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Ordem dos Advogados do Brasil

Seção do Estado do Rio de Janeiro


Procuradoria

EXMO. SR. DR. DESEMBARGADOR RELATOR DA OITAVA TURMA


ESPECIALIZADA DO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 2ª
REGIÃO

Agravo de Instrumento n.º 5010918-48.2021.4.02.0000


Processo Originário n.º 5083232-15.2021.4.02.5101

A ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL, SEÇÃO DO


ESTADO DO RIO DE JANEIRO, por seus procuradores abaixo assinados, nos
autos do processo em epígrafe, movido por MARCIA OLIVEIRA DOS
SANTOS vem apresentar suas CONTRARRAZÕES AO AGRAVO DE
INSTRUMENTO, pelos motivos de fato e de direito que passa a expor.

Nestes termos,
Pede deferimento.

Rio de Janeiro, 26 de agosto de 2021.

Karen Calabria
Procuradora da OAB/RJ
OAB/RJ 186.011

COLENDO TRIBUNAL – EGRÉGIA TURMA JULGADORA

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Avenida Marechal Câmara, 150, Castelo – Rio de Janeiro – RJ
KC/GA
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Procuradoria

AGRAVANTE: MARCIA OLIVEIRA DOS SANTOS


AGRAVADA: ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL – SEÇÃO
DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

CONTRARRAZÕES DO AGRAVADO

TEMPESTIVIDADE

1. Tendo em vista que o início da contagem do prazo para a prestação


das contrarrazões se deu em 23/08/2021, portanto, manifestamente tempestiva a
apresentação das presentes, eis que protocoladas dentro do prazo legal de 15
(quinze) dias úteis.

SÍNTESE DA DEMANDA

2. A Agravante pretende com o presente recurso suspender os efeitos e


reformar a decisão interlocutória que indeferiu o pedido de Tutela de Urgência
Antecipada para que possa realizar o Exame pratico profissional (2ª fase da prova
da OAB), no dia 08/08/2021. Também requer que, a possibilidade de realizar
somente a segunda fase já do próximo exame o XXXIII, sem ter que passar pela
primeira fase novamente deste, já que foi proposto a forma facultativa pela
própria Banca examinadora.

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3. Na origem, a impetrante, ora agravante, busca a anulação das


questões de n° 026, 027. 038, 053, 062, 065, 069, 071, 076 e 077 – Prova
Objetiva Branca tipo 1 (Processo 5010918-48.2021.4.02.0000/TRF2, Evento 1,
INIC1), referente ao XXXII Exame de Ordem Unificado, atribuindo-lhe a
pontuação que entende ser devida, para que obtenha aprovação na primeira fase
do exame, e, consequentemente, seja oportunizado ao mesmo a realização da
segunda fase do referido exame.

4. Diante disso, a Agravante interpôs Mandado de Segurança contra


Presidente do Conselho Seccional do Estado do Rio de Janeiro e contra o
Presidente da Comissão de Estágio e Exame de Ordem Do Estado do Rio de
Janeiro (Processo 5010918-48.2021.4.02.0000/TRF2, Evento 1, INIC1)

5. Alega que houve erro na correção de sua prova, não tendo sido
concedida a pontuação a que fazia jus nas questões da prova objetiva, por
discordar do gabarito oficial.

6. Em sede de liminar, o juízo a quo indeferiu o pedido de concessão


da medida liminar em tutela de urgência (Processo
5010918-48.2021.4.02.0000/TRF2, Evento 1, OUT4, Página 1-4). De forma firme e
muito bem fundamentada, demonstrando total falta de amparo aos pedidos do
Agravante, in verbis:

“(...) A impetrante postula, liminarmente, a anulação de questões


referentes à prova objetiva e consequente participação nas demais
fases do Exame de Ordem XXXII da OAB.
A concessão de medida liminar em mandado de segurança, quando
possível, é condicionada à satisfação, cumulativa e simultânea, dos
requisitos previstos no art. 7º, III, da Lei n. 12.016/09, quais sejam,
a existência de fundamento relevante e a possibilidade de que do

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ato impugnado possa resultar a ineficácia da medida, caso seja


deferida somente ao final. Em outras palavras, a concessão de
medida liminar em sede de mandado de segurança está atrelada ao
disposto naquele dispositivo legal, que possibilita seu deferimento
em caso de concomitância da plausibilidade do direito invocado
(fumus boni iuris) e do risco de perecimento de tal direito face à
urgência do pedido (periculum in mora).
Em análise perfunctória, própria deste momento processual, não
restou comprovado que a impetrante interpôs recurso
administrativo contra o resultado de 10 (dez) questões de
sua prova objetiva.
Diante desse quadro, impende ressaltar que a jurisprudência pátria é
uníssona no sentido de que não cabe ao Poder Judiciário, no
controle jurisdicional da legalidade do concurso público, examinar
critérios de formulação e avaliação das provas e notas atribuídas
aos candidatos.
Nessa toada, é defeso ao Judiciário substituir a banca examinadora
para analisar e alterar os critérios de correção de provas, bem como
para atribuir notas a candidatos, haja vista que tal atitude importa
em flagrante quebra da isonomia e impessoalidade que devem reger
os concursos públicos, porquanto os critérios de correção adotados
pela banca examinadora foram dirigidos, indistintamente, a todos
os candidatos. (...)
(...) Ao julgar o tema nº 485 da repercussão geral, o E. STF fixou a
seguinte tese: "Não compete ao Poder Judiciário substituir a banca
examinadora para reexaminar o conteúdo das questões e os critérios
de correção utilizados, salvo ocorrência de ilegalidade ou de
inconstitucionalidade." (RE 632853, Rel. Min. Gilmar Mendes,
Pleno, DJ 23/04/2015).
Nessa linha de intelecção, não se vislumbra, em cognição sumária,
qualquer ilegalidade no exercício da discricionariedade da
banca examinadora que, ao que tudo indica, agiu em
conformidade com as regras editalícias expressas.
Ipso facto, não resta evidenciado o fumus boni iuris,
imprescindível ao deferimento da tutela ora vindicada.
Em face do exposto, INDEFIRO O PEDIDO LIMINAR(...)”
(g.n)

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7. Em seguida, a Agravante formulou Emenda à Petição Inicial


requerendo a juntada dos recursos administrativos interpostos contra a Banca
examinadora, bem como as suas respectivas respostas aos recursos interpostos
contra o gabarito preliminar das provas objetivas, objetivando que o juízo a quo
reconsiderasse a decisão que indeferiu o pedido de concessão da medida liminar
em tutela de urgência.

8. Entretanto, o juízo a quo manteve sua decisão do Evento 4 do


processo originário (Processo 5010918-48.2021.4.02.0000/TRF2, Evento 1, OUT5,
Página 1), in verbis:

“A parte impetrante apresentou a petição do evento 8, na qual


juntou as questões da prova e seus referidos recursos, no intuito
de requerer o pedido de reconsideração da decisão do evento 4.
Dessa forma, cabe pontuar que o Código de Processo Civil
prevê o pedido de reconsideração apenas no momento da
interposição de determinados recursos. Tal pedido seria
possível, ainda, na hipótese de fato superveniente, o que de
forma alguma ocorre no caso em análise
Por isso, mantenho a decisão pelos fundamentos já expostos
(...).”

9. Sendo assim, cumpre esclarecer, inicialmente, que houve a perda do


objeto do presente Agravo de Instrumento, uma vez que a prova prático-
profissional do XXXII Exame de Ordem Unificado ocorreu no dia 08 de agosto
de 2021, bem como há a impossibilidade da Agravante realizar a 2ª fase do
XXXIII Exame de Ordem Unificado, conforme se demonstrará a seguir.

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10. Ademais, há de ser ressaltado que a parte Agravada sequer é


legítima para figurar como parte no presente pleito, com base no que será
apresentado sucessivamente.

11. Subsidiariamente, demonstrar-se-á que não socorre razão ao


Impetrante, devendo ser julgado improcedente o presente recurso, de forma que
seja confirmada a decisão proferido pelo juízo a quo e julgado improcedente os
pedidos, com base nas razões adiante aduzidas.

DA IMPOSSIBILIDADE DOS PEDIDOS DA AGRAVANTE

12. A recorrente impetrou Mandado de Segurança no dia 02 de agosto


de 2021, com intuito de, em sede de medida liminar em tutela de urgência, anular
as questões supramencionadas e, consequentemente poder realizar a segunda fase
do XXXII Exame de Ordem. Contudo, o juízo a quo indeferiu o pedido liminar.
Nessa senda, a agravante interpôs o presente Agravo de Instrumento objetivando
reformar a decisão para que pudesse, então, realizar a segunda fase do XXXII
Exame de Ordem.

13. Entretanto, tendo em vista que a segunda fase do referido


certame ocorreu no dia 08 de agosto de 2021, a realização do mesmo tornou-
se impossível. Logo, está configurada a perda do objeto deste Agravo de
Instrumento.

14. Por amor ao debate, vale salientar, ainda, que a agravante, em seus
pedidos, requereu que pudesse realizar apenas a segunda fase do próximo exame,
qual seja, o XXXIII Exame de Ordem. Nesse sentido, deve ser destacado o

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princípio da vinculação do edital, o qual rege o Exame de Ordem Unificado.


Sendo assim, como cada certame possui seu próprio edital, a agravante está
vinculada a tão somente ao edital do XXXII Exame de Ordem, não podendo se
valer deste edital para ser aprovada na prova objetiva e realizar unicamente a fase
prático-profissional do próximo certame.

15. Inobstante, em nenhum momento da petição inicial do processo


originário a Agravante suscitou pela possibilidade de realizar o XXXIII Exame
de Ordem. Isto posto, verifica-se que a recorrente tenta se valer deste Agravo de
Instrumento para inovar em seus pedidos e alcançar uma decisão extra petita, o
que é vedado pelo ordenamento jurídico.

ILEGITIMIDADE PASSIVA E INCOMPETÊNCIA DO JUÍZO

16. Cumpre esclarecer que não deve a OAB/RJ figurar no polo passivo
deste Agravo, uma vez que a OAB/RJ aderiu em 2009 ao Exame de Ordem
Nacional, o qual reúne outras 27 Seccionais. Também chamado de “Exame
Unificado”, o mesmo é promovido pelo Conselho Federal da entidade, e visa a
unificar regras e conteúdos para todos os candidatos oriundos dos Estados da
Federação, cujas respectivas Seccionais a ele aderiram.

17. O artigo 8º, §1º, da Lei 8.906/94 atribuiu ao Conselho Federal da


OAB a competência para regulamentar o Exame de Ordem por meio da
expedição de provimento, vejamos: “§ 1º O Exame da Ordem é regulamentado
em provimento do Conselho Federal da OAB”.

18. No uso das atribuições conferidas por lei, a CFOAB promoveu a


unificação do procedimento de aplicação do Exame de Ordem por seu

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Provimento 144/2011, concentrado no Conselho Federal, por delegações das


Seccionais, a competência para contratarem empresas para a execução do
certame; designar as Bancas Examinadora e Recursal; dar publicidade aos atos de
convocação, resultados e homologação final, etc.

19. O Edital normativo do certame, por sua vez, confirma a premissa ao


indicar claramente o Presidente do Conselho Federal da OAB como
autoridade condutora do certame.

20. Ademais, os editais dos exames, por consequência, passaram a ser os


mesmos para todas essas Seccionais, e seu conteúdo é definido pelo colegiado
competente, no âmbito do Conselho Federal.

21. Toda a prova, portanto, é elaborada por banca definida pelo


Conselho Federal e foi aplicada pela Fundação Getúlio Vargas – FGV, renomada
instituição na área de concursos públicos.

22. Seguindo os requerimentos do Agravo de Instrumento, apesar de não


ser legitimada a integrar no polo passivo, a OAB/RJ foi initmada eletronicamente
no evento 8 dos autos, na figura do Procurador Thiago Gomes Morani (PC 1483).

23. Nesse sentido, a OAB/RJ não se confunde com o Conselho Federal


da Ordem dos Advogados do Brasil (CFOAB), pessoa jurídica de direito privado,
dotada de personalidade jurídica e patrimônio próprios, nos termos do art. 45, I
da Lei 8906/94.

24. Diante de tais fatos, é possível verificar que a OAB/RJ não integra a
demanda, devendo ser retirada sua configuração da “capa dos autos”. Como
consequência, é imperioso efetuar nova intimação, com a respectiva devolução

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do prazo, a fim de incluir a CFOAB, bem como a Fundação Getúlio Vargas


(FGV), no polo passivo do Agravo de Instrumento.

25. Portanto, a OAB/RJ é parte ilegítima para figurar no polo passivo


do presente recurso, pois não exerce qualquer grau de ingerência no
planejamento e execução do certame.

26. Ademais, resta evidente a competência do Conselho Federal da


OAB designar membros da Coordenação Nacional de Exame de Ordem,
Comissão Nacional do Exame de Ordem, bem como das Bancas Examinadora e
Recursal do certame (Prov. 144/2011 CFOAB). Nesse sentido:

ADMINISTRATIVO. OAB. CRITÉRIOS DE CORREÇÄO DE


PROVA. CONSELHO FEDERAL DA OAB. PROVIMENTO
144/2011. CRITÉRIOS DE CORREÇÄO DE PROVA.
IMPOSSIBILIDADE DE AVERIGUAÇAO PELO PODER
JUDICIÁRIO. 1. O juízo de primeiro grau reconheceu a
ilegitimidade passiva da Ordem dos Advogados do Brasil quanto
aos atos tocantes da prova em certame, atribuindo ao Conselho
Federal da Ordem dos Advogados do Brasil a responsabilidade
pela preparação e realização do exame. 2. O Provimento nº
144/2011, do Conselho Federal da OAB, dispõe (art.1º) que "O
Exame de Ordem é preparado e realizado pelo Conselho Federal
da Ordem dos Advogados do Brasil-CFOAB, mediante delegação
dos Conselhos Seccionais", enquanto o §1º consigna que "a
preparação e a realização do Exame de Ordem poderão ser total
ou parcialmente terceirizadas, ficando a cargo do CFOAB sua
coordenação e fiscalização". 3. Ainda que se admitisse a
legitimidade passiva da OAB, o autor não lograria êxito quanto ao

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mérito,tendo-se em vista que não cabe ao Poder Judiciário


examinar o critério de formulação e avaliação de provas e
tampouco das notas atribuídas aos candidatos, ficando sua
competência limitada ao exame da legalidade do procedimento
administrativo, isto é, à verificação da legalidade do procedimento
administrativo pela comissão responsável. 4. Ausência de
demonstração de qualquer ilegalidade nos critérios de correção da
prova, bem como dos conhecimentos exigidos dos candidatos. 5.
Apelação desprovida .Sentença mantida.
(TRF1-AC0004109 32.2013.4.01.3300/BA, Rel.
DESEMBARGADOR FEDERAL JOSÉ AMILCAR MACHADO,
SÉTIMA TURMA, e-DJF1 de 22/01/2016).

27. Todos os atos relativos ao Exame de Ordem são praticados por


ordem do Presidente do Conselho Federal da OAB, a quem cabe, inclusive,
designar os membros da Coordenação Nacional de Exame de Ordem, da Banca
Examinadora e da Banca Recursal do certame.

28. Dessa forma, os atos que o Agravante aponta como ilegais não
foram praticados pela autoridade apontada como coatora, e nem por nenhuma
outra autoridade pertencente à Seccional Fluminense da Ordem dos Advogados
do Brasil. É o Presidente da Comissão Nacional do Exame de Ordem quem deve
responder pelos atos supostamente ilegais, nos quais a Agravante busca apoiar
sua pretensão.

29. Por consequência, este juízo se torna incompetente para processar e


julgar esta demanda, já que, como é notória, a sede funcional do Presidente da

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Comissão Nacional do Exame de Ordem fica na cidade de Brasília/DF. Portanto,


deve ser declinada a competência para o TRF1.

30. Superados os argumentos acima expendidos, o que só se admite por


argumentar, adentra-se ao mérito, a fim de demonstrar a total ausência de amparo
legal ao pleito do Agravante.

ATO DISCRICIONÁRIO – IMPOSSIBILIDADE DO PODER


JUDICIÁRIO EXAMINAR CRITÉRIOS DE CORREÇÃO DE SELEÇÕES
PÚBLICAS – INCURSÃO NO MÉRITO ADMINISTRATIVO

31. Quanto às alegações sobre a forma de correção da prova, na verdade,


o que pretende a Agravante, com seus insustentáveis argumentos, é que o Poder
Judiciário interfira nos critérios de avaliação da Banca, atribuindo pontos às
questões não elaboradas de acordo com o gabarito divulgado pela organizadora
FGV (instituição renomada na organização de certames), por via transversa, com
a sua resultante aprovação e classificação para a próxima fase do certame.

32. É bom salientar que refoge ao Poder Judiciário apreciar o juízo de


conveniência e oportunidade da Administração Pública ou das Autarquias, no
que tange ao estabelecimento de critérios de avaliação e de classificação de
candidatos, bem como inovar regras dos certames e substituir bancas
examinadoras na atribuição de pontuação.

33. Ressalta-se, portanto, que a irresignação da Impetrante afronta


jurisprudência do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça,

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uma vez que a matéria de fundo traz à tona questão referente à impossibilidade
do Poder Judiciário realizar o controle sobre ato administrativo que profere a
avaliação de questões de certame público, por afronta aos artigos 2º e 5º, caput,
da Constituição Federal

34. Nesse sentido, é ideia plenamente pacificada em sede doutrinária e


jurisprudencial que a elaboração de questões, gabaritos e a respectiva correção,
bem como regras editalícias no bojo de quaisquer exames de qualificação de
natureza pública, consistem em atividade puramente discricionária da Banca.

35. Registre-se que, no julgamento do RE 632.853, o Plenário do


Supremo Tribunal Federal, em sede de REPERCUSSÃO GERAL, fixou tese no
sentido de que “os critérios adotados por banca examinadora de concurso não
podem ser revistos pelo Poder Judiciário”, reafirmando jurisprudência da Corte,
in verbis:

Recurso extraordinário com repercussão geral. 2. Concurso


público. Correção de prova. Não compete ao Poder Judiciário, no
controle de legalidade, substituir banca examinadora para avaliar
respostas dadas pelos candidatos e nota s a elas atribuídas.
Precedentes. 3. Excepcionalmente, é permitido ao Judiciário juízo
de compatibilidade do conteúdo das questões do concurso como
previsto no edital do certame. Precedentes. 4. Recurso
extraordinário provido.
(RE632853, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Tribunal Pleno,
julgado em 23/04/2015, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-125
DIVULG 26-06-2015 PUBLIC29-06-2015).

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36. A rigor, a verificação dos requisitos para a participação no


Exame de Ordem é descabida na esfera judicial, sob pena de substituição
indevida da Banca Examinadora pelo Poder Judiciário e violação ao
princípio da separação dos Poderes pela evidente usurpação da função
administrativa.

37. Além disso, como é cediço, promover em caráter privativo a


disciplina e seleção dos advogados constitui dever da Ordem dos Advogados
(Art. 44, II, da Lei nº 8906/94), a qual, embora não esteja submetida a tipo algum
de hierarquia ou vinculação quanto à Administração direta, exerce função
pública, possuindo o status de serviço público independente e, enquanto tal, vale-
se dos poderes próprios do Estado (ADI 3026, rel. Min. Eros Grau; RE 603.583,
rel. Min. Marco Aurélio).

38. Desta feita, eventual procedência do Agravo de Instrumento


significaria direta afronta ao princípio da separação dos poderes pela indevida
incursão no mérito administrativo e na independência que a entidade detém para
regular o Exame que atesta aptidão dos bacharéis em direito para exercer a
advocacia.

39. Nesse sentido, é plenamente pacificada em sede doutrinária e


jurisprudencial que a elaboração de questões, gabaritos e a respectiva correção,
no bojo de quaisquer exames de qualificação de natureza pública, consistem em
atividades puramente discricionárias da Banca.

40. O que compete ao Judiciário é o controle da isonomia e da


legalidade do procedimento administrativo, princípios que, certamente, foram
seguidos na realização do exame em foco.

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41. Corroborando a posição apontada, leciona o mestre de Direito


Administrativo, HELY LOPES MEIRELES:

“Não se permite ao Poder Judiciário pronunciar-se sobre o mérito


administrativo, ou seja, sobre a conveniência, oportunidade,
eficiência ou justiça do ato, porque se assim agisse, estaria emitindo
pronunciamento de administração, e não de jurisdição judiciária. O
mérito administrativo, relacionado-se com conveniências de
governo ou com elementos técnicos, refoge ao âmbito do Poder
Judiciário, cuja missão é a de aferir a conformação do ato com a lei
escrito, ou, na sua falta, com os princípios gerais de Direito”.
(Direito Administrativo Brasileiro, 16 ed. Rt, São Paulo, 1991, p.
602/603).

42. A Jurisprudência pátria assim também se manifesta, de forma


absolutamente pacífica. Vide os julgados abaixo, emanados do Superior Tribunal
de Justiça:

“PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL.


ADMINISTRATIVO. OAB. EXAME DE ORDEM. CONTROLE
JURISDICIONAL. CORREÇÃO DE PROVA.
IMPOSSIBILIDADE. DECISÃO MONOCRÁTICA
FUNDAMENTADA EM JURISPRUDÊNCIA DO STJ. AGRAVO
REGIMENTAL NÃO PROVIDO. 1. o Poder Judiciário não pode
substituir a banca examinadora, tampouco se imiscuir nos critérios
de correção de provas e de atribuição de notas, visto que sua
atuação cinge-se ao controle jurisdicional da legalidade do
concurso público, aí incluído o exame da Ordem dos Advogados do
Brasil. 2. A decisão monocrática ora agravada baseou-se em

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jurisprudência desta Corte, razão pela qual não merece reforma. 3.


Agravo regimental não provido.
(STJ; Segunda Turma; AGRESP 1133058; Relator Mauro
Campbell Marques; j. 04/05/2010; p. DJE 21/05/2010).

“ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL - AGRAVO


INTERNO - RECURSO ESPECIAL - ORDEM DOS
ADVOGADOS DO BRASIL - EXAME DE ORDEM -
ARREDONDAMENTO DE NOTA - PROVIMENTO DA OAB -
FUNDAMENTO INFRALEGAL - IMPOSSIBILIDADE DE
COGNIÇÃO. 1. O Tribunal analisou o pedido de reavaliação de
correção no Exame de Ordem, mediante arredondamento de nota da
prova objetiva, com suporte em provimento da OAB. O acórdão
não decidiu com base em norma de direito federal, o que afasta a
lide da esfera cognitiva do STJ, Corte responsável pela integridade,
uniformidade e inteireza do direito federativo. 2. Os provimentos da
OAB não são controláveis por meio de recurso especial. (AgRg no
Ag 21.337, Primeira Turma, DJ 3.8.1992) 3. "Inocorre afronta à Lei
nº 8.906/94, quando o aresto recorrido limita-se a discutir a
controvérsia sob o enfoque interpretativo de Provimento, acerca da
possibilidade de acolher o pedido mandamental no que pertine ao
arredondamento de nota da prova objetiva." (REsp 853.627/PR,
Primeira Turma, Rel. Min. Luiz Fux, DJU 7.4.2008) 4. "O Tribunal
a quo não emitiu juízo de valor sobre as normas encartadas nos arts.
44 e 8º, inciso IV e § 1º, da Lei 8.906/94, malgrado opostos
embargos de declaração. Incidência da Súmula 211/STJ." (REsp
813648/SC, Segunda Turma, Rel. Min. Castro Meira, DJU
17.11.2006.) 5. Não deve o Poder Judiciário transformar-se em
desembocadura para litígios administrativos envolvendo a
reprovação de candidatos em concursos e provas admissionais,
quando os certamistas não lograram êxito, por impossibilidade de
atingir pontuação mínima. Do esforço pessoal e da dedicação dos
aprovados faz-se tábua rasa pela intervenção judicial nos casos em
que inexistem vícios procedimentais ou quebra da impessoalidade.
O revés em provas e concursos faz parte da vida. É um aprendizado
aos que disputam arduamente espaços no mercado de trabalho. 6. A
subversão judiciária da ordem natural das coisas (Natur der sache)
só cria insegurança jurídica e serve à desmoralização de
instrumentos democráticos, universais e impessoais como o
concurso público e espécies afins, ao estilo do Exame de Ordem.

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Agravo regimental improvido. (STJ; Segunda Turma; AGRESP


955068; Relator: Humberto Martins; p. DJE 04/08/2008).

ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO


ESPECIAL. AUSÊNCIA DE CONTRARIEDADE AO ART. 535
DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. CONCURSO PÚBLICO.
PROVA DISCURSIVA. CRITÉRIOS DE CORREÇÃO.
APRECIAÇÃO PELO PODER JUDICIÁRIO. LIMITES.
INTERPRETAÇÃO DE CLÁUSULA EDITALÍCIA E REEXAME
DE PROVA. IMPOSSIBILIDADE NA VIA ELEITA.
1. A alegada ofensa ao art. 535 do Código de Processo Civil não
subsiste, tendo em vista que o acórdão hostilizado solucionou a
quaestio juris de maneira clara e coerente, apresentando todas as
razões que firmaram o seu convencimento.
2. Nos termos da remansosa jurisprudência desta Corte Superior de
Justiça, não pode o Poder Judiciário imiscuir-se na valoração dos
critérios adotados pela Administração para a realização de
concursos públicos, salvo quanto ao exame da legalidade das
normas instituídas no edital e o seu cumprimento durante a
realização de certame. Precedentes. (...)”
(REsp 772726-DF. Rel. Min. Laurita Vaz. Quinta Turma do STJ. J.
em 26.06.2007).

43. Como bem observado pelo ministro do STJ, Humberto Martins


(jurisprudência acima), o Poder Judiciário não deve se transformar em
desembocadura para tais litígios, quando os candidatos não lograrem êxito por
não alcançar a pontuação mínima. “O revés em provas e concursos faz parte da
vida. É um aprendizado aos que disputam arduamente espaços no mercado de
trabalho”.

44. Trata-se, portanto, de pretensão que não pode ser obtida pela via
judicial, devendo o pedido ser julgado totalmente improcedente com resolução
do mérito, com base no art. 485, I do Código de Processo Civil.

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45. É importante ressaltar que para o certame o que vige é a soberania


da banca. Desta forma, em que pese serem trazidos à baila importante
argumentos, apenas a banca teria soberania para a atribuição da nota ao
candidato.

46. Logo, eventual intervenção do Poder Judiciário na elaboração ou na


correção de provas de certames públicos somente se justifica diante da manifesta
ilegalidade cometida pelas Bancas Examinadora e Recursal, consistente em
expressa contrariedade de questão ou gabarito a dispositivo legal, existência de
mais de uma resposta correta ou adoção de critérios de correção diferenciados
entre candidatos, o que, definitivamente, não ocorreu no caso em tela.

47. Tendo em vista todos os fatos apresentados, não socorre razão ao


Agravante.

DO PRINCÍPIO DA ISONOMIA ENTRE OS CANDIDATOS

48. O atendimento ao pleito do Agravante implicaria tratamento


diferenciado, que fere o art. 37, incisos I e II, da Constituição Federal, e a
isonomia entre concorrentes, já que as notas atribuídas a todos os candidatos
obedeceram aos mesmos critérios, todos eles devidamente previstos no edital.

49. Neste sentido, ensina o mestre ADILSON ABREU DALLARI:

"É incompatível com a idéia de concurso público a utilização de


critérios subjetivos, secretos, meramente opinativos, de foro íntimo,
que de qualquer forma possam afetar a publicidade do certame e a
rigorosa igualdade de tratamento entre os candidatos. (...) Em
resumo, o concurso público é um instrumento de realização

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concreta dos princípios constitucionais de isonomia e da


impessoalidade" (Regime Constitucional dos Servidores Públicos.
2a ed. p. 37).

50. Em igual sentido, afirma HELY LOPES MEIRELLES:

"A administração é livre para estabelecer as bases do concurso e os


critérios de julgamento, desde que o faça com igualdade para todos
os candidatos" (Direito Administrativo Brasileiro. 16a ed. p. 371).

51. Ora, todos os candidatos que realizaram a prova objetiva do XXXII


Exame de Ordem submeteram-se aos mesmos regramentos e às mesmas
condições.

52. Portanto, acolher o pleito do Agravante significaria ferir de morte o


princípio constitucional da isonomia, eis que aceitar a resposta do Agravante,
totalmente contrária ao espelho de correção e ao gabarito, representaria a adoção
de critério especial e particular para apenas um candidato em detrimento de todos
os demais.

CONCLUSÃO E PEDIDO

53. Diante do exposto, requer que o presente Agravo de Instrumento não


seja recebido diante do reconhecimento da perda do objeto, tendo em vista que a
segunda fase do XXXII Exame Ordem ocorreu em 08 de agosto de 2021.

54. Do mesmo modo, requer que o recurso não seja conhecido e negado
seu provimento diante da impossibilidade de realização apenas a 2ª fase do

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XXXIII Exame de Ordem Unificado, em virtude de ser pedido não contido na


petição e inicial, por ser manifestamente vedada a inovação do pedido em sede
recursal e por afrontar o princípio da vinculação ao edital.

55. Por fim, pugna a Agravada pelo DESPROVIMENTO total do


presente recurso, mantendo-se a decisão de primeiro grau que indeferiu o pedido
liminar.

Nestes termos,
Pede deferimento.

Rio de Janeiro, 26 de agosto de 2021.

KAREN CALABRIA
Procuradora da OAB/RJ
OAB/RJ 186.011

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