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História

A Revolução Americana
Os ideais iluministas influenciaram uma série de movimentos político-sociais ocorridos na
Europa e nas Américas, entre aproximadamente 1770 e 1850. Era o início da Época
Contemporânea. A Revolução Americana representa o ponto de partida desses movimentos
conhecidos por Revoluções Liberais.

-Antecedentes: da contestação aos impostos à declaração de independência


• No final da Guerra dos Sete Anos (1756-1763), a Inglaterra ampliou o seu império colonial à
custa da vencida França. Na América do Norte, às 13 colónias da costa atlântica, acrescentou
o Canadá, o vale do Oaio e a margem esquerda do Mississípi (Doc. 1A).
• Ainda que tenha contribuído para a supremacia colonial britânica, a guerra teve custos
significativos para os cofres ingleses. Alegando que fora travada para defender os colonos da
América do Norte da cobiça francesa, a Inglaterra decidiu lancar um pesado conjunto de
novas taxas alfandegárias. Votadas pelo Parlamento britânico, recaíram no açúcar, no papel,
no vidro, no chumbo e no chá.
• Um dos tributos que maior contestação originou foi aquele que, em 1765, o Parlamento
britânico fez incidir sobre os documentos legais e as publicações periódicas: o Stamp Act.
Este imposto de selo dividiu os colonos, destacando-se aqueles que o viram como ultrajante
por, na sua qualidade de cidadãos britânicos, não estarem representados no Parlamento de
Londres.
• A partir de então, multiplicaram-se os movimentos de protesto às imposições fiscais,
acompanhados do boicote às mercadorias inglesas. Em 16 de dezembro de 1773, ocorreu o
mais carismático destes protestos, o Boston Tea Party, quando um grupo de jovens
disfarçados de índios lançou ao mar a carga de chá transportada pelos navios ingleses.

Logo no ano seguinte, decididos a lutar pelos seus direitos, delegados das colónias reuniram-se
no primeiro Congresso de Filadélfia. A luta pela independência ganhava corpo, enquanto os
adeptos da reconciliação se apagavam.

• Os primeiros tiros da revolução americana soaram, em abril de 1775, na pequena aldeia de


Lexington, perto de Boston, quando uma coluna inglesa, enviada para apreender armas
ilegais, foi atacada pela população. Começava a Guerra da Independência.
• Em 1776, Thomas Jefferson redigiu uma Declaração de Independência, que os delegados de
todas as colónias aprovaram no dia 4 de julho, no segundo Congresso de Filadélfia (Doc. 1D).
Pela primeira vez na História, os ideais iluministas da liberdade e da igualdade entre os
homens, da soberania popular e do contrato social eram aplicados na libertação de um povo.
A data deste acontecimento ainda hoje é comemorada - é o Fourth of July, o feriado nacional
mais importante nos Estados Unidos da América.

-Da Guerra da Independência à criação da república federal


• George Washington foi escolhido para comandante-chefe do futuro exército americano, ao
mesmo tempo que se iniciou uma forte ação diplomática na Europa, a fim de angariar apoios.
No entanto, só após a vitória americana na batalha de Saratoga, em outubro de 1777, a França
se inclinou para uma aliança oficial, facto decisivo no desfecho da guerra.
• Pelo Tratado de Versalhes, assinado em 1783, a Inglaterra reconheceu a independência das
13 colónias, de futuro transformadas em 13 estados.
• O modelo político adotado pela jovem nação veio a ser o de uma República Federal,
consagrada na Constituição de 1787 documento que, concretizava as ideias dos filósofos das
Luzes.
• O governo central ou federal assentava na divisão de poderes distribuídos pelos seguintes
órgãos de soberania: ao Congresso, constituído pela Câmara dos Representantes e pelo
Senado, foi confiado o poder legislativo; o presidente, eleito por quatro anos, por sufrágio
universal indireto, detinha o poder executivo; o Tribunal Supremo regulava os conflitos
entre os Estados, superintendendo no poder judicial.

Nascida sob a égide das Luzes, a nação americana criou o primeiro país descolonizado do
Mundo e a primeira república democrática que baseou a escolha dos órgãos máximos da
soberania (Congresso e Presidente da República) no voto dos seus cidadãos. Por isso, a Revolução
Americana serviu de exemplo e de estímulo à Revolução Francesa, desencadeada em 1789, bem
como às emancipações coloniais da América Latina.

A Revolução Francesa
Em 1789, 28 milhões de franceses viviam num regime social profundamente desigualitário. A
velha sociedade de ordens de Antigo Regime repousava na defesa dos privilégios da nobreza e do
clero, ordens que representavam apenas 2% da população e que continuavam a sobrecarregar os
camponeses com rendas e impostos.
No entanto, dos estratos burgueses começavam a ecoar as vozes da mu-dança, criticando os
privilégios que o nascimento reservava aos nobres. Mais instruídos e trabalhadores, os burgueses
contestavam a ordem instituída, constituindo-se como líderes do processo que resultaria na
destruição do Antigo Regime.

-A França nas vésperas da Revolução


Em 1774, Luís XVI subiu ao trono, como monarca de direito divino. O seu reinado ficou marcado
pela crise profunda que minou a economia francesa entre 1785 e 1789. No inverno de 1788-1789,
violentas tempestades fizeram perder as colheitas em várias regiões de França e subir os preços.
A fome instalou-se entre os mais desfavorecidos. Melhores tempos não atravessava a indústria,
em virtude do tratado de livre câmbio assinado em 1786, que favorecia a importação dos tecidos
ingleses. Dois anos depois, a França registava mais de 200 000 desempregados no setor têxtil.

• À crise económica somava-se o défice crónico das finanças. As receitas não chegavam para
cobrir as despesas do Estado relacionadas com o exército, as obras públicas, a instrução, os
encargos da dívida pública e os gastos impopulares da corte.
• Não era a pobreza de recursos da França que originava este défice crónico das finanças, mas
a injusta sociedade de ordens que isentava de contribuições o clero e a nobreza, privando os
cofres reais de ampliarem as suas receitas. A reforma do sistema tributário esteve, por
conseguinte, entre as grandes prioridades do poder político.

No mesmo ano em que subiu ao trono, Luís XVI viu-se a braços com a possível bancarrota do
Estado. Chamou então Turgot, a quem encarregou de corrigir o défice financeiro. Entre outras
medidas, este economista de renome propôs um imposto que abrangeria todos os proprietários.
Os privilegiados alarmaram-se e Luís XVI despediu o ministro. Os mesmos destinos tiveram
Necker, Calonne e Brienne, que procuraram reformar a administração local e o sistema fiscal.

• Com efeito, todas as tentativas de reforma preconizadas pelos ministros de Luís XVI
tropeçaram na resistência das ordens privilegiadas, o que contribuiu para o clima de violência
e pilhagens entre 1787 e 1789, quando a fome e o desemprego cresceram.

Incapaz de suster a contestação social e com a França à beira da bancarrota, Luís XVI decidiu
convocar os Estados Gerais para maio de 1789. A dificuldade do monarca em conciliar os
interesses das ordens privilegiadas e do Terceiro Estado resultou numa revolução violenta, que
destruirá os alicerces da ordem política e social do Antigo Regime.
-A monarquia constitucional (1789-1792)
A abertura dos Estados Gerais teve lugar em Versalhes, a 5 de maio de 1789, no seio da maior
expectativa. Não só porque, desde 1614, o absolutismo francês abandonara a consulta daquela
assembleia, mas, especialmente, porque o Terceiro Estado reivindicava o voto por cabeça e não
por ordem. Por sua vez, clero e nobreza revelaram-se intransigentes na defesa do voto por ordem.

• Foi neste impasse que, a 17 de junho, eclodiu o primeiro ato revolucionário. Considerando
representar a quase totalidade da população francesa, os deputados do Terceiro Estado, alguns
nobres e representantes do clero proclamaram-se Assembleia. Nacional.
• A 20 de junho, no célebre juramento da Sala do Jogo da Pela, comprometeram-se a ficar
unidos até à conclusão de uma Constituição, passando a designar-se por Assembleia Nacional
Constituinte.
• Perante a cedência do rei à determinação do Terceiro Estado, os representantes da Nação
tornaram-se a fonte do poder legítimo e a nova autoridade política. A monarquia absoluta
chegava ao fim.

-A Tomada da Bastilha
• No entanto, o rei voltou atrás na sua palavra e, nos inícios de julho, mandou colocar 50 mil
homens armados às portas de Paris. A 14 de julho de 1789, o povo parisiense, indignado com
a desconfiança do rei face à Assembleia e revoltado com a alta dos preços do pão, liderou
aquele que é o acontecimento emblemático da Revolução Francesa - a Tomada da Bastilha,
• Nessa fortaleza prisão, símbolo do absolutismo, procuraram as armas necessárias. Nada
deteve a multidão que para lá se dirigiu. A Bastilha foi demolida e o governador massacrado.

-A abolição dos direitos feudais


Entre 20 de julho e 6 de agosto, a França foi varrida por uma autêntica revolução camponesa
conhecida por Grande Medo. Pressionados pela fome, os camponeses atacaram castelos,
queimaram os registos onde constavam as taxas e obrigações que deviam aos senhores e mataram
quem ousou fazer-lhes frente. Os nobres, em pânico, acabaram por consentir na supressão dos
direitos e privilégios feudais.
• Na noite de 4 de agosto de 1789, a Assembleia votou as seguintes determinações: abolição
das corveias e servidões pessoais; supressão da dízima à Igreja; possibilidade de resgatar
rendas e foros; eliminação das jurisdições privadas; supressão da venalidade (compra) dos
cargos públicos e consequente livre admissão aos empregos públicos civis e militares.
Numa só noite, a Assembleia destruía os alicerces do Antigo Regime.

-A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão


• Os deputados da Assembleia Nacional Constituinte avançaram para a redação de uma
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, que legitimasse as conquistas já obtidas e
fundamentasse a futura Constituição.
• O texto final, aprovado em 26 de agosto de 1789, proclamou que "os homens nascem e
permanecem livres e iguais em direitos" e enumerou-os: a liberdade, a propriedade, a
segurança e a resistência à opressão.
• Reconheceu também que a autoridade dos governos residia na Nação e que a sua finalidade
era a salvaguarda dos direitos humanos. Ao fazê-lo, condenou os privilégios da sociedade de
ordens e rejeitou o absolutismo. A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão lançou
as bases da nova ordem social e política.
-A Constituição de 1791
Em 1791, a monarquia constitucional ficou consagrada em França. Votada pela Assembleia
Nacional e jurada pelo rei, a Constituição de 1791 impôs o cumprimento dos Direitos do Homem
e do Cidadão, da soberania nacional e da separação de poderes, que ficaram distribuídos pelos
seguintes órgãos:
o poder legislativo - da competência da Assembleia Legislativa constituída por deputados eleitos
por dois anos que propunham e decretavam as leis, o orçamento e os impostos;
o poder executivo - conservado pelo rei, que continuava a comandar o exército e a marinha, ainda
que a declaração de guerra e a assinatura da paz estivessem dependentes da concordância da
Assembleia Legislativa; o monarca tinha um direito de veto que permitia suspender as leis durante
dois anos;
o poder judicial - da responsabilidade de juízes eleitos e independentes, que substituíram as
complicadas e variadas jurisdições do Antigo Regime, criando-se ainda um Tribunal Superior
para julgar os delitos de ministros, deputados e governadores.

Todavia, critérios de género e de fortuna distinguiam os cidadãos.


• As mulheres foram completamente excluídas da participação política.
• Os homens foram divididos em cidadãos ativos e cidadãos passivos.
• Para se ser cidadão ativo, isto é, para se ter direito ao voto, exigia-se que, o cidadão pagasse
um imposto igual ou superior a três dias de trabalho. Deste critério resultava que, dos cerca
de 28 milhões de franceses, apenas 4,3 milhões pudessem votar. Foi por considerarem que só
o desafogo económico permitia a instrução e o esclarecimento necessários ao exercício do
voto que os deputados da Assembleia Constituinte instituíram o sufrágio censitário.

A Constituição implementou também um sistema de eleição indireta, que conferia à riqueza ainda
maior relevo. Na verdade, apenas os franceses mais ricos elegiam os 745 deputados que
compunham a Assembleia Legislativa. Esses deputados representariam a nação e a sua vontade,
pelo que se diz que a Constituição de 1791 instituiu, em França, um sistema representativo.

• Excluídos do sufrágio e de direitos políticos, ficaram os cidadãos passivos, neles se contava


o povo-miúdo dos campos e cidades, os criados e indigentes.
• Quanto às mulheres, apesar de totalmente afastadas da cidadania, nem por isso deixaram de
participar na revolução.
• Submetido à Constituição, que ficava obrigado a jurar, o monarca deixou, assim, de ser senhor
de um poder arbitrário que o colocava acima da lei. Esta aceitação tinha, contudo, os dias
contados e a revolução acabaria por seguir o seu curso.

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