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RACIOVITALISMO JURÍDICO

Jusracionalismo Jusracionalismo – Wikipédia, a


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deduzir um direito puramente racional, isto é, um direito fundado em princípios racionais e
que fosse válido independentemente das condições sociais ou culturais nas quais foi
formulado ou das sociedades as quais deveria reger.[2][3] Essa escola, de caráter
eminentemente jusnaturalista, propunha que esse novo direito natural - agora secular, isto
é, não mais de natureza teológica - deduzido racionalmente deveria ser utilizado para
corrigir os vários direitos - tanto aqueles consuetudinários, quanto aqueles positivos.
A escola desenvolveu-se a partir do século XVII na Europa ocidental, tendo tornado-se
hegemônica no pensamento jurídico e durado até o final do século seguinte. Levou o nível
de abstração do Direito a um patamar elevadíssimo, tendo recebido o ímpeto
abstracionista das escolas da baixa Idade Média que estudaram o direito romano a partir
da descoberta do "Corpus Juris Civilis" e permitido o surgimento nos séculos seguintes de
outras escolas que tinham a abstração como método de pensamento. Assim, sua
influência não se fez sentir somente nos dois séculos de sua existência - tendo seus
membros colaborado ativamente com os governantes na edição de leis e códigos, o que
ficou conhecido como despotismo esclarecido -, mas também nos séculos que viriam.
Teve seu fim a partir dos efeitos que a Revolução francesa provocou em toda a Europa,
com a criação das duas primeiras modalidades do positivismo jurídico:
na França (inicialmente, depois também em outros países), houve o surgimento da Escola
da exegese, de hermenêutica imperativista, que propunha um positivismo legalista a partir
da outorga do Código Napoleônico; nos estados germânicos, houve o aparecimento
da Escola Histórica do Direito, cujo método levou a fundação da Jurisprudência dos
conceitos, de hermenêutica metodológica, que propunha um positivismo conceitualista.[4]

. O RACIOVITALISMO, SUA ORIGERM: raciovitalismo é uma corrente filosófica e


jurídica que defende que a razão humana é vital, ou seja, está ligada à vida
concreta e às circunstâncias históricas e sociais de cada indivíduo e grupo. Essa
concepção se opõe ao racionalismo abstrato e formalista, que considera a razão
como algo universal, imutável e independente da realidade.

O raciovitalismo tem como principal expoente o filósofo espanhol José Ortega y


Gasset, que desenvolveu a ideia de que o homem é ele mesmo e suas
circunstâncias, e que a razão deve ser compreendida como um instrumento de
adaptação e transformação do mundo. Ortega y Gasset influenciou vários
pensadores, entre eles o jurista mexicano Luis Recaséns Siches, que aplicou o
raciovitalismo ao direito.

Recaséns Siches propôs o raciovitalismo jurídico como uma forma de superar o


empirismo exegético, que se baseava na interpretação literal e mecânica das
normas jurídicas, sem levar em conta os fatos e os valores envolvidos em cada
caso. Para ele, o direito é uma realidade dinâmica e complexa, que envolve três
dimensões: a norma, o fato e o valor. A norma é o ponto de partida, mas não o
único critério, para a aplicação do direito. O fato é a situação concreta que
demanda uma solução jurídica. O valor é o elemento axiológico que orienta a
decisão do juiz, de acordo com a justiça e a equidade.

Assim, o raciovitalismo jurídico contribui para o sistema jurídico e para o


judiciário ao oferecer uma visão mais ampla e flexível do direito, que leva em
conta a diversidade e a complexidade da vida humana, e que busca uma
solução razoável e justa para cada caso, sem se prender a fórmulas rígidas e
abstratas.

] RESUMO : A interpretação das categorias jurídicas ainda se sujeita à problematização


no campo da ciência jurídica. O artigo apresenta a contribuição raciovitalista para o sistema
jurídico, com suporte nas contribuições filosóficas de José Ortega y Gasset e na transposição
de seu pensamento para o sistema jurídico realizada por Luis Recaséns Siches. Com o uso de
procedimentos técnicos bibliográfico e documental, do método hipotético-dedutivo, por meio
da análise da filosofia da razão vital, busca compreender o sentido de vida humana. Apresenta
uma desconstrução das premissas da lógica formal como método de compreensão e aplicação
do Direito. Correlaciona fato, valor e norma na perspectiva da lógica do razoável. Busca
apontar uma metodologia de soluções jurídicas ancoradas na lógica do razoável. Indica um
caminho de decisões com forte conteúdo argumentativo, que devem ser construídas com
valorações, as quais levam em conta a realidade concreta humana apresentada no conflito
jurídico, com uma comunicação entre os mundos do deverser e do ser. Palavras-chave:
Raciovitalismo; Lógica do Razoável; Sistema Jurídico

Resumo
A interpretação das categorias jurídicas ainda se sujeita à problematização no campo da
ciência jurídica. O artigo apresenta a contribuição raciovitalista para o sistema jurídico, com
suporte nas contribuições filosóficas de José Ortega y Gasset e na transposição de seu
pensamento para o sistema jurídico realizada por Luis Recaséns Siches. Com o uso de
procedimentos técnicos bibliográfico e documental, do método hipotético-dedutivo, por
meio da análise da filosofia da razão vital, busca compreender o sentido de vida humana.
Apresenta uma desconstrução das premissas da lógica formal como método de
compreensão e aplicação do Direito. Correlaciona fato, valor e norma na perspectiva da
lógica do razoável. Busca apontar uma metodologia de soluções jurídicas ancoradas na
lógica do razoável. Indica um caminho de decisões com forte conteúdo argumentativo, que
devem ser construídas com valorações, as quais levam em conta a realidade concreta
humana apresentada no conflito jurídico, com uma comunicação entre os mundos do
dever-ser e do ser.

Sua contribuição para o Judiciário.


Oriundo do movimento neokantista19, que propunha a retomada dos valores desenhados por
Immanuel Kant e o recuperar da atividade filosófica, José Ortega Y Gasset (1883-1955) se
contrapunha as teorias que validavam a ciência, bem como aos positivistas – dada a
possibilidade de muitas vezes encartarem uma consciência inócua, sem nenhum lastro de
experiência ou, de outro turno, por esboçarem uma redução do saber ao mero tecnicismo.
Dessa sorte, por ser proveniente da escola de Maburgo, na Alemanha, defendia a necessidade
de se trazer a sua filosofia as cores oriundas da História (Historicismo) e os sabores
decorrentes da objetividade do pensamento (Fenomenologia, de Edmund Husserl – 1849-
1938), em razão de serem essas as precípuas vertentes de sua fonte educacional.
Entrementes, com relação à fenomenologia, ainda havia a falta da colimada vivência. Nessa
senda, para além das contraposições já ventiladas, passou (igualmente) a caminhar em sentido
antípodo ao elucubrar de Husserl. Até porque, referidas correntes filosóficas já não traziam as
respostas mais adequadas as suas perquirições. Em verdade, para Ortega y Gasset, tais
movimentos se encontravam em total descompasso com os funestos eventos históricos
esquadrinhados no perfazer do século XX, como as guerras e totalitarismos.

Antecedentes
Ver artigo principal: História do direito

Na Europa Ocidental, durante a Alta Idade Média vigorava um sistema de produção e


organização social que costumou-se chamar de Feudalismo, devido a divisão do espaço
geográfico em comunidades culturalmente homogêneas e de território pequeno, sob a
liderança de autoridades locais, o Feudo. Durante esse período histórico, cada pequena
comunidade tinha o seu próprio Direito consuetudinário baseado em soluções locais para
problemas locais, isto é, um Direito que tinha como cerne a sua particularidade. [5]

Frontispício do Corpus Juris Civilis

A partir do século XIII este cenário começa a mudar, especialmente pela redescoberta
do Direito Romano através do Corpus Juris Civilis e de seu estudo nas
novas Universidades (como a Universidade de Bolonha), e a organização feudal começa a
dar espaço aos Estados com a centralização do poder nas mãos do monarca. Esta
centralização do poder cria a necessidade de um Direito que dê conta do problema de
governar grandes territórios com populações heterogêneas e o Direito Romano aparece
como o Direito ideal capaz de unificar as diversas comunidades em Estados, já que ele era
o Direito de um Império com vasto domínio territorial. Assim, há um renascimento dos
estudos romanísticos com a Escola dos glosadores[nota 1] que considerava o texto romano
quase que como "sagrado", limitando-se a realizar pequenas explicações à margem do
texto, chamadas de "glosas". Portanto, começou a ser formada uma nova classe de
juristas a partir do estudo do Direito Romano o que mudou o pensamento jurídico de um
modo local e particular de pensar para um pensamento de matriz universalizante, isto é,
um pensamento que buscava retirar do Direito Romano padrões aplicáveis de maneira
universal.[6]
O Direito Romano passa a ser visto como superior porque sua validade não derivava dos
costumes, mas de uma pretensa correção desse Direito. Isto ocorria porque o Direito
Romano tinha um grau de sofisticação muito maior do que os direitos consuetudinários da
Europa Ocidental. Então, o Direito Romano era utilizado de forma subsidiária em relação
aos direitos consuetudinários locais, existindo, assim, um equilíbrio, uma harmonização
entre os dois Direitos. Entretanto, a partir do século XV, os juristas passaram a mudar de
atitude em relação ao Direito Romano. As glosas eram explicações fragmentárias e
assistemáticas e passaram a ser vistas como insuficientes. O jurista deveria realizar uma
adaptação do texto romano às novas situações que surgiam. Tratava-se de passar do
comentário ao texto (glosa) para o entendimento dos conceitos abstratos que eram
delineados por aquele texto, isto é, o entendimento dos institutos jurídicos romanos
criando um conhecimento cada vez mais sistematizado e abstrato (Escola dos
comentadores[nota 2]).[7]

História
A história do jusracionalismo costuma ser dividida em três fases distintas. Primeiramente,
uma fase de transição ainda muito ligada aos preceitos da escolástica e do velho direito
natural. Em segundo lugar, uma fase de estabelecimento do método e sucessiva
pormenorização do sistema de direito natural. Por último, a fase na qual o jusracionalismo
tornou-se hegemônico no pensamento jurídico e nas cortes europeias, contribuindo com a
edição de códigos de inspiração jusracionalista.[8]
Primeiro período

Hugo Grócio, um dos pioneiros do jusracionalismo

O surgimento do jusracionalismo está ligado às guerras religiosas iniciadas com


a reforma e só terminadas com a paz de Vestfália ao fim da guerra dos Trinta Anos. Essas
lutas eram lutas pela ideia de Direito e de Estado: a opção entre a liberdade religiosa e
o centralismo absolutista. Mas o papel dos primeiros teóricos do jusracionalismo nessas
guerras não se dá apenas um lado: alguns, como Althusius e Grócio, estão do lado da
liberdade; mas outros, como Hobbes e Bodin, encontram-se do lado do absolutismo. Isto
se dá porque o jusracionalismo está fundado tanto na antiga tradição jusnaturalista da
Idade Média como também nas influências que vão dar na Reforma. Assim, fundamentará
tanto o absolutismo como a soberania popular e nacional.[9]
Na Alemanha, muito importante foi Johann Oldendorp, jurista alemão da reforma luterana,
muito influenciado pelo humanismo jurídico.[10] No espaço da contrarreforma, foram
os juristas e teólogos espanhóis quem prepararam o caminho para o jusracionalismo ao
aplicar o método escolástico tomista às novas questões que surgiam, sobretudo o direito
de guerra e o direito internacional das guerras coloniais e religiosas.[11] No restante da
Europa, não diretamente protestante ou católica, mas envolvida em disputas, uma das
grandes influências do início do jusracionalismo é Johannes Althusius que foi um jurista e
filósofo calvinista. Foi muito importante por ser um dos primeiros a desenvolver uma teoria
jusnaturalista da soberania popular, influenciando grandemente Hobbes e Rousseau.
[12]
Entretanto, o mais importante dos precursores do jusracionalismo, sendo considerado
até seu fundador, foi Hugo Grócio. Considerado muito importante por trazer em sua obra -
especialmente "De iure belli ac pacis" (Do direito de guerra e paz, 1625) - já o espírito do
jusracionalismo: a sistematicidade, o elevado grau de abstração e a fundamentação do
edifício jurídico nos postulados do direito natural. Também é importante como fundador do
moderno Direito internacional.[13]
Segundo período

Pufendorf estabeleceu o primeiro sistema de teoria geral


do direito

A segunda fase do jusracionalismo começa com o declínio das lutas religiosas, o que
acaba por ocasionar uma emancipação dos pensadores desta fase em relação à tradição
teológica. Também, com a conformação da organização dos Estados europeus, estes
pensadores passaram a entrar em relações estreitas com as cortes, tornando-se o
jusracionalismo em um instrumento do absolutismo esclarecido.[14] Hobbes foi o primeiro
destes pensadores que estiveram em relações muito próximas com as cortes europeias,
tentando influenciá-las. Apesar disso, de certo modo, Hobbes é um caso especial, já que
esteve ligado ao modelo que foi derrotado na Inglaterra (o absolutismo monárquico). Suas
obras exerceram profunda influência no pensamento jusracionalista posterior,
principalmente dois pontos: sua racionalização e secularização da teoria social; e sua
teoria da soberania. Esta última, embora fundasse o direito positivo no direito natural,
realizava uma dissolução radical deste último no direito autoritário do soberano, posição
que não encontrou ecos no jusracionalismo futuro. Entretanto, sua utilização do
modelo contratualista do antigo direito natural influenciou fortemente a posterior teoria
contratualista jusracionalista.[15] Na Inglaterra, Locke acabou por exercer mais influência já
que sua teoria estava mais de acordo com o Parlamentarismo inglês.[16] Por outro lado, a
maior influência metodológica deste período veio de Baruch Espinoza que, com
sua "Ética" demonstrada de acordo com o método geométrico, produziu a forma mais
acabada de aplicação da matemática à metafísica e à ética.[17] Hobbes e Espinoza,
portanto, haviam constituído com suas obras os pressupostos metodológicos de um
sistema axiomático de teoria geral do direito, embora nenhum deles o houvesse
desenvolvido. Tal tarefa coube à Samuel Pufendorf que estabeleceu um sistema de teoria
geral do direito extremamente influente - especialmente nos diversos Estados germânicos
-, de certo modo sintetizando o pensamento jusracionalista à época.[18]
Terceiro período

O filósofo e jurista Christian Wolff

Para Wieacker, o jusracionalismo, no período que antece a Revolução Francesa, só teve


consequências jurídico-políticas de fato na Europa Central e, posteriormente, nos Estados
Unidos. Isto se deu porque, apesar de ligado às lutas por liberdade, essa escola adquiriu
influência apenas quando conseguiu ligar-se aos Estados autoritários europeus - tal como
em Portugal, na Toscana, em Nápoles, na Escandinávia e na Rússia -, principalmente aos
Estados germânicos (com especial influência na Prússia). Isso se deu principalmente
devido à combinação de razões filosóficas e políticas com a ética política protestante do
Estado prussiano. Papel muito importante para a disseminação do jusracionalismo nos
estados germânicos exerceram as novas universidades que foram fundadas após a
reforma e que passaram a formar a burocracia dos regimes nos postulados da escola.
Neste sentido, é central a importância de dois pensadores: Christian
Thomasius e Christian Wolff.[19] Thomasius deve ser considerado mais importante pelo seu
papel de modelador do primeiro iluminismo alemão, tendo ensinado na universidade de
Halle desde a sua fundação, em 1690. Assim, escreveu numerosos textos, envolveu-se
em diversas polêmicas e foi uma espécie de agitador e divulgador da cultura jurídica de
seu tempo. Wolff, por outro lado, levou às últimas consequências a utilização do método
geométrico para deduzir o direito natural até os mais pormenorizados detalhes. Assim, sua
obra efetua uma dedução exaustiva dos deveres a partir dos postulados da natureza
humana. Imensa foi a sua influência na cultura jurídica, especialmente na Alemanha
onde, um século mais tarde, surgiria a "jurisprudência dos conceitos" que pode ser dita
como herdeira espiritual do trabalho de Wolff.[20]
Movimento pela codificação
Ver artigo principal: Codificação jurídica

Primeira página da edição original do Código Napoleônico

As codificações de inspiração jusracionalista devem ser distinguidas daquelas


contemporâneas e anteriores que estão fundadas na inspiração de reformar o direito já
existente, porque elas visam a uma planificação global da sociedade através de uma
reordenação sistemática e inovadora da matéria jurídica. Para o jusracionalismo, a
atuação racional dos governantes criaria, por si só, uma sociedade melhor. Neste sentido,
estas codificações se apresentam não como frutos acabados de uma tradição jurídica,
mas sim como pré-projetos de uma sociedade melhor por vir. Assim, não são projetadas
por corpos de práticos que aplicam o Direito existente (juízes, advogados, procuradores e
etc), mas por uma elite intelectual com formação em filosofia e política, intimamente ligada
aos soberanos.[21] Neste sentido, o código prussiano de 1794, o austríaco de 1811 e
o código civil napoleônico são exemplos de codificações inspiradas pelo jusracionalismo.
O código prussiano e o código austríaco encontraram diversas dificuldades na sua longa
elaboração. Na última fase de tramitação, as principais dificuldades surgiram devido a
reação ao iluminismo que a Revolução na França provocou. Assim, uma vez outorgados,
geraram um generalizado desprezo por grande parte das comunidades jurídicas locais que
preferiram estudar de novas formas o velho Direito Romano (Escola Histórica do Direito),
já que viam esses códigos como resultado da influência francesa, especialmente após a
promulgação do Código napoleônico, em 1804. O Código francês, por sua vez, foi o mais
exitoso de todos os códigos de inspiração jusracionalista, tendo se constituído a partir dele
um novo modo de pensar o Direito, com a escola da exegese.[22]

Pensamento
O surgimento da escola jusracionalista só foi possível pelo desenvolvimento do rigor lógico
e da abstração dentro do pensamento jurídico pelas escolas de pensamento da baixa
idade média que primeiro estudaram o "Corpus Iuris" e daquelas do renascimento (como a
"escola humanista"). A partir de Descartes, entretanto, surge uma nova concepção de
razão: não mais fundada na compreensão de que o homem, animal racional, era também
social e político, mas na certeza cartesiana de fundo matemático (geométrico). Assim,
surge uma nova concepção de Direito na qual interessa o alcance da verdade, isto é, das
verdadeiras obrigações, deveres e direitos que compõem o verdadeiro Direito. Essa nova
razão, vista como faculdade humana que permitiria o alcance das verdades, permite que o
direito natural fundado sobre suas descobertas adquira universalidade, já que qualquer
homem poderia descobrir as verdades do direito natural posto que elas eram passíveis de
ser descobertas através do uso da razão.[23]
Logo, enquanto na Idade Média era Deus e a revelação divina que garantiam a
universalidade do direito natural, na Idade Moderna é a razão humana, também universal e
reveladora de verdades, que vem garantir esse papel. Portanto, neste novo Direito, ocorre
uma secularização do direito natural que se liberta das concepções teológicas da Idade
Média. Esse novo direito natural passa a representar tanto o método de criação do Direito
(a construção a partir de conceitos gerais), como também um novo padrão moral que
possibilitará a crítica do Direito legislado. Assim, do lado crítico, o direito natural possibilita
a crítica ao velho direito de matriz romana (conhecido como "usus modernus
pandectarum") e aos direitos consuetudinários. Mas não é apenas como crítica dos direitos
positivos que o novo direito natural demonstrava sua força. Também funcionava o direito
natural como fundamento da validade dessa nova filosofia ao demonstrar a justiça do
direito positivado, especialmente através da doutrina do contrato social.[24] Desse modo, o
contratualismo possui papel central porque é ele que permite que o direito natural funcione
como garantidor da validade dos direitos positivos, já que é ele que permite a fundação do
direito positivo nas verdades descobertas pela razão.[25] O Direito Natural conferia, assim,
validade universal ao Direito graças a sua atemporalidade e supraespacialidade.[26]
Influência
O racionalismo jurídico foi uma escola de pensamento muito importante, tendo influenciado
praticamente todo o desenvolvimento posterior do Direito no ocidente e no resto mundo.
Os dois efeitos mais importantes do jusracionalismo foram ter possibilitado o início do
desenvolvimento de um direito internacional entendido como obrigatório para os diversos
Estados e, também, ter permitido o embate entre as diversas concepções de organização
dos Estados ao servir como fundo comum dos argumentos de todos os lados do debate.
Já no direito privado, o racionalismo jurídico possibilitou a libertação dos direitos positivos
frente às fontes romanas e, com isso, a construção sistemática autônoma. Assim, de certo
modo, o espírito sistemático que tomou conta do Direito nos séculos seguintes pode ser
dito como o grande legado do jusracionalismo.[27]
Na Alemanha, foi grande a influência sobre os estadistas e aqueles incumbidos de
formular o direito positivo, levando ao surgimento das primeiras codificações (códigos
prussiano e austríaco). Além disso, a sistematicidade do racionalismo jurídico foi adotada
pelas escolas de pensamento jurídico que surgiram na Alemanha, como a "Escola
histórica" e a "Jurisprudência dos conceitos". Na França, o jusracionalismo permitiu a luta
contra a monarquia absolutista e a fundação de um modo de governo baseado nas
concepções do iluminismo, especialmente na "vontade geral" rousseauniana. Na
Inglaterra, foi pequena a influência já que lá o sistema jurídico baseado no precedente
("common law") resistia ao ímpeto reformista e revolucionário do jusracionalismo. Nos
Estados Unidos, a influência foi muito grande, especialmente na formulação da resistência
à metrópole e, posteriormente, na organização do Estado americano.[28]

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