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TEXTO DE APOIO DA CADEIRA DE

GEOGRAFIA
DA
INDÚSTRIA

TUTOR
PROF. DR. JOAQUIM MIRANDA MALOA

2021

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Conteúdo
1.Introdução a geografia da Indústria ........................................................................3
2.Origem e evolução da Indústria................................................................................4
3. Características da evolução Industrial...................................................................14
4.Os fundamentos teóricos relativos à indústria face ao desenvolvimento da
Agricultura..................................................................................................................44
5.As relações agricultura-indústria e a formação de complexos
agroindustriais............................................................................................................56
6. Indústria, transporte e os problemas ambientais no Mundo e em
Moçambique..............................................................................................................60
Referências Bibliográficas..........................................................................................64

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1. INTRODUÇÃO A GEOGRAFIA DA INDÚSTRIA

A geografia da indústria é um ramo derivado da geografia econômica e da geografia


humana que hoje assume um papel central dentro da ciência geográfica. Vale
ressaltar a herança dos pioneiros e os desdobramentos do estudo da geografia da
indústria em sua busca pelos princípios de organização do espaço, pelo estudo dos
fatores de localização, pelo estabelecimento de associações espaciais, pela
preocupação com o dinamismo geográfico da indústria, pela tipologia do espaço
industrial e mais recentemente pelos impactos territoriais e ambientais desse setor
econômico. Embora hoje a geografia da indústria tenha ampliado suas perspectivas,
para a problemática da localização, políticas públicas de ordenamento ambiental e
territorial.

O processo de industrialização do espaço mundial, iniciado em meados do século


XVIII, trouxe grandes alterações para a sociedade, montando toda uma estrutura do
mundo moderno, com a Revolução Industrial que proporcionou grandes
transformações em todo o mundo, alterando o modo de vida das pessoas,
possibilitando a mecanização da agricultura, fazendo crescer as cidades, gerando
processos de urbanização e o estágio de desenvolvimento social, político, econômico,
científico e tecnológico.

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2. ORIGEM E EVOLUÇÃO DA INDÚSTRIA

Nesta lição, vamos definir o conceito de indústria e analisar a evolução desta


actividade desde o Paleolítico até à Revolução Industrial inglesa no séc. XVIII bem
como os factores da Revolução Industrial inglesa.

Objectivos

Ao concluir esta unidade o estudante deve ser capaz de:

 Explicar o processo de evolução da actividade industrial;


 Explicar os determinantes do surgimento da Revolução Industrial na
Inglaterra.
As primeiras transformações de matérias-primas em objectos uteis começou com
a simples operação a partir de uma pedra de forma a que fique com um bico e
assim servir de arma – foi uma operação «industrial»; a fabricação de barro para
modelação, a conservação em salmoura (água salgada) de carne e de peixes, entre
outros – são dos mais antigos vestígios da existência de técnicas de transformação
de matérias-primas.

Toda essa variedade industrial do paleolítico – facas aguçadas para cortar animais
mortos ou ramos duros, raspadores de madeiras ou peles e utensílios pontiagudos
para operações de perfurar e cavar – eram instrumentos de preferência já
especializados.

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Apesar da sua enorme variedade técnica, as industrias líticas (pedra) estão ligadas
aos métodos manuais de percussão, que forma as ferramentas, por intermedio da
separação de pequenos fragmentos de um pedaço de pedra maior, como
consequência de batimentos ou de pressões. Outras criações técnicas
revolucionárias desse período foram a fiação e tecelagem da lã, do linho e do
cânhamo (tecido), a cestaria a moagem e o uso da roda.

Com a descoberta da metalurgia desenvolvem-se as civilizações históricas dessa


época e inicia-se a revolução urbana. As cidades controlam o comércio, as
actividades artesanais, a vida social, politica e religiosa. Esses centros favoreceram
o progresso das técnicas antigas e deram inicio a novas técnicas. Os progressos,
particularmente da metalurgia de ferro, dando origem a objectos de ferro desde
o Egipto à Mesopotâmia (área fluvial entre Tigre-Eufrates).

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Enquanto o resto do mundo ainda lascava e polia pedras, já o Mediterrâneo
Oriental e a Ásia Ocidental possuíam a complicada e poderosa utilização da
fundição e da forja. Assim se desenvolveram as actividades artesanais que
determinaram a organização da distribuição e o uso de um sistema adequado de
transportes.

O milagre grego herdou positivamente as técnicas industriais das civilizações do


Egipto e da Mesopotâmia.A intervenção decisiva do pensamento matemático e
cientifico, entre os factores do progresso industrial deu origem do parafuso que
foi adaptado à porca que se constitui a chamada cavilha de ligação ainda hoje
indispensável a nossa técnica moderna.

Muitas dessas transformações e invenções técnicas dos gregos foram durante


muito tempo ignoradas, apesar das suas prodigiosas antecipações. A insuficiência
geral dos meios de realização técnica, mecânica e dos transportes, constituíam
dificuldades práticas de toda a magia grega e romana, retardando o
desenvolvimento industrial.

A exploração económica das riquezas do império romano incentivou o


desenvolvimento das rotas comerciais marítimas e terrestres. Entre a capital e as
regiões mais ricas do império trocam-se grandes quantidades de metais,
carregamentos de trigo, tecidos finos, tapetes, artigos de luxo e até escravos.

A produção artesanal descentraliza-se no seculo II, em favor das províncias


ocidentais, da Gália, da bacia do Reno e de África. A cerâmica estava já difundida
por todas as províncias devido às exigências domésticas dos colonos e depois das
populações autóctones. A indústria têxtil é mais activa no Oriente (Ásia Menor,
oficinas do Estado do Egipto); as oficinas de metalurgia predomina na Gália como
propriedade dos grandes agricultores locais. As técnicas eram muito fracas dai que
a maior parte das oficinas de categoria de artesãs fecharam com excepção de
algumas olarias que já possuíam uma organização do tipo manufactura.

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A primeira parte desta época foi caracterizada pela pequena industria de
domicilio. Era um trabalho realizado em família e não em oficina comum para
atender um mercado reduzido, numa economia de produção para autoconsumo.
As actividades comerciais e industriais diminuem, a pequena produção contava
com escasso capital, com instrumentos rudimentares e inseria-se numa economia
fechada em que os produtores trocavam os produtos entre si.

Na segunda parte desta mesma época, o grande volume de negócios modificou


profundamente as técnicas de produção. Nasce a indústria do oficio que reunia,
no mesmo espaco, aprendizes, companheiros e mestres. A intervenção de um
capitalista, o mercador das produtos da indústria e fornecedor de matéria-prima,
vai separar definitivamente o trabalho e o capital. Desta forma, o artífices
independentes em operários assalariados.

Dado o grande volume de negócios firmados, modificaram-se as técnicas


industriais, lancando nessa época os fundamentos do capitalismo e que terminou
pelo triunfo do progresso industrial.

A repercussão da expansão colonial foi decisiva no desenvolvimento da economia


europeia. A revolução comercial propiciou a abertura de rotas marítimas para
exploração do comércio oriental e abriu caminho ao aparecimento de uma classe
média enriquecida por esse comércio – a burguesia.

O fluxo de metais preciosos, em toda a Europa, oriundos das colonias americanas,


provocaram um aumento da circulação monetária a um ritmo mais rápido que o
numero de produtos postos à disposição das populações.

A politica mercantilista exigia uma rigorosa intervenção do Estado através de


regulamentos de alfandegas, de navegação e de organização da produção e do
trabalho.

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Até nessa época, a produção artesanal continuava a fazer-se nos moldes da Idade
Média «indústria de domicílio» ou de «oficio», mas, em virtude do comercio
colonial, produziam maior quantidade de produtos devido ao grande numero de
trabalhadores e artífices que reuniam no mesmo espaço.

Das necessidades do aumento da produção, resultaram as primeiras


manufacturas que pelo seu volume de material de trabalho e pessoal empregue,
nasciam verdadeiras fábricas graças ao financiamento e aos privilégios concedidos
pela administração real.

As actividades mineiras foram intensamente reatadas, como é o caso das minas


alemãs que atingiram um elevado nível técnico. É a partir dessa altura que se
anuncia um progresso técnico em estreita ligação com as descobertas cientificas.
O espirito prático é representado pela ciência, que transformou por completo as
condições da actividade industrial.

O progresso técnico foi muito sensível na fiação e tecelagem, que se manifestou


pela substituição de trabalho humano pelo mecânico. A este progresso juntarem-
se outros melhoramentos como a lançadeira volante, a máquina de cardar movida
a animais e o primeira tear mecânico. Esta técnica moderna foi primeiramente de
operários mais instruídos que graças aos seus esforços e à acção do poder real que
se generalizou o uso de maquinas de tecer.
Um dos aspectos da Idade Moderna foi o progresso cientifico que impulsionou o
desenvolvimento tecnológico e a aplicação das invenções aos processos
produtivos – à agricultura, ao comercio, aos transportes e à indústria – preparando
desta forma, a revolução industrial.

A Revolução Industrial é um marco na indústria da evolução da humanidade. Em


meados do século XVIII dá-se uma alteração sem precedentes nos campos da
tecnologia e da técnica que se viria a repercutir em toda a vida económica e social

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dos países onde essa eclosão teve lugar: primeiro na Inglaterra, depois na França
e Bélgica.

Figura 1 - Interior de uma fábrica durante a Revolução Industrial (Fonte: http://www.coljxxiii apud Santos e
Araújo, 2016).

2.1. Os factores favoráveis ao surgimento da Revolução Industrial na Inglaterra

A eclosão da Revolução Industrial em meados do século XVIII, na Inglaterra, foi


favorecida por um conjunto de factores de entre os quais se destacam:

 Acumulação de Capitais

Como isto aconteceu? Desde o século XVII que a Inglaterra se tinha virado com
insistência para o comércio externo, particularmente com as suas numerosas
colónias, elevando-a à categoria de maior potência colonial e comercial do mundo.
Surge e expande-se uma nova classe de burgueses endinheirados ávidos de
investir em algo novo - a indústria.

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 Espírito de Iniciativa

Possuir capitais abundantes e em excesso não bastava se o inglês não tivesse um


espírito de aventura e de risco; foi exactamente o que aconteceu com esse espírito
de iniciativa que os levou ao topo da expansão industrial do século XIX.

 Detentora de Vastos Mercados

Um dos principais objectivos de quem produz é vender e esse incentivo será tanto
maior quanto maior for a potencial clientela. Apesar do mercado interno inglês
ser vasto, o que lhe garantia a expansão industrial era o mercado externo, com
destaque para as colónias, que os ingleses sempre souberam aproveitar as
colónias, que serve de estímulo à expansão industrial inglesa; levam-se os tecidos
confeccionados e traz-se o algodão, principal matéria-prima têxtil.

 Riqueza do Subsolo Inglês

Os ingleses tinham tudo. A principal fonte de energia – o carvão-era abundante no


seu subsolo; matéria- prima essencial à sua siderurgia - ferro-abundava, de igual
modo. Carvão e ferro proporcionaram a expansão industrial siderúrgica, base das
indústrias que se seguiram.

 Situação Geográfica da Grã-Bretanha

Os seus numerosos portos marítimos e a proximidade do continente davam-lhe


todas as facilidades de intercâmbio, não só internamente, mas principalmente
com o exterior.

 As grandes Invenções Técnicas e Tecnológicas

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A um ritmo verdadeiramente espantoso sucedem-se novas máquinas, cada vez
mais aperfeiçoadas, com destaque para o campo têxtil com máquinas de fiar, tecer
e cardar; a máquina a vapor, que veio revolucionar toda a foça de trabalho, não
só na indústria mas nos transportes marítimos e terrestres, com realce para o
caminho-de-ferro, tornando todos os transportes mais rápidos e mais baratos;
novos métodos de fabrico. Para além destes factores contribuíram para a
Revolução Industrial, a elevada frota mercante e a revolução agrícola.

De uma forma resumida podemos dizer que os factores que permitiram a


Inglaterra ser pioneira no processo da Revolução Industrial foram:

 A descoberta do carvão mineral e a invenção da máquina a vapor de James


Watt;
 Abundância de mão-de-obra nos grandes centros urbanos;
 Abundância da matéria-prima;
 A concentração da população nos centros urbanos;
 O desenvolvimento e a facilidade de transportes devido a existência de
cursos de água e bons portos marítimos e fluviais;
 A revolução agrícola;
 Disponibilidade de capitais por parte de uma burguesia empreendedora.

Sendo assim, com as condições favoráveis a Inglaterra passou a comandar as


modificações daquele momento, transformando-se na principal potência
econômica. Porém, vale ressaltar, que a Revolução, também, trouxe grandes
consequências para a sociedade que tem reflexos até os dias atuais. Portanto, foi
também com a Revolução que aconteceu:

- fim do Feudalismo e recrudescimento do sistema capitalista;


- fortalecimento da divisão de classes sociais: burguesia e proletariado;
- construção dos Estados-Nações;

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- urbanização e florescimento das cidades;
- mecanização da agricultura com a expulsão do homem do campo para a
cidade.

Com a invenção da máquina a vapor, em 1769, na Inglaterra, a produção industrial


teve grande impulso. Nas fábricas, os trabalhadores eram obrigados a trabalhar
no ritmo definido pelas máquinas. Outra parte da mão de obra disponível foi
requisitada para o trabalho nas minas de carvão. Ao mesmo tempo, ocorria a
divisão internacional do trabalho entre os países industriais e as regiões
fornecedoras de produtos agrícolas e minerais.

Com o capitalismo industrial, a população urbana passou a crescer mais do que a


rural. A revolução industrial provocou, ainda, uma revolução agrícola, com a
produção de instrumentos para o trabalho na terra e com a modificação do
sistema de propriedade e de organização de trabalho no campo. O trabalho
agrário, cada vez mais especializado e menos de subsistência, obrigou o agricultor
a complementar as suas necessidades, comprando outros produtos no mercado
urbano.

Assim, afirma Oliveira (1987), a agricultura foi subordinada nas duas pontas do
processo produtivo: na do consumo produtivo, isto é, pelos altos preços que teve
que pagar pelos produtos industrializados (máquinas e insumos produzidos pelas
indústrias) que praticamente obrigava a comprar para poder desenvolver suas
atividades agrícolas e aumentar a produção, e na circulação, onde é obrigada a
vender a sua produção por preços baixos ao comerciante intermediário e a
indústria.

No processo de desenvolvimento industrial capitalista e do crescimento das


populações das cidades, foi necessária a adoção de um sistema mais adequado ao
uso do solo, como, por exemplo, a rotação de culturas que abolia a técnica milenar
do pousio (descanso). O novo sistema de rotação possibilitava a produção de todo

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o solo praticamente o ano inteiro, aumentando a produção agrícola (OLIVEIRA,
1987).

A dinamização da economia e a intensificação dos intercâmbios comerciais


exigiram a ampliação das vias de comunicação que, ao convergirem para as
cidades, estimularam ainda mais o seu crescimento. Um novo meio de transporte
revolucionou os meios de circulação: o ferroviário. Isso possibilitou o
aparecimento de novas regiões industriais na Europa, e cada vez mais novos
produtos foram colocados no mercado.

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3. CARACTERÍSTICAS DA EVOLUÇÃO INDUSTRIAL

Na lição anterior compreendemos como é que a actividade industrial era


desenvolvida desde a época Paleolítica até a fase da Revolução Industrial inglesa
bem como os factores que favoreceram tal acontecimento importante para a
história da Humanidade. Nesta lição vamos analisar as fases da Revolução
Industrial desde a segunda metade do século XVIII até a fase actual.

Ao concluir esta unidade temática o estudante será capaz de:

Objectivos

 Definir o que é indústria;


 Caracterizar as fases da Revolução Industrial.

3.1. O que entende por indústria?

O conceito de indústria pode se definido de várias formas. Dai que


etimologicamente a industria significa actividade. A partir desse conceito pode-se
incluir, toda e qualquer actividade simples de produzir objectos (industrias do
paleolítico), aos processos mais elaborados de transformar matérias-primas e
meso a actividades que não está directamente ligada a produção, é o caso da
industria hoteleira, de transportes e comercial.

A indústria é o conjunto de actividades económicas que transformam a matéria-


prima bruta e os produtos semi-elaborados em produtos intermédios e/ou finais
através de um certo trabalho ou por um meio mecânico e produção alargada.

Dai que, o conceito de industria abrange tudo aquilo que compreende actividade,
trabalho e produção.

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3.2. As fases da Revolução Industrial

A Revolução Industrial teve palco na Inglaterra, na segunda metade do século


XVIII, estendendo-se a outros países da Europa (França, Bélgica, Alemanha). No
século XIX iniciou-se na indústria têxtil de algodão, o processo de mecanização,
com a invenção da máquina de fiar e de tecer, tendo seguidamente atingindo o
sector metalúrgico. O passo gigantesco foi com a aplicação da máquina a vapor
que permitiu maior produção e produtividade e o desenvolvimento dos
transportes.

A Inglaterra foi o berço da primeira Revolução industrial e isso pode ser explicado
por alguns fatores ou acontecimentos: a) acúmulo de capitais proveniente do
mercantilismo e do colonialismo (séculos XVI ao XVIII); b) O Estado sob o controle
da burguesia desde a Revolução Gloriosa (1688), que implantou a primeira monar-
quia parlamentar; c) possuidora de reservas de carvão mineral e minério de ferro;
d) materiais-primas provenientes de suas colônias; d) excesso de mão de obra
causado pelo êxodo rural (Almeida; Rigolin, 2002).

A evolução industrial conheceu ritmos e fases diferentes, não só nos países onde
ia tendo lugar, como no interior de cada país. Desde meados do século XVIII até
aos nossos dias a indústria evolui bastante, senão vejamos:

1ª Fase - A força mecânica (Segunda metade do século XVIII a primeira metade


do século XIX)

Da manufactura passa-se à maquinofactura, sendo a indústria têxtil a primeira a


beneficiar dessa mudança, graças aos novos inventos fornecidos por:

 John Kay – (1733) nova máquina de tecelagem;


 James Hargreaves (1765) – nova máquina de fiar;
 R. Arkwright (1768) – nova máquina de fiar mais rápida;
 E. Cartwright (1784) – primeiro tear mecânico;

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 James Watt (1785) – máquina a vapor.

Foi a máquina a vapor o invento mais espectacular desta primeira fase da


Revolução Industrial. O carvão e a hulha serão a solução para esta nova máquina,
bem como para o aparecimento de uma nova indústria: a siderúrgica. Estas novas
fontes de energia irão ser as grandes responsáveis pelo aparecimento dos
primeiros complexos fabris junto à sua exploração, pois o seu transporte, além de
pesado, é caro.

As indústrias que mais se desenvolveram nesta fase foram as indústrias têxteis e


siderúrgicas. A máquina a vapor é adaptada em 1815 à primeira locomotiva e
assim nasce o transporte ferroviário, que irá resolver o grande problema de
transportes e das comunicações internas, tornando as populações mais próximas
e despertando mais intensamente as trocas.

2ª Fase- A era da revolução energética (Segunda metade do século XIX)

A utilização do carvão só trazia inconvenientes; de exploração e de transporte


difíceis. Havia que arranjar alternativas, não só funcionais mas que oferecessem
maiores rendimentos. Vão surgir o petróleo e a electricidade. Nos princípios do
século XX, com o uso acelerado do automóvel e de outros meios de transporte
mais rápidos como o avião, concluiu-se que esta nova fonte de energia – o
petróleo – podia substituir o já ultrapassado carvão; com ele assiste-se a uma
autêntica revolução nos transportes e na utilização de novas máquinas agrícolas,
como o tractor.

A grande máquina industrial começa a utilizar o petróleo como energia mas


depressa se conclui que o petróleo também é uma poderosa fonte de matéria-
prima para obtenção de uma gama enorme de produtos químicos sintéticos,
desde os plásticos aos têxteis, dos betumes aos lubrificantes, de variados produtos
químicos ao gás doméstico.

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A electricidade, já conhecida desde 1822 por faraday com a descoberta do
dínamo, começa a ser utilizada por volta de 1860 como força propulsora da
máquina. Antes do final do século a electricidade já é usada como luz e
transportada a distância a partir de centrais geradoras, onde faz mover novas
máquinas que substituem a velha máquina a vapor.

O uso da electricidade altera profundamente a vida industrial. A sua localização


deixa de depender da fonte de energia; torna-se mais rentável e mais limpa. Com
ela novas indústrias surgem, como por exemplo as químicas, as electrodomésticas,
o cinema, as indústrias electrolíticas, metalúrgicas e tantas outras. Dá-se uma
aceleração de tal ordem na produção industrial que se chega à sobreprodução, de
custos reduzidos, pelo que todos começam a ter capacidade de aquisição de bens
industriais, mercê dessa produção em massa. Com o uso da electricidade a difusão
da indústria torna-se mais rápida pelos principais países de todos os continentes.

3ª Fase – A Era da Energia Nuclear, da Electrónica, da Automatização e dos


Computadores

A terceira fase da Revolução Industrial iniciou-se a partir da Segunda Guerra


Mundial e é uma consequência dos grandes inventos tecnológicos e científicos do
século XX. É a fase da Cibernética que coincide com a conquista do Espaço pelos
satélites artificiais. O trabalho do homem na máquina e na indústria começa a ser
substituído pelo computador e pelo «robot» Onde outrora eram necessárias
centenas de operários, agora basta um para carregar no botão.

A energia nuclear, aceite sem reservas por muitos, mas também combatida por
tantos outros, começa a ser posta em causa e obriga o homem a dar-lhe
alternativas. Estamos na era das «energias renováveis»: o sol, o vento, a energia
geotérmica e das marés.

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A intensificação do uso do avião para fins comerciais e deslocamento de pessoas,
a modernização dos transportes terrestres, ferroviários e marítimo o
desenvolvimento das telecomunicações, o desenvolvimento da indústria
farmacêutica, aeroespacial, constituem outras características importantes da
fase.

Essa Revolução tem como característica básica a utilização das novas tecnologias,
o advento da eletrônica e a modernização nos transportes e telecomunicações,
que fazem o mundo parecer menor a cada dia que passa. Novas profissões vão
surgindo, e novas funções aparecem no lugar das funções tradicionais, o setor
terciário da economia se transforma no setor que mais atrai a população
economicamente ativa, inaugurando inclusive um novo momento: se nas
revoluções anteriores falava-se em uma sociedade industrial, o termo utilizado
para designar o atual momento é a sociedade pós-industrial.

Desde a origem a indústria tem se organizado de diversos modos, seja por meio
das oficinas artesanais, em sua fase inicial, seja com as indústrias domésticas
controladas por comerciantes que forneciam materiais a trabalhadores agrícolas,
os quais, assim, obtinham um complemento de sua renda.

Entretanto, a partir da Revolução Industrial a indústria passou a buscar métodos


ou processos que acelerassem a produção e com isso gerasse mais lucro. O
primeiro desses processos surge com o engenheiro F. Taylor, e em sua home-
nagem recebe o nome de Taylorismo. Consistia na exploração máxima do
trabalhador, fazendo-o produzir mais em menos tempo e para isso contava com
um rígido controle sobre o operário, e com a divisão de tarefas.

Apesar da divisão do trabalho intelectual e o trabalho manual já ser uma realidade


dentro da atividade industrial, desde a passagem da manufatura para a indústria
moderna, é com o processo Taylorista que a divisão se acentua, fazendo com que
o trabalho passe a depender apenas das políticas gerenciais e não da habilidade

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do trabalhador. Desse modo, o poder do capital apropria-se do saber operário
para elaborar o método de trabalho que lhe parece mais rentável.

O objetivo era sistematizar a produção, aumentar a produtividade, economizar


tempo e suprimir gastos desnecessários no interior do processo produtivo. Por
volta dos anos 1920, Henry Ford adota os princípios idealizados por Taylor em sua
fábrica e inaugura um novo processo produtivo: o Fordismo. Esse processo:

Ao contrário do Taylorismo, que se preocupava


mais com a máxima utilização do tempo de
trabalho do operário, o fordismo se preocupa
também com o tempo livre e, principalmente, com
o consumo. Não se trata apenas de trabalhar mais
intensamente, como no taylorismo, e sim de
trabalhar menos, com maior especialização e
produtividade, e consumir mais. A generalização
do fordismo, dessa forma, foi um dos fatores que
ajudaram na melhoria dos padrões de vida dos
países desenvolvidos no século XX. (VESENTINI,
2004, p. 126).

Ford passa a ser a partir de então o idealizador do sistema de produção de massa,


em que a diminuição do tempo gasto pelo trabalhador é fundamental no aumento
da produtividade, para isso reduziu a movimentação dos operários em busca das
ferramentas e peças para aumentar a velocidade da produção de maneira
sistematizada, padronizada, retirando essa “tarefa” das mãos do operário. A partir
desse momento estava inaugurada a “esteira de produção”, onde os veículos
eram transportados por toda a fábrica, de maneira contínua e ordenada, indo de
encontro ao trabalhador. As tarefas tornaram-se simples, e os operários
facilmente substituídos.

O fordismo chega a seu auge nas décadas de 1950 e 1960, quando a indústria
automobilística toma um impulso grandioso com a expansão para o mundo subde-
senvolvido, mas a própria expansão causou sua decadência.

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O sucesso do modelo produtivo se espalhou pelo mundo, fazendo com que nações
como a Alemanha e o Japão começassem a disputar com os EUA a fatia da
economia mundial, além disso, o ideal de produção em massa ao ser ampliado
para consumo em massa proporcionou aos trabalhadores ganhos de
produtividade e com isso melhores salários, além de uma maior participação dos
sindicatos na disputa entra capital e trabalho.

Nos anos 1970 o fordismo começa então a dar sinais de enfraquecimento, o


estado do bem estar social esgota-se e um novo processo produtivo surge para
revigorar o modo de produção capitalista: O Toyotismo ou o pós-fordismo.
Inaugurado na fábrica de automóveis Toyota, o Toyotismo surge como o processo
que adota novas concepções e novos paradigmas na sociedade, que não ficarão
restritos à fábrica, eles extrapolam os limites da atividade industrial e de forma
avassaladora se espalha pelos mais diversos segmentos sociais.

No lugar da produção em massa preconizado por Taylor e Ford, o toyotismo exige


uma produção enxuta ou flexível, no lugar do consumo em massa do fordismo o
pós-fordismo exige o just-in-time.

Para Harvey (1989) as economias de escala baseadas na produção fordista de


massa estão sendo substituídas por uma crescente capacidade de manufaturas de
uma variedade de bens e preços baixos em pequenos lotes. Chama a atenção de
que as economias de escopo têm derrotado as economias de escala. A produção
em pequenos lotes e a subcontratação vem superando a rigidez do sistema
fordista de produção atendendo uma gama bem mais ampla de necessidade do
mercado.

Segundo o autor, o tempo de giro – que sempre é uma chave da lucratividade


capitalista – foi reduzido pelo uso de novas tecnologias produtivas e de novas
formas de organização, por exemplo, o gerenciamento de estoques just-in-time,
que controla a quantidade de material necessário para manter a produção fluindo.

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A meia vida de um produto fordista típico, por exemplo, era de cinco a sete anos,
mas a acumulação flexível diminuiu isso em mais da metade em setores – como o
têxtil (Harvey, 1989).

A redução do tempo de giro da produção com a


redução do tempo de vida do produto leva o
produto a ficar mais “descartável”. Tal fato poderá
levar ao aumento da exploração dos recursos
naturais. Pois, [...] em seu sentido e tendências
mais gerais, o modo de produção capitalista
converteu-se em inimigo da durabilidade dos
produtos; ele deve inclusive desencorajar e
mesmo inviabilizar as práticas produtivas
orientadas para a durabilidade, o que leva a
subverter deliberadamente sua qualidade (idem:
548-9). A "qualidade total" torna-se, ela também,
a negação da durabilidade das mercadorias.
Quanto mais ‘qualidade’ as mercadorias
aparentam (e aqui a aparência faz a diferença),
menor tempo de duração elas devem
efetivamente ter. Desperdício e destrutividade
acabam sendo os traços determinantes. [...]. Não
falamos aqui somente dos fast foods (do qual o Mc
Donalds é exemplar), que despejam toneladas de
descartáveis no lixo, após um lanche produzido
sob o ritmo seriado e fordizado, de qualidade mas
que sofrível. Poderíamos lembrar o tempo médio
de vida útil estimada para os automóveis
modernos e mundiais, cuja durabilidade é cada vez
mais reduzida. (ANTUNES, 1999, p. 51).

Assim, no capitalismo, pode-se dizer que a indústria tem um papel fundamental


na organização do espaço, ou naquilo que os franceses chamam de aménagement
du territoire. E isso não é um fato novo, desde a Revolução no século XVIII que o
espaço geográfico tem sua organização intrinsecamente ligada à indústria.

De fato, as transformações que o capitalismo promoveu em diversas sociedades


nacionais contribuíram para que essa organização do espaço se desencadeasse
em diversas nações, mesmo naquelas onde a industrialização não foi
representativa, isto é, em diversas áreas do mundo subdesenvolvido.

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Sposito (1998, p. 69-70), esclarece que:

[...] há uma articulação desenvolvimento-


subdesenvolvimento, e não apenas seqüências ou
fases de um desenvolvimento único, engendradas
pelo capitalismo avançado, e concretizadas em
diferentes escalas do território (partindo da
cidade, passando pela região e atingindo o nível
nacional). A evidência da articulação entre as
economias nacionais sob o capitalismo, e de sua
integração numa economia global é o fato de que
apesar de haver um
desenvolvimento/industrialização a nível mundial,
ele seja diferenciado, embora combinado. Nesta
articulação entre países “desenvolvidos” e
“subdesenvolvidos” está a base o
desenvolvimento do capitalismo monopolista, e
neste movimento os “desenvolvidos” subordinam
os “subdesenvolvidos”, estabelecendo o que
Castells denomina desenvolvimento dependente.

Pois, a partir da década de 1950 grandes empresas monopolistas de países de-


senvolvidos, instalaram filiais em países subdesenvolvidos, onde passaram a
produzir um elenco cada vez maior de produtos. Nesse contexto, opera-se, assim,
uma profunda alteração na divisão internacional do trabalho, porquanto muitos
países deixam de ser apenas fornecedores de alimentos e matérias-primas para o
mercado internacional para se tornarem produtores e até exportadores de
produtos industrializados. Essas empresas, conhecidas como multinacionais,
tinham como principais objetivos a busca de matérias-primas, mão de obra barata
e mercado consumidor nos países do Terceiro Mundo.

Os governos dos países subdesenvolvidos procuravam apresentar um conjunto de


condições favoráveis para a instalação dessas empresas, além dos incentivos
fiscais em seus países. Muitos serão os economistas, geógrafos, cartógrafos e
demais profissionais que irão trabalhar para órgãos de governos no planejamento
da região, do território nacional, apresentando as condições favoráveis para a
alocação das filiais das empresas multinacionais.

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A generalização das políticas de planejamento abria novos caminhos de trabalho
para os cientistas sociais, que eram utilizados no levantamento do diagnóstico, e
na elaboração do prognóstico, que indicavam os caminhos a serem seguidos para
que se atingissem os fins almejados (Andrade, 1998).

As atividades industriais já não se restringiam aos países europeus, Estados Unidos


e Japão, mas já se dispersavam pelo mundo, atuando, também, nos países sub-
desenvolvidos. Não eram somente pequenas empresas, mas também, grandes
aglomerados industriais em busca de novas áreas para atuação, em busca, por
exemplo, de fontes de energia, como: o petróleo, o ouro, o minério de ferro, a
prata etc. Mas, para a atuação dessas empresas era necessário ter um diagnóstico
e um prognóstico dos territórios para a atuação.

As cidades, com o avanço do capitalismo, tornam-se mais complexas. Há um


grande processo de aglomeração humano e de atividades públicas, comerciais e
industriais. Muitas dessas cidades tomam a conformação de metrópoles, outras
ultrapassam seus limites territoriais conformando-se em megalópoles, processos
de conurbações. Após a Segunda Guerra Mundial, muitas cidades dos países
desenvolvidos foram destruídas e tiveram que ser reconstruídas sob o viés do
planejamento. Elas tinham que atender, também, às populações decorrentes do
êxodo rural. Já nos países subdesenvolvidos o planejamento das cidades foi mais
crítico, criando espaços planejados, mas, em decorrência do acelerado êxodo
rural, muitas cidades tiveram seu crescimento desordenado, com problemas ou
falta de planejamento. Muitos foram os técnicos e cientista, dentre eles, os
geógrafos, que foram trabalhar em órgãos dos governos, no planejamento das
cidades.

As transformações que ocorriam no campo e nas cidades exigiam um sistema de


transporte e comunicação que viesse a facilitar a locomoção de pessoas,
mercadorias e informações, entre os lugares. Assim, ocorreram investimentos

23
para a construção de ferrovias, rodovias, portos, aeroportos etc. Investimentos na
produção de navio, automóvel, avião etc. Ocorreu a difusão da energia elétrica,
do rádio, da televisão etc. Com o desenvolvimento dos meios de transporte e de
comunicações, as distâncias são “encurtadas” e os lugares se “aproximam”.

A expulsão do homem do campo com sua migração para a cidade; a subordinação


da agricultura à indústria e a formação de paisagens homogênea, como os
cinturões do café, cana-de-açúcar, trigo, milho, algodão, era uma realidade que se
espalhava pelo mundo e veio para ficar.

3.3. Classificação das indústrias

As indústrias podem ser classificadas segundo o peso e o valor dos produtos onde
temos:

 Indústria extractiva é uma actividade que se dedica a exploração de


recursos minerais, energéticos e florestais. Por exemplo: O ouro,
petróleo, gás natural, ferro, madeira etc.

 Indústria transformadora é aquela que processa a matéria-prima bruta


ou semi-elaborada em produtos intermédios ou finais. Por exemplo:
Cimento, vestuário, calçados, bebidas, etc.

 Indústria ligeira é aquela que transforma a matéria-prima em produtos


de bens de uso e consumo directo da população ou seja, tem produto final
de grande valor em relação ao peso. Por exemplo: vestuário, calçado,
alimentos, etc.

 Indústria pesada é aquela que transforma a matéria-prima bruta


recorrendo ao uso de metais como ferro para o fabrico de equipamentos

24
que não são de uso directo da população ou seja trabalha grandes
quantidades de matéria-prima que tem pequeno valor em relação ao
peso. Por exemplo: O cimento, material ferroviário, siderúrgico,
metalúrgico, petroquímica, etc.

3.3. As características da indústria pesada (base e equipamento)

 Consumo de muita energia;


 Ocupa instalações volumosas;
 Elevados investimentos e uso permanente de metais.

3.4. Factores socioeconómicos para localização das indústrias

Os fatores econômicos considerados pelas indústrias no momento de se definir a


melhor localização:

a) custo e eficiência dos transportes - o custo de transporte de matéria-prima e dos


produtos acabados deve ser levado em conta. Neste caso, a distância é um fator
determinante em relação à localização, em termos de custos e de tempo gastos.
b) áreas de mercados - o mercado influi diretamente na escolha locacional tendo em
vista dois aspectos principais: sua localização e sua dimensão. A localização mais
próxima do mercado consumidor conduz a uma maior rentabilidade do
empreendimento, primeiramente pelos reflexos nos custos de transportes. Outro
fator que deve ser considerado é a existência ou não de competição em determinado
mercado. A dimensão também é fundamental, pois implica justamente na questão da
obtenção de receitas por parte da empresa.

c) disponibilidade e custos da mão-de-obra - a existência da mão-de-obra também é


um fator importante na escolha locacional. No que se refere aos custos, a localização
próxima a grandes centros urbanos determina salários mais elevados relativamente a
áreas mais afastadas. Deve-se verificar também a existência de mão-de-obra

25
qualificada, dada as especificidades de cada negócio. Normalmente regiões com
abundância de mão-de-obra permitem a organização contratar este fator a salários
relativamente menores do que regiões com escassez de mão-de-obra. Ou seja, a mão-
de-obra também tem que ser avaliada em; termos de quantidade e qualidade.

d) custo da terra - no caso das plantas industriais, que necessitam de grandes áreas
para sua implantação, o custo da terra pode consistir em um fator decisivo nos
cálculos de localização.

e) disponibilidade de energia e água - a existência destes itens em suas diversas


formas ou mesmo a potencialidade de recursos naturais a serem explorados, bem
como seu custo unitário devem ser levados em consideração também.

f) suprimento de matérias-primas - as condições de utilização em grande escala ou o


caráter perecível ou de fragilidade de certas matérias-primas constituem fatores que
não podem ser esquecidos na decisão locacional.

g) eliminação de resíduos - deve-se ficar atento para questões de legislação ambiental,


principalmente no caso daqueles negócios que necessitam realizar a eliminação de
resíduos sólidos, gasosos ou ainda líquidos no meio ambiente.

h) dispositivos fiscais e financeiros – deve-se ficar atento também para os possíveis


incentivos fiscais (isenção de impostos e taxas). Este é um fator que estimula muito as
empresas, pois implica justamente em uma redução considerável de tributos, o que
implica inclusive na possibilidade de praticar preços mais baixos, e, portanto, na
própria competitividade da empresa no mercado.

i) Elementos intangíveis - estes elementos intangíveis são aqueles de caráter


subjetivo, que influenciam os processos produtivos ou de distribuição do produto,
como, por exemplo, os hábitos tradicionais de uma determinada região, mas cuja
mensuração é mais difícil de ser realizada.

26
De uma forma resumida podemos afirmar que os fatores econômicos considerados
pelas indústrias no momento de se definir a melhor localização são:

 Disponibilidade financeira;
 Disponibilidade de mercado consumidor;
 Disponibilidade de mão-de-obra em quantidade e em qualidade;
 Disponibilidade de transportes e comunicações;
 Disponibilidade de tecnologia e
 Conhecimentos científicos etc.

3.5. Factores políticos para localização das indústrias

 Boa governação;
 Estabilidade ou instabilidade política(s) e
 Políticas governamentais.

3.6. A distribuição mundial das indústrias

A distribuição das indústrias a nível mundial é desigual, por isso existem os países
industrializados e menos desenvolvidos. Desde o século XIX até meados de século
XX, a produção industrial concentrava-se nos países capitalistas (América do Norte,
Europa e Japão). Actualmente, a situação é outra devido o surgimento de novos
países industrializados depois da II guerra mundial. No entanto, a distribuição e a
localização das indústrias dependem de cinco (5) factores: Capital financeiro,
tecnologia, mercado, mão-de-obra e custos de produção.

3.7. A distribuição das indústrias na América do Norte

A América do Norte também é conhecida por América Saxónica e é constituída


pelos EUA e Canadá. Está região está provida de vários recursos naturais de maior
valor económico (petróleo, gás natural, carvão mineral, ferro, etc.), rica em matéria-

27
prima, com uma mão-de-obra qualificada e munida de tecnologia de ponta para
diferentes ramos industriais, tais como: as indústrias siderúrgica, metalúrgica,
alimentar, electromecânica, petroquímica, militar, telecomunicação via satélite,
investigação entre outras. A paisagem industrial na América do Norte localiza-se em
Detroit, Los Angels e na região dos Grandes lagos partilhado pelos EUA e Canadá;
nas cidades de Chicago, Nova Iorque e Boston (EUA) e em Toronto e Montreal
(Canadá) devido a facilidade dos transportes para o resto do mundo.

3.8. A Distribuição das indústrias na América Latina

Esta região é constituída por países da América Central e do Sul, antigas colónias
portuguesa, francesas e espanholas. Os países mais industrializados são Brasil,
México e Argentina. Os restantes países dependem do sector primário (agricultura
e pecuária), a Venezuela é o maior produtor e exportador do petróleo.

3.9. Distribuição das indústrias na Europa

A Europa ocidental está mais desenvolvida do que a Europa de Leste, antigo bloco
socialista. Os países mais industrializados são: A Alemanha, Inglaterra, França, Itália
(Norte) e Espanha). Estes países, ainda são ricos em recursos naturais, matéria-
prima e fontes de energia, e estão providos de mão-de-obra qualificada, tecnologia
de ponta, infra-estruturas para diferentes ramos de produção industrial.

3.10. A distribuição das indústrias na Ásia e Oceânia

O Japão e a China são os maiores gigantes asiáticos. Estes dois países tiveram um
crescimento muito acelerado no mundo, depois da segunda guerra mundial. Na
mesma região, Ásia Oriental, há indústrias emergentes, mais conhecidos por
dragões asiáticos ou quatro tigres asiáticos (Taiwan, Coreia do Sul, Hong Kong e
Singapura). Estes países tiveram um rápido crescimento entre as décadas de 1960
e 1990, graças a transferência de tecnologia e alguns sectores de produção do
Japão, EUA e alguns países da Europa Ocidental. Na Oceânia (Austrália e Nova

28
Zelândia) as grandes indústrias localizam-se ao longo do litoral das cidades de
Sidney e Camberra.

3.11. A distribuição das indústrias em África

O continente africano faz parte dos 47 países mais pobres do mundo, sobretudo a
África Negra. A sua economia depende de algumas multinacionais e transnacionais.
O continente africano, durante muitos séculos foi e continua sendo fonte da
matéria-prima para os países mais industrializados. Os maiores produtores dos
recursos naturais (petróleo e gás natural) são: Nigéria, Argélia, Angola, Líbia,
Camarões e num futuro próximo Moçambique. A África do Sul é o maior produtor
e exportador de recursos valiosos como o ouro, prata, diamante e platina. Os países
mais desenvolvidos (PD’s) apresentam maiores concentrações da paisagem
industrial do que os países em via de desenvolvimento (PVD’s). Agora, identifique
as características que explicam esse contrastes nos dois grupos de países.

3.12. As características dos países desenvolvidos ou industrializados (Países do


Norte)
o Elevada taxa de escolarização, instrução e formação;
o Elevada esperança de vida;
o Elevada taxa de urbanização;
o Elevado nível de tecnologia;
o Predomínio da população velha e
o Predomínio de actividades secundário e terciário.

3.13. As características dos países em via de desenvolvimento (países do Sul)

 Baixo nível de escolarização, instrução e formação;


 Esperança de vida baixa;
 Baixo nível tecnológico;
 Predomínio da população jovem;

29
 Predomínio de actividades de sector primário e
 Elevadas taxas de natalidade e mortalidade.

3.14. Os novos países industrializados (NIP’s)

Na segunda metade do século XX, alguns países em via de desenvolvimento tiveram


um considerável crescimento industrial, graças aos investimentos próprios,
empréstimos bancários e multinacionais. Os factores que explicam esse
crescimento industrial estão relacionados com a crescente concorrência e os
elevados custos da mão-de-obra nos países desenvolvidos, portanto as empresas
transferiram alguns sectores de produção mais necessitados de mão-de-obra para
os países em via de desenvolvimento.

Em consequência desses factores, muitos países iniciaram um rápido processo de


industrialização e passaram a ser designados por NIP – Novos Países
Industrializados. Entre eles, destacam-se a Coreia do Sul, Taiwan, Singapura, a
Malásia, a Tailândia, o México, o Chile, a Argentina e o Brasil.

3.15. As maiores concentrações industriais do Mundo

Os maiores centros industriais mundiais concentram-se em:

 Nas regiões mais desenvolvidas do Mundo (América do


Norte, Europa e Japão);
 Noutros países com grande dimensão territorial como: a
Federação Russa, a China, a Argentina, o Brasil, o México e a
Índia;
 Nos países do Sudeste Asiático (Coreia do Sul, Singapura,
Taiwan, Malásia, etc.);
 No litoral, ou junto a grandes lagos e
 Próximo das principais aglomerações urbanas.

30
3.16. Recursos naturais renováveis e não renováveis

Recurso natural é um bem que o Homem precisa para satisfazer às suas


necessidades. Os maiores produtores de cobre são os EUA, Rússia, Chile, Zâmbia,
Canadá, Peru e Austrália. O bauxite é o mineral produzido em todos os países
tropicais, sendo a Austrália o maior produtor mundial. Os maiores produtores de
estanho são a Bolívia, Malásia, China, Austrália, México e Tailândia. Os maiores
produtores do zinco são o Canadá, EUA, Austrália, Japão, Polónia e México. Nos
minerais mais preciosos como ouro e platina estão a África do Sul, Rússia, EUA e
Canadá. Na produção de prata estão os EUA, Canadá, México e Peru.

3.17. – Os Recursos minerais não metálicos

Quanto aos recursos minerais não metálicos dá-se maior destaque ao diamante
cujos maiores produtores são a África do Sul, Angola, República Democrática do
Congo e Libéria.

3.18. – Os Recursos minerais energéticos

Os maiores produtores de carvão mineral são a Rússia, China, Alemanha, EUA,


Inglaterra e Polónia. O petróleo e os seus derivados são os produtos mais
importantes da actualidade. No entanto os maiores produtores e exportadores são:
A Rússia, EUA, Irão, Arábia Saudita, Venezuela, Kuwait, Iraque, Líbia, Nigéria,
Angola, Síria, Indonésia e outros. Os maiores produtores de gás natural são a
Roménia, Polónia, Irão, Arábia Saudita, Venezuela, Kuwait, Iraque, Líbia, Angola,
Argélia, Síria, recentemente Moçambique.

31
3.19. - A importância económica da indústria

 É uma fonte de emprego para a população;


 É uma fonte de entrada de divisas e capitais;
 Transforma a matéria-prima para a exportação;
 Processa a matéria-prima bruta em produtos intermédios
e/ou finais;
 Produção de bens de uso e de consumo e
 Produção de equipamentos.

3.20. Conceitos e outras Considerações Teóricas sobre Aglomerados Industriais

3.21. Aglomerados (Clusters)

Porter (1999) sintetiza o significado de aglomerado como sendo uma:


“concentração geográfica e setorial de empresas e instituições que em sua
interação geram capacidade de inovação e conhecimento especializado”.

As definições sobre aglomerados, colhidas no relatório da Eurada (1999), são


elucidativas e objetivas: “aglomerados são concentrações geográfica de firmas e
instituições interconectadas em um campo ou setor particular. Os aglomerados
englobam uma coleção de indústrias e outras entidades vitais para a competição”.
Ele inclui, por exemplo, fornecedores de insumos especializados tais como os de
componentes, maquinaria e serviços, além de provedores de infra-estrutura
especializada.

São da mesma lavra anterior as observações que conferem maiores detalhes sobre
os aglomerados industriais: Aglomerados são massas críticas de informações,
qualificações e de relacionamentos e de infra-estrutura num dado setor. Considera,
ainda, que cada país e região desfrutam de condições locais que são propícias para
a competitividade de suas empresas.

32
“O aglomerado-cluster –, também é considerado como uma aglomeração básica de
pequenas e médias empresas, concentradas em áreas geográficas sobre um
determinado setor de atividade, podendo ser composto por fornecedores de
insumos ou provedores de infra-estrutura especializada e vincular-se a políticas
regionais de desenvolvimento.

O relatório da Eurada (1999) frisa, ainda, que “em muitos países, pequenas e médias
empresas estão se aglomerando em locais e regiões e passando a desenvolver uma
diversidade de relações sociais baseadas na complementaridade, interdependência
e na cooperação.

Mitelka e Farinelli (2000) consideraram os aglomerados industriais como sendo a


concentração espacial de empresas e de suas respectivas fornecedoras de insumos
e de serviços industriais, assemelhando-se a um dos conceitos expendidos pela
Eurada (1999), porém esta acrescenta a conjugação de políticas regionais de
desenvolvimento.

Porter (1999, p. 240) observa que: “A teoria dos aglomerados atua como uma ponte
entre a teoria das redes e a competição. O aglomerado é uma forma que se
desenvolve dentro de uma localidade geográfica, na qual a proximidade física de
empresas e instituições, asseguram certas formas de afinidades e aumenta a
frequência e os impactos das interações”.

Neste particular, ele se aproxima das posições de Britto (1999), que assevera que
as redes de empresas (comumente presentes nos aglomerados e muitas vezes
correspondendo a um mesmo fenômeno) são um recorte meso-econômico da
dinâmica industrial.

A teoria dos aglomerados também proporciona um meio de relacionar, de modo


mais estreito, a teoria das redes, do capital social e dos envolvimentos cívicos com

33
a competição entre as empresas e a prosperidade econômica, ampliando o escopo
das aglomerações industriais.

Porter (1999, p. 283) referindo-se à experiência de promoção de aglomerados na


Catalunha, Espanha, utiliza-se do conceito de micro-aglomerados para enquadrar
aglomerados específicos, de definição restrita. Porém, em seguida, frisa que os
aglomerados foram estudados levando-se em conta empresas, fornecedores,
universidades e uma ampla gama de outras partes interessadas, ampliando o
restrito conceito inicial.

Um dos autores que mais se preocupou com a imprecisão conceitual foi Enright
(1996) apud IDS (2002) que considera essencial o emprego de termos relativamente
amplos, tal qual o de aglomerados (clusters) regionais e enfatiza que todos os
termos {quase todos}aludem à concentração geográfica de firmas e a especialização
produtiva ou a dedicação a determinadas indústrias.

No quadro síntese poder-se-á confirmar esta alusão de Enright (1996) e ampliá-la,


porém ela é oportuna e demonstra o rigor científico desse especialista. Seus
conceitos são:

 Clusters ou aglomerados industriais: conjunto de indústrias interligadas


através de relações “comprador e fornecedor” e “fornecedor e comprador”,
ou por tecnologia de propriedade comum, compradores comum ou o
mesmo canal de distribuição ou concentração de trabalhadores;

 Clusters ou aglomerados regionais é dentre todas denominações estudadas


a que apresenta a maior amplitude para descrever a aglomeração geográfica
de firmas e têm como pressupostos uma mesma localização geográfica e as
empresas situarem-se próximas umas das outras;

34
 Distritos industriais correspondem à concentração geográfica de firmas
envolvidas em processos de produção interdependentes, frequentemente
pertencentes à mesma indústria ou ao mesmo segmento industrial, as quais
estão envolvidas com a comunidade local e delimitadas pela distância da
viagem diária dos seus trabalhadores;

 Redes de negócios são constituídas por várias firmas que mantém


comunicação e interação, podem ter certo nível de interdependência,
porém não necessitam operar numa mesma indústria ou estar
geograficamente concentradas num mesmo espaço.

Para Enright (1996), a definição de aglomerado regional abriga desde os distritos


industriais de pequenas e médias empresas, até de sistemas de produção dotados
de alta tecnologia, que são baseados em grandes empresas que exercem o papel
central nos eixos (hub) e seus fornecedores locais (constituindo redes verticais) e
ao espraiamento de tecnologias – spinoffs.

Acrescenta, também, outras manifestações enquadráveis em seu amplo conceito


de aglomerados industriais: “canais de produção (Doringer and Terkla (1995);
produção flexível complexa de (Scott and Storper, 1989); innovative milieu (Maillat,
1991).

Enright (1996), como já foi sublinhado, considera que vale a pena distinguir os
principais conceitos usados na literatura especializada e que as diferenças entre os
aglomerados regionais e os distritos industriais (que é uma das vertentes dos
aglomerados regionais) merecem ser realçadas. Destaca que os distritos industriais
exploram um único segmento da indústria, enquanto os aglomerados regionais
abrangem uma maior amplitude de indústria inter-relacionada.

A estratégia baseada nos sistemas de inovação valoriza as inter-relações e as


sinergias entre as partes que formam o todo regional e a local e oferecem uma

35
insuspeita e atraente teoria de organizações que aprendem (learning organization)
e da economia do aprendizado (learning economy), que implica em inovação
competitiva, mudança organizacional e do posicionamento em rede.

A análise destas escolas de pensamento revela o arco de definições sobre


aglomerados industriais, detectando-se, preliminarmente, o enquadramento dos
diversos conceitos anteriores em uma ou outra corrente. Pode-se perceber que os
sistemas regionais e locais de inovação correspondem a uma etapa mais avançada
de organização, nos quais a empresa é o agente final, porém imersa num contexto
social.

Os sistemas produtivos locais têm forte interconexão com o desenvolvimento


endógeno, fundamentando-se em fatores, agentes e competências locais. É mais
harmonioso e sustentável, sob os enfoques econômico-social e ambiental.

Castro (2000) observa que a diferença entre os sistemas produtivos locais e os


clusters (aglomerados) “está na palavra solidariedade” e “os ambientes sociais e
culturais”. Cassiolato e Szapiro, 2002, p. 12) ressaltam que além dos vínculos
consistentes de articulação, os sistemas produtivos locais apresentam: “interação,
cooperação e aprendizagem voltadas à introdução de novos produtos e processos”.

Por envolver os agentes econômicos e sociais, fortalece a importância da sinergia e


por enfatizar a aprendizagem e os avanços tecnológicos, é um conceito atrelado aos
dos sistemas locais de inovação. Casarotto et al. (2002, p. 83) apresentam outro
conceito, o de sistema econômico local, que: “É um sistema microrregional
competitivo, que se relaciona de forma aberta com o mundo e com forte
concentração de interesses sociais”.

3.22. Distritos Industriais

Aqui foi selecionada uma série de definições sobre Distritos Industriais, dentre as
quais a de Melo e Casarotto (2000) que se apoiaram no saber de Rabellotti e Schmitz

36
(1997) e qualificaram tais fenômenos como sendo: “Aglomerações de empresas,
principalmente, de pequeno e médio tamanhos, geograficamente concentradas e
setorialmente especializadas, também conhecidas como concentração geográfica;
um conjunto de relacionamentos horizontais, verticais e diagonais baseados em
intercâmbio de mercado de bens, informações e pessoas e realçam a influência do
entorno sócio-cultural comum, no qual os agentes sentem o que os unem e criam
um código de comportamento, às vezes explícito, mas geralmente implícito”.

Markusen (1996, p. 11-12) embora utilize o conceito de distrito industrial como uma
espécie de guarda-chuva para acobertar diferentes manifestações de aglomeração
de empresas, destaca os Distritos Industriais italianos, nos quais realça: “o elevado
nível de intercâmbio de pessoal entre os atores envolvidos, a cooperação entre os
competidores visando à estabilização dos mercados e a definição de estratégias
coletivas”. Os demais modelos são: “eixo e raio” (liderado por uma ou mais grandes
empresas); “o satélite” liberado por uma grande empresa, normalmente, filial de
multinacional, e os “induzidos”, ou estimulados pela ação governamental.

Há convergências, como no caso da conceituação dos distritos industriais, que


realçam a imersão social e o grande envolvimento de toda a comunidade como
características essenciais.

3.23. Redes de Firmas

A taxonomia dos agrupamentos de indústrias não se esgota no rol de conceitos aqui


apresentados. Há, ainda, uma ampla configuração de redes (network) de
cooperação entre empresas, e que usualmente estão presentes nas aglomerações
industriais e ajudam a qualificar e melhor entender as estruturas e o modus
operandi dos agrupamentos ou aglomerados de empresas.

As redes aqui tratadas correspondem à modalidade de redes interorganizacionais,


com envolvimentos econômicos e sociais e com ampla abrangência quanto aos nós,

37
posições, ligações e fluxos. Salienta-se que as posições exercidas pelas empresas no
interior das redes ou dos aglomerados industriais e as ligações estabelecidas
determinam as peculiaridades e as dimensões da divisão do trabalho.

3.24. Problemas de localização Industrial

A localização industrial pode ser entendida a partir de três momentos básicos que
correspondem, grosso modo, aos três paradigmas da ciência geográfica. No âmbito
da Geografia industrial, esses momentos podem ser sintetizados em três
abordagens que na verdade são os três fios condutores da nossa aula: os fatores
clássicos, a teoria da localização industrial e os sistemas industriais, e as tendências
recentes associadas à alta tecnologia e à desconcentração espacial (Vilar, 2012).

Ao abordar a temática da localização industrial, a geografia tradicional centrou seus


esforços no estudo dos fatores físicas e históricos que geravam pautas de
localizações dispersas num primeiro momento, e posteriormente, concentradas.
Por sua vez, a geografia quantitativa resgata as ideias da economia espacial clássica
e utiliza amplamente os princípios neoclássicos da economia e as teorias de
localização. A preocupação com uma análise geográfica do sistema industrial
também é abordado no segundo momento do desenvolvimento da aula na
tentativa de estabelecer uma visão territorial integrada. Mais recentemente, a
geografia industrial é trabalhada numa perspectiva crítica, associada às inovações
tecnológicas e à configuração de novos espaços industriais.

Até os anos cinquenta do século XX, os geógrafos preocupados com a indústria


buscavam explicações da localização industrial como uma resposta do meio físico e
através da descrição de sua evolução histórica. Os métodos fisionômicos e
historicistas tentavam dar conta do problema da localização industrial que até esse
momento era muito dependente da proximidade das fontes de energia e de
matéria-prima, por isso no século XVIII e XIX muitas indústrias siderúrgicas se

38
situavam próximas as minas de carvão, junto às suas fontes básicas de insumo. Essa
atração combinada de matérias-primas e fontes energéticas viu sua força diminuir
com os avanços técnicos e tecnológicos principalmente no século XX.

Na geografia clássica houve um esforço de reconstituições, às vezes minuciosas,


das tramas territoriais das indústrias e se registrou uma preocupação com os fatores
básicos de localização, mas não uma explicação geral e tampouco uma preocupação
com a construção teórica consistente e universal. Era uma geografia industrial
regional descritiva e excepcionalista no sentido não se dedicar a uma teoria
universal aplicada a qualquer parte do planeta.

Os países industrializados depois da Segunda Guerra Mundial se verifica no âmbito


da ciência geográfica um momento de busca das leis e de regularidades observáveis
no espaço. Essa nova orientação da análise geográfica aplicada à indústria está
voltada para a classificação dos fatores de localização e para o aperfeiçoamento dos
instrumentos de medida utilizados pelos geógrafos. Esse novo momento pode ser
resumido nos seguintes pontos:

a) Construção de modelos e teorias de localização;


b) Consideração dos processos espaciais resultantes da teoria da análise
espacial;
c) Busca de localizações ótimas de um ponto de vista econômico e espacial.

Considerando esse contexto, a distribuição geográfica das atividades econômicas


em geral e da indústria em particular começa a ser relacionada a uma série de
variáveis e de suas combinações, como a fonte de matérias primas, a mão-de-obra,
o mercado, os custos do transporte, a quantidade e qualidade dos inputs, o capital
e a tecnologia. A determinação dos custos de transporte, os impactos dos custos do
trabalho e as forças da aglomeração e a polarização estavam nesse momento entre
as principais preocupações dos geógrafos voltados para o estudo da indústria, da
cidade e do território econômico como um todo.

39
Cabe nesse momento discutir dois princípios básicos de economia urbana que são
fundamentais para entender a lógica espacial da indústria: o princípio da
aglomeração e o da acessibilidade. A aglomeração é resultado de uma característica
fundamental e está na origem da cidade: a vantagem e os ganhos de produtividade
da localização espacialmente concentrada. Por sua vez, a acessibilidade significa a
superação das barreiras impostas pelo espaço ao fluxo de pessoas e mercadorias e
ao intercâmbio de produtos serviços e informações. Além desses princípios, a
interação geográfica, a hierarquia espacial e a competitividade são elementos
chaves para entender a dinâmica da cidade industrial, cada vez mais confusa e de
difícil compreensão.

Essa complexidade crescente vai configurar uma rede de inter-relações e por isso
se pode falar num sistema de localização com fatores diretos ou internos e fatores
indiretos ou externos também chamados de externalidades econômicas. Como o
próprio nome já identifica, os fatores diretos correspondem àqueles que incidem
diretamente no processo produtivo ou na organização espacial da distribuição da
indústria. Entre eles cabe destacar:

 Os fatores de produção (Matérias-prima, energia, mão-de-obra e


tecnologia);
 O capital e a produção propriamente dita;
 O mercado.

Como a própria expressão já indica os fatores indiretos não estão em relação direta
com o processo produtivo, mas aportam economias de escala e de aglomeração
que acabam induzindo a localização industrial.
Os principais fatores indiretos são:

a) A existência de um meio industrial consolidado;


b) Os contatos empresariais;

40
c) As amenidades locais;
d) A política fiscal do Estado;
e) A atitude da população.

A dinâmica temporal do sistema de localização industrial também interessou aos


geógrafos desse segundo momento histórico que aqui estamos analisando. O
modelo de Hamilton (Figura 1) é um belo exemplo de proposta de padrão evolutivo
da estrutura industrial. A figura 1 sugere a evolução da moderna estrutura espacial
da indústria segundo uma sequência de fases a partir da etapa artesanal até a
estrutura atual de fábricas localizadas. Cabe destacar no modelo de Hamilton a
importância dos centros urbanos, os nós do sistema industrial e o significado das
redes de transporte.

Figura 1. Modelo de uma estrutura de localização industrial. (Fonte: Hamilton apud


Vilar, 2012).

Cientistas de outras áreas também contribuíram com essa preocupação com a


volução espacial da atividade industrial, embora o foco das análises fosse o estágio

41
do que na época se denominava de desenvolvimento econômico. É esse o caso do
modelo proposto pelo economista John Friedman.

De indubitável valor pedagógico, o modelo evolutivo de Friedman (Figura 2) indica


a existência de quatro momentos do crescimento industrial. Na primeira fase, a
indústria artesanal estaria localizada em centros locais independentes, com escassa
interconexão, mantendo uma estrutura espacial estável. Na segunda fase se produz
uma mudança e as indústrias passam a se instalar nas áreas de maiores vantagens
locacionais, dando lugar a uma estrutura espacial do tipo centro-periferia com o
crescimento industrial concentrado num único centro. Na terceira etapa, que
corresponderia a uma espécie de momento de transição, iniciasse a
descentralização (efeito spread) industrial para as periferias do sistema territorial e
formam-se novos centros regionais. Por último, na quarta etapa, a descentralização
industrial é contínua integrando os sistemas regionais e verifica-se a revitalização
de centros obsoletos.

Figura 2. As fases de desenvolvimento econômico segundo Friedman. Fase 1.


Estágio pré-industrial; Fase 2. Industrialização inicial; Fase 3. Maturidade industrial;
Fase 4. Difusão do crescimento e integração do sistema regional; C1- Região central
inicial; C2 - Novas regiões centrais; C3 - centro obsoleto revitalizado; p - Regiões
periféricas; a - Centro obsoleto em declínio; b. efeito back wash (efeito negativo do

42
uso dos recursos); s - efeito spread (descentralização industrial). (Fonte: Ledo e
Pérez apud Vilar, 2012).

Simplificadamente, um sistema industrial compreende os seguintes elementos:


unidades de produção, relações funcionais entre essas unidades e suas interações
com o mundo exterior. Os elementos, as inter-relações e as interações do sistema
de localização industrial constituem fatores decisivos na organização dos
assentamentos industriais. Segundo os geógrafos espanhóis Ledo e Villarino Pérez
(1992), o estudo dos assentamentos industriais em diferentes escalas permite
diferenciar basicamente quatro tipos de sistemas territoriais, assim especificados:

a) Os sistemas locais formados por assentamentos industriais individualizados,


de diferentes tamanhos, funções e estrutura;
b) O complexo industrial, considerado como um assentamento fabril
consolidado e integrado. Mais precisamente, para o geógrafo francês
Chardonnet, em uma definição clássica, o complexo industrial é entendido
como “uma pujante concentração de indústrias em restrito espaço
geográfico vinculados por relações de dependência mais ou menos
estreitas” (Manzagol, 1985);
c) Os sistemas industriais regionais, também conhecidos como região
industrial, correspondem a espaços mais amplos territorialmente formados
por combinação de vários tipos de assentamentos industriais;
d) Os sistemas industriais regionais interligados a sistemas territoriais mais
amplos ainda, como os sistemas nacionais, internacionais e globais.

Nos sistemas locais dois critérios são recorrentes entre os geógrafos para classificar
os assentamentos industriais: a localização dispersa e a localização concentrada
(Figura 3). A indústria dispersa foi a primeira manifestação de industrialização
devido a fatores limitantes como a dificuldade de transporte e os limites das
matrizes energéticas.

43
Hoje a dispersão industrial corresponde a uma forma de organização espacial
complementar da concentração e tende a ser resgatada com a valorização do lugar.
Por sua vez, a concentração industrial, forma mais comum dos assentamentos
industriais que respondem pela força das economias de escala e de aglomeração
urbana, pode ser simples, composta ou formar o que o geógrafo francês Jean
Chardonnet definiu como complexos industriais. As concentrações industriais
também podem ser vistas como espontâneas, como os eixos industriais, ou
planejadas como os eixos de desenvolvimento industrial.

44
4. OS FUNDAMENTOS TEÓRICOS RELATIVOS À INDÚSTRIA FACE AO
DESENVOLVIMENTO DA AGRICULTURA

Nesta lição, vamos definir os fundamentos da indústria para o desenvolvimento da


agricultura. O papel da agricultura para transformação da agricultura apresenta-se
no capitalismo como uma imprescindibilidade conjuntural de o capital para resolver
a questão social decorrente da produtividade.

Objectivos

Ao concluir esta unidade o estudante deve ser capaz de:

 Explicar os fundamentos teórico da indústria para o desenvolvimento da


agricultura.

Pretendemos traçar nesta lição uma visão teórica da relação desenvolvimento


agrícola-desenvolvimento industrial. Nossa abordagem não pretende ser exaustiva,
mas tem por objetivo tão-somente analisar aqueles modelos que, a nosso ver, dão
uma visão mais ou menos completa dos problemas teóricos envolvidos no tema que
pretendemos estudar.

Antes de apresentarmos esses modelos, entretanto, seria interessante termos uma


breve visão geral do inter-relacionamento entre os dois setores, para depois
entrarmos nos problemas específicos que os modelos selecionados abordam.

O esquema do referido autor é muito simples: ele vê o desenvolvimento econômico


como um continuum. Num extremo teríamos uma economia tipicamente
subdesenvolvida; no outro, a desenvolvida. Para se caminhar no
subdesenvolvimento ao- desenvolvimento, a economia atravessaria uma série de
estágios, definidos por uma série de características.

45
Muito resumidamente, mostraremos alguns teóricos do desenvolvimento agrícola-
industrial dentro do qual tentaremos encaixar nossas perguntas acerca do inter-
relacionamento desses dois setores.

Antes de apresentarmos os teóricos, gostaríamos de esclarecer que a ordem em


que aparecem não pretendeu seguir nenhuma sequência cronológica. São
apresentados na ordem que nos pareceu ser a mais simples em termos de
exposição.

DAVID RICARDO - A agricultura como fator limitativo ao desenvolvimento


industrial

Desde seus primórdios, como atividade intelectual, a Economia tem se preocupado


com a relação entre a agricultura e o desenvolvimento. Tais preocupações vemos
expressas nas obras dos mercantilistas, dos fisiocratas e dos autores da escola
"clássica". Entre estes o que, talvez, tenha conseguido estabelecer de forma mais
precisa a relação entre os dois foi o economista inglês David Ricardo.

O que preocupava Ricardo não era exatamente a relação entre a agricultura e o


desenvolvimento, tal como entendemos o termo hoje em dia, mas precisamente as
inter-relações entre o crescimento populacional, uma agricultura tecnologicamente
estacionária e uma indústria em crescimento.

Simplificando bastante a visão de Ricardo, podemos dizer que concebia a economia


como estando dividida em dois setores: o setor agrícola e o setor manufatureiro.
Nestes dois setores, o volume de produção dependeria do volume de fatores de
produção empregados: mão-de-obra, terra, isto é, recursos naturais, e capital.
Quanto maior o volume destes últimos, maior a produção.

Além destes fatores, cuja variação poderia aumentar ou diminuir o volume de


produção, Ricardo via a possibilidade de haver um aumento na produção de um dos

46
setores - o manufatureiro - através daquilo que, hoje em dia, chamaríamos
desenvolvimento.

Na visão de Ricardo tal desenvolvimento, se ocorresse na agricultura, seria sempre


muito pequeno para ter grande efeito no aumento da produção. Isto quer dizer que
o que ocorreria na agricultura com o aumento populacional e a escassez da terra
seria um aumento na produção agrícola.

O crescimento populacional forçaria um aumento na produção através de uma


maior utilização de mão-de-obra na esfera produtiva. Mas, nem por isso haveria a
tendência de a produção atingir um limite superior, visto que o desenvolvimento
tecnológico poderia estar sempre deslocando esse limite superior para cima.

J. MELLOR - Um modelo ricardiano de dependência indústria/agricultura

John Menor, economista contemporâneo que tem dedicado grande parte de seus
esforços à análise de problemas agrícolas, em sua obra The Economics of gricultural
Development apresenta algumas idéias que teremos oportunidade de usar com
certa frequência no decorrer de nosso trabalho, razão pela qual vamos dedicar
alguns parágrafos a uma síntese destas. Novamente, enfatizamos que não faremos
aqui um resumo completo de sua obra, mas tão-somente aquelas idéias que mais
diretamente nos interessam.

A agricultura segundo este autor teria um papel básico a desempenhar no processo


de desenvolvimento econômico e, portanto, indiretamente, no cresci- mento dos
outros setores, inclusive o manufatureiro, por uma série de razões. Primeiramente
por ser o setor mais importante de uma economia subdesenvolvida. Nas palavras
do autor, a necessidade de alimentos e o baixo nível de produtividade agrícola têm
como consequência a utilização da maior parte da força de trabalho dos países
pobres no setor agrícola. O que geralmente se verifica para a grande maioria dos
países, exceção feita somente àqueles de tamanho reduzido, tanto em extensão

47
geográfica quanto em termos demográficos, é que as doações e as inversões
estrangeiras, embora possam fazer alguma contribuição (especialmente no
desenvolvimento dos setores mais modernos), geralmente é mínima. É sobretudo
na poupança, interna que repousam quase todas as possibilidades de um
desenvolvimento contínuo. A contribuição da agricultura poderia vir através da
geração de divisas externas para a importação de equipamento industrial.

Finalmente, para que o setor industrial se desenvolva, só poderá fazê-lo na medida


em que a agricultura puder fornecer matérias-primas e alimentos para este setor.
Geralmente a industrialização se processa em centros urbanos. O desenvolvimento
de centros urbanos só é possível na medida em que a agricultura estiver produzindo
um excedente capaz de alimentar essa população urbana. São poucos os países que
à semelhança de Hong-Kong, que obtém os seus recursos alimentares do exterior
pela exportação de manufaturas. Isto só seria viável para países.

A grande maioria dos países subdesenvolvidos não satisfaz essas condições e


somente casos excepcionais como Hong-Kong é que podem alimentar grandes
massas urbanas através da importação de produtos alimentícios. A maior parte dos
países subdesenvolvidos tem de se valer de sua agricultura para se suprir de
produtos primários.

W. A. LEWIS - Uma tentativa de fuga à camisa-de-força ricardiana

Como vimos ao analisarmos os modelos de Ricardo e de Mellor, ambos fazem


questão de enfatizar que o desenvolvimento econômico não se pode dar a não ser
que haja um certo desenvolvimento agrícola. No esquema ricardiano, como o
desenvolvimento tecnológico era praticamente inexistente, havia um limite para o
crescimento da economia. Já para Mellor, como seria de se esperar, tratando-se de
um autor contemporâneo, existe a possibilidade de ocorrer um desenvolvimento
tecnológico na agricultura, com um consequente aumento na produção e
produtividade. W. A. Lewis, em seu artigo que se tornou clássico da Teoria do
Desenvolvimento, constrói um modelo através do qual tenta mostrar como seria

48
possível a um país iniciar sua industrialização sem alterar seu modo de produção
agrícola. Parte o autor da premissa que existe um excedente de mão-de-obra
considerável em um grande número de países.

RANIS & FEl - O modelo de Lewis elaborado

Este aspecto do desenvolvimento agrícola dentro de um esquema de oferta,


ilimitada de mão-de-obra como elemento de suporte do desenvolvimento
industrial foi estudado em maior detalhe por Ranis & Fei numa série de artigos que
culmina- ram na publicação de um livro Development of the Labor Surplus Economy:
Theory and Policy onde essas idéias são melhor trabalhadas. Não pretendemos aqui
reproduzir a argumentação desses autores em detalhe visto que pouco adicionaria
às conclusões a que chegamos. Mas, uma ou duas palavras não estariam fora de
ordem.

O que interessa a Ranis & Fei é formalizar o esquema de Lewis e resolver dois
problemas que este último não resolve adequadamente em seu modelo original. O
primeiro destes já apontamos, qual seja até que ponto seria essencial um
desenvolvimento agrícola para que ocorresse um desenvolvimento industrial. O
segundo problema seria um que ainda não foi abordado - o do mercado para os
produtos industriais. Vejamos primeiramente o problema do mercado. Seguindo a
argumentação de Lewis, os autores apontam para o fato de que enquanto existir
um excedente de mão-de-obra, os salários teriam a tendência a permanecer
constantes. Isto criaria um problema de mercado para os produtos industriais.
Expliquemos com maior cuidado o que os autores entendem por isso. Partindo do
pressuposto que a mão-de-obra que estaria saindo da agricultura e indo para a
indústria receberia aproximadamente o mesmo salário que na agricultura.

HYMER & RESNICK - Uma outra tentativa de fuga à camisa-de-força ricardiana

Os modelos apresentados até agora, embora tratem de aspectos de suma


importância para o tema "desenvolvimento agrícola-desenvolvimento industrial",

49
deixam de lado um aspecto que a nosso ver é básico - o de um maior detalhamento
das atividades ditas "agrícolas" e suas implicações. Como apontam Hymer &
Resnick, os modelos teóricos de países subdesenvolvidos frequentemente
postulam a existência de um setor agrário que aloca a sua força de trabalho entre
duas atividades principais: a agricultura e o lazer. A evidência empírica coletada por
antropólogos, historiadores econômicos e agrônomos sugere, entretanto, que o
tempo alocado à produção agrícola e ao lazer frequentemente representa senão
uma pequena parcela do tempo disponível. O restante é gasto numa variedade de
atividades de processamento, manufatura, construção, transporte e serviços, para
satisfazer às necessidades de alimentação, vestuário, abrigo, diversões e
cerimônias.

M. H. WATKINS - A visão histórica na "abordagem do produto principal".

Ao analisar o processo do desenvolvimento econômico, amiúde nos sentimos


tentados a recorrer às teorias ortodoxas do crescimento e relegar a notas de rodapé
as circunstâncias particulares que condicionam o sistema econômico de um país.
Emprestando grande importância ao processo de acumulação de capital, a teoria
econômica ortodoxa está simplesmente observando, a posteriori, de que modo as
economias de sucesso foram capazes de criar um processo auto-sustentado de
acumulação e crescimento.

Com efeito, é possível observar o modo pelo qual o crescimento é gerado,


comparando fatos empíricos com os modelos teóricos que neles se originaram; este
método, no entanto, implica um raciocínio circular. Conquanto as teorias ortodoxas
do crescimento possam ser muito úteis na formulação de política - no sentido de
que apresentam um alvo a ser atingido - pouco ajudam no estabelecimento de
relacionamentos causais e na explicação de tendências históricas.

Sintetizando o que foi visto até agora, poderíamos dizer que, em geral, os autores
abordados concordariam que só poderia haver um desenvolvimento industrial

50
prolongado conquanto houvesse um aumento na produtividade da agricultura
através do desenvolvimento tecnológico desse setor. A única discordância que
surge seria quanto às fases iniciais da industrialização. Há os que com Lewis
acreditam que em certas condições favoráveis, especialmente de abundância de
mão-de-obra, seria possível dar os primeiros passos rumo à industrialização sem
necessariamente ter uma agricultura em desenvolvimento. Mas, como vimos, tal
posição não estaria totalmente isenta de críticas.

Assim, afirma Oliveira (1987), a agricultura foi subordinada nas duas pontas do
processo produtivo: na do consumo produtivo, isto é, pelos altos preços que teve
que pagar pelos produtos industrializados (máquinas e insumos produzidos pelas
indústrias) que praticamente obrigava a comprar para poder desenvolver suas
atividades agrícolas e aumentar a produção, e na circulação, onde é obrigada a
vender a sua produção por preços baixos ao comerciante intermediário e a
indústria.

No processo de desenvolvimento industrial capitalista e do crescimento das


populações das cidades, foi necessária a adoção de um sistema mais adequado ao
uso do solo, como, por exemplo, a rotação de culturas que abolia a técnica milenar
do pousio (descanso). O novo sistema de rotação possibilitava a produção de todo
o solo praticamente o ano inteiro, aumentando a produção agrícola (Oliveira, 1987).

A dinamização da economia e a intensificação dos intercâmbios comerciais exigiram


a ampliação das vias de comunicação que, ao convergirem para as cidades,
estimularam ainda mais o seu crescimento. Um novo meio de transporte revolucio-
nou os meios de circulação: o ferroviário. Isso possibilitou o aparecimento de novas
regiões industriais na Europa, e cada vez mais novos produtos foram colocados no
mercado.

51
Figura 3. Tipologia de Assentamentos Industriais. Organização José Wellington
Carvalho Vilar, a partir de Ledo e Pérez (1992).

O campo da geografia industrial corresponde aos famosos complexos industriais de


Chardonnet. Para esse geógrafo francês, nem toda concentração industrial se
constitui num complexo. Para ser assim considerado, são necessários quatro
componentes:

a) Determinadas dimensões no número e tamanho dos estabelecimentos


industriais, no valor da produção e no volume de capital investido e na mão-
de-obra empregada;

52
b) Diversificação industrial;
c) Relação de dependência entre as principais indústrias;
d) Todas as indústrias devem estar localizadas num espaço restrito; Além
dessas contribuições de caráter mais dimensional, alguns estudiosos
defendem a inclusão de critérios mais estruturais para definir os complexos
industriais. Nesse sentido é que são propostos dois grandes conjuntos de
complexos industriais: o “geográfico” mais próximo da visão de Chardonnet
e o “econômico” que se apropria de elementos técnico estruturais. São
exemplos representativos de complexos industriais “geográficos” os
complexos portuários e urbanos especializados em indústrias de
transformação e com forte diversificação setorial (Figura 4). Por sua vez, os
complexos “econômicos” se baseiam nos agrupamentos de atividade
industriais sujeitas a importantes inter-relações tecnológicas e de mercado.

Figura 4. Complexo industrial portuário de SUAPE - Pernambuco. (Fonte:


www.iasmimbiologia.blogspot.com).

Embora a geografia quantitativa tenha avançado em suas abordagens com relação


à indústria caminhando de uma noção de “espaço como distância” para uma
concepção de “espaço como superfície”, restituindo inclusive sua dimensão
temporal e analisando os complexos industriais, os pólos e os eixos de crescimento
econômico, principalmente urbano e industrial, as críticas aos postulados
neopositivistas questionam a concepção de homem racional (Homo economicus), a

53
idéia de homogeneidade dos agentes econômicos e o mascaramento das relações
de poder e suas implicações ideológicas, além da aceitação implícita dos princípios
da concorrência perfeita. Parece que muitos desses geógrafos trabalhavam com um
mundo ideal, sem conflitos, longe da realidade concreta, do cotidiano e com sérias
dificuldades em considerar as desigualdades sociais e territoriais como as existentes
em países em via de desenvolvimento.

Frente à perda de importância da abordagem clássica, da rigidez dos princípios de


localização da geografia neopositivista e em função da crise industrial que obrigou
as empresas a profundas mudanças tecnológicas e organizacionais, hoje se define
um novo modelo de localização produtiva da indústria que tem os seguintes fatores
ou componentes básicos:
a) As condições territoriais competitivas;
b) As condições e natureza do mercado em suas dimensões econômicas e
espaciais;
c) A existência de atividades complementares de áreas de planejamento,
pesquisa e tecnologia e de serviços avançados;
d) A capacidade de gestão das instituições públicas e privadas;
e) A concepção de espaço como campo de forças múltiplas e instáveis.

Hoje, o caráter dinâmico do sistema de localização, os processos de inovação, a


competitividade territorial e a força da informação se constituem no marco global
de referência dos problemas de localização industrial. Os novos espaços industriais
têm nos parques tecnológicos um exemplo emblemático. Embora a denominação
de parque tecnológico tenha um caráter genérico e possa englobar fenômenos
diferentes, seu denominador comum reside na concentração espacial de alta
tecnologia e de pesquisa científica dirigida às atividades industriais. Segundo Ledo
e Pérez (1992), os parques tecnológicos apresentam a seguinte variedade:

a) Centros de inovação ou incubadores de empresas;


b) Parques científicos e de pesquisa;

54
c) Parques tecnológicos ou complexos orientados tecnologicamente;
d) Cidades científicas ou tecnopólos.

A descentralização industrial, ou seja, a implantação de unidades fabris em zonas


sem tradição industriais é atualmente um fenômeno que se produze em países
periféricos e emergentes. A dispersão recente da indústria reflete um momento
novo que não é tão dependente das condições locais, alcançando assim uma maior
flexibilidade locacional.

55
5. AS RELAÇÕES AGRICULTURA-INDÚSTRIA E A FORMAÇÃO DE COMPLEXOS
AGROINDUSTRIAIS

Nesta lição, vamos apreender as relações agricultura-indústria e a formação de


complexos agroindustriais. O setor agrícola passa a ser encarado como algo a ser
transformado para servir o desenvolvimento industrial, e, para tanto a
modernização e diversificação da agricultura seriam essenciais. E foi exatamente
esse processo o responsável pela integração crescente do setor agrário com o
industrial e financeiro.

A intensificação das relações inter-setoriais acompanharam as políticas econômicas


e estratégias de desenvolvimento. Com isso ocorre a afirmação conceitual do
Complexo Agroindustrial quanto transformações na ordem econômica, inovações e
tecnológicas (como o advento da biotecnologia). A economia agrária em geral se
torna mais dinâmica e complexa. O intenso ritmo de desenvolvimento tecnológico
e o encurtamento do ciclo de vida dos produtos, acentuaram o grau de incerteza
em relação à tecnologia e suas inovações. Por outro lado, novos padrões industriais
impõem novas condições tecnológicas de produção e reforçam a globalização da
demanda.

Objectivos

Ao concluir esta unidade o estudante deve ser capaz de:

 Explicar apreender as relações agricultura-indústria e a formação de


complexos.

A noção de Complexo Agroindustrial serve para caracterizar uma tipologia marcada


pelas relações intersetoriais indústria-agricultura-comércio-serviços num padrão
agrário moderno, no qual o setor agropecuário passa a ser visto de maneira
integrada à indústria. Medeiros (1995) atribui a origem da conceituação “Complexo
Agroindustrial” aos estudos de Perroux (1960, 1967) e Hirschman (1960) que

56
apresentavam uma visão de desenvolvimento econômico como fator determinante
nas circunstâncias de cada região, que as condicionavam ou não como centro
dinâmico ou como periferia.

A idéia básica era de que o processo de desenvolvimento é formado por setores e


atividades produtivas interligadas. Na atividade produtiva não poderia haver vazios,
setores considerados vazios quando ocupados provocavam o surgimento de outras
atividades para frente e para trás formando uma cadeia produtiva. A perspectiva
histórica da formação do Complexo Agroindustrial inclui a inserção da economia
nacional a uma lógica produtiva global com adoção um modelo moderno onde a
presença de tecnologias e padrões de consumo novos, expõe a realidade da grande
produção que não distingue mais a natureza dos diversos capitais (agrícola,
agroindustrial ou financeiro), compõem o conjunto da economia.

A modernização da agricultura significou um suporte para a constituição dos


chamados “complexos agroindustriais”. Ao lado de outro processo, a
industrialização da agricultura, que caracterizaria o momento em que a
modernização agrícola se torna irreversível, pois como um ramo de produção na
divisão do trabalho, a agricultura converte-se em compradora de insumos
industriais do produtora de matérias-primas para outros ramos industriais - a
agroindústria processadora a jusante. Dessa maneira, a atividade agrícola
incorpora-se ao modo industrial de produzir.

A industrialização do campo é um momento específico do processo de


modernização, a reunificação agricultura-indústria num patamar mais elevado que
do simples consumo de bens industriais pela agricultura. É o momento da
modernização a partir do qual a indústria passa a comandar a direção, as formas e
o ritmo da mudança na base técnica agrícola. E é exatamente esse momento, de
subordinação da agricultura à dinâmica industrial, o período de formação do
Complexo Agroindustrial, na década de 60, consolidando-se em meados dos anos.

57
Essa industrialização da agricultura que foi desigual e segundo Oliveira (1991),
através da mesma o capitalismo unificou o que o que havia separado no início do
seu possível porque o capitalista se tornou também o proprietário das terras. A
partir de então mudam as relações entre agricultura e demais setores (Guimarães,
1979).

Cabe lembrar os dois sentidos de Complexo Agroindustrial (CAI). No seu sentido


mais amplo designa, como observa Müller (1981), esse amplo espectro das relações
setoriais que, num elevado nível de abstração, pode ser entendido como uma forma
particular de unificação das conexões entre os grandes departamentos econômicos
com os ciclos econômicos, e que obrigatoriamente levam em consideração as
atividades agrárias. Isso quer dizer que a agricultura e todas as atividades ligadas a
ela, são inseridas numa nova realidade econômica, num conjunto de segmentos e
cadeias vinculadas.

A noção de CAI em sentido amplo forma assim também uma unidade de análise5,
na qual as atividades agropecuárias se vinculam com as atividades industriais (a sua
jusante e a sua montante) e com o comércio de produtos agrários e agroindustriais
numa relação de interdependência. Em suma, define um novo tratamento do setor
agropecuário em integração com os outros setores. Em sentido específico o termo
complexo agroindustrial, para vários autores, é entendido como um conjunto de
relações intersetoriais voltado a um produto ou cadeia em particular como explica
Leite (1990).

No intento de operacionalizar o conceito, os autores distinguem os diversos


complexos, na medida em que o conjunto de indústrias de transformação não é
homogêneo. Assim, um conjunto de indústrias que mantenham relações mercantis
entre si e poucas transações com o restante da economia, pode delimitar um
complexo. Ainda no que tange aos limites, a interrupção do complexo é dada no

58
momento em que aquele conjunto de indústrias atingem outras firmas de produção
de um bem de uso difundido.

59
6. INDÚSTRIA, TRANSPORTE E OS PROBLEMAS AMBIENTAIS NO MUNDO E
EM MOÇAMBIQUE

Nesta lição, vamos compreender os problemas ambientais provocados por


transporte e indústria no mundo e em Moçambique

Objectivos

Ao concluir esta unidade o estudante deve ser capaz de:

 Explicar os impactos dos transporte e indústria no mundo e em


Moçambique sobre o meio ambiente.

Os transportes rodoviários são os maiores responsáveis da poluição e grande


pressão sobre o ambiente, os recursos naturais (petróleo, gás natural, metais e
outras fontes energéticas), saúde humana e ecossistemas.

Souza e Markoski (2013) afirmam que as estatísticas mostram como os países


procuram fazer uso de alternativas de integração multimodal incipientes, como
é caso do modal ferroviário. A Figura abaixo mostra nítidas diferenças entre a
matriz modal de transporte e a divisão modal, com base em 2010.

Gráfico: Matriz de transporte no mundo em 2010

60
As matriz dos transportes utilizados no mundos:

• Elevado grau de poluição ao meio ambiente (emissão de CO2);


• Falta de segurança no transporte (acidentes);
• Serviço de entrega porta a porta;
• Maior flexibilidade (grande extensão da malha rodoviária);
• Transporte com velocidade moderada;
• Custo alto para grandes distâncias;
• Baixa capacidade de carga (limitação de volume e peso).

A emissão de CO2, entre os quais podemos destacar a composição da matriz


modal de deslocamentos das cidades, principalmente em relação à
participação do transporte individual motorizado que é o mais poluente e à
distância média das viagens motorizadas realizadas pela população. Quanto
maior essa distância maior, a quantidade de emissão de Gases de Efeito Estufa
(GEE) lançados na atmosfera.

Há vários levantamentos sobre os fatores de emissões de CO2 por tipo veicular,


utilizando-se neste trabalho valores médios. As referências sobre as emissões
dos sistemas elétricos metro ferroviários foram encontradas para os sistemas

61
internacionais, que não representam a realidade nacional, já que nossa matriz
elétrica é muita mais limpa do que as europeias ou americanas.

O transporte rodoviário é um modal de complementação por excelência em


várias situações de transposição de mercadorias, visto que, pelo uso de
caminhões, vários carregamentos saem do local de produção e vão
diretamente até os terminais ferroviárias, aeroportos ou portos.

Na saúde humana, as poeiras, os fumos, fluidos e outras emissões gasosas e


líquidas afectam directa e indirectamente a população e o próprio meio
ambiente. Os automóveis libertam quantidades enormes de dióxido de
carbono, a emissão deste gás é um dos responsáveis do aquecimento global e
do degelo de grandes calotes de gelos nos glaciares, do nosso planeta.

O setor de transporte responde por cerca de 20% das emissões globais de CO2,
que é um dos principais gases causadores do efeito estufa, sem considerar a
emissão de outros também nocivos ao meio ambiente.

Os poluentes mais abrangentes das operação do transporte, são baseados na


queima de combustíveis fósseis, é responsável pela emissão de vários
poluentes nocivos à saúde e que degradam o ambiente urbano, com destaque
para o monóxido de carbono (CO), os hidrocarbonetos (HC), os materiais
particulados (MP), os óxidos de nitrogênio e os óxidos de enxofre (SOx).

Em Moçambique com a expansão da zona urbana tem gerado uma pressão


cada vez maior no sistema de transporte. Seja por superlotação dos transportes
colectivos de passageiros (TCP), assim como pelo excesso de transportes nas
vias, alargando cada vez mais o tempo, a extensão e os espaços de conge-
stionamento. O TCP corresponde cerca de 43.1% do meio usado pelos
residentes das áreas urbanas mocambicanas para se deslocar. Os transportes
semi-colectivos ou “chapas” que são controlados por operadores privados

62
representam o meio de transporte com maior oferta, por exemplo segundo
Géssica Macamo (2019), existiam em 2013 na região do Grande Maputo cerca
de 4500 chapas nas vias que operavam em 130 rotas, e 400 transportes
públicos que operavam em 30 rotas. Qual é o impacto ambiental dos
transportes nas áreas urbanas?

Ao par dos transportes ocorre também os problemas das industrias que


consome 37% de energia mundial e emite 50% do dióxido de carbono, 90% de
óxidos de enxofre e todos os produtos químicos que actualmente ameaçam
destruir a camada de ozono, especialmente os que contêm cloro – os chamados
clorofluorcarbonetos (CFC) – gases constituídos por cloro, fluor e carbono,
muito utilizados em frigoríficos, aparelhos de ar condicionados, indústria
electrónica, produção de espumas sintéticas usadas no combate de incêndios,
artigos de limpeza, embalagem de aerossóis, etc.

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