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O conflito é um processo complexo que sempre existiu na história da

humanidade, pois é inerente ao homem e ao seu convívio social, fazendo parte da sua
vida e evolução. De acordo com o manual de mediação judicial do Conselho Nacional
de Justiça, o conflito pode ser definido como o processo ou estado em que duas ou mais
pessoas divergem  devido a metas, interesses ou objetivos individuais mutuamente
incompatíveis. Há algum tempo atrás, antes de existirem os processos, esses conflitos
eram resolvidos pela a lei do mais forte, naquela época vigorava o sistema da autotutela
ou autodefesa, onde as próprias partes resolviam o problema na base da força bruta ou
intimidação. Entretanto, além de ser uma forma propensa a injustiças, esse sistema
criava um ciclo vicioso de ação e reação, onde até os próprios familiares passavam agir
por vingança, criando o chamado “espiral do conflito”.
Atualmente a sociedade vive a cultura da judicialização, onde ao deparar-se com
situações conflituosas automaticamente remete-se a utilização do poder judiciário para
resolução, onde muitas vezes até o profissional do Direito prende-se a idéia de aprender
a somente litigar em juízo e pleitear ações. No entanto, à medida que a sociedade se
desenvolve e as relações jurídicas aumentam, a  demanda acompanha esse crescimento
fazendo com que Poder Judiciário se encontre com pouca estrutura para atender a
grande demanda de processos que são ajuizados. A partir disso, buscou-se estudar as
novas formas de resolução de conflitos, corroborando com maior efetividade ao
princípio da segurança jurídica nas questões que cotidianamente são levadas ao Poder
Judiciário. 
O professor Ricardo Goretti acredita que é necessário antes de tudo realizar o
diagnóstico correto do conflito, para entender quando, de que forma e em que local
atuar, dessa maneira evita levar ao poder judiciário questões que poderiam ser
resolvidas de outra forma. Uma vez diagnosticado o conflito, facilita a analise do
melhor método a ser aplicado.
As formas de resolução de conflitos podem ser classificadas em três grupos,
quais sejam, a autotutela, heterocomposição e autocomposição. A autotutela, como
mencionado anteriormente, é o meio mais antigo solução de conflitos, sendo praticada
com as próprias mãos, sem interferência de terceiros e nem do Estado, onde apenas os
sujeitos originais se relacionam. Sobre os meios heterocompositivos, de acordo com
Monteiro (2017), são aqueles que contam com a presença de uma terceira pessoa, que
não tenha nenhuma ligação com o conflito, onde ela irá induzir as partes a um acordo (a
arbitragem) ou proferir uma sentença (o processo judicial).
Monteiro (2017) conceitua o processo judicial como o procedimento em que as
partes levam o conflito para ser analisado por um juiz que é escolhido por sorteio pela
distribuição do Poder Judiciário e a solução se dará através de uma ação judicial que
tramitará de acordo com as normas dispostas no Código de Processo Civil, e apesar de
ser o meio mais comum a se recorrer, por conta da demanda, o judiciário não têm sido
capaz de garantir decisões rápidas, definitivas e eficazes. Na arbitragem, por sua vez,
segundo Mota (2014) as partes elegem um árbitro para solucionar as divergências, este
árbitro deve ser um técnico ou um especialista no assunto em discussão para dar um
parecer e decidir a controvérsia, sendo, portanto o juiz de fato e de direito. A decisão
arbitral não estará sujeita à homologação ou passível de recurso ao Poder Judiciário, o
seu cumprimento é obrigatório.
Já os meios autocompositivos, ainda de acordo com Monteiro (2017) são
aqueles onde as próprias partes, através do diálogo, baseando-se nas leis, normas e
costumes podem chegar a uma conclusão para solucionar o conflito, podendo ser
classificados como típicos, quando não há nenhuma interferência de terceiros
(negociação) e atípicos onde há a interferência de um terceiro apenas como facilitador e
instigador do diálogo entre elas (conciliação e mediação). É válido ressaltar que Ricardo
Goretti criou um fluxograma para facilitar a escolha do melhor método para solucionar
cada conflito, além dos métodos já citados, conta também com a orientação individual
ou coletiva, utilizadas quando o conflito ainda não estiver caracterizado, mas o
indivíduo atendido apresenta desejo de obter esclarecimentos jurídicos.
Mota (2014) define a negociação como um processo de comunicação bilateral,
cujo objetivo é chegar a uma decisão conjunta através do diálogo, com o propósito de
atingir um acordo agradável que produza efeitos duradouros ao relacionamento dos
participantes. Entretanto, nem sempre as partes conseguem resolver o conflito
dialogando diretamente uma com a outra, nestes casos, cabe contar com a colaboração
de uma terceira pessoa, através da mediação e conciliação.
O autor também faz sua contribuição ao definir a mediação como um método
onde uma terceira pessoa imparcial, escolhida ou aceita pelas partes, participa como
mediador, com o intuito de promover o processo de diálogo, facilitando a solução
através de uma forma negociada de anulação do conflito, sem poder impor ou interferir
indicando qualquer solução, proporcionando a preservação do relacionamento entre
elas, sendo empático, baseando-se no princípio da prática da alteridade (colocar-se no
lugar do outro).
Sobre a conciliação Perpetuo (2018) entende como uma técnica onde as partes
são auxiliadas por profissional imparcial que pode agir ativamente no conflito,
interferindo no litígio, através do diálogo, escuta e verificação, ajudando as partes a
firmar um acordo demonstrando as melhores formas para resolver o conflito, sempre de
forma pacifica. A mediação e conciliação são bem semelhantes, entretanto, enquanto
conciliação busca, sobretudo o acordo entre as partes, a mediação tem como objetivo
trabalhar o conflito, tendo o acordo como uma consequência. Entretanto, em ambos os
casos é necessário que haja a garanta da igualdade entre as partes na negociação,
certificando-se que a solução encontrada seja a melhor solução para ambos, havendo
consentimento legitimo sem nenhum sinal de coação, uma vez que, este acordo não
vincula os contratantes da mesma forma que ocorre quando a solução se dá por meios
judiciais.
Neste ponto, cabe salientar que esses meios “alternativos” de resolução de
conflitos não substituem ou excluem o Poder Judiciário, mas sim o auxilia. Através
desses métodos, percebe-se que cada conflito tem um meio mais apropriado para a sua
resolução, atendendo especificamente as suas particularidades. O processo judicial, por
exemplo, deve ser direcionado para decidir questões que haja desequilíbrio de poder
entre as partes ou que envolvam direitos indisponíveis; enquanto a arbitragem pode ser
aplicada em situações de especificidade técnica. A conciliação se encaixa em situações
que as partes têm uma relação pontual e que depois de resolvido aquela questão, não
precisam conviver, ao contrario da mediação, que é ideal para questões entre pessoas
precisarão ou querem manter uma relação.
É válido ressaltar que a mediação, conciliação e negociação, podem ser
consideradas instrumentos que garantem a efetividade da democracia, pois promove o
diálogo e construção de consenso, sendo uma forma de participar na gestão política e
social, potencializando o acesso a justiça. Ademais, os métodos alternativos aplicadas
de forma adequada chegam a uma resolução de forma mais simples, rápida e eficaz,
onde os autocompositivos ainda garantem que ambas as partes sejam os próprios autores
do acordo, tendo o consenso como um instrumento fundamental, resguardando a
autonomia.
O caso em tela demonstra o embate patrimonial e intelectual entre as empresas
Gradiente e Apple em torno da marca “iphone”, este impasse já dura a há anos, e vem
acumulando inúmeros confrontos judiciais. Levando em consideração que se versa
sobre direitos patrimoniais disponíveis, o Supremo Tribunal Federal determinou que as
empresas buscassem um consenso entre si, atendendo os interesses das partes e
facilitando uma pronta execução. Essa decisão tem por objetivo aproximar as partes
para que juntas coloquem o fim a um litígio, que já vem causando prejuízos em diversas
esferas, desde o econômico até os reputacionais.
Em 2015 a Organização de Nações Unidas (ONU) lançou a Agenda 2030 com
um plano de ação global com 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS),
uma sistematização dos objetivos da Organização construir uma sociedade livre da
pobreza e garantir uma vida digna a todos, ou seja, é um plano de ação para as pessoas,
para o planeta e para a prosperidade. Com o intuito de garantir que esses 17 objetivos
sejam alcançados, o CNJ criou a Meta 9, no ano de 2018, onde cada tribunal deverá
apresentar um plano de ação para prevenir ou reduzir litígios relacionados a um dos 17
objetivos estabelecidos, a idéia é que o judiciário brasileiro promova ações de
prevenção da judicialização ou encontre soluções não judiciais para os conflitos.
Levando em consideração que os métodos alternativos de solução de conflitos são
maneiras mais rápidas, fáceis e eficazes para resolução de questões,e que o país tem
milhares de processo em tramitação, onde grande parte deles são sobre direitos sociais,
à medida que esses métodos forem aplicadas mais problemas serão resolvidos e fica
cada vez mais fácil o alcance dos objetivos propostos pela Agenda 2030.

https://esmec.tjce.jus.br/wp-content/uploads/2014/12/PDF7.pdf
https://www.imed.edu.br/Uploads/AlumniReunions/AMANDA%20SANDERI
%20MONTEIRO.pdf

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