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As transformações económicas na Europa e no Mundo

Ao longo do século XIX, a revolução industrial conheceu um forte impulso


devido à utilização de novas fontes de energia e ao aparecimento de
outros setores de ponta. Tendo iniciado a sua industrialização nos finais do
século XVIII, a Inglaterra manteve a hegemonia no século XIX, embora
ameaçada por outros países que também se industrializaram.

A expansão da revolução industrial


Na segunda metade do século XIX, ocorreram profundas transformações
na indústria, vulgarmente conhecidas como a “segunda revolução
industrial”: foram descobertas fontes de energia como a electricidade e o
petróleo, novos produtos como o aço ou os produtos sintéticos e inventos
técnicos como o motor de combustão interna. O aumento da produção e a
expansão dos mercados, favorecidos pela renovação dos transportes,
originou grandes concentrações industriais e financeiras.

A ligação ciência-técnica

Estas inovações assentaram na estreita articulação entre a técnica e a


ciência. Na realidade, se o desenvolvimento técnico da primeira fase da
revolução industrial se deveu sobretudo à capacidade criadora de operários,
nesta segunda fase os inventos resultaram da ação de cientistas que,
formados em Universidades, atuavam em estreita ligação com as fábricas
nos laboratórios. Deste modo, a investigação científica e tecnológica
acumulou conhecimentos e desenvolveu aplicações cada vez mais
aperfeiçoadas, num processo em que teoria e prática se alimentaram
mutuamente, gerando progressos cumulativos (expressão utilizada para
designar os crescentes progressos que resultam da ligação entre a ciência e
a técnica), o que permitiu vencer a concorrência e conquistar
mercados.

Novos inventos e novas formas de energia


A indústria siderúrgica e a indústria química
A siderurgia (fornecedora de máquinas, carris e outros
equipamentos) tornou-se na indústria de pontada segunda revolução
industrial. Quanto à indústria química, centrou-se especialmente em
indústrias de explosivos, produtos farmacêuticos, fertilizantes e produtos
sintéticos.

Novas formas de energia


A electricidade e o petróleo constituíram as principais
fontes energéticas utilizadas nesta segunda fase da revolução industrial.
O petróleo foi descoberto em 1859 e foi inicialmente utilizado para
iluminação, só mais tarde como combustível no motor de combustão
interna. Os derivados do petróleo tornam-se nos combustíveis do futuro. O
aproveitamento industrial da electricidade deveu-se a uma série de
invenções que permitiram a sua produção e transportes a grandes
distâncias. Tornou-se possível a utilização da electricidade na iluminação,
que veio substituir o gás. A electricidade foi das conquistas mais
marcantes da Revolução Industrial.
A aceleração dos transportes
Os transportes foram um elemento fundamental à industrialização. Os
meios de transporte acompanharam o progresso tecnológico, adoptando
desde logo uma das principais inovações da Revolução Industrial: a
máquina a vapor. A principal inovação consistiu na aplicação da máquina a
vapor na navegação e nos transportes ferroviários. Assistiu-se á expansão
dos transportes ferroviários, que constituíram a principal maneira de
transportes na segunda metade do século XIX.O êxito da máquina a vapor
foi tão grande que os inventores tentaram aplicá-la ao transporte por
estrada:em 1870 apresenta-se o primeiro protótipo de um carro a vapor,
contudo, foi o motor de combustão interna que se revelou mais adequado.
Em 1886, os automóveis rolavam pelas estradas a anunciar os novos
tempos.

Concentração Industrial e Bancária


É a partir de 1870 que podemos falar, com propriedade, de uma “civilização
industrial”. A era docapitalismo industrial aproxima-se do auge.

Capitalismo Industrial

Sistema económico caracterizado pela concentração dos meios de produção


(as fábricas) nas mãos de grandes proprietários que, dispondo de capital
e recorrendo à exploração da mão-de-obra, transformaram a indústria na
principal fonte de obtenção de lucros. O desenvolvimento da
industrialização provocou quer o crescimento das fábricas, quer a
tendência para a sua concentração. A concentração industrial acelera-se
na segunda metade do século. Constituíram-se dois tipos de concentrações:

 a concentração horizontal: associação de empresas para eliminar


a concorrência, controlar áreas de negócios com vista a dominar o
mercado. Estes acordavam as quantidades a produzir, os preços de
venda ou as datas de colocação no mercado. O riginou a formação
de cárteis.

 a concentração vertical: todas as fases de produção integram-se


na mesma empresa, era utilizada sobretudo na indústria metalúrgica.
Originou a formação de monopólios.

A racionalização do trabalho
Produzir com qualidade e produzir a baixo preço tornaram-se as questões
fundamentais a fim de obter do trabalho a máxima rentabilização.
Frederick Taylor expôs o seu método para a otimização do rendimento da
fábrica, que ficou conhecido por taylorismo. Assentava na divisão máxima
do trabalho, seccionando-o em pequenas tarefas elementares e
encadeadas. A cada operário caberia executar, repetidamente, apenas uma
destas tarefas, que o trabalhador seguinte continuava. Cada operário seria
treinado para uma única tarefa, especializando-se na sua execução.
Henry Ford pôs em pratica as ideias de Taylor, aplicando-o à
estandardização (Padronização do processo de produção e dos produtos
obtidos, conseguida pelo fabrico em série, com vista a tornar possível a
produção em massa) da produção de automóveis, que foi um tremendo
sucesso, apesar deste método ser alvo de críticas.

A geografia da Industrialização
Até meados do século XIX, a Inglaterra deteve a hegemonia económica a
nível mundial pelos seguintes factores:
 dispunha de mais potência em máquinas a vapor;
 liderava a produção mundial do carvão, ferro e aço;
 possuía a maior frota comercial do mundo;
 Sectores industriais mais avançados da Inglaterra: Têxtil, Siderurgia
e Metalurgia.

A afirmação de novas potencias


Na Europa, a Franca, a Alemanha, a Bélgica e a Suiça colocam-se no grupo
dos países mais industrializados. Na América, agigantam-se os EUA. Na
Ásia, o Japão é o único pais a industrializar-se.

A agudização das diferenças


O livre-cambismo

Livre-cambismo defendia a não intervenção do Estado na economia, e


a liberdade do comércio sem quaisquer restrições, designadamente
barreiras alfandegárias. A expansão da revolução industrial foi
acompanhada pelo triunfo das ideias livre-cambistas. No entanto, a
liberdade de concorrência provocou a proliferação de produtos a baixo
preço, o que afectou a economia. As crises cíclicas constituíram sistemáticos
sobressaltos económicos e simultaneamente, fizeram crescer as
desigualdades sociais. As crises capitalistas (geralmente de 6 ou 10 em
10 anos) deviam-se essencialmentea um excesso de investimentos e de
produção industrial.

Crises cíclicas

Situação periódica de mau estar a nível da economia provocada por uma


subida ou descida anormal dos preços, dos salários ou da produção. As
crises contemporâneas são de superprodução: a procura diminui, a oferta
aumenta, os preços e os salários baixam, aumenta o desemprego e diminui
o nível de vida. A violência das crises e sobretudo os seus efeitos sociais
puseram em evidencia as fragilidades do capitalismo liberal. Os mecanismos
de resposta às crises traduziram-se pelo incremento de políticas
protecionistas e pelo aumento da intervenção do estado na regulação
da vida económica e social.

A sociedade industrial e urbana


A explosão populacional
Explosão demográfica

Forte aceleração da taxa de crescimento da população mundial


verificada apartir dos finais do século XVIII, relacionada sobretudo com a
significativa redução da taxa de mortalidade.No século XIX, verificou-se um
crescimento muito rápido e acentuado da população mundial e, em
especial, da Europa industrializada, falando-se assim de uma explosão
demográfica. Impôs-se assim, um novo modelo demográfico, que tinha
como características:
- o recuo da mortalidade;
- o declínio da elevada natalidade;
- aumento da esperança media de vida;
- descida da idade do casamento.

A expansão da Revolução Industrial correspondeu a uma expansão da


população, pelo que foramos países industrializados que revelaram mais
cedo estas características demográficas.
Fatores da explosão populacional:
- melhores cuidados médicos;
- maior abundância de bens alimentares;
- os progressos na higiene.

Expansão urbana
As alterações demográficas e económicas originaram uma forte
expansão urbana. Os principais fatores da expansão foram:
- o êxodo rural (as alterações na produção agrícola, ao dispensarem parte
da mão-de-obra, levam a queo habitante da província procure a cidade)
- a emigração (a população europeia foi responsável por diversas vagas de
partida para as colónias dos continentes africano, americano e oceânico)
- o crescimento dos setores terciário e secundário (estes concentram-
se nas cidades e requeremcada vez mais efectivos. A população ativa
dedicada ao sector primário diminui.)
O intenso crescimento das cidades revelou um conjunto de novos
problemas urbanos: o super povoamento, a ausência de redes de esgoto
e de abastecimento de água, o agravamento de fenómenos como a miséria,
delinquência, prostituição, mendicidade.

Migrações internas e emigração


No século XIX ocorreram intensos movimentos populacionais.
Migrações internas:
 Deslocações sazonais (realizadas apenas em certas alturas do ano
para locais onde era necessário umacréscimo da mão-de-obra)
 Êxodo rural
(movimento campo-cidade, fosse porque uma agricultura mecanizada
dispensava mão-de-obra ou porque uma agricultura de subsistência fornecia
insuficientes rendimentos).
Os Europeus espalharam-se pelo mundo fora em sucessivas vagas
de emigração. Na origem deste fluxo migratório terão estado os seguintes
factores:
- a pressão populacional (os governos apoiavam politicas migratórias
devido à excessiva concentraçãopopulacional);
- os problemas no mundo rural;- os problemas ligados á
industrialização;
- a revolução dos transportes (que embarateceu o preço das passagens);
- a idealização dos países de destino (como por exemplo os E.U.A., que
era visto como a terra dasoportunidades);
- a fuga a perseguições políticas e religiosas.
Unidade e diversidade da sociedade oitocentista
Uma sociedade de classes
A sociedade de ordens do Antigo Regime, na qual o nascimento era o
principal fator de distinção social, deu lugar à sociedade de classes da
Época Contemporânea, em que os cidadãos, embora iguais perante a lei, se
distinguem pelo dinheiro e por todas as vantagens que este permite
conquistar. Na sociedade de classes, a mobilidade ascensional é mais
frequente podendo ser conquistada por mérito individual. Nesta
destacavam-se dois grandes grupos:
- Burguesia (detentora do capital e dos meios de produção);
- Proletariado (classe mais baixa que fornece o trabalho à organização
industrial)Entre ambas, existe ainda as classes médias.

Condição Burguesa
Alta Burguesia
A alta burguesia conquistou um poder equiparável ao seu estatuto
económico pois alem de controlar ospontos-chave da economia, exercia
cargos políticos. Ao nível dos comportamentos, os burguesestentavam
aproximar-se da aristocracia. A burguesia foi, pouco a pouco, definindo
e impondo os seus próprios valores, tais como o apreço pelo trabalho, o
sentido de poupança, a perseverança e a solidariedade familiar. Passou,
então, a demonstrar orgulho pelo estilo de vida burguês (surgimento da
consciência de classe, consciencialização coletiva em relação à posição
ocupada por um estrato na hierarquia social).

Classes médias
As classes médias constituem o grupo mais heterogéneo e situam-se
entre a alta burguesia e o proletariado. Englobam o conjunto de profissões
que não dependem do trabalho físico, isto é, o chamado setor dos serviços.
A sua composição integrava:
- pequenos empresários da industria;
- empregados comerciais;
- profissionais liberais (em vez de terem um patrão, trabalhavam por conta
própria. Ex: médicos,advogados, etc.).
As classes médias eram defensoras dos valores da burguesia no intuito
de permanecerem dentrodesta classe. Tornaram-se assim, as classes
mais conservadoras.

Condição operária
Proletariado
Classe operária que, sem meios de produção, vende a sua força de trabalho
em troca de um salário.Os operários enfrentavam grandes problemas dentro
e fora do seu local de trabalho:
- elevado risco de acidentes de trabalho e doenças;
-ausência de medidas de apoio social (sem direito a férias, o horário
era puxado, não tinhamsubsídios de desemprego, velhice ou doença);
- contratação de mão-de-obra infantil;
- espaços de trabalho pouco saudáveis;
- espaços de habitação sobrelotados e insalubres;
- pobreza e todos os problemas a esta associados (desnutrição, doenças,
prostituição, consumo elevadode bebidas alcoólicas, mendicidade).
O movimento operário
As primeiras reacções dos operários contra a sua condição miserável foram
pouco organizadas. Com o passar do tempo, o movimento operário
organizou-se para se tornar mais eficaz, revestindo duas formas:
- Associativismo (criação de associações que apoiavam os operários
mediante o pagamento dumaquota)
- Sindicalismo (os sindicatos utilizavam como meios de pressão as
manifestações e greves. A reivindicação do dia de trabalho de 8 horas,
melhoria dos salários, direito ao descanso semanal,eram alguns dos
objectivos que foram verificados em finais do século XIX.

As propostas socialistas
Socialismo
Ideologia surgida no século XIX como reacção ás desigualdades sociais
geradas pelarevolução industrial que, defendendo a abolição da propriedade
privada, a gestão democrática aosmeios de produção, procurava alcançar a
igualdade no plano social.As condições de miséria em que viviam
os proletários despertaram a vontade de intervenção social depensadores
da época. No séc. XIX a doutrina socialista criticava o sistema capitalista
e propunha uma sociedade mais igualitária. Pode-se distinguir duas
abordagens ao socialismo:
-Socialismo Utópico
(Proudhon defendia que os operários deviam trabalhar uns para os outros
em vezde trabalharem para um patrão. Abolindo a propriedade privada e o
Estado, pôr-se-ia fim á exploração de “homem para homem”.

-Socialismo Marxista
(Karl Marx analisou historicamente os modos de produção, tendo concluído
que aluta de classes é um fio condutor que atravessa todas as épocas.
Baseado neste pressuposto, expôs umplano de acção para
atingir uma sociedade sem classes e sem Estado – O comunismo.

Princípios do Marxismo:
- a luta de classes é um traço fundamental de toda a História;
- a sociedade burguesa será destruída quando o proletariado instaurar a
“ditadura do proletariado”;
- o Proletariado retirará o capital á burguesia e o
capitalismo será destruído, pois todos osinstrumentos de produção
estarão nas mãos do Estado, e assim se construirá o comunismo.
- os operários devem unir-se internacionalmente para fazer a revolução
comunista.Apesar de chocar ideologicamente com outras propostas de
remodelação da sociedade (como oproudhonismo), a doutrina marxista
prevaleceu viva.

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