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GEOGRAFIA – PROFª KAREN LESSA - DATA: / /24.

Aula 5 – A dinâmica espacial da indústria

CLASSIFICAÇÕES
A indústria, ao longo da história da humanidade, representou o interesse de grupos sociais em obter da natureza os
meios necessários à sua manutenção. Anteriormente, os bens eram produzidos de forma manual, por meio do artesanato. A
manufatura coexistiu por muito tempo com o artesanato, utilizando máquinas simples e apresentando um processo pouco
complexo de organização do trabalho para otimizar a produção.
No fim do século XVIII, em certas áreas da Europa ocidental, alguns mecanismos técnicos otimizaram os processos
de transformação de matérias-primas em bens de produção e de consumo. Esse momento ficou conhecido como Revolução
Industrial e gerou mudanças radicais na agricultura, na sociedade, nas paisagens, etc.
O crescimento urbano e a modernização agrícola, dos meios de comunicação e de transporte são exemplos de como o
processo de industrialização causou mudanças no espaço geográfico. Esse processo fez com que a atividade industrial
passasse a subordinar as demais atividades econômicas, proporcionando diferentes formas de classificação do processo de
industrialização.
INDÚSTRIA DE BENS DE PRODUÇÃO
O critério mais utilizado para a classificação das indústrias se baseia no destino dos bens produzidos. As indústrias de bens
de produção são aquelas que produzem para outras indústrias. Chamadas também de indústrias de base, elas proporcionam
o embasamento necessário para as demais etapas do processo industrial. São subdivididas em:

• Indústrias de bens de produção intermediários:


transformam os recursos naturais em matérias-primas industriais.
São exemplos os setores metalúrgico, siderúrgico, de extração
mineral, petroquímico, termelétrico, hidrelétrico, etc. Tendem a se
localizar próximas aos recursos naturais necessários à sua
produção ou a uma rede de transportes de carga bastante eficaz.

• Indústrias de bens de produção de capital:


produzem máquinas, peças, motores e equipamentos para outras
indústrias ou outros setores produtivos. Tendem a se localizar
perto de empresas que
consomem seus produtos, ou seja, em regiões que possuam
indústrias atuantes em setores complementares aos seus.

INDÚSTRIA DE BENS DE CONSUMO

Essas são as indústrias que promovem o abastecimento direto dos consumidores finais. Elas podem ser Subdivididas em:

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• Indústrias de bens de consumo duráveis:
aquelas que geram Produtos destinados ao uso contínuo por
parte de seu consumidor final, como móveis, eletrodomésticos e
automóveis.

• Indústrias de bens de consumo não duráveis:


as que geram produtos destinados ao uso momentâneo de seu consumidor final,
como alimentos, bebidas e remédios.

Há, ainda, uma possível classificação intermediária, que se refere a bens de consumo semiduráveis. Esses seriam os
produtos voltados ao uso por tempo médio ou variável por parte dos consumidores, como roupas e calçados. As indústrias
de bens de consumo, de forma geral, possuem menos restrições à sua localização espacial, porém costumam se instalar
próximas aos mercados consumidores de seus produtos.
MODELOS DE INDUSTRIALIZAÇÃO
Quando buscamos uma classificação dos processos de industrialização segundo seu modelo, é comum agrupá-los entre
os seguintes tipos: modelo clássico, modelo tardio e modelo planificado. Os modelos planificado e tardio foram
desdobramentos ou resultaram de processos ocorridos nos países desenvolvidos, onde houve industrialização clássica. Por
isso, analisaremos de forma mais aprofundada esta última.
O modelo clássico ocorreu, a partir do século XVIII, em várias regiões da Europa. Posteriormente, ele espalhou-se por
outros países, como Japão e Estados Unidos. Tais países deflagraram processos econômicos, sociais e políticos que até hoje
influenciam o restante do mundo.
Costuma-se dividir o processo industrial desses países em três etapas – são as chamadas Revoluções Industriais.

PRIMEIRA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL


Um dos principais marcos da chamada Primeira Revolução Industrial foi a invenção da máquina a vapor, pelo
escocês James Watt, entre 1765 e 1777. A principal fonte energética usada nesse dispositivo era o carvão mineral, que
auxiliou no incremento dos processos produtivos inicialmente na Inglaterra, antes de uma expansão por toda a Europa.
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A indústria têxtil inglesa foi o principal exemplo de vanguarda, sendo acompanhada pelos setores metalúrgico e de
transportes (desenvolvimento de navios e ferrovias). Muitas transformações foram iniciadas a partir de então, fazendo com
que a relação campo-cidade, bem como o próprio papel do meio rural, nunca mais fosse a mesma.
Na própria Inglaterra, o cercamento dos campos acabou representando um importante marco nesse processo. Famílias
inteiras de trabalhadores rurais foram expulsas das fazendas, substituindo a produção de alimentos para subsistência pelos
rebanhos de ovelhas. Máquinas de ceifar o trigo e colheitadeiras possibilitaram uma revolução agrícola, gerando excedentes
e, consequentemente, o aumento da oferta de alimentos e matérias-primas. Essa elevação na produtividade viabilizou o
modo de vida urbano, motivando enorme êxodo rural.
A rápida expansão dos centros urbano-industriais estimulou a construção civil, o comércio, as atividades financeiras e
de serviços. Surgiram edificações industriais, bairros operários, estações ferroviárias e portos, avenidas mais largas, etc.
indústria, embora fosse um fenômeno novo, representava uma enorme revolução urbana.
NOVAS CLASSES SOCIAIS
A industrialização também foi responsável por
grandes transformações nas relações sociais e de trabalho.
O nascimento da indústria moderna significou o
surgimento de novas classes sociais. De um lado, estava a
burguesia industrial, dona dos meios de produção. De
outro, surgia o proletariado ou operariado, classe social
que detém a força de trabalho a ser vendida para a
burguesia industrial em troca de um salário.
Na primeira fase da Revolução Industrial, a
exploração dos trabalhadores representava uma enorme
fonte de lucros para a burguesia industrial. Por causa da
inexistência de leis trabalhistas, as jornadas de trabalho
eram longas, a mão de obra incluía crianças e os salários
eram baixíssimos. As empresas passaram a se sentir em
uma posição privilegiada em relação aos artesãos. Estes
produziam, geralmente, em quantidade e qualidade inferiores (portanto, sob um custo-benefício menos vantajoso), o que os
obrigava a se sujeitar a tais condições de trabalho.
Ainda na Primeira Revolução Industrial, a enorme exploração dos trabalhadores e o enriquecimento das burguesias
industriais passaram a ser alvo de críticas científicas (por autores como Karl Marx, Friedrich Engels, etc.). Os trabalhadores
começaram a organizar sindicatos para lutar por direitos hoje considerados básicos, como regulamentações da carga horária
de trabalho, remuneração adequada, direito a folgas e férias e proibição do trabalho infantil. Em longo prazo, todas essas
demandas levaram ao surgimento de leis trabalhistas e também à qualificação do trabalho industrial.
TRANSFORMAÇÕES DO SÉCULO XIX
Além das transformações sociais, o espaço foi alterado de maneira significativa. A partir da segunda metade do século
XIX, houve uma grande diversificação das tecnologias industriais e de geração de energia, transformando a produção
industrial. As hidrelétricas e o petróleo ampliaram a capacidade produtiva da indústria, possibilitando-a atingir mais
mercados e obter novos subprodutos.
Com a crescente demanda por matérias-primas para a indústria e alimentos para a população urbana, as
potências capitalistas industriais reforçaram a já existente busca por áreas fornecedoras de recursos naturais.
A descoberta de jazidas de petróleo nos Estados Unidos intensificou seu expansionismo, enquanto na Euro-
pa e no Japão foi possível notar o fortalecimento dos exércitos e das ações imperialistas.
Diversos territórios, principalmente na África e na Ásia, foram apropriados, deflagrando um processo co-
nhecido como neocolonialismo ou imperialismo. A invasão e a exploração de tais áreas por parte dos novos
colonizadores alteraram de forma significativa as dinâmicas internas nessas sociedades. A produção local,
antes voltada às necessidades da população nativa, foi substituída por cultivos comerciais de exportação,
institucionalizando a chamada Divisão Internacional do Trabalho (DIT).

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Entre o
fim do século XIX e o início do século XX, estratégias de concorrência feroz levaram muitas pequenas empresas à falência,
provocando forte concentração da produção industrial e das riquezas provenientes dela. Empresas poderosas se formaram,
sobretudo nos Estados Unidos, na Europa e no Japão. A monopolização de certos setores acabou criando grandes impérios
econômicos, como os grupos Rockefeller (petróleo), Vanderbilt (ferrovias), Armour (alimentos em conserva), Carnegie
(aço), JP Morgan (bancos), entre outros.
Essa transformação representou, do ponto de vista econômico, a passagem entre duas fases. O chamado capitalismo
concorrencial tornava-se cada vez mais local e o que viria a ser o capitalismo monopolista tornava-se cada vez mais global.
O vínculo desses novos agentes com o setor financeiro iniciaria, a partir de então, uma transformação gradual e globalizada
para a organização das economias industriais do planeta.
Segunda Revolução Industrial

A partir da segunda metade do século XIX, um novo ciclo de transformações foi iniciado. O progresso tecnológico até ali
vivenciado trouxe grandes transformações para o setor industrial. Alguns exemplos destacados foram:
• setor de energia, por meio do petróleo e da eletricidade;
• setor de transportes, capitaneado pela indústria automobilística e pelo incremento na navegação Marítima de carga;
• setor de comunicações, criando novas possibilidades através do telégrafo e do telefone.
O setor mais representativo dessa nova fase – e palco das principais transformações da indústria – foi seguramente o
automobilístico. As novas técnicas produtivas tiveram início na produção de automóveis antes de serem adotadas por
empresas industriais de outros mercados. Por causa disso, e também pelo seu destaque na produção de petróleo, os Estados
Unidos simbolizaram a grande potência dessa nova fase. O país tinha disponibilidade de recursos naturais e espaço, o que
contribuiu para seu período de expansão.
O aumento da produção industrial também levou à reorganização do espaço geográfico. Por exemplo: para produzir um
carro, a indústria automobilística necessitava de peças de outras indústrias. Assim, a produção dos componentes tinha de
estar perto das montadoras de carro. Essa necessidade gerou uma intensa concentração industrial na época, gerando áreas
que ficariam conhecidas como economias de aglomeração.
No plano econômico, um modelo preexistente ganhou muita relevância. A corrente de pensamento conhecida como
liberalismo econômico ganhou força entre a Primeira e a Segunda Revolução Industrial. Esse modelo econômico consiste no
princípio básico da não intervenção estatal na economia, acreditando ser mais eficaz e criativa a liberdade individual.
Enxergando na concorrência do livre mercado um mecanismo para garantir produtos e serviços melhores, tal corrente se
propagou em um cenário em que grandes empresas se expandiam e consideravam a intervenção estatal um empecilho. Essas
empresas encontraram nesse discurso liberal, portanto, um canal para exercer suas práticas de mercado sem as restrições
impostas pelo Estado.
Taylorismo e Fordismo
Uma das principais transformações vivenciadas na Segunda Revolução Industrial ocorreu no âmbito da organização do
trabalho. Novas propostas visavam sistematizar e profissionalizar a produção fabril, dando-lhe um caráter mais eficaz e
produtivo. O engenheiro estadunidense Frederick Taylor foi um grande representante dessa nova fase.
Ele propunha uma forma de organização mais hierarquizada do trabalho industrial. O Taylorismo – como ficou
conhecida sua teoria – era baseado na divisão das tarefas no processo fabril, o que atribuía serviços repetitivos a
trabalhadores mais bem preparados e especializados para eles.

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Perante toda a organização sindical já obtida pelos trabalhadores, o grande objetivo disso, sem dúvida, era economizar
tempo no processo produtivo. Haveria, por meio de tal estratégia, formatos de expansão da mais-valia aplicada sobre o
trabalhador por meio de um maior aproveitamento de seu tempo de trabalho.

Uma das grandes consequências desse modelo, além do aumento na produtividade, foi a alienação dos trabalhadores.
A repetição levava, é verdade, à produção mais próxima da perfeição quanto ao custo-benefício. Porém, o trabalhador
focado em apenas uma etapa da produção limitava-se a acompanhar
uma fase do processo em vez de conhecer o todo que a compunha.
Como resultado, ele se tornava alienado.
Esse tipo de consequência, é claro, só pôde ser identificada
após a aplicação prática das teorias tayloristas. Isso ocorreu por meio
da figura de Henry Ford, patriarca da automobilística americana Ford
Motors. O que ficou conhecido a partir de então como Fordismo
tratou-se de um modelo de produção em massa e em série, que visava
à produção de enormes estoques como meio de baratear o processo
fabril.
Ford aperfeiçoou a teoria taylorista, introduzindo artifícios cuja
necessidade somente a observação prática poderia provar. Sua
inovação principal foi a chamada linha de montagem produtiva
(simplificada por muitos como a “esteira de produção”), que
reforçava a especialização do trabalho e atribuía ao produto final uma
marca fordista: a padronização (ou estandardização).

As ideias defendidas por Ford mostravam a visão ampla de um grande gestor empresarial. Ele já era capaz, por
exemplo, de perceber vantagens em remunerar melhor os trabalhadores. Uma dessas vantagens, hoje bastante evidenciada,
tinha destaque na visão de Ford: a manutenção de um mercado consumidor, condição fundamental à saúde de um sistema de
produção em massa. A remuneração satisfatória permitia que os trabalhadores comprassem os produtos que ajudavam a
produzir.

Seria necessário que tal pensamento se expandisse pelos demais mercados, além do automobilístico. Motivados pelo
objetivo de expandir os lucros e salvaguardados pelo modelo liberal de economia, muitos Industriários se mostraram
receptivos aos aspectos fabris do modelo fordista sem, no entanto, consumir sua Teoria por completo. Eis a raiz do principal
ponto fraco do fordismo: a fragilidade das estratégias globais de Estímulo ao consumo.

CRISE DE 1929
O mundo vivenciou, a partir de 1929, as consequências do desinteresse de curto prazo em realizar reflexões bastante
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simples: um modelo que seja baseado na produção em massa precisa da garantia de que Seus consumidores seguirão o mesmo
ritmo ao comprar tais produtos. Porém, o fordismo foi implantado em Quase todo o mundo industrializado durante a Primeira
Guerra Mundial, um momento em que essa garantia Não era uma preocupação palpável.
O conflito acometeu a Europa em um cenário de caos que não se limitou ao período de 1914 a 1918. Os Países
industrializados do continente sofreram perdas significativas em sua capacidade produtiva durante o Período da guerra,
criando um ambiente favorável à expansão do fordismo estadunidense.

Os fordistas eram capazes de produzir em massa em um período de limitação da oferta nas principais potências
concorrentes: tudo parecia se encaixar perfeitamente. A única parte positiva de uma guerra, no senso comum popular, é o
seu fim. Embora isso seja virtualmente unânime, a produção industrial sofreu severas perdas após o término do conflito. A
reconstrução da indústria europeia apresentou concorrentes aos Estados Unidos, até então soberanos no mercado.
Já em meados da década de 1920, o aumento da capacidade produtiva global superou o ritmo de consumo imposto pelos
fordistas. Adicionam-se a isso mais dois fatores: a resistência dos industriários em transferir ganhos aos trabalhadores e a
interligação financeira que a economia global já possuía. Temos, então, uma crise global de subconsumo/superprodução.

A característica de superprodução, associada à dispersão do consumo entre vários concorrentes, fez despencar o valor
das ações das empresas. Esse contexto provocou uma enorme onda de falências e a crise generalizada em 1929. A
conjuntura recessiva gerou desemprego e a consequente retração do mercado consumidor, alimentando um ciclo que parecia
impossível de ser solucionado.

KEYNESIANISMO E BEM-ESTAR SOCIAL

Em meio ao turbilhão de problemas gerados pela grande depressão de 1929, diversas mudanças econômicas, sociais e
políticas ocorreram. Após a quebra da Bolsa de Valores de Nova York – grande marco simbólico da crise –, foram trazidas
ao debate algumas limitações práticas do liberalismo econômico exacerbado.
O pretexto da livre concorrência já havia se tornado um argumento de reprodução de práticas monopolistas por parte de
grandes empresas, o que gerava uma série de problemas sociais e econômicos. A ausência de regulamentação do Estado
passou a ser vista como a grande responsável pela permissividade a práticas que seriam individualmente lucrativas e
coletivamente nocivas.
Essa divergência sobre o papel do Estado se tornou o centro de grandes debates entre pensadores de correntes distintas.
Ironicamente, um conterrâneo britânico de Adam Smith foi o teórico de maior destaque na crítica a certas práticas do
modelo econômico liberal naquele período. Ele era John Maynard Keynes
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Defensores de uma política de
intervencionismo estatal, os keynesianos
(como ficaram conhecidos os defensores
das ideias de Keynes) pensavam ser papel
do Estado, por meio de medidas diretas e
indiretas, mitigar os efeitos colaterais dos
ciclos econômicos, contemporaneamente
discutidos por outros pensadores, dentro e
fora da Europa.
A ideia dos ciclos econômicos é
bastante simples: existem períodos de
ascensão e períodos de recessão na
economia capitalista. Nos períodos de
prosperidade, em geral as ideias liberais se
tornam mais populares. O Estado, afinal,
restringiria as possibilidades de lucro e
associações entre empresas,
regulamentando fusões, criando barreiras
protecionistas, leis trabalhistas, etc.

No período de recessão, no entanto, é rotineiro recorrer ao Estado, criticado pouco tempo antes. Afinal, se o Estado
busca se mostrar um regulamentador econômico, é seu papel prover empréstimos, injetar recursos financeiros, criar
empregos e incentivar obras de infraestrutura que viabilizem a restituição da economia.
Com base nessa dualidade de momentos e respectivas inspirações, vivemos uma divergência que atravessa séculos.
De um lado, há os ferrenhos defensores do Estado interventor, forte e ativo; de outro, os que enxergam o Estado como um
agente na restrição dos lucros e da prosperidade econômica. Nos momentos de crescimento, ocorre uma intensa privatização
dos lucros. Nos momentos de recessão, no entanto, ocorre uma socialização das perdas.
Como o período pós-1929 foi caracterizado pela busca por recuperação, é compreensível a afeição momentânea pelas
ideias intervencionistas. Os keynesianos defendiam, mais especificamente, que era papel do Estado criar mecanismos de
viabilização do consumo. As políticas sociais aumentariam a renda que os trabalhadores disponibilizariam para consumo,
enquanto a realização de obras públicas garantiria o pleno emprego naquele contexto.

Apesar de produzir uma máquina de Estado de cara manutenção, as políticas keynesianas se mostraram eficazes
naquele período, proporcionando o aumento do padrão de vida nos países que adotaram tais ideais socioeconômicos e
gerando uma situação ou modelo conhecida(o) como o bem-estar social.
Chamado de welfare state nos Estados Unidos, esse modelo garantiu uma nova onda de grande consumo interno, que
inseriria o país em sua chamada golden age (era de ouro) econômica. O acordo parecia simples: ao Estado, cabia o papel de
investir no bem-estar e na estabilidade financeira do trabalhador. Ao trabalhador, restava o principal objetivo das políticas
mencionadas: o consumo.
TRANSFORMAÇÕES DO SÉCULO XX
Logo no início do século XX, a Revolução Russa de 1917 apresentou ao mundo um novo modelo de governo: o
socialismo. Nesse modelo, o Estado assumia o controle de todos os meios de produção, caracterizando o que se passou a
chamar de economia planificada. A oferta de produtos e o trato com os trabalhadores eram diretamente controlados pelo
governo.
Ainda na primeira metade do século, a Segunda Guerra Mundial abalou completamente a estrutura produtiva e social
dos países europeus e do Japão. O conflito apresentou, de um lado, Estados Unidos, União Soviética, França e Reino Unido
e, de outro, a Alemanha nazista, a Itália de Mussolini e o Japão. Ao fim da guerra, novas áreas de influência foram traçadas,
reordenando o poder e a produção mundiais.
Em menos de uma década, havia uma divisão clara do mundo entre os polos capitalista e socialista, no contexto que se
convencionou chamar de Guerra Fria. Uma consequência ligada a isso foi a descolonização da África e da Ásia, que abalou
a geopolítica dos países que funcionavam como os grandes fornecedores das matérias-primas na Segunda Revolução
Industrial. Visando fixar suas áreas de influência, a corrida armamentista dinamizou o setor da indústria bélica.
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A disputa por novas áreas de influência fez com que os investimentos econômicos dos países centrais buscassem
desconcentrar seus esforços em direção ao mundo periférico. A figura das multinacionais se tornou bastante comum,
sobretudo na segunda metade do século. Enquanto buscavam fatores locacionais, como a mão de obra barata e a
disponibilidade de recursos naturais, tais empresas redefiniam a divisão internacional do trabalho, transformando-a em algo
muito mais complexo do que era até então.
Esse processo, embora tenha democratizado a industrialização pelo mundo, acabou aprofundando as relações de
dependência econômica, tecnológica e cultural entre os países. Os países periféricos – agora chamados de “em
desenvolvimento” – limitavam-se à exportação primária e/ou à recepção de indústrias estrangeiras em seu território. Esse
segundo modelo ficaria conhecido como o da industrialização tardia.
As mudanças geopolíticas, econômicas, sociais e técnicas ocorridas ao longo do século XX alteraram as condições de
organização empresarial das indústrias. Os setores industriais incorporaram novas estratégias produtivas, que incluíam a
segmentação produtiva associada à terceirização da produção de componentes. Isso teve repercussões em diversos países
que permaneciam predominantemente rurais até o fim do século XX e que se industrializaram de forma acelerada,
caracterizando-se como “plataformas de exportação”.
Nesse cenário econômico mais povoado de agentes, dois países que terminaram a Segunda Guerra Mundial econômica e
moralmente arrasados demonstraram formidável capacidade de reconstrução. Japão e Alemanha passaram por diversas
intervenções estrangeiras em sua organização e foram proibidos até de manter exércitos.
Interessados em consolidar sua influência político-econômica nesses países, os Estados Unidos proveram ajuda financeira
(por meio do Plano Marshall e do Plano Colombo), fundamental na reconstrução de todo o aparato de produção e
infraestrutura. Estrategicamente, Japão e Alemanha priorizaram a alocação de investimentos nos setores de educação,
ciência e tecnologia a fim de recuperar sua importância econômica.
Os anos 1970 trariam uma lição amarga para a geopolítica dos Estados Unidos. Com os novos-velhos concorrentes
reconstruídos, era necessária uma enorme dose de inovações para que os Estados Unidos mantivessem seus mercados. O
modelo fordista, no entanto, apresentava um produto padronizado e ainda não dotado das atuais estratégias de marketing e
renovação do consumo.
Todo esse contexto, associado ao imenso impacto na indústria trazido pelas duas crises do petróleo (em 1973 e 1979),
deixou claro aos Estados Unidos e ao mundo algumas novidades:
• O Estado de bem-estar social havia se tornado econômica e politicamente insustentável, pela falta de recursos para manter
uma máquina estatal cara, gerando uma enorme falta de confiança do cidadão estadunidense nas entidades governamentais.
• A hegemonia econômica dos Estados Unidos estava ameaçada pela concorrência asiática e alemã, que trazia produtos
renovados e modernos dentro de uma nova lógica industrial.
• O mundo vivenciaria, a partir de então, novos marcos tecnológicos, produtivos, econômicos e sociais: uma nova
Revolução Industrial.
TERCEIRA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
Algumas transformações já vinham sendo vivenciadas desde a década de 1950. No entanto, mudanças efetivas foram
perceptíveis a partir, principalmente, dos anos 1970. Nessa fase, países e empresas que investiam em tecnologia e
qualificação de mão de obra assumiram a liderança econômica. O aspecto qualitativo não abrangia somente a ação fabril, mas
todo o processo de produção, desde a concepção do produto, até a gestão empresarial e as estratégias de propaganda e
marketing.
Como já citado, Japão e Alemanha assumiram o pioneirismo das ações, rapidamente assimiladas por outras grandes
potências. Os setores de informática, robótica, biotecnologia e química industrial assumiram grande destaque nesses países.
Um deles, no entanto, traria mudanças não somente para a produção, mas também para uma enorme quantidade de
processos que seriam transformados para sempre: as telecomunicações.
Nomeada de Revolução Técnico-científica-informacional, a Terceira Revolução Industrial se baseou na circulação de
informações e capital. O aumento do comércio global, dos fluxos financeiros e da desconcentração industrial pelo mundo foi
o primeiro aspecto sentido. A cada dia mais, com o incremento constante de tais técnicas, observamos novos fenômenos
sociais, econômicos e políticos, ligados direta ou indiretamente ao chamado meio técnico-científico-informacional (MTCI).
Apesar de as indústrias que foram mais destacadas nas etapas anteriores (automobilística, siderúrgica, têxtil, etc.) ainda
serem muito importantes, o que sustenta as atuais indústrias de ponta são as atividades que produzem serviços de alta
tecnologia, como a informática, a automação produtiva, as telecomunicações, a gestão financeira, etc. A ciência e a
tecnologia avançadas passaram a comandar o ritmo das mudanças e as estratégias de mercado e de obtenção de lucros.
No plano financeiro, o mercado passou a incorporar os avanços tecnológicos, ganhando agilidade para realizar maior
número de transações em cada vez menos tempo. No mundo globalizado, a interligação de computadores torna possível a
transferência de milhões de dólares em questão de segundos entre diferentes países.
Além do tráfego de capital, uma transformação espacial pode ser definida como ainda significativa: a localização das
indústrias. Os tradicionais centros urbano-industriais constituíam-se como áreas de altos custos de produção: da mão de obra
exigente (sindicatos fortes, altos salários e amplos direitos trabalhistas), altos impostos (para a manutenção do Estado de
bem-estar social), leis ambientais rigorosas, entre outros aspectos.
A indústria, que passou a contar com a possibilidade de comando à distância, se dispersou no espaço, buscando a melhor
área para produzir seus bens. Nota-se, inclusive, uma fragmentação do processo produtivo em diversas etapas, em diferentes
locais, como abordado no início do módulo. As indústrias passaram a buscar locais que apresentassem fatores locacionais,
como:
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• baixos salários;
• mão de obra qualificada ou especializada, dependendo do produto;
• incentivos fiscais;
• terrenos baratos;
• infraestrutura menos saturada.
Muitas vezes, países com nível mais baixo de desenvolvimento buscam criar um ambiente sedutor aos investidores. Essa
atratividade proporciona uma grande dispersão industrial, que influencia de forma direta as transformações na divisão
internacional do trabalho. Aos centros tradicionais, resta o setor terciário (serviços e comércio), popularizando mais um
fenômeno: a terciarização de muitas áreas desenvolvidas.
Atendo-nos ao aspecto fabril e comercial, a crise de 1929 tinha mostrado as fraquezas do modelo de produção fordista.
Linhas de produção em massa, geradoras de estoques imensos de consumo incerto, não atraíam o interesse do consumidor
pela falta de inovações.
As novas tecnologias permitiram o estabelecimento de um novo modelo de produção. O pós-fordismo apresenta novas
formas de organização da produção e do trabalho, iniciando um momento da economia produtiva. Como os principais
agentes dessa economia são as indústrias, a melhor forma de compreendê-la é conhecendo as características das empresas
pioneiras, entre as quais se destacou a japonesa Toyota.
TOYOTISMO
Assim como a Ford Motors marcou época e denominou o modelo fabril da Segunda Revolução Industrial, a
automobilística japonesa Toyota iniciou uma onda de transformações que ficou conhecida como toyotismo. A palavra-chave
para compreender esse modelo antagônico ao fordismo, sem dúvida, é a flexibilidade.
Entre seus principais aspectos estão as linhas de produção flexível. Elas permitem que uma mesma linha de montagem
produza modelos diferentes, atingindo mercados mais diversificados. Além disso, essa flexibilidade garante a chance de
realizar pequenas mudanças na produção ao longo do tempo, visando renovar o interesse do consumidor, não saturando os
mercados por meio da oferta de bens customizados.

Para atingir isso tudo, a produção toyotista é bastante profissionalizada e tecnológica. Esse aspecto exige
um trabalhador flexível. Ou seja, a qualificação do trabalho industrial proporcionaria mais um antagonismo ao
fordismo. A máquina passou a ser responsável pela maioria das funções repetitivas. Do trabalhador, passa a
se esperar a maior versatilidade possível, para realizar funções variadas que exijam capital intelectual.
Além de produtos e trabalhadores flexíveis, era também necessária uma gestão que não repetisse erros
de rigidez da era fordista. Os grandes estoques assombravam industriários como um risco à saúde empre-
sarial. Dali em diante, a produção passou a acontecer conforme a demanda, mantendo estoques mínimos.
A chamada produção just-in-time reduziu os riscos e buscou dificultar a incidência de novas crises.
TRANSFORMAÇÕES DA ATUALIDADE
Na década de 1980, os defensores do liberalismo econômico foram ressurgindo. A teoria atualizada, que ficou
conhecida como neoliberalismo, surgiu nos países centrais como uma reação ao Estado intervencionista e de bem-estar
social. Difundida como a política do “estado-mínimo”, o neoliberalismo pregava a não intervenção do Estado na economia.
O modelo foi implantado inicialmente no Reino Unido durante o governo da conservadora Margaret Thatcher (nomeada
primeira-ministra em 1979) e nos Estados Unidos por meio do republicano Ronald Reagan. A partir de então, o modelo se
propagou: houve progressiva redução da regulamentação da economia pelo Estado e privatização de diversos setores antes
administrados pelo poder público.
Para os neoliberais, o capitalismo industrial estava ameaçado pelas reivindicações trabalhistas, gastos sociais e excesso
de impostos. Cortar os gastos sociais e manter uma dose de desemprego (o que barateou a mão de obra por causa da
concorrência por postos de trabalho) foram algumas das soluções apontadas para eliminar esses obstáculos.
Conforme o poder do Estado diminuia, uma nova onda de concentrações financeiras era formada. O objetivo era ampliar
o controle de mercados ou disputá-los com maior competitividade. As empresas foram acompanhadas por organismos
internacionais em tal estratégia, como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI). Muitas vezes essas
instituições foram utilizadas para propagar a ideologia neoliberal por meio de regras condicionantes de novos empréstimos.
Desde 2008 o mundo vem sendo novamente abalado por uma crise internacional de proporções globais. A queda das
bolsas de valores nos Estados Unidos, no Japão e em diversos países europeus atingiu em pouco tempo o restante do mundo.
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Desde então, temos visto a recessão se aprofundar em segmentos produtivos, com maior intensidade nos países centrais.
Novamente, o mercado financeiro, as indústrias e a população desempregada olham para o Estado esperando soluções.
Nos países centrais, a saída foi diferenciada. Os Estados Unidos, por exemplo, adotaram uma linha parecida com a dos
países periféricos, injetando capital na economia com planos de ajuda econômica.
Na Europa, a saída vem sendo apontada como o aprofundamento da austeridade, enxugando gastos governamentais e
exigindo sacrifícios por parte da população, o que gera bastante instabilidade política. Assim como a Europa só foi atingida
mais fortemente pela crise a partir de 2011, países como o Brasil passaram a ter impactos maiores somente depois de 2013,
deixando-nos algumas interrogações sobre até onde vai tal crise, ou a respeito da melhor forma de solucioná-la.
PARA CONCLUIR
Aprendemos que a produção é hoje cada vez mais globalizada, na medida em que as empresas buscam vantagens
competitivas para se alocarem no espaço. Sobre os tipos de indústrias e bens, distinguiu-se que: bens de produção são
voltados para outras indústrias, enquanto bens de consumo são voltados para o mercado consumidor final.
Uma revolução industrial é um conjunto de marcos que transformam profundamente as dinâmicas produtivas, marcando
sua respectiva fase da industrialização. A Primeira Revolução Industrial teve como pioneira a Inglaterra, ao longo do século
XVIII. O destaque foi a indústria têxtil, movida a carvão mineral. Nesse ponto, também compreendemos que a mais-valia é
a diferença entre a riqueza gerada pelo trabalho e o salário pago ao trabalhador.
A Segunda Revolução Industrial teve como pioneiros os Estados Unidos, no meio do século XIX. Os destaques foram a
indústria automobilística e o petróleo. Essa revolução foi cenário do Taylorismo, a doutrina que prega a maximização
produtiva através da divisão de tarefas e etapas do trabalho. O Fordismo consistiu em sua aplicação prática na Ford Motors.
A crise de 1929 foi uma depressão econômica ligada à superprodução/subconsumo dos produtos americanos, decorrente
do fim da Primeira Guerra Mundial. Logo após sua ocorrência, o keynesianismo foi a doutrina econômica empregada para
recuperar a economia americana pós-1929, configurando o Estado de bem-estar social.
Por fim, conhecida como Revolução Técnico-científica-informacional (pelo destaque nas tecnologias e comunicações), a
Terceira Revolução Industrial foi marcada pela substituição do Fordismo pelo Toyotismo, doutrina bem mais flexível em
praticamente todos os aspectos da produção. Essa revolução também representou um marco no desenvolvimento das
associações de capital, que se tornaram mais complexas em relação às revoluções anteriores.

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