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Do protagonismo do Juízo ao protagonismo das partes: a mediação familiar


como instrumento para o pleno exercício da autonomia da vontade dos
mediandos

Consoante dispõe o parágrafo único do art. 1º da Lei nº 13.140/2015,


considera-se mediação a atividade técnica exercida por terceiro imparcial sem poder
decisório, que, escolhido ou aceito pelas partes, as auxilia e estimula a identificar ou
desenvolver soluções consensuais para a controvérsia. Entre seus princípios
orientadores, está prevista, no inc. V do caput do art. 2º, a autonomia da vontade
das partes1.

Especificamente no que se refere às ações de família, a partir da entrada em


vigor da Lei nº 13.105/2015, houve mudança paradigmática na busca pela solução
dos litígios. Nos termos dos artigos 694 e 695, caput, do Código de Processo Civil,
os esforços passaram a ser empreendidos para a resolução consensual da
controvérsia, devendo o Juízo designar audiência de mediação e conciliação
imediatamente após a análise de eventual pedido de concessão de tutela provisória,
em caráter liminar. Assim:

Art. 694. Nas ações de família, todos os esforços serão empreendidos para
a solução consensual da controvérsia, devendo o juiz dispor do auxílio de
profissionais de outras áreas de conhecimento para a mediação e
conciliação.
Parágrafo único. A requerimento das partes, o juiz pode determinar a
suspensão do processo enquanto os litigantes se submetem a mediação
extrajudicial ou a atendimento multidisciplinar.

Art. 695. Recebida a petição inicial e, se for o caso, tomadas as


providências referentes à tutela provisória, o juiz ordenará a citação do réu
para comparecer à audiência de mediação e conciliação, observado o
disposto no art. 694. [...].

1 Art. 2º. A mediação será orientada pelos seguintes princípios:


I – imparcialidade do mediador;
II – isonomia entre as partes;
III – oralidade;
IV – informalidade;
V – autonomia da vontade das partes;
VI – busca do consenso;
VII – confidencialidade;
VIII – boa-fé.
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Do protagonismo do Juízo, está-se caminhando para o protagonismo das


partes. A autocomposição dos litígios nas ações de família tem assumido relevância
jamais vista. Embora a mediação familiar envolva terceiro, o papel do mediador é de
auxiliar e estimular os mediandos na busca por alternativas à resolução do conflito.
É terceiro imparcial, sem poder decisório.

Ademais, é pressuposto da mediação, inclusive a familiar, que os mediandos


voluntariamente adiram ao processo. E porque a mediação familiar se trata de um
processo autocompositivo de resolução de conflitos, o protagonismo das partes
implica que assumam responsabilidade pessoal na construção da melhor solução
para o conflito que se lhes apresenta, identificando e desenvolvendo por si mesmas
hipóteses para a resolução da controvérsia.

A propósito, lição de RORATO, GIONGO (2020, p. 139)2:

A mediação familiar propicia a capacidade de compreensão dos problemas


na perspectiva de harmonização das disputas. Também permite aos
membros da família a construção de decisões que melhor lhes favoreçam,
desde que orientadas.
A mediação, além de possibilitar a solução dos conflitos que se prolongam
por anos, tem a intenção de reorganizar a família, considerando que os
envolvidos necessitam de uma tomada de consciência com vistas à
superação de seus desajustes.
A mediação familiar viabiliza, em primeiro lugar, a comunicação entre as
partes, a fim de que se possa estabelecer um plano de ação, respeitados os
pontos de vista de cada um.

Em razão desse contexto, a mediação familiar, seja judicial, seja extrajudicial,


assume cada vez mais relevância como proposta concreta para a resolução de
conflitos familiares. Questões como divórcio, convivência familiar, sustento dos
filhos, reconhecimento de paternidade, partilha de bens, cuidado com familiares
doentes ou idosos, são exemplos em que a adesão das partes ao processo de
mediação tem demonstrado resultados práticos bastante satisfatórios.

Ao assumirem o protagonismo na solução da controvérsia em que se vêm


envolvidas, as partes transferem o poder decisório tradicionalmente atribuído ao

2RORATO, Ângela Martins. GIONGO, Cláudia Deitos. Formas Democráticas de Participação


Social e Formas Adequadas de Resolução de Conflitos. 1. ed. Indaial: UNIASSELVI, 2020.
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Juízo para si próprias, chamam para si a responsabilidade para decidir a melhor


forma, observada sua própria realidade, para a resolução da controvérsia que se
lhes apresenta, empoderando-se e admitindo que, em última análise, sempre foram
elas as responsáveis pelo curso de suas próprias vidas.

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