Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
E. B. PACHUKANIS
Em 1924, Pachukanis publica a primeira edição de sua mais importante obra, “A Teoria
Geral do Direito e o Marxismo”, que teve uma segunda edição publicada em 1926 e
uma terceira publicada em 1927. Nos anos seguintes, publicou outras obras dentre as
quais podemos destacar "Aparato de Estado soviético na luta contra o burocratismo", de
1929 e "Estado e regulação jurídica", de 1929.
Na introdução do referido livro, Pachukanis disserta sobre quais seriam “as tarefas da
teoria geral do direito”. Assim, o estudo do direito deve ser desenvolvido analisando os
conceitos jurídicos fundamentais mais abstratos, como “norma jurídica”, “relação
jurídica” e “sujeito de direito”. Conceitos esses que não mudam com alteração do
conteúdo material.
Por fim, a última crítica é citada aos outros marxistas, que apenas teorizaram uma
“história das formas econômicas com um colorido jurídico”, o que não constitui uma
teoria geral do direito, pois estes apenas analisam o direito como uma expressão jurídica
em várias épocas.
Em seguida, o autor discorre sobre o método marxista de análise da realidade, iniciando
comparações entre a economia política de Marx e o sistema jurídico. Tais paralelos
serão feitos ao longo de todo o livro.
Analisando o método marxista, o autor aborda o início das pesquisas de Marx pela
mercadoria e pelo valor para depois chegar à economia em si. Além disso, afirma que a
dupla natureza do direito (objetiva e subjetiva), composição de norma e faculdade
jurídica, tem um significado não menos importante que, por exemplo, a de mercadoria
em valor de troca e valor de uso. Com isso, ele conclui que a fórmula principal do
direito deve abarcar todas as épocas, entre elas as que não conheciam as divisões
citadas. Por isso, a norma de caráter geral não se distingue de sua aplicação concreta. O
desenvolvimento dialético dos conceitos jurídicos fundamentais reflete, portanto, o
processo histórico real, de desenvolvimento da sociedade burguesa.
O autor ainda traz duas citações para ajudar na construção de um pensamento acerca do
direito. Para Marx o direito “é, pois, no seu conteúdo, um direito baseado na
desigualdade, como todo o direito”. Lênin conclui: “Certamente, que o direito burguês,
no que se concerne à repartição dos objetos de consumo supõe necessariamente um
Estado burguês, já que o direito nada é sem um aparelho capaz de impor a observância
das suas normas”.
Pachukanis começa esse capítulo explanando sobre um mesmo fato poder ser objeto de
análise de várias ciências: político-econômica e jurídica, por exemplo. Por isso, as
diferenças entre as ciências se baseiam nos métodos de aproximação com a realidade.
Dessa forma, para o soviético, a história real do direito o analisa como sendo um
sistema específico de relações, no qual as pessoas entram, não porque o escolheram
conscientemente, mas porque foram compelidas pelas condições de produção. O
processo que leva o homem a se tornar sujeito de direito é o mesmo que transforma
produto natural em mercadoria dotada de valor. Para o pensamento burguês, essa é uma
necessidade natural; assim, nasce o direito natural, que melhor conseguiu formular as
condições de existência fundamentais da sociedade burguesa.
Em seguida, o autor tece uma crítica ao historicismo e ao positivismo jurídico, por se
reduzirem à negação de qualquer direito além do oficial. O extremo formalismo de
Kelsen é a decadência geral do pensamento burguês, pois ele flerta com a completa
ruptura diante da realidade da vida. Por isso, para Pachukanis, Kelsen é, para o Direito,
como os representantes da escola matemática são para economia.
Conclui-se, portanto, que a evolução histórica do Direito deve passar pela modificação
do conteúdo das normas jurídicas e também das instituições de direito, ou seja, a
modificação da forma jurídica como tal.
Desse modo, o direito surge como estágio da cultura e permanece embrionário, não se
diferenciando das esferas adjacentes, tais como os costumes e a religião. Em seguida, o
Direito passa ao seu estágio superior de desenvolvimento, que corresponde às relações
econômicas e sociais determinadas, ao mesmo tempo em que se caracteriza como
sistema de conceitos gerais. Logo, o Direito não é apenas um acessório de uma
sociedade humana abstrata, mas sim uma categoria histórica que corresponde a um
ambiente social definido, construído pela contradição de interesses privados.
IDEOLOGIA E DIREITO
Por conta disso, o Estado não seria apenas uma forma ideológica, mas um "ser social".
Dessa maneira, a partir da análise psicológica e material, o Estado deve ser trabalhado
como sendo uma organização real, complexa e reforçadora da dominação de classes.
O núcleo mais sólido da esfera jurídica se encontra nas relações de Direito Privado, nas
quais o sujeito jurídico adquire a personalidade do sujeito econômico egoísta, cujos
interesses baseiam-se na propriedade e nos interesses privados. No Direito Privado, o
papel teórico do jurista coincide com a sua função prática na sociedade. O Direito
Privado, por sua vez, é caracterizado como uma série de recomendações de como
proceder a favor ou contra reivindicações a partir do estudo de casos abstratos.
Portanto, Pachukanis defende que a forma jurídica seria o reflexo da relação social
existente entre os proprietários de mercadorias. Defende ainda que, para a filosofia
burguesa do Direito, a forma jurídica é natural e eterna.
DIREITO E ESTADO
Para o autor, o domínio da classe burguesa tem uma esfera que transcende à esfera
oficial de domínio estatal. O domínio da burguesia pode ser expresso a partir da
dependência do Estado em relação ao setor bancário e aos grupos capitalistas
majoritários, assim como esse domínio estaria refletido quando se analisa a ocupação
dos altos cargos governamentais pela classe dominante. Além disso, ainda pode ser
expresso na relação de dependência que existem entre cada trabalhador e o seu
empregador.
A partir disso, o poder do Estado passa a ser percebido como um fenômeno abstrato e
racionalista. A coação autoritária é necessária quando a paz está em risco e os contratos
não são voluntariamente cumpridos entre proprietários e mercadorias ou entre burgueses
e proletários.
O autor aponta que, se analisarmos isoladamente cada ponto de vista jurídico, seria
possível identificar cada decisão do Parlamento como sendo uma decisão tomada por
determinados grupos e não como sendo um ato de Estado. Por conta disso, as decisões
viriam de indivíduos movidos por razões egoísticas relacionadas ao interesse das classes
aos quais eles se inserem.
Finalmente, para o autor russo, a sociedade de classes não seria apenas um mercado
composto por proprietários e por mercadorias autônomas, mas sim uma arena de
conflitos entre as classes. Nesse âmbito de conflitos, o Estado seria uma arma
importante para garantir o predomínio da classe dominante sobre a classe dominada. A
partir do acirramento da luta de classes, a burguesia propôs o modelo de Estado de
Direito, que consistiria, essencialmente, no poder estatal como monopólio da violência
organizada a fim de garantir que a classe burguesa continue se sobrepondo às demais.