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Meios alternativos de solução de conflitos:

Caro(a) aluno, já foi falado em sala que o futuro profissional do Direito deverá evitar conflitos jurídicos e procurar a
solução, sempre que possível, de forma não-jurídica, ou seja, evitar que seja necessária a provocação do Judiciário
para dar fim a um conflito possível. Em outras palavras, evitar a estrutura caótica do Judiciário, promovendo soluções
rápidas e satisfatórias a todos é um dever aos atuais e muito mais aos futuros profissionais do Direito.
Dessa forma, é importante saber que entre as formas alternativas de solução de conflitos estão a arbitragem (totalmente
independente do Poder Judiciário) e também outros meios de solução, os quais estão diretamente relacionados ao
poder judiciário estatal, diferentemente da arbitragem, ainda que sejam reconhecidamente meios alternativos de
solução de conflitos, ou seja, meios que tentam resolver conflitos sem a necessidade de se usar do poder judiciário da
forma tradicional, com o ingresso de ações judiciais.

O que leva as pessoas a procurarem por meio alternativos de solução de conflitos é a insatisfação com os trâmites da
justiça estatal, o que leva os jurisdicionados (os que ingressam ou pretendem ingressar com ações) a buscar por
alternativas viabilizadoras do direito de acesso à justiça. Dentre eles são mais comumente citados: a mediação, a
conciliação, a negociação e a arbitragem, sendo certo afirmar que os meios extrajudiciais hoje existentes vão muito
além desses institutos.

Vale dizer que o próprio Poder Judiciário tem interesse em que os meios alternativos se tornem uma opção à sociedade,
pois a busca por soluções mais céleres, que partam dos próprios litigantes revela-se como uma melhoria da própria
sociedade, pois resolver seus próprios conflitos, sem o intermédio do poder estatal é prova de civilidade e de percepção
dos direitos e deveres de cada cidadão.

É o que afirma Jasson Ayres Torres (2005, p. 23):

[...] a participação do poder judiciário junto às comunidades, de uma forma mais direta, no sentido de
levar a Justiça a cada parte interessada, precisa contar com o apoio da mesma sociedade, através dos
mais diferentes órgãos e áreas de influência, para encontrar novas vias de acesso à justiça.

Um exemplo dessa participação do poder judiciário junto às comunidades pode ser conhecido visitando o site do TJ do
Distrito Federal, que conta com um programa pioneiro no país, intitulado “Justiça Comunitária”, o qual “estimula a
comunidade a desenvolver mecanismos próprios de resolução de conflitos, por meio do diálogo, participação social e
efetivação dos direitos humanos. Os Agentes Comunitários de Justiça, voluntários capacitados, atuam para que a sua
comunidade conheça seus direitos e recursos, mantenha espaços de diálogo e consiga se articular para a resolução
de suas demandas coletivas. O Programa foi o vencedor da 2ª edição do Prêmio Innovare em 2005, na categoria
Tribunal de Justiça e tem sido apontado como referência nacional pelo Ministério da Justiça.”, conforme descrito no
site do TJDF (http://www.tjdft.jus.br/institucional/2a-vice-presidencia/nupecon/justica-comunitaria)

A mediação, conciliação e arbitragem, além de outros meios extrajudiciais de solução de conflitos, são vias optativas
que devem atuar pari passu com o processo judicial tradicional, com o fulcro de possibilitar, entre outros: o
descongestionamento dos órgãos jurisdicionais, a redução das despesas, a celeridade dos procedimentos, o estímulo
de uma maior participação popular na resolução de conflitos e na promoção da pacificação social, além de se evitar a
utilização da força e, por conseguinte, a infringência de outros direitos e surgimentos de novos conflitos a partir daqueles
que não foram conduzidos ao Poder Judiciário.

Demonstrada a utilidade dos meios alternativos de solução de conflitos, agora passemos a descrever cada um deles:

Negociação: “O método conhecido como negociação vem sendo reconhecido como uma estratégia psicológica no
auxílio às partes na busca por uma resolução de conflitos. (GARCEZ, 2004). Rubin e Brown (apud Garcez, 2004)
identificaram mais de quinhentos estudos acerca do método referido, que buscavam examinar as variáveis psicológicas
individuais e também as dinâmicas de psicologia em grupo.
Destaca-se que a negociação sempre dependerá das partes envolvidas para obter um resultado satisfatório, sendo que
entre as estratégias estão a cooperação, a capacidade de superar a desconfiança, a animosidade, entre outros.
(GARCEZ, 2004).
Ury e Fischer, pesquisadores da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, apontam em seu livro Getting to Yes
(New York, Penguin Books, 1983) que o humor e a ironia, desde que em proporções boas, podem desmistificar uma
postura formal e burocrática em uma negociação, trazendo resultados positivos na busca por um acordo.
(GARCEZ, 2004)
Os autores acima destacam que os métodos de negociação, sejam quais forem, devem seguir três critérios, ou seja,
produzir um acordo criterioso, ser eficiente, não piorar um relacionamento existente antes da negociação. (URY &
FISCHER, apud GARCEZ, 2004).
Diversas são as técnicas e métodos utilizados para fazer uma negociação. No entanto, por não ser objeto específico
deste trabalho, não serão abordadas exaustivamente. Não atingindo um resultado satisfatório através da negociação,
há possibilidade de utilização dos equivalentes jurisdicionais a seguir apontados, quais sejam, a conciliação, a
mediação ou a arbitragem.”

Arbitragem: arbitragem, embora meio extrajudicial de resolução de conflitos, pode ser definida como forma estatal de
composição de controvérsias, pois se desenvolve sob os “auspícios e a garantia do Estado, mas com a decisão
delegada a particular, cujas decisões se estabilizam uma vez proferidas, inclusive com sanções típicas de solução
estatal.” (TEIXEIRA, 1996). Segundo Wolkmer (2001, P. 299), trata-se de “procedimento relativamente informal em que
as partes conflitantes concordam em submeter suas divergências a julgadores ou árbitros externos, aceitando as
determinações resultantes do parecer técnico.” A lei 9.307/96, modificada recentemente pela lei 13.129/15, resultou
em grandes avanços para a resolução de conflitos no Brasil, principalmente no que se refere às relações empresariais,
nacionais e internacionais. É consenso no meio jurídico que arbitragem pode ser considerada como uma possibilidade
jurídica e legalmente reconhecida de não se ficar à mercê da “lentidão judiciária”.

Todavia, Cappelletti (1992) ressalva que embora se trate de meio relativamente mais rápido, pode vir a tornar-se muito
caro para as partes, pois são elas que suportam o ônus dos honorários dos árbitros, mas isso irá depender dos
interesses das partes envolvidas no conflito.

Mediação: Juan Carlos Vezzulla (1995, p.15) assenta que é uma “técnica de resolução de conflitos não adversarial”
por meio da qual “sem imposições de sentenças ou laudos e com um profissional devidamente formado” há a atuação
no sentido de se auxiliar as partes “a acharem seus verdadeiros interesses e a preservá-los num acordo criativo onde
as duas partes ganham”.

Roberto Portugal Bacellar (2003, p. 174), leciona que a mediação mais se trata de uma “técnica lato senso que se
destina a aproximar pessoas interessadas na resolução de um conflito, a induzi-las a encontrar, por meio de uma
conversa, soluções criativas, com ganhos mútuos e que preservem o relacionamento entre elas”.

Verifica-se que, dentre os mecanismos de resolução de conflitos viabilizadores do descongestionamento dos órgãos
jurisdicionais, a mediação tem ganhado, cada vez mais, adeptos e sua utilização tem proliferado em relação aos
conflitos ocorridos na seara do direito de família.

A principal característica da mediação é a de propiciar oportunidades para a tomada de decisões pelas partes em
conflito, mediante técnicas que auxiliem a comunicação no tratamento das diferenças de forma construtiva e interativa,
sem que para isso haja a submissão às regras processuais do direito formal. O mediador, pois, tem a função de
aproximar as partes para que elas negociem de forma direta a solução, mediante a busca de um “processo dialógico,
construtivo e cooperativo” (WOLKMER, 2001, p. 299).

Conciliação: Esta pode ser visualizada tanto no meio judicial como no extrajudicial e revela-se como prática capaz de
harmonizar os interesses em conflito, sendo que ao conciliador é possível, caso as partes não cheguem a um
entendimento, propor uma solução, a qual poderá ser acatada ou não pelas partes (WOLKMER, 2001, p. 297).

A conciliação pode ser visualizada tanto no meio judicial como no extrajudicial e revela-se como prática capaz de
harmonizar os interesses em conflito, sendo que ao conciliador é possível, caso as partes não cheguem a um
entendimento, propor uma solução, a qual poderá ser acatada ou não pelas partes (WOLKMER, 2001, p. 297).

Verônica A. da Motta Cezar-Ferreira (2004. P.135), aponta que a conciliação “é intermediada por um terceiro imparcial
e é mais indicada quando aplicada a conflitos que não envolvem relacionamento que precisa ou se pretende continuar,
como de família ou de sócios comerciais”, sendo que o conciliador “pode orientar o acordo e oferecer sugestões e o
resultado final costuma ser parcialmente satisfatório para as partes em litígio” (CEZAR-FERREIRA, 2004. P.135).

Apesar de uma aparente similaridade, há diferenças entre conciliação e mediação:

O mediador não induz propriamente as partes a um acordo, mas se esforça para auxiliar no
restabelecimento da comunicação para que elas próprias gerem novas formas de relacionamento e
equacionamento de controvérsias. Sua atuação ocorre no sentido de provocar a reflexão para que os
próprios indivíduos encontrem saídas para os conflitos. Já o conciliador, de forma incisiva, busca a
obtenção de um acordo, inclusive sugerindo maneiras de alcançá-lo e extinguir o litígio já instalado
formulando possíveis propostas de composição. (Fernanda Tartuce (2008, p. 65-67)

Dessa maneira, é possível concluir que a conciliação, em relação à mediação, é mais rápida e menos desgastante,
pois não é preciso esperar os ânimos se acalmarem, tampouco é imposto algum estímulo às partes conflitantes para a
busca de um acordo por si mesmas (o que exige o emprego de técnicas), características estas que parecem tornar
nítida a razão que ensejou fosse ela eleita pela lei processual como forma preliminar (obrigatória) de resolução dos
conflitos apresentados ao órgão jurisdicional, a despeito da mediação. Todavia, é justamente por esses motivos que a
conciliação revela-se menos satisfatória às partes, pois há uma indução ao acordo, o que pode revelar posterior
arrependimento ou frustração nas partes.

Conhecidos os principais meios alternativos de solução de conflitos, é bom ressaltar que o estímulo à sua utilização
tem como ideia central, além de propiciar o acesso à justiça, viabilizar a celeridade processual por parte dos tribunais
e demais órgãos do Poder Judiciário, que terão mais tempo para analisar as causas de maior complexidade, bem como
aquelas nas quais não se possa vislumbrar a resolução do conflito por outra forma que não seja o provimento judicial.
Lembre-se: para que a sociedade possa ter maior aceitação a essas formas alternativas de solução de conflitos, para
que uma haja uma mudança cultural, é preciso que especialmente os advogados tenham consciência de que tais
formas não são impeditivas para a celebração de contratos e a devida remuneração pela prestação de serviços
jurídicos. Tudo começa pela formação dos futuros advogados. Estude, pense, seja receptivo às mudanças para ser um
profissional diferenciado.

Referências:

BACELLAR, Roberto Portugal. Juizados especiais – a nova mediação paraprocessual. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2003.

CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Os Métodos Alternativos de Solução de Conflitos no Quadro


do Movimento Universal de Acesso à Justiça. Revista de Processo, São Paulo, v. 74, abr.-jun. 1992.

CEZAR-FERREIRA, Verônica A. da Motta. Família, Separação e Mediação: uma visão psicojurídica. Sâo Paulo:
Ed. Método, 2004.

GARCEZ, José Maria Rossani. Negociação. ADRS. Mediação. Conciliação e Arbitragem. 2 ed. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2004.

GOMES, Marina Pereira Manoel. Mediação comunitária: o acesso à justiça pela disseminação da cultura de paz.
Jacarezinho, 2012. Dissertação (Mestrado em Ciência Jurídica) – Centro de Ciências Sociais Aplicadas da
Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP).

TARTUCE, Fernanda. Mediação nos Conflitos Civis. São Paulo: Ed. Método, 2008.

TEIXEIRA, Sálvio de Figueiredo. Conferência proferida no seminário “A arbitragem e o Brasil – uma perspectiva
múltipla”. A arbitragem no sistema jurídico brasileiro. São Paulo, 13 de novembro de 1996.

TORRES, Jasson Ayres. O acesso à justiça e soluções alternativas. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005.

VEZZULA, Juan Carlos. Teoria e prática da Mediação. Curitiba: Instituto de Mediação, 1995.

WOLKMER, Antônio Carlos. Pluralismo Jurídico. 2. ed. São Paulo: Ed. Alfa Ômega, 2001. Omega,
2001.

Leituras complementares para quem quiser saber mais sobre o assunto:

1. Artigo de Fernanda Trentin; “Métodos alternativos de resolução de conflito: um enfoque pluralista do direito”
http://www.ambito-juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=11252&revista_caderno=24
2. Artigo que trata também dos meios alternativos e, apesar de tratar da arbitragem antes da nova lei de 2015,
traz considerações interessantes para comparação, especialmente quanto às nulidades da sentença arbitral:
http://mediacaoeadvocacia.com.br/artigos-juridicos/meios-alternativos-de-solucao-de-litigios-62
3. Clássica referência da wikipedia que, neste caso, faz menção a Câmaras de Arbitragem Online. Vale a pena
conhecer: https://pt.wikipedia.org/wiki/Meios_alternativos_de_solu%C3%A7%C3%A3o_de_conflitos
4. Comentários a nova lei de Arbitragem, em vigor desde Julho de 2015: :
http://www.dizerodireito.com.br/2015/05/comentarios-lei-131292015-reforma-da.html

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