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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 1.149.574 - ES (2009/0137455-7)

RELATOR : MINISTRO ANTONIO CARLOS FERREIRA


RECORRENTE : ESPÍRITO SANTO CENTRAIS ELÉTRICAS S/A
ADVOGADOS : HERMANO DE VILLEMOR AMARAL FILHO E OUTRO(S) -
RJ003099
GILBERTO AUGUSTO TRIGUEIRO VIEIRA RIBEIRO E OUTRO(S) -
RJ007683
JOÃO GUILHERME DE MORAES SAUER E OUTRO(S) - RJ023644
RECORRIDO : LUIZ FERNANDO CHIABAI PIPA SILVA
ADVOGADO : LUIZ FERNANDO CHIABAI PIPA SILVA E OUTRO(S) - ES004382

RELATÓRIO

O EXMO. SR. MINISTRO ANTONIO CARLOS FERREIRA: Trata-se de


recurso especial interposto por ESPÍRITO SANTO CENTRAIS ELÉTRICAS S.A. com
fundamento no art. 105, III, "a" e "c", da CF/1988, contra acórdãos do TJES assim
ementados:
"APELAÇÕES CÍVEIS. AÇÃO DE EXECUÇÃO FORÇADA DE HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS. PRELIMINARES DE AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO DA
SENTENÇA E AUSÊNCIA DE LITISCONSÓRCIO NECESSÁRIO PRELIMINARES
REJEITADAS. INCIDÊNCIA DOS JUROS MORATÓRIOS. EXCESSO DE
EXECUÇÃO. INOCORRÊNCIA. RECURSOS IMPROVIDOS.
A fundamentação sucinta atende o disposto no artigo 93 da Constituição Federal
de 1988 e não enseja nulidade.
Se da procuração consta poderes para os advogados agirem em conjunto ou
separadamente, qualquer deles é parte legítima para pleitear o arbitramento dos
honorários, bem como para ajuizar a ação de execução da verba incluída na
condenação por arbitramento ou sucumbência, e, portanto, não há que se falar em
litisconsórcio necessário. Preliminares rejeitadas.
Tendo a decisão proferida nos autos dos embargos de execução se referido aos
respectivos pagamentos das custas processuais e honorários advocatícios nos
autos da ação de falência, cuja sentença foi proferida em 30/09/2003, evidente que
a execução abrangeu a verba honorária, com acréscimo de juros legais a partir dos
respectivos pagamentos. Recurso a que se nega provimento.
Os documentos correspondentes e comprobatórios dos fatos mencionados nas
razões de apelo, deveriam ter sido juntas, não bastado a indicação de folhas de
outros autos, no caso, o de falência. Daí, não haver prova e procedência do
excesso de execução. Recurso a que se nega provimento" (e-STJ fl. 177).

"EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NA APELAÇÃO CÍVEL. OMISSÃO.


OBSCURIDADE. INOCORRÊNCIA. RECURSO IMPROVIDO.
1) Os embargos de declaração destinam-se a aclarar obscuridade, resolver
contradição ou suprir eventual omissão do julgado, desde que concretamente
fundados nos permissivos legais do recurso.
2) A alegada omissão quanto a necessidade de conversão do julgamento em
diligência para produção de provas não é passível de apreciação em sede de
embargos de declaração, pois é claro o acórdão no sentido de que 'os documentos
correspondentes e comprobatórios dos fatos mencionados nas razões de apelo,
deveriam ter sido juntados, não bastando a indicação de folhas de outros autos, no
caso, o de falência'. Na realidade, deixou o embargante de fazer a prova que lhe
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competia e via embargos de declaração pretende que os autos sejam baixados em
diligência, o que legalmente não se admite.
3) A necessidade de que o Tribunal enfrente fundamentadamente as questões da
apelação, indicando explicitamente qual o dispositivo que estabelece eventual
solidariedade ativa sobre os honorários de sucumbência, não constitui-se em
omissão, porque consta das notas taquigráficas que tal questão foi debatida.
Ademais, o fato de não apontar os dispositivos legais, não configura a existência
de omissão, vez que na formação do seu convencimento, o julgador não está
obrigado a mencionar expressamente, um a um, os artigos de lei em que se
baseou para decidir a lide, basta que motive as razões de seu convencimento com
fundamentação satisfatória.
4) Da mesma forma não ocorreu a obscuridade alegada no que tange ao início da
contagem dos juros moratórios incidentes sobre a verba honorária, pois foi decidido
que com relação ao termo inicial de incidência dos juros moratórios, a juíza de
primeiro grau ao decidir nos autos dos embargos de execução referiu-se aos
respectivos pagamentos das custas processuais e honorários advocatícios fixados
em 10% (dez por cento) nos autos da ação de falência, cuja sentença foi proferida
em 20/09/2003.
5) Não há omissão ou obscuridade no acórdão, se foi observado o disposto no § 1º
do art. 147 do Regimento Interno do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado, que
assevera que são partes integrantes do acórdão, tanto as notas taquigráficas do
julgamento, como a respectiva ementa.
Recursos improvidos" (e-STJ fls. 212/213).

Alega a recorrente violação do art. 535, II, do CPC/1973, destacando que


"um dos aspectos sustentados em apelação, sem adequado enfrentamento por parte do
Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Espírito Santo, diz respeito à inexistência de
solidariedade ativa – nem por lei, nem por contrato – dos advogados que patrocinam um
determinado processo, no que tange aos honorários de sucumbência que dele resultam"
(fl. 236). No presente caso, "o ora recorrido e mais outro 4 (quatro) advogados – todos
constantes do instrumento de mandato – patrocinaram os interesses do réu em AÇÃO DE
FALÊNCIA movida pela aqui recorrente, em que foram estipulados os honorários de
sucumbência ora executados" (e-STJ fl. 237). No entanto, "APENAS o ora recorrente
EXECUTOU a INTEGRALIDADE DOS HONORÁRIOS, preterindo os direitos individuais dos
demais, aos seus respectivos créditos proporcionais" (e-STJ fl. 237). Haveria omissão no
acórdão recorrido acerca do dispositivo de lei que estabeleceria a solidariedade ativa.
Sustenta também que o Tribunal de origem "deixou de apreciar importante
questão pertinente ao marco temporal inaugural da incidência de juros moratórios sobre
honorários de sucumbência" (e-STJ fl. 240). Explica que, "conforme se ponderou em
embargos de declaração, não está sob discussão se incidem ou não juros moratórios
sobre honorários sucumbenciais, mas sim a partir de quando eles incidem e sem que
percentual, sendo insuficiente para tal desiderato a lacônica afirmação de que incidem
'juros legais'" (e-STJ fl. 241). Acrescenta que, "manifestando, o Egrégio Tribunal,
entendimento oposto, vale dizer, que os juros devem incidir a partir de 'cada pagamento',

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cumpre a ele demonstrar qual o fundamento legal que ampara essa sua tese" (e-STJ fl.
241).
Pede, então, nessa parte, que o recurso especial seja provido, impondo ao
TJES "que julgue novamente os embargos de declaração sanando as omissões legais
adotadas para sustentar que a) há solidariedade ativa entre advogados no que tange aos
honorários de sucumbência e b) os juros sobre honorários de sucumbência incidem a
partir dos pagamentos elisivos da falência e não de sua constituição através de sentença"
(e-STJ fl. 243).
Afirma que a Corte local violou os arts. 896 do CC/1916, 20 do CPC/1973 e
23 da Lei n. 8.906/1994, tendo em vista que a solidariedade não se presume e que "a
concessão pelo mandante (cliente) aos seus mandatários (advogados) de poderes para
atuarem em conjunto ou isoladamente, em nada influi ou interfere na questão alusiva aos
honorários advocatícios, até porque o mandante não pode em nenhuma hipótese dispor
sobre honorários (art. 24, § 3º da Lei 8.906/94)" (e-STJ fl. 246). Aduz inexistir lei "que
estabeleça solidariedade ativa entre advogados no que se refere aos honorários de
sucumbência" (e-STJ fl. 248) e que, ao estabelecer a autonomia do direito aos honorários,
o art. 23 da Lei n. 8.906/1994 "afasta a tese da solidariedade, demonstrando que cada
advogado atuante em um processo possui direitos proporcionais e individuais aos
honorários fixados nele" (e-STJ fl. 248). Requer, nesse ponto, o provimento do recurso
"afastando-se a solidariedade e reduzindo-se o direito do recorrido a apenas 1/5 (um
quinto) dos honorários deferidos" (e-STJ fl. 249), sendo esta a fração que lhe caberia.
Alega, igualmente, que "o acórdão recorrido ofendeu também o art. 1064 do
CC/1916 ao retroagir a incidência dos juros moratórios à data de 'cada pagamento', isto é,
cada depósito elisivo efetuado na ação de falência (da qual resultou o crédito de
honorários)" (e-STJ fl. 249). Argumenta que a verba honorária não representa "CRÉDITO
que existe antes da SENTENÇA e por ela é DECLARADO, mas sim de CRÉDITO que é
CONSTITUÍDO ORIGINARIAMENTE PELA PRÓPRIA SENTENÇA" (e-STJ fl. 250). Nesse
caso, "somente a partir desse instante é possível falar em MORA e, por conseguinte, em
JUROS DE MORA" (e-STJ fl. 250). Cita precedente deste Tribunal Superior acerca do
termo inicial dos juros de mora incidentes sobre os honorários sucumbenciais (REsp n.
275.685/MG, Rel. Ministro ARI PARGENDLER, TERCEIRA TURMA, DJ de 27.11.2000).
O recorrido apresentou contrarrazões (e-STJ fls. 288/291), e o recurso
especial foi admitido na origem (e-STJ fls. 294/302).
É o relatório.

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RECURSO ESPECIAL Nº 1.149.574 - ES (2009/0137455-7)

RELATOR : MINISTRO ANTONIO CARLOS FERREIRA


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JOÃO GUILHERME DE MORAES SAUER E OUTRO(S) - RJ023644
RECORRIDO : LUIZ FERNANDO CHIABAI PIPA SILVA
ADVOGADO : LUIZ FERNANDO CHIABAI PIPA SILVA E OUTRO(S) - ES004382
EMENTA

PROCESSUAL CIVIL E CIVIL. EXECUÇÃO DE TÍTULO JUDICIAL.


COBRANÇA DE HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS. VÁRIOS ADVOGADOS
CONSTITUÍDOS ORIGINARIAMENTE PELA PARTE VENCEDORA.
LEGITIMIDADE PARA EXECUTAR. SOLIDARIEDADE ATIVA. OMISSÕES
NÃO VERIFICADAS. TERMO INICIAL DOS JUROS DE MORA.
1. Ausência de omissão acerca das questões pertinentes à solidariedade
ativa entre advogados no que tange à cobrança de honorários
sucumbenciais e ao termo inicial dos juros moratórios, matérias decididas
fundamentadamente no acórdão recorrido.
2. "Havendo pluralidade de advogados representado a mesma parte e
constando do mandato autorização para que possam agir em conjunto ou
separadamente, qualquer um deles tem legitimidade para pleitear o
arbitramento dos honorários ou ajuizar a ação de execução da verba
incluída na condenação" (REsp n. 1.370.152/RJ, Rel. Ministro RICARDO
VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, DJe de 13.11.2015).
3. Também, no caso concreto, não se trata de substabelecimento passado
com reserva de poderes, o que afasta a norma do art. 26 da Lei n.
8.906/1994.
4. A tese relativa ao termo inicial dos juros moratórios foi repelida no
acórdão recorrido com fundamento, sobretudo, na coisa julgada material.
No entanto, tal motivação não foi impugnada no recurso especial, incidindo,
por analogia, a vedação contida na Súmula n. 283 do STF.
5. Recurso especial parcialmente conhecido e desprovido.

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RECURSO ESPECIAL Nº 1.149.574 - ES (2009/0137455-7)

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RJ003099
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RECORRIDO : LUIZ FERNANDO CHIABAI PIPA SILVA
ADVOGADO : LUIZ FERNANDO CHIABAI PIPA SILVA E OUTRO(S) - ES004382

VOTO

O EXMO. SR. MINISTRO ANTONIO CARLOS FERREIRA (Relator):


Trata-se, na origem, de embargos à execução de título judicial propostos por ESPÍRITO
SANTO CENTRAIS ELÉTRICAS S.A. – ESCELSA contra o advogado LUIZ FERNANDO
CHIABAI PIPA DA SILVA, constando do acórdão recorrido a seguinte narrativa dos fatos:
"De início, a Escelsa moveu ação de falência em face da Companhia Metalúrgica
do Espírito Santo, pretendendo a decretação da mesma com base nos arts. 1º, 9º
e 11 da antiga Lei de Falência.
Ocorre, que por terem firmado acordo (Termo de Confissão de Dívida e Promessa
de Pagamento), entendeu por bem o MM Juiz de primeiro grau não acatar o pedido
da requerente no sentido de decretar a falência da requerida já que, após a citação
as partes firmaram acordo objetivando pôr termo à demanda, fato que
descaracterizou a impontualidade face a concessão da moratória.
Nessa decisão, o Juiz julgou improcedente o pedido e condenou a requerente
(Escelsa) ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios,
arbitrados em 10% (dez por cento) sobre o valor recebido, acrescido de juros
legais e corrigido monetariamente a partir do respectivo pagamento.
Na sequência, tendo a sentença (fls. 170/172) transitado em julgado e não tendo a
Escelsa adimplido os valores nela fixados, ingressou em juízo o Dr. Luiz Fernando
Chiabai Pipa Silva, com ação de execução forçada de título judicial (verba
honorária), alegando ser credor dos honorários fixados na referida sentença,
apontando a importância de R$ 25.246,98 (vinte e cinco mil, duzentos e quarenta e
seis reais, noventa e oito centavos) como valor atualizado da dívida, isso em
12/07/2001.
Garantido o juízo, a Escelsa opôs embargos à execução arguindo preliminarmente
a extinção da execução por falta de litisconsorte necessário e o excesso na
execução, por duas razões: (a) por estarem incluídos itens que não integram a
base de cálculo dos honorários; (b) fluência dos juros de mora a partir da data de
prolação da sentença e não da data dos pagamentos.
Intimado, o embargado rechaçou as alegações da embargante.
Ao sentenciar os embargos à execução, a Juíza de primeiro grau julgou
antecipadamente a lide, entendendo que há entre os credores solidariedade e não
litisconsórcio necessário.
Ainda, reconheceu o excesso na execução e reduziu o valor constante na inicial
para R$ 6.344,42 (seis mil, trezentos e quarenta e quatro reais e quarenta e dois
centavos), acrescido de juros legais e corrigidos monetariamente a partir dos
respectivos pagamentos efetuados na ação falimentar.
Por fim, condenou o embargante ao pagamento de honorários advocatícios,
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fixando-os em 5% (cinco por cento) sobre o valor atualizado do débito.
Irresignados, embargante e embargado interpuseram embargos de declaração, que
foram julgados improcedentes pela Juíza a quo" (e-STJ fls. 179/181).
O TJES negou provimento aos recursos de apelação (e-STJ fls. 172/192) e
rejeitou os respectivos aclaratórios (e-STJ fls. 210/229).
O presente recurso especial não merece acolhimento.

I – DA VIOLAÇÃO DO ART. 535, I E II, DO CPC/1973 E DAS OMISSÕES


Nessa questão preliminar, pede a recorrente que o recurso especial seja
provido, determinando-se ao TJES "que julgue novamente os embargos de declaração
sanando as omissões legais adotadas para sustentar que a) há solidariedade ativa entre
advogados no que tange aos honorários de sucumbência e b) os juros sobre honorários
de sucumbência incidem a partir dos pagamentos elisivos da falência e não de sua
constituição através de sentença" (e-STJ fl. 243).
As omissões apontadas, entretanto, não estão efetivamente caracterizadas.
A propósito, a solidariedade entre credores, que viabilizaria ao recorrido
executar a verba honorária sucumbencial, foi suficientemente enfrentada e fundamentada,
inclusive em precedente do STJ, no acórdão da apelação, nos seguintes termos:
"Quanto à solidariedade, sabe-se que a obrigação solidária é aquela em que,
havendo multiplicidade de credores ou de devedores, ou de uns e outros, cada
credor terá direito à totalidade da prestação, como se fosse o único credor, ou
cada devedor estará obrigado pelo débito todo, como se fosse o único devedor.
É importante ressaltar duas características das obrigações solidárias que reforçam
o posicionamento da MM. Juíza sentenciante. A primeira é a unidade da prestação
(qualquer que seja o número de credores ou devedores, o débito é sempre único) e
a segunda é a pluralidade e independência do vínculo. Sobre este último aspecto
tem-se que a unidade de prestação não impede que o vínculo que une credores e
devedores seja distinto e independente.
Por outro lado, por mais que certo, que a apelante Escelsa não irá efetuar o
pagamento da verba honorária a outros advogados, se quitado todo o valor
sucumbencial através de depósito nos autos.
De mais a mais, se um dos advogados credores deixar de repassar o percentual
que cabe a um ou aos demais colegas, lógico que estes procuração receber os
seus créditos através do procedimento judicial próprio, dirigido não em face dela
apelante, mas a desfavor daquele que recebeu a totalidade do crédito
sucumbencial.
Em conclusão, não agiu a julgadora de primeiro grau de forma contrária ao que
dispõe o Código Civil de 1916 no art. 6º da sua lei de introdução, ou mesmo ao
disposto no atual Código Civil e no art. 47 do Código de Processo Civil.
Muito menos, infringiu as disposições contidas no art. 26 do Estatuto da
advocacia, por não ser o advogado exequente substabelecido com reservas,
conforme afirmado às fls. 28. E não havendo produção de prova em contrário por
parte da apelante Escelsa, é procurador originário.
Além do mais, tendo dois dos demais advogados outorgados assinado a petição
inicial de falência, juntamente com o apelado (Luiz Fernando Chiabai Pipa da
Silva), e não produzindo a apelante prova no sentido de que as procurações ou

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substabelecimentos impediam os causídicos de agirem em conjunto ou
separadamente, não se pode admitir que esteja o apelado impedido de pleitear a
cobrança dos honorários.
A respeito da matéria já se posicionou o STJ por sua 3ª Turma no REsp
246.124-SP, rel. Min. Pádua Ribeiro, publicado no DJU de 07/04/2003, anotado por
Theotônio Negrão no Código de Processo Civil, 3ª ed., páginas 1102/1203:
'A outorga independente de mandatos, pela mesma pessoa, a dois ou
mais advogados, para a mesma causa, relaciona individualmente cada
mandatário à outorgante no direito de reclamar-lhe honorários, quando de
outro modo não for estipulado' (RF (303/199).

'Constatando do instrumento da procuração autorização para que os


advogados possam agir em conjunto ou separadamente, qualquer deles é
parte legítima para pleitear o arbitramento dos honorários, bem como para
ajuizar a ação de execução da verba incluída na condenação por
arbitramento ou sucumbência.'

Assim sendo, não há que se falar em litisconsórcio necessário no caso dos autos,
e sim em solidariedade como bem decidiu a MMª Juíza a quo e, em consequência,
não há razão para extinção do processo" (e-STJ fls. 185/186).

A controvérsia relativa ao inicial dos juros moratórios, igualmente foi


decidida de forma motivada, invocando-se, também, a coisa julgada material. Eis o texto
do acórdão que desproveu a apelação nessa parte:
"Com relação ao termo inicial de incidência dos juros moratórios, matéria objeto
das razões da apelante, deve ficar consignado que a juíza de primeiro grau ao
decidir nos autos dos embargos de execução referiu-se aos respectivos
pagamentos das custas processuais e honorários advocatícios fixados em 10%
(dez por cento) nos autos da ação de falência, cuja sentença foi proferida em
30/09/2003. Tendo a execução objeto dos embargos abrangido a verba honorária já
mencionada e de 10% (dez por cento), evidente que sobre ela serão acrescidos
juros legais a partir dos respectivos pagamentos.
De outro modo não poderia ocorrer, por ter a sentença prolatada nos autos da ação
de falência já transitado em julgado. Então, improcedem os argumentos carreados
para os autos pela apelante, pois em verdade, deseja discutir coisa julgada
material" (e-STJ fls. 187/188).

Omissões e contrariedade ao art. 535 do CPC/1973, portanto, não estão


caracterizadas.

II – DA OFENSA AOS ARTS. 896 DO CC/1916, 20 DO CPC/1973 E 23 DA


LEI N. 8.906/1994 E DA AUSÊNCIA DE SOLIDARIEDADE ENTRE OS ADVOGADOS
CREDORES DA VERBA HONORÁRIA SUCUMBENCIAL FIXADA NA SENTENÇA QUE
JULGOU IMPROCEDENTE O REQUERIMENTO DE FALÊNCIA
No presente caso, o pedido de falência apresentado pela ora recorrente,
ESCELSA, contra COMPANHIA METALÚRGICA DO ESPÍRITO SANTO foi julgado

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improcedente, condenando-se a requerente "ao pagamento das custas processuais e
honorários advocatícios", arbitrados "em 10% (dez por cento) sobre o valor recebido,
acrescido de juros legais e corrigido monetariamente" (e-STJ fl. 115).
O ora recorrido, LUIZ FERNANDO CHIABAI PIPA SILVA, um dos advogados
constituídos pela requerida COMPANHIA METALÚRGICA DO ESPÍRITO SANTO, propôs,
nos autos da falência, "ação de execução forçada de título judicial (verba honorária)"
(e-STJ fls. 116/117).
Discute-se, então, nessa parte, se tal advogado poderia, sozinho, executar
a verba honorária sucumbencial integralmente, apesar de haver outros advogados
constituídos.
Segundo o Tribunal de origem, o exequente não seria advogado
"substabelecido", mas originário, conforme procuração de fl. 112 (e-STJ), razão pela qual
não incidiria a regra do art. 26 da Lei n. 8.906/1994. Ademais, "se da procuração consta
poderes para os advogados agirem em conjunto ou separadamente, qualquer deles é
parte legítima para pleitear o arbitramento dos honorários, bem como para ajuizar a ação
de execução da verba incluída na condenação por arbitramento ou sucumbência, e,
portanto, não há que se falar em litisconsórcio necessário" (e-STJ fl. 177).
Em tal contexto, incide a correta orientação firmada na TERCEIRA TURMA
deste Tribunal Superior, nos seguintes precedentes:
"Direito Civil e Direito Processual Civil. Mandato judicial. Instrumento de procuração
em que consta autorização para dois advogados agirem em conjunto ou
separadamente. Procuração solidária. Legitimidade ativa de cada procurador para a
cautelar de arbitramento e para a ação de execução dos honorários.
I – Constando do instrumento da procuração autorização para que os advogados
possam agir em conjunto ou separadamente, qualquer deles é parte legítima para
pleitear o arbitramento dos honorários, bem como para ajuizar a ação de execução
da verba incluída na condenação por arbitramento ou sucumbência.
II – Recurso especial não conhecido" (REsp n. 246.124/SP, Rel. Originária Ministra
NANCY ANDRIGHI, Rel. para acórdão Ministro ANTÔNIO DE PÁDUA RIBEIRO, DJ
de 7.4.2003 – grifei).

"RECURSO ESPECIAL. HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS. PLURALIDADE DE


VENCEDORES E ADVOGADOS. EXCESSO DE EXECUÇÃO. IMPUGNAÇÃO.
VIA ADEQUADA. PREQUESTIONAMENTO IMPLÍCITO. CARACTERIZADO.
PROPORCIONALIDADE. ART. 23 DO CPC. RATEIO. LEGITIMIDADE DO
PATRONO. PRECLUSÃO. INTERPRETAÇÃO DO TÍTULO JUDICIAL.
[...]
4. A regra da proporcionalidade – art. 23 do CPC – também se aplica nos casos
em que há vencedores plúrimos.
5. Os honorários fixados com base no art. 20, § 4º, do CPC em favor dos
advogados vencedores deverão ser por eles rateados proporcionalmente.
6. Havendo pluralidade de advogados representado a mesma parte e constando do
mandato autorização para que possam agir em conjunto ou separadamente,
qualquer um deles tem legitimidade para pleitear o arbitramento dos honorários ou
ajuizar a ação de execução da verba incluída na condenação.
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[...]
9. Recurso especial provido" (REsp n. 1.370.152/RJ, Rel. Ministro RICARDO
VILLAS BÔAS CUEVA, DJe de 13.11.2015 – grifei).

Eis a fundamentação constante do voto proferido pelo em. Ministro


ANTÔNIO DE PÁDUA RIBEIRO quanto ao tema:
"Do pequeno segmento destacado, vê-se que os constituintes estabeleceram
procuração para que os mandatários agissem em conjunto ou separadamente. A
respeito da qualidade da procuração, confira-se o que leciona Orlando Gomes:

'Considerada a pessoa do procurador, pode a procuração ser singular ou


plural, conforme a autorização seja dada a um só ou a vários
procuradores. A procuração plural subdivide-se em procuração conjunta,
solidária, fracionária e substitutiva. Se os procuradores não podem agir
separadamente é conjunta. Se cada qual pode agir isoladamente,
independente da ordem de nomeação, a procuração é solidária ou in
solidum; se a esfera de ação de cada procurador está delimitada para
cada qual agir exclusivamente em seu setor é fracionária; se finalmente
um procurador somente pode agir na falta de outro, pela ordem de
nomeação, a procuração é substitutiva' (Contratos, Editora Forense, 17.ª
edição, 1996, p. 354).

No presente caso, verifica-se que a esfera de ação de cada procurador não estava
delimitada. A Douglas Fernandes não cabia agir dentro de certos limites enquanto
Douglas Fernandes Júnior agisse em outro setor. Portanto, levando em
consideração a classificação de Orlando Gomes, a procuração de que se cuida é
plural, mas não é fracionária.
Além disso, não se estabeleceu ordem de nomeação para que um dos
procuradores agisse somente na falta do outro. Assim sendo, também é possível
descartar o caráter substitutivo da procuração.
Mas, conforme os termos em que vazado o instrumento, os procuradores poderiam
agir tanto em conjunto quanto separadamente. Ou seja, a procuração examinada
é, ainda segundo a classificação acima transcrita, solidária. Tanto Douglas
Fernandes quanto Douglas Fernandes Júnior poderiam exercer os poderes que a
ambos foram conferidos indistintamente. Qualificados solidários (autorizados a agir
em conjunto, mas também separadamente), qualquer deles tem a liberdade de
praticar todos os atos sem a interferência do outro.
Veja-se o ensinamento de Caio Mário da Silva Pereira:

'Quando forem constituídos dois ou mais mandatários no mesmo


instrumento, consideram-se sucessivos (para funcionar um na falta do
outro); salvo se nomeados para atuar conjuntamente, sendo neste caso
necessário o comparecimento de todos; se forem solidários (poderes in
solidum), cada um pode praticar qualquer ato processual, sem
observância da ordem de nomeação' (Instituições de Direito Civil, v. III,
Editora Forense, 10.º edição, p. 267).

(...) Da procuração constava expressamente autorização para que os procuradores


agissem separadamente; a cautelar foi ajuizada por Douglas Fernandes Júnior, não
pelo pai, sendo que determinadas peças foram firmadas por ambos (confiram-se,
por exemplo, as fls. 95/96 e fls. 164/167 do primeiro apenso).
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[...]
A obrigação de arcar com os honorários não surgiu com a decisão da cautelar.
Nesta, nada mais se fez do que se estabelecer o quantum exato da dívida. Embora
ajuizada por apenas um dos recorridos, inaugurando nova relação processual,
referia-se a verba a que ambos faziam jus. Sendo o crédito solidário, o que é
devido a um é devido a outro. E a solidariedade, é bem verdade, não se presume;
decorre de lei ou de vontade das partes. Outra não foi a vontade dos recorridos,
que juntos aceitaram o mandato conferido pelos recorrentes.
O fato é que, para o presente processo, não importa os motivos pelos quais um
atuou na cautelar e ambos no processo de execução. As razões para assim terem
feito, bem como a responsabilidade existente entre eles pela repartição do fruto de
seu trabalho é algo que somente a eles interessa; é coisa atinente à relação
interna entre os mandatários, não advindo daí conseqüências aos mandantes.
Bem por isso, entendeu o Tribunal de origem que 'a questão da eventual divisão
dos honorários entre os Douglas é intestina, sendo, portanto, irrelevante para os
embargantes' (fl. 205).
Em conclusão, entendo correta a tese jurídica esposada no acórdão recorrido, qual
seja, a da caracterização do litisconsórcio facultativo entre os recorridos.
Caracterizada também está a obrigação solidária, podendo cada um dos credores
recorridos exigir o cumprimento da prestação, por inteiro (Código Civil, art. 898).
Conferida a procuração para dois advogados atuarem até mesmo separadamente,
não há porque negar a legitimidade de um deles para a ação executiva em que
ambos buscam haver seu crédito."

Sob o aspecto meramente processual, vinculado ao direito de proceder à


execução, inexiste dúvida de que, recebendo um grupo de advogados, da mesma parte,
procuração com poderes para atuarem separadamente, qualquer um deles poderá
postular na fase de conhecimento ou na respectiva execução de sentença. Evidentemente
que eventuais acordos estabelecidos entre os mesmos advogados a propósito do rateio
da importância executada a título de verba honorária sucumbencial é questão alheia e
irrelevante para os devedores.
Por outro lado, conforme adequadamente observado pelo em. Ministro
RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA no REsp n. 1.370.152/SP, ao se referir à orientação
adotada no REsp n 246.124/SP, "o valor atribuído na condenação não é individualizado e,
sim, pertencente aos advogados dos vencedores, que deverão rateá-lo entre si".
Especificamente quanto aos arts. 20 do CPC/1973 e 23 da Lei n.
8.906/1994, tais dispositivos não tratam do tema da solidariedade entre os advogados da
mesma parte.
A esse respeito, portanto, o recurso deve ser desprovido.

III – DA AFRONTA AO ART. 1.064 DO CC/1916 E DO TERMO INICIAL DOS


JUROS MORATÓRIOS
O recurso especial, nesse ponto, não é sequer passível de conhecimento.
Trata-se de execução de título judicial, devendo-se respeitar os valores e os respectivos

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encargos contidos na correspondente sentença. Em tal situação, conforme mencionado
anteriormente, o Tribunal de origem firmou seu entendimento sobretudo na
impossibilidade de modificar a coisa julgada, assim:
"Com relação ao termo inicial de incidência dos juros moratórios, matéria objeto
das razões da apelante, deve ficar consignado que a juíza de primeiro grau ao
decidir nos autos dos embargos de execução referiu-se aos respectivos
pagamentos das custas processuais e honorários advocatícios fixados em 10%
(dez por cento) nos autos da ação de falência, cuja sentença foi proferida em
30/09/2003. Tendo a execução objeto dos embargos abrangido a verba honorária já
mencionada e de 10% (dez por cento), evidente que sobre ela serão acrescidos
juros legais a partir dos respectivos pagamentos.
De outro modo não poderia ocorrer, por ter a sentença prolatada nos autos da ação
de falência já transitado em julgado. Então, improcedem os argumentos carreados
para os autos pela apelante, pois em verdade, deseja discutir coisa julgada
material" (e-STJ fls. 187/188 – grifei).

Sucede que a recorrente, em seu recurso especial, não impugnou o


fundamento relacionado à impossibilidade de discutir matéria atingida pela coisa julgada.
Nem o art. 1.064 do CC/1916 disciplina tal questão processual, apenas impondo que,
"ainda que se não alegue prejuízo, é obrigado o devedor aos juros da mora, que se
contarão assim às dívidas em dinheiro, como às prestações de outra natureza, desde que
lhes esteja fixado o valor pecuniário por sentença judicial, arbitramento, ou acordo entre
as partes". Com isso, incide, por analogia, a vedação contida na Súmula n. 283 do STF,
que estabelece:
"É inadmissível o recurso extraordinário, quando a decisão recorrida assenta em
mais de um fundamento suficiente e o recurso não abrange todos eles."

Ante o exposto, CONHEÇO EM PARTE do recurso especial e NEGO-LHE


provimento.
É como voto.

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