Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
BRASILEIRA DE DIREITO
Revista Brasileira de Direito, Passo Fundo, vol. 15, n. 3, p. 23-37, Setembro-Dezembro, 2019 - ISSN 2238-0604
[Received/Recebido: Setembro 26, 2019; Accepted/Aceito: Janeiro 27, 2020]
DOI: https://doi.org/10.18256/2238-0604.2019.v15i3.3567
Como citar este artigo / How to cite item: clique aqui!/click here!
23
Revista Brasileira de Direito, Passo Fundo, vol. 15, n. 3, p. 23-37, Setembro-Dezembro, 2019 - ISSN 2238-0604
Resumo
A globalização é um fenômeno originalmente econômico com fortes impactos sociais e
jurídicos. Importante literatura social e jurídica com ênfase no direito constitucional e
público brasileiro aponta o caráter neoliberal da globalização, a qual viola o Estado Social
de Direito, os direitos fundamentais sociais e a igualdade material, afrontando a soberania
nacional. Este artigo concorda coma afirmação acerca dos impactos negativos da globalização,
mas aponta que essa visão é parcialmente insuficiente no campo do direito constitucional
por duas principais razões: a) desconsidera o efeito da globalização no campo do direito
constitucional comparado e b) crítica o liberalismo de forma exacerbada, o qual é elemento
central do constitucionalismo contemporâneo. Dessa forma, o trabalho reflete sobre o direito
constitucional comparado e sua construção a partir da globalização, desenvolvendo o tema das
afrontas ao constitucionalismo contemporâneo e liberal.
Palavras-chave: Globalização. Direito Constitucional Comparado. Liberalismo.
Constitucionalismo.
Abstract
Globalization is originally an economic phenomenon with strong social and legal impacts.
Important social and legal literature with emphasis on Brazilian constitutional and public
law points to the neoliberal character of globalization, violating the Social Rule of Law,
fundamental social rights and material equality, and against national sovereignty. This article
agrees with the negative impacts of globalization, but points out that this view is partially
insufficient in the field of constitutional law for two main reasons: a) disregards the impact
of globalization on the field of comparative constitutional law and b) criticizes liberalism in
an exacerbated manner, which is a central element of contemporary constitutionalism. Thus,
the work reflects on comparative constitutional law and its construction from globalization,
developing the theme of criticism of contemporary and liberal constitutionalism.
Keywords: Globalization. Comparative Constitutional Law. Liberalism. Constitutionalism.
24
Revista Brasileira de Direito, Passo Fundo, vol. 15, n. 3, p. 23-37, Setembro-Dezembro, 2019 - ISSN 2238-0604
1 Introdução
25
Revista Brasileira de Direito, Passo Fundo, vol. 15, n. 3, p. 23-37, Setembro-Dezembro, 2019 - ISSN 2238-0604
Paulo Bonavides (1999, p. 56) desenvolve leitura bastante crítica dos impactos
da globalização no Estado Constitucional, asseverando que a “globalização é o
facismo branco do século XXI: universalisa o egoísmo e expatria a solidariedade”. As
raízes desse fenômeno seriam econômicas, sendo causadas pela desnacionalização
da economia e pelos efeitos no Estado e na vida dos seus cidadãos de grandes
conglomerados empresarias privados que possuem os centros de comando fora dos
Estados nacionais periféricos (BONAVIDES, 1999, p. 56).
Por sua vez, essas novas relações econômicas no século XX produziram, em
verdade, o retorno a estruturas sociais medievais, pois “o mundo ingressou numa
sociedade feudalizada, onde haverá, outra vez – agora em nível de nações - sobe–anos
e vassalos” (BONAVIDES, 1999, p. 56). No contexto de uma sociedade internacional
desorganizada e intensamente competitiva, Bonavides (1999, p. 56) afirma que os países
fortes exercerão seu poder de maneira ainda mais robusta contra países fracos, que
serão vassalos daqueles.
Esse cenário é fruto do neoliberalismo, o qual representa a “metamorfose do
capitalismo na sua feição globalizadora; ela aflige e revoga o constitucionalismo
social dos países periféricos, cujas economias debilitadas se arredam cada vez mais da
concretização de sua meta emancipatórias” (BONAVIDES, 1999, p. 57).
Essa leitura acerca do fenômeno da globalização é compartilhada por Julio Cesar
Marcellino Junior (2009, p. 149), quando analisa a inserção do princípio constitucional
da eficiência por meio da Emenda Constitucional nº. 19 de 1998, afirmando que
o efeito das práticas neoliberais no Direito e no Estado “é ainda flagrantemente
radicalizado em enormes proporções pela globalização, que mundializa um discurso
essencialmente econômico e que relega ao segundo plano [...] questões sociais e os
Direitos Fundamentais”1.
A visão econômica e social acerca da globalização e do neoliberalismo que se
encontra nessa literatura jurídica é bem descrita por António José Avelãs Nunes (2003;
2007, p. 605-620) e Milton Santos (2000, p. 37-78). Conforme afirma Nunes (2003, p. 67),
“Sem dúvida que o neoliberalismo é a matriz ideológica da chamada globalização” da
última onda desse processo de mundialização.
1 Ivo Dantas (2013, p. 150-182) reconhece que a globalização é originariamente um fenômeno
econômico que gerou posteriormente consequências no Estado e no direito contemporâneo, impondo-
se revisitar temas clássicos como soberania e nacionalidade. De outra banda, Dantas assevera que esse
processo aprofunda a regionalização e as discussões sobre direito internacional dos direitos humanos,
além de sustentar o advento de direito global e de certa influência do direito comparado. Esse tema do
direito constitucional comparado será aprofundado nas seções seguintes deste artigo.
26
Revista Brasileira de Direito, Passo Fundo, vol. 15, n. 3, p. 23-37, Setembro-Dezembro, 2019 - ISSN 2238-0604
27
Revista Brasileira de Direito, Passo Fundo, vol. 15, n. 3, p. 23-37, Setembro-Dezembro, 2019 - ISSN 2238-0604
28
Revista Brasileira de Direito, Passo Fundo, vol. 15, n. 3, p. 23-37, Setembro-Dezembro, 2019 - ISSN 2238-0604
29
Revista Brasileira de Direito, Passo Fundo, vol. 15, n. 3, p. 23-37, Setembro-Dezembro, 2019 - ISSN 2238-0604
30
Revista Brasileira de Direito, Passo Fundo, vol. 15, n. 3, p. 23-37, Setembro-Dezembro, 2019 - ISSN 2238-0604
6 Por exemplo, cf. Ackerman (1992, p. 1): “From Warsaw to Moscow, Havana to Beijing, a specter
haunts the world as if risen the grave: the return of revolutionary democratic liberalism. This
reappearance on the world stage has surprised liberals”.
31
Revista Brasileira de Direito, Passo Fundo, vol. 15, n. 3, p. 23-37, Setembro-Dezembro, 2019 - ISSN 2238-0604
32
Revista Brasileira de Direito, Passo Fundo, vol. 15, n. 3, p. 23-37, Setembro-Dezembro, 2019 - ISSN 2238-0604
33
Revista Brasileira de Direito, Passo Fundo, vol. 15, n. 3, p. 23-37, Setembro-Dezembro, 2019 - ISSN 2238-0604
5 Conclusão
34
Revista Brasileira de Direito, Passo Fundo, vol. 15, n. 3, p. 23-37, Setembro-Dezembro, 2019 - ISSN 2238-0604
35
Revista Brasileira de Direito, Passo Fundo, vol. 15, n. 3, p. 23-37, Setembro-Dezembro, 2019 - ISSN 2238-0604
Bibliografia
ACKERMAN, Bruce. The Future of Liberal Revolution. New Haven: Yale University Press,
1992.
BARBERA, Augusto. Le Basi Filosofiche del Costituzionalismo. In: BARBERA, Augusto. Le
Basi Filosofiche del Costituzionalismo. 12ª ed. Bari: Editori Laterza, 2012, p. 3-42.
BONAVIDES, Paulo. Do País Constitucional ao País Neocolonial: a Derrubada da Constituição
e a Recolonização pelo Golpe de Estado Institucional. 2ª ed. São Paulo: Malheiros, 1999.
DANTAS, Ivo. Teoria do Estado Contemporâneo. 2ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013.
DAHL, Robert A. A Democracia e seus Críticos. São Paulo: Martins Fontes, 2012.
GINSBURG, Tom; HUG, Aziz; VERSTEEG, Mila. The Coming Demise of Liberal
Constitutionalism? The University of Chicago Law Review. Volume 85, Number 2, p. 239-255,
March 2018.
HIRSCHL, Ran. Comparative Matters: The Renaissance of Comparative Constitutional Law.
Oxford: Oxford University Press, 2014.
JACKSON, Vicki C.; TUSHNET, Mark. Comparative Constitutional Law. 3ª ed. St. Paul:
Foundation Press, 2014.
LANDAU, David. Abusive Constitutionalism. University of California, Davis Law Review, v. 47,
n. 189, p. 189-260, April 2013.
MARCELLINO JUNIOR, Julio Cesar. Princípio Constitucional da Eficiência Administrativa:
(Des)encontros entre Economia e Direito. Florianópolis: Habitus, 2009.
NEVES, Marcelo da Costa Pinto. Transconstitucionalismo. Tese Apresentada ao Concurso de
Professor Titular na Universidade de São Paulo. 2009.
NUNES, António José Avelãs. Neoliberalismo e Direito Humanos. Rio de Janeiro: Renovar,
2003.
NUNES, António José Avelãs. Uma Introdução à Economia Política. São Paulo: Quartier Latin,
2007.
O’DONNELL, Guilhermo. Accountability Horizontal e Novas Poliarquias. Lua Nova: Revista
de Cultura e Política, n. 44, São Paulo, p. 27-54, 1998.
O’DONNELL, Guilhermo. Democracia Delegativa. Journal of Democracy en Español. Instituto
de Ciencia Política, Pontificia Universidad Católica de Chile, v. 1, p. 7-23, jul. 2009
SANTOS, Milton. Por uma outra Globalização: do Pensamento Único à Consciência Universal.
São Paulo: Record, 2000.
SCHEPPELE, Kim Lane. Worst Practices and the Transnational Legal Order (Or How to
Build a Constitutional “Democratorship” in Plain Sight). Background paper: Wright Lecture,
University of Toronto, Nov. 2, 2016, p. 1-41.
36
Revista Brasileira de Direito, Passo Fundo, vol. 15, n. 3, p. 23-37, Setembro-Dezembro, 2019 - ISSN 2238-0604
37