Profª. Elsa Maria L. S.

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PONTO 2. O PROCESSO E O DIREITO PROCESSUAL. Sua atuação no Estado

moderno e os princípios gerais para a sua aplicação. Direito material e direito
processual.

1) DIREITO MATERIAL E DIREITO PROCESSUAL

Vimos que no exercício da sua função reguladora o Direito cria normas de conduta, por
meio das quais dita comportamentos que devem ser observados no dia a dia da vida
em sociedade, determina quais os interesses que devem prevalecer. A esse conjunto
de normas jurídicas que regula a vida material se dá o nome de Direito Material ou
Direito Substantivo. Como essas normas de conduta afetam todos os aspectos da
vida humana em sociedade têm conteúdos diversos. Por isso, é comum agrupar essas
normas por conteúdos e dar-lhes um nome de acordo com a natureza das relações
jurídicas materiais de que tratam. Daí se falar de Direito Civil, Direito Penal, Direito do
Trabalho, Direito Administrativo etc.

Quando as normas de Direito Material são cumpridas espontaneamente pelos

membros da sociedade, ou seja, quando os comportamentos humanos respeitam as
regras de Direito Material as relações jurídicas se desenvolvem regularmente sem
conflitos e, na maioria dos casos, sem necessidade de nenhuma intervenção estatal.

Porém, quando isso não ocorre o Estado é chamado a atuar e a fazer valer, se
necessário através de meios coercitivos (força), o Direito Material. Sua atuação
também é regulada por normas jurídicas, agora de outra natureza (natureza não
material), de natureza processual ou adjetiva. A esse conjunto de normas se dá o
nome de Direito Processual.

O Estado moderno chamou a si a titularidade do direito de punir, retirando dos

particulares o direito à autotutela (por isso proíbe e pune o exercício privado da
força). Logo, se as partes não chegam espontaneamente a uma solução, ou se não
é possível recorrer a um mecanismo alternativo de pacificação social (arbitragem,
por exemplo), impõe-se que o Estado intervenha diretamente na solução do litígio.

Essa intervenção estatal se dá por meio do processo que é o objeto do Direito

Processual. É o Direito Processual que nos vai dizer, entre outras coisas, qual o
órgão estatal que deve resolver o conflito, como esse órgão deve ser constituído,
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como esse órgão deve proceder para resolver o conflito e o que os sujeitos do
processo podem ou devem fazer. Enfim, o Direito Processual apresenta-se como o
conjunto de normas jurídicas que regulam o processo, isto é, o método a ser
observado pelo Estado no exercício da função jurisdicional.

Desse modo, o Direito Processual é o instrumento que propicia a

realização/efetivação do Direito Material, quando este não é voluntária e
espontaneamente respeitado.

2) POSIÇÃO DO DIREITO PROCESSUAL NO CAMPO DAS CIENCIAS

JURÍDICAS.

O Direito Processual é tido como uma ciência autônoma no campo da dogmática do

Direito. Integra o chamado Direito Público, pois regula a prestação da atividade
jurisdicional pelo Estado por meio de regras imperativas (cogentes), normas que, em
regra, não podem ser afastadas pela vontade das partes (evidenciando uma relação
de poder e sujeição dos interesses das partes ao interesse público).

A clássica divisão de que falamos (direito público X direito privado) é utilizada

unicamente para fins didáticos e de sistematização de estudos, encontrando-se
superada em razão do entrelaçamento cada vez maior das normas de direito privado
e de direito público em prol da função social perseguida pelo Direito.

O direito processual relaciona-se com todas as ciências jurídicas, mas tem ligação
especial com o Direito Constitucional, ciência que, na verdade, estabelece as bases
do Direito Processual (institui o Poder Judiciário, cria órgãos jurisdicionais, fixa
princípios etc).

3) DIVISAO DO DIREITO PROCESSUAL

Enquanto conjunto de normas que regula o exercício da atividade jurisdicional o

Direito Processual é uno. Apesar dessa unidade, é comum classificá-lo em distintos
ramos, de acordo com o direito material que visa garantir e efetivar.

A classificação mais importante é a que subdivide o Direito Processual em dois

grandes ramos: Processo Civil e Processo Penal. Tal classificação toma como
referência a natureza da pretensão. Processo Penal é aquele que apresenta uma
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pretensão punitiva do Estado. Processo Civil é aquele por meio do qual se resolvem
os conflitos regulados pelo Direito Privado, Direito Constitucional, Administrativo,
Tributário, Trabalhista etc.

A expressão Processo Civil, nessa classificação, é usada em sentido amplo, pois

compreende todas as pretensões que não sejam penais. É de notar, todavia, que a
expressão comporta também um sentido estrito, quando se refere às pretensões
exclusivamente civis.

É bom lembrar que tal classificação não retira a unidade da ciência processual. A
própria Constituição Federal alude ao Direito Processual sem fazer nenhum tipo de
diferenciação, referindo-se, portanto, ao Processo Penal e ao Processo Civil. Além
disso, são comuns aos dois ramos do direito adjetivo os institutos processuais
básicos, como, por exemplo, jurisdição, processo, ação, defesa etc.

É exatamente essa coincidência de institutos que permite a elaboração de uma

Teoria Geral do Processo, objeto de estudo da nossa disciplina.

Sugestão de leitura:
CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; DINAMARCO, Cândido Rangel; GRINOVER,
Ada Pellegrini. Teoria Geral do Processo. São Paulo:Malheiros. Capítulos 2 e 3.

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