Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Resumo
A interpretação das categorias jurídicas ainda se sujeita à problematização no campo da
ciência jurídica. O artigo apresenta a contribuição raciovitalista para o sistema jurídico, com
suporte nas contribuições filosóficas de José Ortega y Gasset e na transposição de seu
pensamento para o sistema jurídico realizada por Luis Recaséns Siches. Com o uso de
procedimentos técnicos bibliográfico e documental, do método hipotético-dedutivo, por
meio da análise da filosofia da razão vital, busca compreender o sentido de vida humana.
Apresenta uma desconstrução das premissas da lógica formal como método de
compreensão e aplicação do Direito. Correlaciona fato, valor e norma na perspectiva da
lógica do razoável. Busca apontar uma metodologia de soluções jurídicas ancoradas na
lógica do razoável. Indica um caminho de decisões com forte conteúdo argumentativo, que
devem ser construídas com valorações, as quais levam em conta a realidade concreta
humana apresentada no conflito jurídico, com uma comunicação entre os mundos do
dever-ser e do ser.
Antecedentes
Ver artigo principal: História do direito
A partir do século XIII este cenário começa a mudar, especialmente pela redescoberta
do Direito Romano através do Corpus Juris Civilis e de seu estudo nas
novas Universidades (como a Universidade de Bolonha), e a organização feudal começa a
dar espaço aos Estados com a centralização do poder nas mãos do monarca. Esta
centralização do poder cria a necessidade de um Direito que dê conta do problema de
governar grandes territórios com populações heterogêneas e o Direito Romano aparece
como o Direito ideal capaz de unificar as diversas comunidades em Estados, já que ele era
o Direito de um Império com vasto domínio territorial. Assim, há um renascimento dos
estudos romanísticos com a Escola dos glosadores[nota 1] que considerava o texto romano
quase que como "sagrado", limitando-se a realizar pequenas explicações à margem do
texto, chamadas de "glosas". Portanto, começou a ser formada uma nova classe de
juristas a partir do estudo do Direito Romano o que mudou o pensamento jurídico de um
modo local e particular de pensar para um pensamento de matriz universalizante, isto é,
um pensamento que buscava retirar do Direito Romano padrões aplicáveis de maneira
universal.[6]
O Direito Romano passa a ser visto como superior porque sua validade não derivava dos
costumes, mas de uma pretensa correção desse Direito. Isto ocorria porque o Direito
Romano tinha um grau de sofisticação muito maior do que os direitos consuetudinários da
Europa Ocidental. Então, o Direito Romano era utilizado de forma subsidiária em relação
aos direitos consuetudinários locais, existindo, assim, um equilíbrio, uma harmonização
entre os dois Direitos. Entretanto, a partir do século XV, os juristas passaram a mudar de
atitude em relação ao Direito Romano. As glosas eram explicações fragmentárias e
assistemáticas e passaram a ser vistas como insuficientes. O jurista deveria realizar uma
adaptação do texto romano às novas situações que surgiam. Tratava-se de passar do
comentário ao texto (glosa) para o entendimento dos conceitos abstratos que eram
delineados por aquele texto, isto é, o entendimento dos institutos jurídicos romanos
criando um conhecimento cada vez mais sistematizado e abstrato (Escola dos
comentadores[nota 2]).[7]
História
A história do jusracionalismo costuma ser dividida em três fases distintas. Primeiramente,
uma fase de transição ainda muito ligada aos preceitos da escolástica e do velho direito
natural. Em segundo lugar, uma fase de estabelecimento do método e sucessiva
pormenorização do sistema de direito natural. Por último, a fase na qual o jusracionalismo
tornou-se hegemônico no pensamento jurídico e nas cortes europeias, contribuindo com a
edição de códigos de inspiração jusracionalista.[8]
Primeiro período
A segunda fase do jusracionalismo começa com o declínio das lutas religiosas, o que
acaba por ocasionar uma emancipação dos pensadores desta fase em relação à tradição
teológica. Também, com a conformação da organização dos Estados europeus, estes
pensadores passaram a entrar em relações estreitas com as cortes, tornando-se o
jusracionalismo em um instrumento do absolutismo esclarecido.[14] Hobbes foi o primeiro
destes pensadores que estiveram em relações muito próximas com as cortes europeias,
tentando influenciá-las. Apesar disso, de certo modo, Hobbes é um caso especial, já que
esteve ligado ao modelo que foi derrotado na Inglaterra (o absolutismo monárquico). Suas
obras exerceram profunda influência no pensamento jusracionalista posterior,
principalmente dois pontos: sua racionalização e secularização da teoria social; e sua
teoria da soberania. Esta última, embora fundasse o direito positivo no direito natural,
realizava uma dissolução radical deste último no direito autoritário do soberano, posição
que não encontrou ecos no jusracionalismo futuro. Entretanto, sua utilização do
modelo contratualista do antigo direito natural influenciou fortemente a posterior teoria
contratualista jusracionalista.[15] Na Inglaterra, Locke acabou por exercer mais influência já
que sua teoria estava mais de acordo com o Parlamentarismo inglês.[16] Por outro lado, a
maior influência metodológica deste período veio de Baruch Espinoza que, com
sua "Ética" demonstrada de acordo com o método geométrico, produziu a forma mais
acabada de aplicação da matemática à metafísica e à ética.[17] Hobbes e Espinoza,
portanto, haviam constituído com suas obras os pressupostos metodológicos de um
sistema axiomático de teoria geral do direito, embora nenhum deles o houvesse
desenvolvido. Tal tarefa coube à Samuel Pufendorf que estabeleceu um sistema de teoria
geral do direito extremamente influente - especialmente nos diversos Estados germânicos
-, de certo modo sintetizando o pensamento jusracionalista à época.[18]
Terceiro período
Pensamento
O surgimento da escola jusracionalista só foi possível pelo desenvolvimento do rigor lógico
e da abstração dentro do pensamento jurídico pelas escolas de pensamento da baixa
idade média que primeiro estudaram o "Corpus Iuris" e daquelas do renascimento (como a
"escola humanista"). A partir de Descartes, entretanto, surge uma nova concepção de
razão: não mais fundada na compreensão de que o homem, animal racional, era também
social e político, mas na certeza cartesiana de fundo matemático (geométrico). Assim,
surge uma nova concepção de Direito na qual interessa o alcance da verdade, isto é, das
verdadeiras obrigações, deveres e direitos que compõem o verdadeiro Direito. Essa nova
razão, vista como faculdade humana que permitiria o alcance das verdades, permite que o
direito natural fundado sobre suas descobertas adquira universalidade, já que qualquer
homem poderia descobrir as verdades do direito natural posto que elas eram passíveis de
ser descobertas através do uso da razão.[23]
Logo, enquanto na Idade Média era Deus e a revelação divina que garantiam a
universalidade do direito natural, na Idade Moderna é a razão humana, também universal e
reveladora de verdades, que vem garantir esse papel. Portanto, neste novo Direito, ocorre
uma secularização do direito natural que se liberta das concepções teológicas da Idade
Média. Esse novo direito natural passa a representar tanto o método de criação do Direito
(a construção a partir de conceitos gerais), como também um novo padrão moral que
possibilitará a crítica do Direito legislado. Assim, do lado crítico, o direito natural possibilita
a crítica ao velho direito de matriz romana (conhecido como "usus modernus
pandectarum") e aos direitos consuetudinários. Mas não é apenas como crítica dos direitos
positivos que o novo direito natural demonstrava sua força. Também funcionava o direito
natural como fundamento da validade dessa nova filosofia ao demonstrar a justiça do
direito positivado, especialmente através da doutrina do contrato social.[24] Desse modo, o
contratualismo possui papel central porque é ele que permite que o direito natural funcione
como garantidor da validade dos direitos positivos, já que é ele que permite a fundação do
direito positivo nas verdades descobertas pela razão.[25] O Direito Natural conferia, assim,
validade universal ao Direito graças a sua atemporalidade e supraespacialidade.[26]
Influência
O racionalismo jurídico foi uma escola de pensamento muito importante, tendo influenciado
praticamente todo o desenvolvimento posterior do Direito no ocidente e no resto mundo.
Os dois efeitos mais importantes do jusracionalismo foram ter possibilitado o início do
desenvolvimento de um direito internacional entendido como obrigatório para os diversos
Estados e, também, ter permitido o embate entre as diversas concepções de organização
dos Estados ao servir como fundo comum dos argumentos de todos os lados do debate.
Já no direito privado, o racionalismo jurídico possibilitou a libertação dos direitos positivos
frente às fontes romanas e, com isso, a construção sistemática autônoma. Assim, de certo
modo, o espírito sistemático que tomou conta do Direito nos séculos seguintes pode ser
dito como o grande legado do jusracionalismo.[27]
Na Alemanha, foi grande a influência sobre os estadistas e aqueles incumbidos de
formular o direito positivo, levando ao surgimento das primeiras codificações (códigos
prussiano e austríaco). Além disso, a sistematicidade do racionalismo jurídico foi adotada
pelas escolas de pensamento jurídico que surgiram na Alemanha, como a "Escola
histórica" e a "Jurisprudência dos conceitos". Na França, o jusracionalismo permitiu a luta
contra a monarquia absolutista e a fundação de um modo de governo baseado nas
concepções do iluminismo, especialmente na "vontade geral" rousseauniana. Na
Inglaterra, foi pequena a influência já que lá o sistema jurídico baseado no precedente
("common law") resistia ao ímpeto reformista e revolucionário do jusracionalismo. Nos
Estados Unidos, a influência foi muito grande, especialmente na formulação da resistência
à metrópole e, posteriormente, na organização do Estado americano.[28]