274
tratamento, 251-253 Fraturas condilianas, 438, 439,441/ exame, 272
Fratura do tipo em flexão (Smith), fraturas condilianas laterais, 295-296, imagens, 272-274
253-254, 253/ 295/ 441 lesões associadas, 273-274
complicações, 254 complicações, 295-296 mecanismo de lesão, 272
exame, 253 exame, 295 tratamento, 273-274
imagens, 253 imagens, 295 Fraturas da diáfise do fêmur, 417
lesões associadas, 253 lesões associadas, 295 complicações, 428
mecanismo de lesão, 253 mecanismo de lesão, 295 exame, 426/
tratamento, 254 tratamento, 295-296 imagens, 426^127,426/
índice 587
anatomia essencial, 311-312/ Fraturas do colo anatômico na infância, cotovelo da liga infantil, 104-105
complicações, 313-314 327 da cabeça e do colo do rádio, 103—
deslocadas, 313-314/ Fraturas do colo cirúrgico, 324 105
exame, 313/ complicações, 327 do côndilo lateral, 103-104
imagens, 313/ exame, 325 do côndilo medial, 103-104
lesões associadas, 313 imagens, 325-326/ epicondilianas mediais, 102-104
mecanismo de lesão, 312 lesões associadas, 325 osteocondrite dissecante, 104-105
não deslocadas, 313-314/ mecanismo de lesão, 325 subluxação da cabeça do rádio,
tratamento, 313-314/ tratamento, 326-327, 326/ 104-107
Fraturas do calcâneo, 520 Fraturas do colo da glenoide, 335 supracondilianas, 97-102
fraturas do corpo do calcâneo, 521— complicações, 337 intercondilianas, 294-295, 294/
523, 521/ exame, 336 supracondilianas, 289-293, 290-
Fraturas do calcâneo extra-articulares, imagens, 336/ 292/
523-524, 523/ lesões associadas, 336 transcondilianas, 293-294/
exame, 524 mecanismo de lesão, 336 Fraturas do cuboide e do cunéiforme,
imagens, 524 tratamento, 336-337 529/
mecanismo de lesão, 524 Fraturas do colo do fêmur exame, 529
tratamento, 523 complicações, 404 imagens, 529
fratura do processo anterior, 524 exame, 402, 403/ lesões associadas, 529
fraturas da tuberosidade do calcâ imagens, 402-403, 403/ mecanismo de lesão, 529
neo, 524-525 lesões associadas, 403 tratamento, 529
fraturas do processo lateral do mecanismo de lesão, 402 Fraturas do epicôndilo, 297/
calcâneo e do tubérculo fibular, panorama, 402/ do epicôndilo lateral, 297/ 298
524 tratamento, 403-404 do epicôndilo medial, 297/
fraturas do processo medial do Fraturas do côndilo lateral, 103-104 complicações, 298
calcâneo, 524 Fraturas do côndilo medial, 103-104 exame, 298
Fraturas do capitato, 243-244, 243/ Fraturas do corpo do calcâneo, 521/ imagens, 298/
complicações, 244 complicações, 523 lesões associadas, 298
exame, 243 exame, 521 mecanismo de lesão, 297-298
imagens, 243 lesões associadas, 522 tratamento, 298
lesões associadas, 243 mecanismo de lesão, 521 Fraturas do escafoide, 237-241, 238/
mecanismo de lesão, 243 tratamento, 522-523 complicações, 241
tratamento, 243 Fraturas do corpo do ísquio, 374-375/ exame, 238
Fraturas do carpo, 237 complicações, 375 fratura da cintura, 239/
do capitato, 243-244, 243/ exame, 375 imagens, 238-239
do escafoide, 237-241 imagens, 375 lesões associadas, 239
do hamato, 244-245, 244/ lesões associadas, 375 mecanismo de lesão, 238
do piramidal, 241/ 242/ mecanismo de lesão, 375 não união do, 239/
do pisiforme, 245-247, 246/ panorama, 375 tratamento, 239
do semilunar, 241-243, 242/ tratamento, 375 fraturas deslocadas do escafoide,
do trapézio, 245/ Fraturas do corpo e da espinha da es 240
do trapezoide, 247/ cápula fraturas do escafoide clinicamente
Fraturas do cóccix complicações, 335 suspeitadas, 239-240
complicações, 377 exame, 334 Fraturas do fêmur distai
exame, 377 imagens, 334, 336/ complicações, 440-441
imagens, 377 lesões associadas, 334 exame, 439^440
lesões associadas, 377 mecanismo de lesão, 334 imagens, 440/
mecanismo de lesão, 377 panorama, 334, 335/ lesões associadas, 440
panorama, 377/ tratamento, 334-335 mecanismo de lesão, 439
tratamento, 377 Fraturas do cotovelo panorama, 438^-39,439/
Fraturas do colo anatômico condilianas, 295-296, 295/ tipos de, 438
complicações, 327 da cabeça e do colo do rádio, 286- tratamento, 440
exame, 327 288/ Fraturas do fêmur proximal e do quadril,
imagens, 327 do capítulo, 295-297/ 401
lesões associadas, 327 do epicôndilo, 297-298, 297-298/ Fraturas do hamato, 244—245, 244/
mecanismo de lesão, 327 do olécrano, 284-286, 285/ complicações, 245
panorama, 327/ do processo coronoide, 288-289/ exame, 244
tratamento, 327 em crianças, 97 imagens, 244
índice 589
lesões associadas, 244 fraturas do calcâneo, 520 Fraturas do processo medial do calcâ
mecanismo de lesão, 244 fraturas do corpo do calcâneo, 521— neo, 524
tratamento, 245 523, 521/ 522/ Fraturas do punho, 237
Fraturas do joelho, 438/ fraturas do cuboide e do cuneiforme, em crianças, 106-108
da espinha da tíbia, 444^445, 445/ 529 fraturas do carpo, 237
da fíbula proximal, 447^448,448/ fraturas do mediopé, 527-528 do capitato, 243-244, 243/
da patela, 44ÇM 50,449^150/ fraturas do navicular, 528-529 do escafoide, 237-241
da tíbia proximal, 441/ fraturas do tálus, 525-527 do hamato, 244—245, 244/
da tuberosidade da tíbia, 445^447, fraturas dos dedos do pé, 538, 538/ do piramidal, 241/ 242/
446/ fraturas dos sesamoides, 538-539, do pisiforme, 245-247, 246/
do fêmur distai, 438-441,439^140/ 539/ do semilunar, 241-243, 242/
do platô da tíbia, 441^-44, 441/ fraturas extra-articulares do calcâneo, do trapézio, 245, 245/
443^444/ 523-525, 523/ do trapezoide, 247/
epifisárias, 447 fraturas metatarsais, 534-538 fraturas do rádio distai, 247
subcondilianas da tíbia, 447, 447/ Fraturas do pescoço, 286, 286/ 288 borda dorsal e volar (Barton)
Fraturas do mediopé, 527, 527/ Fraturas do pilão tibial, 484 classificação, 248
do cuboide e do cunéiforme, 529 complicações, 508 fratura, 254-255, 254/
Fraturas do navicular, 528 exame, 507 fratura do estiloide do rádio
complicações, 529 imagens, 507, 508/ (Hutchinson), 255
exame, 528 mecanismo de lesão, 507 fratura do tipo em extensão (Colles),
imagens, 528 Fraturas do piramidal, 241/ 242/ 249-253, 249/ 250/ 252/
lesões associadas, 528 complicações, 241 fratura do tipo em flexão (Smith),
mecanismo de lesão, 528 exame, 241 253-254, 253/
tratamento, 528-529 imagens, 241 fraturas associadas da ulna, 248
Fraturas do odontoide, 155, 156/ lesões associadas, 241 Fraturas do quadril
Fraturas do olécrano, 285/ mecanismo de lesão, 241 da cabeça do fêmur, 401^-02, 401/
complicações, 286 tratamento, 241 do colo do fêmur, 402-404, 403/
deslocadas, 285-286, 285/ Fraturas do pisiforme, 245-247, 246/ intertrocantéricas, 404-406,405/
exame, 284 complicações, 247 subtrocantéricas, 407/
imagens, 284, 285/ exame, 246 trocantéricas, 406^407, 406/
lesões associadas, 284 imagens, 246 Fraturas do rádio distai, 247
mecanismo de lesão, 284 lesões associadas, 246 anatomia essencial, 247-248
não deslocadas, 284-285, 285/ mecanismo de lesão, 246 borda dorsal e volar (Barton), 254—
tratamento, 284-286 tratamento, 246-247 255, 254/
Fraturas do ombro Fraturas do platô tibial classificação, 248
da clavícula, 331-334, 331/ 333/ complicações, 444 fratura do estiloide do rádio
da espinha e do corpo da escápula, exame, 442 (Hutchinson), 255
334—335, 336/ imagens, 442^444, 444/ fratura do tipo em extensão (Colles),
da glenoide, 337 lesões associadas, 442 249-253, 249/ 250/ 252/
do acrômio, 335, 336/ mecanismo de lesão, 442 fratura do tipo em flexão (Smith),
do colo da glenoide, 335-337, 336/ panorama, 441^442,441/ 253-254, 253/
do processo coracoide, 337 tratamento, 442-444 fraturas associadas da ulna, 248
do úmero proximal Fraturas do primeiro metacarpal, 197 Fraturas do rádio e da ulna, combinadas,
combinadas do úmero proximal, Fraturas do processo coracoide, 320, 274-277
329-330,329-330/ 335/ complicações, 276
das superfícies articulares, 330- complicações, 337 exame, 274
331,330-331/ exame, 337 imagens, 275
do colo anatômico, 327/ imagens, 336/ 337 lesões associadas, 276
do colo cirúrgico, 324-327, 326/ lesões associadas, 337 mecanismo de lesão, 274
do tubérculo maior, 327-328, 328/ mecanismo de lesão, 337 tratamento, 276
do tubérculo menor, 328-329, tratamento, 337 Fraturas do semilunar, 241-243, 242/
329/ Fraturas do processo coronoide complicações, 243
panorama, 323-324, 323-324/ complicações, 289 exame, 242
escapulares exame, 288 imagens, 242
panorama, 334, 335/ imagens, 289 lesões associadas, 242
Fraturas do pé mecanismo de lesão, 288 mecanismo de lesão, 242
diagnóstico radiológico de, 519 panorama, 288, 289/ osteonecrose de, 243/
fratura-luxação de Lisfranc, 530-534 tratamento, 289 tratamento, 243
590 índice
Fraturas do tálus, 525 do colo cirúrgico, 324-327, 325- vista sagital das, 164/
maiores, 525-527 326/ vista transversa das, 165/
menores, 527 do tubérculo maior, 327-328, 327- Fraturas em galho verde, 93
Fraturas do terço lateral da clavícula, 328/ Fraturas epicondilianas mediais, 102-
331/, 332, 334 do tubérculo menor, 328-329, 329/ 104
Fraturas do terço medial da clavícula, panorama, 323-324, 323-324/ Fraturas epifisárias, 286,439
331/ 332, 3 3 3 /3 3 4 sistema de classificação, 323, 324/ complicações, 447
Fraturas do terço médio da clavícula, Fraturas dos ossos metacarpais, 191. exame, 447
331/ 332-334, 333/ Ver também Fraturas do primeiro me imagens, 447
Fraturas do tornozelo, 112-114,498 tacarpal lesões associadas, 447
fraturas do pilão tibial, 507-508 colo do quinto metacarpal, 193/ mecanismo de lesão, 447
fraturas maleolares, 498-504 fratura da cabeça do quinto metacar tratamento, 447
luxação, 504/ 505/ pal, 192/ Fraturas espirais, 3 ,4 / 485/
exame, 504, 505/ fraturas da base, 196-197, 196/ Fraturas estáveis do tornozelo, 500-501
fratura anterior, 506 fraturas da cabeça, 191-192, 191/ Fraturas expostas, 5, 22-23
fratura lateral, 505-506/ fraturas dadiáfise, 194/ 196 da falange distai, 182
fratura posterior, 506 fraturas do colo, 192/ Fraturas horizontais do sacro
fratura superior, 506 dedos 2 ou 3, 194 complicações, 377
imagens, 505 dedos 4 ou 5, 193-194 exame, 376
tratamento, 505-506 tratamento, 193 imagens, 376
Fraturas do trapézio, 245/ segundo osso metacarpal, 197/ lesões associadas, 376
complicações, 245 Fraturas dos ossos metatarsais, 534 mecanismo de lesão, 376
exame, 245 fraturas do primeiro osso metatarsal, panorama, 375-376/
fratura cominutiva, 246/ 534 tratamento, 376
imagens, 245 complicações, 535 Fraturas instáveis, 5, 502
lesões associadas, 245 exame, 534 Fraturas intercondilianas, 294/
mecanismo de lesão, 245 imagens, 534 complicações, 295
tratamento, 245 lesões associadas, 534 exame, 295
Fraturas do trapezoide, 247/ mecanismo de lesão, 534 imagens, 295
complicações, 247 tratamento, 534 lesões associadas, 295
exame, 247 fraturas dos ossos metatarsais centrais, mecanismo de lesão, 294
imagens, 247 535 tratamento
lesões associadas, 247 complicações, 535 fratura não deslocada, 295
mecanismo de lesão, 247 exame, 535 fraturas deslocadas, cominutivas ou
tratamento, 247 imagens, 535 rodadas, 295
Fraturas do tubérculo fibular, 524 lesões associadas, 535 Fraturas intertrocantéricas
Fraturas do tubérculo maior mecanismo de lesão, 535 complicações, 405-406
complicações, 328 tratamento, 535 exame, 404-405/
exame, 328 fraturas proximais do quinto osso imagens, 404-405/
imagens, 328/ metatarsal, 535-536 lesões associadas, 405
lesões associadas, 328 complicações, 538 mecanismo de lesão, 404
mecanismo de lesão, 328 exame, 536 panorama, 404/
panorama, 327-328, 327/ imagens, 536 tratamento, 405
tratamento, 328 lesões associadas, 536 Fraturas intertrocantéricas estáveis, 404
Fraturas do tubérculo menor mecanismo de lesão, 536 Fraturas intertrocantéricas instáveis,
complicações, 329 tratamento, 536 404,405/
exame, 329 Fraturas dos ramos do púbis (não deslo Fraturas intra-articulares do corpo do
imagens, 329 cadas) calcâneo, 521-523
lesões associadas, 329 complicações, 378 Fraturas intracapsulares, 401
mecanismo de lesão, 328 exame, 377 Fraturas maiores do tálus, 525-526/
panorama, 328, 329/ imagens, 377-378 complicações, 526-527
tratamento, 329 lesões associadas, 378 imagens, 526
Fraturas do úmero distais, 101 mecanismo de lesão, 377 mecanismo de lesão, 526
Fraturas do úmero proximal panorama, 377, 377/ tratamento, 526
combinadas do úmero proximal, tratamento, 378 Fraturas maleolares, 498
329-330,329-330/ Fraturas dos ramos do púbis, 367 exame, 500
da superfície articular, 330-331/ Fraturas dos sesamoides, 538-539, 539/ imagens, 500-501, 502/-504/
do colo anatômico, 327, 327/ Fraturas em explosão, 160-162, 164 tratamento ,501-504
índice 591
entorse do ligamento sacroilíaco, Lesão muscular Lesões em livro aberto. Ver Compressão
394—395 contusões, 489^-90 anteroposterior (CAP) das fraturas
paralisia do nervo pudendo, 396 distensões, 490 pélvicas
ruptura da aponeurose do oblíquo hérnias fasciais, 490 Lesões epifisárias do úmero proximal,
externo, 396/ ruptura do gastrocnêmio, 490 327
síndrome compartimentai do glúteo, ruptura do plantar, 490 Lesões estáveis, 502
396 ruptura do sóleo, 490 no trauma da coluna TL, 166/ 167
perna Lesão nervosa, 28-29 Lesões fechadas de tendões, da mão,
dores na canela, 489 Lesão osteocondral 209-212
infecções nécrosantes, 80-82 exame, 469 dedo de Jérsey, 209-210
lesão muscular, 489^490 tratamento, 469 dedo do boxeador, 210-212
síndrome compartimentai aguda, Lesão por flexão e distração, 166 dedo em malho, 209-211
487-489 Lesões anulares, 42 ruptura da expansão central, 210-211
síndrome compartimentai crônica Lesões articulares, 5-7 Lesões instáveis, 500
do exercício (SCCE), 489 em crianças, 94-96 no trauma da coluna TL
punho Lesões da articulação carpometacarpal, fraturas de Chance, 165-166
cisto gangliônico, 263/ 2 1 6 ,2 1 8 ,2 1 7 /2 1 9 -2 2 0 / fraturas de compressão em cunha,
compressão nervosa, 261-263 Lesões da articulação interfalângica 164
lesão ligamentar, 255-260 distai, 213-214 fraturas em explosão, 164-165
tenossinovite de Quervain, 264- Lesões da articulação interfalângica lesão de flexão e distração, 166
265, 264/ proximal, 213-216 lesão translacional, 166-167
quadril Lesões da articulação metacarpofalângi- Lesões ipsilaterais do joelho, 417
artrite séptica, 410-411 ca, 215-216, 218 Lesões ligamentares, 26, 112-113, 255,
bursite, 412-413/ luxações, 216, 218 305-306, 305/
distensão muscular e tendinite, Lesões da articulação trapézio-metacar- complexo da fibrocartilagem triangu
420 pal, 218-219 lar (CFCT), 259-260
doença articular degenerativa, Lesões de C3-C7, 156 complicações, 463
411-412/ entorse de hiperextensão, 160/ dissociação escafossemilunar, 256-
luxações, 415^-20,419/ entorse de hiperflexão, 158/ 159/ 257, 258/
necrose avascular (NAV) da cabeça fratura com separação pedículo-lami- e luxações da mão, 212-216, 218
do fêmur, 408, 409/ nar, 160/ lesão do ligamento colateral, 212-
síndrome do ressalto do quadril, fratura de compressão em cunha, 158, 214
413-415,414/ 158/ lesões da articulação carpometacar
tendinite calcificada, 413 fratura de flexão em lágrima, 156 pal, 216, 218
síndrome da dor regional complexa, fratura do escavador, 156-157/ lesões da articulação interfalângica
81-82 fratura do pilar, 159-160, 159/ distai, 213-214
síndrome de embolia gordurosa, fratura em lágrima por extensão, lesões da articulação interfalângica
81-83 160-161/ proximal, 213-216
tornozelo fratura laminar, 160-161/ lesões da articulação metacarpo-
entorses de tornozelo, 508-512 fraturas em explosão, 160-161/ falângica, 215-216, 218
exostose talotibial, 513-514 luxação bilateral das facetas, 157-158/ exame, 458^462,460í, 460^-62/
lesão osteocondral do domo talar, luxação unilateral da faceta, 159/ história, 458^-59
512-513 Lesões de tecidos moles do antebraço, imagens, 462, 462/
luxação de tornozelo sem fratura, 277 instabilidade segmentar intercalada,
5 1 5 /5 1 6 contusões, 277 256
luxação do tendão fibular, 514- distensões, 277 lesão do ligamento colateral ulnar,
515 síndromes compartimentais do ante 306
síndrome do seio do tarso, 512 braço, 277-279 luxação radiocarpal, 260
tenossinovite, 515-516 Lesões do cotovelo, uso excessivo, luxações perissemilunares e do semi
Lesão do anular, 204—205 303-304 lunar, 257-259
Lesão do ligamento colateral, 212-214 dor anterior no cotovelo, 303-304 mecanismo de lesão, 458^-59, 458í
Lesão do ligamento colateral ulnar, dor lateral no cotovelo, 304 tratamento definitivo, 463
218-219,306 dor medial no cotovelo, 304 tratamento inicial, 462-463í
Lesão do nervo fibular, 512 dor posterior no cotovelo, 304 Lesões ligamentares e luxações do pole
Lesão do nervo isquiático, 417 Lesões do tendão flexor, 207-208, gar, 216, 218-221
Lesão do pescoço, 95-96 226- 227/ lesões da articulação trapézio-
Lesão fisária da ulna, 106-107 Lesões em brigas com mordeduras, -metacarpal, 218-219
Lesão invertida de Hill-Sachs, 352 227- 229/ polegar do guarda-caça, 218-221
594 índice
mecanismo de lesão, 299 avaliação neurológica, 176 Necrose avascular (NAV), da cabeça do
técnicas para redução de, 301-302 avaliação vascular, 176-177 fêmur, 417
tratamento, 300-302 exame, 171-172 apresentação clínica, 408
Luxações do joelho história, 171 imagens, 408—409/
complicações, 474 imagens, 177 panorama, 408 1
exame, 471-472 infecções, 222-223 1 tratamento, 409
imagens, 472-473/ patógenos da comuns na mão Neisseria gonorrhoeae, 46, 111-112
lesões associadas, 472-473 radiografias normais, 178/ Nervo fibular profundo, 39
mecanismo de lesão, 471 síndromes compartimentais, 205-207 Nervo fibular superficial, 39
panorama, 471-472/ terminologia, 171 Nervo mediano, 37-38/
tratamento, 473-474/ Mão reumática, 58 lesão, 211-212
Luxações do quadril, 107-108 Mau alinhamento rotacional, 185 sensibilidade, 176
luxação anterior do quadril, 419/ Maus-tratos, evidência radiográfica de, Nervo radial, 37
complicações, 420 114-116 compressão, 263
exame, 420 Mecanismo combinado (MC), das fratu lesão, 211-313
imagens, 420 ras pélvicas, 385/ sensibilidade, 176
lesões associadas, 420 complicações, 389-390 Nervo safeno, 38
mecanismo de lesão, 419—420 lesões associadas, 386í, 385-389/ Nervo sural, 38
tratamento, 420 Mecanismo de lesão, 5, 6 / Nervo tibial posterior, 38
luxação posterior do quadril, 415/ Medida da pressão compartimentai, Nervo ulnar, 37, 38/
complicações, 419 76-77 compressão, 262-263
exame, 416/ Mepivacaína, 35 lesão, 211-212
imagens, 416/ Metáfise, 91 no cotovelo, 281
lesões associadas, 416^117 Metatarsalgia, 550-551 sensibilidade, 176
mecanismo de lesão, 415/ apresentação clínica, 551 Nervos espinais, distribuição dermatô-
técnica de Allis, 417/ tratamento, 551 mica dos, 131/
técnica de Hendey, 418—419/ Metatarsofalângica (MTF), 48, 541 Neuralgia pré-patelar traumática,
técnica de Stimson, 418/ Metilprednisolona, 152, 262, 355-356 457-458
técnica de Whistler, 418/ Metoexital, 34 Neunte ulnar, 304
tratamento, 417 Microdiscectomia aberta, 134 Neuroma, 211-213
Luxações perissemilunares e do semilu Midazolam, 33 Neuroma de Morton, 551
nar, 257-259 Mielite transversa, 144 apresentação clínica, 551
exame, 257 Mionecrose clostridial, 81-82 tratamento, 551-553
imagens, 258 Miosite, 29-31,220-221 Neuropatiado isquiático, 134—135
lesões associadas, 258 Miosite infecciosa, 29-31 Neuropatias
mecanismo de lesão, 257 Miosite inflamatória autoimune, 29-31 de compressão
tratamento, 259 Miosite ossificante, 29-30, 431/ compressão do nervo sural, 553-554
Luxações subtalares, 539/ 540/ Miosite traumática ossificante, 29-31 do nervo plantar lateral e calcanea-
complicações, 541 Monoartrite, 42 n o ,553-554
exame, 540 Monoartrite aguda, 42 do nervo plantar medial, 553-554
imagens, 540 apresentação clínica, 43—44 síndrome do túnel do tarso, 553-
lesão associada, 541 artrite aguda, 43 554
mecanismo de lesão, 540 artrite induzida por cristais, 43 do mediano, 307
tratamento, 541 artrocentese, 44 síndrome do nervo interósseo ante
hemartrose, 43 rior, 307
Mononucleose, 42 síndrome do pronador, 307
M Mordeduras animais, 228-229 síndrome do túnel do carpo, 307
Má união, 7 Músculo poplíteo, 436 do plexo branquial, 359-360
Manejo da dor, 32 Músculos do quadril, 399 do radial, 306/
Manguito rotador, 320 Músculos intrínsecos, 174—176 paralisia alta do nervo radial, 306
rupturas, 355-357, 355-357/ Músculos tenares e hipotenares, 176 síndrome do túnel radial, 306-307
Mão, 171. Ver também Lesão de tecidos do ulnar, 307, 307/
moles, mão síndrome do túnel ulnar, 307-308
N
avaliação de tendão e músculos, 172— periférica, 555
176 Nádegas, contusões das, 394 Neuropraxia, 28-29, 306
músculos intrínsecos, 174—176 Nafcilina, 48 Neurotmese, 28-29, 306
tendões extensores, 173-174 Naloxona, 34 Neutrófilos polimorfonucleares (PMNs),
tendões flexores, 172-173 Não união, 7 44
596 índice
de Stimson, 301, 301/, 301-302, 348, de estresse dos ligamentos colaterais fraturas do arco de C l, 154—155
3 4 8 /4 1 8 ,4 1 8 / do cotovelo, 305-306, 305/ fraturas do odontoide, 155, 156/
de tração e contratração, 301, 301/ de estresse em inversão, 510 luxação atlantoaxial, 153-154
348-349, 349/ de Finkelstein, 264, 264/ lesões de C3-C7, 156
de Whistler, 418,418/ de flexão do joelho, 546 compressão vertical, 160-162
hipocrática, 349 de inibição patelar, 470, 470/ extensão, 160
Tendão do quadríceps, 436, 451, 451/ de Lachman, 461 extensão e rotação, 159-160
452,452/ de McMurray, 466, 468/ flexão, 156-159
Tendão patelar, 85, 4 51,451/ 453/ de Thompson, 547/ flexão e rotação, 159
Tendinite, 26-27, 85, 220-221 de Trendelenburg, 420 tratamento, 152-153
bicipital, 357-358, 357-358/ de Yergason, 357, 357/ 358 Trauma da coluna toracolombar (TL), 163
calcificada, 26 do alongamento femoral, 130 classificação
apresentação clínica, 413 do aperto, 510 coluna anterior, 163
imagens, 413 do clique de Ortolani, 108-109 coluna média, 163
panorama, 413 do esfigmomanômetro, 546 coluna posterior, 163
tratamento, 413 do pivot shift, 461,462/ imagens, 163
do calcâneo, 85 FAB ER (flexão, abdução e rotação lesões estáveis, 166/ 167
do supraespinal e bursite subacromial, externa do quadril), 129 lesões instáveis
Fabere (Flexão, Abdução, Externa- fraturas de Chance, 165-166
354—356, 354—355/
mente Rodado [o quadril]), 411 fraturas de compressão em cunha,
do tríceps, 304
provocativo de Barlow, 108-109 164
dos rotadores externos, 420
Tomografia computadorizada (TC), 11, fraturas em explosão, 164—165
Tendinopatia do calcâneo
87, 134, 163,522 lesões de flexão e distração, 166
exame, 548
infecções e tumores de tecidos moles, 88 lesões translacionais, 166-167
imagens, 548
trauma, 87-88 Tríade terrível, 299, 300
mecanismo de lesão, 547-548
Tomomielografia, 136 Tróclea, 280
tratamento, 548
Tornozelo. Ver também Lesão de tecidos fraturas, 297, 297/
Tendinopatia patelar
moles, tornozelo Tubérculo de Lister, 233, 233/ 234/
exame, 451 Tuberosidade
anatomia funcional, 493
imagens, 451 fratura da, metatarsal, 536
camada capsular, 493^-94
panorama, 450 fraturas de avulsão, do calcâneo, 529
camada retinacular, 494-495
tratamento, 451 isquiática, 373
camada tendínea, 494,495/
Tendões extensores, 173-174, 174/ Tuberosidade da tíbia, 451,451/
bloqueio, 38
expansão terminal dos, 180 Tumores e infecções de tecidos moles,
exame, 495,496/
fratura de avulsão, 188 imagens, 495^-97 88
Tendões fibulares, 494 Tração Tumores metastáticos, 86
Tendões flexores, 172-173 cutânea, 18-19 Tumores neuroectodérmicos primitivos
Tenossinovite, 85 de Russell, 393/ periféricos. Ver Sarcoma de Ewing
aguda, 515 esquelética, 18-20 Tumores ósseos e de tecidos moles, em
apresentação clínica, 515 Translação, 3-4- crianças, 115-116
crônica, 515 lesão por, 166-167 fibroxantomas, 115-116
de Quervain, 27, 264—265, 264/ Transversa deslocada ou angulada, fra osteoma osteoide, 116-118
do flexor, 226-228, 227-228/ tura 190 sarcoma de Ewing, 115-117
do segundo dedo, 227-228/ Tratamento definitivo, 18-19 Tumores ósseos primários, 143-144
estenosante, 220-221, 515 Trato iliotibial, 436 Tumores primários, 86
reumatoide, 515 Trauma, 87-88 malignos, 143-144
tratamento, 515-516 direto, 483
traumática, 277 indireto, 484
Teste Trauma da coluna cervical, 150
u
A