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Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais

Poder Judiciário do Estado de Minas Gerais

O documento a seguir foi juntado aos autos do processo de número 5222377-15.2022.8.13.0024


em 13/01/2023 16:20:11 por FLAVIA MAIA DE ALMEIDA WANDERLEY
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- FLAVIA MAIA DE ALMEIDA WANDERLEY

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Nº 1.0000.22.295439-8/000
AGRAVO DE INSTRUMENTO-CV 1ª CÂMARA CÍVEL
Nº 1.0000.22.295439-8/000 BELO HORIZONTE
AGRAVANTE(S) ESTADO DE MINAS GERAIS
AGRAVADO(A)(S) MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO
DE MINAS GERAIS

DECISÃO
Cuida-se de agravo de instrumento interposto pelo Estado
de Minas Gerais, objetivando a reforma da decisão interlocutória
oriunda do juízo da 4ª Vara da Fazenda Pública e Autarquias da
Comarca de Belo Horizonte que, no âmbito da Ação Ordinária
ajuizada pelo Ministério Público do Estado de Minas Gerais, em
face do ora agravante e do Instituto Nacional de Seleções e
Concursos – SELECON, deferiu o pedido de tutela de urgência,
para determinar:

“(...) que os requeridos procedam com a realização


de um novo teste de aptidão física para os 5.507
(cinco mil quinhentos e sete) candidatos que foram
convocados para tal etapa, no concurso SEJUSP
Edital nº 02/2021, cargo de Policial Penal, no prazo
máximo de 30 (trinta) dias, com a designação de
uma nova banca de examinadores, sob pena de
multa.” (f. 195/196v-TJ).

Em suas razões recursais, o recorrente narra que, além do


periculum in mora inverso, não há fumus boni iuris a amparar a
tutela provisória de urgência na forma como concedida.

Relata ser evidente a boa-fé de vários candidatos ao


concurso público regido pelo Edital publicado pela SEJUSP nº
002/2021, e sobre eles não paira qualquer dúvida sobre a legalidade
do certame.

Esclarece que a decisão agravada impõe ônus excessivo e


desproporcional aos candidatos que portaram-se de boa-fé, em
violação ao art. 21, parágrafo primeiro, da LINDB, bem como que
não apresenta segurança jurídica ao concurso.

Argumenta que a Administração Pública também é vítima no


caso concreto, não podendo penalizar toda a sociedade, no âmbito
estadual, pela irresponsabilidade de alguns indivíduos. Completa
que os cargos objeto do concurso público devem ser provido com
urgência, pois visam a segurança nos presídios públicos.

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Sustenta que o flagrante risco de perpetuação do ato


administrativo eivado de vício somente será considerado se o
julgador deixar de seguir o pensamento jurídico do possível,
baseado na alternativa de separar os candidatos beneficiados e
obrigar a banca examinadora a seguir as normas do edital.

Pugna pela concessão do efeito suspensivo e, ao final, pela


reforma da decisão agravada, indeferindo a antecipação dos efeitos
da tutela (f. 02/12v-TJ).

Ausente o recolhimento do preparo, ante a isenção legal.

Decido.

Na espécie em exame, o Ministério Público do Estado de


Minas Gerais ajuizou a ação nº 5222377-15.2022.8.13.0024
questionando a isonomia do Teste de Aptidão Física, realizado no
âmbito do concurso público regido pelo Edital SEJUSP nº 002/2021,
visando o provimento ao cargo de Agente de Segurança
Penitenciário/Policial Penal.

Em sede liminar, o MM. Juiz de origem reconheceu a


nulidade do teste de condicionamento físico e determinou a
realização de novo teste para todos os 5.707 candidatos do certame
(f. 195/196v-TJ), decisão contra a qual se insurge o ente estatal (f.
02/12v-TJ).

De fato, sabe-se que o Colendo Supremo Tribunal Federal,


na sessão plenária realizada no dia 23.4.2015, julgou o RE nº
632.853/CE (Tema nº 485), ocasião em que fixou a seguinte tese:

“Os critérios adotados por banca examinadora de


um concurso não podem ser revistos pelo Poder
Judiciário.”

Definiu-se no precedente vinculante (artigo 927, III, do CPC)


que não compete ao Poder Judiciário substituir a banca
examinadora acerca da conclusão sobre a capacidade do candidato
para o exercício de determinado cargo, salvo ocorrência de
ilegalidade ou de inconstitucionalidade.

In casu, restou evidenciada, no âmbito da ação ajuizada


pelo Ministério Público, situação excepcional de

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inconstitucionalidade ou de ilegalidade flagrante, o que autoriza a
substituição da conclusão adotada pela banca examinadora por ato
jurisdicional.

Não há dúvidas que o Edital SEJUSP nº 02/2021, de


17.8.2021, previa expressamente que os candidatos seriam
submetidos a prova de condicionamento físico por testes
específicos, de critério eliminatório (item 1.4; f. 60v-TJ).

A propósito, este requisito encontra-se previsto no Estatuto


dos Militares do Estado de Minas Gerais:

“Art. 5º O ingresso nas instituições militares


estaduais dar-se-á por meio de concurso público,
de provas ou de provas e títulos, no posto ou
graduação inicial dos quadros previstos no § 1º do
art. 13 desta Lei, observados os seguintes
requisitos:

(...)

VII - ter aptidão física;

VIII - ser aprovado em avaliação psicológica;

IX - ter sanidade física e mental.” (Destaquei).

Entretanto, a incontroversa relação entre os componentes


da Banca Examinadora, que atuaram no teste físico, e alguns dos
candidatos aprovados no certame dá azo à hipótese de suspeição e
violação ao princípio da isonomia na seleção dos candidatos.

Assim, a situação apresentada inquina à irregularidade do


teste de aptidão física, assim como das etapas subsequentes e do
resultado final.

Não se ignora a argumentação do agravante no sentido de


que alguns candidatos não foram beneficiados por treinamento
prévio com membros da Banca Examinadora.

Contudo, não se pode deixar de considerar que todos os


candidatos se submeteram a Teste de Aptidão Física eivado de
nulidade por conter em seu corpo examinador indivíduos que
possuíam interesses próprios e, portanto, não dotados da
imparcialidade necessária a garantir a isonomia entre os candidatos.

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Em outras palavras, não é possível garantir que mesmo os


candidatos considerados aptos e que não obtiveram treinamento
com os avaliadores não tenham tido o resultado de seu teste
afetado por essa conjuntura.

Além disso, para garantir a isonomia se faz necessário que


todos os candidatos sejam submetidos às mesmas condições
durante o Teste de Aptidão Física. Nesse sentido, permitir que parte
dos candidatos continue submetido ao primeiro teste, enquanto
outra parte é examinada por nova prova a ser realizada, seria
admitir duas formas de avaliação sob condições diferentes, em
manifesta violação à isonomia.

Considerando, portanto, que a decisão agravada respeita o


princípio da isonomia entre os candidatos, mantendo a uniformidade
dos critérios de correção estabelecidos, melhor se adequa ao caso
concreto, não havendo que ser suspensa até a manifestação das
partes interessadas.

Até mesmo porque permitir que determinado candidatos


utilizem da classificação na primeira prova consiste em tratamento
desigual perante os demais candidatos que também foram
inicialmente considerados aptos.

Ressalto, por derradeiro, ser este o entendimento que


expressei quando do exame do pedido liminar no âmbito do Agravo
de Instrumento nº 1.0000.22.264271-2/000, interposto em face da
mesma decisão contra a qual se insurge o recorrente.

Fundado nessas considerações, INDEFIRO O EFEITO


SUSPENSIVO, determinando o prosseguimento do feito.

Determino ao Cartório que:

OFICIE-SE, ao MM. Juiz a quo, informando sobre o


conteúdo desta decisão.

INTIME-SE o a parte agravada, para, querendo, apresentar


contrarrazões, no prazo legal.

OUÇA-SE a douta Procuradoria-Geral de Justiça.

Publique-se.

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Belo Horizonte, 16 de dezembro de 2022.

DES. ROBERTO APOLINÁRIO DE CASTRO (JD CONVOCADO)


Relator

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