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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO (20×À0BÊ:)


Numeração Única: 185414820074013500
APELAÇÃO/REEXAME NECESSÁRIO 2007.35.00.018601-0/GO
Processo na Origem: 200735000186010

RELATÓRIO

Trata-se de remessa oficial e recursos de apelação interpostos pelo autor e pela


União em face de sentença (fls. 1832-1859) que julgou parcialmente procedente os pedidos para
declarar a nulidade do PAD nº 10167.001370/99-83 desde o seu início (edição da portaria que
constituiu a comissão de inquérito), determinando a reintegração do autor ao cargo de Auditor
Fiscal da Receita Federal, com ressarcimento de todas as vantagens devidas desde o
afastamento indevido, com a atualização das parcelas por correção monetária, desde a data em
que cada parcela se tornou devida (Súmula 19 do TRF 1ª Região), com a utilização do Manual de
Cálculos da Justiça Federal, e juros legais de mora no percentual de 0,5% ao mês, na forma do
art. 1º-F da Lei 9.494/97.
A União foi condenada a restituir as custas ao Autor e ao pagamento de honorários
advocatícios arbitrados em R$ 15.000,00, corrigidos na forma do Manual de Cálculos da Justiça
Federal a partir da sentença.
Houve remessa.
O Autor, ora apelante (fls. 1862-1900), alega: i. que o Juízo a quo, com subsídio
nos artigos 248, 249, e parágrafo único do art. 250, todos do CPC, anulou o PAD desde a Portaria
instauradora considerando desnecessário apreciar os demais vícios apontados pelo apelante,
bem como deixou de ponderar relativamente a anulação do PAD em razão de Acórdão que
absolveu o autor em processo de improbidade administrativa, pelo que requer a reforma parcial da
sentença para que sejam apreciadas as questões que indica; ii. que o Juiz a quo não apreciou a
anulação do PAD pela repercussão do acórdão absolutório negando os fatos. A este respeito,
afirma que este Tribunal, quando do julgamento das apelações cíveis na ação de improbidade
administrativa propostas pelo MPF/AGU contra o apelante, confirmou a sentença em seu favor,
porém, com outro fundamento (negativa dos fatos), vale dizer, negou a prestação de assessoria
contábil e fiscal por parte do apelante, o que, nos termos do art. 386, incisos I e V, c/c o art. 65,
ambos do CPP, repercute na esfera administrativa; iii. que o Juiz a quo não se pronunciou sobre
a pressão sofrida pelos depoentes quando da confecção das declarações inquisitórias na fase de
auditoria/sindicância realizada sem a presença do apelante e sem lhe oportunizar a ampla defesa
a que alude o art. 143 da Lei 8.112/90. Neste ponto, alega que “no acórdão absolutório foi
reconhecida a imprestabilidade das declarações inquisitórias em que foi embasado única e
exclusivamente pelo impedido Chefe da Equipe de Auditoria e Presidente da CI do PAD o Termo
de Indiciação, o Relatório Final do PAD e por proposta deste o Parecer de demissão por
disposição do art. 168 da Lei 8.112/90” (fl. 1872); iv. que nos termos do item 8 do Parecer/PAD
(fls. 817), foram ouvidas 15 pessoas, entre testemunhas, declarantes e o acusado mas o
parecerista não relata que todas estas oitivas negaram de forma inconteste a prestação de
assessoria por parte do autor/apelante; v. que o Juiz a quo não se manifestou sobre a preterição
do direito de defesa do apelante no termo de indiciação e no relatório final do PAD. Neste ponto
afirma que “o Parecer de demissão do PAD por força do disposto no art. 168 da Lei 8112/90
acatou a proposta de demissão do Relatório Final do PAD feita pelo Chefe de
Sindicância/auditoria e Presidente da CI do PAD embasado única e exclusivamente nas
mencionadas declarações inquisitórias confeccionadas, na ilícita auditoria/sindicância, na
ausência do apelante, confessadamente sob pressão e sem observância das garantias
processuais constitucionais”, bem como que “a demissão do acusado, ao embasar-se no
PARECER PGFN/3012/2002, cometeu os mesmos equívocos do ilustre parecerista que o
subscreveu. Não se percebeu que se estava impondo uma condenação com base na prova
colhida, apenas e tão somente, na fase preliminar da irregular sindicância do processo
administrativo disciplinar. Com efeito, o mencionado parecer, para sugerir a aplicação da pena de
demissão ao acusado, limitou-se a destacar os depoimentos prestados “por Edmar Antônio
Calaça... às fls. 20/23... Viviane Inácio Junqueira fls. 20... Antônia Lucilda Nogueira Cavalcante de
fls. 21 e... José Cirino Doutor ... de fls. 64”, todos colhidos inquisitoriamente, confessadamente sob
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pressão, na irregular sindicância do PAD, afirmando, equivocadamente, que tais depoimentos


teriam sido confirmados sem qualquer ressalva de conteúdo durante a instrução do PAD” (fls.
1884); vi. que “na fase investigativa inicial (Auditoria/Sindicância), ao investigado não foi
“assegurada a ampla defesa” a que se refere o art. 143 da Lei 8.112/90. Não foi intimado para
tomar ciência da acusação contra si instaurada nem para participar de qualquer ato processual
praticado nessa primeira fase do processo. Não se lhe oportunizou a participação no feito através
de advogado, o que naturalmente resulta em vícios insanáveis e nulificador do PAD”, bem como
que “... ao final do PAD a decisão da demissão do apelante foi amparada no Parecer embasado
única e exclusivamente nas declarações inquisitórias montadas ilegalmente na sindicância.” (fl.
1885), concluindo que “como as declarações inquisitórias foram retificadas, as mesmas não têm
nenhum valor probante nos termos da lei e da jurisprudência colacionada acima, não se prestando
portanto, para fundamentar o Parecer de demissão” (fl. 1887) sendo nula a decisão; vii. que as
acusações de “prestar assessoria sem perceber vantagem à epigrafadas empresas” feitas no
indiciamento, no relatório final e no parecer de demissão não se adéquam à improbidade
administrativa descrita no art. 132, IV, da Lei nº 8.112/90, c/c o caput do art. 9º, VIII e 11 da Lei nº
8.429/92; viii. que não concorda com a parte da sentença na qual se afirmou tratar-se “a auditoria
uma espécie de sindicância investigativa (ou preparatória) inquisitorial, a qual não se confunde
com a sindicância contraditória, prevista nos arts. 143 e 145 da Lei 8.112/90”, bem como que “a
sindicância que vise apurar a ocorrência de infrações administrativas, sem estar dirigida, desde
logo, à aplicação de sanção, prescinde de observância dos princípios do contraditório e da ampla
defesa, por se tratar de procedimento inquisitorial, prévio à acusação e anterior ao processo
administrativo disciplinar”, ficando “afastada a alegação de nulidade do procedimento, ante a
existência de previsão de contraditório nesta fase preliminar de preparo de eventual fato ilícito ou
conduta faltosa” (fl. 1889). A este respeito afirma não se tratar de mera auditoria impessoal para
apuração de infrações administrativas, mas de procedimento político visando punir o apelante,
não lhe tendo sido oportunizada ampla defesa, nos termos do art. 143 da Lei 8.112/90; ix. que
não concorda, ainda, da parte da sentença que se pronunciou sobre a renovação do PAD, nos
seguintes termos: “não implica também impedimento à renovação do PAD (art. 169 da Lei
8.112/90)”. Neste ponto, pondera não haver nenhuma viabilidade fática e legal para a SRF
renovar o PAD, nos termos do art. 169 da Lei 8.112/90.
Requer a reforma da sentença no tocante à anulação do PAD pelos demais vícios
insanáveis, pela repercussão do acórdão absolutório e a antecipação dos efeitos da tutela.
A União, também apelante, alega: i. que “não obstante ser inegável o caráter
subsidiário de aplicação da Lei nº 9.784/99 nos processos administrativos disciplinares, tanto pela
menção expressa no art. 69 daquela Lei, como pela própria prática administrativa, é inequívoco
que a Lei nº 9.784/99 regula o processo administrativo lato sensu e, assim, sendo, se utiliza de
termos que nem sempre terão o mesmo significado em todos os procedimentos e processos
administrativos”. A este respeito, sustenta que os termos ‘representação’, ‘represente’,
‘representante’ e ‘representar’ constantes dos artigos 3º, 6º, 9º, 18, 26 e 35 da Lei 9.784/99
possuem o sentido de procurador, ou seja, de mandatário, quem atua em nome de alguém ou por
ordem de outrem; ii. que é bem diferente a utilização dos termos ‘representar’ e representação’
no âmbito do regime disciplinar (Lei 8.112/90, art. 116. São deveres do servidor: (...) VI – levar ao
conhecimento da autoridade superior as irregularidades de que tiver ciência em razão do cargo;
(...) XII – representar contra ilegalidade, omissão ou abuso de poder. Parágrafo único. A
representação de que trata o inciso XII será encaminhada pela via hierárquica e apreciada pela
autoridade superior àquela contra a qual é formulada, assegurando-se ao representando ampla
defesa.) tratando-se a representação, nestas hipóteses, de denunciar irregularidades, hipótese em
que a situação dos autos não se confunde com a vedação do art. 18, II, da Lei 9.784/99, que trata
de ‘representante’ no sentido de procurador. Neste ponto, sustenta que a vedação a que se refere
o referido art. 18, II, da Lei 9.784/99 é a participação de servidor que já tenha atuado como perito,
testemunha ou procurador, pois é este o sentido da palavra ‘representante’ naquela Lei, não
havendo que se considerar que houve atuação de membro impedido da comissão processante do
PAD, bem como tenha causado prejuízo para a defesa do acusado de modo a ensejar a nulidade
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do PAD; iii. que a própria sentença afirma que “o procedimento administrativo transcorreu
regularmente em todas as suas fases: [...]” e que “exceto o impedimento acima referido, não
houve qualquer irregularidade durante o PAD, [...]”; iv. que o processo passou por diversas
instâncias administrativas que sempre se posicionaram pela regularidade do feito, bem como que
o processo foi submetido a um “PAD Revisional”, sendo que os membros desta comissão foram
distintos dos membros da “comissão de inquérito original e o PAD Revisional passou novamente
por todas as instâncias administrativas, culminando com a manutenção da penalidade de
demissão do acusado”; v. que o “Processo Administrativo Disciplinar – PAD 10167.001370/99-83,
foi instaurado com o fito de apurar possível prática de assessoria tributária e contábil levada a
cabo pelo então Auditor-Fiscal da Receita Federal – AFRF Alberico Cavalcante em favor das
empresas Construtora Borges Landeiro LTDA, Cevel Cecílio Veículos LTDA e Georserv Serviços
de Geotecnia e Construção LTDA, todas sediadas em Goiânia-GO, prática esta relatada por
intermédio da representação funcional acostada às fls. 01/06 e 51, vol. I do PAD” (fl. 1917); vi.
que “o Colegiado Processante responsável por conduzir os trabalhos apuratórios do aludido PAD,
após finalizar a instrução processual, com a realização de 15 (quinze) oitivas, entre testemunhas e
declarantes, coleta de diversos elementos probantes e realização do interrogatório do acusado,
decidiu pela indiciação do autor (Termo de Indiciação acostado às fls. 671/680 do PAD)” em razão
dos fatos que elenca; vii. que o PAD foi julgado em 25.9.2002 pelo Ministro de Estado da
Fazenda, que acatou as proposições da Comissão de Inquérito e, ato contínuo, aplicou a
penalidade de demissão ao servidor Alberico Cavalcante; viii. que, irresignado com a decisão,
Alberico Cavalcante apresentou pedido de reconsideração, pleito este indeferido pela autoridade
julgadora; ix. que “não obstante o julgamento que culminou com a demissão do ex-servidor em
questão tenha se baseado não somente em depoimentos prestados perante o Trio Processante,
mas no conjunto de provas trazidos à colação, as oitivas de testemunhas tiveram papel relevante
na formação da convicção da Autoridade Julgadora”; x. que o ex-servidor apresentou pedido de
revisão, o qual foi deferido, tendo sido designada Comissão Revisora, composta por membros
distintos da comissão de inquérito original, com vista a averiguar se os fatos novos colacionados
pelo ex-servidor Alberico Cavalcante eram suscetíveis de justificar a sua inocência ou abrandar a
penalidade imposta; xi. que o Trio Revisor, regulamente instalado, deu início aos trabalhos
apuratórios e o ex-servidor devidamente notificado da instauração do procedimento administrativo
disciplinar de revisão; xii. que a comissão revisora acatou todos os pedidos do requerente; xiii.
que “no relatório final (fls. 289/325 do PAD Revisional), o Colegiado Revisor analisou
criteriosamente as alegações finais dispostas na peça defensória (fls. 278/283 do PAD Revisional)
e refutou com clareza e assertividade as argüições ali contidas, tendo concluído que: “Diante de
tudo o que foi exposto, especialmente no que concerne às dúvidas existentes dos membros da
Comissão Revisora, quanto à veracidade das novas versões sobre os fatos expostos nos
depoimentos tomados no seio deste processo revisional, entendeu-se por aplicar a Formulação nº
70 do DASP, no sentido de que ‘a dúvida favorece a manutenção do ato punitivo’. Propõe-se,
pois, o arquivamento do presente feito.’”; xiv. que o Ministro de Estado da Fazenda aprovou o
Parecer da PGFN adotando seus fundamentos para manter a penalidade de demissão.
Requer a reforma da sentença para o fim de julgar improcedentes os pedidos do
autor, e, acaso mantida a sentença recorrida, a readequação dos valores arbitrados a título de
honorários advocatícios.
O autor apresentou suas contrarrazões às fls. 1945-1991 e a União às fls. 1995-
2013.
É o relatório.

VOTO

Não merece reforma a sentença que assim dispôs, in verbis:

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ALBERICO COELHO CAVALCANTE, pessoa física qualificada e


representada nos autos, ajuizou ação de rito ordinário em face da UNIÃO,
para anular o processo administrativo que culminou na sua demissão, a fim
de ser reintegrado no cargo de Auditor Fiscal da Receita Federal, com
ressarcimento de todas as vantagens pecuniárias.
Em sua petição inicial (fls. 02-24) e documentos anexos (fls. 25-932), o
AUTOR alegou:
1) foi demitido em setembro/2002, sob acusação de ter prestado indevida
assessoria contábil e tributária a diversas empresas;
2) sua condenação deu-se com base em prova colhida apenas na fase
preliminar do processo administrativo disciplinar (auditoria e inquérito
policial), tendo as testemunhas sido ouvidas sob pressão, tanto que
posteriormente retificaram seus depoimentos na fase instrutória;
3) que a sindicância foi chefiada por fiscal da SRF impedido de presidir o
PAD por expressa disposição legal (art. 18, II da Lei 9.784/99), e que não
lhe foi assegurado o direito ao devido processo legal, contraditório e ampla
defesa;
4) a ação de improbidade administrativa contra ele ajuizada, e que teve
trâmite na 6ª Vara desta Seção Judiciária, foi julgada improcedente por
falta de prova da alegada conduta ímproba;
5) a inobservância do devido processo legal no PAD tanto no Parecer
embasador da decisão demissionária, quanto na Portaria inaugural, que
não indicou a acusação (motivação) e as provas embasadoras, e no ato de
citação, que incorreu no mesmo vício da Portaria.
O AUTOR pediu a anulação do procedimento administrativo
disciplinar (PAD 10167.001370/99-83), para o fim de ser reintegrado no
cargo de Auditor Fiscal, com o pagametno das vantagens pecuniárias
correspondentes, assim como, em sede de decisão liminar, a
antecipação provisória do provimento jurisdicional solicitado.
A análise do pedido de antecipação dos efeitos da tutela foi postergada
para após o estabelecimento do contraditório mínimo (fl. 937).
A UNIÃO se manifestou pela impossibilidade de antecipação da tutela, sob
a alegação de ausência de risco iminente ao direito do AUTOR, risco de
irreversibilidade para a Administração e ausência de prova inequívoca (fls.
941-947).
Em sua contestação (fls. 959-988) e documentos (fls. 991-1609), a UNIÃO
alegou:
1) preliminarmente, a impossibilidade jurídica do pedido;
2) defendeu a observância da legislação pertinente e afirmou que o
AUTOR e seu advogado acompanharam todo o processo, estando
presente em todas as audiências destinadas à oitiva das testemunhas;
3) que a indiciação do AUTOR ocorreu após a oitiva de quinze
testemunhas e declarantes, coleta de diversas provas, dentre elas
documentos objeto de busca e apreensão pela Polícia Federal na
residência do AUTOR, e interrogatório do acusado;
4) que foi oportunizado ao AUTOR ingressar com Pedido Revisional,
motivado pela retificação dos depoimentos testemunhais junto à Justiça
Federal na ação de improbidade administrativa 2002.35.00.004888-0,
tendo o ex-servidor sido devidamente notificado da instauração do
procedimento administrativo disciplinar de revisão, na qual lhe foi

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assegurado amplo acesso aos atos do processo de revisão, exercício do


contraditório e ampla defesa;
5) a manutenção do ato punitivo na Ação Revisional se deu em razão da
existência de dúvidas, pois, em tal procedimento, a prova cabe ao acusado
e a dúvida favorece a manutenção do ato punitivo pela Administração;
6) o controle jurisdicional dos processos administrativos disciplinares deve
se limitar a aferir se ao servidor foi assegurado o direito ao contraditório e à
ampla defesa;
7) o servidor tido por impedido pelo AUTOR não atuou na auditoria na
condição de perito, testemunha ou representante, mas apenas participou
como membro da equipe de auditoria que precedeu ao PAD;
8) o resultado da ação de improbidade administrativa não aproveita ao
AUTOR, pois além de haver incomunicabilidade entre as instâncias, o ex-
servidor foi absolvido por ausência de prova nos autos daquela ação;
9) ausência dos vícios apontados pelo AUTOR na Portaria instauradora e
no termo de citação, por constar neles, expressamente, o número do
processo administrativo que contém a descrição detalhada dos fatos que
ensejaram a instauração do processo disciplinar, do qual o ex-servidor, por
ocasião da notificação da instauração do processo, recebeu cópia integral,
para que pudesse acompanhá-lo plenamente.
A UNIÃO pediu o acolhimento da preliminar ou, no mérito, o
julgamento de improcedência dos pedidos.
Foi indeferido o pedido de antecipação da tutela (fls. 1611-1612).
Impugnação à contestação (fls. 1616-1659), na qual o AUTOR pediu a
reconsideração do indeferimento do pedido de antecipação de tutela.
O AUTOR juntou aos autos cópia do inteiro teor do acórdão da AC
2002.35.00.004888-0/GO, e reiterou o pedido de antecipação de tutela (fls.
1672-1678).
No juízo a quo, foi mantida a decisão que indeferiu o pedido de
antecipação de tutela (fl. 1682).
Manifestação do AUTOR às fls. 1686-1699, em que reitera suas anteriores
alegações, e pede o julgamento antecipado da lide.
O valor da causa foi alterado, via impugnação, para o valor de R$
84.034,84 (cópia às fls. 1701-1703).
Em atendimento à decisão de fl. 1709, a UNIÃO informou que não há ação
penal ajuizada contra o AUTOR, manifestou-se sobre as petições de fls.
1662-1671 e acórdão de fls. 1672-1678, bem como esclareceu que não
houve trânsito em julgado da AC 2002.35.00.004888-0 da Ação Civil
Pública de Improbidade Administrativa (fls. 1711-1736).
Impugnação à manifestação da União (fls. 1744-1753 e 1754-1755).
O MPF alegou ausência de interesse no feito (fls. 1738-1740).
Indeferidos os pedidos de depoimento pessoal do AUTOR e de oitiva de
testemunhas, formulados pela UNIÃO, em virtude da preclusão da fase
instrutória e ausência de motivos para sua reabertura. Na mesma
oportunidade, mantido o indeferimento de antecipação de tutela (fl. 1774).
O AUTOR juntou cópia do acórdão dos embargos de declarçaão opostos
contra o acórdão absolutório da ação de improbidade administrativa, bem
como cópia do REsp e do RE interpostos pelo MPF e as respectivas
contrarrazões (fls. 1782-1788, 1789-1797, 1798-1806, 1807-1817). Com

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vista sobre a documentação, a UNIÃO reiterou o pedido de julgamento de


improcedência dos pedidos (fls. 1820-1821).
O AUTOR juntou cópia da decisão monocrática do Des. Federal
Presidente do egrégio TRF da 1ª Região que negou seguimento aos
Recursos Extraordinário e Recurso Especial interpostos pelo MPF nos
autos da AC 2002.35.00.004888-0/GO (fls. 1823-1831).
É O RELATÓRIO.
DECIDO.

Estão presentes nos autos os pressupostos processuais e as condições da


ação.
A UNIÃO alega a carência de ação pela impossibilidade jurídica do pedido.
Aduz que “ao Judiciário só é permitido anular o ato administrativo
quando eivado de ilegalidade, o que não ocorre no caso concreto, o
pedido inicial é juridicamente impossível” (fl. 960 – negrito no original).
Registre-se que não há qualquer impedimento legal de se discutir em juízo
se há ou não direito à anulação pleiteada, tendo o AUTOR, inclusive,
apontado diversos vícios passíveis de anular o PAD em questão.
O próprio argumento utilizado pela parte ré confirma que o pedido é
juridicamente possível, razão pela qual não merece prosperar a preliminar
em apreço.
Aplica-se, ao presente caso, o princípio constitucional da indeclinabilidade
da função jurisdicional útil (art. 5º, XXXV da CF/88) e da regra legal que
possibilita a formulação de pedido cominatório (art. 287 do CPC).
Rejeito a preliminar suscitada.

DA VALIDADE DOS ATOS DA FASE PRELIMINAR DE AUDITORIA

O AUTOR questiona a validade da fase inicial dos trabalhos de apuração


da infração administrativa, alegando cerceamento de defesa, uma vez que
não lhe teria sido oportunizado o exercício do contraditório e da ampla
defesa.
Verifica-se que o procedimento que antecedeu a abertura do PAD trata-se
de auditoria, conforme explanado na INFORMAÇÃO
COGER/CODIS/DIEDI Nº 685/2007, cujo trecho merece destaque (fl.
1.013):

“(...)
Afigura-se de todo descabida a argüição do AUTOR, uma vez que
não houve procedimento prévio de sindicância para colheita de
provas contra o mesmo. O que ocorreu foi uma auditoria no sistema
de fiscalização da DRF/Goiânia, instaurada pelo então Corregedor-
Geral por meio da Portaria nº 25, de 25 de junho de 1999 (fls. 07, vol.
I do PAD – Anexo I), objetivando verificar a regularidade dos
procedimentos adotados na aplicação da legislação vigente,
concedendo aos membros da equipe de auditoria a autorização para
fazer diligências e verificações in loco acerca de operações ou
assuntos relacionados com a auditoria em questão.

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(...) vale então discorrer que o procedimento prévio de auditoria deve


ser entendido como uma atividade profilática, preventiva e até
educadora, de abrangência ampla e inespecífica, sem rito
determinado, caracterizada pela agilidade, a ser instaurada
rotineiramente a ponto de estabelecer na administração a cultura de
que os atos de qualquer agente público podem ser verificados, sem
que necessariamente se cogite de caráter disciplinar. Não há em
auditoria a figura do acusador e, por conseguinte, não se trata de rito
contraditório. Daí, não se confunde com a instância disciplinar, que é
pontualmente instaurada para obter efeito correcional sobre um fato
específico, a ser detidamente analisado, demandando, portanto,
apuração contraditória. Não obstante, as duas atividades podem se
interligar, visto que é comum de uma auditoria decorrer o processo
administrativo disciplinar, conforme aqui ocorreu.”

A auditoria é uma espécie de sindicância investigativa (ou preparatória)


inquisitorial, a qual não se confunde com a sindicância contraditória,
prevista nos arts. 143 e 145 da Lei 8.112/90.
A sindicância que vise apurar a ocorrência de infrações administrativas,
sem estar dirigida, desde logo, à aplicação de sanção, prescinde da
observância dos princípios do contraditório e da ampla defesa, por se tratar
de procedimento inquisitorial, prévio à acusação e anterior ao processo
administrativo disciplinar.
Por tal razão, fica afastada a alegação de nulidade do procedimento, ante
a inexistência de previsão de contraditório nesta fase preliminar de
apuração de eventual fato ilícito ou conduta faltosa.

DA NULIDADE POR IMPEDIMENTO LEGAL DE MEMBRO DA


COMISSÃO DE INQUÉRITO

O AUTOR suscita o impedimento do Presidente da Comissão de Inquérito,


com esteio no art. 18, II, da Lei 9.784/99, de seguinte redação:
“Art. 18. É impedido de atuar em processo administrativo o servidor
ou autoridade que:
(...)
II – tenha participado ou venha a participar como perito, testemunha
ou representante, ou se tais situações ocorrem quanto ao cônjuge,
companheiro ou parente e afins até o terceiro grau; (original sem
negrito)

No caso, um dos membros participantes da auditoria (Rudinei Junkes) foi


posteriormente nomeado para presidir a Comissão de Inquérito do
processo administrativo instaurado, conforme se verifica da Portaria nº 25,
de 15/06/99 (de instalação da auditoria – fl. 1045) e Portaria nº 62, de
27/09/99 (de constituição da comissão de inquérito – fl. 1149).
Na condição de membro da Auditoria (Chefe de Equipe), Rudinei Junkes
chegou a apresentar representação à Corregedoria-Geral nos seguintes
termos: (fl. 1039):
MEMO/AUDIT/Nº 19 Goiânia (GO), 04.08.99.
Para: Dr. José Oleskovicz
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Corregedor Geral”

Assunto: Representação

A teor do art. 116, inciso VI, XII e parágrafo único da Lei 8.112/90,
encaminho, em anexo, OFÍCIO/AUDIT/Nº 01, de 04.08.99, e seus
anexos, que relata o envolvimento do Auditor-Fiscal ALBERICO
COELHO CAVALCANTE, lotado na DRF/GO, em possível ilícito
funcional previsto no inciso IV do artigo 132 da Lei 8.112/90, c/c
o artigo 11, da Lei 8.429/92, para as providências previstas no
artigo 143 do Regime Jurídico Único.
Do referido Ofício resultou a decretação de mandado de busca e
apreensão na residência do ora representado, ocasião em que
apreendeu documentos em nome das empresas citadas como sendo
beneficiárias da assessoria tributária prestada por parte daquele
servidor, conforme Auto de Apreensões em anexo, vindo a
corroborar os depoimentos prestados a esta Equipe de Auditoria.
Ademais, caberá à comissão de Inquérito a ser instaurada perquirir
sobre as razões de 42 (quarenta e dois) processos administrativos
fiscais estarem na residência do sobredito servidor, podendo
caracterizar, em tese, infração do inciso II, art. 117, da Lei 8.112/90.
Além disso, em levantamento preliminar, alguns deles não
encontram-se amparados por FM – Ficha Multifuncional, conforme
levantamento do CONFIE, em anexo, o que também deverá merecer
a devida verificação pelo trio processante.
Atenciosamente,

RUDINEI JUNKES
Chefe de Equipe”. (Original sem negrito).

O OFÍCIO/AUDIT/Nº 01 de 04/08/99 referido na transcrição acima,


endereçado ao Procurador-Chefe da Procuradoria da República em
Goiânia, foi assinado pelos três membros da Auditoria (inclusive Rudinei
Junkes) onde constou-se as seguintes afirmações:
“(...) No curso dos trabalhos de auditoria no sistema de Fiscalização
da Delegacia da Receita Federal em Goiânia, a cargo da
Corregedoria-Geral da Secretaria da Receita Federal, constatou-se
a prática de assessoria contábil e tributária prestada pelo
Auditor-Fiscal ALBERICO COELHO CAVALCANTE, matrícula
3.000.494 que, em tese, caracteriza improbidade administrativa
prevista no art. 132, inciso IV, da Lei 8.112/90 e no artigo 11 da
Lei 8.429/92. (...)
(...) Contudo, no curso da diligência, constatou-se que o servidor da
ativa, Auditor-Fiscal ALBERICO COELHO CAVALCANTE, realizava
consultoria contábil e trituraria, em favor da empresa, durante
horário comercial, tendo, inclusive, entrevistado o contador da
empresa por ocasião de sua contratação. (...)
(...) Ainda, segundo declarações do proprietário da construtora
DEJAIR JOSÉ BORGES, que os contatos com ALBERICO iniciaram-
se após a lavratura de um auto de Infração feita pelo referido Auditor

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na própria empresa, lavrado em 1993, nos valores de 31.009,76


UFIR e 10.694,51 UFIR, consoante cópia dos autos de infração em
anexo, fato que destrói, no mínimo, qualquer padrão ético
esperado de um servidor público responsável pela proteção dos
interesses da Fazenda, o que demandará a competente
apuração no âmbito administrativo. (...)” (Original sem negrito)

A diligência de busca e apreensão na residência do AUTOR deu-se por


ordem judicial, que deferiu pedido do Delegado da Polícia Federal, assim
como foi executada por agentes policiais (fls. 1090, 1091-1094 e 1081-
1084), não havendo nos referidos documentos registro de participação dos
membros da comissão de auditoria na execução desta medida. Entretanto,
em sua defesa o AUTOR chegou a imputar ao Chefe da Equipe de
Auditoria (Rudinei Junkes) o comparecimento pessoal ao local da
diligência de busca e apreensão, a separação de coisas para serem
apreendidas pela Polícia Federal em situação excedente ao mandado de
busca e apreensão (fls. 1308-1311), assim como a realização de anterior
pedido de busca e apreensão (fls. 1457).
O servidor Rudinei Junkes atuou em todas as fases do processo
administrativo (instalação e início dos trabalhos à fl. 90, assinatura de
termo de citação à fl. 1150, inquirição de testemunhas às fls. 1156-116,
1169-1179, indiciação do AUTOR às fls. 477-486, termo de citação para
defesa à fl. 489, relatório final às fls. 562-601).
O AUTOR não chegou a alegar, na via administrativa, a ocorrência do
impedimento do servidor acima referido para atuar no processo
administrativo disciplinar, pois ali alegou outras hipóteses de suspeição
dos membros da comissão processante (conforme conteúdo de sua defesa
de fls. 491-522 e 530-531, de seu pedido de reconsideração de fls. 1303-
1404 e de seu pedido de revisão de fls. 1449-1484).
Assiste razão ao AUTOR quanto ao alegado impedimento.
Conforme antes tratado, a auditoria é procedimento administrativo
investigativo (ou preparatório) discricionário (sem rito previsto em norma, à
margem do devido processo legal) e de natureza inquisitorial (sem a figura
de acusado a quem se conceder ampla defesa e contraditório).
A sindicância inquisitorial pode ser instaurada por meio de ato de restrita
publicidade, designando apenas um sindicante ou uma comissão com
número de integrantes a critério da autoridade competente.
Além de servir, em regra, como meio preparatório para o processo
disciplinar, pode ser aplicada em qualquer outra circunstância que
comprometa a regularidade do serviço público. Assim, o seu relatório tanto
pode recomendar instauração de processo disciplinar, como também pode
esclarecer fatos, orientar a autoridade sobre falhas e lacunas normativas
ou operacionais, recomendar medidas de gestão de pessoal ou de
gerência administrativa, alteração do ordenamento e criação ou
aperfeiçoamento de rotinas e de sistemas internos de controle.
Na hipótese de seus trabalhos culminarem no entendimento, ainda que
preliminar, de suposto cometimento de irregularidade administrativa, o
sindicante ou a comissão de sindicância, obrigatoriamente, representará à
autoridade instauradora, propondo instauração de procedimento
disciplinar, conforme determina o art. 143 da Lei nº 8.112, de 11/12/90.
Dessa maneira, esse sindicante ou esses integrantes da comissão,
consubstanciando-se em representantes, e tendo exarado em seu relatório
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convicção formada unilateralmente, sem participação contraditória do


servidor, estariam impedidos de atuar no consecutivo rito contraditório.
Acrescente-se que o mesmo se aplica a membros de equipe de auditoria.
A vedação do art. 18, II, da Lei 9.784/99 aplica-se, subsidiariamente, a
todos os processos administrativos disciplinares dos três Poderes da
União, conforme transcrição adiante:
“Lei 9.784/99.
Art. 1º Esta Lei estabelece normas básicas sobre o processo
administrativo no âmbito da Administração federal direta e indireta,
visando, em especial, à proteção dos direitos dos administrados e ao
melhor cumprimento dos fins da Administração.
§ 1º Os preceitos desta Lei também se aplicam aos órgãos dos
Poderes Legislativo e Judiciário da União, quando no desempenho
de função administrativa”.

“Art. 69. Os processos administrativos específicos continuarão a


reger-se por lei própria, aplicando-se-lhes apenas subsidiariamente
os preceitos desta Lei”

O entendimento jurisprudencial francamente majoritário determina a


aplicação subsidiária da Lei 9.784/99 ainda que o processo administrativo
disciplinar submeta-se à regulamentação por legislação específica
extravagante à Lei 8.112/90 (Regime Jurídico Único dos Servidores
Públicos Civis da União, das Autarquias e das Fundações Públicas
Federais), conforme ementa a seguir transcrita.
“EMENTA
RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. HABEAS CORPUS.
SENTENÇA CONCESSIVA DA ORDEM. PUNIÇÃO DISCIPLINAR
IMPOSTA À MILITAR. IDENTIDADE ENTRE OFENDIDO E
AUTORIDADE COMPETENTE PARA PUNIR. LEI Nº 9.784/99.
AUSÊNCIA DE INCOMPATIBILIDADE COM O ESTATUTO DO
MILITAR.
1 – Não se verifica a existência de disposição, expressa ou
tacitamente, que incompatibilize a aplicação do disposto no
artigo 18, inciso I, da Lei nº 9.784/99 com as regras contidas no
Estatuto do Militar (Lei nº 6.880/80).
2 – Não pode a autoridade contra quem foi promovida a
insubordinação participar do processo disciplinar que culminou com a
punição do militar.
3 – Recurso não provido”. (Recurso Criminal em Sentido Estrito
2002.71.00.046153-3/RS, Relator Dês. Federal Luiz Fernando Wowk
Penteado, 8ª Turma do TRF da 4ª Região, unânime, julgado em
22/10/2003). (Original sem negrito).

A questão em debate não se apresenta pacífica perante a jurisprudência


dos Tribunais Regionais Federais, conforme ementas adiante transcritas
(uma favorável e a outra contrária à pretensão do AUTOR):
“Ementa MANDADO DE SEGURANÇA. SERVIDOR PÚBLICO.
PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR. CITAÇÃO.
PORTARIA. DESNECESSIDADE DE MENÇÃO EXPRESSA A
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DISPOSITIVOS DE LEI VIOLADOS. MEMBROS DA COMISSÃO


PROCESSANTE. SUSPEIÇÃO.
1. A citação do impetrante, servidor público, deve se efetivar quando
do inquérito administrativo, ou seja, na segunda fase do processo
administrativo disciplinar, momento em que imperam os princípios
constitucionais do contraditório e da ampla defesa, interpretação de
acordo com o disposto no parágrafo 1º do art. 161 da Lei nº
8.112/90. 2. A portaria inaugural é válida, uma vez que demonstra a
instauração de processo administrativo disciplinar e a composição da
comissão processante, de acordo com o art. 151, inciso I, da Lei nº
8.112/90, inexistindo qualquer óbice no sentido de a portaria ser
concisa, como no caso em testilha, porquanto não haja a
consignação de quais dispositivos legais foram violados, ela se
reporta ao relatório da Comissão de Sindicância, constante em
processo administrativo ali indicado.
3. Deve ser acolhida a asserção de que dois dos membros da
comissão processante apresentam suspeição, tendo em vista
que já integraram a Comissão de Sindicância, havendo, logo,
formado um juízo de convencimento, conduzindo-os a um
prejulgamento do caso, o que irá macular a imparcialidade que
deve estar presente no julgamento do processo administrativo
disciplinar. (REO – REMESSA EX OFFICIO
2000.04.01.065049-0/PR, Rel. Dês. Federal Valdemar Capeletti, 4ª
Turma do TRF da 4ª Região, unânime, julgamento em 17/10/2000).
(Original sem negrito).

ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. PROCESSO


DISCIPLINAR. MEMBRO DA COMISSÃO PROCESSANTE.
PARTICIPAÇÃO NA COMISSÃO DE SINDICÂNCIA ANTERIOR.
SUSPEIÇÃO OU IMPEDIMENTO NÃO CONFIGURADOS.
1. Alega o apelante que os membros da comissão do procedimento
administrativo disciplinar seriam impedidos de exercer tal atribuição,
ex vi do art. 18 da Lei 9.784, de 1999, motivo pelo qual o processo
padeceria de nulidade.
2. O fato de os servidores integrantes da comissão processante
do processo administrativo disciplinar terem atuado na
sindicância que o antecedeu não os torna suspeitos ou
impedidos, por não incidirem em nenhuma das hipóteses
legalmente previstas de suspeição ou impedimento (art. 18 e 20
da Lei nº 9.437/1999 e art. 149, parágrafo 2º, da Lei nº 8.112/1990).
3. Apelação improvida. (AC – Apelação Cível – 385715, Processo:
2002.81.00.017143-1/CE, Rel. Des. Federal Joana Carolina Lins
Pereira, 2ª Turma do TRF da 5ª Região, unânime, julgado em
09/09/2008). (Original sem negrito).

Entretanto, o egrégio STJ parece sinalizar pela nulidade do processo


administrativo, a partir da atuação de membro de comissão processante
impedido que atuara como membro da comissão de sindicância, conforme
ementa a seguir transcrita.

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ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA. PROCESSO


ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR. PENA DE DEMISSÃO.
INTEGRANTES DA COMISSÃO PROCESSANTE. PARTICIPAÇÃO
EM PROCESSOS DA ESFERA CRIMINAL E ADMINISTRATIVA.
AUSÊNCIA DE IMPARCIALIDADE PARA O JULGAMENTO DO
PROCESSO ADMINISTRATIVO. CONFIGURADA AFRONTA AO
ART.150, DA LEI 8.112/90 E AO ART. 18, INC. II, DA LEI 9.784/99.
OFENSA AO CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA CARACTERIZA
CERCEAMENTO DE DEFESA.
1. Incorre em impedimento para compor comissão processante
o servidor que tenha atuado nos autos do inquérito em que o
processado pela Administração tenha figurado na condição de
indiciado, pois tal hipótese materializa a afronta ao art.150, da lei
8.112/90 e ao art. 18, inc. II, da lei 9.784/99.
2. O contraditório e a ampla defesa compõem rígido sistema de
garantias às partes, com o escopo de se assegurar decisão justa e a
sua ofensa caracteriza cerceamento de defesa.
3. Ordem concedida para que seja anulada a demissão, e o
impetrante possa retornar às suas funções, sem prejuízo de que
nova decisão administrativa seja proferida em outro processo em que
sejam assegurados ao servidor tanto a defesa quanto o contraditório,
em toda a sua plenitude. (MS 11364/DF, Rel. Ministro PAULO
MEDINA, 3ª Seção do STJ, julgado em 08/11/2006, DJ 04/12/2006 p.
256). (Original sem negrito)

A atuação funcional dos membros da comissão processante do processo


administrativo disciplinar tem efeito concreto determinante no resultado do
julgamento administrativo, razão pela qual devem ser observadas
criteriosamente as garantias e vedações atribuídas aos mesmos para lhes
preservar a independência e imparcialidade, conforme o disposto nos arts.

“Lei 8.112/90.
Art. 150. A Comissão exercerá suas atividades com independência e
imparcialidade, assegurado o sigilo necessário à elucidação do fato
ou exigido pelo interesse da administração.
Parágrafo único. As reuniões e as audiências das comissões terão
caráter reservado.

Art. 167. No prazo de 20 (vinte) dias, contados do recebimento do


processo, a autoridade julgadora proferirá a sua decisão.
§ 4º Reconhecida pela comissão a inocência do servidor, a
autoridade instauradora do processo determinará o seu
arquivamento, salvo se flagrantemente contrária à prova dos autos.
(Incluído pela lei nº 9.5427, de 10.12.97)

Art. 168. O julgamento acatará o relatório da comissão, salvo quando


contrário às provas dos autos.
Parágrafo único. Quando o relatório da comissão contrariar as provas
dos autos, a autoridade julgadora poderá, motivadamente, agravar a

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penalidade proposta, abrandá-la ou isentar o servidor de


responsabilidade”.

O impedimento do art. 18, II, da Lei 9.784/99 é equivalente ao impedimento


de juiz para atuar em determinado processo (e na à sua mera suspeição),
razão pela qual não se encontra sujeita à preclusão (aplicação subsidiária
dos arts. 134, 137, 138, § 1º, 245, 304, 312 e 485, II do CPC) e pode ser
reconhecida na presente oportunidade.
A omissão do AUTOR em alegar o referido impedimento não implica
preclusão do seu direito de ser processado e julgado na via administrativa
por servidor desimpedido.
Existe entendimento jurisprudencial consolidado no sentido de que, “por se
tratar de questão de ordem pública, o impedimento do juiz pode ser
alegado a qualquer tempo e grau de jurisdição, insuscetível, inclusive, de
preclusão, não sendo mister que a parte interessada se utilize da via de
exceção, a fim de que a matéria possa ser conhecida, assim podendo se
manifestar, por petição simples, na respectiva ação. (...)” (MS 246500, Rel.
Des. Federal Diva Malerbi, Rel. p/ acórdão Des. Federal Suzana Camargo,
Órgão Especial do TRF da 3ª Região, julgamento em 07/04/2003).
A atuação de membro impedido na comissão processante do PAD, com
ofensa ao art. 18, II, da Lei 9.784/99, implica presunção de prejuízo
concreto ao direito de defesa e nulidade absoluta dos atos iniciais do
referido PAD, mediante a aplicação subsidiária dos arts. 248, 249 e
parágrafo único do art. 250, todos do CPC.
Assim, são nulos todos os atos processuais praticados no PAD, desde a
Portaria nº 62, de 27/09/99 (cópia de fl. 1149).
Esclareça-se, desde logo, que o reconhecimento de nulidade não implica
juízo desabonador da conduta administrativa de Rudinei Junkes, mas
apenas o reconhecimento de que, objetivamente, seu impedimento para
participar como membro do PAD implica nulidade dos atos administrativos
nele praticados. Não implica também impedimento à renovação do PAD
(art. 169 da Lei 8.112/90)

DA VALIDADE PARCIAL DA PORTARIA DE INSTAURAÇÃO E DO


TERMO DE CITAÇÃO DO PAD

O AUTOR alega que a ausência de acusação (motivação) e de indicação


das provas embasadoras ensejaria a nulidade da Portaria de Instauração
do PAD, bem como do respectivo Termo de Citação.
Conforme se verifica do documento de fl. 1149 (Portaria nº 62, de
27/09/99), restou consignado que à comissão de inquérito designada
caberia “apurar os fatos e irregularidades constantes do processo nº
10167.001370/99-83, e demais fatos conexos que emergirem no decorrer
das apurações”.
No Termo de Citação correlato (fl. 1150), além de contidas as ressalvas
asseguradas pelo art. 156 da Lei 8.112/90 e as informações necessárias à
obtenção de vista do processo, foi enviado ao ex-servidor cópia integral
das peças que originaram o referido processo disciplinar.
Consoante art. 151, I, da Lei nº 8.112/90, a primeira fase do processo, a de
instauração, se dá simplesmente com a publicação da portaria. A

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instauração, portanto, a rigor, não compreende uma fase processual, mas


sim se condensa em um único ato formal, não comportando contraditório,
que se estabelecerá somente na segunda fase, do inquérito.
A eventual falta de publicação da portaria, sequer internamente, não
necessariamente inquina de nulidade o processo se restar comprovado
nos autos que a parte interessada, de qualquer outra forma válida (pela
notificação para acompanhar como acusado, por exemplo) teve
conhecimento do feito, de forma a não se configurar prejuízo à defesa.
Instaurado o processo administrativo, mediante a publicação de portaria
elucidativa quanto aos fatos sobre os quais o servidor possa vir a ser
indiciado, inclusive com o fornecimento de cópia de todo o acervo
probatório já levantado acerca da questão, como no caso, descabida se
torna a tese de irregularidade no ato de instauração, sob o argumento de
que a aludida portaria não especificou o inciso do dispositivo legal.
Conforme dispõe a uníssona jurisprudência do egrégio STJ, o indiciado
defende-se dos fatos que lhe são imputados e não da capitulação legal na
qual restou incursionado. Precedentes: MS’s 7.351 e 7.069.
Na verdade, tem-se entendido que convém que a portaria apenas faça
referência ao número do processo no qual estejam descritas as
irregularidade e aos fatos conexos que possam emergir da apuração.
O entendimento dominante recomenda não apontar na portaria o nome do
servidor acusado e já cogitar da descrição do suposto ilícito e do
enquadramento legal. Ao contrário de configurar qualquer prejuízo à
defesa, tais lacunas na portaria preservam a integridade do próprio
servidor envolvido e têm o fim de a autoridade instauradora não induzir o
trabalho da comissão e de não propiciar alegação de pré-julgamento.
A indicação de que contra o servidor paira uma acusação é formulada pela
comissão na notificação para que ele acompanhe o processo como
acusado. Já a descrição da materialidade do fato e o enquadramento legal
da irregularidade (se for o caso) são feitos pela comissão em momento
posterior, somente ao final da instrução contraditória, com a indiciação (art.
161 da Lei 8.112/90).
Por tais razões, afasto a alegação de nulidade da portaria de instalação do
PAD e respectivo termo de citação, relativamente aos motivos constantes
do presente item.
Apesar da regularidade deste aspecto da portaria de instalação, o PAD em
questão encontra-se eivado de vício em seu nascedouro, pois o seu
Presidente foi membro da comissão de auditoria.

DA VALIDADE PARCIAL DOS DEMAIS ATOS DO PAD


10167.001370/99-83

O PAD instaurado contra o AUTOR tinha como objetivo apurar supostos


atos de improbidade administrativa (art. 132, IV, da Lei 8.112/90).
De acordo com o art. 151 da Lei 8.112, de 11/12/90, as fases do processo
administrativo disciplinar são:
“Art. 151. O processo disciplinar se desenvolve nas seguintes fases:
I – instauração, com a publicação do ato que constituir a comissão;
II – inquérito administrativo, que compreende instrução, defesa e
relatório;
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III – julgamento”.
O inquérito administrativo, que é a parte contraditória do processo,
conduzida autonomamente pela comissão, comporta os seguintes atos, na
ordem: atos iniciais do inquérito (instalação da comissão processante;
comunicação da instalação; designação do secretário); atos de instrução
(notificação do servidor, depoimentos, perícias, diligências, interrogatório,
indiciação e citação para apresentar defesa escrita); defesa escrita; e
relatório.
A Lei 8.112/90 assegura a ampla defesa no curso do processo disciplinar e
o contraditório no inquérito administrativo (arts. 143 e 153), que
corresponde à 2ª fase do processo disciplinar (art. 151, II).
No processo disciplinar, na fase inicial da instrução, quando se têm apenas
indícios contra o servidor, a lei o chama de acusado. Ao final da instrução,
e se for o caso, quando a comissão formaliza essa imputação, a lei chama
este ato de indiciação e, por conseguinte, o servidor passa a ser referido
como indiciado.
No processo administrativo disciplinar não há previsão legal para que a
comissão intime o acusado para que ele apresente defesa prévia. Neste
momento do processo, antes de se ter procedido á apuração contraditória
e à acusação formal (indiciação), tal iniciativa por parte da comissão seria
inócua e ineficiente, porque assegurado ao acusado o exercício do
contraditório e da ampla defesa. Não obstante, em observância ao
princípio da ampla defesa, pode o acusado, espontaneamente, sem ter
sido instado pela comissão, trazer tantos quantos arrazoados entender
convenientes no curso da instrução.
Afora o impedimento do membro da comissão processante, o
procedimento administrativo transcorreu regularmente em todas as suas
fases: instalação da comissão processante (fl. 90); designação do
secretário (fls. 91 e 134); comunicação da instalação e do início dos
trabalhos (fls. 92-96); citação do servidor (fl. 97); depoimentos (fls. 195-
201, 218-220, 233-234, 273-276, 279-281, 295-296, 300-302, 308-309,
313-315, 318-319, 373-374, 377-378, 462-463); diligências diversas (fls.
99-132, 135-160, 166-194, 202,205, 209-217, 221, 231, 235, 254-255,258,
297, 316, 317, 320, 379, 458, 471, 472, 474, 487), interrogatório (fls. 464-
469), indiciação (fls. 477-486), citação para apresentar defesa escrita,
acompanhada das Portarias correlatas e Termo de Indiciação (fl. 489),
defesa escrita (fls. 491-522), aditada às fls. 530-561) e relatório (fls. 562-
601). O Despacho da Autoridade Instauradora, pela demissão, consta à fl.
619, o julgamento à fl. 638, e a portaria de demissão (Portaria nº 294, de
25/06/2002) encontra-se à fl. 639.
Exceto o impedimento acima referido, não houve qualquer irregularidade
durante o PAD, já que ao acusado ou indiciado foi assegurado amplo
acesso aos autos do processo, tendo sido notificado sobre as datas de
oitiva de testemunhas (fls. 164, 208, 215, 266, 272, 303, 370, 460), esteve
presente, juntamente com seu advogado, ás audiências de oitiva de
testemunhas e declarantes (fls. 195-201, 218-220, 233-234, 273-276, 279-
281, 295-296, 300-302, 308-309, 313-315, 318-319, 373-374, 377-378,
462, 463), bem como obteve vista dos autos sempre que solicitado (fls.
165, 267, 269, 371, 372, 490, 606).
Apesar da regularidade do trâmite procedimental, o PAD em questão
encontra-se eivado de vício em seu nascedouro, pois o seu Presidente foi
membro da comissão de auditoria, iniciou os trabalhos preliminares (fase
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esta em que não era assegurado ao acusado qualquer participação), tendo


sido o responsável por elaborar o relatório preliminar, com efeito de
representação, onde manifestou convicção de cometimento de
irregularidade por parte do servidor acusado (fls. 1040-1044).

DO ALCANCE E EFEITOS DO CONTROLE JURISDICIONAL

Há a possibilidade, em tese, de controle jurisdicional mais amplo sobre a


punição administrativa cominada ao AUTOR, em razão do disposto no art.
5º, XXXV da CF/88 e do entendimento de que “Inexistindo
discricionariedade no ato disciplinar, o controle jurisdicional é amplo e não
se limita a aspectos formais. [...]” (MS 12983/DF, Rel. Ministro FELIX
FISCHER, 3ª Seção do STJ, julgamento em 12/12/2007, publicação no DJ
em 15/02/2008).
Entretanto, não se faz necessária a análise da razoabilidade, adequação,
proporcionalidade e justiça da pena cominada ao AUTOR, porque a
anulação do PAD, desde o seu início, implica desconstituição dos atos
supervenientes, inclusive da pena de demissão aplicada ao AUTOR
(Portaria nº 294, de 25/12/2002).
Desconstituída a pena de demissão, é cabível a reintegração do AUTOR
ao cargo de Auditor Fiscal da Receita Federal, do quadro de pessoal do
Ministério da Fazenda, mediante a aplicação do disposto nos arts. 8º, VIII e
28 da Lei 8.112/90, com o ressarcimento de todas as vantagens
pecuniárias, acrescidas de correção monetária e juros legais de mora.
Perderam objeto todas as demais questões pertinentes à razoabilidade,
adequação, proporcionalidade e justiça da pena de demissão cominada ao
AUTOR, pois a entidade funcional do AUTOR poderá renovar o processo
administrativo, caso ainda não consumado o prazo prescricional, com nova
produção probatória, quando, então, será possível novo julgamento
administrativo.

DA ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA

O AUTOR pediu, reiteradamente, a antecipação dos efeitos da tutela, que


foi negada anteriormente, basicamente, em razão da possibilidade de
dilação probatória que se entendia necessária, relativamente ao
esclarecimento dos aspectos fáticos (conteúdo) do julgamento
administrativo (fls. 1611-2, 1682 e 1774).
Entretanto, na presente sentença reconheceu-se vício formal do PAD, o
que possibilita a reanálise da decisão de antecipação dos efeitos da tutela,
ainda mais quando reiteradamente pedida tal providência pelo AUTOR.
As decisões denegatórias de antecipação dos efeitos da tutela devem
ser mantidas, pelos seguintes motivos:
1) o AUTOR encontra-se fora do serviço público desde o ano de 2002 em
razão da execução do ato punitivo de demissão, e somente ingressou com
a presente ação judicial em 27/09/2007, não obstante o vício formal
acolhido na presente sentença já existisse desde o início do PAD (edição
da Portaria nº 62, de 27/09/99, de constituição da comissão de inquérito –
fl. 1149);

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2) existe entendimento jurisprudencial que reconhece o impedimento de


concessão de tutela antecipado naquelas situações em que haja concurso
do requerente em causar ou agravar o risco de dano à sua pretensão,
conforme ementa a seguir transcrita.
“Ementa.
ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. SERVIDORA PÚBLICA
FEDERAL. SUDENE/ADENE. DEMISSÃO POR ABANDONO DE
CARGO. PROPOSITURA DA AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO
FUNCIONAL APÓS 02 (DOIS) ANOS DO ATO DE DEMISSÃO.
AUSÊNCIA DO PERIGO DA DEMORA.
- Hipótese em que a Comissão Sindicante responsável pelo
Processo Administrativo Disciplinar no âmbito da extinta SUDENE,
hoje ADENE, decidiu pela demissão de servidora estável em 18 de
agosto de 2000 e, apenas em setembro de 2002 a agravante
propôs ação ordinária, com pedido de tutela antecipada, visando à
nulidade do ato demissório cumulada com pedido de reintegração
funcional.
- Esvaziado o requisito do perigo da demora, restou prejudicada a
concessão de suspensividade da decisão agravada.
- Agravo de instrumento a que se nega provimento.
- Precedentes. (AG – Agravo de Instrumento – 45556/RN, Rel. Des.
Federal Élio Wanderley de Siqueira Filho, 3ª Turma do TRF da 5ª
Região, unânime, julgamento em 29/09/2005). (Original sem negrito)

3) embora majoritário, o entendimento jurisprudencial que deu sustentação


à presente sentença não se apresenta consolidado perante as instâncias
superiores, o que implica risco de reversibilidade da medida em eventual
instância recursal;
4) neste contexto, o retorno precário de servidor afastado há vários anos
do serviço público poderá causar danos irreparáveis ou de difícil reparação
à parte ré (UNIÃO) e aos administrados;
5) nas referidas circunstância,s o juízo ad quem de eventual recurso de
apelação terá melhor condições de decidir as questões pertinentes à
antecipação dos efeitos da tutela, sem expor os interesses do serviço
administrativo e dos administrados a desnecessário risco de lesão.

ISSO POSTO, JULGO PROCEDENTES EM PARTE os pedidos para


declarar a nulidade do PAD nº 10167.001370/99-83 desde o seu início (a
partir da edição da Portaria nº 62, de 27/09/99, de constituição da
comissão de inquérito, conforme fl. 1149), e, de conseqüência, determinar
a reintegração do AUTOR ao cargo de Auditor Fiscal da Receita Federal,
com ressarcimento de todas as vantagens devidas desde o afastamento
indevido, com a atualização das parcelas por correção monetária e juros
legais de mora.
A correção monetária deve ser aplicada desde a data em que cada parcela
se tornou devida (Súmula 19 do TRF da 1ª Região), com a utilização dos
índices constantes do Manual de Cálculos da Justiça Federal.
São devidos juros de mora de 0,5% (meio por cento) ao mês, na forma do
art. 1º-F da Lei 9.494/97.

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Condeno a parte ré na restituição das custas ao AUTOR e ao pagamento


de honorários advocatícios de sucumbência, os quais fixo em R$
15.000,00 (quinze mil reais), corrigidos na forma do Manual de Cálculo da
Justiça Federal, a partir da data desta sentença.
Sentença sujeita ao necessário duplo grau de jurisdição (art. 475 do CPC,
redação dada pela Lei 10.352/2001).

Na precisa lição de José Cretella Júnior, sindicância “é o meio sumário de que se


utiliza a Administração Pública, no Brasil, para, sigilosa ou publicamente, com indiciados ou não,
proceder à apuração de ocorrências anômalas no serviço público, as quais, confirmadas,
fornecerão elementos concretos para a imediata abertura de processo administrativo contra o
funcionário público responsável”.
Trata-se, portanto, de procedimento administrativo que tem por objetivo a apuração
preliminar acerca da existência de um ilícito funcional, colhendo-se indícios a respeito da infração
e sua autoria.
A respeito da sindicância, pontifica José dos Santos Carvalho Filho em seu Manual
de Direito Administrativo, 20ª edição, Ed. Lumen Juris 2008, p. 922, in verbis:
“Reveste-se de caráter inquisitório, porque é processo não-litigioso; como
conseqüência, não incide o princípio da ampla defesa e do contraditório.
Caracteriza-se por ser procedimento preparatório, porque objetiva a
instauração de um processo principal, quando for o caso, obviamente. Por
esse motivo, o princípio da publicidade é aqui atenuado, porque o papel da
Administração é o de proceder a mera apuração preliminar, sem fazer
qualquer acusação a ninguém. Decorre daí que a autoridade que presidir
ao procedimento não tem poderes para intimar terceiros a prestar
depoimento, porque tais poderes são próprios das autoridades judiciais ou
policiais, por força de lei.
Outro aspecto que, desde já, merece observação, principalmente em
virtude da funda confusão que costuma ser feita, é o de que a sindicância
também é um processo administrativo, como tantos outros que tramitam
pela Administração. Desse modo, pode haver dois processos
administrativos interligados – a sindicância e o processo disciplinar
principal. A despeito de terem a mesma natureza, é simples apontar a
distinção fundamental: enquanto a sindicância é processo administrativo
preparatório, inquisitório e tem por objeto uma apuração preliminar, o
processo disciplinar principal é definitivo, contraditório e tem por objeto a
apuração principal e, quando é o caso, a aplicação de sanção.
Por essa razão, pode o órgão administrativo instaurar diretamente o
processo administrativo principal sem que se tenha instaurado previamente
a sindicância; para tanto, basta que já estejam presentes os elementos
probatórios que lhe sirvam de suporte para a acusação. É o mesmo que
ocorre em relação à ação penal, que também pode ser promovida pelo
Ministério Público sem o prévio inquérito policial.
Outro ponto a sublinhar é o relativo à questão da nomenclatura. O termo
sindicância incida apenas a denominação usualmente dada a esse tipo
especial de processo preparatório. Lamentavelmente, para aumentar a
confusão, nem sempre os processos preliminares e preparatórios são
nominados de sindicância, e, o que é pior, há alguns casos em que
processos denominados de sindicância não têm a natureza clássica desse
procedimento preparatório. Como enfrentar essa dúvida? Do modo mais

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simples possível, ou seja, dando maior relevo ao aspecto da natureza do


processo, e não ao de sua denominação. Quer dizer: mesmo que o
processo seja denominado de sindicância, deverá ser tratado como
processo disciplinar principal no caso de ter o mesmo objeto atribuído a
esta categoria de processos.
O Estatuto federal contém um bom exemplo do que consideramos. Dispõe,
primeiramente, que a apuração de irregularidade no serviço público se
formaliza mediante sindicância ou processo administrativo disciplinar (art.
143). Mais adiante, consigna que da sindicância poderá resultar aplicação
de penalidade de advertência ou suspensão de até trinta dias (art. 145,
II). Ora, só por esse texto se pode verificar que essa sindicância só tem
nome de sindicância, mas sua natureza é a de processo disciplinar
principal, porque somente dessa categoria pode resultar aplicação de
penalidades. Assim, nesse tipo de sindicância, que tem caráter acusatório,
há repercussão do princípio da ampla defesa e do contraditório, sendo
inconstitucionais quaisquer dispositivos estatutários que dispensarem essa
exigência. Repita-se, contudo, que esse processo não corresponde à
noção clássica da sindicância.
A jurisprudência tem diferenciado os dois tipos de sindicância. Quando se
trata da verdadeira sindicância, como processo preliminar, tem sido
dispensado o princípio da ampla defesa e do contraditório. Ao contrário,
quando o nome é de sindicância, mas a natureza é a de processo
disciplinar principal, a exigência tem sido considerada impostergável e sua
dispensa decidida como nula”. (original com negrito)

Assim, tratando-se a sindicância de procedimento inquisitivo, não se vislumbra a


possibilidade de ampla defesa e contraditório nesta fase preliminar, preparatória para o Processo
Administrativo Disciplinar; por outro lado, não há que se falar em sanção administrativa com base
tão-somente nas provas ali produzidas sem que se tenha sido dada oportunidade ao acusado
para sobre elas se manifestar.
Nesse sentido:

MANDADO DE SEGURANÇA. SERVIDOR PÚBLICO. PAD. PENA DE


DEMISSÃO. SINDICÂNCIA. OBSERVÂNCIA DAS GARANTIAS DA
AMPLA DEFESA E CONTRADITÓRIO. DESNECESSIDADE. NATUREZA
INQUISITORIAL. PRESCRIÇÃO. NÃO OCORRÊNCIA. FRAGILIDADE DA
PROVA PRODUZIDA. NÃO CARACTERIZAÇÃO. SEGURANÇA
DENEGADA.
1. Na espécie, a sindicância foi instaurada com mero propósito
investigatório ou preparatório do procedimento administrativo disciplinar,
por isso não se mostra plausível a tese da inobservância das garantias do
contraditório e da ampla defesa.
(...)
(MS 10504, Ministro Celso Limongi (Desembargador Convocado do
TJ/SP), Terceira Seção, DJe 8.11.2010)

RECURSO ORDINÁRIO. MANDADO DE SEGURANÇA. SERVIDOR


PÚBLICO. PENA DE SUSPENSÃO APLICADA A PARTIR DE
SINDICÂNCIA. NECESSIDADE DE SE GARANTIR A AMPLA DEFESA E

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O CONTRADITÓRIO AOS IMPETRANTES. NÃO-OBSERVÂNCIA NA


HIPÓTESE. RECURSO PROVIDO. SEGURANÇA CONCEDIDA.
1. Hipótese em que os impetrantes foram punidos com suspensão por
trinta dias, a partir de sindicância instaurada pela polícia civil do Estado do
Tocantins, para apurar a responsabilidade deles na fuga de detentos do
distrito policial.
2. O Superior Tribunal de Justiça possui orientação firme, no sentido de
que a aplicação de penalidade a servidor público com base tão-somente
em sindicância pressupõe a observância do contraditório e da ampla
defesa durante tal procedimento administrativo.
3. No caso, todavia, tais garantias não foram asseguradas aos recorrentes,
porquanto eles foram cientificados da sindicância quando todas as provas
que embasaram a aplicação da suspensão já tinham sido produzidas, ou
seja, não participaram da formação do conjunto probatório do qual se valeu
a autoridade coatora para apená-los.
4. Recurso ordinário provido. Segurança concedida.
(ROMS 14507, Relatora Ministra Maria Thereza de Assis Moura, Sexta
Turma, DJe 24.11.2008)

CONSTITUCIONAL - ADMINISTRATIVO - AGENTE DE POLÍCIA -


SINDICÂNCIA - PUNIÇÃO ADMINISTRATIVA - CERCEAMENTO DE
DEFESA - COMPROVAÇÃO - RECURSO DO IMPETRANTE - AUSÊNCIA
DE PREPARO - NÃO CONHECIMENTO - RECURSO DO MINISTÉRIO
PÚBLICO ESTADUAL - PROVIDO PARA ANULAR A PENA DE
SUSPENSÃO CONVERTIDA EM MULTA.
I - A sindicância segue um rito peculiar, cujo escopo é a investigação das
pretensas irregularidades funcionais cometidas, sendo desnecessária a
observância de alguns princípios basilares e específicos do processo
administrativo disciplinar. Afinal, procedimento não se confunde com
processo. Todavia, se tal instrumento tiver pretensão de servir de base à
aplicação de sanção deve-se observar os pressupostos do devido
processo legal, concedendo-se ao sindicado a ampla defesa.
II - A Constituição da República (art. 5º, LIV e LV) consagrou os princípios
do devido processo legal, do contraditório e da ampla defesa, também, no
âmbito administrativo. A interpretação do princípio da ampla defesa visa a
propiciar ao servidor oportunidade de produzir conjunto probatório servível
para a defesa.
III - Desta forma, caracterizado o desrespeito aos mencionados princípios,
não há como subsistir a punição aplicada.
(...)
(RMS 4606/PE, Ministro Gilson Dipp, Quinta Turma, DJ 22.4.2003 p. 237)

No caso dos autos, ademais, a prova testemunhal produzida no procedimento


preparatório (investigativo) foi infirmada no transcurso do Processo Administrativo Disciplinar já
que as testemunhas aqui inquiridas retificaram os depoimentos anteriormente prestados ao
argumento de que depuseram sob pressão. Nesse sentido, a prova colhida inquisitorialmente é
nula.
A este respeito, observo que a União, ora apelante, não refuta a tese de que a
condenação deu-se com base em prova colhida apenas na fase preliminar do processo

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administrativo disciplinar, ao contrário, ressalta que “não obstante o julgamento que culminou com
a demissão do ex-servidor em questão tenha se baseado não somente em depoimentos
prestados perante o Trio Processante, mas no conjunto de provas trazidos à colação, as oitivas
de testemunhas tiveram papel relevante na formação da convicção da Autoridade
Julgadora” (fl. 1920) (sem negrito no original); bem como não explica o fato de as testemunhas
terem retificado seus depoimentos quando de sua inquirição no PAD.
De outro modo, e conforme consta dos autos e assentado pela sentença recorrida,
o Sr. Rudinei Junkes participou tanto do procedimento preparatório (investigatório), tendo feito
representação junto à Corregedoria-Geral em desfavor do autor/apelante (cf. fl. 1039), quanto do
Processo Administrativo Disciplinar [cf. fl. 90 (ata de instalação e início dos trabalhos da comissão
de inquérito), e fls. 562-601 (relatório)].
A este respeito, forçoso concluir pela parcialidade do membro sindicante quando de
sua atuação no Processo Administrativo Disciplinar o que viola o disposto no art. 150 da Lei
8.112/90 que assim dispõe:
Art. 150.  A Comissão exercerá suas atividades com independência e
imparcialidade, assegurado o sigilo necessário à elucidação do fato ou
exigido pelo interesse da administração.

Deste modo, tendo o acusado o direito de ser processado por uma comissão
disciplinar imparcial, a participação de um de seus membros na fase investigatória macula a
isenção que se espera dos membros da comissão que integrará o Processo Administrativo
Disciplinar, hipótese em que o integrante da comissão investigatória já formou seu convencimento
e juízo de valor sobre os fatos então objeto da investigação.
Nesse sentido, verifique-se o seguinte julgado do TRF da 4ª Região:
MANDADO DE SEGURANÇA. SERVIDOR PÚBLICO. PROCESSO
ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR. CITAÇÃO. PORTARIA.
DESNECESSIDADE DE MENÇÃO EXPRESSA A DISPOSITIVOS DE LEI
VIOLADOS. MEMBROS DA COMISSÃO PROCESSANTE. SUSPEIÇÃO.
(...)
3. Deve ser acolhida a asserção de que dois dos membros da comissão
processante apresentam suspeição, tendo em vista que já integraram a
Comissão de Sindicância, havendo, logo, formado um juízo de
convencimento, conduzindo-os a um prejulgamento do caso, o que irá
macular a imparcialidade que deve estar presente no julgamento do
processo administrativo disciplinar.
(TRF 4ª Região, REO 2000.04.01.065049-0, Desembargador Valdemar
Capeletti, DJ 3.1.2001 p. 172)

Do Superior Tribunal de Justiça destaco, dentre outros, o seguinte julgado, in


verbis:
ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA. AGÊNCIA
REGULADORA. SERVIDOR. DEMISSÃO. PROCESSO
ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR. SUSPEIÇÃO DE MEMBRO
SINDICANTE PARA ATUAR NA COMISSÃO DO PAD. OCORRÊNCIA.
VÍCIO DE MOTIVO NO ATO DE DEMISSÃO. SEGURANÇA CONCEDIDA.
1 - Insubsistente a afirmação de inadequação da via eleita, pois, no caso,
as provas documentais juntadas aos autos constituem acervo suficiente
para a formação da convicção do julgador.

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2 - Dispõe o art. 150 da Lei nº 8.112/1990 que o acusado tem o direito de


ser processado por uma comissão disciplinar imparcial e isenta.
3 - Não se verifica tal imparcialidade se o servidor integrante da comissão
disciplinar atuou também na sindicância, ali emitindo parecer pela
instauração do respectivo processo disciplinar, pois já formou juízo de
valor antes mesmo da produção probatória.
4 - O próprio Manual da Controladoria Geral da União de 2010, obtido na
página eletrônica daquele órgão, afirma não ser recomendada a
participação de membro sindicante no posterior rito contraditório.
(...)
(MS 14135/DF, Relator Ministro Haroldo Rodrigues (Desembargador
Convocado do TJ/CE), Terceira Seção, DJe 15.9.2010)

Do voto condutor do acórdão acima referido, destaco ter ressaltado o eminente


Desembargador Federal Haroldo Rodrigues (convocado) que “o próprio Manual da Controladoria
Geral da União de 2010, obtido na página eletrônica daquele órgão, afirma não ser recomendada
a participação de membro sindicante no posterior rito contraditório”.
Relativamente à irresignação do autor/apelante quanto aos demais vícios que alega
não foram objeto de apreciação pelo juízo a quo, ressalto ser firme a jurisprudência do Superior
Tribunal de Justiça no sentido de que “o juiz não fica obrigado a manifestar-se sobre todas as
alegações das partes, nem a ater-se aos fundamentos indicados por elas ou a responder, um a
um, a todos os seus argumentos, quando já encontrou motivo suficiente para fundamentar a
decisão” (EDcl no AgRg no AgRg no Ag 1296265/AL, Ministro Humberto Martins, Segunda Turma,
DJe 9.1.2010), o que se verifica na hipótese dos autos.
Neste sentido, verifiquem-se, dentre outros, os seguintes julgados do Superior
Tribunal de Justiça:
RECURSO ESPECIAL. MANDADO DE SEGURANÇA. PROCESSO CIVIL
E ADMINISTRATIVO. VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC. NÃO
OCORRÊNCIA. SERVIDOR PÚBLICO. DEMISSÃO. OFENSA AO
PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE. EXAME DE LEGALIDADE.
POSSIBILIDADE DE CONTROLE JUDICIAL, NA VIA DO MANDADO DE
SEGURANÇA. AUSÊNCIA DE ANÁLISE DO MÉRITO ADMINISTRATIVO.
PRETENSÃO DE ANULAÇÃO DO ATO DEMISSÓRIO. APLICAÇÃO
PELA CORTE DE ORIGEM DA PENA DE SUSPENSÃO. JULGAMENTO
ULTRA PETITA. OCORRÊNCIA. INTERPRETAÇÃO DE LEI LOCAL.
IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 280/STF.
1. O juiz não está obrigado a rebater, pormenorizadamente, todas as
questões trazidas pela parte, citando os dispositivos legais que esta
entende pertinentes para a resolução da controvérsia. A negativa de
prestação jurisprudencial se configura apenas quando o Tribunal deixa de
se manifestar sobre ponto que seria indubitavelmente necessário ao
deslinde do litígio.
(...)
(REsp 876514/MS, Ministra Maria Thereza de Assis Moura, Sexta Turma,
DJe 8.11.2010)

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. PEDIDO DE PRODUÇÃO DE


PROVA NA ORIGEM. DECISÃO DENEGATÓRIA. REFORMA PELO STJ.
NECESSIDADE DO EXAME DO CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO.

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SÚMULA N. 7 DESTA CORTE SUPERIOR. OFENSA AO ART. 535 DO


CPC. INOCORRÊNCIA. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. ART. 20, § 4º,
DO CPC. CONCLUSÕES DO TRIBUNAL DE ORIGEM. REVISÃO.
IMPOSSIBILIDADE. SÚMULAS N. 7 DESTA CORTE SUPERIOR. ATO
ADMINISTRATIVO. PUBLICAÇÃO. VERSÃO IMPRESSA E
ELETRÔNICA. FALHA DA ADMINISTRAÇÃO NA VERSÃO
ELETRÔNICA. NOVO PRAZO PARA O INTERESSADO MANIFESTAR-
SE. POSSIBILIDADE. PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA.
(...)
2. Os órgãos julgadores não estão obrigados a examinar todas as teses
levantadas pelo jurisdicionado durante um processo judicial, bastando que
as decisões proferidas estejam devida e coerentemente fundamentadas,
em obediência ao que determina o art. 93, inc. IX, da Lei Maior. Isso não
caracteriza ofensa ao art. 535 do CPC. Precedentes.
(...)
(REsp 1185562/RJ, Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma,
DJe 10.9.2010)

Relativamente aos honorários advocatícios, penso que foram fixados de acordo


com o disposto nos §§ 3º e 4º do art. 20 do CPC.
Por fim, ressalto ser facultada à Administração a instauração de novo Processo
Administrativo Disciplinar, observado o prazo prescricional.
Em face do exposto, mantenho a sentença recorrida negando provimento à
remessa oficial e aos recursos de apelação interpostos pelo autor e pela União.
É como voto.

Juiz Federal Charles Renaud Frazão de Moraes


Relator (convocado)

TRF 1ª REGIÃO/IMP.15-02-05 /conversion/tmp/activity_task_scratch/579475110.doc

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