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Marcos Silva, aluno de uma Universidade Federal, autarquia federal, inconformado com a
nota que lhe fora atribuída em uma disciplina do curso de graduação, abordou a professora Maria
Souza, servidora pública federal, com um canivete em punho e, em meio a ameaças, exigiu que ela
modificasse sua nota. Nesse instante, a professora, com o propósito de repelir a iminente
agressão, conseguiu desarmar e derrubar o aluno, que, na queda, quebrou um braço. Diante do
ocorrido, foi instaurado Processo Administrativo Disciplinar (PAD), para apurar eventual
responsabilidade da professora. Ao mesmo tempo, a professora foi denunciada pelo crime de
lesão corporal. Na esfera criminal, a professora foi absolvida, uma vez que restou provado ter agido
em legítima defesa, em decisão que transitou em julgado. O processo administrativo, entretanto,
prosseguiu, sem a citação da servidora, pois a Comissão nomeada entendeu que a professora já
tomara ciência da instauração do procedimento por meio da imprensa e de outros servidores. Ao
final, a Comissão apresentou relatório pugnando pela condenação da servidora à pena de
demissão. O PAD foi encaminhado ao reitor da universidade para a decisão final, que, sob o
fundamento de vinculação ao parecer emitido pela Comissão, aplicou a pena de demissão à
servidora, afirmando, ainda, que a esfera administrativa é autônoma em relação à criminal. Em
11/01/2017, a servidora foi cientificada de sua demissão, por meio de publicação em Diário Oficial,
ocasião em que foi afastada de suas funções, e, em 22/02/2017, procurou seu escritório para
tomar as medidas judiciais cabíveis, informando, ainda, que, desde o afastamento, está com sérias
dificuldades financeiras
MARIA SOUZA, (nacionalidade), (estado civil), (profissão), inscrita no CPF sob nº (numeração),
portadora do RG nº (numeração), residente e domiciliada à (endereço contendo rua, nº, bairro,
município, estado, UF e CEP), endereço eletrônico (e-mail), por intermédio de sua advogada que
este subscreve, endereço eletrônico (e-mail), vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência,
impetrar o presente
Contra ato praticado pelo REITOR DA UNIVERSIDADE FEDERAL, Sr. (nome completo),
(nacionalidade), (estado civil), (profissão), com documentos de identificação e endereço pessoal
desconhecidos, represente legal da referida instituição de ensino superior pública federal, estando
esta autoridade coatora vinculada a UNIVERSIDADE FEDERAL, autarquia da União, pessoa jurídica
de direito público, inscrita no CNPJ sob nº (numeração), com sede ao (endereço contendo rua, nº,
bairro, município, estado, UF e CEP), endereço eletrônico (e-mail), pelos fatos e fundamentos que
passa a expor.
I. DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA
Em razão das dificuldades financeiras enfrentadas pela impetrante desde sua demissão,
esta não possui como suportar as custas judiciais sem que afete o seu sustento, razão pela qual
deve ser contemplada pela gratuidade de justiça, na forma da Lei nº 1.050/1960.
Em determinado dia, Marcos Silva, aluno da instituição em tela, inconformado com a nota
que lhe fora atribuída na disciplina em que a impetrante lecionava no curso de graduação do
aluno, ele a abordou com um canivete em punho e, em meio a ameaças, exigiu que ela procedesse
à modificação de sua nota.
Quanto a esfera criminal, a impetrante foi absolvida, vez que fora provado ter agido em
legítima defesa, em decisão que transitou em julgado.
O PAD foi encaminhado à autoridade competente, ora o impetrado, para a decisão final,
que, sob o fundamento de vinculação ao parecer emitido pela Comissão, aplicou a pena de
demissão à impetrante, afirmando, ainda, que a esfera administrativa é autônoma em relação à
criminal.
Assim sendo, socorre-se a impetrante do manto do Poder Judiciário, com fito de obter a
necessária tutela jurisdicional.
No presente caso, o impetrado é responsável por ato de lesão a direito líquido e certo junto
à impetrante, vez que comprovado, junto a esfera penal, que a mesma agiu em legítima defesa,
resultando em sua sentença absolutória.
Deve-se salientar, ainda, quanto a omissão da tramitação do PAD sem a devida citação da
interessada, bem como a descabida decisão do reitor ao aplicar a pena de demissão à impetrante,
sob a justificativa apresentada de “que a esfera administrativa é autônoma em relação à criminal”.
O presente mandado de segurança tem cabimento, nos termos do inciso LXIX do artigo 5º
da CRFB, como verdadeiro remédio constitucional para afastar ato de autoridade, capaz de causar
lesão ou ameaça, a direito líquido e certo não amparado por outra garantia.
De acordo com Hely Lopes Meirelles, o direito líquido e certo é o que se apresenta
manifesto na sua existência, delimitado na sua extensão e apto a ser exercido no momento da
impetração, ou seja, o direito invocado para ser amparável por mandado de segurança, há de vir
expresso em norma legal e trazer em si todos os requisitos e condições de sua aplicação ao
impetrante.
Cumpre ressaltar, ainda, que o prazo para impetrar o presente instrumento fora
devidamente respeitado, haja vista que a impetrante foi cientificada em 11/01/2017 e procedeu ao
acionamento do judiciário em 22/02/2017, perfazendo 42 (quarenta e dois) dias entre o período
mencionado, conforme dispõe o Art. 23 da Lei nº 12.016/2009:
No presente caso, trata-se de ato coator praticado pelo reitor de instituição de ensino
superior público federal e, portanto, a competência será da Justiça Federal, consonante
jurisprudência originária do REsp nº 373.904/RS:
“Art. 6º A petição inicial, que deverá preencher os requisitos estabelecidos pela lei
processual, será apresentada em 2 (duas) vias com os documentos que instruírem a
primeiras reproduzidas na segunda e indicará, além da autoridade coatora, a
pessoa jurídica que esta integra, à qual se acha vinculada ou da qual exerce
atribuições.
À vista disso, não há que se falar acerca de possível incompetência do âmbito federal para solução
do presente mandamus.
Com relação ao PAD que pugnou pela condenação da servidora à pena de demissão, este
prosseguiu sem a devida citação da impetrante, onde a Comissão responsável apresentou como
justificativa que a mesma já teria tomado ciência da instauração do procedimento por meio da
imprensa e de outros servidores.
§ 3º A intimação pode ser efetuada por ciência no processo, por via postal com
aviso de recebimento, por telegrama ou outro meio que assegure a certeza da
ciência do interessado.”
Quanto a justificativa apresentada pelo reitor, ora impetrado, quando da consumação do
ato coator ao aplicar a pena de demissão à impetrante, mister salientar que, de fato, há a
existência da autonomia entre as instâncias, figurando, no caso em comento, a penal e a
administrativa.
Como anteriormente demonstrado, o mesmo cenário não pode ser constatado junto ao
PAD enfrentado pela impetrante, vez que detectado a presença de vício durante o curso da
demanda administrativa, sendo, nesta ocasião, a ausência da devida citação e a não consideração
da sentença absolutória na esfera penal.
O direito líquido e certo não amparado da impetrante é evidente, a qual pugna por sua
reintegração através da anulação do ato demissionário realizado pelo impetrado.
Neste contexto, nos deparamos com o periculum in mora e fumus boni iuris.
Com relação ao periculum in mora, é sabido que este se refere ao perigo da demora,
conforme preceitua o Art. 300 do CPC:
“Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que
evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado
útil do processo.”
No que se refere ao fumus boni iuris, a fumaça do bom direito, esta caracteriza-se por toda
a fundamentação realizada nesta peça, juntamente com as provas documentais, que garantem o
próprio direito da impetrante a ser reintegrada de pronto a seu antigo cargo, bem como a receber
seus devidos vencimentos, ante a demissão ilegal.
Seguindo o raciocínio retro, a mesma matéria fora tratada no REsp nº 1199257/PE, que não
só reconheceu o direito da reintegração de servidor público, como também reconheceu o direito
ao recebimento dos vencimentos desde a data da demissão ilegal:
Considera-se, ainda, o disposto no inciso III, Art. 7º da Lei nº 12.016/2009, que versa acerca
da suspensão do ato, pelo próprio magistrado, que deu motivo ao pedido:
III - que se suspenda o ato que deu motivo ao pedido, quando houver fundamento
relevante e do ato impugnado puder resultar a ineficácia da medida, caso seja
finalmente deferida, sendo facultado exigir do impetrante caução, fiança ou
depósito, com o objetivo de assegurar o ressarcimento à pessoa jurídica.”
a. Que seja concedida a gratuidade de justiça, na forma da Lei nº 1.050/1960, vez que a impetrante
se encontra desempregada, não possuindo condições de arcar com as custas;
b. Que seja deferida a liminar requerida, na forma da Lei nº 12.016/2009, vez que presente os
requisitos legais para sua concessão, no sentido de promover a reintegração imediata da
impetrante ao seu antigo cargo junto a Universidade Federal, bem como seja determinado, no
prazo de 5 (cinco) dias, o pagamento dos vencimentos retroativos, a contar 11/01/2017, sob pena
de multa diária no valor de R$ 500,00 (quinhentos reais), em caso de desobediência, limitada a R$
10.000,00 (dez mil reais), valores estes que deverão ser revertidos em favor da impetrante;
d. Que seja determinado que se dê ciência do fato ao órgão de representação judicial da pessoa
jurídica em comento, enviando-lhe cópia da inicial sem documentos, para que, querendo, ingresse
no feito, nos termos do inciso II, Art. 7º da Lei nº 12.016/09;
e. Que o impetrado seja condenado ao pagamento das despesas processuais, na forma da Lei.
X- DO VALOR DA CAUSA
Termos em que,
Pede deferimento.
LOCAL
DATA
ADVOGADO
OAB/UF