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INVESTIGAÇÃO

PRELIMINAR:
O INQUÉRITO
POLICIAL

Processo Penal I
5º Período – 2022/1
Prof.ª Juliana Bianchini
Investigação Preliminar
• Fase pré-processual: procedimento administrativo pré-processual
• Não é atividade processual: carece de dialeticidade e de
contraditório
• Conjunto de atividades desenvolvidas de forma concatenada por
órgãos do Estado, a partir de uma notícia-crime, com caráter
prévio e de natureza preparatória com relação ao processo penal,
que pretende averiguar a autoria e circunstâncias de fato
aparentemente delituoso, a fim de justificar ou não o processo;
• Investigação preliminar é gênero, possuindo espécies
• Espécies de Procedimentos Investigatórios
• Inquérito Policial
• Inquéritos Parlamentares – Comissão Parlamentar de Inquérito (art. 58, CRFB)
• Inquéritos Policiais Miliares – arts. 9º a 28, do CPPM
• Inquérito Civil – art. 22, da Lei nº 8.429/92
• Investigações criminais a cargo do Ministério Público: PIC – Resolução CNMP
nº 181/2017
• Inquéritos da LOMAN (Lei Complementar 35/1979) e LONMP (Lei
8.625/1993) – crimes praticados por magistrados e promotores
• Inquéritos de autoridades com prerrogativas: tramitam perante o tribunal onde a
autoridade desfruta do foro privilegiado
• Investigações de ofício pelo STF (Inquérito 4781): caso das fake news,
terrorismo e autodefesa do sistema
• Termo Circunstanciado de Ocorrência: art. 69, da Lei 9.099/95
Por que um Inquérito Policial?
• Persecução penal possui duas fases: fase administrativa e processual
• Investigação será o meio pelo qual o direito de punir passa do plano abstrato para o
plano concreto: movimentação máquina estatal ante a realização, em tese, de um ilícito
penal.

• Busca do fato: crime, na maior parte dos casos, é total ou parcialmente


oculto. Necessário localizar elementos de autoria e materialidade (fummus
comissi delict);
• Função simbólica: visibilidade da atuação estatal, afastando sentimento de
impunidade, objetivando reestabelecer a ordem social abalada pelo crime;
• Filtro processual: evitar acusações infundadas, angariando elementos
necessários ao processo (fummus comissi delict).
Órgão encarregado
Art. 4º A polícia judiciária será exercida pelas autoridades policiais no
território de suas respectivas circunscrições e terá por fim a apuração das
infrações penais e da sua autoria.
Parágrafo único. A competência definida neste artigo não excluirá a de
autoridades administrativas, a quem por lei seja cometida a mesma função.

• Polícia Federal e Civil dos estados (art. 144, §§1º e 4º, da CF)
• E a Polícia Militar? Policiamento ostensivo e preventivo
Entendimento jurisprudencial: possibilidade de realizar atos investigativos em
conjunto
HC n. 476.482/SC, Rel. Ministra LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, julgado em 21/2/2019, DJe
11/3/2019
Nos termos do art.
144, da Constituição
Federal: POLÍCIA DE POLÍCIA MILITAR E
SEGURANÇA POLÍCIA FEDERAL

POLÍCIA CRIMINAL

POLÍCIA POLÍCIA FEDERAL E


JUDICIÁRIA POLÍCIA CIVIL

Autoridade Policial =
Delegado de Polícia
• Ministério Público

• CRFB/88 não autoriza expressamente, mas pode.


• Teoria dos poderes implícitos: determinada atividade-fim a um
órgão, significa dizer que também concede todos os meios
necessários para a realização dessa atribuição;
• Se promove a ação penal, e pode requisitar diligências
investigativas (art. 125, caput e inciso VIII, da CRFB), pode
também promover a investigação;
• Na doutrina: não há entendimento unânime quanto a capacidade
investigativa;
• STF já sedimentou entendimento que MP pode promover investigação.
STF. Plenário. RE 593727/MG, rel. Orig. Min. Cezar Peluso, red. P/ o acórdão
Min. Gilmar Mendes, julgado em 14/5/2015 (repercussão geral)
Posição do Juiz
• Posição de garantidor, não inquisidor;
• Somente atua quando invocado, para autorizar ou não as medidas
restritivas de direitos fundamentais
• Intervenção excepcional, contingencial;
• Possibilidade de determinar produção de prova, de ofício, quando
urgentes e relevantes na fase pré-processual:

Art. 156. A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém, facultado ao
juiz de ofício
I – ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção antecipada de
provas consideradas urgentes e relevantes, observando a necessidade,
adequação e proporcionalidade da medida.
Contaminação do julgador
• Contaminação consciente e inconsciente do julgador;
• Sistema de avaliação de provas: livre convencimento motivado;
• Impossibilidade de fundamentação exclusiva nos atos
investigatórios.

• Juiz das garantias – art.3º-A a 3º-F do CPP.


Suspenso nos termos da decisão monocrática do STF (STF – DF, Medida
Cautelar – Rel. Min. Luiz Fux, 22 de janeiro de 2020).
Indiciado
• Indiciamento: ato formal e fundamentado – feixe de indícios
convergentes;
• Apontamento de certa pessoa como possível autora do fato;
• Não há indicação do CPP de que em momento deve ser feito o
indiciamento, se no início, no meio ou ao final das investigações;
• É situacional, provisório, pois pode ser indiciado e não ser
acusado (se tornar réu) posteriormente;
• Não vincula o Ministério Público.
Objeto e limitação
• Investigar fato aparentemente criminoso, constante na notícia-crime ou descoberta de ofício
pela Autoridade Policial;

• Atingir fummus comissi delicti;

• Dispensabilidade: meramente informativo


Art. 12. O inquérito policial acompanhará a denúncia ou queixa, sempre que servir de base a uma ou
outra.

• Tem como característica (art. 9º do CPP): ser escrito, público, podendo em alguns casos ser
sigiloso, além de ser inquisitivo (sem contraditório)

• Quanto a ser público, art. 20 dispõe sobre a possibilidade de assegurar seu sigilo, caso necessário à
elucidação dos fatos, ou interesse social.
Valor probatório
• Os atos do inquérito policial têm valor probatório limitado;
• Não servem, por si só, para justificar condenação

Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da


prova produzida em contraditório judicial, não podendo
fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos
informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas
cautelares, não repetíveis e antecipadas.
Direito de defesa e contraditório no
Inquérito
• Mínimo – fundamento investigativo/inquisitório;
• Não há plenitude, mas é possível direito de defesa;
Ex: direito do advogado de ingressar na DEPOL, acompanhar interrogatório,
solicitar cópia do IP

• Contraditório: restrito primeiro momento (da informação)


• Acesso aos autos de IP
Súmula 14 do STF: É direito do defensor, no interesse do representado, ter
acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em
procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia
judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa.
Atos do Inquérito Policial
• COMO COMEÇA? – Art. 5º do CPP
• Crimes de ação penal pública incondicionada:
• De ofício (registro de B.O ou Auto de Prisão em Flagrante – APF)
• Requisição autoridade judiciária, MP, ofendido ou quem tenha qualidade para
representa-lo;
• Qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento, pode comunicar à autoridade
policial;
• Ação penal pública condicionada à representação
• Necessidade de representação
• Ação penal privada
• Somente com representação de quem tenha qualidade para intentá-la
• LOGO QUE TIVER CONHECIMENTO DA INFRAÇÃO, DELEGADO: – Art.
6º do CPP
• Deve se deslocar ao local: providenciar para que não alterem o estado das coisas até chegada
de perícia;
• Apreender objetos com relação aos fatos;
• Colher provas que servirem para esclarecimento dos fatos;
• Ouvir ofendido;
• Ouvir indiciado (assinado por ele e por duas testemunhas);
• Reconhecimento de pessoas e acareações;
• Determinar, em sendo caso, acareação;
• Exame de corpo de delito e outras perícias;
• Identificação do suspeito pelos meios existentes;
• Juntada de antecedentes criminais do indiciado;
• Avaliar vida pregressa do indiciado, inclusive com seus familiares;
• Colher informações sobre existência de filhos, nome e eventual contato da pessoa responsável
pelos seus cuidados
• Reprodução simulada dos fatos, desde que não contrarie a moralidade e a ordem pública (art.
7º)
• INCUMBE, AINDA, À AUTORIDADE POLICIAL (DELEGADO) – art. 13 do CPP
• fornecer às autoridades judiciárias as informações necessárias à instrução e
julgamento dos processos;
• realizar as diligências requisitadas pelo juiz ou pelo Ministério Público;
• cumprir os mandados de prisão expedidos pelas autoridades judiciárias;
• representar acerca da prisão preventiva;
• pertinência de diligências requeridas pelo ofendido ou seu representante legal (art.
14)

Art. 13-A: Possibilidade de requisição, pelo MP ou Delegado, de informações


cadastrais da vítima ou de suspeitos à empresas privadas, nos casos de crimes de
sequestro e cárcere privado, redução à condição análoga a de escravo, tráfico de
pessoas, extorsão com restrição da liberdade da vítima, extorsão mediante sequestro e
envio ilegal de criança para o exterior (este último, crime do ECA – art. 238)
Art. 13-B – possibilidade de interceptação telefônica – especialmente crimes
relacionados ao tráfico de drogas
• PRAZO PARA CONCLUSÃO – art. 10, do CPP
• 10 dias, se indiciado preso em flagrante ou preso preventivamente (contados da ordem de prisão)
• 30 dias se estiver solto

• Relatório minucioso e encaminha ao MP (§§1º e 2º)


Art. 12. O inquérito policial acompanhará a denúncia ou queixa, sempre que servir de base a uma ou outra.
Art. 23. Ao fazer a remessa dos autos do inquérito ao juiz competente, a autoridade policial oficiará ao Instituto
de Identificação e Estatística, ou repartição congênere, mencionando o juízo a que tiverem sido distribuídos, e os
dados relativos à infração penal e à pessoa do indiciado.

• Caso sejam necessárias outras diligências?


• Art. 10, §3º, do CPP: MP requerer ao juiz dilação de prazo
§ 3o Quando o fato for de difícil elucidação, e o indiciado estiver solto, a autoridade poderá requerer ao juiz a
devolução dos autos, para ulteriores diligências, que serão realizadas no prazo marcado pelo juiz.

• Não pode o MP devolver os autos à DEPOL, salvo para diligências imprescindíveis ao


oferecimento da denúncia (art. 16, do CPP)
• Como acontece na prática?
Arquivamento
Art. 17. A autoridade policial não poderá mandar arquivar autos de
inquérito.
- Apenas o MP poderá promover o arquivamento

Art. 18. Depois de ordenado o arquivamento do inquérito pela autoridade


judiciária, por falta de base para a denúncia, a autoridade policial poderá
proceder a novas pesquisas, se de outras provas tiver notícia.

Art. 19. Nos crimes em que não couber ação pública, os autos do inquérito
serão remetidos ao juízo competente, onde aguardarão a iniciativa do ofendido
ou de seu representante legal, ou serão entregues ao requerente, se o pedir,
mediante traslado.
Prática do crime – ação
penal pública. Se for ação
penal privada, só se inicia INÍCIO:´pode ocorrer em razão da prisão em
com requerimento do flagrante (art. 301 e ss), ou por meio da lavratura
ofendido/representante de Portaria da Autoridade Policial
Conclusão/Relatório

Assim que tomar


conhecimento do
fato, Autoridade Início do IP: de
Policial deve ofício (Aut. Policial)
realizar ou por meio de
diligências – art. requisição MP,
ofendido ou Realização de
6º diligências
representante (art. Prazo: 10 dias se
5º CPP) preso, 30 se solto
Não pode a AP
arquivar o IC – art. 17
Continuando: podem ser que as CPP
diligências não tenham sido
concluídas: art. 10, §3º
ARQUIVAMENTO

OU

DENÚNCIA
Art. 10, §3º: réu solto, diligências
não concluídas – SOLICITA PRAZO OU
Mas e se a Autoridade
ao juiz (na verdade, ao MP), para
Policial relatar o
conclusão – art. 13, II, do CPP
Conclusão - Inquérito Policial,
Relatório enviar para o MP, e o ACORDO DE
Parquet entender que NÃO
Prazo: 10 dias de réu há necessidade de PERSECUÇÃO
preso; 30 dias se réu diligências? Art. 16,
solto (art. 10 CPP) CPP
ARQUIVAMENTO: falta de base para a
denúncia (art. 18 do CPP) - encerra

Conclusão IP -
Relatório

ACORDO DE NÃO Só será deflagrada a ação penal,


PERSECUÇÃO: Art. portanto, caso seja oferecida
28-A – será DENÚNCIA, prosseguindo de
DENÚNCIA: indícios de autoria e realizada apenas a acordo com o rito que for
prova da materialidade – art. 41 fiscalização estabelecido – comum (ordinário,
do CPP sumário ou sumaríssimo) ou
especial.

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