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UNIÃO DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA

FACULDADE DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIAS DE


NATAL

GRADUAÇÃO EM DIREITO
TEORIA GERAL DO PROCESSO CIVIL
Prof. Felipe Melo

ROTEIRO 1 – DIREITO PROCESSUAL E DIREITO MATERIAL

1.0 – Introdução

Os primórdios da história do direito revelam contos fascinantes que


serviram de base para a criação do sistema normativo que temos hoje. Um deles foi a
tão famosa Lei de Talião, a qual era baseada num princípio objetivo de um conceito
arcaico de justiça.
“Olho por olho, dente por dente”, este era o preceito básico da Lei de
Talião. Dizia-se que o cidadão que tivesse seu bem jurídico violado por outrem,
garantir-se-ia o direito de ele mesmo violar o bem jurídico daquele que lhe causou a
pena, demonstrando um direito de caráter punitivo e autocrático. Naquela época, a
preocupação do sistema judiciário era mais em punir e coibir o infrator do que
efetivamente reparar o dano causado.
A partir daí começou-se uma evolução de pensamento, como coloca a
doutrina:

“Quando, pouco a pouco, os indivíduos foram-se apercebendo dos


males desse sistema, eles começaram a preferir, ao invés da solução
parcial dos seus conflitos (parcial = por ato das próprias partes),
uma solução amigável e imparcial através de árbitros, pessoas de sua
confiança mútua em quem as partes se louvam para que resolvam os
conflitos. Esta interferência, em geral, era confiada aos sacerdotes,
cujas ligações com as divindades garantiam soluções acertadas, de
acordo com a vontade dos deuses; ou aos anciãos, que conheciam os
costumes do grupo social integrado pelos interessados. E a decisão
do árbitro pauta-se pelos padrões acolhidos pela convicção coletiva,
inclusive pelos costumes.” (CINTRA, Antônio Carlos de Araújo;
GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria
Geral do Processo. 14ª edição. São Paulo: Malheiros, 1998, p. 21-22)

O conceito de Devido Processo Legal começava a ser desenvolvido na


sociedade. A partir daí, as pessoas passavam a contar com terceiros para resolver seus

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conflitos e problemas e, aos poucos, o direito começou a mitigar seu caráter punitivo,
passando a adquirir uma característica mais preocupada com a reparação.
Neste estudo, vamos identificar os métodos de resolução de conflitos,
bem como o Conceito e Divisão do Direito processual.

2.0 – Os Métodos de Resolução de Conflito

Contencioso é a palavra que usamos para definir o que coloquialmente


chamamos como “briga em processo”. Outros sinônimos são LIDE ou LITÍGIO.
Desde a criação do Devido Processo Legal, as pessoas passaram a
recorrer à justiça para resolução de um Contencioso. A Ciência do Direito Processual
Civil classificou os métodos de resolução de conflitos da seguinte forma:

2.1 – Autocomposição

O direito nasceu da Autocomposição. Nos primórdios da Lei de Talião,


imperavam os métodos autocompositivos, onde as próprias partes resolviam suas
diferenças evocando os meios legais a elas pertinentes.
A característica da Autocomposição consiste nas partes usarem meios
próprios para resolução de conflitos. Muitos acham que a autocomposição é uma forma
ilegal de resolução de conflitos, sendo tal ideia falaciosa. Resolver os conflitos por
meio da Autocomposição não implica necessariamente uma ilegalidade de
procedimento.
Atualmente, a Autocomposição vem sendo resgatada no ordenamento
jurídico através dos Métodos Legais Autocompositivos, dos quais podemos citar como
exemplos a Negociação, Conciliação e Mediação. Nestes métodos, não existe a presença
de um terceiro ou existe, mas este terceiro interfere o mínimo possível, dando
autonomia às partes para resolverem seus conflitos.
A Negociação é quando as partes chegam a um acordo sem a presença
de um terceiro neutro. Os advogados e representantes jurídicos (preposto, procurador,
etc) das partes, embora sejam terceiros na relação processual, não são considerados
neutros, já que representam os interesses de uma ou outra parte.
A Conciliação e Mediação divergem da negociação, pois além das
partes envolvidas e seus representantes legais, existe a figura do Conciliador/Mediador,
que ajuda as partes a discutir suas questões e a chegar ao acordo. A diferença entre os
dois métodos está na forma como este é conduzido.

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Na Conciliação, o Conciliador mantém uma postura imparcial entre as


partes, embora possa sugerir (não impor!) soluções para o conflito. Estas sugestões não
possuem poder de vincular nenhuma das partes, já que o conciliador não tem nenhum
poder de decisão. É um método mais simples e informal, indicado para as partes que
não chegaram ainda a discutir previamente as questões.
Já a Mediação é um procedimento um pouco mais complexo. Indicado
para as partes que já vem de um diálogo prévio, mas que, por algum motivo, as partes
deixaram de dialogar. O Mediador, além de possuir também as funções e prerrogativas
de Conciliador, também precisa trabalhar com a postura de reatar as relações entre as
partes a fim de proporcionar a conversa pela busca de uma solução. Ele também
precisa ser imparcial e não tem poder para impor uma solução, embora possa sugerir.

2.2 – Heterocomposição

A Heterocomposição consiste na ideia básica de ter-se um terceiro que


solucionará o conflito entre as partes de maneira impositiva. Este terceiro é imbuído de
poderes concedidos pelas partes ou pelo próprio estado para resolução dos conflitos.
Com base em tal conceito que a sociedade criou a figura do magistrado
(ou juiz). Investido de poder, o magistrado ouve os clamores das partes e julga
conforme a Lei e preceitos normativos. Resumidamente, este é o básico do que se
entende por heterocomposição.
A justiça contemporânea divide a heterocomposição em Jurisdição e
Arbitragem. A Jurisdição, que será melhor estudada adiante, consiste na prerrogativa
do juiz/magistrado de julgar e impor a solução do conflito às partes.
O poder judiciário detém o monopólio da jurisdição, de forma que, como
regra geral, somente o estado-juiz pode exercer a jurisdição. Contudo, foi criada a figura
do árbitro e do juízo arbitral (no Brasil, Lei 9.307/96), a qual consiste num terceiro
escolhido pelas partes para dirimir uma questão por elas trazida.
É importante mencionar que o juízo arbitral possui várias limitações com
relação a sua atuação. A Lei brasileira só permite que o juízo arbitral seja acionado em
questões de interesse patrimonial e particular. Sendo assim, não é possível acionar o
juízo arbitral para resolução de conflitos sobre direito indisponível (direito de família,
por exemplo, dentre outros) ou mesmo questões onde exista interesse público.
Outra grande diferença é que o juízo arbitral é uma forma de resolução
de conflitos optativa legalmente prevista. Em não se optando pelo juízo arbitral, as
partes devem levar a querela para o Estado-juiz.

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3.0 – Direito Material X Direito Processual

Definição de Direito Material – “O corpo de normas que disciplinam as relações


jurídicas referentes a bens e utilidades da vida (direito civil, penal, administrativo,
comercial, tributário, trabalhista etc.)” (Cintra, Antônio Carlos de Araújo TEORIA
GERAL DO PROCESSO)
Definição de Direito Processual - “complexo de normas e princípios que regem tal
método de trabalho, ou seja, o exercício conjugado da jurisdição pelo Estado-juiz, da
ação pelo demandante e da defesa pelo demandado.” (Cintra, Antônio Carlos de Araújo
TEORIA GERAL DO PROCESSO)

Resumindo: Direito Material diz respeito a todas as regras de direito da sociedade,


aplicadas diretamente às relações jurídicas, independentemente de processo. Já as regras
de Direito Processual são aquelas inerentes ao processo em si (são “as regras do jogo”,
quando se trata de processo)
- O Código de Processo Civil é uma legislação predominantemente processual. Isso é
inegável. Contudo, nem todas do Código de Processo Civil são unicamente de direito
processual. O mesmo vale para o Código Civil, com relação às regras de Direito
Material.

4.0 – Divisão do Direito Processual

O Direito Processual possui divisões de acordo com a Doutrina. No


quaro a seguir, veremos como se procede tal divisão.

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Já no que tange o estudo da Teoria Geral do Processo Civil, a doutrina se


divide quanto a classificação e sistematização do Direito Processual. Vamos conhecer as
duas correntes e seus principais argumentos.

4.1 – Corrente Unitarista

Esta corrente interpreta a Teoria Geral do Processo como uma ciência


unitária, uníssona, independentemente da existência de mais de um direito processual.
Esta corrente se baseia na ideia de que todos os direitos processuais
existentes (Civil, Processual, Trabalhista, etc...) baseiam-se numa estrutura em comum
e em princípios que se aplicam da mesma forma independentemente da área do
direito a qual pertencem.
Há uma certa influência desta teoria com relação ao Direito Processual
brasileiro, posto que a edição do novo Código de Processo Civil em 2015 teve alguma
influência no Processo Penal e, principalmente, no Processo Trabalhista.

4.2 – Teoria Dualista

Esta teoria separa os vários tipos de direitos processuais, considerando-


os isoladamente em suas respectivas áreas. Assim, as normas de Direito Processual
Civil se aplicariam apenas à área cível, as do Penal à área criminal, as do Trabalhista à
área do Direito do Trabalho e assim vai.
O fundamento de tal tese é pactuada na principal crítica à Corrente
Unitarista, ou seja, a existência de uma legislação processual específica (Código de
Processo) para cada tipo de procedimento.
Não obstante existir uma base comum na teoria processual de todos os
direitos processuais, os defensores dessa corrente consideram a existência de legislação
própria suficiente para classificar as áreas do Direito Processual como áreas distintas e
isoladas. Até mesmo o Direito Processual Trabalhista, que aplica o Código de Processo
Civil de forma subsidiária possui normas processuais próprias descritas na CLT, embora
não exista um “Código de Processo Trabalhista”.

Aprofunde seu estudo com:

 https://www.direitoprofissional.com/metodos-adequados-de-solucao-de-
conflitos/
 https://jus.com.br/artigos/57183/teoria-geral-do-processo
 https://jus.com.br/artigos/5792/fundamentos-constitucionais-do-processo

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 https://juris-aprendiz.jusbrasil.com.br/artigos/441186394/direito-material-x-
direito-processual
 https://www.direitosemjuridiques.com/direito-material-e-direito-processual/
 https://trilhante.com.br/curso/teoria-geral-e-principios-do-processo/aula/direito-
material-e-direito-processual-da-lei-adjetiva-a-instrumentalidade-2
 https://www.youtube.com/watch?v=iTUeavwr6lE
 https://www.youtube.com/watch?v=psjFS3TfslE

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