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MARXISTA DO DIREITO
descuidado por grande parte dos batalhadores das lutas sociais, é crucial
política.
Direito e capitalismo
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A relação intrínseca entre direito e capitalismo
A especificidade do direito
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A bibliografia fundamental do marxismo jurídico, apontando para o nexo intrínseco entre
direito e capitalismo, começa, em especial, a partir do horizonte de compreensão aberto
por Marx em O capital (v. 1, São Paulo: Boitempo, 2013). Logo no alvorecer da experiência
soviética, será Pachukanis, em Teoria Geral do Direito e Marxismo (São Paulo: Acadêmica,
1988), que dará corpo e trato a tal conexão. No contexto de tal debate, ainda, Stucka,
Direito e luta de classes (São Paulo: Acadêmica, 1988).
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proveito, nem de acoplamento acidental ou incidental. Trata-se
círculo pleno e necessário das relações sociais. Para que haja essa
plenitude da mercadoria, é preciso que todos sejam tomados, em suas
obrigacionais, que, por sua vez, têm que apresentar um índice manifesto de
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É Pachukanis que aprofunda a especificidade do direito no capitalismo, na Teoria Geral do
Direito e Marxismo. Márcio Bilharinho Naves, em suas obras, sistematiza e desdobra as
implicações da especificidade do direito no capitalismo, em especial em Marxismo e direito:
um estudo sobre Pachukanis (São Paulo: Boitempo, 2000), Marx: ciência e revolução (São
Paulo: Quartier Latin, 2008) e na coletânea O discreto charme do direito burguês
(Campinas: IFCH/ Unicamp, 2009).
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O direito na esfera da circulação e da produção
força, pelo mando direto, pela dominação política ou pela relação direta
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Márcio Bilharinho Naves, em seu mais recente livro, A questão do direito em Marx (São
Paulo: Outras Expressões e Dobra Universitária, 2014, cap. 2), é responsável pela leitura
mais avançada e inovadora sobre a especificidade do direito e da mercadoria a partir do
momento da subsunção real do trabalho ao capital. Adoto aqui tal leitura. Ainda, no plano de
uma análise econômica que alcance tal especificidade, cf. Gianfranco La Grassa, Valore e
formazione sociale (Roma: Riuniti, 1975). Sobre a refutação do circulacionismo em
Pachukanis, Márcio Bilharinho Naves, Marxismo e direito (op. cit., cap. 2).
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disposições e dos saberes específicos para a realização do próprio trabalho.
sujeito abstrato.
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capitalismo, de que seria exemplo notável o direito romano. Mas há uma
De tal sorte se estabelece uma não continuidade entre esses dois momentos
agendi dos romanos, o status quo dos medievais e mesmo dos modernos
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Em A questão do direito em Marx (op. cit., cap. 2), Márcio Bilharinho Naves avança
para dissociar a forma jurídica das manifestações ditas jurídicas do pré-capitalismo,
com destaque para seu estudo acerca do direito romano. É também no mesmo livro que
Naves elabora a compreensão de uma determinação política para a equivalência subjetiva
nos antigos, o que conduz, então, a vislumbrar como impossível o direito romano (op. cit.,
cap. 2, em especial p. 68 a 77). Em chave factual-histórica sobre o direito, cf. Michael E.
Tigar e Madeleine R. Levy, O direito e a ascensão do capitalismo (Rio de Janeiro: Zahar,
1978) e Aldo Schiavone, Ius. La invención del derecho em Occidente (Buenos Aires,
Argentina: Adriana Hidalgo Editora, 2009).
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relações permeadas de verticalidade, os poderes, as injunções políticas e as
privilégio não é o embrião do direito subjetivo, mas sim seu oposto. [????]
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As lutas de superação do capitalismo não podem ser feitas a partir
insurgente tem um limite muito claro, dado que a juridicidade, ainda que de
desapropria ou até mesmo no limite expropria, mas tudo isso num mundo de
produtores.
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pelo direito. Isso impede de mirar e projetar o fato de que a extinção da
contradições da mercadoria.
A forma jurídica
direito considere por forma tudo o que envolve a norma jurídica – sendo a
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normativo –, a forma jurídica, enquanto forma social, não é normativa, mas
forma pela qual os sujeitos a circulam. Uma forma social advém de práticas
constrição.
O Estado e o direito refletem de modo derivado, ainda que com algum grau
tomasse isso por conta de ser criada ou sustentada por instituições internas
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Cf. Pachukanis (op. cit., caps. III e IV). Ainda, Alysson Leandro Mascaro, Introdução ao
Estudo do Direito (São Paulo: Atlas, 2015, cap. 1).
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A subjetividade jurídica
formal e desigualdade real não se dá uma oposição nem uma negação nem um
aproveitados para uma dinâmica cada vez maior do querer como esfera
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Cf. Pachukanis (op. cit., cap. IV). A obra de Celso Naoto Kashiura Junior desenvolve a
relação de subjetividade e forma jurídica, em especial no livro Sujeito de direito e
capitalismo (São Paulo: Outras Expressões e Dobra Universitária, 2014). Também, Bernard
Edelman, O direito captado pela fotografia (Coimbra: Centelha, 1976).
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privilegiadamente individual. Noções como as cristãs de salvação por ato ou
dinâmica do capital.
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capacidades juridicamente normatizadas – civil de disposição de direitos
forma sujeito.
Direito e ideologia
de mundo pela qual os sujeitos são erigidos como tais é uma interpelação à
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subjetivos, obrigar-se, valer-se da vontade autônoma e livre, nesse plexo
classe ou grupo.
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Cf. Louis Althusser, Aparelhos ideológicos de Estado (Rio de Janeiro: Graal, 1985); Pedro Eduardo
Zini Davoglio, Anti-humanismo teórico e ideologia jurídica em Louis Althusser (Dissertação, São
Paulo: Mackenzie, 2014); Nicole-Édith Thévenin, “Ideologia jurídica e ideologia burguesa (ideologia e
práticas artísticas)” (in: Márcio Bilharinho Naves (org.), Presença de Althusser, Campinas:
IFCH/Unicamp, 2010); Celso Naoto Kashiura Junior, Crítica da Igualdade Jurídica (São Paulo:
Quartier Latin, 2009); Alysson Leandro Mascaro, “A propósito da situação jurídica atual” ( in: Blog da
Boitempo, 2014).
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subjetividade jurídica é o inconsciente que arma a compreensão de mundo
no capitalismo.
como sujeito que opera nas mesmas relações sociais do capital, apenas
espelha a ideologia.
O conteúdo jurídico
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quanto extensões maiores de proteções e direitos subjetivos. Variadas
ser mediadas por mecanismos jurídicos. Isto faz com que mesmo lutas mais
das relações capitalistas. Tal pode ser dar tanto com as constantes novas
dos direitos sociais, no século XX esses novos ramos são albergados sob a
sociabilidade do capital.
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Cf. Alysson Leandro Mascaro, Introdução ao Estudo do Direito (op. cit., cap. 1); Bernard
Edelman, La légalisation de la classe ouvrière (Tome 1. Paris: Christian Bourgeois, 1978).
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O núcleo da subjetividade jurídica advém da disposição voluntária de
direito civil se fez acompanhada por relações de direito penal, de tal sorte
que esses dois ramos do direito são o esteio jurídico mínimo geral da vida
sob o capitalismo10.
complexo. O juspositivismo, a partir do século XIX, faz ler esse todo como
10
Cf. Michel Miaille, Introdução Crítica ao Direito (Lisboa: Estampa 1994, parte II);
Alysson Leandro Mascaro, Estado e forma política (São Paulo: Boitempo, 2013, cap. 1).
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relações de propriedade, de garantia contratual e de responsabilização civil
constitucional.
Direito e Estado
entre si11.
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Cf. Alysson Leandro Mascaro, Estado e forma política (op. cit.); Joachim Hirsch, Teoria
Materialista do Estado (Rio de Janeiro: Revan, 2010); Camilo Onoda Caldas, A teoria da
derivação do Estado e do direito (Tese, São Paulo: FD-USP, 2013); Camilo Onoda Caldas, O
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Em sociedades pré-capitalistas, o poder político, de variados modos,
pela força, pela posse contígua e não circulável dos meios de produção ou
econômica circulável, erige ligações políticas que não podem se basear numa
produção.
lhes distinto, está baseado nas suas instituições políticas, na sua força
mercadoria.
Estado não é burguês porque seja controlado pela burguesia – ainda que via
Estado São Paulo: Estúdio Editores, 2014); Mabel Thwaites Rey (org.), Estado y marxismo.
Un siglo y medio de debates (Buenos Aires: Prometeo, 2007).
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capitalistas. Depende de sua dinâmica para sua existência econômica. Por
insurgir contra o Estado por este ensejar extensões de direitos sociais aos
conflituoso fazem com que seu acoplamento seja feito com arestas e mesmo
virtuais disfuncionalidades.
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direito subjetivo, cujos limites e estoque são objeto de parâmetros
estatais12.
bem-estar social a uma neoliberal ou, no plano político, desde ditaduras que
Cf. Alysson Leandro Mascaro, Estado e forma política (op. cit., cap. 1); Alysson Leandro
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atravessada pela luta de classes e grupos, cujas linhas de força acabam por
Legalidade. Exceção
derivação secundária entre forma jurídica e forma política estatal. Por meio
sociabilidade, mas com uma especificidade: não se trata de uma lei que seja
por meio dos poderes concretos que lhe são próprios, como os repressivos 13.
Cf. Alysson Leandro Mascaro, Crítica da Legalidade e do Direito Brasileiro (São Paulo:
13
Quartier Latin, 2008). Em outra chave, Slavoj Zizek, Violência (São Paulo: Boitempo, 2014).
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Trata-se, pelo contrário, de uma legalidade específica. Ela só existe no solo
não opera pelo horizonte do uso, mas da troca, sob o dístico da acumulação,
mercadoria.
não se apresenta como uma imediatitude dos fatos, mas como controle
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dominação e interesse. A legalidade parte de uma determinação social de
uma realidade que a nega, são uma oposição conservadora, na medida em que
mercadoria.
Referências bibliográficas
1985.
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EDELMAN, Bernard. La légalisation de la classe ouvrière . Tome 1. Paris:
Boitempo, 2012.
2010.
LUGO, Carlos Rivera. ¡Ni uma vida más al Derecho!. Aguascalientes e San
Latin, 2008.
Universitária, 2014.
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________. Marxismo e direito: um estudo sobre Pachukanis . São Paulo:
Boitempo, 2000.
IFCH/Unicamp, 2005.
IFCH/Unicamp, 2009.
1988.
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