Reexame Necess�rio em Mandado de Seguran�a n. 2015.
033858-9, de Navegantes Relator: Des. João Henrique Blasi
REEXAME NECESSÁRIO EM MANDADO DE
SEGURANÇA. TRANSFERÊNCIA DE ESTUDANTE DE INSTITUIÇÃO DE ENSINO COMO SANÇÃO PEDAGÓGICA POR MAU COMPORTAMENTO. NÃO-INSTAURAÇÃO DE PROCESSO ADMINISTRATIVO. VIOLAÇÃO AOS PRINCÍPIOS DO DEVIDO PROCESSO LEGAL, DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA. EXEGESE DO ART. 5º, INC. LV, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. SENTENÇA MANTIDA. REMESSA DESPROVIDA.
"Ainda que o aluno esteja envolvido em episódios de mau
comportamento perante professores e colegas, é ilegal aplicar-lhe a punição de transferência para outra instituição de ensino, sem o prévio processo administrativo em que lhe fosse assegurada a ampla defesa". (TJSC - Reexame Necessário em Mandado de Segurança n. 2008.039659-6, de Navegantes, rel. Des. Sérgio Roberto Baasch Luz, j. em 27.2.2009).
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Reexame Necess�rio
em Mandado de Seguran�a n. 2015.033858-9, da comarca de Navegantes (2� Vara C�vel), em que � impetrante Guilherme Meneghel Gualberto e impetrada Diretora da Escola Estadual Adelaide Konder, de Navegantes:
A Segunda C�mara de Direito P�blico decidiu, por vota��o
un�nime, negar provimento � remessa. Custas legais. Participaram do julgamento, realizado nesta data, os Exmos. Srs. Desembargadores Cid Goulart e Francisco Oliveira Neto. Florian�polis, 11 de agosto de 2015
Jo�o Henrique Blasi
RELATOR E PRESIDENTE
Gabinete Des. Jo�o Henrique Blasi
RELAT�RIO
Cuida-se de reexame necess�rio de senten�a prolatada pelo Juiz
de Direito Murilo Leiri�o Consalter, que concedeu a ordem em writ impetrado por Guilherme Meneghel Gualberto, via Advogado Luiz Gonzaga Floren�o Junior, contra ato da Diretora da Escola Estadual Adelaide Konder, localizada no Munic�pio de Navegantes, declarando a nulidade do ato que aplicou ao impetrante san��o pedag�gica de transfer�ncia de institui��o de ensino (fls. 80 e 81). Lavrou parecer o Procurador de Justi�a Am�rico Bigaton, que opinou pelo desprovimento da remessa (fls. 104 a 109). � o relat�rio.
VOTO
Da decis�o concessiva do provimento liminar, posteriormente
confirmada pela senten�a, extrai-se: Em an�lise dos autos, denota-se que a ele foi aplicada san��o de transfer�ncia da Escola Estadual Adelaide Konder, onde estava devidamente matriculado, por suposta agress�o verbal e f�sica a uma outra aluna, sem que lhe tenha sido assegurado o exerc�cio do direito ao contradit�rio, da ampla defesa e o devido processo legal. A despeito de constar do PPP, norma m�xima da institui��o em comento, a qual deve ser respeitada e observada, inclusive, por este togado na an�lise da quest�o, que "Caso o aluno j� tenho maioridade e sendo respons�vel pelos seus atos, ser� dada automaticamente sua transfer�ncia, a Constitui��o Federal, norma m�xima do Estado Brasileiro, assegura em seu art. 5�, inciso LV, ao acusado, assim compreendido "todo aquele pass�vel de san��o que resulte em restri��o a direito seu por ato dependente de ser provado", o exerc�cio do contradit�rio e da ampla defesa. Portanto, independentemente de estar previsto em seu PPP a transfer�ncia autom�tica dos alunos maiores de 18 anos que tenham cometido "atos infracionais", para aplica��o desta san��o, que possui gravidade consider�vel, o �rg�o diretivo da Escola Estadual Adelaide Konder deve instaurar procedimento administrativo, no qual seja facultado ao aluno o exerc�cio do contradit�ria e da ampla defesa. Nesse sentido, colhem-se julgados de nosso egr�gio Tribunal de Justi�a: Gabinete Des. Jo�o Henrique Blasi A��O INDENIZAT�RIA. EXPULS�O DE ESTUDANTE DE ENTIDADE DE ENSINO PRIVADA. COLA ELETR�NICA. DESCUMPRIMENTO DOS DEVERES ESCOLARES DO ALUNO INDICADO NOS AUTOS. PROCEDIMENTO DE EXCLUS�O, CONTUDO, IRREGULAR. AUS�NCIA DE CONTRADIT�RIO E AMPLA DEFESA. ATO IL�CITO PATENTEADO. REPERCUSS�O. DANOS MATERIAIS CONCERNENTES AO CANCELAMENTO DA FORMATURA. ABALO AN�MICO, CONTUDO, INEXISTENTE EM RAZ�O DA DIN�MICA DOS FATOS E CONTRIBUI��O DO ALUNO. RECURSO DA R� PARCIALMENTE PROVIDO, PREJUDICADO O DO AUTOR. A expuls�o de aluno de entidade de ensino, pouco importando as circunst�ncias, somente � cab�vel mediante instaura��o de processo administrativo no qual sejam observados os princ�pios constitucionais do contradit�rio, da ampla defesa e do devido processo legal. Por outro lado, havendo severos ind�cios de que o ato que a motivou – uso do celular em prova – de fato ocorreu, deve-se ressarcir o estudante apenas pela perda material havida com o cancelamento da formatura, sem cogitar na ocorr�ncia de abalo an�mico. (AC n. 2012.057643-4, da Capital, rel�. Des�. Maria do Rocio Luz Santa Ritta, j. 15.1.2013) ADMINISTRATIVO. ESCOLA P�BLICA. TRANSFER�NCIA COMPULS�RIA DE ALUNO. AUS�NCIA DE PROCESSO ADMINISTRATIVO. ILEGALIDADE. REEXAME DESPROVIDO. "Ainda que o aluno esteja envolvido em epis�dios de mau comportamento perante professores e colegas, � ilegal aplicar-lhe a puni��o de transfer�ncia para outra institui��o de ensino, sem o pr �vio processo administrativo em que lhe fosse assegurada a ampla defesa". (RNMS n. 2008.039659-6, de Navegantes, rel. Des. S�rgio Roberto Baasch Luz, j. Primeira C�mara de Direito P�blico, j. 27-2-2009). (RN n. 2010.076996-1, de Forquilhinha, rel. Des. Paulo Henrique Moritz Martins da Silva, j. 22.2.2011) Ademais, ressalta-se que t�o somente o fato de ter a impetrada colhido o depoimento do impetrante como se depreende do registro de ocorr�ncia (c�pia �s fls. 64/66), bem como de ter cientificado o impetrante e seus pais dos fatos ocorridos e das medidas a serem adotadas, n�o descaracteriza a ofensa aos direitos supracitados, os quais implicam na instaura ��o de procedimento espec�fico para apura��o dos fatos, no qual o requerido, n�o apenas seja instado a apresentar sua vers�o dos fatos, mas tenha o direito de se defender amplamente, produzindo todo tipo de prova admitida no direito, antes da aplica��o de qualquer san��o. [...] Por fim, registra-se que os atos atribu�dos ao impetrante s�o graves e merecem reprimenda, caso, de fato, perpetrados. Todavia, a puni��o depende de pr�vio processo administrativo em que sejam assegurados a ampla defesa e o contradit�rio ao impetrante. (fls. 71 e 72) Dessa forma, n�o diviso raz�o alguma para a reforma da senten�a reexaminanda, confirmat�ria do entendimento antes retratado, que,
Gabinete Des. Jo�o Henrique Blasi
ao rev�s, reclama confirma��o, dado que, como visto, foi aplicada ao impetrante san��o pedag�gica de transfer�ncia de institui��o de ensino, sem que tivesse havido a instaura��o de pr�vio processo administrativo para apurar a infra��o comportamental que lhe � irrogada. Na mesma senda caminha a conclus�o constante do parecer exarado pelo Minist�rio P�blico neste grau de jurisdi��o. Veja-se: [...] n�o restam d�vidas sobre a imprescindibilidade da instaura��o do processo administrativo para que se apura, de forma escorreita, eventual infra��o cometida no �mbito da Administra��o P�blica. No caso em apre�o, o ato que resultou na transfer�ncia do impetrante da institui��o de ensino consubstancia-se em suposta agress�o f�sica praticada contra uma aluna. Na realidade, a apura��o do cometimento de infra��o capaz de ensejar a aplica��o de san��o desta natureza mostra-se irrelevante diante da inexist�ncia de procedimento administrativo a fim de apurar a conduta do discente, bem como assegurar-lhe direito ao contradit�rio e a ampla defesa. Assim, a aplica��o da penalidade deve ser precedida de processo administrativo que conclua pelo cometimento de infra��o disciplinar. Conclui-se, pois, sem adentrar no m�rito da infra��o propriamente dita, que � imprescind�vel a instaura��o pr�via do processo administrativo pertinente. Ocorre que, conforme se extrai dos autos, n�o houve, na hip�tese em tela, a instaura��o do procedimento necess�rio, pelo que qualquer esp�cie de penalidade a ser aplicada ao aluno n�o pode subsistir. Embora a autoridade impetrada tenha sustentado que aplicou a penalidade de transfer�ncia em conson�ncia com o Projeto Pol�tico Pedag�gico que assim disciplina, indispens�vel obedi�ncia aos preceitos do contradit�rio e da ampla defesa. Pode-se observar da documenta��o acostada ao feito (fls. 51-67) que foi promovida reuni�o pelo Conselho Deliberativo para tratar do assunto, ocasi�o em que foi aplicada a pena, sem que tenha sido instaurado procedimento espec�fico com o intuito de impor a san��o de transfer�ncia ao aluno, raz�o pela qual os argumentos expendidos pela Administra��o n�o possuem respaldo. [...] Logo, n�o restam d�vidas de que, em n�o havendo pr�via instaura��o de processo administrativo para apura��o da conduta do aluno, nula � a imposi��o de quaisquer penalidades desta decorrentes. Portanto, a decis�o a quo deve ser confirmada em sua �ntegra. (fls. 106 a 109) Ante ao exposto, sem ambages, voto pelo desprovimento da remessa. Gabinete Des. Jo�o Henrique Blasi