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RESUMO

TEORIA GERAL DO DIREITO E MARXISMO

E. B. PACHUKANIS

Amanda Godoy Cottas | 11811DIR202

Ana Clara Fernandes de Souza | 11811DIR221

Vivian Simões de Sousa | 11811DIR219

BIOGRAFIA - EVGENI PACHUKANIS (1891-1937)

Evgeni B. Pachukanis, foi um jurista soviético, também membro do Partido


Bolchevique a até hoje considerado o mais importante teórico marxista do campo do
Direito. Pachukanis revolucionou a teoria geral do Direito a partir de sua perspectiva
metodológica marxista.

Estudou na Universidade de São Petersburgo e na Universidade de Munique. Alinhado


politicamente com os bolcheviques, engajou-se em atividades revolucionárias desde
1907 e, no ano seguinte, ingressou no Partido Operário Social-Democrata Russo. Sua
militância resultou em prisão e condenação ao exílio em 1910 pelo regime czarista.

Retornou para São Petersburgo, anos depois, e retomou as atividades político-


partidárias. Após a revolução russa de 1917, atuou como “juiz popular” no Comitê
Militar-Revolucionário. Alcançou grande notoriedade acadêmica e ascendeu ao topo das
instituições jurídicas e científicas da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas
(URSS). Foi vice-presidente da Academia Socialista (posteriormente, Academia
Comunista), Diretor do Instituto de Construção Soviética e Direito. Foi eleito Deputado
Comissário da Justiça da URSS e tornou-se Vice-Comissário do Povo para a Justiça da
URSS.

Em 1924, Pachukanis publica a primeira edição de sua mais importante obra, “A Teoria
Geral do Direito e o Marxismo”, que teve uma segunda edição publicada em 1926 e
uma terceira publicada em 1927. Nos anos seguintes, publicou outras obras dentre as
quais podemos destacar "Aparato de Estado soviético na luta contra o burocratismo", de
1929 e "Estado e regulação jurídica", de 1929.

A teoria de Pachukanis contradizia as linhas centrais adotadas por Joseph Stálin,


especialmente quanto à crença stalinista acerca das potencialidades socialistas do Estado
e do Direito. Pachukanis foi executado em 1937, sob os processos políticos stalinistas.

A atualidade do método pachukaniano e a radicalidade de seu pensamento, porém,


foram redescobertas e revalorizadas a partir do final do século XX e, em especial, agora
no século XXI. Em face das contradições do capitalismo e do impasse das lutas atuais,
está em Pachukanis o melhor índice sobre as formas jurídicas e a política da
sociabilidade presente, trazendo, além disso, as possibilidades de superá-las.

TEORIA GERAL DO DIREITO E MARXISMO

INTRODUÇÃO – AS TAREFAS DA TEORIA GERAL DO DIREITO

Na introdução do referido livro, Pachukanis disserta sobre quais seriam “as tarefas da
teoria geral do direito”. Assim, o estudo do direito deve ser desenvolvido analisando os
conceitos jurídicos fundamentais mais abstratos, como “norma jurídica”, “relação
jurídica” e “sujeito de direito”. Conceitos esses que não mudam com alteração do
conteúdo material.

Em um segundo momento, Pachukanis analisa a filosofia neokantiana, responsável por


dividir o mundo das ciências entre o “ser” e o “dever-ser”. Essa divisão culmina na total
segregação dos ramos com a corrente normativista de Kelsen, a quem o autor expressa
uma crítica dizendo que “uma teoria do direito que não se interessa por sua origem
factual não tem nada a ver com ciência, pois ela não examina o direito como uma forma
histórica, por isso não tem a intenção de pesquisar o que está acontecendo”. Além dos
dois pensamentos citados, o soviético ainda criticará as teorias sociológicas e
psicológicas do direito, pois essas se valem apenas de fontes extrajurídicas, deixando de
lado as explicações materialistas.

Por fim, a última crítica é citada aos outros marxistas, que apenas teorizaram uma
“história das formas econômicas com um colorido jurídico”, o que não constitui uma
teoria geral do direito, pois estes apenas analisam o direito como uma expressão jurídica
em várias épocas.
Em seguida, o autor discorre sobre o método marxista de análise da realidade, iniciando
comparações entre a economia política de Marx e o sistema jurídico. Tais paralelos
serão feitos ao longo de todo o livro.

Analisando o método marxista, o autor aborda o início das pesquisas de Marx pela
mercadoria e pelo valor para depois chegar à economia em si. Além disso, afirma que a
dupla natureza do direito (objetiva e subjetiva), composição de norma e faculdade
jurídica, tem um significado não menos importante que, por exemplo, a de mercadoria
em valor de troca e valor de uso. Com isso, ele conclui que a fórmula principal do
direito deve abarcar todas as épocas, entre elas as que não conheciam as divisões
citadas. Por isso, a norma de caráter geral não se distingue de sua aplicação concreta. O
desenvolvimento dialético dos conceitos jurídicos fundamentais reflete, portanto, o
processo histórico real, de desenvolvimento da sociedade burguesa.

Para Pachukanis, tanto a economia quanto os pensamentos jurídicos representam para o


senso comum um meio de artificializar coisas simples e naturais. Contudo o pensamento
jurídico é mais alheio à consciência do homem “médio” do que o pensamento
econômico; isso porque ele coloca o aspecto jurídico em segundo plano considerando
apenas os processos e litígios jurídicos.

O autor ainda traz duas citações para ajudar na construção de um pensamento acerca do
direito. Para Marx o direito “é, pois, no seu conteúdo, um direito baseado na
desigualdade, como todo o direito”. Lênin conclui: “Certamente, que o direito burguês,
no que se concerne à repartição dos objetos de consumo supõe necessariamente um
Estado burguês, já que o direito nada é sem um aparelho capaz de impor a observância
das suas normas”.

Logo, é impossível construir um Socialismo Jurídico ou um Direito Proletário, pois o


Direito seria um operador real e ativo da organização social capitalista. A partir disso, é
apontado pelo autor que a transição final que levaria do Socialismo ao Comunismo
desenvolvido só seria possível a partir da extinção da forma jurídica geral. Entretanto, é
válido ressaltar que o momento de transição entre Capitalismo e Comunismo, conhecido
por Socialismo, para Pachukanis, ainda manteria formas de Direito como resquício da
sociedade burguesa, assim como o Estado proletário também manteria, num primeiro
momento, características do Estado burguês.
MÉTODOS DE CONSTRUÇÃO DO CONCRETO NAS CIÊNCIAS
ABSTRATAS

Pachukanis começa esse capítulo explanando sobre um mesmo fato poder ser objeto de
análise de várias ciências: político-econômica e jurídica, por exemplo. Por isso, as
diferenças entre as ciências se baseiam nos métodos de aproximação com a realidade.

Ao longo do tempo, os economistas avaliavam a realidade como um todo caótico e


difuso, analisando a população de forma abstrata; o que mudou a partir da utilização do
método marxista. O economista político marxista reconstitui a mesma realidade
concreta, mas como uma unidade rica de determinações e relações de dependências
internas (analisando as condições materiais que as fazem existir: o salário, o lucro, a
renda, preço e mercadoria). Para Marx, o desenvolvimento histórico da ciência
começando do concreto aos conceitos abstratos (da população ao valor, por exemplo),
iniciando por aquilo que é historicamente inevitável, não é de modo nenhum
metodologicamente correto. Assim, na teoria do direito, a totalidade concreta – a
sociedade, a população, o Estado – deve ser resultado e estágio final da pesquisa, mas
não seu ponto de partida.

Na economia política, o valor, que é um dos conceitos marxistas fundamentais,


historicamente não é só um conceito enquanto elemento do nosso pensamento, mas é
também parte constituinte da história e também é possível determinar a história real do
valor, isto é, as relações econômicas que o fizeram uma realidade histórica. Precisa-se
conhecer o substrato histórico real daquelas abstrações cognitivas que utilizamos e, com
isso, verifica-se que os limites dentro dos quais a aplicação dessa abstração ganha
sentido coincidem com o marco histórico real de desenvolvimento e são por ele
determinados.

Dessa forma, para o soviético, a história real do direito o analisa como sendo um
sistema específico de relações, no qual as pessoas entram, não porque o escolheram
conscientemente, mas porque foram compelidas pelas condições de produção. O
processo que leva o homem a se tornar sujeito de direito é o mesmo que transforma
produto natural em mercadoria dotada de valor. Para o pensamento burguês, essa é uma
necessidade natural; assim, nasce o direito natural, que melhor conseguiu formular as
condições de existência fundamentais da sociedade burguesa.
Em seguida, o autor tece uma crítica ao historicismo e ao positivismo jurídico, por se
reduzirem à negação de qualquer direito além do oficial. O extremo formalismo de
Kelsen é a decadência geral do pensamento burguês, pois ele flerta com a completa
ruptura diante da realidade da vida. Por isso, para Pachukanis, Kelsen é, para o Direito,
como os representantes da escola matemática são para economia.

Conclui-se, portanto, que a evolução histórica do Direito deve passar pela modificação
do conteúdo das normas jurídicas e também das instituições de direito, ou seja, a
modificação da forma jurídica como tal.

Desse modo, o direito surge como estágio da cultura e permanece embrionário, não se
diferenciando das esferas adjacentes, tais como os costumes e a religião. Em seguida, o
Direito passa ao seu estágio superior de desenvolvimento, que corresponde às relações
econômicas e sociais determinadas, ao mesmo tempo em que se caracteriza como
sistema de conceitos gerais. Logo, o Direito não é apenas um acessório de uma
sociedade humana abstrata, mas sim uma categoria histórica que corresponde a um
ambiente social definido, construído pela contradição de interesses privados.

IDEOLOGIA E DIREITO

Pachukanis defende a análise material, para a qual a especificidade de conceitos como


"território nacional", "população" e "poder do Estado" não reflete somente a ideologia
vigente, mas também demonstram uma realidade objetiva na forma de uma organização
complexa com recursos humanos e materiais.

Por conta disso, o Estado não seria apenas uma forma ideológica, mas um "ser social".
Dessa maneira, a partir da análise psicológica e material, o Estado deve ser trabalhado
como sendo uma organização real, complexa e reforçadora da dominação de classes.

O núcleo mais sólido da esfera jurídica se encontra nas relações de Direito Privado, nas
quais o sujeito jurídico adquire a personalidade do sujeito econômico egoísta, cujos
interesses baseiam-se na propriedade e nos interesses privados. No Direito Privado, o
papel teórico do jurista coincide com a sua função prática na sociedade. O Direito
Privado, por sua vez, é caracterizado como uma série de recomendações de como
proceder a favor ou contra reivindicações a partir do estudo de casos abstratos.

Para Pachukanis, o LITÍGIO é o elemento preponderante no âmbito jurídico. Assim, a


tarefa do jurista começa quando ele precisa adotar pontos de vista opostos para analisar
um mesmo fato, analisando os interesses privados de cada parte interessada. Dessa
forma, a construção jurídica, embora abstrata, está assentada numa base muito sólida
quando mantida na esfera do Direito Privado, especialmente quando relacionado ao
Direito à propriedade.

Portanto, Pachukanis defende que a forma jurídica seria o reflexo da relação social
existente entre os proprietários de mercadorias. Defende ainda que, para a filosofia
burguesa do Direito, a forma jurídica é natural e eterna.

DIREITO E ESTADO

Pachukanis aponta que a necessidade de um Estado de paz coincide com o momento em


que o comércio passa a ser recorrente. Diante dessa nova necessidade surgida pela
evolução histórica, os mercados e centros de comércio precisam ter seus privilégios
particulares atendidos, para proteger suas propriedades contra apreensões arbitrárias e
para existir segurança na execução dos contratos. A partir do desenvolvimento do
comércio e da moeda, a realidade econômica criou a verdadeira oposição entre vida
pública e vida privada. Essa oposição foi naturalizada e passou a fundamentar a teoria
jurídica do poder. Anteriormente a esse momento histórico, o poder enquanto feudal e
patriarcal não conhecia os limites existentes entre o privado e o público.

Segundo Pachukanis, o Estado possui funções distintas: travar guerras em razão da


segurança do Estado e atuar como fiador da troca mercantil, a partir da autoridade que
advém do Direito. Por conta disso, uma só teoria jurídica seria insuficiente para
contemplar todas as funções do Estado e oferecer uma ótica fundamentada da realidade
vigente.

Para o autor, o domínio da classe burguesa tem uma esfera que transcende à esfera
oficial de domínio estatal. O domínio da burguesia pode ser expresso a partir da
dependência do Estado em relação ao setor bancário e aos grupos capitalistas
majoritários, assim como esse domínio estaria refletido quando se analisa a ocupação
dos altos cargos governamentais pela classe dominante. Além disso, ainda pode ser
expresso na relação de dependência que existem entre cada trabalhador e o seu
empregador.

A partir disso, entende-se que a submissão do operário ao capitalista é desenvolvida por


meio da dominação existente nas relações de trabalho. A dominação, por sua vez, é um
mecanismo pertencente a cada capitalista individual e funciona como uma força
impessoal. Por isso, não precisa haver coação política e jurídica sobre o assalariado para
que ele se submeta a trabalhar para um empregador específico, pois basta o contrato. O
poder de um homem sobre o outro é expresso como poder do Direito.

A partir disso, o poder do Estado passa a ser percebido como um fenômeno abstrato e
racionalista. A coação autoritária é necessária quando a paz está em risco e os contratos
não são voluntariamente cumpridos entre proprietários e mercadorias ou entre burgueses
e proletários.

Para Pachukanis, o Estado jurídico seria apenas um modelo de conveniência capaz de


substituir a ideologia religiosa e camuflar o domínio que a burguesia exerce em relação
às massas. A atuação do Estado, por isso, estaria intimamente ligada à luta entre todos
os tipos de agrupamentos, como classes e partidos, que seriam as molas propulsoras do
mecanismo do Estado.

O autor aponta que, se analisarmos isoladamente cada ponto de vista jurídico, seria
possível identificar cada decisão do Parlamento como sendo uma decisão tomada por
determinados grupos e não como sendo um ato de Estado. Por conta disso, as decisões
viriam de indivíduos movidos por razões egoísticas relacionadas ao interesse das classes
aos quais eles se inserem.

Finalmente, para o autor russo, a sociedade de classes não seria apenas um mercado
composto por proprietários e por mercadorias autônomas, mas sim uma arena de
conflitos entre as classes. Nesse âmbito de conflitos, o Estado seria uma arma
importante para garantir o predomínio da classe dominante sobre a classe dominada. A
partir do acirramento da luta de classes, a burguesia propôs o modelo de Estado de
Direito, que consistiria, essencialmente, no poder estatal como monopólio da violência
organizada a fim de garantir que a classe burguesa continue se sobrepondo às demais.

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