Você está na página 1de 5

Nº 1.0000.22.

271171-5/000
MANDADO DE SEGURANÇA 1ª CÂMARA CÍVEL
Nº 1.0000.22.271171-5/000 BELO HORIZONTE
IMPETRANTE(S) PEDRO HENRIQUE DE ANDRADE
BATISTA
IMPETRADO(A)(S) JUIZ DE DIREITO DA 4ª VARA DA
FAZENDA PÚBLICA E AUTARQUIAS
DE BELO HORIZONTE

DECISÃO
Cuida-se de mandado de segurança originário impetrado por
Pedro Henrique de Andrade Batista contra ato atribuível ao MM. Juiz
de Direito da 4ª Vara da Fazenda Pública e Autarquias da Comarca
de Belo Horizonte que consistiu no proferimento de decisão que, no
âmbito da ação ordinária ajuizada pelo Ministério Público do Estado de
Minas Gerais, em face do Estado de Minas Gerais e do Instituto
Nacional de Seleções e Concursos – SELECON, deferiu o pedido de
tutela de urgência, para determinar:
“(...) que os requeridos procedam com a realização de
um novo teste de aptidão física para os 5.507 (cinco
mil quinhentos e sete) candidatos que foram
convocados para tal etapa, no concurso SEJUSP
Edital nº 02/2021, cargo de Policial Penal, no prazo
máximo de 30 (trinta) dias, com a designação de uma
nova banca de examinadores, sob pena de multa.” (e-
doc. nº 05).

Em suas razões recursais, o impetrante narra que obteveêxito


em todas as etapas do concurso público regido pelo Edital SEJUSP nº
002/2021, tendo sido inclusive considerado apto no teste de aptidão
física.
Tece considerações acerca de sua trajetória de preparação
para o certame, detalhando inclusive os gastos que teve com
deslocamento e hospedagem para realização das provas, umavez que
reside no Distrito Federal.
Explica ter se dedicado à prova de aptidão física por meio de
treinamentos específicos, inclusive com a contratação de professor de
corrida para atingir o nível de preparação necessário.
Pondera não ter sido beneficiado ou prejudicado na realização
dos testes e ter sido a sua aprovação fruto do seu trabalho, do seu
esforço e de muita dedicação.
Defende que sua aprovação no TAF consiste em direito líquido
e certo a não refazer essa etapa já concluída.

Fl. 1/5
Nº 1.0000.22.271171-5/000

Sustenta ser terceiro de boa-fé, na medida em que não treinou


nem teve qualquer contato prévio com professor que integrou a banca
avaliadora.
Aduz quebra de isonomia na decisão, que submete candidato
aprovado no TAF a nova prova, na qual foi autorizara a participação
daqueles que não conseguiram de fato executar os testes e inclusive
para candidatos ausentes.
Argumenta não ser razoável e proporcional exigir que todos os
candidatos refaçam o teste uma vez que cerca de 86% deles foram
considerados aptos e a situação supostamente anti-isonômica afetou
uma quantidade mínima de candidatos.
Entende que a decisão liminar esgota o objeto da ação, oqueé
vedado pelo art 1º, § 3º, da Lei Federal n° 8.437/1992.
Esclarece que, além do prejuízo material decorrente de novos
gastos a serem realizados para fins de transporte ou hospedagempara
comparecimento no local da prova, há efetivo prejuízo jurídico na
manutenção da decisão agravada, que gera situação de incerteza e
ansiedade aos candidatos que já haviam sido aprovados.
Pugna pelo deferimento do pedido liminar, para determinar que
o impetrante não tenha que refazer o TAF (Teste de Aptidão Física),
por já ter sido devidamente aprovado.
Decido.
Concedo ao impetrante os benefícios da justiça gratuita.
Na espécie em exame, o impetrante foi considerado apto em
Teste de Aptidão Física no âmbito de concurso público regido pelo
Edital SEJUSP nº 002/2021, visando o provimento ao cargo de Agente
de Segurança Penitenciário/Policial Penal.
Contudo, o Ministério Público do Estado de Minas Gerais
ajuizou a ação nº 5222377-15.2022.8.13.0024 questionandoaisonomia
da prova de condicionamento físico, pugnando pelo reconhecimentode
sua nulidade e a realização de novo teste para todos os 5.707
candidatos.
A tutela de urgência foi deferida pelo MM. Juiz de Direito da 4ª
Vara da Fazenda Pública e Autarquias da Comarca de Belo Horizonte

Fl. 2/5
Nº 1.0000.22.271171-5/000
para determinar a realização de novo teste, decisão contra a qual se
insurge o impetrante.
Por certo, o deferimento da medida liminar em sede de
mandado de segurança está condicionado à demonstração pelo
impetrante de fundamento relevante, somado ao risco de ineficácia da
medida, caso conferida apenas ao final, conforme dispõe o art. 7º, III,
da Lei n° 12.016/2009.
Além disso, trata-se de via que não comporta dilação
probatória, pois exige que a comprovação do direito líquido e certoseja
feita por prova pré-constituída.
No caso em comento, em que pese a argumentação
desenvolvida pelo impetrante, não observo a probabilidade do direito
invocado, ao menos nesse momento processual e em sede de
cognição sumária.
De fato, sabe-se que o Supremo Tribunal Federal, ao julgar o
RE nº 632.853/CE (Tema nº 485), fixou tese no sentido de que não
compete ao Poder Judiciário substituir a banca examinadora acercada
conclusão sobre a capacidade do candidato para o exercício de
determinado cargo, salvo ocorrência de ilegalidade ou de
inconstitucionalidade.
E, in casu, restou evidenciada, no âmbito da ação ajuizadapelo
Ministério Público, situação excepcional de inconstitucionalidade ou de
ilegalidade flagrante, o que autoriza a substituição da conclusão
adotada pela banca examinadora por ato jurisdicional.
Não há dúvidas que o Edital SEJUSP nº 02/2021, de
17.8.2021, previa expressamente que os candidatos seriam
submetidos a prova de condicionamento físico por testes específicos,
de critério eliminatório (item 1.4).
Entretanto, a incontroversa relação entre os componentes da
Banca Examinadora, que atuaram no teste físico, e alguns dos
candidatos aprovados no certame dá azo à hipótese de suspeição e
violação ao princípio da isonomia na seleção dos candidatos.
Assim, a situação apresentada inquina à irregularidadedoteste
de aptidão física, assim como das etapas subsequentes e do resultado
final.
Não se ignora a argumentação do autor no sentido de quenão
foi uma das pessoas beneficiadas por treinamento prévio com

Fl. 3/5
Nº 1.0000.22.271171-5/000
membros da Banca Examinadora, narrativa que, de fato, écorroborada
pela documentação acostada a estes autos.
Contudo, conforme consignou a autoridade coatora, não se
pode deixar de considerar que todos os candidatos se submeteram a
Teste de Aptidão Física eivado de nulidade por conter em seu corpo
examinador indivíduos que possuíam interesses próprios e, portanto,
não dotados da imparcialidade necessária a garantir a isonomia entre
os candidatos.
Em outras palavras, não é possível garantir que mesmo os
candidatos considerados aptos e que não obtiveram treinamento com
os avaliadores não tenham tido o resultado de seu teste afetado por
essa conjuntura.
Além disso, para garantir a isonomia se faz necessário que
todos os candidatos sejam submetidos às mesmas condições durante
o Teste de Aptidão Física. Nesse sentido, permitir que parte dos
candidatos continue submetido ao primeiro teste, enquanto outraparte
é examinada por nova prova a ser realizada, seria admitir duas formas
de avaliação sob condições diferentes, em violação à isonomia.
Considerando, portanto, que a decisão proferida pela
autoridade coatora respeita o princípio da isonomia entre os
candidatos, mantendo a uniformidade dos critérios de correção
estabelecidos, não há afastar seu cumprimento no que concerne o
impetrante.
Até mesmo porque permitir que o candidato se utilize da
classificação na primeira prova consiste em tratamento desigual
perante os demais candidatos que também foram inicialmente
considerados aptos.
Logo, ainda que a parte tenha que despender mais recursos a
fim de se deslocar para realização de novo teste – situação com aqual
me solidarizo – não se pode afastar a determinação de submissão a
ele, em respeito à isonomia do concurso.
Ressalto ser este o entendimento que expressei quando do
exame do pedido liminar no âmbito do Agravo de Instrumento nº
1.0000.22.264271-2/000, interposto em face da mesma decisãocontra
a qual se insurge o impetrante.
No que concernem as alegações de que a liminar esgota o
objeto da ação, não vislumbro relevância, na medida em que o pedido

Fl. 4/5
Nº 1.0000.22.271171-5/000
final, pela nulidade do Teste de Aptidão Física e sua substituição por
nova prova, permanece pertinente.
Fundado nessas considerações, INDEFIRO O PEDIDO
LIMINAR, determinando o prosseguimento do feito.
Determino ao Cartório que:
INTIME-SE, pessoalmente, a autoridade coatora para prestar,
no prazo de 10 (dez) dias, as informações relativas ao mandado de
segurança (art. 7º, I, da Lei Federal nº 12.016/09).
INTIME-SE, ainda, o Estado de Minas Gerais, na pessoa do
Advogado-Geral do Estado, para ter ciência desta ação mandamental,
e, se desejar, ingressar no feito (art. 7º, II, da Lei Federal nº
12.016/09).
Em seguida, OUÇA-SE a Procuradoria-Geral de Justiça.
Publique-se.
Belo Horizonte, 17 de novembro de 2022.

DES. ROBERTO APOLINÁRIO DE CASTRO (JD CONVOCADO)


Relator

Fl. 5/5

Você também pode gostar