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Teoria Geral do Processo

Introdução, Jurisdição, Princípios, Direito Processual e Processo


1. Conceito Teoria Geral do Processo
A Teoria Geral do Processo é a disciplina que se ocupa do estudo dos conceitos, princípios
e instituições que são comuns às diversas disciplinas de direito processual especiais.
Assim, pode-se dizer que é uma disciplina que estuda a generalidade das disciplinas de
direito processual e prepara o estudante para o estudo de cada uma dessas disciplinas. Do
ponto de vista de regime jurídico, a teoria geral do processo acaba sugerindo a existência
de uma contraposição entre um direito processual geral e vários direitos processuais
especiais em vigor na ordem jurídica.
As disciplinas de direito processual são várias e a sua diversidade e multiplicidade é quase
que paralela à das disciplinas de direito substantivo. Na verdade, o direito substantivo que
regula os direitos e as obrigações de todas as pessoas, incluindo o Estado, nas relações
jurídicas estabelecidas entre si e nas que se estabelecem com o próprio Estado, o que
determina a necessidade de existência de um conjunto complexo de normas e instituições
para a sua efectivação.
2. Objecto e Função da Teoria Geral do Processo
O objecto da Teoria Geral do Processo é, no fundo, a generalidade das disciplinas
jurídico-processuais. Com a Teoria Geral do Processo pretende-se abordar os conceitos e
princípios fundamentais comuns às diversas disciplinas processuais, sendo que os
conceitos e institutos específicos dessas disciplinas serão objecto de apreciação em sede
de cada um desses ramos ou disciplinas.
Trata-se de uma disciplina cujo objectivo primordial é dotar o estudante de Direito de
ferramentas que permitam a compressão das várias disciplinas de direito processual. As
referidas disciplinas de direito processual têm em comum os mesmos fundamentos,
princípios e razão de ser, sendo destes elementos que se ocupa a disciplina da Teoria
Geral do processo, visando permitir uma entrada progressiva, gradual e pacífica do
estudante ao Estudo.
O processo, quer seja civil, criminal, administrativo ou outro, assenta numa mesma base
que é a consagração do poder jurisdicional do estado. É indiscutível a importância do
direito processual para a materialização do direito substantivo. Teremos a oportunidade
de discutir com detalhe o carácter instrumental do direito processual em relação ao direito
material. Ainda assim, não será desnecessário avançar que os tribunais e outros
organismos destinados à resolução de litígios necessitam de um conjunto de normas para
funcionar, e esse corpo de normas que constitui o direito processual.
As regras aplicadas para que os tribunais e outros organismos actuem no exercício das
suas funções são regras processuais. Tendo em atenção a natureza dos litígios a dirimir e
dos interesses a tutelar, as regras de direito processual serão igualmente adequadas a esses
factores.
Considerando a função dos tribunais, haverá sempre um conjunto de princípios que serão
comuns a todas as disciplinas de direito processual. A teoria geral do processo tem por
função o estudo e análise destes princípios no contexto da preparação do estudante de
direito para o seu enquadramento no estudo das disciplinas de direito processual em
especial.
Assim, é função primordial da Teoria Geral do Processo o estudo, na generalidade, do
direito processual, focando nos princípios e normas que são comuns às disciplinas de
direito processual.
3. Jurisdição e poder jurisdicional
3.1. Natureza e Características do poder jurisdicional
O Estado, no exercício de seu poder soberano, exerce diferentes funções. O poder do
Estado é uno e indivisível, mas o exercício desse poder realiza-se por diferentes
manifestações, que costumam ser designadas de funções do Estado. Destas, uma é
considerada instituto fundamental do direito processual.
A natureza do poder jurisdicional tem ocupado a doutrina. A abordagem deste tema não
tem sido fácil como possa parecer, na medida em que o poder jurisdicional nem sempre
teve a configuração que tem no estado moderno. Na verdade, a história da jurisdição
confunde-se com a do direito, pelo que a sua natureza pressupõe a análise cuidada dos
fundamentos do próprio direito, o que nunca foi tarefa fácil.
Nos termos do n.º 1 do artigo 211 da CRM, os tribunais têm como objectivo garantir e
reforçar a legalidade como factor da estabilidade jurídica, garantir o respeito pelas leis,
assegurar os direitos e liberdades dos cidadãos, assim como os interesses jurídicos dos
diferentes órgãos e entidades com existência legal. O mesmo artigo estabelece no seu n.º
2 que os tribunais penalizam as violações da legalidade e decidem pleitos de acordo com
estabelecido na lei.
3.2.Espécies de jurisdição
A Constituição estabelece duas espécies de jurisdição, isto do ponto de vista de
organização do poder jurisdicional. Em bom rigor, no contexto da organização do poder
jurisdicional proposta na constituição, podemos identificar várias espécies de jurisdição
consoante as matérias que serão tratadas pelos vários tribunais previstos na lei
fundamental. São duas as epécies de jurisdição: a jurisdição comum e a jurisdição
especial.
A jurisdição comum é exercida pelos tribunais judiciais – o tribunal supremo, os tribunais
superiores de recurso, os tribunais judiciais de província e os tribunais judiciais de distrito.
Essencialmente, a lei constitucional estabelece que os tribunais judiciais exercem
jurisdição em matéria civil e criminal e em todas as áreas que não são por lei atribuídas a
outras ordens jurisdicionais.
O tribunal supremo é o mais alto órgão da hierarquia dos tribunais judiciais. Este tribunal
está organizado em secções que reflectem a estrutura dos tribunais de categoria inferior.
Se a constituição estabelece que a jurisdição comum, composta pelos tribunais judiciais,
trata de matéria civil, matéria criminal e de todas aquelas que por lei não são atribuídas a
qualquer outra ordem jurisdicional, parece-nos que o tribunal supremo devia ter a mesma
configuração, de forma rigorosa, atendendo ao princípio da especialidade da
competência. O que acontece é que o tribunal supremo pode ser organizado em secções.
Na prática, temos no tribunal supremo secções cíveis, criminais e laborais, mas já não
temos secções comerciais, de menores, de polícia. A questão que se coloca é: qual é a
secção competente no tribunal supremo para conhecer, na devida instância, das matérias
que não são cíveis nem criminais.
Esta realidade faz-nos questionar mais profundamente e indagar se existirão,
efectivamente, matérias que não sejam civis, criminais, laborais ou comercial nos
tribunais judiciais. Ou por outra, existirão, na prática, questões que não caibam em
qualquer das jurisdições tipicamente identificadas na lei (quer sejam elas enquadráveis na
jurisdição comum ou na jurisdição especial). A resposta parece ser negativa, ou seja, tudo
que é possivelmente susceptível de fundamentar uma acção será enquadrável em qualquer
das espécies processuais legalmente existentes. Assim, parece inútil a referência
constitucional a “questões que não são por lei atribuídas a outras ordens jurisdicionais”.
No que respeita às jurisdições especiais previstas, a lei faz referência expressa à jurisdição
administrativa ao consagrar de forma directa e certa a existência do Tribunal
Administrativo. A lei vai mais longe ao estabelecer a previsão de outras possíveis ordens
jurisdicionais especiais (tribunais administrativos, de trabalho, fiscais, aduaneiros,
marítimos, arbitrais e comunitários).
4. Direito à jurisdição e respectivas garantias Princípios da jurisdição
Princípios da jurisdição definem os termos em que o poder jurisdicional se vai estruturar
e exercer. são princípios totalmente inerentes à natureza da jurisdição, à sua razão de ser
e têm como conteúdo a definição dos mais elementares padrões sobre o exercício do poder
jurisdicional. Jurisdição e poder são realidades inerentes uma à outra no sentido de que,
na estrutura do Estado e assente no princípio da separação de poderes, a jurisdição
constitui um dos três poderes do Estado – o poder jurisdicional – ao lado o legislativo e
do executivo.
4.1.Princípio do juiz natural ou legal
O significado e conteúdo do princípio do juiz natural resume-se na anterioridade da
existência do tribunal em relação às questões concretas de que o mesmo conhecerá. Ou
seja, o princípio assenta na ideia de que as pessoas só podem ser julgadas por um órgão
jurisdicional autêntico e não por um órgão de excepção, sendo estes proibidos pela
Constituição. É pela mesma razão que nenhuma causa pode ser retirada ao tribunal cuja
competência se encontra estabelecida em lei anterior, salvo nos casos especialmente
previstos na lei (artigo 65, n.º 4 da CRM).
4.2. Princípio da tutela jurisdicional efectiva
A tutela jurisdicional efectiva é uma das principais dimensões ou formas de consagração
do princípio do acesso aos tribunais. Ela consiste essencialmente na ideia de que não basta
a mera consagração constitucional do direito fundamental de acesso à justiça e aos
tribunais, é necessário que esse acesso à justiça constitua um compromisso do Estado em
relação às pessoas em geral. Ou seja, não é suficiente que a lei assegure a possibilidade
de se recorrer ao tribunal para a salvaguarda dos direitos das pessoas, é necessário que a
garantia de acesso aos referidos tribunais seja efectiva mediante a existência em termos
concretos dos mecanismos jurisdicionais adequados (tribunais, recursos humanos, etc).
Assim, o Estado deve criar condições para que o direito de acesso à justiça seja uma
realidade, afastando-se os obstáculos a esse direito. São vários os obstáculos que se
podem apresentar ao acesso à justiça e aos tribunais. Alguns deles estão previstos na
própria constituição (falta de assistência jurídica e judiciária, possível actuação ilegal das
entidades públicas relevantes, etc.) sendo na própria constituição estabelecida a base geral
para as respectivas soluções (consagração expressa do direito ao patrocínio judiciário,
etc.).
Nos termos do Código de Processo Civil, a protecção jurídica através dos tribunais
implica o direito de, em prazo razoável, obter e fazer executar uma decisão judicial com
a força de caso julgado (artigo 2.º n.º 1). Do esquema do CPC podem ser identificados
vários elementos que explicam o sentido e alcance da tutela jurisdicional efectiva. O
primeiro é a consagração expressa da possibilidade de obtenção da decisão judicial como
requisito para a proteção jurídica através dos tribunais. A decisão judicial obtém-se,
naturalmente, mediante um processo judicial. Isto significa que o tribunal deve decidir
sobre a pretensão de tutela jurisdicional que lhe é apresentada mediante a aplicação do
direito ao caso concreto.
4.3.Princípio da prontidão da justiça
A questão da prontidão da justiça é uma manifestação do princípio da tutela jurisdicional
efectiva. Não faria sentido que a constituição estabelecesse o direito de recorrer aos
tribunais sem que esse acesso não significasse que os utentes dos serviços da justiça
tenham a resposta a essa necessidade de forma efectiva e eficaz. Assim, as decisões
judiciais devem ser proferidas com rapidez, de modo a que a demora na proferição da
justiça não signifique denegação da justiça .
É sabido que para que o tribunal exerça as suas funções exige-se muito mais do que juízes.
O aparelho judiciário é composto por vários elementos dos quais se inclui um complexo
aparato administrativo, cuja existência é essencial para que se prossiga o fim do sistema.
Ora, a garantia da prontidão da justiça, que significa em termos práticos que a decisão
judicial solicitada seja proferida a tempo de oferecer uma solução aos problemas que
foram suscitados no momento da propositura da acção, depende naturalmente de uma
série de factores que implicam a interferência dos outros intervenientes no funcionamento
do aparelho judiciário.
Assim, por exemplo, para que o juiz possa ter condições materiais para analisar os
processos e proferir os competentes despachos e sentenças é necessário que o mesmo
beneficie da assistência de um serviço de cartório que, por seu turno, necessitará de meios
materiais e humanos idóneos para dar essa resposta. A efectivação da prontidão da justiça
não dependerá, assim, da mera boa vontade de trabalhar do juiz, mas da existência de
condições materiais e humanas que permitam ao mesmo juiz exercer as suas funções.
Mostra-se, por isso, necessário garantir que os meios materiais de que os tribunais
necessitam para exercerem as suas funções sejam disponibilizados com a necessária
continuidade. Os referidos meios materiais serão, na prática, todos os aspectos de ordem
logística e administrativa que são indispensáveis para o bom funcionamento de um
tribunal.
A indispensável prontidão da justiça depende igualmente da concorrência de factores
externos ao próprio sistema público da administração da justiça. A conjuntura social é um
factor a tomar em consideração na apreciação das circunstâncias em que é exercida a
jurisdição. A título de exemplo, é fácil compreender que numa situação de conflito
militar, em que as instituições públicas são parte dos alvos de, pelo menos, uma parte dos
agentes beligerantes, o exercício do poder jurisdicional fica bastante condicionado e, de
certa, forma limitado. Ao longo da história recente de moçambique foram várias as
ocasiões em que a situação político-militar foi tensa, determinando muitas vezes o
encerramento temporário de instituições do Estado, incluindo os tribunais, até à
normalização da situação.
Outro factor relevante no que concerne à prontidão da justiça é a questão relativa ao
comportamento das partes litigantes e dos seus mandatários que, mediante o recurso a
expedientes meramente dilatórios, podem igualmente limitar a prontidão da justiça. A
este respeito dedicamos maior atenção no âmbito do estudo do princípio da cooperação e
da boa-fé.
4.4.Princípio do duplo grau de jurisdição
O duplo grau de jurisdição é uma garantia das pessoas em relação ao conteúdo do
exercício do poder jurisdicional e consiste na possibilidade de reapreciação de uma
decisão judicial por um outro tribunal, de categoria superior. É uma garantia
indispensável para um justo exercício do poder jurisdicional, sem a qual as pessoas teriam
o seu direito de acesso à justiça limitado.
A garantia do duplo grau de jurisdição efectiva-se mediante o direito de recorrer das
decisões proferidas pelos tribunais. Esse direito de recorrer é exercido com observância
de várias regras – as regras sobre os recursos. Tais regras, visando a salvaguarda de
interesses da mais variada ordem, podem ser classificadas consoante diversos critérios,
tendo em atenção o objecto que as mesmas visarão em concreto disciplinar em matéria
de recurso (espécies de recurso consoante as decisões cuja reapreciação se pretenderá,
requisitos de admissibilidade, prazos, tramitação, organização dos tribunais de recurso e
respectivo âmbito de jurisdição, valor das decisões, posição a ser assumida pelos
tribunais em primeira instância, etc).
A Constituição da República não consagra directa ou expressamente o princípio do duplo
grau de jurisdição. Só indirectamente o direito ao recurso é consagrado quando a
Constituição se refere a tribunais de recurso. Na medida em que a Constituição consagra
a existência de Tribunais de recurso, tem sido geralmente entendido que uma das
garantias da jurisdição é o direito ao recurso. Esse entendimento foi confirmado pelo
legislador ordinário, que, tendo em vista ajustar a ordem normativa à realidade actual no
que respeita ao acesso à justiça, num esforço com o objectivo de adequar a organização,
competência e funcionamento dos tribunais judiciais, estabeleceu os Tribunais Superiores
de Recurso.
De entre as várias regras que disciplinam a matéria do recurso, existem as que se prendem
com a alçada, que é o valor até ao qual o tribunal julga sem que a decisão que vier a ser
proferida possa ser susceptível de impugnação em sede de recurso, isto é, o limite de valor
até ao qual um certo tribunal julga sem direito a recurso.
São várias as razões que determinam o estabelecimento de um valor mínimo para que
uma decisão judicial possa ser susceptível de recurso, dentre as mais importantes
apontam-se as que se prendem com a necessidade de reservar a jurisdição de segunda
instância às causas objectivamente consideradas de maior importância, sendo que a
determinação da alçada constitui um critério de distinção e definição do grau de
importância. Com efeito, para a compreensão da razão de ser da consagração legal da
alçada como critério de recorribilidade das decisões judiciais, importará também
conhecer a fundamentação da consagração legal do princípio de que a toda a causa cível
deverá ser atribuído um valor, expresso em moeda legal, que representa a utilidade
económica do pedido (art. 305 do CPC).
A matéria do valor da causa como elemento determinante da acção é importante e
complexa e merece igualmente a nossa atenção. Por isso, dela curaremos mais adiante,
quando falarmos do objecto do processo.
Sem prejuízo do desenvolvimento desta matéria na parte referente ao estudo do valor da
causa como factor a tomar em consideração no que respeita à recorribilidade das decisões,
importa referir nesta sede um problema relacionado com a recorribilidade das decisões
em matéria laboral. Com efeito, a Lei dos Tribunais de Trabalho (Lei n.º 10/2018, de 30
de Agosto) estabelece, relativamente à alçada, no seu artigo 6, o seguinte:
(Alçada)
Na jurisdição laboral a alçada é determinada com base no salário mínimo, em
vigor na função pública, sendo:
a) Acima de 200 salários mínimos, para os tribunais de trabalho de
província;
b) Até 200 salários mínimos, para os tribunais de trabalho de distrito.
Não se percebe o sentido e alcance do artigo 6 da Lei 10/2018, na medida em em termos
conceptuais alçada é o valor até ao qual o tribunal julga sem direito a recurso, ou, a
contrario sensu, o valor a partir do qual o tribunal julga com direito a recurso. É difícil
aceitar que o legislador ordinário tenha, de forma intencional, concebido o texto da
referida disposição legal com o intuito de limitar o direito ao recurso na jurisdição laboral
às acções de valor superior a duzentos salários mínimos. Na verdade, em processos como
os que são instaurados no contexto das relações laborais se o direito ao recurso for
limitado às acções de valor superior a duzentos salários mínimos, o resultado será que
grande parte (ou a maioria) dos processos que serão instaurados na vigência da aludida
lei poderão produzir decisões insusceptíveis de serem reapreciadas pela via do recurso, o
que entendemos ser uma grave e injustificada limitação ao direito de acesso à justiça.
5. Jurisdição arbitral.
A jurisdição arbitral tem a particularidade de decorrer, em regra, da própria vontade das
partes que, expressa através da convenção de arbitragem, é decisiva na determinação das
regras que regularão a tramitação de um processo arbitral, uma vez que as partes têm o
poder de seleccionar livremente as regras aplicáveis ao processo, bem como a faculdade
de submeter o litígio a um organismo institucionalizado de arbitragem como, por
exemplo, o Centro de Arbitragem Conciliação e Mediação da Cidade de Maputo –
CACM, que tem o seu próprio conjunto de regras processuais a serem aplicadas aos
litígios que lhes venham a ser submetidos.
Caso as partes optem por sujeitar a arbitragem ao regime do Centro de Arbitragem
Conciliação e Mediação da Cidade de Maputo a arbitragem decorrerá na sede do Centro
ou na de uma das associadas da CTA (Confederação das Associações Económicas de
Moçambique), à escolha das partes e, na falta de acordo, na sede da que for designada
pelo Presidente do Conselho de Arbitragem do CACM.
O processo arbitral, salvo convenção das partes em contrário, começa com a apresentação
do pedido de sujeição do litígio à arbitragem ao demandado. O sujeito da relação
controvertida que pretenda ver o litígio resolvido através da arbitragem submete um
pedido à outra parte, manifestando o interesse em iniciar um processo arbitral para a
solução do diferendo.
Tendo as partes optado pelo regime do CACM, a parte interessada em desencadear o
processo arbitral deve dirigir um requerimento ou petição nesse sentido ao Presidente do
Conselho de Arbitragem. No referido requerimento deve constar a identificação das
partes litigantes, a indicação do objectivo, os fundamentos da causa, o valor da causa e o
pedido. Deve-se também juntar uma cópia da convenção de arbitragem, documentos
probatórios e de indicação preliminar dos restantes meios de prova.
Após a aceitação da sujeição do diferendo à arbitragem, segue a fase da formação do
tribunal arbitral ou da escolha do árbitro único, se as partes pretenderem que o litígio seja
resolvido por um árbitro único, consoante o acordo a que as partes cheguem em relação
a este aspecto a não ser que as partes já tenham formado o tribunal arbitral (identificando
os árbitros) ou designado o árbitro único na convenção arbitral. Tendo sido escolhido o
regime do CACM o tribunal arbitral será formado pelo Presidente do CACM.
Formado o tribunal arbitral, o demandante apresenta a sua petição ao tribunal enunciando
os factos que fundamentam o seu pedido, os pontos litigiosos e o objecto do pedido.
O demandado enunciará a sua defesa em relação aos factos no prazo convencionado para
o efeito. Tendo as partes recorrido ao regime do CACM, o Presidente do Conselho de
Arbitragem, dentro de cinco dias após a apresentação da petição, mandará citar a parte
requerida para contestar. Neste caso, o prazo para a resposta é de dez dias, para as partes
residentes em território nacional, e de vinte dias para as que tiverem residência no
estrangeiro.
A falta de resposta, dentro do prazo estabelecido para o efeito, implica a admissão, por
acordo, de todos os factos constantes do requerimento/petição, devendo esta cominação
ser levada ao conhecimento do demandado na sua citação. Na arbitragem do CACM
contestação é apresentada em formulário próprio.
Com as suas alegações, as partes podem apresentar quaisquer documentos que julguem
pertinentes bem como mencionar documentos ou outros meios de prova que virão a
apresentar em momento posterior.
Em função do entendimento do tribunal arbitral, será fixada uma ou várias audiências
para as partes exporem os fundamentos do pedido e da defesa oralmente e o tribunal
realizar a sua intervenção. As partes também podem requerer a sua audição em qualquer
estágio do processo.
No regime do CACM, recebida a contestação, o Presidente do Conselho de Arbitragem
pode mandar que as partes sejam convocadas pelo Secretário do Processo para uma
reunião de triagem esta reunião tem por finalidade, a explicação do processo da
arbitragem, e o registo e sistematização de toda a informação relevante sobre a causa e
ainda antes da realização da arbitragem propriamente dita, as partes são convocadas para
uma reunião pré-arbitral, perante os árbitros. A reunião pré-arbitral tem por fim analisar
e rever a ficha do processo, fixar o calendário do processo arbitral, realizar a tentativa de
conciliação das partes e indagar sobre demais aspectos da causa.
No processo arbitral não é obrigatória a constituição de advogado. Mas as partes também
podem fazer-se apresentar através de mandatário devidamente constituído para o efeito.
Qualquer requerimento ou documento com função probatória deverá apresentado por uma
das partes para o tribunal arbitral e será imediatamente dado a conhecer à outra parte.
Havendo necessidade de produção de prova, é aberta a instrução, na qual são admitidos
todos os meios de prova previstos na lei do processo civil. O tribunal arbitral pode
solicitar ao tribunal judicial a assistência de que necessitar para a produção de prova.
Salvo convenção em contrário, no decurso do processo arbitral é lícito às partes modificar
ou completar o seu pedido ou a sua defesa, a menos que o tribunal arbitral considere que
não deve autorizar uma tal alteração em razão do atraso com que é formulada.
Pode-se também fixar um prazo para a apresentação de alegações escritas anteriores à
decisão/deliberação. No regime do CACM, dentro do prazo fixado na reunião pré-arbitral,
as partes são notificadas para apresentar as suas alegações escritas, acompanhadas dos
respectivos meios de prova.
O prazo para a decisão pode ser fixado na convenção arbitral ou em momento posterior
(incluindo durante o próprio processo arbitral) se as partes não fixarem prazo, aplica-se o
prazo supletivo de seis meses contados a partir da data da constituição do tribunal arbitral.
No regime do CACM recebidas as alegações, as partes são convocadas para
comparecerem na sede da arbitragem, para a discussão oral da causa. As testemunhas
arroladas são chamadas na audiência da discussão oral da causa ou em outra fixada pelos
árbitros. Se as partes acordarem em que a discussão se processe por escrito, não haverá
lugar a realização da audiência, devendo o tribunal fixar prazo para as alegações para
cada uma das partes.
Sendo o tribunal composto por mais do que um membro, a decisão é tomada por maioria
de votos, em deliberação em que todos os árbitros devem participar. Se não for possível
formar maioria, a decisão caberá ao presidente do tribunal. A decisão é tomada com base
na lei escolhida pelas partes. Na falta de escolha do direito aplicável, o tribunal arbitral
aplicará as regras do direito que considere convenientes.
O Presidente do tribunal arbitral mandará notificar as partes para procederem ao
levantamento da sentença, e se o regime aplicado for o do CACM, a referida notificação
será necessariamente feita mediante o prévio pagamento das respectivas custas.
Uma vez comunicada a sentença às partes, pode qualquer delas, a todo o tempo, solicitar
certidão da original depositada na Secretaria da Centro, tratando-se de arbitragem do
CACM.
A decisão só pode ser impugnada por meio de recurso de anulação com efeito suspensivo.
6. O Direito Processual
O direito substantivo fixa os direitos e obrigações dos sujeitos das relações jurídicas de
forma geral e abstracta. Mas não resolve os conflitos reais que emergem da violação dos
direitos estabelecidos ou da falta de cumprimento dos deveres legais. O sujeito lesado
não pode recorrer à própria força para a declaração ou reparação efectiva do direito que
considere violado, porque isso é proibido (Art. 1 do CPC) sem prejuízo das excepções
previstas na lei.
O direito processual tem um carácter instrumental. É tradicionalmente visto como um
instrumento ao serviço do direito material, cuja aplicação será desencadeada nos casos
em que não seja possível a aplicação imediata e automática das estatuições substantivas.
Acontece inúmeras vezes que o contrato celebrado não é cumprido ou o seu cumprimento
não é satisfatório para uma ou para todas as partes envolvidas, decorrendo daí a
necessidade de desencadeamento de mecanismos legais para a reposição da ordem
jurídica. O Estado, senhor da ordem e criador das leis que regulam a convivência dos seus
membros, optou por chamar a si o poder de resolver as diferenças que possam emergir
dessa convivência, assumindo a responsabilidade de criar condições para que essa
resolução. Fê-lo através da jurisdição.
Sendo proibido o recurso à força para a salvaguarda e protecção dos direitos das pessoas
jurídicas, incumbe ao Estado garantir que essa reparação seja feita de forma que se
harmonize às normas e princípios constitucionalmente consagrados.
Para a protecção jurídica dos direitos subjectivos e interesses legítimos das diversas
entidades, existem os tribunais, que, nos termos do estabelecido no n.º 1 do Art. 212.º da
CRM, são órgãos cujo objectivo é garantir e reforçar a legalidade como factor de
estabilidade jurídica, garantir o respeito pelas leis, assegurar os direitos e liberdades dos
cidadãos, assim como os interesses jurídicos dos diferentes órgãos com existência legal.
É nos tribunais que os sujeitos de direitos violados podem requerer a salvaguarda dos
direitos violados através de acções de natureza cível. É nos tribunais que o Ministério
Público exercerá a acção penal. É nos tribunais que os particulares poderão reagir contra
a actuação ilegal da administração pública que seja lesiva aos seus direitos subjectivos e
interesses legítimos.
Para que o tribunal exerça o seu poder, é necessário que nele seja instaurada uma acção.
6.1. O direito de acção e a relação jurídica processual
Como princípio e regra geral, a iniciativa do processo incumbe às partes e ao Ministério
Público. Esta iniciativa é, ao mesmo tempo, um direito e um ónus. É um direito porque
só a parte interessada é que pode provocar o exercício da função jurisdicional tendo m
conta uma determinada situação jurídica, de modo a obter do tribunal a protecção dos
seus interesses ameaçados ou a reposição do direito violado. É um ónus porque é o acto
necessário para que aquele que pretende obter a protecção jurídica do seu direito dê início
a um processo. Se determinado direito for violado, a parte interessada em ver-se
ressarcida deve recorrer ao tribunal, salvo se conseguir obter o ressarcimento por via
extrajudicial lícita.

7. Elementos do processo
7.1.Sujeitos processuais
Uma das questões mais discutidas a nível da Teoria Geral do Processo é a definição dos
sujeitos processuais. A discussão tem a sua génese na construção do conceito de relação
jurídico-processual, no sentido de que se se entende como assente que o processo é uma
relação jurídica, e toda a relação jurídica tem entre os seus elementos o de ordem
subjectiva, então interessa identificar quem são os sujeitos processuais. Daí a questão de
saber o que se deve entender com este conceito.
Geralmente, entende-se que as partes são sujeitos processuais, não havendo dúvidas sobre
esta questão, que é pacífica. Apresenta-se normalmente o demandante e o demandado
como sujeitos processuais, por serem eles as partes interessadas. Este critério, na verdade,
permite a construção de uma definição mais segura sobre o que serão os sujeitos
processuais.
Assim, serão sujeitos processuais as pessoas que têm interesse directo no objecto da
decisão que será proferida pelo tribunal, exprimindo-se o referido interesse no benefício
ou prejuízo que a referida decisão poderá produzir. Com base no mesmo critério,
incluímos na qualidade de sujeitos processuais o demandante, o demandado e o tribunal.
Esta construção variará naturalmente em função da disciplina de direito processual em
concreto que estivermos a analisar. Assim, podemos falar de sujeitos processuais
específicos do processo civil, sujeitos processuais típicos do processo penal, sujeitos
processuais a nível do direito processual administrativo contencioso, etc.
A designação dos sujeitos processuais variará, também, em função da disciplina em
concreto. Assim, teremos autor e réu na acção declarativa, exequente e executado em
processo executivo, requerente e requerido nas providências cautelares, embargante e
embargado nos embargos, só para citar alguns exemplos.
Existem pessoas que participam no processo sem serem sujeitos processuais, justamente
porque não têm interesse directo no conteúdo da decisão. Em relação a estas pessoas,
ainda que as mesmas tenham alguns deveres no processo, a decisão judicial que será
proferida não produz qualquer efeito jurídico. Pode-se apontar, a título exemplificativo,
os interpretes, os peritos e os funcionários judiciais que, participando activamente no
processo e mediante intervenção com utilidade instrumental para o bom andamento da
lide, não são sujeitos processuais porque não fazem parte da relação jurídico-processual.
7.1.1. O tribunal como sujeito processual
O tribunal é também sujeito processual porque tem interesse directo na causa. Não se trata
de um interesse semelhante ao das partes, mas de um interesse que se reporta ao interesse
que o Estado tem na resolução pacífica e legal dos litígios. A qualidade de sujeito
processual do tribunal funda-se no princípio da proibição da autotutela, no sentido de que
se o Estado proíbe os particulares de recorrerem à justiça privada, reservando a si o poder
de decidir os litígios que surgirem entre as pessoas, esse mesmo Estado tem interesse em
que os litígios que lhe são submetidos para, através dos tribunais, julgar e decidir, o sejam
de forma eficiente, pois só assim se poderá preservar a credibilidade da justiça pública e,
por via disso, assegurar ou evitar que as pessoas recorram à autotutela.
A qualidade de sujeito processual do tribunal também pode ser explicada tendo por base
as características da sua actuação no processo, no sentido de que o tribunal tem sobre o
processo e perante as partes um conjunto complexo de poderes que o colocam numa
posição de autoridade.
O tribunal tem o controlo de toda a estrutura formal do processo, é ao tribunal que
incumbe a direcção da tramitação processual desde a instauração do processo até ao seu
encerramento. A lei processual confere ao tribunal um conjunto de poderes que permitem
que o mesmo coordene toda a actividade processual. Esses poderes podem ser analisados
em duas dimensões que são a actividade do cartório e a actividade do juiz. O cartório é
responsável pelas questões administrativas relacionadas com o processo quais sejam a
organização e conservação do processo físico, o recebimento de todos os documentos
trazidos ao processo pelos demais intervenientes processuais bem como o
encaminhamento desses mesmos documentos ao juiz. Nesta última parte podemos
afirmar que o cartório exerce uma função que consiste em estabelecer a ligação entre os
demais intervenientes processuais e o juiz. Essa ligação efectiva-se com a prática de
acções concretas tais como o acto processual designado por “conclusão dos autos”. Para
que possa exercer as suas funções, o cartório tem necessariamente de observar um
conjunto de regras bem como ser dotado de um quadro de pessoal qualificado.
Os funcionários do cartório são, portanto, dotados de conhecimentos técnicos necessários
para que possam desempenhar o seu papel. Importa, portanto, conhecer a estrutura
profissional dos funcionários do cartório o que pode ser feito mediante o estudo da Lei
da Organização Judiciaria e demais normas sobre o estatuto dos oficiais de justiça.
Com efeito, as funções no cartório são desempenhadas por oficiais de justiça, os quais
gozam de um estatuto próprio e estão subordinados ao Conselho Superior da Magistratura
Judicial.
A actividade do juiz corresponde à dimensão jurisdicional do tribunal. O juiz é que
representa o tribunal no processo, sendo ele o responsável pelo controlo dos actos que são
praticados pelos demais intervenientes processuais. O juiz tem também poder sobre a
actividade do cartório, incumbindo a ele controlar o cumprimento das várias disposições
legais reguladoras da actividade daquela que é a dimensão administrativa do processo.
Discute-se também a questão da autonomia funcional do cartório perante o juiz, no
sentido de que sendo o cartório composto por um corpo de funcionários dotados de
conhecimentos técnicos específicos – e, portanto, diversos dos do juiz – é de exigir que
esses funcionários tenham autonomia em relação à forma como exercem as suas funções.
7.1.2. O Ministério Público como sujeito processual em processo não penal
Se, por umado, é indiscutível o papel do Ministério Público em processo penal, pouco se
tem dito sobre o papel deste órgão em processos enquadráveis em outras matérias, tais
como a civil, a laboral e a administrativa. Não obstante o aparente reduzido debate
doutrinário, a prática forense tem provado que, também naquelas jurisdições, o Ministério
Público assume muitas vezes um papel vital.
São exemplos disso os casos em que o Ministério Público, agindo na defesa da legalidade,
tem legitimidade processual para, em sede de jurisdição administrativa, instaurar recursos
contenciosos (art. 44 da LPAC), requerer a decretação de meios processuais acessórios
(art. 44 da LPAC), instaurar acções sobre contratos administrativos (art. 116 da LPAC),
entre tantos outros casos. A legitimidade processual do Ministério Público nos processos
aqui enumerado e noutros casos indicados na LPAC demonstra que, a nível do
contencioso administrativo, o Ministério Público tem um papel tanto ou mais expressivo
do que em processo-penal, onde lhe cabe apenas a direção de uma parte do processo,
quando nos processos de contencioso intervém em todas as fases do processo, incluindo
na produção da decisão. Existe, por exemplo, o caso do visto a que é sujeito o projecto de
acórdão em sede de recurso contencioso, nos termos do n.º 2 do artigo 82 da LPAC, onde
de forma arrepiante o Ministério Público tem o poder de influenciar a decisão, a ponto de
nos fazer questionar a constitucionalidade material deste preceito).
Também na jurisdição civil temos um Ministério Público a assumir papel determinante
em alguns processos quando, agindo na defesa dos interesses dos menores e demais
incapazes bem como dos incertos (como é o exemplo do artigo 16.º do CPC).
7.1.3. Os sujeitos em processo civil
Em processo civil, os sujeitos processuais são as partes e o tribunal. No que respeita às
partes, importa ter presente que as mesmas serão regra geral o demandante e o
demandado, mas pode haver lugar a modificações subjectivas decorrentes da intervenção
de novas pessoas no processo, intervenção essa que pode ser provocada ou espontânea.
O demandante é aquele que, usando do poder dispositivo, dá início ao processo
requerendo o mecanismo de tutela jurisdicional necessário para acautelar os seus
interesses. O demandado, por seu turno, é aquele contra quem o mecanismo de tutela
jurisdicional é requerido.
7.1.4. Os sujeitos em processo penal
O arguido é aquele sobre quem recai forte suspeita de ter cometido um crime. Nos termos
do n.º 2 do artigo 62 da CRM, o Estado garante aos arguidos o direito de defesa e o direito
à assistência jurídica e patrocínio judiciário. Desta disposição decorre, como
consequência, que o arguido terá, necessariamente, um defensor, cabendo este papel aos
advogados e técnicos jurídicos devidamente autorizados a exercer o mandato forense.
Ao arguido, como sujeito em processo penal são reconhecidos, assim, determinados
direitos. Tendo em conta que em processo penal estão também em causa direitos,
liberdades e garantias individuais dos cidadãos, as normas processuais de natureza
criminal acabam tendo, na sua maioria, o estatuto de normas infraconstitucionais de
dignidade constitucional, o que exige que a sua interpretação seja o mais rigorosa
possível, por respeitar a aspectos que têm a ver com direitos fundamentais. É por isso que
decorrem directamente do texto da constituição o direito de defesa (artigo 62, n.º 1), o
direito ao julgamento (artigo 65, n.º 1) e o direito a recorrer à providência extraordinária
do Habeas Corpus em caso de prisão ou detenção ilegal (artigo 66),
O assistente ou parte acusadora é o sujeito processual que pretende, com o processo penal,
salvaguardar os interesses que tenham sido lesados em decorrência da actividade
criminosa.
7.2. Objecto do processo
7.2.1. O objecto em processo civil: o pedido e a causa de pedir
Dissemos antes que o processo pode ser visto como uma relação jurídica. Foi nessa
perspectiva que dissemos e discutimos que o processo tem sujeitos. Com efeito, além dos
sujeitos, a relação jurídico-processual é dotada de um outro elemento essencial que é o
seu objecto. Conhecemos já a estrutura do processo e podemos afirmar que, quando
alguém recorre ao tribunal, o faz porque tem um interesse a acautelar e pretende
essencialmente que o tribunal produza uma decisão judicial sobre determinada questão
da vida real. Quando, por exemplo, o António recorre ao tribunal competente com o
objectivo de obter a condenação do Bernado no pagamento de uma quantia decorrente de
um contrato de compra e venda, a pretensão concreta do António é que o tribunal produza
uma sentença cujo conteúdo determine a obrigação do Bernardo realizar a prestação
devida. Neste esquema, é possível identificar, além dos sujeitos processuais – António,
Bernardo e o Tribunal, o objecto do processo, conforme adiante melhor se explica.
A relação jurídico-processual terá o seu objecto definido em função da pretensão do
demandante ou autor – da pessoa que toma a iniciativa de instaurar esse processo perante
o tribunal. O objecto do processo é delimitado tendo por base a pretensão, a vontade ou a
intenção de quem toma a iniciativa de instaurar o processo. Isto percebe-se com facilidade
quando olhamos para a estrutura do processo civil, a acção cível. Quando falamos da
acção de divórcio, da acção de indemnização no contexto da efectivação de
responsabilidade civil e, no geral, de todas as acções propostas pelos particulares (ou pelo
Estado e outros entes públicos) para a resolução de questões de direito privado.
Percebemos, da análise destas relações, a questão do objecto da relação processual com
base na análise da pretensão do autor, requerente ou demandante.
Podemos, assim, dizer que no processo civil o objecto do processo é identificado como
sendo o mecanismo de tutela jurisdicional requerido pelo autor. Trata-se aqui da
providência concreta que o demandante pretende obter do tribunal. Neste sentido, sempre
que se nos for colocada a questão de identificar o objecto de um processo em concreto,
haverá que questionar qual é a pretensão concreta do demandante, ou seja, qual é a
intenção do demandante com o processo judicial. Haverá que indagar sobre a
consequência concreta pretendida pelo autor em resultado do processo por ele instaurado.
Dessa resposta constará, de forma clara, a informação essencial sobre o objecto do
processo.
Podemos, assim, olhar para o objecto do processo numa dupla perspectiva. Em primeiro
lugar, e conforme já adiantamos, veremos o objecto do processo como sendo o pedido
que o demandante formula perante o tribunal. O tribunal está disponível e o demandante
a ele se dirige para pedir que ordene determinada providência ou produza um determinado
efeito jurídico que terá impacto na vida real. Assim, o pedido é o primeiro elemento do
objecto do processo. O pedido é efectivamente o mecanismo de tutela jurisdicional
requerido pelo autor. Quando o António pede que o Bernardo seja condenado a pagar-lhe
a quantia de cem mil meticais em decorrência de um contrato celebrado entre ambos, é
este pedido que permite definir o objecto do processo instaurado pelo António contra o
Bernardo.
Mas o pedido não é em si e exclusivamente o objecto do processo. Para que o demandante
tenha a sua pretensão considerada válida e seja julgada procedente pelo tribunal,
satisfazendo-se assim a intenção primeira de quem busca os serviços da justiça, o pedido
tem de ser fundamentado. O pedido deduzido deverá ser sustentado de forma coerente
com base numa justificação que possa ser considerada válida e idónea para garantir o
êxito da acção. Para sustentar o pedido deduzido, o demandante terá necessariamente de
apresentar os fundamentos de facto e os fundamentos de direito por detrás do seu pedido.
Esta fundamentação de facto e de direito que sustenta o pedido tem a designação de causa
de pedir. Podemos, assim, definir a causa de pedir como o conjunto de fundamentos
fácticos e jurídicos que sustentam o pedido.
A causa de pedir deve ser indicada de forma clara, compreensiva e, se necessário,
exaustiva. Se, por exemplo, o António pretende obter a decretação do divórcio com
fundamento na violação do dever de fidelidade, a causa de pedir tem de ser composta
pelos factos que consubstanciam a violação do dever de fidelidade, no sentido de que ao
António se exige que explique, de forma detalhada, os actos praticados pela demandada
e os precisos contornos da violação do dever de fidelidade.
Podemos, em resumo, dizer que o objecto do processo é o pedido e a causa de pedir. O
pedido é a conclusão do demandante resultante da apresentação dos fundamentos que
sustentam a sua pretensão. O demandante não pode pedir só por pedir, mas apenas pedir
de forma justificada e fundamentada. A fundamentação, por seu turno, deve ser
apresentada de forma fática e jurídica, isto é, além da narração dos factos, o demandante
deve apresentar, ainda que de forma sintética, a subsunção legal que o leva à conclusão
de que é titular de um direito digno de tutela jurisdicional. No fundo, é na causa de pedir
que se vai encontrar a razão de ser do próprio processo visto que este nada mais é do que
um meio que o direito coloca ao dispor das pessoas para, perante o poder jurisdicional,
procurarem fazer valer os seus direitos.
O pedido e a causa de pedir andam sempre juntos de tal sorte que uma acção em que se
indique apenas o pedido e não se indica a causa de pedir não está em condições de
apreciada e julgada pelo tribunal pois estará incompleta no que respeita à indicação do
objecto do processo. Do mesmo modo, uma acção em que apenas seja indicada a causa
de pedir, mas não se conclua com a indicação do pedido, de forma clara e precisa na
conclusão, também não estará em condições de produzir os efeitos jurídicos pretendidos.
O objecto do processo é, portanto, um conjunto composto pelo pedido e pela causa de
pedir.
Importa ter presente a importância da indicação do pedido e da causa de pedir no
processo. Esta importância pode ser aferida na perspectiva das consequências jurídico-
processuais da falta ou ininteligibilidade dos referidos elementos. A este respeito,
encontramos uma explicação muito clara quando analisamos o artigo 193.º do CPC. Da
análise do n.º 2 desta disposição legal identificamos três situações que nos permitem
explicar a importância da indicação do pedido e da causa de pedir no processo. Ao abrigo
da citada disposição legal, é nulo todo o processo quando a petição inicial seja inepta e
diz-se inepta a petição inicial nas seguintes situações:
a) Quando falte o pedido ou a causa de pedir – quando o demandante se limite a
indicar apenas um dos elementos do objecto do processo. Não faria sentido
outro entendimento, visto que estar-se-ia em face de uma situação em que, ou
não se sabe o que o demandante pretende, ou sabendo-se o que pretende, não
se sabe com que fundamento o pretende.
b) Quando seja ininteligível a indicação do pedido ou da causa de pedir – quando,
tendo o demandante indicado o pedido e a causa de pedir, não seja possível
com base no texto da petição inicial decifrar a pretensão ou os fundamentos
apresentados.
c) Quando o pedido esteja em contradição com a causa de pedir – Existem
situações em que o demandante, de forma consciente ou não, coloca o pedido
numa posição contraditória em relação aos respectivos fundamentos. Nos
casos em que tal ocorre, diz-se que é inepta a petição inicial. O pedido tem de
ser corolário lógico da causa de pedir e deve estar em harmonia e ser coerente
com esta. Em caso contrário, diz-se que a petição é inepta.
d) Quando o demandante cumule pedidos substancialmente incompatíveis – a
cumulação de pedidos é uma das formas de apresentação do pedido no
processo e ocorre nos termos indicados no artigo 470.º do CPC de que mais
adiante curaremos. Os pedidos cumulados devem ser substancialmente
compatíveis, sob pena de ineptidão da petição inicial.
Em processo civil, o pedido pode ser apresentado de várias formas pois a dinâmica da
vida real é dotada de uma complexidade que determina que as pretensões levadas a juízo
também reflitam essa complexidade. A pretensão do demandante num processo também
pode ser traduzida de várias formas tendo em conta aquilo que é o resultado efetivo que
o demandante pretende obter com o processo judicial. Por outras palavras, quando
recorremos ao tribunal podemos pedir que o tribunal ordene um conjunto de providências
que podem variar em função da nossa vontade em concreto.
Imaginemos, mais uma vez, que o António tenha celebrado com o Bernardo um contrato
de compra e venda nos termos do qual aquele é comprador e este vendedor de uma
determinada coisa, tendo por isso a obrigação de entregar a coisa vendida dentro de certo
prazo. O Bernardo não cumpre com a sua obrigação de entregar a coisa dentro do prazo
estipulado contratualmente e o António pretendendo ver os seus direitos protegidos
recorre ao tribunal e, apresentando os fundamentos, pede que o tribunal condene o
Bernardo a entregar a coisa. Pode ocorrer que além da entrega da coisa, o António
pretenda ser indemnizado pelo Bernardo pelos prejuízos decorrentes do seu
incumprimento. Neste caso, o António pode, além de pedir a condenação do Bernardo na
entrega da coisa vendida, pedir que o tribunal condene o demandado a pagar uma
indemnização em decorrência do incumprimento. Neste exemplo podemos com clareza
identificar dois pedidos deduzidos num mesmo processo. Em condições normais, cada
uma das pretensões do António podia ser traduzida num processo autónomo, mas o que
sucede é que temos no mesmo processo dois pedidos: (i) que Bernardo seja condenado a
entregar a coisa e (ii) que Bernardo seja condenado a indemnizar o António em resultado
do prejuízo decorrente do seu incumprimento.
A situação apresentada no exemplo acima podia ter outros contornos, na medida em que
o António podia pedir que o Bernardo fosse condenado a entregar a coisa vendida ou,
alternativamente, a devolver o preço pago. Esta situação é diferente da que apresentamos
acima, na medida em que enquanto naquele caso o António pede que o tribunal julgue
procedente dois pedidos colocados no mesmo plano (o pedido de condenação na entrega
da coisa e o pedido de condenação no pagamento de uma indemnização), no exemplo
agora apresentado o António deduz dois pedidos de forma alternativa, na perspectiva de
que apenas uma das pretensões apresentadas será decidida pelo tribunal.
Na lei processual vigente encontramos um conjunto de disposições que regulam o pedido
e a forma como o pedido pode ser apresentado no processo.
7.2.1.1. Cumulação de pedidos
O nosso exemplo do António que celebrou um contrato de compra e venda com o
Bernardo e em resultado do incumprimento deste pretende que o tribunal o condene na
entrega da coisa e no pagamento de uma indemnização ilustra a situação de cumulação
de pedidos. O n.º 1 do artigo 470.º do CPC estabelece que o autor pode deduzir,
cumulativamente, contra o mesmo réu, num só processo, vários pedidos que sejam
compatíveis. Significa que, num mesmo processo, podemos ter mais do que um pedido,
desde que esses pedidos sejam, entre si, compatíveis e não se verifiquem as circunstâncias
que impedem a coligação nos termos do artigo 31.º do CPC. Sobre a coligação falaremos
mais adiante quando estivermos a analisar a questão dos pressupostos processuais, onde
discutiremos a legitimidade processual e trataremos da coligação de autores e réus no
contexto da legitimidade plural. Nessa altura veremos que é possível várias pessoas
instaurarem contra o mesmo demandado ou contra vários demandados, um único
processo. O que interessa neste momento é ter presente que podemos num único processo
deduzir vários pedidos, o que constitui uma manifestação do já conhecido princípio da
economia processual.
A cumulação de pedidos depende da verificação de certos requisitos previstos no n.º 1 do
artigo 470.º e no artigo 31.º. exige-se que os pedidos cumulados sejam entre si
compatíveis, sendo que a questão da compatibilidade entre os pedidos tem a ver com a
tramitação do processo aplicável a cada um dos pedidos.
Dissemos que, quanto à forma, o processo pode ser comum ou especial. Para cada uma
das formas de processo especial há um fim específico, definido pelo legislador. Por
exemplo, o processo de interdição é um processo especial que tem em vista a efectivação
do meio de suprimento da incapacidade em decorrência de anomalia psíquica, surdez-
mudez ou cegueira, nos termos previstos na lei civil. O processo judicial por meio do qual
será decretada a interdição está previsto na lei processual e é dotado de uma tramitação
própria diversa do processo de despejo, que também é um processo especial previsto na
lei civil, com uma finalidade completamente distinta do processo de interdição. Para que
dois pedidos possam ser cumulados é necessários que os processos correspondentes a
cada um dos pedidos não sejam incompatíveis do ponto de vista de forma de processo,
conforme resulta do texto do n.º 1 do artigo 470.º do CPC.
O Artigo 31.º do CPC, para para o qual nos remete o artigo 470.º do mesmo diploma,
contém a indicação de um conjunto de requisitos que são também exigidos para que seja
realizada a cumulação de pedidos: temos no artigo 31.º do CPC em primeiro lugar que
aos pedidos cumulados não podem corresponder formas de processo diferentes (visto que
para cada pedido há uma forma de processo).
Neste sentido, podemos afirmar que os pedidos que serão cumulados não podem, em
regra, ser enquadráveis em formas de processo distintas. Assim, com base nos exemplos
acima indicados, não se pode, cumular um pedido de interdição, que corresponde a
processo especial, com um pedido de despejo, que também corresponde a um outro
processo especial.
Por outro lado, nos termos do artigo 31.º do CPC a cumulação não pode ofender regras
de competência do tribunal em razão de alguns critérios (matéria, hierarquia e
competência internacional dos tribunais moçambicanos). Quando falamos da jurisdição
dissemos que os tribunais estão organizados tendo em conta, entre outros aspectos, a
matéria reservada pela constituição a cada ordem jurisdicional. Assim, por exemplo, não
pode ser realizada a cumulação de pedidos num processo a ser instaurado na jurisdição
comum numa situação em que um desses pedidos seja da competência da jurisdição
administrativa pois nesta situação estaria a ser violada uma regra de competência em
razão da matéria.
Por outro lado, a cumulação de pedidos não pode ofender as regras de competência dos
tribunais em razão da hierarquia. A competência em razão da hierarquia tem a ver com
os poderes do tribunal para decidirem determinadas matérias em primeira ou em segunda
instância.
A cumulação de pedidos pressupõe, além da observância das regras acima indicadas, o
respeito pelas regras que têm a ver com a competência internacional dos tribunais
moçambicanos, nos termos regulados pelos artigos 61.º e 65.º do CPC, conforme teremos
a oportunidade de desenvolver adiante.
Sendo certo que a cumulação de pedidos depende da verificação dos requisitos previstos
no artigo 31.º e no artigo 270.º, ambos do CPC, importa dedicar alguma atenção às
excepções legalmente previstas nas referidas naquelas disposições legais. Desde logo, o
n.º 2 do artigo 470.º estabelece a possibilidade de ocorrência de situações em que a
diversidade da forma de processo não vai constituir um obstáculo à cumulação de
pedidos, quais sejam:
a) A diversidade de formas de processo não obsta a que o autor possa cumular o
pedido de despejo, que corresponde a processo especial, com o de rendas ou
indemnização que, em regra, correspondem a processo comum. O legislador
permite a cumulação do pedido de despejo com de rendas por pressupor que
se trata de pedidos decorrentes da mesma relação material (contrato de
arrendamento);
b) Não existem impedimentos à cumulação do pedido de manutenção ou
restituição da posse, que corresponde a um processo especial, com o pedido
de indemnização, correspondente a processo comum, desde que tal direito a
indemnização seja resultado do esbulho sofrido pelo demandado;
c) Também não existe impedimento à cumulação do pedido de divórcio,
normalmente correspondente a processo comum, ou separação judicial com o
pedido de fixação do direito a alimentos, que corresponde a processo especial.
O legislador respeita o facto de os dois pedidos decorrerem da mesma relação
jurídica.
Nas três situações acima identificadas verificamos que a regra da identidade da forma de
processo como requisito para a cumulação de pedidos é afastada pelo legislador. No
entanto, em todas as três situações identificadas, o juiz deverá ter cautela e determinar
que nos referidos casos seja observada, relativamente aos pedidos, a forma de processo
estabelecida para o despejo, para as acções possessórias ou para o divórcio litigioso.
Trata-se, conforme dissemos, de situações excepcionais pois a regra é que deverá haver
entre os pedidos cumulados identidade de formas de processo.
7.2.1.2. Pedidos alternativos
Trata-se de uma situação prevista no artigo 468.º do CPC. Os pedidos podem ser
deduzidos nestes moldes nos casos de direitos que pela sua natureza ou origem sejam
alternativos ou que possam resolver-se em alternativa. Trata-se de uma situação em que
temos vários pedidos mas todos eles numa relação de alternatividade no sentido de que o
demandante formula pedidos que estão numa posição em que o tribunal poderá escolher
o que será julgado procedente. No exemplo do contrato de compra e venda, o António
(comprador) poderá pedir ao tribunal que condene o Bernardo a devolver o preço ou a
entregar a coisa. Obrigações alternativas cabem nesta situação.
7.2.1.3. Pedidos subsidiários
O pedido subsidiário é aquele que é apresentado ao tribunal para ser tomado em
consideração apenas no caso de não ser considerado procedente um pedido anterior, que
será por seu turno o pedido principal . Neste caso a pretensão do demandante prioriza a
procedência do pedido principal e só por uma questão de cautela, caso o pedido principal
seja considerado improcedente, que o tribunal considere o pedido subsidiário. Trata-se de
uma situação prevista no artigo 469.º do CPC.
O que distingue os pedidos alternativos dos pedidos subsidiários é que nestes últimos há
um pedido que é colocado num plano secundário, enquanto que nos pedidos alternativos
temos os dois pedidos no mesmo plano na medida em que o demandante não estabelece
nenhuma hierarquia entre as suas pretensões e os coloca ao critério do melhor julgamento
do tribunal.
7.2.1.4. Pedidos de prestações vincendas
Trata-se de um caso previsto no artigo 472.º do CPC. O autor pode pedir que, numa
situação em que a obrigação susceptível de ser satisfeita mediante prestações periódicas,
a petição pode incluir o pedido de que o autor seja condenado a pagar as prestações
vencidas e aquelas que estão por vencer. Ou seja, enquanto subsistir a obrigação e forem
previstas prestações vincendas (no futuro), como nos casos de prestações mensais,
estando o devedor em mora em relação a prestações já vencidas, pode ser pedida a sua
condenação não só no cumprimento das referidas prestações, como no daquelas que ainda
estão por se vencer.
Trata-se, na verdade, de uma questão de economia processual pois, se o devedor já se
encontra em mora em relação a algumas prestações e pode, por isso, ser demandado
judicialmente por essas prestações, não se pode exigir que para as prestações vincendas
seja necessária a instauração de um processo judicial diverso pois trata-se da mesma
relação material.
7.2.1.5. Pedidos genéricos
Decorrem do artigo 471.º do CPC. A regra em relação à dedução dos pedidos é de que os
mesmos sejam indicados de forma clara, precisa, certa, fixa e determinada. O artigo 471.º
permite um desvio a esta regra, autorizando a dedução de pedidos de forma genérica no
sentido de que podem existir situações em que o objecto mediato do processo pode ser
uma coisa composta. Pode-se pedir que o demandado seja condenado, por exemplo, a
entregar ao demandante uma cabeça de gado não especificada e pertencente a uma
manada. Com efeito, nos casos em discussão, o objecto imediato do processo não é
identificado de forma específica.
Por outro lado, nos termos da alínea b) do n.º 1 do artigo 471.º do CPC os pedidos
genéricos podem ocorrer nos casos em que não seja ainda possível determinar de modo
definitivo as consequências do facto que obriga à reparação nos termos da lei. Por
exemplo, se dum acidente de viação decorrem ferimentos sobre e a vítima pretenda obter
a indemnização pelos danos causados, pode instaurar o processo antes da fixação das
consequências do acidente. Nesse caso, pedirá que a indemnização seja fixada em valor
a liquidar em execução de sentença.
Nos termos da alínea c) do n.º 1 do artigo 471.º, os pedidos genéricos também podem ser
deduzidos quando a fixação do quantitativo esteja dependente de prestação de contas ou
de outro acto que deva ser praticado pelo réu. Trata-se, igualmente, de uma situação em
que ainda não é conhecido o valor exacto que deve ser pago pelo demandado.

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