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REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE

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TRIBUNAL ADMINISTRATIVO

PRIMEIRA SECÇÃO

Processo n.º 157/2014 – 1.ª

ACÓRDÃO N.º 33/2017

Acordam, em conferência, na Primeira Secção do Tribunal Administrativo:


José Vasco Bié, com os demais elementos de identificação constantes dos autos,
veio, perante esta instância jurisdicional interpor recurso contencioso contra o
Acórdão n.º 11/2014, de 17 de Junho, proferido pelo Tribunal Administrativo da
Província de Inhambane, no Processo n.º 11/2014-1.ª, face à impugnação do
despacho do Presidente do Conselho Municipal da Cidade de Inhambane, que
indeferiu o pedido de anulação de multa por violação de regras de trânsito.

Nas suas alegações, o recorrente referiu-se, essencialmente, nos termos e


fundamentos de fls. 65 e 66:
Perante o Tribunal a quo, o recorrente insurgiu-se contra o despacho em causa, por
considerar que a recorrida não o podia exarar, pois não possuía competência para
decidir sobre uma reclamação dirigida ao seu assessor, tal como instrui o aviso da
multa constante do processo. Assim, a entidade recorrida agiu fora das suas
competências e privou o recorrente do direito de recurso hierárquico.

A extemporaneidade e demais alegações que a recorrida foi alegando eram meros


expedientes dilatórios, pois, pelo cômputo, o tempo indicava o contrário do que se
pretendia, o que efectivamente veio a confirmar-se perante o tribunal.

O Tribunal a quo contornou a discussão e decisão sobre a questão de fundo. O


recurso contencioso é de mera legalidade, tendo o mesmo se posicionado como um

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tribunal comum ao deixar de lado o acto administrativo, posicionando-se no
sentido de que a polícia tem razão, julgando, deste modo, o recurso improcedente.

O recorrente não veio ao tribunal impugnar a multa, ou seja, o acto do polícia ou


pedir para que o tribunal decida quem tem ou não razão, visto que não cabe nas
atribuições do tribunal administrativo. O recorrente impugna um acto
administrativo, ou seja, o despacho que julga estar a lesar os seus direitos, tal como
bem o demonstrou e fundamentou.
A recorrida não proferiu nenhum despacho punitivo contra o recorrente tal como o
acórdão pretende fazer entender. Contudo, aquele indeferiu a sua reclamação num
contexto de pura violação de princípios chave da Administração Pública, o que
desencadeou a sua reacção através deste processo.

Não é matéria de índole jurídico, mas impele ao recorrente deixar expresso que
qualquer julgador tem que perfeitamente conhecer a sociedade que julga em todas
as esferas, nomeadamente, económica, financeira e social, sob pena de, no lugar de
educar e promover a cultura jurídica, sucessivamente, prejudicar os particulares e
estes absterem-se de qualquer recurso contra actos lesivos.
Com efeito, as custas fixadas no processo nunca poderiam ser proibitivas ao
recurso, de tal modo que possa ser preferível aceitar de bom grado os abusos de um
agente da polícia, conformando-se o ora recorrente com a multa.

O recorrente finaliza, requerendo que ao recurso seja dado provimento e, em


consequência, revogado o acórdão objecto do presente recurso, declarando-se a
anulabilidade do acto recorrido no tribunal a quo.

Nas suas contra-alegações, a entidade recorrida aludiu que transparece que o


apelante continua a atacar o acto administrativo e não o acórdão recorrido.

O apelante limita-se a dizer, abstractamente, que uma lei foi violada. Resulta do
artigo 342.º do Código Civil (CC) que não basta alegar, é preciso oferecer as
provas. O apelante limita-se a divagar sem apresentar qualquer fundamento legal,
pecando por proferir ataques pessoais e manifestações de desprezo para com os
agentes da corporação policial e outros.

O Presidente do Conselho Municipal não agiu fora das suas competências. Nos
termos da alínea l) do n.º 2 do artigo 62 da Lei n.º 2/97, de 18 de Fevereiro, a
recorrida é a entidade competente para modificar ou revogar os actos praticados
por funcionários autárquicos.

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A recorrida conclui, solicitando que seja negado provimentos ao recurso, por falta
de fundamento e aplicada multa por litigância de má-fé.

Em sede de visto, o Digníssimo Magistrado do Ministério Público referiu que


apesar de o aviso de multa do Processo n.º 11/2014 indicar Assessor Jurídico do
Município, como pessoa que deve receber as reclamações, este não possui
competências para decidir sobre as petições apresentadas pelos particulares.

Compete ao Presidente do Conselho Municipal decidir sobre os assuntos que sejam


apresentados, nos termos do disposto no n.º 1 do artigo 10 das Normas de
Funcionamento dos Serviços da Administração Público (NFSAP), aprovadas pelo
Decreto n.º 30/2001, de 15 de Outubro, por isso improcede o fundamento
apresentado pelo apelante.

Por o tribunal a quo ter decidido conforme a lei, o Digníssimo Magistrado do


Ministério Público promoveu a improcedência do recurso e a manutenção do
Acórdão n.º 11/2014.

Tudo visto
Compulsados os autos, afere-se que a decisão vertida no acórdão recorrido
alicerça-se no facto de o Tribunal de 1.ª instância ter concluído que, efectivamente,
o ora impetrante não portava a sua carta de condução, infringindo o disposto no n.º
1 do artigo 46 do Código de Estrada, demonstrando que, na tramitação no processo
de multa, foram observadas as bases legais para o caso concreto.
O recorrente alega, na essência, que a entidade recorrida não tinha competência
para decidir sobre a reclamação da multa que lhe foi aplicada, por ser dirigida ao
assessor. Acresce que, sendo os recursos de mera legalidade, o Tribunal a quo
deveria ter-se limitado ao acto administrativo do Presidente do Município e não
posicionar-se a favor de um dos sujeitos processuais e encerra as suas alegações
referindo que as custas do processo não se coadunam com a sua condição salarial.

Ora, de acordo com o disposto no artigo 139 da Lai n.º 9/2001, de 7 de Julho,
aplicável ex vi do artigo 228 da Lei n.º 7/2014, de 28 de Fevereiro, “os recursos
jurisdicionais ordinários (…) apenas podem ter por fundamento a violação ou
errada aplicação de lei substantiva ou processual ou a nulidade de decisão
impugnada”.

Analisados os argumentos aduzidos pelo recorrente, não são trazidos elementos


que abalem os fundamentos retractados no acórdão em causa, abstendo-se de trazer
matéria de facto e de direito que contrarie a decisão do Tribunal a quo.
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Relativamente ao montante aplicado das custas, uma vez mais, os argumentos
trazidos pelo recorrente não abalam o valor imputado. Refira-se que, nos termos do
n.º 2 do artigo 8.º do Código Civil, “o dever de obediência à lei não pode ser
afastado sob pretexto de ser injusto ou imoral o conteúdo do preceito legislativo”,
pelo que, não procede a alegação do impetrante.
O Tribunal não encontra prova da alegada litigância de má-fé, nos termos previstos
no n.º 2 do artigo 456.º do Código de Processo Civil, aplicável ex vi do artigo 1 da
Lei n.º 9/2001, de 7 de Julho.

Nesta conformidade, os Juízes Conselheiros desta Secção acordam em negar


provimento ao recurso interposto por José Vasco Bié, por falta de fundamento
legal, mantendo-se, por conseguinte, a decisão recorrida.

Custas pelo recorrente, fixadas em 5.000,00MT (cinco mil meticais).

Registe-se e notifique-se.
O recorrente tem a possibilidade de interpor recurso ao Plenário do Tribunal
Administrativo, no prazo de 10 (dez) dias, ao abrigo do disposto no artigo 135 e
seguintes da Lei n.º 9/2001, de 7 de Julho, ex vi do artigo 228, da Lei n.º 7/2014, de
28 de Fevereiro, conjugado com o disposto no n.º 2 do artigo 40 da Lei n.º
24/2013, de 1 de Novembro, alterada e republicada pela Lei n.º 7/2015, de 6 de
Outubro.

Maputo, 19 de Abril de 2017.

David Zefanias Sibambo – Relator

José Luís Maria Pereira Cardoso

José Maurício Manteiga

Pelo Ministério Público,


Fui presente

Taíbo Caetano Mucobora


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Procurador-Geral Adjunto

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