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GLOBALIZAÇÃO, NEOLIBERALISMO, TRABALHO PRECARIZADO,

DESEMPREGO E ESTADO PENAL: 

GLOBALIZACIÓN, NEOLIBERALISMO, TRABAJO PRECARIO,


DESEMPLEO Y EL ESTADO PENAL: LOS CONTORNOS DE ESTA
COMBINACIÓN PERVERSA

Carla Appollinario de Castro

RESUMO

O presente artigo pretende refletir acerca de alguns pontos relacionados ao processo


endêmico através do qual uma massa empobrecida, composta, na sua maioria, por afro-
brasileiros sem escolaridade, vem sendo criminalizada no Brasil. Trata-se do fenômeno
conhecido como criminalização da pobreza, que se extrai tanto da análise dos índices
alarmantes de encarceramento, quanto da verificação do perfil sócio-econômico do
agente delituoso. O resultado da pesquisa aponta para uma possível correlação entre as
práticas que resultam na precarização das relações e condições de trabalho e o estatuto
de um Estado Penal, destinado a conter um número cada vez maior de desempregados,
conseqüência do projeto político e econômico denominado de neoliberalismo. O novo
cenário, ou seja, a combinação entre globalização, neoliberalismo, trabalho (cada vez
mais) precarizado, desemprego estrutural e Estado Penal resulta em uma realidade que
impõe novos desafios para os trabalhadores, para o Estado e para o Direito, sobretudo
os ramos do Direito do Trabalho e do Direito Penal.

PALAVRAS-CHAVES: 1. TRABALHO 2. GLOBALIZAÇÃO 3.


NEOLIBERALISMO 4. PRECARIZAÇÃO 5. DESEMPREGO 6. ESTADO PENAL 7.
CRIMINALIZAÇÃO DA POBREZA.

RESUMEN

Este artículo tiene por objeto reflexionar sobre algunos puntos relacionados con lo
endémico proceso por el cual una masa empobrecida, compuesta en su mayor parte por
los brasileños de África (negros) sin escolaridad, se ha tipificado como delito en Brasil.
Este es el fenómeno conocido como la criminalización de la pobreza, que se basa gran
parte de los análisis de las alarmantes tasas de encarcelamiento, como la verificación de
lo social-económico perfil del agente criminal. El resultado de la búsqueda apunta a una
posible correlación entre las prácticas que resulten en el empobrecimiento de las
relaciones y las condiciones de trabajo y la situación de un estado penal, para contener


Trabalho publicado nos Anais do XVII Congresso Nacional do CONPEDI, realizado em Brasília – DF
nos dias 20, 21 e 22 de novembro de 2008.

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un número creciente de desempleados, consecuencia de una política y proyecto
económico conocido como neoliberalismo. El nuevo escenario, la combinación de la
globalización, el neoliberalismo, el trabajo (cada vez más) la precariedad, el desempleo
estructural y el Estado Penal resultados en una realidad que impone nuevos desafíos a
los trabajadores, para el Estado y el Derecho, especialmente los ramos el Derecho del
Trabajo y el Derecho Penal.

PALAVRAS-CLAVE: 1. TRABAJO 2. GLOBALIZACIÓN 3. NEOLIBERALISMO


4. PRECARIZACIÓN 5. DESEMPLEO 6. ESTADO PENAL 7. PENALIZACIÓN DE
LA POBREZA.

1. INTRODUÇÃO

A idéia que motivou o presente artigo surgiu a partir de uma pergunta proposta
por Löic Wacquant, ao analisar os efeitos da globalização e do neoliberalismo nos
Estados Unidos, mas que tem total validade no atual contexto brasileiro, qual seja, o
seguinte paradoxo: “como a penalidade neoliberal pretende remediar com um ‘mais
Estado’ policial e penitenciário o ‘menos Estado’ econômico e social que é a própria
causa da escalada generalizada da insegurança objetiva e subjetiva em todos os
países?”[1]

A partir desse primeiro questionamento, surgiu uma segunda questão, não


menos importante, que diz respeito ao destino das pessoas desalojadas desse Estado
econômico e social (Estado de bem-estar social) e que não mais interessam ao Estado
neoliberal. Assim, resta a seguinte dúvida: o que estaria ocorrendo com essas pessoas
não mais amparadas pelas redes de proteção do Estado de bem-estar social – que vem
sendo desmantelado pela globalização e pelo neoliberalismo - e que não são úteis a essa
nova forma de organização do trabalho imposta pelo programa neoliberal?

Por detrás das duas perguntas encontra-se, de um lado, o processo de


desmantelamento do Estado de bem-estar social e, do outro, a implantação do Estado
mínimo por meio da adoção de medidas neoliberais, que repercutem de forma drástica
na vida em sociedade, sobretudo dos mais pobres. Diante desses dois elementos, torna-
se importante entender todo esse processo por meio de seu viés mais nefasto, qual seja,
as novas formas de controle social, as novas medidas implantadas no curso da questão
criminal neoliberal.

No entanto, antes de partirmos para o estudo dos elementos que fornecem


subsídios para a compreensão das duas colocações propostas, é importante ressaltar que
somente é possível “entender a questão criminal a partir da história, do ‘curso dos
discursos sobre a questão criminal’. A história da configuração do poder punitivo para a
neutralização da conflitividade social estaria associada à formação do Estado e ao
processo de acumulação de capital,”[2] como assinala Vera Malaguti Batista, a partir de
Raúl Zaffaroni. Em outras palavras, é preciso perceber qual a “demanda por ordem” que
irá provocar rupturas e permanências nesses discursos sobre a questão criminal.

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O que se extrai do pensamento de ambos os autores é a ênfase ao necessário
resgate do estudo da questão criminal vinculado à configuração da estrutura social,
política e econômica, tal como realizado, na segunda metade do século XX, por George
Rusche e Otto Kirchheimer, em “Punição e Estrutura Social” e Michel Foucault, em
“Vigiar e Punir” e, na atualidade, por Pierre Bourdieu, em “Contrafogos: táticas para
enfrentar a invasão neoliberal” e Löic Wacquant, em “Punir os pobres: a nova gestão da
miséria nos Estados Unidos” e em “As prisões da miséria”. Estes autores e suas obras
fornecem importantes aportes para a compreensão das mudanças sociais, políticas e
econômicas promovidas pelo programa neoliberal e suas novas formas de “gestão” da
conflitividade social.

Em “Punição e Estrutura Social”, George Rusche e Otto Kirchheimer, realizam


uma análise histórica das relações existentes entre condições sociais, mercado de
trabalho e sistemas penais e mostram como os meios criados para assegurar a
“proteção” da sociedade foram sendo modificados conforme a crença na sua capacidade
de assegurar a obediência[3], porém sempre em consonância com o excesso ou a
escassez de mão-de-obra, no período compreendido entre o século XV e XVIII, quando
a Revolução Industrial inaugura a prisão como a principal e mais importante espécie de
pena do Ocidente, completamente associada à fábrica.[4] Para desenvolver a pesquisa,
Rusche adota o paradigma do princípio de less eligibility diretamente relacionado com o
mercado de trabalho. A partir disso, ele realiza suas análises pautado no pressuposto de
que as condições de vida no cárcere e as oferecidas pelas instituições assistências
deviam ser piores do que as categorias mais baixas dos trabalhadores livres, a fim de
constranger o apenado ao trabalho e salvaguardar os efeitos dissuasivos da pena.[5]
Assim, percebe-se que o cenário sobre o qual os autores estavam debruçados indicava
que, de uma forma ou de outra, os trabalhadores eram explorados pelo sistema
capitalista, seja nas fábricas ou nas prisões, local onde exerciam as suas penas através
do trabalho forçado, tão lucrativo e funcional à ordem capitalista industrial quanto o
trabalho livre.

No livro “Vigiar e Punir”, Michel Foucault parte dos escritos de Rusche, porém
se dedica mais à análise das funções jurídico-políticas da pena no absolutismo do que ao
processo de descrição das rotinas nos cárceres e das penas, como realizado,
anteriormente, por Rusche. Para Foucault, nesse momento, o interessante é mostrar
como as penas físicas (suplícios que causavam marcas de poder no corpo) e os rituais
organizados estavam, na realidade, representando mais do que relações de justiça, mas
sobretudo relações de força (entre o soberano e o povo)[6]. Com isso, ele analisa como,
a partir do século XVIII, essas cerimônias foram ganhando feição de verdadeiros
embates entre o povo (as classes empobrecidas) e o poder absolutista, na medida em que
a multidão começava a se identificar com o enforcado, culminando na nova forma de
estratégia política de controle social, que surge a partir do Iluminismo, qual seja: não só
vigiar, mas também, punir[7]. A partir dessas observações, é possível perceber, como
aponta Vera Malaguti Batista ao analisar a obra de Foucault, que “a punição e a
repressão passam a ter funções regulares através de uma nova tecnologia. Junto com as
demais “disciplinas”, essas fórmulas gerais de dominação irão produzir uma tecnologia
minuciosa e calculada de sujeição e controle dos corpos dóceis”[8] e úteis, cujo alvo é o
novo sujeito político do século XVIII, ou seja, a multidão formada pelas classes
empobrecidas.

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Já no contexto contemporâneo, uma importante contribuição para a compreensão
do controle social comprometido com o processo de acumulação de capital vem de
Pierre Bourdieu, em seu livro “Contrafogos: táticas para enfrentar a invasão neoliberal”,
que mostra como foi sendo montado pelo programa neoliberal um novo

exército de reserva de mão-de-obra docilizada pela precarização e pela ameaça


permanente do desemprego, (...) [no qual o] fundamento último de toda essa ordem
econômica sob a chancela invocada da liberdade dos indivíduos é efetivamente a
violência estrutural do desemprego, da precariedade e do medo inspirado pela ameaça
de demissão: a condição de funcionamento “harmonioso” do modelo micro-econômico
individualista e o princípio da “motivação” individual para o trabalho residem, em
última análise, num fenômeno de massa, qual seja, a existência do exército de reserva
dos desempregados. Nem se trata a rigor de um exército, pois o desemprego isola,
atomiza, individualiza, desmobiliza e rompe com a solidariedade.[9]

O autor chama a atenção para o necessário cômputo que deve ser realizado dos
custos sociais das decisões econômicas através da seguinte reflexão: “O que custarão, a
longo prazo, em demissões, sofrimentos, doenças, suicídios, alcoolismo, consumo de
drogas, violência familiar etc., coisas que custam muito caro em dinheiro, mas também
em sofrimento?”[10] E propõe que

a essa economia estreita e de visão curta, é preciso opor uma economia da felicidade,
que levaria em conta todos os lucros, individuais e coletivos, materiais e simbólicos,
associados à atividade (como a segurança), e também todos os custos materiais e
simbólicos associados à inatividade ou à precariedade (por exemplo, o consumo de
medicamentos: a França detém o recorde do consumo de tranqüilizantes). Não se pode
trapacear com a lei da conservação da violência: toda violência se paga; por exemplo, a
violência estrutural exercida pelos mercados financeiros, sob forma de desemprego, de
precarização etc., tem sua contrapartida em maior ou menor prazo, sob forma de
suicídios, de delinqüência, de crimes, de drogas, de alcoolismo, de pequenas ou grandes
violências cotidianas.[11]

Com isso Bourdieu, além de apontar o conjunto de medidas políticas e


econômicas que foram impostas pelo novo modelo de capitalismo e que resultaram em
um “enxugamento” do papel do Estado, ainda mostra os custos sociais e as
conseqüências da invasão neoliberal.

Ainda na atualidade, outra importante fonte teórica pode ser encontrada em


“Punir os pobres: a nova gestão da miséria nos Estados Unidos” e em “As prisões da
miséria”, ambos de autoria de Löic Wacquant.

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No primeiro livro, Wacquant parte do paradigma norte-americano de
implantação do Estado Penal em oposição ao Estado Previdenciário - desmantelado pela
ofensiva neoliberal - para mostrar como a prisão vem cumprindo as suas novas funções.
A partir da mudança de paradigma do Estado, ele demonstra como a nova gestão da
miséria estaria ocorrendo através da criminalização da miséria e salienta que, com essa
nova postura, o Estado no fim do século XX foi assumindo

(...) a figura de uma formação política de um tipo novo, espécie de “Estado centauro”,
cabeça liberal sobre corpo autoritário, que aplica a doutrina do “laissez faire, laissez
passer” ao tratar das causas das desigualdades sociais, mas que se revela brutalmente
paternalista e punitivo quando se trata de assumir as conseqüências.[12]

O argumento desenvolvido por Wacquant nesta obra e que mais corrobora na


fundamentação deste artigo, diz respeito às análises que o autor faz do período de
estabilidade econômica seguido de um grande confinamento em 1973, quando a prisão
volta a ocupar lugar central no dispositivo disciplinar do capitalismo industrial em
contraposição a uma época imediatamente anterior, quando se chegou a acreditar que
nas sociedades ditas “avançadas”, ela desempenharia papel menor, uma vez que seriam
criadas e desenvolvidas formas de controle social mais sutis e difusas ao mesmo
tempo[13].

No segundo livro, “As prisões da miséria”, Löic Wacquant refaz a trajetória do


processo de criminalização da miséria ocorrido nos Estados Unidos como forma de
controlar a conflitividade social decorrente das conseqüências do neoliberalismo que
impôs o Estado mínimo em substituição ao Estado-Providência e mostra como esse
“senso comum punitivo” norte-americano se internacionalizou ao se expandir para
países da Europa e da América Latina.

No contexto brasileiro, suas interpretações sobre o novo modelo de Estado


(mínimo) e as novas formas e funções da prisão representam uma importante
contribuição, na medida em que o autor considera ainda mais grave a implantação desse
Estado Penal em países como o Brasil, marcados por profundas “desigualdades sociais e
desprovidos de tradição democrática e de instituições capazes de amortecer os choques
causados pela mutação do trabalho e do indivíduo no limiar do novo século”[14].

Assim, o diagnóstico realizado por Wacquant, embora assustador, alerta para o


fato de que

em tais condições, desenvolver o estado penal para responder às desordens suscitadas


pela desregulamentação da economia, pela dessocialização do trabalho assalariado e
pela pauperização relativa e absoluta de amplos contingentes do proletariado urbano,
aumentando os meios, a amplitude e a intensidade da intervenção do aparelho policial e
judiciário, equivale a (r)estabelecer uma verdadeira ditadura sobre os pobres.[15]

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Nesse cenário, marcado por profundas desigualdades sociais combinadas com
recuo das proteções coletivas, precarização do trabalho e Estado penal, se torna
necessário refletir sobre como vem se consolidando o sistema punitivo neoliberal que,
no caso específico do Brasil, por todas as razões já expostas, repercute de forma
bastante cruel sobre os mais pobres, seja pela violência direta (ações policiais) ou pela
violência indireta (exclusão do mercado de trabalho, do sistema de saúde, da educação,
da cultura e etc).

Será, portanto, a partir das idéias preconizadas por essas quatro referências
teóricas, que sinalizam para o necessário resgate do estudo da questão criminal
vinculado à configuração da estrutura social, política e econômica, que buscaremos os
elementos que apontam para as respostas aos dois questionamentos formulados
anteriormente. Para tanto, dividimos o presente artigo em três seções, sendo que a
primeira discorre sobre a sociedade do trabalho, com o fim de demonstrar como o
trabalho foi se tornando categoria central do mundo social; a segunda analisa a mudança
do paradigma da sociedade do trabalho para o paradigma da sociedade neoliberal e
globalizada, criticando, ainda, o processo de “naturalização” das idéias neoliberais e,
por fim, a terceira e última seção propõe uma necessária reflexão sobre a combinação
de desemprego, trabalho precarizado e Estado Penal, que culmina na criminalização da
pobreza, com ênfase no caso brasileiro.

2. DESENVOLVIMENTO

2.1 A SOCIEDADE DO TRABALHO: TRABALHO COMO UM VALOR e COMO


DISCIPLINAMENTO

A palavra “trabalho”, ao longo da sua história, apresentou vários significados.


Atualmente, a palavra tem sido mais associada ao sentido de emprego regular e pago.
Mas nem sempre foi assim, como mostra Raymond Williams, ao descrever vários
processos de representação do trabalho:

Há uma interessante relação entre trabalho [work] e LABOUR. Este último tinha forte
sentido medieval de dor e faina [toil]; anteriormente, trabalho [work] também fazia
referência, entre alguns de seus sentidos, ao de faina. O próprio termo toil derivou de
uma p.r. latina que significa mexer e esmagar, e surgiu primeiramente como sinônimo
de transtorno e tumulto antes de adquirir o sentido de trabalho árduo, no S14. Labour e
toil são palavras ainda mais duras que work, mas no S13 os trabalhadores manuais
receberam a designação de labourers [trabalhadores, operários], e a oferta desse tipo de

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trabalho generalizou-se como mão-de-obra [labour] desde o S17. Trabalho adquiriu
então um sentido mais geral de atividade. (...)

A especialização de trabalho como emprego remunerado é o resultado do


desenvolvimento das relações produtivas capitalistas. Estar empregado [to be in work]
ou desemprego [to be out of work] era estabelecer uma relação definida com a pessoa
que controlava os meios do esforço produtivo. Então, trabalho deslocou-se, em parte,
do próprio esforço produtivo para a relação social predominante. (...)

O desenvolvimento de emprego [job] talvez seja ainda mais significativo. Suas origens
são obscuras, mas sempre foi uma palavra predominantemente coloquial. Há usos como
lump [massa uniforme, monte, grande quantidade] ou piece [pedaço, parte, bocado]
desde o S14 e como cartload [carroçada] desde o S16. Em 1557, temos “certas
quantidades de trabalho” [certen jobbes of woorke].

O sentido de uma quantidade de trabalho surgiu com vigor no S17 e jobbing [trabalho
de empreitada] e jobber [trabalhador de empreitada], em sentidos ainda vigentes,
passaram a significar a execução de pequenos trabalhos ocasionais. (...) Contudo, apesar
de todos esses sentidos, job também surgiu como o termo hoje primeiro e praticamente
universal para referir-se ao emprego normal.[16]

A importância de se pesquisar os diversos sentidos conferidos à palavra trabalho


reside na relevância que a atividade prática do trabalho passou a ter na vida dos
indivíduos que dependem da experiência comum do trabalho, mais do que para se
relacionarem, mas para “simplesmente” sobreviverem materialmente, na medida em que
quando se vive em uma sociedade capitalista, o trabalho sempre é e “continua sendo
uma referência não só economicamente, mas também psicologicamente, culturalmente e
simbolicamente dominante, como provam as reações dos que não o têm.”[17]

Para uma melhor compreensão de como o trabalho se tornou categoria fundante


do mundo social nas sociedades capitalistas, é preciso, inicialmente, considerá-lo em
seu sentido duplo, a partir da análise elaborada por Marx, tanto no seu aspecto positivo
(trabalho como auto-produção humana, valor do trabalho para a vida em sociedade),
quanto no seu aspecto negativo (o trabalho alienado, concebido como disciplinamento
nas sociedades capitalistas).

No que diz respeito ao aspecto positivo, Marx, ao partir do fato de que,


primeiramente, o trabalho “é um processo de que participam o homem e a natureza,
processo em que o ser humano, com sua própria ação, impulsiona, regula e controla seu
intercâmbio material com a natureza,”[18] demonstra que foi por meio do trabalho que
os indivíduos distinguiram-se dos animais e que sem o qual a vida cotidiana não se
reproduziria. Com isso ele quis dizer que somente com a apropriação dos recursos
naturais transformados em úteis à vida humana, através do trabalho, é possível ao
homem modificar, não só a natureza externa, como também a sua própria natureza,
configurando o trabalho como auto-produção humana.

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Com relação ao aspecto negativo, também, intrínseco ao trabalho, cabe
mencionar a descrição realizada por Osvaldo Coggiola, ao analisar a categoria do
trabalho durante o surgimento do sistema capitalista:

(...) o processo de disciplinamento da força de trabalho foi parte integrante do


surgimento do sistema capitalista. Ele se estendeu ao longo de séculos e compreendeu
as diversas leis contra a vagabundagem e “contra a pobreza”, adotadas nos diversos
países e que visavam obrigar os homens livres a ingressarem no trabalho fabril. Já em
1547 é proibida a mendicância em Londres. Em 1662, a Lei de Residência dava aos
juízes, a pedido do encarregado da vigilância dos pobres em cada paróquia, o poder de
enviarem de volta à sua paróquia os recém-chegados. Em 1723, as paróquias foram
autorizadas a instalar “casas de trabalho”, que se transformavam em centros de trabalho
forçado. Todas essas medidas visavam disciplinar o trabalho as já então denominadas
“classes perigosas.”[19]

Verifica-se na exposição de Coggiola, a íntima relação entre trabalho e controle


de massas, dois signos imbricados do sistema capitalista de produção, concebidos com o
propósito de disciplinar a vida em sociedade.

No mesmo sentido se coloca Nilo Batista que, ao refletir sobre o industrialismo


derivado da Revolução Industrial, considera “válido afirmar que os cárceres são a
imagem do mundo burguês do trabalho pensado até as suas últimas conseqüências, que
o ódio dos homens pelo que devem fazer com eles mesmos põe como emblema no
mundo,”[20] razão pela qual qualquer estudo que envolva controle penal deve
considerar, também, o processo de acumulação de capital e suas formas de organização
do trabalho.

Vejamos, agora, como foi caracterizado o modelo de sociedade baseado no


trabalho que durou dois séculos (XIX e XX), somente se modificando com a chegada
das principais transformações ocorridas no mundo do trabalho, com repercussão na vida
individual e coletiva do trabalhador, decorrentes da globalização e, principalmente, da
ascensão do pensamento neoliberal.

Durante muito tempo, a organização do trabalho se estruturou através das


técnicas taylorista e fordista de produção. De acordo com Harvey,[21] o sistema
concebido por F. W. Taylor introduziu profundas alterações nas relações sociais
hierárquicas dentro do processo do trabalho ao separar a gerência, a concepção, o
controle e a execução do trabalho dentro da fábrica com o propósito de aumentar
radicalmente a produtividade do trabalho por meio da análise de cada processo de
trabalho em movimentos separados e da organização de tarefas de trabalho
fragmentadas conforme padrões rigorosos de tempo e estudo do movimento. A técnica
fordista implementada por Henry Ford, teve seu desenvolvimento ao longo do século
XX (entre 1914[22] e 1973) e foi caracterizada pelo controle dos hábitos de consumo,
das tecnologias e do trabalho, cujo objetivo era a relação entre a produção de massa e o
consumo de massa, que proporcionava um novo sistema de reprodução da força de
trabalho.

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A “fábrica fordista” foi o modelo mais almejado e adotado na “modernidade
pesada e sólida” ou “era do hardware”, segundo denominação atribuída por Bauman[23]
para a modernidade marcada notadamente pelo volume e que representava o casamento
perfeito (“até que a morte os separasse”) entre capital e trabalho, numa relação de
conveniência e necessidade, sendo eventualmente de amor, feita para “durar para
sempre” (o quanto durasse a vida do indivíduo-trabalhador) e que com freqüência
durava. O divórcio estava fora de questão. Nesse contexto, a rotina cumpria o
importante papel de agente imobilizador dos atores envolvidos em uma relação em que
uma parte não poderia sobreviver sem a outra. Conforme salienta Harvey,[24] a rigidez
era a marca registrada do fordismo. No entanto, tal rigidez causava problemas nos
mercados, na alocação e nos contratos de trabalho, já que a classe trabalhadora, por seu
turno, resistia a toda tentativa de superar os problemas de rigidez. Tal fato, por exemplo,
explica as greves e os conflitos trabalhistas do período compreendido entre 1968 e
1972. Por tudo isso, a modernidade pesada representou uma época caracterizada pela
rotina, marcada notadamente pela tensão inerente à relação capital e trabalho, que
perdurou por dois séculos (XIX e XX).

Essa época, fortemente balizada pela rotina, delineou a “sociedade do trabalho”


que foi caracterizada pela relação de extrema dependência entre capital-trabalho, que
somente se modificou com as mudanças trazidas pela chegada da invasão neoliberal.

No que diz respeito ao conjunto de transformações decorrentes do programa


neoliberal, é oportuno, ainda, lembrar que

“a burguesia não pode existir sem revolucionar constantemente os instrumentos de


produção, portanto as relações de produção e, por conseguinte todas as relações sociais.
A conservação inalterada dos antigos modos de produção era a primeira condição de
existência de todas as classes industriais anteriores. A transformação contínua da
produção, o abalo incessante de todo o sistema social, a insegurança e o movimento
permanentes distinguem a época burguesa de todas as demais. As relações rígidas e
enferrujadas, com suas representações e concepções tradicionais, são dissolvidas, e as
mais recentes tornam-se antiquadas antes que se consolidem. Tudo o que era sólido se
desmancha no ar, tudo que era sagrado é profanado, e as pessoas são finalmente
forçadas a encarar com serenidade sua posição social e suas relações recíprocas.”[25]

Cabe ainda mencionar, no que se refere às constantes mudanças impostas pela


burguesia e suas conseqüências, que o sistema de acumulação pautado pelo capital
sempre se configurou em uma verdadeira “máquina capitalista de moer”[26] em alusão
clara ao pensamento de Darcy Ribeiro, para quem: “cada ciclo econômico era um
moinho de gastar gente”[27]. Primeiro, os índios. Depois, os negros. E, agora, a
juventude. Isso permite concluir que as conseqüências humanas alarmantes do
neoliberalismo não representam mera fatalidade, mas sim, mera liberalidade, conforme
veremos nas próximas seções do presente artigo.

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2.2 DO PARADIGMA DA SOCIEDADE DO TRABALHO AO PARADIGMA DA
SOCIEDADE NEOLIBERAL e GLOBALIZADA

As principais transformações ocorridas no mundo do trabalho – decorrentes da


globalização e do neoliberalismo - se exteriorizaram sob a forma da reestruturação
produtiva, da flexibilização, da desregulamentação, da relativização dos direitos dos
trabalhadores e, por conseguinte, da precarização das condições e relações de trabalho.
Tais medidas compõem o novo regime do capital, “readaptado” ao mundo globalizado e
neoliberal, denominado de “acumulação flexível” e marcam a passagem do paradigma
da sociedade do trabalho para a sociedade neoliberal.

O neoliberalismo teve origem logo após a II Guerra Mundial e se caracterizou


por ser “uma reação teórica e política veemente contra o Estado intervencionista e de
bem-estar”[28]social e cujo objetivo principal era realizar “um ataque apaixonado
contra qualquer limitação dos mecanismos de mercado por parte do Estado, denunciadas
como uma ameaça letal à liberdade, não somente econômica, mas também política.”[29]
A real intenção do novo programa econômico era combater o “keynesianismo e o
solidarismo reinantes e preparar as bases para outro tipo de capitalismo, duro e livre de
regras para o futuro,”[30] conforme aponta Perry Anderson.

O processo de implantação das idéias neoliberais durou décadas até que foi,
finalmente, instituído: i) nos anos 70, no Chile (sob a ditadura de Pinochet[31]), ii) em
1979, na Inglaterra (durante o governo de Thatcher), iii) em 1980, nos EUA (pelo
Presidente Reagan), iv) em 1982, na Alemanha (com Khol) e v) em 1983, na Dinamarca
(através de Schluter), sendo poucos[32] os países de capitalismo avançado que não
tinham assistido o triunfo da ideologia neoliberal até o final dos anos 80.

Tão relevante quanto o neoliberalismo para a compreensão do novo modelo de


Estado é a globalização. Com relação à globalização, é possível encontrar diversos
conceitos sobre esse novo processo. No entanto, uma análise cautelosa das diversas
leituras sobre a globalização denota que se trata de um fenômeno heterogêneo, cujo
termo passou a ser efetivamente usado a partir dos anos 60 e início dos anos 70,[33]
com dimensões econômicas, sociais, políticas, culturais e jurídicas que se encontram
interligadas de modo complexo, devendo ser compreendido, segundo Olea e Flores,
como o processo segundo o qual se universaliza a intercomunicação entre “economias,
sociedades e culturas, de onde se desenvolvem e ampliam as tecnologias da
comunicação e da informática, junto com os acordos entre os Estados para facilitar todo
tipo de intercâmbios, especialmente de ordem econômica.”[34]

Dentre todas as medidas de ordem econômica promovidas pela globalização,


ainda segundo os mesmos autores, podem ser observadas: “desregulações, eliminação
de barreiras alfandegárias e outros impedimentos a uma maior inter-relação econômica
entre povos e Estados”,[35] representando, dessa forma, o conceito universal que as
ideologias dominantes conferiram ao moderno processo de mundialização capitalista.

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Além disso, as diversas interpretações conferidas à globalização permitem concluir que
o processo se caracterizou por maior flexibilidade de gerenciamento, descentralização
das empresas e sua organização em redes tanto internamente quanto em suas relações
com outras empresas; considerável fortalecimento do papel do capital frente ao trabalho,
com o declínio concomitante da influência dos movimentos dos trabalhadores;
individualização e diversificação cada vez maior das relações de trabalho; intervenção
estatal para desregular os mercados de forma seletiva e desmontar o Estado de Bem-
Estar Social.[36]

A problemática que gira em torno do fenômeno da globalização diz respeito


principalmente ao que tange à sua mais grave conseqüência, qual seja: o processo
endêmico de desigualdade, “uma vez que um segmento significativo da população
mundial não é diretamente afetado pela globalização, ou fica basicamente excluído de
seus benefícios, ela é um processo profundamente desagregador e, por isso mesmo,
vigorosamente contestado”.[37] Conforme salientam Held e Mcgrew, “a desigualdade
da globalização garante que ela fique longe de ser um processo universal,
uniformemente experimentado em todo o planeta.” [38] Os mesmos autores chamam a
atenção ainda para o fato de não ser nenhuma surpresa que a discussão em torno da
globalização tenha se disseminado na mesma época em que “o projeto neoliberal – o
consenso washingtoniano sobre desregulamentação, privatização, programas de ajuste
estrutural (PAES) e limitação do governo – consolidou sua dominação nas principais
capitais do Ocidente e em instituições globais como o FMI”.[39]

Neste cenário, ambos os fenômenos – a globalização e o neoliberalismo -


marcarão o fim do século XX e o início do século XXI, inaugurando um processo de
reestruturação produtiva global, que será pautado pela crescente globalização da
economia capitalista de “acumulação flexível” e o crescente desemprego tecnológico,
devendo-se “considerar, portanto, a reestruturação produtiva como a acumulação
flexível, antes de tudo, um resultado sócio-histórico da luta de classes, que atingiu seu
ponto decisivo, nos países capitalistas centrais - 1973/79.”[40]

Outra expressão que surge nesse momento é a “acumulação flexível”, que se


refere ao regime que se caracteriza pela oposição direta à rigidez do fordismo e que se
ampara na flexibilização dos processos de trabalho, dos mercados de trabalho, dos
produtos e dos padrões de consumo. Tais experiências, sustenta Harvey, apresentaram
seus primeiros sinais em 1973, após o choque do petróleo e externalizaram-se com o
“surgimento de setores de produção inteiramente novos, novas maneiras de
fornecimento de serviços financeiros, novos mercados e, sobretudo, taxas altamente
intensificadas de inovação comercial, tecnológica e organizacional”. [41] O novo
método de acumulação, inaugurado pelos japoneses, dificulta a ação coletiva e acentua
o individualismo, que é propositalmente construído através do movimento mais flexível
do capital e acarreta “níveis relativamente altos de desemprego “estrutural”, rápida
destruição e reconstrução de habilidades, ganhos modestos (quando há) de salários reais
e o retrocesso do poder sindical – uma das colunas políticas do regime fordista”.[42]

A nova forma organizacional da produção provocou profundas transformações


no mundo do trabalho que, de um casamento sólido e duradouro entre o capital e o
trabalho (modernidade sólida), em que o divórcio não era sequer cogitado, passou-se a
uma nova era em que “capital e trabalho vivem o desengajamento e o enfraquecimento
dos laços que os uniam”,[43] encontrando-se, agora no “capitalismo flutuante”[44]

8120
apenas esporadicamente, conforme a conveniência do primeiro, que evidentemente se
beneficia da sua leveza e mobilidade, inaugurando, dessa forma, a denominada
“modernidade líquida”.[45]

A reestruturação produtiva, ou seja, o complexo de medidas que envolvem uma


rede de inovações tecnológico-organizacionais no campo da produção social capitalista,
possui como características, dentre outras: a implementação de novas formas de gestão
(“qualidade total” ou “círculos de controle de qualidade” [CCQs], just in time/kan-ban,
“auto-ativação”), a racionalização da produção (com o enxugamento das unidades
produtivas de grande porte e aumento da produtividade, também conhecida por lean
production) e com a descentralização produtiva, concretizada na forma de terceirização,
das relocalizações industriais, que significam o fechamento de fábricas em um
determinado local e abertura em outro, bem como a instauração de novas legislações
trabalhistas de cunho mais flexível.[46] Tal processo torna o terreno dos fatos como
dado e impossibilita qualquer reação do trabalhador, restando apenas a conformidade
com a realidade posta. Com isso, a classe trabalhadora acaba sujeitando-se às novas
regras exigidas pelo “mercado”. Nesse sentido, é oportuna, ainda, a percepção de
Giovanni Alves de que o processo de reestruturação produtiva apenas expressa “algo
que é intrínseco à lei da acumulação capitalista: a precarização da classe dos
trabalhadores assalariados, que atinge não apenas, no sentido objetivo, a sua condição
de emprego e salário mas, no sentido subjetivo, a sua consciência de classe”. [47]

Assim, do ponto de vista objetivo, as transformações se concentram nas


dimensões tecnológica e da organização da produção e do trabalho capitalista, com
origem no padrão fordista[48] de produção, passando pela técnica taylorista (também
conhecida por “administração científica”), pelo toyotismo (ou modelo japonês ou, ainda,
ohnoísmo), pelas novas formas de gestão da força de trabalho (reestruturação produtiva)
e alcançando, dessa forma, o regime da “acumulação flexível”.

No entanto, para a análise das conseqüências das mudanças na organização


produtiva na vida da classe trabalhadora ocorridas, principalmente, a partir dos anos 80
(a “década neoliberal”),[49] é preciso compreender também os aspectos subjetivos das
transformações, quais sejam: ampliação da autonomia da vontade e liberdade do
trabalhador e diminuição da capacidade de percepção e reação da classe trabalhadora ao
discurso ideológico da inevitabilidade da reestruturação produtiva.

No cenário brasileiro, as idéias neoliberais se difundem a partir do início dos


anos 90 e são concomitantes com a posse do primeiro presidente da República eleito por
voto direto após o Regime Militar. Era o início do governo de Fernando Affonso Collor
de Mello, que chegou ao poder através das eleições de 1989.

No âmbito econômico, seu governo foi marcado pela implantação do Plano


Collor, pela abertura do mercado às importações e pelo início do Programa Nacional de
Desestatização (PND).

Dentre as medidas mais importantes adotadas pelo seu plano econômico, merece
destaque o estímulo à privatização e o início da remoção da regulamentação da
economia.

8121
Na realidade, chegava ao Brasil a onda globalizante e neoliberal e isso fez com
que o governo de Fernando Collor de Mello ficasse marcado na história recente do
Brasil muito mais por ter introduzido no país uma agenda neoliberal comprometida com
a globalização, do que por ter sido o primeiro presidente eleito democraticamente após
os “anos de chumbo”.

2.2.1 A “naturalização” do neoliberalismo

O neoliberalismo já foi detalhado, anteriormente, como um projeto político, ou


seja, como uma opção política. O neoliberalismo também se caracteriza pelo fato de ser
um “movimento ideológico, em escala verdadeiramente mundial, como o capitalismo
jamais havia produzido no passado”[50]. Tal fato se deve à “incrível capacidade” que as
idéias neoliberais têm de “parecerem” ser a única opção possível na contemporaneidade,
como se nunca, em outra época ou em outro lugar, tivesse existido na história
alternativas ao capitalismo ou outras formas de capitalismo e, por isso mesmo, somente
restasse, na atualidade, a opção de render-se às novas configurações da economia, do
trabalho e do Estado. É o seu viés de “aparente inevitabilidade”[51] construído para que
se conclua ser a única e verdadeira saída para um modelo de Estado que, supostamente,
vinha apresentando sinais de falência múltipla.

No mesmo sentido, corrobora o balanço do neoliberalismo realizado por Perry


Anderson, ao analisar esse programa de medidas econômicas e políticas, aponta que

(...) economicamente, o neoliberalismo fracassou, não conseguindo nenhuma


revitalização básica do capitalismo avançado. Socialmente, ao contrário, o
neoliberalismo conseguiu muitos dos seus objetivos, criando sociedades marcadamente
mais desiguais, embora não tão desestatizadas como queria. Política e ideologicamente,
todavia, o neoliberalismo alcançou êxito num grau com o qual seus fundadores
provavelmente jamais sonharam, disseminando a simples idéia de que não há
alternativas para os seus princípios, que todos, seja confessando ou negando, têm de
adaptar-se a suas normas.[52]

Diante desse caráter de pretensa “inevitabilidade” alcançado pelo


neoliberalismo, é possível fazer uma comparação entre o atual estágio das sociedades
atingidas pelas idéias neoliberais e a figura metafórica de um peixe abissal[53] que só
conhece a água. Se um peixe pudesse ter “consciência” do meio em que vive, perceberia
a água em contraposição à terra e ao ar. Mas, como ele só conhece a água, sua
“concepção” de mundo se reduz à água. O mesmo tem ocorrido com as sociedades

8122
imersas no imenso oceano neoliberal, única opção que “parece” ser possível, no
contexto de transformações impostas por ele mesmo. Nesse momento em que a
aparência se converte em única realidade possível, ela passa a ser a própria essência, o
que faz com que os indivíduos pensem somente existir essa via (neoliberal) possível.

Na realidade, “este fenômeno chama-se hegemonia, ainda que, naturalmente,


milhões de pessoas não acreditem em suas receitas e resistam a seus regimes.”[54] Na
verdade, o neoliberalismo se tornou onipresente e onipotente, na medida em que a
concepção de mundo por ele imposta se apresenta como verdade indiscutível e
necessária.

Com isso, queremos chamar a atenção para o que se pode denominar de


“naturalização do fenômeno neoliberal”, pois as idéias neoliberais - ao se apresentarem
como sendo a única opção possível - na verdade, ocultam os seus verdadeiros
propósitos e conseqüências, sobre os quais não se pode deixar de refletir, ainda mais,
quando essas conseqüências geram um quadro de verdadeira barbárie, que se constitui
como configuração da nova ordem burguesa.[55]

2.3. DESEMPREGO, TRABALHO PRECARIZADO E ESTADO PENAL: A


CRIMINALIZAÇÃO DA POBREZA NO CONTEXTO BRASILEIRO

Antes de iniciar a análise da combinação entre desemprego, trabalho precarizado


e Estado Penal no contexto brasileiro, que resulta no processo segundo o qual a pobreza
é criminalizada, é preciso ressaltar que o aspecto que mais chama a atenção no que
tange às idéias neoliberais, diz respeito ao seu impacto sobre as desigualdades sociais.
E, nesse sentido, merece destaque o fato de que um dos seus idealizadores - Friedrich
Hayek - considerava a desigualdade como um valor positivo (na verdade
imprescindível) para que as sociedades ocidentais “superassem o novo igualitarismo
(muito relativo, bem entendido) deste período, promovido pelo Estado de bem-estar
social, que destruía a liberdade dos cidadãos e a vitalidade da concorrência, da qual
dependia a prosperidade de todos.”[56] Assim, é possível perceber que as desigualdades
decorrentes do paradigma neoliberal de acumulação, longe de ser um efeito colateral,
são uma deliberação, ou seja, uma proposta política.

Assim, é possível perceber que, no contexto brasileiro, as conseqüências que


restam de todo o processo de “encolhimento do Estado” aliado à produção de
desigualdades sociais e à precarização do trabalho, repercutem de forma muito mais
drástica na vida dos indivíduos, em especial, os mais pobres, historicamente “sujeitos”
de poucos direitos, principalmente quando se leva em consideração o fato de que não
houve a consolidação e implantação total de um Estado de bem-estar social,

8123
propriamente dito, mas, sim, “uma recente e restrita experiência de proteção ao
desemprego, (...) que se constitui no curso da redemocratização do fim dos anos 1980, e
que se erigiu sobre a base de um mercado onde predominavam intensas transições entre
ocupações e, nessas, uma situação de assalariamento restrito.”[57] O mais grave,
atualmente, é que mesmo esse tímido Estado de bem-estar social vem sendo
desmantelado pelas medidas impostas pelo neoliberalismo e pela globalização, ao
mesmo tempo em que o trabalho é precarizado e as desigualdades, produzidas pelo novo
“modelo”, são agravadas.

Aliás, pensar na questão criminal no Brasil contemporâneo faz lembrar uma


época na qual a questão social era tratada como “um caso de polícia,”[58] conforme se
extrai da “inesquecível” frase de Washington Luís (presidente do Brasil entre 1926-
1930), o que revela o verdadeiro retrocesso histórico em termos de proteção social que o
país vive hoje.

Por isso, quando se procura refletir sobre a questão criminal no cenário


brasileiro, é preciso ter em mente, como aponta Nilo Batista, os exatos elementos de
uma “história da programação criminalizante no Brasil”[59] com a ocorrência de vários
momentos nos quais a pena apresentou funções distintas ao longo do seu percurso. Mas,
há um dado que se verifica contínuo e que representa o objeto do presente artigo, qual
seja, a estreita relação entre trabalho (ou a falta dele) e sistema punitivo e será no
neoliberalismo que essa simbiose mostrará a sua pior vertente, ou seja, por trás de um
discurso de que “no capitalismo cada vez ‘sobra’ mais gente” será exatamente imposto
ao “excedente” de mão-de-obra um maior Estado Penal, que se arma, cada vez mais, de
penas, configurando uma verdadeira “programação criminalizante”, como mostra o
autor:

(...) as representações políticas comprometidas com as transformações econômicas e


culturais que, com raízes na crise de 1973, conduziram ao que se costuma chamar de
neoliberalismo ou globalização, chegaram ao poder no Brasil em 1989 e nele se
mantiveram até hoje (2002). A desaceleração do crescimento econômico –
acompanhada, em países periféricos como o nosso, da destruição dos parques industriais
-, a queda nos rendimentos dos trabalhadores que logram escapar ao desemprego
massivo ou se submetem à flexibilização de suas garantias ou ao sub-emprego, em
contraste com uma fantástica acumulação financeira, o desmonte de programas
assistenciais públicos característicos do estado previdenciário, tudo isso gera
gravíssimas conseqüências sociais. À reflexão jurídica acerca dessa conjuntura cabe, no
âmbito penal, deter-se sobre mutações na estrutura e funcionamento do sistema penal, e
um dos indicadores mais importantes reside na programação criminalizante.[60]

Essa “programação criminalizante” neoliberal que conduz para a prisão o


excedente de mão-de-obra, como mostra Nilo Batista, chama a atenção até mesmo dos
mais distraídos, na medida em que

8124
o encarceramento cresce alarmantemente, de forma drástica nas áreas nas quais a
destruição do parque industrial foi mais intensa, sugerindo a realização da metáfora de
Löic Wacquant[61]; é como se se tratasse de um sinistro programa habitacional para os
novos pobres. O sistema penal do empreendimento neoliberal é o cenário sombrio no
qual o estado, pateticamente despossuído dos generosos instrumentos assistenciais que
outrora teve em mãos, impõe às magras silhuetas dos desajustados e inúteis da nova
economia a única intervenção na qual repousa agora sua autoridade: a pena.[62]

O processo desenfreado de encarceramento imposto pelo sistema penal


neoliberal sobre a massa empobrecida pode ser observado através da taxa nacional de
encarceramento, que

aumentou de 95,5 pessoas presas por 100 mil habitantes em 1995 para 141 presas por
100 mil habitantes em 2002. Alguns estados são muito mais encarceradores do que
outros. São Paulo ocupa o primeiro lugar, com 276,3 pessoas presas por 100 mil
habitantes, seguido do Distrito Federal (269,2), do Rio de Janeiro(147,2) e do Rio
Grande do Sul (146,6)[63]

No mesmo sentido, Vera Malaguti Batista apontou que em 1994, o Brasil tinha
cerca de 110.000 presos.[64] Porém, de lá até os dias atuais (2008), o contingente de
encarcerados só foi sendo aumentado cada vez mais, conforme se verifica na tabela
abaixo:

TABELA I

ANO TOTAL DE PESSOAS PRESAS[65]


2000 232.755
2001 233.859
2002 239.345
2003 308.304
2004 336.358
2005 361.402

8125
2006 401.236
2007 422.590

Evidentemente, não obstante o fato de o encarceramento ter aumentado, a


população de uma forma geral não se sente mais segura por isso, na medida em que o
mote da implantação do sistema penal neoliberal é baseado na difusão do medo, do caos
e da desordem, que são instaurados de forma generalizada e universal, como assinala
Vera Malaguti Batista, ainda que com o objetivo claro de “detonar estratégias de
exclusão e disciplinamento das massas empobrecidas.”[66]

Também na difusão do medo coletivo e contribuindo para a implantação do


sistema penal neoliberal, vale salientar que, nesse sentido, a mídia cumpre papel
principal e funciona como verdadeiro “agente” de difusão do medo e da criminalização,
conforme a descrição realizada por Nilo Batista:

(...) os novos papéis que a mídia entrou a desempenhar, configurando-se como um


conjunto de agências de comunicação social do sistema penal que podem mesmo
desempenhar tarefas próprias das agências executivas, resultaram não apenas numa
instável legitimação publicitária da hipercriminalização, mas sobretudo num
instrumento de compreensão induzida dos conflitos sociais a partir da estreita lógica
binária infracional. Este novo sistema penal, na sua face dura, não postula do
encarceramento as utopias preventivas ressocializadoras, senão a mais fria e asséptica
neutralização do condenado. Enquanto, sob o estado previdenciário, germinavam
instrumentos de proteção da intimidade e da vida privada, o novo sistema do estado
neoliberal, replicante do vigilantismo eletrônico, é invasivo e cultiva a delação, cujo
estatuto ético virou-se pelo avesso.[67]

Portanto, verifica-se a existência de problemas crônicos nessa “política do


medo” e, também, na própria discussão sobre a questão criminal no Brasil
contemporâneo, conforme aponta Vera Malaguti Batista, pois

não importa que o extermínio, a violência contra os moradores de favelas e os sem-terra,


a tortura e o isolamento nas prisões não tenham nenhum efeito sobre as condições reais
de segurança. Não importa que quanto mais prendemos, torturamos e matamos não
melhore em nada a situação dos nossos jardins cercados, a brutalidade e o extermínio
fazem sentido por si; trata-se de um engajamento subjetivo à barbárie. É por isso que a
criminologia do senso-comum vai precisar de filósofos, psicanalistas, antropólogos e
sociólogos que destilem emoções baratas. O importante é que a população não se
identifique e não se compadeça da face mestiça e pobre da questão criminal no Brasil
contemporâneo.[68]

8126
Tudo isso inevitavelmente conduz à discussão de um outro fator interno à
questão criminal, qual seja o propósito de ressocialização com a prisão, que durante
muitos anos serviu como pretexto ao sistema penal que pretendia readaptar, reeducar os
indivíduos e não, puni-los.

Nesse sentido, primeiramente, é necessário investir contra os aspectos éticos e


morais contidos nesse ideal de ressocialização imposto pelo sistema penal, na medida
em que simplesmente não é possível “reprogramar” um indivíduo e, menos ainda, moral
e eticamente, como deseja a burguesia. Aliás, é sintomático que o sistema penal se
baseie em ideais ressocializantes morais e éticos e, ainda mais, se for levado em
consideração o fato de que a burguesia, sempre com a sua visão idealista, jamais toca
em aspectos materiais e econômicos.

Depois, é preciso considerar que mesmo essa visão idealista de ressocialização


está, na atualidade, completamente equivocada, motivo pelo qual o argumento de
ressocialização através da readaptação ética e moral não se sustenta, pois as condições
impostas a quem cumpre uma pena não condizem com essa “pseudo-intenção de
ressocializar”.

Os relatos feitos pelas vítimas desse sistema penal neoliberal contribuem para o
argumento acima descrito, na medida em que denunciam a precariedade das condições
de cumprimento da pena, sendo as principais reclamações referentes a: i) superlotação;
ii) “revista íntima” (desnudamento) sobre os familiares; iii) violação do sigilo de
correspondência; iv) precário trabalho prisional; v) falta de atendimento médico,
odontológico e psicológico; vi) precária assistência jurídica; vii) limitação de visitas de
familiares, sobretudo dificuldade para a visita conjugal íntima; viii) péssima qualidade
da alimentação, inclusive com estruturas duplas de cozinha com diferenciação entre a
alimentação oferecida pelo estado a presos e funcionários; ix) precárias condições de
higiene; x) submissão como “castigo disciplinar” às celas de isolamento (“solitárias”)
por serem escuras e sem ventilação; xi) pouco acesso aos meios de comunicação; xii)
denúncias de espancamento, tortura e corrupção e xiii) raro acesso ao pátio externo para
exercício e banho de sol.

Diante desse quadro, é possível concluir que a idéia principal, embora o discurso
oficial seja outro, é apenas punir e, não mais, vigiar e punir, sendo as precárias
condições de cumprimento da pena a própria pena.

Por fim, é também importante destacar o fato de que essa massa empobrecida
encarcerada é, na sua maioria, formada por jovens afro-brasileiros com baixo índice de
escolaridade, o que nos permite concluir que o “excedente” de mão-de-obra produzido
pelas transformações introduzidas pelo neoliberalismo vem sendo absorvido pelo
sistema penal neoliberal.

Assim, a força de trabalho para a qual o mercado de trabalho neoliberal não


reservou lugar e que já não conta mais com as redes de proteção do Estado de bem-estar
social é desperdiçada, sendo certo que o enorme contingente que forma essa massa
crescente de encarcerados encontra-se perfeitamente enquadrada no que os economistas
denominam de População Economicamente Ativa (PEA), ou seja, “o potencial de mão-
de-obra com que pode contar o setor produtivo”[69] formado por pessoas com idade
entre 10 e 65 anos.

8127
Por tudo que foi dito até aqui, só podemos concluir que a compreensão da
questão criminal no Brasil contemporâneo somente pode ser realizada em conjunto com
a análise das mudanças estruturais, econômicas, políticas e sociais impostas pela
globalização e pelo neoliberalismo, a fim de que, assim, elementos seguros e coerentes
possam ser elaborados e utilizados na crítica ao atual contexto de verdadeira
criminalização da miséria.

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[1] WACQUANT, 2001, p.7.

[2] BATISTA, 2006, p. 37.

[3] RUSCHE; KIRCHHEIMER, 2004, p. 8.

[4] BATISTA, 2006, p. 38.

[5] RUSCHE; KIRCHHEIMER, op. cit., p. 14.

8131
[6] FOUCAULT, 1987, p. 30-32.

[7] Ibidem, p. 63-65.

[8] BATISTA, 2006, p. 38.

[9] BOURDIEU, 1998, p. 140.

[10] BOURDIEU, op. cit , p. 55.

[11] Ibidem, p. 56.

[12] WACQUANT, 2003, p. 55.

[13] WACQUANT, 2003, p. 56.

[14] WACQUANT, 2001, p. 7.

[15] Ibidem, p. 10.

[16] WILLIAMS, 2007, p. 396-399.

[17] CASTEL apud BARBOSA, 2008, p. 283.

[18] MARX, 2004, p. 211-212.

[19] COGGIOLA, 1991, p. 17.

[20] HORKHEIMER; ADORNO apud ZAFFARONI; BATISTA, et al, 2003, p. 395.

[21] HARVEY, 1992, p. 121-124

[22] Data inicial simbólica do fordismo, em que H. Ford instituiu em sua fábrica o dia
de oito horas e cinco dólares para os operários da linha de montagem de carros.

[23] BAUMAN, 2001, p. 132-135.

[24] HARVEY, op. cit., p. 135.

[25] MARX, 1998, p. 11.

[26] LÖWY. In: ARANTES, 2007.

[27] RIBEIRO, 1995 apud BATISTA, 2006, p. 37-41.

[28] ANDERSON, op. cit., p. 9.

[29] Ibidem, p. 9.

[30] Ibidem, p. 10.

8132
[31] No caso específico do Chile, houve a supressão da democracia e uma combinação
de neoliberalismo com uma das mais cruéis ditaduras militares existentes no pós-guerra.

[32] As únicas exceções deste período foram a Suécia e a Áustria.

[33] HELD; McGREW, 2001, p. 7.

[34] OLEA; FLORES, 2000, p. 11.

[35] Ibidem, p. 11.

[36] CASTELLS, 1999, p.21-22.

[37] HELD; McGREW, op.cit., p. 13-14.

[38] Ibidem, p. 13-14.

[39] Ibidem, p. 16.

[40] HELD; McGREW, op.cit., p.17.

[41] HARVEY, op. cit., p. 140.

[42] Ibidem, p. 141.

[43] BAUMAN, op cit., p. 171.

[44] Ibidem, p. 171.

[45] Ibidem, p. 15.

[46] ALVES, 2005, p. 18.

[47] Ibidem, p. 9.

[48] HARVEY, op. cit., p. 122-124.

[49] ALVES, op. cit., p.18.

[50] ANDERSON, op. cit., p. 22.

[51] BOURDIEU, op. cit., p. 44.

[52] ANDERSON, op. cit., p. 23.

[53] Não é a primeira vez que se compara um modelo de capitalismo implantado na


economia brasileira com um ilustre representante do mundo animal. Há um texto
clássico do Francisco de Oliveira, onde ele reconhece o monstrengo social que o Brasil
se tornou e compara o país a um ornitorrinco: “um animal improvável na escala da
evolução; (...) uma figura magra, esquelética, sustentando uma cabeça enorme, que é o

8133
sistema financeiro, mas com pernas esquálidas e anêmicas, que são a desigualdade
social e a pobreza extrema”. Para maiores detalhes, ver: OLIVEIRA, Francisco de.
Crítica à razão dualista/ O ornitorrinco. São Paulo: Boitempo Editorial, 2003, p.121-
150.

[54] ANDERSON, op. cit., p. 23.

[55] MENEGAT, 2006, p. 11.

[56] ANDERSON, op. cit., p. 10.

[57] Cf. LAUTIER, 1987 apud GUIMARÃES, 2005, p.4.

[58] MUNAKATA, 1981, p. 9.

[59] ZAFFARONI; BATISTA et al., 2003, p. 411.

[60] ZAFFARONI; BATISTA et al., op. cit., p. 484.

[61] In: WACQUANT. Punir os pobres: a nova gestão da miséria nos Estados Unidos.
Rio de Janeiro: Revan, 2003.

[62] ZAFFARONI; BATISTA, et al. op. cit., p. 488.

[63] LEMGRUBER, 2001. In: LEMGRUBER; MUSUMECI; RAMOS, 2002, p. 53.

[64] BATISTA, 2006, p. 40-41.

[65] O número corresponde ao total de presos dos Sistemas Penitenciários Estadual,


Federal e da Polícia, sendo que os dados foram obtidos a partir do levantamento
realizado pelo Ministério da Justiça/DEPEN. Disponível em:
http://www.mj.gov.br/data/Pages/MJD574E9CEITEMIDC37B2AE94C6840068B1624
D28407509CPTBRIE.htm. Acesso em: 25/05/2008.

[66] BATISTA apud ZAFFARONI; BATISTA, et al., op. cit., p. 487-488.

[67] ZAFFARONI; BATISTA, et al., op. cit., p. 487.

[68] BATISTA, 2007, p. 148.

[69] O conceito de População Economicamente Ativa (PEA) foi extraído das notas
metodológicas referentes à Pesquisa Mensal de EmpregoPesquisa Mensal de Emprego
realizada pelo IBGE. Disponível em:
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/trabalhoerendimento/pme/pmemet
2.shtm. Acesso em: 25/05/2008.

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