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UNIÃO DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA

FACULDADE DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIAS DE


NATAL

GRADUAÇÃO EM DIREITO
TEORIA GERAL DO PROCESSO CIVIL
Prof. Felipe Melo

ROTEIRO 4 – NORMAS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO CIVIL

1.0 – Introdução

O termo “norma fundamental” denota uma rega basilar, de extrema


importância, que cria as principais bases do direito processual. Desvinculada do
conceito de mera lei, as normas fundamentais são isso e muito mais.
Na função de guia da norma em sentido estrito, é de fácil percepção que
as normas fundamentais na verdade se tratam dos princípios. A doutrina, no entanto,
costuma divergir quanto a lista dos princípios aplicáveis ao Direito Processual Civil.
Neste estudo, veremos quais são os princípios recorrentes à maioria da
doutrina processualista e como é sua aplicação perante as situações jurídicas.

2.0 – Princípio da Inafastabilidade da Jurisdição

Também chamado de Princípio da Inafastabilidade do Controle


Jurisdicional, diz que o poder judiciário precisa acolher, processar e julgar (apreciar)
todas as querelas trazidas a ele. Está previsto expressamente em nossa Constituição
Federal, art. 5º, XXXV:

“XXXV – a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão


ou ameaça a direito;”

Sua aplicação faz com que a lei processual crie mecanismos para que o
poder judiciário não se esquive do exercício da jurisdição, analisando cada caso com
responsabilidades. O princípio não diz que todos os casos levados à justiça terão,
necessariamente, a tutela que pleiteiam, mas sim que todos passarão pela análise do
poder judiciário. Análise esta da qual o juiz não pode se esquivar.

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3.0 – Princípio da Inércia do Poder Judiciário e Princípio do Impulso Oficial

O Princípio da Inércia do Poder Judiciário (também conhecido como


Princípio da Inércia de Jurisdição) determina que o Poder Judiciário somente pode agir
mediante provocação das partes. Este princípio se encontra no art. 2º do CPC:

“Art. 2º O processo começa por iniciativa da parte e se desenvolve


por impulso oficial, salvo as exceções previstas em lei.”

Existem exceções muito pontuais onde o poder judiciário pode agir


independentemente de provocação. De qualquer forma, uma vez provocado, o processo
se desenvolve de forma oficial, desenvolvendo assim o processo até o final.

4.0 – Princípio do Juiz Natural

Diz que a jurisdição exercida pelo Direito Processual Civil não pode ser
arbitrária. O juiz com competência para julgamento é aquele pré-estabelecido pela lei,
ou seja, não se pode “direcionar juiz ‘Fulano’ para julgar o caso de ‘Cicrano’, porque
‘trata-se do caso de ‘Cicrano’”. No exemplo dado, o juiz designado o foi em decorrência
da Lei, não em juízo de exceção.
Este princípio se encontra previsto no art. 5º, XXXVII e LII da nossa
Constituição Federal:

“XXXVII – não haverá juízo ou tribunal de exceção;”

“LIII – ninguém será processado nem sentenciado senão pela


autoridade competente;”

O sistema de organização processual deve levar em conta tal princípio e


criar ferramentas para garanti-lo. Com base nisso foi criado o sistema de distribuição
processual e de organização do poder judiciário, o qual sorteia (SIC) qual o juiz que
julgará determinada ação.
Um juiz designado especificamente para julgar um caso determinado
caso em particular configura juízo de Exceção e fere o princípio.

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5.0 – Princípio da Garantia de Assistência Jurídica Integral e Gratuita

Todo aquele que necessitar de Assistência Jurídica e não puder pagar por
ela a terá de forma integral e gratuita como forma de garantia constitucional. Este
princípio está expresso no art. 5º, LXXIV da nossa Constituição Federal:

“LXXIV – o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita


aos que comprovarem insuficiência de recursos;”

Tal garantia é função primordial da Defensoria Pública, mas também


pode ser exercida por outros serviços de Assessoria Jurídica Gratuita (os Núcleos de
Prática Jurídica, por exemplo). A Lei Processual deve reconhecer a necessidade dessas
pessoas e as dificuldades na prestação destes serviços, criando ferramentas aptas a
permitir a igualdade também nos litígios judiciais.
Notemos que tal princípio pode também ser interpretado como Princípio
da Garantia do Acesso à Justiça, já que permite que todos possam recorrer ao judiciário,
desde os mais abastados até aqueles sem nenhum recurso financeiro.

6.0 – Princípio da Celeridade e da Razoável Duração do Processo

Todo cidadão tem direito a um processo célere dentro das condições do


poder judiciário. Dessa forma, o juiz tem o direito/dever de coibir atos desnecessários e
morosos nos processos civis. Este princípio está expresso na nossa Constituição Federal
(art. 5º, LXXVIII) e no Código de Processo Civil (art. 4º):

“LXXVIII – a todos, no âmbito judicial e administrativo, são


assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam
a celeridade de sua tramitação.”

“Art. 4o As partes têm o direito de obter em prazo razoável a solução


integral do mérito, incluída a atividade satisfativa.”

Este princípio está ligado ao Princípio da Economia Processual, o qual


determina a economia (de tempo, de recursos e tudo o mais) deve ser observada sempre
que possível e sempre que não representar prejuízo às partes.

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7.0 – Princípio da Lealdade e Boa-Fé Processuais

“Boa-fé” e “Lealdade” são conceitos ligados à honestidade. Aquele que


age de boa-fé, age de forma honesta e íntegra. O Princípio da Boa-Fé e da Lealdade está
previsto no art. 5º do CPC:

“Art. 5º Aquele que de qualquer forma participa do processo deve


comportar-se de acordo com a boa-fé.”

O Legislador teve o cuidado de não nominar os agentes que participam


do processo, pois desejava abranger não apenas as partes e seus advogados, como o juiz,
o Ministério Público e todo aquele que de alguma forma participa da Relação
Processual.

8.0 – Princípio da Cooperação

Determinado no art. 6º do CPC:

“Art. 6º Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para


que se obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva.”

Aqueles que participam do processo devem cooperar entre si para o


rápido desenrolar da relação processual de forma justa. Aqui a cooperação não
necessariamente é sinônimo de acordo, mas sim de compreensão e respeito às normas
processuais e evitar a prática de abusos de direito com fins protelatórios.

9.0 – Princípio do Devido Processo Legal

Todo direito precisa ser analisado usando-se as regras do no devido


processo legal. Nenhum cidadão pode ser privado de seus direitos ou de seus bens se
quem passe pelo Devido Processo Legal. Este princípio está previsto no art. 5º, LIV da
nossa Constituição:

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“LIV – ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o


devido processo legal;”

O Devido Processo Legal é aquele que é previsto e determinado pela Lei


Processual Civil, com base nos preceitos da Constituição. Qualquer alteração nas regras
do Devido Processo Legal precisam ser previamente autorizadas nos limites
determinados pela Lei Processual.

10.0 – Princípio da Isonomia

No âmbito do Processo Civil, as partes precisam ser tratadas de forma


isonômica. A isonomia não significa necessariamente um tratamento uniforme, mas
um que dê as partes igualdade de oportunidades dentro do processo civil. Este
princípio está previsto no caput do art. 5º da nossa Constituição Federal e no art. 7º do
CPC:

“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer


natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes
no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:”

“Art. 7º É assegurada às partes paridade de tratamento em relação


ao exercício de direitos e faculdades processuais, aos meios de
defesa, aos ônus, aos deveres e à aplicação de sanções processuais,
competindo ao juiz zelar pelo efetivo contraditório.”

O juiz tem a importante missão de ser imparcial. No entanto, não deve


ele agir de forma neutra. Sempre que se encontrar diante de uma diferença considerável
entre as partes, a própria Lei Processual dá ao julgador ferramentas que este pode usar
para dar mais vantagens a uma parte que se encontra em situação de hipossuficiência ou
vulnerabilidade.
Tais ferramentas, em si, não configuram quebra da imparcialidade, já
que serão aplicadas tão somente para promovendo a igualdade de oportunidades dentro
do Processo Civil. A isonomia a que trata a nomenclatura do princípio está ligada ao
conceito da Igualdade Material, ou seja, “tratar os iguais de forma igual e os
desiguais de forma desigual na proporção de suas desigualdades”.

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11.0 – Princípio da Publicidade

Os atos processuais são todos públicos, podendo todos os cidadãos terem


livre acesso a eles. Há, porém, uma exceção a este princípio, que diz respeito as
situações de Segredo de Justiça. Este princípio está previsto e regulado no art. 5º, LX e
93, IX, ambos da nossa Constituição Federal:

“LX – a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais


quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem;”

“IX – todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão


públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade,
podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias
partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a
preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não
prejudique o interesse público à informação;”

O CPC repete a redação da Lei Maior, determinando:

“Art. 11. Todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão


públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade.

Parágrafo único. Nos casos de segredo de justiça, pode ser


autorizada a presença somente das partes, de seus advogados, de
defensores públicos ou do Ministério Público.”

Assim, quando não se tratar de processos protegidos pelo Segredo de


Justiça nos termos da Lei, qualquer pessoa pode ter acesso aos autos de qualquer
processo, independentemente de ser ou não parte ou agente naquele processo.

12.0 – Princípio do Contraditório e Ampla Defesa

Todos aqueles que litigam em processo judicial, na condição de Autor,


Réu ou Terceiro Interessado, tem o direito à Ampla Defesa e Contraditório.
O Contraditório é o direito das partes se oporem a toda e qualquer
alegação ou prova produzidos contra ele no processo judicial. O judiciário precisa criar
ferramentas que conduza o Devido Processo Legal a respeitar o direito de cada parte de
exercer seu direito ao Contraditório, oportunizado por prazos e intimações.

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A Ampla Defesa diz que os meios utilizados para exercer o contraditório


são amplos e podem ser explorados ao máximo pelas partes, tendo a lei como limite.
Dessa forma, a menos que a Lei diga o contrário, as partes podem alegar qualquer
argumento em prol de sua defesa.
Este princípio está previsto no art. 5º, LV da nossa Constituição Federal:

“LV – aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos


acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa,
com os meios e recursos a ela inerentes;”

Porém, como quase tudo em Direito, tal regra contém exceções.


Objetivando a proteção de um direito prestes a perecer, a Lei Processual cria
mecanismos onde o juiz pode decidir sem dar oportunidade de uma das partes se
defender. Vejamos o CPC:

“Art. 9º Não se proferirá decisão contra uma das partes sem que ela
seja previamente ouvida.

Parágrafo único. O disposto no caput não se aplica:

I. à tutela provisória de urgência;


II. às hipóteses de tutela da evidência previstas no art. 311, incisos II
e III;
III. à decisão prevista no art. 701.”

O que aqui e importante frisar é que tais situações são de caráter


excepcionalíssimo e que só se aplica quando, de fato, a situação é extremamente
urgente.

13.0 – Princípio da Não-Surpresa

Desdobramento do Princípio do Contraditório e da Ampla Defesa. O


CPC 2015 trouxe como aprimoramento do Contraditório conforme o art. 10. O juiz
não pode julgar ou decidir uma lide com base num fundamento pelo qual não tenha
dado as partes a oportunidade de se manifestar, mesmo quando se trate de uma questão
que ele possa ou deva decidir de ofício (sem a provocação das partes).

“Art. 10. O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com
base em fundamento a respeito do qual não se tenha dado às partes

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oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a


qual deva decidir de ofício.”

Trazido pelo novo CPC, este princípio novo leva o Contraditório a outro
patamar, limitando a atuação do juiz que fica impedido de decidir o que quer que seja
sem que tenha dado às partes oportunidade de falar em juízo, mesmo que se trate de
questão de ofício, ou seja, aquelas em que o juiz pode decidir sem que as partes o
provoquem.
No caso das questões de ofício, verificando o juiz a sua existência, deve
chamar o feito à ordem e intimar as partes para falar acerca daquela questão.
É importante esclarecer que as partes podem optar por simplesmente
silenciar e nada dizer. Mas se foi oportunizado o prazo, tendo as partes sido
regularmente intimadas e, mesmo assim, quedaram silentes, pode o juiz decidir frente
ao silêncio das partes.

14.0 – Princípio da Licitude das Provas

Não se admite no processo provas obtidas por meios ilícitos. Este


princípio diz respeito não apenas a prova ilícita como também à conduta ilícita para
obtenção de uma prova que lícita seria, se não fosse a conduta exercida para sua
obtenção. Também é um princípio previsto na Constituição Federal, art. 5º, LVI:

“LVI – são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios


ilícitos;”

Tanto a prova ilícita quanto a prova obtida por meios ilícitos são
inadmissíveis no Direito Processual e não devem ser consideradas pelo juiz, que precisa
determinar seu expurgo do processo.

Aprofunde seu estudo com:

 https://www.estrategiaconcursos.com.br/blog/novo-cpc-normas-processuais-
fundamentais/
 https://maiarakruger.jusbrasil.com.br/artigos/493702423/normas-fundamentais-
processuais-novo-cpc
 https://www.youtube.com/watch?v=2nFE6NpY0wk
 https://www.youtube.com/watch?v=WLaYijP5NHw

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