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RELATÓRIO
do PAD; iii. que a própria sentença afirma que “o procedimento administrativo transcorreu
regularmente em todas as suas fases: [...]” e que “exceto o impedimento acima referido, não
houve qualquer irregularidade durante o PAD, [...]”; iv. que o processo passou por diversas
instâncias administrativas que sempre se posicionaram pela regularidade do feito, bem como que
o processo foi submetido a um “PAD Revisional”, sendo que os membros desta comissão foram
distintos dos membros da “comissão de inquérito original e o PAD Revisional passou novamente
por todas as instâncias administrativas, culminando com a manutenção da penalidade de
demissão do acusado”; v. que o “Processo Administrativo Disciplinar – PAD 10167.001370/99-83,
foi instaurado com o fito de apurar possível prática de assessoria tributária e contábil levada a
cabo pelo então Auditor-Fiscal da Receita Federal – AFRF Alberico Cavalcante em favor das
empresas Construtora Borges Landeiro LTDA, Cevel Cecílio Veículos LTDA e Georserv Serviços
de Geotecnia e Construção LTDA, todas sediadas em Goiânia-GO, prática esta relatada por
intermédio da representação funcional acostada às fls. 01/06 e 51, vol. I do PAD” (fl. 1917); vi.
que “o Colegiado Processante responsável por conduzir os trabalhos apuratórios do aludido PAD,
após finalizar a instrução processual, com a realização de 15 (quinze) oitivas, entre testemunhas e
declarantes, coleta de diversos elementos probantes e realização do interrogatório do acusado,
decidiu pela indiciação do autor (Termo de Indiciação acostado às fls. 671/680 do PAD)” em razão
dos fatos que elenca; vii. que o PAD foi julgado em 25.9.2002 pelo Ministro de Estado da
Fazenda, que acatou as proposições da Comissão de Inquérito e, ato contínuo, aplicou a
penalidade de demissão ao servidor Alberico Cavalcante; viii. que, irresignado com a decisão,
Alberico Cavalcante apresentou pedido de reconsideração, pleito este indeferido pela autoridade
julgadora; ix. que “não obstante o julgamento que culminou com a demissão do ex-servidor em
questão tenha se baseado não somente em depoimentos prestados perante o Trio Processante,
mas no conjunto de provas trazidos à colação, as oitivas de testemunhas tiveram papel relevante
na formação da convicção da Autoridade Julgadora”; x. que o ex-servidor apresentou pedido de
revisão, o qual foi deferido, tendo sido designada Comissão Revisora, composta por membros
distintos da comissão de inquérito original, com vista a averiguar se os fatos novos colacionados
pelo ex-servidor Alberico Cavalcante eram suscetíveis de justificar a sua inocência ou abrandar a
penalidade imposta; xi. que o Trio Revisor, regulamente instalado, deu início aos trabalhos
apuratórios e o ex-servidor devidamente notificado da instauração do procedimento administrativo
disciplinar de revisão; xii. que a comissão revisora acatou todos os pedidos do requerente; xiii.
que “no relatório final (fls. 289/325 do PAD Revisional), o Colegiado Revisor analisou
criteriosamente as alegações finais dispostas na peça defensória (fls. 278/283 do PAD Revisional)
e refutou com clareza e assertividade as argüições ali contidas, tendo concluído que: “Diante de
tudo o que foi exposto, especialmente no que concerne às dúvidas existentes dos membros da
Comissão Revisora, quanto à veracidade das novas versões sobre os fatos expostos nos
depoimentos tomados no seio deste processo revisional, entendeu-se por aplicar a Formulação nº
70 do DASP, no sentido de que ‘a dúvida favorece a manutenção do ato punitivo’. Propõe-se,
pois, o arquivamento do presente feito.’”; xiv. que o Ministro de Estado da Fazenda aprovou o
Parecer da PGFN adotando seus fundamentos para manter a penalidade de demissão.
Requer a reforma da sentença para o fim de julgar improcedentes os pedidos do
autor, e, acaso mantida a sentença recorrida, a readequação dos valores arbitrados a título de
honorários advocatícios.
O autor apresentou suas contrarrazões às fls. 1945-1991 e a União às fls. 1995-
2013.
É o relatório.
VOTO
“(...)
Afigura-se de todo descabida a argüição do AUTOR, uma vez que
não houve procedimento prévio de sindicância para colheita de
provas contra o mesmo. O que ocorreu foi uma auditoria no sistema
de fiscalização da DRF/Goiânia, instaurada pelo então Corregedor-
Geral por meio da Portaria nº 25, de 25 de junho de 1999 (fls. 07, vol.
I do PAD – Anexo I), objetivando verificar a regularidade dos
procedimentos adotados na aplicação da legislação vigente,
concedendo aos membros da equipe de auditoria a autorização para
fazer diligências e verificações in loco acerca de operações ou
assuntos relacionados com a auditoria em questão.
Corregedor Geral”
Assunto: Representação
A teor do art. 116, inciso VI, XII e parágrafo único da Lei 8.112/90,
encaminho, em anexo, OFÍCIO/AUDIT/Nº 01, de 04.08.99, e seus
anexos, que relata o envolvimento do Auditor-Fiscal ALBERICO
COELHO CAVALCANTE, lotado na DRF/GO, em possível ilícito
funcional previsto no inciso IV do artigo 132 da Lei 8.112/90, c/c
o artigo 11, da Lei 8.429/92, para as providências previstas no
artigo 143 do Regime Jurídico Único.
Do referido Ofício resultou a decretação de mandado de busca e
apreensão na residência do ora representado, ocasião em que
apreendeu documentos em nome das empresas citadas como sendo
beneficiárias da assessoria tributária prestada por parte daquele
servidor, conforme Auto de Apreensões em anexo, vindo a
corroborar os depoimentos prestados a esta Equipe de Auditoria.
Ademais, caberá à comissão de Inquérito a ser instaurada perquirir
sobre as razões de 42 (quarenta e dois) processos administrativos
fiscais estarem na residência do sobredito servidor, podendo
caracterizar, em tese, infração do inciso II, art. 117, da Lei 8.112/90.
Além disso, em levantamento preliminar, alguns deles não
encontram-se amparados por FM – Ficha Multifuncional, conforme
levantamento do CONFIE, em anexo, o que também deverá merecer
a devida verificação pelo trio processante.
Atenciosamente,
RUDINEI JUNKES
Chefe de Equipe”. (Original sem negrito).
“Lei 8.112/90.
Art. 150. A Comissão exercerá suas atividades com independência e
imparcialidade, assegurado o sigilo necessário à elucidação do fato
ou exigido pelo interesse da administração.
Parágrafo único. As reuniões e as audiências das comissões terão
caráter reservado.
III – julgamento”.
O inquérito administrativo, que é a parte contraditória do processo,
conduzida autonomamente pela comissão, comporta os seguintes atos, na
ordem: atos iniciais do inquérito (instalação da comissão processante;
comunicação da instalação; designação do secretário); atos de instrução
(notificação do servidor, depoimentos, perícias, diligências, interrogatório,
indiciação e citação para apresentar defesa escrita); defesa escrita; e
relatório.
A Lei 8.112/90 assegura a ampla defesa no curso do processo disciplinar e
o contraditório no inquérito administrativo (arts. 143 e 153), que
corresponde à 2ª fase do processo disciplinar (art. 151, II).
No processo disciplinar, na fase inicial da instrução, quando se têm apenas
indícios contra o servidor, a lei o chama de acusado. Ao final da instrução,
e se for o caso, quando a comissão formaliza essa imputação, a lei chama
este ato de indiciação e, por conseguinte, o servidor passa a ser referido
como indiciado.
No processo administrativo disciplinar não há previsão legal para que a
comissão intime o acusado para que ele apresente defesa prévia. Neste
momento do processo, antes de se ter procedido á apuração contraditória
e à acusação formal (indiciação), tal iniciativa por parte da comissão seria
inócua e ineficiente, porque assegurado ao acusado o exercício do
contraditório e da ampla defesa. Não obstante, em observância ao
princípio da ampla defesa, pode o acusado, espontaneamente, sem ter
sido instado pela comissão, trazer tantos quantos arrazoados entender
convenientes no curso da instrução.
Afora o impedimento do membro da comissão processante, o
procedimento administrativo transcorreu regularmente em todas as suas
fases: instalação da comissão processante (fl. 90); designação do
secretário (fls. 91 e 134); comunicação da instalação e do início dos
trabalhos (fls. 92-96); citação do servidor (fl. 97); depoimentos (fls. 195-
201, 218-220, 233-234, 273-276, 279-281, 295-296, 300-302, 308-309,
313-315, 318-319, 373-374, 377-378, 462-463); diligências diversas (fls.
99-132, 135-160, 166-194, 202,205, 209-217, 221, 231, 235, 254-255,258,
297, 316, 317, 320, 379, 458, 471, 472, 474, 487), interrogatório (fls. 464-
469), indiciação (fls. 477-486), citação para apresentar defesa escrita,
acompanhada das Portarias correlatas e Termo de Indiciação (fl. 489),
defesa escrita (fls. 491-522), aditada às fls. 530-561) e relatório (fls. 562-
601). O Despacho da Autoridade Instauradora, pela demissão, consta à fl.
619, o julgamento à fl. 638, e a portaria de demissão (Portaria nº 294, de
25/06/2002) encontra-se à fl. 639.
Exceto o impedimento acima referido, não houve qualquer irregularidade
durante o PAD, já que ao acusado ou indiciado foi assegurado amplo
acesso aos autos do processo, tendo sido notificado sobre as datas de
oitiva de testemunhas (fls. 164, 208, 215, 266, 272, 303, 370, 460), esteve
presente, juntamente com seu advogado, ás audiências de oitiva de
testemunhas e declarantes (fls. 195-201, 218-220, 233-234, 273-276, 279-
281, 295-296, 300-302, 308-309, 313-315, 318-319, 373-374, 377-378,
462, 463), bem como obteve vista dos autos sempre que solicitado (fls.
165, 267, 269, 371, 372, 490, 606).
Apesar da regularidade do trâmite procedimental, o PAD em questão
encontra-se eivado de vício em seu nascedouro, pois o seu Presidente foi
membro da comissão de auditoria, iniciou os trabalhos preliminares (fase
TRF 1ª REGIÃO/IMP.15-02-05 /conversion/tmp/activity_task_scratch/579475110.doc
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO fls.16/23
administrativo disciplinar, ao contrário, ressalta que “não obstante o julgamento que culminou com
a demissão do ex-servidor em questão tenha se baseado não somente em depoimentos
prestados perante o Trio Processante, mas no conjunto de provas trazidos à colação, as oitivas
de testemunhas tiveram papel relevante na formação da convicção da Autoridade
Julgadora” (fl. 1920) (sem negrito no original); bem como não explica o fato de as testemunhas
terem retificado seus depoimentos quando de sua inquirição no PAD.
De outro modo, e conforme consta dos autos e assentado pela sentença recorrida,
o Sr. Rudinei Junkes participou tanto do procedimento preparatório (investigatório), tendo feito
representação junto à Corregedoria-Geral em desfavor do autor/apelante (cf. fl. 1039), quanto do
Processo Administrativo Disciplinar [cf. fl. 90 (ata de instalação e início dos trabalhos da comissão
de inquérito), e fls. 562-601 (relatório)].
A este respeito, forçoso concluir pela parcialidade do membro sindicante quando de
sua atuação no Processo Administrativo Disciplinar o que viola o disposto no art. 150 da Lei
8.112/90 que assim dispõe:
Art. 150. A Comissão exercerá suas atividades com independência e
imparcialidade, assegurado o sigilo necessário à elucidação do fato ou
exigido pelo interesse da administração.
Deste modo, tendo o acusado o direito de ser processado por uma comissão
disciplinar imparcial, a participação de um de seus membros na fase investigatória macula a
isenção que se espera dos membros da comissão que integrará o Processo Administrativo
Disciplinar, hipótese em que o integrante da comissão investigatória já formou seu convencimento
e juízo de valor sobre os fatos então objeto da investigação.
Nesse sentido, verifique-se o seguinte julgado do TRF da 4ª Região:
MANDADO DE SEGURANÇA. SERVIDOR PÚBLICO. PROCESSO
ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR. CITAÇÃO. PORTARIA.
DESNECESSIDADE DE MENÇÃO EXPRESSA A DISPOSITIVOS DE LEI
VIOLADOS. MEMBROS DA COMISSÃO PROCESSANTE. SUSPEIÇÃO.
(...)
3. Deve ser acolhida a asserção de que dois dos membros da comissão
processante apresentam suspeição, tendo em vista que já integraram a
Comissão de Sindicância, havendo, logo, formado um juízo de
convencimento, conduzindo-os a um prejulgamento do caso, o que irá
macular a imparcialidade que deve estar presente no julgamento do
processo administrativo disciplinar.
(TRF 4ª Região, REO 2000.04.01.065049-0, Desembargador Valdemar
Capeletti, DJ 3.1.2001 p. 172)