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A REVOLUÇÃO FRANCESA – PARADIGMA

DAS REVOLUÇÕES LIBERAIS E BURGUESAS


A França nas vésperas da Revolução

Uma sociedade anacrónica

– 28 Milhões de franceses vivem num regime social profundamente


injusto e desigualitário. Velha sociedade de ordens de Antigo Regime
repousava na defesa dos privilégios da nobreza e do clero, ordens
que representavam apenas 2% da população!

– Nobreza: quase totalidade dos cargos ministeriais e diplomáticos;


lugares cimeiros do exército e da hierarquia religiosa; não paga impostos
ao rei.

– Clero: 10% das terras mais ricas de França. Recebem numerosas


rendas e direitos de origem feudal; recebem a dízima eclesiástica; não
paga impostos ao rei.

– Terceiro Estado ou Povo: Arrendatários na sua maioria, suportavam


pesadas cargas tributárias;

– Burguesia (Povo): a burguesia endinheirada era a elite do povo e


facilmente se distinguia dos restantes membros do povo. No entanto,
dificilmente consegue subir socialmente, o que os levou a desejar a
revolução.

A conjuntura económico-financeira

– Uma crise profunda mina a economia do reino:

– Baixa dos preços e dos lucros do trigo e do vinho. Psicose da fome,


sempre má conselheira, instalou-se.
– Indústria em crise devido ao tratado de livre-câmbio (1786), que
favorecia a importação dos tecidos ingleses. 200.000 Desempregados no
setor têxtil.

– Défice crónico das finanças: receitas não chegam para cobrir as


despesas do Estado: exército, obras públicas, instrução, gastos
impopulares da Corte, pensões a antigos soldados ou servidores do
Estado, encargos com a dívida pública (sucessivos empréstimos).

– A reforma do sistema tributário esteve, por conseguinte, entre as


grandes prioridades do poder político.

A inoperância do poder político e o agravamento das


tensões sociais

– Luís XVI, monarca absoluto de direito divino, sobe ao trono em 1774.


Desde cedo tentou resolver o problema tributário.

– Ministro Turgot liberalizou o comércio dos cereais e propôs a corveia


real pela subvenção territorial, que abrangia todos os proprietários,
incluindo os mais poderosos. Devido à influência destes, Luís XVI
despede Turgot. A todas as tentativas, os grupos privilegiados
recusaram.

Qual foi a solução? Convocação dos Estados Gerais.

– Rei elabora um Caderno de Queixas, onde todos se fazem ouvir nas


suas queixas. Pretendia-se a salvaguarda da liberdade individual e da
justiça social.
Da Nação soberana ao triunfo da revolução burguesa

A Nação soberana

Dos Estados Gerais à Assembleia Nacional Constituinte

– Abertura dos Estados Gerais teve lugar a 5/5/1789 em Versalhes.

– Para todas as votações que iriam decorrer, Terceiro Estado


reivindica o voto por cabeça, não por ordem, como pretendiam Clero
e Nobreza.

– Rei não se mostra capaz de decidir. O Terceiro Estado decide então,


porque se consideram a maior parte da população e legítimo
representante da maioria, criar a Assembleia Nacional. A ela cabia as
decisões que o monarca deveria executar. A monarquia absoluta
chega ao fim!

– Juramento da Sala de Jogo da Péla: os deputados não se irão separar


enquanto não redigissem uma Constituiçãopara a França. A nova
Assembleia passa a chamar-se de Assembleia Nacional Constituinte.

A desagregação da ordem social do Antigo Regime

A Tomada da Bastilha

– 14 De julho: ação violenta do povo parisiense, revoltada com o preço


do pão e indignado com a desconfiança do rei face à Assembleia, isto
porque o rei tinha colocado perto de 50.000 homens armados em Paris.
Achando que o povo iria perder o poder na Assembleia, entram na
Bastilha, fortaleza-prisão do absolutismo, e destroem-na. Os mais
humildes salvam a Nação burguesa representada na Assembleia!

A abolição dos direitos feudais

– Pressionados pela fome, sucessivamente agravada pelas más


colheitas dos últimos anos, os camponeses lutavam pela emancipação
completa da terra e pela libertação individual das cargas feudais.
Atacaram castelos, queimaram arquivos, mataram senhores.

– O Grande Medo: movimento impulsivo e irracional dos camponeses.


Leva os nobres a consentirem na supressão dos direitos e privilégios
feudais. A 4 de Agosto de 1789, a Assembleia determinou a abolição
das corveias e servidões pessoais; a supressão da dízima à Igreja; a
possibilidade de resgatar rendas e foros; a eliminação das jurisdições; a
supressão da venalidade dos cargos; a livre admissão aos empregos
públicos civis-militares; liberdade de todos perante a lei.

– Plantação das árvores da liberdade!

A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (26 de Agosto


de 1789)

– “Homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos”: liberdade,


propriedade, segurança, resistência à opressão. Condena-se os
privilégios da sociedade de ordens.

– Rejeita o absolutismo e inspira outros países.

A Constituição Civil do Clero

– A 2 de Novembro de 1789: Bens do Clero são confiscados, declarados


disponíveis à Nação.

– Será despojado dos seus rendimentos. Será, então, elaborado


a Constituição Civil do Clero (1790), atribui aos membros do clero
secular a simples qualidade de funcionários do Estado. O Clero
regular, que trabalha junto das populações, irá ser condenado à extinção,
em virtude da supressão das ordens e congregações religiosas.

– A Constituição Civil do Clero irá ser contestada por muitos, incluindo o


Papa.

A monarquia constitucional

– Surge em 1791.
– Votada pela Assembleia Nacional e jurada pelo rei, consagra
os Direitos do Homem e do Cidadão, a soberania nacional e
a separação dos poderes!

– Constituição:

– Sufrágio censitário: de acordo com os rendimentos.

– Sistema representativo.

– Excluídos do sufrágio e de direitos políticos ficaram os cidadãos


passivos. A lei reconhece-lhes, no entanto, direitos naturais e civis.

– Mulheres totalmente afastadas da cidadania, embora tivessem lutado


igualmente.

– Assembleia legislativa: poder legislativo. Ao rei é reconhecido o


Direito de Veto que permitia suspender as leis durante 2 anos. A
Assembleia jamais poderia ser, por ele, dissolvida.

– Rei: poder executivo. Escolhe e demite ministros. Comanda o exército


e a marinha. Assinatura da guerra e da paz estavam dependentes da
concordância da Assembleia Legislativa. O Rei é o primeiro funcionário
do Estado, já não é o senhor de um poder arbitrário.

– Juízes eleitos e independentes: poder judicial. Foi criado um Tribunal


Superior para julgar os delitos de ministros, deputados e governadores.

Luís XVI e a Revolução

– Nascido para ser rei absoluto, Luís XVI jamais esteve, de alma e
coração, com a Revolução. Chegou a tentar fugir, mas foi
apanhado. Foram várias as tentativas para repor o absolutismo e
contava com o apoio de reinos absolutistas.

– Comuna insurrecional: a ameaça do duque de Brunswick em destruir


Paris, se algo acontecesse à Família Real, exacerbou e muito os ânimos.
Uma Comuna insurrecional instalou-se na Câmara e, com a ajuda dos
federados, empreendo o assalto às Tulherias em 10 de agosto. Nesse
mesmo dia, o rei seria suspenso pela Assembleia Legislativa. A
Constituição de 1791 deixava de funcionar e a monarquia constitucional
via-se inviabilizada, na falta do poder executivo.

– Cabe, agora, à Convenção a nova Assembleia Constituinte.

A obra da Convenção (1792-1795)

Girondinos e Montanheses

– 22/10/1792 – Ano I da República.

– Há dois grupos: um mais moderado (Girondinos), defensores da


propriedade e da liberdade de comércio e, outro mais radical
(Montanheses), defensores da repartição mais justa da propriedade e,
se necessário da violência para defender os interesses populares. Nos
montanheses temos: Robespierre, Danton e Marat.

– Acusado de se ter correspondido com inimigos de França, o rei Luís


XVI irá ser julgado. Girondinos defendem a sua saída do país.
Montanheses a sua morte. Após votação, ganha a pena de morte.

A pressão dos sans-culottes

– Sans-Culottes:

– grupo essencialmente urbano, formado por artífices, lojistas e alguns


operários.

– Reivindicam a igualdade política e a igualdade económica.

– Adeptos da democracia direta.

– Fez imensa pressão em comícios, votações, etc, de tal forma que


forçou os Girondinos (período da Convenção) a sair do poder. Vive-se
um momento de exaltação patriótica.
O governo revolucionário e o Terror

– Profundamente centralizado e ditatorial, o governo revolucionário


colocar o interesse do Estado laico e republicano acima dos
interesses privados.

– Sacrificou as liberdades individuais à causa da igualdade social, da


independência da Nação e da salvação da República.

– Todos os homens solteiros (18 aos 25 anos) são convocados para o


exército.

– Lei do Máximo (Setembro de 1793): foram fixados salários e preços


(devido à pressão dos sans-culottes).
– Nacionalização dos bens dos emigrados; partilha dos bens comunais;
instrução gratuita; abonos de família, pensões de invalidez e velhice; fim
da escravatura nas colónias.

– Política de descristianização: fecham-se igrejas; abolição do domingo


e feriados religiosos; veneração dos heróis da revolução; casamento é
um mero ato civil que o divórcio podia dissolver.
– Medidas judiciárias: legalização da violência. Julgamentos sumários
(julgadas cerca de 300 a 500.000 pessoas. – até Lavoisier e Maria
Antonieta se encontram nesses julgamentos). Período de Terror!

– A obra da Convenção foi ditatorial e profundamente repressiva, apesar


do vanguardismo e de antecipações democráticas.

O fim do governo revolucionário e da república jacobina

– 9 de Termidor (27 de julho de 1794): Robespierre é afastado do


poder, considerado “fora da lei”. Será executado.

O Triunfo da Revolução Burguesa

O Diretório e o regresso à paz civil


– Ao terminar as suas funções, a Convenção aprovou, em 22 de Agosto
de 1795, uma nova Constituição. Foi a Constituição do Ano III,
destinada a estabelecer a ordem e a concórdia sob a égide da burguesia.
Esta nova etapa é designada por Diretório.

– Defensora da propriedade e liberdade económica.

– Sufrágio indireto foi restabelecido.

– Poder legislativo entregue a duas assembleias: Conselho dos Anciãos


(faz leis), e Conselho dos Quinhentos (vota leis).

– Poder dividido por 5 Diretores. Objetivo é evitar a ditadura, como tinha


acontecido com os montanheses.

– Crise financeira irá agravar-se devido às guerras da França com a


Europa.

– 18 De Brumário do ano VIII (9 de Novembro de 1799) – Napoleão


Bonaparte acaba com o Diretório e assume-se como “salvador da
República”

Do Consulado ao Império – a nova ordem institucional e jurídica

– Nova Constituição do Ano VIII (24 de dezembro de 1799)

– Napoleão era o primeiro-cônsul por 10 anos, compete-lhe a iniciativa


das leis e a nomeação dos juízes.

– Destinada a estabilizar a Revolução e a consolidar as conquistas


burguesas, a obra do Consulado pauta-se por: centralização
administrativa e judicial, pela recuperação financeira e pela
reconciliação nacional.

– Administração local entregue a funcionários nomeados pelo Governo,


prefeitos e subprefeitos.

– Sistema fiscal: criação do Banco de França (1800) – capaz de emitir


moeda e fazer empréstimos; nova moeda – franco germinal;
– Cessaram as perseguições.

– Concordata de 1801: Fim do diferendo com a Santa Sé, garanta-se o


livre exercício do catolicismo.

– Legião de Honra (1802): condecoração que recompensava os


serviços militares e as virtudes civis.

– Liceus (1802): acolher filhos da burguesia e alunos bolseiros.

– Código Civil (1804): consagra a igualdade perante a lei, a


inviolabilidade da propriedade, liberdade de consciência e de trabalho.

– Constituição do Ano X (1802): proclama-se Cônsul vitalício.

– 28 do Floreal do Ano XII (18 de Maio de 1804): Senado e Tribunado


proclamam-no Imperador.

– 2 de Dezembro (Catedral de Notre-Dame): Coroa-se Imperador, na


presença do papa Pio VII.

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