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Profª. Elsa Maria L. S.

Ferreira Pepino 1
OAB-ES n. 4.962
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PONTO 4. DAS NORMAS FUNDAMENTAIS

A CF/88 trata dos direitos fundamentais relativos ao processo, que se expressam pelas
normas de garantia elencadas no artigo 5º, nos incisos XXXV, XXXVI, XXXVII, LIII, LIV,
LV, LVI, LX, LXXIV, LXXV e LXXVIII; trata da estrutura do Poder Judiciário nos artigos
92 a 126; das funções essenciais à justiça nos artigos 127 a 135.

São chamadas normas fundamentais o conjunto de princípios e regras processuais que


estruturam o processo brasileiro. Parte dessas normas fundamentais do processo advém
da Constituição Federal, mas também podem ser encontradas na legislação
infraconstitucional (por exemplo, CPC/15, art. 1º a 12). Apesar de poderem se apresentar
tanto como princípios quanto como regras, nos ocupamos aqui dos princípios
processuais. Há autores que distinguem entre princípios constitucionais do processo e
princípios gerais do processo. Salvo com relação aos princípios constitucionais, não há
unanimidade entre os processualistas na indicação do rol de princípios que informam o
Direito Processual. Aqui apresentamos uma seleção dos princípios que a nosso ver se
apresentam mais relevantes:

a) Princípio da independência do Poder Judiciário – encontra-se esculpido no


art. 2º da Constituição e significa que o exercício da função jurisdicional não se
submete às ordens/comandos de qualquer outro dos Poderes do Estado;

b) Princípio do devido processo legal (conhecido pela expressão due processo of


law) – trata-se, na verdade, de um conjunto de garantias constitucionais (CF, art.
5º, LIV) – por isso é chamado de macro princípio – que garantem um tipo
específico de processo, um processo que, por um lado, assegura às partes o
exercício dos direitos e faculdades processuais, e, por outro lado, protege o
próprio processo, legitimando a própria atividade jurisdicional (impedindo abusos).

c) Princípio do contraditório e da ampla defesa – princípios constitucionais (CF,


art. 5º, LV), integram o próprio princípio do devido processo legal e assentam na
idéia de que as partes devem obrigatoriamente ter ciência de todos os atos do
processo, sendo-lhes facultada toda a reação possível, de modo a participarem
(se assim quiserem!) ativamente na formação do convencimento do juiz e,
consequentemente, no resultado do processo. No NCPC os arts 9º e 10º reforçam
a ideia do contraditório participativo, (ativa e plena participação das partes, com
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idênticas oportunidades de tomar conhecimento e se manifestar sobre os atos


processuais).

d) Princípio da igualdade/isonomia processual/ da paridade de armas – trata-se


de um princípio constitucional (CF, 5º, caput; art. 7º do NCPC), que se encontra
reproduzido em vários dispositivos do CPC e do CPP, que impõem a igualdade
de tratamento das partes em juízo. Igualdade tanto formal quanto material ( tratar
de forma igual os iguais e de forma desigual os desiguais ), o que justifica o
tratamento desigual dado em algumas situações àqueles que estão em situação
desfavorável em relação à parte contrária, como ocorre, por exemplo, com a regra
de inversão do ônus da prova no Código de Defesa do Consumidor e com a
prerrogativa de prazo de que goza a Fazenda Pública e pelo Ministério Público no
que diz respeito à prática de determinados atos processuais devido à burocracia
estatal.

e) Princípio da imparcialidade – apesar de não estar expressamente previsto na


Constituição, pode inferir-se do princípio da independência e significa que, no
exercício da atividade jurisdicional, o juiz se encontra equidistante das partes
(imparcialidade subjetiva) e dos seus interesses (imparcialidade objetiva), não
podendo favorecer uma das partes em detrimento da outra. Por essa razão, o
legislador infraconstitucional previu um conjunto de circunstâncias que quando
verificadas impõem que o juiz se declare incapacitado para prosseguir no
processo. É o que acontece nos casos de impedimento e de suspeição (arts. 144
e seguintes do CPC/15);

f) Princípio do Juízo Natural – o princípio do juiz natural reforça a ideia da


imparcialidade. Juiz natural é o que preexiste ao surgimento do litígio, impedindo
o surgimento de juízos ou tribunais de exceção (CF/88, art. 5º, XXXVII e LIII). A
ideia de Juiz Natural também está subjacente no art. 92, onde a Constituição
relaciona os órgãos habilitados ao exercício da função jurisdicional. A doutrina
costuma atribuir um significado tripartido ao conceito, consistindo:

• Na instituição dos órgãos jurisdicionais num momento anterior à ocorrência do


fato motivador da sua atuação;

• Na competência dos órgãos jurisdicionais determinada por normas gerais; e

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• Na designação dos juízes por critérios gerais estabelecidos na lei.

g) Princípio do amplo acesso à justiça/ da inafastabilidade do controle


jurisdicional – princípio constitucional (CF, art. 5º, XXXV) que traduz a garantia
de acesso ao Poder Judiciário, assegurando a todos a possibilidade de recorrer à
Justiça (um acesso digno e justo!), seja para pedir a reparação de um direito
lesado, seja para garantir direitos ameaçados. O NCPC repete o preceito
constitucional (art. 3º, caput).

h) Princípio da publicidade – também um princípio constitucional (CF, art. 5º, LX),


que pontua a regra de que todos os atos processuais são públicos (a exceção é
o segredo de justiça - art. 189 do NCPC -, decretado quando necessário à
preservação da intimidade ou do interesse público). O NCPC positiva o princípio
da publicidade na primeira parte do art. 11. Dizer que um ato processual é público
significa que pode ser assistido/examinado por qualquer um do povo, o que
representa um importante instrumento de transparência e de fiscalização da
atividade jurisdicional.

i) Princípio da motivação das decisões judiciais – mais uma garantia


constitucional (art. 93, IX) que estabelece a necessidade de fundamentação legal
das decisões judiciais, isto é, ao decidir o juiz deve explicar as razões/motivos de
decidir daquele jeito e não de outro. A finalidade é possibilitar o controle interno e
social das decisões, bem como evitar decisões arbitrárias. Este princípio está
fortalecido no novo CPC, exigida a motivação das decisões judiciais em vários
dispositivos diferentes (exemplo: art. 489, art. 927, § 4º e art. 1012, § 4º) e
especificando o § 1º do art. 489 as hipóteses em que uma decisão judicial não
será considerada fundamentada e, portanto defeituosa.

j) Princípio da liberdade da prova/ do livre convencimento motivado/ da


persuasão racional do juiz - princípio constitucional (CF, art. 5º, LVI) que se
desdobra em duas idéias: 1) todos os meios lícitos de prova são admissíveis para
provar a verdade dos fatos, só não se admitindo as obtidas por meios ilícitos
(inadmissibilidade da prova ilícita); 2) o juiz é livre para valorizar as provas
contidas no processo. Previsto também no novo CPC, artigo 369 e seguintes.

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k) Princípio da tempestividade da prestação jurisdicional/ da duração razoável


do processo – previsto na Constituição (art. 5º, LXXVIII), garante que as partes
têm direito a uma prestação jurisdicional em prazo razoável, sem que o processo
sofra dilações indevidas (ROCHA, Teoria Geral do Processo, 9 ed., 2007, p. 32).
Assenta na ideia de que “justiça tardia não é justiça” e compreende um leque de
outros princípios: entre eles, oralidade, economia processual e
instrumentalidade do processo. O princípio da oralidade preconiza o
predomínio do falado sobre o escrito e se desdobra nos subprincípios: da
concentração, que faz com que os atos processuais que se realizam oralmente
se desenvolvam em audiência na presença do juiz; da imediação, que traduz a
exigência do contato direto do juiz com os meios de prova e com os fatos do
processo; da identidade física do juiz, que explicita que o juiz que presidiu a
produção das provas e assistiu ao debate é quem deve decidir o conflito (este
princípio é atenuado pela possibilidade de transferência, promoção ou
aposentadoria dos magistrados – CPC/73, art. 132). O NCPC parece flexibilizar
este princípio pois o art. 132 do CPC/73 não tem correspondente no referido
código. O princípio da economia expressa a ideia de obtenção do máximo
resultado com o mínimo possível de atividades processuais. O princípio da
instrumentalidade do processo preconiza que se o processo é um instrumento,
um meio que serve à proteção/reparação de um direito material, a forma de que
se reveste não pode ser mais importante do que a finalidade a ser alcançada.
Desse modo, se um ato processual atinge a finalidade almejada, ainda que
praticado de forma diferente da prevista em lei, desde que não traga prejuízo às
partes, deve ser preservado (NCPC, art. 275). A forma deve ser encarada com
um instrumento de garantia do resultado do ato e não como fim em si mesma.

l) Princípio da inércia/ da ação/ da demanda/ dispositivo – o princípio da inércia


veda que o processo seja iniciado pelo juiz. Encontra-se expressamente no art. 2º
do NCPC e indica que pertence à parte a iniciativa de provocar o exercício da
função jurisdicional, mediante o exercício do direito de ação.

m) Princípio do impulso oficial – significa que, uma vez instaurada a relação


processual, compete ao juiz fazer com que o processo caminhe de fase em fase

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até se exaurir a função jurisdicional. Encontra-se previsto na parte final do art. 262
do CPC e na 2ª parte do art. 2º do novo CPC.

n) Princípio da lealdade/probidade processual – trata-se da aplicação do princípio


da boa-fé e da lealdade no âmbito da atividade processual (probidade
processual). Preconiza o comportamento ético e digno que se espera de todos
aqueles que participam do processo (partes, juízes, advogados, auxiliares etc),
impõe que não se deve faltar com a verdade, nem agir de forma desleal, nem
utilizar artifícios fraudulentos, punindo processualmente o infrator (art. 5º, e arts.
79 a 81 do NCPC).

o) Princípio do duplo grau de jurisdição ou dos recursos – é o princípio que


garante a possibilidade de revisão das causas já julgadas, pela via de recurso aos
órgãos de hierarquia superior. Trata-se de um princípio implícito, que assenta na
ideia da falibilidade humana e na possibilidade de uma decisão judicial se
apresentar errada. Desse modo, dá ao vencido a oportunidade de provocar o
reexame da sentença, se com ela não se conformar.

p) Princípio da cooperação ou colaboração (CPC/15, art. 6º) – impõe aos sujeitos


do processo o dever de cooperarem entre si em prol de uma decisão justa para o
conflito. A doutrina aponta como desdobramento do dever de cooperação os
deveres de esclarecimento, de lealdade e de proteção.

Sugestão de leitura:
CINTRA, Antonio Carlos de Araújo; DINAMARCO, Cândido Rangel; GRINOVER, Ada
Pellegrini. Teoria Geral do Processo. São Paulo:Malheiros. Capítulo 4.
DIDIER Jr, Fredie; Curso de Direito Processual Civil, Ed. PODVM, 2015 — Vol. 1.
Capítulo 2

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