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Robert R.

Simon
videos com
Scott C. Sherman
procedimentos
de emergência

Emergências
ortopédicas
P _ r- I1
6a Ediçao
^
Tradução e revisão técnica desta edição:
Jacques Vissoky
Médico. Perito Médico Judicial. Especialista em Ortopedia e Traumatologia pela
Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre.
Especialista em Medicina do Trabalho pela Associação Médica Brasileira.
Fellow em Ortopedia e Traumatologia pelo Robert Jones and Agnes Hunt Orthopaedic Hospital, Inglaterra.
Pós-graduação em Administração Hospitalar pelo Instituto de Administração Hospitalar e Ciências da Saúde.

ASSO CIAÇAO BRASILEIRA DE DIRETOS REPROGRAFICOS

&
°DlRETVON

S594e Simon, Robert R.


Emergências ortopédicas [recurso eletrônico] / Robert R.
Simon, Scott C. Sherman, Ghazala Q. Sharieff; [tradução e
revisão técnica: Jacques Vissoky]. - 6. ed. - Dados
eletrônicos. - Porto Alegre : AMGH, 2013.

Com ilustrações de Susan Gilbert.


Editado também como livro impresso em 2013.
ISBN 978-85-8055-179-2

1. Ortopedia - Emergência. I. Sherman, Scott C. II. Shari­


eff, Ghazala Q. III. Título.

CDU 617.3

Catalogação na publicação: Ana Paula M. Magnus - CRB 10/2052


Robert R. Simon, MD, FAAEM Scott C. Sherman, MD, FAAEM
Professor of Emergency Medicine Associate Professor of Emergency Medicine
Department of Emergency Medicine Rush Medical College
Cook County Hospital (Stroger) Assistant Program Director
Rush University Medical College Department of Emergency Medicine
Chairman of the Board International Medical Corps Cook County Hospital (Stroger)
Chicago, Illinois

Autor Colaborador
Ghazala Q. Sharieff, MD, FACEP, FAAP, FAAEM
Clinical Professor, University of California, San Diego
Division Director
San Diego Rady Children's Hospital Emergency Care Center
Director of Pediatric Emergency Medicine
Palomar-Pomerado Health Systems/California Emergency Physicians

mergiencias
ortopédicas W * „ w ~ I ■

6 a Edição
**

Com ilustrações de Susan Gilbert

Versão impressa
desta obra: 2013

AMGH Editora Ltda.


2013
Obra originalmente publicada sob o título
Emergency orthopedics, 6th edition
ISBN 0071625941 / 9780071625944

Original edition copyright © 2011, The McGraw-Hill Companies,Inc., New York, New York 10020.
All rights reserved.

Portuguese language translation copyright © 2013, AMGH Editora Ltda., a division of Grupo A Educação S.A.
All rights reserved.

Gerente editorial: Leticia Bispo de Lima

Colaboraram nesta edição

Editora: Daniela de Freitas Louzada

Arte sobre capa original: VS Digital

Preparação de originais: Ivaniza Oschelski de Souza

Leitura final: Carla Araújo

Editoração: Techbooks

Nota
A medicina é uma ciência em constante evolução. À medida que novas pesquisas e a experiência clínica ampliam o nosso conhe­
cimento, são necessárias modificações no tratamento e na farmacoterapia. Os organizadores/coautores desta obra consultaram
as fontes consideradas confiáveis, em um esforço para oferecer informações completas e, geralmente, de acordo com os padrões
aceitos à época da publicação. Entretanto, tendo em vista a possibilidade de falha humana ou de alterações nas ciências médicas,
os leitores devem confirmar estas informações com outras fontes. Por exemplo, e em particular, os leitores são aconselhados a
conferir a bula de qualquer medicamento que pretendam administrar, para se certificar de que a informação contida neste livro
está correta e de que não houve alteração na dose recomendada nem nas contraindicações para o seu uso. Essa recomendação é
particularmente importante em relação a medicamentos novos ou raramente usados.

Reservados todos os direitos de publicação, em língua portuguesa, à


AMGH EDITORA LTDA., uma parceria entre GRUPO A EDUCAÇÃO S.A. e McGRAW-HILL EDUCATION
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É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, no todo ou em parte, sob quaisquer


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e outros), sem permissão expressa da Editora.

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PRINTED IN BRAZIL
À minha esposa, Marilynn, e aos meus filhos, Adam, Timothy e Jeremy, que deram propósito e
significado à minha vida, e à minha mãe, Fatme, que - embora iletrada - ensinou-me mais do que
qualquer “professor” instruído que já conheci.
— R.R. Simon —

 minha bela esposa, Michelle, p o r seu amor, apoio incondicional e compreensão das demandas
deste projeto. Aos meus pais, Jim e Ruth, por uma vida inteira de amor e apoio. Vocês me ensinaram
o significado do trabalho árduo e da perseverança. Para Mason e Colin, que trouxeram um novo
significado para minha vida.
— S.C. Sherman —
Agradecimentos

Agradeço à Mishelle Taylor, companheira e amiga em Agradeço ao meu professor, Robert Simon, por sua orien­
todo o trabalho realizado nos últimos anos, ajudando em tação e confiança ao longo deste projeto. Os esforços ex­
cada aspecto da minha vida profissional como uma con­ traordinários da ilustradora Susan Gilbert mais uma vez
selheira e amiga, auxiliando na criação de tudo que teve falam por si. Sua paciência, compreensão e dedicação a
origem no meu consultório, incluindo este livro. esta edição, como também nas edições anteriores, tem
Também gostaria de agradecer a Adam Simon, que sido inestimável.
pesquisou pacientemente as referências, revisou os erros Também gostaria de agradecer aos muitos residen­
gramaticais e ajudou-me a organizar esta edição. tes, colegas e amigos que ajudaram neste livro. Agrade­
cimentos especiais a Bob Strugala, Joseph Weber, Scott
Robert R. Simon, MD Welsh, Kanwal Chaudry, Jason Lebwohl, John Lusk,
Michelle Sergel, Babak Saadatmand, Alex DeLaFuente,
Dave Rosenbaum, Jonathan Bankoff, Shayle Miller, Sa-
meer Bakhda, Rob Montana, Kris Norland, Chris Ross,
Trevonne Thompson, John Bailitz, Moses Lee, Anthony
George, Orlando Cruz, Sheena Lee, Ethel Lee e Estella
Bravo. Paul Erickson foi muito importante para identificar
as imagens na nova seção sobre a coluna.
Jeff Schaider tem sido um mentor e apoiador constan­
te dos nossos esforços.

Scott C. Sherman, MD
Prefácio

Atualmente, há uma diversidade de livros e publicações tamente para a página em que está descrito tudo o que é
dirigidos ao “médico de emergência”. Este profissional pertinente sobre aquela fratura específica. O corpo do texto
foi rapidamente substituído por um novo médico, que é dividido em quatro partes: Parte I. Princípios e manejo
pratica apenas a medicina de emergência. Nenhum livro ortopédico, Parte II. Coluna vertebral, Parte III. Extremida­
de ortopedia atual é dirigido ao emergencista. Conforme des superiores, e Parte IV. Extremidades inferiores.
a medicina de emergência se desenvolve, também deve A Parte I inclui capítulos sobre os princípios gerais,
evoluir uma relação cooperativa entre o cirurgião ortopé­ incluindo a imobilização na emergência, a seleção do tra­
dico e o emergencista, com base no reconhecimento da tamento definitivo e as indicações para o tratamento cirúr­
experiência e da capacidade de tomar decisões prudentes gico. Além disso, discorre-se sobre a analgesia, a reuma­
e reconhecer as áreas além das limitações de cada um. É tologia, as complicações, as técnicas de imagem especiais
este o espírito que permeia este livro. e a pediatria.
As publicações atualmente disponíveis são divididas A Parte II inclui quatro novos capítulos sobre a colu­
em dois grupos: as dirigidas ao cirurgião ortopédico e as na vertebral. A Parte III, sobre as extremidades superio­
que, embora supostamente direcionadas a um público res, inclui seis capítulos: mão, punho, antebraço, cotovelo,
mais avançado, estão, na realidade, voltadas ao estudante braço e ombro. A Parte IV, sobre as extremidades inferio­
de medicina. Quando se considera que os distúrbios e le­ res, inclui os capítulos sobre pelve, quadril, coxa, joelho,
sões das extremidades compõem mais de 50% dos casos perna, tornozelo e pé. Cada capítulo é organizado de for­
atendidos pelo médico emergencista e que este profissio­ ma que as fraturas sejam abordadas primeiramente, segui­
nal verá mais lesões agudas do que o próprio cirurgião das de uma discussão sobre as lesões de tecidos moles.
ortopédico, é aceitável oferecer apenas informações frag­ É apresentada uma discussão detalhada sobre cada tipo
mentadas, em vez de apresentar todos os mecanismos da de fratura, incluindo - quando apropriado - a anatomia
lesão, tratamento, lesões associadas e complicações de essencial, o mecanismo de lesão, o exame, as imagens, as
fratura específicas? As atuais classificações das fraturas lesões associadas e o tratamento.
são dirigidas ao cirurgião ortopédico e não são apresenta­ O Apêndice descreve e ilustra os passos envolvidos
das em um formato que o não especialista possa usar fa­ na colocação de algum tipo particular de tala ou gessado.
cilmente. Este livro categoriza as fraturas de acordo com Revisões importantes, com muitas ilustrações mais deta­
o grau de complexidade, a modalidade de tratamento e o lhadas e passo a passo, foram adicionadas a esta edição.
prognóstico - um sistema muito mais relevante para o mé­ As referências ao Apêndice são feitas ao longo do texto.
dico de emergência. Além disso, o leitor encontra axiomas - afirmações
Esta 6a edição representa uma importante atualização importantes que servem como diretrizes para prevenir o
do livro, incluindo uma nova parte sobre a coluna verte­ erro diagnóstico de um problema específico. Os axiomas
bral. Além de novas figuras e radiografias, são apresen­ devem ser considerados regras pelas quais o médico na
tadas fotografias clínicas e ilustrações coloridas. Esta emergência deve se guiar.
edição também marca a primeira vez em que o vídeo é Existem várias áreas na ortopedia nas quais os pro­
utilizado para demonstrar os princípios da emergência gramas de tratamento diferem e há controvérsia legítima
ortopédica. Mais de 60 vídeos demonstrando técnicas de sobre algumas modalidades terapêuticas. Na maioria dos
exames, injeções, artrocentese e técnicas de redução estão casos, os autores apresentam os vários tipos de tratamento
disponíveis no DVD incluído. para uma determinada lesão. O método preferido de trata­
A lista de fraturas é apresentada no início e continua mento do autor é apresentado, contudo, para facilitar um
sendo uma característica importante do livro. O emergen­ plano de ação para o paciente. Nos casos em que há con­
cista pode analisar figuras de um osso fraturado, selecio­ trovérsia significativa, os autores aconselham o encami­
nar qual delas o paciente apresenta, e encaminhar-se dire­ nhamento ou a consulta com o cirurgião ortopédico.
Sumário

Lista de Fraturas.......................................... xiii Capítulo 13 Antebraço....................................................267


Capítulo 14 Cotovelo.......................................................280
PARTE I PRINCÍPIOS E MANEJO ORTOPÉDICO
Capítulo 15 Braço..............................................................311
Capítulo 1 Princípios Gerais.............................................. 3
Capítulo 16 Ombro........................................................... 318
Capítulo 2 Anestesia e Analgesia..................................32
Capítulo 3 Reumatologia.................................................. 42 PARTE IV EXTREMIDADES INFERIORES

Capítulo 4 Compl icações.................................................76 Capítulo 17 Pelve............................................................... 367

Capítulo 5 Técnicas de Imagens Especiais...............85 Capítulo 18 Q uadril..........................................................399

Capítulo 6 Pediatria............................................................. 91 Capítulo 19 C o xa............................................................... 425


Capítulo 20 Joelho............................................................ 433
PARTE II CO LUN A VERTEBRAL
Capítulo 21 Perna............................................................... 483
Capítulo 7 Abordagem da Dor
Cervical e Lombar.....................................121 Capítulo 22 Tornozelo..................................................... 493

Capítulo 8 Distúrbios Específicos da Capítulo 23 P é .....................................................................519


Coluna Vertebral........................................132
PARTE V APÊNDICE
Capítulo 9 Trauma da Coluna Cervical...................150
Apêndice Talas, Gessados e Outras Técnicas... 563
Capítulo 10 Trauma da Coluna Toracolombar.......163

índice..............................................................581
PARTE III EXTREMIDADES SUPERIORES
Capítulo 11 M ão................................................... 171
Capítulo 12 Punho............................................... 232
Lista de Fraturas

CAPÍTULO 9 TRAUMA DA COLUNA CERVICAL

Figura 9.9 Fratura de Jefferson. Ver página 154.

Tipo I Tipo II Tipo III

Figura 9.15 Fratura em lágrima por flexão. Ver página 157.


Figura 9.12 Fraturas do odontoide. Ver página 155.

Figura 9 .16 Fratura do escavador. Ver página 157.


Figura 9.14 Fratura do enforcado. Ver página 156.
x iv Lista de Fraturas

Figura 9.17 Luxação bilateral das facetas. Ver página 158.

Figura 9.18 Fratura por compressão em cunha. Ver página 158.

Figura 9.21 Luxação unilateral das facetas. Ver página 159.


Lista de Fraturas XV

Figura 9.26 Fratura da lâmina. Ver página 161.


Figura 9.27 Fratura em explosão. Ver página 161.

CAPÍTULO 10TRAUMA DA COLUNATORACOLOMBAR

Figura 10.2 Fratura por compressão em cunha anterior. Ver


página 164.

Figura 10.6 Fratura de Chance. Ver página 165.

Figura 10.4 Fratura em explosão. Ver página 164.


XVi Lista de Fraturas

Figura 10.7 Lesão por flexão e distração. Ver página 166.


Figura 10.8 Lesão por translação devido a uma força de cisa-
Ihamento. Ver página 166.

CAPÍTULO 11 MÃO
Longitudinal

(< 25% da superfície articular)

(> 25% da superfície articular)

Figura 11.24 Fraturas de avulsão intra-articular da falange dis­


tai - superfície dorsal. Ver página 183.

Figura 11.18 Fraturas extra-articulares das falanges. Ver pá­


gina 181.
Lista de Fraturas XVM

Fratura de avulsão volar Condiliana não Condiliana Basilar


deslocada deslocada cominutiva

Figura 11.29 Fratura de avulsão distai intra-articular - superfí­


cie volar. Ver página 184.

Não deslocada transversa

Figura 11.34 Fraturas da falange média - intra-articulares. Ver


página 187.

Fratura de avulsão da superfície extensora

Deslocada ou angulada

Fratura de Wilson

Fratura de avulsão do
ligamento colateral

Espiral

Figura 11.36 Fratura de avulsão da falange média. Ver página


187.

Figura 11.33 Fraturas da falange média - extra-articulares. Ver


página 186.
XVÜi Lista de Fraturas

Não deslocada Não deslocada

>y

Deslocada/angulada
imi

Não deslocada

Deslocada ou cominutiva

Transversa da Transversa da Transversa


diáfise média diáfise média do colo

Espiral

uw

* T
Marginalmente Cominutiva
Figura 11.38 Fraturas da falange proximal - extra-articulares, deslocada
Ver página 189.
Figura 11.40 Fraturas da falange proximal intra-articulares.
Ver página 190.
Lista de Fraturas X IX

Figura 11.43 Fraturas dos metacarpais - cabeça (do segundo Transversa simples Transversa deslocada
ao quinto). Ver página 191.

Fraturas do colo

Não deslocada Deslocada ou angulada

Cominutiva

Figura 11.48 Fraturas dos metacarpais - diáfise (do segundo


ao quinto). Ver página 194.

Figura 11.45 Fraturas dos metacarpais - colo (do segundo ao


quinto). Ver página 192.
Fraturas da base
Transversa Cominutiva Avulsão

Figura 11.50 Fraturas dos metacarpais - base (do segundo ao


quinto). Ver página 196.
XX Lista de Fraturas

Fratura transversa da diáfise Fratura da placa epifisária


(em crianças)

Figura 11.55 Fratura do sesamoide do polegar. Ver página


199.

Figura 11.52 Fraturas do primeiro metacarpal - extra-articu la­


res. Ver página 197.

Fraturas intra-articulares da base


Fratura-luxação de Bennett

Fratura de Rolando

Figura 11.53 Fraturas do primeiro metacarpal - intra-articula­


res. Ver página 198.
Lista de Fraturas XXI

CAPÍTULO 12 PUNHO

Fratura do terço
médio (cintura)

Figura 12.20 Fratura do capitato. Ver página 243.

Fratura da
superfície Fratura
Figura 12.12 Fraturas do escafoide. Ver página 238. articular distai do gancho
do hamato

Fratura
Fratura cominutiva
transversa do corpo

Figura 12.21 Fraturas do hamato. Ver página 244.


Figura 12.16 Fratura do piram idal. Ver página 241.

Figura 12.22 Fraturas do trapézio. Ver página 245.

Figura 12.18 Fratura do semilunar. Ver página 242.


XXÜ Lista de Fraturas

Figura 12.24 Fraturas do pisiforme. Ver página 246.

Figura 12.35 Fratura de Barton; dorsal (A) e volar ( B). Ver pá­
gina 254.

Figura 12.25 Fratura do trapezoide. Ver página 247.

Figura 12.27 Fratura do rádio distai com envolvim ento intra- Figura 12.37 Fratura do estiloide do rádio (fratura de Flutchin-
-articular. Ver página 249. son). Ver página 255.
Lista de Fraturas XXÜi

CAPÍTULO 13 ANTEBRAÇO
Terço proximal Diáfise média

Figura 13.9 A diáfise média da ulna é o local mais comum


para fraturas, com frequência ocorrendo devido a um m ecanis­
mo de lesão do tipo "golpe com bastão". Ver página 272.

Luxação associada da
cabeça do rádio

Figura 13.12 C lassificação das fraturas de com binação das


diáfises do rádio e da ulna. Ver página 274.

Figura 13.5 Fraturas da diáfise do rádio. Ver página 269.

A
Não deslocada

Figura 13.8 Fraturas da diáfise da ulna. Ver página 272.


x x iv Lista de Fraturas

CAPÍTULO 14 COTOVELO
Não deslocada Deslocada
A. Não deslocada

Transversa Transversa Cominutiva

Cominutiva Avulsão Separação da epífise do olécrano


B. Deslocada
Figura 14.12 Fraturas do olécrano. Ver página 285.

A. Fraturas marginais

C. Luxação posterior
Deslocada Depressão
> 2 mm > 2 mm

B. Fraturas do colo

Figura 14.19 Fraturas do processo coronoide. Ver página 289.


Deslocada ou
angulada > 30°

C. Fraturas cominutivas
B

Figura 14.14 Fraturas da cabeça e do colo do rádio. Ver pá­


gina 286.
Fratura supracondiliana, Fratura supracondiliana,
tipo em extensão tipo em flexão

Figura 14.20 Fraturas supracondilianas. Ver página 290.


Lista de Fraturas XXV

Figura 14.26 Fratura transcondiliana. Ver página 293. A B

Figura 14.29 Fraturas condilianas laterais. A. Crista troclear


lateral não incluída. B. Crista troclear lateral incluída. Ver pá­
gina 295.

Figura 14.27 Fratura de Posadas. Ver página 294.

A B

Figura 14.30 Fraturas condilianas m ediais. A. Crista troclear


lateral não incluída. B. Crista troclear lateral incluída. Ver pá­
gina 296.

Não deslocada

Figura 14.28 Fratura intercondiliana. Ver página 294.

Fratura do capítulo Fratura da tróclea

Figura 14.31 Fraturas da superfície articular. Ver página 297.


XXvi Lista de Fraturas

A B

Figura 14.32 Fraturas epicondilianas. A. Epicôndilo m edial.


B. Epicôndilo lateral. Ver página 297.

CAPÍTULO 15 BRAÇO

Figura 15.1 Fraturas da diáfise do úmero - não deslocadas. Figura 15.2 Fraturas da diáfise do úmero - deslocadas ou an­
Ver página 311. guladas. Ver página 311.
Lista de Fraturas XXVM

CAPÍTULO 16 OMBRO

Fraturas de
uma parte

Figura 16.14 Fratura do colo cirúrgico. Ver página 325.

Fraturas de
duas partes

Fraturas de
três partes

Figura 16.18 Fratura do colo anatômico. Ver página 327.

Fraturas de
quatro partes

Figura 16.11 Exemplos de fraturas de uma, duas, três e quatro


partes, conforme descrito por Neer. Ver página 324.
•••
X X V III Lista de Fraturas

Figura 16.22 Fraturas combinadas - fraturas de três partes. Ver


Figura 16.19 Fraturas do tubérculo maior. A. Não deslocada,
página 329.
B. Deslocada (> 5 mm). Ver página 327.

Figura 16.23 Fraturas combinadas - fratura de quatro partes,


Ver página 329.

Figura 16.21 Fratura do tubérculo menor. Ver página 329.


Lista de Fraturas XXÍX

Espinha da
escápula

Fratura de impressão (< 40%) Fratura de impressão (> 40%) Fratura cominutiva da superfície
articular (divisão da cabeça)

Figura 16.25 Fraturas da superfície articular. Ver página 330.

Figura 16.30 Fraturas da escápula. A. Fraturas do corpo ou da


espinha e fratura do acrôm io. B. Fratura do colo da glenoide.
C. Fratura da borda da glenoide. D. Fratura com inutiva da su­
perfície articular da glenoide. E. Fratura do processo coracoide.
Ver página 335.

Figura 16.27 Fraturas da clavícu la. A. Terço médio. B. Terço


lateral. C. Terço medial (envolvendo a articulação esternoclavi-
cular). Ver página 331.
XXX Lista de Fraturas

CAPÍTULO 17 PELVE

Figura 17.12 Fratura da asa do ilíaco (fratura de Duverney).


Ver página 375.

A = Avulsão da espinha ilíaca anterossuperior


B = Avulsão da espinha ilíaca anteroinferior
C = Avulsão do tuberosidade isquiática

Figura 17.8 Fraturas de avulsão. Ver página 373.

Ramo do púbis

Figura 17.10 A. Fratura isolada do ramo do púbis. B. Fratura


do ramo do ísquio. Ver página 374.

Figura 17.14 Fratura horizontal do sacro. Ver página 376,

Corpo do ísquio

Figura 17.11 Fratura do corpo do ísquio. Ver página 375.

Figura 17.15 Fratura do có ccix. Ver página 377.


Lista de Fraturas XXXi

Figura 17.16 Fraturas dos ramos superior e inferior do púbis Figura 17.19 Fratura vertical do sacro (não deslocada). Ver
(não deslocadas). Ver página 377. página 379.

Figura 17.21 Lesões por abertura excessiva das pernas (à cava­


leiro). A. Fraturas bilaterais dos ramos do púbis. B. Fraturas dos
ramos do púbis e ruptura da sínfise do púbis. Ver página 380.

CL I C L II C L III

Figura 17.17 Fratura do osso do púbis (não deslocada). Ver


página 378.

Figura 17.23 Lesões por compressão lateral. Ver página 381.

Força causadora da lesão

Figura 17.27 Lesões por compressão anteroposterior. Ver pá­


gina 383.

Figura 17.18 Fratura do corpo do ilíaco (não deslocada). Ver


página 378.
XXXM Lista de Fraturas

Fraturas do acetábulo

Figura 17.29 Padrão de lesão por cisalham ento vertical. Ver


página 384.

Figura 17.30 Mecanismos combinados. Ver página 385.

Fratura transversa do acetábulo Fratura da borda posterior

Espinha
Espinha
anteroinferior
posteroinferior

Púbis Espinha isquiática

isquiática

Fratura da coluna posterior Fratura da coluna anterior

Figura 17.36 Fraturas não deslocadas do acetábulo. Existem


muitas variantes. Ver página 390.
Lista de Fraturas XXXÜi

CAPÍTULO 18 QUADRIL
Estável Instável

Figura 18.10 Fraturas intertrocantéricas. Ver página 404.

Fratura do
trocanter
maior

Fratura do
trocanter
menor
Figura 18.6 Fraturas da cabeça do fêmur. Ver página 401.
Figura 18.13 Fraturas trocantéricas. Ver página 406.

A Não deslocadas

Tipo III Tipo IV

Figura 18.7 Fraturas do colo do fêmur. Ver página 402.


X X xiv Lista de Fraturas

CAPÍTULO 19 COXA

Figura 19.1 Fraturas cominutivas da diáfise do fêmur. Ver pá­


gina 425.

CAPÍTULO 20 JOELHO
Tipo I Tipo II Tipo III
Avulsão incompleta Avulsão incompleta Avulsão completa
sem deslocamento com deslocamento

//!
}£*f{

Figura 20.14 Fraturas da espinha tibial. Ver página 445.

Supracondiliana Condiliana Bicondiliana

Figura 20.6 Fraturas do fêmur distai. Ver página 439. Tipo I Tipo II Tipo III
Avulsão incompleta Avulsão completa, Avulsão completa,
extra-articular intra-articular

Tipo I Tipo II Tipo III

Figura 20.16 Fraturas da tuberosidade da tíbia. Ver página


446.

Tipo IV Tipo V Tipo VI

Figura 20.10 Classificação das fraturas do platô tibial (condi-


lianas). Ver página 441.
Lista de Fraturas XXXV

Figura 20.18 Fraturas da tíbia proximal - fraturas subcondilia-


nas. Ver página 447.

Avulsão Colo da fibula Cominutiva Transversa Osteocondral

Figura 20.19 Fraturas da fibula proxim al. Ver página 448. Figura 20.21 Fraturas da patela. Ver página 449.

CAPÍTULO 21 PERNA
0-50% de > 50% deslocados Deslocamento
deslocamento com contato ósseo completo

Figura 21.1 Fraturas das diáfises da tíbia e da fibula. Ver pá- figura 2 1 .5 Fraturas da diáfise da fibula. Ver página 486.
gina 483.
XXXvi Lista de Fraturas

CAPÍTULO 22 TORNOZELO

Figura 22.11 Esquema representando a progressão da lesão


Figura 22.9 Esquema representando a progressão da lesão após a eversão forçada do pé pronado. A. Fratura isolada do
após a eversão forçada do pé supinado. A. Fratura oblíqua da maléolo medial. B. Com o aumento da força, o ligamento tibio­
fíbula distai. B. Com o aumento da força, o maléolo posterior fibular anterior avulsiona uma porção da tíbia distal. C. Fratura
sofre avulsão. C. Por fim, o maléolo medial fratura, criando uma alta da fíbula. D. Fratura do maléolo posterior. Ver página 499.
fratura trimaleolar. Ver página 498.

Pé pronado

Força de
abdução

A C

Figura 22.10 Esquema representando a progressão da lesão


após a adução forçada do pé supinado. A. Fratura transversa Figura 22.12 Esquema representando a progressão da lesão
da fíbula distal. B. Com o aumento da força, o maléolo medial após a abdução forçada do pé pronado. A. Fratura isolada do
fratura, criando uma fratura trimaleolar. Ver página 498. maléolo m edial. B. Com o aumento da força, o ligamento ti­
biofibular anterior avulsiona uma porção da tíbia distal. C. Por
fim, ocorre uma fratura transversa ou cominutiva da fíbula. Ver
página 498.
Lista de Fraturas XXXv i i

Superior
Anterior (diástase)

Figura 22.23 Fraturas-luxações do tornozelo. Ver página 504.

Figura 22.13 Sistema de classificação de W eber das fraturas


do tornozelo. Ver página 500.

A B C

Figura 22.14 Sistema de classificação em anel fechado. A. O


tornozelo é caracterizado como um anel fechado ao redor do
tálus. B. Uma fratura estável é uma fratura única, sem desloca­
mento. C. Uma fratura instável envolve uma fratura única com
ruptura ligamentar ou duas fraturas no anel. Ver página 500.

Figura 22.30 Fraturas do pilão tibial. Ver página 507.


XXXVÜi Lista de Fraturas

CAPÍTULO 23 PÉ

Figura 23.5 Fraturas do corpo do calcâneo - intra-articulares.


Ver página 521.

Processo anterior Sustentáculo do tálus Processo lateral do calcâneo e tubérculo da fibula


A B C

Processo medial do calcâneo Tuberosidade do calcâneo Figura 23.13 Fraturas do tálus - maiores. Ver página 526.
D E

Figura 23.10 Fraturas extra-articu lares do calcâneo. Ver pá­


gina 523.

Figura 23.14 Fraturas do tálus - menores. Ver página 527.


Lista de Fraturas xxxix

Avulsão dorsal Fratura cominutiva Fratura da


da falange distai falange proximal

Figura 23.15 Fraturas do navicular. Ver página 528.


Figura 23.26 Fraturas dos dedos do pé. Ver página 538.

Cunéiforme

Fratura do
sesamoide
Figura 23.17 Fraturas do cuboide e do cunéiforme. Ver página
529.

Flomolateral Divergente

Figura 23.29 Fratura do sesamoide. Ver página 539

Figura 23.19 Fratura-luxação de Lisfranc. Ver página 531.


Parte I
Princípios e
Manejo Ortopédico
Capítulo
Princípios Gerais
PRINCÍPIOS DAS FRATURAS Localização anatômica
• Em um osso longo, as fraturas são categorizadas es­
Biomecânica
tando nas porções proximal, média ou distai do osso.
Uma fratura ocorre quando a força aplicada excede a re­ • Se a fratura se estende ao espaço articular, é descrita
sistência plástica do osso e vai além do seu limite de re­ como intra-articular. As fraturas que não envolvem a
sistência. Vários fatores influenciam os padrões de fratura. articulação são extra-articulares.
Estes incluem a magnitude da força, a sua duração e dire­ • Outros termos anatômicos usados para descrever a
ção, e a velocidade em que ela atua. Quando um osso é su­ localização de uma fratura são: na cabeça, no colo,
jeito a tensões repetidas ele pode, por fim, fraturar, embo­ na diáfise e na base (p. ex., nas fraturas metacarpais e
ra a magnitude de uma tensão individual seja muito mais metatarsais).
baixa do que a resistência final à tensão do osso. A força • Em pediatria, as fraturas são descritas em relação à
de um osso está diretamente relacionada à sua densidade, placa de crescimento (fise). As fraturas que ocorrem
que é reduzida por osteoporose ou por qualquer condição entre a articulação e a placa de crescimento são as fra­
em que a estrutura óssea seja modificada, baixando a sua turas epifisárias. As fraturas da diáfise se referem à
resistência à tensão. parte média do osso. A zona de crescimento entre a
epífise e a diáfise durante o desenvolvimento de um
Terminologia osso é a metáfise.
As fraturas podem ser descritas de várias formas. Ne­
Deslocamento
nhum sistema de classificação é totalmente inclusivo, e
os médicos que lidam com fraturas no dia a dia devem O deslocamento é usado para descrever o movimento dos
estar cientes da terminologia para melhor entender e re­ fragmentos da fratura a partir de sua posição habitual.
passar a informação aos colegas. Deve ser notado que, Além disso, outros termos que descrevem os movimentos
para descrever uma fratura de forma adequada, pelo me­ da fratura incluem:
nos duas incidências radiográficas perpendiculares de­ • A lin h a m e n to é a relação dos eixos dos fragmentos
vem ser obtidas. de um osso longo. O alinhamento é medido traçan­
do-se uma linha imaginária através do eixo normal
Direção das linhas de fratura do osso e outra linha através do eixo do segmento
• Transversa: Uma fratura transversa corre perpendicu­ distai fraturado, sendo medido o ângulo entre eles.
lar ao osso (Fig. 1.1A). O alinhamento é descrito em graus de angulação do
• O blíqua : Uma fratura oblíqua atravessa o osso em um fragmento distai em relação ao fragmento proximal
ângulo de 45 a 60° (Fig. 1.1B). Estas fraturas são cau­ (Fig. 1.2). A angulação lateral do fragmento distai
sadas pela compressão e flexão no local da fratura. também é conhecida como deformidade em v a lg o ,
• E spiral: Uma fratura espiral pode, às vezes, ser equi­ enquanto a angulação medial é uma deformidade em
vocadamente diagnosticada como oblíqua; contudo, varo. A angulação no plano anteropos é chamada de
em um exame mais atento, é notada uma aparência volar e dorsal. A angulação volar de um fragmento
de “saca-rolhas” da fratura (Fig. 1.1C). É uma fratura distai é denominada de “angulação volar” . Alguns
altamente instável, que tende a apresentar evolução ortopedistas descrevem a angulação com base no
ruim. As fraturas espirais são causadas por uma força ápice de uma fratura. Por conseguinte, a “angulação
de torção. Em crianças, pode ser uma pista de poten­ volar” pode também ser descrita como “angulação
cial agressão. de ápice dorsal” .
• C om inutiva: Uma fratura cominutiva é aquela com • A aposição descreve a quantidade de contato entre as
mais de dois fragmentos (Fig. 1.1D). Outros exem­ superfícies fraturadas (Fig. 1.3). A aposição pode ser
plos de fraturas cominutivas são as segmentares e as completa, parcial ou ausente (nenhum contato).
em asa de borboleta (Figs. 1.1E e 1.1F). • A translação é usada para descrever o movimento
• Im p a c ta d a : Uma fratura impactada é aquela em que dos fragmentos de fratura a partir de sua posição ha­
as extremidades fraturadas estão comprimidas entre bitual em direção perpendicular aos eixos longos do
si. Estas fraturas são habitualmente muito estáveis osso. A translação é descrita como uma porcentagem
(Fig. 1.1G). da largura do osso. A direção de translação é descri-
4 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

A. Fratura transversa B. Fratura oblíqua C. Fratura espiral D. Fratura cominutiva

E. Fratura segm entar F. Fragm ento em asa de borboleta G. Fratura impactada

Figura 1.1 A classificação das fraturas. As fraturas segmentares e em asa de borboleta são tipos específicos de fraturas cominutivas,

ta com base no movimento do fragmento d ista i em • A distração é o termo usado quando o deslocamento
relação ao fragmento p ro xim a l. Na prática clínica, estiver no eixo longitudinal do osso (i.e., os fragmen­
contudo, é mais comum usar o termo “deslocamento” tos ósseos estão “separados”) (Fig. 1.3C).
para descrever a translação. Por exemplo, a fratura na • A deform idade rotacional pode ocorrer em qualquer
F igura 1.3A é descrita como estando 50% deslocada fratura, embora seja comum após as fraturas espirais.
em direção lateral. Pode ser clinicamente detectada quando as radiogra­
• A aposição em baioneta está presente quando os frag­ fias revelam uma fratura não deslocada, mas a extre­
mentos não estão apenas 100% deslocados, mas tam­ midade parece anormal (p. ex., um dedo que aponta
bém sobrepostos (Fig. 1.3B). Isso é frequentemente na direção errada). Radiograficamente, uma defor­
visto nas fraturas da diáfise femoral e do úmero. midade rotacional sutil pode ser observada ao notar
Emergências Ortopédicas 5

que os diâmetros dos ossos em cada lado da linha de


fratura estão diferentes.

Lesão de tecidos moles


• F ech a d a : Uma fratura na qual a pele sobrejacente
permanece intacta.
• A b e r ta : Uma fratura na qual a pele sobrejacente é
rompida.
• C o m p lica d a : Uma fratura associada a um dano neu­
rovascular, visceral, ligamentar ou muscular. As fra­
turas intra-articulares também são complicadas.
• N ão com plicada (sim ples): Uma fratura que tenha so­
mente uma quantidade mínima de lesão nos tecidos
moles.

Estabilidade
• Fratura está vel : Uma fratura que não tenha tendência
A. Bom alinhamento
20 ° para deslocar após a redução. As fraturas transversas
B. Angulação são frequentemente fraturas estáveis.
• F ratura in stá v e l : Uma fratura que tende a deslocar
Figura 1.2 A descrição das fraturas é de acordo com a relação
após a redução. As fraturas cominutivas, oblíquas e
do segmento distai com o proxim al. A. Não existe angulação e
isso é chamado de bom alinhamento das extremidades fratura­
espirais são mais comumente instáveis.
das. B. Existe angulação lateral do segmento distai de 20°.
Mecanismo de lesão
• As forças diretas causam uma fratura que será trans­
versa, oblíqua ou cominutiva. Um exemplo de uma
força direta que causa fratura é aquela causada por
um golpe direto na ulna. Uma fratura cominutiva
após uma lesão por esmagamento e uma fratura por
um projétil de alta velocidade também são causadas
por impacto direto.
• As forças indiretas também podem induzir uma fra­
tura, transmitindo energia ao osso. Uma fratura por
avulsão é pela tração ligamentar (Fig. 1.4A). Uma
força, como um estresse em valgo no joelho, pode
resultar em uma fratura por compressão ou depressão
do côndilo tibial (Figs. 1.4B e 1.4C). Uma força rota-
cional (i.e., de torção) aplicada no eixo longo de um
osso resulta em fratura espiral (Fig. 1.5). Uma fratura
de estresse, às vezes chamada de fratura de fadiga, re­
sulta de estresse indireto repetido aplicado a um osso.
Algumas fraturas de estresse são causadas por trauma
direto repetido.
baioneta C. Distraída
Lesão articular
Figura 1.3 Deslocamento ou aposição. A. Essa fratura parcial­
mente aposta também pode ser descrita como estando lateral­ • L uxação: Ruptura total da superfície articular com
mente deslocada em 50% . B. A aposição em baioneta é quando perda de contato normal entre as duas extremidades
as duas extremidades não estão mais apostas e se sobrepõem,
ósseas (Fig. 1.6A).
com encurtamento do comprimento normal do osso. C. A dis­
tração ocorre quando as extremidades da fratura na estão mais • Subluxação: Ruptura de uma articulação, permane­
apostas devido à separação longitudinal em vez de estarem se­ cendo contato parcial entre os dois ossos que com­
paradas em uma forma lado a lado. põem a articulação (Fig. 1.6B).
6 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

A. A vulsão

C. D iástase
Figura 1.4 O mecanismo de lesão em geral pode ser deduzido
pelo aspecto da fratura. A. Fratura de avulsão devido ao ligamen­ Figura 1.6 Lesões articulares. A. A luxação é a separação com ­
to deltoide tracionando o maléolo medial, a partir de um estresse pleta dos dois ossos que compõem a articulação. B. A subluxa-
em eversão. B. Fratura de compressão causada pelo côndilo fe- ção indica o deslocamento parcial das extremidades ósseas. C.
moral contactando o côndilo tibial, após um estresse em valgo A diástase é a separação em uma articulação sindesmótica.
na perna. Esse é um tipo de fratura de impactação, mas o termo
compressão não apenas diz que é uma fratura de impactação,
mas também o mecanismo pelo qual ela ocorreu. C. Depressão
do côndilo devido a uma quantidade maior de força.

Figura 1.5 Fraturas. A. transversa, B. oblíqua e C. espiral da diáfise umeral.


Emergências Ortopédicas 7

citos no local da fratura e eles morrem. Com este tecido


necrótico, começa a fa s e inflam atória da consolidação da
fratura, acompanhada por vasodilatação, formação de ede­
ma, e a liberação de mediadores inflamatórios. Em adição,
leucócitos polimorfonucleares, macrófagos e osteoclastos
migram para a área para reabsorver o tecido necrótico.
A fa s e reparadora começa com a migração de células
mesenquimais do periósteo. Estas células atuam formando
o osso mais inicial. Os osteoblastos da superfície endos-
teal também formam osso. O tecido de granulação inva­
A. F a se inflamatória de a partir de vasos circundantes e substitui o hematoma.
C élulas A maior parte da consolidação ocorre em tomo dos brotos
m esenquim ais
capilares que invadem o local da fratura. A consolidação
com neoformação óssea ocorre, primeiramente, na região
subperiostal; a formação de cartilagem ocorre na maioria
das outras áreas. Os osteoblastos são responsáveis pela
formação do colágeno, que é então seguida pela deposição
mineral de cristais de hidroxiapatita de cálcio. Um calo é
formado, e os primeiros sinais de união clínica são notados.
Durante a fa s e de rem odelação , a fratura em consoli-
dação ganha resistência. Conforme o processo de consoli-
dação continua, o osso se organiza em trabéculas. A ativi­
B. F a se reparadora
dade osteoclástica é primeiramente vista na reabsorção de
trabéculas malformadas. O novo osso é então formado de
acordo com as bnhas de força ou de estresse.
Muitos termos são usados para descrever a consolida­
ção de fraturas. A união se refere à consobdação de uma
fratura. A união clínica permite a retomada do movimento
de um membro e ocorre mais cedo do que a união radio-
gráfica. A evidência radiográfica de união está presente
quando a transposição óssea da fratura é vista, em pelo
menos três corticais, em projeções ortogonais. O exercí­
cio aumenta a velocidade de reparo e deve ser estimulado,
particularmente o exercício isométrico ao redor de uma
articulação imobilizada.
C. F a se de rem odelação A m á união é a consobdação de uma fratura com uma
deformidade residual inaceitável, como angulação, rota­
Figura 1.7 Fases da consolidação de fraturas.
ção ou fragmentos sobrepostos, resultando em encurta­
mento do membro. O encurtamento é mais bem tolerado
• D iástase: Certos ossos unem-se em uma articulação nas extremidades superiores (úmero) do que nas inferiores
sindesmótica, na qual existe pouco movimento. Uma (fêmur ou tíbia). Em geral, na extremidade inferior, o en­
membrana interóssea que atravessa a área entre os curtamento maior que 2,5 cm é mal tolerado.
dois ossos interconecta essas articulações. Duas ar­ A união retardada é a consobdação que leva um tem­
ticulações sindesmóticas ocorrem nos humanos entre po mais longo que o habitual. A união retardada fica evi­
o rádio e a ulna e entre a fibula e a tíbia. A ruptura da dente quando a neoformação óssea periosteal cessa antes
membrana interóssea que conecta essas duas articula­ de a união ser alcançada. Em um osso longo, a união re­
ções é chamada de diástase (Fig. 1.6C). tardada está presente se não tiver completado uma união
dentro de seis meses.
A não união é definida como a falha da união na fratura.
Consolidação de fraturas
As duas razões mais comuns para a não união de uma fratura
A consolidação de fraturas pode ser dividida em três fa­ são o suprimento sanguíneo inadequado e a estabilização de­
ses: inflamatória, reparadora e de remodelação (Fig. 1.7). ficiente da fratura. O suprimento sanguíneo inadequado pode
Inicialmente, depois de ocorrer uma fratura, um hemato­ ter como causa vasos nutrientes danificados, desnudamento
ma é formado no local entre as extremidades da fratura, e ou lesão do periósteo e músculo, cominução grave com frag­
rapidamente se organiza para formar um coágulo. A lesão mentos livres (em asa de borboleta ou fraturas segmentares),
dos vasos sanguíneos do osso priva de nutrição os osteó- ou avascularidade devido aos dispositivos de fixação interna.
8 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

A quantidade de contato entre as extremidades ósseas (apo­ mais difusos se houver lesão significativa de tecidos moles
sição e distração) e as lesões nos tecidos moles associadas associada. A perda da função normal pode ser notada, mas
afetam de forma adversa a velocidade de consolidação, pois em pacientes com fraturas incompletas (p. ex., uma fratura
a armação para o reparo ósseo fica comprometida. de estresse) a deficiência funcional pode ser mínima. Quan­
A localização da fratura pode impactar a probabilidade do as extremidades fraturadas estão em aposição ruim, a mo­
de não união. O osso cortical encontrado nas diáfises ósseas bilidade anormal e a crepitação podem ser produzidas. Esses
tubulares cura em uma velocidade mais lenta que o osso es­ achados não devem ser buscados, contudo, já que aumentam
ponjoso nas epífises e metáfises devido às diferenças no su­ a chance de dano adicional dos tecidos moles. Aqueles pa­
primento vascular e na celularidade. Os ossos que têm inci­ cientes com deformidade grosseira ou crepitação devem ser
dência mais alta de não união incluem a diáfise tibial distai, imediatamente imobilizados antes de serem movimentados
o escafoide e a diáfise proximal do quinto metatarsal. ou que quaisquer radiografias sejam executadas.
Outras causas de não união incluem a interposição de A sensibilidade dolorosa em um ponto deve ser no­
tecidos moles, a distração óssea por tração ou fixação inter­ tada sempre que for produzida. Uma fratura de estresse
na, a infecção, a idade, as fraturas em ossos patológicos e pode ser diagnosticada ou suspeitada com base na sensi­
os medicamentos. A idade do paciente é um fator, já que as bilidade dolorosa óssea, embora uma fratura possa não ser
crianças apresentam uma afinidade mais alta para a rápida vista nas radiografias por 10 a 14 dias. De forma similar,
remodelação óssea. A consolidação de fraturas intra-articu- ao avaliar um paciente com lesão na articulação, conside­
lares é inibida pela exposição ao fluido sinovial. O fluido rar uma fratura osteocondral como a causa da dor.
sinovial contém fibrinolisinas que retardam o estágio inicial Nenhum exame de um paciente com suspeita de fra­
da consolidação da fratura, devido à lise do coágulo. Certos tura é completo sem um exame neurovascular. A lesão em
medicamentos, como os corticosteroides, o hormônio da ti­ nervos e vasos deve ser documentada e abordada conforme
reoide em excesso e a nicotina da fumaça do cigarro inibem apropriado antes de quaisquer tentativas de redução. Além
a velocidade de consolidação. Estudos em animais aponta­ disso, devem ser pesquisados os sinais de síndrome com­
ram que a hipoxia crônica inibe a consolidação óssea. partimentai, como a dor fora de proporção, compartimen­
A pseudoartrose resulta de uma não união não tratada tos tensos ou a dor com amplitude passiva de movimento.
e grosseiramente móvel. Na pseudoartrose, uma articula­ Um exame atento da pele é necessário para excluir uma
ção falsa, com uma cápsula revestida com sinovial, apare­ fratura exposta. A lesão da pele pode parecer inócua, mas,
ce, envolvendo as extremidades da fratura. quando presente próximo ao local de uma fratura e a base da
ferida não puder ser identificada, a lesão deve ser conside­
rada uma fratura exposta até prova em contrário (Fig. 1.8).
Características clínicas
A evidência de bolhas sobre um local de fratura não é
A dor e a sensibilidade são as queixas de apresentação mais incomum quando o edema for intenso. As bolhas da fratu­
comuns de um paciente com fratura. Estes sintomas estão ra podem aparecer em até 6 horas depois de uma fratura.
habitualmente bem localizados na fratura, mas podem ser Elas podem ser claras ou hemorrágicas, e o tipo preenchido

Figura 1.8 Fratura exposta. A. Um a ferida pe­


quena sem base identificável é notada no ante­
braço proxim al. B. As radiografias do mesmo
paciente demonstram uma fratura da ulna na pro­
xim idade da ferida. B
Emergências Ortopédicas 9

A B

Figura 1.9 Bolhas da fratura. A. Bolha de fratura serosa em um paciente após uma fratura bim aleolar do tornozelo. B. Bolhas de
fratura hemorrágicas em um paciente com fratura da tíbia distai.

com sangue indica desinserção entre as camadas dérmicas teroposterior e lateral) é o mínimo a ser obtido. Isto serve
e epidérmicas e um prognóstico pior associado (Fig. 1.9). para melhorar a taxa de diagnóstico de fratura e dar ao
As bolhas da fratura são mais comuns em áreas com proe­ profissional uma compreensão completa do deslocamento
minências ósseas, como o cotovelo, o pé ou a tíbia distai. de uma fratura (Figs. 1.10 e 1.11). As vistas adicionais
A redução e a estabilização precoce das fraturas diminuem devem ser solicitadas em algumas situações. As vistas
a incidência de formação de bolhas, embora elas possam oblíquas, por exemplo, são particularmente úteis nas ex­
se formar mesmo quando os cuidados tiverem sido ideais. tremidades distais (p. ex., mão, punho, pé).
O controle do edema com compressão, elevação e criote- As fraturas aparecem como uma ruptura da cortical
rapia também é útil. O tratamento das bolhas de fratura é lisa do osso, com uma linha radioluzente delineando os
controverso, embora a maioria dos especialistas deixe-as
intactas, cobertas com iodo povidona, pomada de antibió­
ticos ou curativo com sulfadiazina de prata. A sua presença
frequentemente retarda o reparo operatório, pois elas do­
bram a taxa de infecção e de deiscência da ferida.
O sangramento é outro potencial problema após as
fraturas, especialmente em ossos longos, como os fêmures
ou a pelve. Uma quantidade significativa de perda sanguí­
nea pode ocorrer depois de uma fratura fechada e a quanti­
dade de sangramento em geral não é apreciada (Tab. 1.1).
Um paciente com fratura pélvica significativa pode apre­
sentar choque por perda sanguínea. Isso é especialmente
verdadeiro em idosos, que são menos capazes de fazer va-
soconstrição para o suporte da sua pressão sanguínea.

Radiografias
As radiografias simples são habitualmente suficientes
para o diagnóstico de fratura. Duas vistas ortogonais (an-

► TABELA 1.1 Perda média sanguínea com a fraturas


fechadas
Local de fratura Quantidade (mL)
Rádio e ulna 150-250
Úmero 250
Figura 1.10 Duas radiografias obtidas em ângulo de 90° aju­
Pelve 1.500-3.000
dam na detecção da fratura. A. A vista AP (anteroposterior) do
Fêmur 1.000
antebraço parece normal. B. Na vista lateral, uma fratura não
Tíbia e fíbula 500
deslocada mais óbvia é vista na diáfise da ulna (seta).
10 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Figura 1.11 Duas radiografias obtidas em ângulos de 90° per­


mitem compreensão mais completa do deslocamento da fratu­
ra. A. A vista AP do antebraço demonstra uma fratura da ulna.
Figura 1.12 A inclusão de uma articulação acim a e abaixo de
B. Na vista lateral, um deslocamento é visível, não sendo evi­
uma fratura de osso longo permite a detecção de deform ida­
dente na incidência em AP.
de rotacional, como a vista nesta radiografia da perna, na qual
uma incidência AP do joelho é vista com uma incidência lateral
do tornozelo.
fragmentos. As fraturas agudas são habitualmente linea­
res, com bordas irregulares. Evite tratar os ossículos aces­
sórios (i.e., ossos sesamoides) como fraturas por avulsão,
procurando por sua borda lisa. Quando existir dúvida,
uma vista comparativa da extremidade oposta pode ser
obtida, embora deva ser notado que os ossos sesamoides
nem sempre são simétricos. A fabela do joelho, por exem­
plo, é bilateral em somente 63% das pessoas.
As radiografias devem incluir a articulação acima e
abaixo da fratura. Isso é útil para detectar fraturas dis­
tantes que podem ser menos sintomáticas que a lesão
primária. Por exemplo, uma fratura de maléolo medial é
muitas vezes associada a uma fratura da fíbula proximal,
no padrão da fratura de Maisonneuve. Além disso, as de­
formidades rotacionais podem ser detectadas quando as
articulações estiverem aparentes nas radiografias de uma
fratura de um osso longo. A vista anteroposterior de uma
articulação com vista lateral da outra articulação é con­
sistente com uma deformidade rotacional da fratura (Fig.
1.12). Por fim, o encurtamento de um dos ossos do an­
tebraço ou da perna devido à angulação ou aposição em
baioneta sugere que outra fratura possa estar presente no
outro osso (p. ex., fratura da tíbia e fíbula), ou que exis­
te uma luxação articular (p. ex., fratura de Monteggia).
Essas lesões concomitantes serão diagnosticadas quando
A B
todo comprimento do(s) osso(s) longo(s) e suas articula­
ções proximais e distais são vistos nas radiografias. Figura 1.13 Fratura oculta da tíbia distai. A. Na radiografia ini­
Uma fratura pode ocorrer e não ser radiograficamen- cial, nenhuma fratura é percebida. B. Um mês mais tarde, uma
te evidente por até duas semanas pós-lesão (Fig. 1.13). fratura transversa da tíbia é vista (seta).
Emergências Ortopédicas 11

Figura 1.14 O desenho original da tala de tração deThom as com anel completo.

Por esta razão, o médico da emergência deve guiar-se pela no contexto pré-hospitalar. Depois de uma fratura do fêmur,
diretriz de que se houver trauma significativo e sensibili­ o osso sobreposto resulta em uma perda de tensão de teci­
dade dolorosa óssea focal suspeita para uma fratura, deve dos moles na coxa e um potencial espaço aumentado para
ser tratado como tal. hemorragia. Até 1 litro de sangue pode distender os tecidos
Existem algumas regiões onde as fraturas ocultas são moles da coxa. Uma tala de tração da extremidade inferior
bastante comuns e com frequência passam despercebidas. O mantém a tensão nos tecidos moles, diminui a quantidade de
escafoide é um exemplo notório pelas fraturas ocultas (10 a hemorragia, e subsequentemente melhora o desfecho.
20%) que não são radiograficamente visíveis por várias se­ Talvez a tala de tração de extremidade inferior mais
manas depois da lesão. As fraturas ocultas do quadril ocor­ antiga conhecida seja a tala de Thom as (Fig. 1.14). Esta
rem em aproximadamente 5% dos pacientes idosos com tala tem sido usada desde o final do século XIX e ficou fa­
trauma, dor no quadril e radiografias iniciais negativas. mosa durante a Primeira Guerra Mundial, quando a mor­
Quando uma fratura oculta for suspeitada, o profissional talidade foi reduzida em 50% depois de sua introdução no
deve considerar outros exames diagnósticos, como a resso­ campo de batalha. Uma modificação desta tala é a tala
nância magnética nuclear (RMN) ou a tomografia computa­ de tração de Hare, na qual um meio-anel compõe a por­
dorizada (TC). Estas técnicas de imagens têm sensibilidade ção mais proximal (Fig. 1.15). Estas talas fornecem tração
muito mais alta para a detecção de fraturas. Foi demonstrado dos fragmentos da fratura, mas causam grande desconfor­
que a RMN tem sensibilidade próxima de 100% para diag­ to durante o transporte. A tala não deve ser removida antes
nosticar fraturas ocultas do escafoide ou do quadril. Quando da avaliação radiográfica.
um exame de imagens adicional não for obtido no atendi­ A tala de tração de Sager (Minto Research and De-
mento de emergência, imobilizar o paciente com a simples velopment, Inc.) é mais recomendada para imobilização
suspeita de tal fratura, mesmo que não radiograficamente de emergência de todas as fraturas do fêmur proximal e
visível, e organizar um acompanhamento ortopédico. da diáfise femoral, tanto no grupo pediátrico como no
grupo adulto (Fig. 1.16). A tala de Sager tem uma has­
Tratamento te única que é colocada no aspecto interno da perna, mas
pode ser aplicada no lado externo da perna se uma fratu­
Imobilização pré-hospitalar ra pélvica estiver presente. A tala não tem um meio-anel
Uma fratura instável deve ser estabilizada com alguma posteriormente, o que tem duas vantagens importantes:
forma de imobilização ou tração externa antes de movi­ alivia qualquer pressão no nervo ciático e reduz a flexão
mentar o paciente. A imobilização própria no contexto do quadril (que ocorre em até 30° na tala de Hare), elimi­
pré-hospitalar reduz a dor e previne a lesão adicional de nando a angulação no local da fratura.
tecidos moles pelos fragmentos da fratura. Um exame Outras talas de extremidades comercialmente dis­
neurovascular deve ser feito tanto antes da imobilização poníveis incluem a tala S AM®, a tala de Fox, as talas em
como imediatamente após. grelha e as talas infláveis. A tala SAM® (SAM Medicai
Uma tala de tração da extremidade inferior para fratura Products, Inc.), feita de alumínio maleável recoberto de
do fêmur é uma das talas mais importantes a ser colocada espuma, é leve, fácil de usar, e se conforma bem à ex-
12 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Figura 1.15 A. A tração de Hare é aplicada conforme demonstrado, por tração e elevação do membro inferior, com o joelho man­
tido em extensão. B. A tala é então inserida sob o membro, e o pé fixado no aparato de tração.

Correia da coxa Almofada


isquioperineal

Figura 1.16 A tala de tração de Sager. O medidor distai diz a quantidade de peso que está sendo aplicado às correias do tornozelo
para distração. A tala pode ser aplicada no lado externo da perna nos pacientes com lesões na virilha ou fraturas pélvicas que tam­
bém apresentam uma fratura femoral.

tremidade. A tala de Fox (Compliance Medicai, Inc.) da inflação excessiva (isquemia do membro) ou a infla­
consiste em papelão e espuma de borracha, no entanto, ção deficiente (imobilização ineficaz). Estas talas não
carece de maleabilidade. Também são usadas as talas devem ser aplicadas sobre a roupa, já que podem causar
infláveis feitas de uma dupla camada de polivinil e gre­ lesão de pele.
lha de fio moldável, mas não elas não têm a nossa prefe­ Se a atenção médica ainda não tiver chegado, uma
rência. As talas infláveis têm as desvantagens potenciais tala pode ser adaptada com materiais encontrados na
Emergências Ortopédicas 13

► TABELA 1.2 Posição articular para im obilização

Articulação Posição de função


Interfalângica distai 0-10o de flexão
Interfalângica proximal 0-10o de flexão
Metacarpofalângica 60-90° de flexão
Punho 20-30° de extensão
Cotovelo 90° de flexão
Ombro Abduzida/com rotação interna
Joelho 20-30° de flexão
Tornozelo Neutra (evitar flexão plantar)
Dedos do pé Neutra

Talas
As talas diferem dos gessados porque não são circunfe-
renciais e permitem o inchaço da extremidade sem um au­
mento significativo na pressão do tecido. As compressas
de gelo podem ser aplicadas ao local da lesão, já que a tala
permitirá a penetração do frio para maximizar o seu efei­
to. Por estas razões, as talas são mais usadas como meio
A B
inicial de imobilização no setor de emergência. Uma vez
Figura 1.17 A. Um travesseiro pode ser uma tala temporária que o edema tenha diminuído, o gessado é feito, pois as
excelente para o manejo pré-hospitalar de uma fratura do tor­ talas permitem mais movimento e fornecem menos estabi­
nozelo, do pé ou da tíbia distai. B. Uma fratura na perna pode lidade que uma fratura reduzida precisa para ser mantida
ser estabilizada embrulhando toalhas com firmeza em torno do em posição fixa.
membro e então aplicando dois pedaços de madeira nas late­
Talas (e gessados) são reforçados por um ou dois dife­
rais e fixando-os à extremidade.
rentes materiais: gesso ou fibra de vidro. Os rolos de ges­
so ou as placas usadas nos gessados são endurecidos por
maioria das casas. Um exemplo é a tala com travesseiro dextro se ou goma e impregnados com sulfato de cálcio
(Fig. 1.17A). Esta tala é aplicada enrolando firmemente semi-hidratado. Quando a água é adicionada ao sulfato de
um travesseiro comum ao redor de uma fratura da extre­ cálcio, ocorre uma reação que libera calor, que é percebi­
midade inferior, fixando-o com alfinetes de segurança. da pelo paciente e pelo médico que aplica o gessado.
Altemativamente, uma tala pode ser feita com toalhas en­
roladas em tomo do membro e apoiada em um dos lados C aS04 + H20 -* H20 C aS04 • H20 + Calor
por pedaços de madeira (Fig. 1.17B). O mesmo tipo de Substâncias aceleradoras são adicionadas às banda­
tala pode ser usado na extremidade superior com a adição gens para permiti-las endurecer em velocidades diferen­
de uma tipoia para apoiar o antebraço. tes. O sal de cozinha comum pode ser usado para retardar
Os pacientes que se apresentam com fraturas expos­ o endurecimento do gesso, se isso for desejado, simples­
tas devem ser imobilizados de maneira similar; contudo, mente adicionando sal à água. A aceleração do endure­
o local da lesão de pele deve ser coberto com um curativo cimento ocorre pelo aumento da temperatura da água.
estéril. Deve haver o cuidado de não recolocar qualquer Quanto mais fria for a temperatura da água, mais tempo o
fragmento ósseo exposto de volta na ferida, para evitar gesso leva para endurecer.
contaminação adicional. Para as talas gessadas, uma malha tubular é colocada
na extremidade distai e proximal da extremidade onde a
Imobilização no setor de emergência tala for aplicada (Fig. 1.18). A seguir, uma camada mole
Uma fratura é imobilizada no setor de emergência para de acolchoamento (p. ex., algodão laminado) é circunfe-
permitir a consolidação, o alívio da dor e para estabili­ rencialmente colocada em tomo da extremidade, com cui­
zar as fraturas instáveis. A presença de uma fratura, en­ dado especial no acolchoamento extra em áreas onde as
tretanto, não deve ser automaticamente igualada com a protuberâncias ósseas sejam mais proeminentes (i.e., nos
necessidade de imobilização (p. ex., uma fratura da cla­ maléolos, no calcanhar). O gesso é medido e cortado (ou
vícula). As regras fundamentais das talas e dos gessados rasgado) no comprimento apropriado. Para a resistência
são idênticas. De forma ideal, pelo menos uma articulação máxima, 8 a 10 camadas devem ser usadas. As camadas
acima e abaixo da fratura deve ser imobilizada. Em geral, de gesso são então submersas em água moma, alisadas
a extremidade deve ser colocada na posição de função an­ para reforço da resistência, e aplicadas à extremidade.
tes de ser imobilizada, embora haja exceções a esta regra, Uma tira de acolchoamento gessado pode ser aplicada
dependendo da lesão (Tab. 1.2). sobre a superfície exterior do gesso, de forma que a ata-
14 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

membro (Figs. 1.19A e 1.19B). O acolchoamento do gessa­


do interposto entre a pele e o gesso fornece pressão elástica
e realça a fixação do membro, compensando o leve encolhi­
mento dos tecidos depois da aplicação do gessado. O acol­
choamento excessivo reduz a eficácia do gessado e permite
movimento excessivo. Em geral, quanto mais acolchoa­
mento for usado, mais gesso será necessário (Vídeo 1.1).
Depois de colocar a atadura gessada na água, aperte as
extremidades para eliminar o excesso de água, retendo o
gesso no rolo. A atadura de gesso deve ser desenrolada na
mesma direção que o acolchoamento, e cada virada deve
sobrepor à precedente em 50%. O gesso deve ser sem­
pre desenrolado transversalmente, com o rolo em contato
com a superfície do membro quase que de forma contínua.
O rolo deve ser ligeiramente guiado em tomo do membro,
e ser aplicada pressão com a eminência tenar para moldar o
gesso. Cada virada deve ser alisada com a eminência tenar
da mão direita, enquanto a esquerda guia o rolo em tomo
do membro. Conforme o membro afunila, o material ges­
sado recebe pequenas dobras feitas uniformemente com os
dedos indicador e polegar da mão direita antes de cada vol­
ta, sendo alisado naquela posição (Fig. 1.19C). As palmas
e as eminências tenares das mãos absam a atadura de gesso
conforme ele é aplicado. Lembre-se que a durabilidade e a
resistência do gessado dependem da junção de cada cama­
Figura 1.18 Tala posterior de tornozelo. Esta tala é construída da individual pelos movimentos de alisamento de ambas as
com a aplicação da malha tubular, seguida por acolchoamento mãos (Fig. 1.19D). Finalmente, a malha tubular é dobrada
(p. ex., algodão laminado). Finalmente, uma tala gessada poste­
de volta e o último rolo de gesso é aplicado (Fig. 1.19E).
rior é aplicada. Para estabilidade adicional, uma tala em forma
Alguns erros comuns na aplicação do gessado in­
de " U ", como um estribo, é usada. Um a atadura elástica (não
demonstrada) para fixar a tala ao membro é o passo final.
cluem os seguintes:
1. Fazer o centro do gessado muito grosso. É preciso
concentrar-se para fazer as duas extremidades do ges­
dura elástica não fique aderida. Isto ajuda na remoção da
sado de espessura adequada, pois é fácil tomar o cen­
tala. Por fim, uma atadura elástica é aplicada para fixar a
tro muito grosso. Isso não fornece nenhum suporte
tala ao membro. É importante enrolar a atadura elástica de
adicional no local da fratura (Fig. 1.20).
maneira firme, mas não muito apertada, para evitar causar
isquemia do membro ou síndrome compartimentai. 2. O uso de muitas ataduras gessadas estreitas, em vez
Os materiais comercialmente disponíveis de fibra de de menos rolos e mais largos, criando um aspecto gra­
vidro para imobilização, incorporando o acolchoamento e nuloso no gessado. As ataduras com as larguras de 10,
a fibra de vidro em um pedaço são facilmente encontra­ 12, e 15 cm são as mais usadas para os gessados.
dos. Estas talas são rápidas, limpas e fáceis de usar para 3. Apbcação do gesso muito solto, especialmente sobre
imobilizar as articulações após lesões de tecidos moles e da porção carnosa proximal do membro. Um melhor
na maioria das fraturas estáveis. A fibra de vidro é ativa­ ajuste é necessário nesse local, mais do que nas partes
da com uma pequena quantidade de água e seca depressa. ósseas distais.
Deve-se tomar cuidado para esticar o acolchoamento sobre A apbcação do salto para marcha deve ser feita sob
a extremidade de corte do material da tala, de forma que o centro do pé (Fig. 1.21). O calcanhar deve ser centrado
seja evitado o contato com a pele. A fibra de vidro seca é a meio caminho entre a ponta posterior do calcâneo e a
afiada e causa irritação da pele e dor. Para as fraturas instá­ extremidade distai da “bola” do pé. Se precisar reforçar o
veis que requerem redução, recomendamos a imobilização gessado, como em um paciente obeso com uma bota para
com gesso, pois ela se molda melhor ao membro. marcha, isso deve ser feito adicionando uma tala na frente,
não adicionando talas posteriores em excesso, já que isso
G e ssa d o s apenas adiciona peso ao gessado e não o toma mais forte.
Os gessados são aplicados de forma similar às talas. Pri­ Ao apbcar um gessado na extremidade superior, a
meiro, a malha tubular é colocada na extremidade, de forma mão deve ser deixada bvre, parando o gessado nas cabe­
que um excedente fique disponível em cada lado onde o ças metacarpais dorsalmente e na prega flexora proximal
gessado será colocado. A seguir, o acolchoamento do ges­ da palma no lado volar, para permitir o movimento normal
sado é aplicado, de distai até a extremidade proximal do dos dedos (Fig. 1.22).
Emergências Ortopédicas 15

A B

D E

Figura 1.19 Aplicação de um gessado. A. A malha tubular é usada para cobriras extremidades proximais e distais da área a ser imobili­
zada. B. Um material de acolchoamento macio é usado sob o rolo de gesso. C. O gesso é aplicado com o rolo mantido contra o membro
pela mão esquerda. A mão direita é usada para alisar o gesso e para puxar e dobrar os cantos superiores, que são produzidos pela mudan­
ça na circunferência do membro. D. O rolo de gesso, uma vez aplicado, é alisado com a eminência tenar e as palmas de ambas as mãos
são usadas para selar os interstícios e dar suporte adicional. E. O passo final é dobrar de volta a malha e aplicar o último rolo de gesso.

A. Correto B. Incorreto

Figura 1.20 A maneira correta de aplicar o gesso é usar sem­


pre a mesma espessura. A. Para suporte adicional, pode-se co­
locar uma espessura extra nas extremidades proximais e distais.
B. Um engano comum é o médico pensar que há maior resis­
tência adicionando espessura no local da fratura. Figura 1.21 Bota para marcha.
16 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

do é cortado em ambos os lados e enrolado com ataduras


para segurá-los juntos. Este processo é chamado de “bi-
valvar” o gessado.
O material para gessado de fibra de vidro também é usa­
do por ser leve, forte e radioluzente. Os gessados de fibra
de vidro podem ficar molhados sem amolecer ou sofrer da­
nos. Os gessados de fibra de vidro têm apbcações limitadas
em fraturas recentes, porque a fibra de vidro não pode ser
moldada ao membro como o gesso. Outra desvantagem é
a resina de poburetano dentro da fibra de vidro que adere à
pele desprotegida. Por conseguinte, os gessados de fibra de
vidro são mais adequados como um gessado subsequente.

Figura 1.22 Uma luva gessada com o punho em 15 a 20° de Verificando os gessados
extensão e os dedos livres na articulação metacarpofalângica. Qualquer paciente com um gessado circunferencial deve
receber instruções escritas descrevendo os sintomas da
síndrome compartimentai com um gessado apertado. Au­
Uma janela pode ser aberta em um gessado quando
mento da dor, edema, frieza ou alteração na cor da pele
uma fratura é acompanhada de uma laceração ou qualquer
das porções distais da extremidade são os sinais de que
lesão de pele que precise de cuidados durante o tratamen­
um gessado está muito apertado e o paciente deve ser
to da fratura. As janelas são feitas cobrindo-se a ferida com
instruído para retomar imediatamente. Como regra, re­
um pedaço volumoso de gaze estéril sendo, então, aplicado comendamos que qualquer gessado circunferencial seja
o gessado sobre o curativo da maneira normal. Depois de verificado no dia seguinte, buscando sinais de comprome­
completar o gessado, uma janela é cortada acima da “pro­ timento do aparelho circulatório. O paciente deve receber
tuberância” criada pelo curativo de gaze (Fig. 1.23). O de­ instmções para elevar o membro para evitar problemas.
feito deve sempre ser coberto com um curativo volumoso e Se o paciente reclamar de desconforto em qualquer
firmemente seguro com uma atadura para evitar a hemiação momento após a apbcação do gessado, é melhor removê-lo
de tecidos moles e subsequente edema e ulceração de pele. para verificar se há síndrome compartimentai, escaras de
Os gessados não são usados com tanta frequência no pressão ou lesão do nervo periférico. Como alternativa, o
setor de emergência como as talas. A colocação de um gessado pode ser cortado dividido em ambos os lados (i.e.,
gessado circunferencial no contexto agudo pode ser pro­ bivalvado) para diminuir a pressão. Se as queixas do pa­
blemática se o edema adicional produzir uma síndrome ciente persistirem, o gessado deve ser removido.
compartimentai. Se um gesso for colocado no setor de A Figura 1.24 demonstra a técnica apropriada para re­
emergência e o edema adicional for antecipado, o gessa- mover ou dividir um gessado. A serra oscilante usada para
dividir o gessado é geralmente segura, mas pode cortar a pele
se não for usada com o devido cuidado. Deve-se lembrar de

U não dividir apenas o gesso, mas também o acolchoamento


interno, para reduzir significativamente a pressão. Isto foi
bem demonstrado em um estudo no qual nenhuma redução
significativa na pressão ocorria quando apenas o gesso era
aberto. A divisão do gesso e do acolchoamento resultou em
redução significativa na pressão dos tecidos moles.

Redução de fratura fechadas


A redução de fraturas é executada de forma aberta (i.e.,
com cirurgia) ou fechada. A redução fechada é executada
no setor de emergência ou na sala de cirurgia, dependen­
B C do das circunstâncias. A redução fechada bem-sucedida
é mais provável de ser feita tão perto quanto possível do
Figura 1.23 Quando uma ferida aberta exigir cuidados e es­
momento da lesão. O retardo da redução por vários dias
tiver associada a uma fratura na extremidade que deve ser ges­
toma a redução mais difícil.
sada, a técnica seguinte permite saber onde cortar uma janela
no gessado para cuidados e observação da ferida. A. A ferida é
A redução fechada deve ocorrer em uma base emer-
coberta com curativos estéreis, que são acumulados como uma gencial quando a perfusão à extremidade estiver ausente,
bola sobre a ferida. B. O gessado é então aplicado da forma especialmente no contexto de disponibihdade limitada de
rotineira sobre a ferida com o curativo. C. Uma janela é cortada consultoria ortopédica. O profissional deve notar a pre­
sobre a "protuberância" produzida no gessado. sença de um hematoma em expansão, pulsos distais au-
Emergências Ortopédicas 17

Figura 1.24 A remoção de gesso usando A . serra oscilante e B. afastador e tesoura de segurança.

sentes ou enchimento capilar retardado, sendo que a lesão requerem redução imediata somente quando a extre­
vascular pode ocorrer depois de qualquer fratura desloca­ midade estiver sem pulso e perfusão ausente.
da ou luxação. Uma extremidade não perfundida tem um
A preparação de um paciente para a redução da fratu­
período limitado de tempo antes que ocorra morte nervosa
ra depende do tipo de lesão e do contexto clínico. Expli­
e muscular. Por esta razão, a redução deve ocorrer assim
que o procedimento para o paciente e obtenha o consen­
que possível. Quanto mais cedo a perfusão for recuperada,
timento. Ao executar a redução, o paciente deve estar em
melhor é a chance de evitar necrose tecidual.
decúbito dorsal sempre que possível. A extremidade en­
A redução no setor de emergência é contraindicada
volvida deve estar completamente exposta e qualquer pe­
em vários casos:
daço de roupa ou acessórios, tanto proximal como distai à
1. A extremidade está perfundida e o paciente necessi­ lesão, ser removido. Se a fluoroscopia for usada, deve ser
tará de tratamento operatório imediato. Uma fratura movida para a posição. Com frequência, o material para
exposta em uma extremidade perfundida, por exem­ tala é montado antes de iniciar o procedimento, de forma
plo, deve ser reduzida na sala de cirurgia, onde pode que pode ser imediatamente aplicado à extremidade após
ocorrer uma lavagem cirúrgica adequada. a redução. Isso é especialmente útil no contexto de uma
2. Antecipa-se que a remodelação ou a fratura conso­ fratura instável.
lidará de forma adequada sem redução. A remode­ Os princípios básicos para reduzir as fraturas são si­
lação, especialmente em crianças, pode corrigir de­ milares, e podem ser divididos em quatro passos:
formidades de modo gradual com a consolidação e 1. Distração
toma desnecessária a redução dolorosa ou o risco de
2. Desencaixe
sedação. No esqueleto do adulto, as fraturas da diáfise
umeral e as fraturas do colo do quinto metacarpal são 3. Reaposição
exemplos de ossos em que algum grau de angulação 4. Liberação
residual não causará impacto na função, tornando a A distração envolve a criação de uma força longitu­
redução desnecessária. dinal para tracionar e separar os fragmentos ósseos. Esse
3. A sedação para o procedimento é inadequada ou mui­ passo é feito gradualmente e pode exigir tempo para ser
to arriscada. Se a analgesia adequada não puder ser efetivo, superando o espasmo muscular. A distração tam­
fornecida devido à condição médica do paciente ou bém é importante quando as extremidades fraturadas do
pela incapacidade em monitorar de forma apropriada osso estiverem sobrepostas. A distração pode ser aplicada
o paciente, a redução no setor de emergência não deve manualmente, com a ajuda de um assistente, ou usando
ser executada. pesos.
4. A lesão vascular pode piorar com a redução fechada. O desencaixe das extremidades ósseas da fratura per­
Quando haver suspeita de lesão vascular em um pa­ mite a desimpactação adicional do osso, mais além da dis­
ciente com luxação da articulação estemoclavicular tração. É possível alcançar o desencaixe por rotação do
posterior, por exemplo, a redução é mais adequada­ fragmento distai ou “recriando a deformidade da fratura”.
mente executada na sala de cimrgia com um cirur­ Alivia a tensão nos tecidos moles para permitir que os
gião cardiotorácico disponível, pois a clavícula distai fragmentos da fratura se reposicionem.
pode estar tamponando um vaso subclávio lacerado. A reaposição é alcançada revertendo as forças que
Em uma forma similar, as fraturas supracondilianas causaram a lesão, proporcionando o alinhamento aos
18 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Ponte irredutível e nenhuma quantidade de distração ou técni­


ca alternativa resolverá a situação. Além disso, as fraturas
com mais de uma semana de evolução são mais difíceis
de reduzir.
Quando executada da forma correta, as complicações
Distração na redução das fraturas são incomuns. Entretanto, mes­
mo quando as técnicas forem corretamente executadas,
é possível ocorrer complicações. Essas complicações in­
cluem: conversão de uma fratura fechada em uma exposta,
trauma de tecidos moles durante a redução, produzindo
síndrome compartimentai, tentativa de redução que cause
lesão nos tecidos moles, tornando a fratura mais instável,
ou lesão neurovascular devido à laceração ou compressão
óssea.

Tratamento definitivo
A seleção do tratamento definitivo de uma fratura é uma
decisão combinada entre o médico da emergência e o
do encaminhamento. Algumas fraturas podem ser trata­
das de maneira segura apenas com imobilização, apesar
de alguma angulação (p. ex., diáfise umeral, fratura do
colo do quinto metacarpal). Outras requerem redução fe­
chada quando deslocadas ou anguladas (p. ex., fratura de
Colles). E outras, ainda, exigem consultoria para interven­
Figura 1.25 Redução de fraturas. A. Um a ponte periosteal ção operatória (p. ex., fratura exposta, fratura do fêmur).
intacta está habitualm ente presente em um dos lados e atua O manejo individual das fraturas é discutido mais
como suporte para estabilizar internamente a fratura depois da adiante no texto. O médico da emergência deve estar cien­
redução. B. Após, uma tração é aplicada e a fratura é alinhada
te das indicações para intervenção operatória ao tratar as
usando a ponte periosteal intacta. C. As extremidades são, en­
fraturas. Algumas indicações gerais para o manejo cirúr­
tão, apostas novamente e a fratura é reduzida.
gico incluem as seguintes:
• Fraturas intra-articulares deslocadas.
fragmentos ósseos. Uma fratura deslocada habitualmente
• Lesão arterial associada.
deixa o periósteo intacto em um dos lados. Sem essa ponte
• Quando a experiência mostra que o tratamento cirúr­
periosteal intacta, a redução seria difícil de manter (Fig.
gico fornece melhor resultado.
1.25). Uma ponte periosteal intacta ajuda na redução e na
• Quando os métodos fechados falharem em alcançar
manutenção da redução. Embora esse passo pareça con-
ou em manter o alinhamento aceitável.
ceitualmente simples, pode não ser tão fácil na prática
clínica. Uma armadilha importante a evitar é ignorar uma • Quando a fratura for decorrente de uma lesão metas-
deformidade rotacional que poderia criar problemas fun­ tática.
cionais se o osso consolidar dessa forma. • Quando a mobilização precoce for desejável.
A liberação refere-se à remoção da força inicial de
distração, com o intento de que o alinhamento será manti­
do. É neste momento que as forças como a contração mus­
cular e a gravidade retornam e os fragmentos da fratura
têm um risco de ficarem mal-alinhados novamente. Uma
tala ou gessado corretamente aplicados podem evitar a per­
da do alinhamento da fratura. O paciente deve ser subme­
tido a uma nova radiografia simples ou fluoroscopia, na
maioria dos casos, para documentar o sucesso da redução.
Após a redução, a condição neurovascular da extre­
midade deve ser reavaliada para assegurar que: os pulsos
estejam presentes; a extremidade tenha perfusão e a fun­
ção nervosa não tenha sido comprometida.
O profissional atento também deve estar ciente das Figura 1.26 A tração cutânea pode ser temporariamente utili­
limitações da técnica da redução fechada. Se um tecido zada para distrair uma fratura deslocada do fêmur até que possa
mole estiver interposto, por exemplo, a fratura pode ser ser realizado o tratamento definitivo no dia seguinte.
Emergências Ortopédicas 19

Figura 1.27 Tração esquelética. A. Representação esquemática de um fio de tração através do fêmur distai. B. Radiografia de um
paciente com um fio de tração na tíbia proximal e fratura do fêmur distai. C. Fotografia clín ica da perna do paciente. D. O aparato
inteiro com bolsas d'água usadas como pesos.

Tração esquelética uma proeminência óssea distai ao local da fratura, e os


A tração pode ser aplicada à pele (tração cutânea ) ou no pesos são usados para tracionar os fragmentos da fratura
osso (tração esquelética ) para alinhar as fraturas. A tra­ em um melhor alinhamento. Tal método é especialmente
ção cutânea foi popularizada por Buck na Guerra Civil útil para as fraturas cominutivas que não podem ser man­
Americana (Fig. 1.26). Ela tem sido usada como um meio tidas pela fixação com gesso. A tração esquelética é usada
temporário para estabilizar as fraturas do quadril, embora como o método de tratamento exclusivo quando a cirurgia
raramente seja usada hoje. O uso de fita adesiva e pesos for contraindicada, porém é mais comumente usada hoje
acima de 3 a 4 kg devem ser evitados, já que podem cau­ como medida temporária antes de um reparo cirúrgico
sar avulsão das camadas superficiais da pele. mais definitivo (p. ex., haste intramedular).
A tração esquelética, aphcada por um especialista A tração esquelética é usada com mais frequência em
em ortopedia, é a forma preferida de tração (Fig. 1.27). fraturas do fêmur e também em algumas fraturas da tíbia,
Um fio (p. ex., fio de Steinmann) é passado através de embora possa ser empregada na extremidade superior para
20 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

alinhar as fraturas do úmero. Os locais comuns para a co­ portante que o médico da emergência tenha alguma fa­
locação do fio na extremidade inferior incluem o fêmur miliaridade com esses dispositivos e reconheça as suas
distai, a tíbia proximal, a tíbia inferior e o calcâneo (Vídeo comphcações potenciais. As comphcações mais comuns
1.2). As complicações incluem infecções no trajeto do fio incluem a falha do implante (i.e., a quebra), a perda da
e a superdistração da fratura. fixação e as infecções.
A p la c a e os p a ra fu so s colocam as extremidades da
Dispositivos ortopédicos fratura em ahnhamento aceitável para permitir a consoli­
Uma variedade de dispositivos é usada cirurgicamente dação. Se a fratura não consolidar de forma espontânea, a
para estabilizar uma fratura instável (Fig. 1.28). É im ­ placa eventualmente quebra ou os parafusos se afrouxam.

Figura 1.28 Dispositivos ortopédicos para estabilização de fraturas. A . Placa e parafusos. B . Parafusos. C. Haste intramedular rígi­
da. D. Hastes intramedulares flexíveis {continua).
Emergências Ortopédicas 21

G H

Figura 1.28 ( Continuação) E . Fios percutâneos F. Fios com banda de tensão. C . Fixador externo. H . Prótese total de quadril

A consolidação ocorre sem a formação de calo que é vista a haste seja colocada, os parafusos de bloqueio são adi­
com o gessado. Os parafusos podem também ser usados, cionados para fornecer estabilidade rotacional. As hastes
independentemente de uma placa. Os exemplos incluem intramedulares flexíveis são mais comuns na população
a estabilização de um escorregamento da epífise capital pediátrica, podendo ser inseridas através da porção me-
femoral, ou de uma fratura deslocada do escafoide. A tafisária do osso e evitando uma lesão na placa de cresci­
complicação mais comum deste tipo de fixação interna é mento. As hastes são mecanicamente mais fortes que uma
a infecção da ferida. placa ou os parafusos, mas podem quebrar se a fratura não
As hastes intram edulares são rígidas ou flexíveis. consolidar. A infecção é menos comum do que com placa
As hastes intramedulares rígidas são usadas para tratar e parafusos. As hastes intramedulares flexíveis e as rígi­
as fraturas em ossos longos. A formação do calo no local das não bloqueadas podem migrar para fora do osso e nos
de fratura é mais acentuada, pois a fratura não é mantida tecidos moles.
em alinhamento tão rígido como ocorre com uma placa e Os fio s p ercu tâ n eo s são usados para as fraturas dos
parafusos. A consolidação de fratura é habitualmente ex­ ossos pequenos da mão e do pé. Como diz o nome, o fio
celente, porque o periósteo e o hematoma da fratura não é diretamente inserido através da pele e pode então ser
são perturbados quando a haste é colocada. Uma vez que cortado, de forma que somente uma porção pequena do
22 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

fio fique exposta. Esses fios de aço inoxidável também texto rural, por exemplo, sugere um prognóstico pior, com
são chamados de fios de Kirschner ou fios K, depois que taxas mais altas de contaminação, do que uma queda de
Martin Kirschner os introduziu em 1909. As complica­ baixa energia na calçada urbana. O profissional deve exe­
ções desses dispositivos incluem infecções no trajeto do cutar um exame neurovascular e reduzir a fratura imedia­
fio, migração ou quebra. tamente apenas quando for associada à perfusão ausente
Os fio s com banda de tensão são utilizados para reali- na extremidade distai.
nhar as fraturas que sofrem forças de distração devido aos O exame do tecido dentro e em torno da ferida
músculos. Os exemplos incluem as fraturas do olécrano, deve ser executado, notando quaisquer contaminantes.
do tubérculo maior do úmero proximal e da patela. Nes­ Não deve haver nenhuma tentativa de explorar digital­
sa técnica, os fragmentos de fratura são alinhados por fios mente a ferida no setor de emergência, já que pouca infor­
percutâneos que também agem como uma âncora para uma mação será fornecida, resultando em aumento do risco de
laçada de fio flexível que segura os fragmentos juntos. As infecção. Se houver dúvida sobre uma ferida pequena que
complicações desses dispositivos incluem a quebra, a bur- está acima de uma fratura, é possível verificar com segu­
site do olécrano e a perfuração da pele pelo fio. rança a ferida com um instrumento estéril não penetrante
A fixa çã o externa tem uma armação que é suportada por para ver se o osso é tocado.
fios colocados através dos fragmentos proximais e distais da As radiografias ajudam no diagnóstico se ar for visto
fratura. Estes dispositivos são usados preferencialmente no dentro dos tecidos moles em pacientes que sofreram uma
contexto de fraturas expostas, já que permitem a monitora­ lesão recente. Se ainda não estiver claro que a fratura é ex­
ção dos tecidos moles e a redução da infecção. Eles também posta, o manejo prudente é tratar considerando-a exposta
são usados para estabihzar temporariamente as fraturas da e debridar a ferida na sala de cirurgia.
pelve e, algumas vezes, para o tratamento das fraturas distais Gustilo e Anderson classificaram as fraturas expostas
do rádio. As infecções no trajeto do fio e o afrouxamento do pela gravidade do dano de tecidos moles e o grau associa­
dispositivo são as compbcações mais comuns. do de contaminação da ferida. Esse sistema de classifica­
As próteses articulares estão disponíveis para quase ção é amplamente usado e permite ao médico da emergên­
cada articulação do corpo. Elas são consideradas como cia comunicar-se de maneira eficaz com um especialista
uma artroplastia total (completa) se ambos os lados da ar­ em ortopedia.
ticulação forem substituídos, e uma hemiartroplastia (par­
• O G rau I descreve uma ferida aberta devido a uma
cial) se somente um lado da articulação for substituído.
lesão de baixa energia. A ferida tem < 1 cm de com­
No quadril, a artroplastia total é mais usada para artrite,
primento e não mostra qualquer evidência de conta­
enquanto apenas a hemiartroplastia pode ser necessária
minação. As fraturas nas feridas de grau I são ha­
para uma fratura deslocada do colo do fêmur. O tipo mais
bitualmente simples, transversas ou oblíquas curtas,
comum de prótese total de quadril usa uma prótese femo-
com cominução mínima. Essas feridas costumam ser
ral de metal que se articula com uma copa acetabular de
causadas por um fragmento de fratura que perfura a
plástico. A copa de plástico é fixada ao acetábulo por um
pele pelo lado de dentro.
apoio de metal. A denominação “restrita” é usada quando
• As feridas de G rau II envolvem uma quantidade mo­
as duas porções da articulação protética são bloqueadas
derada de lesão nos tecidos moles. Alguma cominu­
juntas, em vez de serem estabilizadas pelos ligamentos e
ção da fratura e um grau moderado de contaminação
tendões intrínsecos do paciente. Os dispositivos restritos
podem estar presentes. As fraturas expostas de grau
têm mais probabibdade de afrouxar. Outra complicação é
II são caracterizadas por uma ferida que tem > 1 cm.
a luxação, que pode ocorrer com as articulações protéti-
Nenhum tecido mole foi desnudado do osso.
cas restritas e não restritas. A redução de um dispositivo
• O G rau IIIA é uma ferida grande (habitualmente >10
restrito deslocado é raramente bem-sucedida no setor de
cm). O grau de contaminação é alto e a quantidade de
emergência, e a tentativa pode causar danos ao dispositi­
lesão de tecidos moles é grave; contudo, existe cober­
vo. A outra complicação catastrófica de uma articulação
tura adequada de tecidos moles no osso. A cominução
protética é a infecção. A avaliação é aconselhada em todos
da fratura associada costuma estar presente.
os casos de suspeita de infecção na articulação protética.
• O G rau IIIB é uma ferida grande (> 10 cm), com
desnudamento periosteal e exposição óssea. Nessa
Fraturas expostas subclasse, o grau de lesão de tecidos moles é tal que
Uma fratura exposta ocorre quando uma ruptura na pele e uma cirurgia de reconstrução é muitas vezes neces­
nos tecidos moles comunica-se diretamente com uma fra­ sária para cobrir a ferida. A contaminação maciça e
tura e seu hematoma. Embora o diagnóstico seja direto na uma fratura gravemente cominutiva são notadas nessa
maioria dos casos, pode ser difícil quando houver alguma subclasse.
distância entre os fragmentos da fratura e a ferida aberta. • O G r a u IIIC é similar à lesão IIIB, mas está associado
A história deve ser obtida em relação ao mecanismo e ao achado adicional de lesão arterial significativa, que
à localização da lesão. Uma lesão de alta energia no con­ exige reparo para salvação da extremidade/
Emergências Ortopédicas 23

O tratamento no contexto pré-hospitalar consiste em são ainda as mais comumente vistas; entretanto, as feridas
cobrir a ferida com um curativo estéril e imobilizar a ex­ por armas de velocidade mais alta (p. ex., M-16, AK-47)
tremidade. No setor de emergência, corpos estranhos ou estão se tornando mais comuns. Os dados demonstram
fragmentos óbvios devem ser removidos de forma estéril, que as armas de alta velocidade respondem por 16% dos
manualmente ou com uma pinça. A profilaxia do tétano homicídios na cidade de Nova York.
é administrada quando indicado. Da ferida pode ser co­ As espingardas são armas de baixa velocidade dife­
letado um esfregaço para cultura, a pedido do cirurgião rentes das pistolas, pois impulsionam centenas de pelo­
ortopedista; entretanto, existe evidência de que as culturas tas de chumbo (Fig. 1.29). Por ter uma alta eficácia de
pré-debridamento teriam pouco valor.9 transferência de energia à queima-roupa, a espingarda
Os antibióticos de amplo espectro contra organismos causa dano de tecidos moles e lesão óssea significativos.
gram-positivos e gram-negativos são recomendados para As explosões de espingarda à queima-roupa podem ser
o uso em fraturas expostas. Os antibióticos devem ser ini­ determinadas pela medida do diâmetro do espalhamento
ciados tão logo quanto p o ssível depois da lesão. Foi de­ do chumbo no paciente. Uma ferida com um diâmetro de
monstrado que um retardo de mais de 3 horas aumenta < 7 cm sugere uma lesão de espingarda à queima-roupa.
a taxa de infecção. 0,11 O organismo produtor de infecção Ao avaliar um paciente com ferimento por arma de
mais comum é o Staphylococcus aureus. A ferida da fratu­ fogo nas extremidades, o profissional deve primeiro abor­
ra exposta mais suscetível à infecção secundária é aquela dar os ABCs dos cuidados de trauma com avaliação primá­
decorrente de um disparo de arma de fogo à queima-roupa. ria completa. Em relação à extremidade atingida, a priori­
Todos os pacientes com fraturas expostas devem ser dade inicial é a condição neurovascular dessa extremidade.
submetidos a um debridamento na sala de cirurgia. Se o Em pacientes com sinais de lesão vascular, a angiografia
<g
e/
paciente for levado à sala de cirurgia para irrigação e de­ ou a exploração intraoperatórias são necessárias. '
bridamento formal dentro de 1 a 2 horas da lesão, o curati­ A maioria das feridas por arma de fogo de baixa ve­
vo estéril e a tala devem ser reaplicados depois de os frag­ locidade e sem evidência de lesão vascular pode ser trata­
mentos óbvios serem removidos. Se houver retardo em da seguramente com cuidados locais na ferida, profilaxia
levar o paciente para a sala de cirurgia além de 2 horas, do tétano e manejo ambulatorial. O uso de antibióticos é
a ferida deve ser irrigada com 1 a 2 litros de soro fisio­ controverso, mas a maioria dos autores recomenda a pro­
lógico antes de o curativo estéril ser reaplicado. Observe filaxia de rotina com três dias de antibióticos orais (ci-
que manter úmida uma ferida aberta aumenta a umidade profloxacino, cefalexina ou dicloxacilina). As fratu­
da superfície, um fator importante na cicatrização. Além ras associadas são tratadas de acordo com os protocolos
disso, os curativos oclusivos facilitam a cicatrização local aceitos para fraturas similares em pacientes com outros
por elevar a temperatura da ferida. tipos de trauma. As lesões são tratadas como se fossem
fraturas “fechadas”. A irrigação é seguida pela aplicação
de um curativo estéril. A ferida é deixada aberta e a fra­
Feridas por arma de fogo
tura é imobilizada apropriadamente. Os pacientes que se
As feridas por arma de fogo são comuns na nossa socieda­ apresentam > 8 horas depois da lesão podem se beneficiar
de, com até 500.000 casos ocorrendo a cada ano somente do debridamento cirúrgico, pois o cuidado local da ferida
nos Estados Unidos. Muitos pacientes com essas lesões se é menos eficaz.
apresentam no setor de emergência com fraturas associa­ As lesões de alta velocidade, as lesões à queima-roupa
das. As feridas por arma de fogo são divididas em dois ti­ e as feridas grosseiramente contaminadas requerem irriga­
pos - de baixa velocidade e de alta velocidade. As feridas ção e debridamento cirúrgico. Essas feridas são tratadas
infligidas por armas de baixa velocidade (p. ex., pistolas) como fraturas expostas. Os antibióticos intravenosos estão

Figura 1.29 Múltiplos chumbinhos de espingarda


no pé.
24 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

A B

Figura 1.30 Lesão por pistola de pregos. A. Este trabalhador da construção acidentalmente descarregou a sua pistola através da sua bota
de segurança e em seu pé. B. As radiografias revelaram que o prego estava dentro do calcâneo. Observar a rebarba presente no prego.

indicados e devem ser iniciadas antes da cirurgia (cefazo- Fraturas de estresse


lina 1 g IV 8/8 h por 48-72 horas ± um aminoglicosídeo).
Uma fratura de estresse (fadiga) é uma lesão comum vis­
As feridas por arma de fogo que penetram uma arti­
ta por profissionais de cuidados de saúde, particularmente
culação em geral requerem artrotomia ou artroscopia para
aqueles que tratam atletas. Sob condições normais de ten­
o debridamento adequado. A presença de fragmentos de
são, o osso sofre hipertrofia. Uma fratura de estresse resulta
chumbo retidos dentro da articulação é indicação absoluta
quando o carregamento repetitivo do osso sobrepõe-se à ha­
para a intervenção operatória. Essas feridas estão associa­
das a uma alta probabilidade de lesão nos tecidos moles bilidade reparadora do sistema esquelético. As pessoas em
da articulação. As lesões de baixa velocidade que pene­ condição física ruim que começam um programa vigoroso
tram na articulação do joelho têm incidência de 42% de de aprimoramento físico têm um risco maior de desenvolver
lesão meniscal e de 15% de lesão condral.1 Esses pacien­ esse tipo de fratura. Em contrapartida, um atleta condiciona­
tes devem receber pelo menos 24 a 48 horas de antibióti­ do pode desenvolver uma fratura de estresse depois de um
cos intravenosos. aumento recente no nível de atividade. O diagnóstico requer
Outro tipo de lesão ocorre depois da descarga aciden­ um exame clínico completo, com um alto grau de suspeita.
tal de uma pistola de pregos (Fig. 1.30). A maioria das Vários fatores predispõem uma pessoa às fraturas de
lesões ocorre na mão. As pistolas de pregos de alta ve­ estresse. O tipo de superfície (i.e., uma superfície dura)
locidade são capazes de disparar projéteis em até 10 cm pode causar uma fratura de estresse, como uma alteração
em concreto protendido e, quando descarregado de forma na intensidade, na velocidade ou na distância em que um
acidental, têm causado lesões fatais. Se estruturas vascu­ paciente esteja fazendo exercícios. Os calçados impró­
lares importantes não estiverem próximas, e o prego não prios podem resultar em fraturas de estresse. Outros fa­
penetrou em um espaço articular, é seguro removê-lo no tores incluem problemas mecânicos, como discrepância
setor de emergência. no comprimento das pernas, aumento do valgo no joelho,
Antes da remoção, entretanto, uma radiografia deve distúrbios do pé ou largura óssea da tíbia reduzida.
ser obtida. Os pregos são mantidos juntos dentro da pisto­ Os locais nos quais mais ocorrem as fraturas de es­
la por fios de cobre. Isso é importante, pois o cobre pode tresse estão listados na F igura 1.31. Essas fraturas po­
permanecer na haste e criar uma rebarba tomando difícil a dem ocorrer nas extremidades superiores, mas são muito
remoção retrógrada. Se isso for observado e o prego tiver mais raras. As fraturas de estresse ocorrem mais em mu­
perfurado a extremidade, a cabeça do prego deve ser cor­ lheres. Outras condições que devem ser consideradas no
tada e ele puxado pelo restante da passagem. diagnóstico diferencial das fraturas de estresse incluem
Após a remoção, a ferida é abundantemente irrigada periostite, infecção, distensão muscular, bursite, síndrome
e debridada, e a profilaxia do tétano é feita conforme ne­ compartimentai pelo exercício e compressão nervosa.
cessário. A maioria dos autores recomenda uma dose de O paciente se apresenta com queixa de dor e des­
antibióticos intravenosos, seguido por uso não prolongado conforto, descrevendo um dolorimento inicial depois dos
de antibióticos orais. exercícios, que progride para dor localizada no local da
Emergências Ortopédicas 25

Pelve 1,6%

Fêmur 7,2%
Figura 1.32 Lesão lítica do úmero com fratura patológica.
(Contribuição de J. Wanggaard, NP.)
Tíbia 49%

Fibula 6,6% para uma fratura completa, que pode ser complicada por
não união ou necrose avascular. A fratura de estresse de
Tarsais 25%
alto risco mais comum é do colo do fêmur. Esses pacien­
Metatarsais 8,8% tes devem ser tratados como se tivessem uma fratura agu­
da e não devem apoiar o peso." A intervenção cirúrgica
Sésamo ides 0,9%
é frequentemente necessária. Outras fraturas de estresse
de alto risco incluem a cortical anterior da tíbia, o tálus, o
Figura 1.31 A distribuição e a frequência das fraturas de estresse. maléolo medial, o navicular tarsal e o quinto metatarsal.
Se a fratura de estresse não for de alto risco, o trata­
mento conservador envolve diminuição na atividade até o
fratura. Em geral, a dor começa quatro semanas depois do ponto em que a dor não esteja mais presente. Raramente é
aumento na atividade física. A dor progride em intensida­ necessário eliminar as atividades da vida diária, mas se a
de durante a atividade, até que o exercício seja desconti­ dor persistir, o paciente é mantido sem carga. Alguns au­
nuado. O momento do diagnóstico é variável, e pode ser tores recomendam o treinamento cruzado imediato, como
2Q22
de várias semanas a vários meses em alguns casos. ' ciclismo, patinação ou hidroginástica. É necessário ces­
O exame físico varia conforme a localização da fra­ sar a atividade precipitante por um mínimo de quatro se­
tura de estresse. Uma fratura de estresse do fêmur proxi- manas. Depois desse período, o paciente pode retomar aos
mal revela achados clínicos mínimos. A dor está habitual­ poucos as atividades anteriores. Os medicamentos anti-in-
mente presente na região anterior da virilha. O movimento flamatórios não esteroides (AINEs) são evitados devido
do quadril, em especial os extremos da rotação interna e aos seus efeitos negativos sobre a consolidação óssea.
externa, exacerba a dor. Além disso, a dor é produzida
quando é solicitado ao paciente para apoiar-se e pular na
2,2, Fraturas patológicas
extremidade afetada (teste do pulo).
As radiografias simples iniciais revelam fratura em As fraturas patológicas ocorrem em ossos que estejam anor-
26
somente 10% dos casos.21 A cintilografia óssea é mais malmente enfraquecidos por uma condição preexistente.
sensível para detectar novas fraturas de estresse. Deve ser A osteoporose é a causa mais comum de fratura patológica,
notado, contudo, que a cintilografia óssea positiva é um seguida pelas lesões metastáticas (Fig. 1.32). A Tabela 1.3
achado não específico, e pode ocorrer em outras condi­ lista outras causas de fraturas patológicas. Os locais mais
ções. Outras opções para confirmar o diagnóstico quando comuns para metástases ósseas são a coluna vertebral, as
as radiografias simples iniciais forem negativas incluem a costelas, a pelve, o fêmur e o úmero. As fraturas patológicas
sua repetição, RMN ou TC. metastáticas raramente ocorrem distalmente ao joelho e ao
O tratamento das fraturas de estresse é conservador, cotovelo. Os encondromas são tumores benignos que comu-
a menos que a localização seja considerada de alto risco mente ocorrem nos metacarpais e nas falanges.
26 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

► TABELA 1.3 Causas de fraturas patológicas anormal da articulação. A cicatrização subsequente ocorre
Condições sistêmicas nas entorses de segundo grau, desde que a articulação seja
Osteoporose inicialmente imobüizada e protegida de estresses mecâni­
Doença de Paget cos adicionais por aproximadamente seis semanas.
Osteogênese imperfeita As entorses de terceiro grau são caracterizadas pela
Osteopetrose ruptura completa do hgamento e pelo movimento anormal
Osteom alacia da articulação. O edema significativo ocorre logo depois
Hiperparatireoidismo da lesão, e a incapacidade funcional é prontamente apa­
D eficiência de vitam ina D (Raquitismo) rente. Os testes de estresse perpendicular ao plano normal
Lesões locais
de movimento articular distinguem as lesões de segundo
Lesões metastáticas
das de terceiro grau. Em pacientes com entorses de ter­
Mama, próstata, pulmão, rim, tireoide
Osteomielite
ceiro grau, a instabihdade grosseira sem dor é frequente­
Doenças benignas primárias mente demonstrada. Em contraste, é causada dor intensa
Encondroma quando um ligamento parcialmente danificado é estirado,
Cistos ósseos unicamerais e o grau de abertura da articulação é limitado.
Condroblastoma Nas entorses de terceiro grau, a aposição direta das
Condromixofibroma duas extremidades divididas de um hgamento resultará
Tumores de células gigantes em desfecho melhor, com tecido cicatricial mínimo, do
Fibroma não ossificante que se as extremidades do hgamento não forem suturadas.
Doenças malignas primárias
A aposição das extremidades do hgamento apressa a co-
M ielom a múltiplo
lagenização e restaura o tecido ligamentar normal. Os li­
Sarcoma de Ewing
Condrossarcoma
gamentos divididos e não imobilizados curam com uma
Fibrossarcoma lacuna. Os ligamentos suturados, testados sob tensão em
Histiocitoma fibroso maligno comparação àqueles não suturados, mostram-se mais for­
tes. Os ligamentos não suturados falham na cicatriz. Por
estas razões, os autores preconizam o reparo da maioria
Qualquer fratura que ocorra por um trauma trivial das rupturas de terceiro grau (completas) dos principais
deve ser considerada patológica. Os pacientes podem per­ ligamentos de suporte ao redor de articulações de carga
ceber dor óssea generalizada ou até edema indolor sobre dentro da primeira semana após a lesão.
o local da fratura patológica. As lesões benignas são ha­
bitualmente assintomáticas antes da fratura. A dor óssea Bursite e tendinite
prévia à fratura sugere que a lesão seja, mais provavel­
As bolsas são sacos achatados, revestidos com membra­
mente, maligna.
na sinovial e preenchidos com uma camada fina de fluido
O limiar para obter radiografias simples deve ser mais
sinovial. Eles funcionam limitando a fricção criada pelos
baixo em pacientes com quaisquer das condições hstadas na
movimentos dos tendões e dos músculos sobre as proemi­
Tabela 1.3. Na radiografia, deve-se procurar por osteopenia
nências ósseas. Existem aproximadamente 160 bolsas ao
generabzada, reação periosteal, afilamento das corticais, e
longo do corpo. As forças excessivas de fricção, o trau­
alterações no padrão trabecular em tomo do local da fratu­
ma ou as doenças sistêmicas, como artrite reumatoide
ra. Quanto mais grave for a lesão periosteal, mais provável
ou gota, podem causar inflamação dentro de uma bolsa
haver associação com malignidade. Por fim, a fratura deve
e resultar em bursite. A forma mais comum de bursite é
ser imobilizada e, dependendo da suspeita de malignidade,
a subacromial (subdeltóidea). Outras formas comumente
o paciente deve ser hospitahzado para investigação diagnós­
encontradas incluem a trocantérica, a do olécrano, a cal-
tica adicional.
caneana, a anserina e a pré-patelar. O tratamento consiste
em evitar a atividade agravante, o repouso da extremidade
PRINCÍPIOS DE TECIDOS MOLES envolvida, AENEs e injeção local de esteroides.
A tendinite é um processo inflamatório circunscrito ao
Lesão ligamentar
tendão e envolve a inserção do tendão no osso. A tendinite
As lesões hgamentares são divididas em entorses de pri­ pode resultar de uso excessivo crônico ou de um episódio
meiro, segundo e terceiro graus. Uma entorse de prim eiro único de atividade vigorosa. A tendinite crônica resulta em
grau é uma mptura de somente algumas fibras e é caracte­ atrofia das fibras do tendão. Do ponto de vista clínico, a
rizada por edema mínimo, nenhuma incapacidade funcio­ tendinite se apresenta com dor durante a amplitude de mo­
nal e movimento articular normal. vimento ativa e sensibilidade dolorosa puntiforme próxima
Uma entorse de segundo grau é a ruptura parcial do à sua inserção óssea. A contração forçada do músculo com
ligamento. As entorses de segundo grau se apresentam pressão sobre a inserção do tendão exacerba a dor. A ten­
com edema, sensibilidade dolorosa e incapacidade fun­ dinite calcificada está associada com inflamação crônica e
cional; contudo, em geral não existe nenhum movimento deposição de cálcio dentro do tendão, podendo ser detecta-
Emergências Ortopédicas 27

► TABELA 1.4 Preparações de corticosteroides disponíveis para injeção

Potência Potência Variação da Meia-vida


Nome genérico Nome comercial (mg/mL) relativa dose (mg) biológica (h)
Acetato de hidrocortisona Solu-cortef 25 1 12,5-100 8-12
Triancinolona acetonida * 10 2,5 4-40 18-36
40 10
Triancinolona hexacetonida * 20 8 4-25 18-36
Acetato de dexametasona Decadron 4,8 20-30 0,8-4 36-54
Fosfato sódico de betametasona Ce lesto ne 6 20-30 1,5-6 36-54
Acetato de metilprednisolona Solu-medrol+ 20, 40, 80 5, 10, 20 4-30 18-36

*N. doT.: não disponível no Brasil, em preparação injetável.


+N. doT.: disponível no Brasil como succinato sódico.
Utilizada com permissão de Reichman EF, Simon RR. Emergency Medicine Procedures. New York: M cGraw-Hill, 2004.

da em radiografias simples. As formas comuns de tendinite dos tendões extensores das mãos ocorre em pacientes com
incluem a patelar, do quadríceps, do manguito rotador, do artrite reumatoide. Os medicamentos como esteroides e
calcâneo, a epicondilite lateral (cotovelo de tenista), e a te- fluoroquinolonas também têm sido associados com inci­
nossinovite de Quervain. Tal como a bursite, o tratamento dência mais alta de ruptura de tendão.
consiste em repouso, medicamentos anti-inflamatórios não As avulsões tendíneas nas inserções ósseas envolvem
esteroides e injeção local de esteroides. um fragmento de fratura ou tendão que pode ser reinseri-
A injeção local de esteroides para bursite e tendinite do por meio de cirurgia. As rupturas parciais dos tendões
requer que o médico esteja familiarizado com a anatomia habitualmente cicatrizam bem se uma lesão adicional for
da extremidade afetada. Se usados da forma correta, os cor- prevenida. As rupturas completas de tendão são reparadas
ticosteroides diminuem a inflamação e a dor, promovendo cirurgicamente, pois as lacunas entre as junções musculo-
a cura. As contraindicações para a injeção local de esteroi­ tendíneas diminuem a força do tendão depois da cicatriza-
des incluem celulite sobrejacente, suspeita de artrite sépti­ ção. A ruptura na junção musculotendíneas é mais difícil
ca, coagulopatia ou mais do que três injeções em um ano. de reparar por cirurgia do que a ruptura no local da inser­
As preparações de corticosteroides disponíveis para ção óssea devido à impossibilidade de prever o desfecho
injeção estão listadas na Tabela 1.4. A triancinolona he- da sutura do tendão ao músculo.
xacetonida a triancinolona acetonida são os preferidos, Os tendões flexores da mão são os tendões mais co­
já que são preparações potentes com longa duração de mumente lacerados. Essas lacerações criam um desafio
ação. Os efeitos locais desses agentes podem durar me­ ímpar, porque os tendões passam por bainhas revestidas
ses. A quantidade de esteroide a ser injetada depende da de sinóvia e por polias fibrosas. As aderências nessas es-
indicação. Para os grandes espaços, como o subacromial,
olécrano e bolsas trocantéricas, uma dose de 20 a 30 mg
de acetato de metilprednisolona ou o seu equivalente é
apropriado. As bainhas tendíneas, como na tenossinovite
de Quervain, requerem uma dose menor, de 5 a 15 mg de
acetato de metilprednisolona ou o seu equivalente.
A adição de um anestésico local à preparação de es­
teroide fornece dois propósitos úteis. O paciente recebe
alívio imediato da dor e ao médico é garantido que a lo­
calização da injeção esteja anatomicamente correta. A li-
docaína, a bupivacaína, ou a mepivacaína são os agentes
anestésicos mais usados.

Ruptura do tendão
Os tendões podem ser lesionados ou por avulsão ou por
laceração. As lacerações ocorrem mais comumente do
que a avulsão do tendão. A avulsão do tendão ocorre no
local da inserção óssea ou na junção entre o músculo e o
tendão. Os quatro tendões mais comumente avulsionados
incluem o do calcâneo, o do quadríceps, o bíceps e os ten­
dões do manguito rotador (Fig. 1.33). O tendão fibular e Figura 1.33 Ruptura do tendão do bíceps. Observar o amon-
o patelar também se rompem com frequência. A ruptura toamento do músculo bíceps no braço.
28 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

truturas, mesmo quando o tendão estiver cirurgicamente tomo muito precoce à atividade pode resultar em nova lesão
32
reparado, limitam a sua função e restringem o movimento. e em incapacidade significativamente prolongada;
Se as suturas estiverem muito tensas, elas podem restrin­
gir a microcirculação do tendão e prejudicar a cicatriza- Herniação muscular
ção. A técnica de Bunnell de sutura cruzada, comumente O músculo hemia através de um defeito na fáscia sobreja­
usada, é bastante invasiva. A mobilização controlada de­ cente. Um “tumor” mole pode ser palpado no defeito, não
pois do reparo do tendão reduz as aderências e promove a sendo aderido à pele sobrejacente. O paciente pode recla­
cicatrização, mas o carregamento excessivo pode resultar mar de edema ou protuberância do músculo quando con­
em nova lesão. traído, e uma fraqueza pode ser notada. Um estalo audível
associado com dor intensa durante uma contração forte
Lesão nervosa pode ser observado. A massa é reduzida por compressão
quando o músculo estiver em repouso. Os músculos mais
Podem ocorrer três tipos de lesões nervosas. Uma contusão
comumente envolvidos nesta condição são o bíceps, o reto
simples de um nervo é chamada neuropraxia e é tratada
femoral e o gastrocnêmio. O tratamento é dependente dos
por observação isolada; o retomo à função normal é notado
sintomas. Se houver sintomas significativos, o paciente
após algumas semanas ou meses. Uma axonotm ese é uma
deve ser encaminhado para reparo da lesão.
mptura mais significativa, seguida de degeneração. O tem­
po de cura é prolongado. A divisão completa de um nervo Distensão muscular
é chamada de neurotm ese, que requer o reparo cirúrgico.
A distensão muscular ocorre secundariamente ao uso (dis­
tensão crônica) ou ao estresse excessivos (distensão agu­
Distúrbios musculares da). Embora a distensão possa ocorrer em qualquer ponto
Os músculos são lesionados por trauma direto e indire­ dentro do músculo, a localização mais comum é na junção
to. Um golpe forte pode causar contusão localizada, he­ musculotendínea distai. Os músculos que cruzam duas arti­
matoma ou laceração da fáscia sobrejacente, resultando culações e consistem em fibras de contração rápida (p. ex.,
em hemiação. Os mecanismos indiretos de lesão mus­ gastrocnêmio, quadriceps e isquiotibiais) são mais suscetí­
cular ocorrem por hiperdistensão e resultam em ruptura veis às distensões. As distensões são divididas em primei­
das fibras musculares, com hemorragia e perda parcial ro (leve), segundo (moderado) e terceiro (grave) graus, com
da função - estiramento muscular. As complicações da base na quantidade de dor, no espasmo e na incapacidade.
lesão muscular grave são vistas precocemente (p. ex., ra-
bdomiólise) e tardiamente (p. ex., miosite ossificante trau­ Distensão de primeiro grau. O paciente reclama de dor
mática). A lesão muscular também pode resultar de uma localizada leve, cãibras ou rigidez com movimento ou
resposta inflamatória sistêmica na forma de miosite. tensão muscular. A dor frequentemente não está presente
até depois de a atividade ter cessado. O espasmo leve e a
Contusão muscular sensibilidade dolorosa localizada podem estar presentes.
A capacidade de ferir de um objeto que atinge um múscu­ A função de rotina do músculo fica preservada, com leve
lo é diretamente proporcional à sua massa e ao quadrado limitação. Por exemplo, na extremidade inferior, o pacien­
de sua velocidade. O trauma não penetrante direto em um te consegue deambular.
músculo resulta em ruptura parcial das fibras musculares e O paciente é aconselhado a colocar compressas de
em ruptura capilar. A equimose é vista externamente. Uma gelo sobre o músculo ferido e descansar por alguns dias.
resposta inflamatória e a formação de edema são notadas. A mobilização pode ser seguramente começada conforme
As contusões são classificadas como leves, modera­ a tolerância. O uso de um agente anti-inflamatório não es-
das e graves. Uma contusão leve retém a amplitude de mo­ teroide está indicado no contexto agudo.
vimento normal e, quando ocorre na extremidade inferior,
não afeta a marcha. A sensibilidade dolorosa localizada Distensão de segundo grau. Uma contração ou estiramen­
está presente, mas não existe nenhum edema aparente. As to muscular mais forte resulta em ruptura maior das fibras
contusões moderadas são caracterizadas pela redução na musculares. O edema e a equimose estão frequentemente
amplitude de movimento pelo edema óbvio e pelos dis­ presentes, em adição à sensibilidade dolorosa e ao espasmo
túrbios da marcha. As contusões musculares graves resul­ muscular (Fig. 1.34). A dor é de aparecimento imediato em
tam em redução significativa na amplitude de movimento. relação à atividade. Quando a lesão for na extremidade infe­
Sensibilidade dolorosa intensa, edema e claudicação ób­ rior, ela limita de forma significativa a deambulação.
via estão presentes. Se o sangramento for intenso, forma- Em pacientes com distensões de segundo grau, o mús­
-se um hematoma muscular. culo lesionado deve ser imobilizado, o membro elevado e
O tratamento envolve a restrição da amplitude de movi­ compressas de gelo aplicadas nas primeiras 24 a 48 horas.
mento para minimizar o risco de hemorragia. Gelo, elevação Depois disso, o músculo deve ser “colocado em repouso ”,
e compressão também são empregados na fase aguda. A res­ usando muletas para deambulação (extremidade inferior)
tauração do movimento ocorre de forma gradual, já que o re­ ou uma tipoia (extremidade superior) até que o edema e a
Emergências Ortopédicas 29

na celular, com liberação do conteúdo celular, incluindo a


mioglobina. A rabdomiólise pode ser o resultado de lesão
por esmagamento, imobilidade prolongada, hipertermia,
isquemia muscular, drogas e toxinas, infecção e esforços.
A dor muscular está presente em somente 50% dos casos.
O tratamento é de suporte e consiste na hidratação com
fluidos e na alcalinização da urina para prevenir a depo­
sição de mioglobina dentro do rim, e insuficiência renal
subsequente.

Miosite ossificante traumática


A m io site o ssifica n te é uma ossificação muscular loca­
lizada, causada por lesão muscular em 75% dos casos.
A formação de osso no músculo pode seguir-se a um gol­
pe único ou a uma série de traumas menores e repetidos
Figura 1.34 Distensão muscular de segundo grau dos aduto­
no músculo. O restante dos casos é visto em paraplégicos
res. Este paciente tinha dor significativa com a adução da coxa. ou vítimas de queimaduras, ou são congênitos ou idio-
Observar a equimose pela ruptura das fibras musculares. páticos. A incidência de miosite ossificante traumática é
relatada com frequências de 9 a 17% após as contusões
musculares. Os músculos mais afetados incluem o qua-
sensibilidade dolorosa desapareçam. O alongamento pas­ dríceps e o braquial anterior.
sivo deve ser desestimulado quando houver hemorragia e Um hematoma é um pré-requisito necessário para o
edema significativos, pois pode resultar em aumento da processo ocorrer, e esta condição raramente é vista de­
fibrose, criando a deposição de cálcio e o retardo na cica- pois de distensões musculares. Durante a reabsorção e a
trização. A deambulação (extremidade inferior) ou o uso organização, o hematoma é invadido por tecido de gra­
do músculo ferido (extremidade superior) não deve ser nulação. O colágeno prolifera e os osteoblastos do pe-
iniciado até que a dor tenha cedido. riósteo lesionado próximo ou do tecido conjuntivo me-
Depois de um breve período de imobilização, habitual­ taplásicos começa a formar trabéculas de osteoide. Para
mente não mais de uma semana, os exercícios ativos pro­ ocorrer indução óssea em tecidos moles, três condições
gressivos podem ser começados até o limite da dor. Esse devem estar presentes: (1) um agente indutor, (2) células
estágio do tratamento deve ser acompanhado pela aplicação precursoras osteogênicas e (3) um ambiente permissivo à
de calor. Uma das complicações mais comuns é a recidiva osteogênese.
devido ao retomo precoce à atividade normal, particular­ A condição é mais comum em pacientes na segun­
mente no atleta. A deposição de cálcio no músculo, levando da e terceira décadas de vida. O local com a mais alta
à incapacidade prolongada, é outra complicação comum, e predileção para miosite ossificante é o músculo braquial
também é resultado do retomo prematuro à atividade. anterior, na frente da articulação do cotovelo. A lesão ha­
bitualmente ocorre após uma luxação posterior do cotove­
D isten sã o d e terceiro grau.Existe a ruptura completa lo. Quando uma massa de osso se forma, os movimentos
do músculo e a fáscia sobrejacente pode estar rompida. ativo e passivo ficam restritos. Mais tarde, a dor e o edema
O paciente apresenta dor e espasmo muscular intensos, são reduzidos e uma massa dura, como um tumor, é palpá­
acompanhados de edema e equimose. Um hematoma vel sobre o aspecto anterior do cotovelo. A extensão ativa
grande, a sensibilidade dolorosa localizada e a perda de da articulação é limitada pela “inelasticidade” do múscu­
função muscular são notados. As rupturas agudas se apre­ lo. A flexão também é reduzida pela obstrução da massa.
sentam com uma protuberância ou um amontoamento Em alguns casos, pode haver uma ponte ossificada com­
do músculo, principalmente se a lesão envolver a junção pleta na articulação.
musculotendínea. As radiografias mostram a massa calcificada come­
As distensões de terceiro grau são imobilizadas com çando por volta da terceira a quarta semana pós-lesão, e
uma tala, sendo aplicadas compressas de gelo e mantendo a evidência radiográfica definida deve estar presente por
o membro elevado. O paciente deve ser encaminhado para volta de dois meses (Fig. 1.35). Essas lesões devem ser di­
avaliação, já que o reparo cirúrgico talvez esteja indica­ ferenciadas da formação óssea heterotópica em expansão
do conforme a idade, da localização da ruptura e de qual de um osteossarcoma.
músculo esteja envolvido. A massa de osso pode estar conectada à diáfise de um
osso longo por um pedículo, ou estar completamente se­
Rabdomiólise parada. O reparo espontâneo pode ocorrer, com o desapa­
Esta condição ocorre quando uma lesão muscular grande recimento completo da massa óssea. O processo cessa de
o suficiente resulta na ruptura da integridade da membra­ forma espontânea em três a seis meses.
30 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

de dor muscular. A TC pode ser muito útil para a sua


detecção. As manifestações sistêmicas de sepse também
podem ocorrer, mas elas são habitualmente um achado
mais tardio.
A piomiosite é mais comum em climas tropicais e
ocorre com frequência maior em pacientes imunocom-
prometidos (diabetes, alcoolistas, HIV). E, de hábito,
secundária à disseminação da infecção a partir de um foco
adjacente, como uma osteomielite ou uma ferida de pun­
ção. A maioria dos casos ocorre em um único músculo ou
grupo muscular (quadríceps, glúteo). Os agentes causais
mais comuns são o Staphylococcus (75-95%) ou organis­
mos do tipo Streptococcus. O tratamento inclui a drena­
gem imediata do abscesso, percutaneamente ou na sala de
cirurgia. Os antibióticos intravenosos devem ser adminis­
trados precocemente. As compressas quentes e úmidas,
com elevação do membro e imobilização da extremidade
envolvida são adjuntos úteis.

Três tipos de miosite


M io site in fla m a tó ria a u to im u n e .
inflamatória autoimune foram identificados: polimiosi­
Figura 1.35 Miosite traum ática ossificante do músculo qua­
te, dermatomiosite e miosite com corpo de inclusão.
driceps. Observar a ossificação heterotópica acim a do fêmur.
Os pacientes apresentam-se com grau variado de fraqueza
muscular que se desenvolve lentamente durante semanas
O crescimento ósseo não deve ser perturbado em seu ou meses. A fraqueza é mais intensa nos músculos proxi-
estágio inicial. O repouso prolongado está indicado, com mais, e os pacientes reclamam de dificuldade para levan­
a extremidade imobilizada com uma tala ou gessado leve. tar de uma cadeira, entrar ou sair do carro, subir degraus e
Quando o cotovelo estiver envolvido, a posição apropria­ pentear os cabelos. Os músculos distais e os movimentos
da de imobilização é com o antebraço em posição neutra motores finos são mais afetados na miosite com corpo de
e o cotovelo flexionado em 90°. Nenhuma cirurgia está inclusão. As mialgias não são uma queixa comum e estão
indicada por 6 a 12 meses, pois a reabsorção espontânea presentes em < 30% dos pacientes. Em pacientes com
pode ocorrer com o desaparecimento completo da massa. dermatomiosite, uma erupção cutânea precede o apareci­
A intervenção cirúrgica precoce pode resultar em recidiva mento da fraqueza muscular. A erupção cutânea pode ser
da calcificação. de cor violácea em tomo dos olhos ou uma erupção cutâ­
nea eritematosa e elevada na face, no pescoço, no tórax,
Miosite nas costas ou nas articulações.40,41
A miosite é a inflamação de um músculo que pode ser As características diagnósticas incluem aumento nos
causada por um agente infeccioso, como bactérias, ou a níveis de creatina quinase, que é visto em > 95% dos ca­
um distúrbio autoimune. Para uma discussão adicional sos. Durante a fase ativa da doença, o nível de creatina
das infecções necrosantes de tecidos moles, o leitor deve quinase pode estar elevado 50 vezes acima do normal. A
ler o Capítulo 4. testagem de anticorpos pode ser útil, com anti-Jo-1 confe­
rindo a maior especificidade. A biópsia muscular é o tes­
Os agentes infecciosos que cau­
M io site in fe c c io s a . te de confirmação mais importante. O tratamento inclui
sam miosite incluem as bactérias, as micobactérias, os a administração de corticosteroides e agentes imunossu-
fungos, os vírus e os agentes parasitários. As bactérias pressores. A imunoglobulina intravenosa é efetiva para
invadem o músculo por extensão contígua mais fre­ melhorar a força muscular e resolver a imunopatologia
quentemente do que por disseminação hematogênica. A subjacente.40,43
miosite supurativa aguda, com formação de abscesso no
músculo, a p io m io site , é uma condição incomum, mas
REFERÊNCIAS
importante a ser considerada, porque passa despercebida
com facilidade. A piomiosite muitas vezes apresenta-se 1. Henry BJ, Vrahas MS. The Thomas splint. Questionable
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Emergências Ortopédicas 31

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Capítulo 2
Anestesia e Analgesia
O alívio da dor e do sofrimento é um dos atos médicos de um AINE depois de uma lesão muscular induzida por
mais relevantes. O alívio da dor após lesões ortopédicas exercício pode também ser benéfico para a recuperação
deve ser universal e prontamente fornecido, com raras em curto prazo da função muscular. Em geral, o uso de
exceções. Além disso, ao longo deste livro existem des­ AINEs na lesão de tecidos moles é recomendado pelo seu
crições de fraturas e reduções de luxações, como também potencial para estimular a síntese de colágeno e as fases
reparos de tecidos moles, que irão necessitar de aneste­ iniciais de reparo da pele e ligamentar.
sia significativa para serem executados com sucesso e Dos analgésicos opioides, a codeína é o agente mais
da forma adequada. Como tal, este capítulo serve como fraco e em um estudo mostrou ser melhor do que um pla­
referência para o uso seguro e efetivo dos medicamentos cebo. Outros medicamentos narcóticos orais incluem hi-
para dor, da sedação durante o procedimento, da anestesia dromorfona, hidrocodona e oxicodona. As complicações
local e da anestesia regional usadas na ortopedia de emer­ incluem constipação, náuseas e vômitos. Os pacientes
gência. Por fim, é revisado o uso clínico do calor e do frio devem ser instruídos a não dirigir durante o uso desses
em pacientes com lesões ortopédicas. medicamentos, embora até 7% dos pacientes admitam que
dirigem durante o seu uso, apesar das advertências.
MANEJO DA DOR
SEDAÇÃO E ANALGESIA DURANTE O
O maior estudo de pacientes com fraturas fechadas das
PROCEDIMENTO
extremidades ou da clavícula revelou que um terço des­
ses pacientes não recebeu medicamentos para dor en­ A sedação e a analgesia durante o procedimento (SAP)
quanto estava no setor de emergência. A analgesia de­ é algo frequentemente usado pelo médico ortopedista de
ficiente após lesões ortopédicas está bem documentada emergência. Não é isento de complicações significativas,
na literatura. Os grupos em risco para “oligoanestesia” contudo, em especial quando for feita às pressas, ou sem
incluem os pacientes pediátricos e os grupos étnicos mi­ entender a farmacologia dos medicamentos envolvidos.
noritários. As crianças com idade inferior a 2 anos pare­ A meta da SAP é induzir um estado de tolerância aos
cem estar em risco mais alto do que as crianças em idade procedimentos de emergência, preservando os reflexos
escolar. das vias aéreas. Isso é em geral realizado pela adminis­
Apesar da subutilização frequente de analgésicos tração de um agente sedativo ou dissociativo, bem como
pelos médicos, existem evidências de que os hábitos de um agente analgésico. Entretanto, certos princípios fun­
prática possam mudar. Um estudo documentou que os damentais devem ser seguidos, antes de o primeiro agente
médicos prescreveram medicamentos para dor após le­ ser usado. Os requisitos incluem pessoal treinado, avalia­
sões ortopédicas, sendo que quando um programa edu­ ção completa do paciente e o seu consentimento, equipa­
cacional agressivo era instituído a taxa de adesão era de mento adequado, monitoração do paciente e a documenta­
95%.8 ção. Somente depois desses requisitos serem satisfeitos
Uma vez que a decisão de administrar um agente é que o médico pode começar a considerar a administra­
analgésico tenha sido tomada, a próxima pergunta é qual ção do fármaco.
analgésico fornecer. Os medicamentos anti-inflamatórios A SAP somente deve ser executada por um profissio­
não esteroides (AINEs) devem ser evitados em pacientes nal que tenha a compreensão dos medicamentos usados, a
com fraturas em consolidação, já que tais agentes de­ habilidade de monitorar a resposta do paciente, e as habi­
monstraram diminuir a formação óssea, a consolidação e lidades necessárias para abordar quaisquer complicações
a remodelação. de vias aéreas ou cardiovasculares que possam ocorrer.
A evidência para o uso de agentes não esteroides em Em geral, isso requer um segundo profissional, diferente
pacientes com lesões de tecidos moles não está tão cla­ do médico que executa o procedimento.
ra. O uso de AINEs em trauma muscular não penetrante A avaliação do paciente deve começar com a história
(especialmente no quadríceps) diminui a incidência de médica pregressa, incluindo a história anestésica, medica­
ossificação heterotópica. A maioria de estudos controla­ mentos e alergias. Deve ser evitada a SAP em indivíduos
dos randomizados tem mostrado benefícios com o uso de com condição física classe III da Sociedade Americana
um AINE depois de várias entorses e distensões, embora de Anestesiologia (doença sistêmica grave com limitação
o efeito positivo não seja universalmente notado. O uso funcional definida) ou superior. Períodos de jejum espe-
Emergências Ortopédicas 33

► TABELA 2.1 M edicamentos para sedação durante o procedimento e agentes de reversão

Agente Dose IV inicial Duração Complicações importantes


M idazolam 0,05 mg/kg a cada 3-5 min 30-60 min Depressão respiratória, hipotensão
Fentanila 0,5-1 /zg/kg a cada 3-5 min 20-30 min Depressão respiratória, hipotensão, síndrome do tórax rígido
Quetamina 0,5-1 mg/kg 45 min Secreções aumentadas, reações de emergência, laringospasmo,
PIC elevada
Etomidato 0,1 mg/kg 20 min M ioclono (até 20% ), depressão respiratória, vômitos
Metoexital 1-1,5 mg/kg 5-7 min Depressão respiratória, fasciculações, queimação no local IV
Propofol 1 mg/kg** 3-5 min Depressão respiratória, hipotensão
Naloxona 0,1 mg/kg 20-40 min Ressedação, agitação
Flumazenil 0,02 mg/kg 20-40 min Ressedação, convulsões

PIC, pressão intracraniana.


*Alguns recomendam doses iniciais de 10 a 20 mg (adulto), administradas a cada 30 segundos, até que a sedação adequada seja obtida.

cíficos antes da sedação para procedimentos não são cor­ 0,1 mg/kg habitualmente produz sedação dentro de 2 a
roborados pela literatura médica disponível, e a diretriz 3 minutos. Esse agente é o benzodiazepínico ideal para
tradicional de 2 horas depois de líquidos claros e 6 horas a sedação de procedimentos, devido a suas propriedades
depois de sólidos e outros líquidos nem sempre é prática anamnésicas, bem como sua curta duração de ação (30-60
no setor de emergência, já que frequentemente o procedi­ minutos). A complicação mais importante do uso de mi-
mento em questão não pode ser retardado. A ingestão dazolam é a depressão respiratória. Esse efeito parece ser
recente de alimentos não é contraindicação para adminis­ reforçado em pacientes que estejam recebendo opioides
trar sedação no procedimento, mas deve ser considerada concomitantemente ou que tenham doença pulmonar sub­
ao direcionar a profundidade da sedação. jacente. Outras reações adversas incluem hipotensão, vô­
O equipamento necessário inclui oxigênio, sucção, mitos, alucinações e soluços.
equipamento para suporte de vida avançado e, quando
opioides ou benzodiazepínicos forem usados, naloxona e/ Fentanila
ou flumazenil devem estar disponíveis. O acesso intrave­ Este agente é o opioide preferido para a sedação em pro­
noso deve ser estabelecido e o paciente monitorado com cedimentos, devido à rápida ação e curta duração de ação.
oximetria de pulso contínuo e capnometria, se disponível. O pico da analgesia é obtido em 2 a 3 minutos, e a dura­
O oxigênio suplementar via uma cânula nasal também é ção da ação é de somente 20 a 30 minutos. A fentanila é
recomendado. Uma lista de conferência desenvolvida no contraindicada em crianças com menos de 6 meses. Em
setor de emergência ajuda a garantir a adesão e melhora a adição à depressão e hipotensão respiratória, a fentanila
documentação. também está associada com rigidez da parede torácica. A
As combinações de medicamentos mais amplamente síndrome do tórax rígido parece ocorrer em doses altas ou
usadas são a fentanila e o midazolam ou a quetamina e o quando o medicamento é administrado muito rapidamente
midazolam. O etomidato tem se tornado um agente po­ e, por conseguinte, recomenda-se o uso de doses incre­
pular recentemente, devido ao baixo risco de comprometi­ mentais de 50 /zg IV na maioria dos adultos (0,5-1 /zg/kg
mento respiratório ou hemodinâmico, ação rápida e curta em crianças), dadas de forma lenta até uma dose total de
duração. ' Não importando quais agentes forem usados, 2 a 3 /zg/kg.
o fundamento para a administração segura inclui a titu­
lação lenta do fármaco até que o efeito desejado seja al­ Quetamina
cançado. A administração rápida pode gerar uma taxa Esse agente tem propriedades dissociativas e é um dos
mais alta de complicações, incluindo hipotensão e depres­ agentes anestésicos mais usados para a sedação em pro­
são respiratória. A revisão dos agentes mais comumente cedimentos. Os pacientes que recebem essa fármaco têm
usados, como também os agentes de reversão, é fornecida as percepções sensoriais obnubiladas e nenhuma memó­
na Tabela 2.1. ria dos eventos. A quetamina é vantajosa para a sedação
de procedimentos, pois não está associada à perda dos re­
Agentes comumente usados flexos protetores das vias aéreas. A dose recomendada é
de 0,5 a 1 mg/kg por via intravenosa. O aparecimento da
Midazolam ação é de 1 minuto, com duração de 45 minutos. As con-
Este agente deve ser dosado em incrementos de 0,05 mg/ traindicações incluem idade abaixo de 3 meses, pressão
kg (até incrementos de 1-2 mg em adultos) a cada 3 a 5 intracraniana aumentada, pressão intraocular aumentada,
minutos para conseguir o efeito desejado. Uma dose de doença cardiovascular ou infecções respiratórias ativas.
34 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

As reações adversas incluem aumento das secreções Propofol


respiratórias, reações de emergência e laringospasmo. 0 propofol foi aprovado para uso nos Estados Unidos
A administração de atropina 0,01 mg/kg antes ou con­ em 1989 e relatado para SAP no setor de emergência em
comitantemente com a quetamina pode inibir as secre­ 1995. Esse agente hipnótico e sedativo não opioide e não
ções respiratórias. As reações de emergência consistem barbitúrico pode ser administrado com a dose inicial de
em alucinações que ocorrem durante o período de recu­ 1 mg/kg. Outros preferem dar pequenas quantidades ini­
peração. Elas são vistas em até 50% dos adultos e em ciais (10-20 mg intravenosos a cada 30 segundos até que a
10% das crianças. Elas são raras em crianças abaixo dos sedação adequada seja alcançada). Isso evita o excesso de
10 anos. A administração concomitante de midazolam é sedação com o bolus inicial. A dose de manutenção sub­
às vezes dada, com o objetivo de diminuir a frequência sequente pode ser como uma infusão contínua ou com b o ­
das reações de emergência, embora um ensaio contro­ lus de 0,5 mg/kg a cada 3 minutos conforme necessário.
lado randomizado tenha refutado a sua efetividade. O O propofol é notável, pois produz efeito muito rápido
laringospasmo é uma complicação rara da administração (aproximadamente 45 segundos) de uma sedação profun­
de quetamina, podendo ser tratado com ventilação de da e efetiva. A duração é de 3 a 5 minutos. Quando com­
pressão positiva. Em casos raros, a succinilcolina é ne­ parado com midazolam/fentanila, tanto o início da ação
cessária para a ventilação adequada se o laringospasmo quanto a duração são significativamente mais curtos.
for grave ou persistente. A profundidade de sedação fornecida pelo propofol
requer vigilância extra na observação do paciente para
Etomidato detectar complicações, comprometimento respiratório e
Esse agente é um hipnótico imidazólico não barbitú­ hipotensão precocemente. Em um estudo, a taxa de
rico que tem ganhado popularidade para a sedação em dessaturação de oxigênio foi de 8% e a ventilação assis­
procedimentos no setor de emergência devido ao rápido tida com máscara e ambu foi de 4%.32 No único estudo
aparecimento da ação (30-60 segundos), curta duração e que comparou propofol com etomidato, as taxas de uso
baixo perfil de efeitos colaterais. É usada uma dose de de máscara com ambu, reposicionamento de via aérea e
0,1 mg/kg, com doses adicionais de 0,05 mg/kg a cada 3 estimulação para induzir a respiração foram as m esm as/'
a 5 minutos, até que a sedação apropriada seja alcançada. Devem estar disponíveis fluidos intravenosos para admi­
Noventa e cinco por cento dos pacientes obtêm recupe­ nistrar caso o paciente fique hipotenso durante o uso de
ração completa dentro de 30 minutos da administração. propofol. Apesar desses problemas potenciais, estudos
Os efeitos colaterais incluem depressão respiratória, múltiplos que analisaram o uso do propofol no setor de
mioclono, vômitos e dor com a injeção. O mioclono emergência demonstraram que ele é seguro e tem cus­
ocorre em até 20% dos pacientes e costuma ser leve e to efetivo tanto para adultos como para crianças quando
autolimitado. O etomidato não demonstrou produzir comparado a outros agentes.
atividade convulsiva quando observado em um eletro­ O propofol é um potente agente amnésico que carece
encefalograma.“ A depressão respiratória, representada de propriedades analgésicas intrínsecas. Por essa razão, é
por uma saturação de oxigênio de < 94%, ocorre em 3 a muitas vezes usado com fentanila, embora uma dose mais
8% dos pacientes. A disfunção corticossuprarrenal é baixa de quetamina (0,3 mg/kg) pareça reduzir em cinco
transitória e a significância clínica deste achado é obscu­ vezes a taxa de eventos adversos. Outros autores no­
ra. Alguns autores recomendam precaução ao usar este taram que, pelo fato de os pacientes receberem somente
agente em pacientes com choque séptico até que estudos propofol sem um analgésico, geralmente não têm nenhu­
adicionais estejam disponíveis. ma lembrança do procedimento e há altos escores de sa­
tisfação, de forma que um analgésico acompanhante pode
Metoexital não ser necessário.
O metoexital é um barbitúrico de ação ultracurta. Uma
das vantagens do metoexital é que tem rápido início de Agentes de reversão
ação, com sedação máxima em menos de um minuto, na
maioria dos casos. A dose inicial é 1 a 1,5 mg/kg, segui­ Naloxona
da por doses repetidas de 0,5 mg/kg a cada 3 a 5 minutos, Este agente reverte os efeitos dos opioides. Uma dose in­
conforme necessário, para sedação adicional. A alteração travenosa de 1 a 2 mg (0,1 mg/kg em crianças) reverte a
na hemodinâmica é incomum, mas a depressão respira­ depressão respiratória na maioria das situações. O início é
tória não é rara. Em um estudo com 76 pacientes adultos, rápido, mas o tempo de ação é relativamente curto (20-40
o metoexital causou apneia em 8 pacientes (10,5%) com minutos), podendo haver uma ressedação se forem usados
duração média de 64 segundos. A ventilação com másca­ opioides de ação mais longa.
ra e ambu foi necessária nesses pacientes, mas nenhuma
entubação foi necessária. Em outro estudo, 4 de 52 pa­ Flumazenil
cientes (8%) que receberam metoexital necessitaram de Este agente reverte os efeitos da administração dos ben-
29
ventilação com ambu. zodiazepínicos. A dose intravenosa em um adulto é de 0,2
Emergências Ortopédicas 35

mg durante 15 segundos (0,02 mg/kg em uma criança), locais mais comumente usados, estão listadas na Tabela
que pode ser repetida em intervalos de 1 minuto até que 2.2. É importante lembrar que, ao calcular a dose máxima,
o efeito desejado seja alcançado. Em uma forma similar à a lidocaína a 1% contém 10 mg/mL e a lidocaína a 2%
naloxona, pode ocorrer res sedação se os efeitos do benzo- contém 20 mg/mL. Por conseguinte, em um indivíduo de
diazepínico ultrapassarem os 20 a 40 minutos da duração 100 kg, a dose máxima de lidocaína a 1% sem adrenalina
de ação do flumazenil. é de 450 mg ou 45 mL.

Monitoração pós-procedimento ANESTESIA REGIONAL


A monitoração no período pós-procedimento ainda é im­ A anestesia regional oferece muitas vantagens sobre a se­
portante, já que podem ocorrer complicações após a re­ dação do procedimento para redução de fraturas e luxa­
moção dos estímulos nocivos. Em crianças, o risco para ções. Em geral, um bloqueio bem-sucedido fornece aneste­
eventos adversos é maior dentro dos primeiros 10 minutos sia completa dentro da distribuição nervosa desejada, sem
depois da administração de um medicamento, e na fase as complicações potenciais da sedação para o procedimen­
pós-recuperação imediata. Os critérios de alta devem in­ to. Além disso, a anestesia regional não requer um período
cluir o paciente consciente e apropriadamente responsivo, de observação prolongada pós-procedimento após a redu­
com sinais vitais normais, condição respiratória normal e ção, encurtando a permanência no setor de emergência e
a capacidade de tolerar líquidos via oral. diminuindo a necessidade de cuidados de enfermagem.
O material necessário para a anestesia regional inclui
ANESTESIA LOCAL um agente anestésico local, uma seringa, uma agulha de
tamanho 25 ou 27, algodão com álcool, campo estéril e
Os agentes anestésicos locais são usados para a drenagem conhecimento adequado de anatomia. A adrenalina pode
de abscessos, feridas agudas e para anestesia regional. Es­ ser adicionada ao anestésico local na maioria dos blo­
tes agentes são classificados como ésteres ou amidas com queios para aumentar a sua duração de ação. A injeção de
base em sua cadeia intermediária. A lidocaína, a mepiva- adrenalina é classicamente evitada nas mãos e nos dedos
caína e a bupivacaína são anestésicos amídicos, enquan­ devido ao potencial risco de isquemia digital, embora as
to a procaína é protótipo do agente anestésico local tipo concentrações usadas com os agentes anestésicos locais
éster. O seu mecanismo de ação é baseado no bloqueio sejam baixas e improváveis de causar isquemia. De fato,
dos canais de sódio, inibindo a despolarização da célula nenhuma complicação ou necrose em longo prazo foram
nervosa. Os agentes de mais longa duração ligam-se aos relatadas depois da injeção de até 0,3 mg de adrenalina
canais de sódio por períodos prolongados de tempo. A em um dígito.
adição de adrenalina aumenta a duração de ação, causan­ As contraindicações óbvias para a anestesia regional
do vasoconstrição e a diminuição subsequente na absor­ incluem distúrbios da coagulação ou a necessidade de
ção do agente na circulação sistêmica. atravessar um tecido infectado. A função nervosa deve ser
As contraindicações ao uso de um anestésico local in­ apropriadamente testada e documentada antes e depois do
cluem alergia ao agente. Uma verdadeira alergia mediada procedimento.
pela imunoglobulina E a um anestésico local é rara, e é As referências anatômicas devem ser identificadas e o
importante perceber que não há nenhuma reatividade cru­ procedimento estéril deve ser executado. A agulha é inseri­
zada entre ésteres e amidas. Em pacientes com história da com cuidado, observando a presença de parestesias. Se
de reação alérgica a um anestésico local desconhecido, a as parestesias fo re m observadas, é p ro vá vel que a p o n ta
difenidramina pode ser usada como um agente substituto da agulha esteja dentro da bainha externa fib ro sa do ner­
(diluir 1 mL da solução parenteral de 5% em 4 mL de vo. A injeção neste ponto pode resultar em dano nervoso
soro fisiológico). Também é importante evitar a toxicida­ permanente e, por conseguinte, a agulha deve ser retrocedi­
de sistêmica estando ciente das doses máximas recomen­ da até que as parestesias se dissipem, e então o anestésico
dadas dos agentes anestésicos locais. As doses máximas, pode ser injetado. A quantidade de anestésico que deve ser
bem como as outras propriedades dos agentes anestésicos injetada varia levemente, dependendo do nervo que esteja

► TABELA 2.2 Propriedades dos agentes anestésicos locais comumente usados


Agente anestésico Início da ação (min) Duração da ação (min) Dose máxima (mg/kg) Dose máxima com adrenalina (mg/kg)

Lidocaína 2-5 30-60 4,5 7


M epivacaína 2-5 120-240 8 7*
Bupivacaína 3-7 90-360 2 3
Procaína+ 10-20 60-90 7 9

*A adrenalina adiciona potencial toxicidade cardíaca da mepivacaína e, por conseguinte, é recomendada uma dose máxima mais baixa,
t A procaína é um éster, e os outros agentes listados na tabela são amidas.
36 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

sendo bloqueado, mas em geral 2 a 5 mL são suficientes. dido, o agente anestésico deve ser injetado até o aspecto
Dependendo do agente usado e da precisão da injeção, a palmar da mão, para anestesiar os ramos palmares do ner­
anestesia ficará completa dentro de 10 a 15 minutos. Uma vo. O edema deve ser notado na palma, entre as cabeças
discussão completa da anestesia regional está além do ob­ metacarpais, depois da infiltração. O lado oposto do meta­
jetivo deste texto; contudo, os bloqueios mais usados em carpal deve ser injetado para anestesiar todo o dígito. Esse
extremidades estão descritos subsequentemente. método, embora favorecido por alguns, tem desvantagens.
Em um estudo, o bloqueio metacarpal foi comparado com
Bloqueio digital o bloqueio digital (em meio anel) e o bloqueio digital foi
melhor que o bloqueio metacarpal nos escores de dor, na
Bloqueio em anel e bloqueio em meio anel taxa de falhas e no tempo para completar o procedimento.
Esse é um bloqueio comumente usado para prover aneste­
sia a um dedo da mão ou do pé. Os dígitos possuem dois Bloqueio transtecal
nervos dorsais e dois palmares que correm ao longo das Uma vantagem desse bloqueio é que requer uma única
falanges nas posições de 2,4, 8 e 10 horas. O bloqueio cir- injeção, em um local que evita proximidade ao feixe neu­
cunferencial é feito com sucesso bloqueando esses nervos rovascular do dígito. O anestésico é injetado diretamente
em um padrão circunferencial, em tomo da base do dígito. na bainha do tendão flexor. Na descrição inicial, o anesté­
O bloqueio em meio anel é um método alternativo, com sico era injetado na prega palmar distai da mão. Esta téc­
sucesso similar, no qual o anestésico é injetado em um nica demonstrou ser similar ao bloqueio digital (em meio
dos lados da base do dígito (Fig. 2.1 e Vídeo 2.1). Para o anel) nos escores de dor e no tempo para anestesia. Foi
bloqueio do hálux, um anel circunferencial de anestésico descrita uma abordagem modificada mais simples, mas
é recomendado, devido ao maior distanciamento entre os igualmente eficaz, que usa o centro da prega digital proxi­
nervos. mal, na superfície volar do dígito, para o local de inserção
da agulha (Fig. 2.2)." Uma agulha nQ25 é inserida até o
Bloqueio metacarpal osso e então retrocedida lentamente, enquanto é aplicada
Altemativamente, o dígito pode ser anestesiado pelo blo­ pressão ao êmbolo da seringa (Vídeo 2.3). A resistência
queio dos nervos digitais comuns, antes de eles se dividi­ ao fluxo anestésico diminui quando a ponta da agulha está
rem para inervar os dígitos. A agulha é inserida no aspecto dentro da bainha de tendão. Nesse momento, aproximada­
dorsal da mão, no espaço intermetacarpal entre os dígitos. mente 2 mL de agente anestésico são injetados, enquanto
A agulha é direcionada às cabeças metacarpais e à palma uma pressão proximal é aplicada à superfície volar para
da mão (Vídeo 2.2). Para que o bloqueio seja bem-suce­ ajudar na difusão distai.

Figura 2.1 Bloqueio digital em meio anel do terceiro dígito. A. Local da injeção radial. B. Local da injeção ulnar.
Emergências Ortopédicas 37

-se do aspecto lateral do punho, na prega dorsal, até a base


do quarto osso metacarpal. Uma quantidade adicional de
5 mL de anestésico local é injetada nesse local (Fig. 2.3 e
Vídeo 2.4).

Nervo mediano
O nervo mediano é bloqueado com 5 mL de anestésico
local, injetados no aspecto volar do punho, entre as pre­
gas proximal e distai do punho. A agulha é inserida entre
o tendão do flexor radial do carpo e o tendão do palmar
longo. O tendão do palmar longo está ausente em 10%
dos indivíduos mas, se presente, é o tendão no punho mais
proeminente, pois fica superficial ao retináculo flexor. O
nervo mediano é um nervo grande, e as parestesias são ob­
tidas quando a ponta da agulha toca o nervo. Neste ponto,
a agulha deve ser retirada aproximadamente em 1 mm e,
quando as parestesias resolverem, o anestésico pode ser
injetado. O anestésico deve fluir com facilidade, confor­
Figura 2.2 Bloqueio digital transtecal modificado.
me o agente banha o conteúdo do túnel do carpo e o nervo
mediano (Fig. 2.4 e Vídeo 2.5).
Bloqueio do punho
Nervo ulnar
O bloqueio do punho fornece anestesia para toda a mão e A anestesia do nervo ulnar é difícil de executar com su­
é útil em muitos procedimentos de tecidos moles e para cesso. O nervo é bloqueado com 3 mL de agente anesté­
reduções dos ossos da mão. A técnica adequada requer a sico local injetado no aspecto volar do punho. A injeção
deposição de anestésico local para bloquear os nervos ra­ é feita lateralmente ao tendão do flexor ulnar do carpo e
dial, mediano e ulnar no punho. medial à artéria ulnar. Esse bloqueio é feito 2 cm proximal
à prega de punho para bloquear o ramo dorsal antes de sua
Nervo radial partida. Uma profundidade de 0,5 cm é suficiente para o
O nervo radial é bloqueado no punho usando duas inje­ bloqueio do nervo ulnar (Fig. 2.5 e Vídeo 2.6).
ções. A injeção inicial é feita na prega proximal do pu­
nho, logo lateral à artéria radial. São injetados 2 mL de Extremidade inferior
anestésico em profundidade de aproximadamente 0,5 cm.
Uma segunda injeção é necessária, pois os ramos dorsais Bloqueio do nervo femoral
do nervo radial surgem mais proximalmente. Uma pápula Este bloqueio é útil para aliviar a dor devido a fraturas
cutânea superficial é criada no dorso da mão, estendendo- do colo do fêmur, fraturas intertrocantéricas do fêmur e

A B

Figura 2.3 Bloqueio do nervo radial no punho. A. Injeção inicial para bloquear o ramo principal do nervo. B. Uma segunda inje­
ção superficial ao longo da face dorsal do punho é usada para bloquear os ramos que surgem mais proximalmente.
38 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Figura 2.4 Bloqueio do nervo mediano no punho. rior do maléolo medial e 3 a 5 mL de solução anestésica
são injetados.

fraturas da diáfise do fêmur. O nervo também supre a Nervo sural


inervação do aspecto anterior e medial da coxa e da perna. O nervo sural é bloqueado levantando-se uma pápula de
O nervo é bloqueado com uma agulha nQ25, no ligamento anestésico local da borda lateral do tendão do calcâneo
inguinal, logo lateral à artéria femoral. A agulha estará na até a fíbula, no nível dos maléolos superiores. A anestesia
profundidade do nervo quando as parestesias forem senti­ desse nervo e do nervo tibial proverá anestesia ao aspecto
das. Uma quantidade grande de anestésico é injetada du­ plantar do pé (Fig. 2.6 e Vídeo 2.7).
rante esse bloqueio (10-15 mL).
Nervo tibial posterior
Bloqueio do tornozelo Esse nervo é bloqueado lateralmente à artéria tibial poste­
Para fornecer anestesia completa ao pé, um total de cin­ rior. A agulha é direcionada à tíbia. As parestesias devem
co nervos deve ser bloqueado - o nervo safeno, o nervo ser produzidas durante esse bloqueio. Nesse momento,
tibial posterior, o nervo fibular profundo, o nervo fibular deve-se retroceder a agulha em aproximadamente 1 mm e
superficial e o nervo sural. Para anestesiar som ente a sola injetar 2 a 3 mL de solução anestésica. A anestesia desse
do pé, o nervo tibial p o ste rio r e o nervo sural devem ser nervo e do sural provê anestesia ao aspecto plantar do pé
bloqueados. O paciente deve ser posicionado em decúbito (Fig. 2.7 e Vídeo 2.8).
ventral na maca, com o pé pendente para fora da borda.
Todos esses bloqueios são executados no nível logo supe­
rior aos maléolos.

Nervo safeno
Este nervo é bloqueado na borda anterior do maléolo me­
diai, logo posterior à veia safena magna. A agulha é inse­
rida em aproximadamente 1 a 2 cm sobre o aspecto supe-

Figura 2.5 Bloqueio do nervo ulnar no punho. Figura 2.7 Bloqueio do nervo tibial posterior.
Emergências Ortopédicas 39

N e r v o fib u la r p r o fu n d o Em geral, durante a fase aguda após a lesão, o alívio


Esse nervo é anestesiado em um nível logo acima dos de dor é mais adequadamente obtido com o frio. Apesar
maléolos e lateralmente ao tendão do extensor longo do dessa recomendação quase universal, há poucos estudos
hálux. Ele provê inervação sensitiva ao primeiro raio. de medicina baseada em evidências, além de estudos ob­
servacionais e animais para apoiar o uso do frio. Existe
N e r v o fib u la r s u p e r fic ia l ainda até menos evidência em relação à duração ideal do
Esse nervo é bloqueado 1 a 2 cm acima dos maléolos, le­ tratamento, a frequência e o modo de aplicação. Um ar­
vantando uma pápula de anestésico a partir da borda an­ tigo de 2001 ressaltou a ambiguidade das recomendações
terior da tíbia até a borda anterior da fíbula. Ele provê a atuais nos livros-texto médicos.
inervação sensitiva ao dorso e aos dedos do pé. Todavia, existe consenso suficiente para permitir al­
gumas recomendações. A meta da terapia é uma redução
na temperatura do tecido em 10 a 15°C, sem lesão às ca­
BLO Q UEIO DO HEMATOMA madas superficiais e da pele. Isso é mais bem aplicado
Esta técnica é empregada com frequência para a anestesia com o uso de água congelada derretida, aplicando com
durante a redução das fraturas do rádio distai (de Colles), uma toalha molhada por um período de 10 a 15 minutos.
mas os princípios se aplicam a qualquer tipo de fratura. A A aplicação mais longa é apropriada em áreas com mais
infiltração de agente anestésico local dentro de uma fra­ gordura subcutânea (20-30 minutos se > 2 cm de gordu­
tura bloqueia as fibras nervosas dos tecidos moles e do ra). O uso de aplicações contínuas repetidas, em lugar de
periósteo circundante. Para executar o procedimento, uma contínuas, ajuda a manter as temperaturas musculares re­
agulha de maior calibre é usada para retirar sangue da duzidas, sem causar lesão tecidual induzida pelo frio nas
fratura e substituí-lo com o agente anestésico local. Para camadas superficiais (Fig. 2.8). O tratamento deve conti­
uma fratura do rádio distai, um total de 10 a 15 mL de nuar a cada 1 a 2 horas inicialmente, estendendo-se por
lidocaína a 1% é injetada diretamente no local da fratura um período de 48 a 72 horas.
(Vídeo 2.9). Após a injeção, colocar uma atadura elástica No estágio subagudo, calor superficial leve com com­
em tomo do punho e aguardar 10 minutos para a anestesia pressas quentes é aceitável, mas o ultrassom é considerado
agir. Um pequeno estudo mostrou que um bloqueio do o método de escolha. Se a articulação estiver coberta por
hematoma melhorou mais os escores de dor que a admi­ uma quantidade significativa de tecidos moles, o ultras­
nistração de sedação durante o procedimento. ! Essa téc­ som é a única modahdade efetiva. Com a aplicação com­
nica é efetiva somente durante o manejo agudo, quando o binada de calor e amplitude de movimento passivo, altera­
hematoma ainda não coagulou. ções significativas são vistas na amplitude de movimentos
de pacientes com problemas no quadril e no ombro.
USO TERAPÊUTICO DE CALOR E FRIO
Existem efeitos fisiológicos identificáveis e mensuráveis
produzidos pelo calor e pelo frio que são terapeuticamente
desejáveis. O calor aumenta o fluxo sanguíneo e o frio o
diminui. O calor induz a uma resposta inflamatória que
pode ser benéfica em alguns estágios de um processo pa­
tológico, enquanto as aplicações de frio diminuem a in­
flamação. O calor aumenta e o frio diminui a formação de
edema. É bem sabido que o calor aumenta a quantidade
de hemorragia, em especial depois do trauma, enquanto a
aplicação de frio a diminui. É interessante saber que tanto
o calor como o frio demonstraram reduzir o espasmo mus­
cular e diminuir a dor.
A escolha de gelo versus calor depende do tipo de le­
são. O trauma articular deve ser inicialmente tratado com
compressas de gelo para reduzir o edema e o sangramen-
to. Além disso, em pacientes com bursite, a inflamação e Figura 2.8 Esta paciente estava aplicando uma compressa fria
em suas costas após injeções epidurais para dor lombar crô­
a pressão dentro da bolsa produzem dor, contraindicando
nica. Ela removeu a cobertura de proteção e alternou a com ­
o uso de calor. Nas entorses cronicamente dolorosas, o
pressa congelada com outra que ela mantinha no congelador.
calor fornece a melhor forma de terapia. Na doença arti­ Sempre que a aplicação de frio para a lesão de tecidos moles
cular degenerativa, o calor é usado para aliviar a dor pelo for prescrita pelo médico da emergência, os pacientes devem
espasmo secundário. Em pacientes com discos hemiados ser instruídos sobre o uso adequado - 10 a 15 minutos a cada
e espasmo muscular secundário, o tratamento com calor 2 a 3 horas, com uma barreira protetora sob a forma de uma
superficial ou diatermia por ondas curtas é útil. toalha molhada entre o tecido e o gelo.
40 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

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Capítulo 3
Reumatologia
PRINCÍPIOS GERAIS matórias, como a artrite séptica e a gota, causam edema,
eritema e calor. A sensibilidade dolorosa à palpação é no­
Ao abordar um paciente com dor articular, o médico da tada. A amplitude de movimentos e a presença de derra­
emergência deve, primeiramente, lembrar que a fonte da me são documentadas. As articulações afetadas devem ser
dor pode ser articular ou periarticular (i.e., bursite, tendi­
comparadas às do lado não afetado. Embora haja algumas
nite). Quando tiver sido determinado que a origem da dor
exceções, os pacientes com artrite inflamatória verificada
for mesmo a articulação, artrite é a terminologia apropria­
ao exame físico devem ser submetidos a uma artrocentese
da se um processo inflamatório for a causa. A dor articular
para afastar a possibilidade de artrite séptica.
não inflamatória é chamada de artralgia.
O exame dermatológico pode ser útil ao fazer um
diagnóstico. Algumas associações comuns incluem lesões
História anulares no lúpus eritematoso sistêmico (LES), febre reu­
A avaliação começa com uma história completa. O médi­ mática e doença de Lyme; p la ca s eritem atosas fa c ia is no
co deve, primeiramente, determinar quando a dor come­ LES; urticária na infecção por hepatite B, doença do soro,
çou. Um aparecimento agudo (de horas a uma semana) vasculite urticariforme primária e mononucleose; úlceras
sugere trauma, infecção ou artrite induzida por cristais. orais na doença de Crohn, na síndrome de Behçet, na sín-
Uma história de ataques similares pode apoiar um diag­ drome de Reiter e no LES; lesõespapuloescam osas na sín­
nóstico de artrite induzida por cristais. A dor articular crô­ drome de Reiter, artrite psoriática e LES; e p la ca s desca-
nica sugere um problema crônico, mas o profissional deve m ativas na artrite psoriática. As lesões do eritem a nodoso
ser cuidadoso em observar quaisquer novas características são nódulos subcutâneos eritematosos, com 1 a 5 cm de
que seriam incomuns ao paciente e que podem significar diâmetro, que tipicamente se desenvolvem em locais pré-
alguma condição concomitante (como uma articulação -tibiais e se resolvem de forma espontânea depois de várias
séptica em paciente com artrite reumatoide). semanas (ver Fig. 3.13). Quando essas lesões são vistas
A distribuição de articulações afetadas e o padrão são em associação com artrite, devem ser considerados os pro­
determinados. A monoartrite envolve uma articulação, a cessos imunes primários, como a sarcoidose, a doença in­
oligoartrite envolve duas a três articulações, e a poliartrite testinal inflamatória, a doença de Behçet, causas induzidas
ocorre em mais de três articulações. O envolvimento si­ por drogas, gravidez e infecções sistêmicas, como a sepse.
métrico que é aditivo e inicialmente envolve as pequenas
articulações é encontrado na artrite reumatoide. A artrite Artrite monoarticular versus poliarticular
migratória é consistente com febre reumática e artrite go-
Um caminho útil para classificar a artrite é com base no
nocócica.
número de articulações envolvidas - como m onoarticular
A seguir, o paciente deve ser questionado sobre sinto­
ou poliarticular. Existe uma sobreposição dentro dessas
mas sistêmicos. A febre e a perda de peso são sinais impor­
classificações que o profissional deve estar ciente. Por
tantes, pois significam enfermidade sistêmica. A rigidez é,
exemplo, a artrite infecciosa é geralmente considerada mo­
de hábito, indicação de sinovite e a piora da rigidez depois
noarticular, mas, em 10 a 20% dos casos, mais de uma arti­
do sono, que gradualmente melhora (i.e., descongelamen­
culação é afetada. A artrite gonocócica pode apresentar-
to), sugere artrite reumatoide. Se o paciente queixar-se de
-se com envolvimento monoarticular ou poliarticular. Além
fraqueza, o profissional deve diferenciar a fraqueza gene­
disso, um paciente com artrite de somente uma articulação
ralizada de um déficit focal. As parestesias podem indicar
pode apresentar o primeiro sintoma do que eventualmente
neuropatia compressiva ou radiculopatia. A dor muscular
irá manifestar-se como uma condição poliarticular.
significativa sugere a possibilidade de miosite.
Monoartrite aguda
Exame
As três causas mais comuns de monoartrite aguda em
O profissional deve determinar se a fonte da dor é a ar­ adultos são por cristais, trauma e infecção. Embora exis­
ticulação em si ou as estruturas periarticulares. Algumas tam mais de 100 causas diferentes de artrite, nenhuma é
características distintivas estão listadas na Tabela 3.1. mais importante para o médico da emergência do que o
Uma vez que tenha sido determinado que a articula­ diagnóstico de artrite séptica. Se a artrite séptica passar
ção seja a fonte provável de dor, verificar se a dor articular sem diagnóstico ou sem tratamento, pode resultar em mor­
é inflamatória ou não inflamatória. As condições infla­ talidade e, no mínimo, a destruição rápida do tecido arti-
Emergências Ortopédicas 43

► TABELA 3.1 Características da lesão a estruturas em pacientes que foram tratados. As grandes articulações,
intra-articulares v e rs u s periarticulares como o joelho, costumam ser afetadas e essas articulações
Intra-articular Periarticular são, inicialmente, mais inchadas do que dolorosas.
A D M restrita em todas as A D M restrita em algumas
O vírus da im unodeficiência hum ana (HIV) pode ser
direções direções visto em pacientes que se apresentam com monoartrite.
Dor com A D M ativa e passiva Dor com A D M ativa Uma síndrome que consiste em artrite oligoarticular ou
Derrame articular Nenhum derrame articular
monoarticular, envolvendo as articulações da extremidade
Dor mais intensa nos limites Dor mais intensa com o
inferior, pode anteceder o aparecimento da infecção por
do movimento movimento contra resistência HIV. Estes pacientes podem ter um fluido sinovial não
Dor com distração da Nenhuma dor quando a reativo ou apenas minimamente reativo. Deste modo, em
articulação articulação é distraída pacientes com uma artrite inexplicável e em alto risco para
infecção por HIV, deve-se considerar esse diagnóstico.
ADM , amplitude de movimento.
A artrite induzida p o r crista is é uma causa comum
de monoartrite. A artrite reumática também é comumente
cular é inevitável. Algumas infecções, se não tratadas, po­ vista com uma fratura ou depois de uma ruptura meniscal
dem destruir a cartilagem em tão pouco tempo quanto dois ou ligamentar. A osteoartrite pode apresentar-se em uma
dias. A Tabela 3.2 lista os diagnósticos diferenciais para única articulação. A osteonecrose espontânea é mais vista
os pacientes que se apresentam com monoartrite aguda. em pacientes idosos, envolvendo o joelho, e pode levar à
As infecções nas articulações grandes, como os joe­ dor súbita com ou sem qualquer fusão. As lesões pene­
lhos e os quadris, ocorrem em infecções bacterianas não trantes por espinhos, fragmentos de madeira ou outro ma­
gonocócicas. Aproximadamente 80 a 90% das infecções terial estranho podem causar uma sinovite reativa aguda.
bacterianas não gonocócicas são monoarticulares. A dis­ A hem artrose é mais comum após o trauma; contudo,
seminação hematogênica é sem dúvida a via mais comum pode ser causada por anormalidades adquiridas ou congê­
para essa infecção. A artrite gonocócica é a causa mais co­ nitas da coagulação, como a hemofilia.
mum de artrite infecciosa em pessoas jovens e saudáveis, A artrite aguda em pacientes com articulações p ro ­
com a frequência sendo muito mais comum em mulheres féticas é um problema significativo, já que pode indicar
do que em homens. A artrite tuberculosa é incomum; en­ infecção. A fonte mais comum de infecções em articulação
tretanto, em pacientes com tuberculose pulmonar, ela deve protética é a disseminação hematogênica a partir de lesões
ser considerada. As lesões ósseas periarticulares podem infectadas na pele. Os pacientes com próteses de quadril
acompanhar o envolvimento ósseo. A artrite fú n g ic a é ha­ que se apresentam com monoartrite podem ter afrouxa­
bitualmente insidiosa no aparecimento, e pode ser vista em mento, que é a causa mais comum de falha em longo prazo
um hospedeiro imunocomprometido. A artrite virai é co­ das artroplastias.
mum, pode ser monoarticular e está, muitas vezes, associa­ Muitas d o en ça s sistêm ica s podem se apresentar no
da ao vírus do herpes simples. Na doença de Lym e, vê-se início com uma monoartrite. Isto é claramente uma apre­
artralgias intermitentes; contudo, uma monoartrite crônica sentação incomum nas doenças sistêmicas; entretanto,
ou até uma oligoartrite com erosões podem estar presentes. deve ser considerada quando as outras condições listadas
A artrite de Lyme ocorre meses depois da infecção inicial anteriormente e discutidas mais tarde neste capítulo tive­
rem sido afastadas. As doenças sistêmicas que podem se
apresentar com uma monoartrite incluem o LES, a artrite
► TABELA 3.2 Diagnóstico diferencial da monoartrite reumatoide, a artrite da doença intestinal inflamatória, a
aguda doença de Behçet e a síndrome de Reiter.
Classificação Diagnóstico diferencial
Infecções Bactérias A p resen ta çã o clínica. A apresentação clínica é extrema­
Vírus mente útil ao decidir como abordar um paciente com mo­
Doença de Lyme noartrite. Uma história de episódios prévios sugere causas
M icobactérias, fungos induzidas por cristais ou outras causas não infecciosas. Se
Induzida por cristais Gota o paciente disser que tem febre, o médico deve primeiro
Pseudogota pensar em artrite séptica. A diarreia, a uretrite ou a uveíte
Trauma Fratura intra-articular sugerem algum tipo reativo de artrite. Os pacientes com
Ruptura de menisco história de trauma devem ter suspeita de uma fratura, que
Hemartrose pode não ter sido vista na radiografia inicial, particular­
Necrose avascular
mente na extremidade inferior, onde as fraturas osteocon-
Osteoartrite
drais e as fraturas do platô tibial podem estar ocultas.
Tumor Metástase
Ao exame, deve-se d istin g u ir entre a artrite e as
Osteoma osteoide
condições periarticulares (bursite, tendinite e celulite),
Sinovite vilonodular
conforme já mencionado. Em pacientes com celulite, o
44 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

envolvimento em geral já não está isolado apenas na ar­ fingimento com Gram e exame na busca de cristais. Se
ticulação. Se estiver, contudo, a palpação da área onde se somente algumas gotas de fluido sinovial forem obtidas,
faz uma artrocentese revela que é o lugar mais doloroso então devem ser enviadas para cultura, fingimento com
no paciente com artrite, mas não no paciente com celulite. Gram e determinação de cristais. As contagens diferen­
Mesmo com o exame mais detalhado, contudo, a celulite ciais dos leucócitos podem ajudar a fazer um diagnósti­
na área do punho, do joelho e às vezes do tornozelo pode co de infecção, já que um achado de 90% de neutrófilos
imitar a artrite. A limitação dolorosa do movimento costu­ polimorfonucleares (PMNs) sugere infecção ou doença
ma indicar o envolvimento articular. induzida por cristais, mesmo que a contagem total de leu­
cócitos seja baixa. Um diagnóstico definitivo a partir da
A r tr o c e n te s e . A artrocentese deve ser executada em análise do aspirado articular é obtido em apenas 44% dos
pacientes com monoartrite em quem a infecção seja uma casos.8A diferenciação entre artrite inflamatória e não in­
possibilidade. A técnica estéril e o anestésico local devem flamatória é, entretanto, possível.
ser utilizados em todos os casos. O paciente deve dar o Deve-se lembrar que a presença de cristais não exclui
consentimento para o procedimento. Os princípios gerais uma infecção. A lesão articular crônica em pacientes com
da artrocentese incluem o uso da superfície extensora, a artropatia induzida por cristais toma esses pacientes mais
distração e aproximadamente 20 a 30° de flexão (Vídeo suscetíveis à artrite séptica. A probabilidade de doença
3.1). Em adição, recomenda-se efetuar a artrocentese com cristalina e artrite séptica concomitante parece ser baixa,
a agulha destacada da seringa para aumentar a probabilida­ conforme demonstrado em um resumo apresentado no en­
de de sucesso. Pelo fato de o fluido sinovial frequentemen­ contro anual de 2004 da Society o fA c a d e m ic E m ergency
te ser espesso e, no caso de artrite inflamatória, cheio de M ed icin e. Dos 265 aspirados que continham cristais,
fragmentos celulares, uma agulha grande deve ser usada. somente 4 (1,5% [IC de 95%, 0-3%]) subsequentemen­
Em articulações maiores, como o ombro e o joelho, uma te se desenvolveram como culturas positivas. Entretanto,
agulha tamanho 18 ou 20 é apropriada (Tab. 3.3). A téc­ quando houver dúvida sobre o diagnóstico, os antibióticos
nica deficiente ou uma quantidade grande de movimento devem ser administrados até que os resultados da cultura
da agulha durante o procedimento podem danificar a car­ retomem.
tilagem articular. Os Vídeos 3.2 a 3.10 ilustram a técnica
recomendada para fazer a artrocentese nas articulações que P o lia rtrite
mais comumente requerem o procedimento. A taxa de in­
Na poliartrite, quatro ou m ais articulações estão envolvi­
fecção secundária à artrocentese é de 1:10.000 aspirações.8
das. Os três padrões de poliartrite incluem:
A n á lise d o flu id o sinovial. A Tabela 3.4 apresenta al­ 1. A d itiv a . Os exemplos incluem artrite reumatoide,
guns dos achados comuns da análise do fluido sinovial em LES e artrite psoriática, todas com envolvimento ar­
pacientes com monoartrite. O fluido é enviado ao labo­ ticular progressivo, incluindo outras articulações com
ratório para contagem diferencial dos leucócitos, cultura, o passar do tempo.

► TABELA 3.3 Tamanho de agulha e técnica recom endada para a artrocentese articular
Agulha Tamanho articular (medida) Anatomia importante para a inserção da agulha

IF e M CF dos dedos 22 Na superfície dorsal da articulação, agulha dirigida sob o tendão


extensor e para dentro do espaço articular.
Articulação intercarpal 20 Palpar a fossa sem ilunar e dirigir a agulha perpendicular à pele, entre
o sem ilunar e o capitato.
Articulação radiocarpal 20 Palpar a fossa sem ilunar e o rádio distai e dirigir a agulha
perpendicular à pele entre essas estruturas.
Articulação do cotovelo 20 Na superfície lateral do cotovelo, no centro do triângulo criado pelo
olécrano, epicôndilo lateral e cabeça do rádio.
Articulação do ombro 18 Abordagem anterior: Entre o processo coracoide e o tubérculo menor
do úmero proximal (com plicação rara de lesão neurovascular).
Abordagem posterior: Inserir a agulha 1 a 2 cm abaixo da porção
posterolateral da espinha da escápula, apontando em direção ao
processo coracoide anteriormente. Até uma profundidade de 2 a 3 cm.
Articulação M TF 22 Aspecto lateral da articulação, sob o tendão extensor.
Articulação do tornozelo 20 Em cada lado do tendão extensor longo do hálux, entre a tíbia e o
tálus. A agulha é dirigida perpendicular à tíbia.
Articulação do joelho 18 Abordagem infrapatelar em cada lado do tendão patelar, direcionando
a ponta da agulha entre os côndilos femorais.

1F, interfalângica; MCF, metacarpofalângica; MTF, metatarsofalângica.


Emergências Ortopédicas 45

► TABELA 3.4 M onoartrite classificada pelas características do fluido articular

Não inflamatória Inflamatória Séptica Hemorrágica


Características do
fluido articular
Viscosidade Alta Baixa Baixa Variável
Aspecto Am arelo, transparente Am arelo, transparente Opaco Sanguíneo
Leuc/mm3 200-2.000, principalmente 2.000-100.000 > 50.0 0 0 ,* Variável
linfócitos principalmente PMNs
Diagnóstico
diferencial Artrite traumática Induzida por cristais Infecção bacteriana Trauma
Osteoartrite (p. ex., gota) Distúrbio do sangramento
Osteocondrite dissecante Imunológica (p. ex., (p. ex., hemofilia, uso de
Artrite inflamatória inicial artrite reumatoide) varfarina)
ou em resolução Infecciosa (p. ex., Neoplasia articular
tuberculose)

PMNs, neutrófilos polimorfonucleares; Leuc, leucócitos.


* > 50.000 leuc/mm3 é artrite séptica até prova em contrário. A artrite séptica pode também ocorrer com contagens leucocitárias abaixo desse número.

2. M igratória. Com a artrite gonocócica ou a febre reu­ (VSG) alta tem valor mínimo, pois está elevada em qua­
mática aguda, as articulações sintomáticas melhoram se todas as condições que causem poliartrite. Entretanto,
e então articulações diferentes tornam-se envolvidas. uma VSG normal é sugestiva de infecção virai.
Um padrão migratório também pode ser visto na artri­ A artrite gonocócica é uma infecção poliarticular que
te virai, na artrite de Lyme e no LES. se apresenta como artrite migratória com calafrios, febre e
3. Interm itente. Na gota, na pseudogota e na febre me­ tenossinovite que envolve as bainhas dos tendões extenso-
diterrânea familiar, é visto um retrato de artrite com res do punho ou do tornozelo. A lesão cutânea caracterís­
sinais e sintomas que aparecem, duram alguns dias, e tica muitas vezes ajuda a fazer o diagnóstico. Os derrames
então desaparecem. sinoviais purulentos na artrite gonocócica são incomuns,
e o organismo é mais frequentemente recuperado a partir
Um diagnóstico diferencial e as características diag­ de culturas geniturinárias. As hemoculturas podem ser po­
nósticas em pacientes com poliartrite estão listados na sitivas em pacientes que se apresentam com febre e lesões
Tabela 3.5. A poliartrite associada à febre deve instar de pele.
o profissional a pensar primeiramente em infecção. Em Na artrite vira i , a artrite migratória, é comum; con­
pacientes com poliartrite, o exame do fluido sinovial é ex­ tudo, alguns pacientes se apresentam com poliartrite si­
traordinariamente útil, em especial quando estiver sendo métrica. O diagnóstico de hepatite B pode ser feito com
considerada a infecção bacteriana como uma possibilida­ base nos níveis elevados das enzimas hepáticas, embora
de. As contagens leucocitárias de mais de 50.000/mm3 su­ não haja icterícia ou sensibilidade dolorosa no fígado. Em
gerem infecção bacteriana, mas podem ser vistas na artrite mulheres mais jovens, a rubéola e o parvo vírus B19 po­
reumatoide, na artrite induzida por cristais e na artrite rea­ dem apresentar-se com artrite migratória. Nestes casos, os
tiva. Infelizmente, a velocidade de sedimentação globular pacientes habitualmente têm artrite simétrica aditiva, en-

► TABELA 3.5 Diagnóstico diferencial da poliartrite


Doença Características

Artrite reumatoide Simétrica, articulações inicialm ente pequenas, rigidez matutina.


Lúpus eritematoso sistêmico Simétrica (mãos, punhos, joelhos), recidivas/melhoras, envolvimento sistêmico.
Artrite gonocócica Pode ser mono, oligo ou migratória. O punho é o local comum. Erupção cutânea e
tenossinovite.
Osteoartrite Mais comum nas mãos, nos joelhos e nos quadris. Piora com a atividade.
Aparecimento gradual.
Artrite virai Simétrica (dedos, punhos, joelhos)
Febre reumática aguda Poliartrite migratória. Associada a cardite, nódulos cutâneos, eritema marginado e
coreia.
Artrite de Lyme Recorrente, joelhos (comum), erupção cutânea característica, envolvimento cardíaco
e neurológico.
Espondiloartropatias soronegativas Ver Tabela 3.14
46 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

volvendo particularmente as mãos. De maneira crescente, ARTRITE SÉPTICA


a infecção por HIV como causa de artrite é vista como
uma poliartrite simétrica. A inflamação de uma articulação pela presença de um mi­
Em pacientes com d o e n ç a de L ym e, uma artral- croorganismo é incomum, mas, talvez, é a condição artrí­
gia migratória com pouco ou nenhum edema articular é tica mais grave que se apresenta no setor de emergência.
acompanhada de febre. As articulações grandes são pri­ Se não for reconhecida, a artrite séptica levará à rápida
mariamente afetadas, e uma das características comuns é destruição articular e à perda irreversível da função. Mais
um grande derrame no joelho, apenas com dor leve, sendo de 30% dos pacientes com artrite séptica desenvolvem
o derrame desproporcional à intensidade da dor. Os anti­ dano articular residual, e as taxas de mortalidade são de
corpos IgM para B orrelia burgdorferi podem ser detecta­ aproximadamente 10%.
dos de quatro a seis semanas depois da infecção inicial. Os agentes mais comuns são aeróbios gram-positivos,
A endocardite bacteriana também pode apresentar-se como o S ta p h ylo co ccu s aureus (S. aureus), que respon­
com poliartrite. Em uma série grande, 44% dos pacien­ dem por aproximadamente 50% destas infecções. A
tes com endocardite bacteriana apresentaram poliartrite. maioria dessas bactérias é resistente à penicilina. Em pa­
Algumas das articulações têm derrame as sintomático, en­ cientes com artrite reumatoide, diabetes ou artrites sépti­
quanto outras ficam quentes, vermelhas e dolorosas. cas poliarticulares, a porcentagem dos casos devidos ao S.
A artrite reativa é abordada em detalhes mais adiante aureus aumenta para 80%. Os estreptococos respondem
neste capítulo, sob as condições específicas com as quais por cerca de 25% das infecções, com o S trep to co ccu s
está associada. A poliartrite ocorre em várias condições p n eu m o n ia e e o Streptococcus (3-hemohtico do grupo A
inflamatórias entéricas e infecções urogenitais. Nestas sendo os mais comuns. As bactérias gram-negativas são
condições, também é possível ver um tipo assimétrico e encontradas em 20% dos casos, e a N eisseria gonorrho-
aditivo de poliartrite, envolvendo predominantemente as eae responde pelos 5% restantes. A artrite gonocócica é
articulações grandes da extremidade inferior. mais comum em indivíduos jovens, saudáveis e sexual­
A fe b re reum ática em crianças se apresenta com um mente ativos. A artrite séptica por gram-negativos é mais
aparecimento súbito de poliartrite e febre. Essas crianças comum em hospedeiros imunocomprometidos, idosos,
têm cardite e podem ter lesões cutâneas, tipicamente o eri- usuários de drogas intravenosas e pacientes com feridas
tema marginado. expostas.
A artrite reum atoide também é abordada em detalhes Uma pré-condição para o desenvolvimento da artrite
mais adiante. A forma sistêmica da artrite reumatoide ju­ séptica é que as bactérias alcancem a membrana sinovial.
venil (<doença de Still ) é caracterizada por febre alta e po­ Isso pode ocorrer dos seguintes modos:
liartrite. 1. D issem inação hem atogênica
A vasculite sistêm ica pode apresentar-se com poliar­ • Ocorre como resultado da implantação do orga­
trite e febre. Somando-se a isso, os pacientes têm lesões nismo dentro da sinóvia perivascular ou dos ricos
concomitantes de pele (púrpura, petéquias), neuropatia ou leitos vasculares nas superfícies articulares. A dis­
hematúria microscópica. Um pequeno derrame pode estar seminação hematogênica ocorre nas articulações
presente em algumas das articulações maiores. A granu- sacroilíacas (SI) de usuários de drogas injetáveis.
lomatose de Wegener com frequência se apresenta com
2. D issem inação contígua
febre e poliartrite antes dos típicos achados pulmonares
• Uma via que é bastante comum em crianças peque­
ou de vias aéreas.
nas é a disseminação das bactérias de um foco oste-
O lúpus eritem a to so sistêm ico (LES) em geral se
omielítico agudo na metáfise ou na epífise.
apresenta com uma poliartrite que aparece sob a forma
de um envolvimento articular simétrico e periférico, que • Uma infecção na vizinhança da articulação pode
pode ser intermitente ou migratório. Esses pacientes es­ progredir até a articulação ou disseminar-se via
tão, de hábito, afebris e podem ter erupções cutâneas fo- linfogênica. Isso é visto com mais frequência nas
tossensíveis. O teste de anticorpo antinuclear (AAN) é infecções traumáticas não penetrantes, nas feridas
muito sensível no LES. pós-operatórias e nas infecções de pele, e nos teci­
Os pacientes com gota podem apresentar-se com fe­ dos moles ao redor da articulação, particularmente
bre e envolvimento poliarticular. Aproximadamente 10% no joelho.
desses pacientes têm temperaturas de 39°C ou mais. Uma 3. P enetração a rticu la r direta
discussão detalhada desse distúrbio é apresentada mais • Infecções iatrogênicas causadas por punção arti­
adiante neste capítulo. cular em um propósito diagnóstico ou terapêutico
O câ n cer oculto pode apresentar-se com poliartrite (raras, incidência de 1:10.000).
e febre. Os linfomas podem se apresentar dessa manei­ • O trauma penetrante que é causado por objetos su­
ra, embora isso seja raro. A oligoartrite possivelmente jos ou por mordeduras animais ou humanas causa
precede os carcinomas em adultos, mas é raro que seja uma infecção grave devido ao alto inoculado de
acompanhada de febre. bactérias e do tecido lacerado.
Emergências Ortopédicas 47

Fatores de risco cas sugerem sepse, e não artrite local. Este é um ponto
fundamental que deve ser lembrado ao considerar esse
Embora seja verdade que a artrite séptica possa ocorrer em
diagnóstico em crianças. As crianças mais velhas também
qualquer articulação e em qualquer indivíduo, existem algu­
mostram-se febris e indispostas, mas os sinais locais são
mas situações clínicas nas quais ela é mais provável. Os fa­
mais acentuados.
tores de risco identificados incluem idade acima de 80 anos,
A artrite gonocócica possui algumas características
diabetes melito, artrite reumatoide, prótese articular, cirur-
únicas e é, por conseguinte, mencionada separadamente.
gia articular e uma infecção na pele. De todos os casos
É parte de uma tríade clínica da infecção gonocócica dis­
de artrite séptica, 59% ocorrem em pacientes com distúrbio
seminada (IGD), que também inclui dermatite e tenossi-
articular prévio. Isso é significativo porque potenciais
novite. A IGD ocorre em 0,5 a 3% dos casos de infecção
erros diagnósticos podem ocorrer se o profissional atribuir
da mucosa. A artrite da IGD é poliarticular em 40 a 70%
falsamente a nova dor articular a uma “exacerbação reuma­
dos casos, sendo habitualmente migratória É mais co­
toide” quando ela for secundária à infecção bacteriana. Os
mum em mulheres jovens e sexualmente ativas. As articu­
fatores locais que predispõem ao desenvolvimento de artri­
lações mais envolvidas são os joelhos e os punhos. As le­
te séptica incluem trauma direto, cirurgia articular recente,
sões características da pele estão presentes em dois terços
osteoartrite, injeções repetidas de esteroide intra-articular e
dos casos e incluem múltiplas máculas indolores, pápulas
articulações protéticas. Em um estudo, havia material articu­ e pústulas com uma base eritematosa. Normalmente, a
lar sintético em 29% das articulações infectadas. As condi­ erupção cutânea ocorre nos braços, nas palmas, nas so­
ções sistêmicas associadas com a artrite bacteriana incluem las dos pés, nas pernas ou no tronco. A tenossinovite dos
doença hepática, alcoolismo, insuficiência renal, malignida­ tendões do punho e do tornozelo pode estar associada, e
des, síndrome de imunodeficiência adquirida (Aids) e imu- também está presente em dois terços dos pacientes.
nossupressão. O uso de drogas intravenosas predispõe à ar­
trite séptica, frequentemente, em uma localização incomum
Análise laboratorial
(articulação estemoclavicular). Os fatores prognósticos
adversos incluem a idade mais avançada, a doença articular A suspeita clínica de artrite infecciosa deve ser confirmada
preexistente e a presença de material articular sintético. por uma artrocentese da articulação em questão. A artrocen-
tese é realizada pelo médico da emergência, a menos que
Apresentação clínica haja material protético dentro da articulação (ver Vídeos 3.1
a 3.10). A artrocentese do quadril é difícil, e mais adequa­
Embora a artrite séptica habitualmente se apresente como damente executada com ultrassonografia ou fluoroscopia.
monoartrite, 10 a 20% dos pacientes têm poliartrite no Nestes casos, a consultoria ortopédica é apropriada.
aparecimento, envolvendo várias articulações grandes. O fluido sinovial deve ser enviado para fingimento com
Quando a condição se apresentar dessa forma, ela surge Gram, cultura, contagem de leucócitos e diferencial e para
como um tipo aditivo de artrite. As extremidades inferio­ exame de cristais. As culturas sanguíneas devem ser obtidas,
res são afetadas com mais frequência, como as articula­ sendo positivas em 50% dos casos de artrite séptica não go­
ções do quadril e do joelho. O joelho está envolvido em nocócica. A contagem de leucócitos periféricos está eleva­
50% dos casos. O quadril é mais comumente infectado em da em apenas metade dos pacientes e, por conseguinte, não
crianças. Dez por cento das infecções envolvem a articula­ é confiável para excluir o diagnóstico. Como demonstrado
ção SI, sendo difíceis de detectar ao exame físico. na Tabela 3.4, a contagem de leucócitos no fluido sinovial é
Uma articulação séptica é, por definição, de nature­ habitualmente superior a 50.000 células/mm3, com a predo­
za inflamatória e, por conseguinte, eritematosa, quente e minância de células polimorfonucleares. Um estudo recente
dolorosa. A distensão da cápsula articular e o aumento da notou, entretanto, que esse “ponto de corte” não é suficien-
20
pressão intra-articular contribuem para a dor. Os pacientes temente sensível para ser usado e excluir o diagnóstico.
estão relutantes em mover-se e pôr carga na articulação. A Em pacientes com artrite séptica comprovada com cultura,
amplitude de movimento está gravemente limitada devido foi comprovado que mais de um terço tinha contagens de
à dor e ao derrame articular. O derrame articular está pre­ leucócitos sinoviais abaixo de 50.000 células/mm3 e 10%
sente em 90% desses pacientes, mas é menos aparente nas tinham contagens acima de 10.000 células/mm3.
articulações como o ombro. Raras vezes, esses achados Conforme afirmado anteriormente, o achado de cris­
são menos evidentes no caso de o paciente se apresentar tais não exclui o diagnóstico de artrite séptica, já que estas
cedo no curso clínico. A ausência de febre e leucocitose duas entidades podem coexistir. O diagnóstico também
periférica, embora muitas vezes presente na artrite sépti­ pode ser confundido pelo fato de que ambas as condições
ca, não deve ser usada para excluir o diagnóstico. Na ver­ podem apresentar-se com febre, artrite inflamatória e al­
dade, apenas metade dos pacientes com artrite bacteriana tas contagens leucocitárias sinoviais. Em muitos casos, o
terá febre ou leucocitose. fingimento com Gram e um bom julgamento clínico de­
Em bebês, os sintomas costumam ser sistêmicos em vem guiar o médico da emergência até que o resultado da
vez de locais. As crianças pequenas desenvolvem febres cultura esteja disponível, dois dias mais tarde. É recomen­
altas e aparentam estar doentes. As características clíni­ dável que o paciente com história de gota, com ataques
48 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

similares no passado, cristais no fluido sinovial e tingi- for afetado. A artroscopia é preferida no joelho e no om­
mento com gram-negativo seja tratado apenas para gota, bro por facilitar a irrigação. O material protético deve ser
com acompanhamento atento dos resultados da cultura. removido por meio de cirurgia. Em casos raros, as infec­
Entretanto, quando houver dúvida sobre o diagnóstico, o ções iniciais em articulações protéticas podem ser tratadas
paciente deve ser tratado como se tivesse artrite séptica e a com debridamento e um curso longo de antibióticos.
consultoria ortopédica é solicitada. A artrite gonocócica é tratada com antibióticos intra­
As bactérias são identificadas com o fingimento do venosos por 24 a 48 horas após a melhora ter começado.
fluido sinovial por Gram em 50% dos casos e na cultura O agente de escolha é uma cefalosporina de terceira gera­
em mais de 90% dos casos. A administração prévia de ção, tipicamente a ceftriaxona 1 g via intravenosa a cada
antibióticos aumenta significativamente os falso-negativos 24 horas. A terapia oral é iniciada com ciprofloxacino 500
para fingimentos com Gram e culturas. Reciprocamente, mg, duas vezes ao dia. Os derrames sinoviais podem exi­
o uso de frascos de hemocultura e um volume maior de gir aspiração repetida, mas raramente a drenagem aberta
fluido sinovial pode aumentar a chance de cultura positiva é necessária.
verdadeira, embora isso não tenha sido demonstrado em
todas as situações.“ A diluição do fluido sinovial em um
ARTROPATIA INDUZIDA POR CRISTAIS
frasco de hemocultura inibe os componentes bactericidas
do fluido sinovial e aumenta o rendimento. A gota e a pseudogota são síndromes inflamatórias causa­
Os achados laboratoriais compatíveis com a artrite das pela deposição de cristais nas articulações e nos teci­
gonocócica incluem menor rendimento das culturas do dos moles. As características dessas duas síndromes estão
fluido sinovial (50%). Um rendimento muito mais eleva­ comparadas na Tabela 3.6.
do é obtido a partir da cultura de mucosa (80%). As he-
moculturas são positivas em apenas 20 a 30% dos casos. Gota
O achado radiográfico é de edema simétrico de tecidos
moles em tomo da articulação envolvida; a erosão margi­ A gota é causada pela precipitação de cristais de ácido
nal ou as erosões do osso ocorrem mais tarde. A marca re­ úrico nas articulações e nos tecidos moles. O ácido úrico
gistrada da artrite séptica é a perda da linha cortical branca se precipita da solução em aproximadamente 7 mg/dL, de
sobre um longo segmento contíguo. Infelizmente, as radio­ forma que uma pequena elevação na concentração sérica
grafias têm valor diagnóstico limitado nos estágios iniciais de uratos, na faixa normal de 4 a 5 mg/dL, pode levar à
dessa doença. O exame com radiofármacos e a ressonância artrite gotosa. Os níveis de ácido úrico são, em geral, mais
magnética nuclear (RMN) podem identificar osteomieli- altos em homens do que em mulheres pré-menopáusicas,
te justa-articular e derrames em localizações profundas, e tomam-se elevados com a idade em ambos os sexos. Em
como a articulação do quadril e a SI. A artrocentese reali­ consequência disso, o paciente típico portador de gota é
zada com rapidez é essencial, pois o retardo no tratamento o homem de meia-idade. A gota é incomum em homens
é o melhor preditor de um desfecho desfavorável. abaixo dos 30 anos e em mulheres na fase pré-menopausa.
Embora até 5% dos adultos tenham algum grau de hi-
Tratamento peruricemia, somente um quinto destes (1% do total) de­
senvolve gota. Entre pacientes com níveis séricos de ácido
A terapia consiste em antibióticos sistêmicos, imobiliza­ úrico de 9 mg/dL, 5% desenvolverão gota aguda ao ano.“
ção, drenagem fechada ou aberta da articulação séptica, e A hiperuricemia pode ser causada pela superprodução de
a reabilitação mais tardia. O tratamento com antibióticos ácido úrico ou pela redução da excreção na urina. Embo­
é iniciado assim que possível e, de preferência, depois da ra uma discussão sobre os distúrbios do metabolismo de
artrocentese e da obtenção de um conjunto de hemocultu- uratos esteja além do objetivo deste texto, o médico da
ras. O tratamento antibiótico empírico para artrite séptica emergência deve estar familiarizado com algumas causas
não gonocócica consiste no uso de uma penicilina resis­ da redução da excreção de uratos, já que podem precipitar
tente à penicilinase (p. ex., nafcilina) e cefalosporina de um ataque de artrite gotosa: diuréticos de alça (furosemi-
terceira geração (p. ex., ceftriaxona). A vancomicina e da, tiazídicos), salicilatos, antimicrobianos, como pirazi-
um aminoglicosídeo ou fluoroquinolona são apropriados namida e etambutol, e etanol. O frio ambiente ou a circu­
em pacientes com alergia à penicilina ou quando existir lação ruim podem levar à precipitação, pois a solubilidade
suspeita de S. aureus meticilina-resistente. O fingimento do ácido úrico é dependente da temperatura.
com Gram ajuda a direcionar o tratamento.
A consultoria ortopédica e a hospitalização são ne­ Apresentação clínica
cessárias para todos os pacientes. Atualmente, o suporte
A apresentação da gota é dividida em quatro estágios:
principal do tratamento é a drenagem fechada, pelo menos
uma vez ao dia. Se o fluido não puder ser obtido a partir • E stágio 1 (hiperuricem ia as sintom ática). Os sintomas
da articulação ou se houver resposta ruim à terapia com habitualmente não estão presentes, embora uma pe­
antibióticos, a drenagem aberta ou por artroscopia é ne­ quena porcentagem de pacientes desenvolva cálculos
cessária. A drenagem aberta é necessária quando o quadril urinários.
Emergências Ortopédicas 49

► TABELA 3.6 Características clínicas da gota e da pseudogota

Gota Pseudogota
Articulações afetadas Primeira MTF, pé, tornozelo, joelho Joelho
Episódio inicial 90% monoarticular 90% monoarticular
Distribuição Assim étrica, articulações adicionais com Habitualmente monoarticular, incomum em mais de
episódios subsequentes três articulações
Início Hiperagudo, dentro de algumas horas Agudo, dentro de 6-24 h
Tofos Presentes na gota crônica Pode desenvolver depósitos como tofos
Provocantes Distúrbios do metabolismo de uratos Trauma articular
Diuréticos Enfermidade sistêmica
Etanol Distúrbios endócrinos
Frio
Cristais Urato monossódico Pirofosfato de cálcio desidrogenado
Em forma de agulha Em forma de bastão ou romboidal
Negativamente birrefringente Positivamente birrefringente
Contagem celular Inflamatória, > 50.0 0 0 , principalmente PMNs Inflamatória, pode ser < 50.0 0 0 , principalmente PMNs
Viscosidade Redução acentuada Dim inuída, mas de forma variável
Tratamento AINEs Aspiração e injeção articular
Analgésicos AINEs
C olchicina M obilização precoce

MTF, metatarsofalângica; AINEs, anti-inflamatórios não esteroides; PMNs, neutrófilos polimorfonucleares.

• E stágio 2 (artrite gotosa aguda). Este estágio é anun­ • E stágio 3 (g o ta intercrítica). Entre os ataques de ar­
ciado pelo aparecimento rápido de dor intensa e ede­ trite gotosa, o paciente está assintomático, mas pode
ma das articulações afetadas. As primeiras metatar- ainda ter cristais de urato presentes tanto nas articu­
sofalângicas (MTF) são afetadas em mais da metade lações previamente afetadas como nas não afetadas.
dos ataques iniciais e eventualmente em até 90% dos • Estágio 4 (gota crônica). Aproximadamente metade dos
pacientes com gota. Outros locais bastante afetados pacientes que tiveram ataques de gota por um período
são as outras articulações dos pés, os tornozelos e de 10 anos ou mais desenvolvem tofos, que são nódulos
os joelhos. Quando a mão é afetada, o edema pode na pele e nos tecidos moles que contêm precipitados de
ser bastante significativo (Fig. 3.1). Quase 90% dos cristais de ácido úrico (Fig. 3.2). Os tofos e a reação in­
ataques iniciais são monoarticulares. As articulações flamatória associada aos cristais de urato podem danifi­
afetadas estão notadamente eritematosas, mais do que car a cartilagem, o osso subcondral, os tendões e a pele,
nos outros tipos de artrite não infecciosa. Os tendões levando a deformidades estéticas e funcionais.
e as bolsas podem ser afetados. Embora os ataques le­
ves se resolvam dentro de alguns dias, os mais graves Diagnóstico
requerem várias semanas para a completa resolução. Os níveis séricos de ácido úrico estão quase sempre eleva­
Os pacientes às vezes estão sistemicamente doentes, e dos entre os ataques nos pacientes com gota. Entretanto,
até parecerem sépticos. durante um ataque agudo, o ácido úrico se precipita nos

Figura 3.1 Ataque agudo de gota na mão esquerda. Figura 3.2 Tofos gotosos da mão.
50 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

tecidos afetados, e o nível sérico de ácido úrico pode nor­


malizar-se. D este m odo, os níveis séricos de ácido úrico
são inúteis durante um ataque agudo de gota.
A aspiração da articulação inflamada é a fundamental
para o diagnóstico de gota. O fluido sinovial de uma arti­
culação gotosa revela:
• C ristais de urato em fo r m a de agulha. Se a microsco-
pia de luz polarizada estiver disponível, eles parecem
amarelos quando orientados em paralelo ao eixo da
vibração lenta marcada no compensador do micros­
cópio (i.e., negativamente birrefringentes). Os cristais
são encontrados intracelularmente (dentro de neutro-
28
filos) durante um ataque agudo de gota.
• B aixa viscosidade.
• Contagem leucocitária alta, frequentemente > 50.000/
mm3. Setenta por cento ou mais serão neutrófilos.
• A u sên cia de bactérias no tingimento com Gram e na
cultura.
Pelo fato de ser obtido pouco fluido a partir da aspira­
ção, em especial das articulações pequenas do pé, algumas
diretrizes para o uso de fluido sinovial devem ser lembradas:
• Em geral, apenas duas gotas de fluido, uma para mi-
croscopia e outra para cultura, são necessárias.
• Não descarte a pequena quantidade de fluido restante
na agulha ou na sua base. Isso pode ser suficiente para
fazer o diagnóstico.
• Se somente uma quantidade pequena de fluido esti­ Figura 3.3 Radiografia demonstrando tofos gotosos do pé. (Foto­
ver disponível, a ordem preferida de análise é cultura, grafia: contribuição de ). Fitzpatrick, MD, Cook County Hospital.)
e então exame para cristais, tingimento com Gram e
contagem de células. Quaisquer outros exames po­
dem então ser executados se houver fluido suficiente. ministração intravenosa em vez de oral diminui os efeitos
colaterais gastrintestinais (GI), mas podem levar à necrose
As alterações radiográficas, como a erosão articular, tecidual local se o medicamento extravasar. Agora que a
ocorrem muito depois que o diagnóstico de gota é feito terapia com AINEs efetivos está disponível, o uso de col­
(Figs. 3.3 a 3.6).29 chicina no contexto de cuidados agudos deve ser reservado
aos pacientes que não respondam ou que não possam to­
Tratamento lerar os AENEs. A colchicina é administrada por via oral,
As estratégias para o manejo da gota variam conforme a 0,6 mg a cada hora, até que a inflamação diminua, a pessoa
gravidade da doença. Para o paciente que teve três episó­ apresente vômitos ou diarreia, ou uma dose máxima de 6 a
dios ou menos, com recuperação entre eles, o tratamento 8 mg por dia (dependendo de massa corporal) seja alcança­
é direcionado à redução da dor e da inflamação durante os da. A dose é menor em pacientes com insuficiência renal.
ataques agudos. As concentrações de urato plasmático não A colchicina intravenosa somente deve ser administrada
são tratadas neste momento da doença, já que a maioria com a supervisão de um especialista.
dos pacientes não continua a desenvolver gota crônica. A injeção de esteroide intra-articular pode ser execu­
Os medicamentos anti-inflamatórios não esteroides tada, mas o profissional deve evitar o seu uso se houver
(AINEs) são o suporte principal do tratamento. A indo- qualquer dúvida sobre o diagnóstico, especialmente se a
metacina, na dose de 50 mg a cada 6 a 8 horas, é efetiva. artrite séptica for uma possibilidade. Quando os AINEs
Essa dose é mantida até que diminuam a dor e o edema e, e a colchicina forem contraindicados, a prednisona oral
então, é reduzida para 25 mg a cada 6 a 8 horas até que o em uma dose inicial de 40 mg/dia pode ser administrada,
ataque se resolva completamente. O ibuprofeno, com dose sendo retirada em 7 a 10 dias.
de 800 mg a cada 6 a 8 horas, ou o naproxeno, dosado em Outros analgésicos, como o paracetamol e os opioides,
500 mg duas vezes por dia, são alternativas. aliviam a dor e não devem ser esquecidos. Por fim, eliminar
A colchicina tem sido usada desde meados dos anos quaisquer medicamentos, como os diuréticos, que precipi­
1800 para tratar a gota. Embora seja efetiva, os efeitos co­ taram o ataque. Quanto mais cedo o tratamento for iniciado
laterais como vômitos e diarreia limitam o seu uso. A ad- depois de um ataque começar, melhor será a resposta.
Emergências Ortopédicas 51

O alopurinol diminui a concentração de urato sérico.


Aproximadamente 5 a 10% dos pacientes desenvolvem
reações de hipersensibilidade, que manifesta-se como
uma erupção cutânea maculopapular pruriginosa. Uma
síndrome dramática de hipersensibilidade sistêmica, in­
cluindo febre, eosinofiha, eritema multiforme e disfunção
de múltiplos órgãos sistêmicos ocorre algumas vezes e
pode ser fatal. Qualquer paciente com suspeita de ter tal
reação deve ser hospitalizado e o reumatologista do pa­
ciente notificado.
A prob en ecid a diminui a concentração de urato séri­
co. Ela reduz a excreção renal de outros fármacos, como
as penicilinas, os AINEs e a dapsona. A aspirina bloqueia
completamente o efeito terapêutico da probenecida. Os
efeitos colaterais GI e as reações de hipersensibilidade
podem ocorrer em pacientes que recebem a probenecida.
A probenecida não deve ser iniciada durante um ataque
agudo, já que aumenta a precipitação de uratos durante o
início do tratamento, piorando a gota aguda.
A colchicina pode ser administrada como profilaxia
Figura 3.4 Radiografia demonstrando tofos gotosos do joelho. por até 9 meses após a normalização dos níveis séricos
(.Fotografia: contribuição de J. Fitzpatrick, M D, Cook County
de uratos em pacientes com gota crônica ou recorrente. A
Hospitai.)
terapia de longo prazo com colchicina somente deve ser
administrada por um especialista.
O manejo da gota crônica está além do objetivo deste
capítulo; entretanto, o médico da emergência deve estar Complicações
familiarizado com os medicamentos usados para tratar tal Os pacientes com gota de longa data têm incidência mais
condição e seus efeitos colaterais. alta de nefrolitíase, proteinuria e hipertensão.
A artrite séptica pode ocorrer na mesma articulação
que a artrite induzida por cristais. Nesses casos, a res­
posta inflamatória causada pela infecção articular pro­
vavelmente leva à precipitação de cristais de urato ou de
pirofosfato de cálcio e, desse modo, um ataque de gota
ou de pseudogota. Pelo fato de as contagens de células
nos fluidos sinoviais dos pacientes com artrite induzida
por cristais e artrite infecciosa serem similares, o flu id o
sinovial obtido dos p a cien tes com artrite aguda deve se m ­
pre ser enviado p a ra cultura, m esm o que os cristais sejam
vistos. Qualquer paciente com gota que esteja sistemica-
mente doente no contexto de um ataque agudo de artrite,
ou cuja artrite pareça pior ou diferente do habitual, deve
ter o fluido articular enviado para cultura, sendo iniciado
o tratamento empírico com antibióticos.
Por fim, a artrite reumatoide e a gota raramente ocor­
rem juntas, então, se um paciente com artrite reumatoide
se apresentar com o que clinicamente parece ser um caso
agudo de gota, deve pairar uma forte suspeita de articula­
ção infectada.

Pseudogota
A deposição de cristais de pirofosfato de cálcio di-hidra-
tado (PFCD) nas articulações ocorre primariamente em
pacientes idosos. Pode apresentar-se como artrite mono­
Figura 3 .5 A lterações degenerativas gotosas da mão e do articular aguda ou como artrite crônica (em geral compli­
punho. cando a osteoartrite subjacente). Os cristais de PFCD são
52 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Figura 3.6 Destruição gotosa do pé. ( Fotografia: con­


tribuição de J. Fitzpatrick, MD, Cook County Hospital.)

encontrados na artrocentese em mais de 40% dos pacien- O diagnóstico é feito por aspiração articular, que revela:
tes com osteoartrite. "
• C ristais romboid.es ou em fo r m a de haste de P F C D ,
Os exames radiográficos podem estar normais, mos­
que têm fraca birrefringência positiva e que aparecem
trar alterações de osteoartrite ou revelar calcificação na
azuis quando orientados em paralelo ao eixo de vibra­
cartilagem, nos tecidos sinoviais e nos tendões. A calci­
ção lenta marcada sobre o compensador do microscó­
ficação da cartilagem articular, a condrocalcinose, ocorre
pio polarizado. Como ocorre com a gota, a presença
com mais frequência nas mãos e nos joelhos (Fig. 3.7).
de cristais não elimina uma infecção, e todas as amos­
A artrite aguda por PFCD é a causa mais comum de
tras de fluido sinovial devem ser encaminhadas para
artrite monoarticular aguda em idosos. Embora qualquer
cultura e tingimento com Gram.
articulação possa estar envolvida, o joelho é mais comu-
mente afetado, seguido pelo punho, pelo ombro, pelo tor­ • F luido sinovial m anchado de sangue ou turvo.
nozelo e pelo cotovelo. A dor e a inflamação são intensas • Viscosidade dim inuída.
e a pessoa as apresenta rapidamente durante 6 a 24 horas. • C ontagem leucocitária eleva d a , > 50.000/mm , pri­
Como com a gota, o eritema sobrejacente é comum, e o mariamente neutrófilos. Entretanto, as contagens ce­
paciente pode estar febril. Pacientes com deficiência cog­ lulares variam mais do que na gota e pode ser muito
nitiva subclínica podem estar confusos, e a sepse deve ser mais baixas.
afastada em tais casos.
Mais de 90% dos casos afetam uma única articulação, Tratamento
e o envolvimento de mais de algumas articulações é raro. O tratamento da pseudogota aguda é similar ao tratamento
Deve-se considerar outra etiologia para a artrite do pacien­ da gota aguda. Os AENEs são efetivos, mas podem ter to­
te. Trauma articular, a enfermidade grave concomitante, xicidade gástrica e renal. A dosagem é a mesma recomen­
cirurgia, iniciação de terapia de reposição de tireoide ou dada para gota. Outros analgésicos, como o paracetamol e
outras doenças sistêmicas, como a doença de Wilson, he- os opioides, podem ser necessários.
mocromatose e hiperparatireoidismo podem precipitar os A drenagem articular completa por aspiração é terapêu­
episódios. A maioria dos episódios, entretanto, é idiopática. tica e também diagnóstica, podendo resolver o ataque de
Emergências Ortopédicas 53

gota. Nestes casos, o papel dos cristais de hidroxiapatita


é obscuro.
Os AINEs, analgésicos e o encaminhamento a um es­
pecialista em ortopedia ou reumatologia são indicados se
houver suspeita de a artropatia por apatita. A aspiração
articular pode ser terapêutica e também diagnóstica. Um
especialista pode efetuar uma injeção intra-articular de es­
teroide quando a infecção for descartada.

OSTEOARTRITE
A osteoartrite é a forma mais comum de artrite em pacien­
tes mais idosos, causando dor que pode reduzir de forma
significativa a função e a qualidade de vida. A osteoartrite
é uma condição tão comum na meia-idade e em pacientes
idosos, que é quase seguro dizer que é onipresente.

Características patológicas
As características patológicas da osteoartrite incluem
a soma de uma desregulação da renovação tecidual nas
articulações de carga. Ocorrem áreas focais de dano na
cartilagem articular e existe uma atividade aumentada de
osso subcondral. Os osteófitos se formam na margem arti­
Figura 3.7 Condrocalcinose do punho {setas). cular. A cápsula articular toma-se espessa e uma sinovite
circunscrita está presente.

pseudogota. A injeção de esteroide intra-articular pode ser


Fatores de risco
realizada depois da possibilidade de infecção ser afastada.
Quaisquer enfermidades subjacentes que tenham de­ Os fatores de risco para osteoartrite incluem a idade, a
sencadeado o ataque devem ser tratadas. A articulação história familiar, a obesidade, o trauma articular, o forma­
afetada é mobilizada assim que o paciente puder tolerar. to articular anormal, a atividade ocupacional e o gênero.
Foi demonstrado que o gelo alivia os sintomas da artrite A obesidade é um fator de risco importante, em especial
gotosa aguda significativamente melhor que as compres- para a osteoartrite do joelho em mulheres. A perda de peso
sas mornas usadas para as outras formas de artrite. Pelo pode evitar o aparecimento da osteoartrite sintomática, re­
fato de os pacientes serem quase sempre idosos e com tardar a progressão radiográfica e diminuir os sintomas.
osteoartrite preexistente, a imobilidade prolongada pode As variáveis reprodutivas e hormonais predispõem à
levar com rapidez à incapacidade funcional permanente. osteoartrite generalizada em mulheres. Os fatores genéti­
cos também contribuem, já que existe uma ligação fami­
Artropatia por cristais de hidroxiapatita liar forte, particularmente em mulheres. O trauma e o uso
excessivo são outras causas importantes de envolvimento
Em adição aos cristais de urato e de pirofosfato de cálcio, articular, em especial no joelho e nas mãos. O trauma me­
os cristais de hidroxiapatita também provocam artrite agu­ nor repetido pode causar aumento da osteoartrite, com uso
da. Os cristais de hidroxiapatita são encontrados em quase ocupacional excessivo. O uso excessivo recreativo ou a
metade das articulações osteoartríticas, muitas vezes em atividade física habitual não estão associados à osteoartri­
combinação com cristais de PFCD. te sintomática de joelho; contudo, existe um risco aumen­
Embora os cristais de hidroxiapatita sejam achados in­ tado desse distúrbio em atletas de elite.
cidentais na artrocentese, eles, algumas vezes podem pro­
vocar uma reação inflamatória aguda, assemelhando-se a
Apresentação clínica
gota ou pseudogota. Os cristais de apatita podem, também,
causar a erosão rápida da cartilagem articular no contexto A dor é, sem dúvida, o sintoma mais destacado e impor­
da osteoartrite, com dor e perda de função articular. tante da osteoartrite. As articulações mais afetadas in­
Os cristais podem ter a forma de agulha ou coales- cluem a base do polegar, as articulações interfalângica
cerem em aglomerados maiores ou bastões irregulares; distai, joelho, quadril, primeira metatarsofalângica e as
eles podem ser difíceis de identificar na microscopia. Os apofisárias vertebrais. As articulações podem ser afeta­
cristais de apatita são com frequência encontrados com os das de forma isolada ou como parte da osteoartrite gene­
cristais de urato, de PFCD e contexto de gota ou pseudo­ ralizada primária. Os sintomas de osteoartrite incluem as
54 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

exacerbações da dor relacionadas ao uso, a rigidez com a indicar osteoartrite do quadril, mas outras condições coe­
inatividade (“congelamento”) que melhora depois de 30 xistentes devem ser consideradas, como a dor referida da
minutos, a perda de movimentos, a sensação de instabili­ coluna vertebral ou da bursite trocantérica. Nos estágios
dade e os impedimentos funcionais. Por fim, resulta em iniciais, os pacientes podem relatar dor nos extremos do
deformidade articular conforme a doença progride. A gra­ movimento, com a rotação interna sendo quase sempre o
vidade das alterações radiográficas está associada a uma movimento mais precocemente afetado. Os pacientes com
probabilidade de aumento da dor, embora o dano articular doença avançada podem apresentar dor referida no joelho.
grave possa ser assintomático.
Ao exame, o paciente tem pontos dolorosos em tor­ Diagnóstico
no da margem articular e existe edema firme da margem
articular. O paciente tem crepitação durante a mobilidade O diagnóstico é principalmente cbnico, mas é apoiado pe­
e sinais leves de inflamação. Os movimentos são doloro­ los achados nas radiografias (Figs. 3.8 e 3.9). As radiogra­
sos e restritos, com tensão na articulação. A articulação do fias são normais no início da doença, mas o estreitamento
quadril tem mais probabilidade de manifestação dolorosa, do espaço articular se desenvolve conforme o progresso
e a mão possui menor probabilidade. da doença. Noventa por cento dos indivíduos acima dos
40 anos têm as alterações radiográficas características da
Osteoartrite da mão osteoartrite; entretanto, somente 30% têm sintomas. Ou­
tras características radiográficas incluem a esclerose sub-
A primeira articulação carpometacarpal e as articulações
condral, os osteófitos marginais e os cistos subcondrais.
interfalângicas distais e proximais são as articulações mais
Na osteoartrite, os cistos subcondrais estão cercados por
afetadas. Os pacientes têm dor e edema ósseo na base do
uma borda densa de osso que os diferencia das erosões
polegar com nodos de Heberden (pequenos crescimen­
marginais que ocorrem na artrite reumatoide. As caracte­
tos ósseos encontrados nas articulações interfalângicas
rísticas laboratoriais na artrite são inespecíficas e em geral
distais). A perda de função nas mãos pode ser bastante
não são úteis para auxüiar no diagnóstico.
acentuada no princípio, já que as articulações passam por
fases de inflamação, talvez durante meses. A perspectiva
a longo prazo para a função, contudo, é geralmente boa, Tratamento
apesar das deformidades ósseas residuais. O objetivo do tratamento na osteoartrite é aliviar dor e per­
mitir que o paciente seja tão ativo e independente quanto
Osteoartrite do joelho
possível. Os medicamentos usados no manejo da osteoartri­
Os sintomas tendem a surgir de forma gradual e a deterio­ te são os analgésicos simples para aliviar a dor e os AINEs
rar com o tempo. Anormalidades mecânicas, obesidade e para reduzir os sintomas. Os corticosteroides intra-articula-
força muscular deficiente do quadriceps contribuem para a res fornecem alívio local dos sintomas e são usados apenas
progressão e a incapacidade associada. O joelho pode ser na fase avançada da doença por reumatologistas.
afetado em qualquer ou em todos os seus três compartimen­ A terapia com exercícios, a hidroterapia e os dispo­
tos (tibiofemorais mediai e lateral e patelofemoral), mas o sitivos de auxíbo à caminhada são adjuntos usados neste
compartimento mediai é mais frequentemente afetado que o processo patológico. A ghcosamina e a condroitina via
lateral. Dor na bnha articular, sensibilidade dolorosa e per­ oral podem ter algum grau de eficácia. ‘ Por fim, muitos
da de cartilagem articular levam ao estreitamento do espaço pacientes necessitam de cirurgia de substituição articular,
articular e à deformidade gradual em varo. A osteoartrite da principalmente os casos de osteoartrite avançada do qua­
articulação patelofemoral contribui para a crepitação e dor dril e do joelho. As indicações para cirurgia incluem a pre­
retropatelar ao subir e descer degraus e incbnações. Em cer­ sença de significativa dor noturna ou dor em repouso, mas
ca de 15 a 20% dos pacientes com osteoartrite de joelho, devem ser individualizadas.
existem derrames que podem ser de longa data e resultar no
desenvolvimento de cistos sinoviais, em particular na fossa
ARTRITE REUMATOIDE
popbtea (cisto de Baker). A extensão medial, ao longo da
bolsa anserina, também é comum. O cisto de Baker algumas A artrite reumatoide (AR) é uma doença autoimune que afe­
vezes pode romper e imitar uma trombose venosa profunda, ta em tomo de 1% da população do mundo. É caracterizada
com dor, edema e inflamação na panturrilha e na perna. por poliartrite sim étrica e progressiva. Diferentemente da
osteoartrite, a AR com frequência apresenta m anifestações
Osteoartrite do quadril sistêmicas. Embora a causa da AR seja obscura, e seu curso
A osteoartrite do quadril ocorre com mais frequência na em cada paciente possa ser impossível de prever, é progres­
população idosa e tende a ser mais comum em homens. siva e leva extrema dor, sofrimento e incapacidade.
A dor tem como característica apresentar-se na virilha. O A AR tem uma grande variação no surgimento, na
envolvimento pode ser uni ou bilateral. Os sintomas de gravidade e na progressão. A AR pode, na realidade, re­
dor ou sensibilidade dolorosa em torno da região pélvica presentar várias doenças com manifestações similares. É
(i.e., nas nádegas ou no aspecto lateral da coxa) podem duas vezes mais comum em mulheres do que em homens.
Emergências Ortopédicas 55

Figura 3.8 Osteoartrite do joelho com formação de os-


teófitos e redução do espaço articular no compartimento
medial. A. AP. B. O blíqua. C. Lateral.
C
56 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Figura 3.9 Osteoartrite do quadril. ( Fotografia:


contribuição de J. Fitzpatrick , MD, Cook County
Hospital.)

Seu aparecimento habitual é na quarta e quinta décadas da início agudo de artrite durante algumas semanas, ou até al­
vida. A prevalência da AR aumenta com a idade. (Nota: A guns dias. A variabilidade dos sintomas e a progressão na
artrite reumatoide juvenil [ARJ] é uma síndrome distinta, AR tomam o diagnóstico inicial difícil: o aparecimento pode
discutida separadamente.) ser durante semanas ou meses, a duração da enfermidade
Pensa-se que exista predisposição genética para a AR, pode ser por semanas ou décadas, e a gravidade variar desde
com o desenvolvimento da doença sendo ativado por um uma artrite leve até deformidades incapacitantes. Os acha­
fator ambiental incitante, como uma infecção virai. A AR dos clínicos objetivos podem não estar correlacionados com
é caracterizada por um ataque autoimune ao tecido sino- os sintomas do paciente ou com o grau de incapacidade.
vial, levando à acentuada proliferação de sinóvia (até 100 A AR é uma doença autoimune e 70 a 80% dos pa­
vezes). Os tecidos adjacentes são afetados por esta neo- cientes têm o fator reumatoide, um complexo imune, em
plasia sinovial, incluindo a cartilagem, o osso, os ligamen­ circulação sérica. O fator reumatoide não é específico
tos, os tendões e as bolsas. Essa inflamação, combinada para AR e pode ser encontrado em outras doenças. Um
com o estresse físico, destrói a estrutura e a função da novo teste para anticorpos para um peptídeo citrubnado
articulação. Além disso, as manifestações extrassinoviais anticíclico (anti-ccp) divide a mesma sensibilidade que
podem afetar quase qualquer órgão. o fator reumatoide, mas tem melhor especificidade. Em
A compreensão básica da fisiopatologia da AR permite pacientes com positividade do fator reumatoide e do teste
ao médico da emergência suspeitar da doença no paciente anti-ccp, a sensibihdade diagnóstica do laboratório é adi­
sem diagnóstico, e adaptar o tratamento e detectar as com­ cionalmente melhorada.
plicações sistêmicas em todos os pacientes com AR. O diagnóstico da AR ainda tem como base primária
O médico da emergência encontrará dois grupos prin­ os critérios clínicos. O sistema de classificação requer
cipais de pacientes com AR: (1) aqueles que ainda não fo­ a observação do paciente durante um período de tempo
ram diagnosticados como portadores de AR e se apresen­ (pelo menos 6 semanas), de forma que o diagnóstico ini­
tam com artrite poliarticular e (2) aqueles que já tiveram o cial de AR é improvável de ser feito no contexto de cui­
diagnóstico prévio e se apresentam com uma exacerbação dados agudos. A meta no contexto dos cuidados agudos é,
aguda, manifestações sistêmicas da doença ou um proble­ por conseguinte, suspeitar da doença reumatológica, ali­
ma médico sem conexão. viar quaisquer sintomas agudos e encaminhar o paciente
para o profissional apropriado para o definitivo diagnósti­
Artrite reumatoide de aparecimento recente co e manejo a longo prazo. O médico da emergência deve:
O aparecimento da AR com frequência segue-se a uma • D esca rta r um a infecção a rticu la r com envolvimento
enfermidade com pródromos tipo gripe. O aparecimento é mono ou oligoarticular (ver discussão mais adiante).
habitualmente - mas nem sempre - articular, simétrico e • Tentar d iferen cia r a A R de o u tra s p o lia rtro p a tia s ,
gradual. Entretanto, até 20% dos pacientes podem ter um como a osteoartrite e a artrite gonocócica.
Emergências Ortopédicas 57

► TABELA 3.7 Alguns fármacos anti-inflamatórios não esteroides

Nome genérico Nome comercial Dosagem adulta habitual Comentários


Diclofenaco Voltaren 50 mg 2x/dia 100 mg 1x/dia LP disponível
Etodolaco Flancox 200-400 mg 2x-3x/dia 400-600 mg 1x/dia LP disponível
Ibuprofeno Motrin 600-800 mg 3x/dia Genérico disponível
Indometacina Indocid 25-50 mg 3x/dia Genérico disponível
Cetoprofeno Profenid 50-75 mg 3x/dia 200 mg 1x/dia LP disponível
Cetorolaco Toragesic 10 mg V O a cada 4-6h; Não deve ser usado por mais de 5 dias devido à
IM/IV doses variáveis toxicidade renal
Nabumetona Relifex 1.000-2.000 mg 1x-2x/dia
Naproxeno Naprosyn 250-500 mg 2x/dia Variedade de preparações LP e LE disponíveis
Piroxicam Feldene 20 mg V O 1x/dia
Sulindaco C linoril* 150-200 mg 2x/dia
LE, liberação entérica; LP, liberação prolongada.
* 0 Clinoril não é disponível comercialmente no Brasil.

• S o lic ita r exam es la b o ra to ria is b á sic o s , incluindo Corticosteroides. Estes medicamentos podem ser ad­
VSG, hemograma completo (HC), e nível de creati- ministrados de modo sistêmico ou via injeção local. Os
nina. O fator reumatoide e os testes de AAN também corticosteroides sistêmicos (p. ex., metilprednisolona,
podem ser solicitados. 100-1.000 mg/dia por três dias) podem melhorar os sinto­
• A fa sta r um a doen ça extra -a rticu la r grave (ver dis­ mas de uma exacerbação aguda de AR. Entretanto, os cor­
cussão mais adiante). ticosteroides sistêmicos não evitam a destruição articular
• Tratar os sintom as de dor e inflamação (ver discussão e, deste modo, não têm nenhum benefício duradouro em
mais adiante). pacientes com AR. Eles também têm efeitos colaterais gra­
ves em muitos sistemas orgânicos. O uso crônico de cor­
Qualquer paciente com suspeita de AR deve ter um ticosteroides sistêmicos (p. ex., prednisona, 5-7,5 mg/dia)
provedor de cuidados primários, já que muitos destes deve ser limitado à doença grave e constante; e deve ser
pacientes desenvolvem comorbidades sistêmicas, como discutido com um especialista antes de iniciar o tratamento.
doença pulmonar ou renal. O encaminhamento ao espe­ Injeção local de corticosteroide diminui os sintomas
cialista pode ser deixado ao provedor de cuidados primá­ da sinovite inflamatória aguda. A infecção articular deve
rios se o paciente não estiver gravemente enfermo. Os ser descartada antes da administração, em particular se a
estudos sugerem que os pacientes com AR têm menos exacerbação é mono ou oligoarticular.
morbidade quando um reumatologista é envolvido em
seus cuidados. Medicamentos antirreumáticos modificadores da doença
(MARMDs). Diferentemente dos corticosteroides, os
Tratamento MARMDs podem alterar o curso destrutivo da AR. Por
Agentes, com variados efeitos terapêuticos e colaterais, essa razão, e apesar do potencial de toxicidade, esses agen­
são utilizados e devem ser combinados para obter os me­ tes são recomendados precocemente no curso da AR. Os
lhores resultados (Tab. 3.7). Um regime de tratamento MARMDs são caros e requerem várias semanas de uso
deve ser feito sob medida para cada paciente. A terapia para o benefício máximo. Eles são habitualmente combina­
com agentes diferentes de AINEs, e talvez um curso breve dos com AINEs e, às vezes, com corticosteroides. Um terço
de esteroides, somente deve ser feita depois da consultoria dos pacientes toma mais de um MARMD (Tab. 3.8).
com o médico que acompanha o paciente. Os MARMDs têm o potencial de efeitos colaterais
graves, e seu uso requer o acompanhamento atento e a
Medicamenteos anti-inflamatórios não esteroides. Os cuidadosa titulação da dose. Dos agentes mais recentes, a
AENEs são o suporte principal de tratamento para a dor leflunomida é administrada por via oral, enquanto etaner-
e inflamação da AR e devem ser usados, caso não este­ cept, adalimumabe, anakinra e infliximabe são dados por
jam contraindicados. Eles podem afetar de forma adversa infusão intravenosa ou via injeção subcutânea.
a função renal e exacerbar ou causar doença péptica. Há O início do tratamento com MARMD sem consultoria
numerosos agentes disponíveis, com dosagens e custos está além do objetivo dos cuidados agudos. O médico da
variáveis. Infelizmente, a resposta terapêutica do pacien­ emergência deve ter alguma familiaridade com os principais
te para cada fármaco não é previsível, e nem são exatos agentes usados e seus efeitos colaterais, pois os pacientes
os efeitos colaterais que o paciente irá apresentar. Se um podem se apresentar com complicações iatrogênicas.
paciente com AR diagnosticada apresentar-se com dor,
o médico deve indagar se ele já conhece qual é o agente Outras modalidades terapêuticas. Outras modalidades
mais efetivo. terapêuticas para o tratamento de AR incluem:
58 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

► TABELA 3.8 M edicamentos usados no tratamento da A dor, a inflamação e a atrofia por desuso dos músculos
artrite reumatoide levam à deficiência funcional progressiva e à perda da am­
Agente Efeitos colaterais principais plitude de movimentos. Os sinais radiológicos de edema
Hidroxicloroquina Lesões retinianas
de tecidos moles, estreitamento simétrico do espaço arti­
cular e osteopenia dos ossos adjacentes estão presentes.
Sulfassalazina Distúrbios G l, erupção cutânea
A “m ão reu m á tica ” é característica: as articulações
MTX Erupção cutânea, distúrbios G l,
toxicidade pulmonar, hepatite,
interfalângica proximal (IFP), metacarpofalângica (MCF)
imunossupressão, teratogênese e do punho estão inflamadas, enquanto a articulação inter­
Azatioprina Distúrbios G l, dor abdominal, falângica distal (IFD) é poupada.
leucopenia, imunossupressão, O tratamento inicial é com AINEs e modificação
hepatite das atividades. Repouso, imobilização e uso preferencial
Leflunomida Mielossupressão, fibrose das articulações maiores em vez das menores (p. ex., o
hepática, teratogênese transporte de uma bolsa sobre o ombro em lugar de car-
Ciclosporina Insuficiência renal, anemia, regá-la com as mãos) pode retardar a destruição articular.
hipertensão Os MARMDs são adicionados, com consultoria, para a
Inibidores do TNF doença progressiva.
Inflixim abe Infecções
Etanercept Infecções Exacerbação da artrite reumatoide aguda
Adalim um abe Infecções O paciente apresenta aumento agudo da inflamação sino-
Inibidor da interleucina 1 vial, com sintomas sistêmicos e constitucionais variados.
Anakinra Pneumonia, neutropenia O envolvimento articular é simétrico, com seis ou mais
G l, gastrintestinais; MTX, metotrexato;
articulações dolorosas, sensíveis e edemaciadas. A rigidez
TNF, fator de necrose tumoral. matutina piora, durando mais de uma hora. A VSG > 30
mm/h e níveis elevados de proteína C-reativa costumam
38
estar presentes.
• Imobilização articular ou repouso no leito, ou ambos; A meta imediata do tratamento é o alívio da dor e da
esses podem ser úteis em pacientes com exacerbação inflamação aguda, seguidos pelo encaminhamento urgen­
aguda, mas o repouso articular deve ser ponderado te do paciente ao seu clínico primário ou ao reumatolo-
contra os efeitos do descondicionamento. gista. A infecção articular deve sempre ser considerada,
• Fisioterapia. em particular com exacerbações mono ou oligoarticulares
• Cirurgia reconstrutora; é às vezes necessária para cor­ (ver discussão mais adiante).
rigir deformidades, em especial na mão. O repouso pode ser suficiente para alguns pacientes.
Os AINEs são prescritos, a menos que contraindicados. O
Artrite reumatoide preexistente paciente deve ser encaminhado de imediato para um espe­
cialista para tratamento com MARMDs.
As metas no contexto de cuidados agudos incluem tratar a Um bolus de esteroide sistêmico (p. ex., metilpredni-
dor e a inflamação do paciente, limitar a destruição tecidual solona, 100-1.000 mg/dia durante três dias), administrado
e melhorar o funcionamento diário. E sses pacientes estão depois da consulta, ajuda no controle da exacerbação grave e
frequentem ente usando fárm acos imunossupressores, o que generalizada. Alguns pacientes podem necessitar de até um
os predispõe a infecções e podem obscurecer os sinais de mês de terapia diária com esteroide sistêmico em dose bai­
infecção grave. Tanto a AR como os medicamentos usados xa. A injeção de esteroide local nas articulações mais agu­
para o tratamento podem causar complicações sistêmicas. das, depois de uma infecção ter sido descartada, diminui a
inflamação local. O reumatologista ou clínico de cuidados
Doença articular primários do paciente é quem geralmente executa a injeção.
É comum serem observadas a deterioração articular simé­ Finalmente, o médico da emergência deve estar alerta
trica e progressiva, com exacerbações e remissões durante para os sinais de doença sistêmica nova, seja reumática ou
o curso da doença (Tab. 3.9, Figs. 3.10 e 3.11). A função iatrogênica.
toma-se pior depois da imobilidade ou do sono e melho­
ra com as atividades durante o dia. Os pacientes relatam Articulação reumática séptica
rigidez matutina, durando mais de 30 minutos, com uma Os pacientes com AR têm um risco aumentado de infec­
duração mediana de 1,5 horas. ção articular, pelo resultado da inflamação e da imunossu-
Os achados clínicos incluem dor nas articulações afe­ pressão. Além disso, os medicamentos anti-inflamatórios
tadas, tanto em repouso como com movimento, junto com e imunossupressores podem suprimir os sinais clínicos de
edema articular, calor e sensibilidade dolorosa. O eritema infecção e retardar o diagnóstico.
pode estar presente com o aparecimento agudo ou exa­ Não existe teste ou achado definitivo diferente de um
cerbação; se presente, o médico deve considerar infecção. fingimento positivo com Gram ou cultura do fluido sino-
Emergências Ortopédicas 59

► TABELA 3.9 Síndromes específicas na artrite reumatoide

Achados diagnósticos
Região (inflamação sinovial) Frequência Considerações de tratamento
Extremidades superiores
Tendões da mão Flexores: A D M dim inuída, ruptura de Comum Im obilização por 2-3 semanas
tendão, efeito de gatilho, síndrome Medicamentos, im obilização,
do túnel do carpo fisioterapia, cirurgia
Extensores: Massa dorsal na mão, reconstrutora
ruptura de tendão
IFP Edema fusiforme, deformidade em Habitual, precoce Cirurgia reconstrutora às vezes
botoeira, deformidade em pescoço necessária
de cisne, articulação frouxa
IFD Edema Raro, nunca inicial ou
achado isolado
M CF Edema, desvio ulnar, subluxação Habitual, precoce
vo lar (fixa)
Polegar Deformidade de botoeira, luxação Comum, exceto polegar em
da C M C ("polegar em bico de pato"), bico de pato
articulação IF frouxa
Punho Subluxação cárpica, luxação Quase universal, STC
radiocárpica, cistos sinoviais, precoce pode ser a queixa
síndrome do túnel do carpo, fratura inicial
devido à osteoporose
Cotovelo Nódulos subcutâneos, cistos Comum, tardio Mesmo que anterior; a
sinoviais, síndrome do túnel do compressão nervosa no cotovelo
carpo, fratura devido à osteoporose pode requerer descompressão
Ombro Sinovite, bursite, inflamação do Variável, tardio Injeção articular
manguito rotador, dor na articulação
AC, ruptura do bíceps
Extremidades inferiores
Pé Sinovite, erosão óssea, deformidade Comuns (90% ), Im obilizar por 6-8 semanas
em valgo, "dedo em garra" úlceras especialmente na primeira e Cuidados locais com a ferida
ou fístulas cutâneas na M TF quinta MTFs
Tornozelo Tendinite, pode levar à ruptura do Comum, mas não como Medicamentos, repouso
tendão do calcâneo. Pode com prim ir uma articulação exclusiva
o nervo tibial posterior envolvida
Joelho Derrame; destruição de ligamento Articulação individual mais Medicamentos, repouso no
que pode causar instabilidade; comum na doença inicial leito, injeção
deformidade em valgo; formação de Ficar alerta para instabilidade
cisto poplíteo (de Baker) e ruptura ligamentar
(hemorragia em forma de crescente Cisto rompido: Afastar TVP,
abaixo de maléolo com ruptura do ocasionalmente requer
cisto) descompressão
Quadril Sinovite, bursite Menos comum Medicamentos, repouso no
leito, injeção
Coluna vertebral
Cervical Subluxação de C1-C2: Espaço do O envolvimento da coluna Precaução durante manobras de
arco do odontoide-C1 mais de 3 mm é comum em pacientes vias aéreas
(pode causar compressão medular e com doença grave, embora Im obilização e fusão vertebral,
insuficiência vertebrobasilar); discite; a subluxação real seja de se necessário
compressão de raiz nervosa aproximadamente 5% , e
compressão medular ou de
vaso é rara
Torácica Sinovite, estenose vertebral, doença Raro - considerar outros
osteoporótica diagnósticos
ATM Dor com mastigação, abertura Comum
limitada, subluxação posterior

AC, acromioclavicular; CMC, carpometacárpica; STC, síndrome do túnel do carpo; IFD, interfalângica distal; TVP, trombose venosa profunda; IF, interfalângica;
MCF, metacarpofalângica; MTF, metatarsofalângica;IFP, interfalângica proximal; ADM, amplitude de movimento; ATM, articulação temporomandibular.
60 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Figura 3.10 Artrite reumatoide do pu­


nho, do cotovelo e do ombro.

vial para diagnosticar uma articulação séptica no contex­ um curso desnecessário de antibióticos e retardar o início
to de inflamação reumática. Entretanto, diversos achados da terapia anti-inflamatória apropriada.
podem guiar o diagnóstico e as decisões de tratamento do
profissional. Cisto poplíteo (de Baker)
A infecção articular é, habitualmente, m onoarticular. Os cistos poplíteos são comuns devido a proliferação sino­
O diagnóstico é muito mais difícil se a infecção for poliar- vial que caracteriza a AR. Um cisto pode romper-se de forma
ticular. A infecção é indicada por dor maior que a exacer­ espontânea ou como resultado da atividade física, causando
bação habitual do paciente, pela febre e pela toxicidade dor na panturrilha e edema agudo. A tarefa mais difícil do
sistêmica. A infecção poliarticular é, em geral, assim étri­ médico da emergência é afastar uma trombose venosa pro­
ca, em função da disseminação hematogênica. funda aguda (TVP). A heparinização após um diagnóstico
O diagnóstico necessita de aspiração articular para equivocado de TVP pode levar à hemorragia continuada na
cultura, tingimento com Gram e contagem celular. O mé­ panturrilha, com síndrome compartimentai subsequente.
dico deve garantir que uma amostra de fluido sinovial seja A ultrassonografia é o teste menos invasivo e ampla­
obtida para cultura antes de começar a terapia com anti­ mente disponível. A venografia ou uma artrografia contras­
bióticos. tada em geral não são necessárias. Deve-se notar que uma
O tratamento empírico com antibióticos deve ser ini­ hemorragia em forma de crescente abaixo de um dos ma-
ciado se a suspeita clínica for grande, ou se o aspirado léolos é característica de um cisto rompido e não de TVP.
demonstrar tingimento gram-positivo; se a contagem de Repouso, elevação e analgesia são, habitualmente, o
leucócitos > 50.000 mm3 (incomum na AR, mas possí­ que é necessário. A injeção de corticosteroide intra-articu-
vel); ou os PMNs > 90%. O sangue e outras amostras, lar (depois da consulta) ajuda a aliviar os sintomas antes e
como a urina, devem ser encaminhados para cultura a fim depois da ruptura. A síndrome compartimentai real é rara,
de aumentar a abrangência de qualquer organismo infec- mas deve ser imediatamente tratada para evitar a incapaci­
tante e a procura por um local de infecção inicial. dade permanente. O edema residual da panturrilha perma­
O tratamento de rotina é um antibiótico antiestafilo- nece várias semanas, mas pode persistir por até três anos.
cócico parenteral, como a cefazolina, administrado junto
com um aminoglicosídeo, como a gentamicina, a menos Subluxação atlantoaxial
que o contrário seja indicado pelo tingimento com Gram Embora a artrite vertebral seja comum na AR, a subluxa­
ou pela cultura. A drenagem seriada é feita, e os exercícios ção real de C1-C2 é rara, com incidência global de cerca
de amplitude de movimento precoces são iniciados para de 5% na AR. A incidência aumenta com a gravidade cres­
preservar a função. cente da doença global do paciente. O comprometimento
Se o diagnóstico estiver obscuro, e a suspeita clínica real da medula ou vascular é raro, mas ocorre e pode ser
não for alta, o paciente deve ser encaminhado com urgên­ iatrogênico, resultando de manipulação, como a intubação.
cia a um especialista. O tratamento empírico sem a inves­ Os sintomas e sinais da compressão medular incluem
tigação diagnóstica apropriada pode submeter o paciente a dor intensa no pescoço, irradiando-se para o occipital;
Emergências Ortopédicas 61

Figura 3.11 Artrite reumatoide da mão. (Fotografia: contribuição de J. Fitzpatrick, MD , Coo/c County Fiospital.)

fraqueza da extremidade, que pode ser a superior ou a Doença sistêmica


inferior, ou ambas (frequentemente difícil de avaliar de­ A AR pode afetar quase qualquer órgão. A doença sistêmi­
vido à artrite grave e por estar há muito tempo existente ca é comum e potencialmente fatal. As complicações sis­
no paciente); dormência ou formigamento nos dedos ou têmicas são causadas pelo processo patológico reumático
pés; perda da sensibilidade vibratória, com preservação da primário, por um medicamento ou por uma combinação de
propriocepção; “pernas saltantes”, ocasionado por desini- ambos. Os sinais de doença sistêmica grave podem passar
bição do reflexo vertebral; disfunção vesical. Os pacientes despercebidos, particularmente no paciente no qual o diag­
podem também ter insuficiência da artéria vertebral, in­ nóstico de AR ainda não tenha sido feito. Os órgãos mais
cluindo síncope ou vertigem. afetados incluem os pulmões, o coração, o fígado e o baço.
Um intervalo atlanto-odontoide > 2,5 mm em adultos O envolvimento de vasos sanguíneos também é comum.
e > 5 mm em crianças é diagnóstico. Uma tomografia
computadorizada (TC) ou RMN de emergência deve ser A doença pulmonar leve e assinto-
D o en ça p u lm o n a r.
solicitada se houver suspeita de compressão medular. mática é comum na AR. Os pacientes podem apresentar
Um colar cervical rígido é aplicado, e o paciente é nódulos pulmonares, derrame pleural ou fibrose. Eles
encaminhado para tração e fusão se houver sinais de com­ algumas vezes se apresentam com sintomas restritivos,
prometimento neurológico ou vascular. O médico deve como os da doença pulmonar obstrutiva crônica. A bron-
evitar manobras agressivas de vias aéreas em pacientes quiolite obliterante aguda é incomum, mas pode ser fa­
com sinais de AR, ou uma história de AR, sempre que tal; não está claro se é causada pela AR em si, ou pelos
possível. medicamentos (MARMDs) usados para tratar a AR.
62 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

D o en ça cardíaca. A pericardite é o distúrbio cardíaco crônica, as úlceras na perna e os infartos no leito ungueal
mais comum. Na maioria dos casos, a inflamação as sin­ são comuns. A neuropatia sensitiva distai também pode
tomática crônica somente é detectada na autópsia, mas a ser observada. A vasculite sistêmica aguda é rara e ocorre
inflamação pode ser aguda e constritiva. Algumas vezes em pacientes com doença existente de longa data.
ocorrem a miocardite e a endocardite reumáticas. Com a
endocardite, o médico deve eliminar a endocardite bacte- ARTRITE REUMATOIDE JUVENIL
riana; esses pacientes são predispostos à bacteremia como
resultado das feridas abertas e da imunossupressão. A artrite reumatoide juvenil (ARJ) (doença de Still) de-
senvolve-se em qualquer idade, tendo como caracterís­
D o en ça h e p á tic a . A hepatite é com frequência sub- tica a inflamação sinovial crônica sem causa conhecida.
clínica, mas pode ser evidente. As anormalidades do fí­ Nenhum teste laboratorial é diagnóstico dessa condição,
gado ocorrem como resultado dos efeitos colaterais dos embora o fator reumatoide e umAAN positivos sejam co-
medicamentos. mumente vistos. Em tomo de 20% das crianças com essa
condição têm início sistêmico. As manifestações clínicas
Baço. A doença de Felty é definida como a AR que incluem picos febris, empção cutânea rosa-salmão, linfa-
ocorre em associação com baço aumentado e leucopenia. denopatia generalizada e baço grande. Os pacientes com
Ela ocorre em pacientes com AR de longa evolução, in­ frequência apresentam fadiga, perda de peso e anemia.
cluindo nódulos reumatoides e acentuada deformidade Em 50% dos pacientes, a temperatura eleva-se acima de
articular. Os pacientes estão sujeitos à neutropenia e a 40 °C e existe envolvimento poliarticular. A erupção cutâ­
infecções bacterianas graves, como também à tromboci- nea rosa evanescente branqueia com a compressão e pode
topenia. Qualquer paciente com suspeita de ter a doença ser pruriginosa e, deste modo, ser confundida com uma
de Felty requer consulta de emergência, hospitalização e reação de sensibilidade a medicamentos. A poliartrite vis­
tratamento agressivo de quaisquer suspeitas de infecções ta inicialmente é uma artrite migratória que algumas vezes
bacterianas. O tratamento da AR pode melhorar as ma­ se toma uma artrite persistente (Fig. 3.12).
nifestações da doença de Felty, mas a plasmaférese ou a Um aparecimento poliarticular de ARJ sem mani­
esplenectomia podem ser necessárias. festações sistêmicas ocorre em 40% dos pacientes, e esta
variedade não é chamada de doença de Still. Mal-estar e
D o en ça vascular. A inflamação de pequenos vasos faz perda de peso, assim como febre baixa, estão muitas ve­
parte da fisiopatologia da AR. A vasculite clinicamente zes presente. Essa forma pode começar em qualquer idade
diagnosticável pode ser crônica ou aguda. Com a vasculite durante a infância.

Figura 3.12 Artrite reumatoide juvenil do pu­


nho. ( Fotografia: contribuição de }. Fitzpatrick ,
MD, Cook County Hospital.)
Emergências Ortopédicas 63

► TABELA 3.10 Deformidades articulares associadas com o LES

Articulações afetadas* Deformidades Comentários


Dedos Subluxações, deformidade em pescoço de Subluxação inicialm ente redutível, mais tarde fixa;
cisne, contraturas habitualmente desvio ulnar
Polegar Hiperextensão da articulação Visto em 30% dos pacientes
interfalângica (polegar do caroneiro)
Cotovelo Contraturas em flexão
Quadris Necrose avascular (osteonecrose) Pode ser devido ao uso de esteroides em longo prazo; em
aproximadamente 10% dos pacientes
Joelhos Frouxidão do tendão patelar
Pés Gangrena dos dedos do pé (vasculite),
deformidades artríticas

*Artrite não erosiva e sinovite.

Em outros 40% das crianças, o aparecimento dessa dos em momentos diversos durante o curso da doença. O
condição tem como característica uma artrite assimé­ aparecimento precoce está associado à doença mais grave
trica que afeta predominantemente as articulações das do que o aparecimento tardio.
extremidades inferiores. Alguns pacientes apresentam As artralgias e a artrite em geral estão presentes no
inflamação da íris e do corpo ciliar do olho chamada de aparecimento do LES em 75 e 50% dos pacientes, res­
irid o ciclite. pectivamente. No decorrer da doença, mais de 90% dos
Tal como na AR do adulto, o tratamento da ARJ teve pacientes sofrem envolvimento musculoesquelético. A si­
muitos avanços. O metotrexato, as injeções de corti- novite simétrica que afeta as mãos, os punhos e os joelhos
costeroide intra-articular e o modificador biológico eta- é típica e pode ser difícil de se diferenciar chnicamente da
nercept estão sendo usados para tratar ARJ. A Tabela 3.8 AR. A destruição óssea não está habitualmente presente
delineia os efeitos colaterais desses agentes. Os salicilatos no LES, diferenciando-se, assim, da AR. A combinação
são iniciados em doses que começam em aproximada­ de inflamação sinovial e uso de crônico de corticosteroi-
mente 80 a 90 mg/kg/dia. Outros AINEs também têm sido des resulta em dano de tendões e bgamentos e em artrite.
usados com sucesso. Os pacientes devem ser encaminha­ Outras estruturas musculoesqueléticas são também afeta­
dos a um reumatologista ainda na fase precoce do curso das. As deformidades musculoesqueléticas típicas estão
da doença. resumidas nas Tabelas 3.10 e 3.11.
Embora o envolvimento musculoesquelético no LES
seja geralmente simétrico, nem sempre é assim. Entretan­
LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO
to, se apenas uma articulação estiver envolvida, ou se esti­
Embora o lúpus eritematoso sistêmico (LES) não seja ver muito mais agudamente inflamada que as outras, uma
considerado um distúrbio articular, a artrite inflamatória infecção intra-articular deve ser afastada.
ocorre na maioria dos pacientes. O LES é, como a AR, O LES pode afetar qualquer órgão no corpo. Embora
um distúrbio autoimune que tem expressão variável em a discussão completa esteja além do objetivo deste capí­
cada paciente. O LES também pode ser desencadeado por tulo, o profissional deve estar alerta para os sinais de en­
medicamentos, como a procainamida. fermidade sistêmica em qualquer paciente que apresentar
artrite inflamatória (Tab. 3.12).
Várias anormahdades laboratoriais podem ocorrer
Apresentação clínica
nos pacientes com LES, incluindo autoanticorpos, mas
O LES segue um curso de remissões e recaídas, afeta múl­ a maioria dos testes não está disponível na emergência,
tiplos sistemas orgânicos, com sistemas diferentes atingi­ e nenhum anticorpo único é completamente sensível ou

► TABELA 3.11 Outros achados m usculoesqueléticos associados com o LES


Tecidos associados Deformidades Comentários

M úsculos Miosite, mialgias, atrofia (pode incluir A miosite ocorre em aproximadamente 5-10% dos pacientes
diafragma) com LES
Tendões Tenossinovite, ruptura Com frequência vista precocemente na doença; a ruptura pode
ser devido ao LES ou pelo uso de esteroides
Pele Nódulos reumatoides, outras Ocorre em aproximadamente 10% dos pacientes com LES
manifestações (ver discussão no texto)
64 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

► TABELA 3.12 Manifestações extra-articulares comuns do LES

Incidência na
Sistema ou órgão afetado Patologia apresentação* Prevalência cumulativat
Constitucional Febre, mal-estar 73% 73-90%
Pele, pelos, mucosa Erupções: fotossensibilidade malar, discoide 57% 6 6-8 1 %
Alopecia (difusa) — 50-70%
Úlceras em mucosas 7-18% 7-54%
Serosa Pleurisia 23% 37-64%
Pericardite 20% 20-64%
Rim Glomerulonefrite 33-44% 33-77%
Azotemia 3% 8%
Sistema nervoso SN C (alteração cognitiva, A V C , psicose, 24% 25-66%
convulsões, etc.), neuropatia periférica
Cardiovascular Trombose venosa 2% 5-26%
Vasculite (incluindo infartos digitais) 10% 21-37%
M iocardite 1% 4-8%

Pulmonar Pneumonite, hemorragia, "pulmão 9% 17-65%


encolhido" (atrofia diafragmática)
Hematológico Anem ia 5% 40-58%
Leucopenia — 17-49%
Trombocitopenia — 25%

AVC, acidente vascular cerebral; SNC, sistema nervoso central; LES, lúpus eritematoso sistêmico.
*A incidência na apresentação refere-se à porcentagem de pacientes que manifestam a patologia no momento do diagnóstico inicial.
+A prevalência cumulativa refere-se à porcentagem de pacientes com LES que manifestam a patologia em algum momento durante o curso de sua doença.

específico para o LES. Um HC e as provas de função re­ Hepatite


nal devem ser verificados em um paciente agudamente
Na infecção p elo vírus da hepatite B, durante a fase pro-
doente. A VSG costuma estar elevada, mas infelizmente
drômica de uma a três semanas, a poliartrite pode ser
não se correlaciona com a atividade da doença clínica. O
acompanhada de febre moderada e, às vezes, por erupção
fator reumatoide sérico IgM está presente em até metade
dos pacientes com LES. cutânea urticariforme ou maculopapular. Habitualmente,
as articulações pequenas são afetadas de forma simétrica
com artralgias ou artrite. Os níveis de aminotransferase
Tratamento estão elevados nesse estágio, e o antígeno de superfície
Os corticosteroides sistêmicos são o suporte principal do da hepatite B é detectável. O vírus da hepatite C também
tratamento para LES. São usados tanto regimes de baixa pode induzir sintomas reumatológicos. Em um estudo, as
dose (< 0,5 mg/kg/dia) como de alta dose (1 mg/kg/dia) artralgias foram encontradas em 9% dos pacientes, en­
de prednisona, dependendo da manifestação do lúpus que quanto a artrite foi encontrada em 4%.
está sendo tratada. Diferentemente do tratamento da AR, O tratamento permanece controverso. Os corticoste­
o uso crônico de corticosteroide é muitas vezes necessário roides e os AINEs são evitados devido ao seu potencial
para o LES. Os autores preferem a terapia em dias alterna­ para piorar a infecção ou causar hepatotoxicidade. Em
dos, já que acarreta menos efeitos colaterais. Como com alguns casos de artrite persistente, é útil tratar a infecção
a AR, os antimaláricos e fármacos imunossupressores com vírus da hepatite B e C com interferon-a.
também são usados. O médico deve lembrar-se que todos
esses agentes são imunossupressores, e que os pacientes Vírus da imunodeficiência humana
são, por conseguinte, mais suscetíveis a infecções graves.
Além disso, os medicamentos imunossupressores podem Vários padrões de artropatia têm sido descritos em pacien­
mascarar os sinais de infecção. tes infectados com HIV, incluindo episódios breves de
artralgia intensa, oligoartrite episódica aguda e poliartrite
simétrica persistente. A artrite pode ser uma característica
ARTRITE VIRAL
inicial da Aids. A artrite associada com Aids infrequen­
A artrite é uma sequela de várias infecções virais co­ temente se apresenta com febre, mas o quadro pode ser
muns. A seguir apresentamos uma discussão sobre a ar­ confundido com uma infecção coincidente. Tanto uma
trite secundária à hepatite virai, ao HIV, à rubéola e ao síndrome do tipo Reiter como uma síndrome tipo Sjõgren
parvo vírus. ocorrem com maior frequência nessa doença.
Emergências Ortopédicas 65

A maioria dos pacientes com HIV que exibem quei­ to Ixo d es: A doença de Lyme é endêmica nos estados do
xas reumáticas estão gravemente enfermos como conse­ Atlântico Norte, no Meio Oeste setentrional e no Noroeste
quência de outras características clínicas do HIV. Esses do Pacífico. A artrite de Lyme é diferenciada das outras for­
pacientes podem não tolerar muitos dos medicamentos mas de artrite devido ao envolvimento articular característi­
convencionais usados para artrite. Em geral, a maioria dos co e a correlação quase universal com uma resposta imune.
pacientes exibe um distúrbio reumático leve a grave que
é autolimitado e apresenta boa resposta à combinação de Apresentação clínica
analgésicos e AINEs.
A progressão clínica da doença de Lyme é descrita em três
estágios. A disseminação da B. burgdorferi, o agente cau­
Rubéola
sador, é acompanhada de febre e artralgia migratória, com
Há relatos de que as artralgias e a artrite ocorrem em até pouco ou nenhum edema articular, mas uma artrite franca
50% das mulheres infectadas em comparação com até 6% aparece semanas ou meses mais tarde. A artrite costuma
dos homens com essa doença. Essa é uma apresentação ser episódica, afetando primariamente as articulações
incomum em crianças com rubéola. A vacina da rubéola grandes, mas também algumas articulações pequenas.
pode causar sintomas em 15% ou mais dos que a recebem.
Os sintomas articulares em geral começam dentro de uma Estágio 1 (Infecção inicial)
semana da erupção cutânea na infecção natural ou dentro O primeiro sinal de infecção ocorre dentro de 3 a 30 dias
de 10 a 28 dias depois da imunização. Os dedos, os pu­ após a picada do carrapato. É caracterizado pelo eritema
nhos, os cotovelos, os quadris e os joelhos, assim como crônico migratório. Essa erupção cutânea ocorre em 60 a
as articulações dos dedos dos pés, são mais afetadas, ha­ 80% dos pacientes e costuma desaparecer dentro de três a
bitualmente de forma assimétrica. O aparecimento súbito quatro semanas, não importando o tratamento, embora as
dos sintomas é característico. A artralgia e a rigidez articu­ lesões possam recair. Outros sinais e sintomas incluem
lar, como também a artrite, podem estar acompanhadas por fadiga, mal-estar, febre, artralgias, cefaleia, dor de gargan­
tenossinovite e até pela síndrome do túnel do carpo. Em ta e linfadenopatia.
geral, tanto a artrite natural como a induzida por vacina
se resolvem sem sequelas em até 30 dias; contudo, alguns Estágio 2 (Infecção disseminada)
pacientes relatam artralgias e episódios recorrentes de ar­
Este estágio da infecção começa semanas ou meses mais
trite por até dois anos e, às vezes, até mais. Não há achados
tarde, é associado com anormalidades cardíacas, neuroló­
laboratoriais anormais na análise do fluido sinovial.
gicas, de pele e musculoesqueléticas. Os sintomas predo­
minantes no estágio 2 são a fadiga debilitante e o mal-es­
Parvovírus tar. Os sintomas flutuantes de meningite acompanhada de
O parvovírus B19 é mais comumente associado com o paralisia facial e radiculopatia periférica são o padrão ha­
eritema infeccioso (quinta doença) em crianças ou na ane­ bitual. Neste estágio, a dor musculoesquelética é comum
mia aplásica. A artropatia ocorre em até 5% das crianças e migratória em articulações, bolsas, tendões, músculos e
infectadas com parvovírus B19; contudo, abaixo de 50% ossos. A dor ocorre sem edema articular e dura horas ou
dos pacientes têm edema articular evidente. dias em uma localização específica. As lesões secundárias
Em adultos, pode ocorrer uma poliartrite tipo reumatoi- de pele, assemelhando-se ao eritema crônico migratório,
de persistente. A artropatia é mais comum em adultos do que ocorrem em aproximadamente 50% dos pacientes.
crianças, ocorrendo em 60% dos pacientes. É caracterizada Durante o estágio 2, cerca de 70% dos pacientes de­
por poliartropatia simétrica com dor, edema e rigidez ma­ senvolvem ataques breves de artrite assimétrica mono ou
tutina nas articulações afetadas. As articulações dos dedos, oligoarticular, primariamente nas grandes articulações.4Í
os punhos e os joelhos são as áreas mais afetadas. Embora a A articulação do joelho é afetada em 80% desses pacien­
duração mediana dos sintomas articulares seja de 10 dias, a tes. Os episódios ocorrem dentro de 2 semanas a 2 anos
dor e a rigidez podem persistir por mais tempo e até recorrer. (média, 6 meses) depois do início da doença, e seguem-se
Um paciente com artrite por parvovírus agudo exibe episódios intermitentes de artralgia ou de dor musculo­
níveis significativos de anticorpos IgM e IgG para parvoví­ esquelética migratória. Foram relatados casos envolvendo
rus B 19. Foi relatado que o tratamento com preparações de as estruturas periarticulares, incluindo a êntese periférica
imunoglobulina é bem-sucedido em pacientes com apla- (i.e., a inserção dos tendões nos ossos).
sia de células vermelhas induzida pelo parvovírus B19. Os
AENEs têm sido usados para tratar mialgias e artralgias. Estágio 3 (Infecção tardia)
Este estágio ocorre em aproximadamente 60% dos pa­
DOENÇA DE LYME cientes não tratados. Dos pacientes que alcançam este es­
tágio, somente 10% sofrerão com artrite.48 Em pacientes
A doença de Lyme é causada pela espiroqueta Borrelia que têm artrite, a duração dos ataques aumenta com os
burgdorferi (B. burgdorferi) e é transmitida pelo carrapa­ meses, mas os episódios individuais podem estar sepa-
66 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

► TABELA 3.13 Antibióticos para a doença de Lyme em doença inativa tratados com êxito. O método de W estern
adultos blot deve ser usado para confirmar a presença de anticor­
Doença inicial (Estágio 1) pos contra B. burgdorferi.
Tetraciclina 250 mg V O 4x/dia x 10 dias*
D o xiciclina 100 mg V O 2x/dia x 10 dias* Tratamento
A m oxicilina 500 mg V O 4x/dia x 10 dias*
A Tabela 3.13 delineia as várias terapias antibióticas dis­
Doença tardia (Estágio 3)
poníveis. O tratamento rápido da doença em seus estágios
Penicilina G 20 milhões U IV 4x/dia x 14
dias*
iniciais é bem-sucedido para aliviar o processo de artrite
49
em 90% dos pacientes. Infelizmente, embora esses agen­
Ceftriaxona 2 g/dia x 14 dias*
50 mg/kg/dia V O (não > 2 g/dia) tes curem a infecção subjacente, a artrite de Lyme não res­
x 10 dias* ponde aos antibióticos.
*Até 30 dias se os sintomas persistirem ou recorrerem.
ESPONDILOARTROPATIA SORONEGATIVA
As espondiloartropatias soronegativas (ESNs) são um
rados por remissões de meses ou até de anos. As lesões
grupo de distúrbios relacionados que levam à inflamação
sinoviais podem mostrar hipertrofia vilosa e infiltrado
e fusão da articulação SI e, em alguns casos, das articula­
mononuclear. A artrite crônica leva à perda de cartilagem,
ções periféricas. O termo soronegativo refere-se à falta
esclerose subcondral, ossificação de tecidos moles periar-
ticulares, erosão óssea, osteopenia, formação de osteófitos do fator reumatoide IgM no soro do paciente. A maioria
e até incapacidade articular permanente. Neste estágio, as dos pacientes com ESN possui o antígeno HLA-B27, e os
espiroquetas são encontradas no fluido articular, no teci­ homens são em geral afetados com mais frequência e de
do sinovial e nos vasos sanguíneos, imitando a endarterite modo mais grave do que as mulheres.
obliterante. Esse grupo de distúrbios é, como a AR, caracterizado
pela rigidez matutina, devido à natureza inflamatória da
doença. Diferentemente da AR, esses distúrbios carecem
Diagnóstico
do fator reumatoide sérico e dos nódulos reumatoides e
O diagnóstico pode ser difícil nos estágios iniciais e dis­ tendem a afetar de forma predominante o esqueleto axial
seminados antes da soroconversão, a menos que seja iden­ em vez das articulações pequenas das extremidades dis­
tificada a lesão característica do eritema migratório. A tais. Essas doenças estão comparadas na Tabela 3.14.
maioria dos pacientes (80%) sofre envolvimento articular Embora cada enfermidade tenha suas próprias ca­
de algum tipo, em geral depois da lesão cutânea do erite­ racterísticas, existe significativa sobreposição entre elas.
ma migratório. O diagnóstico tem como base no quadro Como na AR, os pacientes se apresentam no setor de
clínico, incluindo a exposição a uma área com doença en­ emergência com uma exacerbação da doença previa­
dêmica e uma rápida resposta à terapia com antibióticos. mente diagnosticada ou com doença nova ou não diag­
Os anticorpos IgG estão quase sempre presentes quando nosticada. Com a exceção da síndrome de Reiter, os
a sinovite é uma característica proeminente da infecção pacientes com ESN de hábitos têm uma apresentação
de Lyme tardia e frequentemente persistem nos casos da subaguda. Desde que o médico da emergência suspeite

► TABELA 3.14 Com paração das espondiloartropatias soronegativas


Espondilite Artrite reativa Espondiloartropatia
anquilosante (síndrome de Reiter) êntero-hepática (DM) Artropatia psoriática
Idade de aparecimento 20-40 (média: 25) 20 anos e acima Adulto Q ualquer idade
Início Gradual Agudo Habitualmente gradual Variável
Sacroileíte/espondilite Simétrica (quase Assimétrica (comum) Simétrico (< 20% ) Assimétrica (20%)
todas)
Articulações periféricas Membro inferior, Membro inferior Extremidade inferior > Extremidade superior
quadril (~ 25% ) (90%) superior (< 20% ) > inferior (> 90% )
Insuficiência aórtica cardíaca <5% 5-10% Rara Rara
O lho (conjuntivite, uveíte) Uveíte primária Conjuntivite > uveíte Uveíte (< 20% ) Conjuntivite
(25%) (50%)
Envolvimento da pele ou das unhas Nenhum Comum (< 40% ) Incomum Quase todos (~ 100%)
HLA-B27 90% 75-90% 50% com Sl/coluna 50% com Sl/coluna
(5% sem) (20% sem)

D ll, doença intestinal inflamatória; SI, sacroilfaco.


Emergências Ortopédicas 67

do diagnóstico de ESN e encaminhe o paciente para o O exame físico inicialmente pode ser normal. Com
acompanhamento oportuno, um diagnóstico definido de a progressão da doença, a lordose lombar normal é per­
uma ESN específica não precisa ser feito no setor de dida, e uma cifose acentuada da coluna pode se desen­
emergência. volver. Na doença avançada, o paciente apresenta defor­
midade em flexão grave da coluna lombar, com flexão
Espondilite anquilosante compensatória (e algumas vezes primária) dos quadris e
dos joelhos.
A espondilite anquilosante é caracterizada pela inflama­ Os estudos laboratoriais são inespecíficos. A VSG
ção das articulações SI e intervertebrais. A inflamação nos está elevada em até 75% dos pacientes com espondilite
locais de inserção ligamentar (entesopatia) leva à calcifi­ anquilosante, mas isso não se correlaciona com a ativi­
cação e à perda do movimento das articulações. dade da doença. O marcador HLA-B27 costuma estar
presente, mas não é prontamente testado no contexto de
Apresentação clínica cuidados agudos.
A presença de espondilite anquilosante é sugerida pelo O envolvimento sistêmico é menos comum e menos
aparecimento gradual de desconforto nas costas (incômo­ grave do que na AR. A irite aguda requer o encaminha­
do e difícil de localizar), aparecimento antes dos 40 anos, mento oftalmológico para possível tratamento com cor-
persistência do desconforto por três meses ou mais e rigi­ ticosteroide. Os pacientes com doença grave podem de­
dez matutina que melhora com o exercício. Se não hou­ senvolver doença pulmonar restritiva devido a sua postura
ver evidência de síndrome de Reiter, psoríase ou doença inclinada, e, algumas vezes, são vistas fibrose pulmonar
intestinal inflamatória (ver discussão mais adiante), a e cavitação com colonização por A sp erg illu s. Menos de
espondilite anquilosante é o provável diagnóstico. As ra­ 10% dos pacientes com espondüite anquilosante grave de­
diografias das articulações SI devem mostrar pelo menos senvolvem doença cardíaca (i.e., incompetência aórtica e
alguma evidência de sacroileíte. Os filmes vertebrais mos­ defeitos de condução).
tram sindesmófitos progressivos e cifose. O diagnóstico de espondilite anquilosante tem como
Os sintomas da doença inflamatória nas costas são base primária a história, com características típicas de
particularmente característicos da espondilite anqui­ doença inflamatória das costas e outras manifestações,
losante. Alguns pacientes continuam a ter somente dor conforme já descrito. Os critérios padronizados para o
lombar relacionada à sacroileíte, enquanto outros sen­ diagnóstico de espondilite anquilosante incluem a pre­
tem dor lombar progressiva mais difusa e limitação do sença de sacroileíte. As alterações radiográficas variam
movimento, como resultado do envolvimento da coluna desde a vaga perda da definição da borda da articulação
lombar, dorsal e cervical. Alguns casos progridem para SI com alguma esclerose até uma esclerose mais defini­
o desenvolvimento da clássica e rígida coluna em “bam­ da, margens indistintas, erosões e subsequente fusão. As
bu”. Os pacientes podem, entretanto, apresentar envolvi­ técnicas adicionais, como cintilografia óssea com radio-
mento em um grau menor da coluna dorsal e da inserção fármacos, TC e RMN são úteis para elucidar um quadro
muscular costoesternal e costovertebral, causando dor incerto.
maldefinida na coluna dorsal e dor torácica tipo pleurí-
tica. O envolvimento articular periférico com frequência Tratamento
acompanha a doença das costas, com os quadris e os om­ O tratamento mais efetivo para a espondilite anquilosan­
bros sendo mais afetados. Outras articulações atingidas te é a fisioterapia, que tenta prevenir a cifose vertebral
incluem o punho, a MCF e a MTF. O envolvimento tí­ progressiva e incapacitante que caracteriza a doença. Os
pico é em padrão assimétrico, mas, em alguns pacien­ medicamentos analgésicos e anti-inflamatórios são usa­
tes, a poliartrite é simétrica, tornando-a clinicamente in­ dos para permitir que o paciente participe ativamente na
distinguível da AR. Os pacientes podem apresentar um fisioterapia. Os AINEs, incluindo indometacina e napro-
episódio único de artrite periférica ou ter exacerbações xeno, são efetivos para diminuir a rigidez matutina e au­
recorrentes. mentar a atividade física. Os AINEs sem fisioterapia são
Outras manifestações de espondilite anquilosante in­ de pouco benefício, e qualquer paciente visto no setor de
cluem fadiga, perda de peso e irite em até 25% dos pa­ emergência que estiver usando AINEs isoladamente deve
cientes. A irite aguda é mais comum em indivíduos HLA- ser informado desse fato e encaminhado ao profissional
-B27 positivos do que em HLA-B27 negativos. A fibrose apropriado. Desde o advento da terapia com fator de ne­
pulmonar, em especial do lobo superior, está associada crose antitumoral, o tratamento dessa condição melhorou
com tosse, dispneia e produção de escarro. A insuficiência substancialmente.
aórtica causada pela fibrose que envolve o anel e a val­ Os pacientes com espondilite anquilosante também
va aórtica tem sido reconhecida por muitos anos. As es- devem ser alertados sobre as potenciais compbcações sis­
pondiloartropatias HLA-B27 positivas estão associadas a têmicas, em especial a uveíte, de forma que possam reco­
bradiarritmias graves, e os portadores podem apresentar nhecer e buscar tratamento antes que a doença resulte em
bloqueio cardíaco completo sintomático. incapacidade permanente.
68 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Artrite reativa valva aórtica) e neurológico (central ou periférico), mas é


incomum.
A artrite reativa é desencadeada por uma infecção em um
local distante. Pode ocorrer em um paciente, antes sau­
Diagnóstico
dável, após um episódio de enterite infecciosa, cervicite,
uretrite ou, menos comumente, pneumonia ou bronquite. A análise do fluido sinovial mostra contagens celulares
A artrite ocorre várias semanas depois da infecção inicial, inflamatórias, com leucócitos de 500 a 75.000/mm3, prin­
e o organismo infectante não está presente nas articula­ cipalmente neutrófilos. A testagem de HLA é útil para fa­
ções no momento que a artrite se desenvolve. Consequen­ zer o diagnóstico definitivo, mas não está disponível em
temente, a artrite é reativa em vez de infecciosa (p. ex., uma base emergencial. As radiografias mostram erosão
gonorreia disseminada). óssea nos locais de inserção de tendões e fáscias. A sa­
A descrição original da artrite reativa ligava tal condição croileíte radiológica tende a ser assimétrica, mas pode ser
inteiramente à síndrome de Reiter, com a presença de artrite, indistinguível das lesões da espondilite anquilosante.
uretrite e conjuntivite. Agora foi percebido que a síndrome
de Reiter é somente uma das causas de artrite reativa. Tratamento
O mecanismo da artrite reativa permanece obscuro. Os antibióticos têm pouco impacto sobre o processo da
Os organismos que podem causar artrite reativa incluem doença estabelecida, e isso sugere que ela seja desenca­
C hlam ydia trachom atis, Streptococcus pneum oniae, Sal- deada por uma resposta inflamatória autoperpetuada.
m onella, Shigella, C am pylobacter e Yersinia enterocoliti- A artrite é tratada com AINEs. Os esteroides são usados
ca. O HIV também tem sido implicado. A associação do nessa condição quando houver resposta pobre aos AINEs.
gonococo e outros organismos com a artrite reativa asso­ Os medicamentos antirreumáticos modificadores da
ciada ao HLA-B27 não está clara. doença, como azatioprina e metotrexato, têm sido usados
Os homens são afetados com mais frequência do que em alguns pacientes com bons resultados: A injeção de
as mulheres. Aproximadamente 75% dos pacientes com corticosteroide em uma articulação bastante sintomática
artrite reativa têm HLA-B27. Embora a febre reumática também pode ser executada por um especialista depois
seja, de certo modo, uma artrite reativa, ela não está asso­ de uma infecção ser descartada. Os pacientes frequente­
ciada ao HLA-B27 e não é incluída no grupo de espondi- mente sofrem recaídas; contudo, elas não estão ligadas à
loartropatias soronegativas. A incidência de artrite reativa infecção recorrente. O tratamento de uma recaída, como
após a infecção com um organismo responsável varia, mas descrito antes, é primariamente com AINEs.
está na ordem de 1 a 2% ou menos.
Espondiloartropatia enteropática
Apresentação clínica
A artrite reativa deve constar na lista de diagnósticos di­ Até 20% dos pacientes com doença intestinal inflamató­
ferenciais sempre que um adulto jovem se apresentar ria (DII, que inclui colite ulcerativa ou doença de Crohn)
com artrite aguda que afete joelhos e tornozelos. Está desenvolvem artrite. Essa artrite pode ser periférica,
acompanhada de mal-estar, febre e perda de peso. Outra afetando os tornozelos e joelhos, ou central, afetando as
característica incomum é que a extremidade superior es­ articulações SI. Os sintomas de artrite periférica tendem
teja envolvida. a ocorrer mais tarde no curso da DII, e tendem a seguir o
O aparecimento agudo da artrite ocorre de duas a seis curso da DII subjacente.
semanas após a infecção incitante. A distribuição da artri­ A espondilite associada à DII não tem conexão com o
te é assimétrica, primariamente afetando os joelhos e os estágio ou o curso da DII do paciente e pode ocorrer antes
tornozelos. A inflamação fica centrada sobre os locais de do início dos sintomas da DII. As articulações envolvidas
inserção dos ligamentos e tendões (entesopatia), incluindo são as grandes e pequenas, com predomínio nos membros
as inserções do tendão do calcâneo e da fáscia plantar. inferiores. Frequentemente existe tendinite com inflama­
Em geral, os dedos inteiros da mão ou do pé estão ção na inserção do tendão, que é a marca registrada desse
inchados, levando aos “dedos fusiformes”. Assim como distúrbio. Uma artrite periférica, assimétrica, aparece em
em outros distúrbios de ESN, pode ocorrer dor lombar as­ 17 a 20% dos casos de DII. Embora a inflamação GI habi­
sociada com sacroileíte. tualmente ocorra primeiro, os sintomas articulares podem
As manifestações não musculoesqueléticas incluem preceder os sintomas intestinais por meses ou até anos.
conjuntivite estéril, que ocorre em até 40% dos pacientes. Isso é visto especialmente na doença de Crohn. O tipo de
A irite ocorre em 5% dos pacientes e pode causar defi­ artrite vista na DII é uma p o lia rtrite aditiva assim étrica.
ciência visual permanente e o envolvimento da mucosa, O eritema nodoso pode ser visto na área pré-tibial, com
com úlceras orais e genitais. Estas úlceras ocorrem pre­ as lesões variando de 1 até 5 cm de diâmetro. Um dos
cocemente no curso da doença e costumam ser indolores; achados fundamentais em todas as DIIs é que o derrame é
as úlceras dolorosas são mais frequentemente o resultado desproporcionalmente maior do que a dor. Em casos iso­
de outros distúrbios ou de uma superinfecção. É possível lados, nenhum sinal intestinal está presente, apenas febre,
ocorrer o envolvimento cardíaco (sistema de condução e artrite, mal-estar e anemia.
Emergências Ortopédicas 69

A prevalência da doença de Crohn tem aumentado um papel para as anormalidades dos neurotransmissores
durante as últimas três décadas para aproximadamente 75 serotonina, noradrenalina e substância R A fibromialgia
por 100.000 pessoas. A tríade clássica de diarreia, dor ab­ é 10 vezes mais comum em mulheres do que em homens,
dominal e perda de peso caracteriza a doença de Crohn. com a idade típica de aparecimento entre 35 e 60 anos.
A artrite periférica, principalmente articular e assimétrica, As características clínicas incluem “dor em tudo”, tensão
aparece em relação igual entre os gêneros, como já indica­ muscular paravertebral e fadiga. Os distúrbios do sono es­
do. A idade de pico da doença fica entre 25 e 45 anos. As tão presentes em 75% dos pacientes. Outras características
articulações grandes e pequenas são envolvidas, com pre­ incluem rigidez matutina, parestesias não dermatômicas,
dominância daquelas do membro inferior (mais comumen- edema subjetivo, ansiedade e cefaleias. Uma incapacidade
te os joelhos e os tornozelos, mas também as articulações funcional significativa está frequentemente presente.
MCF e MTF). A artrite é migratória e transitória e costuma
desaparecer dentro de seis semanas, mas pode tomar-se Diagnóstico
crônica e destrutiva. O envolvimento colônico aumenta a
suscetibilidade da artrite periférica na doença de Crohn. Os O diagnóstico é com base na apresentação clínica e os re­
sultados dos testes laboratoriais comuns são normais. Os
ataques de artrite podem ser temporariamente relacionados
critérios para a classificação de fibromialgia incluem a
às exacerbações da doença intestinal, embora isso seja me­
dor difusa por um período de pelo menos três meses, em
nos acentuado do que na colite ulcerativa.
combinação com sensibilidade dolorosa em 11 ou mais de
Na colite u lcera tiva , a prevalência é 50 a 100 por
18 locais de pontos dolorosos específicos.
100.000 pessoas. As manifestações abdominais da colite
ulcerativa incluem diarreia e perda sanguínea. O padrão
de artrite periférica é idêntico àquela vista na doença Tratamento
de Crohn, mas a sua prevalência é muito mais baixa (5 O tratamento da fibromialgia é desafiador, com menos da
a 10%). O aparecimento da doença precede os sintomas metade dos pacientes relatando alívio dos sintomas e ape­
articulares, mas um aparecimento coincidente de sinto­ nas 3% apresentando remissão completa. O tratamento
mas articulares e abdominais não é incomum. No curso farmacológico inclui antidepressivos tricíclicos, inibidores
da doença, a relação temporal entre os ataques de artrite seletivos da recaptação da serotonina e tramadol.61,6" Os
e as exacerbações da doença intestinal é mais acentuada AINEs e os esteroides não têm demonstrado serem efeti­
do que na doença de Crohn. Os sintomas articulares são vos. As opções de tratamento não farmacológico incluem
f
mais comuns no envolvimento total do que no parcial do exercícios, biofeedback, hipnoterapia e acupuntura.
colo. A remoção cirúrgica do colo inflamado tem efeito
terapêutico sobre os sintomas articulares.
ARTRITE SARCOIDE
O tratamento da espondiloartropatia enteropática deve
ser feito após a consultoria com reumatologista ou gastro- A sarcoidose é uma condição inflamatória sistêmica crô­
enterologista. Os glicocorticoides sistêmicos e a sulfassa- nica que é caracterizada pela presença de granulomas não
lazina podem ser indicados, mas o início do tratamento da caseosos. Embora as manifestações pulmonares sejam
DII está além do objetivo da prática de cuidados agudos. mais comuns, a artrite aguda pode ser a apresentação ini­
cial e também imitar outras formas de artrite. Os sintomas
Artropatia psoriática reumatológicos estão presentes em 4 a 38% dos pacientes
com sarcoidose.
Menos de 10% dos pacientes com psoríase desenvolvem A artrite secundária à sarcoidose é uma oligoartrite,
uma artrite associada. Cerca de 5% desses pacientes terão mas pode ser poliarticular, e poucas vezes é monoarti­
envolvimento exclusivamente vertebral, 40% terão artrite cular. As articulações do tornozelo e do joelho são mais
periférica e axial e outros 20% dos pacientes restantes terão frequentemente envolvidas na sarcoidose aguda. A artrite
sacroileíte. Alguns indivíduos têm poliartrite simétrica que simétrica do tornozelo no aparecimento é muito sensível e
lembra a AR; se fator reumatoide sérico estiver presente, específica para o diagnóstico de artrite sarcoide aguda. A
considera-se que o paciente tenha AR e psoríase. artrite sarcoide aguda está associada com eritema nodoso
O tratamento inicial da artrite psoriática utiliza em 71% dos casos (Fig. 3.13). O paciente em geral tem
AINEs. Depois que um diagnóstico firme é feito, um es­ um edema atraumático, doloroso, quente e eritematoso que
pecialista pode iniciar metotrexato e antimaláricos. com frequência é claramente periarticular em vez de si-
novial. A artrite crônica é incomum, já que essa condição
FIBROMIALGIA em geral desaparece depois de algumas semanas ou meses.

A fibromialgia é um distúrbio idiopático que causa dor


Diagnóstico
crônica e manifesta poucas características clínicas obje­
tivas. As anormalidades fisiopatológicas básicas na fibro­ As radiografias mostram somente um edema de tecidos
mialgia são desconhecidas, mas alguma evidência sugere moles. A aspiração articular não produz qualquer fluido
70 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

está presente em cerca de 0,5% daqueles com idade acima


de 50 anos. Os pacientes podem relatar dificuldade para
sair do leito, vestir-se ou pentear o cabelo. Os músculos
afetados são dolorosos à palpação. O diagnóstico é clínico.
A arterite temporal (arterite de células gigantes) é
diagnosticada em (1) indivíduos acima de 50 anos com
(2) cefaleia recente, (3) sensibilidade dolorosa ou dimi­
nuição de pulso na artéria temporal ou (4) VSG acima de
50 mm/h e (5) uma biópsia anormal mostrando vasculite.
A existência de três dos cinco critérios tem 93% de sen­
sibilidade e 91% de especificidade para o diagnóstico.
A queixa mais comum é a cefaleia localizada na região
temporal ou occipital. A cefaleia é o sintoma de apresen­
tação em 32% dos casos e está presente, quando do diag­
nóstico, em 68% dos pacientes. A claudicação mandibular
Figura 3.13 Eritema nodoso. está presente em 45% dos pacientes no momento do diag­
nóstico. A sensibilidade dolorosa na artéria temporal está
presente em um quarto dos pacientes. A perda permanente
sinovial. Quando um derrame é aspirado da articulação, da visão, a complicação mais temida, ocorre quando a in­
as contagens leucocitárias são inferiores a 1.000/mm3. As flamação oclui as artérias oculares, levando à neuropatia
culturas são negativas e os cristais não são identificados óptica isquêmica. Os sintomas oculares são, em seu iní­
por microscopia. Uma medida sérica do nível da enzima cio, unilaterais, mas o outro olho toma-se afetado dentro
conversora da angiotensina (ECA) está elevada em 40 a um período de 1 a 10 dias.
90% dos pacientes, mas não é específica.
Tratamento
Tratamento
Felizmente, o tratamento da polimialgia reumática e da
A artrite sarcoide aguda pode responder aos AINEs, que arterite temporal resulta na melhoria acentuada em um pe­
são usados como a escolha de tratamento inicial. A doença ríodo de 48 a 72 horas. A prednisona, em dose oral de 40
refratária é tratada com esteroides. Outras opções incluem a 60 mg, é administrada inicialmente. Para a arterite tem­
antimaláricos, metotrexato, azatioprina, ciclosporina, ci- poral, o tratamento deve ser instituído de imediato para
clofosfamida e um inibidor do fator de necrose tumoral. evitar a potencial perda visual. As biópsias de confirma­
ção podem ser então marcadas dentro da semana seguin­
POLIMIALGIA REUMÁTICA E ARTERITE te. Em pacientes com sintomas visuais, a terapia deve ser
TEMPORAL administrada sob a forma de metilprednisolona intraveno­
sa, 250 mg a cada 6 horas. Os esteroides são retirados de
A polimialgia reumática e a arterite temporal representam forma gradual durante um período de meses a anos. Am­
manifestações diferentes do mesmo processo patológi­ bas as condições tendem a ter cursos autolimitados, mas
co. Nesse ponto, muitos dos sintomas dessas condições recidivas ocorrem em até 25% dos pacientes.
se sobrepõem. Mais da metade dos pacientes com arterite
temporal têm sinais de polimialgia reumática e, reciproca­
ARTRITE HEMORRÁGICA
mente, um terço dos pacientes com polimialgia reumática
tem evidência de arterite temporal na biópsia. Ambas as A causa mais comum de fluido articular hemorrágico é o
condições ocorrem em mulheres duas vezes mais do que trauma. Na ausência dele, a hemorragia articular aguda
em homens. A idade de início é acima de 50 anos e as con­ sugere a presença de diátese hemorrágica (p. ex., hemo­
dições são mais comuns em pessoas brancas de ascendên­ filia) ou coagulopatia (p. ex., varfarina). Outras entidades
cia do norte europeu. O sintoma sistêmico mais comum raras a serem consideradas incluem neoplasia articular ou
é a febre. Outras queixas inespecíficas incluem fadiga, sinovite vilonodular pigmentada.
anorexia e perda de peso. A VSG é superior a 50 mm/h,
com valores normais presentes em somente 4 a 13% dos Hemofilia
pacientes.
As hemartroses agudas são frequentes em pacientes com he­
mofilia grave do tipo clássico (hemofilia A, deficiência de
Diagnóstico
fator VIII) ou doença de Christmas (hemofilia B, deficiência
A polimialgia reumática é distinguida pela dor e pela rigi­ de fator IX). O joelho é a articulação mais afetada, seguido
dez no ombro, no pescoço e na cintura pélvica. A polimial­ pelo cotovelo e tornozelo, mas qualquer articulação grande
gia reumática é mais comum do que a arterite temporal e pode estar envolvida. Algum grau de trauma articular inicia
Emergências Ortopédicas 71

Figura 3.14 Artropatia hem ofílica. Observar as alterações degenerativas extensas. ( Fotografia: contribuição de J. Fitzpatrick , MD ,
Cook County Hospital.)

o sangramento, embora ele possa ser bastante insignificante, A formação de osteófitos, redução do espaço articular e
em especial em pacientes com hemartrose recorrente. osteopenia periarticular são vistos nas radiografias dos
Três estágios de artropatia hemofílica são reconheci­ casos avançados (Fig. 3.14).
dos. O primeiro é uma fase de sangramento agudo na articu­
lação, que ocorre na infância, depois que a criança começou Tratamento
a caminhar. As articulações ficam quentes e são mantidas A terapia para a hemartrose aguda nos hemofílicos envol­
em 30° de flexão. Isso permite o volume máximo de fluido. ve a reposição do fator de coagulação deficiente, a aspi­
O segundo estágio é uma sinovite crônica que ocorre em ração da hemartrose em casos específicos, a analgesia e
resposta às repetidas hemorragias dentro da articulação. O a imobilização. Na hemorragia grave, doses repetidas do
terceiro estágio, final, é uma artropatia destrutiva. fator de coagulação podem ser necessárias. Os pacientes
Na artrite hemofílica, as articulações maiores são afe­ devem ser encaminhados para acompanhamento e fisiote­
tadas mais comumente do que as pequenas articulações. rapia para minimizar a incapacidade a longo prazo.
As alterações radiográficas incluem cistos ósseos subcon- A reposição do fator de coagulação pode ser realizada
drais, como também grandes osteófitos, que aparecem com vários produtos sanguíneos e concentrados. Os con­
mais tardiamente na doença e são similares àqueles vistos centrados de fatores incluem tanto o fator recombinante
na osteoartrite grave. Os achados radiológicos que são es­ como o derivado de plasma purificado, que têm elimi­
pecíficos à artropatia hemofílica incluem o alargamento nado ou significativamente reduzido a taxa de transmis­
da incisura intercondiliana do fêmur, o aquadradamento são virai.>8,6' A hemofilia A pode ser tratada com plasma
da patela distai e o aumento do rádio proximal. fresco congelado (PFC), crioprecipitado ou concentrados
Antes da disponibilidade da terapia específica para de fator VIII. O grande volume de PFC necessário para
substituir o fator de coagulação deficiente, as hemartro- restaurar de maneira adequada a atividade de coagulação,
ses recorrentes da hemofilia levavam de modo inexorável contudo, em geral impede o seu uso.
à artropatia degenerativa crônica. A presença repetida de Para calcular a quantidade de concentrado necessário,
sangue no espaço articular causa pigmentação, hipertrofia o hemofílico clássico que se apresenta com uma emergên­
e, em última instância, à fibrose da sinóvia. A cartilagem cia de sangramento é primeiro pressuposto que tenha uma
se deteriora e a amplitude de movimento fica reduzida. O atividade de 0% do fator VIII nativo. É recomendado que
resultado final é clinicamente similar ao da osteoartrite a atividade seja agudamente elevada para 30 a 50% do
grave, com dor crônica, edema e perda da mobilidade. normal no tratamento da hemartrose. Uma unidade de fa­
72 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

tor VIII por kg de peso corporal eleva o nível plasmático um especialista, que imediatamente poderá começar um
em 2%. Para calcular o número de unidades de fator VIII programa de fisioterapia para limitar a atrofia muscular e
a administrar, usar a seguinte fórmula: restaurar a mobilidade articular tão cedo quanto possível.
O gelo e os analgésicos são adjuntos importantes no trata­
Fator VIII necessário = 0,5 x (peso em kg) x mento da hemartrose, mas há que ter cuidado para evitar
(% de mudança necessária na atividade do fator) salicilatos e agentes não esteroides que possam agravar a
Por conseguinte, para elevar os níveis aos desejados diátese hemorrágica, inibindo a função das plaquetas.
30 a 50% do normal para tratar a hemartrose aguda, 15 a Uma pequena porcentagem de hemofílicos falha em
25 unidades por kg de fator VIII são administradas como responder à reposição do fator em função dos níveis altos
dose inicial. Se o crioprecipitado for usado, cada bolsa de anticorpos circulantes do fator VIII. Várias modalida­
contém um volume de cerca de 10 mL, com 5 a 10 uni­ des de tratamento estão disponíveis para evitar o proble­
dades de atividade do fator VIII por mL, ou aproximada­ ma, e o médico da emergência deve buscar consultoria se
mente 80 unidades de atividade por bolsa. Se o PFC for o paciente tiver uma história de níveis altos de anticorpos.
usado, cada mililitro contém uma unidade de atividade de A aspiração articular não deve ser tentada em pacientes
fator VIII, então 15 a 25 mL/kg devem ser dados. com anticorpos.
Para resumir, um paciente de 70 kg com hemofilia
clássica e hemartrose aguda deve receber 25 unidades por Coagulopatia
kg para elevar o nível do fator VIII para 50% do normal.
A hemartrose está associada a anticoagulantes orais e ocor­
Isso requer 1.750 unidades de fator VIII, 180 mL de crio­
re de modo espontâneo em taxas de cerca de 1,5%.70 Tal
precipitado (18 bolsas), ou 1.750 mL de PFC (8 unidades).
taxa parece ser mais elevada em pacientes com tempos de
Os pacientes com deficiência de fator IX (hemofilia
protrombina mais altos e naqueles com doença articular
B) são tratados com produtos purificados de fator IX em
subjacente. O manejo de um paciente que toma varfarina
uma forma análoga à mesma meta de elevar o nível do
e que tem uma hemartrose consiste em repouso, imobiliza­
fator IX para 30 a 50% do normal. A principal diferen­
ção e administração de analgésicos. Se possível, o anticoa­
ça é que uma unidade de fator IX por kg elevará o nível
gulante deve ser descontinuado e a vitamina K adminis­
plasmático em 1%. Para calcular a quantidade de fator IX
trada para reduzir o sangramento. A artrocentese deve ser
necessário, usar a seguinte fórmula:
executada para remover o sangue e evitar o dano articular
Fator IX necessário = 1,0 x (peso em kg) x crônico. As aspirações articulares não são contraindicadas
(% de mudança necessária na atividade do fator) em pacientes usando varfarina e estão associadas a baixo
risco de hemorragia.
A duração do tratamento da hemartrose hemofílica
depende da intensidade do sangramento e da persistência
Outras
ou resolução dos sintomas. O sangramento menor que é
acompanhado de pouco ou nenhum edema pode ser trata­ As neoplasias articulares são raras, mas devem levantar
do com uma infusão única de fatores de coagulação. Pelo suspeitas em hemartroses agudas sem trauma ou diátese
fato de a meia-vida do fator VIII exógeno ser de 12 horas, hemorrágica. O tratamento sintomático e o encaminha­
qualquer sangramento significativo requer doses repetidas mento para biópsia estão indicados. A sinovite vilonodular
até que os sintomas cessem. Uma consulta com o médico pigmentada é um distúrbio raro, de etiologia desconhecida,
do paciente deve ser procurada nesses casos. O fator IX que pode estar presente na monoartrite hemorrágica aguda.
tem meia-vida de aproximadamente 16 horas.
As hemartroses grandes e tensas vistas nas primei­ ARTRITE TRAUMÁTICA
ras horas depois do aparecimento dos sintomas devem
ser aspiradas para prevenir a dor persistente e o desen­ A artrite traumática pode surgir como uma sequela inicial
volvimento de disfunção articular crônica. Isso é verda­ da lesão articular, ou muito mais tarde, como reação ao de­
deiro se o paciente teve alguns ou nenhum episódio de sarranjo mecânico da articulação, como uma lesão menis-
sangramento prévio na articulação afetada. As hemar­ cal no joelho. Pode ou não haver uma história discreta de
troses com mais de 24 horas estão em geral coaguladas lesão na articulação, já que em algumas ocasiões a agres­
e não podem ser aspiradas. A aspiração deve ser execu­ são original é trivial o suficiente para passar despercebida
tada durante a infusão de fator VIII para evitar sangra­ pelo paciente. Os derrames articulares depois do trauma
mento excessivo ou feita logo após, para evitar a coa­ podem ser pequenos ou grandes. Os fluidos variam desde
gulação inicial da hemartrose. Depois da aspiração, os normal até francamente hemorrágicos. O desenvolvimen­
níveis plasmáticos de 25 a 50% de fator VIII devem ser to rápido de hemartrose depois de um trauma sugere lesão
mantidos por vários dias. ligamentar relevante ou fratura intra-articular. A presen­
Se uma articulação é aspirada ou não, a imobilização ça de glóbulos de gordura no aspirado da articulação é
deve ser instituída e mantida até que todos os sintomas diagnóstica de uma fratura cortical. Um derrame articular
tenham cessado. O paciente deve ser encaminhado para sintomático deve ser completamente aspirado para evitar
Emergências Ortopédicas 73

dano à cartilagem pelas pressões elevadas e para permitir AGRADECIMENTOS


o exame adequado das lesões ligamentares. Na ausência
da instabilidade articular, que requer intervenção cirúrgica Agradecemos a Robert Feldman, Professor Assisten­
precoce, a imobilização, o repouso e o encaminhamento te, Departamento de M edicina de Emergência, Cook
são, habitualmente, a terapia adequada. É necessária a County Hospital, por suas valiosas contribuições a este
avaliação repetida para uma lesão de ligamento ou de car­ capítulo.
tilagem após a recuperação.
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Capítulo 4
Complicações
SÍNDROME COMPARTIMENTAI A dor, agravada pelo alongamento passivo, é o sinal
mais confiável da síndrome compartimentai. A sensibi­
Quase 200 mil pessoas são afetadas com uma síndrome lidade diminuída é o segundo achado mais sensível ao
compartimentai a cada ano nos Estados Unidos.1Embora
exame para síndrome compartimentai. O exame sensitivo
existam muitas causas, a via clínica no desenvolvimento
dos nervos que cruzam através dos compartimentos afeta­
dessa síndrome é a mesma.
dos revela a diminuição da discriminação de dois pontos
Os grupos musculares do corpo são cercados por bai­
ou do tato. Ambos os testes são mais sensíveis do que o
nhas fasciais que envelopam os músculos dentro de um
exame com agulha. A palpação do compartimento revela
espaço ou um compartimento definido. Quando uma lesão
sensibilidade dolorosa e “tensão” sobre os segmentos is-
ocorre nos músculos dentro de um compartimento, existe
quêmicos. Os pulsos distais e o enchimento capilar podem
um edema. A pressão dentro do compartimento começa a
estar normais em um paciente com isquemia muscular
aumentar, pois as bainhas fasciais tensas permitem pouco
significativa e, por conseguinte, tais achados não devem
espaço para expansão. Eventualmente, o fluxo sanguíneo
ser usados para descartar a existência de uma síndrome
é comprometido, sendo seguido de lesão muscular irre­
compartimentai.
versível. Deve haver suspeita de síndrome compartimentai
Em suma, a d o r desproporcional é o sin to m a m ais
precocemente para prevenir deformidades em contraturas
precoce, enquanto a d o r com alongam ento p a ssivo dos
(i.e., as contraturas isquêmicas de Volkmann) que resul­
m úsculos envolvidos é o sin a l m ais sensível da síndrom e
tam da necrose dos músculos e nervos.
com partim entai. As parestesias ou hiperestesias em ner­
As localizações mais comuns da síndrome comparti­
mentai são o antebraço e a perna. Outros locais que têm vos que percorrem o compartimento também são sinais
sido implicados incluem as mãos, os ombros, as costas, as importantes de síndrome compartimentai em desenvol­
nádegas, as coxas, o abdome e os pés. Uma discussão es­ vimento. A consulta com um ortopedista deve ser obtida
pecífica para cada um desses compartimentos musculares assim que síndrome compartimentai for considerada.
está incluída em outras partes do texto.
Em três a cada quatro casos, a síndrome comparti­ Medida da pressão compartimentai
mentai se desenvolve depois de uma fratura. As fraturas
A decisão de executar uma fasciotomia é tomada com
comumente associadas incluem a tíbia, a diáfise umeral,
base em uma combinação de achados clínicos, conforme
os ossos do antebraço e as fraturas supracondilianas em
antes mencionado, e da medida das pressões comparti­
crianças. Outras causas da síndrome compartimentai
mentais elevadas. Se houver suspeita de síndrome com­
aguda incluem lesão por esmagamento, gessados ou cura­
partimentai, o reexame frequente no hospital e a medida
tivos constritivos, convulsões, infiltração intravenosa, pi­
das pressões compartimentais devem ser executados. As
cadas de cobras, infecção, imobilização prolongada, quei- >% j ✓
pressões compartimentais são mais comumente efetuadas
maduras, oclusão ou lesão arterial aguda e exercícios/
usando o dispositivo Stryker STIC (Fig. 4.1 e Vídeos 4.1
Um torniquete venoso pode produzir síndrome compar­
e 4.2).8’9
timentai em 90 minutos se for acidentalmente deixado
Se tal dispositivo não estiver disponível, uma técnica
inflado. Os pacientes com alguma coagulopatia (i.e., em
alternativa, como a de infusão, pode ser feita com mate­
uso de anticoagulante ou com hemofilia) têm risco au­
riais encontrados na maioria dos setores de emergência.9
mentado de desenvolver uma síndrome compartimentai
O equipamento necessário inclui (1) um manómetro de
depois de trauma mínimo.
pressão sanguínea, (2) uma seringa de 20 mL, (3) uma
torneira de cateter, (4) agulha nQ18, (5) soro fisiológico
Características clínicas normal e (6) dois tubos de extensão intravenosos.
O diagnóstico de síndrome compartimentai é primaria­ O aparato é instalado de forma que a seringa e os dois
mente clínico. Os pacientes exibem dor desproporcional à tubos de extensão sejam inseridos nas portas da torneira
lesão subjacente, aos sintomas sensitivos e à fraqueza mus­ de três vias (Fig. 4.2). O êmbolo da seringa é aberto até
cular. A dor é o sinal mais precoce e mais consistente. É a marca de 15 mL. Um tubo de extensão é conectado ao
persistente e não alivia com a imobilização. É fundamental dispositivo de pressão sanguínea, enquanto o outro é co­
que o médico da emergência reconheça essa condição por nectado à agulha n° 18. O soro é passado pela agulha para
suas características iniciais e, antes que outros sinais e sin­ preencher metade da tubulação, e a torneira é fechada para
tomas se desenvolvam, previna a lesão permanente. que o soro não seja perdido. A agulha é então inserida de
Emergências Ortopédicas 77

comprometido. A necrose isquêmica do músculo e das fi­


bras nervosas ocorre em pressões acima de 30 mmHg e,
por conseguinte, a maioria de autores recomenda a fascio-
tomia com pressões acima de 30 mmHg.
Em estudos experimentais, foi demonstrado que os
pacientes com pressões sanguíneas diastólicas mais altas
têm probabilidade reduzida de necrose isquêmica devido
às pressões de perfusão mais altas. Por essa razão, alguns
autores recomendam a fasciotomia quando a pressão com­
partimentai alcançar um ponto que esteja 20 mmHg abai­
xo da pressão diastólica.
Figura 4.1 Dispositivo STIC da Stryker para medir a pressão As medidas devem ser feitas em todos os comparti­
com partim entai. (Reim pressa, com permissão, de Reichm an mentos da extremidade em questão. As medidas múltiplas
EF, Simon RR. Emergency M edicine Procedures. N ew York: dentro de um compartimento único podem ser necessá­
M cG raw -H ill, 2004.) rias, já que há evidências sugerindo que as pressões em
localizações diferentes, dentro do mesmo compartimento,
forma estéril no músculo do compartimento a ser medi­ não são uniformes. Distâncias de até 5 cm resultam em
do. Neste momento, a torneira é girada de tal forma que leituras de pressão significativamente diferentes, alteran­
a seringa esteja aberta para ambos os tubos de extensão. do a tomada de decisão clínica. Deve ser usada a pressão
Conforme o êmbolo de seringa é deprimido lentamente, mais alta registrada. :,9,1°
a leitura do manómetro começa a subir. Quando o me­
nisco do soro dentro da tubulação de extensão começar a Tratamento
mover-se, a leitura da pressão do manómetro é a pressão O tratamento da síndrome compartimentai requer a fas­
compartimentai. ciotomia imediata. Os retardos podem resultar em dano
As leituras errôneas da pressão podem resultar em vá­ irreversível aos músculos e nervos. Em geral, os múscu­
rias situações. Para que o dispositivo forneça uma leitura los podem tolerar até 4 horas de isquemia total. Depois
precisa, o topo da coluna de soro deve ser colocado no de 8 horas, o dano é irreversível. De modo semelhante,
mesmo nível que a ponta da agulha. Se a pressão for lida os nervos periféricos sobrevivem até 4 horas de isquemia
enquanto o soro estiver sendo injetado no músculo, uma completa, com dano do tipo neuropraxia mas, depois de 8
leitura falsamente elevada será obtida. horas, ocorre axonotmese e lesão irreversível.
As pressões compartimentais normais ficam abaixo Além de organizar a fasciotomia, o médico da emer­
de 10 mmHg. Em pressões superiores a 20 mmHg, o flu­ gência deve remover todos os curativos constritivos
xo sanguíneo capilar dentro do compartimento pode estar circulares e aliviar a flexão se o cotovelo e o antebraço
estiverem envolvidos. Em fraturas supracondilianas par­
cialmente reduzidas, a tração esquelética é recomendada.
Se o alívio não for obtido dentro de 30 minutos, a cirurgia
está indicada. Não se deve “assistir e esperar”, já que a
meta é restaurar a circulação antes que ocorra dano irre­
parável. A rabdomiólise pode complicar uma síndrome
compartimentai, sendo essencial a hidratação adequada
para manter o débito urinário. Ver Capítulo 1 para uma
discussão adicional sobre a rabdomiólise.

CONTRATURA ISQUÊMICA DE VOLKMANN


A contratura isquêmica de Volkmann foi descrita em 1881
por Richard van Volkmann, como o resultado de uma le­
são isquêmica aos músculos e nervos de um membro, se­
cundária à síndrome compartimentai não tratada. Esti-
ma-se que a complicação ocorra em 1 a 10% dos casos.
Uma agressão isquêmica grave tem três desfechos
possíveis. A recuperação completa pode ocorrer se hou­
ver uma boa circulação colateral. Se nenhuma circulação
colateral estiver presente, a necrose do membro, levando
Figura 4.2 Técnica de infusão para medir a pressão compar­ à gangrena, será o resultado. A gangrena envolve todos os
timentai. tecidos, especialmente os mais distais (dedos da mão e do
78 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

pé), e é demarcada em um nível determinado pela locali­ Bacteriologia


zação do dano arterial.
A bactéria isolada com mais frequência em casos de oste­
Por fim, um “curso médio” pode ocorrer, resultando
omielite é a Staphylococcus aureus (S. aureus). Os orga­
em contraturas musculares isquêmicas. A contratura é o re­
nismos infectantes diferem de acordo com a idade do pa­
sultado da isquemia seletiva dos músculos e dos nervos do
ciente. A S. aureus e os estreptococos são causas comuns
segmento distal do membro (o braço abaixo do cotovelo ou
em neonatos. H aem ophilus influenzae e E scherichia coli
a pema abaixo do joelho). Os tecidos mais distais, como as
também ocorrem na osteomielite neonatal. Os bacilos
mãos e os pés, não se tomam isquêmicos; contudo, eles não
gram-negativos são vistos em pacientes idosos, enquan­
são imunes à lesão por dano em um nervo mais proximal.
to a osteomielite fúngica é uma complicação de pacientes
A extremidade superior e, especificamente, o compar­
imunocomprometidos. Os pacientes com doença falcifor-
timento flexor profundo do antebraço, tem mais probabili­
me frequentemente têm infecção por espécies de S. aureus
dade de apresentar essa lesão devido à bainha fascial aper­
ou S alm onella. A presença de flora mista (S. aureus,
tada. Os outros compartimentos que podem ser afetados
estreptococos e bactérias anaeróbias) pode ser observa­
incluem os compartimentos tibial anterior, fibular e poste­
da quando a osteomielite for secundária à disseminação
rior profundo da pema. Quando o músculo se toma necró-
direta a partir de uma ferida adjacente, como no paciente
tico, ele é eventualmente substituído por tecido fibroso, o
diabético com uma úlcera no pé.
que leva à contratura muscular. O resultado na extremida­
de superior é um membro deformado, disfuncional e sem
sensibilidade. Em casos graves, existe a hiperextensão das Apresentação clínica
articulações metacarpofalângicas e flexão das articulações As características clínicas típicas em todas as formas de
interfalângicas, lembrando a mão em garra. As contraturas osteomielite incluem calafrios, febre, mal-estar, dor local
em flexão fixa estão presentes no cotovelo e no punho. e edema. Os sintomas constitucionais são mais comuns
Essas deformidades podem levar semanas ou meses para em crianças do que em adultos ou em pacientes com os­
se desenvolver depois da síndrome compartimentai. teomielite crônica. Na forma contígua, a dor e o edema,
como também o eritema, são notados em tomo da ferida
OSTEOMIELITE e a drenagem ocorre na maioria dos casos. Conforme o
processo progride, a extremidade envolvida é segura em
A osteomielite é um processo supurativo ósseo causa­ leve flexão e o movimento passivo sofre resistência pela
do por organismos piogênicos.1 É mais comum em dor. No início não há edema; contudo, os tecidos moles
pacientes abaixo dos 20 anos ou acima dos 50 anos. A tornam-se edematosos conforme se desenvolve um abs­
infecção óssea ocorre secundária a bactérias que são dis­ cesso subperiostal. Eventualmente, quando a osteomielite
seminadas (1) via hematogênica, (2) a partir de um foco crônica progride, um trato sinusal rompe na pele e drena o
contíguo, ou (3) por insuficiência vascular. A osteomie­ material infeccioso.
lite é acompanhada de destruição óssea, que pode ser li­ Em pacientes diabéticos com úlcera infectada no pé,
mitada a uma porção única do osso, ou envolver várias a osteomielite pode ser assumida como presente sempre
regiões, incluindo a medula, a cortical, o periósteo e os que o osso estiver exposto no leito da úlcera, ou o avan­
tecidos moles circundantes. ço suave de uma sonda estéril fizer contato com o osso.
A osteomielite hematogênica ocorre mais comumente O osso exposto ou a sonda até o osso têm sensibilidade
em crianças. A infecção é de natureza aguda e localiza-se de 60% e especificidade de 91% em pacientes diabéticos
na metáfise óssea, estendendo-se para o espaço subperios­ com úlceras no pé.
tal. Os ossos afetados com mais frequência são a tíbia pro­
ximal e o fêmur distai. Em pacientes adultos, as vértebras
Diagnóstico
são os locais mais comuns de disseminação hematogênica
da infecção. Para detalhes adicionais sobre esta condição, O isolamento dos organismos causadores é o mais im­
ver Capítulo 6. portante passo no diagnóstico e tratamento; contudo,
A osteomielite desenvolvida a partir de uma fonte essa informação raras vezes está disponível ao médico da
contígua de infecção mais comumente se segue ao trau­ emergência. As culturas sanguíneas devem ser obtidas e
ma (fratura exposta ou ferida de punção) ou por cirurgia são positivas em 50% dos casos de osteomielite hemato­
(substituição articular ou fixação de fratura). As mãos e os gênica. 9,2 As culturas de material da ferida ou do trato
pés são os locais mais comuns para este tipo de osteomie­ fistuloso podem ser obtidas, mas podem ser enganosas,
lite. A insuficiência vascular, como causa de osteomielite, já que muitos dos microrganismos cultivados representam
é mais frequentemente devido ao diabetes. Nesse cenário, bactérias de colonização. As culturas da superfície dos
uma infecção de tecidos moles do pé é o foco para disse­ pés diabéticos infectados revelam um organismo causal
minar a infecção ao osso. Em adultos com osteomielite em dois terços dos casos.
contígua ou osteomielite na presença de insuficiência vas­ Os exames de laboratório habitualmente não são muito
cular, o processo é de natureza subaguda ou crônica. úteis. A contagem de leucócitos não é um marcador sensível
Emergências Ortopédicas 79

para osteomielite. A velocidade de sedimentação globular dorizada (TC) e a ressonância magnética nuclear (RMN).
(VSG) é elevada em 90% dos pacientes com osteomielite, A cintilografia óssea é 90% sensível dentro de 48 a 72
mas esse teste carece de especificidade. *Uma VSG normal horas do aparecimento da infecção. Uma cintilografia
em um paciente com suspeita clínica baixa pode ajudar o óssea normal toma muito improvável o diagnóstico. A TC
profissional a descartar o diagnóstico. A proteína C-reati- é mais sensível do que a radiografia simples. Também é
va é outro marcador inflamatório não específico, que tem útil para detectar osso necrótico (sequestros) em pacientes
a vantagem de aumentar dentro das primeiras 24 horas do com osteomielite crônica, e isso pode ajudar o cirurgião
curso de doença, retomando aos níveis normais dentro de ortopedista a planejar o tratamento. De todos os exames
uma semana de tratamento efetivo. Por fim, uma aspiração de imagens, a RMN é o melhor teste para diagnosticar os­
do osso com agulha é necessária para revelar o organismo teomielite. A RMN também é favorecida em qualquer
infectante em quase 90% dos casos. Uma biópsia aberta paciente com suspeita de ter envolvimento vertebral.
pode ser necessária para obter material suficiente.
As radiografias simples são o estudo inicial de esco­ Tratamento
lha em pacientes com osteomielite, embora sejam de pou­
co valor no processo patológico. Uma radiografia negati­ Os antibióticos, usados isoladamente, têm o potencial de
va, por conseguinte, não afasta esse diagnóstico. Menos curar apenas pacientes com osteomielite hematogênica.
que um terço dos pacientes com osteomielite sintomática Os antibióticos intravenosos empíricos devem ser admi­
por 7 a 10 dias terá achados radiográficos. A rarefação, nistrados pelo médico de emergência em pacientes com
indicando desmineralização difusa, requer a perda de 30 a (1) osteomielite hematogênica, (2) aspecto toxêmico, (3)
50% do mineral ósseo antes de ser vista em uma radiogra­ suspeita de osteomielite vertebral, ou (4) doença parcial­
fia. A desmineralização e a elevação periosteal, seguidas mente tratada ou recorrente a pedido de um ortopedista. O
de esclerose, são raras mesmo depois de 10 a 21 dias de regime habitual inclui a combinação de penicilina penici-
infecção mas, aos 28 dias, 90% dos pacientes demons­ linase-resistente e cefalosporina de terceira geração. Os
tram anormalidades nas radiografias simples (Fig. 4.3). pacientes com doença falciforme e osteomielite devem re­
O achado mais comum na infecção inicial é o edema de ceber cefalosporina de terceira geração ou quinolona para
tecidos moles, seguido da elevação periosteal. A elevação cobrir Salm onella.
periosteal é menos comumente vista em adultos, pois o Em adultos com disseminação contígua ou insufi­
periósteo é mais fibroso e aderente. Os achados tardios da ciência vascular (i.e., pé diabético), a cura não pode ser
osteomielite nas radiografias simples incluem áreas líticas alcançada sem o debridamento do osso infectado. No caso
cercadas de osso esclerótico. de um paciente com prótese ou outro material estranho,
Os métodos alternativos para diagnosticar a osteomie­ a remoção costuma ser necessária. Após o debridamento
lite incluem a cintilografia óssea, a tomografia computa- operatório, os antibióticos são continuados por quatro a
seis semanas. As terapias adjuntas para tratar a osteomie­
lite crônica incluem contas impregnadas com antibiótico
e oxigênio hiperbárico. As contas antibióticas cirurgica­
mente implantadas apresentam a vantagem de oferecer
uma concentração local alta de antibióticos sem elevar
os níveis sistêmicos. As contas com antibióticos em geral
tomam desnecessários os antibióticos sistêmicos. 30

INFECÇÕES DE TECIDOS MOLES

Celulite
Essa infecção afeta a pele e os tecidos subcutâneos sendo
mais frequentemente causada por S. aureus e estreptoco-
cos do gmpo A. Outros organismos podem estar presen­
tes e uma infecção polimicrobiana é comum em pacientes
diabéticos. A P seudom onas deve ser suspeitada depois de
feridas com objetos perfurantes nos pés.
As características clínicas são consistentes e incluem
dor, sensibilidade dolorosa, calor, induração e eritema. A
linfangite e a linfadenopatia estão frequentemente asso­
ciadas. O profissional deve considerar a possibilidade de
uma cavidade com abscesso e palpar a presença de uma
área flutuante. O ultrassom ou a aspiração com agulha po­
Figura 4.3 Osteomielite no pé. dem ser necessários se houver suspeita de um abscesso.
80 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

O tratamento com antibiótico oral para S. aureus me-


ticilina-resistente por 7 a 10 dias é apropriado em pacien­
tes não imunocomprometidos e não toxêmicos, com in­
fecção leve. Para as mordeduras de animais ou humanas,
a combinação de amoxicilina e clavulanato é o agente de
escolha para o tratamento ambulatorial. A celulite origina­
da de ferida causada por perfuração nos pés é tratada com
ciprofloxacino ou ceftazidima.

Infecções necrosantes
Os pacientes com infecções necrosantes de tecidos mo­
les apresentam um curso clínico curto, que deteriora
com rapidez para choque séptico e morte, se não trata­
dos de imediato. O manejo inicial de todas as infecções
necrosantes de tecidos moles é o mesmo. Os princípios
Figura 4.5 TC com gás nos tecidos moles na coxa de um pa­
importantes do tratamento incluem alta suspeita clínica,
ciente com infecção necrosante de tecidos moles.
antibióticos, debridamento cirúrgico precoce e, se dispo­
nível, oxigênio hiperbárico. A cobertura antibiótica de
amplo espectro é logo instituída, até que os agentes cau­ Fasciite necrosante
sadores possam ser identificados. A radiografia simples Essa é uma infecção de tecidos moles rara - porém muitas
pode revelar a presença de gás (Fig. 4.4). A TC melhor vezes fatal - que envolve as camadas fasciais superficiais
delineia a extensão da infecção, mas não deve retardar o das extremidades, do abdome ou do períneo. Os fatores
tratamento (Fig. 4.5). de risco incluem o hospedeiro imunocomprometido (p.
Dois exemplos de infecções necrosantes de tecidos ex., diabetes), doença vascular periférica, uso de drogas
moles, a fasciite necrosante e a mionecrose clostridial, são intravenosas, idade mais avançada e trauma ou cirurgia
subsequentemente consideradas. Essas entidades diferem
recentes. Dois tipos são considerados, dependendo dos
na profundidade do processo infeccioso e nos patógenos
agentes infecciosos envolvidos.
que causam a doença.
A fasciite necrosante do tipo I é responsável pela
maioria dos casos de fasciite necrosante. Os agentes
causadores são polimicrobianos. Anaeróbios, aeróbios
gram-negativos e bactérias facultativas agem de forma si-
nérgica para produzir a extensa destruição tecidual. Em
estágios iniciais, pode ser confundida com uma celulite
simples e o profissional deve ter um alto grau de suspeita
para chegar ao diagnóstico. O aspecto da pele varia desde
um eritema leve inicial até vesículas purpúreas vermelhas
com corrimento aquoso de cheiro fétido. A dor está quase
universalmente presente e com frequência é despropor­
cional, além disso, apresenta sinais visíveis de infecção
da pele. O gás pode ou não estar presente nos tecidos
subcutâneos. Uma forma bastante reconhecida dessa en­
tidade ocorre no períneo, sendo denominada de gangrena
de Fournier.
A fasciite necrosante do tipo II é causada por um
agente único, os estreptococos hemolíticos do grupo A.
Essa infecção representa 10% dos casos de fasciite ne­
crosante. Os subtipos particularmente virulentos deram a
esse patógeno a distinção do apelido de “bactérias come­
doras de carne” pela imprensa leiga. É mais provável que
o tipo II da fasciite necrosante ocorra em pacientes mais
jovens, mais saudáveis e sem enfermidades predisponen-
tes. Em mais de um terço dos pacientes, nenhum portal de
Figura 4.4 Radiografia simples do ombro esquerdo em um pa­ entrada é identificado. Os achados característicos dessa
ciente com infecção necrosante de tecidos moles. (Fotografia: infecção incluem necrose rapidamente progressiva, a rara
contribuição de Chris Ross, M D.) presença de gás e alta incidência de síndrome de choque
Emergências Ortopédicas 81

tóxico estreptocócico. Os agentes antibióticos de escolha O diagnóstico de SDRC tem como base primária a
incluem a penicilina e a clindamicina combinadas, mas a história e o exame físico. Uma história de trauma recen­
cobertura de amplo espectro é instituída até que os resul­ te ou remoto é seguida por dor que é anormalmente pro­
tados da cultura estejam disponíveis. longada ou fora de proporção para o evento incitante. A
síndrome é mais comum na extremidade superior, mas as
Mionecrose dostridial (gangrena gasosa) extremidades inferiores também podem ser afetadas. Ao
Infecção necrosante, distinta da muscular, causada pelo exame físico, o profissional pode encontrar edema, fra­
C lostridium p erfrin g en s ou septicum . Os fatores predis- queza muscular, rigidez articular ou atrofia. A alodinia,
ponentes mais comuns incluem trauma e cirurgia. Como o ou dor devido a um estímulo tátil inócuo, pode estar pre­
nome implica, a formação de gás e a crepitação são carac­ sente. As alterações cutâneas incluem reticulação, desco­
terísticas proeminentes. Tal condição pode apresentar-se loração e alterações sudomotoras (secura ou transpiração
de maneira similar às outras formas de infecções necro- anormal). As alterações distróficas incluem crescimento
santes de tecidos moles, mas as características distintivas anormal de pelos e unhas, pele brilhante ou hiperceratose.
incluem descoloração bronzeada-marrom da pele, forma­ Diferenças de temperatura acima de 1°C na pele das extre­
ção de bolhas e copiosa drenagem de secreção de odor midades são encontradas em 42% dos pacientes.
fétido. O curso da mionecrose dostridial é rápido, com A síndrome é dividida em três estágios clínicos: agu­
35 36
um período de incubação de menos de 24 horas. do, distrófico e atrófico. No estágio agudo, o paciente se
O tratamento é a rápida descompressão e o debrida- queixa de dor ou dolorimento constante na extremidade.
mento cirúrgico. Os agentes antibióticos de escolha, tal Uma característica fundamental para o diagnóstico inicial
como na fasciite necrosante tipo II, incluem penicilina dessa síndrome é que a dor aumenta com estímulos ex­
e clindamicina. As câmaras de oxigênio hiperbárico têm ternos ou movimento e é fora de proporção à gravidade
maior benefício nas infecções clostridiais do que nas ou­ da lesão precedente. Durante os meses seguintes, a pele
tras formas de infecções necrosantes de tecidos moles. toma-se fria e brilhante, com amplitude de movimento li­
mitada. O estágio distrófico é caracterizado pela presença
SÍNDROME DA DOR REGIONAL COMPLEXA de dor crônica com descritores neuropáticos (queimação,
(DISTROFIA SIMPATICORREFLEXA) alodinia, disestesia, hiperalgesia ao frio) em uma extremi­
dade. O estágio atrófico é caracterizado por contraturas
Mais recentemente conhecida como distrofia simpati- da atrofia de pele e movimento muscular e articular gra­
correflexa, o termo sín d m m e da d o r regional com plexa vemente limitado. A progressão desses estágios é variável
(SD R C ) foi criado para melhor descrever essa síndrome,
na prática clínica real.
que nem sempre está associada à distrofia da extremida­
Quando os pacientes são tratados dentro dos seis me­
de ou ao envolvimento do sistema nervoso simpático.
ses depois do aparecimento dos sintomas, mais de 70%
Outras condições que têm sido usadas como sinônimo in­
têm redução significativa na dor após o tratamento. O
cluem distrofia reflexa pós-traumática, atrofia de Sudeck,
papel do médico da emergência, por conseguinte, é de
distrofia reflexa, síndrome mão-ombro e causalgia.
considerar essa condição e encaminhar o paciente. A ex­
A SDRC é uma condição dolorosa de uma extremida­
tremidade ferida deve ser imobilizada e o alívio temporá­
de que se segue ao trauma, à infecção ou à cirurgia. É mais
rio da dor deve ser fornecido. Os medicamentos anti-in-
comum em adultos jovens e ocorre com mais frequência
em mulheres do que homens em uma proporção de 3:1. A flamatórios não esteroides são comumente recomendados
síndrome é rara em pacientes negros. Em alguns casos, o e reduzem a dor em 40% dos pacientes. O uso de corti-
evento traumático é de gravidade mínima, como após uma costeroides é controverso, mas esses agentes mostram-se
venopunção ou uma injeção intramuscular. A SDRC tam­ efetivos se administrados dentro dos primeiros seis meses
bém pode ser vista em pacientes com neoplasias, infarto dos sintomas. A dose de prednisona é de 60 a 80 mg/dia,
do miocárdio ou doenças do sistema nervoso central. Um seguida por uma rápida diminuição.
evento precipitante não é identificado em 10% dos casos. Em pacientes com uma forma leve de SDRC, a recu­
A fisiopatologia da SDRC não está completamente peração pode ser espontânea. A fisioterapia é considerada
entendida. É normal que, após uma lesão na extremidade, um tratamento de primeira linha, sendo, provavelmente,
o sistema nervoso simpático seja ativado. A vasoconstri- mais importante do que as terapias farmacológicas. Ou­
ção no membro leva a uma redução no fluxo sanguíneo. tras terapias incluem bloqueio intravenoso do sistema
Se o tônus simpático persistir de forma inadequada, re­ nervoso simpático, agentes bloqueadores a-adrenérgicos,
sulta em edema, colapso capilar e isquemia. Esses sinto­ /1-bloqueadores, bloqueadores dos canais de cálcio, anti-
mas geram dor adicional, que reexcita os nervos simpáti­ depressivos e anticonvulsivantes. Também tem sido em­
cos e cria um circuito positivo de retroalimentação. Esse pregada a anestesia epidural contínua, as bombas intrate-
reflexo patológico do sistema nervoso simpático acarreta cais com opioides e a simpatectomia cirúrgica. Nenhum
anormalidades no fluxo sanguíneo, dor e, por fim, em tratamento de emergência é necessário; contudo, é impor­
atrofia. tante que o médico da emergência reconheça a condição
82 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

precocemente, de forma que o acompanhamento apropria­ ► TABELA 4.1 Características diagnósticas de síndrome
do possa ser feito. da em bolia gordurosa (SEG)a

Critérios maiores
SÍNDROME DA EMBOLIA GORDUROSA Insuficiência respiratória
Estado mental alterado
A embolia gordurosa ocorre em quase todos os pacientes Erupção cutânea petequial
que apresentam uma fratura pélvica ou de osso longo. Critérios menores
Embora a maioria dos pacientes permaneça as sintomáti­ Febre
Taquicardia
ca, a síndrome de embolia gordurosa (SEG) desenvolve-
Alterações retinianas
-se em 0,5 a 3% dos pacientes. As taxas de mortalidade da
Icterícia
SEG são de até 20% em casos graves. A SEG é caracteri­ Insuficiência renal
zada por uma tríade clássica de sofrimento pulmonar, alte­ Anem ia
rações no estado mental e uma erupção cutânea petequial Trombocitopenia
que se desenvolve entre 6 e 72 horas depois da lesão. A in­ Velocidade de sedimentação globular elevada
cidência aumenta em adultos jovens com lesões múltiplas a Para fazer o diagnóstico de SEG, um critério maior e três critérios
e raramente ocorre em crianças ou pacientes com fraturas menores, ou dois critérios maiores e dois menores, devem estar presentes.
nas extremidades superiores. Em pacientes com fraturas
bilaterais de fêmur, foi relatada alta incidência de SEG,
de até 33%.49 O envolvimento pulmonar é a característica mais pre­
Existem muitas teorias relativas à etiologia da SEG. coce e está presente em 75% dos pacientes. Manifesta-se
Após uma fratura, a gordura intramedular é liberada na como taquipneia e dispneia, que podem ser confundidas
circulação venosa. Esses glóbulos de gordura subsequen­ com embolia pulmonar. A hipóxia está presente, e o P 0 2
temente embolizam em órgãos terminais como os pul­ é frequentemente abaixo de 50 mmHg. Estertores úmi­
mões, o cérebro e a pele. A obstrução mecânica dos leitos dos podem ser observados sobre os campos pulmonares
capilares dos órgãos terminais tem sido proposta como examinados. A radiografia do tórax é normal em casos
uma fonte potencial de lesão na SEG. Entretanto, um re­ leves a moderados, mas, depois de um retardo inicial, o
tardo de 24 a 48 horas entre a lesão e o aparecimento de edema pulmonar bilateral difuso se desenvolve em casos
sintomas não pode ser explicado somente pela obstrução graves. Os achados da TC de alta resolução em casos
mecânica. Esse fato ocasionou uma segunda teoria, na leves de SEG demonstram opacidades de vidro fosco. A
qual os êmbolos de gordura desencadeiam uma cascata ventilação mecânica será necessária em 10% dos pacien­
inflamatória que danifica o tecido dos órgãos terminais. tes. A função pulmonar retoma completamente dentro de
Nessa teoria, os êmbolos de gordura são metabolizados uma semana.
para ácidos graxos livres que, quando presentes em altas Os sintomas neurológicos variam desde inquietação
concentrações, induzem a uma reação inflamatória que até confusão ou convulsões. O coma prolongado devido
danifica os órgãos terminais. É ainda obscuro por que essa à embolia gordurosa cerebral foi relatado mas, na maioria
síndrome se desenvolve em alguns pacientes e não em ou­ dos casos, os sintomas se resolvem de forma espontânea.
tros, embora a probabilidade pareça aumentar em pacien­ A recuperação das funções corticais mais altas pode ser
tes com fraturas mais significativas. retardada. A TC do cérebro será negativa, mas a RMN
pode ajudar a diagnosticar a embolia gordurosa cerebral
Manifestações clínicas ao revelar anormalidades de sinal de alta intensidade em
áreas demarcatórias.
Todos os casos têm um período latente que varia desde As petéquias são observadas em 50% dos pacientes
6 horas até vários dias após da lesão. Aproximadamente com SEG. Acredita-se que a gravidade específica baixa
25% dos pacientes desenvolvem os sintomas nas primei­ dos glóbulos de gordura predisponha à embolização em
ras 12 horas e 75% terão os sintomas em 36 horas. áreas cutâneas não dependentes. Por conseguinte, as peté­
As características clínicas do distúrbio são divididas quias são inicialmente observadas sobre as pregas axilares
em categorias maiores e menores (Tab. 4.1). As caracte­ anteriores e na superfície anterior do pescoço e do tórax.
rísticas maiores incluem insuficiência respiratória, envol­ Elas também são encontradas na mucosa bucal e conjun­
vimento cerebral e erupção cutânea petequial. As carac­ tiva. A distribuição e a intensidade da erupção cutânea va­
terísticas menores incluem febre, taquicardia, alterações riam, e a resolução é notada dentro de uma semana.
retinianas, icterícia e insuficiência renal. Outras caracte­
rísticas laboratoriais incluem anemia, trombocitopenia,
Tratamento
ou VSG elevada. Pelo menos uma das três características
maiores somada a três critérios menores, ou dois critérios O pilar do tratamento é a prevenção e a detecção precoce.
maiores e dois secundários devem estar presentes para fa­ Acredita-se que a ressuscitação inicial, a estabilização e
zer o diagnóstico de SEG. o tratamento cirúrgico tenham diminuído a incidência de
Emergências Ortopédicas 83

SEG em anos recentes. A imobilização sem movimento 12. Botte MJ, Keenan MA, Gelberman RH. Volkmann’s ische­
excessivo permitido demonstrou reduzir a incidência de mic contracture of the upper extremity. Hand Clin 1998;
SEG. Além disso, a redução aberta com fixação inter­ 14(3):483-97, x.
na dentro de 24 a 48 horas da lesão previne a embolia. 13. Zuker RM. Volkmann’s ischemic contracture. Clin Blast
Quando a permanência prolongada for necessária no setor Surg 1989;16(3):537-545.
de emergência, a frequência respiratória e a oximetria de 14. Lapuk S, Woodbury DF. Volkmann’s ischemic contracture.
pulso devem ser continuamente monitoradas e o tratamen­ A case report. Orthop Rev 1988;17(6):618-624.
to com oxigênio suplementar ser administrado no primei­ 15. Newmeyer WL, Kilgore ES Jr. Volkmann’s ischemic con­
ro sinal de qualquer comprometimento. 7,58 tracture due to soft tissue injury alone. J Hand Surg [Am]
Dos pacientes que desenvolvam SEG, um terço dos 1976; l(3):221-227.
casos são leves e requerem somente tratamento de supor­ 16. Moore RE III, Friedman RJ. Current concepts in pathophy­
te. O manejo da insuficiência respiratória secundária à siology and diagnosis of compartment syndromes. J Emerg
embolia gordurosa é similar ao manejo da síndrome da Med 1989;7(6):657-662.
angústia respiratória do adulto. O suporte respiratório 17. Brem H, Sheehan P, Boulton AJ. Protocol for treatment of
com oxigênio é empregado para manter a P a0 2 acima de diabetic foot ulcers. Am J Surg 2004;187(5A):1S-10S.
70 mmHg. Existem dados controlados insuficientes para 18. Lazzarini L, Mader JT, Calhoun JH. Osteomyelitis in long
confirmar o valor dos esteroides parenterais no tratamento bones. J Bone Joint Surg Am 2004;86-A(10):2305-2318.
dessa condição inflamatória, embora alguns autores reco­ 19. Lew DP, Waldvogel FA. Osteomyelitis. Lancet 2004;
mendem a metilprednisolona intravenosa em dose de 30 364(9431):369-379.
mg/kg. Permanece controvérsia sobre o valor da heparina, 20. Perron AD, Brady WJ, Miller MD. Orthopedic pitfalls in
que é recomendada por alguns como um agente lipolítico. the ED: Osteomyelitis. Am J Emerg Med 2003;21(l):61-67.
O esteio do tratamento, contudo, é o suporte respiratório, 21. Santiago RC, Gimenez CR, McCarthy K. Imaging of os­
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Capítulo 5
Técnicas de Imagens Especiais
As radiografias simples constituem um adjunto sufi­ Aplicações
ciente para a história e o exame físico na avaliação da
As aplicações da cintilografia óssea com radiofármacos
maioria das queixas agudas das extremidades. Deve ser
na avaliação de queixas agudas das extremidades podem
enfatizado que tal afirmação é verdade com a pressupo­
ser divididas nas categorias traumática e não traumática,
sição de que a qualidade das incidências seja adequada.
conforme visto na Tabela 5.1.
Um mínimo de duas incidências perpendiculares é ne­
Alguns dos problemas sutis que podem ser identifi­
cessário para visualizar e descrever de forma adequada
cados com esse processo incluem as fraturas ocultas, a
as fraturas. As incidências oblíquas são incluídas para os
artrite de facetas e até condições inflamatórias difíceis de
punhos, as mãos, os tornozelos e os pés. Além disso, as
diagnosticar que podem não estar claramente evidentes
radiografias das articulações acima e abaixo de uma fra­
ou ser confundidas com outras entidades. A tendinite e a
tura devem ser consideradas para excluir a presença de
tenossinovite são condições inflamatórias do tendão que
subluxação ou luxação.
podem ser diagnosticadas por cintilografia óssea quando
Várias outras técnicas de imagens estão disponíveis,
for difícil separá-las de outros problemas. A tendinite do
oferecendo informações adicionais. Essas técnicas, que
calcâneo e a tendinite patelar têm sido diagnosticadas pela
incluem a cintilografia óssea com radiofármacos, ultras-
cintilografia óssea em casos difíceis. As lesões epifisá-
sonografia, tomografia computadorizada (TC), ressonân­ rias, bem como a síndrome facetária, também podem ser
cia magnética nuclear (RMN) e fluoroscopia, são vabosas diagnosticadas por essa técnica. Com base na excelente
na avaliação de alguns distúrbios musculoesqueléticos sensibilidade da cintilografia óssea, Holder desenvolveu
agudos. Esses exames e as situações clínicas em que eles um algoritmo diagnóstico a ser aplicado em casos difíceis
são úteis são abordados neste capítulo. quando houver suspeita de lesão, mas as radiografias sim­
ples são normais (Fig. 5.1).
CINTILOGRAFIA ÓSSEA COM
Dor óssea traumática
RADIOFÁRMACOS
O exame com radiofármaco geralmente revela o distúrbio
Em imagens esqueléticas com radiofármacos, os isóto­ metabólico em um local de fratura aguda dentro de até 24
pos direcionados ao osso são administrados ao paciente horas da lesão. A cintilografia óssea pode, por conseguin­
via intravenosa, permitindo a sua locabzação dentro do te, ser usada para diagnosticar as fraturas da escápula, do
esqueleto. A energia de fótons emitida é então registrada esterno, do sacro e de porções da pelve que sejam clinica-
em três fases, usando uma câmara gama: na hora da admi­ mente suspeitas, mas anatomicamente difíceis de demons­
nistração do radiofármaco; nos primeiros minutos depois trar com as radiografias simples/
da injeção e 3 a 6 horas mais tarde. Numerosos isótopos
foram usados para esse propósito no passado. Atualmente,
► TABELA 5.1 Aplicações da cintilografia óssea com
a cintilografia óssea clínica emprega principalmente o tec-
radiofármacos na avaliação das queixas agudas das
nécio-99 acoplado a fosfatos orgânicos. Esses compostos
extremidades
combinam uma baixa dosagem de radiação absorvida com
imagens de alta resolução do esqueleto, que são registra­ I. Traumáticas
dos de 2 a 3 horas após a injeção do isótopo. A. Fraturas
1. Localizações anatomicamente difíceis
A cintilografia óssea é uma ferramenta extremamen­
2. Fraturas ocultas (não deslocadas ou fraturas de
te sensível, mas bastante inespecífica para detectar uma
estresse)
ampla variedade de anormalidades esqueléticas e de teci­ B. Osteonecrose traumática sem fratura
dos moles. A base fisiopatológica da técnica é complexa II. Não traumáticas
e depende das diferenças localizadas no fluxo sanguíneo, A. Osteomielite
na permeabihdade capilar e na atividade metabóhca que B. Tumor (primário ou metastático)
acompanha qualquer lesão, infecção, processo de repa­ C. Fraturas ocultas
ração ou crescimento de tecido ósseo. Esses processos D. Dor no quadril
criam um aumento na captação de isótopos, resultando 1. Adultos : Necrose asséptica, artrite, osteoporose
transitória, fratura oculta do colo do fêmur
em “pontos quentes” no exame. A comparação dos lados
2. Crianças: Sinovite transitória, artrite, doença de
afetado e não afetado é usada para detectar as diferenças
Legg-Calvé-Perthes
na captação.
86 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

DOR ÓSSEA A cintilografia óssea de três fases é muito sensível,

I sendo o exame de escolha na avaliação de pacientes com


suspeita de osteomielite e com radiografia normal. Um
RADIOGRAFIA SIMPLES NORMAL exame com leucócitos autólogos marcados com índio-111

I é o segundo exame mais custo-efetivo e tem especifici­


dade mais alta do que a cintilografia óssea. Esse exame
CINTILOGRAFIA ÓSSEA DE TRÊS FASES também pode ser usado na avaliação da fraturas ocultas e
de estresse.
NORMAL ANORMAL Os tumores, tanto primários como metastáticos, são

I / \ detectáveis pela cintilografia óssea quando causam sinto­


mas. A capacidade de o exame cobrir o esqueleto inteiro é
NENHUMA OSSO/ARTICULAÇÃO TECIDO MOLE particularmente útil ao determinar a presença e a extensão
INVESTIGAÇÃO
ADICIONAL
da doença metastática. As radiografias simples das áreas
suspeitas de abrigarem metástases devem ser obtidas para
TC OU, RMN eliminar a possibilidade de lesões benignas, como doença
POSSIVELMENTE, RMN
articular degenerativa ou fraturas antigas.
Figura 5.1 Algoritmo diagnóstico usando a cintilografia óssea A cintilografia óssea é muito útil na avaliação da dor
para detectar lesão de extremidades. não traumática do quadril em adultos e crianças quando
as radiografias simples estiverem normais ou forem não
diagnósticas. Em adultos, a artrite degenerativa ou infla­
Mais importante, o exame é útil para avaliar a pos­ matória, a necrose avascular, a osteoporose transitória
sibilidade de fratura em determinadas localizações que e as fraturas de estresse ocultas comumente se apresen­
são notórias por fraturas ocultas. O escafoide do carpo, tam com dor no quadril. A cintilografia óssea é útil para
a cabeça do rádio e o colo do fêmur podem ser avaliados distinguir entre elas. A necrose avascular aparece como
dessa maneira. As fraturas de estresse dos metatarsais e de um ponto quente sobrejacente à cabeça femoral ou como
outros ossos são vistas nas cintilografias em até duas se­ uma área central fria cercada por um anel de captação
manas antes de ficarem visíveis em radiografias simples. aumentada. A osteoporose transitória, uma entidade que
Desse modo, se houver uma suspeita clínica de fratura, afeta principalmente homens jovens, também demonstra
ainda não confirmada com as radiografias simples, de­ captação aumentada na cabeça do fêmur quando vista na
vem ser considerados a imobilização e o encaminhamento cintilografia óssea.
apropriado para cintilografia óssea. A artrite causa aumento da captação de isótopos no
Em casos raros, uma parte ou a totalidade de um osso periarticular, em ambos os lados da articulação. Por
osso pode sofrer necrose avascular depois de um trau­ fim, as fraturas ocultas do colo do fêmur, resultantes do
ma, na ausência de fratura. O semilunar carpal (doença estresse normal aplicado em ossos enfraquecidos pela os­
de Kienböck) e os ossos metatarsais são mais frequente­ teoporose, são vistas na cintilografia óssea como bandas
mente afetados. A cintilografia óssea mostra aumento da de captação aumentada localizadas no colo do fêmur.
captação nesses locais antes do aparecimento das anorma­ Em crianças jovens que se apresentam com dor
lidades nos filmes simples. inexplicável no quadril, o diagnóstico diferencial inclui
sinovite transitória, doença de Legg-Calvé-Perthes, ar­
Dor óssea não traumática trite infecciosa e osteoma osteoide. O exame com ra­
Além das aplicações já citadas, a cintilografia óssea com diofármaco é útil nessa população, embora técnicas de
radiofármaco pode ser usada para avaliar queixas esque­ exame especializado possam ser necessárias para produ­
léticas não traumáticas que exijam investigação adicional. zir imagens esqueléticas de alta resolução em pacientes
A osteomielite causa captação aumentada e locali­ mais jovens.
zada do isótopo, que é visível na cintilografia óssea den­ A cintilografia óssea na doença de Legg-Calvé-Per-
tro de 48 horas do início da infecção - um momento em thes revela captação reduzida na cabeça do fêmur, pre­
que as radiografias simples carecem de sensibilidade. A cocemente, na doença. Mais tarde, um anel de captação
técnica é bastante útil, pois em muitos pacientes é difí­ aumentada pode cercar a zona fria. A cintilografia óssea
cil diferenciar entre a osteomielite aguda e uma celuli­ é normal na sinovite transitória. Como mencionado antes,
te localizada que não envolve o osso. Os pacientes com a artrite inflamatória - incluindo a artrite séptica - causa
infecção de tecidos moles mostram captação aumentada o aumento da captação de isótopos no osso periarticular.
de isótopos nas primeiras duas fases do exame, enquanto Finalmente, o osteoma osteoide, uma neoplasia benigna
os pacientes com osteomielite terão captação aumentada comum que pode não ser visível em radiografias simples
em todas as três fases. Os exames falso-negativos têm quando se originar na articulação do quadril, causa um
sido vistos depois do tratamento com antibióticos ou cor- ponto de captação aumentado muito localizado na cinti­
tico steroides. lografia óssea, cercado de uma área difusa de aumento na
Emergências Ortopédicas 87

captação causado pela vascularização anormal. Os filmes usada para detectar abscessos simples, piomiosite, bursi-
simples podem revelar osteoporose no osso periarticular. te e tenossinovite sépticas, derrames articulares e fluido
subperiostal associado com osteomielite.9
ULTRASSONOGRAFIA
TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA
A ultras sonografia está ganhando destaque dentro da es­
pecialidade da medicina de emergência, e esse papel não Os avanços numerosos na TC têm expandido o seu uso
tem excluído o seu uso em condições ortopédicas. As nas lesões de ossos e tecidos moles. Com o advento da TC
aplicações incluem a identificação de corpos estranhos e espiral com múltiplos detectores, tanto a velocidade como
a detecção de abscessos. Além disso, a pesquisa recente a resolução melhoraram, e as reconstruções computado­
tem sugerido que essa modalidade é útil para diagnosticar rizadas tridimensionais tornam o diagnóstico mais fácil.
as fraturas de extremidades em contextos militares, onde As duas principais áreas onde a TC é útil na ortopedia de
outras alternativas de imagens não estejam disponíveis. emergência incluem a avaliação do trauma e a avaliação
A ultras sonografia pode ser empregado para identi­ das infecções de tecidos moles e tumores.
ficar corpos estranhos dentro de tecidos moles. Usando
uma sonda de alta frequência de 7,5 a 10 MHz, a ultrasso- Trauma
nografia é a melhor técnica para detectar corpos estranhos
radioluzentes (plástico e madeira) apresentando maior A TC espiral tem duas principais aplicações na avaliação
eficácia que a radiografia convencional e a fluoroscopia. de uma extremidade traumatizada: (1) detectar uma fratu­
Em um modelo experimental, a ultrassonografia identi­ ra que seja clinicamente suspeitada, mas não visualizada
ficou corpos estranhos de madeira e plástico com sensi­ nas radiografias simples e (2) determinar a extensão de
bilidade de 83% e especificidade de 59%. Os médicos uma fratura previamente identificada. A Tabela 5.2 deli­
de emergência treinados nessa técnica exibem taxas de neia as áreas específicas onde a TC espiral é útil no con­
detecção similares aos tecnólogos de ultrassonografia e texto de trauma.1 Além disso, a TC é útil para a de­
radiologistas. tecção de corpos estranhos de madeira dentro dos tecidos
20
O papel da ultrassonografia nas infecções musculoes- moles das extremidades (Fig. 5.2)."
queléticas de tecidos moles também está se expandindo. A A TC tem se mostrado útil na avaliação das fraturas
localização das coleções de tecidos moles pela ultrassono­ pélvicas. O formato axial permite melhor visualização
grafia ajuda a estreitar o diagnóstico diferencial com base do deslocamento anterior e posterior, se comparado às
no achado de fluido na derme, na articulação, na bolsa ou radiografias simples. O acetábulo é bem visualizado com
no músculo. Por essa razão, a ultrassonografia pode ser essa técnica, e os dados fornecidos pela TC podem in-

► TABELA 5.2 Áreas específicas nas quais a tomografia com putadorizada (TC) espiral é útil no contexto do trauma

Área de interesse Vantagens da TC espiral


Ombro M elhor diagnóstico das fraturas associadas às luxações do ombro
Detecção de fraturas escapulares sutis
Determinação da rotação de fragmentos e do deslocamento das fraturas do úmero proximal
que impactam a decisão de operar
Articulação esternoclavicular Detecção de lesões dos grandes vasos depois da luxação posterior
Diagnóstico de lesões associadas comuns como as fraturas de costelas e do ombro
Cotovelo Detecção de fraturas ocultas
Punho Detecção de fraturas ocultas. Superior aos filmes simples para diagnosticar as fraturas do
escafoide e do semilunar
Pelve Detecção de fraturas acetabulares sutis
Detecção de lesão vascular associada (84% de sensibilidade e 85% de especificidade para
diagnosticar sangramento ativo)
M elhor delineação das lesões posteriores
Quadril Diagnóstico de fragmentos intra-articulares e lesões da superfície articular da cabeça do
fêmur
Diagnóstico de fraturas ocultas não deslocadas
Joelho M aior capacidade de determinar a depressão de fragmentos da fratura
M odificação do plano de tratamento em até metade dos pacientes
Tornozelo e calcâneo M elhor sensibilidade que os filmes simples quando houver suspeita de extensão ao espaço
articular
Útil para indicações cirúrgicas e para planejar casos selecionados
88 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

A TC ajuda no diagnóstico da fasciite necrosante, absces­


so intramuscular, miosite, piomiosite e osteomielite.
A TC tem demonstrado ser uma ferramenta extre­
mamente valiosa na avaliação das neoplasias de ossos e
tecidos moles das extremidades. De forma geral, o
médico da emergência encaminha os pacientes com sus­
peita de tumores ósseos, mas a disponibilidade crescente
da TC pode tomá-la parte na rotina da avaliação inicial.
Embora a TC possa não ser diagnóstica, com frequência
provê informação importante sobre a densidade da massa,
a sua relação ao osso, aos nervos e aos vasos normais e a
presença ou ausência de recidiva em pacientes que trata­
dos cimrgicamente. A cintilografia com radiofármaco e
a RMN são ferramentas mais sensíveis para a detecção de
neoplasias das extremidades, enquanto a TC é superior na
detecção da destmição cortical e de calcificação da lesão.

RESSONÂNCIA MAGNÉTICA NUCLEAR


Em pacientes com lesões das extremidades, a RMN per­
manece um exame poucas vezes solicitado no setor de
emergência. Entretanto, a RMN em pacientes com trauma
musculoesquelético agudo tem aplicação crescente que
deve ser compreendida pelo médico da emergência.
Figura 5.2 Corpo estranho (palito) no antepé visto no exame A RMN do osso identifica lesões traumáticas ocul­
de tomografia computadorizada (TC) (seta). tas, como as fraturas do escafoide e do colo do fêmur,
26 28
nem sempre vistas com outras técnicas de imagens.
Os tipos de lesões detectadas pela RMN incluem as con­
fluenciar na decisão em prosseguir com redução aberta e
tusões ósseas, fraturas de estresse ou insuficiência e fra­
o tipo de procedimento necessário. O custo e a exposi­
turas osteocondrais. As evidências crescentes sugerem
ção de radiação dessa técnica, contudo, devem ser consi­
derados, e a técnica não deve ser usada como rotina em que as fraturas ocultas são detectadas pela RMN mais
todas as fraturas pélvicas. As fraturas simples que não cedo e com maior especificidade do que com a cintilo­
envolvem o acetábulo, que sejam estáveis ao exame clí­ grafia óssea.
nico são, em geral, adequadamente avaliadas com filmes Além disso, a RMN é indispensável no diagnóstico de
simples. diversos problemas de tecidos moles. A RMN é sensível e,
A TC pode avaliar as fraturas não deslocadas da ca­ por conseguinte, rotineiramente usada após um trauma de
beça e do colo do fêmur. A projeção axial permite boa joelho para detectar lesões ligamentares e meniscais. No
visualização da cabeça do fêmur e a sua relação com o ombro, a RMN é usada para avaliar a integridade do man­
acetábulo. Os fragmentos ósseos ou as distorções da su­ guito rotador, do lábio glenoide e do tendão do bíceps.
perfície articular, que não são visíveis nos filmes simples, E, no tornozelo, é usada para detectar lesão do tendão do
são vistos na TC de alta resolução. calcâneo, dos tendões flexores, extensores e fibulares. 730
A introdução da TC e da RMN tem levado a uma me­
lhor avaliação das lesões de Salter na fise, epífise e metá- FLUOROSCOPIA
fise. Além disso, a análise dos distúrbios do crescimento e
as lesões nessas estruturas tem se tomado muito mais fácil A fluoroscopia usa feixes de raios X que incidem sobre
usando essas duas técnicas de imagens. uma placa fluorescente que está acoplada a um inten-
sificador de imagens e um monitor. Para o uso no setor
de emergência, um fluoroscópio, ou intensificador mó­
Infecções de tecidos moles e tumores
vel, pode ser comprado por US$30.000 a US$60.000
O advento da TC espiral tem aumentado a sensibilidade (Fig. 5.3). A vantagem primária da fluoroscopia é a capa­
para detectar os processos inflamatórios e infecciosos em cidade de visualizar estruturas anatômicas em tempo real.
tecidos moles, pois, todo o exame pode ser obtido no pico Os filmes fluoroscópicos mostraram ser iguais às radio­
do bolus de contraste intravenoso. A TC ajuda o profis­ grafias simples para avaliar as lesões esqueléticas. Eles
sional ao demonstrar a extensão do processo, incluindo os oferecem vantagens, pois demonstram o movimento dos
compartimentos envolvidos. Essa informação causa im­ fragmentos da fratura e o examinador pode obter incidên-
pacto na necessidade do manejo cirúrgico versus clínico. cias múltiplas. " Em adição, a fluoroscopia diminui o
Emergências Ortopédicas 89

emergência poderia trabalhar com o instrumento em 1 m


de distância continuamente por 2 horas todos os dias, e
ainda estar sob o equivalente da dose máxima permissível
para os trabalhadores com radiação. Embora essa esta­
tística seja estimulante, a maior parte do trabalho é execu­
tada em uma distância menor que 1 m e, por conseguinte,
os aventais de chumbo são recomendados, já que reduzem
a exposição à radiação em 85%.

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A vantagem da visualização em tempo real usando a 308.
fluoroscopia é para a remoção de corpos estranhos, redu­ 7. Hill R, Conron R, Greissinger P, et al. Ultrasound for the
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lar à radiografia convencional, a fluoroscopia detecta fide­ Med 1997 ;29(3):353-356.
dignamente pedregulhos, metal e vidro, mas não pode ser 8. Orlinsky M, Knittel P, Feit T, et al. The comparative accu­
usada para identificar plástico ou madeira. A técnica racy of radiolucent foreign body detection using ultrasono­
é facilmente aprendida pelos profissionais, e as taxas de graphy. Am J Emerg Med 2000; 18(4):401-403.
retenção são altas. Para materiais estranhos radiopacos, 9. Cardinal E, Bureau NJ, Aubin B, et al. Role of ultrasound
a remoção é ajudada porque o profissional pode visuali­ in musculoskeletal infections. Radiol Clin North Am
zar tanto o instrumento como o corpo estranho. Embora 2001 ;39(2): 191 -201.
o fluoroscópio esteja ligado, a extremidade é facilmente 10. Albrechtsen J, Hede J, Jurik AG. Pelvic fractures. Asses­
manipulada para dar o quadro tridimensional, permitindo sment by conventional radiography and CT. Acta Radiol
que o objeto seja localizado e removido. 1994;35(5):420-425.
O uso da fluoroscopia também é vantajoso na redução 11. Wechsler RJ, Schweitzer ME, Karasick D, et al. Helical
de fraturas. Ao invés de enviar o paciente de volta ao setor CT of calcaneal fractures: Technique and imaging features.
de radiologia, a confirmação da redução adequada pode Skeletal Radiol 1998;27(1): 1-6.
ser imediatamente obtida com um fluoroscópio portátil. 12. Chan PS, Klimkiewicz JJ, Luchetti WT, et al. Impact of CT
A redução de fraturas com um fluoroscópio portátil no se­ scan on treatment plan and fracture classification of tibial
tor de emergência é mais bem-sucedida, diminuindo em plateau fractures. J Orthop Trauma 1997; 11(7):484-489.
30% a necessidade das idas à radiologia para os controles 13. Pretorius ES, Fishman EK. Spiral CT and three-dimensio­
pós-redução. Essa técnica também reduz a necessidade nal CT of musculoskeletal pathology. Emergency room ap­
de sedação para o procedimento, garantindo que a redu­ plications. Radiol ClinNorthAm 1999;37(5):953-974, vi.
ção seja feita corretamente já na primeira vez. 14. Pretorius ES, Fishman EK. Volume-rendered threedimen­
A dose de radiação recebida pela fluoroscopia não sional spiral CT: Musculoskeletal applications. Radiogra­
é desprezível, mas o paciente recebe uma dose maior a phies 1999; 19(5): 1143-1160.
partir de uma radiografia convencional do que de uma “to­ 15. Liow RY, Birdsall PD, Mucci B, et al. Spiral computed to­
mada” de um fluoroscópio, com uma relação de 2:1. As mography with two-and three-dimensional reconstruction
estimativas de irradiação do corpo inteiro sugerem que o in the management of tibial plateau fractures. Orthopedics
profissional que usa um fluoroscópio portátil no setor de 1999;22( 10):929-932.
90 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

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Capítulo 6
Pediatria
PRINCÍPIOS GERAIS ambas as articulações na extremidade dos ossos longos,
são fundamentais para a avaliação do paciente. As inci­
As crianças se apresentam com lesões diferentes em rela­ dências de comparação são inestimáveis, particularmen­
ção às que são comumente vistas em adultos. As fraturas te ao buscar uma fratura sutil. As placas de crescimento
são mais prevalentes que as entorses, luxações e disten­ nas incidências de comparação, obtidas exatamente na
sões, pois as inserções ligamentares são mais fortes que mesma posição, devem ser atentamente avaliadas. Os
as inserções ósseas em crianças. Este capítulo discute sinais anterior e posterior do coxim de gordura ajudam
as lesões musculoesqueléticas peculiares na população a identificar fraturas sutis (Fig. 6.1). Os centros epifi-
pediátrica. Os seguintes termos são usados na ortopedia sários com frequência podem ser um desafio no exame
pediátrica: dos filmes simples e, por conseguinte, é imperativo que o
• F ise : A placa de crescimento cartilaginosa que apare­ médico saiba quando esses centros começam a aparecer
ce lucente em radiografias. (Fig. 6.2).
• E p ífise : O centro de ossificação secundária nas extre­
midades dos ossos longos que é separado pela fise do Classificação de Salter-Harris
resto do osso. A classificação de Salter-Harris refere-se às fraturas fisá-
• A pófise: Um centro de ossificação secundária na in­ rias (Figs. 6.3 e 6.4). Essa é uma classificação radioló-
serção dos tendões nos ossos. gica e não anatômica, que não está relacionada ao meca­
• D iáfise: A porção do eixo de um osso cortical longo. nismo ou à gravidade da lesão.
A S a lte r I é uma fratura através da fise, e respon­
• M etáfise: A porção alargada nas extremidades de um
de por 6% de todas as fraturas fisárias. Essas fraturas
osso, adjacente à fise.
podem estar deslocadas ou não deslocadas; contudo,
não existe nenhuma extensão próxima e ou distalmen-
Avaliação da criança te. Uma fratura Salter I não deslocada pode não estar
É importante palpar cuidadosamente a extremidade ilesa óbvia agudamente aos raios X; por conseguinte, a sus­
antes, para obter a confiança da criança. Também é im­ peita clínica é fundamental para chegar ao diagnóstico.
portante determinar se a história fornecida pelos pais ou Os pacientes tipicamente se apresentam com sensibili­
guardiães é consistente com as lesões observadas ou se dade dolorosa circunferencial ao longo da área fisária.
existe alguma sugestão de maus-tratos. Estas fraturas ocorrem na tíbia e na fíbula distai e podem
Pode ser difícil encontrar fratura em uma extremidade apresentar-se com o mesmo mecanismo de um torno­
ferida de criança que está chorando. Ao exame físico, a zelo torcido, sem qualquer sensibilidade dolorosa liga-
palpação das áreas que não estão fraturadas geralmente mentar. Além disso, essas fraturas ocorrem nas mãos e
machucam menos do que nas áreas feridas. A palpação nos dedos de crianças.
deve ser gentil, mas com suficiente pressão para fazer a A S alter II é uma fratura através da fise, que se conti­
comparação entre a região normal e a anormal em uma nua para a metáfise. Essas fraturas respondem por 75% de
criança que esteja sendo avaliada. todas as fraturas fisárias. As fraturas não deslocadas não
A avaliação neurológica da extremidade é frequente­ causam distúrbios no crescimento.
mente difícil. Uma resposta de defesa generalizada pode A fratura S a lter III se estende através da fise e con­
ser avaliada usando uma agulha. O enrugamento da pele tinua até na epífise. Tais fraturas respondem por cerca de
sugere que o nervo esteja intacto. Ao avaliar a condição 8% de todas as fraturas e, em geral, ocorrem em crianças
vascular da extremidade, a palpação dos pulsos pode ser maiores, com a fise parcialmente fechada. As fraturas Sal­
difícil em decorrência da gordura subcutânea e, por con­ ter III devem ser encaminhadas de imediato para ter uma
seguinte, é importante avaliar e documentar o tempo de redução cuidadosa e precisa.
enchimento capilar. As fraturas S a lter IV passam através da fise e esten­
dem-se tanto para a epífise como para a metáfise. Estas
fraturas respondem por 10% das fraturas fisárias. As fra­
Exame radiológico
turas Salter IV necessitam de redução precisa para preve­
Ao obter radiografias simples em crianças, pelo menos nir a consolidação óssea entre a epífise e a metáfise, pois
duas incidências perpendiculares entre si devem ser obti­ envolvem a fratura através da fise e estendem-se tanto
das. Além disso, vistas da extremidade inteira e incluindo proximal como distalmente. Essa fratura e a consolidação
92 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Figura 6.1 Um a fratura Salter III sutil do


cotovelo é mostrada na incidência lateral. Fratura tipo
Observar os coxins de gordura anterior e pos­ Salter III
terior.

15 anos
(18 anos) 3-6 anos
(15 anos)

6-27 meses
(20 anos) 1-8 meses
(15 anos)

1-3 meses 7-11 anos


(20 anos) (14 anos)

10-13 anos
(19 anos)

Figura 6.2 As regiões epifisárias das principais articulações do corpo. A idade na qual os centros de ossificação aparecem nas
radiografias é mostrada em meses ou anos. A idade na qual a união ocorre é mostrada em parênteses.
Emergências Ortopédicas 93

Normal Tipo I Tipo II

Metáfise

Fise

Epífise

Tipo III Tipo V

Figura 6.3 O sistema de classificação de Salter-Harris usado nas lesões epifisárias.

subsequente podem causar uma parada parcial ou comple­ Fraturas únicas em crianças
ta do crescimento.
Os ossos nas crianças são mais porosos do que os dos
As fraturas S a lter V são as lesões por esmagamento
adultos e, desse modo, as fraturas podem não aparecer tão
da fise, sendo o tipo mais grave de fratura. Felizmente,
prontamente. Os ossos infantis sofrem maior deformação
as fraturas Salter V respondem por somente 1% das fra­
turas fisárias. As fraturas Salter V podem não estar clara­ plástica e ocorrem microfraturas que não são vistas em
mente visíveis no momento da lesão e são muitas vezes adultos. Essas microfraturas podem não ser visualizadas
diagnosticadas retrospectivamente, quando a parada do em radiografias de rotina. O paciente pode apresentar-se
crescimento é notada. As incidências de comparação do com sensibilidade dolorosa, e o mecanismo sugerir trau­
membro contralateral são úteis para fazer o diagnóstico ma significativo ao osso ou à articulação, mas a radiogra­
na fase aguda. fia parecerá normal.
Uma preocupação fundamental com as fraturas que As fra tu ra s em endentação (“torus”) envolvem uma
envolvem a fise é o potencial para a parada ou retardo falha do osso com um mecanismo compressivo. Tais fra­
do crescimento. As fraturas Salter I e II têm o risco mais turas ocorrem sobre a região metafisária (Fig. 6.5). As fra­
baixo de distúrbios no crescimento, enquanto as fraturas turas em endentação são muito comuns, estáveis e curam
Salter IV e V têm a probabilidade mais significativa de de imediato quando imobilizadas. As complicações são
perturbá-lo. As fraturas em crianças podem resultar em muito raras.
subsequente distúrbio do crescimento que não é confinado As fra tu ra s em galho verde são incompletas, resul­
somente àquelas fraturas que envolvem as placas de cres­ tado da tensão de um osso submetido a um estresse de
cimento. Em geral, quanto maior o mecanismo e a força deformação (Figs. 6.6 e 6.7). Essas fraturas são anguladas
gerados, maior é a probabilidade de distúrbio no cresci­ e podem requerer a conversão para uma fratura completa,
mento, não importando o tipo de fratura. a fim de corrigir a deformidade.
94 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

A B

Figura 6.4 A. Fratura Salter II do rádio distai. B. Fratura Salter III do côndilo medial do fêmur. C. Fratura Salter IV do rádio distai

O arqueam ento ocorre quando o osso sofre deforma­ sociadas em função do deslocamento do osso durante o
ção plástica depois de uma lesão, e não recua à sua posição mecanismo de fratura. Assim, uma fratura pélvica mini­
original. A fíbula e a ulna são os ossos mais comumente mamente deslocada pode estar associada a uma lesão mais
envolvidos. Se houver uma fratura do osso adjacente, o significativa da bexiga, do plexo sacral ou da uretra do
encurvamento pode inibir a redução do osso fraturado. que aquela vista em uma fratura deslocada de modo simi­
Uma fratura minimamente deslocada pode resultar lar em um adulto.
em graves lesões de tecidos moles e lesões viscerais as­
Emergências Ortopédicas 95

Figura 6.7 Uma fratura incompleta (em galho verde) é mostra­


da através do rádio distai. Notar o arqueamento da ulna.

Figura 6.5 Fratura em endentação.


COLUNA VERTEBRAL

Lesões articulares em crianças Lesões cervicais


As luxações articulares traumáticas são bastante inco- O nível de lesão da coluna cervical varia conforme a ida­
muns em crianças, com exceção da articulação patelofe- de, devido ao efeito da cabeça relativamente grande da
moral. Os ligamentos estão inseridos à epífise e são mais criança e à frouxidão ligamentar. Por conseguinte, quando
fortes que o osso. A força excessiva na articulação de uma a lesão ocorrer em crianças jovens, torques e forças de
criança de hábito resulta em falha óssea, e não em lesão cisalhamento maiores são tipicamente aplicados à região
ligamentar ou luxação. Desse modo, as lesões ligamenta- de C l a C3. Em crianças, a causa mais comum de lesão é
res são incomuns e as lesões epifisárias têm mais chance a queda, enquanto em adolescentes, as lesões em esportes
de ocorrer. e os acidentes com veículos automotores se tomam mais
comuns. A incidência de déficit neurológico associado
a fraturas ou luxações da coluna cervical é de 20% em
crianças abaixo dos 8 anos e aproximadamente 40% em
crianças de 8 a 16 anos.

Pseudossubluxação
A extrema frouxidão dos ligamentos cervicais pode au­
mentar a sobreposição das vértebras adjacentes em 46%
das crianças abaixo dos 8 anos. Este achado, conhecido
como pseudossubluxação, é mais encontrada no nível de
C2 a C3 (Fig. 6.8). Para distinguir a pseudossubluxação
da subluxação verdadeira, Swischuk definiu a linha cervi­
cal posterior (Fig. 6.9). Essa linha é traçada conectando
os aspectos anteriores dos processos espinhosos de C l e
C3. Se o aspecto anterior do processo espinhoso de C2
faltar nessa linha por 2 mm ou mais, suspeita-se de uma
Figura 6.6 Esquema do mecanismo que causa uma fratura em subluxação verdadeira ou de fratura do enforcado dos ar­
galho verde. cos neurais de C2.
96 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

radiographic abnorm ality). Os exames positivos na resso­


nância magnética nuclear (RMN) são vistos em crianças
com envolvimento neurológico grave. Em crianças, a co­
luna vertebral é mais elástica e flexível do que a medula
espinal. Por conseguinte, uma lesão em distração pode
causar tração ou isquemia medular sem defeitos anatômi­
cos. Os mecanismos que resultam em SCIWORA incluem
tração da medula espinal, concussão de medula espinal,
espasmo da artéria vertebral, hiperextensão com protrusão
interna dos ligamentos interlaminares e compressão em
flexão da medula.
A incidência de SCIWORA varia de 18 até 38%,
sendo que a maioria dos casos ocorre em crianças abaixo
dos 8 anos. A coluna cervical superior está envolvida em
até 80% dos casos. A maioria de casos de SCIWORA se
apresenta com algum tipo de sintoma neurológico, mais
comumente parestesias e síndromes medulares parciais.
Figura 6.8 Pseudossubluxação. (Reimpressa, com permissão,
Entretanto, pode ocorrer o aparecimento retardado do dé­
de Yamamoto LG . Cervical spine malalignment— true or pseu­
dosubluxation. In: Yamamoto LG , Inaba AS, DiM auro R, eds.
ficit neurológico e a transecção completa da medula. To­
Radiology Cases in Pediatric Emergency Medicine, Vol. 1, Case davia, a evidência é fraca.
5. Honolulu, HI: University of Hawaii John A . Burns School of Os pacientes com suspeita de lesão da medula espi­
M edicine, Department of Pediatrics, 1994. http://www.hawaii. nal podem ainda ser tratados com uma dose de carrega­
edu/medicine/pediatrics/pemxray/v1 c05.htm l.) mento de metilprednisolona, 30 mg/kg durante 15 minu­
tos, seguida de uma infusão de manutenção de 5,4 mg/
kg/h por 24 horas (se iniciada menos de 3 horas depois
Lesão da medula espinhal sem anormalidade da lesão) ou por 48 horas (se iniciada 3-8 horas depois
radiográfica da lesão).
Somando-se às lesões vertebrais vistas nas radiografias
simples, as crianças podem também sofrer lesão da me­ Discite
dula espinal sem anormalidade radiográfica, também
A discite é uma inflamação ou infecção de um espaço dis­
conhecida como SCIWORA {spinal cord injury w hitout
cai intervertebral ou de uma placa terminal vertebral. A
coluna lombar é tipicamente envolvida e a idade mais co­
mum de apresentação fica entre os 4 e os 10 anos. Os pa­
cientes se apresentam com queixas não específicas, como
a recusa em caminhar ou a dor lombar com incapacidade
de flexionar a coluna. A febre está presente em menos de

Figura 6.9 Linha cervical posterior de Swischuk. (Reimpressa,


com permissão, de Yamamoto L. Cervical spine malalignment—
true or pseudosubluxation. In: Yamamoto LG , Inaba AS, DiM au­
ro R, eds. Radiology Cases in Pediatric Emergency Medicine, Figura 6.10 D isc ite . O b servar os espaços d isca is estrei­
Vol. 1, Case 5. Honolulu, HI: University of Hawaii John A. Burns tados entre L3 e L4 (seta). (Reim pressa, com perm issão, de
School of M edicine, Department of Pediatrics, 1994. http:// © M ichael P. D 'A lessand ro , M D . U n iversity of Iow a, Virtual
www.hawaii.edu/medicine/pediatrics/pemxray/v1 c05.htm l.) C hildren's H ospital.)
Emergências Ortopédicas 97

50% dos casos. Ao exame, a dor com percussão sobre a


área afetada ajuda a localizar o local do envolvimento. Os
dados laboratoriais nem sempre são úteis, já que o leuco-
grama e as hemoculturas podem estar normais; contudo,
a velocidade de sedimentação está tipicamente elevada O
(> 40 mL/h). O S ta p h ylo co ccu s aureus é o organismo I
mais comumente envolvido. Embora as radiografias ini­ E C
ciais da coluna possam ser negativas, o achado caracte­ ■ R
T
rístico é de um espaço discai estreitado na área envolvida
(Fig. 6.10).10
Entretanto, se as radiografias simples não forem
diagnósticas, uma RMN pode ajudar a localizar a lesão.
O tratamento envolve antibióticos IV e repouso no leito.
Alguns especialistas também recomendam a imobilização Figura 6.12 Centros de ossificação do cotovelo. C, capítulo
da coluna. (1-8 meses); R, cabeça do rádio (3-5 anos); I, epicôndilo interno
(5-7 anos); T, tróclea (7-9 anos); O , olécrano (8-11 anos); E, epi­
côndilo externo (11-14 anos).
EXTREMIDADE SUPERIOR

Fraturas da clavícula "CRITOE"


A clavícula é o osso mais comumente lesionado duran­ Capítulo 1 -8 meses
te o parto (Fig. 6.11). Embora haja uma incidência mais Cabeça do rádio 3-5 anos
alta após os partos com o uso de ocitocina, a extração ins­ Epicôndilo interno (medial) 5-7 anos
trumental, as manobras para distocia ou um trabalho de Tróclea 7- 9 anos
parto prolongado no segundo estágio ou as fraturas da cla­ Olécrano 8- 11 anos
vícula podem ocorrer durante partos normais e cesáreos. Epicôndilo externo (lateral) 11-14 anos
Em crianças maiores, as fraturas resultam de quedas ou
Em geral, quatro incidências radiográficas devem ser
golpes diretos e mais comumente envolvem o terço médio
obtidas para avaliar com precisão o cotovelo de crianças.
do osso. A maioria dessas fraturas pode ser tratada sem
As quatro incidências obtidas com o cotovelo flexionado
encaminhamento ortopédico. As fraturas da clavícula são
incluem a incidência anteroposterior (AP) do antebraço, a
tratadas com uma tipoia, mais confortável que um imobi-
incidência em AP do úmero, a incidência lateral do ante­
lizador em forma de “oito”.
braço e a incidência lateral do úmero.

Cotovelo Fraturas supracondilianas


O cotovelo é um local comum para fraturas em crianças. As fraturas horizontais do úmero distai são divididas em
A história típica é uma queda sobre o braço estendido, duas grandes categorias: supracondilianas e transcondi-
com hiperextensão do cotovelo e resultante lesão no úme­ lianas. As fraturas supracondilianas são adicionalmente
ro distai. subdivididas, com base na posição do segmento ume-
A avaliação radiológica do cotovelo de uma criança ral distai, e também no tipo de lesão - tipo em extensão
é mais complicada devido aos seis centros de ossificação (deslocamento posterior) ou tipo em flexão (desloca­
em tomo do cotovelo, que aparecem em idades diferentes. mento anterior) (Fig. 6.14). As fraturas transcondilianas
As vistas de comparação com o cotovelo oposto devem envolvem a cápsula articular e também são do tipo em
ser obtidas se houver qualquer dúvida sobre uma possí­ flexão ou em extensão.
vel fratura. O conhecimento do momento dos centros de As fraturas supracondilianas são geralmente extra-
ossificação do cotovelo ajuda a determinar se um pedaço -articulares, respondem por 50 a 70% de todas as fraturas
pequeno de osso representa uma fratura de avulsão ou um do cotovelo, e são mais comumente vistas em crianças en­
centro de ossificação (Figs. 6.12 e 6.13). tre as idades de 3 e 11 anos. O mecanismo mais comum
encontrado é uma queda sobre o braço estendido, com o
cotovelo em extensão (Fig. 6.15). Em crianças, a cápsula
anterior circundante e os ligamentos colaterais são mais
fortes que o osso e, em geral resultam em fraturas em vez
de rupturas ligamentares. As fraturas supracondilianas do
tipo em extensão respondem por 95 a 98% de todas as
fraturas supracondilianas e 20 a 30% das fraturas supra­
condilianas terão um pequeno ou nenhum deslocamento.
Figura 6.11 Fratura da clavícula. Em crianças, 25% das fraturas supracondilianas são do
98 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Figura 6.13 A. Radiografia normal anteroposterior (AP). B. Radiografia lateral do cotovelo de uma criança com 10 anos. Conforme
o esperado, os centros de ossificação estão visíveis, exceto o epicôndilo externo (lateral).

tipo em galho verde. O diagnóstico radiográfico nesses do fragmento distai - deslocamento posterior com lesões
casos pode ser extremamente difícil. tipo extensão e deslocamento anterior com lesões tipo
Existem três tipos de fraturas supracondilianas em flexão. As fraturas supracondilianas do tipo III envolvem
extensão. As fraturas do tipo I são sem deslocamento ou fraturas de ambas as corticais e estão completamente
minimamente deslocadas. As do tipo II têm angulação deslocadas.

A tjr

Figura 6.15 M ecanism o de lesão das fraturas supracondilia­


nas em crianças.
Emergências Ortopédicas 99

Figura 6.16 Fratura supracondiliana oculta não deslocada. A. O aspecto do cotovelo revela edema sem deformidade. B. Radiogra­
fia lateral com os coxins de gordura e uma linha umeral anterior normal.

Figura 6.17 Fratura supracondilianas deslocada.


A. Deformidade grosseira do cotovelo. B. A fratu­
B ra deslocada está evidente na radiografia lateral.
100 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Exame. Com as fraturas não deslocadas pode haver


pouco edema (Fig. 6.16A). Quando deslocadas, a defor­
midade é mais óbvia, e o fragmento umeral distai pode,
com frequência, ser palpado posterior e superiormente
devido à tração do músculo tríceps (Fig. 6.17A). Con­
forme o edema aumenta, essa lesão pode ser confundida
com uma luxação posterior do cotovelo, resultante da
proeminência do olécrano e da presença de uma concavi­
dade posterior. Além disso, o antebraço envolvido pode
aparentar ser mais curto quando comparado com o lado
não envolvido.

Imagens. As incidências de rotina devem incluir as pro­


jeções em AP e lateral, comparando com a extremidade
não envolvida em crianças. As incidências oblíquas tam­
bém podem ser úteis. Em casos de fraturas deslocadas, a
Figura 6.18 A linha umeral anterior é uma linha traçada na
lesão é bastante óbvia (Fig. 6.17B).
radiografia lateral, ao longo da superfície anterior do úmero,
Alterações sutis, como a presença de um coxim de
através do cotovelo. Normalmente essa linha atravessa o terço
gordura posterior ou de uma linha um eral a n terio r anor­ médio do capítulo. Com uma fratura em extensão da região su­
mal, podem ser as únicas pistas radiográficas da presença pracondiliana, essa linha atravessa o terço anterior do capítulo
de fratura (Figs. 6.16B e 6.18). A linha umeral anterior ou passa inteiramente anterior a ele.
(Fig. 6.18) é uma hnha traçada em uma radiografia lateral,
ao longo da superfície anterior do úmero, através do coto­
velo. Normalmente essa bnha atravessa o terço médio do Outra ajuda diagnóstica ao avaliar radiografias suspei­
capítulo. Com uma extensão da região supracondiliana, tas de fraturas supracondihanas em crianças é determinar o
essa bnha atravessa o terço anterior do capítulo ou passa ângulo de carregamento. A interseção de uma linha traça­
inteiramente anterior a ele (Fig. 6.19A). A linha umeral da através da diáfise média do úmero e outra hnha através
anterior de uma lesão em flexão passa posterior ao capí­ da diáfise média da ulna em uma incidência de extensão
tulo (Fig. 6.19B). em AP determina o ângulo de carregamento (Fig. 6.20).

A B

Figura 6.19 Fraturas epifisárias supracondilianas detectadas pela observação de uma linha umeral anterior anorm al. A. Tipo em
extensão B. Tipo em flexão.
Emergências Ortopédicas 101

examinar e documentar os componentes motores e sensi­


tivos dos nervos radial, ulnar e mediano. Os três tipos de
lesões nervosas incluem a contusão, a separação parcial e
a separação completa.
Precaução: A m anipulação subsequente p o d e resultar em
grave com prom etim ento neurovascular.
O comprometimento da artéria braquial não é uma
complicação incomum e pode causar síndrome compar­
timentai. A síndrome compartimentai reduz a perfusão
e acarreta perda de função dos músculos do antebraço.
O pulso radial intacto no punho não tem mérito para afas­
tar a evolução de uma síndrome compartimentai ou para
avaliar a perfusão do antebraço. Revisar a discussão deta­
lhada sobre as síndromes compartimentais no Capítulo 4.

Tratam ento. As fraturas não deslocadas (tipo I) são tra­


tadas com imobilização gessada. A extremidade é coloca­
da em uma tala braquial posterior, estendendo-se desde a
axila até um ponto logo proximal às cabeças metacarpais.
A tala deve envolver três quartos da circunferência da ex­
tremidade (Apêndice A.9). O cotovelo deve estar entre 90
e 100° de flexão. Os pulsos distais devem ser verificados
e, se ausentes, o cotovelo é estendido em 5 a 15° ou até
que os pulsos retornem. Uma tipoia para suporte e gelo
Figura 6 .2 0 O ângulo de carregam ento demonstrado por para reduzir o edema são aplicados.
uma linha traçada através da diáfise média da ulna e outra li­
Embora as fraturas não deslocadas raras vezes estejam
nha através da diáfise média do úmero. O ângulo de carrega­
mento normal fica entre 0 e 12°. Um ângulo de carregam en­
associadas a complicações, mesmo uma fratura radiografi-
to acim a de 12° está com frequência associado às fraturas do camente oculta pode resultar em síndrome compartimen­
úmero distai. tai, déficit no pulso ou neuropatia. Somente as fraturas
mais estáveis, com edema mínimo, depois de um período
de 6 a 12 horas de observação, podem ser liberadas com
O ângulo de carregamento normal fica entre 0 e 12°. Os segurança. A consulta com um ortopedista, que tomará a
ângulos de carregamento traumáticos ou assimétricos aci­ responsabilidade dos cuidados, deve ser obtida antes que o
ma de 12° estão com frequência associados a fraturas. paciente saia do setor de emergência.
A elevação do coxim de gordura na fossa coronoide Todas as fraturas deslocadas requerem consulta de
(sinal do coxim de gordura anterior) e na fossa do olécra- emergência com um ortopedista experiente e hospitaliza­
no (sinal do coxim de gordura posterior) devido a um der­ ção para a monitoração neurovascular. As reduções ma-
rame por trauma ou infecção é uma característica impor­ nipulatórias são às vezes difíceis de executar e cheias de
tante a ser investigada. Um coxim de gordura posterior é complicações. A redução de emergência realizada pelo
sempre patológico e deve aumentar a suspeita de fratura. especialista na emergência apenas está indicada quando
Um coxim de gordura anteriormente deslocado, o “sinal a fratura deslocada estiver associada ao comprometimen­
da vela” também pode ser a indicação de fratura oculta. to vascular, que ameace imediatamente a viabilidade da
extremidade.
A xiom a: O sinal do coxim de gordura posterior na criança O manejo definitivo das fraturas de flexão tipo II in­
ou no adolescente indica fratura ou luxação do cotovelo. A clui a redução e a imobilização em extensão. A pinagem
terapia deve ser iniciada até que a fratura ou a luxação sejam percutânea pode ser necessária. A redução fechada e a pi­
totalmente descartadas. nagem mostram-se efetivas para o tratamento das fraturas
umerais supracondilianas pediátricas/3,1“ As fraturas de
L esões associadas. As fraturas umerais distais estão extensão tipo II também são tratadas com redução e pina­
muitas vezes associadas a complicações neurovascula- gem percutânea.
res, mesmo na ausência de deslocamento. As estruturas As fraturas de extensão tipo III em geral requerem
mais lesionadas são o nervo mediano e a artéria braquial. redução aberta e pinagem devido à dificuldade nas tenta­
Inicialmente, documentar a presença e a intensidade dos tivas de redução fechada. As fraturas supracondilianas de
pulsos radial, ulnar e braquial. A presença de pulso, en­ flexão tipo III podem também requerer redução aberta e
tretanto, não exclui a lesão arterial significativa. Também pinagem percutânea.
102 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

A redução aberta com fixação interna está indicada


nas seguintes circunstâncias:
1. Incapacidade em alcançar redução fechada satisfa­
tória.
2. Fraturas concomitantes do antebraço.
3. Incapacidade em manter a redução fechada.
4. Comprometimento vascular.
O edema retardado com comprometimento neurovas­
cular subsequente é em geral observado após as fraturas
supracondibanas deslocadas e, por conseguinte, recomen-
da-se a hospitahzação para monitoração atenta.

A xiom a: Um gessado cilíndrico nunca deve ser inicialmen­


te aplicado em qualquer fratura supracondiliana.

C om plicações. As complicações das fraturas supracon­


dibanas incluem lesões neurovasculares, síndrome com­
partimentai, parahsia do nervo ulnar, rigidez articular e
deformidades ulnares em varo e valgo (devido ao mau
posicionamento do fragmento umeral distai após a redu­
ção). A restrição na amplitude de movimentos pode ser
A B
secundária à redução inadequada ou pela formação de
calo dentro da articulação. Os nervos mediano e o radial Figura 6.22 Uma fratura epicondiliana medial em uma crian­
são comumente envolvidos. Quando o nervo interósseo ça. Observar o deslocamento em (A) que pode ser d ifícil de
anterior é lesionado, existe uma perda da flexão da arti- reconhecer sem a incidência de com paração do cotovelo não
lesionado (B).

culação interfalângica do polegar e da flexão articular da


interfalângica distai do indicador.

Fraturas epicondilianas mediais


As fraturas epicondihanas são mais comumente vistas em
crianças (Fig. 6.21). As mediais são mais comuns do que
as fraturas do epicôndilo lateral.
O centro de ossificação do epicôndilo medial aparece
dos 5 aos 7 anos e fusiona-se ao úmero distai por volta dos
20 anos. O deslocamento epicondibano medial como uma
lesão isolada é incomum. Mais comumente vista é a fratura
de avulsão palpável associada a uma luxação posterolateral
do cotovelo (Fig. 6.22). A idade típica de apresentação é de
7 a 15 anos, com as fraturas do epicôndilo medial respon­
dendo por 10% das fraturas do cotovelo em crianças.
Existem três mecanismos comumente associados às
fraturas do epicôndilo medial.
1. A fratura de avulsão, mais comum, está associada às
luxações posteriores na infância ou na adolescência.
Esta fratura é raramente associada a luxações poste­
riores acima dos 20 anos.
2. O tendão flexor-pronador está inserido no centro de
ossificação do epicôndilo medial. O estresse em val­
go repetido no cotovelo pode resultar em fratura, com
Figura 6.21 Fraturas epicondilianas. deslocamento distai do fragmento. Isso costuma ser
Emergências Ortopédicas 103

visto em jogadores adolescentes de beisebol, e é cha­


mado de “cotovelo da liga infantil”.
3. As fraturas isoladas do epicôndilo medial em adultos
são em geral causadas por um golpe direto.
Se essa fratura estiver associada a uma luxação poste­
rior, o cotovelo fica em flexão e há uma proeminência do
olécrano. A luxação do cotovelo é reduzida (ver Cap. 14)
e os fragmentos da fratura são avaliados. Se o epicôndilo
estiver dentro da articulação, a redução aberta está indica­
da. As fraturas isoladas produzem dor localizada sobre o Não angulada
epicôndilo medial. A dor aumenta com a flexão do coto­
velo e do punho, ou com a pronação do antebraço. Ao ava­ Figura 6.23 Fraturas epifisárias da cabeça do rádio.
liar essa fratura, o médico deve examinar e documentar a
função do nervo ulnar antes de iniciar o tratamento. Os
fragmentos deslocados podem migrar e tomarem-se intra- O epicôndilo lateral é o último centro de ossificação a
-articulares. aparecer. Uma classificação das fraturas do côndilo late­
Precaução: R a d io gra fica m en te, se o fra g m e n to tiv e r ral descreve as fraturas como não deslocadas (< 2 mm),
m igrado a té a linha articular, ele deve se r considerado minimamente deslocadas (2-4 mm) ou deslocadas (> 4
intra-articular. mm).
Os fragmentos com deslocamento abaixo de 5 mm, O manejo das fraturas minimamente deslocadas do
determinado pela medida do espaço claro entre o frag­ côndilo lateral é controverso - gessados, fixação percutâ-
mento da fratura e o úmero, podem ser imobilizados em nea e redução aberta têm sido usados com sucesso. Entre­
uma tala braquial longa (Apêndice A.9). O cotovelo deve tanto, as fraturas deslocadas do epicôndilo lateral devem
ficar flexionado, com o antebraço pronado e o punho ser submetidas à redução aberta e pinagem. As complica­
mantido em posição flexionada. A tala deve permanecer ções das fraturas do epicôndilo lateral incluem a deformi-
até que o paciente seja encaminhado. Os fragmentos com
5 mm ou mais são mais controversos, havendo alguns
especialistas que defendem a redução aberta e a fixação
interna e outros apoiando uma tentativa inicial de manejo
fechado. O caso deve ser individualmente abordado com o
ortopedista consultor.

Fraturas do côndilo medial


Em crianças jovens, as fraturas do côndilo medial são,
muitas vezes, difíceis de diagnosticar via radiografias,
em especial se a lesão ocorrer antes de a tróclea ossificar.
Por essa razão, é fácil assumir que a fratura seja do epi­
côndilo medial. Em crianças mais velhas, um fragmento
metafisário pode ser visualizado e isso ajuda a identificar
o envolvimento do côndilo. As incidências de comparação
do cotovelo não lesionado são úteis para diferenciar uma
fratura de um centro de ossificação secundário.
Entre as complicações mais graves de fratura do côn­
dilo medial estão o sangramento e o edema do espaço fas-
cial fechado, que levam ao desenvolvimento de síndrome
compartimentai. As fraturas com mais de 2 mm de deslo­
camento geralmente requerem fixação cirúrgica.

Fraturas do côndilo lateral


As fraturas do côndilo lateral requerem redução aberta e Figura 6 .2 4 A. A linha radiocapitular, traçada através do
fixação, já que são transfisárias e intra-articulares. Tais centro do rádio, deve passar através do centro do capítulo do
fraturas em geral ocorrem devido a uma queda sobre úmero na incidência lateral. B. É útil para fazer o diagnóstico
o braço estendido. As incidências oblíquas do cotovelo em pacientes com uma fratura do colo do rádio em que epífise
ajudam a determinar se a fratura está ou não deslocada. ainda não fechou.
104 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

dade em valgo da ulna, transposição lateral do antebraço, Cotovelo da liga infantil


artrite causada pela ruptura da cápsula articular e da arti­ O “cotovelo da liga in fa n til” ocorre quando arremessa-
culação, paralisia do nervo ulnar e supercrescimento com dores jovens sofrem microtraumas repetitivos no centro
subsequente deformidade em varo da ulna. de ossificação ao longo da cabeça do rádio. As alterações
osteocondrais no capítulo, o fechamento epifisário radial
Fraturas da cabeça e do colo do rádio proximal prematuro e a fragmentação do epicôndilo me­
As fraturas epifisárias do colo radial são classificadas com dial são coletivamente conhecidas como cotovelo da liga
base no grau de angulação (Fig. 6.23). Quando a epífise infantil. A condição é, predominantemente, o resultado
ainda não estiver ossificada e houver suspeita de fratu­ das forças aplicadas durante uma fase tardia do arremes­
ra não deslocada da cabeça do rádio, olhar para a linha so, causando uma tensão em valgo do cotovelo. As inci­
radiocapitular (Fig. 6.24). Uma linha traçada através da dências de comparação nas radiografias mostram que a
porção média do rádio normalmente passa pelo centro do apófise ficou separada. Os fragmentos ósseos podem alo-
capítulo na incidência lateral do cotovelo. Em uma fratura jar-se na articulação e exigem redução e remoção aberta.
sutil na epífise da cabeça do rádio, a linha ficará deslocada A perda da extensão ocorre como resultado do retesamen-
para longe do centro do capítulo. Esse pode ser o único to do ligamento colateral ulnar, produzindo dor e estresse
achado sugestivo de fratura em crianças. em varo. A neurite ulnar pode estar presente devido à su-
As fraturas da cabeça e do colo do rádio requerem bluxação ou compressão dos planos fasciais. O tratamen­
incidências oblíquas para a visualização radiográfica. to requer a artroscopia, se um fragmento for observado,
As fraturas impactadas do colo são mais adequadamente como também a perfuração do osso subcondral.
vistas na projeção lateral. A presença de um sinal do co­
xim de gordura anterior ou posterior é indicativa de dis­ Subluxação da cabeça do rádio (pronação dolorosa)
tensão acentuada da cápsula articular. A pronação dolorosa (subluxação da cabeça do rádio) é uma
As fraturas com angulação em menos de que 15° são lesão ortopédica comum que ocorre nos primeiros anos da
tratadas por imobilização com tala longa por duas sema­ infância. O pico da incidência é até os 2 anos; contudo, a
nas (Apêndice A.9). O tratamento deve ser seguido de condição ocorre também no primeiro ano de vida e foi des­
exercícios ativos com uma tipoia para suporte. A remo­ crita até os 6 anos. O ligamento anular fornece suporte para
delação geralmente corrige esse grau de angulação. Com a cabeça do rádio, mantendo a cabeça na sua relação normal
angulação superior a 15°, o braço deve ser imobilizado em com o úmero e a ulna. Em crianças, existe pouco suporte
uma tala posterior, e o paciente hospitalizado para redu­ estrutural entre o rádio e o úmero. Com a tração súbita da
ção sob anestesia geral. As tentativas de redução em crian­ mão ou do antebraço, a pronação dolorosa ocorre quando
ças sem anestesia adequada são difíceis de fazer e com alguém puxa a criança para cima pelo braço, para prevenir
muitas complicações. uma queda, e o ligamento anular é puxado sobre a cabeça do
A angulação acima de 60° é considerada um desloca­ rádio e fica interposto entre o rádio e o capítulo (Fig. 6.25).
mento completo e em geral requer redução aberta. O su­ As crianças com pronação dolorosa vêm à consulta de­
cesso limitado tem sido alcançado pelas reduções com vido ao desuso do braço afetado que é mantido pendente,
manipulação. com o antebraço em posição pronada (Fig. 6.26). É impor­
tante notar que os pacientes com pronação dolorosa não têm
Osteocondrite dissecante edema, calor ou equimose ao redor do cotovelo. As radio­
A osteocondrite dissecante ocorre em atletas jovens que grafias devem ser feitas antes das tentativas de redução nos
sobrecarregam e hiperestendem o cotovelo. Os ginastas es­ casos em que os aspectos da história (p. ex., trauma direto
tão constantemente sobrecarregando os cotovelos quando testemunhado sobre a extremidade superior) e os achados
usam a barra de equilíbrio e as barras paralelas e tomam-se do exame (p. ex., edema, equimose, calor sobre a articula­
particularmente suscetíveis a essa condição. Os sintomas ção) sugiram que uma infecção ou fratura seja mais prová­
que ocorrem incluem bloqueios, falseios e crepitação du­ vel do que a subluxação da cabeça do rádio. Os pacientes
rante a amplitude de movimentos. As radiografias podem que apresentam história e achados ao exame consistentes
revelar um corpo solto dentro da articulação ou uma osteo­ com pronação dolorosa não precisam ser submetidos às ra­
condrite dissecante demonstrável. A RMN é útil em casos diografias antes das tentativas de redução.
de suspeita quando as radiografias forem negativas.
O tratamento é conservador, a menos que existam Tratamento. Dois métodos diferentes são usados para
corpos soltos dentro da articulação, o que requer a remo­ reduzir uma pronação dolorosa. Os estudos prospectivos
ção mecânica. O tratamento conservador para as exacer­ que comparam os dois métodos revelam que a técnica de
bações agudas consiste na imobilização do cotovelo por 3 hiperpronação tem taxa de sucesso inicial mais alta (95%)
a 4 dias, medicamentos anti-inflamatórios e aplicação de do que a técnica de supinação e flexão (77%). 7,18
calor. Se os sintomas mecânicos ocorrerem e persistirem,
é necessária a intervenção artroscópica para remover e de- No método da hiperprona­
T écn ica da h ip erp ro n a çã o .
bridar os corpos livres. ção, o examinador segura o cotovelo da criança com uma
Emergências Ortopédicas 105

Rádio

Ulna

Figura 6.25 Subluxação da cabeça do rádio (pronação dolorosa).

das mãos (com o polegar ou dedo indicador sobre a cabe­ -sucedida, um “clique” será sentido pelo examinador no
ça do rádio) enquanto a outra mão é usada para hiperpro- cotovelo da criança (Fig. 6.27 e Vídeo 6.1).
nar o antebraço da criança, segurando e virando a mão da
criança até a posição hiperpronada. Com a redução bem- Com a técnica de supi-
Técnica d e su p in a çã o e flexão.
nação e flexão, o examinador segura o cotovelo da criança
com uma das mãos (com o polegar ou indicador sobre a
cabeça do rádio), supinando a mão do paciente. O exami­
nador então flexiona completamente o cotovelo da crian-

Figura 6.26 Subluxação da cabeça do rádio. O braço é man­


tido em leve flexão e pronação. Q ualquer movimento a partir Figura 6.27 Técnica de hiperpronação para a redução da su­
dessa posição é resistido pelo paciente. bluxação da cabeça do rádio.
106 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

primário, a menos que os sintomas retomem (dor ou desuso


do braço). Pais e cuidadores devem ser alertados para evi­
tar qualquer atividade que envolva puxar o braço da criança,
já que a condição recidiva em aproximadamente 25% das
crianças que tenham sofrido pelo menos um episódio.
O paciente que não responde às tentativas de redução
da pronação dolorosa requer acompanhamento primário
atento e, possivelmente, uma consulta ortopédica.

Antebraço
Fraturas da diáfise do rádio e da ulna
As fraturas mais comuns na infância são aquelas que en­
volvem o rádio e a ulna (Fig. 6.29 e Vídeo 6.3). Na maio­
ria das crianças com fraturas de antebraço, ambos os ossos
estão fraturados. Quando somente um osso do antebraço
estiver fraturado, o médico da emergência deve buscar evi­
dência de luxação das articulações radioulnares proximal
ou distai. As fraturas de Monteggia, que envolvem a ulna
proximal associada com uma luxação da cabeça do rádio,
passam às vezes despercebidas. A cabeça do rádio deve
estar sempre bem-alinhada com o capítulo. As fraturas de
Galeazzi envolvem fratura do rádio distai associada com
luxação radioulnar distai. Para mais informações sobre es­
sas fraturas, ver o Capítulo 13.
Figura 6.28 Técnica de supinação e flexão para reduzir a su-
bluxação da cabeça do rádio.
Punho
Fraturas distais do rádio e da ulna
ça, trazendo a mão supinada em direção ao ombro. Com a
redução bem-sucedida, um “clique” será sentido próximo A fise do rádio distai é a placa de crescimento mais comu-
ao cotovelo (Fig. 6.28 e Vídeo 6.2). mente fraturada. As lesões Salter II são as mais comuns,
Não importando qual técnica de redução for usada, a respondendo por 58% dessas fraturas. É às vezes difícil
criança começará a usar o braço normalmente dentro de alcançar a redução completa dessas lesões. A quantidade
10 a 15 minutos. A tentativa de redução sem sucesso deve aceitável de deslocamento não é conhecida, embora até
ser seguida por uma segunda tentativa, usando a mesma 30% de deslocamento fisário pareçam curar de imediato,
técnica ou outra. A segunda tentativa em geral ocorre com enquanto deslocamentos de 50% se remodelaram comple­
sucesso. Se a redução fracassar depois de duas ou três ten­ tamente sem qualquer déficit funcional dentro de um ano
tativas, as radiografias da extremidade superior devem ser da lesão.20
obtidas para ajudar a excluir uma fratura ou outra patolo­ As lesões fisárias da ulna são menos comuns e ocor­
gia como a causa dos sintomas da criança. rem em somente 5% das fraturas distais do antebraço.
A criança com pronação dolorosa reduzida com sucesso O espesso complexo da fibrocartilagem triangular protege
não precisa de acompanhamento específico com o cuidador a fise ulnar distai, mas concentra a força sobre a inserção

Figura 6.29 Fratura de ambos os ossos do antebraço. A. Fotografia clín ica. B. Radiografia.
Emergências Ortopédicas 107

de capacidade de remodelação. Elas raramente levam à


disfunção. Assim, a angulação de uma fratura de ante­
braço distai de pelo menos 20° pode ser aceita na criança
mais jovem, em especial naquelas abaixo dos 10 anos.

Separação epifisária do rádio distai - tipo em extensão.


Essa lesão normalmente resulta de uma queda sobre a
mão estendida, com dorsiflexão forçada da mão e da pla­
ca epifisária. O resultado é uma fratura de Salter I ou II
da epífise (Fig. 6.30). As paradas de crescimento são in-
comuns, mas podem ocorrer, e essas fraturas requerem o
encaminhamento ortopédico. É importante excluir o diag­
nóstico de escorregamento epifisário, já que tais fraturas
requerem redução de emergência (Fig. 6.31).
Ao tratar essas lesões, podem ser aceitos mais angu­
lação e deslocamento. A redução é recomendada para an-
gulações maiores que 25° ou com deslocamento acima de
25% do diâmetro do rádio. A imobilização é realizada de
Figura 6.30 Fratura de Salter II do rádio distai em uma crian­ duas formas. Em fraturas estáveis, uma tala de antebraço
ça. Essa fratura exige a redução no setor de emergência. é aplicada com o antebraço em supinação e o punho em
leve extensão. Em fraturas instáveis, recomenda-se a imo­
bilização com uma tala AP longa (Apêndice A.10), com o
no estiloide. Infelizmente, a parada do crescimento distai antebraço em supinação e o punho em flexão. Alguns au­
ulnar ocorre em cerca de 55% dessas fraturas quando as­ tores preconizam a posição do punho em extensão. Outros
sociadas com fraturas do rádio distai. As lesões de Salter entendem que a extensão do punho deve ser evitada, já
I são o padrão mais comum, e ocorrem em metade dos pa­ que coloca uma força de distração volar contra a fratura.
cientes. Aproximadamente 70 a 80% do crescimento lon­ Se a fratura mostrar-se instável depois de uma redução fe­
gitudinal da ulna vêm da fise distai. Desse modo, a parada chada, a pinagem ou a redução aberta com fixação interna
do crescimento pode causar encurtamento significativo, são preconizadas.
bem como encurtamento do rádio mais brando devido à
contenção.
EXTREMIDADE INFERIOR
As fra tu ra s deslocadas ou anguladas do antebraço
d istai em crianças, diferentemente dos adultos, têm gran- Pelve
Apofisite da crista ilíaca
A apofisite da crista ilíaca é uma lesão por uso excessivo,
vista em corredores e jogadores de hóquei, futebol e fu­
tebol americano. O sintoma principal é dor sobre a crista
ilíaca afetada, que piora com a corrida. As radiografias
simples são normais. O tratamento é conservador e inclui
medicamentos anti-inflamatórios.

Quadril
Luxação do desenvolvimento (congênita) do quadril
A luxação do desenvolvimento de quadril, anteriormente
conhecida como luxação congênita do quadril, é o deslo­
camento da posição normal intra-articular da cabeça do
fêmur dentro do acetábulo. Isso leva à interrupção no de­
senvolvimento normal da articulação, ocorrendo antes ou
logo depois do nascimento. Ao nascimento, a fossa ace-
tabular é rasa, com a porção superior do acetábulo mal-
-desenvolvida, oferecendo pouca resistência ao movimen­
to superior da cabeça pela tração dos músculos ou pela
carga. Isso leva a uma condição chamada de subluxação
Figura 6.31 Fratura da epífise do rádio com deslocamento. congênita da cabeça do fê m u r, na qual a cabeça é desloca-
108 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Figura 6.32 O teste de O rtolani. Na subluxação ou luxação, a


abdução fica restringida e o quadril envolvido é incapaz de ser
abduzido até onde vai o oposto, produzindo um clique audível
ou palpável conforme a cabeça do fêmur desliza para cim a da
borda acetabular.

Figura 6 .34 Doença de Legg-Calvé-Perthes bilateral mente


da lateral e proximalmente, e articulando-se com a porção presente.
externa do acetábulo. Na luxação com pleta do quadril, a
cabeça do fêmur fica localizada completamente fora do
acetábulo e repousa contra a parede lateral do ilíaco. Mais O teste provocativo de B arlow é feito com o neonato
tarde, um acetábulo falso se forma com uma cápsula inter­ posicionado em decúbito dorsal e os quadris flexionados
posta entre a cabeça do fêmur e o ilíaco. em 90°. A perna é então suavemente aduzida, enquanto
No bebê normal, são vistas pregas simétricas na viri­ uma pressão dirigida posteriormente é colocada sobre o
lha, abaixo das nádegas, e várias ao longo da coxa. Na su­ joelho. Um ressalto ou sensação palpável de movimento é
bluxação ou luxação, essas pregas serão assimétricas. sentido conforme a cabeça do fêmur sai posteriormente do
Quando o examinador coloca o bebê na mesa de exame, acetábulo. As manobras de Ortolani e de Barlow são feitas
a pelve e o membro no lado afetado serão puxados proxi­ em um quadril de cada vez.
malmente pela ação muscular. Esse deslocamento proxi- O exame repetido do bebê é obrigatório até que a
mal causa o encurtamento aparente do membro. criança comece a caminhar, pois a falta de sintomas e
O teste de O rtolani é executado como parte do exa­ achados físicos sutis tomam o diagnóstico inicial difícil.
me de rotina em bebês antes do primeiro ano. No bebê Os pacientes com a displasia de desenvolvimento do qua­
normal, quando o quadril é flexionado a 90° e a coxa é dril (DDQ) de apresentação tardia mostram uma claudi­
abduzida, o aspecto lateral de ambas as coxas quase toca cação indolor. Existe uma história de retardo para cami­
a mesa. Na subluxação ou luxação, a abdução fica restrita nhar, com a idade de aparecimento entre 14 e 15 meses,
e o quadril envolvido é incapaz de ser abduzido até onde em vez dos 12 meses. A perna afetada pode estar encurta­
vai o oposto, produzindo um clique audível ou palpável, da. Se a DDQ for bilateral, a criança pode caminhar com
conforme a cabeça do fêmur desliza para cima da borda um andar tipo gingado. Uma radiografia da pelve depois
acetabular (Fig. 6.32). dos 4 meses ajuda a confirmar o diagnóstico (Fig. 6.33).

Figura 6.33 Luxação do desenvolvimento no quadril direito. A. AP. B. Lateral em posição de rã.
Emergências Ortopédicas 109

A ultrassonografia pode ser efetiva para o diagnóstico


inicial desse distúrbio em bebês com menos de quatro a
seis m eses/ Entretanto, o uso de ultrassonografia de ras-
treamento não é recomendado. O exame físico atento e o
encaminhamento dos casos suspeitos para o ortopedista é
23
o apropriado.

Doença de Legg-Calvé-Perthes (coxa plana)


A doença de Legg-Calvé-Perthes (DLCP) é uma forma
idiopática de necrose avascular da cabeça do fêmur que
ocorre em crianças (Fig. 6.34). Essa condição, que afeta
três a cinco vezes mais meninos que meninas, ocorre em
crianças entre 5 e 7 anos. A condição pode acontecer em
qualquer quadril e é unilateral em 85% dos casos.
A causa definitiva do distúrbio vascular que resulta na
Figura 6.35 Deslizam ento da epífise da cabeça do fêmur no
DLCP é desconhecida. A condição resulta em necrose da quadril direito.
cabeça e em toda ou parte da epífise. O sinal inicial quase
constante é a claudicação, causada pela abdução limitada
do quadril e pela rotação interna limitada, tanto em flexão Deslizamento da epífise da cabeça do fêmur
como em extensão. O paciente reclama de dor vaga na O deslizamento da epífise da cabeça do fêmur (DECF)
virilha, que se irradia até a coxa medial e o aspecto interno ocorre em crianças entre os 10 e 16 anos, com predomi­
do joelho. Ela é agravada pela atividade e aliviada com o nância no sexo masculino. Os pacientes em geral têm
repouso. O paciente pode, também, queixar-se de rigidez sobrepeso. Em cerca de um quarto dos casos, ambos os
em uma articulação, e a sensibilidade dolorosa é notada quadris são afetados. Existe aumento de frequência em
sobre o seu aspecto anterior. O espasmo muscular é outra pacientes com distúrbios endócrinos, incluindo hipoti-
queixa comum nos estágios iniciais da doença. reoidismo, deficiência de hormônio do crescimento e hi-
Os sinais iniciais nas radiografias incluem o alarga­ pogonadismo. A epífise da cabeça do fêmur é enfraqueci­
mento do espaço articular e a proeminência de tecidos da e deslocada para baixo e para trás, resultando em uma
moles sobre a cápsula, com um derrame articular míni­ deformidade muito incapacitante de rotação externa da
mo. A cabeça do fêmur pode estar um pouco deslocada extremidade inferior, que mais tarde progride para artrite
lateralmente no acetábulo. Algumas semanas mais tarde, degenerativa do quadril (Fig. 6.35).
a cabeça do fêmur parecerá mais densa do que o resto do Em muitos desses pacientes, existe uma história de
osso. Mais tarde, um aspecto fragmentado na radiografia crescimento esquelético rápido antes do deslocamento.
é a evidência da necrose; o crescimento de novos vasos O paciente pode se apresentar no setor de emergência com
inicia o processo de reabsorção. Isso resulta em redução história de trauma ou distensão menor, mas com sintomas
da densidade na extremidade proximal da metáfise, devi­ persistentes. Essa condição é encontrada em crianças obe­
do ao aumento da vascularização. Também é vista a os- sas, com características esqueléticas subdesenvolvidas, e é
teoesclerose, com alargamento e encurtamento do colo do menos vista em crianças altas e magras. A carga e a con­
fêmur, e aumento da densidade da cabeça. Eventualmente, tração muscular pioram o deslocamento. Os atletas jovens
se desenvolve a osteoartrite. entre 8 e 12 anos com desconforto no joelho e nenhum der­
A terapia inicial inclui a carga mínima e a proteção rame devem ser investigados para a presença de DECF.
da articulação, que é realizada mantendo o fêmur abdu­ Ao exame, o quadril está extemamente rodado e há
zido e internamente rodado. Isso mantém a cabeça do dor e diminuição da amplitude de movimento na rotação
fêmur bem dentro da porção arredondada do acetábulo. interna, abdução e flexão. Quando isto ocorrer, o diagnós­
A abdução e a rotação do fêmur são alcançadas com o tico do paciente é claro e a abordagem é bastante direta.
uso de dispositivos ortóticos (imobilização) ou pela cirur­ Frequentemente os achados clínicos são sutis e podem
gia (osteotomia). passar despercebidos/
O dispositivo Scottish Rite realiza a contensão por Existem três estágios clínicos. No estágio p ré-d esli-
abdução, permitindo o movimento livre do joelho. Esse zam ento, há um desconforto leve na virilha, que ocorre
imobilizador permite que o quadril flexione até 90°, mas depois da atividade e cede com o repouso. O paciente
não pode controlar a rotação do quadril. Em pacientes pode reclamar de rigidez e uma ocasional claudicação. O
mais velhos, com envolvimento mais extenso da cabeça desconforto pode irradiar-se ao longo do aspecto anterior
do fêmur, o reparo cirúrgico resulta em melhor desfecho e medial da coxa até o aspecto interno do joelho. Os sin­
quando comparado ao manejo não cirúrgico. tomas costumam ser vagos e nenhum achado objetivo é
110 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

borda superior da metáfise femoral proximal, deve fazer


a interseção de parte da epífise femoral proximal. Se isso
não ocorrer, o DECF deve ser suspeitado (Fig. 6.36). A
comparação da interseção dessa linha com o outro qua­
dril é útil em casos sutis. Além disso, a perda da linha de
Shenton é um achado radiográfico comumente visto (Fig.
6.37). Quando a relação da cabeça do fêmur ao acetábulo
for incerta nas radiografias simples, uma TC é com fre­
quência capaz de diagnosticar o problema de imediato.
Esses casos devem ser diagnosticados precocemen­
A B
te e, uma vez suspeitados, encaminhados com urgência
Figura 6.36 Linha de Kline. Uma linha de Kline normal deve ao ortopedista para tratamento definitivo. Isso envol­
fazer interseção com a epífise femoral. ve a redução da epífise deslizada e nenhuma carga. As
prioridades no tratamento de um deslizamento instável
(agudo) incluem evitar a necrose avascular, a condrólise
observado no exame físico. O segundo é o estágio de d e s­ e prevenir o deslizamento adicional, bem como corrigir
lizam ento crônico , quando a epífise é separada e gradual­ a deformidade.
mente se desloca para trás, como é notado nas radiografias
obtidas durante aquele momento. Nesse estágio, o pacien­ A xio m a: Lembre-se que qualquer criança que apresente
te tem sensibilidade dolorosa em tomo da articulação do dor no joelho e que tenha um exame de joelho normal deve
quadril e limitação dos movimentos (particularmente a ter o quadril examinado para uma possível etiologia.
abdução e rotação interna). O membro desenvolve uma
deformidade de adução e rotação externa. Conforme o Sinovite transitória
quadril é flexionado e extemamente rodado, o desliza­ A sinovite transitória é a causa mais comum de dor aguda
mento acentua-se, e o glúteo médio toma-se inadequado. no quadril em crianças entre 3 e 10 anos. Em geral essas
O paciente desenvolve um teste de Trendelenburg positi­ crianças se apresentam com dor no quadril por 1 a 3 dias,
vo. Quando a condição é bilateral, há a marcha tipo ginga­ acompanhada de claudicação ou recusa para efetuar car­
do. Essa é seguida do estágio de deform idade fixa , na qual ga. A extremidade é mantida em flexã o , adução e rotação
a dor e o espasmo muscular desaparecem. A claudicação, in tern a , enquanto a criança resiste a todas as tentativas
a rotação externa e a deformidade em adução persistem, de movimento passivo, resultante do espasmo muscular.
assim como a limitação da rotação interna e a abdução. A temperatura, em geral, é normal, até um pouco alterada,
Devem ser obtidas incidências AP de ambos os qua­ sendo raramente alta. Essa condição tem uma etiologia in­
dris. Além dessas, uma incidência lateral obtida em posi­ certa, sendo diagnosticada por um processo de exclusão.
ção de rã, com o quadril flexionado em 90° e abduzido em Os pacientes muitas vezes relatam uma infecção virai ou
45°, demonstra a epífise da cabeça do fêmur deslocada. bacteriana precedente. O distúrbio costuma ser unilateral,
No estágio pré-deslizamento, um edema globular é visto embora também possa ser bilateral. O tratamento para si­
na cápsula articular. Ele é acompanhado do alargamento novite transitória é o repouso e a medicação anti-inflama-
da epífise e de descalcificação da metáfise na borda epi- tórios, com acompanhamento."0
fisária, causados pelo deslizamento inferior e posterior da A artrite séptica deve ser primeiramente descartada,
cabeça. Outras pistas para o diagnóstico da epífise des­ pois resultará em destruição da cabeça do fêmur e artrite
lizada incluem a placa epifisária alargada, irregular ou degenerativa, se não for tratada com rapidez. Esses pacien­
mosqueada, rarefação metafisária e neoformação óssea tes, de modo diferente daqueles com sinovite transitória,
periosteal. A linha de Kline, uma linha traçada através da têm aspecto tóxico e em geral têm febres altas. O paciente
resiste a quaisquer tentativas de amplitude de movimento.
Quando o diagnóstico for obscuro (temperatura < 38,8°C,
amplitude de movimentos limitada e ultrassonografia ne­
gativa), um período breve de observação depois de uma
dose de ibuprofeno pode ajudar a diferenciar as duas en­
tidades, já que a criança com sinovite transitória melhora
com essa medida.
Jung e colaboradores, em uma análise univariada,
mostraram diferenças significativas na temperatura cor­
poral, contagem leucocitária, velocidade de sedimenta­
ção globular (VSG), e níveis de proteína C-reativa (PcR)
Figura 6.37 Linha de Shenton. A interrupção desta linha suge­ entre os pacientes com artrite séptica versu s sinovite
re posição anormal da cabeça femoral. transitória. As radiografias simples mostraram um des­
Emergências Ortopédicas 111

locamento ou obscurecimento dos coxins de gordura elevada. Em tomo de 70% dos pacientes com VSG acima
periarticulares em pacientes com artrite séptica aguda, e de 30 mm/h têm artrite de origem infecciosa ou inflama­
a análise com regressão multivariada revelou que febre, tória. Aqueles com VSG abaixo ou igual a 40 mm/h têm
VSG acima de 20 mm/h, PcR maior que 1 mg/dL, leuco- infecções bacterianas como a causa de sua recusa para
citose acima de 11.000/mL e espaço articular do quadril caminhar.
maior que 2 mm eram preditores independentes de artri- O fêmur e a tíbia são, sem dúvida, os ossos afetados
te séptica aguda. Entretanto, havendo dúvidas sobre a com mais frequência. Os filmes simples são geralmente
etiologia da dor, as culturas sanguíneas, os antibióticos, a normais e levam de 7 a 10 dias para mostrar as altera­
aspiração da articulação do quadril e a cultura do fluido ções radiográficas, tanto na osteomielite como na artrite
sinovial são obrigatórias. séptica. O tecido mole, contudo, pode mostrar altera­
ções mais precoces. Quanto mais jovem for a criança,
Artrite séptica e osteomielite mais provável de se ver o alargamento do espaço articu­
A artrite séptica e a osteomielite não são incomuns em lar. A subluxação anormal do quadril, com alargamento
crianças. A origem patológica é a disseminação hematogê- do espaço articular, é o achado radiológico mais comum.
nica, a invasão local por infecção contígua ou a inoculação Um baixo limiar deve ser usado para a cintilografia esque­
direta do osso, cirurgicamente ou depois de um trauma. lética, pois as radiografias simples habitualmente não são
A artrite séptica apresenta-se com febre, que pode ser úteis no curso inicial dessa doença. A aspiração do quadril
baixa, e com o que é chamado de pseudoparalisia , que é guiada por cintilografia evacua o pus, diminui o dano às
a recusa da criança em usar aquele membro. O movimen­ superfícies periarticulares, diferencia a sepse articular de
to passivo suave, contudo, é habitualmente permitido. Os outros derrames e ajuda na terapia direta com antibióticos.
sintomas de apresentação em recém-nascidos podem ser Os exames de TC não são úteis para estabelecer o diag-
tão vagos como irritabilidade aumentada, febre ou alimen­ nóstico de sepse musculoesquelética aguda. "
tação deficiente. Os organismos mais comuns envolvidos Ao tratar crianças com osteomielite e artrite séptica,
em neonatos incluem os estafilococos, H aem oph ilu s in­ a penicilina resistente à /1-lactamase, como a oxacilina, a
flu e n za e e bacilos gram-negativos. Em bebês e crianças, nafcilina, ou uma combinação de ampicilina e sulbactam,
o S. aureus é o organismo mais comum, já que a doença ou uma cefalosporina de primeira geração, como a cefazo-
com o H. influenza tem diminuído devido à vacinação uni­ lina, devem ser usadas. Em pacientes alérgicos à penicili­
versal. A N eisseria gonorrhoeae deve ser suspeitada em na, a clindamicina 24 mg/kg em doses divididas ao longo
adolescentes com vida sexual ativa. de 24 horas ou a vancomicina estão indicadas.
As crianças com osteomielite têm sensibilidade do­
lorosa à palpação, em especial sobre a metáfise, que é co- Joelho e perna
mumente afetada. Quando o quadril e o ombro estiverem
envolvidos na osteomielite, o pus pode deslocar-se sob o Doença de Osgood-Schlatter
periósteo da metáfise até a articulação adjacente e, assim, A doença de Osgood-Schlatter representa um distúrbio
o paciente ter achados de osteomielite e artrite séptica. no desenvolvimento da tuberosidade tibial, causado pela
O diagnóstico de osteomielite é feito pela presença de aplicação repetida e rápida de forças tensionais nos mús­
dois dos seguintes critérios diagnósticos: culos do quadríceps em sua inserção tendínea na tubero­
• Purulência do osso sidade. A causa mais amplamente aceita de doença de
Osgood-Schlatter é o trauma repetitivo crônico na porção
• Uma cultura positiva do osso ou sanguínea
anterior da placa de crescimento tibial proximal em ama­
• Eritema localizado, edema, ou ambos
durecimento.
• Um exame de imagens positivo, seja ele radiografia,
Essa doença é vista em meninas entre 8 e 13 anos e
cintilografia ou RMN
em meninos entre 10 e 15 anos. O distúrbio tem sido
As culturas retiradas do osso apresentam resultados associado com a inflexibilidade do músculo quadríceps.
em 80% dos casos. As hemoculturas devem ser feitas em A condição é, de hábito, unilateral, mas pode ser bilateral
todos os pacientes com suspeita de osteomielite, já que em 35 a 56% dos meninos e em tomo de 18% das me-
são positivas em até 50% dos pacientes. O S. aureus é o ninas/ Além disso, os meninos são afetados com mais
patógeno encontrado na maioria dos casos da osteomieli­ frequência do que as meninas.
te hematogênica, com os estreptococos /1-hemolíticos do Ao exame, existe dor, edema e sensibilidade dolorosa
grupo A em um distante segundo lugar. O H. influenzae localizada sobre a tuberosidade da tíbia. O derrame articu­
tipo B ocorre com mais frequência em neonatos e pacien­ lar não deve estar presente. O uso do quadríceps contra a
tes não imunizados. Os pacientes com doença falciforme resistência agrava a dor, em especial durante a subida de
também têm um risco para a osteomielite relacionada à escadas, ao agachar-se ou ao ajoelhar-se. Tais sintomas são
Salm onella. secundários à separação incompleta da ligação cartilagino­
O diagnóstico de artrite séptica é sugerido quando sa entre o tendão patelar e a tíbia. A separação interrompe
uma criança se apresenta com febre, leucocitose e VSG o suprimento sanguíneo, resultando em necrose assépti­
112 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

ca, fragmentação e, eventualmente, neoformação óssea.


A fusão do tubérculo à tíbia ocorre por volta dos 18 anos,
eliminando quaisquer sintomas adicionais. A RMN e a ul­
tras sonografia do joelho têm demonstrado ser mais efica­
zes que a radiografias simples para diagnosticar a doença
de Osgood-Schlatter/ Entretanto, nenhum dos exames é
imediatamente necessário no setor de emergência.
O tratamento inclui a redução nas atividades (corri­ /
das, saltos e chutes) por 2 a 4 meses, gelo depois dos exer­
cícios e um curso curto de medicamentos anti-inflamató-
rios não esteroides. A resolução dos sintomas pode levar
até 12 a 18 meses. Os exercícios de alongamento do qua­
driceps e dos isquiotibiais também são úteis. A restrição
completa de todas as atividades esportivas geralmente não
é necessária. As injeções de corticosteroides não são re­ Figura 6.38 Fratura da tíbia do bebê. Notar a linha sutil de
comendadas, devido ao risco de atrofia subcutânea e alte­ fratura oblíqua {seta). (Reim pressa, com permissão, de San-
rações degenerativas. Alguns pacientes desenvolvem dor thany M D. The toddler's fracture: A ccident or child abuse. In:
crônica, que está associada a um ossículo discreto no ten­ Yamamoto LG , Inaba AS, DiM auro R, eds. Radiology Cases in
dão patelar. O tratamento cirúrgico pode prover o alívio Pediatric Emergency Medicine , Vol. 4, Case 18. Honolulu, HI:
a esses pacientes. A imobilização não é recomendada, University of H aw aii John A. Burns School of M edicine, D e­
partment of Pediatrics, 1994. http://www.hawaii.edu/medicine/
exceto em casos graves ou persistentes.
pediatrics/pemxray/v4c18.htm l.)

Apofisite da patela
A apofisite do polo inferior da patela é chamada de ligamentos. No joelho, um adulto apresenta ruptura liga-
doença de Sinding-Larsen-Johansson. Essa condição é mentar, enquanto uma criança terá uma fratura de Salter
também conhecida como c o n d w p a tia do p o lo inferior p a ­ I ou II da tíbia proximal ou do fêmur distai. Após uma
tela r e é nove vezes mais prevalente em meninos entre as lesão rotacional ou estresse em varo no joelho de uma
idades de 10 e 14 anos do que em meninas. Os pacientes criança, a avulsão da espinha tibial ocorre mais frequen­
se apresentam com dor no polo patelar inferior, exacer­ temente do que uma ruptura do ligamento cruzado ante­
bada pela corrida ou ao ajoelhar-se. Ao exame, a dor é rior. Justamente por isso, é mais comum o adulto ter uma
notada com a extensão contra resistência junto com sen­ ruptura do tendão patelar ou do tendão do quadriceps a
sibilidade dolorosa locahzada no polo inferior da patela. partir de uma lesão de bloqueio do aparelho extensor do
Com sintomas protraídos, existe um alongamento do polo quadriceps, enquanto uma criança tem mais probabilida­
envolvido, que pode desenvolver uma fratura de estresse de de sofrer avulsão da tuberosidade da tíbia. As fraturas
e, eventualmente, uma fratura de avulsão caso não seja sutis e ocultas são comuns em crianças. Por essa razão,
diagnosticada. As radiografias apresentam-se normais, uma criança com derrame após uma lesão no joelho e ra­
embora o borramento dos polos possa ser visto em casos diografias simples negativas deve ser imobilizada e enca­
crônicos. O tratamento é similar à doença de Osgood- minhada ao especialista.
-Schlatter. Os agentes não esteroides e o repouso são reco­ Ao lidar com lesão ou luxação patelar, lembre-se
mendados. Essa condição é autolimitada e na maioria dos sempre de examinar a superfície inferior da patela, já que
casos se resolve completamente dentro de 3 a 12 meses. as fraturas osteocondrais de avulsão são mais comuns em
Em casos raros, o uso de muletas por duas a três semanas crianças do que em adultos.
é necessário.
Fratura do bebê
Síndrome do estresse patelofemoral Uma fratura do bebê é uma fratura espiral ou oblíqua não
A síndrome do estresse patelofemoral é a queixa mais co­ deslocada do terço inferior da diáfise tibial. Essa fratura
mum em atletas jovens. A apresentação comum é de dores ocorre em pacientes entre as idades de 9 meses e 3 anos.
nos joelhos, com aumento da dor durante saltos ou ao su­ Essa lesão resulta da torção da perna (Fig. 6.38). Uma fra­
bir degraus. Os achados físicos incluem dor à compressão tura da fibula não está presente. Muitas vezes, os pais não
da região patelar; derrame articular e edema são raros. recordam qualquer trauma e a única queixa é a dificuldade
As radiografias simples são normais. O tratamento inclui de caminhar ou a resistência para carga. O exame físico
repouso relativo e fisioterapia. em geral falha em revelar edema, mas pode mostrar au­
mento de temperatura e dor à palpação do terço inferior
Lesões ligamentares da tíbia.
As lesões ligamentares que envolvem o joelho são inco- Os filmes AP e lateral podem revelar uma fratura ób­
muns em crianças, pois o osso é mais fraco do que os via; contudo, as tomadas oblíquas podem ajudar a confir-
Emergências Ortopédicas 113

Figura 6.39 Fratura deTNIaux. O ligamento talofibular anterior puxa a epífise da tíbia ainda não fusionada e resulta em fratura tipo
Salter III. A . Representação esquemática. B. Radiografia.

mar a fratura. As radiografias iniciais podem parecer nor­ placas de crescimento começam a fechar, a epífise tibial
mais; entretanto, 2 a 3 semanas mais tarde pode ser vista a distai medial fecha antes da lateral. Isso cria um fulcro por
formação de osso subperiostal. onde uma fratura Salter do tipo III pode ocorrer, logo late­
O tratamento da fratura do bebê confirmada por ra­ ral ao ponto de fusão. A consulta ortopédica imediata está
diografia consiste em uma bota gessada por aproximada­ indicada, devido ao envolvimento da placa de crescimen­
mente 3 semanas. O tratamento de uma fratura de bebê to e da necessidade potencial de fixação aberta. A lesão
presumida, quando nenhuma fratura é visualizada na ra­ intra-articular é comum. Os exames de TC são úteis para
diografia inicial, é algo controverso. Alguns preconizam avaliar os padrões complexos de fratura. As incidências de
a imobilização para conforto e repetição das radiografias comparação ajudam em casos difíceis.
em 10 dias, enquanto outros recomendam a imobilização As fraturas do domo talar são muito mais comuns em
de todas as crianças com história de lesão aguda, inca­ crianças do que em adultos. Uma fratura osteocondral do
pacidade para caminhar ou mancar, nenhum sinal consti­ domo talar deve estar sob suspeita ao avaliar uma criança
tucional e radiografias negativas para evitar o retardo no que se apresenta com “entorse de tornozelo” que não cura
44
tratamento. ou derrames recorrentes após uma torção do tornozelo.

Coalizão tarsal
Tornozelo e pé
Deve haver suspeita de coalizão tarsal em qualquer crian­
Fraturas do tornozelo ça com história de entorses múltiplas do tornozelo e que
As crianças não apresentam “entorses” e, por conseguinte, demonstre rigidez subtalar ao exame físico. A coalizão
esse diagnóstico deve ser usado com cautela ou evitado. tarsal é a união anormal de dois ou mais ossos no retro-
As fraturas Salter do tipo I e II podem ser administradas pé e no mediopé. Essa condição pode ser congênita ou
de modo conservador, com redução fechada seguida de adquirida em decorrência de infecção, trauma ou distúr­
imobilização por três a quatro semanas. As fraturas Salter bios articulares. Os pacientes se apresentam entre os 8 e 16
dos tipos III, IV e V provavelmente exijam a intervenção anos. Uma história familiar de coalizão tarsal pode existir.
cirúrgica em algum momento durante o seu manejo. A dor De todas as síndromes de coalizão, a talocalcaneana e a
sobre a fise fibular distai com radiografia normal em uma calcaneonavicular são os tipos mais frequentes. O trata­
criança deve ser tratada como uma fratura Salter do tipo I. mento inicial é conservador, consistindo de repouso e bota
O padrão de fratura varia com a idade. Um exemplo gessada por duas a quatro semanas, ou pelo uso de uma
dessa variação etária é a fratura de tíbia distai chamada órtese moldada e fisioterapia. Esses pacientes devem ser
de “fratura de Tillaux”, que é única em adolescentes (Fig. encaminhados para o cuidado e o acompanhamento apro­
6.39). Conforme a maturidade esquelética é alcançada e as priados.
114 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Pé plano
O p é p la n o ocorre com muita frequência. A incidência de
“pés chatos” é de aproximadamente 7 a 22%. A maioria
dos pacientes é as sintomática. Essa condição em geral não
causa quaisquer problemas nas crianças. O tratamento dos
pés planos sintomáticos com um navicular acessório con­
siste no uso de uma órtese e um programa de exercícios
para fortalecer os músculos tibiais posteriores e os ten­
dões fibulares do pé. A cirurgia está indicada em alguns
casos.

Doença de Freiberg
A doença de Freiberg envolve o colapso da superfície ar­
ticular e do osso subcondral do segundo metatarsal, presu­
mivelmente devido a uma agressão vascular. Embora seja
mais vista no segundo metatarsal, pode ocorrer no terceiro
metatarsal. Os sintomas incluem dor e sensibilidade dolo­
rosa sobre a cabeça metatarsal, com edema nessa área ao
exame clínico. As radiografias confirmam o diagnóstico,
e o tratamento consiste em redução de carga na área e um Figura 6.40 As fraturas metafisárias são causadas por tração
ou por forças de cisalham ento e são altamente suspeitas de
coxim ou uma órtese metatarsal. A excisão cirúrgica de
maus-tratos.
corpos livres em decorrência da fragmentação da cabeça é
necessária algumas vezes.
MAUS-TRATOS
Osteocondrite dissecante do tálus
A maioria dessas lesões ocorre no terço médio da borda Sempre que houver um retardo na busca do tratamento
lateral do tálus. As lesões são classificadas em quatro es­ para uma lesão ortopédica, deve-se suspeitar da possibi­
tágios diferentes: lidade de maus-tratos. Se a história for inconsistente com
o exame, isso também deve ser um sinal que aumenta a
• E stágio 1 : Uma pequena área de compressão do osso suspeita de abuso.
subcondral.
• E stágio 2: Um fragmento osteocondral parcialmente Evidência radiográfica de maus-tratos
destacado.
• E stágio 3: Um fragmento osteocondral completamen­ As fraturas nas costelas ou na área estemal sugerem maus-
te destacado, permanecendo na cratera. -tratos. Quaisquer fraturas vistas em uma criança abaixo
• E stágio 4\ Um fragmento osteocondral deslocado. dos 3 anos devem ser suspeitas e, em particular, aquelas
vistas em criança que tenha deficiência ou que seja pre­
As lesões em estágio 1 e 2 são tratadas sem cirurgia, matura. As fraturas metafisárias também são suspeitas, já
usando um gessado, imobilizador ou correia. As lesões que essas fraturas são raramente acidentais e são devido
mediais do estágio 3 inicialmente devem ser tratadas sem à tração da extremidade ou uma força de cisalhamento
cirurgia, mas, se os sintomas persistem, a excisão cirúr­ através da extremidade do osso (Fig. 6.40). As fraturas
gica e a curetagem são recomendadas. As lesões laterais do úmero, principalmente as fraturas espirais em crianças
em estágio 3 e todas as lesões de estágio 4 são tratadas abaixo dos 3 anos, são fortemente sugestivas de abuso, já
cirurgicamente com a remoção da lesão. que as fraturas espirais ocorrem em resposta a uma força
de torção. As fraturas escapulares são difíceis ocorrer e
Doença de Sever também devem levantar suspeitas. As fraturas do fêmur,
A doença de Sever, ou apofisite do calcâneo, é uma en­ com destaque para as fraturas do fêmur distai, são lesões
tidade comum que ocorre em pacientes entre os 9 e 11 bastante suspeitas na criança que não caminha. Em um
anos de idade. A criança refere dor no calcanhar, particu­ estudo, foi relatado que 19 entre 24 crianças abaixo dos 2
larmente ao correr e pode mostrar um andar nas pontas anos com fraturas da diáfise do fêmur tinham sido agre­
dos pés ou claudicação. As radiografias com frequência didas.! Entretanto, as fraturas espirais do fêmur podem
não são úteis; contudo, o paciente sente dor à palpação ocorrer acidentalmente em pacientes que não deambulam
da apófise do calcâneo. O tratamento depende da intensi­ se o mecanismo for apropriado.
dade dos sintomas, sendo tratamento primário o repouso As características mais críticas para buscar ao exami­
do calcanhar. Em pacientes muito sintomáticos, uma bota nar a radiografia de uma criança potencialmente agredida
gessada por 10 a 14 dias é o tratamento de escolha. são as seguintes:
Emergências Ortopédicas 115

► TABELA 6.1 Momento das alterações radiográficas


em fraturas pediátricas

Precoce Pico Tardio


Novo osso periosteal 4-10 d 10-14 d 14-21 d
Calo mole 10-14 d 12-21 d 21-28 d
Calo duro 14-21 d 21-40 d 40-90 d
Remodelação 3 meses 1 ano 2 anos

• Fraturas bilaterais
• Fraturas múltiplas
• Fraturas metafis árias
• Fraturas das costelas
• Fraturas escapulares
• Fraturas da extremidade externa da clavícula
• Fraturas em fases diferentes
• Fraturas do crânio
Os médicos que tratam crianças no setor de emergên­
cia devem ter conhecimento básico dos estágios de con­ Figura 6.41 Fibroxantoma (fibroma não ossificante).
solidação das fraturas que podem ser radiograficamente
detectados. A Tabela 6.1 fornece um esquema temporal
geral das várias fases da consolidação de fraturas. Deve- preferido para a lesão de FNO. Os DCFs são defeitos cor­
-se considerar os dados nessa tabela somente como esti­ ticais metafisários assintomáticos, pequenos (< 3 cm) e
mativa, pois os bebês muito jovens podem exibir uma taxa excentricamente localizados. A maioria dos DCFs desa­
acelerada de reparo. parece de forma espontânea. Entretanto, alguns evoluem e
Os maus-tratos devem estar na vanguarda da mente se tomam fibroxantomas.
do médico da emergência ao examinar qualquer criança, Reciprocamente, os fibroxantomas (> 3 cm) são le­
de modo especial aquelas abaixo dos 3 anos com fraturas. sões intramedulares maiores e excêntricas. Elas têm um pa­
Em um estudo que relatou 173 casos de crianças agredi­ drão franzido superficial típico na cortical adjacente (Fig.
das com trauma craniano e levadas ao setor de emergên­ 6.41). Ambas as lesões ocorrem no esqueleto em desenvol­
cia, 31,2% dos pacientes foram diagnosticados de forma vimento. Em torno de 90% dos casos de ambas as lesões
equivocada na apresentação inicial, 27,8% foram agredi­ envolvem os ossos longos tubulares, sendo os locais mais
das novamente, e duas foram mortas antes que um diag­ comuns o fêmur (em destaque o fêmur distai), a tíbia pro-
nóstico preciso fosse realizado. ximal e distai e o joelho. Os DCFs ocorrem em pacientes
mais jovens (4-8 anos) e são achados, em geral, incidentais
TUMORES ÓSSEOS E DE TECIDOS MOLES EM em radiografias obtidas por outras indicações. O pico da
CRIANÇAS incidência dos fibroxantomas é dos 10 aos 15 anos.
Os fibroxantomas também têm como característica se­
O local mais comum para os tumores malignos da infância rem assintomáticos. Em lesões maiores, contudo, pode ocor­
é ao redor do joelho. Deve-se suspeitar sempre que houver rer uma dor leve e secundária a microfraturas radiografica­
dor unilateral no joelho sem qualquer trauma associado. mente não detectadas que podem levar a fraturas patológicas
As fraturas patológicas também são suspeitas, particular­ dolorosas e radiograficamente evidentes. Com lesões maio­
mente quando ocorrerem no osso enfraquecido, podendo res, são recomendadas a observação radiográfica cuidadosa
ser um cisto ósseo. Vários tumores benignos ocorrem em e a redução das atividades vigorosas do paciente. A cure-
crianças como achados incidentais; esses incluem os os- tagem e os procedimentos de enxerto ósseo são feitos para
teocondromas e os defeitos corticais fibrosos. prevenir uma fratura patológica se a lesão ficar maior do que
33 mm de diâmetro ou envolver mais de 50% do diâmetro
Fibroxantomas transverso de um osso crítico de carga. Nenhum tratamento
ou intervenção específica são necessários para os DCFs.
Os termos fibroxantoma, fibroma não ossificante (FNO),
defeito cortical fibroso (DCF) e, o menos frequente, his-
Sarcoma de Ewing
tiocitoma fibroso benigno têm sido usados como sinôni­
mos na literatura radiológica. Entretanto, o FNO e DCF O sarcoma de Ewing, também conhecido como tumor
são considerados duas lesões distintas em relação ao neuroectodérmico primitivo periférico do osso, é um tipo
tamanho e à história natural. O fibroxantoma é o termo de câncer encontrado em crianças e adultos jovens. O pico
116 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Figura 6.42 Sarcoma de Ewing. Um garoto com 16 anos apresentou-se com duas semanas de dor no joelho depois de jogar fute­
bol. A. AP. B. Radiografias laterais revelam uma reação periosteal maligna com um padrão em "raio solar". Uma fratura patológica
do fêmur distai também é visível.

de incidência fica entre as idades de 10 e 20 anos. É me­ câncer se espalha para outras partes do corpo, ou para
nos comum em crianças abaixo dos 5 anos ou em adultos outros ossos que não sejam diretamente conectados
acima dos 30 anos. Os sarcomas podem desenvolver-se ao osso onde o tumor iniciou.
em quaisquer ossos do esqueleto, mas podem também se
Em radiografias simples, um sarcoma de Ewing de
desenvolver em tecidos moles próximos aos ossos.
alto grau está associado a uma reação periosteal significa­
O sintoma mais comum é a dor no osso na área do
tiva (Fig. 6.42). Um aspecto de raio solar é usado para des­
tumor. Algum edema pode ser eventualmente visto na área
crever as múltiplas áreas lineares interrompidas de reação
e tomar-se doloroso ao toque. As crianças também podem
periosteal que correm perpendiculares ao osso. Quando as
apresentar febre.
linhas de reação periosteal correm em paralelo ao osso, é
Os sarcomas de Ewing recebem pontuação de 1 a 3. O
grau 1 indica câncer de baixo grau e os graus 2 a 3 indicam
câncer de alto grau. Os tumores de alto grau crescem mais
depressa e têm mais probabilidade de disseminação. Os sar­
comas de Ewing tendem a ser neoplasias de alto grau.
Os sarcomas de Ewing são classificados nos seguin­
tes estágios:
• E stágio IA : O câncer é um tipo de baixo grau, somen­
te encontrado dentro do revestimento duro do osso.
• E stágio 1B: Um tipo de câncer de baixo grau, que se
estende para fora do osso, dentro do espaço de tecidos
moles.
• E stágio 2A: O câncer é um tipo de alto grau, somente
encontrado dentro do revestimento duro do osso. Figura 6.43 Osteom a osteoide. O bservar a esclerose reati­
va. (Reim pressa, com perm issão, de Yamamoto LG . Osteoid
• E stágio 2B: Um tipo de câncer de alto grau que se
osteoma. In: Yamamoto LG , Inaba AS, D iM auro R, eds. Radio­
estende para fora do osso, dentro do espaço de tecidos logy Cases in Pediatric Emergency M edicine. Vol. 4, Case 15.
moles. H o nolulu, H I: U niversity of H aw aii John A . Burns School of
• E stágio 3: O câncer pode ser um tipo de baixo grau M edicine, Department of Pediatrics, 1994. http://w w w .haw aii.
ou alto grau e é encontrado dentro ou fora do osso. O edu/m edicine/pediatrics/pem xray/v4c15.htm l.)
Emergências Ortopédicas 117

referido um aspecto em “camada de cebola”. O triângulo 8. Kokoska ER, Keller MS, Rallo MC, et al. Characteristics
de Codman refere-se a uma espícula curta de osso que é of pediatric cervical spine injuries. J Pediatr Surg 2001;
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tical. A TC delineia a extensão do envolvimento cortical e 9. Bracken MB, Shepard MJ, Holford TR, et al. Adminis­
fornece alguma informação sobre a quantidade do compo­ tration of méthylprednisolone for 24 or 48 hours or tirila-
nente de tecidos moles. A RMN revela uma grande massa zad mesylate for 48 hours in the treatment of acute spinal
de tecidos moles, altamente vascularizada, com extensa cord injury. Results of the Third National Acute Spinal
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O sarcoma de Ewing pode ocorrer em qualquer osso te Spinal Cord Injury Study. JAMA 1997;277(20): 1597-
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As radiografias revelam uma pequena lesão lucente, me­ 13. Ozkoc G, Gone U, Kayaalp A, et al. Displaced supracon­
nor de 1 cm, cercada por esclerose reativa (Fig. 6.43). dylar humeral fractures in children: Open reduction vs.
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Parte II
Coluna Vertebral
Capítulo 7
Abordagem da Dor
Cervical e Lombar
INTRODUÇÃO
A dor cervical e a lombar são queixas comuns de apre­
sentação em pacientes do setor de emergência. Aproxi­
madamente 70 a 90% dos indivíduos apresentam um epi­
sódio de dor lombar em algum momento de sua vida.1-
Em uma pesquisa recente, 26% dos indivíduos relataram
dor lombar e 14% relataram dor no pescoço nos três meses
anteriores. As despesas relacionadas à coluna vertebral
têm aumentado em anos recentes, custando 86 bilhões de
dólares nos Estados Unidos em 2005.1,6
A literatura relata que em tomo de 85% dos pacientes
têm dor secundária a uma lesão muscular ou ligamentar e
somente uma minoria deles relata dor causada por raízes
nervosas (p. ex., disco hemiado), articulações das face­
tas (p. ex., artrite) ou do osso (p. ex., osteomielite). É a
opinião do autor que tal desequilíbrio é muito exagerado,
pois a maioria do espasmo e da distensão muscular é se­
cundária a outra lesão ou distúrbio, que é a causa primá­
ria da dor. Este capítulo fornece ao leitor as ferramentas
para melhor averiguar a diferença entre essas entidades.
O Capítulo 8 aborda com mais detalhes cada um desses
diagnósticos, enquanto os Capítulos 9 e 10 estão focados
nas lesões traumáticas da coluna cervical e toracolombar,
respectivamente.
Se a causa exata da dor do paciente pode ou não
ser determinada, a habilidade em diferenciar causas po­
tencialmente fatais de causas benignas é de importância
suprema para o médico da emergência. Ao examinar um
paciente com dor lombar, os profissionais devem fazer a si
duas perguntas importantes:
1. Existe alguma doença sistêmica subjacente grave e
responsável pela dor?
2. Há algum comprometimento neurológico presente
que indique lesão de medula espinal e que necessite
de imagens adicionais e consultoria cirúrgica?

ANATOMIA Figura 7.1 A coluna vertebral consiste em 7 vértebras cervi­


cais, 12 torácicas e 5 lombares.
A coluna vertebral inclui 33 vértebras: 7 cervicais, 12
torácicas e 5 lombares (Fig. 7.1). O sacro consiste em
cinco vértebras fusionadas e o cóccix. A primeira duas odontoide do áxis está fixado à porção anterior do atlas e
vértebras cervicais, o atlas (C l) e o áxis (C2), são ím ­ permite a rotação.
pares. O atlas é uma estrutura em forma de anel que se Os corpos vertebrais gradualmente aumentam de
articula com o crânio, que é responsável por 50% da ca­ tamanho conforme descem. O arco posterior envolve a
pacidade do pescoço de flexionar e estender. O processo medula espinal e consiste em pedículos largos, lâminas
122 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Vista lateral
Facetas costais
superiores e inferiores Disco intervertebral
Pedículo
Processo
articular superior
Processo
transverso

Ligamento
supraespinal

Ligamento
interespinal

Vista posterior
Ligamento
longitudinal Ligamento
anterior longitudinal
posterior Ligamento
amarelo

Forame Processo
vertebral articular superior

Corpo

Vista superior

Figura 7.2 Corpo vertebral e anatomia ligamentar.

planas e processos espinhosos (Fig. 7.2). Os processos cervical e lombar, os discos são mais espessos do que
transversos se estendem lateralmente, perto da junção dos na coluna torácica e, por conseguinte, promovem a fle­
pedículos e das lâminas. O arco posterior tem quatro face­ xibilidade nessas regiões. Com a idade, pequenas ruptu­
tas que se articulam com as vértebras superior e inferior, ras ocorrem no anel fibroso, começando centralmente e
formando articulações sinoviais. Dependendo da sua lo­ irradiando para a periferia. Com um aumento súbito na
calização, os processos transversos se articulam com as pressão, o anel fibroso pode romper completamente e o
costelas. núcleo pulposo ser hemiado. A herniação é menos comum
Os ligamentos da coluna incluem os ligamentos em indivíduos acima dos 50 anos, pois o núcleo pulposo
longitudinais anterior e posterior, que interconectam os toma-se desidratado e fibrótico.
corpos vertebrais e correm ao longo da coluna. Posterior­ O canal e a medula espinal são maiores na região cer­
mente, os ligamentos amarelo, interespinal e supraespinal vical. Na coluna torácica, o canal espinal é muito estreito
fornecem estabilidade. e, por conseguinte, um deslocamento pequeno pode gerar
Embora as vértebras forneçam suporte e proteção à lesão neurológica significativa (i.e., transecção da medu­
medula espinal, os ligamentos e discos intervertebrais res­ la). As raízes nervosas emergem dos forames vertebrais
pondem pela flexibilidade da coluna. Na coluna cervical lateralmente. As raízes nervosas cervicais emergem acima
e lombar, a flexibilidade é maior, enquanto na coluna to­ das vértebras correspondentes, enquanto o oposto ocorre
rácica as estruturas ligamentares promovem estabilidade. nas raízes nervosas toracolombares. Isso ocorre porque
As seções da coluna vertebral com a maior mobilidade existem oito raízes nervosas cervicais e somente sete vér­
também correspondem ao local com maior incidência de tebras cervicais (Fig. 7.3). No adulto, a medula espinal
lesões. A localização mais comum para lesão da medula termina no interespaço L I-2 , onde as raízes nervosas res­
espinal é na coluna cervical, entre C5 e C6. tantes compõem a cauda equina. O cauda equina preenche
Os discos intervertebrais são compostos do núcleo frouxamente o restante da medula espinal e tolera melhor
pulposo central, cercado pelo anel fibroso. Na coluna a compressão do que a medula espinal em si.
Emergências Ortopédicas 123

► TABELA 7.1 Sinais e sintomas de alerta de uma causa


subjacente grave de dor lombar

Diagnóstico Sinais e sintomas de alerta


Infecção Imunocomprometimento
(p. ex., DM , HIV, esteroides,
transplante), febre, déficit
neurológico, dor persistente em
repouso e pior à noite, história
de uso drogas IV, infecção
recente
Malignidade Idoso, história de malignidade,
déficit neurológico, perda de
peso, dor persistente em repouso
e pior à noite, dor > 6 semanas
Fratura Idoso, trauma, esteroides, história
de osteoporose
Síndrome da cauda Problemas do intestino ou da
equina bexiga, sintomas bilaterais das
pernas, anestesia em sela
Aneurisma da aorta Idade > 60 anos, massa
abdominal abdominal pulsátil, fatores de
risco para vasculopatia

problemático. Esta seção discute uma abordagem geral


para ajudar o profissional a diagnosticar essas condições
potencialmente fatais. Será ressaltada a importância de re­
conhecer os “sinais de alerta” que indicam a presença de
um problema que exige diagnóstico e tratamento urgente
ou de emergência (Tab. 7.1).
A idade do paciente é a primeira pista. Em pacientes
com menos de 20 anos, a dor lombar na ausência de trau­
ma sugere espondilolistese ou espondilólise. A hemiação
de um disco ocorre mais comumente em pacientes entre
30 e 50 anos. Os pacientes acima dos 50 anos respondem
por mais de três quartos das causas de dor lombar relacio­
nadas à malignidade. Os pacientes idosos têm um risco
mais alto para malignidade, aneurisma e fraturas. A maio­
ria dos pacientes com fraturas de compressão tem mais de
70 anos.
O clínico deve pedir ao paciente para descrever
Coccígeo
como e quando a dor começou, o que estava fazendo
naquele momento, e se já teve episódios prévios de dor
Figura 7.3 O canal e a medula espinal. similar. O aparecimento gradual de dor durante um pe­
ríodo de semanas a meses é um fator de preocupação
para malignidade ou infecção. Pelo fato de a maioria
HISTÓRIA dos pacientes com dor lombar melhorar durante um pe­
ríodo de quatro a seis semanas, a dor que tenha per­
Embora o diagnóstico diferencial para dor lombar seja sistido mais de seis semanas também gera preocupação
abrangente, é de extrema importância rastrear os pacien­ para a presença de malignidade ou infecção. A dor após
tes que possam estar sofrendo de condições que produ­ uma queda, especialmente em um paciente idoso, suge­
zam significativa morbidade e mortalidade. Distúrbios re possível fratura. Em pacientes que tenham lesão trau­
como infecções vertebrais, malignidade, fraturas, aneuris­ mática mais significativa, uma fratura deve ser conside­
mas aórticos e lesão nervosa (p. ex., síndrome da cauda rada, até prova em contrário. O levantamento de peso
equina), embora menos comuns, requerem tratamento de antes do aparecimento da dor favorece uma distensão
emergência. Como tal, um retardo no diagnóstico pode ser muscular ou herniação discai.
124 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

A localização da dor deve ser observada. A dor na ► TABELA 7.2 Causas não m usculoesqueléticas de dor
área paravertebral sugere lesão muscular, mas pode ser se­ lombar
cundaria a outro distúrbio subjacente nas costas. A dor na Neoplasia
linha média é vista em fraturas, malignidade ou infecção. • Câncer de pulmão
A precaução é necessária aqui, contudo, pois as causas • Metástase no fígado
graves podem se apresentar com espasmo muscular pa­ • Câncer pancreático
• Câncer renal
ravertebral. A dor na região lombar é mais comum, mas a
• Câncer de próstata
dor torácica é potencialmente mais preocupante. Ela pode
• Câncer testicular
sugerir condições como dissecção da aorta, malignidade
• Neoplasia ovariana
ou infecção vertebral.“ • Fibroides uterinos
Os fatores de exacerbação e alívio também fornecem Infecção
pistas quanto à etiologia. A dor que persiste em repouso ou • Pneumonia
que fica pior à noite pode prenunciar malignidade subja­ • Derrame pleural
cente ou infecção vertebral, pois a dor musculoesquelética • Prostatite crônica
habitualmente melhora com o repouso. A etiologia pode • Pielonefrite
ser sugerida por qual posição exacerba a dor. O aumento • Doença inflamatória pélvica
da dor em decúbito ventral é visto na hemiação discai la­ Causas vasculares
• Aneurisma da aorta abdominal
teral. A dor que aumenta com a extensão sugere síndrome
• Dissecção da aorta
da faceta, estenose central ou hemiação lateral. A dor que
• Infarto renal
aumenta com o ato de sentar é sugestiva de ruptura anu­ • Isquemia cardíaca
lar no disco ou de hemiação paramediana. Levantar-se de Causas mistas
uma posição sentada faz a dor piorar em pacientes com • Cálculos renais
dor discogênica. A deambulação toma pior a dor da este­ • Radiculopatia diabética
nose vertebral, enquanto inclinação para a frente melhora • Osteoporose
a dor. Se a tosse ou qualquer outra manobra de Valsalva • Osteom alacia
acentuar a dor, isso sugere disco hemiado. • Gota e pseudogota
• Prolapso de útero
• Endométriose
A xio m a:Dor noturna, em repouso ou sem conexão à po­ • Pãncreatite
sição do paciente são "sinais de alerta" que sugerem tumor, • Colecistite
infecção ou dor referida de outra fonte. • Doença péptica ulcerosa
• Herpes-zóster
A irradiação da dor para um braço ou uma perna suge­
re radiculopatia. A causa mais comum é um disco hemia­
do que comprime a raiz nervosa, mas a estenose vertebral, sugerem infecção. Aproximadamente 40% dos pacientes
as malignidades e as infecções também podem causar ra­ com infecção vertebral têm um local identificável de in­
diculopatia compressiva. Em pacientes com radiculopatia fecção em outra topografia, como uma infecção do trato
lombar, sentar, tossir ou os esforços tomam os sintomas urinário ou celulite. Dois terços dos pacientes com me-
piores, enquanto deitar-se melhora a dor. Quando a raiz tástases epidurais vertebrais têm uma história de câncer.
nervosa de L5 ou SI estiver envolvida, a dor se irradia
para a perna e passa para o joelho (ciática). Embora a radi­
culopatia esteja presente em apenas 1% dos pacientes com ► TABELA 7.3 Causas não m usculoesqueléticas de dor
cervical *•
dor lombar, sua ausência toma improvável uma hemiação
discai clinicamente importante. Cardíaca
Um paciente com queixa de fraqueza deve representar • Infarto do miocárdio
• Angina de peito
uma preocupação especial. Diferenciar a perda verdadei­
Gastrintestinal
ra de força muscular da incapacidade de executar a função
• Hérnia de hiato
muscular devido à dor é difícil, mas importante. Essa dis­ • Espasmo esofágico
tinção deve começar com a história, não só perguntando ao • C ólica biliar, colecistite e coledocolitíase
paciente, mas também observando os movimentos. O pa­ • Pãncreatite
ciente entra no setor de emergência caminhando? É capaz Tórax
de ir ao banheiro sozinho? • Lesões no mediastino
Durante a revisão dos sintomas e da história médica • Lesões pulmonares apicais (tumor de Pancoast)
pregressa, o clínico deve inquirir sobre os sintomas que Causas mistas
podem criar suspeita ao profissional de que haja uma con­ • Herpes-zóster
dição subjacente significativa como causa. Perda de peso, • Síndrome da articulação temporomandibular
• Costocondrite
febres e condição imunocomprometida (HIV, esteroides)
Emergências Ortopédicas 125

O profissional também deve considerar uma fonte re­


ferida de dor lombar em razão de condições na cavidade
abdominal e retroperitônio (Tabs. 7.2 e 7.3). A identifica­
ção dessas entidades, que produzem outras pistas na his­
tória do paciente, requer um alto índice de suspeita de um
profissional perspicaz.

EXAME FÍSICO

Axioma: No contexto de trauma ou déficit neurológico ,


qualquer movimento na coluna deve ser evitado até a obten­
ção de imagens para avaliar a estabilidade vertebral.

O exame de um paciente com dor lombar começa com a


avaliação dos sinais vitais. Embora a hipertensão levante
a suspeita de dissecção da aorta, a hipotensão na presença Figura 7.4 Exam inar a coluna cervical posterior por trás da ca­
de dor lombar sugere um aneurisma da aorta abdominal beça do paciente, com as mãos em forma de copo, de maneira
até prova em contrário. No contexto de trauma com lesão que as pontas dos dedos se toquem na linha média.
da medula espinal, considere o choque neurogênico como
uma causa possível de hipotensão, quando a hemorragia
tiver sido excluída. A febre é importante notar; contudo, a crânio na linha média. As estruturas ósseas posteriores
sua ausência não exclui infecção significativa. Por exem­ são mais adequadamente palpadas se o examinador ficar
plo, metade dos pacientes com osteomielite piogênica não em pé atrás da cabeça do paciente e colocar as mãos sob
apresenta febre. o pescoço, de forma que as pontas dos dedos se encon­
Deve ser feito o exame físico do coração, dos pulsos, trem na linha média (Fig. 7.4). A primeira estrutura nota­
dos pulmões, do abdome e da pele. O câncer de pulmão da é o processo espinhoso do áxis (C2). O arco posterior
pode ser detectado em um paciente com sons respiratórios de C2 não é palpável. No paciente magro, o examinador
diminuídos por um derrame ou estertores. O exame abdo­ deve ser capaz de sentir todos os processos espinhosos
minal deve documentar a presença de uma massa pulsátil da coluna cervical. A perda de alinhamento está presen­
devido a um aneurisma da aorta abdominal. Um exame re­ te na luxação unilateral de articulação facetária ou com
tal pode detectar um câncer de próstata ou do reto. O exa­ uma fratura.
me completo da pele pode revelar a evidência das lesões A vértebra C7 (e às vezes Tl) tem o maior processo
iniciais do herpes-zóster. espinhoso na maioria dos indivíduos e é um referencial
útil. Outras referências na coluna cervical incluem a carti­
lagem tireoide, que fica sobre C4 e C5, e a cartilagem cri-
Exame da coluna cervical
coide, que fica no nível de C6. As articulações das facetas
A inspeção começa na busca por cicatrizes, equimose ou são palpadas lateralmente e entre os processos espinho­
eritema. No contexto não traumático, a lordose normal da sos de cada lado. No pescoço relaxado, eles são sentidos
coluna cervical é mais adequadamente vista ficando ao como um pequeno domo. A sensibilidade dolorosa sobre
lado do paciente. Se uma manobra de Valsalva ou a com­ as articulações das facetas sugere artrite, fratura ou lesão
pressão no topo da cabeça reproduzir dor, provavelmente ligamentar.
existe um disco herniado ou estenose vertebral afetando o O exame neurológico deve incluir a avaliação da for­
diâmetro do canal ou dos forames vertebrais. ça motora, da sensibilidade e a testagem dos reflexos. A
Na coluna cervical, os músculos são relaxados na localização da lesão medular é determinada pelo conheci­
posição de decúbito dorsal, tornando as estruturas ósseas mento de como testar a função naquele nível. Na coluna
e ligamentares mais profundas palpáveis nessa posição. cervical, C5 a C8 são mais comumente afetadas (Tab. 7.4
O examinador começa sentindo o occipital e a base do eFigs. 7.5 a 7.8).

► TABELA 7.4 Exame físico para testar as raízes nervosas cervicais


C5 C6 C7 C8

Sensitivo Braço lateral Antebraço lateral e polegar Dedo médio Antebraço ulnar ou dedo mínimo
Motor Abdução do ombro e Flexão do cotovelo e extensão Extensão do cotovelo Flexão dos dedos
flexão do cotovelo do punho e flexão do punho
Reflexos Bíceps Braquiorradial Tríceps Nenhum
126 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Figura 7.5 Avaliação neurológica da raiz nervosa C5.

Sensibilidade

Músculos extensores do punho:


Extensor longo radial do carpo
Extensor curto radial do carpo

Figura 7.6 Avaliação neurológica da raiz nervosa C6.


Emergências Ortopédicas 127

Figura 7.7 Avaliação neurológica da raiz nervosa C 7.

Figura 7.8 Avaliação neurológica da raiz nervosa C8.


128 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Exame da coluna toracolombar Distância interespinal

O exame toracolombar deve prosseguir de forma sistemá­


tica, para aumentar sua eficiência e abrangência. O exame
completo da coluna no paciente não traumatizado será re­
visado nesta seção, mas, dependendo do cenário clínico,
o profissional não precisará executar todas as manobras
descritas.

Em pé
Se o paciente puder ficar em pé, o exame começa nes­
sa posição, com a inspeção. Observar a lordose normal
da coluna lombar. A retificação da coluna lombar sugere
espondilite anquilosante ou espasmo muscular paraverte-
bral. A seguir, verificar o alinhamento das costas do pa­
ciente. Mais da metade dos pacientes terá anormalidades
de alinhamento, que podem contribuir para a tensão nas
costas. As primeiras vértebras torácicas devem estar cen­
tradas sobre o sacro e as espinhas ilíacas posterossuperio-
res (EIPS) devem ter a mesma altura.
A articulação sacroilíaca (SI) é avaliada colocando um
polegar na EIPS e o outro na espinha do sacro. Depois de
pedir ao paciente para levantar a perna ipsilateral do chão,
determine se a EIPS se move para baixo (normal) ou para
cima (patologia da articulação SI). Além de avaliar a articu­
lação SI, a elevação de uma perna com a extensão do dorso
exacerba a dor lombar em pacientes com doença de articu­ Figura 7.9 O s ligamentos supraespinal e interespinal são pal­
lação facetária ou espondilolistese. Se o paciente preferir pados entre os processos espinhosos.
ficar em pé hgeiramente inchnado para um lado, com o
quadril e o joelho flexionados, isso sugere irritação do ner­
vo ciático, mais comumente a partir de um disco hemiado.
A amplitude normal dos movimentos das costas en­
volve 40 a 60° de flexão. Se a coluna lombar mantiver a
sua lordose e a flexão ocorrer nos quadris quando o pa­
ciente se curva para diante, deve ser suspeitada uma pato­
logia da coluna lombar, de hábito nos interespaços de L4-5
ou L5-S1. A dor com flexão é consistente com ciática, her-
niação discai ou distensão lombar. A extensão normal da
coluna lombar é 20 a 35°. A extensão força as articulações
das facetas e estreita os forames por onde saem as raízes
nervosas. A extensão dolorosa, por conseguinte, é carac­
terística de patologia da articulação facetária e da artrite.
A palpação da coluna é idealmente executada em fle­
xão. Os processos espinhosos da coluna toracolombar são
facilmente palpados, exceto em pacientes extremamente
obesos. Qualquer desvio lateral desses processos sugere
deformidade rotacional, como escoliose ou fratura. A dis­
tância entre os processos espinhosos deve ser equivalen­
te entre um segmento até o seguinte. Os ligamentos su-
praespinal e interespinal são palpados nos recessos entre
os processos espinhosos (Fig. 7.9). Algumas referências
úteis para lembrar incluem as cristas ilíacas ao nível do
interespaço de L4 e L5 e o processo espinhoso de S2, no
nível da EIPS (Fig. 7.10).
A pressão sobre os processos espinhosos é transmi­ Figura 7 .10 O interespaço L4-5 é palpado entre as cristas
tida anteriormente para os arcos e em direção aos corpos ilíacas, enquanto S2 é palpado ao nível das espinhas ilíacas
vertebrais. Por isso, a percussão dos processos espinhosos posterossuperiores.
Emergências Ortopédicas 129

► TABELA 7.5 Exame físico para testar as raízes nervosas lombossacrais

L3 L4 L5 S1
Sensitivo Coxa anterior e medial Pé medial Espaço interdigital do 1Qe 2Qdedos Pé lateral
Motor Flexão do quadril Extensão do joelho Dorsiflexão do hálux e do tornozelo Flexão plantar do tornozelo

com um martelo de reflexos ajuda a diferenciar a dor na com a manobra de Valsalva também é sensível para a irri­
coluna vertebral versus a dor nas estruturas retroperitone- tação do nervo isquiático.
ais mais profundas. Geralmente, a dor com a percussão O teste FABER (flexão, abdução e rotação externa
sugere patologia vertebral, como fratura ou infecção. A [externai rotation] do quadril) para patologia das articula­
sensibilidade dolorosa para percussão na coluna é 86% ções do quadril e SI também é feito no paciente em decú­
sensível para infecção bacteriana, mas é específica em so­ bito dorsal. O pé no lado afetado é colocado sobre o joe­
mente 60%.7,10 lho oposto. A dor na virilha sugere patologia do quadril,
As articulações das facetas estão localizadas a cerca não da coluna. A pressão gentil, mas firme para baixo no
de 3 cm lateralmente aos processos espinhosos na região joelho flexionado e na crista ilíaca anterossuperior oposta
toracolombar. Como na coluna cervical, as articulações produz dor na articulação SI em pacientes com patologia
das facetas estão laterais e entre os processos espinhosos. nesse local.
A palpação direta das articulações das facetas não é possí­ A maior parte da avaliação neurológica pode ser
vel na coluna toracolombar, pois elas estão profundamen­ executada enquanto o paciente está deitado em decúbito
te situadas aos músculos paravertebrais. dorsal. O exame neurológico deve incluir a avaliação da
Por fim, enquanto o paciente ainda está em pé, deve- força motora, da sensibilidade e a testagem dos reflexos.
-se fazê-lo apoiar-se nos calcanhares para testar a função A localização da lesão medular pode ser determinada pelo
motora da raiz de L5 e apoiar-se na ponta dos dedos do pé conhecimento de como testar a função naquele nível. Na
para testar a raiz de Sl. coluna lombar, são testadas as raízes nervosas de L3, L4,
L5 e S l (Tab. 7.5 e Figs. 7.11 a 7.13). A capacidade de
Decúbito dorsal apertar as nádegas (i.e., do glúteo máximo) é um achado
Uma vez que o paciente esteja deitado em decúbito dor­ motor confiável adicional sobre a raiz nervosa de S 1.
sal, fazer o teste de levantamento da perna estendida e o Um teste neurológico que é muitas vezes desconside­
teste cruzado de levantamento da perna estendida. Com o rado, mas com frequência é diagnóstico, é o da sensibili­
joelho estendido, a perna é gradualmente levantada. A dor dade vibratória. Um diapasão é colocado sobre uma proe­
antes de 30° de elevação não é consistente com irritação minência óssea suprida pela raiz nervosa (p. ex., maléolo
de raiz nervosa, pois somente a dura está sendo estirada medial para L4, patela para L3). A vibração produz des­
até este ponto. A elevação de 30 até 60° estira a raiz ner­ conforto que irradia para cima, nas costas, na distribuição
vosa e reproduz a dor devido a um disco herniado (sinal sensitiva da raiz nervosa irritada. A sensação vibratória é
de Lasègue). Para que o teste seja considerado positivo, a camada mais superficial do nervo e, desse modo, é mais
a dor deve irradiar-se além do joelho. O aumento da dor sensível quando houver a compressão inicial.

Sensitivo Motor Reflexos

Reflexo
patelar

Figura 7.11 Avaliação neurológica da raiz nervosa L4.


130 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Sensitivo Motor Efetuar o teste de estira m en to fe m o r a l estendendo


o quadril em decúbito ventral. Essa manobra produz dor
lateral à linha média em pacientes com patologia da arti­
culação facetaria. A dor produzida na coxa anterior, con­
tudo, sugere irritação das raízes nervosas de L2-3.
A seguir, palpar a área do nervo isquiático quando ele
passa entre a tuberosidade isquiática e o trocanter maior.
Se isso produzir sensibilidade dolorosa, a irritação do
nervo nessa localização deve ser suspeitada, em vez da
irritação nas costas. A síndrome do piriforme é uma causa
de irritação do nervo isquiático nessa posição, sendo abor­
dado em mais detalhes no Capítulo 17.
Dorsiflexão do Um lençol colocado sob o umbigo no paciente em
hálux e do pé decúbito ventral flexiona a coluna lombar e toma as ar­
ticulações das facetas mais aparentes. Os processos espi­
nhosos devem ser equidistantes. Um degrau entre L5-S1
Perna lateral e espaço ou L4-L5 sugere espondilolistese. Como no paciente em
interdigital dos dedos
pé, a sensibilidade dolorosa 3 cm lateral ao processo espi­
Figura 7.12 Avaliação neurológica da raiz nervosa L5. nhoso sugere patologia da articulação facetária.

IMAGENS
Ao tentar determinar a localização da lesão neuroló­
gica, vários princípios gerais são úteis. A fraqueza unila­ Os exames extensos de imagens não são habitualmente
teral sugere radiculopatia, enquanto a fraqueza ou espasti- recomendados e são reservados aos pacientes com sinais
cidade bilateral é característica de lesão dentro da medula de alerta na história ou no exame físico, pois a maioria
espinal (i.e., mielopatia). A síndrome da cauda equina dos pacientes com dor lombar se recupera sem problemas.
deve ser suspeitada em pacientes com achados de neu­ As radiografias simples estão indicadas após um trau­
rônio motor inferior, fraqueza bilateral nas pernas, perda ma ou como rastreamento para fraturas patológicas. Na
do tônus retal, anestesia em sela e retenção urinária. Os coluna, a rotina inclui as incidências anteroposterior, la­
déficits sensitivos dentro de um único dermátomo supor­ teral e oblíqua. A incidência do odontoide (boca aberta)
tam uma fonte radicular de dor, enquanto o envolvimento é essencial na coluna cervical e permite uma melhor vi­
de múltiplos dermátomos tem maior probabilidade de ser sualização de C l e C2. As indicações comuns para obter
causado por patologia dentro da medula (Fig. 7.14). as radiografias simples da coluna estão listadas na Tabela
7.6. Uma discussão mais extensa das indicações para ima­
Decúbito ventral gens após um trauma está incluída nos Capítulos 9 e 10.
Testar a raiz nervosa de SI observando a função do mús­ No contexto não traumático, a TC pode demonstrar
culo glúteo máximo. Pedir ao paciente para apertar as ná­ doença do disco intervertebral ou um tumor, se este for
degas juntas. Se um lado estiver mais fraco, provavelmen­ suficientemente grande. Não é sensível o bastante para
te existe um déficit da raiz nervosa de Sl. diagnosticar malignidade vertebral. A RMN é o teste

Sensitivo Motor Reflexos

Flexão plantar do Reflexo do calcanhar


pé e do hálux ausente ou diminuído

Figura 7.13 Avaliação neurológica da raiz nervosa S1.


Emergências Ortopédicas 131

► TABELA 7.6 Sinais de alerta para considerar exames


de imagens
História de trauma recente
Idade < 18 ou > 50
História de câncer
Dor à noite
Febre, imunocomprometimento, abuso de drogas IV
Sintomas por mais de 4-6 semanas
Q ueixas ou incontinência neurológica
Déficits neurológicos ao exame

TRATAMENTO
O tratamento da dor cervical e lombar é dependente da
causa. Qualquer paciente com trauma significativo, cons­
ciência alterada ou déficits neurológicos deve ter as pre­
cauções vertebrais instituídas, com um colar cervical e
prancha lombar no setor de emergência, se isso já não
tiver sido feito no contexto pré-hospitalar. Para informa­
ção relativa aos tratamentos específicos das condições de
emergência que causam dor lombar, na ausência de trau­
ma, ver o Capítulo 8. As diretrizes adicionais de tratamen­
to para pacientes com trauma cervical e toracolombar são
apresentadas nos Capítulos 9 e 10.

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mielite vertebral. Emerg Med 2002;22(3):279-283.
Capítulo O
Distúrbios Específicos da
Coluna Vertebral
INTRODUÇÃO progride de forma gradual, já que o ligamento longitudinal
posterior atua contendo o núcleo. Muitas vezes, conforme o
O Capítulo 7 fez uma abordagem geral e um exame de­ ligamento enfraquece, o núcleo migra para dentro do forame
talhado do paciente com dor cervical ou lombar. Neste intervertebral, mais comumente em direção posterolateral
capítulo, é apresentada uma discussão mais extensa das (i.e., uma hemiação paramediana). Nessa localização, o dis­
condições específicas da coluna vertebral. Para uma revi­ co entra em contato com a raiz nervosa, causando dor e radi-
são sobre espondiloartropatia soronegativa (p. ex., espon- culopatia. Uma grande hemiação central pode comprimir a
dilite anquilosante), ler o Capítulo 3. As fraturas da coluna medula espinal ou a cauda equina.
vertebral são abordadas nos Capítulos 9 e 10. Aproximadamente 4 a 6% da população irá sofrer de
uma hemiação discai clinicamente significativa. A gran­
SÍNDROME DA CAUDA EQUINA de maioria ocorre na coluna lombar, causando dores na
lombar e na perna. Em pacientes com dor ciática, 90%
A síndrom e da cauda equina refere-se à compressão dos casos são devido a um disco hemiado, enquanto a es-
nervosa dentro do canal vertebral, que ocorre abaixo do tenose lombar e, menos frequentemente, um tumor, são
interespaço L l-2 , depois do término da medula espinal. outras causas possíveis. Em torno de 98% das hemiações
O quadro clínico é de uma lesão de neurônio motor infe­ discais lombares clinicamente relevantes ocorrem no ní­
rior, com fraqueza ou paralisia, perda do tônus retal, per­ vel intervertebral L4-5 ou L5-S1. Na coluna cervical, os
da sensitiva em padrão dermatômico, reflexos tendíneos discos C6-7 e C5-6 respondem por 70 e 20% dos casos,
profundos atenuados e disfunção da bexiga. A descrição respectivamente. A radiculopatia cervical é mais provável
sensitiva clássica é de anestesia em “sela”, com perda da de estar relacionada a alterações degenerativas do que a
sensibilidade nas nádegas e na área do períneo. Deve ser hemiação discai em uma proporção de 3:1.
notado que, dentro dos primeiros dias, uma síndrome me­
dular completa pode se apresentar de modo similar, até que
Características clínicas
se desenvolvam os sintomas de neurônio motor superior.
A causa mais comum de síndrome da cauda equina é Mais comumente, o paciente tem entre 30 e 50 anos, pois
uma grande hemiação discai na linha média, nos interes- em indivíduos mais velhos o núcleo é desidratado e fi-
paços L4-5 ou L5-S1. Outras causas incluem metástases brótico e tem menos probabilidade de hemiar. Os homens
vertebrais, hematoma vertebral, abscesso epidural, fratura são afetados com frequência três vezes maior do que as
vertebral ou mielite transversa. Embora o tônus do es- mulheres.
fincter anal esteja diminuído em até 80% dos pacientes, A dor se origina na localização geral da hemiação (i.e.,
um elevado residual pós-esvaziamento é o achado mais lombar), mas com frequência predomina a dor da radiculo­
consistente para realizar o diagnóstico. Um residual pós- patia (i.e., a dor ciática). A dor ciática tem sensibilidade de
-esvaziamento de mais de 100 a 200 mL de urina tem 90% 95% para a hemiação discai lombar. A sua ausência toma
de sensibilidade e 95% de especificidade para o diagnósti­ improvável uma hemiação discai clinicamente relevante,
co em pacientes com suspeita de síndrome da cauda equi­ cuja presença é estimada em um 1:1000 pacientes.4
na. O diagnóstico é confirmado por ressonância magnéti­ O paciente pode relatar uma história de episódios re­
ca nuclear (RMN) de emergência. O tratamento consiste correntes de dor lombar que espontaneamente se resolve­
em esteroides IV em doses altas (as recomendações variam ram. Com a mptura aguda, existe uma dor lombar intensa
desde 4 até 100 mg de dexametasona) e consulta cirúrgica. que ocorre instantaneamente ou várias horas depois de
A intervenção cirúrgica é recomendada na urgência para uma lesão (p. ex., levantamento de um peso). Qualquer
aumentar a probabilidade de recuperação neurológica. movimento exacerba a dor e piora com o ato de sentar,
mais do que em pé. Sair da posição sentada acentua a dor
de forma exagerada. Os primeiros 30 minutos depois do
HERNIAÇÃO DISCAL
despertar são caracterizados pela pior dor, que mais tarde
Com o envelhecimento, a degeneração se desenvolve no anel melhora. O ato de dirigir por tempo prolongado exacerba
fibroso, o que pode levar à hemiação do núcleo pulposo após a dor, que também aumenta muito depois de tossir ou es­
um aumento agudo na pressão dentro do disco. A hemiação pirrar (i.e., manobras de Valsalva).
Emergências Ortopédicas 133

Figura 8.2 O teste sentado de elevação da perna estendida.

causas não orgânicas de dor, porque, teoricamente, deve


produzir os mesmos resultados. Entretanto, quando com­
Figura 8.1 O teste de elevação da perna estendida em decú­ parado com a versão em decúbito dorsal usando a RMN
bito dorsal. como o padrão-ouro, o teste de elevação da perna estendi­
da sentada demonstrou ser menos sensível.
Em casos de hemiação discai cervical, a dor é sentida
O exame lombar revela espasmo muscular significa­ no colo e pode irradiar-se para o ombro e para o braço na
tivo e atenuação da curva lombar. O paciente com hemia- distribuição da raiz espinal. A cefaleia pode estar associa­
ção paramediana (mais comum) frequentemente estará na da às herniações de C3-4 e C4-5. Existe redução da am­
posição de decúbito lateral, com flexão da coluna lombar, plitude de movimento e sensibilidade dolorosa puntiforme
dos quadris e dos joelhos. Essa posição é mais confortável sobre o disco envolvido.
para ele, sendo, em geral, patognomônica de doença dis­ A localização da dor irradiada depende da raiz nervo­
cai. O exame físico inclui o exame da função neurológica sa afetada. A raiz nervosa de C4 causa irradiação da dor
nas pernas. Cada raiz nervosa deve ser testada, conforme para a escápula, enquanto a raiz nervosa de C5 irradia a
descrito no Capítulo 7. Dependendo da raiz nervosa envol­ dor ao ombro. Ambas as raízes nervosas de C4 e C5 po­
vida, podem ocorrer fraqueza e perda de sensibilidade. A dem irradiar dor para o tórax anterior, que pode ser con­
perda sensitiva em uma distribuição dermatômica é o pre- fundida com isquemia cardíaca. Quando a raiz nervosa de
ditor mais confiável da localização da raiz nervosa afetada. C6 ou de C7 for afetada, a dor é irradiada para a parte la­
O teste de elevação d a p e rn a esten d id a (sinal de teral do braço e dorsal do antebraço. A raiz nervosa de C8
Lasègue) exacerba a dor em pacientes com hemiação na irradia dor para o antebraço medial. Quando a dor irradiar
raiz nervosa de L5 ou SI ao alongar o nervo comprimido. para ambos os braços (± pernas), considerar uma mielo-
O teste é feito no paciente em decúbito dorsal, seguran­ patia cervical de disco protruso centralmente.
do o calcanhar com uma das mãos e elevando lentamente O sinal de Spurling é positivo na presença de hemia­
a perna afetada, mantendo o joelho estendido (Fig. 8.1). ção discai cervical quando a hiperextensão e a flexão la­
Um teste positivo está presente se a dor ciática for repro­ teral do pescoço para o lado sintomático reproduzirem a
duzida entre 30 e 60° de elevação da perna. Quanto me­ dor. O teste de abdução do om bro é executado colocando-
nor o ângulo que produza o teste positivo, mais específico -se a mão sintomática por cima da cabeça. O teste será
é o teste e maior a probabilidade de que uma herniação positivo quando essa ação resultar em alívio de dor.
significativa seja encontrada na cirurgia. A dorsiflexão do
pé pode exacerbar adicionalmente a dor. Deve ser enfati­
Imagens
zado que a dor reproduzida nas costas não constitui um
teste positivo. Quando positivo, o teste tem 80% de sen­ No contexto de dor lombar com radiculopatia provavel­
sibilidade e 40% de especificidade para hemiação discai mente causada por um disco herniado, as imagens diag­
lombar. O teste de elevação da perna estendida cmzada nósticas somente são úteis se os resultados alterarem
envolve a mesma manobra no lado não afetado. Ele tem o manejo. Por conseguinte, no setor de emergência, as
sensibilidade de 25%, mas a especificidade é de 90%. imagens estão indicadas se um diagnóstico alternativo,
O teste de elevação da p ern a estendida também pode como infecção ou malignidade, for sugerido com base na
ser feito em posição sentada (Fig. 8.2). Esse teste tem sido história e no exame físico. As imagens podem também
usado como uma forma de diferenciar os pacientes com ser apropriadas nos pacientes com sintomas intensos nos
134 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

que os pacientes retomem à atividade normal (p. ex., a uni­


dade de tração lombar de Saunders®). O repouso no leito
não é mais recomendado. ’ A fisioterapia, a acupuntura
e a manipulação vertebral têm efetividade desconhecida.6
A injeção epidural de esteroides é efetiva no trata­
mento dos sintomas iniciais (dentro de até três meses),
mas não existe nenhuma diferença em um ano. As inje­
ções repetidas, uma prática comum, não são apoiadas pela
literatura atual. O procedimento não confere qualquer
benefício aos pacientes sem sintomas radiculares. 8
As discectomias lombares estão entre os procedimen­
tos eletivos mais executados; contudo, há controvérsia sig­
nificativa tanto em relação à necessidade de cimrgia quanto
ao momento ideal do procedimento. A maioria dos ata­
ques agudos de dor ciática se resolvem com o manejo não
cirúrgico. Aproximadamente metade dos pacientes começa
a melhorar dentro de 10 dias, 60% se recuperam dentro de
Figura 8.3 RMN demonstrando herniação discai grande no
três meses e 70% se recuperam dentro de 12 meses.
interespaço de L5-S1. A cirurgia é uma opção para o alívio mais rápido em
pacientes cuja recuperação seja lenta ou que estejam mui­
to debilitados. Esses pacientes estarão capacitados para
quais falha o tratamento conservador por um período de voltarem ao trabalho em tempo mais curto, tornando o
seis a oito semanas. Nesses pacientes em que a cirurgia custo da cirurgia equiparado aos custos sociais da aborda­
pode ser considerada, a confirmação da localização do gem conservadora. Em geral, a cirurgia não é considera­
disco herniado será necessária, mas não é necessário que da, a menos que os sintomas não melhorem depois de seis
isso ocorra na emergência. As imagens de emergência de­ a oito semanas. A cirurgia imediata está indicada quando
vem ser feitas em pacientes com síndrome da cauda equi­ a síndrome da cauda equina estiver presente.
na ou fraqueza aguda intensa ou progressiva. A microdiscectomia aberta é a técnica mais usada.
As radiografias simples não são recomendadas, pois a As discectomias endoscópicas minimamente invasivas es­
identificação de um disco herniado não é possível. Tanto tão se tornando mais comuns e são, em tese, desejáveis,
a TC (tomografia computadorizada) como a ressonância pois reduzem o dano tecidual. Ainda falta a comprovação
magnética nuclear (RMN) são igualmente precisas para da sua superioridade. 5,2 Os desfechos a longo prazo de
diagnosticar a herniação discai. Em um estudo, a sensi­ pacientes cirurgicamente tratados versus tratados de modo
bilidade e a especificidade da TC foram de 60 e 86%, res­
conservador são similares.
pectivamente, enquanto as da RMN foram de 64 e 87%.1
A RMN é favorecida por sua menor dose de radiação e
melhor visualização de tecidos moles (Fig. 8.3). A prin­ NEUROPATIA DO ISQUIÁTICO
cipal desvantagem da RMN é a disponibilidade, especial­
Em pacientes com dor ciática (dor neuropática na distri­
mente no setor de emergência. Cerca de 20 a 36% dos
buição de L5-S1), pressupõe-se que um disco herniado ou
indivíduos as sintomáticos apresentam evidência de her­
a estenose vertebral sejam a causa, e outros diagnósticos
niação discai lombar na TC ou RMN.
não são considerados. Entretanto, a compressão direta do
nervo isquiático pode ocorrer por trauma não penetrante ou
Tratamento por tumor, produzindo uma neuropatia do nervo isquiático.
O tratamento da radiculopatia cervical e da lombar é con­ Outra forma de neuropatia isquiática ocorre após a le­
servador, com anti-inflamatórios não esteroides e parace- são no músculo piriforme, onde a formação de hematoma
tamol. Os relaxantes musculares também são prescritos, e a fibrose subsequente causam a irritação mecânica do
mas são não melhores do que os anti-inflamatórios não nervo isquiático, que é anatomicamente adjacente. Os pa­
esteroides. Os narcóticos não fornecem qualquer retorno cientes podem apresentar-se com dor lombar, nas nádegas
mais rápido à atividade normal, mas podem ser prescritos ou na coxa posterior. A prolongada flexão, adução e rota­
no contexto de dor intensa, e por pouco tempo. Embo­ ção interna do quadril agravam a dor. O paciente mantém a
ra múltiplos estudos tenham concluído que os esteroides perna em rotação externa quando estiver em decúbito dor­
sistêmicos não sejam efetivos, uma dose por curto prazo é sal. A rotação interna forçada da coxa flexionada reproduz
ainda usada pelo autor no contexto agudo, quando os anti- os sintomas (sinal de Freiberg). Há fraqueza e dor na ab­
-inflamatórios não esteroides não forem efetivos. A tração dução e rotação externa contra resistência. Para mais infor­
lombar é subutilizada e tem se provado muito efetiva para mações sobre a síndrome do piriforme, ver o Capítulo 17.
Emergências Ortopédicas 135

Nesse contexto, as queixas neurológicas são mais pacientes acima dos 65 anos. A idade média no momen-
comuns do que a dor. A divisão fibular do nervo é mais to da cirurgia é de 55 anos. Aproximadamente 85% dos
suscetível ao trauma do nervo isquiático em função da sua pacientes apresentam irradiação da dor em nádegas, coxas
localização periférica. A neuropatia isquiática é mais pro­ e pernas. Pode ocorrer dormência, formigamento ou cãi­
vável quando as mudanças na posição ou a manobra de bra das pernas. A disfunção intestinal ou vesical é rara. Os
Valsai va não causarem a exacerbação dos sintomas. sintomas podem ser uni ou bilaterais.
O paciente com estenose vertebral fica confortável ao
sentar-se, mas os sintomas ocorrem depois de caminhadas
ESTENOSE VERTEBRAL
ou estando em pé. Essa é uma forma de ajudar a distinguir
A estenose vertebral refere-se a um estreitamento do ca­ a claudicação neurogênica de sua contrapartida vascular.
nal vertebral. Ocorre na área do canal central ou nos fora- Outro caminho para distinguir entre elas é que na claudi­
mes neurais, colocando pressão sobre as raízes nervosas, cação vascular a dor na perna se desenvolve em uma dis­
causando dor e radiculopatia. A degeneração associada à tância determinada, enquanto com a claudicação neurogê­
idade dos discos lombares e das articulações das facetas é nica a distância é variável. A dor lombar em ortostatismo,
a etiologia mais provável. As características patológicas mas não em pé, teve sensibilidade de 46% e especifici-
incluem a perda da altura discai, a protrusão discai, a hi­ dade de 93% para estenose vertebral lombar. Aproxima­
pertrofia do ligamento amarelo, a formação de osteófitos damente 60% dos pacientes com estenose vertebral terão
nas facetas e o espessamento da cápsula articular (Fig. evidência histórica de claudicação neurogênica. Tal como
8.4). O estreitamento de um procedimento cirúrgico an­ a hemiação discai, a dor pode aumentar com a tosse, ao
terior (p. ex., fusão vertebral ou laminectomia) também espirrar, ou com outras formas de manobra de Valsalva.
poder ser uma causa. A estenose também pode surgir da Ao exame físico, a dor aumenta com a extensão da
espondilolistese, doença de Paget, acromegalia e excesso coluna, já que esta posição reduz ainda mais a área trans­
de corticosteroides. A estenose vertebral congênita afeta versa do canal vertebral. Como resultado, o paciente com
os indivíduos dos 20 aos 40 anos, tendo como causa pedí- estenose vertebral deambula com uma postura levemen­
culos encurtados durante o desenvolvimento. te inclinada. Isso contrasta com a hemiação discai, onde
a flexão costuma ser mais dolorosa. O fechamento dos
olhos pode produzir oscilação (manobra de Romberg) se
Características clínicas
as fibras proprioceptivas da coluna posterior estiverem en­
Por serem as alterações degenerativas a causa primária, volvidas. Por essa razão, os pacientes com estenose verte­
a estenose vertebral ocorre em indivíduos mais velhos, bral caminham com uma marcha de base ampla. A dor na
sendo a indicação mais frequente de cirurgia vertebral em coxa após 30 a 60 segundos de extensão lombar também

Vista lateral

Vista superior

Ligamento amarelo
(espessado
Hipertrofia

Hipertrofia da
articulação
facetária

Estreitamento
Forame foraminal
intervertebral Osteófitos

Anel
fibroso
Núcleo
pulposo
Afilamento do disco com
protrusão posterolateral

Figura 8.4 Características patológicas da estenose vertebral.


136 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

pode ocorrer. Aproximadamente 60% dos pacientes de­ se vertebral é tratada, inicialmente, com paracetamol, e
senvolvem déficits neurológicos, que podem ser bilaterais então com anti-inflamatórios não esteroides. Os analgé­
ou polirradiculares. A raiz nervosa mais comumente en­ sicos narcóticos leves não constituem rotina, mas podem
volvida é L5 (75%), seguida de L4 (15%). Os achados ser usados. A calcitonina tem sido útil em muitos pacien­
motores são brandos na maioria dos casos, e a fraqueza tes com claudicação neurogênica e dor. A fisioterapia e
que inibe a atividade é incomum. os suportes lombares (p. ex., coletes) ajudam os pacientes
a manter uma postura flexionada e também são usados.
Imagens A tração fornece descarga segmentar e alívio quando hou­
ver compressão foraminal. O uso de injeções epidurais de
As radiografias simples são úteis se mostrarem evidência corticosteroides está se tomando cada vez mais comum,
de doença degenerativa da coluna ou espondilolistese, mas mas os dados sobre a sua efetividade são limitados.
habitualmente não são indicadas. A TC ou a RMN reve­ O manejo cirúrgico deve ser considerado quando as
lam as características patológicas da estenose vertebral em medidas conservadoras falharem. A laminectomia ou a fa-
mais de 70% dos pacientes afetados. As modalidades cetectomia parcial são usadas para descomprimir o canal
avançadas de imagens são obtidas apenas quando a cirur­ vertebral central e os forames neurais. As técnicas cirúrgi­
gia estiver sendo considerada. Curiosamente, os achados cas minimamente invasivas têm sido desenvolvidas e estão
na TC e na RMN consistentes com estenose vertebral estão se provando úteis.4 Os estudos que comparam o manejo
presentes em 20% dos pacientes acima dos 60 anos, sem cirúrgico ao conservador sugerem melhoria nos sintomas
quaisquer sintomas. Além disso, as medidas reais do grau do grupo operatório que perdura por vários anos.‘ A re-
de estenose vertebral na RMN são pouco correlacionadas operação é necessária em menos de um quarto dos pacien­
com a síndrome clínica de estenose vertebral. Em outras tes durante o curso dos 10 anos seguintes à cirurgia.45 47
palavras, os pacientes podem ser sintomáticos apesar de
compressão mínima e, em contrapartida, outros com um ESPONDILOLISTESE
grau alto de compressão podem estar as sintomáticos.
Outros exames diagnósticos que não são rotineira­ O processo interarticular é a porção do arco vertebral
mente solicitados incluem tomomielografia, eletromio- posterior entre os processos articulares inferiores e supe­
grafia (EMG) e estudos de condução nervosa (ECN). riores. A mptura do processo interarticular é denominada
A tomomielografia melhora a visualização da compressão de espondilólise. Costuma ser bilateral e 90% dos casos
de raiz nervosa em relação à TC isolada, mas é invasi- afetam a vértebra L5.
va e somente é feita quando a RMN for contraindicada. Quando a espondilólise está presente, a vértebra pode
A EMG e os ECN ajudam o profissional a distinguir ou­ mover-se, mais comumente com a vértebra superior des-
tras formas de neuropatia periférica da estenose vertebral locando-se para a frente. A translação anterior da vértebra
e aumentam a especificidade geral para a estenose verte­ é denominada de espondilolistese, do grego “deslizamen­
bral lombar. O achado mais comum são as radiculo- to vertebral em uma inclinação” (Fig. 8.5). A espondi­
patias bilaterais em múltiplos níveis. lólise é o precipitante mais comum da espondilolistese,
respondendo por 80% dos casos. Outras causas de espon­
dilolistese estão listadas na Tabela 8.1.
Tratamento
Uma fratura de estresse é a causa mais comum de es­
O tratamento não cirúrgico pode fornecer um longo alívio pondilólise, com maior ocorrência em pacientes jovens que
da dor e melhorar a qualidade de vida. A dor da esteno­ praticam esportes que requerem extensão (p. ex., ginástica)

Espondilolistese

Figura 8.5 A . Processo interarticular. B. Espondilólise. C. Espondilolistese.


Emergências Ortopédicas 137

► TABELA 8.1 Cinco tipos de espondilolistese

Tipo Nome Critérios


I Displásica As articulações facetárias malformadas congênitas permitem a translação
II ístmica Três causas de espondilólise: fratura de estresse (Iítica), alongamento do processo devido a
uma fratura de estresse consolidada, fratura traumática aguda
III Degenerativa A osteoartrite e a degeneração discai levam à incompetência da faceta
IV Traumática Fratura de elementos posteriores diferentes do processo interarticular
V Patológica Alterações nos elementos posteriores secundários à malignidade ou a doenças ósseas
primárias

ou rotação (p. ex., tênis). A extensão lombar faz com que pode irradiar para a nádega ou para a coxa posterior. O apa­
o processo articular inferior da vértebra superior entre em recimento pode ser agudo, mas o gradual é mais comum.
contato com o processo interarticular da vértebra inferior. A dor acentua com a hiperextensão e rotação, melhorando
Acredita-se que o impacto repetitivo cause a fratura. com o repouso. Ao exame, a sensibilidade dolorosa na re­
Existe predisposição genética para a espondilólise. gião lombar é típica, e um degrau associado pode ser palpá­
Ocorre em 15 a 70% dos parentes de primeiro grau de vel se a espondilolistese for significativa (Fig. 8.7). A deam­
pacientes com espondilólise. Aproximadamente 3 a 6% bulação é caracterizada pelo comprimento curto da passada
dos brancos têm espondilólise, uma taxa que é 2 a 3 ve­ e genuflexão em casos graves. Quando houver a espondi­
zes mais alta que em afro-americanos. Existe uma taxa lolistese de alto grau, podem ocorrer déficits neurológicos
mais alta de espondilólise em homens, mas o deslizamen­ devido a pressão sobre uma raiz nervosa ou na cauda equina.
to é mais comum em mulheres. A progressão para espon-
dilolistese ocorre em 15% dos indivíduos, habitualmente Imagens
vista por volta dos 16 anos. Até 6% dos indivíduos com 14
anos nos Estados Unidos têm espondilolistese. Os filmes simples constituem um bom rastreamento.
A gravidade da espondilolistese é pontuada com base As radiografias lombares oblíquas demonstram o apareci­
na porcentagem de translação da vértebra superior em re­ mento do “cachorrinho” (Fig. 8.8). O pescoço do cachor­
lação à caudal (Fig. 8.6). O grau I está presente se houver ro corresponde ao processo interarticular e um pescoço
menos de 25% de translação, o grau II ocorre se houver 26 quebrado ou uma coleira representam a espondilólise.
a 50%, o grau III com 51 a 75%, e o grau IV se for de 76 a Os filmes simples têm 84% de sensibilidade. Uma fra­
100%. A espondilolistese grau V, também denominada de tura de estresse pode não ser visível nas radiografias oblí­
espondiloptose, está presente quando há um deslizamento quas e imagens adicionais podem ser necessárias em uma
maior que 100%. Quando tiver ocorrido menos de 50% de base ambulatorial. A radiografia lateral é mais adequada
translação, a espondilolistese é considerada de baixo grau para diagnosticar a espondilolistese (Fig. 8.9).
e estável. Os deslizamentos maiores que 50% são consi­ A TC também pode deixar passar uma fratura de es­
derados instáveis. tresse do processo, mas a sensibilidade é mais alta do que

Características clínicas
Embora muitos pacientes com espondilolistese permaneçam
assintomáticos, a queixa mais comum é a dor lombar, que

4 3 2 1

Figura 8 .6 O grau de espondilolistese é calculado pela por­ Figura 8.7 Um degrau pode ser percebido em um paciente
centagem deslocada da vértebra superior sobre a inferior. com espondilolistese.
138 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Processo articular
superior (“orelha”)
Processo interarticular
(“pescoço”)

Processo
transverso (“nariz”)

Pedículo
Processo articular ^olho ^
inferior (“pata dianteira”)

Figura 8.8 O aspecto do cachorrinho nos elementos posteriores na in­


cidência oblíqua da coluna lombar. A. Radiografia oblíqua normal. B.
Representação esquemática. G Espondilólise na radiografia (seta).

as radiografias simples.48 A RMN tem sensibilidade mais


alta e também está indicada para pacientes com espondilo­
listese de alto grau e naqueles com sintomas neurológicos
(p. ex., radiculopatia).

Tratamento
A espondilólise e a espondilolistese de baixo grau são
tratadas de modo conservador, com fisioterapia e medica­
mentos para dor. Os exercícios lombares aumentam a es­
tabilidade vertebral e reduzem a dor e a incapacidade.
As injeções de esteroides na raiz nervosa ou no processo
interarticular podem ser tanto diagnósticos como tera­
pêuticos. Um imobilizador ortótico rígido ou elástico
para reduzir a lordose lombar está indicado para crianças,
junto com a recomendação de não praticar esportes. Mais
de 90% das crianças com espondilólise tratadas de modo
conservador têm resolução dos seus sintomas.60 Os adul­
tos com espondilolistese degenerativa também evoluem
bem com o tratamento conservador, a menos que apresen­
tem déficits neurológicos.61,6 As indicações para cirurgia
em pacientes com espondilolistese de baixo grau incluem
Figura 8.9 Uma espondilolistese de 50% de L4 sobre L5. dor lombar significativa ou dor radicular refratária ao
Emergências Ortopédicas 139

tratamento conservador. A descompressão (em pacientes


com compressão neural) e a fusão vertebral são os trata­
mentos cirúrgicos de escolha. 9,63
O tratamento definitivo da espondilolistese de alto grau
depende da idade do paciente. As crianças devem ser sub­
metidas à estabilização cirúrgica, por apresentarem alto ris­
co de deslizamento adicional, enquanto os adultos somente
devem ser submetidos ao tratamento cirúrgico depois de as
medidas conservadoras terem se provado ineficazes.

DOENÇA DA ARTICULAÇÃO SACROILÍACA


Em pacientes com dor lombar abaixo da linha da cintura,
40% têm diagnóstico de doença da articulação sacroilíaca.
A dor é localizada na articulação e na área das nádegas e
não se irradia, como a de um disco hemiado. O apareci­
mento da dor é gradual, ela é unilateral e pode irradiar-
-se para a virilha. A maioria dos pacientes sente alívio ao
deitar. Esta condição é bastante comum em pacientes com
artrite reumatoide, gravidez, doença intestinal inflamató­ A maioria dos casos deve-se à disseminação hema-
ria ou após um trauma pélvico. Um teste para a doença togênica da infecção, enquanto a disseminação contígua
da articulação sacroilíaca é o “teste de inclinação para a é menos comum. O Staphylococcus aureus (S. aureus ) é
frente”. O examinador coloca os polegares virados um responsável por dois terços dos casos. Os patógenos me­
para o outro logo abaixo da EIPS. O paciente flexiona ao nos comuns incluem os estafilococos coagulase-negativo
máximo a sua coluna lombar. O lado com a doença da e as bactérias gram-negativas. A presença do abscesso no
articulação SI movimenta-se menos e parece mover-se em espaço epidural é deletéria para a medula espinal, tanto
direção cranial. No “teste de Gillet”, um polegar é movido pela compressão como por um mecanismo isquêmico.
ao sacro enquanto o outro polegar é mantido sob a EIPS. Os abscessos são mais comuns no espaço epidural
A seguir, solicitar ao paciente para flexionar o quadril ip- posterior e dentro da coluna toracolombar, porque existe
silateral. O resultado positivo é visto quando o polegar sob mais tecido adiposo propenso à infecção nessas localiza­
a EIPS não se move cranialmente. ções (Fig. 8.10).
O tratamento da doença da articulação SI consiste em
imobilização, medicamentos anti-inflamatórios e fisiote­ Características clínicas
rapia. O paciente deve evitar atividades esportivas. A inje­ Os sintomas do AEV progridem em quatro estágios clássi­
ção de esteroides também pode trazer benefícios. cos. Inicialmente, a dor lombar no nível da porção afetada
da medula está presente, seguida por dor de raiz nervosa. Se-
INFECÇÕES ESPINAIS gue-se a disfunção medular sob a forma de fraqueza motora,
perda sensitiva e disfunção vésical ou intestinal. O estágio
Abscesso epidural vertebral final da doença não tratada é a paralisia. A taxa de progres­
O abscesso epidural vertebral (AEV) é uma infecção rara, são de um estágio até o próximo varia de horas até dias.
que pode, inicialmente, se apresentar com achados não Os sintomas mais comuns na hora do diagnóstico são a
específicos. Essas características contribuem para que o dor lombar (75%), a febre (50%) e a disfunção neurológica
AEV seja diagnosticado de forma equivocada em aproxi­ (33%). A tríade dos três sintomas é vista em somente 13%
madamente metade dos casos (variação de 11-75%). O dos pacientes na hora do diagnóstico. A dor noturna é
diagnóstico rápido é a meta, pois o desfecho depende do uma indicação inicial de infecção. A duração dos sintomas
tratamento precoce. Se não tratado, a paralisia irreversível antes da apresentação varia de um dia até vários meses.
ocorre em 4 a 22% dos pacientes. Ao exame físico, a sensibilidade dolorosa é comum,
Embora o AEV permaneça uma entidade rara (1 em especialmente sobre os processos espinhosos, mas o es­
10.000 hospitalizações), a incidência tem aumentado nas pasmo muscular paravertebral e a sensibilidade dolorosa
últimas duas décadas devido ao aumento no número de também podem estar presentes. O profissional deve ser
pacientes de risco (p. ex., taxa aumentada de cirurgias ver­ cuidadoso para não diagnosticar uma distensão reproduzí­
tebrais). As condições predisponentes incluem imuno- vel e um espasmo muscular.
comprometimento (p. ex., diabetes, HIV, idosos), anorma­
lidades vertebrais (p. ex., artrite, trauma, cirurgia) e uma Laboratório e imagens
fonte externa de infecção (p. ex., uso de drogas injetáveis, A contagem leucocitária elevada está presente em dois
cateter de demora).65,66 terços dos casos. A proteína C-reativa e a velocidade de
140 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

riais e radiográficos inespecíficos. A obtenção dos fato­


res de risco para o desenvolvimento de infecção vertebral
(p. ex., idade avançada, imunocomprometimento) pode ser
a pista mais importante que leva o profissional atento ao
diagnóstico apropriado.
As vértebras são suscetíveis à infecção porque o sis­
tema venoso que circunda os corpos tem um plexo veno­
so extenso e carece de válvulas. Ambas as características
contribuem para a estagnação do sangue, aumentando as
chances para a bacteremia disseminar-se ao osso. As áreas
mais envolvidas são a coluna lombar, torácica e cervical,
em ordem decrescente. As duas vértebras adjacentes e o
disco (i.e., discite) são em geral afetados, mas também é
possível um envolvimento vertebral mais extenso.
A osteomielite vertebral pode progredir para um abs­
cesso epidural, abscesso do músculo psoas, empiema,
abscesso paravertebral ou abscesso retrofaríngeo. A dis­
seminação para o espaço epidural é incomum, ocorrendo,
contudo, em 15% dos casos.
Figura 8.11 RMN de um abscesso epidural vertebral na região
cervical (setas). As linhas demonstram um grande abscesso pré-
Características clínicas
-vertebral que também está presente.
A apresentação típica são pacientes com aparecimento in­
sidioso de dor lombar, que é exacerbada pelo movimento.
sedimentação estão elevadas em todos os pacientes, mas A dor pode ser descrita como incômoda ou contínua. Mal-
essas anormalidades são inespecíficas. As hemoculturas -estar, perda de peso e febre baixa são possíveis sintomas
devem ser obtidas e são positivas em 60% dos casos. associados. A dor noturna e a dor não relacionada à posi­
A punção lombar é contraindicada quando o AEV ção são sinais confiáveis de infecção. Uma infecção re­
estiver sendo considerado no diagnóstico diferencial. cente em outro lugar (p. ex., no trato urinário, no pulmão
A RMN com gadolínio intravenoso tem acima de 90% ou na pele) pode ser referida durante a história. Os fatores
de sensibilidade e é o exame diagnóstico de escolha (Fig. de risco são similares ao AEV e incluem imunocompro­
8.11). A TC pode revelar estreitamento de um disco (dis- metimento, idade avançada e uso de drogas injetáveis.
cite) e lise óssea (osteomielite), mas não toma o lugar da Somente uma minoria de pacientes com osteomieli­
RMN. A extensão habitual de um AEV é de 3 a 5 vérte­ te vertebral aparenta estar doente, enquanto a maioria se
bras, mas alguns casos envolvem toda a coluna. apresenta em uma forma subaguda, com sintomas sistê­
micos mínimos ou ausentes. De fato, os pacientes com os­
Tratamento teomielite vertebral podem referir os sintomas por vários
O tratamento do AEV inclui drenagem cirúrgica e anti­ meses antes da apresentação.
bióticos sistêmicos. A laminectomia descompressiva e o Ao exame, existe sensibilidade dolorosa sobre os pro­
debridamento são idealmente executados dentro de 24 ho­ cessos espinhosos envolvidos. O espasmo muscular para­
ras da apresentação. Os antibióticos empíricos contra S. vertebral e a mobilidade diminuída também são comuns.
aureus (vancomicina) e bacilos gram-negativos (cefalospo- Os déficits neurológicos são relatados muito menos fre­
rinas de terceira geração) devem ser administrados. A cirur­ quentemente do que com o AEV e, caso presentes, devem
gia não é indicada em várias situações: quando o paciente levar à suspeita de abscesso epidural.
recusar ou tiver alto risco operatório, quando a paralisia já
Laboratório e imagens
tiver se manifestado por 24 a 36 horas, ou se houver infec­
ção panvertebral. Uma via não cirúrgica pode também ser Os achados laboratoriais em geral não são expressivos.
escolhida se o paciente estiver neurologicamente intacto, a A contagem leucocitária pode estar um pouco elevada, mas
etiologia microbiana for identificada e o paciente for moni­ também pode estar normal. A proteína C-reativa e a velo­
torado atentamente. Se o abscesso for pequeno, às vezes cidade de sedimentação estão elevadas em todos os casos,
somente é necessária a aspiração guiada por TC. mas estas anormalidades são inespecíficas. As hemocultu­
ras são positivas em 40% dos pacientes. O S. aureus é o
organismo mais comumente identificado, seguido por bas­
Osteomielite vertebral
tões gram-negativos de fontes gastrintestinais e urinárias.
Tal como o abscesso epidural vertebral, o diagnóstico de As radiografias simples são normais até que o osso se
osteomielite vertebral é difícil e com frequência retardado tome desmineralizado, durante o curso de duas semanas a
devido a sua apresentação subaguda e achados laborato­ dois meses. Se as anormalidades radiográficas estiverem
Emergências Ortopédicas 141

Figura 8.12 Osteomielite vertebral. A. Radiografia simples inicial equivocadamente diagnosticada como fratura de compressão de
L3. B. A TC dois meses depois revelou destruição óssea de L3 e L4, consistente com infecção.

presentes nos filmes simples, as mais comuns incluem a o exame de imagens padrão-ouro para diagnosticar a osteo­
destruição óssea, a irregularidade nas placas terminais e o mielite vertebral. É mais sensível que a TC, mostra a doença
estreitamento do espaço discai. Um estudo demonstrou mais precocemente e avalia melhor a medula espinal.
sensibilidade de 82% e especificidade de 57% para as radio­
grafias simples. Ocasionalmente, a osteomielite vertebral Tratamento
pode aparecer como uma fratura de compressão vertebral O tratamento da osteomielite vertebral consiste em anti­
nas radiografias simples e o diagnóstico passa desperce­ bióticos intravenosos por seis semanas, seguidos de um
bido 7 (Fig. 8.12). A TC define a destruição óssea e pode curso oral de antibióticos por mais um ou dois meses. As
também ser usada para guiar a aspiração com agulha das escolhas de antibióticos empíricos são similares àquelas
bactérias causadoras (Fig. 8.13). Tal como o AEV, a RMN é para AEV. A consultoria cirúrgica deve ser obtida, já que
uma biópsia óssea pode ser necessária para identificar o
patógeno causador.

COMPRESSÃO METASTÁTICA EPIDURAL DA


MEDULA ESPINAL
Aproximadamente 10% dos pacientes com câncer terão
compressão epidural da medula espinal durante o curso de
sua doença. Se não tratado, o paciente ficará paralisado.
Para o médico da emergência, o diagnóstico dessa condi­
ção inicial pode parar a progressão e melhorar os desfe­
chos. Infelizmente, um atraso no diagnóstico de até vários
79 80
meses não é incomum e pressagia um prognóstico pior. ’
A doença metastática na coluna vertebral é 25 ve­
zes mais comum do que os tumores ósseos primários. Os
tumores metastáticos que afetam mais a coluna são o de
mama (15%), de pulmão (15%), da próstata (10%), o lin-
foma (10%), do rim (5%), o mieloma múltiplo (5%) e GI
(5%). Em estudos de autópsia, a taxa de metástases verte­
Figura 8.13 T C demonstrando destruição óssea por osteomie­ brais fica superior a três quartos dos pacientes com câncer
lite de uma vértebra lombar. de próstata e de mama.8
142 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

A distribuição das metástases na coluna vertebral de­


pende da quantidade de osso naquela região da coluna.
As 12 vértebras da coluna torácica respondem por 70% das
lesões metastáticas. As vértebras lombossacrais, com o seu
volume maior, contribuem com 20% das lesões metastáti­
cas, seguidas, por fim, pelas vértebras cervicais, com 10%.

Características clínicas
A dor lombar intensa e localizada, de intensidade gradual
crescente, é o sintoma mais precoce e mais comum das
metástases vertebrais. A dor é mais intensa ao deitar e
aumenta com qualquer incremento na pressão intra-abdo-
minal. A dor referida ou radicular pode também ocorrer,
e depende da localização primária da metástase vertebral
(p. ex., a compressão cervical é referida na região escapu-
lar média). A dor que ocorre à noite, acordando o paciente
do sono é comum, e a dor que não melhora em qualquer
posição é indicativa de tumor. Em média, a dor ocorre sete
semanas antes do aparecimento dos déficits neurológicos.
As lesões as sintomáticas ocorrem se forem limitadas à
medula óssea sem sensibilidade.
O exame físico deve consistir de um exame completo Figura 8.14 TC em um paciente com câncer de pulmão com
e neurológico das costas. Os pacientes sem diagnóstico metástases nos corpos vertebrais d e T 5 , T8, T 1 1 e T 1 2 (setas).
de malignidade, mas que tenham sintomas suspeitos para
metástase vertebral também devem ser submetidos a um
exame na busca de um tumor primário (p. ex„ mama, pul­ vertebrais identificadas.82'86,87 Toda a coluna deve ser exami­
mão e próstata). Ao examinar as costas, a percussão dos nada, porque metade dos pacientes terá doença em múltiplos
processos espinhosos aumenta a dor associada a um tumor níveis. Em 45% dos casos, isso resulta em alteração no cam­
metastático. A condição neurológica na hora da apresen­ po planejado de irradiação.88A sensibilidade e a especifici-
tação é o fator prognóstico mais importante. Os pacientes dade da RMN são de 83 e 92%, respectivamente.
que estejam deambulando quando é feito o diagnóstico
assim permanecem na maioria dos casos. Entretanto, se Tratamento
uma paraparesia estiver presente, apenas 30 a 40% dos
pacientes recuperam a capacidade de caminhar após o tra- Quando uma compressão epidural metastática for suspei­
tamento. Com a paraplegia, este número cai para 10%.
82 tada, o tratamento com esteroides deve começar no setor
Entretanto, devido aos frequentes atrasos no diagnóstico, de emergência. A espera pelos resultados de uma RMN
dois terços dos pacientes que tenham compressão medular retarda desnecessariamente o tratamento que diminuir o
já não estão caminhando devido à fraqueza. edema vasogênico e reduzir a compressão da medula. A
dose inicial mais recomendada é de 10 mg de dexame-
tasona por via intravenosa. Um regime de dose alta de
Imagens
dexametasona, 100 mg por via intravenosa inicialmente,
As radiografias simples não são sensíveis para detectar seguidas por 24 mg via oral quatro vezes ao dia por três
metástases vertebrais, pois aproximadamente 50% do dias também tem sido estudado. Nem todos os especia­
osso trabecular deve ser destruído antes de uma lesão líti- listas favorecem o regime de dose alta devido aos efeitos
ca ficar visível. As radiografias simples são 60% sensíveis colaterais dos esteroides e, infelizmente, a literatura dis-
7 9 9Q—92
e 99,5% específicas para detectar metástases vertebrais. ponível não elucida sobre a dose ideal. ’
Não há dados confiáveis sobre a utilidade da TC (Fig. A radioterapia está indicada em quase todos os casos
8.14). É provavelmente pouco melhor do que as radiogra­ para reduzir o tamanho do tumor e diminuir a compressão da
fias simples, mas, em quase todos os casos, a TC deve ser medula. Quando a compressão medular estiver presente, a
preterida em favor da RMN.9,83'85 radioterapia deve ser iniciada assim que possível e a consul­
A RMN é o exame de imagens de escolha e deve ser fei­ ta com um radioterapeuta a partir do setor de emergência é
ta na emergência quando houver de suspeita de malignidade fundamental.
vertebral e déficits neurológicos (Fig. 8.15).86 Os pacientes A cirurgia é usada em alguns casos para remover cir-
com malignidade conhecida e o aparecimento de nova dor cunferencialmente o tumor, descomprimir a medula es­
lombar também devem ser submetidos a uma RMN urgente. pinal e estabilizar a coluna. As indicações mais comuns
Nesse cenário, mais de 50% dos pacientes terão metástases incluem os pacientes com sobrevida esperada além de três
Emergências Ortopédicas 143

Figura 8.15 RMN demonstrando compressão epidural


metastática da medula espinal. A. Imagem sagital. B. Ima­
gens axiais revelam a lesão e m T 6 . C. O aspecto normal
da medula espinal não com prim ida em T8 no mesmo pa­
ciente.

meses e com dor intratável, instabilidade vertebral ou tu­ Os osteoblastomas se apresentam com dor incômoda que
mores pouco radiossensíveis (p. ex., carcinoma de células irradia para a coxa posterior. Em ambos os tumores pode
renais). Os pacientes com progressão dos sintomas haver sensibilidade dolorosa localizada sobre o osso en­
neurológicos, apesar dos esteroides e da radiação, também volvido. Nas radiografias, os osteomas osteoides aparecem
devem ser considerados para intervenção cirúrgica. como uma área lítica cercada por osso esclerótico. Os os­
teoblastomas aparecem no corpo vertebral posterior como
TUMORES ÓSSEOS PRIMÁRIOS uma lesão expansiva bem-delineada, com neoformação ós­
sea periosteal. O tratamento de ambos os tumores é com
Embora o tumor ósseo metastático seja muito mais comum excisão. Outros tumores benignos da coluna incluem os
que os tumores primários, vários tumores ósseos primários osteocondromas, tumores de células gigantes, cistos ósseos
ocorrem na coluna. Os tumores benignos mais comuns são aneurismáticos, hemangiomas e granulomas eosinofílicos.
o osteoma osteoide e os osteoblastomas. Estes tumores afe­ Os tumores primários malignos incluem o mieloma
tam mais os homens jovens. Os osteomas osteoides se apre­ múltiplo, condrossarcoma e cordoma. O mieloma múltiplo
sentam com dor noturna que é profunda e sem irradiação. deve ser considerado em pacientes acima de 40 anos com
144 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

dor lombar. Os sintomas são leves, mas o paciente pode estar 24 horas depois do aparecimento dos sintomas. O realce
propenso a fraturas. Em adição à dor óssea, existe fadiga ge­ periférico é visto com o contraste de gadolínio e ajuda a
neralizada, náuseas e vômitos. As radiografias demonstram diferenciar o hematoma das outras lesões de massa dentro
osteólise difusa do corpo vertebral, sem esclerose reativa, do espaço epidural.
que poupa os elementos posteriores. A TC é mais sensível A TC pode demonstrar o hematoma, mas não é tão
do que os filmes simples. Qualquer paciente com suspeita sensível quanto a RMN e não revela a extensão da le­
de mieloma múltiplo precisa de encaminhamento urgente. são. 05Entretanto, a TC pode ser usada se houver demora
O condrossarcoma é o segundo tumor maligno primá­ para obter a RMN por algum motivo.
rio mais comum do osso, representando 25% dos casos.
O paciente com condrossarcoma ou cordoma também Tratamento
tem, em geral, entre 40 e 60 anos e apresenta-se com leve
desconforto no osso afetado. Ao exame, o paciente com A intervenção cirúrgica precoce, com laminectomia des-
condrossarcoma pode ter edema indolor. As radiografias compressiva, é o tratamento de escolha. Uma melhor recu­
de um condrossarcoma revelam calcificação expansível peração neurológica é vista quando for menor o tempo entre
107
inflada ou lobular no osso medular, com camada cortical o aparecimento dos sintomas e a cirurgia. A recuperação
espessada. A TC é mais sensível e também mostra exten­ completa é provável se o tempo até a cirurgia for menor que
são de tecido mole. Os filmes simples de um cordoma de­ 6 a 8 horas. Os pacientes com coagulopatia devem ser
monstram osteólise com uma massa de tecidos moles cal­ tratados com produtos sanguíneos conforme a necessidade
cificados que envolve o corpo vertebral, mas não o disco. (p. ex., plasma fresco congelado, vitamina K, fator de coa­
gulação). O manejo conservador é às vezes empregado em
pacientes com sintomas neurológicos mínimos ou ausentes.
HEMATOMA EPIDURAL VERTEBRAL
Um hematoma epidural vertebral (HEV) é uma condição Ml ELITE TRANSVERSA
rara que ocorre devido à ruptura do plexo venoso epidural
posterior. Conforme o sangue se acumula, ocorre compres­ A mielite transversa é um distúrbio inflamatório agudo da
são da medula espinal de forma similar a um tumor, um abs­ medula espinal. A causa costuma ser difícil de determinar,
cesso ou uma hemiação discai central. De todas as lesões mas uma infecção recente (p. ex., vírus ou micoplasma)
expansivas espinais, o hematoma epidural responde por ou vacinação têm sido implicadas. A maioria dos pacien­
menos de 1%. O HEV é espontâneo em 50% dos casos. tes se apresenta com dor focal no pescoço ou na lombar,
Esses pacientes têm fatores de risco para hemorragia com seguida de déficits neurológicos. Disfunções motoras,
anticoagulantes e coagulopatias (p. ex., hemofilia).98 O sensitivas e autonômicas ocorrem em padrões diferentes,
trauma secundário, como espirro ou manipulação vertebral, dependendo da porção afetada da medula. Por essa razão,
também pode precipitar o HEV em indivíduos de risco. a mielite transversa pode imitar a compressão medular (p.
Outras causas de HEV espontâneo incluem malformação ex., hematoma, metástase, hemiação), isquemia medular
vascular e gravidez. Os casos restantes ocorrem depois por dissecção aórtica, síndrome de Guillain-Barré e dis­
de instrumentação ou cirurgia. A cirurgia vertebral é mais túrbios neuromusculares. A RMN é a ferramenta diagnós­
comumente associada, mas o HEV também já foi relatado tica de escolha e o padrão típico de mielite transversa in­
depois de anestesia espinal e até acupuntura. clui os sinais de alta intensidade nas imagens ponderadas
em T2 que correm ao longo da porção afetada da medula
espinal. A punção lombar demonstra linfocitose e proteí­
Características clínicas
nas elevadas. O tratamento é principalmente de suporte.
Os pacientes com HEV têm, geralmente, acima de 50 Os esteroides e a terapia com troca de plasma podem ser
anos, mas a condição pode ocorrer em qualquer idade.9" considerados, embora sua utilidade não esteja determina­
O quadro clínico clássico é o de aparecimento súbito de dor da. O médico da emergência deve considerar a mielite
intensa lombar ou no pescoço, frequentemente com sin­ transversa como um diagnóstico de exclusão, já que ou­
tomas radiculares. Dentro de minutos a horas (raramente tras causas mais tratáveis de dor lombar e déficits neuro­
dias), os sintomas neurológicos se desenvolvem, anuncian­ lógicos devem ser primeiro descartadas.1
do a compressão da medula espinal. Um curso curto entre
o aparecimento da dor e os sintomas neurológicos é mais DISTENSÃO MUSCULAR
comum quando o hematoma estiver nas regiões cervical ou
torácica, porque o espaço epidural ah é mais estreito. A distensão muscular nas costas, habitualmente na porção
lombossacral, é menos comum do que é diagnosticada.
Mesmo os espasmos musculares palpados ao exame são
Imagens
muitas vezes secundários à síndrome de facetas posterio­
A RMN é o exame diagnóstico de imagens de escolha. res ou a uma ruptura anular de disco. Entretanto, o diag­
O hematoma aparece como um sinal hiperintenso nas nóstico de uma lesão muscular ou ligamento é possível em
imagens ponderadas em T2 se feitas dentro das primeiras pacientes depois de um estresse súbito ou de um estira­
Emergências Ortopédicas 145

mento nas costas. A dor é intensa e pode continuar assim articulação facetária. A articulação facetária é uma arti­
nos primeiros dias e uma dor incômoda pode permanecer culação sinovial verdadeira entre os processos articulares
por várias semanas. Ao exame, a dor é reproduzida pela superiores e inferiores de vértebras adjacentes. A arti­
palpação ao longo dos músculos paravertebrais. É comum culação é circundada por uma cápsula ligamentar. Com
a presença de espasmo. As radiografias não são indicadas. movimentos súbitos, em especial a hiperextensão, ou ao
O tratamento consiste em evitar o levantamento de cargas transportar objetos pesados, a cápsula pode ser lesionada
pesadas e o uso de agentes anti-inflamatórios não esteroi- e a articulação tomar-se subluxada. Na ausência de trau­
des com relaxantes musculares. ma, a degeneração artrítica também pode causar sintomas
A distensão muscular do pescoço não é incomum de­ similares.
pois do que pode parecer como uma lesão trivial. Excluir O paciente queixa-se de dor, que fica pior com a ex­
uma fratura ou lesão ligamentar instável em primeiro lu­ tensão e a inclinação para o lado ipsilateral. Ficar em pé é
gar, conforme discutido no Capítulo 9. Os suportes princi­ pior do que sentar-se. A dor é confinada ao dorso, contu­
pais para tratamento de uma distensão muscular cervical do, e não se irradia para nádegas ou pernas, como ocorre
incluem os medicamentos anti-inflamatórios não esteroi- com um disco hemiado.
des e relaxantes musculares. Dormir com um rolo sob o O exame neurológico é normal. Existe espasmo mus­
pescoço pode aliviar a tensão e trazer mais conforto ao cular intenso, mas se a articulação facetária puder ser
paciente. Os exercícios de resistência também ajudam no palpada (dois dedos lateralmente e entre os processos
relaxamento muscular. Para executar esses exercícios, o espinhosos) haverá sensibilidade dolorosa local. Con­
paciente é instruído para girar suavemente a cabeça para o forme assinalado no Capítulo 7, as articulações são mais
lado não afetado (indolor), fornecendo alguma resistência facilmente palpadas quando o paciente estiver em decú­
com a mão sobre a face. Isso causa a contração dos mús­ bito ventral, com um campo ou travesseiro pequeno sob
culos não afetados e o relaxamento reflexo dos músculos o umbigo. A hiperextensão aumenta a dor. Os exames de
estirados, diminuindo, assim, a dor. É recomendável fazer imagens geralmente não são necessários. O tratamento
esses exercícios com 20 repetições, 2 a 3 vezes ao dia. consiste em evitar o levantamento de cargas pesadas e o
uso de agentes anti-inflamatórios não esteroides com re­
SÍNDROME FACETARIA POSTERIOR laxantes musculares. A injeção da articulação com anes­
tésico local pode ser tanto diagnóstico como terapêutico,
A síndrome facetária posterior é o termo usado para des­ sendo associada ao alívio rápido dos sintomas (Fig. 8.16).
crever a lesão na cápsula ou a degeneração artrítica da O paciente deve evitar a hiperextensão (i.e., decúbito ven-

Processo
espinhoso

Processo
articular
superior

Figura 8.16 Injeção de um paciente com síndrome facetária posterior. Uma vez que a articulação facetária seja localizada (duas
polpas digitais entre os processos espinhosos), colocar uma marcação nessa referência. Em pacientes magros é possível palpar a
protuberância óssea das articulações das facetas, mas isto em geral não ocorre devido aos músculos eretores da espinha. A seguir
pegar uma agulha espinal tamanho 22 sem uma seringa e inserir na m arcação, apontando 20° em direção cranial e ligeiramente
medial, como mostrado no diagrama. Em pacientes médios será necessário inserir a agulha vários centímetros (da mesma forma que
é feita uma punção lombar) até que a agulha toque no osso. Assim a agulha estará na articulação ou nas imediações dela. Injetar 2
a 3 mL de bupivacaína misturada com 80 mg de triancinolona. Esse procedimento é muitas vezes feito sob fluoroscopia, mas isso
não é necessário, exceto em pacientes muito obesos.
146 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Processos transversos da 4â REFERÊNCIAS


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8.17). A distensão desse ligamento é uma fonte comum de ging. Spine (PhilaPa 1976) 1989; 14(12): 1362-1367.
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com uma história de “estiramento das costas” e com dor resonance imaging, work perception, and psychosocial
extrema, é com frequência devido a essa lesão. Felizmen­ factors in identifying symptomatic disc herniations. Spine
te, é de fácil diagnóstico e tratamento. Ao exame, palpar (Phila Pa 1976) 1995;20(24):2613-2625.
os processos espinhosos, gradualmente movendo para bai­ 12. Roelofs PD, Deyo RA, Koes BW, et al. Nonsteroidal anti­
xo até L5. A seguir, mover lateralmente até a crista ilíaca inflammatory drugs for low back pain: An updated Cochra­
no lado da dor. Imediatamente entre estas duas estruturas ne review. Spine (Phila Pa 1976) 2008;33(16): 1766-1774.
é onde fica o ligamento iliolombar e onde a sensibilidade 13. Haimovic IC, Beresford HR. Dexamethasone is not su­
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são é passível de uma injeção de 80 mg de triancinolona Neurology 1986;36(12): 1593-1594.
e aproximadamente 3 mL de bupivacaína a 1%. Usando 14. Hagen KB, Jamtvedt G, Hilde G, et al. The updated co-
uma agulha espinal, direcionar 20° para baixo e inserir chrane review of bed rest for low back pain and sciatica.
a agulha até a profundidade de aproximadamente 3 cm Spine (PhilaPa 1976) 2005;30(5):542-546.
antes de injetar. Mover a agulha para a frente e para trás 15. Vroomen PC, de Krom MC, Wilmink JT, et al. Lack of
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sulta em alívio completo da dor, que dura por pelo menos 16. Wilson-MacDonald J, Burt G, Griffin D, et al. Epidural ste­
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Capítulo 9
Trauma da Coluna Cervical
INTRODUÇÃO do corpo vertebral. A coluna posterior inclui o pedículo, a
lâmina, as articulações das facetas e o ligamento amarelo.
O rápido diagnóstico das lesões da coluna cervical é im­
perativo para prover o tratamento inicial e prevenir lesão
secundária da medula espinal. A região cervical é a locali­ Imagens
zação mais comum de lesões da coluna, respondendo por Nem todos os pacientes com uma fonte traumática de
mais de 60% dos casos.1Infelizmente, existe demora no dor no pescoço precisam de exames de imagens. Dois
diagnóstico em um quarto dos casos. Aproximadamente grupos tentaram reduzir com segurança a frequência de
3% das ações por erro médico nos Estados Unidos são utilização de imagens da coluna cervical no contexto de
relacionadas a fraturas da coluna e esses processos res­ trauma com base na ausência de critérios de alto risco. ’
pondem por quase 10% dos valores pagos. O grupo NEXUS (N a tio n a l E m erg en cy X -R a d io g ra p h y
A coluna cervical superior, que consiste do occipital, U tilization Study) identificou cinco critérios que tinham
de C l (atlas) e de C2 (áxis) é ímpar em relação ao resto 99,6% de sensibilidade para excluir lesões clinicamente
da coluna cervical. A coluna é projetada para permitir a significativas da coluna cervical (Tab. 9.1). A regra ca­
rotação da cabeça. A vértebra C l é uma estrutura em anel nadense da coluna cervical detectou 100% de 151 lesões
que se articula com o occipital. A vértebra C2 é composta clinicamente significativas da coluna cervical em 8.924
de um corpo com uma projeção óssea (odontoide) que vai pacientes (Fig. 9.2).
pela porção anterior do anel de C l. O odontoide é esta­ As radiografias simples são usadas como teste de ras-
bilizado pelos importantes ligamentos transversos e ala­ treamento para a lesão na coluna cervical. A série típica
res (Fig. 9.1). O ligamento transverso está localizado ao para trauma inclui uma incidência anteroposterior (AP),
longo da superfície posterior do odontoide, inserindo-se uma com a boca aberta (odontoide) e outra lateral. A in­
em cada lado de C l. A lesão desse ligamento pode ser cidência lateral detecta aproximadamente 70% das lesões
catastrófica para o paciente sob a forma de instabilidade e deve incluir a junção de C7-T1, pois um número alto
atlantoaxial e de lesão alta da medula cervical. de lesões ocorre em C7.3’6 Ao combinar as três incidên­
A coluna cervical inferior pode ser dividida em duas cias, a sensibilidade dos filmes simples é de somente 90%
colunas, na qual a ruptura de uma coluna inteira é neces­ para detectar pelo menos uma lesão. As radiografias de
sária para alterar a estabilidade. A coluna anterior con­ flexão-extensão são controversas e não são feitas de forma
siste dos ligamentos longitudinais anterior e posterior e rotineira, em especial quando a tomografia computadori­
zada (TC) e a ressonância magnética nuclear (RMN) estão
disponíveis.
Tubérculo anterior A interpretação das radiografias simples é abordada
do atlas
neste capítulo ao discutir cada lesão; contudo, o profissio­
nal deve ter uma abordagem sistemática para evitar lesões
importantes passem despercebidas. Antes de começar, é
importante avaliar a adequação dos filmes, especifica­
mente se a incidência com a boca aberta permite a visuali­
zação do odontoide e das massas laterais e se a incidência
lateral demonstra todas as vértebras cervicais e o topo de
T l. A seguir, considerar o alinhamento das vértebras na

► TABELA 9.1 O s critérios do grupo N EXU S para


excluir clinicam ente uma fratura da coluna cervical
1. Nenhuma sensibilidade dolorosa na linha média
2. Nenhum déficit neurológico focal
3. Vigília normal
4. Nenhuma intoxicação
transversos do atlas 5. Nenhuma lesão dolorosa por distração

Figura 9.1 O s ligamentos transversos e alares e sua importân­ Nota: Se todos os cinco itens forem encontrados, os exames de imagens
não são solicitados.
cia na estabilização das vértebras de C1 e C 2.
Emergências Ortopédicas 151

Para pacientes alertas (Escore da Escala de Coma de


Glasgow = 15) com traumatismo,
quando houver preocupação quanto à coluna cervical
Linha do corpo
vertebral anterior

Linha do corpo
vertebral posterior

Figura 9.3 A perda do alinhamento da linha do corpo verte­


bral anterior e posterior ou a linha espinolam inar sugere lesão
instável.

A TC da coluna cervical está se tomando a modali­


dade de imagens inicial mais usada, pois as radiografias
simples são menos sensíveis e, com frequência, inadequa­
das para demonstrar a totalidade da coluna cervical. Foi
demonstrado que uma TC negativa que inclua reconstru­
ções sagitais exclui tanto a fratura como a lesão ligamen-
tar, mesmo em pacientes com dor persistente no pesco­
ço. Quando uma fratura é vista nas radiografias simples,
a TC é útil para melhor definir a lesão traumática.

Lesão da medula espinal


O choque neurogênico é mais comum depois da lesão da
coluna cervical (19% dos pacientes), seguido pela toráci­
ca (7%) e lombar (3%). Os sinais vitais revelam pressão
sanguínea sistólica baixa (< 100 mmHg) e bradicardia
(< 60 a 80 batimentos/min). Essas anormalidades em

CVA, colisão de veículo automotor.

Figura 9.2 A regra canadense da coluna cervical. (Reimpres­ < 7 mm


sa, com permissão, de Stiell IG , W ells G A , Vandemheen KL, et
< 5 mm
al. The Canadian C-spine rule for radiography in alert and stable
trauma patients. JA M A 2001 ;2 8 6 :1 846. Copyright 2010 Am eri­
can M edical Association. Todos os direitos reservados.)

incidência lateral (Fig. 9.3). Buscar atentamente quais­ < 22 cm


quer fraturas dos corpos vertebrais ou das estruturas ós­ (14 mm em
crianças)
seas posteriores. A perda de altura de um corpo vertebral
sugere fratura de compressão, um ângulo anormal entre os
corpos vertebrais sugere fratura instável. Por fim, avaliar Figura 9.4 Em adultos, os tecidos moles pré-vertebrais devem
os tecidos moles pré-vertebrais e o espaço pré-odontoide ter < 7 mm em C 2; < 5 mm em C 3; e < 22 mm em C 6. Em
(Fig. 9.4). crianças, 14 mm é o limite aceitável em C6.
152 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Coluna dorsal Sacral anterior ocorre no contexto da hiperflexão da coluna cer­


(posição, vibração, Lombar vical na maioria dos casos. Os dois terços anteriores da
Torácica medula são afetados e as colunas dorsais, que controlam o
Cervical
contato, a propriocepção e a sensação vibratória, são pou­
Corno
padas em um grau variável (Fig. 9.6A). A síndrome m edu­
Trato Perna lar central é causada por hiperextensão em pacientes com
corticospinal Tronco doença articular degenerativa cervical preexistente. Nesse
lateral (motor) contexto, a porção central da medula é comprimida entre
Braço
o ligamento amarelo e os osteófitos ósseos. Clinicamente,
Perna
o paciente exibe fraqueza, que é maior nas extremidades
superiores, com quantidades variáveis de perda sensitiva
Tronco
Trato e disfunção da bexiga (Fig. 9.6B). Por fim, a síndrome de
Braço
espinotalâmico lateral Brown-Sequard é uma condição rara devido à perda uni­
(dor, temperatura) lateral da função medular (Fig. 9.6C). O paciente exibe
Artéria
espinal anterior paralisia com perda da propriocepção, da vibração e do
contato no lado do dano e perda da dor e da sensibilidade
Figura 9.5 A anatomia de um corte transversal da medula es­ térmica contralateral.
pinal cervical.

Tratamento
geral ocorrem várias horas depois da lesão da medula. A O choque neurogênico deve ser considerado em pacien­
patogenia está relacionada com perda do tônus simpático tes com hipotensão e lesão traumática da medula espinal,
e menor resistência vascular periférica. A bradicardia está uma vez que outras causas de choque tenham sido excluí­
presente porque a ruptura da atividade simpática no cora­ das. Não existe consenso sobre o tratamento ideal para o
ção resulta em atividade vagai sem oposição. O choque choque neurogênico. A infusão de fluido cristaloide pode
neurogênico deve ser distinguido do termo “choque espi­ ser a única coisa necessária em casos leves. Os vasopres-
nal”, que se refere a uma perda inicial, mas com recupera­ sores são indicados se os sintomas persistirem.
ção gradual de alguma função neurológica depois de uma Em pacientes com lesão traumática não penetrante da
lesão da medula espinal. medula espinal, esteroides em alta dose devem ser consi­
O conhecimento da localização dos tratos nervosos derados precocemente. O regime de tratamento é um
dentro da medula espinal ajuda o profissional a entender bolus de metilprednisolona de 30 mg/kg, seguido de uma
as síndromes que ocorrem depois da lesão (Fig. 9.5). O pa­ infusão de 5,4 mg/kg/h por 24 horas em pacientes que te­
ciente com síndrome medular completa apresenta precoce­ nham sido tratados dentro de 3 horas da lesão. Em pacien­
mente paralisia flácida e perda da sensibilidade abaixo da tes da janela de 3 a 8 horas, uma infusão de 48 horas tem
lesão. Os reflexos estão ausentes e não há nenhuma respos­ sido recomendada. Os esteroides não são indicados além
ta ao teste de Babinski. O priapismo pode aparecer e, ge- de 8 horas ou depois de uma lesão penetrante em qualquer
ralmente, dura um dia. Dentro de 1 a 3 dias, desenvolvem- momento.
-se reflexos hiperativos, Babinski positivo e espasticidade. Até dentro da janela de 8 horas, os esteroides têm inci­
A lesão medular incompleta é mais difícil de diag­ dência significativa de complicações, como sepse e pneu­
nosticar. Existem algumas variantes clássicas, mas há va­ monia. Além disso, a evidência da eficácia dos esteroides
riação significativa na apresentação. A síndrome medular em produzir um ganho pequeno no escore motor e sensi-

Coluna dorsal
(posição, vibração, contato)

Trato espinotalâm ico lateral


(dor, tem peratura)

Figura 9.6 Síndromes medulares incompletas. A. Medular anterior. B. Central. C . Brown-Sequard.


Emergências Ortopédicas 153

tivo total foi somente vista em uma análise retrospectiva. estende da cortical posterior de C2 (intervalo basioaxial)
Esse fato aumenta a probabilidade de que uma diferença deve ser abaixo de 12 mm. Uma segunda medida entre o
estatística será encontrada quando ela não existe e, geral­ básion e a superfície superior do odontoide (intervalo ba-
mente, impede que os resultados sejam usados para mudar siodental) também deve ter menos de 12 mm. Se houver
a prática clínica. Por conseguinte, sem evidência sólida suspeita de lesão, o encaminhamento imediato é indicado e
para a eficácia de um regime com esteroides em alta dose, qualquer tipo de tração axial deve ser evitada, já que pode
alguns entendem que os esteroides devem ser usados com aumentar o deslocamento dessa lesão altamente instável.
precaução ou não devem ser usados. ’ Várias sociedades
médicas têm afirmado que esse não é um tratamento pa­ Luxação atlantoaxial
dronizado, mas uma opção terapêutica. Os protocolos in­
terdepartamentais e a consultoria cirúrgica precoce ajudam A luxação atlantoaxial mais comum é a anterior, com rup­
o médico da emergência a tomar rapidamente tais decisões. tura do ligamento transverso ou fratura do odontoide. As
lesões posteriores e rotatórias são menos comuns. A rup­
tura pura do ligamento transverso é mais comum em in­
Classificação
divíduos mais velhos, mas também ocorre em pacientes
A coluna cervical é dividida em dois segmentos para os jovens após um trauma, geralmente após uma colisão de
propósitos deste capítulo. As lesões da coluna cervical alta veículo automotor. *
são aquelas que envolvem o occipital, C i e C2. O resto do A apresentação clínica é variável, sendo comum o
capítulo é focado nas lesões da terceira até a sétima vér­ óbito a partir de uma compressão medular de nível alto,
tebras cervicais. Essa discussão classifica as lesões com entre o odontoide e o arco posterior do atlas. As radiogra­
base no mecanismo pela qual são produzidas. A estabili­ fa s revelam uma relação anormal entre o atlas e o áxis. Na
dade clínica de cada lesão é discutida. A perda da estabili­ luxação anterior, existe um aumento da distância (> 3 mm)
dade refere-se à incapacidade da coluna em manter as suas entre o aspecto posterior do arco anterior do atlas e o pro­
relações sob cargas fisiológicas normais. Com a instabili­ cesso odontoide. Uma distância entre 3 e 5 mm sugere
dade, vem o risco inerente de lesão secundária da medula ruptura do ligamento transverso, enquanto uma distância
espinal, caso a imobilização vertebral não seja adicionada. maior que 5 mm é consistente com a ruptura dos ligamen­
tos transverso e alar (Fig. 9.8). As incidências com a boca
LESÕES CERVICAIS ALTAS
Normal
Dissociação atlanto-occipital J**| Menos de 3 mm
Essa lesão envolve a ruptura de todas as conexões ligamen-
tares entre o occipital e o atlas (Fig. 9.7). O crânio pode
ficar anterior, posterior ou ser distraído da coluna cervical.
Tal lesão é quase sempre fatal devido à quantidade signifi­
cativa de força necessária para a sua ocorrência. As radio­
grafias demonstram o deslocamento dos côndilos occipitais
a partir das facetas articulares superiores do atlas. A distân­
cia entre a ponta do clivo (i.e., básion) e uma linha que se

Figura 9.8 Um espaço pré-dental alargado é evidência de


Figura 9.7 Luxação atlanto-occipital. ruptura dos ligamentos transversos e alares.
154 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Figura 9.9 Fratura de Jefferson. A . Esquema de uma fratura de Jefferson de C1 com ligamento transverso intacto. B . Alargamento
anormal na incidência com a boca aberta (seta). C . T C . D. Na incidência com a boca aberta, é visto o deslocamento das massas
laterais de C2 em uma fratura instável de Jefferson.

aberta ou, de preferência, a TC, demonstram fraturas do (Fig. 9.9D). Essa constitui uma lesão instável, em que o
odontoide. É necessária a consulta imediata com um cirur­ processo odontoide pode comprimir a medula espinal.
gião de coluna para estabilização e redução. As fraturas em explosão de Jefferson estão associadas
a fraturas adicionais da coluna cervical em incidência de
Fratura em explosão de Jefferson 50%. O tratamento definitivo consiste na tração com halo
(Fig. 9.10).
A fratura em explosão de Jefferson ocorre por carrega­
mento axial, quando a coluna não estiver nem flexionada
Fraturas do arco de C1
e nem estendida. Isso resulta em fraturas dos arcos an­
teriores e posteriores de C l à esquerda e à direita (Fig. Além do carregamento axial (i.e., fratura em explosão de
9.9A). Nas radiografias simples, o edema de tecido mole Jefferson), outros mecanismos causam fraturas do arco de
pré-vertebral é evidente na incidência lateral, mas as fra­ C l. A hiperextensão pode causar a avulsão do tubérculo
turas em si são difíceis de visualizar. A incidência com a anterior do atlas (Fig. 9.11). Essa lesão será vista na radio­
boca aberta demonstra o deslocamento das massas laterais grafia lateral ou TC e, frequentemente, existe edema asso­
do atlas (Fig. 9.9B). A TC é necessária para verificar com­ ciado de tecidos moles. O paciente deve ser imobilizado.
pletamente o padrão da fratura (Fig. 9.9C). Se a avulsão consistir de todo o arco anterior, então essa
As fraturas do anel do atlas podem ser estáveis ou lesão pode ser instável.
instáveis, com base na integridade de seu suporte liga- A hiperextensão com compressão pode direcionar
mentar, especificamente os ligamentos transversos e ala­ uma força através do arco posterior do atlas, causando fra­
res. O deslocamento das massas laterais do atlas em uma tura na junção do arco posterior e da massa lateral. A ra­
distância de 7 mm ou mais, percebido na vista com a boca diografia lateral demonstra melhor essa lesão. Ela é vista
aberta, é evidência de um ligamento transverso rompido como uma fratura vertical, com pouco ou nenhum deslo-
Emergências Ortopédicas 155

Figura 9.11 Fratura com avulsão da massa anterior de C 1 .

Caso o paciente se queixe de quaisquer sintomas neuroló­


gicos, suspeitar de outra lesão ou de ruptura do ligamento
transverso. As fraturas do tipo I do odontoide podem estar
relacionadas à dissociação atlanto-occipital. As fraturas
do tipo II são transversas, na base do odontoide. Essa le­
são é instável. As fraturas do tipo III ocorrem através do
Figura 9.10 Um dispositivo de halo para a estabilidade da co­ corpo do áxis, em geral envolvendo uma faceta articular.
luna cervical. Se essa fratura estiver deslocada, é instável.
Um quarto dos pacientes apresenta déficits neuro­
lógicos e a maioria relata dor cervical alta intensa, com
camento e nenhum edema pré-vertebral. Não há desloca­ espasmo muscular que piora com quaisquer tentativas de
mento lateral das massas articulares de C l na incidência movimento.
com a boca aberta, como é visto em uma fratura de ex­ Em radiografias, essas lesões são mais adequadamen­
plosão. Essa é muitas vezes associada a outras fraturas da te vistas na TC, embora a incidência com a boca aberta
coluna cervical, em particular do odontoide. Se isolada, é seja o melhor método de radiografia simples para fazer o
possível que seja estável. diagnóstico (Fig. 9.13). As incidências de flexão-extensão
A consulta com um cirurgião de coluna é recomenda­ são contraindicadas, já que um deslocamento pode ser po­
da para qualquer fratura do arco de C l, e o paciente deve tencialmente fatal. As fraturas do tipo II e III requerem
ser mantido imobilizado. encaminhamento imediato para estabilização.

Fraturas do odontoide Fratura do enforcado


Existem três tipos de fraturas do odontoide (Fig. 9.12). O Também chamada de espondilolistese traumática do
tipo I é uma avulsão da ponta do odontoide, no local da áxis, a fratura do enforcado é uma lesão de hiperextensão
inserção do ligamento alar. É uma lesão incomum e está­ da coluna cervical alta que produz fratura nos pedícu-
vel, desde que o ligamento transverso permaneça intacto. los de C2, com deslocamento anterior de C2 sobre C3

Tipo I Tipo II Tipo III

Figura 9.12 Fraturas do odontoide.


156 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Flexão
Fratura em lágrima por flexão
Essa é uma lesão extremamente instável, produzida por
hiperflexão intensa e forças compressivas que ocorrem
com o mergulho na parte rasa de uma piscina. O resultado
é uma ruptura ligamentar completa, com ruptura de arti­
culação facetária e fratura cominutiva do corpo vertebral
que empurra os fragmentos para dentro do canal verte­
bral (Fig. 9.15). Existe um grande fragmento triangular
deslocado da porção anterior do corpo vertebral e no for­
mato de uma lágrima, que dá o nome à fratura. O déficit
neurológico é comum, seja sob a forma de lesão medular
completa ou de síndrome medular anterior. Radiografica-
mente, a fratura de canto anteroinferior do corpo vertebral
é evidente na incidência lateral. A coluna cervical superior
está flexionada, e a vértebra envolvida está deslocada e
rodada anteriormente.
Figura 9.13 Fratura tipo II do odontoide em T C . Quando essa lesão ocorre na área de C4 em um mer­
gulhador, o paciente pode apresentar-se com apneia, pre­
sumida como afogamento, quando na verdade é a lesão da
(Fig. 9.14). Essa fratura era vista nos enforcamentos mas coluna cervical que produz uma paralisia muscular respi­
é agora mais comum após colisões de veículos automo­ ratória. A entubação será necessária nessa circunstância, e
tores e acidentes de mergulho. Embora essa lesão seja o paciente necessita de imobibzação contínua. A consulta
altamente instável, o paciente pode se apresentar sem de emergência com um cirurgião de coluna é necessária
disfunção neurológica significativa, devido ao grande para o cuidado definitivo.
diâmetro do canal vertebral nesse nível.
Fratura do escavador
LESÕES DE C3 A C 7 Essa lesão é uma fratura do processo espinhoso que ocor­
re quando a cabeça e as vértebras cervicais superiores são
As forças que levam às lesões na coluna cervical inferior forçadas em flexão contra a ação do bgamento supraespi-
podem ser usadas para classificação e ajudam na com­ nal e os músculos eretores. O resultado é uma fratura de
preensão das lesões ligamentares e ósseas que estão pre­ avulsão de um ou mais dos processos espinhosos de C7,
sentes. A flexão, a flexão com rotação, a extensão com C6 e T l, nessa ordem de frequência (Fig. 9.16). É assim
rotação, a extensão e a compressão vertical produzem pa­ denominada em decorrência de sua frequência em minei­
drões distintos de lesões que são discutidos a seguir. ros austrabanos nos anos 1930. É mais comum hoje de-

Figura 9.14 Fratura do enforcado.


A . Representação esquemática. B.
Radiografia lateral. B
Emergências Ortopédicas 157

Figura 9.15 Fratura em lágrima por


flexão. A . Representação esquemáti­
ca. B . Fratura em lágrima por flexão
de C5 em T C .

pois de um trauma direto no processo espinhoso ou depois que permite que as facetas superiores passem sobre as
de colisões com desaceleração do veículo automotor. O facetas inferiores, localizados nos forames interverte-
paciente queixa-se de sensibilidade dolorosa puntiforme brais. A maioria dessas lesões ocorre entre C5 e C7.
sobre a área envolvida. É uma lesão estável e requer o uso Os pacientes se apresentam com dor no pescoço e inca­
de analgésicos e encaminhamento precoce. pacidade para mover a cabeça a partir de uma posição
na linha média. Ao exame, com frequência existe uma
Luxação bilateral das facetas proeminência do processo espinhoso das vértebras infe­
É uma lesão muito instável, uma hiperflexão grave re­ riores. Pode haver compressão medular ou de raiz ner­
sulta em ruptura do complexo ligamentar posterior, o vosa, levando a déficits neurológicos. As radiografias

Figura 9.16 Fratura do escavador.


A . Representação esquemática. B.
Radiografia lateral.
158 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Figura 9.17 Luxação bilateral das


facetas. A. Representação esque­
mática. B. Radiografia lateral com
subluxação de C 7 sobre T1 maior
que 50% .

são caracterizadas por deslocamento anterior do corpo anterior ou as fraturas múltiplas adjacentes em cunha
vertebral superior de pelo menos 50% da sua largura podem tornar essa lesão instável. Por essa razão, tais
(Fig. 9.17). O termo fa c e ta s e m p o le ira d a s refere-se a fraturas devem ser consideradas instáveis até prova em
uma luxação bilateral incompleta, onde o aspecto infe­ contrário.
rior das facetas superiores repousa sobre o aspecto su­
perior das facetas inferiores. A redução de emergência Entorse em hiperflexão
pode resultar em recuperação significativa dos déficits Essa lesão também é chamada de subluxação anterior.
neurológicos. A hiperflexão causa a mptura das estruturas ligamenta-
res posteriores, sem fraturas associadas (Fig. 9.19). Em
Fratura por compressão em cunha radiografias, pode haver o alargamento dos processos
Essa fratura é causada pela flexão forçada, com algumas espinhosos no nível da m ptura ligamentar. A angula-
forças compressivas axiais leves, causando impacto so­ ção de duas vértebras por mais de 1 I o é anormal, sugere
bre o corpo vertebral (Fig. 9.18). A porção anterior da instabilidade, sendo consistente com essa lesão (Fig.
placa terminal superior do corpo vertebral sofre fratura. 9.20).
As estruturas posteriores permanecem intactas na maio­
ria dos casos, mas o seu envolvimento tom a a fratura
instável. A perda de mais da metade da altura vertebral

Figura 9 .1 8 Fratura por compressão em cunha. A lesão liga-


mentar posterior pode tornar a fratura instável. Figura 9.19 Entorse em hiperflexão.
Emergências Ortopédicas 159

Figura 9.22 Fratura do pilar.

A radiografia lateral mostra o corpo vertebral anterior­


mente deslocado em uma distância aproximada de 25%
do diâmetro do corpo vertebral (Fig. 9.21). O tratamento
dessa condição frequentemente requer a redução aberta e
a fixação interna, já que pode ser muito difícil reduzi-la
Figura 9.20 A angulação superior a 110 de duas vértebras cer­ por tração.
vicais sugere lesão instável.

Extensão e rotação
Flexão e rotação
Fratura do pilar
Luxação unilateral da faceta A fratura do pilar da articulação facetária é causada por
Essa lesão ocorre por uma combinação de flexão e rota­ hiperextensão e rotação (Fig. 9.22). A hiperextensão junta
ção. A articulação oposta ao lado da rotação desloca quan­ os ossos das facetas e conforme a cabeça roda ocorre uma
do a faceta superior se move anterior e superiormente por força em direção a um único pilar, causando a sua fratura.
sobre a faceta inferior. Na ausência de fraturas concomi­ A projeção radiográfica em AP demonstra uma anormali­
tantes, a estabilidade é mantida porque a articulação con- dade da coluna lateral. A linha de fratura costuma ser ver­
tralateral permanece intacta. No aspecto clínico, a dor no tical. Na incidência lateral, a lesão é difícil de identificar.
pescoço se localiza no lado afetado e a cabeça é rodada no Um sinal de “duplo contorno” ocorre quando a fratura é
sentido contrário da lesão. A compressão de raiz nervosa deslocada posteriormente e causa duas sombras radiográ-
é frequente, mas a medula espinal é raramente envolvida. ficas/ Uma ruptura no ligamento longitudinal anterior

Figura 9.21 Luxação unilateral das


facetas. A . Representação esquemáti­
B ca. B. Radiografia lateral.
160 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Figura 9.24 Entorse em hiperextensão.


também pode ocorrer com essa lesão. A fratura do pilar é
considerada estável.
com exame neurológico normal e exames de imagens ne­
Fratura-separação pedículo-laminar gativos podem ser tratados com analgésicos e encaminha­
Esse tipo de lesão envolve fraturas unilaterais do pedículo mento precoce. Os outros requerem uma consulta imedia­
e da lâmina, com graus variados de deslocamento e ruptu­ ta com um cirurgião de coluna.
ra do ligamento longitudinal anterior e do disco. O termo
“separação” refere-se ao fato que, com uma fratura tanto Fratura em lágrima por extensão
do pedículo como das lâminas em um lado, o pilar articu­ Essa lesão instável é similar à entorse de hiperextensão,
lar (i.e., a faceta) toma-se um fragmento flutuante livre. mas o ligamento longitudinal anterior sofre avulsão da
Se o disco acima e abaixo da vértebra fraturada estiver porção inferior do corpo vertebral anterior (Fig. 9.25).
envolvido, há uma lesão instável. Na incidência em AP, A altura do fragmento em forma triangular é habitual­
existe a ruptura da coluna lateral, similar ao aspecto de mente maior do que a sua largura. As fraturas em lágrima
uma fratura do pilar. Na radiografia lateral, essas lesões se por extensão são mais comuns em pacientes idosos com
assemelham a uma fratura da lâmina ou do pilar. Em al­ osteoporose. A TC é necessária para avaliar o canal verte­
guns casos, existe anterolistese da vértebra envolvida em bral. A consulta com um cirurgião de coluna é indicada, e
aproximadamente 3 mm. A TC é útil para determinar a o paciente é mantido imobilizado.
extensão completa da lesão (Fig. 9.23).
Fratura da lâmina
Extensão Essa fratura ocorre com mais frequência em pacientes
mais velhos com estenose cervical. Com hiperextensão e
Entorse por hiperextensão compressão, a lâmina pode fraturar (Fig. 9.26). Na radio­
Essa lesão ocorre a partir de um golpe na face ou na testa grafia lateral, uma linha de fratura vertical pode ser vista,
ou, mais comumente, depois de uma colisão veicular tra­ porém a TC é mais sensível. A lesão é estável, mas exige
seira. As estruturas posteriores atuam como um fulcro e o imobilização cervical e encaminhamento.
ligamento longitudinal anterior e o disco intervertebral se
rompem (Fig. 9.24). Com uma ruptura ligamentar signifi­ Compressão vertical
cativa, a vértebra superior pode mover-se posteriormente
e comprimir a medula espinal. Se o complexo ligamentar Fratura em explosão
posterior também se romper, pode ocorrer uma luxação. As fraturas em explosão ocorrem por uma carga axial que
Ao exame, existem dor e sensibilidade dolorosa sobre os causa fratura cominutiva do corpo vertebral (Fig. 9.27).
músculos anteriores (i.e., os estemocleidomastóideos e os Elas são mais comuns no nível de C5. Frequentemente os
escalenos). Pode haver disfagia e rouquidão secundárias à fragmentos se deslocam para dentro do canal vertebral.
lesão na garganta e no esôfago. A lesão medular posterior, O complexo ligamentar posterior permanece intacto, mas
com perda motora distai à lesão, é mais comum. As radio­ uma fratura do arco posterior está quase sempre presente.
grafias exibem o edema de tecidos moles. O espaço discai A fratura em explosão assemelha-se àquela em lágrima
anteriormente alargado também pode estar aparente. Se por flexão, mas o fragmento anterior do corpo costuma
houver suspeita dessa lesão, a TC ou a RMN devem ser ser maior. A consulta imediata com um cirurgião de colu­
usadas para confirmar a ruptura ligamentar. Os pacientes na está indicada para essa fratura potencialmente instável.
Emergências Ortopédicas 161

Figura 9.25 Fratura em lágrima por


extensão. A. Representação esquemá­
tica. B. T C .

Figura 9.26 Fratura da lâmina. A. Representação esquemática. B. TC demonstrando fraturas bilaterais das lâminas.

Figura 9.27 Fratura em explosão. A. Representação esquemática. B. TC .


162 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

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A neglected cause of post-traumatic neck pain Clin Radiol
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Capítulo 10
Trauma da Coluna Toracolombar
13 14
INTRODUÇÃO rior, média e posterior ’ (Fig. 10.1). A coluna anterior
consiste no ligamento longitudinal anterior e na metade
Este capítulo aborda as fraturas e as luxações traumáticas anterior dos corpos e discos vertebrais. A coluna média
da coluna vertebral toracolombar (TL). Essas lesões são in- é composta pelo ligamento longitudinal posterior e a me­
comuns e, quando presentes, com frequência passam des­ tade posterior dos corpos e discos vertebrais. Por fim, a
percebidas. Isso é provavelmente devido ao fato de outras coluna posterior consiste nos ligamentos supraespinais e
lesões mais significativas no paciente traumatizado distrai- interespinais e nas articulações das facetas. A estabilidade
rem o profissional, e porque os sinais e sintomas da lesão mecânica está presente se duas das três colunas estiverem
vertebral em geral são sutis. O diagnóstico e o tratamento intactas.
precoce dessas lesões melhoram o desfecho neurológico. Mecanismos múltiplos de lesão têm sido descritos,
produzindo fraturas vertebrais TL previsíveis. Esses me­
Imagens canismos incluem as forças de flexão, flexão e rotação,
Nas vítimas de trauma não penetrante submetidas a radio­ extensão, compressão, distração e cisalhamento (i.e.,
grafias da coluna torácica e/ou lombar, aproximadamente translação). No sistema desenvolvido por McAfee, três
6% terão uma fratura. A ausência de sensibilidade dolo­ forças importantes (compressão axial, distração axial e
rosa nas costas não exclui fraturas TL, já que 40% dos translação) atuam na coluna média, criando cinco padrões
pacientes com esse tipo de lesão não apresentam dor ou diferentes de lesão: fratura por compressão em cunha,
sensibilidade dolorosa. As radiografias são recomenda­ fratura em explosão, fratura de Chance, lesões por flexão
das nos casos de trauma de alta energia (queda de altura e distração e lesões translacionais. Os cinco padrões
superior a 3 metros, colisão de veículo automotor em alta de lesão são considerados mecanicamente instáveis e são
velocidade) e em um dos seguintes itens: discutidos a seguir. Uma discussão sobre as fraturas TL
mecanicamente estáveis também é apresentada.
1. Dor lombar ou sensibilidade dolorosa na linha média Nenhum sistema de classificação inclui todos os pa­
lombar drões de lesão e, em casos difíceis, a lesão deve ser con­
2. Exame neurológico anormal siderada instável até que as imagens e a opinião de um
3. Qualquer outra fratura da coluna especialista sugiram o contrário.1
4. Escala de Coma de Glasgow < 1 5
5. Lesão importante que cause distração
Posterior Média Anterior
6. Intoxicação com álcool ou drogas
A tomografia computadorizada (TC) é indicada por
ser mais sensível do que os filmes simples para detectar
fraturas. A TC de detecção múltipla do abdome e do tó­
rax, com reconstruções da coluna é tão precisa para detec­
tar fraturas da coluna TL como para a TC vertebral espe­
cífica. Essa técnica também economiza tempo e custos. 2

Classificação
As fraturas da coluna TL são mais comuns na junção entre
a coluna torácica rígida e a coluna lombar flexível. Em tor­
no de 50% de todas as fraturas da região TL ocorrem entre
T il e L3. Felizmente, as lesões medulares completas são
menos comuns, pois o canal vertebral é mais largo nessa
localização do que na coluna cervical.
Ao considerar a estabilidade das fraturas vertebrais
TL, a classificação de três colunas é conceitualmente a
mais fácil de entender. Nesse sistema, desenvolvido por Figura 10.1 A classificação de três colunas da coluna toraco­
Denis, a coluna vertebral é dividida em três seções: ante- lombar.
164 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Figura 10.2 A fratura por compressão em cunha anterior é es­


tável, pois envolve somente a coluna anterior.

LESÕES INSTÁVEIS

Fraturas por compressão em cunha


Esse tipo de fratura ocorre mais na coluna torácica e lom­ Figura 10.3 Fratura por compressão em cunha anterior em T I 2.
bar. Essas fraturas ocorrem devido à flexão e distração e
causam falha da coluna anterior (Fig. 10.2). Compõem
pia pode ser apropriada e atividade é raramente restringi­
uma lesão estável, sem risco de causar danos na medula
da por 3 a 4 meses após a lesão.
espinal,*pois as colunas média e posterior permanecem in-
A instabilidade da coluna a longo prazo pode ocorrer
tactas. E classificada com as fraturas instáveis, porque
com as fraturas graves de compressão (> 50% de perda
outras lesões mecanicamente instáveis (i.e., fraturas
da altura do corpo) ou quando houver fraturas em cunha
por explosão) podem imitar a fratura por compressão
múltiplas adjacentes.
em cunha.
Em pacientes alertas, a dor e a sensibilidade doloro­
sa estão presentes no local da fratura, mais comumente a Fraturas em explosão
região média do tórax ou a lombar superior. A lesão pode A fratura em explosão é cominutiva do corpo vertebral de­
ocorrer depois de qualquer tipo de trauma, mas é muito vido à compressão axial (Fig. 10.4). É uma fratura instá­
comum em pacientes com osteoporose, que podem apre­ vel, pois há falha das colunas vertebrais anterior e média.
sentar fratura por compressão em cunha depois de uma Em alguns casos, a coluna posterior também é rompida.
causa tão trivial como um espirro. Elas também estão as­ A fratura em explosão é distinguida da fratura de com-
sociadas com a contração muscular que acompanha uma
convulsão epilética e têm sido relatadas em pacientes que
estavam em veículos que passaram sobre um quebra-mo-
las. A lesão neurológica não está associada com fratura
porque as colunas média e posterior da coluna vertebral
permanecem intactas.
A visualização da fratura é mais eficiente com a ra­
diografia lateral, onde o corpo vertebral toma um formato
de cunha (Fig. 10.3). O corpo vertebral é comprimido an­
teriormente e a cortical posterior do corpo vertebral está
normal. A TC é recomendada sempre que a integridade do
corpo vertebral posterior e das estruturas da coluna pos­
terior forem questionáveis, já que as radiografias simples
não avaliam adequadamente a cortical posterior do corpo
vertebral. O paciente deve ser considerado como porta­
dor de fratura instável até que esteja claro que somente o
corpo vertebral anterior está envolvido.
O tratamento de uma fratura por compressão em
cunha simples é o alívio de dor e a mobilização precoce, Figura 10.4 Vista sagital de uma fratura em explosão. Essa fra­
com atividade crescente conforme a dor cede. A fisiotera- tura cominutiva ocorreu por compressão axial.
Emergências Ortopédicas 165

especialista ortopédico ou neurocirúrgico em cirurgia de


coluna. As reavaliações neurológicas frequentes são ne­
cessárias para detectar alterações na condição.

Fraturas de Chance
A fratura de Chance, descrita pela primeira vez por G.Q.
Chance em 1948, ocorre depois da flexão da coluna ver­
tebral sobre um eixo que é anterior ao ligamento longitu­
dinal anterior. Envolve uma divisão horizontal da vértebra
através de todas as três colunas e é, por conseguinte, uma
lesão instável (Fig. 10.6). A lesão começa nos elementos
posteriores do processo espinhoso ou da lâmina e esten-
de-se anteriormente aos pedículos e ao corpo vertebral.
O deslocamento é incomum, porque existem poucas for­
ças translacionais ou rotacionais.
Essa lesão era muito comum com o uso do cinto de se­
Figura 10.5 Vista transversal de uma fratura em explosão. Existe gurança subabdominal, quando as forças súbitas de desace­
retropulsão de fragmentos ósseos para dentro do canal vertebral. leração causavam hiperflexão e distração intensas da colu­
na vertebral. Atualmente, a maioria das fraturas de Chance
ocorre depois de quedas ou lesões por esmagamento. A sen­
pressão em cunha porque a cortical do corpo vertebral
sibilidade dolorosa está presente sobre as vértebras envolvi­
posterior é fraturada. As fraturas do corpo vertebral poste­
das, mais comumente T I2, L l, ou L2. As fraturas de Chan­
rior fornecem um risco adicional à medula espinal tendo
ce estão associadas a significativas lesões intra-abdominais,
em vista que com frequência existe retropulsão de frag­
com a incidência aproximando-se de 50%.
mentos ósseos para dentro do canal vertebral (Fig. 10.5).
Na incidência anteroposterior, podem ser observadas
As fraturas em explosão são mais comuns a partir de
a ruptura dos pedículos, a perda da altura vertebral ou a
uma queda, mas as colisões de veículos automotores tam­
fratura do processo transverso. A vista lateral demonstra
bém respondem por um número alto dessas lesões. Já fo-
as fraturas através do processo espinhoso, das lâminas ou
ram relatadas depois de uma convulsão atraum ática/“
dos pedículos. Os achados mais sutis incluem o aumento
A maioria das fraturas em explosão ocorre na região de
T12 ou L3. Em 10% dos casos, existe mais de uma fra- na distância dos processos espinhosos adjacentes ou o au­
tura em explosão. Elas respondem por aproximadamente mento na altura do corpo vertebral posterior.
15% das fraturas vertebrais. O exame da coluna vertebral Uma TC deve ser solicitada para determinar a extensão
revela sensibilidade dolorosa no nível da fratura, mas a dis­ da lesão, o envolvimento do canal vertebral e para diagnos­
tância interespinal fica inalterada. Os déficits neurológicos ticar alguma lesão intra-abdominal. Pelo fato de a ruptura
estão presentes em cerca de metade dos pacientes, e a perda ser orientada em um plano horizontal, a lesão pode passar
completa da função motora ocorre em um terço deles. despercebida na TC caso as imagens axiais não sejam com­
Em radiografias simples, existe perda de altura tanto plementadas por imagens sagitais reformatadas.
da cortical anterior quanto posterior do corpo vertebral.
Esses achados são mais aparentes na incidência radiográ-
fica lateral. A coluna permanece bem-alinhada. As fratu­
ras do elemento posterior estão presentes em dois terços
dos casos.
A perda de altura da cortical posterior do corpo verte­
bral é frequentemente difícil de visualizar nos filmes sim­
ples, fazendo com que essa lesão seja equivocadamente
diagnosticada como fratura em cunha. Em um estudo, os
filmes simples diagnosticaram de maneira errônea as fra­
turas em explosão em 25% das vezes.
A TC detalha bem o grau de retropulsão e a presença
de fraturas na coluna posterior. A TC também causa im­
pacto no plano de tratamento. Os pacientes com redução
de 50% no diâmetro mediosagital do canal vertebral têm
maior risco para disfunção neurológica progressiva.
O paciente deve ser tratado com imobilização ver­
tebral rígida, devendo ser obtida uma consulta com um Figura 10.6 Fratura de Chance.
166 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Figura 10.7 Lesão por flexão e distração.


Figura 10.8 Lesão por translação devido a uma força de cisa-
Ihamento.
As lesões desse tipo são instáveis. A coluna deve ser
mantida imobilizada e obtida a consulta com um especia­
lista ortopédico ou neurocirúrgico em coluna vertebral. lesões também são instáveis e requerem a manutenção da
imobilização vertebral. A consulta com um especialista
Lesões por flexão e distração em coluna deve ser obtida.

Essa lesão tem um mecanismo similar à fratura de Chan­


Lesões translacionais
ce, mas o eixo de flexão é posterior ao ligamento longi­
tudinal anterior. A coluna anterior falha devido a um me­ As lesões translacionais são fraturas-luxações que ocor­
canismo compressivo, e as colunas média e posterior são rem depois de um mecanismo de cisalhamento. Elas são
rompidas por uma força de distração (Fig. 10.7). Os acha­ raras, respondendo por menos de 2% das fraturas da co­
dos radiográficos incluem a impactação anterior do corpo luna toracolombossacral (TLS). Todas as três colunas
vertebral e a distração posterior com a abertura dos pro­ falham e o alinhamento do canal vertebral é afetado no
cessos espinhosos. Tal como a fratura de Chance, essas plano transversal (Fig. 10.8). É uma lesão instável e quase

Figura 10.9 Fratura do processo transverso de L1 . A. Imagem


da T C axial (seta). B. Reconstrução em 3 D na TC (seta). B
Emergências Ortopédicas 167

sempre existe lesão neurológica associada. Mais comu- 3. Holmes JF, Miller PQ, Panacek EA, et al. Epidemiology of
mente, a força de cisalhamento é dirigida de um sentido thoracolumbar spine injury in blunt trauma. Acad Emerg
posterior para anterior, sendo o resultado de um trauma Med 2001 ;8(9):866-872.
direto no dorso. 4. Hsu JM, Joseph T, Ellis AM. Thoracolumbar fracture in
As radiografias simples demonstram essa lesão. Po­ blunt trauma patients: Guidelines for diagnosis and imag­
dem ser vistas muitas variações. Quando as lesões transla- ing. Injury 2003;34(6):426-433.
cionais ocorrerem na região torácica, a radiografia lateral 5. Frankel HL, Rozycki GS, Ochsner MG, et al. Indications
demonstra o deslocamento anterior do corpo vertebral for obtaining surveillance thoracic and lumbar spine radio­
superior. Os corpos vertebrais permanecem essencialmen­ graphs. Trauma 1994;37(4):673-676.
te intactos, mas o processo espinhoso da vértebra supe­ 6. Meldon SW, Moettus LN. Thoracolumbar spine fractures:
rior e os processos articulares do segmento inferior estão Clinical presentation and the effect of altered sensorium
fraturados. Na região lombar, a direção do deslocamento and major injury. Trauma 1995;39(6):1110-1114.
é oposta, com a vértebra superior deslocada em direção 7. Stanislas MJ, Latham JM, Porter KM, et al. High risk group
mais posterior. A luxação é algo mais sutil, com deslo­ for thoracolumbar fractures. Injury 1998;29(1): 15-18.
camento de não mais de um terço da largura do corpo 8. Terregino CA, Ross SE, Lipinski MF, et al. Selective in­
vertebral. A porção inferior do corpo vertebral superior dications for thoracic and lumbar radiography in blunt
pode ser avulsionado e, frequentemente, existe fratura na trauma. Ann Emerg Med 1995;26(2): 126-129.
articulação facetaria ou no pedículo. A TC é útil para dar 9. Chang CH, Holmes JF, Mower WR, et al. Distracting in­
informações mais detalhadas sobre a extensão da lesão juries in patients with vertebral injuries. Emerg Med 2005;
óssea. 28(2): 147-152.
Essas lesões são instáveis. A coluna deve ser manti­ 10. Ballock RT, Mackersie R, Abitbol JJ, et al. Can burst frac­
da imobilizada e uma consulta com um especialista or­ tures be predicted from plain radiographs J Bone Joint
topédico ou neurocirúrgico em coluna vertebral deve ser SurgBr 1992;74(1): 147-150.
obtida. Devido à ocorrência quase universal de lesão da 11. Roos JE, Hilfiker P, Platz A, et al. MDCT in emergency
medula espinal, deve ser tomada uma decisão precoce radiology: Is a standardized chest or abdominal protocol
sobre o uso de esteroides. Para uma discussão adicional sufficient for evaluation of thoracic and lumbar spine trau­
sobre os esteroides na lesão medular traumática aguda, ma AJR Am J Roentgenol 2004;183(4):959-968.
ver o Capítulo 9. 12. Brandt MM, Wahl WL, Yeom K, et al. Computed tomo­
graphic scanning reduces cost and time of complete spine
evaluation. Trauma 2004;56(5): 1022-1026.
LESÕES ESTÁVEIS
13. Denis F. The three column spine and its significance in the
As fraturas dos processos transverso, espinhoso e in- classification of acute thoracolumbar spinal injuries. Spine
terarticular foram classificadas por Denis como lesões (Phila Pa 1976) 1983;8(8):817-831.
secundárias e são estáveis na ausência de déficits neu­ 14. Denis F. Spinal instability as defined by the three-column
rológicos. São fraturas causadas por golpes diretos na spine concept in acute spinal trauma. Clin Orthop Relat
maioria dos casos, embora contrações musculares for­ Res 1984;(189):65-76.
tes possam também constituir uma das causas. Elas são 15. Vollmer DG, Gegg C. Classification and acute management
mais comuns na região lombar. As fraturas do processo of thoracolumbar fractures. Neurosurg Clin NAm 1997;8(4):
transverso representam 14% de todas as lesões da co­ 499-507.
luna TLS, enquanto as outras representam aproximada­ 16. Savitsky E, Votey S. Emergency department approach to
mente 1%. Em pacientes com fratura do processo trans­ acute thoracolumbar spine injury. Emerg Med 1997; 15(1):
verso diagnosticada nas radiografias simples, uma TC 49-60.
deve ser obtida (Fig. 10.9). Em um estudo, 3 entre 28 17. McAfee PC, Yuan HA, Fredrickson BE, et al. The value
pacientes (11%) tinham outra lesão vertebral, que so­ of computed tomography in thoracolumbar fractures.
mente foi visualizada na TC. As complicações neuro­ An analysis of one hundred consecutive cases and a new
lógicas são incomuns. O manejo inclui repouso, alívio classification. Bone Joint SurgAm 1983;65(4):461-473.
da dor e encaminhamento. 18. Mirza SK, Mirza AJ, Chapman JR, et al. Classifications
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PARTE 111
Extremidades Superiores
Capítulo 11
Mão
INTRODUÇÃO
As lesões da mão respondem por até 15% de todos os ca­
sos de trauma vistos no setor de emergência. A sua com­
plexa anatomia, capacidade de executar movimentos finos
e a importância na vida cotidiana toma potencialmente
devastador o não diagnóstico dessas lesões.

Terminologia
A mão tem uma superfície dorsal e uma vo la r e os mes­
mos termos são usados ao discutir os dígitos. Além disso,
cada dígito tem uma borda radial e uma ulnar. A massa
muscular na base do polegar é chamada de eminência te-
n a r e a massa muscular ao longo da borda ulnar da mão é
a eminência hipotenar.
Os movimentos do punho incluem desvios radial e
ulnar; extensão e flexão. Os movimentos do polegar in­
cluem flexão e extensão; abdução, adução e oposição
(Fig. 11.1). Os dígitos são chamados de polegar, indica­
dor, médio, anular e mínimo, respectivamente. O polegar
é o primeiro dígito e o dedo mínimo é o quinto dígito.

História
Quando um paciente se apresenta no setor de emergência
com queixa da mão, o médico deve, em primeiro lugar,
averiguar se existe qualquer história de trauma. A abor­
dagem e o diagnóstico diferencial de mãos traumatizadas
são bastante diferentes dos diagnósticos de mãos não trau­
matizadas. Os pontos importantes na história, ao avaliar as
lesões traumáticas da mão, incluem:
1. O tempo decorrido desde a lesão.
2. O ambiente onde a lesão ocorreu (contaminação).
3. O mecanismo de lesão (esmagamento, laceração, etc.).
Na mão não traumatizada, as perguntas mais impor­
tantes na história são:
1. Quando os sintomas começaram?
2. Qual deficiência funcional tem sido sentida?
3. Quais atividades pioram os sintomas?

Exame
O desenho e a versatilidade da mão humana têm impres­
sionado anatomistas e autores por séculos. Anatomica­
mente, a mão é um grupo de ossos deslizantes e altamen­
te móveis, conectados por tendões e ligamentos a um Figura 11.1 Termos usados para descrever o movimento da
“centro fixo” . mão e dos dedos.
172 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Eponiquio Existem 12 tendões flexores contidos no comparti­


mento volar do antebraço, que flexionam o punho, a mão
e os dígitos, como também fornecem desvio radial e ulnar.
Eles são os tendões do flexor radial do carpo, flexor ulnar
do carpo, palmar, flexor longo do polegar, quatro flexores
superficiais dos dedos (FSD) tendões, e quatro flexores
profundos dos dedos (FPD).
Nove tendões extensores cruzam sobre o aspecto
dorsal do antebraço e do punho. Os tendões extensores
incluem o extensor longo radial do carpo, extensor curto
radial do carpo, extensor ulnar do carpo, abdutor longo
do polegar, extensor longo do polegar, extensor curto do
polegar, extensor comum dos dedos, extensor do dedo mí­
nimo e extensor próprio do indicador. O local mais co­
mum de lesão dos tendões é sobre o dorso da mão, onde
os extensores estão mais superficiais e expostos.
Os intrínsecos, que ficam no corpo da mão, são com­
postos de 20 músculos individuais, responsáveis pelo mo­
vimento motor fino da mão. Os intrínsecos são menos co-
Figura 11.2 Septos fibrosos se estendem do osso até a pele e
mumente feridos do que os tendões extrínsecos flexores e
estabiliza as fraturas da falange distai.
extensores.
Os tendões funcionam melhor quando estão em posi­
Esse centro fixo consiste no segundo e terceiro os­ ção ideal de estiramento. O extensor curto radial do carpo
sos metacarpais. O restante da mão está suspenso a partir é o mais importante dos extensores do punho, agindo ao
desses dois ossos relativamente imóveis. Todos os movi­ estirar os tendões flexores para obter um aperto poderoso.
mentos intrínsecos da mão são relativos e dependentes da Para demonstrar esse ponto, compare a potência de pegar
estabilidade e da imobilidade desses dois ossos. um objeto com o punho em flexão e em aproximadamente
A pele volar da mão e dos dedos é fixada ao osso sub­ 15° de extensão.
jacente por septos fibrosos. Isso ajuda com a empunhadu- Os tendões da mão são bastante móveis e seguros por
ra, limita o movimento e não permite edema significativo. polias que evitam que o tendão se desloque de sua posição
A pele dorsal da mão é mais frouxa e mais fina. Assim, normal. Os tendões flexores também são envolvidos por
permite um espaço bastante extenso para edema por trau­ uma membrana sinovial que age como lubrificante, per­
ma ou infecção. O profissional que trata as lesões da mão mitindo o deslizamento normal do tendão. Os tendões são
deve estar ciente que a drenagem venosa e linfática ocorre quase avasculares no adulto e recebem o seu suprimento
no dorso dela. Qualquer condição que cause inflamação sanguíneo a partir dos músculos, proximalmente, e no lo­
e edema pode levar à congestão linfática e ao edema não cal da inserção distalmente.
compressível sobre o aspecto dorsal da mão.
As pontas dos dedos são definidas como as estrutu­ Tendões flexores
ras distais à inserção dos tendões flexores e extensores
Flexor profundo dos dedos (FPD). Os quatro tendões
na falange distai. Inclui a unha (i.e., placa ungueal), leito
do FPD se inserem no aspecto volar da falange distai dos
ungueal, polpa e falange distai (Fig. 11.2). O complexo da
dígitos respectivos e são testados solicitando ao paciente
unha consiste no eponíquio (cutícula ou teto dorsal), pe-
para flexionar a articulação interfalângica distai (IFD) en­
rioníquio (borda de unha), hiponíquio (onde a unha adere
quanto as articulações proximais são seguras em posição
ao leito ungueal, na ponta da unha) e o leito ungueal ou
estendida pelo médico (Fig. 11.3A).
matriz (sob a placa ungueal). O leito ungueal inclui uma
matriz germinativa e estéril. A matriz germinativa é proxi-
Flexor superficial dos dedos (FSD). Os quatro tendões
mal, terminando na lúnula, responde por aproximadamen­
do FSD são testados segurando todos os outros dedos
te 90% do crescimento da unha. A matriz estéril compõe
na mão completamente estendidos e solicitando ao pa­
a maioria do leito ungueal e ajuda a manter a unha firme­
ciente para flexionar o dedo que está sendo testado. Se
mente anexada ao dedo. O teto dorsal da prega ungueal
a articulação IFD relaxar, então a flexão na articulação
proximal é responsável pelo brilho da unha.
interfalângica proximal (IFP) é independente do FPD
(Fig. 11.3B).
Avaliação de tendões e músculos
Os músculos e tendões da mão são divididos em (1) flexo­ Flexor longo do polegar. Esse tendão se insere no as­
res extrínsecos, (2) extensores extrínsecos e (3) músculos pecto volar da falange distai do polegar. É testado fazendo
intrínsecos. com que o paciente flexione a articulação interfalângica
Emergências Ortopédicas 173

Tendão do flexor //
/ I I
f V.
profundo dos dedos J \

Flexor superficial
dos dedos

Figura 11.3 A. Teste da função do flexor profundo dos dedos


(FPD). B. Teste da função do flexor superficial dos dedos (FSD).
Figura 11.4 O s tendões extensores e os seis comparti mentos
que os incluem no punho. 1 - Abdutor longo do polegar e
(IF), enquanto a articulação metacarpofalângica (MCF) é extensor curto do polegar. 2 - Extensor longo radial do carpo
segurada em posição estendida pelo examinador. e extensor curto radial do carpo. 3 - A djacente a eles está o
tendão do extensor longo do polegar. 4 - 0 extensor comum
Flexor radial do carpo. O flexor radial do carpo se inse­ dos dedos e o extensor do dedo indicador são contidos. 5 - 0
re no aspecto volar do metacarpal do indicador. O tendão extensor do dedo m ínim o é in clu íd o . 6 - Extensor ulnar do
é palpado logo radial à linha média, com o punho flexio­ carpo.
nado contra resistência.

Flexor ulnar do carpo. O flexor ulnar do carpo é pal­ metacarpal do polegar e o extensor curto do polegar na
pado sob tensão quando o punho é flexionado contra base da falange proximal do polegar. Esses tendões po­
resistência e o polegar e dedo mínimo estão em oposi­ dem ser testados pedindo ao paciente para abrir vigoro­
ção. Insere-se no pisiforme e é facilmente palpado neste samente a mão. O abdutor longo do polegar é palpado
ponto. logo distai ao estiloide do rádio. O extensor curto do po­
legar é palpado sob tensão sobre o dorso do metacarpal
Palmar longo. O palmar longo é palpado flexionando do polegar.
o punho contra resistência e opondo os dedos polegar e
mínimo. O tendão fica na linha média, com inserção na Extensor longo e curto radial do carpo. Esses tendões
fáscia palmar. Este tendão é congenitamente ausente em inserem-se na base dorsal do metacarpal do indicador e do
um quinto da população. médio, respectivamente. Eles são avahados pedindo-se ao
paciente para fechar a mão e estender o punho com força
Tendões extensores (Fig. 11.5A). Esses tendões são de importância extrema
Os tendões extensores passam sob o retináculo exten- para a função e força da mão, pois são os extensores pri­
sor no punho e são divididos em seis compartimentos mários do punho.
fibro-ósseos sobre o aspecto dorsal do punho (Fig. 11.4).
Os compartimentos dorsais e o retináculo atuam para es­ Extensor longo do polegar. O extensor longo do polegar
tabilizar os tendões extensores e impedem o seu arquea- passa ao redor do tubérculo de Lister, no aspecto dorsal
mento. O seis compartimentos fibro-ósseos, contendo os do rádio, e insere-se na falange distai do polegar. Forma
nove tendões extensores, são apresentados a seguir. a borda ulnar da tabaqueira anatômica e pode ser facil­
mente visto ao estender o polegar (Fig. 11.5B). Somen­
Abdutor longo do polegar e extensor curto do polegar. te esse tendão pode estender o polegar e hiperestendê-lo
O abdutor longo do polegar insere-se na base dorsal do contra resistência na articulação IF. É testado pedindo-se
174 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Extensor longo

curto radial do carpo

Figura 11.5 Exame do tendão extensor. A. Tendões do extensor longo e curto radial do carpo. B. Extensor longo do polegar, com
a mão sobre a mesa, o polegar se estende no plano desta. C. Extensor comum dos dedos, as articulações M CF devem mantida em
extensão e as articulações IF flexionadas. Comparar a força da extensão na articulação M CF com a mão oposta. D. Extensor do dedo
indicador e extensor do dedo mínimo. Segurar os dedos adjacentes flexionados para elim inar a função dos outros tendões extenso-
res comuns. E. Extensor ulnar do carpo.

ao paciente para hiperestender a falange distai do polegar ao paciente para primeiro fechar o punho, e então estender
contra resistência. o os dedos indicador e mínimo, enquanto os dedos médio
e anular permanecem flexionados (Fig. 11.5D).
E x te n so r co m u m d o s d e d o s e e x te n so r p ró p rio d o in ­
dicador. Esses tendões são testados pedindo-se ao pa­ Esse tendão insere-se na base
E x ten so r ulnar d o ca rp o .
ciente para flexionar as articulações IF em uma garra e dorsal do quinto metacarpal e é avaliado pedindo-se ao
estender ativamente a articulação MCF (Fig. 11.5C). Isso paciente para fazer um desvio ulnar da mão, enquanto o
permite que o examinador visualize o extensor comum examinador palpa o tendão tenso sobre o lado ulnar do
dos dedos. Solicitando-se ao paciente para, primeiro, fe­ punho, logo distai à cabeça da ulna (Fig. 11.5E).
char o punho e depois estender o dedo indicador, enquan­
to os outros dedos permanecem flexionados, é testado o M ú s c u lo s in trín s e c o s
extensor próprio do indicador. Existem três músculos interósseos volares e quatro inte-
rósseos dorsais (Fig. 11.6A e 11.6B). Eles se originam ao
O extensor do dedo mínimo
E x ten so r d o d e d o m ínim o. longo do comprimento dos ossos metacarpais e se inse­
está no compartimento seguinte e pode ser testado ao mes­ rem na falange proximal e na expansão extensora (Fig.
mo tempo em que o extensor próprio do indicador. Pedir 11.6C). Os interósseos dorsais abduzem os dedos e são
Emergências Ortopédicas 175

Figura 11.6 A. Interósseos volares. B.


M úsculos interósseos dorsais. C. O s inte­
rósseos e a sua relação com a expansão
extensora.

Vista dorsal

Expansão
Expansão extensora
extensora

Ligamento
Interósseos colateral
dorsais
Interósseos dorsais
Vista lateral

Vista dorsal

testados com a abertura dos dedos contra resistência (Fig. Os quatro músculos lumbricais permitem a flexão nas
11.7A). Os interósseos volares aduzem os dedos e são articulações MCF, mantendo a extensão nas articulações
testados colocando-se um pedaço de papel entre os dedos IF. Eles têm origem nos tendões do flexor profundo dos
estendidos e solicitando ao paciente para resistir à retirada dedos e inserem-se na banda lateral e expansão central
do papel que está entre os dedos (Fig. 11.7B). dos tendões extensores. Os músculos interósseos também

Figura 11.7 A. Pãra testar os interósseos dorsais, abrir os dedos com força, contra resistência. B. Colocar um pedaço de papel entre
os dedos e pedir ao paciente para resistir à retirada do papel testa os interósseos volares.
176 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

A sensibilidade do n e rv o u ln a r é testada sobre a


ponta do dedo mínimo. Existem vários testes que po­
dem ser usados para avaliar os ramos motores do nervo
ulnar.
1. Pedir ao paciente para abrir os dedos e comparar a
força com o lado normal.
2. Flexão da articulação IFD dos dedos anular e mínimo
contra resistência.
3. Adução do polegar, que é testada fazendo com que o
Figura 11.8 A discrim inação de dois pontos é o indicador
mais sensível de déficit neurológico que envolve os ramos sen­
paciente segure um pedaço de papel entre o polegar e
sitivos dos nervos supridores da mão. o lado da região falângica do dedo indicador. Quando
o adutor do polegar estiver fraco, a articulação IF do
polegar flexiona com essa manobra, sendo chamada
ajudam nessa função (i.e., flexão da articulação MCF; ex­ de um sinal de Froment positivo (Fig. 11.9).
tensão da articulação IF).
4. Fazer com que o paciente coloque a borda ulnar sobre
Os músculos tenares e hipotenares são testados pe­
a mão na mesa de exames e pedir para que tente abdu­
dindo ao paciente para fazer uma pinça forte com a ponta
do polegar e do dedo mínimo. É possível sentir o tônus zir o dedo indicador contra resistência.
desses músculos e compará-lo ao lado normal. A sensibibdade do nervo m ediano é testada avahando
a agulhada e a discriminação de dois pontos sobre o epo-
Avaliação neurológica níquio dos dedos indicador e médio. A força motora é ava-
bada com a abdução de polegar (fazer o paciente levantar
A d iscrim in a çã o de dois p o n to s é o teste mais acurado o polegar em direção ao teto enquanto a mão permanece
para a função sensitiva. É mais adequadamente feito sobre a mesa de exames). Isso testa a função do abdutor
usando um clipe com as duas extremidades separadas em do polegar, que é confiavelmente inervado pelo ramo mo­
aproximadamente 5 mm (Fig. 11.8). Um indivíduo nor­ tor do nervo mediano. Altemativamente, o punho e as arti­
mal pode distinguir os dois pontos entre 2 a 5 mm sepa­ culações IF do polegar e indicador são flexionados contra
radamente nas pontas dos dedos e entre 7 a 10 mm sepa­ resistência. Solicitar ao paciente que una o dedo mínimo e
radamente na base da palma. O dorso da mão é o menos o polegar é um exame comum para testar a função motora
sensível, com um limiar normal de 7 a 12 mm. do nervo mediano, mas pode ser falsamente negativo e,
A avaliação do nervo digita l deve começar pelo exa­ por conseguinte, não deve ser usado.
me de um dedo não lesionado, para estimar a habilidade
normal do paciente. Comece com 1 cm e diminua a dis­
tância até que os dois pontos não sejam mais sentidos.
Avaliação vascular
Teste um nervo digital de cada vez, colocando ambos os O suprimento vascular para a mão é fornecido pelas arté­
pontos do clipe no mesmo lado da ponta do dedo. rias radial e ulnar, que se combinam dentro da mão para
A sensibilidade do nervo radial é avaliada com agu­ formar os arcos palmares superficial e profundo. A inte­
lha e discriminação de dois pontos sobre o dorso do es­ gridade desses vasos pode ser avaliada pelo teste d e A lle n .
paço interdigital do polegar. Os ramos motores do nervo Ele é executado comprimindo as artérias radial e ulnar no
radial são testados pela extensão do punho e da articula­ punho, depois de o paciente ter fechado a mão várias ve­
ção MCF. zes para exsanguiná-la.

Figura 11.9 Um sinal de Froment positivo.


Notar a articulação IF flexionada (seta).
Emergências Ortopédicas 177

A
Artéria radial Artéria ulnar

Figura 11.10 O teste de Allen é feito para averiguar a perviedade das artérias radiais e ulnares. A. Solicitar ao paciente para fechar
várias vezes a mão, enquanto o exam inador comprime as artérias radial e ulnar. O paciente, então, abre a mão e o exam inador libe­
ra a pressão sobre uma das artérias. B. No paciente com um vaso patente, uma vazão eritematosa deve ser notada na mão quando
a pressão é liberada. C. O mesmo é feito com o vaso no lado oposto.

A seguir, a artéria radial é liberada; se o sangue fluir ça remota. As fraturas com pequenos fragmentos ou com
para todos os dígitos, a artéria radial é patente e existe flu­ avulsão podem não ser suspeitadas com base no exame
xo colateral bom no sistema da artéria radial (Fig. 11.10). clínico e ainda assim, se não detectadas, resultar em in­
O mesmo é feito para testar a artéria ulnar. Se ambos os capacidade significativa. No mínimo três incidências
vasos estiverem lesionados, então pelo menos um, habi­ devem ser obtidas quando houver suspeita de fratura da
tualmente o ulnar, deve ser reparado. mão (anteroposterior [AP], lateral e oblíqua) (Fig. 11.11).
As lesões nas estruturas vasculares não afetam a perfu- As lesões metacarpais podem requerer incidências es­
são da mão devido suas extensas anastomoses. Se a inspeção peciais para a visualização radiográfica adequada. Por
inicial revelar palidez ou frio em um dedo ou na mão, pronta exemplo, as fraturas do quarto e quinto metacarpais em
intervenção é necessária. O enchimento capilar e a oximetria geral não são detectadas até que uma incidência lateral
de pulso indicar o fluxo sanguíneo nos dígitos lesionados. com 10° de supinação seja obtida. As lesões do segundo e
terceiro metacarpais são frequentemente detectadas com
uma incidência lateral com 10° de pronação. As lesões
Imagens
dos dedos requerem uma incidência lateral verdadeira,
Todas as lesões significativas da mão, incluindo aquelas sem superposição dos outros dígitos. Não se deve aceitar e
com qualquer grau de edema, devem ser avaliadas com subsequentemente basear um diagnóstico em radiografias
radiografias, mesmo que a probabilidade de fratura pare­ inadequadas da mão.
178 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

A B C

Figura 11.11 Radiografias normais da mão. A. A R B. lateral. C . incidências oblíquas.

FRATURAS DA MÃO
O manejo no setor de emergência das fraturas da mão do o paciente fecha a mão, todos os dedos normalmente
não é complexo, mas requer a compreensão da anatomia apontam para a mesma direção (Fig. 11.12A). As de­
óssea e de tecidos moles para instituir uma terapia com formidades rotacionais das fraturas das falanges médias
base no julgamento médico adequado. Com frequência, ou proximais ou dos metacarpais interrompem a uni­
essas fraturas são impropriamente tratadas como lesões dade, resultando em má posição ou sobreposição (Fig.
menores, sem perceber que podem resultar em incapa­ 11.12B). Outro método para diagnosticar as deformi­
cidade permanente. Por exemplo, um pequeno grau de dades rotacionais, que é mais útil na mão agudamen­
mau alinhamento rotacional com uma fratura de meta­ te ferida, é comparar o plano das unhas em cada mão.
carpal ou falange proximal, se não corrigido, resulta em Na mão normal, o plano da placa ungueal será similar
mão parcialmente incapacitada. Somente com a com­ ao dedo correspondente na outra mão. Com a rotação,
preensão abrangente da anatomia essencial da mão é existirá discrepância entre esses planos (Fig. 11.13). É
possível diagnosticar de forma correta as lesões e iniciar imperativo que o médico da emergência compreenda a
a terapia apropriada. importância da angulação e da rotação no manejo das
fraturas da mão.
Tratamento
A mobilidade é uma consideração essencial no mane­ A xiom a: O mau alinhamento rotacional nunca é aceitável
jo das fraturas. Os ossos com grau alto de mobilidade nas fraturas dos metacarpais ou das falanges. A angulação é
podem resistir a um grau maior de angulação, com re­ aceitável em ossos mais móveis, mas é inaceitável nos ossos
tenção da função normal. Aqueles ossos com menos estacionários (i.e., o segundo e o terceiro metacarpais).
mobilidade (segundo e terceiro metacarpais) requerem
redução muito mais precisa para assegurar o retorno à A forma mais adequada de anestesiar as lesões das
função completa. mãos é com bloqueios nervosos, habitualmente no punho.
Outro conceito importante nas fraturas da mão é a Os bloqueios metacarpais são empregados no manejo das
rotação. Para que a mão funcione suavemente, todas as fraturas das falanges. Ver o Capítulo 2 para a descrição
suas partes devem trabalhar como uma unidade. Quan­ adicional dos bloqueios nervosos regionais da mão.
Emergências Ortopédicas 179

Figura 11.12 A. Na mão normal, os de­


dos apontam para a mesma localização no
punho. B. Com o mau alinham ento rota-
cional de uma fratura, o dedo envolvido
aponta em direção diferente.

Dois princípios gerais precisam ser enfatizados ao (tala) ou os fios de Kirschner percutâneos são empregados
tratar as fraturas da mão. nas fraturas instáveis da mão. Os pacientes com fraturas
expostas devem receber antibióticos. As fraturas limpas
1. Nunca imobilizar um dedo em extensão completa. Os
nas falanges distais, sem ruptura significativa de tecido ou
dedos devem ser imobilizados na posição de função,
lesão por esmagamento, podem ser fechadas no setor de
com 50 a 90° de flexão da articulação MCF, e 15 a 20°
emergência. Todas as outras fraturas expostas da mão re­
de flexão da articulação IF para prevenir rigidez e con­
querem consultoria e antibióticos.
traturas. Se uma redução estável somente for possível
com a completa extensão, a fixação interna é neces­
sária antes da imobilização em flexão. Em flexão, os
ligamentos colaterais estão tensos e ajudam a manter a
redução (Fig. 11.14). O polegar é imobilizado nem em
leve abdução, flexionado e nem estendido (Fig. 11.15).
2. Evitar gessados ou imobilizadores além da prega pal­
mar distai. Se uma imobilização com gesso distai for
necessária, como nas fraturas das falanges proximal e
média, uma tala interna (radial ou ulnar) imobilizan­
do o dedo envolvido junto com o normal adjacente
(Fig. 11.16 e Apêndice A.3) deve ser usada.
Aproximadamente 85% de todas as fraturas da mão
são tratadas de modo conservador, com imobilização,
conforme descrito ao longo do capítulo. A contratração
Flexão

Mau alinhamento rotacional leve

Figura 11.13 Com mau alinhamento rotacional, os planos das


unhas não são paralelos quando se compara a unha do dedo Figura 11.14 O ligamento colateral fica retesado em flexão e
lesionado às unhas normais da mão oposta. frouxo em extensão.
180 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

do rico em proteínas que proporciona estímulo para o de­


senvolvimento de aderências entre os tendões, as bainhas si­
noviais e as articulações. Esta complicação com frequência
leva a fibrose e rigidez. A elevação precoce com compressão
suave é útil para reduzir o edema. Além disso, o movimento
precoce da mão é essencial para esse mesmo objetivo.

FRATURAS DA FALANGE DISTAL


As fraturas da falange distai representam entre 15 e 30%
de todas as fraturas da mão. É importante entender a
anatomia da falange distai ao diagnosticar e tratar essas
Figura 11.15 Posição apropriada para imobilizar a mão. O pole­
gar é imobilizado, levemente abduzido, e não fica nem flexiona­
lesões. Septos fibrosos se estendem a partir do aspecto
do nem estendido. distai da falange distai (i.e., a ponta) até a pele e estabili­
zam as fraturas da falange distai. Hematomas traumáticos
podem se formar entre os septos e elevar a pressão dentro
As complicações mais frequentes das fraturas na mão desse espaço fechado, causando dor intensa.
incluem as deform idades e a rigidez a rticular crônica. Os tendões flexores e extensores se inserem nos as­
As fraturas da mão têm tendência para desenvolver estase pectos volares e dorsais de cada falange distai, respecti­
linfática precoce e edema. O exsudato consiste em um flui- vamente. Do segundo ao quinto dedos, o fle x o r profundo
insere-se no aspecto volar, enquanto a expansão term inal
do tendão exten so r insere-se na superfície dorsal (Fig.
11.17). No polegar, o flexor longo do polegar insere-se na
base volar da falange distai, e o extensor longo do polegar
na base dorsal.
Esses tendões podem ser avulsionados do osso quan­
do sujeitos a estresse excessivo. Clinicamente, há perda
de função, enquanto as fraturas por avulsão radiografica-
mente pequenas ao longo da base da falange são vistas
com frequência. Estas fraturas são consideradas intra-
-articulares.
As fraturas da falange distai são classificadas como
fra tu ra s extra-articulares ou intra-articulares.

Fraturas da falange distai: extra-articulares


As fraturas extra-articulares da falange distai podem ser
longitudinais, transversas, cominutivas ou transversas
com deslocamento (Fig. 11.18). A fratura mais comum é
a cominutiva. Quando essa lesão ocorre no aspecto distai
do osso no qual os septos fibrosos se inserem, é conhecida
como fratura da ponta da falange.
O mecanismo de lesão é um golpe direto na falange
distai. A força do golpe determina a gravidade da fratura.

Tendão

Figura 11.16 A. A tala interna. Uma vez aplicada, a articulação Figura 11.17 O tendão flexor profundo se insere no aspecto
M CF deve ficar em 50 a 90° de flexão. B. Uma alternativa para a volar da falange distai, enquanto a expansão terminal do ten­
tala interna é a tala dorsal, com extensão até as articulações IFP. dão extensor se insere na superfície dorsal.
Emergências Ortopédicas 181

Longitudinal

Cominutiva

Transversa com

A
Figura 11.18 Fraturas extra-articulares das falanges.
Figura 11.20 Fraturas da falange distai. A. Fratura em topete.
B. Fratura da diáfise. C. Fratura intra-articular.
O exame revela sensibilidade dolorosa e edema sobre a
falange distai, incluindo a polpa. Os hematomas de su-
bungueais são frequentemente notados, indicando uma Apêndice A.2) são recomendadas para acomodar qual­
laceração no leito ungueal (Fig. 11.19). As incidências quer edema. Estas fraturas requerem três a quatro sema­
AP e lateral são adequadas para demonstrar a fratura e nas de imobilização. As fraturas cominutivas podem per­
qualquer deslocamento (Fig. 11.20). Os hematomas su- manecer dolorosas por vários meses, ainda.
bungueais com lacerações do leito da unha são lesões as­ As fra tu ra s tra n sversa s d eslo ca d a s precisam ser re­
sociadas vistas com frequência. A avulsão incompleta da duzidas com tração dorsal no fragmento distai, seguida
placa ungueal é em geral associada às fraturas transversas de imobilização com uma tala volar e então repetição
da falange distai. das radiografias para documentação do posicionamen­
to. Pode ser difícil, já que os tecidos moles podem estar
T ra ta m en to interpostos entre os fragmentos. Se a fratura for irredu­
tível e não for tratada, pode resultar em não união dos
As fra tu ra s não deslocadas são tratadas com imobiliza­
fragmentos ósseos; por conseguinte, o encaminhamento
ção protetora, elevação e analgésicos. Tanto a imobiliza­
ortopédico está indicado para a colocação de um fio de
ção volar simples quanto a férula metálica (Fig. 11.21 e
Kirschner.4'
O hematoma subungueal associado, não importando
o tamanho, não requer que a unha seja removida, desde
Hematoma Laceração do que a placa ungueal permaneça intacta. ’ A trepanação,
subungueal leito ungueal
usando eletrocautério ou uma agulha nQ18, é recomenda­
da para o conforto do paciente (Fig. 11.22).

Figura 11.19 Representação esquemática da laceração do lei­


to ungueal que causa hematoma subungueal.
182 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

3. Com a unha removida, a laceração do leito ungueal


é explorada e abundantemente irrigada com soro fi­
siológico. O leito ungueal pode então ser elevado e a
fratura reduzida.
4. O leito ungueal é suturado usando um número míni­
mo de suturas interrompidas absorvíveis 5-0. A su­
tura do leito ungueal ajuda dar suporte à redução da
fratura, pois o leito está aderido ao aspecto dorsal da
falange distai.
5. Uma gaze não aderente (p. ex., Xeroform™) ou uma
unha recentemente removida do paciente deve ser co­
locada de volta na prega ungueal (sob a matriz do teto
dorsal, separando-a do leito ungueal) e fixada com
dois pontos simples em cada lado. Separar o leito
do teto evita o desenvolvimento de aderências (siné-
Figura 11.22 A drenagem de um hematoma subungueal. quias) que podem resultar no recrescimento de uma
unha deformada.
As fraturas expostas da falange distai estão associadas 6. O dedo é coberto com gaze e imobilizado para pro­
à ruptura e laceração da placa ungueal. Diferentemente das teção. O curativo externo pode ser mudado confor­
outras fraturas expostas, essas lesões podem ser tratadas no me necessário, mas o material que separa o leito
setor de emergência usando essas diretrizes (Fig. 11.23): ungueal da matriz do teto deve permanecer por 10
1. Anestesia regional com um bloqueio digital, seguida dias.
pela preparação estéril da mão. 7. Os antibióticos são prescritos por 7 a 10 dias.
2. Usando uma tesoura fina, a placa ungueal é separada 8. Repetir as radiografias para documentação da redu­
do leito ungueal, cuidando para não ocasionar dano ção. Se a fratura permanecer instável, um fio pode ser
adicional ao leito ungueal e à matriz do teto dorsal. inserido pelo ortopedista.

f II
_3

Leito ungueal

r V

Figura 11.23 A. Fratura da falange distai com ruptura da unha. B. A unha é removida com uma tesoura. C. A leito ungueal é repa­
rado com fio absorvível. D. A prega eponiquial (i.e., a matriz do teto dorsal) é identificada e a unha é colocada de volta na prega.
E. Uma gaze não aderente deve ser colocada sobre o leito ungueal.
Emergências Ortopédicas 183

(< 25% da superfície articular)

(> 25% da superfície articular)

Figura 11.24 Fraturas de avulsão intra-articular da falange dis­


tai - superfície dorsal.

Fraturas da falange distai: intra-articulares,


superfície dorsal (dedo em malho)
Essas fraturas são classificadas com base no grau de en­
volvimento da superfície articular e na presença de deslo­
camento (Fig. 11.24).
O dedo em m alho é um termo comumente usado para
essas lesões. O mecanismo é devido à flexão forçada da Figura 11.25 Três modos de romper o tendão extensor. A. Um
falange distai, com o dedo em extensão firme. A fratura estiramento do tendão sem a sua divisão. B. Quando o tendão é
é comumente vista em jogadores basquetebol, beisebol e rompido de sua inserção na falange distai, há uma deformidade
de flexão de 40°, e o paciente não pode estender ativamente o
so ftb a ll quando a bola acidentalmente bate na ponta do
tendão na articulação IFD. C. Um fragmento da falange distai
dedo, causando a flexão forçada. Quando isso ocorre, o
pode ser avulsionado com o tendão.
tendão pode estirar, resultando em perda de 15 a 20° de
extensão; o tendão pode romper, resultando em uma perda
de até 45° de extensão (dedo em malho de tecidos moles);
ou, ainda, o tendão pode sofrer avulsão de um fragmento
ósseo da falange distai, resultando em perda de até 45° de
extensão (dedo em malho ósseo) (Fig. 11.25).
Ao exame, há edema e sensibilidade dolorosa sobre
o aspecto dorsal da articulação e perda da extensão ativa
na articulação IFD (Fig. 11.26A). Uma incidência lateral
verdadeira é essencial nas fraturas por avulsão para deter­
minar se o fragmento está deslocado e se acima de 25%
da superfície articular está envolvida (Fig. 11.26B). Essas
fraturas podem estar associadas a lesões da placa ungueal.

T ra ta m e n to
O manejo é dependente de três variáveis: confiabilidade
do paciente, tamanho do fragmento avulsionado e grau de
deslocamento.

N ã o deslocada. No paciente confiável, o tratamento é


conservador, com tala volar ou dorsal. A tala dorsal forne­
ce melhor fixação, já que há menos tecidos moles entre a
ela e a fratura (Fig. 11.27). B

A articulação IFD é estendida, com flexão permitida Figura 11.26 A. Deform idade em flexão de um "dedo em
na articulação IFP. O dedo deve ser mantido nessa posi­ martelo". B. A radiografia revela uma grande avulsão óssea com
ção por seis a oito semanas. A flexão da IFD em qualquer subluxação da articulação.
184 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Figura 11.29 Fratura de avulsão distai intra-articular - super­


fície volar.

Figura 11.27 Tala dorsal sobre a articulação IFD.


do tendão depois de sua ruptura, estará presente. A in­
cidência lateral é a mais adequada para demonstrar essa
ponto durante esse período pode resultar em deformidade fratura. As lesões associadas são raramente vistas com
crônica em flexão. Para forçar esse ponto, o paciente é essa fratura.
instruído a manter a ponta do dedo em extensão contra o
topo de uma mesa ao mudar a tala. Depois de seis a oito
A xio m a: Os pacientes com edema traumático e sensibili­
semanas, a tala pode ser removida durante o dia, com o
dade dolorosa sobre o aspecto volar da falange d ista icom
paciente orientado a não fazer a flexão do dedo por quatro dor palmar adicionaltêm uma ruptura do tendão do flexor
semanas adicionais. profundo , até prova em contrário.

D e slo ca d a s e s u p e rio r a 2 5 % da su p e rfíc ie articular.


Tratamento
Essa fratura está em geral associada a algum grau de su-
bluxação da articulação IFD. O manejo envolve a imo­ O manejo no setor de emergência consiste em colocar
bilização com tala dorsal e encaminhamento ortopédico uma tala volar de dedo (Apêndice A.2) e encaminhamen­
(ver Fig. 11.27). Há controvérsia quanto aos benefícios da to ortopédico para fixação cirúrgica precoce.
imobilização continuada versus a intervenção cirúrgica;
entretanto, a redução fechada e a fixação interna com fios FRATURAS DA FALANGE MÉDIA
de Kirschner é habitualmente necessária.8
Se a fratura for tratada de modo inadequado, uma As fraturas das falanges médias e proximais têm muitas
deformidade de hiperextensão da IFP (pescoço de cisne) semelhanças em anatomia, mecanismos de lesão e trata­
pode resultar a partir do desequilíbrio entre o tendão ex- mento. As fraturas da falange média são menos comuns
tensor rompido e a inserção distai sem oposição do tendão do que as fraturas da falange proximal. Existe incidência
flexor (Fig. 11.28). mais alta de fraturas da falange proximal e luxações da
articulação IFP do que de fraturas da falange média, pois
a maioria da força axial aplicada é absorvida pela falange
Fraturas da falange distai: intra-articulares,
proximal. As fraturas da falange média, em sua maioria,
superfície volar
ocorrem na diáfise estreita.
O tendão do flexor profundo insere-se na base da fa­ A inserção do tendão extensor é limitada à porção
lange distai. As lesões de avulsão devido à tensão nesse dorsal proximal da falange média. O tendão do flexor
tendão são classificadas como fraturas intra-articulares superficial é dividido e se insere de maneira ampla ao
(Fig. 11.29). longo das margens laterais de quase toda a superfície
Esta é uma lesão incomum, resultante da hiperexten­ volar do osso, exercendo, com predom inância uma
são forçada, enquanto o tendão do flexor profundo é fir­ força deformante nas fraturas da falange média (Fig.
memente contraído. O paciente será incapaz de flexionar 11.30). Como resultado, uma fratura na base da falange
a falange distai. A sensibilidade dolorosa sobre o aspecto média muitas vezes resulta em deslocamento volar do
volar da falange distai ou da palma, secundária à retração segmento distai, enquanto uma da diáfise distai costu-

Figura 1 1 .2 8 Se uma fratura em m artelo é


tratada de forma inadequada, ocorre uma de­
form idade de hiperextensão na articulação IFP.
Ela é secundária a um desequilíbrio entre o ten­
dão extensor rompido e o tendão flexor distai
sem oposição.
Emergências Ortopédicas 185

Expansão O mau alinhamento rotacional deve ser descoberto e


precocemente corrigido (Fig. 11.31). Conforme previa­
mente mencionado, há suspeita de deformidade rotacional
quando todos os dedos com a mão fechada não apontarem
para o mesmo ponto no punho ou se variar o plano das
placas ungueais. As deformidades rotacionais podem ser
detectadas radiograficamente comparando o diâmetro dos
fragmentos das falanges. A assimetria sugere alguma de­
formidade rotacional (Fig. 11.32).
Existem três métodos de tratar as fraturas da fa­
lange média: imobilização dinâmica, talas internas e
Figura 11.30 O s tendões que se inserem na falange média. fixação interna. O método selecionado é dependente do
tipo de fratura, da sua estabilidade e da experiência do
médico.
ma se apresentar com deslocamento volar do segmento Imobilização dinâmica: Isso envolve a imobihzação
proximal. do ferido ao adjacente ileso, permitindo o uso máximo da
Um ponto anatômico final a considerar é a placa volar mão com a mobihzação precoce para prevenir a rigidez.
cartilaginosa na base da falange média. As fraturas intra- Esse método de tratamento somente está indicado em fra­
-articulares podem ser complicadas por uma lesão dessa turas não deslocadas e estáveis, que estejam impactadas
placa. ou transversas (Apêndice A.2).

Figura 11.31 Paciente com fratura da falange proxi­


mal angulada e rodada (A) ao exam e clín ico e ( B ) na
radiografia. C. A redução deve corrigir o mau alin h a­
c mento antes da im obilização.
186 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Não deslocada transversa

Deslocada ou angulada

Figura 11.32 Com o mau alinhamento rotacional, existe assi­


metria dos diâmetros da diáfise no local da fratura.

Talas internas: As talas internas radiais e ulnares


são usadas nas fraturas estáveis sem rotação ou angula-
ção (Apêndice A.3). A tala interna oferece mais imobili­
zação que a imobilização dinâmica. As talas internas ra­
diais são usadas para as fraturas do segundo e do terceiro
dedos, enquanto as talas internas ulnares são aplicadas
nas fraturas do quarto e quinto dedos. O procedimento
para aplicar essas talas é abordado no Capítulo 1 e no
Apêndice A.3.
Fixação interna: A fixação interna, em geral com
fios de Kirschner, é necessária para as fraturas instáveis
ou com avulsão intra-articular nas quais a redução precisa Figura 11.33 Fraturas da falange média - extra-articulares.
seja necessária.

Fraturas da falange média: extra-articulares Tratamento


O aspecto dessas fraturas é dependente da tração dos ten­ Transversa n ã o d eslocada. Essas fraturas são tratadas
dões flexores e extensores (Fig. 11.33). O mecanismo com imobilização dinâmica ou tala interna (Apêndices
flexor exerce a força predominante e tende a deslocar o A.2 e A.3) por 10 a 14 dias, seguidos de radiografias repe­
maior dos fragmentos da fratura em direção volar. tidas para assegurar a consolidação apropriada.
Um golpe direto na falange média é o mecanismo
mais encontrado para as fraturas. O trauma indireto, como Transversa d eslo ca d a o u angulada. Essas fraturas são
a torção ao longo do eixo longitudinal, pode resultar em instáveis e podem permanecer assim até depois da redu­
fratura espiral da falange média, embora a luxação da ar­ ção. O manejo no setor de emergência inclui a imobiliza­
ticulação IFP seja mais comum. Ao exame, dor e edema ção com uma tala interna (Apêndice A.3), gelo, elevação
estarão localizados sobre a área da fratura. O reconheci­ e encaminhamento ortopédico. Se a consulta ortopédica
mento clínico e radiográfico das deformidades rotacionais não estiver disponível, o médico da emergência pode ten­
deve ser observado. As incidências AP, laterais e oblíquas tar reduzir essas fraturas. O método de redução inclui a
são essenciais para identificar as linhas de fratura, a angu- tração longitudinal suave junto com flexão e manipula­
lação e as deformidades rotacionais. As lesões associadas ção do fragmento distai. Se a fratura mostrar-se instável
incluem lesões digitais neurovasculares ou ruptura do ten­ com a leve extensão, a fixação interna será necessária. Se
dão (aguda ou tardia). a fratura reduzida for estável, usar uma tala interna para
Emergências Ortopédicas 187

Condiliana não Condiliana Basilar


deslocada deslocada cominutiva

Figura 11.34 Fraturas da falange média - intra-articulares.

imobilizar por quatro a seis semanas (Apêndice A.3). As


radiografias pós-redução para documentar a posição são
recomendadas, seguidas do encaminhamento para um or­
topedista. Figura 11.35 Uma fratura intra-articular com inutiva da falan­
ge média.
Espiral ou oblíqua. O manejo de emergência dessas fra­
turas consiste na imobilização em uma tala interna (Apên­
Basilar cominutiva. O manejo de emergência inclui a
dice A.3), gelo, elevação e encaminhamento ortopédico.
imobilização com uma tala interna (Apêndice A.3), gelo,
Se houver mau alinhamento rotacional, o encaminhamen­
elevação e encaminhamento para imobilização por tração.
to de emergência é indicado para a correção precoce, evi­
tando a má-união.
Fraturas da falange média: avulsão
Fraturas da falange média: intra-articulares Estas fraturas são o resultado da avulsão pela (1) expan­
são central do tendão extensor, (2) placa volar (fratura de
Estas fraturas podem ser divididas em três tipos: (1) fra­
Wilson) e (3) ligamentos colaterais (Fig. 11.36).
turas condilianas não deslocadas, (2) fraturas condilia-
nas deslocadas e (3) fraturas basilares cominutivas (Fig.
11.34). As fraturas intra-articulares por avulsão serão abor­
dadas separadamente, porque não compartilham nenhum
princípio terapêutico comum com os três tipos precedentes.
Dois mecanismos resultam em fraturas intra-articula­ Fratura de avulsão da superfície extensora
res da falange média. Raramente um trauma direto acarre­
ta essas fraturas. O mecanismo mais comum é uma força
longitudinal transmitida a partir da falange distai. Ao exa­
me, um edema fusiforme e a sensibilidade dolorosa estão
presentes sobre a articulação envolvida. As incidências Fratura de Wilson
AP, laterais e oblíquas são adequadas para demonstrar es­
sas fraturas (Fig. 11.35). As complicações mais frequen­
tes incluem a rigidez articular ou degeneração artrítica,
que podem ocorrer apesar da terapia ideal.

Tratamento Fratura de avulsão do


ligamento colateral
Condiliana não deslocada. A imobilização dinâmica
(Apêndice A.2) com exercícios de movimentação precoce
é o modo recomendado de terapia.

Condiliana deslocada. O manejo de emergência inclui


a imobilização em uma tala interna (Apêndice A.3), gelo,
elevação e encaminhamento para pinagem cirúrgica. Figura 11.36 Fratura de avulsão da falange média.
188 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

por conseguinte, o encaminhamento urgente é indicado. As


avulsões do tendão sem fraturas podem ser tratadas imobi­
lizando a articulação IFP em extensão completa por cinco
a seis semanas. A articulação IFD não deve ser imobilizada
e deve ser submetida a exercícios de amplitude de movi­
mento ativos e passivos durante o período de imobilização.

Fratura de avulsão da placa volar (fratura de Wilson). Se


o fragmento for menor 30% da superfície articular, o tra­
tamento fechado é recomendado. A articulação IFP é imo­
bilizada em 45 a 50° de flexão por quatro semanas depois
que qualquer luxação ou subluxação tenha sido reduzida.
Esse manejo é controverso, já que alguns cirurgiões da
mão elegem a fixação interna em todas essas fraturas, para
reparar a placa volar. A abordagem conservadora para as
fraturas nas quais não houver nenhuma subluxação da arti­
culação também tem sido empregada. O encaminhamento
ortopédico precoce é aconselhado.

Fratura de avulsão do ligamento colateral. A maioria


dos cirurgiões recomenda a fixação cirúrgica. A consulta
precoce é fortemente recomendada, de forma que o pro­
Figura 11.37 Fratura de W ilson.
grama terapêutico apropriado possa ser selecionado.

A avulsão da expansão central do tendão extensor FRATURAS DA FALANGE PROXIMAL


é causada pela flexão forçada com o dedo em extensão.
Pode ocorrer a ruptura completa da expansão central do Não existe nenhum tendão que tenha inserção na falange
tendão extensor sem avulsão óssea. Se não tratadas, es­ proximal. Entretanto, os tendões que ficam na proximidade
sas lesões resultam em uma deformidade em botoeira. podem complicar o manejo da fratura. As fraturas da falange
A hiperextensão na articulação IFP resulta em fraturas proximal tendem a apresentar angulação volar secundária à
tração dos músculos interósseos e dos tendões extensores.
com avulsão da placa volar (Fig. 11.37). A subluxação ou
luxação da articulação IFP está muitas vezes associada. Como nas fraturas da falange média, é essencial reco­
Os estresses mediais ou laterais extremos do dígito na ar­ nhecer e tratar as deformidades rotacionais. Existem três
ticulação IP proximal resultam em avulsão de osso causa­ métodos de tratar as fraturas da falange proximal: imobi­
lização dinâmica, talas internas e fixação interna. As téc­
da pelos ligamentos colaterais.
nicas são similares àquelas descritas para tratar as fraturas
As fraturas de avulsão são difíceis de diagnosticar
clinicamente sem radiografias. Inicialmente, existe um da falange média.
ponto de sensibilidade dolorosa sem edema ou deformi­
dade na articulação IFP Mais tarde, há edema fusiforme Fraturas da falange proximal: extra-articulares
e sensibilidade dolorosa na articulação IFP O diagnóstico Dois mecanismos de lesão costumam estar associados às
precoce pode ser feito anestesiando o dedo e examinan­ fraturas extra-articulares da falange proximal. Um golpe
do a amplitude de movimento e a estabilidade articular. direto na falange proximal pode resultar em fratura trans­
As fraturas de avulsão dorsal impedem a extensão com­ versa ou cominutiva (Fig. 11.38). Um golpe indireto que
pleta, enquanto a frouxidão IFP acompanha as lesões do resulta em torque aplicado ao longo do eixo longitudinal
ligamento colateral. A instabilidade articular lateral está do dedo com frequência causa uma fratura espiral. Ao
presente após avulsão óssea do ligamento colateral. exame, a dor e o edema estão localizados sobre o local
da fratura. A compressão longitudinal do dedo resulta em
Tratamento dor no local. As deformidades rotacionais são comumen-
As fraturas de avulsão devem ser imobilizadas por um te associadas com as fraturas da falange proximal. O re­
breve período de tempo, para reduzir a incidência de rigi­ conhecimento clínico da rotação do dedo é essencial, já
dez articular. Exames radiográficos repetidos estão indi­ que qualquer deformidade rotacional é inaceitável. São
cados para garantir o posicionamento apropriado durante obtidas as incidências AP, oblíqua e lateral verdadeira
a consolidação, e encaminhamento precoce é necessário. dos dígitos (Fig. 11.39). Há suspeitas de deformidades
rotacionais quando há uma discrepância no diâmetro dos
Fratura de avulsão do tendão extensor. As fraturas de fragmentos das falanges. As lesões associadas incluem
avulsão da superfície dorsal requerem a fixação interna; contusão ou transecção do nervo digital. A ruptura aguda
Emergências Ortopédicas 189

Não deslocada

verde

Deslocada/angulada

I
Figura 11.39 Fraturas extra-articulares das falanges proximais
do quarto e quinto dedos.

Transversa da Transversa da Transversa


tação com imobilização resulta, na maioria dos casos, em
diáfise média diáfise média do colo restauração completa da função.1 As deformidades rota-
cionais podem estar ocultas, a menos que realçadas por
um dos seguintes três testes:
Espiral
1. Teste de convergência em direção ao escafoide
2. Comparação dos planos do dedo e da unha
3. Medida do diâmetro radiográfico dos fragmentos de
fratura

Transversa n ã o deslocada. As fraturas não deslocadas


da diáfise da falange proximal incluem aquelas em galho
verde, as transversas e as cominutivas. A fratura em galho
verde é estável, sem tendência para deslocamento ou angu­
lação, pois o periósteo ficou intacto. Essa fratura deve ser
tratada com imobilização dinâmica seguida de exercícios
de movimentação precoce (Apêndice A.2). Um exame ra­
Figura 11.38 Fraturas da falange proximal - extra-articulares.
diográfico deve ser repetido em 7 a 10 dias para excluir
deslocamento ou rotação tardios. As fraturas não desloca­
do tendão é infrequente. Se ocorrer uma ruptura parcial das cominutivas ou transversas podem ser instáveis, se o
do tendão, o movimento limitado retardado pode surgir periósteo não estiver intacto. Estas fraturas são tratadas por
devido às aderências. Essa complicação é comum após um de dois métodos, dependendo da estabilidade.
fraturas deslocadas e espirais e resulta em perda de mo­ 1. Uma tala interna (Apêndice A.3) é a nossa recomen­
vimento, o que pode exigir intervenção cirúrgica. dação. Em 10 a 14 dias, uma nova radiografia é obtida
e, se os fragmentos estiverem corretamente posicio­
Tratamento nados, uma tala dinâmica é usada.
Existe a tendência de subestimar a potencial incapacida­ 2. Uma tala dinâmica (Apêndice A.2) com exercícios
de encontrada nas fraturas da falange proximal. O exame de movimentação precoces e com uma radiografia em
físico completo seguido da correção da angulação e da ro­ cinco a sete dias para garantir a posição apropriada.
190 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Transversa deslocada ou angulada. As fraturas extra- Não deslocada


-articulares deslocadas da falange proximal que são co-
mumente encontradas incluem as transversas desloca­
das e anguladas da diáfise ou do colo. Essas fraturas são
instáveis, às vezes até depois da redução. O seu manejo
de emergência inclui a imobilização em uma tala inter­
na (Apêndice A.3), gelo, elevação e encaminhamento ao
ortopedista. Se o encaminhamento ortopédico não estiver
disponível, o médico da emergência pode reduzir essas
fraturas. O método de redução é o seguinte:
1. Anestesia usando um bloqueio no punho ou metacarpal.
2. A articulação MCF é flexionada em 90° para retesar
os ligamentos colaterais e reduzir a força de desloca­
mento dos músculos intrínsecos. Enquanto a articu­
lação MCF é flexionada, uma tração longitudinal é
aplicada para ganhar comprimento.
3. A tração é continuada enquanto a IFP é flexionada
até 90°. A fratura é reduzida nessa posição. Se houver
perda de redução com leve extensão da IFP, a fratura Não deslocada
é instável e requer fixação interna. Se não for possível
reduzir usando esse método, a interposição de tecidos
deve ser suspeitada.
4. Se a redução mostrar-se estável, um gessado curto até a Deslocada ou cominutiva
prega palmar (com extensão dorsal até a IFP) ou tala in­
terna com a MCF em flexão é aplicada. Mais flexão da
MCF pode ser necessária para alcançar o alinhamento
quase anatômico. São recomendadas radiografias pós-
-redução para verificar o posicionamento.
5. Encaminhar para acompanhamento ortopédico.

Espiral ou oblíqua. O manejo de emergência das fratu­


ras espirais consiste em imobilização com uma tala inter­
na (Apêndice A.3), gelo, elevação e encaminhamento or­
topédico. Em muitos casos, a fixação interna é necessária.

Fraturas da falange proximal: intra-articulares


Essas fraturas intra-articulares podem ser divididas em
dois tipos: (1) fraturas não deslocadas que envolvem me­
nos de 20% da superfície articular e (2) fraturas cominu-
tivas, deslocadas ou não deslocadas envolvendo mais de
20% da superfície articular (Fig. 11.40). As fraturas pe­
quenas e não deslocadas são incomuns e devem ser tra­ Condiliana Marginalmente Cominutiva
tadas de forma fechada, enquanto as fraturas deslocadas, deslocada
cominutivas, ou grandes são mais comuns e requerem fi­
Figura 11.40 Fraturas da falange proximal - intra-articulares.
xação cirúrgica.
O mecanismo mais frequente é a avulsão secundária
à tração do ligamento colateral. A transmissão indireta de Tratamento
uma força longitudinal, contudo, pode resultar em fratura Pequena (< 20% da superfície articular) e não deslocada.
condiliana. Ao exame, um edema fusiforme e a sensibili­ As fraturas de avulsão intra-articular da base da falange
dade dolorosa estão presentes sobre a articulação envolvi­ proximal do segundo até o quinto dedos podem ser trata­
da. A instabilidade articular sugere a avulsão do ligamento das de modo conservador se o fragmento estiver estável e
colateral. As incidências AP, laterais e oblíquas são adequa­ envolver menos de 20% da superfície articular. Recomen­
das para demonstrar essas fraturas (Fig. 11.41). As fraturas da-se a imobilização dinâmica com exercícios de movi­
de avulsão podem resultar em desinserção do ligamento mentação ativa, junto com o encaminhamento inicial para
colateral, com subsequente instabilidade articular. monitoração (Apêndice A .2).10’11’17
Emergências Ortopédicas 191

Figura 11.42 U m a fratura m etacarpal que não é co rreta­


mente reduzida desenvolve uma hiperextensão com pensató­
ria da M C F e flexão articu lar da IFP, co n h ecid a com o pseu-
dogarra.

requerem redução mais precisa, pois a angulação residual


inibe a função normal.
Além disso, o grau de angulação aceitável é mais
amplo nas fraturas mais distais. Em outras palavras,
quanto mais proximal a fratura, maior é a extensão de
deformidade na porção distai do metacarpal. Por exem­
plo, uma deformidade volar de 30° do quinto metacar­
pal pode ser aceitável se ocorrer no colo. Se ocorrer no
Figura 11.41 Uma fratura intra-articular com inutiva da base nível da diáfise média, contudo, a mesma deformidade
da falange proxim al. volar de 30° seria inaceitável, pois criaria hiperextensão
anormal na articulação MCF e flexão da articulação IFP
(Fig. 11.42).
G rande (> 2 0 % da su p e rfíc ie articular), deslocada, o u
co m in u tiva . O manejo de emergência inclui a imobili­
zação em uma tala interna (Apêndice A.3), gelo, elevação Fraturas da cabeça metacarpal
e encaminhamento para pinagem ou redução aberta e fi­ Essas são fraturas incomuns, com muitas complicações
xação interna. incapacitantes, mesmo com a terapia ideal. Elas ocor­
rem distalmente à inserção dos ligamentos colaterais
FRATURAS METACARPAIS (SEGUNDO (Fig. 11.43). O mecanismo mais comum é um golpe
AO QUINTO) direto ou um esmagamento que, em geral, resulta em
uma fratura cominutiva. Ao exame, um edema e uma
As fraturas metacarpais representam até um terço de todas sensibilidade dolorosa estão presentes sobre a articula­
as fraturas da mão. Essas fraturas são divididas em dois ção MCF envolvida. Com a compressão axial do dedo
grupos: do primeiro metacarpal e do segundo ao quinto estendido, a dor aumenta e é localizada sobre a articu­
metacarpais. Essa distinção é baseada no fato que a fun­ lação MCF.
ção mecânica do primeiro metacarpal é distinta dos meta­
carpais restantes.
As fraturas do segundo ao quinto metacarpais são
descritas com base em um de quatro segmentos: cabeça
(o segmento mais distai), colo, diáfise e base.
Os ligamentos intermetacarpais conectam firmemen­
te as cabeças dos metacarpais, enquanto nas bases existe
grande quantidade de variação na mobilidade. O quarto
e o quinto metacarpais têm de 15 até 25° de movimento
AP. O segundo e o terceiro metacarpais não têm nenhum
movimento em sua base, representando o centro fix o da
mão, de onde os ossos restantes são suspensos. O “grau
mobilidade” normal é fundamental ao reduzir as fraturas
metacarpais. As fraturas anguladas do quarto e do quin­
to metacarpais não requerem redução precisa, pois a sua
mobilidade normal permite a compensação. As fraturas Figura 11.43 Fraturas dos metacarpais - cabeça (do segundo
anguladas do segundo e do terceiro metacarpais, contudo, ao quinto).
192 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Fraturas do colo

Não deslocada Deslocada ou angulada

Figura 11.45 Fraturas dos metacarpais - colo (do segundo ao


quinto).

os exercícios de movimentação. Um estudo recente de­


monstrou que as fraturas de avulsão não deslocadas que
Figura 11.44 Radiografia de uma fratura da cabeça do quinto envolviam menos que 25% da largura da articulação
metacarpal. podem ser tratadas com movimento ativo inicial e sem
fixação por fio. Muitas dessas fraturas requerem artro-
plastia, mais tarde.
As incidências AP e lateral são adequadas para de­
As fraturas associadas com lacerações adjacentes de­
monstrar essa fratura (Fig. 11.44). Às vezes, as incidên­
vem ser consideradas expostas, recomenda-se a consulto­
cias oblíquas podem ser necessárias para visualizar ade­
ria ortopédica de emergência, com exploração cirúrgica,
quadamente os fragmentos da fratura. Uma incidência
irrigação e reparo.
lateral pronada de 10° é útil para avaliar as fraturas me-
tacarpais dos dedos indicador e médio. Uma incidência
lateral supinada de 10° é útil para avaliar as fraturas me- Fraturas do colo metacarpal
tacarpais dos dedos anular e mínimo. As avulsões do li­ As fraturas do colo metacarpal são chamadas de f r a t u ­
gamento colateral frequentemente podem ser visualizadas ras do b o x e a d o r quando afetarem o quarto e/ou o quinto
com a incidência de Brewerton, obtida com as articula­ metacarpais. As fraturas do boxeador são comuns, res­
ções MCF flexionadas em 65°, com a superfície dorsal na pondendo por 5% de todas as fraturas das extremidades
placa e o feixe de raios angulado em 15° radialmente.18As superiores e por 20% das fraturas da mão. As fraturas
lesões associadas com as fraturas da cabeça metacarpal do colo são quase sempre instáveis e têm algum grau
incluem (1) dano do tendão extensor, (2) esmagamento do de angulação volar (Fig. 11.45). Mesmo depois da re­
músculo interósseo, resultando em fibrose e (3) avulsão dução, é comum a perda do alinhamento normal em di­
do ligamento colateral. As complicações incluem mau ali­ reção volar.
nhamento rotacional, artrite crônica, lesão ou fibrose no A definição de redução bem-sucedida é dependen­
tendão extensor. te da mobilidade anatômica do metacarpal envolvido.
No quinto metacarpal, onde a excursão normal é de 15 a
Tratamento 25°, até 40° de angulação são aceitáveis, sem limitação da
O manejo de emergência inclui elevação, gelo, analgési­ função normal. No quarto metacarpal, até 30° de angula­
cos e imobilização da mão em um curativo volumoso e ção são aceitáveis. Isso não se aphca às fraturas do se­
macio (Apêndice A.5). Uma tala interna pode ser usada gundo e do terceiro metacarpais, onde as reduções anatô­
como alternativa. micas mais precisas (não mais do que 10°) são essenciais
Todas as fraturas da cabeça metacarpal requerem para a restauração da função normal.
encaminhamento. As fraturas da cabeça metacarpal com As forças de impactação direta, como o soco, fre­
grandes defeitos intra-articulares geralmente requerem quentemente resultam em fraturas do colo. Ao exame, a
fixação intraoperatória para estabelecer uma relação ar­ sensibihdade dolorosa e o edema estão presentes sobre as
ticular próxima do normal. Para os pequenos fragmentos articulações metacarpais envolvidas. As deformidades ro-
intra-articulares, a maioria dos especiahstas imobihza a tacionais podem acompanhar essas fraturas e devem ser
mão apenas por pouco tempo para, então, começarem diagnosticadas e precocemente corrigidas.
Emergências Ortopédicas 193

A B

Figura 11.46 Fratura do colo do quinto metacarpal com angulação volar (fratura do boxeador).

As incidências AP, lateral e oblíqua são adequadas Fraturas do colo metacarpal: quarto e quinto dedos
para definir a fratura e determinar a quantidade de angu­ N ão deslocada/ não angulada. O manejo inclui gelo, ele­
lação e deslocamento (Fig. 11.46). Uma incidência lateral vação e imobilização com uma tala volar até a prega palmar
pronada de 10° é útil para avaliar as fraturas metacarpais e uma tala dorsal que se estende até a IFP, mas não a inclui.
dos dedos indicador e médio. Já uma incidência lateral su- Isso deve ser feito com o punho estendido de 15 a 30° e as
pinada de 10° é útil para avaliar as fraturas metacarpais articulações MCF flexionadas em 90°. Geralmente é reco­
dos dedos anular e mínimo. mendado começar a movimentação IFP e IFD sem demora.
As lesões associadas não são comumente vistas com O movimento protegido da MCF pode começar em três a
essas fraturas. Em alguns casos, a fratura está acompanha­ quatro semanas. Alguma evidência apoia a mobilização ime­
da de lesões nos nervos digitais. As complicações a longo diata das fraturas únicas do colo metacarpal do segundo ao
prazo das fraturas do colo metacarpal incluem a lesão do quinto com gessado funcional (permitindo a amplitude de
ligamento colateral devido ao mau alinhamento da fratura, movimento livre do punho e dos dedos). Essa abordagem
lesões do tendão extensor e rotacional, proeminência ós­ pode ser considerada depois de uma consulta ortopédica.
sea dorsal que compromete a função extensora, formação
de pseudogarra ou dor com a empunhadura devido a uma A ngulada. Esta é uma área de alguma controvérsia. Em
cabeça com angulação volar. geral, a fratura de colo metacarpal do quinto com angu­
lação superior a 40° e as fraturas do colo metacarpal do
Tratamento
quarto com angulação superior a 30° devem ser reduzidas.
As deformidades rotacionais devem ser diagnosticadas Algumas evidências sugerem que a angulação de até 70°
e precocemente tratadas. As fraturas associadas com la­ resulta em consolidação adequada, embora o número de
cerações adjacentes devem ser consideradas expostas, pacientes tratados seja pequeno. Essas fraturas podem ser
recomenda-se a consulta ortopédica de emergência, com reduzidas na maioria dos casos com os seguintes passos:
exploração cirúrgica, irrigação e reparo.1
As fraturas do colo metacarpal são divididas em dois 1. Um bloqueio de punho é usado para alcançar a anes­
grupos de tratamento: aquelas que envolvem o quarto e tesia adequada.
o quinto e aquelas que envolvem o segundo e o terceiro 2. São colocadas fitas nos dedos envolvidos, por 10 a 15
metacarpais. minutos, para desimpactar a fratura.
194 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Transversa simples Transversa deslocada

t
Figura 11.47 O método de redução 90/90 de uma fratura do
metacarpal. A falange proximal é usada para empurrar a fratura
metacarpal para uma boa posição.

3. Depois da desimpactação, as articulações MCF e IFP


são flexionadas até 90° (Fig. 11.47).
4. O médico aplica uma força em direção volar sobre a Oblíqua ou espiral Cominutiva
diáfise metacarpal, ao mesmo tempo em que aplica uma
Figura 11.48 Fraturas dos metacarpais - diáfise (do segundo
pressão dorsalmente dirigida sobre a articulação IFP ao quinto).
flexionada. A redução é completada com essa manobra.
5. Imobilize com uma tala volar até a prega palmar e
uma tala dorsal que se estende, sem incluir, a IFP, Precaução: O deslocam ento é difícil de corrigir se d etec­
com o punho estendido em 30° e as articulações MCF tado após um a sem ana. E stas fra tu ra s requerem exam es
flexionadas em 90°. Altemativamente, uma tala ulnar de acom panham ento radiográficos em quatro a cinco dias
pode ser aplicada. após a lesão p a ra excluir um deslocam ento tardio.
6. Uma radiografia pós-redução é recomendada para
assegurar a manutenção da posição apropriada. A ra­ Deslocada ou angulada acima de 10°. O manejo de
diografia deve ser repetida em uma semana para asse­ emergência das fraturas deslocadas ou anguladas com
gurar a estabilidade da redução. mais de 10° do colo do segundo ou terceiro metacarpais
inclui gelo, elevação e imobilização com uma tala volar
Estas fraturas requerem um acompanhamento atento, ou radial e encaminhamento (Apêndice A.3). A redução
porque têm a tendência para desenvolver angulação volar precisa dessas fraturas é imperativa e com frequência só
apesar da imobilização. Se a redução for instável, a fixa­ pode ser mantida com pinagem.
ção com fio será necessária e o encaminhamento precoce
está indicado.
Fraturas da diáfise metacarpal
Fraturas do colo metacarpal: Existem quatro tipos de fraturas da diáfise metacarpal:
segundo e terceiro dedos transversa não deslocada, transversa deslocada, oblíqua
Não deslocada/ ou não angulada. A terapia recomenda­ ou espiral e cominutiva (Fig. 11.48). O profissional deve
da para as fraturas não deslocadas e não anguladas do colo estar ciente que um menor grau de angulação é aceitável
do segundo e terceiro metacarpais inclui gelo, elevação e para as fraturas da diáfise metacarpal em comparação com
imobilização com tala radial (Apêndice A.3), estendendo- as do colo. Cada uma delas será separadamente discutida
-se do cotovelo distai até logo proximal à articulação IFP na seção sobre “Tratamento”.
O punho deve estar em 20° de extensão e a articulação Existem dois mecanismos que acarretam fraturas
metacarpal deve estar em 50 a 60° de flexão. É aconselhá­ da diáfise metacarpal. Um golpe direto na mão pode re­
vel o acompanhamento atento para detectar angulação ou sultar em fraturas cominutivas, transversas ou oblíqua
mau alinhamento rotacional. curtas com angulação dorsal secundária à tração dos
Emergências Ortopédicas 195

músculos interósseos. Um golpe indireto, resultando em com o movimento e, na maioria dos casos, o paciente é
uma força rotacional aplicada ao dedo, frequentemente incapaz de fechar a mão. As fraturas da diáfise metacarpal
causa uma fratura espiral da diáfise. A angulação é inco- estão muitas vezes associadas a mau alinhamento rotacio­
mum nas fraturas espirais, já que o ligamento metacar­ nal. As deformidades rotacionais podem ser clinicamente
pal transverso profundo tem tendência a encurtar e rodar detectadas com base no teste da convergência usando o
essas fraturas. plano da placa ungueal ou observando o diâmetro radio-
Ao exame, a sensibilidade dolorosa e o edema estão gráfico dos fragmentos da fratura. As deformidades rota­
presentes sobre o aspecto dorsal da mão. A dor aumenta cionais devem ser excluídas precocemente no manejo des-

Figura 11.49 Radiografias AP, lateral e oblíqua de


uma fratura da diáfise do quinto metacarpal com des­
locamento dorsal e cerca de 30° de angulação volar.
196 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

sas fraturas. Por exemplo, apenas 5o de rotação da diáfise Fraturas da base


metacarpal podem resultar em 1,5 cm de movimento da Transversa Cominutiva Avulsão
ponta do dedo a partir da sua posição normal.
As incidências AP, laterais e oblíquas são necessárias
para a visualização precisa da fratura (Fig. 11.49). A inci­
dência lateral pronada de 10° é útil para avaliar as fraturas
metacarpais dos dedos indicador e médio. A incidência
lateral supinada de 10° é útil para avaliar as fraturas meta­
carpais dos dedos anular e mínimo. Quanto mais proximal
a fratura na diáfise, maior é a tendência para a angulação
dorsal. O mau alinhamento rotacional é suspeitado quan­
do houver discrepância no diâmetro da diáfise ou encurta­
mento metacarpal.
As comphcações a longo prazo associadas a essas fra­
Figura 11.50 Fraturas dos metacarpais - base (do segundo ao
turas incluem a má-rotação, a proeminência óssea dorsal quinto).
com comprometimento da função extensora ou empunha-
dura dolorosa devido à angulação volar do fragmento ós­
seo distai. ou tala interna, e encaminhamento para redução e pina-
gem (Apêndice A.5).
T ra ta m en to
Cominutiva. O manejo de emergência das fraturas comi-
A angulação dentro da diáfise metacarpal não é aceitá­
nutivas da diáfise metacarpal inclui gelo, elevação e imo­
vel nos metacarpais do indicador e do médio, enquanto
bilização em um curativo compressivo volumoso ou tala
é aceitável até 10° para o metacarpal do anular e 20° no
2 18 volar, com encaminhamento precoce (Apêndice A.5).
metacarpal do mínimo. ’

Fraturas transversas não deslocadas. As fraturas trans­ Fraturas da base metacarpal


versas não deslocadas são tratadas com uma tala do an­ As fraturas da base metacarpal são em geral lesões está­
tebraço proximal até a ponta do dedo (Apêndice A.3). veis (Fig. 11.50). O mau ahnhamento rotacional da base
O punho é estendido em 30°, com a articulação MCF em será magnificado na sua apresentação, na ponta do dedo.
90° de flexão e a IFP e a IFD em extensão. O encami­ As fraturas da base metacarpal resultam de dois mecanis­
nhamento inicial e os exames radiográficos repetidos são mos. Um golpe direto na base do metacarpal pode resultar
recomendados. em fratura. De forma indireta, a torção digital é um meca­
nismo de fratura incomum. Ao exame, sensibihdade do­
Fraturas transversas deslocadas. As fraturas transver­ lorosa e edema estão presentes na base dos metacarpais.
sas deslocadas ou anguladas requerem elevação, gelo, A dor é exacerbada com flexão ou extensão do punho, ou
imobilização, consulta para redução e acompanhamento. com a compressão longitudinal.
A redução de emergência, quando a consulta não estiver As incidências AP e lateral são adequadas para definir
disponível, pode ser reahzada pelo seguinte método: essas fraturas (Fig. 11.51A). As fraturas intra-articulares
da base muitas vezes requerem TC para avahar comple­
1. Um bloqueio de punho é usado para obter a anestesia
tamente a relação carpometacarpal. Sempre excluir uma
adequada.
fratura do osso do carpo quando uma de base metacarpal
2. Os fragmentos da fratura são manipulados para a for detectada.
posição usando uma força volar sobre o fragmento Uma fratura única ocorre na base do quinto meta­
dorsalmente angulado, enquanto a tração é mantida. carpal, quando o extensor do dedo mínimo sofre avulsão
As deformidades rotacionais também devem ser cor­ de um fragmento que é mantido no lugar pelo ligamen­
rigidas nesse momento. to intermetacarpal. Frequentemente é criado um degrau
3. Deve ser aplicada uma tala dorsal e volar bem mol­ intra-articular. Por causa da semelhança dessas lesões, a
dada, incluindo toda a diáfise metacarpal, mas não as fratura com subluxação é chamada de fratura de Bennett
articulações MCF. O punho é estendido em 30°. invertida. Se for cominutiva, é chamada de fratura de
4. O paciente é encaminhado para acompanhamento e Rolando invertida. Há edema e sensibihdade dolorosa
para exames radiográficos frequentes, incluindo o na quinta articulação carpometacarpal. As radiografias
controle pós-redução, para assegurar o posicionamen­ de rotina são diagnósticas (Fig. 11.51B).
to adequado. As fraturas na base do quarto e quinto metacarpais
podem causar lesão no ramo motor do nervo ulnar, re­
Oblíqua ou espiral. Estas fraturas requerem gelo, eleva­ sultando em parahsia dos músculos intrínsecos da mão,
ção, imobilização em um curativo compressivo volumoso com a exceção dos músculos hipotenares. A lesão neural
Emergências Ortopédicas 197

A B

Figura 11.51 A. Fratura da base do segundo metacarpal. B. Fratura de Bennett invertida.

está com frequência associada às lesões de esmagamento. Fraturas do primeiro metacarpal:


O dano neural pode não estar de imediato aparente, secun­ extra-articu lares
dário ao edema e dor. As fraturas da base metacarpal tam­
bém podem estar associadas à lesão de tendão e rigidez As fraturas extra-articulares do primeiro metacarpal são
articular crônica carpometacarpal. mais comuns que as fraturas intra-articulares. Existem três
tipos de fraturas extra-articulares: transversas, oblíquas e,
Tratamento em crianças, fraturas da placa epifisária (Fig. 11.52).
O manejo de emergência das fraturas da base metacarpal
inclui gelo, elevação e imobilização em curativo compres­ Fratura transversa da base
sivo volumoso e encaminhamento (Apêndice A.5). Mui­
tos ortopedistas preferem uma tala volar no manejo dessas
fraturas. A artroplastia pode ser necessária se uma fratura
intra-articular for percebida.
As fraturas invertidas de Bennett e Rolando devem
ser tratadas com tala ulnar (Apêndice A.3). Se um degrau
intra-articular estiver presente, o tratamento definitivo é a
pinagem.
Fratura transversa Fratura da placa
FRATURAS DO PRIMEIRO METACARPAL da diáfise epifisária (em crianças)

O primeiro metacarpal é biomecanicamente distinto dos


metacarpais restantes por seu grau alto de mobilidade.
Por esta razão, as fraturas do primeiro metacarpal são in-
comuns e as deformidades de angulação podem ser acei­
tas sem prejuízo funcional.
As fraturas do primeiro metacarpal são classificadas
em três tipos: extra-articulares, intra-articulares e fraturas
dos ossos sesamoides do polegar. Figura 11.52 Fraturas do primeiro metacarpal - extra-articulares.
198 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

As fraturas do primeiro metacarpal são quase sempre o Fraturas do primeiro metacarpal:


resultado de um golpe direto ou uma impactação. O torque intra-articular da base
longitudinal ou as forças angulares distais resultam em luxa­
ção metacarpal em vez de fratura. O torque longitudinal as­ Existem dois tipos de fraturas intra-articulares da base do
sociado a um golpe direto com frequência resulta em fratura primeiro metacarpal (Fig. 11.53). O primeiro tipo, uma
oblíqua. Ao exame, dor e sensibilidade estão presentes sobre fra tu ra de B ennett, é uma fratura com subluxação ou lu­
o local da fratura. Essas aumentam com a movimentação. xação da articulação metacarpal. O outro tipo de fratura
As incidências AP e lateral são adequadas para defi­ intra-articular da base do primeiro metacarpal é fra tu ra
nir as fraturas da diáfise. As fraturas intra-articulares ou de R olando, que é cominutiva em T ou Y envolvendo a
as de placa epifisária muitas vezes requerem incidências superfície articular.
oblíquas para definir com precisão as linhas de fratura e o O mecanismo mais comum é uma força axial dirigida
deslocamento. contra um metacarpal parcialmente flexionado, como ao
atingir um objeto rígido com o punho fechado. As prin­
Tratamento cipais forças indiretas de deformação são fornecidas pelo
abdutor longo do polegar que, junto com os extensores
Em razão da mobilidade normal do primeiro metacarpal,
extrínsecos, resulta em subluxação lateral e proximal da
até 30° de deformidade angular podem ser aceitos sem de­
diáfise metacarpal. O ligamento oblíquo anterior (ori­
ficiência funcional subsequente. O médico da emergência
gem no trapézio) e o ligamento ulnar profundo (origem
deve imobilizar a extremidade com uma tala para polegar
na ulna) se inserem na base do primeiro metacarpal e em
(Apêndice A.7), sendo a terapia definitiva uma luva gessada
geral mantém o fragmento proximal no lugar.
que inclua o polegar (Apêndice A.6) por quatro semanas.
As incidências de rotina do polegar são adequadas para
As fraturas acima de 30° de angulação requerem re­
definir os fragmentos da fratura (Fig. 11.54). As fraturas
dução manipulatória fechada, depois da anestesia regio­
intra-articulares da base com frequência requerem uma TC
nal, seguida de radiografias pós-redução. As fraturas oblí­
para avaliar de forma completa a relação carpometacarpal.
quas podem ser instáveis e complicadas por deformidades
A complicação mais comum é o desenvolvimento
rotacionais, requerendo pinagem percutânea. As lesões da
da artrite traumática. Na fratura de Bennett, ela pode ser
placa epifisária exigem encaminhamento para manejo e
secundária à redução inadequada, enquanto na fratura de
acompanhamento definitivo.
Rolando ela pode ocorrer apesar do manejo ideal.

Fraturas intra-articulares da base Tratamento


Fratura-luxação de Bennett Fratura-luxação d e B en n ett. O manejo de emergência
dessas fraturas inclui gelo, elevação, imobilização em uma
tala de polegar (Apêndice A.7) e consulta de emergência ou
encaminhamento ao ortopedista. Em alguns casos, depois
da redução, um gessado muito cuidadosamente moldado
seguido pela confirmação radiográfica de posicionamento
anatômico serão eleitos para o manejo definitivo. O polegar
deve estar abduzido e a articulação MCF não deve ser hipe-
restendida. A redução deve ser estável para que a fratura seja
tratada de forma conservadora. A cirurgia é indicada quando
mais de 25% da superfície articular estiver envolvida e a fra­
tura apresentar mais de 1-2 mm de deslocamento. Na maio­
ria dos casos não pode ser mantida ou alcançada uma redu­
ção satisfatória, e a pinagem percutânea é recomendada.

Fratura d e R olando. O manejo de emergência dessa fra­


tura inclui gelo, elevação, imobilização em uma tala de
polegar (Apêndice A.7) e encaminhamento. Essa fratura
tem um prognóstico ruim, que é primariamente dependen­
te do grau de cominução. O seu manejo definitivo consiste
na redução aberta e na fixação interna ou externa, depen­
dendo do tamanho dos fragmentos ósseos.

Fratura do sesamoide do primeiro metacarpal


O polegar tem três sesamoides, dois na articulação MCF,
Figura 11.53 Fraturas do primeiro metacarpal - intra-articulares. e um terceiro na articulação IF em 60 a 80% dos polegares
Emergências Ortopédicas 199

A B

Figura 11.54 A. Fratura de Bennett. B. Fratura de Rolando.

(Fig. 11.55)21 O sesamoide ulnar está assentado sobre o A fratura do osso sesamoide ocorre após uma hiperex-
côndilo ulnar do primeiro metacarpal distai. O sesamoide tensão da MCF. Ao exame, existe sensibilidade dolorosa e
radial se assenta sobre o estreito côndilo radial da primei­ edema na superfície volar da articulação MCF. Os ligamen­
ra cabeça metacarpal. Os sesamoides do polegar estão em­ tos colaterais devem ser testados para avaliar a sua integrida­
butidos na placa fibrosa da articulação MCE Os ligamen­ de. As lesões da placa volar, evidenciadas pela instabilidade
tos colaterais acessórios têm inserção nas margens laterais em hiperextensão ou por uma articulação de MCF hiperex-
dos sesamoides da MCF. O tendão do adutor do polegar tendida e bloqueada devem ser avaliadas e documentadas.
se insere no sesamoide ulnar e o flexor curto do polegar se As incidências de rotina da mão podem demonstrar a
insere no sesamoide radial. fratura. A incidência lateral é mais sensível do que a incidên­
cia AP, que raramente toma visível uma fratura do sesamoi­
de. Se houver dúvidas, as incidências oblíquas radial e ulnar
do polegar, junto com as vistas de comparação, podem ser
úteis. Um osso sesamoide bipartido é um achado raro (0,6%)
e deve ser distinguido de uma fratura por suas bordas lisas.
A deformidade em hiperextensão da articulação MCF
do polegar pode complicar as lesões instáveis da placa vo­
lar. Se uma artrite pós-traumática crônica se desenvolver, o
tratamento consiste na excisão cirúrgica do osso sesamoide.

Tratamento
As fraturas fechadas dos sesamoides, sem instabilidade em
hiperextensão, podem ser tratadas com uma tala de polegar
(Apêndice A.7) com a articulação MCF do polegar em 30°
de flexão por duas a três semanas. A consulta para reparo
cirúrgico é recomendada quando uma fratura do sesamoide
causar bloqueio da articulação MCF em hiperextensão ou
Figura 11.55 Fratura do sesamoide do polegar. estiver associada com instabilidade clínica articular MCF.
200 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

LESÃO DE TECIDOS MOLES E LUXAÇÕES DA MÃO


A seguinte discussão está dividida em condições traumá­ As fe rid a s contundentes são lesões muito graves de­
ticas e não traumáticas da mão. Os distúrbios traumáticos vido à penetração forçada de objetos estranhos. O fecha­
incluem ferimentos em tecidos moles, lesões dos tendões, mento precoce pode selar tanto um tecido necrótico como
lesões dos nervos, lesões vasculares e lesões nos ligamen­ um material estranho. O primeiro passo no tratamento é
tos e articulações. Os distúrbios não traumáticos consis­ avaliar a função dos nervos e tendões com documentação
tem em condições inflamatórias não infecciosas, lesões cuidadosa e debridamento local. A mão deve ser reavalia­
constritivas ou compressivas e infecções da mão. da em 36 a 72 horas depois da lesão para o debridamen­
to final e o fechamento da ferida. Por existir um período
LESÕES TRAUMÁTICAS DA MÃO oculto antes do aparecimento clínico da força concussiva
do impacto sobre a circulação, tal procedimento deve ser
Tipo de ferimento realizado em sala de cirurgia.
As lesões por esmagamento, as amputações e as lesões
É importante obter uma história completa para determinar por injeção de alta pressão são abordadas mais adiante.
como a lesão ocorreu. O tipo de ferida muitas vezes causa
impacto nas decisões de manejo. As fe r id a s incisas são
aquelas causadas por um objeto pontiagudo como faca ou Controle do sangramento
vidro. Embora em geral sejam feridas limpas, que podem Para avaliar uma ferida, deve-se ter o controle do sangra­
ser fechadas primariamente, elas podem estar contamina­ mento. Isso é possível aplicando, sob pressão, um curati­
das em determinadas ocupações, como na manipulação de vo estéril. Quando não for possível, contudo, o controle
peixes. proximal é mais adequadamente alcançado com o uso de
As fe rid a s perfurantes devem ser avaliadas e tratadas um torniquete pneumático (Fig. 11.56A). Se um deles não
com cuidado. Pressupõe-se que corpos estranhos estejam estiver disponível, um manguito de pressão sanguínea co­
presentes e o risco de infecção é considerado alto, espe­ locado na posição normal acima do braço pode ser usado,
cialmente quando a punção for secundária a uma morde­ mas ele pode esvaziar-se durante o procedimento. Antes
dura humana ou animal. Ver as seções específicas neste de colocar o torniquete, a avaliação preliminar da função
capítulo sobre “Lesões por mordeduras humanas em bri­ dos nervos e dos tendões é executada. Um acolchoamento
gas” e “Mordeduras animais” para detalhes adicionais. com algodão laminado é colocado sob o manguito, e o
braço é elevado para melhorar a drenagem venosa do
membro, depois do qual o manguito é rapidamente infla­
do para 250 a 300 mmHg ou 100 mmHg acima da pressão
sistólica. Isso permite um bom controle do sangramento

A B

Figura 11.56 A. Torniquete pneumático usado para cessar hemorragia em um paciente com amputação de mão. B. Torniquete
digital usando uma luva de látex e pinça hemostática.
Emergências Ortopédicas 201

por 20 a 30 minutos, tempo suficiente para limpar a ferida


e ligar os vasos sangrantes.
Se um único dedo estiver ferido e a hemostasia for
necessária para reparar a lesão, uma luva estéril pode ser
usada cortando um “dígito” de látex e enrolando-o em
tomo da base do dedo do paciente. O látex é firmemente
fixado usando pinça hemostática (Fig. 11.56B). Para am­
bos os procedimentos, deve ser limitada a quantidade de
tempo de aplicação do torniquete.
A anestesia local com adrenalina injetada na mão e
nos dedos também diminui o sangramento. O uso de adre­
nalina tem sido considerado um tabu desde os anos 1950.
Estudos recentes, usando as concentrações típicas incluí­
das com os anestésicos locais comercialmente disponíveis
(1:100.000), não evidenciaram um único caso de isquemia
digital, apesar das milhares de vezes que foi usada. Com
Figura 11.57 Laceração da mão com um corpo estranho
base nesses dados, a adrenalina, na concentração adequa­ m etálico.
da, é segura para usar nos dedos.

Corpos estranhos
Contaminação e fechamento da ferida
Vidro, metal e madeira são os materiais estranhos mais
O cuidado inicial da ferida inclui a avaliação cuidadosa
comuns vistos em feridas da mão (Fig. 11.57). Embora
da extensão da lesão, seguida pela irrigação por pressão.
alguns corpos estranhos sejam inertes e causem pou­
O exame das funções de nervos e tendões deve ser execu­
ca reação, outros ocasionam problemas significativos.
tado, somando-se à inspeção direta para o envolvimento
Ao exame, podem estar presentes uma pequena lacera­
de tendão ou articular. A pele circundante é limpa com
ção ou uma ferida com objeto pontiagudo e hemorragia
solução antibacteriana, como o iodo povidona (povidi-
local. O corpo estranho está, habitualmente, localizado
ne). O debridamento judicioso e a remoção do material dentro da área de sensibilidade dolorosa máxima. Todas
estranho e de qualquer tecido inviável devem ocorrer, as feridas, em especial a das mãos, devem ser considera­
quando indicado. A percepção, pelo paciente, da sensa­ das como tendo corpos estranhos presentes até prova em
ção de corpo estranho em um dedo ou a mão sugere que contrário.
ele ainda está presente, mesmo se não for visualizado nas A investigação começa com uma radiografia simples.
radiografias.22 A fluoroscopia pode ter algum benefício para a localiza­
O fechamento ou não da ferida é então decidido com ção do corpo estranho e a sua remoção. Ultrassonografia,
base nos fatores do paciente (p. ex., idade, diabetes), no tomografia computadorizada (TC) e ressonância magnéti­
tempo decorrido da lesão, no mecanismo da lesão e no ca nuclear (RMN) são técnicas mais avançadas para iden­
grau de contaminação. Uma ferida limpa pode ser con­ tificação. O leitor é encaminhado ao Capítulo 5 para uma
vertida em uma contaminada por cuidados ruins dentro abordagem completa.
do setor de emergência e uma ferida contaminada pode O vidro é radiopaco na maioria dos casos, mas isso
ser convertida em limpa por debridamento cuidadoso e depende da presença de chumbo nos fragmentos. Pedaços
irrigação. A natureza do agente lesivo também deve ser pequenos de vidro podem não requerer remoção, enquan­
considerada; as feridas com faca ou vidro são, geralmente, to os maiores tendem a migrar e ficar sintomáticos, con­
limpas, enquanto as secundárias a mordidas de animais forme a reação fibrosa os envolve. As partículas metálicas
não o são. As lesões por esmagamento têm tecido macera­ podem permanecer inertes e, se as sintomáticas, não exi­
do e apresentam risco mais alto de infecção. gem remoção. Os fragmentos metálicos sintomáticos po­
As feridas limpas têm pouca contaminação e podem dem ser deixados até que uma cápsula se forme ao redor
ser fechadas depois da irrigação com soro fisiológico. deles, o que facilita a remoção.
As feridas contaminadas são limpas abundantemente, de- A madeira e o plástico são radioluzentes. A ultras-
bridadas, sendo preferido retardar o fechamento se houver sonografia e a TC podem demonstrar essas substâncias.
qualquer dúvida sobre contaminação continuada. O inter­ O plástico é, talvez, a substância mais difícil de detectar,
valo entre a lesão e o tempo de tratamento é averiguado, frequentemente requerendo RMN. A madeira pode ser
pois um retardo na busca de cuidados é um fator de risco inerte, mas é muitas vezes revestida com tinturas tóxi­
para a infecção na ferida. cas ou com óleos ou resinas que induzem uma resposta
Os antibióticos profiláticos não são recomendados em inflamatória.
feridas simples de tecidos moles das mãos. A taxa de in­ Se o médico da emergência for incapaz de remover o
fecção não é diferente com ou sem o seu uso. corpo estranho, a mão ferida deve ser imobilizada e o pa-
202 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

A B C

Figura 11.58 A. Laceração do leito unguéal. B. O fio absorvível 5-0 é usado para aproxim ar as bordas da ferida. C. Se a placa
ungueal estiver indisponível, uma camada única de gaze não aderente é usada para manter o eponíquio separado do leito ungueal.

ciente encaminhado. Com frequência, a espera de vários lógico (Fig. 11.58A). O leito ungueal é então sutura­
dias para explorar a área pode se provar benéfica, já que do usando um número mínimo de suturas interrompi­
os fragmentos pequenos podem encapsular e migrar aos das absorvíveis 5-0 (Fig. 11.58B).
poucos para a superfície.
4. Uma gaze não aderente (p. ex., Xeroform™) ou a
unha recentemente removida do paciente é colocada
Hematoma subungueal e lesões do leito ungueal de volta na prega ungueal para separar a matriz do
A ponta do dedo é definida como a área distai às inser­ teto dorsal do leito ungueal (Fig. 11.58C). O mate­
ções dos tendões flexores e extensores na falange distai. rial é suturado com dois pontos simples em cada lado
As lesões da ponta do dedo são classificadas aqui como para assegurar que não se desaloje. Separar o leito
hematoma subungueal, lesões do leito ungueal e amputa­ do teto previne o desenvolvimento de aderências (si-
ções da ponta do dedo. néquias) que podem resultar no crescimento de uma
A fim de avaliar a ponta do dedo após a lesão, a gaze unha deformada.
aplicada pelo paciente ou na triagem deve primeiro ser re­ 5. Todo o dedo deve ser coberto com gaze e imobiliza­
movida. Quando a ponta de um dedo ou o leito ungueal do para proteção. O curativo externo pode ser muda­
estiver aderido à gaze, essa pode ser removida facilmente do conforme necessário, mas o material que separa o
imergindo a ponta do dedo em uma solução de lidocaína a
1% por 20 minutos.28
Um hematoma subungueal associado, não importan­
do o tamanho, não requer que a unha seja removida, desde
ó7
que a placa ungueal permaneça intacta. A trepanação,
usando eletrocautério ou uma agulha ne 18, é recomenda­
da para o conforto do paciente (ver Fig. 11.22).
Se a placa ungueal estiver lacerada ou avulsionada, a
unha é removida e quaisquer lacerações no leito ungueal
são reparadas (Fig. 11.58). Se uma fratura da falange dis­
tai estiver associada com ruptura ou laceração da placa
ungueal, ela é considerada uma fratura exposta, mas pode
ser tratada no setor de emergência.
A técnica para reparar as lacerações do leito ungueal
inclui:
1. Anestesia regional usando bloqueio digital. A mão é
então preparada e recebe campos estéreis.
2. Usando um par de tesouras finas, a unha é dissecada
do leito ungueal.
3. Com a unha removida, a laceração do leito ungueal é
explorada e abundantemente irrigada com soro fisio- Figura 11.59 Lesão da ponta do dedo.
Emergências Ortopédicas 203

leito ungueal da matriz do teto deve permanecer por


10 dias.
6. Os antibióticos profiláticos são recomendados quan­
do houver fratura da falange distai associada ou con­
taminação significativa da ferida.

Amputação da ponta do dedo


As amputações da ponta do dedo são classificadas com
base na presença ou não de osso exposto. Uma amputação
sem osso exposto pode ser deixada cicatrizar por segunda
intenção (Fig. 11.59). O manejo no setor de emergência
consiste em limpar a ferida e aplicar um curativo não ade­
rente (p. ex., Xeroform™ ou vaselina). Quando a falange
distai está exposta, o tratamento é mais complexo e pode
requerer uma pinça saca-bocado para aparar o osso. O te­
cido mole é então suturado de forma que o osso não fique
mais exposto, um curativo não aderente é colocado, e a fe­
rida é deixada cicatrizar por segunda intenção. A consulta
com um cirurgião especializado é recomendada se o mé­
dico da emergência estiver desconfortável com o procedi­
mento. Os antibióticos profiláticos somente são indicados Figura 11.60 Lesão por injeção de alta pressão na mão, causa­
nas feridas grosseiramente contaminadas. A reinserção da por uma pistola de pintura. Observar a pequena ferida de en­
não microcirúrgica de uma ponta distai limpa e amputada trada (seta). Este paciente precisou de debridamento operatório.
via cortante pode ser empregada como um “curativo bio­
lógico”, mas o paciente deve ser informado de que a ponta
incluem pistolas de pintura, pistolas de graxa, injetores de
provavelmente não será viável. Em crianças, o tratamento
concreto, injetores de plástico e bicos injetores de diesel.40
é similar, exceto que a reinserção não microcirúrgica tem
A mão não dominante é mais frequentemente afetada se
um sucesso maior do que em adultos.“
o paciente tenta limpar o bico do injetor enquanto ainda
Outros tratamentos potenciais incluem enxertos de
está operando.
pele, reimplante e retalhos. O reimplante é uma opção
Inicialmente, o paciente pode ter sintomas mínimos,
cara, requerendo um cirurgião qualificado em técnicas
e a ferida na pele é pequena (Fig. 11.60). O médico da
micro vasculares. Quando bem-sucedido, entretanto, a
emergência, sem história adequada, pode considerar a le­
sensibilidade, o comprimento, a estética e a ADM são pre­
são como trivial, apesar do fato de a lesão tecidual signifi­
servadas, a incidência de dor crônica é baixa. As taxas de
cativa ficar abaixo da superfície. Com o passar do tempo, a
sucesso variam de 70 até 90%, crianças evoluem especial­
extremidade fica edemaciada, pálida e se desenvolve uma
mente bem. Se a amputação for proximal à lúnula, este é
dor excruciante. A sensibilidade dolorosa intensa à palpa­
o único procedimento que preserva a unha. Pelo fato de
ção ou a dor com movimento passivo são observadas.
a ponta amputada não possuir músculos, o período de is-
As lesões por injeção podem causar perda extensa de
quemia que permite o reimplante bem-sucedido é prolon-
29 tecidos, terem alta taxa de infecção e índice elevado de
gado (8 horas, morna; 30 horas, fria).
amputação. Os fatores que aumentam o risco de amputa­
Todavia, o tratamento conservador (i.e., a cicatriza-
ção incluem o tipo de material, a quantidade injetada e a
ção por segunda intenção) isolado produz bons resultados
pressão da injeção. As tintas com base em óleo parecem
na maioria dos casos. Os especialistas que apoiam essa
ser particularmente prejudiciais. As injeções com água
abordagem citam as propriedades regenerativas naturais
sob pressão podem ser observadas no hospital. Pressões
da ponta do dedo, a simplicidade, o menor custo, a pre­
superiores a 483 bar têm sido associadas com taxas de
servação do comprimento, a melhor estética, a incidência
amputação de 100%. O tempo para o tratamento tam­
baixa de neuromas e de rigidez dolorosa e o bom retorno
bém é significativo, com alguns profissionais sugerindo
da sensibilidade. As desvantagens incluem a incidência
que os pacientes tratados menos de 10 horas após a lesão
mais alta de deformidades na unha e a necessidade de tro­
evoluem melhor do que aqueles com tratamento tardio.
cas frequentes do curativo.
Uma radiografia da extremidade deve ser executada,
uma vez que ajuda a determinar o espalhamento do mate­
Lesões por injeção de alta pressão
rial, a extensão da exploração cirúrgica e o debridamen-
Essas lesões são emergências cirúrgicas e ocorrem em in­ to necessário. A graxa aparece como uma lucência. O
divíduos que trabalham com máquinas que pulverizam lí­ tratamento no setor de emergência consiste em adminis­
quidos em alta pressão. Os exemplos de tais instrumentos trar um antibiótico profilático de amplo espectro e, caso
204 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

necessário, imunização para tétano. As lesões de injeção c


de alta pressão por água podem ser tratadas de modo con-
43
servador, sem debridamento cirúrgico em muitos casos.
As injeções de alta pressão com solventes orgânicos, con­
tudo, são uma fonte importante de irritação tecidual.
Nem todas as lesões resultam em injeção significativa de
material estranho. Se não houver sensibilidade dolorosa
no local de injeção ou em tomo dele várias horas depois
da lesão, então uma injeção significativa não ocorreu e a
intervenção cirúrgica não é necessária. A cirurgia é ha­
bitualmente necessária, contudo, quando a sensibilidade
dolorosa for notada proximal e distai ao local da injeção.
A consulta cirúrgica é necessária para esses casos e, mais
frequentemente, resulta em irrigação e debridamento do
tecido necrótico na sala de cirurgia.

Lesões por esmagamento


As lesões de esmagamento da mão são comuns. O tecido
subjacente está congestionado e isquêmico, enquanto a su­
perfície ferida frequentemente aparece bastante simples Figura 11.61 O armazenamento apropriado de uma parte am­
e pode enganar o médico da emergência sobre a extensão putada requer que o tecido seja embrulhado em gaze úmida,
completa da lesão. Se uma lesão de tecidos moles extensa colocado em uma bolsa e, só então, colocado em outra bolsa
estiver presente, as lacerações primariamente fechadas têm cheia de água gelada ou gelo.
alta taxa de infecção. As potenciais lesões ocultas de tecidos
moles incluem as mpturas fechadas de tendões e, no caso de As lesões da mão associadas com o uso de soprado-
um dedo, a lesão da artéria digital. A mão deve ser colo­ res de neve e cortadores de grama são, em geral, menos
cada em um curativo universal (Apêndice A.5), elevada e o graves, porém vistas com mais frequência. As lesões
paciente encaminhado para um cirurgião de mão. ocorrem no lado dorsal da mão dominante e nos dedos
em quase todos os casos, com extensas lacerações e con­
Lesões mutilantes da mão tusões. De hábito, são feridos os dedos médio e anular. A
maioria dessas lesões pode ser administrada no setor de
As lesões mutilantes da mão ocorrem com o uso de equipa­ emergência, embora algumas exijam intervenção cirúrgi­
mentos de agricultura, uso de equipamentos industriais (p. ca para debridamento e reparo.
ex., prensa), feridas por disparo de arma de fogo, colisões Uma lesão de desenluvamento ocorre quando o tecido
de veículos automotores e uso de equipamentos domésti­ mole da mão ou do dedo é separado do osso subjacente.
cos (p. ex., cortadores de grama). O tratamento dessas Em lesões de desenluvamento “puro”, tendões, ossos e arti­
lesões é difícil. Somente uma avaliação preliminar da cir­ culações permanecem intactos, somente a pele é removida.
culação da extremidade e a avaliação neurológica grosseira Isso é chamado de lesão do anel , pois o dedo anular é a área
são executadas no setor de emergência. As radiografias pre­ mais comumente envolvidas quando o anel fica engatado
liminares são obtidas e a mão deve ser coberta com curati­ e rompido a partir do dedo. O tratamento inclui o reim­
vos estéreis e imobilizada, enquanto o paciente aguarda a plante quando a pele desenluvada estiver disponível e os
transferência ou a consulta com um cirurgião de mão. vasos não estiverem danificados. Se fracassar, é necessária
O pinçamento às cegas das estruturas vasculares nunca a reconstrução secundária usando um retalho de pele.
deve ser executado. Se a pressão direta não funcionar, a mão
deve ser elevada e um manguito de pressão sanguínea é apli­
Amputação
cado proximal à zona de lesão e inflado a uma pressão de
100 mmHg acima da sistólica. A cirurgia imediata é neces­ A amputação da mão ou de dedos não é comum, mas o
sária quando a hemorragia externa não puder ser controlada. médico da emergência deve entender o seu papel nos cui­
O controle da dor com opioides parenterais ou a anes­ dados desses pacientes. O cuidado do coto inclui primeiro
tesia regional geralmente são necessários. Os antibióticos alcançar a hemostasia. O controle no ponto de um vaso
parenterais profiláticos de amplo espectro são indicados. sangrante, com curativo de pressão, é o método inicial.
A profilaxia do tétano é administrada conforme a necessi­ Os torniquetes proximais são desestimulados, a menos
dade. O reimplante cirúrgico para salvar a porção amputa­ que usados para controle temporário ou em paciente com
da pode ser tentado e tem se tomado cada vez mais bem- sangramento potencialmente fatal. O uso por mais de três
-sucedido com a evolução das técnicas e dos instrumentos horas pode levar à isquemia irreversível. A ligadura ou o
• ✓ • 49
cirúrgicos. pinçamento às cegas podem causar danos desnecessários
Emergências Ortopédicas 205

Figura 11.62 A. Am putação do polegar entre as articulações M C F e IF. B. Am putação da mão. Am bas as amputações foram
reimplantadas.

em nervos ou vasos.5' Os antibióticos profiláticos e a pre­ Síndromes compartimentais da mão


venção do tétano são indicados.
A síndrome compartimentai aguda da mão é um fenôme­
O cuidado da parte amputada envolve a limpeza suave,
no relativamente raro, que ocorre quando a pressão tecidual
se bastante contaminada, enrolando-a em gaze embebida
dentro de um espaço encapsulado é elevada até o ponto em
em soro e armazenamento em um saco plástico fechado
que existe redução do fluxo sanguíneo dentro do espaço, di­
hermeticamente. Esse saco é então colocado dentro de ou­
minuindo a oxigenação tecidual. Essa síndrome costuma ser
tro, cheio com água e gelo (Fig. 11.61). Os dedos apropria­
o resultado de uma condição traumática, mas entidades não
damente mantidos têm em tomo de 12 horas de viabilidade.
traumáticas, como um processo infeccioso, também podem
As indicações clássicas para o reimplante incluem
ser agentes causadores. As causas mais comuns incluem fra­
amputação entre as articulações IFP e IFD, do polegar, de
turas, lesões por esmagamento, queimaduras, grandes lesões
dígitos múltiplos, em crianças, amputação palmar média,
vasculares, compressão prolongada da mão e lesões iatrogê-
e no punho ou no antebraço (Fig. 11.62). Entretanto, todas
nicas, como um gessado ou curativo compressivo.
as partes amputadas proximais à ponta do dedo devem ser
Existe um total de 10 compartimentos dentro da mão
consideradas para reimplante. O sucesso não está relacio­
(Fig. 11.63). Os músculos interósseos volares e dorsais
nado somente à viabilidade, mas também com a restau­
estão encapsulados na fáscia entre os metacarpais. Estes
ração da mão funcional. Sempre deve ser enfatizado que
compartimentos constituem 7 dos 10 compartimentos da
o dedo reimplantado nunca funcionará de modo normal,
mão - quatro compartimentos interósseos dorsais e três in­
e provavelmente terá alguns problemas de sensibilidade,
terósseos volares. Os três compartimentos restantes incluem
como rigidez e fraqueza crônicas.
os músculos tenares, os hipotenares e o adutor do polegar.
Os achados clínicos são similares àqueles de outras
Interósseos síndromes compartimentais no corpo: dor desproporcio­
Adutor do dorsais
nal, que aumenta com o estiramento muscular passivo e
não cede com a imobilização. Os compartimentos interós­
seos intrínsecos da mão são individualmente testados para
excluir de forma adequada uma síndrome limitada. Note
que o alongamento passivo deve ocorrer na direção opos­
ta às ações normais do músculo. Os músculos interósseos
volares são testados pela abdução passiva do segundo,
quarto e quinto dedos. Os músculos interósseos dorsais
são testados pela adução passiva do segundo e do quarto
dígitos, em adição para movimentos mediais e laterais do
terceiro dígito. Ao testar esses compartimentos interós­
Tenar Interósseos Hipotenar seos, a articulação MCF é colocada em completa exten­
palmares
são, e a articulação IFP em flexão. O compartimento adu­
Figura 11.63 Corte transversal da palma, através das diáfises tor é testado pela abdução palmar do polegar, alongando
metacarpais, mostrando os compartimentos da mão. o músculo adutor do polegar. Em uma maneira similar, os
206 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

compartimentos tenar e hipotenar são estirados quando o ma extensão do dedo devido à função dos outros ten­
examinador abduz o polegar em direção (tenar) e estende dões extensores comuns dos dedos.
e aduz o dedo mínimo (hipotenar).
3. Os dedos indicador e mínimo têm, cada um, dois ten­
As medidas da pressão compartimentai fornecem in­
dões extensores. A extensão dos dedos pode ser pre­
formações mais objetiva e são usadas junto com os acha­
servada quando houver laceração em somente um dos
dos clínicos. As medidas podem ser tomadas usando um
tendões.
dispositivo da Stryker ou a técnica de infusão. A agulha
é inserida na superfície dorsal da mão, entre os metacar- 4. Os músculos intrínsecos da mão podem estender as
pais, para medir as pressões compartimentais interósseas. articulações IFP e IFD, apesar de uma laceração do
Para os três compartimentos restantes, uma abordagem tendão extensor.
palmar é a preferida. As medidas da pressão comparti­ Nas lacerações da superfície flexora da mão, a flexão
mentai dentro da mão são difíceis e mais adequadamente do dedo pode ficar preservada, apesar da ruptura comple­
executadas depois de consulta com um cirurgião de mão. ta do flexor superficial dos dedos quando o flexor profun­
Se não tratada, a síndrome compartimentai dentro da do dos dedos estiver intacto. Neste cenário, a força ficará
mão resulta em necrose muscular e fibrose. A função da limitada.
mão ficará gravemente limitada, com significativas de­
formidades de contratura tanto na articulação IFP quanto Exame visual
na MCE Para mais detalhes em relação ao diagnóstico e
O controle do sangramento e a boa iluminação são necessá­
tratamento das síndromes compartimentais, consultar o
rios para obter um exame adequado. Quando as feridas da
Capítulo 4.
pele são pequenas, o tendão pode ser difícil de localizar e
a pele deve ser estirada com uma pinça para a visualização
Lacerações dos tendões apropriada. Em lacerações maiores, a lesão do tendão pode
As lesões abertas dos tendões em geral resultam de um passar despercebida em face das outras lesões mais óbvias.
objeto cortante que lacera a pele e o tendão subjacente. A Por fim, a cooperação do paciente é essencial e com fre­
avaliação de um tendão nesse contexto deve incluir o exa­ quência não existe, principalmente no paciente intoxicado.
me da função tendínea, como também um exame visual Em feridas abertas, uma lesão incompleta do tendão é
do tendão dentro da ferida. Existem muitas armadilhas no comum e pode ser difícil de avaliar. É importante determi­
diagnóstico de lesões abertas de tendões. O médico preci­ nar a posição da mão quando a lesão ocorreu. Se o aspecto
sa estar ciente das razões pelas quais a avaliação na emer­ volar estiver lacerado enquanto os dedos forem seguros
gência pode levar a um diagnóstico errôneo. em flexão, a lesão parcial dos tendões flexores será distai
à ferida da pele se a mão for examinada em extensão. En­
Exame funcional tretanto, se estiver na posição estendida no momento da
lesão, as lesões tendíneas ficam nas bordas da ferida com
A avaliação funcional dos tendões flexores e extensores é
a extensão da mão. P or conseguinte, quando um tendão
apresentada no início deste capítulo. As sugestões adicio­
é visualizado na base de um a laceração, sua superfície
nais para o diagnóstico correto das lesões tendíneas em
deve ser inspecionada enquanto os dedos são subm etidos
face de uma laceração de pele são fornecidas a seguir.
a um a m obilização em toda a am plitude de m ovim ento.
Ao examinar um tendão, o médico da emergência
deve lembrar para não testar apenas o movimento ativo do
tendão, mas também testar a sua força. Tanto nas lacera­ A xiom a: Um exame negativo de um paciente com suspeita
ções parciais como nas completas do tendão, o movimen­ de lesão de tendão deve ser sempre reavaliado para a certe­
za diagnóstica, em particular no paciente não cooperativo.
to tendíneo pode estar preservado e a única pista para o
diagnóstico é a perda da força. Em lacerações parciais, um
tendão pode ter 90% de sua largura transeccionada e ainda Tratamento
reter um movimento normal. Por conseguinte, para avaliar Nas lacerações da mão na qual os tendões são secciona­
de forma adequada um tendão quanto à lesão, deve-se tes­ dos, o desfecho esperado é determinado em grande parte
tar o m ovim ento contra resistência. pela quantidade de contaminação e pela complexidade da
Em lacerações na superfície dorsal da mão existem ferida. As aderências são acentuadas tocando os tendões
várias armadilhas: ou até pelo extravasamento sanguíneo em tomo deles.
Por conseguinte, deve-se tentar evitar ao máximo a mani­
1. As lacerações sobre as articulações IFP e MCF po­
pulação desnecessária do tendão ferido.
dem atravessar a expansão central do tendão extensor,
Em geral, o reparo definitivo de uma lesão completa
e o diagnóstico não é feito até que o mecanismo de
aberta do tendão pode ser executado primariamente, com
capuz descompense e leve à deformidade.
retardo ou secundariamente. Durante os últimos 30 anos,
2. A ruptura de um tendão do extensor comum dos de­ a quantidade de tempo que um tendão pode ser reparado
dos proximal à junção tendínea pode preservar algu­ primariamente tem sido aos poucos estendida. Não exis-
Emergências Ortopédicas 207

te nenhuma evidência conclusiva sugerindo que o reparo trizam bem sem suturas, desde que uma porção do tendão
imediato resulte em melhor desfecho clínico que o reparo sofra aposição.
primário retardado (dentro de até sete dias da lesão). 9,60 Para as lesões parciais do tendão extensor, a posição
O reparo secundário é executado depois que o edema te­ de imobilização da mão é importante, porém contrária à
nha cedido e a cicatriz amolecido, em geral, após quatro prática de rotina. Com essas lesões, a mão é imobilizada
semanas da lesão. Os reparos tendíneos secundários resul­ com a articulação MCF em completa extensão, para evitar
tam em pior desfecho funcional. tensão adicional no tendão já ferido. O dedo deve perma­
Os reparos primários retardados são feitos quando necer nessa posição por três a quatro semanas e, então,
houver outro trauma. O reparo da mão deve ser adiado caso lentamente retomar à flexão completa. As lesões parciais
a ferida não esteja em condição ideal para o reparo por cau­ do tendão flexor são imobilizadas na posição de função
sa de infecção ou edema. Os reparos secundários são feitos com a articulação MCF em 50° de flexão e as articulações
quando as lesões associadas comprometem o paciente, ou IF em 20° de flexão por três a quatro semanas.
quando as complicações na ferida forem prováveis.
Lacerações dos tendões flexores. As lesões dos tendões
Lacerações parciais dos tendões. As lesões parciais flexores foram categorizadas em cinco zonas para ajudar
abertas dos tendões podem ser imobilizadas sem reparo no plano de tratamento (Fig. 11.64).
cirúrgico. Há controvérsia sobre o melhor tratamento das
• A zona I estende-se da inserção distai do tendão pro­
lesões parciais em tendões e, por conseguinte, a consulto­
fundo (FPD) até o local da inserção do superficial
ria com um cirurgião de mão é recomendada. Alguns ci­
(FSD). As lesões nesse local geralmente resultam em
rurgiões de mão reparam os tendões flexores que tenham
retração proximal do tendão.
uma lesão maior do que 50% da superfície do tendão, em­
• As lesões da zona II estão na área chamada de “ter­
bora haja pouca evidência para apoiar essa prática. Os be­
ra de ninguém”, pois essas lesões são muito difíceis
nefícios vistos incluem evitar compressão futura, ruptura
de reparar e previamente eram tratadas com enxertia
ou engatilhamento. Ainda menos evidência existe em rela­
secundária. É lamentável que as lacerações de ten­
ção ao melhor tratamento das lesões parciais dos tendões
dão flexor mais vistas na medicina de emergência
extensores e, por conseguinte, muitos adotam os mesmos
sejam também tecnicamente as mais difíceis de repa­
princípios usados para os tendões flexores - reparo dos
rar. Os tendões profundos e superficiais estão muito
tendões extensores com mais de 50% da superfície lacera­
próximos, e as lesões aqui podem ferir a vincula que
da. Existe alguma evidência de que as lacerações parciais
fornece o suprimento sanguíneo aos tendões. Os re­
de tendão, não importando a porcentagem da lesão, cica-
paros nessa área são bastante complexos e devem ser
realizados por um cirurgião especializado.
• As lesões da zona III se estendem da borda distai do
túnel do carpo até a borda proximal da bainha flexora.
Essas lesões têm bom resultado com o reparo primário.
• As lesões da zona IV incluem o túnel do carpo e suas
estruturas relacionadas. As lesões nessa região reque­
rem a exploração cuidadosa para lesões associadas.
• As lesões do tendão flexor na zona V são aquelas que
ocorrem proximalmente ao túnel do carpo. Em lesões
na zona V, é essencial que o cirurgião tenha exposição
adequada e conduza uma busca exaustiva por estrutu­
ras importantes que possam ter sido danificadas.
Os pacientes com lesões completas do tendão flexor re­
querem consulta com um cirurgião de mão para reparo cirúr­
gico (Fig. 11.65). As lacerações completas de tendões flexo­
res são de hábito reparadas dentro de 12 a 24 horas, embora
esse intervalo de tempo possa ser estendido e seja depen­
dente da sua instituição ou do cirurgião disponível/ Após o
reparo, a mão é imobilizada com a extensão bloqueada.

Lacerações dos tendões extensores. Um sistema de


classificação foi criado por Kleinert e Verdan dividindo as
lesões dos tendões extensores em oito zonas para ajudar
nas decisões de tratamento. (Fig. 11.66) As zonas de
Figura 11.64 Classificação das lacerações de tendões flexores. lesão são lembradas mais facilmente se o médico consi-
208 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Figura 11.65 A. Esse paciente apresentou lacerações dos tendões flexores na zona I (quinto dedo) e zona II (quarto dedo). B.
Quando a flexão era testada, estava claro que ele havia lacerado o FPD do quinto dedo (incapaz de flexionar na articulação IFD,
mantendo a flexão da IFP), e o FPD e o FSD do quarto dedo (incapaz de flexionar o dedo).

derar que começa na articulação IFD (zona I); as zonas na articulação IFD. Uma tala dorsal é aplicada, man­
ímpares estão acima das articulações e as zonas de nume­ tendo a articulação IFD em extensão por seis sema­
ração par estão sobre os ossos (Fig. 11.67). O polegar é nas. Durante este tempo, as articulações IFP e MCF
numerado de forma similar em cinco zonas. podem mover-se livremente.
• As lesões na zona II estão sobre a falange média.
• As lesões da zona I estão sobre a falange distai. O tra­
O tratamento aqui é idêntico ao das lesões na zona I.
tamento das lesões abertas da zona I envolve o reparo
da laceração do tendão se houver perda de extensão • A zona III está sobre a articulação IFP. As lesões po­
dem ser abertas ou fechadas, com o tendão central
sendo a estrutura mais comumente ferida em ambos
os cenários. Essa lesão com frequência leva a uma de­
formidade em botoeira, se não for tratada. As lesões

Figura 11.67 O paciente apresentou laceração de tendão ex­


tensor na zona V. Notar a posição flexionada em repouso do
Figura 11.66 Classificação das lacerações de tendões extensores. dedo em comparação aos outros.
Emergências Ortopédicas 209

abertas são tratadas com reparo primário e imobili­ ção, a ferida deve ser irrigada e debridada, a pele fechada
zação do punho em 30° de extensão, MCF em 15 a frouxamente com suturas simples interrompidas e a mão
30° de flexão, e a IFP em posição neutra. As lesões imobilizada, como previamente descrito. Devem ser ad­
na zona III estão associadas a uma taxa alta de lesões ministrados antibióticos profiláticos.
associadas (80%) e geralmente têm desfecho ruim. O médico da emergência pode escolher reparar de­
Essas lesões devem ser submetidas ao reparo primá­ terminadas lacerações dos tendões extensores se tiver a
rio com um cirurgião de mão. habilidade e a experiência para fazê-lo. As lacerações dos
• As lesões na zona IV incluem a área sobre a falange tendões nas zonas IV, V e VI sem envolvimento articular,
proximal. São tratadas com reparo primário ou retar­ fratura óssea ou mordidas humanas podem ser fechadas
dado, com tala volar por três a seis semanas, confor­ usando suturas contínuas, em figura de oito, ou com pon­
me descrito para as lesões na zona III. São observadas tos modificados de Kessler ou Bunnell. Recomenda-se o
altas taxas de complicações e lesões associadas com uso de fios inabsorvíveis, 4-0 ou 5-0. Após o reparo e a
as lacerações dos tendões na zona IV. imobilização, o paciente é encaminhado ao cirurgião de
• As lesões na zona V estão sobre a articulação MCF. mão para iniciar um programa de reabilitação.
Quando provenientes de uma mordedura humana, a
ferida deve ser explorada, abundantemente irrigada e Lesões tendíneas fechadas
deixada aberta. Se a cápsula articular não for ferida e
Forças enormes são necessárias para que uma lesão fechada
não for secundária a mordedura humana, pode ser re­
cause a ruptura de um tendão. As lesões tendíneas fechadas
parada com fios absorvíveis 4-0 ou 5-0. Após o repa­
são resultado de impacto não penetrante ou de força oposta
ro, o dedo deve ser imobilizado com o punho em 45°
sustentada por uma unidade musculotendínea contraída. As
de extensão, e a articulação MCF em posição neutra.
forças que atuam contra o tendão durante a sua contração
• As lesões na zona VI envolvem os tendões extenso- podem avulsionar o osso, na inserção do tendão, ou rom­
res sobre o dorso da mão. Os tendões extensores são per o tendão sem lesão óssea. As lesões tendíneas fechadas
muito superficiais nessa área, e mesmo os ferimentos passam despercebidas com facilidade se o médico da emer­
aparentemente menores podem envolver os tendões. gência não as procurar e, infelizmente, quando não tratadas
Após o reparo, quatro semanas de imobilização são resultam, com frequência, em deformidades crônicas.
necessárias, com o punho em 30° de extensão, a ar­
ticulação MCF em posição neutra e as articulações Avulsão do tendão profundo
IFD e IFP livres. Os tendões neste local tendem a não
Avulsão do tendão FPD é chamada de lesão de je rse y ,
se retrair, pois estão conectados às estruturas e aos
que é assim denominada porque com frequência ocorre
tendões adjacentes. Na área dorsal da mão, as lace­
quando um atleta agarra a camiseta (jersey) do oponente.
rações que causam a ruptura do tendão extensor com
O mecanismo de lesão é a extensão forçada de uma articu­
frequência levam a aderências.
lação IFD flexionada. Embora rara, é a lesão fechada mais
• As lesões na zona VII ocorrem sobre os ossos do carpo
e são incomuns. Essas lacerações muitas vezes envol­
vem o retináculo extensor e têm risco de desenvolver
aderências após o reparo. Uma tala volar é aplicada
com o punho em 20° de extensão e a articulação MCF
é colocada em posição neutra. Essas lesões devem ser
submetidas a um reparo primário com um cirurgião
de mao. 64
A ~

• As lesões na zona VIII envolvem o tendão extensor no


nível do antebraço distai e ocorrem como o resultado
de lacerações profundas. O tendão pode-se retrair de­
vido à elasticidade da junção musculotendínea. Essas
lesões devem ser submetidas a reparo primário com
um cirurgião de mão. Uma tala volar é aplicada com
o punho em 20° de extensão e a articulação MCF é
colocada em posição neutra.
A maioria das lacerações abertas em tendões extenso­
res é reparada por um cirurgião de mão experiente. O re­
p a ro bem -sucedido p o d e ser realizado im ediatam ente ou
B
após um retardo de até sete dias após a lesão. Depois de
sete dias, as extremidades do tendão se retraem ou amo­ Figura 11.68 Uma deformidade de dedo em martelo (A) sem
lecem. Se o tendão não for reparado no dia da apresenta­ fratura associada ( B ).
210 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

comum do tendão flexor. O dedo indicador está envolvi­ gesso pode ser recomendada. Se não tratada, uma defor­
do em 75% dos casos, mas qualquer dedo pode ser afeta­ midade em flexão da articulação IFD é vista quando a IFP
do. Ao exame, uma deformidade sutil em flexão é nota­ é estendida, sendo chamada de dedo em m artelo. Algumas
da na articulação IFD e o paciente é incapaz de flexionar vezes, o dedo em martelo crônico pode evoluir para a de-
70
a falange distai quando a articulação IFP for estendida. formidade em pescoço de cisne do dígito.
Se a lesão não for tratada, pode resultar em contratura em
flexão na articulação IFP ou a incapacidade de o paciente Ruptura da expansão central
fechar a mão. Uma radiografia é obtida para avaliar a As rupturas da expansão central do tendão exten so r na
presença de fratura de avulsão. No setor de emergência, o base dorsal da falange média devem ser identificadas, por­
paciente deve ser imobilizado usando uma tala dorsal com que a falha em fazê-lo pode resultar em deformidade em
30° de flexão no punho, 70° de flexão na MCF, e 30° de botoeira do dedo (Fig. 11.69). A ruptura da expansão cen­
flexão na IF. Essa lesão é mais adequadamente tratada de tral pode ser causada por três mecanismos fechados: con­
forma cirúrgica. O encaminhamento para um cirurgião tusão profunda da articulação IFP, flexão aguda forçada na
de mão é necessário dentro de 7 a 10 dias. articulação IFP estendida, ou luxação palmar da articula­
ção IFP Desse modo, deve-se suspeitar desse tipo de lesão
Dedo em martelo sempre que houver uma articulação IFP edemaciada e do­
Um dedo em m artelo é uma deformidade de flexão na ar­ lorosa com quaisquer dos mecanismos antes mencionados.
ticulação IFD e existe extensão ativa incompleta da arti­ Ao exame, a extensão na articulação IFP é testada.
culação (Fig. 11.68). A lesão é habitualmente causada por Uma perda de 15 a 25° de extensão com força diminuída
um golpe súbito na ponta do dedo estendido. A inserção contra a resistência deve levantar a suspeita dessa lesão.
do tendão extensor pode ser avulsionada ou haver uma A sensibilidade dolorosa na articulação IFP é máxima so­
fratura de avulsão da falange distai, com o tendão ainda bre a expansão central, no aspecto dorsal da articulação
inserido. Por essa razão, deve ser obtida uma radiografia IFP.
do dedo. Na fase aguda, o paciente terá pouca dor e in­ A deformidade em botoeira (flexão da articulação IFP
capacidade funcional mínima. A clássica deformidade de e hiperextensão da articulação IFD) pode estar presente na
flexão pode não estar presente até vários dias após a lesão. fase aguda, mas em geral aparece entre 7 a 14 dias após a
O tratamento recomendado é a imobilização da arti­ lesão. Aos poucos, as bandas laterais se alongam e escor­
culação IFD em extensão (ver Fig. 11.27). A hiperexten- regam em direção volar até o eixo da articulação IFP, e
são, como era previamente sugerido, é evitada. Além dis­ tomando-se flexores dessa articulação.
so, é permitido ao paciente ter a amplitude de movimento A ultrassonografia tem se provado útil para diagnos­
normal na articulação IFP A imobilização é usada por seis ticar essas lesões.
semanas. Se a tala for removida em algum momento du­ O tratamento inclui manter a articulação IFP em ex­
rante o período de tratamento e a articulação IFD for fle­ tensão constante e completa, enquanto as articulações IFD
xionada, outras seis semanas de imobilização são neces­ e MCF têm liberdade para movimentação. O encaminha­
sárias. Em pacientes que usam muito a mão e dependem mento para um cimrgião de mão está indicado, já que o
do movimento das pontas dos dedos, a imobilização com reparo operatório é necessário em alguns casos.

A B

Figura 11.69 A deformidade em botoeira. A. As bandas laterais do tendão extensor deslizam volarmente e causam a flexão da IFP
e a extensão da IFD. B. Fotografia clín ica.
Emergências Ortopédicas 211

axonotm ese , existe disfunção motora e sensitiva variável.


Nesses pacientes, as extremidades proximais e distais dos
nervos são separadas; entretanto, as células de Schwann
são mantidas. Em uma neuropraxia, não existe perda na
continuidade do nervo e a disfunção é temporária.
As lesões nervosas podem resultar de contusões, la­
cerações e feridas perfurantes na mão. Verificar a função
nervosa em qualquer lesão da mão para evitar o retardo
no diagnóstico. As contusões habitualmente resultam em
neuropraxia, sem perda da continuidade do nervo, em que
a função é em geral recuperada e o tratamento é apenas a
observação. As lacerações podem resultar em axonotmese
ou neurotmese.

Lesão do nervo ulnar


Figura 11.70 Dedo do boxeador. Notar a posição ulnar do As lacerações do nervo ulnar no antebraço distai e no pu­
tendão extensor quando passa pela articulação MCF.
nho resultam em fraqueza muscular hipotenar, perda da
abdução, adução (músculos interósseos) e flexão dos de­
Dedo do boxeador dos, como também na adução do polegar. A perda sensi­
tiva na ponta do quinto dedo é típica da disfunção do ner­
Um golpe traumático no aspecto dorsal da articulação
vo ulnar. A laceração do nervo ulnar na proximidade das
MCF pode resultar em ruptura do ca p u z extensor. 2,121
articulações MCF do polegar, do dedo anular e do dedo
Essa lesão também é chamada de “nó do dedo do boxea­
médio resulta em perda na abdução e adução do dedo,
dor” ou “dedo do boxeador” porque é associado com o
na fraqueza da flexão e adução do polegar, enquanto os
trauma não penetrante decorrente do ato de dar um soco.
músculos hipotenares e a sensibilidade ulnar permanecem
A lesão do tendão extensor é a ruptura das bandas sagitais
intactos. As lacerações volares profundas da mão nas arti­
com localização periférica que mantém no lugar o tendão
culações MCF podem causar lesão isolada nos nervos di­
central longitudinal. Quando ocorre a ruptura dessas ban­
gitais e perda sensitiva distai, com função motora normal.
das fibrosas, o resultado é a subluxação do tendão, em di­
Os sinais específicos de lesão do nervo ulnar são os
reção ulnar (comum) ou radial (Fig. 11.70 e Vídeo 11.1).
seguintes:
Ao exame, são vistos edema acentuado, redução da
mobilidade articular e déficit na extensão. A subluxação • Perda da sensibilidade na ponta do quinto dedo.
do tendão extensor toma-se pior com a flexão articular e • Deformidade da mão com o sinal de Duchenne (for­
um defeito palpável é notado no local da mptura da banda mação de garra dos dedos anular e mínimo).
sagital. O tendão pode se relocar, causando dor na articu­ • Incapacidade para aduzir ativamente o dedo mínimo.
lação MCF, conforme o dedo é estendido. • Hiperflexão da articulação IF do polegar em forma de
A cimrgia é quase sempre bem-sucedida, mas a possi­ pinça (sinal de Froment) (ver Fig. 11.9).
bilidade de manejo conservador, com imobilização, pode
ser tentada. O médico da emergência deve levar a articula­ É possível que ocorra a paralisia intrínseca da muscu­
ção MCF em extensão até que o tendão reposicione, e então latura hipotenar, com atrofia muscular e perda da abdução
a mão é imobilizada naquela posição. Outras lesões da arti­ e adução digital. O sinal de B ou vier, a incapacidade de
culação MCF a serem incluídas no diagnóstico diferencial estender ativamente a articulação IF com a flexão passiva
incluem as contusões, a sinovite, as rupturas do ligamento da articulação MCF, também está presente.
colateral, as fraturas articulares e as rupturas capsulares. A neuropatia ulnar em ciclistas é uma lesão de uso
excessivo comum. Os pacientes relatam o aparecimento
gradual de dormências, fraqueza e perda de coordenação
Lesões neurovasculares em uma ou em ambas as mãos depois de vários dias de
Três nervos suprem a mão com os ramos sensitivos e mus­ ciclismo. Os locais mais comuns são os dedos anular e mí­
culares: radial, ulnar e mediano. A inervação sensitiva do nimo no lado ulnar. Para evitar esse problema, os ciclistas
nervo ulnar é muito constante, enquanto as outras variam. devem usar luvas acolchoadas e revestimento nos guidões.
De todos os nervos sensitivos, a significância do nervo Além disso, a barra superior do guidão deve estar nivelada
mediano é a principal para a função normal da mão, en­ com o topo do selim. Se os sintomas continuarem, esses
quanto o nervo radial é o menos significativo no que diz indivíduos devem cessar a prática.
respeito à distribuição sensitiva.
Existem graus variados de lesão nervosa. Em uma neu- Lesão do nervo radial
rotm ese, o nervo sofre ruptura completa. É devido a um O nervo radial dá pouco suprimento à inervação sensiti­
trauma penetrante ou um fragmento de fratura. Em uma va da mão e sua contribuição motora é primariamente a
212 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Figura 11.71 O teste de estresse lateral é feito


segurando a falange cada lado da articulação e
fazendo a tentativa de abertura. A abertura m íni­
ma indica que o ligamento colateral está rompi­
do naquele lado.

extensão do punho. Ver o Capítulo 8 para uma descrição sintomas de lesão vascular incluem um ou mais dedos
adicional sobre a lesão do nervo radial. frios, dor, mosqueado intermitente e rigidez. Um aneuris­
ma pode apresentar-se como uma massa.
Lesão do nervo mediano
As lacerações dos ramos motores do nervo mediano exi­ Lesões ligamentares e luxações
gem reparo por um cirurgião de mão. A lesão do nervo
As lesões ligamentares da mão são muito comuns e fre­
mediano em geral ocorre no punho. Ver o Capítulo 8 para
quentemente passam despercebidas. A consequência des­
uma discussão sobre a lesão do nervo mediano.
tas lesões é a rigidez articular crônica, a dor e o edema.
Neuroma
Lesão do ligamento colateral
Os neuromas são compostos de axônios desorganiza­
Os ligamentos colaterais fornecem suporte contra o des­
dos, entremeados com tecido cicatricial. Eles podem ser
locamento lateral das articulações dos dedos. Ao exame,
bastante dolorosos, em particular quando ocorrerem aci­
será notada equimose ou sensibilidade dolorosa localiza­
ma de pontos de pressão. Os neuromas ocorrem depois
da em um ou em ambos os lados da articulação IF. Uma
de uma lesão no nervo, quando esse permanecer intacto.
parte essencial da avaliação é a verificação da estabilidade
Os neuromas podem surgir anos após uma lesão. Quan­
com os testes de estresse lateral (Fig. 11.71 e Vídeo 11.2)
do os ramos sensitivos de um nervo estão envolvidos, os
e movimentos ativos nas articulações IF e MCF da mão.
neuromas tendem a ser muito dolorosos e com frequência
As articulações estáveis que estejam dolorosas ao teste de
aumentam de forma insidiosa.
estresse lateral indicam a ruptura parcial ou entorse dos
Os locais mais comuns dos neuromas são os ramos
ligamentos colaterais que sustentam a articulação.
sensitivos do nervo radial, o terço distai do antebraço e
Ao efetuar o teste de estresse dos ligamentos colate­
o punho. Um neuroma nessa área pode ocorrer após um
rais dos dedos, deve-se sempre comparar a mesma articu­
trauma trivial, que o paciente pode nem mesmo recordar.
lação na mão oposta. A abertura mínima de alguns milí-
Outros locais de incidência incluem o nervo mediano
principal, os ramos cutâneos palmares no punho e o nervo
ulnar principal com os seus ramos sensitivos dorsais para Ligamentos colaterais
o punho. O tratamento depende de quão sintomático está
o paciente e pode incluir a intervenção cirúrgica.

Lesões vasculares
A lesão vascular é frequentemente causada por trauma
repetitivo. A artéria ulnar é suscetível à lesão no segmen­
to entre a margem distai do túnel de Guyon e a aponeu-
rose palmar, onde começa a arcada palmar superficial.
O impacto repetitivo entre os apanhadores, no beisebol, Figura 11.72 O s ligamentos colaterais em cada lado da arti­
ciclistas de longa distância e jogadores de handebol pode culação e a placa volar formam um suporte quadrado em torno
causar aneurisma com trombose ou espasmo vascular. Os da articulação.
Emergências Ortopédicas 213

metros com um bom ponto final indica que o ligamento mal adjacente por cinco a sete dias (Apêndice A.2). O
colateral está rompido, mas que a placa volar está intacta. problema nesse momento não é mais a instabilidade, mas
Se for notada uma ampla abertura no teste de estresse, a a rigidez, a redução na amplitude de movimentos e a dor
placa volar deve estar rompida, em função da natureza en­ na articulação envolvida. O edema pode persistir por vá­
volvente que os ligamentos colaterais e a placa volar for­ rias semanas após entorse nas articulações dos dedos.
mam em tomo da articulação (Fig. 11.72). Desse modo, As rupturas agudas completas requerem a imobiliza­
a ampla abertura indica que tanto o ligamento colateral ção por três a cinco semanas, com a articulação flexionada
como a placa volar estão rompidos. A ampla abertura da em 35°, seguida de movimento ativo protegido, com imo­
articulação deve ser tratada com uma tala interna e enca­ bilização tipo espica, por cerca de três semanas adicio­
minhada para avaliação de um cirurgião de mão para de­ nais. Alguns profissionais preferem o reparo cirúrgico
terminar se o reparo cirúrgico é necessário. A estabilidade das lesões instáveis. A consulta com um ortopedista está
funcional é avaliada pelo movimento ativo. Se o paciente indicada.
não puder executar movimentos devido à dor, ou o teste de
estresse estiver limitado por dor, um bloqueio digital faci­ Lesões da articulação interfalângica distai
lita o exame. As radiografias suplementares com estresse A articulação IFD é estabilizada por fortes ligamentos aces­
podem ser úteis em casos difíceis. sórios colaterais lateralmente e pela placa fibrosa volarmen-
Se uma mptura parcial for indicada pelo teste de es­ te. O suporte dorsal é mínimo e inclui o mecanismo extensor
tresse apropriado, conforme já descrito, o tratamento é o que se mescla com a cápsula dorsal. Os ligamentos colate­
repouso com imobilização completa por 10 a 14 dias em rais são bandas espessas e retangulares com origem lateral a
uma tala maleável de dedo (Apêndice A.2). A imobilização partir do côndilo e cruzam distai e volarmente para se inserir
deve ser feita com a articulação IFP imobilizada em 30° na margem articular lateral volar e na placa volar. A placa
de flexão e a MCF imobilizada em 45° de flexão. Quando volar fornece suporte para a articulação distai e tem a forma
a MCF do polegar estiver envolvida, deve ser imobilizada de um quadrado, com 2 a 3 mm de espessura.
em 30° de flexão. Após a imobilização do dedo envolvido, A ruptura dessas estruturas ligamentares é clinica­
o movimento ativo é estimulado no restante da mão. mente importante apenas se produzir instabilidade articu­
O espessamento capsular e o edema crônico da ar­ lar, que pode ser avaliada pelo movimento ativo e pelo
ticulação envolvida no final do período de imobilização teste de estresse lateral. Esses testes são mais válidos sob
sugerem que o dano inicial era maior do que a princípio a anestesia digital, depois da redução de uma luxação.
pensado, e que mais proteção é necessária. Ela deve ser Se a redução for mantida em toda a amplitude de mo­
fornecida pela imobilização com espica do dedo ao nor­ vimento, então o suporte ligamentar adequado pode ser

Figura 11.73 Luxação dorsal de ambas as articulações IFP e IFD.


214 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

boa imobilização, e essa complicação deve ser comunica­


da ao paciente.
Existem três tipos de lesões que ocorrem na articula­
ção IFP:
1. Luxações: dorsal (comum), volar (rara) e lateral
2. Lesões da placa volar
3. Fraturas-luxações

Luxação da a rticu la çã o IFP. As luxações laterais são


classificadas como lesões do ligamento colateral (rup­
tura), pois a redução espontânea é a regra. As luxações
dorsais da articulação IFP são bastante comuns, enquanto
as volares (palmares) são raras (Fig. 11.74). As luxações
volares estão invariavelmente associadas à ruptura da ex­
pansão central do tendão extensor da sua inserção na base
da falange média.8J
As luxações dorsais são causadas pela hiperextensão
da articulação IFP, como ocorre quando o dedo estendido
é atingido por uma bola. Para que ocorra a lesão, deve
haver ruptura da placa volar ou dos ligamentos colaterais.
Figura 11.74 Luxação volar da articulação IFP do dedo. As luxações laterais são causadas por estresses de abdu­
ção ou adução no dedo, enquanto está na posição estendi­
da. O ligamento colateral radial é lesionado com mais fre­
assumido e somente 10 a 14 dias de imobilização são ne­ quência do que o colateral ulnar. As luxações volares são
cessários. Se, contudo, ocorrer deslocamento nos últimos causadas por uma combinação de (1) forças em varo ou
15° de extensão articular, uma ruptura importante deve ser valgo causando ruptura do ligamento colateral e da placa
pressuposta, estando indicada a imobilização em 30° de volar e (2) força anteriormente dirigida deslocando a base
flexão por três semanas completas. da falange média para diante e rompendo a expansão cen­
As luxações são, mais comumente, dorsais (Fig. tral do mecanismo extensor.
11.73). A redução é por tração longitudinal simples e ma­ O edema agudo e a dor podem camuflar uma luxação;
nipulação para a posição normal (Vídeo 11.3). A redução entretanto, isso não é frequente e a deformidade costuma
costuma ocorrer sem complicações; contudo, foram rela­ ser óbvia. Uma radiografia do dedo deve ser obtida antes
tadas luxações irredutíveis devido à interposição de teci­ de a redução ser executada. Após a redução, o médico da
dos moles.78,79 emergência deve examinar os ligamentos colaterais e a
placa volar com o teste de estresse para avaliar a extensão
Lesões da articulação interfalângica proximal completa da lesão.
A integridade da articulação IFP é mantida pelos dois li­ Se houver suspeita de ruptura do ligamento colateral
gamentos colaterais em cada lado e pela placa volar no ou um exame questionável, as incidências de estresse po­
aspecto volar, que forma um suporte em forma de qua­ dem ser obtidas e comparadas com o lado normal.
drado em torno da articulação (ver Fig. 11.72). Para que As luxações dorsais são reduzidas por tração longi­
ocorra instabilidade na articulação, deve haver ruptura de tudinal e manipulação de volta para a sua posição normal
duas dessas três estruturas de suporte. A articulação IFP é (Fig. 11.75 e Vídeos 11.4 A e B). Isso pode requerer al­
propensa a desenvolver rigidez após a lesão, mesmo com guma hiperextensão inicial, o que evita a interposição da

Figura 11.75 As articulações interfalângicas


são reduzidas por tração longitudinal e m ani­
pulação suave até a sua posição normal. Com
frequência, a hiperextensão é inicialm ente usa­
da para evitar o aprisionamento da placa volar.
Emergências Ortopédicas 215

Figura 11.76 Luxação dorsal aberta da articulação IF proxim al.

placa volar rompida. Se a articulação mostrar-se estável golpe na extremidade do dedo, causando uma força de
após a redução, então o movimento precoce (imobilização hiperextensão. A placa volar pode ser rompida de sua in­
dinâmica) está indicado depois de um período inicial de serção distai, na base da falange média, e um pedaço pe­
imobilização. Se instável, a articulação é imobilizada por queno de osso pode sofrer avulsão.
três semanas com a articulação IFP em 15° de flexão, após As lesões da placa volar causam deformidade de hi­
este período uma tala de bloqueio de extensão deve ser perextensão na articulação IFP com a extensão do dedo,
usada por três semanas adicionais. enquanto a dor e a limitação ou o bloqueio são notados
As luxações volares são em geral reduzidas com fa­ com a flexão. Se a deformidade em hiperextensão for in­
cilidade, mas estão associadas à deformidade de botoei­ tensa, o paciente pode ter deformidade de flexão compen­
ra, que acontece quando a expansão central é rompida. A satória na articulação IFD, secundária à ação do tendão
placa volar ou o ligamento colateral também podem ser do FPD (deformidade em pescoço de cisne). A sensibili­
lesionados. O encaminhamento é indicado, pois a inter­ dade dolorosa máxima é observada sobre o aspecto volar
venção cirúrgica pode ser necessária. da articulação do dedo. A dor aumenta com a hiperexten­
As luxações irredutíveis são incomuns, mas podem são passiva e diminui com a flexão passiva. Além disso,
ocorrer com quaisquer das luxações antes mencionadas. existe perda do ponto final normal na extensão do dedo,
Na maioria dos casos, tecidos moles ou fragmentos ósseos que é fornecida pela placa volar intacta. Para executar o
ficam interpostos no espaço articular e bloqueiam a redu- exame adequado, um bloqueio digital ou metacarpal cos­
ção. Isso é suspeitado em qualquer caso em que uma tuma ser indicado.
ou duas tentativas de redução tenham fracassado. Esses As radiografias em pacientes com avulsão da placa
casos podem exigir a redução aberta para extrair e reparar volar podem revelar um pequeno fragmento ósseo avul-
o hgamento, o tendão ou a placa volar interpostos. sionado da base da falange média.
As luxações abertas requerem terapia com antibió­ As lesões da placa volar são tratadas com imobiliza­
ticos e debridamento abrangente (Fig. 11.76). Um estu­ ção da articulação IFP em 30° de flexão por três a cinco
do com 18 luxações abertas da articulação IFP sugeriu semanas.
que elas seriam mais adequadamente cuidadas na sala de
cirurgia, pois o tratamento no setor de emergência está Fratura-luxação da a rticu la çã o IFP. As fraturas-luxa­
associado a um prognóstico pior. O reparo dos ligamen­ ções ocorrem quando o dedo estendido for atingido de
tos e a reinserção colateral da placa volar são efetuados tal modo que ocorra uma compressão longitudinal junto
conforme a necessidade. com a hiperextensão. O resultado é uma fratura através do
As complicações das lesões e luxações da articula­ lábio volar da falange média, e deslocamento dorsal da fa­
ção IFP incluem a restrição do movimento articular, que lange média e da porção distai do dedo. Isso ocorre comu-
é uma sequela frequente. A complicação mais comum é o mente quando o dedo estendido é atingido por uma bola. '
espessam ento p ersisten te da articulação IFP A instabili­ Os pacientes com fraturas-luxações são incapazes
dade da placa volar e do ligamento colateral são proble­ de flexionar a articulação IFP e apresentam edema, dor e
mas adicionais. deformidade. As radiografias mostram subluxação dor­
sal da falange média com fratura do lábio volar da falan­
Lesão da placa volar da articulação IFP.A placa volar ge média, que pode envolver até um terço da superfície
da articulação IFP pode ser rompida quando ocorre um articular.
216 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

A B

Figura 11.77 Luxação com plexa da articulação M CF do segundo dedo. Essa luxação não pode ser reduzida por métodos fechados.
A . Notar o aspecto sutil desta luxação. B . Radiografia.

As fraturas-luxações podem ser reduzidas conforme o As luxações dorsais simples têm aspecto clínico dra­
método de rotina. Se o fragmento for grande ou instável, mático, com a articulação MCF presa em 60 a 90° de hi-
são indicadas a redução aberta e a fixação. Todas essas perextensão e o dedo em desvio ulnar. O dedo indicador é
lesões devem ser encaminhadas. o mais comumente envolvido e a cabeça metacarpal fica
proeminente. Tal luxação é reduzida com técnicas fecha­
Lesões da articulação metacarpofalângica das. A redução é alcançada pela hiperextensão adicional
As articulações MCF são junções condilianas que apre­ da articulação MCF, seguida de pressão dorsal sobre a
sentam, além da flexão e da extensão, até 30° de movi­ base da falange proximal. A tração longitudinal pode
mento lateral enquanto a articulação é estendida. Devido converter uma luxação simples em complexa. Depois da
ao formato dessa articulação, ela é mais estável em flexão, redução bem-sucedida, imobilizar a articulação MCF em
quando os ligamentos colaterais estão estendidos, do que 60° de flexão.
em extensão. As luxações dorsais complexas parecem clinicamente
As lesões do ligamento colateral e da placa volar da sutis, com a falange proximal quase em paralelo ao meta­
articulação MCF ocorrem com os estresses de hiperex- carpal. Outros achados incluem a cabeça metacarpal pal­
tensão aplicados à articulação MCF com o dedo esten­ pável na superfície volar, com formação de covinhas na
dido. O paciente se apresenta com equimose intensa e pele palmar. Elas são muitas vezes impossíveis de reduzir
edema na articulação. A radiografia é negativa, mas uma com as técnicas fechadas devido à interposição da placa
fratura de avulsão pode ser observada. O tratamento da volar e do arranjo de ligamentos e músculos lumbricais
lesão é um curativo compressivo acolchoado com leve que na verdade se apertam em torno da cabeça do meta­
reforço de gesso. Os pacientes podem necessitar de imo­ carpal conforme a tração é aphcada.
bilização prolongada, dependendo do grau da lesão, e A subluxação na articulação MCF ocorre quando a
são encaminhados para os cuidados de acompanhamen­ falange proximal for bloqueada em hiperextensão e as su­
to. As fraturas não deslocadas devido à avulsão do liga­ perfícies articulares estiverem em contato parcial. A redu­
mento colateral podem ser tratadas de forma conservado­ ção é efetuada pela flexão do dedo depois da tração lon­
ra se o fragmento envolver menos de 25% da superfície gitudinal com o uso de fitas com 2,5 kg de peso aplicados
articular. para desimpactar a falange proximal.

L uxações. As luxações na articulação MCF em sua Lesões da articulação carpometacarpal


maioria são dorsais (Fig. 11.77). A anatomia complexa Essas lesões raras são causadas por uma forte dorsiflexão
da articulação MCF protege contra luxação, mas também combinada com impacto longitudinal. A luxação dorsal é
leva a uma incidência mais alta de luxações irredutíveis. mais comum (Figs. 11.78 e 11.79). Uma força de grande
Existem dois tipos de luxações dorsais da articulação energia é necessária, sendo mais frequente em pugihstas
MCF: simples e complexas. ou após acidentes de motocicleta. O exame revela ede-
Emergências Ortopédicas 217

A B

Figura 11.78 Luxação carpometacarpal do quarto e do quinto dedos. A . Agudamente, o edema obscurece o diagnóstico dessa
lesão. B . A radiografia lateral demonstra melhor a luxação.

Figura 11.79 Uma rara luxação posterior de todas as


articulações carpometacarpais.
218 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Figura 11.80 Luxação M CF do polegar. A . Fotografia clín ica. B . Radiografia.

ma considerável no dorso da mão, o que pode fazer com outros dedos e são de dois tipos: dorsais e laterais, com
que o diagnóstico não seja feito. Quando o edema não for frequência idêntica.
muito intenso, os metacarpais proximais são palpados na A luxação dorsal da articulação MCF do polegar
região dorsal. O tratamento inclui redução por tração com ocorre com a hiperextensão extrema ou com forças de ci-
manipulação da cabeça da falange metacarpal proximal salhamento, e quase sempre ocorre a ruptura das estrutu­
até a sua posição normal (Vídeo 11.5). A mão é imobi­ ras volares de suporte. O deslocamento varia desde uma
lizada (Apêndice A. 11) e o paciente é encaminhado ao subluxação da falange até a completa luxação da falange
especialista. As reduções fechadas fracassadas ou instá­ proximal sobre a cabeça metacarpal. Para que isso ocorra,
veis requerem redução aberta e fixação. As complicações a placa volar e os ligamentos colaterais devem ser comple­
incluem síndrome compartimentai da mão, rigidez crôni­ tamente rompidos. Quando a luxação estiver associada a
ca e lesão nervosa. esse grau de ruptura das estruturas de suporte, a redução é
fácil e prossegue conforme segue: a flexão do metacarpal
Lesões ligamentares e luxações do polegar relaxa os músculos e a extensão da articulação IF retesa o
tendão flexor. A tração longitudinal é então aplicada até
As lesões da articulação interfalângica do polegar são tra­ que ocorra distração, e a articulação MCF é flexionada.
tadas de modo similar às lesões das articulações IF distais Depois da redução, o dedo é imobilizado por três semanas
dos dedos. A lesão mais comum é a luxação dorsal, sen­ em flexão. Se houver mais de 40° de instabilidade late­
do as laterais menos frequentes. As luxações dorsais são, ral, o reparo cirúrgico pode ser indicado. A quantidade de
muitas vezes, expostas. A redução é simples, depois de instabilidade deve ser sempre avaliada depois da redução.
um bloqueio do nervo mediano. A articulação em geral As luxações laterais da articulação MCF do polegar
permanece estável, pois a placa volar continua inserida na se apresentam somente com dor local e edema, pois elas
falange distai. A articulação é imobilizada por três sema­ com frequência já se reduziram de modo espontâneo. Para
nas em leve flexão. diagnosticar a lesão, execute exames de estresse dos liga­
A articulação MCF do polegar é muito móvel, e as mentos colaterais ulnar e radial do polegar.
luxações nesse local são bastante comuns (Fig. 11.80). Os
ligamentos colaterais são espessos e fornecem um bom Lesões da articulação trapézio-metacarpal
suporte para a articulação. A placa volar contém dois os­ A luxação da articulação trapézio-metacarpal do pole­
sos sesamoides que são inserções para o flexor curto do gar é uma lesão incomum (Fig. 11.81). O mecanismo é
polegar (sesamoide radial) e adutor do polegar (sesamoide habitualmente indireto, quando uma força longitudinal é
ulnar). Levando-se em conta a mobilidade dessa articula­ dirigida ao longo do eixo do polegar com a articulação
ção, as luxações aqui são muito mais comuns do que nos em flexão. As lesões associadas incluem fraturas carpais
Emergências Ortopédicas 219

Figura 11.81 Luxação carpometacarpal do polegar.

e metacarpais. O tratamento é a redução imediata seguida


de imobilização em tala gessada incluindo o polegar
(Apêndice A.7), inicialmente, e então um gessado (Apên­
dice A.6) por seis semanas. A falha em manter a redução
fechada ou a apresentação retardada requer a fixação com
pinagem percutânea.

Polegar do guarda-caça
A ruptura do ligam ento colateral ulnar é 10 vezes mais
comum do que a lesão do ligamento colateral no lado
radial. Essa lesão pode ser muito incapacitante, já que o
paciente tem uma pinça fraca e não consegue resistir ao
estresse de adução. Essa lesão é chamada de polegar do
guarda-caça com base em uma descrição da frouxidão do
ligamento colateral ulnar nos guarda-caças escoceses de­
vido a seu método para quebrar os pescoços das lebres
feridas. Também é comum em esquiadores (polegar do
esquiador) que tenham caído quando o bastão do esqui
abduz o polegar na articulação MCE Se a lesão passar
despercebida, pode resultar em incapacidade significativa.
Para diagnosticar a lesão do ligamento colateral ul­
nar, o examinador faz um estresse em direção radial, com
a articulação MCF em flexão (Fig. 11.82). A flexão per­ /
mite que a placa volar relaxe e torna o teste mais sensí­
vel. O grau de abertura é comparado com o lado normal. Figura 11.82 Exame da ruptura do ligamento colateral ulnar
Se houver suspeita de uma ruptura parcial ou completa, o do polegar na articulação MCF.
paciente recebe uma tala incluindo o polegar.
220 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

bem localizada sobre o tendão envolvido. A condição


pode ocorrer de novo, mas em geral se apresenta depois
de estresse repetitivo do tendão envolvido. O edema e o
eritema são infrequentes com a tendinite simples. Quando
os flexores dos dígitos estão envolvidos, a sensibilidade
dolorosa ocorre mais sobre a área da articulação MCE O
tratamento é a injeção local com esteroide, que oferece
alívio excelente.
A tenossinovite geralmente ocorre sem uma causa pre-
cipitante reconhecida; contudo, uma história de estresse ex­
cessivo no tendão é relatada em muitos casos. O local mais
comum para essa forma de tendinite é a bainha dos tendões
extensores. Ao exame, o paciente tem edema subcutâneo
mole, não doloroso, sobre a base da mão, confinado à área
proximal e ao retináculo extensor. Em alguns pacientes, é
Figura 11.83 Se a aponeurose do adutor do polegar se torna
possível ver uma deformidade em forma de haltere, com
entremeada entre as duas extremidades rompidas do ligamento
edema em ambos os lados do retináculo extensor. A mesma
colateral ulnar, a cicatrização não ocorre.
condição pode ser percebida com os flexores, mas frequen­
temente não é reconhecida devido ao acolchoamento de
O tratamento definitivo depende do grau de abertu­ gordura e a pele espessada da palma. É comum que os ten­
ra articular presente. Se a articulação abrir menos de 20°, dões flexores distais à articulação MCF estejam afetados,
existe instabilidade que não é cirurgicamente corrigível. o que é facilmente reconhecido. O tratamento consiste em
O polegar deve ser imobilizado na posição de função por repouso e injeção com esteroides. A injeção de esteroides
três semanas. Se houver mais de 20° de instabilidade, o habitualmente oferece alívio rápido. A mudança em qual­
paciente é encaminhado para o reparo desse ligamento. quer atividade precipitante é aconselhável.
Infelizmente, quando houver mais de 20° de instabilidade, A tendinite dos tendões extensores habitualmente afe­
a imobilização isolada é ineficaz em dois terços dos casos, ta um dos seis compartimentos desses tendões. A tendinite
pois a aponeurose do adutor do polegar se toma interposta dentro do primeiro compartimento, que contém o abdutor
entre as extremidades do ligamento rompido, e este não longo do polegar e o extensor curto do polegar, é chamada
consegue cicatrizar (Fig. 11.83). de tenossinovite de Quervain. Uma discussão adicional
Embora alguns cirurgiões acreditem que 40° de aber­ sobre essa condição é fornecida no Capítulo 8. A síndro­
tura possam ser tratados sem cirurgia, é recomendável que me de interseção é uma tendinite mais proximal, dentro
todos aqueles com mais de 20° de abertura articular sejam do segundo compartimento extensor, comumente vista em
encaminhados ao ortopedista. Os pacientes com polegar remadores e halterofilistas. A tendinite dentro do tercei­
de guarda-caça têm sido tratados com sucesso com um ro compartimento, afetando o extensor longo do polegar
imobilizador customizado de polegar para reduzir o mo­ é rara, mas, quando ocorre, é sobre o tubérculo de Lister.
vimento que simule a lesão. A reconstmção ligamentar Isso pode acontecer depois de uma fratura de Colles. Os
cirúrgica demonstrou ser efetiva em obter a estabilidade pacientes com tendinite do extensor do dedo indicador
indolor, mesmo que retardada por anos após a lesão.
88 (quarto) ou dedo mínimo (quinto) se apresentam com dor
no punho, que é reproduzida com a flexão passiva com­
pleta do punho. Os pacientes que se apresentam com te­
SÍNDROMES DE USO EXCESSIVO nossinovite estenosante do tendão extensor ulnar do carpo
(sexto) com frequência requerem a liberação cirúrgica.
Miosite
A tendinite do flexor ulnar do carpo pode ser bilateral
A dor muscular na mão pode ocorrer com a atividade em e requerer a excisão cirúrgica do pisiforme. A tendinite do
um paciente sem condicionamento. O tratamento consis­ flexor radial do carpo causa sensibilidade dolorosa local
te em repouso, agentes anti-inflamatórios não esteroides logo proximal à eminência tenar e dor com desvio radial
e evitar futura atividade similar. Se a dor persistir, outras do punho. Os pacientes com tendinite dos flexores dos
fontes, como distensões, entorses, fraturas de estresse ou dedos se apresentam com dor em agulhada ou queimação
síndrome compartimentai crônica do exercício são con­ proximal ao túnel do carpo, que imita a síndrome do túnel
sideradas. do carpo.

Tendinite Polegar do jogador de boliche


A tendinite está presente quando a tensão ativa e passiva Essa condição é devida à fibrose perineural, que é cau­
dos tendões acentua a dor. A sensibilidade dolorosa está sada pela compressão do nervo digital ulnar do polegar.
Emergências Ortopédicas 221

A B

Figura 11.84 A . O dedo em gatilho ocorre quando um espessamento fibroso do tendão não permite que ele deslize pela polia. B .
Fotografia clín ica de um dedo bloqueado devido ao dedo em gatilho.

Como forma clássica de apresentação, ocorre devido às Dois tipos de dedo em gatilho ocorrem: difuso e no­
alterações adaptativas na resposta à crônica inserção e dular. )3,9‘ A distinção é feita com base nos achados do
compressão do polegar ao segurar uma bola de boliche. exame físico. O tipo nodular é mais comum e responde
Também já foram implicadas outras atividades, como bei­ à injeção de esteroides, com taxa de sucesso de 93%. 3,95
sebol e lesões ocupacionais. Uma forma aguda de polegar Para o tipo difuso, a taxa de sucesso com injeção de es­
do jogador de boliche também foi descrita. Os pacientes teroides é menos expressiva, com somente metade dos
se queixam de formigamento e hiperestesia na polpa do pacientes exibindo melhora.94
polegar. Habitualmente, um nódulo doloroso e palpável As radiografias não devem ser obtidas, pois não mu­
está presente no lado ulnar do polegar. dam o manejo. O tratamento consiste em massagens,
gelo, medicamentos anti-inflamatórios não esteroides e
Dedo em gatilho imobilização. Se o dedo estiver bloqueado, a intervenção
cirúrgica é necessária. Para graus menores de engatilha-
Também conhecida como tenossinovite estenosante, é uma mento, é recomendada uma injeção de lidocaína (1 mL)
condição idiopática que ocorre mais comumente em mu­ e triancinolona 40 mg/mL(0,5 mL) na bainha do tendão.
lheres de meia-idade. Uma forma secundária ocorre em O local da injeção fica sobre o aspecto lateral do dedo,
pacientes com distúrbios do tecido conjuntivo. Os achados entre a prega das articulações IFP e IFD. Para evitar o fei­
clínicos incluem o bloqueio doloroso da flexão e da ex­ xe neurovascular, uma abordagem mais dorsal pode ser
tensão, quando um nódulo em um tendão flexor bate na feita. Depois de inserir uma agulha nQ25, é solicitado ao
poha do tendão na articulação MCE Às vezes, o paciente paciente para mover o dedo. Um leve ranger da agulha
se queixa somente da articulação IFP, que é o local de dor será sentido, mas o movimento paradoxal da agulha e
referida da poha flexora proximal. da seringa sugere que a agulha está no tendão e deve ser
Os dedos anular e médio são os mais comumente en­ retirada. A abordagem palmar também pode ser usada,
volvidos, mas qualquer dedo pode ser afetado, incluindo porém é mais dolorosa e, por conseguinte, não é recomen-
o polegar. O fechamento ativo do punho reproduz o blo­ dada. ’ A injeção guiada por ultrassom tem se provado
queio ou o estalo, conforme o tendão desliza pela poha muito útil.
(Fig. 11.84 e Vídeo 11.6). Se o edema for proximal à po­ Após a injeção, a extensão do dedo costuma ser pos­
ha, então o dígito pode flexionar, mas não consegue esten­ sível. A articulação MCF deve ser imobilizada em exten­
der facilmente. Entretanto, se o edema for distai à poha, o são, com movimentação hvre das articulações IFP e IFD.
dedo flexiona passivamente, mas não ativamente. Isso permite que o nódulo descanse debaixo da poha do
222 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

► TABELA 11.1 Patógenos comuns nas infecções da mão

Infecção Organismo mais provável


Panarício 5. aureus, anaeróbios orais
Tenossinovite dos flexores 5. aureus, Streptococcus,
bactérias gram-negativas
Pãroníquia herpética Herpes simples 1 e 2
Infecção do espaço 5. aureus, anaeróbios, bactérias
profundo gram-negativas
Celulite Streptococcus spp.
Usuário de drogas IV Gram-positivos e negativos,
anaeróbios, 5. aureus
Mordedura humana S. aureus, Eikenella corrodens,
anaeróbios
Mordedura de animal Pasteurella, Cocos gram-positivos,
anaeróbios

Figura 11.85 Granulom a piogênico.


Esse método obteve a taxa de sucesso de 85% em um
estudo, mas precisou mais de um tratamento na maioria
tendão flexor. Uma tala removível é usada por 7 a 10 dias dos casos. A recidiva é menos provável com a remoção
(Apêndice A.2). cirúrgica completa, deixando uma margem de tecido nor-
, 100,103
A terapia definitiva pode requerer injeções repeti­ mal.
das de esteroides. As injeções são separadas por um mês.
Quando for ineficaz, a liberação cirúrgica ou liberação INFECÇÕES
percutânea da polia A l é executada pelo cirurgião de mão.
A liberação percutânea pode ser executada como um pro­ Muitos aspectos favorecem o desenvolvimento das infec­
cedimento ambulatorial. ções na mão, incluindo corpos estranhos retidos, curati­
vos apertados ao redor de feridas ou estados congestivos
após fraturas. O Staphylococcus aureus é isolado em 50%
GRANULOMA PIOGÊN ICO
de todas as infecções da mão, seguido pelo Streptococcus
Este é um tipo benigno de tumor vascular granulomatoso p-hemolítico, que responde por 15% (Tab. 11.1). Outros
que ocorre na polpa volar ou na área periungueal de um organismos comuns incluem A erobacter aerogenes, E n te­
dedo (Fig. 11.85). É uma estrutura solitária, peduncula- rococcus e E scherichia coli. A E ikenella corrodens é um
da ou séssil, que sangra facilmente com mínimo trauma. organismo que é isolado de aproximadamente um terço das
94
É minimamente doloroso. Os granulomas piogênicos se feridas por mordeduras humanas. A Pasteurella multoci-
desenvolvem durante um período de um a três meses em da, um facultativo anaeróbio, está presente na flora oral de
um local onde a prévia lesão ou penetração de corpo es­ cerca de dois terços dos gatos e metade dos cães domésti­
tranho tenha ocorrido. O tamanho do granuloma pode ser cos.9 A infecção com esses organismos é rápida e associada
de até 2 cm de diâmetro, mas tem em geral em tomo de 3 com significativa celulite e linfangite. Organismos múlti­
a 5 mm. A origem dos granulomas piogênicos é obscura, plos, contudo, são isolados de 70% de todas as infecções
embora se acredite que eles representam um distúrbio da da mão. A inflamação rápida que ocorre dentro de algumas
100
angiogenese. horas em geral indica que o Streptococcus é o organismo
A remoção das lesões maiores é o tratamento de es­ infectante, em contraste com o S. aureus, que demora vários
colha. Vários métodos foram descritos, incluindo a apli­ dias para desenvolver uma infecção. As características de
cação de nitrato de prata, eletrocautério, avulsão e exci- infecção na mão incluem o calor, o eritema e a dor. O edema
são cirúrgica. Um método para remoção é descrito a e a sensibilidade dolorosa são outros sinais. As infecções
seguir: que envolvem os tendões causam limitação dos movimentos
e sensibilidade dolorosa sobre o tendão afetado.
1. Um torniquete digital é colocado. O suporte principal de tratamento de qualquer infec­
2. A lesão é excisada com a superfície da pele. ção da mão inclui a imobilização e a elevação, como tam­
3. A base da lesão é cauterizada com aplicação de nitra­ bém os antibióticos apropriados. A escolha de antibióticos
to de prata. tem mudado recentemente, com o surgimento nos casos
4. Após a remoção, o paciente é instruído para manter a de S. aureus meticilina-resistente (SAMR) adquirido na
lesão seca por duas semanas. A lesão é deixada cica­ comunidade. A clindamicina ou a combinação de sulfa-
trizar por segunda intenção. metoxazol e trimetoprima (Bactrin®) são boas opções
Emergências Ortopédicas 223

e funciona muito melhor do que uma tipoia para elevar a


mão. A profilaxia do tétano deve ser administrada quando
qualquer ferida for notada em pacientes que não tenham
sido imunizados. A imobilização deve ser feita em uma
posição que permita a drenagem máxima para todas as in­
fecções da mão (Apêndice A.5).

Furúnculo ou carbúnculo
Os furúnculos ou carbúnculos da mão são comuns e ocor­
rem sobre regiões pilosas (Fig. 11.87A). Essas infecções
são causadas por S. aureus e, quando vistas precocemente,
podem ser tratadas com repouso, imobilização, elevação e
antibióticos sistêmicos. Uma vez que o abscesso esteja bem
localizado, a drenagem ocorre de forma espontânea ou por
uma incisão pequena feita sobre o ponto de flutuação máxi­
ma com um bisturi de lâmina 11. A aplicação de compressas
mornas facilita a drenagem. Se essas infecções não forem
adequadamente tratadas, podem levar à celulite da mão.
Figura 11.86 Um curativo usado para elevação da m ão.
A m alha tubular é ap licad a ao longo de toda a extrem idade Celulite
superior e cortada em ambas as extremidades para formar um A celulite pode ocorrer depois de abrasão, punção ou qual­
" Y " . A m alha é ajustada sobre a extrem idade superior e as
quer ferida da mão que tenha sido imobilizada de forma
pontas são então amarradas.
inadequada ou negligenciada (Fig. 11.87B). Essa infecção
é comum em usuários de drogas intravenosas. A celulite
iniciais para pacientes que serão provavelmente libera­ pode se desenvolver rápida ou lentamente, dependendo do
dos. Em infecções mais graves, a vancomicina deve ser agente causador. A mão deve ser imobilizada para con­
considerada. A combinação de amoxicilina e clavulanato trolar a congestão, e o membro é elevado. Em casos nos
(Clavulin®) permanece o antibiótico de escolha para as quais a celulite esteja progredindo rapidamente, durante
mordeduras humanas e animais. O profissional deve estar um período de horas, a intervenção operatória deve ser
familiarizado com os padrões de sensibilidade bacteria- considerada por causa da probabilidade de infecção ne-
na de sua comunidade e instituição. As culturas da ferida crosante de tecidos moles. As infecções necrosantes de
devem ser obtidas de qualquer paciente enfermo, sempre tecidos moles requerem descompressão e debridamento
que o fluido estiver disponível. imediatos, também antibióticos intravenosos. Os pacien­
A elevação da mão pode ser realizada usando uma tes com celulite que comprometa a função da mão devem
malha tubular (Fig. 11.86). É um curativo de baixo custo ser hospitalizados.

Figura 11.87 A . Carbúnculo no dorso da mão. B . Celulite do segundo dedo.


224 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Figura 1 1 .8 8 A . Paroníquia. B. Eponiquia


(com parar ao dedo norm al). C. Drenagem de
uma paroníquia.

Paroníquia e eponíquia Pànarício


A p a ro n íq u ia é uma infecção da prega da unha no lado O p a n a rício é um abscesso subcutâneo do espaço pulpar,
radial ou ulnar (Fig. 11.88A). O termo eponíquia é usado na ponta distal do dedo (Fig. 11.89A). Essa infecção fica
quando houver envolvimento da prega basal da unha (Fig. dentro dos septos fibrosos verticalmente orientados que
11.88B). Elas podem estar associadas com celulite quan­ se originam no periósteo e se inserem na pele. b Não tra­
do a infecção se estender, proximalmente, para dentro dos tada, essa infecção pode se espalhar, infectando a falange
tecidos em tomo da prega ungueal. O paciente típico entra distai ou a bainha do tendão flexor. Clinicamente, existe
no setor de emergência com um abscesso bem localizado, o aparecimento rápido de dor pulsátil e edema distai à ar­
em tomo da prega ungueal, ou na base da unha. A maioria ticulação IFD.
deles é causado por infecção estafilocócica e são tratados A infecção inicial é tratada por elevação, antibióticos
por incisão e drenagem. É usado um bisturi de lâmina 11, orais e imersões mornas, embora a maioria dos pacien­
e a “incisão” é feita segurando a lâmina contra a unha e tes se apresente mais tarde e necessite de drenagem. A
entrando no abscesso pela prega ungueal (Fig. 11.88C e incisão e a drenagem devem ser no p o n to d e se n sib ili­
Vídeo 11.7). A prega ungueal é simplesmente elevada, e a dade d o lo ro sa m á xim a nessas infecções. Existe alguma
drenagem ocorre. O paciente deve ser aconselhado a con­ controvérsia em relação à melhor incisão para tratar um
tinuar com a imersão do dedo em água morna. Se houver panarício. A preferência do autor é por uma incisão
celulite proximal, o paciente recebe a prescrição de anti­ longitudinal na linha média, que poupa a prega de flexão
bióticos orais. (Fig. 11.89B). Isso evita a lesão em vasos e nervos digi­
Se a condição não for apropriadamente tratada, um tais. O bisturi é usado para penetrar somente na derme,
abscesso subungueal ou panarício pode desenvolver- e uma pinça hemostática tipo mosquito é usada para dis­
-se. Um abscesso subungueal eleva a unha do seu leito secar com suavidade os tecidos moles até que a cavidade
e é drenado removendo-se a base da unha sob anestesia do abscesso seja drenada. Uma incisão longitudinal uni­
com bloqueio digital. A placa ungueal distai não é exci- lateral (“lateral alta”) também é aceitável se a flutuação
sada. Um pequeno curativo de gaze reticulada é inseri­ for notada lateralmente, mas deve ser tomado cuidado
do para separar a matriz da prega eponiquial por alguns para evitar lesão dos ramos terminais dos nervos digi­
dias. tais. 05,10É Especificamente, a incisão deve correr dorsal
Emergências Ortopédicas 225

Espaço
mediopalmar

Espaço
tenar

Espaço subaponeurótico dorsal Espaço


hipotenar

Figura 11.90 Anatom ia transversal da mão, demonstrando


os espaços subaponeuróticos tenar, mediopalmar, hipotenar e
dorsal.

provocando necrose e isquemia, levando à anestesia da


ponta do dígito e produzindo uma cicatriz mais dolorosa
B C que a incisão na linha média.
Figura 11.89 A. Panarício. B. Drenagem via incisão longitudi­ Após a drenagem, o dedo recebe um curativo é imo­
nal. C. Drenagem via incisão lateral alta. bilizado, o paciente inicia um curso de antibióticos por 10
dias. Ele é instruído a elevar o dedo por 48 horas. Após
esse período, o curativo é removido, a ferida reexaminada
à borda da prega de flexão da IFD. Outras incisões para e são iniciadas as trocas de curativo, duas vezes ao dia,
esse problema comum foram defendidas (boca-de-peixe, com imersão em soro fisiológico. A ferida cicatriza por
transfixante, palmar transversa, em “L aberto”), todas segunda intenção.

Figura 11.91 A. Abscesso do espaço interdigital (botão do colarinho) (Fotografia: contribuição de Kyle Jeray, utilizada com permis­
são). B. Infecção do espaço tenar.
226 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

drenagem, elevação e antibióticos. A consulta especiali­


zada é apropriada.

Infecção do espaço mediopalmar


A infecção aqui é secundária à (1) extensão de uma in­
fecção das bainhas flexoras adjacentes ou (2) uma ferida
com objeto pontiagudo na palma da mão. A fáscia palmar
está sob grande tensão e o edema máximo se forma acima
do dorso. Entretanto, o ponto de sensibilidade dolorosa
máxima é o mediopalmar. A concavidade da palma é per­
dida. Este abscesso requer a drenagem imediata na sala
de cirurgia.

Infecção do espaço subaponeurótico dorsal


O dorso é coberto por pele frouxa e redundante que per­
mite acumular edema significativo por quaisquer das
infecções que ocorram em outro lugar na mão. O ede­
ma dorsal deve ser diferenciado das infecções ao longo
do dorso da mão, isto é, o espaço subaponeurótico que
é contido pelos tendões extensores e os metacarpais. A
infecção no dorso devido a um abscesso subcutâneo ou a
uma infecção do espaço subaponeurótico é acompanha­
da de sensibilidade dolorosa, que não está presente no
edema dorsal simples. Essas infecções em geral reque­
Figura 11.92 A infecção do espaço interdigital deve ser dre­
rem drenagem por incisões múltiplas e a consulta com
nada por uma incisão dorsal longitudinal entre os dedos. um cirurgião de mão.

Infecções do espaço profundo


Existem cinco espaços potenciais localizados no fundo da
mão que representam locais potenciais de infecção (Fig. Bainhas
11.90). Essas infecções, chamadas de infecções do espaço tendíneas
subfascial profundo, representam 5 a 15% de todas as infec­
ções da mão. O médico da emergência deve distinguir entre
as infecções do espaço interdigital, espaço mediopalmar, es­
paço aponeurótico dorsal, espaço tenar e espaço hipotenar.

Infecção do espaço interdigital


As infecções do espaço interdigital se apresentam com
edema doloroso do espaço interdigital e das regiões pal­
mares distais (Fig. 11.91 A). A dor e o edema são notados
em ambas as superfícies, dorsal ou volar, mas são de há­
bito mais acentuados no dorso. Dependendo do grau de
edema, os dedos podem estar abduzidos. Tais infecções
também são conhecidas como abscesso do botão do co la ­ Bolsa Bolsa
rinho e são frequentemente causadas por uma ferida com ulnar radial
objeto pontiagudo no espaço interdigital. W
Jj
O tratamento inclui a drenagem com incisão dorsal
entre os dedos. A direção da incisão é controversa; entre­
tanto, uma incisão longitudinal no espaço interdigital tem I HL / II
sido preconizada para evitar contratura (Fig. 11.92). Figura 11.93 As bainhas dos tendões flexores da mão. Notar
Uma incisão volar também pode ser necessária. Essa que a bainha flexora do flexor longo do polegar se com unica
infecção com frequência provoca rigidez na articulação com a bolsa radial e a bainha do dedo mínimo se com unica
MCF, a menos que tratada precocemente com incisão e com a bolsa ulnar.
Emergências Ortopédicas 227

A B

Figura 11.94 Tenossinovite flexora do segundo dedo. A. Aumento simétrico do dígito. B. Posição de repouso em flexão

Infecção do espaço tenar tes sexualmente ativos sem história de trauma. Por não ha­
Essa infecção é diagnosticada notando considerável edema ver nenhuma obstmção ao espalhamento da infecção, toda
e sensibilidade dolorosa tenar e no primeiro espaço inter­ a bainha do tendão é envolvida.
digital (Fig. 11.91B). O paciente abduz o polegar porque Kanavel descreveu os quatro sinais cardinais da te­
o volume dentro do espaço tenar é maior nessa posição. nossinovite aguda dos flexores que estão presentes (Fig.
O examinador também produz dor com a adução ou opo­ 11.94):108’109
sição passiva. Essas infecções requerem drenagem por in­ 1. Sensibilidade dolorosa excessiva sobre o curso da
cisões múltiplas e a consulta com um cirurgião de mão. bainha do tendão, limitada à bainha.
2. Aumento simétrico do dedo inteiro.
Infecção do espaço hipotenar
3. Dor excmciante ao estender passivamente o dedo, ao
Tal infecção é extremamente rara. Edema e sensibilidade longo de toda a bainha.
dolorosa são observados na eminência hipotenar. O tra­
4. Posição de repouso do dedo em flexão.
tamento envolve uma incisão longitudinal no aspecto ul-
nar da palma e é mais adequadamente executada por um
consultor em cirurgia de mão.

Tenossinovite dos flexores


Os tendões flexores são cobertos por uma bainha tendínea
fechada e por bolsas que podem tomar-se infectadas por
ferimentos provocados por objetos pontiagudos ou lace­
rações (Fig. 11.93). As pregas articulares, onde o tendão
e a sua bainha circundante estão em proximidade íntima
da pele, são particularmente suscetíveis. O S. aureus e o Figura 11.95 Testando uma tenossinovite flexora supurativa
Streptococcus são os agentes infectantes mais comuns. aguda. O levantamento da unha do dígito envolvido sem palpar
A gonorreia disseminada deve ser considerada em pacien­ o tendão causa dor intensa.
228 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

tadas por mordeduras em brigas envolve o debridamento,


a irrigação completa, a imobilização (Apêndice A.5), a
elevação e os antibióticos sistêmicos. Os antibióticos in­
cluem um inibidor da (3-lactamase (ampicilina-sulbactam)
ou uma cefalosporina de segunda geração (cefoxitina).
A hospitalização e o debridamento cirúrgico estão indica­
dos se a ferida estiver infectada.
Se a lesão não estiver infectada na hora da apresen­
tação, é indicada a sua exploração cuidadosa no setor
de emergência. Ela deve ser cuidadosamente estendida
e explorada para excluir alguma lesão de tendão ou en­
volvimento articular (Vídeo 11.8). Se essas lesões forem
excluídas, o paciente pode ser tratado de forma conser­
vadora, em base ambulatorial. A irrigação é feita e a
Figura 11.96 Lesão por mordedura em briga sobre a articula­ ferida cicatriza por segunda intenção. Os antibióticos pro­
ção M CF do dedo médio. filáticos são administrados e o acompanhamento é organi­
zado nos próximos um a dois dias.

A extensão passiva do dedo alonga o saco sinovial


Mordeduras de animais
envolvido e resulta em dor. Isso é mais adequadamente
realizado evitando a palpação do dedo diretamente e es­ Em tomo da metade de todas as pessoas nos Estados
tendendo o dedo ao erguer somente a unha (Fig. 11.95). Unidos são mordidas por um animal em algum momento
Esses pacientes são imobilizados e a mão é elevada. de suas vidas. As mordidas de cães são as mordeduras
Os antibióticos intravenosos são administrados ainda no mais comuns, respondendo por 80% do total e até 1,5% de
setor de emergência. A consulta com um cirurgião de mão todas as consultas no setor de emergência. 11,112 Cerca de
é obtida, e o paciente é hospitalizado para receber antibió­ 15 a 20% das feridas de mordidas de cães se tornam infec­
ticos intravenosos apenas se a infecção for inicial (dentro tadas. A infecção é mais provável em feridas profundas,
de 24 horas). Se a infecção estiver bem-estabelecida ou feridas com esmagamento, feridas perfurantes e feridas
nenhuma melhora for vista com os antibióticos, o trata­ nas mãos. A R m ultocida, o S. aureus e os organismos
mento cirúrgico é necessário. As incisões limitadas e a anaeróbios respondem pela maioria dos casos. O clavu-
irrigação com cateter isolado estão se tomando mais co­ lanato é o antibiótico de escolha, administrado profilati-
muns como meio para evitar a cimrgia mais invasiva. camente por três a sete dias em feridas de alto risco e por
Se tratadas de modo inadequado, essas infecções podem duas semanas se a celulite já estiver presente. A profilaxia
resultar em fibrose tendínea crônica ou desenvolvimento do tétano é administrada como em qualquer ferida. A hos­
de infecção no espaço profundo da mão. pitalização é recomendada para pacientes com enfermida­
de sistêmica, naqueles com celulite de disseminação rá­
Lesões por mordeduras em brigas pida, ou no envolvimento de osso, articulação ou tendão.
As mordeduras de gatos domésticos respondem por so­
Uma ferida por mordedura humana é uma lesão muito mente 5% de todas as mordidas de animais, mas 50% fica­
grave, especialmente quando ocorrer acima de tecidos rão infectadas devido aos dentes finos e cortantes dos gatos,
mal vascularizados como os ligamentos, as articulações que inoculam bactérias profundamente nos tecidos. 1111,114
ou os tendões da mão. A incidência total de infecção em São recomendados a irrigação e o debridamento, e a ferida
mordidas humanas é de 10%. Embora uma variedade de não é fechada primariamente. O organismo mais comum
organismos esteja envolvida, os patógenos principais são em mordidas de gato é a P m ultocida, mas Staphylococcus,
os Streptococcus anaeróbios e o 5 . aureus. Streptococcus e anaeróbios também são vistos. O clavulana-
As lesões na mão, em especial na articulação MCF, to é o antibiótico mais usado para a profilaxia e a infecção.
após uma luta de socos, são chamadas de “lesões de pu­
nho fechado” ou de “mordida por briga”. As mordidas de
REFERÊNCIAS
briga são autosselantes e propensas à infecção de tecidos
moles, espaço articular e bainha tendínea. O desafio adi­ 1. HainlineB. Nerve injuries .MedClinNorthAm 1994;78(2):
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Capítulo 12
Punho
INTRODUÇÃO e fornecem maior estabilidade. A lesão desses ligamen­
tos resulta em instabilidade carpal e será abordada mais
O punho inclui oito ossos do carpo que se articulam com adiante neste capítulo.
o rádio proximalmente e com os metacarpais distalmente. Muitas estruturas neurovasculares importantes pas­
Os movimentos incluem a flexão, a extensão, o desvio ra­ sam através do canal de Guyon, formado pelo pisiforme
dial e o desvio ulnar. Os ossos do carpo são divididos em e pelo gancho do hamato (Fig. 12.2). O ramo profundo do
uma fileira proximal de quatro ossos e uma fileira distai nervo e a artéria ulnar suprem os três músculos hipotena-
de quatro ossos (Fig. 12.1). A fileira proximal, das super­ res, os interósseos, os dois lumbricais ulnares e o adutor
fícies radial para ulnar, inclui o escafoide (navicular), o do polegar. Uma fratura do hamato ou do capitato pode
semilunar, o piramidal (triangular) e o pisiforme. A fileira resultar em dano no feixe neurovascular e subsequente dé­
distai, das superfícies radial para ulnar, inclui o trapézio ficit da função normal. O nervo mediano fica próximo às
(multiangular maior), trapezoide (multiangular menor), superfícies volares do semilunar e do capitato e pode ser
capitato (grande osso) e hamato (unciforme). O pisifor­ lesionado após uma fratura.
me fica adjacente à superfície volar do piramidal e não se É essencial entender a relação entre os tendões e os
articula com os ossos de antebraço ou com quaisquer dos ossos do carpo. O tendão do flexor ulnar do carpo engol­
ossos restantes do carpo. fa o pisiforme em sua inserção. A proximidade do fle­
Dos ossos do antebraço, somente o rádio se articula xor radial do carpo ao tubérculo do trapézio também é
com os ossos do carpo. A ulna tem uma união fibrocar- notável. As fraturas do trapézio podem resultar em dano
tilaginosa não óssea com o piramidal e com o rádio, co­ tendíneo, com subsequente dor durante o movimento
nhecida como o complexo da fibrocartilagem triangular normal.
(CFCT). A ulna se articula com o rádio na articulação
radioulnar distai (ARUD). A membrana interóssea, os li­
gamentos radioulnares dorsais e palmares e o CFCT esta­ Exame
bilizam a articulação. A lesão nos ossos ou nos ligamentos Um exame meticuloso combinado com um conhecimento
da ARUD pode afetar significativamente a mecânica do detalhado da anatomia ajuda no diagnóstico preciso das
punho, levando à subluxação ou luxação e, se não tratada, lesões no punho. A sensibilidade dolorosa localizada de
pode resultar em problemas de longo prazo.
Os ligamentos do punho são considerados extrínsecos
se unirem os ossos do carpo ao rádio, à ulna ou ao meta-
carpo; e intrínsecos quando conectarem os ossos do carpo
entre si. Os ligamentos do punho também são classifica­
dos como dorsais, volares ou interósseos. Os ligamentos
volares são mais fortes do que suas contrapartidas dorsais

Ossos metacarpais:
5q 4e go 2o 1B

Figura 12.2 As várias estruturas neurovasculares importantes


do punho estão confinadas dentro do canal de Guyon.
Emergências Ortopédicas 233

Extensor
longo do «
polegar

Extensor curto do polegar


e abdutor longo do polegar

Figura 12.3 A tabaqueira anatômica.

um osso ou uma articulação habitualmente indica a estru­


tura envolvida.
A porção radial do punho tem várias estruturas ósseas Figura 12.4 Com o polegar flexionado, a primeira articulação
palpáveis importantes. Com a mão desviada levemente carpometacarpal pode ser visualizada e palpada.
em direção radial e o polegar estendido, a tabaqueira ana­
tômica fica proeminente (Fig. 12.3). O aspecto dorsal é
composto do extensor longo do polegar, enquanto os ten­ foide, no mesmo eixo do dedo indicador. A crista compõe
dões do extensor curto do polegar e do abdutor longo do a borda ulnar do canal de Guyon.
polegar formam a borda palmar da tabaqueira. A borda
proximal da tabaqueira é o estiloide do rádio, seguido pelo Imagens
escafoide na base proximal e o trapézio na base distai. Se
O número mínimo de incidências radiográficas inclui uma
o polegar for agora flexionado, a primeira articulação car-
vista posteroanterior (PA), uma lateral e uma oblíqua com
pometacarpal é palpada distai ao trapézio (Fig. 12.4).
o punho em posição neutra (Fig. 12.10).
Conforme o examinador movimenta o dorso do pu­
Os ossos do carpo são mais bem visualizados na in­
nho, o tubérculo de Lister do rádio distai pode ser palpado
cidência em PA. Os três arcos carpais devem ser identifi-
(Fig. 12.5). Esse tubérculo serve como um marco para lo­
calizar o semilunar e o capitato. Com a mão em posição
neutra, existe uma pequena endentação na pele que cor­
responde ao capitato (Fig. 12.6A). Com a mão em flexão,
o semilunar se torna facilmente palpável, logo distai ao
tubérculo de Lister (Fig. 12.6B). O tubérculo de Lister e
o capitato formam uma linha reta que atravessa o terceiro
metacarpal (Fig. 12.7). O piramidal pode ser palpado logo Fossa
distai ao estiloide ulnar (Fig. 12.8). semilunar

No punho volar e ulnar, o pisiforme é facilmente pal­


pado na base da eminência hipotenar (Fig. 12.9A). O ten­
dão do flexor ulnar do carpo se insere no pisiforme e é
mais adequadamente examinado com o punho fechado e
flexionado. O gancho do hamato pode ser palpado colo­
cando a articulação interfalângica (IF) do polegar sobre o
pisiforme, com a falange distai dirigida ao espaço interdi­
gital entre o polegar e o dedo indicador. Com a palpação
profunda, o gancho do hamato pode ser sentido sob a pon­
ta do polegar do examinador (Fig. 12.9B).
Por fim, as estruturas volares e radiais incluem a tu-
berosidade do escafoide e o tubérculo do trapézio. Com o
punho em desvio radial, a tuberosidade do escafoide é a
estrutura mais proeminente palpada. A crista do trapézio é Figura 12.5 O tubérculo de Lister pode ser palpado sobre o
encontrada pela palpação logo distai em linha com o esca- aspecto dorsal do rádio.
234 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Figura 12.6 A fossa do semilunar. A. Palpação. B. Com a mão em posição neutra, existe uma pequena endentação na pele que
corresponde ao capitato. C. Com a mão em flexão, o sem ilunar se torna facilm ente palpável, logo distai ao tubérculo de Lister.

Terceiro
metacarpal

Capitato

Semilunar

Tubérculo de Lister

Figura 12.7 O tubérculo de Lister e o capitato formam uma Figura 12.8 A superfície dorsal do piramidal é palpada logo
linha reta que atravessa o terceiro metacarpal. distai ao estiloide da ulna.
Emergências Ortopédicas 235

Gancho do
Gancho do
hamato
hamato
Pisiforme

A B

Figura 12.9 A. O pisiforme é facilmente palpado na base da em inência hipotenar, no aspecto volar da mão. B. O gancho do ha­
mato pode ser sentido com a palpação profunda, sob a ponta do polegar do examinador.

C
236 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

cados (Fig. 12.11 A). O primeiro arco é demarcado pela trite ou fratura antiga. A largura normal entre o escafoide
superfície articular proximal do escafoide, do semilunar e o semilunar é de 1 a 2 mm na projeção anteroposterior
e do piramidal. O segundo arco é composto das superfí­ (AP). Espaços superiores a 3 mm são anormais e sugerem
cies articulares distais da fileira proximal. O terceiro arco instabilidade carpal.
consiste na superfície articular proximal do semilunar e A incidência oblíqua é útil para demonstrar melhor as
do hamato. Qualquer ruptura desses arcos sugere uma estruturas radiais. Essa radiografia é obtida com o punho
lesão - fratura, luxação ou ambos. Além disso, o espa­ em 45° de pronação. Nessa incidência, o escafoide distai,
çamento entre os ossos do carpo é constante, indepen­ o trapézio, o trapezoide e a primeira e segunda articula­
dentemente do posicionamento do punho. A variação no ções carpometacarpais podem ser vistas com mais nitidez
espaçamento é anormal e pode refletir em subluxação, ar­ do que na incidência PA.

Figura 12.11 A. O s três arcos carpais. B. O ângulo escafossemilunar


normal é de 30 a 60°. C. O ângulo capitossem ilunar normal é de < 30°.
C
Emergências Ortopédicas 237

A vista lateral é primeiramente avaliada para adequa­ similar ao traçar uma linha através do centro do capitato e
ção. A ulna não deve estar projetada mais de 2 mm dorsal­ do semilunar. O ângulo entre essas linhas deve ser menor
mente em relação ao rádio. Uma vez que a incidência late­ que 30° (Fig. 12.11C).
ral tenha sido determinada como adequada, o profissional Incidências adicionais podem ser obtidas para mais
deve observar o aspecto dorsal do piramidal. O estiloide bem visualizar as fraturas suspeitas. Uma vista em PA
da ulna aponta para o aspecto dorsal do piramidal na in­ com desvio ulnar máximo (incidência do escafoide) per­
cidência lateral. Fraturas com avulsão dorsal do piramidal mite melhor visualização do escafoide. A incidência do
somente serão identificadas na incidência lateral. túnel do carpo é usada para detectar fraturas do gancho do
O alinhamento carpal também é avaliado na incidên­ hamato e do pisiforme. Essa radiografia é obtida com o
cia lateral. As anormalidades constituem uma pista para a punho hiperestendido e o raio dirigido ao aspecto volar do
instabilidade carpal por lesão ligamentar. O profissional punho. Um filme oblíquo adicional com a mão supinada
deve primeiro notar que o rádio, o semilunar e o capitato em 45° demonstra melhor o pisiforme e os aspectos pal­
compõem uma linha reta. O escafoide está projetado so­ mares do piramidal e do hamato.
bre o semilunar em sua porção proximal e, ao estender-se De todas as fraturas do punho, 90% serão visualiza­
mais distalmente, fica posicionado em direção volar. Uma das com essas incidências. Outras técnicas de imagens,
linha traçada através do centro do semilunar e do centro incluindo a tomografia computadorizada (TC), a cintilo-
do escafoide deve perfazer um ângulo entre 30 e 60°. grafia óssea e a ressonância magnética nuclear (RMN),
Esse é conhecido como o ângulo escafossem ilunar (Fig. podem ser necessárias, mas não são habitualmente usadas
12.11B). O ângulo capitossemilunar é medido de forma na consulta inicial.

FRATURAS DO PUNHO
FRATURAS CARPAIS posição do escafoide. O escafoide é classificado como
um osso do carpo proximal. Do ponto de vista anatômi­
Os ossos do carpo são um conjunto complexo de ossos co, entretanto, estende-se bem na área dos ossos distais do
que formam articulações múltiplas. A história e o exa­ carpo. O desvio radial ou a dorsiflexão da mão é limitada
me clínico cuidadosos são necessários para diagnosticar pelo impacto do rádio sobre o escafoide. Com o estresse,
com precisão essas fraturas, pois as radiografias muitas com frequência ocorrem as fraturas.
vezes revelam significativa sobreposição óssea. O esca­
O suprimento sanguíneo do escafoide penetra na cor­
foide não é somente o osso do carpo com maior incidên­
tical pela superfície dorsal, próxima à área da cintura do
cia de fraturas, mas também é uma das fraturas dos ossos
tubérculo. Por conseguinte, não existe suprimento san­
do carpo que passam despercebidas com mais frequên­
guíneo direto à porção proximal do osso. Em razão des­
cia. O piramidal é o segundo osso do carpo mais comu-
se suprimento sanguíneo tênue, as fraturas de escafoide
mente fraturado, e o semilunar é o terceiro em incidência
apresentam tendência para desenvolver união retardada ou
de lesões. As fraturas carpais estão associadas a várias
a necrose avascular.
complicações.
1. Outras lesões. Os pacientes muitas vezes sofrem uma A xio m a: Quanto mais proximal for a fratura do escafoi­
segunda fratura ou uma lesão ligamentar. de,, maior a probabilidade de o osso desenvolver necrose
2. Lesão de nervo. Muitas fraturas carpais estão asso­ avascular.
ciadas a, no mínimo, uma neuropatia transitória do
mediano. As fraturas do gancho do hamato ou do pisi­ É imperativo que o profissional perceba que o pacien­
forme podem ser complicadas pelo comprometimen­ te que se apresenta com o “punho torcido” pode ter uma
to do nervo ulnar. fratura oculta do escafoide. Essa lesão é com frequência
3. Problemas na consolidação. As fraturas carpais e, agudamente excluída com base no exame físico. Como
em especial, as fraturas do escafoide podem sofrer se­ será discutido mais adiante, as radiografias simples não
quelas da não união ou necrose avascular. Em muitos excluem essa fratura.
pacientes, isso ocorre secundário à imobilização ina­
dequada.
A xiom a: Os pacientes que se apresentam com punho tor­
cido devem ter a exclusão do diagnóstico de uma fratura
Fraturas do escafoide aguda do escafoide.
O escafoide é o osso do carpo mais comumente fratura­
do, respondendo por 60 a 70% das lesões carpais. A alta As fraturas do escafoide são divididas em quatro
incidência das fraturas está relacionada ao tamanho e à tipos - do terço médio (cintura), do terço proximal, do
238 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Fratura do terço
proximal

Figura 12.12 Fraturas do escafoide.

terço distai e do tubérculo (Fig. 12.12). Essa classifica­ O teste é executado pelo desvio radial do punho e fazendo
ção lista as fraturas do escafoide em ordem decrescente a palpação sobre o aspecto palmar do escafoide. A com­
de frequência. As fraturas da cintura do escafoide repre­ pressão axial do polegar, alinhado com o primeiro meta-
sentam 70 a 80% de todos os casos. As do terço proxi- carpal, e a supinação contra resistência podem também
mal respondem por 10 a 20% das fraturas do escafoide. produzir a dor de uma fratura do escafoide.8,9Além disso,
A maioria das fraturas do terço distai ocorre em crianças. o desvio ulnar do punho pronado demonstrou produzir dor
Quanto mais proximal for a linha da fratura, maior será a na tabaqueira anatômica em pacientes com fratura do es­
incidência de complicações (proximal > cintura > distai > cafoide e, em um estudo pequeno, a ausência desse acha­
tubérculo). Também foram relatadas fraturas de estresse do teve valor preditivo negativo de 100%.
do escafoide.
Im a g e n s
M e c a n is m o d e le sã o As radiografias de rotina, incluindo as incidências em PA,
As fraturas do escafoide comumente resultam da hiperex- lateral e oblíqua, podem demonstrar a fratura (Fig. 12.13).
tensão forçada do punho. O tipo específico de fratura é de­ Se houver suspeita clínica de uma fratura, deve ser obti­
pendente da posição do antebraço no momento da lesão. da uma incidência do escafoide com desvio ulnar. Apesar
As fraturas do terço médio ocorrem secundariamente ao desse filme adicional, uma fratura pode não ser radiogra-
desvio radial com hiperextensão, resultando em impacto ficamente demonstrada até 6 semanas após a lesão.1 Até
da cintura do escafoide pelo processo estiloide do rádio. 30% das fraturas do escafoide não são visíveis em qual­
quer incidência no contexto agudo. ,12 Um sinal indireto
Exam e de fratura aguda do escafoide é o deslocamento da sua
Ao exame, existe sensibilidade dolorosa máxima sobre o faixa de gordura. Esse achado, contudo, estava presente
assoalho da tabaqueira anatômica. A sensibihdade dolo­ em apenas 50% das fraturas radiograficamente ocultas do
rosa dentro da tabaqueira anatômica demonstrou ser 90% escafoide em um estudo. Em alguns casos, uma incidên­
sensível para detectar as fraturas do escafoide e tem espe- cia de comparação contralateral pode ser útil. Uma RMN
cificidade de 40%. A palpação do tubérculo do escafoi­ limitada do punho demonstrou ser, em estudos múltiplos,
de para a presença de sensibihdade dolorosa tem sensibi­ 100% sensível para detectar as fraturas do escafoide, mes­
hdade similar (87%), com especificidade melhor (57%). mo no contexto agudo.
Emergências Ortopédicas 239

Figura 12.14 Não união de uma fratura do escafoide. Obser­


var as margens escleróticas dos fragmentos e a distância radio-
Figura 12.13 Fratura da cintura do escafoide {seta).
luzente alongada que os separa.

Se uma fratura for identificada, o deslocamento Tratamento


entre os fragmentos de fratura ou uma variação inex­ O tratamento das fraturas do escafoide é controverso
plicável na posição entre os fragmentos em incidências e carregado de complicações. Em geral, as fraturas dis­
diferentes indica fratura instável. A fratura com luxação tais e as transversas consolidam com menos complica­
quase sempre implica deslocamento dorsal do fragmen­ ções, quando comparadas com as proximais ou oblíquas.
to distai e dos ossos do carpo. O fragmento proximal e A imobilização é recomendada; contudo, há controvérsias
o semilunar geralmente mantêm a sua relação normal 1 “S 1 ó
sobre o melhor método. ’ O comprimento apropriado
com o rádio. do gessado que inclua o polegar - acima ou abaixo do
As fraturas do escafoide são, às vezes, confundidas cotovelo - foi estudado em um estudo prospectivo e ran-
com um escafoide bipartido. Essa é uma variante nor­ domizado. Em pacientes com fraturas não deslocadas do
mal que pode ser tomada como uma fratura da cintura. A escafoide, o tempo de união foi mais longo (9,5 versus
presença de uma margem óssea lisa normal é indicativa 12,7 semanas), e a taxa de não união foi maior em pa­
desse achado. Uma fratura antiga do escafoide, que não cientes tratados com imobilização gessada, incluindo o
tenha consolidado corretamente, não deve ser confundida polegar, abaixo do cotovelo. Nenhum achado alcançou
com uma lesão aguda. Em radiografias, a não união será significância estatística, contudo, e o debate entre a imo­
associada a margens escleróticas do fragmento. Além dis­ bilização acima ou abaixo do cotovelo continua. Outro
so, a distância radioluzente que separa os fragmentos será estudo randomizado com 292 pacientes não demonstrou
similar a distância entre os outros ossos do carpo (Fig. qualquer benefício com a imobibzação do polegar. Apesar
12.14). desse estudo, muitos ortopedistas ainda preferem que o
polegar seja imobilizado.
Lesões associadas Como com outras fraturas, o gelo e a elevação são ad­
A maioria (90%) das fraturas do escafoide não tem nenhu­ juntos importantes no manejo inicial das fraturas do esca­
ma lesão associada. As lesões associadas às fraturas do foide. O manejo das fraturas do escafoide é dividido em
escafoide incluem as seguintes: (1) pacientes com suspeita clínica de fraturas do escafoide,
mas sem evidência radiográfica, (2) fraturas não desloca­
• Luxação da articulação radiocarpal
das do escafoide e (3) fraturas deslocadas do escafoide.
• Luxação da fileira carpal proximal e distai
• Fratura radial distai Fraturas clin ica m e n te su sp eita s d o e sca fo id e sem evi­
• Fratura de Bennett do polegar d ên cia radiográfica. Até 30% dos pacientes com sus­
• Fratura ou luxação do semilunar peita clínica de fraturas do escafoide, que não tenham evi­
• Dissociação escafossemilunar dência radiográfica de lesão, terão esse diagnóstico mais
240 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Figura 12.15 Posicionam ento ade­


quado do paciente para as imagens de
T C sagital (A) e coronal ( B ) do escafoi-
de. Rara as imagens sagitais, o pacien­
te é colocado em decúbito ventral no
dispositivo, com a mão sobre a cabe­
ça e o braço em pronação completa
e posição neutra do punho. O ante­
braço é angulado em 45° ao plano
da imagem. As imagens coronais são
obtidas sim ilarm ente, com exceção
do antebraço, que é colocado em uma
posição neutra.

tarde confirmado.9,12’20 Por conseguinte, entende-se que avaliação do escafoide com RMN é 22 a 24demonstração da
tais pacientes devem ser tratados como se tivessem uma viabilidade dos fragmentos da fratura.
fratura não deslocada do escafoide, e o antebraço é imo­
bilizado em uma tala gessada que inclua o polegar, que Fraturas n ã o deslocadas d o escafoide. Uma tala longa,
deve estar em uma posição como se o paciente estivesse que inclua o polegar (Apêndice A.7) deve ser aplicada.
segurando uma taça de vinho. O punho deve ser imobili­ A tala deve estender-se a partir da articulação IF do pole­
zado em leve flexão, com nenhum desvio ulnar ou radial gar até uma área proximal ao cotovelo, com este em 90°
(Apêndice A.7).22 de flexão. O acompanhamento com um cirurgião de mão
Depois de 7 a 10 dias, um novo exame físico e ra- deve ser organizado dentro de cinco a sete dias.
diográfico deve ser executado. Se uma fratura for iden­ Um gessado longo que inclua o polegar é o tratamento
tificada, um gessado longo que inclua o polegar deve ser definitivo. A maioria das fraturas é avaliada com TC para
aplicado, por quatro a cinco semanas adicionais (total de definir precisamente a localização, o padrão e o desloca­
6 semanas). Esse deve ser seguido por uma luva gessada mento, já que estes fatores nem sempre são aparentes nas
que inclua o polegar, até que os sinais clínicos e radiográ- radiografias simples. Se a TC confirmar que a fratura seja
ficos de união sejam vistos com clareza. Se uma fratura verdadeiramente não deslocada, então é aplicado um ges­
não for identificada, e o exame permanecer clinicamente sado longo que inclua o polegar. Depois de seis semanas,
suspeito, a tala deve ser reaplicada e o paciente reexami­ uma luva gessada é aplicada pela duração restante da imo­
nado em intervalos de 7 a 10 dias.“ Os métodos alternati­ bilização, totalizando 8 a 12 semanas. Nesse momento, os
vos para a detecção precoce de uma fratura oculta incluem sinais clínicos e radiográficos da união estão habitualmente
a cintilografia óssea, a TC e a RMN. presentes e o gessado é descontinuado. Devido a sua taxa
A cintilografia óssea realizada até quatro dias após a mais alta de complicações, as fraturas do terço proximal
lesão é sensível para a detecção das fraturas ocultas do são imobilizadas por mais tempo (12 a 16 semanas) do que
escafoide, mas com um número alto de resultados falso- as fraturas do terço médio ou distai (8 a 12 semanas). Vá­
-positivos. A TC tem pronta disponibilidade para a rios autores recomendam o manejo cirúrgico primário para
maioria dos médicos da emergência, e apresenta sensibi­ as fraturas do escafoide proximal, mesmo que pareçam não
lidade melhor que os filmes simples, sendo mais sensível deslocadas, devido a sua taxa alta de não união.
e específica do que a cintilografia óssea. Mesmo assim,
uma TC falso-negativa ainda pode ocorrer. As imagens Fraturas deslocadas do escafoide. As fraturas deslocadas
são obtidas nos planos sagital e coronal (Fig. 12.15). A têm taxa de não união de 50% (comparada a 15% nas fra­
RMN é muito sensível para a detecção de fraturas ocultas turas não deslocadas completamente imobilizadas) e, por
do escafoide; contudo, nem sempre está prontamente dis­ conseguinte, requerem manejo inicial mais agressivo. Com
ponível. Em um estudo em pacientes com suspeita clínica um significativo deslocamento, angulação, ou cominução, a
de fratura do escafoide e filmes simples negativos, a RMN consulta com um cirurgião da mão deve ser obtida. O pa­
dentro das primeiras duas semanas da lesão detectou fra­ ciente deve ser imobilizado com uma tala e encaminhado
turas ocultas do escafoide em 20% dos pacientes, e em para um cirurgião de mão para redução aberta e fixação in­
outros 20% foi encontrada uma fratura do rádio distai ou terna. As indicações absolutas para a fixação interna in-
27 29
de outro osso do carpo. Outra vantagem observada na cluem o deslocamento de 1 mm ou 15° de angulação.
Emergências Ortopédicas 241

C o m p lic a ç õ e s piramidal. As fraturas transversas são mais adequadamen­


As seguintes complicações das fraturas do escafoide po­ te visuahzadas nas radiografias em PA ou oblíquas.
dem ocorrer, apesar do tratamento ideal.
L e s õ e s a sso cia d a s
1. A necrose avascular está associada às fraturas do ter­
As lesões do piramidal muitas vezes estão associadas às fra­
ço proximal, deslocadas, cominutivas ou que tenham
turas do escafoide, instabilidade escafossemilunar, fraturas
sido imobilizadas de forma inadequada.
do rádio distai e do estiloide da ulna e lesões do nervo ul­
2. Podem ser encontradas a união retardada, a má união nar. O ramo profundo (motor) do nervo ulnar fica em grande
ou a não união. O determinante mais importante nos proximidade com o piramidal e pode ser comprometido.
casos de não união é a descontinuação precoce da
imobilização. T rata m en to
3. Artrite radiocarpal com subsequentes dor e/ou rigidez Os autores re­
Fratura co m fragm ento d o rsa l (avulsão).
do punho. comendam um curativo compressivo com gelo e elevação
até que o edema seja reduzido. Ele deve ser seguido pela
Fraturas do piramidal imobilização do punho em uma tala volar por quatro a seis
29,31,32
As fraturas do piramidal são a segunda fratura carpal semanas.
mais comum, representando 4 a 20% de todas as fratu-
ras do carpo. As fraturas do piramidal podem ser di­ Fratura transversa. Outras lesões carpais devem ser ex­
vididas em dois tipos - as fraturas com lasca (avulsão) cluídas por meios clínicos e radiográficos antes do trata­
dorsal e as transversas (Fig. 12.16). As fraturas trans­ mento. O tratamento recomendado é a imobilização com
versas são menos comuns do que aquelas com fragmen­ o punho em posição neutra e o polegar na posição de aper­
to dorsal. to ou oposição. O manejo definitivo inclui o gessado por
quatro a seis semanas, e deve incluir o polegar somente
M e c a n is m o d e le sã o até um ponto logo proximal à articulação metacarpofalân-
gica (MCF). O encaminhamento ortopédico para acompa­
As fraturas com fragmento dorsal são, em geral, secundá­
nhamento é recomendado.
rias à hiperextensão com desvio ulnar. Nessa posição, o
hamato força o piramidal contra o lábio dorsal do rádio, C o m p lic a ç õ e s
resultando em cisalhamento do fragmento. Se o punho for
mantido em flexão durante uma queda, pode ocorrer uma Como mencionado, a lesão do ramo profundo do nervo ul­
avulsão do hgamento radiocarpal dorsal. nar com déficit motor subsequente pode acompanhar essa
As fraturas transversas são secundárias a um golpe di­ fratura. O piramidal possui suprimento vascular rico e,
reto no dorso da mão e frequentemente associadas com as por conseguinte, nenhuma fratura com fragmento dorsal
luxações perissemilunares. ou fratura transversa está associada à necrose avascular.

Exam e Fraturas do semilunar


Há edema e sensibilidade dolorosa dorsal sobre a área do As fraturas mais comuns são as do corpo do semilunar
piramidal (logo distai ao estiloide da ulna). (Fig. 12.18) e as fraturas com avulsão dorsal. Essas le­
sões perfazem de 1,5 a 6% de todas as fraturas carpais.
Im a g e n s As fraturas do corpo do semilunar podem ocorrer em
As fraturas com fragmento dorsal são visualizadas na ra­ qualquer plano, com graus variados de cominução. Con­
diografia lateral (Fig. 12.17). Nessa incidência radiográ- forme ocorre com as fraturas do escafoide, a suspeita
fica, o estiloide da ulna “aponta” para o aspecto dorsal do clínica de fratura obriga o tratamento para prevenir o de-
242 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Figura 12.17 Fratura do piramidal. A fratura com fragmento dorsal somente é visualizada na radiografia lateral (seta),

senvolvimento da doença de Kienböck (osteonecrose, ne­ doença de Kienböck tenham história prévia de trauma sig­
crose avascular, semilunomalacia). nificativo no punho, o trauma repetitivo crônico também
pode causar essa condição.
M e c a n is m o d e le sã o
As fraturas do semilunar geralmente resultam de um Exam e
mecanismo indireto, como a hiperextensão (fratura com A dor e a sensibilidade dolorosa estão presentes na região
avulsão dorsal). As do corpo do semilunar ocorrem pela dorsal, sobre a área do semilunar. Além disso, a compres­
compressão axial direta. Embora 75% dos pacientes com são axial do terceiro metacarpal exacerba a dor.

Im a g e n s
As incidências cônicas em projeções múltiplas são às ve­
zes necessárias para demonstrar a linha de fratura. A TC é
mais sensível do que as radiografias simples para a detec­
ção das fraturas do semilunar. A doença de Kienböck se
apresenta em quatro estágios radiográficos distintos. No
estágio I, as radiografias simples são normais. No estágio
II, é notada a esclerose do semilunar, enquanto no estágio
III fica aparente o seu colapso (Fig. 12.19). Por fim, no
estágio IV, está presente um grave colapso do semilunar,
com alterações degenerativas intra-articulares nas articu­
lações circundantes. A RMN feita precocemente pode
detectar a redução do fluxo sanguíneo no semilunar e os
sinais primários da doença de Kienböck.

L e s õ e s a sso cia d a s
Outras fraturas carpais e a instabilidade do carpo frequen­
temente acompanham as fraturas do semilunar, sendo im­
Figura 12.18 Fratura do semilunar. portante descartá-las.
Emergências Ortopédicas 243

Figura 12.20 Fratura do capitato.

com o segundo, terceiro e quarto metacarpais distalmente.


As fraturas do capitato abrangem 1% de todas as fraturas
carpais, em geral são transversas e podem ser difíceis de
detectar em radiografias simples (Fig. 12.20).

M e c a n is m o d e le sã o
Figura 12.19 Osteonecrose do semilunar (doença de Kienbõck). Dois mecanismos de lesão resultam em fraturas do capi­
tato. Um golpe direto ou a força de esmagamento sobre o
T ra ta m e n to
aspecto dorsal do punho podem resultar em fratura. Indi-
retamente, a queda com a mão estendida pode resultar em
Como nas fraturas do escafoide, o tratamento deve ser fratura. Em vista da posição bem protegida do capitato no
iniciado com base na evidência clínica ou radiográfica centro do punho, uma força de grande energia é necessária
de uma fratura. E recomendável que o paciente seja para resultar em fratura.
imobilizado com tala gessada longa que inclua o polegar
(Apêndice A.7), com as articulações MCF flexionadas E xa m e
para aliviar as forças compressivas sobre o semilunar.
A sensibilidade dolorosa e o edema sobre o aspecto dorsal
O manejo definitivo inclui a imobilização gessada por
da mão, na área do capitato, estão presentes. A compres­
um total de seis a oito semanas em pacientes com fratu­
são axial ou o movimento do terceiro metacarpal exacer­
ras não deslocadas. Ela deve ser seguida pela aplicação de
bam a dor.
um gessado abaixo do cotovelo até que a união tenha se
completado. As fraturas deslocadas (> 1 mm) ou instáveis Im a g e n s
requerem o reparo cirúrgico. As opções para o reparo ci­
rúrgico incluem os fios de Kirschner, os parafusos canu- As incidências de rotina são adequadas para diagnosticar
lados ou as âncoras de sutura no osso. O encaminhamento a fratura. As fraturas clinicamente suspeitadas com radio­
ortopédico depois da imobilização inicial é enfaticamente grafias normais são avaliadas de forma mais adequada
recomendado. O tratamento da doença de Kienbõck não é usando a TC ou a RMN.
padronizado e está além do objetivo deste capítulo.
L esões a sso c ia d a s
C o m p lic a ç õ e s As fraturas do capitato podem ser isoladas (raras) ou asso­
Os pacientes com menos de 16 anos em geral têm resolução ciadas a fraturas do escafoide, do rádio distai, luxações ou
sem complicações da sua lesão. As fraturas do semilunar subluxações do semilunar e luxações carpometacarpais.
tratadas inadequadamente têm tendência para desenvolver
T ra ta m e n to
osteonecrose do fragmento proximal. Com o tempo, há
compressão e colapso desse fragmento; contudo, a osteone­ A extremidade deve ser imobilizada em uma tala baixa
crose pode desenvolver-se apesar do tratamento adequado. incluindo o polegar (Apêndice A.7), com o punho em leve
dorsiflexão e o polegar imobilizado até a articulação IF na
posição de segurar a taça de vinho. O manejo definitivo
Fraturas do capitato
requer a imobilização por oito semanas em fraturas não
O capitato, o maior dos ossos do carpo, articula-se com deslocadas. Se significativamente deslocadas, a redução
o escafoide e o semilunar proximalmente, com o trape- aberta e a fixação interna estão indicadas, com mobiliza­
zoide e o hamato ao longo de suas superfícies laterais, e ção precoce após a cirurgia.
244 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Fratura da
superfície Fratura do
articular distal gancho do
hamato

Fratura Fratura da
cominutiva superfície articular v^=^<CíL_i ^ n
corpo do polo proximal - '

Figura 12.21 Fraturas do hamato.

Complicações de esmagamento direto produzem fraturas cominutivas do


As fraturas do capitato podem estar associadas a várias corpo. As fraturas do polo proximal ou osteocondrais são
complicações. lesões de impactação, que costumam ocorrer com a mão
dorsifletida e em desvio ulnar.
1. Má união ou necrose avascular
2. A artrite pós-traumática é presença frequente depois Exame
das fraturas cominutivas do capitato Em todas as fraturas do hamato há sensibilidade dolorosa e
3. Neuropatia do mediano ou síndrome do túnel do carpo edema sobre a área envolvida. As fraturas articulares distais
exibem aumento da dor com a compressão axial do quinto
Fraturas do hamato metacarpal. As fraturas do gancho demonstram sensibili­
dade dolorosa sobre a palma da mão, na área do gancho do
As fraturas do hamato respondem por 1 a 4% de todas
hamato (2 cm distai e radial ao pisiforme) (ver Fig. 12.9).
as fraturas do carpo. Elas podem ser divididas em quatro
As fraturas do corpo e da superfície articular proximal exi­
tipos, com base na localização (Fig. 12.21).
bem aumento da dor com o movimento do punho.
1. Superfície articular distai
2. Gancho do hamato Imagens
3. Cominutiva do corpo As radiografias de rotina, incluindo as incidências oblí­
4. Superfície articular do polo proximal quas, podem não ser adequadas para demonstrar essas
fraturas. As fraturas do gancho do hamato são mais bem
Mecanismo de lesão demonstradas em uma incidência do túnel do carpo. A TC
Cada tipo de fratura do hamato é, geralmente, secundá­ ou a cintilografia óssea podem também ser usadas para vi­
rio a um mecanismo específico de lesão. As fraturas da sualizar essas fraturas. A TC tem sensibilidade de 100%
superfície articular distai são típicas de uma queda ou de e especificidade de 94% para detectar as fraturas do gan-
39
um golpe com a diáfise do quinto metacarpal flexionada e cho do hamato.
em desvio ulnar. As fraturas do gancho do hamato são co­
muns em atletas que praticam esportes com raquete. Du­ Lesões associadas
rante uma rebatida forte, a base da raquete (taco de golfe, As lesões arteriais ou do nervo ulnar com frequência
bastão de beisebol, etc.) comprime o gancho, resultando acompanham essas fraturas. Além disso, também foi re­
em fratura. Uma queda com a mão dorsifletida e estendida latada a ruptura dos tendões flexores (flexor profundo dos
rigidamente também pode causar essas fraturas. As forças dedos).
Emergências Ortopédicas 245

Fratura
vertical

Figura 12.22 Fraturas do trapézio.

Tratamento Imagens
As fraturas não deslocadas do hamato são tratadas com As incidências radiográficas de rotina são adequadas para
tala ulnar para imobilização do punho (Apêndice A.3), demonstrar fratura (Fig. 12.23). Uma incidência do túnel
seguida de luva gessada pelo período de seis a oito sema­ do carpo frequentemente revela uma fratura da crista do
nas. As fraturas deslocadas devem ser encaminhadas para trapézio. A TC também é útil no diagnóstico radiográfi-
intervenção cirúrgica depois que a extremidade tiver sido co dessas lesões.
imobilizada. As fraturas deslocadas ou não consolidadas
do gancho do hamato são tratadas com excisão. Lesões associadas
As fraturas do trapézio podem estar associadas com le­
Complicações
são da artéria radial, fraturas do primeiro metacarpal, do
As lesões do nervo ulnar podem acompanhar essas fratu­ rádio distai e luxações do primeiro metacarpal. O flexor
ras e resultam em atrofia interóssea. Além disso, as fra­ radial do carpo cruza ao longo da base da crista do tra­
turas do hamato podem ser seguidas de artrite na quinta pézio sendo, por conseguinte, com frequência ferido após
articulação carpometacarpal. Também foi relatada a perda uma fratura.
de força na empunhadura.
Tratamento
Fraturas do trapézio O manejo de emergência dessas fraturas inclui elevação
As fraturas do trapézio representam 1 a 3% de todas as e gelo. É recomendada a imobilização com tala curta in­
fraturas carpais e podem ser classificadas em três tipos cluindo o polegar (Apêndice A.7). As fraturas não deslo­
(Fig. 12.22). cadas podem ser administradas com a imobilização ges­
sada, enquanto as fraturas deslocadas (> 1 mm) requerem
1. Fraturas verticais
reparo cirúrgico.
2. Fraturas cominutivas
3. Fraturas de avulsão (fratura da crista do trapézio) Complicações
As fraturas do trapézio podem ser complicadas pelo desen­
Mecanismo de lesão
volvimento de artrite que envolve a primeira articulação me­
As fraturas do trapézio geralmente são o resultado de um tacarpal ou a tendinite ou ruptura do flexor radial do carpo.
dentre três mecanismos. As fraturas verticais e cominuti­
vas ocorrem quando o polegar aduzido for vigorosamente
Fraturas do pisiforme
dirigido para dentro da superfície articular do trapézio. O
osso é esmagado entre o processo estiloide do rádio e o O pisiforme é ímpar, uma vez que se articula somente com
primeiro metacarpal. A crista do trapézio é uma projeção um osso, o piramidal. Do ponto de vista anatômico, é im­
palmar longitudinal do trapézio que serve de inserção ra­ portante recordar que o ramo profundo do nervo ulnar e a
dial para o ligamento carpal transverso. Ela é fraturada artéria passam em grande proximidade à superfície radial
depois de um trauma direto, como uma queda com o braço do osso. Além disso, o tendão do flexor ulnar do carpo
estendido, ou quando o ligamento carpal transverso causa insere-se na superfície volar do pisiforme.
uma fratura de avulsão. As fraturas do pisiforme são classificadas em (Fig.
12.24):
Exame
O paciente relata sensibilidade dolorosa e edema sobre a 1. Fraturas de avulsão
área do trapézio. Somando-se a isso, a dor aumenta com o 2. Fraturas transversas do corpo
movimento do polegar ou pela sua compressão axial. 3. Fraturas cominutivas
246 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Mecanismo de lesão nho supinado em 45° é melhor para demonstrar fraturas.


Existem dois mecanismos comuns que resultam em fra­ Como alternativa, uma TC em geral delineia uma fratura.
turas do pisiforme. Um golpe direto ou uma queda com
a mão estendida podem ter como resultado uma fratura Lesões associadas
transversa ou cominutiva do corpo. De forma indireta, As fraturas do pisiforme podem estar associadas a:
uma queda com a mão estendida com tensão sobre o fle­
xor ulnar do carpo pode acarretar uma fratura de avulsão. • Lesão do ramo motor do nervo ulnar
• Fraturas do piramidal
Exame • Fraturas do hamato
A sensibilidade dolorosa está presente sobre a área do pi­ • Fraturas do rádio distai
siforme. É necessário sempre examinar e registrar a fun­
ção do ramo motor do nervo ulnar quando houver suspeita Tratamento
de fraturas do pisiforme. A terapia recomendada inclui a imobilização do punho
(Apêndice A.3). O manejo definitivo consiste em usar
Imagens uma luva gessada por 6 semanas, seguida de movimentos
Na incidência PA, o pisiforme é visto sobrejacente ao ativos do flexor ulnar do carpo. A excisão do pisiforme é
aspecto ulnar do piramidal. Um filme oblíquo com o pu­ necessária em casos de não união.

Figura 12.24 Fraturas do pisiforme.


Emergências Ortopédicas 247

Tratamento
O manejo inicial consiste em gelo e elevação. A imobi­
lização deve ser feita com uma tala incluindo o polegar
(Apêndice A.7). O manejo definitivo consiste em imobi­
lização com gessado ou reparo cirúrgico, dependendo do
grau de estabilidade.

Complicações
Essas fraturas têm alta incidência de não união e necrose
avascular.

FRATURAS DO RÁDIO DISTAL


Figura 12.25 Fratura do trapezoide. As fraturas metafisárias distais do rádio e da ulna podem
ser classificadas em três grupos principais: as fraturas de
extensão (Colles), as de flexão (Smith) e as deslocadas
Complicações
(Hutchinson e Barton). Cada uma dessas fraturas do rádio
As complicações relacionadas a uma fratura despercebida distai será considerada separadamente após uma discus­
do pisiforme incluem condromalacia ou subluxação piso- são sobre a anatomia essencial. Os sistemas de classifica­
piramidal, fragmentos soltos no espaço articular e artrite ção para essas fraturas são complexos. Serão discutidas
degenerativa. As fraturas do pisiforme podem ser compli­ alguns dos sistemas de classificação na tentativa de for­
cadas por um déficit do ramo profundo do nervo ulnar. necer orientação prática para o médico de emergência que
atende a essas lesões.
Fraturas do trapezoide
Anatomia essencial
As fraturas do trapezoide são extremamente raras (< 1%
das fraturas carpais) devido às fortes inserções ligamenta- A meta de tratamento das fraturas do rádio distai inclui
res aos ossos adjacentes do carpo (Fig. 12.25). o retorno da anatomia normal. A falha em corrigir as de­
formidades pode levar a anormalidades na biomecânica e
Mecanismo de lesão no movimento do punho, e ao desenvolvimento de artrite
traumática. A restauração da anatomia normal pode ser
As fraturas são mais frequentemente causadas por uma
realizada pela redução fechada e/ou pela redução cirúrgi­
lesão de esmagamento ou por uma força axial de grande
ca. O profissional deve estar ciente da anatomia essencial
energia que empurra o segundo metacarpal sobre o tra­
do rádio distai, a fim de avaliar três medidas importantes
pezoide.
que são vistas nas radiografias do punho: inclinação volar,
inclinação radial e comprimento radial.
Exame
É percebida sensibilidade dolorosa puntiforme sobre o Inclinação volar. O ângulo articular radiocarpal normal
aspecto dorsal do punho, proximal à base do segundo na incidência lateral varia de 1 até 23° (média de 1 I o) em
metacarpal. As lesões concomitantes podem obscurecer direção palmar (inclinação volar) (Fig. 12.26A). As fra­
esse achado. turas associadas com a angulação volar geralmente re­
sultam em boa recuperação funcional, enquanto aquelas
Imagens
associadas com a angulação dorsal da articulação radio­
As incidências radiográficas de rotina podem não detectar carpal terão recuperação funcional ruim se a redução não
essa fratura. Se a suspeita clínica for alta, as incidências for realizada.
oblíquas e do túnel do carpo devem ser pedidas. A TC
também ajuda a definir a lesão. Inclinação radial. A angulação normal da articulação
radioulnar, vista na incidência PA do punho, é de 15 a 30°
Lesões associadas (inclinação radial) (Fig. 12.26B). A avaliação desse ângu­
É raro que uma fratura do trapezoide ocorra de forma iso­ lo é essencial ao tratar as fraturas do antebraço distai, pois
lada. As fraturas ou luxações das bases dos metacarpais a falha ou a redução incompleta - com perda do ângulo -
adjacentes associadas são frequentes. Pode ocorrer a luxa­ resultam em inibição do movimento ulnar da mão.
ção dorsal do trapezoide. A sua redução é realizada usan­
do tração longitudinal seguida de flexão palmar do punho Comprimento radial. Uma terceira medida, o compri­
e pressão dorsal sobre o trapezoide. mento radial, também é obtida a partir da incidência PA
248 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Figura 12.26 A. A articulação radiocarpal normal está em um ângulo de 110 na direção volar, como mostrado na incidência lateral.
B. A angulação normal da ulna em relação à articulação radiocarpal é de 15 a 30°. C. O comprimento radial normal é de 12 mm.

do punho. Essa medida, traçada em paralelo à diáfise do Tipo III: fraturas de compressão intra-articular
rádio, é a distância da ponta do estiloide do rádio até a Fraturas complexas articulares e do pilão radial
superfície articular distai da ulna (Fig. 12.26C). O com­ Tipo IV: fraturas de avulsão
primento radial normal é de 12 mm. A perda do compri­ Fraturas-luxações radiocarpais
mento radial que não é restaurada depois da redução fe­
Tipo V: mecanismo de alta velocidade com lesão extensa
chada pode ser uma indicação para o manejo operatório.
Em um estudo de fraturas intra-articulares deslocadas, a As fraturas do tipo I podem ser reduzidas pelo médico
restauração do comprimento radial por intervenção ci­ da emergência. As do tipo II ao V podem ser submetidas
rúrgica foi mais fortemente correlacionada com a melhor à redução fechada no setor de emergência; entretanto, de­
condição funcional do que a restauração da inclinação vido a alta taxa de comphcações, é recomendado que a
radial ou volar. redução seja executada por um ortopedista.
A maioria das fraturas tipo I do rádio distai pode ser
Classificação administrada de modo conservador após a redução fecha­
Muitos sistemas de classificação são descritos para as fra­ da bem-sucedida (em fraturas deslocadas). Na maioria
turas do rádio distai. Um dos primeiros métodos de elas- dos casos, as fraturas tipos II ao V - em última instância
sificação foi proposto por Frykman. Sob esse sistema, - necessitam do manejo operatório devido a sua natureza
as fraturas do rádio distai são classificadas como intra ou instável. Os critérios absolutos para o tratamento cirúrgi­
extra-articulares, se estão envolvidas a articulação radio- co das fraturas do rádio distai incluem 2 mm de desloca­
carpal ou a radioulnar, ou se está associada a uma fratura mento articular, 10° de incbnação dorsal, e 3 a 5 mm de
19
de ulna. Embora o sistema de Frykman fosse descritivo, encurtamento radial após a tentativa de redução fechada.
não provia as diretrizes para tratamento. Uma limitação importante de todos os sistemas de
Uma classificação mais recente, da Orthopedic Trau­ classificação para as fraturas do rádio distai é que a mera
ma Association (OTA), agrupou essas fraturas com base aparência radiográfica de uma fratura não requer um
no grau de envolvimento das superfícies articulares. Nessa método de tratamento específico. Muitos outros fatores,
classificação, as fraturas tipo A são largamente extra-arti­ como a idade do paciente e a sua condição funcional, a
culares, as do tipo B são parcialmente articulares e as do densidade óssea, a lesão de tecidos moles circundantes e
tipo C envolvem a articulação e a metáfise. Esse sistema a estabilidade da redução fechada são importantes para o
de classificação, embora pareça simples, tem um total de ortopedista ao considerar a necessidade de fixação. A os­
27 subtipos e não é prático para o médico da emergência. teopenia aumenta a necessidade de fixação cirúrgica, já
Femandez e Juniper propuseram um sistema de clas­ que a redução fechada é difícil de manter.
sificação com base no mecanismo, com o benefício adi­
cional de oferecer as diretrizes de tratamento. Esse Fraturas associadas da ulna
sistema é o seguinte: As fraturas da ulna distai estão frequentemente associadas
com as fraturas do rádio distai e contribuem para a neces­
Tipo I: fraturas extra-articulares de incbnação metafisária sidade de intervenção cirúrgica. Cerca de 60% das fratu­
Colles (angulação dorsal) e Smith (angulação volar) ras de extensão do rádio distai estão associadas com as do
Tipo II: fraturas de cisalhamento intra-articular estiloide da ulna, e 60% destas estão associadas a fratu­
Barton (dorsal e volar) ras da cabeça ou do colo da ulna. As fraturas do estiloide
Emergências Ortopédicas 249

da ulna significam a avulsão no complexo do ligamento


colateral da ulna. Essa lesão é raramente significativa e
somente o tratamento apropriado da fratura do rádio é ne­
cessário. As fraturas da cabeça ou do colo da ulna podem
tomar a ARUD instável e, por consequência, devem ser
encaminhadas para um cirurgião ortopedista.

Fratura do tipo em extensão (de Colles)


O rádio distai é um dos ossos longos fraturados com mais
frequência, e o tipo em extensão ou fratura de Colles é a
mais comum do rádio distal (Fig. 12.27).

Mecanismo de lesão
A maioria das fraturas do antebraço distai é a resultante
de uma queda com a mão estendida. A quantidade de co-
minução e a localização da linha de fratura dependem da Figura 12.27 Fratura do rádio distai com envolvimento intra-
força da queda e da fragilidade (idade) do osso. Uma força -articular.
de supinação costuma resultar em fratura ulnar associada.

Exame Imagens
O exame revela dor, edema e sensibilidade dolorosa no As incidências PA e lateral em geral são suficientes para
antebraço distai. A fratura angulada e deslocada asseme- demonstrar os fragmentos da fratura (Fig. 12.29). As fra­
lha-se a um garfo (Fig. 12.28). A documentação da condi­ turas de Colles são caracterizadas pelo deslocamento ou
ção neurológica, com especial ênfase na função do nervo pela angulação dorsal do fragmento distai (Fig. 12.30).
mediano, deve ser enfatizada. A dor no cotovelo pode ser Existe frequentemente a impactação da cortical dorsal.
indicativa de subluxação ou luxação da articulação ra­ Com forças mais intensas, são vistas a cominução da cor­
dioulnar proximal. tical distai do osso e a extensão intra-articular.

Figura 1 2 .2 8 A deform idade em dorso de


garfo descrita no rádio distai em uma fratu­
ra de Colles. A . Representação esquem ática.
B. Imagem clín ica.
A
250 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Figura 12.29 Fratura do tipo em extensão (de Colles).

Ao avaliar tais fraturas, o médico deve responder às 2. A fratura envolve a articulação radioulnar ou radiocar­
seguintes questões: pal? Quanto maior o envolvimento intra-articular, es­
pecialmente se houver um degrau, mais provável que
1. Existe uma fratura associada da cabeça ou do colo
a artrite traumática se desenvolva. A TC ou a RMN
da ulna (Fig. 12.31)? Essas fraturas podem criar uma
podem ser úteis para delinear a extensão do envolvi­
articulação radioulnar distal instável e necessitar de
mento radiocarpal ou radioulnar, mas esses exames
encaminhamento ortopédico.
geralmente não são feitos no setor de emergência.

A B

Figura 12.30 Radiografias laterais do punho em fraturas de Colles que necessitam de redução fechada. A. Inclinação dorsal (an-
gulação). B. Deslocamento dorsal.
Emergências Ortopédicas 251

Figura 12.31 Fraturas do rádio distai com fraturas associadas da ulna distai. A. Estiloide da ulna. B. Colo da ulna.

3. Quais são as medidas da inclinação volar (inclinação A redução é feita da seguinte maneira (Fig. 12.32 e
lateral), radial (PA) e do comprimento radial (PA)? A Vídeo 12.1):
perda da anatomia normal aumenta as complicações.
1. A nestesia: Deve ser feita com um bloqueio do hema­
4. Existe evidência de subluxação radioulnar distai na toma ou sedação para o procedimento (ver Cap. 2 e
radiografia lateral? A ulna não deve estar projetada Vídeo 12.2).
em mais de 2 mm dorsal ao rádio em uma radiografia 2. D istração: Os dedos devem ser colocados em fitas e
lateral verdadeira. As distâncias superiores a 2 mm o cotovelo em 90° de flexão. A fita colocada em tomo
sugerem subluxação radioulnar distai. dos dedos protege a pele e evita que os dedos esca­
pem. Aproximadamente 2,5 a 5 kg de peso são sus­
Lesões associadas pensos do cotovelo por um período de 5 a 15 minu­
As fraturas em extensão do rádio distai estão com fre­ tos, ou até que os fragmentos sofram desimpactação.
quência associadas a várias lesões significativas, incluin­ Quatro bolsas de soro em uma tipoia ou malha pesam
do fraturas do estiloide e do colo da ulna, fraturas carpais, quase 4,5 kg e podem ser usadas como opção aos pe­
subluxação radioulnar distai, lesões de tendão flexor e sos tradicionais (Fig. 12.33). Altemativamente, a tra­
lesão dos nervos mediano e ulnar. Se a função do nervo ção e a contratração podem ser usadas para distrair os
mediano mostrar-se anormal, a etiologia pode ser uma fragmentos (Vídeo 12.3).
síndrome do túnel do carpo aguda ou uma contusão do 3. D esencaixe: Com os polegares no aspecto dorsal do
nervo mediano. fragmento distai e os dedos em torno do punho, a for­
ça da lesão é recriada por extensão leve do fragmento
Tratamento distai para desimpactar os fragmentos da fratura.
As fraturas não deslocadas e não anguladas, com inclina­ 4. R eaposição: Mantendo a tração, uma pressão é apli­
ção radial, inclinação volar e comprimento radial próxi­ cada sobre o fragmento distai em direção volar com
mos do normal precisam somente de imobilização com os polegares, outra pressão é dorsalmente dirigida so­
uma tala (Apêndice A .ll). Para as fraturas deslocadas ou bre o segmento proximal com os dedos.
anguladas, com perda do alinhamento anatômico normal, 5. Liberação: Quando o posicionamento apropriado ti­
a redução fechada é executada por um ortopedista consul­ ver sido alcançado, o peso da tração é removido. Se a
tor ou pelo médico da emergência caso este sinta-se apto fluoroscopia estiver disponível, o sucesso da redução
para o procedimento. pode ser imediatamente avahado.
252 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Figura 12.32 A redução de uma fratura de Colles. A. Distração com um peso de 5 kg e fitas nos dedos por 10 minutos. B. Desencaixe
e reaposição com os polegares sobre o fragmento distai e os dedos ao redor do antebraço. G O braço é enrolado com material para
acolchoamento e a tala é aplicada. D. A posição final do antebraço é neutra, com o punho levemente flexionado e em desvio ulnar.

Quando a redução estiver completa, o antebraço é


imobilizado e a função do nervo mediano é testada nova­
mente. A preparação da tala antes da tentativa de redução
permite a imobilização mais rápida quando a fratura for
reduzida. O antebraço recebe uma camada fina de acol­
choamento, seguida da aplicação de uma tala (Apêndice
A. 11). Acolchoamento em demasia ou o uso do material
de imobilização de fibra de vidro comercialmente dispo­
nível não são recomendados, pois a redução terá menor
probabilidade de ser mantida. A posição de imobilização é
em leve supinação ou em posição média, com o punho em
15° de flexão e 15° de desvio ulnar. Muitos ortopedistas
preferem imobilizar o paciente em pronação.
As radiografias pós-redução são obtidas para assegu­
rar o posicionamento apropriado. Depois da redução, o
braço deve permanecer elevado por 72 horas para minimi­
zar o edema. Os exercícios dos dedos e do ombro devem
começar imediatamente.
Ao reduzir as fraturas metafisárias distais do ante­
braço, vários princípios devem ser lembrados. Primeiro,
os pacientes que se apresentam tardiamente (i.e., em ter­
Figura 12.33 D esencaixe de uma fratura de Colles com fitas mos de dias) são mais difíceis de reduzir, e a execução
nos dedos e quatro bolsas de soro fisiológico em malha tubular. de um bloqueio no hematoma não será efetiva no ma-
Emergências Ortopédicas 253

nejo da dor. Segundo, a angulação dorsal (inclinação) união ou não união; aderências do tendão flexor e dor crô­
não é aceitável e a inclinação volar é difícil de manter, nica sobre a articulação radioulnar com supinação.
pois os extensores da mão têm uma tendência a exercer
tração dorsal. Por fim, a inclinação radial é facilmente Fratura do tipo em flexão (de Smith)
alcançada com a redução, mas é difícil de manter du­
rante a fase de consolidação. As radiografias para docu­ Essa fratura tem sido muitas vezes descrita como uma
mentação do posicionamento apropriado devem ser ob­ fratura de Colles invertida. É incomum, 10 vezes menos
tidas em três dias e duas semanas depois da lesão. Se a frequente do que as fraturas de Colles. A fratura de Smith
redução não puder ser mantida, a fixação interna poderá raramente envolve a ARUD. O sistema de classificação,
ser necessária. desenvolvido por Thomas, tem implicações tanto terapêu­
As fraturas de Colles, mesmo quando administradas ticas como prognósticas.
de maneira apropriada, muitas vezes resultam em com­
M e c a n is m o d e le sã o
plicações a longo prazo. Por essa razão, o acompanha­
mento com um ortopedista é necessário dentro de uma se­ Vários mecanismos resultam em fraturas de flexão do an­
mana, especialmente quando a fratura tiver sido reduzida tebraço distai, incluindo uma queda com o antebraço supi-
no setor de emergência. As fraturas não deslocadas devem nado e com a mão em dorsiflexão, um golpe com o punho
permanecer imobilizadas por quatro a seis semanas, en­ fechado e ligeiramente flexionado ou um golpe direto no
quanto as deslocadas que tenham sido adequadamente re­ dorso do punho ou no rádio distai com a mão flexionada e
duzidas requerem 6 a 12 semanas de imobilização. o antebraço em pronação.
As fraturas instáveis podem requerer pinagem per-
cutânea, fixação interna ou fixação externa.4 Outras E xa m e
indicações para a cirurgia incluem fraturas expostas, gra­ A dor e o edema estarão aparentes sobre o aspecto volar do
vemente cominutivas ou deslocadas (> 2 mm), fraturas in- punho. O aspecto clínico é descrito como uma deformidade
tra-articulares e fraturas com deslocamento dorsal maior em pá de jardim. A presença e a função da artéria radial e
que 3 mm ou 10° de angulação dorsal depois de uma ten­ do nervo mediano devem ser examinadas e documentadas.
tativa de redução fechada. O retardo além de duas a três
semanas toma a intervenção cirúrgica mais difícil, pois os Im a g e n s
fragmentos não podem ser manipulados. As incidências PA e lateral de rotina são adequadas para
demonstrar essa fratura (Fig. 12.34).
C o m p lic a ç õ e s
As complicações associadas com as fraturas do rádio dis­ L esões a sso c ia d a s
tai são relatadas com uma frequência entre 20 e 31%. Elas As fraturas ou luxações carpais são raramente associadas
incluem neuropatias, artrite degenerativa, má união, lesão a essas fraturas.
de tendão, síndrome compartimentai e distrofia simpati-
correflexa. A limitação da função do punho depois des­
sas fraturas tem sido relatada em até 90%. A redução
adequada precoce da fratura é o meio mais importante de
evitar complicações. As complicações dessas fraturas são
descritas como precoces e tardias.
As complicações precoces incluem disfunção do ner­
vo mediano, lesão de tendão, lesão do nervo ulnar, sín­
drome compartimentai e deslocamento do fragmento da
fratura. O paciente com compressão do nervo mediano se
queixa de dor e parestesias na distribuição do nervo. Se o
paciente estiver com gesso, o gessado e a malha devem ser
cortados e o braço é elevado por 48 a 72 horas. Se os sin­
tomas persistirem, uma síndrome de túnel do carpo deve
ser suspeitada, e o alívio cirúrgico é então indicado.
Precaução: A fu n ç ã o do nervo m ediano nas fra tu ra s d is­
tais do antebraço sem pre deve ser docum entada. A d o r
persistente deve ser considerada com o secundária à co m ­
p ressão do nervo a té p rova em contrário.
As complicações tardias incluem a rigidez dos dedos,
do ombro ou da articulação radiocarpal. Distrofia simpa-
ticorreflexa e defeitos estéticos podem seguir-se às fratu­ Figura 12.34 Fratura de Smith gravemente deslocada, vista na
ras deslocadas; ruptura do extensor longo do polegar; má radiografia lateral.
254 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Complicações
As complicações são vistas com pouca frequência e in­
cluem lesão de tendão e o desenvolvimento de osteoartrite.

Fratura da borda dorsal e volar (de Barton)


Essas fraturas são intra-articulares e envolvem a borda
dorsal ou volar do rádio (Fig. 12.35). Elas são classifica­
das como fratura com mecanismo de cisalhamento tipo II,
conforme descrito por Femandez e Juniper, e requerem
reparo cirúrgico se o fragmento for grande ou instável.
É comum que as fraturas de Barton envolvam a borda dor­
sal do rádio distai, sendo mais notado nas radiografias um
fragmento triangular de osso.

Mecanismo de lesão
Uma dorsiflexão extrema do punho, acompanhada de uma
força de pronação pode resultar em fratura da borda dorsal.

Figura 12.35 Fratura de Barton; dorsal (A) e volar (fl). Exame


O rádio dorsal e distai apresenta-se doloroso e edemacia-
Tratamento do. Em alguns casos, os ramos sensitivos do nervo radial
podem ser comprometidos e apresentam parestesias na
Essas fraturas requerem encaminhamento ortopédico de área de distribuição.
emergência para redução. Se o encaminhamento ortopédi­
co não estiver disponível, a fratura pode ser reduzida con­ Imagens
forme as instruções a seguir. A tração é aplicada usando
As radiografias laterais demonstram adequadamente
fitas com 3,5 ou 4,5 kg de peso no cotovelo flexionado.
o fragmento de fratura e o grau de deslocamento (Fig.
O punho é então flexionado até que os fragmentos sejam
12.36).
desimpactados. Com os polegares contra o fragmento dis­
tai, uma pressão dorsal é aplicada até que os fragmentos
Lesões associadas
sejam posicionados da forma correta. O antebraço deve ser
imobilizado com uma tala (Apêndice A .ll). Radiografias Podem ocorrer lesões ou luxações dos ossos do carpo,
pós-redução para documentar o procedimento devem ser junto com o dano aos ramos sensitivos do nervo radial.
obtidas. Se a redução permanecer estável, a fratura pode ser
Tratamento
tratada de forma definitiva com gessado, embora tais fratu­
ras necessitem de cirurgia com mais frequência. As fraturas A terapia selecionada depende do tamanho do fragmen­
instáveis requerem fixação com fio ou placa. Os pacientes to da fratura e do grau de deslocamento. As fraturas de
com envolvimento intra-articular devem ser encaminhados Barton não deslocadas devem ser imobilizadas com uma
com urgência para pinagem do fragmento ósseo. tala (Apêndice A .ll), com o antebraço em posição neu-

Figura 12.36 Fratura de Barton volar, com


luxação radiocarpal associada.
Emergências Ortopédicas 255

Figura 12.37 Fratura do estiloide do rádio (fratura de Hutchin­


son).

tra. Um fragmento deslocado grande, com subluxação ou


luxação dos ossos do carpo, requer sedação seguida de
redução manipulatória fechada. Se a fratura for estável e
estiver bem-posicionada, uma tala (Apêndice A. 11) com
o antebraço em posição neutra é recomendada. Se a fra­
tura for instável ou se estiver reduzida inadequadamente,
a redução aberta com fixação interna está indicada. Um
fragmento pequeno pode ser reduzido e fixado com um
fio percutâneo.
Figura 12.38 Radiografia de uma fratura do estiloide do rádio.
Complicações
As complicações frequentes incluem a artrite secundária Imagens
ao envolvimento intra-articular, como também aquelas
complicações associadas com as fraturas de Colles. As imagens AP do punho demonstram melhor essa fratura
(Fig. 12.38).
Fratura do estiloide do rádio (de Hutchinson) Lesões associadas
Essa fratura também é conhecida como fratura do cho­ As fraturas do escafoide, assim como a dissociação esca-
fer ou de recuo, pois era comumente vista quando uma fossemilunar, podem estar associadas. Até 70% das fra­
manivela era usada para dar a partida em um automóvel. turas do estiloide do rádio têm extensão de lesão para os
Quando o motor virava, a manivela era empurrada contra ligamentos escafossemilunares.
a eminência tenar do punho, resultando em fratura do esti­
loide do rádio (Fig. 12.37). Tratamento
O antebraço deve ser imobilizado em uma tala (Apêndi­
Mecanismo de lesão ce A .ll), com gelo e elevação. Esses pacientes requerem
O mecanismo envolvido é similar àquele visto em uma encaminhamento ortopédico urgente, já que a fixação per-
fratura do escafoide. Aqui, a força é transmitida do esca- cutânea está indicada para fraturas instáveis.
foide até o estiloide.
Complicações
Exame Embora as complicações sejam raras, o exame neurovas­
Dor, sensibilidade dolorosa e edema são notados sobre o cular bem documentado está indicado para excluir possí­
estiloide do rádio. veis déficits.

LESÃO DE TECIDOS MOLES E LUXAÇÕES DO PUNHO


LESÃO LIGAMENTAR exceção do espaço de Poirier, que é uma área no aspecto
volar entre o semilunar e o capitato, que é frequentemente
A estabilidade carpal é mantida por uma sequência comple­ o local de luxação carpal. A lesão destes ligamentos pode
xa de ligamentos que conectam os ossos do punho entre si. resultar em perda dos alinhamentos normais dos ossos do
Os ligamentos estão localizados nos lados volar e dorsal do carpo, luxação carpal ou uma combinação de ambos. Quan­
punho, como também os espaços intraósseos. Os ligamentos do a força for suficientemente intensa, uma fratura associada
volares são mais fortes do que os ligamentos dorsais, com pode estar presente (do escafoide, capitato, piramidal, esti-
256 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

loide do rádio ou da ulna). O mecanismo mais comum é a


queda com o braço estendido, mas golpes diretos, distração
e movimentos de torque também podem produzir tais lesões.
As instabilidades carpais e suas luxações associadas
são difíceis de avaliar de forma adequada. A anormalidade
radiográfica pode ser apenas notada depois de um estresse
(p. ex., com o punho cerrado), sendo chamada de insta­
bilidade dinâmica. A instabilidade dinâmica correspon­
de a uma ruptura ligamentar parcial, que com frequência
se toma uma ruptura completa com o passar do tempo.
As consequências da avaliação inadequada durante o exa­
me inicial ou o erro diagnóstico podem levar à perda pro­
gressiva da amplitude de movimentos, artrite degenerativa
tardia, dor e incapacidade crônicas.
Para uma compreensão panorâmica da lesão ligamen­
tar do punho, começaremos com a descrição dos estágios
de lesão de Mayfield. Os padrões específicos de lesão es­
tão mencionados como introdução, mas serão abordados
em mais detalhes a seguir. Figura 12.39 Instabilidade segmentar intercalada dorsal. No­
Mayfield descreveu quatro estágios de instabilidade tar a inclinação dorsal do sem ilunar. [U tilizada, com permis­
progressiva dos ossos do carpo, pelo carregamento expe­ são, de Skinner H. Current Diagnosis & Treatment in Orthope-
rimental em punhos de cadáveres. Ele percebeu que as dics. New York: M cG raw -H ill, 2004.]
lesões ligamentares ocorriam de forma sequencial e aditiva.
O primeiro estágio consiste em ruptura do ligamento inte-
rósseo escafossemilunar e do ligamento radioescafossemi- em direção volar (Fig.12.39). O resultado é o aumento no
lunar. Quando esses ligamentos são rompidos, pode ocorrer ângulo capitossemilunar (> 30°) e no ângulo escafosse­
a dissociação escafossemilunar ou a instabilidade segmen­ milunar (> 60°). A DISI é o tipo mais comum de instabi­
tar intercalada dorsal (DISI, do inglês dorsal intercalated lidade segmentar intercalada, e pode ser vista com a dis­
segm ent instability). O segundo estágio consiste em lesão sociação escafossemilunar ou com fraturas do escafoide.
adicional ao ligamento volar capitossemilunar. Neste mo­ A VISI está presente quando o ligamento semilunopi­
mento, existe instabilidade do escafoide e do capitato. O ramidal é rompido. A superfície articular distai do semilu­
terceiro estágio inclui a lesão do ligamento interósseo se- nar agora se inclina em direção volar, criando um aumento
milunopiramidal e do ligamento semilunopiramidal volar. do ângulo capitossemilunar (> 30°) e um ângulo escafos­
Quando esses ligamentos são rompidos, há instabilidade do semilunar diminuído (< 30°). Ao exame, existe sensibili­
escafoide, do capitato e do piramidal em relação ao semilu­ dade dolorosa sobre a articulação semilunopiramidal.
nar. É dentro desse estágio que ocorre a luxação perissemi- A presença de instabilidade segmentar intercalada su­
lunar dorsal. No estágio final, o ligamento radiossemilunar gere que a ruptura ligamentar é mais adequadamente trata­
dorsal é rompido, e pode ocorrer a luxação do semilunar ou da com reaproximação e reparo. Quando isso não for possí­
a instabilidade segmentar intercalada volar (VISI, do inglês vel, outro procedimento será necessário para evitar a artrite
volar intercalated segm ent instability). Nessa luxação, o degenerativa por cargas desiguais nas articulações carpais
semilunar se desloca com mais frequência anteriormente, que ocorrem com o passar do tempo. No caso de ruptura do
pois o ligamento radiossemilunar volar permanece intacto. ligamento escafossemilunar, o colapso avançado escafosse­
milunar (SLAC, do inglês scapholunate advanced collap-
Instabilidade segmentar intercalada se) refere-se à condição degenerativa que se segue.

Essa condição pode ser considerada como um colapso ar­


Dissociação escafossemilunar
ticular mediocarpal. A posição vertical do semilunar na
radiografia lateral é o resultado das inserções ligamenta­ Essa lesão, comumente despercebida, é caracterizada pelo
res de seus ossos adjacentes. O escafoide, pelo ligamento deslocamento do escafoide para uma posição mais vertical
escafossemilunar, traciona o semilunar para flexão, en­ na fileira proximal de ossos do carpo. Quando o ligamento
quanto o piramidal, pelo ligamento semilunopiramidal, escafossemilunar é rompido, um espaço entre o semilunar e
puxa o semilunar para extensão. Quando o ligamento o polo proximal do escafoide é produzido. A ruptura do li-
escafossemilunar é rompido, a força sem oposição do gamento radioescafossemilunar permite a rotação palmar do
ligamento semilunopiramidal faz o semilunar virar dor­ escafoide e é às vezes denominada de subluxação rotatória
salmente, uma condição conhecida como DISI. Na ra­ do escafoide: Em um estudo, a dissociação escafossemilu­
diografia lateral, a superfície articular distal do semilunar nar ocorreu em 5% dos pacientes no setor de emergência que
inclina-se dorsalmente e o osso escafoide inclina-se mais não tinham uma fratura notada nas radiografias de punho.
Emergências Ortopédicas 257

Uma medida de acima de 3 mm é anormal e é chamada


de “sinal de Terry Thomas”. O nome faz referência a um
comediante britânico que tinha um espaço característico
entre os dentes frontais. Uma incidência PA do punho
fechado força a cabeça do capitato para dentro da arti­
culação escafossemilunar e expõe a frouxidão ligamen-
tar, tomando essa radiografia um meio mais sensível de
diagnóstico. Quando a subluxação rotatória do escafoide
estiver presente, um achado radiográfico adicional em PA
é o sinal do anel cortical (sinal do sinete), representando a
rotação do escafoide normalmente alongado. Na incidên­
cia lateral, nota-se o ângulo escafossemilunar de mais de
60°, devido à rotação volar do escafoide (Fig. 12.41).

Lesões associadas
A dissociação escafossemilunar pode ocorrer como par­
te de uma luxação perissemilunar ou do semilunar, como
uma lesão isolada ou junto com uma fratura do escafoide
ou do rádio distai.

Figura 1 2 .4 0 Manobra de deslocam ento do escafoide para Tratamento


avaliar a sua estabilidade. O antebraço do paciente é levemen­ Os pacientes com dissociação escafossemilunar diag­
te pronado. O exam inador segura o punho do paciente no lado
nosticados dentro de 6 semanas da lesão são classifica­
radial, colocando o polegar na proem inência do escafoide e
dos como tendo d isso cia çã o e sc a fo sse m ilu n a r aguda.
enrolando os dedos em torno do antebraço distai. O polegar
deve fazer pressão sobre o escafoide enquanto os dedos do
Aquelas lesões que são diagnosticadas após esse tempo
exam inador fazem contrapressão. A outra mão do exam inador são denominadas de subagudas. Existem procedimentos
segura a mão do paciente no nível das cabeças metacarpais. cirúrgicos múltiplos descritos para tratar essas lesões.
O exam inador faz um desvio ulnar e estende levemente a mão Os pacientes devem ter colocada uma tala ou um gessa­
do paciente, movendo radialmente o punho do paciente, em do que inclua o polegar (Apêndice A.7), e encaminhados
leve flexão, e mantendo a pressão do polegar sobre o escafoide. para um cirurgião de mão.
Esta manobra é positiva se o escafoide se deslocar dorsalmente.
Complicações
Mecanismo de lesão Sem o tratamento apropriado ocorre a artrite degenerativa
com limitação associada em amplitude de movimentos e
A dissociação escafossemilunar é secundária à extensão
dor crônica.
forçada do punho.

Exame Luxações perissemilunares e do semilunar


Os pacientes habitualmente apresentam dor e edema no As luxações perissemilunares e do semilunar são con­
punho. A dor no punho é acentuada nos extremos do mo­ sideradas em conjunto, embora representem um grau
vimento. O paciente pode observar crepitação ou estali­ progressivo de lesão, conforme descrito por Mayfield e
dos. A manobra de deslocamento do escafoide fornece previamente mencionado. A articulação normal do rádio,
uma avaliação qualitativa da estabilidade do escafoide. semilunar, capitato e terceiro metacarpal forma uma linha
Essa manobra sempre deve ser comparada ao lado con- direta (Fig. 12.42). Em uma luxação perissemilunar, o ca­
tralateral. O deslocamento do escafoide pode ser sutil ou pitato é deslocado, em geral dorsalmente, em relação ao
acentuado. Conforme a pressão no polegar é retirada, o semilunar. Com a luxação do semilunar, este é deslocado
escafoide retoma abruptamente a sua posição normal, em direção volar (mais comumente) em relação ao rádio
às vezes com um ressoar de “estalo” ou “clique” 7 (Fig. distai e o capitato aparece em posição normal (Fig. 12.43).
12.40). A dor na execução desse teste é um sinal mais con­
fiável de instabilidade do que o “clique”. Mecanismo de lesão
O mecanismo de lesão inclui hiperextensão excessiva,
Imagens desvio ulnar e supinação intercarpal.
As lesões são visualizadas radiograficamente na inci­
dência PA como um alargamento do espaço a rtic u la r Exame
escafossem ilunar. Esse espaço articular deve sempre ser Ao exame físico, existe edema dorsal no punho e redução
verificado em qualquer paciente com trauma no punho. dos movimentos - especialmente a flexão. Uma sensação
258 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Figura 12.41 Dissociação escafossemilunar. Na incidência posteroanterior (PA), notar a distância aumentada (> 3 mm) entre o
escafoide e o sem ilunar (sinal deTerry Thomas) e o escafoide encurtado com densidade dupla em forma de anel denso no seu polo
distai (sinal do anel cortical). Na incidência lateral, o ângulo escafossemilunar é superior a 60°.

palpável de enchimento pode ser percebida no lado dorsal mediano pode ser comprimido no canal carpal pelo semi­
do punho depois de luxação perissemilunar dorsal, e na lunar, e o paciente exibir sinais de lesão do nervo mediano.
superfície volar com luxação volar do semilunar. O nervo
Imagens
As anormalidades radiográficas são vistas tanto em filmes
PA como laterais. Ao olhar a incidência lateral do punho,
traçar uma linha imaginária entre os centros do rádio, do
semilunar e do capitato. Essa linha deve sempre passar
através do semilunar, em sua porção média. A radiografia
lateral é a incidência mais importante para determinar o
alinhamento correto dos ossos do carpo.
Em uma luxação peris semilunar, a incidência PA re­
vela sobreposição entre o capitato e o semilunar. Os arcos
carpais estão rotos na articulação escafossemilunar e na
articulação piramidossemilunar. No filme lateral, o capi­
tato está deslocado em relação ao semilunar (Fig. 12.44).
Com uma luxação do semilunar, o filme PA revela-o
com um aspecto triangular. O semilunar está deslocado
e inclinado em direção volar na incidência lateral (Fig.
12.45). O termo “luxação mediocarpal” pode ser usado
quando houver luxação do semilunar e do capitato e ne­
nhum deles estiver alinhado sobre o centro do rádio distai
(Fig. 12.46). Quando uma fratura carpal estiver presente,
o termo “trans” é aplicado ao nome do osso que sofreu
fratura, seguido pelo local de luxação (Fig. 12.47).
Figura 12.42 Notar que uma linha traçada através do ponto
central do rádio e do capitato na incidência lateral do punho
Lesões associadas
percorre o ponto central do sem ilunar. Se o sem ilunar estiver
deslocado ou subluxado, a linha percorre somente um frag­ Essas lesões estão associadas com fraturas do escafoide e,
mento do osso ou passará longe dele. menos comumente, com as do capitato.
Emergências Ortopédicas 259

Figura 12.43 A. Luxação volar do semilunar. B. Luxação perissemilunar dorsal.

Tratamento A redução fechada ou aberta, com fixação percutâ-


Todas as luxações semilunares e peris semilunares devem nea, está indicada para lesões agudas. Tanto as luxações
ser imobilizadas com o punho em posição neutra em uma perissemilunares como as do semilunar habitualmente en­
tala volar e encaminhadas imediatamente para redução e volvem a subluxação rotatória do escafoide ou, também,
cuidados definitivos. fratura do escafoide.
A técnica para redução fechada das luxações do semi­
lunar e perissemilunar requer o uso de bloqueio no punho Ruptura do complexo da fibrocartilagem
ou sedação para obter um bom relaxamento muscular e o triangular
controle de dor. As fitas para dedos são usadas com apro­
ximadamente 5 kg de peso por pelo menos 10 minutos O termo complexo da fibrocartilagem triangular (CFCT)
antes da redução. A técnica de redução não é complicada, é usado para descrever os principais estabilizadores liga-
mas deve ser executada por alguém experiente. ’ Alguns mentares da articulação radioulnar e dos ossos ulnares do
autores preferem a redução cirúrgica para as luxações pe- carpo. Ele fornece suporte ligamentar tanto volar como
rissemilunares complexas. “ distalmente. A lesão ocorre devido a uma queda e, às ve-

A B

Figura 12.44 Luxação perissemilunar dorsal. A. Na incidência PA, notar a sobreposição das fileiras carpais. B. A incidência lateral
revela a localização dorsal do capitato e dos outros ossos do carpo, com o sem ilunar articulando-se normalmente com o rádio.
260 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Figura 12.45 Luxação volar do semilunar. A. Na incidência PA, existe sobreposição das fileiras carpais e o sem ilunar toma um
aspecto triangular. B. A incidência lateral mostra o "sinal da taça derramada", quando o sem ilunar aponta em direção volar e está
deslocado de suas articulações.

As rupturas dorsais podem ser diagnosticadas pelo


“teste de levantamento em supinação” no qual é solicitado
ao paciente para tentar elevar a mesa de exames com a
mão espalmada sob a mesa. A produção de dor ou fraque­
za confirma o diagnóstico. O tratamento é inicialmente
conservador, com medicamentos anti-inflamatórios não
esteroides (AINEs), imobilização em leve flexão e desvio
ulnar, seguidos de fisioterapia. O reparo artroscópico pode
ser necessário, de forma que o encaminhamento ortopé­
dico é recomendado sempre que houver suspeita dessa
, ~ 63,64
lesão.

Luxação radiocarpal
A luxação radiocarpal é uma entidade rara na ausência
de fratura intra-articular do rádio. 3,66 Estima-se que as
luxações radiocarpais representam 0,2% de todas as luxa­
ções. A luxação pode ocorrer volar ou dorsalmente, e re­
quer quantidade significativa de força. Devido à natureza
violenta dessas lesões, existe um número significativo de
lesões associadas, incluindo fraturas expostas e fechadas,
instabilidade carpal, rupturas de tendões e lesões neuro-
Figura 12.46 Luxação mediocarpal. Observar que tanto o se­
vasculares. Acredita-se que o mecanismo seja de hiperex-
milunar como o capitato não dividem ao meio uma linha traça­ tensão, pronação e inclinação radial. A consulta ortopédi­
da pelo centro do rádio. ca imediata é recomendada. Depois da redução fechada,
uma luxação dorsal deve ser imobilizada com alguma
extensão do punho, enquanto uma volar é imobilizada em
zes, por uso excessivo. A sensibilidade dolorosa está loca­ flexão do punho. As luxações radiocarpais têm sido trata­
lizada palpando o espaço entre o pisiforme e o processo das com sucesso com a redução fechada, mas a maioria
estiloide da ulna, na borda ulnar do punho. dos casos requer intervenção cirúrgica.
Emergências Ortopédicas 261

Figura 12.47 Luxação perissemilunar dorsal transescafoide nas radiografias (A) PA e ( B ) lateral, (seta = fratura do escafoide)

COMPRESSÃO NERVOSA m en to tra n sverso d o ca rp o (Fig. 12.48). A condição é


mais comum em mulheres após a menopausa, habitual­
Síndrome do túnel do carpo (mediano)
mente é idiopática, mas pode seguir-se a fraturas no pu­
Essa síndrome envolve a compressão do nervo mediano nho, lesões por esmagamento, artrite reumatoide, gravi­
no punho, sendo a neuropatia periférica mais comum - dez, diabetes ou doença da tireoide. Qualquer condição
presente em 0,5 a 3% da população. 7,68 O túnel do carpo que cause edema crônico da mão e do punho pode causar
é um espaço confinado entre os ossos do carpo e o lig a ­ essa síndrome.

Figura 12.48 O túnel do carpo com o nervo mediano sob o ligamento transverso do carpo.
262 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Os pacientes queixam-se de parestesias e dormência punho, AINEs e injeção local ou corticosteroides orais.
sobre a distribuição do nervo mediano. A dor pode irradiar Os corticosteroides orais demonstraram ser mais efetivos
para o ombro, mas poupa o dedo mínimo. O paciente pode que os AINEs e devem ser dados em uma dose de predni-
ser despertado do sono com dor na mão, devido à retenção sona, 20 mg por dia, por duas semanas.
de fluidos que ocorre durante a noite. Quando isso acontece, A injeção combinada de corticosteroide (metilpred-
o paciente deve ser instruído para elevar a mão. Os sintomas nisolona 40 mg) e agente anestésico local pode ser tanto
se desenvolvem depois do fechamento repetitivo da mão ou diagnóstica como terapêutica. O melhor local para injeção
depois da flexão aguda de punho, como a que ocorre ao diri­ é proximal ao ligamento transverso do carpo, já que isso
gir um carro ou operar uma ferramenta que deve ser segura­ diminui o risco de lesionar o nervo mediano. A agulha é
da manualmente por períodos prolongados de tempo. introduzida em um ângulo de 20° em relação à pele, entre
O achado sensitivo objetivo mais precoce na síndro- o tendão do palmar longo e do flexor radial do carpo, e
me do túnel do carpo é a redução da sensibilidade vi­ 4 cm proximalmente à prega do punho. Depois de inserir
bratória, que é testada com um diapasão de 256 ciclos. a agulha sob o ligamento transverso do carpo, é injetada a
O envolvimento mais grave do nervo mediano resulta em solução de esteroide e anestésico. Para ter certeza de que
discriminação sensitiva anormal de dois pontos. a agulha está corretamente posicionada, devem ser bus­
Os achados clássicos no exame físico incluem os cadas parestesias na distribuição do mediano. Nesse mo­
sinais de Tinel e de Phalen. O sinal de Tinel envolve a mento, a agulha é retrocedida em 1 a 2 mm, e o conteúdo
percussão do aspecto volar do punho. O teste é positivo da seringa é injetado.
quando o paciente sentir parestesias na distribuição do A maioria dos pacientes responde às medidas con­
nervo mediano (Fig. 12.49A). O sinal de P halen é fei­ servadoras, embora 80% tenham recorrência em 1 ano.
to pedindo-se ao paciente para flexionar os punhos por 1 Se não for notada resposta, a liberação cirúrgica é neces­
minuto. Se forem notadas parestesias sobre a distribuição sária.
do nervo, o teste é considerado positivo (Fig. 12.49B).
Um manguito de esfigmomanômetro (teste do to rn iq u e­ Compressão do nervo ulnar
te) inflado na pressão de 200 irnnHg por 2 minutos tam­
bém pode produzir parestesias na mão, sendo outro teste O nervo ulnar pode ser comprimido no túnel ulnar, pró­
para a síndrome do túnel do carpo. Contudo, esses sinais ximo ao cotovelo, e no punho, na ponta da mão próxima
ocorrem apenas mais tarde no curso do distúrbio, e têm ao pisiforme. A síndrom e do túnel uln a r é a compressão
habilidade limitada para predizer o eletrodiagnóstico da do nervo ulnar no nível do punho, que ocorre quando o
síndrome do túnel do carpo. Os sinais e sintomas mais nervo penetra no túnel ulnar ou quando o ramo profundo
preditivos da síndrome parecem ser a localização dos sin­ cruza em tomo do gancho do hamato na palma da mão.
tomas na distribuição do nervo mediano, percepção de dor As lesões no punho ocorrem em associação com trauma
diminuída ao longo do aspecto palmar do dedo indicador repetitivo, artrite ou compressão por um cisto gangliônico
e a abdução enfraquecida do polegar. 7,68,71 ou outro tumor benigno. O mecanismo predominante é a
O tratamento conservador inclui evitar os movimen­ compressão direta. A lesão ocorre em ciclistas e em outros
tos repetitivos do punho e da mão, a imobilização do que sofrem compressão nessa área.

A B

Figura 12.49 Testes para a síndrome do túnel do carpo. A. O teste de Tinel é executado com a percussão da superfície volar do
punho, sobre o nervo mediano. B. O teste de Phalen é executado pela compressão das superfícies dorsais opostas da mão, com os
punhos flexionados, conforme demonstrado. Isso causa formigamento sobre a distribuição do nervo mediano.
Emergências Ortopédicas 263

Os pacientes com lesão do nervo ulnar no punho


apresentam neuropatia ulnar similar às lesões no cotovelo,
com exceção da superfície dorsal da mão. Pelo fato de o
ramo cutâneo para essa região surgir proximalmente ao
punho, a sensibilidade dorsal do quinto dedo será preser­
vada quando o nervo ulnar estiver afetado no punho.
O tratamento é cirúrgico no punho e conservador no
cotovelo. Se nenhuma melhoria for notada depois de um
período de 3 a 4 meses, a cirurgia é indicada. O cotovelo é
o local mais afetado pela compressão do nervo ulnar, para
uma discussão adicional ver o Capítulo 14.

Compressão do nervo radial


Os pacientes com disfunção do nervo radial se apresen­
tam com queixas de incapacidade para estender o punho. Figura 12.50 Um cisto gangliônico dorsal.
O local mais afetado pela compressão do nervo radial é
na axila, em geral após o uso de muletas, e no túnel ra­
dial no cotovelo. Quando a compressão ocorrer no sulco de estresse crônico é referida. Os pacientes reclamam de
espiral do úmero, é chamada de “paralisia de sábado à dor incômoda ou dor leve, que é notada sobre o cisto gan­
noite” porque é vista em pacientes alcoolizados que dor­ gliônico. Os cistos maiores são menos dolorosos do que
mem com os braços sobre a parte de trás de uma cadeira. os menores, e a dor diminui depois da ruptura. O apareci­
O déficit resultante é primariamente motor, com fraqueza mento é quase sempre insidioso, embora alguns pacientes
na abdução do polegar (abdutor longo do polegar), exten­ contem a história de ter notado a “saliência” durante um
são do dedo indicador (extensor próprio do indicador) e período de alguns dias. Uma história de tamanho variá­
extensão do punho. A maioria desses déficits é resolvido vel é muitas vezes relatada, em função do enchimento e
espontaneamente, já que são secundários a uma neuro- esvaziamento no espaço sinovial originário. Ao exame, é
praxia. O tratamento é feito com um imobilizador para percebida uma lesão cística firme, habitualmente não do­
prevenir a queda do punho. O leitor é encaminhado ao lorosa, que é sentida como uma conta debaixo da pele.
Capítulo 14 para uma discussão adicional sobre a neuro­ O diagnóstico é fácil devido à frequência com que eles são
patia do radial. vistos. A aspiração revela material tipo gel, confirmando
o diagnóstico quando houver dúvida. Uma lesão similar
CISTO G A N G Ü Ô N IC O deve ser mencionada, a bossa carpal, que é vista sobre
a base dos metacarpais do indicador e do dedo médio,
Um cisto gangliônico é o tumor mais comum da mão e já que essas lesões ósseas são de aspecto idêntico. Na
consiste em um cisto sinovial que se origina de uma ar­ verdade, um saco preenchido por fluido recobre algumas
ticulação ou do revestimento sinovial de um tendão her- bossas carpais.
niado (Fig. 12.50). Contém um fluido tipo gel que pode A maioria dos cistos se resolve de forma espontânea
tomar-se completamente selado dentro do cisto ou perma­ e não requer tratamento, a menos que haja sintomas. O
necer conectado a uma cavidade sinovial. Os três cistos tratamento no setor de emergência consiste em aspira­
mais comuns são o gangliônico dorsal do punho, o gan­ ção com uma agulha de grosso calibre quando o paciente
gliônico volar do punho e o gangliônico da bainha do ten­ queixar-se de sintomas. O tratamento inicial deve incluir a
dão flexor. Os cistos dorsais do punho perfazem entre 60 injeção de esteroides na cápsula dorsal, seguida de imobi­
a 70% de todos os tumores de tecidos moles do punho.73,74 lização. A taxa de recidiva é muito alta com esse método
Surgem da articulação escafossemilunar e compreendem de tratamento, e o paciente deve ser instruído a respeito. A
65% dos cistos do punho e da mão. Esses cistos podem ser tranquilização é importante e o paciente deve ser informa­
difíceis de detectar ao exame clínico e podem ser palpá­ do que essa lesão não é maligna.
veis somente com o punho em flexão extrema. Os cistos Quando a terapia conservadora falhar, é indicado o
dorsais ocultos podem produzir dor crônica no punho em tratamento cirúrgico para excisão do cisto. A excisão do
alguns pacientes. cisto gangliônico dorsal com uma porção da cápsula, na
O cisto gangliônico volar do punho tem origem na ar­ articulação, é o tratamento de escolha recomendado. Em
ticulação radiocarpal e representa 20 a 25% dos casos. Os 94% dos casos, a cura é alcançada depois da cirurgia. Em
que surgem da bainha do tendão flexor respondem por 10 aproximadamente 65% dos casos, a cura é alcançada de­
a 15%. pois da injeção com um corticosteroide e/ou com a ruptu­
Um evento traumático específico será descrito por ra. Os pacientes podem ser aconselhados sobre as alterna­
15% dos pacientes. Frequentemente, apenas uma história tiva e são encaminhados ao especialista.
264 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Figura 12.52 Teste de Finkelstein para exam inar um paciente


com suspeita de tenossinovite de Q uervain. O paciente queixa-
-se de dor sobre o tendão quando o polegar é seguro na mão,
como mostrado, e o punho sofre desvio ulnar.

punho.

TENOSSINOVITE DE QUERVAIN
A tenossinovite estenosante de Q uervain envolve o ab-
dutor longo do polegar e o extensor curto do polegar no
primeiro compartimento dorsal do punho (Fig. 12.51).
Os pacientes queixam-se de dor sobre o aspecto radial do
punho, com irradiação proximal e distai. Existe sensibili­
dade dolorosa localizada sobre o estiloide do rádio, onde a
polia pode se mostrar e ter a sensação de estar espessada.
Um teste patognomônico, que reproduz a dor, é chamado
de teste de F inkelstein (Fig. 12.52 e Vídeo 12.4). Para efe­
tuar o teste, o paciente estira passivamente os tendões se­
gurando o polegar dentro da palma e o examinador faz um
desvio ulnar do punho. Deve-se diferenciar essa condição
da artrite carpometacarpal do polegar, que causa sensibili­
dade dolorosa localizada naquela articulação.
A tenossinovite de Quervain é causada pelo sobreu-
76 77
so ou está associada à artrite reumatoide ou gravidez. ’
Figura 12.53 Injeção na tenossinovite estenosante de Q uer­
As mulheres são mais afetadas do que homens, em uma vain. A agulha é inserida entre o tendão e a bainha. Se a agu­
proporção de 10:1. O tratamento inclui aplicação de gelo lha for inserida corretamente, um edema em forma de salsicha
no estiloide do rádio, AINEs e restrição do movimento será notado no primeiro compartimento, conforme o fluido é
do polegar e do punho com uma tala de polegar (Apên­ injetado.
dice A.7). A injeção local da bainha do tendão com um
anestésico local e um esteroide tem um taxa de sucesso de
até 90% 9 (Fig. 12.53 e Vídeo 12.5). Durante a injeção, adequado da agulha. Foi demonstrado que a injeção guia­
deve-se observar um edema visível proximal ao retináculo da por ultrassonografia melhora os resultados, confirman­
extensor; ele indica que a agulha está no lugar certo. O es­ do a injeção da bainha do abdutor longo do polegar e do
teroide deve ser injetado após o anestésico (e não mistu­ extensor curto do polegar. Depois da injeção, colocar
rado na mesma seringa) para garantir o posicionamento no paciente uma tala simples de polegar, estendendo-se da
Emergências Ortopédicas 265

ponta do polegar até dois terços do rádio no antebraço. A 18. Clay NR, Dias JJ, Costigan PS, et al. Need the thumb be
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Capítulo 13
Antebraço
INTRODUÇÃO
O rádio e a ulna ficam em paralelo entre si e estão reves­
tidos, em suas extremidades proximais, com uma massa
muscular relativamente grande. Devido à sua proximida­
de, a força da lesão rompe ambos os ossos e suas inser­
ções ligamentares. Eles podem ser conceitualmente consi­
derados como dois cones lado a lado, cada um apontando
em direção oposta (Fig. 13.1).

Axiom a: A fratura de um dos ossos do antebraço, em espe­


cial quando angulada ou deslocada, é muitas vezes acompa­ Figura 13.1 O rádio e a ulna podem ser considerados com o
nhada de uma fratura ou uma luxação de seu "companheiro". dois cones que se reúnem nas extrem idades, perm itindo a
supinação e a pronação conform e o rádio "gira" em torno
da ulna.
Os ossos do antebraço estão unidos por várias estrutu­
ras ligamentares essenciais (Fig. 13.2). Em cada extremi­
dade, as cápsulas articulares do cotovelo e do punho man­ 1. P roxim al : O bíceps e o supinador inserem-se no rádio
têm o rádio e a ulna juntos. Os ligamentos radioulnares proximal e exercem uma força de supinação.
anterior e posterior fortalecem ainda mais essas inserções 2. D iáfise m édia: O pronador redondo insere-se na diá­
na área proximal. Distalmente, os ligamentos radioulnares fise do rádio e exerce força pronadora.
formam uma articulação que contém um disco articular
3. D istai. Dois grupos de músculos inserem-se no rádio
fibrocartilaginoso. Ao longo da diáfise média de ambos os
distai. O pronador quadrado exerce uma força prona­
ossos há interconexão por uma forte membrana interóssea
dora. O braquiorradial e o abdutor do polegar também
fibrosa.
produzem forças deformantes, dependendo da loca­
As inserções musculares aos ossos do antebraço são
lização da fratura. Desses, o braquiorradial exerce a
importantes, devido às suas ações em deslocar os frag­
força predominante de deslocamento.
mentos da fratura. Simplificando, as diáfises do rádio e
da ulna são cercadas por quatro grupos de músculos pri­ Ao considerar o tratamento dessas fraturas, é neces­
mários cuja tração com frequência resulta em desloca­ sário prestar atenção à manutenção do comprimento e do
mento da fratura ou anulação de uma redução adequada alinhamento. A ulna é um osso reto fixo, ao redor do qual
(Fig. 13.3). Esses grupos são: o rádio roda. O rádio, ao contrário, tem um arco lateral

Articulação Membrana Cápsula


radioulnar proximal interóssea distai

Figura 13.2 O rádio e a ulna são unidos pelas cápsulas em ambas as extremidades, nas articulações do punho e do cotovelo. A
membrana interóssea junta os dois ossos ao longo das diáfises.
268 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Músculo
biceps

Músculo
supinador

Músculo abdutor Músculo


Músculo pronador
longo do polegar braquiorradial
redondo

Figura 13.3 Pela atuação das inserções m usculares do antebraço é


possível predizer o deslocamento das fraturas do rádio. A. O músculo
supinador supina, o bíceps flexiona e os músculos pronador redondo e
pronador quadrado fazem a pronação. Uma fratura do rádio proximal
na localização 1 resulta em um fragmento proximal supinado e fle­
Músculo xionado e um fragmento distai pronado. Quando a fratura for distai à
pronador
inserção do pronador redondo na localização 2, o fragmento proximal
quadrado
será neutro e flexionado, enquanto o fragmento distai estará prona­
do e tracionado em direção à ulna. B. O s músculos braquiorradial e
abdutor longo do polegar agem puxando os fragmentos distais mais
proximalmente, resultando em fragmentos sobrepostos.

que deve ser preservado para permitir a completa prona­


ção e supinação após a consolidação (Fig. 13.4).

Classificação
Neste capítulo, são consideradas as fraturas da diáfise do
rádio e da ulna. Elas são definidas como as diáfises dos
ossos longos não cercadas por cápsulas ou ligamentos ar­
ticulares. Ver o Capítulo 12 para uma abordagem sobre
as fraturas do rádio distai e o Capítulo 14 para uma abor­
dagem sobre as fraturas das estruturas proximais, como a
cabeça do rádio, o olécrano e o processo coronoide. O sis­
tema de classificação usado neste capítulo para as fraturas
das diáfises radial e ulnar é com base em considerações
anatômicas e também terapêuticas.
As fraturas podem ocorrer em qualquer lugar ao
longo da diáfise do rádio ou da ulna. Essas fraturas são
divididas em três grupos: (1) fraturas da diáfise do rádio,
(2) fraturas da diáfise da ulna e (3) fraturas combinadas
do rádio e da ulna. As fraturas de Monteggia (fratura
da ulna com luxação da cabeça do rádio) e de Galeazzi
(fratura do rádio com luxação radioulnar distal) estão
Figura 13.4 O arqueamento lateral do rádio deve ser preservado descritas em conjunto com as suas respectivas fraturas
para permitir a ocorrência de pronação e supinação completas. ósseas.
Emergências Ortopédicas 269

FRATURAS DO ANTEBRAÇO
FRATURAS DA DIÁFISE DO RÁDIO Mecanismo de lesão
As fraturas da diáfise do rádio podem ser divididas O mecanismo mais encontrado é um golpe direto na diá­
em fraturas proximais, da diáfise média e distais (Fig. fise do rádio, mais comumente na junção das porções mé­
13.5). As fraturas isoladas dos dois terços proximais dia e distai do osso. É nesse ponto que o rádio fica menos
da diáfise do rádio são incomuns em adultos, pois tal coberto por músculos e, por conseguinte, exposto a uma
área está bem protegida pela musculatura do antebraço. quantidade maior de trauma direto.
As fraturas do terço distai são importantes pois estão
muitas vezes associadas com lesão da articulação ra­ Exame
dioulnar, em especial quando estiverem deslocadas ou
anguladas. A sensibilidade dolorosa está presente ao longo do local
de fratura e pode ser produzida com a palpação direta ou a
compressão longitudinal.

Terço proximal Diáfise média

A. Não deslocada B. Deslocada

Terço distai

A. Não deslocada B. Deslocada C. Fratura de Galeazzi Figura 13.5 Fraturas da diáfise do rádio.
270 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Figura 1 3.6 Fratura isolada da diáfise do rádio. A. A R B. Ra­


diografia lateral. Esse tipo de fratura angulada do terço distai do
rádio deve gerar a suspeita de fratura-luxação; contudo, a evidên­
cia radiográfica e clín ica não apoiam esse diagnóstico. A fratura
foi submetida à redução fechada e consolidou bem com gessado.

As fraturas-luxações de Galeazzi devem ser suspeita­ Tratamento


das se houver sensibilidade dolorosa no punho ou na proe­ Rádio - terço proximal
minência da cabeça da ulna.
Não deslocada. O manejo no setor de emergência deve
incluir a aplicação de talas anteroposteriores (Apêndi­
Imagens ce A.10). O cotovelo deve estar em 90° de flexão, com
São obtidas incidências anteroposterior (AP) e lateral de o antebraço em supinação. A supinação do antebraço é
rotina do antebraço. As fraturas da diáfise do rádio em necessária para prevenir um deslocamento causado pelas
geral estão associadas a lesões graves, mas que com fre­ forças supinadoras do músculo supinador e do bíceps, que
quência passam despercebidas, do cotovelo e do punho. se inserem na porção proximal do rádio. As radiografias
Dessa forma, ambas as articulações devem ser vistas nas de acompanhamento são essenciais para detectar um des­
radiografias. As fraturas isoladas e anguladas ou deslo­ locamento. Essas fraturas são raras e exigem encaminha­
cadas da diáfise distal do rádio sugerem que subluxação mento ortopédico urgente.
ou luxação da articulação radioulnar distal estejam pre­
sente. Deslocada. O manejo de emergência deve incluir imo­
Existem quatro sinais radiográficos confiáveis de le­ bilização em uma tala posterior longa do braço (Apêndice
são da articulação radioulnar distal (Figs. 13.6 e 13.7). A.9), com o antebraço em supinação e o cotovelo em 90°
de flexão. O encaminhamento de emergência está indica­
1. Fratura da base do estiloide da ulna do, já que o tratamento de escolha é a redução aberta e a
2. Incidência AP: alargamento do espaço articular ra­ fixação interna.
dioulnar distal Se a fratura do rádio envolver o quinto proximal do
3. Vista lateral: luxação do rádio distai em relação à ulna osso, o tratamento é controverso. Devido ao pequeno ta­
4. Encurtamento do rádio superior a 5 mm manho do fragmento proximal, a fixação interna é difícil.
A maioria dos pacientes é tratada com redução manipula-
tória e imobilização com tala anteroposterior (Apêndice
Lesões associadas
A.10). O cotovelo deve estar em 90° de flexão e o antebra­
Uma fratura da diáfise do rádio distai associada a uma lu­ ço em supinação.
xação da articulação radioulnar distal (fratura-lwcação de
G aleazzi ) deve ser considerada. Os mecanismos de alta Rádio - diáfise média
energia com extensa lesão de tecidos moles podem estar Não deslocada. O encaminhamento é indicado depois
associados a uma síndrome compartimentai aguda. da imobilização com tala anteroposterior (Apêndice
Emergências Ortopédicas 271

Figura 13.7 Fratura-luxação de G ale a zzi. A. Fratura do rádio angulada. Notar a luxação da articulação radioulnar distal na inci­
dência lateral e o encurtamento do rádio em AP. B. Fratura deslocada do rádio. Observar o alargamento da articulação radioulnar e
o encurtamento do rádio da incidência em AP.

A.10). O cotovelo deve estar em 90° de flexão e o antebra­ com um cirurgião especializado em mão é necessária. Se
ço em supinação moderada. As radiografias de acompa­ não tratada dentro de 10 semanas, o paciente pode sofrer
nhamento são fortemente recomendadas. limitação da supinação e pronação, dor crônica e fraqueza.

D eslocada. O encaminhamento de emergência está in­ C o m p lic a ç õ e s


dicado, já que o tratamento de escolha é a redução aberta As fraturas da diáfise do rádio estão associadas a vários
e a fixação interna. Inicialmente, imobilizar com 90° de fatores de complicação.
flexão do cotovelo e supinação moderada do antebraço
(Apêndice A. 10). 1. As fraturas não deslocadas podem sofrer deslocamen­
to retardado devido à tração muscular. As radiografias
R á d io - te r ç o d is ta i de acompanhamento para assegurar o posicionamento
apropriado são essenciais.
O encaminhamento é indicado após
N ã o d eslo ca d a .
2. A má união ou a não união podem ser secundárias à
imobilização com tala AP (Apêndice A. 10). O cotovelo
redução ou à imobilização inadequada.
deve estar em 90° de flexão e o antebraço em pronação.
Uma fratura angulada e não deslocada pode estar associa­ 3. As deformidades rotacionais devem ser detectadas e
da à subluxação da articulação radioulnar distai. precocemente tratadas.
4. Subluxação ou luxação da articulação radioulnar distai.
D eslocada. Essas fraturas requerem encaminhamento 5. As lesões neurovasculares podem ocorrer, mas são in-
de emergência, já que a redução aberta com fixação inter­ comuns.
na é o tratamento de escolha. A linha de fratura é, em ge­
ral, transversa ou oblíqua, não cominutiva, com angulação
FRATURAS DA DIÁFISE DA ULNA
dorsal do segmento radial distai.
As fraturas da diáfise da ulna podem ser classificadas em
Fratura-luxação d e G a lea zzi. Há relatos indicando que três grupos: (1) não deslocadas, (2) deslocadas (> 5 mm),
essas fraturas representam 3 a 1% de todas as ocorrências e (3) fraturas-luxações de Monteggia (Fig. 13.8). A diáfise
no antebraço. O reparo cirúrgico é necessário e essas lesões média da ulna é a localização mais frequente de fraturas
estão propensas a alta taxa de complicações. A consulta (Fig. 13.9).
272 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

A braço virado para cima, a ulna é exposta e não está bem


Não deslocada protegida pelos tecidos moles. O mecanismo é comum em
acidentes automobilísticos ou lutas. A pronação ou a su-
pinação excessiva também podem resultar em fraturas da
diáfise da ulna.
As fraturas-luxações de Monteggia não requerem
forças de alta energia e podem ocorrer depois de meca­
nismos de baixa energia como quedas. No caso da lu­
xação anterior da cabeça do rádio, um golpe direto na
ulna posterolateral é a etiologia predominante. A prona­
ção forçada com rotação externa (p. ex., em uma queda)
também pode resultar em lesão. Quando a cabeça do rá­
dio for posteriormente deslocada, o mecanismo é similar
àquele encontrado em uma luxação posterior do cotove­
lo. Nesse caso, entretanto, os ligamentos ulnoumerais são
mais fortes que o osso, resultando em fratura com luxa­
ção da cabeça do rádio.

Exame
O edema e a sensibilidade dolorosa à palpação são evi­
dentes sobre o local de fratura. A palpação da ulna produz
dor localizada no local fraturado. A pronação e a supina-
As fraturas-luxações de Monteggia são fraturas des­ ção são levemente dolorosas.
locadas do terço proximal da diáfise da ulna, combinadas As fraturas-luxações de Monteggia têm como carac­
com a luxação da cabeça do rádio. As luxações da cabeça terística o encurtamento do antebraço devido à angulação.
do rádio somente podem ocorrer se houver ruptura com­ A cabeça do rádio pode ser palpável na fossa antecubital
pleta do ligamento anular. As fraturas-luxações de Monte­ após as luxações anteriores. A dor e a sensibilidade dolo­
ggia são classificadas em quatro tipos, com a sua frequên­ rosa são produzidas sobre a ulna proximal e exacerbadas
cia listada entre parênteses. com flexão, extensão, pronação e supinação.
As fraturas-luxações de Monteggia podem ser distin­
1. Fratura da diáfise da ulna com luxação anterior da ca­ guidas das demais fraturas da diáfise da ulna ao exame
beça do rádio (60%). pelo grau de dor presente com a pronação e a supinação.
2. Fratura da diáfise da ulna com luxação posterior ou
posterolateral da cabeça do rádio (15%).
Imagens
3. Fraturas metafisárias ulnares com luxação lateral ou
anterolateral da cabeça do rádio (20%). Essa é uma As incidências AP e lateral geralmente demonstram a le­
fratura comum na infância, resultante de um golpe di­ são (Figs. 13.10 e 13.11). Se houver deslocamento sig-
reto na região interna do cotovelo.
4. Fratura da diáfise da ulna e do rádio (terço proximal)
e luxação anterior da cabeça do rádio (5%).

Mecanismo de lesão
Um golpe direto é o mecanismo mais comum, e a fratura
resultante é chamada de “fratura do cassetete” como se o
indivíduo houvesse levantado o braço para proteger a face
do impacto descendente de um cassetete policial. Com o

Figura 13.9 A diáfise média da ulna é o local mais comum Figura 13.10 Fratura-luxação de Monteggia com deslocamento
para fraturas, com frequência ocorrendo devido a um mecanis­ anterior da cabeça do rádio. Uma linha traçada através da diáfise
mo de lesão do tipo "golpe com bastão". do rádio (linha radiocapitular) não atravessa o centro do capítulo.
Emergências Ortopédicas 273

Figura 13.11 Fratura minimamente deslo­


cada (< 5 mm) da ulna (fratura do cassetete).

nificativo, as incidências do cotovelo e do punho devem A terapia definitiva recomendada é controversa.


ser adicionadas para excluir lesão articular, subluxação As fraturas não deslocadas dos dois terços distais da ulna
ou luxação. Em qualquer fratura da ulna, destacando as podem ser tratadas apenas com imobilização. O tratamen­
fraturas proximais, o médico da emergência deve avaliar a to tradicional, um gessado longo do braço com o cotovelo
linha radiocapitular na radiografia lateral. A linha traçada em 90° de flexão e o antebraço em posição neutra, era re­
até o centro da diáfise e da cabeça do rádio deve fazer a comendado, mas é agora considerado desnecessariamente
interseção com o meio do capítulo. Se essa interseção não restritivo.8Alguns autores recomendam que, depois de uma
ocorrer, a articulação radioulnar proximal está rompida. semana, a tala ou o gessado sejam substituídos por um imo-
Ver Capítulo 6 para detalhes adicionais. bilizador funcional pré-fabricado. Isso permite o retorno
mais precoce ao trabalho e uma mobilidade melhor do pu­
Lesões associadas nho em comparação ao uso de um gessado longo de braço.9
O suporte gessado das fraturas do terço proximal é
Embora as fraturas dos dois terços distais da diáfise da ulna limitado devido à grande quantidade de tecidos moles
poucas vezes sejam acompanhadas de lesões associadas, cercando o osso nessa região. Somando-se a isso, as fra­
uma fratura no terço proximal da ulna deve ser avaliada turas do terço proximal podem estar associadas a uma
para verificar a presença de luxação da cabeça do rádio.
lesão sutil e não reconhecida das estruturas ligamentares
que apoiam a cabeça do rádio. Por essas razões, a redução
A xio m a:As fraturas ulnares deslocadas estão frequente­ aberta e a fixação interna são recomendadas para as fratu­
mente associadas a fraturas do rádio ou luxações da cabeça ras do terço proximal da ulna.
do rádio.
D eslocada (> 5 m m ). O encaminhamento depois da imo­
Raramente pode ocorrer a paralisia do ramo profundo bilização com uma tala longa de braço (Apêndice A.9) é
do nervo radial; contudo, a função habitualmente retorna indicado. A maioria dos ortopedistas prefere a redução
sem tratamento. Os mecanismos de alta energia com ex­ aberta com fixação interna para o manejo dessas fraturas,
tensas lesões de tecidos moles podem estar associados a em especial se a lesão tiver sido causada por um mecanis­
uma síndrome compartimentai aguda. mo de alta energia. Os mecanismos de baixa energia no
idoso podem ser tratados com imobilização funcional.
Tratamento Estudos com cadáveres confirmaram que o deslocamen­
N ã o deslocada. As fraturas não deslocadas ou minima­ to da ulna em 50% de sua largura causa ruptura significativa
mente deslocadas (< 5 de mm) da diáfise da ulna podem da membrana interóssea. As fraturas deslocadas do terço
ser tratadas com tala longa de braço (Apêndice A.9). O proximal da ulna têm maior probabilidade de apresentar le­
encaminhamento ortopédico é recomendado. são associada às estruturas ligamentares da cabeça do rádio.
274 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Luxação associada
da cabeça do rádio

Figura 13.12 Classificação das fraturas de com binação das diáfises do rádio e da ulna.

Fratura-luxação d e M onteggia. Em adultos, a extremi­ antebraço é rara, pois uma força com energia suficiente para
dade deve ser imobilizada em uma tala posterior longa quebrar ambos os ossos em geral causa o deslocamento.
e o ortopedista deve ser consultado para a avaliação de A classificação das fraturas combinadas do rádio e
emergência (Apêndice A.9). A correção cirúrgica está in­ da ulna é feita com base no deslocamento e na angulação
dicada. A fixação operatória é feita usando placas e para­ (Fig. 13.12). As fraturas em endentação, em galho verde
fusos. A luxação ou a subluxação recorrentes da cabeça e incompletas, que não envolvem ambas as corticais do
do rádio devido a uma ruptura não reparada no ligamento osso, também são consideradas. Para uma discussão adi­
anular é comum após reduções fechadas. cional dessas fraturas em crianças, ver o Capítulo 6.
Em crianças, o manejo inclui a imobilização com tala
longa posterior (Apêndice A.9) e o encaminhamento de Mecanismo de lesão
emergência. A redução fechada da fratura ulnar é feita sob
anestesia geral, seguida da recolocação da cabeça do rádio Dois mecanismos resultam em fraturas da diáfise do ante­
por pressão direta durante a supinação do antebraço. A in­ braço. Um golpe direto, como durante uma cobsão veicu­
terposição do ligamento anular pode impedir a redução lar, é o mecanismo mais encontrado. Em crianças, costu­
radial, necessitando de reparo cirúrgico. ma ocorrer após uma queda sobre o braço estendido.

C o m p lic a ç õ e s Exame
As fraturas-luxações de Monteggia requerem encami­ Dor, edema e perda de função da mão e do antebraço são
nhamento de emergência devido a uma alta incidência de habitualmente encontrados. O exame do cotovelo e do
complicações, incluindo: punho é importante para detectar uma possível lesão nas
1. Paralisia do ramo profundo do nervo radial, que cos­ estruturas bgamentares proximais ou distais. A deformi-
tuma ser secundária a uma contusão e em geral cura
sem tratamento.
2. Não união em decorrência de redução ou imobiliza­
ção inadequadas.

FRATURAS COMBINADAS DO
RÁDIO E DA ULNA
As fraturas do rádio e da ulna, conhecidas como fratura de
ambos os ossos do antebraço (FAOA), são mais comuns
em crianças e correspondem a 45% de todas as fraturas na
infância. As fraturas combinadas do antebraço também
ocorrem em adultos, embora o manejo seja muito diferente. Figura 13.13 Deformidade grosseira do antebraço após uma
Em adultos, a fratura não deslocada de ambos os ossos do fratura do rádio e da ulna.
Emergências Ortopédicas 275

Figura 13.14 Radiografias AP e lateral de uma


fratura com binada e deslocada do rádio e da
ulna em um adulto. Essa fratura requer fixação
cirúrgica.

dade do antebraço pode ser bastante óbvia (Fig. 13.13). cias de punho e de cotovelo também devem ser obtidas
Os déficits dos nervos radial, mediano e ulnar raramente e avaliadas em busca de fratura, luxação ou subluxação.
são vistos, mas devem ser excluídos. A subluxação sutil da articulação radioulnar distal somen­
te pode ficar evidente na tomografia computadorizada
(TC). Uma linha traçada através da diáfise e da cabeça
Imagens
do rádio deve passar através do centro do capítulo (linha
As incidências AP e lateral são adequadas para definir os radiocapitular). Se isso não ocorrer, deve haver suspeita
fragmentos de fratura (Figs. 13.14 e 13.15). As incidên- de lesão na articulação radioulnar proximal.

Figura 13.15 Radiografias AP e la­


teral demonstrando fraturas em ga­
lho verde do rádio e da ulna distai
em uma criança (seta).
276 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

fraturas expostas requerem intervenção cirurgia imediata,


conforme delineado no Capítulo 1.
Em crianças, as fraturas deslocadas do antebraço po­
dem ser tratadas por redução fechada devido à remodela­
ção continuada que ocorre no rádio e na ulna depois que a
fratura tiver consolidado. Desde que as fises estejam aber­
tas, o osso remodela de forma que a função normal pode
ser restaurada em 85% dos pacientes sem a necessidade
de intervenção operatória. A redução fechada é mais co-
mumente executada por um consultor em ortopedia para
garantir que o alinhamento adequado tenha sido alcança­
do. O método de redução fechada está descrito na Figura
13.17. A redução pode ser executada no setor de emergên­
cia usando sedação ou na sala de cirurgia. A angulação
acima de 15° é inaceitável, já que pode limitar a rotação.

Fraturas em galho verde. As fraturas em galho verde ou


em endentação são inicialmente tratadas com imobiliza­
ção em uma tala braquial longa (Apêndice A.9). O trata­
mento definitivo com gessado braquial longo por quatro a
seis semanas pode começar no setor de emergência, pois
as fraturas estão associadas a edema mínimo. Quando a
angulação da fratura for acima de 15°, está indicado o en­
caminhamento ortopédico para redução da fratura.
Figura 13.16 Uso de placa de compressão do rádio e da ulna
Fraturas do terço proximal combinadas com luxação da
após uma fratura deslocada em paciente adulto.
cabeça do rádio. Essas fraturas são uma variação da fra­
tura de Monteggia (discutida anteriormente) e requerem a
Lesão associada redução aberta e a fixação interna.

A fratura da diáfise do rádio e da ulna pode estar associa­


da à lesão das articulações radioulnares proximal e distai. A xiom a: As fraturas combinadas do terço proximal da diá­
fise do rádio e da ulna são comumente associadas a uma
O envolvimento neurovascular é incomum em lesões fe­
luxação anterior da cabeça do rádio.
chadas do antebraço. Os mecanismos de alta energia com
extensas lesões de tecidos moles podem estar associados a
uma síndrome compartimentai aguda. Complicações
As fraturas combinadas do rádio e da ulna estão associa­
Tratamento das a numerosas complicações.
Não deslocada. Essa é uma lesão incomum, porque uma 1. A lesão nervosa é incomum em lesões fechadas, mas
força grande o suficiente para quebrar ambos os ossos do é vista muitas vezes em fraturas abertas. Existe uma
antebraço é forte o suficiente para também causar deslo­ frequência igual de envolvimento entre os nervos ra­
camento. Todavia, se nenhum osso estiver deslocado ou dial, ulnar e mediano.
angulado, o paciente pode ser tratado com uma tala AP,
2. O comprometimento vascular é uma complicação in­
com o cotovelo em 90° de flexão e o antebraço em posi­
comum devido à presença de artérias colaterais.
ção neutra (Apêndice A.10). O manejo definitivo inclui
3. A má união ou a não união podem ser secundárias à
um gessado longo e bem-moldado.
redução ou à imobilização inadequada.
Precaução: R adio g ra fia s repetidas são necessárias, j á
que o deslocam ento retardado é com um . O a co m p a n h a ­ 4. As síndromes compartimentais podem ocorrer após
m ento ortopédico urgente é indicado em todos os casos. as fraturas combinadas da diáfise. É importante re­
conhecer que os pulsos distais podem permanecer in­
Deslocada. Em adultos, o manejo no setor de emergên­ tactos apesar das pressões compartimentais elevadas
cia inclui a imobilização e o encaminhamento de emer­ e do fluxo capilar comprometido. O tratamento é o
gência para redução cirúrgica. A fixação deve ocorrer encaminhamento de emergência para fa scio to m ia .
assim que for praticável, geralmente dentro de 24 a 48 5. A sinostose (fusão óssea) do rádio e da ulna pode com­
horas (Fig. 13.16). As tentativas de reduções fechadas plicar o manejo das fraturas combinadas da diáfise.
em adultos geralmente falham em alcançar e manter o 6. A pronação e a supinação podem ficar prejudicadas se
alinhamento apropriado e as correções rotacionais. As as fraturas forem mal-administradas.
Emergências Ortopédicas 277

Figura 13.17 O paciente tem os dedos tracionados por fitas, com o cotovelo em 90° e o antebraço supinado. Os pesos são adicionados
por um período de 5 a 10 minutos para alongar os ossos e ajudar a corrigir qualquer deformidade angular. Sob sedação, a compressão
das massas musculares volar e dorsal força o rádio e a ulna a separarem-se e põe o ligamento interósseo em tensão máxima. Isso ajuda a
dar suporte aos fragmentos da fratura. O antebraço pode ser levemente rodado para corrigir quaisquer deformidades rotacionais.

LESÃO DE TECIDOS MOLES DO ANTEBRAÇO


CONTUSÕES é o uso excessivo. Ao exame, o paciente apresenta edema
e inflamação do tendão e do músculo, que está doloroso
Os tendões do antebraço estão perto da pele, e a tenos- ao esforço e sensível à palpação. O tratamento consiste
sinovite traum ática pode ocorrer após um golpe direto. em compressas de gelo, seguidas de calor e imobilização
O tratamento para essa condição é a imobilização simples. local. Os agentes anti-inflamatórios não esteroides tam­
Os agentes anti-inflamatórios não esteroides são úteis bém são apropriados.
para dor. As contusões do antebraço superior são tratadas
da mesma forma que aquelas em outros locais.
SÍNDROMES COMPARTIMENTAIS
DO ANTEBRAÇO
DISTENSÕES
A síndrome compartimentai aguda é uma condição que
Os músculos do antebraço estão estreitamente interconec- resulta do aumento na pressão de fluidos teciduais den­
tados na mesma bainha, e a distensão de um músculo com tro de um espaço fascial definido. O resultado é a is-
frequência causa desconforto com o movimento dos ou­ quemia e a necrose muscular e nervosa. O antebraço é o
tros próximos. Isso toma difícil o isolamento das disten­ local mais comum para o desenvolvimento da síndrome
sões individuais. O mecanismo de lesão mais encontrado compartimentai na extremidade superior, seguido pela
278 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

mão, pelo braço e pelo ombro. Uma vez que o erro <
diagnóstico pode levar à disfunção e à contratura mus­
cular, é de importância fundamental que os médicos da w < 1 >

emergência reconheçam essa condição na extremidade


superior.
O antebraço tem três compartimentos importantes.
O compartimento volar é o mais comumente afetado,
mas a síndrome compartimentai pode desenvolver-se nos
compartimentos dorsal ou lateral. O compartimento late­
ral contém o braquiorradial, o extensor longo e o extensor
curto radial do carpo. Também foi relatada uma síndrome
compartimentai isolada em um quarto compartimento do
antebraço, o do pronador quadrado.
A síndrome compartimentai do antebraço ocorre
com mais frequência após fraturas. As fraturas supra-
condilianas em crianças são as mais citadas, mas as do
rádio, da ulna, do rádio distal ou as isoladas da ulna
também podem resultar em síndrome compartimentai.
Além disso, as lesões isoladas de tecidos moles (sem
fratura) podem causar síndrome compartimentai. Outras
causas menos comuns incluem eventos iatrogênicos,
como a infiltração de contraste intravenoso de TC, o uso
inapropriado de um torniquete pneumático, e compbca- Figura 13.18 Vista transversal dos três compartimentos princi­
pais do antebraço. (1) = volar, (2) = lateral, (3) = dorsal. (Modi­
ção por uso de trombolíticos. O médico da emergência
ficada, com permissão, de Reichman EF, Simon RR. Emergency
também deve reconhecer os curativos constritivos como
Medicine Procedures. New York: M cG raw -H ill, 2004:545.)
uma causa e fazer a sua remoção. A remoção de um ges­
sado constritivo pode reduzir a pressão compartimentai
em 85%.17
Para medir o compartimento volar, a agulha é inse­
rida 1,5 cm medial a uma bnha vertical traçada no meio
Apresentação clínica do antebraço (Fig. 13.18). Medidas múltiplas devem ser
A apresentação clínica envolve a seguinte sequência e, tomadas, já que as pressões em locais diferentes dentro
para informações adicionais, ver o Capítulo 4: do mesmo compartimento podem ser bastante desiguais.
O compartimento dorsal é medido a 1,5 cm lateralmente
1. O primeiro e mais importante sintoma a ocorrer é a ao aspecto posterior da ulna. O compartimento lateral é
dor mais intensa. Ela é habitualmente desproporcio­ medido inserindo a agulha dentro dos músculos laterais ao
nal à gravidade da lesão. rádio. Em cada caso, a agulha é inserida em uma profun­
2. A pressão compartimentai sobe e leva a um compar­ didade aproximada de 1,5 cm.
timento tenso à palpação. Esse é um dos sinais objeti­ A pressão compartimentai normal fica entre 0 e 8
vos mais precoces. mmHg. A pressão considerada significativa e que requer
3. A dor com estiramento passivo pode estar presente, intervenção cirúrgica imediata é objeto de debate na li­
mas pode confundir o diagnóstico, dependendo da teratura. Entretanto, a maioria dos autores concorda que
lesão. uma pressão superior a 30 mmHg é preocupante.
4. A paresia e as parestesias se desenvolvem mais tar­ A síndrome compartimentai do pronador quadrado é
diamente na síndrome. Neste momento, algum ele­ rara. Ela se apresenta com edema e tensão isolada do terço
mento de necrose muscular já pode ter começado. distai volar do antebraço, que é extremamente doloroso à
5. O pulso pode estar reduzido ou ausente. Esse é um supinação passiva.
achado ruim que ocorre tardiamente no desenvolvi­
mento dessa síndrome. Tratamento
Embora o diagnóstico de síndrome compartimentai As extremidades não devem ser elevadas, sendo colocadas
seja clínico, a medida das pressões compartimentais ajuda no nível do coração para otimizar a pressão arterial e a
a reabzá-lo. As pressões devem ser medidas em cada com­ drenagem venosa. Se os sintomas persistirem depois da
partimento do antebraço usando um dispositivo Stryker remoção dos gessados ou das ataduras constritivas, a in­
ou a técnica de infusão. Essa técnica, como também uma tervenção cirúrgica com fasciotomia é indicada. A consul­
discussão mais detalhada da síndrome compartimentai, é toria ortopédica deve ser obtida assim que houver suspeita
encontrada no Capítulo 4. dessa condição. Após 8 horas de isquemia total, os mús-
Emergências Ortopédicas 279

culos e os nervos sofrem lesões irreversíveis. O desfecho 9. Gebuhr P, Holmich P, Orsnes T, et al. Isolated ulnar shaft
final da síndrome compartimentai no antebraço é a contra­ fractures. Comparison of treatment by a functional brace and
tura isquêmica de Volkmann e, desse modo, essa condição long-arm cast. J Bone Joint Surg Br 1992;74(5):757-759.
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Capítulo 14
Cotovelo
INTRODUÇÃO O úmero distai divide-se em dois côndilos (Fig. 14.2).
A fossa coronoide é uma área de osso muito fino que é a
O cotovelo é uma articulação em dobradiça composta de superfície de contato com o processo coronoide do olécra-
três articulações: umeroulnar, radioumeral e radioulnar. no quando o cotovelo está em flexão completa. A superfí­
Essa particularidade fornece um alto grau de estabilidade cie articular do côndilo medial é chamada de tróclea, que
inerente ao cotovelo, que tem suporte de várias estruturas funciona como a superfície articular do olécrano da ulna.
ligamentares - os ligamentos colateral radial, colateral ul- A superfície articular lateral do úmero distai é o capítulo,
nar e anular e a cápsula anterior (Fig. 14.1). O bíceps, o articulado com a cabeça do rádio.
tríceps, o braquial, o braquiorradial e o ancôneo fornecem As porções não articulares dos côndilos são chama­
a estabilidade muscular dinâmica. das de epicôndilos e servem como pontos de inserção aos
As lesões no cotovelo são causadas por um golpe di­ músculos do antebraço - os pronadores-flexores se inse­
reto, por estresse em valgo no arremesso ou por compres­ rem no epicôndilo medial, enquanto os supinadores-ex-
são axial. As lesões traumáticas agudas podem resultar tensores se inserem no epicôndilo lateral. Logo proximal
em fraturas no rádio, na ulna ou no úmero distai. Com o a cada epicôndilo estão as cristas supracondilianas, que
estresse repetitivo em valgo, os pacientes podem desen­ são os pontos de inserção para os músculos do antebraço.
volver condromalacia, corpos livres nos compartimentos Os músculos que circundam o cotovelo causam impacto
posterior ou lateral, lesão do ligamento colateral ulnar, no alinhamento da fratura (Figs. 14.3 e 14.4). Com uma
lesão do grupo muscular pronador-flexor, osteocondrite fratura, a tração contínua desses músculos resulta em des­
dissecante ou neurite ulnar. locamento dos fragmentos e, às vezes, a perda da redução
adequada.
Três bolsas em tomo do cotovelo têm significância
Vista medial clínica: uma entre o olécrano e o tríceps, outra entre o
rádio e a inserção do tendão do bíceps e, finalmente, a
Ligamento Membrana
bolsa do olécrano, que fica entre a pele e o processo do
anular interóssea
olécrano. A bursite no cotovelo mais comumente envolve
a bolsa do olécrano (Fig. 14.5).

Ligamento
colateral ulnar
A

Vista lateral

Figura 14.1 As estruturas ligamentares importantes do cotove­


lo. O ligamento anular mantém a cabeça do rádio na posição
correta. O ligamento colateral radial é mais largo e mescla-se Figura 14.2 As referências importantes do úmero distai. O
com o ligamento anular. A. Vista medial. B. Vista lateral. osso entre os côndilos é muito fino.
Emergências Ortopédicas 281

Figura 14.5 A bolsa do olécrano pode ficar inflam ada por


causas infecciosas ou não infecciosas.

importância ao avaliar e tratar as fraturas do cotovelo.


Figura 14.3 O s m úsculos que circundam o cotovelo. Esses Uma discussão adicional está incluída com o manejo das
músculos deslocam as fraturas que ocorrem em suas inserções. fraturas específicas.
BR, braquiorradial; ELRC, extensor longo radial do carpo; CE,
tendão extensor com um ; PT, pronador redondo; CFT, tendão
Imagens
flexor comum; BB, bíceps braquial; T, tríceps.
Uma radiografia anteroposterior (AP) e uma lateral devem
ser obtidas (Fig. 14.7). As incidências oblíquas ajudam no
Exame diagnóstico de algumas fraturas do cotovelo.
O exame do cotovelo revela vários referenciais ósseos
Incidência anteroposterior
palpáveis. Lateralmente, três proeminências ósseas com­
põem um triângulo e correspondem ao olécrano, à cabeça Um auxílio diagnóstico ao avaliar as radiografias na sus­
do rádio e ao epicôndilo lateral. Um derrame no cotovelo peita de fraturas supracondilianas em crianças é a deter­
é indicado por edema e sensibilidade dolorosa entre o epi­ minação do ângulo de carregamento. A interseção de uma
côndilo lateral e o olécrano.
As estruturas neurovasculares do cotovelo incluem a
artéria braquial e os nervos radial, ulnar e mediano (Fig.
14.6). O nervo ulnar é palpado na superfície medial do
cotovelo, quando ele cursa através do túnel ulnar. A ava­
liação das estruturas neurovasculares é de fundamental

Figura 14.4 O tríceps e o bíceps agem puxando o rádio e a


ulna proxim alm ente e, desse modo, causam o deslocamento
nas fraturas de cotovelo.
282 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Figura 14.7 O aspecto radiográfico normal das articulações ósseas do cotovelo. A. Incidência A R B. Incidência lateral.

linha traçada através da diáfise média do úmero e outra


através da diáfise média da ulna em uma incidência de
extensão AP determina o ângulo de carregamento (Fig.
14.8). Normalmente, esse ângulo fica entre 0 e 12°. Os ân­
gulos de carregamento traumáticos ou assimétricos acima
de 12° estão com frequência associados a fraturas.

V ista la te ra l
A incidência lateral em flexão de 90° é a mais importan­
te, já que permite ao médico notar a linha radiocapitu-
lar e umeral anterior, como também avalia os coxins de
gordura.

Linha radiocapitular. Uma hnha traçada através da por­


ção média do rádio normalmente passa pelo centro do ca­
pítulo na incidência lateral do cotovelo. Em uma fratura
na epífise da cabeça do rádio em crianças, esta hnha fica
deslocada para longe do centro do capítulo. Isso pode ser
o único achado que sugira a fratura em uma criança. Em
adultos, o deslocamento da cabeça do rádio, como visto
na fratura de Monteggia, também revela uma hnha radio­ T
capitular anormal (Fig. 14.9). Ângulo de carregamento

Figura 14.8 O ângulo de carregam ento dem onstrado por


Linha u m e ra l anterior. A hnha umeral anterior é uma
uma linha traçada através da diáfise m édia da ulna e outra
hnha traçada na radiografia lateral, ao longo da superfície linha através da diáfise média do úmero. O ângulo de carrega­
anterior do úmero, através do cotovelo (Fig. 14.10). Nor­ mento normal fica entre 0 e 12°. Um ângulo de carregam en­
malmente esta hnha atravessa o terço médio do capítulo. to acim a de 12° está com frequência associado às fraturas do
Com uma extensão supracondiliana da fratura, esta hnha úmero distai.
Emergências Ortopédicas 283

Figura 14.9 Uma linha radiocapitular anormal. Uma linha traça­


da na radiografia lateral através do rádio não atravessa o capítulo,
indicando a luxação do rádio (fratura-luxação de Monteggia).

atravessará o terço anterior do capítulo ou passará inteira­


Figura 14.11 A elevação dos coxins de gordura anterior e
mente anterior a ele.
posterior é vista, sugerindo uma hemartrose. A visualização de
um coxim de gordura posterior é sempre considerada anormal.
Coxins d e gordura. A presença de um sinal de coxim de O exame cuidadoso da radiografia também revela uma fratura
gordura anterior ou posterior (sinal da vela) é indicativa marginal da cabeça do rádio.
de distensão significativa da cápsula articular (Fig. 14.11).
O coxim de gordura anterior está acima da fossa coronoi-
de e é ocasionalmente visto como uma fina linha radio-
luzente logo anterior à fossa em muitas radiografias nor-

Figura 14.10 A linha umeral anterior. A. Uma linha traçada na radiografia lateral ao longo da superfície anterior do úmero atraves­
sa o meio do capítulo. B. Com fratura em extensão da região supracondiliana, a linha atravessa o terço anterior do capítulo ou passa
completamente anterior a ele. Isso é especialmente útil em lesões fisárias pediátricas. A seta indica um coxim de gordura posterior.
(Reimpressa de ) Emerg M ed 2009 Dec 17: Sherman SC. Supracondylar fractures. [Epub ainda não publicado] Com permissão de
Elsevier Scientific Publications.)
284 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

mais. Com uma fratura, a cápsula articular fica distendida pacientes com coxins de gordura elevados no cotovelo. Ao
com sangue, e o coxim de gordura anterior será deslocado repetir radiografias simples, foi possível verificar que a
anteriormente para longe da fossa coronoide. O coxim de incidência de uma fratura oculta é de 6 e 17%. Quando
gordura posterior fica sobre a fossa do olécrano. Pelo fato a ressonância magnética nuclear (RMN) era feita nesses
de a fossa do olécrano ser muito mais profunda, o coxim pacientes, as fraturas ocultas eram descobertas em 75%
de gordura posterior nunca é visualizado em radiografias dos casos. As fraturas da cabeça do rádio foram mais
normais com o cotovelo flexionado em 90°. Somente com comuns, respondendo por 87% das fraturas ocultas. As
a distensão da cápsula articular, como ocorre em uma fra­ fraturas do olécrano e do epicôndilo lateral responderam
tura intra-articular com hematoma capsular, o coxim de por um número igual das fraturas restantes. O reconheci­
gordura posterior será visualizado. Em uma criança, pelo mento da fratura não mudou o manejo em nenhum dos 20
fato de o crescimento cartilaginoso e dos vários centros pacientes estudados.
de ossificação tornarem difícil a identificação da fratura,
a detecção de um coxim de gordura posterior pode ser
considerada como uma fratura intra-articular até prova em A xio m a:Em um cotovelo traumatizado, no qual uma fra­
contrário. tura não é vista radiograficamente, a presença do sinal do
coxim de gordura posterior sugere fortemente uma fratura
Foram realizados estudos de acompanhamento para
oculta.
determinar a incidência verdadeira de fraturas ocultas em

FRATURAS DO COTOVELO
FRATURAS DO OLÉCRANO Imagens
Todas as fraturas do olécrano devem ser consideradas Uma incidência radiográfica lateral com o cotovelo em
como intra-articulares (Fig. 14.12). É essencial que a re­ 90° de flexão é melhor para demonstrar as fraturas do
dução anatômica quase perfeita seja alcançada, para asse­ olécrano e o deslocamento (Fig. 14.13). A ausência de
gurar a amplitude completa de movimentos. deslocamento nas incidências em extensão não é con­
siderada uma prova definitiva de fratura não deslocada,
Mecanismo de lesão já que os fragmentos podem se deslocar somente com a
flexão do cotovelo. A separação dos fragmentos ou a in­
As fraturas do olécrano costumam ser o resultado de um congruência articular de mais de 2 mm são consideradas
dentre dois mecanismos. Uma queda ou um golpe dire­ suficientes para classificar a fratura como deslocada.
to no olécrano podem resultar em fratura cominutiva. Em crianças, a epífise do olécrano se ossifica aos 10
A quantidade de tônus do tríceps e a integridade da apo- anos e fusiona por volta dos 16 anos. A interpretação de
neurose do tríceps determinam se a fratura será deslocada. fraturas em crianças pode ser difícil, e as incidências de
De maneira indireta, uma queda sobre a mão estendida, comparação devem ser usadas sempre que houver dúvida.
com o cotovelo flexionado e o tríceps contraído, pode re­ Além disso, a presença de um coxim de gordura posterior
sultar em uma fratura transversa ou oblíqua. A quantidade ou um coxim de gordura anterior protuberante deve ser
de deslocamento depende do tônus do tríceps, da integri­ considerada como indicativa de fratura.
dade da sua aponeurose, e também da integridade do pe-
riósteo.
Lesões associadas
Todas as fraturas deslocadas do olécrano têm
A xio m a : As fraturas do olécrano estão frequentemente associadas
uma ruptura da aponeurose do tríceps ou do periósteo. com lesão do nervo ulnar; luxação do cotovelo; luxação an­
terior da articulação radioulnar; ou fraturas concomitantes
da cabeça do rádio, da diáfise do rádio e do úmero distai.
Exame
O paciente apresenta edema doloroso sobre o olécrano e
Tratamento
derrame hemorrágico. O paciente será incapaz de estender
ativamente o antebraço contra gravidade ou a resistência N ão deslocada. As fraturas com menos de 2 mm de se­
devido à insuficiência do mecanismo do tríceps. Não é paração ou incongruência articular são consideradas como
incomum que as fraturas cominutivas resultem em com­ não deslocadas. O tratamento começa com a imobilização
prometimento da função do nervo ulnar. É fu n d a m e n ta l em uma tala longa (Apêndice A.9) com o cotovelo flexio­
que o exam e inicial inclua a docum entação da fu n ç ã o do nado em apenas 50 a 90° e o antebraço em posição neu­
nervo ulnar. tra. Essa posição diminui a tração do músculo tríceps.
Emergências Ortopédicas 285

Não deslocada Deslocada

Transversa Transversa Cominutiva

Separação da epífise do olécrano

Figura 14.12 Fraturas do olécrano.

Um gessado é usado para o manejo definitivo e deve estar posterior com o cotovelo em 90° de flexão (Apêndice
bem moldado posteriormente e apoiado em uma boa tipoia. A.9) e não prosseguir para o gessado. Os exercícios de
Os exercícios de amplitude de movimento dos dedos e do supinação e pronação podem ser iniciados em três a cinco
ombro devem ser iniciados assim que possível, sendo as ra­ dias, e os exercícios de flexão-extensão em uma ou duas
diografias repetidas em cinco a sete dias para excluir um semanas. A tala protetora é usada até que a consolidação
deslocamento. A união estará completa em seis a oito sema­ se complete (habitualmente 6 semanas).
nas, mas o gessado pode ser removido pelo ortopedista em
até uma semana em adultos, para evitar a rigidez crônica. Deslocada. O manejo inicial de emergência inclui a
Um programa alternativo usado por alguns ortopedis­ imobilização em 50 a 90° de flexão, com a administração
tas em fra tu ra s estáveis é a aplicação de uma tala longa de gelo, analgésicos e elevação. Pelo fato de as fraturas do

A B

Figura 14.13 Fraturas do olécrano. A. Não deslocada. B. Deslocada. Q ualquer fratura com mais de 2 mm de separação deve ser
considerada deslocada e necessita de cirurgia.
286 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

olécrano serem intra-articulares, elas necessitam redução mento, pode resultar artrite com restrição do movimento.
anatômica por fixação cirúrgica. As fraturas deslocadas Os programas terapêuticos devem focar na restauração e
do olécrano incluem aquelas com deslocamento de fratu­ na retenção do movimento completo. O sistema de clas­
ra transversa, cominutiva, de avulsão ou epifisária. Essas sificação a seguir tem orientação terapêutica. As fraturas
fraturas são intra-articulares e necessitam redução anatô­ da cabeça e do colo do rádio são divididas em três gru­
mica por fixação cirúrgica. Por conseguinte, está indicado pos: (1) fraturas marginais (intra-articulares), (2) fraturas
o encaminhamento ortopédico de emergência. do colo e (3) fraturas cominutivas. Em geral, as fraturas
não deslocadas são tratadas de forma fechada (pelo menos
Complicações inicialmente), enquanto a maioria dos casos de fraturas
deslocadas requer a redução aberta. Existe alguma con­
A complicação mais comum é o desenvolvimento de ar­ trovérsia no manejo dessas fraturas, em especial na fase
trite e a inibição da mobilidade. Existe uma incidência pe­ de mobilização pós-lesão. Assim como em capítulos ante­
quena (5%) de não união. riores, apresentaremos ambas as posições em que houver
uma controvérsia legítima.
FRATURAS DA CABEÇA E DO COLO DO RÁDIO
Mecanismo de lesão
As fraturas da cabeça e do colo do rádio são relativamente
comuns em adultos, respondendo por um terço de todas O mecanismo mais comum é uma queda com a mão es­
as fraturas do cotovelo ’ (Fig. 14.14). O movimento suave tendida (indireto). Com o cotovelo em extensão, a força
da cabeça do rádio é essencial para a pronação e supina- dirige o rádio contra o capítulo, resultando em fratura
ção completa e indolor. Com fragmentação ou desloca- marginal ou do colo do rádio (Fig. 14.15). Conforme a
força aumenta, ocorrem cominução, luxação ou deslo­
camento dos fragmentos. O padrão de fratura em adultos
A. Fraturas marginais e crianças é variável, devido às diferenças na resistência
do rádio proximal. Em adultos, são comuns as fraturas
marginais ou cominutivas da cabeça ou do colo do rádio
com envolvimento articular. Em crianças, o deslocamen­
to da epífise do rádio é comum, enquanto o envolvimento
articular é raro.

Deslocada Depressão
> 2 mm > 2 mm

B. Fratura do colo

Não deslocada Deslocada ou


angulada > 30°

C. Fraturas cominutivas

Não deslocada

Figura 14.14 Fraturas da cabeça e do colo do rádio. A. Fratu- Figura 14.15 Fratura da cabeça do rádio secundária a uma
ras marginais. B. Fraturas do colo. C. Fraturas com inutivas. queda sobre o braço estendido.
Emergências Ortopédicas 287

Figura 14.16 Um a fratura marginal deslo­


cada da cabeça do rádio.

Exame mente da cabeça do rádio. Além disso, a linha radiocapi-


tular deve ser avaliada para tentar diagnosticar as fraturas
A sensibilidade dolorosa está presente sobre a cabeça do rá­
epifisárias pediátricas ou as luxações da cabeça do rádio.
dio, com edema secundário a uma hemartrose. A dor é exa­
cerbada pela supinação e associada à mobilidade reduzida.
As crianças com lesões epifisárias podem ter muito pouco Lesões associadas
edema, mas a dor será produzida com a palpação ou com Deve-se suspeitar de fratura do capítulo em todas as fratu­
o movimento. Se o paciente tiver dor no punho associada, ras do rádio proximal. Essa estrutura deve ser examinada de
deve haver suspeita de ruptura da articulação radioulnar dis­ forma minuciosa na busca por qualquer evidência de fratura.
tal e o encaminhamento ortopédico urgente é recomendado. A ruptura da membrana interóssea entre o rádio e a
ulna, e a lesão da articulação radioulnar distai também po­
A xiom a: A dor no punho associada a uma fratura da cabe­ dem ocorrer.
ça do rádio sugere ruptura da articulação radioulnar distal Uma força em valgo com frequência resulta em tor­
e da membrana interóssea radioulnar (fratura-luxação de ção ou ruptura do ligamento colateral medial. Deve-se
Essex-Lopresti). lembrar ainda que a avulsão do epicôndilo medial é vista
tanto em crianças como em adultos.
Imagens
Tratamento
A visualização das fraturas da cabeça e do colo do rádio
com frequência requer incidências oblíquas (Figs. 14.16 Para uma discussão adicional das fraturas epifisárias, ver
e 14.17). As fraturas impactadas do colo são mais ade­ o Capítulo 6. Em geral, as fraturas epifisárias da cabeça
quadamente vistas em projeção lateral. Se houver suspeita do rádio com angulação menor do que 15° são tratadas de
de uma fratura da cabeça do rádio, mas ela não for vista, forma adequada com imobilização por duas semanas em
incidências adicionais em graus variados de rotação ra­ uma tala braquial longa posterior (Apêndice A.9), seguida
dial devem ser obtidas. Um coxim de gordura anterior au­ pelo uso de uma tipoia. A remodelação geralmente corrige
mentado ou a presença de um coxim de gordura posterior esse grau de angulação. Com mais de 15°, um ortopedis­
sugere derrame articular e uma fratura oculta, mais comu- ta deve ser consultado, porque a redução será necessária.

Figura 14.17 Fraturas com inutivas desloca­


das da cabeça e do colo do rádio.
288 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

A angulação superior a 60° muitas vezes requer redução


Epicôndilo
aberta. lateral
O restante da discussão em relação ao tratamento das Cabeça
do úmero
do rádio
fraturas da cabeça e do colo do rádio se aplica aos adultos.

Marginal (intra-articular)
Não deslocada. As fraturas marginais da cabeça do rá­
dio com deslocamento de menos de 2 mm (fraturas margi­
nais ou fraturas com depressão mínima) são tratadas com
tipoia ou tala braquial longa (Apêndice A.9). Se utilizada,
a tala deve permanecer não mais do que 3 a 4 dias. Os Cavidade
exercícios precoces para movimentação são recomenda­ articular

dos quando puderem ser tolerados (dor).


Processo
olécrano da ulna
Deslocada. Quando houver deslocamento ou depressão
superior a 2 mm com mais de um terço da superfície ar­ Figura 14.18 O local mais seguro para aspirar o cotovelo está
ticular envolvida, o tratamento cirúrgico é necessário. O no centro de um triângulo produzido pela junção do epicôndi­
manejo inicial no setor de emergência inclui a aspiração lo lateral do úmero, do olécrano e da cabeça do rádio. A aspi­
do hematoma para alívio da dor e tala longa com o coto­ ração deve ser feita inserindo a agulha através do centro deste
velo em 90° de flexão e o antebraço em posição neutra triângulo.
(Apêndice A.9). As fraturas deslocadas com menos de um
terço da superfície articular envolvida são reduzidas e se­
1. A pele lateral do cotovelo deve ser preparada usando
guidas de movimentação precoce.
uma técnica estéril.
O encaminhamento inicial está indicado para todas
2. Um triângulo imaginário deve ser constmído sobre o
essas fraturas. A excisão cirúrgica das fraturas deslocadas
cotovelo lateral, conectando a cabeça do rádio , o ep i­
da cabeça do rádio não é mais recomendada em pacientes
côndilo lateral e o olécrano (Fig. 14.18). Somente a
jovens e ativos. Melhores técnicas cirúrgicas e colocação
pele e o músculo ancôneo cobrem a cápsula articular
de implantes tomaram o reparo da cabeça do rádio o trata­
nesse local, e não há nenhuma estrutura neurovascu­
mento de escolha.
lar significativa na área.
Colo 3. A pele deve ser anestesiada com lidocaína.
Não deslocada. As fraturas do colo sem deslocamento 4. Usando uma seringa de 20 mL e uma agulha tama­
e angulação inferior a 30° são tratadas com imobilização nho 18, a cápsula articular é penetrada, dirigindo-se a
com tipoia ou tala longa e encaminhamento ortopédico ur­ agulha mediai e perpendicularmente à pele. Quando
gente (Apêndice A.9). A terapia definitiva é controversa. a cápsula é penetrada, o sangue é aspirado (habitual­
mente de 2 a 4 mL).
Deslocada. Esses pacientes devem receber tala posterior
longa (Apêndice A.9). Com angulação acima de 30° ou des­ FRATURAS DO PROCESSO CO RO N O ID E
locamento significativo, a fixação cirúrgica é recomendada.
As fraturas do processo coronoide são classificadas como
Cominutiva (1) não deslocadas, (2) deslocadas e (3) deslocadas com
Não deslocada. Essas fraturas podem ser tratadas de luxação posterior do cotovelo (Fig. 14.19). Essas fraturas
modo conservador, com tala posterior longa (Apêndice são raramente vistas como lesões isoladas e são mais ob­
A.9). Os exercícios de movimentação precoce são reco­ servadas com as luxações posteriores do cotovelo.
mendados.
Mecanismo de lesão
Deslocada. Esses pacientes devem receber tala braquial Acredita-se que as fraturas do processo coronoide isola­
posterior longa (Apêndice A.9). Com a cominução inten­ das sejam devido à hiperextensão com tensão da cápsula
sa da cabeça, a excisão de fragmentos ou uma prótese de articular e subsequente avulsão. Quando as fraturas do co­
cabeça é a terapia recomendada. ronoide estiverem associadas a luxações posteriores, o me­
canismo é uma lesão de “deslocamento” pelo úmero distai.
Além dos tratamentos delineados nesta seção, a as­
piração precoce da articulação deve ser considerada para
as fraturas da cabeça e do colo do rádio, já que serve para Exame
reduzir a dor e facilitar a mobilização precoce. Essa téc­ São observados a sensibilidade dolorosa e o edema sobre
nica é assim: a fossa antecubital.
Emergências Ortopédicas 289

A. Não deslocada troverso e o encaminhamento precoce é aconselhado com


forte ênfase.

D eslocada. As fraturas deslocadas requerem encami­


nhamento ortopédico de emergência, em especial se fo­
rem maiores do que 50% do tamanho do processo coro­
noide ou se a articulação do cotovelo mostrar-se instável.
Em ambos os casos, a fixação do fragmento é recomenda­
da. Se o fragmento de fratura for pequeno, é apropriado
0 tratamento com tala braquial posterior (Apêndice A.9),
como em fraturas não deslocadas do coronoide. Os frag­
B. Deslocada mentos pequenos deslocados da fratura são administrados
de forma conservadora.

D eslocada c o m luxação posterior. As fraturas-luxações


são discutidas na seção “Luxações do cotovelo” mais
adiante no capítulo. A redução da luxação muitas vezes
resulta em redução da fratura do processo coronoide.

Complicações
As fraturas do processo coronoide poucas vezes estão as­
sociadas ao desenvolvimento de osteoartrite.
C. Luxação posterior

FRATURAS SUPRACON Dl LIANAS


Uma fratura supracondiliana é transversa ao úmero distai,
acima da cápsula articular, na qual a diáfise do úmero se
dissocia dos côndilos. Em crianças, aproximadamente 60%
13 14
de todas as fraturas do cotovelo são supracondilianas. ’
A incidência é mais alta entre os 3 e 11 anos. Elas ocor­
rem mais em crianças, pois os ligamentos circundantes são
mais fortes que o osso. Depois dos 20 anos, são vistas as
rupturas ligamentares sem fraturas. As fraturas do úmero
Figura 14.19 Fraturas do processo coronoide. A. Não deslo­ distai incluem apenas 0,5% de todas as fraturas em adul­
cada. B. Deslocada. C. Luxação posterior. tos e são mais comuns em adultos osteopênicos com idade
acima dos 50 anos. No grupo etário mais avançado, essas
fraturas em geral são cominutivas. As fraturas supracondi­
Imagens lianas estão abordadas com mais detalhes no Capítulo 6.
O fragmento coronoide é mais bem visualizado em uma As fraturas supracondilianas são subdivididas com
radiografia lateral, embora as incidências oblíquas pos­ base na posição do segmento umeral distai em (1) tipo em
sam ser necessárias. O fragmento pode estar deslocado, extensão (deslocamento ou angulação posterior) ou (2)
como em uma fratura de avulsão, ou impactado contra a tipo em flexão (angulação ou deslocamento anterior) (Fig.
tróclea, como é frequentemente notado com as fraturas- 14.20). A grande maioria (95%) das fraturas supracondi­
-luxações. lianas deslocadas são do tipo em extensão.
A classificação mais comum usada para as fraturas
supracondilianas em extensão foi proposta por Gartland
Tratamento
em 1959, que as dividiu em três tipos. As fraturas do tipo
Essa fratura é comumente associada a luxações de cotove­ 1 são as não deslocadas. As do tipo II estão deslocadas,
lo, e uma discussão mais detalhada do tratamento pode ser mas os fragmentos ósseos ainda estão parcialmente apos­
encontrada na seção deste capítulo referente a esse assunto. tos. As fraturas do tipo II foram, subsequentemente, divi­
didas em lesões ILA (fratura em extensão angulada com
N ã o deslocada. As fraturas não deslocadas isoladas são uma cortical posterior intacta) e IIB (fratura deslocada
tratadas com tala braquial longa (Apêndice A.9). O co­ com translação posterior parcial). As do tipo III incluem
tovelo deve ficar em mais de 90° de flexão e o antebraço aquelas com deslocamento completo dos fragmentos de
em supinação. Isso deve ser seguido de exercícios ativos fratura. O diagnóstico e o manejo variam, dependendo do
com suporte de tipoia. O tratamento dessas fraturas é con­ tipo de fratura que houver.
290 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Fratura supracondiliana, Fratura supracondiliana,


tipo em extensão tipo em flexão Figura 14.22 Com o cotovelo em flexão, um golpe direto no
olécrano pode resultar em fratura umeral distai.
Figura 14.20 Fraturas supracondilianas. A. Tipo em extensão.
B. Tipo em flexão.
10% dos casos. Elas costumam ser o resultado de um gol­
pe direto contra o aspecto posterior do cotovelo flexiona­
Mecanismo de lesão do (Fig. 14.22). É raro o mecanismo indireto resultar em
Dois mecanismos de lesão resultam em fraturas distais do fratura em flexão.
úmero. Com o cotovelo em flexão, um golpe direto pode
resultar em fratura. A posição dos fragmentos depende da Exame
magnitude e da direção da força, bem como da posição
inicial do cotovelo e do antebraço (p. ex., flexão e supina- O médico da emergência deve completar um exame físico
ção), e também do tônus muscular. cuidadoso, com atenção especial aos pulsos braquial, ra­
O mecanismo indireto envolve quedas com a mão es­ dial e ulnar, e também aos nervos mediano, radial e ulnar.
tendida (Fig. 14.21). Como anteriormente, a magnitude e A comparação com a extremidade não lesionada deve ser
a direção de força, como também a posição do cotovelo parte da rotina de cada exame. Frequentemente, as fra­
e o tônus muscular, determinam a posição dos fragmen­ turas supracondilianas estão associadas a hemorragia ex­
tos da fratura. Mais de 90% das fraturas supracondilianas tensa e edema que, em alguns casos, podem resultar em
resultam do mecanismo indireto. Na maioria dos casos, a síndrome compartimentai.
fratura é em extensão, em que o fragmento distai é deslo­ As lesões recentes podem demonstrar pouco edema
cado posteriormente. com dor intensa. O fragmento umeral distai deslocado
As fraturas em flexão, em que o fragmento umeral muitas vezes pode ser palpado posterior e superiormente,
distai é deslocado anteriormente, respondem por somente devido a tração do músculo tríceps. Conforme o edema au­
menta, as fraturas supracondilianas em extensão podem ser
confundidas com luxação posterior do cotovelo, resultante
da proeminência do olécrano e da presença de concavidade
posterior (Fig. 14.23). Além disso, o antebraço envolvido
A / pode parecer mais curto quando comparado com o lado
não envolvido. Em pacientes com fraturas supracondilia­
nas em flexão, o cotovelo costuma ser carregado em flexão
e existe a perda da proeminência do olécrano.

Imagens
O exame radiográfico inicial deve incluir incidências em
AP e lateral (Fig. 14.24). No filme em AP, o antebraço
deve estar supinado e o cotovelo colocado na maior exten­
são possível. O filme lateral deve ser obtido com o coto­
velo em 90° de flexão. As incidências oblíquas adicionais
com o cotovelo em extensão podem ser úteis para diag­
nosticar fraturas ocultas.
O segmento distai pode estar deslocado, angulado ou
rodado em relação ao osso proximal, resultando em várias
deformidades. Aproximadamente 25% das fraturas supra­
Figura 14.21 O mecanismo indireto de causa de fratura supra­ condilianas são não deslocadas. O diagnóstico radiográfi­
condiliana envolve a queda sobre a mão estendida. co nesses casos pode ser bastante difícil. Alterações sutis,
Emergências Ortopédicas 291

vação até a exploração cirúrgica. A arteriografia não cos­


tuma ser necessária.
Em pacientes com pulsos intactos, um oxímetro de
pulso pode ser aplicado para monitorar a frequência do pul­
so e também a saturação da hemoglobina. Deve ser notado
que ele somente deve ser usado para confirmar os achados
clínicos já estabelecidos. A presença de pulso, contudo,
não exclui a possibilidade de lesão arterial significativa.
A função dos nervos radial, mediano e ulnar deve ser
testada, já que podem ocorrer déficits com as fraturas su­
Figura 14.23 Q uadro clín ico de criança com fratura supra-
condiliana deslocada. (Reimpressa de J Em erg M e d 2009 Dec
pracondilianas deslocadas. A incidência de lesão nervosa
17: Sherman SC. Supracondylar fractures. [Epub ainda não pu­ após as fraturas do tipo III é de 10 a 15%. Naquelas fra­
blicado] Com permissão de Elsevier Scientific Publications.) turas com deslocamento posteromedial, é mais provável
que ocorra o comprometimento neural. Essas lesões são
comuns, pois os nervos estão fixados no cotovelo e o des­
como a presença de um coxim de gordura posterior, uma locamento leva ao estiramento.
linha um eral a n terio r anormal ou um ângulo de carrega­ A lesão nervosa mais comum é a do nervo interósseo
mento anormal podem ser as únicas pistas radiográficas anterior. Esse nervo não tem inervações sensitivas e, quan­
da presença de uma fratura. do um déficit estiver presente, são vistos apenas achados
motores sutis, tornando a lesão facilmente despercebida.
Lesões associadas O nervo interósseo anterior inerva o flexor profundo dos
As fraturas supracondilianas estão com frequência asso­ dedos do dedo indicador (flexão da articulação IFD) e o
ciadas a complicações neurovasculares, em especial na flexor longo do polegar (flexão da articulação IF). O défi­
presença de deslocamento. cit é detectado fazendo com que o paciente faça um sinal
A extremidade de todos os pacientes com fraturas su­ de “OK” e notando a flexão enfraquecida nessas duas ar­
pracondilianas deve ser avaliada em relação aos pulsos, à ticulações. O teste da função nervosa é importante, pois
coloração, à temperatura e ao enchimento capilar. As do podem ocorrer lesões iatrogênicas durante tentativas múl­
tipo III se apresentam com comprometimento vascular em tiplas de redução fechada ou após o reparo cirúrgico. A
aproximadamente 5 a 10% dos casos devido à compressão maioria das lesões nervosas são neuropraxias, e a função
por fragmentos de fratura, edema ou laceração arterial. retoma sem intervenções durante um curso de 3 a 6 meses.
Documentar a presença e a intensidade dos pulsos radial,
ulnar e braquial. Os pulsos ausentes com perfusão adequa­ Tratamento
da estão bem documentados nas fraturas supracondilianas Fratura su p ra co n d ilia n a e m exten sã o . Tipo /. As fra­
deslocadas, sendo uma possibilidade pela boa circulação turas supracondilianas não deslocadas ou anguladas são
colateral. O manejo de uma extremidade sem pulso e bem imobilizadas com tala braquial posterior longa, esten­
perfundida após a redução adequada varia desde a obser- dendo-se da axila até um ponto logo proximal às cabeças
metacarpais (Apêndice A.9). A tala deve envolver aproxi­
madamente três quartos da circunferência da extremidade.
O antebraço é mantido em posição neutra e o cotovelo é
flexionado em 80 a 90°. Os pulsos distais devem ser veri­
ficados e, caso estejam ausentes, o cotovelo é estendido 5
a 15° ou até que os pulsos retomem. Uma tipoia é usada
para suporte e gelo é aplicado para reduzir o edema.
Essas fraturas são estáveis e requerem três semanas
de imobilização seguidas de movimentação precoce.
As complicações vistas após as fraturas tipo II e III, como
a lesão neurovascular e a síndrome compartimentai, são
raras após as lesões do tipo I. Alguns autores recomen­
dam períodos breves (6 horas) de observação no setor de
emergência, mas, na ausência de edema significativo, dor
ou déficits de pulso, a liberação com acompanhamento or­
Figura 14.24 A radiografia da mesma criança na Figura 14.23 topédico é aceitável.
confirm a a fratura supracondiliana do tipo III (deslocamento
completo). (Reimpressa de J Em erg M e d 2009 Dec 17: Sherman Axioma: U m g e ssa d o n u n ca d e v e se r a p lica d o in icia lm en ­
SC. Supracondylar fractures. [Epub ainda não publicado] Com te em um a fratura su p ra co n d ilia n a .
permissão de Elsevier Scientific Publications.)
292 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Tipo II e III. Com uma condição neurovascular intacta, a Precaução: Som ente um a tentativa deve ser fe ita p a ra a
redução dessas fraturas deve ser tentada por um cirurgião redução m a n ipulatória devido à p ro xim id a d e das e stru ­
ortopédico experiente. A redução de emergência pelo es­ turas neurovasculares e a probabilidade de lesão com as
pecialista na emergência somente está indicada quando a tentativas repetidas.
fratura deslocada estiver associada ao comprometimento
A extremidade é imobilizada em uma tala braquial
vascular, que ameace de imediato a viabilidade da extre­
posterior longa (Apêndice A.9). Há controvérsia sobre
midade, em locais onde a consulta ortopédica de emergên­
a posição do antebraço. Em crianças, se houver desloca­
cia não esteja disponível (Fig. 14.25).
mento medial do fragmento distai, o antebraço deve ser
1. O passo inicial é preparar e administrar a sedação, imobilizado em pronação. Com deslocamento lateral, o
conforme delineado no Capítulo 2. antebraço deve ser imobilizado em supino. Os adultos são
2. Enquanto um assistente imobiliza o braço proximal geralmente imobilizados em posição neutra ou em leve
ao local da fratura, o médico segura o antebraço no pronação. Uma tipoia deve ser fornecida para suporte e
punho, exercendo tração longitudinal até que o com­ o gelo é aplicado para reduzir o edema. As radiografias
primento esteja próximo do normal (Fig. 14.25A). pós-redução para documentar a posição são essenciais. A
3. O médico agora hiperestende levemente o cotovelo hospitalização para acompanhamento da condição neuro­
para destravar os fragmentos de fratura, enquanto vascular é obrigatória. O edema retardado com síndrome
aplica pressão em direção anterior, contra o segmento compartimentai subsequente e comprometimento neuro­
umeral distal (Fig. 14.25B). Neste momento, a angu- vascular é comum após essas fraturas.
lação medial e lateral deve ser corrigida. O assisten­ O tratamento definitivo das fraturas supracondilianas
te simultaneamente exerce uma força suave dirigida deslocadas é a pinagem operatória após a redução fecha­
posteriormente contra o segmento umeral proximal. da. A redução aberta é necessária em uma minoria de ca­
4. Para completar a redução, o cotovelo é flexionado sos. A causa mais comum de síndrome compartimentai
para manter o alinhamento apropriado, e uma pressão em crianças é a fratura supracondiliana deslocada e, por
posterior é aplicada ao fragmento distal (Fig. 14.25C). isso, é necessária a redução de emergência (< 8 horas) ou
O cotovelo deve ser flexionado até o ponto onde o pul­ de urgência (dentro de 24 horas) para diminuir o edema e
so diminui e então estendido de 5 a 15° e os pulsos melhorar o retorno venoso. Felizmente, a pronta redução
novamente verificados e documentados. anatômica e a estabilização óssea têm reduzido a incidên-

Figura 14.25 Redução de fratura supracondiliana. Ver texto para discussão.


Emergências Ortopédicas 293

cia de síndrome compartimentai do antebraço até mesmo 1. As lesões neurovasculares podem se apresentar de for­
em casos mais graves. ma aguda ou com sintomas tardios. Em todos os casos
Alguns autores tratam as fraturas tipo II com redução em que houver suspeita de lesão vascular, a conside­
fechada e imobilização, com acompanhamento atento. O ração de uma arteriografia urgente deve ser discutida
edema excessivo muitas vezes impede a redução fechada com o cirurgião ortopedista consultor. A síndrome
estável, contudo, e cerca de 25%, em última instância, ne­ compartimentai pode requerer uma fasciotomia. A pa­
cessitam de pinagem devido ao deslocamento que ocorre, ralisia do nervo ulnar é uma complicação posterior.
mesmo com o gessado. 2. As deformidades ulnares em varo e valgo são comu-
Outros autores recomendam fixação em todas as fratu­ mente observadas em crianças. A má posição do frag­
ras supracondilianas que requerem redução sob anestesia. mento umeral distai após a redução é a causa mais
frequente.
As fraturas su­
Fratura su p ra c o n d i/ia n a e m fle x ã o . 3. A rigidez e a perda do movimento do cotovelo são
pracondilianas deslocadas em flexão também requerem complicações comuns em adultos pela imobilização
consulta ortopédica para redução. A pinagem da fratura é prolongada. Depois de uma redução estável, os exer­
uma modalidade de tratamento bastante usada. Quando cícios de pronação e supinação devem ser iniciados
houver comprometimento neurovascular do membro e a em dois a três dias. Dentro de duas a três semanas, a
consulta ortopédica de emergência não estiver disponível, tala posterior pode ser removida para os exercícios de
um especialista experiente em medicina de emergência flexão-extensão.
pode executar a redução. Com o cotovelo em flexão, uma
tração-contratração longitudinal é aplicada. O médico FRAT U RAS TRAN SCO N DILI AN AS
então exerce uma pressão gentil dirigida posteriormente
sobre o fragmento distai. Quando o fragmento estiver na Essa fratura transversa atravessa ambos os côndilos, mas,
posição, o cotovelo é estendido e mantido em extensão. A diferentemente da fratura supracondiliana, fica dentro da
extremidade é imobilizada com uma tala braquial poste­ cápsula articular (Fig. 14.26). As fraturas transcondilia-
rior longa (Apêndice A.9). A nossa posição de preferência nas são vistas com mais frequência em pacientes acima
para o cotovelo é em 35° antes da extensão completa para dos 50 anos com osteopenia. O segmento umeral distai
evitar o desenvolvimento posterior de rigidez do cotovelo. pode estar posicionado anterior (flexão) ou posteriormen­
Alguns autores recomendam a imobilização do cotovelo te (extensão) ao segmento umeral proximal. Por conse­
em extensão completa. O paciente deve ser hospitalizado guinte, mecanismos, radiografias e tratamento são idênti­
e tratado com elevação, gelo e analgésicos. A redução ci­ cos àqueles das fraturas supracondilianas em extensão ou
rúrgica das fraturas supracondilianas em flexão é indicada flexão. Muitas dessas fraturas resultam na deposição de
quando há a falha de uma tentativa de redução manipula- calo dentro das fossas do olécrano e coronoide, com sub­
tória ou se há fragmentos instáveis de fratura. sequente redução na amplitude de movimentos. Todas as
fraturas transcondilianas requerem uma consulta urgente
com um cirurgião ortopédico e são mais bem administra­
Complicações
das inicialmente em contexto hospitalar.
As fraturas supracondilianas estão associadas a várias Um exemplo de fratura transcondiliana do tipo em
complicações: flexão é a fra tu ra de Posadas. Ela resulta no deslocamen-

Figura 14.26 Fratura transcondiliana. A . Repre­


sentação esquemática. B. Radiografia.
294 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Figura 14.27 Fratura de Posadas.

to anterior do segmento condiliano distai (Fig. 14.27). O Não deslocada


mecanismo mais comum é um golpe direto com o coto­ A
velo em flexão, que desloca anteriormente os fragmentos
condilianos. Somando-se a dor e edema, existe perda da Figura 14.28 Fraturas intercondilianas. A. Representação es­
quemática. B. Radiografia.
proeminência do olécrano, com enchimento da fossa an-
tecubital.
A fratura de Posadas está associada a uma luxação intactos e mantêm os fragmentos em sua posição normal.
posterior do rádio ou da ulna. As fraturas não deslocadas O deslocamento com rotação existe quando ocorre a sepa­
do tipo transcondilianas são mais comuns que as fraturas ração entre o capítulo e a tróclea, combinada com a rota­
deslocadas. ção dos fragmentos. A rotação é secundária à tração dos
O manejo de emergência consiste em imobilizar a músculos que estão inseridos nos epicôndilos. É possível
fratura com tala braquial posterior longa (Apêndice A.9) que ocorra a cominução grave da superfície articular e a
sem reposicionar o braço, pois a flexão ou a extensão da ampla separação dos côndilos umerais.
articulação podem resultar em grave comprometimento
vascular do membro. Essas fraturas são difíceis de tratar, Mecanismo de lesão
e uma consulta ortopédica de emergência deve ser obtida.
O mecanismo mais comum é um golpe direto, dirigindo
Se houver indícios iniciais de comprometimento vascu­
o olécrano contra o úmero distai, na tróclea. A posição
lar, a tração com um fio no olécrano é o tratamento de
do cotovelo no momento do impacto determina se haverá
escolha.
deslocamento em extensão ou em flexão dos fragmentos.
As fraturas de Posadas estão associadas a várias com­
O deslocamento em extensão ou posterior dos fragmentos
plicações, incluindo o comprometimento neurovascular
é mais comum. A rotação muitas vezes acompanha essas
agudo ou tardio. A menor amplitude de movimentos pode
fraturas devido à tração dos músculos inseridos nos epi­
ser secundária à redução inadequada ou à formação de
côndilos. Os côndilos podem separar-se entre si e da diá-
calo dentro da articulação.
fise umeral. O grau de separação é dependente da direção
e da força da lesão, e também da ação do tônus muscular.
FRATURAS INTERCONDIUANAS Em geral, os deslocamentos condilianos maiores estão as­
sociados a maiores forças lesivas.
As fraturas intercondilianas geralmente ocorrem em pa­
cientes acima dos 50 anos. São, na verdade, fraturas su-
pracondilianas com um componente vertical (Fig. 14.28). Exame
Os termos T e Y indicam a direção da linha de fratura. As Ao exame, existe encurtamento do antebraço. Com as fra­
fraturas em T têm uma linha transversa única, enquanto as turas em extensão, existe uma concavidade na região pos­
em Y se apresentam com duas linhas de fratura oblíquas terior do braço com proeminência do olécrano.
através da coluna umeral supracondiliana. A classificação
é feita com base na quantidade de separação entre os frag­
Imagens
mentos da fratura, sendo primariamente dividida em (1)
fraturas não deslocadas e (2) fraturas deslocadas, rodadas As incidências em AP e lateral podem demonstrar comi­
ou cominutivas. nução e a sobreposição das bordas ósseas pode tornar a
A fratura não deslocada não apresenta deslocamento interpretação difícil. Em fraturas cominutivas difíceis de
entre o capítulo e a tróclea. A deslocada existe quando há visualizar em filmes simples, a tomografia computadori­
separação entre o capítulo e a tróclea, sem rotação no pla­ zada costuma ser útil para o cirurgião que esteja planejan­
no frontal. Isso indica que os ligamentos capsulares estão do a intervenção cirúrgica.
Emergências Ortopédicas 295

Lesões associadas
As lesões neurovasculares raramente estão associadas a
essas fraturas.

Tratamento
N ão deslocada. É uma fratura estável e pode ser inicial­
mente tratada com tala braquial longa, com o antebraço
em posição neutra (Apêndice A.9). Tipoia, elevação e
compressas de gelo devem ser usadas precocemente. Os
exercícios de movimentos ativos podem ser iniciados den­
tro de duas a três semanas.
A B
D eslo ca d a , rodada o u com inutiva. Essas fraturas rara­ Figura 14.29 Fraturas condilianas laterais. A. Crista troclear
mente são vistas, são difíceis de tratar e requerem uma lateral não incluída. B. Crista troclear lateral incluída.
consulta ortopédica de emergência. O tratamento cirúr­
gico dessas fraturas, que antes era considerado incer­
Fraturas condilianas laterais
to, é, agora, o tratamento de escolha. Em pacientes com
contraindicações para cirurgia, podem ser usados outros O côndilo lateral é anatomicamente mais exposto, tendo
meios de tratamento, como a pinagem do olécrano com maior possibilidade de fraturar (Fig. 14.29).
tração. O programa terapêutico selecionado depende do
tipo da fratura, do nível de atividade do paciente e do jul­ Mecanismo de lesão
gamento e das experiências prévias do cirurgião ortope­ Dois mecanismos resultam em fraturas condilianas laterais.
dista consultor. O cuidado de emergência envolve imobili­ Primeiro, com o cotovelo em flexão, uma força direta apli­
zação da fratura na posição de apresentação e a aplicação cada em seu aspecto posterior resulta em fratura. Segundo,
de gelo. A fixação cirúrgica e a tração são as duas modali­ com o cotovelo em extensão, uma força que causa adução
dades terapêuticas mais selecionadas. Em pacientes mais e hiperextensão resulta fratura. Em crianças, a rotação do
velhos, com fraturas gravemente cominutivas, a prótese fragmento de fratura é secundária à tração dos músculos
20
de cotovelo pode ser considerada. extensores. A rotação do fragmento é incomum em adultos.

Complicações Exame
O exame físico revela sensibilidade dolorosa e edema so­
As fraturas intercondilianas do úmero distai podem ser as­
bre o côndilo envolvido.
sociadas a diversas complicações:
1. A complicação mais comum é a perda da função arti­ Imagens
cular do cotovelo As incidências em AP e lateral revelam o alargamento da
2. Artrite pós-traumática distância intercondiliana. O segmento fraturado pode ser
3. Complicações neurovasculares (raras) deslocado proximalmente, mas em geral será visto pos­
4. Má união e não união (incomuns) terior e inferiormente a sua posição normal. Quando a
crista troclear lateral permanecer com o fragmento, pode
ocorrer a translocação da ulna. Em crianças nas quais a
FRATURAS CONDILIANAS ossificação está incompleta, as incidências de comparação
O côndilo umeral inclui tanto uma porção articular como devem ser obtidas.
uma epicondiliana e não articular. As fraturas condilia-
nas, por conseguinte, incorporam tanto a porção articular Lesões associadas
como a não articular do côndilo no fragmento de fratura. Nenhuma lesão associada costuma ser vista.
As fraturas envolvem tanto o côndilo medial (tróclea e
epicôndilo medial) como o lateral (capítulo e epicôndilo Tratamento
lateral). Devido às altas taxas de complicações, todas as fraturas
O fragmento de uma fratura condiliana pode incluir a condilianas laterais requerem avaliação urgente e acom­
crista troclear lateral, ou permanecer inserido ao segmen- panhamento ortopédico.
to umeral proximal. “ Essa distinção é importante, pois as
fraturas em que a crista troclear lateral é incorporada no Crista tro clea r lateral não incluída.Quando não deslo­
segmento umeral distai demonstram instabilidade medial cado, o braço deve ser imobilizado em uma tala braquial
e lateral do cotovelo, do rádio e da ulna. posterior longa, com o cotovelo em flexão, o antebraço em
296 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

supinação, e o punho em extensão para minimizar a distra­


ção dos músculos extensores (Apêndice A.9). O braço deve
ser elevado com tipoia e as radiografias repetidas em dois
dias para assegurar o posicionamento adequado. Um ges­
sado longo pode ser aplicado depois que o edema tiver re­
duzido. Para as fraturas deslocadas, a consulta ortopédica
de emergência deve ser obtida. O tratamento preferido é
a redução aberta com fixação interna. Uma tala braquial
longa posterior (Apêndice A.9) é colocada neste ínterim.

Crista tro cle a r lateral incluída. Por ser mais instável, a


terapia inicial dessa fratura inclui a apbcação de talas bra­ B
quiais longas anterior e posterior (Apêndice A.10). O coto­ Figura 14.30 Fraturas condilianas m ediais. A. Crista troclear
velo deve ficar em mais de 90° de flexão, com o antebraço lateral não incluída. B. Crista troclear lateral incluída.
supinado e o punho estendido. As radiografias devem ser
repetidas em 2 ou 3 dias para garantir o posicionamento Lesões associadas
adequado, e um gessado braquial longo é aplicado. As fra­
Nenhuma lesão associada é vista.
turas deslocadas devem ser imediatamente encaminhadas
a um cirurgião ortopedista experiente. Estas fraturas são Tratamento
mais adequadamente tratadas com redução aberta e fixa­
Crista tro cle a r lateral não incluída.Uma tala braquial
ção interna. As reduções manipulatórias fechadas com fre­
posterior longa é aplicada com o cotovelo flexionado, o
quência resultam em deformidades em valgo na ulna.
antebraço em pronação e o punho em flexão (Apêndice
Complicações A.9). O acompanhamento ortopédico com radiografias
repetidas para excluir o deslocamento tardio é enfatica­
As fraturas condilianas laterais podem resultar em várias mente aconselhável. As fraturas deslocadas requerem
comphcações: imobilização, gelo e elevação, além do encaminhamento
1. Deformidade em valgo na ulna de emergência para a fixação cirúrgica.
2. Transposição lateral do antebraço
3. Artrite devido às lesões da cápsula articular e da arti­ Por ser mais instável,
Crista tro c le a r lateral inclu ída.

culação a terapia inicial dessa fratura inclui a aplicação de talas


braquiais longas anterior e posterior (Apêndice A.10).
4. Parahsia retardada do nervo ulnar
O cotovelo deve ficar em mais de 90° de flexão, com o
5. Supercrescimento com subsequente deformidade de antebraço pronado e o punho flexionado. As radiografias
varo da ulna em crianças devem ser repetidas em 2 ou 3 dias para garantir que o
posicionamento esteja adequado, e um gessado braquial
Fraturas condilianas mediais longo é aplicado. O manejo de emergência das fraturas
Essas fraturas são menos comuns do que as fraturas con­ deslocadas inclui imobilização, gelo, elevação e encami­
dilianas laterais (Fig. 14.30). nhamento imediato para a fixação cirúrgica.

Mecanismo de lesão Complicações

Dois mecanismos resultam em fraturas condilianas me­ As fraturas condilianas mediais estão associadas às se­
diais. Primeiro, uma força direta aplicada através do guintes complicações:
olécrano, em direção medial, pode fraturar o côndilo me­ 1. Artrite pós-traumática
dial. Segundo, a abdução com o antebraço em extensão 2. Má união com subsequente deformidade em varo da
pode resultar em fratura do côndilo medial. ulna
3. Parahsia do nervo ulnar
Exame
A sensibilidade dolorosa sobre o côndilo medial com a
flexão dolorosa do punho contra a resistência é frequen­
FRATURAS DO CAPÍTULO
temente notada. As fraturas da superfície articular incluem o capítulo e a
tróclea e são muito incomuns como lesões isoladas, mas
Imagens podem ser vistas junto com as luxações posteriores do
Achados similares às fraturas condilianas laterais são no­ cotovelo (Fig. 14.31). As fraturas trocleares são bastan­
tados, a exceção é que o fragmento distai tende a ser puxa­ te raras e requerem avaliação e tratamento ortopédico de
do anterior e inferiormente pelos músculos flexores. emergência. As fraturas do capítulo constituem somente
Emergências Ortopédicas 297

Complicações
As fraturas do capítulo estão associadas às seguintes com­
plicações:
1. Artrite pós-traumática
2. Necrose avascular do fragmento fraturado
3. Amplitude de movimento restringida

FRATURAS DO EPICÔNDILO
Fratura do capítulo Fratura da tróclea As fraturas do epicôndilo são mais comumente vistas em
crianças (Fig. 14.32).
Figura 14.31 Fraturas da superfície articular. A. Fratura do ca­
pítulo. B. Fratura da tróclea.
Fratura do epicôndilo medial
0,5 a 1% de todas as lesões do cotovelo e 6% das fraturas As fraturas do epicôndilo medial são muito mais comuns
do úmero distai. do que as laterais (Fig. 14.32A). O centro de ossificação
do epicôndilo medial aparece dos 5 aos 7 anos e fusiona-
Mecanismo de lesão -se ao úmero distai por volta dos 20 anos. O deslocamento
O mecanismo de fratura é o resultado de um golpe apli­ do epicôndilo medial, como uma lesão isolada, é inco-
cado sobre a mão estendida. A força é transmitida sobre o mum. Mais comumente vista é a fratura de avulsão palpá­
rádio até o capítulo. O capítulo não tem nenhuma inserção vel associada à luxação posterolateral do cotovelo.
muscular, e, em consequência, o fragmento pode não ser
deslocado. Em algumas circunstâncias, o deslocamento Mecanismo de lesão
secundário ocorre pelo movimento do cotovelo. Três mecanismos estão associados às fraturas do epicôn­
dilo medial:
Exame
1. A fratura de avulsão, mais comum, está associada
Inicialmente, pode haver um intervalo silencioso, com au­
com as luxações posteriores na infância ou na adoles­
sência de sinais e sintomas. Mais tarde, conforme o san­
cência. Essa fratura raras vezes é associada a luxações
gue distende a cápsula articular, a dor e o edema podem se
posteriores acima dos 20 anos.
tomar bastante intensos. O deslocamento anterior do frag­
mento da fratura para dentro da fossa radial pode resul­ 2. O tendão flexor-pronador está inserido no centro de
tar em flexão incompleta dolorosa. Com o deslocamento ossificação do epicôndilo medial. O estresse em val­
posterior, a amplitude de movimento é completa; contudo, go repetido no cotovelo pode resultar em fratura, com
existe dor que aumenta com a flexão. deslocamento distai do fragmento. Isso é comumente
visto em jogadores adolescentes de beisebol, e é cha­
Imagens mado de “cotovelo da liga infantil”.
A incidência lateral demonstra o fragmento em posição 3. As fraturas isoladas do epicôndilo medial em adultos
anterior e proximal à porção principal do capítulo. são causadas por um golpe direto.

Lesões associadas
As fraturas da cabeça do rádio são comuns. A mptura do li­
gamento colateral ulnar é vista em até 70% dos pacientes.

Tratamento
A excisão cirúrgica de um fragmento capitular pequeno
(cartilagem articular e osso subcondral) é o tratamento de
escolha, mas, conforme as técnicas melhoram, a fixação
cirúrgica é mais comumente executada. O manejo de
emergência consiste em imobilização com tala posterior,
gelo, elevação e analgésicos. Se houver um grande frag­
mento, ou se um pedaço da tróclea estiver envolvido, a
consulta ortopédica de emergência para redução cirúrgica
A B
é indicada. Tanto as técnicas fechadas como abertas foram
descritas. A redução precisa é imperativa para assegurar Figura 14.32 Fraturas epicondilianas. A. Epicôndilo medial. B.
o movimento normal da articulação radioumeral. Epicôndilo lateral.
298 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Exame
Se essa fratura estiver associada a uma luxação poste­
rior, o cotovelo fica em flexão e existe uma proeminên­
cia do olécrano. As fraturas isoladas produzem dor lo­
calizada sobre o epicôndilo medial. A dor aumenta com
a flexão do cotovelo e do punho ou com a pronação do
antebraço.
Precaução: A o a v a lia r essa fra tu ra , exa m in a r e d o c u ­
m en ta r a fu n ç ã o do nervo u ln a r antes de iniciar o trata­
mento.

Imagens
As incidências de comparação são essenciais em crianças
e adolescentes. Os fragmentos deslocados podem migrar
e tomar-se intra- articulares.
Precaução: Se o fra g m en to tiver m igrado a té a linha a rti­
cular, ele deve ser considerado intra-articular.
A idade em que os epicôndilos ossificam e se fundem
deve ser considerada antes de diagnosticar uma fratura
(Fig. 14.33). O epicôndilo medial aparece entre os 5 a 7
anos e se funde nas idades 18 a 20 anos. O epicôndilo
lateral aparece nas idades de 9 a 13 anos e se funde nas
idades de 14 a 16 anos. Para informação adicional, ler o
Capítulo 6.
Figura 14.33 Uma fratura epicondiliana medial em criança.
Lesões associadas
A lesão associada mais comum é a luxação posterior do Complicações
cotovelo. As fraturas epicondilianas mediais estão associadas à
interposição óssea do nervo ulnar se houver um desloca­
Tratamento
mento persistente. Outras comphcações são relacionadas
Os fragmentos com deslocamento abaixo de 4 mm, de­ à luxação posterior do cotovelo, e o leitor deve ler a seção
terminado pela medida do espaço claro entre o fragmen­ a seguir para detalhes adicionais.
to da fratura e o úmero, podem ser imobilizados em uma
tala braquial longa (Apêndice A.9). O cotovelo e o punho
Fratura do epicôndilo lateral
devem ficar flexionados, com o antebraço pronado. Se a
fratura estiver associada a uma luxação de cotovelo, esta Essa é uma lesão extremamente rara, que resulta de um
é reduzida em primeiro lugar (ver a seção “Luxações do golpe direto. É muito mais comum fraturar o côndilo do
cotovelo”), e realizada uma avaliação dos fragmentos de que o epicôndilo. A maioria das fraturas não são desloca­
fratura. Se o epicôndilo estiver dentro da articulação, a re­ das e são tratadas de forma similar às fraturas condilianas
dução aberta está indicada. laterais (Fig. 14.32B).

LESÃO DE TECIDOS MOLES E LUXAÇÕES DO COTOVELO


LUXAÇÕES DO COTOVELO riores ou mesmo com fraturas. A luxação anterior do coto­
velo está quase sempre associada a fraturas.
As luxações do cotovelo estão entre as luxações mais vis­
tas no corpo, perdendo em frequência apenas para as do
Luxação posterior
ombro e dos dedos. A luxação mais comum de cotove­
lo é a posterior, que responde por 90% dos casos (Fig. As luxações posteriores, nas quais o olécrano é desloca­
14.34).2 As luxações anteriores, mediais e laterais per­ do posteriormente em relação ao úmero distai, respon­
fazem o restante dos casos. As luxações laterais e mediais dem pela maioria das luxações vistas no cotovelo (Fig.
podem ocorrer de forma isolada, porém são vistas com 14.34A).2 As luxações do cotovelo são classificadas
mais frequência combinadas com as posteriores ou ante­ como simples ou complexas, dependendo da existência de
Emergências Ortopédicas 299

Luxação posterior

Figura 14.35 A protuberância posterior do olécrano em uma


luxação posterior.
Luxação posterior

Figura 14.34 A. Luxação posterior do cotovelo. B. Luxação


Imagens
anterior do cotovelo.
As radiografias simples são diagnósticas e revelam a fossa
do olécrano vazia e posterior ao úmero distai (Fig. 14.37).
fratura em adição à luxação. As luxações simples são mais As radiografias devem ser obtidas antes e depois da re­
comuns do que as complexas. dução. As fraturas associadas incluem o processo coro-
noide, a cabeça do rádio e, algumas vezes, os epicôndilos
Mecanismo de lesão umerais ou o capítulo (Fig. 14.38). As fraturas pequenas
29
O mecanismo de lesão é uma queda sobre o braço esten­ do coronoide são comuns e não devem alterar o manejo."
dido e abduzido. A combinação de forças em valgo, supi- Quando tanto o coronoide como a cabeça do rádio esti­
nação e axial age rompendo as inserções ligamentares e verem fraturadas em uma luxação posterior de cotovelo,
permite que a articulação seja deslocada. a lesão é chamada de “tríade terrível”. As fraturas estão
presentes em 12 a 60% das radiografias simples.
Exame
Os pacientes com luxações posteriores se apresentam no Lesões associadas
setor de emergência com o membro mantido em flexão de As lesões comumente associadas são em nervos perifé­
45°. O olécrano está posteriormente proeminente, e exis­ ricos, especialmente o nervo ulnar, e a função deve ser
te edema moderado e deformidade na articulação (Figs. verificada antes e depois da redução. A lesão do nervo
14.35 e 14.36). Os nervos periféricos e os pulsos distais ulnar ocorre em 8 a 21% dos pacientes com luxações pos­
devem ser examinados. teriores de cotovelo, mas em geral se resolve de forma
O edema pode tomar o diagnóstico difícil, sendo di­ espontânea com o manejo conservador. A lesão da ar­
fícil a diferenciação entre a luxação e a fratura supracon- téria braquial é rara com as luxações posteriores do coto-
diliana durante o exame também. Ao palpar os dois epi- velo. A interposição do nervo mediano pode também
côndilos e a ponta do olécrano em pacientes com fratura ocorrer em pacientes com luxações posteriores.
supracondiliana eles estarão no mesmo plano. Nas luxa­ As luxações complexas do cotovelo são aquelas que
ções, o olécrano está deslocado do plano dos epicôndilos ocorrem com fraturas intra-articulares grande. A cabeça
na palpação. do rádio e o coronoide são as fraturas mais comumente

Figura 14.36 A . Luxação posterior do cotovelo. B. O mesmo paciente pós-redução.


300 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

A B

Figura 14.37 Aspecto radiográfico de uma luxação de cotovelo posterior simples. A. Pré-redução. B. Pós-redução.

associadas, com incidência que varia de 12 a 60%. Duran­ te em uma luxação simples de cotovelo é vista em apenas
te a exploração cirúrgica, as lesões osteocondrais são vis­ 1 a 2% dos casos.
tas na maioria dos casos de luxações agudas do cotovelo. O punho e o ombro devem ser examinados com cui­
Em pacientes com a “tríade terrível” (luxação do cotovelo dado, uma vez que ocorrem lesões adicionais nas extremi­
com fraturas da cabeça do rádio e processo coronoide), dades superiores em 10 a 15% dos casos/
com frequência ocorre incapacidade significativa.
O epicôndilo medial fraturado pode, às vezes, ficar Tratamento
aprisionado na articulação, necessitando de redução aberta. A redução precoce é recomendada, pois a demora pode
As fraturas do processo coronoide são lesões comumente danificar a cartilagem articular ou resultar em edema ex­
associadas, em geral retomando à oposição quase normal cessivo ou comprometimento circulatório. Se o cotovelo
uma vez que seja feita a redução. Os fragmentos grandes permanecer não reduzido por mais de sete dias, a utilida­
que estejam deslocados podem requerer a fixação cirúrgica. de da redução fechada é mínima. A redução é mais ade­
Todas as luxações de cotovelo que não sejam associa­ quadamente realizada depois de administrada a sedação,
das a fraturas concomitantes demonstram a ruptura dos conforme descrito no Capítulo 2. O anestésico local intra-
ligamentos medial e lateral. Embora esses ligamentos -articular também é uma opção. Várias técnicas de redu­
sejam os estabilizadores primários do cotovelo, o reparo ção têm sido descritas para reduzir luxações posteriores.
cirúrgico raramente é necessário, pois os músculos flexo­ As técnicas a seguir se aplicam à luxação posterior sem
res e extensores atuam como fortes estabilizadores secun­ componente medial ou lateral. A técnica de Stimson é o
dários que resistem à reluxação. A instabilidade recorren­ método preferido, pois causa menos desconforto e lesões

A B

Figura 14.38 Luxações com plexas posteriores do cotovelo. A. Associado com fratura da cabeça do rádio. B. Associado com fratura
do processo coronoide.
Emergências Ortopédicas 301

associadas. Não importa qual técnica seja empregada, pode ser ajudada pela aplicação de pressão sobre o olécra-
recomenda-se que forças lentas, contínuas e suaves sejam no. A hiperextensão é contraindicada durante a redução,
aplicadas para limitar lesões adicionais de tecidos moles. pois pode causar lesão neurovascular (i.e., interposição do
nervo mediano ou lesão de artéria braquial), aumentar o
Técnica d e tração e contratração. O antebraço é supi- risco de desenvolvimento de miosite ossificante por dano
nado e o cotovelo deixado em leve flexão (aproximada­ muscular ou ferir as superfícies articulares.
mente 30°). A supinação é usada para minimizar o trauma
adicional ao processo coronoide. O médico estabiliza o Técnica da alavancagem . Enquanto em decúbito dorsal,
úmero distai com a mão não dominante e distrai o ante­ o cotovelo do paciente é flexionado, o antebraço é supina-
braço com a mão dominante. A tração lenta, contínua, do e o ombro é abduzido. O médico coloca o seu cotovelo
suave e longitudinal com flexão gradual reduz o coto­ sobre o bíceps distal do paciente e usa a sua mão para
velo (Fig. 14.39A). Se um assistente estiver disponível, entrelaçar os dedos do paciente ou agarrar o punho. O co­
ele pode segurar o úmero distai enquanto o médico usa tovelo do paciente é gradualmente flexionado enquanto o
ambas as mãos para prover a tração. A redução também cotovelo do médico provê a contratração (Fig. 14.39B e

Figura 14.39 Técnicas para redução de luxação posterior do cotovelo. A. Tração-contratração. B. Alavancagem. C. Stimson. D. Kumar.
302 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Vídeo 14.1). O resultado é uma alavanca com força longi- A cirurgia é indicada em casos em que a redução fe­
tudinal suficiente para reduzir o cotovelo. chada fracassar, quando a reluxação ocorrer com 50 a 60°
de flexão, ou quando fraturas instáveis estiverem presen-
É uma modificação da técnica de
Técnica d e S tim so n . tes na articulação. As fraturas pequenas da coronoide
Stimson usada nas reduções de ombro (Fig. 14.39C). não requerem manejo adicional. As fraturas da cabeça do
O paciente deve ser colocado em decúbito ventral, com o rádio e as grandes fraturas da coronoide (envolvendo pelo
cotovelo deslocado pendendo perpendicularmente à mesa. menos 50% do processo coronoide) habitualmente reque­
Um pequeno travesseiro ou campo dobrado deve apoiar o rem reparo cirúrgico após a redução fechada.
úmero logo proximal à articulação do cotovelo. Os pesos
são então suspensos a partir do punho, com o cotovelo Complicações
flexionado em cerca de 30° da posição estendida. Duran­ 1. Lesões nervosas em até 20%. As mais comuns são
te um período de vários minutos, a luxação de cotovelo as dos nervos ulnar e mediano, mas os nervos radial e
do paciente reduzirá. É preferível começar com aproxi­ interósseo anterior também podem ser afetados. Elas
madamente 2,5 kg de peso, que pode ser aumentado, se habitualmente se resolvem com o manejo conservador.
necessário. Essa técnica é a preferida por muitos, por ser 2. Rigidez articular pós-traumática. A perda dos 15° finais
2 f,
a menos provável de produzir manipulação forçada, o que de extensão do cotovelo depois da luxação é comum.
pode resultar em miosite ossificante. 3. Ossificação heterotópica. É comum depois da luxação
posterior do cotovelo (> 75% dos pacientes), mas li­
Técnica d e Kumar. Este método envolve o desencaixe mita o movimento em menos de 5%.
suave do processo coronoide sem tração e hiperextensão
4. Instabilidade crônica.
excessiva, que podem causar dano de tecidos moles quando
o olécrano impactar no úmero inferior. Para executar a
redução, o médico da emergência fica no lado contralateral Luxações anteriores
do cotovelo lesionado do paciente. Com uma das mãos, o As luxações anteriores são muito menos comuns, ocorren­
antebraço do paciente é imobilizado (Fig. 14.39D e Vídeo do a partir de um golpe no cotovelo flexionado, que dirige
14.2). Com a outra mão, o cotovelo é segurado de tal forma o olécrano para diante. As lesões associadas a ossos, vasos
que o polegar fique colocado sobre o olécrano do paciente e nervos em tomo da articulação são muito mais comuns
e os dedos fiquem acima do antebraço. A tração suave é com as luxações anteriores, tomando-a potencialmente
apbcada enquanto o cotovelo do paciente é gradualmente mais problemática.
flexionado para desencaixar o processo coronoide do úme­ Ao exame, o braço parece encurtado e o antebraço
ro inferior. Ao mesmo tempo, o olécrano é empurrado para está alongado e mantido em supinação. O cotovelo é man­
a sua posição com o polegar. Este procedimento dura em tido em extensão completa. A fossa do olécrano é com
tomo de 5 minutos e tem uma taxa de sucesso de 95%. frequência palpável anteriormente.
Todos esses pacientes devem ser imobilizados, e a con­
A redução bem-sucedida é frequentemente anunciada dição vascular e neurológica avabada. A consulta com um
por um som de “estahdo”, quando as superfícies articu­ cirurgião ortopedista deve ser obtida para a redução imedia­
lares retomam a sua posição normal. Depois da redução, ta. Muitas dessas luxações são expostas, e o dano vascular
a estabibdade do cotovelo é verificada na amplitude de é bastante comum. A avulsão completa do mecanismo do
seu movimento. Se uma reluxação ocorrer em extensão, tríceps é outra lesão de tecidos moles comumente associada.
a articulação é potencialmente instável. Os ligamentos la­
teral e medial também podem ser testados com estresse.
BURSITE DO OLÉCRANO
Se o cotovelo permanecer reduzido, é estável e pode ser
imobibzado em 90° com uma braquial longa posterior31 A bursite do olécrano é a forma mais comum de bursite do
(Apêndice A.9). Se houver edema significativo, uma po­ cotovelo vista no setor de emergência. É secundária a trau­
sição ligeiramente menor que 90° é usada. Em caso de ma, uso excessivo, doença por cristais, doença autoimune e
qualquer dúvida quanto à potencial lesão vascular ou sín- infecção. 39 Um terço dos casos são infecciosos (sépticos),
drome compartimentai, o paciente deve ser hospitahzado e deve ser lembrado que o trauma pode causar tanto a bur­
após consulta ortopédica apropriada. site séptica quanto a não séptica. 0,41 A bolsa do olécrano é
Para pacientes com reduções estáveis e que serão li­ a bolsa mais comumente infectada no corpo, respondendo
berados, o tempo de imobihzação é de aproximadamente por aproximadamente 70% dos casos. O Staphylococ-
5 a 7 dias, e o acompanhamento deve ocorrer dentro desse cus aureus é responsável por 80% dos casos. Outros
período. Naquele momento, os exercícios de ampbtude de fatores de risco para a bursite séptica do olécrano incluem
movimento completa devem começar, com o uso de um alcoolismo, estados imunocomprometidos e doença bursal
imobilizador ou tipoia para conforto e suporte. A imobi­ preexistente. 4,4: Aproximadamente um terço dos pacientes
lização por tempo superior a 3 semanas está associada à com bursite séptica do olécrano tem história de um episó­
26
diminuição da ampbtude de movimentos. dio prévio de bursite do olécrano.
Emergências Ortopédicas 303

Figura 14.40 Bursite do olécrano. A . Não infecciosa. B . O edema e o eritema significativos sugeriam etiologia infecciosa,

Exame cos anti-inflamatórios não esteroides e as injeções intra-


No exame do paciente com bursite do olécrano, o exami­ bursais com esteroides apressam a resolução. A injeção
nador nota edema no aspecto posterior do cotovelo, com intrabursal de 20 mg de acetato de metilprednisolona é o
restrição leve da flexão devido à bolsa inflamada (Fig. tratamento mais efetivo, já que promove resolução rápida
14.40). A bolsa apresenta-se dolorosa à palpação. O erite­ e melhoria duradoura. Os esteroides devem ser evitados
ma pode estar presente em pacientes com bursite séptica em qualquer paciente com suspeita de bursite séptica.
e não séptica. Os pacientes com bursite séptica habi­ Em casos de suspeita de bursite séptica, os pacientes
tualmente buscam atenção médica mais cedo e têm mais devem ter a bolsa aspirada e receber antibióticos. O mane­
probabilidade de ter febre/1,4'' Em pacientes com bursi­ jo ambulatorial seletivo com antibióticos orais é bem-su­
te causada por gota ou processos infecciosos, há reação cedido na maioria dos casos. As falhas de tratamento
inflamatória circundante e dor com a movimentação do incluem aquelas com infecção extensa ou doença bursal
cotovelo. O calor pode estar presente tanto na bursite sép­ subjacente/ A aspiração pode precisar ser repetida, contu­
tica como na não séptica, mas a temperatura da superfície do e, raramente, é necessária a incisão e drenagem na sala
entre a bolsa envolvida e o lado não afetado é acentuada- de cirurgia. A colocação de um dreno percutâneo para irri­
mente maior quando a infecção for a causa subjacente. gação por sucção tem sido tentada e parece ser benéfica.
A hospitalização para antibióticos intravenosos efetivos
Diagnóstico contra S. aureus pode ser necessária em casos graves.
O reconhecimento precoce da bursite séptica é funda-
mental para prevenir sequelas graves/ Por essa razão, a LESÕES DE USO EXCESSIVO DO COTOVELO
aspiração é recomendada em todos os casos, e o fluido
enviado para análise de cristais, contagem celular, tingi- A maioria das lesões do cotovelo ocorre pelo uso crônico,
mento com Gram e cultura. Um aspirado purulento é útil especialmente em atletas. Um caminho útil para avaliar
para diagnosticar a bursite séptica, mas o fluido serossan- um paciente com dor no cotovelo é considerar a localiza­
guíneo pode ser séptico ou não séptico. A contagem de ção da dor como indicativa das causas potenciais. Essa in­
células em pacientes com bursite séptica é de habitual­ formação, combinada com a história completa em relação
mente > 1.000 leucócitos/mm3, mas varia desde algumas ao mecanismo de lesão e os achados do exame físico, é
centenas até 300.000. 2’47'" O tingimento com Gram será diagnóstica na maioria das vezes.
positivo em mais da metade dos casos de bursite séptica. A d o r anterior no cotovelo é um problema comum de
Com frequência, a bursite séptica do olécrano não pode apresentação, particularmente no atleta jovem. É causa­
ser definitivamente afastada depois da aspiração, e o tra­ da por um estiramento ou ruptura da cápsula anterior, dos
tamento presuntivo com antibióticos deve ser iniciado até tendões do bíceps distai ou do braquial. Essa lesão pode
que os resultados das culturas retomem. ser causada pela hiperextensão de uma queda sobre o co­
tovelo estendido. O “cotovelo do escalador” é a distensão
Tratamento do tendão do braquial.
A bursite não infecciosa do olécrano é tratada com as­ O osso ectópico pode depositar-se depois de um gol­
piração e aplicação de curativo compressivo, com calor pe traumático no braço anterior. Isso costuma ocorrer
local e medidas preventivas dirigidas à causa. Os fárma- dentro do músculo braquial, após 3 semanas da lesão. A
304 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

prevenção com um agente anti-inflamatório não esteroide epicôndilo lateral. No momento, nenhuma dessas pode ser
e a amplitude de movimento precoce é de suma impor­ implicada como a causa isolada dessa condição. A
tância. A dor anterior no cotovelo pode também resultar característica subjacente é a presença de rupturas na apo-
da compressão do nervo mediano, como na síndrome do neurose dos tendões extensores. 'Muitos pacientes com
pronador. cotovelo de tenista têm fraturas com microavulsão do epi­
A d o r m edial no cotovelo resulta de uma variedade de côndilo lateral somando-se às rupturas microscópicas no
condições, e é bastante comum. Uma fratura do epicôn- próprio tendão.
dilo medial ou uma fratura de estresse podem ocorrer. A O paciente apresenta-se com história de apareci­
epicondilite medial é causada por tendinite do grupo mus­ mento gradual de uma dor incômoda ao longo do aspec­
cular flexor ou pronador. Uma condição incomum chama­ to externo do cotovelo, que se irradia para o antebraço.
da de síndrome do estalido do cotovelo ocorre quando o A dor aumenta com os movimentos de segurar e to rcer .5Í
nervo ulnar tem um ressalto para fora do túnel ulnar. A dor A sensibilidade dolorosa fica localizada sobre o epicôn­
medial no cotovelo pode resultar da instabilidade causada dilo lateral. Um teste confiável para cotovelo de tenista é
pela ruptura aguda ou crônica do ligamento colateral ulnar. produzido ao pedir-se para o paciente estender o cotovelo
A neurite ulnar é uma causa comum de dor medial no co­ e estender ativamente o punho e supinar o antebraço con­
tovelo em atletas devido a localização superficial do nervo tra resistência (Fig. 14.41). Em indivíduos com cotove­
no túnel ulnar, e sua resposta desfavorável aos estresses em lo de tenista, essa manobra intensifica o desconforto.
valgo. A compressão pode ocorrer proximal ao túnel ulnar O exame neurológico deve estar normal. A RMN é útil
em decorrência de um septo intramuscular tenso. O sin­ para identificar as áreas de inflamação sugestivas de epi­
toma mais precoce é a dor na linha articular medial; falta condilite lateral. A ultrassonografia também pode ser útil
63
de jeito; ou peso na mão, nos dedos ou em ambos. Isso é para fazer o diagnóstico.
associado ou exacerbado pelo arremesso ou por atividades O tratamento desta condição no setor de emergência
com mãos acima da cabeça e manifesta-se com dormência é imobilizar o cotovelo em posição flexionada, com o an­
e formigamento nos dedos mínimo e anular. tebraço supinado e o punho estendido. O paciente deve
A d o r p o ste rio r no cotovelo é menos comum do que ser aconselhado a aplicar calor no cotovelo e repousar. Os
a dor medial ou lateral no cotovelo, porém é mais comum agentes anti-inflamatórios, como o ibuprofeno, são bons
que a dor anterior. Os estresses anormais podem causar adjuntos. A imobilização de contraforça ou as “bandas de
dor na inserção do tríceps ou na apófise do olécrano, que cotovelo de tenista” são bastante efetivas para reduzir os
pode apresentar-se de forma similar à doença de Osgood- sintomas e permitir que o indivíduo continue a atividade
-Schlatter. A tendinite do tríceps é uma causa incomum normal (Fig. 14.42). M
de dor posterior no cotovelo e é tratada com repouso. A As injeções de corticosteroide têm demonstrado que
ruptura do tendão do tríceps é muito incomum. Uma fra­ são seguras e benéficas, e os seus efeitos duram de duas a
tura de estresse do olécrano também é uma causa inco­ seis semanas. A técnica para injeção requer que o cotove­
mum de dor no cotovelo que ocorre em atletas que arre­ lo seja flexionado em 45°. A área de maior sensibilidade
messam. Bursite do olécrano é, sem dúvida, a condição dolorosa é identificada; a agulha é inserida em 90° até o
mais encontrada nesse grupo. osso, e então puxada de volta 1 a 2 mm antes de injetar.
A d o r lateral no cotovelo é a localização mais comum O tratamento com terapia de choques, ultrassom e
da dor no cotovelo na população geral. A epicondilite la­ laser tem-se provado de nenhum valor e, de fato, os alon­
teral, discutida subsequentemente, é a causa mais comum. gamentos simples e os exercícios de fortalecimento são os
A interposição do nervo radial no cotovelo pode ocorrer adjuntos mais úteis, à medida que o paciente melhora.
de forma isolada ou junto com a epicondilite lateral. A intervenção cirúrgica pode se provar benéfica em casos
refratários.
EPICONDILITE (COTOVELO DE TENISTA)
A epicondilite pode ocorrer na área lateral ou medial do
úmero distai, no local da inserção tendínea dos músculos
do antebraço. Ambas as lesões são o resultado do uso crô­
nico excessivo, secundárias às tarefas recreativas e ocupa-
• 56,57
cionais.
A epicondilite lateral é mais frequente na quarta e na
quinta décadas. É habitualmente referida pelo termo não
descritivo de “cotovelo de tenista”, porque 10 a 50% dos
jogadores de tênis desenvolvem essa condição. Mui­ Figura 14.41 O cotovelo de tenista pode ser diagnosticado se
tas entidades têm sido implicadas, incluindo a artrite da a dor sobre o epicôndilo lateral é exacerbada quando o pacien­
articulação radioumeral, a bursite radioumeral, a sinovi- te estende o punho e o cotovelo e faz a supinação do antebraço
te traumática da articulação radioumeral e a periostite do contra resistência.
Emergências Ortopédicas 305

seo para dentro do espaço articular. A condição é rara


e costuma ocorrer nos côndilos femorais do joelho (75%
dos casos). Outros locais incluem o domo talar e o capí­
tulo do úmero. Dentro do cotovelo, a condição em geral
afeta os atletas adolescentes (idades entre 12 e 20 anos)
que sobrecarregam e hiperestendem a articulação. Uma
forma adulta foi identificada, embora não esteja claro se o
diagnóstico desses pacientes tenha passado despercebido
quando crianças."
Os ginastas, devido à natureza de seu esporte, são
bastante suscetíveis a essa condição. Os sintomas incluem
bloqueios, “falseios” e crepitação na amplitude de mo­
vimentos. As radiografias podem revelar um corpo solto
dentro da articulação ou uma osteocondrite dissecante de­
monstrável. A RMN é útil em casos suspeitos, quando as
radiografias forem negativas. 1,72
O tratamento é conservador, a menos que existam cor­
pos soltos dentro da articulação que exijam a remoção. O
atleta deve abster-se de participar de esportes competitivos
Figura 14.42 Colocação de uma banda para cotovelo de tenis­ por seis a oito semanas. O tratamento conservador para
ta. A borda proximal da banda deve ser colocada de 2 a 3 cm as exacerbações agudas consiste em imobilizar o cotovelo
distalmente ao epicôndilo lateral, sobre os músculos extensores. por três ou quatro dias, medicamentos anti-inflamatórios
e aplicação de calor. Se os sintomas mecânicos ocorrerem
e persistirem, é necessária uma intervenção artroscópica
A epicondilite medial (“cotovelo de golfista”) é a in­
para remover os corpos livres. Para mais informações, o
flamação na origem dos flexores do punho. É caracteriza­
leitor é encaminhado ao Capítulo 6.
da por dor sobre o epicôndilo medial e dor medial à flexão
forçada do punho (Fig. 14.43). O tratamento da epicondi­
lite medial é similar ao da epicondihte lateral. Tendo em LESÕES LIGAMENTARES
vista a grande proximidade do nervo ulnar, o anestésico
As entorses que envolvem os ligamentos colaterais ul­
local usado com a injeção de corticosteroide pode causar
nar e radial do cotovelo seguem-se às lesões agudas ou
paralisia temporária do nervo ulnar. O manejo conserva­
crônicas por uso excessivo. Estas lesões são diagnostica­
dor é adequado na maioria dos casos, mas pode levar mui­
das pela testagem apropriada com estresse dos ligamen­
tos meses. Como último recurso, a intervenção cirúrgica
tos envolvidos (Fig. 14.44). Quando houver abertura da
pode ser necessária.
articulação em um exame de estresse, deve-se sempre
avaliar a condição neurológica para excluir déficits as­
OSTEOCONDRITE DISSECANTE sociados. O tratamento com imobilização do cotovelo
em posição flexionada é o manejo apropriado no setor de
A osteocondrite dissecante refere-se a uma condição em
emergência na maioria dos casos.
que a necrose óssea subcondral focal leva à ruptura da car­
tilagem articular e ao deslocamento de um fragmento ós­

Figura 14.43 Um teste para epicondilite medial. A flexão for­ Figura 14.44 Teste de estresse dos ligamentos colaterais do
çada do punho causa dor sobre o epicôndilo medial. cotovelo.
306 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Lesão do ligamento colateral ulnar


A lesão do ligamento colateral ulnar é um problema co­
mum em atletas que fazem arremessos acima da cabeça.
O complexo ligamentar inclui três porções: feixe anterior,
feixe posterior e feixe oblíquo. Uma entorse ou ruptura
desse ligamento compromete estabilidade medial da ar-
ticulação do cotovelo. Desse modo, é importante um
diagnóstico preciso, indicando o grau de ruptura, para de­
terminar o tratamento apropriado.
A história e o exame são essenciais para diagnosticar
a insuficiência do ligamento colateral ulnar, já que exis­
te sensibilidade dolorosa medialmente sobre o ligamento.
Existe sensibilidade dolorosa em ponto inferior e distai ao
epicôndilo medial. A sensibilidade dolorosa da linha arti­
cular medial posterior também está presente. Deve-se exa­ Figura 14.45 Queda do punho vista em uma neuropatia radial.
minar o nervo ulnar dentro do sulco ulnar, já que ele pode,
às vezes, ser envolvido na lesão.7 As radiografias de rotina
Entretanto, os déficits motores incluem a paralisia do bra-
podem mostrar calcificações dentro do ligamento ou dos
quiorradial, do supinador e dos extensores do punho - iden­
esporões de tração crônicos por estresses repetitivos.
tificada pela queda do punho ao exame (Fig. 14.45). Os dé­
Repouso, gelo e medicamentos anti-inflamatórios
ficits sensitivos incluem a perda da sensibilidade do espaço
constituem a base da terapia. O tratamento de qualquer
interdigital dorsal entre o polegar e o dedo indicador.
paciente com abertura significativa deve incluir um molde
posterior com o cotovelo em 90° de flexão. Pelo fato de
Paralisia alta do nervo radial
o cotovelo ser uma articulação de dobradiça, a abertura
indica ruptura significativa da cápsula articular. Quando A lesão do nervo radial acima do cotovelo é incomum e
ocorre a abertura medial da articulação, pode haver lesão costuma ser secundária a traumas, como o uso de mule­
associada (estiramento) da artéria braquial e, por conse­ tas ou de torniquetes. Essa lesão é diferenciada das outras
guinte, os pulsos devem ser sempre verificados. Em casos formas de lesão do nervo radial, porque o músculo tríceps
graves, a intervenção cirúrgica pode ser necessária para está envolvido.
restabelecer a estabilidade. É realizada, inicialmente Quando a compressão ocorre no nível em que o nervo
uma artroscopia. ' A reconstrução (também conhecida radial faz a volta em tomo do úmero, a lesão é às vezes
nos Estados Unidos como “cirurgia de Tommy John”) chamada de “paralisia do sábado à noite”. Essa condição
pode ser necessária em atletas, já que a lesão encerra a pode ocorrer depois das fraturas do úmero ou após uma
A
carreira do *1 + 81>82
atleta. compressão (p. ex., pacientes alcoolizados que adorme­
cem com o seu braço descansando atrás de uma cadeira).
A lesão nervosa no sulco espiral também pode ser
NEUROPATIAS vista em lesões da ginástica ou na luta livre olímpica.
As neuropatias compressivas podem ser sutis e são, mui­ A compressão pode ocorrer na área fibrosa em torno da
tas vezes, desconsideradas na extremidade superior. Es­ origem da cabeça lateral do tríceps, ou no septo intermus-
sas lesões nervosas são classificadas em três tipos: neuro- cular. Nessa lesão compressiva, ocorre envolvimento mo­
praxia, axonotmese e neurotmese, conforme descrito no tor e sensitivo misto.
Capítulo 1. Poucas lesões se ajustam exclusivamente em O tratamento conservador com tala volar com o punho
uma categoria. em 20° de extensão muitas vezes resulta em recuperação
completa, embora o tempo seja variável. 4 A exploração
A neuropraxia é a forma mais leve, que é caracteriza­
da por função reduzida, mas preserva a continuidade ana­ cirúrgica do nervo radial somente é indicada quando os sin­
tômica dentro do nervo. Esta lesão é causada pela perda tomas persistirem ou se houver evidência de degeneração.
da excitabilidade axonal ou desmielinização segmentar. É
Síndrome do túnel radial
a lesão nervosa mais comum. Na axonotmese, existe lesão
axonal e degeneração distai, com o tecido conjuntivo que O túnel radial é definido pelas estruturas anatômicas do
sustenta a estrutura nervosa permanecendo intacto. Na cotovelo até a extensão distai do músculo supinador.
neurotmese, existe uma ruptura completa do nervo.
83 Esse é o local mais comum para uma neuropatia compres­
siva do nervo radial. A compressão é geralmente causada
por uma banda fibrosa de tecido e ocorre em muitos locais
Neuropatia radial
dentro do túnel radial.83,86,87
A neuropatia radial que ocorre no nível ou distai ao sulco Os pacientes reclamam de dor e ardência logo distai
radial do úmero retém a força motora do músculo tríceps. ao epicôndilo lateral, acima da massa muscular extenso-
Emergências Ortopédicas 307

ra. Tal condição pode ser confundida com epicondilite Síndrome do nervo interósseo anterior
lateral, mas, ao exame, a sensibilidade dolorosa máxima A síndrom e do n ervo interósseo a n terio r é incomum e
será produzida sobre o colo radial anterior. Existe uma pode apresentar-se clinicamente com dor vaga no antebra­
dor profunda, crônica, que é comum à noite, diversa da ço ou dor ao realizar uma atividade. O nervo interósseo
dor cortante, em pontada, da epicondilite lateral. anterior é um ramo do nervo mediano. Em contraste com
Não há nenhum envolvimento sensitivo verdadeiro, pois a síndrome do pronador, a dor é produzida com a flexão
o ramo sensitivo do nervo radial é mais superficial e não contra resistência do dedo médio. A atrofia muscular sem
passa pelo túnel radial. A fraqueza motora é incomum. déficits sensitivos é encontrada tardiamente. A fraqueza
O paciente com a síndrome do túnel radial com frequên­ motora começa um dia depois de a dor ser percebida.
cia relata dor com a supinação resistida do antebraço es­ A síndrom e do túnel do carpo , o local mais comum de
tendido, que toma-se pior com a flexão do punho. compressão do nervo mediano, é abordada no Capítulo 12.
O tratamento consiste em repouso, anti-inflamatórios
e imobilização do punho por três a seis meses. Se não Neuropatia do ulnar
houver nenhuma melhoria, a descompressão cirúrgica
pode ser indicada. A neuropatia do ulnar resulta em prejuízo da adução ou da
abdução dos dedos em função da perda da força motora
Neuropatia do mediano dos músculos interósseos. Os déficits sensitivos incluem a
perda da sensibilidade do dedo mínimo. Os déficits fixos
A lesão do nervo mediano proximal ao cotovelo resulta são raros, mas a lesão característica é de uma “mão em
em perda na sensibilidade da superfície palmar do pole- garra” com hiperextensão na articulação metacarpofalân-
gar e dos dedos indicador e médio. Os déficits motores gica dos dedos anular e mínimo, com flexão nas articula­
incluem perda da pronação do antebraço, da flexão do ções interfalângicas proximal e distai (Fig. 14.46).
punho e dos dígitos e da abdução do polegar. Os déficits
crônicos resultam em atrofia muscular tenar. Síndrome do túnel ulnar
Existem várias síndromes do nervo mediano que A síndrom e do túnel uln a r é uma síndrome compressiva
ocorrem no cotovelo e no antebraço, somente algumas se­ do nervo ulnar próximo do cotovelo, sendo a segunda neu­
rão abordadas aqui. ropatia compressiva mais comum na extremidade supe-
87 92
rior. ’ O nervo desce do braço sem ramificação e passa
Síndrome do pronador através do sulco entre o epicôndilo medial e o olécrano.
A síndrom e do p ro n a d o r é uma neuropatia compressiva Esse é um local potencial de compressão ou tração. En­
do nervo mediano em quaisquer dos vários locais no co­ tretanto, o local mais comum de compressão é de 1 a 2
tovelo e no antebraço proximal. Os locais adjacentes ao cm distalmente ao sulco ulnar. Nessa localização, o nervo
músculo pronador redondo incluem (1) debaixo da apo- passa para o túnel ulnar e entre as duas cabeças do flexor
93
neurose bicipital e (2) quando o nervo passa entre as cabe­ ulnar do carpo.
ças umeral e ulnar. Essa síndrome é vista em atletas O ato de arremessar é frequentemente responsável
cujos esportes requerem pronação forte repetitiva e esfor­ pela tração do nervo ulnar no cotovelo do atleta. Segurar
ços de preensão.
Vários indicadores clínicos ajudam a confirmar o
diagnóstico de síndrome do pronador. A dor com a prona­
ção contra resistência quando o cotovelo é estendido e o
punho é flexionado sugerem o local de compressão dentro
do pronador redondo. Um dos testes mais sensíveis para
a síndrome do pronador é quando a palpação profunda e
direta do antebraço proximal, sobre o pronador redondo,
reproduzir os sintomas.
Essa condição pode ser confundida com a síndrome
do túnel do carpo, já que ambas causam dormência, pares-
tesias e fraqueza muscular na distribuição do nervo me­
diano.8^Algumas diferenças observadas incluem a falta de
sintomas noturnos na síndrome do pronador e o sinal de
Tinel negativo.
A investigação inclui radiografias e estudos eletro-
diagnósticos. O manejo inicial é com repouso, anti-infla-
matórios e imobilização ocasional. O tratamento cirúrgico Figura 14.46 "Mão em garra" que ocorre secundária a uma
somente é necessário quando os sintomas forem refratá- paralisia do nervo ulnar. O paciente teve diagnóstico de síndro-
83
rios por 6 meses ou mais. me do túnel ulnar.
308 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

uma ferramenta em posição repetitiva pode levar a essa 14. Wu J, Perron AD, Miller MD, et al. Orthopedic pitfalls in
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ciar da neuropatia causada em outro local. O teste de fle­ SurgBr 1989;71(1): 141.
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O tratamento conservador consiste em repouso, gelo, children. J Bone Joint Surg Am 1990;72(8): 1211-1215.
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Capítulo 15
Braço

FRATURAS DO BRAÇO
FRATURAS DA DIÁFISE DO ÚMERO Anatomia essencial
A extensa musculatura que circunda a diáfise do úmero
A diáfise do úmero se estende da inserção do peitoral
pode resultar em distração e deslocamento dos fragmentos
maior até as cristas supracondilianas. As fraturas da diá­
ósseos após a fratura. O deltoide tem sua inserção ao lon­
fise, do umero são, a maioria delas, vistas com mais fre­
go da diáfise do úmero anterolateral, enquanto o peitoral
quência em pacientes com mais de 50 anos e envolve o
maior a tem no sulco intertubercular medial (Fig. 15.3).
terço médio da diáfise. Existem quatro padrões básicos
O supraespinal se insere no tubérculo maior da cabeça do
vistos em fraturas da diáfise do úmero.
úmero, proporcionando abdução e rotação externa. O bí­
1. Transverso ceps e o tríceps se inserem distalmente e tendem a deslo­
2. Oblíquo car em direção superior o fragmento distai.
3. Espiral As fraturas proximais à inserção do peitoral maior
4. Cominutivo podem ser acompanhadas por abdução e rotação externa
da cabeça do úmero devido à ação do supraespinal (Fig.
O tipo de fratura depende do mecanismo da lesão, da 15.3A). Uma fratura entre a inserção do peitoral maior e
sua força, da localização da fratura e do tônus muscular o deltoide habitualmente resulta em adução do fragmen­
no momento da lesão. Cada um dos padrões de fratura ci­ to proximal pela tração do peitoral maior (Fig. 15.3B).
tados pode ser também classificado com base na presença As fraturas distais à inserção do deltoide muitas vezes re-
de deslocamento ou angulação (Figs. 15.1 e 15.2).

Figura 15.2 Fraturas da diáfise do úmero - deslocadas ou an­


Figura 15.1 Fraturas da diáfise do úmero - não deslocadas. guladas.
312 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Músculo Músculo

Figura 15.3 Nas fraturas da diáfise, os músculos do úmero proximal causam o deslocamento dos fragmentos da fratura. Cinco mús­
culos são importantes no deslocamento das fraturas nessa região: o deltoide, o supraespinal, o peitoral maior, o bíceps e o tríceps.
A. Em fraturas entre o manguito rotador e o peitoral maior, ocorrem a abdução e a rotação do fragmento proxim al. B. As fraturas que
ocorrem entre a inserção do peitoral maior e a do deltoide estão associadas com deformidade de adução do fragmento proxim al. C.
As fraturas que ocorrem abaixo da inserção do deltoide estão associadas com abdução do fragmento proxim al.

sultam em abdução do fragmento proximal pela tração do Exame


músculo deltoide (Fig. 15.3C). O paciente apresenta dor e edema sobre a área da diáfise
O feixe neurovascular da extremidade superior se es­ do úmero. Ao exame, é possível detectar encurtamento,
tende ao longo da borda mediai da diáfise do úmero. Em­ deformidade óbvia ou mobilidade anormal com a crepi­
bora seja verdade que quaisquer dessas estruturas possam tação (Fig. 15.5). É imperativo que um exame neurovas-
sofrer uma fratura, a estrutura mais comumente ferida é o
nervo radial. O nervo radial fica em grande proximidade
à diáfise do úmero, na junção do terço médio com o distai
(Fig. 15.4). As fraturas nessa área são, com frequência,
acompanhadas por déficit do nervo radial.

Mecanismo de lesão
Vários mecanismos causam fraturas da diáfise do úmero.
O mecanismo mais comum de lesão é a força direta resul­
tante de uma queda ou um golpe direto. Em geral, uma
força direta resulta em fratura transversa.
O mecanismo indireto envolve uma queda sobre o co­
tovelo ou o braço estendido. Além disso, uma contração
violenta em uma área de osso patologicamente enfraque­
cido pode resultar em fratura. O mecanismo indireto re­
sulta em fratura espiral.
Uma lesão relativamente menor pode resultar em fra­
tura da diáfise umeral em pacientes portadores de prótese
da cabeça do úmero. Essa fratura ocorre depois de fresa- Figura 15.4 O nervo radial cursa no septo intermuscular late­
gem ou impacção excessiva durante o encaixe e a fixação ral, ao longo do aspecto lateral do úmero, e pode ser envolvido
da prótese. em fraturas da diáfise.
Emergências Ortopédicas 313

Figura 15.5 Paciente com fratura de diáfise do úmero. Figura 15.6 Fratura com inutiva da diáfise do úmero no seu
terço distai.

cular completo acompanhe a avaliação inicial de todas as


fraturas da diáfise do úmero. completa e envolver fibras motoras ou sensitivas. A dis­
O examinador deve dar ênfase especial à função de função motora completa está presente em mais da metade
nervo radial e documentar o tempo em que a lesão do ner­ dos casos. A maioria dos casos de disfunção do nervo
vo radial for inicialmente detectada. Essa informação é radial ocorre no momento da lesão, mas até 20% se desen-
3 6
importante porque: volvem durante o tratamento. ’
1. O dano no momento da lesão é, com mais frequência, Tratamento
uma neuropraxia.
As fraturas da diáfise do úmero podem ser tratadas por
2. O dano detectado depois da manipulação ou imobi­
vários métodos, dependendo do tipo da fratura, da quanti­
lização pode levar à axonotmese se a pressão não for
dade de deslocamento e da presença de lesões associadas.
diminuída.
Essas fraturas podem ser divididas em dois tipos: (1) não
3. O dano detectado durante a consolidação é devido a deslocadas ou (2) deslocadas ou anguladas.
uma axonotmese lentamente progressiva.
Não deslocada. As fraturas não deslocadas da diáfise
Imagens do úmero podem ser transversas, oblíquas, espirais ou co-
As incidências anteroposterior e lateral de todo o úmero minutivas. O manejo de emergência dessas fraturas inclui
são essenciais (Fig. 15.6). gelo, analgésicos e aplicação de tala de coaptação, com
encaminhamento precoce (Fig. 15.7 e Apêndice A. 12).
Lesões associadas A imobilização de sustentação ou tipoia e suporte devem
As fraturas da diáfise do úmero podem ser associadas a ser aplicados (Apêndice A.13).
várias lesões significativas, incluindo lesão da artéria bra­ As fraturas da diáfise do úmero levam de 10 até 12
quial, lesão nervosa ou fraturas adicionais do ombro ou do semanas para consolidar. As fraturas espirais consolidam
úmero distai. A lesão do nervo radial é mais comum do com mais rapidez do que as transversas, devido a sua
que a lesão dos nervos ulnar ou mediano. A lesão do nervo maior área de superfície. As fraturas próximo ao cotovelo
radial está presente em 6 a 15% das fraturas da diáfise ou ao ombro estão associadas a períodos de consolidação
umeral. ’Essas lesões estão associadas a fraturas espirais mais longos e a piores resultados.
do terço distai, mas também podem ser vistas nas fraturas
do terço médio ou depois de fraturas diferentes do padrão Deslocada ou angulada. O manejo de emergência des­
espiral (p. ex., transversal). A lesão pode ser parcial ou sas fraturas inclui gelo, analgésicos, aplicação de tala de
314 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Figura 15.7 Uma tala de cooptação em forma de "U ", às vezes chamada de "pinça de confeiteiro", é aplicada às fraturas da diáfise
do úmero para manter a redução. O braço é suspenso pelo punho a partir do pescoço em um aparato de suporte.

coaptação (ver Fig. 15.7) e encaminhamento urgente. As paralisias do nervo radial depois das fraturas da
Uma tipoia ou sustentação devem ser usados para o apoio diáfise do úmero eram, de modo tradicional, indicação
do antebraço. para exploração cirúrgica, mas esse tratamento tem sido
A terapia definitiva selecionada é conservadora na preterido porque (1) a transecção está presente em somen­
maioria dos casos e inclui o uso continuado da tala de te 12% dos casos, (2) a regeneração espontânea do nervo
cooptação ou a imobilização funcional com órtese de é comum e (3) a intervenção cirúrgica tardia não afeta ad­
plástico ajustada (Fig. 15.8). Esses métodos fornecem versamente o desfecho.
a tração pela pendência, com o objetivo de corrigir a an- A intervenção cirúrgica em geral requer fixação com
gulação e o deslocamento. A imobilização funcional tem placa. As indicações para o manejo operatório das fratu­
a vantagem de permitir o movimento do cotovelo e do ras da diáfise do úmero incluem:
ombro durante a consolidação, o que melhora o desfecho
• Incapacidade de manter o alinhamento de menos de
funcional. Como a posição reclinada pode alterar a efeti­
15° de angulação.
vidade da consolidação, o paciente deve ser instruído para
dormir em posição semissentada. Essa também é a razão • Falta de cooperação com as técnicas conservadoras.
pela qual uma tipoia não é recomendada, já que pode neu­ • Lesão da artéria braquial (consultoria de emergência).
tralizar a capacidade da gravidade de auxiliar corretamen­ • Lesões adicionais que exijam a posição deitada por
te a redução. Os gessados braquiais, antigamente popula­ tempo prolongado, não permitindo a tração pela força
res, já têm sido amplamente substituídos. O paciente deve da gravidade.
começar de imediato os exercícios da mão; e os exercícios • Fraturas associadas que requerem mobilização precoce.
de circundução do ombro são iniciados assim que a dor • Tecidos moles interpostos que não permitem o alinha­
permitir. mento apropriado.
• Lesão do plexo braquial. Se o plexo braquial sofrer
lesão, os tecidos moles que circundam os músculos
do braço perdem a sua estabilidade. O alinhamento
será difícil de manter, uma vez que a gravidade distrai
as extremidades da fratura.
• Fraturas segmentar, patológica, expostas ou bilaterais
da diáfise do úmero.

Complicações
As fraturas da diáfise do úmero podem desencadear várias
complicações significativas:
1. O desenvolvimento de capsulite adesiva do ombro pode
ser prevenido com exercícios precoces de circundução.
2. É possível o desenvolvimento de miosite ossificante
do cotovelo. Ela pode ser evitada com exercícios ati­
vos de rotina.
Figura 15.8 Órtese funcional usada para tratar fraturas da diá­ 3. O desenvolvimento tardio de paralisias do nervo radial.
fise do úmero. 4. Não união ou união retardada.
Emergências Ortopédicas 315

LESÃO DE TECIDOS MOLES E LUXAÇÕES DO BRAÇO


RUPTURA DO TENDÃO DO BÍCEPS Ruptura da cabeça longa do tendão do bíceps
O músculo bíceps braquial é flexor e supinador do bra­ A ruptura da cabeça longa do bíceps pode ocorrer em
ço. O músculo tem duas inserções proximais, sendo a qualquer ponto. A condição ocorre com frequência em
cabeça curta originada no processo coracoide e a cabe­ homens durante a sexta ou a sétima décadas de vida, após
ça longa logo acima da glenoide. A inserção distai fica uma tenossinovite bicipital crônica que tenha deixado
na tuberosidade do rádio (Fig. 15.9). A ruptura dessa o tendão enfraquecido. Em pacientes mais jovens, pode
unidade m uscular não é incomum, pois, tal como os ocorrer de forma mais repentina, após a contração forte
músculos gastrocnêmio e isquiotibiais, ela é exposta a do bíceps durante a elevação de um objeto (p. ex., levan­
forças potenciais maiores por cmzar duas articulações. tamento de peso).15,16
A m ptura pode ocorrer na cabeça longa do tendão do O paciente em geral relata uma dor aguda imediata na
bíceps, na porção musculotendínea, no ventre muscu­ região do sulco bicipital, sendo percebido que o bíceps está
lar ou na inserção distai. A ruptura da cabeça longa do edemaciado dentro do braço. Existe sensibilidade dolorosa
tendão do bíceps é mais comum, enquanto a ruptura à palpação no sulco bicipital. O diagnóstico é confirmado
muscular é a menos comum. A apresentação, seja de solicitando ao paciente para contrair o bíceps com o braço
uma ruptura proximal ou distai, é de um braço “do tipo abduzido e extemamente rodado em 90°, quando a flexão no
Popeye” (Fig. 15.10). cotovelo fará com que o bíceps afaste-se do ombro.
Para o tratamento definitivo, a reinserção cirúrgica ao
sulco bicipital é recomendada na maioria dos pacientes
ativos.18,19 Em pacientes idosos com essa condição, o re­
paro pode não ser indicado. Se for decidido não reparar o
tendão, os pontos negativos incluem o aspecto estético do
braço e perda na força de flexão do cotovelo de aproxima­
damente 10 a 20%, o que costuma ser bem tolerado.
O paciente com ruptura aguda do ventre muscular do
bíceps é tratado de forma conservadora com um Velpeau,
com o cotovelo flexionado para 90° (Apêndice A.13).

Figura 15.10 Paciente com ruptura do tendão do bíceps. O b ­


servar o aspecto de "Popeye" do músculo.
316 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Ruptura do tendão distai do bíceps O médico deve afastar a possibilidade de fratura sub­
jacente e testar o nervo radial em uma contusão no as­
A ruptura do tendão distai do bíceps é mais comum no
pecto lateral distal do braço. A contusão do nervo radial,
braço dominante de homens entre 40 e 60 anos e ocorre
onde ele passa junto ao úmero ao longo do sulco espiral,
como resultado de uma carga excêntrica súbita com o co­
é uma lesão não frequente. Conforme o nervo desce, vai
tovelo flexionado.“ Essa lesão é menos comum do que a
lateralmente sobre a crista epicondiliana lateral e toma-se
ruptura proximal, respondendo por 3% das lesões do ten­
mais sucetível a contusões por um golpe direto. O pacien­
dão do bíceps, embora pareça estar se tomando mais co­
te queixa-se da sensação de formigamento que desce ao
mum, possivelmente devido ao aumento no nível de ativi­
antebraço e também à mão, por sobre a distribuição do
dade dos pacientes em suas quinta e sexta décadas. Em
nervo. O tratamento é sintomático.
geral, existe a história de uma sensação de ruptura acom­
Os pacientes com contusões repetidas no braço po­
panhada de dor na região da fossa antecubital. De forma
dem desenvolver deposição óssea ectópica. A exostose
similar à ruptura da cabeça longa do bíceps, os pacientes um eral lateral a n terio r , também chamada de exostose do
apresentam deformidade visível do ventre muscular e fra­ bloqueador, devido a sua associação à posição no futebol
queza à flexão e supinação. As rupturas parciais podem americano, é uma deposição anormal de osso na inserção
não apresentar a mesma retração e deformidade muscu­ do músculo deltoide sobre o úmero. A lesão é desencadea­
lar e são, por conseguinte, mais difíceis de diagnosticar. da por um golpe direto nessa região, produzindo contusão
Se o diagnóstico não estiver claro, a ultrassonografia ou e periostite na inserção do tendão do deltoide. Mais tar­
a RMN podem ser úteis. A mptura aguda do tendão distai de, uma exostose potencialmente dolorosa e irritativa se
do bíceps é tratada com reinserção cirúrgica precoce para desenvolve no local da lesão. Quando ocorre desconforto
manter a força. As rupturas parciais acima de 50% da significativo, o paciente deve ser encaminhado para ava­
largura do tendão também precisam de cirurgia.2 liar a possibilidade de uma excisão.

SÍNDROME COMPARTIMENTAL DO BRAÇO REFERÊNCIAS


Existem três compartimentos no braço. O compartimen­ 1. Brien WW, Gellman H, Becker V, et al. Management of
to flexor anterior contém os músculos bíceps e braquial, fractures of the humerus in patients who have an injury
enquanto o compartimento extensor posterior contém o of the ipsilateral brachial plexus. J Bone Joint Surg Am
tríceps. O músculo deltoide está cercado por sua própria 1990;72(8): 1208-1210.
fáscia, que é o terceiro compartimento. 2. Bonutti PM, Hawkins RJ. Fracture of the humeral shaft as­
A síndrome compartimentai do braço é rara e muito sociated with total replacement arthroplasty of the shoulder.
menos comum do que no antebraço e na perna. Existem A case report. J Bone Joint Surg Am 1992;74(4):617-618.
várias explicações para a incidência infrequente dessa 3. Kettelkamp DB, Alexander H. Clinical review of radial
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Todavia, a síndrome compartimentai do braço foi re­ Bone Joint Surg Am 1981 ;63(2):239-243.
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bolítico e uso do torniquete. sy in shaft fracture of the humerus. Acta Orthop Scand
A apresentação clínica é similar à de outras locali­ 1986;57(4):316-319.
zações, exceto que a síndrome compartimentai do braço 7. Sarmiento A, Zagorski JB, Zych GA, et al. Functional
pode não ser tão óbvia ou aparecer tão depressa, aumen­ bracing for the treatment of fractures of the humeral di-
tando o potencial para que passe facilmente despercebida. aphysis. J Bone Joint Surg Am 2000;82(4):478-486.
As medidas diagnósticas e o tratamento são idênticos à 8. Sarmiento A, Latta LL. Functional fracture bracing. JAm
síndrome compartimentai em outras localizações, e o lei­ Acad Orthop Surg 1999;7(l):66-75.
tor deve deter-se à discussão no Capítulo 4 para informa­ 9. Sarmiento A, Horowitch A, Aboulafia A, et al. Func­
ções adicionais. tional bracing for comminuted extra-articular fractures
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CONTUSÕES DO BRAÇO
10. Sarmiento A, Kinman PB, Galvin EG, et al. Functional
As contusões nos músculos do braço são comuns, mas não bracing of fractures of the shaft of the humerus. J Bone
incapacitantes, sem maiores complicações. O tratamento Joint Surg Am 1977;59(5):596-601.
para essas lesões é uma tipoia para proteção. O gelo nas 11. Camden P, Nade S. Fracture bracing the humerus. Injury
primeiras 24 horas é recomendado, seguido de calor. 1992;23(4):245-248.
Emergências Ortopédicas 317

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Capítulo 16
Ombro
INTRODUÇÃO
O ombro é composto do úmero proximal, da clavícula e
da escápula. As articulações do ombro incluem a ester- Ligamento
glenoumeral superior
noclavicular, a acromioclavicular e a glenoumeral. Existe
também uma articulação entre a escápula e o tórax. As Ligamento
Figuras 16.1 e 16.2 mostram a anatomia essencial, tanto glenoumeral médio
óssea como ligamentar, que deve ser conhecida para en­
Ligamento
tender os distúrbios que envolvem o ombro. Superficial­ glenoumeral inferior
mente aos ligamentos estão os músculos que dão suporte
ao ombro e fornecem a sua amplitude de movimento glo­ Tendão do bíceps
bal. O manguito rotador circunda a articulação glenoume­
ral, sendo composto dos músculos redondo menor, infra-
espinal e supraespinal (inseridos no tubérculo maior) e do
músculo subescapular (inserido no tubérculo menor) (Fig. Figura 16.2 O s ligamentos em torno do ombro.
16.3). Superficialmente a esses músculos fica o deltoide,
que age como abdutor do ombro.
A clavícula é um osso oblongo, cuja porção média é
tubular e a porção distai é achatada. Está ancorada à es­ A escápula consiste em corpo, espinha, glenoide,
cápula pelos ligamentos acrom ioclavicular e coracoclavi- acrômio e processo coracoide. O osso está recoberto
cular. Os ligamentos esternoclavicular e costoclavicular com músculos grossos sobre todo o seu corpo e espinha.
ancoram a clavícula medialmente (Fig. 16.4). A clavícula Na superfície posterior, o músculo supraespinal cobre a
é o ponto de inserção para os músculos estemocleidomas- fossa superior à espinha, enquanto o infraespinal cobre a
tóideo e subclávio. Os ligamentos e os músculos agem em fossa abaixo da espinha. A superfície anterior da escápula
conjunto para ancorar a clavícula e, desse modo, manter é separada do gradil costal pelo músculo subescapular.
a largura do ombro e ser ponto de inserção do ombro no Esses músculos oferecem proteção e suporte à escápula,
esqueleto axial. que está conectada ao esqueleto axial somente pela ar­
ticulação acromioclavicular. O restante do suporte esca-
pular vem da espessa musculatura de revestimento que
circunda a sua superfície.
Articulação
esternoclavicular
Articulação
acromioclavicular Processo
coracoide
Acromioclavicular Esternoclavicular
Coracoacromial / Coracoclavicular
Tubérculo
maior

Tubérculo
menor

Articulação
glenoumeral

Costoclavicular
Articulação
escapulotorácica

Figura 16.3 As inserções ligamentares da clavícula ao esterno


Figura 16.1 A anatomia essencial do ombro. medialmente e ao acrômio lateralmente.
Emergências Ortopédicas 319

Vista anterior

Tendão do Arco
subescapular coracoacromial
Vista posterior

Tendão do
supraespinal Músculo
supraespinal

Músculo
infraespinal

Músculo
redondo menor

Figura 16.4 O manguito rotador.

Exame Várias estruturas são palpadas em tomo do ombro,


sendo locais comuns de patologia. A palpação do ombro
Ao avaliar o ombro, começar pelo exame das estruturas
começa na incisura supraestemal. A articulação esterno-
neurovasculares. As lesões neurovasculares muitas vezes
clavicular é encontrada logo lateral à incisura. A clavícula
acompanham as lesões traumáticas do ombro. As estru­
turas mais próximas do ombro incluem o plexo braquial,
o nervo axilar e a artéria axilar (Fig. 16.5). A amplitude
de movimentos do ombro é avaliada testando a rotação
interna e externa, bem como a abdução. A rotação externa
até 90° é normal. Para testar a rotação interna, fazer com
que o paciente ponha a sua mão nas costas e suba gra-
dualmente pela coluna. A rotação interna normal permite
alcançar a base da escápula. A abdução e a flexão normais
do ombro ficam em 180°.
A articulação glenoumeral e a articulação escapulo-
torácica agem como uma unidade para abduzir o úmero.
A proporção do movimento escapular ao glenoumeral é
de 1:2; por conseguinte, para cada 30° de abdução do bra­
ço, a escápula se move 10° e a articulação glenoumeral
se move 20° (Fig. 16.6). Se a articulação glenoumeral for
completamente imobilizada, a escapulotorácica é capaz
de fornecer 65° de abdução isoladamente. É importante
que o médico esteja ciente desse mecanismo de “encolhi­
mento dos ombros” ao avaliar os movimentos na articula­
ção do ombro, que podem ser prejudicados por algumas
entidades patológicas.
Na articulação estemoclavicular, a clavícula é elevada
em 4o para cada 10° de abdução do ombro. Essa elevação
continua até que 90° de abdução sejam obtidos. A ampli­
tude de movimentos na articulação acromioclavicular é de
aproximadamente 20°. Esse movimento ocorre durante os Figura 16.5 O curso das estruturas neurovasculares importan­
primeiros 30° e depois de 100° de abdução. tes que circundam o ombro.
320 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Figura 16.6 A proporção do movimento glenoumeral para o escapulotorácico é de 2 :1 . Em 90° de abdução, 60° ocorrem na arti­
culação glenoumeral e 30° na articulação escapulotorácica. Com o mecanismo de encolher os ombros, é possível abduzir o ombro
em 65° devido ao movimento escapulotorácico, embora não haja nenhum movimento na articulação glenoumeral.

é levemente superior ao manúbrio, e realmente é palpada podem ser testados pela avaliação da força. O músculo
a extremidade proximal da clavícula nesse ponto. A claví­ subescapular é responsável pela rotação interna do ombro.
cula é superficial em toda a sua extensão e pode ser facil­ Fazer o paciente segurar a mão atrás das costas, no nível
mente palpada. da cintura, e tentar afastá-la para longe do corpo, contra
A articulação a cro m io cla vicu la r é palpada empur­ resistência. O músculo supraespinal abduz a cabeça do
rando a extremidade distai da clavícula em direção me­ úmero. Para isolá-lo, o braço é mantido na vertical, no
dial, quando ela protrui acima do acrômio, que é plano. plano da escápula, com o polegar virado para baixo (como
A articulação acromioclavicular é mais facilmente pal­ se esvaziando um copo). O paciente eleva o braço contra
pada se for pedido ao paciente para mover o ombro di­ resistência. Tanto o infraespinal como o redondo menor
versas vezes enquanto o examinador palpa a articulação. rodam externamente o braço, embora o infraespinal seja
O tubérculo m a io r do úmero fica lateral ao processo do responsável por 90% dessa força de rotação.
acrômio e pode ser palpado seguindo-se o processo do Há quatro bolsas em tomo do ombro. A mais impor­
acrômio até a sua borda lateral e deslizando os dedos para tante delas é a su b a c ro m ia l (sub d e lto id e a), pois separa
baixo. Existe um pequeno degrau entre a borda lateral do os músculos do manguito rotador do músculo deltoide,
acrômio e o tubérculo maior. do acrômio e do arco coracoacromial (Fig. 16.7). A bol-
O sulco bicipital localiza-se anterior e medialmente
ao tubérculo maior, é limitado lateralmente pelo tubérculo
maior e medialmente pelo menor. Essa estrutura é palpada Bolsa subacromial
com facilidade se o braço estiver em rotação externa. A ro­
tação externa coloca o sulco em posição mais exposta para
a palpação e permite que o examinador perceba primeiro
o tubérculo maior, então o sulco bicipital e, finalmente, o
tubérculo m enor ao mover-se de uma posição lateral para
mediai. O tendão do bíceps fica dentro desse sulco.
O processo coracoide pode ser palpado colocando o
paciente em posição relaxada, observando a porção mais
profunda da concavidade clavicular que fica junto ao seu
terço lateral e colocando os dedos inferiormente, cerca de
2,5 cm a partir da borda anterior da clavícula. Essa região
é o triângulo deltopeitoral, e ao palpá-lo com pressão será
sentido também o processo coracoide. A escápula pode
ser vista posteriormente e cobre da segunda até a sétima
costelas.
O m anguito rotador, embora não seja facilmente pal­
pável, deve ser reconhecido, já que é um local comum de
processos patológicos. Os músculos do manguito rotador
Emergências Ortopédicas 321

sa subcoracóidea está localizada embaixo do processo (Fig. 16.8). A incidência AP é feita tanto em rotação ex-
coracoide. A subescapular está localizada perto da jun­ tema como interna. Com o úmero em rotação externa, o
ção tendínea do subescapular e do tubérculo menor. As tubérculo maior é visualizado de forma mais adequada,
bolsas escapulares estão localizadas nas bordas mediais enquanto em rotação interna o tubérculo menor é visto
superior e inferior da escápula e separadas da parede na proximidade da articulação glenoumeral. A incidência
torácica. AP verdadeira (de Grashey) é obtida com a placa em pa­
ralelo à escápula e requer que o feixe seja angulado em
Imagens 45° de uma posição medial para lateral em direção ao om­
bro. Essa incidência é útil para confirmar uma articulação
As radiografias do ombro incluem uma incidência ante­ apropriada da cabeça umeral com a glenoide. A incidência
roposterior (AP), uma incidência AP “verdadeira” (in­ escapular em Y ajuda a identificar luxações glenoumerais
cidência de Grashey), uma escapular em Y e uma axilar e fraturas escapulares, como as fraturas do úmero proxi-

Figura 16.8 Radiografias do ombro. A. Projeção anteroposterior (AP). B. Incidência AP normal. C. Projeção AP verdadeira (incidên­
cia de Grashey). D. Radiografia AP verdadeira normal. (continua)
322 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Figura 16.8 ( Continuação ) £. Projeção em "Y " escapular. F. Radiografia escapular em "Y " normal. O "Y " é formado pelo corpo da
escápula, a espinha e o processo coracoide. A cabeça do úmero fica centrada na junção do "Y ". C . Projeção axilar. H . Radiografia
axilar normal.

mal. O “Y” é formado pelo corpo, pela espinha e pelo pro­ frequência não é tolerada pelo paciente em função da dor.
cesso coracoide da escápula. Em uma radiografia normal, Esses filmes podem ser obtidos com o paciente em decú­
a cabeça do úmero é vista na junção do “Y”. A incidência bito dorsal, em pé ou sentado, embora seja recomendável
axilar é obtida com o braço abduzido em 90°, mas com a posição sentada.
Emergências Ortopédicas 323

FRATURAS DO OMBRO
FRATURAS DO ÚMERO PROXIMAL Depois da lesão, se nenhum dos fragmentos umerais
proximais estiver deslocado e sem angulação, a lesão é
As fraturas do úmero proximal respondem por 3% das classificada como fra tu ra de um a parte. Se um fragmento
fraturas da extremidade superior e são mais comuns em tiver mais de 1 cm de deslocamento, ou angulação acima
pacientes idosos. de 45° do úmero proximal intacto restante, a fratura é clas­
O úmero proximal é definido como a porção do úme­ sificada como fra tu ra de duas partes. Se dois fragmentos
ro proximal ao colo cirúrgico (Fig. 16.9). O colo cirúr­ estiverem individualmente deslocados do úmero proximal
gico é a porção mais estreita do úmero proximal. O colo restante, a fratura é classificada como fra tu ra de três p a r ­
anatômico marca o final da superfície articular do ombro. tes. Por último, se todos os quatro fragmentos estiverem
Os tubérculos maior e menor são proeminências ósseas individualmente deslocados, será uma fra tu ra de quatro
localizadas distalmente ao colo anatômico. p a rtes. É importante lembrar que o deslocamento deve ser
Existem vários músculos com inserção no úmero pro­ de mais 1 cm ou sua angulação superior a 45° para ser
ximal e ao seu redor. O supraespinal, o infraespinal e o considerada uma parte “separada” (Fig. 16.11). Observar
redondo menor se inserem no tubérculo maior e tendem que as fraturas de três e quatro partes são, muitas vezes,
a tracionar os fragmentos de fratura para uma direção su­ associadas a uma luxação. As fraturas da superfície articu­
perior, com alguma rotação anterior. O músculo subesca- lar não estão incluídas no sistema de Neer e são abordadas
pular se insere no tubérculo menor. Esse músculo tende a separadamente no final do capítulo.
puxar os fragmentos de fratura em direção medial, com Quase 80% de todas as fraturas umerais proximais
rotação posterior. O músculo peitoral maior se insere no são de uma parte. Os fragmentos umerais são mantidos
lábio lateral do sulco intertubercular, enquanto o deltoide no lugar pelo periósteo, pelo manguito rotador e pela cáp­
se insere no tubérculo deltoide. Essas estruturas tendem a sula articular. A estabilização e o manejo iniciais dessas
exercer forças mediais e superiores, respectivamente, na fraturas devem ser iniciados pelo médico da emergência.
diáfise do úmero, após fraturas proximais. Os restantes 20% das fraturas umerais proximais (fraturas
O sistema de classificação das fraturas foi desenvol­ de duas, três ou quatro partes) exigem redução e podem
vido por Neer. O úmero proximal é dividido em quatro permanecer instáveis após o procedimento.
segmentos (Fig. 16.10): O tratamento das fraturas do úmero proximal va­
1. Cabeça do úmero ria de acordo com a idade do paciente e do seu estilo
2. Diáfise do úmero de vida. As fraturas não deslocadas (i.e., de uma parte)
3. Tubérculo maior podem ser tratadas com tipoia e enfaixamento ou apenas
tipoia (Apêndice A.13). Os exercícios passivos precoces
4. Tubérculo menor
são recomendados (Fig. 16.12). Os exercícios ativos são
Esse sistema de classificação tem implicações prog­ prescritos durante os estágios mais tardios da consolida­
nósticas e terapêuticas, dependendo apenas da relação dos ção. As fraturas mais complexas, deslocadas ou angu-
segmentos ósseos envolvidos e o seu deslocamento.

Colo
anatômico
Colo
anatômico

Tubérculo Colo
maior cirúrgico

Colo
cirúrgico
Figura 16.10 As quatro partes do úmero proximal referidas na
classificação de Neer incluem (1) tubérculo maior, (2) tubérculo
menor, (3) cabeça do úmero e (4) diáfise do úmero. As fraturas
são classificadas de acordo com o deslocamento de uma ou
mais das "partes" do restante. O deslocamento é definido como
a separação acim a de 1 cm do úmero ou a angulação da parte
Figura 16.9 Anatomia do úmero proximal. em mais de 45°.
324 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Fraturas de
uma parte

Figura 16.12 Exercícios de Codm an. A. O s exercícios com e­


çam com o braço do paciente suspenso e o uso de um m ovi­
mento oscilante de um lado ao outro. B. A seguir, o movimento
lado a lado é executado em direção medial para lateral. C. Fi­
nalmente, são executados movimentos rotacionais horários e
anti-horários. Estes três movimentos são repetidos com o arco
de movimento aumentado diariamente, conforme a melhora da
condição inflamatória do paciente.

A xiom a: O tratamento bem-sucedido das fraturas do úme­


ro proximal depende de mobilidade precoce. Algum com­
prometimento na redução anatômica é aceitável para que a
imobilização prolongada seja evitada.

A discussão subsequente das fraturas do úmero pro­


ximal será dividida em fraturas individuais e combinadas,
conforme segue:
• Fraturas do colo cirúrgico
• Fraturas do colo anatômico
• Fraturas do tubérculo maior
• Fraturas do tubérculo menor
• Fraturas combinadas (de três ou quatro partes)
• Fraturas da superfície articular

Fraturas do colo cirúrgico


As fraturas do colo cirúrgico podem alterar o ângulo que
a cabeça do úmero tem com a diáfise. O ângulo normal
entre a cabeça e a diáfise é de 135° (Fig. 16.13). Um ângu­
lo menor que 90° ou maior que 180° pode exigir redução,
dependendo da idade e da atividade do paciente, pois a
Figura 16.11 Exemplos de fraturas de uma, duas, três e quatro
partes, conforme descrito por Neer.
consolidação nessas circuntâncias pode alterar a mecânica
do ombro.
As fraturas do colo cirúrgico são divididas em três
ladas, com frequência requerem manejo cirúrgico e são classes - de uma parte (i.e., não deslocadas e não angula­
tratadas de acordo com o sistema de classificação apre­ das), de duas partes (anguladas ou deslocadas), ou fraturas
sentado mais adiante. cominutivas. Conforme dito antes, as fraturas de uma par-
Emergências Ortopédicas 325

A xio m a : O paciente com suspeita de fratura do colo ci­


rúrgico que se apresenta com o braço abduzido deve ter a
extremidade imobilizada na posição de apresentação an­
tes das radiografias. Esses pacientes podem ter uma fratura
gravemente deslocada e a adução resultar em dano neuro­
vascular.

Imagens
A série de trauma, que inclui incidência AP em rotação
interna e externa, a incidência escapular em Y e a inci­
dência axilar, é adequada para demonstrar essas fraturas
Figura 16.13 O ângulo normal entre a cabeça e a diáfise ume-
(Fig. 16.15). A tomografia computadorizada (TC) é útil
ral é de 135°. Um ângulo menor ou igual a 90° ou maior que para detectar fraturas ocultas que não são visíveis nas ra­
180° é significativo e pode exigir redução, dependendo da ida­ diografias simples.
de e da atividade do paciente. As fraturas do úmero proximal associadas com he-
martrose podem deslocar a cabeça do úmero em direção
inferior. Radiograficamente isso é chamado de pseudossu-
te têm deslocamento menor que 1 cm e angulação menor bluxação, apontando a presença de fratura intra-articular
que 45° em relação ao normal (Fig. 16.14). (Fig. 16.16). Um sinal radiográfico adicional que indica
fratura intra-articular é a presença de um n ível de flu id o
Mecanismo de lesão de gordura.
Dois mecanismos resultam em fraturas do colo cirúrgico
Lesões associadas
do úmero proximal. O mecanismo mais comum é indireto,
causado por uma queda sobre o braço estendido. Se o bra­ As fraturas não deslocadas do colo cirúrgico podem ser
ço estiver abduzido durante a queda, a diáfise será deslo­ associadas a uma contusão ou ruptura do nervo axilar.
cada lateralmente. Se, entretanto, o braço estiver aduzido, A lesão neurovascular axilar e as lesões do plexo braquial
a diáfise umeral será deslocada medialmente na maioria são mais comuns após fraturas deslocadas ou cominutivas
dos casos. do colo cirúrgico.
O trauma direto, que frequentemente é mínimo no
idoso, pode resultar em fratura do colo cirúrgico. Tratamento
Uma fratura não deslocada (< 1 cm) do colo cirúrgico,
Exame com menos de 45°, é de uma parte. O uso de tipoia é o
O paciente apresenta sensibilidade dolorosa e edema no modo recomendado de terapia. Gelo, elevação e analgé­
braço e no ombro. Se, na apresentação, o braço for man­ sicos, combinados com exercícios da mão, devem ser ini­
tido em adução, a incidência de lesão do plexo braquial ciados logo após a lesão. Os exercícios de circundução co-
e da artéria axilar é baixa. Se o paciente se apresentar
com o braço abduzido, a incidência de lesão neurovas­
cular é muito mais significativa. Antes do exame radio-
gráfico, verificar a presença dos pulsos distais e da fun­
ção sensitiva.

Figura 16.15 Radiografia demonstrando uma fratura deslo­


Figura 16.14 Fratura do colo cirúrgico. cada do colo cirúrgico.
326 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Figura 16.16 Pseudoluxação secundária à hemartrose após uma fratura do úmero proximal. Na incidência AP, a cabeça do úmero pa­
rece deslocada, mas a incidência axilar mostra o posicionamento apropriado. Apesar do fato que tanto o tubérculo maior quanto o colo
cirúrgico estão fraturados, a lesão é classificada como fratura de duas partes, pois o fragmento do tubérculo maior não está deslocado.

meçam assim que forem tolerados, seguidos de exercícios manipulados manualmente de volta para a posição, e
passivos de cotovelo e de ombro em duas ou três semanas. a tração é aos poucos liberada.
Os exercícios de movimento do ombro podem ser inicia­ 4. Um exame neurovascular completo deve ser docu­
dos dentro de três a quatro semanas. mentado depois de qualquer tentativa de redução
Em pacientes idosos com demandas físicas mais bai­ manipulatória. Depois disso, tipoia e enfaixamento
xas, uma angulação significativa (> 45°) pode ser bem devem ser aplicados.
tolerada, desde que exista algum contato ósseo. Entre­
tanto, em pacientes jovens, essas lesões exigem redução. O manejo de emergência das fraturas cominutivas do
Uma porção do periósteo permanece intacta e ajuda em colo cirúrgico inclui imobilização, gelo, analgésicos e en­
uma redução fechada. O manejo no setor de emergência caminhamento de emergência. Entre as alternativas tera­
consiste na imobilização com tipoia, analgésicos e enca­ pêuticas definitivas estão o gessado pendente, a fixação
minhamento de emergência para redução. interna ou a tração acima da cabeça com fio no olécrano.
O manejo de emergência das fraturas de duas partes
deslocadas do colo cirúrgico inclui a imobilização com ti­
poia, gelo, analgésicos e encaminhamento de emergência.
A redução fechada sob anestesia regional ou geral é pre­
ferível, seguida de imobilização com tipoia. Se a redução
for instável, a redução com fios percutâneos ou aberta é
executada.
Se o encaminhamento de emergência não estiver dis­
ponível em uma situação de comprometimento vascular
com ameaça à viabilidade do membro, a redução com
sedação pode ser realizada usando os seguintes métodos
(Fig. 16.17):
1. Com o paciente em decúbito dorsal ou reclinado em
45°, o médico deve aplicar tração constante ao braço,
na extenção do eixo longo do úmero.
2. Enquanto a tração é mantida, o braço é trazido em
direção ao tórax, anteriormente, e flexionado leve­
mente.
3. Enquanto a tração é mantida para distrair os fragmen­ Figura 16.17 O método para reduzir uma fratura deslocada
tos, a outra mão do médico é colocada ao longo da do úmero proxim al. A distração seguida de reposicionamento
borda medial fraturada do úmero. Os fragmentos são do fragmento distai é essencial em todas as reduções.
Emergências Ortopédicas 327

não deslocadas como as deslocadas precisam de encami­


nhamento ortopédico. O encaminhamento de emergência
está indicado em fraturas deslocadas, pois elas requerem
redução aberta em pacientes jovens ou prótese precoce­
mente em pacientes mais velhos.
As fraturas do colo anatômico na infância são lesões
epifisárias um erais proxim ais. Gelo, imobilização com ti­
poia, analgésicos e encaminhamento de emergência são
enfaticamente recomendados.

Complicações
As lesões do colo anatômico são frequentemente compli­
cadas pelo desenvolvimento de necrose avascular. É reco­
mendável que os médicos, ao tratar as fraturas do colo ana­
tômico, façam contato com um ortopedista antes da terapia
Figura 16.18 Fratura do colo anatômico.
e encaminhem todos os pacientes para acompanhamento.

Complicações Fraturas do tubérculo maior


As fraturas do colo cirúrgico estão associadas a várias
complicações significativas. As fraturas do tubérculo maior são comuns e vistas de
forma isolada ou em aproximadamente 15% de todas as
1. A rigidez articular com aderências é evitada ou mini­ luxações do ombro. Essas fraturas podem ser deslocadas
mizada com exercícios precoces de movimentação. ou não deslocadas (Fig. 16.19). O deslocamento é comum
2. A má união é comum depois de fraturas deslocadas. devido ao efeito dos músculos do manguito rotador. O su-
3. Miosite ossificante.

Fraturas do colo anatômico


As fraturas do colo anatômico ocorrem através da área da
fise (Fig. 16.18) e podem ser divididas em lesões em adul­
tos ou na infância. As lesões em adultos são raras e clas­
sificadas como não deslocadas ou deslocadas (> 1 cm).
As lesões na infância são geralmente limitadas dos 8 aos
14 anos.

Mecanismo de lesão
O mecanismo habitual é uma queda com o braço estendido.

Exame
O edema e a sensibilidade dolorosa à palpação estão apa­
rentes na área do ombro. A dor aumenta com qualquer
movimento do ombro.

Imagens
As incidências radiográficas de rotina são adequadas para
demonstrar a fratura. Em crianças, uma lesão tipo Salter
II é a mais comum.

Lesões associadas
As fraturas do colo anatômico em geral não estão associa­
das a quaisquer lesões graves ao redor.

Tratamento
B
O manejo de emergência dessas fraturas inclui imobili­
zação com tipoia e enfaixamento (Apêndice A.13), gelo, Figura 16.19 Fraturas do tubérculo maior. A. Não deslocada.
analgésicos e encaminhamento precoce. Tanto as fraturas B. Deslocada (> 5 mm).
328 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

praespinal, o infraespinal e o redondo menor se inserem terior será subestimado, bem como o número de fraturas
no tubérculo maior que, quando fraturado, causam des­ deslocadas de duas partes. A TC faz o diagnóstico com
locamento superior do fragmento. O tubérculo deslocado precisão dos graus de deslocamento, se houver dúvidas.
para cima faz bloqueio mecânico da abdução do ombro.
As fraturas deslocadas do tubérculo maior estão associa­ Lesões associadas
das a rupturas do manguito rotador. Aquelas do tubérculo É raro que lesões neurovasculares estejam associadas a es­
maior são uma exceção na classificação de Neer, já que sas fraturas. As do tubérculo maior estão comumente as­
somente 0,5 cm de deslocamento são necessários para a sociadas a luxações anteriores do ombro e a rupturas do
fixação cirúrgica do fragmento. manguito rotador. Ambas as lesões são mais comuns com
fraturas deslocadas.
Mecanismo de lesão
Dois mecanismos podem resultar em fraturas do tubérculo Tratamento
maior. As de compressão resultam de um golpe direto no O manejo de emergência das fratu­
N ã o d eslo ca d a .
úmero superior, como ocorre durante uma queda. Os ido­ ras não deslocadas do tubérculo maior consiste em gelo,
sos são muito suscetíveis a esse tipo de lesão devido à analgésicos, imobilização com tipoia (Apêndice A. 13),
atrofia e ao enfraquecimento da musculatura circundante. e encaminhamento precoce, devido à alta incidência de
As fraturas não deslocadas resultam de queda com o braço complicações.
estendido (indireta). As deslocadas são secundárias a uma
queda sobre o braço estendido, com a contração do man­ D eslocada (> 0 ,5 cm ). Se associada com luxação ante­
guito rotador resultando em deslocamento. rior de ombro, a redução frequentemente corrige o deslo­
camento do tubérculo maior e a fratura pode, então, ser
Exame tratada como não deslocada.
O paciente relata dor e edema sobre o tubérculo maior. Ele Se o deslocamento permanecer, ou uma fratura des­
é incapaz de abduzir o braço e sente aumento da dor com locada estiver presente sem luxação do ombro, o manejo
a rotação externa. Além disso, a rotação externa do ombro dependerá da idade e da atividade do paciente. Os pacien­
pode estar inibida se o tubérculo posteriormente desloca­ tes jovens requerem a fixação interna do fragmento, com
do causar impacto contra a glenoide posterior. reparo do manguito rotador rompido. Um bom estoque
ósseo deve estar presente para a fixação com parafusos,
Imagens mas a carência dele é frequente em pacientes idosos.
As radiografias em AP demonstram essas fraturas (Fig. Os indivíduos mais velhos em geral não são candidatos ao
16.20). Embora a incidência AP seja capaz de avaliar o reparo cirúrgico e requerem gelo, imobilização com tipoia
deslocamento superior, com frequência existe falha em (Apêndice A. 13), analgésicos e encaminhamento preco­
demonstrar de forma precisa a quantidade de retração ce. A mobilização precoce no paciente idoso é essencial.
posterior e sobreposição do fragmento com a superfície
articular. As radiografias axilares podem ser usadas para Complicações
avaliar a quantidade de retração posterior. Se forem usa­ As fraturas do tubérculo maior podem estar associadas a
das apenas as radiografias em AP, o deslocamento pos- diversas complicações:
1. As fraturas de compressão são muitas vezes compli­
cadas pelo impacto sobre a cabeça longa do bíceps,
resultando em tenossinovite crônica e, eventualmente,
ruptura do tendão.
2. Não união.
3. Miosite ossificante.

Fraturas do tubérculo menor


As fraturas do tubérculo menor são incomuns. Elas ocor­
rem juntamente com as luxações posteriores do ombro.
Os fragmentos de fratura podem ser pequenos ou grandes
(> 1 cm) (Fig. 16.21).

Mecanismo de lesão
As fraturas do tubérculo menor são, habitualmente, asso­
ciadas a um mecanismo indireto de lesão, como convul­
Figura 16.20 Fratura deslocada do tubérculo maior. são ou queda com o braço aduzido. Ambas as situações
Emergências Ortopédicas 329

Figura 16.21 Fratura do tubérculo menor.

resultam em contração intensa do músculo subescapular e


avulsão do tubérculo menor.

Exame
A sensibilidade dolorosa à palpação está presente sobre
o tubérculo menor. A dor aumenta com a rotação externa
ativa ou adução contra resistência. Além disso, a rotação
externa passiva exacerba a dor.
Figura 16.22 Fraturas combinadas - fratura de três partes.

Imagens
As incidências de rotina do ombro são adequadas para de­ Fraturas combinadas do úmero proximal
monstrar essa fratura.
As fraturas combinadas referem-se às fraturas de Neer
classificadas como lesões de três ou de quatro partes
Lesões associadas
(Figs. 16.22 e 16.23). Em geral, elas são o resultado de
As luxações posteriores do ombro estão comumente asso­ intensas forças de lesão e estão muitas vezes associadas
ciadas a essas lesões. Além disso, as fraturas não desloca­ a luxações.
das do colo cirúrgico podem ocorrer em associação a elas.
As lesões neurovasculares raras vezes são concominantes Mecanismo de lesão
a fraturas do tubérculo menor.
O mecanismo mais comum é a queda sobre o braço esten­
dido. Os segmentos envolvidos e a quantidade de desloca-
Tratamento
O manejo de emergência das fraturas do tubérculo menor
inclui gelo, analgésicos, imobilização com tipoia (Apên­
dice A. 13) e consulta ortopédica. As fraturas não desloca­
das são tratadas de forma conservadora. As de duas partes
(i.e., deslocadas > 1 cm) em geral requerem o reparo ci­
rúrgico, especialmente com fragmentos maiores e quando
o paciente apresentar rotação interna diminuída.

Complicações
Estas fraturas, na maioria dos casos, consolidam-se sem
complicações, devido à compensação pela musculatura
circundante do ombro. Alguns cirurgiões acreditam que a
lesão possa causar um enfraquecimento do suporte capsu­
lar anterior, o que predispõe ao desenvolvimento de luxa­
ções anteriores recorrentes. Figura 16.23 Fraturas combinadas - fratura de quatro partes.
330 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Tratamento
O manejo de emergência inclui gelo, analgésicos, imobi­
lização com tipoia e encaminhamento de emergência, em
geral com hospitalização. Possivelmente, todas as fraturas
combinadas exigem reparo cirúrgico e, em alguns casos, a
inserção de prótese (fraturas de quatro partes).

Complicações
Conforme observado anteriormente, as lesões neurovas-
culares podem complicar o manejo dessas fraturas. As de
quatro partes são complicadas pela alta incidência de ne­
crose avascular da cabeça do úmero, secundária ao supri­
mento sanguíneo comprometido.

Fraturas das superfícies articulares


As fraturas da superfície articular são chamadas de fr a tu ­
ras de im pressão por alguns autores (Fig. 16.25). Elas po­
Figura 16.24 Fratura combinada do úmero proxim al.
dem ser assim classificadas: (1) fratura de impressão com
menos de 40% de envolvimento, (2) fratura de impressão
mento dependem da força da queda e do tônus muscular com mais de 40% de envolvimento e (3) fratura cominuti-
no momento da lesão. va da superfície articular (divisão da cabeça).

Exame Mecanismo de lesão


A dor difusa e o edema do úmero proximal estão aparen­ As fraturas de impressão são, em geral, secundárias a um
tes, e o paciente resiste a qualquer movimento. golpe direto no braço, lateralmente, como ocorre durante
uma queda. As luxações anteriores do ombro podem estar
Imagens associadas a fraturas de impressão no aspecto lateral da
As incidências AP e escapular em Y são adequadas para cabeça do úmero, chamada de fratura de Hill-Sachs.
delinear tais fraturas (Fig. 16.24).
Exame
Lesões associadas As fraturas de impressão estão associadas à dor mínima
As fraturas combinadas do úmero proximal estão associa­ com o movimento umeral. As cominutivas estão associa­
das a várias lesões significativas, como: das à dor intensa.

1. Luxações do ombro Imagens


2. Lesões do manguito rotador As incidências AP com rotação interna e externa são mais
3. Lesões no plexo braquial, vasos axilares e também adequadas para a visualização das linhas de fratura (Fig.
nos nervos axilar e musculocutâneo 16.26). As fraturas de impressão são difíceis de definir e,

Fratura de impressão (< 40%) Fratura de impressão (> 40%) Fratura cominutiva da superfície
articular (divisão da cabeça)

Figura 16.25 Fraturas da superfície articular.


Emergências Ortopédicas 331

Figura 16.26 Fratura cominutiva da cabeça do úmero.

com frequência, os sinais secundários de fratura são em­


pregados para fazer o diagnóstico correto. A visualização
de um nível de flu id o de gordura no filme AP em ortosta-
tismo indica fratura da superfície articular.
Além disso, a pseudossubluxação inferior da cabeça
do úmero, secundária a uma hemartrose, é vista com fre­
quência em fraturas de impressão.

Lesões associadas
As fraturas da superfície articular estão muitas vezes asso­
ciadas com as luxações anteriores ou posteriores de ombro.
Figura 16.27 Fraturas da clavícula. A. Terço médio. B. Terço late­
Tratamento
ral. C. Terço medial (envolvendo a articulação esternoclavicular).
O manejo de emergência inclui gelo, analgésicos, imobi­
lização com tipoia e encaminhamento precoce. Quando
menos de 40% da superfície articular estiver envolvida, grupos etários. É possível dividi-las em três grupos, com
o braço é imobilizado em rotação externa. O reparo ci­ base na anatomia, na terapia e na incidência (Fig. 16.27).
rúrgico ou a inserção de prótese podem ser indicados em Elas assim são distribuídas:
fraturas cominutivas ou em fraturas de impressão envol­ Terço médio: 80%
vendo mais de 40% da superfície articular. Pelo fato de os Terço lateral: 15%
pacientes idosos necessitarem de mobilidade precoce, o Terço medial: 5%
reparo cirúrgico pode não ser indicado.
A maioria das fraturas do terço médio ocorre na
Complicações junção dos terço médio e outros terços da clavícula, me­
As fraturas da superfície articular podem ser complicadas dialmente aos ligamentos coracoclaviculares. Elas são
por: classificadas como não deslocadas ou deslocadas (Fig.
16.27A). Em geral, o fragmento proximal está deslocado
1. Rigidez articular superiormente devido à tração do estemocleidomastóideo.
2. Artrite Ambos os vasos subclávios e o plexo braquial ficam em
3. Necrose avascular (vista mais frequentemente com muito próximos da clavícula. As fraturas deslocadas po­
fraturas cominutivas) dem estar associadas a lesões nessas estruturas vitais.
As fraturas do terço lateral ocorrem distalmente aos
FRATURAS DA CLAVÍCULA ligamentos coracoclaviculares. Elas são divididas em três
tipos: (1) não deslocadas, (2) deslocadas e (3) articulares
As fraturas da clavícula são as mais comuns de todas as (Fig. 16.27B).4,5As fraturas deslocadas do terço lateral são
fraturas que ocorrem na infância. No total, as fraturas da associadas à ruptura dos ligamentos coracoclaviculares.
clavícula respondem por 5% de todas vistas em diversos Nesses casos, o segmento clavicular proximal será puxado
332 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

para cima pelo estemocleidomastóideo. As fraturas da su­ As fraturas da superfície articular, entretanto, podem
perfície articular envolvem a articulação acromioclavicular. ser detectadas por meio de radiografias. A inclinação do
As fraturas do terço medial da clavícula são incomuns feixe de 10 a 15° em direção à cabeça evita sobrepor a
(Fig. 16.27C). Forças intensas são necessárias para fratu- espinha da escápula e permite a detecção mais sutil das
rá-la nessa localização e, por conseguinte, uma busca dili­ lesões.1 Técnicas especiais, como as incidências em cone,
gente por lesões associadas deve seguir-se a essas fraturas. laterais ou com carga (5 kg) podem ser úteis para a deli-
neação precisa. A TC pode ser necessária quando houver
Mecanismo de lesão suspeita de fratura da superfície articular.
Dois mecanismos costumam ser responsáveis pela fratura
Lesões associadas
da clavícula. Um golpe direto é o primeiro mecanismo.
Uma força em direção posterior pode resultar em fratura As lesões vasculares da subclávia podem ocorrer, especial­
única. Se a força for dirigida inferiormente, a resultante é, mente com as fraturas deslocadas de terço médio da claví­
com frequência, cominutiva. O dano neurovascular é mais cula. Sempre que uma lesão vascular for suspeitada, os estu­
provável com as forças inferiormente dirigidas. dos angiográficos são enfaticamente recomendados. O dano
O mecanismo indireto é representado por uma queda neurológico pode envolver a contusão ou a avulsão de raízes
sobre o lado do ombro. A força é transmitida pelo acrômio nervosas. Um exame neurológico meticuloso da quarta até
para a clavícula. A clavícula geralmente quebra no terço a oitava raízes nervosas cervicais deve acompanhar o diag­
médio, já que o seu formato natural em “S” tem a tendên­ nóstico de qualquer fratura deslocada da clavícula.
cia a concentrar a força indireta nesse ponto. A lesão do ligamento coracoclavicular está associada
As fraturas do terço lateral da clavícula são o resul­ às fraturas do terço lateral da clavícula.
tado de um golpe de cima para baixo nessa região, po­
dendo resultar em fratura não deslocada ou deslocada. É
A xio m a: Todas as fraturas deslocadas do terço lateral da
comum que as fraturas da superfície articular resultem de clavícula que estejam associadas à ruptura do ligamento co­
um golpe no aspecto externo do ombro (uma queda) ou racoclavicular devem ser tratadas da mesma forma que uma
por uma força de compressão. luxação da articulação acromioclavicular.
As fraturas do terço mediai podem ser produzidas por
um golpe direto na clavícula mediai, por uma força late­ A subluxação ou luxação da articulação acromiocla­
ral no ombro, o que comprime a clavícula contra o ester­ vicular pode acompanhar qualquer fratura do terço lateral
no, ou por uma queda com o braço estendido e abduzido, da clavícula.
comprimindo a clavícula contra o esterno. As fraturas do terço mediai da clavícula são, em geral,
secundárias a forças intensas e podem estar associadas a
Exame um dano significativo de órgãos subjacentes. A lesão in­
A clavícula é subcutânea ao longo de quase toda a sua ex­ tratorácica deve ser excluída precocemente no manejo, se
tensão e, por conseguinte, as fraturas são facilmente diag­ a fratura estiver em deslocamento posterior. As fraturas do
nosticadas com base no exame. Os pacientes demonstram esterno ou a subluxação da articulação esternoclavicular
edema e sensibilidade dolorosa sobre o local da fratura. podem estar associadas a essas fraturas.
Aquelas do terço médio da clavícula resultam em abaixa­
mento para dentro do ombro envolvido, devido à perda do Tratamento
suporte. Os pacientes costumam manter o braço aduzido As fraturas da clavícula na infância requerem pouco tra­
contra a parede torácica e resistem ao movimento da ex­ tamento, já que a consolidação rápida com remodelação e
tremidade. Se houver um deslocamento grave, estará asso­ retomo completo da função é o desfecho habitual. A dis­
ciado com ruptura de tecidos moles e possível presença de cussão adicional sobre as fraturas da clavícula em crian­
equimose. Todas as fraturas de clavícula requerem exame ças está incluída no Capítulo 6. As fraturas da clavícula no
e documentação da função neurovascular distal à lesão. adulto estão associadas a complicações mais graves e, por
Os pacientes com fraturas do terço lateral da clavícula conseguinte, exigem redução mais precisa e acompanha­
carregam o braço em adução. A dor aumenta com a palpa­ mento atento para assegurar o retomo completo da função.
ção ou com a tentativa de abdução. As fraturas deslocadas
podem ter o deslocamento palpável ao exame. Os pacien­ Fraturas do terço médio da clavícula
tes com fraturas do terço medial da clavícula têm a dor
N ã o d eslocada. As fraturas não deslocadas mantêm o
exacerbada com a abdução do braço.
periósteo intacto e, por conseguinte, são necessários ape­
nas uma tipoia para suporte e gelo no local. Repetir as
Imagens
radiografias após uma semana para assegurar o posicio­
A radiografia de rotina da clavícula (apical lordótica e namento adequado. As crianças geralmente requerem três
tubo dirigido cranialmente em 45°) é adequada para defi­ a cinco semanas de imobilização, enquanto os adultos ne­
nir as fraturas. (Fig. 16.28). cessitam de seis semanas ou mais.
Emergências Ortopédicas 333

Figura 16.28 A. Fratura da clavícu la no terço médio. O fragmento


proximal está deslocado superiormente devido à tração do esternoclei-
domastóideo. B. Fratura do terço distai da clavícu la. C. Fratura do terço
medial da clavícula (seta).

D eslocada. As tentativas de redução fechada no setor pode decidir usar esse dispositivo para clavícula em vez
de emergência não melhoram a consolidação da fratu­ de uma tipoia.
ra ou alteram de modo permanente o alinhamento. A O encaminhamento ortopédico é recomendado aos pa­
imobilização com tipoia é o tratamento de escolha dos cientes com fraturas completamente deslocadas do terço
autores. O desfecho não é melhor quando uma atadura médio da clavícula. A incidência de não união (15-20%) e
em oito é usada na clavícula. Um estudo mostrou des­ má união sintomática (20-25%) é alta. ,1: Outros fatores as­
conforto maior com o uso desse dispositivo em oito. O sociados ao desfecho mim incluem a cominução e o encurta­
tirante em figura de oito permite que os pacientes usem mento. A fixação cirúrgica com placa ou haste intramedular
ambas as mãos e garante o retomo mais rápido às ativida­ melhora o desfecho funcional em pacientes ativos e jovens
des como digitação (Fig. 16.29). Neste caso, o paciente com fraturas médio-diafisárias completamente deslocadas.

Figura 16.29 A plicação do tirante em figura de oito em fraturas de clavícu la. Os estudos não encontraram nenhuma diferença
importante nos desfechos em comparação com uma tipoia.
334 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Fraturas do terço lateral da clavícula • Fraturas do corpo ou da espinha


Não deslocada. As fraturas não deslocadas do terço lateral • Fraturas do acrômio
da clavícula são imobilizadas pelos ligamentos intactos cir­ • Fraturas do colo
cundantes e pelos músculos. Em geral, são tratadas sintoma­ • Fraturas da glenoide
ticamente com gelo, analgésicos e movimentação precoce. • Fraturas do processo coracoide

Deslocada. O manejo de emergência inclui imobiliza­ Fraturas do corpo ou da espinha da escápula


ção com tipoia, gelo, analgésicos e encaminhamento orto­
pédico para fixação interna e redução. M e c a n is m o d e le sã o
O mecanismo envolvido é um golpe direto na área lesio­
Envolvimento da superfície articular. Esses pacientes nada. Muita força é necessária para fraturar o corpo ou a
devem ser tratados sintomaticamente com gelo, analgési­ espinha da escápula, e lesões associadas podem complicar
cos e tipoia para suporte. O movimento precoce é incenti­ ou mascarar essas fraturas. Normalmente existe pouco
vado de maneira enfática para prevenir o desenvolvimento deslocamento em função do suporte dos músculos circun­
de artrite degenerativa. dantes e do periósteo.

Fraturas do terço medial da clavícula Exam e


O manejo de emergência inclui gelo, analgésicos e tipoia O paciente apresenta dor, edema e equimose sobre a área
para suporte. As fraturas deslocadas do terço medial re­ lesionada. A extremidade envolvida é mantida em adução,
querem encaminhamento ortopédico para redução. e o paciente resiste à abdução. A abdução além dos pri­
meiros 90° é principalmente o resultado do movimento
Complicações escapular e, desse modo, exacerba a dor.
As fraturas da clavícula podem estar associadas a diversas
Im a g e n s
complicações.
As incidências AP e escapular (em Y) de rotina são ade­
1. A má união é primariamente uma complicação de quadas para definir essas fraturas (Fig. 16.31 A). As inci­
fraturas no adulto. Em crianças, a má união é inco- dências oblíquas tangenciais são úteis para definir fraturas
mum devido à extensa remodelação que normalmente pequenas do corpo.
acompanha essas fraturas.
2. Pode ocorrer a formação de calo excessivo, resultan­ L e s õ e s a sso cia d a s
do em um defeito estético ou comprometimento neu­ As fraturas da escápula que envolvem o corpo ou a es­
rovascular. pinha são o resultado de grandes forças não penetrantes
3. Não união. e podem estar associadas a várias lesões potencialmente
4. A união retardada está com frequência relacionada fatais. O ensino clássico tem sugerido que uma escápu­
com fraturas deslocadas do terço lateral da clavícula la fraturada anuncia uma lesão não penetrante da aórtica
tratadas de modo conservador. torácica. Um estudo recente percebeu que, em pacientes
5. A artrite degenerativa é observada após as fraturas ar­ com fraturas da escápula após trauma não penetrante, so­
ticulares da clavícula mediai ou lateral. mente 1% tinham lesão aórtica associada. Outras lesões
associadas a serem consideradas incluem:
FRATURAS ESCAPULARES • Pneumotórax ou contusão pulmonar
As fraturas escapulares são lesões relativamente inco- • Fraturas de compressão vertebral ou de arcos cos-
muns que em geral ocorrem em pacientes entre 40 e 60 tais19'20
anos. Esse tipo de lesão representa somente 1% de todas • Fraturas das extremidades superior e inferior
as fraturas e 5% das fraturas envolvendo o ombro. Existe • Lesões da artéria axilar, nervo ou do plexo braquial
uma multiciplidade de padrões de fratura associados com são raras
a escápula. Muitas vezes, as fraturas escapulares estão as­
sociadas a luxações como, por exemplo, do ombro com Trata m en to
uma fratura da borda glenoide. O manejo de emergência dessas fraturas inclui a imo­
Vários músculos se inserem na escápula e podem bilização com (1) tipoia ou (2) tipoia e o enfaixamento
iniciar a força de deslocamento quando houver fraturas. (Apêndice A.13) com gelo e analgésicos. É essencial e x ­
O tríceps tem sua inserção na borda inferior da fossa gle­ cluir a p o ssib ilid a d e de lesões que am eacem a vida ou o
noide, enquanto a cabeça curta do bíceps, o coracobra- membro, precocem ente, ao tra ta r essas fra tu ra s. Depois
quial e o peitoral menor se inserem no processo coracoide. de cerca de 2 semanas, a atividade limitada, conforme a
As fraturas da escápula são classificadas anatomica­ tolerância, é aconselhada. As fraturas com deslocamento
mente em (Fig. 16.30): acentuado, ou com deficiência funcional, devem ser enca-
Emergências Ortopédicas 335

Figura 16.30 Fraturas da escápula. A. Fraturas do corpo ou da espinha e fratura do acrôm io. B. Fratura do colo da glenoide. C.
Fratura da borda da glenoide. D. Fratura cominutiva da superfície articular da glenoide. E. Fratura do processo coracoide.

minhadas como emergências para a possibilidade de redu­ Lesões associadas


ção aberta e fixação interna. As fraturas do processo do acrômio podem estar associa­
das a:
Complicações
1. Lesões do plexo braquial
As lesões neurovasculares ou viscerais, como mencio­
2. Lesões da articulação acromioclavicular ou fraturas
nado anteriormente, podem complicar o manejo dessas
laterais da clavícula
fraturas.
Tratamento
Fraturas do acrômio
As fraturas não deslocadas são tratadas por imobilização
Mecanismo de lesão com tipoia. Os exercícios de amplitude de movimento devem
As fraturas do acrômio são o resultado de um golpe des­ ser iniciados precocemente no manejo dessas fraturas.
cendente direto no ombro. A força requerida é geralmen­ As fraturas deslocadas com frequência requerem a fixa­
te grande e, com frequência, as lesões associadas compli­ ção interna para evitar o comprometimento do espaço suba­
cam o manejo desse tipo de fratura. A luxação superior cromial, o que resulta em amplitude de movimento restrita.
A fixação interna também é necessária se tanto a clavícula
do ombro pode resultar em fratura do acrômio com des­
como a escápula estiverem lesionadas ao mesmo tempo.
locamento superior.
Complicações
Exame
A complicação mais frequente das fraturas do acrômio é a
A sensibilidade dolorosa e o edema serão máximos sobre
bursite. A bursite é muitas vezes vista em associação com
o processo do acrômio. A dor toma-se exacerbada com a
as fraturas inferiormente deslocadas. A não união também
contração do deltoide.
pode ocorrer.
Imagens
Fraturas do colo da glenoide
As radiografias de rotina da escápula são adequadas para
definir a fratura (Fig. 16.31B). Às vezes, a TC é útil para As fraturas do colo da glenoide são lesões incomuns em
definir de forma precisa a extensão completa da fratura. geral associadas a fraturas do úmero (ver Fig. 16.30B).
336 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Figura 16.31 Imagens radiográficas das fraturas da escápula. A. Fratura do corpo. B. Fratura do acrôm io. C. Fratura na base do colo
da glenoide. D. Fratura do processo coracoide.

Mecanismo de lesão Lesões associadas


Uma força anterior ou posterior direcionada contra o om­ As fraturas do úmero proximal ou as luxações do ombro
bro é o mecanismo habitual de lesão. Na maioria dos pa­ são frequentemente observadas junto com essas lesões.
cientes, a glenoide sofrerá o impacto. Entretanto, se deslo­ Além disso, pode ocorrer fratura associada da clavícula
cado, o fragmento será anterior. ipsilateral.

Exame Tratamento
O paciente se apresenta com o braço mantido em adução e N ã o deslocada. O manejo de emergência inclui imobili­
resiste a qualquer movimento do ombro. A pressão medial zação com tipoia, gelo e analgésicos. O exercício passivo
sobre a cabeça do úmero lateral exacerba a dor. deve ser iniciado em 48 horas, evoluindo para o exercício
ativo conforme tolerado.
Imagens
As incidências AP e tangencial são adequadas para definir a A consulta ortopédica de emergência é
D e slo ca d a .
fratura (Fig. 16.31C). As incidências axilares são úteis para aconselhada nesses casos. As fraturas do colo da glenoide
delinear as fraturas deslocadas. Às vezes, a TC é adequada com angulação maior que 40° ou 1 a 2 cm de deslocamen­
para definir de maneira precisa a extensão completa da lesão. to requerem fixação cirúrgica. Se a clavícula também esti­
Emergências Ortopédicas 337

ver fraturada, a sua fixação interna deve ser executada as­ poia, gelo e analgésicos. O exercício (tipo pendular) deve
sim que for possível. O procedimento previne a má união ser iniciado assim que os sintomas cederem. As fraturas
da fratura do colo da escápula. deslocadas associadas a luxações são reduzidas de forma
simultânea com a redução articular.
Complicações
As complicações encontradas incluem a redução na mo­ Articular cominutiva. O manejo de emergência inclui
bilidade do ombro ou o desenvolvimento de artrite pós- imobilização com tipoia, gelo, analgésicos e consulta pre­
-traumática. coce. As fraturas afundadas ou aquelas com grandes frag­
mentos deslocados exigem redução cirúrgica.
Fraturas da glenoide
Complicações
As fraturas da superfície articular da glenoide são divi­ As fraturas da glenoide são com frequência complicadas
didas em dois tipos: da borda e cominutivas (ver Figs. pelo desenvolvimento de artrite.
16.30C e 16.30D). As fraturas da borda da glenoide po­
dem demonstrar deslocamento anterior ou posterior. Além
Fraturas do processo coracoide
disso, as fraturas da borda glenoide podem atravessar a
borda e a espinha. As cominutivas envolvem toda a super­ Os músculos com inserção no processo coracoide incluem
fície articular da glenoide. o coracobraquial, a porção curta do bíceps e o peitoral
menor. Os ligamentos que se inserem no processo cora­
Mecanismo de lesão coide incluem o coracoacromial, o coracoclavicular e o
Três mecanismos são comumente responsáveis pelas coracoumeral.
fraturas da glenoide. Um golpe direto, quase sempre
secundário a uma queda lateral sobre o ombro, pode re­ Mecanismo de lesão
sultar em fratura cominutiva. Uma queda sobre o coto­ Dois mecanismos resultam em fraturas do processo cora­
velo flexionado resulta em uma força que é transmitida coide. Um golpe direto no ponto superior do ombro pode
para cima sobre o úmero e para a borda da glenoide. causar uma fratura do processo coracoide. A contração
Esse mecanismo resulta em fratura da borda, cujo des­ violenta de um dos músculos inseridos possivelmente re­
locamento depende da direção da força. Somando-se a sulta em fratura de avulsão.
isso, a contração violenta do tríceps pode resultar em
avulsão da borda glenoide inferior. O mecanismo é co­ Exame
mumente visto em luxações do ombro. Até 20% das lu­ O paciente apresenta sensibilidade dolorosa à palpação
xações do ombro estão associadas a fraturas da borda anteriormente sobre o processo coracoide. Há, também,
da glenoide. dor com adução forçada e flexão no cotovelo.

Exame Imagens
A dor e a fraqueza do tríceps estão presentes em fraturas As radiografias de rotina dessa fratura incluem uma inci­
da borda inferior. As fraturas articulares cominutivas se dência lateral axilar para delinear qualquer deslocamen­
apresentam com edema e dor, que aumenta com a com­ to (em geral, descendente e medialmente) do fragmento
pressão lateral. (Fig. 16.31D). Às vezes, a TC é útil para definir com pre­
cisão a extensão completa da fratura.
Imagens
As incidências de rotina, bem como a incidência axilar, Lesões associadas
são adequadas para definir a fratura. A TC é útil para defi­ As lesões do plexo braquial, a separação acromioclavicu­
nir de forma precisa a extensão completa da fratura. lar ou as fraturas da clavícula estão associadas às fraturas
do coracoide.
Lesões associadas
A luxação do ombro está associada com fraturas da borda Tratamento
da glenoide. As fraturas do processo coracoide têm tratamento sinto­
mático. O paciente recebe tipoia, gelo, analgésicos e ins­
Tratamento truções para iniciar o movimento precocemente, confor­
Borda. Os pacientes requerem encaminhamento ortopé­ me tolerado. A possibilidade de lesões associadas deve ser
dico. O envolvimento intra-articular de mais de 25% da descartada antes da liberação do setor de emergência.
superfície glenoide ou mais de 5 mm de degrau necessita
de fixação cirúrgica. Se a fratura for administrada de for­ Complicações
ma conservadora, o tratamento inclui imobilização com ti- Nenhuma complicação é vista após essas lesões.
338 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

LESÃO DE TECIDOS MOLES E LUXAÇÕES DO OMBRO


LUXAÇÃO ACROM IOCLAVICULAR Mecanismo de lesão
Os mecanismos pelos quais estas lesões ocorrem resul­
A articulação acromioclavicular (AC) tem a função de
tam de uma força direta, como uma queda com o braço
permitir um aumento na elevação e na abdução do braço.
aduzido ao lado, ou uma força vindo sobre o acrômio,
Dois ligamentos fornecem estabilidade na articulação: os
atingindo a proeminência óssea, e desalojando-a de suas
ligamentos acronioclavicular (AC) e o coracoclavicular
inserções até a clavícula. O mecanismo indireto pelo
(CC). O ligamento coracoclavicular é dividido em liga­
qual essa lesão ocorre é uma queda com o braço esten­
mentos conoide e trapezoide, que atuam em conjunto na
dido, sendo a força transmitida para a articulação AC.
ancoragem da clavícula distai ao processo coracoide (ver
A maioria das lesões da articulação AC é causada pela
Fig. 16.3).
queda direta sobre o ponto no ombro (Fig. 16.33).
As subluxações e as luxações da articulação AC, a
Uma força mais horizontalmente dirigida (i.e., queda
“separação do ombro”, são lesões comuns que se apresen­
sobre o lado do ombro) pode resultar em dano intra-
tam no setor de emergência e respondem por 10% de to-
-articular, sem lesão significativa dos ligamentos. Isto
das as luxações. Elas são divididas em três tipos que re­
pode responder por muitos casos de doença degenerati­
presentam quantidades progressivas de lesão ligamentar:
va articular tardia e dor que se seguem a uma entorse AC
primeiro, segundo e terceiro graus (Fig. 16.32). A lesão
aparentemente leve.
de primeiro grau dessa articulação é chamada de entorse
ligamentar AC e envolve a ruptura incompleta daquela es­
Exame
trutura. A lesão de segundo grau envolve a subluxação da
articulação AC e está sempre associada a uma ruptura do O exame da articulação AC inicia com a inspeção. Em
ligamento AC; contudo, o ligamento CC permanece intac­ pacientes com ruptura ligamentar significativa (i.e., lesão
to. Em pacientes com lesões de terceiro grau da articula­ de terceiro grau), a deformidade no topo do ombro esta­
ção AC, existe ruptura tanto dos ligamentos AC como CC, rá aparente em pé (Fig. 16.34). A deformidade representa
resultando em deslocamento superior da clavícula. uma proeminência da clavícula distai, indicando ruptura
As separações AC têm sido também classificadas com dos ligamentos AC e, possivelmente, CC. O deslocamento
base na direção do deslocamento da clavícula. As lesões superior da clavícula é causado pela tração para baixo do
tipo 4 ocorrem quando a clavícula é deslocada posterior­ ombro, gerada pelo peso do braço e pela perda do liga-
28
mente para dentro ou através do músculo trapézio. As mento suspensor CC.
lesões tipo 5 envolvem a ruptura de todos os ligamentos Em pacientes com lesões de primeiro grau, há ede­
acima da articulação, e a clavícula é deslocada superior­ ma mínimo, mas dor na palpação da articulação AC ou
mente em direção à base do pescoço. Nas lesões tipo 6, a ao executar o teste de estresse AC. O teste é executado
clavícula é deslocada inferiormente, com a extremidade trazendo o braço diante do corpo (Fig. 16.35). ' A lo­
lateral sob o acrômio ou o processo coracoide. Esta le­ calização da dor na articulação AC confirma que ela é
são está muitas vezes associada a fraturas da clavícula, a origem. O paciente com lesão de segundo grau relata
de costelas, ou lesões do plexo braquial. As luxações AC sensibilidade dolorosa à palpação leve e edema moderado
dos tipos 4, 5 e 6 são raras. O tratamento é realizado com é notado.
reparo cirúrgico.

Primeiro grau Segundo grau Terceiro grau

Figura 16.32 Separação acrom ioclavicular (AC). A. "Entorse" de primeiro grau com os ligamentos intactos. B. Separação de segun­
do grau com ruptura do ligamento AC. C. Entorse de terceiro grau com ruptura dos ligamentos AC e coracoclavicular (CC).
Emergências Ortopédicas 339

Figura 16.33 A queda sobre o ombro é o mecanism o mais Figura 16.35 Técnica para testar a lesão ou a inflamação da
comum para causar uma separação AC. articulação AC.

Imagens 1. A largura da articulação AC (normal < 3 mm).


Os raios X de rotina do ombro em paciente com suspeita 2. A distância clavícula-coracoide (CC): é definida como
de lesão da articulação AC devem detectar lesão significa­ a distância perpendicular da clavícula até a porção su­
tiva da AC (Fig. 16.36). As imagens simultâneas de am­ perior do processo coracoide (normal < 5 mm).
bos os lados em uma chapa grande são recomendadas para 3. Elevação da clavícula: o grau de deslocamento supe­
comparar o lado normal com o lesionado. A inclinação do rior da clavícula em comparação ao acrômio.
feixe de 10 a 15° em direção à cabeça evita a sobreposição
Os pacientes com lesão de primeiro grau terão ra­
da espinha escapular e permite a detecção de lesões mais
diografias normais. Os achados radiográficos das lesões
sutis. Três medidas devem ser obtidas e comparadas ao
de segundo grau são sutis e podem ser mal-interpretados
lado oposto30 (Fig. 16.37).
como sendo normais. A largura da articulação AC está
aumentada (> 3 mm ou > 50% aumento quando compa­
rado com o lado ileso), mas a distância CC está normal
(< 5 mm ou similar ao lado oposto). Além disso, é possí­
vel que a extremidade lateral da clavícula esteja um pouco
elevada, mas a separação do acrômio não é maior do que a
metade de seu diâmetro.
Em pacientes com lesão de terceiro grau, a borda in­
ferior da clavícula distai está acima do ponto central do
acrômio. Somando-se a isso, a distância CC é maior que 5
mm em comparação com o lado oposto normal.
As incidências de estresse são obtidas na posição AP,
com 2,55 a 5 kg de peso suspensos pelo braço. Anteriormen­
te obtidos com muita frequência para diferenciar as sepa­
rações AC de segundo e terceiro grau, os filmes de estresse
têm sido questionados, e os autores não mais o usam.
Se as características radiográficas precedentes estão presen­
tes em uma incidência AP, não há necessidade de filmes de
Figura 16.34 A separação A C é observada à direita (seta). Essa estresse. Se elas não estiverem presentes, uma radiografia
deformidade representa a proem inência da clavícu la distai ao de estresse pode ser obtida, e uma lesão de terceiro grau é
separar-se do acrômio. diagnosticada conforme os critérios já mencionados. Em um
340 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

A B

Figura 16.36 Separação A C na radiografia AP. A. Lesão de segundo grau. B. Lesão de terceiro grau

estudo, os filmes de estresse foram incapazes de distinguir O tratamento de lesões de terceiro grau no contexto
entre as lesões de segundo e terceiro graus mesmo usando agudo é similar às lesões de segundo grau, com a medida
5 a 7,5 kg de peso/8 Em outro estudo, os filmes de estres­ adicional de encaminhamento precoce. Não existe prova
se ofereceram uma diferença significativa para desmascarar definitiva que um imobilizador AC (Kenny-Howard) faça
uma lesão de terceiro grau em somente 4% dos casos. qualquer diferença em termos de função, a longo prazo,
em comparação com o uso de tipoia e gelo.
Tratamento O tratamento definitivo das luxações de terceiro grau
O tratamento para as lesões de primeiro grau inclui repou­ da articulação AC é controverso. A intervenção cirúrgica
so, gelo e tipoia, com movimentação precoce. é considerada em operários que executam grandes esfor­
As lesões de segundo grau são tratadas de modo con­ ços e indivíduos mais jovens. A fixação anatômica evita as
servador, de forma similar às lesões de primeiro grau. complicações potenciais como o impacto ou a sintomato­
A tipoia deve ser continuada por duas semanas ou até que logia neurovascular. As indicações operatórias definidas
os sintomas cedam, seguida por fisioterapia e reabilita­ incluem o deslocamento clavicular de mais de 2 cm. Vá­
ção. O movimento precoce ajuda a prevenir o desenvolvi­ rios estudos apoiam o tratamento conservador para lesões
mento de capsulite adesiva. O levantamento de pesos e de terceiro grau. Os atletas podem se beneficiar
os esportes de contato são evitados por um período de três mais do reparo cirúrgico; entretanto, em uma pesqui­
meses, enquanto os ligamentos curam, para não converter sa com cirurgiões ortopedistas, quando indagados sobre
uma lesão parcial em uma luxação completa. O retorno como eles tratariam um lançador de beisebol profissional
mais precoce aos esportes de contato é aceitável se a arti­ com separação de terceiro grau, somente 37% declararam
culação for coberta com um coxim protetor. que reparariam a lesão cirurgicamente.

Complicações
Os sintomas tardios da doença articular degenerativa pós-
-traumática podem ocorrer após lesão na articulação AC.
A dor na articulação AC pós-lesões de primeiro e segundo
graus ocorre em 8 a 42% dos pacientes. A excisão da claví­
cula distai pode ser necessária para evitar a doença articular
28
degenerativa tardia e a sua síndrome de dor associada.

LUXAÇÃO DA ARTICULAÇÃO
ESTERNOCLAVICULAR
A articulação esternoclavicular é estabilizada pelo liga­
mento esternoclavicular e pelo ligamento costoclavicular
Figura 16.37 Medidas radiográficas para determinar o grau de (ver Fig. 16.2). O ligamento esternoclavicular possui tan­
separação AC. Largura da articulação AC (normal < 3 mm); dis­ to uma porção anterior como posterior. O movimento má­
tância C C (normal < 5 mm); e EC, elevação da coracoide (o as­ ximo dessa articulação ocorre durante a rotação interna,
pecto inferior do acrômio e a clavícula devem estar nivelados). com o braço elevado acima de 110°.
Emergências Ortopédicas 341

A. Entorse leve

B. Entorse moderada

Figura 16.39 Luxação anterior da articulação esternoclavicu­


lar à direita do paciente (seta).

infeccioso dentro da articulação esternoclavicular, embora


raro, deve ser considerado.4
Figura 16.38 Lesões da articulação esternoclavicular. A. Entorses
leves ocorrem quando rupturas microscópicas estiverem presentes
Exame
nos ligamentos esternoclavicular e costoclavicular. B. Entorse mo­ Um paciente com entorse leve apresenta edema mínimo
derada com ruptura do ligamento esternoclavicular. C. Luxação e queixa-se de sensibilidade dolorosa sobre a articulação.
com ruptura dos ligamentos esternoclavicular e costoclavicular. A dor aumenta com a elevação do braço acima de 110°.
O paciente com entorse moderada relata dor à abdução do
A entorse leve da articulação esternoclavicular en­ braço, e o edema é observado acima da articulação.
volve rupturas ligamentares microscópicas e incompletas O paciente com luxação esternoclavicular relata dor
dos ligamentos esternoclavicular e costoclavicular (Fig. intensa, que aumenta com qualquer movimento do om­
16.38 A). Entorse moderada envolve a subluxação da cla­ bro ou quando é colocado em posição de decúbito dorsal.
vícula de sua inserção no manúbrio e significa ruptura O ombro afetado parece encurtado e projetado para adian­
completa do ligamento esternoclavicular e parcial do liga­ te. À inspeção, há deformidade óbvia de luxação anterior
mento costoclavicular (Fig. 16.38B). (Fig. 16.39). A palpação mostra que a clavícula é fixa ou
A luxação da articulação esternoclavicular implica bastante móvel. O paciente com luxação posterior pode
ruptura completa dos ligamentos esternoclavicular e cos­ apresentar edema anterior significativo, que pode levar o
toclavicular (Fig. 16.38C), permitindo que a clavícula médico a pensar que a luxação é anterior (Fig. 16.40A).
seja arrancada de sua inserção no manúbrio. A lesão é rara
e responde por menos de 1% de todas as luxações. As lu­ Lesões associadas
xações nessa articulação são anteriores ou posteriores. Os pacientes com luxações posteriores podem represen­
As posteriores também são chamadas de retroesternais, tar uma emergência ortopédica verdadeira caso apresen­
pois a clavícula se desloca mediai e posteriormente ao es­ tem dificuldades respiratórias secundárias à compressão
terno. A luxação anterior da articulação esternoclavicular traqueal, ruptura traqueal ou pneumotórax. A congestão
é muito mais comum devido à maior resistência do liga­ venosa pode também estar presente. Essas lesões são fre­
mento esternoclavicular posterior. quentemente associadas a lesões fatais no mediastino,
incluindo os grandes vasos. A compressão da veia sub­
Mecanismo de lesão clávia pode gerar dormência e edema na extremidade. A
O mecanismo de lesão mais comum é uma força que em­ compressão esofágica causa disfagia. A angiotomografia
purra o ombro para a frente. Habitualmente envolve uma demonstra todas as principais lesões vasculares. 19,50 Essas
força imensa e, na maioria dos casos, é consequência de lesões, se estiverem presentes, podem exigir redução de
colisão de veículo automotor (40%), esportes (20%) ou emergência pelo médico no setor de emergência.
quedas e outros traumas (40%).4 A luxação anterior ocor­ Embora as luxações anteriores não sejam uma causa
re de forma indireta, quando o ombro é comprimido la­ direta de lesões secundárias, elas podem ser um marcador
teralmente (contra o chão) e então empurrado para trás. de lesões significativas devido à quantidade de força ne­
Reciprocamente, uma luxação posterior é criada quando cessária para ocasioná-las. Acima de dois terços dos pa­
o ombro comprimido lateralmente é empurrado para a cientes com luxações anteriores têm lesões significativas
frente. Uma força anterior direta pode também produzir associadas, incluindo pneumotórax, hemotórax, contusão
a luxação posterior. 1Na ausência de trauma, o processo pulmonar e fraturas de costelas.
342 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Figura 16.40 Luxação posterior da articu­


lação esternoclavicular à esquerda. A. Foto­
grafia clín ica . O edema é observado acima
da articulação e obscurece o diagnóstico
(seta). B. TC demonstrando luxação posterior
da articulação esternoclavicular com a cla ­
vícula medial em proximidade às estruturas
mediastinais (seta). C. Reconstrução da TC
no mesmo paciente. (De Beecroft M, Sher­
man SC. Posterior displacement of a proximal
epiphyseal cla vicle fracture. J Emerg M ed
2007;33(3):245-248/ com permissão de Else­
vier Scientific Publications.)
C

Imagens nas, e o paciente deve ser orientado sobre a possibilidade


Uma radiografia AP não rodada pode mostrar a luxação se a de desenvolver problemas na articulação que possam re­
diferença na altura das clavículas mediais for superior a 50% querer intervenção cirúrgica.
de sua largura. As incidências laterais são difíceis de inter­ Em pacientes com luxação posterior com via aérea
pretar devido à superposição de outras estruturas. Uma in­ estável e nenhum sintoma de comprometimento vascular,
cidência inclinada de Rockwood com o feixe inclinado em a investigação de lesões associadas deve ocorrer antes
40 a 45° cranialmente e centrado no esterno é a melhor ra­ de ser tentada a redução, pois a clavícula posteriormente
diografia simples para detectar a luxação. Uma TC do tó­ deslocada pode estar tamponando uma lesão vascular.
rax é frequentemente necessária para diagnosticar a luxação A consulta com um cirurgião ortopedista e um cirurgião
esternoclavicular e as suas lesões associadas (Fig. 16.40B). torácico deve ser obtida. ^
As luxações são reduzidas da seguinte maneira (Fig.
Tratamento 16.41): um campo dobrado é colocado entre os ombros,
A entorse leve é tratada com gelo três ou quatro vezes ao enquanto o paciente fica em decúbito dorsal, o que serve
dia, por um período de 24 horas, e tipoia por 3 a 4 dias. As para separar a clavícula do manúbrio. O braço é abduzido
entorses e subluxações moderadas da articulação são tra­ e a tração é aplicada. Embora a tração seja mantida, um
tadas com um tirante em figura oito e tipoia para segurar a assistente empurra a clavícula anteriormente deslocada
clavícula em sua posição normal e permitir a cicatrização para trás, em sua posição normal, ou eleva a clavícula
ligamentar. Essa proteção deve ser continuada por 6 sema­ posteriormente deslocada. Em luxações posteriores mais
Emergências Ortopédicas 343

por outras duas semanas. As luxações anteriores são com


frequência instáveis e podem deslocar novamente. Tais le­
sões não são tratadas com cirurgia, pois as complicações
do procedimento excedem quaisquer benefícios." ’

Complicações
As complicações de uma luxação anterior da articulação
esternoclavicular são estéticas, com edema crônico obser­
vado em tomo da articulação. As luxações posteriores são
menos frequentes, mas carregadas de complicações mais
graves, incluindo pneumotórax, laceração da veia cava su­
perior, oclusão da artéria ou da veia subclávia e ruptura
ou compressão da traqueia. Até 25% de todas as luxações
posteriores da articulação esternoclavicular estão associa­
das com lesão traqueal, esofágica ou de grandes vasos, o
Figura 16.41 Redução de uma lesão deslocada da articula­ que enfatiza a necessidade de redução precoce.
ção esternoclavicular. O braço é abduzido e a tração é aplica­
da. Com a tração mantida, um assistente empurra a clavícu la
de volta para a sua posição normal em luxações anteriores ou LUXAÇÃO ANTERIOR DO OMBRO
puxa de volta a clavícula em luxações posteriores.
O ombro, com sua grande amplitude de movimento e gle-
noide rasa, é inerentemente instável. Como consequência, a
difíceis, a clavícula pode ser segurada com uma pinça de luxação articular do ombro é apresentação comum no setor
de emergência, representando em tomo de 50% de todas as
campo (Fig. 16.42). A sedação costuma ser necessária
luxações principais atendidas pelo médico da emergência.
para reduzir uma luxação posterior da articulação estemo-
clavicular. Imediatamente após a redução de uma luxação A localização mais frequente de uma luxação da articulação
glenoumeral é a anterior, respondendo por 95% dos casos.
anterior, colocar um enfaixamento sob pressão (p. ex., um
rolo de gaze) sobre a articulação esternoclavicular para Cerca de 70% de todas as luxações anteriores do ombro
ocorrem em pacientes com menos de 30 anos. As luxações
assegurar que ela não se desloque.
posteriores são vistas nos restantes 5%, com as luxações in­
A redução de uma luxação posterior é em geral me­
canicamente estável. Se não puder ser executada por mé­ feriores (luxação ereta) sendo extremamente raras.
Existem três tipos de luxação anterior: subclavicular,
todos fechados, o reparo cirúrgico está indicado. Se a
subcoracoide e subglenoide (Fig. 16.43). Em 90% dos ca­
redução da luxação anterior for bem-sucedida e não hou­
ver outras lesões presentes, o paciente deve receber um sos, a cabeça do úmero está em uma locabzação subcora­
coide. As luxações subclaviculares são raras. As luxações
imobilizador em oito, que deve permanecer por um pe­
ríodo de 6 semanas, seguido por movimentos protegidos

Subclavicular

Subcoracoide

Subglenoide

Figura 16.42 Em casos difíceis de luxação posterior, a clavícula


pode ser presa com uma pinça de campo para reposicionamento. Figura 16.43 Os três tipos de luxações anteriores do ombro.
344 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

subclavicular e subglenoide têm associada uma ruptura lesão neurológica mais comum associada a luxações ante­
do manguito rotador ou uma fratura do tubérculo maior. riores do ombro, ocorrendo em cerca de 12% dos casos.
A cabeça do úmero pode intercambiar de uma posição até A lesão do nervo axilar pode ser avaliada pela testagem
a outra, mas habitualmente permanece em uma das três. da força motora e pela sensibilidade cutânea sobre o as­
pecto lateral do braço, comparando-a com o lado intacto.
Mecanismo de lesão Alguns autores relataram que a testagem sensitiva é pou­
co confiável e que a fraqueza motora (i.e., abdução) é um
O mecanismo pelo qual a lesão ocorre é, quase sempre, melhor indicador para a lesão nervosa. Entretanto, o
uma abdução acompanhada de rotação externa do braço, teste da força muscular do deltoide é impraticável durante
que rompe a cápsula anterior e os ligamentos glenoume- a avaliação inicial.
rais. As luxações subcoracóideas são, com frequência
secundárias a uma “hiper-rotação” externa. Menos comu-
Imagens
mente, elas podem ser vistas depois de convulsões ou com
um golpe direto no aspecto posterior do úmero proximal, As incidências radiográficas comuns de ombro (AP e
deslocando-o em direção anterior. As luxações subgle- Y escapular) são obtidas antes de a redução ser tentada,
nóideas estão associadas mais com abdução do que com tanto para confirmar o diagnóstico como para excluir fra­
rotação externa. Uma pequena porcentagem (4%) das lu­ turas concomitantes que ocorrem em cerca de 25% dos
xações são atraumáticas, ocorrendo ao levantar um braço casos. 9,61 Os fatores associados a uma fratura incluem
ou ao mover-se durante o sono.” idade acima dos 40 anos, luxação pela primeira vez e um
mecanismo traumático. Quando nenhuma dessas carac­
terísticas estiver presente e o profissional estiver seguro
Exame
do diagnóstico, radiografias antes da redução podem ser
O paciente se apresenta com os braços pendentes ao omitidas.
lado. Em um paciente magro, o acrômio está proemi­ O diagnóstico costuma estar aparente nas radiografias
nente e a ausência da cabeça do úmero é bastante óbvia AP (Fig. 16.45A). A cabeça do úmero estará deslocada da
(Fig. 16.44A). Em outros pacientes, o único achado pode fossa glenoide e fixada em rotação externa. Em rotação ex-
ser a perda do contorno normal arredondado do ombro tema, o tubérculo maior está localizado ao longo do aspecto
(Fig. 16.44B). À palpação, o examinador nota a ausência lateral da cabeça do úmero. Qualquer tentativa de obter uma
da cabeça do úmero em sua localização habitual, enquan­ incidência AP em rotação interna será fracassada e deve ser
to palpa inferiormente ao acrômio. Um enchimento no considerada uma pista para o diagnóstico. A pseudoluxação
ombro anterior pode ser notado, indicando a presença da ocorre quando uma hemartrose causar alargamento do es­
cabeça do úmero. Na maioria dos casos, o paciente resiste paço articular. Esse é um achado mais comum em pacientes
a qualquer movimento do braço e, apenas ocasionalmen­ com fraturas do úmero proximal (ver Fig. 16.16).
te, permite alguma abdução e rotação externa. A rotação A incidência escapular em Y demonstra a luxação ante­
interna e a adução são bastante dolorosas. rior da cabeça do úmero a partir da glenoide (Fig. 16.45B).
Um exame neurovascular completo da extremidade Algumas vezes, ocorre uma incidência escapular em Y fal­
superior deve ser executado. A lesão do nervo axilar é a so-negativa; assim, se ainda houver dúvida, uma incidência

Figura 16.44 Luxação anterior de ombro. A. Em um indivíduo magro, a ausência da cabeça do úmero é bem perceptível. B. Em um pa­
ciente maior, o aspecto normal e arredondado do ombro esquerdo comparado a um aspecto mais quadrado do ombro direito deslocado.
Emergências Ortopédicas 345

A B

Figura 16.45 Luxação anterior de ombro. A. Incidência AP. B. Incidência escapular em Y.

axilar da escápula deve ser obtida. Para obter uma incidên­ As lesões de tecidos moles também ocorrem. Em jo ­
cia axilar, deve-se notar que o paciente não precisa abduzir vens, o local comum de ruptura capsular fica entre os liga­
o braço em 90°, já que isso será quase impossível no con­ mentos glenoumerais superior e médio. Além das rupturas
texto de uma luxação anterior. Aproximadamente 15° de capsulares, o lábio pode estar rompido a partir da glenoi­
abdução ou apenas o suficiente para conseguir que o tubo de, pelo deslocamento da cabeça do úmero. Essa lesão,
de raios X fique entre o braço e o corpo em geral é suficien­ conhecida como lesão de Bankart de tecidos moles, ocor­
te. Se o paciente estiver caminhando e mostrar dificuldade re em aproximadamente 90% dos pacientes abaixo dos 30
para abduzir completamente o braço devido à dor, uma in­ anos que sofrem luxação anterior do ombro. 3,64
cidência axilar de Velpeau será muito mais fácil de obter e
fornecerá informação similar (Fig. 16.46). Uma incidência
A P verdadeira (Grashey) na qual o feixe é dirigido em um
ângulo de 45° em direção medial para lateral também é útil
para avaliar a incongruência articular sutil.
Ao avaliar as radiografias em pacientes com suspeita
de luxações anteriores do ombro, deve-se buscar por um
defeito na porção posterolateral da cabeça do úmero. Essa
lesão, conhecida como defeito de H ill-Sachs, está presente
em até 40% dos casos de luxação anterior de ombro (Fig.
16.47A).5 Essa lesão ocorre como resultado da impacta-
ção da base mole da cabeça do úmero contra a glenoide
anterior. Quanto mais a cabeça do úmero estiver fora da
fossa glenoide, maior será o defeito. Esse é mais comum
com as luxações anteriores recorrentes. Se houver suspei­
ta de defeito de Hill-Sachs, uma incidência em rotação
interna pode ser obtida depois que o ombro tiver sido re­
duzido, delineando o defeito com mais clareza.

Lesões associadas
As fraturas associadas, além do defeito de Hill-Sachs, in­
cluem o tubérculo maior e a borda glenoide (i.e., a lesão
de Bankart) (Fig. 16.47B) . As fraturas do tubérculo maior
ocorrem em 15% dos pacientes com luxações anteriores
de ombro (Fig. 16.48). Em aproximadamente 40% dos Figura 1 6 .4 6 A incidência axilar de Velpeau pode ser usada
casos, o paciente tem idade acima dos 45 anos. As fraturas para diagnosticar luxações de ombro em pacientes que sejam
da borda glenoide incidem em 5% dos pacientes. incapazes de abduzir o braço.
346 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Figura 16.47 A. Fratura de impactação de Hill-Sachs após luxação anterior do ombro (seta). B. Fratura da borda da glenoide (de
Bankart) (seta).

As rupturas do manguito rotador ocorrem em 50% Tratamento


dos pacientes abaixo dos 40 anos e em 80% dos pacien­
Analgesia
tes acima de 60 anos. A incapacidade de abduzir o braço
após a redução de uma luxação anterior de ombro é um Antes de executar a redução do ombro, o médico deve con­
indicador sensível de ruptura do manguito rotador. Entre­ siderar a analgesia apropriada. Em pacientes cooperativos
tanto, o teste não é específico, pois pode ocorrer também com luxações recentes, recorrentes e relativamente atrau-
em pacientes com lesão do nervo axilar. Para as rupturas máticas, a redução pode ser alcançada sem sedação. A re­
do manguito rotador é importante o rápido diagnóstico, dução sem analgesia é mais efetiva quando são usadas téc­
uma vez que o reparo cirúrgico precoce melhora o desfe­ nicas que não requeiram quantidade<gsignificativa de tração
cho. As lesões do tendão do bíceps também podem estar (p. ex., a manipulação escapular). 1Se o paciente estiver
presentes. ansioso e com uma quantidade significativa de dor, a seda­
A lesão do plexo braquial ou o dano do nervo axilar ção deve ser administrada conforme descrito no Capítulo
ocorrem em 5 a 14% dos casos. ,,6í A lesão do nervo axilar 2. Sem a adequada analgesia e relaxamento muscular, a
é uma neuropraxia e a recuperação completa é esperada redução da luxação anterior de ombro toma-se difícil.
na maioria dos casos. Como alternativa, uma injeção intra-articular de
20 mL de lidocaína a 1% usando agulha tamanho 20 é ou­
tro método para alcançar a redução que tem demonstrado
encurtar o tempo de alta (Vídeo 16.1). O local da inje­
ção fica a aproximadamente 1 cm inferior à borda lateral
do acrômio. A agulha é dirigida medial e inferiormente
até a profundidade de 2,5 a 3 cm. O método é barato e
fornece bom alívio da dor sendo é especialmente útil em
pacientes com contraindicações à sedação. A injeção
intra-articular é mais efetiva quando o paciente apresen-
70
tar-se no período de 6 horas da luxação.

Técnicas de redução
Vários métodos foram descritos para reduzir as luxações
anteriores de ombro. Nenhuma evidência clara corrobora a
superioridade de qualquer técnica, e o método usado é com
frequência baseado na experiência do médico. O método
Figura 16.48 Luxação anterior de ombro com fratura associa­ ideal é rápido, simples e requer a menor quantidade de for­
da do tubérculo maior. ça. Com essa meta em foco, são preferíveis as técnicas de
Emergências Ortopédicas 347

Figura 16.50 No paciente sentado, apoiando o ombro não


afetado contra a maca, a m anipulação escapular é executada
com tração suave para baixo.

Figura 16.49 M anipulação escapular. A borda inferior da es­ Para executar a técnica de rotação externa, o paciente
cápula é rodada medialmente, enquanto a borda superior é ro­ é sentado na vertical ou em 45°. O cotovelo do paciente
dada em direção lateral. é apoiado por uma das mãos e a outra mão é usada para
rodar externamente, de forma lenta e suave, o braço. Aos
rotação externa ou de manipulação escapular como os méto­ poucos, o braço é rodado extemamente até 90° (Fig. 16.51
dos de primeira escolha; e no contexto apropriado, a redução e Vídeo 16.4). Se o paciente sentir qualquer desconforto
é tentada antes de preparar o paciente para a sedação. durante a rotação externa, o examinador deve parar e es­
Uma descrição das várias técnicas para reduzir as lu­ perar um momento até que os músculos relaxem. Durante
xações anteriores de ombro é fornecida a seguir: o procedimento, é importante que o paciente fique com­
pletamente relaxado e que a rotação seja feita gradual e
Técnica de manipulação escapular. O paciente fica em lentamente. A redução é bastante sutil e o “ressalto” do
decúbito ventral na mesa, com o braço afetado pendente da úmero rearticulando-se com a glenoide não é ouvido.
mesa com aproximadamente 2,5 a 5 kg de peso, de forma
similar à técnica de Stimson. O médico então roda a ponta Técnica de Milch. A técnica é usada pelos autores quan­
da escápula medialmente e o aspecto superior da escápula do a rotação externa até 90°, usando a técnica de rotação
lateralmente (Fig. 16.49 e Vídeo 16.2). A técnica é rápi­ externa descrita anteriormente, não tiver reduzido o om­
da, tem alta taxa de sucesso (80-100%) e está associada bro de forma espontânea. O braço é abduzido aos poucos
a poucas complicações.j4,76' Altemativamente, o paciente
senta-se ereto, com o ombro não afetado apoiado contra
uma maca que é colocada em 90°. Enquanto uma pessoa
executa a manipulação escapular por trás do paciente, ou­
tro indivíduo fornece tração descendente suave no braço
afetado e flexionado (Fig. 16.50 e Vídeo 16.3).

Técnica da rotação externa. A técnica foi descrita por


Leidelmeyer e popularizada no Hennepin County Emer-
gency Medicine Center. A rotação externa do ombro
atua para superar o espasmo muscular do rotador interno e
desenrola a cápsula articular, permitindo que os rotadores
externos do manguito rotador tracionem o úmero de volta
à posição. A técnica exige pouca manipulação e permite
que os músculos do ombro reduzam a luxação com pouca
ou nenhuma analgesia. Em uma série de casos, 81% dos
pacientes foram reduzidos sem sedação. Somente uma
pessoa é necessária para executar a redução. As taxas de Figura 16.51 Técn ica da rotação externa (i.e ., a técnica de
sucesso para essa manobra ficam entre 80 e 90%. Hennepin) para a redução das luxações anteriores de ombro.
348 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Figura 16.52 Técnica de M ilch para redução das luxações an­


teriores de ombro.

e a cabeça do úmero é levantada até a glenoide, se não


reduzir espontaneamente apenas com a elevação (Fig.
16.52 e Vídeo 16.5). Acredita-se que a elevação do braço
(i.e., a abdução) ajude eliminando os estresses cruzados
dos músculos do ombro, o que normalmente evita a redu­ Figura 16.53 Técnica de Spaso para redução das luxações an­
ção. As taxas de sucesso ficam entre 86 e 100%. teriores de ombro.

Técnica d e Spaso. O paciente adota a posição de decú­


cular ao eixo longitudinal do úmero, aplicada ao úmero
bito dorsal e o examinador aplica tração vertical suave e
rotação externa para reduzir a luxação (Fig. 16.53). ’ proximal na axila por um segundo assistente (Fig. 16.55B
e Vídeo 16-7). A tração lateral deve ser usada com alguma
A técnica é rápida e o sucesso costuma ser alcançado den­
cautela. Se for aplicada antes de a cabeça do úmero estar
tro de 1 a 2 minutos.
localizada com segurança abaixo da borda glenoide, pode
Técnica d e S tim so n . A técnica de Stimson é um pro­ ocorrer uma fratura da borda.
cedimento seguro para reduzir uma luxação anterior do
ombro. O paciente é colocado em decúbito ventral, com o
braço pendente sobre um travesseiro ou campos dobrados /y
(Fig. 16.54). Uma atadura é adicionada ao punho ou ao
antebraço distai, e 5 a 7,5 kg de peso são aplicados por um
período de 20 a 30 minutos. É difícil administrar a seda­
ção em pacientes nessa posição, dessa forma, a lidocaína
intra-articular é um bom método anestésico alternativo.
As taxas de sucesso variam de 70 até 90%. Se não fun­
cionar, o examinador pode rodar o úmero de modo suave,
extemamente, e então intemamente com força leve, o que
em geral reduz a luxação.

Tração e contratração. Este método tem sido preconi­


zado para aquelas luxações anteriores que sejam difíceis
de reduzir por outras técnicas (Fig. 16.55A). No método,
um assistente aplica contratração com um campo dobrado
em tomo do tórax superior, e o examinador aplica tração
ao braço em direção inferolateral (Vídeo 16.6). Essa ma­
nobra desaloja a cabeça do úmero e reduz a luxação. A
tração lateral durante a tração e a contratração também
podem ser empregadas em pacientes com bom relaxamen­ Figura 16.54 Técnica de Stimson para redução das luxações
to muscular. A tração lateral envolve uma força perpendi­ anteriores de ombro.
Emergências Ortopédicas 349

A B

Figura 16.55 A. A técnica de tração e contratração para reduzir as luxações anteriores de ombro. B. Se alguns minutos de tração
e contratração fracassarem, uma tração suave lateral no braço pode ajudar na redução. O uso de tração lateral excessiva deve ser
evitado para não produzir fratura do úmero proxim al.

Outros métodos foram descritos para reduzir as luxa­ do é reaproximado, o que permite a melhor cicatrização.
ções anteriores de ombro. Eles incluem a técnica da torção, O método mais comum é o imobilizador com malha de
a da cadeira, a do esquimó, a hipocrática e a de Kocher. fio, recoberto com esponja, dobrado de tal forma para que
A manobra de Kocher é bastante perigosa e cheia de com­ metade da tala se ajuste sobre o tronco anterior e a outra
plicações e não deve ser usada pelo médico de emergência metade se estenda para a frente, onde o braço é inserido.
para reduzir as luxações anteriores do ombro. Na opinião Também há talas disponíveis no comércio para imobilizar
dos autores, a técnica hipocrática nunca deve ser usada, o ombro em rotação externa.
sob qualquer pretexto, para reduzir essas lesões. A duração da imobilização também é controversa,
A redução bem-sucedida é com frequência sinaliza­ mas costuma ser mais longa em pacientes mais jovens.
da por um ressalto audível, conforme a cabeça do úmero Quanto mais velho o paciente, mais cedo a mobilização
retorna ao local anatômico. O ombro retoma o seu contor­ deve ser instituída para evitar a rigidez. Em pacientes
no normal e o enchimento é sentido novamente abaixo do abaixo dos 30 anos, três semanas de imobilização são pre­
acrômio. A capacidade de colocar a mão da extremidade conizadas. Depois disso, os exercícios ativos e suaves de
afetada sobre o ombro oposto confirma a redução. amplitude de movimento podem ser instituídos; contudo,
Quanto mais tempo o ombro passou luxado, maior a o paciente deve ser advertido contra a abdução e rotação
probabilidade de ser irredutível. Caso a luxação seja irre­ externa. A rotação externa e a abdução devem ser proi­
dutível pelos métodos listados anteriormente, a anestesia bidas por cerca de três semanas adicionais depois que a
geral é considerada e a redução é tentada na sala de cirur­ imobilização tiver sido descontinuada. Durante o tempo
gia. As luxações irredutíveis constituem 5 a 10% dos ca­ em que o paciente ficar imobilizado, devem ser instituídos
sos tratados no setor de emergência e em geral são devido exercícios para o punho, a mão e o cotovelo.
à interposição de tecidos moles. Em indivíduos acima dos 30 anos, é preconizada a
imobilização por 7 a 10 dias, com exercícios de circun-
Im o b iliz a ç ã o e re a b ilita ç ã o dução (de Codman), começando 4 a 5 dias após a lesão
Após a redução, o ombro deve ser imobilizado e o pacien­ (ver Fig. 11.13).O paciente deve evitar a abdução e a ro­
te encaminhado para as radiografias pós-redução. O mé­ tação externa do ombro. O exercício deve ser executado
todo tradicional de imobilização é com adução e rotação dentro da amplitude de movimentos livre de dor, após o
interna com tipoia e enfaixamento ou imobilizador de om­ período de imobilização. Muito pouco movimento após
bro (Apêndice A. 13). Em um esforço para reduzir a taxa uma luxação pode resultar em retesamento das estruturas
de luxação recorrente a longo prazo, vários autores pro­ em torno do ombro e tempo prolongado para recuperar a
puseram a imobilização em 10° de rotação externa. 00 amplitude completa de movimento.
Embora um pouco mais desajeitado para o paciente, essa Após o período de recuperação inicial, o fortaleci­
posição tem demonstrado reduzir as taxas de reincidên­ mento do músculo subescapular é recomendado para
cias. 100,10 Em rotação externa, o lábio glenoide destaca­ evitar a reincidência futura da lesão (Fig. 16.56). Os
350 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Figura 16.57 Técnica para executar o teste da apreensão do


ombro.

recorrentes têm rupturas capsulares extensas e pelo menos


Figura 16.56 Exercício de rotação interna usando uma banda uma desinserção parcial labral, resultando em alguma ins­
de látex fortalece o músculo subescapular e ajuda a prevenir as tabilidade. As lesões de Bankart têm sido encontradas no
115
luxações recorrentes do ombro. O cotovelo é mantido o mais momento do reparo em 90% dos casos.
perto possível da parede torácica. Na ausência de uma luxação prévia, a instabilidade
glenoumeral anterior pode complicar uma luxação ante­
rior do ombro ou ocorrer de forma independente. A con­
exercícios podem ser iniciados dois meses depois da le­
dição na qual a subluxação da cabeça do úmero ocorre,
são. Os rotadores externos são fortalecidos pela manobra
devido a uma perda do suporte ligamentar e labral, é um
oposta. Fortalecendo esses músculos, a cápsula, que é um
problema comum e muitas vezes passa despercebido no
estabilizador estático da articulação, é adicionalmente re­
setor de emergência. A subluxação é caracterizada por dor
forçada pelos estabilizadores musculares dinâmicos.
cortante e súbita ao mover o ombro forçadamente em ro­
Tratamento definitivo tação externa durante a abdução. O teste de apreensão do
ombro costuma ser positivo. Para executar o teste, o braço
Existem várias indicações para a cirurgia de uma luxação
é extemamente rodado e abduzido. Uma pressão anterior
anterior aguda do ombro, além da interposição de tecidos
é então aplicada ao aspecto posterior da cabeça do úmero
moles. Em uma luxação subglenoide ou subclavicular,
(Fig. 16.57). Isso causa dor súbita e pode ocasionar o des­
com frequência existe a ruptura completa do manguito.
locamento anterior da cabeça do úmero. Quando isso for
Em atletas jovens, o reparo está indicado e a redução pode
um problema recorrente, o paciente deve ser encaminhado
ser tentada na sala de cirurgia, naquele momento. A
para avaliação adicional, já que muitos dos casos reque­
fratura do tubérculo maior com deslocamento maior que
rem intervenção cirúrgica para estabilizar o ombro.
5 mm pós-redução ou uma fratura da borda glenoide (de
Bankart) que tenha deslocamento superior a 5 mm tam­
bém constituem indicações para a cirurgia. LUXAÇÃO POSTERIOR DO OMBRO
O reparo artroscópico de uma ruptura labral (i.e., a
As luxações posteriores são muito menos comuns do que
lesão de Bankart de tecidos moles) é, às vezes, recomen­
as anteriores, mas são as que mais comumente passam
dado em pacientes jovens com ocupações de grande de-
despercebidas. Essas luxações não são percebidas em até
manda física depois de uma primeira luxaçao.
60 a 70% dos casos. A causa mais frequente é a ava­
A cirurgia nesses pacientes pode reduzir a taxa de luxação
liação radiográfica abaixo do ideal, mas também por se
recorrente. A maioria concorda, entretanto, que, a menos
apresentarem com menos dor do que as luxações anterio­
que haja uma complicação requerendo cirurgia, a maioria
res e pelos achados radiográficos serem sutis. O diagnós­
dos pacientes não se beneficia da intervenção cirúrgica
tico de luxação posterior do ombro deve ser suspeitado
para estabilizar essas luxações.
no paciente cujos ombros estejam bloqueados à rotação
externa.
Complicações Existem três tipos de luxações posteriores: subacro­
A complicação mais comum da luxação anterior é a reci­ mial, subglenoide e subespinal. De todas as luxações pos­
diva, que é vista em 60% dos pacientes abaixo dos 30 anos teriores, 98% são do tipo subacromial.
e cai para uma incidência aproximada de 10% em pacien­
tes acima dos 40 anos. O reparo cirúrgico está indicado Mecanismo de lesão
para pacientes que tiveram mais de três luxações. A maior Existem vários mecanismos pelos quais essa lesão ocor­
parte da literatura demonstra que pacientes com luxações re. Um golpe no aspecto anterior do ombro e o carre­
Emergências Ortopédicas 351

gamento axial do braço quando estiver aduzido e inter­ o braço é mantido em 30° de abdução e com rotação in­
namente rodado constituem dois mecanismos possíveis. terna. Uma covinha subacromial pode estar presente com
Uma força rotacional interna violenta, como a que a luxação posterior, representando a porção posterome­
ocorre durante uma queda sobre o braço flexionado e dial do deltoide. 2
em rotação interna é outra possibilidade. Convulsão ou
choque elétrico são precursores comum para a luxação Imagens
posterior do ombro e ocorrem porque os rotadores in­ A evidência de luxação posterior de ombro na incidência
ternos são duas vezes mais fortes do que os músculos padrão AP do ombro nem sempre está aparente, fazendo
i 119122
rotadores externos. ’ com que ela passe despercebida nessa incidência em até
50% dos casos. Existem diversas características radio-
Exame gráficas que ajudam o médico da emergência a fazer o
O sinal cardeal de uma luxação posterior do ombro é diagnóstico.
que o braço é mantido em adução e rotação interna. A
abdução está gravemente limitada e a rotação externa Sinal da borda. Esta é a perda do padrão elíptico normal
do ombro está bloqueada (Vídeo 16.8). Na palpação da produzido pela sobreposição do aspecto medial da cabeça
cintura escapular, o examinador nota uma proeminên­ do úmero e a borda glenoide anterior (Fig. 16.58). A su­
cia no aspecto posterior do ombro, acompanhada de um perposição dessas duas estruturas ou o alargamento do es­
achatamento anterior do contorno normal do ombro. O paço articular (> 6 mm) sugere a luxação posterior.
processo coracoide está mais aparente do que a sua con­
trapartida no lado normal. O bloqueio da rotação externa Sinal da lâm pada. A rotação interna da cabeça do úme­
e a lim itação da abdução ocorrem em todos os ca so s de ro que ocorre com uma luxação posterior do ombro re­
lu xações posterio res. No tipo subglenoide e subespinal, sulta em rotação do tubérculo maior, de forma que não

Figura 16.58 Sinal da borda. A. A distância


normal entre o aspecto medial da cabeça do
úmero e a borda glenoide anterior. B. Radio­
grafia norm al. C. Em paciente com luxação
posterior, essa distância é anorm al. D. Super­
posição (i.e ., o sinal da borda) vista em uma
radiografia de luxação posterior de ombro.
352 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Figura 16.59 O sinal da lâmpada indicando luxação posterior


Figura 16.61 Incidência axilar de luxação posterior de ombro.
de ombro.

L esõ es a sso c ia d a s
fique mais em sua posição lateral normal (Fig. 16.59).
Isso é chamado do “sinal da lâmpada” ou da “casquinha Essa luxação em geral está associada a fraturas do úmero
de sorvete”, porque a cabeça do úmero parece arredonda­ e do aspecto posterior da borda glenoide. Uma fratura
da, como se estivesse assentada em cima de um cone - a isolada do tubérculo menor deve levar à suspeita de luxa­
ção posterior até prova em contrário. Uma lesão invertida
diáfise do úmero.
de Hill-Sachs é um defeito de impressão na parte antero­
medial da cabeça do úmero, pela compressão da glenoide.
S in a l da trincheira. Quando a cabeça do úmero se des­
É vista em até 80% desses pacientes. As rupturas do
loca atrás da glenoide, uma fratura de impactação ocor­ 1^8
manguito rotador estão presentes em até 20% dos casos.
re na sua superfície articular, sendo chamada de “lesão
As complicações neurovasculares com esta lesão são in-
invertida de Hill-Sachs”. Na radiografia AP, duas linhas
comuns.
paralelas de osso cortical representando a cortical medial
da cabeça do úmero e a base da fratura de impactação na
superfície articular anterior são chamadas de sinal da trin- A xiom a: Uma fratura isolada do tubérculo menor deve le­
cheira (Fig. 16.60).1“ var à suspeita de luxação posterior do ombro, até prova em
Se permanecer alguma dúvida sobre a luxação, uma contrário.
incidência escapular em Y ou axilar pode ser obtida (Fig.
16.61). Uma TC será diagnóstica e também revelará o ta­ T ra ta m e n to
manho da fratura de impactação, ajudando o ortopedista a A consulta com um ortopedista deve ser obtida antes das
119 i 27
escolher o melhor tratamento definitivo (Fig. 16.62). ’ tentativas de redução de uma luxação posterior do ombro.
A redução fechada usando tração axial no ombro flexio-

[D] [E]

Figura 16.60 O sinal da trincheira indica luxação posterior de Figura 16.62 TC demonstrando luxação posterior de ombro.
ombro. Notar a fratura de impactação articular.
Emergências Ortopédicas 353

nado e aduzido costuma ser bem-sucedida e pode ser exe­


cutada em luxações agudas (< 3 semanas) quando houver
um defeito menor do que 25% da superfície articular.
A pressão direta na cabeça do úmero posteriormente des­
locada facilita a redução. As indicações para intervenção
cirúrgica incluem o deslocamento significativo do tubér­
culo menor que seja irredutível durante a redução da luxa­
ção, um defeito articular maior que 25% ou uma luxação
crônica (> 3 semanas).

LUXAÇÃO INFERIOR DO OMBRO


(LUXAÇÃO ERETA)
As luxações inferiores do ombro são incomuns, mas po­
dem ser lesões bastante graves (Fig. 16.63). Essas lesões
129
são mais comuns em homens do que em mulheres.
O termo luxação ereta significa “virada para cima”, re­
ferindo-se à apresentação característica do braço nessa
lesão.

Mecanismo de lesão
O mecanismo pelo qual a lesão ocorre é a hiperabdução
forçada.130

Exame
É improvável que essa lesão passe despercebida, pois o
paciente segura o braço elevado em 180° e não pode adu­
zi-lo, como se estivesse “pedindo a palavra”. Os pacientes
relatam dor significativa. O braço parece estar encurtado
quando comparado ao lado normal. À palpação, a cabeça
Figura 16.63 Luxação ereta. O mecanismo pelo qual essa le­
do úmero é sentida ao longo da parede torácica lateral.
são ocorre é a hiperabdução. Essa luxação está sempre acom ­
panhada de ruptura do manguito rotador e da cápsula inferior.
Imagens
As radiografias comuns do ombro são diagnósticas e re­
velam a localização inferior da cabeça do úmero, com a rompimento na cápsula glenoumeral inferior. " O médi­
diáfise umeral virada para cima (Fig. 16.64). 1 co aplica tração no eixo longitudinal do úmero, e um as­
sistente aplica contratração com um campo dobrado em
Lesões associadas tomo da região supraclavicular (Fig. 16.65). Enquanto a
A luxação ereta está sempre acompanhada de desinser- tração é mantida, o braço é rodado inferiormente em arco,
ção do manguito rotador. Os pacientes habitualmente têm
compressão neurovascular; contudo, eles habitualmente
129
se recuperam após a redução. A artéria axilar e o plexo
braquial são feridos, pois a cabeça do úmero rompe atra­
vés da cápsula inferior em vez da cápsula anterior, como
em uma luxação anterior do ombro. A lesão vascular não é
comum, porém é mais comum na luxação ereta do que em
quaisquer dos outros tipos de luxação do ombro. Podem
ocorrer fraturas do acrômio, da borda glenoide inferior e
131
do tubérculo maior do úmero.

Tratamento
A redução precoce é necessária na luxação ereta para
prevenir as sequelas neurovasculares, que são bastante
comuns. A redução não é difícil na maioria dos casos,
a menos que a cabeça do úmero tenha feito um pequeno Figura 16.64 Luxação ereta do ombro.
354 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

mação de osteófitos, a fibrose bursal subacromial e o es-


pessarnento do ligamento coracoacromial. O acrômio em
forma de gancho tem sido associado a uma alta incidência
de ruptura do manguito rotador, tanto em espécimes de
cadaver como clmicamente.
Os achados clínicos do impacto são caracterizados
pela dor que é referida no aspecto lateral do braço, na re-
gião do deltoide e na sua inserção. Como característica,
a dor é pior à noite e exacerbada com atividades realizadas
acima da cabeça, pois a região torna-se estreitada com a
abdução do ombro (Fig. 16.66). O arco doloroso fica entre
60 e 120° de abdução, o que indica um distúrbio estrutu-
ral na região subacromial. Em situações nas quais a dor
aumenta em um ponto além dos 120° de abdução até a ele­
vação completa, devem ser suspeitados distúrbios das arti­
culações AC. A sensibilidade dolorosa é máxima abaixo da
borda lateral do acrômio. O estreito inferior do manguito
rotador é também comprometido quando o ombro é colo­
cado em flexão e rotação interna (sinal de Hawkin). A dor
pode ser eliminada pela rotação externa do úmero durante
a abdução. A dor também ocorre com a elevação passiva
Figura 16.65 Redução de uma luxação ereta. A tração é apli­ do braço pronado até 180° (sinal de Neer). A ultrassono-
cada pelo médico no eixo longitudinal do úmero, enquanto grafia de alta resolução é útil para diagnosticar essa condi-
um assistente aplica contratração com um campo dobrado. En­ ção, bem como a ressonância magnética nuclear (RMN).
quanto a tração é mantida, o braço é rodado inferiormente em O tratamento com anestésico local e injeção de es-
arco, conforme mostrado. teroide fornece alívio imediato e confirma o diagnóstico,
se a dor se resolver. Fazer o paciente sentar com o braço
relaxado ao lado. A agulha é inserida sob a borda anterior
conforme demonstrado. Se uma deformidade em botoeira
do acrômio e do ligamento coracoacromial, no local de
ocorrer na cápsula inferior, a redução aberta está indica-
sensibilidade dolorosa máxima (Fig. 16.67 e Vídeo 16.9).
da. Após a lesão, o paciente deve ser acompanhado para
129
verificar evidências de rupturas do manguito rotador.
Depois da redução, imobilizar o ombro por duas a qua­ TENDINITE DO SUPRAESPINAL E BURSITE
tro semanas. Algumas vezes, os pacientes podem requerer SUBACROMIAL
anestesia geral para reduzir a luxação e o reparo cirúrgico
do manguito ser indicado. A patogenia, apresentação clínica e tratamento de ambas
as condições são similares e, por conseguinte, serão con­
siderados em conjunto.
SÍNDROME DO IMPACTO
A síndrome do impacto envolve a compressão mecâni­
ca dos tendões do manguito rotador quando eles passam Arco coracoacromial

entre o acrômio, o ligamento coracoacromial rígido e a


cabeça do úmero (ver Fig. 16.4). 32,13 O resultado é infla­
mação aguda, edema e hemorragia dos tendões do man­
guito rotador. Se não tratados, ocorrem fibrose e tendinite
e, eventualmente, a condição progride para ruptura dos
tendões do manguito rotador. O tendão do supraespinal é
mais comumente afetado em função de sua proximidade
com o arco coracoacromial e pelo suprimento sanguíneo
mais deficiente.
A condição afeta com maior frequência os indivíduos
idosos e os atletas jovens, cujo esporte envolva movimen­
tos sobre a cabeça (p. ex., tênis, natação). Também tem
sido descrita em pacientes com lesão por chicotada, se­
cundária a um cinto de segurança. Figura 16.66 Na síndrome do arco doloroso, conforme o pa­
Muitas variáveis anatômicas contribuem para o im­ ciente eleva e abduz o braço, o tubérculo invade o arco cora­
pacto, incluindo o acrômio em forma de gancho, a for­ coacrom ial. Isso causa dor máxima entre 60 e 120°.
Emergências Ortopédicas 355

Figura 16.67 Injeção ao longo do arco coracoacrom ial. A in­


jeção deve ser concentrada sob o arco, que é palpável por meio
da ponta da agulha.

A tendinite do supraespinal é a causa mais comum de Figura 16.68 A relação do tendão do supraespinal e a bolsa
dor no ombro e é habitualmente causada por alterações subacromial-subdeltóidea.
degenerativas naquele tendão com o avançar da idade e
pelo impacto, conforme previamente descrito. O impac­
to é a causa de aproximadamente três quartos dos casos, tinuar, o paciente pode desenvolver uma bursite crônica,
seguidos pelo superuso crônico (10%) e pelas distensões eventualmente levando à pericapsulite adesiva.
agudas (5%). Essa condição costuma ocorrer entre os 35 e 50 anos
Os tendões dos músculos redondo menor, infraespi- e parece ser mais comum em pessoas sedentárias. Os pa­
nal, supraespinal e subescapular se juntam e inserem-se cientes queixam-se de dor profunda no ombro, que envol­
nos tubérculos maior e menor para formar o manguito ro- ve a região do deltoide, podendo se irradiar para todo o
tador. A tendinite pode ocorrer em quaisquer um desses membro. Existe habitualm ente uma sensibilidade dolorosa
tendões, mas é muito mais comum onde o tendão do su­ apontada em um “p o n to c rític o ” entre o acrôm io e o tu ­
praespinal tem grande proximidade com o arco coracoa­ bérculo maior. A dor aumenta com a abdução e a rotação
cromial (Fig. 16.68). interna do braço. O aparecimento é gradual, mas pode ser
A patogenia da tendinite do supraespinal é um c o n ­ agudo depois do uso excessivo do ombro, especialmente
tin u u m que, em última instância, causa a bursite suba­ em uma posição acima da cabeça. Dentro de 2 a 3 dias, a
cromial. Conforme o tendão do supraespinal cruza sob dor se toma cada vez mais intensa naquele ponto do ombro.
o acrômio e o arco coracoacromial, ocorrem pequenas Os achados radiográficos incluem calcificação e alte­
rupturas. O processo de reparo está associado a células rações císticas ao longo do tubérculo maior, acompanha­
inflamatórias que levam à tendinite. O paciente durante das de esclerose. As alterações não ocorrem, contudo, até
esse estágio queixa-se de dor profunda no ombro, que que o processo tenha se tomado mais crônico. A calcifica­
aumenta com a abdução e a rotação interna. As células ção é às vezes vista em pacientes assintomáticos.
inflamatórias causam edema significativo, e o cálcio O tratamento consiste em evitar a atividade incitante,
eventualmente se deposita dentro do tendão. O edema administração de medicamentos anti-inflamatórios não
do tendão causa agravação no impacto sobre a bolsa su­ esteroides, gelo e exercícios que previnem a atrofia mus­
bacromial, que forma o teto do tendão do supraespinal. cular. O paciente deve ser estimulado a iniciar a amplitude
Nesse ponto, o tendão se torna um obstáculo à abdução de movimentos, começando com exercícios pendulares
indolor e o paciente reclama de dor crescente no ombro. (de Codman) (ver Fig. 16.12). Uma parte muito impor­
As tentativas de abduzir o braço para além de 70° causam tante da terapia é nunca imobilizar o ombro por um pe­
dor intensa. ríodo prolongado, já que isso induz à capsulite adesiva em
Conforme o processo continua, uma reação infla­ pacientes com mais de 40 anos. O encaminhamento para
matória grave ocorre dentro da bolsa, causando bursite. fisioterapia é apropriado.
Quando a bolsa subacromial incha, a abdução e a adução O tratamento com anestésico local e injeção de este-
parciais são restringidas. O braço é mantido em aproxima­ roide pode fornecer alívio imediato. É usada uma aborda­
damente 30° de abdução. A adução ou abdução adicionais gem lateral, na qual a agulha é inserida diretamente sob
aumentam a dor, e o paciente resiste a qualquer tentativa o acrômio (Vídeo 16.10). Um agulha mais longa dirigida
de elevar o braço além desse ponto. Se o processo con­ medial e anteriormente sob o acrômio fornece os melho­
356 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

res resultados. Mover a agulha através da bainha do


tendão, uma vez que isso libera o fluido na bolsa e reduz
a dor. A ultrassonografia é muito útil para fazer o diagnós­
tico e ajudar no posicionamento da injeção de esteroide.
A metilprednisolona (40 mg, 1 mL) e bupivacaína (5-10
mL) costumam ser efetivas. A condição pode requerer in­
jeções repetidas antes de o alívio ser obtido, de forma que
o paciente deve ser encaminhado para acompanhamento.
A injeção de corticosteroide local parece ser mais efetiva
I '**12
que o placebo e mais efetiva que os AENEs por via oral.
Em pacientes com tendinite calcificada e bursite, que po­
dem levar à síndrome do ombro congelado, o tratamento
ideal inclui punções múltiplas nos depósitos calcificados
para quebrar o cálcio e tratar a condição.

Figura 16.69 Uma ruptura de manguito rotador é mostrada. O


RUPTURAS DO M ANGUITO ROTADOR manguito rotador em geral se rompe ao longo da inserção do
tendão supraespinal.
As rupturas do manguito rotador são mais comuns em
idosos e são causadas por alterações degenerativas que
152
ocorrem com o avançar da idade, particularmente depois tar rompidos para produzir redução significativa da força.
da quinta década de vida. Até 40° de abdução pode ocorrer apenas pelo mecanismo
Em pacientes acima dos 60 anos, as rupturas de es­ de “encolher os ombros”; contudo, o examinador não será
pessura completa do manguito rotador ocorrem com enganado por isso se estiver ciente do movimento escapu-
incidência relatada de 28% em indivíduos assintomáti- lotorácico durante o exame. A extensão da ruptura está
cos. Somente 25% das rupturas do manguito rotador diretamente relacionada à limitação na abdução do om-
são sintomáticas. b ro ." O paciente pode não conseguir iniciar a abdução se
A ruptura do manguito rotador pode ocorrer em qual­ ocorrerem rupturas grandes do supraespinal (Vídeo 16.11).
quer ponto; contudo, é mais comum na porção anteros- O teste da qu ed a do braço é positivo em pacientes
superior do manguito, próximo à inserção do músculo com rupturas significativas. O teste é feito elevando
supraespinal (Fig. 16.69).148,149 Nessa localização, o ten­ lateralmente o braço até a posição de 90° e pedindo ao
dão sofre atrito pelo impacto que ocorre entre a cabeça paciente para segurá-lo nessa posição (Fig. 16.70 e Vídeo
do úmero e o arco coracoacromial. Outras causas incluem 16.12). Uma pressão leve aplicada pelo examinador no
degeneração intrínseca, uso excessivo crônico ou sobre- antebraço distai ou no punho fará com que o paciente de
133
carga aguda. repente abaixe o braço. Além disso, o paciente é incapaz
Para essa lesão ocorrer em indivíduos jovens, requer de trazer o braço da posição abduzida no lado de forma
um grau maior de trauma. Antes da quinta década, é mais lenta, baixando-o de repente. A lidocaína pode ser infil­
provável que as rupturas do manguito rotador causem trada em torno do manguito em pacientes incapazes de
avulsão do osso. 49,15 O mecanismo pelo qual o manguito abduzir o braço para executar o teste de queda do braço.
rotador rompe é habitualmente a elevação súbita do braço A injeção também permite ao examinador diferenciar uma
contra resistência, em uma tentativa de proteger-se de uma ruptura significativa da tendinite, já que os pacientes com
queda. Também pode ocorrer com o levantamento de peso tendinite poderão movimentar melhor depois da injeção.
ou com queda sobre o ombro. Em pacientes com mais de Múltiplos estudos têm demonstrado que o exame físico
50 anos, a lesão pode ocorrer com trauma mínimo ou mes­ tem baixa sensibilidade para identificar até mesmo ruptu­
mo sem nenhum trauma (p. ex., durante o sono). ras moderadas.151,155
É incomum que pacientes sem nenhum sintoma prévio Se as rupturas estiverem localizadas no aspecto pos-
no ombro apresentem uma história clara de lesão seguida terossuperior do manguito, a dor é produzida com a ab­
de dor e incapacidade imediata para abduzir o braço. Esse dução e rotação interna, enquanto as rupturas anterossu-
tipo de paciente respondeu por apenas 8% do total dos in­ periores causam dor em abdução e rotação externa. Um
divíduos com rupturas de manguito rotador em uma série. defeito pode ser palpável inicialmente em casos (i.e.,
O paciente se apresenta com queixas de dor que agrava antes de ocorrer o edema) de ruptura aguda do manguito
com a atividade, irradiando ao aspecto anterior do braço. rotador abaixo do acrômio. A crepitação pode ser palpada
Não há nenhuma relação entre o tamanho da ruptura e o ao exame dessa região.
nível da dor e incapacidade/' A dor mais intensa ocorre Vários métodos de avaliação radiográfica simples têm
quando o tendão é comprimido sob o arco coracoacromial, sido preconizados. Uma incidência especial “do man­
com a abdução passiva entre 40 e 90°. A abdução é dolo­ guito” pode também ajudar na visualização da cabeça do
rosa e fraca. Trinta por cento ou mais do tendão devem es- úmero. É possível ver sinais de alterações degenerativas
Emergências Ortopédicas 357

tratamento, com resultados excelentes e o reparo aberto


ficou reservado para as rupturas maciças. Em idosos,
com estilo de vida mais sedentários, o reparo não está in­
dicado. A localização da ruptura é mais importante do que
o tamanho ao determinar os desfechos para o tratamento
artroscópico (i.e., as rupturas anteriores têm desfechos
melhores). Desse modo, pacientes com rupturas ma­
ciças no manguito rotador posterior não são bons candida­
tos para o tratamento artroscópico.

TENDINITE BICIPITAL
A cabeça longa do bíceps atravessa entre os tubérculos
maior e menor, dentro do sulco bicipital, e se insere na
borda glenoide. Nessa localização, é envolvida pela cáp­
sula da articulação glenoumeral. Essa posição toma o
tendão sujeito a traumas e irritação constantes pelos mo­
vimentos do ombro e pelo impacto, conforme descrito
previamente. A inflamação ao redor do tendão aumenta
até que ele se mova relutantemente.
Figura 16.70 O teste da queda do braço é mostrado. A. O pa­ O paciente relata dor na região do bíceps e no aspecto
ciente ou o exam inador abduz o braço até 90°. B. Com pressão anterior do ombro, que irradia em direção ao antebraço.
mínima sobre o braço abduzido, o paciente não consegue sus­ A abdução e a rotação externa são os movimentos mais
tentar a abdução e abaixa o braço para o lado. dolorosos e a extensão súbita do cotovelo aumenta nota-
damente a dor. Ao exame, existe sensibilidade dolorosa à
palpação no sulco bicipital. Esse processo irritativo au­
no manguito rotador, incluindo: erosão e reação periosteal
menta com a abdução do ombro com o cotovelo fixo em
do tubérculo maior, alterações do aspecto inferior do acrô-
posição estendida.
mio e erosão subcondral no tubérculo maior.
Um teste confiável para diagnosticar a tenossinovi-
A sensibilidade da RMN para o diagnóstico de rupturas
te da cabeça longa do bíceps é o teste de Yergason (Fig.
de espessura completa do manguito rotador é de 100% e a
16.71). Ao fazer o teste, o cotovelo do paciente é manti­
especificidade é de 95%. A RMN possibilita diferenciar
do em 90° de flexão. É pedido ao paciente para supinar
as rupturas parciais de tendões intactos do manguito com
o antebraço enquanto o examinador resiste à tentativa.
sensibilidade de 82% e especificidade de 85%. Também
Isso causa dor ao longo do sulco intertubercular, sendo
é altamente preditiva do tamanho da ruptura de espessura
1^8 um teste confiável para distinguir a tenossinovite da cabe­
completa do manguito rotador. A artrorressonância mag­
ça longa do bíceps de bursite subacromial.
nética é um meio excelente para detectar os graus de rup-
A condição pode evoluir até a aderência completa do
tura. A ultrassonografia em tempo real de alta resolução
tendão e o movimento do ombro será restringido ou o bí­
tem demonstrado ser uma boa técnica de exame para as rup­
ceps sofrerá ruptura proximal ao sulco.
turas do manguito rotador. 60,16 Alguns estudos mostraram
O tratamento inclui imobilização com tipoia e injeção
acurácia igual entre a ultrassonografia e a RMN.
do canal bicipital com anestésico e solução de esteroide
As medidas conservadoras permanecem sendo o su­
porte principal do tratamento inicial para a maioria das
rupturas do manguito rotador. A terapia conservadora re­
sulta em um bom desfecho em 50% dos pacientes.165 Os
exercícios de amplitude de movimento passivos devem ser
instituídos, assim que possível, em pacientes idosos. No
período inicial, repouso, gelo e AINEs devem ser acom­
panhados por atividade modificada e fisioterapia. Com as
rupturas de espessura parcial, os exercícios de amplitude
de movimento são importantes para reduzir a rigidez.
Em jovens, o reparo cirúrgico precoce está indica­
Figura 16.71 O teste de Yergason. Embora o teste tivesse sido
do para as rupturas completas do manguito rotador. originalmente descrito para a luxação do tendão bicipital, ele
O reparo artroscópico leva a resultados satisfatórios em também é usado para diagnosticar a tenossinovite da cabeça
mais de 90% dos casos. Em um grande estudo en­ longa do bíceps. Ao executá-lo, é solicitado ao paciente para
volvendo mais de 400 pacientes, os reparos artroscópicos supinar o antebraço contra resistência, enquanto o cotovelo é
para rupturas moderadas foram o suporte principal do mantido em flexão.
358 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

exarcebada à noite e, na fase aguda, os espasmos dos múscu­


los deltoide e subescapular são características acompanhan­
tes comuns. Um teste confiável que deve ser executado é o
teste de Yergason. Ele é feito conforme já descrito. A estabi-
bdade do tendão do bíceps é determinada pela subluxação
do tendão de sua posição normal no sulco intertubercular.
Quando a supinação contra a resistência for testada, o ten­
dão bicipital estala para fora do sulco e o paciente sente dor.
O tratamento em geral é cirúrgico. Tanto a ancoragem
do tendão ao osso (i.e., a tenodese) como a bberação do
tendão (i.e., a tenotomia) são possibilidades, e o procedi­
mento específico a ser feito depende da presença de uma
ruptura acompanhante do manguito rotador e a condição
Figura 16.72 Injeção da bainha do tendão bicipital ao longo
do próprio tendão.
do sulco intertubercular.
SINOVITE TRAUMÃTICA AGUDA
(Fig. 16.72 e Vídeo 16.13). Deve-se ter cuidado para A condição é comum após entorses dos ligamentos glenou-
não injetar o próprio tendão. A injeção é habitualmente merais ou rupturas leves na cápsula, que ocorrem em atletas
executada em vários pontos ao longo da rota do tendão jovens. O paciente relata dor sobre a articulação do ombro,
dentro do sulco bicipital. Os analgésicos e os agentes anti- e existe sensibilidade dolorosa produzida com a palpação
-inflamatórios também podem ser administrados.
da cápsula e com o movimento do ombro. A porção anterior
e inferior da cápsula é o local mais afetado, em geral devi­
LUXAÇÃO DO TENDÃO BICIPITAL do a lesões com abdução e rotação externa. O tratamento
é a imobilização com tipoia e a aplicação de compressas
O tendão bicipital pode subluxar ou deslocar-se para fora
mornas úmidas. Os exercícios de amphtude de movimento
do seu sulco entre os tubérculos maior e menor (Fig.
ativos devem ser iniciados assim que a dor permita.
16.73). Essa condição é mais provável quando houver um
sulco bicipital anormal congenitamente raso. A ruptura do
tendão do subescapular, onde ele se insere no tubérculo SÍNDROME DO OMBRO CO N GELADO
menor e estende-se sobre o sulco bicipital, é outro fator
A síndrome do ombro congelado costuma ocorrer em pa­
predisponente. O mecanismo mais comum pelo qual a
cientes com mais de 40 anos. Pode ser de aparecimento
condição ocorre de forma aguda é a rotação externa for­
insidioso ou depois de uma lesão. A dor é projetada ao
çada do braço com o bíceps contraído.
aspecto anterolateral do ombro e para o braço. A dor no-
O paciente relata um estalo doloroso sentido no aspecto 177
turna é frequentemente intensa, interferindo no sono.
anterior do ombro durante a rotação externa forçada do bra­
A dor é de natureza progressiva e nos estágios iniciais é
ço enquanto o bíceps é contraído. Com a rotação, o tendão
mais intensa no final da amphtude de movimento. Confor­
desbza de um lado para o outro, dentro e fora do sulco. A dor
me a condição progride, a dor está presente em repouso.
é sentida no aspecto anterior e lateral do ombro e referida
Os fatores de risco incluem diabetes, trauma, hipertrigh-
distalmente e ao longo do aspecto anterior do braço. A dor é
ceridemia e doença da tireoide. A perda da rotação externa
é maior do que da abdução e da rotação interna. Na maio­
ria dos casos, a palpação sobre o sulco do tendão bicipital
produz dor. ’ Embora a etiologia do ombro congelado
permaneça desconhecida em muitos casos, cada vez mais
está sendo implicada a tendinite calcificada dos comple­
xos do manguito rotador e do tendão bicipital. 34,179
O tratamento não é idêntico em todos os casos, con­
sistindo de fisioterapia, AENEs, injeções de corticosteroi-
de e cirurgia. Os exercícios para melhorar a amphtude de
movimentos devem ser feitos no arco indolor de movi-
mento. Foi demonstrado que os esteroides melhoram
os resultados, mas requerem injeções múltiplas. A ex-
cisão simples do material calcificado inicia uma sequên­
cia de eventos que leva à recuperação em muitos casos.
Figura 16.73 Luxação do tendão bicipital para fora do sulco Artroscopicamente, as punções múltiplas nesses depósitos
intertubercular. levam a bons resultados.
Emergências Ortopédicas 359

SÍNDROMES ESCAPULOCOSTAIS E BURSITE


As síndromes nessa categoria são um grupo de condições
com curso e apresentação clínica comuns. Elas são cau­
sadas por inflamação das bolsas em tomo da escápula ou
por distensões dos músculos que se inserem na escápula.
A dor na região escapular em geral é secundária à postura
mim e ocorre com mais frequência no final do dia. Essas
condições também podem ser vistas quando o braço não
tiver sido usado por um tempo prolongado, devido a fratu­
ras ou outras condições.
O aparecimento da bursite e das distensões musculares
ao redor da escápula é habitualmente insidioso e caracteri­
zado por exacerbações e remissões. Os locais mais comuns
para a ocorrência de bursite nesta região são os ângulos su­
perior e inferior da escápula. O paciente relata dor em qual­ Figura 16.74 Paralisia do nervo torácico longo à direita, crian­
quer movimento da escápula, e o examinador pode perceber do o aspecto clássico de "escápula alada".
a crepitação quando instruir o paciente a levar o braço dian­
te do tórax. Para diagnosticar a condição, o médico deve dio ou um processo inflamatório sob o diafragma, podem
retrair a escápula, pedindo ao paciente para colocar a mão referir dor para o ombro. A doença da coluna cervical, a
no ombro oposto. Um ponto-gatilho localizado no ângulo neuropatia de plexo braquial, a doença neoplásica e a sín-
superior ou próximo à base da espinha pode ser palpado. drome do desfiladeiro torácico causam dor no ombro e
A injeção de lidocaína deve prover o alívio se a condição serão subsequentemente consideradas.
for secundária a uma bursite de uma das bolsas escapulares.
A injeção local em um ponto-gatilho oferece alívio Doença da coluna cervical
rápido e deve ser tentada naqueles casos com dor signifi­ Os problemas da coluna cervical, incluindo degeneração
cativa. O calor, na forma de ultrassom duas vezes por dia discai, herniação e osteoartrite, causam dor no ombro.
por 20 minutos, e a diatermia fornecem um bom alívio O examinador encontra amplitude de movimento restringi­
aos pacientes com distensões musculares. Os indivíduos da do pescoço, e a dor no ombro será reproduzida pelo mo­
com bursite na região escapular podem ser tratados com vimento do pescoço. Achados neurológicos, como a radi-
injeção local, calor e repouso. culopatia, podem estar presentes. É importante examinar a
coluna cervical cuidadosamente e solicitar radiografias do
PARALISIA DO NERVO TORÁCICO LO N GO pescoço se houver suspeita desta condição. O tratamento
consiste em analgésicos e encaminhamento ao especialista.
A lesão do nervo torácico longo resulta em paralisia do
músculo serrátil anterior. Esse nervo é lesionado devido ao Neuropatia do plexo braquial
seu comprimento e ao seu curso superficial. Do ponto de
Essa é uma causa incomum de dor de ombro, que pode
vista clínico, a lesão é notada por uma proeminência inco-
se apresentar com sintomas vagos localizados ou difusos
mum das bordas medial e inferior da escápula, chamada de
ao longo da extremidade superior. A neuropatia do plexo
“escápula alada” (Fig. 16.74). A causa mais comum des­
braquial pode ocorrer devido a condições alérgicas, dis­
sa lesão é o uso excessivo. Outras causas incluem trauma
túrbios infecciosos (síndromes virais) ou ser idiopática.
agudo, não penetrante ou penetrante e o uso impróprio de
O sintoma predominante é a dor, que pode estar localizada
muletas axilares. A causa é idiopática em 17% dos casos.180
na área do ombro ou ser generalizada. Dentro de algumas
O tratamento é conservador na maioria dos casos, in­
semanas, o paciente desenvolve fraqueza na cintura esca­
cluindo analgésicos e encaminhamento para fisioterapia.
pular. Tal condição costuma ter um bom prognóstico.
A amplitude de movimento completa deve ser estimulada.
A recuperação pode levar de 12 a 18 meses. Um quarto Doença neoplásica
dos pacientes não se recupera após o maneio conservador
e devem ser encaminhados para reparo cirúrgico. A doença neoplásica, particularmente apical do pulmão,
pode se apresentar com dor no ombro. Pode também en­
volver a parede torácica e o plexo braquial, produzindo
DISTÚRBIOS EXTRÍNSECOS
dor local ou radicular.
Vários distúrbios extrínsecos podem se apresentar com
dor nos ombros. O profissional atento deve considerar Síndrome do desfiladeiro torácico
uma fonte referida de dor quando o paciente relatar dor Essa síndrome inclui vários distúrbios. As porções do ple­
no ombro e achados mínimos ao exame físico. Uma pato­ xo braquial são comprimidas quando o plexo percorre a
logia subjacente grave, como o infarto agudo do miocár- área supraclavicular e passa através da axila para o bra-
360 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

ço. A compressão pode ser devida ao músculo escaleno, treatment and open intramedullary fixation in 80 patients. J
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PARTE IV
Extremidades Inferiores
Capítulo 17
Pelve
INTRODUÇÃO vísceras. Existem três ossos que se combinam para for­
mar o anel pélvico: dois ossos inominados (compostos do
As fraturas pélvicas representam 3% de todas as fraturas ísquio, do ilíaco e do púbis) e o sacro (Fig. 17.1). O cóc-
esqueléticas e são somente excedidas pelas fraturas do cix é um quarto osso, mas não está incorporado ao anel
crânio em complicações e mortalidade associadas.1Essas
pélvico. Os dois ossos inominados e o sacro estão unidos
lesões variam desde as fraturas estáveis de baixa energia
pela formação de três articulações (a sínfise do púbis e as
até as instáveis de alta energia. A taxa de mortalidade
duas articulações SI). Os ligamentos que formam o anel
para as fraturas pélvicas de alta energia varia de 10 até
pélvico são os mais fortes do corpo.
20%, mas em pacientes hemodinamicamente instáveis
A carga é transm itida através da pelve óssea ao
ou depois de fraturas expostas, ela aumenta para 50%.
longo de dois caminhos (Fig. 17.2). Quando em pé, o
As colisões de veículos automotores respondem por apro­
peso é transmitido através da coluna para o sacro, ar­
ximadamente dois terços de todas as fraturas pélvicas. Os
ticulações SI, e ao longo da linha arqueada até o domo
pedestres atingidos por automóveis são responsáveis por
superior do acetábulo e abaixo pelo fêmur. Na posição
15% dos casos. Os esmagamentos, as colisões de motoci­
sentada, a força é transmitida para a coluna e para o sa­
cletas e as quedas respondem cada um por 5% adicionais.
cro e as articulações SI e para o ísquio, pela via do ramo
As fraturas dos ramos púbicos são as fraturas pélvicas
inferior. O osso é muito forte nestas áreas e a radiografia
mais comuns, com o ramo superior mais vezes envolvido
que o ramo inferior. As fraturas dos ramos púbicos respon­ anteroposterior (AP) da pelve demonstra de forma clara
dem por mais de 70% de todas as fraturas pélvicas. A in­ o espesso padrão trabecular ao longo dessas linhas de
cidência das fraturas dos ossos pélvicos restantes, em or­ estresse. Como resultado, as fraturas pélvicas mais co-
dem descendente, é do ilíaco, do ísquio e do acetábulo. As mumente interrompem o anel nas áreas não envolvidas
fraturas sacroilíacas (SI) estão associadas com sangramen- na transmissão de carga. Uma força maior é necessá­
to mais significativo. Tanto o mecanismo da lesão como o ria para uma fratura na área de “carga” da pelve. Além
padrão da fratura identificados nos exames de imagens são disso, as fraturas que envolvem os arcos de carga estão
importantes para predizer as lesões associadas. associadas a muito mais dor quando forçadas do que as
fraturas que não envolvem esses arcos. Um bom exem­
plo é a fratura do ramo superior. Por ser uma área que
Anatomia essencial
não suporta carga, é menos dolorosa e mecanicamente
Em humanos, o anel pélvico serve para duas funções im­ estável em comparação às fraturas nas porções de carga
portantes: suporte de peso (estabilidade) e proteção das da pelve. Um paciente com fratura do ramo púbico su-

Articulação sacroilíaca

Crista ilíaca
Espinha ilíaca anterossuperior
Cóccix
Espinha ilíaca anteroinferior
Linha arqueada
Acetábulo
Forame obturatório

Ramo do ísquio
Ramo superior do púbis

Tuberosidade isquiática Ramo inferior do púbis

Figura 17.1 As estruturas ósseas da pelve.


368 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

A B

Figura 17.2 A. Linhas de estresse na posição ortostática. B. Linhas de estresse na posição sentada. Notar que na posição sentada
as linhas passam através do ísquio.

perior pode entrar caminhando no setor de emergência, A xiom a: Uma fratura deslocada do anel pélvico indica que
enquanto aquele com uma fratura sacral não poderá co­ existe pelo menos uma segunda fratura ou uma fratura mais
locar peso sem dor significativa. uma luxação articularm ais comumente na articulação sa-
O conceito da pelve como um anel anatômico tam­ croiiíaca.
bém tem implicações importantes para a detecção de
fraturas. A presença de pelo menos duas fraturas ou A estabilidade pélvica durante a deambulação é uma
uma fratura e uma luxação é necessária para causar função combinada de ligamentos e ossos. Anteriormente,
uma fratura deslocada no anel. Por conseguinte, se for os ligamentos interpúbicos unem os dois ossos púbicos,
diagnosticada uma fratura deslocada do anel pélvico, o formando a sínfise do púbis. As estruturas pélvicas ante­
profissional deve buscar uma segunda fratura ou lesão riores (sínfise e ramos) são responsáveis por 40% da es­
articular. As fraturas únicas no anel pélvico são inco- tabilidade do anel pélvico. Posteriormente, a articulação
muns, são habitualmente sem deslocamento, e ocorrem SI é suportada por uma série de ligamentos fortes que são
perto ou em uma articulação (articulação SI ou sínfise os estabibzadores principais do anel pélvico (Fig. 17.3). A
púbica). ruptura dos bgamentos SI altera a função normal de carga
do anel pélvico.

Processo
A transverso de L5 B
Ligamento iliolombar
Processo
transverso de L5

Ligamento iliolombar
Ligamento sacroilíaco

Ligamento iliossacral
posterior

Ligamento
sacrospinal

Vista posterior

Ligamento
sacrotuberal

Figura 17.3 O s ligamentos que circundam a articulação sacroilíaca são os mais fortes do corpo.
Emergências Ortopédicas 369

A ruptura dos ligamentos interpúbicos pode resultar


em diástase da sínfise púbica de até 2,5 cm. Os ligamentos
intactos da articulação SI - especificamente os ligamen­
tos sacrospinais, sacrotuberais e SI anteriores - limitam
a abertura adicional. Se estes ligamentos forem secciona­
dos, a pelve se toma rotacionalmente instável e “abrirá
r xs\\
como um livro”. Desde que os ligamentos posteriores da
articulação SI (ligamento SI interósseo e ligamento SI
; /f I V
posterior) permaneçam intactos, a hemipelve permanece­ Figura 17.4 A rotação externa suave da pelve é usada para
rá verticalmente estável. A lesão adicional dos ligamentos testar a instabilidade rotacional.
SI posteriores resulta em uma pelve que é instável tanto
rotacional como verticalmente.
Os músculos inseridos na pelve ajudam a manter o Exame
corpo na posição ereta e para fornecer mobilidade aos Os pacientes que se apresentam dor pélvica depois de um
membros inferiores. Para a finalidade deste texto, a anato­ trauma menor e uma possível fratura devem ser submeti­
mia muscular essencial diz respeito apenas àqueles mús­ dos a um simples exame de seis pontos.
culos responsáveis pelas fraturas de avulsão.
1. Rotação externa da pelve (Fig. 17.4)
1. O sartório se insere na espinha ilíaca anterossuperior. 2. Rotação interna da pelve (Fig. 17.5)
2. O reto fe m o ra l se insere na espinha ilíaca anteroinfe­ 3. Compressão da sínfise púbica
rior. 4. Palpação da espinha ilíaca anterossuperior
3. Os isq u io tib ia is se inserem na tuberosidade isquiá- 5. Palpação do sacro e do cóccix
tica.
6. Palpação dos trocanteres e das tuberosidades isquiáticas
Os nervos espinais deixam a proteção da coluna verte­
A avaliação de um paciente com trauma significativo
bral através dos forames intervertebrais lombares ou pelos
deve começar com uma avaliação primária completa, pro­
forames sacrais e cruzam ao longo do aspecto posterior da
curando e tratando quaisquer ameaças imediatas à vida. As
pelve. As fraturas pélvicas, particularmente aquelas que
fraturas pélvicas podem resultar em exsanguinação e, por
envolvem o sacro, podem estar associadas à lesão de ner­
conseguinte, dois acessos intravenosos calibrosos devem
vos. Um exame neurológico completo das extremidades
ser obtidos, sendo feita a prova de compatibilidade sanguí­
inferiores e dos esfincteres é essencial na avaliação das
nea, caso seja necessário. Durante a avaliação secundária,
fraturas pélvicas.
deve ser feita a apreciação da lesão e da estabilidade pél­
A aorta abdominal desce à esquerda da linha média e
vica. Todos os pacientes com lesões múltiplas devem ter
se divide em L4, originando os dois vasos ilíacos comuns.
suspeita de fratura pélvica, até prova em contrário.
No nível das articulações SI as ilíacas comuns se ramifi­ Após a exposição, o examinador deve efetuar uma ins­
cam, formando as ilíacas externa e interna. A artéria ilíaca
peção cuidadosa dos tecidos moles da pelve, buscando por
interna divide-se também em ramos anterior e posterior. O
uma deformidade específica da pelve ou das extremidades
ramo posterior origina a artéria glútea superior, que tem
inferiores que possa sugerir uma fratura. O exame deve con­
uma base formada por um ângulo agudo e está exposta a tinuar com uma busca por lacerações que possam indicar
forças de cisalhamento com as fraturas na área. O ramo fratura exposta. Isso inclui a inspeção visual das pregas glú­
anterior supre as vísceras da cavidade pélvica. As fraturas teas e da área permeai, onde uma lesão pode passar desper­
pélvicas posteriores (ilíaco e SI) estão associadas à he­ cebida. A perda sanguínea macroscópica ao exame retal ou
morragia mais extensa que as fraturas pélvicas anteriores. bimanual sugere fratura pélvica exposta. O exame das fra­
O reto, o ânus, o sigmoide e o colo descendente estão turas pélvicas suspeitadas inclui a palpação direta de todo o
contidos dentro da pelve óssea. Estas estruturas podem anel, com ênfase especial na sínfise púbica, nas articulações
ser lesionadas com qualquer fratura pélvica, mas são mais
comumente feridas com as fraturas associadas a lesões
penetrantes. O sistema geniturinário é frequentemente le­
sionado em associação com as fraturas pélvicas devido ao
trauma não penetrante ou penetrante. A bexiga, que fica
diretamente atrás da sínfise púbica, é com frequência le­
sionada após as fraturas pélvicas que envolvem o púbis.
As fraturas pélvicas anteriores também estão conjugadas
a lesões uretrais. Se a uretra rompe abaixo do nível do >
diafragma urogenital, o extravasamento de urina envolve
o escroto, o compartimento perineal superficial e a parede Figura 17.5 A rotação interna suave da pelve também ajuda a
abdominal. detectar a instabilidade rotacional.
370 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

SI e no sacro. O exame de cada quadril e a sua amplitude de


movimento ajuda a excluir uma lesão acetabular.
A instabilidade pélvica pode ser detectada ao exa­
me físico. A instabilidade rotacional está presente quando
a pressão manual suave sobre as espinhas ilíacas anteros-
superiores, tanto em rotação externa como interna, causar
movimento significativo da pelve. A crepitação óssea tam­
bém pode ser notada. A instabilidade vertical é avaliada ob­
servando o movimento vertical da pelve com as palmas do
examinador palpando as espinhas ilíacas anterossuperiores,
enquanto um segundo examinador faz a tração e exerce uma
carga vertical na extremidade inferior. O teste da instabilida­
de vertical não é recomendado porque, se estiver presente, o
exame ✓
somente aumenta a quantidade de hemorragia. Figura 17.6 Radiografia normal AP da pelve.
E de extrem a im portância sa lien ta r que som ente um
exam e p a ra instabilidade deve ser perm itido, j á que exa­ de fratura óbvias são diagnosticadas neste filme e as áreas
m es repetidos p o d em rom per a fo rm a ç ã o do hem atom a suspeitas de fratura justificam exames de imagens adicio­
e exacerbar ou cria r instabilidade hem odinâm ica. Esses nais. O filme AP inicial da pelve permite a classificação da
pacientes devem ser movidos ou manipulados o mínimo fratura pélvica e guia a ressuscitação e a necessidade para
possível para não agravar a hemorragia ou induzir a com­ estabilização pélvica aguda em 90% dos casos. Se a radio­
plicações adicionais. grafia em AP revelar instabilidade acentuada do anel pélvi­
O sistema geniturinário é frequentemente lesionado co, o tratamento de um paciente com instabilidade hemodi­
com as fraturas pélvicas, e as questões relativas a he­ nâmica deve ser instituído com base apenas nesse filme.
matúria, incapacidade de evacuar, última menstruação e As incidências do estreito superior (AP com feixe de
sangramento vaginal devem ser observadas na história. raios X angulado no sentido caudal em 45°) e do estreito
Durante o exame retal digital, a posição da glândula pros- inferior (AP com 45° de inclinação cefálica) ajudam no
tática é avaliada. O deslocamento da próstata, a equimo­ diagnóstico das fraturas do anel pélvico em pacientes he-
se escrotal, ou sangue no meato uretral, indicam possível modinamicamente estáveis (Fig. 17.7). A incidência do
ruptura na uretra membranosa. Infelizmente, os sinais físi­ estreito superior demonstra o verdadeiro estreito superior
cos de lesão uretral estão ausentes em mais da metade dos pélvico. As lesões do anel anterior são facilmente identifi­
pacientes com esse tipo de lesão. cadas nessa incidência, enquanto as lesões posteriores po­
É importante o exame neurológico completo das ex­ dem permanecer sutis. A incidência do estreito inferior é
tremidades inferiores. As áreas específicas de preocupa­ orientada em 90° ao sacro anterior e, por conseguinte, de­
ção incluem as raízes nervosas de L5 e S 1. Tanto as fun­ tecta mais prontamente as fraturas desse osso. Essa proje­
ções motoras como sensitivas devem ser documentadas. ção também detecta qualquer deslocamento ósseo no pla­
As fraturas sacrais podem ferir as raízes sacrais, o nervo no sagital. Tanto as incidências do estreito superior como
obturatório e as raízes nervosas de L5. São comuns as le­ do estreito inferior têm sido amplamente substituídas pela
sões no nervo isquiático após as fraturas acetabulares. tomografia computadorizada (TC). As incidências oblí­
Os sinais secundários de fratura pélvica em potencial quas (de Judet) são úteis para diagnosticar fraturas aceta­
incluem: bulares, embora a TC seja mais sensível para diagnosticar
• Sinal de D esto t - hematoma superficial acima do li­ fraturas do acetábulo e do sacro, sendo por conseguinte, o
gamento inguinal ou no saco escrotal. exame de imagens de escolha. 1,12
• Sinal de R oux - ocorre quando a distância medida do A TC da pelve tem, ainda, outras vantagens. Ele ajuda
trocanter maior até a espinha púbica está diminuída em na avaliação da integridade das estruturas pélvicas poste­
um lado, quando comparada com o outro, já que poderia riores, o que facilita a avaliação mais precisa da lesão e da
resultar da sobreposição de uma fratura do anel anterior. estabilidade pélvica. É muito útil na avaliação do tamanho
• Sinal de E arle - ocorre quando um hematoma grande, e localização do hematoma, como também no diagnóstico
uma proeminência óssea palpável anormal, ou uma de lesões viscerais em pacientes que apresentam fraturas
linha de fratura dolorosa é detectada ao exame retal. pélvicas. A visualização de um extravasamento de con­
traste ou um hematoma maior que 10 cm2 sugere hemorra­
gia arterial. As imagens com TC tridimensional estão
Imagens
sendo usadas com mais frequência e ajudam a definir a
Uma radiografia em AP da pelve está indicada no paciente lesão total do anel pélvico.
alerta com trauma no contexto de dor ou sensibilidade dolo­ Os pacientes idosos osteopênicos com dor pélvica após
rosa1(Fig. 17.6). Essa incidência detecta a maioria das le­ uma lesão com mecanismo de baixa energia e que tenham
sões nas asas sacrais, ossos ilíacos, ísquio e púbis. As linhas filmes simples negativos são beneficiados por um exame
Emergências Ortopédicas 371

Feixe

Incidência do
estreito superior

Chapa de raios X
A

Feixe

Figura 17.7 Incidências do estreito superior e do inferior da pelve. A. Técnica para obter a incidência do estreito superior. B. Inci­
dência do estreito superior da pelve. Os ramos púbicos estão fraturados, mas os elementos posteriores (i.e., as articulações sacroilí-
acas) parecem intactos. C. Técnica para obter a incidência do estreito inferior. D. Incidência do estreito inferior da pelve. A linha de
fratura se estende para dentro do osso púbico.

com radiofármacos. Um período de três dias após o trauma é tata em situação alta, a uretrografia retrógrada é obtida
recomendado antes do exame. 1,16 antes da colocação de um cateter de Foley. Se o exame
No contexto de trauma pélvico de alta energia, exa­ estiver normal, uma cistografia retrógrada é feita para
mes radiográficos adicionais são, com frequência, neces­ avaliar a integridade da bexiga. Um filme pós-esvazia-
sários. Em pacientes com instabilidade hemodinâmica, a mento é imperativo para excluir o extravasamento de
angiografia pélvica pode salvar vidas se puder ocluir o contraste. Uma cistografia retrógrada deve ser adiada em
sangramento arterial. Caso haja suspeita de ruptura ure- um paciente que puder ser submetido a uma angiografia
tral em um paciente do sexo masculino, com base nos pélvica, já que aquele interferirá com o diagnóstico an-
achados de sangue no meato uretral, hematúria ou prós­ giográfico apropriado.

FRATURAS PÉLVICAS
Existem múltiplos sistemas de classificação para as fratu­ adicionalmente o sistema de Pennal e Sutherland, subdi­
ras do anel pélvico. Pennal e Sutherland foram os primei­ vidindo as primeiras duas categorias (CL e CAP) em três
ros a desenvolver uma classificação mecanicista de lesões subcategorias (I, II e III) com base na extensão da lesão
do anel pélvico. Eles dividiram as lesões do anel pél­ (Tab. 17.1). Com o sistema, o profissional classifica fra­
vico em categorias com base na força causadora - com­ turas pélvicas observando os padrões de lesão anterior e
pressão lateral (CL), compressão anteroposterior (CAP) posterior. As lesões anteriores dentro de cada categoria
e cisalhamento vertical (CV). Burgess e Young refinaram (CL e CAP) são as mesmas. O grau de lesão posterior
372 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

► TABELA 17.1 Sistema de classificação de Burgess e ► TABELA 17.2 Sistema de classificação de Tile das
Young das lesões do anel pélvico lesões do anel pélvico
Compressão lateral (CL) Tipo A: Lesão estável do anel pélvico
CL I: Fratura dos ramos púbicos (transversa) e compressão A 1 : Fraturas que não envolvem o anel; fraturas de avulsão
sacral ipsilateral A2: Deslocamento mínimo
CL II: Fratura dos ramos púbicos (transversa) e fratura da A3: Fraturas transversas do sacro ou do có ccix
asa do ilfaco Tipo B: Lesão do anel pélvico rotacionalmente instável,
CL III: Fratura dos ramos púbicos (transversa) e lesão em verticalmente estável
livro aberto contralateral (i.e., a pelve é atingida por B1: Instabilidade em rotação externa; lesão em livro aberto
uma roda de automóvel, fazendo com que a hemipelve B2: Instabilidade em rotação interna; lesão por
no lado do impacto lateral rode internamente e a compressão lateral
hemipelve contralateral rode externamente) Tipo C: Lesão do anel pélvico rotacionalmente e
Compressão anteroposterior (CAP) verticalmente instável
CAP I: Diástase sinfisária (1-2 cm) com ligamentos C 1 : Lesão unilateral
posteriores normais C2: Lesão bilateral (um lado rotacionalmente instável e o
CAP II: Diástase sinfisária ou fratura dos ramos púbicos outro vertical e rotacionalmente instável)
(vertical) com ruptura anterior da articulação SI C3: Lesão bilateral (ambos os lados rotacional e vertical
CAP III: Diástase sinfisária ou fratura dos ramos púbicos instáveis)
(vertical) com ruptura completa da articulação SI
Cisalhamento vertical (CV)
Diástase sinfisária ou fratura dos ramos púbicos, com
As fraturas pélvicas que rompem o anel pélvico são,
ruptura completa da articulação SI, da asa ilíaca ou do
sacro (com deslocamento vertical)
além disso, subdivididas em fraturas não deslocadas me­
Mecânica combinada (MC) canicamente estáveis e fraturas deslocadas de alta energia
Combinação de outros padrões de lesão (CL/CV ou CL/CAP) com base na classificação de Burgess e Young.
As fraturas mecanicamente estáveis em geral ocorrem
quando está presente apenas uma fratura não deslocada no
define as três subcategorias (I, II e III) em mecanismos anel pélvico e a articulação SI e a sínfise púbica permane­
de CL e CAP. Estes autores também adicionaram outra cem intactas. As fraturas estáveis e não deslocadas tendem
categoria - mecanismo combinado (MC) - quando as fra­ a ocorrer próximas à sínfise púbica ou à articulação SI, já
que a mobilidade relativa da pelve nessas áreas permite a
turas observadas eram o resultado de combinação de for­
transecção do anel sem lesão adicional. Conforme antes
ças (i.e., CAP e CL ou, mais frequentemente, CL e CV).1
mencionado, as fraturas pélvicas deslocadas costumam
Esse sistema é benéfico para o médico da emergência
ser mecanicamente instáveis e sugerem a existência de
durante a ressuscitação inicial, já que ajuda predizer os
duas fraturas que atravessam o anel, ou uma fratura e uma
requisitos de ressuscitação de fluidos, a lesão associada
luxação articular.
de órgãos esqueléticos e sólidos, a necessidade de estabi­
lização aguda da pelve e, em última instância, a sobrevida
do paciente.1 As lesões por CAP III, CL III e CV estão ► TABELA 17.3 Fraturas pélvicas
associadas a mecanismos de alta energia. As lesões por A . Nenhuma ruptura do anel pélvico
CAP III estão associadas com maior necessidade de trans­ 1. Avulsão
fusão, mortalidade mais elevada e a taxas mais altas de 2. Ramo do púbis ou ramo do ísquio isolado
lesão neurológica. 3. Corpo do ísquio
Tile introduziu uma modificação do sistema de clas­ 4. Asa do ilíaco
sificação de Pennal em 1988, destacando a importância 5. Horizontal sacral
6. Coccígea
do complexo SI posterior na manutenção da capacidade
B. Ruptura do anel pélvico
da pelve em resistir forças fisiológicas e, por conseguinte,
1. Fraturas não deslocadas do anel pélvico
manter a estabilidade mecânica (Tab. 17.2). O sistema a. Ramos púbicos superior e inferior
combina o mecanismo de lesão com a potencial instabili­ b. Osso do púbis
dade presente. Em pacientes com estabilidade hemodinâ- c. Corpo do ilíaco
mica, a classificação de Tile ajuda o cirurgião ortopédico d. Fraturas verticais do sacro
e o médico da emergência a determinar a necessidade de 2. Fraturas deslocadas do anel pélvico
estabilização cirúrgica, como também o prognóstico.19 a. Lesão à cavaleiro
Neste capítulo, as fraturas pélvicas são divididas na­ b. Classificação de Burgess e Young
quelas que não envolvem o anel pélvico e naquelas que i. Compressão lateral (CL)
ii. Compressão anteroposterior (CAP)
o fazem (Tab. 17.3). As fraturas que não rompem o anel
iii. Cisalhamento vertical (CV)
pélvico são mecanicamente estáveis e têm taxa baixa de
iv. Mecanismo combinado (MC)
lesões associadas.
Emergências Ortopédicas 373

As fraturas instáveis envolvem a transecção do anel forte do sartório. O deslocamento costuma ser leve e
pélvico em dois lugares, com deslocamento. Essas fratu­ inibido pela inserção do ligamento inguinal e da fáscia
ras representam 15% dos pacientes com fraturas pélvicas. lata nesse osso. A avulsão da espinha ilíaca anteroin­
A taxa de mortalidade nas fraturas pélvicas deslocadas é ferior é menos frequente, causada por uma contração
alta, e lesões potencialmente fatais associadas, incluindo forte do reto femoral, como a que ocorre durante um
hemorragia e dano de órgãos viscerais, com frequência chute no futebol. A avulsão da tuberosidade isquiática é
acompanham tais lesões. As fraturas muitas vezes são vista em atletas como saltadores de barreiras, ginastas e
secundárias a grandes forças diretas, como aquelas que saltadores com vara após e uma contração forte em seus
ocorrem em uma colisão automotora de alta velocidade, isquiotibiais.
ou depois de uma queda de altura significativa.
Exam e

FRATURAS DE AVULSÃO Os pacientes com avulsão da espinha ilíaca anterossupe­


rior sentem dor e sensibilidade dolorosa sobre a área, que
Essas fraturas geralmente ocorrem em atletas jovens e são é exacerbada com o uso do sartório (flexão ou abdução
causadas por uma contração muscular forte em uma área da coxa). A avulsão da espinha ilíaca anteroinferior re­
onde os centros apofisários ainda não estejam fusionados sulta em queixas de dor e sensibilidade dolorosa na vi­
(Fig. 17.8). Eles se ossificam nas seguintes idades: rilha. A flexão ativa do quadril usando o reto femoral,
• E spinha ilíaca anterossuperior (inserção do sartório) como durante o ato de caminhar, é dolorosa. A avulsão
ossifica dos 16 aos 20 anos. da tuberosidade isquiática pode se apresentar com sin­
tomas agudos ou crônicos de dor, que pioram ao sentar.
• E spinha ilíaca anteroinferior (inserção do reto femo­
A sensibilidade dolorosa é produzida com a palpação
ral) ossifica dos 16 aos 20 anos.
percutânea e retal da tuberosidade isquiática. A palpação
• Tuberosidade isquiática (inserção dos isquiotibiais)
sobre o ligamento sacrotuberal ao exame retal também
se ossifica aos 25 anos.
exacerba muito a dor. Além disso, a flexão da coxa com
Somando-se às anteriores, uma avulsão na sínfise pú­ o joelho estendido é dolorosa, embora seja indolor com
bica pelo músculo adutor longo pode ser vista em atletas o joelho flexionado.
jovens. Depois da fratura, a formação de calo é extensa e,
às vezes, pode ser confundida com uma neoplasia. Im a g e n s
A incidência em AP é adequada para definir o fragmento
M e c a n is m o d e le sã o de fratura (Fig. 17.9). Os centros apofisários não ossifi-
Cada tipo de fratura de avulsão está associado a um meca­ cados podem confundir a interpretação dessas radiogra­
nismo diferente de lesão. fias e, por conseguinte, comparação com o lado ileso é
A avulsão da espinha ilíaca anterossuperior é vis­ necessária.
ta em corredores jovens, secundária a uma contração
L e sõ e s a sso cia d a s
As fraturas de avulsão não estão, em geral, associadas a
quaisquer outras lesões significativas.

A = Avulsão da espinha ilíaca anterossuperior


B = Avulsão da espinha ilíaca anteroinferior
C = Avulsão da tuberosidade isquiática

Figura 17.8 Fraturas de avulsão. Figura 17.9 Avulsão da espinha ilíaca anterossuperior.
374 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Ramo do isquio
Ramo do púbis

Figura 17.10 A. Fratura isolada do ramo do púbis. B. Fratura do ramo do ísquio.

T ra ta m en to conforto persistente na virilha durante qualquer atividade.


O tratamento das fraturas pélvicas de avulsão é sintomá­ Todos os pacientes se recuperam com período de repouso
tico. As muletas são necessárias em todos os pacientes. O de 8 a 12 semanas e, particularmente, evitando correr.
encaminhamento ao especialista é indicado se o fragmen­
to avulsionado estiver deslocado de modo acentuado. Em M e c a n is m o d e le sã o
geral, os pacientes com avulsões da espinha ilíaca anteros- No idoso, o mecanismo é geralmente secundário a uma
superior devem repousar no leito por 3 a 4 semanas, com queda. Em jovens, a tensão persistente no adutor e nos
o quadril em flexão e abdução. O paciente pode sentar isquiotibiais pode resultar em fratura de estresse do ramo
conforme tolerado, embora a deambulação e a atividade inferior.
vigorosa devam ser restringidas. A recuperação completa
leva até oito semanas ou mais. O tratamento das avulsões Exam e
da espinha ilíaca anteroinferior é feito de maneira similar, O paciente queixa-se de “dor profunda” que é exacerbada
exceto que o quadril deve estar em flexão sem abdução. com a palpação profunda ou ao caminhar. O esforço com
Os indivíduos com avulsões da tuberosidade isquiática os isquiotibiais produz ou exacerba a dor.
devem ficar em repouso no leito com a coxa em extensão,
rotação externa e leve abdução. É aconselhável uma almo­ Im a g e n s
fada inflável em forma de anel para sentar-se.
A incidência AP pélvica é obtida primeiro, como um pa­
C o m p lic a ç õ e s
norama geral da área. Se a suspeita clínica ou radiográfica
for alta, uma incidência do estreito inferior deve ser obti­
As fraturas de avulsão podem ser seguidas de dor crônica
da. A cintilografia óssea pode ser o único caminho para
persistente devido ao crescimento excessivo de calo ós­
demonstrar fraturas de estresse.
seo. A excisão cirúrgica é, algumas vezes, necessária.
L e s õ e s a sso cia d a s
FRATURA ISOLADA DO RAMO PÚBICO OU Essas fraturas podem ser acompanhadas de fratura do
DO RAMO DO ÍSQUIO quadril em indivíduos idosos.
Essas fraturas não resultam em transecção completa do
T ra ta m en to
anel pélvico (Fig. 17.10). Os estudos iniciais sugeriram
que essas representavam um terço de todas as fraturas O tratamento sintomático é recomendado, incluindo anal­
pélvicas, mas avanços recentes nas técnicas radiográficas gésicos e repouso no leito, progredindo para a deambula­
têm levado muitos profissionais a concluir que elas são ção com muletas conforme tolerado.
uma ocorrência rara e habitualmente associadas a uma
C o m p lic a ç õ e s
lesão de ramo ipsilateral adicional ou a uma lesão pos­
terior sutil. Complicações não são comuns após essas fraturas.
Alguns autores elegem classificar essas lesões como
fraturas de estresse, porque são vistas em mulheres duran­ FRATURAS DO CORPO DO ÍSQUIO
te o terceiro trimestre da gravidez, em recrutas militares
depois de atividade vigorosa, ou em corredores de longa As fraturas de corpo do ísquio (Fig. 17.11) são com fre­
distância. Essas fraturas também são encontradas em ido­ quência cominutivas e são as menos frequentes de todas
sos. A maioria dos indivíduos com essas lesões relata des­ as fraturas pélvicas.
Emergências Ortopédicas 375

Figura 17.12 Fratura da asa do ilíaco (fratura de Duverney).

Figura 17.11 Fratura do corpo do ísquio.


Exam e

M e c a n is m o d e le sã o
O paciente relata sensibilidade dolorosa e edema sobre a
asa do ilíaco. Os abdutores do quadril se inserem na asa
Estas fraturas resultam de uma queda significativa sobre
do ilíaco e, por conseguinte, a dor é exacerbada com a
as nádegas na posição sentada.
marcha ou ao forçar os abdutores do quadril.
Exam e
Im a g e n s
Há dor e sensibilidade dolorosa à palpação profunda, que
A incidência AP da pelve é adequada para demonstrar
é exacerbada com tensão nos isquiotibiais.
essa fratura. As incidências oblíquas são indicadas se a
Im a g e n s
fratura não for claramente identificada, ou se houver sus­
peita de um deslocamento. Uma TC pode ser obtida em
A incidência em AP da pelve é geralmente adequada para
casos dúbios (Fig. 17.13).
demonstrar esta fratura.
L e sõ e s a sso cia d a s
L e s õ e s a sso cia d a s
Embora essas fraturas não envolvam o anel pélvico, são
Essas fraturas em geral são consequentes a uma queda
a consequência da ação de forças intensas e podem ser
significativa e fraturas associadas da coluna lombar e to­
acompanhadas de lesões associadas, incluindo:
rácica podem acompanhar essas lesões.
• Fraturas do acetábulo.
T ra ta m en to • Lesões gastrintestinais. São incomuns, mas podem ter
O tratamento sintomático, com 4 a 6 semanas de repouso apresentação posterior.
no leito, é adequado. Os pacientes idosos requerem exercí­ • Lesões de órgãos sólidos abdominais e torácicos.
cios com movimentos ativos e passivos, junto com a mobi­
lização precoce. Uma almofada pneumática para sentar-se T ra ta m en to
é útil durante os estágios mais tardios da consolidação. É apropriado o tratamento sintomático, incluindo repouso
no leito e descarga até que os abdutores do quadril este­
C o m p lic a ç õ e s
jam indolores. As fraturas deslocadas, de modo geral, não
As fraturas do corpo do ísquio podem ser complicadas por requerem redução.
má união ou formação excessiva de calo, resultando no
desenvolvimento de dor crônica exacerbada ao sentar-se C o m p lic a ç õ e s
ou com o estresse de isquiotibiais. As fraturas da asa do ilíaco são isentas de complicações a
longo prazo.
FRATURA DA ASA DO ILÍACO
(DE DUVERNEY) FRATURAS HORIZONTAIS DO SACRO
M e c a n is m o d e le sã o As fraturas do sacro podem ser horizontais ou verticais.
Essas fraturas são o resultado de uma força medialmente di­ As verticais são secundárias a mecanismo indireto, tran-
rigida. Uma fratura de Duvemey pode ser causada por uma secção do anel pélvico e estão muitas vezes associadas a
força de alta energia e, por conseguinte, pode servir para uma fratura adicional, às vezes oculta, do anel pélvico.
alertar o profissional sobre outras lesões. A asa do ilíaco às As fraturas verticais do sacro serão abordadas em outra
vezes demonstra deslocamento medial (Fig. 17.12). seção. A discussão a seguir é limitada às fra tu ra s horizon-
376 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

A B

Figura 17.13 Fratura da asa do ilíaco na radiografia simples e na TC . A. Radiografia simples. B. TC .

tais do sacro. As sacrais isoladas horizontais (transversas) no sacro e o deslocamento pode ser avaliado com um exa­
respondem por 2 a 3% das fraturas da pelve (Fig. 17.14). me retal bimanual. Sangue na luva do examinador após
Aquelas acima do nível de S2 são menos comuns que as o exame retal digital sugere fratura exposta. As expostas
abaixo de S2. requerem antibióticos de amplo espectro de emergência
e intervenção cirúrgica. A função neurológica dos nervos
M e c a n is m o d e le sã o sacrais inferiores é avaliada notando o tônus do esfincter
Um golpe direto sobre o sacro posterior, em direção an­ anal, a sensibilidade permeai e o esfincter da bexiga.
terior, é o mecanismo habitual. Essas fraturas também
ocorrem após uma queda na posição sentada ou com lesão Im a g e n s
maciça de esmagamento da pelve. As fraturas sacrais horizontais são difíceis de detectar
em radiografias pélvicas de rotina. As fraturas horizon­
Exam e tais tendem a ocorrer distalmente às articulações SI. Um
O paciente relata sensibilidade dolorosa, edema e equimo­ mau alinhamento ou bloqueio dos forames sacrais pode
se sobre a proeminência sacral. O exame retal produz dor ser indicativo de fratura sacral deslocada. A incidência do
estreito inferior (AP cefálica) é melhor para demonstrá-
-las/ A TC é muito útil para delinear estas lesões quando
os filmes simples não forem conclusivos.

L e s õ e s a sso cia d a s
Várias séries relatam a incidência de 4 a 14% de fraturas
pélvicas associadas a fraturas sacrais horizontais. As que
ocorrem acima de S2 estão associadas à incidência maior
de disfunção neurológica que aquelas abaixo de S2.

T ra ta m en to
As fraturas sacrais horizontais não deslocadas são tratadas
com repouso no leito por 4 a 5 semanas. Uma almofada
inflável pode ser usada mais tarde para sentar. As fraturas
horizontais deslocadas requerem encaminhamento orto­
pédico de emergência, em função do seu potencial para
lesão neurológica. É imperativo que o médico examinador
inicial faça um exame neurológico completo do paciente.

C o m p lic a ç õ e s
As fraturas sacrais horizontais podem ser complicadas
pelo desenvolvimento de dor crônica ou disfunção nervo­
sa secundária à formação do calo.
Emergências Ortopédicas 377

FRATURAS DO CÓ CCIX Complicações


A dor crônica pode persistir por vários anos após as fratu­
As fraturas do cóccix tendem a ser transversas e, pelo fato
ras coccígeas.
de haver numerosas fibras musculares ali inseridas, são
impossíveis de imobilizar (Fig. 17.15). As fraturas do cóc­
cix estão entre as mais fáceis de tratar e, mesmo assim, as FRATURAS DOS RAMOS DO PÚBIS
mais difíceis de curar. (NÃO DESLOCADAS)

Mecanismo de lesão Essa lesão é a primeira de quatro fraturas estáveis (não


deslocadas) do anel pélvico a serem apresentadas. As
Uma queda na posição sentada é o mecanismo de lesão
fraturas não deslocadas dos ramos púbicos superior e
mais comum. Além disso, procedimentos cirúrgicos exe­
inferior são ocorrências muito comuns, e mostram-
cutados nessa área podem ser complicados pelo desenvol­
-se muito estáveis do ponto de vista ortopédico (Fig.
vimento de uma fratura do cóccix.
17.16). Um engano comum, contudo, é o profissional
Exame deixar passar uma lesão oculta na articulação SI em um
paciente com fraturas minimamente deslocadas dos ra­
O paciente queixa-se de sensibilidade dolorosa localizada mos púbicos.
em “um ponto”. O uso do levantador do ânus ou o espas­
mo do m úsculo anococcígeo, como durante ao sentar ou Mecanismo de lesão
defecar, exacerba a dor. A palpação retal ou externa sobre
Essa fratura quase sempre resulta de trauma direto na
o cóccix é diagnóstica.
área. Se as linhas de fratura correm horizontalmente, uma
Imagens
força compressiva lateral pode ser o mecanismo de lesão.
A compressão sacral ipsilateral pode estar presente e clas­
A incidência AP pélvica junto com uma projeção lateral sifica essa fratura como uma lesão CL I com base no tra-
com as coxas em flexão é mais adequada para demonstrar jg
balho de Burgess e Young (ver Tab. 17.1).
essas fraturas. As lesões coccígeas com frequência não
são visualizadas em radiografias. Exame

Lesões associadas O paciente apresenta sensibilidade dolorosa, edema e


equimose sobre o local da fratura. A compressão lateral
É incomum que as fraturas coccígeas estejam associadas a do anel (teste de Patrick) exacerba a dor do paciente.
quaisquer outras lesões significativas.
Imagens
Tratamento
A incidência AP pélvica de rotina é adequada para de­
O tratamento é sintomático, com repouso no leito, al­ monstrar a fratura. A articulação SI ipsilateral deve ser
mofadas infláveis, banhos de assento e laxantes para inspecionada cuidadosamente na busca de qualquer evi­
evitar esforços. Os pacientes podem sofrer de dor inca- dência de ruptura. A TC é recomendada se houver suspei­
pacitante, requerendo analgésicos opioides, anti-infla- ta de uma ruptura da articulação SI.
matórios não esteroides (AINEs) e laxantes. O paciente
deve ser informado que a dor pode persistir por meses
antes da recuperação. A coccigectomia pode ser indica­
da se a dor crônica persistir, apesar da terapia conserva­
dora adequada.

Figura 17.16 Fraturas dos ramos superior e inferior do púbis


Figura 17.15 Fratura do cóccix. (não deslocadas).
378 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Lesões associadas Lesões associadas


Embora essas fraturas sejam consideradas mecanica­ A lesão no sistema urológico com frequência acompanha
mente estáveis, elas podem, mesmo assim, estar asso­ essas lesões.
ciadas a lesões significativas. A TC é útil para avaliar
os pacientes com suspeita de lesões viscerais e/ou vas­ Tratamento
culares. Embora sejam lesões tipicamente estáveis, a consultoria
ortopédica precoce é recomendada. O tratamento é sinto­
Tratamento mático, com repouso no leito na posição lateral e muletas
A consultoria ortopédica precoce é recomendada. Essas para deambulação.
fraturas são estáveis e tratadas de forma sintomática com
repouso no leito por três semanas. A fixação interna das Complicações
fraturas dos ramos púbicos somente é necessária quando As lesões podem ser complicadas pelo desenvolvimento
ocorrer a lesão combinada da pelve posterior. de dor persistente sobre a área envolvida.

Complicações
FRATURA DO CORPO DO ILÍACO
Estas fraturas podem ser complicadas pela persistência de
(NÃO DESLOCADA)
dor secundária à artrite pós-traumática.
As fraturas pélvicas dessa categoria são isoladas e não des­
FRATURA DO OSSO DO PÚBIS locadas do corpo do ilíaco, próximas à articulação SI (Fig.
(NÃO DESLOCADA) 17.18). Essas lesões são raras. Em geral, as fraturas pélvi­
cas posteriores são associadas a fraturas do anel anterior.
É uma rara lesão isolada (Fig. 17.17).
Mecanismo de lesão
Mecanismo de lesão As fraturas do corpo do ilíaco próximo à articulação SI
Uma força AP direta é o mecanismo habitual, embora for­ são o resultado de uma força direta que empurra o ilíaco
ças indiretas possam ser adicionadas ao deslocamento. posterior e medialmente.

Exame Exame
O paciente apresenta sensibilidade dolorosa, edema ou até O paciente apresenta sensibilidade dolorosa sobre a pelve
deformidade sobre a área envolvida. A dor é localizada, posterior, sendo exacerbada com a compressão anterior
e é exacerbada com a compressão anterior ou lateral da ou lateral. O levantamento da perna estendida é doloroso
pelve. com esse tipo de fratura.

Imagens Imagens
Uma incidência pélvica de rotina costuma ser adequada A incidência pélvica em AP é adequada para visualizar
para demonstrar a fratura. Os exames de imagens urológi- essas lesões. Uma TC ou cintilografia óssea são frequen­
cas são indicados para pacientes com suspeita de ruptura temente úteis para delinear as fraturas quando os filmes
no trato urinário. simples não forem conclusivos.

Figura 17.17 Fratura do osso do púbis (não deslocada). Figura 17.18 Fratura do corpo do ilíaco (não deslocada).
Emergências Ortopédicas 379

Lesões associadas
Estas fraturas são, com bastante frequência, associadas a
fraturas pélvicas anteriores.

Tratamento
Embora sejam fraturas de modo geral estáveis e tratadas
de forma sintomática, a consultoria ortopédica precoce é
recomendada. Prescreve-se o repouso no leito, com imobi-
lizador ou cinturão pélvico. A deambulação, inicialmente
com muletas, deve progredir conforme tolerado, com um
retorno esperado à função normal dentro de 3 a 4 meses.

Complicações
Essas fraturas podem ser complicadas pelo desenvolvi­
mento de dor lombar crônica ou por comprometimento Figura 17.20 Fratura do sacro na TC .
neurológico.

uma incidência AP com inclinação cefálica (estreito infe­


FRATURAS VERTICAIS DO SACRO rior). Uma TC é útil para delinear as fraturas quando os
As fraturas verticais do sacro começam no ponto mais filmes simples não forem conclusivos (Fig. 17.20).
fraco do osso, que é adjacente ao primeiro e ao segundo
Lesões associadas
forames neurais (Fig. 17.19).
Essas fraturas são, muitas vezes, associadas a fraturas pél­
Mecanismo de lesão vicas anteriores. As fraturas verticais do sacro têm inci­
As fraturas verticais do sacro são o resultado de trauma dência de lesão neurológica concomitante.
indireto, como quando uma força anterior impulsiona o Denis et al. classificaram as fraturas do sacro pela lo­
anel pélvico posteriormente. calização da lesão. Ver “Lesões associadas” nas fraturas
da pelve, mais adiante, neste capítulo.
Exame
Tratamento
O paciente queixa-se de sensibilidade dolorosa sobre a pelve
posterior, sendo exacerbada com a compressão anterior ou Embora sejam fraturas estáveis e tratadas de forma sin­
lateral. O levantamento da perna estendida é doloroso com tomática, a consulta ortopédica precoce é recomendada.
esse tipo de fratura. Os pacientes com essa lesão devem rea­ Aconselha-se o repouso no leito, com imobilizador ou
lizar um exame retal digital. Sangue na luva do examinador cinturão pélvico. Esses dispositivos estão com ercial­
após o exame retal digital sugere fratura exposta. mente disponíveis em lojas de suprimentos ortopédicos.
A deambulação assistida com muletas deve progredir
Imagens conforme a tolerância, com retorno esperado à função
normal dentro de 3 a 4 meses. As fraturas expostas re­
A incidência pélvica AP é adequada para ambas as lesões.
querem antibióticos de amplo espectro de emergência e
As fraturas sacrais podem ser mais bem demonstradas em
intervenção cirúrgica.

Complicações
Estas fraturas podem ser complicadas pelo desenvolvi­
mento de dor lombar crônica ou por comprometimento
neurológico.

LESÃO À CAVALEIRO
As fraturas à cavaleiro são o tipo mais comum visto de
fraturas pélvicas deslocadas (Fig. 17.21). Quase um terço
delas tem lesão associada de trato urinário inferior.

Mecanismo de lesão
O mecanismo mais comum é uma queda que resulta na
Figura 17.19 Fratura vertical do sacro (não deslocada). abertura das pernas sobre um objeto duro. A compressão
380 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Figura 17.21 Lesões por abertura excessiva das pernas (à cavaleiro). A. Fraturas bilaterais dos ramos do púbis. B. Fraturas dos ramos
do púbis e ruptura da sínfise do púbis.

lateral da pelve pode resultar em fratura de aspecto simi­ têm lesão associada do trato urinário inferior, sendo a mais
lar, mas sem a mesma incidência de lesões genitourinário comum a ruptura uretral. É, por conseguinte, fundamental
(GU) associadas. que os pacientes com essas fraturas sejam submetidos a
exame radiográfico do trato urinário inferior.
E xa m e
O paciente se apresentará com sensibilidade dolorosa an­ T ra ta m e n to
terior, edema e equimose. É importante examinar e palpar A consulta ortopédica de emergência é recomendada. O
o permeo, o reto e a vagina na busca de lacerações, defor­ manejo de emergência dessas fraturas inclui imobilização e
midades ósseas e hematomas. estabilização, incluindo terapia com fluidos e a exclusão de
lesões graves associadas. A prioridade do médico deve ser
Im a g e n s dirigida para a identificação e a estabilização das lesões po­
A incidência pélvica em AP é adequada para demonstrar a tencialmente fatais associadas. A fixação cirúrgica da pelve
fratura (Fig. 17.22). A TC é útil para determinar a exten­ anterior é necessária depois das lesões à cavaleiro.
são do dano aos tecidos e órgãos subjacentes, como tam­
bém na articulação SI. As imagens radiográficas do trato C o m p lic a ç õ e s
urinário inferior também são recomendadas. 1. Artrite pós-traumática
2. Má união ou não união
L esõ es a sso cia d a s
3. Emboba pulmonar ou gordurosa (precoce)
Conforme já mencionado, essas lesões estão associadas a
alta incidência de lesões vasculares e viscerais. Até 33% BURGESS EYO U N G
As rupturas instáveis do anel pélvico são classificadas com
base no sistema desenvolvido por Burgess e Young, pois o
manejo agudo do paciente é mais adequadamente guiado
por esse sistema de classificação. Como afirmado ante­
riormente, este sistema ajuda a predizer as necessidades de
ressuscitação de fluidos, a lesão associada esquelética e de
órgãos sóbdos, a necessidade para estabibzação aguda da
pelve e, em última instância, a sobrevida do paciente.
Essas fraturas são, por conseguinte, divididas pelo meca­
nismo de lesão em quatro subtipos: (1) compressão lateral
(CL), (2) compressão anteroposterior (CAP; lesão em livro
aberto), (3) cisalhamento vertical (CV; fratura de Malgaig-
ne) e (4) um mecanismo combinado (MC) (ver Tab. 17.1).

Mecanismo de compressão lateral


Essas lesões são causadas por uma força de compressão
Figura 17.22 Incidência do estreito superior de uma lesão à lateral que resulta em implosão da pelve. Os bgamentos
cavaleiro com fraturas bilaterais de ambos os ramos do púbis. pélvicos anteriores (SI anterior, sacrotuberal e sacrospi-
Emergências Ortopédicas 381

A CL I B CL II C CL III

Figura 17.23 Lesões por compressão lateral. A. Padrão de lesão CL I. Observar a hemipelve direita internamente rodada, com fraturas
transversas dos ramos púbicos e fratura sacral com impactação. B. Padrão de lesão CL II. A impactação lateral da hemipelve direita
resulta em fraturas transversas dos ramos púbicos e fratura do ilíaco próxima à articulação SI direita. (A ruptura da articulação SI pode
também ocorrer com as lesões de CL II.) C. Padrão de lesão CL III. A compressão lateral da hemipelve direita resulta em rotação interna
da hemipelve direita (fraturas transversas dos ramos púbicos e fratura do ilíaco), como também a rotação externa da hemipelve contra-
lateral (fratura do osso do púbis e ruptura anterior da SI esquerda).

nal) são encurtados nesse mecanismo, em vez de estira­


dos. Pelo fato desses ligamentos permanecerem intactos,
um efeito de tamponamento é criado se houver hemor­
ragia pélvica. A lesão anterior é similar em todos os três
subtipos, e consiste em fraturas transversas dos ramos pú­
bicos. As fraturas dos ramos púbicos podem ocorrer de
forma ipsilateral (mais comum), contralateral ou bilateral­
mente à força lateral aplicada. A lesão nas estruturas pos­
teriores da pelve distingue os três subtipos de mecanismo
de CL (Fig. 17.23).

Compressão lateral I (CL I)


O componente posterior de uma lesão de CL I é uma fra­
tura de impactação do sacro (Fig. 17.23A). Essa fratura é
com frequência erroneamente diagnosticada como isolada
dos ramos púbicos, a menos que os componentes posterio­
A
res sejam atentamente verificados (Fig. 17.24A). Os ele­
mentos posteriores são demonstrados em uma incidência
de estreito inferior da pelve, com o exame atento dos fora-
mes sacrais. A TC é mais sensível para detectar uma lesão
de CL I (Figs. 17.24B e 17.25). Elas são em geral estáveis
ao exame físico e consideradas fraturas mecanicamente es­
táveis, com baixa incidência de lesões associadas.
O tratamento definitivo consiste em carga protegida
no lado de lesão (muletas para suporte) e repetição das
radiografias em 2 a 5 dias para assegurar que nenhum
deslocamento adicional tenha ocorrido. A fixação externa
(no contexto não agudo) apenas é necessária em pacientes
com dor excruciante devido à instabilidade da fratura.

Compressão lateral II (CL II)


Na lesão de CL II, existem fraturas transversas dos ramos
do púbis, com fratura da asa do ilíaco ipsilateral (fratura
em crescente), adjacente à articulação SI ou ruptura da ar­
Figura 17.24 Lesão I por compressão lateral. A. A vista AP da
ticulação SI ipsilateral (Figs. 17.23B e 17.26). Uma lesão
pelve revela fraturas transversas dos ramos púbicos superior
de CL II pode ser tratada com repouso no leito e redução e inferior à direita, consistentes com um mecanism o de com ­
aberta postergada e fixação interna, a menos que a instabili­ pressão lateral. O exam e dos elementos posteriores não iden­
dade hemodinâmica requeira a aplicação aguda de fixação tifica uma fratura óbvia. B. A T C da pelve do mesmo paciente
externa. O leitor é encaminhado para a seção sobre “Lesões revela uma fratura de im pactação da ala sacral, consistente
associadas” deste capítulo para uma discussão adicional. com lesão C L I.
382 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

O tratamento definitivo consiste na estabilização an­


terior e posterior. Tanto um fixador externo como a redu­
ção aberta são usados anteriormente, enquanto a redução
aberta com placa ou parafuso é necessária para estabilizar
a lesão posterior.

Compressão lateral III (CL III)


No padrão de lesão de CL III, a compressão lateral faz
com que a hemipelve contralateral rode externamente
(i.e., “abra”), enquanto a hemipelve no lado do impacto
roda intemamente (ver Fig. 17.23C). As fraturas dos ra­
mos púbicos ocorrem no lado do impacto, com ou sem
fratura do ilíaco ipsilateral associada ou uma ruptura da
articulação SI. Um exemplo de um mecanismo do tipo
Figura 17.25 Reconstrução tridimensional de lesão CL I à es­
de CL III é uma pelve pela qual um automóvel passa por
querda do paciente.
cima. A compressão lateral inicial que ocorre resulta em
uma lesão de CL II e, conforme a roda do carro atinge

Figura 17.26 Lesão II de compressão lateral de um pas­


sageiro sem cinto envolvido em uma colisão de veículo
automotor. A. A incidência AP da pelve revela fraturas dos
ramos púbicos à direita. Neste caso, o ilíaco não estava fra­
turado, mas a articulação sacroilíaca estava rompida. B. A
TC confirma a ruptura da articulação SI direita. Observar o
alargamento da porção posterior da articulação SI (seta). C.
A fixação cirúrgica nesse caso incluiu um fixador externo
anterior e um parafuso iliossacral direito.
Emergências Ortopédicas 383

A CAP I B CAP II C CAP III

4
Forca causadora da lesão

Figura 17.27 Lesões por compressão anteroposterior. A. Padrão de lesão CAP I. Os ligamentos do assoalho pélvico e da articulação
SI permanecem intactos, enquanto os ligamentos da sínfise do púbis estão lesionados. A separação dos ossos púbicos > 2,5 cm nas
imagens sugere lesão mais significativa. B. Padrão de lesão CAP II. Os ligamentos da sínfise do púbis e da articulação SI anterior es­
tão rompidos. Essa lesão resulta em uma pelve que "abre como um livro". C. Padrão de lesão CAP III. Nessa lesão, a pelve está tanto
rotacional como verticalmente instável devido à ruptura de todos os ligamentos da sínfise do púbis e da articulação SI.

a pelve contralateral, aplica uma força de rotação exter­


na. Uma lesão de CL III é mecanicamente instável e com
frequência requer a aplicação aguda de fixador externo
em pacientes com instabilidade hemodinâmica. O leitor
é encaminhado para a seção sobre “Lesões associadas”,
mais adiante no capítulo, para uma discussão adicional.
O tratamento definitivo consiste em estabilização an­
terior e posterior. A estabilização anterior é similar às le­
sões de CL II. Para a lesão posterior, a lesão contralateral
em livro aberto é reduzida com parafusos iliossacrais per-
cutâneos. A lesão posterior ipsilateral é tratada com base
na lesão presente. A lesão de CL I não requer nenhum tra­
tamento. A lesão de CL II requer fixação com placa para
as fraturas do ilíaco e parafusos ilíacos percutâneos para
as fraturas sacrais deslocadas.

Mecanismo de compressão anteroposterior


Essas fraturas são causadas pela compressão anterior da pel­
ve. A lesão anterior na pelve consiste em uma diástase da
sínfise do púbis ou em fraturas verticais dos ramos púbicos.
A força anterior pode ser diretamente aplicada, como em
uma lesão por esmagamento, ou indiretamente, via extremi­
dades inferiores. A lesão na pelve posterior define o subtipo
(I, II e III) (Fig. 17.27). As lesões de CAP II e III também
são conhecidas como lesões em livro aberto ou pelve aberta.

Compressão anteroposterior I (CAP I)


Essa lesão estável ocorre após uma força anteroposterior,
que resulta em diástase da sínfise do púbis ou em fratu­
ras verticais dos ramos púbicos sem lesão posterior (Fig.
17.27A). É uma lesão rara, e resulta de trauma de energia
baixa a moderada. Os hgamentos anteriores da articulação
SI são estirados, mas não rompem. Os hgamentos da sínfise
B
do púbis normalmente permitem um movimento de 0,5 a 1
cm. Qualquer separação além de 1 cm é considerada anor­ Figura 17.28 A. Diástase da sínfise do púbis (lesão CAP I). B.
mal (Fig. 17.28A). A subluxação além de 2,5 cm está asso- Lesão em "livro aberto".
384 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

ciada a uma lesão ligamentar posterior e deve ser considera­


da instável (CAP II, III). O exame dos pacientes com CAP
I resulta em pouco movimento às forças de rotação externa.
As pacientes no terceiro trimestre após o parto são susce­
tíveis a esta lesão, pois a frouxidão ligamentar hormonal­
mente induzida permite mais mobilidade. Os pacientes com
lesões de CAP I têm incidência baixa de lesões associadas.
O tratamento definitivo é sintomático, com repouso no
leito na posição lateral. A consultoria ortopédica precoce é
recomendada. Essas lesões podem ser complicadas pelo de­
senvolvimento de dor persistente sobre a área envolvida.

Compressão anteroposterior II (CAP II)


Na lesão de CAP II, a diástase sinfisária é acompanha­ Figura 17.29 Padrão de lesão por cisalhamento vertical. Notar
da pela ruptura das estruturas ligamentares SI anteriores que a hemipelve direita está superior à hemipelve esquerda.
e dos ligamentos do assoalho pélvico (sacrotuberal e sa­
crospinal) (Fig. 17.27B). A diástase da sínfise do púbis
é > 2,5 cm, e estas lesões são considerados como lesões
Mecanismo de cisalhamento vertical
em bvro aberto (pelve aberta) (Fig. 17.28B). As lesões de Estas fraturas são distinguidas pelo deslocamento da pel­
CAP II são mecanicamente instáveis às rotações externa ve anterior e posterior, verticalmente, e foram a princí­
e interna, mas não demonstram instabilidade com forças pio descritas por Malgaigne (Fig. 17.29). Anteriormente,
verticais devido aos ligamentos SI posteriores intactos. existe em geral a ruptura da sínfise do púbis, embora a
As lesões de CAP II estão associadas a taxa alta de he­ fratura através dos ramos púbicos seja uma apresentação
morragia e lesão neurológica, e muitas vezes requerem a menos comum. Posteriormente, a lesão pode ocorrer atra­
fixação externa e embolização arterial no contexto agudo. vés do ilíaco, do sacro ou da articulação SI. Em alguns
O leitor é encaminhado para a seção sobre “Lesões asso­ casos, existe um pequeno fragmento de avulsão do ilíaco
ciadas” no capítulo para uma discussão adicional. que permanece inserido ao sacro.
O tratamento definitivo consiste em fixação com pla­ O mecanismo clássico dessa lesão é uma queda de al­
ca das rupturas da sínfise do púbis e na fixação externa tura. Se o indivíduo cair sobre uma extremidade inferior es­
ou redução aberta para as fraturas dos ramos púbicos. Se tendida, a hemipelve é deslocada verticalmente para cima.
a fixação externa for usada, é deixada por oito semanas. Em uma colisão de veículo automotor, o paciente pode so­
frer a lesão quando uma perna estendida for superiormente
Compressão anteroposterior III (CAP III) deslocada para dentro da pelve pelo assoalho do carro.
As lesões de CAP III consistem na luxação da sínfise do O m édico observa o encurtam ento da extrem idade in­
púbis e na lesão dos ligamentos SI anteriores e posterio­ fe r io r no lado envolvido. O encurtamento é causado pelo
res (ver Fig. 17.27C). Estas fraturas são muito instáveis, já deslocamento cranial do fragmento pélvico. As medidas
que a integridade do anel pélvico foi eliminada. As lesões cuidadosas desde o umbigo até a espinha ilíaca anterossu-
de CAP III são instáveis tanto para forças verticais como perior ou o maléolo medial demonstram o encurtamento
rotacionais. As lesões ligamentares do mecanismo de CAP no lado envolvido. As medidas da espinha ilíaca anterossu-
III são similares às lesões por cisalhamento vertical, exceto perior até o maléolo serão as mesmas em ambos os lados,
que a hemipelve não é deslocada superiormente. As lesões excluindo uma fratura do colo do fêmur. Os déficits neu­
associadas - vasculares, viscerais e neurológicas - muitas rológicos sacrais podem acompanhar essas lesões e devem
vezes complicam o manejo, resultando em alta morbidade e ser excluídos precocemente com base no exame. As lesões
mortalidade. É essencial que o médico da emergência ava­ viscerais concomitantes são frequentes com essas fraturas
lie agressivamente todos esses pacientes para a presença de e requerem uma completa avaliação física e radiográfica.
lesões potencialmente fatais acompanhantes. Tal como nas O manejo de emergência inclui a imobilização junto
lesões de CAP II, a fixação externa é frequentemente neces­ com uma avaliação rápida e completa para lesões poten­
sária no contexto agudo para controlar a hemorragia. Os pa­ cialmente fatais associadas. Os pacientes com fraturas pél­
cientes com esse padrão de fratura têm maior probabilidade vicas instáveis com instabilidade hemodinâmica, apesar da
de necessitar embolização arterial de emergência. O leitor é terapia apropriada com fluidos, devem ser candidatos con­
encaminhado para a seção sobre “Lesões associadas” nesse siderados para a fixação externa de emergência. A fixação
capítulo para uma discussão adicional. externa precoce pode ser uma opção valiosa para reduzir a
O tratamento definitivo é similar às lesões de CAP perda sanguínea. Os pacientes com lesões de cisalhamento
II anteriormente, mas também requer a estabilização da vertical têm mais probabilidade de requerer embolização
lesão posterior. A estabihzação da lesão do anel posterior arterial. O leitor é encaminhado para a seção sobre “Le­
é feita com parafusos ibossacrais percutâneos. sões associadas” no capítulo para uma discussão adicional.
Emergências Ortopédicas 385

padrões pélvicos específicos de fratura é útil, pois prediz


o tipo de lesão associada. As fraturas pélvicas resultam
em lesões associadas que afetam as estruturas vasculares,
do trato geniturinário, do sistema neurológico e do trato
alimentar. O controle da hemorragia é a preocupação pri­
mária nos estágios iniciais do manejo.

H em orragia. Até quatro litros de sangue podem ser acu­


mulados no retroperitônio após uma fratura pélvica signifi­
cativa. Metade dos pacientes com fraturas pélvicas não pe­
netrantes hospitalizados requerem transfusões sanguíneas
(volume médio, 6 a 8 unidades).4,1' Tendo isso em mente,
não surpreende que o choque hemorrágico seja a principal
causa da morte em pacientes com fraturas pélvicas.
Figura 17.30 Mecanismos combinados. Fraturas múltiplas da Entretanto, o médico da emergência, ao avaliar esses
pelve que não possam ser classificadas em quaisquer dos ou­
pacientes, também deve considerar outras fontes de he­
tros grupos.
morragia. Uma grande revisão estabeleceu que a maioria
dos pacientes que sofrem de fatalidade hemorrágica após
O tratamento definitivo depende da localização da lesão uma fratura pélvica não morreu como resultado da hemor­
posterior. As fraturas que envolvem a de SI ou o sacro reque­ ragia pélvica. Outras fontes de sangramento, como o tó­
rem tração para redução, seguida pela fixação com parafuso rax e o abdome, devem ser avaliadas.
iliossacral percutâneo. A estabilização anterior com redução A radiografia pélvica inicial pode ser útil para predizer
aberta ou fixação externa também é necessária. O fixador uma hemorragia pélvica significativa. Em pacientes com
externo deve ser mantido no lugar por 12 semanas. instabilidade hemodinâmica com padrões de fratura CL I
e CAP I mecanicamente estáveis, a hipotensão continuada
Mecanismo combinado era devido à hemorragia intra-abdominal em 85% dos casos.
Em contraste, nos pacientes com lesões CL II, CL III, CAP
Estas fraturas são muito instáveis, já que a integridade do II, CAP III e CV mecanicamente instáveis, uma hemorra-
anel pélvico foi eliminada (Fig. 17.30). As lesões associa­ gia significativa na pelve ocorreu em 60%. As lesões de
das complicam o manejo dessas fraturas, resultando em CAP têm a maior necessidade de transfusão (15 unidades),
alta morbidade e mortalidade. enquanto as lesões de CL necessitaram menos (quatro uni­
Como essas lesões são com frequência acompanha­ dades). 1As limitações incluem a potencial dificuldade em
das por outras lesões potencialmente fatais, elas devem interpretar esses filmes iniciais em pacientes que com fre-
28
ser considerados dentro do contexto de manejo do trauma quência estão muito instáveis para se submeter a uma TC.
em vez de fraturas isoladas da pelve. A consulta ortopédi­ Outros padrões radiográficos que predizem uma he­
ca de emergência é recomendada com ênfase. O manejo morragia significativa incluem as fraturas duplas no anel
de emergência dessas fraturas inclui a imobilização junto pélvico e os padrões posteriores de fratura. As fraturas que
com uma avaliação rápida e completa para lesões poten­ envolvem quebra dupla e deslocada do anel têm aumento
cialmente fatais associadas. Os pacientes com fraturas duplo na incidência de sangramento que requer transfusão
pélvicas instáveis com instabilidade hemodinâmica, ape­ quando comparadas com as fraturas únicas. As fraturas
sar da terapia apropriada com fluidos, devem ser candida­ pélvicas posteriores estão associadas a mais sangramento
tos considerados para a fixação externa de emergência. O do que as anteriores.
leitor é encaminhado à seção sobre “Lesões associadas” O controle cirúrgico direto e o reparo dos vasos san-
para uma discussão adicional. grantes associados a fraturas pélvicas não costuma ser
O tratamento definitivo depende dos tipos da lesão indicado. O sangramento é venoso em muitos casos e a
envolvida, sendo mais adequadamente guiado por um or­ exploração cirúrgica é com frequência em vão, devido à
topedista experiente. extensa circulação colateral. Além disso, a perda de um
efeito de tamponamento após a incisão no retroperitônio
Lesões associadas toma essa opção potencialmente prejudicial.9
A taxa de mortalidade das rupturas do anel pélvico é alta As intervenções que têm se provado úteis no contro­
(10 a 20%), como resultado da alta incidência de lesões le do sangramento pélvico incluem a fixação pélvica e a
multissistêmicas. O profissional deve considerar angiografia. As decisões feitas em relação à necessidade
essas lesões no contexto geral do paciente. As lesões as­ e o momento apropriado da fixação, da angiografia ou da
sociadas múltiplas podem ocorrer devido aos fragmentos laparotomia para reparar uma lesão intra-abdominal, va­
de fratura e o seu efeito sobre as estruturas anatômicas riam dependendo da instituição, e são o objeto da seguinte
adjacentes. A identificação precoce dos pacientes com discussão (Tab. 17.4).
386 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

► TABELA 17.4 Algoritmo diagnóstico para trauma pélvico não penetrante

Radiografia em AP da pelve

NAO
Fratura pélvica instável? Continuar a avaliação do trauma
(CL II, III; CAP II, III; CV)

SIM

NAO
Instabilidade hemodinâmica? ------- ■>- Continuar a avaliação do trauma
(PAS < 90 mm Hg, requer > 2U CH) TC da pelve + consulta ortopédica
para fixação

SIM

NAO
Outra fonte de hemorragia? ■>- Angiografia + campo pélvico
(LPP, UAFT, RxT) circunferencial
Consultoria ortopédica
para fixação
SIM
t
Sala de cirurgia + angiografia
Campo pélvico circunferencial
Consultoria ortopédica para fixação

RxT, Raio X de Tórax; LPP, lavagem peritonial profunda; UAFT, ultrassonografia abdominal focada no trauma; CH , concentrado de hemácias; PAS, pressão
arterial sistólica.

As fraturas instáveis podem ser tratadas com fixação um ortopedista qualificado e fluoroscopia para evitar a má
externa em uma tentativa de reduzir o volume intrapélvi- posição do dispositivo (Fig. 17.32). Esses dispositivos são
co, tamponar o sangramento pela oposição de estruturas efetivos para estabilizar o anel pélvico posterior, compri­
ósseas, e prevenir o deslocamento do coágulo imobilizan­ mindo mecanicamente as articulações sacroilíacas. A la­
do os fragmentos ósseos.9,18 Foi demonstrada redução da parotomia não sofre interferência em um paciente com o
mortalidade com o seu uso. Nas fraturas mecanica­ clampe. As pinças de redução do anel posterior são mais
mente instáveis, a aplicação aguda de um fixador exter­ comuns em centros europeus.
no deve ser considerada para CAP II, CAP III, CL III e Outro método simples para obter a estabilização pél­
CV. O tipo de fixador externo e a sua aplicação devem vica temporária é a aplicação de um cinturão pélvico co-
ser determinados pelo ortopedista, com base no padrão
específico de fratura (Fig. 17.31). Muitos ortopedistas re­
comendam a colocação do fixador antes da laparotomia
de emergência, sempre que for possível. Os fixadores
pélvicos podem ser inseridos no ED sob anestesia local
com incisões cutâneas menores. A fixação externa preco­
ce das fraturas pélvicas instáveis é uma opção valiosa para
reduzir a perda sanguínea.
As desvantagens da aplicação do fixador externo no
paciente criticamente ferido incluem o tempo necessário
para colocar o dispositivo, em tomo de 40 minutos, que
pode retardar desnecessariamente outras intervenções
fundamentais para salvar a vida. A outra limitação de um
fixador externo é que não fornece um suporte suficiente
para a pelve posterior. Além disso, alguns acreditam que
um fixador externo anteriormente aplicado possa, na ver­
dade, acrescentar distração a uma lesão posterior.
Há clampes de redução do anel posterior (clampes
em C, clampes pélvicos, clampes de Ganz) disponíveis,
mas são mais difíceis de aplicar - em geral requerendo Figura 17.31 Fixador externo anterior.
Emergências Ortopédicas 387

Figura 17.32 Representação esquemática da aplicação de um


clampe em C. Esse fixador é mais difícil de aplicar, mas estabili­
za melhor a pelve posterior do que um fixador externo anterior.

mercialmente disponível ou um campo enrolado em tomo


da pelve (Fig. 17.33). As vantagens de um campo anti-
choque pélvico circunferencial (CAPC) incluem o fato de
ser de baixo custo, prontamente disponível e não existir
treinamento especial para a aplicação. O acesso a extre­
midade inferior e abdominal é mantido depois do campo
ser colocado. A cautela é necessária em pacientes com le­
sões por compressão lateral do anel pélvico ou fraturas
sacrais neuroforaminais. A aplicação forçada ou agressiva
do CAPC pode piorar a lesão visceral ou a lesão de raiz
nervosa sacral nesses casos.
A angiografia com embolização é outra opção impor­ B C
tante para deter o sangramento arterial das fraturas pélvi­
cas. O ensino tradicional é que o sangramento pélvico é Figura 17.33 Campo circunferencial pélvico antichoque. A.
originado de uma fonte arterial em aproximadamente 10% Um campo é colocado sob a pelve. B. As extremidades são uni­
das anteriormente. C. Pinças são usadas para fixar firmemente
dos casos. Entretanto, em pacientes com fratura pélvica
o campo.
que estejam hemodinamicamente instáveis e refratários
à ressuscitação de volume, o sangramento arterial é mais
provável que o sangramento venoso, e até 80% desses em ergência não deve esperar a colocação de um fix a d o r
pacientes terão um componente significativo de sangra­ externo se o p ro ced im en to retardar a angiografia. Em
mento arterial passível de embolização. Por isso, a an­ indivíduos com instabilidade hemodinâmica e evidência
giografia com embolização arterial pode salvar a vida do de hemorragia pélvica e abdominal (radiografia pélvica
paciente, e deve ser considerada precocemente. Mesmo positiva e ultrassonografia abdominal focada no exame do
aqui, o padrão de fratura também pode ajudar na indica­ trauma), a tradicional ordem de laparotomia e a angiogra­
ção de quais pacientes podem ser beneficiados pela angio­ fia têm sido questionadas. A angiografia antes da laparo­
grafia. Vinte por cento dos pacientes com padrões de lesão tomia tem vantagens potenciais, sendo capaz de embolizar
CAP II, CAP III, e CV necessitaram de embolização no as artérias abdominais e evitar o aumento do volume pél­
estudo de Burgess e colaboradores, enquanto somente 2% vico que ocorre com a abertura do abdome. “
dos pacientes com um padrão de lesão por CL são benefi­
ciadas pela embolização. As lesões viscerais junto com as fratu­
G en itu rin á ría .
Antes da angiografia, a ressuscitação agressiva e a ras pélvicas de alta energia estão associadas à mortalida­
estabilização com um campo circunferencial devem ser de alta. A lesão visceral mais comum é no trato urinário
executadas. Se o paciente permanecer hipotenso, e ne­ inferior, especificamente, na uretra e na bexiga. As lesões
nhuma outra fonte de sangramento estiver evidente (tórax, uretrais ocorrem com a incidência de 4 a 14% depois das
abdome), então a angiografia é indicada. Em pacientes rupturas do anel pélvico, enquanto as lesões da bexiga
hipotensos sem outras fontes de hemorragia, a angiografia estão presentes em 6 a 11%. As lesões simultâneas da
pode revelar hemorragia arterial que deve ser embolizada bexiga e da uretra ocorrem em 0,5 a 2,5% das fraturas
em 73% dos pacientes. N esses pacientes, o m édico da pélvicas.
388 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

O profissional deve considerar uma lesão do trato uri­ da anatomia circundante. A próstata é fixada ao osso do
nário depois de todas as fraturas pélvicas. Os achados no púbis via ligamentos puboprostáticos. A próstata é simi­
exame, como uma próstata de difícil palpação (“localiza­ larmente fixada ao diafragma urogenital, que se insere na
ção alta”), edema perineal ou escrotal e sangue no meato uretra membranosa. Quando ocorre lesão do anel pélvico,
uretral estão frequentemente ausentes no período inicial o movimento do osso púbico desloca a próstata e cria uma
depois da lesão. Por essa razão, padrões específicos de força de cisalhamento que rompe parcial ou completa­
fratura que sejam associados a uma probabilidade alta de mente a uretra.
lesão do trato urinário devem ser buscados. A incidência As pacientes do sexo feminino têm incidência menor
de lesão urológica inferior é mais comum depois da ruptu­ de lesões desse tipo (4,6%) devido ao menor comprimento
ra do anel pélvico anterior, especialmente o envolvimento da uretra, e ao fato que existe menos suporte estrutural
dos ramos púbicos bilaterais (lesão à cavaleiro). As lesões circundante.4 Entretanto, um exame meticuloso deve ser
urológicas ocorrem em 15% dos pacientes com fraturas do feito sempre que sangue for visto no intróito.
ramo púbico unilateral e aumentam para 40% após fraturas Todos os pacientes com achados no exame físico que
bilaterais dos ramos (lesão à cavaleiro). Outros padrões sugiram lesão uretral devem ser submetidos a uma uretro-
de fratura associados com a lesão do trato urinário incluem grafia retrógrada antes da passagem de um cateter de Foley.
a subluxação de sínfise púbica (CAP I), lesões em livro Esse cateter prematuramente inserido pode converter uma
aberto (CAP II, CAP III), fraturas de CV (Malgaigne), e ruptura parcial em completa. Pelo fato de os achados do
fraturas dos ramos púbicos com lesão associada de SI. A exame físico serem pouco confiáveis, especialmente dentro
lesão uretral é incomum depois de lesão posterior isolada. da primeira hora depois da lesão, os pacientes com ruptu­
ras do anel pélvico anterior devem ser submetidos a uma
uretrografia retrógrada, apesar de um exame negativo.
A xio m a: Pressupõe-se que as fraturas pélvicas tenham le­
Usando uma seringa de bulbo ou um cateter de Foley
são associada do trato urinário até prova em contrário. As
fraturas do anel pélvico anterior estão associadas a maior
inserido na fossa navicular, 30 a 40 mL de meio de con­
incidência de lesão. traste hidrossolúvel são injetados na uretra enquanto uma
radiografia é obtida (Fig. 17.34A). Se um Foley tiver sido
prematuramente colocado, a uretrografia pode ser obtida
A uretra é dividida em porções posterior e anterior no usando um angiocateter inserido ao lado do Foley. Uma
homem. A porção posterior consiste na uretra prostática e ruptura completa é diagnosticada pelo extravasamento
membranosa, enquanto a porção anterior consiste na ure­ de contraste sem enchimento da bexiga, enquanto uma
tra bulbosa e peniana. A área mais suscetível para lesão ruptura incompleta está presente com o extravasamento e
uretral depois de uma fratura pélvica é a junção bulbo- enchimento parcial da bexiga. O tratamento permanece
membranosa. A compreensão requer algum conhecimento controverso mas, em geral, as rupturas uretrais anteriores

AP

Portátil
Uretrografia-5:45 a.m.

A B

Figura 17.34 As fraturas pélvicas estão com frequência associadas a lesões geniturinárias. A . Uretrografia normal. B. Cistografia normal.
Emergências Ortopédicas 389

pequenas não requerem o reparo cirúrgico, já que curam


bem sobre um cateter de Foley de demora. A ruptura com­
pleta e as lesões uretrais posteriores são mais adequada­
mente tratadas de forma cirúrgica.
A lesão da bexiga pode envolver uma ruptura intrape-
ritonial ou extraperitonial. Em 93% dos casos de ruptura
da bexiga, fratura pélvica está concomitantemente presen­
te. A ruptura extraperitonial é causada por uma espícula
óssea que lacera a porção anterolateral da bexiga em um
terço dos casos. Outro mecanismo comum de ruptura
extraperitonial é a compressão da bexiga vazia. A ruptura
intraperitonial ocorre através da parte mais fraca da bexi­
ga, o domo, quando uma força é aplicada à bexiga cheia.
A hematúria macroscópica está presente em 82 a 97% dos
pacientes com ruptura, embora esse achado não distinga
entre a lesão do trato geniturinário superior e inferior.
As fraturas que rompem o anel pélvico requerem uma
cistografia retrógrada após a uretrografia. A cistografia re­
trógrada é executada pela instilação de 300 mL de meio
de contraste hidrossolúvel, por gravidade, na bexiga (Fig.
17.34B). As incidências radiográficas em distensão e pós- Figura 17.35 Classificação de Denis de fraturas sacrais. Exis­
-esvaziamento devem ser examinadas com cuidado para tem três zonas de lesão (I, II, III), com a extensão mais medial
do fragmento de fratura usada para classificar a lesão. Quanto
qualquer evidência de extravasamento. Cistografias falso-
mais medial a fratura, mais alta a incidência de com prom eti­
-negativas podem resultar se a bexiga não for completa­
mento neurológico.
mente distendida ou os filmes pós-esvaziamento não fo­
rem obtidos. As cistografias retrógradas com TC também
são uma alternativa aceitável para a investigação dessas bém as mais devastadoras, já que quase 80% afetaram o
19
lesões. As rupturas da bexiga são tratadas com reparo intestino, a bexiga ou a função sexual. As fraturas sacrais
cirúrgico. horizontais acima do nível de S2 são incomuns, mas estão
associados a uma incidência muito mais alta de lesões neu­
N eurológica. As lesões neurológicas estão presentes em rológicas do que as fraturas abaixo de S2.
20% dos pacientes com fraturas instáveis do anel pélvico.
A lesão neurológica é mais comum depois da lesão SI, G astrintestinal. As lesões gastrintestinais associadas a
das fraturas do sacro ou no acetábulo. A lesão do nervo is- fraturas são tipicamente vistas com trauma penetrante ou
quiático está presente em 13% dos pacientes com fraturas com fraturas expostas. Se houver suspeita de lesão gas­
acetabulares. trintestinal inferior, a endoscopia deve ser efetuada.
Mais da metade dos pacientes com lesão neurológi­
ca devido a fraturas pélvicas terá tanto déficits sensitivos Fraturas exp o sta s. As fraturas pélvicas expostas têm
como motores. Em um estudo, 50% dos pacientes tinham mortalidade que varia de 25 a 50%. Na fase aguda, a
déficit neurológico persistente 24 meses após a lesão. morte é mais frequente devido à hemorragia, enquanto a
Depois das fraturas do sacro, os nervos são lesionados sepse é a causa nos casos tardios. Os grupos de alto risco
por estiramento, por fragmentos ósseos pequenos ou pela incluem aqueles pacientes com envolvimento do reto ou
formação de hematoma. Essas lesões são detectadas por da área perineal. Nesses casos, uma colostomia deve ser
meio de um exame neurológico completo, particularmen­ feita precocemente. O envolvimento retal está presente
te das raízes nervosas de L5, SI e S2. em um quarto dos pacientes. Um quarto das mulheres terá
Denis classificou as fraturas do sacro pela localização uma fratura exposta precedida de laceração vaginal. As le­
da lesão (Fig. 17.35). 5Em pacientes com fraturas através sões associadas são comuns, com um terço dos pacientes
da ala sacral (zona I), a incidência de lesão neurológica foi apresentando lesão geniturinária. Os princípios de trata­
de 6%, sendo a lesão mais provável a parcial da raiz nervo­ mento incluem a irrigação e o debridamento das feridas
sa de L5. As fraturas através dos forames sacrais (zona II) abertas e colostomia quando o reto ou o períneo estiverem
tiveram a incidência de lesão neurológica de 28%. As fra­ envolvidos.' As fraturas pélvicas expostas requerem a ad­
turas da zona II eram mais comumente associadas à lesão ministração precoce de antibióticos de largo espectro.
das raízes ventrais de L5, SI ou S2. As fraturas mediais aos
forames sacrais ou as fraturas horizontais (zona III) tinham Complicações
a incidência mais alta de lesão neurológica, com 57%. Es­ As fraturas pélvicas podem ser associadas a muitas com­
tas fraturas não eram somente as mais comuns, mas tam- plicações a longo prazo.
390 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

1. A artrite SI crônica, apresentando-se com dor sa- FRATURAS DO ACETÁBULO


cral baixa e constante, pode seguir-se à da articula­
ção SI O acetábulo é dividido em quatro segmentos - a coluna
anterior e a borda anterior (parede), e a coluna posterior
2. Não união ou união retardada
e borda posterior (parede). As fraturas do acetábulo são
3. Embolia pulmonar e gordurosa (precoce) classificadas com base no envolvimento dessas estruturas
4. Sepse de víscera rompida (Fig. 17.36). A coluna anterior se estende da crista do ilí­
5. Déficits neurológicos persistentes, especialmente aco até a sínfise do púbis e inclui a borda anterior do ace­
após fraturas sacrais tábulo. A coluna posterior começa na incisura isquiática

Fratura transversa do acetábulo Fratura da borda posterior

Espinha Espinha
anteroinferior posteroinferior

Púbis Espinha isquiática

Tuberosidade isquiática

Fratura da coluna posterior Fratura da coluna anterior

Figura 17.36 Fraturas não deslocadas do acetábulo. Existem muitas variantes.


Emergências Ortopédicas 391

e inclui a borda posterior do acetábulo e a tuberosidade


isquiática. O domo acetabular (teto) é a área superior de
carga do acetábulo e inclui as porções das colunas anterior
e posterior. As fraturas transversas do acetábulo envolvem
as porções de ambas as colunas.
O padrão de fratura mais comum envolve ambas
as colunas. As fraturas isoladas da coluna posterior são
mais comuns que as da anterior. As fraturas da borda
posterior ocorrem com as luxações posteriores do qua­
dril. As fraturas acetabulares deslocadas são cham a­
das de fraturas-luxações centrais quando a cabeça do
fêmur se deslocar medialmente para dentro da pelve
(Fig. 17.37).
As fraturas acetabulares são classificadas, conforme
descrito por Letoumel e Judet, em tipos de fra tu ra s sim ­
p le s e tipos de fra tu ra s associadas. Os tipos de fraturas
simples incluem as transversas ou as isoladas em uma úni-

Fraturas do acetábulo

Figura 17.38 Pâdrão de fratura em forma de "T ".

ca coluna ou borda. Os tipos de fraturas associadas são


mais complexos e incluem aquelas em forma de “T” ou
“Y”, bem como os padrões de fratura que incluem mais de
uma fratura simples. As fraturas em forma de T envolvem
tanto as colunas anterior como posterior e têm um com­
ponente transverso (Fig. 17.38). Elas respondem por 5 a
10% das fraturas acetabulares.

Mecanismo de lesão
As fraturas acetabulares são habitualmente o resultado de
um trauma de alta energia. O mecanismo mais comum de
lesão é o indireto, como ocorre um golpe medialmente di­
rigido ao trocanter maior. Quando isso ocorre, a cabeça
do fêmur atua como um martelo, fraturando o acetábulo.
Se a cabeça do fêmur estiver intemamente rodada na hora
da lesão, é produzida uma fratura de coluna posterior. Da
mesma forma, a rotação externa causa fratura da coluna
anterior, a adução resulta em uma fratura do domo supe­
rior e a abdução causa lesão no acetábulo inferior. O me­
canismo é comumente visto quando um pedestre é atingi­
do por um carro.
Outro mecanismo indireto de lesão é por meio da
transmissão axial de uma força a partir de um golpe nos
joelhos, transmitido até a cabeça do fêmur e o acetábulo.
Esse mecanismo é muitas vezes encontrado em motoristas
ou passageiros de carros envolvidos em colisões. O resul­
tado é uma fratura acetabular transversa ou, menos comu­
Figura 17.37 Fratura-luxação central. mente, fratura da coluna posterior.
392 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Exame • L ágrim a. Esta sombra em forma de “U” representa


O paciente apresenta dor e sensibilidade dolorosa, que a margem anterior da incisura acetabular. É contígua
aumentam com as tentativas de carga. Os pacientes com com a linha ilioisquial e qualquer separação dessas
fraturas acetabulares centrais podem ter encurtamento da estruturas representa a rotação da hemipelve ou fratu­
perna ipsilateral se elas forem associadas a deslocamen­ ra da coluna posterior.
to ou luxação. As fraturas acetabulares podem ter lesões • Teto do acetábulo. Fratura do acetábulo superior.
vasculares, viscerais ou neurológicas acompanhantes. É Em alguns casos, uma fratura acetabular estará ób­
fortemente recomendado o exame e a avaliação completa via na radiografia AP (Fig. 17.40). Se houver suspei­
na busca de lesões concomitantes. ta de fratura acetabular, mas não estiver evidente nas
incidências AP da pelve ou do quadril, as incidências
Imagens
oblíquas (Judet) e uma TC devem ser obtidas. A coluna
As fraturas acetabulares podem ser de difícil detecção na posterior e a borda anterior são visualizadas de forma
radiografia AP pélvica inicial. É essencial que as referên­ mais adequada em incidência oblíqua externa de 45°,
cias anatômicas normais que circundam o acetábulo sejam enquanto a borda posterior e a coluna anterior são mais
cuidadosamente avaliadas quando houver suspeita dessas evidentemente projetadas na incidência oblíqua interna
lesões (Fig. 17.39). A ruptura de quaisquer dessas linhas de 45°. As fraturas acetabulares centrais são melhor vi­
sugere fratura na porção correspondente do osso acetabu­ sualizadas em uma radiografia oblíqua posterior. Algu­
lar, conforme a seguir: mas fraturas pélvicas são com frequência associadas a
• L inha iliopúbica (iliopectínea). Fratura da coluna an­ fraturas acetabulares que podem não ser vistas radiogra-
terior. ficamente com facilidade. Oitenta por cento dos frag­
• L in h a ilioisquial. Essa linha representa a borda me­ mentos intra-articulares dentro do quadril não são vis­
diai da coluna posterior; qualquer ruptura correspon­ tos em radiografias simples. A TC é recomendada em
de a uma fratura da coluna posterior. todas as lesões acetabulares suspeitadas e tem superado
as radiografias simples especializadas na maioria dos
• L ábio p o sterio r. Fratura da borda posterior. O lábio
casos. A TC, muitas vezes com reconstruções tridimen­
posterior é maior e se projeta mais lateralmente que
sionais, pode ser bastante útil em detectar fragmentos
o anterior.
ósseos intra-articulares e para o planejamento do mane­
• L ábio anterior. Essa linha corre contígua com a borda
jo cirúrgico (Figs. 17.41 e 17.42).
inferior dos ramos púbicos superiores. A ruptura re­
presenta uma fratura da borda anterior.

Figura 17.39 Incidência AP do acetábulo pélvico. Essas linhas devem ser examinadas cuidadosamente em pacientes com suspeita
de fratura. Uma fratura sutil pode deslocar somente uma daquelas linhas. A. Representação esquemática. B. Radiografia.
Emergências Ortopédicas 393

Figura 17.42 Reconstrução com T C tridimensional demons­


trando uma fratura acetabular transversa (seta).

Figura 17.40 Fraturas acetabulares bilaterais. O acetábulo es­


a imobilização da extremidade e a avaliação completa
querdo está gravemente deslocado e a ruptura das linhas iliopú-
bica e ilioisquial sugere fratura em ambas as colunas, anterior
para lesões vasculares, viscerais ou neurológicas acom­
e posterior. panhantes.
A normalização precoce da relação femoral e aceta­
bular é a meta de tratamento. A cirurgia está indicada se
Lesões associadas a cabeça do fêmur é subluxada fora da tração. A redu­
ção aberta com fixação interna também é recomendada
As fraturas acetabulares podem ser associadas a compli­
em fraturas deslocadas mais 2 mm. As fraturas com
cações vasculares, viscerais e neurológicas. Além disso,
impactação da cabeça do fêmur estão associadas a um
as fraturas acetabulares podem estar associadas a fratu­
desfecho pior.
ras do fêmur, da cabeça do fêmur, dos ramos púbicos e
O tratamento conservador das fraturas acetabula­
da extremidade ipsilateral. As luxações posteriores do
res varia desde a tração até a condição de carga comple­
quadril estão em geral associadas a fraturas deslocadas
ta. Para as fraturas não deslocadas envolvendo o domo
da borda posterior, enquanto as luxações anteriores do
de carga, é necessário o tratamento fechado com tração
quadril estão associadas a fraturas da borda anterior. As
para prevenir o deslocamento adicional (Fig. 17.43). Se o
lesões do nervo isquiático ocorrem em 10 a 13% das fra­
turas acetabulares.

Tratamento
O encaminhamento ortopédico de emergência é reco­
mendado, principalmente no contexto de luxação do
quadril. O manejo de emergência dessas fraturas inclui

Figura 17.43 Tração de Russell. A perna é equilibrada em um


Figura 17.41 T C demonstrando uma fratura da borda poste­ aparato de suspensão com mínim a flexão; 5 a 7,5 kg de peso
rior direita {seta). fornecem boa tração.
394 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

domo de carga não estiver envolvido, o paciente tem per­ 3. A necrose avascular ocorre até um ano depois da le­
missão para apoiar o peso conforme tolerado. são. A incidência depende do tipo de fratura e do
tempo de redução. As fraturas-luxações acetabula­
Complicações res centrais, que são reduzidas precocemente, têm
O manejo das fraturas acetabulares pode ser complicado incidência de necrose avascular de 15%. Se redução
pelo desenvolvimento de vários distúrbios. é retardada, há incidência de 48%.4 Outros autores
não relatam nenhum caso de necrose asséptica após
1. A osteoartrite é consequência comum, mesmo depois fraturas-luxações acetabulares centrais.
das menores fraturas. 4. A lesão do nervo isquiático pode complicar o manejo
2. A artrite traumática é notada, em especial depois das dessas lesões, especialmente as fraturas centrais des­
fraturas-luxações centrais deslocadas. locadas.

LESÃO DE TECIDOS MOLES PÉLVICOS


CONTUSÕES cóccix podem levar a uma condição chamada de coccidí-
nia, que tem um prognóstico ruim e para qual há poucas
Nádegas opções de tratamento adequado. O tratamento de emergên­
As contusões constituem uma ocorrência comum nas náde­ cia das contusões do sacro e do cóccix inclui a aplicação
gas, resultante de golpes diretos, como durante uma queda. precoce de compressas frias e a prescrição de um assento
As nádegas são protegidas por uma quantidade grande de em forma de “rosca” e analgésicos apropriados, junto com
tecido gorduroso, e a contusão do glúteo máximo requer o encaminhamento para o paciente ser acompanhado. Em
força significativa. O paciente queixa-se de dor ao sentar- considerando o prognóstico reservado nas contusões do
-se e na deambulação, e o examinador nota sensibilidade cóccix, acreditamos que todas as contusões desse osso de­
dolorosa à palpação. Outras condições resultantes de força vam ser encaminhadas para acompanhamento.
não penetrante nas nádegas incluem a periostite da tubero-
sidade isquiática, a contusão da tuberosidade isquiática e as Períneo
fraturas da tuberosidade. Essas condições podem ser dife­ As contusões do períneo são incomuns, e resultam de gol­
renciadas por raios X apropriados e pela avabação clínica. pes diretos, como uma queda sobre um objeto duro. Ao
Em pacientes com periostite da tuberosidade isquiática o exame, o paciente relata um períneo doloroso, equimótico
examinador percebe dor intensa sobre a tuberosidade, com e inchado, e pode ter um hematoma doloroso. Qualquer
muito pouco desconforto em outro lugar. paciente com hematoma grande no períneo requer uma
O tratamento das contusões nas nádegas é sintomáti­ uretrografia para excluir lesão uretral. O tratamento cons­
co, com compressas de gelo e repouso em decúbito ventral. titui de compressas frias nas primeiras 48 horas, seguidas
Um travesseiro ou almofada oferecem alívio do desconforto de banhos de assento momos.
até que a condição melhore. No paciente com periostite da
tuberosidade isquiática, a injeção da tuberosidade com bu- Crista ilíaca
pivacaína oferece bom alívio. Além disso, o paciente deve A lesão mais comum que ocorre na crista ilíaca é a con­
ser liberado com instruções de usar uma almofada até que tusão. As contusões da crista ilíaca têm sido chamadas de
a condição desapareça, além de analgésicos apropriados e “ponteiros do quadril”.“ Esse diagnóstico não deve ser
compressas de gelo durante as primeiras 24 a 48 horas. feito sem considerar uma lesão intra-abdominal. A p e rio s­
tite da crista ilíaca resulta de contusão do osso e, habi­
Sacro e cóccix tualmente, não gera qualquer problema no diagnóstico e
A contusão é uma lesão comum, causada por um golpe di­ tratamento. Ao exame, o paciente apresenta sensibibdade
reto sobre o sacro ou cóccix. Devido à natureza subcutânea dolorosa localizada em qualquer região ao longo da crista
desses ossos, as contusões podem ser extremamente doloro­ ilíaca, desde a espinha anterossuperior até a espinha pos-
sas, e o paciente relata dor forte localizada na área, que pode terossuperior. O tratamento da condição é sintomático.
ser bastante incapacitante. Ao exame, é encontrada uma área
bem localizada de sensibibdade dolorosa sobre o sacro ou
ENTORSE DO LIGAMENTO SACROILÍACO
cóccix, com pouco desconforto em outro lugar. As radiogra­
fias apropriadas devem ser solicitadas para excluir fraturas. Essa é uma lesão traumática incomum; contudo, o erro
Embora outros autores tenham afirmado que essa diagnóstico no setor de emergência pode levar a um trata­
condição não seja incapacitante, temos visto que ela é ex­ mento impróprio para um disco hemiado. A articulação SI
tremamente incapacitante ao paciente. As contusões do é a articulação mais forte no corpo, sendo raramente feri-
Emergências Ortopédicas 395

da. Quando a lesão ocorre, o paciente relata dor localizada da coxa deve ser evitada. Em casos nos quais houver sus­
na região da articulação SI e a refere até a virilha e no peita de avulsão completa, deve ser indicado o encaminha­
aspecto posterior da coxa. O mecanismo de lesão envolve mento para avaliar a necessidade de reparo cirúrgico.
a abdução ampla das coxas ou os extremos de hiperexten-
são ou hiperflexão. A melhor manobra para diagnos­ COMPRESSÃO DO NERVO ISQUIÁTICO
ticar a condição é fazer com que o paciente fique deitado
de lado, sendo feita uma compressão para baixo sobre a A dor ciática é mais comumente considerada como secun­
crista ilíaca. Esta ação comprime a articulação SI e causa dária a um núcleo pulposo hemiado dentro da coluna lom-
dor quando houver entorse da articulação SI. Como alter­ bossacral. As outras causas incluem síndrome da faceta pos­
nativa, a abdução ampla das pernas estendidas e elevadas terior, estenose vertebral central ou compressão direta do
do paciente em decúbito dorsal produzirá a dor sobre os nervo isquiático por tumor, aneurisma ou hematoma. Essa
ligamentos iliossacrais ou lombossacrais feridos. condição também é vista em pacientes submetidos à aneste­
A injeção localizada da articulação com bupivacaí- sia e ficam deitados ou acamados por um período prolonga­
na, os analgésicos, as compressas quentes e o repouso no do de tempo. Em pacientes com a síndrome do piriform e, o
leito constituem o tratamento necessário. Se os sintomas trauma no músculo piriforme resulta em formação de hema­
persistirem, o encaminhamento ao especialista é indicado. toma e fibrose subsequente, causando irritação mecânica do
Para mais informações sobre a doença da articulação sa- nervo isquiático anatomicamente adjacente (Fig. 17.44).
croilíaca, ver o Capítulo 8. A síndrome do piriforme responde por 0,5 a 5% dos
casos de dor ciática. Os pacientes com síndrome do pi­
DISTENSÃO DA INSERÇÃO ISQUIOTIBIAL riforme sofrem com os sintomas clássicos da ciática, in­
cluindo a dor na nádega e na coxa posterior. Existe into­
Essa condição resulta da flexão enérgica do quadril, en­ lerância ao sentar-se e dor com a flexão, adução e rotação
quanto o joelho é estendido. No adolescente, quando a interna do quadril. A sensibilidade dolorosa à palpação da
epífise não está fechada, pode ocorrer a avulsão da tu- incisura isquiática maior é notada com frequência. A per­
berosidade, com ampla separação da epífise. Ao exame, da funcional do piriforme está presente, mas isto não afeta
o paciente relata sensibilidade dolorosa sobre a inserção a força, porque existem três rotadores externos curtos e
do osso, com pequeno edema. Uma história compatível mais fortes do quadril. O diagnóstico de compressão do
com o mecanismo acima mencionado, acompanhada de nervo isquiático no nível do piriforme pode ser confirma­
aumento da dor com a flexão passiva do quadril e com do por testes eletrodiagnósticos.
o joelho estendido ou a extensão ativa do quadril contra A terapia conservadora inclui AINEs, fisioterapia, ul­
resistência ajudam a fazer o diagnóstico. As radiografias trassom ou injeção de lidocaína. A seção do músculo pi­
devem ser obtidas para excluir uma fratura com avulsão. riforme em suas origens tendíneas libera a banda fibrosa,
Com a avulsão incompleta, o tratamento consiste na sendo curativa se as medidas conservadoras falharem. A
imobilização do joelho em posição flexionada, para aliviar liberação do músculo piriforme pode ser executada com
a pressão sobre a inserção isquiática dos tendões. O pacien­ sucesso por meio de um procedimento artroscópico mini­
te usa muletas, sem carga, por três semanas. A flexão ativa mamente invasivo.

Músculo piriforme

Músculo obturador
interno Músculo
coccígeo
Nervo isquiático
Nervo pudendo Espinha isquiática
Nervo retal inferior

Figura 17.44 A anatomia do


Nervo perineal nervo isquiático conforme ele
emerge da pelve posterior. No­
Músculo levantador tar a proximidade do nervo is­
do ânus quiático ao músculo piriforme.
396 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

PARALISIA DO NERVO PUDENDO


A paralisia do nervo pudendo é causada por uma neu-
ropatia compressiva devido a forças aplicadas na região
perineal. Isso é habitualmente uma condição que ocorre
no pós-operatório após um encavilhamento intramedular
do fêmur; contudo, pode ser vista após traumas. Está
presente a dormência do pênis e do escroto, junto com
disfunção erétil. Os ramos terminais sensitivos do nervo
pudendo são mais suscetíveis a essa paralisia no pós-ope­
ratório que os ramos motores.

SÍNDROME COMPARTIMENTAL GLÚTEA


A síndrome compartimentai glútea é uma condição ex­
tremamente rara; contudo, é algo que o médico da emer­
gência deve estar ciente, pois suas consequências podem
ser bastante graves. A síndrome pode resultar depois de
imobilidade prolongada, frequentemente após abuso de
drogas e álcool, trauma não penetrante ou posicionamento
operatório. Essa síndrome também foi relatada depois
da biópsia de medula óssea. A síndrome compartimentai
glútea pode ser erroneamente diagnosticada como trom­
bose venosa profunda. Figura 17.45 Ruptura da aponeurose do oblíquo externo.
Os músculos glúteos agem como se estivessem divi­
didos em três compartimentos separados: o (1) com parti­
m ento do tensor d a fá s c ia la ta ; o (2) com partim ento dos aca e, nos estágios iniciais, é possível sentir um defeito pal­
glúteos m édio e m ín im o ’, e o (3) com partim ento do glúteo pável se tiver ocorrido uma ruptura grande (Fig. 17.45).
m áxim o. Depois de contusões graves nas nádegas, tais Em casos leves, apenas a sensibilidade dolorosa é notada
como as que ocorrem durante uma queda de altura, o pa­ na palpação. A contração do músculo envolvido produz dor
ciente pode se apresentar no setor de emergência com ná­ significativa que ajuda a fazer o diagnóstico e a distinguir
degas inchadas e tensas e dor crescente que, em 4 a 6 ho­ de uma contusão da crista ilíaca. O paciente também relata
ras, pode resultar na necrose dos músculos. Os pacientes dor na crista ilíaca envolvida na flexã o para o lado oposto.
reclamam de dor nas nádegas com o movimento do qua­ O tratamento para as avulsões incompletas do mús­
dril, especialmente em flexão e adução.4,6 Somando-se a culo inclui gelo nas primeiras 24 a 48 horas, seguido de
isso, por causa da relação inversa entre o bloqueio de con­ calor, analgésicos e repouso. Alguns médicos têm usado
dução nervosa periférica e a pressão intracompartimental, enfaixamento e esparadrapo; contudo, isso não tem se
as altas pressões podem causar neuropatia ciática. ,61,66 provado completamente benéfico e não é usado no está­
Os pacientes que tiverem uma história e exame com­ gio agudo da lesão. Quando houver rupturas extensas da
patíveis com essa síndrome devem ser hospitalizados e aponeurose e o hematoma estiver presente, deve ser obtida
atendidos por um cirurgião ortopédico. Uma fasciotomia uma consulta ortopédica.
é executada se a pressão dentro do compartimento for de
30 mmHg ou mais, por uma duração de 6 a 8 horas. Para
REFERÊNCIAS
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ver o Capítulo 4. 1. Peltier LE Complications associated with fractures of the
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O B LÍQ U O EXTERNO
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Capítulo 18
Quadril
INTRODUÇÃO Os músculos que circundam a articulação do qua­
dril são grandes e poderosos e contribuem de forma
O fêmur proximal consiste em uma cabeça e um colo, significativa para as forças que atuam sobre a cabeça
bem como em um trocanter maior e um menor (Fig. do fêmur. Eles são divididos em três grupos principais
18.1). A articulação do quadril é um encaixe esférico, anteriores, mediais e posteriores. Os músculos anterio­
composto pela cabeça do fêmur e pelo acetábulo. Essa res incluem o iliopsoas, o tensor da fáscia lata, o sar-
articulação tem muitas referências ósseas palpáveis. A tório e o quadríceps femoral. Os músculos dentro do
espinha ilíaca anterossuperior e o trocanter maior são pal­ compartimento medial incluem o pectíneo, o grácil, o
pados lateralmente com facilidade, e a sínfise púbica e o obturador externo e os adutores magno, curto e longo.
tubérculo (localizado 2,5 cm lateralmente à sínfise) são A ação principal dos músculos mediais é a adução da
palpados medialmente. A articulação do quadril é capaz coxa. Os músculos posteriores são o semitendíneo, o
de grande amplitude de movimento. semimembranáceo e o bíceps femoral. Sua função é es­
A articulação é envolta em uma cápsula que tem in­ tender o quadril.
serções na borda do acetábulo e no colo do fêmur. Três É essencial entender claramente o precário supri­
ligamentos são formados por espessamentos capsulares: mento vascular no fêmur proximal. A anatomia vascular
o lig a m en to ilio fem o ra l, que é localizado anteriormente consiste em três fontes principais, listadas em ordem de
e é o mais espesso e o mais forte dos três; o lig a m en to importância (Fig. 18.2).
p u b o fe m o ra l, que é localizado inferiormente e o lig a ­
m en to isq u io fe m o ra l, que é localizado posteriormente 1. Artérias circunflexas femorais e retinaculares
e é o mais largo dos três ligamentos. O ligamento ilio­ 2. Vascularização medular
femoral é dividido em duas bandas, uma inferior, que 3. Vaso do ligamento redondo
passa obliquamente para baixo, e uma superior. Esse
As artérias circunflexas femorais circundam a base
ligamento aperta quando o quadril é estendido. Um
do colo do fêmur e originam as artérias retinaculares,
suporte adicional é fornecido pelo lá b io a c e ta b u la r, o
qual é uma banda espessa de cartilagem que circunda e
estende-se para fora do acetábulo, proporcionando pro­
Vaso do ligamento
fundidade à cavidade. Um ligamento achatado e fino, redondo
o ligamento redondo, prende centralmente a cabeça do Artéria ilíaca
fêmur ao acetábulo. externa

Artérias circunflexas
Colo do Cabeça do
femorais e retinaculares
fêmur fêmur

Trocanter
maior

Ângulo de
inclinação

Diáfise do
fêmur
Trocanter medular Artéria femoral profunda
menor
Figura 18.2 O anel vascu lar em torno da base do colo do
fêm ur dá origem a vasos intracapsulares (vasos retinaculares)
Figura 18.1 O ângulo colodiafisário deve ser avaliado em to­ que são im portantes para manter a perfusão da cab eça do
das as suspeitas de fraturas. O normal é de 120 a 130°. fêmur.
400 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

A B

Figura 18.3 Radiografias normais do quadril. A. Radiografia A R B. Incidência em rotação externa (i.e., lateral com rolagem).

que ascendem para suprir a cabeça do fêmur. A ruptu­ perpendicular ao eixo longo do colo do fêmur (Fig. 18.4).
ra dos vasos retinaculares resulta em necrose avascular As incidências de comparação do quadril são, com fre­
(NAV) da cabeça em 84% dos casos. Em fraturas ocultas quência, úteis para diagnosticar fraturas ocultas. A linha
e não deslocadas do colo do fêmur, os vasos retinacula­ de Shenton (Fig. 18.5) é cuidadosamente perscrutada em
res não são rompidos e o diagnóstico precoce previne as todos os pacientes com suspeita de lesão no quadril. Além
complicações. disso, o ângulo no rm a l co lo d ia fisá rio de 130° deve ser
avaliado em todas as suspeitas de fraturas. Ele é obtido
Imagens medindo-se o ângulo da interseção das linhas traçadas a
partir do eixo da diáfise e do colo do fêmur (ver Fig. 18.1).
As radiografias de rotina, incluindo a incidência a ante­
roposterior (AP) e em rotação externa (i.e., rolada ou Fraturas ocultas
lateral) são adequadas na maioria dos casos (Fig. 18.3).
As fraturas ocultas em pacientes idosos osteoporóticos
A incidência lateral através da mesa deve ser obtida em
com dor no quadril após um trauma ocorrem comumen-
pacientes com suspeita de fratura, em vez da incidência
te no colo do fêmur, na região intertrocantérica ou na
em rotação externa. Essa radiografia deve ser tirada em
pelve. Não fazer o diagnóstico de fratura oculta do colo
pode resultar em subsequente deslocamento, ruptura

Figura 18.5 A linha de Shenton se estende da borda inferior


do colo do fêmur até a borda inferior do ramo do púbis. A in­
terrupção dessa linha sugere a cabeça do fêmur anormalmente
posicionada.
Emergências Ortopédicas 401

vascular e, eventualmente, NAV. As fraturas ocultas do mais provável de ser positivo e requerer reparo cirúrgico.
quadril estão presentes em 2 a 10% dos pacientes com A RMN também tem a vantagem de detectar alguma ou­
trauma, dor no quadril e radiografias iniciais negativas. tra patologia inicialmente não detectada. Em um estudo, a
No único estudo em setor de emergência, a incidência RMN detectou patologia em 83% dos casos, 23% reque­
foi de 4,4%. O trauma de baixa energia, como uma rendo reparo cirúrgico. Uma RMN limitada da região do
queda da própria altura, é um mecanismo comum. Em­ quadril leva apenas em torno de 15 minutos. O parâmetro
bora o exame clínico possa ser útil, as fraturas ocultas para a efetividade de custos da RMN neste contexto é re­
do quadril são vistas em pacientes com a habilidade de lacionado à eliminação de hospitalizações mais longas e
apoiar (apesar da dor), levantamento com elevação ir­ complicações de custo elevado.
restrita da perna estendida e nenhuma dor em rotação Outras técnicas de imagens, como a tomografia com­
passiva ou carregamento axial. putadorizada (TC) e a cintilografia óssea, não são tão
Quando os filmes simples forem dúbios em um pa­ sensíveis ou práticas como a RMN. A TC pode detec­
ciente com suspeita de fratura de quadril, a ressonância tar fraturas não percebidas nas radiografias simples, mas
magnética nuclear (RMN) é o exame diagnóstico de esco­ pode deixar passar fraturas não deslocadas que corram em
lha, com sensibilidade e especificidade de 100%. A RMN paralelo ao plano axial ou às fraturas no osso trabecular
detecta as fraturas até quatro a seis horas após a lesão. osteoporótico. Em um pequeno estudo, a TC deixou
Em pacientes acima dos 70 anos, o resultado da RMN é passar quatro de seis fraturas detectadas pela RMN.

FRATURAS DO QUADRIL

As fraturas do fêmur proximal e do quadril são classifica­ Lesões associadas


das com base na anatomia. As intracapsulares incluem as As fraturas cominutivas podem estar associadas a fratu­
fraturas da cabeça e do colo do fêmur. As extracapsulares ras de pélvicas ou ipsilaterais da extremidade superior. As
incluem as fraturas intertrocantéricas, trocantéricas e sub- fraturas-luxações posteriores são associadas a lesões do
trocantéricas. nervo esquiático, fraturas pélvicas e lesões da extremidade

FRATURAS DA CABEÇA DO FÊMUR


São fraturas incomuns que podem apresentar-se com lu­ Fragmento único
xação ou sem qualquer deformidade significativa. As fra­
turas da cabeça do fêmur são classificadas como tendo um
fra g m en to único ou com fra tu ra s com inutivas (Fig. 18.6).

Mecanismo de lesão
O mecanismo de lesão varia, dependendo do tipo de fra­
tura. As fraturas com fragmento único são causadas por
forças de cisalhamento que ocorrem durante uma luxação.
As luxações anteriores estão associadas com as fraturas
superiores, enquanto as posteriores estão associadas às in­
feriores. As fraturas cominutivas são, em geral, o resultado
de trauma direto e podem estar associadas a lesões graves.

Exame Cominutiva

O paciente apresenta dor à palpação e rotação. Uma con­


tusão está frequentemente presente sobre o aspecto lateral
da coxa, mas as deformidades ósseas grosseiras são raras,
a menos que exista uma luxação associada.

Imagens
As incidências de rotina do quadril são adequadas para
demonstrar essas fraturas. A TC, a RMN ou a cintilografia
óssea são recomendadas quando os filmes simples forem
inconclusivos. Figura 18.6 Fraturas da cabeça do fêmur.
402 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

inferior ipsilateral. As fraturas-luxações anteriores podem Não deslocada


ser associadas a uma lesão arterial ou trombose venosa.

Tratamento
F ragm ento único. O manejo de emergência dessas fra­
turas inclui imobilização, analgésicos e hospitalização.
Se associada a uma luxação, está indicada a redução se­
guida de imobilização. Os pequenos fragmentos ou frag­
mentos do domo superior podem exigir remoção cirúrgi­
ca ou artroplastia.
Tipo I Tipo II
Cominutiva. O manejo de emergência dessas lesões inclui
imobilização, analgésicos, estabilização das lesões associa­ B Deslocada
das e hospitalização para artroplastia, uma vez que a maioria
evolui para NAV se for tratada de modo conservador.

FRATURAS DO C O LO DO FÊMUR
Estas fraturas também são chamadas de subcapitais.
Elas são ocorrências em pacientes idosos com osteopo-
rose, com a proporção entre mulheres e homens de 4: l.3’13
As fraturas do colo do fêmur são raramente vistas em pa­
cientes jovens, a menos que estejam associadas com um Tipo III Tipo IV
mecanismo de alta energia. Se essa lesão for diagnosti­
cada em um paciente jovem depois de um trauma menor, Figura 18.7 Fraturas do colo do fêmur.
deverá haver suspeita de uma fratura patológica.
As fraturas do colo do fêmur são lesões muito graves,
que podem resultar em incapacidade a longo prazo pela pode ser uma das causas. Entretanto, o trauma indireto é
interrupção do suprimento sanguíneo, levando à NAV da o mecanismo mais comum no idoso com ossos osteopo-
cabeça do fêmur. róticos. O estresse do colo do fêmur em combinação com
Muitos sistemas têm sido usados na classificação das uma lesão de torção pode resultar em fratura de estresse,
fraturas do colo com base na anatomia e nos resultados impactada ou parcialmente deslocada. O paciente então
terapêuticos. A classificação de Pauwels é baseada no ân­ cai, acrescentando deslocamento ou cominução à lesão.
gulo que a bnha de fratura forma com o plano horizontal. As fraturas de estresse costumam iniciar ao longo da bor­
Esse sistema não é amplamente adotado, entretanto, por­ da superior do colo femoral.
que a direção do feixe de raios X ou a posição do membro
podem alterar o ângulo. Exame
Garden dividiu as fraturas do colo do fêmur com base Os pacientes com fratura de estresse ou impactada se
no grau de deslocamento na radiografia AP em quatro tipos. apresentam com queixa de dor menor na virilha ou na
coxa medial ou dor no joelho que é exacerbada com o
Tipo I Fraturas incompletas ou impactadas
movimento ativo ou passivo. Pode não haver nenhu­
Tipo II Completa, mas não deslocada
ma história de trauma e o paciente chegar caminhando.
Tipo III Fraturas parcialmente deslocadas ou
Não existe nenhum encurtamento ou rotação externa do
anguladas
membro inferior, tomando o diagnóstico difícil apenas
Tipo IV Fraturas deslocadas sem contato entre os
com base no exame.
fragmentos313
As fraturas deslocadas em geral se apresentam com
Pelo fato de o tratamento e prognóstico serem tão si­ dor intensa, junto com encurtamento e rotação externa da
milares nos tipos I e II de Garden (não deslocadas) e nos pema (Fig. 18.8A).
tipos III e IV de Garden (deslocadas), essas fraturas foram
agrupadas. ’ O sistema de classificação usado neste tex­ Imagens
to, por conseguinte, define as fraturas do colo do fêmur Essas fraturas são, na maioria das vezes, evidentes em
como não deslocadas e deslocadas (Fig. 18.7). radiografias iniciais. As não deslocadas e de estresse são
muito difíceis de visualizar radiograficamente durante o
Mecanismo de lesão estágio agudo (Fig. 18.9). Uma distorção do padrão trabe­
Dois mecanismos resultam em fraturas do colo do fêmur. cular normal ou um defeito cortical podem ser as únicas
O trauma secundário direto (i.e., uma queda) no idoso pistas para uma lesão subjacente. É útil uma incidência
Emergências Ortopédicas 403

Figura 18.8 Fratura do colo do fêmur deslocada à direita do


paciente. A. A perna está encurtada e em rotação externa. B.
Aspecto radiográfico.
B

AP com a extremidade inferior internamente rodada em L esões a sso c ia d a s


15°, permitindo visualização de todo colo do fêmur. Estas fraturas em geral não estão associadas a quaisquer
Os pacientes com suspeita de fraturas mas com fil­ outras lesões significativas.
mes simples normais, beneficiam-se da TC, cintilografia
óssea ou RMN.1 A RMN é o padrão-ouro para detectar T ra ta m e n to
as fraturas ocultas do colo do fêmur. As fraturas deslo­ As fraturas do colo do fêmur são muito dolorosas e uma
cadas são bem visualizadas nas incidências AP e lateral das responsabilidades primárias do médico da emergência
(Fig. 18.8B). é de fornecer alívio adequado. Isso pode ser realizado por
analgésicos opioides intravenosos ou com o bloqueio do
nervo femoral. A técnica para bloqueio do nervo é descrita
no Capítulo 2. Em consequência, o paciente ficará mais
confortável com um travesseiro colocado sob o joelho
para suportar um grau leve de flexão do quadril.
O manejo conservador das fraturas do colo do fêmur
é empregado raramente. A fixação cirúrgica é mais custo-
-efetiva e tem taxa mais baixa de complicações. O mane­
jo operatório é usado em quase todos os pacientes, exceto
naqueles com enfermidade comórbida significativa que
impeça a cirurgia ou em pacientes que cronicamente não
deambulem.

N ã o deslocada. O manej o de emergência dessas fraturas


inclui imobilização, analgésicos e consultoria ortopédica
de emergência. Ao longo do tempo, essas fraturas eram
tratadas com repouso no leito, seguido de prolongada
descarga. Os resultados do manejo conservador não são
tão bons quanto a intervenção cirúrgica e, por conseguin­
te, o reparo é o método de tratamento de escolha. Sem
a fixação, 10 a 30% dessas fraturas ficam deslocadas.
O reparo imediato também evita a possibilidade de deslo­
Figura 18.9 Fratura não deslocada do colo do fêmur. camento futuro com as suas consequências danosas.
404 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

O método cirúrgico depende de uma variedade de fa­ Estável Instável


tores, incluindo a preferência do ortopedista. O método
mais comum envolve a fixação, com a colocação de três
parafusos canulados através do aspecto lateral do fêmur
para dentro da cabeça do fêmur, estabilizando a linha de
fratura. Alguns autores recomendam a hemiartroplastia
em pacientes com idade superior a 80 anos, por causa de
uma taxa mais baixa de reoperação.

D eslo ca d a .O manejo de emergência dessas fraturas


inclui imobilização, analgésicos e consulta ortopédica de Figura 18.10 Fraturas intertrocantéricas.
emergência.
A influência do retardo na cirurgia é controversa, mas
muitos consideram essas fraturas uma emergência ortopé­ do fêmur, elas são vistas em pacientes idosos, com uma
dica, por causa do aumento do risco de NAV na cabeça do proporção feminina para masculina de 4:1 a 6:1. O supri­
fêmur. 4,19 Não sendo tratados, 40% terão NAV 48 horas mento vascular nessa região é muito bom, devido à gran­
após a lesão, enquanto 100% terão NAV depois de uma de quantidade de musculatura circundante e à presença
semana. de osso esponjoso. Os rotadores internos do quadril per­
O tratamento definitivo dessas fraturas depende da manecem inseridos no fragmento proximal, enquanto os
idade e do nível de atividade do paciente. Em pacientes rotadores externos curtos permanecem inseridos no seg­
jovens, a redução fechada ou aberta e a fixação interna mento distai.
com parafusos canulados é o tratamento-padrão, pois pre­ O especialista médico de emergência deve classificar
serva a cabeça do fêmur do paciente. As desvantagens essas lesões como estáveis ou instáveis (Fig. 18.10). Meta­
incluem uma taxa mais alta de NAV, não união e reopera­ de das fraturas intertrocantéricas é considerada instável.
ção. A hemiartroplastia é preferível em pacientes geriá­ • F raturas intertro ca n térica s estáveis. Uma linha de
tricos que tenham menos demandas físicas, como também fratura única atravessa a cortical entre os dois trocan­
pacientes que se apresentem com retardo em diagnóstico teres, e não existe nenhum deslocamento entre a diá-
(> 1 semana), fratura patológica ou artrite de quadril. fise e o colo do fêmur.
Alguns autores favorecem a prótese total de quadril em • Fraturas intertrocantéricas instáveis. Existem múlti­
vez da hemiartroplastia na população idosa. plas linhas de fratura ou cominução com deslocamen­
Não importando a técnica cirúrgica, permanece cla­ to associado entre a diáfise e o colo do fêmur. A linha
ro que os pacientes evoluem melhor com ela. Existe uma de fratura pode estender-se para o osso subtrocanté-
taxa de mortalidade de 10% nos pacientes tratados com rico ou correr em uma “direção oblíqua invertida”.
fixação interna e uma taxa de 60% naqueles tratados com A fratura intertrocantérica que corre em uma direção
repouso no leito. No idoso, a taxa de mortalidade é espe­ oblíqua invertida tem a sua porção mais superior na
cialmente alta até depois da cirurgia. Dentro de um mês da superfície medial do fêmur (ver Fig. 18.12).
lesão, a morte ocorre em 21% das mulheres e em 37% dos
homens acima dos 84 anos.1 M e c a n is m o d e le sã o

C o m p lic a ç õ e s
A maioria dessas fraturas ocorre por trauma direto, como
a queda sobre o trocanter maior, ou pela transmissão de
As fraturas do colo do fêmur estão associadas a várias forças no curso do eixo longo do fêmur. Com o aumento
complicações significativas. das forças, o trocanter maior ou menores também podem
• NAV da cabeça do fêmur (até 35% dos pacientes três ser fraturados. Os músculos que se inserem nos trocante­
anos depois da fratura) res deslocam ainda mais os fragmentos.
• Osteoartrite
E xa m e
• Complicações operatórias (p. ex., osteomielite, pro-
trusão da haste) O paciente apresenta sensibilidade dolorosa, edema e
• Não união (< 5%) equimose sobre o quadril. Existe encurtamento significa­
tivo da perna, com rotação externa secundária à tração do
músculo iliopsoas (Fig. 18.11A).
FRATURAS INTERTROCANTÉRICAS
Essas representam quase metade de todas as fraturas Im a g e n s
do fêmur proximal. As fraturas intertrocantéricas são As incidências AP e lateral através da mesa em geral são
extracapsulares e envolvem o osso esponjoso entre os adequadas para demonstrar essas fraturas (Figs. 18.11B e
trocanteres maior e menor. Tal como as fraturas do colo 18.12).
Emergências Ortopédicas 405

A B

Figura 18.11 Fratura intertrocantérica instável do fêmur. A. A perna está rodada externam ente e encurtada. B. Aspecto radio-
gráfico.

De maneira similar às fraturas do colo do fêmur, o Lesões associadas


diagnóstico das intertrocantéricas não deslocadas pode ser As fraturas intertrocantéricas podem ser associadas a uma
mais difícil e, algumas vezes, requer técnicas radiográfi- quantidade significativa de perda sanguínea secundá­
cas avançadas (i.e., RMN, TC ou cintilografia óssea). ria à lesão do osso esponjoso, que é bem vascularizado.
Até três unidades de sangue podem ser perdidas depois
dessas fraturas.

Tratamento
O manejo de emergência dessas fraturas inclui imobiliza­
ção e analgésicos. Os opioides intravenosos ou o bloqueio
do nervo femoral devem ser administrados (ver Cap. 2). A
tração cutânea com um peso de 2,5 kg não tem demonstrado
qualquer benefício e, por conseguinte, não é recomendada.
O tratamento definitivo é feito com base na condição
clínica do paciente, na qualidade do osso (i.e., osteoartrite
ou osteoporose), e na configuração da fratura. A fixação
cirúrgica está indicada em todos os pacientes que estejam
clinicamente estáveis. Tanto as fraturas estáveis como ins­
táveis são tratadas cirurgicamente com fixação interna,
usando um parafuso compressivo de quadril e uma placa
lateral. As fraturas estáveis também podem ser trata­
das com os dispositivos intramedulares. A mobilização
precoce pode ser alcançada depois da intervenção ope­
ratória. Os pacientes com risco cirúrgico alto têm sido
tratados com sucesso com a fixação externa. 9

Complicações
Figura 18.12 Fratura intertrocantérica. Notar que a linha de
fratura corre em direção oblíqua invertida e para dentro do osso As fraturas intertrocantéricas estão associadas a diversas
subtrocantérico, tornando a fratura instável. complicações significativas. A taxa de mortalidade des-
406 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

lesão por avulsão. As fraturas do trocanter menor são se­


Fratura do
trocanter maior
cundárias à avulsão por uma contração forte do músculo
iliopsoas. Elas podem ocorrer mesmo depois de um trau­
ma mínimo. As fraturas do trocanter menor são, com fre­
quência de natureza patológica. 3

Exame
Os pacientes com fraturas do trocanter maior apresen­
tam dor e sensibilidade dolorosa exacerbada com a ab­
dução ativa da coxa. Aqueles com fraturas do trocanter
menor tipicamente se apresentam com dor e sensibili­
Figura 18.13 Fraturas trocantéricas. dade dolorosa que aumentam com a flexão e a rotação
do quadril.

sas fraturas é d e l 0 a l 5 % . Diferentemente das fraturas Imagens


do colo do fêmur, a NAV e a não união são raramente As incidências AP e lateral são adequadas para demons­
vistas após essas lesões devido ao suprimento sanguíneo trar essa fratura (Fig. 18.14). As incidências de rotação
abundante. interna e externa podem ser necessárias para determinar
• Complicações pós-operatórias (p. ex., osteomielite o deslocamento com precisão. As fraturas não deslocadas
em 5 a 8%, protrusão da haste) podem ser sutis e, algumas vezes, TC, RMN ou cintilogra-
• Tromboembolia fia são necessárias para visualizar a lesão.

Lesões associadas
FRATURAS TROCANTÉRICAS
Pode haver perda sanguínea significativa no local. As fra­
As fraturas trocantéricas são lesões incomuns, geralmente turas do trocanter menor em pacientes idosos são, com
vistas em pacientes jovens (Fig. 18.13). frequência, patológicas e requerem investigação apro­
priada.
Mecanismo de lesão
As fraturas do trocanter maior são muitas vezes secun­ Tratamento
dárias a trauma direto como, por exemplo, uma queda. Não deslocada. Essas fraturas recebem tratamento
A minoria dessas fraturas pode ser o resultado de uma sintomático com deambulação assistida com muletas

Figura 18.14 A. Fratura do trocanter maior sem deslocamento. B. Fratura do trocanter menor (e fratura subtrocantérica).
Emergências Ortopédicas 407

por três a quatro semanas. Isso diminui as forças de Exame


deslocamento sobre o fragmento. A carga limitada deve O paciente apresenta dor e edema no quadril e na coxa su­
ser continuada até que o paciente não sinta mais dor. perior. A deformidade pode estar presente se a fratura for
O encaminhamento ortopédico para acompanhamento é deslocada. No contexto de um mecanismo de alta energia,
recomendado. é possível que existam lesões do joelho ipsilateral ou da
extremidade inferior.
Deslocada. Os pacientes jovens com fraturas do tro-
canter maior com 1 cm de deslocamento ou as fraturas Imagens
do trocanter menor com 2 cm de deslocamento reque­ A maioria dessas fraturas é diagnosticada apenas com
rem fixação interna. Pacientes idosos com fraturas des­ as radiografias simples (Fig. 18.16). A TC pode ser útil
locadas podem ser tratados sintomaticamente. Nesses para o cirurgião definir de modo completo a terapia ci­
pacientes, a função m uscular retorna devido à união rúrgica.
óssea ou fibrosa, apesar do deslocamento do fragmento
da fratura. Tratamento

Complicações O manejo de emergência inclui imobilização em uma


tala de Sager (ver Cap. 1), gelo, analgésicos, fluidos in­
A perda de função muscular associada secundária à atro­ travenosos para corrigir a perda de volume e a hospitali­
fia é uma complicação em longo prazo dessas fraturas. zação para redução aberta e fixação interna. As fraturas
gravemente cominutivas são mais adequadamente trata­
FRATURAS SUBTROCANTÉRICAS das com tração, embora esse tratamento deva ser usado
com cautela.
As fraturas subtrocantéricas incluem aquelas lesões den­
tro de 5 cm do trocanter menor (Fig. 18.15). Elas costu­ Complicações
mam ocorrer em pacientes mais jovens, como resultado de
Várias complicações significativas estão associadas a es­
forças intensas de lesão. As fraturas podem ser espirais,
sas fraturas.
cominutivas, deslocadas ou ocorrerem como a extensão
de uma fratura intertrocantérica. 1. Tromboembolismo venoso
Múltiplos sistemas de classificação têm sido propos- 2. Má união ou não união
tos para essas fraturas. Contudo, nenhum é universal­ 3. Complicações pós-cirúrgicas: osteomielite e falha
mente aceito, além de não causarem impacto no seu ma­ mecânica da haste ou do parafuso
nejo de emergência.

Mecanismo de lesão
No idoso, o mecanismo mais comum é uma queda com a
combinação de forças diretas e rotacionais. Em pacientes
mais jovens, essas fraturas são, com mais frequência o re­
sultado de trauma de alta energia.

Figura 18.15 Fraturas subtrocantéricas. Figura 18.16 Uma fratura subtrocantérica.


408 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

LESÃO DE TECIDOS MOLES E LUXAÇÃO DO QUADRIL


NECROSE AVASCULAR DA CABEÇA estão associados com até 90% dos casos atraumáticos.
DO FÊMUR A NAV induzida por corticosteroides pode ser tanto por
administração exógena (comum) como pela doença de
A necrose avascular (NAV) da cabeça do fêmur é re­ Cushing (rara)/ A NAV pode complicar a doença fal­
sultado de um suprimento sanguíneo prejudicado, uma ciforme devido à circulação prejudicada dos pequenos
complicação comum de muitos distúrbios do quadril, da vasos que suprem a cabeça femoral. Os distúrbios do
infância até a maioridade. Nos Estados Unidos, 10 a 20 colágeno vascular, como o lúpus eritematoso sistêmico e
mil novos casos ocorrem anualmente. A NAV ocorre a vasculite de pequenos vasos, também podem precipitar
mais frequentemente em homens entre os 40 e 50 anos a NAV da cabeça do fêmur. Outras condições associa­
e é bilateral em 40 a 80% dos pacientes. O suprimento das incluem a doença de Caisson, a doença de Gaucher
sanguíneo principal da cabeça vem dos ramos das artérias e a osteodistrofia renal.35,42,4: Em 10 a 20% dos casos,
circunflexas medial e lateral que entram na cápsula distal- apesar da investigação minuciosa, a causa permanece
mente e passam ao longo da sua superfície posterior. O in- idiopática.35
farto da cabeça do fêmur pode ser total ou incompleto. Se A cartilagem articular que cobre a cabeça necrótica
incompleto, é limitado a apenas um segmento, e o aspecto na maioria dos casos sobrevive, porque deriva a sua nu­
radiográfico será pontilhado. trição do fluido sinovial. Se a cortical óssea subcondilia-
Qualquer condição que perturbe o suprimento sanguí­ na entrar em colapso, a cartilagem sofre degeneração. O
neo à cabeça do fêmur pode causar esse distúrbio (Tab. estresse adicional da carga, antes de a reposição óssea ser
18.1). O trauma nos vasos sanguíneos maiores é a causa completada, pode causar colapso e alterações degenerati­
mais comum. As fraturas do colo do fêmur que rompem vas graves.
os vasos retinaculares causam a NAV, e a incidência após
as fraturas do colo é de 20 a 30%. A NAV tem mais pro­ Apresentação clínica
babilidade de desenvolver-se com as fraturas proximais e
A NAV pode ser clinicamente silenciosa, mas a queixa
naquelas que sejam impropriamente reduzidas, permitin­
mais comum é a dor. A dor fica localizada na área da
do a ocorrência de estresses de cisalhamento maiores no
virilha, mas pode ser sentida na nádega ou ser referida
local de fratura.
no joelho. O aparecimento pode ser insidioso ou súbito.
A NAV também é comumente vista após a luxa­
Ao exame, o paciente apresenta claudicação. O movimen­
ção do quadril, em taxa de até 40%. Acredita-se que
to articular é diminuído e doloroso. A rotação interna p a s ­
a patogenia seja uma agressão isquêmica à cabeça, en­
siva m ostra-se gravem ente lim itada. A abdução também
quanto ela permanecer deslocada. A redução resulta em
está limitada.
reperfusão, enfatizando a importância da detecção e do
O retrato clínico varia, contudo, dependendo da causa
tratamento precoce dessa condição. No contexto da lu­
subjacente e da idade do paciente. O aparecimento dos sin­
xação, a NAV em geral se torna clinicamente aparente
tomas não está correlacionado com o aspecto nas radiogra­
dentro de até 2 anos.
fias. Não é a morte das células ósseas que causa a dor no
As condições atraumáticas associadas com a NAV
quadril, mas, sim, o colapso e a fratura do osso subcondral
são numerosas. O uso de esteroides e a ingestão de álcool
que anunciam o aparecimento dos sintomas clínicos.
Em crianças, o espasmo na região do quadril é um
sinal precoce. A claudicação ou um espasmo leve do qua­
► TABELA 18.1 Condições associadas com necrose
dril é, muitas vezes, a primeira manifestação clínica desse
avascular da cabeça do fêmur
distúrbio. É seguida de dor que se apresenta com carga e
Traumáticas com frequência referida na coxa ou no joelho. Um alto
Fratura do colo do fêmur
grau de suspeita é necessário na ausência de achados ra-
Luxação do quadril
diográficos.46
Não traumáticas
Doença falciforme
Doenças do colágeno vascular
Imagens
Abuso de álcool As radiografias devem incluir as incidências em AP e
Administração de esteroides exógenos lateral em Lowenstein (flexão e rotação externa). Siste­
Doença de Cushing mas múltiplos foram desenvolvidos para a classificação
Doença de Caisson radiográfica da NAV da cabeça do fêmur. O mais am­
Doença de Gaucher
plamente usado é o sistema de estadiamento de Arlet-
Osteodistrofia renal
-Ficat, que organiza o aspecto radiográfico em quatro
Idiopática
estágios (Fig. 18.17).35
Emergências Ortopédicas 409

Figura 18.17 Necrose avascular. A. TC do estágio III da NAV (sinal do crescente). B. Esquema do sinal do crescente. C. Radiografia
simples da NAV em estágio IV.

Estágio Aspecto radiográfico Tratamento


I Radiografias simples normais O médico da emergência deve manter o paciente sem
II Alteração da densidade na cabeça do fêmur, apoio de peso, já que a pressão pode fazer com que a ca­
esclerose e cistos subcondrais beça necrótica desmorone.
III Sinal do crescente O tratamento definitivo para essa condição depende
IV Estreitamento do espaço articular, formação para qual estágio a NAV tenha evoluído. Nos estágios I
de osteófitos, colapso adicional e no II inicial, a descompressão nuclear é o procedimen-
AA
O sinal do crescente é uma linha subcondral radiolu- to recomendado. Isso envolve remover um núcleo de
zente curvilínea ao longo do aspecto anterolateral da ca­ 8 a 10 mm de osso do segmento anterolateral da cabeça
beça do fêmur proximal. Está mais comumente presente do fêmur, através de uma abordagem trocantérica late­
na incidência lateral de Lowenstein, mas pode ser detec­ ral. Esse procedimento é altamente efetivo para aliviar
tada na TC.47 a dor, previne as alterações adicionais na cabeça do fê­
O diagnóstico precoce da doença no estágio I somen­ mur e retarda a necessidade para artroplastia total do
te pode ser estabelecido pela RMN ou pela cintilografia quadril.
óssea. A cintilografia óssea é uma alternativa menos Nos estágios mais tardios, quando o colapso e a de­
sensível, mas permite a visualização simultânea de ambos formação da cabeça do fêmur já tiverem ocorrido, a re­
os quadris. Os achados específicos incluem uma área repre­ construção é necessária. A doença nos estágios III e IV
sentativa de baixa captação do osso necrótico, cercada por requer uma artroplastia total do quadril. Em pacientes
uma área de captação aumentada que corresponde à rápida jovens, alguns autores sugerem a colocação de um enxer­
renovação óssea. A RMN é altamente sensível para o diag­ to fibular vascularizado na região subcondral da cabeça
nóstico (88 a 100% de sensibilidade), sendo considerada do fêmur para retardar a necessidade de uma prótese de
o exame de imagens de escolha para a detecção precoce. quadril. 1 2
410 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

ARTRITE SÉPTICA dos: (1) temperatura acima de 38,3°C; (2) dor localizada
no quadril que piora com o movimento passivo gentil; (3)
A artrite séptica do quadril ocorre dentro da articulação nati­
edema da articulação envolvida; (4) sintomas sistêmicos
va ou após uma artroplastia de quadril. Quando a articulação
de letargia, irritabilidade ou toxicidade sem outro proces­
nativa for afetada, 70% dos casos ocorrem em pacientes com
so patológico demonstrável; (5) se uma resposta satisfa­
4 anos ou menos. Quanto mais jovem for a criança afetada
tória for observada com a antibioticoterapia. O quadril
pela artrite séptica do quadril, o pior será o prognóstico.
pode ser mantido em posição de flexão, rotação externa e
Em crianças, a infecção geralmente alcança a articu­
abdução. Diferentemente da sinovite transitória, em que
lação do quadril a partir de um foco de osteomielite dentro
o paciente geralmente parece bem com uma enfermidade
da cápsula articular. A osteomielite é de origem hema-
togênica e surge na metáfise via vasos nutrientes. De lá febril leve, os pacientes com artrite séptica têm aspecto
ela pode se espalhar e desenvolver-se como um absces­ toxêmico. Ver Capítulo 6 para uma discussão adicional
so subperiostal. A cartilagem articular é danificada pelas sobre a artrite séptica do quadril em crianças e como ela é
pressões intra-articulares aumentadas resultantes do pus diferenciada da sinovite transitória.
produzido pela infecção. Ela pode resistir a essas forças Os pacientes que se apresentam depois da artroplastia
por aproximadamente quatro a cinco dias antes que ocor­ total do quadril mostram um de três estágios, dependendo
ram as alterações destrutivas. da quantidade de tempo que tenha decorrido desde o seu
A infecção da articulação nativa é rara em pacientes procedimento. Na infecção de estágio I, a drenagem pu­
adultos. Em um estudo em quatro hospitais, somente 10 rulenta está presente no local da ferida alguns dias após o
casos ocorreram durante um período de 10 anos. A maio­ procedimento. As infecções em estágio II são indolentes e se
ria dos casos ocorre em pacientes imunocomprometidos, apresentam de seis meses a dois anos pós-operatoriamente.
com um quadril já doente, após a instrumentação, ou por Por fim, os pacientes que se apresentam mais tarde que dois
disseminação contígua de infecção. Todavia, a artrite anos depois da prótese, são considerados como portadores
séptica na articulação nativa pode ocorrer na ausência des- de infecções em estágio III, acreditando-se que a causa seja
ses fatores de risco. Em pacientes adultos que foram sub­ a infecção a partir de uma fonte hematogênica.
metidos à artroplastia total do quadril, entretanto, o risco
de infecção é de aproximadamente 1%. O número cres­ Laboratório e imagens
cente de idosos submetidos a esse procedimento, desde a Se houver suspeita de artrite séptica, recomenda-se he-
sua introdução no início dos anos 1960, toma provável que mograma completo, velocidade de sedimentação globu­
o médico da emergência encontre um desses casos. lar (VSG) e proteína C-reativa (PcR). A VSG e a PcR são
O S ta p h ylo co ccu s aureus (S . aureus ) é o organis­ sensíveis, mas sem especificidade. A VSG está elevada
mo mais prevalente na artrite séptica do quadril nativo. em quase todos os pacientes com artrite séptica.
O S. aureus meticilina-resistente (SAMR) é comum. Inicialmente, as radiografias simples costumam ser
Os casos adultos envolvendo a prótese de quadril são cau­ normais. A subluxação anormal do quadril, com alarga­
sadas por bactérias gram-positivas em 75% dos casos, sen­
mento do espaço articular, é mais comum. A osteomielite
do as bactérias mais comuns a S. epiderm idis (30%) e a S.
do fêmur proximal é notada em alguns casos.
aureus (20%). Dos organismos gram-negativos, o Pseudo-
Uma ultrassonografia que demonstre fluido na arti­
m onas aeruginosa é o patógeno mais comum. Anaeróbios,
culação sugere artrite séptica. A ultrassonografia é mais
fungos e micobactérias também podem estar envolvidos.
frequentemente executada no leito pelo médico de emer­
Apresentação clínica gência e pode ser usada para guiar a artrocentese. Com
o paciente em decúbito dorsal, o joelho é levemente fle­
O paciente, de modo característico, se apresenta no setor
de emergência com febre e dor intensa no quadril afetado. xionado e o quadril mantido em leve rotação interna. A
O aparecimento dos sintomas é agudo, embora em pacien­ sonda é colocada abaixo do ligamento inguinal e lateral
tes com artrite reumatoide subjacente possa ser insidioso, ao feixe neurovascular. É angulada superomedialmente
muitas vezes sem febre. Nesses casos, o diagnóstico pode em direção ao umbigo. O acetábulo, a cabeça e o colo do
ser difícil e os pacientes podem ser considerados como ten- fêmur são facilmente visualizados, a aproximadamente
do uma exacerbação artrítica em lugar da artrite séptica.
67 3 a 5 cm abaixo da pele. O fluido sinovial não pode ser
Ao exame, o paciente tem sensibilidade dolorosa an­ prontamente visto no quadril normal mas, se um derrame
teriormente na virilha e sobre a articulação do quadril, estiver presente, aparece uma área hipoecoica, mais proe­
acompanhada de movimento grosseiramente restrito em minentemente logo anterior ao colo do fêmur. Uma vista
todas as direções e por espasmo muscular. O paciente comparativa do outro quadril pode ser útil. A artrocentese
claudica ou não consegue caminhar, não tolerando qual­ de um derrame no quadril pode ser feita sob orientação
quer pressão colocada na extremidade inferior e evitando de ultrassonografia, usando a mesma orientação descrita
todos os movimentos devido à dor intensa. acima. Usando técnica estéril, uma agulha de raquianes-
Em crianças com um quadril nativo, o diagnóstico tesia tamanho 18 é introduzida no eixo longo da sonda do
pode ser feito se quatro dos cinco aspectos forem nota­ aparelho de ultrassonografia, a partir da posição inferior.
Emergências Ortopédicas 411

Na artrite séptica do quadril, a contagem leucoci- A artrite degenerativa ou a osteoartrite do quadril ocorre
tária sinovial tem média de 57.000/mL; contudo, pode com o avançar da idade. Entre os brancos, nas quais osteoar­
estar tão baixa quanto 10.000/mL ou tão alta quanto trite é mais comum, a prevalência é de 3 a 6%. Em popula­
250.000/mL. 9,70 As hemoculturas estão positivas em ções asiáticas, negras e do leste indiano, a prevalência é bai-
mais de 50% dos casos.53,54 xa. E acelerada por qualquer incongruência da superfície
A TC também pode demonstrar um derrame. A RMN articular que cause fricção anormal. Uma forma secundária
tem demonstrado pouca utilidade para fazer o diagnósti­ ocorre depois de condições como NAV, trauma, infecção
co e pode ser difícil de obter no setor de emergência. articular, escorregamento da epífise capital femoral, doença
Entretanto, uma RMN realçada com gadolínio mostra a congênita do quadril e artrite reumatoide. A forma primá­
perfusão diminuída da epífise femoral e pode ser útil para ria é mais comum e parece haver predisposição genética.
chegar ao diagnóstico em casos difíceis.72’73 Outros fatores contributivos incluem a obesidade e as ocu­
Em adultos com prótese de quadril, um exame dos pações com grandes demandas físicas.
leucócitos autólogos marcados com índio é recomenda­
do em pacientes com infecções de estágios I e II. Um Apresentação clínica
resultado positivo será seguido de aspiração e artrografia. O paciente queixa-se de rigidez de aparecimento gradual
As radiografias de um paciente com doença em estágio II no quadril. A princípio, há ataques repetidos de dor leve,
revelam uma linha radioluzente na interface osso-cimen- durando somente um dia ou dois dias. A dor é exacerbada
to, indicativa de afrouxamento da prótese. por períodos prolongados de carga. Existe, com frequên­
cia, uma claudicação protetora devido ao espasmo muscu­
Tratamento lar, acompanhada de dor e sensação de rigidez, que piora
Talvez o ponto mais importante para o médico da emer­ de forma progressiva. A dor pode ser anterior, lateral ou
gência e estar ciente de que um retardo no diagnóstico e posterior, dependendo do local da inflamação. O padrão
no tratamento é o fator mais importante que afeta o prog­ de irradiação é nos aspectos anteriores e mediais da coxa
nóstico. Foi demonstrado que o início do tratamento além e no aspecto interno do joelho. A dor tem como caracte­
de três semanas prediz a necessidade de uma prótese de rística piorar com a sustentação de carga prolongada e o
quadril em pacientes adultos. movimento, em especial com abdução, rotação interna e
Na infecção articular nativa, as metas de tratamento extensão. Os pacientes relatam que a dor exacerba no tem­
são limpar a articulação para evitar a destruição da carti­ po frio e cede com calor e salicilatos.
lagem e a formação de aderências articulares, e também Durante uma exacerbação aguda da osteoartrite do
descomprimir a articulação para evitar o prejuízo vascular quadril, existe sensibilidade dolorosa sobre o local da in­
da epífise. A cobertura antibiótica deve ser de amplo es­ flamação capsular, acompanhada de espasmo muscular,
pectro até que o tingimento com Gram e os resultados da envolvendo primariamente os adutores. O teste Fabere
cultura estejam disponíveis. (Flexão, Abdução, Extemamente Rodado [o quadril]) é
A terapia definitiva inclui a artrotomia e a irrigação quase sempre positivo. O teste é feito com o paciente co­
precoce. Mais recentemente, vários autores recomenda- locando o calcanhar da extremidade afetada sobre o dorso
ram a drenagem artroscópica da articulação. Embo­ do pé normal. O paciente então “desliza” o calcanhar so­
ra a artrotomia seja considerada o padrão de cuidados, bre a pema até que o joelho seja alcançado. Se for pro­
pode ser complicada por NAV ou por instabilidade pós- duzida dor, o resultado é considerado positivo. Esse teste
-operatória do quadril. Desse modo, a cirurgia artros­ não é específico para as exacerbações agudas da doença
cópica tridimensional, com volumes grandes de fluido degenerativa do quadril, mas será positivo em qualquer
de irrigação, é efetiva e menos invasiva. O tratamento processo inflamatório que envolva o quadril.
bem-sucedido requer uma drenagem cirúrgica precoce e
adequada.
79 Imagens
Os pacientes com quadris protéticos infectados geral­ Nos estágios iniciais desse distúrbio, as radiografias sim­
mente requerem remoção de todos os componentes pro­ ples são negativas. Mais tarde, contudo, será percebida uma
téticos, debridamento cirúrgico e antibióticos intraveno­ esclerose subcondral irregular que aos poucos evolui para
sos. Uma abordagem cirúrgica de um estágio, em que estreitamento do espaço articular. Os achados adicionais in­
o quadril é reconstruído e contas de polimetilmetacrilato cluem o achatamento da cabeça do fêmur no polo superior,
localmente implantadas com antibióticos tem sido bem- acompanhado de alterações císticas nesta área (Fig. 18.18).
-sucedida para erradicar a infecção.
Tratamento

DOENÇA ARTICULAR DEGENERATIVA O tratamento conservador está indicado para as exacerba­


ções agudas que se apresentam no setor de emergência. Isso
Essa condição é discutida porque é uma ocorrência bas­ inclui a abstinência de apoio de peso, calor e massagens.
tante comum. Para informação adicional sobre a osteoar- Os medicamentos anti-inflamatórios não esteroides são um
trite, ver o Capítulo 3. adjuvante importante para aliviar o processo inflamatório.
412 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Iliopectínea

Trocantérica

Isquioglútea

Figura 18.19 As bolsas do quadril.

quadril. A bolsa isquioglútea é superficial à tuberosidade


Figura 18.18 Doença articular degenerativa grave do quadril do ísquio. A bolsa do obturador interno foi descrita, em
esquerdo, marcada pela obliteração do espaço articular, altera­ período recente, como a causa de bursite em alguns pa-
ções periarticulares escleróticas e císticas e formação osteofitá- cientes. 91
• *

ria acetabular. As causas habituais de bursite incluem a inflamação


reativa secundária ao uso excessivo ou por pressão exces­
Não existe nenhum consenso em relação à decisão siva e trauma. Outras causas incluem condições infeccio­
para a artroplastia total do quadril. Muitas variáveis são sas e metabólicas, como gota.
consideradas, incluindo a idade, a intensidade da dor, as
Apresentação clínica
limitações funcionais, a qualidade óssea e o risco cirúr­
gico. Uma pesquisa com ortopedistas mostrou que A bursite trocantérica p ro fu n d a caracteristicamente se
a maioria dos cirurgiões considerou dor diária intensa, apresenta com dor e sensibilidade dolorosa localizada no
dor em repouso vários dias por semana e a destruição da aspecto posterior do trocanter maior, que aumenta com a
maior parte do espaço articular nas radiografias antes de fle x ã o e a rotação interna do quadril. A abdução e a ro­
considerar a cirurgia. Em pacientes com limitações fun­ tação externa do quadril relaxam o glúteo máximo, o que
cionais significativas, o procedimento não só melhora a alivia a pressão sobre a bolsa. O sinal de Trendelenburg
qualidade de vida, mas é custo-efetivo durante um longo está presente em três quartos dos pacientes. Esse sinal
87
prazo nos cuidados. é produzido quando é solicitado ao paciente para ficar
apoiado sobre a perna afetada e a pelve baixa para o lado
não afetado, indicando inibição dos glúteos. A dor pode
BURSITE
irradiar-se para a face posterior da coxa e qualquer movi­
Muitas bolsas cercam o quadril, mas somente quatro são mento causa desconforto.
clinicamente importantes: a bolsa trocantérica profunda, A bursite trocantérica profunda está associada ao mi-
a trocantérica superficial, a iliopsoas (iliopectínea) e a is- crotrauma repetitivo causado pelo uso ativo dos múscu­
quioglútea (Fig. 18.19). los que se inserem no trocanter maior. É a mais comum
A bolsa trocantérica profunda está localizada entre a entre os 40 e 60 anos. As doenças degenerativas têm
inserção tendínea do músculo glúteo máximo e a proe­ sido associadas a essa condição, assim como a artrite in­
minência posterolateral do trocanter maior. A bolsa flamatória do quadril, a obesidade e a síndrome da banda
trocantérica superficial está localizada entre o trocanter iliotibial.
maior e a pele. A bolsa do iliopsoas é a maior de todas A calcificação em tomo do trocanter maior é evidente
as bolsas do quadril. Fica entre o músculo iliopsoas, em muitos pacientes com bursite trocantérica, sugerindo
anteriormente, e a eminência iliopectínea posteriormen­ patologia concomitante do músculo glúteo médio (ruptu­
te, ao longo da superfície anterior da cápsula articular do ras) e dos tendões (tendinite). O envolvimento patológico
Emergências Ortopédicas 413

A bursite séptica em uma das bolsas do quadril é rara.


Entretanto, caso haja suspeita, representa uma emergência
verdadeira e deve ser diagnosticada precocemente pelo
médico da emergência. Os antibióticos parenterais são in­
dicados. Os pacientes que não respondem aos antibióticos
intravenosos e à aspiração percutânea da bolsa podem re­
querer drenagem cirúrgica ou bursectomia.97

TENDINITE CALCIFICADA
Essa condição é comparável à tendinite calcificada no om­
bro. O cálcio amorfo se deposita nos tendões do glúteo
98
médio, lateral ao trocanter maior e superior à cápsula.
É associada à bursite trocantérica profunda, como previa­
Figura 18.20 Área para palpar o músculo iliopsoas e a bolsa. mente descrito, sendo com frequência chamada de síndro-
me dolorosa do trocanter maior. Os corredores de longa
distância desenvolvem tendinite secundária à inserção do
99
das várias estruturas de tecidos moles tem feito com que tendão do iliopsoas no trocanter menor.
alguns autores se refiram a essa condição como a síndro-
me dolorosa do trocanter maior.
92
Apresentação clínica
A bursite tw c a n té ric a superficial se apresenta com O paciente apresenta dor intensa no quadril. O quadril é
sensibilidade dolorosa e edema sobre a bolsa inflamada, mantido em posição de flexão, abdução e rotação externa
que é acentuado durante a adução extrem a da coxa. para relaxar o músculo glúteo médio envolvido. O espas­
A bursite do iliopsoas se apresenta com dor e sensibi­ mo muscular limita o movimento em todas as direções.
lidade dolorosa sobre o aspecto lateral do triângulo femo- O examinador produz a sensibilidade dolorosa sobre o lo­
ral (área limitada pelo ligamento inguinal, pelo sartório cal da inflamação. Se o paciente for capaz de deambular,
e pelo adutor longo) (Fig. 18.20). A irritação do nervo uma marcha de Trendelenburg será notada, na qual a pel­
femoral adjacente faz com que a dor seja referida ao lon­ ve baixa para o lado não afetado quando o paciente apoia
go da coxa anterior. Essa condição é comum em esportes a perna no lado afetado.
como futebol, balé ou hóquei na grama, que requerem o
uso extenso dos flexores do quadril. O paciente em geral Imagens
mantém o quadril em posição de flexão e abdução com A radiografia revela uma opacidade sobre os tecidos mo­
rotação externa. A dor aumenta com a extensão , adução les sobrejacentes à articulação do quadril.
ou rotação interna do quadril. A condição deve ser dife­
renciada de hérnia femoral, abscesso do psoas, sinovite ou Tratamento
infecção articular. A aplicação de calor, o repouso e os agentes anti-infla-
A bursite isquioglútea é comum em pacientes com matórios são efetivos. As deposições de cálcio são mais
ocupações que exijam permanecer sentado por tempo pro­ prontamente absorvidas quando quebradas pelo agulha-
longado em superfícies duras. A sensibilidade dolorosa é mento dos tendões envolvidos, sob anestesia local.
produzida sobre a tuberosidade isquiática. A dor se irradia O tratamento endoscópico dessa condição também está
para a parte de trás da coxa e ao longo do curso dos is- sendo usado.
quiotibiais, imitando um disco hemiado.

Tratamento SÍNDROME DO RESSALTO DO QUADRIL


O tratamento da bursite consiste em repouso no leito, A coxa que estala ou a síndrome do ressalto do quadril
aplicação de calor e agentes anti-inflamatórios. Na bur­ é agora considerada como uma causa comum de dor no
site isquioglútea, uma almofada ou travesseiro ajuda a quadril em corredores, causada por manobras súbitas no
aliviar o desconforto e previne a recidiva. Dos pacien­ decorrer da corrida. A dor está presente em menos de
tes com bursite do trocanter maior que são tratados um terço dos pacientes. A condição afeta atletas jovens,
com a injeção, 60% demonstraram alívio total dos sin- sendo um pouco mais comum em mulheres. A síndrome
93
tomas com uma única administração em seis meses. do ressalto do quadril é especialmente comum em baila­
Uma complicação rara da injeção de esteroides é a ne­ rinas. Essa síndrome deve ser diferenciada de um “es­
crose da cabeça do fêmur, que foi descrita devido à inje­ talo” indolor e profundo que ocorre com o movimento do
ção na articulação em lugar da bolsa. Caso os sintomas quadril normal e não tem qualquer importância clínica.
sejam refratários, a bursectomia artroscópica tem sido A dor é caracterizada por um desconforto cortante e em
empregada com sucesso. queimação, exacerbado pela atividade. 02
414 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Rotação externa Rotação interna

Figura 18.21 Na síndrome de ressalto do quadril, a


banda iliotibial cruza sobre o trocanter maior.

Existem várias causas de síndrome do ressalto do frequentemente anterior, mas pode ser posterior e muitas
quadril. Elas são classificadas como externas ou internas, vezes acompanhado de uma fraqueza súbita da perna.
com base em sua etiologia.
Im agens. Os filmes simples do quadril são normais em
R e ssa lto e x te r n o d o q u a d r il casos de ressalto externo da coxa. A ultrassonografia tem
O estalo externo da coxa ocorre quando o tendão do sido usada para estabelecer o diagnóstico, mas os acha­
glúteo máximo na banda iliotibial estala sobre o trocan- dos clínicos são quase sempre suficientes. Se houver
102
ter maior (Fig. 18.21). Esta é a causa mais comum suspeita de causas internas, as radiografias simples esta­
da síndrome do ressalto do quadril. Os pacientes afe­ belecem o diagnóstico em um terço dos pacientes. Se o
tados afirmam que têm uma sensação de estalo sobre o diagnóstico permanecer indefinido, a ultrassonografia e a
aspecto lateral do quadril. O estalo do tendão sobre o TC estabelecem a causa em cerca de 90% dos pacientes.
trocanter maior é demonstrado durante a caminhada ou
na flexão do quadril. A rotação passiva interna e externa
do membro abduzido demonstra o estalo. A dor, se
presente, é leve, a menos que se desenvolva uma bursite
da bolsa trocantérica maior. O ressalto externo do qua­
dril causado pela banda iliotibial é comum em pessoas
que fazem balé e também é uma complicação da prótese
total do quadril.

R e ssa lto in te r n o d o q u a d ril


Uma causa interna da síndrome do ressalto do quadril
é menos comum, mas pode ocorrer quando o tendão do
iliopsoas estala sobre a borda pélvica ao passar até a sua
inserção na tuberosidade menor (Fig. 18.22). Outro me­
canismo proposto é uma súbita “sacudida” do tendão do
ibopsoas sobre o músculo ilíaco.
Os pacientes queixam-se de estalos durante a exten­
são do quadril a partir da posição flexionada. É diminuída
pela rotação interna e aumentada pela rotação externa do
quadril. A sensibilidade dolorosa e a dor ocorrem na espi­
nha anterossuperior e medial ao músculo sartório.
A síndrome do ressalto do quadril também pode ter
como causa lesões nas estruturas intra-articulares que obs­
truem o movimento do tendão do ibopsoas. A lesão do lá­ Figura 18.22 A síndrome interna de ressalto do quadril ocorre
bio acetabular, uma estrutura cartilaginosa que circunda o quando o tendão do iliopsoas estala sobre a em inência iliopec-
acetábulo, ou um corpo livre por uma lesão osteocondral, tínea da borda pélvica, quando prossegue até a sua inserção na
são dois exemplos. O barulho ou o estalo doloroso é mais tuberosidade menor.
Emergências Ortopédicas 415

A RMN é 100% sensível1~s e demonstra o espessamento


da banda iliotibial ou o espessamento da borda anterior da
faseia em tomo do musculo glúteo máximo.

Tratam ento. A maioria dos pacientes com ressalto no


quadril é tratada de modo conservador. O princípio funda­
mental do manejo são os exercícios de alongamento para
112
promover o alongamento da banda iliotibial. A injeção de
esteroides é benéfica para eliminar o estalo externo da coxa.
Se a condição for resistente ao tratamento conservador, o
alongamento cirúrgico da banda pode ser executado. 13,114
Foi relatado que esse procedimento, chamado de zetaplas-
tia, é altamente bem-sucedido, mas poucas vezes neces­
sário. 14,11 A zetaplastia alonga o trato iliotibial retesado e
também conduz a banda espessada anteriormente, de forma
que ela não mais deslize sobre o trocanter maior durante a
flexão do quadril. A liberação endoscópica da banda ilio­
tibial também tem sido bem-sucedida para tratar essa sín-
drome. 16,11 A cirurgia também está indicada para corpos
livres. As rupturas labrais são tratadas com manejo conser­
vador (sem apoio) ou com debridamento artroscópico.

LUXAÇÕES DO QUADRIL Figura 18.23 Luxação posterior do quadril.

As luxações do quadril constituem 5% de todas as luxações


articulares traumáticas e ocorrem em direção anterior ou lisões de motocicleta, pedestres atingidos por automóveis e
123
posterior. As luxações posteriores são mais comuns, eventos esportivos como esqui alpino.
respondendo por 90 a 95% de todas as luxações do qua­ As luxações de baixa energia são comuns em crianças e
dril. As luxações inferiores (luxação vertical do qua­ em adultos com quadris protéticos. As crianças menores de
dril) também têm sido relatadas, mas são muito raras. 6 anos são especialmente propensas à luxação depois de um
trauma mínimo pela frouxidão geral das estruturas ligamen-
Luxação posterior do quadril tares circundantes e por ser o acetábulo amplamente cartila­
ginoso. As luxações espontâneas ocorrem em até 10% dos
A classificação das luxações posteriores do quadril é fei­ pacientes depois de uma prótese total de quadril.
ta com base no sistema desenvolvido por Stewart e Mil-
ford. Nessa classificação, as luxações posteriores de
quadril são pontuadas com base na presença e no tipo de
fraturas associadas.
Grau I Uma luxação simples, sem fratura (Fig. 18.23)
Grau II Luxação associada com grande fratura da
borda acetabular, que é estabilizada depois
da redução
Grau III Luxação associada com fratura instável ou
cominutiva
Grau IV Luxação associada com fratura do colo ou
cabeça do fêmur

M e c a n is m o d e le sã o
As luxações posteriores ocorrem após um golpe no joelho
enquanto quadril e joelho estão flexionados. Em mais de
50% dos pacientes, a lesão ocorre depois de um trauma de
alta energia, como acidentes de automóveis, no qual o joelho
de um motorista não contido pelo cinto de segurança atinge
o painel (Fig. 18.24). Felizmente, com o aumento do
uso dos cintos de segurança, a frequência dessas lesões está
diminuindo. Outros mecanismos de alta energia incluem co-
416 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Figura 18.25 A posição típica da luxação posterior do quadril.

Exam e
As luxações posteriores se apresentam com encurtamento
do membro, adução do quadril e rotação interna da extre­
midade envolvida (Fig. 18.25). A cabeça do fêmur pode
ser palpável dentro da musculatura da nádega. O paciente
Figura 18.27 Luxação posterior de um quadril com prótese.
deve ser cuidadosamente avaliado para lesão de nervo is-
quiático, que pode manifestar-se com déficits sensitivos
e motores. Os pulsos distais também devem ser avalia­
sempre que houver suspeita de lesão no quadril (ver Fig.
dos; entretanto, a lesão vascular é incomum após a luxa­
18.3). As radiografias adicionais da extremidade ipsilate-
ção posterior de quadril.
ral podem ser indicadas com base no exame físico.
Embora a luxação em geral seja óbvia, a radiografia
Im a g e n s
também deve ser inspecionada atentamente para fraturas
Uma incidência única AP de rotina da pelve é adequa- associadas. As fraturas associadas da cabeça e colo do fê­
da para demonstrar essas lesões (Figs. 18.26 e 18.27). mur e do acetábulo estão com frequência presentes após
A cabeça do fêmur não está mais congruente com o teto essas luxações. Uma tentativa de redução fe c h a d a de lu ­
do acetábulo. Em um filme AP verdadeiro, a cabeça pare­ xação p o ste rio r de q u a d ril com fra tu ra sutil do colo do
ce menor que a do lado contralateral devido ao seu deslo­ fê m u r associada é contraindicada, j á que p o d e d eslo ca r
camento posterior. A linha de Shenton deve ser avaliada a fra tu ra e a u m en ta r a probabilidade de NAV da cabeça
do fêm ur.
Uma TC do quadril com cortes finos de 2 mm deve
ser obtida em várias situações.
1. Antes da redução, se houver suspeita de fratura do
colo do fêmur nas radiografias simples. A redução fe­
chada, quando uma fratura desse tipo estiver presente,
aumenta o risco de NAV.
2. Depois de tentativas fracassadas de redução, para
avaliar a presença de corpos livres dentro da articu­
lação.
3. Após a redução, para avahar o acetábulo.

L e s õ e s a sso cia d a s
As luxações do quadril podem estar associadas a diversas
Figura 18.26 Luxação posterior do quadril direito. lesões significativas. Em um estudo, 95% dos pacientes
Emergências Ortopédicas 417

tiveram uma lesão associada (cabeça, abdome, tórax) sufi- aumenta a taxa de NAV da cabeça do fêmur e o potencial
128
cientemente grave para requerer hospitalização. para lesão do nervo isquiático. Se o encaminhamento de
emergência não estiver disponível e não houver nenhuma
1. Fraturas do acetábulo. Em adultos, essas fraturas são
evidência de fratura do colo, cabeça ou diáfise nas radio­
vistas em 75% dos pacientes.
grafias, a redução fechada deve ser tentada.
2. NAV da cabeça do fêmur. Essa lesão é vista em apro­
Muitas manobras de redução fechadas foram descri-
ximadamente 10% das luxações não complicadas. 120 tas 23,i26,i32.i todas as manobras, a tração alinhada
A incidência é de 4,8% se o quadril for reduzido em
com a coxa é exercida com a contratração frequentemente
menos de 6 horas, mas aumenta para 50% se reduzi-
129 fornecida por um assistente. A tração deve ser aplicada
do depois desse tempo. ‘ As luxações do quadril com
de forma constante, já que movimentos bruscos não são
graus III e IV da classificação de Stewart e Milford
bem-sucedidos e podem resultar em fraturas do colo do
têm mais probabilidade de desenvolver NAV em com-
fêmur. Se a redução fe c h a d a fra c a ssa r depois de duas ou
paração aos graus I e II. Todas as luxações de qua­
três tentativas, a luxação deve ser considerada com o irre-
dril devem ser consideradas como emergências ver­ A A A 38
dutível e o m anejo cirúrgico é indicado.
dadeiras e reduzidas imediatamente, para minimizar a
incidência de NAV da cabeça do fêmur.
A redução fechada deve começar colocando o pa­
3. Fraturas da cabeça do fêmur. Essas fraturas ocorrem em ciente em uma prancha e administrando a sedação, como
até 16% das luxações posteriores do quadril. As fratu­ determinado no Capítulo 2. O etomidato demonstrou ser
ras osteocondrais, pela impactação da cabeça do fêmur, efetivo para a redução bem-sucedida quando outros meios
131
podem causar bloqueio da articulação deslocada. de sedação tiverem fracassado.
125

4. Fraturas da diáfise do fêmur. Ocorrem em 4% dos pa­


cientes com luxação de quadril. A rotação da diá­ T é cn ica d e A llis
fise depois da fratura pode alterar a posição da extre-
18 Este método foi desenvolvido em 1893 por Allis (Fig.
midade e confundir o diagnóstico.
18.28).12 É a técnica preferida para reduzir a luxação de
5. Lesão do nervo isquiático. Um déficit do nervo is- quadril pela maioria dos profissionais.
quiático está presente em 10 a 13% das luxações pos-
1122
tenores de quadril. ’ 1. O paciente deve ser abaixado até o assoalho enquanto
6. Lesões do joelho ipsilateral. As lesões de joelho esta­ está na prancha ou o médico pode ficar em pé sobre a
vam presentes em até 25% dos pacientes em uma sé- maca.
122
rie. Essas lesões variam desde o dano ligamentar até 2. Um assistente imobiliza a pelve segurando as cristas
fraturas da patela ou dos côndilos tibiais ou femorais. ilíacas para baixo.
7. Lesões arteriais (raras). 3. O médico aplica tração alinhada com a deformidade,
junto com a flexão suave do quadril até 90°.
T ra ta m en to 4. Conforme a tração é mantida, são executadas a rota­
As luxações posteriores do quadril são mais adequadamen­ ção externa, a abdução e a extensão do quadril.
te tratadas com a imobilização e redução de emergência 5. Um segundo assistente pode aplicar tração lateral na
dentro do período de até 6 horas. O retardo na redução coxa.

Figura 18.28 A manobra de A llis. (M odificada, com permissão, de Reichman EF, Simon RR. Emergency Medicine Procedures. New
York: M cG raw -H ill, 2004.)
418 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Figura 18.29 A manobra de Stimson. (Reimpressa, com permissão, de Reichman EF, Simon RR. Emergency Medicine Procedures.
New York: M cG raw -H ill, 2004.)

Técnica de Stimson 1. A maca é abaixada tanto quanto possível, e a pelve do


O método de Stimson para reduzir as luxações posteriores paciente é fixada na maca por um assistente ou por
de quadril também é seguro e efetivo (Fig. 18.29). correias.
2. O quadril e o joelho do paciente são flexionados em
1. O paciente fica em decúbito ventral, com o quadril
90°.
flexionado sobre a borda da maca.
3. O médico fica no lado da luxação e coloca o seu pé no
2. A tração é aplicada ao quadril, colocando pressão so­
leito, com o joelho sob o joelho do paciente.
bre o aspecto posterior do joelho, com a mão ou o
4. As mãos do médico são usadas para aplicar uma força
joelho do médico.
suave para baixo no tornozelo e uma força para cima
3. A rotação externa e interna é fornecida pela mão
no joelho do paciente. A força maior, contudo, é cria­
oposta.
da pela perna do médico, que atua como alavanca e
4. Um assistente ajuda na redução manipulando direta­ também aplica uma força para cima pela flexão plan­
mente a cabeça do fêmur até a posição reduzida. tar do tornozelo a partir do leito.
Técnica de Whistler Seja qual for a técnica aplicada, é obrigatório ava­
As variações desta técnica foram descritas por inúmeros liar os pulsos arteriais antes e depois da redução. Se
autores (Fig. 18.30).123,126,133
1. O médico fica ao lado da luxação e coloca o seu braço
sob o joelho da perna afetada e sobre o joelho não
afetado.
2. A mão oposta do médico é colocada no aspecto ante­
rior do tornozelo.
3. O braço sob o joelho do paciente é elevado e a tração
é aplicada à coxa. A palma da mão sobre o joelho não
afetado cria a contratração.
4. A mão sobre o tornozelo do paciente é usada para for­
necer leve rotação interna e externa do quadril, fle­
xionando também o joelho. Tal método fornece uma
alavanca poderosa para reduzir a luxação.

Técnica de Hendey
Esta técnica foi popularizada por Greg Hendey da UCSF
em Fresno (Fig. 18.31 e Vídeo 18.1). Figura 18.30 A manobra de Whistler.
Emergências Ortopédicas 419

A intervenção cirúrgica é necessária em (1) luxações


reduzidas, mas instáveis, (2) luxações irredutíveis e (3)
luxações associadas a fraturas do fêmur proximal. Em lu­
xações complicadas por uma fratura acetabular, é indicada
uma tentativa de redução fechada. Se a redução for instá­
vel, a fixação cirúrgica é necessária. A redução fechada
não tem sucesso em até 15% das luxações posteriores de
quadril.38

Complicações
As luxações de quadril estão associadas a várias compli­
cações significativas, incluindo NAV da cabeça do fêmur,
lesão do nervo isquiático e artrite traumática.
Em um estudo, que acompanhou pacientes com
luxações posteriores traumáticas do quadril em uma
média de 12,5 anos, foi encontrado que mesmo com
luxações simples, 24% dos pacientes tinham resul­
tados ruins e até 70% resultados regulares a ruins.
Está claro que mesmo com luxações posteriores sim­
ples do quadril tratadas corretamente, a osteoartrite tar­
dia pode desenvolver-se em até 20% dos casos. Desse
modo, as luxações posteriores do quadril têm um prog­
nóstico muito reservado.

Luxação anterior do quadril


As luxações anteriores são menos comuns que as poste­
Figura 18.31 A técnica de Hendey. A pelve do paciente deve
ser fixada ao leito por um assistente ou por correias (não mos­
riores e são classificadas da seguinte forma (Fig. 18.32):
trado). 1. Luxação obturatória (mais comum)
2. Luxação ilíaca
fracassada, a redução deve ser executada sob anestesia 3. Luxação púbica
geral. Se a redução for bem-sucedida, o paciente deve
ser hospitalizado com descarga rigorosa e observação. Mecanismo de lesão
Não existe qualquer benefício da tração esquelética de­ As luxações anteriores são o resultado da abdução for­
pois da redução. çada, que levam ao impacto do colo do fêmur ou do

Obturatória Púbica Ilíaca

Figura 18.32 Luxações anteriores do quadril. Três tipos são demonstrados: obturatória, púbica e ilíaca.
420 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

trocanter contra o domo superior do acetábulo e a uma DISTENSÃO MUSCULAR E TENDINITE


alavancagem da cabeça do fêmur por intermédio de uma
ruptura na cápsula anterior. Distensão do iliopsoas
As luxações obturatórias ocorrem quando o quadril É uma lesão incomum, ocorrendo primariamente em
está em flexão na hora da lesão. Tal tipo de luxação ante­ bailarinas e ginastas. A distensão do iliopsoas ocorre em
rior resulta em um membro fixo em até 60° de abdução, sua inserção no trocanter menor ou na junção musculo-
rotação externa e alguma flexão. tendínea. O mecanismo habitual de lesão é o estiramento
As lesões no quadril mantido em extensão produzem excessivo do iliopsoas. Ao exame, o paciente mantém ca-
luxação púbica ou ilíaca. As luxações púbicas revelam um racteristicamente a coxa em posição flexionada, aduzida
membro em acentuada rotação externa, extensão completa e com rotação externa. A extensão e a rotação interna da
e alguma abdução. A luxação púbica também pode ser coxa acentuam a dor.
o resultado de hiperextensão intensa com rotação externa, Compressas de gelo e o repouso no leito são os supor­
forçando anteriormente a cabeça do fêmur. As luxações tes principais do manejo dessa lesão. O tendão em geral
anteriores podem ser associadas a uma fratura de cisalha- não é cirurgicamente reparado, mesmo que esteja com­
mento da cabeça do fêmur. pletamente avulsionado ou se tiver um fragmento ósseo
incorporado.
Exame
As luxações obturatórias anteriores se apresentam com Distensão do glúteo médio
abdução, rotação externa e flexão da extremidade envol­
vida. Com as luxações anteriores ilíacas ou púbicas, o É mais comumente visto em atletas jovens; entretanto,
quadril é mantido na posição de extensão, abdução leve mesmo nesse grupo, é uma lesão rara. A distensão do
e rotação externa. A cabeça é palpável próxima à espinha glúteo médio costuma ocorrer como resultado de sobre­
ilíaca anteros superior com as luxações ilíacas e próxima carga intensa do glúteo médio. A dor é notada na abdu­
ao púbis depois de uma luxação púbica. A condição neu­ ção contra resistência e é acentuada quando o paciente
rovascular da extremidade deve ser documentada em to­ roda a coxa medialmente contra resistência. O tratamen­
dos os pacientes com luxação no quadril. to dessa lesão é o mesmo que para qualquer outra disten­
são muscular e inclui repouso, aplicação de calor úmido
Imagens e analgésicos.
Em pacientes jovens com dor crônica nas nádegas,
As incidências de rotina do quadril e da pelve são ade­
deve ser considerada lesão ou mesmo ruptura do tendão
quadas para demonstrar essas lesões. A cabeça do fêmur
do glúteo médio como a causa. Em um estudo, 46% dos
parece maior no lado afetado por causa de sua localização
pacientes com dor crônica nas nádegas tinham essa le­
anterior. A linha de Shenton deve ser avaliada sempre que
são como a etiologia. O diagnóstico é feito com o teste
houver suspeita de uma lesão no quadril (ver Fig. 18.3).
de Trendelenburg, que é mais sensível para essa condi-
As radiografias adicionais da extremidade ipsilateral são
indicadas com base no exame físico.

Lesões associadas Tendinite dos rotadores externos


As luxações do quadril podem estar associadas a várias Essa condição pode ser aguda ou crônica e envolve os ro­
lesões significativas. As lesões associadas são simila­ tadores externos. Os rotadores externos da coxa incluem
res a uma luxação posterior; contudo, a lesão vascular o piriforme, os gêmeos superior e inferior, o obturador in­
é mais comum em luxações anteriores, enquanto a le­ terno e o externo, o quadrado femoral e o glúteo máximo.
são do nervo isquiático é mais comum depois de uma A tendinite desses músculos é caracterizada por dor e sen­
posterior. sibilidade dolorosa na rotação externa ativa. O tratamento
para a condição inclui a aplicação local de calor úmido,
Tratamento agentes anti-inflamatórios e analgésicos. Em pacientes
As luxações anteriores do quadril são tratadas de forma mais jovens com síndromes de uso excessivo dos rotado­
mais adequada pela redução fechada precoce na sala de res externos, tratar com compressas geladas por 20 minu­
cirurgia. A redução aberta está indicada se falharem as tos, várias vezes ao dia, como também com ultrassom e
tentativas de redução fechada. O encaminhamento de iontoforese.
emergência para redução é fortemente recomendado.

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Capítulo 19
Coxa

FRATURAS DO FÊMUR
FRATURAS DA DIÁFISE DO FÊMUR no grau de cominução (Fig. 19.1). As fraturas de grau
I têm cominução mínima ou nenhuma. Os fragmentos
A diáfise do fêmur se estende de uma área a 5 cm distais são pequenos (< 25% da largura da diáfise do fêmur).
ao trocanter menor até um ponto 6 cm proximais ao tu­ As de grau II possuem um fragmento de fratura de 25 a
bérculo adutor. O fêmur é um osso forte, com suprimento 50%, enquanto as fraturas de grau III estão associadas a
sanguíneo excelente e, por conseguinte, de bom poten­ um grande fragmento em borboleta (> 50% da largura
cial de consolidação. Essas fraturas são mais comuns em da diáfise). As fraturas de grau IV possuem cominução
crianças e adolescentes. circunferencial sobre um segmento inteiro do osso, com
Anteriormente, as fraturas da diáfise do fêmur tinham perda completa do limite das áreas corticais.
taxa de mortalidade de até 50%, primariamente porque
o tratamento era o repouso prolongado no leito. A tera­ Mecanismo de lesão
pia atual usa placas ou hastes intramedulares, permitindo
As fraturas da diáfise do fêmur são secundárias a uma for­
mobilização precoce. As fraturas da diáfise do fêmur são
ça de alta energia em 75% dos casos.' O mecanismo pode
classificadas em três tipos.
ser um golpe direto ou uma força indireta transmitida pelo
1. Fraturas espirais, transversas ou oblíquas joelho flexionado. As colisões de automóveis são a causa
2. Fraturas cominutivas mais comum, mas os ferimentos por arma de fogo repre­
3. Fraturas expostas sentam uma proporção crescente dessas fraturas. A fratu­
ra do fêmur em consequência de um mecanismo de baixa
A distinção entre fraturas espiral, transversa ou oblí­ energia é rara e o profissional deve suspeitar de fratura
qua não altera o tratamento ou o seu prognóstico. patológica neste cenário.
As fraturas cominutivas são, além disso, classifica­ Em crianças, quedas de altura significativa podem
das por Winquist com base no tamanho do fragmento e ocasionar tal fratura. A possibilidade de agressão deve ser

Grau IV
cominução
segmentar

Figura 19.1 Fraturas cominutivas da diáfise do fêmur.


426 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Figura 19.3 Fratura da diáfise do fêmur.

Figura 19.2 Fratura do fêmur direito. Notar a angulação e a e 19.4). As fraturas de estresse da diáfise femoral podem
rotação mediai da perna. ( Fotografia: contribuição de Trevonne não ser visualizadas em incidências de rotina. As vistas
Thompson , MD.) do quadril e do joelho devem ser incluídas, já que existe
incidência significativa de lesões associadas.
A extensa musculatura que circunda a diáfise do fê­
considerada em crianças que apresentam fraturas da diá-
mur é, muitas vezes, a fonte do deslocamento. O fragmen-
fise femoral, especialmente quando a história não parecer
realista ou houver um retardo inapropriado na busca de
cuidados médicos. Em bebês, a incidência de agressões
foi de 65% em um estudo. As crianças entre 1 e 5 anos
com esse tipo de lesão foram vítimas de agressão em 5 a
35% dos casos. Embora as fraturas espirais sejam clas­
sicamente associadas aos maus-tratos, as transversas são
vistas em um número igual de crianças agredidas.

Exame
O paciente apresenta dor intensa na extremidade envolvida
e, em geral, tem deformidades visíveis (Fig. 19.2). A extre­
midade pode estar encurtada e com crepitação com movi­
mento. A coxa estará edemaciada e tensa pela hemorragia
e formação de hematoma. O exame neurológico deve ser
feito para avaliar a função do nervo isquiático. As lesões
arteriais são raras, mas devem ser excluídas no exame ini­
cial. As lesões arteriais associadas a uma fratura da diáfise
do fêmur devem ser suspeitadas na presença de:
• Hematoma em expansão
• Pulsos ausentes ou diminuídos
• Sinais neurológicos progressivos na presença de fra­
tura fechada

Imagens
As incidências de rotina anteroposterior e lateral são habi-
tualmente adequadas para demonstrar a fratura (Figs. 19.3 Figura 19.4 Fratura da diáfise do fêmur em um bebê.
Emergências Ortopédicas 427

to proximal de uma fratura de diáfise femoral no terço


proximal fica abduzido, flexionado e em rotação externa.
Os músculos glúteos que se inserem no trocanter maior
resultam em deformidade de abdução, enquanto o mús­
culo iliopsoas, que se insere no trocanter menor, exerce
força de rotação externa e flexão sobre o fragmento proxi­
mal. As fraturas na área medial da diáfise sofrem deformi­
dade em varo causada pela força do adutor medial sobre o
fragmento distai e pela tração dos músculos laterais sobre
o fragmento proximal. As fraturas da diáfise do terço dis­
tai ficam anteriormente anguladas devido à força aplicada
pelo músculo gastrocnêmio.

L esõ es a sso cia d a s


Em decorrência das intensas forças envolvidas na lesão,
muitos pacientes têm lesões múltiplas e requerem um exa­
me inicial sistemático cuidadoso. Essas fraturas podem
ser associadas com fraturas ipsilaterais, luxações e lesões
ligamentares de tecidos moles no quadril e no joelho. As
fraturas do colo do fêmur ipsilateral ocorrem em 6% dos
pacientes com fraturas da diáfise.
A diáfise femoral tem um rico suprimento sanguíneo.
Como resultado, as fraturas estão associadas a sangra-
mento significativo. A perda sanguínea média após a fra­
tura é de 1 a 1,5 litros. Entretanto, o sangramento dentro Figura 19.5 Encavilhamento intramedular bloqueado de uma
da coxa causada uma fratura da diáfise femoral fechada fratura de fêmur.
não é suficiente, sozinho, para causar hipotensão. Em pa­
cientes com fratura no fêmur e hipotensão, outra fonte de
sangramento deve ser buscada. complicações, incluindo a síndrome de embolia gorduro­
As lesões associadas do nervo isquiático são raramen­ sa12 (ver Cap. 4).
te encontradas com essas fraturas, devido à musculatura O tratamento das fraturas cominutivas pode, na maio­
protetora circundante. A incidência de lesão do nervo is­ ria dos casos, ser feito com sucesso com haste intramedu-
< 1/4
quiático ou fibular no contexto de uma fratura da diáfise lar. ’ Quanto maior o grau de cominução, maior será a
do fêmur é de 2% após um mecanismo não penetrante, preocupação relativa ao encurtamento ou à má-rotação da
e aumenta para 9% quando é consequência de ferimento fratura. Entretanto, a maioria dos cirurgiões usa parafusos
com arma de fogo. para fixar os segmentos ósseos proximal e distai à haste,
evitando a perda de posição. Até mesmo os pacientes com
T ra ta m e n to fraturas grau IV de Winquist podem colocar carga total
O manejo de emergência dessa lesão começa no contex­ depois da estabilização com haste intramedular bloqueada
to pré-hospitalar. A extremidade deve ser imobilizada em estática.
tração ou em uma tala pneumática antichoque. É preferí­ O manejo das fraturas expostas foi delineado no Ca­
vel a tala de tração de Sager (ver Cap. 1). Os dispositivos pítulo l . As fraturas expostas da diáfise femoral requerem
de tração fornecem imobilização suficiente, distraem a debridamento cirúrgico de emergência. As de grau I e II
fratura e reduzem o espaço potencial para sangramento. podem ser tratadas com encavilhamento femoral fechado
Se houver lesão associada do nervo isquiático, a tala ges­ imediato, com baixas taxas de infecção de 2% . A fixação
sada deve ser substituída pela tala de tração para evitar externa é útil em pacientes com fraturas expostas graves
lesão adicional ao nervo. grau IIIB e IIIC.
Os analgésicos devem ser dados precocemente, sendo O tratamento das fraturas da diáfise do fêmur em
indicados o encaminhamento de emergência e a hospita­ pacientes pré-puberais é mais complexo. A maioria das
lização. Deve-se lembrar de tratar o paciente para a perda crianças abaixo dos 6 anos pode ser tratada com gessado
sanguínea associada e considerar a grande probabilidade pelvipodáhco imediato ou tração seguida por gessado. 6,17
de lesões concomitantes como antes referido. As crianças com mais de 6 anos podem ser tratadas com
O tratamento definitivo para as fraturas da diáfise um gessado pelvipodáhco, hastes intramedulares flexí­
do fêmur é o encavilhamento intramedular fechado (Fig. veis ou fixação externa. Em crianças acima dos 10 anos,
19.5). O encavilhamento imediato da fratura permite a as opções de tratamento incluem haste intramedular blo­
mobilização precoce do paciente e reduz a incidência de queada, haste flexível ou fixação externa.
428 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Complicações 2. Má-rotação da extremidade.


As fraturas da diáfise femoral estão associadas a várias 3. A quebra de hastes e placas e a infecção constituem
complicações significativas. Os pacientes acima de 60 complicações pós-cirúrgicas.
anos com fraturas fechadas da diáfise mortalidade de 16 a 4. A lesão arterial com trombose retardada ou formação
20% e taxa de complicações entre 46 e 54%. de aneurisma é incomum.
1. A não união ou a infecção são vistas em menos de 1% 5. A lesão do nervo fibular ocorre pela compressão se­
desses pacientes. A má união ou a união retardada são cundária à tração.
mais comuns.12,22 6. Síndrome compartimentai da coxa (rara).

LESÃO DE TECIDOS MOLES DA COXA


SÍNDROME COMPARTIMENTAI DA COXA medicamentos. O compartimento está tenso à palpação.
Em alguns casos, é possível ser difícil distinguir entre
Existem três compartimentos dentro da coxa - o ante­ contusão grave e síndrome compartimentai. A apresenta­
rior, o posterior e o medial (Fig. 19.6). Dos três, o an­ ção pode ser aguda ou apresentar-se dias após a lesão.
terior é o mais comumente afetado pela síndrome com- As anormalidades neurológicas e vasculares se desenvol­
23
partimental. vem tardiamente e, pelo fato de nenhum nervo ou vaso
A síndrome compartimentai da coxa é incomum, de­ atravessar o compartimento anterior da coxa, esses acha­
vido à capacidade de acomodar volumes mais altos de dos não serão vistos mesmo em casos tardios.
fluido do que os compartimentos da perna. Entretanto, fo­
ram identificadas causas múltiplas de síndrome comparti­ Tratamento
mentai da coxa, incluindo as fraturas do fêmur e as lesões O padrão-ouro do tratamento permanece a fasciotomia de
significativas por esmagamento. O edema pós-isquêmico 23
emergência. ‘ Entretanto, quando essa condição ocorrer
após a revascularização também é uma causa de síndrome como lesão isolada em atleta jovem sem fratura, o manejo
compartimentai da coxa. Um trauma não penetrante relati­ conservador também tem sido descrito. Os autores mo­
vamente pequeno do músculo também resulta em síndro­ nitoraram pacientes com pressões compartimentais acima
me compartimentai da coxa. de 50 irnnHg e recomendam que a fasciotomia de emer­
Os sintomas nessa área são similares aos de outras gência somente seja feita quando uma disfunção neuroló-
síndromes compartimentais. A dor é sentida quando os gica se desenvolver. Considerando a controvérsia no
músculos no compartimento são alongados de forma pas­ manejo, a consulta precoce é recomendada em casos sus­
siva. A dor é intensa e não cede com facilidade com os peitos de síndrome compartimentai da coxa. Entende-se

Septo intermuscular
lateral

Figura 19.6 Compartimentos da coxa.


Emergências Ortopédicas 429

que qualquer pressão acima de 30 mmHg requer hospitali­ paciente caminha com marcha antálgica, sendo inca­
zação. Para detalhes adicionais sobre a síndrome compar­ paz de subir degraus ou levantar-se de uma cadeira sem
timentai, ver o Capítulo 4. desconforto considerável. Em indivíduos com contusões
graves, a coxa está dolorosa, edemaciada e endurecida. O
CONTUSÃO DO QUADRÍCEPS movimento do joelho está muito limitado (< 45°) e exis­
te claudicação intensa e/ou incapacidade de o paciente
As contusões do quadriceps, também chamadas de “tos­ deambular. Esses indivíduos com frequência têm derrame
tão”, são bastante comuns. Com frequência não são inca­ no joelho ipsilateral.
p acitates no momento da lesão e o grau de desconforto
é variável. O vasto lateral e o intermédio são os músculos Imagens
envolvidos com mais frequência nas contusões do quadri­ A ressonância magnética nuclear (RMN) e a ultrassonogra-
ceps. O reto femoral é menos afetado. fia são indicadores sensíveis para lesão de tecidos moles,
mas raramente são necessárias para chegar ao diagnóstico.
Mecanismo de lesão
As contusões do quadriceps são causadas por um golpe Tratamento
direto e podem ser diferenciadas das rupturas porque, Ao tratar a condição, a meta é limitar o edema e a he­
após uma contusão, existe, em geral, função residual. morragia e minimizar a quantidade de formação cica­
Em um estudo com jogadores do rúgbi, mais da metade tricial, preservando a contratilidade e a força muscu­
das contusões do quadriceps foi gerada a partir de um lar. Não se deve ser complacente no tratamento das
golpe na coxa pelo joelho de outro jogador adversário. contusões do quadriceps. O reconhecimento precoce e
a classificação da gravidade inicial da contusão levam
Exame a restrições apropriadas da atividade e aos cuidados de
O paciente queixa-se de dor incômoda sobre o aspecto acompanhamento.
anterolateral da coxa. A sensibilidade dolorosa é perce­ O tratamento das contusões leves a moderadas pode
bida na palpação e um edema variável será visto (Fig. ser dividido em três fases. Na fa s e 1, a meta é limitar a he­
19.7). Se o edema for extremo e seguir-se rapidamen­ morragia usando repouso, gelo, elevação e curativos com­
te à lesão, o médico deve suspeitar de lesão em vasos pressivos por 24 horas em contusões leves e por 48 horas
importantes. A dor aumenta com a flexão do joelho e é em moderadas. O paciente com contusão moderada a gra­
acompanhada por espasmo muscular. Muitas vezes exis­ ve deve ser inicialmente colocado em repouso no leito.
te hematoma difuso que pode ou não ser palpável logo Para as contusões moderadas, usar curativo compressivo
após o trauma. firme aplicado desde os dedos do pé até a virilha. Para as
Um sistema de classificação clínica e prognostica- contusões graves, uma tala com o joelho em extensão e o
mente útil pontua as contusões do quadriceps em graus encaminhamento precoce são mais apropriados. Durante
leve, m oderado e grave. Em uma contusão leve, o pa­ as 48 horas iniciais, a imobilização das contusões mode­
ciente tem sensibilidade dolorosa localizada sobre o qua­ radas a graves é importante, sendo a massagem e as ativi­
driceps, sem alteração da marcha e movimento do joelho dades vigorosas fortemente desestimuladas. Para evitar o
sem dor até pelo menos 90°. Em uma contusão moderada, desenvolvim ento de m iosite ossificante, o p a c ie n te deve
o paciente apresenta edema e massa muscular dolorosa. usar m uletas e não apoiar o p róprio peso.
O movimento do joelho está restrito a menos de 90° e o N a/ase 2, a meta é restaurar o movimento do mús­
culo. Nessa fase, o gelo ou o turbilhão de água fria é con­
tinuado, sendo usado o movimento assistido pela gravi­
dade. Os exercícios ativos de flexão e de extensão, bem
como a carga conforme tolerância, são liberados somente
quando não causarem dor significativa.
Na fa s e 3, a meta é a reabilitação funcional. Ela é ini­
ciada quando houver 120° de movimento indolor no joe­
lho. Se houver o retomo da dor ou a perda de movimento
durante a fase de reabilitação, um retomo à fase anterior é
indicado. Durante a fase de reabilitação funcional, a carga
é aumentada e os exercícios ativos de flexão e extensão
são realizados com o uso de pesos.

Complicações
Em um estudo, a miosite ossificante ocorreu em mais de
70% dos pacientes classificados como portadores de con-
29
Figura 19.7 Contusão do quadriceps. tusões m oderadas ou graves.
430 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

DISTENSÕES E RUPTURAS MUSCULARES Distensão de isquiotibiais

Distensões dos adutores O grupo muscular isquiotibial consiste em três músculos:


bíceps femoral, semitendíneo e semimembranáceo. É co­
Esta lesão é a causa mais comum de dor na virilha de atletas. mum o estiramento desses músculos, particularmente em
corredores. Os pacientes mais propensos têm lesão prévia,
M e c a n is m o d e le sã o '2 3 3
i.

fadiga muscular ou falta de aquecimento adequado/ ’


A distensão muscular dos adutores é em geral causada por Com a lesão, o paciente reclama de dor e muitas vezes se
abdução forte da coxa, sendo comum naqueles que exe­ apresenta no setor de emergência com um espasmo que
cutam movimentos de chute e, em especial, em jogadores restringe o movimento dos isquiotibiais.
de futebol.31
Exam e
Exam e O exame deve incluir a palpação minuciosa de todo o ven­
O paciente se queixa de dor localizada na região da viri­ tre muscular, buscando um defeito que represente uma
lha. Com a ruptura incompleta, a dor acentua com a a b ­ ruptura. As rupturas completas da musculatura isquioti­
dução p a ssiv a da coxa e piora pela adução ativa contra bial são raras e costumam ocorrer com avulsão da tubero-
resistência. A equimose pode estar presente (Fig. 19.8). sidade isquiática.
Se a ruptura completa tiver ocorrido, o examinador verá o
amontoamento do músculo ao longo do aspecto medial da Im a g e n s
coxa, perto da virilha. A RMN é sensível, mas raramente necessária.

Im a g e n s Trata m en to
As radiografias devem sempre ser obtidas nesses pacien­ Todos os pacientes com distensões isquiotibiais moderadas
tes para determinar se ocorreu uma avulsão na origem ou graves devem usar muletas. Pelo fato de a inflamação
do adutor longo, o mais envolvido nesse tipo de lesão. seguir a distensão muscular, os anti-inflamatórios não este-
3?
A RMN confirma a distensão muscular ou ruptura, mas roides são administrados por três a sete dias após a lesão/
não costuma ser necessária. O gelo é o método clínico mais eficiente para limitar a in-
flamação. O gelo deve ser usado por 20 minutos, duas a
T ra ta m en to quatro vezes ao dia. Se o atleta continuar sentindo dor com
O tratamento para a ruptura incompleta inclui gelo, mule­ atividade, as aplicações diárias de gelo devem continuar
tas e repouso por pelo menos três a seis semanas. Quando até que os sintomas se resolvam, dentro de uma a duas se-
o paciente tiver recuperado pelo menos 70% da força e da manas após a lesão. Durante a fase aguda de reabilitação
amplitude de movimento indolor, é permitido o retorno para uma distensão moderada, uma muleta única no lado
aos esportes. Se o examinador suspeitar de ruptura com­ oposto da lesão é aconselhável após uma a duas semanas.
pleta, o encaminhamento é indicado para avaliar a neces­ Na fase subaguda, os sintomas começam a ceder. Os
sidade de reparo cirúrgico. exercícios de resistência e de amplitude de movimento po­
dem ser iniciados. As atividades na piscina ou com bicicle­
ta estacionária facilitam o movimento e o esforço sem dor.
Na fase de remodelação, os isquiotibiais têm 100% da
força. A evidência demonstra que os atletas com lesões dos
isquiotibiais mostram menos flexibilidade isquiotibial que
um grupo-controle. Desse modo, o alongamento é funda­
mental no regime de tratamento e deve ser iniciado cedo. O
retomo à competição é apropriado a partir de três semanas
até seis meses depois da lesão, mas não antes que a força e
a flexibilidade normais tenham sido restauradas. É impor­
tante enfatizar ao paciente que evite o retomo precoce aos
esportes até que a dor tenha cedido. O paciente deve usar a
dor como guia e o retorno gradual às corridas é enfatizado.
As distensões musculares dos isquiotibiais são lesões
complexas e multifatoriais. A reabilitação requer o acom­
panhamento do profissional apropriado.

Ruptura dos músculos da coxa


Figura 19.8 A distensão ou ruptura do músculo adutor é pre­ O reto femoral e o adutor longo, como também são conhe­
nunciada neste paciente pelo grau de equimose presente. cidos os isquiotibiais, podem romper em qualquer lugar,
Emergências Ortopédicas 431

Figura 19.9 Uma ruptura grande no grupo muscular isquiotibial.

desde a sua origem até a sua inserção. O paciente é fre­


Figura 19.10 Miosite ossificante (seta).
quentemente maldiagnosticado como portador de contu­
são, aparecendo vários dias mais tarde com uma massa
definida que corresponde ao músculo amontoado e con­ ou grave. O paciente é quase sempre um atleta jovem
traído (Fig. 19.9). O diagnóstico é difícil de ser feito e en­ que retomou ao uso ativo do quadríceps muito preco­
fatiza a necessidade de acompanhamento apropriado para cemente após uma contusão. Isso pode ocorrer, entre­
todas as distensões e contusões que envolvem os múscu­ tanto, mesmo com o tratamento adequado em contusões
los da coxa. graves do quadríceps. Na maioria dos casos de miosite
ossificante, o envolvimento é limitado ao terço médio da
T ra ta m en to coxa; contudo, em alguns casos, estende-se até o terço
No mínimo seis semanas são necessárias para a cicatriza- proximal.
ção quando ocorre a ruptura parcial envolvendo os múscu­
los da coxa. A atividade é permitida conforme a tolerância Ex a m e
à dor; contudo, nenhuma atividade esportiva ou vigoro­ Depois de uma contusão grave na coxa, o paciente apre­
sa é permitida. A deambulação com muletas e o retorno senta edema que persiste e torna-se cada vez mais do­
gradual às atividades são aconselhados. Os pacientes com loroso e quente. A miosite ossificante é habitualmente
rupturas completas devem ser imobilizados e encami­ diagnosticada de duas a quatro semanas depois da lesão
nhados. O tratamento cirúrgico é indicado para a ruptura na coxa.
muscular total ou quase total dos isquiotibiais. Também
é considerada em casos de avulsão óssea da tuberosidade im a g e n s
isquiática quando o fragmento avulsionado estiver deslo- A radiografia mostra evidência do osso heterotópico den­
32
cado mais de 2 cm. tro de duas a quatro semanas depois de uma lesão (Fig.
19.10). Foram descritas três formas de miosite ossificante:
Hérnia fascial (1) um tipo com uma conexão pediculada ao fêmur ad­
jacente, (2) um tipo periosteal com continuidade entre o
Os músculos da coxa estão recobertos por bainhas fas-
osso heterotópico e o fêmur adjacente e (3) um tipo de
ciais. Essas bainhas, ao longo do aspecto anterior e late­
base ampla com uma porção do osso ectópico projetando-
ral da coxa, tornam-se mais finas, logo anteriormente à 29
-se para dentro do músculo quadríceps.“
banda iliotibial. O paciente pode apresentar-se no setor
de emergência com queixa de pequena massa palpável
Trata m en to
que aparece quando o quadríceps é contraído e desa p a re­
ce quando o m úsculo é relaxado. O tratamento em geral O médico da emergência deve estar ciente das m edidas
não é necessário; entretanto, se os sintomas persistirem, p reven tiva s para evitar o desenvolvimento da miosite os­
é indicado o reparo cirúrgico. sificante. O paciente com contusão do quadríceps deve
ser precavido contra o uso ativo precoce do quadríceps e
da flexão passiva forçada do joelho. Uma vez presente,
Miosite ossificante
a miosite ossificante em geral não é gravemente incapa-
A miosite ossificante é uma condição comum na qual citante e não requer a remoção cirúrgica da massa cal­
ocorre a ossificação extraesquelética dentro de um mús­ cificada. Uma vez que o diagnóstico seja estabelecido,
culo ou um grupo muscular. A condição costuma ser vis­ estão indicados o encaminhamento e o acompanhamento
ta na coxa anterior depois de uma contusão moderada apropriados.
432 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

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Capítulo 20
Joelho
INTRODUÇÃO dominante, grande, e o vasto lateral, menor, podem ser
visualizados e palpados. O medial, maior, puxa a patela
O joelho é uma articulação complexa que sofre feri­ em direção medial durante a extensão, prevenindo a su-
mentos com frequência. O diagnóstico preciso das le­ bluxação ou a luxação lateral. O sartório, o grácil e o se-
sões no joelho requer conhecimento bastante detalhado mitendíneo são palpáveis medialmente ao longo de sua
da anatomia. inserção comum na tíbia, que é chamada de pé anserino.
O joelho é composto de três articulações: as condilia- Lateralmente, o trato iliotibial e o tendão do bíceps femo-
nas medial e lateral e a patelofemoral. O joelho é capaz de ral podem ser palpados (Fig. 20.1A).
uma grande amplitude de movimento, incluindo flexão, A anatomia óssea do joelho também pode ser palpa­
extensão, rotação interna e externa, abdução e adução. da. A patela e o tendão patelar são palpáveis ao longo da
Na extensão completa, nenhum movimento rotatório é superfície anterior do joelho. Medialmente, o platô tibial
permitido, já que as estruturas ligamentares estão tensas. medial e o côndilo femoral medial são notados. O tubér­
Este aperto com a extensão é chamado de mecanismo de culo dos adutores se estende em direção posterior a partir
“aparafusamento”. Além dos 20° de flexão, os ligamentos do côndilo femoral medial e pode ser palpado. A linha
de suporte ficam relaxados e a rotação axial é possível. articular pode ser localizada notando a depressão natu­
Em 90° de flexão, existe uma frouxidão máxima que per­ ral logo medial e lateral ao tendão patelar, com o joelho
mite até 40° de rotação. em flexão. Essas endentações ficam sobre as superfícies
A anatomia superficial que inclui os principais mús­ articulares.
culos que circundam o joelho pode ser facilmente visua­ O tendão patelar se insere na tuberosidade da tíbia an­
lizada e palpada. Com o joelho estendido, o vasto medial terior, que é facilmente palpável. O platô tibial lateral está

Músculo vasto
lateral
Músculo vasto
Músculo vasto mediai
intermédio

Tendão do quadriceps
femoral

Banda iliotibial
Tendões do semitendíneo,
Patela
grácil e
sartório
Bolsa anserina
Tendão patelar

Cabeça da fibula
Tuberosidade da tibia

Figura 20.1 Anatomia do joelho. A . Vista anterior. (Continua)


434 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Músculo vasto medial


Músculo sartório
Tendão do quadriceps Músculo grácil
femoral
Músculo semitendíneo

Semimembranáceo

Tubérculo abdutor
Pate la ----------- (epicôndilo medial do fêmur)

Ligamento colateral
medial

Tendão patelar—

Bolsa anserina — Pé anserino:


Tendões do grácil,
Tuberosidade da tibia semitendineo e
sartório

Figura 20.1 (Continuação ) B . Vista medial. C. Vista posterior. O tendão do semimembranáceo envia extensões ao menisco medial
e ao aspecto posterior da cápsula. (Continua)

localizado logo lateralmente ao tubérculo. Em direção palpável, embora uma lesão nessa estrutura produza de
posterior e lateral ao platô fica a cabeça fibular, palpável forma fidedigna uma sensibilidade dolorosa na linha ar­
logo abaixo ao côndilo femoral lateral. ticular. Os meniscos do joelho migram em direção ante­
O menisco medial é palpável ao longo da linha arti­ rior com a extensão. O menisco medial é menos móvel,
cular medial, conforme o joelho realiza rotação interna, por sua inserção no ligamento colateral medial. Com a
rodado e suavemente estendido. O menisco lateral não é flexão, existe migração posterior de ambos os meniscos,
Emergências Ortopédicas 435

Músculo vasto lateral


Trato iliotibial

Músculo bíceps
femoral

Nervo fibular Patela


comum

Tendão do
poplíteo

Ligamento colateral
lateral

Cabeça da fíbula

Figura 20.1 (Continuação ) D. Vista


D lateral.

secundária à tração (medial) do semimembranáceo e (la­ O estabilizador estático do compartimento lateral é o


teral) do poplíteo. ligam ento colateral lateral (Fig. 20.1D). Esse ligamento
As estruturas de suporte que circundam o joelho po­ em forma de banda se estende desde o epicôndilo femoral
dem ser divididas em dois grupos, estabilizadores está ti­ lateral até a cabeça da fíbula. O ligamento é extracapsular
cos (ligamentos) e dinâm icos (músculos). Os estabiliza­ e não se insere no menisco lateral. Tal ligamento oferece
dores estáticos podem ser adicionalmente divididos nos pouca estabilidade sendo raramente ferido. O ligamento
compartimentos medial, lateral e posterior. colateral lateral pode ser palpado lateralmente com o pa­
O estabilizador estático do compartimento medial ciente sentado com as pernas cruzadas e o joelho em 90°
é o lig a m e n to c o la te ra l m e d ia l (Fig. 20.1B). Essa es­ de flexão.
trutura capsular, tam bém conhecida como ligamento O estabilizador estático do compartimento posterior
colateral tibial, é o estabilizador medial primário contra é a cápsula p o sterio r, que na realidade é uma continua­
o estresse em valgo ou rotatório. Ele se insere no côn- ção do ligamento capsular medial. O ligamento capsular
dilo medial do fêmur e da tíbia. Uma porção profunda posterior fica tenso em extensão e é a primeira linha de
do ligamento tem insersão no menisco medial. O liga­ defesa contra a instabilidade rotatória anteromedial ou an-
mento colateral medial também pode ser dividido em terolateral.
componentes anterior, médio e posterior. O componente Existem dois estabilizadores estáticos não capsulares
posterior se funde com o ligamento poplíteo oblíquo. do joelho: os ligam entos cruzados a n terio r e p o sterio r.
O tendão do semimembranáceo se insere no ligamento Os ligamentos cruzados se estendem desde a área da fos­
poplíteo oblíquo, adicionando estabilidade e mobilida­ sa intercondiliana do fêmur até a eminência intercondilar
de posterior ao ligamento, bem como ao menisco m e­ tibial. Os ligamentos se cruzam um sobre outro, formando
dial, durante a flexão (Fig. 20.1C). um “X” que pode ser percebido durante a inspeção lateral
O ligamento colateral medial é o ligamento do joe­ (Fig. 20.2). Os ligamentos são denominados com base em
lho ferido com mais frequência. Esse ligamento desliza sua inserção tibial.
anteriormente durante a extensão e em direção posterior O cruzado anterior previne o deslocamento anterior
durante a flexão, e somente está tenso em extensão. da tíbia, a mobilidade lateral excessiva em flexão e exten­
A função normal do ligamento é limitar o deslizamento são e controla a rotação tibial. Alguns autores acreditam
anterior da tíbia sobre o fêmur, a rotação e a abdução. que o ligamento previne a hiperextensão e atua como guia
Os colaterais são duas vezes mais efetivos em inibir a rotacional no mecanismo de aparafusamento (extensão).
frouxidão rotacional quando comparados aos ligamentos As lesões do cruzado anterior são raras, isoladas e muitas
cruzados. vezes estão associadas a rupturas do cruzamento colateral
436 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Ligamento cruzado Ligamento cruzado


anterior posterior

Ligamento colateral Ligamento colateral


lateral medial

Menisco lateral Menisco medial

Figura 20.2 As estruturas ligamentares e meniscais do joelho.

medial. O cruzado anterior tem um rico suprimento vas­ a flexão. Uma extensão final do tendão é a inserção no
cular e, com o tratamento apropriado, em geral fica bem côndilo tibial mediai, flexionando e fazendo rotação in­
recuperado após uma lesão. Quando ele se rompe, uma terna no joelho.
hemartrose quase sempre está presente. Na superfície lateral do joelho, existem três estrutu­
O cruzado posterior é considerado o estabiliza­ ras estabilizadoras dinâmicas: o trato iliotibial, o bíceps
dor estático primário do joelho para prevenir a rotação. fe m o ra l e o m úsculo p o p líteo . O trato iliotibial se insere
Se rompido, pode ocorrer uma instabilidade anteroposte­ no côndilo tibial lateral e move-se anteriormente com a
rior e mediolateral verdadeira. As lesões do cruzado pos­ extensão e em direção posterior com a flexão. O tendão do
terior são isoladas e estão associadas a lesões graves no bíceps tem inserção na cabeça da fibula, lateral à inserção
joelho. do ligamento colateral lateral. O bíceps oferece estabilida­
O tendão do quadriceps, um estabilizador dinâmico, é de lateral, bem como auxilia o joelho em flexão e rotação
a combinação dos tendões do vasto medial, do lateral e do externa. O poplíteo é um músculo posterior, inserindo-se
intermédio, junto com o reto femoral. O tendão cerca a pa- com um tendão em forma de Y, chamado de ligamento ar­
tela e continua em direção distai como o tendão patelar, in- queado. Uma porção do ligamento se insere no côndilo fe­
serindo-se na tuberosidade da tíbia. O tendão do quadriceps moral lateral e a outra na cabeça da fibula. Outro membro
é considerado o estabilizador dinâmico primário do joelho. se insere na porção posterior do menisco lateral, fornecen­
O p é-a n serin o , um estabüizador dinâmico, é uma es­ do a mobilidade posterior do menisco durante a flexão.
trutura mediai formada pelos tendões conjuntos do grácil,
do sartório e do semitendíneo. Esse tendão estabihza o
Imagens
joelho contra o movimento excessivo rotatório e em valgo.
O sem im em b ra n á ceo , um estabilizador dinâmico, As radiografias comuns do joelho incluem as incidências
tem três extensões que ajudam a estabilizar o joelho. anteroposterior e lateral (Figs. 20.3A e 20.3B). As inci­
O ligamento poplíteo oblíquo se estende desde o tendão dências oblíquas são obtidas para melhor avaliar o platô
do semimembranáceo até a cápsula posterior (ligamento e as espinhas tibiais (Fig. 20.3C). Outras incidências in­
oblíquo posterior) e aperta a cápsula quando está sob es­ cluem as axiais da patela e do túnel. A incidência axial
tresse. Esse tendão também se insere no corno posterior (ou tangencial) da patela é obtida com o paciente em de­
do menisco mediai, tracionando-o posteriormente durante cúbito dorsal, com os joelhos levemente flexionados e o
Emergências Ortopédicas 437

Figura 20.3 Radiografias normais do joelho. A. AP. B. La­


C teral. C. O blíqua.

feixe projetado para baixo em direção aos pés. É útil para A decisão de obter uma radiografia do joelho é ba­
apreciar a relação entre a patela e os côndilos femorais. seada em muitos fatores. No setor de emergência, no
A incidência do túnel é obtida com o paciente deitado em contexto de trauma agudo (< 7 dias), a detecção de uma
decúbito ventral e com o joelho flexionado em 40°. O fei­ fratura é a razão mais comum. Mais de 1 milhão de pes­
xe é dirigido para baixo, em direção aos pés, a 40° da po­ soas se apresentam anualmente nas emergências, nos
sição vertical. A radiografia demonstra melhor a incisura Estados Unidos com trauma agudo de joelho. Embora
intercondiliana. a incidência de fraturas nessa população fique entre 6 e
438 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Uma série radiológica do joelho somente é


necessária em pacientes com lesão de joelho com
quaisquer desses achados:

1. Idade 55 anos ou mais


2. Sensibilidade dolorosa isolada da patela*
3. Sensibilidade dolorosa na cabeça da fíbula Patela
4. Incapacidade de flexionar até 90°
5. A incapacidade apoiar peso imediatamente e no
setor de emergência (quatro passos**)

‘ Nenhuma sensibilidade dolorosa no joelho, exceto na patela.


“ Incapaz de transferir a carga duas vezes em cada extremi­ ------- Cabeça da fibula
dade inferior, não importando a existência de claudicação.
/ yj ft
/ / I \

Figura 20.4 Regras de Joelho de Ottawa. (M odificada, com permissão, de Stiell IG , W ells G A , Hoag RH, et al. Implementation of
the Ottawa Knee Rule for the use of radiography in acute knee injuries. JAMA 1997;278(23):2075. Copyright 2010 Am erican M edi­
cal Association. Todos os direitos reservados.)

12%, sendo que mais de 90% são submetidos a uma ra­ radiografias de joelho obtidas fica entre 25 e 50%.9,11 As
diografia de joelho.6 8 regras se aplicam a pacientes com mais de 18 anos, mas
Na tentativa de limitar as radiografias desnecessárias foram testadas em crianças acima dos 5 anos, com resulta­
e para continuar diagnosticando as fraturas com relevância dos variáveis. As regras para joelho de Ottawa podem
clínica, as regras para joelho de Ottawa foram desenvol­ ser aplicadas por enfermeiros de triagem e demonstraram
vidas, validadas e testadas (Fig. 20.4).6' Usando cinco redução no tempo de permanência no setor de emergência
critérios, o profissional pode excluir uma fratura clinica­ e economia de verbas.5,7,16' As regras para joelho de Pit­
mente significativa com sensibilidade agrupada de 98,5% tsburgh são similares, mas foram testadas em um número
e especificidade de 48,6%. A redução na quantidade de menor de pacientes.8,19

FRATURAS DO JOELHO

A anatomia óssea do joelho inclui o fêmur distai e a tíbia


proximal. O fêmur distai tem uma porção supracondiliana
e dois côndilos. A porção superior da tíbia proximal é o
platô tibial. A espinha da tíbia é o local de inserção das
estruturas ligamentares (Fig. 20.5). Região
supracondiliana
FRATURAS DO FÊMUR DISTAL
O sistema de classificação divide as fraturas do fêmur
Côndilo
distai em três tipos: (1) extra-articulares (supracondilia-
Espinha tibial
nas), (2) articulares parciais (condilianas) e (3) articulares
completas (bicondilianas) (Fig. 20.6). O prognóstico da Platô tibial
fratura piora progressivamente com cada tipo de fratura.
Um grau maior de cominução dentro destes subtipos de
20
fratura piora o prognóstico.
As fraturas supracondilianas envolvem a área entre os
côndilos femorais e a junção da metáfise com a diáfise do
fêmur. Essas fraturas são extra-articulares e, por conse­
guinte, não estão associadas à distensão da articulação do
joelho. Os tipos restantes das fraturas são intra-articulares.
A musculatura que circunda o fêmur distai é, com Figura 20.5 Vista anterior do joelho. Observar as regiões su­
frequência, responsável pelo deslocamento dos fragmen- pracondiliana e condiliana.
Emergências Ortopédicas 439

Supracondiliana Condiliana Bicondiliana

Figura 20.6 Fraturas do fêmur distai.

tos depois de uma fratura do fêmur distai. O quadríceps fratura da epífise mais fraca em lugar da metáfise. Ou­
se estende ao longo da superfície anterior do fêmur e se tro mecanismo comum envolve a hiperextensão e a torção
insere na tíbia anterossuperior. Depois de uma fratura do joelho.
do fêmur distai, este músculo tende a puxar a tíbia e o
fragmento proximal inserido em uma direção anteros su­ Exame
perior. Os isquiotibiais se inserem na tíbia posterossu- O paciente com fratura do fêmur distai apresenta dor,
perior. Este grupo muscular tende a deslocar a tíbia e o edema e deformidade da extremidade envolvida. Uma
fragmento distai em direção posterossuperior. O gastroc- crepitação palpável ou fragmentos ósseos dentro do es-
nêmio e o sóleo se inserem no fêmur distai posterior e
causam o deslocamento inferior depois de uma fratura.
O efeito combinado típico desses músculos é o desloca­
mento posterossuperior (Fig. 20.7).
É importante recordar a grande proximidade do fêmur
distai com a artéria e a veia poplítea, junto aos nervos ti-
bial e fibular comum.
As fraturas epifisárias femorais distais são lesões in-
comuns, porém graves, que ocorrem em crianças acima
dos 10 anos. Em crianças, 65% do crescimento longitu­
dinal da extremidade inferior ocorrem em tomo do joelho;
principalmente na epífise femoral distai. É comum de­
pois dessas lesões o encurtamento da pema, apesar da ma­
nutenção de uma redução anatômica, isso ocorre em 25%
ryry

das lesões tipo II de Salter. Uma lesão tipo II de Salter é


o tipo mais comum de fratura epifisária femoral distai, e o
prognóstico ruim contrasta com o prognóstico geralmente
favorável associado às lesões tipo I e II de Salter na maio­
ria das outras articulações. ^

Mecanismo de lesão
A maior parte dessas fraturas é secundária ao trauma di­
reto ou tem um componente de força direta. Os mecanis­
mos típicos incluem as colisões automobilísticas de alta
Figura 20.7 O bservar o deslocam ento típico em fraturas da
energia e as quedas. Em pacientes idosos, a força da lesão
região supracondiliana do fêmur distai. Esse deslocam ento é
pode ser muito menor. As fraturas condiliares são secun­ causado pela tração dos m úsculos isquiotibiais e quadríceps
dárias a uma combinação de hiperabdução ou adução em uma direção e pela tração do m úsculo gastrocnêm io so­
com trauma direto. As fraturas epifisárias são em geral bre o fragmento distai, produzindo angulação e deslocam ento
secundárias a um golpe medial ou lateral, resultando em posterior.
440 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

paço poplíteo podem estar presentes. As fraturas su- Tratamento


pracondilianas deslocadas se apresentam com encurta­ O manejo no setor de emergência dessas fraturas inclui a
mento da perna e rotação externa da diáfise do fêmur. É imobüização em tala longa de membro inferior (Apêndi­
essencial que a condição neurovascular da extremidade ce A.17), analgésicos e encaminhamento de emergência.
envolvida seja documentada precocemente na avaliação O tratamento definitivo das fraturas do fêmur distai é a
do paciente. As lesões neurovasculares são incomuns, redução aberta com fixação interna. A fixação cirúrgica
mas podem ser devastadoras caso não corrigidas. O es­ possibibta resultados funcionais melhores, com menor
paço interdigital entre o primeiro e o segundo dedo do incidência de complicações do que as técnicas fechadas
pé é inervado pelo nervo fibular profundo, e deve ser (i.e., a tração esquelética).
examinado. Os pulsos distais devem ser verificados. O O tratamento fechado pode ser empregado com su­
enchimento capilar distai pode persistir, apesar de uma cesso em fraturas supracondüianas não deslocadas ou im­
lesão arterial, em razão de um suprimento colateral pactadas que sejam extra-articulares. Nesses pacientes, o
abundante. Examinar o espaço poplíteo, cuidadosamen­ uso precoce de um imobilizador articulado, com reavaha-
te, em busca de hematoma pulsátil que indique uma le­ ções radiográficas frequentes, pode ser definitivo.
são arterial. Nos dias atuais, a tração esquelética somente é usada
como medida temporária em pacientes que aguardam o
Imagens reparo cirúrgico ou em pacientes com contraindicações ci­
As incidências anteroposterior (AP) e lateral são adequa­ rúrgicas (ou seja, idosos frágeis ou com condições clínicas
das para demonstrar a fratura (Fig. 20.8). Devem ser obti­ associadas). Nesses casos, a tração esquelética por seis a
das radiografias de todo o fêmur e do quadril. As incidên­ oito semanas é seguida de seis a oito semanas adicionais
'v o

cias oblíquas e de comparação podem ser necessárias para com imobibzador gessado.
diagnosticar com precisão uma pequena fratura condilia- Em crianças com fraturas epifisárias, a redução ana­
na. As incidências de comparação devem ser obtidas em tômica é muito importante. As fraturas fisárias associadas
todas as crianças com menos de 10 anos. (tipo II de Salter) podem ser tratadas com o uso criterio­
so de parafusos de fixação interna para manter a redução
A angiografia é indicada quando o exame físico suge­ 29
anatômica.
re lesão vascular.
Complicações
Lesões associadas
As fraturas femorais distais estão associadas a várias com­
As fraturas do fêmur distai podem estar associadas a: plicações significativas.
1. Fratura ou luxação acetabular ou do fêmur proximal 1. Trombose venosa.
ipsilateral
2. A união retardada ou a má união podem ocorrer se a
2. Lesão ligamentar do joelho (20% dos pacientes) redução for incompleta ou não for mantida.
3. Lesão vascular 3. As fraturas intra-articulares podem desenvolver ade­
4. Lesão do nervo fibular rências no quadríceps ou deformidades com angula-
5. Dano ao aparato do quadriceps ção em varo ou valgo.

Figura 20.8 Fratura do fêmur distai - uma fratura extra-articular (supracondiliana).


Emergências Ortopédicas 441

Eminência 20.9). As fraturas condilianas costumam estar associa­


intercondiliana das a algum grau de depressão secundária à transmissão
\ axial do peso do corpo.
Côndilo Côndilo
medial lateral Classificação
As fraturas da tíbia proximal são divididas em cinco cate­
gorias, com base na anatomia.
1. Fraturas do platô tibial
2. Fraturas da espinha
3. Fraturas da tuberosidade
4. Fraturas subcondilianas
Figura 20.9 O platô tibial. 5. Fraturas epifisárias

FRATURAS DO PLATÔ TIBIAL


4. As fraturas intra-articulares podem ser complicadas
pelo desenvolvimento de artrite. Foram desenvolvidos muitos sistemas para classificar es­
5. As fraturas epifisárias femorais são com frequência sas fraturas. Schatzker desenvolveu um sistema que agru­
seguidas de distúrbio do crescimento na extremidade pa as fraturas em seis tipos 31 (Fig. 20.10). Ao exame das
envolvida. fraturas do platô tibial, a depressão indica deslocamento
inferior de mais de 4 mm.
FRATURAS DA TÍBIA PROXIMAL As fraturas tipos I a III são o resultado de trauma de
baixa energia, enquanto as tipos IV a VI geralmente são
As fraturas da tíbia proximal incluem aquelas acima da causados por um trauma de alta energia.
tuberosidade da tíbia. Elas podem ser divididas com base Uma fratura do tipo I é do côndilo lateral. Ela é cha­
no seu envolvimento da superfície articular. As articulares mada de fratura dividida, pois a porção lateral do côndi­
incluem as fraturas condilianas (platô tibial), enquanto as lo sofre cisalhamento para longe do resto do platô. A su­
lesões extra-articulares envolvem a espinha tibial, o tubér­ perfície articular não está deprimida. Essas fraturas são
culo e as regiões subcondilianas. mais comuns em pacientes jovens, com osso esponjoso
forte, resistente à depressão. O deslocamento do frag­
Anatomia essencial mento condiliano lateral sugere lesão meniscal lateral
Os côndilos tibiais medial e lateral formam um pla­ concomitante.
tô que transmite o peso do corpo a partir dos côndilos As do tipo II também são fraturas condilianas late­
femorais até a diáfise da tíbia. A eminência intercondi­ rais, e diferenciadas das do tipo I em razão de a superfí­
liana inclui as espinhas tibiais que formam o local de cie articular estar deprimida medialmente. Essas lesões
inserção dos ligamentos cmzados e dos meniscos (Fig. são às vezes chamadas d e fra tu ra s com d ivisã o e depres-

Tipo I Tipo II Tipo III

Figura 20.10 Classificação das fraturas do platô


Tipo IV Tipo V Tipo VI tibial (condilianas).
442 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

são, pois parte do côndilo lateral está dividida, e a por­ Imagens


ção restante deprimida. As fraturas do tipo II ocorrem em As incidências AP, laterais e oblíquas são adequadas para
pacientes com mais de 30 anos, pois o osso subcondral demonstrar essas fraturas (Fig. 20.11). Nos casos em que
é mais fraco. houver suspeita clínica de fratura, não visualizada nas
As fraturas do tipo III ocorrem quando há depressão radiografias, o paciente deve ser tratado como se tivesse
isolada do côndilo lateral. A depressão costuma ser cen­ uma fratura e outros exames adicionais de imagens devem
tral, mas pode envolver qualquer parte do côndilo. Se a ser obtidos (p. ex., TC).
depressão estiver localizada lateralmente, é mais provável Além disso, a incidência do p la tô tibial é útil para
que resulte em instabilidade articular. avaliar a quantidade de depressão (Fig. 20.12). Do pon­
As fraturas do tipo IV envolvem o côndilo medial. to de vista anatômico, o platô tibial descende de anterior
A força necessária para fraturar o côndilo medial é mui­ para posterior. As incidências AP de rotina não detectam
to maior do que a lateral. Como resultado, essas fraturas essa inclinação e podem mascarar algumas fraturas de
são muito menos comuns que as do côndilo lateral e estão depressão. A incidência do platô tibial compensa essa in­
associadas a uma alta incidência de lesões nos ligamen­ clinação e permite a estimativa mais precisa das fraturas
tos cruzados e na artéria poplítea. Uma fratura do tipo IV com depressão do platô tibial.
pode, também, estar associada a uma fratura da eminência Todas as radiografias do joelho devem ser examina­
intercondiliana. das de forma atenta em busca de fragmentos ósseos avul-
As fraturas do tipo V são bicondilianas e apresen­ sionados da cabeça da fíbula, dos côndilos femorais e da
tam graus variados de depressão e deslocamento articu­ eminência intercondiliana, que indica lesão ligamentar.
lar. O côndilo medial é uma fratura com divisão. A lesão Os espaços articulares alargados, em associação a uma
condiliana lateral mais comum é a fratura com divisão ou fratura do côndilo oposto, podem indicar lesão ligamen­
com depressão. Essas fraturas também estão associadas a tar. As radiografias de estresse (distração) podem ser feitas
lesões similares das fraturas do tipo IV. para diagnosticar lesões ligamentares ou meniscais ocultas.
As fraturas do tipo VI são similares às fraturas do tipo A tomografia computadorizada (TC) ou a ressonân­
V, com a adição de uma ruptura entre a diáfise e a metáfise cia magnética nuclear (RMN), ou ambas, são usadas para
da tíbia. Essas lesões são o resultado de mecanismo de determinar a extensão completa da lesão. No setor de
maior energia e estão associadas à acentuada cominução emergência, a TC é prontamente obtida, sendo solici­
óssea, ao deslocamento e à depressão. tada com frequência pelo ortopedista (Fig. 20.13). Em
um estudo, a adição de uma TC às radiografias simples
Mecanismo de lesão mudou o plano de tratamento em 26% dos pacientes. ; A
As forças que costumam agir sobre o platô tibial incluem RMN é mais valiosa para delinear a extensão das lesões
a compressão axial e a rotação. As fraturas ocorrem quan­ de tecidos moles, comuns após essas fraturas. As lesões
do essas forças excedem a resistência do osso. meniscais ocorrem em 55% dos pacientes, enquanto as
Um mecanismo direto, como uma queda alta, é res­ 16
ligamentares ocorrem em 68%f
ponsável por aproximadamente 20% das fraturas condilia-
nas. Os acidentes com pedestres e automóveis, quando Lesões associadas
o para-choque do carro atinge o paciente acima da tíbia As fraturas dos côndilos tibiais são associadas a diversas
proximal, são responsáveis por cerca de 50% dessas fra­ lesões significativas do joelho.
turas. O restante das fraturas resulta da combinação de
compressão axial e tensão rotacional. As fraturas do platô 1. Lesões ligamentares, meniscais, ou ambas, frequente­
tibial lateral em geral resultam das força de abdução sobre mente acompanham essas fraturas. Com fratura condi­
a pema. As fraturas do platô medial resultam das forças de liana lateral, deve haver suspeita de lesões do ligamen­
adução sobre a pema distai. Se o joelho estiver estendido to colateral medial, do cruzado anterior e do menisco
na hora da lesão, a fratura tende a ser anterior. As fraturas lateral. Com fratura condiliana medial, devem ser sus­
condilianas posteriores são consequência de lesões nas peitadas as lesões do ligamento colateral lateral, dos
quais o joelho estava flexionado na hora do impacto. cruzados e do menisco medial.
2. As lesões vasculares, de apresentação aguda ou tar­
Exame dia, podem ser vistas após essas fraturas, especial­
O paciente apresenta como queixa principal a dor e o mente nas dos tipos IV a VI.
edema, com o joelho levemente flexionado. Muitas vezes 3. Síndrome compartimentai (rara).
existe uma abrasão indicando o ponto de impacto, junto
com derrame e amplitude de movimento reduzida secun­ Tratamento
dária à dor. Pelo fato de essas fraturas nem sempre serem O manejo no setor de emergência das fraturas do platô
visualizadas em radiografias simples, a sensibilidade do­ tibial inclui a imobilização em uma tala longa de membro
lorosa sobre o platô tibial (especialmente com derrame) inferior (Apêndice A.17), gelo, elevação e analgésicos.
deve alertar o profissional para uma possível fratura. O paciente deve ser instruído a usar muletas e não deve
Emergências Ortopédicas 443

D E

Figura 20.11 Fraturas do platô tibial. A. Tipo I, fratura com divisão condiliana lateral. B. Tipo II, fratura do platô tibial com divisão e
depressão. C. Tipo III, compressão do côndilo lateral. D. Tipo IV, fratura do platô medial. E. Tipo V I, fratura bicondiliana com ruptura
diafisária.

apoiar o pé até ser avaliado por um ortopedista. A con­


Feixe de raios X sultoria precoce é fortemente recomendada. Se a cirurgia
estiver indicada, um atraso de 24 a 48 horas não compro­
mete o tratamento.
o O manejo definitivo é dividido em tratamento cirúrgi­
co versus fechado. As metas do manejo definitivo incluem
restaurar a superfície articular, começar precocemente o
movimento do joelho para prevenir a rigidez e retardar a
carga até que a consolidação esteja completa.
A modalidade terapêutica selecionada depende do
tipo de fratura, da estabilidade do joelho, da experiência
do ortopedista, da idade e das comorbidades do paciente.
Qualquer fratura articular que resulte em instabilidade da
articulação do joelho requer fixação cirúrgica. Além dis­
so, quanto mais anatômica for a redução, maior a probabi­
Figura 20.12 Incidência do platô tibial. lidade de que a cartilagem articular se regenere. Por essas
444 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

que o joelho seja examinado após anestesia adequada. A


aspiração da hemartrose, seguida pela injeção de 20 a 30
mL de anestésico local, permite o teste da estabilidade
articular do joelho, embora a anestesia geral seja, às ve­
zes, necessária. A estabilidade é definida como inferior
a 10° de movimento com estresses em varo e valgo em
qualquer ponto do arco de movimento, desde a extensão
completa até 90° de flexão.

Complicações
Após as fraturas do platô tibial, é possível o desenvolvi­
mento de várias complicações significativas tais como:
1. Perda do movimento completo do joelho como conse­
quência da imobilização prolongada.
2. Artrite degenerativa, apesar da terapia ideal.
3. Deformidade angular do joelho nas primeiras sema­
nas, mesmo com as fraturas inicialmente não deslo­
cadas.
4. Instabilidade do joelho ou subluxação persistente se­
cundária ao dano ligamentar.
5. Infecção que pode complicar o curso das fraturas ex­
postas ou aquelas tratadas cirurgicamente.
6. Lesões neurovasculares e síndromes compartimentais.

FRATURAS DA ESPINHATIBIAL
As fraturas isoladas da espinha tibial são lesões inco-
muns, que ocorrem em jovens entre 8 e 14 anos. Essas
fraturas são análogas a uma lesão do ligamento cruza­
do anterior em um paciente esqueleticamente maduro.
A eminência intercondiliana anterior tem 10 vezes mais
probabilidade de ser fraturada do que a eminência inter­
condiliana posterior. A classificação das fraturas é feita
com base no sistema desenvolvido por Meyers e McKe-
ever (Fig. 20.14).38
Tipo I Avulsão incompleta sem deslocamento
Tipo II Avulsões incompletas deslocadas da espinha
tibial
Tipo III Avulsão completa da espinha tibial

B Mecanismos de lesão
As fraturas da espinha tibial resultam de trauma indire­
Figura 20.13 Fratura do platô tibial lateral vista na (A) T C axial
to, como uma força anterior ou posterior dirigida contra
e (B) reconstrução tridimensional.
a tíbia proximal flexionada. Esse mecanismo resulta em
tensão do ligamento cruzado e avulsão da espinha. A hi-
razões, a fixação operatória é muitas vezes a modalidade perextensão ou violenta abdução, adução ou forças rota-
terapêutica de escolha. cionais podem também resultar em fraturas.
As fraturas não deslocadas e estáveis, sem depressão,
são tratadas de forma conservadora, com mobilização Exame
protegida. Entretanto, devido à alta taxa de complicações O paciente apresenta história sugestiva e joelho ede-
com as fraturas até minimamente deslocadas, é impor­ maciado e doloroso. Ao exame, haverá derrame. Após
tante fazer o encaminhamento ortopédico. A estabilidade avulsões incom pletas sem deslocamento, a extensão
é difícil de determinar no setor de emergência, a menos de joelho é próxima do normal, a menos que um der-
Emergências Ortopédicas 445

Tipo I, Tipo II,


Avulsão incompleta Avulsão incompleta Tipo III,
sem deslocamento com deslocamento Avulsão completa

Figura 20.14 Fraturas da espinha tibial.

rame esteja presente. Depois de fraturas deslocadas ou Lesões associadas


completas, há bloqueio à extensão completa. O sinal de As lesões dos bgamentos colaterais e cruzados estão mui­
gaveta positivo está presente na maioria dos pacientes, tas vezes associadas a essas fraturas.
mas o espasmo muscular circundante pode impossibi­
litar uma avaliação precisa. Os bgamentos restantes do Tratamento
joelho devem ser examinados cuidadosamente para ex­ Os objetivos terapêuticos incluem a estabihdade articular
cluir lesões associadas. e a restauração precoce da mobibdade. A consulta ortopé­
dica precoce é recomendada.
Imagens
As radiografias de rotina, incluindo uma incidência do tú­ Tipo I - Avulsão incompleta sem deslocamento. Essas
nel (incidência posteroanterior com joelho flexionado em lesões devem ser imobihzadas em uma tala longa de mem­
40-50°) são adequadas para definir a fratura (Fig. 20.15). bro inferior (Apêndice A.17), seguida de imobilização
A TC ou a RMN - ou ambas - podem ser usadas para com gessado com 5° de flexão por quatro a seis semanas.
determinar a extensão completa da lesão. Quando existir lesão ligamentar associada, o tratamento
fechado não é indicado.

Tipo II - Avulsão incompleta com deslocamento. Essas


fraturas são reduzidas com manipulação fechada sob anes­
tesia geral. Isso é seguido de imobüização com gessado
em 5° de flexão por quatro a seis semanas. Se o tratamento
fechado não for bem-sucedido ou se houver lesões hga-
mentares associadas, o reparo cirúrgico é necessário.

Tipo III - Avulsão completa. A terapia cirúrgica está in-


dicada para estas fraturas. A redução pode ser realizada
por artroscopia ou com uma artrotomia limitada. Depois
da redução, um gessado longo é apbcado em 5° de flexão
por seis a oito semanas.

Complicações
A complicação mais frequente após essa fratura é a dor
persistente e a instabibdade do joelho.

FRATURAS DATUBEROSIDADE
DA TÍBIA
Fraturas incomuns mais vistas em pacientes adolescentes
(Fig. 20.16). A tuberosidade da tíbia é o ponto de inserção
Figura 20.15 Fratura da espinha tibial. do mecanismo do quadríceps, e a redução precisa é essen-
446 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Tipo II, Tipo III,


Tipo I, Avulsão completa, Avulsão completa com
Avulsão incompleta extra-articular extensão intra-articular

Figura 20.16 Fraturas da tuberosidade da tíbia.

ciai para a função apropriada. Estas fraturas podem ser Tratamento


classificadas em três tipos. O manejo de emergência inclui gelo, imobilização (Apên­
Tipo I Avulsão incompleta dice A.17) e consulta ortopédica de emergência. As avul-
Tipo II Avulsão completa sem extensão intra- sões incompletas podem ser tratadas com imobilização
-articular gessada se não estiverem deslocadas. Entretanto, mesmo
Tipo III Avulsão completa com extensão intra- as avulsões incompletas podem se deslocar durante o tra­
-articular tamento e, por conseguinte, o acompanhamento atento é
necessário. As fraturas com avulsão completa exigem o
Mecanismo de lesão reparo cirúrgico.
O mecanismo de lesão é indireto. Com o joelho em fle­
xão e o quadriceps firmemente contraído, uma força de
flexão súbita é aplicada na articulação. O quadriceps fir­
memente contraído resiste a essa força e faz a avulsão da
tuberosidade da tíbia.

Exame
O paciente apresenta dor, que é exacerbada com a tentati­
va de extensão. Os pacientes com fraturas incompletas ou
completas podem reter algum grau de extensão ativa, já
que o retináculo patelar costuma permanecer intacto.

Imagens
As radiografias de rotina são adequadas para demonstrar
a fratura. A incidência lateral demonstra melhor a lesão
(Fig. 20.17). Em pacientes jovens, as incidências de com­
paração podem ser necessárias quando houver suspeita de
lesão com avulsão incompleta.

Lesões associadas
A ruptura do retináculo patelar, incluindo a avulsão do li­ Figura 20.17 Fratura intra-articular da tuberosidade da tíbia
gamento patelar, pode estar associada a essas fraturas. (tipo III).
Emergências Ortopédicas 447

Complicações cavilhamento intramedular bloqueado ou placa bloqueada


A maioria dessas fraturas cura sem complicações. O deslo­ periarticular. As fraturas cominutivas ou aquelas asso­
camento pós-operatório secundário pode ocorrer depois da ciadas a um componente condihano requerem a redução
imobilização inadequada ou por meio de fixação cirúrgica. aberta e a fixação interna.

Complicações
FRATURAS SUBCONDILIANAS DA TÍBIA
As fraturas subcondihanas estão com frequência associa­
Essa fratura envolve a metáfise tibial proximal e é trans­ das a lesões do platô tibial e estão, desse modo, sujeitas a
versa ou oblíqua (Fig. 20.18). A linha de fratura pode complicações similares. Para uma revisão dessas compli­
estender-se até a articulação do joelho. cações, ver a seção sobre fraturas do platô tibial.

Mecanismo de lesão
FRATURAS EPIFISÁRIAS
O mecanismo de fratura envolve estresse rotacional ou an­
gular, acompanhado de compressão vertical. As fraturas epifisárias da tíbia proximal são lesões inco-
muns vistas com menos frequência do que as fraturas do
Exame fêmur distai ou epifisárias da tuberosidade da tíbia.
O paciente apresenta sensibihdade dolorosa e edema so­
bre a área envolvida. A hemartrose indica extensão da li­ Mecanismo de lesão
nha de fratura para dentro da articulação. Essas lesões costumam resultar de uma intensa força em
valgo ou varo no joelho.
Imagens
As incidências de rotina são adequadas para demonstrar Exame
essa fratura. O paciente apresenta dor e deformidade do joelho. Ao exa­
me, a angulação é evidente. Os derrames no joelho não são
Lesões associadas habituais com essa fratura.
As fraturas dos côndilos da tíbia estão com frequência as­
sociadas a essas lesões. Imagens
A maioria dessas lesões corresponde ao tipo II de Sal-
Tratamento ter e requer incidência de comparação para o diagnóstico
O manejo de emergência dessas fraturas inclui gelo, imo­ preciso.
bilização com tala longa de membro inferior (Apêndice
A.17), e consultoria ortopédica. As fraturas transversas Lesões associadas
estáveis, extra-articulares, não deslocadas e não anguladas Raramente associadas a lesões ligamentares ou meniscais.
podem ser tratadas de forma conservadora com gessado
longo por 8 a 12 semanas. O manejo cirúrgico inclui o en- Tratamento
O manejo de emergência inclui gelo, imobilização com
tala longa de membro inferior (Apêndice A.17) e consul­
toria ortopédica precoce para redução. Após a redução, a
maioria dos pacientes é imobilizada com um gessado lon­
go por oito semanas.

Complicações
As anormalidades do crescimento podem seguir-se às fra­
turas epifisárias da tíbia proximal.

FRATURAS DA FÍBULA PROXIMAL


As fraturas fibulares proximais isoladas são relativamente
sem importância, já que a fíbula não sustenta nenhuma
carga. A fratura mais comum é a do colo da fíbula, em­
bora a avulsão e as fraturas cominutivas também possam
ocorrer (Fig. 20.19). Tais fraturas são significativas, já que
em geral estão associadas a outras lesões mais graves do
Figura 20.18 Fraturas da tíbia proximal - fraturas subcondilianas. joelho.
448 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Avulsão Colo da fibula Cominutiva

Figura 20.19 Fraturas da fibula proxim al.

Tratamento
A xiom a: As fraturas da fíbula proximal devem ser conside­
radas indicativas de lesão significativa no joelho , até prova O manejo de emergência inclui gelo, analgésicos, ava­
em contrário. liação minuciosa e exclusão de lesões graves associa­
das. As fraturas isoladas da fíbula são tratadas sintoma-
„ . . . _ ticamente.
Mecanismo de lesão
Dois mecanismos resultam em fraturas da fíbula proxi­ Complicações
mal. Um golpe direto sobre a cabeça da fíbula causa uma As lesões associadas às fraturas proximais da fíbula são
fratura cominutiva. O estresse indireto em varo sobre o responsáveis pela maioria das complicações.
joelho pode resultar em fratura com avulsão da cabeça da
fíbula. A distensão em valgo do joelho pode resultar em
fratura do côndilo tibial lateral associada a uma fratura da
fíbula proximal.

Exame
O paciente apresenta dor e sensibilidade dolorosa sobre
o local da fratura. É essencial que o joelho, a perna distai
e o pé sejam atentamente examinados para excluir lesões
neurovasculares ou ligamentares associadas.

Imagens
As incidências AP e lateral do joelho demonstram essa
fratura (Fig. 20.20).

Lesões associadas
Conforme já mencionado, as fraturas da fíbula proximal
podem estar associadas a fratura do côndilo lateral ou le­
são ligamentar do tornozelo (ver Cap. 22). Várias lesões
neurovasculares ou ligamentares graves também estão en­
volvidas com essas fraturas.
1. O nervo fibular comum pode ser contundido ou la­
cerado. A maioria dos ortopedistas acompanha as le­
sões, fazendo mais tarde o reparo, caso a função não
retome.
2. O ligamento colateral lateral pode estar rompido ou
estirado.
3. Lesão da artéria tibial anterior com trombose (rara). Figura 20.20 Fratura com avulsão da fíbula proximal.
Emergências Ortopédicas 449

Transversa Osteocondral

Figura 20.21 Fraturas da patela.

FRATURAS DA PATELA ruptura do mecanismo extensor distai permite que a patela


“suba” para a posição alta. A RMN é útil para delinear a
As fraturas da patela representam 1% das lesões esquelé­ extensão completa das lesões ósseas e dos tecidos moles.
ticas do corpo. Essas fraturas são mais comuns em pacien-
tes entre 20 e 50 anos/ As fraturas patelares são classi­ Lesões associadas
ficadas em quatro tipos (Fig. 20.21). A fratura transversa
As fraturas diretas da patela podem estar associadas a ou­
é a mais comum e representa mais da metade de todos os
tras fraturas e lesões ligamentares do joelho, como tam­
casos. As transversas ocorrem no meio da patela ou no
bém a condromalacia traumática.
polo proximal ou distai. As cominutivas (estreladas) são o
segundo tipo mais comum, ocorrendo em cerca de um ter­
ço dos casos. As verticais representam 10 a 20% do total
de ocorrências. As fraturas osteocondrais da superfície
patelar inferior também podem ocorrer.

Mecanismo de lesão
Dois mecanismos resultam em fraturas da patela. Um gol­
pe direto pode resultar em fraturas transversas, cominu­
tivas, verticais ou osteocondrais. A tração secundária do
quadríceps pode causar deslocamento dos fragmentos.
As lesões diretas são o mecanismo mais comum e ocor­
rem a partir de queda ou colisão de veículo automotor.
O mecanismo é indireto quando uma contração intensa do
quadríceps cria uma força que excede a resistência da pa­
tela e resulta em fratura de avulsão. Essa lesão pode ocor­
rer após uma quase queda e tem mais probabilidade de
resultar em fratura transversa deslocada.

Exame
O paciente apresenta sensibilidade dolorosa e edema no
joelho. A superfície inferior da patela deve ser palpada
caso exista a suspeita de fratura osteocondral. A extensão
ativa do joelho deve ser examinada. Se a extensão esti­
ver ausente, o mecanismo do quadríceps está rompido.
Um defeito palpável ao longo do polo inferior da patela
indica a ruptura do mecanismo extensor distai.

Imagens
As incidências AP, lateral e axial (incidência tangencial do
joelho flexionado) são adequadas para definir essas fraturas
(Figs. 20.22 e 20.23). Uma patela bipartida pode, às vezes,
ser difícil de diferenciar de uma fratura. Uma patela bipar­
tida tem superfície lisa e está na posição superolateral. As
incidências de comparação são úteis para distinguir as duas
entidades. As fraturas osteocondrais não costumam ser de­
tectadas em radiografias simples, embora um pequeno de­
feito na superfície inferior da patela possa ser observado. A Figura 20.22 Fratura cominutiva da patela.
450 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

joelho deve estar em completa extensão. Um imobilizador


articulado de joelho, bloqueado em extensão completa,
pode ser usado para permitir o movimento controlado pre­
coce. As fraturas verticais (não importando o deslocamen­
to) e as não deslocadas dos polos podem ser tratadas com
exercícios controlados de amplitude de movimento e entre
30
as atividades alternadas por três a seis semanas.
O manejo cirúrgico está indicado para as fraturas
transversas e cominutivas da patela se o deslocamen­
to for maior ou igual a 3 mm, se a superfície articular
apresentar ruptura superior a 2 mm, ou se o mecanismo
extensor estiver funcionalmente ausente. Dependendo do
tipo de fratura e da situação clínica, o tratamento pode ser
realizado com banda de tensão, cerclagem ou parafusos.
As fraturas osteocondrais requerem o reparo ou a remo­
ção dos corpos livres.
As fraturas gravemente cominutivas são tratadas com
patelectomia, pois estão associadas a uma incidência alta
de artrite degenerativa. A patelectomia parcial nas fraturas
cominutivas da patela tem produzido resultados satisfató­
Figura 20.23 Fratura transversa deslocada da patela.
rios, se pelo menos três quintos da patela puderem ser pre-
43
servados. A excisão total da patela é às vezes inevitável.
Tratamento
O manejo de emergência dessas fraturas inclui a aspiração Complicações
de hemartrose tensa, quando presente, e a imobilização As fraturas da patela podem ter como consequência o de­
em extensão completa. A imobilização pode ser realizada senvolvimento de várias complicações significativas, tais
com tala posterior longa (Apêndice A.17) ou imobiliza- como:
dor de joelho (Apêndice A.16). O paciente deve, então,
ser encaminhado para acompanhamento, sendo indicado 1. Artrite degenerativa é comum, especialmente depois
exercícios do quadríceps dentro dos primeiros dias. de fraturas osteocondrais ou cominutivas.
O manejo conservador é apropriado para as fraturas 2. Deslocamento pós-operatório dos fragmentos, causa­
transversas, cominutivas e verticais da patela quando o dos por fixação ou imobilização inadequadas.
deslocamento for menor ou igual a 2 mm, a superfície ar­ 3. Diminuição do suprimento sanguíneo da patela que
ticular estiver intacta e o mecanismo extensor estiver fun­ entra pelos vasos polares centrais e distais. As fratu­
cional. A terapia conservadora consiste em um gessado ras transversas ou polares podem interromper o supri­
cilíndrico longo, estendendo-se da virilha até os maléolos. mento sanguíneo, resultando no desenvolvimento de
O gessado deve ser bem moldado em torno da patela, e o necrose avascular.

LESÃO DE TECIDOS MOLES E LUXAÇÃO DO JOELHO


TENDINOPATIA PATELAR que um terço dos atletas é incapaz de retomar aos espor­
(JOELHO DO SALTADOR) tes dentro de seis meses. Metade dos pacientes desistem
de seu esporte devido à condição em 15 anos/ Colosi-
A rápida e repetitiva sequência de aceleração, desacelera­ mo e Bassett classificam o joelho do saltador em quatro
ção, salto e aterrissagem resultam em microrrupturas da estágios.
matriz do tendão extensor em três localizações distintas:
(1) tendão do quadríceps ao se inserir na patela, (2) tendão Estágio I Dor depois da atividade
patelar no aspecto inferior da patela e (3) tendão patelar ao Estágio II Dor no início da atividade, desaparecendo
se inserir na tuberosidade da tíbia. depois do aquecimento e reaparecendo após
A localização mais comum da lesão é no tendão pate­ o término da atividade
lar, na inserção inferior da patela, denominada de “joelho Estágio III A dor permanece durante a atividade e
do saltador” ou tendinopatia patelar. Foi demonstrado impede a participação em esportes
que dois terços dos pacientes têm alterações estruturais Estágio IV Ruptura do tendão
no tendão. Essa condição pode ser incapacitante, sendo
Emergências Ortopédicas 451

Exame tura, já que permite ao atleta continuar sobrecarregando o


Durante o exame, o joelho deve ser mantido em extensão tendão enfraquecido.
completa. Se o tendão do quadríceps estiver envolvido, a
sensibilidade dolorosa estará presente acima da inserção RUPTURA DO MECANISMO EXTENSOR
do tendão do quadríceps ou no polo superior da patela.
Os pacientes com tendinopatia patelar relatam sensibili­ O mecanismo extensor do joelho pode ser rompido em
dade dolorosa no polo inferior da patela e na porção pro- quatro localizações: (1) tendão do quadríceps, (2) patela,
ximal desse tendão. (3) tendão patelar e (4) tuberosidade da tíbia (Fig. 20.24).
As fraturas da patela e da tuberosidade da tíbia são abor­
Imagens dadas na seção sobre fraturas. Para essa discussão, será
focada a ruptura do quadríceps e do tendão patelar.
As radiografias simples são normais. Algumas vezes, a pate­
O examinador inicial deixa passar o diagnóstico desse
la terá uma ponta alongada ou fragmentada. A ultrassonogra-
tipo de lesão em 38% dos pacientes. Esse fato é impor­
fia revela um tendão aumentado e hipoecoico, sendo útil para
tante porque, quando o tratamento é retardado, os resul­
confirmar o diagnóstico. A RMN também é diagnóstica. tados funcionais são ruins. O quadro clínico de ruptura
do mecanismo extensor inclui história de bloqueio súbito
Tratamento
do joelho, com dor extrema. Após a lesão aguda, a dor é
O tratamento do joelho do saltador inclui evitar a ativida­ reduzida.
de incitante e o repouso da extremidade afetada. A exten­ A ruptura do tendão do quadríceps é frequentemen­
são do tratamento depende do estágio. Os estágios I e II te vista em pacientes com mais de 40 anos. O local mais
são tratados com aquecimento adequado e compressas de comum de ruptura é proximal à inserção patelar, em uma
gelo ou massagem com gelo após a atividade. Os medica­ área de tendão degenerado. As rupturas do tendão patelar
mentos anti-inflamatórios são administrados por 10 a 14 são menos comuns do que as rupturas do tendão do qua­
dias, seguidos de fisioterapia. O treinamento excêntrico dríceps e são vistas em indivíduos com menos de 40 anos.
e a terapia com ondas de choque têm demonstrado bons A maioria das rupturas do tendão patelar ocorre no local
resultados e devem ser usados antes da intervenção ci­ de inserção da patela. Acredita-se que as injeções de es­
rúrgica. O suporte elástico do joelho é recomendado. teroides predisponham à ruptura. Outros fatores que pre­
Os pacientes com doença no estágio III devem ser subme­ dispõem à ruptura do tendão incluem as calcificações do
tidos a um período prolongado de repouso, além do uso de tendão, a artrite, os distúrbios do colágeno, a degeneração
gelo e medicamentos anti-inflamatórios. Se esses recursos gordurosa do tendão e os distúrbios metabólicos.
mostrarem-se ineficientes, o paciente deve considerar a
desistência do esporte, ou ser submetido à cirurgia para Mecanismo de lesão
excisar o tecido anormal. A cirurgia é necessária para pa­ A lesão pode ser direta ou indireta. O mecanismo direto
cientes com doença em estágio IV (ruptura). O tratamento é menos comum, sendo resultado de um impacto violen­
artroscópico dessa condição naqueles que não respondem to contra um tendão do quadríceps tenso. O mecanismo
à terapia conservadora produz bons resultados. indireto, mais comum, resulta da flexão forçada quando
A injeção com esteroides é motivo de controvérsia. o quadríceps estiver contraído. O mecanismo é visto em
Alguns profissionais apoiam o seu uso, enquanto outros pacientes que tropeçam enquanto descem escadas ou
• r- 5 7 ,5 8
entendem que pode levar a dano adicional e eventual rup­ meio-fio.

Figura 20.24 A. Ruptura do tendão do quadríceps. B. Fratura da patela. C. Ruptura do tendão patelar. D. Avulsão da tuberosidade tibial.
452 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Exame
Ao exame, a posição da patela deve ser avaliada. O seu
deslocamento inferior com equimose e edema proximal
indica ruptura do quadriceps. O deslocamento superior
da patela, com sensibilidade dolorosa do polo inferior e
edema indica a ruptura do tendão patelar (Fig. 20.25).
Em ambos os casos, o paciente pode ter a extensão “ati­
va” intacta, mas será muito fraca ao ser comparada com
a extremidade ilesa (Vídeo 20.1). A ruptura do tendão do
quadriceps resulta em uma lacuna suprapatelar logo su­
perior à patela, com edema nos tecidos (Fig. 20.26A).
O achado mais significativo ao exame clínico com rup­
tura do mecanismo extensor é que o paciente tem perda
da extensão ativa do joelho ou incapacidade de manter
o joelho passivamente estendido contra a gravidade.
Com as rupturas parciais, o paciente pode ter a extensão
ativa, como antes indicado; contudo, estará ela percepti-
velmente enfraquecida. Figura 2o.25 Ao exame, nota-se que a patela está ausente na
região anterior do joelho e pode ser palpada superiormente.

Figura 20.26 Ruptura do tendão do quadriceps. A. O sinal da


lacuna suprapatelar refere-se à depressão superior palpável na
patela. B. Um a fratura com avulsão do polo superior da patela
sugere ruptura do tendão do quadriceps (seta). C. Patela baixa
refere-se à patela inferiormente posicionada na radiografia la­
teral.
Emergências Ortopédicas 453

Figura 20.27 Ruptura do tendão patelar. Na incidência AP, o aspecto inferior da patela está mais de 2 cm acim a de uma linha tra­
çada entre os côndilos femorais distais. De modo similar, na incidência lateral com 90° de flexão, a patela está acim a de uma linha
traçada ao longo da diáfise do fêmur anterior.

Imagens tendão patelar ou do quadriceps requer encaminhamen­


As radiografias AP e lateral do joelho são altamente diag­ to precoce para a colocação de um gessado cilíndrico,
nósticas desse tipo de lesão. Na radiografia AP normal do com o joelho em extensão por seis semanas. Uma rup­
joelho, o aspecto inferior da patela deve ficar dentro de 2 tura completa do tendão do quadriceps ou patelar é mais
cm dos côndilos femorais distais. Na incidência lateral em adequadamente tratada com reparo cirúrgico precoce.
90° de flexão, a patela deve permanecer inferior a uma li­
nha traçada ao longo do aspecto anterior da diáfise do fê­
mur. O deslocamento patelar inferior (patela baixa) ou um
fragmento de avulsão do polo superior sugere a ruptura do
tendão do quadriceps (Figs. 20.26B e 20.26C). O deslo­
camento superior (patela alta) é diagnóstico de ruptura do
tendão patelar (Fig. 20.27). Um fragmento de avulsão óssea
inferior pode estar presente (Fig. 20.28). As incidências de
comparação podem ser úteis para diagnosticar deslocamen­
tos patelares sutis. Pelo fato de o tratamento ser alterado na
dependência de a lesão ser parcial ou completa, a RMN ou
a ultrassonografia são usadas para distinguir entre os casos
que permanecem obscuros após a avaliação inicial.

Tratamento
O tratamento inicial das lesões parciais e completas do
tendão de quadriceps e patelar é o mesmo. Gelo e cura­
tivo compressivo são aplicados para reduzir o edema. O
joelho é mantido em extensão com um imobilizador de
joelho (Apêndice A.16). Em lesões completas ou graves,
o paciente não deve suportar carga, inicialmente. Figura 2 0 .2 8 Ruptura do tendão patelar. A patela alta é vista
O tratamento definitivo dessas lesões é diferente para na radiografia lateral. Um fragmento de avulsão inferior do cor­
a lesão parcial e para a completa. Uma ruptura parcial de po está presente (seta).
454 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Idealmente, a cirurgia é feita dentro de até duas semanas Epicôndilo femoral


da lesão. Quando feita depois de seis semanas, os resul­ lateral
tados são piores.

DISTENSÃO MUSCULAR E TENDINITE


O grácil, o sartório e o semitendíneo se inserem na tíbia
mediai via pé anserino. Os pacientes com tendinite do
pé anserino apresentam dor e sensibilidade dolorosa de 5
a 6 cm abaixo da linha articular mediai. Outros sintomas
incluem dor ao levantar da posição sentada, dor notur­ A B
na e “falseio” do joelho. É mais comum em corredores.
A ultrassonograha mostra um aumento no tamanho do ten­ Figura 2 0 .2 9 A . A banda iliotibial fica anterior ao epicôndilo
femoral lateral quando o joelho está em extensão e passa pos­
dão, com ecogenicidade heterogênea. A diferenciação des­
terior a ele durante a flexão. B. A ida de um lado para o outro
ta condição da bursite anserina é chnicamente difícil, mas as
sobre esta proem inência óssea é a causa de um com plexo de
condições são tratadas da mesma maneira. A tendinite é me­ sintomas chamado de síndrome da banda iliotibial.
nos comum e a resposta ao tratamento é menos acentuada.
O semimembranáceo tem inserção tanto medialmente
como posteriormente ao longo do joelho. A tendinite do O teste de com pressão de N o b el reproduz a dor. Para exe­
semimembranáceo causa dor no aspecto posteromedial do cutar esse teste, a perna do paciente em decúbito dorsal é
joelho, imediatamente abaixo da linha articular. A dor elevada da mesa de exames. O examinador segura o tor­
aumenta depois da atividade. Essa lesão é muitas vezes nozelo com uma das mãos, enquanto o polegar da outra
confundida com uma lesão do menisco mediai. mão comprime o epicôndilo lateral do fêmur. A flexão e a
O tendão do bíceps se insere na cabeça fibular e no li­ extensão ativas reproduzem a dor.
gamento colateral lateral. A contração súbita contra a resis­ O tratamento recomendado inclui a redução nas ati­
tência, como na corrida ou no salto, pode distender ou rom­ vidades, evitando trajetos de achve. Uma calcanheira com
per o tendão e o músculo. A dor e a sensibihdade dolorosa acunhamento lateral, gelo, medicamentos anti-inflamató-
estão presentes sobre a porção posterolateral do joelho. rios, alongamento da banda ihotibial e injeções locais de es-
O tratamento dessas lesões requer repouso para per­ teroides também são úteis.39,11 A cirurgia está indicada nos
68
mitir a cicatrização e prevenir lesões adicionais. As dis­ casos refratários. Isso inclui a divisão dos 2 cm posteriores
tensões moderadas consistem em rupturas parciais das da banda ihotibial transversalmente na área do côndilo late­
fibras, com dor e sangramento. Essas lesões requerem três ral, de forma que essa porção da banda não fique tensa.
a quatro semanas de repouso e tratamento com analgé­
sicos e gelo. O calor é aplicado por 48 horas depois de SÍNDROME DA FABELA
uma lesão aguda. As rupturas completas são raras, mais
adequadamente tratadas por meio cirúrgico. A fabela é um osso sesamoide embutido no tendão do
músculo gastrocnêmio, articulado com a porção posterior
do côndilo femoral lateral (Fig. 20.30). Ela serve como o
SÍNDROME DA BANDA ILIOTIBIAL
local de inserção para as fibras do complexo poplíteo, do
A banda ihotibial tem origem na fáscia dos músculos glú­ arqueado e do hgamento fíbulo-fabelar. A fabela está pre­
teos e no tensor da fáscia lata. Passa ao longo da porção sente em 11 a 13% dos joelhos normais, sendo bilateral
lateral da coxa e insere-se em um tubérculo no côndilo em 50% dos pacientes.
tibial lateral. Com o joelho em extensão, a banda ihoti­ A síndrome ocorre quando a fabela sofre um proces­
bial fica anterior ao epicôndilo femoral lateral. Durante a so degenerativo ou inflamatório, secundário à irritação. A
flexão, a banda deshza posteriormente sobre o epicôndilo ocorrência é mais comum na adolescência, mas também
(Fig. 20.29). A flexão e extensão repetitivas, como as que ocorre em adultos. O quadro clínico inclui a d o r p o s te ­
ocorrem com a corrida ou o cichsmo, resultam em irrita­ rolateral interm itente no jo elh o , exacerbada p e la exten ­
ção das banda ihotibial e da sua bolsa, quando ela deshza sã o .1 A sensibihdade dolorosa à palpação está locahzada
1 ■ a 1*1 67,68
sobre o epicôndilo. sobre a fabela e é exacerbada com a compressão contra a
O paciente apresenta dor na área lateral do joelho superfície condiliana.
durante a atividade, que pode irradiar proximal ou dis- As radiografias não revelam evidências de fabela se
talmente. Subir escadas ou um aclive exacerba a dor. Ao ela não tiver ossificado. O diagnóstico diferencial inclui
exame, haverá uma área focal de sensibihdade dolorosa lesão do como posterior do menisco lateral, tendinite da
sobre o epicôndilo femoral lateral, cerca de 3 cm proximal cabeça lateral do gastrocnêmio, do bíceps femoral ou do
à articulação. A amphtude de movimento completa é típi­ poplíteo. O tratamento recomendado inclui repouso, anal­
ca, e a dor acentua com a carga sobre o joelho flexionado. gésicos, injeção local de anestésico e esteroides e encami-
Emergências Ortopédicas 455

entre uma a duas semanas depois de uma lesão traumática


direta, como uma queda sobre o joelho. O trauma repeti­
do direto também pode causar essa condição, e também é
chamada de “joelho da doméstica”.
A apresentação clínica é de dor com eritema, edema
e calor da pele sobrejacente à bolsa (Fig. 20.33A). Com
a palpação, o examinador pode identificar o saco bursal
superficial. ‘ A crepitação das paredes da bolsa é percep­
tível. O movimento do joelho é indolor até o ponto de ten­
são da pele, quando a dor é notada. O trauma repetitivo
resulta em sintomas menos acentuados e parede da bursa
espessada palpável.
Tal como ocorre na bursite do olécrano, no cotovelo,
muitos casos de bursite pré-patelar são infecciosos. Se a
infecção for uma possibilidade, a aspiração do fluido para
exames diagnósticos e os antibióticos são indicados, con­
forme já citado para a bursite do olécrano, no Capítulo
14. A contagem de leucócitos é maior que 5.000/mm3.
O fingimento com Gram é positivo em mais da metade
dos casos. O tratamento da bursite pré-patelar não infec­
ciosa é abordado no final dessa seção.

Bursite infrapatelar. A bolsa infrapatelar superficial está


Figura 20.30 A fabela é um osso sesamoide embutido no ten­ localizada logo abaixo da pele, superficial à tuberosidade da
dão do músculo gastrocnêmio (seta).
tíbia. A bursite infrapatelar superficial também é chamada
de “jo elh o da religiosa ” por causa da sua associação com
nhamento para a ressecção cirúrgica, que pode ser neces­ o ato de ajoelhar em uma posição mais ereta, o que causa
sária quando a dor persistir por mais de seis meses. a bursite pré-patelar. Quando inflamada, há edema e sen­
sibilidade dolorosa inferior à patela e sobre a tuberosidade
da tíbia (Fig. 20.33B). Em adolescentes, pode ser difícil de
BURSITE
diferenciar essa condição da doença de Osgood-Schlatter.
A função normal de uma bolsa é permitir o movimento A bolsa infrapatelar profunda está localizada abaixo
entre duas estruturas sem fricção. Em razão do número do tendão patelar, separando-o do coxim de gordura e da
de músculos e ligamentos que entram em contato com as tíbia subjacentes. O quadro clínico inclui a extensão e a
estruturas ósseas, o joelho tem muitas bolsas, várias das flexão passivas sem dor. A dor é produzida com a flexão e
quais podem se tomar feridas ou inflamadas (Fig. 20.31). a extensão completas e ativas e com a palpação das mar­
Várias bolsas do joelho se comunicam com o espa­ gens do tendão patelar. Pode ser difícil de diferenciar a
ço articular. As bolsas suprapatelar e poplítea sempre se síndrome do coxim de gordura desse distúrbio, embora a
comunicam com a articulação, enquanto a bolsa do semi- extensão passiva completa seja dolorosa com a síndrome
membranáceo somente algumas vezes. Essa comunicação do coxim de gordura.
é importante para a compreensão dos cistos de Baker, bem
como para avahar o envolvimento intra-articular de cor­ B ursite anserina. A bolsa anserina fica sob o tendão do
pos estranhos ou lacerações (Fig. 20.32). A bolsa supra­ pé anserino. É um tendão conjunto composto dos múscu­
patelar se estende por aproximadamente 6 cm acima da los sartório, grácil e semitendíneo. Essa condição é mais
patela, e uma laceração nessa localização envolvendo a comum em mulheres de meia-idade e em pacientes obe­
bolsa pode resultar em artrite séptica. sos. Os sintomas incluem a dor no joelho, frequentemente
O trauma agudo ou os estresses ocupacionais crôni­ noturna, em especial ao subir degraus ou levantar de uma
cos causam bursite em tomo do joelho. Outras etiologias posição sentada. A rigidez matinal pode durar até uma
menos comuns incluem a infecção ou os distúrbios meta­ hora. Os achados no exame físico incluem a acentuada
bólicos como a gota ou a artrite crônica. As bolsas clini­ sensibilidade dolorosa sobre o pé anserino, que fica 5 a
camente importantes e as suas condições relacionadas são 6 cm abaixo da linha articular medial. Com frequência,
abordadas mais adiante. O tratamento da bursite ao redor há presença de osteoartrite coexistente. A ultrassonografia
do joelho é similar, sendo discutido no final desta seção. pode mostrar uma bolsa anserina aumentada.

B ursite pré-pate/ar. Essa bolsa está localizada superfi­ C isto d e Baker. Visto na fossa poplítea atrás do joelho,
cial à patela e na maioria das vezes torna-se inflamada o cisto de Baker é uma saculação benigna da bolsa do se-
456 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Bolsa
suprapatelar

Bolsa
pré-patelar
Bolsa do
gastrocnêmio

Bolsa
infrapatelar
profunda
Bolsa do
Bolsa semimembranáceo
infrapatelar
superficial Bolsa anserina

Figura 20.31 As bolsas do joelho.

mimembranáceo (Fig. 20.34). A incidência dos cistos de A bolsa poplítea fica proxi-
B u rsite la tera l d o jo e lh o .
Baker é mais alta em pacientes com artrite reumatoide ou mal à linha articular, entre o ligamento colateral lateral
osteoartrite. Um cisto de Baker se torna aumentado quan­ e o tendão poplíteo. O paciente com bursite poplítea se
do a sinovite, a artrite ou qualquer desarranjo interno do apresenta com sensibilidade dolorosa na linha articular e
joelho resultar em fluxo excessivo de fluido sinovial nessa com edema lateral.
bolsa. Naquele ponto, a bolsa se expande posteriormente A cabeça da fíbula é cercada por uma grande bolsa
para dentro da fossa poplítea. bicipital sob o tendão do bíceps femoral, outra sob o
O quadro clínico inclui uma história de edema inter­ ligamento colateral lateral, e outra sob a cabeça lateral
mitente atrás do joelho. Ao exame, um saco cheio de flui­ da origem do gastrocnêmio. A inflamação dessas bolsas
do, tenso, e às vezes doloroso, é palpado dentro da fossa cria um quadro clínico que inclui dor e sensibilidade
poplítea. Uma mudança na pressão em um cisto de Baker dolorosa em torno da cabeça da fíbula, do ligamento co­
com a extensão e flexão do joelho (sinal de Foucher) su­ lateral lateral, ou da inserção do bíceps. Pode, às vezes,
gere o diagnóstico. As queixas adicionais incluem a dor ser difícil diferenciar a bursite das lesões do ligamen­
crônica ou um falseio do joelho. Um cisto de Baker nunca to colateral lateral, do tendão bicipital ou do menisco
deve ser aspirado ou injetado. lateral.
A ruptura de um cisto de Baker se apresenta com
edema difuso na perna, quando o fluido sinovial disse­ Tratamento da bursite
ca inferiormente. Esta entidade pode ser clinicamente O tratamento da bursite aguda traumática ou crônica ocu-
indiferenciada de trombose venosa profunda. Os cistos pacional inclui calor local, repouso e agentes anti-infla-
não rompidos devem ser diferenciados dos aneurismas matórios com proteção da irritação recorrente. Os pacien­
da artéria poplítea, neoplasias e hérnias sinoviais verda­ tes com bursite pré-patelar e anserina respondem bem à
deiras. O diagnóstico pode ser confirmado por ultrasso- injeção de uma mistura de triancinolona e bupivacaína,
nografia, TC ou RMN. seguida por curativo compressivo. O tratamento com ul-
Emergências Ortopédicas 457

Figura 20.34 Um cisto de Baker (extensão da bolsa do semi-


membranáceo).

é recomendado para os exames diagnósticos e possível fe­


Figura 20.32 Esse paciente teve uma laceração no joelho an­
chamento do defeito sinovial.
terior, logo acim a da patela. Ele declarou que sentiu uma cre­
pitação ao dobrar o joelho. As radiografias demonstraram ar
dentro da bolsa suprapatelar e no espaço articular. NEURALGIA PRÉ-PATELARTRAUMÁTICA
Síndrome bem-reconhecida, mas raramente diagnostica­
trassom provoca uma melhoria acentuada em pacientes da, que se segue a um golpe direto na frente do joelho.
com bursite anserina. O paciente relata como queixa principal da dor profunda,
Em alguns estudos, a injeção de esteroides reduziu persistente e incômoda na patela, tomando difícil dobrar
o tamanho do cisto e proporcionou mais conforto; entre- o joelho ou subir degraus. Os pacientes frequentemente
tanto, isto não é recomendado pelos autores. Aqueles relatam dor atrás do joelho em um ou em ambos os lados.
casos resistentes ao tratamento podem requerer a excisão O distúrbio ocorre pela contusão do feixe neurovascular
cirúrgica da bolsa. O tratamento de um cisto de Baker pré-patelar superficial. O trauma repetido pode causar fi­
deve ser dirigido à etiologia, e o encaminhamento precoce brose secundária do feixe neurovascular.

Figura 20.33 A . Bursite pré-patelar infectada. B. Bursite infrapatelar não infectada.


458 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Ao exame, o paciente relata sensibilidade dolorosa Pelo fato de a força de lesão ser mais comumente a
fo c a l sobre o meio da borda lateral da patela, sem des­ combinação de estresses, é difícil prever o padrão de le­
conforto sobre as demais áreas. A maioria dos pacien­ são ligamentar a partir do mecanismo de lesão isolado.
tes responde a uma mistura injetável de esteroides com A seguinte discussão deve servir como guia geral para os
lidocaína. Porém, a dor retorna após algumas semanas. tipos de lesões que são com frequência o resultado de um
78
Os casos refratários requerem a neurectomia pré-patelar. mecanismo qualquer. É uma área controversa e as tabe­
las seguintes incluem o que nós acreditamos que sejam as
SÍNDROME DO COXIM DE GORDURA teorias predominantes.
O mecanismo mais comum de lesão que resulta em
Esta síndrome também é conhecida como doença de Hoffa, dano ligamentar é o estresse em valgo, com um compo­
síndrome do coxim de gordura infrapatelar e lipomatose nente rotatório externo no joelho flexionado. É uma le­
sinovial.* O coxim de gordura, localizado sob o tendão são comum no futebol ou no esqui, nos quais o paciente
patelar, toma-se hipertrofiado e inflamado em atletas em se queixa de ter sofrido uma parada brusca ou quando a
razão de trauma repetitivo no joelho. O resultado é a dor ponta de um esqui trancou na neve. O ligamento colateral
em extensão forçada, falseios e desconforto no joelho an­ medial (LCM) é a primeira estrutura ferida, tomando esse
terior após sentar por períodos prolongados. o ligamento com maior índice de lesões. Com o aumento
Ao exame, a sensibilidade dolorosa puntiforme é rela­ da força, o ligamento cmzado anterior (LCA) rompe, se­
tada sobre a linha articular anteromedial ou anterolateral. guido pelo menisco medial e/ou pelo ligamento cmzado
O joelho parece doloroso, edemaciado e o coxim de gor­ posterior. A lesão do LCM, do LCA e do menisco medial
dura protmi em um lado ou outro do tendão patelar. A dor é chamada de “tríade terrível”, por causa da associação
é reproduzida quando o joelho levemente flexionado é es­ comum dessas estruturas após um estresse em valgo no
tendido de forma passiva (teste do rebote). O médico não joelho. A Tabela 20.1 lista a sequência de eventos, con­
deve confundir esses sintomas com a tendinopatia patelar forme uma força crescente em valgo é aplicada ao joelho
ou a bursite infrapatelar superficial ou profunda. em flexão e extensão.
O tratamento dessa condição consiste em repouso, Acredita-se que o estresse em varo seja o segundo
gelo e medicamentos anti-inflamatórios não esteroides. mecanismo que mais resulta em lesões ligamentares do
A injeção com anestésico local e esteroides no coxim de joelho. O estresse em varo pode ou não ser acompanha­
gordura também oferece alívio e ajuda a confirmar o diag­ do de uma força rotatória interna. O ligamento colateral
nóstico. As calcanheiras podem reduzir a hiperextensão lateral (LCL) é o primeiro a ser ferido quando esse meca­
do joelho e diminuir a dor. É raro que a ressecção cirúrgi­ nismo ocorre de forma isolada, mas o LCA, e finalmen-
ca seja necessária. te, o ligamento cruzado posterior (LCP) também podem
romper quando uma força combinada em varo e rotação
LESÕES LIGAMENTARES interna é aplicada.
O estresse em hip erexten sã o na maioria das vezes
A estabilidade do joelho depende de seus ligamentos e de resulta na lesão dos ligamentos cruzados. O LCA rompe
seus músculos circundantes. O joelho é mais estável em primeiro, seguido pela cápsula posterior e pelo LCP. Os li­
extensão, embora a predominância das atividades diárias gamentos cruzados podem romper no seu ponto central ou
seja executada com algum grau de flexão. Essa articula­ em sua inserção femoral. Um estresse rotacional adi­
ção é, desse modo, predisposta a lesões. Os ligamentos cional pode resultar em dano dos ligamentos colaterais.
que circundam o joelho atuam ao guiar o movimento e
protegem-no contra movimentos não fisiológicos.
► TABELA 20.1 Lesão ligamentar progressiva depois de
Esses ligamentos são inervados por fibras nervosas
um estresse em valgo no joelho, com base na posição
amielínicas. É característico das lesões ligamentares que
do joelho no momento da lesão
a ruptura parcial seja mais dolorosa do que a completa.
Flexão com rotação externa Extensão
Mecanismo de lesão LCM LCM
A seguinte discussão será centrada em seis mecanismos 4 4
comuns que resultam em lesões ligamentares: estresses LCA LCA e porção medial da
(1) em valgo, (2) em varo, (3) em hiperextensão, (4) rota- cápsula posterior
cional, (5) anterior e (6) posterior. É importante determi­ 4 4
nar se o joelho estava apoiando o peso ou uma força rota- Menisco medial Ligamento capsular medial
cional estava presente na hora da lesão, já que tais fatores profundo
aumentam a probabilidade de lesão meniscal associada. 4 4
Além disso, a posição do joelho (em flexão ou extensão) LCP LCP
no momento da aplicação da força será relevante quanto LCM, ligamento colateral medial; LCA, ligamento cruzado anterior; LCP,
às estruturas envolvidas. ligamento cruzado posterior.
Emergências Ortopédicas 459

Há dois tipos de estresses m ta c io n a is: interno e ex­ Existe derrame articular? O joelho com lesão aguda
terno. Os estresses rotacionais internos resultam em lesão deve ser examinado metodicamente, notando primeiro
do LCA, seguida de uma lesão do LCL, enquanto os es­ qualquer edema. Quando vistos precocemente, até 64%
tresses rotacionais externos podem causar lesões no LCA, dos pacientes têm edema localizado na topografia corres­
LCL, LCP ou meniscais, dependendo de o joelho estar pondente à ruptura ligamentar aguda. As rupturas liga­
flexionado, estendido ou com carga no momento da lesão. mentares completas ou a ruptura da cápsula podem não
Os estresses anteriores e posteriores da tíbia sobre o exibir qualquer edema, já que o fluido extravasa da cáp­
fêmur podem resultar em lesões nos ligamentos cruzados. sula rompida.
Um estresse anterior rompe o LCA, seguido pelo LCM. Um derrame visto dentro de 2 horas de uma lesão é
Um estresse posterior resulta em lesão do LCP. sugestivo de tecidos rompidos, enquanto aquele que se
apresenta de 12 a 24 horas pós-lesão constitui um derrame
H istó ria sinovial reativo. Um derrame tenso e doloroso que limita
Além do mecanismo de lesão, como descrito aqui, o mé­ de modo acentuado a amplitude de movimento pode ser
dico da emergência deve indagar sobre outras característi­ aliviado pela aspiração no setor de emergência.
cas na história. As questões pertinentes em casos subagu- Uma hemartrose que se desenvolve dentro das pri­
dos e crônicos incluem a localização do edema e também meiras 12 horas depois da lesão sugere, mais comumen-
quais as atividades que o induzem. A duração habitual dos te, a ruptura do LCA. Após lesões esportivas, 67% dos
sintomas, bem como a resposta ao repouso, também de­ pacientes com hemartrose aguda e nenhuma fratura nas
vem ser avaliadas. radiografias demonstraram ter ruptura parcial ou completa
A localização exata da dor depois de uma lesão e os do LCA. Outras lesões incluíram as fraturas osteocon-
fatores que exacerbam os sintomas fornecem pistas im­ drais (13%) e as rupturas meniscais (16%). Os glóbulos de
portantes sobre a localização específica de uma lesão liga- gordura encontrados no aspirado sanguinolento sugerem
mentar. As rupturas ligamentares parciais produzem mais fratura osteocondral.
dor do que as rupturas completas. Em um estudo, 76%
dos pacientes com ruptura completa de um ligamento no Existe sensibilidade dolorosa localizada? A seguir, o
joelho caminhavam sem ajuda. médico deve palpar suavemente o joelho, na tentativa de
Vários estudos indicam que, durante a lesão, o estalo localizar a sensibilidade dolorosa. Em uma série, 76% dos
audível é um indicador confiável de ruptura do cruzado pacientes tiveram a sua lesão confirmada via cirurgia, com
anterior. Alguns profissionais declaram que os pacien­ base na sensibilidade dolorosa inicialmente localizada.
tes com essa história têm incidência de 90% de rupturas A sensibilidade dolorosa na linha articular sugere lesão da
do cruzado anterior na cirurgia. Sessenta e cinco por cápsula, dos ligamentos ou dos meniscos. Neste momen­
cento dos pacientes com cruzado anterior rompido, con­ to, o médico deve efetuar um exame suave para documen­
tudo, não ouviram estalo ou ruído no momento da lesão. tar a amplitude de movimento.
A ruptura do cruzado anterior é, quase sempre, seguida
pelo aparecimento rápido de um derrame sanguinolento. Existem anormalidades com a testagem em estresseI
De fato, a etiologia mais comum para hemartrose traumá­ As lesões ligamentares devem ser classificadas com
tica dentro de duas horas da lesão é a ruptura do cruzado base nos ligam entos envolvidos, como tam bém no
anterior. grau de envolvimento (Tab. 20.2). Entorses g ra u I (le­
ves) implicam o alongamento das fibras, sem ruptura.
Entorses g ra u I I (moderadas) envolvem ruptura nas fi­
A xio m a :Uma história que inclua estalo ou ruído na hora
da lesão sugere a ruptura do ligamento cruzado anterior
bras do ligamento, sem rompimento completo. As en­
até prova em contrário, especialmente quando associado torses g ra u III (completas) indicam a ruptura completa
ao desenvolvimento rápido de um derrame no joelho. do ligamento.
O uso e a interpretação dos vários testes para exami-
nar o joelho agudamente ferido são controversos. Após
Exame uma lesão aguda, esses testes são difíceis de executar, tan­
Quanto tempo decorreu desde a lesão? O tempo entre to para o examinador como para o paciente. A seguinte
a lesão e o exame é importante para decifrar os achados fí­ discussão é feita com base em dados publicados e na ex­
sicos. Logo depois de uma lesão não há derrame ou espas­ periência pessoal.
mo e as lesões ligamentares serão facilmente percebidas. A testagem de estresse das lesões ligamentares so­
Quando o paciente se apresenta no setor de emergência mente deve ser empregada depois que as radiografias
uma hora mais tarde, essas mesmas lesões serão difíceis tenham afastado a possibilidade de fratura. É impor­
76
de detectar por causa do espasmo muscular circundante. tante documentar a sensação da articulação em estres­
Se um espasm o estiver presente, a fro u x id ã o liga m en ta r se máximo (firme ou “mole”) junto com a quantidade
p o d e não ser d em o n strá vel O paciente deve ser reexami­ de abertura articular. Na testagem de estresse, as lesões
nado depois de 24 horas, quando o espasmo tiver aliviado. grau I e II têm a sensação final firme, o que não existe
460 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

► TABELA 20.2 Classificação de lesão ligamentar cado um estresse de abdução suave, com rotação externa
Grau I (ruptura incompleta e pequena) do pé. O leve estresse rotacional externo aperta os liga­
• Sensibilidade dolorosa local mentos capsulares mediais. É essencial que o exame de
• Edema mínimo estresse da extremidade lesionada seja comparado com o
• Nenhuma instabilidade no teste de estresse com sensação exame da extremidade ilesa.
final firme
Esse teste é um indicador confiável de lesão do LCM.
• Pouca dor na testagem de estresse
Com base na experiência dos autores e na de outros pro­
Grau II (ruptura incompleta e moderada)
• Sensibilidade dolorosa local
fissionais, o cruzado anterior rompido resulta em um grau
• Edema moderado muito maior de instabibdade em valgo. Com a abertura
• Instabilidade 1 + no estresse com sensação final firme em extrema, o LCP pode também estar rompido, e o joelho
comparação ao joelho normal deve ser tratado como uma luxação reduzida, com poten­
• Moderadamente incapacitante cial de lesão da artéria poplítea.
Grau III (ruptura completa) O teste de estresse valgo em extensão é feito depois
• Sensibilidade dolorosa local, mas a dor não é proporcio­ do exame de flexão, usando a mesma técnica, porém
nal ao grau da lesão com o joelho estendido. A interpretação desse teste é si­
• O edema pode ser mínimo ou marcado
milar ao do teste de estresse em valgo com 30° de flexão,
• Instabilidade 2 a 3+ ao estresse, com sensação final mole
• Incapacidade grave pode estar presente
exceto se a abertura da articulação em extensão sugerir
um grau maior de lesão hgamentar. É importante lembrar
que a articulação do joelho é mais estável em extensão, e
que, o LCA está tenso. A frouxidão articular em extensão
nas lesões grau III. A mensuração do grau de abertura é, por conseguinte, indicativa de mptura do cmzado an­
articular na testagem de estresse é uma classificação ob­ terior e da cápsula posterior, somando-se a uma mptura
jetiva que requer experiência do examinador e a compa­ do LCM. Quando houver suspeita de instabilidade pos-
ração com o joelho oposto. As articulações que abrem terolateral, um teste cuidadoso de estresse em valgo em
de 0 a 5 mm sugerem ruptura ligamentar leve (grau I), 0 e 30° de flexão do joelho, com frequência, demonstra
enquanto 5 a 10 mm sugerem ruptura moderada (grau a instabilidade.90
II) e mais do que 10 mm são consistentes com ruptura O teste de estresse em varo é aplicado com o jo e­
completa (grau III). lho em 30° de flexão, com o pé e a perna com rotação
O teste de estresse em valgo é executado com o qua­ interna (Fig. 20.36). A coxa do paciente deve estar mais
dril em leve extensão para relaxar os isquiotibiais (Fig. abduzida do que durante o teste de estresse em valgo,
20.35). Isso pode ser realizado pendendo a coxa e a per­ pois a força aplicada será em direção à mesa de exames.
na ao lado da mesa, com o joelho em 30° de flexão e o O examinador começa localizando a linha articular late­
paciente em decúbito dorsal. O examinador coloca a sua ral. O polegar da mão é colocado sobre a linha articular
coxa contra a lateral da coxa do paciente para estabilizar lateral, com o resto da mão estabilizando o aspecto me­
o fêmur. O examinador então coloca os dedos de uma das dial da articulação. A outra mão é colocada sobre o pé
mãos no aspecto medial da linha articular, para sentir a do paciente, e é aplicado um estresse em varo. A abertura
abertura da articulação. A outra mão segura o pé e é aph- articular é indicativa de mptura do LCL. A abertura ampla
sugere possível lesão das estmturas do complexo poste-
rolateral do joelho (ligamento arqueado, músculo poplí-
teo, cabeça lateral do gastrocnêmio e banda iliotibial) e
do LCA. A lesão do complexo posterolateral do joelho é
rara, sendo relatada em menos de 2% de todas as lesões
92
hgamentares agudas do joelho.
O teste de estresse em varo, executado com o joelho
em extensão com rotação interna da pema, também pode
ser realizado. A abertura articular significativa durante o
teste tem mais probabilidade do que o teste com estresse
de varo em flexão sugerir uma lesão do LCL, do com­
plexo posterolateral do joelho ou do LCA. Uma abertura
particularmente ampla pode indicar ruptura do cmzado
93
posterior.
O teste da gaveta anterior avalia a integridade do
LCA. Entretanto, após uma lesão aguda, ele é difícil de
executar e carece de sensibilidade. Ao executá-lo, o pa­
Figura 20.35 Teste de estresse em valgo do ligamento colate­ ciente deve estar em decúbito dorsal e relaxado. O quadril
ral medial. deve estar em 45° de flexão, com o joelho em 80 a 90° de
Emergências Ortopédicas 461

Figura 20.37 Sinal da gaveta anterior do joelho. A seta indica


a direção da força aplicada à perna.

O teste do p iv o t sh ift também foi descrito no diag­


nóstico das rupturas do LCA. Para executar o teste, o exa­
minador roda internamente a perna com uma das mãos,
enquanto a outra mão repousa lateralmente no nível apro­
Figura 20.36 Teste de estresse em varo do ligamento colateral ximado da cabeça da fíbula (Fig. 20.39). Um estresse em
lateral.
valgo suave é aplicado, com tração leve sobre o joelho
completamente estendido. O joelho é gradualmente fle­
xionado. Com um teste positivo, a articulação femoro-
flexão, e o pé imobilizado. O examinador deve, então, co­
tibial lateral, que começa subluxada, “retorna” para um
locar as mãos sobre a área da tíbia superior, com os dedos
estado reduzido em cerca de 30° de flexão.
na fossa poplítea e assegurar que os músculos isquiotibiais
O teste da ga veta p o ste rio r é executado de forma si­
estejam relaxados. Nesse momento, a frouxidão é avalia­
milar ao teste da gaveta anterior, a exceto que uma força
da tentando empurrar e puxar a tíbia em direção antero­
posterior é aplicada à tíbia anterior (Fig. 20.38). O tes­
posterior. É importante executar o teste tanto com o joelho
te positivo da gaveta posterior indica ruptura do LCP
lesionado como o ileso. O teste da gaveta anterior é posi­
Um negativo, contudo, não exclui essa lesão. As lesões
tivo em até 77% dos pacientes com ruptura do LCA. 99
do LCP são mais comuns do que antes se considerava.
Infelizmente, esse número superestima a sensibilidade do
Estas lesões respondem por 1 a 20% das lesões ligamen-
teste em pacientes com lesões agudas de joelho.
tares, e ocorrem mais comumente nos esportes ou com
O teste de L achm ann é mais sensível para lesões agu-
colisões de veículos automotores. 9,100
das de LCA que o teste da gaveta anterior. Para executar
o teste de Lachmann, o joelho deve estar em completa
extensão. Deve-se, então, segurar o fêmur distai em uma
das mãos e elevá-lo, permitindo que o joelho flexione
proximalmente (Fig. 20.37). Em seguida, colocar a outra
mão sobre a tíbia proximal, aproximadamente no nível da
tuberosidade tibial e tentar deslocar a tíbia anteriormente
sobre o fêmur. O deslocamento anterior em comparação
ao lado oposto indica um teste positivo. Em um estudo,
o teste de Lachmann era positivo em 99% dos pacien-
tes com ruptura do LCA. Esse teste é mais facilmente
executado do que o sinal da gaveta anterior no paciente
que estiver com o joelho acentuadamente edemaciado.
Foi demonstrado que o espasmo isquiotibial palpável ao
executar a manobra de Lachmann ou a gaveta anterior
interfere com a interpretação desses testes no paciente Figura 20.38 Sinal da gaveta posterior do joelho. A seta indica
98
acordado. a direção da força aplicada à perna.
462 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Figura 20.39 O teste do pivot shift para a detecção de uma ruptura do ligamento cruzado anterior (LCA). A . O examinador aplica
tração leve, estresse em valgo e rotação interna sobre o joelho estendido. B. O joelho é gradualmente flexionado até que um "esta­
lo" é sentido, indicando um teste positivo.

Existe fra q u eza m uscular?Depois de um exame negati­ grau III de um ligamento único é considerado in stá v e l ,
vo para instabilidade ligamentar, a fo rç a m uscula r da ex­ requerendo imobilização, descarga e encaminhamento
tremidade envolvida deve ser avaliada e comparada com ortopédico.
a extremidade normal. A perda da resistência muscular Com freq u ên cia é im possível um exam e inicial p re c i­
pode ser observada após a ruptura de uma unidade mus- so devido ao edem a e espasm o muscular. Quando existir
culotendínea. instabilidade articular significativa na testagem de es­
tresse, o tratamento cirúrgico está indicado. Na presença
Im a g e n s de espasmo significativo e um exame inicial negativo, a
As radiografias simples do joelho são quase sempre ne­ extremidade lesionada deve ser reexaminada em 24 ho­
cessárias para afastar a possibilidade de fratura associa­ ras para a confirmação dos achados prévios e o paciente
da. Uma fratura de Segond é uma fratura de avulsão sutil deve ser mantido sem carga. Analgésicos intravenosos,
do côndilo tibial lateral, que sugere alta probabilidade de
ruptura do LCA ou de lesão nos meniscos (Fig. 20.40).
E ssas radiografias devem p re c ed e r o exam e fís ic o d eta ­
lhado. Se forem normais, a manipulação diagnóstica e a
testagem de estresse podem ser efetuadas.
É provável que as radiografias simples sejam a única
modalidade disponível ao médico da emergência. O teste
de estresse em valgo executado durante uma radiografia
simples é útil quando há incerteza sobre o grau de aber­
tura. Entretanto, deve ser compreendido que, com o ad­
vento da RMN, a delineação das lesões de tecidos moles
sofreu uma revolução. A acurácia no diagnóstico das le­
sões ligamentares com base na confirmação pelos achados
artroscópicos pode ser de até 99%.

T ra ta m e n to in ic ia l
O manejo inicial das lesões ligamentares do joelho inclui
gelo, elevação e tala compressiva de Jones, estendendo-
-se desde a metade da coxa até a metade da panturrilha
(Apêndice A. 15). A alternativa é usar um imobilizador
de joelho (Apêndice A.16) ou uma tala posterior (Apên­
dice A. 17).
As lesões estáveis do jo e lh o são aquelas de grau I ou
II de um único ligamento, depois que um exame adequa­
do possa ser executado. O protocolo de tratamento para Figura 20.40 Fratura de Segond {seta). Essa fratura de avulsão
as lesões estáveis do joelho está demarcado na Tabela sutil do côndilo tibial lateral é altamente associada a uma rup­
20.3. O envolvimento de ligamentos múltiplos ou lesão tura do LCA ou lesão meniscal.
Emergências Ortopédicas 463

► TABELA 20.3 Tratamento das lesões ligamentares do ou lesão do complexo ligamentar posterolateral ou do
incompletas do joelho LCP, cirurgia está indicada.
Entorse leve
1. Gelo e elevação Ligamentos cruzados. As rupturas isoladas do LCA
2. M obilização compressiva de Jones (Apêndice A .1 5) são comuns e podem ser tratadas com descarga parcial,
3. Deam bulação com exercícios do quadríceps assim com muletas. A imobilização não é necessária, a menos
que tolerado
que haja outra lesão ligamentar e instabilidade articular.
Ruptura parcial
Os exercícios de fortalecimento são iniciados depois que
1. Gelo e elevação
2. Tala posterior, imobilizador, ou im obilizador com
a amplitude de movimentos tiver retomado. Estas lesões
compressão (Apêndices A .1 5 a A .1 7) são tratadas cirúrgica ou conservadoramente. A decisão de
3. Descarga com muletas por 3 dias reconstruir o ligamento depende da idade do paciente, do
4. Im obilizador de joelho por 2 a 4 semanas, com carga nível de atividade, das preferências do paciente e da pre­
gradual conforme tolerado sença de outras lesões. O reparo cirúrgico é executado via
5. Exercícios isométricos do quadríceps artroscopia na maioria dos casos. O LCA é reconstmído
6. Acompanhamento ortopédico precoce; considerar a usando autoenxertos do terço médio do tendão patelar ou
reavaliação em 24 h se o exame estiver limitado
um enxerto do semitendíneo ou do grácil.
Em contraste com as lesões do LCA, as mpturas iso­
ladas do LCP são incomuns. Quando elas ocorrerem, são
lidocaína intra-articular e até anestesia geral podem ser em geral tratadas conservadoramente. As lesões isoladas
necessários para obter um exame físico confiável, mesmo agudas do LCP devem ser administradas com imobilização
depois de um a dois dias. O reexame está indicado em um do joelho em extensão até que a dor ceda, permitindo, en­
joelho estável, quando quaisquer dos critérios listados na tão, a movimentação precoce. É essencial que a reabilitação
Tabela 20.4 estiverem presentes. deste ligamento enfatize o fortalecimento do quadríceps.
A reconstrução cirúrgica é reservada para as lesões
Tratamento definitivo crônicas sintomáticas do LCP e para as lesões agudas
113
Ligamentos colaterais. É preconizada a terapia conser­ combinadas (LCA, LCM ou complexo posterolateral).
vadora para as rupturas completas do LCM com instabili­ Nos pacientes com a lesão do LCP acompanhada de avul-
dade articular leve a moderada. 7,11 O tratamento tem sido são óssea, o tratamento cirúrgico é recomendado. 00
dividido em três fases. Na fase A, a perna recebe uma ór-
tese em aproximadamente 30° de flexão, por meio de des­ Complicações
carga parcial, com uso de muletas. Os exercícios isomé­ Uma pequena porcentagem de entorses se tom a mais
tricos do quadríceps e os de fortalecimento do quadril são dolorosa durante a fase de cicatrização. Como a dor fica
iniciados na segunda semana. Na fase B, que dura quatro mais intensa, a flexão pode ficar limitada. Depois de três
semanas adicionais, a órtese é ajustada para permitir mo­ a quatro semanas, a radiografia simples mostra uma cal­
vimentos de 30 a 90° e exercícios isotônicos e isocinéticos cificação na área do ligamento lesionado. Essa condição
são executados. “ Na fase C, que ocorre seis semanas de­ é chamada de o ssificação p e ria rtic u la r p ó s-tra u m á tic a
pois do diagnóstico, a órtese é removida e os exercícios são ou d o en ça de P ellegrini-Stieda. Patologicamente, o cál­
continuados com um programa de corridas leves. Quando cio é depositado no hematoma que circunda o ligamento
existir instabilidade articular significativa na testagem de parcialmente rompido. Essa massa calcificada pode ser
estresse,

o tratamento cirúrgico está indicado. conectada ao osso subjacente por meio de um pedículo.
E im portante afastar a possibilidade rupturas conco­ Nos estágios iniciais do desenvolvimento, a massagem ou
m itantes do ligam ento cruzado ou lesão m eniscal. Quan­ a manipulação podem acentuar os sintomas. O tratamento
do coexistirem lesões do LCM e LCA, a maioria dos orto­ recomendado inclui curativo compressivo e punções múl­
pedistas trata primeiro o LCM com manejo conservador, tiplas para reforçar a reabsorção do cálcio.
sendo seguida pela reconstrução retardada do LCA.
As lesões isoladas do LCL também são tratadas de
LESÕES MEN ISCAIS
forma conservadora. Quando houver joelho varo associa-
O menisco mediai é uma estrutura em forma de “C” que
é dividida em um corno anterior e um posterior. Está in­
► TABELA 20.4 Critérios para reavaliar um joelho serido no joelho em três localizações - em cada extremi­
"estável" 1
5
4
3
2 dade (eminências intercondilianas) e no seu ponto central
1. Mecanismo de lesão de alta energia (ligamento capsular medial profundo). O menisco lateral
2. História de estalo ou ruído no momento da lesão também tem um corno anterior e um posterior. O menis­
3. Hemartrose
co lateral tem um formato mais em “O” e está inserido
4. Espasmo muscular significativo
medialmente à eminência intercondiliana (Fig. 20.41).
5. Dor intensa
Os meniscos se movem posteriormente com a flexão e em
464 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

As alterações degenerativas meniscais em geral co­


meçam na segunda década de vida e progridem com
115
maior rapidez sob condições de estresse inadequado.
Vários fatores aumentam a propensão para lesões menis­
cais, incluindo menisco congenitamente discoide, a fra­
queza da musculatura circundante e a frouxidão ligamen-
tar. Uma vez que a lesão tenha ocorrido, a cicatrização é
limitada, pois os meniscos são relativamente avasculares,
com um suprimento capilar limitado na porção periférica.
Entre a metade a dois terços das rupturas meniscais são
longitudinais, estendendo-se desde o como anterior até o
posterior (Figs. 20.42A e 20.42B). Essas lesões são cha­
madas de “rupturas em alça de balde” e podem resultar na
migração do menisco rompido para o interior da articula­
ção do joelho (Fig. 20.42C). O fragmento pode ficar eleva­
do, resultando em bloqueio da articulação do joelho (Fig.
20.42D). O menisco medial costuma ser mais afetado por
causa das suas inserções mais fixas. As rupturas transversas
são incomuns e podem ser vistas tanto no menisco medial
como no lateral (Fig. 20.42E). As rupturas transversas ou a
desinserção espontânea são vistas depois de um processo
degenerativo, com exposição repetida a estresses menores.

Mecanismo de lesão
As lesões meniscais ocorrem com frequência em pacien­
tes com movimentos súbitos rotatórios ou de extensão-fle­
xão. Em pacientes mais velhos e com doença degenerativa
dos meniscos, uma simples torção ou um movimento de
agachar pode resultar em ruptura. Com a flexão do joelho,
o fêmur realiza rotação interna sobre a tíbia fixa e deslo­
Flexão, rotação externa ca o menisco medial em direção ao centro da articulação.
Com uma extensão forte e rápida, o menisco pode ficar
centralmente aprisionado, resultando em estiramento ou
ruptura do segmento periférico. Com a flexão do joelho,
o menisco lateral também sofre deslocamento central e a
extensão forte súbita pode resultar em ruptura transversa
na junção dos terços anterior e médio.

Exame
A sensibilidade para detectar lesões meniscais por qualquer
exame clínico é baixa. 14,11 O uso combinado da história e
Flexão, rotação interna do exame físico melhora a capacidade do profissional ex­
periente em detectar essas lesões. O médico da emergência
Figura 20.41 A. A superfície articular da tíbia é mostrada jun ­ deve ter alto índice de suspeita para essas lesões e encami­
to com os meniscos (conforme visto acim a). Ver o formato em nhar os pacientes para o seu médico de cuidados primários
"O " do menisco lateral e o formato em "C " do menisco medial.
ou para um ortopedista, quando houver dúvidas.
B. A posição dos meniscos com o joelho em extensão. C. Ver
Os meniscos não têm fibras nervosas sensitivas, e a
a posição dos meniscos quando o joelho é flexionado e em
rotação externa. O menisco lateral é deslocado posteriormente
dor que resulta dessas lesões é ocasionada pela irritação
e a borda anterior do menisco medial protrui para a frente. D . A dos ligamentos próximos à linha articular. Vários sintomas
posição dos meniscos com o joelho em flexão e rotação interna sugerem a presença de ruptura meniscal, incluindo (1) d o r
da tíbia. Observar que o menisco medial retrai posteriormente. na linh a a rtic u la r, (2) derram e a rtic u la r, (3) b lo qu eio e
(A) fa ls e io do jo e lh o .

direção anterior com a extensão. Devido a sua inserção D or na linha articular. A dor ou sensibilidade dolorosa
medial única, o menisco lateral é mais móvel que o me­ articular à palpação da linha articular é vista em três quar-
102
nisco medial.1 tos dos pacientes após uma lesão meniscal. O sin a l de
Emergências Ortopédicas 465

Figura 20.42 Rupturas do menisco medial. A. Uma ruptura longitudinal parcial do menisco medial. B. Uma ruptura que se estende
ao longo do comprimento do menisco é chamada de "ruptura em alça de balde". O fragmento interno pode deslocar-se para o in­
terior da articulação do joelho. C. Uma ruptura do corno anterior. D. Se o fragmento fica elevado, pode bloquear do joelho. E. Uma
ruptura transversa do menisco medial. Este tipo de ruptura é mais comum no menisco lateral.

B ra g a rd (que indica lesão do menisco medial) refere-se à usado para palpação. Para confirmar uma ruptura meniscal,
sensibilidade dolorosa apontada ao longo da linha articular o sinal de Steinmann pode ser útil (Fig. 20.43). Esse sinal é
medial anterior, que aumenta com a rotação interna e a ex­ considerado positivo para ruptura meniscal quando a flexão
tensão da tíbia. Com a rotação interna e extensão, o menis­ do joelho deslocar posteriormente o ponto de sensibilidade
co medial rompido é forçado contra o dedo do examinador dolorosa máxima. Esse teste é útil para distinguir as lesões

Figura 20.43 Sinal de Steinmann. A. Quando a articulação do joelho é estendida, o menisco fica anteriormente. B. A flexão do
joelho desloca o ponto de sensibilidade dolorosa da linha articular anterior para trás, em direção ao ligamento colateral. Isso indica
um problema meniscal em vez de um problema ligamentar, já que este não desloca o ponto de maior sensibilidade dolorosa.
466 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

meniscais das ligamentares, pois quando os ligamentos fo­


rem a fonte da dor, a localização da sensibilidade dolorosa
máxima não troca de lugar.

D erra m e articular.O derrame articular im ediatam ente


após uma lesão sugere lesão ligamentar ou fratura osteo-
condral. Os derrames que se desenvolvem de 6 a 12 horas
depois são consequências de entorses ligamentares me­
nores ou de rupturas meniscais. A ruptura aguda em um
menisco degenerado pode não produzir nenhum derrame.

B loqueio. O bloqueio do joelho pode ser de dois tipos


- o verdadeiro ou o pseudobloqueio. O pseudobloqueio
é quase sempre secundário a um derrame que causa dor
e espasmo muscular. O bloqueio verdadeiro ocorre es­
pontaneamente com algum grau de flexão do joelho.
Um menisco rompido, um corpo livre, a ruptura do liga­
mento cruzado ou uma fratura osteocondral podem causar
o bloqueio verdadeiro. O bloqueio na infância é raro; en-
87
tretanto, pode indicar menisco discoide congênito.
Somente 30% dos pacientes com lesões meniscais
têm bloqueio verdadeiro. Na apresentação clássica, o pa­ Figura 2 0 .4 4 Sinal de Payr. Isso produz dor se há uma lesão
ciente queixa-se de uma incapacidade súbita de estender do corno posterior do menisco medial.
o joelho por completo. A extensão pode ser completada
pela rotação e extensão passiva do joelho. O bloqueio ver­ • O teste de Apley é executado com o paciente em de­
dadeiro devido a uma ruptura meniscal nunca é completo, cúbito ventral com o joelho flexionado (Fig. 20.45).
já que estará presente alguma extensão contra uma resis­ O examinador estende aos poucos a perna, enquan­
tência elástica. Além disso, as lesões meniscais raramente to ela é rodada extemamente. A manobra é repetida,
trancam em extensão completa. A incapacidade para es­ primeiro com distração e então com compressão.
tender completamente o joelho após o trauma é em geral Se a dor piorar com a compressão o teste é positivo e
secundária à tensão muscular, à presença de corpo livre ou indica a possibilidade de ruptura do menisco mediai.
ao derrame.
• O teste de McMurray é executado com o paciente em
decúbito dorsal, com o quadril e o joelho flexiona­
Falseio d o jo elh o .O falseio do ioelho lesionado é uma
• . . • 116 dos (Fig. 20.46). Para verificar o menisco medial, o
queixa comum em pacientes com rupturas meniscais.
examinador palpa a linha articular posteromedial com
Ocorre quando o joelho não pode suportar a carga, inde­
uma das mãos, enquanto com a outra mão segura o
pendentemente da dor. Quando o paciente relatar que o
pé. A perna é rodada externamente para prender o
joelho falseia, o médico deve averiguar a frequência, bem
menisco mediai, e o joelho é estendido lentamente.
como quaisquer lesões anteriores do joelho. Outras causas
Da mesma forma, o menisco lateral é examinado com
dessa queixa incluem a fraqueza do quadríceps, os distúr­
o profissional palpando a linha articular posterolate­
bios patelares e as lesões do ligamento cruzado anterior.
ral, enquanto a perna roda intemamente. Um clique,
Existem vários sinais clínicos que sugerem a presença
estalo ou pancada com dor sentida no começo da
de ruptura meniscal ou que ajudam a diferenciá-la de uma
extensão é um achado anormal. Infelizm ente, o teste
ruptura ligamentar.
de M c M u rra y dem onstrou te r sen sib ilid a d e lim itada
• O sinal de Payr envolve colocar o paciente sentado p a ra d etecta r lesões m eniscais. 17,118
com as pernas cruzadas, empurrando as coxas para
baixo (Fig. 20.44). Quando isso causar dor posterior Imagens
no joelho, é sugestivo de ruptura do como posterior As radiografias simples devem ser obtidas, mas são ha­
do menisco medial. bitualmente negativas. A RMN é útil para detectar lesões
• A rotação interna do joelho flexionado resulta em dor meniscais, mas é cara e pode não ser prontamente obtida
na linha articular anterolateral em pacientes com le­ no setor de emergência. Além disso, muitos profissionais
são do menisco lateral. entendem que a acurácia da avaliação clínica é compará­
• A dor na linha articular anteromedial, com a rotação vel com a RMN e que esta modalidade de imagens deve
externa do joelho flexionado, é indicativa de ruptura ser reservada aos casos em que o diagnóstico permanecer
u 1 1 4 ,1 1 9
do menisco medial. obscuro.
Emergências Ortopédicas 467

Figura 20.45 Teste de Apley para as rupturas meniscais mediais. A. A perna é externamente rodada e então estendida, enquanto é
feita a tração. B. O teste é repetido, desta vez com compressão.

A acurácia da RMN foi inicialmente relatada entre 80 e quatro horas depois da lesão e do tratamento inicial, o
e 90% para as lesões meniscais, mas com a melhora na paciente deve ser reexaminado para excluir qualquer le­
tecnologia e na experiência de interpretação esta acurácia são ligamentar oculta. Aqueles pacientes com rupturas
melhorou para 90 a 95%.79,114,121 Entretanto, a confiança meniscais sem lesões ligamentares associadas devem ser
cega na RMN para determinar a intervenção cirúrgica re­ mantidos sem carga, se a dor for intensa. É importante que
sulta em tratamento inadequado. Em um estudo em que a a imobilização não persista por mais de dois a quatro dias
RMN foi usada em pacientes assintomáticos, 13% dos pa­ e que os exercícios de fortalecimento do quadriceps sejam
cientes abaixo dos 45 anos e 36% dos acima dos 45 anos iniciados assim que for possível. O encaminhamento para
tiveram o diagnóstico de ruptura meniscal. Em pacien­ um provedor primário é apropriado para as lesões meno­
tes idosos, as rupturas meniscais são encontradas em 65% res, enquanto o encaminhamento ortopédico é necessário
122
dos pacientes assintomáticos. sempre que um derrame ou uma instabilidade articular
A artroscopia é considerada o padrão-ouro para rea­ significativa estiver presente. Em pacientes com sintomas
lizar o diagnóstico, sendo é valiosa porque pode prover o crônicos, o encaminhamento ortopédico deve ser feito
tratamento definitivo. A acurácia da artroscopia é de até sempre que o paciente relatar bloqueios, falseios ou limi­
98%, dependendo da habilidade e da experiência do ar- tações articulares.“
• . 1 1 5,1 23
troscopista. O manejo conservador tem mais probabilidade de
sucesso em pacientes que são capazes de apoiar o peso
Lesões associadas e que tenham desenvolvido o edema entre 24 a 48 horas
As lesões meniscais muitas vezes acompanham as lesões após a lesão, com edema mínimo e apresentem amplitude
ligamentares do joelho e, em especial, as lesões do LCM de movimento completa. As lesões meniscais periféricas
e do LCA. Um terço de todas as rupturas meniscais está também evoluem melhor com o manejo conservador por
associado a uma lesão do LCA. As lesões meniscais tam­ causa da maior vascularização da porção periférica do
bém estão frequentemente associadas a fraturas do platô menisco. A melhoria limitada nos sintomas depois de três
tibial, ocorrendo em até 47% dos pacientes. semanas de terapia conservadora sugere que provavel­
mente uma cirurgia será necessária.
Tratamento As indicações para a artroscopia incluem (1) sintomas
Os pacientes que apresentam ruptura meniscal aguda, sem persistentes que afetam as atividades diárias, (2) achados
lesões ligamentares, devem receber um curativo compres­ físicos positivos de lesão meniscal, (3) falha em responder
sivo volumoso (Apêndice A.15), um imobilizador de joe­ ao manejo conservador e (4) ausência de outras causas de
lho (Apêndice A.16), ou uma tala (Apêndice A. 17). Vinte dor no joelho. Dependendo do tamanho, da direção e da
468 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

joelho em 90° de flexão. A gravidade distrai a tíbia do


fêmur. A injeção intra-articular de 5 a 10 mL de anestési­
co local ajuda a destrancar a articulação, reduzindo a dor.
O joelho pode destrancar sozinho depois de um período
de repouso (30 minutos) nessa posição. Se isso não ocor­
rer, a rotação leve da tíbia com tração cuidadosa ao longo
do eixo da perna costuma promover a redução. Se fracas­
sar depois de uma tentativa suave, uma tala posterior deve
ser aplicada. A manipulação do joelho agudamente blo­
queado pode causar dano adicional ao menisco envolvido
e, por conseguinte, é fortemente recomendada a consulto­
ria antes das tentativas adicionais de redução.
A
OSTEOCONDRITE DISSECANTE
A osteocondrite dissecante é comum na articulação do
joelho, respondendo por 75% de todos os casos. Ocorre
com mais frequência no côndilo femoral medial, mas o
côndilo femoral lateral e a patela também são afetados.
Os restantes 25% dos casos de osteocondrite dissecante
ocorrem no cotovelo e no tornozelo.
A osteocondrite dissecante refere-se a uma condição
de necrose óssea subcondral focal, levando ao rompi­
mento da cartilagem articular e ao deslocamento de um
fragmento ósseo para dentro do espaço articular. Existem
várias teorias propostas sobre a etiologia da osteocondrite
dissecante, incluindo isquemia localizada e trauma repe­
titivo. A superfície da articulação torna-se irregular, pre­
dispondo ao desenvolvimento de osteoartrite. Em alguns
B casos, um sequestro de osso ou cartilagem pode ficar livre
na articulação e ocorrer o bloqueio.
Figura 20.46 Teste de McMurray. A. No paciente em decúbito
dorsal, flexionar o quadril e o joelho. B. O joelho e o quadril
Apresentação clínica
são então estendidos em rotação interna (menisco lateral) ou
rotação externa (menisco medial). Esse diagnóstico é feito, com frequência, no paciente as-
sintomático com base nos achados radiográficos isolados.
Os sintomas incluem uma dor persistente em repouso, que
localização da ruptura, o cirurgião pode reparar, remover é exacerbada com exercícios. Alguns pacientes reclamam
ou deixar a lesão cicatrizar por si mesma. da sensação de rigidez, que é aliviada com o ato de chutar.
O reparo meniscal é preferível para manter o seu Os derrames recorrentes do joelho podem ser associados
importante papel na absorção de choques dentro do joe­ a esse distúrbio. A percussão da patela com o joelho em
lho. As rupturas meniscais que podem ser reparadas têm flexão exacerba a dor.
as seguintes características em comum: (1) a ruptura
está localizada não mais do que 3 mm da junção menis- Imagens
cocapsular, (2) dano mínimo tenha ocorrido no corpo do O filme simples será negativo nos casos iniciais. Mais tar­
menisco, (3) uma ruptura que pode ser deslocada com o de, pode ser vista uma cavidade cercada por osso denso
uso da sonda artroscópica e (4) uma ruptura longitudi­ (Figs. 20.47 e 20.48).131
nal vertical completa e maior que 10 mm. 14,126 Quan­ As lesões são radiograficamente ocultas em até 57%
132
do o reparo não for possível, a meniscectomia parcial dos pacientes com dor crônica no joelho. ' Os exames de
é preconizada. 28,12 Em alguns casos, a lesão meniscal cintilografia óssea, TC e RMN são muito mais sensíveis
cicatriza de forma espontânea. As rupturas longitudinais que as radiografias simples para identificar essas lesões.
verticais estáveis cicatrizam sem tratamento em 65% A RMN tem valor particular ao determinar a necessidade
dos casos. de intervenção cirúrgica.
O joelho bloqueado, secundário a uma ruptura me­
niscal, deve ser reduzido dentro de 24 horas após a lesão. Tratamento
O joelho pode ser reduzido posicionando o paciente com O tratamento dessa condição é diferente em adultos e
a extremidade pendente para fora da borda da mesa e o crianças. As crianças tendem a cicatrizar bem com o tra-
Emergências Ortopédicas 469

tamento conservador, enquanto os adultos frequentemente


requerem cirurgia. A imobilização em um gessado com
descarga por 6 a 12 meses muitas vezes resulta na reso­
lução de uma lesão adquirida recente em crianças. A ci­
rurgia é recomendada em adultos para prevenir o desen­
volvimento de artrite degenerativa prematura. Quando um
corpo livre estiver presente no espaço articular, a remoção
cirúrgica é indicada tanto em crianças como em adultos.
Há controvérsia sobre o melhor método cirúrgico a ser
empregado. A cirurgia artroscópica tem produzido
excelentes resultados nessa condição.1

LESÃO OSTEOCONDRAL
Esses pacientes apresentam dor persistente depois de
uma lesão sem anormalidades radiográficas. As fraturas
condrais envolvem somente a cartilagem, enquanto as os-
teocondrais envolvem a cartilagem e o osso subcondral.
O mecanismo mais comum é o impacto direto sobre a área
envolvida.

Exame
Essas lesões devem ser suspeitadas se as queixas do pa­
Figura 20.47 Osteocondrite dissecante do joelho {seta). (Foto­ ciente forem significativas na ausência de achados físicos.
grafia: contribuição de D. Billmyer, PA-C.) A sensibilidade dolorosa agudamente localizada, o blo­
queio articular e a hemartrose estão muitas vezes asso­
ciados com a lesão, que são frequentemente confundidas
com ruptura de meniscos, embora a artroscopia exclua de
forma definitiva o problema.

Tratamento
A artroscopia está indicada em quase todos os casos.
A artrite degenerativa junto com dor crônica, bloqueios
e derrames se desenvolvem caso essas lesões não sejam
tratadas.

DISFUNÇÃO PATELOFEMORAL
(CONDROMALACIA PATELAR)
A osteoartrite do joelho é abordada no Capítulo 3. Por
ser peculiar, a articulação patelofemoral será abordada à
parte. A artrite patelofemoral é o resultado de erosão e de­
generação da cartilagem patelar. Os fatores de risco para
essa condição incluem o aumento da idade, a obesidade, o
uso excessivo crônico, as lesões prévias (fraturas, luxação
patelar, rupturas do LCA), e as condições inflamatórias
sistêmicas. 4 Os termos condrom alacia p a te la r e síndro-
m e do m au alinham ento p a te la r são usados para descrever
a erosão prematura da cartilagem patelar que ocorre em
adultos jovens, em especial nas mulheres, devido ao ali­
nhamento patelar ruim.
A patela atua melhorando a função do mecanismo do
quadríceps e diminui as forças aplicadas ao tendão patelar.
Figura 20.48 Osteocondrite dissecante. Observar o desenvol­ Acredita-se que o ângulo de atuação dessa força altera a
vimento de tecido fibroso (seta). ( Fotografia: contribuição de mecânica patelofemoral e a predisponha à lesão. Quando
John Fitzp atrickMD.) o ângulo é normal, a pressão é uniformemente distribuída
470 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

/ \ .
A \ / \
A \ /

Figura 2 0 .5 0 A palpação da superfície inferior da patela pro­


duzirá sensibilidade dolorosa na condrom alacia patelar.

nica. A dor anterior no joelho está presente quando o joe­


lho for flexionado ao máximo. Além disso, é típico que
a palpação da superfície inferior da patela medialmente
deslocada produz a sensibihdade dolorosa e a crepitação
Figura 20.49 O ângulo Q é formado por uma linha traçada (Fig. 20.50). A extensão do joelho contra a resistência
a partir do ponto central da patela através do ponto central da também é dolorosa nos 30 a 40° finais.
diáfise do fêmur, e por uma segunda linha, traçada a partir do O teste d e in ib içã o p a te la r é executado com o jo e­
ponto central da patela através da tuberosidade tibial. A. O ân­
lho estendido. O examinador empurra a patela inferior­
gulo Q normal é de aproxim adam ente 15°. B. Um ângulo Q
mente para dentro do sulco femoral. Ao paciente é então
maior que 20° é considerado anormal.
pedido para contrair o músculo quadríceps enquanto a
patela é firmemente presa contra os côndilos femorais
através da patela. Quando o ângulo está aumentado, con­ (Fig. 20.51). A dor, a sensibihdade dolorosa e a crepita­
tudo, a faceta lateral da patela assume uma carga maior, e ção são diagnósticas da artropatia patelofemoral.
sofre a lesão.
O mau alinhamento patelar é clinicamente determina­
do pela mensuração do ângulo Q (Fig. 20.49). Duas linhas
que cruzam através do centro da patela formam esse ân­
gulo. A primeira linha é traçada a partir do meio do fêmur,
no centro da patela. A segunda linha é traçada a partir do
centro da patela, cruzando a tuberosidade da tíbia. O ân­
gulo Q normal é de 15°, enquanto medidas acima de 20°
são consideradas anormais.

Apresentação clínica
Quando causados pelo mau ahnhamento patelar, os sinto­
mas começam no grupo etário adolescente ou no adulto jo­
vem. O paciente reclama de dor profunda nos joelhos, sem
uma história de trauma recente.41,14 As atividades esporti­
vas vigorosas ou ficar sentando por longo período de tempo
podem exacerbar a dor, horas mais tarde. Algumas vezes,
conforme o distúrbio progride, um esforço leve, como o su­
bir escadas, exacerba a dor. A dor costuma estar locahzada
na porção anterior ou medial do joelho. O trauma agudo no
joelho, como uma queda, pode resultar em dor retropatelar
e, em alguns casos, no desenvolvimento de condromalacia
patelar durante um período de várias semanas.
Durante o exame físico, o joelho deve estar em fle­ Figura 20.51 Demonstração do teste de inibição patelar. A. Com
xão leve, colocando a patela no sulco femoral. A palpa­ o músculo quadríceps relaxado, empurrara patela inferiormente.
ção e a compressão nessa posição evitam a interposição B. Comprimir a patela para dentro do sulco femoral e pedir ao
sinovial. A compressão firme da patela sobre o sulco fe­ paciente para retesar o músculo quadríceps. Isso produz dor e
moral medial produz dor, que é virtualmente patognomô- sensibilidade dolorosa conforme a patela cursa proximalmente.
Emergências Ortopédicas 471

Além do ângulo Q, o examinador deve observar o (incomum) com base na direção da tíbia em relação ao
curso da patela durante a flexão e a extensão do joelho. fêmur (Fig. 20.52). Também ocorrem combinações des­
Normalmente, com a extensão, a patela se move em di­ sas luxações. A combinação mais comum é a luxação
reção vertical com um leve desvio medial conforme se posterolateral. !
aproxima da extensão completa. A patela hipermóvel ou A lesão dupla dos ligamentos cruzados sem confir­
errante (mau alinhamento patelar) com a extensão do mação radiográfica de luxação também é considerada
joelho predispõe ao desenvolvimento da condromalacia uma luxação de joelho, pois elas estão associadas à mes­
patelar. ma taxa alta de lesão neurovascular. Em uma série, mais
A artrite patelofemoral pode ser confundida com da metade das lesões da artéria poplítea ocorreu em pa­
várias outras causas de dor anterior no joelho, incluindo cientes com lesões dos ligamentos cruzados espontanea­
menisco medial rompido, bursite pré-patelar, bursite do mente reduzidas.
pé anserino, síndrome do coxim de gordura e osteocon-
drite dissecante. Mecanismo de lesão
As luxações do joelho ocorrem por trauma de alta energia
Imagens (colisão de veículo automotor, queda de altura) e de baixa
As radiografias são de pouco valor diagnóstico em um pa­ energia (queda menor, atividade esportiva). As colisões
ciente com essa condição. As alterações crônicas, incluin­ de veículo automotor respondem por dois terços dos ca­
do esclerose ou desenvolvimento de osteófitos, contudo, sos. 79,14! Os mecanismos de baixa energia respondem por
podem ser observadas em alguns casos. até 20% dos casos. As luxações expostas estão presentes
em 16% dos casos e são causadas por um mecanismo de
Tratamento alta energia.
O tratamento conservador inclui repouso, medicamentos As luxações anteriores têm como característica re­
anti-inflamatórios não esteroides e exercícios isométricos sultarem da hiperextensão. A hiperextensão causa uma
de fortalecimento do quadríceps. Os exercícios isomé­ mptura da cá p su la posterior, seguida de ruptura do c ru ­
tricos do quadríceps são executados com o paciente dei­ zado a n terio r e por uma mptura parcial do cruzado p o s ­
tado e a extremidade inferior mantida em horizontal ao terior. As luxações posteriores muitas vezes resultam de
solo. O paciente é instruído a elevar a perna com o joelho uma força direta aplicada à tíbia anterior, com o joelho
completamente estendido e segurar nessa posição por 5 levemente flexionado. Existe deslocamento posterior da
segundos. Isso é repetido por três blocos de 20 repetições tíbia com a ruptura da cápsula p o ste rio r e dos cruzados.
diárias. A mesma técnica é usada com o joelho mantido Uma força de adução violenta na tíbia contra o fêmur
em 30° de flexão. É fundamental enfatizar para o paciente provoca luxação medial. As luxações posterolaterais ro­
que os exercícios com a pema reta e com o joelho mantido tatórias são vistas quando uma força anteromedial atua
em 30° de flexão são fundamentais para a resolução dos sobre a tíbia anterior, resultando em luxação posterior
• . 143
sintomas. com rotação. Uma luxação posteromedial é o resultado
O uso de esteroides não é recomendado, já que po­ da ação de uma força anterolateral agindo sobre a tíbia
dem aumentar a velocidade de degradação da cartilagem. anterior.
Evitar atividades como agachamento, corrida, ajoelhar-se
e subir escadas é recomendado com muita ênfase durante Exame
a fase de manejo inicial. A imobilização é contraindicada, O diagnóstico preciso de luxação de joelho é essencial,
pois leva à atrofia do quadríceps, o que pode exagerar o sendo feito com base em um alto grau de suspeita. A re­
mau alinhamento patelar. dução espontânea antes da apresentação no setor de emer­
gência não é incomum, e não significa que o paciente não
LUXAÇÕES DO JOELHO esteja em risco de lesões vasculares associadas. Em uma
revisão de 63 luxações de joelho, observou-se que dois
As luxações do joelho são consideradas emergências or­ terços estavam em posição reduzida na apresentação.
topédicas, porque uma lesão associada da artéria poplítea
está presente em um terço desses casos. A incidência
Axiom a: Um joelho grosseiramente instável após uma lesão
de luxação de joelho tem sido estimada em menos de
traumática deve ser considerado como luxação reduzida.
0,02%, mas esse número subestima a incidência verda­
deira, pois não leva em conta as luxações espontanea­
mente reduzidas. Por conseguinte, o diagnóstico so­ A avaliação inicial de um joelho potencialmente
mente pode ser feito se o médico examinador tiver um deslocado é limitada à inspeção, à palpação e ao exame
alto grau de suspeita. neurovascular distal. Pode ou não haver derrame, pois as
As luxações são classificadas como anterior (40%), rupturas na cápsula articular permitem que o sangue flua
posterior (33%), lateral (18%), medial (4%) ou rotatória para dentro dos tecidos circundantes.
472 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

E Rotatória

Figura 20.52 Classificação das luxações do joelho.

A condição neurovascular distal deve ser avaliada Imagens


precoce e completamente em todos os pacientes. Os pul­ As incidências AP e lateral demonstram a luxação do joe­
sos distais diminuídos ou ausentes, a isquemia distai, um lho (a menos que tenha sido espontaneamente reduzida) e,
índice tornozelo-braquial (ITB) menor que 0,8 ou um he­ em geral, quaisquer fraturas associadas (Fig. 20.53).
matoma em expansão ou pulsátil constituem evidências A arteriografia é o padrão-ouro para diagnosticar le­
claras de lesão vascular e requerem exploração cirúrgi­ sões da artéria poplítea, incluindo a dificuldade de detec­
ca. Não obstante, uma lesão arterial grave pode estar tar a lesão da íntima. Em pacientes com circulação distai
presente, apesar de o pé estar aquecido ou da presença de diminuída, a arteriografia não deve retardar a exploração
pulso distai. O exame do pulso é apenas 80% sensível para cirúrgica.
detectar a lesão da artéria poplítea. Foi demonstrado em pequenos estudos de pacientes
As estruturas ligamentares são examinadas, mas tor­ com suspeita de lesões arteriais da extremidade que a an-
na-se difícil por causa da dor. O teste de Lachmann e o giotomografia é sensível, mas não foi estudada de forma
teste da gaveta posterior são usados para avaliar o LCA exclusiva em pacientes com luxação de joelho. Conforme
e o LCP, respectivamente. Os ligamentos colaterais são mais dados ficam disponíveis e como a tecnologia conti­
testados em 30° de flexão. A hiperextensão deve ser evi­ nua melhorando, a importância da angiotomografia tende
tada, pois põe tração desnecessária sobre o nervo fibular e a aumentar.
a artéria poplítea. Em pacientes sem sinais sólidos de lesão vascular, a
A lesão do nervo fibular é avaliada ao ser observada ultrassonografia com Doppler duplo pode ser benéfica.
a hipoestesia no primeiro espaço interdigital ou pela per­ A sensibilidade relatada é de 95%, com especificidade
da da dorsiflexão do pé. Se o edema significativo estiver de 99%. A ultras sonografia pode deixar passar as rup­
presente em uma perna tensa, a síndrome compartimentai turas da íntima, contudo, e o padrão-ouro permanece a
deve ser suspeitada. arteriografia.
Emergências Ortopédicas 473

A direção da luxação não está correlacionada com a lesão


ligamentar. Também podem estar presentes a lesão muscu­
lar (gastrocnêmios), a lesão meniscal e as fraturas condrais.

Lesão nervosa. A lesão nervosa associada com as luxações


de joelho está presente em 16 a 40% dos casos. Os nervos
tibial e fibular comum não estão ancorados com tanta fir­
meza quanto a artéria poplítea e, por conseguinte, são lesio­
nados com menos frequência. Essas lesões variam desde a
simples neuropraxia até a ruptura completa dos elementos
neurais, o que é raro. O mecanismo de dano neural é ha-
bitualmente uma lesão por tração. As lesões por tração dos
nervos fibular e tibial são vistas com mais frequência após as
luxações anteriores. O tratamento dessas lesões é controver­
so e é deixado para o consultor.

Tratamento
O manejo de emergência dessas lesões inclui a redução, a
imobilização, a avaliação das lesões vasculares e o enca­
minhamento de emergência. A redução deve ser executada
com adequada analgesia e sedação, conforme delineado
no Capítulo 2.
Uma luxação posterior é reduzida com um assistente
exercendo tração longitudinal, enquanto a tíbia proximal
Figura 20.53 Luxação anterior do joelho. é elevada anteriormente e reduzida (Fig. 20.54). Deve ser
observado que a força de distração deve ser suave, já que
a força excessiva pode exacerbar a lesão arterial. Uma
Lesões associadas
luxação anterior é reduzida de forma similar, exceto que
As luxações do joelho estão associadas a várias lesões o fêmur é elevado anteriormente para a posição reduzida
significativas que são divididas em três categorias: lesões (Vídeo 20.2). Deve ser evitada a pressão sobre o espaço
vasculares, ligamentares e de nervos periféricos. Além das poplíteo. Uma luxação posterolateral pode ser irredutível,
lesões diretas que ocorrem nos vasos e nos nervos que se
seguem a uma luxação de joelho, a síndrome comparti­
mentai também pode ocorrer devido ao significativo ede­
ma de tecidos moles e à hemorragia. As fraturas concomi­
tantes e outras lesões são especialmente comuns quando
a luxação for causada por um mecanismo de alta energia.

Lesão vascular. A artéria poplítea está ancorada com


firmeza proximalmente pelo músculo adutor magno e
distalmente pelos músculos gastrocnêmio e sóleo. Essas
inserções tomam a artéria suscetível à lesão e respondem
pela incidência de 30 a 40% de lesões vasculares depois
de uma luxação de joelho. A lesão vascular é mais comum
após luxações anteriores e posteriores, bem como conse­
quente a um mecanismo de alta energia. Quando a lesão
ocorrer, o reparo de emergência está indicado porque - se
retardado por mais de 8 horas - até 86% dos pacientes
152
podem requer uma amputação.

Lesão ligam entar. A mptura do LCA e do LCP está pre­


sente em todos os casos de luxações de joelho, com raras
exceções. A lesão do colateral medial é a lesão ligamentar
comum seguinte, ocorrendo em 50% dos casos, enquanto o Figura 20.54 Redução de uma luxação posterior. Notar que a
complexo postérolatéral é lesionado em 28% das vezes. distração é uma manobra crítica.
474 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Luxação do joelho

/ Pulsos ausentes ou anormais \ Pulsos normais


/ Enchimento capilar > 3 segundos\ Perfusão normal
\ Hematoma expandindo / Nenhum hematoma
\ ou pulsátil / expandindo ou pulsátil

Consultar a cirurgia vascular para\ ( Medir o ITB


revascufarização de emergência^) \

ITB < 0,9 ITB > 0,9

Consultar a cirurgia vascular


f Consultar a cirurgia vascular \
(Efetuar arteriografia ou hospitalizar]
Arteriografia V o paciente para exames seriais J
Figura 20.55 Algoritmo proposto para tratar os pacientes com luxação de joelho ou joelho instável (presumida como uma luxação
espontaneamente reduzida). ITB, índice tornozelo-braquial.

porque o côndilo femoral medial aprisiona a cápsula me­ A opção escolhida depende do contexto hospitalar ou da
dial dentro da articulação. preferência do consultor.
Depois da redução, o joelho deve ser imobilizado em Uma vez que a possibilidade de insuficiência vas­
uma tala posterior (Apêndice A.17) em 15° de flexão para cular tiver sido resolvida e o edema agudo diminuído, o
evitar tensão sobre a artéria poplítea. paciente geralmente necessitará de reparo cirúrgico liga-
O tratamento rápido de lesões vasculares é fundamen­ mentar para alcançar a melhor recuperação funcional pos­
tal para um bom desfecho. Em aproximadamente 10% dos sível.131,157'1 Esse procedimento é geralmente executado
casos, os pulsos normais são restaurados depois da redu­ de 10 a 14 dias após a lesão, mas não deve ser retardado
ção do joelho. Se os sinais de isquemia estiverem presen­ por mais de três semanas, pois a fibrose excessiva toma o
tes, a exploração cirúrgica de emergência está indicada, procedimento mais complicado.
com ou sem uma angiografia intraoperatória.
Se os pulsos e a perfusão estiverem normais e não Complicações
houver nenhuma outra evidência de lesão vascular (i.e., As luxações de joelho são frequentemente complicadas
hematoma em expansão), o ITB é medido. O ITB é de­ pelo desenvolvimento de problemas significativos.
terminado pela divisão da pressão sanguínea sistólica
(obtida por Doppler) da perna afetada, pela mesma me­ 1. A isquemia distai progressiva pode desenvolver-se,
dida em uma extremidade superior não afetada. O ITB resultando em amputação.
tem demonstrado ser um adjunto útil para detectar lesão 2. Doença articular degenerativa com artrite.
vascular oculta quando o restante do exame vascular for 3. Instabilidade articular persistente, secundária a lesões
normal. Um ITB menor que 0,9 é preocupante em pa­ ligamentares extensas.
cientes com luxação de joelho, e deve demandar uma
consultoria e arteriografia. Em pacientes com um exa­ LUXAÇÃO TIBIOFIBULAR PROXIMAL
me vascular normal com medida de ITB acima de 0,9,
as opções diagnósticas incluem uma arteriografia ou a A dor ao longo do aspecto lateral do joelho deve ser cui­
hospitalização para exames seriais (Fig. 20.55). 47,153-156 dadosamente avaliada, já que a anatomia e a biomecâni-
Emergências Ortopédicas 475

Anterior
Posterior

Figura 20.56 Luxações tibiofibulares proximais.

ca desta região são muito complexas. A luxação tibiofi­ posteriores são habitualmente secundárias ao trauma di­
bular proximal ocorre depois de um trauma, enquanto a reto no joelho flexionado. Um mecanismo secundário en­
subluxação pode ser crônica e atraumática. Essa lesão volve um movimento violento de torção, como o visto em
é muitas vezes confundida com rompimento do menis­ determinados esportes. Além disso, a torção violenta pode
co lateral. As luxações tibiofibulares proximais podem romper os ligamentos e resultar em luxação.
ser anteriores, posteriores ou superiores (Fig. 20.56).
As luxações anteriores são mais comuns. As superiores Exame
são sempre acompanhadas de deslocamento superior do A localização da dor é geralmente ao longo do aspecto la­
maléolo lateral. teral do joelho. Ela se irradia proximalmente para a região
A subluxação da articulação tibiofibular proximal ocor­ da banda iliotibial e medialmente para a articulação pa-
re quando houver hipermobibdade sintomática (Fig. 20.57). telofemoral. Nos casos de subluxação crônica, o pacien­
te relata a sensação de “clique” ou “estalo” na frente do
Mecanismo de lesão joelho.163'164
As luxações anteriores em geral resultam de uma queda, Ao exame, há exacerbação localizada de dor com a
na qual a perna está flexionada e aduzida. As luxações inversão ou a eversão do tornozelo. A inspeção do jo e­
lho revela a cabeça fibular proeminente em uma sublu­
xação ou luxação anterolateral. A dor aumenta com a
palpação acima da cabeça da fíbula. Com uma luxa­
ção anterior, a cabeça da fíbula fica mais proeminente
quando o joelho estiver flexionado. Além disso, a dor-
siflexão e a eversão exacerbam a dor. As luxações supe­
riores se apresentam com o deslocamento proximal do
maléolo lateral.

Imagens
Se houver suspeita dessa lesão, as incidências de compa­
ração são recomendadas. As incidências AP e lateral são
adequadas para definir a lesão. Se as radiografias simples
não forem diagnósticas, uma TC é a modalidade de ima­
gens mais precisa para detectá-la. “

Lesões associadas
É importante recordar que o nervo fibular passa inferior­
Figura 20.57 Subluxação da articulação tibiofibular proxim al. mente à cabeça e circunda o colo da fíbula. As luxações
476 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

posteriores estão muitas vezes associadas a lesões do ner­


vo fibular. As luxações superiores estão sempre associa­
das a dano na membrana interóssea.

Tratamento
As luxações agudas devem ser reduzidas por manipula­
ção direta, com o joelho em flexão. Um clique audível é
ouvido quando a fíbula retorna à sua posição. As luxa­
ções posteriores com tecidos moles interpostos requerem
a redução cirúrgica. Depois da redução, o paciente deve
fazer uso de muletas e ficar sem apoiar o peso por duas
semanas, seguidas por carga progressiva durante as pró­
ximas seis semanas.
O tratamento da subluxação tibiofibular proximal Lateral Horizontal
crônica envolve a modificação das atividades do paciente
e o uso de um suporte, junto com exercícios de fortaleci­
mento da perna. Para os pacientes com dor ou instabilida­
de crônica, a correção cirúrgica é considerada.

Complicações
A lesão do nervo fibular ocorre em 5% dessas luxações
e pode se apresentar como uma complicação durante o
período de recuperação. As luxações posteriores têm
tendência a permanecerem instáveis e a desenvolverem
subluxações recorrentes. A doença articular degenerati­
va, com artrite, pode se desenvolver depois de quaisquer
dessas luxações.

LUXAÇÃO PATELAR
Anatomicamente, a patela é um osso de formato oval, com Superior Intercondiliana
duas facetas divididas por uma crista vertical. A patela
Figura 20.58 Luxações patelares.
normalmente se articula no sulco entre os côndilos femo-
rais. O vasto medial, o retináculo medial, os ligamentos
patelofemorais medial e lateral e os ligamentos pateloti-
biais previnem a sua luxação. • Torção tibial externa
A localização mais comum das luxações patelares • Inserção lateral do ligamento patelar na tíbia
é a lateral. Outras luxações que já foram descritas in­ • Contratura do retináculo patelar lateral
cluem a medial, a superior, a horizontal e a intercon- • Relaxamento ou atenuação do retináculo patelar medial
diliana (Fig. 20.58). A luxação patelar com rotação do • Hipoplasia ou displasia da patela
eixo vertical também foi descrita. • Hipoplasia ou aplainamento do sulco troclear
As luxações patelares são vistas em pacientes com • Patela alta
anorm alidades anatômicas patelofem orais crônicas. • Atrofia do músculo vasto medial
As luxações e subluxações tendem a ser recorrentes, com • Pés planos
a taxa de reluxação variando desde 17 a 44%. A su­
• Frouxidão articular generalizada
bluxação patelar é uma condição comum que, em geral,
ocorre lateralmente e está associada a uma ruptura do Mecanismo de lesão
retináculo ao longo do vasto medial. Um trauma grave
é necessário para que ocorra luxação se a relação pate- Dois mecanismos resultam em luxações patelares. Uma
lofemoral estiver normal. As luxações patelares ocorrem contração poderosa do quadríceps em combinação com fle­
em pacientes com: xão súbita e uma rotação externa da tíbia sobre o fêmur é a
causa mais comum de luxação patelar lateral. O trauma
• Joelho valgo direto na patela com o joelho em flexão pode resultar em
• Joelho recurvado luxação, embora seja incomum. As luxações horizontais
• Excessiva anteversão do colo femoral ou torção fe- são secundárias a um golpe direto no polo superior da pate­
moral interna la, seguido de rotação.
Emergências Ortopédicas 477

Figura 20.59 A. Luxação patelar lateral em mulher jovem


B. Luxação patelar com rotação do eixo vertical. (Reim ­
pressa, com permissão, de Elsevier Scientific Publications.
Sherman SC, Yu A. Patellar dislocation with vertical axis ro­
tation. J Emerg M ed 2 00 4 ;2 6(2 ):2 1 9.)

Exame são do joelho, aplicar uma pressão suave sobre a patela em


O paciente relata uma história de sensação de que o joe­ uma direção medial (Vídeo 20.3). As luxações intra-articu-
lho “sai do lugar” e observa uma deformidade seguida de lares e horizontais são às vezes reduzidas por manipulação
edema (Fig. 20.59). Frequentemente, a patela se reduzirá fechada, embora a maioria requeira redução aberta. As lu­
antes da apresentação. Se a patela ainda estiver deslocada xações superiores e as laterais, com rotação do eixo verti­
na apresentação, a deformidade e a hemartrose estão pre­ cal, na maioria das vezes requerem a redução cirúrgica.
sentes, e o joelho está flexionado. Depois da redução, devem ser obtidas as radiografias
Se a redução espontânea tiver ocorrido, geralmente que documentam a posição da patela. A perna deve ser co­
existe sensibilidade dolorosa ao longo da superfície infe­ locada em um imobilizador de joelho (Apêndice A.16) em
rior da patela e o teste de apreensão p a te la r é positivo. extensão completa por três a sete semanas. O gelo também é
Para executar o teste, o joelho é flexionado em 30° e a recomendado nas primeiras 24 horas. O encaminhamento a
patela é empurrada lateralmente; se ocorrer a sensação de um ortopedista é recomendado. Alguns ortopedistas acredi-
reluxação iminente, o teste é considerado positivo.

Imagens
As incidências AP e lateral são adequadas para avaliar a
lesão (Fig. 20.60). As radiografias devem ser obtidas para
excluir uma fratura. A presença de um nível de fluido e
gordura é indicativa de uma fratura óssea ou osteocondral.
Observar que um ângulo patelofemoral anormal não é si­
nal radiológico confiável de instabilidade patelar na luxa-
A 167
çao aguda.

Lesões associadas
A lesão associada mais comum é um corpo livre intra-
-articular ou uma fratura osteocondral da faceta medial
da patela ou do côndilo femoral lateral. As lesões osteo-
condrais estão presentes em 40% dos casos. 9Essas lesões
costumam ser difíceis de ver em radiografias simples.

Tratamento
Para reduzir uma luxação lateral da patela deve-se inicial­
mente, flexionar o quadril. Então, enquanto é feita a exten­ Figura 2 0 .6 0 Radiografia AP de uma luxação patelar.
478 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

tam que todas as luxações da primeira vez devem ser cirur­ 12. Bachmann LM, Haberzeth S, Steurer J, et al. The accuracy
gicamente reparadas desde o início, enquanto outros elegem of the Ottawa Knee Rule to rule out knee fractures: A sys­
uma abordagem mais conservadora. As luxações patelares tematic review. Ann Intern Med 2004;140(2):121-124.
recorrentes devem ser tratadas cirurgicamente; entretanto, 13. Bulloch B, Neto G, Plint A, et al. Validation of the Ottawa
os autores não preconizam o tratamento cirúrgico em lesões Knee Rule in children: A multicenter study. Ann Emerg
iniciais. 8' As luxações associadas a uma fratura osteo- Med 2003;42(l):48-55.
condral são mais adequadamente tratadas com cirurgia. 14. Cohen DM, Jasser JW, Kean JR, et al. Clinical criteria for
A subluxação patelar é tratada de modo conservador; using radiography for children with acute knee injuries.
os exercícios isométricos são iniciados para fortalecer Pediatr Emerg Care 1998; 14(3): 185-187.
o quadriceps. Os exercícios de alongamento para os is- 15. Khine H, Dorfman DH, Avner JR. Applicability of Ottawa
quiotibiais também são preconizados. Nos casos em que Knee Rule for knee injury in children. Pediatr Emerg Care
a sensibilidade dolorosa é intensa, sendo observada uma 2001 ; 17(6):401 -404.
frouxidão significativa, é usado um imobilizador patelar 16. Szucs PA, Richman PB, Mandell M. Triage nurse applica­
de contenção. A terapia cirúrgica é reservada para os pa­ tion of the Ottawa Knee Rule. Acad Emerg Med 2001 ;8(2):
cientes que não apresentaram sucesso com o tratamento 112-116.
conservador após 6 a 12 meses. 17. Kec RM, Richman PB, Szucs PA, et al. Can emergency
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Capítulo 21
Perna
INTRODUÇÃO da com poucas consequências. A porção inferior é o con­
trário, por causa da sua importância ao formar o encaixe
A tíbia é o único osso de carga na perna. A fibula está fixa­ do tornozelo.
da à tíbia pela membrana interóssea, que se divide em um Os músculos da perna estão contidos em quatro com­
“Y” tanto proximal como distalmente. O braço proximal partimentos fasciais: compartimentos anterior, fibular,
do “Y” é composto do ligamento tibiofibular anterossu- posterior profundo e posterior superficial. O comparti­
perior e do ligamento tibiofibular posterossuperior. Uma mento anterior inclui os dorsiflexores do tornozelo e do pé
divisão similar ocorre distalmente, com um ligamento ti­ e os compartimentos posteriores (superficial e profundo)
biofibular inferior anterior e posterior. A fibula é de pouca contêm os flexores plantares. O compartimento fibular
importância em sua porção superior, que pode ser excisa- aloja os eversores de pé.

FRATURAS DA PERNA
FRATURAS DA DIÁFISE DA TÍBIA Mecanismo de lesão
Mecanismos múltiplos podem resultar em fraturas da diá­
As fraturas da diáfise da tíbia são as fraturas mais comuns
fise da tíbia e da fíbula. O trauma direto é uma causa co­
dos ossos longos no corpo. Em consequência de sua loca­
mum e habitualmente resulta em lesão associada de teci­
lização superficial na perna, também é a fratura exposta
dos moles. Essas fraturas são com frequência secundárias
mais comum.
a colisões de automóveis e resultam em fraturas transver­
Pelo fato de a tíbia e a fíbula correrem em paralelo
sas ou cominutivas.
entre si e estarem firmemente unidas por ligamentos, uma
fratura deslocada de um osso é muitas vezes associada a
uma fratura concomitante do outro osso.
As fraturas da diáfise da tíbia são classificadas com > 50%
0-50% deslocados com Deslocamento
base nos princípios estabelecidos por Nicoll. Três fatores
de deslocamento contato ósseo completo
determinam o desfecho desse tipo de fratura:
1. Deslocamento inicial
2. Cominução
3. Lesão de tecidos moles
As fraturas são divididas com base no deslocamento
em três grupos: (1) < 50% deslocamento, (2) > 50% des­
locamento e (3) deslocamento completo ou gravemente
cominutiva (Fig. 21.1). As fraturas da diáfise tibial com
< 50% de deslocamento têm chance de união de 90%, en­
quanto as fraturas com deslocamento completo têm possi­
bilidade de união de apenas 70%.
O grau de lesão de tecidos moles associada é um fa­
tor frequentemente não reconhecido que afeta o prognós­
tico e o tratamento da fratura. As fraturas associadas
a uma contusão significativa da pele ou dos músculos
sobrejacentes estão associadas a taxas mais altas de in­
fecção e mais baixas de consolidação. O tempo médio
de consolidação para as fraturas não complicadas e não
deslocadas é de três meses. Para as fraturas deslocadas, Figura 21.1 Fraturas das diáfises da tíbia e da fíbula. As fratu­
expostas ou cominutivas, o tempo médio de consolida­ ras da diáfise da tíbia podem ocorrer de forma isolada, mas são
ção é de quatro a seis meses. tratadas de modo sim ilar às fraturas combinadas.
484 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

O trauma indireto está associado a forças rotatórias


e compressivas, como ao esquiar ou em uma queda, e re­
sultam em fratura espiral ou oblíqua. As forças rotató­
rias ocorrem quando a perna e o corpo giram ao redor de
um pé fixado no solo. Essas lesões mais provavelmente
causam fraturas espirais. As forças de inclinação também
podem resultar em fratura que seja oblíqua ou transver­
sa. Uma fratura do pilão tibial é em geral secundária a
uma queda de altura que direciona o tálus para cima, na
tíbia. Essas fraturas são intra-articulares e estão descritas
no Capítulo 22.

Exame
Fraturas da diáfise tibial se apresentam com dor, edema
e deformidade. Embora o dano neurovascular não seja
comum após essas lesões, a verificação dos pulsos e da
função do nervo fibular (dorsiflexão e flexão plantar dos
dedos do pé) é obrigatória. O pulso pedioso dorsal deve
ser palpado e comparado com a extremidade ilesa. Ou­
tros achados consistentes com síndrome compartimentai
devem ser buscados e os achados negativos pertinentes
documentados no gráfico (ver “Lesões associadas”).

Imagens
As incidências AP e lateral costumam ser adequadas para Figura 21.2 Fratura das diáfises da tíbia e da fibula, com
definir a posição dos fragmentos da fratura (Fig. 21.2 a 100% de deslocamento lateral.
21.4). Ao descrevê-las, é importante avaliar:
1. Localização: terço proximal, médio ou distai exame clínico minucioso, determina o plano de manejo
2. Tipo: transversa, oblíqua, espiral ou cominutiva subsequente.
3. Deslocamento: porcentagem de contato da superfície Como antes mencionado, o dano neurovascular no
de fratura momento da lesão é incomum, embora as lesões graves
4. Angulação: valgo ou varo do fragmento distai possam apresentar-se com ruptura incompleta ou comple­
ta das estruturas neuro vasculares.
Lesões associadas
A síndrome compartimentai é um achado frequente de­ A xiom a: Qualquer paciente com fratura da tíbia e dor que
pois das fraturas de tíbia. A avaliação clínica e a docu­ aumenta de 24 a 48 horas depois da imobilização gessada
deve levantar a suspeita de síndrome compartimentai.
mentação devem refletir que o profissional considerou
esse diagnóstico. As fraturas da tíbia são a causa mais
comum da síndrom e com partim entai, respondendo Tratamento
por 36% de todos os casos. A incidência de síndrome O manejo de emergência das fraturas da diáfise da tíbia
compartimentai após as fraturas da diáfise da tíbia é inclui a imobilização com tala longa, com o joelho em 10
de 4,3%. É três vezes mais comum em indivíduos com a 15° de flexão e o tornozelo flexionado em 90°. A tala
mais de 35 anos. deve estender-se desde a metade da coxa até as cabeças
A evidência de uma síndrome compartimentai está metatarsais. A redução de emergência de uma fratura fe­
quase sempre presente dentro das primeiras 24 a 48 ho­ chada é indicada quando houver comprometimento vascu­
ras após a lesão. Os compartimentos musculares devem lar que ameace o membro.
ser palpados em busca de sensibilidade dolorosa ou As fraturas expostas podem ser suavemente limpas e
tensão. A dor com estiramento passivo deve ser notada, cobertas com curativo. A profilaxia do tétano (quando in­
bem como a sensibilidade entre o primeiro e o segundo dicado) e os antibióticos parenterais devem ser iniciados.
dedos do pé como indicador da função do nervo fibular. O debridamento cirúrgico de emergência com fixação ex­
Se houver suspeita de síndrome compartimentai, a con­ terna ou interna é recomendado.
sulta ortopédica de emergência é recomendada. A de­ A consulta ortopédica de emergência é aconselhada
terminação das pressões compartimentais, além de um em pacientes com fraturas da diáfise da tíbia devido à alta
Emergências Ortopédicas 485

Figura 21.3 Fraturas espirais do terço distai


das diáfises da tíbia e da fíbula. Existe < 50%
de deslocamento e angulação apenas leve.

incidência de síndrome compartimentai, que pode evoluir


mais tarde. P or esta razão, os p a c ien tes com fra tu ra s da
diáfise da tíbia e edem a significativo de tecidos m oles d e ­
vem se r hospitalizados, com elevação da extrem idade e
observação atenta p a ra o desenvolvim ento de síndrom e
com partim entai.
As opções de tratamento definitivo incluem a imobili­
zação gessada ou com imobilizador, a fixação externa e o
encavilhamento intramedular. A placa é raramente usada,
pois a cirurgia causa lesão adicional de tecidos moles. O
grau de deslocamento da fratura, a cominução, o mecanis­
mo da lesão (alta quantidade de energia versus baixa ener­
gia) e a lesão associada de tecidos moles são importantes
na seleção da terapia pelo cirurgião.
O tratamento fechado com um gessado longo, sem
carga, é reservado aos pacientes com fraturas não des­
locadas e com lesão mínima de partes moles. A fratura
deslocada que é submetida à redução fechada também
pode ser tratada assim, desde que seja estável. As fratu­
ras tratadas de modo conservador devem ser monitoradas
com radiografias frequentes para assegurar que não houve
deslocamento durante o tratamento. O gessado pode ser
removido dentro de seis a oito semanas, após a formação
do calo ósseo. Os problemas com a imobilização gessada
Figura 2 1.4 Fratura com inutiva da tíbia distai com desloca­ incluem rigidez do joelho e dificuldade de caminhar após
mento mínimo. o tratamento.
486 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Quando houver deslocamento, cominução ou instabi­


lidade, o encavilhamento intramedular é o tratamento es­
colhido pela maioria dos ortopedistas.3,12” A prevalência
de não união e má união diminui muito em comparação
com os outros métodos de tratamento. Além disso, os pa­
cientes teriam ficado menos tempo afastados do trabalho,
com um retorno mais previsível e mais rápido à função
completa. Em pacientes com fraturas graves e expostas
da diáfise da tíbia, é preferível a fixação externa com en­
cavilhamento intramedular retardado.

Complicações
As fraturas de diáfise da tíbia e da fíbula apresentam di­
versas complicações significativas.
1. Não união ou união retardada
2. Síndrome compartimentai
3. Dor ou rigidez articular crônica

FRATURA DA DIÁFISE FIBULAR


As fraturas isoladas da diáfise da fíbula são lesões inco-
muns e quase sempre associadas a uma fratura da tíbia
(Fig. 21.5). Ocorrem devido ao trauma direto sobre o as­ Figura 21.6 Fratura da fíbula proximal secundária a um tiro
pecto lateral da perna ou após disparo de arma de fogo de arma de fogo.
(Fig. 21.6).
As fraturas da diáfise da fíbula se apresentam com dor ser utilizada para o alívio da dor. Alguns pacientes têm
que é exacerbada com a deambulação e uma área discreta pouca dor e toleram a carga parcial inicial com muletas,
de sensibilidade dolorosa sobre o local de fratura. O exa­ sem imobilização.
me deve incluir a avaliação minuciosa do tornozelo. Deve
ser excluída a fratura de Maisonneuve, na qual a ruptura
do ligamento do deltoide ou uma fratura do maléolo me­ FRATURA DE ESTRESSE DA TÍBIA
dial acompanha uma fratura da fíbula proximal. As fraturas de estresse são comuns na perna e com fre­
As fraturas da diáfise da fíbula sem fratura associada quência erradamente diagnosticadas como contusões, dis­
da tíbia são tratadas sintomaticamente e, em geral, conso­ tensões, periostite, síndrome compartimentai do exercício
lidam sem complicações. A imobilização da perna pode ou compressão nervosa. A tíbia é especialmente propensa,
respondendo por quase metade dos casos. Tais fraturas
ocorrem em atletas jovens, bailarinos ou militares em pe­
ríodo inicial de treinamento. A localização mais comum
de uma fratura de estresse tibial é a cortical posterome­
dial da diáfise. As fraturas de estresse na cortical anterior
também ocorrem e são mais problemáticas por causa da
menor vascularização e da tensão nesta área.

Apresentação clínica
O paciente relata o aparecimento insidioso de dolorimento
ou dor incômoda na perna, que aumenta com a atividade.
Eventualmente, se não tratada, a dor torna-se contínua,
mesmo em repouso e durante a noite. Pode haver sensibi­
lidade dolorosa localizada, com algum edema de tecidos
moles sobre o local da fratura, que fica, na maioria das
vezes, no terço superior da perna.

Imagens
As radiografias inicialmente obtidas são negativas, e a
Figura 21.5 Fraturas da diáfise da fíbula. condição pode não ser diagnosticada. Entretanto, de duas
Emergências Ortopédicas 487

semanas a três meses mais tarde, uma linha fina e trans­ necessários. Os agentes anti-inflamatórios não esteroides
versa com reatividade periosteal junto a uma ou ambas são evitados, devido aos efeitos inibitórios sobre a consoli­
as corticais estará presente. Outros exames diagnósticos dação óssea. A retomada gradual da atividade entre o pri­
incluem a cintilografia óssea e a ressonância magnética meiro e o segundo mês após a fratura é necessária para que
nuclear (RMN). A cintilografia óssea é muito sensível e ocorra a consolidação. O desenvolvimento de dor durante
revela uma área focal de captação em todas as três fases. J esse período requer redução no nível da atividade.
A RMN é mais específica do que a cintilografia óssea, As fraturas de estresse na cortical anterior da tíbia
porém, o seu custo é mais elevado.1 são tratadas com gessado ou fixação cirúrgica. Se hou­
ver suspeita de fratura de estresse cortical anterior, o pa­
Tratamento ciente deve ser imobilizado e receber muletas enquanto
As fraturas de estresse tibial são tratadas mais frequente­ aguarda os exames e o encaminhamento definitivo para
mente de forma conservadora. O repouso e as órteses são um ortopedista.

LESÃO DE TECIDOS MOLES DA PERNA


SÍNDROME COMPARTIMENTAI AGUDA bia é o précipitante mais comum, mas as outras condições
que podem resultar em síndrome compartimentai incluem
As síndromes compartimentais estão entre os problemas curativos ou gessados constritivos, lesões por esmagamen­
potencialmente mais devastadores que se apresentam to ou lesão arterial. Desse modo, um aumento na pressão
no setor de emergência. As contraturas isquêmicas de compartimentai pode ser causado por (1) compressão do
Volkmann são o resultado da isquemia do músculo e do
compartimento (p. ex., gessado) ou (2) aumento de vo­
nervo quando a condição não é tratada. O diagnóstico pre­
lume dentro do compartimento (p. ex., hematoma). Para
coce e o reconhecimento dos sinais iniciais desse processo
uma extensa hsta das causas de síndrome compartimentai,
são essenciais para o médico da emergência.
consultar o Capítulo 4.
A perna é a locahzação mais comum para desenvolver
síndrome compartimentai, sendo o compartimento anterior Apresentação clínica
o envolvido na maioria das vezes. Os outros compartimen­
A avaliação clínica começa quando existe um alto grau
tos da perna incluem os posteriores superficial e profundo
de suspeita. O sinal mais precoce e mais confiável de sín­
e o compartimento fibular (lateral) (Fig. 21.7). O conteúdo
drome compartimentai é a d o r intensa, fora de proporção
de cada compartimento é listado na Tabela 21.1.
com a gravidade aparente da lesão. A dor não é bem-lo-
As síndromes compartimentais da perna podem ser
calizada, é progressiva e aumenta de intensidade. Além
desencadeadas por várias condições. Uma fratura da tí-
disso, a palpação do compartimento envolvido revela que
ele está tenso. A d o r com o estiram ento p a ssivo é um sinal
precoce, mas pode ser confundido quando houver contu­
são. Deve ser lembrado que as paresias e parestesias não
são confiáveis e ocorrem tardiamente, como a diminuição
dos pulsos.
Pelo fato de os compartimentos anterior e posterior
profundo da perna serem afetados com mais frequência, a
descrição detalhada de ambas as apresentações é delinea­
da subsequentemente.2

Axiom a: O aumento da dor enquanto uma extremidade fe­


rida está em repouso deve elevar a suspeita do médico da
emergência sobre o diagnóstico de síndrome compartimentai.

Síndrome compartimentai anterior


Essa síndrome é caracterizada por dor anterior na tíbia,
fraqueza na dorsiflexão do tornozelo e nos dedos do pé e
um grau variável de perda da sensibihdade sobre a distri­
superficial
buição do nervo fibular profundo (espaço entre o primeiro
Figura 21.7 O s compartimentos da perna. e o segundo dedos do pé).
488 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

► TABELA 21.1 Anatom ia relacionada dos compartimentos teciduais da perna

Compartimento Músculos Vasos Nervos Dor


Anterior Tibial anterior, Artéria tibial Fibular profundo Flexão plantar
extensor longo do anterior • Fraqueza: dorsiflexão do do tornozelo,
hálux, extensor tornozelo, extensão do dedo do pé flexão dos
longo dos dedos, • Rarestesia: espaço interdigital entre dedos do pé
fibular acessório o primeiro e segundo dedos
Lateral Fibulares longo e curto Nenhum Fibular superficial Flexão plantar
• Fraqueza: dorsiflexão do do tornozelo,
tornozelo, eversão do pé inversão do pé
• Rarestesia: dorso do pé
Posterior profundo Tibial posterior; flexor Artéria fibular, Tibial posterior Dorsiflexão do
longo dos dedos; artéria tibial • Fraqueza: flexão plantar do tornozelo,
flexor longo do posterior tornozelo, inversão do pé, flexão eversão do pé,
hálux dos dedos do pé extensão dos
• Parestesia: Aspecto plantar do pé dedos do pé
Posterior Gastrocnêmio, sóleo, Nenhum Sural Dorsiflexão do
superficial plantar • Fraqueza: flexão plantar do tornozelo
tornozelo
• Parestesia: pé lateral

O médico da emergência não deve esperar pelo de­ sia sobre a distribuição do nervo tibial posterior ao longo
senvolvimento da queda do pé ou das parestesias, já que da sola. O paciente também tem tensão e sensibilidade do­
são achados tardios. Com o aparecimento de dor intensa lorosa ao longo da parte distai e medial da perna. Todos
sobre o compartimento anterior, existe perda de função, esses sinais podem ficar evidentes dentro de duas horas
de forma que se toma quase impossível contrair os mús­ até seis dias a partir da lesão.
culos dentro do compartimento. O alongamento passivo
dos músculos causa dor acentuada. A pele sobre o com­ Tratamento
partimento fica eritematosa e brilhante, quente e dolorosa Se houver suspeita desse diagnóstico, as pressões compar­
à palpação, e com uma sensação “de madeira”. timentais devem ser medidas no setor de emergência. A
A síndrome compartimentai anterior pode ser con­ pressão compartimentai pode ser rápida e facilmente me­
fundida com espasmos musculares, dores na canela ou dida usando um monitor comercialmente disponível que é
contusões. Entretanto, se o examinador estiver ciente alimentado por bateria (Stryker STIC monitor). Uma des­
de que as condições previamente mencionadas podem crição dessa técnica está disponível no Capítulo 4.
resultar em síndrome compartimentai, ele chegará ao A pressão compartimentai normal é < 10 mmHg.
diagnóstico. As pressões superiores a 20 mmHg devem determinar a
pronta hospitalização e a consultoria cirúrgica. Pressão de
Axioma: No momento em que um paciente se queixar de 30 a 40 mmHg é geralmente considerada indicação para
dor intratável na frente da p ern a co m alguma perda na dor- uma fasciotomia de emergência na sala de cirurgia.
siflexão dos dedos do pé e do próprio pé , a síndrome com­ A fasciotomia é realizada com uma incisão longitu­
partimentai anterior deve ser suspeitada. dinal da pele acima do compartimento. A fáscia subja­
cente é dividida ao longo do comprimento do compar­
timento, permitindo que o músculo contido se expanda.
Síndrome compartimentai posterior profunda
A fasciotomia executada precocemente (i.e., menos de
O compartimento posterior profundo inclui o flexor longo 12 horas depois do aparecimento dos sintomas) resulta
dos dedos, o tibial posterior e o flexor longo do hálux, no retomo à função normal em 68% dos pacientes, en­
como também a artéria e o nervo tibial posterior. O septo quanto somente 8% daqueles com fasciotomias feitas
cruciforme transverso forma a parede posterior do com­ depois de 12 horas readquire a função completamente
partimento, enquanto a membrana interóssea forma a pa­ normal. Uma taxa de complicação de 54% é vista com a
rede anterior. fasciotomia retardada, comparada a somente 4,5% com a
O quadro clínico dessa síndrome é complicado pelo fasciotomia precoce. Quando todos os quatro compar­
envolvimento de outros compartimentos circundantes. timentos estiverem envolvidos na síndrome, uma fascio­
Entretanto, existe aumento da dor à extensão passiva dos tomia com incisão dupla ou uma fibulectomia tem sido
dedos do pé e fraqueza da flexão, como também hipoeste- preconizada.
Emergências Ortopédicas 489

SÍNDROME COMPARTIMENTAI CRÔNICA efeito. Uma vez que o diagnóstico de SCCE seja esta­
DO EXERCÍCIO belecido, é recomendada a fasciotomia do compartimento
! •i 17,27,39,40
envolvido.
A síndrome compartimentai crônica do exercício (SCCE)
ocorre após esforços físicos, quando a pressão intramus-
cular aumenta. O edema depois da atividade vigorosa DORES NA CANELA
resulta em um aumento de até 20% no volume muscular. O termo “dor na canela” refere-se à síndrome de dor na
A maioria dos casos ocorre depois do uso crônico exces­ perna ao correr e deve excluir as fraturas de estresse, as
sivo em um atleta, embora casos agudos também tenham hérnias fasciais ou os distúrbios isquêm icos.1 Essa
sido descritos.“' A SCCE passa despercebida em 14% dos condição também é chamada de síndrome do sóleo e de
casos depois de consultas repetidas e, em alguns estudos, síndrome do estresse tibial medial (SETM). A SETM é,
o erro diagnóstico é muito mais alto. atualmente, a terminologia preferida. A hiperpronação do
pé, o uso excessivo, o aumento súbito na intensidade dos
Apresentação clínica exercícios ou a alteração na superfície de treinamento po­
A história clínica de SCCE da perna é na maioria das ve­ dem precipitar a SETM. O resultado é uma periostite de
zes aquela de um atleta que descreve dor recorrente na tração induzida pelo músculo na borda posteromedial da
.r , ■ 17,42
área do compartimento afetado durante a atividade. A dor tíbia.
é descrita como um dolorimento ou uma rigidez e pode
estar localizada sobre o compartimento envolvido. A Apresentação clínica
dor pode não se desenvolver até 24 a 48 horas depois do A SETM habitualmente ocorre cedo, no período de treina­
evento précipitante. Depois de um período de repouso, mento de atletas ao correr em superfícies duras. A dor da
a dor cede, recorrendo outra vez com a execução do mes­ SETM é um dolorimento contínuo. O local mais comum
mo exercício. Em alguns pacientes, as parestesias podem da dor é a superfície posteromedial dos dois terços distais
ocorrer sobre o nervo envolvido. A condição é bilateral da perna.
em mais de 80% dos pacientes. A maioria dos casos en-
25 30—35
volve os compartimentos anterior ou posterior.“ ’ Exame
Ao exame, o retropé está posicionado em valgo e o an-
Exame
tepé hiperpronado. A sensibilidade dolorosa palpável é
O paciente tem poucos achados definitivos ao exame. produzida sobre a borda posteromedial da tíbia distal. A
Em alguns casos estarão presentes uma sensação de enchi­ percussão sobre essa área da tíbia causa dor, enquanto as
mento de tecidos moles, edema e espessamento. A perda amplitudes passivas ou ativas do movimento do tornozelo
da sensibilidade no aspecto plantar está associada à SCCE são indolores.
do compartimento posterior profundo, enquanto as pares­
tesias no dorso do pé podem estar presentes com o envolvi­ Diagnóstico
mento do compartimento anterior.
O diagnóstico é mais frequentemente feito pela cintilogra­
fia óssea que revela captação difusa e linear. Entretanto,
Diagnóstico
tanto as radiografias simples como a cintilografia óssea
Quando houver suspeita dessa síndrome em bases clíni­ podem ser normais. A RMN ajuda a diferenciar a SETM
cas, uma cintilografia óssea deve ser obtida para afastar a das fraturas de estresse.
possibilidade de uma fratura de estresse ou periostite (dor
na canela). A RMN pode revelar aumento na intensida­ Tratamento
de de sinal entre as imagens de repouso e pós-exercício.
Muitas formas de tratamento para as dores na perna têm
O diagnóstico definitivo é estabelecido pelas medidas da
sido preconizadas, mas, geralmente, a dor não cede até
pressão intracompartimental que revelam uma pressão
que o paciente pare de correr. O tratamento básico é com
compartimentai pré-exercício de mais de 15 mmHg ou
repouso, gelo e analgésicos. Os agentes anti-inflamatórios
uma pressão compartimentai pós-exercício superior a 30
não esteroides devem ser evitados se houver suspeita de
mmHg, um minuto depois do exercício, ou acima de 20
fratura de estresse.
mmHg cinco minutos depois do exercício.

Tratamento LESÃO MUSCULAR


Essa condição não é tão urgente como a síndrome com­
Contusão
partimentai aguda. O paciente deve ser encaminhado para
as medidas da pressão compartimentai. Diversas modali­ As contusões são muito comuns na extremidade infe­
dades de tratamento, como fisioterapia, órteses, repouso rior, pois os golpes diretos são frequentes. Quatro tipos
e atividades alternadas têm um efeito mínimo ou nenhum de contusões são vistos: (1) na região anterior da perna,
490 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

produzindo dor intensa, causada pelo aumento da pressão ser alertados de que o retorno precoce à atividade antes
compartimentai anterior; (2) na porção subcutânea da tí­ da completa cicatrização pode acarretar um risco de le­
bia a qual, por causa da localização superficial da tíbia, são adicional no músculo. Os agentes anti-inflamatórios
muitas vezes resulta em uma p erio stite traum ática ; (3) no não esteroides têm algum benefício inicialmente durante
compartimento posterior, que é menos comum e não tão o tratamento, para o controle da dor e melhoria funcional;
dolorosa como nas contusões do compartimento anterior; entretanto, o uso a longo prazo desses agentes, além de
(4) na região lateral, onde o nervo fibular se enrola em dois a três dias, é prejudicial para o processo de reparo.
tomo da fíbula proximal. As contusões lateralmente acima Uma pergunta comum é relacionada à utilidade do
da fíbula proximal podem produzir neurite dolorosa ou até alongamento para prevenir as distensões musculares. Os
a paralisia transitória do nervo fibular com equinismo se­ estudos clínicos têm demonstrado que o alongamento pa­
cundário do pé. rece ser benéfico, mas ir além de 70% da força contrátil
Um hematoma pode se formar no local da contusão do músculo o tornam mais propenso a lesões. Assim, ao
e, se isso ocorrer no compartimento anterior, o paciente fazer o alongamento antes de correr ou outras atividades,
pode apresentar uma emergência cirúrgica, requerendo deve-se usar força mínima. A viscoelasticidade é sabida­
fasciotomia para prevenir a isquemia e subsequente ne­ mente dependente da temperatura e o aquecimento é con­
crose muscular. siderado na proteção contra a distensão muscular.
O tratamento dessas lesões é dependente da extensão
do dano e das estmturas envolvidas. Se houver um he­ Ruptura
matoma recente e palpável, ele pode ser aspirado usando
uma técnica asséptica, sendo a aspiração seguida por um Gastrocnêmio e sóleo
enfaixamento compressivo e aplicação de gelo nas 12 ho­ A ruptura do gastrocnêmio ou do sóleo pode ocorrer em
ras seguintes. Se a contusão for limitada ao envolvimento qualquer lugar, desde a inserção no fêmur até a sua inser­
muscular difuso, o tratamento inicial deve incluir com­ ção no calcâneo, que é o local mais comum de ruptura (ao
pressas de gelo e repouso da extremidade com elevação longo da junção musculotendínea). Para mais informações
nas primeiras 48 horas. sobre a ruptura do tendão do calcâneo, ver o Capítulo 22.
Em contusões que envolvem o nervo fibular, o pacien­ O paciente relata dor e edema, com sensibilidade
te apresenta edema local e dor. O paciente relata pareste- dolorosa difusa sobre a panturrilha. Tanto a contração
sias, com irradiação da dor para a área lateral da perna, ativa como o alongamento passivo causam dor ao longo
estendendo-se até o pé. O formigamento e a dormência do músculo. O músculo pode amontoar-se com qualquer
permanecem depois de a dor desaparecer. Os pacientes tentativa de contração. O reparo cirúrgico está indicado
com contusões graves no nervo fibular comum terão os em rupturas completas. Em pacientes com rupturas par­
sintomas iniciais seguidos de sensação de pressão sobre ciais, um gessado em equino é usado até que a cicatriza­
o nervo e perda funcional. A hipoestesia sensitiva e a fra­ ção seja alcançada. Para detectar uma ruptura completa,
queza dos dorsiflexores estão presentes. Este período de o médico deve colocar o paciente em decúbito ventral,
perda funcional é seguido por um período no qual a fun­ com os pés pendentes sobre a extremidade da mesa.
ção do nervo retoma; inicialmente quando a sensibilidade, Aperte a panturrilha e veja se ocorre espontaneamente a
seguida pela função motora. O retomo da função do nervo flexão plantar. Se isto não ocorrer, suspeitar de ruptura
pode ser completo ou parcial. completa.
O tratamento para contusão do nervo é inicialmente
inespecífico, com compressas de gelo seguidas de aplica­ Plantar
ções de calor em 48 horas. Se for observada uma paresia, É um músculo do tamanho de um lápis, com origem no
os músculos devem ser protegidos apoiando o tornozelo e côndilo lateral do fêmur e que passa por baixo do sóleo
o pé em um imobilizador. O pé é mantido em posição neu­ para se inserir no tendão do calcâneo. Em pacientes com
tra. Em pacientes nos quais a contusão é seguida por um ruptura do plantar, a dor é notada profundamente na pan­
período quiescente e uma paralisia rápida, a exploração turrilha, podendo ser incapacitante. O paciente pode rela­
cirúrgica é justificada. Quando a paralisia for imediata, tar ter ouvido um estalo súbito na parte posterior da perna,
uma abordagem mais conservadora é habitualmente con­ seguido de uma dor profunda e constante. O reparo não é
siderada. O encaminhamento está indicado em todos os necessário nesses casos; apenas o tratamento sintomático
pacientes com envolvimento de nervo. é indicado.

Distensões Hérnia fascial


As distensões musculares são comuns na panturrilha, de­ As hérnias fasciais são incomuns. O local habitual é na
vido ao uso excessivo crônico ou contração enérgica. O inserção da fáscia anterior, ao longo da borda anterior da
tratamento é sintomático, com um período de repouso, ca­ tíbia. O paciente relata uma dor no local, que pode ser
lor local e retomo gradual às atividades. Os atletas devem inicialmente diagnosticada como uma contusão ou pe-
Emergências Ortopédicas 491

riostite. Mais tarde, aparece uma massa bem-localizada, 16. Boden BP, Osbahr DC. High-risk stress fractures: Evaluation
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Capítulo 22
Tornozelo
INTRODUÇÃO são lesam a articulação do tornozelo em lugar da articu­
lação subtalar.
As lesões de tornozelo são comuns e respondem por 30% Para entender os distúrbios que ocorrem ao redor
de todas as lesões esportivas. No setor de emergência, as dessa articulação essencial, o médico da emergência
lesões do tornozelo representam 12% das lesões traumá­ deve ter bom conhecimento das estruturas fundamentais
ticas. As lesões ligamentares são mais comuns do que as de tecidos moles que a cercam. Essas estruturas são mais
fraturas em uma relação de 5:1. É importante que o mé­ adequadamente divididas em três “camadas” que circun­
dico da emergência tenha uma compreensão minuciosa da dam a articulação. A camada mais profunda é a cá p su la ,
anatomia funcional, dos padrões de fratura e das lesões de que contém os ligamentos do tornozelo; a camada média
tecidos moles. inclui os tendões, que percorrem a articulação até o pé; e
a camada mais superficial é composta das b a n d a s fib r o ­
Anatomia funcional sas (retináculos), que seguram os tendões durante a sua
O tornozelo é composto das extremidades distais da tí­ ação no pé.
bia e da fíbula, que formam um encaixe para o tálus.
Camada capsular
O tornozelo era descrito, no passado, como uma articu­
lação de dobradiça, mas se assemelha com mais preci­ A cápsula circunda a articulação do tornozelo. É mais
são a uma articulação tipo selar. O domo ou sela talar frágil anteroposteriormente, mas é reforçada lateral e
é mais largo anterior do que posteriormente (Fig. 22.1). medialmente por ligamentos. O lig a m e n to a n te rio r é
Com a dorsiflexão, o domo talar se ajusta firmemente fino, conecta a tíbia anterior até o colo do tálus, e é en­
no encaixe do tornozelo, criando maior estabilidade em volvido em rupturas extensas dos ligamentos laterais.
comparação com a flexão plantar (Fig. 22.2). Tendo isso O lig a m en to p o ste rio r é mais curto do que a sua contra­
em mente, é fácil ver por que a maioria das lesões no partida anterior e estende-se desde a tíbia posterior até o
tornozelo ocorre quando o tornozelo e o pé estão e m f l e ­ tálus posterior.
x ã o p la n ta r. Os ligam entos laterais são os mais comumente le­
O único movimento “puro” que ocorre na articulação sionados do corpo. Eles são divididos em três componen­
do tornozelo é a flexão plantar e dorsal. A inversão e a tes importantes. Estendendo-se desde o maléolo lateral
eversão ocorrem na articulação subtalar, formada pelo até o colo do tálus está o ligam ento talofibular a n terio r
tálus e pelo calcâneo. A articulação subtalar é muito forte, (LTFA), o ligamento mais comumente lesionado no tor-
com firme suporte ligamentar, e o tálus deve sempre ser
considerado como tendo o movimento na mesma direção
que o calcâneo. Em função da resistência da articulação
talocalcânea, a maioria dos estresses de inversão ou ever-

Processo talar posterior

Domo talar

Dorsiflexão Flexão plantar

Figura 22.2 Em dorsiflexão, a porção anterior mais larga do


domo talar se acopla ao encaixe do tornozelo e pouco m ovi­
mento é permitido. Com o tornozelo em flexão plantar, a parte
posterior estreita do domo talar fica dentro do encaixe, permi­
Figura 22.1 Notar que o domo talar é mais largo anterior do tindo que ocorra na articulação um grau significativo de "jogo"
que posteriormente. de inversão e eversão.
494 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Vista anterior Vista lateral

Ligamento tibiofibular
posteroinferior
Membrana interóssea

Ligamento tibiofibular Ligamento talofibular


anteroinferior posterior

Ligamento talofibular
anterior Ligamento
calcaneofibular

deltoide

Figura 22.3 O s ligamentos essenciais do aspecto anterior e lateral do tornozelo e da sindesmose tibiofibular.

nozelo. Do maléolo lateral até o tubérculo posterior do mais profunda das quatro estruturas. A porção do deltoide
tálus está o ligam ento ta lofibular p o ste rio r (LTFP) e do que conecta desde o maléolo medial até o calcâneo tem o
maléolo lateral até o calcâneo se estende o ligam ento ca l­ nome de ligam ento tibiocalcaneano e tem sua inserção no
caneofibular (LCF) (Fig. 22.3). sustentáculo do tálus (Fig. 22.4).
Proximal aos ligamentos laterais, a fibula é conectada Um ligamento importante que não é incluído na
à tíbia por uma série de estruturas fibrosas fortes, forman­ cápsula do tornozelo, mas é envolvido em lesões do tor­
do a sindesm ose tibiofibular. Essa estrutura é composta nozelo e na parte média do pé, é o ligam ento m ola. Tal
pelo ligamento interósseo que conecta a tíbia e a fibula ligamento se estende desde o sustentáculo do tálus até o
ao longo de seu comprimento. Esse ligamento é reforçado navicular e aproxima o intervalo entre os ossos calcâneo
inferiormente por duas bandas fibrosas espessadas: o liga­ e navicular. Funciona dando suporte adicional à cabeça
m ento tibiofibular anteroinferior e o ligam ento tibiofibu­ do tálus contra o peso do corpo, é composto de tecido
lar posteroinferior. fibroso denso, cujas porções se assemelham à cartilagem
O ligamento medial é chamado de ligam ento deltoide, articular.
uma estrutura quadrangular que tem a distinção de ser o
único ligamento no tornozelo que contém tecido elástico, Camada tendínea
apresentando a capacidade de estirar, em vez de romper. Uma série de tendões é superficial à cápsula do tornozelo,
O ligamento deltoide é composto de quatro bandas mis­ mas nenhum deles se insere no próprio tornozelo, embora
turadas entre si, e estendendo-se desde o maléolo medial todos percorram essa articulação e sejam importantes ao
até o navicular, o tálus e o calcâneo. Duas bandas do del­ considerar suas lesões associadas. Esses tendões são sub­
toide se estendem até o tálus, uma chamada de lig a m en ­ divididos em dois grupos, os extensores e os fle x o re s do
to tib io ta la r anterior, inserindo-se no colo do tálus, e a pé. Os extensores passam anteriormente à articulação do
outra chamada de ligam ento tibiotalar posterio r, que é a tornozelo, os flexores passam posteriormente ao maléolo
medial. Um terceiro grupo são os tendões fib u la res, que
passam posteriormente ao maléolo lateral (Fig. 22.5A).
As bainhas sinoviais, algumas com até 8 cm de compri­
mento, circundam esses tendões.

Camada retinacular
Há três divisões de bandas fibrosas espessas, superfi­
cialmente aos tendões, que mantêm os tendões em seus
lugares. Essas divisões seguem a mesma classificação
que os tendões, e são denominadas de re tin á c u lo s ex-
Figura 22.4 O s ligamentos mediais do tornozelo. ten so r, fle x o r e fib u la r . O extensor é dividido em reti-
Emergências Ortopédicas 495

Retináculo extensor
superior

Retináculo extensor
inferior

Fibulares
Retináculo fibular
superior Retináculo fibular
inferior

Flexores

A B

Figura 22.5 A. Os tendões que percorrem a articulação do tornozelo estão superficiais à camada capsular e são cercados por bai­
nhas sinoviais. B. O s tendões são mantidos no lugar por bandas fibrosas.

n á cu lo e x ten so r su p e rio r e e x ten so r in ferio r. O retiná­ Esses movimentos devem ser entendidos antes de
culo flexor consiste em uma banda fibrosa que cruza qualquer discussão adicional sobre as fraturas que ocor­
posteriormente ao maléolo medial. O retináculo fibular rem nessa articulação. Esses termos serão usados ao
tem duas divisões, o fib u la r su p e rio r e o fib u la r in ferio r discutir as lesões do tornozelo ao longo desse capítulo.
(Fig. 22.5B). Nas lesões do tornozelo, as forças de inversão e eversão
são comuns e perpendicularmente direcionadas para fazer
Exame a flexão dorsal ou plantar do tornozelo.
Os movimentos do tornozelo e do pé são descritos em vá­
rios termos intercambiáveis (Fig. 22.6). Imagens

1. E versão: rotação externa As radiografias do tornozelo de rotina incluem as incidên­


cias anteroposterior (AP), do encaixe e lateral (Fig. 22.7).
2. Inversão: rotação interna
Na incidência AP, existe sobreposição da tíbia e da fíbula.
3. D orsiflexão: extensão
A incidência do encaixe é obtida com o tornozelo inter­
4. F lexão plantar: flexão
namente rodado em 15 a 20°. Ela representa a projeção
5. A bdução: desvio lateral do antepé em um eixo longi­ AP verdadeira do tornozelo, já que a tíbia e a fíbula são
tudinal através da tíbia movidas em uma linha perpendicular simples ao feixe
6. A d ução: desvio medial do antepé em um eixo longi­ de raios X. Na incidência do encaixe, a tíbia e a fíbula
tudinal através da tíbia não se sobrepõem e o domo talar é mais bem visualizado.
7. Supinação: adução e inversão Também é a melhor incidência para detectar uma fratura
8. P ronação: abdução e eversão de Tillaux em crianças, pois o aspecto lateral da tíbia não
496 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

C D

E F

Figura 22.6 A . Inversão. B. Eversão. C. Abdução. D. Adução. E. Supinação. F. Pronação.

é obscurecido pela fíbula. A incidência lateral fornece a fícios adicionais da implementação dessa regra de decisão
melhor visualização dos aspectos posteriores da tíbia, da incluem a redução dos custos e o menor tempo de espera,
fíbula, do calcâneo e do tálus. sem qualquer efeito sobre a satisfação do paciente.
As radiografias do tornozelo respondem por 10 a Desde o início, esse instrumento tem sido validado
15% de todas as radiografias traumáticas. As regras de em múltiplos contextos clínicos ao redor do mundo e
tornozelo de Ottawa foram desenvolvidas para predizer pode ser usado tanto por médicos como por enfermei­
fraturas e para reduzir o número de radiografias obtidas ros.1 Uma metanálise de 32 estudos relatou sensi­
(Fig. 22.8). ’7Usando o exame físico, os autores detecta­ bilidade perto de 100%, com redução de 30 a 40% no
ram 100% de todas as fraturas maleolares significativas e número de radiografias. As tentativas de validar essas
reduziram em 36% as radiografias do tornozelo. Os bene­ regras em crianças têm produzido resultados mistos.
Emergências Ortopédicas 497

De modo específico, o profissional deve ser cauteloso ao nal deve considerar a tomografia computadorizada (TC).
atender crianças em idade pré-escolar. As radiografias simples apresentaram somente 85% de
Quando houver suspeita clínica de uma fratura, mas sensibilidade para detectar fraturas do tornozelo em com­
não estiver evidente nas radiografias simples, o profissio­ paração à TC de multidetecção.

Borda posterior ou ponta Vista lateral Vista medial Borda posterior ou ponta
do maléolo lateral do maléolo medial

Base do 5° metatarsal Navicular

Uma série de radiografias do pé somente é necessária se Uma série de radiografias do tornozelo somente é necessária
houver dor no mediopé e quaisquer desses achados: se houver dor no tornozelo e quaisquer destes achados:
1. Sensibilidade dolorosa na base do 5a metatarsal 1. Sensibilidade dolorosa no maléolo lateral (aspecto posterior)
2. Sensibilidade dolorosa do navicular 2. Sensibilidade dolorosa no maléolo mediai (aspecto posterior)
3. Incapacidade de apoiar tanto imediatamente como no setor 3. Incapacidade de apoiar tanto imediatamente como no setor
de emergência de emergência

Figura 22.8 As regras de tornozelo de Ottawa. (M odificada de Stiell IG , Greenberg G H , M cKnight RD, et al. Decision rules for the
use of radiography in acute ankle injuries: Refinement and prospective validation. JAMA 19 9 3 ;2 6 9 :1 127. Copyright 2010 American
M edical Association. Todos os direitos reservados.)
498 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

FRATURAS DO TORNOZELO
O tornozelo sustenta mais peso por unidade de área do Com o pé supinado, as estruturas laterais do tornoze­
que qualquer outra articulação no corpo. É essencial que lo sofrem estresse. A força de rotação externa ou adução
o médico perceba que as fraturas do tornozelo e as lesões aplicada no tornozelo resulta, inicialmente, em fratura
ligamentares muitas vezes coexistem, e qualquer plano da fíbula distai. Se uma força de rotação externa for apli­
de tratamento deve incluir ambos os tipos de lesões. cada, a fratura da fíbula será oblíqua e distai (Fig. 22.9).
As fraturas do tornozelo são amplamente divididas As forças de adução resultam em fratura transversa distai
em decorrentes de forças rotacionais (i.e., as fraturas ma- da fíbula (Fig. 22.10). Quantidades crescentes de força
leolares) e em secundárias a forças de carregamento axial causam fratura do maléolo posterior e do maléolo medial
(i.e., as fraturas do pilão). (ou ruptura do ligamento deltoide). A fratura do maléolo
posterior é o resultado da avulsão do ligamento tibiofibu-
FRATURAS MALEOLARES lar posteroinferior. A supinação com rotação externa é o
mecanismo mais comum de fratura no tornozelo, respon-
Existem muitos sistemas de classificação para descrever dendo por 85% dos casos.1
as fraturas do tornozelo causadas por forças rotacionais. Em pronação, as estruturas mediais do tornozelo é
Os três mais comuns incluem os sistemas de classifica­ que ficam sob estresse. As forças de rotação externa ou
ção de Lauge-Hansen, de Weber e do anel fechado de abdução aplicadas ao tornozelo pronado resultam, ini­
Neer. cialmente, em fratura do maléolo medial (ou ruptura do
O siste m a d e c la ssific a ç ã o d e L a u g e -H a n se n foi ligamento deltoide) e, em última instância, conforme
desenvolvido em 1949 por Niels Lauge-Hansen. Esse a força aumenta, uma fratura transversa proximal da
sistema leva em consideração a posição do pé e do tor­ fíbula (Figs. 22.11 e 22.12). A fratura por pronação e
nozelo no momento da lesão. A primeira palavra refe- rotação externa (PRE) da fíbula fica acima do nível da
re-se à posição do pé no momento que a força lesiva é sindesmose fibular tibial e resulta em mptura completa
aplicada - supinação ou pronação; e a segunda palavra ou parcial dos ligamentos sindesmóticos. A fratura da
refere-se à sua direção - rotação externa (eversão), ab­ fíbula em lesões de PRE pode ser bem proximal, no ní­
dução ou adução. Por meio de estudos realizados em ca­ vel do colo da fíbula.
dáveres, o autor verificou que a sequência de estmturas O sistem a de classificação de W eber classifica as fra­
feridas era similar e reproduzível, conforme aumentava turas do tornozelo pelo nível que elas ocorrem na fíbula
a força da lesão. (Fig. 22.13). As fraturas da classe A ficam abaixo do nível
da sindesmose tibiofibular distai. As da classe B ocorrem

Figura 2 2.9 Esquema representando a progressão da lesão


após a eversão forçada do pé supinado. A. Fratura oblíqua da Figura 22.10 Esquema representando a progressão da lesão
fíbula distal. B. Com o aumento da força, o maléolo posterior após a adução forçada do pé supinado. A. Fratura transversa
sofre avulsão. C. Finalm ente, o maléolo medial fratura, origi­ da fíbula distal. B. Com o aumento da força, o maléolo medial
nando uma fratura trimaleolar. fratura, originando uma fratura trimaleolar.
Emergências Ortopédicas 499

Força de rotação
externa (eversão)

Figura 22.11 Representação esquemática da progres­


são da lesão após a eversão forçada do pé pronado. A.
Fratura isolada do maléolo m edial. B. Com o aum en­
to da força, o ligamento tibiofibular anterior avulsiona
uma porção da tíbia distal. C. Fratura alta da fibula. D.
Fratura do maléolo posterior.

no nível da sindesmose, e as da classe C estão acima da requerem somente reparo cirúrgico se as estruturas me­
sindesmose. As fraturas da classe A eram consideradas diais estiverem lesionadas. Além disso, o nível da fra­
estáveis, não requerendo reparo cirúrgico, enquanto as tura da fíbula nem sempre prediz a necessidade de reparo
da classe B eram tratadas por estabilização fibular, e as sindesmótico. Por essas razões, a classificação de Weber
da classe C necessitavam de estabilização fibular e reparo é pouco usada.
sindesmótico. Esse sistema de classificação era atraente, O sistem a d e c la ssifica çã o do a n el fe c h a d o é fácil
por sua simplicidade e porque se acreditava que guiasse de entender e de aplicar. No sistema de classificação do
a terapia. Infelizmente, a classificação de Weber ignora anel fechado, o tornozelo é considerado como um anel
a lesão medial, que agora é considerada com maior im­ de ossos e ligamentos que circunda o tálus (Fig. 22.14).
portância. As fraturas da classe B, que são mais comuns, O anel, nesse conceito, é composto pela tíbia, pelo liga-

Figura 22.12 Representação esquemática da progres­


são da lesão após a abdução forçada do pé pronado.
A. Fratura isolada do maléolo medial. B. Com o aumen­
to da força, o ligamento tibiofibular anterior avulsiona
uma porção da tíbia distal. C. Por fim, ocorre uma fratura
transversa ou cominutiva da fíbula.
500 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Exam e
O exame deve começar com a avaliação da condição neu-
rovascular. Os pulsos, o enchimento capilar e a sensibili­
dade são testados. É observado se há deformidade grossei­
ra do tornozelo. O grau de edema e a presença de bolhas
ou lacerações afetam o manejo do paciente.
O pé e o joelho são examinados na busca de lesões
associadas. Todo comprimento da fíbula é palpado na
procura por evidência de fratura mais proximal da fíbula,
consistente com a lesão de Maisonneuve.
O tornozelo é palpado em busca de sensibilidade do­
lorosa. O médico da emergência deve dirigir a atenção ao
maléolo medial após as lesões rotacionais do tornozelo.
A sensibilidade dolorosa, o edema ou a equimose nessa
área sugerem a possibilidade de lesão das estruturas me­
diais (fratura do maléolo medial ou ruptura do ligamento
deltoide). Se quaisquer desses achados estiverem presen­
tes, o médico da emergência deve olhar com atenção espe­
cial a essas estruturas nas radiografias simples. A ausência
de sensibilidade dolorosa medial afasta a ruptura aguda do
36
ligamento deltoide ou fratura do maléolo medial.

Figura 22.13 Sistema de classificação de W eber das fraturas Im a g e n s


do tornozelo. Esse sistema é feito com base no nível da fratura As incidências de rotina, incluindo as vistas em AP, lateral
da fíbula distai em relação ao ligamento sindesmótico. e do encaixe são adequadas. A incidência AP do encaixe
é vista com 20° de rotação interna. Essa incidência é útil
mento tibiofibular, pela fíbula, pelos ligamentos laterais para avaliar o espaço articular e para detectar lesão liga­
do tornozelo, pelo calcâneo e pelo ligamento deltoide. mentar, se houver alargamento.
Uma mptura única do anel, seja óssea ou ligamentar, re­ As fraturas estáveis do tornozelo incluem a fratura
isolada da fíbula distai (Fig. 22.15). Os exemplos de le­
sulta em lesão estável. Se o anel for rompido em dois
lugares, uma lesão instável estará presente. As lesões sões instáveis de tornozelo incluem a fratura bimaleolar
instáveis podem envolver dois ossos (p. ex., fratura bi-
maleolar) ou um ligamento e um osso (p. ex., maléolo
lateral e ruptura do ligamento deltoide). Quando o des­
locamento de fratura estiver presente, o profissional deve
suspeitar de ruptura ligamentar oculta, se esta não for
inicialmente aparente.

A B C

Figura 22.14 Sistem a de c la ssifica çã o em anel fechado .


A. O tornozelo é caracterizado com o um anel fechado ao re­
dor do tálus. B. Um a fratura estável é uma fratura ú nica, sem
deslocam ento. C. A instável envolve uma fratura ú n ica com
uma ruptura ligamentar ou duas fraturas no anel. Figura 22.15 Fratura isolada da fíbula: é estável.
Emergências Ortopédicas 501

Figura 22.16 Fratura bimaleolar: é instável.

(Fig. 22.16), trimaleolar (Fig. 22.17) e de Maisonneuve


(Fig. 22.18). A fratura dos maléolos lateral e medial é
chamada de bim aleolar. Quando o maléolo posterior tam­
bém estiver envolvido, a lesão é chamada de trim aleolar.
A fra tu ra de M aisonneuve ocorre quando a fíbula for fra­
turada proximalmente, em combinação com uma do ma­
léolo medial (ou ruptura do ligamento deltoide) e ruptura
da sindesmose tibiofibular.
Quando os achados do exame físico sugerirem le­
são medial, essa porção da radiografia simples deve ser
analisada com atenção. Uma fratura do maléolo medial
costuma ser muito aparente e pode ocorrer de forma
isolada (Fig. 22.19). A dificuldade surge ao determinar
a presença de ruptura do ligamento deltoide. O melhor
critério para avaliar uma ruptura do ligamento deltoide é
a presença de d eslo ca m en to la tera l do tálus nas incidên-
cias AP ou do encaixe do tornozelo. O deslocamento
lateral do tálus está presente quando o espaço entre o
maléolo medial e o tálus for maior que o espaço entre
o domo talar e o pilão tibial (Fig. 22.20). Essa lesão é
chamada de fr a tu r a eq u iv a len te b im a leo la r. O padrão
de lesão equivalente trimaleolar também pode ser visto
(Fig. 22.21). B
Se as radiografias forem negativas e a sensibilidade
dolorosa do maléolo medial estiver presente, a lesão é Figura 22.17 Fratura trim aleolar do tornozelo. A. Incidência
presumidamente tratada como instável e radiografias adi­ AP. B. Incidência lateral. Notar a luxação posterior do tálus.
cionais devem ser obtidas. A incidência de estresse gravi-
tacional ajuda a fazer o diagnóstico. Essa radiografia AP
é obtida com a perna em horizontal ao solo, com o lado T ra ta m en to
medial para cima e o tornozelo suspenso sobre a borda O tornozelo é considerado estável quando o tálus se
de um travesseiro (Fig. 22.22). Em estudos relizados em move em um padrão normal durante a amplitude de mo­
cadáveres, o aumento na inclinação talar superior a 15° vimento. Se o movimento talar for anormal, a cartila­
ou deslocamento talar acima de 2 mm ocorrem quando o gem articular é danificada, degenera e causa artrite pre­
ligamento deltoide estiver rompido. matura. Por essa razão, a determinação da estabilidade
502 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Figura 22.18 Fratura de Maisonneuve. Essa fratura ins­


tável reflete a lesão do ligamento interósseo e enfatiza
a importância de um exame físico minucioso, incluindo
a fíbula proxim al.

do tornozelo é o fator mais importante a considerar ao em uma fratura bimaleolar), os resultados satisfatórios são
tratar essas lesões. As lesões estáveis são tratadas de for­ obtidos em apenas 65% dos pacientes tratados por meios
ma conservadora, enquanto as lesões instáveis requerem fechados versus 90% dos tratados com cirurgia. A de­
a fixação cirúrgica. terminação da estabilidade requer a revisão das radiogra­
Foi determinado que o estabilizador primário do tor­ fias simples, bem como um exame físico minucioso.
nozelo não é constituído pelos elementos laterais, con­
forme proposto por Weber, mas pelas estruturas mediais Estáveis. As lesões estáveis não requerem nenhuma re­
(maléolo medial, ligamento deltoide). Uma fratura dução e têm prognóstico excelente. Os exemplos de fratu­
da fíbula não resulta em movimento talar anormal, desde ras estáveis do tornozelo incluem as fraturas isoladas da
que as estruturas mediais estejam intactas. Múltiplos fíbula distai (comuns) e algumas fraturas isoladas e distais
estudos confirmaram esse fato, demonstrando desfechos do maléolo medial. Inicialmente, essas lesões são tratadas
bem-sucedidos a longo prazo de fraturas isoladas da fíbu­ com uma tala posterior (Apêndice A.14), muletas, eleva­
la que foram tratadas por métodos fechados.4' Pelo con­ ção e gelo até que o edema ceda. O manejo definitivo das
trário, quando o maléolo medial estiver envolvido (como fraturas isoladas da fíbula distai inclui bota gessada ou
órtese para marcha por quatro a seis semanas/ A meta
da terapia é a proteção de lesão adicional e os resultados
são similares, até mesmo quando um tênis de cano alto é
usado para imobilização.
Embora a maioria das fraturas do maléolo medial seja
tratada com cirurgia, uma avulsão pequena pode ser tra­
tada de forma conservadora se for distai e minimamente
deslocada.

In stá veis.As fraturas instáveis deslocadas devem ser


reduzidas e receber imobilização fechada no setor de
emergência. O manejo definitivo de fraturas instáveis do
tornozelo é a cirurgia, mas a redução precisa no setor de
emergência é importante, pois previne a lesão adicional à
cartilagem articular, permite que o edema se resolva mais
rapidamente e evita a isquemia da pele.
A analgesia é necessária para executar a redução.
O tornozelo é facilmente reduzido pela aplicação de
tração suave em linha com a deformidade, seguida pelo
movimento gradual para retomar o tálus a uma posição
Figura 22.19 Um a fratura isolada do m aléolo m edial. Esse reduzida. O tornozelo é imediatamente imobilizado para
tipo de lesão é menos comum e ocorre depois que um pé pro- assegurar que a redução seja mantida. Um molde posterior
nado realiza rotação externa ou é abduzido. e uma tala em forma de “U” em um dos lados para suporte
Emergências Ortopédicas 503

Figura 22.20 A fratura oblíqua da fíbula é visível em ambas as radiografias. A . A distância entre o domo talar e o pilão tibial é
igual a distância entre o maléolo medial e o tálus, indicando fratura estável. B . O desvio talar lateral está presente, representando a
ruptura do ligamento deltoide e a fratura instável {seta). Essa lesão também é chamada de fratura equivalente bimaleolar.

e estabilidade adicionais devem ser usados (Vídeo 22.1 e Embora essas lesões fossem tradicionalmente trata­
Apêndice A. 14). Os filmes para confirmar a redução são das de forma cirúrgica, com hospitalização, um período
obtidos. Se a redução não puder ser realizada (interposi­ de manejo ambulatorial antes da fixação está se tornando
ção de tecidos moles ou fragmentos impactados) ou man­ comum. As indicações para hospitalização incluem falta de
tida (fratura grande do maléolo posterior), a intervenção cooperação do paciente, falta de suporte social, incapacida­
cirúrgica urgente é necessária. A consulta ortopédica deve de de lidar com muletas ou lesões significativas associadas.
ser obtida. Mais informações sobre as fraturas-luxações O momento da cirurgia depende de vários fatores, in­
do tornozelo são fornecidas na seção seguinte. cluindo o tipo de fratura, a condição dos tecidos moles e

Figura 22.21 Fratura equivalente trimaleolar. Observar as fraturas da fíbula distai e do maléolo posterior, bem como o desloca­
mento talar lateral.
504 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Anterior (diástase)

Figura 22.22 Radiografia com estresse da gravidade. Figura 22.23 Fraturas-luxações do tornozelo.

as lesões associadas. Mesmo quando o edema intenso de do pé, como ocorre durante uma queda sobre o calcanhar
tecidos moles, as bolhas da fratura ou as escoriações retar­ com o pé dorsifletido.
darem a cirurgia, nenhum desfecho adverso é observado.
Exam e

FRATURAS-LUXAÇÕES DO TORNOZELO Do ponto de vista clínico, existe uma deformidade ób­


via do pé e do tornozelo. Nas luxações laterais, o pé fica
A luxação do tornozelo é mais comum em associação com deslocado lateralmente e a pele no aspecto medial da
tornozelo instável e fraturas múltiplas. São lesões expos­ articulação do tornozelo está muito tensa (Figs. 22.24 e
tas em um quarto dos casos. As fraturas-luxações têm três 22.25A). Em pacientes com luxação posterior do torno­
vezes a taxa de complicações significativas em compara­ zelo, o pé apresenta flexão plantar e tem o aspecto en­
ção com as fraturas simples. curtado (Fig. 22.25B). O paciente com luxação anterior
A redução precoce dessas lesões é estimulada para apresenta-se com o pé em dorsiflexão e alongado. Ao
reduzir a incidência de complicações pós-operatórias. As exame, os ligamentos de suporte e a cápsula estão rom­
fraturas-luxações que não sejam anatomicamente reduzi­ pidos. As luxações anteriores estão associadas à perda do
das podem resultar em lesão osteocondral do domo talar pulso palpável da pediosa dorsal causada pela compres­
e necrose por pressão da pele sobrejacente. Nesta seção, são pelo tálus.
será abordada a parte relevante do exame e o tratamento
das luxações associadas.
As fraturas-luxações do tornozelo podem ser late­
rais, posteriores, anteriores ou superiores (Fig. 22.23).
Em nossa experiência, a luxação lateral do tornozelo é a
forma mais comum vista no setor de emergência. Essas
lesões habitualmente não são expostas e estão associadas
a fraturas do maléolo medial ou, menos comumente, à
ruptura do ligamento deltoide. As luxações posteriores e
posterolaterais também são comuns. O mecanismo que
causa as luxações posteriores é um forte empuxo da tíbia
posterior para diante, habitualmente secundário a um gol­
pe. O paciente está em flexão plantar quando isso ocorre.
As luxações anteriores são menos comuns do que as pos­
teriores e quase sempre estão associadas a uma fratura do
lábio anterior da tíbia. O mecanismo que causa esse tipo
de luxação é uma força que leva ao deslocamento pos­
terior da tíbia sobre o pé fixo ou a dorsiflexão enérgica Figura 22.24 Luxação lateral do tornozelo-posição clássica.
Emergências Ortopédicas 505

Im a g e n s
Sempre que houver suspeita de uma fratura-luxação de
tornozelo, avaliar a integridade vascular antes de obter
radiografias para excluir o comprometimento. Se houver
perfusão adequada do pé, uma radiografia rápida pode ser
obtida antes da redução (Fig. 22.26).

T ra ta m en to
Como dito anteriormente, a redução precoce é a preferên­
cia após as lesões fechadas. As fraturas-luxações expostas
somente são reduzidas no setor de emergência se estive­
rem associadas a comprometimento vascular. A anestesia
é administrada usando a sedação, de acordo com as dire­
trizes delineadas no Capítulo 2.
A flexão de 90° do quadril e do joelho é recomendada
em todos os casos de fraturas-luxações de tornozelo para
relaxar o complexo gastrocnêmio-sóleo e para permitir a
redução mais fácil. Ela é mais adequadamente alcança­
da com um assistente que prenda a extremidade inferior
do paciente no joelho e forneça a contratração durante a
tentativa de redução (Fig. 22.27)/ Alguns médicos sus­
pendem o pé e a perna para permitir a ajuda da gravidade
na redução. Isso pode ser alcançado com correias ou com
ataduras de gaze enroladas no primeiro e no segundo de­
dos do pé. Como alternativa, o pé pode ser suspenso por
B um pedaço de malha colocado na perna, enrolado até a
Figura 22.25 A . Fratura-luxação posterolateral do tornozelo. coxa, e que vai distai aos dedos do pé. Ambos os métodos
Notar o aspecto tenso da pele medialmente. B. Fratura-luxação ajudam a aplicar a tala após a redução.
posterior do tornozelo. O pé está em flexão plantar e parece As fra tu ra s-lu xa çõ es laterais são relativamente sim­
encurtado. ples de reduzir e envolvem a tração axial com uma das

Figura 22.26 Fraturas-luxações do tornozelo. A. Luxação lateral do tornozelo com fratura de fibula e ruptura associada do ligamen­
to deltoide. B. Luxação posterior. C. Luxação superior. (Fotografia: cortesia de Kris Norland , MD.)
506 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Figura 2 2 .2 7 A redução de uma fratura-luxação do tornozelo


deve ocorrer com o quadril e o joelho flexionados em 90°. Essa
posição relaxa os músculos gastrocnêmio e sóleo e permite re­
dução mais fácil.

mãos no calcanhar e a outra no dorso do pé, enquanto um


assistente aplica a contratração. A seguir, a manipulação
simples feita medialmente retorna o tornozelo à sua posi­
ção normal (Fig. 22.28 e Vídeo 22.2).
As fra tu ra s-lu x a ç õ e s p o sterio res são reduzidas pe­
gando o calcanhar com uma das mãos e o antepé com a
outra. Primeiro, realizar a flexão plantar do pé, fazendo
tração axial adicional com a outra mão. A seguir, o pé é
dorsifletido e o calcanhar é empurrado para a frente, en­
quanto a tíbia é empurrada para trás (Fig. 22.29).
As fr a tu r a s -lu x a ç õ e s a n te rio re s são reduzidas ao Figura 22.29 Técnica de redução para a luxação posterior de
fazer uma leve dorsiflexão do pé para desencaixar o tornozelo.
tálus. A seguir, a tração axial é aplicada. O pé é, en­
tão, empurrado em direção posterior para a sua posição
normal, enquanto uma força anterior é aplicada na tíbia Após a redução, a função neurovascular da extremi­
distai. dade deve ser reavaliada. Uma tala posterior com estribo
As fratu ra s-lu xa çõ es superiores (diástase) são lesões em forma de “U” ao longo dos lados do tornozelo é apli­
incomuns, associadas ao dano articular. Esses casos de­ cada, com o tornozelo em 90° (Apêndice A. 14). As luxa­
vem ser imobilizados e encaminhados para consulta de ções anteriores são imobilizadas em leve flexão plantar.
emergência. Pelo fato de essas fraturas serem instáveis, deve ser to­
mado cuidado para evitar a reluxação ou o deslocamento
enquanto a tala estiver sendo aplicada. A moldagem suave
da tala durante a secagem pode ser usada para “ajustar”
a redução. O material gessado é preferível às talas de fi­
bra de vidro comercialmente disponíveis. A fluoroscopia
é usada para confirmar a adequação da redução antes de
o paciente fazer a radiografia formal pós-redução. Nas lu­
xações laterais, o espaço articular no encaixe não deve ter
mais do que 3 mm.
O paciente requer reparo cirúrgico, que é quase sem­
Figura 22.28 Fratura-luxação lateral do tornozelo. Inicialm en­ pre indicado após essas lesões instáveis do tornozelo.
te é aplicada tração distai no pé em flexão plantar, seguida de Muitos cirurgiões preferem o tratamento cirúrgico preco­
rotação do pé até a sua posição anatômica própria. Essa mano­ ce, então a consulta com um ortopedista antes da libera­
bra habitualmente produz um "ressalto" palpável. ção é apropriada.
Emergências Ortopédicas 507

FRATURAS DO PILÃOTIBIAL
As fraturas intra-articulares da tíbia distai são chamadas de
fraturas do plafond (teto, em francês). Essas fraturas são
causadas por forças rotacionais, porém são mais comuns
quando o tornozelo é submetido a uma carga axial. A fratura
por carga axial daquela região tibial é chamada de fratura
do pilão. As intra-articulares do pilão representam entre 1
a 10% de todas as fraturas da extremidade inferior.

Mecanismo de lesão
A compressão axial de alta energia é o mecanismo comum
na maioria dessas fraturas. Nesse mecanismo, a tíbia
é dirigida para baixo sobre o tálus, resultando em fratu­
ra intra-articular cominutiva da tíbia distai. As fraturas de
baixa energia do pilão também ocorrem, e estão associadas
a menos complicações por ter grau menor de cominução e
lesão de tecidos moles. As fraturas de baixa energia do
pilão podem estar relacionadas com as forças rotacionais.
A posição do tornozelo na hora do impacto axial cria
diferentes padrões de fratura (Fig. 22.30). Se o tornoze­
lo estiver dorsifletido, o padrão de fratura pode ser co-
minutivo, ou uma fratura marginal anterior intra-articular
ser aparente. De modo alternativo, o tornozelo em flexão
plantar resulta em padrão marginal posterior de fratura.

Exame
O paciente apresenta dor e edema, inicialmente localiza­
dos, mas que podem, mais tarde, envolver o tornozelo de
forma difusa. O examinador deve tentar produzir o meca­
nismo exato da lesão e verificar com cuidado o tornozelo
na busca de sensibilidade dolorosa ou edema focal. Cerca
de 20% dessas fraturas são expostas. Os pulsos pedio-
so dorsal e tibial posterior devem ser palpados e compara­
dos com a extremidade não envolvida. O edema ou a equi­
mose que circundam o tendão do calcâneo podem indicar
fratura do maléolo posterior.

Imagens
As incidências de rotina, incluindo as vistas nas AP, lateral e
do encaixe são adequadas (Figs. 22.31 e 22.32). As fraturas
do pilão com frequência requerem uma TC para delinear de
forma completa a extensão da lesão. A TC do tornozelo é
obtida pré-operatoriamente e muda o plano de tratamento
do cirurgião em 64% das vezes. 7,60 Figura 2 2 .3 0 A posição do pé no momento da lesão prediz
qual porção do pilão tibial está fraturada.

Lesões associadas
Depois de uma lesão de compressão axial, podem ser vis­ O manejo definitivo dessas lesões varia desde o uso de
tas fraturas de compressão do calcâneo e das vértebras. A gessado até a redução aberta com fixação interna (RAFI)
síndrome compartimentai da perna também é vista após e, mais recentemente, fixação externa. ’ O tratamento
essas lesões de alta energia. conservador é pouco empregado e fica restrito a lesões de
baixa energia e sem deslocamento articular. A RAFI pode
Tratamento ser executada quando a fratura não estiver associada com
O manejo de emergência das fraturas do pilão inclui gelo, dano excessivo de tecidos moles (em geral em decorrência
elevação, imobilização em uma tala bem-acolchoada de mecanismo de baixa energia). A RAFI após as lesões
57
(Apêndice A. 14) e encaminhamento de emergência. de alta energia, com extensa lesão de tecidos moles, está
508 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Figura 22.31 Fratura do pilão tibial devido a uma força de Figura 22.32 Fratura do pilão causada por um m ecanism o
compressão axial. rotacional de b aixa energia. Essas fraturas estão associadas
a menos lesões de tecidos moles e têm melhor desfecho fun­
cio n al.
associada a uma alta taxa de complicações, tomando a fi­
xação externa o tratamento de escolha.
2. A necrose da pele ou degradação da ferida após a
Complicações redução aberta de fraturas de alta energia do pilão
As fraturas do tornozelo podem desenvolver várias com­ tibial.
plicações significativas. A incidência de complicações 3. Má união ou não união.
graves após a RAFI do pilão tibial varia desde 10 até 4. A infecção da lesão pode ser vista após fraturas ex­
55%. As complicações incluem: postas ou após o reparo cirúrgico, devido à extensa
1. Artrite traumática do encaixe talar (20 a 40%). As fra­ lesão de tecidos moles.
turas cominutivas do pilão tibial ou aquelas que en­ 5. Síndrome da dor regional complexa.
volvem pacientes idosos têm predisposição acentuada 6. Ossificação da membrana interóssea.
para desenvolver artrite. 7. Fraturas osteocondrais do domo talar.

LESÃO DE TECIDOS MOLES E


ENTORSE DO TORNOZELO
ENTORSES DE TORNOZELO As entorses respondem por 75% de todas as lesões
no tornozelo. Elas ocorrem com mais frequência em
Entorses constituem a lesão de tornozelo mais comum atletas com idades entre 15 e 35 anos, que praticam
no setor de emergência e, talvez, a lesão pior tratada a basquetebol, futebol e corridas. As entorses dos liga­
confrontar o médico da emergência. Muitos médicos têm mentos laterais respondem pela ampla maioria, seguida
compreensão limitada de “entorse simples,” embora essas das entorses dos ligamentos sindesmótico tibiofibular e
entorses sejam vistas mais vezes do que qualquer outra medial.
entidade única que envolva as extremidades.
Emergências Ortopédicas 509

► TABELA 22.1 Sequência das estruturas feridas com as ► TABELA 22.2 Classificação das entorses
entorses de inversão e eversão do tornozelo
Grau Sinais e sintomas
Estresse de inversão Estresse de eversão Primeiro grau Perda funcional mínima (paciente
Ligamento talofibular M aléolo mediai sofre avulsão Lesão do ligamento deambula com dor mínima)
anterior (ruptura do ligamento deltoide) sem ruptura Edema mínimo
Levemente doloroso sobre o ligamento
Ligamento calcaneofibular Ligamento tibiofibular envolvido
anteroinferior Nenhum movimento ou dor anormais
4 na testagem de estresse
Ligamento talofibular Ligamento interósseo Segundo grau Perda funcional moderada (paciente
posterior (sindesmótico) Ruptura incompleta tem dor durante a carga e a
de um ligamento deambulação)
Edema moderado, equimose e
sensibilidade dolorosa
Mecanismo de lesão Dor no movimento normal
As entorses são causadas pela inversão ou eversão forçada Instabilidade leve e dor moderada à
intensa na testagem de estresse
do tornozelo enquanto ele está em flexão plantar.
Terceiro grau Perda funcional significativa (paciente
Os estresses de inversão respondem por 85% de todas
Ruptura completa é incapaz de apoiar o peso ou
as entorses do tornozelo e resultam em lesão ligamentar
de um ligamento deambular)
lateral. Conforme a força aumenta, ocorre uma sequên­ Edema em forma de ovo dentro de
cia previsível de lesão às estruturas (Tab. 22.1). A cápsula duas horas da lesão
articular lateral e o ligamento tibiofibular anteroinferior Pode ser indolor com a ruptura
(LTFA) são as primeiras estruturas a serem lesionadas completa
após o estresse em inversão. A lesão isolada do LTFA está Teste de estresse positivo
presente em 60 a 70% de todas as entorses de tornozelo.
Com forças maiores, ocorre uma ruptura do LCF e, por
fim, o LTFP é lesionado. A lesão de todas as três estrutu­ Em en to rses de p rim e iro g r a u , existe estiramen­
ras é vista em até 9% dos casos. to das fibras do ligamento, sem ruptura. O paciente se
As lesões de eversão do tornozelo têm muito menos apresenta sem perda funcional no tornozelo, e muitos
probabilidade nesse tipo de lesão de tornozelo. Além das desses pacientes não buscam cuidados, tratando-se em
estruturas listadas na Tabela 22.1, a fratura do maléolo casa. Os pacientes com entorses de primeiro grau de­
lateral é vista muito mais vezes após lesão de eversão (ver monstram pouco ou nenhum edema, nenhuma dor na mo­
Fig. 22.9). Quando as estruturas mediais são lesionadas, vimentação normal do tornozelo e dor leve ao ter a arti­
a avulsão do maléolo medial ocorre com mais frequência culação forçada na direção da força agressora, em geral
do que a ruptura do ligamento deltoide, que é forte e elás­ uma inversão.
tico. Conforme a força aumenta, o ligamento tibiofibular Os pacientes com entorse de segundo grau são mais
anteroinferior e o ligamento interósseo (sindesmótico) difíceis de diagnosticar, pois significa que o ligamento
rompem (ver Tab. 22.1). As entorses de tornozelo mediai está parcialmente rompido. Isso pode incluir qualquer
respondem entre 5 a 10% de todos casos. coisa, desde apenas algumas fibras rompidas até as ruptu­
A eversão do tornozelo, a rotação interna da tíbia e a ras que envolvem quase o ligamento inteiro, com somen­
dorsiflexão excessiva resultam em lesão do ligamento sin­ te algumas fibras intactas. O paciente apresenta edema
desmótico tibiofibular. Essa lesão é denominada de “en­ moderado e sente dor imediata após a lesão do tornozelo.
torse alta do tornozelo”. Em uma série de rupturas liga- Isso contrasta com os pacientes com lesão de primeiro
mentares do tornozelo, foi identificada em 3% dos casos grau, que podem não saber que tiveram entorse até o dia
a ruptura isolada da sindesmose. O desenho do calçado seguinte, ou depois de um período de repouso. A entorse
não tem qualquer impacto sobre a taxa das entorses de de segundo grau é carregada de complicações, incluindo a
tornozelo. possibilidade de frouxidão ligamentar e recorrências devi­
do à instabilidade.
Apresentação clínica A entorse de terceiro grau existe quando há ruptura
As entorses de tornozelo são classificadas como lesões completa do ligamento. Um edema “em forma de ovo” so­
de primeiro, segundo ou terceiro graus, de acordo com a bre os ligamentos laterais do tornozelo, ocorrendo dentro
apresentação clínica e a instabilidade demonstrada pelo de duas horas da lesão, na maioria dos casos, indica lesão
teste de estresse (Tab. 22.2). As lesões de primeiro grau de terceiro grau. É difícil diferenciar entorse de segundo
são fáceis de diagnosticar, enquanto existe dificuldade em grau grave de lesão de terceiro grau sem a testagem ade-
distinguir entre as lesões de segundo e de terceiro graus. quada de estresse. Pelo fato de os ligamentos estarem
510 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

completamente rompidos, pode haver pouca ou nenhuma tido em posição neutra. Se o tornozelo estiver em flexão
dor, mas em geral existe edema e sensibilidade dolorosa plantar, o teste da gaveta anterior positivo será impossível
no tornozelo. de demonstrar, mesmo que os ligamentos estejam com­
pletamente rompidos. O examinador coloca a base da mão
Exame sobre o aspecto anterior da tíbia e aplica uma força poste­
O exame cuidadoso fornece mais informações ao médi­ riormente direcionada. Ao mesmo tempo, a outra mão se­
co da emergência sobre as estruturas ligamentares feridas gura o calcanhar e desloca o pé anteriormente. A ruptura
após entorses de tornozelo. Se o edema do maléolo lateral do LTFA é indicada por um leve deslocamento anterior do
aumentar a circunferência do tornozelo em 4 cm, a pro­ tálus. O aumento na frouxidão indica lesão adicional do
babilidade de ruptura ligamentar dentro do tornozelo é de calcaneofibular e do LTFP. O grau de frouxidão sempre
70%. A sensibilidade dolorosa sobre o LCF sugere a rup­ deve ser comparado com o lado normal.
tura desse ligamento em 72% dos casos. Do mesmo modo, Dentro das primeiras 48 horas depois da lesão, o teste
a sensibilidade dolorosa sobre o LTFA significa que, em da gaveta anterior demonstrou ter a sensibilidade de 71%,
52% dos casos, o ligamento está rompido. Se todos os três com especificidade de 33%. Cinco dias após a lesão, a
sintomas estiverem presentes, existe uma probabilidade sensibilidade melhorou para 96%, com especificidade de
69
de 91% de dano ligamentar relevante. 84% .m
O teste de estresse ajuda a diferenciar entorses de se­ O teste de estresse em inversão (teste da inclinação ta­
gundo e terceiro grau do tornozelo. Muitas vezes, a dor e lar) pode ser executado para identificar a ruptura do LCF.
o edema secundários à lesão aguda não permitem a testa- Não recomendamos executar esse teste, contudo, pois ele
gem de estresse. Nesses casos, o tornozelo deve ser imobi­ pode ser bastante doloroso e não é necessário no contex­
lizado e o paciente mantido sem carga. O encaminhamen­ to agudo. O teste de estresse de inversão mede o ângulo
to para outros exames melhora a acurácia diagnóstica. } produzido pelo pilão tibial e pelo domo do tálus em res­
A injeção do tornozelo pode permitir a execução de posta à inversão forçada. Para executar o teste, o torno­
testes de estresse do tornozelo agudamente ferido. Isso é zelo é mantido em posição neutra e o examinador segura
feito injetando o lado articular oposto da lesão (em geral a tíbia anterior com uma das mãos e o calcanhar com a
o lado medial), infiltrando 5 a 10 mL de lidocaína. En­ mão oposta. O tornozelo é invertido. Uma diferença de 5
tretanto, a acurácia diagnóstica diminui após a injeção. a 10% ou uma inclinação de 23° indica rupturas do LTFA
O teste de estresse em inversão, por exemplo, tem somen­ e do LCF. A eversão, na forma antes descrita, detecta a
te 68% de precisão com a anestesia, em comparação a lesão do ligamento deltoide.
92% sem ela.71 O exame para a detecção de entorse do ligamento sin-
O teste da gaveta anterior é o primeiro teste a ser exe­ desmótico inclui o teste do aperto. Para executar o teste,
cutado, pois busca a ruptura do LTFA. Se o teste for nega­ a tíbia e a fíbula são “apertadas” na metade da panturrilha.
tivo, então não há necessidade de prosseguir para o teste de A dor no tornozelo e na perna à compressão (na ausência
estresse em inversão, porque para ser positivo requer que de fratura da fíbula) indica lesão nos ligamentos sindes-
tanto o talofibular anterior como o LCF estejam rompidos. móticos. Essa lesão também deve ser suspeitada quando
O teste da gaveta anterior do tornozelo pode ser fei­ a sensibilidade dolorosa estiver presente na articulação,
to com o paciente sentado ou em decúbito dorsal (Fig. ou se uma dor tibiofibular distai for produzida na rotação
22.33). Os músculos que circundam o tornozelo devem externa forçada do tornozelo.
estar relaxados. O joelho deve estar flexionado para rela­
xar o músculo gastrocnêmio, e o tornozelo deve ser man- Imagens
Na maioria dos casos, as radiografias do tornozelo devem
ser obtidas. As regras de tornozelo de Ottawa, como des­
crito previamente, ajudam o profissional a evitar radio­
grafias desnecessárias do tornozelo. Em alguns pacientes
com entorse de segundo grau, será notado um pequeno
floco ósseo arrancado do maléolo lateral. Isso indica rup­
tura incompleta, sendo habitualmente associado a uma
lesão de segundo grau dos ligamentos laterais. O alarga­
mento do espaço tibiofibular em mais de 6 mm sugere en­
torse do ligamento sindesmótico.
A artrografia pode ser usada para definir a extensão da
ruptura ligamentar. O benefício da técnica é controverso, e
seu uso no setor de emergência é raro. Para executar uma
artrografia, o tornozelo é preparado de forma adequada e
Figura 22.33 Técnica para executar o teste de estresse da ga­ uma agulha de tamanho 22 é acoplada a uma seringa de 10
veta anterior do tornozelo. mL, sendo inserida no oposto lateral à lesão, aproximada-
Emergências Ortopédicas 511

mente 6 mL de material de contraste são injetados. É usada


uma mistura 1:1 de Hypaque (50% diatrizoato meglumi-
na e diatrizoato sódico) e água estéril. As radiografias do
tornozelo são então obtidas. Quando a ruptura ligamentar
estiver presente, o extravasamento será visto para fora da
articulação do tornozelo, ao longo do maléolo lateral.

Lesões associadas
As lesões osteocondrais do domo talar ocorrem em 6 a
22% das entorses de tornozelo e passam facilmente des­
percebidas na avaliação inicial. A lesão deve ser suspei­
tada quando houver sensibilidade dolorosa ao longo da
linha articular anterior com o tornozelo em flexão plantar.
A ressonância magnética nuclear (RMN) ou a TC do tor­
nozelo detectam essas lesões, devendo ser consideradas
em pacientes com entorses que permaneçam sintomáticos
por seis semanas depois da lesão.

Tratamento
O cuidado inicial da maioria das entorses laterais do tor­
nozelo tratadas no setor de emergência é similar, mas há
diferenças importantes.
Figura 22.34 A reabilitação funcional após entorse do torno­
Entorse d e p rim eiro grau. Para entorse de primeiro grau, zelo consiste em restaurar a amplitude de movimento, exercí­
cios de fortalecimento muscular, treinamento proprioceptivo e,
o tratamento mais apropriado inclui compressas de gelo,
finalm ente, retorno gradual às atividades. A. O s exercícios de
elevação e atadura elástica, com mobilização precoce. Os
alongamento do tendão do calcâneo devem com eçar dentro
medicamentos anti-inflamatórios não esteroides fornecem de 48 horas da lesão. Outros exercícios de amplitude de movi­
analgesia e possivelmente melhoram os desfechos. mento incluem dobrar o joelho com o calcanhar no chão (cin­
O gelo deve ser esmagado, colocado em uma sacola co repetições, cinco vezes ao dia) e exercícios do alfabeto, em
plástica e coberto com um pano protetor fino para evitar que o paciente "desenha" as letras do alfabeto com os dedos do
lesões cutâneas induzidas pelo frio. A aplicação de gelo pé. C. Os exercícios de fortalecimento começam quando o
é recomendada por 20 minutos, 4 a 6 vezes ao dia, nos edema e a dor estiverem controlados. Os exercícios isométricos
primeiros dois dias. A atadura elástica deve se estender (flexão plantar, dorsiflexão, inversão e eversão) contra uma pa­
logo proximal aos dedos do pé, até o nível médio da pan­ rede são seguidos pelos exercícios isotônicos. D. Os exercícios
proprioceptivos com eçam quando a carga de peso total sem
turrilha. A elevação da extremidade ferida, de 15 a 25 cm
dor tiver sido alcançada. Um a "prancha" é usada por 5 a 10
acima do nível do coração, facilita a drenagem venosa e
minutos, duas vezes ao dia, primeiro sentado, e depois em pé.
linfática. O paciente roda a prancha à direita e à esquerda.
A carga é estimulada conforme a tolerância. A reabili­
tação funcional inicia imediatamente (Fig. 22.34). O retor­
no à atividade completa é feito dentro de uma semana e os exercícios de amplitude de movimento desde o primei­
pacientes devem ser encaminhados para o seu médico de ro dia. A reabilitação funcional estimula a cicatrização,
cuidados primários. promovendo a reposição do colágeno. A falta de um pro­
grama apropriado de reabilitação pode retardar o retomo
Entorse de segundo grau. Em entorses de segundo grau, o às atividades por meses. Os programas de fisioterapia
tratamento inicial é similar ao dispensado às entorses de pri­ realizados em domicílio podem ser igualmente efetivos
meiro grau, exceto que o paciente tem descarga por 48 a 72 quando comparados aos pacientes enviados a um fisiote­
horas. Depois daquele período, a carga mínima com muletas rapeuta.0,76 A reabilitação do tornozelo inclui o fortaleci­
deve progredir para a deambulação com muletas assim que mento dos elevadores e dos dorsiflexores. O cuidado e o
for possível. Um suporte de tornozelo, que fornece muito acompanhamento com um ortopedista ou especialista em
mais estabilidade do que uma atadura elástica, é aplicado medicina esportiva é recomendado.
até que a cicatrização esteja completa. Esses suportes in­
cluem os imobilizadores com cadarço, as órteses bimaleola- Esses pacientes são inicial­
E ntorse d e te rc eiro grau.
res semirrígidas e as talas de ar (Apêndice A.17). mente tratados com imobilização em uma tala por 72
A imobilização prolongada é um erro comum no tra­ horas com gelo, elevação e encaminhamento. Ao apli­
tamento dessas lesões. Pelo fato de as entorses de segundo car uma tala, é fundamental manter o tornozelo longe do
grau serem lesões estáveis, a reabilitação deve iniciar com equinismo, em posição neutra.
512 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Em decorrência da dor e do edema, o exame físico


logo após uma lesão é difícil. Em pacientes nos quais a
diferenciação entre uma lesão de segundo ou de tercei­
ro grau não puder ser feita, é recomendado tratar a lesão
como sendo de terceiro grau, com reexame depois que o
edema e a dor tenham cedido. Foi demonstrado que o exa­
me físico cinco dias após a lesão é mais preciso do que
70 79
quando executado nos primeiros dois dias. ’
O tratamento definitivo dos pacientes com lesão de
terceiro grau permanece controverso. Quando estiver pre­
sente uma instabilidade talar significativa, o reparo cirúr­
gico é recomendado por alguns autores, particularmente
no paciente esportista jovem, enquanto outros recomen­
dam mobilização precoce e fisioterapia.8 A consulta orto­
pédica para essas lesões, como com qualquer lesão grave
e cheia de complicações, é recomendável.

Complicações
A “entorse simples” pode estar associada a um grau alto de
Figura 22.35 A injeção de anestésico local na topografia do
morbidade. Embora a maioria dos pacientes retome à ati­
seio do tarso alivia os sintomas em pacientes com lesão do liga­
vidade normal dentro de quatro a oito semanas, entre 20 e
mento talocalcaneano interósseo.
40% dos pacientes depois dos entorses de terceiro grau te­
rão dor, limitando a sua atividade por anos depois da lesão.66
82
A complicação mais comum, a instabilidade talar la­ os ligamentos talocalcaneanos interósseos. ‘ Quando estes
teral, se desenvolve em até 20% dos pacientes depois de ligamentos são feridos, depois de uma lesão de inversão
entorses de tornozelo. Esses pacientes relatam instabili­ do tornozelo, o resultado pode ser em dor e instabilida­
dade crônica e “falseio” durante a corrida. A maioria dos de crônica. Isso é denominado síndrom e do seio do tarso.
casos pode ser tratada com sucesso com um programa de A sensação de instabilidade e dor no retropé, durante a
exercícios de reabilitação e com órteses para melhorar a marcha em piso desigual, é caracteri Stic amente aliviada
estabilidade. Em casos graves ou refratários, pode ser ne­ quando em repouso. É difícil diferenciar essa condição de
cessária a intervenção cirúrgica com um enxerto tendíneo uma entorse do LTFA.
para estabilizar a articulação.8 Essa síndrome é uma complicação comum de entor-
83
A lesão do nervo fibular é outra complicação comum ses de tornozelo, que não era reconhecida no passado.
após as entorses de tornozelo. Em um estudo, 17% dos Os achados incluem sensibilidade dolorosa no lado exter­
pacientes com entorses de segundo grau tinham lesões le­ no do pé, sobre a abertura do seio do tarso. Esse espaço é
ves do nervo fibular e 86% dos pacientes com entorses de palpado inferior ao LTFA. A dor também ocorre durante
terceiro grau haviam lesionado o nervo fibular ou o tibial a marcha, a supinação e a adução do pé. O diagnóstico é
posterior. Desse modo, a capacidade prejudicada de cami­ confirmado quando a injeção de um anestésico local no
nhar em cinco a seis semanas depois de uma entorse pode seio do tarso alivia os sintomas (Fig. 22.35).
estar relacionado a uma lesão do nervo fibular. A lesão é Mesmo com as radiografias de estresse, o exame ra-
provavelmente causada por tração leve do nervo ou por diográfico de rotina do tornozelo e da articulação subtalar
hematoma na bainha epineural. não revela qualquer patologia.
A luxação ou a subluxação de tendão fibular, as le­ O tratamento dessa condição inclui agentes anti-infla-
sões sindesmóticas, a exostose tibiofibular, a síndrome do matórios e o paciente recebe um dispositivo ortótico. A inje­
seio do tarso (entorse subtalar), as lesões osteocondrais do ção de anestésico local e esteroide no seio do tarso também
domo talar e a síndrome da dor regional complexa cons­ pode ser executada, às vezes sendo necessária a sua repeti­
tituem complicações infrequentes das entorses ligamenta- ção. Quando o tratamento conservador for incapaz de aliviar
res laterais. Essas entidades estão abordadas nas seções a a dor, o tratamento cirúrgico da síndrome do seio do tarso
seguir, com exceção da síndrome de dor regional comple­ pode ser realizado. A artrodese subtalar é usada quando os
xa, descrita no Capítulo 4. tratamentos mais conservadores não obtiverem sucesso.

SÍNDROME DO SEIO DO TARSO LESÃO OSTEOCONDRAL DO DOM O TALAR


O seio do tarso corresponde aos espaços no aspecto lateral A “entorse de tornozelo seguida de artrite traumática” e a
do pé, entre o colo inferior do tálus e o aspecto superior “entorse de tornozelo não cicatrizada” são duas situações
do calcâneo distai. Na profundidade desse espaço ficam comuns que devem fazer o médico da emergência con-
Emergências Ortopédicas 513

Figura 22.36 Lesão osteocondral do domo


talar.

siderar a possibilidade de lesão osteocondral. Existem ma recorrente. O local mais comum de lesão no trauma é
duas localizações onde a cartilagem e o osso do domo ta­ o aspecto posteromedial do domo talar. A injeção com
lar do tornozelo podem ser feridos - as margens superola­ anestésico local da articulação alivia a dor.
teral e superomedial. Se o fragmento desalojar, ele atrita
contra a articulação, resultando em artrite crônica irrever­ Imagens
sível. Outros locais menos comuns para as lesões osteo- As radiografias do tornozelo podem mostrar uma cratera
condrais incluem a borda da fibula e a superfície articular ou uma partícula de osso que parece opaca, cercada por
posterior do navicular. radiotransparência (Fig. 22.36). A melhor incidência para
demonstrar uma lesão lateral é a incidência AP com dorsi­
Mecanismo de lesão flexão do tornozelo e com 10° de rotação interna. Para as
Uma lesão osteocondral da margem superolateral ocorre lesões mediais, a incidência AP é obtida em flexão plan­
após uma dorsiflexão e inversão. Os ligamentos laterais tar. As lesões pequenas não são detectadas com radiogra­
podem ou não estar rompidos. Essa lesão é vista mais co- fias simples. O aumento da sensibilidade é obtida com o
88
mumente em crianças, devido a uma elasticidade maior uso de cintilografia óssea, TC ou RMN.
do tecido ligamentar. As fraturas osteocondrais supero-
mediais ocorrem com a flexão plantar, quando tálus, que Tratamento
é estreito, se acopla ao encaixe com um “golpe direto”. O paciente deve ser encaminhado para consultoria orto­
A lesão comumente ocorre quando um saltador cai com pédica, pois a artrite traumática é uma sequela do cuidado
força sobre os dedos do pé, com o pé invertido. atrasado. Quando o tratamento for retardado por mais de
um ano, o desfecho é ruim na maioria dos casos. A ar-
Apresentação clínica troscopia, com debridamento e remoção dos fragmentos
Os pacientes reclamam de tornozelo dolorido, resisten­ livres, oferece a melhor oportunidade para um bom des­
te ao tratamento, com os sintomas persistindo por mais fecho funcional.66
tempo que em uma entorse. Não existe em geral nenhu­
ma sensibilidade dolorosa nos maléolos ou sobre os liga­ EXOSTOSE TALOTI BI AL
mentos durante a palpação. Os sintomas dos pacientes são
agravados pela atividade e cedem completamente com o A exostose é a formação de um crescimento ósseo no lo­
repouso, embora possa haver edema leve com dor incô­ cal de uma lesão irritativa ou em resposta ao trauma di­
moda após uma caminhada excessiva. Todo exam e p o d e reto. A exostose ocorre no tornozelo anterior devido ao
ser negativo, exceto quando o exam inador p a lp a r o dom o trauma repetitivo, geralmente em atletas.
ta la r com o tornozelo em fle x ã o plantar. A sensibilidade No tornozelo normal, o aspecto anterior distai da tíbia
dolorosa puntiforme é produzida nessa área. Uma sino- é arredondado e existe um sulco no colo do tálus. Confor­
vite pode ocorrer na articulação do tornozelo, com ede­ me o tornozelo faz a dorsiflexão, a borda anterior da tí-
514 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Figura 22.38 Luxação do tendão fibular causada pela ruptura


do retináculo.

primeiro e do quinto metatarais, respectivamente. Esses


músculos atuam fazendo a eversão e a flexão plantar do
pé. Os tendões são seguros no seu lugar atrás da fíbula
pelo retináculo fibular superior e inferior. Ocorre subluxa-
ção ou luxação depois de lesões que rompem o retináculo
fibular (Fig. 22.38).
Essa condição pode ser causada pela lassidão do reti­
náculo ou por um retináculo congenitamente ausente, mas
a maioria dos casos ocorre após uma contração súbita e
Figura 22.37 O mecanismo pelo qual se forma a exostose ta­
forte dos músculos fibulares, em associação à flexão e in­
lotibial.
versão plantar forçadas do pé e do tornozelo. Durante
a lesão, os músculos fibulares contraem reflexamente e
bia entra contato com o sulco (Fig. 22.37). Com o trauma saem de sua bainha fibrossea, fazendo com que os tendões
repetitivo, pode formar uma exostose no sulco talar e na passem anteriormente.
margem anteroinferior da tíbia. Um terceiro local, menos Essa condição é, às vezes, confundida com entorse do
comum, é no maléolo mediai e lateral, em decorrência de tornozelo; entretanto, o exame físico distingue claramen­
trauma direto do tálus após as entorses. te os dois, com base na sensibilidade dolorosa atrás do
Um grande número de pacientes tem exostoses as- maléolo lateral após as lesões do tendão fibular. Alguns
sintomáticas. Em outros, a dor está presente no aspecto fatores contribuem para a frequência da luxação, como
anterior do tornozelo depois da atividade e o único achado uma superfície posterior convexa ou plana da fíbula distai,
é a exostose. Na maioria dos pacientes, a queixa primária e um músculo fibular curto bífido. A condição pode ser
89
é a diminuição do nível de atividade, e a dor somente está aguda ou crônica na sua apresentação.
presente na dorsiflexão extrema do tornozelo. Ao exame,
o médico nota algum edema no aspecto anterior da articu­ Apresentação clínica
lação, com sensibilidade dolorosa à palpação e aumento O paciente com subluxação aguda relata ter sofrido um
da dor na hiperextensão do pé. golpe na parte posterior do maléolo lateral, enquanto
Essa condição deve ser diferenciada dos osteófitos, o pé estava tenso em dorsiflexão e eversão. Um estalo
que são uma resposta aos processos degenerativos na ar­ pode ser ouvido ou sentido, em associação com dor in­
ticulação. Na exostose, não existe nenhuma degeneração tensa inicialmente, que melhora com rapidez. Ao exa­
articular, nem são observadas as alterações crônicas. me, existe sensibilidade dolorosa diretamente sobre os
O tratamento costuma ser conservador. Repouso, mo­ tendões fibulares. A tenossinovite dos tendões fibulares
dificação de atividades e fisioterapia são tentados em pri­ resulta em sensibilidade dolorosa na mesma localização,
meiro lugar. Se os sintomas continuam, o debridamento mas a história ajuda a distinguir da lesão do retináculo
artroscópico com frequência é curativo. fibular. Uma ruptura completa do retináculo é diferen­
ciada da ruptura incompleta observando o trajeto do ten­
dão sobre o maléolo quando o paciente everte ativamen­
LUXAÇÃO DO TENDÃO FIBULAR
te o tornozelo.
Os tendões dos músculos fibular longo e curto cruzam Em pacientes com subluxação crônica, existe a his­
pelo aspecto posterior da fibula e se inserem na base do tória de deslizamento do tendão com a eversão do pé.
Emergências Ortopédicas 515

Existe menos dor que na forma aguda e o paciente quei- pacientes com artrite reumatoide, ou naqueles com al­
xa-se de dor incômoda e de sensibilidade no tendão su- guma atividade incomum.
bluxado, quando escapa fora de sua posição normal.
Tratamento
Tratamento A tenossinovite aguda, quando leve, é tratada com dimi­
O paciente receber uma tala posterior (Apêndice A. 14) nuição no nível de atividade. Entretanto, se os sintomas
com compressão sobre o maléolo lateral para estabilizar forem moderados, o pé e o tornozelo são colocados em
os tendões fibulares em sua posição funcional. Eles de­ repouso, sendo administrados medicamentos anti-infla-
vem permanecer sem carga, com muletas e serem encami­ matórios e gelo. Em alguns casos, é necessária a imobili­
nhados ao ortopedista. zação (Apêndice A.14), seguida de uma bota gessada de
O manejo definitivo é controverso. A maioria dos marcha por quatro semanas. Se os sintomas não responde­
médicos recomenda o tratamento cirúrgico em vez do rem a tratamento inicial, raramente o tratamento cirúrgico
tratamento conservador com um gessado por seis sema­ é necessário.
nas. Em um estudo grande, 74% dos pacientes tratados de
modo conservador tiveram de retomar para uma correção
89
cirúrgica em data posterior.

TENOSSINOVITE
Os tendões mais comuns envolvidos na tenossinovite do
tornozelo são o (1) tibial posterior, (2) o fibular longo, (3)
o tibial anterior e (4) o flexor longo do hálux. O tendão
do calcâneo também é bastante envolvido, mas será abor­
dado no Capítulo 23. Existem dois tipos de tenossinovite:
a estenosante e a reumatoide. A tenossinovite estenosante
é comum no retináculo inferior do tendão fibular, sendo o
espessamento da bainha percebido ao exame. A apresen­
tação da novite reumatoide é mais comum no lado me­
dial, envolvendo os tendões tibial posterior e flexor longo
do hálux.
A
Apresentação clínica
A disfunção pode ser aguda ou crônica. Mais comumen-
te, a tenossinovite aguda está presente em razão de uso
excessivo. A tenossinovite crônica, que é encontrada em
pacientes não esportistas, está associada com a tendino-
se e as alterações estruturais. ' O edema e a sensibilidade
dolorosa localizados estão presentes sobre o tendão en­
volvido. Com o uso continuado, podem resultar rupturas
parciais ou completas do tendão.
Os pacientes portadores de tenossinovite do tendão
do tibial posterior relatam dor ao longo do aspecto pos­
teromedial do pé e do tornozelo. Um indivíduo que tenha
disfunção do tendão do tibial posterior pode ter uma pos­
tura aumentada em valgo do calcâneo e enchimento que
é visto logo distai ao maléolo medial. A falta de inversão
do calcanhar quase sempre indica disfunção ou a fraqueza
do tendão do tibial posterior.94 Frequentemente, os indiví­
duos com essa condição são incapazes de ficar na ponta
dos pés em função da dor.
Ao exame, os pacientes com tenossinovite esteno­
sante têm uma bainha espessada, palpável ao longo de
seu curso. Esses pacientes têm, em geral, mais de 40
anos e apresentaram algum trauma ocupacional predis-
ponente. O tendão é doloroso à palpação e o movimento Figura 22.39 Luxação isolada do tornozelo esquerdo, sem fra­
aumenta a dor. A ruptura espontânea pode ocorrer em tura. A. Fotografia clín ica. B. Radiografia.
516 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

LUXAÇÃO DE TORNOZELO SEM FRATURA 14. Markert RJ, Walley ME, Guttman TG, et al. A pooled
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Capítulo 2 3

INTRODUÇÃO O pé contém 28 ossos e 57 articulações (Figs. 23.1


e 23.2). Conceitualmente, o pé pode ser dividido em
O pé tem grande variedade de movimento normal, in­ três regiões: o retropé (tálus e calcâneo), o mediopé (na­
cluindo flexão, extensão, inversão e eversão. Além dis­ vicular, cuneiformes e cuboide) e o antepé (metatarsais
so, a supinação e a pronação são partes da amplitude e falanges).
normal de movimentos do pé. O pé contém dois arcos: As fraturas do pé são comuns e respondem por 10%
um longitudinal (mediopé) e outro transverso (antepé). de todas as fraturas. Elas são geralmente o resultado de
O peso é distribuído de forma igual no antepé e no cal­ um dentre três mecanismos básicos de lesão: o trauma di­
canhar. O peso não é igualmente distribuído sobre as reto, o trauma indireto e o uso excessivo.
cabeças metatarsais, já que a primeira apoia duas ve­
zes mais peso que as quatro restantes. O peso máximo
aplicado ao pé ocorre durante a fase de decolagem da
Imagens
marcha e da corrida. As radiografias de rotina do pé incluem as incidências an­
teroposterior (AP), oblíqua e lateral (Fig. 23.3). Essas ra­
diografias podem ser difíceis de interpretar, pois os ossos
se sobrepõem em todas as projeções. A radiografia AP é
usada para melhor avaliar as duas articulações tarsometa-
Falanges
tarsais mediais, enquanto a imagem oblíqua fornece a me­
lhor visão das três articulações tarsometatarsais laterais.
Esse alinhamento é importante e toma-se alterado em pa­
cientes com as fraturas-luxações de Lisfranc. A radiogra­
fia lateral é melhor para detectar as fraturas do calcâneo.
O diagnóstico radiológico das fraturas do pé é com
Metatarsais frequência complicado pelos centros de ossificação se-
Antepé

A Tálus
Navicular

Metatarsais

Cunéiformes
Cuboide

Mediopé Calcâneo
Navicular V is ta m ediai

Navicular Tálus
2a cunéiforme
3Qcunéiforme
Retropé Tálus

Calcâneo

Figura 23.1 O pé é dividido em retropé, mediopé e antepé. Calcâneo


V is ta lateral Metatarsais
A articulação de Chopart separa o retropé do mediopé e a arti­
culação de Lisfranc separa o mediopé do antepé. Figura 23.2 Vistas mediai (A) e lateral (B) do pé.
520 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Osso calcâneo secundário

A B

Figura 2 3.4 O s sesamoides do pé. Estes ossos são com fre­


quência confundidos com fraturas.

cundária e pelos sesamoides (Fig. 23.4). Os sesamoides


comumente vistos incluem o osso trígono, o osso tibial
C
externo, o osso fibular e o osso vesaliano. Os sesamoides
Figura 23.3 Radiografias normais do pé. A. Imagens A R B. oblí­ podem ser distinguidos das fraturas por suas margens ós­
qua, e C. lateral. seas escleróticas lisas.

FRATURAS DO PÉ

FRATURAS DO CALCÂNEO uma faceta articular anterior, uma média e uma posterior.
O sustentáculo do tálus é uma extensão medial do cal­
O calcâneo é o maior dos ossos do tarso, e serve como um câneo que apoia as facetas articulares anterior e média.
trampolim para a locomoção e como suporte elástico para O tubérculo fibular fica na superfície lateral e provê um
o peso do corpo. É o osso do tarso mais frequentemente sulco para os tendões fibulares e um local de inserção para
fraturado, representando 60% de todas as fraturas tarsais e o retináculo fibular inferior.
2% de todas as fraturas em geral. As fraturas podem ocorrer em quaisquer desses lo­
A porção anterior do calcâneo é o corpo. As fraturas cais. Excluindo as fraturas de avulsão, 75% das fratu­
do corpo podem ser intra ou extra-articulares. A porção ras do calcâneo são intra-articulares (envolvendo a ar­
posterior do calcâneo é a tuberosidade. Na base da tube- ticulação subtalar), e 75% dessas são com depressão.
rosidade estão os processos medial e lateral, que são os As fraturas extra-articulares respondem por 25% das
pontos de inserção da fáscia plantar. O tendão do calcâ­ fraturas do calcâneo e incluem o processo anterior, o
neo insere-se na porção posterior da tuberosidade. A arti­ sustentáculo do tálus, o processo lateral do calcâneo e
culação principal do calcâneo é com o tálus, formando a o tubérculo fibular, o processo medial do calcâneo e a
articulação subtalar. Existem três superfícies articulares: tuberosidade.
Emergências Ortopédicas 521

Figura 23.5 Fraturas do corpo do calcâneo - intra-articulares.

Fraturas do corpo do calcâneo bitualmente se desenvolvem dentro das primeiras 24 a 48


horas e podem ser claras ou cheias de sangue. Se extensas,
As fraturas intra-articulares do corpo do calcâneo não são
elas podem retardar a cirurgia para evitar taxas mais altas
apenas as mais comuns, respondendo por 75% das fratu­
de infecções pós-operatórias.
ras do calcâneo, mas também as com maior probabilidade
Apesar desses achados, o diagnóstico pode passar
de resultar em incapacidade a longo prazo (Fig. 23.5).
despercebido, pois as lesões significativas associadas
É incomum que uma fratura do corpo do calcâneo não
distraem o paciente e o profissional. Algumas vezes, o
envolva a articulação subtalar. Embora os pacientes com
paciente não reclama de dor significativa no calcanhar e
fraturas extra-articulares tenham um prognóstico melhor
pode ser capaz de apoiar o peso, embora isso seja em geral
que os pacientes com fraturas intra-articulares, elas po­
bastante doloroso.
dem, ainda, trocar a configuração articular do calcâneo e
resultar em problemas de longo prazo.
Imagens
Mecanismo de lesão As incidências radiográficas de rotina são adequadas para
diagnosticar essa fratura. A incidência AP é usada para
O mecanismo mais comum é a queda de altura significa­
avaliar o envolvimento da articulação calcaneocubóidea.
tiva, na qual o peso do corpo é absorvido pelo calcanhar.
A incidência lateral demonstra o envolvimento intra-arti­
Para a maioria dos indivíduos, uma altura de 2,5 metros
cular e permite a avaliação do ângulo de Bohler. O ângulo
ou mais é suficiente para produzir a fratura, mas, em pa­
de Bohler deve ser calculado para ajudar a identificar fra­
cientes mais velhos e osteoporóticos, as quedas de alturas
turas sutis e para medir o grau de depressão da fratura.
menores também podem produzi-las.
Esse ângulo é calculado medindo a interseção de duas li­
nhas: (1) da margem superior da tuberosidade posterior
Exame
do calcâneo, através da ponta superior da faceta posterior
O paciente apresenta dor, edema e equimose na sola do e (2) da ponta superior da faceta anterior até a ponta supe­
pé, com perda das depressões normais ao longo de ambos rior da faceta posterior (Figs. 23.6 e 23.7).
os lados do tendão do calcâneo. As bolhas de fratura ha- Normalmente, o ângulo de Bohler mede de 20 a 40°.
Se o ângulo tiver menos de 20°, uma fratura deprimida
está presente, mesmo que não seja diretamente visuali­
zada nas radiografias simples. Deve ser notado que o ân-

Figura 23.7 O ângulo de Bohler é calculado sempre que uma


Figura 23.6 Fratura do calcâneo. Esta fratura é com inutiva, fratura de calcâneo for diagnosticada. Se o ângulo medir menos
intra-articular e deprimida. O ângulo de Bohler é de 0o. de 20°, uma fratura deprimida é diagnosticada.
522 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

ras (Fig. 23.9). A TC é especialmente útil para o cirur­


gião planejar a intervenção cirúrgica. As radiografias sim­
ples falham em identificar o grau de extensão da fratura
em quase metade dos casos.9

Lesões associadas
Mais de 50% das fraturas do calcâneo estão associadas
a lesões adicionais. Dentre as fraturas de calcâneo, 26%
estão associadas a outras lesões nas extremidades inferio­
res. As fraturas do calcâneo são bilaterais em 7% dos
casos. As fraturas de compressão na coluna toracolom-
bar estão associadas com 10% das fraturas do calcâneo.
A síndrome compartimentai se desenvolve em 10% dos
pacientes, sendo que metade desses pacientes continua
desenvolvendo deformidades significativas do pé.

Tratamento
Fraturas intra-articulares do corpo do calcâneo. O ma­
nejo de emergência inclui gelo, elevação e imobilização
em curativo compressivo volumoso, com tala posterior
Figura 23.8 A técnica para obter uma incidência de Harris.
Essa incidência é útil para definir a extensão do envolvimento (Apêndice A.14). O paciente deve ser mantido com des­
intra-articular e o grau de depressão dos fragmentos da fratura. carga de peso e muletas. O gelo e um curativo volumoso
são importantes para prevenir as lesões de tecidos moles,
como as bolhas de fratura e a degradação da pele os quais,
guio de Bohler pode ser normal, apesar da presença de em última instância, retardam a cirurgia. A presença de
uma fratura gravemente cominutiva; por conseguinte, esse fratura intra-articular requer a consulta com o serviço de
ângulo não pode ser usado para excluir uma fratura do ortopedia para o manejo definitivo. Pacientes com edema
calcâneo. A função mais importante do ângulo de Bohler acentuado e possibilidade de desenvolver síndrome com­
é a sua significativa capacidade prognóstica. As fraturas partimentai devem ser hospitalizados.
com um ângulo de Bohler diminuído têm desfechos pio­ O manejo definitivo depende do grau de deslocamen­
res, não importando a intervenção. to. As fraturas não deslocadas podem ser tratadas com o
A incidência de Harris é útil para definir a extensão não apoio de peso por seis a oito semanas e hidroterapia,
do envolvimento intra-articular e o grau de depressão dos seguidas de aumento gradual nas atividades. O tratamento
fragmentos da fratura. É obtida com o tornozelo dorsifle- das fraturas deslocadas é controverso e varia desde
tido e o feixe de raios X angulado obliquamente através uma abordagem conservadora até o reparo cirúrgico.5,12
do aspecto plantar do calcanhar (Fig. 23.8). Por essa razão, a consultoria e o encaminhamento precoce
A tomografia computadorizada (TC) tem se tomado são fortemente recomendados no manejo dessas lesões.
rotina para delinear completamente a extensão das fratu­ Quando indicada, a cirurgia não é uma emergência (a me-

Figura 23.9 Fraturas do corpo do calcâneo A . Imagem de T C coronal demonstrando um calcâneo normal no pé esquerdo do pa­
ciente e uma fratura cominutiva do calcâneo direito. B. TC de reconstrução tridimensional.
Emergências Ortopédicas 523

nos que uma fasciotomia seja necessária para a síndrome dos a problemas a longo prazo, incluindo a deformidade
compartimentai) e geralmente ocorre de 7 a 10 dias após em garra dos dedos do pé, rigidez, dor crônica, fraqueza,
a lesão, mas pode ocorrer até várias semanas se o edema alterações sensitivas, atrofia e deformidades do antepé.
for significativo. O diagnóstico pode ser feito na fase aguda utilizando as
Em pacientes com fraturas cominutivas, deslocadas medidas de pressão dentro do compartimento. A fascioto­
ou intra-articulares deprimidas, um bom desfecho requer mia é o tratamento recomendado.
o restabelecimento da congruência articular e a elevação As consequências a longo prazo dessas fraturas são
dos fragmentos afundados. A redução aberta com fixação incapacitantes. A artrite pós-traumática com rigidez e dor
interna é recomendada nesses pacientes. 4,15 crônica é a complicação mais frequente. A formação de
esporão com dor ou compressão nervosa crônica pode
Fraturas extra-articulares d o co rp o d o calcâneo.O ma­ complicar o manejo dessas lesões. As fraturas intra-arti­
nejo de emergência inclui gelo, elevação e imobilização culares de calcâneo têm prognóstico muito ruim, com a
com um curativo volumoso, muletas e encaminhamento incidência de problemas em longo prazo aproximando-se
precoce. de 50%, apesar do tratamento ideal.
As fraturas não deslocadas são tratadas com descarga As fraturas extra-articulares do corpo do calcâneo po­
de peso, hidroterapia e um mínimo de quatro a seis se­ dem estar associadas à compressão do nervo sural, além
manas antes de deambulação. As fraturas deslocadas são de outras complicações das fraturas intra-articulares.
tratadas de modo similar às fraturas deslocadas intra-arti­
culares do corpo do calcâneo. O gelo e a elevação preco­
Fraturas extra-articulares do calcâneo
ces são importantes para prevenir a formação de bolhas
cutâneas. O manejo cirúrgico é preferível. As fraturas extra-articulares do calcâneo são aquelas fratu­
ras que não envolvem a superfície articular posterior (Fig.
Complicações 23.10). Essas fraturas representam 25% de todas as fratu­
As fraturas do calcâneo estão associadas a uma incidência ras do calcâneo e incluem as fraturas do processo anterior,
de 10% de síndrome compartimentai do pé. Os sintomas do sustentáculo do tálus, do processo lateral do calcâneo
incluem edema tenso e dor intensa, e podem ser associa­ e do tubérculo fibular, do processo medial do calcâneo e

Processo medial do calcâneo Tuberosidade do calcâneo Corpo do calcâneo


D E F

Figura 23.10 Fraturas extra-articulares do calcâneo. A. Processo anterior. B. Sustentáculo do tálus. C. Processo lateral do calcâneo
e tubérculo da fíbula. D. Processo medial do calcâneo. E. Tuberosidade do calcâneo. F. Corpo do calcâneo.
524 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

da tuberosidade. As fraturas extra-articulares do corpo do de “torção” do pé e queixa-se de dor, edema e sensibili­


calcâneo foram consideradas na seção anterior. dade dolorosa logo distai ao maléolo lateral.
O manejo recomendado dessas lesões inclui gelo, ele­
Mecanismo de lesão vação e apoio conforme a tolerância. Uma bota removível
Ocorrem como resultado de quedas menores, lesões por por quatro a seis semanas é usada. A redução aberta com
torção ou devido a avulsões a partir de contrações mus­ fixação interna é considerada para os fragmentos grandes.
culares fortes. A força necessária para causar uma fratu­ O encaminhamento ortopédico para acompanhamento é
ra extra-articular de calcâneo é geralmente menor do que recomendável.
para as intra-articulares.
Fratura do sustentáculo do tálus. É incomum como
Exame lesão isolada. O mecanismo mais comum de lesão é a
A dor pode ser localizada na região específica em questão. compressão axial sobre o calcanhar, com inversão acen­
A dor difusa pode estar presente nas tentativas de apoiar tuada do pé. O paciente apresenta dor, sensibilidade do­
o peso. lorosa e edema logo distai ao maléolo medial e sobre o
calcanhar medial. A dor é exacerbada pela inversão do
Imagens pé ou hiperextensão do hálux, já que isto faz a tração do
As incidências de rotina são adequadas para definir os flexor longo do hálux, que passa embaixo do sustentá­
fragmentos da fratura (Fig. 23.11). A projeção lateral do culo do tálus.
retropé é especialmente útil para visualizar as fraturas O manejo dessas fraturas inclui gelo, elevação e imo­
sutis. A análise com TC é usada para delinear a anatomia bilização em um curativo compressivo por 24 a 36 horas.
das lesões que estejam obscuras nas radiografias simples As fraturas não deslocadas devem, então, ser imobilizadas
(Fig. 23.12).8As fraturas de estresse do calcâneo são na e permanecer sem carga por oito semanas. O encaminha­
maioria das vezes posteriores e podem ser difíceis de mento ortopédico é fortemente recomendado, já que mui­
verificar em radiografias simples, apesar dos meses de tas dessas fraturas são seguidas de dor crônica. As fraturas
sintomas. deslocadas requerem o encaminhamento ortopédico de
emergência para consideração de redução aberta. A análi­
Lesões associadas se precisa da posição do fragmento por TC é recomenda­
da. A cirurgia é executada dentro de três semanas (ideal­
As fraturas extra-articulares do calcâneo estão associadas
mente, 10 dias ou menos) depois que o edema do pé e do
a menos lesões que as intra-articulares.
tornozelo tenha diminuído.
Tratamento
Fraturas do processo lateral do calcâneo e do tubér­
Fratura do processo anterior. Estas fraturas respondem culo da fíbula. São lesões incomuns que resultam da
por 15% de todas as fraturas do calcâneo. É uma fratu­ flexão e inversão plantar ou por trauma direto. A sensibi­
ra de avulsão, secundária à abdução com o pé em flexão lidade dolorosa localizada e o edema estão presentes no
plantar. Essa posição força o ligamento bifurcado, que se
calcanhar lateralmente. O tratamento é sintomático, com
insere no calcâneo, bem como no cuboide e no navicular.
apoio permitido e uso de uma tomozeleira por quatro a
O estresse grave resulta em ruptura ligamentar ou fratura
seis semanas.
de avulsão do calcâneo. O paciente apresenta uma história
Fraturas do processo medial do calcâneo. O meca­
nismo de lesão dessa estrutura é um golpe direto. A dor
e o edema estão localizados no calcanhar, medialmen­
te. O tratamento inclui curativo compressivo de tecidos
moles e uma tala posterior (Apêndice A. 14). A carga é
permitida conforme tolerância depois que o edema inicial
tenha reduzido. Recomenda-se a redução aberta com fixa­
ção interna primariamente; assim, a consultoria precoce é
recomendada.

Fraturas da tuberosidade do calcâneo. O mecanismo


mais comum de lesão nessa fratura é a avulsão pela in­
serção do tendão do calcâneo, como a que ocorre durante
uma queda ou na aterrissagem de um salto sobre o pé em
dorsiflexão, com o joelho estendido. O paciente apresenta
Figura 23.11 Fratura da tuberosidade do calcâneo secundária dor, edema e sensibilidade dolorosa sobre a fratura; inca­
à avulsão pelo mecanismo do tendão do calcâneo. pacidade de caminhar e flexão plantar fraca do pé.
Emergências Ortopédicas 525

Figura 23.12 Fratura do sustentáculo do tálus. A. Incidência AP do pé. B. A imagem da T C mostra uma fratura óbvia.

As fraturas não deslocadas são tratadas com gessado O suprimento sanguíneo é, por conseguinte, algo tênue,
sem carga, com o pé em flexão plantar leve, por seis a oito e a necrose avascular não é incomum depois de fraturas
semanas. A consultoria e o encaminhamento precoce são deslocadas. As fraturas proximais do tálus são bastante
fortemente recomendados. As fraturas deslocadas requerem predispostas ao desenvolvimento de necrose avascular do
o encaminhamento ortopédico para consideração de redu­ fragmento proximal.
ção aberta. Se o fragmento de fratura estiver colocando ten­ As fraturas do tálus são divididas em maiores e me­
são na pele sobrejacente, a intervenção cirúrgica é executada nores. As maiores envolvem a cabeça, o colo ou a porção
mais cedo para minimizar o risco de lesão em tecidos moles. central do corpo. As fraturas menores são as do corpo que
não atravessam a porção central do osso. As fraturas me­
nores incluem o processo lateral, o processo posterior e as
FRATURAS DO TÁLUS osteocondrais do domo talar.
O tálus, ou astrágalo, é o segundo maior e o segundo osso As fraturas mais comuns do tálus são no colo. As oste­
do tarso mais frequentemente fraturado. Apesar desse ocondrais são as mais comum do corpo do tálus. As fratu­
fato, as fraturas do tálus ainda são incomuns e respondem ras osteocondrais do domo talar estão abordadas em mais
por menos de 1% de todas as fraturas. Adicionado a sua detalhes no Capítulo 22. As fraturas dos processos lateral
frequência incomum, a visualização das fraturas do tálus e posterior do corpo são menos comuns, enquanto as da
é difícil nas radiografias simples. Por conseguinte, sem porção principal do corpo do tálus e da cabeça são raras.
algum conhecimento dessas fraturas, elas podem perma­
necer ocultas, com o paciente muitas vezes recebendo um Fraturas maiores do tálus
diagnóstico equivocado de entorse do tornozelo.19,20 As fraturas maiores do tálus são aquelas que envolvem a
O tálus é dividido anatomicamente em três segmen­ cabeça, o colo ou a porção central do corpo (Fig. 23.13).
tos: a cabeça, o colo e o corpo. É ancorado por ligamen­ As do colo talar são as mais comuns, representando 50%
tos e não tem nenhum local de inserção muscular. Além de todas as fraturas maiores.
disso, 60% de sua superfície é coberta por cartilagem ar­ As fraturas de colo do tálus foram classificadas por
ticular. O suprimento vascular para o osso não penetra Hawkins. As fraturas do tipo I são as não deslocadas.
na cartilagem articular, mas entra via ligamento deltoide, As do tipo II resultam em deslocamento com subluxa-
ligamento talocalcaneano, cápsula anterior e seio do tarso. ção ou luxação da articulação subtalar. As do tipo III
526 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

/
I I
I Exame
/ I
O paciente apresenta dor, edema, equimose e sensibili­
dade dolorosa. Com as fraturas da cabeça do tálus, a sensi­
bilidade dolorosa fica concentrada sobre a cabeça do tálus
e na articulação talonavicular. O movimento do tornozelo
está normal, embora a inversão do pé exacerbe a dor sobre
a articulação talonavicular. Os pacientes com fraturas do
colo e luxação associada apresentam o pé bloqueado em
posição hiperestendida. Quando o corpo estiver envolvi­
do, o tornozelo apresenta uma dor intensa, porém difusa,
além de sensibilidade dolorosa e edema.

Imagens
As incidências de rotina com frequência não demonstram
adequadamente essas fraturas.18'2 As radiografias oblí­
quas ou a TC podem ser necessárias. As fraturas do colo
do tálus são mais adequadamente visualizadas na incidên­
cia lateral de rotina. A incidência oblíqua é útil na presen­
ça de subluxação ou luxação sutil.

Tratamento
O manejo de emergência de uma fratura maior do tálus
inclui gelo, elevação, imobilização (Apêndice A. 14), mu­
letas e consultoria precoce.
O tratamento definitivo das fraturas da cabeça do
tálus é um gessado com descarga por seis a oito semanas.
Figura 23.13 Fraturas do tá lu s - maiores. A redução aberta com fixação interna é recomendada se o
fragmento causar instabilidade da articulação talonavicu­
lar, estiver deslocado e resultando em um degrau articular,
apresentam deslocamento com luxação do tálus da arti­ ou se for superior a 50% da superfície articular.
culação subtalar e do tornozelo. As do tipo IV são des­ As fraturas não deslocadas do colo talar são tratadas
locadas da articulação subtalar, com a cabeça do tálus com bota gessada sem carga por seis semanas, seguidas
deslocada. por três semanas de carga parcial. As fraturas deslocadas
ou aquelas associadas a luxações requerem avaliação neu­
Mecanismo de lesão rovascular seguida do encaminhamento de emergência
As fraturas da cabeça do tálus são o resultado de impacto para redução cirúrgica anatômica, para evitar a alta inci­
direto, como a queda sobre o pé completamente estendi­ dência de necrose avascular. 7,1 As reduções retardadas es­
do. A força é transmitida do antepé até o tálus, que sofre tão associadas ao aumento na incidência de necrose cutâ­
impacto contra a borda anterior da tíbia. nea e necrose avascular.
As fraturas do colo do tálus seguem-se à dorsiflexão O tratamento definitivo das fraturas não deslocadas
aguda do tornozelo e são muitas vezes vistas após colisões do corpo do tálus é com bota gessada, sem carga, por seis
de automóveis ou quedas de altura. Essa fratura também a oito semanas. O prognóstico para essas lesões é muito
é chamada de “astrágalo do a via d o r ”, pois ocorria em bom. As fraturas deslocadas ou cominutivas requerem re­
pilotos, na Segunda Guerra Mundial, depois que o leme dução anatômica. A consultoria e o encaminhamento pre­
de direção do avião causava uma dorsiflexão violenta no coce são fortemente recomendados.
tornozelo durante aterrissagem ou queda dos aviões em
retorno das missões de bombardeio. Com a dorsiflexão, Complicações
o colo do tálus sofre impacto contra a borda anterior da As fraturas da cabeça do tálus podem ser complicadas
tíbia. A continuação da força pode resultar em ruptura li- pelo desenvolvimento de osteoartrite talonavicular ou
gamentar, deslocamento do fragmento ou luxação subta­ condromalacia. As fraturas do colo talar podem ser com­
lar e talar do corpo. As fraturas-luxações requerem força plicadas pelo desenvolvimento das luxações do tendão
mais intensa. fibular, necrose avascular do tálus ou união retardada.
As fraturas não deslocadas do corpo do tálus resultam As fraturas-luxações são predispostas ao desenvolvimento
de uma lesão em hiperextensão aguda. As fraturas comi- de necrose avascular. As fraturas deslocadas ou cominuti­
nutivas ou deslocadas são o resultado da compressão axial vas do corpo são muitas vezes complicadas pelo desenvol­
com hiperextensão. vimento de necrose avascular.
Emergências Ortopédicas 527

exacerba a dor por causa do movimento do tendão flexor


longo do hálux ao passar ao longo do osso.

Im a g e n s
As fraturas menores do tálus se apresentam apenas com
achados radiográficos mínimos. As anormabdades podem
ser limitadas a um minúsculo fragmento avulsionado de
osso sobre a área envolvida. A melhor radiografia para ver
uma fratura do processo lateral é a incidência do encaixe,
enquanto a incidência lateral é a melhor oportunidade para
diagnosticar uma fratura do processo posterior. O osso
trígono, um sesamoide suavemente arredondado, pode ser
confundido com uma fratura do processo posterior, mas o
conhecimento de sua locabzação e o seu formato típicos
Fraturas menores do tálus ajudam a evitar esse equívoco. As incidências oblíquas
especiais ou a TC podem ser necessárias para avaliar de
Essas fraturas não são necessariam ente “m enores”, forma adequada essas fraturas.
como o nome indica, frequentemente requerendo aten­
ção cuidadosa para chegar ao diagnóstico e iniciar o pla­ Trata m en to
no terapêutico apropriado. A categoria inclui as fraturas As fraturas do processo lateral são tratadas com gelo,
do corpo do tálus que não envolvem a porção central elevação e imobilização em uma tala de perna (Apêndi­
do osso. Elas incluem as fraturas do processo lateral, ce A.14). O tornozelo é mantido em posição neutra, e o
do processo posterior e as osteocondrais do domo talar paciente recebe muletas e encaminhamento ortopédico. O
(Fig. 23.14). As fraturas osteocondrais estão abordadas tratamento definitivo depende do tamanho da fratura e da
no Capítulo 22. quantidade de deslocamento. O tratamento conservador é
reservado para os fragmentos não deslocados (< 2 mm).
M e c a n is m o d e le sã o
Os fragmentos grandes e deslocados necessitam de redu­
O processo lateral do tálus é fraturado com carrega­ ção aberta e fixação interna, enquanto os fragmentos pe­
mento axial, dorsiflexão, eversão e rotação externa. quenos e as fraturas cominutivas que estejam deslocadas
Essa combinação de forças pode resultar de quedas ou são submetidos ao debridamento.
colisões de automóveis, mas tem sido observada como As fraturas do processo posterior são tratadas como
lesão comumente associada ao snow boarding (esqui na previamente discutido, exceto que o pé é imobilizado em
neve). ' Por causa dessa associação, as fraturas do pro­ 15° de flexão plantar. As fraturas não deslocadas podem
cesso lateral são muitas vezes chamadas de “tornozelo do ser tratadas em definitivo com imobilização gessada, en­
sn o w b o a rd ista ”. Em um estudo de lesões causadas pelo quanto as fraturas maiores e mais deslocadas podem re­
snow boarding , essa fratura respondeu por 2% de todas as querer o tratamento cirúrgico.
lesões, 15% das lesões do tornozelo e 34% das fraturas
do tornozelo. C o m p lic a ç õ e s
Uma fratura do processo posterior é com frequência As fraturas do processo lateral podem ser complicadas
o resultado de flexão plantar extrema, com impacto do por má-união e não união. Pelo fato de o processo lateral
processo posterior contra a tíbia e o calcâneo posterior. se articular com o calcâneo, formando a porção lateral da
A inversão pode produzir uma fratura de avulsão. articulação subtalar, podem ocorrer alterações degenera­
tivas nessa articulação. As fraturas do processo posterior
Exam e
geralmente não são compbcadas por quaisquer distúrbios
O paciente com uma fratura do processo lateral do tálus a longo prazo. Se os fragmentos forem grandes, a não
tem dor e edema sobre o maléolo lateral e sensibilidade união com migração pode resultar em bloqueio articular
dolorosa locabzada, logo anterior e inferior à ponta do ma­ e, eventualmente, em artrite traumática.
léolo lateral. Pelo fato de essa apresentação ser tão similar
a uma entorse lateral do tornozelo, a fratura passa desper­
FRATURAS DO MEDIOPÉ
cebida em até 40% dos casos na apresentação inicial.20
As fraturas do processo posterior se apresentam com O mediopé é a porção menos móvel do pé e inclui o navi-
dor posterior e lateral, sensibilidade dolorosa e edema. cular, o cuboide e os três cuneiform es. Tais fraturas são ra­
A dor é exacerbada em atividades que requerem a fle­ ras mas, quando presentes, envolvem fraturas múltiplas ou
xão plantar. A sensibilidade dolorosa está presente com a fraturas-luxações. A detecção dessas fraturas nas radiogra­
palpação profunda anterior ao tendão do calcâneo, acima fias simples é limitada. A sensibilidade das radiografias é
do tálus posterior. Algumas vezes, a dorsiflexão do hálux de 25 a 33% quando comparada à TC com multidetecção.
528 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Avulsão dorsal

Figura 23.15 Fraturas do navicular.

As fraturas do mediopé são classificadas com base na


anatomia.
1. Fraturas do navicular:
• Fraturas de avulsão dorsal
• Fraturas da tuberosidade
• Fraturas do corpo Figura 2 3 .1 6 Fratura com lasca dorsal do navicular.
• Fraturas por compressão
2. Fraturas do cuboide e do cuneiforme:
zada distai e anteriormente ao maléolo medial, sendo exa­
• Fraturas do cuboide
cerbada com a eversão do pé.
• Fraturas do cuneiforme
Im a g e n s
Fraturas do navicular
As incidências AP, lateral e oblíqua demonstram essas le­
A fratura mais comum do mediopé é a fratura do navi­ sões (Fig. 23.16). As fraturas sutis e não deslocadas po­
cular (Fig. 23.15). Das fraturas do navicular, a de avul­ dem ser difíceis de diagnosticar e requerem incidências
são dorsal é a mais frequente. As da tuberosidade são a de comparação, radiografias de acompanhamento ou TC
segunda em incidência, sendo seguidas pelas fraturas do para visuahzação adequada. Um osso acessório, o tibial
corpo do navicular, que podem ser transversas ou hori­ externo, é frequentemente confundido com uma fratura de
zontais. Aquelas do corpo e as de compressão do navicu­ avulsão do navicular. As fraturas de estresse do navicular
lar são lesões raras. As fraturas de estresse do navicular podem requerer uma cintilografia óssea, TC ou ressonân­
também podem ocorrer. cia magnética nuclear (RMN).28

M e c a n is m o d e le sã o L e s õ e s a sso cia d a s

As fraturas de avulsão dorsal resultam de flexão aguda As fraturas de avulsão dorsal estão associadas a lesões
com inversão do pé. A cápsula articular talonavicular é es­ hgamentares do maléolo lateral. As fraturas da tubero­
tressada e sofre avulsão no aspecto dorsal e proximal do sidade muitas vezes são acompanhadas por fraturas do
navicular. As fraturas da tuberosidade também são de avul­ cuboide. Com todas as fraturas do navicular, as lesões em
são, e seguem-se a uma força de eversão aguda no pé. estruturas adjacentes são comuns e devem ser buscadas.
A eversão do pé resulta em tensão aumentada no tendão do
tibial posterior, que causa a avulsão de uma porção da tu­ Trata m en to
berosidade do navicular. Os mecanismos previamente re­ Fratura d e avulsão dorsal. As pequenas fraturas em las­
latados de lesão incluem a hiperextensão aguda com com­ ca são tratadas sintomaticamente com gelo, elevação e
pressão, o trauma direto ou a flexão extrema com rotação. curativo compressivo. O paciente pode apoiar o peso com
a ajuda de muletas por duas semanas, ou até que a dor di­
Exam e minua. O curativo compressivo deve ser aplicado desde a
O paciente apresenta dor, sensibilidade dolorosa e edema região mediotarsal até acima da articulação do tornozelo,
sobre a área envolvida. Para as fraturas de avulsão dor­ incluindo o calcanhar. O manejo definitivo dos fragmentos
sal, o aspecto dorsal e medial do mediopé está doloroso. de avulsão grandes, com mais de 25% da superfície arti­
As fraturas da tuberosidade se apresentam com dor locab- cular, inclui a redução e a fixação com fios de Kirschner.
Emergências Ortopédicas 529

Fratura da tubero sidade. As fraturas de avulsão, peque­ do cuneiforme são lesões raras e secundárias à inversão ou
nas e não deslocadas, podem ser tratadas com um curativo eversão aguda do pé.
compressivo e uma tala de perna (Apêndice A.14). Com
a redução no edema, um gessado bem-moldado com o pé Exam e
em inversão deve ser utilizado por seis semanas. Essa po­ O paciente apresenta dor intensa, sensibilidade dolorosa e
sição reduz a tração do tendão do tibial posterior. O des­ edema sobre a área envolvida. O movimento no mediopé
locamento acentuado do fragmento avulsionado requer o exacerba a dor. As luxações se apresentam com deformi­
encaminhamento ortopédico de emergência para avaliar a dade palpável e dor intensa.
possibilidade de reinserção cirúrgica.
Im a g e n s
Fraturas d o co rp o . O manejo de emergência dessas As incidências AP, lateral e oblíqua podem visualizar es­
fraturas inclui gelo, elevação e tala posterior (Apêndice sas fraturas, embora as vistas de comparação ou a TC au­
A.14). O manejo definitivo das fraturas não deslocadas do mentem a sensibilidade (Fig. 23.18).
corpo inclui uma bota gessada bem-moldada para marcha
por seis a oito semanas. Depois disso, um suporte do arco L e s õ e s a sso cia d a s
longitudinal deve ser empregado. As fraturas deslocadas As fraturas do cuboide e do cuneiforme estão associados
do corpo do navicular requerem a redução aberta com fixa­ a significativas lesões de tecidos moles. As fraturas do
ção interna no paciente ativo e que caminha. Os pacientes cuboide estão associadas às do calcâneo. As fraturas do
que não caminham podem ser tratados sintomaticamente, cuboide e do cuneiforme podem ser vistas com as meta-
com um curativo compressivo. As fraturas-luxações do na­ tarsais ou as fraturas-luxações tarsometatarsais.
vicular requerem redução aberta e fixação interna.
A xio m a: As fraturas distais do cuboide ou do cuneiforme
Fraturas p o r com pressão. Essas fraturas são tratadas si­
estão associados a uma luxação tarsometatarsal que pode
milarmente às fraturas de avulsão dorsal.
ter se reduzido espontaneamente. Essa lesão deve ser assu­
mida como presente até prova em contrário.
C o m p lic a ç õ e s
As fraturas da tuberosidade do navicular são complicadas
pela não união. As fraturas do corpo podem desenvolver T rata m en to
necrose asséptica ou artrite traumática. As fraturas do cuboide e do cuneiforme são tratadas com
gelo, elevação e tala (Apêndice A.14) com muletas.
Fraturas do cuboïde e do cunéiforme O manejo definitivo das fraturas não deslocadas do
cuboide ou do cuneiforme consiste em um gessado bem-
As fraturas do cuboide e do cunéiforme habitualmente -moldado da perna (sem carga) por seis a oito semanas.
ocorrem em combinação (Fig. 23.17). As lesões isoladas Depois da remoção do gessado, um suporte do arco longi­
são incomuns, e o profissional deve considerar a possi­ tudinal é usado por cinco a seis meses. As fraturas deslo­
bilidade de lesão na articulação de Lisfranc em qualquer cadas requerem a fixação cirúrgica. As fraturas cominuti-
paciente. vas do cuboide muitas vezes requerem um fixador externo
como tratamento definitivo.
M e c a n is m o d e le sã o As luxações ou fraturas-luxações do cuboide ou do
As fraturas do cuboide e do cunéiforme resultam de lesões cuneiforme em geral são instáveis após a redução. O enca­
diretas de esmagamento do pé. As luxações do cuboide e minhamento precoce é fortemente recomendado.

Cuneiforme

Figura 23.17 Fraturas do cuboide e do cuneiforme.


530 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

c
Figura 23.18 Fratura do cuneiforme medial. As imagens simples não detectaram a fratura (A). As imagens com TC ( B ) e a recons­
trução tridimensional (Ç) foram feitas por causa de dor significativa e edema e demonstraram uma fratura transversa do cuneiforme
medial (seta).

FRATURA-LUXAÇÃO DE USFRANC A n a to m ia
A articulação de Lisfranc é definida pela articulação do
As lesões da articulação de Lisfranc (tarsometatarsal)
mediopé e metatarsais. A base dos primeiros três meta-
envolvem um espectro de lesões, desde a entorse estável tarsais se alinha com os cuneiformes, enquanto o quarto
até a fratura-luxação complexa e instável. As fr a tu m s - e o quinto metatarsais se articulam com o osso cuboide.
-luxações de Lisfranc são raras, respondendo por 0,2% de Os ligamentos são essenciais na estabilidade da ar­
todas as fraturas. Elas estão associadas a alta incidên­ ticulação tarsometatarsal. Um ligamento tarsometatarsal
cia de dor crônica e incapacidade funcional. Esse fato, une cada um dos ossos metatarsais a um osso do me­
combinado com os estudos que relatam taxa de 20% de diopé. Além disso, os aspectos proximais do segundo ao
falha diagnóstica, toma essa lesão uma das razões mais quinto metatarsais estão unidos por um forte ligamento,
comuns para os processos de má prática contra os médi- o intermetatarsal transverso. Esses ligamentos têm um
cos da emergencia. componente plantar mais forte que o dorsal. Nenhum
Emergências Ortopédicas 531

Figura 2 3 .1 9 A . Anatom ia ligamentar da articulação de Lisfranc com os ligamentos tarsometatarsal, intermetatarsal, e o forte
ligamento de Lisfranc (três linhas oblíquas). B. Fratura-luxação de Lisfranc com incongruência lateral total de toda a articulação
(homolateral). C. Fratura-luxação de Lisfranc divergente.

ligamento conecta as bases do primeiro e segundo meta- mais fracas. Infelizmente, nenhum sistema de classifica-
34
tarsais (Fig. 23.19A).33 ção é útil para determinar o manejo ou o prognóstico.
O segundo metatarsal está firmemente mantido pelo
ligamento tarsometatarsal, ligamento intermetatarsal e M e c a n is m o s d e le sã o
forte ligamento de Lisfranc que se estende obliquamen­ As fraturas-luxações de Lisfranc geralmente ocorrem de­
te até o cuneiforme mediai. Essa articulação forte do se­ pois de um trauma de alta energia, como uma queda de
gundo osso metatarsal atua como força de estabilização grande altura ou colisão de veículo automotor. As colisões
primária do complexo tarsometatarsal e toma uma fratu­ de veículos automotores respondem por 45% dessas le­
ra proximal do segundo metatarsal mais provável do que sões. Uma lesão mais sutil depois de um mecanismo de
uma luxação. Por conseguinte, a fratura na base do segun­ baixa energia também pode ocorrer e responde por até
do metatarsal sugere a alta probabilidade de lesão das es­ 30% dos casos.34
truturas ligamentares restantes da articulação de Lisfranc. O mecanismo de lesão pode ser direto ou indireto.
As lesões diretas envolvem um trauma não penetrante de
A xio m a: Uma fratura da base do segundo metatarsal su­ alta energia, geralmente no dorso do pé. O mecanismo di­
gere uma fratura-luxação de Lisfranc até prova em contrário. reto está associado a uma significativa lesão de tecidos
moles e ao desenvolvimento de síndrome compartimentai.
O trauma indireto é mais comum e costuma envolver o
C la ssific a ç ã o carregamento axial do pé em flexão plantar.
As fraturas-luxações de Lisfranc existem em diversas va- As luxações homolaterais podem seguir-se a uma
riações/ Elas são classificadas com base na presença de queda com o pé apoiado em flexão plantar. As forças com­
mptura ou não das articulações de Lisfranc, denominada pressivas, como aquelas que ocorrem durante uma colisão
de incongruência total ou parcial. Somando-se a isso, a de automóvel ou um estresse rotacional, também podem
direção do deslocamento é observada: medial, lateral, produzir esse tipo de luxação. As luxações divergentes são
dorsal ou plantar. As luxações homolaterais são comuns consequentes de uma força compressiva que divide o sul­
e referem-se ao deslocamento lateral de quatro ou cinco co entre o primeiro e o segundo metatarsais.
metatarsais na mesma direção. Se o deslocamento ocorrer
em direções opostas, então a fratura-luxação é chamada Exam e
de divergente (Figs. 23.19B e 23.19C). As luxações di­ O paciente com entorse leve exibe sensibilidade dolorosa
vergentes costumam ocorrer entre o primeiro e o segun­ na articulação de Lisfranc, edema mínimo e nenhuma ins­
do metatarsais, pois é onde as inserções ligamentares são tabilidade. Aquele com uma fratura-luxação apresenta dor
532 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Figura 2 3 .2 0 Fratura-luxação de Lisfranc.


A. Uma equimose no aspecto plantar do pé
deve alertar o profissional para uma possí­
vel lesão de Lisfranc. B. Esta radiografia é
o exem plo de um tipo divergente, porque
o prim eiro metatarsal está deslocado me­
dialmente, enquanto o resto dos metatarsais
está deslocado lateral mente.

extrema no mediopé e edema. O paciente pode ser capaz Incidência oblíqua. Avalie o alinhamento normal do ter­
de caminhar, apesar de uma lesão significativa, e esta ca­ ceiro e quarto metatarsais com o cuboide e o cuneiforme
racterística não pode ser usada para excluir o diagnóstico. lateral:
Pode haver uma proeminência da base do primeiro metatar­
• As bordas mediais do quarto metatarsal e do cuboide
sal ou encurtamento aparente do antepé. A equimose pode
são alinhadas.
estar presente no aspecto plantar (Fig. 23.20A).' A dor na
• As bordas laterais do terceiro metatarsal e do cunei­
abdução e a pronação passivas do antepé são sugestivas de
forme lateral são alinhadas.
lesão. A dor durante a dorsiflexão passiva dos dedos do pé
sugere síndrome compartimentai concomitante. A condi­
Incidência lateral. Essa incidência é usada para avaliar a
ção neurovascular do pé deve ser cuidadosamente exami­
luxação dorsal ou plantar dos metatarsais. No pé normal,
nada e documentada, embora a lesão vascular seja rara.
uma linha traçada ao longo da superfície dorsal do pé, no
Im a g e n s
nível da articulação tarsometatarsal, não será interrompi­
da. Um metatarsal nunca deve ser mais dorsal que seu res­
As radiografias AP, obbqua e lateral são obtidas, e a rela­ pectivo osso do tarso.
ção entre os ossos tarsais e metatarsais é avaliada (Figs.
23.20B e 23.21). A incidência AP permite a melhor visua­
A xiom a: O aspecto medial do cuneiforme médio e do se­
lização do primeiro e segundo metatarsais, enquanto a in­
gundo metatarsal se alinham. Qualquer ruptura desse alinha­
cidência obbqua permite a melhor visualização das bases
mento é indicativa de luxação, o que pode ter sido esponta­
do quarto e quinto metatarsais. neamente reduzida.

Incidência AP. Avaliar o alinhamento normal do primeiro


e segundo metatarsais com seus respectivos cunéiformes: Outro sinal radiográfico de fratura-luxação de Lisfranc
espontaneamente reduzida é o sin a l d o flo c o . Esse sinal
• As bordas mediais do segundo metatarsal e do cunéi­ está presente em 90% dos casos e ocorre devido a uma
forme médio estão alinhadas. avulsão óssea do segundo metatarsal ou do cuneiforme
• O primeiro metatarsal alinha-se com as bordas do medial.32
cunéiforme medial. As incidências em estresse ou de comparação podem
• A distância entre as bases do primeiro e segundo me- ser necessárias para detectar lesões sutis. As incidências
39
tatarsais deve ser menor que 3 mm.' de estresse são obtidas com o paciente em pé. Alguns
Emergências Ortopédicas 533

Figura 23.21 Outro exemplo de fratura-luxação de Lisfranc. A . A imagem AP demonstra o alinhamento normal do primeiro e do
segundo metatarsais com os cuneiformes medial e médio, respectivamente. B. A incidência oblíqua demonstra a perda de alinha­
mento do terceiro metatarsal e do cuneiform e lateral, que não estava prontamente aparente na incidência AP. C. A reconstrução
com TC tridimensional com o mesmo mau alinhamento. D. A T C também demonstrou fraturas de avulsão do terceiro e quarto me­
tatarsais (seta). E. Estabilização cirúrgica da lesão com fios de Kirschner.
534 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

profissionais têm sugerido que até 10% das lesões de FRATURAS DOS METATARSAIS
Lisfranc podem não ser detectadas sem as incidências
com carga. Os achados radiográficos são os mesmos As fraturas dos metatarsais são classificadas com base na
que nas incidências sem carga. As incidências de estresse anatomia e na terapia:
são, com frequência, difíceis de obter devido ao descon­ 1. Primeiro metatarsal
forto do paciente. 2. Metatarsais centrais (segundo, terceiro e quarto)
Uma TC deve ser obtida se houver alta suspeita clí­ 3. Quinto metatarsal (proximal)
nica e o paciente não puder suportar as incidências de
• Fratura de avulsão da tuberosidade
estresse. A TC é mais sensível e tem provado ser uma fer­
ramenta diagnóstica valiosa para delinear as lesões ocul­ • Fratura de Jones
tas. O deslocamento de até 2 mm pode não ser visível • Fratura de estresse da diáfise
em filmes simples, mas é visto na TC. Em um estudo, um
quarto de todos os casos não foi diagnosticado com as ra­ Fraturas do primeiro metatarsal
diografias simples. Forças significativas atuam nesse osso durante a deambu­
lação, tornando essencial que ele permaneça anatomica­
L e s õ e s a sso cia d a s
mente intacto em relação aos outros ossos do pé. Dife­
As luxações tarsometatarsais estão associadas às seguin­ rentemente do segundo ao quarto metatarsais, o primeiro
tes lesões: metatarsal não tem bgamentos de interconexão, permitin­
1. Fratura da base do segundo metatarsal do que ele se mova de forma independente.
2. Fraturas de avulsão dos tarsais ou metatarsais adja­
M e c a n is m o d e le sã o
centes
3. Fraturas do cuboide, do cuneiforme ou do navicular A maioria das fraturas metatarsais é resultado de uma
lesão de esmagamento direto, como quando um objeto
4. Síndrome compartimentai
pesado cai sobre o pé. Um mecanismo indireto de torção
T ra ta m en to também pode causar essas fraturas.
O manejo dessas lesões no setor de emergência inclui Exam e
analgésicos, gelo, elevação, imobilização (Apêndice
A.14). Até a entorse leve da articulação com radiogra­ Os pacientes com fraturas do primeiro metatarsal apresen­
fias normais deve ser mantida sem carga até a avabação tam dor, edema e sensibibdade dolorosa locabzada sobre
a parte dorsal e medial do pé. A compressão axial ao lon­
adicional devido ao potencial de incapacidade dessas le­
go do primeiro metatarsal exacerba a dor. A intensidade e
sões.3 As fraturas-luxações quase sempre requerem con­
sultoria ortopédica e reparo cirúrgico. Se a cirurgia for a quabdade do pulso pedioso dorsal devem ser documen­
indicada, é melhor que seja executada dentro das primei­ tadas em todos os pacientes.
ras 12 a 24 horas após a lesão. Altemativamente, o reparo
Im a g e n s
cirúrgico de 7 a 10 dias mais tarde pode ser necessário
para permitir que o edema diminua. Se houver suspeita As incidências AP, lateral e oblíqua são adequadas para
de síndrome compartimentai, a consultoria ortopédica no demonstrar a fratura.
setor de emergência e a hospitalização estão indicadas.
O ortopedista pode considerar o manejo conservador L e s õ e s a sso cia d a s

de entorses da articulação de Lisfranc (radiografias de es­ As fraturas do primeiro metatarsal podem estar acompa­
tresse normal) com descarga e uma bota gessada por seis nhadas de fraturas das falanges, do segundo ao quarto me­
semanas/ Para as fraturas-luxações, a redução fechada tatarsais, ou dos ossos do tarso. Além disso, uma síndro­
com uso de gesso habitualmente resulta em redução, mas me compartimentai pode desenvolver-se quando o edema
não é suficiente para produzir uma redução anatômica es­ de tecidos moles for significativo.
tável. A redução aberta e a fixação interna com fios ou
parafusos são necessárias. Depois da redução cirúrgica, Trata m en to
uma bota gessada é usada por 6 a 12 semanas. Um arco de As fraturas do primeiro metatarsal requerem gelo, ele­
suporte customizado é utilizado nos 12 meses seguintes. vação, analgésicos e imobilização (Apêndice A.14).
O manejo apropriado conduz a um bom resultado clínico Um cuidado especial deve ser tomado para assegurar que
em 90% dos casos. as articulações metatarsofalângicas sejam mantidas em po­
sição neutra. O paciente deve receber muletas e instruções
C o m p lic a ç õ e s para evitar carga. O manejo definitivo das fraturas estáveis
As luxações tarsometatarsais são frequentemente compli­ e não deslocadas inclui gessado por quatro a seis semanas.
cadas pelo desenvolvimento de artrite degenerativa e dor A estabihdade não é definida até ser observado que a fratu­
crônica. ra não se desloca durante a carga (radiografias de estresse).
Emergências Ortopédicas 535

As fraturas deslocadas do colo requerem o encaminha­


mento precoce para redução e fixação aberta. As fraturas
gravemente cominutivas requerem fixação externa.

C o m p lic a ç õ e s
A não união e a má-união podem ocorrer depois dessas
fraturas. A artrite degenerativa é também uma complica­
ção das fraturas intra-articulares.

Fraturas dos metatarsais centrais


O segundo, terceiro e quarto metatarsais estão ligados por
várias inserções ligamentares que fornecem estabilidade
inerente a esses ossos. As fraturas dos metatarsais cen­
trais são muito mais comuns que no primeiro metatarsal.
As fraturas podem ocorrer na diáfise, na cabeça, no colo
ou na base. Ao diagnosticar as fraturas da base, contudo, o
médico da emergência deve considerar a possibilidade de
instabilidade dentro da articulação de Lisfranc.

M e c a n is m o d e le sã o
A maioria dessas fraturas é resultado de uma lesão por
esmagamento direto, como quando um objeto pesado cai
sobre o pé. Um mecanismo indireto de torção também
pode causar essas lesões. As fraturas de estresse, comuns Figura 23.22 Fraturas da diáfise do segundo, terceiro e quarto
no segundo e no terceiro metatarsais, são vistas após o metatarsais.
trauma repetitivo no antepé.

Exam e As fraturas metatarsais deslocadas (> 3 mm) ou an­


guladas (> 10°) que envolvem o segundo até o quinto me­
As fraturas dos metatarsos centrais se apresentam com
tatarsais requerem redução fechada. O deslocamento ou
dor, edema e sensibilidade dolorosa localizada sobre a
a angulação persistentes perturbam a distribuição da car­
parte mediodorsal do pé. A compressão axial ao longo do
ga normal no antepé. Depois da analgesia adequada, os
metatarsal envolvido exacerba a dor.
dedos do pé são pendurados com fitas e uma contratração
Im a g e n s
é aplicada na tíbia distai por meio de um suspensor com
pesos. As radiografias pós-redução são recomendáveis.
As incidências AP, laterais e oblíquas são adequadas para
Após a redução, o paciente é imobilizado (Apêndice A.14)
demonstrar essas fraturas (Fig. 23.22). Os tendões flexo­ e mantido sem apoio de peso. A cirurgia pode ser neces­
res muitas vezes forçam o fragmento distai em direção
sária nas fraturas instáveis e naquelas fraturas resistentes
plantar e proximal.
às tentativas fechadas. A redução aberta é mais comum
quando múltiplos metatarsais estiverem fraturados, pois é
L e s õ e s a sso cia d a s
perdido o efeito estabilizador dos metatarsais adjacentes.
As fraturas dos metatarsais centrais são com frequência As fraturas médias e distais do quinto metatarsal são
acompanhadas por fraturas de falanges. O alinhamento tratadas de maneira similar às fraturas correspondentes
dos ossos na articulação de Lisfranc deve ser avaliado, em dos metatarsais centrais.
especial quando as fraturas forem vistas proximalmente.
C o m p lic a ç õ e s
T ra ta m en to
A não união e a má-união podem ocorrer após essas fratu­
O manejo no setor de emergência dessas fraturas inclui ras. A artrite degenerativa é uma complicação das fraturas
elevação, gelo e analgésicos. As fraturas metatarsais iso­ intra-articulares.
ladas não costumam estar deslocadas, por causa do efeito
de estabilização dos metatarsais adjacentes. As fraturas
Fraturas proximais do quinto metatarsal
não deslocadas geralmente consolidam bem e podem ser
tratadas com um calçado de solado rígido. O solado rígido Três tipos de fraturas ocorrem na porção proximal do
atua mantendo o peso distribuído uniformemente e proíbe quinto metatarsal e diferem na sua etiologia e tratamen­
o movimento nas articulações metatarsofalângicas. A car­ to. Essas fraturas podem ser distinguidas pela história
ga pode progredir conforme a tolerância. e pela zona de lesão demonstrada nas imagens radiográ-
536 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Fratura de avulsão da tuberosidade

Figura 23.23 Fraturas proximais do quinto metatarsal.

ficas. As fraturas proximais do quinto metatarsal consis­


tem em (1) fraturas de avulsão da tuberosidade, (2) fra­
turas de Jones e (3) fraturas diafisárias de estresse (Fig.
23.23).
As fra tu ra s de avulsão da tuberosidade , também cha­
madas de pseudofraturas de Jones, são as mais comuns
e respondem por aproximadamente 90% das fraturas na
base do quinto metatarsal. Essas fraturas são definidas
pela ocorrência proximal à articulação entre o quarto e o
quinto metatarsais. Essas lesões são transversas ou oblí­
quas e, em geral, extra-articulares, embora possam esten­
der-se para dentro do espaço intra-articular entre o cuboi-
de e o quinto metatarsal.
Uma fratura aguda na junção da diáfise e da metáfise
é denominada de fra tu ra de Jo n es , por causa do médico
britânico Robert Jones, que descreveu essas fraturas em
1902. Essas lesões envolvem a faceta articular entre o
quarto e o quinto metatarsal. As fraturas de Jones são
únicas e é importante distingui-la da fratura da tuberosida­
de, pois elas podem perturbar o tênue suprimento sanguí­
neo à porção distal do fragmento proximal. Figura 23.24 Avulsão da base do quinto metatarsal pelo ten­
Um terceiro tipo de fratura começa logo distai às dão do fibular curto.
inserções ligamentares do osso e se estende 1,5 cm para
dentro da diáfise. Essa região é a localização mais comum
nas fra tu ra s de estresse do quinto metatarsal. Exam e
As fraturas proximais do quinto metatarsal se apresentam
M e c a n is m o d e le sã o com sensibilidade dolorosa localizada na área envolvida,
As fraturas de avulsão da tuberosidade ocorrem depois da e edema mínimo. A equimose está presente após lesões
inversão forçada com o pé e o tornozelo em flexão plan­ agudas.
tar. O mecanismo avulsiona a tuberosidade por tensão
do tendão fibular curto e da corda lateral da aponeurose Im a g e n s

plantar (Fig. 23.24). Ambas as estruturas têm inserção na As incidências AP, laterais e oblíquas são adequadas para
tuberosidade. demonstrar essas fraturas (Fig. 23.25). A presença do osso
A fratura de Jones ocorre com mais frequência depois vesaliano (um centro secundário de ossificação) na base
que uma força lateralmente dirigida no antepé atua sobre do quinto metatarsal pode ser confundida com uma fratura
o pé em flexão plantar. Essa lesão é comumente relatada (ver Fig. 23.4). Os centros de ossificação secundária são
no basquete ou no futebol. lisos, arredondados, bilaterais e frequentemente têm mar­
As fraturas de estresse podem ser distinguidas por­ gens escleróticas.
que são sintomáticas vários dias antes da apresentação,
diferentemente das fraturas de Jones e de avulsão, que são L e s õ e s a sso cia d a s
lesões agudas. Essas lesões ocorrem em indivíduos envol­ As fraturas dos metatarsais são muitas vezes acompanha­
vidos em atividades físicas vigorosas. das por fraturas de falanges.
Emergências Ortopédicas 537

A B

Figura 23.25 Fratura da base do quinto metatarsal. A. Fratura de Jones. B. Fratura de avulsão da tuberosidade.

Tratamento A.14) e descarga. O manejo definitivo consiste em bota


As fraturas de
Fratura d e avulsão da tu b e ro sid a d e . gessada sem apoio por seis a oito semanas. As fraturas
avulsão não deslocadas na base do quinto metatarsal re­ deslocadas são encaminhadas para fixação cirúrgica. O
querem curativo compressivo, calçado de solado rígido prognóstico é reservado e existe uma alta de incidência
ou gessado e carga conforme a tolerância. A consolida­ no retardo da consolidação e na não união devido ao su­
ção ocorre dentro de quatro a seis semanas e é excelente primento sanguíneo ruim dessa região.
na maioria dos casos. 1,4:5’46 Para aqueles pacientes com A intervenção cirúrgica precoce, com fixação por
dor intensa, uma tala posterior com muletas ou uma bota parafuso, está tornando-se mais comum e resulta em
gessada para marcha por duas a três semanas podem ser taxa alta de união primária. A técnica é frequentemente
benéficas. Um coxim metatarsal plantar para o suporte do empregada em atletas para diminuir o tempo de união
e promover um retomo mais cedo às atividades. Até
arco é usado depois de três semanas.
metade das fraturas originalmente tratadas com imobili­
A intervenção cirúrgica é considerada para as fratu­
zação necessitaram de cirurgia mais tarde por não união
ras cominutivas ou quando o envolvimento intra-articular
ou recorrência.
entre o metatarsal e o cuboide for superior a 30%, com
degrau acentuado. Qualquer um desses achados deve ditar
Fratura d e e stre sse diafisária. As fraturas de estresse
o uso de uma tala posterior com muletas e o encaminha­
diafisárias agudas são tratadas com imobilização e des­
mento para um ortopedista.
carga por 6 a 10 semanas, de uma maneira similar às
fraturas agudas de Jones.4 Essas fraturas têm menos
A xio m a: Uma fratura transversa da base do quinto meta­ probabilidade de consolidar que as fraturas de Jones e po­
tarsal não deve ser confundida com uma fratura que envolva dem requerer uma duração maior de imobilização sem
a tuberosidade. O tratamento e o prognóstico são completa­
apoio. Até 20 semanas de imobilização são necessárias
mente diferentes.
em alguns casos e, ainda assim, as não uniões podem
ocorrer. Por essa razão, as fraturas de estresse diafisárias
O manejo de emergência destas fra­
Fratura d e Jo n es. são frequentemente tratadas com fixação com parafuso
turas inclui gelo, elevação, imobilização (Apêndice ou enxertia óssea.
538 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Fratura cominutiva da Fratura da falange


proximal

Figura 2 3 .2 7 Tratamento das fraturas das falanges dos dedos


do pé. Um pedaço de acolchoam ento de algodão é colocado
Figura 23.26 Fraturas dos dedos do pé. entre os dedos ileso e fraturado, que é im obilizado junto com o
dedo adjacente. A im obilização pode se estender até as unhas
para dar suporte adicional.
C o m p lic a ç õ e s
As fraturas de Jones e as de estresse requerem encaminha­
mento devido à alta incidência de não união. ção dinâmica envolve o uso de acolchoamento de algodão
entre o dedo do pé afetado e seu vizinho. O dedo lesio­
nado é então atado com firmeza ao dedo adjacente ileso
FRATURAS DOS DEDOS DO PÉ do pé (Fig. 23.27). A imobilização deve ser mudada em
As fraturas das falanges são as mais comuns do antepé alguns dias e usada por um período de duas a três sema­
(Fig. 23.26). A falange proximal do hálux é a estrutura nas. Os hematomas subungueais significativos podem ser
com maior número de lesões. drenados com o uso de eletrocautério ou uma agulha de
calibre 18.
M e c a n is m o d e le sã o Pela importância do hálux na sustentação do peso e
no equilíbrio, essas fraturas requerem o encaminhamen­
A maioria das fraturas das falanges é resultado de um gol­
to com mais frequência do que as outras fraturas dos de­
pe direto, como quando um objeto pesado cai sobre o pé.
dos menores. Se a fratura envolver mais de 25% do es­
Uma força axial causada por “trancar o dedo do pé” pode
paço articular, então o encaminhamento é recomendado.
também resultar nestas fraturas. Uma força abrupta de ab­
As fraturas não deslocadas da falange do hálux podem ser
dução comumente produz fratura dos dedos menores do pé.
tratadas com imobilização com esparadrapo e um calçado
Essa lesão é chamada de fratura “do sonâmbulo”. Menos
de solado rígido, caso a dor seja significativa, uma tala
comum, a hiperextensão do dedo do pé, um mecanismo in­
posterior seja preferível. As fraturas cominutivas do hálux
direto, pode resultar em fratura em espiral ou de avulsão.
requerem gessado para marcha, já que a imobilização di­
nâmica oferece imobilização insuficiente.
Exam e
As fraturas deslocadas das falanges podem ser reduzi­
As fraturas da falange se apresentam com dor, edema e equi­ das pelo médico da emergência (Fig. 23.28). O dedo do pé
mose dentro das primeiras duas a três horas. A sensibilidade é anestesiado com um bloqueio digital e a tração é aplicada
dolorosa localizada está presente ao exame, podendo haver para manipular para a posição adequada. O alinhamento
deformidade visível do dedo do pé. Os hematomas subun- das unhas é usado para detectar anormalidades rotacionais
gueais podem se desenvolver dentro das primeiras 12 horas. sutis. Um alinhamento quase anatômico é o mais importan­
te ao reduzir as fraturas do hálux. As radiografias pós-redu-
Im a g e n s
ção estão indicadas, e, se estáveis, são tratadas com espica
As fraturas da falange são em geral mais adequadamente junto ao dedo adjacente e um calçado de solado rígido.
visualizadas nas incidências AP e oblíquas. As incidên­
cias laterais são difíceis de interpretar devido às sombras
FRATURAS DOS SESAMOIDES
ósseas sobrejacentes.
Dois sesamoides são comumente encontrados dentro do
T ra ta m en to tendão do fle x o r curto do hálux e com pouca frequência
A maioria das fraturas dos dedos do pé não é deslocada são fraturados (Fig. 23.29). As fraturas dos sesamoides
ou é apenas minimamente. As fraturas não deslocadas das são, de hábito, resultado de trauma direto agudo ou crôni­
falanges que envolvem do segundo até o quinto dedos são co. As fraturas do sesamoide medial são mais comuns do
tratadas com imobilização dinâmica e calçado aberto com que as do lateral. As fraturas dos sesamoides se apresen­
solado rígido para prevenir o movimento. A imobiliza- tam com dor localizada à palpação, acima do aspecto plan-
Emergências Ortopédicas 539

tar da primeira cabeça metatarsal. A extensão da primeira


falange resulta em exacerbação da dor, que é referida ao
aspecto plantar da articulação metacarpal. As fraturas de
sesamoides requerem incidências tangenciais oblíquas
para visualização adequada. Os sesamoides bipartidos são
estruturas lisas e arredondadas, não frequentemente con­
fundidas com fraturas agudas.
O tratamento das fraturas dos sesamoides é conserva­
dor, com palmilhas e um calçado com solado rígido para
descarregar a área dolorosa. Entretanto, se os sintomas
forem intensos, uma bota gessada para marcha está indi­
Figura 23.28 Redução fechada da fratura deslocada de uma cada. A excisão pode ser executada quando o tratamento
falange. conservador falhar.

LESÃO DE TECIDOS MOLES E LUXAÇÕES DO PÉ


LUXAÇÃO SUBTALAR
As luxações subtalares são uma lesão rara, responden­
do por somente 1 a 2% de todas as luxações. Essa lesão,
também denominada de luxação peritalar, descreve a
luxação do tálus em relação ao calcâneo e ao navicular
(Fig. 23.30). As luxações subtalares podem ser classifica­
das como mediais ou laterais, dependendo da posição do
pé em relação à tíbia distai. O tipo mais comum, medial,
representa 80 a 85% de todas as luxações subtalares.
As luxações subtalares laterais são menos comuns. A lu­
xação subtalar anterior e posterior também pode ocorrer,
mas é incomum.
A luxação do tálus acima do encaixe do tornozelo e
abaixo do calcâneo e do navicular é denominada de lu xa ­
ção ta la r total, mas é extremamente rara. Com as luxa­
ções talares totais, o tálus fica completamente deslocado
para fora do encaixe do tornozelo e é rodado, de tal forma Figura 23.30 Luxação subtalar (medial).
540 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

rompem conforme os ossos do pé são deslocados em di­


reção medial.
Em luxações laterais, existe a eversão forçada do pé.
A cabeça do tálus é forçada através da cápsula da articu­
lação talonavicular e do calcâneo. O resto do antepé se
desloca lateralmente a partir do tálus.

Exame
O paciente se apresenta com deformidade relativamente
óbvia do pé (Fig. 23.31). Existe em geral dor intensa, ede­
ma e sensibilidade dolorosa. Com as luxações mediais, o
pé fica deslocado em direção medial, e o tálus é palpável
lateralmente. A pele apresenta-se tensa sobre a superfí­
cie lateral do pé e o suprimento vascular com frequência
Figura 23.31 Luxação subtalar (medial). (Utilizada com permis­
está comprometido. As luxações expostas também podem
são de Joel Levis MD e do West) Emerg Med 2009 May; 10(2):92.)
ocorrer e devem ser suspeitadas sempre que houver ruptu­
ra da pele lateralmente.
que a superfície articular inferior aponta em direção pos­
terior e a cabeça talar aponta para medial. Imagens
As incidências de rotina, incluindo AP, lateral e oblíqua
Mecanismo de lesão são adequadas para demonstrar a luxação subtalar (Fig.
As luxações subtalares podem ocorrer depois de trauma 23.32). As fraturas estão associadas em aproximadamente
de baixa energia (p. ex., queda de um meio-fio) e de alta dois terços dos casos. As fraturas maleolares, do colo
energia (p. ex., queda de altura). Uma luxação sub­ talar e as osteocondrais são as mais comuns. As radiogra­
talar medial se segue a uma lesão de inversão e flexão fias pós-redução são necessárias para documentação, bem
plantar. Os ligamentos talocalcaneano e talonavicular como para excluir a presença de fraturas ocultas.

Figura 23.32 Radiografias de luxação subtalar (medial). A. AP e B. lateral. (Utilizadas com permissão de Joel Levis M D e do West
) Emerg M ed 2009 May; 10(2):92.)
Emergências Ortopédicas 541

Lesões associadas
As luxações subtalares estão associadas a fraturas (tarsais,
maleolares, do colo talar e osteocondrais) e lesão liga-
mentar.

Tratamento
O manejo de emergência das lesões fechadas inclui anal­
gésicos e pronta redução para evitar a complicação da ne­
crose cutânea (Vídeo 23.1). Se não estiver rapidamente
disponível uma consulta, deve ser feita a tentativa de re­
dução fechada.
O joelho é mantido em flexão para relaxar o gas-
trocnêmio e permitir a redução mais fácil. Para reduzir
uma luxação medial, a tração é aplicada no pé e no cal­
canhar em linha com a deformidade. A contratração é
aplicada à perna. Ela é seguida pela pressão acima da Luxação complexa
cabeça do tálus, com uma força de abdução concomi­
tantemente aplicada ao antepé. As luxações laterais são Figura 23.33 Luxações metatarsofalângicas.
reduzidas por tração firme, seguidas de adução sobre o
antepé.
visível. O dedo apresenta-se hiperestendido, sobre o dor­
Complicações so do metatarsal. Se a luxação for complexa, o sesamoide
está palpável no aspecto dorsal. Os pacientes com luxa­
As luxações subtalares são complicadas pelo desenvolvi­
mento de vários distúrbios significativos. ções IF se apresentam com achados similares. Se o edema
for significativo, a deformidade pode não ser tão óbvia
1. Necrose avascular do tálus (Fig. 23.34A).
2. Perda de movimento do tornozelo e artrite traumática
3. Perda cutânea isquêmica secundária à pressão talar Imagens
subjacente As luxações MTF podem ser diagnosticadas na incidên­
cia AP, já que geralmente existe sobreposição entre o me­
tatarsal distal e a falange proximal. As luxações IF são
LUXAÇÃO DOS DEDOS DO PÉ
mais adequadamente vistas nas incidências AP e oblíquas
As luxações metatarsofalângicas (MTF) são lesões ra­ (Figs. 23.34B e 23.34C). Com luxação MTF complexa,
ras e costumam ocorrer em direção dorsal. As luxações a placa volar do hálux, junto com o sesamoide, prende a
da MTF do hálux são mais comuns do que nos dedos falange na superfície dorsal do metatarsal.
menores. As luxações MTF são classificadas como
simples ou complexas com base na presença de teci­ Lesão associada
dos moles ou ossos sesamoides interpostos (Fig. 23.33). As luxações IF estão muitas vezes associadas a fraturas.
A articulação interfalângica (IF) pode ser deslocada em
direção dorsal ou volar. As luxações IF, como as luxa­ Tratamento
ções MTF, são raras.41 As luxações IF podem ser tratadas com redução fechada,
seguida de imobilização dinâmica. As reduções instáveis
Mecanismo de lesão requerem o encaminhamento precoce para fixação inter­
As luxações da articulação MTF são secundárias à com­ na. As luxações MTF dorsais são reduzidas usando a hi-
pressão com extrema dorsiflexão da falange proximal. perextensão com tração distai (Fig. 23.35 e Vídeo 23.2)
Se a força gerada não resultar em luxação, uma torção é As reduções estáveis exigem um calçado de sola rígida e
diagnosticada, comumente chamada de entorse da MTF imobilização dinâmica. As luxações resistentes à redução
do hálux. Com forças maiores (p. ex., colisões de veícu­ têm tecidos moles interpostos e necessitam de redução
los automotores), a cápsula plantar sofre avulsão e ocorre aberta. As instáveis ou com crepitação depois da redução,
uma luxação dorsal da falange proximal sobre o metatar- sugerindo um corpo livre intra-articular, também são indi­
sal. As luxações mediais ou laterais da MTF resultam de cações para o reparo cirúrgico.
forças que abduzem ou aduzem o dedo do pé.

Exame SÍNDROME COMPARTIMENTAI DO PÉ


Os pacientes com luxação da articulação MTF apresen­ Para a abordagem completa sobre a síndrome comparti­
tam dor, edema, incapacidade de caminhar e deformidade mentai, consultar o Capítulo 4. Essa seção aborda aspec-
542 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

B C

Figura 23.34 Luxação dorsal da articulação interfalângica do hálux direito. A . Fotografia do paciente {seta ). B. Radiografia AP.
C . Radiografia oblíqua.

A B C

Figura 23.35 Redução da articulação metatarsofalângica. A. A tração é aplicada na linha da deformidade. B. A hiperextensão é
usada para reproduzir a força da lesão. C. Mantendo a tração, a redução é realizada.
Emergências Ortopédicas 543

curto do dedo mínimo. O compartimento central (su­


perficial) contém os músculos flexor longo e curto dos
dedos.
Os seis compartimentos restantes não correm ao
longo de toda a extensão do pé (Fig. 23.37). Eles in­
cluem os quatro compartimentos interósseos, o do cal-
câneo e o adutor. Há quatro compartimentos interós­
seos dorsalmente entre os metatarsais. Estes contêm os
músculos interósseos. O compartimento calcaneano é
profundo ao central, dentro do calcanhar. Ele contém o
músculo quadrado plantar e comunica-se com o com­
partimento posterior profundo da perna por meio do re-
tináculo flexor.61 O compartimento adutor fica dentro do
aspecto plantar profundo do antepé e contém o músculo
adutor do hálux.
Tal como as síndromes compartimentais em outras
partes do corpo, as fraturas são uma causa importante
de síndrome compartimentai do pé junto com as lesões
significativas de esmagamento, infecção e causas iatro-
Figura 23.36 O s compartimentos da sola do pé. gênicas. A síndrome compartimentai do pé ocorre após
10% das fraturas intra-articulares do calcâneo. 1,60 Destas,
metade desenvolve uma deformidade de dedo em garra
tos únicos da síndrome compartimentai do pé. O pé é a pela contratura do músculo quadrado plantar dentro do
localização mais desafiadora do corpo para o diagnóstico compartimento calcaneano. Em um estudo, a síndrome
de síndrome compartimentai, pois sua apresentação é su­ compartimentai foi pé foi causada por fraturas do calcâ­
til. O médico da emergência deve ter um alto grau de sus- neo em 42%, fraturas de múltiplos metatarsais em 25% e
peição para o diagnóstico para evitar as sequelas crônicas fratura-luxação de Lisfranc em 17%. Os demais 17% dos
de um diagnóstico despercebido. pacientes não tiveram lesão no pé, mas sofreram edema
O pé contém um total de nove compartimentos se­ devido a lesões ortopédicas mais proximais (pilão tibial,
parados. Três compartimentos - medial, lateral e cen­ exposta do fêmur, platô tibial). Apresentações tardias de
tral (superficial) - correm ao longo de toda a superfície até 36 horas foram relatadas em pacientes com mecanis­
plantar do pé (Fig. 23.36). O compartimento medial mos menos graves de trauma (chute no pé durante uma
está localizado inferior e medialmente ao primeiro me­ partida de futebol).
tatarsal e contém os músculos abdutor do hálux e flexor Tal como ocorre em todas as síndromes comparti­
curto do hálux. O compartimento lateral é encontrado mentais, o grau de dor está fora da proporção com a le­
inferior e lateralmente ao quinto metatarsal. Esse com­ são, mas costuma ser mais vago e maldefinido. A dor não
partimento contém o abdutor do dedo mínimo e o flexor é aliviada pela imobilização ou com analgésicos. A dor

Compartimentos interósseos

Compartimento Compartimento
lateral medial

Compartimento Compartimento
calcaneano central

Figura 23.37 Corte transversal esquemático dos compartimentos do pé no nível da cabeça metatarsal proxim al.
544 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

causada pela síndrome compartimentai do pé pode ser Exame


exacerbada pela elevação. Os achados ao exame físico são mínimos imediatamente
O compartimento afetado mostra-se tenso ao exame. após a lesão e incluem a laceração ou a ferida perfurante
A dor com dorsiflexão passiva dos dedos do pé é um si­ pequena (Fig. 23.38A). Se a lesão tiver vários dias de evo­
nal importante que está presente em 86% dos pacientes. lução, a ferida original pode estar parcialmente cicatriza­
Depois de várias horas, os sinais de comprometimen­ da. Nesses casos, o paciente geralmente procura o setor de
to neurológico podem aparecer, incluindo dormência, emergência por causa de eritema, calor e dor associados
queimação e parestesias. Novamente, esses achados são com infecção. A drenagem de uma ferida perfurante é evi­
menos dramáticos no pé em comparação com o resto do dência adicional desse quadro.
corpo. Se a presença de um corpo estranho não estiver cla­
O médico da emergência deve ter alto grau de sus­ ra, usar um aplicador com ponta de algodão para palpar
peita para essa condição em pacientes com lesões ósseas em tomo do local de punção e pedir ao paciente para des­
ou de tecidos moles significativas, ou em pacientes que crever se existe qualquer área com sensibilidade dolorosa
se apresentam depois de trauma menor com dor que pa­ significativa. Se a ferida for dolorosa, existe maior a pro­
rece ser fora da proporção esperada. A consultoria orto­ babilidade de um corpo estranho estar retido, e a sensi­
pédica deve ser obtida e são feitas leituras das pressões bilidade dolorosa indica a provável localização do corpo
compartimentais. O tratamento envolve a descompres­ estranho.
são por meio de incisão longitudinal medial ou uma in­
cisão dorsal. Imagens
As radiografias simples devem ser obtidas sempre que o
FERIDAS PERFURANTES PLANTARES paciente se apresentar com uma ferida perfurante e sem­
pre que o examinador não tiver certeza da presença de um
As feridas perfurantes no aspecto plantar do pé estão as­ corpo estranho retido. O vidro e o metal são facilmente
sociadas a uma taxa mais elevada de infecções do que vistos nas radiografias (Fig. 23.38B). Para localizar um
as feridas similares em outro local do corpo. Os agen­ corpo estranho de metal, a ultrassonografia ou fluorosco-
tes penetrantes incluem agulhas, pregos, vidro, farpas de pia é útil. Essas modalidades são bastante úteis, pois as
madeira, espinhos e palitos. Os corpos estranhos retidos imagens obtidas em tempo real também ajudam na remo­
estão presentes em 3% dos casos e incluem pedaços de ção de corpos estranhos maiores. Para materiais estranhos
roupa, ferrugem, pedregulho ou sujeira. A presença de radiopacos, a remoção é ajudada porque o profissional
um corpo estranho está associada com infecção de teci­ pode visualizar tanto o instrumento como o corpo estra­
dos moles e osteomielite. nho (Figs. 23.38C e 23.38D). A ultrassonografia e a TC
A infecção tardia ocorre em 10% dos pacientes. Em demonstram melhor os corpos estranhos de plástico ou de
um estudo de Fitzgerald e colaboradores, 132 de 774 madeira (ver Fig. 5.2).
crianças examinadas com feridas perfurantes tiveram ce­
lulite e 16 apresentaram osteomielite.66 Os patógenos bac- Tratamento
terianos mais comuns que causam as infecções de tecidos Em consequência da alta taxa de infecção, essas lesões
moles são os estafilococos e os estreptococos, enquanto requerem atenção especial. O tratamento das feridas per­
P seudom onas causam 90% dos casos de osteomielite. Ou­ furantes superficiais e não infecciosas (tipo I) inclui a va­
tros organismos causadores osteomielite incluem E scheri- cinação contra o tétano e os cuidados locais. A irrigação é
• 67 68
chia coli, Staphylococcus aureus e flora mista. recomendada, embora somente possa ser efetiva na ferida
mais superficial. O paciente é instruído a limpar a área
Classificação duas vezes ao dia e usar um curativo protetor. Se existe
As feridas perfurantes do pé podem ser separadas em desconforto ao caminhar, são recomendadas atividades
cinco tipos, dependendo do grau de penetração, infec­ sem apoio. Quando a profundidade do ferimento não pu­
ção e presença de corpo estranho. O tipo I envolve a der ser determinada, a penetração deve ser assumida como
penetração cutânea superficial na epiderme ou na der­ profunda e a ferida deve ser tratada dessa forma.
me, sem sinais ou sintomas de infecção. As feridas As feridas mais profundas (tipo II) habitualmente re­
perfurantes do tipo II são subcutâneas ou envolvem uma querem exploração. Um anestésico local ou o bloqueio
articulação, sem sinais ou sintomas de infecção. Este nervoso regional (bloqueio no tornozelo dos nervos sural e
é o tipo mais comum de ferida perfurante. As feridas tibial posterior) deve ser administrado. Existem opções múl­
perfurantes do tipo III são divididas naquelas que en­ tiplas para exploração, e o melhor método é desconhecido.
volvem a infecção de tecidos moles, incluindo artrite A exploração não penetrante com uma pinça pode apenas
séptica, um corpo estranho retido (tipo IIIA) e aquelas forçar os objetos mais profundamente. A excisão de um blo­
com penetração do corpo estranho dentro do osso (tipo co de tecido em tomo da punção ajuda na remoção do corpo
IIIB). As feridas perfurantes do tipo IV estão associadas estranho e auxilia na irrigação (Fig. 23.39). É recomendada
à osteomielite. a extensão da ferida não infectada para remover madeira ou
Emergências Ortopédicas 545

c D

Figura 23.38 Remoção de corpo estranho plantar. A. Ferimento com perfuração plantar. B. A radiografia demonstra um corpo
estranho de vidro triangular. C. A fluoroscopia é usada para localizar o vidro. D. O vidro é alcançado e removido.

outros objetos contaminados ou quando uma perfuração por As feridas perfurantes que estejam infectadas e que
prego ocorrer através do calçado. Essas lesões têm especial tenham um corpo estranho (tipo IIIA) requerem antibió­
probabilidade de infectar. Para prevenir a inoculação dos te­ ticos e intervenção cirúrgica. Quando a penetração do
cidos saudáveis, a ferida não deve ser fechada. Deve ser ob­ material estranho for no osso (tipo IIIB), o corpo estra­
servado, contudo, que não é necessário remover um corpo nho deve ser cirurgicamente removido com curetagem do
estranho se for inerte, assintomático, não ameaçar a função defeito ósseo, debridamento de tecidos moles, lavagem
e não estiver dentro de uma articulação. Infelizm ente, não extensa e compressão aberta. Agentes antimicrobianos in­
fo i dem onstrado que os antibióticos profiláticos reduzam a travenosos empíricos são administrados, dependendo das
taxa de infecção. culturas intraoperatórias.
546 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Figura 23.39 Técnica para detectar e remover um corpo estranho dentro de ferida perfurante plantar. A. Palpar em torno da ferida
com um cotonete com ponta de algodão. O ponto de maior sensibilidade dolorosa é a localização do corpo estranho. B. Uma pe­
quena incisão elíptica de 2 a 3 mm é feita em direção à localização presumida do corpo estranho. C. O tecido é removido com a
pinça. O corpo estranho pode ser localizado dentro do tecido.

As feridas perfurantes do pé que resultam em osteo- atingidos ou chutados na parte de trás da pema. Um estalo
mielite (tipo IV) são raras. A condição ocorre, contudo, pode ser ouvido.
e o reconhecimento da entidade ajuda na prevenção e no
diagnóstico precoces. Uma vez que a infecção se desen­ Exame
volva em uma ferida perfurante, deve-se ser agressivo, O paciente queixa-se de dor intensa e aguda na panturri­
incluindo a sua exploração cirúrgica, o debridamento, a lha, tomando a deambulação quase impossível. A mptura
70
irrigação e a remoção de qualquer material estranho. parcial pode ser difícil de diagnosticar, sendo com fre­
quência erradamente tomada por um músculo distendido.
RUPTURA DO TENDÃO DO CALCÂNEO Ao exame, edema e equimose difusos estão presentes e
pode haver a perda da flexão plantar (Fig. 23.40). Um defeito
A ruptura do tendão do calcâneo é relativamente comum, palpável pode estar presente, a menos que o edema seja in­
ocorrendo em 18 a cada 100.000 pessoas. Essa condição tenso. O paciente apresenta alguma capacidade de fazer a
é diagnosticada de modo equivocado em 20 a 30% dos flexão plantar do tornozelo por causa da ação do músculo
casos por causa da dor insignificante ou em decorrência tibial posterior, mas a fraqueza será notada.
um exame incompleto. Vários exames clínicos foram descritos para ajudar no
Essa lesão é mais comum em homens entre as idades diagnóstico. O teste de aperto na p a n tu rrilh a é executa­
de 30 e 50 anos que participam recreativamente de esportes do enquanto o paciente fica em decúbito dorsal na mesa
(“atleta de final de semana”). Essa condição também ocorre de exames, com os pés pendurados para fora da borda.
em atletas profissionais. A administração crônica de cor- As panturrilhas são bilateralmente apertadas, observando-
ticosteroide oral e o uso de fluoroquinolona predispõem à -se a ocorrência de flexão plantar. Se uma mptura comple­
ruptura. A ruptura do tendão do calcâneo ocorre mais co- ta estiver presente, ocorrerá pouco ou nenhum movimento
mumente na porção mais estreita do tendão, em tomo de 5 a do pé (Fig. 23.41 e Vídeo 23.3). A descrição desse teste é
15 cm acima do seu ponto de inserção no calcâneo. comumente creditada a Thompson; contudo, foi descrito
cinco anos antes por Simmonds.
Mecanismo de lesão Outros testes incluem o teste da fle x ã o do jo e lh o e o
Os mecanismos de lesão incluem um estiramento extra teste do esfigm om anôm etro. Para executar o teste de fle­
aplicado a um tendão tenso, uma dorsiflexão forte com xão do joelho é pedido ao paciente em decúbito dorsal
o tornozelo em estado relaxado ou um trauma direto no que flexione o joelho até 90°. O pé é observado duran­
tendão tensionado. Somente um terço dos pacientes apre­ te o movimento e cai em posição neutra ou dorsiflexão
senta sintomas antes da ruptura. Os pacientes relatam o quando a mptura do tendão estiver presente. O teste do
aparecimento súbito de dor e a sensação que eles foram esfigmomanômetro é executado inflando-se o manguito
Emergências Ortopédicas 547

até 100 mmHg, posicionado-o no meio da panturrilha.


O pé é dorsifletido e a pressão do manómetro é observada.
Quando o tendão estiver intacto, a pressão deve subir para
aproximadamente 140 mmHg.

Imagens
As radiografias não são necessárias para chegar ao diag­
nóstico. Uma radiografia lateral do tornozelo pode revelar
a perda da configuração regular entre o aspecto superior do
calcâneo e o aspecto posterior da tíbia (triângulo de Kager).
Quando houver ruptura, esse espaço toma-se menor.

Tratamento
A ruptura do tendão do calcâneo deve ser tratada com
gelo, analgésicos e imobilização na “posição de equino
gravitacional”, com o tornozelo em flexão plantar em po­
sição confortável. O paciente deve receber muletas e ser
instmído para não apoiar o pé. O encaminhamento ao or­
Figura 23.40 Ruptura do tendão do calcâneo do pé direito.
topedista deve ser feito em até dois dias.
Notar o edema no calcanhar e a perda na flexão plantar quan­ Continua havendo controvérsia sobre o tratamento
78 80
do comparado com o lado ileso. mais apropriado para a mptura do tendão do calcâneo.
O tratamento conservador consiste na imobilização com
tala em 20° de flexão plantar por duas semanas para per­
mitir a consolidação do hematoma. Após esse período, a
extremidade inferior é imobilizada em uma bota gessa­
da ou removível com o calcanhar elevado por seis a oito
semanas. Depois da imobilização ter sido completada,
a amplitude de movimento gradual é iniciada e uma cal-
canheira de 2 cm é usada nos dois meses seguintes. As
desvantagens do método incluem a menor resistência
muscular, devido ao alongamento do tendão cicatrizado e
elevada taxa de ruptura recorrente (8 a 39%).
O tratamento cirúrgico é muitas vezes preferido em
pacientes mais jovens ou mais atléticos. Os exercícios de
amplitude de movimento podem ser iniciados em três a
sete dias depois da cirurgia, mas uma bota para marcha
deve ser usada por seis semanas. Os desfechos após a ci­
rurgia revelam melhor resistência quando comparados ao
manejo conservador. O risco de ruptura recorrente é sig­
nificativamente diminuído (5%).SI As desvantagens desse
método de tratamento incluem os custos mais altos e as
complicações pós-cirúrgicas (infecção, necrose cutânea,
lesão nervosa). Em pacientes com diagnóstico retardado
por mais de uma semana, o tratamento cirúrgico costuma
ser preferido. Se tratados conservadoramente, esses pa­
cientes exibem um alongamento do tendão com a cicatri-
zação, que inibe a resistência muscular.

TENDINOPATIA DO CALCÂNEO
O tendão do calcâneo constitui a inserção distai dos mús­
B culos gastrocnêmio e sóleo no calcâneo. A tendinopatia
Figura 23.41 Teste de Thompson. A. Quando o mecanismo do do calcâneo é uma condição dolorosa devido à inflamação
calcâneo está intacto, o aperto da panturrilha causa a flexão do tendão; também é chamada de tendinite de Aquiles, te-
plantar do pé. B. Em pacientes com tendão do calcâneo rompi­ nossinovite, peritendinite, paratendinite (doença aguda),
81 82
do não existe flexão plantar. tendinose (doença crônica) e aquilodiniaf
548 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Mecanismo de lesão
A fase aguda da tendinopatia do calcâneo é secundária a um
esforço excessivo agudo, a trauma não penetrante ou ao uso
excessivo crônico e a fadiga muscular. A tendinopatia
do calcâneo é o terceiro problema mais comum em corre­
dores de distância. É a lesão mais frequente em dançarinas
de balé. A incidência anual em corredores de elite é de 7
a 9%.85,86 Outros fatores predisponentes para essa condição
incluem flexibilidade muscular inadequada, aumento da
pronação do pé e discrepância no comprimento das pernas.
Figura 23.42 A palpação nessa área é dolorosa em pacientes
Exame com fasciite plantar. Um esporão calcaneano é mostrado, sen­
do comumente associado a essa condição.
Os pacientes apresentam edema e sensibilidade dolorosa
em torno do tendão. Uma crepitação fina é percebida ao
movimento do pé devido à presença de exsudato de fibrina
plantar (tuberosidade medial do calcâneo). A irritação do
dentro do paratendão. Na maioria dos casos, a região dolo­
periósteo resulta na ossificação subperiostal secundária e
rosa é bem-localizada, e o paciente mantém o pé em flexão
no desenvolvimento de um esporão ósseo.
plantar para aliviar o desconforto. A dorsiflexão passiva
A condição é mais comumente secundária ao uso
agrava a dor. É frequente a existência de um espessamen-
excessivo. Vários fatores de risco foram identificados, in­
to palpável sobre o tendão ou tecidos peritendíneos, como
cluindo as ocupações que envolvem excessivas caminhadas
previamente descrito. A rigidez matutina é comum, a dor
87 ou períodos em pé, calçados mal-acolchoados, obesidade e
aumenta com a atividade e cede com o repouso/
corrida. Os pacientes pronadores excessivos (com pés pla­
Imagens nos) ou com dorsiflexão de tornozelo reduzida também têm
89
um risco mais elevado de desenvolver a fasciite plantar.1
O diagnóstico é feito em bases clínicas. A ultrassonogra-
fia e a RMN são confirmatórias, mas não são necessárias. Exame
Tratamento A sensibilidade dolorosa local é notada à palpação da su­
perfície anteromedial do calcâneo, onde se insere a fáscia
O manejo conservador inclui redução da atividade e ele­
plantar (Fig. 23.42). A dorsiflexão passiva dos dedos do
vação do calcanhar dentro do calçado com um pequeno
pé acentua a dor. A dor e a sensibilidade dolorosa são
bloco de feltro. O corredor deve ser estimulado a execu­
sempre anteriores ao calcanhar, com irradiação para a sola
tar exercícios de alongamento do complexo do calcâneo.
do pé sendo um acompanhamento frequente.
Os agentes anti-inflamatórios orais podem ser usados,
enquanto as injeções de esteroides devem ser evitadas, já
Lesões associadas
que podem causar ruptura. O gelo é usado depois da ativi­
dade. Se a dor for aguda e outras medidas não ajudarem, A condição é bilateral em até um terço dos casos. Quando
uma bota gessada para marcha pode ser usada por 10 dias. a fasciite plantar for bilateral, está associada a condições
O tratamento cirúrgico para a liberação da tenossinóvia es­ reumatológicas, como artrite reumatoide, lúpus eritemato-
pessada é recomendado em pacientes que não respondem so sistêmico e gota.
78
a uma tentativa de seis meses de tratamento conservador.
Imagens
O diagnóstico de fasciite plantar é clínico na maioria dos
FASCIITE PLANTAR
casos. As radiografias ou a cintilografia óssea podem ser
Lesão comum na população geral e representa até 15% úteis para afastar outros diagnósticos, como uma fratura
dos problemas do pé.8 O paciente típico tem 40 a 60 anos, de estresse do calcâneo.
mas surge mais cedo em corredores, nos quais incidên­ As radiografias demonstram um esporão ósseo no cal­
cia é de até 10%.9 O paciente apresenta dor na superfície câneo em 50% dos casos. Os esporões de calcanhar ocorrem
inferior do calcanhar, ao ficar em pé ou caminhar. A dor no aspecto plantar do calcâneo, na inserção da aponeurose
alivia com o repouso. Muitas vezes, os pacientes notam a plantar, onde se desenvolve uma proeminência óssea que se
dor depois de um período de repouso no leito, que diminui estende através da superfície plantar do osso. Muitos pacien­
depois de alguma atividade, mas que fica intensa nova­ tes com esporão de calcâneo são assintomáticos e 15 a 25%
mente depois de um tempo maior de apoio. da população geral têm esses esporões.

Mecanismo de lesão Tratamento


A fasciite plantar se desenvolve como uma condição in­ Há várias terapias para tratar a fasciite plantar, incluindo
flamatória e degenerativa no local de origem da fáscia repouso, fisioterapia, alongamento, mudanças nos calça-
Emergências Ortopédicas 549

Figura 23.43 A . Técnica de im obilização da fáscia plantar. B. Calcanheira para tratar a fasciite plantar. G Suporte acolchoado do
arco da fáscia plantar. D. Alongamentos para a fasciite plantar.

dos, suporte para o arco, órteses, talas noturnas, agentes os joelhos retos. O paciente deve ser instruído para ficar
anti-inflamatórios e cirurgia. Com o tratamento adequa­ a aproximadamente 30 cm de distância da parede com o pé
do, 80% dos pacientes veem a resolução de seus sinto­ oposto e, gradualmente, inclinar os quadris para a frente
mas dentro de até 12 meses. Acredita-se que o tratamento até sentir que o tendão esteja sendo alongado. A posição
precoce dentro de seis semanas do desenvolvimento dos é mantida por 10 segundos e então repetida por três vezes.
. oo 93
sintomas apresse a recuperação. O alongamento deve ser executado com frequência durante
O tratamento no setor de emergência inclui repouso, o dia (até cinco vezes), inicialmente, e então duas vezes
gelo e drogas anti-inflamatórias não esteroides (AENEs). por dia para prevenir a recidiva.
O paciente deve ser instruído para usar uma calcanhei­ Outro método que pode ser empregado no setor de
ra (1,5 cm), suporte do arco para reduzir o estiramen­ emergência é o uso de esparadrapo no aspecto plantar do
to da fáscia plantar ou enfaixamento (Figs. 23.43A a pé. Usando um rolo de fita de 5 cm, vários pedaços são
23.44C).9 Além disso, o paciente deve ser aconselhado posicionados de forma que se estendam ao longo do as­
a não caminhar descalço e substituir os calçados gastos. pecto plantar do pé, desde a cabeça do quinto metatarsal
Os exercícios de alongamento do tendão do calcâneo até a cabeça do primeiro metatarsal. As tiras são aplicadas
também devem ser prescritos (Fig. 23.43D). O melhor mé­ de forma que se sobreponham de 0,7 a 1,5 cm. A fita deve
todo para executar esses estiramentos é inclinar-se contra ser tensionada como uma corda na área do arco.
uma parede com o antepé, mantendo o calcanhar no chão e A injeção de anestésico local e esteroide ao longo do
aspecto medial do calcanhar com frequência fornece alí­
vio, mas pode ser associada à atrofia do coxim de gordura,
sendo recomendada apenas em casos resistentes. As in­
jeções de esteroides podem ser feitas usando o ultrassom
para guiar o posicionamento da agulha. A liberação da
fáscia plantar, incluindo a primeira camada dos múscu­
los intrínsecos, tem se mostrado efetiva em casos refra-
tários. A fasciotomia plantar endoscópica é uma opção
razoável quando a terapia conservadora tiver falhado.

ATROFIA DO COXIM CALCANEANO


O coxim de gordura calcaneano é composto de múltiplos
compartimentos de tecido fibroelástico, compostos de
células adiposas. Um calcanhar doloroso em bloco é de­
Figura 23.44 A bolsa calcaneana posterior e a bolsa retrocal- vido à atrofia do coxim de gordura subcalcaneano e pelo
caneana. apoio repetitivo do calcanhar durante a marcha. Essa con­
550 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

dição é comum, especialmente em idosos. A obesidade DISTENSÃO DO PÉ


e a atividade com deambulação prolongada, particular­
mente em pisos duros, agravam a condição. Além disso, Os ossos e os ligamentos mantêm a posição normal de
o estresse agudo no bloco pode romper ou tensionar os repouso do pé. Os músculos atuam na proteção ao estresse
compartimentos, causando a perda temporária da com- excessivo de ossos e ligamentos. A dor no pé em ortosta-
pressibilidade. tismo, por conseguinte, não é de etiologia muscular, mas
Ao exame, a dor é generalizada sobre todo o calca­ mecânica, óssea, ou ligamentar. A dor ao caminhar, entre­
nhar. Ela é especialmente proeminente ao ficar em pé, e o tanto, pode ser muscular ou de outros tecidos moles.
repouso oferece alívio. As radiografias podem demonstrar O pé tem dois arcos, o longitudinal e o transverso.
uma superfície inferior lisa do calcâneo em alguns pacien­ O arco longitudinal estende-se do calcâneo até as cabeças
tes; afora isso, o aspecto é normal. O tratamento conserva­ metatarsais. O arco transverso corre através dos metatarsais.
dor inclui repouso, AINEs e um bloco de dispersão (bloco Os arcos são mantidos por componentes esqueléticos anco­
em U). Um protetor de calcanhar flexível consiste em um rados por ligamentos. O arco longitudinal é mantido pela
plástico justo que encaixa no calcanhar e aperta toda a relação do tálus e do calcâneo, dos ligamentos interósseos,
gordura sob o calcâneo, fornecendo mais acolchoamento. dos plantares longo e curto e do ligamento mola. A função
Também estão disponíveis, comercialmente, calcanheiras desse arco é fornecer um trampolim à carga e ao movimento
de silicone. Para prevenir a recidiva, modificação dos cal­ para a frente. Quando os ligamentos são estirados por peso
çados com acolchoamento de dispersão do calcanhar ou excessivo, por pressão ou por tônus muscular deficiente, o
órtese do pé é usada. O paciente deve ser encaminhado pé é sobrecarregado. A distensão do pé pode ser aguda, su-
para um profissional especializado. baguda ou crônica. A distensão aguda do pé é vista mais
comumente depois de um uso excessivo recente, tal como o
que ocorre com o ortostatismo prolongado. A distensão crô­
BURSITE DO CALCÂNEO nica do pé é secundária aos estresses excessivos em estrutu­
Duas bolsas estão envolvidas nos processos inflamatórios ras normais, ou estresses normais em estruturas anormais.
ao redor do calcanhar. A bolsa retrocalcaneana está loca­
Apresentação clínica
lizada entre o calcâneo e o tendão do calcâneo. A bolsa
calcaneana p o sterio r está localizada mais superficialmen­ Conforme mencionado, a maioria dos pacientes com esse
te, entre o tendão do calcâneo e a pele (Fig. 23.44). tipo de lesão aumentou recentemente os níveis de ativida­
A bursite calcaneana posterior é habitualmente secun­ de. Em outros casos, o peso e o exercício excessivos ou
dária à fricção produzida por calçados apertados, e é espe­ calçados incorretamente ajustados podem ser os fatores
cialmente comum em mulheres que usam saltos altos. causais. O paciente relata dor sobre a borda interna do pé
A bolsa está quase sempre distendida com fluido e fica ao ficar em pé ou caminhar, obtendo alívio com o repouso.
visivelmente inflamada. Em casos crônicos, a bolsa e a O paciente tem sensibilidade dolorosa sobre o ligamen­
pele sobrejacente ficam espessadas, com sensibilidade do­ to distendido, que frequentemente é bem-localizado sob
lorosa e edema que é notado atrás do calcanhar. Na bursite o navicular e os arcos anterior e posterior. A dorsiflexão
retrocalcaneana, o paciente relata dor ao movimento e a passiva do pé intensifica a dor, e a flexão plantar costuma
sensibilidade dolorosa localizada é notada à palpação logo ser indolor. O paciente pode ter uma distensão significati­
anterior ao tendão do calcâneo. va, de forma que seja incapaz de apoiar o peso e queixar-
O tratamento da bursite calcaneana consiste em re­ -se de dor irradiada para a panturrilha.
pouso, calor, AENEs e elevação. Em pacientes com bursite
calcaneana posterior, calçados adequadamente ajustados, Tratamento
com saltos baixos, são essenciais. A parte posterior do cal­ O tratamento da distensão do pé da forma aguda, a mais
çado pode ter de ser cortada em casos agudos. A injeção vista no setor de emergência, consiste em repouso e com­
com anestesia local e esteroide fornece um alívio rápido pressas quentes. O suporte para o arco longitudinal pode
dos sintomas. ser dado com uma palmilha de esponja ajustada ao calça­
do. A distensão aguda do pé melhora com o simples re­
CISTO ÓSSEO DO CALCÂNEO pouso e o retorno gradual às atividades. Todos pacientes
devem ser encaminhados para verificação com o especia­
O cisto ósseo simples é um tumor ósseo relativamente lista para evitar complicações como alongamento liga­
comum, e responde por mais ou menos 3% de todos os mentar, inflamação articular, degeneração e artrose.
tumores ósseos. Os homens são mais afetados em sua
primeira e segunda décadas de vida. Um cisto ósseo sim­ METATARSALGIA
ples pode ser assintomático ou produzir dor localizada e
edema. A radiografia demonstra uma estrutura cística no A metatarsalgia é caracterizada por dor e sensibilidade
osso. A terapia com injeção de esteroides tem se mostrado dolorosa nas cabeças plantares dos metatarsais. Ocorre
bem-sucedida, sendo preferível à curetagem cirúrgica. 02 quando o arco transverso é abaixado e as cabeças metatar-
Emergências Ortopédicas 551

sais médias apoiam uma quantidade desproporcional de NEUROMA DE MORTON


peso. É vista em pacientes com deformidade em cavo do
pé e em pacientes que usam calçados de salto alto. O neuroma de Morton é uma neuropatia compressiva do
No apoio normal do peso, a primeira cabeça metatarsal nervo interdigital (Fig. 23.45). Essa condição afeta mais co-
e os dois sesamoides sustentam um terço do peso corporal. mumente as mulheres de meia-idade com incidência unila­
No pé plano, a segunda, a terceira e a quarta cabeças meta- teral. O neuroma de Morton é um tipo de metatarsalgia, ca­
tarsais apoiam peso maior. Existem muitos fatores comuns racterizada por ataques súbitos de dor aguda irradiada para
que causam a síndrome de metatarsalgia. Esses incluem o os dedos do pé. Os ramos cutâneos dos nervos digitais se
estiramento ligamentar que permite que o arco transverso se dividem no aspecto plantar do ligamento metatarsal trans­
tome mais relaxado e sujeito à tração, a fraqueza dos mús­ verso e originam os nervos para os lados dos dedos do pé.
culos intrínsecos e os fatores traumáticos. Deve ser lembra­ Patologicamente, o neuroma é um edema fusiforme
do que a metatarsalgia é um sintoma, e não uma doença, e que ocorre proximal à bifurcação do nervo, consistindo,
refere-se somente à dor em tomo das cabeças metatarsais. primariamente, de tecido conjuntivo proliferativo e ma­
terial eosinofílico amorfo que pode ser o resultado de
Apresentação clínica neurite inflamatória inespecífica ou algum tipo de arterite
O paciente apresenta dor e vontade diminuída de apoiar o localizada. A deposição desses materiais é seguida pela
peso no antepé. O dorso do pé pode estar edemaciado. degeneração lenta da fibra nervosa.
A sensibilidade dolorosa é percebida no meio das diáfises
Apresentação clínica
com a flexão ou extensão dos dedos do pé. A dor cede
com o repouso e a descarga, mas retoma com qualquer O paciente relata uma d o r em queim ação, localizada no
esforço. O local da sensibilidade dolorosa inicial é sobre aspecto plantar das cabeças metatarsais, que se irradia
as cabeças metatarsais. para os dedos do pé, e que pode estar acompanhada de
parestesias e dormência. O local mais comum é entre o
Tratamento segundo e o terceiro metatarsais. A dor costuma ser des­
O tratamento deve ser dirigido ao fator causal, sendo ini­ crita como lancinante e cortante, com a sensação “de estar
cialmente sintomático, podendo incluir agentes anti-infla- caminhando sobre uma pedra”. Inicialmente, a dor ocorre
matórios. O paciente deve ser instmído para usar apenas somente com a deambulação ou o ortostatismo, porém,
calçados de salto baixo. O ultrassom tem sido usado tratar mais tarde, persiste até em repouso. O paciente obtém alí­
essa condição, e as palmilhas metatarsais ajustadas ao pé vio tirando o sapato e massageando o pé. Isso relaxa a
do paciente têm apresentado bons resultados. O encami­ pressão entre as cabeças metatarsais.
nhamento para um especialista é indicado de maneira não Após esses ataques súbitos, a sensibilidade dolorosa
emergencial. pode persistir por vários dias. O pé parece normal; entre­
tanto, à palpação firme, é encontrada uma pequena área
de sensibilidade dolorosa intensa, localizada no terceiro
espaço interdigital. Em estágios tardios, é possível produ­
zir crepitação e palpar um pequeno tumor no espaço in­
terdigital. Essa condição pode ser diferenciada das outras
causas de metatarsalgia porque a pressão entre as cabeças
metatarsais reproduz a dor.
Se os dedos forem hiperestendidos na articulação
MTF, um tipo pulsátil de dor ocorre nos dedos do pé en­
volvidos. O teste clínico mais útil para o diagnóstico do
neuroma de Morton é executar um teste de compressão do
espaço interdigital. A dor intensa é produzida pelo aperto
das cabeças metatarsais juntas com uma das mãos e com­
pressão simultânea do espaço interdigital afetado com
o polegar e o dedo indicador da mão oposta. O teste de
compressão também pode produzir um clique doloroso e
palpável, chamado de sinal de Mulder.
O diagnóstico diferencial inclui corpo estranho, cisto
epitelial e bursite traumática.

Tratamento
Existem vários componentes importantes no tratamento
do neuroma de Morton. Primeiro, o calçado do pacien­
Figura 23.45 Neuroma de Morton. te deve ser examinado para ter a certeza de que as partes
552 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

que acomodam o antepé e os dedos sejam suficientemente mais propensas à não união, e os pacientes devem ter des­
grandes. A injeção de esteroides dentro da área afetada, carga do peso por 6 a 10 semanas.
seguida por ultrassom, mobilização do antepé e um pro­
tetor metatarsal temporário também reduzem os sintomas. BURSITE DO ANTEPÉ
Se as medidas conservadoras falharem, o paciente é enca­
minhado para tratamento cirúrgico, que consiste em divi­ A maioria das bolsas nessa área são “bolsas adventícias”,
são do ligamento transverso com ou sem a excisão do neu­ e são anormais. Elas são encontradas nas articulações do
roma. As injeções de álcool sob orientação de ultrassom pé expostas à pressão com frequência exercidas por um
também têm sido usadas, podendo eliminar a necessidade calçado. Os locais mais comuns incluem:
de cirurgia.
• Articulações IF dorsais dos dedos do pé
• Tuberosidade do navicular
FRATURA DE ESTRESSE DO NAVICULAR • Primeira articulação MTF mediai
O navicular mais comumente sucumbe ao estresse no • Quinta articulação MTF lateral
terço central. Por ser relativamente avascular, similar a Na bursite aguda, o paciente se apresenta com sen­
sua contraparte no punho, o osso é mais propenso a de­ sibilidade dolorosa à palpação do local envolvido, junto
senvolver retardo de consolidação ou não união caso não com eritema e edema. O tratamento inclui a eliminação
seja diagnosticado e corretamente tratado. O paciente da causa incitante. Deve-se proteger a área de irritação
queixa-se de dor de aparecimento insidioso. A palpação adicional usando terapia com gelo, AINEs e terapia com
da porção dorsal proximal do navicular produz sensibili­ injeção de esteroides para aliviar o edema e a dor aguda.
dade dolorosa, sendo chave para fazer o diagnóstico. Tal
como as fraturas de estresse no resto do corpo, a radiogra­
SESAMOIDITE
fia simples não é sensível e o profissional precisa contar
com a cintilografia óssea, a TC ou a RMN. O tratamento Os sesamoides do primeiro metatarsal podem se tomar
inclui imobilização por seis semanas, seguidas de um re­ inflamados após um trauma ou um aumento na deambu­
torno gradual às atividades. A fixação com parafuso é ne­ lação. O exame demonstra sensibilidade dolorosa punti-
cessária para aqueles pacientes que desenvolvem uma não forme sob a cabeça metatarsal, que aumenta com a dorsi-
união ou que não respondam ao tratamento conservador. flexão da articulação MTF. Os calçados de salto baixo e
uma barra metatarsal proximal às cabeças dos metatarsais
FRATURA DE ESTRESSE DOS METATARSAIS são habitualmente satisfatórios para aliviar os sintomas.
Também são úteis a imobilização do hálux, a leve flexão
Nenhuma discussão dos distúrbios dolorosos do antepé plantar e os anti-inflamatórios.
seria completa sem a inclusão das fraturas de estresse
dos metatarsais, as chamadas fr a tu r a s da m archa. O pa­
OSTEOCONDROSE DO NAVICULAR
ciente na maioria das vezes relata a história de aumento
na atividade física, sem história clara de trauma prece­ O navicular é o último osso do tarso a ossificar e está su­
dente. jeito à necrose avascular, que habitualmente ocorre entre
Ao exame, existe sensibilidade dolorosa no meio da os 4 e 6 anos, sendo com frequência, bilateral. A etiolo­
diáfise do terceiro metatarsal, que é a estrutura mais co­ gia desse distúrbio é obscura, mas a condição é, em geral,
mumente envolvida. A dor é exacerbada com a deambula­ autolimitada e tende à recuperação espontânea.
ção e a flexão ou extensão dos dedos do pé e cede com o Ao exame, o paciente mais característico é um me­
repouso. As radiografias iniciais são negativas, mas dentro nino entre os 4 e 10 anos que queixa-se de dor sobre a
de duas semanas um calo é visto na diáfise média do me­ região do navicular, quase sempre acompanhada de clau­
tatarsal. dicação. A palpação produz sensibilidade dolorosa sobre
Quando a fratura envolver o primeiro, o terceiro, o o navicular e em geral não existe qualquer história de
quarto e o aspecto distal do segundo metatarsais, o tra­ trauma.
tamento é sintomático, com repouso relativo. Os pacien­ As radiografias do pé devem ser obtidas com inci­
tes podem ser beneficiados com uma bota para marcha dências de comparação, demonstrando a densidade au­
ou muletas se a dor for intensa. Uma vez que a sensi­ mentada e perda do padrão trabecular do navicular, que
bilidade dolorosa à palpação e a dor com a deambulação é de contorno irregular e muitas vezes tem um aspecto
tenham cedido, o paciente pode retomar gradualmente as esmagado.
atividades. A forma física cardiovascular pode ser manti­ O tratamento consiste na proteção do osso no estágio
da com atividades na piscina ou ciclismo. agudo, com restrição das atividades e um gessado por seis
As fraturas de estresse na base do segundo metatarsal a oito semanas em casos mais graves. A ossificação com­
devem ser tratadas com descarga por um período de seis pleta ocorre em dois a três anos, e nenhuma incapacidade
semanas. As fraturas diafisárias do quinto metatarsal são permanente é esperada.
Emergências Ortopédicas 553

CISTO GA N GLIÔ N ICO maléolo medial e irradia para a sola e para o calcanhar.
A dor aumenta com a atividade e diminui com o repouso.
A herniação sinovial ocorre depois de entorse crônico, Parestesias, disestesias e hipoestesia podem estar presen­
acompanhada da fraqueza das cápsulas de uma das muitas tes dentro da mesma distribuição. A apresentação varia,
articulações do pé. Um local frequente é próximo à inser­ entretanto, e alguns pacientes relatam dor somente na área
ção do tendão fibular, distai ao maléolo lateral, onde o cis­ metatarsal, enquanto outros sentem dor ao longo do as­
to pode ser bastante grande. Outro local é o dorso do pé. pecto lateral do pé. Aproximadamente metade dos pacien­
Neste caso, o cisto gangliônico surge ao longo da bainha tes afirma que a dor se irradia superiormente, ao longo
dos tendões extensores longos ou das articulações tarsais. do lado medial da panturrilha. A massagem no pé parece
O tratamento é a remoção cirúrgica; contudo, em alguns oferecer algum alívio temporário.
casos, a aspiração seguida de um curativo compressivo A característica que confirma o diagnóstico é um s i­
pode render bons resultados. nal de Tinel p o s itiv o , com dor irradiada na distribuição
do nervo plantar medial ou lateral à percussão do nervo
NEUROPATIAS COMPRESSIVAS dentro do canal. A dor também é reproduzida com a
dorsiflexão e a eversão do pé. O diagnóstico pode ser con­
Síndrome do túnel do tarso firmado pelos estudos de condução nervosa.
O túnel do tarso está localizado no aspecto medial do pé, Órteses, alongamento, repouso e AINEs são prescri­
posterior ao maléolo medial. É formado pelo retináculo tos. A injeção com esteroides e anestésico local, no ponto
flexor, que compõe o teto do túnel. A síndrome do túnel onde a sensibilidade dolorosa à percussão é máxima, tam­
do tarso resulta da compressão do nervo tibial posterior bém é efetiva para aliviar os sintomas. 0 A liberação ci­
rúrgica do retináculo flexor é o tratamento de escolha para
dentro do túnel fibro-ósseo (Fig. 23.46). O pé plano é
essa condição, e os pacientes devem ser apropriadamente
uma causa comum dessa condição, pois o aumento da ab­ 82
encaminhados quando o diagnóstico for suspeitado.
dução do antepé e o desvio em valgo do retropé aumentam
a tensão sobre o nervo. A síndrome do túnel do tarso é
comumente vista em atletas envolvidos em atividades vi­ Compressão do nervo plantar lateral
gorosas e que colocam muito estresse sobre a articulação e calcaneano
tibiotalar.107 O nervo tibial posterior origina os nervos plantares medial
Os pacientes reclamam de aparecimento insidio­ e lateral e o nervo calcaneano. Os nervos plantar lateral e
so de dor, descrita como queimação. Ela se origina no calcaneano podem ficar aprisionados entre a fáscia pro­
funda do músculo abdutor do hálux e a margem caudal
medial do músculo plantar quadrado. O resultado é a
dor na área de distribuição dos nervos - o calcanhar.
Entre 10 e 15% dos atletas com dor crônica no cal­
canhar não resolvida têm compressão desses nervos.
O paciente apresenta dor crônica no calcanhar; é incô­
moda, constante ou cortante. Ela pode irradiar-se para o
tornozelo e intensifica com a caminhada ou corrida. Está
presente uma sensibilidade dolorosa puntiforme sobre o
primeiro ramo do nervo plantar lateral, profundamente ao
músculo abdutor do hálux. Taxas de sucesso variáveis têm
sido demonstradas com as órteses. Muitas vezes, esses pa­
cientes requerem a neurólise cirúrgica.

Compressão do nervo plantar medial


Essa condição é mais comumente conhecida como pé do
corredor. A compressão do ramo calcaneano medial do
nervo tibial posterior causa irritação e inflamação aguda e
fibrose crônica, com formação de neuroma. O paciente re­
lata dor contínua ao longo da borda medial do calcanhar,
que fica mais intensa com a carga, mas que não se irradia
para o resto do pé. Se o pé estiver em hiperpronação, isso
tende a agravar a condição. Os agentes anti-inflamatórios
e uma órtese moldada sob medida são úteis. Se o paciente
Figura 23.46 Vista medial do tornozelo demonstrando o curso não responder depois de vários meses, o encaminhamento
do nervo tibial posterior dentro do túnel do tarso. para neurólise cirúrgica está indicado.
554 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

Figura 23.47 Vista anterior do pé demons­


trando o nervo fibular profundo.

Compressão do nervo sural O nervo fibular profundo supre a sensibilidade da


área entre o primeiro e o segundo dedos do pé, e o pacien­
A compressão do nervo sural ocorre após entorses recor­
te tem dor irradiada para essa região. Quando a compres­
rentes de tornozelo e corridas. O paciente apresenta dor
são for a causa, a dor é reproduzida com dorsiflexão ou
intensa e parestesias estendendo-se até a borda lateral do
flexão plantar. A neuropatia superficial é sugerida por dor,
pé, que é confirmado por sensibilidade dolorosa local, o
parestesias ou dormência sobre a borda exterior da pan­
sinal de Tinel positivo e, ocasionalmente, uma área de hi- turrilha distal, no dorso do pé e no tornozelo, mas exclui o
perestesia. Uma tentativa com AINEs é útil; contudo, a te­ primeiro espaço interdigital.
rapia com injeção deve ser tentada e as órteses podem ser Ao exame, a palpação evoca dor intensa sobre o dor­
necessárias. Se todas as alternativas falharem, a liberação so do pé. Quando a compressão for a causa, pode haver
cirúrgica costuma ser definitiva. sensibilidade dolorosa puntiforme onde o nervo emerge
através da fáscia profunda. A sensibilidade no espaço in­
Síndrome da compressão da bota de esqui terdigital entre o primeiro e segundo dedos do pé está qua­
se ausente e a sensibilidade sobre o resto do dorso do pé
Nessa condição, a dor é sentida no dorso do pé quando o está diminuída.
nervo fib u la r profundo for lesionado (Fig. 23.47). O nervo Para a síndrome de compressão da bota de esqui, o tra­
é superficial e uma contusão no dorso do pé ou a compres­ tamento inclui a elevação da extremidade, compressas de
são pela “língua” de uma bota de esqui causa a lesão ner­ gelo e analgésicos leves. A resolução habitualmente ocorre
vosa e a dor. O nervo fibular profundo também pode ser em 36 horas; contudo, a sensibilidade pode não retomar ao
comprimido, mais comumente sob o retináculo extensor normal por até quatro semanas. Em casos refratários, é reco­
inferior. O nervo fibular superficial pode ser comprimido mendada a injeção de esteroides. As neuropatias compres­
na sua saída pela fáscia profunda. Entorses recorrentes de sivas também são tratadas com modalidades conservadoras
tornozelo ou o trauma repetitivo por corrida causam am­ como AINEs, órteses ou terapia com injeção. A neurólise
bas as neuropatias compressivas. fica reservada para os casos de dor intratável ou atrofia.
Emergências Ortopédicas 555

ÚLCERAS DO PÉ DIABÉTICO E INFECÇÃO ção é definida como a presença de sinais e sintomas lo­
cais (eritema, calor, tumefação e dor), combinados com
As úlceras do pé diabético são condições comuns vistas
sintomas sistêmicos ou secreção purulenta. As infecções
no setor de emergência. Elas se desenvolvem em 15% dos
são, em geral, polimicrobianas, com organismos aeróbios
diabéticos. Em indivíduos diabéticos que necessitam de
gram-positivos, gram-negativos e anaeróbios presentes.
amputação do pé, 85% tiveram inicialmente uma ulce­
A osteomielite está presente em até dois terços das úlceras
ração. As úlceras do pé ocorrem nos diabéticos com e
do pé diabético. Em um estudo, a capacidade de tocar o
sem neuropatia. A incidência anual de úlceras do pé é de
osso com um instrumento estéril não penetrante teve valor
2% em diabéticos, mas aumenta para 7,5% naqueles com
preditivo positivo de 89% para osteomielite. ' Uma radio­
neuropatia periférica. A neuropatia periférica resulta em
grafia deve ser obtida para procurar a evidência de osteo­
perda dos mecanismos protetores, pois o paciente pode
mielite (destruição óssea ou reação periosteal) ou gás nos
não mais sentir a ocorrência de uma lesão. Outros fatores
tecidos moles circundantes (Fig. 23.48B). Quando a infec­
predisponentes no desenvolvimento de uma úlcera do pé
diabético incluem calosidades, doença vascular periférica ção estiver presente, uma cultura dos tecidos profundos
e deformidades. O trauma é um precipitante comum, deve ser obtida, sendo melhor que os espécimes de esfre-
que pode ser tão pequeno como um calçado com ajuste gaço superficiais para identificar o organismo causador.
inadequado.
Tratamento
A avaliação de um paciente com ulceração do pé in­
clui um exame sensorial minucioso e a palpação dos pul­ O tratamento das úlceras neuropáticas inclui evitar a
sos periféricos. Se os pulsos do pé estiverem presentes, pressão na úlcera (i.e., descarga com muletas, uma bota
a neuropatia é a causa principal da úlcera. As úlceras gessada ou um calçado especial). O debridamento de te­
isquêmicas devem ser reconhecidas pelo exame clínico, cido necrótico, de calo e do material estranho infectado
avaliando a possível necessidade de revascularização. As é fundamental e mais adequadamente executado com um
úlceras neuropáticas são subdivididas em leves, modera­ bisturi. A embebição da ferida macera o tecido, mas não
das ou graves, dependendo da profundidade da úlcera e da faz o debridamento do tecido necrótico, devendo ser evita­
presença ou ausência de envolvimento ósseo. da. O debridamento químico enzimático e as imersões em
A infecção é uma complicação comum (Fig. 23.48A). turbilhão não são úteis. O tratamento cirúrgico está indi­
A úlcera fornece uma entrada fácil para as bactérias no cado para a claudicação grave, dor em repouso intratável,
paciente com resistência diminuída à infecção. A infec­ necrose ou úlceras que não respondem.

Figura 23.48 A . Infecção necrótica de pé diabético. B. Radiografia do mesmo paciente, demonstrando gás nos tecidos.
556 Robert R. Simon e Scott C. Sherman

A escolha do curativo é importante. Um curativo úmi­


do com iodo diluído, trocado duas vezes ao dia, é uma
opção simples. 18,11 O curativo estéril de gaze não ade­
rente é preferível em relação à gaze simples ou ao curati­
vo oclusivo ou semioclusivo. Os curativos mais recentes
contêm celulose ou materiais de modulação da protease
do colágeno ou hialuronano e são feitos para promover a
cicatrização.
Os sinais clínicos de infecção são tratados com an­
tibióticos. As escolhas empíricas para infecções leves do
pé incluem clindamicina, levofloxacino, sulfametoxazol
e trimetoprima, ou ácido clavulínico e amoxicilina para
a ,terapia ambulatorial. Os antibióticos intravenosos nos
cuidados hospitalares incluem imipenem, piperacilina-ta-
zobactam ou cefalosporinas de amplo espectro. A vanco-
micina também deve ser considerada para cobrir organis­
mos gram-positivos resistentes. As infecções de tecidos
moles habitualmente requerem uma a duas semanas de
Figura 23.49 Unha encravada.
terapia, enquanto os pacientes com osteomielite requerem
seis semanas ou mais de tratamento. O debridamento ci­
rúrgico do osso infectado também é importante para erra­ crescem para dentro da prega ungueal circundante e cau­
dicar a osteomielite. sam desconforto, podendo causar uma infecção paroni-
Um dos aspectos mais importantes ao tratar pacien­ quial. As causas dessa condição incluem a pressão externa
tes com úlceras de pé diabético é certificar-se de que eles excessiva (ou seja, calçados impróprios), unhas aparadas
sejam encaminhados para uma clínica apropriada, onde de modo inadequado ou hiperidrose. A condição é mais
possa ser feito o cuidado preventivo em intervalos de dois comum em indivíduos dos 20 aos 30 anos, e mais frequen-
120 129
a três meses. O controle do açúcar sanguíneo, a redu­ temente envolve o hálux.
ção da pressão, o debridamento e os antibióticos, quando O tratamento depende do estágio em que a condição se
necessários, são medidas fundamentais. 21,12 A atenção encontra. No estágio inicial, o examinador observa somente
preventiva inclui o cuidado com as unhas e a remoção de eritema e algum edema da prega ungueal onde a unha pene­
quaisquer calos, como também o uso, pelo paciente, de trou na pele. Neste estágio, o tratamento consiste em banhos
calçados apropriados. quentes e elevação do canto principal da haste com uma
bucha de algodão embebida em solução antisséptica. O pa­
VERRUGAS PLANTARES ciente deve ser aconselhado a aparar as unhas corretamente,
e advertido contra calçados estreitos ou com salto alto.
A verruga vulgar é comum e ocorre na superfície plantar Em estágios mais avançados, quando a prega ungueal
de ambos os pés. Essas lesões aparecem como um cres­ estiver agudamente inflamada ou se houver uma infecção
cimento firme e branco, que pode ser plano ou elevado. paroniquial, a excisão da placa ungueal lateral é acom­
A regressão espontânea é bastante comum, dentro de qua­ panhada pela matricectomia lateral. Para executar esse
tro a seis meses. As verrugas em mosaico podem ocorrer procedimento, o hálux é preparado com solução iodo povi-
quando as verrugas pequenas coalescem. 23,124 dona e é feito um bloqueio anestésico local (Vídeo 23.4).
As verrugas plantares grandes são tratadas de modo Uma tesoura fina ou pinça hemostática é usada para elevar
conservador, com poda semanal e aplicação de um agente cuidadosamente a placa ungueal lateral. Uma tesoura é en­
ceratolítico como ácido salicílico a 40%. As lesões dolo­ tão usada para cortar a placa ungueal e a unha é removida.
rosas são tratadas com técnicas mais invasivas, incluindo A matriz ungueal está agora exposta e o tecido pode ser re­
crioterapia e eletrocirurgia. Os pacientes devem ser enca­ movido com um aplicador com ponta de algodão embebi­
minhados para terapia. do em fenol ou com um eletrocautério (Fig. 23.50 e Vídeo
23.5). É importante que a matriz ungueal seja removida sob
UNHA ENCRAVADA a prega da unha ou uma porção desta crescerá outra vez.

A unha encravada, ou onicocriptose, é um problema de EXOSTOSE SUBUNGUEAL


ocorrência comum que é facilmente tratado no setor de
emergência (Fig. 23.49). A condição deve ser distinguida É um tumor ósseo incomum que se manifesta como um
da exostose subungueal, que é uma condição benigna que nódulo hiperceratósico doloroso e firme, na borda livre
pode assemelhar-se com uma unha encravada. " ~ Uma da placa ungueal. A exostose subungueal se forma sobre
unha encravada ocorre quando as margens laterais desta a porção distai da falange distai e é mais comum no pri-
Emergências Ortopédicas 557

Figura 23.50 Remoção da unha encravada. A. Depois que uma pinça hemostática for usada para elevar a unha encravada, cortar
a placa ungueal com tesoura. B. A porção lateral da placa ungueal é removida. C. A matriz ungueal está exposta. D. Um cotonete
com ponta de algodão molhada em fenol é usada para destruir a matriz do leito ungueal de forma que esta porção da unha não
cresça mais.

meiro dedo do pé. O paciente se apresenta com queixas de 4. Perron AD, Brady WJ. Evaluation and management of the
dor e edema, junto com sensibilidade aumentada no dedo high-risk orthopedic emergency. Emerg Med Clin North
do pé sobre a exostose. O dedo desvia lateralmente, cau­ Am 2003;21(1): 159-204.
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setor de emergência. O tratamento é a aplicação de com­ 11. Myerson M, Manoli A. Compartment syndromes of the
pressas úmidas e mornas na região. Um protetor é coloca­ foot after calcaneal fractures. Clin Orthop RelatRes 1993;
do sobre o aspecto medial do dedo para dar conforto. Um (290): 142-150.
número grande de procedimentos cirúrgicos diferentes 12. Macey LR, Benirschke SK, Sangeorzan BJ, et al. Acute
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PARTE V
Apêndice
Apêndice
Talas, Gessados e Outras Técnicas

EXTREMIDADES SUPERIORES
A.1 IMOBILIZADORES PARA AS FALANGES DISTAIS
Imobilizadores dorsais para as falanges distais Tala metálica
As talas dorsais e volares são muito úteis para tratar as fra­ Esta tala é feita de uma fita fina de metal. Fornece pro­
turas de avulsão da falange distai, conforme discutido no teção para a fratura da falange distai resultante de lesão
texto. A preferência é a tala dorsal, que fornece mais su­ externa. Essa tala não fornece qualquer suporte estrutural.
porte, porque existe menos “acolchoamento” no aspecto
dorsal do dedo. A tala fica em maior contato com o osso.
Ao usar essas talas, não hiperestender a articulação inter-
falângica distai, como era recomendado nos textos mais
antigos. A extensão completa é a posição de escolha ao
aplicar a tala.

c -
564 Apêndice

A.2 TALAS PARA DEDOS

Talas dorsais e volares para os dedos Imobilização dinâmica para os dedos


São adaptadas a partir de talas metálicas comercialmente O dedo ferido é imobilizado com o dedo normal adjacente.
disponíveis, têm acolchoamento de espuma em um dos la­ Isso fornece suporte ao dedo ferido, permitindo o movi­
dos. A tala é cortada no tamanho apropriado e moldada da mento da articulação metacarpofalângica e algum movi­
maneira necessária. mento na articulação interfalângica. Esse tipo de imobi­
As talas devem ser aplicadas com a articulação me- lização é, em geral, utilizado em entorses dos hgamentos
tacarpofalângica em 50° de flexão e as articulações inter- colaterais das articulações interfalângicas e em outras le­
falângicas flexionadas em aproximadamente 15 a 20°. sões abordadas no texto. Um pedaço de algodão laminado,
cortado no tamanho apropriado, é inserido entre os dedos e
os dois dígitos são imobibzados conjuntamente.
Apêndice 565

A.3 TALAS MOLDADAS

Tala de goteira ulnar Tala de goteira radial


As talas moldadas são usadas para o tratamento das fra­ As talas de goteira radial são usadas para tratar as fraturas
turas das falanges e dos metacarpais. As fraturas dos de­ dos dedos indicador e médio. Um orifício é feito, de for­
dos anular e mínimo são imobilizadas em uma tala de ma que o polegar fique livre para mover-se normalmente.
goteira ulnar. A articulação MCF deve ser flexionada O acolchoamento é colocado entre o segundo e o terceiro
em 50 a 90°, e as articulações IFP e IFD são estendidas. dedos. A posição de imobilização dos dígitos é igual à utili­
Lembrar de colocar algum acolchoamento entre o quarto zada na tala de goteira ulnar. Ver a figura a seguir para uma
e o quinto dedos. descrição completa da aplicação da tala de goteira radial.
566 Apêndice

A p lic a ç ã o d a tala d e g o te ira


A tala é feita usando lâminas de gesso cortadas no tama­ é retirado. E. O gesso molhado é então alisado e colo­
nho apropriado. A . Deve-se medir da ponta do dedo até cado na extremidade do paciente. F. Um pedaço de rolo
um ponto a dois terços de todo o antebraço. B. Ao aplicar de algodão pode ser colocado no gesso molhado antes de
um tala de goteira radial, cortar o orifício para o polegar. enrolar a extremidade com a atadura elástica. A p o siçã o
C. A seguir, aplicar algodão laminado nos dedos, na mão fin a l p ró p ria p a ra a tala gessada é de 5 0 a 90° d e fle x ã o
e no antebraço, tendo a certeza de acolchoar entre os de­ na articulação m etacarpofalângica, 15° de extensão no
dos. D . O gesso é molhado com água morna e o excesso p u n h o e extensão nas articulações interfalângicas.
Apêndice 567

A.4 TALA DORSAL COM CAPUZ EM EXTENSÃO


Essa tala é colocada sobre o dorso do antebraço e inclui ção MCF deve ser flexionada em 50 a 90°, a IFP e a IFD
o segundo, o terceiro, o quarto e o quinto dedos. Ela co­ são completamente estendidas, e o punho é estendido em
bre a articulação IFD. Para diminuir o edema e alongar aproximadamente 15°.
os ligamentos colaterais durante a cicatrização, a articula­
568 Apêndice

A.5 CURATIVO UNIVERSAL PARA A MÃO


O curativo universal para a mão é usado no tratamento dedos passem através da bandagem. D. Nos estágios finais
de condições inflamatórias. É uma imobilização mole que da colocação sobre os dedos, a atadura elástica cmza ao
coloca a mão em uma posição que permite a drenagem longo do aspecto palmar da mão e são cortados orifícios
máxima. A . Ao aplicar o curativo, os dedos são separados para incorporar os dedos. E. A mão é puxada, de forma
por gaze (4 x 4) que é desdobrada e colocada em camadas que o punho seja mantido em extensão, e a atadura elás­
entre eles. B . Uma vez que a gaze fique suficientemente tica é fixada. F. Para ajudar a manter o punho em 15° de
espaçada entre os dedos, uma atadura elástica é aplicada extensão com os dedos separados, o esparadrapo é usado
em tomo do antebraço e sobre a mão. C. Ao circular os entre os dedos, aplicado desde o aspecto palmar até o dor­
dedos, a atadura elástica é cortada para permitir que os so da mão para tracionar o punho.
Apêndice 569

A.6 GESSADO PARA POLEGAR


Esse gessado é feito aplicando malha desde a metade do A articulação interfalângica é incorporada no gessado na
braço até a mão. A . Isso é seguido pela aplicação de algo­ figura a seguir, embora haja controvérsia sobre a necessi­
dão laminado, que é então seguido por gesso. O método dade desse procedimento. Os dedos são deixados livres,
de aplicar o gesso está abordado no Capítulo 1. B. Antes de forma que existe movimento completo das articulações
da aplicação do rolo final, a malha é dobrada de volta so­ metacarpofalângicas. A posição do punho aqui mostrada
bre o gessado e o rolo de gesso final é aplicado. C. No­ é a posição neutra. Ao usar esse gessado para as fraturas
tar a posição do polegar, que deve ser mantida ao aplicar do escafoide, preconiza-se a sua extensão para acima do
o gessado (abduzido, com a articulação IF em extensão cotovelo, tomando-o um gessado longo.
como se estivesse segurando uma lata de refrigerante).
570 Apêndice

A.7 TALA PARA POLEGAR


A . A tala para polegar é feita aplicando-se uma lâmina de dades se sobreponham na ponta distai do polegar. C. Para
gesso desde a ponta do polegar até cerca de dois terços do criar uma tala mais longa, adicionar uma lâmina volar in­
antebraço. B . Ao aplicar o gesso, deve-ser ter certeza de cluindo o punho e o cotovelo. D. Uma atadura elástica é
que a largura é suficiente, de forma que as duas extremi­ usada sobre o gesso.
Apêndice 571

A.8 LUVA GESSADA


Uma luva gessada é usada para imobilizar várias fraturas lha é dobrada de volta sobre o gessado e cortada. O rolo
do antebraço. A . O gessado é feito aplicando uma malha de gesso final é aplicado. Observar que os dedos e o pole­
tubular desde os dedos até acima do cotovelo. O algodão gar devem ficar livres, para que o paciente possa usar os
laminado é então aplicado sobre a malha, com o polegar dedos sem qualquer impacto sobre o movimento normal.
permanecendo livre na articulação metacarpofalângica e Uma tala gessada longa é feita de forma similar, ex­
os demais dedos livres no mesmo nível. B . O gesso é de­ ceto por encontrar-se estendida acima do cotovelo, até
senrolado enquanto a mão é mantida na posição. C. A ma­ aproximadamente a metade do braço.

C
572 Apêndice

A.9 TALA POSTERIOR LONGA PARA O BRAÇO


A tala posterior longa para o braço é usada para imobilizar braço mantido em posição de 90° de flexão no cotovelo e
várias lesões no cotovelo e no antebraço. A tala é produzi­ posição neutra no punho. Isso é seguido por ataduras elás­
da enrolando uma atadura de algodão laminado em tomo ticas para segurar a tala posterior na posição. Uma tipoia
do antebraço, da região mediopalmar até a metade do bra­ deve ser aplicada após a tala estar posicionada.
ço. A seguir, uma tala gessada posterior é aplicada com o
Apêndice 573

A.10 TALA ANTERIOR LONGA PARA O BRAÇO


Usada para as fraturas do úmero distai, fraturas combi­ as lâminas volar (anterior) e dorsal (posterior) não se en­
nadas do rádio e da ulna e para fratura instável do rádio contrem, evitando formar um “gessado circunferencial”.
distai ou da ulna proximal. De modo geral, o braço, o an­ Depois de medir as lâminas, colocar algodão na superfície
tebraço e o punho são colocados na posição mais confor­ inferior e aplicar o gesso na extremidade. Aconselha-se a
tável para o paciente. Essa posição habitualmente se ajus­ usar uma quantidade pequena de gaze enrolada na extre­
ta com a posição mais relaxada dos músculos. A . Aplicar midade distai da tala, conforme mostrado, para manter a
uma lâmina de gesso sobre a porção vo lar e dorsal do tala posicionada durante a aplicação. Um assistente pode
braço e do antebraço. A lâmina de gesso deve estender-se segurar a extremidade superior. B . Enrolar a tala com ata­
desde a metade do braço até o dorso da mão, incorporando dura elástica conforme mostrado.
as articulações do cotovelo e do punho. É importante que

B /
574 Apêndice

A.11 TALA EM PINÇA


Usada para fraturas do antebraço distai, especialmente nas aspecto dorsal da mão, logo proximal à articulação meta-
fraturas do rádio distai (fratura de Colles). O antebraço carpofalângica. O excesso de gesso, criado ao circundar
pode ficar supinado ou pronado durante a aplicação da o cotovelo, é dobrado. Uma atadura elástica segura as ta­
tala. Uma atadura de algodão é inicialmente aplicada no las na posição. A vantagem dessa tala é que ela permite a
membro ferido. A seguir, uma tala gessada longa, única, é imobilização em posição de pronação ou supinação, sem
aplicada, circundando o cotovelo. que um gessado circunferencial seja aplicado na extremi­
A tala deve estender-se desde a articulação metacar- dade. Uma tipoia deve ser utilizada com a tala.
pofalângica no lado palmar, em tomo do cotovelo, até o
Apêndice 575

A.12 TALA DE COAPTAÇÃO


Essa tala é usada para o manejo agudo das fraturas da diá- zido e o cotovelo é flexionado em 90°. A atadura elástica
fise do úmero. Após a aplicação do acolchoamento para é enrolada em tomo da tala. O peso da tala ajuda a manter
proteger a pele, a tala é aplicada desde a axila, em torno a fratura alinhada. Por essa razão, uma tipoia com colar e
do cotovelo, até acima do ombro. O braço é mantido adu­ pulseira é recomendada, em vez de uma tipoia tradicional.
576 Apêndice

A.13 TIPOIAS
A . Uma tipoia comercial é usada para sustentar o braço, enfaixamento (circundando a cintura do paciente) é usada
em várias lesões, conforme discutido no texto. B. O uso em situações nas quais haja uma fratura instável do úmero
do co la r e da p u lseira é um método alternativo para sus­ proximal, que tem a tendência a deslocar devido à con­
tentar o antebraço em pacientes com fratura do úmero tra­ tração do músculo peitoral maior. Essa posição relaxa o
tada com tala de coaptação. C. Uma m alha tipo Velpeau e peitoral maior.
Apêndice 577

EXTREMIDADES INFERIORES
A.14 TALA POSTERIOR PARA TORNOZELO
A . A malha tubular é aplicada sobre o pé e o tornozelo, Para um suporte lateral adicional, a tala de coaptação
com o paciente em decúbito ventral. B . A seguir, o algo­ em forma de U é aplicada sobre o calcanhar. D . Por fim,
dão laminado é aplicado sobre a malha, com acolchoa- uma atadura elástica é aplicada sobre as talas de gesso.
mento extra aplicado sobre os maléolos e o calcanhar. C. O tornozelo é mantido em posição neutra ao tratar entor­
As lâminas de gesso pré-mensuradas são então aplicadas. ses de tornozelo ou na maioria das fraturas. E. A flexão
A lâmina plantar cruza desde a base dos dedos do pé, logo plantar de tornozelo (posição em equino) é usada no trata­
distai às articulações metatarsofalângicas, até abaixo do mento das lesões do tendão de calcâneo.
joelho, sendo aplicada acima sobre a atadura de algodão.

C D E
578 Apêndice

A.15 IM OBILIZADOR COMPRESSIVO DE JONES


Um imobilizador compressivo de Jones é usado para as virilha até logo acima dos maléolos do tornozelo. Depois
lesões de tecidos moles do joelho. Esse curativo provê disso, a atadura elástica é aplicada circunferencialmente.
imobilização do membro, permitindo alguma flexão e ex­ Uma segunda camada de atadura de algodão é aplicada,
tensão, e efetua uma força compressiva que limita o ede­ seguida por outra camada de atadura elástica. Essa camada
ma no joelho. A imobilização é feita com a aplicação de adicional fornece um suporte que pode ou não ser neces­
uma camada de algodão laminado, estendendo-se desde a sário, dependendo da condição que estiver sendo tratada.
Apêndice 579

A.16 IMOBILIZADOR DE JOELHO


Disponível comercialmente, é utilizado quando existe ins­
tabilidade ligamentar dentro do joelho.
580 Apêndice

A.17 IM OBILIZADOR DE TORNOZELO COM ESTRIBO


Fabricado pela Aircast (Summit, NJ) e disponível comercial- a deambulação normal. É utilizado para suporte adicional
mente, limita a inversão e a eversão do tornozelo, permitindo após entorses do tornozelo de segundo e terceiro graus.
Indice

Nota: Os números de páginas seguidos por t e/indicam tabelas e figuras, respectivamente

A Angulação Artrite psoriática, 42


dorsal do ápice, 3 Artrite reativa, 46
Abdutor longo do polegar, 173 volar, 3 apresentação clínica, 68
Abscesso do botão do colarinho, A

Angulo diagnóstico, 68
225-226 de Bohler, 521/ tratamento, 68
Abscesso epidural vertebral, 139 escafossemilunar, 237 Artrite reumática, 43
características clínicas, 139 Antebraço, 267 Artrite reumatoide, 46, 55
laboratório e imagens, 139-140 classificação, 268 Artrite reumatoide de aparecimento
tratamento, 140 Anticorpo antinuclear (AAN), teste, 46 recente, 56-58
Acetábulo, pélvico, 392 Apófise, 91 Artrite reumatoide juvenil (ARJ), 55,
Acetato de metilprednisolona, 303 Apofisite da patela, 112-113 62-63
Acetonida de triancinolona, 27 Apofisite do calcâneo. Ver Doença de Artrite reumatoide preexistente, 58-62
Acromioclavicular (AC), luxação Sever articulação reumática séptica, 58, 60
complicações, 340 Aposição, 3 cisto poplíteo, 60
exame, 338, 339/ de baioneta, 4 doença articular, 58, 59í, 6 0 / 61/
imagens, 338-340, 340/ Arqueamento, 93 doença sistêmica, 61-62
mecanismo de lesão, 338, 338 Arterite temporal exacerbação da artrite reumatoide
panorama, 338/ diagnóstico, 70 aguda, 58
tratamento, 340 tratamento, 70 subluxação atlantoaxial, 60-61
Adrenalina, 35 Articulação acromioclavicular, 319-320 Artrite sarcoide
Alinhamento, 3 Articulação atrófica, 73 diagnóstico, 69
carpal, 237 Articulação falângica proximal (IFP), tratamento, 70
Alopurinol, 51 172, 213-214 Artrite séptica, 46, 51, 110-112
Amidato. Ver Etomidato fratura-luxação articular, 215-216 análise laboratorial, 47^48,410-411
Aminoglicosídeo, 48 lesão articular da placa volar, 215-216 apresentação clínica, 47, 410
Amoxicilina-clavulanato, 80 Articulação glenoumeral, 318, 319 fatores de risco, 47
Amputação da mão, 204-206 Articulação hipertrófica, 73 gram-negativa, 46
Analgesia, 502 Articulação interfalângica (IF), 172 panorama, 410
Análise do fluido sinovial, 44-45 1 Articulação interfalângica distal (IFD), tratamento, 48, 411
Anestesia e analgesia, 32 172 Artrite traumática, 72, 512
anestesia local, 35 tala dorsal na, 184/ Artrite tuberculosa, 43
anestesia regional, 35 Articulação metacarpofalângica (MCF), Artrite virai, 43, 46, 64
bloqueio digital, 36-37 172,218-219/241 hepatite, 64
bloqueio do punho, 37 Articulação radioulnar distal (ARUD), parvovirus, 65
extremidade inferior, 37-39 232 rubéola, 65
bloqueio do hematoma, 39 Articulação reumática séptica, 58, 60 vírus da imunodeficiência humana,
calor e frio terapêutico, uso de, 39 Articulação subtalar, 493 64-65
manejo da dor, 32 Articulações protéticas, 22 Artrocentese, 44 1
sedação e analgesia, 32 Artralgia, 42 Artrografia, 510-511
etomidato, 34 Artrite, 42 Artropatia de Charcot. Ver Artropatia
fentanila, 33 Artrite aguda, 43 neuropática
flumazenil, 34-35 Artrite fúngica, 43 Artropatia induzida por cristais, 43
metoexital, 34 Artrite gonocócica, 42, 43, 45—48 artropatia por cristal de hidroxiapatita,
midazolam, 33 Artrite gotosa aguda, 48 53
monitoração pós-procedimento, 35 Artrite hemorrágica, 70 gota, 48-51
naloxona, 34 coagulopatia, 72 pseudogota, 51-53
propofol, 34 hemofilia, 70-72 Artropatia neuropática, 73
quetamina, 33-34 Artrite monoarticular versus poliarticu- Artropatia por cristais de hidroxiapatita,
selar, 132 lar, 42^16 53
582 índice

Artropatia psoriática, 69 mecanismo de compressão lateral Cintilografia óssea com radiofármacos,


Artroscopia, 48 (CL), 380-381,381/ 48, 85
Aspergillus, 67 CL I, 381,381-382/ aplicações, 85-87
Atrofia de Sudeck, 81-82 CL II, 381-382,381-382/ dor óssea não traumática, 86-87
Atrofia do coxim do calcâneo, 549-550 CL III, 382-383 dor óssea traumática, 85-86
Avaliação de tendões e músculos, panorama, 380 Ciprofloxacino, 80
172-176 Bursite, 26-27 Cirurgia de reconstrução, 306
tendões extensores, 173-174 anserina, 455 Cisalhamento vertical (CV), mecanismo,
tendões flexores, 172-173 calcaneana, 550 de fraturas pélvicas, 384-385, 384/
músculos intrínsecos, 174—176 do antepé, 552-553 Cisto
Avaliação do nervo digital, 176 do olécrano, 280, 281/ 301-302 de Baker, 455^-56,457/
Avulsão do tendão flexor profundo dos diagnóstico, 303 gangliônico, 263, 263/
dedos, 209-210 exame, 303/ gangliônico volar do punho, 263
Axonotmese, 28-29, 306 tratamento, 303 ósseo do calcâneo, 550
joelho, 455,456/ 457/ poplíteo, 60
bursite infrapatelar, 455,457/ sinovial, 552-554
B bursite lateral do joelho, 456 Cisto poplíteo, 60
Baço na artrite reumatoide, 62 bursite pré-patelar, 455,457/ Classe III da Condição Física da
Bactérias gram-negativas, 46, 111-112 cisto de Baker, 455-456, 457/ American Society of Anesthesiology,
Bíceps femoral, 436 tratamento, 456-457 32
Bloqueio quadril Classificação
anular e bloqueio semianular, 36 apresentação clínica, 412-413, de Denis, 163, 389, 389/
do joelho, 466 413/ de Gartland, 289
do nervo femoral, 37-38 panorama, 412, 412/ de Neer, 323, 324/
do punho tratamento, 413 de Salter-Harris, 91-93, 94/
nervo mediano, 37, 38/ Clindamicina, 80
nervo radial, 37 Clostridium perfringens, 81-82
nervo ulnar, 37, 38/
c Coagulopatia, 72
metacarpal, 36 Cálcio amorfo, 413 Coalizão tarsal, 113-114
transtecal, 36-37 Calcitonina, 136 Coccidínia, 394
transtecal, 36-37 Camada Colapso escafossemilunar avançado
Bloqueio em anel e bloqueio em meio capsular, 493^-94 (SLAC), 256
anel, 36 retinacular, 494-495 Colchicina, 50, 51
Bolhas da fratura, 8, 9 / tendínea, 494,495/ Colite ulcerativa, 69
Bolsa Campo circunferencial pélvico anticho- Coluna cervical
do iliopsoas, 412, 413 que (CCPA), 387, 387/ inferior, 150
iliopectínea, 412 Campylobacter, 68 superior, 150
isquioglútea, 412,413 Canal de Guyon, 232, 232/ Coluna vertebral
retrocalcaneana, 550 Câncer oculto, 46 anatomia da, 121
subacromial (subdeltóidea), 320 Capítulo, 280 distúrbios da, 132
trocantérica profunda, 412 complicações, 297 compressão metastática epidural da
trocantérica superficial, 412,413 exame, 297 medula espinal, 141-143
Borrelia burgdorferi, 46, 65 fraturas, 295-296, 297/ distensão do ligamento iliolombar,
Bossa carpal, 263 imagens, 297 146
Bradicardia, 152 lesões associadas, 297 distensão muscular, 144—145
Bupivacaína, 35, 355-356 mecanismo de lesão, 297 doença da articulação sacroilíaca,
Burgess e Young, fraturas pélvicas tratamento, 297 139
mecanismo combinado (MC), 385, 385/ Carrapato Ixodes, 65 espondilolistese, 136-139
complicações, 389-390 Cateter de Foley, 388 estenose vertebral, 135-136
lesões associadas, 385-389, 386í, Causalgia, 81-82 hematoma epidural vertebral, 144
386-389/ Ceftazidima, 80 hemiação discai, 132-134
mecanismo de cisalhamento vertical, Ceftriaxona, 48 infecções vertebrais, 139-141
384-385, 384/ Celulite, 79-80, 223-224 mielite transversa, 144
mecanismo de compressão anteropos­ Chlamydia trachomatis, 68 neuropatiado esquiático, 134—135
terior, 383, 383/ Choque espinhal, 152 síndrome da cauda equina, 132
CAP I, 383-384, 383/ Choque neurogênico, 151, 152 síndrome da faceta posterior, 145-
CAP II, 384, 383/ Cintilografia com leucócitos autólogos 146

CAP III, 384 marcados com índio, 86, 111-112 tumores ósseos primários, 143-144
índice 583

em crianças muscular, 28-29 Diáfise, 91


discite, 96-97/ muscular grave, 28-29 Discite, 96, 97/
lesão cervical, 95-96 Contusão do quadríceps Discriminação de dois pontos, 176, 176/
lesão da medula espinal, sem anor­ complicações, 429 Disfunção patelofemoral
malidade radiográfica, 95-96 exame, 429, 429/ apresentação clínica, 470-471, 470/
pseudossubluxação, 95-96, 96/ imagens, 429 imagens, 471
fraturas. Ver Fraturas do corpo e da mecanismo de lesão, 429 panorama, 469-470, 470/
espinha da escápula panorama, 429 tratamento, 471
Complexo da fibrocartilagem triangular tratamento, 429 Displasia do desenvolvimento do quadril
(CFCT), 232, 259-260 Contusões do braço, 316 (DDQ), 108-109
Compressão anteroposterior (CAP), me­ Corticosteroides, 57, 304 Dispositivo STIC da Stryker, 76, 77/
canismo, de fraturas pélvicas, 383, 383/ Cotovelo. Ver também Lesão de tecidos Dispositivos ortopédicos, 20-22
CAP 1,383-384, 383/ moles, cotovelo Dissociação atlanto-occipital, 153
CAP II, 384, 383/ da liga infantil, 104—105, 297 Dissociação escafossemilunar, 256-257,
CAP HI, 384 de golfista. Ver Epicondilite medial 258/
Compressão do nervo esquiático, 395, de tenista, 304-305, 304-305/ complicações, 257
395/ exame, 281 exame, 257
Compressão do nervo plantar mediai, imagens, 281-284 imagens, 257
553-554 lesões, 280 lesões associadas, 257
Compressão epidural metastática da músculos circundantes, 280, 281/ mecanismo de lesão, 256-257
medula espinal, 141 vista anteroposterior (AP), 281-282, tratamento, 257
características clínicas, 142 282/ Distância clavícula-coracoide (CC), 339
imagens, 142 vista lateral, 282-284, 282/ Distensão
tratamento, 142-143 coxins de gordura, 283-284, 283/ da inserção isquiotibial, 395
Compressão lateral (CL), mecanismo, linha radiocapitular, 282, 283/ do glúteo médio, 420
de fraturas pélvicas, 380-381, 381/ linha umeral anterior, 282-283, do iliopsoas, 420
CL 1,381,381-382/ 283/ do ligamento iliolombar, 146
CL II, 381-382, 381-382/ Coxa. Ver também Lesão de tecidos do músculo isquiotibial, 430
CL III, 382-383 moles, coxa do pé, 550
Compressão nervosa fraturas da diáfise do fêmur, 425-428, apresentação clínica, 550
compressão do nervo radial, 263 425^127/ tratamento, 550
compressão do nervo ulnar, 262-263 Coxa plana. Ver Doença de Legg-Calvé- muscular, 28-30, 144-145, 490
síndrome do túnel do carpo (media­ -Perthes (DLCP) de primeiro grau, 28-29
no), 261-262 Coxim de gordura 283-284 de segundo grau, 28-30
Compressão nervosa calcaneana, anterior, 283-284, 283/ de terceiro grau, 29-30
553-554 posterior, 283-284, 283/ e tendinite
Compressão plantar lateral, 553-554 Criança, avaliação da, 91 joelho, 454
Condromalacia patelar. Ver Disfunção Crista ilíaca quadril
patelofemoral apofisite, 107-108 distensão do glúteo médio, 420
Condropatia patelar do polo inferior, contusões da, 394 distensão do iliopsoas, 420
112-113 tendinite dos rotadores exter­
Condrossarcoma, 144 nos, 420
Consolidação da fratura, 7-8
D
Distensões, 277
fases da, 7 / Dedo do boxeador, 210-212, 211-212/ Distensões do músculo adutor, 430, 430/
Contratura isquêmica de Volkmann, Dedo em gatilho, 220-222, 221-222/ Distensões musculares e rupturas
77-78, 279 Dedo em malho, 183, 209-211, 209- distensão dos isquiotibiais
Contusão 210/ exame, 430
da perna, 489^190 deformidade de flexão do, 183/ imagens, 430
do antebraço, 277 Defeito cortical fibroso (DCF), 115-116 tratamento, 430
do braço, 316 Defeito de Hill-Sachs, 330, 345, 346/ distensões dos adutores
do quadriceps, 429, 429/ Deformidade exame, 430, 430/
lesão de tecidos moles em botoeira, 210-211, 210-211/ imagens, 430
crista ilíaca, 394 em valgo, 3 mecanismo de lesão, 430
nádegas, 394 em varo, 3 tratamento, 430
permeo, 394 rotacional, 4 miosite ossificante,
sacro e cóccix, 394 Deformidades, 180 exame, 431
leve, dos músculos, 28-29 Deslocamento, 3-5 imagens, 431, 431/
moderada dos músculos, 28-29 Desvio talar lateral, 501 tratamento, 431
584 índice

ruptura do músculo da coxa, 430,431/ Domo talar, lesão osteocondral, 512 Entorse em hiperflexão, 158-159/
hérnia fascial, 431 apresentação clínica, 513 Entorse por hiperextensão, 160
tratamento, 431 imagens, 513 Entorses do tornozelo, 508
Distração, 4 mecanismo de lesão, 513 apresentação clínica, 509-510
Distrofia reflexa, 81-82 tratamento, 513 complicações, 512
pós-traumática, 81-82 Dor anterior do cotovelo, 303-304 exame, 510
simpaticorreflexa. Ver Síndrome da Dor cervical e lombar, abordagem, 121 imagens, 510-511
dor regional complexa anatomia, 121-123 lesões associadas, 511
Distúrbios do colágeno vascular, 408 causas não musculoesqueléticas, 124? mecanismo de lesão, 509
Distúrbios extrínsecos exame físico, 125 tratamento, 511-512
doença da coluna cervical, 358-359 exame da coluna cervical, 125-127 Enzima de conversão da angiotensina
doença neoplásica, 359-360 exame da coluna toracolombar, (ECA), nível da, 69
neuropatia do plexo braquial, 359-360 128-131 Epicondilite, 304-305/
síndrome do desfiladeiro torácico, história, 123-125 lateral, 304
359-360 imagens, 130-131 medial, 305/
Distúrbios musculares, 28-31 tratamento, 131 Epicôndilos, 280
Doença Dor lateral no cotovelo, 304 Epífise, 91
articular, 58, 59í, 6 0 / 61/ Dor lombar. Ver também Dor cervical e Eponíquia, 223-226/
cardíaca, na artrite reumatoide, 62 lombar, abordagem da Eritema nodoso, 42
da articulação sacroilíaca, 139 abordagem, 121 Escápula alada, 358-359
da coluna cervical, 358-359 causas não musculoesqueléticas da, Escherichia coli, 78
de Crohn, 42, 68 124? Escorregamento da epífise capital femo­
de Cushing, 408 sinais e sintomas de alerta, 124? ral (EECF), 109-111
de Felty, 62 Dor medial no cotovelo, 304 Espinha ilíaca
deFreiberg, 113-115, 134 Dor na canela anteroinferior, 373
de Hoffa. Ver Síndrome do coxim de apresentação clínica, 489 anterossuperior, 373
gordura diagnóstico, 489 posterossuperiores (EIPS), 128
de Kienbõck, 86, 242 exame, 489 Espondilite anquilosante
de Lyme, 42, 43, 46, 65 tratamento, 489 apresentação clínica, 67
apresentação clínica Dor óssea tratamento, 67
infecção disseminada, 65 não traumática, 86-87 Espondiloartropatia
infecção precoce, 65 traumática, 85-86 enteropática, 68-69
infecção tardia, 65-66 Dor posterior no cotovelo, 304 soronegativa (ESN), 66
diagnóstico, 66 Drogas anti-inflamatórias não esteroides artrite reativa, 68
tratamento, 66 (AINEs), 25, 32, 50, 57, 81-82 artropatia psoriática, 69
de Osgood-Schlatter, 111-113, 304 Drogas Antirreumáticas Modificadoras espondilite anquilosante, 67
de Pellegrini-Stieda, 463 da Doença (DARMDs), 57 espondiloartropatia enteropática,
de Sinding-Larsen-Johansson, 112— 68-69
113 Espondilolistese, 136
de Still, 62
E características clínicas, 137
do soro, 42 Eminência imagens, 137-138
hepática, na artrite reumatoide, 62 hipotenar, 171 tratamento, 138-139
intestinal inflamatória (DII), 68 tenar, 171 Espondilolistese traumática. Ver Fratura
neoplásica, 359-360 Encontro anual da Society of Academie do enforcado
pulmonar, na artrite reumatoide, 61 Emergency Medicine, 44 Estabilidade carpal, 255
vascular, na artrite reumatoide, 62 Endocardite bacteriana, 46 Estafilococos, 111-112
Doença articular degenerativa Entorse alta do tornozelo, 509 Estenose vertebral, 135
apresentação clínica, 411 Entorse de primeiro grau, 26, 509/ características clínicas, 135-136
imagens, 411,412/ apresentação clínica, 509 imagens, 136
panorama, 411 tratamento, 511 tratamento, 136
tratamento ,411^-12 Entorse de segundo grau, 26, 509/ Estiramento do ligamento sacroilíaco,
Doença de Legg-Calvé-Perthes (DLCP), apresentação clínica, 509 394-395
86, 108-110 tratamento, 511 Estresse em valgo, 458
Doença de Sever, 114-115 Entorse de terceiro grau, 26, 509/ teste, 460, 460/
Doenças sistêmicas, 43 apresentação clínica, 509-510 Estresse em varo, 458
na artrite reumatoide, 61-62 tratamento, 511-512 teste, 460, 461/
Domo talar, 493/ Entorse de tornozelo não cicatrizado, Estresse por hiperextensão, 458-459
fraturas, 113-114 512 Estresses rotacionais, 458^1-59
índice 585

Estruturas ligamentares do cotovelo, F Fratura complicada, 5


280/ Fratura da asa do ilíaco
Estruturas neurovasculares do cotovelo, Facetas empoleiradas, 158
complicações, 375
281/ Facetectomia parcial, 136
exame, 375
Estruturas ósseas, da pelve, 367/ Fasciite nécrosante, 80
imagens, 375, 376/
Estudos de condução nervosa (ECN), tipo I, 80 lesões associadas, 375
136 tipo II, 80
mecanismo de lesão, 375, 375/
Etomidato, 34 Fasciite plantar tratamento, 375
Exacerbação da artrite reumatoide agu­ exame, 548 Fratura da borda dorsal e volar (Barton),
da, 58 imagens, 548 254-255, 254/
Exame lesões associadas, 548 complicações, 255
da coluna cervical, 125-127 mecanismo de lesão, 548 exame, 254
da coluna toracolombar, 128 tratamento, 548-549/ imagens, 254
em decúbito dorsal, 129-130, 131/ Fasciotomia, 488-489 lesões associadas, 254
em decúbito ventral, 130 Febre reumática, 42, 46 mecanismo de lesão, 254
em pé, 128-129 Fentanila, 33 tratamento, 254-255
Exercícios de Codman, 324/ Feridas contundentes, 200 Fratura da diáfise da fíbula, 4 8 3 / 486/
Exostose Feridas incisas, 200 Fratura de avulsão
subungueal, 556-559 Feridas perfurantes, 200 da placa volar, 188
talotibial, 513-514, 514/ Feridas perfurantes plantares, 544 do ligamento colateral, 188
umeral anterolateral, 316 classificação, 544 dorsal, 528
Extensor exame, 544 Fratura de Barton, volar, 254/
comum dos dedos, 174 imagens, 544 Fratura de Barton. Ver Fratura da borda
curto do polegar, 173 tratamento, 544-546, 545/ 546/ dorsal e volar (Barton)
longo do polegar, 173-174 Ferimentos por armas de fogo, 23-24 Fratura de Bennett, 198-199, 199/
próprio do indicador, 174 Fibroma não ossificante (FNO), 115— invertida, 196, 197/
radial curto do carpo, 172 116 Fratura de Colles. Ver Fratura do tipo em
ulnar do carpo, 174 Fibromialgia extensão (Colles)
Extensores, 494 diagnóstico, 69 Fratura de Duvemey. Ver Fratura da asa
longo e curto radiais do carpo, 173 tratamento, 69 do ilíaco
Extremidade inferior Fibroxantomas, 115-116 Fratura de estresse da tíbia, 486
bloqueio do nervo femoral, 37-38 Fios apresentação clínica, 486
bloqueio do tornozelo, 38 com banda de tensão, 22 imagens, 486^187
em crianças de Kirschner, 21 tratamento, 487
joelho e perna, 111-113 percutâneos, 21 Fratura de estresse diafisária, 537
luxação do quadril, 107-112 Fise, 91 Fratura de estresse do metatarsal,
pelve, 107-108 radial distai, 106-107 552-553
tornozelo e pé, 112-115 Fixação externa, 22 Fratura de estresse do navicular, 552-
nervo fibular profundo, 39 Fixação interna, 186 553
nervo fibular superficial, 39 Flexão plantar, 493 Fratura de fadiga. Ver Fraturas de es­
nervo safeno, 38 Flexor tresse
nervo sural, 38 longo do polegar, 172-173 Fratura de Hutchinson, 255/ Ver tam­
nervo tibial posterior, 38 profundo, 180 bém Fratura do estiloide do rádio
Extremidade superior, em crianças profundo dos dedos (FPD), 172, (Hutchinson)
antebraço, 106-107 173/ Fratura de Jones, 537/
cotovelo, 97 radial do carpo, 173 Fratura de lâmina, 160-161/
cotovelo da liga infantil, 104-105 superficial dos dedos (FDS), 172, Fratura de Maisonneuve, 501-502/
fraturas da cabeça e do colo do 173/ Fratura de Monteggia, 282, 283/
rádio, 103-105 ulnar do carpo, 173 luxações, 271, 272, 272/
fraturas do côndilo lateral, 103-104 Flexores, 494 Fratura de Posadas, 294, 294/
fraturas do côndilo medial, 103- Flumazenil, 34—35 Fratura de Rolando, 198-199, 199/
104 Fluoroquinolona, 48 invertida, 196
fraturas epicondilianas mediais, Fluoroscopia, 88-89 Fratura de Segond, 462, 462/
102-104 Fluoroscópio portátil, 89/ Fratura de Smith. Ver Fratura do tipo em
fraturas supracondilianas, 97-102 Fossa semilunar, 234/ flexão (Smith)
osteocondrite dissecante, 104-105 Fragmento em asa de borboleta, 4 / Fratura de Tillaux, 113-114
subluxação da cabeça do rádio, Fratura bimaleolar, 501, 501/ Fratura de Wilson, 188, 188/
104-107 Fratura com lasca dorsal (avulsão), 241 Fratura direta, 5
586 índice

Fratura dividida, 441 Fratura em explosão de Jefferson, 154, fraturas condilianas mediais, 295-
Fratura do bebê, 112-113 155/ 296/
Fratura do cassetete, 272 Fratura em lágrima por extensão, 160, complicações, 295-296
Fratura do corpo, 529 161/ exame, 295-296
Fratura do corpo do ilíaco (não deslocada) Fratura em lágrima por flexão, 156-157/ imagens, 295-296
complicações, 379 Fratura equivalente à bimaleolar, 501 lesões associadas, 295-296
exame, 378 Fratura equivalente à trimaleolar, 503/ mecanismo de lesão, 295-296
imagens, 378 Fratura estável, 5 tratamento, 295-296
lesões associadas, 379 Fratura fechada, 5 Fraturas da borda glenoide, 337
mecanismo de lesão, 378 redução, 16-19 Fraturas da cabeça do fêmur, 417
panorama, 378/ Fratura impactada, 3 -4 / exame, 401
tratamento, 379 Fratura indireta, 5 -6 / imagens, 401
Fratura do enforcado, 155-156 Fratura não complicada, 5 lesões associadas, 401^-02
Fratura do epicôndilo lateral, 297/ 298 Fratura oblíqua, 3 -4 / mecanismo de lesão, 401
Fratura do epicôndilo medial, 2 9 7 / Fratura por pronação e rotação externa, panorama, 401/
298/ 498 tratamento, 402
Fratura do escavador, 156-157 Fratura segmentar, 4 / Fraturas da cabeça e do colo do rádio,
Fratura do estiloide do rádio (Hutchin- Fratura transversa, 3 -4 / 241, 286 103-105,286/-288/
son), 255/ Fratura trimaleolar, 501/ exame, 287
complicações, 255 Fratura-luxação de Essex-Lopresti, 287 imagens, 287, 287/
exame, 255 Fratura-luxação de Galeazzi, 270-271/ lesões associadas, 287
imagens, 255 Fratura-luxação de Lisfranc, 530, 532/ mecanismo de lesão, 286/
lesões associadas, 255 533/ tratamento, 287-288/
mecanismo de lesão, 255 anatomia, 530-531 fraturas cominutivas, 288
tratamento, 255 classificação, 531 fraturas do colo, 288
Fratura do maléolo medial, 501 complicações, 534 fraturas marginais da cabeça do
Fratura do osso do púbis (não deslocada) exame, 531-532 rádio, 288
complicações, 378 imagens, 532-534 Fraturas da clavícula, 96-9 7 /
exame, 378 lesões associadas, 534 complicações, 334
imagens, 378 mecanismo de lesão, 531 exame, 332
lesões associadas, 378 tratamento, 534 imagens, 332-333/
mecanismo de lesão, 378 Fratura-separação pedículo-laminar, lesões associadas, 332
panorama, 378/ 160 mecanismo de lesão, 332
tratamento, 378 Fraturas, em crianças, 93-94, 95-9 6 / panorama, 331/ 333/
Fratura do osso sesamoide, 199/ Fraturas acetabulares, 417 tratamento, 332-334, 333/
Fratura do pilão, 507-508/ complicações, 394 Fraturas da clavícula na infância. Ver
Fratura do pilar, 159-160 exame, 392 Fraturas da clavícula
Fratura do processo lateral do calcâneo, imagens, 392-393/ Fraturas da coluna toracolombossacral
524 lesões associadas, 393 (TLS), 166
Fratura do sesamoide do polegar. Ver mecanismo de lesão, 391-392 Fraturas da diáfise da tíbia, 483/
Fratura do osso sesamoide panorama, 390-391/ complicações, 486
Fratura do sustentáculo do tálus, 524 tipos, 391 exame, 484
Fratura do tipo em extensão (Colles), tratamento, 393-394, 393/ imagens, 484^-85/
249-253, 249/ 250/ 252/ Fraturas bicondilianas, 438, 442 lesões associadas, 484
complicações, 253 Fraturas com divisão e depressão, mecanismo de lesão, 483-484
exame, 249 441^142 tratamento, 484-486
imagens, 249-251 Fraturas cominutivas, 3, 4 / 286, 286/ Fraturas da diáfise da ulna, 271-274,
lesões associadas, 251 287/ 288 272/
mecanismo de lesão, 249 glenoide, 337 complicações, 274
tratamento, 251-253 Fraturas condilianas, 438, 439,441/ exame, 272
Fratura do tipo em flexão (Smith), fraturas condilianas laterais, 295-296, imagens, 272-274
253-254, 253/ 295/ 441 lesões associadas, 273-274
complicações, 254 complicações, 295-296 mecanismo de lesão, 272
exame, 253 exame, 295 tratamento, 273-274
imagens, 253 imagens, 295 Fraturas da diáfise do fêmur, 417
lesões associadas, 253 lesões associadas, 295 complicações, 428
mecanismo de lesão, 253 mecanismo de lesão, 295 exame, 426/
tratamento, 254 tratamento, 295-296 imagens, 426^127,426/
índice 587

lesões associadas, 427 superfície intra-articular, dorsal, complicações, 374


mecanismo de lesão, 425^426 183-184 exame, 373
panorama, 425/ superfície intra-articular, volar, 184 imagens, 373, 373/
tratamento, 427/ fraturas da falange média, 184, 185/ lesões associadas, 373
Fraturas da diáfise do rádio, 269-271,269/ avulsão, 187-188, 187/ mecanismo de lesão, 373
exame, 269-270 extra-articular, 186-187, 186/ panorama, 373, 373/
imagens, 270 intra-articular, 187/ tratamento, 374
lesões associadas, 270 fraturas da falange proximal, 188 Fraturas de Chance, 165-166
mecanismo de lesão, 269 extra-articular, 188-190, 189/ Fraturas de combinação do úmero pro­
tratamento, 270-271 intra-articular, 190-191, 190/ ximal
Fraturas da diáfise do rádio e da ulna, fraturas do primeiro metacarpal, 197 complicações, 330
106-107 extra-articulares, 197-199 exame, 330
Fraturas da diáfise do úmero, 311/ fraturados sesamoides, 198-199 imagens, 330/
anatomia essencial, 311-312/ intra-articular da base, 198-199 lesões associadas, 330
complicações, 313-314 fraturas metacarpais, 191 mecanismo de lesão, 329-330
deslocadas, 313-314, 313-314/ da base, 196-197 panorama, 329/
exame, 313, 313/ da cabeça, 191-192 tratamento, 330
imagens, 313, 313/ da diáfise, 194—196 Fraturas de compressão em cunha, 158,
lesões associadas, 313 do colo, 192-194 164
mecanismo de lesão, 312 tratamento, 178-180 Fraturas de dedos do pé, 538/
não deslocada, 313-314/ Fraturas da marcha, 552-553 exame, 538
tratamento, 313-314/ Fraturas da patela imagens, 538
Fraturas da escápula complicações, 450 mecanismo de lesão, 538
fraturas da espinha e do corpo da exame, 449 tratamento, 538
escápula, 334—335, 336/ imagens, 449^-50/ Fraturas de estresse, 24—25, 486
fraturas da glenoide, 335/ 337 lesões associadas, 450 diafisárias, 537
fraturas do acrômio, 335, 336/ mecanismo de lesão, 449 do navicular, 552-553
fraturas do colo da glenoide, 335-337, panorama, 449/ do olécrano, 304
336/ tratamento, 450 metatarsais, 552-553
fraturas do processo coracoide, 335/ Fraturas da perna Fraturas de estresse da cortical anterior,
337 da diáfise da fíbula, 486 486,487
panorama, 334-335/ da diáfise da tíbia, 483^-86 Fraturas de impressão. Ver Fraturas da
Fraturas da espinha da tíbia de estresse da tíbia, 486-487 superfície articular
complicações, 445 Fraturas da superfície articular, 295- Fraturas deslocadas do terço lateral da
exame, 444-445 297/ clavícula, 331-332
imagens, 445^445/ complicações, 331 Fraturas do acrômio
lesões associadas, 445 exame, 330 complicações, 335
mecanismo de lesão, 444 imagens, 330-331/ exame, 335
panorama, 444^445/ lesões associadas, 331 imagens, 335, 336/
tratamento, 445 mecanismo de lesão, 330 lesões associadas, 335
Fraturas da fíbula proximal panorama, 330/ mecanismo de lesão, 335
complicações, 448 tratamento, 331 tratamento, 335
exame, 448 Fraturas da tíbia proximal Fraturas do antebraço, 268
imagens, 448,448/ anatomia essencial, 441, 441/ em crianças, 106-107
lesões associadas, 448 classificação, 441 fraturas combinadas do rádio e da
mecanismo de lesão, 448 Fraturas da tuberosidade da tíbia ulna, 274-277
panorama, 447,448/ complicações, 447 fraturas da diáfise da ulna, 271-274,
tratamento, 448 exame, 446 272/
Fraturas da glenoide imagens, 446/ fraturas da diáfise do rádio, 269-271,
complicações, 337 lesões associadas, 446 269/
exame, 337 mecanismo de lesão, 446 Fraturas do antebraço distai anguladas
imagens, 337 panorama, 445^446/ ou deslocadas, 106-107
lesões associadas, 337 tratamento, 446 Fraturas do arco de C l, 154-155
mecanismo de lesão, 337 Fraturas da tuberosidade do calcâneo, Fraturas do boxeador, 192-193/
tratamento, 337 524-525 Fraturas do braço. Ver também Lesão de
Fraturas da mão, 178 Fraturas de ambos os ossos do antebra­ tecidos moles, braço
fraturas da falange distai, 180 ço, 274 extra-articulares, 523-525, 523/
extra-articular, 180-182 Fraturas de avulsão, 187, 286 fraturas da diáfise do úmero, 311/
588 índice

anatomia essencial, 311-312/ Fraturas do colo anatômico na infância, cotovelo da liga infantil, 104-105
complicações, 313-314 327 da cabeça e do colo do rádio, 103—
deslocadas, 313-314/ Fraturas do colo cirúrgico, 324 105
exame, 313/ complicações, 327 do côndilo lateral, 103-104
imagens, 313/ exame, 325 do côndilo medial, 103-104
lesões associadas, 313 imagens, 325-326/ epicondilianas mediais, 102-104
mecanismo de lesão, 312 lesões associadas, 325 osteocondrite dissecante, 104-105
não deslocadas, 313-314/ mecanismo de lesão, 325 subluxação da cabeça do rádio,
tratamento, 313-314/ tratamento, 326-327, 326/ 104-107
Fraturas do calcâneo, 520 Fraturas do colo da glenoide, 335 supracondilianas, 97-102
fraturas do corpo do calcâneo, 521— complicações, 337 intercondilianas, 294-295, 294/
523, 521/ exame, 336 supracondilianas, 289-293, 290-
Fraturas do calcâneo extra-articulares, imagens, 336/ 292/
523-524, 523/ lesões associadas, 336 transcondilianas, 293-294/
exame, 524 mecanismo de lesão, 336 Fraturas do cuboide e do cunéiforme,
imagens, 524 tratamento, 336-337 529/
mecanismo de lesão, 524 Fraturas do colo do fêmur exame, 529
tratamento, 523 complicações, 404 imagens, 529
fratura do processo anterior, 524 exame, 402, 403/ lesões associadas, 529
fraturas da tuberosidade do calcâ­ imagens, 402-403, 403/ mecanismo de lesão, 529
neo, 524-525 lesões associadas, 403 tratamento, 529
fraturas do processo lateral do mecanismo de lesão, 402 Fraturas do epicôndilo, 297/
calcâneo e do tubérculo fibular, panorama, 402/ do epicôndilo lateral, 297/ 298
524 tratamento, 403-404 do epicôndilo medial, 297/
fraturas do processo medial do Fraturas do côndilo lateral, 103-104 complicações, 298
calcâneo, 524 Fraturas do côndilo medial, 103-104 exame, 298
Fraturas do capitato, 243-244, 243/ Fraturas do corpo do calcâneo, 521/ imagens, 298/
complicações, 244 complicações, 523 lesões associadas, 298
exame, 243 exame, 521 mecanismo de lesão, 297-298
imagens, 243 lesões associadas, 522 tratamento, 298
lesões associadas, 243 mecanismo de lesão, 521 Fraturas do escafoide, 237-241, 238/
mecanismo de lesão, 243 tratamento, 522-523 complicações, 241
tratamento, 243 Fraturas do corpo do ísquio, 374-375/ exame, 238
Fraturas do carpo, 237 complicações, 375 fratura da cintura, 239/
do capitato, 243-244, 243/ exame, 375 imagens, 238-239
do escafoide, 237-241 imagens, 375 lesões associadas, 239
do hamato, 244-245, 244/ lesões associadas, 375 mecanismo de lesão, 238
do piramidal, 241/ 242/ mecanismo de lesão, 375 não união do, 239/
do pisiforme, 245-247, 246/ panorama, 375 tratamento, 239
do semilunar, 241-243, 242/ tratamento, 375 fraturas deslocadas do escafoide,
do trapézio, 245/ Fraturas do corpo e da espinha da es­ 240
do trapezoide, 247/ cápula fraturas do escafoide clinicamente
Fraturas do cóccix complicações, 335 suspeitadas, 239-240
complicações, 377 exame, 334 Fraturas do fêmur distai
exame, 377 imagens, 334, 336/ complicações, 440-441
imagens, 377 lesões associadas, 334 exame, 439^440
lesões associadas, 377 mecanismo de lesão, 334 imagens, 440/
mecanismo de lesão, 377 panorama, 334, 335/ lesões associadas, 440
panorama, 377/ tratamento, 334-335 mecanismo de lesão, 439
tratamento, 377 Fraturas do cotovelo panorama, 438^-39,439/
Fraturas do colo anatômico condilianas, 295-296, 295/ tipos de, 438
complicações, 327 da cabeça e do colo do rádio, 286- tratamento, 440
exame, 327 288/ Fraturas do fêmur proximal e do quadril,
imagens, 327 do capítulo, 295-297/ 401
lesões associadas, 327 do epicôndilo, 297-298, 297-298/ Fraturas do hamato, 244—245, 244/
mecanismo de lesão, 327 do olécrano, 284-286, 285/ complicações, 245
panorama, 327/ do processo coronoide, 288-289/ exame, 244
tratamento, 327 em crianças, 97 imagens, 244
índice 589

lesões associadas, 244 fraturas do calcâneo, 520 Fraturas do processo medial do calcâ­
mecanismo de lesão, 244 fraturas do corpo do calcâneo, 521— neo, 524
tratamento, 245 523, 521/ 522/ Fraturas do punho, 237
Fraturas do joelho, 438/ fraturas do cuboide e do cuneiforme, em crianças, 106-108
da espinha da tíbia, 444^445, 445/ 529 fraturas do carpo, 237
da fíbula proximal, 447^448,448/ fraturas do mediopé, 527-528 do capitato, 243-244, 243/
da patela, 44ÇM 50,449^150/ fraturas do navicular, 528-529 do escafoide, 237-241
da tíbia proximal, 441/ fraturas do tálus, 525-527 do hamato, 244—245, 244/
da tuberosidade da tíbia, 445^447, fraturas dos dedos do pé, 538, 538/ do piramidal, 241/ 242/
446/ fraturas dos sesamoides, 538-539, do pisiforme, 245-247, 246/
do fêmur distai, 438-441,439^140/ 539/ do semilunar, 241-243, 242/
do platô da tíbia, 441^-44, 441/ fraturas extra-articulares do calcâneo, do trapézio, 245, 245/
443^444/ 523-525, 523/ do trapezoide, 247/
epifisárias, 447 fraturas metatarsais, 534-538 fraturas do rádio distai, 247
subcondilianas da tíbia, 447, 447/ Fraturas do pescoço, 286, 286/ 288 borda dorsal e volar (Barton)
Fraturas do mediopé, 527, 527/ Fraturas do pilão tibial, 484 classificação, 248
do cuboide e do cunéiforme, 529 complicações, 508 fratura, 254-255, 254/
Fraturas do navicular, 528 exame, 507 fratura do estiloide do rádio
complicações, 529 imagens, 507, 508/ (Hutchinson), 255
exame, 528 mecanismo de lesão, 507 fratura do tipo em extensão (Colles),
imagens, 528 Fraturas do piramidal, 241/ 242/ 249-253, 249/ 250/ 252/
lesões associadas, 528 complicações, 241 fratura do tipo em flexão (Smith),
mecanismo de lesão, 528 exame, 241 253-254, 253/
tratamento, 528-529 imagens, 241 fraturas associadas da ulna, 248
Fraturas do odontoide, 155, 156/ lesões associadas, 241 Fraturas do quadril
Fraturas do olécrano, 285/ mecanismo de lesão, 241 da cabeça do fêmur, 401^-02, 401/
complicações, 286 tratamento, 241 do colo do fêmur, 402-404, 403/
deslocadas, 285-286, 285/ Fraturas do pisiforme, 245-247, 246/ intertrocantéricas, 404-406,405/
exame, 284 complicações, 247 subtrocantéricas, 407/
imagens, 284, 285/ exame, 246 trocantéricas, 406^407, 406/
lesões associadas, 284 imagens, 246 Fraturas do rádio distai, 247
mecanismo de lesão, 284 lesões associadas, 246 anatomia essencial, 247-248
não deslocadas, 284-285, 285/ mecanismo de lesão, 246 borda dorsal e volar (Barton), 254—
tratamento, 284-286 tratamento, 246-247 255, 254/
Fraturas do ombro Fraturas do platô tibial classificação, 248
da clavícula, 331-334, 331/ 333/ complicações, 444 fratura do estiloide do rádio
da espinha e do corpo da escápula, exame, 442 (Hutchinson), 255
334—335, 336/ imagens, 442^444, 444/ fratura do tipo em extensão (Colles),
da glenoide, 337 lesões associadas, 442 249-253, 249/ 250/ 252/
do acrômio, 335, 336/ mecanismo de lesão, 442 fratura do tipo em flexão (Smith),
do colo da glenoide, 335-337, 336/ panorama, 441^442,441/ 253-254, 253/
do processo coracoide, 337 tratamento, 442-444 fraturas associadas da ulna, 248
do úmero proximal Fraturas do primeiro metacarpal, 197 Fraturas do rádio e da ulna, combinadas,
combinadas do úmero proximal, Fraturas do processo coracoide, 320, 274-277
329-330,329-330/ 335/ complicações, 276
das superfícies articulares, 330- complicações, 337 exame, 274
331,330-331/ exame, 337 imagens, 275
do colo anatômico, 327/ imagens, 336/ 337 lesões associadas, 276
do colo cirúrgico, 324-327, 326/ lesões associadas, 337 mecanismo de lesão, 274
do tubérculo maior, 327-328, 328/ mecanismo de lesão, 337 tratamento, 276
do tubérculo menor, 328-329, tratamento, 337 Fraturas do semilunar, 241-243, 242/
329/ Fraturas do processo coronoide complicações, 243
panorama, 323-324, 323-324/ complicações, 289 exame, 242
escapulares exame, 288 imagens, 242
panorama, 334, 335/ imagens, 289 lesões associadas, 242
Fraturas do pé mecanismo de lesão, 288 mecanismo de lesão, 242
diagnóstico radiológico de, 519 panorama, 288, 289/ osteonecrose de, 243/
fratura-luxação de Lisfranc, 530-534 tratamento, 289 tratamento, 243
590 índice

Fraturas do tálus, 525 do colo cirúrgico, 324-327, 325- vista sagital das, 164/
maiores, 525-527 326/ vista transversa das, 165/
menores, 527 do tubérculo maior, 327-328, 327- Fraturas em galho verde, 93
Fraturas do terço lateral da clavícula, 328/ Fraturas epicondilianas mediais, 102-
331/, 332, 334 do tubérculo menor, 328-329, 329/ 104
Fraturas do terço medial da clavícula, panorama, 323-324, 323-324/ Fraturas epifisárias, 286,439
331/ 332, 3 3 3 /3 3 4 sistema de classificação, 323, 324/ complicações, 447
Fraturas do terço médio da clavícula, Fraturas dos ossos metacarpais, 191. exame, 447
331/ 332-334, 333/ Ver também Fraturas do primeiro me­ imagens, 447
Fraturas do tornozelo, 112-114,498 tacarpal lesões associadas, 447
fraturas do pilão tibial, 507-508 colo do quinto metacarpal, 193/ mecanismo de lesão, 447
fraturas maleolares, 498-504 fratura da cabeça do quinto metacar­ tratamento, 447
luxação, 504/ 505/ pal, 192/ Fraturas espirais, 3 ,4 / 485/
exame, 504, 505/ fraturas da base, 196-197, 196/ Fraturas estáveis do tornozelo, 500-501
fratura anterior, 506 fraturas da cabeça, 191-192, 191/ Fraturas expostas, 5, 22-23
fratura lateral, 505-506/ fraturas dadiáfise, 194/ 196 da falange distai, 182
fratura posterior, 506 fraturas do colo, 192/ Fraturas horizontais do sacro
fratura superior, 506 dedos 2 ou 3, 194 complicações, 377
imagens, 505 dedos 4 ou 5, 193-194 exame, 376
tratamento, 505-506 tratamento, 193 imagens, 376
Fraturas do trapézio, 245/ segundo osso metacarpal, 197/ lesões associadas, 376
complicações, 245 Fraturas dos ossos metatarsais, 534 mecanismo de lesão, 376
exame, 245 fraturas do primeiro osso metatarsal, panorama, 375-376/
fratura cominutiva, 246/ 534 tratamento, 376
imagens, 245 complicações, 535 Fraturas instáveis, 5, 502
lesões associadas, 245 exame, 534 Fraturas intercondilianas, 294/
mecanismo de lesão, 245 imagens, 534 complicações, 295
tratamento, 245 lesões associadas, 534 exame, 295
Fraturas do trapezoide, 247/ mecanismo de lesão, 534 imagens, 295
complicações, 247 tratamento, 534 lesões associadas, 295
exame, 247 fraturas dos ossos metatarsais centrais, mecanismo de lesão, 294
imagens, 247 535 tratamento
lesões associadas, 247 complicações, 535 fratura não deslocada, 295
mecanismo de lesão, 247 exame, 535 fraturas deslocadas, cominutivas ou
tratamento, 247 imagens, 535 rodadas, 295
Fraturas do tubérculo fibular, 524 lesões associadas, 535 Fraturas intertrocantéricas
Fraturas do tubérculo maior mecanismo de lesão, 535 complicações, 405-406
complicações, 328 tratamento, 535 exame, 404-405/
exame, 328 fraturas proximais do quinto osso imagens, 404-405/
imagens, 328/ metatarsal, 535-536 lesões associadas, 405
lesões associadas, 328 complicações, 538 mecanismo de lesão, 404
mecanismo de lesão, 328 exame, 536 panorama, 404/
panorama, 327-328, 327/ imagens, 536 tratamento, 405
tratamento, 328 lesões associadas, 536 Fraturas intertrocantéricas estáveis, 404
Fraturas do tubérculo menor mecanismo de lesão, 536 Fraturas intertrocantéricas instáveis,
complicações, 329 tratamento, 536 404,405/
exame, 329 Fraturas dos ramos do púbis (não deslo­ Fraturas intra-articulares do corpo do
imagens, 329 cadas) calcâneo, 521-523
lesões associadas, 329 complicações, 378 Fraturas intracapsulares, 401
mecanismo de lesão, 328 exame, 377 Fraturas maiores do tálus, 525-526/
panorama, 328, 329/ imagens, 377-378 complicações, 526-527
tratamento, 329 lesões associadas, 378 imagens, 526
Fraturas do úmero distais, 101 mecanismo de lesão, 377 mecanismo de lesão, 526
Fraturas do úmero proximal panorama, 377, 377/ tratamento, 526
combinadas do úmero proximal, tratamento, 378 Fraturas maleolares, 498
329-330,329-330/ Fraturas dos ramos do púbis, 367 exame, 500
da superfície articular, 330-331/ Fraturas dos sesamoides, 538-539, 539/ imagens, 500-501, 502/-504/
do colo anatômico, 327, 327/ Fraturas em explosão, 160-162, 164 tratamento ,501-504
índice 591

Fraturas marginais (intra-articulares), panorama, 407/ Hastes intramedulares, 21


286/, 287/ 288 tratamento, 407 flexíveis, 21
Fraturas menores do tálus, 527 Fraturas supracondilianas, 97, 289, 290/ Hemartrose, 43
complicações, 527 438, 440/ Hematoma, 490
exame, 527 complicações, 102, 293 bloqueio, 39
imagens, 527 exame, 98-100, 290, 291/ Hematoma epidural vertebral
mecanismo de lesão, 527 imagens, 100-101, 290-291/ características clínicas, 144
tratamento, 527 lesões associadas, 101, 291 imagens, 144
Fraturas metacarpais mecanismo de lesão, 290/ tratamento, 144
extra-articulares, 197-199, 197/ tratamento Hematoma subungueal, 181, 182/
fraturado sesamoide, 198-199 fratura supracondiliana em exten­ e lesões do leito ungueal, 201-203
intra-articular da base, 198-199, são, 291-293,292/ Hemofilia, 70
198-199/ fratura supracondiliana em flexão, tratamento, 71-72
Fraturas não deslocadas da diáfise da 293 Hepatite B, 42, 64
falange proximal, 189 tratamento, 101-102 Hemiação discai, 132
Fraturas ocultas, 401 Fraturas transcondilianas, 293-294/ características clínicas, 132-133
incidência das, 284 Fraturas transversas deslocadas, 181 imagens, 133-134
Fraturas patológicas, 25-26 Fraturas trocantéricas tratamento, 134
Fraturas pélvicas complicações, 407 Hemiação muscular, 28-29
exame, 406 Hérnias fasciais, 431, 490
Burgess e Young, 372í, 380-389/
imagens, 406/ Hexacetonida de triancinolona, 27
386?
Hidrocodona, 32
fratura da asa do ilíaco, 375/ 376/ lesões associadas, 406
Hidromorfona, 32
fratura do corpo do ilíaco (não deslo­ mecanismo de lesão, 406
Hiperuricemia assintomática, 48
cada), 378-379, 378/ panorama, 406/
HIV, 43
fratura do osso do púbis (não desloca­ tratamento, 406-407
análise do fluido sinovial, 44, 45?
da), 378/ Fraturas verticais do sacro
doenças sistêmicas, 43
fratura única do ramo do púbis, 374/ complicações, 379
infecções, 43
fraturas acetabulares, 390-394, 390- exame, 379
393f imagens, 379/
fraturas de avulsão, 373-374, 373/ lesões associadas, 379
fraturas do cóccix, 377/ mecanismo de lesão, 379
fraturas do corpo do ísquio, 374-375, panorama, 379/ Imobilização
375/ tratamento, 379 dinâmica, 185
Furúnculo e carbúnculo, 222-224/ metálica, 181/
fraturas dos ramos púbicos (não deslo­
no setor de emergência, 13
cadas), 377-378, 377/
pré-hospitalar, 11-13
fraturas sacrais horizontais, 375-377,
G Infecção
376/
do espaço hipotenar, 226-227
fraturas sacrais verticais, 379/ Gangrena de Fournier, 80
do espaço interdigital, 224—227, 225-
lesão à cavaleiro, 379-380/ Gangrena gasosa. Ver Mionecrose clos­
227/
panorama, 371-373, 372? tridial
do espaço mediopalmar, 226-227
Fraturas por compressão, 529 Gessados, 14-16
do espaço profundo, 224—227
Fraturas subcapitais. Ver Fraturas do Gota, 48
do espaço subaponeurótico, 226-227
colo do fêmur apresentação clínica, 48-49 do espaço tenar, 225-226/ 226-227
Fraturas subcondilianas da tíbia complicações, 51 gonocócica disseminada (IGD), 47
complicações, 447 crônica, 49 Infecções nécrosantes, 80-82
exame, 447 diagnóstico, 49-50 Infecções vertebrais
imagens, 447 intercrítica, 49 abscesso epidural vertebral, 139-140
lesões associadas, 447 tratamento, 50-51 osteomielite vertebral, 140-141
mecanismo de lesão, 447 Granuloma piogênico, 221-223/ Injeção
panorama, 447/ Grupo National Emergency X-Radio- de esteroide intra-articular, 50
tratamento, 447 graphy Utilization Study (NEXUS), epidural de esteroides, 134
Fraturas subperiostais, 93 150 Instabilidade segmentar intercalada, 256
Fraturas subtrocantéricas Guerra Civil dos EUA, 18-19 Instabilidade segmentar intercalada
complicações, 407 dorsal (DISI), 256
exame, 407 Instabilidade segmentar intercalada volar
H
imagens, 407/ (VISI), 256
lesões associadas, 407 Haemophilus influenzae, 78, 111-112 Iridociclite, 63
mecanismo de lesão, 407 Hálux valgo, 557 Irite aguda, 67
592 índice

síndrome compartimentai do braço, luxação inferior do ombro, 353-354/


316 luxação posterior do ombro, 350-
Joelho. Ver também Lesão de tecidos
celulite, 79-80 353, 352/
moles, lesões de joelho
cotovelo paralisia do nervo torácico longo,
apofisite da patela, 112-113
bursite de olécrano, 301-303/ 358-359
da doméstica, 455 cotovelo de tenista, 304-305/ rupturas do manguito rotador, 355-
do saltador. Ver Tendinopatia patelar
lesões ligamentares, 305-306, 305/ 357/
doença de Osgood-Schlatter, 111-
lesões por uso excessivo, 303-304 smdrome do impacto, 354-355/
113
luxações, 298-302, 299-301/ smdrome do ombro congelado,
fratura em bebês, 112-113
neuropatias, 306-308 358-359
imagens, 436^-38,437/
osteocondrite dissecante, 305 smdromes escapulocostais e bursite,
lesões ligamentares, 112-113
coxa 358-359
panorama, 433^436/
contusão do quadriceps, 429/ sinovite traumática aguda, 358
smdrome do estresse patelofemoral,
distensões e rupturas musculares, tendinite bicipital, 357-358/
112-113
430-431/ tendinite do supraespinal e bursite
síndrome compartimentai da coxa, subacromial, 354—356, 354—355/
K 428^129, 428/ pé
e tumores, 88 atrofia do coxim do calcanhar,
Kirschner, Martin, 21 joelho 549-550
bursite, 455^157, 456^157/ bursite calcaneana, 550
disfunção patelofemoral, 469^471, bursite do antepé, 552-553
L
470/ cisto gangliônico sinovial, 552-554
Lábio distensão muscular e tendinite, 454 cisto ósseo no calcâneo, 550
acetabular, 399 lesão osteocondral, 469 distensão do pé, 550
anterior, 392 lesões ligamentares, 458^-63,458 1, exostose subungueal, 556-557
posterior, 392 460 1, 460-463í fasciite plantar, 548-549
Lacerações dos tendões da mão, 206- lesões meniscais, 463-468, 464— feridas perfurantes plantares, 544-
210 468/ 546
exame funcional, 206-207 luxação patelar, 476^478, 476-477/ fratura de estresse do navicular,
exame visual, 206-207 luxação tibiofibular proximal, 552-553
tratamento, 206-210 474-476, 475/ fratura de estresse metatarsal, 552-
Lágrima, 392 luxações do joelho, 471^474/ 553
Laminectomia, 136 neuralgia pré-patelar traumática, hálux valgo, 557
Lesão à cavaleiro 457-458 luxação do dedo do pé, 541
complicações, 380 osteocondrite dissecante, 468-469, luxações subtalares, 539-541
exame, 380 469/ metatarsalgia, 550-551
imagens, 380/ ruptura do mecanismo extensor, neuroma de Morton, 551-553, 551/
lesões associadas, 380 451^153/ neuropatias compressivas, 553-554
mecanismo de lesão, 379-380 síndrome da banda iliotibial, 454, osteocondrose do navicular, 552-
panorama, 379, 380/ 454/ 553
tratamento, 380 síndrome da fabela, 454,455/ ruptura do tendão do calcâneo,
Lesão cervical alta síndrome do coxim de gordura, 458 546-547/
dissociação atlanto-occipital, 153 tendinopatia patelar, 450-451 sesamoidite, 552-553
fratura do enforcado, 155-156 mão, 200 smdrome compartimentai do pé,
fratura em explosão de Jefferson, 154, granuloma piogênico, 221-223 541-544
155/ infecções, 222-229 smdrome de compressão da bota de
fraturas do arco de C l, 154-155 lesões por uso excessivo, 220-222 esqui, 554
fraturas do odontoide, 155, 156/ lesões traumáticas da mão, 200-221 tendinopatia do calcâneo, 547-548
luxação atlantoaxial, 153-154 ombro úlceras do pé diabético e infecção,
Lesão com pistola de pregos, 24/ distúrbios extrínsecos, 358-360 555-556
Lesão de medula espinal, 151-152 luxação acromioclavicular, 338- unha encravada, 556/
sem anormalidade radiográfica, 95-96 340/ verrugas plantares, 556
Lesão de Salter tipo II, 439 luxação anterior do ombro, 343- pelve
Lesão de tecidos moles, 5, 255 350/ compressão do nervo isquiático,
braço luxação da articulação estemoclavi- 395/
contusões no braço, 316 cular, 341-343/ contusões, 394
ruptura do tendão do bíceps, 315— luxação do tendão bicipital, 358, distensão da inserção isquiotibial,
316,315/ 358/ 395
índice 593

entorse do ligamento sacroilíaco, Lesão muscular Lesões em livro aberto. Ver Compressão
394—395 contusões, 489^-90 anteroposterior (CAP) das fraturas
paralisia do nervo pudendo, 396 distensões, 490 pélvicas
ruptura da aponeurose do oblíquo hérnias fasciais, 490 Lesões epifisárias do úmero proximal,
externo, 396/ ruptura do gastrocnêmio, 490 327
síndrome compartimentai do glúteo, ruptura do plantar, 490 Lesões estáveis, 502
396 ruptura do sóleo, 490 no trauma da coluna TL, 166/ 167
perna Lesão nervosa, 28-29 Lesões fechadas de tendões, da mão,
dores na canela, 489 Lesão osteocondral 209-212
infecções nécrosantes, 80-82 exame, 469 dedo de Jérsey, 209-210
lesão muscular, 489^490 tratamento, 469 dedo do boxeador, 210-212
síndrome compartimentai aguda, Lesão por flexão e distração, 166 dedo em malho, 209-211
487-489 Lesões anulares, 42 ruptura da expansão central, 210-211
síndrome compartimentai crônica Lesões articulares, 5-7 Lesões instáveis, 500
do exercício (SCCE), 489 em crianças, 94-96 no trauma da coluna TL
punho Lesões da articulação carpometacarpal, fraturas de Chance, 165-166
cisto gangliônico, 263/ 2 1 6 ,2 1 8 ,2 1 7 /2 1 9 -2 2 0 / fraturas de compressão em cunha,
compressão nervosa, 261-263 Lesões da articulação interfalângica 164
lesão ligamentar, 255-260 distai, 213-214 fraturas em explosão, 164-165
tenossinovite de Quervain, 264- Lesões da articulação interfalângica lesão de flexão e distração, 166
265, 264/ proximal, 213-216 lesão translacional, 166-167
quadril Lesões da articulação metacarpofalângi- Lesões ipsilaterais do joelho, 417
artrite séptica, 410-411 ca, 215-216, 218 Lesões ligamentares, 26, 112-113, 255,
bursite, 412-413/ luxações, 216, 218 305-306, 305/
distensão muscular e tendinite, Lesões da articulação trapézio-metacar- complexo da fibrocartilagem triangu­
420 pal, 218-219 lar (CFCT), 259-260
doença articular degenerativa, Lesões de C3-C7, 156 complicações, 463
411-412/ entorse de hiperextensão, 160/ dissociação escafossemilunar, 256-
luxações, 415^-20,419/ entorse de hiperflexão, 158/ 159/ 257, 258/
necrose avascular (NAV) da cabeça fratura com separação pedículo-lami- e luxações da mão, 212-216, 218
do fêmur, 408, 409/ nar, 160/ lesão do ligamento colateral, 212-
síndrome do ressalto do quadril, fratura de compressão em cunha, 158, 214
413-415,414/ 158/ lesões da articulação carpometacar­
tendinite calcificada, 413 fratura de flexão em lágrima, 156 pal, 216, 218
síndrome da dor regional complexa, fratura do escavador, 156-157/ lesões da articulação interfalângica
81-82 fratura do pilar, 159-160, 159/ distai, 213-214
síndrome de embolia gordurosa, fratura em lágrima por extensão, lesões da articulação interfalângica
81-83 160-161/ proximal, 213-216
tornozelo fratura laminar, 160-161/ lesões da articulação metacarpo-
entorses de tornozelo, 508-512 fraturas em explosão, 160-161/ falângica, 215-216, 218
exostose talotibial, 513-514 luxação bilateral das facetas, 157-158/ exame, 458^462,460í, 460^-62/
lesão osteocondral do domo talar, luxação unilateral da faceta, 159/ história, 458^-59
512-513 Lesões de tecidos moles do antebraço, imagens, 462, 462/
luxação de tornozelo sem fratura, 277 instabilidade segmentar intercalada,
5 1 5 /5 1 6 contusões, 277 256
luxação do tendão fibular, 514- distensões, 277 lesão do ligamento colateral ulnar,
515 síndromes compartimentais do ante­ 306
síndrome do seio do tarso, 512 braço, 277-279 luxação radiocarpal, 260
tenossinovite, 515-516 Lesões do cotovelo, uso excessivo, luxações perissemilunares e do semi­
Lesão do anular, 204—205 303-304 lunar, 257-259
Lesão do ligamento colateral, 212-214 dor anterior no cotovelo, 303-304 mecanismo de lesão, 458^-59, 458í
Lesão do ligamento colateral ulnar, dor lateral no cotovelo, 304 tratamento definitivo, 463
218-219,306 dor medial no cotovelo, 304 tratamento inicial, 462-463í
Lesão do nervo fibular, 512 dor posterior no cotovelo, 304 Lesões ligamentares e luxações do pole­
Lesão do nervo isquiático, 417 Lesões do tendão flexor, 207-208, gar, 216, 218-221
Lesão do pescoço, 95-96 226- 227/ lesões da articulação trapézio-
Lesão fisária da ulna, 106-107 Lesões em brigas com mordeduras, -metacarpal, 218-219
Lesão invertida de Hill-Sachs, 352 227- 229/ polegar do guarda-caça, 218-221
594 índice

Lesões meniscais interósseo, 494 lesão associada, 541


exame, 464-466,468/ isquiofemoral, 399 mecanismo de lesão, 541
imagens, 466^-67 mola, 494 tratamento, 541
lesões associadas, 467 posterior, 493 Luxação do desenvolvimento do quadril,
mecanismo de lesão, 464 pubofemoral, 399 107-109
panorama, 4634-65/ talofibular anterior (LTFA), 493 Luxação do tendão bicipital, 358/
tratamento, 4 6 7 4 6 8 talofibular posterior (LTFP), 494 Luxação do tendão fibular, 512
Lesões metacarpais, 177 tibiocalcaneano, 494 apresentação clínica, 514—515
Lesões mutilantes da mão, 204—205 tibiofibular anteroinferior (LTFA), tratamento, 515
Lesões neurovasculares da mão, 211- 494, 509 Luxação inferior do ombro
213 tibiofibular posteroinferior, 494 exame, 353
lesão do nervo mediano, 211-212 tibiotalar anterior, 494 imagens, 353/
lesão do nervo radial, 211-212 tibiotalar posterior, 494 lesões associadas, 353
lesão do nervo ulnar, 211-212 Ligamentos laterais, 493 mecanismo de lesão, 353
neuroma, 211-213 Linha de fluido e gordura, 325 panorama, 353/
Lesões papuloescamosas, 42 Linha de Kline, 110-111 tratamento, 354/
Lesões por esmagamento, 204-205 Linha de Shenton, 110-111,400/ 416 Luxação lateral do tornozelo, 504/
Lesões por injeção de alta pressão, Linha ilioisquial, 392 Luxação mediocarpal, 260/
203-204 Linha iliopúbica (iliopectínea), 392 Luxação perissemilunar dorsal, 257,
Lesões traumáticas da mão, 200 Linha radiocapitular, 282-283/ 259/ 261/
amputação, 204—206 Linha umeral anterior, 282-283/ Luxação posterior do ombro
amputação da ponta do dedo, 202-204 Linhas de fratura, direção das, 3 exame, 351
contaminação e fechamento da ferida, Lipomatose sinovial. Ver Síndrome do imagens
201-202 coxim de gordura sinal da borda, 351-352, 351/
corpos estranhos, 201-202 Localização anatômica, 3 sinal da lâmpada, 352/
hematoma subungueal e lesões do Lúpus eritematoso sistêmico (LES), 42, sinal da trincheira, 352/
leito ungueal, 201-203 46, 63 lesões associadas, 352
lacerações dos tendões, 206-210 apresentação clínica, 63-64 mecanismo de lesão, 351
lesões fechadas de tendões, 209-212 tratamento, 64 panorama, 350-351
lesões ligamentares e luxações, 212- Luxação anterior do ombro tratamento, 353
216,218 complicações, 350, 350/ Luxação radiocarpal, 260
lesões ligamentares e luxações do exame, 344/ Luxação reta. Ver Luxação inferior do
polegar, 216, 218-221 imagens, 344-345/ 346/ ombro
lesões mutilantes da mão, 204—205 lesões associadas, 345-346/ Luxação tibiofibular proximal
lesões neurovasculares, 211-213 mecanismo de lesão, 344 complicações, 476
lesões por esmagamento, 204—205 panorama, 343-344, 343/ exame, 475
lesões por injeção de alta pressão, tipos de, 343-344 imagens, 475
203-204 tratamento, 346-350 lesões associadas, 475-476
lesões vasculares, 212-213 analgesia, 346 mecanismo de lesão, 475
sangramento, controle do, 200-202 imobilização e reabilitação, 349-350 panorama, 474—475/
smdromes compartimentais da mão, técnicas de redução, 346-349/ tratamento, 476
205-207 tratamento definitivo, 350/ Luxação unilateral de faceta, 159
tipo da ferida, 200 Luxação atlanto-occipital, 153/ Luxação volar do semilunar, 260/
Lesões vasculares da mão, 212-213 Luxação atlantoaxial, 153-154 Luxações da patela
Lidocaína, 35, 355-356 Luxação bilateral das facetas, 157-158 complicações, 478
Ligamento Luxação congênita do quadril. Ver Luxa­ exame, 477/
anterior, 493 ção do desenvolvimento do quadril imagens, 477/
calcaneofibular (LCF), 494 Luxação da articulação estemoclavicular lesões associadas, 477
colateral lateral (LCL), 4 3 5 ,4 5 8 4 5 9 complicações, 343 mecanismo de lesão, 476
colateral medial (LCM), 435,458 exame, 341-342/ panorama, 476,476/
colateral tibial, 435 imagens, 342/ tratamento, 477—478
coracoclavicular (CC), 318, 338 lesões associadas, 341-342 Luxações de cotovelo, 298, 299/
costoclavicular, 318 mecanismo de lesão, 341 anterior, 298, 299/ 301-302
cruzado anterior (LCA), 458 panorama, 340-341/ posterior, 298-301/
cruzado posterior (LCP), 458-459 tratamento, 342-343/ complicações, 301-302
deltoide, 494 Luxação de dedo do pé, 541 exame, 299
estemoclavicular, 318 exame, 541 imagens, 299
iliofemoral, 399 imagens, 541 lesões associadas, 299-300
índice 595

mecanismo de lesão, 299 avaliação neurológica, 176 Necrose avascular (NAV), da cabeça do
técnicas para redução de, 301-302 avaliação vascular, 176-177 fêmur, 417
tratamento, 300-302 exame, 171-172 apresentação clínica, 408
Luxações do joelho história, 171 imagens, 408—409/
complicações, 474 imagens, 177 panorama, 408 1
exame, 471-472 infecções, 222-223 1 tratamento, 409
imagens, 472-473/ patógenos da comuns na mão Neisseria gonorrhoeae, 46, 111-112
lesões associadas, 472-473 radiografias normais, 178/ Nervo fibular profundo, 39
mecanismo de lesão, 471 síndromes compartimentais, 205-207 Nervo fibular superficial, 39
panorama, 471-472/ terminologia, 171 Nervo mediano, 37-38/
tratamento, 473-474/ Mão reumática, 58 lesão, 211-212
Luxações do quadril, 107-108 Mau alinhamento rotacional, 185 sensibilidade, 176
luxação anterior do quadril, 419/ Maus-tratos, evidência radiográfica de, Nervo radial, 37
complicações, 420 114-116 compressão, 263
exame, 420 Mecanismo combinado (MC), das fratu­ lesão, 211-313
imagens, 420 ras pélvicas, 385/ sensibilidade, 176
lesões associadas, 420 complicações, 389-390 Nervo safeno, 38
mecanismo de lesão, 419—420 lesões associadas, 386í, 385-389/ Nervo sural, 38
tratamento, 420 Mecanismo de lesão, 5, 6 / Nervo tibial posterior, 38
luxação posterior do quadril, 415/ Medida da pressão compartimentai, Nervo ulnar, 37, 38/
complicações, 419 76-77 compressão, 262-263
exame, 416/ Mepivacaína, 35 lesão, 211-212
imagens, 416/ Metáfise, 91 no cotovelo, 281
lesões associadas, 416^117 Metatarsalgia, 550-551 sensibilidade, 176
mecanismo de lesão, 415/ apresentação clínica, 551 Nervos espinais, distribuição dermatô-
técnica de Allis, 417/ tratamento, 551 mica dos, 131/
técnica de Hendey, 418—419/ Metatarsofalângica (MTF), 48, 541 Neuralgia pré-patelar traumática,
técnica de Stimson, 418/ Metilprednisolona, 152, 262, 355-356 457-458
técnica de Whistler, 418/ Metoexital, 34 Neunte ulnar, 304
tratamento, 417 Microdiscectomia aberta, 134 Neuroma, 211-213
Luxações perissemilunares e do semilu­ Midazolam, 33 Neuroma de Morton, 551
nar, 257-259 Mielite transversa, 144 apresentação clínica, 551
exame, 257 Mionecrose clostridial, 81-82 tratamento, 551-553
imagens, 258 Miosite, 29-31,220-221 Neuropatiado isquiático, 134—135
lesões associadas, 258 Miosite infecciosa, 29-31 Neuropatias
mecanismo de lesão, 257 Miosite inflamatória autoimune, 29-31 de compressão
tratamento, 259 Miosite ossificante, 29-30, 431/ compressão do nervo sural, 553-554
Luxações subtalares, 539/ 540/ Miosite traumática ossificante, 29-31 do nervo plantar lateral e calcanea-
complicações, 541 Monoartrite, 42 n o ,553-554
exame, 540 Monoartrite aguda, 42 do nervo plantar medial, 553-554
imagens, 540 apresentação clínica, 43—44 síndrome do túnel do tarso, 553-
lesão associada, 541 artrite aguda, 43 554
mecanismo de lesão, 540 artrite induzida por cristais, 43 do mediano, 307
tratamento, 541 artrocentese, 44 síndrome do nervo interósseo ante­
hemartrose, 43 rior, 307
Mononucleose, 42 síndrome do pronador, 307
M Mordeduras animais, 228-229 síndrome do túnel do carpo, 307
Má união, 7 Músculo poplíteo, 436 do plexo branquial, 359-360
Manejo da dor, 32 Músculos do quadril, 399 do radial, 306/
Manguito rotador, 320 Músculos intrínsecos, 174—176 paralisia alta do nervo radial, 306
rupturas, 355-357, 355-357/ Músculos tenares e hipotenares, 176 síndrome do túnel radial, 306-307
Mão, 171. Ver também Lesão de tecidos do ulnar, 307, 307/
moles, mão síndrome do túnel ulnar, 307-308
N
avaliação de tendão e músculos, 172— periférica, 555
176 Nádegas, contusões das, 394 Neuropraxia, 28-29, 306
músculos intrínsecos, 174—176 Nafcilina, 48 Neurotmese, 28-29, 306
tendões extensores, 173-174 Naloxona, 34 Neutrófilos polimorfonucleares (PMNs),
tendões flexores, 172-173 Não união, 7 44
596 índice

O Paroníquia e eponíquia, 223-226/ Piomiosite, 29-31


Parvovirus B19, 65 Pirofosfato de cálcio desidratado
Oligoartrite, 46
Pasteurella multocida, 222-223 (PFCD), 51, 52
Ombro. Ver também Lesão de tecidos Patela, 451/ Placa, 20-21
moles, ombro Pé. Ver também Lesão de tecidos moles, Placas descamativas, 42
exame, 319-321, 320/ pé Placas eritematosas faciais, 42
imagens, 321-322/ imagens, 519-520/ Polegar do esquiador, 218-219
panorama, 318-319/ regiões do, 519/ Polegar do guarda-caça, 218-221
Opioides, 50 sesamoides do, 520/ Polegar do jogador de boliche, 220-221
Orthopedic Trauma Association (OTA), síndrome compartimentai, 541-544, Poliartrite, 42
248 543/ aditiva, 45
Ossificação periarticular pós-traumática, Pé-anserino, 436 artrite gonocócica, 45-46
463 Pé plano, 113-114, 553-554 artrite reativa, 46
Osteoartrite, 43, 53 Pediatria artrite reumatoide, 46
apresentação clínica, 54 coluna artrite virai, 46
características patológicas, 53 discite, 96-97/ câncer oculto, 46
da mão, 54 lesão medular espinal, sem anorma­ diagnóstico diferencial de, 45í
diagnóstico, 54, 5 5 / 56/ lidade radiográfica, 95-96-96 doença de Lyme, 46
do joelho, 54 lesões cervicais, 95-96 endocardite bacteriana, 46
do quadril, 54 pseudossubluxação, 95-96/ febre reumática, 46
fatores de risco, 53-54 extremidade inferior intermitente, 45
tratamento, 54-55 joelho e perna, 111-113 lúpus eritematoso sistêmico (LES),
Osteoblastomas, 143 pelve, 107-108 46
Osteocondrite dissecante, 104—105, 305 quadril, 107-112 migratória, 45
apresentação clínica, 468 tornozelo e pé, 112-115 vasculite sistêmica, 46
de tálus, 114—115 extremidade superior Poliartrite aditiva, 45
imagens, 468,469/ antebraço, 106-107 Poliartrite aditiva assimétrica, 68
panorama, 468 cotovelo, 97-107 Poliartrite intermitente, 45
tratamento, 469 fraturas da clavícula, 96-97/ Poliartrite migratória, 45
Osteocondrose punho, 106-108 Polimialgia reumática
do navicular, 552-553 maus tratos, 114—115 diagnóstico, 70
Osteocondrose do navicular, 552-553 evidência radiográfica de, 114-116 tratamento, 70
Osteoma osteoide, 86, 116-118, 143 princípios gerais, 91 Ponta do dedo, 172, 201-202
Osteomielite, 78, 86, 110-112 criança, avaliação da, 91 amputação, 202-204, 202-203/
apresentação clínica, 78 exame radiológico, 91-93 Princípios das fraturas
bacteriologia, 78 fraturas, em crianças, 93-94, 95-96/ biomecânica, 3
diagnóstico, 78-79 lesões articulares em crianças, características clínicas, 8-9
no pé, 79/ 94-96 consolidação das fraturas, 7-8
tratamento, 79 tumores de ossos e tecidos moles em feridas por armas de fogo, 23-24
Osteomielite vertebral, 140 crianças, 115-116 fraturas de estresse, 24-25
características clínicas, 140 fibroxantomas, 115-116 fraturas expostas, 22-23
laboratório e imagens, 140-141 osteoma osteoide, 116-118 fraturas patológicas, 25-26
tratamento, 141 sarcoma de Ewing, 115-117 radiografias, 9-11
Osteonecrose espontânea, 43 Pelve, 107-108. Ver também Lesão de terminologia, 3
Oxicodona, 32 tecidos moles, pelve deslocamento, 3-5
anatomia essencial, 367-369, 368/ estabilidade, 5
exame, 369-370, 369/ lesão articular, 5-7
P
imagens, 370-371/ lesão de tecidos moles, 5
Palmar longo, 173 Pelve amassada. Ver Compressão linhas de fratura, direção das, 3
Panarício, 224—226, 225-226/ anteroposterior (CAP) localização anatômica, 3
Paracetamol, 50 mecanismo, das fraturas pélvicas mecanismo de lesão, 5, 6 /
Parafusos, 20-21 Penicilina, 80 tratamento, 11-22
Paralisia Períneo, contusões do, 394 Princípios de tecidos moles
alta do nervo radial, 306 Periostite bursite e tendinite, 26-27
de sábado à noite, 263, 306 da crista ilíaca, 394 distúrbios musculares, 28-31
do nervo pudendo, 396 traumática, 490 contusão muscular, 28-29
do nervo torácico longo, 358-359, Perna, 483. Ver também Lesão de tecidos distensão muscular, 28-30
358-359/ moles, perna hemiação muscular, 28-29
índice 597

miosite, 29-31 Regras Ruptura do gastrocnêmio, 490


miosite traumática ossificante, de joelho de Ottawa, 438/ Ruptura do ligamento deltoide, 500,
29-31 de tornozelo de Ottawa, 496, 497/ 501
rabdomiólise, 29-30 do joelho de Pittsburgh, 438 Ruptura do mecanismo extensor, do
lesão ligamentar, 26 Retináculo extensor, 495 joelho
lesão nervosa, 28-29 inferior, 495 exame, 451^-52,452/
ruptura de tendão, 27-29 superior, 495 imagens, 452^153,452^153/
Probenecida, 51 Retináculo fibular, 495 mecanismo de lesão, 451
Propofol, 34 inferior, 495 panorama, 451, 451/
Proteína C-reativa, 79 superior, 495 tratamento, 453
Pseudogota, 51-53 Retináculo flexor, 495 Ruptura do plantar, 490
Pseudomonas, 79 Reumatologia Ruptura do sóleo, 490
Pseudomonas aeruginosa, 410 artrite hemorrágica, 70-72 Ruptura do tendão do bíceps, 2 7 / 315/
Pseudoparalisia, 111-112 artrite reumatoide, 55 cabeça longa do, 315
Pseudossubluxação, 95-96, 96/, 325 artrite reumatoide de aparecimento ruptura distai do tendão do bíceps,
Punho, 106-108, 232 recente, 56-58 316
anatomia óssea, 232/ artrite reumatoide preexistente, Ruptura do tendão do calcâneo
exame, 233-236 58-62 exame, 546
imagens, 236-237 artrite reumatoide juvenil, 62-63 imagens, 547
torcido, 237 artrite sarcoide, 69-70 mecanismo de lesão, 546
artrite séptica, 46-48 tratamento, 547
artrite traumática, 72 Ruptura muscular da coxa, 430-431,
Q artrite virai, 64-65 431/
Quadril artropatia induzida por cristais Rupturas em alça de balde, 464, 465/
artrite séptica, 110-112 artropatia por cristal de hidroxiapa-
doença de Legg-Calvé-Perthes, 108— tita, 53
110 gota, 48-51 s
escorregamento da epífise da cabeça pseudogota, 51-53 S. aureus meticilina-resistente (SAMR),
do fêmur, 109-111 artropatia neuropática, 73 222-223, 410
fraturas ocultas, 401 doença de Lyme, 65-66 Sacro e cóccix, contusões de, 394
imagens, 400/ espondiloartropatia soronegativa, 66 Sacroilíacas (SI)
luxação de desenvolvimento do qua­ artrite reativa, 68 articulação, 128
dril, 107-109 artropatia psoriática, 69 fraturas, 367
osteomielite, 110-112 espondilite anquilosante, 67 Salmonella, 68, 78
panorama, 399^-00, 399/ espondiloartropatia enteropática, Sarcoma de Ewing, 115-117
panorama, 415 68-69 SCIWORA, 95-96
sinovite transitória, 110-111 fibromialgia, 69 Sedação e analgesia para procedimento,
Quetamina, 33-34 lúpus eritematoso sistêmico, 63-64 32
osteoartrite, 53-55 etomidato, 34
polimialgia reumática e arterite tem­ fentanila, 33
R
poral, 70 flumazenil, 34—35
Rabdomiólise, 29-30, 77 diagnóstico, 70 metoexital, 34
Rádio e ulna, 267/ tratamento, 70 midazolam, 33
antebraço depois da fratura, 274 princípios gerais, 42 naloxona, 34
fraturas combinadas das diáfises, artrite monoarticular versus poliarti- propofol, 34
274/ cular, 42-46 quetamina, 33-34
Ramo púbico único exame, 42 Semimembranáceo, 436
complicações, 374 história, 42 Sensação de madeira, 488
exame, 374 Rigidez articular crônica, 180 Separação do ombro, 338
imagens, 374 Rotação externa e supinação, 498 Separação epifisária do rádio distai,
lesões associadas, 374 Rubéola, 65 107-108
mecanismo de lesão, 374 Ruptura da aponeurose do oblíquo exter­ Septicum, 81-82
panorama, 374/ no, 396, 396/ Sesamoidite, 552-553
tratamento, 374 Ruptura da cabeça longa do tendão do Shigella, 68
Redução aberta com fixação interna bíceps, 315 Sinal
(RAFI), 507-508 Ruptura da expansão central, 210-211 de Bragard, 465
Regra canadense da coluna cervical, Ruptura de tendão, 27-29 de Destot, 370
150, 151/ Ruptura distai do tendão do bíceps, 316 de Earle, 370
598 índice

de Froment, 176, 176/ Sindrome de Behçet, 42 Sistema de classificação em anel fecha­


de Froment positivo, 176 Sindrome de Brown-Sequard, 152 do, 499-500
de Hawkins, 354 Sindrome de dor no trocanter maior, Staphylococcus, 29-31
de Lasègue. Ver Teste de elevação da 413 Staphylococcus aureus, 23,46, 78, 79,
perna estendida Sindrome de dor regional complexa 96, 111-112, 222-223, 303,410
de Payr, 466, 466/ aguda, 81-82 Staphylococcus epidermidis, 410
de Phalen, 262 Sindrome de dor regional complexa Streptococcus, 29-31
de Roux, 370 atrófica, 81-82 Streptococcus, beta-hemolitico, 46
de Spurling, 133 Sindrome de Guillain-Barre, 144 Streptococcus pneumoniae, 46, 68
de Steinmann, 465-466, 465/ Sindrome de Reiter, 42, 68 Subluxação
de Terry Thomas, 257 Sindrome do coxim de gordura, 458 atlantoaxial, 60-61
de Tinel, 262 Sindrome do desfiladeiro torácico, congênita, da cabeça do fêmur, 107-
de Trendelenburg, 412 359-360 108
do crescente, 409,409/ Sindrome do estalido do cotovelo, 304 da cabeça do rádio, 104-107
Sindesmose tibiofibular, 494,494/ Sindrome do estresse patelofemoral, rotatória do escafoide, 256
Sindrome compartimentai, 76 112-113 Subluxação anterior. Ver Entorse em
características clínicas, 76 Sindrome do estresse tibial medial hiperflexão
medida da pressão, 76-77 (SETM), 489 Sulco bicipital, 320
tratamento, 77 Sindrome do impacto, 354-355, 354- Swischuk, linha cervical posterior de, 96/
Sindrome compartimentai aguda, 487, 355/
488? Sindrome do nervo interósseo anterior,
apresentação clínica, 487 307 T
sindrome compartimentai anterior, Sindrome do ombro congelado, 358- Tala
487488 359 com travesseiro, 12, 13/
sindrome compartimentai posterior Sindrome do piriforme, 130, 395 de Fox, 11
profunda, 488 Sindrome do pronador, 307 de Thomas, 11
tratamento, 4 8 8 4 8 9 Sindrome do ressalto do quadril de tração de Hare, 11, 12/
Sindrome compartimentai crônica do externo do quadril, 414/ de tração de Sager, 11, 12/
exercício (SCCE) interno do quadril, 414/ posterior de tornozelo, 14/
apresentação clínica, 489 imagens, 414-415 SAM®, 11
diagnóstico, 489 tratamento, 415 Talas, 13-14
exame, 489 panorama, 4 1 3 4 1 4 Talas tipo goteira, 180/ 186, 189
tratamento, 489 Sindrome do seio do tarso, 512 Técnica
Sindrome compartimentai da coxa Sindrome do sóleo, 489 da hiperpronação, 104-105, 105-106/
panorama, 428/ 429 Sindrome do túnel da ulna, 262, 307- da supinação e flexão, 104-106, 106-
tratamento, 4 2 8 4 2 9 308 107/
Sindrome compartimentai de perna, Sindrome do túnel do carpo, 261-262, de alavancagem, 301/ 301-302
484-485 262/ 307 de Allis, 417,417/
Sindrome compartimentai do braço, 316 Sindrome do túnel do rádio, 306-307 de Hendey, 4184-19, 419/
Sindrome compartimentai do pronador Sindrome do túnel do tarso, 553-554 de imagens, 85
quadrado, 278 Sindrome medular anterior, 152 cintilografia óssea, 85-87
Sindrome compartimentai glútea, 396 Sindrome medular central, 152 fluoroscopia, 88-89
Sindrome compartimentai posterior Sindrome ombro-mão, 81-82 ressonância magnética, 88
profunda, 488 Síndromes compartimentais do antebra­ tomografia computadorizada, 87-88
Sindrome da banda iliotibial, 454,454/ ço, 277-279 ultrassonografia, 87
Sindrome da cauda equina, 130, 132 exame, 278-279 de Kocher, 349
Sindrome da compressão da bota de mecanismo de lesão, 278 de Kumar, 301/ 301-302
esqui, 554 Síndromes escapulocostais e bursite, de manipulação escapular para as luxa­
Sindrome da dor regional complexa 358-359 ções anteriores do ombro, 347, 347/
(SDRC), 81-82 Sinovite de Milch
Sindrome da dor regional complexa transitória, 110-111 para redução das luxações anterio­
distrófica, 81-82 traumática aguda, 358 res de ombro, 348, 348/
Sindrome da embolia gordurosa (SEG), vilonodular pigmentada, 72 de rotação externa
81-82 Sistema de classificação de Lauge- para redução das luxações anterio­
manifestações clínicas, 82-83 -Hansen, 498 res do ombro, 347-348, 347/
tratamento, 82-83 Sistema de classificação de Pennal, 372 de Spaso
Sindrome da fabela, 454, 455/ Sistema de classificação de Weber, para redução de luxações anteriores
Sindrome da faceta posterior, 145-146 498499 do ombro, 348, 348/
índice 599

de Stimson, 301, 301/, 301-302, 348, de estresse dos ligamentos colaterais fraturas do arco de C l, 154—155
3 4 8 /4 1 8 ,4 1 8 / do cotovelo, 305-306, 305/ fraturas do odontoide, 155, 156/
de tração e contratração, 301, 301/ de estresse em inversão, 510 luxação atlantoaxial, 153-154
348-349, 349/ de Finkelstein, 264, 264/ lesões de C3-C7, 156
de Whistler, 418,418/ de flexão do joelho, 546 compressão vertical, 160-162
hipocrática, 349 de inibição patelar, 470, 470/ extensão, 160
Tendão do quadríceps, 436, 451, 451/ de Lachman, 461 extensão e rotação, 159-160
452,452/ de McMurray, 466, 468/ flexão, 156-159
Tendão patelar, 85, 4 51,451/ 453/ de Thompson, 547/ flexão e rotação, 159
Tendinite, 26-27, 85, 220-221 de Trendelenburg, 420 tratamento, 152-153
bicipital, 357-358, 357-358/ de Yergason, 357, 357/ 358 Trauma da coluna toracolombar (TL), 163
calcificada, 26 do alongamento femoral, 130 classificação
apresentação clínica, 413 do aperto, 510 coluna anterior, 163
imagens, 413 do clique de Ortolani, 108-109 coluna média, 163
panorama, 413 do esfigmomanômetro, 546 coluna posterior, 163
tratamento, 413 do pivot shift, 461,462/ imagens, 163
do calcâneo, 85 FAB ER (flexão, abdução e rotação lesões estáveis, 166/ 167
do supraespinal e bursite subacromial, externa do quadril), 129 lesões instáveis
Fabere (Flexão, Abdução, Externa- fraturas de Chance, 165-166
354—356, 354—355/
mente Rodado [o quadril]), 411 fraturas de compressão em cunha,
do tríceps, 304
provocativo de Barlow, 108-109 164
dos rotadores externos, 420
Tomografia computadorizada (TC), 11, fraturas em explosão, 164—165
Tendinopatia do calcâneo
87, 134, 163,522 lesões de flexão e distração, 166
exame, 548
infecções e tumores de tecidos moles, 88 lesões translacionais, 166-167
imagens, 548
trauma, 87-88 Tríade terrível, 299, 300
mecanismo de lesão, 547-548
Tomomielografia, 136 Tróclea, 280
tratamento, 548
Tornozelo. Ver também Lesão de tecidos fraturas, 297, 297/
Tendinopatia patelar
moles, tornozelo Tubérculo de Lister, 233, 233/ 234/
exame, 451 Tuberosidade
anatomia funcional, 493
imagens, 451 fratura da, metatarsal, 536
camada capsular, 493^-94
panorama, 450 fraturas de avulsão, do calcâneo, 529
camada retinacular, 494-495
tratamento, 451 isquiática, 373
camada tendínea, 494,495/
Tendões extensores, 173-174, 174/ Tuberosidade da tíbia, 451,451/
bloqueio, 38
expansão terminal dos, 180 Tumores e infecções de tecidos moles,
exame, 495,496/
fratura de avulsão, 188 imagens, 495^-97 88
Tendões fibulares, 494 Tração Tumores metastáticos, 86
Tendões flexores, 172-173 cutânea, 18-19 Tumores neuroectodérmicos primitivos
Tenossinovite, 85 de Russell, 393/ periféricos. Ver Sarcoma de Ewing
aguda, 515 esquelética, 18-20 Tumores ósseos e de tecidos moles, em
apresentação clínica, 515 Translação, 3-4- crianças, 115-116
crônica, 515 lesão por, 166-167 fibroxantomas, 115-116
de Quervain, 27, 264—265, 264/ Transversa deslocada ou angulada, fra­ osteoma osteoide, 116-118
do flexor, 226-228, 227-228/ tura 190 sarcoma de Ewing, 115-117
do segundo dedo, 227-228/ Tratamento definitivo, 18-19 Tumores ósseos primários, 143-144
estenosante, 220-221, 515 Trato iliotibial, 436 Tumores primários, 86
reumatoide, 515 Trauma, 87-88 malignos, 143-144
tratamento, 515-516 direto, 483
traumática, 277 indireto, 484
Teste Trauma da coluna cervical, 150
u
A

da gaveta anterior, 460-461,510 classificação, 153 Ulceras


da gaveta posterior, 461 critérios de nexo, 150í do pé diabético e infecção, 555
da inclinação talar, 510 imagens, 150-151 tratamento, 555-556
da queda do braço, 355-356, 357/ lesão da medula espinal, 151-152 isquêmicas, 555
de abdução do ombro, 133 lesões cervicais altas neuropáticas
deAllen, 176, 177/ dissociação atlanto-occipital, 153 tratamento das, 555
de aperto da panturrilha, 546 fratura do enforcado, 155-156 orais, 42
de Apley, 466, 467/ fratura em explosão de Jefferson, Ulna, 282, 282/ 248
de elevação da perna estendida, 133 154, 155/ fraturas, 248
600 índice

Ultrassonografia, 87 V Vírus da imunodeficiência humana


Úmero distai, 280/, 282, 289 van Volkmann, Richard, 77 (HIV), 43, 64-65
Unha encravada, 556, 556/ 557/ Vancomicina, 48
União, 7 Vasculite Y
União retardada, 7 sistêmica, 46
Unidade de tração lombar de Saunders®, urticariforme primária, 42 Yersinia enterocolitica, 68
134 Velocidade de sedimentação globular
Urticária, 42
Uso de placas, 485
(VSG), 45, 78-79
Verruga vulgar, 556
z
Uso terapêutico de calor e frio, 39 Verrugas plantares, 556 Zetaplastia, procedimento de, 415

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