Você está na página 1de 8

INQUÉRITO POLICIAL

1- CONCEITO: O procedimento administrativo inquisitório e preparatório, presidido pela autoridade de polícia


judiciária, consistente em um conjunto de diligências realizadas para apuração da materialidade e autoria da infração
penal, a fim de fornecer elementos de informação para que o titular da ação penal possa ingressar em juízo.
2- Natureza jurídica do Inquérito Policial: É um procedimento administrativo! Não é processo judicial e não é
processo administrativo. Não se aplica o art. 5º, inciso LV
O Inquérito Policial não resulta na aplicação de uma sanção. Eventuais vícios constantes do Inquérito Policial não
contaminam o processo ao que deram origem.
As provas ilícitas: vão contaminar sim o processo. 3- FINALIDADO DO INQUÉRITO POLICIAL? Colheita de
elementos de informação quanto à autoria e materialidade do fato delituoso.
ELEMENTO DE INFORMAÇÃO e PROVAS – art. 155 do CPP.
Provas periciais
Provas cautelares não sujeitas à repetição e produzidas antecipadamente. Ex. Interceptação de comunicações
telefônicas (Lei 9.296/96).
Sequestro de bens (art. 127 do CPP); Busca e apreensão domiciliar (art. 242 do CPP).
• Medidas cautelares reais: São as medidas dos artigos 125 a 144 (confisco, caução, sequestro, hipoteca legal,
arresto), as quais têm por finalidade garantir a eficácia dos efeitos civis da condenação, como é exemplo a reparação
do dano causado à vítima.
• Medidas cautelares probatórias ou instrutórias: São as normas dos artigos 240 a 250, que versam sobre a busca e
apreensão. Da mesma natureza, entre outras, a norma do artigo 217, que autoriza a retirada do réu da audiência
quando puder causar temor ou constrangimento à testemunha, e a interceptação telefônica (artigo 5º, XII, da CF). As
cautelares probatórias buscam manter a integridade do material probatório e possibilitar sua eficiente coleta.
• Medidas cautelares pessoais: São as que recaem sobre a liberdade do indivíduo, como por exemplo as prisões
provisórias, as medidas cautelares diversas da prisão (art. 319) e as medidas substitutivas da prisão (art. 318).
Segundo o professor Mirabette, “a Polícia, instrumento da Administração, é uma instituição de direito público, destinada a
manter e a recobrar, junto à sociedade e na medida dos recursos de que dispõe, a paz pública ou a segurança individual”.
Incumbe-lhe, primordialmente, duas funções:

ADMINISTRATIVA: Função de caráter preventivo, relacionada à segurança, visando a impedir a prática de atos lesivos à
sociedade. No exercício dessa função, atua a polícia com discricionariedade e independente de autorização judicial. Ex.
PM, PRF e PRF.

JUDICIÁRIA: Função de caráter repressivo, visando auxiliar a Justiça (daí a denominação polícia judiciária). Aqui a
atuação ocorre após a prática do fato delituoso de forma a possibilitar a instauração de ação penal contra os respectivos
autores. Ex. Polícia Civil e Policia Federal.
PODER DE POLÍCIA NO DIREITO ADMINISTRATIVO: trata-se de atividade estatal que limita o exercício dos direitos
individuais em prol do interesse coletivo. Conceito legal (artigo 78, do Código Tributário Nacional):

“Art. 78. Considera-se poder de polícia a atividade da administração pública que, limitando ou disciplinando direito,
interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato, em razão de interesse público concernente à
segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades
econômicas dependentes de concessão ou autorização do Poder Público, à tranqüilidade pública ou ao respeito à
propriedade e aos direitos individuais ou coletivos”.

• A Polícia Administrativa atua na forma:

Preventiva (pelas polícias, civil e militar): proibindo porte de arma ou direção de veículo automotor.

Repressiva: apreende arma usada indevidamente ou licença do motorista infrator; aplicando multa.

• A Polícia Judiciária atua na forma:

Preventiva: evitando que o infrator volte a incidir na mesma infração, conforme o interesse geral.

Repressiva: fornecendo os elementos necessários para o oferecimento da ação penal em face do infrator da lei penal.
O inquérito é instaurado através: Lavratura do Auto de Prisão em Flagrante ou por meio de Portaria baixada pelo
Delegado de Polícia.
Art. 5o Nos crimes de ação pública o inquérito policial será iniciado:
I - de ofício;
II - mediante requisição da autoridade judiciária ou do Ministério Público, ou a requerimento do ofendido ou de
quem tiver qualidade para representá-lo.

Formas de conhecimento da existência do crime:


A) DE COGNIÇÃO IMEDIATA - Quando a autoridade toma conhecimento de forma rotineira, como ronda policial, ida da
vítima ou qualquer pessoa até a delegacia, telefonemas, telefonema anônimo, Internet, rádio, tv, etc
B) DE COGNIÇÃO MEDIATA - Quando toma conhecimento através de formalidade como requisição do juiz, do promotor,
Ministro da Justiça, representação e requerimento da vítima ou de seu representante legal.
Papel, ordem
C) DE COGNIÇÃO COERCITIVA - Somente ocorre na prisão em flagrante, pois o autor do delito é conduzido
coercitivamente até a presença da autoridade.
 Notitia criminis coercitiva – Aquela que se dá em decorrência da prisão em flagrante

 Notitia criminis de cognição imediata (direta) – Quando a autoridade policial toma conhecimento dos fatos em
decorrência das suas atividades rotineiras.

 Notitia criminis mediata (indireta) – Quando o conhecimento vem por meio de um expediente formalizado, por
exemplo, requisição do MP.
 Existem ainda as delatio criminis, que não deixam de ser consideradas um tipo de notitia criminis, com algumas
especificidades, vejamos:
 Delatio criminis simples – Quando qualquer pessoa do povo comunica o crime à autoridade policial

 Delatio criminis postulatória – É quando o próprio ofendido procura a autoridade policial para postular a instauração
do IP. A vítima ou terceiro comunica o fato à autoridade policial, pedindo a instauração do IP - ex: representação na
ação penal pública condicionada.
 Delatio criminis inqualificada – é a popularmente conhecida como denúncia anônima.

Obs. A Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu que a NOTÍCIA ANÔNIMA DE CRIME, POR SI SÓ,
NÃO É APTA PARA INSTAURAR INQUÉRITO POLICIAL; ela pode servir de base válida à investigação e à persecução
criminal, desde que haja prévia verificação de sua credibilidade em apurações preliminares, ou seja, desde que haja
investigações prévias para verificar a verossimilhança da noticia criminis anônima. Agravo regimental não provido. (AgRg
no REsp 1729391/RS, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 26/10/2021, DJe
12/11/2021)
Obs. A Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu que a existência de denúncia anônima somada à
fuga do acusado da abordagem policial, por si sós, não configuram fundadas razões a autorizar o ingresso no
domicílio sem mandado judicial. (AgRg no HC 620.814/SC, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado
em 28/09/2021, DJe 04/10/2021)
Art. 5o Nos crimes de ação pública o inquérito policial será iniciado:
I - de ofício;
II - mediante requisição da autoridade judiciária ou do Ministério Público, ou a requerimento do ofendido ou
de quem tiver qualidade para representá-lo.

§ 1o O requerimento a que se refere o no II conterá sempre que possível:

a) a narração do fato, com todas as circunstâncias;

b) a individualização do indiciado ou seus sinais característicos e as razões de convicção ou de presunção de ser ele
o autor da infração, ou os motivos de impossibilidade de o fazer;

c) a nomeação das testemunhas, com indicação de sua profissão e residência.

§ 2o Do despacho que indeferir o requerimento de abertura de inquérito caberá recurso para o chefe de Polícia.

§ 3o Qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento da existência de infração penal em que caiba ação pública
poderá, verbalmente ou por escrito, comunicá-la à autoridade policial, e esta, verificada a procedência das
informações, mandará instaurar inquérito.

§ 4o O inquérito, nos crimes em que a ação pública depender de representação, não poderá sem ela ser iniciado.

§ 5o Nos crimes de ação privada, a autoridade policial somente poderá proceder a inquérito a requerimento de quem
tenha qualidade para intentá-la.
Características do inquérito policial

“É inquisitivo, sigiloso, escrito, presidido por autoridade policial, indisponível, oficialidade, oficiosidade,
discricionariedade e dispensável”.

1º - INQUISITIVO: Não se aplica o contraditório (art. 5º, LV, da CF), ao qual só irá aplicar quando já houver
formalizada a acusação com o oferecimento da Denúncia ou Queixa.

LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e
ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;

A autoridade policial deverá agir conforme os estritos limites estabelecidos em lei, pois se extrapolada caracteriza-se o
abuso de autoridade.

Obs. Art. 14 do CPP: O ofendido, ou seu representante legal, e o indiciado poderão requerer qualquer diligência, que
será realizada, ou não, a juízo da autoridade.
2º - SIGILOSO: Conforme disposto no artigo 20, do CPP: “A autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário à
elucidação do fato ou exigido pelo interesse da sociedade”

Obs. Art. artigo 7º do Estatuto da Advocacia (Lei n. 8.906/94). Art. 7º São direitos do advogado:
XIII - examinar, em qualquer órgão dos Poderes Judiciário e Legislativo, ou da Administração Pública em geral, autos de
processos findos ou em andamento, mesmo sem procuração, quando não estiverem sujeitos a sigilo ou segredo de
justiça, assegurada a obtenção de cópias, com possibilidade de tomar apontamentos;
XIV - examinar, em qualquer instituição responsável por conduzir investigação, mesmo sem procuração, autos de
flagrante e de investigações de qualquer natureza, findos ou em andamento, ainda que conclusos à autoridade,
podendo copiar peças e tomar apontamentos, em meio físico ou digital;

Súmula vinculante nº 14 do Supremo Tribunal Federal: “É direito do defensor, no interesse do representado, ter
acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão
com competência de policia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa”.
Casos em que o sigilo é absoluto:
• Na infiltração de agentes de polícia ou inteligência em tarefa de investigação (art. 2º,parágrafo único, da Lei n. 9.034/95).
• No caso de interceptação telefônica (art. 8º, da Lei n. 9.296/96).

Você também pode gostar