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Conceitos de Mediação

A mediação se inscreve em diversas culturas e tradições legais como


expediente ao mesmo tempo singelo e decisivo de solucionar pacificamente
alguns conflitos. Sua regulação por meio de instrumentos legais formais pode
ou não ser considerada apropriada. No Brasil, na esteira da bem sucedida
regulação da arbitragem, por meio da Lei nº 9.307/96, bem como da
jurisprudência e da prática subsequentes, entendeu-se que seria conveniente a
equivalente ordenação da mediação. Através de diversas iniciativas de
mediação já existentes tanto na área judicial quanto no âmbito extrajudicial,
durante muito tempo o setor jurídico que trabalha com o tema debateu a
necessidade de uma lei específica para fomentar a institucionalização da
mediação no Brasil, sendo que o primeiro projeto de lei a respeito foi
apresentado nos idos de 1998, pela deputada federal paulista Zulaiê Cobra (PL
4827/1998). A ele se seguiram diversos outros2 e agora, com a edição da Lei
13.140, de 26 de junho de 2015, esta questão resta prejudicada. Vale ressaltar
que também o novo Código de Processo Civil contém um capítulo tratando da
mediação e da conciliação de conflitos na esfera judicial. (Souza, 2015, P,10)
Embora não haja um consenso sobre a definição do que seja mediação de
conflitos, é preciso enfatizar que, no que se refere aos princípios de atuação,
enquanto a mediação supõe a discussão entre as partes conduzida por um
tertius imparcial, não comprometido de nenhuma forma com um determinado
100 DILEMAS Mediação e conciliação no Judiciário Kátia Sento Sé Mello e
Bárbara Gomes Lupetti Baptista resultado do conflito, a conciliação, também
conduzida por um terceiro, está definitivamente comprometida com a extinção
do processo/resolução da lide, centrando sua atenção no resultado final,
entendido como representativo da “pacificação” do conflito e do retorno ao
status quo ante. Quer dizer, de um lado, a mediação aposta na explicitação dos
argumentos para que as partes decidam, elas mesmas, o que vão fazer com
seus interesses conflitantes; de outro, a conciliação quer acomodar os
interesses conflitantes das partes para que a harmonia volte a reinar entre elas
e o processo se conclua (NADER, LEITE, 2003).
O mediador tem, portanto, o papel de auxiliar as partes a distinguirem aquilo
que é emoção, o que é problema e o que é interesse comum, e, assim,
encontrar alternativas para a resolução do conflito em questão. A proposta de
fragmentação do conflito, ou seja, a separação de todos os aspectos que
podem estar misturados às emoções individuais visa ao direcionamento da
percepção do conflito de forma prospectiva por ambas as partes. (MELLO e
BAPTISTA, 2010, P.100)
Conceito de Conciliação
É um meio alternativo de resolução de conflitos em que as partes confiam a
uma terceira pessoa (neutra), o conciliador, a função de aproximá-las e orientá-
las na construção de um acordo. O conciliador é uma pessoa da sociedade que
atua, de forma voluntária e após treinamento específico, como facilitador do
acordo entre os envolvidos, criando um contexto propício ao entendimento
mútuo, à aproximação de interesses e à harmonização das relações.

O Código de Processo Civil Brasileiro (CPC), no art. 125, inciso IV, prevê,
como dever do magistrado, “tentar, a qualquer tempo, conciliar as partes”. Além
desse dispositivo, também os artigos 277, 331 e 447 do CPC dispõem sobre
procedimentos obrigatórios de tentativa de conciliação no âmbito do processo
civil, o que marca a opção do legislador por meios conciliatórios permanentes
no trâmite o curso do processo judicial. As audiências de conciliação em Varas
Cíveis, por exemplo, parecem atos meramente burocráticos, que acontecem
simplesmente porque assim determina o Código de Processo Civil, sem uma
preocupação efetiva com o entendimento das partes e o consenso, ao contrário
do que sustenta o discurso institucional. (MELLO e BAPTISTA, 2010, P.109)
No ordenamento jurídico brasileiro, a conciliação vem sendo utilizada,
amplamente no processo civil, na área familiar e especialmente, na Justiça do
Trabalho e nos Juizados Especiais. A conciliação poderá oportunizar um
acordo livre e responsável, portanto com maior possibilidade de cumprimento.
(SALES e CHAVES, 2014, P. 261)
Ressalta-se assim a importância da capacitação de conciliadores para que a
sua prática ocorra adequadamente sem que haja prejuízos ao processo e
descrédito do Poder Judiciário. Um acordo consciente tem maior possibilidade
de ser cumprido, e o espaço aberto para a conciliação deve ser aproveitado ao
máximo para que a possibilidade de composição seja efetiva. O conciliador
portanto, tem a função de estar apto para saber que a conciliação se diferencia
da mediação e que é mais adequada quando os conflitos são
objetivos/patrimoniais, em que, preferencialmente não existam vínculos
afetivos/familiares entre as partes, não sendo necessário um aprofundamento
maior na discussão. (SALES e CHAVES, 2014, P. 262)
Referências:
MELLO, Kátia Sento Sé; e BAPTISTA, Bárbara Gomes Lupetti. Mediação e
conciliação no Judiciário: Dilemas e significados.2010. Disponível em:
https://www.redalyc.org/pdf/5638/563865693004.pdf. Acesso em 12/11/2023.
SALES, Lilia Maia de Morais e CHAVES, Emmanuela Carvalho Cipriano.
Mediação e Conciliação Judicial – A Importância da Capacitação e de seus
Desafios. 2014. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/seq/a/99rC4BwcCsr5tyYjjfqcYHR/. Acesso em
12/11/2023.
SOUZA, Luciane Moreira. Mediação de Conflitos. 2015. Disponível em:
https://www.academia.edu/download/43009128/Obra_coletiva_Mediacao_de_c
onflitos_-_2a._edicao_-_versao_impressa.pdf#page=85. Acesso em
12/11/2023.

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