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GEOGRAFIA
DA
INDÚSTRIA
TUTOR
PROF. DR. JOAQUIM MIRANDA MALOA
2021
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Conteúdo
1.Introdução a geografia da Indústria ........................................................................3
2.Origem e evolução da Indústria................................................................................4
3. Características da evolução Industrial...................................................................14
4.Os fundamentos teóricos relativos à indústria face ao desenvolvimento da
Agricultura..................................................................................................................44
5.As relações agricultura-indústria e a formação de complexos
agroindustriais............................................................................................................56
6. Indústria, transporte e os problemas ambientais no Mundo e em
Moçambique..............................................................................................................60
Referências Bibliográficas..........................................................................................64
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1. INTRODUÇÃO A GEOGRAFIA DA INDÚSTRIA
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2. ORIGEM E EVOLUÇÃO DA INDÚSTRIA
Objectivos
Toda essa variedade industrial do paleolítico – facas aguçadas para cortar animais
mortos ou ramos duros, raspadores de madeiras ou peles e utensílios pontiagudos
para operações de perfurar e cavar – eram instrumentos de preferência já
especializados.
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Apesar da sua enorme variedade técnica, as industrias líticas (pedra) estão ligadas
aos métodos manuais de percussão, que forma as ferramentas, por intermedio da
separação de pequenos fragmentos de um pedaço de pedra maior, como
consequência de batimentos ou de pressões. Outras criações técnicas
revolucionárias desse período foram a fiação e tecelagem da lã, do linho e do
cânhamo (tecido), a cestaria a moagem e o uso da roda.
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Enquanto o resto do mundo ainda lascava e polia pedras, já o Mediterrâneo
Oriental e a Ásia Ocidental possuíam a complicada e poderosa utilização da
fundição e da forja. Assim se desenvolveram as actividades artesanais que
determinaram a organização da distribuição e o uso de um sistema adequado de
transportes.
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A primeira parte desta época foi caracterizada pela pequena industria de
domicilio. Era um trabalho realizado em família e não em oficina comum para
atender um mercado reduzido, numa economia de produção para autoconsumo.
As actividades comerciais e industriais diminuem, a pequena produção contava
com escasso capital, com instrumentos rudimentares e inseria-se numa economia
fechada em que os produtores trocavam os produtos entre si.
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Até nessa época, a produção artesanal continuava a fazer-se nos moldes da Idade
Média «indústria de domicílio» ou de «oficio», mas, em virtude do comercio
colonial, produziam maior quantidade de produtos devido ao grande numero de
trabalhadores e artífices que reuniam no mesmo espaço.
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dos países onde essa eclosão teve lugar: primeiro na Inglaterra, depois na França
e Bélgica.
Figura 1 - Interior de uma fábrica durante a Revolução Industrial (Fonte: http://www.coljxxiii apud Santos e
Araújo, 2016).
Acumulação de Capitais
Como isto aconteceu? Desde o século XVII que a Inglaterra se tinha virado com
insistência para o comércio externo, particularmente com as suas numerosas
colónias, elevando-a à categoria de maior potência colonial e comercial do mundo.
Surge e expande-se uma nova classe de burgueses endinheirados ávidos de
investir em algo novo - a indústria.
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Espírito de Iniciativa
Um dos principais objectivos de quem produz é vender e esse incentivo será tanto
maior quanto maior for a potencial clientela. Apesar do mercado interno inglês
ser vasto, o que lhe garantia a expansão industrial era o mercado externo, com
destaque para as colónias, que os ingleses sempre souberam aproveitar as
colónias, que serve de estímulo à expansão industrial inglesa; levam-se os tecidos
confeccionados e traz-se o algodão, principal matéria-prima têxtil.
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A um ritmo verdadeiramente espantoso sucedem-se novas máquinas, cada vez
mais aperfeiçoadas, com destaque para o campo têxtil com máquinas de fiar, tecer
e cardar; a máquina a vapor, que veio revolucionar toda a foça de trabalho, não
só na indústria mas nos transportes marítimos e terrestres, com realce para o
caminho-de-ferro, tornando todos os transportes mais rápidos e mais baratos;
novos métodos de fabrico. Para além destes factores contribuíram para a
Revolução Industrial, a elevada frota mercante e a revolução agrícola.
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- urbanização e florescimento das cidades;
- mecanização da agricultura com a expulsão do homem do campo para a
cidade.
Assim, afirma Oliveira (1987), a agricultura foi subordinada nas duas pontas do
processo produtivo: na do consumo produtivo, isto é, pelos altos preços que teve
que pagar pelos produtos industrializados (máquinas e insumos produzidos pelas
indústrias) que praticamente obrigava a comprar para poder desenvolver suas
atividades agrícolas e aumentar a produção, e na circulação, onde é obrigada a
vender a sua produção por preços baixos ao comerciante intermediário e a
indústria.
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o solo praticamente o ano inteiro, aumentando a produção agrícola (OLIVEIRA,
1987).
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3. CARACTERÍSTICAS DA EVOLUÇÃO INDUSTRIAL
Objectivos
Dai que, o conceito de industria abrange tudo aquilo que compreende actividade,
trabalho e produção.
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3.2. As fases da Revolução Industrial
A Inglaterra foi o berço da primeira Revolução industrial e isso pode ser explicado
por alguns fatores ou acontecimentos: a) acúmulo de capitais proveniente do
mercantilismo e do colonialismo (séculos XVI ao XVIII); b) O Estado sob o controle
da burguesia desde a Revolução Gloriosa (1688), que implantou a primeira monar-
quia parlamentar; c) possuidora de reservas de carvão mineral e minério de ferro;
d) materiais-primas provenientes de suas colônias; d) excesso de mão de obra
causado pelo êxodo rural (Almeida; Rigolin, 2002).
A evolução industrial conheceu ritmos e fases diferentes, não só nos países onde
ia tendo lugar, como no interior de cada país. Desde meados do século XVIII até
aos nossos dias a indústria evolui bastante, senão vejamos:
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James Watt (1785) – máquina a vapor.
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A electricidade, já conhecida desde 1822 por faraday com a descoberta do
dínamo, começa a ser utilizada por volta de 1860 como força propulsora da
máquina. Antes do final do século a electricidade já é usada como luz e
transportada a distância a partir de centrais geradoras, onde faz mover novas
máquinas que substituem a velha máquina a vapor.
A energia nuclear, aceite sem reservas por muitos, mas também combatida por
tantos outros, começa a ser posta em causa e obriga o homem a dar-lhe
alternativas. Estamos na era das «energias renováveis»: o sol, o vento, a energia
geotérmica e das marés.
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A intensificação do uso do avião para fins comerciais e deslocamento de pessoas,
a modernização dos transportes terrestres, ferroviários e marítimo o
desenvolvimento das telecomunicações, o desenvolvimento da indústria
farmacêutica, aeroespacial, constituem outras características importantes da
fase.
Essa Revolução tem como característica básica a utilização das novas tecnologias,
o advento da eletrônica e a modernização nos transportes e telecomunicações,
que fazem o mundo parecer menor a cada dia que passa. Novas profissões vão
surgindo, e novas funções aparecem no lugar das funções tradicionais, o setor
terciário da economia se transforma no setor que mais atrai a população
economicamente ativa, inaugurando inclusive um novo momento: se nas
revoluções anteriores falava-se em uma sociedade industrial, o termo utilizado
para designar o atual momento é a sociedade pós-industrial.
Desde a origem a indústria tem se organizado de diversos modos, seja por meio
das oficinas artesanais, em sua fase inicial, seja com as indústrias domésticas
controladas por comerciantes que forneciam materiais a trabalhadores agrícolas,
os quais, assim, obtinham um complemento de sua renda.
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do trabalhador. Desse modo, o poder do capital apropria-se do saber operário
para elaborar o método de trabalho que lhe parece mais rentável.
O fordismo chega a seu auge nas décadas de 1950 e 1960, quando a indústria
automobilística toma um impulso grandioso com a expansão para o mundo subde-
senvolvido, mas a própria expansão causou sua decadência.
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O sucesso do modelo produtivo se espalhou pelo mundo, fazendo com que nações
como a Alemanha e o Japão começassem a disputar com os EUA a fatia da
economia mundial, além disso, o ideal de produção em massa ao ser ampliado
para consumo em massa proporcionou aos trabalhadores ganhos de
produtividade e com isso melhores salários, além de uma maior participação dos
sindicatos na disputa entra capital e trabalho.
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A meia vida de um produto fordista típico, por exemplo, era de cinco a sete anos,
mas a acumulação flexível diminuiu isso em mais da metade em setores – como o
têxtil (Harvey, 1989).
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Sposito (1998, p. 69-70), esclarece que:
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A generalização das políticas de planejamento abria novos caminhos de trabalho
para os cientistas sociais, que eram utilizados no levantamento do diagnóstico, e
na elaboração do prognóstico, que indicavam os caminhos a serem seguidos para
que se atingissem os fins almejados (Andrade, 1998).
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para a construção de ferrovias, rodovias, portos, aeroportos etc. Investimentos na
produção de navio, automóvel, avião etc. Ocorreu a difusão da energia elétrica,
do rádio, da televisão etc. Com o desenvolvimento dos meios de transporte e de
comunicações, as distâncias são “encurtadas” e os lugares se “aproximam”.
As indústrias podem ser classificadas segundo o peso e o valor dos produtos onde
temos:
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que não são de uso directo da população ou seja trabalha grandes
quantidades de matéria-prima que tem pequeno valor em relação ao
peso. Por exemplo: O cimento, material ferroviário, siderúrgico,
metalúrgico, petroquímica, etc.
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qualificada, dada as especificidades de cada negócio. Normalmente regiões com
abundância de mão-de-obra permitem a organização contratar este fator a salários
relativamente menores do que regiões com escassez de mão-de-obra. Ou seja, a mão-
de-obra também tem que ser avaliada em; termos de quantidade e qualidade.
d) custo da terra - no caso das plantas industriais, que necessitam de grandes áreas
para sua implantação, o custo da terra pode consistir em um fator decisivo nos
cálculos de localização.
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De uma forma resumida podemos afirmar que os fatores econômicos considerados
pelas indústrias no momento de se definir a melhor localização são:
Disponibilidade financeira;
Disponibilidade de mercado consumidor;
Disponibilidade de mão-de-obra em quantidade e em qualidade;
Disponibilidade de transportes e comunicações;
Disponibilidade de tecnologia e
Conhecimentos científicos etc.
Boa governação;
Estabilidade ou instabilidade política(s) e
Políticas governamentais.
A distribuição das indústrias a nível mundial é desigual, por isso existem os países
industrializados e menos desenvolvidos. Desde o século XIX até meados de século
XX, a produção industrial concentrava-se nos países capitalistas (América do Norte,
Europa e Japão). Actualmente, a situação é outra devido o surgimento de novos
países industrializados depois da II guerra mundial. No entanto, a distribuição e a
localização das indústrias dependem de cinco (5) factores: Capital financeiro,
tecnologia, mercado, mão-de-obra e custos de produção.
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prima, com uma mão-de-obra qualificada e munida de tecnologia de ponta para
diferentes ramos industriais, tais como: as indústrias siderúrgica, metalúrgica,
alimentar, electromecânica, petroquímica, militar, telecomunicação via satélite,
investigação entre outras. A paisagem industrial na América do Norte localiza-se em
Detroit, Los Angels e na região dos Grandes lagos partilhado pelos EUA e Canadá;
nas cidades de Chicago, Nova Iorque e Boston (EUA) e em Toronto e Montreal
(Canadá) devido a facilidade dos transportes para o resto do mundo.
Esta região é constituída por países da América Central e do Sul, antigas colónias
portuguesa, francesas e espanholas. Os países mais industrializados são Brasil,
México e Argentina. Os restantes países dependem do sector primário (agricultura
e pecuária), a Venezuela é o maior produtor e exportador do petróleo.
A Europa ocidental está mais desenvolvida do que a Europa de Leste, antigo bloco
socialista. Os países mais industrializados são: A Alemanha, Inglaterra, França, Itália
(Norte) e Espanha). Estes países, ainda são ricos em recursos naturais, matéria-
prima e fontes de energia, e estão providos de mão-de-obra qualificada, tecnologia
de ponta, infra-estruturas para diferentes ramos de produção industrial.
O Japão e a China são os maiores gigantes asiáticos. Estes dois países tiveram um
crescimento muito acelerado no mundo, depois da segunda guerra mundial. Na
mesma região, Ásia Oriental, há indústrias emergentes, mais conhecidos por
dragões asiáticos ou quatro tigres asiáticos (Taiwan, Coreia do Sul, Hong Kong e
Singapura). Estes países tiveram um rápido crescimento entre as décadas de 1960
e 1990, graças a transferência de tecnologia e alguns sectores de produção do
Japão, EUA e alguns países da Europa Ocidental. Na Oceânia (Austrália e Nova
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Zelândia) as grandes indústrias localizam-se ao longo do litoral das cidades de
Sidney e Camberra.
O continente africano faz parte dos 47 países mais pobres do mundo, sobretudo a
África Negra. A sua economia depende de algumas multinacionais e transnacionais.
O continente africano, durante muitos séculos foi e continua sendo fonte da
matéria-prima para os países mais industrializados. Os maiores produtores dos
recursos naturais (petróleo e gás natural) são: Nigéria, Argélia, Angola, Líbia,
Camarões e num futuro próximo Moçambique. A África do Sul é o maior produtor
e exportador de recursos valiosos como o ouro, prata, diamante e platina. Os países
mais desenvolvidos (PD’s) apresentam maiores concentrações da paisagem
industrial do que os países em via de desenvolvimento (PVD’s). Agora, identifique
as características que explicam esse contrastes nos dois grupos de países.
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Predomínio de actividades de sector primário e
Elevadas taxas de natalidade e mortalidade.
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3.16. Recursos naturais renováveis e não renováveis
Quanto aos recursos minerais não metálicos dá-se maior destaque ao diamante
cujos maiores produtores são a África do Sul, Angola, República Democrática do
Congo e Libéria.
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3.19. - A importância económica da indústria
São da mesma lavra anterior as observações que conferem maiores detalhes sobre
os aglomerados industriais: Aglomerados são massas críticas de informações,
qualificações e de relacionamentos e de infra-estrutura num dado setor. Considera,
ainda, que cada país e região desfrutam de condições locais que são propícias para
a competitividade de suas empresas.
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“O aglomerado-cluster –, também é considerado como uma aglomeração básica de
pequenas e médias empresas, concentradas em áreas geográficas sobre um
determinado setor de atividade, podendo ser composto por fornecedores de
insumos ou provedores de infra-estrutura especializada e vincular-se a políticas
regionais de desenvolvimento.
O relatório da Eurada (1999) frisa, ainda, que “em muitos países, pequenas e médias
empresas estão se aglomerando em locais e regiões e passando a desenvolver uma
diversidade de relações sociais baseadas na complementaridade, interdependência
e na cooperação.
Porter (1999, p. 240) observa que: “A teoria dos aglomerados atua como uma ponte
entre a teoria das redes e a competição. O aglomerado é uma forma que se
desenvolve dentro de uma localidade geográfica, na qual a proximidade física de
empresas e instituições, asseguram certas formas de afinidades e aumenta a
frequência e os impactos das interações”.
Neste particular, ele se aproxima das posições de Britto (1999), que assevera que
as redes de empresas (comumente presentes nos aglomerados e muitas vezes
correspondendo a um mesmo fenômeno) são um recorte meso-econômico da
dinâmica industrial.
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a competição entre as empresas e a prosperidade econômica, ampliando o escopo
das aglomerações industriais.
Um dos autores que mais se preocupou com a imprecisão conceitual foi Enright
(1996) apud IDS (2002) que considera essencial o emprego de termos relativamente
amplos, tal qual o de aglomerados (clusters) regionais e enfatiza que todos os
termos {quase todos}aludem à concentração geográfica de firmas e a especialização
produtiva ou a dedicação a determinadas indústrias.
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Distritos industriais correspondem à concentração geográfica de firmas
envolvidas em processos de produção interdependentes, frequentemente
pertencentes à mesma indústria ou ao mesmo segmento industrial, as quais
estão envolvidas com a comunidade local e delimitadas pela distância da
viagem diária dos seus trabalhadores;
Enright (1996), como já foi sublinhado, considera que vale a pena distinguir os
principais conceitos usados na literatura especializada e que as diferenças entre os
aglomerados regionais e os distritos industriais (que é uma das vertentes dos
aglomerados regionais) merecem ser realçadas. Destaca que os distritos industriais
exploram um único segmento da indústria, enquanto os aglomerados regionais
abrangem uma maior amplitude de indústria inter-relacionada.
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insuspeita e atraente teoria de organizações que aprendem (learning organization)
e da economia do aprendizado (learning economy), que implica em inovação
competitiva, mudança organizacional e do posicionamento em rede.
Aqui foi selecionada uma série de definições sobre Distritos Industriais, dentre as
quais a de Melo e Casarotto (2000) que se apoiaram no saber de Rabellotti e Schmitz
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(1997) e qualificaram tais fenômenos como sendo: “Aglomerações de empresas,
principalmente, de pequeno e médio tamanhos, geograficamente concentradas e
setorialmente especializadas, também conhecidas como concentração geográfica;
um conjunto de relacionamentos horizontais, verticais e diagonais baseados em
intercâmbio de mercado de bens, informações e pessoas e realçam a influência do
entorno sócio-cultural comum, no qual os agentes sentem o que os unem e criam
um código de comportamento, às vezes explícito, mas geralmente implícito”.
Markusen (1996, p. 11-12) embora utilize o conceito de distrito industrial como uma
espécie de guarda-chuva para acobertar diferentes manifestações de aglomeração
de empresas, destaca os Distritos Industriais italianos, nos quais realça: “o elevado
nível de intercâmbio de pessoal entre os atores envolvidos, a cooperação entre os
competidores visando à estabilização dos mercados e a definição de estratégias
coletivas”. Os demais modelos são: “eixo e raio” (liderado por uma ou mais grandes
empresas); “o satélite” liberado por uma grande empresa, normalmente, filial de
multinacional, e os “induzidos”, ou estimulados pela ação governamental.
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posições, ligações e fluxos. Salienta-se que as posições exercidas pelas empresas no
interior das redes ou dos aglomerados industriais e as ligações estabelecidas
determinam as peculiaridades e as dimensões da divisão do trabalho.
A localização industrial pode ser entendida a partir de três momentos básicos que
correspondem, grosso modo, aos três paradigmas da ciência geográfica. No âmbito
da Geografia industrial, esses momentos podem ser sintetizados em três
abordagens que na verdade são os três fios condutores da nossa aula: os fatores
clássicos, a teoria da localização industrial e os sistemas industriais, e as tendências
recentes associadas à alta tecnologia e à desconcentração espacial (Vilar, 2012).
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situavam próximas as minas de carvão, junto às suas fontes básicas de insumo. Essa
atração combinada de matérias-primas e fontes energéticas viu sua força diminuir
com os avanços técnicos e tecnológicos principalmente no século XX.
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Cabe nesse momento discutir dois princípios básicos de economia urbana que são
fundamentais para entender a lógica espacial da indústria: o princípio da
aglomeração e o da acessibilidade. A aglomeração é resultado de uma característica
fundamental e está na origem da cidade: a vantagem e os ganhos de produtividade
da localização espacialmente concentrada. Por sua vez, a acessibilidade significa a
superação das barreiras impostas pelo espaço ao fluxo de pessoas e mercadorias e
ao intercâmbio de produtos serviços e informações. Além desses princípios, a
interação geográfica, a hierarquia espacial e a competitividade são elementos
chaves para entender a dinâmica da cidade industrial, cada vez mais confusa e de
difícil compreensão.
Essa complexidade crescente vai configurar uma rede de inter-relações e por isso
se pode falar num sistema de localização com fatores diretos ou internos e fatores
indiretos ou externos também chamados de externalidades econômicas. Como o
próprio nome já identifica, os fatores diretos correspondem àqueles que incidem
diretamente no processo produtivo ou na organização espacial da distribuição da
indústria. Entre eles cabe destacar:
Como a própria expressão já indica os fatores indiretos não estão em relação direta
com o processo produtivo, mas aportam economias de escala e de aglomeração
que acabam induzindo a localização industrial.
Os principais fatores indiretos são:
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c) As amenidades locais;
d) A política fiscal do Estado;
e) A atitude da população.
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do que na época se denominava de desenvolvimento econômico. É esse o caso do
modelo proposto pelo economista John Friedman.
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uso dos recursos); s - efeito spread (descentralização industrial). (Fonte: Ledo e
Pérez apud Vilar, 2012).
Nos sistemas locais dois critérios são recorrentes entre os geógrafos para classificar
os assentamentos industriais: a localização dispersa e a localização concentrada
(Figura 3). A indústria dispersa foi a primeira manifestação de industrialização
devido a fatores limitantes como a dificuldade de transporte e os limites das
matrizes energéticas.
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Hoje a dispersão industrial corresponde a uma forma de organização espacial
complementar da concentração e tende a ser resgatada com a valorização do lugar.
Por sua vez, a concentração industrial, forma mais comum dos assentamentos
industriais que respondem pela força das economias de escala e de aglomeração
urbana, pode ser simples, composta ou formar o que o geógrafo francês Jean
Chardonnet definiu como complexos industriais. As concentrações industriais
também podem ser vistas como espontâneas, como os eixos industriais, ou
planejadas como os eixos de desenvolvimento industrial.
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4. OS FUNDAMENTOS TEÓRICOS RELATIVOS À INDÚSTRIA FACE AO
DESENVOLVIMENTO DA AGRICULTURA
Objectivos
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Muito resumidamente, mostraremos alguns teóricos do desenvolvimento agrícola-
industrial dentro do qual tentaremos encaixar nossas perguntas acerca do inter-
relacionamento desses dois setores.
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setores - o manufatureiro - através daquilo que, hoje em dia, chamaríamos
desenvolvimento.
John Menor, economista contemporâneo que tem dedicado grande parte de seus
esforços à análise de problemas agrícolas, em sua obra The Economics of gricultural
Development apresenta algumas idéias que teremos oportunidade de usar com
certa frequência no decorrer de nosso trabalho, razão pela qual vamos dedicar
alguns parágrafos a uma síntese destas. Novamente, enfatizamos que não faremos
aqui um resumo completo de sua obra, mas tão-somente aquelas idéias que mais
diretamente nos interessam.
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geográfica quanto em termos demográficos, é que as doações e as inversões
estrangeiras, embora possam fazer alguma contribuição (especialmente no
desenvolvimento dos setores mais modernos), geralmente é mínima. É sobretudo
na poupança, interna que repousam quase todas as possibilidades de um
desenvolvimento contínuo. A contribuição da agricultura poderia vir através da
geração de divisas externas para a importação de equipamento industrial.
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possível a um país iniciar sua industrialização sem alterar seu modo de produção
agrícola. Parte o autor da premissa que existe um excedente de mão-de-obra
considerável em um grande número de países.
O que interessa a Ranis & Fei é formalizar o esquema de Lewis e resolver dois
problemas que este último não resolve adequadamente em seu modelo original. O
primeiro destes já apontamos, qual seja até que ponto seria essencial um
desenvolvimento agrícola para que ocorresse um desenvolvimento industrial. O
segundo problema seria um que ainda não foi abordado - o do mercado para os
produtos industriais. Vejamos primeiramente o problema do mercado. Seguindo a
argumentação de Lewis, os autores apontam para o fato de que enquanto existir
um excedente de mão-de-obra, os salários teriam a tendência a permanecer
constantes. Isto criaria um problema de mercado para os produtos industriais.
Expliquemos com maior cuidado o que os autores entendem por isso. Partindo do
pressuposto que a mão-de-obra que estaria saindo da agricultura e indo para a
indústria receberia aproximadamente o mesmo salário que na agricultura.
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deixam de lado um aspecto que a nosso ver é básico - o de um maior detalhamento
das atividades ditas "agrícolas" e suas implicações. Como apontam Hymer &
Resnick, os modelos teóricos de países subdesenvolvidos frequentemente
postulam a existência de um setor agrário que aloca a sua força de trabalho entre
duas atividades principais: a agricultura e o lazer. A evidência empírica coletada por
antropólogos, historiadores econômicos e agrônomos sugere, entretanto, que o
tempo alocado à produção agrícola e ao lazer frequentemente representa senão
uma pequena parcela do tempo disponível. O restante é gasto numa variedade de
atividades de processamento, manufatura, construção, transporte e serviços, para
satisfazer às necessidades de alimentação, vestuário, abrigo, diversões e
cerimônias.
Sintetizando o que foi visto até agora, poderíamos dizer que, em geral, os autores
abordados concordariam que só poderia haver um desenvolvimento industrial
50
prolongado conquanto houvesse um aumento na produtividade da agricultura
através do desenvolvimento tecnológico desse setor. A única discordância que
surge seria quanto às fases iniciais da industrialização. Há os que com Lewis
acreditam que em certas condições favoráveis, especialmente de abundância de
mão-de-obra, seria possível dar os primeiros passos rumo à industrialização sem
necessariamente ter uma agricultura em desenvolvimento. Mas, como vimos, tal
posição não estaria totalmente isenta de críticas.
Assim, afirma Oliveira (1987), a agricultura foi subordinada nas duas pontas do
processo produtivo: na do consumo produtivo, isto é, pelos altos preços que teve
que pagar pelos produtos industrializados (máquinas e insumos produzidos pelas
indústrias) que praticamente obrigava a comprar para poder desenvolver suas
atividades agrícolas e aumentar a produção, e na circulação, onde é obrigada a
vender a sua produção por preços baixos ao comerciante intermediário e a
indústria.
51
Figura 3. Tipologia de Assentamentos Industriais. Organização José Wellington
Carvalho Vilar, a partir de Ledo e Pérez (1992).
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b) Diversificação industrial;
c) Relação de dependência entre as principais indústrias;
d) Todas as indústrias devem estar localizadas num espaço restrito; Além
dessas contribuições de caráter mais dimensional, alguns estudiosos
defendem a inclusão de critérios mais estruturais para definir os complexos
industriais. Nesse sentido é que são propostos dois grandes conjuntos de
complexos industriais: o “geográfico” mais próximo da visão de Chardonnet
e o “econômico” que se apropria de elementos técnico estruturais. São
exemplos representativos de complexos industriais “geográficos” os
complexos portuários e urbanos especializados em indústrias de
transformação e com forte diversificação setorial (Figura 4). Por sua vez, os
complexos “econômicos” se baseiam nos agrupamentos de atividade
industriais sujeitas a importantes inter-relações tecnológicas e de mercado.
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idéia de homogeneidade dos agentes econômicos e o mascaramento das relações
de poder e suas implicações ideológicas, além da aceitação implícita dos princípios
da concorrência perfeita. Parece que muitos desses geógrafos trabalhavam com um
mundo ideal, sem conflitos, longe da realidade concreta, do cotidiano e com sérias
dificuldades em considerar as desigualdades sociais e territoriais como as existentes
em países em via de desenvolvimento.
54
c) Parques tecnológicos ou complexos orientados tecnologicamente;
d) Cidades científicas ou tecnopólos.
55
5. AS RELAÇÕES AGRICULTURA-INDÚSTRIA E A FORMAÇÃO DE COMPLEXOS
AGROINDUSTRIAIS
Objectivos
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apresentavam uma visão de desenvolvimento econômico como fator determinante
nas circunstâncias de cada região, que as condicionavam ou não como centro
dinâmico ou como periferia.
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Essa industrialização da agricultura que foi desigual e segundo Oliveira (1991),
através da mesma o capitalismo unificou o que o que havia separado no início do
seu possível porque o capitalista se tornou também o proprietário das terras. A
partir de então mudam as relações entre agricultura e demais setores (Guimarães,
1979).
A noção de CAI em sentido amplo forma assim também uma unidade de análise5,
na qual as atividades agropecuárias se vinculam com as atividades industriais (a sua
jusante e a sua montante) e com o comércio de produtos agrários e agroindustriais
numa relação de interdependência. Em suma, define um novo tratamento do setor
agropecuário em integração com os outros setores. Em sentido específico o termo
complexo agroindustrial, para vários autores, é entendido como um conjunto de
relações intersetoriais voltado a um produto ou cadeia em particular como explica
Leite (1990).
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momento em que aquele conjunto de indústrias atingem outras firmas de produção
de um bem de uso difundido.
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6. INDÚSTRIA, TRANSPORTE E OS PROBLEMAS AMBIENTAIS NO MUNDO E
EM MOÇAMBIQUE
Objectivos
60
As matriz dos transportes utilizados no mundos:
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internacionais, que não representam a realidade nacional, já que nossa matriz
elétrica é muita mais limpa do que as europeias ou americanas.
O setor de transporte responde por cerca de 20% das emissões globais de CO2,
que é um dos principais gases causadores do efeito estufa, sem considerar a
emissão de outros também nocivos ao meio ambiente.
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representam o meio de transporte com maior oferta, por exemplo segundo
Géssica Macamo (2019), existiam em 2013 na região do Grande Maputo cerca
de 4500 chapas nas vias que operavam em 130 rotas, e 400 transportes
públicos que operavam em 30 rotas. Qual é o impacto ambiental dos
transportes nas áreas urbanas?
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.
5. Matos, Maria Lúcia Santos e Ramalho, Maria Helena Ramalhão. (1990). Contrastes
Geográficos 9ª Classe, Edições ASA, Lisboa.
9. Semedo, Énio e Queiroz, José. (1994). Geografia 9º Ano. Porto Editora. Lisboa.
10. Silva, Francisco, Gualberto, M. Helena, Sousa, M. (20020. Lídia F de. Geografia 9º
Ano. Editorial Livro. Lisboa.
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